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São Leopoldo
2019
MAX CARVALHO VASKE
São Leopoldo
2019
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, agradeço à minha família: ao meu pai Max por ser geólogo
e me auxiliar ao longo do curso; a minha mãe Evanir por também me proporcionar
estudar geologia e me prestar todo apoio possível; a minha irmã Maithe por me dar
suporte e incentivo no decorrer do trabalho e a minha cachorra Jade pela companhia
durante os momentos de concentração, os quais tenho profunda admiração.
Ao amigo e coordenador da Defesa Civil de São Sebastião do Caí, Pedro
Griebler, por me ceder diversos dados históricos da Prefeitura Municipal sobre as
inundações e proporcionar a saída de campo pelo Rio Caí através de seu barco,
sendo de fundamental importância para a realização do trabalho.
Ao meu orientador e professor Thiago Peixoto de Araújo, pelo seu tempo
dentro do possível, sempre me recebeu cordialmente e conseguimos desempenhar
bem o papel a ser elaborado.
Ao professor Cássio Arthur Wollmann por me ceder diversos materiais sobre
as enchentes/inundações na cidade e por me conceder parte de seu tempo,
indicando sugestões no projeto.
À equipe da CPRM – Serviço Geológico do Brasil da Superintendência de
Porto Alegre, o engenheiro hidrólogo Emanuel Duarte Silva e a geóloga Débora
Lamperty, pelas conversas que tivemos, visando um melhor desenvolvimento do
trabalho, fornecendo-me dicas importantes que foram essenciais para formalizar a
proposta de zoneamento.
Ao senhor Frederico Kayser por me fornecer o material de estudo
desenvolvido pela Magna Engenharia e Ltda e registros das inundações, citados no
trabalho.
A todos os meus colegas e eternos amigos que o curso me permitiu conhecer
e participaram de histórias que só a Geologia poderia me proporcionar, em especial,
ao Geotendel, amizades verdadeiras que levarei para o resto da vida.
A todos os professores do curso que sempre foram excelentes profissionais
nas salas de aulas e durante as épicas e memoráveis saídas de campo, pelo quais
sou muito grato pelos conhecimentos passados que serão valorosos no decorrer da
profissão.
A todos os outros profissionais e amigos que de certa forma contribuíram para
que este processo de formação fosse possível, prestando-me algum auxílio durante
esse tempo de faculdade.
RESUMO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12
1.1 CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA ................................................................ 13
1.2 OBJETIVO GERAL E ESPECÍFICOS ................................................................. 14
1.3 JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 14
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 16
2.1 CICLO HIDROLÓGICO ....................................................................................... 16
2.2 ESCOAMENTO SUPERFICIAL .......................................................................... 17
2.3 ASSOREAMENTO .............................................................................................. 18
2.4 BACIA HIDROGRÁFICA ..................................................................................... 19
2.5 PLANÍCIE DE INUNDAÇÃO.................................................................................21
2.6 ENCHENTES E INUNDAÇÕES .......................................................................... 22
2.6.1 Controle de Enchentes e Inundações........................................................... 24
2.6.2 Medidas Estruturais ....................................................................................... 24
2.6.2.1 Reservatórios e Caixa de Expansão ............................................................. 24
2.6.2.2 Diques e Polders ........................................................................................... 25
2.6.2.3 Canais de desvio e Canais paralelos ............................................................ 26
2.6.2.4 Retificações ................................................................................................... 27
2.6.2.5 Melhoramentos do álveo ............................................................................... 27
2.6.3 Medidas Não-Estruturais ............................................................................... 28
2.6.3.1 Sistema de Alerta .......................................................................................... 29
2.6.3.2 Seguros contra enchente .............................................................................. 29
2.6.3.3 Mapas de inundação ..................................................................................... 29
3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ..................................................... 30
3.1 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA................................................................................... 30
3.2 BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CAÍ................................................................. 32
3.3 CLIMA ................................................................................................................. 33
3.4 REGIME DE CHUVAS.........................................................................................33
3.5 GEOLOGIA...........................................................................................................34
3.5.1 Depósitos Aluvionares................................................................................... 34
3.5.2 Formação Botucatu ........................................................................................ 36
3.5.3 Formação Serra Geral .................................................................................... 36
3.6 RELEVO .............................................................................................................. 37
3.7 SOLOS.................................................................................................................38
3.8 HIDROGEOLOGIA .............................................................................................. 40
3.8.1 Aquífero Botucatu .......................................................................................... 41
