Você está na página 1de 5

RESENHA DO ARTIGO - IGREJA ELETRÔNICA: PROPAGAÇÃO DA FÉ NA CULTURA

MIDIÁTICA BRASILEIRA

Rondinelle Aguiar ¹

THOMÉ, Adriana, Igreja Eletrônica: Programação da fé na cultura mediática


brasileira. São Bernardo do Campo, SP, 2011. Disponível em:
https://docplayer.com.br/15113283-Igreja-eletronica-propagacao-da-fe-na-cultura-
midiatica-brasileira.html/ Acesso em 18 de setembro de 2021.

1 - SOBRE A AUTORA

Adriana Thomé possui graduação em Comunicação Social pela Universidade


Federal do Paraná, licenciatura em Artes pela Belas Artes de São Paulo, Bacharelado
em Teologia e Mestrado em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São
Paulo. Possui especialização em Educação de Jovens e Adultos, em Educação a
Distância com ênfase em formação de Tutores e em Educação Especial e Inclusiva.
Atua como professora na Rede Pública Estadual do Paraná e atualmente, é
mestranda em Ciências da Religião pela UMESP com a pesquisa "A arte da Educação
Popular como processo de libertação no pensamento de Joseph Comblin".

2 – INTRODUÇÃO

O artigo trata mostra o processo de surgimento, desenvolvimento, consolidação


e os impactos da “igreja eletrônica” no contexto evangélico brasileiro.
O temas estão concatenados de forma lógica, com uma introdução que dá um
breve histórico da igreja eletrônica nos USA e de sua chegada ao cenário brasileiro
por meio da Igreja Batista, através de seu ícone Pastor Nilson do Amaral Fanini e
posteriormente consolidado por meio de instituições religiosas como a IURD (Igreja
Universal do Reino de Deus) e a Igreja Internacional da Graça de Deus, que foram as
que melhor desenvolveram o uso da ferramenta, obtendo o melhores resultados neste
__________
¹ Graduando do curso de Teologia na Faculdades Batista do Paraná – FABAPAR.
E-mail: rondaguiar@email.com
contexto. A relevância deste trabalho, justificada por seu crescimento tão rápido em
um cenário completamente “in natura”, explica o debruçar sobre este tema, que se
tornou um fator alavancador das práticas de propagação do evangelho no cenário
brasileiro.

3 – IDEIAS CENTRAIS DO ARTIGO

A ideia de que a comunicação está estreitamente ligada a propagação do


evangelho é defendida como um fio condutor do tema. A autora sustenta bem o fato
de a comunicação ser, desde os primórdios do evangelho, responsável por
"transportar suas ideias" e mensagens através do espaço geográfico. Mesmo em se
tratando do cenário rudimentar da época de Jesus, por exemplo, é clara a presença
da comunicação como meio básico no cumprimento do IDE POR TODO MUNDO E
PREGAI O EVANGELHO (...) (Mt. 28:19)
Mesmo tendo as limitações impostas pela ausência das tecnologias que viriam
logo a frente, a comunicação esteve presente como meio responsável. Com o
surgimento de tecnologias como o telégrafo, o vapor e fios magnéticos, em suas
épocas distintas, a comunicação teve seu poder fortalecido. Tais tecnologias foram
interpretadas de forma particular pelos evangélicos, através de sua cosmovisão cristã,
a exemplo do que disse o Pastor James L Batchelder, sobre o propósito destas
tecnologias estar relacionado a um ato divino, visando propagar o evangelho e não o
preço do porco, por exemplo. Em outras palavras, tratava-se de algo divinamente
inspirado.
Outro assunto interessante é a questão do reencantamento do mundo, tendo a
televisão como grande pivot deste processo. Segundo a autora, vivemos em um
mundo plural, em constante transição cultural e muito voltado a estetização do
cotidiano, e a TV, por ter a capacidade de entregar “shows” carregados da mais alta
concentração de emoções, imagens, sons, ideias, acabou se tornando seu principal
instrumento. Na TV é possível entregar o que se espera de um conteúdo e não aquilo
que ele de fato é. Por meio do conceito da TV, customizou-se um ideário de líder
religioso, tornando-o, além disso em uma espécie de super salvador.
O “solo” onde este movimento floresceu e se consolidou nos USA teve como
“adubo” a crise dos valores tradicionais, a luta pela ampliação dos direitos civis, a
insurreição da juventude e outros. Neste ambiente de instabilidade percebe-se um
cenário propício ao “lançamento” dos “profetas do povo” como uma espécie de voz de
Deus para a nação, tanto explicando as causas da instabilidade quanto a salvação
para este momento. Alguns destes programas foram veiculados no Brasil, como novos
públicos buscados pelos líderes americanos. Enquanto nos USA temos um público de
classe média como alvo da mensagem da Igreja Eletrônica, no Brasil temos um
público pobre e vulnerável socialmente, lutando por sua sobrevivência.
Como dito anteriormente, o movimento teve como pioneiro no Brasil o pastor
Batista Nilson do Amaral Fanini, que foi seguido, com maior sucesso e mantendo-se
até os dias de hoje, pelo R.R. Soares, líder da Igreja Internacional da Graça de Deus.
Seu programa é intitulado “Show da Fé” e tem como marcas a teologia da
prosperidade, dando como causa da pobreza o distanciamento de Deus pela não
conversão ao evangelho. Além deste personagem também tivemos o programa do
padre católico Eduardo Dougherty e de outro líder de extrema relevância, assim como
o R.R. Soares: Bispo Edir Macedo. Possui uma programação ousada, tendo a Cura,
o Exorcismo e a Prosperidade como temas recorrentes e além disso, faz uso de
referências de outras religiões, como o catolicismo, na oração pelo copo com água e
os cultos afro-brasileiros, com o pródigo uso de mitos e símbolos presentes nestas
religiões. Dona de grandes requintes na técnica televisiva, a IURD cresceu de forma
avassaladora, tornando-se dona da rede de TV Record e algumas dezenas de rádios
que colocam a IURD no topo do sucesso com o sistema de igrejas eletrônicas.
Os meios de comunicação de massa (MCM) são identificados como um dos
principais meios de construção do pensamento humano. Se por um lado os MCM é
uma das principais ferramentas de construção do conhecimento, por outro,
considerando-se seu propósito de atacado e comercial-mercadológico, acaba
induzindo seu público a uma visão passiva e acrítica do mundo que o cerca,
enfatizando o caráter homogêneo da sociedade. Pelo poder que possui de contar
histórias vinculadas às imagens que as representam, a TV assume a preferência nas
escolhas do público.
Os meios de comunicação social, como dito anteriormente, foram os
responsáveis pelo alcance da IURD. Estes desenvolveram grande capacidade em
comunicar seu conteúdo, diferenciando seus “produtos” / “conteúdos” de seus
“concorrentes”. A IURD, por meio destes recursos, vem obtendo grandes resultados
na influência / mudança do comportamento das pessoas, cumprindo seu objetivo de
mobilizar grandes massas.
4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Muito do que foi dito pela autora encontra acolhimento em fatos que, pelo
menos, nos conduzem ao entendimento e concordância com boa parte de suas ideias.
Como por exemplo, a estreita relação da comunicação com a religião, é algo presente
na própria história, embora, por certo tempo, a privação da comunicação tenha
caracterizado muito mais dominação do que libertação como vemos no trecho que
nos mostra ambos os momentos:

