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203-82

Diferença entre
direitos humanos
e direitos
fundamentais:
aplicação
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Zolotar, Márcia
SST Diferença entre direitos humanos e direitos fundamen-
tais: aplicação / Márcia Zolotar
Local: 2020
nº de p. : 10

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Diferença entre direitos
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humanos e direitos
fundamentais: aplicação

Apresentação
De um modo não raro os direitos humanos e os direitos fundamentais podem ser
confundidos. Os direitos humanos e os direitos fundamentais muitas vezes possuem
o mesmo conteúdo, tratam-se de direitos que considerados inerentes a todos os
seres humanos, mas não de forma idêntica, tanto por sua fonte quanto por sua
positivação ou não nos ordenamentos jurídicos dos Estados nacionais.

Neste capítulo, serão analisadas as principais diferenças entre direitos humanos


e direitos fundamentais. Você poderá ver que o conteúdo deles pode ser bastante
similar, porém verá também que as classificações doutrinárias de ambos são
distintos.

Os direitos humanos e os direitos fundamentais podem e devem


conviver de forma pacífica e complementar

Fonte: Plataforma Deduca (2018)

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Direitos humanos e direitos


fundamentais: conceitos
Os direitos humanos e os direitos fundamentais possuem divergência quanto ao
espaço onde os direitos humanos são reconhecidos e positivados. No primeiro caso,
os direitos humanos pertenceriam ao Direito Internacional, tendo o ser humano
como um objeto de direito.

Nesse contexto, os direitos humanos passaram por um profundo processo de


internacionalização e universalização. Hoje tais direitos contam com um Sistema
Global e Sistemas Regionais de Proteção de Direitos Humanos e um sem número de
Tratados, Convenção e Instrumentos para a implementação dos chamados direitos
1ª, 2ª, 3ª e 4ª geração.

No segundo caso (direitos fundamentais), há uma vinculação a um ordenamento


jurídico interno, constitucional. Vamos lembrar que, no caso da Constituição Federal
de 1988, os Tratados Internacionais de Direitos Humanos ratificados pelo Brasil têm
natureza de normas constitucionais.

Assim, são duas ordens jurídicas diferentes, que se sobrepõem e que podem até
conviver de forma pacífica e complementar. Uma outra questão que surge quando
analisamos esses dois conceitos é o seu grau de efetividade no mundo real. Ou
seja, dentro de cada âmbito de atuação – internacional e interno, qual dos direitos
possuem mais eficácia, efetividade e poder?

Ao analisar o Sistema Global e os Sistemas Regionais de Proteção aos Direitos


Humanos, é possível constar que esses sistemas possuem órgãos de proteção e
implementação aos direitos humanos.

Ocorre, porém, que, na maioria dos casos, é necessário que os Estados aceitem a
competência dos referidos órgãos e ratifiquem os instrumentos de proteção para se
submeterem ao julgamento deles.

Os direitos fundamentais são direitos positivados nas Constituições Federais, que


são o instrumento normativo mais importante de um Estado. A partir da Constituição
Federal, é que todas as demais leis (infraconstitucionais) são criadas e nela
baseadas.

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Os princípios fundamentais são ali criados. Não se fala em aceitação dos direitos
determinados na Constituição ou ainda não se pode arguir desconhecimento dos
direitos ali garantidos.

A resposta é clara. Dos dois direitos em tela, os que gozam de mais eficácia, sem
dúvida, são os direitos fundamentais.

Os princípios e as garantias fundamentais encontram-se na Constituição


e têm sua eficácia e implementação garantida no ordenamento interno

Fonte: Plataforma Deduca (2018)

Valerio Oliveira Mazzuolli (2018, p. 753) nos lembra que a Constituição de 1988
utiliza as expressões direitos humanos e direitos fundamentais em contextos
diferentes. Segundo ele, há uma “absoluta precisão técnica” no uso delas, de modo a
não confundir o significado ou o seu uso.