3.8.2 Aquífero Botucatu/Pirambóia ........................................................................ 41
3.8.3 Aquífero Serra Geral ...................................................................................... 41
3.9 HIDROGRAFIA ................................................................................................... 42
4. METODOLOGIA ................................................................................................... 44
4.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................ 44
4.2 BASE DE DADOS ............................................................................................... 44
4.2.1 Mapa de Declividade e Modelo Digital de Elevação .................................... 45
4.3 ENTREVISTAS ................................................................................................... 46
4.4 SAÍDA DE CAMPO ............................................................................................. 47
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 48
5.1 MAIORES CHEIAS ............................................................................................. 48
5.2 CAUSAS...............................................................................................................52
5.2.1 Área Urbana proximal ao Rio Caí .................................................................. 52
5.2.2 Assoreamento ................................................................................................ 53
5.2.3 Causa Natural ................................................................................................. 58
5.3 PREJUÍZOS ........................................................................................................ 59
5.4 ÁREAS DE INUNDAÇÃO .................................................................................... 61
5.4.1 Área Alagável Atual ........................................................................................ 61
5.4.2 Definição das Manchas de Inundação de São Sebastião do Caí ............... 63
5.4.3 Mapeamentos da Mancha de Inundação – Serviço Geológico do Brasil .. 65
5.5 ESTUDOS DE MEDIDAS-ESTRUTURAIS EXISTENTES .................................. 67
5.5.1 Empresa Alemã – 1970................................................................................... 67
5.5.2 Magna Engenharia Ltda – 1988 ..................................................................... 67
5.5.3 Dique-Estrada – UFSM - 2013 ........................................................................ 69
5.5.4 Metroplan - Engeplus e Aerogeo – 2014....................................................... 71
5.5.4.1 Dique de Proteção ......................................................................................... 71
5.5.4.2 Rebaixamento de Fundo da Calha do Caí .................................................... 73
5.6 PROPOSTA DE ZONEAMENTO ........................................................................ 74
5.6.1 Zoneamento Atual .......................................................................................... 74
5.6.2 Proposta de Zoneamento Futuro .................................................................. 76
5.6.2.1 Modelo de Elevação Digital ........................................................................... 76
5.6.2.2 Mapa de Declividade ..................................................................................... 78
5.6.2.3 Uso e Cobertura do Solo ............................................................................... 79
5.6.2.4 Zoneamento Ambiental ................................................................................. 81
5.6.2.5 Áreas Futuras para Expansão Urbana .......................................................... 82
5.7 MEDIDAS NÃO-ESTRUTURAIS ATIVAS ........................................................... 85
5.7.1 Sistema de Alerta – Serviço Geológico do Brasil ........................................ 85
5.7.2 Pluviômetro Automático - CEMADEN ........................................................... 87
5.8 COMPARAÇÃO DOS MÉTODOS ....................................................................... 88
5.8.1 Método de Diques........................................................................................... 88
5.8.2 Método de Zoneamento ................................................................................. 89
5.8.3 Aspectos Positivos e Negativos ................................................................... 92
6 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 93
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 96
APÊNDICE A .......................................................................................................... 101
12
1 INTRODUÇÃO
A) B)
1.3 JUSTIFICATIVA
urbana, um problema recorrente desde o final do século XIX que tem se agravado
ao longo dos anos.
Este trabalho visa apresentar alternativas que minimizem os impactos na área
urbana do município, como obras de engenharia, sistemas de controle contra
inundações, zoneamento da área territorial, em resumo, propostas que sejam viáveis
a ponto de reduzir os efeitos causados pelas cheias, melhorando a qualidade de
vida dos moradores.
16
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Figura 2 - O ciclo hidrológico, com o fluxo de transferência de água, por ano, entre os
reservatórios. Pela evapotranspiração, a água é transferida dos continentes e oceanos
para a atmosfera, de onde retorna para a superfície pela precipitação (chuva). A
evaporação mais elevada a partir dos oceanos em relação a precipitação sobre os
continentes (em relação a evaporação), que retorna para os oceanos.
acordo com Tucci (2014) a sua duração está associada praticamente à duração da
precipitação.
O escoamento pode ser dividido em três componentes (Figura 3):
escoamento superficial direto, escoamento subsuperficial e escoamento base ou
subterrâneo. O primeiro componente é gerado pelo excesso de precipitação que
escoa diretamente sobre a superfície, provocado pela saturação do solo, reduzindo
sua capacidade de infiltração ou pela intensa precipitação, a qual supera a
capacidade de infiltração atual do solo, provocando seu escoamento (MELLO;
SILVA, 2013).
