Você está na página 1de 88

Contos do Casulo

1
CONTOS DO CASULO

Contos do Casulo
outubro/ 2019
Este livro é uma obra de Jorge Casulo
Todos os direitos reservados

2
CONTOS DO CASULO

”Diante da dor causada, causei.


Brincando com as palavras, magoei.
Falando aos quatro cantos do mundo, me vinguei.
Entre as sedas da maldade, envergonhado me tranquei.”

Muito prazer, ou não...


Eu me chamo

Casulo

3
CONTOS DO CASULO

O início do fim

4
CONTOS DO CASULO

Seu Athaíde era um mineirinho muito tranquilo, torcedor do Fluminense e


já com seus quase setenta anos de idade, desferia alguns bons palavrões bem
baixinho enquanto assistíamos no balcão de seu boteco a sofrência daquelas
partidas de futebol do nosso querido clube. O bom velhinho deixou saudades
ao partir. Um verdadeiro amigo e camarada.
Era domingo, passava um pouco do meio dia e lá estava eu, degustando
uma deliciosa cerveja estupidamente gelada em meu ritual dominical quando
a moça se aproximou.
Ela era uma jovem garota de aproximados dezenove anos, era dona de uma
beleza peculiar onde vestida num corpo belo e magro, podíamos apreciar os
gominhos daquela barriguinha linda e sarada. Ela era uma conhecida da
minha esposa, mas nunca percebi qualquer laço entre elas que indicasse ali
algum tipo de amizade.
Ela me abordou dizendo que havia esquecido seu celular em casa e se eu
me incomodaria em lhe emprestar o meu, seguiu dizendo que precisava con-
firmar com minha cunhada se aquele era o dia agendado de seu atendimento.
Minha cunhada carrega o título de melhor depiladora da região, e não é
por menos, honestamente preciso endossar esse título, pois já tive o prazer de
me deparar com algumas de suas obras prontas por aí.
Cedi o celular e ao terminar a ligação a bela me agradeceu com um sorriso
e disse que gostava dos meus posts tocando minha viola em meu Facebook.

5
CONTOS DO CASULO

Segunda-feira, eram 19:00h em ponto quando eu adentrava o elevador do


Manhattan Tower para escalar vinte e sete andares até o escritório quando me
deparei com aquela linda senhora. Coincidentemente em quase todas as vezes,
nos encontrávamos no elevador. Sorríamos e sempre dizíamos “de novo”.
Ela era uma linda ruiva, deveria ter entre quarenta e oito a cinquenta anos
de idade, natural, tinha seu corpo coberto por lindas sardas dignas de poesias
belíssimas. Sempre bem vestida com lindos tailleurs, mantinha bem visível seu
busto constelado por aqueles lindos sinais.
Após às 19:00h, somente dois dos seis elevadores funcionavam e por algum
motivo ficamos parados no térreo sendo informados pelo chefe da portaria
que já liberariam nosso elevador. Este tempo foi suficiente para que ela teste-
munhasse minha conversa a seguir.
Ainda no elevador recebi uma ligação, ao atender, uma voz feminina pedia
desculpas pelo mal jeito, que não acreditava no que estava fazendo mas, já
que havia chegado até alí, não desistiria e continuou sem me dar ao menos a
chance de perguntar quem estava falando, disse que me achava um cara bem
interessante, que possuía curiosidade em mim e que gostaria de me conhecer.
Eu disse a ela me sentir lisonjeado, seja lá o motivo que a levou a esse en-
cantamento, eu não poderia retribuir pois eu era casado, feliz há quatorze
anos e não sabia que gosto tinha outro beijo a não ser o da minha esposa.

6
CONTOS DO CASULO

Ela reforçou a investida perguntando se eu fazia ideia de quem seria e


imaginando que fosse desligar em seguida respondi que não, e para minha
surpresa ela me disse:“ Se incomodaria em me emprestar seu telefone?”
Foi uma grata surpresa todo o ocorrido, ainda mais que nesta época minha
autoestima estava com seu saldo negativo. Mesmo assim agradeci a moça e
disse que não seria possível.
Ao entrar no escritório para uma reunião de última hora com minha chefia,
comentei o fato com um colega de trabalho dizendo não acreditar naquilo,
pois na época, eu me sentia tão feio e não enxergava o motivo de tal interesse.
Dono de um sarcasmo incomparável, respondeu dizendo que era o poder da
gravata, e emendou dizendo: “Eu compro os melhores ternos, isso faz elas
pensarem que estou montado na grana, eu apenas finjo que estou, sacou?”
Parafraseando minha situação digo que: “o bom funcionário é aquele que
trabalha mesmo quando o patrão não está vendo”. Nem mesmo esse trabalho
extra me livrou de uma justa causa. Ah se eu soubesse...
Tantos esforços para nada. Perdi o maior campeonato da minha vida para
uma jogada ensaiada de ciúme e silêncio que me levou ao meu maior pecado.

Um flerte

7
CONTOS DO CASULO

Numa sociedade estruturalmente machista, ser um homem fora da caixa


te torna admirável, te agrega valor.
É necessário depreciar algo valoroso para desfazer-se sem sentir o peso
da culpa e das críticas.

“Em meu mundo habitava uma Deusa


Do amor, das ilusões
Dos dias frios, vazios
Dos versos e canções

Em meu mundo houve atritos


Desigualdades, quase guerra.
Do meu mundo a Deusa se ausentou
Eu me lembro... era primavera”

8
CONTOS DO CASULO

Nada pode ser tão mortal quanto o silêncio de uma Deusa. Por muito
tempo acreditei que meu pecado fosse mortal, mas pude reparar que minha
postura não foi diferente da postura da deusa.

”Teu silêncio
Tempestade fria
Minhas noites
Sempre vazias

Coração amargurado
Afogado em meu pecado
Percebo que saudade e solidão
Caminham lado a lado.”

9
CONTOS DO CASULO

“Solidão
Me dê um abraço mais apertado
Tá um pouco frio hoje”

10
CONTOS DO CASULO

Mesmo assim era atordoado pelo remorso, um estado de espírito cruel,


um sentimento estranho causado pela dor da culpa e esta nem era somente mi-
nha. Diga-se de passagem, esta culpa nem sempre esteve presente em meu co-
ração, e nesse momento pude perceber um horizonte atenuante, onde a razão
por vezes falou mais alto, me permitindo apenas a porção exata da dor.

“Existem os dias em que te amo


Existem os dias em que te odeio
Existem os dias em que nem durmo”

Foram meses, quase um ano regado a solidão, muito álcool e um mar de


lágrimas. A sobriedade não existia, restando apenas o frio e a escuridão do
poço em que eu me afundava cada vez mais.

