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Elementos de etnoastronomia indígena do Brasil

/ osé Sávio Leopoldi

O o bjetivo do p re se n te a rtigo, q u e resul­ c oirm ãs, a a rq u eo a stro n o m ia e a astro-


tou d e p esq u isa re aliz a d a p a ra o M useu de a rqueologia, e lhe atrib u i o estu d o de um
A stronom ia do R io d e Jan eiro , é re u n ir am p lo leque de tem as explícita ou im plici­
d ad o s biblio g ráfico s sobre a astro n o m ia dos tam ente associados à astro n o m ia p ro p ria ­
indígenas b rasileiro s, e ofe re c er algum as m ente dita. D estacando q u e, em term os
considerações gerais so b re esse tem a a p a r­ gerais, a etn o a stro n o m ia refere-se ao e stu ­
tir d a leitu ra d o s textos q u e estiveram ao do das noções astro n ô m icas das sociedades
a lcan ce do pesq u isad o r. atuais b aseadas na trad içã o o ra l. com res­
In tro d u to ria m e n te , vale re ssa lta r a difi­ p eito aos grupos indígenas am ericanos ela
c u ld a d e q u e o p e sq u isa d o r e n co n tra ao “ u su a lm e n te inclui o e stu d o d a m itologia
b u sc a r lo calizar textos refe re n te s à e tn o ­ estelar, dos ritu a is associados ao Sol, à
a stro n o m ia. E ste é um assu n to a q u e se dá Lua, aos p lan etas, às estrelas e ou tro s obje­
tão pouca aten ção e n tre nós q u e, m esm o tos astronôm icos, das p rá tica s econôm icas e
nos a rq u iv o s das b ib lio tec as m ais especia­ políticas relacio n ad as à a stro n o m ia, dos p a ­
lizadas, a classificação p o r assunto n ã o drões de a rq u ite tu ra que pro p iciam a o b se r­
registra tópicos com o etn o a stro n o m ia ou vação astro n ô m ica ou q u e re p ro d u z a m cons­
a stronom ia indígena. O recurso, e n tã o , é telações. do c o n te ú d o astronôm ico das artes
lançar-se à p esq u isa a le ató ria n a b u sc a de e a rte sa n ato ” etc. (M agana, 1986a: 400).
textos etnológicos que ev en tu alm en te tra ­ A lém disso, e co n sid era n d o q u e, com o
tem do assu n to . M esm o q u a n d o essa busc-a lem bra a in d a o referid o a u to r, a astro n o m ia
se revela positiv a, via de regra o m aterial é de g ran d e im p o rtân cia p a ra quase todos
se e n co n tra disp erso em c ap ítu lo s ou p a r­ os aspectos d a vida indígena, a e tn o a stro ­
tes do texto p rim o rd ia lm en te d ev o ta d o s a nom ia tam bém se interessa p o r q u a lq u e r te­
o u tro s assuntos co m o religião, cosm ologia, m a d ire ta ou in d ire ta m e n te relacio n ad o a
m itologia etc. o b jeto s ou ev en to s astronôm icos com o são
V ale lem b ra r tam bém que o term o e tn o ­ p erceb id o s pelas p ró p rias sociedades em
astronom ia carece a in d a d e um a definição estudo. D essa m aneira, pode re c o b rir tópi­
p recisa, estan d o sujeito a v a ria d as in te rp re ­ cos tão v ariados q u a n lo a geografia celeste,
tações seg u n d o os tópicos q u e v en h am p ri­ o e stab elecim en to de aldeias em locais o rien ­
vilegiar com o objeto d e in vestigação e os tad o s pela p o sição do Sol nos solstícios, a
co n ju n to s sociais a serem pesquisados. Para p in tu ra c o rp o ra l, a m edicina sham anística
os p ro p ó sito s d este tra b a lh o , p o rém , se­ etc. (Ib id em ). P o rta n to , em tal conceituação
guiu-se E dm und M agana q u e distingue a a b ra n g e n te do term o etno a stro n o m ia é que
e tn o a stro n o m ia d e o u tra s d u a s disciplinas se a p o io u p a ra o rie n ta r a pesquisa dos tex-

BIB, R io d e Jan eiro , n. 30, p p . 3-18, 2 ° se m estre de 1990 3


tos que co n stitu i a m atéria-prim a deste e stab elece c o rrelaçõ es e n tre o surgim ento
artigo. de constelações n o céu d o s D e sâ n a e as v a ­
P ara esse lev a n tam en to b ib lio g rá fic o con- riações clim áticas c o m co n co m ita n te s p rá ­
su lto u :se o acervo da B iblioteca N acio n al e ticas econôm icas (tra b a lh o s n a roça, coleta
das in stitu içõ es que p o ten c ialm e n te o fere­ e p esca). E m q u e p ese u m a c erta rigidez
ciam um terre n o fértil ao p ro p ó sito da nas a rticu la çõ e s e n tre a q u eles elem entos,
investigação, com o o p ró p rio M useu de percebe-se q u e o sa b e r in d íg e n a n o s cam ­
A stronom ia, o O b se rv a tó rio N acio n al, o p o s d a astro n o m ia e dos fen ô m en o s clim á­
P la n etá rio d a G á v ea e o M useu do ín d io , ticos, b o tân ico s e zoológicos teria m u ito a
todos localizados no R io de Janeiro. E m to ­ c o n trib u ir p a ra um c o n h ecim en to m ais
das essas bibliotecas, porém , constatou-se a a b ra n g e n te d o ecossistem a am azônico. Co­
.ausência d e trab a lh o s, nacio n ais ou e s tra n ­ m o a a u to ra ressalta, “ a classificação das
geiros, e sp ecificam en te sobre etnoastrono- constelações D e sâ n a e sp elh a a re alid a d e
m ia, e v id en cian d o a situ aç ão m arginal a c lim ática de seu h a b ita t, q u e se caracteriza
q u e se acha releg ad o esse cam p o de estudo pela a lte rn â n c ia d e sol e c h u v a, bem com o
no Brasil. B asta d izer, com o foi acim a in d i­ pelas sucessivas cheias e v a zan tes dos rios.
cado, q u e n o s a rq u iv o s q u e ap rese n tam a ( . . . ) [A ] s c h u v as estão d iretam e n te re la ­
classificação das o b ra s p o r assu n to inexiste cio n a d as à p o sição d o s a stro s, ou seja, são
o títu lo etnoastrànom ia. M esm o nos acervos m arc ad a s pelo su rg im en to das constelações,
p ro p riam en te etnológicos q u e r d a B iblioteca cuja n o m e n c la tu ra é id ên tica à delas. São,
N acio n al, q u e r do M useu do Ín d io , n ã o se p o rta n to , essas constelaçõ es e essas chuvas
en c o n tro u n e n h u m su b títu lo re la cio n a d o ao
q u e d e te rm in a m o ciclo e conôm ico a n u a l”
terna d a (e tn o )a stro n o m ia com o p a rte dos
(1987: 35).
assuntos em q u e se classificam as o b ra s so­
b re os índios do Brasil.
São ra ra s as p u blicações q u e tra ta m espe­
cificam en te ou fu n d a m e n ta lm e n te da etno- C om o já foi sa lie n tad o , g ra n d e p a rte da
astro n o m ia d o s índios do B rasil, com o é o p re sen te p esq u isa se desen v o lv eu ao acaso,
caso de “ E th n o a stro n o m y o f th e E astern isto é, m ed ia n te c o n su lta d ireta a o b ra s de
B ororo In d ia n s o f M ato G rosso, B razil” de etnologia b ra sile ira v isa n d o a a p re e n d e r
S. F a b ian (1982), “ A stro n o m ia do M acunaí- pelo seu ín d ice de m até ria s e p o r u m con­
tato su p e rficial com o seu c o n te ú d o o in te ­
m a ” de R ogério M o u rão (1984) e, m ais
resse que ev en tu alm en te p o d e ria m d esp er­
re ce n te m en te, “ C huvas e constelações: o ca­
tar ao o b jetiv o do tra b a lh o , ou seja, o le­
len d á rio econôm ico dos índios D e sâ n a ” de
v a n ta m en to de d ad o s refe re n te s à a stro n o ­
Berta R ibeiro e T . K e n h íri (1987).
m ia ind íg en a. D e g ra n d e v a lia , p o rém , fo ­
In felizm en te, n ã o conseguim os lo calizar o
ram dois co n ju n to s d e o b ra s etnológicas, a
artig o d e F ab ian so b re a etn o a stro n o m ia saber, o H a n d b o o k o f th e S o u th A m erica n
B ororo, c ita d o no tex to d e M agana e que In d ia n s (S tew ard 1946, 1948 e 1949) e.
parece o m ais e n q u a d ra d o nos m oldes de esp ecialm en te, a B ibliografia C rítica da
u m tra b a lh o acadêm ico-científico (cf. Ma- E tnologia Brasileira (B aldus 1954 e 1968;
gaíia, 1986: 402, 409). H a rtm a n n , 1984). A p rim e ira coleção, no
Já o ensaio de M ourão dirige-se a um e n ta n to , não se revelou à p rim e ira vista
p ú b lico não iniciad o em etnologia ou a stro ­ um a fo n te tão rica q u a n to seria lícito e sp e­
nom ia, co n sistin d o em u m a coleção com en­ ra r já q u e n ã o inclui a (etn o )astro n o m ia
ta d a d e elem en to s de astro n o m ia recolhidos e n tre os tem as q u e são d esenvolvidos a
d a con h ecid a o b ra d e M ário de A n d rad e. respeito d e c ad a sociedade in d íg en a estu­
E ste, p o r sua vez, já utilizav a — e não com d a d a a o longo dos volum es d a o b ra . O re ­
p re o cu p a çõ e s c ien tíficas — inform ações su ltad o é que as in fo rm açõ es re la tiv a s à
astro n ô m ic as de vários g ru p o s indígenas p u ­ a stro n o m ia encontram -se dispersas em tópi­
blicad o s em o b ra s d e diversos a u to re s (cf. cos com o a m itologia, a religião, o sham a-
M o u rão 1984: 19). N esse trajeto , p o rtan to , nism o e, p o rta n to , são tra ta d a s g eralm ente
os d ad o s u tiliza d o s a cab aram p e rd en d o ri­ de m an e ira p e rifé ric a ou su p erficial. N ão
gor e consistência, ou seja, v a lo r científico, o b sta n te , a coleção fo rn eceu b o a q u a n tid a d e
de m odo que “ A stro n o m ia do M ac u n aím a ” de m aterial d e in teresse p a ra o trab a lh o .
deve se r visto an te s com o um ensaio v e r­ A lém disso, tem condições de estab e le c er as
san d o so b re um aspecto (astronôm ico) de bases p a ra u m am p lo estu d o co m p a rativ o
um a o b ra lite rá ria (M acunaím a) do que um a vez q u e tam b é m coloca ao alcance do
p ro p riam en te um tra b a lh o d e e tn o a stro ­ p e sq u isa d o r d ad o s so b re a a stro n o m ia das
nom ia. ■sociedades su l-am erican as em geral.
O artig o d e B erta R ib eiro , b a se ad o nas C o n se q ü e n te m en te, a B ibliografia C rítica
declarações d e um in fo rm a n te indígena. da E tnologia Brasileira, a clássica o b ra de

