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Tema 1- Introdução
O tema 1 tem como título a introdução e dentro desta aparece logo preliminares,
preliminares é ver em qual das modalidades da história podemos inserir a nossa história
de direito português.
É que tradicionalmente a história divide-se em narrativa, pragmática e genética,
há ainda uma história geral e ainda especial.
A narrativa é uma história que relata factos, escreve factos, acontecimentos,
personagens do passado, exemplo: crónicas
A história pragmática procura estudar o passado para retirar ensinamentos para
orientações dos homens no presente e no futuro, é a chamada história mestra da vida,
nos dá ensinamentos para que não repitamos os erros dos passados e para acautelar o
presente e o futuro.
A história genética é uma história científica que procura compreender os efeitos
através das suas causas, portanto olha para os efeitos, acontecimentos e interroga-se
porque causa foram os acontecimentos produzidos e procura determinar essas causas.
A história geral parte do passado em várias épocas, em várias etapas para nos dar
uma visão do conjunto de cada uma dessas épocas ou momentos históricos.
A história especial é uma história especifica de uma determinada monografia, de
uma instituição (sabemos que uma instituição é um conjunto de normas que
regulamenta um certo aspeto da nossa vida ex: da família, da propriedade…) , de um
instituto…, ou seja, estuda uma instituição desde o seu inicio até aos tempos presentes,
procurando também naturalmente determinar a sua evolução, como surgiu, como
chegou até nós.
Em que contexto nós inserimos a história do direito português?
Esta unidade curricular a que tipo de história pertence? A resposta é a de que
estamos perante uma história genética ou cientifica, ou seja, vamos procurar
compreender os acontecimentos, os factos do passado através das suas causas, é
portanto uma história genética ou cientifica, e por outro lado, é também uma história
geral porque nós vamos partir do passado em vária épocas, em grandes período e dentro
de cada época vamos compreender o que foi o direito em cada uma dessas épocas,
portanto a nossa história no contexto referido é deste logo uma história genética ou
cientifica e também geral.
Periodização
Direito Germânico:
Estes povos invadiram o império romano e criaram uma nova época, a do
Direito germânico.
O que é que os trouxe para a península ibérica?
Razões económicas, estes povos nos seus territórios de origem na Ásia, na
europa central, faltavam meios de subsistência e isso atraiu a que eles migrassem para
aquele que tinha sido o império romano do ocidente.
Outro fator é o carater guerreiro e aventureiro daquele povo, eram poucos em
relação aos romanos mas, eram guerreiros e aventureiros e isso também explica a sua
infiltração na península ibérica e naquele território que tinha pertencido ao império
romano do ocidente.
Por último, a decadência do império romano do ocidente, decadência de valores,
de disciplina…. Tudo isso justifica ou são fatores que explicam a vinda desses povos
bárbaros, germânicos para a península ibérica, eram um povo de uma cultura muito
inferior, a miséria era generalizada, há um bispo chamado Idálio que diz que a miséria e
fome eram tão grandes que coziam e comiam os próprios filhos.
Em relação à península ibérica temos dois povos germânicos, os Suevos e os
Visigodos.
Destacam-se os Suevos, que se fixaram no norte de Portugal, na altura era
Bracara Augusta (Braga) uma cidade romana, fizeram dela a sua capital, estes foram
convertidos ao cristianismo pelo arcebispo S.Martinho, ao convertê-los deu-lhes uma
cultura superior à que tinham, mas este povo foi vencido pelos Visigodos, estes
ocuparam a península ibérica toda, a península ibérica tornou-se toda visigótica, a
capital deste povo era Toledo e tiveram uma ação evangelizadora pelo bispo Santo
Isidoro de Sevilha, autor de uma obra “ as etimologias” , que mostra uma grande cultura
romana e grega, deste modo este povo tornou-se também um povo cristão. No aspeto
politico temos 3 grandes instituições, em primeiro temos o rei era o chefe do estado e
era eleito pela nobreza, não era uma monarquia hereditária como hoje, era uma
monarquia elegível, eleita mas, o rei precisava de conselho para se poder consultar,
conselho do rei (aula régia), O PR de Portugal também tem um conselho de Estado que
vem da aula régia do visigodos , e finalmente havia os concílios, eram as reuniões do
alto clero, eram reunido periodicamente, são conhecido os concílios de Toledo.
Quanto ao direito o que encontramos aqui em relação ao povo Visigodo, desde
logo encontramos as fontes, que são costumes e leis, normalmente as leis eram a
redução dos costumes, portanto não tinham nada de inédito, consagravam por escrito
aqui os costumes já diziam, temos os formulários que eram também costumes de
práticas notariais, documentos através dos quais faziam contratos, temos os capitulares
que eram diplomas, no fundo leis redigidas em capítulos e temos Cânones, que eram
decisões do concílios do alto clero reunido nessas assembleias designadas como
concílios.
Mas, fundamentalmente o que importa saber dos visigodos em relação ao direito
são a dedicação dedicada por eles à feitura de códigos à codificação, notando que os
romanos foram pouco inclinados à feitura de códigos apenas fizeram o corpus iuris
civilis e mesmo este é da fase tardia do direito romano da época justinianeia, e
encontramos agora no povo visigodo uma tendência para a feitura de códigos.
O povo germânico possuía códigos que disciplinavam as relações entre as
pessoas, assim tínhamos desde logo o primeiro o código do rei Eurico, código de
Eurico tinha uma particularidade este código apenas disciplinava as relações entre os
visigodos de fora ficavam os hispânicos, os povos a quem os romanos tinham concedido
a cidadania romana mas, porque convinha também regular as relações entre eles foi
criado por Alarico II, o código Breviário de Alarico que se destinava exclusivamente a
disciplinar relações entre os povos ibéricos (povos romanos). Quando acontece existir
dois códigos estamos perante o princípio da personalidade jurídica. Tudo corria bem, até
que um dia, os visigodos começaram a casar com os romanos e surgem filhos que são
simultaneamente romanos e visigodos, para dar solução a esta questão o rei Recesvindo
no ano 654 fez o terceiro código- código visigótico, este código unificou
territorialmente a península ibérica e doravante apenas um código passou a disciplinar
os habitantes da península ibérica, fossem eles romanos ou visigodos, é o princípio da
territorialidade. Portanto ao princípio da personalidade sucedeu o princípio da
territorialidade, um só código para todo o território, para toda a península ibérica, esse
código visigótico do ano 654 promulgado pelo rei Recesvindo. Mais tarde, este código
veio a ser uma das fontes do direito português.
Quanto às instituições, no direito público e no privado, no direito publico, como
já foi referido, encontramos o rei , as aula régia e os concílios de Toledo e Oviedo
sobretudo, o rei era considerado um representante de Deus no seu território, ou seja, o
rei dos visigodos era o representante de Deus na península ibérica, tinha uma
particularidade, o rei era eleito pelos seu pares, pela nobreza, pelo alto clero e portanto
não era uma monarquia hereditária, era uma monarquia eletiva. A aula régia era um
órgão consultivo do rei, reunia a alta nobreza, o alto clero e aconselhava o rei, era uma
espécie de conselho de estado. Os concílios era as reuniões do alto clero que tomavam
decisões sobre assuntos da igreja e não só, sobre assuntos do Estado.
Quanto ao direito privado encontramos várias figuras jurídicas, herdamos quatro
importantes figuras:
1. Morgengabe- consiste numa doação dado à mulher casada no dia seguinte do
casamento, no dia seguinte à noite nupcial, ou seja, o marido recentemente
casado logo a seguir à noite de núpcias fazia uma doação de bens à sua mulher,
não se encontra um sentido explicativo para esta figura, os historiadores
divergem mas, o sentido mais lógico que se encontra é a de que a doação servia
como um preço pela virgindade da esposa, não encontramos esta figura no
direito romano, encontramos sim no direito visigodo.
2. Ordálios ou juízos de Deus, para compreender esta figura jurídica é importate
referir que hoje para condenar alguém é necessário fazer a prova de que esse
alguém cometeu um crime, não se pode condenar alguém sem se provar que esse
alguém é o autor do crime, quando persiste a dúvida apenas existindo suspeitas,
o problema resolvesse através do princípio in dubio pro reo, ou seja, é absolvido
e não é condenado, entre condenar um inocente e absolver um criminoso é
preferível absolver o criminoso. Não temos o principio in dubio pro reo no
direito visigodo mas, encontramos uma figura jurídica que o substitui embora
noutros termos é os Ordálios ou juízos de Deus. Isto compreende-se na idade
média, nos visigodos, trata-se de um povo muito religioso, o homem medieval é
profundamente religioso e acreditava que Deus estava presente em todo o lado e,
portanto, se alguém não sabia quem tinha morto alguém, Deus sabia quem tinha
sido, por isso entendia-se que se devia convocar Deus, pedindo a Deus um sinal
que revelasse se o suspeito é o autor ou não desse crime.