O advento da prensa de Gutenberg, no século XV, iniciou um período de


perda do poder da Igreja Católica. Até esse momento, os analfabetos
formavam quase a totalidade da população, e a Igreja junto com a nobreza
formava a estrutura social da civilização, cujo domínio era exercido com base
na fé e nos dogmas impostos pela obediência às escrituras. Com a impressão
de livros, a estrutura social ganha uma nova dimensão e um novo sentido. A
interpretação livre da Bíblia, sem mais a “condução” do padre e a
possibilidade de leitura de outros livros divulgando novos tipos de
pensamento, fizeram com que o homem se visse como o centro do universo.
(FEITOSA, 2013, p.208)

Outro ponto importante que merece destaque e certo grau de correção é que a
TV, como meio objetivo de comunicação, vem perdendo seu poder para um outro meio
que oferece mais recursos: a internet, justamente por seu caráter interativo, de
conexão. Tal ajuste se faz necessário justamente pelo corte no qual o artigo foi escrito.
Esta correção é a mesma que tem se mostrado de forma clara ao longo dos últimos
20 anos como consta na matéria divulgada pelo portal UOL Notícias em 02/02/21,
dizendo que A TV vem sofrendo consideráveis quedas de público e que o jovem,
principalmente, vem se afastando da TV. (FELTRIN, 2021)
Em linhas gerais, temos um texto que organiza um conteúdo verossímil, com
alguns ajustes ideológicos em algumas partes, todavia, dando ao leitor uma boa visão
do contexto de surgimento da igreja eletrônica no mundo e seu estabelecimento,
desenvolvimento e consolidação no Brasil, o que nos ajuda a entender alguns
comportamentos, caminhos e resultados que a igreja brasileira vem obtendo, por
vezes em direção oposta ao que se espera dela segundo as escrituras.
Bibliografia

THOMÉ, Adriana, Igreja Eletrônica: Programação da fé na cultura mediática


brasileira. São Bernardo do Campo, SP, 2011. Disponível em:
https://docplayer.com.br/15113283-Igreja-eletronica-propagacao-da-fe-na-cultura-
midiatica-brasileira.html/ Acesso em 18 de setembro de 2021.

FELTRIN, Ricardo. Exclusivo: TV aberta perdeu quase metade do público em 20


anos.... UOL, 2021. Disponível em: https://www.uol.com.br/splash/noticias/ooops/20
21/02/02/exclusivo-em-20-anos-metade-do-publico-ja-fugiu-da-tv-aberta.htm

FEITOSA, Carla. Religião e mídia: comunicação e poder. Tuiuti: Ciência e Cultura.


nº. 46, p. 205-214, Curitiba, 2013. Disponível em: https://seer.utp.br/index.php/h/articl
e/view/1079

ALMEIDA, João Ferreira de. Trad. A Bíblia Sagrada (revista e atualizada no Brasil) 2
ed. São Paulo. Sociedade Bíblica Brasileira, 1993.

Você também pode gostar