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B aldus (1954, 1968), c o m p le ta d a p o r H art- d u a s o b ra s a rro la d as sob o assu n to astrono­
m a n n (1981), tornou-se a fo n te p rin c ip a l de m ia, n a re a lid a d e , n ã o fazem dele o c en tro
c o n su lta p a ra a p esq u isa b ib lio g rá fic a q u e das suas p re o cu p a çõ e s (razão p e la qual
se e m p reen d eu . A o a p re se n ta r u m a classi­ a p arecem tam b é m rela cio n a d as em ou tro s
ficação p o r assu n to , essa coleção e fetiv a ­ assu n to s). A o c o n trá rio , tratam -n o d e m a­
m en te reg istra tex to s q u e tra ta m d e aspectos n e ira p e rifé ric a , e m b o ra o fereçam algum as
q u e se in screv em n o dom ín io d a etnoastro- in fo rm açõ es interessantes so b re co nhecim en­
n o m ia , e n te n d id a a q u i, c o n fo rm e j á se v iu , tos, crenças e m itologias in d íg en as envol­
no seu sen tid o m ais a b ran g e n te . N o e n tan to , v en d o c orpos celestes. R eferim o-nos à H is­
a g ran d e m aio ria deles tra ta do assu n to de tória da m issão d o s padres c a p u ch in h o s na
m a n e ira b a sta n te p e rifé ric a já q u e são estu­ ilha do M aranhão e terras c ircu n v izin h a s
dos d e v o ta d o s b a sica m e n te a o u tro s tem as, (1945 [1614]) de C lau d e d ’A bbeville e a
com o é o caso daq u eles c e n trad o s n a m ito ­ R ã-txa hu-ní-ku-i, a língua d o s C axinauás
logia ind íg en a. Sob a classificação e m assu n ­ (1941) d e C a p istra n o de A breu.
tos m ais e sp ecificam en te re lacio n ad o s com a O p rim e iro desses livros tra z n o cap ítu lo
e tn o a stro n o m ia com o ‘constelações’, ‘a stro ­ L I, in titu la d o ‘G ê n io e te m p e ra m en to dos
n o m ia ’, ‘c o n ce p çã o d e tem p o e e sp a ço ’ e m ara n h e n se s’ u m as p o u c as pág in as (pp.
‘cosm ologia’, os títu lo s n ã o som am m ais do 246-250) em q u e se re gistram co nhecim entos
q u e três dezenas, q u a n tid a d e v e rd a d e ira ­ e crenças d o s T u p in a m b á re fe re n te s aos
m en te d esp rezív el se se c o n sid era q u e os astros e alguns fenôm enos astronôm icos.
três volum es d a B ibliografia re ú n em em “ P oucos e n tre eles” , escreve d ’A bbeville,
seu c o n ju n to m ais d e 4.600 o b ras. T endo-se “ desconhecem a m aio ria dos astros e e stre­
a in d a em v ista q u e n a q u e le to tal se incluem las do seu h em isfério; cham am -nos todos
tam b é m p u b lic a çõ e s em alem ão , re su lta que p o r seus nom es p ró p rio s, in v en ta d o s pelos
n a p rá tic a o acervo ao a lcan ce do p esq u i­ seus an te p assa d o s” (p. 246). Seguem -se algu­
sa d o r q u e n ã o d o m in a esse id io m a fica m as iden tificaçõ es feitas pelo s ín d io s de
a in d a m ais re d u zid o . Pode-se, pois, com estrelas e constelações, a relação q u e esta­
base nesses d ad o s a v aliar o espaço q u e tem belecem e n tre o seu ap are cim en to e a ocor­
sid o o c u p ad o p e la etn o a stro n o m ia n o q u a ­ rê n c ia d e fenôm enos clim áticos (início e
d ro d a p ro d u ç ã o etn o ló g ica so b re os índios térm in o do p e río d o d e c h u v as, p o r exem ­
do B rasil b e m com o as d ific u ld ad e s que plo ), algum as observações so b re c o n h eci­
se colocam a o in ician te no e stu d o desse m entos q u e possuem a resp eito d a L u a (fa­
assunto. ses e eclipse) e d o Sol (cam in h o que p e r­
N o lev a n tam en to b ib lio g rá fic o com o um co rre no espaço), além d e u m as p o u cas
todo — in clu in d o a q u i, p o rta n to , a “ pes­ referên cias a c ren ç as o u h istó ria s e nvolven­
quisa ao acaso ” a q u e já se re fe riu — a d o c orpos celestes. A ssim , a H istó ria da
m itologia in d íg e n a , com o aliás se previa, m issão se n ã o chega a c o n stitu ir u m tra b a ­
fo i o assu n to q u e o fereceu u m m aio r lho vigoroso em term o s d e e tn o a stro n o m ia
n ú m ero d e tex to s c o n te n d o elem entos de c o n trib u i seg u ram en te p a ra o estu d o da
a stro n o m ia . V ia d e re g ra , tais tex to s cons­ astro n o m ia dos indígenas b ra sile iro s em
titu e m m eras tran scriçõ e s d e h istó ria s m íti­ geral, e d o s T u p in a m b á em p a rtic u la r, além
cas, com d e staq u e p a ra relato s e n volvendo de revelar-se p ro v a v elm e n te o p rim e iro tra ­
o Sol, a L u a e as estrelas, sem se d e te r em balh o d e c u n h o etno ló g ico c o n te n d o d ad o s
questões m ais p ro p ria m e n te astro n ô m icas específicos so b re o assunto.
(p o r exem plo, o c o n h ec im e n to e n volvendo
O e stu d o d e C a p istra n o de A b re u , p o r
eoypos celestes bem como referências a as* se u lad o , com o o su b títu lo já o in d ica,
pectos d a v id a in d íg en a d ire ta o u in d ire ta ­
m en te re lacio n ad o s a eventos astronôm icos) fo caliza p rin c ip a lm e n te a lín g u a indígena,
a tra v é s d o e stu d o d a g ram ática, d e tex to s
ou o fe re c er q u a lq u e r tip o d e in te rp reta çã o .
C ontu d o , fo rn e ce m m aterial etnográfico e do v o c ab u lário C a x in a u á. É , p o rta n to ,
passível de so frer u m tra ta m e n to a n alítico u m a o b ra v o lta d a em in e n te m e n te p a ra a
e c o la b o ram n o sen tid o d e to rn a r visível á re a d a etn o lin g ü ístic a. Baseia-se n o de­
u m p a n o ra m a , a in d a q u e in cip ien te, d a p o im e n to d e d o is jo v en s C ax in a u á sobre
e tn o a stro n o m ia b ra sile ira . v á rio s a ssu n to s, sendo a p a rte p rin c ip a l do
livro c o n stitu íd a de tex to s n a lín g u a in d í­
A B ibliografia C rítica re g istra nos seus
gena a co m p an h a d o s p o r tra d u ç ã o lite ral em
três volum es u m to ta l d e a p e n a s seis títu lo s
po rtu g u ês. E m u m dos c ap ítu lo s (cap. X V ,
e x p lic itam e n te classificados sob os tópicos
“ A stro n o m ia ” , p p . 436-480) o a u to r a n o ta
a stronom ia e constelações. O s q u a tro tra ­
b alh o s v e rsan d o so b re este ú ltim o tem a, u m a série d e h istó ria s m itológicas em que
n o e n ta n to , fo ra m p u b lic a d o s n a lín g u a ale­ p rim o rd ia lm en te se focalizam co rp o s celes­
m ã, o q u e te n d e a lim ita r c o n sid erav el­ tes (esp ecialm en te o Sol e a L ua) e fenô­
m en te su a u tiliza çã o . P o r o u tro lad o , as m enos m eteorológicos, o ferecen d o u m p a i­