O subsuperficial ocorre numa camada de solo saturada próxima à superfície,
contribuindo com o escoamento superficial direto e o escoamento base é aquele
produzido pela drenagem natural do aquífero. Alguns fatores que influenciam
diretamente no escoamento superficial, como por exemplo: - os fatores climáticos:
estão ligados à intensidade, duração da chuva e a chuva antecedente; e os fatores
fisiográficos: - relacionados à área e forma da bacia, à permeabilidade e capacidade
de infiltração e à topografia da bacia (MELLO; SILVA, 2013).
Fonte: Escoamento...(2016).
2.3 ASSOREAMENTO
especial nas áreas urbanas situadas às margens dos rios, onde estes processos são
frequentes. Estes desastres naturais, segundo Alcántara-Ayala (2002), ocorrem em
todo o mundo, mas seu impacto é maior em países em desenvolvimento, onde são
mais frequentes. Além da alta frequência dos desastres naturais, as baixas
condições sociais e econômicas têm como resultado grandes perdas,
principalmente, humanas, além da grande dificuldade da reconstrução pós-desastre.
A Figura 7 demonstra a diferença entre os níveis de um rio em estágio de
cheia, iniciando pelo nível normal, em seguida o nível de enchente no qual o rio está
na sua capacidade máxima e, posteriormente o nível de inundação, onde o rio
extravasa inundando as áreas proximais.
esperando o próximo evento de cheia, é uma obra que demonstra bom potencial
para cheias de pequeno e médio porte, mas não tão aconselhada para grandes
inundações (CORDERO; MEDEIROS; TERAN, 1999).
Uma caixa de expansão (Figura 8) é corretamente indicada para aquela
área alagável destinada a exercitar um efeito de decapitação da onda de cheia que se propaga ao
longo de um curso d’água. A função de uma caixa de expansão é similar a de um reservatório de
laminação de cheia. As caixas de expansões geralmente são executadas no pé da montanha ou na
zona de planície, em série, em paralelo ou de modo misto em respeito ao curso d’água. Muitas
planícies funcionam como caixas de expansão naturais, pois no momento das enchentes elas são
inundadas, armazenando grande volume d’água, que retorna ao rio principal quando as águas
começam a baixar (CORDERO; MEDEIROS; TERAN, 1999, p. 5).
área protegida e propiciar a saída da água do ribeirão quando a situação voltar ao normal
(CORDERO; MEDEIROS; TERAN, 1999, p.6).
Um canal de desvio (Figura 10) serve para desviar parte da vazão da cheia do
curso d’água principal, diminuindo assim a vazão do rio na zona que se deseja
proteger. Neste tipo particular de obra em geral a água desviada não retorna mais
ao canal principal, mas sim para um lago, outro curso d’água ou diretamente ao mar
(CORDERO; MEDEIROS; TERAN, 1999).
Um canal paralelo (Figura 11) é utilizado quando, por diversas razões, não se
pode incrementar a capacidade do canal principal. Neste tipo de obra a vazão é
repartida em dois ou mais ramos, por certo trecho, após o desvio a água retorna a
escoar por um único canal. Assim, o nível da cheia do canal principal no trecho
interessado diminui (CORDERO; MEDEIROS; TERAN, 1999).
27
2.6.2.4 Retificações
3.3 CLIMA
3.5 GEOLOGIA
3.6 RELEVO
3.7 SOLOS
3.8 HIDROGEOLOGIA
3.9 HIDROGRAFIA
4. METODOLOGIA
4.3 ENTREVISTAS
As entrevistas foram feitas com pessoas que conhecem bem o problema que
o município enfrenta desde sua formação e órgãos competentes responsáveis por
ações de mitigação nos eventos de cheias e monitoramento do Rio Caí. O roteiro foi
livre, sem perguntas determinadas, um bate papo sobre os níveis das cheias do Rio
Caí, dos projetos sugeridos até então e ações de realocação das famílias nas zonas
atingidas pelas inundações.
O primeiro entrevistado foi o senhor Frederico Kayser, engenheiro eletricista
de formação, com especialização em transferência de fluídos, nascido em São
Sebastião do Caí e residente em Porto Alegre, que, no final da década de 80,
contratou a Empresa Magna Engenharia Ltda para a realização de um estudo na
área atingida pelas inundações. A mesma desenvolveu um projeto com o intuito de
minimizar os impactos causados pelas cheias.
