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Acessibilidade e Desenho Universal1

Adriana Romeiro de Almeida Prado2

É papel do planejador intervir nos espaços para criação de ambientes que


desafiam e para eliminação dos ambientes que intimidam.
As pessoas suportam níveis baixos de conforto até a idade adulta, porém
quando envelhecem passam a não suportar mais. As disfunções orgânicas
inerentes do envelhecimento prejudicam a capacidade de se adaptar ao espaço
conforme sempre fizera.
Os ambientes devem ser planejados para promover e encorajar a
independência e a autonomia, de forma que uma boa qualidade de vida possa ser
proporcionada a todos os indivíduos. . (PERRACINI, M in Freitas 2002)
É necessário criar espaços onde todas pessoas sintam-se incluídas, que
permitam a adaptação de qualquer indivíduo, até mesmo aqueles que apresentam
perdas funcionais – espaços acessíveis que atendam os princípios do desenho
universal.
Um ambiente com acessibilidade atende, diferentemente, uma variedade de
necessidades dos usuários, tornando possível uma maior autonomia e
independência. Entendendo autonomia como a capacidade do indivíduo de
desfrutar dos espaços e elementos espontaneamente, segundo sua vontade. E
independência como a capacidade de usufruir os ambientes, sem precisar de
ajuda. (GUIMARÃES, 1999)
Para alcançar essa acessibilidade, devem ser considerados alguns
elementos importantes, como a provisão de alternativas para uso pleno do
ambiente construído, a adequação e adaptabilidade da estrutura, das instalações
e dos maciços e o estímulo à percepção intuitiva das funções ambientais.
(GUIMARÃES, 1999)

1
Versão atualizada do texto publicado nos anais do 3° Congresso Paulista de Geriatria e
Gerontologia – GERP’ 2003, promovido pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia –
SBGG/SP, realizado em Santos, em maio de 2003.
2
Arquiteta, urbanista, mestre em Gerontologia Social pela PUC/SP e especialista pela SBGG.

Adriana de Almeida Prado – arquiteta, mestre em gerontologia – almprado@uol.com.br


Para se chegar a uma sociedade inclusiva, e atingir uma acessibilidade
plena, é imprescindível que qualquer objeto, ou espaço desenvolvido, contenha o
conceito de desenho universal.

Desenho Universal
Significa o desenho de produtos e ambientes para ser utilizáveis por todas
as pessoas, no limite do possível, sem a necessidade de adaptação ou desenho
especializado. (WRIGHT, 2001:55)
Segundo o Centro para Desenho Universal da Universidade do Estado de
Carolina do Norte são sete os princípios do desenho universal, os quais estão
comentados a seguir:
• Desenho eqüitativo - pode ser utilizado por pessoas com habilidades
diversas; evita segregar ou estigmatizar alguns usuários e possui um desenho
atraente para todos.
• Flexibilidade de uso - acomodando uma gama ampla de preferências
individuais e habilidades. permite que canhotos e destros o utilizem; facilita a
acuidade e a precisão do usuário; como também adapta-se ao ritmo de qualquer
pessoa.
• Uso intuitivo e simples – de fácil entendimento, independentemente da
experiência do usuário ou seu conhecimento, proficiência lingüística, ou nível atual
de concentração.
• Informação perceptível - comunica eficazmente a informação necessária ao
usuário, independentemente das condições do ambiente ou das habilidades
sensoriais do mesmo.
• Tolerante a erros - contém elementos que diminuem o perigo de engano.
• Exige pouco esforço físico - pode ser usado eficiente e confortavelmente,
com o dispêndio mínimo de energia
• Tamanho e espaço adequados para aproximação, alcance, manipulação e
uso – são garantidos, independentemente do porte do usuário, sua postura
(sentado e em pé) ou sua mobilidade.