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nel in te ressa n te sobre a cren ça C axinauá re ­ chegam os a fo n íe s — especialm ente através
lativ a a o m u n d o d a a stro n o m ia . A ssim , m es­ d a p e sq u isa a le a tó ria re fe rid a n o início do
m o essa p a rte do tra b a lh o — o n d e se po d e tra b a lh o — q u e escapam aos seus lim ites.
c o lh e r, a in d a q u e in d ire tam en te , as m elh o ­
res inform ações so b re a a stro n o m ia C axi­
n a u á — é b asicam en te in se rid a no cam po Conceito de espaço e tempo
da m itologia indígena, isto é, não constitui
um a coleção de d ad o s a stronôm icos p uros. U m tem a g eralm ente a licerçad o em con­
A lém dessas, podem -se c ita r o u tra s pu b li­ siderações a stro n ô m ic as é o q u e se refere
cações q u e a p rese n tam elem entos d e etno- à c o n ce p çã o do espaço e do tem p o nas
a stro n o m ia , a in d a q u e n ã o e stejam classifi­ so cied ad es indígenas. A pesar d a im p o rtâ n ­
cados n a B ibliografia C rítica em assuntos cia q u e se lh e a trib u i p a ra u m a c o m p re en ­
d iretam e n te re lacio n ad o s com a astronom ia. são m ais a m p la d o m u n d o trib a l, esse tem a,
É o caso do tra b a lh o d e D arcy R ibeiro so­ n o e n ta n to , n ã o tem su scitad o a aten ção
b re os K ad iw éu q u e, o b jetiv an d o fo rn ec e r q u e se d isp en sa àq u eles trad icio n a lm e n te
um p a n o ra m a g eral d a c u ltu ra desses ín ­ c o n sid erad o s n a p e sq u isa a n tro p o ló g ica , co­
dios, reg istra alguns dados astronôm icos. m o é o caso do paren tesco , d a m itologia,
A lém d a id en tific aç ã o d e constelações co­ d a e conom ia, d a religião, d a m agia. Em
m o as P lêiades e o C ru zeiro do Sul, há c o n se q ü ên c ia , n ã o se desenvolveu ainda
re fe rê n cia a o u tro s astro s (L u a, V ênus) e u m a m eto d o lo g ia m ais a p ro p ria d a p a ra a
fenôm enos n a tu ra is com o os raio s e os e x p lo ração do assu n to (cf. S chaden, 1978:
-trovões. M as são poucos os d ad o s astro n ô ­ 33), o q u a l p e rm a n ec e e n tã o um p o u co à
m icos p u ro s, v ia de re g ra en co n trad o s m arg em do tra b a lh o antro p o ló g ico tra d i­
e m b u tid o s em consid eraçõ es so b re cosm o­ cional. P a re ce difícil p re c isa r a ra zã o p o r
logia, gênesis, ritu a is e m itologia (R ibeiro q u e isso a co n tece, m as, p e la n a tu re z a m es­
1980). T am b ém José d e O liv eira em seu m a das q u estõ es q u e se p ro p õ e m , talvez se
O s C herentes oferece alguns elem entos de possa d ize r q u e m ais do q u e o u tro s assun­
a stro n o m ia reco lh id o s e n tre esses índios. tos as noções d e e sp a ço e tem p o testam os
“ Já tin h a m estabelecido o an o , suas esta­ lim ites d e a b straç ão , percep ção e relativi-
ções e a cid en tes m eteorológicos, com d e te r­ z ação a que se p o d e e n tre g ar o p esquisador.
m inações p a ra a la v o u ra ” , escreve o au to r. A fin al, com o e n fa tiz o u B enjam in W h o rt
“ C o n tam os m eses p o r lunações, e o ano “ Just as it is p o ssib le to have any n u m b e r
com eça em ju n h o com o ap are cim en to das o f geom etries o th e r th a n E u clid ea n w h ich
P lêiades, q u a n d o o sol está prestes a deix ar give a n equally p e rfe c t a c c o u n t o f space
a constelação d e ta u ru s ” . D epois d e regis­ c o n fig u ra tio n , so it is possible to h a v e des­
tra r a in d a o re co n h e cim en to d e o u tras c rip tio n s o f th e u n iv erse, all equally, th at
estrelas e co nstelações (H yades, O rion, d o n o t co n ta in o u r fa m ilia r c o n stru cts o f
T rê s M arias), refere-se à divisão do ano tim e a n d sp a c e ” (a p u d Posey 1982: 90-91).
b asead a em o c o rrê n c ia s solares e lu n are s, N a m esm a lin h a , B ildem an a sseverou que
à contagem do tem p o d iu rn o e n o tu rn o e “ w e sh o u ld no m o re b e su rp rise d a t the
às p rá tica s agrícolas q u e se regulam pelas alien o r exotic fe atu res o f p rim itiv e tim e
d ifere n te s lunações (R ib eiro 1915: 21). reck o n in g th an a t th e fe a tu re s o f o th e r
F eitas essas considerações so b re o b ra s p e o p le ’s c o rre sp o n d in g social org an izatio n
específicas, d o ra v a n te n ã o se rá nosso p ro p ó ­ o r religious b eliefs” (ib id e m : 91).
sito neste artig o c o m e n ta r in d iv id u a lm e n te
os textos q u e lh e serv iram d e base. Isso
não só se ria in co m p atív el com o espaço C om re fe rê n cia a o espaço, é com um
de q u e dispom os, com o tam b é m fu g iria ao observar-se que e n tre os indígenas a re p re ­
e sp írito g e n era liz ad o r q u e p arece m ais ade­ se n tação esp acial d a aldeia e d o s am bientes
q u a d o à n a tu re za de trab a lh o s com o este. c ircu n v izin h o s se d á em term o s d e círculos
A ssim , o p tam o s p o r eleger alguns tópicos c oncêntricos, re p ro d u z in d o assim a im agem
cu ja co n sid era çã o suscita m ais d iretam e n te q u e possuem do p ró p rio univ erso . A s a l­
in cu rsõ es no cam po d a e tn o a stro n o m ia , co­ deias C aiap ó , p o r exem plo, p o d em ser vistas
m o é o caso dos con ceito s d e espaço e de com o v e rd a d e ira s “ m anifestações sociais do
tem po, d a concepção d o un iv erso e dos c írc u lo ” (M a tta 1976a. Posey 1982, V idal
m itos astro n ô m ico s. V ale re g istra r tam bém 1977, Seeger 1977). T rilh a s d e c aça são ca­
q u e não e starem o s re fe rin d o nos a pu b li­ m in h o s c irc u la re s, locais d e c aç a d a são c o n ­
cações ex clu siv am en te co n stan tes d a B iblio­ c eb id o s em to rn o d e área s c irc u la re s on d e
grafia C ritica da E tnologia Brasileira. Por se d o rm e e se d a n ç a , os cam p o s são espaços
m ais a b ra n g e n te q u e seja o seu c o n te ú d o c c irc u la re s re co rtad o s n a flo resta, assim c o ­
por m ais a ju d a q u e nos ten h a p restad o . m o tú m u lo s e cem itério s são tam bém