O segundo foi o senhor Pedro Griebler, coordenador da Defesa Civil de São
Sebastião do Caí desde 2012, conhecedor profundo do Rio Caí e encarregado pelo
controle de todas as ações e trâmites relacionados às inundações no município.
Posteriormente o contato foi com a equipe de hidrologia da CPRM – Serviço
Geológico do Brasil, na Superintendência Regional de Porto Alegre, representados
pela engenheira civil, mestre em recursos hídricos e saneamento ambiental, Andréa
Germano, o engenheiro hidrólogo Emanuel Duarte Silva, responsáveis por monitorar
o sistema de alerta de cheias. Já implantado no baixo trecho do Rio Caí, e a geóloga
Débora Lamberty, encarregada por avaliar as áreas de risco geológico no município.
Além disso, obtiveram-se informações durante os anos em que o autor deste
trabalho residiu na cidade, desde o seu nascimento até os 23 anos de idade. Ao
longo desse período, o mesmo explorou muito as margens do rio, andou de bicicleta
nas ruas alagadas quando ocorreriam inundações, socorreu amigos, ajudando na
retirada dos pertences de suas casas, realizou estágio no Departamento de Meio
Ambiente da Prefeitura Municipal e participou da remoção das famílias para locais
fora da zona inundação, nos eventos de cheia do rio. Em virtude desses fatos, o
47
autor é um conhecedor profundo do município, do Rio Caí e dos níveis que a água
atinge nas ruas da cidade, quando o rio extravasa.
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
metros; em setembro de 2007 com 14,65 metros (Figura 23 A); em julho de 2011
com 14,80 metros (Figura 23 B) e em setembro de 2016 com 14,66 metros.
B)
ocorreu em julho de 2011 com o Rio Caí atingindo 14,80 metros, cerca de 12 metros
acima do seu nível normal. Importante salientar que neste ano de 2011 ocorreram
cinco eventos de cheia, sendo o mais crítico de todos os tempos em desastres
naturais na cidade, juntamente com o ano de 2015. Nos anos de 2000 e 2007,
também ocorreram inundações de grande magnitude, e pôr fim a mais recente em
2016.
5.2 CAUSAS
Figura 24 - Foto aérea da zona urbana de São Sebastião do Caí proximal ao Rio Caí.
5.2.2 Assoreamento
A)
B)
A) B)
C) D)
A) B)
1.4
1.5
5.3 PREJUÍZOS
Prejuízos Prejuízos
Nº de Econômicos Econômicos
Data Cota afetados Públicos Privados Total
09/10/2015 13,60 m 17.009 R$ 2.078.000,00 R$ 5.900.000,00 R$ 7.978.000,00
18/10/2016 14,66 m 14.230 R$ 5.830.000,00 R$ 15.949.000,00 R$ 21.779.000,00
28/05/2017 12,65 m 4.746 R$ 168.000,00 R$ 6.507.000,00 R$ 6.675.000,00
Fonte: Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (2019).
A) B)
Ao longo destes anos todos foram desenvolvidos alguns projetos, com foco
no controle das cheias para zona urbana de São Sebastião do Caí. O primeiro foi
desempenhado por uma empresa alemã em 1970, no qual se estudou
detalhadamente a Bacia do Rio Caí. Então, elaborou-se um planejamento
hidrológico de uso e ordenação em termos de obras de regularização e proteção
contra inundações no baixo trecho do Rio Caí. O projeto propunha a possibilidade de
construção de um dique que contornaria a zona urbana, junto com uma casa de
bombas. Após analisar bem o relatório do projeto, os alemães concluíram que seria
inviável economicamente e previram apenas a adoção de um sistema de alerta e ao
mesmo tempo regulamentos referentes a zoneamento para a construção. Mas
também destacaram que seria conveniente realizar um estudo mais aprofundado
sobre a viabilidade para construção das referidas obras (MAGNA ENGENHARIA
LTDA, 1988).
Ocorre, entretanto, que a zona urbana de São Sebastião do Caí se expandiu
consideravelmente em direção à várzea do rio após a data daquele estudo (1970).
Não sendo implantado um zoneamento de uso adequado conforme recomendado
pelos alemães, ocasionando em prejuízos muito superiores ao daquela época, o que
viabilizaria o projeto do ponto de vista econômico naquele período.
