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Fuga

Aprendi com um grande escritor Rubem Alves, é na dor que surgem grandes
ideias, sua alma fala, as ideias que estavam presas em uma gaiola, ficam livres
para serem expressadas sobre um pedaço de papel em branco e com um lápis
nas mãos.

O que é fuga? Qual a razão da vida? Como viver em um mundo com uma
qualidade de vida emocionalmente saudável? São tantas perguntas que se
entrelaçam entre si. Quando eu conseguir responder a primeira pergunta,
talvez eu entenda o porquê das outras duas perguntas.

Me recordo na infância, que quando a minha mãe ainda dormia pela manhã eu
fugia de casa para brincar, fugia das palmadas, fugia de madruga quando me
deparava que estava sozinha, escondia a caderneta da escola para minha mãe
não ver que tinha uma reclamação minha e ainda na infância na fase da escola
eu fugia dos meus deveres, e os atribuía ao outro a responsabilidade de
executar as minhas tarefas. Lembro-me da minha primeira derrota, em um
torneio de futebol na escola. Foi terrível! Vendo aquelas pessoas torcendo,
acreditando na minha habilidade de manusear bem a bola nos pés, o treinador
dizendo: “Glaucia essa é hora, vai lá e arrebenta, faz o que você sabe fazer de
melhor.” Eu fiz um gol. Porém, um gol contra. Fomos desclassificados do
torneio de futebol feminino. Os olhares alegres se tornaram foscos, o
entusiasmo virou tristeza e orgulho se tornou decepção. Eu estava
extremamente tomada pelo medo do time adversário, as meninas eram
grandes e fortes. Eu só queria fugir daquela quadra e da responsabilidade de
encará-las. Eu perdi o meu lugar de ser a melhor jogadora do time, perdi o
respeito e admiração, e no mais eu fugia de toda equipe do futebol, não queria
encará-los pois, eu pensava que só sabia jogar futebol. Talvez, esteja bem
explícito o porquê de tantas fugas hoje.

Existem algumas verdades que não são verdades, mas que se tornam
verdades. Para aquela menina citada acima, cuja menina era eu. Ela tinha
como verdade que só sabia jogar futebol, que os seus colegas só a mantiveram
por perto por conta da sua habilidade de jogar. Por qual razão será que ela
pensava assim? Não sei, talvez, um histórico familiar, fantasias, não tem como
saber a verdadeira razão. Ainda assim, para ela essa afirmativa era uma
verdade. Um grande professor de Teologia Henrique Alves, sempre fala em
sala de aula o seguinte: “precisamos compreender e apreender o passado para
compreendermos a história do cristianismo, e a história só vira história se
estiver escrita.” Por esse motivo estou aprendendo a deixar escrito talvez, eu
nunca saiba a razão de algumas fugas, tanto do passado quanto do presente,
talvez a compreensão dessas fugas não esteja no âmbito da razão e sim em
lugar chamado emoções com feridas abertas que as respinga ou as refletem
hoje no momento chamado presente.

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