6
circ u la re s em su a fo rm a. M esm o a e stru tu ra tos a stronôm icos ind íg en as. N o e n ta n to ,
social e o sistem a d e p a ren tesco C aiapó talvez já seja possível, a p a rtir de dados
p o d em se r c o m p re en d id o s com o possu in d o dispersos em v á ria s m onografias, esb o çar
u m a o rg an ização c irc u la r (Posey 1982: 92). u m q u a d ro c o m p a rativ o d a aplicação d e
A re la çã o e n tre esses d ad o s e a a stro n o ­ con h ecim en to s in d íg en as de astro n o m ia na
m ia torna-se e v id en te q u a n d o se tem em a tiv id a d e agrícola, n a p esca e n a coleta.
co n ta q u e p a ra a sociedade C a ia p ó “ T h e
E m seu liv ro N a tu re a n d c u ltu re in cen ­
p rin c ip a l n a tu ra l m an ifestatio n s o f th e cir­
cle are th e su n a n d m o o n . T h e su n is tral B razil (1981) A n to n y Seeger dev o ta
c irc u la r a n d is believed to travel in a algum as pág in as ao estu d o do “ tem p o eco­
c irc u la r p a th across th e earth, th en u p and lógico” e n tre os Suyá e fa z u m a in te res­
a ro u n d th e sky layer ab o v e in o rd e r to sa n te síntese a resp eito d e com o esses
ín d io s m arc am p erío d o s d e tem p o e p artes
re a p p e a r th e n e x t day. T h e m o o n trav els
d o d ia e d a noite. “ [ T ] h e y in d ic a te th e
o n th e sam e p a th a n d th e p h a se s o f the
fu tu re by th e stage o f th e m o o n , by a n u m ­
m o o n are im ages o f th e a b stra c t fo rce s th a t
b e r o f m oons, th e m ovem ent o f th e c o n st­
com pose tim e a n d space, fo r th e m oon itself
changes a n d even seem s to d isa p p ea r, b u t e llatio n s, th e n u m b e r o f ra in y seasons, o r by
nonetheless rem ain s th e m o o n ” (ib id em ). stages o f life cycle. T h ey fre q u e n tly use these
m easures o f tim e fo r discussing fu tu re trips,
cerem o n ies, a n d th e a rriv a l o f visito rs” (p.
Q u a n to à m arcação d o tem p o destacam -se 62). D epois de in d ic a r d e ta lh a d a m e n te a
o “ tem p o e s tru tu ra l” e o “ tem p o ecoló­ m arcação d e p erío d o s d iu rn o e n o tu rn o p ela
g ico” , g eralm e n te e n co n trad o s em to d as as p o sição do sol e d a lu a e suas fases, Seeger
sociedades. H á tam b é m o u tro s tip o s d e m o stra a im p o rtâ n c ia das P lêiades p a ra o
tem po, com o é o caso d o ‘m acro-tim e’ des­ reco n h ecim en to do tem p o e su a relação
crito p o r Posey (1982) em seu e stu d o sobre com as p rá tic a s agrícolas. D iz ele: “ As the
os C aiapó e as c onseqüências d o co n ta to P leiades a p p e a r fa rth e r a n d fa rth e r to w a rd s
p re sid id o pela d iv erg ên cia c u ltu ra l em ter­ th e w estern h o rizo n in th e evening, the
m os d e d iferen ças de c o n ce p çã o so b re e sp a­ Suya fre q u e n tly co m m en t o n h o w soon it
ço e tem p o ; e o p assad o ‘m ito -h istó rico ’ w ill b e th e d ry season. T h e y say, “ W h en
q u e C harles W agley id en tific o u e n tre os th e P leiades are fa r o v er th ere, it is already
T a p ira p é e q u e se refere a o p e río d o p re té ­ th e d ry season” . W h en th e P leiades begin
rito em q u e o fato h istó ric o e o tem po to rise ju st b e fo re d a w n , it is tim e to
m ítico se c o n fu n d e m (1977a: 376). O “ tem ­ fin ish c u ttin g th e gardens. W h en they are
po e stru tu ra l” p o r sua vez se refere aos ci­ fa irly h ig h in th e sky a t d a w n , it is tim e
clos d a v id a h u m a n a , g eralm en te celebrados to b u rn th e g ard en s a n d p lan t. W h en they
p o r rito s de passagem . O “ tem p o ecoló­ a re settin g ju st b e fo re d a w n , th e rain s
gico” , m ais d iretam e n te associado a fe n ô ­ begin a n d th e ra in y seasons ritu a ls com m en­
m en o s astronôm icos, é d e te rm in a d o pelos c e ” (ibidem : 64). A q u i tem os, p o rtan to ,
ciclos d o s dias e d a s noites, d a s fases da u m bom exem plo d a im p o rtâ n cia dos even­
lua, das estações seca e c h u v o sa q u e ocor­ tos a stronôm icos p a ra as sociedades in d í­
re m a c ad a a n o e tc. “ T h is ecological tim e genas q u e se va le m deles p a ra d e te rm in a r
is re ck o n e d by th e activities o f m an in ta n to p rá tic a s econôm icas q u a n to culturais.
re la tio n sh ip to th e e n v iro n m e n t” , d iz W ag­
ley. “ E ac h o f these tim e p e rio d s is a re p e ti­
tio n o f a n o th e r. T h e cycle o f th e y e ar is a C oncepção do universo
re p e titio n o f eco n o m ic activ ities to w ich a
cycle o f festival is lin k e d ” (ib id e m : 375). A idéia q u e as sociedades trib a is pos­
E v id e n tem en te , consid eraçõ es so b re o suem a resp eito do un iv erso é u m tem a
(em po ecológico surgem c o m freq ü ê n c ia nos b a stan te re co rre n te nos trab a lh o s d e e tn o ­
logia. V ia d e reg ra, no e n ta n to , a descrição
e stu d o s d e a n tro p o lo g ia indígena, p a rtic u la r­
do u n iv erso in d íg e n a n ã o re su lta d a pes­
m en te com re fe rê n cia à a g ric u ltu ra , já que
q u isa o b jetiv a, no sen tid o d e que o p esq u i­
as estações clim áticas, seca e ch u v o sa , são
sa d o r ind ag a e fetiv a m en te so b re esse assun­
u m d a d o fu n d a m e n ta l p a ra o ciclo agrícola to. C om um ente. os d ad o s encontram -se frag ­
q u e se d e senvolve a tra v é s d e e ta p as estrei­ m en ta d o s em m eio a consid eraçõ es sobre
tam en te v in c u la d a s aos fenôm enos m ete o ­ d ifere n te s tóp ico s, co n stitu in d o p o rta n to ele­
rológicos com o a a b e rtu ra d a s ro ç as, a m en to s secu n d ário s de trab a lh o s q u e foca­
q u e im a d a, o p lan tio e a co lh e ita . M as p o u ­ lizam p rio rita ria m e n te ou tro s tem as. N esse
cos são os tra b a lh o s d ed icad o s a e x p lo ra r caso, a concepção do un iv erso surge com o
em p ro fu n d id a d e a re la çã o e n tre a p rá tic a ‘p a n o d e fu n d o ’ p a ra a colocação de ques­
a g ríco la e as concepções e os co n h ecim en ­ tões m ais a p ro p ria d a m e n te re lacio n ad as,