Assim sendo, a Constituição quando se refere aos direitos ali previstos usa a
expressão “direitos fundamentais”, por exemplo, no Art. 5º, § 1ª CF/88. Ao se referir
aos direitos humanos protegidos por Tratados Internacionais, menciona a expressão
direitos humanos, conforme Art. 5º, § 3º CF/88.
Uma vez entendido o conceito e a atuação de cada um dos direitos humanos e dos
direitos fundamentais, vamos conhecer a sua classificação. Siga em frente!

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Direitos humanos
A classificação dos direitos humanos é baseada na chamada Teoria das gerações.
Ela foi criada pelo jurista theco-francês Karel Vasak por meio de um texto publicado
em 1977 e de uma palestra proferida em 1979. Essa teoria estabelece um paralelo
entre os lemas da Revolução Francesa – liberdade, igualdade e fraternidade - e as
dimensões ou gerações de direitos humanos, que se dividiriam, em um primeiro
momento, em três gerações. São elas:

a. Direitos de 1ª geração – são direitos surgidos no final do século XVIII, em de-


corrência da Independência dos Estados Unidos e do advento da Constituição
(1787) e da Revolução Francesa (1789). Nesse momento, procura-se limitar o
poder do Estado e fortalecer os direitos dos indivíduos. São os direitos civis e
políticos.
b. Direitos de 2ª geração – o contexto histórico do surgimento dos direitos des-
sa geração, paradoxalmente, é oposto ao dos direitos de 1ª geração. Procura-
-se a maior intervenção do Estado com o objetivo de garantir direitos econô-
micos, sociais e culturais. Exemplos de instrumentos constitucionais desse
período são as Constituições do México, de 1917, de Weimar e a Constituição
Brasileira de 1934.
c. Direitos de 3ª geração – são também chamados de transindividuais. Refletem
as mudanças ocorridas na comunidade internacional e na sociedade, com o
surgimento de questões com impactos em escala mundial, tais como meio
ambiente, direitos humanos, proteção aos consumidores, dentre outros. São
direitos coletivos e pertencem a toda a humanidade.

José Eliaci Nogueira Diógenes Júnior (20-?) menciona alguns autores, dentre
os quais Paulo Bonavides, Norberto Bobbio e José Adércio Sampaio Leite, que
entendem existir uma 4ª e uma 5ª geração de direitos:

a. Direitos de 4ª geração – são os direitos relacionados à manipulação do patri-


mônio genético. Muitos questionam a forma pela qual vem sendo feita essa
manipulação e os respectivos riscos.
b. Direitos de 5ª geração – segundo alguns doutrinadores, esses direitos esta-
riam relacionados à evolução da cibernética e de tecnologias, como a realida-
de virtual e a Internet. Outros, no entanto, os vinculam ao ideal da paz, como
ideal supremo da humanidade.

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Importante destacar que, embora essa classificação seja utilizada por grande parte
da doutrina, inúmeras críticas apontam para falhas na relação das gerações de
direitos e o processo histórico dos direitos humanos. Destacamos algumas delas:

1. As gerações de direitos humanos trazem uma ideia de sucessão de direitos,


quando, na realidade, ocorre uma concomitância de direitos convivendo e pro-
tegendo direitos de âmbitos diversos. À medida que surge a necessidade de
proteção de no vos direitos, criam-se instrumentos normativos capazes de
salvaguardar esses direitos.
2. Trata-se de uma cumulação de direitos que vão surgindo ao longo da história.
Todos esses direitos se revestem das características de universalidade, indi-
visibilidade, interdependência e inter-relacio-nariedade.

Nas palavras de Mazzuolli (2018, p. 759):

Deve ser afastada a visão fragmentária e hierarquizada das diversas


categorias de direitos humanos, a fim de se buscar a “concepção
contemporânea” desses mesmos direitos, tal como introduzida pela
Declaração Universal de 1948 e reiterada pela Declaração de Direitos
Humanos de Viena de 1993.

A manipulação do patrimônio genético é objeto de preocupação de muitos


cientistas e estudiosos do direito e da filosofia

Fonte: Plataforma Deduca (2018)

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Direitos fundamentais
A Constituição Federal de 1988 tratou dos Direitos e Garantias Fundamentais no
Título II, muito embora possamos encontrar alusões a esses princípios no texto
constitucional, de forma expressa ou implícita. Recordamos o mérito atribuído
à Constituição ao inovar e determinar que as normas definidoras dos direitos
e garantias fundamentais possuíssem aplicabilidade imediata. Essas normas
passaram a possuir um status jurídico diferenciado.