E que sinal era esse? É aqui que aparece os ordálios ou juízos de Deus, havia
várias modalidades, uma das quais era prova do ferro candente, consistia em a
pessoa suspeita é levada à presença de um sacerdote e de um médico, o
sacerdote benze-lhe a mão, o médico lava a mão, ao lado está um ferro em brasa,
o suspeito pega no ferro em brasa dá nove passos, coloca o ferro no chão, depois
tornava a ser benzida e era feito o curativo com ligas á sua mão, passados três
dias o médico via a mão do indivíduo, se tivesse sinais de cura era inocente e era
absolvido, se não curasse era um sinal de Deus de que aquele homem era
culpado e era condenado pelo crime.
3. Casamento de juras- Naquele tempo, em plena idade média, a filha só podia
casar se os pais assim o consentissem, caso contrário a filha não podia casar.
Mas, a natureza humana tem sempre um expediente que de algum modo permite
resolver o problema, esse expediente era o seguinte: o pai não consentia, a filha
queria casar com aquele homem, resultado o noivo raptava a noiva e com
saudades da filha o pai começava a vergar e acabava por consentir o casamento
(“o tempo tudo cura”). Mas, se o pai apesar de tudo não autorizasse o
casamento, a filha estava raptada não sabendo o paradeiro dela, neste caso como
a sociedade não suportava que uma mulher vivesse com um homem fora do
casamento, isto era um atentado à dignidade sobretudo da mulher, nessa altura a
mulher e o homem apareciam na igreja e eram casados por um sacerdote e assim
legalizava a situação, casamento de juras porque juravam reciprocamente
fidelidade e amor e daqui surge a figura do casamento de juras, esta figura
permitia o casamento de uma filha sem a autorização do pai, legalizando a
situação de uma mulher dentro da sociedade.
4. Dote germânico ou arras- é diferente do dote romano, mas, para entendermos
esta figura é necessário primeiro entendermos o dote romano, em Roma
constituiu uma prática muito generalizada de que a mulher que casasse levaria
par o casamento um conjunto de bens para que um dia se eventualmente ela
ficasse viúva com esses bens pudesse viver a sua viuvez e entretanto auxiliar o
seu marido com o rendimento desses bens nas despesas da família, duas
finalidades contribuir para ajudar as despesas da família e para que um dia ter
esses bens que lhe permitam sobreviver durante a sua viuvez, esse bens podiam
lhe ser dados ou pelo noivo ou por, sobretudo, pelo pai ou por um amigo, em
regra, era o pai. A particularidade do dote germânico ou dote visigótico é que
esses bens são dados pelo noivo, imediatamente antes do casamento, o noivo dá
à noiva um conjunto de bens para ela levar para o casamento, para satisfazer as
duas finalidades que são iguais. É o noivo porque numa fase mais antiga o
casamento ocorria com a compra da mulher e perdida essa ideia, ficou o
conjunto de bens que o noivo dá á noiva, ou seja, em vez de pagar ao sogro um
valor dá um conjunto de bens à noiva, portanto o dote é o sucedâneo do antigo
preço do casamento.
Direito Muçulmano:
Os visigodos estiveram na península ibérica durante muito tempo mas, no ano
711 a península ibérica foi invadida pelos muçulmanos, os muçulmanos atravessaram o
estreito de Gibraltar e entraram na Espanha, em Tarifa, comandados pelo grande
comandante Tarik, invadiram e conquistaram quase toda a península ibérica afastando
os visigodos do poder na península ibérica. Temos apartir da data de 711 a península
ibérica praticamente ocupada pelos muçulmanos.
Os muçulmanos conquistaram praticamente a península toda, exceto um
pequeno refúgio nas Astúrias. Temos assim no ano 711 os árabes entre nós, que
respeitaram o direito visigótico, não obrigaram o povo invadido a modificar porque
eram muito tolerantes. Assim, temos o direito visigótico para os visigodos e o direito
muçulmano para os árabes (princípio da personalidade jurídica).
O direito muçulmano tinha e continua a ter um profundo carater religioso, ou
seja, não se separam, muito pelo contrário, identificam-se a religião e o direito. No
direito muçulmano temos três fontes, como o alcorão que é o livro que contêm as
revelações de Alá (Deus) ao profeta Maomé, a sunna que é um livro que contêm a
conduta pessoal do profeta Maomé e o costume.
Com os árabes herdamos a terminologia –al e duas figuras jurídicas:
1. A parceria agrícola é um contrato de exploração agrária, em que o dono da
terra cede a terra a um agricultor para a trabalhar e depois repartem os ganhos,
os produtos recolhidos são repartidos pelo dono da terra e pelo agricultor, é
parceria porque são parceiros da terra o dono e o agricultor.
2. A terça é a chamada quota que alguém pode dispor para depois da sua morte,
quando alguém morre é perfeitamente possível que esse alguém deixe os bens a
quem entender, o testador faz um testamento, um negócio mortis causa, e os
bens são transferidos depois da sua morte para as pessoas indicadas no
testamento, há uma certa liberdade de se dispor de alguns bens mas, não de
todos, daí termos duas quotas, a quota disponível que é o conjunto de bens que
podem ser deixados em testamento a qualquer pessoa e há a quota indisponível é
a parte dos bens que o testador não pode dispor, ou seja, obrigatoriamente irão
para a sua família. No direito muçulmanos, os homens têm muitas famílias, pode
ter várias mulheres consoante a sua riqueza quanto mais rico mais mulheres
podia ter, portanto um árabe tinha também muitos filhos, mas tinha a obrigação
de os sustentar, dessa forma surge a terça parte, não pode deserdar os filhos. Não
podia deixar todos bens a quem quisesse, só podia deixar uma parte, essa parte
no direito muçulmano é um terço e dai o nome de terça é a quota disponível.
Essa terça parte vigorou em Portugal até 1910, até à revolução da república.
Reconquista Cristã:
É durante o tempo em que se luta contra os muçulmanos, em que se processa a
reconquista cristã que se forma o reino de Leão, em que cuja primeira capital foi
exatamente Oviedo, e que mais tarde passou para Toledo, depois de Toledo passou para
Madrid (muito mais tarde).
Esta reconquista Cristã traduz-se na expulsão dos muçulmanos e na reconquista
do reino visigodo, é nesta fase da reconquista cristã que é fundado Portugal.
No sec XI, chegaram à península ibérica dois nobres franceses, D. Raimundo e
D. Henrique, que vem casar respetivamente, D. Raimundo com a princesa herdeira de
Leão a princesa Urraca, D. Henrique com a filha ilegítima do rei, chamada D.Teresa,
temos portanto em Espanha D.Urraca e em Portugal D.teresa casada com o conde
D.Henrique.
Com o casamento de D.Teresa com D.Henrique de Borgonha, França, o pai de
D.Teresa que era o rei de Leão, D.Afonso VI, rei de linhagem Visigótica, deu a
D.Teresa e a seu marido a chamada terra Portucalense, de onde vem a surgir Portugal,
mas a que titulo? Existe uma divergência entre os historiadores, tratasse provavelmente
de um senhorio hereditário, o senhorio era um território mais ou menos vasto confiado à
administração de um senhor, nobre ou a própria igreja, o senhor fazia nesse território
aquilo que o rei fazia fora daquele território, ou seja, o nobre cobrava impostos, o nobre
fazia o recrutamento militar, o nobre administrava a justiça, o nobre fazia contratos de
exploração agrícola…. A terra portucalense que vai desde do minho até ao Porto à
frente dele está um senhor, dai o nome senhorio, hereditário porque à morte desse
nobre, sucede-lhe o seu filho, provavelmente. Provavelmente o condado Portucalense
começou por ser um senhorio hereditário mas, há quem entenda que se trata de uma
tenência livremente amovível, uma circunscrição territorial mas para efeitos militares,
entendemos na sequencia do Professor Paulo Merêa de que se trata de um senhorio
hereditário e que foi dado a titulo de dote, pelo rei D. Afonso VI à sua filha D. Teresa e
ao seu genro, aqui aparece a figura do dote.
Os senhores desse dote, D. Teresa e o seu marido eram autorizados a conceder
os forais, ou seja, a conceder privilégios a determinadas localidades, a proferir
sentenças, a cobrar tributos, a fazer recrutamento para a guerra…. Tudo isso foram
atribuições conferidas no próprio dote.