7
p o r exem plo, com o cam p o d a m itologia, K rah ô co rre m ao re d o r d a a ld e ia com suas
d a religião, d a cosm ologia (cf. C a p istra n o toras, e te rn iz a n d o , na te rra , o m ovim ento
d e A b reu 1938, S teinen 1940, C astro 1978a, dos astros, seus d escen d en tes prim eiro s. O
A gostinho 1974a, Seeger 1977, Posey 1982, m ovim ento d a sociedade é sim b o lizad o pela
S ilverw ood-C ope 1980). A o p esq u isad o r c o rrid a d e to ra s a o re d o r d a a ld e ia, pois
m ais in teressad o no assu n to c ab e , pois re u ­ e sta é o m icrocosm o do U niverso” (C hiara
n ir os elem en to s d isp erso s no re la to m itoló­ 1978: 60).
gico ou nas c o n sid eraçõ es religiosas e d a r O s C aiapó tam b é m co n ta m q u e o céu é
form a à c o n ce p çã o do u n iv erso q u e lhes
su ste n ta d o pela p a rte leste p o r um tronco
está su b jacen te. D a í re su lta q u e a p en a s oca­
d e á rv o re g igante, re g u la rm e n te ro íd o p o r
sio n alm en te encontram -se fo rm u laçõ es m ais um ta p ir q u e, d e v id o a su a gula, am eaça
e la b o rad a s so b re a concepção do universo
fazê-lo d e sa b ar. F elizm ente, a p a rte ro íd a
d e g ru p o s indígenas brasileiros. do tronco sem p re se re stau ra , m as o m edo
U m exem plo d a reco n stru ç ão do universo
do céu c a ir está sem p re presen te e n tre os
in d íg en a a tra v és d a m itologia é oferecido
índios. N o e x trem o leste, on d e está a árvore
p o r D a rrel Posey. R eferindo-se aos C aiapó,
que segura o céu m o ram todos os espíritos
d iz ele q u e “T h e u n iv erse is described in
m aus. O céu é co n sid era d o a residência
m yths as being c irc u la r, w ith floating
a n te rio r dos C a ia p ó ; abaixo d a te rra há
p a ralle l discs fo rm in g layers o f th e uni­
um ‘m u n d o n o v o ’ on d e se d istingue ‘um
verse circ u m scrib e d by th e o u te r circle.
se rtão e n o rm e e as m atas. A pesar d e o lh a ­
O n e o f th e p a ralle l discs is th e e a rth , w ich
rem m a ra v ilh a d o s p a ra esse n o v o m u n d o
is likew ise d ivided into co n ce n tric rings,
d ecid iram não se a rris c a r a explorá-lo p re ­
the m en ’s house bein g th e c e n te r o f th e cir­
ferindo p e rm a n ec e r na superfície d a te rra ’
cle, su rro n d e d by th e village, a tran sitio n
(L u k esch 1976: 11-13).
zone, th e forest, a n d th e o u term o st circle
S eg u n d o Egon S ch ad en , q u e se apoiou
b ein g th e area o f n o n -In d ian s ( . . . ) . T hus
em d ad o s p u blicados p o r M aybury-L ew is,
th e circle encom passes a d e fin ite reality
“ [ P ] a r a os d e sâ n a, o Sol e xistiu desde sem ­
a n d rep re se n ts the cyclical essence o f
pre, sob a form a d e u m a lu z am a rela , m as
e n ca p su late d u n its o f tim e a n d sp a c e ”
ao m esm o tem p o com o p rin c íp io c ria d o r do
(1982: 91-92).
cosm os, q u e teve a sua o rigem nessa luz.
P ode-se tam b é m c ita r a c o n trib u iç ã o de
A ntony Seeger a resp eito a in d a dos Suyá. D ividia-se o cosm os em três plan o s: um
su p e rio r, o solar; o u tro , no m eio, o te rre s­
P a ra esses índios “ T h e sky, sh ap ed lik e a
tre; e um terc eiro , ab aix o d a te rra . N este
b ow l, com es d o w n to e a rth at th e slides.
últim o q u e é o P a ra íso , o Sol foi v iv e r após
D irectly ab o v e th e v illage is th e village of
th e dead , reached by going east, clim bing a a criação, m as co n tin u o u a p ro v e r d e e n er­
tree, a n d re tu rn in g to th e m id d le o f the gia a todo o cosm os p o r m eio do Sol v isí­
sky. U n d e rn ea th the e a rth is a n o th e r w orld vel, q u e lh e d á c a lo r,lu z e fe rtilid a d e ( . . . ) .
sim ilar to th e Suyá w o rld ( . . . ) . N o rth a n d Por sua vez, a V ia-L áctea é u m enorm e
so u th are re fe rre d to by a single term fluxo sem inal e n tre o p lan o su p e rio r e o
m eaning ‘th e edge o f th e sk y ’. E ast and in te rm ed iário , ou seja, a T e rra ” (Schaden
w e st are n o t c a rd in a l po in ts, as on a com ­ 1978: 36).
p ass, b u t arcs, varying to w h e re th e su n is
rising o r m ay rise. A ltern a te nam es for
th e tw o directions re fe r to them as “ the O q u e se p o d e d e stac ar q u a n to ao a ssu n ­
p lac e w h e re th e su n rises” a n d “ the place to em p a u ta é o q u e podem os c h a m a r de
w h e re th e sun goes in ” . T h e tw o d irections “ in teração m áx im a ” e n tre as sociedades
are im p o rta n t in defin in g a n d localizing th e indígenas e os elem entos n a tu ra is de ordem
cerem o n ial m oities, o rien tin g th e bodies of astronôm ica. A o c o n trá rio do q u e aco n ­
th e d ead , a n d o th e r cere m o n ia l and life tece com a m o d ern a sociedade ocidental
passage ev en ts” (Seeger 1977: 348). on d e a separação e n tre o h o m em , a natureza
N um a fo rm u la çã o um ta n to sem elhante e o cosm os ten d e a se a c e n tu a r c ad a vez
à a n te rio r, o un iv erso c o n ceb id o pelos Kra- m ais, no co n tex to in d íg en a prevalece a re la ­
h ô tam bém possui no lado leste o q u e os ção e stre ita e n tre esses elem entos._ U m
ín d io s d e n o m in a m o “ pé do c é u ” . A lém exem plo d essa a p ro x im aç ã o no q u e d iz res­
do céu e d a te rra , h á m ais um espaço cós­ p e ito ao ín d io e à o rd e m a stro n ô m ica é o
m ico situ ad o sob esta ú ltim a. “ É um o utro que se p e rce b e n o tra b a lh o d e H an s B echer
m u n d o . Só que ali há m u ita lam a, m uita so b re alguns g ru p o s Y anom am i, cujas c ria n ­
p a lm e ira b u riti e p o rco-q ueixada. O Sol e ças ap resen tam u m a m an c h a m ongólica até
a L ua, no seu circu ito ao re d o r d a terra , os três ou q u a tro an o s d e id ad e . Esses
passam pelo m u n d o su b te rrâ n e o p a ra vol­ indígenas se crêem orig in ário s d a L u a, c a
ta r a L este ( . . . ) e os h o m en s e m u lh e res m an c h a é c o n sid era d a u m a p ro v a disso, já
que associam -na às p ró p ria s m an c h as que co n tid o s, bem com o a n a lisa r o c o n te ú d o dos
se ob serv am na su p erfície lu n ar. “E n q u a n to m itos n a ten ta tiv a de in te rp reta r-lh e s o sen­
a m an c h a fo r visív el” , diz B echer, “ a c ria n ­ tid o e, a p a rtir d a í, d e slin d a r a n a tu re z a da
ç a a in d a p e rte n ce a o co rp o , sangue e à relação e n tre a sociedade e o m u n d o da
alm a d a su a m ãe, q u e a a m a m en ta d u ra n te astronom ia. In felizm e n te , têm sido escassas
três anos e n ã o deve d a r n o v am en te à lu z e tím idas as te n ta tiv a s nessa direção.
nesse p e río d o . À m edida q u e a m an c h a de­ A a n tro p o lo g ia social e a etnologia têm
traz id o u m a razoável c o n trib u içã o p a ra o
saparece, sabe-se q u e a c ria n ça v o lto u a
e stu d o d a etn o a stro n o m ia a tra v és d a m ito ­
se r um ser h u m a n o p len o , q u e re ce b e então logia. Isto p o rq u e desde cedo os relatos
um n om e d eriv a d o d a fa u n a o u d a flora. m itológicos fizeram p a rte do m ate ria l e tn o ­
A m an c h a m ongólica fa z com q u e as c ria n ­ lógico reco lh id o dos m ais d ifere n te s grupos
ças p e q u e n a s se e n co n trem sob a p ro teção indígenas n a s v á ria s regiões do país. Assim ,
especial d a d iv in d a d e lu n a r P o ré /P e r im b ó ” o acervo m ítico in d íg en a é considerável
(B echer 1981: 43). em b o ra o c o n ju n to d e m aterial astronôm ico
S em elhantem ente, os K ra h ô tam b é m se seja c o m p a rativ am e n te re d u zid o se se le­
crêem descendentes do Sol e d a L ua, com o vam em c o n ta o u tro s tem as q u e tam bém
reg istra a su a m itologia (S ch u ltz 1959: 346). em ergem nos re la to s m íticos. D e q u a lq u e r
N o m u n d o in d íg e n a , p o rta n to , m ito c re a ­ m odo, já existe u m acú m u lo razoável de
lid a d e parecem se c o n fu n d ir, n ã o h a v en d o m ate ria l m itológico d e n a tu re z a astro n ô m ica
u m a lin h a d e m a rca tó ria n ítid a e n tre a cujo e scru tín io se g u ram en te p o d e rá fo rn e ­
h u m an id a d e, a n a tu re z a , e o e x tra te rre stre. c er d ad o s , a stronôm icos ou in terp retaçõ es
P revalece a c o n tin u id a d e, a p ro x im id a d e, a q u e explicitem a relação e n tre a n a tu re z a ,
co n vivência d e tu d o o q u e existe — ou a so cied ad e e o cosm os.
po d e ex istir — no un iv erso com o se to d as T ais m ito s referem -se esp ecialm en te ao
as coisas p erte n ce ssem à m esm a o rd e m de Sol, à L ua, às estrelas (d a í cham arem -se m i­
fenôm enos (cf. R ib eiro 1980, C h iara 1978, tos solares, lu n are s, estelares), além de
Posey 1982, A gostinho 1974a, S tein en 1940, envolverem outros e le m e n to s naturais e
S c h a d en 1978, S ilverw ood-C ope 1980, C as­ astronôm icos (ch u v a, d ilú v io , ra io , tro v ão ,
tro 1978a, 1986). céu, p la n e ta s, com etas etc.). N ã o é nosso
Pode-se, en tão , a firm a r com S c h a d en que in te n to a q u i fa ze r u m in v en tá rio dos m itos
“ a im agem do m u n d o ín d io n ã o deve ser a stronôm icos indígenas, m as c o n sid era r m ais
vista com o um q u a d ro estático, m as, em de p e rto a p e n a s um co n ju n to q u e a p rese n ta
essência e acim a d e tu d o com o sistem a de um m aterial m ais c o n sisten te, com o é o
processos conjugados e in te rd ep e n d e n te s, caso dos m itos q u e tem com o p e rso n alid a ­
co m p lem en ta res, q u e, e m sua totalidade g a ­ des cen trais o Sol e a L ua e q u e fazem
ra n te m a h a rm o n ia d e tu d o o q u e existe na p a rte do acervo m itológico d e v á rio s g ru ­
T e rra e fo ra d e la ” (S ch ad en 1978: 38). p o s trib a is brasileiros.