Sarlet (2018, p.70) enfatiza o papel da Constituição de 1988 em sua obra:

(...) sem medo de errar, que, a despeito da existência de pontos passíveis


de crítica e ajustes, os direitos fundamentais estão vivenciando o seu
melhor momento na história do constitucionalismo pátrio, ao menos
no que diz respeito ao seu reconhecimento pela ordem jurídica positiva
interna e pelo instrumentário que se colocou à disposição dos operadores
de Direito, inclusive no que concerne às possibilidades sem precedentes
no ordenamento nacional.

De forma resumida, elencamos para você esses direitos:

I. Direitos individuais e coletivos: estão relacionados ao ser humano e à perso-


nalidade dele e protegem os direitos referentes à vida, igualdade, dignidade,
segurança, honra, liberdade e propriedade. Encontram-se determinados no Ar-
tigo 5º e seus incisos.
II. Direitos sociais: procuram garantir as liberdades positivas, que se referem à
educação, à saúde, ao trabalho, à previdência social, ao lazer, à segurança, à
proteção à maternidade e à infância e à assistência aos desamparados. Têm
como objetivo melhorar as condições de vida dos menos favorecidos. Estão
previstas a partir do Artigo 6º.
III. Direitos de nacionalidade: garante ao nacional o vínculo jurídico político ao
seu país e os respectivos direitos e obrigações daí decorrentes para ambas
as partes.
IV. Direitos políticos: por meio desses direitos, o indivíduo pode exercer sua cida-
dania, como votar e ser votado. Pode participar do processo democrático no
país. Encontram-se previstos no Artigo 14.
V. Direitos relacionados à existência, organização e participação em partidos
políticos: assegura a existência, autonomia e liberdade dos partidos políticos.
Trata-se de um elemento fundamental em um Estado Democrático de Direito.
Está determinado no Artigo 17.

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Fechamento
Nesta unidade, você pôde conhecer mais sobre os direitos humanos e os direitos
fundamentais. Na primeira parte você pode conhecer a origem e fonte atribuída a
cada um dos tipos de direitos, bem como as principais diferenças entre ambos no
que diz respeito à positivação ou não deles.

Na segunda, você pode conhecer algumas das classificações dos direitos dos
direitos humanos que podem ser divididos em três ou mais dimensões, de acordo
com o referencial teórico utilizado. Na terceira parte, você pôde conheceu algumas
das classificações dos direitos fundamentais presentes na Constituição Federal que,
como visto, são de natureza bastante diversa.

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Referências
BRASIL. (Constituição 1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Disponível em: . https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/518231/
CF88_Livro_EC91_2016.pdf Acesso em: 15 jun. 2018.

______. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo
Facultativo. Disponível em: . http://www.pcdlegal.com.br/convencaoonu/wp-
content/themes/convencaoonu/downloads/ONU_Cartilha.pdf Acesso em: 25 jun.
2018.

______. Emenda Constitucional nº 45, De 30 De Dezembro De 2004. Disponível em:


. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc45.htm
Acesso em: . 24 jun. 2018.

DIÓGENES JUNIOR, J. E. N. Gerações ou dimensões dos direitos fundamentais? [20-


?]. Disponível em: . http://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/29835/
geracoes-ou-dimensoes-dos-direitos-fundamentais Acesso em: 28 jun. 2018.

MAZZUOLI, V. O. Curso de Direito Internacional Público. Rio de Janeiro: Forense,


2018.

PIOVESAN, F. Temas de Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2013.


______. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 6. ed. São Paulo:
Saraiva, 2015a.

______. Direitos Humanos e Justiça Internacional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2015b.

SARLET, I. W. A Eficácia dos Direitos Fundamentais: Uma Teoria Geral dos Direitos
Fundamentais na Perspectiva Constitucional. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2018.

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