Nessa época de reconquista cristã, as fontes do direito foram: o costume, quando
não há leis os povos regem-se fundamentalmente pelos costumes, temos os forais que
são documentos concedidos a localidades com certos privilégios, com direito e
obrigações concedidas aos moradores dessas localidades, temos o código visigótico que
se compreende porque o rei de leão era um rei de origem visigótica, como são os futuros
reis de Portugal, provem da linhagem visigótica, e continua a vigorar nesta época as leis
ou os Cânones dos concílios dos visigodos, sobretudo o concilio de Toledo.
Quanto a instituições destaco a famosa figura do direito de Avoenga, nesta altura
os povos criaram o direito de avoenga, consiste em dar preferência na venda de um
determinado bem a um elemento da família, para que esse bem não caia nas mãos de
estranhos, por esse motivo esta figura de direito avoenga também se chama retrato
familiar, é, portanto, um direito que vem preservar, defender as famílias, mas, a
preferência incide apenas sobre bens de origem familiar.
Exemplo: A morre e deixa dois prédios, o x e o y, tem dois herdeiros, cada filho herda
um prédio, mas se um dia um dos filhos quiser vender o prédio deve dar preferência ao
irmão ou familiar (este direito de preferência é o direito de avoenga) para evitar que os
bens sejam vendidos a estranhos. Esta figura jurídica esteve cá até às ordenações
manuelinas (1521).
Direito Franco:
Também fomos influenciados pelo direito franco, aquando a vinda para a península
ibérica dos condes franceses, D. Raimundo e D. Henrique e com eles veio uma pequena
população de agricultores franceses, que se fixaram sobretudo em Lourinhã, na
Atouguia, na Zambuja… e naturalmente, eles trouxeram de França o seu direito, que
nos deixou como figura a posse de ano e dia, em relação a esta figura há duas
interpretações , para se entender esta figura é necessário primeiro determinar o que é a
posse que é um poder de facto sobre uma coisa, se esse poder corresponder a um direito
chama-se propriedade, ou seja, enquanto a propriedade é um poder sobre uma coisa
juridicamente protegido, a posse é um poder sobre uma coisa que não goza da proteção
jurídica, é um poder de facto, ou pelo menos não é protegido como é a propriedade.
Posse poder de facto, propriedade poder de direito. Pode perfeitamente, o prédio ter um
proprietário e um possuidor, normalmente o proprietário também é possuidor mas, pode
suceder que alguém seja proprietário e um outro possuidor, ou seja, alguém apodera-se
de um prédio, age publicamente como se fosse dono e não é, neste caso é um possuidor
e não é proprietário.
A primeira explicação é : a figura de posse de ano e dia é uma figura jurídica que
conduz à caducidade da ação de reivindicação, se o autor dessa ação, o proprietário
permitir que o possuidor tenha a posse pelo menos à um ano e um dia.
exemplo: “A” é dono de um prédio e esse prédio foi ocupado pelo “B”, ou seja, o “B” é
o possuidor e o “A” é proprietário, o que pode o “A” fazer? Intentar uma ação contra o
possuidor “B”, chamada ação de reivindicação, prevista no Código civil português no
art 1311 e ss, e nessa ação pede a condenação de “B” a reconhecer a propriedade do
autor e que lhe restitua a coisa que foi ocupada, esta ação protege o direito de
propriedade, mas, se o proprietário deixou passar um ano e um dia, ou seja se o “B” tem
a posse do prédio por pelo menos à um ano e um dia essa ação caduca, ou seja, o
proprietário já não a pode intentar.
A outra explicação é a seguinte, se alguém tiver a posse de um prédio e permitir
que essa posse lhe seja retirada por outra pessoa, se essa outra pessoa chamada o novo
possuidor tiver a posse pelo menos à um ano e um dia, o antigo possuidor deixa de
possuir, perde a posse, ou seja, significa que perde a posse quem permitir que outrem
possua pelos menos à um ano e um dia, é com este sentido de perda de posse de um ano
e um dia que está consagrada no artigo 1267 nº 1 d) do nosso código civil.
A partir de 1140 vamos começar a estudar a História do Direito Português porque agora
ele já existe, aquele direito peninsular agora tornou-se direito português porque o
território Portucalense tornou-se Portugal fundado em 1143 no tratado de Zamora.
Vamos começar pela fundação de Portugal até á grande primeira guerra mundial
(1914/1918) a história foi dividida em épocas.
Regime Senhorial:
Senhorio é um território, mais ou menos amplo, maior ou menor, cuja administração é
confiada a um senhor, dai vem o nome de senhorio, senhor esse que tanto podia ser um
nobre como a própria igreja, portanto, nesse território, mais ou menos amplo, quem
exerce a administração é o senhor que a exerce nesse território as funções que fora dele
pertencem ao rei, as chamadas funções de soberania, como por exemplo: cobrar
impostos e tributos, fazer a administração da justiça, julgar os crimes, fazer o
recrutamento militar para a guerra…, tudo isto que fora do senhorio pertence ao rei é
agora entregue ao senhor, que pode ser um nobre ou a igreja.
Modalidades do Senhorio:
1. Honra: é também um senhorio, portanto, um território mas, que agora é
demarcado unilateralmente por um fidalgo, um nobre, partindo principio de que
o nobre é credor por serviços prestados ao rei, sobretudo na guerra, o nobre
sente-se credor de serviços que o rei lhe deve, o nobre demarca um território,
esfralda a sua bandeira e o seu brasão e diz por e simplesmente que “isto é um
senhorio meu”, assume-se como senhorio daquele território, sem o rei ter
autorizado tal ato, esta prática de um nobre usurpar territórios, senhorios sem
que para tal estivesse autorizado, gerou problemas graves entre o rei e a nobreza
de Portugal, problemas que foram sendo resolvidos à medida que ia sendo
reconhecida a superioridade do poder do rei, nesta altura o rei era muito
contestado, muitos nobres entendiam que tinham poderes iguais aos do rei,
poderes que ofuscavam o poder do rei.
2. Beetria: é um senhorio, um território constituído por vários moradores, como
todos os senhorios são, mas, com a particularidade de que esses senhores
habitantes das várias localidades reúnem-se e escolhem, por sua iniciativa, um
senhor para os defender, para lhes transmitir a Segurança de que eles
precisavam.
3. Couto é assim chamado por ser constituído por um documento, chamado carta
de Couto. Esse documento, carta de Couto, deu o nome ao senhorio de Couto, é
um documento pelo qual o rei proíbe os seus funcionários de entrarem dentro de
um senhorio para aí exercerem as funções do rei porque essas funções
pertencem ao senhor, não pertencem ao rei, e nesse diploma o rei proíbe os seus
funcionários, obriga-se a não permitir que os seus funcionários penetrem nesse
território, para aí desempenharem essas funções que são reconhecidas ao senhor.
Contratos de exploração agrícola e de crédito:
A realização destes contratos foi particularmente benéfica para a economia da época
porque estamos numa época em que o território tinha sido conquistado e continuava a
ser conquistado, estamos numa época em que os terrenos estavam muito abandonados,
não produziam, desse modo as pessoas tinham fome e como consequência crescia a
criminalidade, com a criminalidade e a fome vem também a doença, ou seja, estamos
numa época muito carenciada de produtos alimentares, com reflexos terríveis na fome,
na insegurança e ,naturalmente, na miséria. Era necessário transformar esses campos,
fazer agricultura, e por esta necessidade se justificam esses contratos de exploração
agrícola, muito frequentes.
Contrato de exploração agrícola: Estamos em plena época Medieval, que é dominada
pela doença, concentração das terras que não produzem, não dão pão, estão
abandonadas embora, tenham um proprietário rico. Se os terrenos estão em pousio e não
dão pão, a sociedade passa fome, doenças. Se não produzem a sociedade passa fome
tem-se economicamente uma inflação: já que a procura é maior que a oferta. Para curar
a doença da sociedade devia ir ao encontro do centro do problema, ou seja, os
territórios. Para isso, criaram vários tipos de contratos, nomeadamente:
1. Complantação Conplantação- É um contrato, portanto, umnegócio jurídico.
Em que o dono de um terreno que está em pousio, nãoo está a produzir pão,
está em pousio, cede este terreno a um agricultor, Para quê? Para que plante
árvores duradouras. Portanto, por força desse contrato, agricultor vai receber
um terreno para o fertilizar, para plantar árvores duradouras. 4 a 8 anos é o
tempo previsto no contrato, normalmente 4 ou 5 anos. Este contrato produz o
seguinte efeito jurídico, metade, em regra, daquele terreno fica para um
agricultor que plantou as árvores, a outra metade continua a pertencer ao
antigo proprietário. Contrato também feito com frequência, exatamente
porque havia interesse na sua celebração, ambas as partes ganhavam e ambas
as partes perdiam mas, ganhavam mais do que perdiam, o dono perde metade,
mas fica com a outra metade com arvores plantadas que antes não tinha. O
agricultor, por seu lado perde as arvores que plantou mas, ganha metade do
terreno. Ambos perdem ambos ganham. Só que ganham mais do que perdem e
com isto ganha a economia portuguesa. Porque um terreno que não produzia
nada, agora passa a produzir. Normalmente, as árvores plantadas de longa
duração eram árvores de fruto, castanheiro, figueiras, passando a dar frutos
aumentavam o bem-estar da sociedade e combatiam a criminalidade.