“Garçom
A vida é fria como os goles de solidão que te peço.
Mais uma dose, por favor”

11
CONTOS DO CASULO

Já era setembro, mês de prevenção e combate ao suicídio, as campanhas


do Setembro Amarelo só aumentavam ainda mais minha vontade de me ausen-
tar desse mundo. Tudo era apenas dor. Foram os trinta dias mais longos da
minha vida.
Afogado numa depressão, me inseri num mergulho profundo em um mar
de poesias suicidas, com as quais eu mesmo me horrorizei ao lê-las no ano
posterior, deixando guardada para registro apenas uma. A mais branda. Uma
pequena frase repleta de eufemismo.

“Adoraria que minha luz se apagasse


Só pra ver as estrelas bem de perto”

12
CONTOS DO CASULO

Eu estava transtornado, mergulhado em minha loucura e completamente


decidido a ir embora desse mundo. Foi quando ela chegou. Coincidentemente
ou não, ela trajava short e camisa amarela, adentrou batendo forte o portão e
causando estardalhaço como sempre, e gritou do corredor de acesso:”Papai
eu tô morrendo saudades, vim te ver”

“Linda Maria Flor


Entre as flores, a mais bela
Tua magia em meu setembro
Teu sorriso primavera

Flor da paz em meus conflitos


Veste pétalas amarelas
Teu amor é a âncora da minha alma
Nesse lugar chamado Terra”

13
CONTOS DO CASULO

Ela é a razão do meu viver.

“Linda
Pouco tempo se passou
Você chegou até aqui
Tudo mudou

Minha Florzinha branca


Que só tem pétalas para o bem-me-quer
Estaremos sempre juntos
Como Deus quiser

Meu jardim está completo, amor


Até o meu céu mudou de cor

Eu já conheço bem
Esse olhar que me fascina
Teu sorriso me alucina
Minha neném”

14
CONTOS DO CASULO

A solidão ainda existia, me via muito sozinho e meus amigos onde esta-
riam? Simplesmente sumiram, restando apenas um que foi o maior responsá-
vel pela minha recuperação. O Jone é foda!
Por várias vezes vi o Jone chorando, preocupado, louco e apavorado devi-
do ao estado deplorável que eu me encontrava. Amo demais esse moleque!

“Amor próprio é...


É ligar a chave do foda-se
É saber que vai se foder junto
É se jogar no fundo do poço
É ir cada vez mais fundo
É premeditar a liberdade
É experimentar as pessoas
É descobrir quem tá com você
E quem tá do seu lado à toa”

15
CONTOS DO CASULO

Aos poucos fui retomando a direção da minha vida. Achava que estava
pronto para um novo relacionamento e por algumas poucas vezes tentei me
aproximar de algumas garotas, mas não obtive sucesso.

“A solidão é um deserto
Onde tudo desapareceu
As paixões não acontecem
Elas pensam que meu coração é teu

Vou levando assim


A vida bem devagar
No meu reggae teu amor ainda existe
Vivo só pra te cantar.”

16
CONTOS DO CASULO

A cada dia que passava, a escrita se tornava um vício, incontrolavelmente


eu enxergava poesia em tudo. Vivia um ócio forçado devido à falta de emprego
e tendo caneta, papel e a facilidade de brincar com as palavras, foi libertador,
se tornou meu melhor passatempo.
Eu brincava de me apaixonar por alguns instantes e assim, poetizava mi-
nhas belas amigas. Difícil um homem não suspirar por elas. São lindas!

“Se favela existisse uma Deusa


Certamente seria você.
Olhos de Pedra, beleza do gueto
Linda de se ver

Entre becos e vielas


Ruas e passarelas, sigo você
Valas abertas, obstáculos concretos
Corro e tropeço só pra te ver

Ah Deusa do gueto...
Você é linda pra valer.”

17
CONTOS DO CASULO

A morena dos dreads longos. Linda Leoa.

“Ela é de paz
Ela é de guerra
Ela é leoa
Ela é favela

Na tua lage quero descobrir


Que a lua não é de fel
Me jogue seus dreads
Me leve contigo

Black Rapunzel”

18
CONTOS DO CASULO

Ah, essas morenas...

Morte Morena
Quantos corações ceifou pra si?
Na tua sombra
Apenas um se refrigera em ti.

Marcas de foice resistem ao tempo


Minha cicatriz exposta reflete o momento
Não teve a intenção
Ceifou meu pobre coração

Ah Dona Morte
Morena é sua cor
Me conte os segredos
Que pra ninguém contou
19
CONTOS DO CASULO

Eu ali feito um gênio louco


Várias garrafas,
Te admirar
Uma noite foi pouco

Ah Morte Morena
Não me mate nesse poema
Juro, não quero problemas
Mas não temo a Morte...Morena

20
CONTOS DO CASULO

Os lindos sinais de Eliane

“Li tuas linhas, teus traços


Me causam embaraço
Jeito estranho de estudar

Está tudo correto


De um jeito tão certo
Me faz viajar

Cinco irmãs em teu espaço


Não haverá laço
Jamais vão se encontrar

21
CONTOS DO CASULO

Duas carrega no colo


A terceira, garganta
A te enforcar

A quarta, um desejo
Confuso receio
De te recitar

Inspiração me envenena
Constrangido poema,
Vai me perguntar

Sobre a quinta?

Ela mora ao lado do sonho...


Nossa! Que sorriso lindo.
22
CONTOS DO CASULO

Para Sandra. Uma linda cantora.

“A vida é uma canção


Entre notas, compassos
Desafinos, embaraços
O tom

Cantar é transmitir a vida


Disfarçar em notas
Os amores
As feridas

Enquanto houver fôlego


Cante
Encante
Transmita sempre a vida”

23
CONTOS DO CASULO

Para esposa de um primo. Um presente dela para ele.

“Minha poesia é você


Amor além da vida
Me torna merecida
Razão do meu viver

Passa
O tempo passa e em tua graça me encontro
Entre fadas e histórias, lutas e glórias
Meu preferido, meu conto

Fonte de vida
Teu é o meu coração
Fonte do amor eterno
Minha inspiração”

24
CONTOS DO CASULO

Para a dona de um sorriso enlouquecedor

“Ah... esse sorriso


Teu, mas me alegra
Pra outro mundo me carrega
Felicidade entre lábios
O procuro sem cansaço
Revelação sem embaraço
Que se torne meu abrigo
Que se torne meu, o seu sorriso”

25
CONTOS DO CASULO
Para minha amiga Vanilsa.

“Surpresa de março
Caber em seu espaço
Sentir o teu toque
Dançar em teu abraço

Envolvido pela canção


O receio em errar
No peito a aflição
Um beijo pra te roubar

Não é difícil perceber


Não entro sem bater
Entre os dias desse mês
Minha alegria foi você.