M itologia N a m itologia indígena, a presen ça do


Sol e d a L u a é de u m a re co rrê n cia b a s­
A m itologia d a s sociedades indígenas tem tan te significativa, esp ecialm en te n o s m itos
sido o te rre n o m ais fé rtil no q u e diz re sp ei­ de origem em q u e as p e rso n ag en s centrais
to a inform ações rela cio n a d as ao cam p o da são dois irm ãos gêm eos. T a is m ito s têm
e tn o a stro n o m ia . E v id en tem en te, o q u e se sid o e n c o n tra d o s em v á rio s g ru p o s tribais,
colhe nos re la to s m itológicos n ã o são preci- distrib u in d o -se p o r e x ten sa área geográfica.
p u a m e n te con h ecim en to s a stronôm icos dos Com o o b serv a Silvia C arvalho, “ [P ]a re c e
grupos in d íg en as e n q u a n to tais, ou seja, q u e o m ito dos heróis gêm eos p e n e tro u em
um a coleção d e d ad o s astronôm icos p u ro s q u a se todos os rincões do B rasil, sendo,
a respeito* dos co rp o s celestes ou a p rá tica s com o era d e se e sp e ra r, a b so rv id o d e form a
(econôm icas, p o r exem plo) re la cio n a d as a d ifere n te , é c laro , p o r c ad a trib o in d íg e n a ”
tais c onhecim entos. O s m itos astronôm icos, (1979: 146). T ais m itos fazem p arte, p o r
p o r su a p ró p ria n a tu re z a , incorporam idéias exem plo, do acervo m itológico d c to d o s os
e concepções re la tiv a s à astro n o m ia que se g ru p o s x in g u an o s (G alv ão 1979: 217, La-
frag m en tam e se dispersam nos episódios ra ia 1970: 118), (V illas Boas 1970: 47),
da n a rra tiv a m ítica, além de freq ü e n te ­ além de terem sido registrados e n tre os
m ente se inserirem nela d e m an e ira não A p ap o k u v a-G u ara n i (O este de São Paulo)
explícita. A o p e sq u isa d o r cabe, portanto, p o r C u rt N im u en d a jú e e n tre os T en e te h a ra
decodificar o re la to m itológico no sentido (M aran h ão ) p o r C harles W agley e E d u ard o
de a p re e n d e r os d ad o s a stronôm icos nele G alv ão . A p e sa r de q u e, com o ressalta R o­