A) B)
A) B)
A) B)
Esta obra além de controlar o avanço das cheias do Rio Caí sobre a área
urbana, também serviria como um anel rodoviário, pois o município se localiza em
uma área estratégica, sendo considerado um meio logístico, que interliga as cidades
do Vale do Taquari, Região Metropolitana e Serra Gaúcha. Segundo os autores do
trabalho, o projeto teve grande aceitação por parte da população.
Após a realização de mapeamentos de localização da obra, área de
desapropriação e área de indenização, ficou definido que o dique (Figura 40)
tangenciaria a cidade com uma extensão de 4 quilômetros. Na área oeste o dique
passaria entre o Rio Caí e a área urbana, onde haveria o maior número de
desapropriações. Na parte norte a obra iria até o morro São Rafael não havendo a
necessidade de ir até a RS-122, pois o morro serve como uma espécie de barreira
contra as inundações, protegendo toda a parte norte da cidade.
Nesta área seria construída apenas uma rodovia como ponto de encontro até
a RS-122. Constatou-se que aproximadamente 207 residências deveriam ser
realocadas, respeitando a faixa de domínio estabelecida pelo DAER-RS de no
mínimo de 16 metros para cada lado da rodovia (SIMIONI; WEBER; WOLLMANN,
2013).
Figura 40 - Mapa de localização do Dique-Estrada.
ERS-124. A obra teria início na Rua Lindolfo Collor no bairro Vila Rica, seguindo
paralelamente ao Arroio Coutinho, contornado a margem esquerda até a Rua São
João no bairro Navegantes, subindo até a altura das Conservas Oderich, sendo
finalizada na Rua Saturnino da Silva no bairro Quilombo. Para implantação deste
dique seria necessário à desapropriação de 220.000 m² de áreas urbanas,
suburbanas e rurais com um custo aproximado de R$ 18.0000.000 (METROPLAN,
2014).
De acordo com os estudos realizados, acredita-se que este dique protegeria
cerca de 10.000 moradores da zona urbana (aproximadamente 50% da área
urbana). A estimativa de custo dessa obra seria em torno de R$ 48.000.000, além de
custos para a realização do projeto executivo de engenharia e estudo de impactos
ambientais para o licenciamento da construção do dique (METROPLAN, 2014).
Com o propósito de reduzir o nível das cheias ocorridas, foi sugerida uma
segunda alternativa que seria um rebaixamento da calha do fundo do rio. Após os
estudos definiu-se uma cota de 5,50 metros, tendo em vista que com 10 metros, não
ocorreria inundação na área urbana de São Sebastião do Caí.
O rebaixamento do fundo da calha do rio Caí (Figura 42) iniciaria a jusante da
ponte de acesso a São Sebastião do Caí e se prolongaria por 27,6 quilômetros
(alcançando a cidade de Montenegro). A largura das escavações foi considerada
como a largura da própria calha do rio que corresponde a 50 metros (METROPLAN,
2014).
Nos tons de azul claro estão às áreas mais baixas proximais aos rios Caí e
Cadeia que são atingidas pelas inundações com cotas de 10 a 20 metros, onde está
situada parte da área urbana, e consequentemente não poderiam ser habitadas. Em
tons de verde, com cotas que variam de 30 a 60 metros, áreas que não são
inundadas pelas cheias e são habitadas sem riscos.
Já em tons de amarelo e marrom estão localizadas áreas mais altas com
altitudes de 60 a 195 metros, onde estão inseridos alguns morros da cidade: o Morro
dos Berwanger (72 m), o Morro do São Rafael (101 m), o Morro do Martim (117 m), o
Morro do Pareci Velho (121 m), o Morro do Chapadão (145 m) e o Morro da
Conceição (165 m), quase todos com parte já habitadas, mas pouco desenvolvidos.
Por fim os picos mais altos do município com cotas de 195 a 250 metros em tons de
cinza, onde está o Morro da Vigia (234 m).
De acordo com o plano diretor do município para a construção de um novo
empreendimento seguro e dentro das normas estabelecidas, a cota referência
considerada deve ser superior a 15 metros. Salientando que as maiores inundações
já ocorridas chegaram quase a este nível, sendo a maior em 1878 com 14,82
metros, ou seja, também não se tem uma garantia de que obra não irá ser atingida
pelas cheias, pois as condições dos fenômenos naturais são imprevisíveis.
hidrografia local, os rios e arroios que cruzam a cidade e também, inseridos dentro
das APPS.