26
CONTOS DO CASULO
Para uma gauchinha linda

“Linda flor
Em um mundo tão cinza
Sua cor

Alva

Da menina, a pureza
Da mulher, a grandeza
Da alma, a leveza

Leve
Leve-me”

27
CONTOS DO CASULO

Para minha linda amiga Rosinha.

”Linda Rosa
Encantador é teu aroma
Entre tantas delícias
Teu cheiro
Teu jeito
Desnuda-te
Mostre sua alma
Os espinhos não te pertencem”

28
CONTOS DO CASULO

Para uma linda flor de 19 anos.

“É estranho
O tempo não deixa brecha
É medonho
Preciso ter pressa
É ridículo
Meu olhar, uma flecha
E você...
Só uma menina que vi crescer
Não é pecado te desejar
Pecado é não reconhecer
Que mulherão da porra
Se tornou você”

29
CONTOS DO CASULO

De alguma forma a escrita me ajudava afastar maus pensamentos.


“Me desculpe por ser infantil
Esse mundo hostil
Me obriga brincar

Esquecer das mazelas do dia


Não levar a sério
O mistério é falar

Encher o mundo de amor


Poesia e calor
Me libertar

Solidão sussurra baixinho


Habita meu ninho
Não quer me deixar”

30
CONTOS DO CASULO

“Poetizar é ser olhos de amor


Outro ângulo de tudo
É tentar extrair o melhor
Mesmo na dor e contudo
Semear um pouco de paz
Em meio ao absurdo
É retribuir com palavras
As maravilhas desse mundo
Riquezas e a loucura do “ter”
Logo sucumbirá
A semente de amor que hoje planto
Amanhã germinará
O tempo é senhor, logo tudo terminará
Mas as palavras de amor que jogo ao vento
Vão se eternizar”
31
CONTOS DO CASULO

Nasce um samba rock

“Todo solitário tem um coração, eu sei


Pra toda certeza, existe um talvez
Por sonhar acordado, adormeço às 06:00h
Acordo um bagaço, 11:56h

Essas não frases de Chico


São frases de Jorge
Talvez traga alguma sorte
Você precisa escutar

Logo ao acordar nasce esse samba rock


Nem sou assim
Meu estilo é pop
Que vontade de te cantar

32
CONTOS DO CASULO

Ressocializando

33
CONTOS DO CASULO

Lembro que numa noite de domingo recebi uma mensagem via Whatsapp,
era uma garota que não via há anos, vizinha de um grande amigo meu que
morava em Bangu, porém, ela nasceu e morou por muitos anos no bairro onde
moro.
A mensagem chegou por volta das 23:00 h, ela com certo espanto me
perguntou desde quando eu estava solteiro. Putz... já havia se passado um
ano, dessa mesma forma a respondi. Ela me disse que estava numa festa
próximo à minha casa e que gostaria de me ver, me convidando assim para lhe
fazer companhia.
Eu a respondi dizendo que não estava numa vibe legal, e com certeza não
estava, pois pra dispensar uma linda Deusa loira, dona de um par de olhos
que pareciam esmeraldas, com certeza eu estava louco. Ela disse que estava
tudo bem, que nos falaríamos depois.
Para minha surpresa, pouco mais de dez minutos, ela me chamou no por-
tão, ao atender, percebi que trazia consigo uma caixa de cerveja em latas, me
olhou sorrindo e disse: “Hoje a festa é nossa!
Impossível não nascer uma poesia depois de uma noite incrível!

34
CONTOS DO CASULO

“Ontem a libélula veio me visitar


Se abrigou em meu casulo
Em uma noite fez teu lar

Assim como ela


Mil pensamentos me fizeram viajar
Segurei em teu dorso, firme, me pus a voar

Me leve pra longe daqui


Me tire do chão
Me faça sorrir

Me leve pra um novo lugar


Bem perto do céu
Me deixe sem ar”

35
CONTOS DO CASULO

BINGO!
DE VOLTA AO JOGO

36
CONTOS DO CASULO

Como era gostosa a sensação de estar vivo novamente. Me senti renovado


através do amor e calor de uma poesia em carne e osso. Ela, dona de um
olhar angelical mesclado com um jeitinho infernal, sabia que eu era louco
por seus lindos olhos verdes e que estes eram meus primeiros.
No auge dos seus vinte e seis anos de idade, ela era dona de si e não se
privava de um prazer sem pudor, sem medo e sem culpa. Ela simplesmente me
enlouquecia com seu olhar faminto e sua voz tão doce, sempre que me pedia
pra chamá-la de puta.
“Venha, mesmo sem amor
Mas venha com vontade
Nosso desejo e calor
Vão acordar toda cidade
Bebo sua libertinagem
Segredo de Da Vinci
O teu cálice
Minha luxúria escorre em teu queixo
Como me pedes
Tiro a tua dignidade”
37
CONTOS DO CASULO

As coisas foram fluindo, o tempo passando depressa. A loirinha ganhava


cada vez mais espaço e aquilo estava começando a me incomodar, pois não
fazia parte dos meus planos me prender novamente. Não naquele momento.
Havíamos combinado o famoso pega mas não se apega, mas começou a
falhar dando espaço para cenas de ciúmes e cobranças um tanto indevidas,
quando num surto, sem nenhum aviso prévio dei um basta.
Vi seu lindos olhos verdes queimarem numa expressão de ódio, vi também
aquela boca tão bem desenhada, carnuda e deliciosa me chamar de babaca,
selando assim nosso fim.

“Ame o máximo que puder


Só não seja tão chiclete
Pois desse jeito
Vai terminar na sola dos sapatos de alguém”

38
CONTOS DO CASULO

De volta à solidão e mesmice, porém com alguns novos e bons momentos


pra recordar, porém, as lembranças de um passado um pouco mais distante,
de alguma forma, ainda insistiam em me atormentar.

“Nosso amor
Uma estação do ano
Todas as folhas já caíram
É um longo outono

Nenhum sinal de renovação


Nenhum broto à espera
Logo chega o fim
Mais uma primavera

Sem você”

39
CONTOS DO CASULO

“Hoje ouvi um modão


Me pus a pensar
Quantos corações iguais ao meu
Fazem a viola chorar

Saudade é coisa que passa


Como um trator a estraçalhar
Sobram as migalhas de mim
Alguém há de juntar”

40
CONTOS DO CASULO

“Saudade é a síndrome de abstinência


dessa droga que se chama amor”

41
CONTOS DO CASULO

“Não calo mais meu coração


Deixo ele gritar desesperado
Nem sempre tem razão, eu sei
Tantas vezes sepultado

Mas ele insiste em bater


E bate acelerado
Prepotente, não quer encontrar ninguém
Ele quer ser encontrado”

42
CONTOS DO CASULO

“Me trate como um merda


Só não se esqueça que fertilizei
o solo árido do seu coração
fazendo brotar por vezes
a linda flor do teu sorriso”

43
CONTOS DO CASULO

“Ser solitário
É estar constantemente à disposição de um amor
Não de algum que tenha partido
Mas sim, daquele que teima em não chegar”

44
CONTOS DO CASULO

“Eu poderia escrever a poesia mais foda


de todos os doze de junho que já existiram
Mas você...
Você não colabora”

45
CONTOS DO CASULO

Bem vindo ao Jaumo


Seu novo App de relacionamento

Lá vou eu arrumar ideia...

46
CONTOS DO CASULO

Jaumo era um terreno estranho e desconhecido por mim. Me causou certa


indiferença e descrença de que algo real poderia nascer dalí, pois o que eu
mais via, eram várias pessoas vazias e no meu prepotente entendimento, nada
haviam a acrescentar, até que conheci a Rita.
Rita é uma mulher madura, já com seus cinquenta anos de idade, dona de
uma beleza incomparável, um corpo escultural vestindo uma pele morena,
fruto das carícias recebidas do deus sol e quase sempre, deixava expostos seus
atributos cobertos por minúsculos trajes de banho enquanto desfilava total
beleza na piscina do seu condomínio.
O App permitia que seus participantes fizessem live, e foi desse jeito que
ela me encontrou, comentando meu vídeo, me deixando vermelho de vergonha
com alguns elogios que na hora, nem acreditei serem reais.
Dali nasceu uma amizade, trocamos contato e passamos a nos falar via
Whatsapp. Rita é uma linda empresária paulistana que atualmente mora em
Brasília, distância essa que foi fator crucial para não nos encontrarmos.
Não posso deixar de registrar quanta honra eu tive em ter recebido o
olhar dessa Deusa que vez em quando me agracia com sua voz e beleza.

Ela é a japonesa mais linda que já vi nesse mundo!

47
CONTOS DO CASULO

Passado o tempo, o recrutamento e seleção estava a pleno vapor, mas era


muito difícil conhecer alguém legal, com uma boa conversa e procurando algo
mais, além de diversão. Foi quando conheci Srtª Branca, assim vou chamá-la.
Branca faz jus ao pseudônimo que atribuo, pois é dona de uma pele tão
branca, tão alva, que foi capaz de refletir em minha mente suas sardas, tão
bem dispostas, tão de forma especial, elas cobrem o colo daquela mulher in-
crivelmente linda.
Passávamos horas conversando sobre tudo, porém, nada sério aconteceu
entre nós, mas a beleza de suas sardas me encantavam e chegavam a roubar a
cena ofuscando o lindo par de esmeraldas que ornamentavam o ar de Deusa
que seus lindos olhos verdes traziam.
Batizei suas sardas como “estrelas marrons” originando uma canção que
devido à inspiração causada por essa linda Deusa Branca, pude compor.

48
CONTOS DO CASULO

“Branca é tua pele


Teu encanto me sugere
Meu coração devo acalmar

Em teu corpo um universo


Estrelas marrons a céu aberto
Vivo pra te adimirar

Hoje ela só quer um pouco de paz


Por ela tudo sou capaz
Pode acreditar.

Está solta na cidade


Quando vai bate a saudade
Espero você voltar.”

49
CONTOS DO CASULO

Depois de um tempo decidi desinstalar o App em questão, visto que nem


tão de forma plena como imaginei, mas nada aconteceu.
Curiosamente, as pessoas mais encantadoras e interessantes moravam tão
distante, trazendo uma série de dificuldades, sem contar que minhas finanças
estavam passando do vermelho, não me permitindo realizar algumas surpre-
sas. Mesmo as mais simples. É... eu gosto de causar.
E por falar em surpresas, certa vez conheci uma garota num bar. Percebi
que enquanto eu tocava meu violão num canto reservado, sozinho e meio tími-
do, ela batia um papo com as suas amigas numa mesa regada a beleza, muita
cerveja e boas gargalhadas. Pude vê-la por várias vezes mexendo os lábios,
acompanhando a canção que eu tocava bem baixinho, praticamente só pra
mim.
Num dado momento ela acenou pra mim e me perguntou se eu sabia tocar
alguma canção do Djavan, prontamente fiz a introdução de “Flor do Medo” e
iniciei muito timidamente, mas cheio de segundas intenções a minha “canta-
da”...
“Venha me beijar de uma vez
Você pensa demais pra decidir
Venha a mim de corpo e alma
Libera e deixa o que for nos unir”
50
CONTOS DO CASULO

Aos gritos e aplausos de suas amigas bem sacanas, fui convidado pra
sentar à mesa com elas. Claro que fui, não sou bobo.
Foi tão legal ver aquela linda garota de pele preta, ficar com as bochechas
rosadas, escondendo um sorriso maravilhoso por trás dos seu lábios cobertos
por um batom cor de café, realçado pelas missangas da mesma cor aplicadas
nas pontas dos seus dreads.
Foi uma tarde incrível com muita cerveja, risadas e muito bom papo, mas
como tudo que é bom dura pouco, a Preta disse que precisava ir, pois tinha um
compromisso, mas me apontou seu prédio que ficava do outro lado da rua e
pediu pra que a acompanhasse até a entrada, enquanto isso me passava seu
telefone.
Logo em seguida, já do outro lado da rua, ela fez uma parada na sorveteria
pedindo um sorvete de passas ao rum. Infelizmente eles não tinham o sabor
que a Preta desejava, contentando-se ela com uma casquinha de chocolate.
Nos despedimos em meio às sedas que rasgamos um para o outro, com pa-
lavras de satisfação pelo domingo que foi tão legal.

51
CONTOS DO CASULO

Poucas vezes nos falamos, mas vez em quando trocávamos alguns memes
via Whatsapp. Ela tinha um ótimo senso de humor, era capaz de agradar até
os homens mais sérios, ainda mais quando revelava aquele sorriso tão lindo.
Passamos meses sem ter qualquer contato, até que em um certo dia passei
em sua rua lembrando do nosso domingo incrível. Sem pensar duas vezes li-
guei pra ela que atendeu no segundo toque me dizendo estar surpresa e con-
tente pela lembrança.
Eu disse pra ela que estava com muitas saudades, pra que não demorasse
e descesse logo, pois estava muito calor e seu sorvete de passas ao rum estava
começando a derreter lambuzando minhas mãos. No mesmo momento a ouvi
gritando “Você não existe, não coma meu sorvete!
Ela desceu, me abraçou forte, tão forte e logo em seguida tomou o sorvete
das minhas mãos dizendo: Dá que é meu! Depois de umas três colheradas me
deu outro abraço bem apertado e muitos beijos deliciosamente doces e bem
geladinhos. Passamos a tarde, a noite e um pedaço da madrugada juntinhos
bem enamorados, causando inveja aos casais que passeavam pela praça do
Country Club.
Depois desse dia nunca mais nos vimos, mas fiquei muito feliz em saber
que por instantes, fui o motivo do sorriso daquela Preta linda.

52
CONTOS DO CASULO

“A jóia rara do teu sorriso


é valiosa demais em comparação
à bijuteria barata
que é o meu coração”

53
CONTOS DO CASULO

A vida se tornava cada vez mais leve, mesmo diante de tantas dificuldades,
os sorrisos tornavam-se cada vez mais constantes.
Eu estava aprendendo a viver novamente, retomando aos poucos o gosto
pela vida e restabelecer contato com as pessoas novamente, conquistar novas
amizades e resgatar as mais antigas foi a forma que encontrei para me resso-
cializar.

54
CONTOS DO CASULO

“Coisas de Instagram

Fico feliz quando revejo minhas postagens


e encontro seu coração por aqui”

Desse mesmo jeito postei a indireta em meu Instagram. Estava começando


a utilizar e entender como funcionava o aplicativo, e percebi que, sempre que
eu postava uma poesia, em poucos minutos as pessoas começavam a curtir.
Mas uma coisa me chamou atenção. Aquela pessoa sempre era a primeira a
curtir. Sempre.
Embora se tratasse de uma amiga que eu não via há mais de vinte anos, ca-
sada com um conhecido da época de infância que eu também não o via há pe-
lo menos uns trinta anos, me pus a investigar a vida da bela morena, invadin-
do seu Facebook para bisbilhotar, onde também éramos seguidores um do ou-
tro e pra minha surpresa... Adivinha!

Ela continuava casada

55
CONTOS DO CASULO

Lá constavam várias fotos da morena, algumas cervejadas com os filhos e


no finalzinho do álbum poucas fotos em família. Havia poucas, no máximo
três que icluíam seu marido.
Foi broxante, mas continuei inquieto com aquele mar de fotos solitárias
que me levaram a pensar que algo não estava certo. Num acesso de euforia
comecei a rever minhas postagens, tanto do Instagram como as do Facebook e
ela sempre esteve ali curtindo meus posts, e na maior parte das vezes, ela era
a primeira como havia relatado.
Achei prepotência de minha parte pensar que simples curtidas poderiam
sinalizar algum interesse, mas aquilo martelou minha mente por muitos dias
e tive que sanar essa dúvida.
Em mais uma de minhas noites solitárias, após derramar garganta abaixo
doze Coronas pra acalmar minha crise de ansiedade, me encorajei e enviei-
lhe uma mensagem via Messenger. Ela respondeu...
Eu muito sem graça e sem saber o que dizer, pois não esperava que sua res-
posta pudesse ser quase instantânea, agradeci pela curtida em minha poesia
em que eu havia postado naquele mesmo dia no Instagram.

56
CONTOS DO CASULO

Ela massageou meu ego dizendo que me acompanhava há bastante tempo


no Facebook e que gostava bastante das coisas que eu escrevia, elogiou minha
linda Flor e seguiu com algumas perguntas que me levaram a entender que se
tratavam de uma sondagem camuflando algum interesse. Isso me interessava.
Trocamos ideias por horas, nas quais nos revelamos um ao outro e sem
medir palavras confessamos nossas angústias e derrotas. Nos identificamos
muito em nossos relatos e vivências sofridas nessa vida de gente grande. Difi-
cilmente chegamos ao quarenta anos sem o peso de uma bagagem repleta de
experiências boas e ruins.

“Aos 40, se torna inevitável não pagar pela bagagem extra. Desilusões amo-
rosas, amigos desleais, inimigos íntimos, mas o amor continua falando mais
alto.
Aos 40, as paixões acontecem da mesma forma que aos 15. As borboletas
continuam a voar dentro do estômago, porém, nem todo olhar é manifesto e o
tesão se torna cada vez mais honesto.
Aos 40, nem tudo agrada. A conversa precisa ser inteligente, é necessário sa-
ber ouvir sendo descrente e manter sempre a crítica em nossa mente,
Aos 40, carrego a hombridade de um rei, mesclada com a humildade de um
servo, e assim sigo a vida, preservando o dom de me manter íntegro, em dias
de reinados, em dias de escravidão. Assim eu me apresento”.
57
CONTOS DO CASULO

A linda morena confessou estar enrolada num casamento aberto, dividindo


um teto e sem opção naquele momento, que havia sofrido com sua separação
que ocorrera há alguns anos, mas que estava se sentindo pronta e se permiti-
ria novos momentos mostrando estar disposta a doar um pouco de seu amor.
Pois segundo ela, há quase dois anos não sentia o calor de um homem.
Ah... na mesma hora me veio a imagem daqueles assistentes que atuam em
filas das agências bancárias utilizando aquele colete escrito:

“Posso ajudar?”

Minha alma boêmia e meu instinto vagabundo entraram logo em ação des-
ferindo a tal pergunta pra moça, arrancando-lhe uma gostosa gargalhada e a
convidando para um chope, pois ela já havia confessado que não dispensa
uma boa cerveja estupidamente gelada.
Como assim? Perguntou ela se fazendo de desentendida. Fui direto ao pon-
to e para minha alegria ela disse sim, mas com a condição de não desfilarmos
juntos por aí. Topei!
58
CONTOS DO CASULO

“Nosso lance vai ser


A maior fofoca do ano
Juro, não tô nem aí
Eu te quero sem engano”

59
CONTOS DO CASULO

Numa dureza de dar dó, com alguns poucos reais no bolso que mal davam
pra cerveja (Ela bebe bastante) a convidei para vir até minha casa. Marcamos
o dia e assim aconteceu nosso primeiro encontro.
Chegado o grande dia, ela me liga dizendo que já iria descer no ponto,
pedindo pra que eu não demorasse. Parti e quase simultaneamente, enquanto
eu descia o último lance de escadas da passarela, ela saltava do ônibus.
Nossa! Foi um grato susto ver quão diferente estava aquela mulher, pois a
imagem que guardava em minha mente era daquela falsa magra ao estilo de
uma bela modelo, quando na adolescência desfilava seu corpo e beleza tão
bem distribuídos em seus 1,70cm. Ela estava totalmente transformada.
Incrível como o ato de ser mãe colaborou tão divinamente esculpindo suas
curvas tão bem desenhadas, remontando um corpo realmente escultural, incrí-
vel, digno de causar inveja em qualquer mulher que se ache gostosa.
Me fascinava o volume de seus seios grandes e firmes, capazes de passar
em qualquer teste de gravidade utilizando uma caneta e estes chegavam a
gerar dúvidas sobre sua naturalidade diante de tamanha perfeição.
Sua cintura era fina ao ponto de quase permitir o encontro dos meus dedos
enquanto a segurava com as duas mãos.
Ahhh aquela bunda...

60
CONTOS DO CASULO

Certamente foi desenhada pelo compasso do divino Criador, utilizando


Deus a proporção áurea que de tão caprichoso, gerou tão estonteante beleza
qual foi presenteada a este mero pecador repleto de pensamentos libertinos,
que chega a salivar com tais lembranças.
Naquele dia, contente pude perceber que havia verdade em suas palavras
quando a bela morena relatou estar só há bastante tempo. Foi generoso estar
diante daquela mulher linda e faminta, sedenta por amor e se entregando de
corpo e alma sem nenhum pudor.
Depois de algumas horas, relaxados e já bem embriagados com aquele
misto de cerveja e sexo, começamos a conversar sobre assuntos aleatórios e
me pus a perguntar qual era seu hobby. No mesmo momento vi sua feição
mudar e dar espaço a um semblante rude enquanto me respondia que adorava
dançar. Fez uma pausa e em seguida disse que seu “ex” achava vulgar.
Tentei deixá-la mais à vontade, perguntei se gostava de Anitta, ao mesmo
tempo tentando entender o que poderia em pleno século XXI ser vulgar em se
tratar de dança, visto que podemos apreciar em muitos fins de festas, até as
mulheres mais sérias rebolando e descendo lindamente até o chão ao som de
algum batidão, realizando movimentos de quadril hipnotizantes, capazes de
fazer qualquer marmanjo babar involuntariamente.

61
CONTOS DO CASULO

Dizendo que preferia Ludimila, levantou do meu colo e foi em direção ao


meu notebook que estava no balcão da minha cozinha americana, totalmente
nua debruçou e pôs pra tocar a canção“Dona de Mim”, colocou de volta o
sorriso no rosto, me beijou, roçou sua pele morena e cheirosa em meu corpo
iniciando uma coreografia dando início à nova etapa da nossa maratona.
Uma outra condição imposta por ela, foi a de nos encontrarmos apenas
três vezes, sendo honesta em suas palavras quando me disse que não pensava
em ter qualquer relacionamento sério e que seu desejo era apenas o de se sen-
tir mulher, mas fugimos à sua regra totalizando cinco encontros, tendo em es-
pecial o dia do meu aniversário de quarenta anos, quando nos trancamos em
casa por dois dias, permanecendo internados e a sós.
Muitos dias haviam se passado após nosso último encontro até que recebi
sua ligação. Disse que gostaria de me ver, que estava subindo pelas paredes
me perguntando se eu poderia ajudá-la a resolver seu problema. Eu disse que
sim, mas estava muito atarefado e só conseguiria se viesse para dormir. Ela
disse que para dormir não poderia e desligou dizendo que me ligava depois.
Depois de alguns dias ela retornou a ligação retomando o mesmo assunto,
eu continuava trabalhando até tarde demais e precisei manter a mesma condi-
ção. Ela perguntou se eu a estava evitando, e nesse momento pude perceber a
mudança do ritmo da sua respiração.

62
CONTOS DO CASULO

Me questionou várias vezes, e repetia cada vez mais a mesma pergunta


tendo sempre minha mesma resposta honesta em cada questionamento. Foi
quando a mulher surtou. Começou a gritar comigo ao telefone, demostrando
um lado nem tão belo assim e até então desconhecido por mim, esbravejando e
destilando todo seu ódio disse:

“Quem você pensa que é?


Você não passa de um fudido e cheio de marra!”

Em seguida não muito satisfeita e no ápice da sua ira, em alto e bom tom
mandou eu me foder repetindo a expressão oral por 3 vezes sem faltar nenhu-
ma letra. Ao terminar, desligou e me bloqueou em suas redes sociais deixando
somente o WhatsApp ativo.
Bem... pelo menos não fui chamado de babaca dessa vez.
Percebi que ela, mesmo depois de tudo, ainda acompanhava meus status
quando realizava minhas postagens tocando meu violão que gosto tanto. Foi
minha vez de dar um block.

“Se não tem coragem de abrir a porta


Não me olhe pela fechadura”

63
CONTOS DO CASULO

A linda morena foi fonte de inspiração para algumas poesias.

“Leia-me de trás pra frente


Me revire pelo avesso
Eu me proponho a falar

De pensar sempre em você


Compor canções sem um contexto
Coragem pra te confessar

Tô em busca de palavras
Que me aproximem do seu beijo
Teus lábios experimentar

Te colocar contra a parede


Te mostrar o que é desejo
Ver tua pele arrepiar”
64
CONTOS DO CASULO

Antes de ser notado

“Pra ti escrevo meus versos


Parece não adiantar nada
Tento ser elegante
Uso palavras rebuscadas

Vou ser objetivo


Minhas palavras não são à toa
Entenda logo de uma vez

Te quero, porra!”

65
CONTOS DO CASULO

“Quando eu te pegar de jeito


Certamente deixará de ser esses três ou quatro versos
Que sedento de desejo te escrevo
Vem ser minha biografia
Vem!”

66
CONTOS DO CASULO

“Você é um doce de pessoa


Não é à toa que morro de vontade
De te desembrulhar e te comer toda

Pois nem sempre sou poesia


Quase sempre
Te imagino de um jeito que te assustaria
Já sou gente grande e você...
Um desejo”

67
CONTOS DO CASULO

DEMISSEXUALIDADE

68
CONTOS DO CASULO

Tive uma enorme sensação de paz logo após me deparar com um post no
status do Whatsapp da minha linda amiga Rosinha. O post me trazia o assunto
em questão, que antes de conhecê-lo, como indivíduo me sentia estranho e sem
entender o porquê do meu jeito. Me causava estranheza minha postura tão
diferente da maioria dos meus amigos.
Embora me considerasse um cara extrovertido, do tipo que puxa assunto
com qualquer pessoa em qualquer lugar ou momento, não conseguia entender
a necessidade em conhecer muito bem a pessoa antes do sexo.
Mesmo as mulheres mais belas e mais exuberantes não fazem com que eu
quebre o pescoço na rua para apreciar o atributo de preferência nacional.
Não é marra ou charme. Não é o mesmo de se fazer de difícil com uma
postura ensaiada, é genético, se torna um complicador qualquer lance mais
a fundo com qualquer pessoa que acabo de conhecer. Em outras palavras,
nunca me senti o rei das baladas, o macho alpha, o pegador que sai à caça às
sextas-feiras e sábados trazendo sempre uma nova presa. Uma carne nova.
Sempre frequentei bares e botecos por aí, principalmente os que dispunha
de música ao vivo e meu saudoso pai brincava com essa minha fascinação
quando me via pôr meu violão na capa e sair rumo à boemia, ele dizia que eu
me parecia com seu irmão, meu também saudoso Tio Horácio.
Assim eram minhas baladas preferidas e continuam sendo. Uma boa músi-
ca ao vivo e algumas cervejas bem geladas animam qualquer noite minha.

69
CONTOS DO CASULO

De certa forma esse ‘distúrbio amigo’ me ajudou a preservar meu antigo


casamento por quase dezesseis anos. Sou um homem que finge não entender
algumas letras jogadas como indireta e sempre fui capaz de dizer não para as
investidas mais ousadas. Diga-se de passagem nunca me achei belo, mas pude
aprender com a maioria das mulheres que a beleza não é fator determinante.

É aí que entra a demissexualidade.


Não será uma bela aparência, um lindo corpo ou uma bunda muito bem
trabalhada às custas de muito suor e dedicação que vai me levar pra cama.
A Inteligência e muito bom papo são os requisitos fundamentais para isso,
não que seja exigência minha, mas da tal demissexualidade.
Eu continuo dando preferência aos belos sorrisos do que aos decotes mais
ousados, não que eu não curta, mas aos quarenta anos, já passei da fase de
imaginar como são as coisas, preferindo eu utilizar mais do talento de minhas
mãos do que a libertinagem em minha mente para despir uma linda mulher.
As mulheres em sua grande maioria são demissexuais, não obstante, às
vezes permitem-se o sexo no primeiro encontro.

70
CONTOS DO CASULO

Dating

71
CONTOS DO CASULO

Foi a vez de Mark Zuckerberg me tirar da rotina me permitindo conhecer


uma garota incrivelmente linda. É... sempre tive sorte com as belas, mas dessa
vez quase pus tudo a perder.
Demos um match e iniciamos uma conversa nos apresentando e sem muita
formalidade falamos sobre nós, nossos gostos, hobby entre outros assuntos
aleatórios.
Passamos o Instagram um para o outro até que num fim de semana pude
apreciar sua beleza através de um story postado pela bela que no momento
curtia uma cerveja bem gelada na Praça da CETEL.
Eu comentei alguma gracinha pra ela que retribuiu o comentário, logo em
seguida enviei um áudio via Whatsapp dizendo “Oi Andreia”. Ela respondeu
“já te chamo” e sumiu. Tentei imaginar o que houve de errado já que nossas
conversas se desenrolavam tão bem e por tantas horas, mas esperei.
Após dias de silêncio dei mais uma investida tentando saber o que causou
o sumiço da moça e pude descobrir por ela mesma me dizendo que troquei seu
nome, se no começo já era assim, não queria nem imaginar depois.
Com muito custo consegui explicar pra ela que eu havia associado o seu
nome à imagem da minha querida prima Andreia, porém era pra ter associado
a imagem à minha outra prima, irmã de Andreia a também querida Adriana.
Depois de toda explicação consegui o justo perdão da moça. Ufa...
72
CONTOS DO CASULO

Depois de vários dias de muita conversa decidimos nos encontrar. Ela dis-
se que morava próximo ao Carioca Shopping e que perto de seu prédio havia
boas opções de bares e restaurantes e em comum acordo, marcamos o dia.
Era sábado à noite e lá estava eu na portaria principal do shopping quan-
do avistei aquela bela morena atravessar a faixa de pedestre, me avistando
trouxe consigo o sorriso mais lindo que pude vislumbrar bem de pertinho.
Ela, com seus quase 1,80cm, lançou os braços por cima dos meus ombros
enquanto eu a laçava pela cintura, nos abraçamos bem apertado por um minu-
to ou mais, embalados e encantados.
Demoramos um pouco pra decidirmos à qual bar iríamos, já que para nós
dois, qualquer um serviria e sendo assim, fomos caminhando em direção aos
bares até que escolhemos o Bar Boa Boca.
Pedimos um balde de cerveja, começamos a beber e conversar, ela bem
descontraída me matava de rir com sua performance ao som daquele karaokê,
lindamente segurava uma garrafa vazia simulando um microfone e ao mesmo
tempo jogava o outro braço para o ar acompanhando a canção “Evidências.”
Que noite incrível!

73
CONTOS DO CASULO

Ela me disse que eu estava muito sério e que eu precisava me soltar mais,
embora um pouco nervoso, eu estava muito contente e curtindo demais aquela
garota incrível. Enquanto ela foi ao banheiro escrevi:

“Sanidade
É aquilo que se foi junto ao vento que borrifou em minha alma o teu cheiro.
Pouco sei sobre você,
mas seu sorriso já pagou essa conta que só aumenta.
É incrível viver esse momento contigo.
Vá com calma.
Balanço as pernas sem parar.
Meu corpo demonstra quão nervoso está.
Estou retornando de um inferno.
Astral, real, sei lá...
Você, uma linda Deusa.
Talvez em tua condição, tenha o dom de transformar demônios em anjos.”

74
CONTOS DO CASULO

Ela tornou-se a exceção à regra da minha demissexualidade.

“O amor é generoso, quase uma religião.


Quem realmente o busca, o encontra.
Num passeio qualquer, numa mesa de bar ou num encontro marcado.
O amor é um sentimento nobre e somente os fortes são capazes de senti-lo”

“ Te amar naquela noite me mostrou quão solúveis foram nossas diferenças.


Se tornaram fluídos que escorreram pelos lençóis, e estes,
nem nos serviram após conhecermos o calor um do outro”

75
CONTOS DO CASULO

Paixão digital
A reinvenção do amor a distância

76
CONTOS DO CASULO

Recebi a ligação de um amigo, ao telefone percebi sua voz embargada,


um tanto triste e com uma certa rouquidão nem tão característica dele . Ele
seguiu me dizendo que precisava de conselhos apoiando-se nos meus anos de
estrada, fato esse que eu, bem mais velho que ele, carrego em minha bagagem
vinte anos a mais como diferença.
Pedi para que ele se acalmasse e logo em seguida começou seu desabafo,
me disse que seu relacionamento havia terminado, mas que gostava demais da
garota, e que ela havia lhe pedido um tempo, porém ele temia que esse tempo
jamais terminasse.
Creio que a maior parte das pessoas em algum momento da vida, deva ter
sofrido com o desprazer de um término de relacionamento como este, cruel e
covarde. Uma das piores torturas psicológicas que pode existir.
O questionei se ele havia falhado com ela em algum momento, ou feito
qualquer coisa que pudesse tê-la tirado do sério, ele me disse que não. Diante
da negativa, enquanto ouvia o soluçar do choro dorido de um soldado amigo
ferido, o aconselhei a encarar a situação como o fim real, e que era importan-
te a não criação de quaisquer expectativas.
Eu ainda me pus a questioná-lo se havia tentado contornar a situação de
alguma forma. Cheguei a brincar o aconselhando a ensaiar uma canção pra
ela, gravar um vídeo e dedicar, ou simplesmente tentar a estratégia das flores.
Ele animou-se com a ideia das flores mas disse que não seria possível.
77
CONTOS DO CASULO

Perguntei se ele precisava de grana para as flores, ele me respondeu que


não, que na verdade precisava de grana para passagem aérea, pois nesses
dois anos de relacionamento ele carregava a certeza de que o fim foi motivado
pela distância e não possibilidade do encontro presencial entre ambos.
Minha cabeça chegou a girar nesse momento. Enchi meu peito de ar e
mandei meu melhor “puta que pariu” recriando o silêncio em meio ao pranto
onde pude ouvir o cricrilar dos grilos que habitam o quintal arborizado desse
meu amigo.
Puta que pariu, você está de sacanagem comigo? Eu tô cheio de problemas
sérios pra resolver e você aí sofrendo pra caralho por uma pessoa que você
nunca viu. Pelo amor de Deus meu amigo, me poupe!
Hoje, devo minhas mais sinceras desculpas ao meu amigo, pois a empatia
que me faltou o Universo tratou de suprir.

“Como pude me apaixonar


Em meu mundo, o abstrato
O silêncio em tua arte
És apenas um retrato”

78
CONTOS DO CASULO

De volta ao Dating

79
CONTOS DO CASULO

Minha verdadeira intenção ao utilizar o Dating era a de encontrar um no-


vo amor e toda via me mantinha descrente, embora eu tivesse conseguido al-
gumas aventuras e conquistado amizades incríveis, o amor parecia nunca che-
gar.
Lá estava eu mais uma vez passeando por aquele terreno repleto de lindas
flores até que chegou a vez dela. Abençoado seja Pedro Alvarez Cabral, um
dos maiores responsáveis que ao descobrir o Brasil, acendeu o estopim da
bombástica miscigenação criando um padrão de beleza pertencente apenas às
nossas brasileiras. Ninguém resiste aos encantos de uma linda morena.
Meu coração saltou da boca ao perceber que minha curtida originou um
match. A linda morena tatuada, portadora do sorriso mais lindo que já pude
vislumbrar me curtiu de volta e iniciamos a primeira de muitas conversas.
Era notória a diferença de classe social, visto que suas fotos revelavam
seus incríveis passeios pelo mundo e eu, apenas podia dar razão às palavras
do meu antigo caso quando referiu-se a mim como um “fudido”. Eu estava
tão duro, que mal tinha grana pra bancar um ônibus pra ver a moça, ela não
se mostrava incomodada com isso e dizia que essa fase ruim passaria.
Eu não estava entendendo o que acontecia mas, me subia um calor e ao
mesmo tempo um frio na espinha diante de tantas coincidências envolvendo
nosso gostos. Éramos compatíveis em praticamente tudo. Poderíamos ser nós
mesmos sem precisar comedir palavras, evitar as fumaças de nossos cigarros,
nossas cachaçadas de fim de semana ou simplesmente o som estrondeante de
Led Zeppelin.
80
CONTOS DO CASULO

Migramos nossa conversa para o Whatsapp onde passávamos horas con-


versando e nos conhecendo cada vez mais. Era encantadora a reciprocidade
que habitava em nossos elogios e vontades.
O que pensei que nunca mais fosse acontecer, aconteceu. As borboletas
que outrora adormecidas no estômago deste Casulo, despertaram outra vez
mostrando o quanto eu estava loucamente apaixonado e ao que parecia uma
vingança do Universo, apaixonado por alguém que nunca vi pessoalmente.
Nascia minha primeira promessa.

“Antes de despertar
Cumprirei minha promessa
Uma canção pra te encantar
Minha alma que te versa

Tento te alcançar pouco a pouco


Teu sorriso restringiu minha pressa
Pode ser um dia de cada vez
Além de ti, nada mais me interessa.”

81
CONTOS DO CASULO

Parecia que ninguém seria capaz de adentrar novamente em meu coração e


fazê- lo seu abrigo. Diante de tudo o que acontecia, confesso ter sentido medo,
pois meu coração estava chagado por um antigo amor. Não queria quebrar a
cara novamente mas decidi me entregar de corpo e alma.

“O que move minha paixão?


Não é o prazer da conquista diária
Mas sim, o aprendizado sobre você
É compreender seus medos e anseios
É estar presente em seu tempo e seu espaço
É desatar os nós
Criar um laço
Meio frouxo pra que a corda não arrebente
E assim, poderemos nos amarrar
Sempre que der
Sempre que puder”

82
CONTOS DO CASULO

Eu estava realmente feliz e disposto a encarar as coisas com seriedade.

“Quando meu amor for capaz de invadir seu coração,


entrarei na tua casa.
Vou poetizar os traços da Deusa que lhe trouxe a este mundo.
Vou acender as chamas da amizade junto ao teu rei.
Protegerei os anjos indefesos que te cercam.
Cantarei e sorrirei junto aos seus amigos mais fiéis.
Vou amar você e todos que te amam verdadeiramente.”

83
CONTOS DO CASULO

Ela, apesar de linda, sofre com a doença do mundo moderno, para driblar
majestosamente seu distúrbio de ansiedade, ela roda o mundo em seus belos
passeios e viagens por aí.

“Ela é um misto de crise de ansiedade


Passeios pela cidade.
Um lindo sorriso de caridade.
Uma beldade.
Ela é linda, livre, louca e gostosa pra caralho.”

84
CONTOS DO CASULO

Intrigante são os sentimentos que carrego em meu peito enquanto escrevo


as últimas palavras desse livro que compõe parte da minha vida.
Verdadeiramente não sei explicar o que aconteceu, pois diante de tamanha
paixão, o silêncio começou a se instaurar calando a voz da linda morena.
Inconsistentemente recebo algumas poucas palavras, e estas, já não trazem
a paixão ou qualquer intenção de outrora.
Estou disposto a seguir com esse sentimento sem intenção de mudá-lo, pois
algo me diz que em algum momento nossos caminhos vão se cruzar e poderei
revelar ao mundo essa paixão secreta. Me guardo e com amor me despeço.

“Você é a poesia que desejo escrever


Até nos dias em que me falta inspiração”

85
CONTOS DO CASULO

86
CONTOS DO CASULO

87
CONTOS DO CASULO

Agradecimentos
Agradeço à Deus pela minha sanidade e pela minha famíla tão especial que
nos momentos mais difíceis estiveram sempre ao meu lado em total apoio, meu
irmão Marco, meu amigo Jone e pelas mulheres maravilhosas e essenciais em
minha vida, minha querida mãe Erly e minha linda filha Maria Flor.

Gratidão.

Contos do Casulo
outubro/ 2019
Este livro é uma obra de Jorge Casulo
Todos os direitos reservados

88

Você também pode gostar