9
q u e L ara ia em seu artigo “ O sol e a lu a c u ltu ra e à sociedade em q u e em ergem
n a m itologja x in g u a n a ” (1970), esses e tn ó ­ (A gostinho 1974a, C arv alh o 1979, Laraia
logos não ten h a m pro ced id o a n e n h u m a 1970, L eopoldi 1973, Q u e iro z 1976. Schaden
id en tific aç ã o dos irm ãos com o Sol e a L ua, 1976b). “ E n ca rad o co m o e xpressão ou re­
o m ito T e n e te h a ra é e stru tu ra lm e n te m uito flexo das fo rm as pecu liares d e u m a d a d a
se m elh an te àqueles em q u e os gêm eos re p re ­ so cied ad e” , d iz S ch ad en , “ o m ito se a p re ­
sentam d e fa to esses astros e po d e ser visto sen ta igualm ente com o trad içã o h istó ric a , o
com o u m a versão m o d ificad a deles no q u e q u e significa q u e sua in te rp re ta ç ã o pode
diz resp eito ao n om e das p ersonagens (cf. re v e la r n ã o so m en te a org an ização social
L araia 1970: 118-121, L eopoldi 1973). Já
do g ru p o n o p re se n te , m as u m a série de
N im u en d a jú , a p e sa r de n o ta r q u e o Sol e
tran sfo rm açõ es sociais o c o rrid a s n a co m u ­
a L ua e stão n o m in alm en te au se n te s no re la ­ n id ad e em épocas talv e z rem o tíssim as”
to m ítico d o s gêm eos, a d m ite a iden tificação
(S ch ad en 1959: 13). D e um m o d o geral,
e n tre estes e a q u eles c o rp o s celestes, d a d a
p o rta n to , to d o o p o ten c ial q u e os m itos
a grande im portância d o s astros para os
a stronôm icos a p rese n tam p a ra o e stu d o da
A p a p o k u v a-G u ara n i em cu jo s ritu a is estão
e tn o a stro n o m ia a ca b a sen d o co lo cad o à
sem pre re p re se n tad o s. A lém disso, o q u e
m argem à m e d id a q u e se p rivilegia o nexo
re fo rç a a a p ro x im aç ã o dos irm ãos gêm eos
sociológico e n tre a re alid a d e sociocultural
com o Sol e a L u a no reg istro feito p o r N i­ e o c o n te ú d o das h istó ria s m íticas.
m u en d a jú é que n a m itologia A p a p o k u v a E m o u tra s p a la v ras, as referências a stro ­
esses astros são irm ão s, filhos d e N an d eru - nôm icas q u e se p o d em d e te c ta r n a m ito lo ­
M b a e cu b a que, com o castigo p o r tran sg res­
gia in d íg en a v ia de reg ra c o n stitu e m in stru ­
sões sexuais, os ex p u lso u d a te rra desti- m en to n ã o p a ra o e stu d o da e tn o a stro n o ­
nando-Ihes o céu com o m o rad a p e rm a n en te m ia com o tal, m as a n tes p a ra a c o m p re en ­
(L ara ia , ib id e m ). A ssim , a g ra n d e sem e­ são dos aspectos sociais q u e a q u elas refe­
lh a n ç a dos m ito s T e n e te h a ra e A pap o k u v a
rê n cias p o d em e lu c id ar. O u a in d a , com o
com a q u eles em q u e os irm ãos gêm eos são u m d a d o astro n ô m ico p o d e quase sem pre
efetiv am en te id en tific ad o s com o Sol e a articular-se com um elem ento social, a ten ­
L ua leva à suposição de q u e os prim eiros d ên cia é to m a r o p rim e iro com o u m m ate­
co n stitu e m variaçõ es lig eiram en te m o d ifi­ rial de a p o io p a ra um m elh o r e n te n d im e n to
cadas d a m esm a h istó ria m ítica expressa
d o segundo, e não o c o n trá rio .
nos segundos, com o sugerido, aliás, p o r
E n tre os A pinayé, p o r exem plo, d esta­
Silvia C arvalho.
cam -se as m etad es m atrilin ea re s ou fratrias
d e n o m in a d as K olti e K olre q u e. segundo a
m itologia, fo ram cria d as pelo Sol e pela
E m q u e pese, p o rém , a sig n ificativ a o co r­
L ua, re sp ectiv am en te. “ O Sol e a L ua te­
rên cia d e m itos em q u e o Sol e a L ua têm
riam feito tam bém a divisão local das fr a ­
papel d e stac ad o , tais m itos n ã o tem sido
tria s ( . . . ) . [ A ] s ald eias A pinayé — com
u tiliza d o s com o b ase p a ra u m a e xploração suas casas dispostas em círc u lo , a p ra ç a de
m ais vigorosa no c am p o d a e tn o a stro n o m ia .
festas no c e n tro e os c am in h o s ra d ia is —
P o r um lado, o q u e se e n c o n tra sã o m eros
re p re se n tam o Sol. C o rre sp o n d en d o ao pre­
re la to s d a s h istó ria s m íticas ou pouco mais
dom ín io do Sol q u e tem p a p el m aio r n a
do q u e isso, sem q u e h aja um a p re o cu p ação vida religiosa, os chefes d a aldeia sem pre
m aio r em entendê-los com o um a fo n te de p erte n ce m à fra tria K olti. A esta c ab e igual­
d ad o s so b re a c u ltu ra in d íg en a o u sobre m en te a p rim a zia no cerim o n ial. N essas oca­
o con h ecim en to e m p írico dos agentes so­ siões, os m em b ro s d a fra tria K o lti são
ciais (cf. A gostinho 1974b, B aldus 1937, cara cte riz ad o s p o r p in tu ra v e rm e lh a no c o r­
1960, C arvalho 1951, N im u en d a jú 1946, p o , os d a fra tria K olre p o r p in tu ra p re ta .
S chaden 1947, S ch u ltz 1950, S teinen 1940, D efrontam -se com o co m p etid o res nas tra ­
W agley e G a lv ão 1961). D e o u tro lado, d icionais c o rrid a s de to ras, n o s jogos e
q u a n d o se b u sc a q u e r su b m e te r os m itos esportes. O s K olti e K olre são o rg an iza­
a um tra ta m e n to a n alítico m ais a p ro fu n d a ­ ções p u ra m e n te cerim oniais ( . . . ) ” (Zer-
do, q u e r estab e le c er u m a relação apenas ries 1976: 99). R eferindo-se ao m esm o m ito
a p ro x im ad a e n tre m ito e sociedade, q u e r A pinayé. R o b e rto d a M atta ressa lta que “é
ain d a in te rp re ta r sim bolicam ente os ele­ in concebível a ex istência de Sol sem a exis­
m entos q u e perm eiam a n a rra tiv a , in v aria ­ tência d e L ua, do m esm o m odo que na
velm ente a tendência é d e m o n stra r com o o so cied ad e A pinayé é im possível ter-se a
m ito ex p ressa aspectos fu n d a m e n ta is da m etad e K olti (associada a o Sol e p o r ele
e stru tu ra social, vale d izer, n o rm as, valores, c ria d a ), sem se ter o g ru p o K olre (asso­
p adrões de c o m p o rtam e n to in eren tes à ciada a L ua e p o r ela criad a) ( . . . ) . f Al qui


há p o larid ad e e c o m p le m e n ta rid ad e , pois a specto n itid a m e n te e d u c a tiv o ” (Q u eiro z
a m etad e K olti se c a ra cte riz a com o o grupo 1976: 300-301, grifo nosso).
líd e r e a K olre co m o o g ru p o com plem en­ Q u a n d o o m ito não rem ete d iretam e n te
ta r, d o s seguidores ( . . . ) • [É ] possível falar ao nível organ izacio n al da sociedade ele
em dois grupos q u e d e fa to só podem exis­ p ode a p o n ta r p a ra in stân c ias m enos a b ra n ­
tir com o u m a u n id a d e . A ssim , e u cham o gentes no se n tid o , p o r exem plo, d e m odelar
esse g ru p o d e m e ta d e , isto é, u n id ad e s com ­ ações e c o m p o rtam e n to s in d iv id u a is (cf.
p lem e n ta res” (M a tta 1976b: 102-103). M a tta 1976a: 159). É o caso d o m ito on d e
O m esm o se p ode a p re e n d e r do tra b a lh o o Sol e a L ua co dificam os p ad rõ es m asculi­
d e O tto Z erries ‘O rg an ização d u a l e im a­ n o e fem in in o de c a rá te r e c o m p o rtam e n to
gem do m u n d o e n tre os índios b ra sile iro s’ que são v a lo riza d o s pela sociedade. O “ Sol
(1976). A q u i o a u to r in v e n ta ria a posição é o in d iv íd u o ideal p a ra a c o m u n id a d e T im ­
histó rico -cu ltu ral d a org an ização d u a l e n tre b ira : n ã o b rig a, cede a n te os rogos im p erti­
os ín d io s b rasileiro s a fim d e re su m ir os n e n te s e im p o rtu n o s do c o m p a n h eiro , é m o­
aspectos ideológicos dos sistem as sociais d esto, q u ieto , a co m o d ad o , não fa z v a le r seus
d icotôm icos. A s d u a s m eta d es em q u e se direito s (em bora c o n v e n c id o deles), a fim
su b d iv id em as sociedades c o n sid era d as no d e n ã o d e se n ca d ea r d isp u tas, po is ev ita o
seu tra b a lh o co rre sp o n d e m a g ru p o s sociais m ais possível as b rig a s” . P o r o u tro lado,
(‘m eta d es’) q u e a u m só tem p o se opõem e ‘‘L ua é c ria tu ra a rro g a n te, exigente e insa­
se co m p lem en tam : clãs antagônicos, m eta­ tisfeita, q u e insiste em sa tisfaz er to d as as
des exógam as, e q u ip e s c o m p e tid o ra s, m e­ suas v o n tad es, que rezinga e b rig a p o r
tades cerim oniais etc., c o n fig u rad o s p o r um q u a lq u e r c oisinha, q u e im põe a p rio rid a d e
d ualism o vegetal ou an im al, p a relh as de d e seus desejos so b re os desejos dos ou tro s
fig u ras m íticas, p a relh as de irm ãos etc., e q u e p o r isso m esm o aca b a lev a n d o na
sendo cad a um a dessas “ m eta d es” associa­ c abeça e fazen d o papel rid íc u lo ” (Q u eiro z
das a d ete rm in a d o s “ p a res a n tité tic o s” 1976: 300-301).
com o n o ite /d ia , N o rte /S u l, p a ren tes/a fin s, N a base dessas suposições, argum enta-se
L e s te /O e ste , S o l/L u a , p o rta n to , vários p a ­ q u e a divisão em m etad es, re p re se n tad a s
res com fo rte co n o ta çã o a stro n ô m ica. O p elo Sol e pela L ua, de g ran d e n ú m ero de
a u to r, p o rém . Iim ita-se a u tiliz a r esses ele­ tribos indígenas b rasileiras po d e e x p re ssa r
m entos a p en a s o suficiente p a ra satisfazer a divisão e oposição q u e existe e n tre o
in te rp reta çõ e s de c u n h o n itid a m e n te socio­ m asculino e o fem inino. A vida social esta­
lógico. ria dessa m an e ira , a p en a s re fle tin d o um a
D e m an e ira análoga, M a ria Isa u ra P ereira o rd e n aç ão cósm ica: à d u a lid a d e S o l/L u a
d e Q u e iro z, in te rp re ta n d o o significado do c o rre sp o n d e ria a d u a lid a d e social e psicoló­
m ito T im b ira e n v o lv en d o o Sol e a L ua, gica h o m e m /m u lh e r. “ C onceitos dualísticos
d e ix a b a sta n te clara essa ten d ê n cia d e fazer já teriam ex istid o e n tre c aç ad o re s d e a n i­
co n v erg ir p a ra a ex p licitação do social m al d e g ran d e p o rte, so b re tu d o um du alis­
q u a lq u e r tip o de d a d o etn o g ráfico , com o os m o an im al; todavia a p o larid ad e e n tre h o ­
q u e contêm referências astro n ô m icas. “ Sol m em e m u lh e r teria a d q u irid o se n tid o m ais
e L ua p erso n ificam as forças m orais que p ro fu n d o , graças à im p o rtân cia da m u lh e r
agem n a sociedade T im b ira, tornando-se com o c u ltiv ad o ra do solo” , diz O tto Z erries.
m ais palp áv eis e m ais fáceis de im pres­ “ A dem ais, teria surgido o e m penho de o rd e ­
sio n ar; ou re p resen tam , p a ra os indígenas, n a r a vida segundo as leis o b se rv ad a s no
o s aspectos d a n a tu re z a ‘q u e são d e im p o r­ C osm os. Dessa form a, ter-se-ia chegado à
tân c ia p a ra o bem -estar d a so cied ad e’, m as expressão social d e u m a im agem dualista
d o m undo, com as regras d e casam ento d aí
tã o fo rtem en te se acham os T im b ira im b u í­
re su lta n te s” (Z erries 1976: 114).
d o s d a o rdem social em q u e vivem , que
Percebe-se, assim , com o ta n to em term os
enxergam Sol e L ua su jeito s às m esm as in d iv id u ais q u a n to in stitu cio n ais ou coleti­
forças m orais q u e nela in flu em . D e q u a l­ vos, a co n sid era çã o da m itologia in d íg en a
q u e r m an eira, o m ito do Sol e d a L ua indi­ se faz v ia de regra no sen tid o d a s instâncias
c a m u ito bem d e q u e m an eira as coisas não sociais (cosm ologia, a stro n o m ia , n a tu ­
da n atureza a feta m a vida social (a u tili­ reza) p a ra a sociedade, ou seja, u tiliz a os
d a d e do dia, a p re fe rê n cia pela estação elem en to s d a q u elas que estão em b u tid o s
seca), ligando-se a elas, d e m an eira com ­ na n a rra tiv a m ítica p a ra a co m p reen são
p re en sív e l, os v alo res m o rais q u e im peram desta, atra v és do d esv en d am en to de p rin ­
n a trib o (p o r exem plo, o bom c a rá te r do cíp io s e stru tu ra is bem com o d a ex p licita­
Sol, o qual p o r sua vez co m a n d a o d ia e a ção de c o m p o rtam e n to e ações valo rizad o s
estação seca), tu d o a p re se n ta n d o sem pre um pelo c o n ju n to social.