Adriana de Almeida Prado – arquiteta, mestre em gerontologia – almprado@uol.com.br


O conceito de desenho universal em ambientes urbanos inclusivos terá sido
totalmente absorvido quando qualquer pessoa, idosa ou não, com perdas
funcionais, puder transitar pela cidade, deslocar-se pelas calçadas, atravessar
ruas, desfrutar das praças, acessar os edifícios e utilizar-se de transporte público
com autonomia e independência.

Garantias legais de acessibilidade

Na Política Nacional do Idoso, estabelecida na Lei Federal nº 8.842, de 4 de


janeiro de 1994, define como competência das áreas de habitação e urbanismo
incluir, nos programas de assistência ao idoso,
formas de melhoria das condições de habitabilidade e
adaptação de moradia, considerando seu estado
físico e sua independência quanto à locomoção. E a
diminuição de barreiras arquitetônicas e urbanas.3
À sociedade civil, cabe o dever de exigir que todo veículo de transporte
público existente seja adequado, para proporcionar uma melhor qualidade de vida
aos idosos.
Na Lei Federal 10.048/00 está expresso que todo veículo para transporte
público, a ser fabricado no Brasil, deve ser planejado de forma a facilitar o acesso
das pessoas com dificuldades de mobilidade, o que implica no Poder Público só
poder aceitar, quando da renovação da frota, veículos livres de barreiras, de forma
a permitir o fácil embarque e desembarque das pessoas.
Outra obrigação do Poder Público é promover a acessibilidade das pessoas
portadoras de deficiência, ou com mobilidade reduzida, às vias públicas, aos
parques e demais espaços de uso público, por força da Lei Federal 10.098/00 que
estabelece
normas gerais e critérios básicos para a promoção da
acessibilidade nas edificações públicas ou privadas,

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Art.10

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no espaço público, logradouros e seu mobiliário, nas
comunicações e sinalização entre outros.
Determina que é necessário garantir a existência de um sanitário com
barras de apoio e a circulação de pessoas com mobilidade reduzida nos edifícios
públicos, ou de uso coletivo, bem como a garantia de circulação em todos os
pavimentos.
Nos edifícios de uso privado, fica garantida a circulação destas pessoas no
andar térreo, nas dependências de uso comum que levam às unidades
habitacionais, bem como, na calçada.
No final de 2004 foi publicado o Decreto 5.296/04 regulamentando a Lei
10.098/00 e a Lei 10.048/00 que dá prazos para os espaços, edifícios e
transportes sejam a acessíveis entre outras disposições.
Acessibilidade está incorporada nas obrigações no Departamento de
Cidadania e Inclusão Social do recém criado Ministério das Cidades4,
elaborar diretrizes para a modernização e
disseminação dos padrões de mobilidade e
acessibilidade das populações dos centros urbanos
brasileiros5;
e no Departamento de Mobilidade Urbana
analisar e propor instrumentos para garantir a
acessibilidade das pessoas com deficiências e
restrição de mobilidade.6
No Estatuto do Idoso é assegurado o direito a liberdade
faculdade de ir, vir e estar nos logradouros públicos e
espaços comunitários, ressalvadas as restrições
legais;7
nos programas habitacionais financiados pelo governo a garantia de:

4
Decreto nº 4.665, de 3 de abril de 2003
5
art 16, inciso III.
6
art 17, inciso VII.
7
Capítulo II - Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade, art 11.

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implantação de equipamentos urbanos comunitários
voltados ao idoso; [ ] eliminação de barreiras
arquitetônicas e urbanísticas, para a garantia de
acessibilidade ao idoso;8
Há ainda o Plano de Ação definido na II Assembléia sobre o
Envelhecimento, ocorrida em Madrid, no mês de abril de 2002, que aponta no item
A habitação e as condições de vida:
- a necessidade de promover habitações adequadas aos
idosos;
- garantir a facilidade de acesso aos edifícios e espaços
públicos;
- cuidar para que nos novos espaços não haja obstáculos
à mobilidade e ao acesso;
- desenhar alojamentos e espaços públicos
multigeracionais;
- promover desenho de veículos que considerem as
necessidades das pessoas com idade e as com
deficiências”.