Como a cidade sofre desde os primeiros anos de sua fundação com as cheias
do Rio Caí, devido à proximidade de sua área urbanizada com este rio, e este
problema tem se agravado ao longo dos anos. Entende-se que é de extrema
importância apontar áreas para que ocorra um desenvolvimento urbano adequado,
longe das áreas de planície, constantemente inundadas pelas águas.
83
E como São Sebastião do Caí, possuí muitas áreas de terra altas e planas
distantes do rio, essa é uma questão de planejamento a longo prazo. Uma medida
necessária que deve ser aplicada, mudando parte da cidade de lugar, com um
posicionamento ajustado, onde não haja riscos de inundações. Para que ocorra esta
dita expansão, deve-se respeitar as leis ambientais instituídas pelos órgãos
ambientais e as diretrizes estabelecidas no Plano Diretor Municipal.
Para se gerar a proposta de mapa com áreas para expansão urbana,
usufruiu-se como base o modelo de elevação digital de terreno. No qual, apontou as
áreas de planície, as mais baixas e proximais aos dois rios que cruzam a cidade e
variam entre 10 a 20 metros de altitude. Estas, que são constantemente inundadas
quando os rios extravasam. Onde está posicionada parte da zona urbana que
deveria ser realocada para áreas altas e afastada dessa região.
Também se utilizou para estabelecer a proposta, o mapa com os graus de
declividade, com o intuito de apontar os maiores valores de declividade na base das
encostas. Estas identificadas como zona de uso restrito com graus entre 25° e 35°,
onde não pode haver habitação. E por fim usufrui-se do mapa de zoneamento
ambiental que demonstra as unidades de conservação, localizadas nas margens dos
arroios e rios que cruzam a cidade e nos topos dos morros, caracterizadas como
Áreas de Preservação Permanente (APPs).
Na Figura 48, o mapa exibe em amarelo as áreas futuras possíveis para a
expansão urbana do município, respeitando as APPS (verde) e as áreas com declive
entre 25° e 35° (laranja). Estas áreas estão localizadas em áreas com cotas
superiores a 25 metros, próximas a área urbanizada atual, como nas localidades de
Mato Grande e Maçonaria, paralelas a ERS-122 e variam de 120 até 240 metros nos
Morros do Chapadão, Vigia e Arroio Bonito.
Em muitas delas já existem moradias, mas não há um desenvolvimento
urbano evoluído e sim atividades de agricultura e pecuária, responsáveis por grande
parte da renda municipal, pois são regiões mais afastadas da região central da
cidade, onde está o comércio varejista e as indústrias locais.
84
C)
A) B)
6 CONCLUSÕES
zonas de uso intensivo (áreas sensíveis cuja exploração requer a adoção de boas
práticas) que são pântanos, planícies costeiras e áreas com inclinação entre 25° e
35°.
Entendeu-se que esta seria a melhor alternativa para a cidade, pois, desde os
primeiros estudos realizados por alemães em 1970, sugeriu-se essa opção como a
mais coerente e efetiva. Todavia, não é uma alternativa que resolveria o problema
de imediato, pois requer um mapeamento detalhado das melhores áreas a serem
habitadas futuramente que não sejam atingidas por inundações e deslizamentos,
onde a população possa se estabelecer sem sofrer riscos iminentes.
Contudo, para que haja uma solução para o problema das inundações
recorrentes em São Sebastião do Caí, é preciso um engajamento por completo da
administração municipal em conjunto com órgãos estaduais e federais e a população
local. Dessa forma, objetiva-se a melhor alternativa para a cidade, através do bom
senso de todos, assim como um desenvolvimento urbano ordenado, com qualidade
de vida e sem ameaças de calamidades.
96
REFERÊNCIAS
O QUE são e qual a importância das Matas Ciliares. 2018. Disponível em:
<https://www.hypeverde.com.br/o-que-sao-matas-ciliares/>. Acesso em: 17 nov.
2019.
TUCCI, C.E.M. Hidrologia: ciência e aplicação. 2ª Ed., Porto Alegre. Rio Grande do
Sul (RS). ABRH/Editora UFRGS, 2000. 943p.
VIERO, A.C.; SILVA, D.R.A. (org.) (2010). Geodiversidade do estado do Rio Grande
do Sul. CPRM Porto Alegre – RS, 250p.
WINGE, M; CROSTA, A.P. et al. Glossário Geológico Ilustrado. Brasília, DF: UNB,
2001. Disponível em:
<http://sigep.cprm.gov.br/glossario/verbete/planicie_inundacao.htm>. Acesso em: 31
out. 2019.
APÊNDICE A