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RITUAL DE EMULAÇÃO

COMENTÁRIOS SOBRE A TRADIÇÃO DE MEMORIZAÇÃO

“Não importa o Livro do Ritual. Faremos do meu modo.”

As práticas maçônicas inglesas tradicionalmente são executadas pelos


membros das Lojas de modo expressivo e de cor (isto é, completamente
memorizadas). Esta tradição tem sido conservada inalterada pela maçonaria
inglesa ao longo de anos a fio, por décadas e décadas.

Tal metodologia ou conceito de trabalho talvez não seja ainda suficientemente


entendido pela maioria das Lojas Maçônicas brasileiras. Este artigo pretende
focar alguns aspectos em torno deste tema.

Como ponto de partida é necessário esclarecer que, em decorrência da


expansão do ritual de emulação que vem gradualmente ocorrendo na
jurisdição da Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo (GLESP), muitas
de suas Lojas, fundadas a partir do final da década de 90, adotaram e estão
adotando o ritual de emulação e, mais que isso, algumas delas estão
procurando assimilar por inteiro a sua pratica conforme nos ensinam as Lojas
inglesas.

A novel Loja Maçônica Universitária Urbi et Orbi No. 657, ainda em fase de
estruturação inicial é um exemplo desta nova geração de Lojas e de Maçons
que estão orientados para exercitar as práticas exatas do Ritual de Emulação
conforme preservado pelas Lojas jurisdicionadas à Grande Loja Unida da
Inglaterra (GLUI).

Na cidade de São Paulo temos a maravilhosa oportunidade de poder visitar e


conviver com um expressivo número de maçons e de Lojas inglesas que
trabalham no Ritual de Emulação. Em especial, faço menção e agradeço aos
membros da The Santo Amaro Lodge No. 7250 (GLUI) os quais tem me
proporcionado um continuo aprendizado nas práticas da maçonaria inglesa e,
mais que isto, aberto um precioso espaço para o desenvolvimento de amizade
genuína e fundada no amor fraternal.

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Sempre é importante realçar, especialmente para os jovens maçons (no


sentido de neófitos) que a visitação em outras Lojas deve ser sempre uma
prioridade, pois proporciona, além de uma expansão do círculo de
relacionamento maçônico, fortalecendo o processo de capilaridade que deve
também ser uma das características das relações entre os seus membros, um
maior entendimento das práticas maçônicas e suas variantes.

No caso do Ritual de Emulação, tal processo de aperfeiçoamento baseado em


visitações torna-se crucial para a compreensão mais rápida e segura de um
ritual que para a grande maioria dos maçons brasileiros é ainda desconhecido.

Os diversos aspectos que envolvem o Ritual de Emulação serão aos poucos


desvendados por um número crescente de irmãos e muitas futuras e atuais
Lojas adotarão este modelo de trabalho maçônico, aderindo a uma prática
maçônica consagrada e testada por milhões de maçons ao redor do mundo.

Para que se compreenda melhor o “espírito do Ritual de Emulação” torna-se


necessário conhecer e amadurecer a significação de alguns dos seus
fundamentos. Mais que isto, torna-se necessário e indispensável uma intensa
prática dos seus preceitos doutrinários e ritualísticos.

Entretanto, a proposta de se buscar conhecer com esmero e profundidade,


preferencialmente de cor, todo o ritual (de capa a capa, em todos os graus)
para a maioria dos maçons brasileiros pode parecer ser algo impossível e até
mesmo supérfluo (uma vez que basta que leiamos o que está impresso nos
livros de rituais...).

De certo modo, tal prática pode parecer, à primeira vista, algo inatingível,
muito distante da nossa cultura maçônica e, quiçá, incompatível com a
realidade das práticas maçônicas que a maioria das Lojas brasileiras adotam.

Entretanto, a partir das visitas que tenho realizado à The Santo Amaro Lodge
No. 7250 (e em outras igualmente operosas e competentes Lojas inglesas
sediadas em São Paulo) ao longo já de algum tempo creio que pude captar, ao
menos em parte, alguns pontos básicos e relevantes do ritual de emulação.

Para se compreender o real valor do esforço para aperfeiçoamento e superação


a que os seus membros se dedicam de corpo e alma, peço permissão para
compartilhar com você um resumo desses pontos que identifico como
fundamentais. São eles os seguintes:

• O jovem maçom (no sentido de recém iniciado) ao receber o seu


primeiro grau maçônico (o de Aprendiz Maçom) através de irmãos que
realizam o referido ritual de iniciação com naturalidade, expressividade e