11
M uilo d o q u e foi d isc u tid o aqui de m a­ os qu ais se p o d e ria e x e rc ita r a in te rp re ta ­
n eira um ta n to su m á ria a resp eito dos m i­ ção n a d ireç ão c o n trá ria , o u seja, no sen­
tos en v o lv en d o o Sol e a Lua vale tam bém tido d a sociedade p a ra a c o sm o lo g ia /a stro n o ­
p a ra os o u tro s m itos astronôm icos. N a m ia. A q u i o privilégio c a b e ria à explicitação
m aioria d a s p ublicações e ncontra-se apenas dos elem entos astronôm icos q u e m uitas v e ­
o reg istro d a h istó ria m itológica (cf. Aytai zes se ach am d isp erso s o u im plícitos no
1977, 1978, 1979; C oelho 1982, O liveira co n tex to m itológico. Id e ia s e noções sobre
1915, B aldus 1937, 1960; A gostinho 1974b, a cosm ologia, c orpos celestes, fenôm enos
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den 1947, R ib eiro 1980, P e re t 1979, R odri­ surgem m u ita s vezes com o u m c en á rio so­
gues 1890, V illas Boas 1974, L ukesch 1976, bre o q u a l se desenvolvem as ações m ito ­
P e re ira 1973, 1974a, 1974b, G ia c c a ria e lógicas e p o d em tam b é m c o n stitu ir legi­
H c id e 1975, B an n er 1957), e in v ariav e l­ tim am ente focos d o e stu d o antro p o ló g ico .
m en te q u a n d o o m ito deixa d e c o n stitu ir
H á e n tã o q u e se e stim u la r esse e outros
sim ples h istó ria com sa b o r fo lcló rico ele
tipos d e p e sq u isa n a á re a d a etnoastro-
surge com o in stru m e n to de e x p licação do
c o n te x to social. C o eren tem en te com esta nom ia, q u e m an te m u m a po sição periférica
o bservação E v erard o R ocha d e stac a que na face aos estu d o s trad ic io n a is d a a n tro p o ­
área d a m itologia um dos trab a lh o s do logia. S eg u ram en te u m a d a s razões p a ra
an tro p ó lo g o tem “ p o r fin a lid a d e in te rp re ta r isso é q u e o antro p ó lo g o social — cate-
o m ito p a ra d e sc o b rir o q u e este po d e reve­ o ria q u e p o r excelência se d e d ic a ao estu-
la r so b re as so cied ad es de on d e o m ito p ro ­ o das sociedades indígenas — n ã o é esti­
vém . É a in te rp re ta ç ã o do m ito com o fo r­ m u la d o n o s cursos d e fo rm aç ão a in co rp o ­
m a d e c o m p re e n d e r u m a d e te rm in a d a e stru ­ ra r o e stu d o d a e tn o a stro n o m ia nos lim ites
tu ra social. N esta linha, a A n tro pologia d e seu in teresse d e p e sq u isa ; d e o u tro lado,
u su a lm e n te assum e a ex istên cia de u m a re la ­ pro fissio n ais d a área d a a stro n o m ia ra ra ­
ção e n tre o m ito e o c o n te x to social. O m i­ m ente colocam seu acervo teó rico e o
to é, pois, cap a z de re v elar o p e n sa m e n to acúm ulo d e suas ex p eriên cias a serviço da
d e um a sociedade, a su a c o n ce p çã o d a exis­ e tn o a stro n o m ia , e q u a n d o isso o c o rre é
tência e d a s relações que os h om ens devem fácil a n te v e r as d ific u ld ad e s q u e e n fre n tam
m an te r e n tre si e com o m u n d o que os face à falta d e in tim id a d e q u e possuem
c e rc a ” (R ocha 1986: 12). com o tra b a lh o etnológico, q u e r do p o n to
Essa p re d o m in ân c ia do social n o estudo d e vista teórico, q u e r do p o n to de vista
das sociedades indígenas deve-se sem d ú v i­ p rá tico .
d a ao fato de q u e tais socied ad es têm A p esq u isa em e tn o a stro n o m ia p o d eria
a tra íd o fu n d a m e n ta lm e n te o interesse de ser larg a m e n te im p le m e n tad a atra v és de
a n tro p ó lo g o s sociais q u e, p o r fo rça d e sua conv ên io s e n tre cen tro s d e p e sq u isa e e stu d o
fo rm aç ão , n a tu ra lm e n te privilegiam a a b o r­ de a stro n o m ia e de e tn o lo g ia /a n tro p o lo g ia
dagem sociológica dos c o n tex to s q u e inves­ social no sen tid o de q u e pro fissio n ais de
tigam . D essa form a tendem a tom ar, com o am bas as á reas pudessem tro c a r e x p e riê n ­
já foi ressaltad o , q u a lq u e r e le m en to desses cias e g erar um estím u lo cap a z d e fa ze r
c o n tex to s com o p o ten c ialm e n te útil p a ra d a e tn o a stro n o m ia um o b je to n o b re de
seus o b jetiv o s, utilizan d o -o assim com o ins­ estu d o p o r p a rte d e an tro p ó lo g o s e a strô ­
tru m e n to p a ra a co m p reen são d a in stân cia nom os e, p o rta n to , re ce b er deles, c o n ju n ­
social q u e, no seu e n te n d e r, tem p re c e d ê n ­
cia sobre q u a lq u e r ou tra. tam e n te , a a te n çã o d e v id a a to d o o cam po
científico.

D e q u a lq u e r m an e ira , já se a cu m u lo u um a (R ec eb id o para publicação em


razoável co leção d e m itos a stro n ô m ico s com o u tu b ro d e 1990)

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