2. Enfiteuse este contrato é oriundo da Grécia, passou da Grécia para o direito
romano e é recuperado nesta época da individualização do direito português. É
um contrato oneroso, perpetuo porque se transmite inter-vivos e mortis causa.
Enfiteuse é um contrato oneroso, é o mesmo que dizer que é um contrato em que
as duas partes tem prestações, obrigações reciprocas, uma prestação de uma
parte e uma contraprestação da outra, quando assim é estamos perante um
contrato oneroso, enfiteuse é um contrato oneroso porque o agricultor que vai
trabalhar o campo paga uma renda ao proprietário desse terreno, temos, portanto,
duas partes, de um lado o proprietário desse terreno e do outro lado, o agricultor,
chamado enfiteuta. O proprietário cede o terreno para ser trabalhado, o enfiteuta
paga uma renda anual, em regra, era uma parte dos frutos produzidos. É Um
contrato perpétuo porque não é feito para durar x tempo, é feito para durar
sempre, por isso à morte do agricultor, a sua posição transmite-se aos seus
herdeiros, por isso é transmissível mortis causa. É também transmissível inter-
vivos, ou seja, o agricultor, enfiteuta pode vender a sua posição, é livremente
transmitida inter-vivos, ou seja, é uma transmissão que produz efeitos
imediatamente mas, com o limite, deve dar preferência ao dono do terreno, se o
dono quiser preferir preço por preço é para ele, se não quiser, enfiteuta é livre
para transmitir a quem quiser mas, uma parte do preço, chamado landémio, 2%
deve ser dado ao dono do prédio Caraterizado este contrato, importa agora ter
presente o seguinte , referido este contrato como oneroso, perpetuo,
transmissível entre-vivos e mortis causa, e agora não menos importante saber
que efeitos juridicos produz este contrato: Isso produz sempre efeito jurídico,
por exemplo, a compra e venda transmite a propriedade para o comprador e
transmite o preço para o vendedor, há sempre efeitos jurídicos, sendo este
contrato, perguntasse quais são os seus efeitos juridicos: Este contrato
fracciona a propriedade, onde havia uma passamos por força deste contrato a
ter 2 propriedade, também chamada de domínio, como no direito Romano.
Propriedade ou domínio era a mesma coisa e é a mesma coisa. Portanto, onde
havia um domínio, passamos a ter 2. O domínio do antigo dono proprietário,
chama-se domínio direto. O domínio do agricultor enfiteuta chama-se domínio
útil. Por força deste contrato, o agricultor enfiteuta adquire uma propriedade
chamada domínio útil. Não tinha nada, passa a ser proprietário, passa a ter o
domínio util. É esse domínio que ele depois pode vender livremente, Inter
vivos, transmitir Inter vivos livremente. e mortis causa aos seus herdeiros. Com
a particularidade se quiser vender esse domínio terá que dar preferência ao
titular do domínio direto. Preço do preço. Será para o titular do domínio direto.
Não é, portanto, um contrato vulgar, porque é um contrato que fracciona a
propriedade em 2, é um contrato muito especial. Mas ao atribuir uma
propriedade de um domínio ao agricultor, tendo interesse acrescido, para ele
trabalhar o campo, para fazer este contrato porque ele, que não era
proprietário de nadaão tinha o domínio da nada, agora a adquire uma
propriedade, adquire um domínio. E isso faz com que as pessoas tenham
interesse em fazer estes contratos. E ao fazer estes contratos, os campos
passam a ser agricultados, passam a matar a fome, diminui se a criminalidade,
diminuísse a incerteza da fome e da doença da sociedade.
Direitos Banais- não tem nada a ver com banalização, É uma figura jurídica que consiste em
alguém pagar pela utilização de uma coisa alheia, alguns exemplos: numa localidade, nsta altura
e hoje também ainda se encontra em localidades antigas, sobretudo de carácter turístico, um dos
moradores é dono de um forno, esse forno coze o pão para os restantes moradores dessa
localidade, pela utilização desse forno, os moradores pagam um x ao dono do forno. Esse x
chamava-se e continua a chamar-se maquia, ainda existe os chamados lagares, lagares de azeite,
em que alguém leva azeitona, o lagar transforma azeitona em azeite, e o dono da azeitona
transformada em azeite paga um x. Ao dono do lagar, chamado maquia. Portanto, estas figuras
dos direitos banais traduzem-se em pagamentos feitos aos donos de coisas que são utilizadas,
sejam lagares, sejam fornos, sejam moinhos...
Junta-se a figura dos direitos banais chamado período de relego, é um período em que só
determinada pessoa pode vender os seus produtos, por exemplo, um período durante o qual só
uma determinada pessoa pode vender o azeite, pode vender vinho etc etc. Há, portanto, o
monopólio da venda de certos produtos em determinados períodos. E esses períodos. são os
períodos de relego.
A vingança privada é uma reação, reação do ofendido ou dos seus familiares a uma agressão.
Portanto, uma pessoa foi agredida e reagiu à agressão vingando-se na pessoa que o ofendeu,
na pessoa que o agrediu. E essa reação pode ser feita pelo próprio ofendido ou pela sua
família. É uma modalidade de autotutela. O que até se compreende porque os tribunais eram
poucos, a proteção estava incipiente. E as pessoas quando eram agredidas defendiam se, elas
próprias se tivessem força ou os seus familiares, reagiam. Estamos perante a autotutela. Ou
tutela privada, só que, via de regra, esta vindicta privada, em regra, era injusta por um de 2
motivos. A pessoa que era ofendida, reagi a quente, e portanto, excedia-se, ou seja, recebia
uma ofensa e pagava com uma ação excedida, aplicava um mal maior ao que lhe foi causado,
violando-se o princípio da igualdade temos uma injustiça. Ou então, uma pessoa recebia uma
ofensa e como não tinha força para reagir, não reagia, então temos um crime, é uma ofensa
sem reparação, uma impunidade, ou seja, uma injustiça.
1. Paz do rei, paz de el rei, ou seja, rei peregrinava pelo seu território, levava a corte
consigo em visitas constantes às localidades do seu território no seu país e onde o rei
estivesse era proibida a vingança privada, portanto, a pessoa ofendida tendo o rei na
sua terra, ia queixar-se ao rei para que o rei fizesse justiça.
2. Paz do concelho, são períodos durante os quais não é possível a vingança privada,
exemplo disso temos: Durante o funcionamento da assembleia municipal proíbe-se
guerra entre as partes não é possível a vingança privada porque é necessária paz para
que a assembleia dos municípios possa gerir os problemas do seu município no seu
concelho, para que as pessoas possam discutir, votar, aprovar, é necessária paz.
Portanto, quando a assembleia está reunida, não há vingança privada, ou seja, não há
guerra. Também temos a paz do mercado, também é um paz do concelho, durante o
tempo em que em certa localidade funcionar uma feira, um mercado estavaproibida a
guerra, está proibida a vingança privada porque para comprar e vender, é preciso ter
paz e com a guerra ninguém está seguro. E essa insegurança implicava o afastamento
dos mercados.
3. Paz da casa, Se alguém fosse perseguido e entrasse numa casa e essa casa acolhe o
perseguido, que é o criminoso para junto de quem se se digamos, se iria exercer a
vingança privada, essa pessoa com medo dessa vingança, refugiava se numa casa com
autorização do dono da casa, o perseguidor, não podia entrar na casa, é a
inviolabilidade do domicílio, também chamada a paz da casa.
4. Existiam também as tréguas. Ou seja, épocas durante as quais não se permitia a
vingança privada, umas dessas épocas tréguas eram impostas pelo rei, pela igreja, ou
até acordadas pelas partes. As tréguas impostas pela igreja, chamadas tréguas de
Deus, tem a ver com a Quaresma, com a Páscoa, com o Natal, durante essas épocas do
calendário litúrgico a igreja não permitia a vingança privada.
5. Asilo, O asilo era o local onde alguém se encontrava, entrava para que não fosse
perseguida, para que não houvesse a vingança privada, é o caso do asilo em um
concelho, se alguém estivesse a ser perseguido entrava num concelho diferente e
usava da paz desse conselho era o asilo desse concelho. Tal como a igreja era o asilo
de quem ai entrasse, se alguém fosse perseguido, entrasse na igreja ó de lá podia sair
com autorização do sacerdote, e o sacerdote só autorizava se o perseguidor jurasse
que não iria matar a pessoa perseguida, era o asilo da igreja.
