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A PRÁTICA DA COMPOSIÇÃO MUSICAL PELA MANIPULAÇÃO DE AMOSTRAS

SONORAS PARA PERFORMANCES COM USO DO ABLETON LIVE.

Afonso Felipe Romagna1


Ana Julia de Almeida Gomes2
Isabella Nunes de Oliveira3

INTRODUÇÃO

As transformações tecnológicas na produção musical tiveram um papel significativo


no sentido de possibilitar e facilitar não somente o mercado de registros fonográficos, mas
como também o processo de criação e desenvolvimento artístico-musical. Esta pesquisa
teve por objetivo explorar de maneira criativa o uso de técnicas de captação sonora para a
construção de um banco de samples e o desenvolvimento de composições musicais
através da manipulação sonora com o software Ableton Live para edição e performance
musical. Exploramos as transformações sonoras em “tempo real” dentro do processo de
criação, possibilitando novas atuações performáticas e composicionais dos músicos
através de materiais e instrumentos tanto acústicos como digitais. Buscamos o uso de
materiais sonoros que possam gerar possibilidades diversificadas através da manipulação
destes em softwares de edição. Essa prática já é de uma certa maneira extremamente
utilizada por compositores, principalmente os de música eletrônica e eletroacústica, mas
também como DJs e profissionais de som. Acreditamos que a partir deste meio de captação
foi possível desenvolver o lado criativo, com materiais pouco convencionais ao meio
musical popular, aprimorando a escuta e as possibilidades de trabalhos de uma amostra
sonora. Partimos do princípio que todo som pode ser material para o trabalho
intencionalmente musical, assim como afirma SCHAEFFER:

[...] os silêncios falam; o menor ruído, uma folha de papel amassado, a batida
de uma porta, e nossos ouvidos parecem escutar pela primeira vez. Sim, as coisas
agora têm uma linguagem, como a própria semelhança das palavras o diz: imagem
que é a linguagem para o olho e bruitage (sonoplastia), que é linguagem para o
ouvido. (SCHAEFFER, apud REYNER, 2012, p. 97)

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Esta pesquisa teve caráter experimental, tendo em vista que o material sonoro foi
manipulado em ambiente controlado (laboratório de informática do Campus Cacoal) e
desenvolvido após diversos testes para finalização das composições. Escolhemos o
Ableton Live porque atualmente é o programa que melhor se qualifica e atende as
necessidades deste projeto. A empresa Ableton, fundada no ano de 1999, fez o primeiro
release do Live em 2001. Neste programa podemos criar amostras de áudio através de

1
Docente - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia, Cacoal, Rondônia, Brasil.
2
Discente - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia, Cacoal, Rondônia, Brasil.
3
Discente - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia, Cacoal, Rondônia, Brasil.

X Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, I Seminário de Iniciação Científica - IFRO – Campus Cacoal, out. 2020.
instrumentos virtuais ou acústicos e manipular informações ao mesmo tempo que a música
está sendo executada no palco ou estúdio, sendo esta a justificativa principal para a escolha
desta DAW para o desenvolvimento desta pesquisa.
Em muitos casos o ensino musical ainda possui certa resistência com relação ao uso
da tecnologia dentro de um aspecto estético e performático do músico e os resultados que
se obtêm a partir desta relação. Buscamos aqui, em uma situação de aprendizado
continuado novas experiências tanto no aspecto de criação artística como também
pedagógico para o fazer musical em uma perspectiva educacional. Este projeto teve
potencial de inovação por se comprometer a desenvolver duas composições originais, com
registros fonográficos autenticados pela Associação Brasileira de Música e Artes
(ABRAMUS), para fins de direitos autorias dos envolvidos no projeto. Neste sentido,
trabalhamos também a divulgação e marca da instituição através das mídias sociais e
material audiovisual que foi produzido durante a execução do projeto.
Fizemos a manipulação das amostras de áudio e MIDI de formas utilizando conceitos
da síntese sonora subtrativa, adicionando efeitos como auto filter, granulator, reverb,
simpler, entre outros. Usamos o conceito de síntese granular, para criar novos instrumentos
a partir da repetição de amostras muito pequenas de áudio, bem como o conceito de
envelope ADSR (ataque, decaimento, sustentação e liberação), que define como um som
se projeta ao longo do tempo. Na prática da composição musical nos basearemos na
importância da construção do motivo – elemento rítmico ou melódico que caracteriza um
reconhecimento auditivo da obra ou de um trecho musical - e de como as frases e tessituras
musicais vão se construindo ao redor dele. Para Schoenberg:

[...] o motivo básico é frequentemente considerado o “germe” da ideia [...] De


qualquer maneira, tudo depende do uso que se faz dele. Que o motivo seja simples
ou complexo, que seja formado de poucos ou muitos elementos, a impressão final da
peça não será determinada por sua forma básica: tudo dependerá de seu tratamento
e desenvolvimento. (SCHOENBERG, 2015, p. 35).

O projeto resultou em duas composições musicais que atenderam a proposta inicial,


sendo elas:

Imagem 1: Burning Stars, autoria de Isabella Nunes de Oliveira.

Fonte: Elaborado pelo próprio autor

A estrutura da música Burning Stars teve como base uma percussão e


preenchimento com os sons captados, como barulho de água, portas e brinquedos
diversos. Na melodia e harmonia utilizamos dois sintetizadores analógicos e instrumentos
virtuais. A música é menos experimental, com uma base rítmica e melódica inspirada em
estilos Lo-fi.
X Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, I Seminário de Iniciação Científica - IFRO – Campus Cacoal, out. 2020.
Imagem 2: Tormenta, autoria de Ana Julia de Almeida Gomes.

Fonte: Elaborado pelo próprio autor

Na música Tormenta, o ponto central é a voz não cantada, todos os sons criados
fazem referência na produção de uma textura que acompanhe as frases e o sentido da
poesia falada. Da mesma maneira, foram utilizados sons de portas, água, brincos, utensílios
diversos para criação das bases rítmicas e texturas, assim como instrumentos virtuais. Esta
música se aproxima mais do gênero experimental.
Imagem 3: (Des)conexo, autoria de Felipe Romagna, usada como trilha sonora do documentário
“Projeto KM228”.

Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

Como resultado foi produzido também o documentário Projeto KM228, disponível no


link: https://youtu.be/vUdMuLSZXzo. Todos os resultados podem ser acessados através do
site do projeto, também disponível no link:
https://sites.google.com/ifro.edu.br/projetokm228/início/projetos-de-pesquisa/projeto-
km228.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

X Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, I Seminário de Iniciação Científica - IFRO – Campus Cacoal, out. 2020.
A experiência do projeto de pesquisa teve como principal foco o processo criativo,
com foco nas ferramentas tecnológicas que se tornaram tão acessíveis atualmente.
Descontruir padrões de audições musicais e criar novas escutas para outros sons e novas
técnicas de composição se mostrou uma maneira extremamente útil e eficiente para o
ensino de diversas teorias e práticas do fazer musical.

REFERÊNCIAS

REYNER, Igor. A Escuta em Pierre Schaeffer: Uma Perversão Poética. In: IV Seminário
Música Ciência e Tecnologia: Fronteiras e Rupturas. São Paulo. Anais... São Paulo:
USP, 2012. Disponível em
<http://www2.eca.usp.br/smct/ojs/index.php/smct/article/viewFile/58/57>. Acesso em 15 jul.
2019.
CUNHA, Glória; MARTINS, Maria Cecília. Tecnologia, Produção e Educação Musical:
Descompassos e Desafinos. In: IV Congresso da Rede Iberoamericana de Informática
Educativa. Anais... Brasília: UFRGS, 1998.
SCHOENBERG, Arnold. Fundamentos da Composição Musical. 3 ed. São Paulo: Editora
da Universidade de São Paulo, 2015.

X Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, I Seminário de Iniciação Científica - IFRO – Campus Cacoal, out. 2020.

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