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proficiência fica imediatamente cativado pela beleza do próprio ritual e


sente-se valorizado pela Loja que foi capaz de apresentar um
desempenho de alta qualidade e relevância para recebê-lo como maçom.
• Em decorrência, o jovem maçom sente-se fascinado pela possibilidade de
vir a integrar uma equipe desta capacidade e percebe que tal
competência é perfeitamente possível e viável, pois, de fato, aquela
equipe assim o demonstrou na pratica.
• Nos meses subseqüentes o recém iniciado irá observar novas iniciações e
verificar a versatilidade dos irmãos que serão convidados a assumir
diferentes partes do ritual de iniciação de modo a colaborar com o Mestre
da Loja e, principalmente, desafiar o seu conhecimento e a sua
proficiência pessoal no ritual, tomando para si parte da ação encenada
pela Loja e ansiando por apresentar um desempenho progressivamente
melhor a cada vez. É uma atitude comparável com a de um ator que
deseja que a sua participação valorize a peça que está sendo encenada e
que, a cada dia, ensaia mais e mais para superar-se a si mesmo e
assimilar cada vez mais e por completo o personagem e o clima da peça.
• Este ambiente de estimulo e incentivo ao aperfeiçoamento irá
impulsionar o jovem maçom a progredir mais e mais, ao mesmo tempo
em que irá realimentar os membros da Loja para que prossigam no
desafio de aperfeiçoarem-se cada vez mais nas suas capacidades
individuais e coletivas. É um processo de retro-alimentação
extremamente eficaz e agradável que gera na Loja e nos seus membros
uma efetiva sensação crescente de competência, prazer e satisfação
individual e coletiva.
• Mas não é só isto, ou seja, a competente ação em cena. Na medida que
o jovem maçom e também todos os que integram a Loja estudam em
profundidade os rituais e preleções, algo ocorre naturalmente: os
ensinamentos contidos nos rituais são inculcados em suas mentes e
corações. Este é um fator prodigioso, ao meu ver, pois os ensinamentos
maçônicos passam a serem estudados de fato minuciosamente e,
conseqüentemente, absorvidos pelos membros da Loja. Desse modo,
pode-se dizer que a Loja cumpriu efetivamente o seu propósito central
no que concerne instrução maçônica: bem formar para vida inteira o
homem maçom!
• Este aprendizado e qualificação do jovem maçom é um processo
permanente (contínuo ao longo de toda a sua vida maçônica) e não um
evento isolado ou um projeto específico. É um propósito para uma vida
inteira e não para algum tempo ou para as poucas horas que
congregamos nas Lojas. É um estado de espírito que deve naturalmente
ganhar a alma e o coração do verdadeiro maçom. É também, ao mesmo
tempo, um processo de depuração natural, pois aquele que entrou na
maçonaria, mas que não foi por ela seduzido acabará por ir embora por

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se sentir “fora de contexto”. De fato, são fantásticos os múltiplos


benefícios que este sistema de ensino maçônico proporciona.

A seguir, compartilho algumas sugestões para jovens maçons (de qualquer


idade) e antigos Maçons o que um experiente maçom britânico nos legou:

Sugestões para jovens Maçons

O jovem Maçom que deseja estudar a pratica (ritual) dos vários graus, deverá
ter em mente os seguintes pontos:

1- A Proficiência vem do estudo diligente


2- A Fluência é o resultado da prática constante
3- Uma manifestação Oral clara é desejável e todas as ocasiões. A bela
fraseologia de cada compromisso é freqüentemente desfigurada por uma
forma de falar incompreensível e inaudível
4- Analise a postura dos melhores Mestres da sua Loja. Observe a ênfase
deles e os siga todas às oportunidades
5- Cultive o cadenciar na fala. Não há necessidade de pressa. Tenha
confiança em você mesmo e irá impressionar a pessoa para quem está
falando
6- Comece com uma pequena parte e faça-se mestre dela (ou seja,
domine-a perfeitamente). Então prossiga para uma parte maior,
freqüentemente revisando-a as anteriores enquanto você progride.
Somente por este método, conforto e proficiência serão obtidos.
7- Fale ao Mestre da Loja que você gostaria de ter permissão dele para
compartilhar uma parte do trabalho de um determinado Grau (comece
pelo de ritual de Aprendiz). Se o Mestre da Loja sabe bem a função que
exerce, irá, de uma só vez, garantir o atendimento do seu pedido e
encorajá-lo a estar interessado em participar e progredir.
8- Esteja sempre pronto para assistir (no sentido de colaborar) o Mestre da
Loja. As Lojas mais bem sucedidas são aquelas que todo Membro está
pronto e desejando tomar parte dos trabalhos.
9- Seja pontual no seu atendimento. Reconheça que o sucesso da Loja está
em suas mãos e que é o seu dever dar a sua Loja o seu melhor serviço.
10- Esteja pronto para tomar o lugar de um oficial que pode estar
ausente. É feliz o Mestre da Loja que sabe que pode chamar qualquer
dos irmãos para assisti-lo a qualquer tempo.
11- Nunca esqueça que a sua Loja tem uma reputação a manter
12- Seja um Maçom sempre – não somente quando a Loja estiver a
coberto!

Estas importantes sugestões encontram-se no “Manual Completo de


Maçonaria” de autoria do Eminente Ir. William Harvey, Grão Mestre

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Provincial de Forfarshire, Escócia, no período de 1934-36, publicado pela


editora Lewis Masonic, Hersham, Surrey, Inglaterra,1998.

A tradução dos doze pontos acima sugeridos é de minha autoria e foi


realizada de modo livre e sem preocupação literária.

Na esperança de ter contribuído para com a melhor compreensão de uma


metodologia eficaz, devidamente testada e comprovada, para motivar
maçons na senda da qualidade e da proficiência das suas participações nas
lides de nossa instituição.

Este é um tema que recomendo ser analisado em profundidade para que a


nossa Ordem e os maçons em nossa jurisdição experimentem um novo ciclo
de renovação de esperanças pessoais, motivação institucional e real
progresso no estreitar dos laços místicos que nos unem.

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