Estas são uma série de reações que combate a vingança privada, exatamente porque a
vingança privada é a quebra de paz porque ou é uma vingança excessiva ou saem impune, ou
seja, quer num lado quer do outro, quer num aspeto quer no outro, não temos uma
verdadeira paz e as pessoas precisam de paz para viver.
No ano 476, sec V, acabou o império romano do ocidente. Terminou o grande Império
Romano do ocidente. E terminou por motivos vários, que não interessa verdadeiramente aqui
referir. A inércia, indisciplina, ociosidade, os vícios que destruíram e destroem uma sociedade
minaram o Império Romano e enfraqueceram-no. E os seus inimigos, chamados bárbaros, no
sentido de que não tinham a cultura dos gregos, nem dos romanos, eram aqueles que não tinham
a cultura greco-romana, tinham outra cultura Aproveitando-se da fragilidade do Império,
invadiram-no, conquistaram-no e acabaram com ele.
É no sec XI que começa esse interesse pelo direito romano, embora se consolidasse no
sec XII, atingisse a sua marca de água no século XII, por isso que atribuímos um renascimento
ao século XII e falemos de pré renascimento no século XI.
Com a queda de Roma, 476, desapareceu a ciência do direito, ninguém estuda, ninguém
ensina falta, portanto, uma cultura jurídica. Mas, huve uma coisa que não desapareceu, os livros
no direito Romano, aquilo a que chamamos, o corpus iuris civilis, o corpo de direito civil. Essa
compilação magnífica do direito Romano, das Fontes do direito Romano, mão tinham
desaparecido, estavam nas prateleiras dos conventos, das igrejas, das catedrais, das bibliotecas,
mas, ninguém os consultava porque ninguém tinha cultura jurídica para as puder estudar. E no
séc XI, ainda lá estavam. no século 12 ainda lá estavam.
Porque é que este interesse pelos estudos do direito Romano, pela ciências jurídicas
surge Séc XI e não antes. Passaram 600 anos. Porque o pré renascimento é do séc XI e o
renascimento é do séc XII, e não antes, há fatores que cientificamente justificam ter sido nestes
séculos, justificções que têm uma dignidade científica. Objetividade, uma veracidade. Mas,
também á uma explicação lendária.
E segundo a lenda. Que se enraizou durante muito tempo. É de que o interesse pelos
estudos do direito Romano surgiu por mero acaso. Durante a tomada da cidade italiana de
Amalfi em 1135. Durante o saque. Que se seguiu. Essa tomada dessa cidade, foi casualmente
descoberto um exemplar do digesto, que é a parte mais importante do corpus juris civilis. E nas
ruínas da cidade, encontrou-se o exemplar, quem o encontrou, logo percebeu que era um livro
que merecia ser lido por alguém que entendesse. E quem encontrou o livro, entregou,
naturalmente, ao comandante. As tropas que tinham conquistado amalfi, o comandante levaram
esse exemplar para a cidade de pisa, era a sede dos lombardos, a sede da Lombardia Italiana,
onde estava o imperador germânico Lotário II, que surpreendido com a cientificidade, com a
ciência daquele livro, imediatamente, o tornou obrigatório na Lombardia. Assim começou o
interesse pelo estudo do direito Romano, ou seja, pela ciência jurídica. DE Amalfi passa para
Pisa, a capital da Lombardia. Lotário II promulgou como fonte do direito lombardo. Aqui tem
uma explicação lendária. do interesse pelo estudo do direito romano, no fundo, do pré
renascimento do direito romano.
Hoje temos motivos, fatores científicos que justifica que tenha sido no séc XI o início
do estudo da ciência jurídica, e não antes. E que fatores são esses?
Tudo isto no séc XI. Passo mais à frente, deixamos de ter um pré renascimento, para
termos mais do que isso, para termos o renascimento autêntico, isso encontramos no séc XII.
Quando surgiram os referidos fatores cientificos, os politicos, culturais, economicos e
religiosos, o direito pode renascer e assim no sec XI surge o movimento que caraterizou o
renascimento do direito romano, no sec XII, na escola de Bolonha.
Juntamente com irnério, estes 5 doutores fizeram com que a escola de Bolonha saísse quase do
nada e se projetasse em termos de uma grande universidade, a primeira dos tempos modernos.
Bom, estes homens começaram por estudar o direito Romano do corpus iuris civilis, mas
tiveram o cuidado de lhe dar uma sistematização diferente. Esta obra do direito Romano,
mandada compilar pelo imperador Justiniano, que recebeu o nome de corpus iuris civilis em
português, corpo do direito civil era constituída por 4 partes. Em Roma, 4 partes, mas, agora
estes homens da escola de Bolonha criaram mais uma parte. E, portanto, era uma nova
sistematização. Passou a ter 5 partes: 1º- tem o nome de digesto velho, 2º- tem o nome de
digesto esforçado, 3º- tem o nome de digesto novo, 4º - tem o nome de código e 5º- tem o nome
de volume pequeno.
Históricas porque estas partes não foram descobertas ao mesmo tempo ou, no mínimo,
não foram trabalhadas ao mesmo tempo, no mesmo tempo. Primeiro começou por ser
descoberto o digesto velho, depois surgiu o digesto novo. Mas faltava entre digesto velho e o
digesto novo uma parte intermédia. Essa parte tardou em ser descoberta, e criou uma certa
ansiedade de como é que se passa do velho para o novo, havendo ali uma parte intermédia que
não se conhece, então criou uma certa ansiedade e daí que o esforço foi tão grande na procura
dessa parte intermédia, que quando foi encontrada recebeu o nome de digesto forçado,
esforçado atendendo ao esforço que tinha sido feito para descobrir esta obra que finalmente
apareceu.
Depois há uma razão didática. É que estas partes tratam de matérias diferentes. Entenderam os
glosadores fazer uma nova sistematização, uma nova organização. E, portanto, agruparam de
acordo com os temas, fizeram uma sistematização de acordo com os temas. E daí estas 5 partes
que tratam de temas diversificados, cada uma com o seu tema específico.
Que trabalho fizeram estes homens de Bolonha, chamados glosadores, fizeram diversos
trabalhos, a mais importante dos quais e deu-lhes até o nome dos glosadores, ou seja, fizeram
glosas. Glosas é um comentário maior ou menor, normalmente, é pequeno, pequeno comentário
sobre um texto Sobre o texto. Se esse comentário é pequeno e cabe entre 2 de linhas do texto é a
glosa interlinear, entrelinhas, mas, quando comentário é a maior, já não cabe dentro das 2
linhas, tem que ir para a margem, então chama-se glosa marginal, ou seja, os feitos à margem
são glosas marginais. Comentários feitos a um texto para tornar o seu conhecimento mais fácil.
Além das glosas que deu nome a estas escolas, escola dos glosadores Fizeram
coletâneas de princípios jurídicos, compilações de regras ou princípios do direito. São as
chamadas “regulae iuris”, regras do direito, exemplo de uma regra do direito, ninguém pode
transferir para outrem mais direito de que o direito que tem, ou seja, ninguém pode dar aquilo
que não tem. E fizeram compilações de várias regras extraíram as regras do texto e fizeram
compilações de regras conhecidas, por isso o nome “ regulae iuris”, regras do direito. Depois
fizeram compilações de casos práticos solucionadas com o auxilio do corpus iuris civilis
“casus”, o direito é um palco de divergências, convergências, pensamentos diferentes, de
debate e fizeram compilações destas divergências, chamavam questões “quaestiones”, em
relação à s coletâneas de opiniões diferentes fizeram também as chamadas “dissentiones”,
fizeram também análises dos vários aspetos da decomposição de um tema juridico “
distinctiones” e por fim fizeram resumos de matéria que estava no livro do corpus iuris civilis
“summae”.
Todo este trabalho revela a presença da ciência do direito. Só quem tem ciência é que
faz estas obras. E, portanto, estas obras são fruto de uma larga, de uma grande ciência do
direito, feita em Bolonha e que atraiu estudantes dos vários países europeus.
Mas antes do fim, em pleno auge, o grande mérito que nós assinalamos esta escola,
desde logo foi aí que ressurgiu, que renasceu a ciência do direito romano, aquilo a que hoje
chamamos a dogmática, a nossa ciência jurídica, nasceu em Bolonha, nesta escola dos
glosadores, foi um contributo muito notável pois é a origem da nossa ciência jurídica.