Cidade Acessível

Uma cidade acessível é aquela que mantem e exige de seus munícipes


calçadas com o piso com superfície firme, regular, estável e antiderrapante (NBR
9050:1994, ABNT), com uma faixa livre de obstáculos de 1,50m de largura para
circulação dos pedestres.

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Calçadão da av. Boa Viagem, Recife/PE

A velocidade média da marcha de um idoso, para atravessar uma rua, é de


0,4m/s e a adotada na maioria das cidades, ao calcular o tempo do semáforo, é de
1,2m/s. (BONI, F. e ALMEIDA PRADO, A.R. in KAIROS)
Por isso é necessário, para a travessia das ruas, a existência de
rebaixamento da calçada associado à faixa de pedestres, para um deslocamento
mais rápido e seguro.

rua Honduras na cidade de São Paulo – SP

Que disponha de abrigo de ônibus, com assento e cobertura para conforto


das pessoas enquanto aguardam seu transporte chegar.

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Abrigo de ônibus na cidade de Cascavel – PR

Nos veículos de transporte coletivo não basta ter assentos reservados aos
idosos devem também possibilitar o embarque ou desembarque em nível, sem a
grande barreira dos degraus.

Veículos de piso baixo

Alguns idosos sofrem de distúrbios gastrointestinais ou genitourinários e


não saem de casa por que sanitários públicos são inexistentes na maioria das
cidades brasileiras.
Vasos sanitários com barras de apoio podem facilitar bastante o uso para
os idosos, como também a elevação do vaso sanitário para que a altura seja entre
0,42m e 0,45 m do chão.

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É importante ressaltar a importância de ter barra de apoio na frente dos
lavatórios evitando queda àqueles que se atordoam ao abaixar a cabeça para
lavar o rosto ou escovar os dentes.

Vaso sanitário com barras de apoio


Ainda falando de sanitários destaca-se para os idosos que já estão apresentando
diminuição na elasticidade, com dificuldade em movimentos amplos, em curvar-se
ou levantar-se, aconselha-se a colocação de barras de apoio e assentos nos
boxes dos chuveiros a fim de se evitar acidentes.

barras de apoio e cadeira para banho

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Àqueles que apresentam fadiga em atividades que consomem energia,
dificuldades em percorrer trajetos longos, por conta de perdas no sistema
cardiopulmonar é indispensável que os edifícios disponham de rampas ou de
elevadores além de escadas com corrimãos em ambos lados.

Escadas com corrimãos em ambos os lados


Para possibilitar circular com uma cadeira de rodas por todos os ambientes
de uma edificação o vão mínimo das portas deve ser de, no mínimo, 0,80m e para
evitar que os idosos tenham dificuldade em acionar as portas, evitando que fiquem
presos, é bom utilizar maçanetas em forma de alavanca.

Vão mínimo de 0,80m

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O número de idosos no Brasil já passa de 14 milhões, passando para 30
milhões nos próximos 20 anos, chegando a uma proporção no mundo de um idoso
para cada cinco em 2050, segundo estimativas do IBGE. Se nossas cidades não
se prepararem para essa mudança do perfil de sua população, provavelmente
este contingente de idosos ficara preso em sua residência, para não dizer
enclausurados em seus quartos.
É imprescindível se fazer algo para evitar este futuro é preciso lutar para
que essa população possa desfrutar dos prazeres de nossas cidades.

Adriana Romeiro de Almeida Prado - arquiteta, urbanista


Mestre em gerontologia pela PUC/SP e especialista pela SBGG.
Especialista em adequação dos espaços para uso de pessoas idosas
almprado@uol.com.br

Adriana de Almeida Prado – arquiteta, mestre em gerontologia – almprado@uol.com.br

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