Começou no séc XII e no séc XIII esta escola ainda estava a trabalhar, já estava
fragilizada. Porque o método literal não dava resposta a novos problemas, esta escola ressentia
se disso. Todas as escolas se esgotam. porque o pensamento dos homens também se esgota.
Mas. houve um homem, chamado Acúrsio, um glosador que, quando já não se criava, quando já
não se fazia glosas, este homem resolveu fazer uma compilação de glosas, uma grande
coletânea de glosas. E fez grande livro. Onde inseriu as glosas dos grandes glosadores, desde
irnério até ele, passando pelo grupo dos 4 doutores. Foi tão grande, compilou muita coisa, esta
compilação ficou conhecida como Magna Glosa ou Glosa de Acúrsio. É uma compilação de
glosas feitas pelos jurisconsultos da escola de Bolonha, da escola dos glosadores. Continha
96.940 glosas, naturalmente, todas elas escritas à mão, por isso se fala na paciência medieval, a
grande paciência foi a paciência na idade média.
Que importância teve esta magna Glosa? Destaco2 aspetos importantíssimos. Um deles
é que esta este livro, esta compilação de glosas rapidamente começou a ser estudada nas
universidades, nas faculdades de direito por essa Europa fora, cidades que depois foram
construídas, criadas depois de Bolonha. Portugal teve a nossa, a frança teve a deles, a Espanha a
mesma coisa e nessas várias universidades europeias passou a estudar se também a magna
glosa. Estudantes passaram a ter uma cadeira obrigatória, a glosa magna de Acúrsio. Portanto,
todos eles, estudantes europeus passaram a estudar direito utilizando esta compilação a magna
glosa de Acúrsio. E em Portugal teve ainda um outro especto importante, é que foi fonte do
direito subsidiário, O que é o direito subsidiário? Subsidiário contrapõe-se a direito principal ou
primário, o direito primário é o direito que se aplica em primeiro lugar. No caso de Portugal, o
direito português, mas, quando direito português era lacunoso, ou seja, não dava solução para os
problemas da vida, como é que se integrava uma lacuna, recorria-se a outros direitos entre os
quais a magna glosa de Acúrsio. E quando estas lacunas do direito português eram integradas
através da glosa de Acúrsio, as soluções da glosa de Acúrsio, essas soluções passavam a ser
direito português. Portanto, hoje temos soluções consagrados no direito português que vem da
glosa de Acúrsio, que se tornaram portuguesas com a integração de lacunas de direito português
através da glosa de Acúrsio, isto revela a importância desta grande compilação de 96.940
glosas.
Mas, estamos no séc XIII, estamos a caminhar para o séc XIV e sente-se que a
sociedade progrediu, as trocas comerciais cresceram e tudo isto exigia um direito mais perfeito,
exigiam soluções diferentes, Soluções que só podiam ser obtidas dos textos do direito Romano.
Através de um novo método, não era o método literal, novo método chamado escolástico, que já
tinha sido aplicado com sucesso no estudo da medicina na universidade de Paris.
Na génese desta escola, está primeiro o esgotamento da escola anterior, dos glosadores,
tinha-se esgotado porque o método exegético, o método de interpretação literal não permitia
retirar soluções que as novas exigências da vida reclamavam, método literal, exegético não os
permitia obter. E daí a nova escola com o novo método escolástico estava em condições de dar
resposta a essas novas necessidades da vida social do comércio jurídico.
Jurisconsultos, falamos das escolas glosadores de irnério dos 4 doutores. Quais são os
grandes jurisconsultos desta escola dos comentadores, à frente de todos, como verdadeiro chefe
de escola, o grande mestre da escola, Bartolo, Quem foi este notável professor universitário,
jurisconsulto Bartolo, um homem escreveu uma verdadeira obra científica, que podemos
encontrar nas nossas universidades, escreveu muito e sempre com grande profundidade, a tal
ponto, que se criou esta adágio “nemo bonus iurista, nisi bartolista”, ou seja, ninguém será um
bom jurista se não for bartolista ( se não conhecer o pensamento de bartolo). Se ninguém será
um bom jurista se não estudar bártolo, se não conhecer bártolo é porque bartolo foi de facto um
jurisconsulto genial, e foi, por isso não surpreende que nas várias universidades da Europa se
tenha criado uma Cátedra para conhecer o pensamento de bartolo, a cátedra bartolista. Então, os
alunos entravam nas universidades, desenvolviam os seus estudos na universidade, já sabiam,
havia uma unidade curricular, uma cadeira para aprender exclusivamente o pensamento de
Bártolo. Nunca ninguém gozou deste privilégio, por isso , há probabilidades, de que talvez
tenha sido o jurisconsulto maior da história do pensamento jurídico, ou seja, da ciência jurídico.
Outros grandes jurisconsultos formados por Bártolo, doutor Baldo, o doutor Cino de
Pistóia, o doutor Paulo de Castro. Foram homens extraordinários conviveram com Bartolo, que
aprenderam com Bartolo que se desenvolveram e que deram à escola dos comentadores. um
prestígio grande a ponto de não haver país da Europa que não enviasse os seus alunos para
Perusa, para a escola de Bártolo, para conviver e aprender com estes grandes jurisconsultos. E
depois de formados em direito, regressavam aos seus países.
1º) Em latim chamada lectio ou lição, consistia em leitura de um texto que o professor
fazia no início da aula, o professor levava consigo texto e iniciava a aula com a leitura desse
texto, dai vem o nome de lente que era conhecido professor universitário. Exemplo: compra e
venda, o professor escolhia no direito Romano, texto sobre a compra e venda na glosa de
Acúrsio e lia esse texto aos seus alunos, começando assim a sua aula magistral. Por isso este
momento que é o primeiro, chama-se a leitura a lectio. Depois de feita a leitura vem a 2ª fase.
2º) Quaestio ou questão, o professor apresentava o problema que aquele texto acabado
ler se propunha resolver. O problema para o qual importa dar solução. Individualizava, retirava
o problema. É o 2º momento. Mas, a solução dada a um texto traduz s opinião do seu autor e o
que há mais são opiniões encontradas e desencontradas, o normal na ciência jurídica são
pensamentos diferentes de jurisconsultos, de juristas, normal é encontrar divergências. E por
isso surge o 3º momento ou fase
3º) Disputatio ou disputa, o professor, no terceiro momento, exponha aos seus alunos as
opiniões dos diferentes professores sobre aquele texto e sobre a solução a dar ao problema,
soluções desencontradas e referia os argumentos de cada um daqueles professores que fortalecia
a sua solução.
4º) Solution ou solução, depois de ter dado as s opiniões dos diferentes autores, o
professor terminava dando a sua própria solução, transmitindo a sua própria opinião.
Só que tudo isto se fazia com 2 coisas que não existem hoje, com o estudo da dialética e
da retórica. Como professor era um mestre em dialética em retórica, um jurista era mestre em
dialética e retórica, formados em dialética e retórica. A dialética é a arte de bem falar. A retórica
é a arte de persuadir, de convencer.
Que méritos encontramos nesta escola dos comentadores? Naturalmente, a escola tem
sempre os méritos, tem sempre aquilo que a distingue. Méritos:
3º) Criaram o verdadeiro direito comum europeu. Vivemos num espaço europeu
diferentes de outros espaços porque temos uma filosofia própria, que herdamos dos gregos,
temos um direito próprio que herdámos da ciência jurídica dos romanos e temos uma ideia
cristã, cristianismo. E estes 3 pilares sobre eles se ergue o edifício chamada união europeia.
Olhando para o direito comum, que é um direito que distingue os países europeus de outros
países não europeus, mas, direito este nós encontramos no Brasil, na América Latina, nos
países, expressão castelhana e portuguesa. Esse direito comum europeu foi construído
superiormente pela escola dos comentadores, e construíram, juntando, conciliando normas do
direito romano, normas do direito canónico e os direitos locais. Com estes 3 direitos, Romano
canónico e locais fizeram um edifício a que chamam direito como hoje direito comum europeu,
que unifica juridicamente a europa.
4º) Criaram novas disciplinas, novas unidades curriculares. exemplo: criaram a cadeira
chamada direito Internacional privado, que hoje estuda-se em todas as universidades, direito que
regulamenta as relações entre Indivíduos de estados diferentes, esta unidade curricular foi
introduzida no estudo das universidades a partir da escola dos comentadores, e ficou, os alunos
que frequentam esta cadeira são confrontados com muitas das opiniões de Bártolo. Criaram uma
cadeira de direito comercial, até aí não havia, havia só direito civil, mas, o direito civil era um
direito muito formalista, muito lento e as transações do comércio implicavam menos
formalismo, mais rapidez porque quanto mais bens, mercadorias venderem mais emprego há,
maior dinâmica comercial, maior é a riqueza de um país, maior é o emprego, é necessário que as
transações comerciais sejam menos formalistas, que não sejam necessárias escrituras públicas
na venda de um frigorífico...; direito marítimo, esta cadeira direito marítimo é hoje pouco
estudada, há universidades que não tem, parece um contrassenso que sendo Portugal um país de
marinheiros hoje pouca atenção se dedique ao direito marítimo.
1. 1º- A fase das leis,leges. Consiste na interpretação gramatical dos textos do corpus iuris
civilis, do corpo do direito civil Romano e do corpo do direito canónico, portanto,
textos de direito romano e direito canónico. Interpretação gramatical, mas, com uma
gramática que fornece o maior número de soluções, uma gramática dinâmica,
especulativa, que permite extrair do texto várias soluções, através do dinamismo que
essa gramática proporciona, não é uma gramática estática é aberta a novas
interpretações.
2. 2º fase das razões, rationes. Consiste em retirar argumentos para defesa, suporte das
soluções obtidas na primeira fase. A interpretação retira soluções e agora à que defendê-
las com argumentos, é a segunda fase desta técnica. Os argumentos são concedidos pela
tópica, podem ser contra a lei e podem ir além da lei, mas, todos eles dominados por
uma certa lógica probabilística, ou seja, não há certeza, há probabilidades. Não há
certeza nas novas soluções, não há certeza na argumentação, são probabilidades. Há
aqui o recurso á dialética e á retórica, estamos no domínio do provável, as novas
soluções são probabilidades, não há certezas. E como há probabilidade e não certezas
vem um terceiro momento. Em caso de empate temos o critério da autoridade –
critério quantitativo e qualitativo.
3. 3º fase da autoridade, Auctoritates. Autoridade é um saber jurídico, socialmente
reconhecido, ou seja, saber jurídico que a sociedade reconhece, isto é importante para
reforçar a opinião do jurisconsulto, da segunda fase, as razões. Razões há vários
jurisconsultos que defendem cada um a sua posição, interessa saber que a autoridade
é que o jurisconsulto goza no meio social, interessa conhecê-la.
Com tudo isto retiramos novas soluções, desenvolveu-se o direito, praticou se a arte
da invenção.
1º momento/época- Até ao séc IV, nós não dizemos desde até, porque desde não
temos uma data certa, mas, temos uma data certa que é o séc IV. Quais são as Fontes do
direito canónico? Há 2 tipos de fontes nesta época do direito canónico, época que
começa com o cristianismo e que termina no sec IV.
1º O decreto de Graciano, sec XII, obra feita por João Graciano, monge de Bolonha,
foi ensinada sucessivamente nas várias universidades da Europa, incluindo a
universidade portuguesa, já por isso se vê o seu alcance. Esta grande obra, esta
grande compilação, tem uma particularidade muito importante para o direito
português, é que contêm uma norma que viria a ser acolhida nas cortes de 1211, que
é uma norma que, em caso de conflito entre o direito português e um direito
canónico, determina que a superioridade deve ser dada ao direito canónico por ser
um direito, digamos, da igreja e Portugal ser um país cristão.
2º Decretais de Gregório IX, Sec XIII, 1234, É conhecida por decretais de Gregório
IX não que tenha sido o papa quem a fez, mas, que a mandou elaborar. Esta obra foi
feita por um teólogo espanhol, depois vem a ser canonizado e é conhecido como são
Raimundo de Penaforte. Portanto, Este homem compilador, grande jurista canónico
da nossa península foi o autor material desta obra. Uma particularidade importante é
a sua sistematização, esta obra compreende 5 livros e cada livro está dividido em
títulos e cada título em parágrafos, esta é a sistematização que nós encontramos nas
nossas ordenações, nas ordenações afonsinas, depois nas manuelinas e depois nas
Filipinas, esta obra influenciou profundamente todas as nossas futuras ordenações.
Mas, esta obra, que tinha 5 livros, foi considerada insuficiente. E daí que ainda no
séc XIII, em 1298. o papa Bonifácio VIII tenha mandado fazer mais um livro para
juntar aos 5, é conhecido pelo nome de o sexto de Bonifácio VIII.
3º Sexto de Bonifácio VIII., séc XIII, em 1298. o papa Bonifácio VIII tenha
mandado fazer mais um livro para juntar aos 5 que eram insuficientes.
4º Clementinas, séc. XIV, clementinas por ter sido mandada elaborar pelo papa
Clemente V. O movimento não acabou porque a produção legislativa mantém-se e
depois das clementinas, ainda assistimos a mais duas compilações.
5º- As extravagantes de João XXII
6º As extravagantes comuns,
Doravante, passamos a ter o corpus iuris civilis que já tínhamos do direito romano e
agora o corpus iuris canonici, o corpo do direito canónico. É claro que a atividade legislativa
não terminou em 1500 continuou, naturalmente, e em 1917, o papa Bento XV mandou fazer
uma coletânea denominada de código ou codex iuris canonici (deixou de ser corpus), o código
do direito canónico.
Finalmente, em 1983, o papa João Paulo II promulgou aquele que é hoje o código de
direito canónico.
Este direito canónico foi estudado nas universidades, desde logo nas universidades
portuguesas, quem ensinava o direito canónico nas universidades era um professor
especializado no decreto, no ensino do decreto de Graciano, chamado decretista. O professor
que ensinava as decretais de Gregório IX chamava-se decretalista. Portanto, temos os decretistas
e os decretalistas, como hoje temos o penalista que ensina o direito penal, o comercialista que
ensina o direito comercial...
Olhando para Portugal, este direito canónico penetrou em Portugal, foi aplicado em
Portugal em que tribunais? Os tribunais do Estado, tribunais civis e os tribunais da igreja,
chamados tribunais eclesiásticos, pois, os tribunais da igreja aplicavam o direito canónico
quando:
Em razão da matéria, havia matérias que obrigatoriamente só deviam ser julgados pelos
tribunais da igreja, eclesiásticos, exemplos: matrimónio, bens da igreja...
Em razão das pessoas, havia pessoas que só podiam ser julgadas nos tribunais
eclesiásticos, os clérigos, os estudantes e os professores das universidades.
Fora dessas matérias, fora dessas pessoas, o direito canónico aplicou-se também nos
tribunais do Estado, nos tribunais civis, 2 situações importantes:
Houve, destacando 2:
No caso especifico de Portugal, não havia cá em Portugal a ciência jurídica, por isso
mesmo, os reis, a igreja patrocinaram, apoiaram a ida dos estudantes portugueses para
Bolonha, para aí estudarem direito, fazerem ciência jurídica, para aí se formarem e para
depois regressando a Portugal trouxessem com eles a ciência juridica, a sua formação
juridica para que o direito português progredisse, para que o direito português deixasse
de ser um direito empirico, um direito cheio de imperfeições, para passar a ser um
direito mais perfeito, um direito de base científica, é este o desejo dos nossos reis, da
nossa igreja de mandar estudantes para a Itália para conhecerem o direito, para fazerem
ciência juridica, para se formarem e para que depois regressem a Portugal e pudessem
contribuir poderosamente para o progresso do direito português
O que se sentiu em Portugal, sentiu-se pela Europa for a, vários estudantes de vários
paises se reuniram em Bolonha, ficando conhecidos dois grupos:
Em que século deu-se a entrada da ciência jurídica? No século XII com D. Afonso I
(figura jurídica). Mas se olharmos para um conjunto de fatores, a ciência jurídica
chegou até nós no século XIII porque se revela um alargamento no pensamento jurídico.
Universidade Portuguesa:
Foi criada por um decreto-lei do Rei Dinis e aprovado pelo Papa Nicolau IV. A
universidade foi fundada entre 12/11/1288 e 1/3/1290.
Em 1288, foi assinado um documento da reunião do alto clero em que este afirma ser
necessário uma universidade Portuguesa para não terem de se deslocar até Itália. Assim,
só faltava deslocarem-se até Roma e pedirem a autorização ao Papa.
Em 1290, foi assinada uma carta por D. Dinis que afirma que já criou a universidade e
concede privilégios aos alunos e aos professores.
A data reconhecida como sendo a inauguração da Universidade de Coimbra é 1/3/1290.
Numa universidade aprovada pelo Papa dá-se o direito ao aluno de exercer uma função
em qualquer universidade Europeia.
Quais as faculdades criadas aquando a faculdade Portuguesa?
1. Faculdade das Artes (ensinava retórica e dialética);
2. Faculdade dos Canones (ensinava direito consuetudinário);
3. Faculdade da Lei (ensinava Direito Romano);
4. Faculdade de Medicina (ensinava Medicina).
Os Estudantes não deixaram de ir para Itália porque uma universidade demora muito
tempo a construir-se e demora ainda mais a ter poder/ prestígio. A licenciatura italiana
era muito melhor que a Portuguesa. Ainda assim hoje não se diferencia, mas há medida
que a Universidade Portuguesa consolidou o seu prestígio, os estudantes vinham para
cá.
1º Momento – séc. I ao séc. IV: Aparece com a vida de Cristo e até ao Séc. IV tem
duas fontes que referi anteriormente, as de Direito Divino (textos sagrados como a
sagrada escritura, a Bíblia, o Velho e Novo Testamento, a tradição – ensinamentos de
Jesus Cristo) e as fontes de direito humano – o Costume.
3º Momento – Séc. XII até hoje: É aqui que se dá a renovação do Direito Canónico
que se traduz na elaboração de grandes coletâneas / compilações das quais a primeira:
Em 1500, o teólogo Chappuis juntou todas as obras numa só obra a que chamou o
Corpus Iuris Canonici (Corpo do Direito Canónico) para distinguir do CIC do Direito
Romano.
Penetração em Portugal
O direito canónico foi ensinado na Universidade Portuguesa desde 1290 ate 1836. Em
1836, o governo de Passos Manuel fundiu as duas faculdades e o Direito Canónico
começou a definhar.
Desta forma, e para concluir, João de Deus foi o canonista português mais importante, e
por isso devemos tê-lo sempre presente nas nossas memórias.
Fontes:
Lei: é um instrumento poderoso, através do qual o Rei afirma a sua
superioridade. Isto terá um papel importante na moralização do Direito
nomeadamente revogando os costumes injustos como por exemplo os abusos da
nobreza sobre o povo. Esta lei tem uma base científica, coisa que não acontecia
anteriormente. Em Roma, a Lei era a vontade do Imperador. Agora, é a vontade
do Rei. A lei tinha que ser publicada, todos tinham que a conhecer, para isso
faziam várias cópias manuscritas e colocavam no Adro da Igreja, liam em voz
alta no fim da missa e voltavam a repetir no domingo seguinte. A lei não tinha
vacatio legis, era de aplicação imediata.
Resoluções Régias: têm um valor inferior à Lei e resultam de pedidos ao Rei.
Traduziam-se, de facto, nas respostas do soberano aos agravamentos feitos pelos
representantes das três classes sociais.
Decadência do costume como fonte de direito: anteriormente era tudo aquilo
que não fosse lei, hoje como tem uma ciência jurídica é a prática constante e
reiterada, observada ao longo dos anos (elemento material), praticada na
convicção de obediência à Lei (elemento espiritual).
Forais e foros ou costumes: os foros ou costumes são compilações medievais
concedidas aos municípios ou simplesmente, organizadas por iniciativa destes.
Abrangem normas de direito político e administrativo, normas de direito
privado, como as relativas a contratos de direitos reais, direito de família,
sucessão, entre outros. Tem uma amplitude e alcance muito mais vastos do que
os forais.
Concórdias e Concordatas: mantêm-se nesta época como fonte do direito.
Direito Subsidiário: quando as fontes jurídicas portuguesas não forneciam
solução para as hipóteses concretas, recorria-se ao Direito Romano, Canónico e
Castelhano.
Coletâneas privadas:
Careciam, nesta época, de aprovação por qualquer Rei. Não tendo, portanto,
vigorando oficialmente. Porém, segundo o Professor Almeida Costa, estes foram
trabalhos preparatórios para as Ordenações Afonsinas. Apenas duas chegaram aqui:
Livro das Leis e Posturas: elaboradas nos finais do século XIV e inícios do
século XV. Nele encontrámos preceitos de D. Afonso II, D. Afonso III, D. Dinis
e D. Afonso IV e uma lei, posteriormente acrescentada, do Infante D. Pedro
(futuro D. Pedro I). Esta obra teve o objetivo de coligir e não coordenar a
legislação. Careceu de um plano sistemático e nela contiveram várias repetições
de textos.
Ordenações de D. Duarte: assim designadas por terem sido encontradas na
biblioteca deste Rei, que limitou-se a acrescentar um índice e um discurso sobre
as virtudes do bom julgador. Reuniu as leis de D. Afonso II a D. Duarte,
possuindo uma organização: diplomas agrupados pelos reinados e, dentro de
cada um deles, agrupados em função das matérias.
Breve referência à:
Lei das Sesmarias: consiste na divisão da terra em seis partes (conforme os dias da
semana exceto o Domingo). Cada Terra ficava a cargo do seu sesmara. Mais tarde, com
a redução das terras a repartir, passou a haver no conselho apenas um ou dois sesmaras
nomeados pelo Rei. A agricultura era a principal fonte de riqueza. Era importante que os
terrenos fossem produtivos. Porém, a peste negra que atingiu o país no século XIV
levou a uma volta inicial de mão-de-obra. Os salários das profissões artesanais, o
incentivo da fuga dos campos para as cidades levam a uma carência de mão-de-obra
rural e diminuição de produção agrícola. Neste contexto, D. Fernando, em 1375, criou a
lei das Sesmarias, mais tarde incluída nas Ordenações Afonsinas. Conteúdo:
Proprietário das terras obrigado a lavrá-las e semeá-las e ainda possuírem o gado
necessário de trabalho;
As autoridades podiam expropriar o proprietário que não cumprisse as diretivas
e entregar as terras a outros;
Aqueles que não fossem proprietários e não pudessem mendigar tinham de
trabalhar as terras pelo salario fixado localmente;
Só podiam mendigar aqueles certificados pelas autoridades locais (incapazes do
trabalho).
Lei Mental: quando um nobre ou clérigo ajudava o Rei Português, este recompensava-o
dando-lhe terras conquistadas. Assim, havia um clero e uma nobreza poderosos face a
um Rei empobrecido. A Lei Mental trata-se de uma resolução tomada pelo Rei João I,
mas nunca traduzida durante a sua vida em forma de lei. Definia que, as doações
efetuadas pelo Rei, podiam ser sujeitas a condicionalismos de nível sucessório.
Conteúdo:
Princípio da indivisibilidade: o terreno ou património familiar devia ser
entregue apenas a um herdeiro e não repartido;
Princípio do primogénito: o herdeiro = filho mais velho ou os seus descentes
como herdeiros legítimos.
Princípio da masculinidade: os bens só devem ser transmitidos ao filho e não à
filha.
Tema 9- Ordenações
Ordenação:
Ordenações Afonsinas:
Ordenações Manuelinas:
Em 1514, recebidos por Manuel I entregam os 5 livros da compilação. Manuel diz que
aquela obra não presta e é recusada. Pior que isso, o Rei exigiu a destruição da obra e
ainda afirma que, se esta obra fosse encontrada na biblioteca ou em casa de alguém era
multado. Assim, a obra foi destruída mas sobreviveu um exemplar de cada livro que
agora, se encontra na Torre do Tombo em Lisboa.
Em 1521, entregam uma nova ordenação e Manuel muito satisfeito, aceita, surgindo a
Ordenação Manuelina de 1521. Tinha estilo decretório e legislativo mostrando que a
ciência jurídica andou para a frente e não para trás.
Entraram em vigor em 1603 e assim permaneceu até 1867, ou seja, vigorou durante 264
anos. Esta obra foi mandada fazer por D. Filipe I de Portugal, porque a anterior já estava
desatualizada (Ordenações Manuelinas e Compilação de Duarte Nunes). Só que não é
bem assim, porque as novas ordenações reproduziram as antigas, não inovaram quase
nada. Então, o que o Rei quis, foi mostrar aos Portugueses que mesmo sendo Espanhol,
respeita as leis Portuguesas. Teve um motivo político já que, quis mostrar respeito pelo
Direito Português. Não pretendeu alterá-lo para não ser acusado de querer modificar
esse mesmo direito. D. João IV também se limitou a confirmar estas Ordenações por ser
Direito Português.
1º Mérito: Foi uma grande obra, daí ter vigorado durante 264 anos.
1º Demérito ou Filipismo: Falta de clareza.
2º Demérito ou Filipismo: Falta de cuidado (leis revogadas permaneceram).
3º Demérito ou Filipismo: Falta de princípios.
As justificações que se arranjaram para justificar os aspetos negativos foram as
seguintes:
Rei Filipe não quis inovar as leis para não ser acusado de ser inovador.
Crise no pensamento jurídico da população.
Se estas fontes têm falhas, isto é, se o Direito Português sofre de lacunas, estas deviam
ser integradas. E como se integravam as lacunas? Recorrendo-se a outro Direito, ao
Direito Subsidiário. Assim, os livros a recorrer eram o Direito Romano e Canónico e
Castelhano. Antigamente, o recurso era livre, agora tem de seguir uma ordem
específica: