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Resumo para a frequência de História do Direito Português

 Tema 1- Introdução
O tema 1 tem como título a introdução e dentro desta aparece logo preliminares,
preliminares é ver em qual das modalidades da história podemos inserir a nossa história
de direito português.
É que tradicionalmente a história divide-se em narrativa, pragmática e genética,
há ainda uma história geral e ainda especial.
A narrativa é uma história que relata factos, escreve factos, acontecimentos,
personagens do passado, exemplo: crónicas
A história pragmática procura estudar o passado para retirar ensinamentos para
orientações dos homens no presente e no futuro, é a chamada história mestra da vida,
nos dá ensinamentos para que não repitamos os erros dos passados e para acautelar o
presente e o futuro.
A história genética é uma história científica que procura compreender os efeitos
através das suas causas, portanto olha para os efeitos, acontecimentos e interroga-se
porque causa foram os acontecimentos produzidos e procura determinar essas causas.
A história geral parte do passado em várias épocas, em várias etapas para nos dar
uma visão do conjunto de cada uma dessas épocas ou momentos históricos.
A história especial é uma história especifica de uma determinada monografia, de
uma instituição (sabemos que uma instituição é um conjunto de normas que
regulamenta um certo aspeto da nossa vida ex: da família, da propriedade…) , de um
instituto…, ou seja, estuda uma instituição desde o seu inicio até aos tempos presentes,
procurando também naturalmente determinar a sua evolução, como surgiu, como
chegou até nós.
Em que contexto nós inserimos a história do direito português?
Esta unidade curricular a que tipo de história pertence? A resposta é a de que
estamos perante uma história genética ou cientifica, ou seja, vamos procurar
compreender os acontecimentos, os factos do passado através das suas causas, é
portanto uma história genética ou cientifica, e por outro lado, é também uma história
geral porque nós vamos partir do passado em vária épocas, em grandes período e dentro
de cada época vamos compreender o que foi o direito em cada uma dessas épocas,
portanto a nossa história no contexto referido é deste logo uma história genética ou
cientifica e também geral.

Noção de História do Direito Português:


Temos de partir do pressuposto que estamos perante uma ciência que estuda o
direito, mas o direito é objeto de estudo de várias ciências jurídicas, ou seja, o direito é
estudado por uma ciência jurídica chamada dogmática ou doutrina, que é a ciência que
estuda o direito do presente exemplo: atual direito constitucional... doutrina é uma fonte
do direito voluntária.
O direito na perspetiva do futuro é também estudado por outra ciência, a que
chamamos a filosofia do direito.
O direito do passado é estudado por outra ciência, que chamamos a história do
direito.
Portanto, temos 3 ciências: dogmática estuda o direito do presente, filosofia do
direito estuda o direito do futuro e história do direito estuda o direito do passado, sendo
assim podemos definir a história do direito português como sendo a ciência que estuda o
direito do passado na perspetiva de retirarmos ensinamentos para o presente e para o
futuro.
Define-se história do direito como a disciplina que descreve e explica as
instituições e a vida jurídica do passado, nos seus múltiplos aspetos normativos,
práticos, científicos e culturais. Considera-se que a História é a mestre da vida pois
estuda os factos passados, na medida em que se estudasse o presente era dogmática, se
estudasse o futuro era filosofia, como estuda o passado é chamada de História.

Objeto da História do Direito:


O objeto consiste numa pergunta e numa resposta, o que é que nós vamos
estudar do passado? Ou seja, que direito do passado é que nós vamos estudar? Isto tem
a ver com objeto do estudo da história do direito português. Temos tradicionalmente 3
objetos de estudo
1. História das fontes- que fontes vamos estudar na história do direito português?
Desde logo os modos de manifestação do direito, chamado fontes manifestandi,
por exemplo: o costume, os forais, as concórdias, concordatas, cartas de lei…
Estudamos também outras fontes, os órgãos que produziram o direito, a
chamadas fontes exsistendi, por exemplo: o rei, o povo
Pois uma coisa é o órgão que cria o direito outra coisa é a forma como se criou o
direito.
2. História do pensamento jurídico- estudar o pensamento jurídico é estudar a
ciência do direito, e dentro do pensamento jurídico vamos estudar a atividade
científica dos jurisconsultos, o ensino do direito na universidade e a literatura
jurídica, ou seja, algumas obras produzidas pelos grandes jurisconsultos
portugueses.
3. História das instituições – instituições são um grupo de normas que
regulamentam uma certa situação da vida, por exemplo: casamento, propriedade,
usufruto...

Métodos da História do Direito:


São possíveis dois métodos nos estudos histórico-jurídicos: o método cronológico e o
método monográfico. O método cronológico parte do passado em várias épocas e dá-
nos uma visão do conjunto de cada uma dessas épocas, ou seja, consiste em expor as
fontes, as instituições e o pensamento jurídico segundo vários períodos
preestabelecidos, de forma a ficar-se com uma visão do conjunto de cada um deles, foi
através deste método que nós hoje estudamos a idade média, idade moderna, a idade
contemporânea, a antiguidade greco-romana… . O método monográfico traduz-se numa
análise de linha evolutiva das diversas instituições, consiste em estudar apenas uma
figura jurídica ou uma instituição desde do seu inicio até hoje, por exemplo: estudar a
instituição casamento….

História do Direito Português:


2 situações diferentes, uma é a história do direito português mas, como esta
unidade curricular também tem a sua história, vamos olhar para a história da história do
direito português.
Não podemos confundir a história do direito português com a disciplina, porque
a disciplina só começou a estudar-se no séc. XVIII, temos aí o início:
1. Momento da fundação em 1772, sec XVIII com os estatutos pombalinos da
universidade, antes não se estudava história do direito português, esta unidade
curricular foi criada exatamente nesse ano, através de uma lei que se chamava
estatutos pombalinos da universidade portuguesa, não se estudava antes porque
na universidade portuguesa estudava-se o direito romano, estudava-se o direito
canónico e não se estudava o direito português, logo se não se estudava o direito
português não havia lugar para a história do direito português, no entanto já
existiam jurisconsultos que estudavam aspetos da história do direito português,
dois entre eles: André de Resende, estudou a organização primitiva da Hispânia
e João Pedro Ribeiro, estudou a sucessão da coroa e o papel das cortes.
Mas, no sec XVIII, em 1772, tempo do marquês de pombal, o primeiro ministro
do rei D. José I entendeu que nós devíamos dar atenção ao direito português e
menos atenção ao direito romano e canónico, logo se devíamos dar atenção ao
direito português também devíamos dar atenção à história do nosso direito e dai
que tenha sido criada através desse estatuto da cadeira de história do direito
português, que começou a ser estudada na universidade de Coimbra lecionada
por Pascoal José de Melo Freire dos Reis, maior jurisconsulto do pensamento
jurídico, fez um manual de história do direito português do qual o professor
Almeida Costa retirou muitos elementos importantes que constam do seu livro.
Há aqui uma influência do sec XVIII importante, uma influencia daqueles
portugueses que estavam no estrangeiro a estudar e que comparavam a riqueza
do estrangeira com a pobreza do ensino em Portugal, chamavam-se
estrangeirados, destacamos Luís António Verney, que escreveu sobre o
pseudónimo de frade barbadinho escreveu um livro importante que é o novo
método de estudar e que foi uma obra muito importante para a introdução
cadeira de história do direito português.
2. Momento da consolidação sec XIX, carateriza-se por um encontro de uma
visão romântica com uma visão científica e notasse aí a influência do
positivismo. (Positivismo legalista identificava a lei com o direito). Esta
influência positivista começa a manifestar-se no sec XIX em Portugal.
Alexandre Herculano, maior historiador de Portugal, abandonou a cronica dos
reis, ele introduziu a história e foi autor de uma compilação de textos muito
importante conhecido com o nome “Portugalia monomentos histórica”
momentos históricos de Portugal, de que trouxe as fontes que estavam dispersas,
foi um grande contributo para esta fase da consolidação.
3. Momento da Individualização do séc. XX, carateriza-se pela afirmação
definitiva da história do direito português como uma ciência autónoma, uma
ciência com individualidade, destacando-se Gama Barros, escreveu um livro
chamado história da administração pública portuguesa desde o séc. XII ao séc.
XV, obra fundamental na licenciatura de administração publica
4. Momento da renovação moderna ainda no sec XX, consiste na criação de uma
verdadeira escola, de duas, escola de Coimbra e a escola de Lisboa
Na escola de Coimbra destaca-se: o professor Paulo Mereia maior jurisconsulto
português do séc. XX, autor de estudos medievais particularmente importante; o
seu colega de curso Luis Cabral de Moncada, dedicou-se ao estudo das ideias
politicas e da filosofia jurídica; o professor Guilherme Braga da Cruz, ocupou-se
de temas de direito medieval e antigo e do seu discípulo Almeida Costa.
Quanto ao direito romano destaco o professor Sebastião Cruz, o homem que
introduziu a moderna orientação do estudo do direito romano em Portugal.
Na faculdade de direito de lisboa destaco o professor Marcelo Caetano, autor da
melhor obra de história do direito português público, destaco o professor Raul
Ventura e o professor Rui de Albuquerque, autor de história do direito publico e
privado.

Periodização

Deixamos de parte a história da história do direito português e


regressamos à história do direito português.
É importante periodizá-la, determinar as suas épocas e para isso vamos
utilizar o método cronológico, segundo este método vamos dividir o estudo da
história do direito português em várias épocas:
1ª época: Direito peninsular- época que antecede a fundação de Portugal,
ainda não existe Portugal mas, existe território que depois veio a ser Portugal,
território habitado pelos nossos antepassados mais antigos que já tinham
naturalmente o seu direito, muito desse direito persistiu durante séculos e chegou
aos nossos dias, entrou depois na história do direito português com a fundação
de Portugal.
Feito o estudo do direito Peninsular, entramos verdadeiramente no estudo
da história do direito português, Portugal é fundado em 1143, com o tratado de
Zamora, com a fundação de Portugal este direito peninsular tornou-se português
e havendo direito português temos a história do direito português, aqui começa a
história do direito Português em 1143 com o tratado de Zamora mas, o direito
português tem várias épocas,etapas:
1) A individualização do direito português, é a primeira época da história do
direito português, ou seja, aquele direito fica para trás, peninsular
individualizou-se com o nome de direito português, tornou-se português com
a fundação de Portugal e temos a primeira época da historia do direito
português. De 1143, da fundação de Portugal com o tratado de Zamora até
1248, o inicio do reinado do rei D. Afonso III
2) Época do direito português de inspiração romano-canónica. Em 1248,
meados do sec XIII, chega a Portugal a ciência jurídica, não tínhamos na
primeira época a ciência jurídica em Portugal e agora passamos a ter a
ciência jurídica em Portugal, essa ciência jurídica tinha renascido na Itália,
em Bolonha e em Perúgia na escola dos Glosadores e na escola dos
comentadores, os portugueses iam estudar direito para a Itália e depois de
formados regressavam e com eles trouxeram a ciência jurídica e a ciência
jurídica alterou de tal forma o direito português que se transformou, passou a
ser um direito diferente e isso recomenda uma nova época, a época a que
chamamos o direito português de inspiração romano-canónica, vai de 1248
até ao tempo de marques de pombal, até 1769 (lei da boa razão) ou 1772
(estatutos pombalinos da universidade). Tudo este período divide-se em duas
sub-épocas:
 Época do direito comum, que termina em 1446 ou 1447, com as
primeiras ordenações portuguesas, são as ordenações afonsinas,
são o primeiro código que se fez em Portugal com o nome de
ordenações afonsinas porque foi promulgado pelo rei D. Afonso
V.
 Época das ordenações, termina em 1769 ou 1772.
3) A partir de 1769 ou 1772 temos a época do direito português moderno, vai
até aos nossos dias. Temos aqui 3 sub-épocas:
 Época do jus naturalismo racionalista, o direito natural
racionalista, que termina em 1820 com a revolução liberal
 Época do individualismo, vai até 1914 / 1928, a primeira grande
guerra mundial
 Época do direito social, de 1914 / 1918 até aos nossos dias, é uma
época do presente por esse facto não a iremos estudar nesta
unidade curricular.

 Tema 2- Direito Peninsular


1. Direito primitivo ou pré-romano (Séc. V ao Séc. III a. C.)
2. Direito romano vulgar (Séc. I a. C. ao Séc. V)
3. Direito germânico (Séc. V ao Séc. VIII)
4. Direito muçulmano (711- invasão islâmica da Península Ibérica)
5. Direito da Reconquista Cristã (718 / 1492, conquista de Granada): o direito franco

Direito Primitivo ou Celtibérico:

Vamos estudar direito que vigorou na península ibérica e muito especificamente


na parte da península que depois veio a ser Portugal, ou seja, estamos na época anterior
à formação de Portugal, uma época primitiva, não se trata de portanto direito português
porque ainda não há Portugal mas, trata-se de um direito que se manteve depois da
fundação de Portugal, ou seja, este direito passou a ser direito português com a fundação
de Portugal, por isso justifica-se a referencia a este direito.
A nossa península começou por ser um mosaico de povos, celtas, Iberos,
celtiberos, a que se juntaram os tartésios, povo do sul da península a que pertencia
também o povo tordetános e os tordetános tem uma particularidade importante esse
povo possuía leis escritas em verso, ou seja, era um povo culturalmente mais avançado,
enquanto os outros povos os seus direitos tinham por base os costumes entendido como
práticas espontâneas do povo, ou seja, era a forma como o povo agia, os tordetanos no
sul da nossa península já tinham leis e leis redigidas em versos porque eram mais fácil
de decorar e depois eram transmitidas de geração em geração, ou seja, eram detentores
de uma cultura superior,
E depois veio o mosaico de povos que constituiu a península ibérica, existindo
destaque para os lusitanos. Os lusitanos ocuparam o território português entre o rio
douro e o rio tejo, nossos antepassados verdadeiramente mais importantes, sendo
também os celtas e os Iberos deixando marcas importantes na cultura do Norte. Os
lusitanos tinham um chefe do qual os romanos tinham muito medo, mesmo os romanos
tendo um exército enorme tinham medo do comandante dos lusitanos, Viriato.
Estes povos iberos, celtas, celtiberos eram um povo misto que vivia da
agricultura, da pesca e da exploração de minérios, exploração de minério que por sua
vez viriam mais tarde atrair os romanos a invadir a península.
Instituições, família, família era denominado pelo matriarcado, ou seja, quem
mandava na família eram as filhas e sobretudo a filha mais velha, os irmãos viviam dos
rendimentos da herdeira irmã.
Para além do matriarcado, é importante referir a lei do osculo, osculo é um beijo,
nesses tempos as promessas de casamento não vinculavam juridicamente, não obrigam a
casar, os chamados esponsais ou promessas de casamento não obrigam os noivos a
casar, não são vinculativos juridicamente, ainda hoje é assim, mas, nesse tempo
recorria-se á lei do osculo, o noivo prometia casamento à noiva e vice-versa mas isso
não valia juridicamente, mas apartir do momento do beijo em publico essa promessa
que não vinculava, agora passa a vincular, o noivo era obrigado a casar.
Refiro como figura jurídica desses tempos, do tempo do direito primitivos, dos
celtas, iberos, celtiberos, lusitanos, chamada comunhão geral de bens do casamento, ou
seja, no casamento é que pertencem os bens, neste tempo era este o regime que
vigorava, regime esse que vigorou em Portugal até ao código civil atual, 1966 e até hoje
vigora desde que os noivos o queiram.
Quanto ao direito penal, o direito que penaliza os crimes, temos de distinguir
aqui 2 tipos de crimes: os crimes graves (ex:homicídio) e os crimes menos graves (ex:
ofensas morais, atentado à honra…)
Quanto aos crimes graves, ex parricídio, encontramos a pena de morte, que
podia ser executada de duas maneiras, se o crime ocorresse numa cidade era por
despenhamento, o criminoso era despenhado de um precipício, sendo esta considerada a
Justiça de Montemor, se fosse fora da cidade era por lapidação, morria à pedrada.
Quanto aos crimes menos graves ex: ofensa física, ai funcionava a figura do
“entrar às varas”, é uma pena corpórea, se alguém causasse um dano físico ou moral a
alguma pessoas, a vitima era autorizada a pegar numa vara e a dar as varadas que o
tribunal tivesse determinado e em local publico, mais tarde conhecido como pelourinho,
para que fosse vista por todos, tendo esta uma ideia de prevenção geral e especial,
prevenção geral era para que os outros não fizessem o mesmo, não incorressem na
mesma sanção, a prevenção especial era para que a pessoa que cometeu o crime não
voltasse a repeti-lo para não incorrer na mesma sanção.
Esta figura de “entrar às varas” que é a execução corpórea de uma pena, persistiu
no direito português até ao sec XVIII, no sec XVIII há uma corrente humanitária que
entendeu que isto era indigno da natureza humana e dai tenha sido substituída esta
figura de "entrar às váras”, sanção corpórea pela pena de prisão, esta era a privação da
liberdade e liberdade era um bem fundamental no sec XVIII e portanto a pior pena que
poderia existir era privar a liberdade de alguém e era por isso considerada a rainha das
penas substituiu a pena corpórea.

Direito Romano Vulgar:


Direito romano vulgar porque não é o direito romano autêntico, genuíno,
científico, que era o direito romano da época clássica, não é, era um direito já adulterado
por influência dos direitos locais. É um direito romano menor do que o grande direito
romano clássico, chamamos por isso direito romano vulgar, vulgarizou-se o direito
romano clássico.
A conquista da nossa península pelos romanos começou no ano 218 A.C e durou
até ao ano 19 A.C, quase 200 anos. Os romanos encontraram na península ibérica uma
reação que não estavam á espera, e por isso demoraram quase 200 anos, surpreendido
com tamanha resistência veio à península ibérica o imperador romano (imperador
augusto).
Os romanos após conquistarem a península procuraram organiza-la e o Senado
mandou o general romano para cá cuidar da organização da península, não o conseguiu,
o povo da península não lhe obedeceu e desolado o general volta ao senado, convocado
o senado o general diz “não volto lá porque o povo não se governa nem se deixa
governar”
Depois da conquista, arquitetos, administradores introduziram o direito romano
mas foi um direito vulgar, já corrompido pelo costume. Deixaram-nos uma assembleia
que delibera, um senado local que aconselha e magistrados que executam.
Acabamos por sofrer uma grande influência do Direito Romano porque ele era muito
superior ao direito local. Existiu duas concessões importantes: a concessão da chamada
latinidade colonial pelo imperador Vespaziano, todos os habitantes de península ibérica
passaram a ser latinos coloniais, dando a eles o direito de votar nas eleições de Roma
como se fossem cidadãos romanos e no direito privado permitia que tivessem acesso ao
direito privado romano, aos contratos romanos, os latinos romanos podiam ter acesso à
cidadania romana se fosse elemento de um senado local, se exercesse uma magistratura
local, chamada latinidade menor, no ano 212 o imperado Antonino concedeu a
cidadania romana a todos os habitantes do império romano, expressão máxima da
cultura romana introduzida na península ibérica.
Temos de distinguir aqui direito publico e direito privado, direito publico há
muito que vem de Roma, destacando apenas a organização das cidades, uma cidade
chamava-se município, município era uma cidade juridicamente organizava-se nestes
termos, havia uma assembleia municipal que congregava os habitantes daquela cidade,
havia um senado constituído pelos Homens mais velhos e havia magistrados que
executavam as decisões da assembleia municipal, nos dias de hoje existe assembleia
municipal, camaras e vereadores, o havia em Roma e não há hoje são os senados.
No direito privado quase tudo vem de Roma, exemplos: a propriedade, usufruto,
direito de superfície, comodato, compra e venda, depósito… estão no código civil e vem
de Roma, os nossos códigos tal como outros, são códigos com uma influencia decisiva
do direito romano, que trouxeram para Portugal, para a península ibérica exatamente
quando conquistaram a península mas, o império romano do ocidente desfez-se (o do
oriente manteve-se) por vários fatores, a falta de disciplina daquele povo… tudo isso
proporcionou a que um povo, chamamos germânicos, vindo da Ásia e da europa central
entrasse praticamente sem luta e conquistasse o grande império romano do ocidente.
Várias étnias, vários povos, cada um apoderou-se da sua parte, onde havia um império
começamos a ter um mosaico de estados.

Direito Germânico:
Estes povos invadiram o império romano e criaram uma nova época, a do
Direito germânico.
O que é que os trouxe para a península ibérica?
Razões económicas, estes povos nos seus territórios de origem na Ásia, na
europa central, faltavam meios de subsistência e isso atraiu a que eles migrassem para
aquele que tinha sido o império romano do ocidente.
Outro fator é o carater guerreiro e aventureiro daquele povo, eram poucos em
relação aos romanos mas, eram guerreiros e aventureiros e isso também explica a sua
infiltração na península ibérica e naquele território que tinha pertencido ao império
romano do ocidente.
Por último, a decadência do império romano do ocidente, decadência de valores,
de disciplina…. Tudo isso justifica ou são fatores que explicam a vinda desses povos
bárbaros, germânicos para a península ibérica, eram um povo de uma cultura muito
inferior, a miséria era generalizada, há um bispo chamado Idálio que diz que a miséria e
fome eram tão grandes que coziam e comiam os próprios filhos.
Em relação à península ibérica temos dois povos germânicos, os Suevos e os
Visigodos.
Destacam-se os Suevos, que se fixaram no norte de Portugal, na altura era
Bracara Augusta (Braga) uma cidade romana, fizeram dela a sua capital, estes foram
convertidos ao cristianismo pelo arcebispo S.Martinho, ao convertê-los deu-lhes uma
cultura superior à que tinham, mas este povo foi vencido pelos Visigodos, estes
ocuparam a península ibérica toda, a península ibérica tornou-se toda visigótica, a
capital deste povo era Toledo e tiveram uma ação evangelizadora pelo bispo Santo
Isidoro de Sevilha, autor de uma obra “ as etimologias” , que mostra uma grande cultura
romana e grega, deste modo este povo tornou-se também um povo cristão. No aspeto
politico temos 3 grandes instituições, em primeiro temos o rei era o chefe do estado e
era eleito pela nobreza, não era uma monarquia hereditária como hoje, era uma
monarquia elegível, eleita mas, o rei precisava de conselho para se poder consultar,
conselho do rei (aula régia), O PR de Portugal também tem um conselho de Estado que
vem da aula régia do visigodos , e finalmente havia os concílios, eram as reuniões do
alto clero, eram reunido periodicamente, são conhecido os concílios de Toledo.
Quanto ao direito o que encontramos aqui em relação ao povo Visigodo, desde
logo encontramos as fontes, que são costumes e leis, normalmente as leis eram a
redução dos costumes, portanto não tinham nada de inédito, consagravam por escrito
aqui os costumes já diziam, temos os formulários que eram também costumes de
práticas notariais, documentos através dos quais faziam contratos, temos os capitulares
que eram diplomas, no fundo leis redigidas em capítulos e temos Cânones, que eram
decisões do concílios do alto clero reunido nessas assembleias designadas como
concílios.
Mas, fundamentalmente o que importa saber dos visigodos em relação ao direito
são a dedicação dedicada por eles à feitura de códigos à codificação, notando que os
romanos foram pouco inclinados à feitura de códigos apenas fizeram o corpus iuris
civilis e mesmo este é da fase tardia do direito romano da época justinianeia, e
encontramos agora no povo visigodo uma tendência para a feitura de códigos.
O povo germânico possuía códigos que disciplinavam as relações entre as
pessoas, assim tínhamos desde logo o primeiro o código do rei Eurico, código de
Eurico tinha uma particularidade este código apenas disciplinava as relações entre os
visigodos de fora ficavam os hispânicos, os povos a quem os romanos tinham concedido
a cidadania romana mas, porque convinha também regular as relações entre eles foi
criado por Alarico II, o código Breviário de Alarico que se destinava exclusivamente a
disciplinar relações entre os povos ibéricos (povos romanos). Quando acontece existir
dois códigos estamos perante o princípio da personalidade jurídica. Tudo corria bem, até
que um dia, os visigodos começaram a casar com os romanos e surgem filhos que são
simultaneamente romanos e visigodos, para dar solução a esta questão o rei Recesvindo
no ano 654 fez o terceiro código- código visigótico, este código unificou
territorialmente a península ibérica e doravante apenas um código passou a disciplinar
os habitantes da península ibérica, fossem eles romanos ou visigodos, é o princípio da
territorialidade. Portanto ao princípio da personalidade sucedeu o princípio da
territorialidade, um só código para todo o território, para toda a península ibérica, esse
código visigótico do ano 654 promulgado pelo rei Recesvindo. Mais tarde, este código
veio a ser uma das fontes do direito português.
Quanto às instituições, no direito público e no privado, no direito publico, como
já foi referido, encontramos o rei , as aula régia e os concílios de Toledo e Oviedo
sobretudo, o rei era considerado um representante de Deus no seu território, ou seja, o
rei dos visigodos era o representante de Deus na península ibérica, tinha uma
particularidade, o rei era eleito pelos seu pares, pela nobreza, pelo alto clero e portanto
não era uma monarquia hereditária, era uma monarquia eletiva. A aula régia era um
órgão consultivo do rei, reunia a alta nobreza, o alto clero e aconselhava o rei, era uma
espécie de conselho de estado. Os concílios era as reuniões do alto clero que tomavam
decisões sobre assuntos da igreja e não só, sobre assuntos do Estado.
Quanto ao direito privado encontramos várias figuras jurídicas, herdamos quatro
importantes figuras:
1. Morgengabe- consiste numa doação dado à mulher casada no dia seguinte do
casamento, no dia seguinte à noite nupcial, ou seja, o marido recentemente
casado logo a seguir à noite de núpcias fazia uma doação de bens à sua mulher,
não se encontra um sentido explicativo para esta figura, os historiadores
divergem mas, o sentido mais lógico que se encontra é a de que a doação servia
como um preço pela virgindade da esposa, não encontramos esta figura no
direito romano, encontramos sim no direito visigodo.
2. Ordálios ou juízos de Deus, para compreender esta figura jurídica é importate
referir que hoje para condenar alguém é necessário fazer a prova de que esse
alguém cometeu um crime, não se pode condenar alguém sem se provar que esse
alguém é o autor do crime, quando persiste a dúvida apenas existindo suspeitas,
o problema resolvesse através do princípio in dubio pro reo, ou seja, é absolvido
e não é condenado, entre condenar um inocente e absolver um criminoso é
preferível absolver o criminoso. Não temos o principio in dubio pro reo no
direito visigodo mas, encontramos uma figura jurídica que o substitui embora
noutros termos é os Ordálios ou juízos de Deus. Isto compreende-se na idade
média, nos visigodos, trata-se de um povo muito religioso, o homem medieval é
profundamente religioso e acreditava que Deus estava presente em todo o lado e,
portanto, se alguém não sabia quem tinha morto alguém, Deus sabia quem tinha
sido, por isso entendia-se que se devia convocar Deus, pedindo a Deus um sinal
que revelasse se o suspeito é o autor ou não desse crime.
E que sinal era esse? É aqui que aparece os ordálios ou juízos de Deus, havia
várias modalidades, uma das quais era prova do ferro candente, consistia em a
pessoa suspeita é levada à presença de um sacerdote e de um médico, o
sacerdote benze-lhe a mão, o médico lava a mão, ao lado está um ferro em brasa,
o suspeito pega no ferro em brasa dá nove passos, coloca o ferro no chão, depois
tornava a ser benzida e era feito o curativo com ligas á sua mão, passados três
dias o médico via a mão do indivíduo, se tivesse sinais de cura era inocente e era
absolvido, se não curasse era um sinal de Deus de que aquele homem era
culpado e era condenado pelo crime.
3. Casamento de juras- Naquele tempo, em plena idade média, a filha só podia
casar se os pais assim o consentissem, caso contrário a filha não podia casar.
Mas, a natureza humana tem sempre um expediente que de algum modo permite
resolver o problema, esse expediente era o seguinte: o pai não consentia, a filha
queria casar com aquele homem, resultado o noivo raptava a noiva e com
saudades da filha o pai começava a vergar e acabava por consentir o casamento
(“o tempo tudo cura”). Mas, se o pai apesar de tudo não autorizasse o
casamento, a filha estava raptada não sabendo o paradeiro dela, neste caso como
a sociedade não suportava que uma mulher vivesse com um homem fora do
casamento, isto era um atentado à dignidade sobretudo da mulher, nessa altura a
mulher e o homem apareciam na igreja e eram casados por um sacerdote e assim
legalizava a situação, casamento de juras porque juravam reciprocamente
fidelidade e amor e daqui surge a figura do casamento de juras, esta figura
permitia o casamento de uma filha sem a autorização do pai, legalizando a
situação de uma mulher dentro da sociedade.
4. Dote germânico ou arras- é diferente do dote romano, mas, para entendermos
esta figura é necessário primeiro entendermos o dote romano, em Roma
constituiu uma prática muito generalizada de que a mulher que casasse levaria
par o casamento um conjunto de bens para que um dia se eventualmente ela
ficasse viúva com esses bens pudesse viver a sua viuvez e entretanto auxiliar o
seu marido com o rendimento desses bens nas despesas da família, duas
finalidades contribuir para ajudar as despesas da família e para que um dia ter
esses bens que lhe permitam sobreviver durante a sua viuvez, esse bens podiam
lhe ser dados ou pelo noivo ou por, sobretudo, pelo pai ou por um amigo, em
regra, era o pai. A particularidade do dote germânico ou dote visigótico é que
esses bens são dados pelo noivo, imediatamente antes do casamento, o noivo dá
à noiva um conjunto de bens para ela levar para o casamento, para satisfazer as
duas finalidades que são iguais. É o noivo porque numa fase mais antiga o
casamento ocorria com a compra da mulher e perdida essa ideia, ficou o
conjunto de bens que o noivo dá á noiva, ou seja, em vez de pagar ao sogro um
valor dá um conjunto de bens à noiva, portanto o dote é o sucedâneo do antigo
preço do casamento.

Direito Muçulmano:
Os visigodos estiveram na península ibérica durante muito tempo mas, no ano
711 a península ibérica foi invadida pelos muçulmanos, os muçulmanos atravessaram o
estreito de Gibraltar e entraram na Espanha, em Tarifa, comandados pelo grande
comandante Tarik, invadiram e conquistaram quase toda a península ibérica afastando
os visigodos do poder na península ibérica. Temos apartir da data de 711 a península
ibérica praticamente ocupada pelos muçulmanos.
Os muçulmanos conquistaram praticamente a península toda, exceto um
pequeno refúgio nas Astúrias. Temos assim no ano 711 os árabes entre nós, que
respeitaram o direito visigótico, não obrigaram o povo invadido a modificar porque
eram muito tolerantes. Assim, temos o direito visigótico para os visigodos e o direito
muçulmano para os árabes (princípio da personalidade jurídica).
O direito muçulmano tinha e continua a ter um profundo carater religioso, ou
seja, não se separam, muito pelo contrário, identificam-se a religião e o direito. No
direito muçulmano temos três fontes, como o alcorão que é o livro que contêm as
revelações de Alá (Deus) ao profeta Maomé, a sunna que é um livro que contêm a
conduta pessoal do profeta Maomé e o costume.
Com os árabes herdamos a terminologia –al e duas figuras jurídicas:
1. A parceria agrícola é um contrato de exploração agrária, em que o dono da
terra cede a terra a um agricultor para a trabalhar e depois repartem os ganhos,
os produtos recolhidos são repartidos pelo dono da terra e pelo agricultor, é
parceria porque são parceiros da terra o dono e o agricultor.
2. A terça é a chamada quota que alguém pode dispor para depois da sua morte,
quando alguém morre é perfeitamente possível que esse alguém deixe os bens a
quem entender, o testador faz um testamento, um negócio mortis causa, e os
bens são transferidos depois da sua morte para as pessoas indicadas no
testamento, há uma certa liberdade de se dispor de alguns bens mas, não de
todos, daí termos duas quotas, a quota disponível que é o conjunto de bens que
podem ser deixados em testamento a qualquer pessoa e há a quota indisponível é
a parte dos bens que o testador não pode dispor, ou seja, obrigatoriamente irão
para a sua família. No direito muçulmanos, os homens têm muitas famílias, pode
ter várias mulheres consoante a sua riqueza quanto mais rico mais mulheres
podia ter, portanto um árabe tinha também muitos filhos, mas tinha a obrigação
de os sustentar, dessa forma surge a terça parte, não pode deserdar os filhos. Não
podia deixar todos bens a quem quisesse, só podia deixar uma parte, essa parte
no direito muçulmano é um terço e dai o nome de terça é a quota disponível.
Essa terça parte vigorou em Portugal até 1910, até à revolução da república.

Os árabes venceram muita coisa na península ibérica e estiveram na península até ao


ano de 1492, ano em que foi conquistado o ultimo reino deles, o reino de granada,
significa que os muçulmanos estiveram na península 781 anos, mas, os visigodos
perseguidos refugiaram-se nas Astúrias, na gruta de Covadonga, e começam uma
reconquista, se os árabes tivessem chegado às Astúrias provavelmente hoje seriamos um
pais muçulmano.

Reconquista Cristã:
É durante o tempo em que se luta contra os muçulmanos, em que se processa a
reconquista cristã que se forma o reino de Leão, em que cuja primeira capital foi
exatamente Oviedo, e que mais tarde passou para Toledo, depois de Toledo passou para
Madrid (muito mais tarde).
Esta reconquista Cristã traduz-se na expulsão dos muçulmanos e na reconquista
do reino visigodo, é nesta fase da reconquista cristã que é fundado Portugal.
No sec XI, chegaram à península ibérica dois nobres franceses, D. Raimundo e
D. Henrique, que vem casar respetivamente, D. Raimundo com a princesa herdeira de
Leão a princesa Urraca, D. Henrique com a filha ilegítima do rei, chamada D.Teresa,
temos portanto em Espanha D.Urraca e em Portugal D.teresa casada com o conde
D.Henrique.
Com o casamento de D.Teresa com D.Henrique de Borgonha, França, o pai de
D.Teresa que era o rei de Leão, D.Afonso VI, rei de linhagem Visigótica, deu a
D.Teresa e a seu marido a chamada terra Portucalense, de onde vem a surgir Portugal,
mas a que titulo? Existe uma divergência entre os historiadores, tratasse provavelmente
de um senhorio hereditário, o senhorio era um território mais ou menos vasto confiado à
administração de um senhor, nobre ou a própria igreja, o senhor fazia nesse território
aquilo que o rei fazia fora daquele território, ou seja, o nobre cobrava impostos, o nobre
fazia o recrutamento militar, o nobre administrava a justiça, o nobre fazia contratos de
exploração agrícola…. A terra portucalense que vai desde do minho até ao Porto à
frente dele está um senhor, dai o nome senhorio, hereditário porque à morte desse
nobre, sucede-lhe o seu filho, provavelmente. Provavelmente o condado Portucalense
começou por ser um senhorio hereditário mas, há quem entenda que se trata de uma
tenência livremente amovível, uma circunscrição territorial mas para efeitos militares,
entendemos na sequencia do Professor Paulo Merêa de que se trata de um senhorio
hereditário e que foi dado a titulo de dote, pelo rei D. Afonso VI à sua filha D. Teresa e
ao seu genro, aqui aparece a figura do dote.
Os senhores desse dote, D. Teresa e o seu marido eram autorizados a conceder
os forais, ou seja, a conceder privilégios a determinadas localidades, a proferir
sentenças, a cobrar tributos, a fazer recrutamento para a guerra…. Tudo isso foram
atribuições conferidas no próprio dote.
Nessa época de reconquista cristã, as fontes do direito foram: o costume, quando
não há leis os povos regem-se fundamentalmente pelos costumes, temos os forais que
são documentos concedidos a localidades com certos privilégios, com direito e
obrigações concedidas aos moradores dessas localidades, temos o código visigótico que
se compreende porque o rei de leão era um rei de origem visigótica, como são os futuros
reis de Portugal, provem da linhagem visigótica, e continua a vigorar nesta época as leis
ou os Cânones dos concílios dos visigodos, sobretudo o concilio de Toledo.
Quanto a instituições destaco a famosa figura do direito de Avoenga, nesta altura
os povos criaram o direito de avoenga, consiste em dar preferência na venda de um
determinado bem a um elemento da família, para que esse bem não caia nas mãos de
estranhos, por esse motivo esta figura de direito avoenga também se chama retrato
familiar, é, portanto, um direito que vem preservar, defender as famílias, mas, a
preferência incide apenas sobre bens de origem familiar.
Exemplo: A morre e deixa dois prédios, o x e o y, tem dois herdeiros, cada filho herda
um prédio, mas se um dia um dos filhos quiser vender o prédio deve dar preferência ao
irmão ou familiar (este direito de preferência é o direito de avoenga) para evitar que os
bens sejam vendidos a estranhos. Esta figura jurídica esteve cá até às ordenações
manuelinas (1521).

Direito Franco:
Também fomos influenciados pelo direito franco, aquando a vinda para a península
ibérica dos condes franceses, D. Raimundo e D. Henrique e com eles veio uma pequena
população de agricultores franceses, que se fixaram sobretudo em Lourinhã, na
Atouguia, na Zambuja… e naturalmente, eles trouxeram de França o seu direito, que
nos deixou como figura a posse de ano e dia, em relação a esta figura há duas
interpretações , para se entender esta figura é necessário primeiro determinar o que é a
posse que é um poder de facto sobre uma coisa, se esse poder corresponder a um direito
chama-se propriedade, ou seja, enquanto a propriedade é um poder sobre uma coisa
juridicamente protegido, a posse é um poder sobre uma coisa que não goza da proteção
jurídica, é um poder de facto, ou pelo menos não é protegido como é a propriedade.
Posse poder de facto, propriedade poder de direito. Pode perfeitamente, o prédio ter um
proprietário e um possuidor, normalmente o proprietário também é possuidor mas, pode
suceder que alguém seja proprietário e um outro possuidor, ou seja, alguém apodera-se
de um prédio, age publicamente como se fosse dono e não é, neste caso é um possuidor
e não é proprietário.
A primeira explicação é : a figura de posse de ano e dia é uma figura jurídica que
conduz à caducidade da ação de reivindicação, se o autor dessa ação, o proprietário
permitir que o possuidor tenha a posse pelo menos à um ano e um dia.
exemplo: “A” é dono de um prédio e esse prédio foi ocupado pelo “B”, ou seja, o “B” é
o possuidor e o “A” é proprietário, o que pode o “A” fazer? Intentar uma ação contra o
possuidor “B”, chamada ação de reivindicação, prevista no Código civil português no
art 1311 e ss, e nessa ação pede a condenação de “B” a reconhecer a propriedade do
autor e que lhe restitua a coisa que foi ocupada, esta ação protege o direito de
propriedade, mas, se o proprietário deixou passar um ano e um dia, ou seja se o “B” tem
a posse do prédio por pelo menos à um ano e um dia essa ação caduca, ou seja, o
proprietário já não a pode intentar.
A outra explicação é a seguinte, se alguém tiver a posse de um prédio e permitir
que essa posse lhe seja retirada por outra pessoa, se essa outra pessoa chamada o novo
possuidor tiver a posse pelo menos à um ano e um dia, o antigo possuidor deixa de
possuir, perde a posse, ou seja, significa que perde a posse quem permitir que outrem
possua pelos menos à um ano e um dia, é com este sentido de perda de posse de um ano
e um dia que está consagrada no artigo 1267 nº 1 d) do nosso código civil.

A partir de 1140 vamos começar a estudar a História do Direito Português porque agora
ele já existe, aquele direito peninsular agora tornou-se direito português porque o
território Portucalense tornou-se Portugal fundado em 1143 no tratado de Zamora.
Vamos começar pela fundação de Portugal até á grande primeira guerra mundial
(1914/1918) a história foi dividida em épocas.

 Tema 3- Época da individualização do direito português


A partir de 1140 ou 1143 nasce Portugal e com Portugal começa o Direito Português e
com ele, a História do Direito Português. Quando Portugal foi fundado o direito não foi
alterado, o direito que estava em vigor antes manteve-se em vigor, direito esse que era o
direito peninsular, e, portanto, o direito peninsular tornou-se português, individualizou-
se com o nome de direito português e dai o nome dada à primeira época como a época
da individualização do direito português, tudo começa em 1143 com o tratado de
Zamora, 5 de Outubro de 1143 que em Zamora o rei de Leão, Afonso VII, primo de D.
Afonso Henriques, fizeram este tratado através do qual o rei Afonso VII reconhece ao
seu primo a independência de Portugal, foi exatamente em 5 de Outubro de 1910,
muitos anos depois, foi fundada a republica em Portugal.
A nossa primeira época do direito português surgiu então em 1143 e que vai até 1248.
Em 1248, um rei português, que estava em França é chamado a Portugal para substituir
o seu irmão que tinha sido destituído pelo papa, D. Sancho II, o rei D. Afonso III passa
a governar Portugal, em 1248.
O rei D. Afonso III é o pai do rei D. Dinis que fundou a universidade em
Portugal.
Termino esta época em 1248, não sendo porque d. Afonso III começa a governar
Portugal em 1248 que esta época termina nesse ano mas, sim porque só em meados do
sec XIII é que surge a ciência jurídica em Portugal, o estudo do direito, o
desenvolvimento do direito. A ciência do direito tinha renascido depois de séculos de
esquecimento, após a queda do império romano, deixou de se estudar o direito, não
havia universidade, só havia costumes, assim, temos um Direito rudimentar, injusto,
imperfeito porque não tem rigor nem precisão. A ciência do direito que renasce em
Bolonha no sec XIII, na escola de Bolonha atraiu imediatamente para Bolonha
estudantes de vários países, quer os reis, quer a igreja mandavam estudantes estudar
Direito, ou seja, estudar ciência jurídica. E depois de formados em direito regressavam
aos seus países e com eles traziam os seus conhecimentos e os estudantes chegam a
portuga em meados do sec XIII e com eles vem a ciência jurídica que penetra em
Portugal, como consequência aquele direito que não tinha base cientifica e por isso era
um direito rudimentar, imperfeito passou a ter a marca cientifica, tornou-se em um outro
direito, por este motivo em meados do XIII surge uma outra época com base cientifica
em contraste com a primeira época da individualização onde não existe essa marca
cientifica. Falamos em 1248 porque foi o início do reinado de D. Afonso III.
Limite temporal 1143, tratado de Zamora a 1248, início do reinado de D. Afonso III.

Caraterização desta época:


1º- dizem os autores que se trata de uma época de base consuetudinária e foraleira, ou
seja, é uma época em que as fontes predominantes são duas: os costumes e os forais.
Importa referir que, os Costumes não são aquilo que são hoje, hoje os costumes
são as práticas reiterada e habitual com a convicção da sua obrigatoriedade, podemos
decompor esta noção em dois elementos, o corpus e o animus, o corpus é a pratica
reiterada e habitual, o animus é o que se observa com a convicção que é juridicamente
vinculativa, obrigatória, é este o costume em sentido cientifico, é este o costume
aprendido na universidade de Bolonha no sec VII onde estudaram a ciência do direito .
Mas, como nesta altura ainda não temos ciência jurídica em Portugal, não
podemos definir costumo com uma noção científica, ela não existe. O que existe é o
costume em sentido amplo: tudo aquilo que não seja lei nem foral, ou seja, tudo aquilo é
muita coisa, são algumas decisões do Tribunal, práticas do povo, pareceres juristas….   
Os costumes podem ser locais, regionais ou universais.  
O antecedente dos forais são as cartas de povoação, ou seja, uma espécie de contrato
agrícola para fixar mão de obra á terra, cartas de exploração agrícola.
Depois , o Foral, se olharmos para as nossas grandes cidades todas elas tiveram o seu
foral, foral do Porto, foral de Coimbra, foral de Braga…
Foral é um diploma concedido a uma localidade que contem um conjunto de direitos e
obrigações, esse diploma é concedido, em regra, pelo rei mas, pode também ser a igreja,
um nobre, portanto, não é exclusivamente o rei que concede forais, também é a igreja e
a nobreza os concedia. É um diploma que consolida juridicamente uma certa localidade
dando aos seus moradores um conjunto de direitos e obrigações, ou seja, um estatuto
jurídico. Um foral era, naquela altura, uma verdadeira constituição, portanto, os
moradores de uma certa localidade passavam a reger as suas relações pelo foral, lá
estavam os direitos e obrigações que eles assumiam.
O foral disciplinava dois tipos de relações: as relações entre os moradores e as relações
entre os moradores e a entidade que concedeu o foral.
Depois, os forais faziam-se, em regra, copiando uns dos outros, por esse facto fala-se
em família de forais:
1) Família de foral de Salamanca, os vários forais do norte do país copiaram o foral
de Salamanca, pertencem à família de Salamanca
2) Família de Santarém, os vários forais do centro e do sul do país copiaram o foral
de santarém, constituem a família de santarém.

O que temos aqui é um direito primitivo, rudimentar, empírico, ou seja, um


direito em que não há ciência jurídica, por isso é um direito rudimentar, primitivo,
repleto de imperfeições, falta-lhe a base científica.
Ainda encontramos nesta época, a chamada influência tabeliónica, Tabelião é
um antepassado remoto do atual notário, é aquele homem com alguns conhecimentos
em direito, embora sejam conhecimento rudimentares e empíricos, que guardam um
conjunto de documentos com os quais formalizam determinados negócios jurídicos,
esses documentos são elaborados pelo tabelião, é um homem de uma reconhecida
moralidade, homem de bem, homem que tinha acesso aquela condição de tabelião
depois de um exame que fazia, era de grande importância a figura de tabelião porque a
fé da vida jurídica passa por um documento feito pelo tabelião, era depositada uma
grande fé nesse homem que se essa função fosse usurpada, o usurpador incorria na pena
de morte. Era a figura do tabelião que nós encontramos nesta época, em contrates com
a figura do jurista, do cientista do direito, do jurisconsulto, que essa não existe.
Fontes do direito desta época , vamos distinguir dois grupos de fontes, as fontes
anteriores à fundação de Portugal e que se mantiveram em Portugal depois da fundação
de Portugal, o direito anterior a Portugal manteve-se e portanto essas fontes também se
mantem em Portugal, depois temos outro grupo, as fontes já genuinamente portuguesas,
as fontes produzidas já depois da fundação de Portugal.

Fontes anteriores á fundação de Portugal:


1. Código Visigótico, o rei de português era de origem visigótica, o rei leão era de
origem visigótica, e portanto justifica-se a vigência do código visigótico em
Portugal, código feito pelo rei Rescevindo no ano 654, teve o seu apogeu no sec
XII e depois entrou em declínio até desaparecer.
2. Leis da Cúria de leão (Reunião da nobreza presidida pelo rei), a cúria de leão
produziu leis que vigoraram antes da fundação de Portugal e depois continuou
a vigorar em Portugal.
3. Leis dos Concílios (Reuniões do Alto Clero), também estas continuaram a
vigorar após a fundação de Portugal, as leis chamadas cânones dos concílios de
Oviedo e de Toledo.
4.    Forais dados pelo rei de Castela, Portugal, na altura, ainda não tinha sido
fundado, e os forais dados antes da fundação de Portugal mantiveram-se em
vigor depois da fundação de Portugal. (foral foi outorgado pelo rei de castela
antes da fundação de Portugal, depois disso foram outorgados pelos reis
portugueses, clero e nobreza portugueses)
5.    Costumes.
Fontes após a fundação de Portugal, fonte genuinamente portuguesas:
1) Leis dos nossos primeiros reis, que são poucas, escassas…assim, temos uma lei
de D. Afonso Henriques – Lei de Barregâs, que pune as barregãs de um clérigo,
ou seja, a amante de um padre é punida com a pena de prisão, conhecemos
também a lei de um filho de d. Afonso Henriques, D. Sancho I, que trata dos
deveres militares do clero, esta lei disciplinava os deveres e obrigações que
disciplinavam isto. Portanto, legislação muito escassa até que em 1211 nas
cortes de Coimbra, do tempo de D. Afonso II denominado o rei legislador
porque surge o movimento legislativo, este tornou-se imparável ao ponto de hoje
a lei ser a grande fonte do direito, existindo até mesmo quem diga que é a única
fonte do direito, a causa para surgir este movimento legislativo foram: a ciência
jurídica está a chegar a Portugal e com ela o direito romano que incentiva à
aprovação de leis , por outro lado afirmação de superioridade do poder do rei em
relação à nobreza e ao clero e as leis traduzem a vontade do rei, deste modo isto
propicia a feitura de leis. Este movimento legislativo trouxe benefícios ao direito
português, havia costumes injustos e esses costumes foram afastados pelas leis, a
lei aparece como meio de moralização, de justiça ex: o costume que permitia aos
nobres adquirir bens por preços inferiores aos homens que não eram nobres
(homens livres), o costume que imponha a um homem livre de trabalhar para um
nobre… tudo isto foi afastado pelas novas leis.
Nessas cortes de Coimbra houve uma decisão importante, debateu-se nessa
reunião de Coimbra em 1211 o problema de havendo um conflito entre o direito
português e o direito canónico, qual deles se deveria aplicar? Nessas cortes de
1211 foi decidido reconhecer a superioridade ao direito canónico, pelo facto de
que Portugal era um pais cristão e, portanto, acima do direito pátrio estava o
direito da igreja.
2. Forais- temos os forais que são documentos outorgados agora pelo rei português
porque estamos em Portugal, já não é o rei de leão é o rei português, a nobreza
portuguesa, a igreja portuguesa. E portanto, os forais podem ser outorgados por
essas 3 entidades. Forais que concedem a uma certa povoação um verdadeiro
estatuto jurídico-político, uma espécie de uma pequena constituição de uma
localidade, esta consagra os deveres, as obrigações, os direitos, os privilégios…
3. Concórdias- acordos entre o rei português e o clero português, desse acordo
surgem direitos e obrigações recíprocas para a igreja e para o rei.
4. Concordatas- acordos entre o rei português e a santa Sé, o papa, desses acordos
surgem também direitos e obrigações para as partes
5. Costumes- mantêm-se também os costumes com aquele sentido não científico,
sendo costumes tudo aquilo que não é lei nem foral.

Regime Senhorial:
Senhorio é um território, mais ou menos amplo, maior ou menor, cuja administração é
confiada a um senhor, dai vem o nome de senhorio, senhor esse que tanto podia ser um
nobre como a própria igreja, portanto, nesse território, mais ou menos amplo, quem
exerce a administração é o senhor que a exerce nesse território as funções que fora dele
pertencem ao rei, as chamadas funções de soberania, como por exemplo: cobrar
impostos e tributos, fazer a administração da justiça, julgar os crimes, fazer o
recrutamento militar para a guerra…, tudo isto que fora do senhorio pertence ao rei é
agora entregue ao senhor, que pode ser um nobre ou a igreja.
Modalidades do Senhorio:
1. Honra: é também um senhorio, portanto, um território mas, que agora é
demarcado unilateralmente por um fidalgo, um nobre, partindo principio de que
o nobre é credor por serviços prestados ao rei, sobretudo na guerra, o nobre
sente-se credor de serviços que o rei lhe deve, o nobre demarca um território,
esfralda a sua bandeira e o seu brasão e diz por e simplesmente que “isto é um
senhorio meu”, assume-se como senhorio daquele território, sem o rei ter
autorizado tal ato, esta prática de um nobre usurpar territórios, senhorios sem
que para tal estivesse autorizado, gerou problemas graves entre o rei e a nobreza
de Portugal, problemas que foram sendo resolvidos à medida que ia sendo
reconhecida a superioridade do poder do rei, nesta altura o rei era muito
contestado, muitos nobres entendiam que tinham poderes iguais aos do rei,
poderes que ofuscavam o poder do rei.
2. Beetria: é um senhorio, um território constituído por vários moradores, como
todos os senhorios são, mas, com a particularidade de que esses senhores
habitantes das várias localidades reúnem-se e escolhem, por sua iniciativa, um
senhor para os defender, para lhes transmitir a Segurança de que eles
precisavam.
3.  Couto é assim chamado por ser constituído por um documento, chamado carta
de Couto. Esse documento, carta de Couto, deu o nome ao senhorio de Couto, é
um documento pelo qual o rei proíbe os seus funcionários de entrarem dentro de
um senhorio para aí exercerem as funções do rei porque essas funções
pertencem ao senhor, não pertencem ao rei, e nesse diploma o rei proíbe os seus
funcionários, obriga-se a não permitir que os seus funcionários penetrem nesse
território, para aí desempenharem essas funções que são reconhecidas ao senhor.
 
Contratos de exploração agrícola e de crédito:
A realização destes contratos foi particularmente benéfica para a economia da época
porque estamos numa época em que o território tinha sido conquistado e continuava a
ser conquistado, estamos numa época em que os terrenos estavam muito abandonados,
não produziam, desse modo as pessoas tinham fome e como consequência crescia a
criminalidade, com a criminalidade e a fome vem também a doença, ou seja, estamos
numa época muito carenciada de produtos alimentares, com reflexos terríveis na fome,
na insegurança e ,naturalmente, na miséria. Era necessário transformar esses campos,
fazer agricultura, e por esta necessidade se justificam esses contratos de exploração
agrícola, muito frequentes.
Contrato de exploração agrícola: Estamos em plena época Medieval, que é dominada
pela doença, concentração das terras que não produzem, não dão pão, estão
abandonadas embora, tenham um proprietário rico. Se os terrenos estão em pousio e não
dão pão, a sociedade passa fome, doenças. Se não produzem a sociedade passa fome
tem-se economicamente uma inflação: já que a procura é maior que a oferta. Para curar
a doença da sociedade devia ir ao encontro do centro do problema, ou seja, os
territórios. Para isso, criaram vários tipos de contratos, nomeadamente:
1. Complantação Conplantação- É um contrato, portanto, umnegócio jurídico.
Em que o dono de um terreno que está em pousio, nãoo está a produzir pão,
está em pousio, cede este terreno a um agricultor, Para quê? Para que plante
árvores duradouras. Portanto, por força desse contrato, agricultor vai receber
um terreno para o fertilizar, para plantar árvores duradouras. 4 a 8 anos é o
tempo previsto no contrato, normalmente 4 ou 5 anos. Este contrato produz o
seguinte efeito jurídico, metade, em regra, daquele terreno fica para um
agricultor que plantou as árvores, a outra metade continua a pertencer ao
antigo proprietário. Contrato também feito com frequência, exatamente
porque havia interesse na sua celebração, ambas as partes ganhavam e ambas
as partes perdiam mas, ganhavam mais do que perdiam, o dono perde metade,
mas fica com a outra metade com arvores plantadas que antes não tinha. O
agricultor, por seu lado perde as arvores que plantou mas, ganha metade do
terreno. Ambos perdem ambos ganham. Só que ganham mais do que perdem e
com isto ganha a economia portuguesa. Porque um terreno que não produzia
nada, agora passa a produzir. Normalmente, as árvores plantadas de longa
duração eram árvores de fruto, castanheiro, figueiras, passando a dar frutos
aumentavam o bem-estar da sociedade e combatiam a criminalidade.
2. Enfiteuse este contrato é oriundo da Grécia, passou da Grécia para o direito
romano e é recuperado nesta época da individualização do direito português. É
um contrato oneroso, perpetuo porque se transmite inter-vivos e mortis causa.
Enfiteuse é um contrato oneroso, é o mesmo que dizer que é um contrato em que
as duas partes tem prestações, obrigações reciprocas, uma prestação de uma
parte e uma contraprestação da outra, quando assim é estamos perante um
contrato oneroso, enfiteuse é um contrato oneroso porque o agricultor que vai
trabalhar o campo paga uma renda ao proprietário desse terreno, temos, portanto,
duas partes, de um lado o proprietário desse terreno e do outro lado, o agricultor,
chamado enfiteuta. O proprietário cede o terreno para ser trabalhado, o enfiteuta
paga uma renda anual, em regra, era uma parte dos frutos produzidos. É Um
contrato perpétuo porque não é feito para durar x tempo, é feito para durar
sempre, por isso à morte do agricultor, a sua posição transmite-se aos seus
herdeiros, por isso é transmissível mortis causa. É também transmissível inter-
vivos, ou seja, o agricultor, enfiteuta pode vender a sua posição, é livremente
transmitida inter-vivos, ou seja, é uma transmissão que produz efeitos
imediatamente mas, com o limite, deve dar preferência ao dono do terreno, se o
dono quiser preferir preço por preço é para ele, se não quiser, enfiteuta é livre
para transmitir a quem quiser mas, uma parte do preço, chamado landémio, 2%
deve ser dado ao dono do prédio Caraterizado este contrato, importa agora ter
presente o seguinte , referido este contrato como oneroso, perpetuo,
transmissível entre-vivos e mortis causa, e agora não menos importante saber
que efeitos juridicos produz este contrato: Isso produz sempre efeito jurídico,
por exemplo, a compra e venda transmite a propriedade para o comprador e
transmite o preço para o vendedor, há sempre efeitos jurídicos, sendo este
contrato, perguntasse quais são os seus efeitos juridicos: Este contrato
fracciona a propriedade, onde havia uma passamos por força deste contrato a
ter 2 propriedade, também chamada de domínio, como no direito Romano.
Propriedade ou domínio era a mesma coisa e é a mesma coisa. Portanto, onde
havia um domínio, passamos a ter 2. O domínio do antigo dono proprietário,
chama-se domínio direto. O domínio do agricultor enfiteuta chama-se domínio
útil. Por força deste contrato, o agricultor enfiteuta adquire uma propriedade
chamada domínio útil. Não tinha nada, passa a ser proprietário, passa a ter o
domínio util. É esse domínio que ele depois pode vender livremente, Inter
vivos, transmitir Inter vivos livremente. e mortis causa aos seus herdeiros. Com
a particularidade se quiser vender esse domínio terá que dar preferência ao
titular do domínio direto. Preço do preço. Será para o titular do domínio direto.
Não é, portanto, um contrato vulgar, porque é um contrato que fracciona a
propriedade em 2, é um contrato muito especial. Mas ao atribuir uma
propriedade de um domínio ao agricultor, tendo interesse acrescido, para ele
trabalhar o campo, para fazer este contrato porque ele, que não era
proprietário de nadaão tinha o domínio da nada, agora a adquire uma
propriedade, adquire um domínio. E isso faz com que as pessoas tenham
interesse em fazer estes contratos. E ao fazer estes contratos, os campos
passam a ser agricultados, passam a matar a fome, diminui se a criminalidade,
diminuísse a incerteza da fome e da doença da sociedade.

Aqui temos 2 contratos de exploração agrícola, que se faziam com muita


frequência nesta época, pelos motivos que facilmente se compreende.

Mas, havia também contratos de crédito, 2 tipos de contratos de crédito já não


são de exploração agrícola, são de crédito, de concessão de empréstimos, de crédito, a
compra e venda de rendas e penhor imobiliário.

1. Compra e venda de rendas é um contrato que alguém empresta dinheiro a


outra pessoa. E, portanto, é um contrato de mútuo. Um credor que empresta, um
devedor que recebe. O contrato vai onerar um prédio do devedor ao pagamento
da dívida e dos juros, ou seja, a dívida contraída pelo devedor junto do seu
credor vai ser paga com um rendimento de um determinado prédio. Que, além
de pagar a dívida, também paga os juros, o prédio fica onerado fica afetado a
que com os seus rendimentos seja paga a divida e os juros. Quando um prédio é
onerado, chama-se ónus real, ónus que é um encargo, real porque é sobre uma
coisa, um prédio. O que significa o seguinte: senhor “A” pede ao senhor “B” x.
O devedor onera um prédio seu ao pagamento da dívida dos juros através dos
rendimentos desse prédio, se esse prédio for vendido, o comprador do prédio é
que fica obrigado a pagar a dívida porque a dívida é paga com os rendimentos
do prédio. Se o prédio mudar de dono e a divida ainda não foi paga, deve ser
paga pelo novo proprietário. Exatamente porque o encargo incide sobre o prédio.
É por isso um ónus real. Este contrato tinha também uma particularidade muito
importante, durante muito tempo, desde os primórdios da civilização, da vida
humana, sempre houve, quem emprestasse dinheiro a outra pessoa sempre
houve, mas, sse dinheiro tem um custo, são os juros mas, existe a tentação de
cobrar juros muito elevado, são os chamados negócios usurários, É a usura, a
exploração de uma pessoa que se encontra num estado de necessidade,
emprestando lhe dinheiro e porque essa pessoa precisa para obter esse
empréstimo vê-se coagida, obrigada a pagar juros tão altos, a igreja sempre foi
contra isto, o seu direito canónico, sempre combateu os altos juros, até mesmo
houve alturas em que combateu qualquer juro, fosse elevado ou fosse baixo. Este
contrato era um meio de ludibriar a proibição de juros, em vez do empréstimo
ser concedido mediante o pagamento de tantos por cento de juros, não se falava
em tantos por cento de juros, mas, falava-se do rendimento do prédio. Este
contrato favorecia os negócios usurários, evitava as proibições da lei.
2. Penhor Imobiliário, hoje que isto é inaceitável, hoje penhor é sobre coisas
móveis, não é sobre imóveis. Já nos romanos, de onde vem esta figura pinhor
vem de pignus, em roma significava punho, logo penhor era uma coisa que era
entregue com o punho, ou seja, com a mão, logo móvel, como hoje. Móveis,
porque só essas é que se entregam com a mão. Nesta altura, havia penhor sobre
imóveis. Penhor uma garantia real, ou seja, é uma figura jurídica em que uma
coisa fica em poder do credor para garantir o pagamento do seu crédito. Se a
divida for paga, a coisa regressa ao poder do devedor. Se a coisa não for paga, o
credor ou fica com a coisa ou é obrigado a vendê-la, depende. É uma garantia
real porque incide sobre uma rés real, uma coisa. Se fosse uma garantia que
incidisse sobre uma pessoa, seria uma garantia pessoal, como, por exemplo, a
fiança. mas é uma garantia que incide sobre uma coisa determinada concreta é
uma garantia real. O penhor imobiliário tem a particularidade, nesta altura, de
poder incidir sobre coisas móveis e sobre coisas imóveis. Hoje, o penhor incide
sobre móveis e não imóveis, porque em relação aos imóveis temos por exemplo
a hipoteca. Oi senhor. Se alguém? É contra isso uma dívida? Podia garantir o
pagamento da dívida. Deste modo, dando um imóvel em penhor ao credor, o
credor ficava com esse imóvel em seu poder, mas o imóvel continua a pertencer
ao devedor, só que ficava em poder do credor, este poder do credor sobre o
imóvel consiste na garantia. Se a coisa não for paga, o credor é obrigado a
vender a coisa e pagar se pelo seu preço, se as partes não combinarem em que
seja o próprio credor a fazer a coisa sua. Com o tempo, esta figura juridica veio a
desaparecer, porque á medida que a hipoteca se foi impondo, esta figura do
penhor imobiliário foi substituída pela hipoteca e apenas se manteve o penhor
sobre coisas móveis.

Direitos Banais- não tem nada a ver com banalização, É uma figura jurídica que consiste em
alguém pagar pela utilização de uma coisa alheia, alguns exemplos: numa localidade, nsta altura
e hoje também ainda se encontra em localidades antigas, sobretudo de carácter turístico, um dos
moradores é dono de um forno, esse forno coze o pão para os restantes moradores dessa
localidade, pela utilização desse forno, os moradores pagam um x ao dono do forno. Esse x
chamava-se e continua a chamar-se maquia, ainda existe os chamados lagares, lagares de azeite,
em que alguém leva azeitona, o lagar transforma azeitona em azeite, e o dono da azeitona
transformada em azeite paga um x. Ao dono do lagar, chamado maquia. Portanto, estas figuras
dos direitos banais traduzem-se em pagamentos feitos aos donos de coisas que são utilizadas,
sejam lagares, sejam fornos, sejam moinhos...

Junta-se a figura dos direitos banais chamado período de relego, é um período em que só
determinada pessoa pode vender os seus produtos, por exemplo, um período durante o qual só
uma determinada pessoa pode vender o azeite, pode vender vinho etc etc. Há, portanto, o
monopólio da venda de certos produtos em determinados períodos. E esses períodos. são os
períodos de relego.

Vindicta Privada (Vingança Privada ou reação): 

A vingança privada é uma reação, reação do ofendido ou dos seus familiares a uma agressão.
Portanto, uma pessoa foi agredida e reagiu à agressão vingando-se na pessoa que o ofendeu,
na pessoa que o agrediu. E essa reação pode ser feita pelo próprio ofendido ou pela sua
família. É uma modalidade de autotutela. O que até se compreende porque os tribunais eram
poucos, a proteção estava incipiente. E as pessoas quando eram agredidas defendiam se, elas
próprias se tivessem força ou os seus familiares, reagiam. Estamos perante a autotutela. Ou
tutela privada, só que, via de regra, esta vindicta privada, em regra, era injusta por um de 2
motivos. A pessoa que era ofendida, reagi a quente, e portanto, excedia-se, ou seja, recebia
uma ofensa e pagava com uma ação excedida, aplicava um mal maior ao que lhe foi causado,
violando-se o princípio da igualdade temos uma injustiça. Ou então, uma pessoa recebia uma
ofensa e como não tinha força para reagir, não reagia, então temos um crime, é uma ofensa
sem reparação, uma impunidade, ou seja, uma injustiça.

Para combater isto, criaram-se mecanismos:

1. Paz do rei, paz de el rei, ou seja, rei peregrinava pelo seu território, levava a corte
consigo em visitas constantes às localidades do seu território no seu país e onde o rei
estivesse era proibida a vingança privada, portanto, a pessoa ofendida tendo o rei na
sua terra, ia queixar-se ao rei para que o rei fizesse justiça.
2. Paz do concelho, são períodos durante os quais não é possível a vingança privada,
exemplo disso temos: Durante o funcionamento da assembleia municipal proíbe-se
guerra entre as partes não é possível a vingança privada porque é necessária paz para
que a assembleia dos municípios possa gerir os problemas do seu município no seu
concelho, para que as pessoas possam discutir, votar, aprovar, é necessária paz.
Portanto, quando a assembleia está reunida, não há vingança privada, ou seja, não há
guerra. Também temos a paz do mercado, também é um paz do concelho, durante o
tempo em que em certa localidade funcionar uma feira, um mercado estavaproibida a
guerra, está proibida a vingança privada porque para comprar e vender, é preciso ter
paz e com a guerra ninguém está seguro. E essa insegurança implicava o afastamento
dos mercados.
3. Paz da casa, Se alguém fosse perseguido e entrasse numa casa e essa casa acolhe o
perseguido, que é o criminoso para junto de quem se se digamos, se iria exercer a
vingança privada, essa pessoa com medo dessa vingança, refugiava se numa casa com
autorização do dono da casa, o perseguidor, não podia entrar na casa, é a
inviolabilidade do domicílio, também chamada a paz da casa.
4. Existiam também as tréguas. Ou seja, épocas durante as quais não se permitia a
vingança privada, umas dessas épocas tréguas eram impostas pelo rei, pela igreja, ou
até acordadas pelas partes. As tréguas impostas pela igreja, chamadas tréguas de
Deus, tem a ver com a Quaresma, com a Páscoa, com o Natal, durante essas épocas do
calendário litúrgico a igreja não permitia a vingança privada.
5. Asilo, O asilo era o local onde alguém se encontrava, entrava para que não fosse
perseguida, para que não houvesse a vingança privada, é o caso do asilo em um
concelho, se alguém estivesse a ser perseguido entrava num concelho diferente e
usava da paz desse conselho era o asilo desse concelho. Tal como a igreja era o asilo
de quem ai entrasse, se alguém fosse perseguido, entrasse na igreja ó de lá podia sair
com autorização do sacerdote, e o sacerdote só autorizava se o perseguidor jurasse
que não iria matar a pessoa perseguida, era o asilo da igreja.

Estas são uma série de reações que combate a vingança privada, exatamente porque a
vingança privada é a quebra de paz porque ou é uma vingança excessiva ou saem impune, ou
seja, quer num lado quer do outro, quer num aspeto quer no outro, não temos uma
verdadeira paz e as pessoas precisam de paz para viver.

Tudo isto, enquanto o Estado não se organizou convenientemente, de forma a chamar


função de a administração da justiça, como hoje sucede, há, no entanto, aspetos da vingança
privada ainda consagrado entre nós, faz parte daquilo que alguém diz o direito natural. Sendo
impossível de todo recorrer à proteção pública do estado, através da polícia, por exemplo.
Alguém tem o direito de se defender, utilizando a legitima defesa. Ou seja, temos ainda
determinadas figuras jurídicas em que as pessoas podem fazer justiça por si, ou seja,
defendem se a si próprio, autotutela são manifestações que vem de trás e que continuam em
situações limite.
Tema 4- Renascimento do Direito Romano
Algumas considerações prévias.

No ano 476, sec V, acabou o império romano do ocidente. Terminou o grande Império
Romano do ocidente. E terminou por motivos vários, que não interessa verdadeiramente aqui
referir. A inércia, indisciplina, ociosidade, os vícios que destruíram e destroem uma sociedade
minaram o Império Romano e enfraqueceram-no. E os seus inimigos, chamados bárbaros, no
sentido de que não tinham a cultura dos gregos, nem dos romanos, eram aqueles que não tinham
a cultura greco-romana, tinham outra cultura Aproveitando-se da fragilidade do Império,
invadiram-no, conquistaram-no e acabaram com ele.

Consequência, deixou de se estudar o direito do Império, o direito Romano. Os povos


invasores passavam a ser orientados, governados, disciplinados sobretudo pelos costumes
bárbaros, imperfeitos, rudes, violentos e injustos, Não havia universidade, não se estudava, nem
ensinavam o direito, ou seja, extinguiu-se a ciência jurídica e acabando a ciência jurídica, o
direito, em vez de progredir, regrediu, na ausência de conhecimentos científicos, de
conhecimento jurídico entramos nas trevas. E andamos assim até ao sec XI. Somos conta. Do
séc V ao século XI , são 6 séculos, 600 anos, em que ninguém estudou, ninguém ensinou o
direito Romano, que se esqueceu completamente. Essa escuridão. Essa ausência da ciência
jurídica, começa a acabar, no século XI, olha-se para trás, para Roma, para o seu direito e
conclui-se, então, mas aquele direito apareceu há 600 anos que ninguém estuda e começa então
esse movimento de interesse pelo direito humano. Depois de 600 anos de trevas. E esse
movimento de interesse do estudo do direito Romano, traduz o que significa um renascimento
do direito Romano. Portanto. Poder-se-á definir o renascimento do direito Romano como um
contraste. Entre a indiferença até ao século XI e o grande interesse que o direito Romano de
novo veio a suscitar.

É no sec XI que começa esse interesse pelo direito romano, embora se consolidasse no
sec XII, atingisse a sua marca de água no século XII, por isso que atribuímos um renascimento
ao século XII e falemos de pré renascimento no século XI.

Com a queda de Roma, 476, desapareceu a ciência do direito, ninguém estuda, ninguém
ensina falta, portanto, uma cultura jurídica. Mas, huve uma coisa que não desapareceu, os livros
no direito Romano, aquilo a que chamamos, o corpus iuris civilis, o corpo de direito civil. Essa
compilação magnífica do direito Romano, das Fontes do direito Romano, mão tinham
desaparecido, estavam nas prateleiras dos conventos, das igrejas, das catedrais, das bibliotecas,
mas, ninguém os consultava porque ninguém tinha cultura jurídica para as puder estudar. E no
séc XI, ainda lá estavam. no século 12 ainda lá estavam.

Porque é que este interesse pelos estudos do direito Romano, pela ciências jurídicas
surge Séc XI e não antes. Passaram 600 anos. Porque o pré renascimento é do séc XI e o
renascimento é do séc XII, e não antes, há fatores que cientificamente justificam ter sido nestes
séculos, justificções que têm uma dignidade científica. Objetividade, uma veracidade. Mas,
também á uma explicação lendária.

E segundo a lenda. Que se enraizou durante muito tempo. É de que o interesse pelos
estudos do direito Romano surgiu por mero acaso. Durante a tomada da cidade italiana de
Amalfi em 1135. Durante o saque. Que se seguiu. Essa tomada dessa cidade, foi casualmente
descoberto um exemplar do digesto, que é a parte mais importante do corpus juris civilis. E nas
ruínas da cidade, encontrou-se o exemplar, quem o encontrou, logo percebeu que era um livro
que merecia ser lido por alguém que entendesse. E quem encontrou o livro, entregou,
naturalmente, ao comandante. As tropas que tinham conquistado amalfi, o comandante levaram
esse exemplar para a cidade de pisa, era a sede dos lombardos, a sede da Lombardia Italiana,
onde estava o imperador germânico Lotário II, que surpreendido com a cientificidade, com a
ciência daquele livro, imediatamente, o tornou obrigatório na Lombardia. Assim começou o
interesse pelo estudo do direito Romano, ou seja, pela ciência jurídica. DE Amalfi passa para
Pisa, a capital da Lombardia. Lotário II promulgou como fonte do direito lombardo. Aqui tem
uma explicação lendária. do interesse pelo estudo do direito romano, no fundo, do pré
renascimento do direito romano.

Hoje temos motivos, fatores científicos que justifica que tenha sido no séc XI o início
do estudo da ciência jurídica, e não antes. E que fatores são esses?

1. Fatores políticos, A queda do Império Romano do ocidente em 476, nunca afastou a


ideia de um dia se puder recuperar, restaurar o grande império romano do ocidente
Ficou a nostalgia daquele grande Império grande, a ideia de recuperação nunca se
apagou. Essa ideia foi vísivel a partir do ano 800, quando foi coroado como imperador,
do Império sacro germânico (novo nome diferente do Império Romano), no ano 800 foi
coroado o grande imperador Carlos Magno. Com novo Império, com novo imperador
era importante recuperar o direito Romano porque o direito Romano tinha sido o direito
desse Império, portanto, a recuperação do Império Romano com o nome de Império
sacro germânico implicava uma atenção, um interesse para o estudo do direito Romano.
2. Fatores culturais, existem épocas em que as pessoas se cansam, cansam-se de tudo,
cansam-se da cultura e passam a ser incultos. E houve um cansaço cultural, falta de
conhecimento, mas, houve um momento em que o homem despertou desse cansaço, o
homem ignorante, passou a ambicionar ser culto, passou a ter como sua meta ser culto
ter um desenvolvimento cultural, ter conhecimentos. E encontramos na corte de Carlos
Magno Cruz uma época chamada do renascimento carolíngio. Consiste em a corte do
imperador terem chegado filósofos, músicos, matemáticos, médico e também homens
interessados no conhecimento do direito. Nesse ambiente propício ao desenvolvimento
cultural, havia também sentido para estudar o direito, direito Romano, ou seja, a ciência
jurídica dos romanos.
3. Fator económico, as cidades tinham se desenvolvido, as transações económicas entre as
cidades tinham crescido, a população tinha crescido. Cresceu a população, cresceram,
as cidades, cresceram as trocas comerciais e verificou-se que os costumes que
disciplinavam as transações, as trocas, o comércio entre as várias cidades, o costume era
insuficiente e havia que arranjar um direito superior, capaz de dar uma resposta mais
completa às trocas comerciais, sobretudo entre as várias cidades. E esse direito era o
direito Romano. Por isso este é um fator económico que contribuiu para o estudo do
direito Romano, ou seja, para a recuperação da ciência do direito.
4. Fator religioso, A igreja era jovem, tinha o seu direito naturalmente jovem, direito
canónico era naturalmente imperfeito, ou seja, precisava de ser aperfeiçoado, como o
direito Romano é mais perfeito do que o direito canónico, então estudou-se o direito
Romano para transmitir a perfeição ao direito canónico, poer este facto a igreja
incentivou o estudo do direito Romano, exatamente, para que pudesse desenvolver,
aperfeiçoar o seu próprio direito canónico.
Conjugados estes fatores politicos, culturais, económicos e religiosos temos no séc XI o
advento, a chegada, o renascimento do estudo do direito Romano, ou seja, da ciência jurídica.

Isto se processou na Itália, nas cidades de Ravena e de pavia. Em ravena a cultura


romana do Oriente Justiniano era visivel, ali estava a forte cultura romana. Ravena. Século XI.
De onde passou para a cidade vizinha de Bolonha. Pois. Foi em Ravena. E em pavia. Que nós
encontramos o pré renascimento do direito romano que, entretanto, produziu alguns frutos,
produziu 3 compilações de direito Romano. E essas compilações só foram possíveis devido à
ciência jurídica recuperada, renascida. São as exceções de Pedro. Outra obra é braquilogo do
direito civil, onde sobretudo e é feita uma exposição da primeira parte do corpus iuris civilis,
chamadas instituições de Justiniano. E finalmente o decreto do papa Ivo de chartre, onde
também se encontra a ciência jurídica. Ou seja, no pré renascimento do direito Romano, em
pavia e Ravena, estão ligadas estas 3 produções científicas.

Tudo isto no séc XI. Passo mais à frente, deixamos de ter um pré renascimento, para
termos mais do que isso, para termos o renascimento autêntico, isso encontramos no séc XII.
Quando surgiram os referidos fatores cientificos, os politicos, culturais, economicos e
religiosos, o direito pode renascer e assim no sec XI surge o movimento que caraterizou o
renascimento do direito romano, no sec XII, na escola de Bolonha.

Escola dos Glosadores

A escola dos glosadores ( ou escola de bolonha ou escola irnerniana), no sec XII, em


Bolonha, esta foi bastante importantes, pois lançou alicerces da moderna ciência do direito. Foi
graças ao superior magistério de Irnério, chamado “lucerna iuris” que estudou o corpus iuris
civilis que estavam nas prateleiras dos conventos, catedrais, mosteiros, passou a estudar o
direito Romano do corpus iuris civilis. E com tamanho brilhantismo que imediatamente a fama
deste homem rasgou fronteiras. Atingiu toda a Europa. A tal ponto, que os reis responsáveis
pelos vários países europeus, tiveram a preocupação de mandar os seus estudantes a bolonha
para ouvirem as lições deste mestre e dos seus discípulos, os quatro doutores; doutor Búlgaro,
doutor Martinho, doutor Hugo e doutor Jacobo.

Juntamente com irnério, estes 5 doutores fizeram com que a escola de Bolonha saísse quase do
nada e se projetasse em termos de uma grande universidade, a primeira dos tempos modernos.

Bom, estes homens começaram por estudar o direito Romano do corpus iuris civilis, mas
tiveram o cuidado de lhe dar uma sistematização diferente. Esta obra do direito Romano,
mandada compilar pelo imperador Justiniano, que recebeu o nome de corpus iuris civilis em
português, corpo do direito civil era constituída por 4 partes. Em Roma, 4 partes, mas, agora
estes homens da escola de Bolonha criaram mais uma parte. E, portanto, era uma nova
sistematização. Passou a ter 5 partes: 1º- tem o nome de digesto velho, 2º- tem o nome de
digesto esforçado, 3º- tem o nome de digesto novo, 4º - tem o nome de código e 5º- tem o nome
de volume pequeno.

O que justifica que estes homens de bolonha, também chamados de glosadores(porque


fizeram glosas), tenham feito esta nova sistematização?

Há razões históricas e a razões didáticas.

Históricas porque estas partes não foram descobertas ao mesmo tempo ou, no mínimo,
não foram trabalhadas ao mesmo tempo, no mesmo tempo. Primeiro começou por ser
descoberto o digesto velho, depois surgiu o digesto novo. Mas faltava entre digesto velho e o
digesto novo uma parte intermédia. Essa parte tardou em ser descoberta, e criou uma certa
ansiedade de como é que se passa do velho para o novo, havendo ali uma parte intermédia que
não se conhece, então criou uma certa ansiedade e daí que o esforço foi tão grande na procura
dessa parte intermédia, que quando foi encontrada recebeu o nome de digesto forçado,
esforçado atendendo ao esforço que tinha sido feito para descobrir esta obra que finalmente
apareceu.

Depois há uma razão didática. É que estas partes tratam de matérias diferentes. Entenderam os
glosadores fazer uma nova sistematização, uma nova organização. E, portanto, agruparam de
acordo com os temas, fizeram uma sistematização de acordo com os temas. E daí estas 5 partes
que tratam de temas diversificados, cada uma com o seu tema específico.

E, portanto, há razões históricas e razões didáticas.

Que trabalho fizeram estes homens de Bolonha, chamados glosadores, fizeram diversos
trabalhos, a mais importante dos quais e deu-lhes até o nome dos glosadores, ou seja, fizeram
glosas. Glosas é um comentário maior ou menor, normalmente, é pequeno, pequeno comentário
sobre um texto Sobre o texto. Se esse comentário é pequeno e cabe entre 2 de linhas do texto é a
glosa interlinear, entrelinhas, mas, quando comentário é a maior, já não cabe dentro das 2
linhas, tem que ir para a margem, então chama-se glosa marginal, ou seja, os feitos à margem
são glosas marginais. Comentários feitos a um texto para tornar o seu conhecimento mais fácil.

Além das glosas que deu nome a estas escolas, escola dos glosadores Fizeram
coletâneas de princípios jurídicos, compilações de regras ou princípios do direito. São as
chamadas “regulae iuris”, regras do direito, exemplo de uma regra do direito, ninguém pode
transferir para outrem mais direito de que o direito que tem, ou seja, ninguém pode dar aquilo
que não tem. E fizeram compilações de várias regras extraíram as regras do texto e fizeram
compilações de regras conhecidas, por isso o nome “ regulae iuris”, regras do direito. Depois
fizeram compilações de casos práticos solucionadas com o auxilio do corpus iuris civilis
“casus”, o direito é um palco de divergências, convergências, pensamentos diferentes, de
debate e fizeram compilações destas divergências, chamavam questões “quaestiones”, em
relação à s coletâneas de opiniões diferentes fizeram também as chamadas “dissentiones”,
fizeram também análises dos vários aspetos da decomposição de um tema juridico “
distinctiones” e por fim fizeram resumos de matéria que estava no livro do corpus iuris civilis
“summae”.

Todo este trabalho revela a presença da ciência do direito. Só quem tem ciência é que
faz estas obras. E, portanto, estas obras são fruto de uma larga, de uma grande ciência do
direito, feita em Bolonha e que atraiu estudantes dos vários países europeus.

Estudaram e ensinaram direito. Com que finalidade? E a finalidade não é teórica,


fizeram tudo isto para resolver os problemas da vida, portanto, uma orientação prática , esta
finalidade prática, naturalmente que pressupõe um método, que método é que utilizaram os
jurisconsultos da escola de Bolonha, método exegético, quem diz método exegético, diz método
de interpretação literal, não foram além da letra da lei, não penetraram no seu conteúdo mais
íntimo, aquilo que nós chamamos a ratio, a razão a ratio das soluções. Limitaram-se a fazer
interpretações. Literais, não foram além porque eles admiravam se da elevadíssima perfeição
técnica dos textos, respeito quase sagrado pelos textos. Isto implica a interpretação literal, ou
seja, não alteravam os textos, mantinham tal como seu sentido literal, era um respeito quase
sagrado pela letra da lei, pelos textos, pelas fontes. Além disso, eles sofriam de uma ignorância
em filologia, ou seja, no domínio da ciência que estuda a as línguas, sobretudo o latim e em
história, deste modo estavam reféns do método da interpretação literal porque não iam além da
letra da lei. E quando necessidades sociais da sociedade reclamavam outras soluções, eles foram
incapazes de as encontrar porque não iam além da letra da lei. Isto levou a um esvaziamento da
escola, que levou ao seu fim.

Mas antes do fim, em pleno auge, o grande mérito que nós assinalamos esta escola,
desde logo foi aí que ressurgiu, que renasceu a ciência do direito romano, aquilo a que hoje
chamamos a dogmática, a nossa ciência jurídica, nasceu em Bolonha, nesta escola dos
glosadores, foi um contributo muito notável pois é a origem da nossa ciência jurídica.

Começou no séc XII e no séc XIII esta escola ainda estava a trabalhar, já estava
fragilizada. Porque o método literal não dava resposta a novos problemas, esta escola ressentia
se disso. Todas as escolas se esgotam. porque o pensamento dos homens também se esgota.
Mas. houve um homem, chamado Acúrsio, um glosador que, quando já não se criava, quando já
não se fazia glosas, este homem resolveu fazer uma compilação de glosas, uma grande
coletânea de glosas. E fez grande livro. Onde inseriu as glosas dos grandes glosadores, desde
irnério até ele, passando pelo grupo dos 4 doutores. Foi tão grande, compilou muita coisa, esta
compilação ficou conhecida como Magna Glosa ou Glosa de Acúrsio. É uma compilação de
glosas feitas pelos jurisconsultos da escola de Bolonha, da escola dos glosadores. Continha
96.940 glosas, naturalmente, todas elas escritas à mão, por isso se fala na paciência medieval, a
grande paciência foi a paciência na idade média.

Que importância teve esta magna Glosa? Destaco2 aspetos importantíssimos. Um deles
é que esta este livro, esta compilação de glosas rapidamente começou a ser estudada nas
universidades, nas faculdades de direito por essa Europa fora, cidades que depois foram
construídas, criadas depois de Bolonha. Portugal teve a nossa, a frança teve a deles, a Espanha a
mesma coisa e nessas várias universidades europeias passou a estudar se também a magna
glosa. Estudantes passaram a ter uma cadeira obrigatória, a glosa magna de Acúrsio. Portanto,
todos eles, estudantes europeus passaram a estudar direito utilizando esta compilação a magna
glosa de Acúrsio. E em Portugal teve ainda um outro especto importante, é que foi fonte do
direito subsidiário, O que é o direito subsidiário? Subsidiário contrapõe-se a direito principal ou
primário, o direito primário é o direito que se aplica em primeiro lugar. No caso de Portugal, o
direito português, mas, quando direito português era lacunoso, ou seja, não dava solução para os
problemas da vida, como é que se integrava uma lacuna, recorria-se a outros direitos entre os
quais a magna glosa de Acúrsio. E quando estas lacunas do direito português eram integradas
através da glosa de Acúrsio, as soluções da glosa de Acúrsio, essas soluções passavam a ser
direito português. Portanto, hoje temos soluções consagrados no direito português que vem da
glosa de Acúrsio, que se tornaram portuguesas com a integração de lacunas de direito português
através da glosa de Acúrsio, isto revela a importância desta grande compilação de 96.940
glosas.

Escola dos Comentadores

Mas, estamos no séc XIII, estamos a caminhar para o séc XIV e sente-se que a
sociedade progrediu, as trocas comerciais cresceram e tudo isto exigia um direito mais perfeito,
exigiam soluções diferentes, Soluções que só podiam ser obtidas dos textos do direito Romano.
Através de um novo método, não era o método literal, novo método chamado escolástico, que já
tinha sido aplicado com sucesso no estudo da medicina na universidade de Paris.

Com a introdução de um novo método, o método escolástico, acabou a escola dos


glosadores e começou uma nova escola, chamada escola dos comentadores. Ou escola bartolista
porque o jurisconsulto parigmático dessa escola, a referência máxima nessa escola, foi talvez o
maior jurisconsulto de sempre, era o chamado Bártolo. Mas, antes de falar de Bártolo, esta nova
escola que foi criada em França, em Orléans no Séc XIV, rapidamente se transferiu para a Itália,
para Perusa, mais uma nova escola italiana. Escola bartolista, escola também dita dos
comentadores porque faziam comentários.

Na génese desta escola, está primeiro o esgotamento da escola anterior, dos glosadores,
tinha-se esgotado porque o método exegético, o método de interpretação literal não permitia
retirar soluções que as novas exigências da vida reclamavam, método literal, exegético não os
permitia obter. E daí a nova escola com o novo método escolástico estava em condições de dar
resposta a essas novas necessidades da vida social do comércio jurídico.

Jurisconsultos, falamos das escolas glosadores de irnério dos 4 doutores. Quais são os
grandes jurisconsultos desta escola dos comentadores, à frente de todos, como verdadeiro chefe
de escola, o grande mestre da escola, Bartolo, Quem foi este notável professor universitário,
jurisconsulto Bartolo, um homem escreveu uma verdadeira obra científica, que podemos
encontrar nas nossas universidades, escreveu muito e sempre com grande profundidade, a tal
ponto, que se criou esta adágio “nemo bonus iurista, nisi bartolista”, ou seja, ninguém será um
bom jurista se não for bartolista ( se não conhecer o pensamento de bartolo). Se ninguém será
um bom jurista se não estudar bártolo, se não conhecer bártolo é porque bartolo foi de facto um
jurisconsulto genial, e foi, por isso não surpreende que nas várias universidades da Europa se
tenha criado uma Cátedra para conhecer o pensamento de bartolo, a cátedra bartolista. Então, os
alunos entravam nas universidades, desenvolviam os seus estudos na universidade, já sabiam,
havia uma unidade curricular, uma cadeira para aprender exclusivamente o pensamento de
Bártolo. Nunca ninguém gozou deste privilégio, por isso , há probabilidades, de que talvez
tenha sido o jurisconsulto maior da história do pensamento jurídico, ou seja, da ciência jurídico.

Outros grandes jurisconsultos formados por Bártolo, doutor Baldo, o doutor Cino de
Pistóia, o doutor Paulo de Castro. Foram homens extraordinários conviveram com Bartolo, que
aprenderam com Bartolo que se desenvolveram e que deram à escola dos comentadores. um
prestígio grande a ponto de não haver país da Europa que não enviasse os seus alunos para
Perusa, para a escola de Bártolo, para conviver e aprender com estes grandes jurisconsultos. E
depois de formados em direito, regressavam aos seus países.

Finalidade: Estudaram o direito com que finalidade, a mesma dos glosadores, a


finalidade prática, tinham interesse em resolver os problemas da vida prática, finalidade prática,
simplesmente, Desprenderam se do estudo do corpus juris civilis, enquanto os glosadores
estudaram o corpus juris civilis nas suas 5 partes, agora, foi colocado de parte o corpus juris
civilis e estudasse a glosa de Acúrcio e também os comentários feitos sucessivamente, sobre os
textos jurídicos. Portanto, houve um desprendimento do corpus juris civilis e de toda aquela
ideia de que era uma obra quase sagrada. Há agora uma liberdade e essa liberdade fez com que
eles se deslocassem do corpus juris civilis para o estudo da glosa de Acúrcio de comentários
posteriores à glosa de Acúrcio.
Com o novo método, método escolástico, escolástico vem de escola, é um ensino feito
em escola, este método passava por 4 fases:

1º) Em latim chamada lectio ou lição, consistia em leitura de um texto que o professor
fazia no início da aula, o professor levava consigo texto e iniciava a aula com a leitura desse
texto, dai vem o nome de lente que era conhecido professor universitário. Exemplo: compra e
venda, o professor escolhia no direito Romano, texto sobre a compra e venda na glosa de
Acúrsio e lia esse texto aos seus alunos, começando assim a sua aula magistral. Por isso este
momento que é o primeiro, chama-se a leitura a lectio. Depois de feita a leitura vem a 2ª fase.

2º) Quaestio ou questão, o professor apresentava o problema que aquele texto acabado
ler se propunha resolver. O problema para o qual importa dar solução. Individualizava, retirava
o problema. É o 2º momento. Mas, a solução dada a um texto traduz s opinião do seu autor e o
que há mais são opiniões encontradas e desencontradas, o normal na ciência jurídica são
pensamentos diferentes de jurisconsultos, de juristas, normal é encontrar divergências. E por
isso surge o 3º momento ou fase

3º) Disputatio ou disputa, o professor, no terceiro momento, exponha aos seus alunos as
opiniões dos diferentes professores sobre aquele texto e sobre a solução a dar ao problema,
soluções desencontradas e referia os argumentos de cada um daqueles professores que fortalecia
a sua solução.

4º) Solution ou solução, depois de ter dado as s opiniões dos diferentes autores, o
professor terminava dando a sua própria solução, transmitindo a sua própria opinião.

Só que tudo isto se fazia com 2 coisas que não existem hoje, com o estudo da dialética e
da retórica. Como professor era um mestre em dialética em retórica, um jurista era mestre em
dialética e retórica, formados em dialética e retórica. A dialética é a arte de bem falar. A retórica
é a arte de persuadir, de convencer.

Que méritos encontramos nesta escola dos comentadores? Naturalmente, a escola tem
sempre os méritos, tem sempre aquilo que a distingue. Méritos:

1º) Contribuíram decisivamente para o desenvolvimento da ciência jurídica que tinha


nascido em Bolonha, esta ciência consolidasse, fortalecesse nesta escola dos comentadores. E,
portanto, é um mérito terem contribuído decisivamente para a consolidação, para o
desenvolvimento da ciência jurídica renascida em Bolonha.

2º) As opiniões do grande jurisconsulto Bártolo. os comentários feitos por Bártolo,


foram também aplicados como direito subsidiário na integração de lacunas do direito português,
ou seja, os nossos tribunais perante uma lacuna do direito português recorriam à glosa de
Acúrsio mas, também recorriam a Bártolo, para ver se Bártolo tinha pensado naquele problema
e se tinha dado a solução, e se tinha pensado e tinha solução aplica-se a solução de Bártolo, isto
fortalece a ideia de que Bártolo foi um jurisconsulto genial e muitas das soluções que ele
produziu foram consagradas no direito português e, como tal, passaram a ser direito português.

3º) Criaram o verdadeiro direito comum europeu. Vivemos num espaço europeu
diferentes de outros espaços porque temos uma filosofia própria, que herdamos dos gregos,
temos um direito próprio que herdámos da ciência jurídica dos romanos e temos uma ideia
cristã, cristianismo. E estes 3 pilares sobre eles se ergue o edifício chamada união europeia.
Olhando para o direito comum, que é um direito que distingue os países europeus de outros
países não europeus, mas, direito este nós encontramos no Brasil, na América Latina, nos
países, expressão castelhana e portuguesa. Esse direito comum europeu foi construído
superiormente pela escola dos comentadores, e construíram, juntando, conciliando normas do
direito romano, normas do direito canónico e os direitos locais. Com estes 3 direitos, Romano
canónico e locais fizeram um edifício a que chamam direito como hoje direito comum europeu,
que unifica juridicamente a europa.

4º) Criaram novas disciplinas, novas unidades curriculares. exemplo: criaram a cadeira
chamada direito Internacional privado, que hoje estuda-se em todas as universidades, direito que
regulamenta as relações entre Indivíduos de estados diferentes, esta unidade curricular foi
introduzida no estudo das universidades a partir da escola dos comentadores, e ficou, os alunos
que frequentam esta cadeira são confrontados com muitas das opiniões de Bártolo. Criaram uma
cadeira de direito comercial, até aí não havia, havia só direito civil, mas, o direito civil era um
direito muito formalista, muito lento e as transações do comércio implicavam menos
formalismo, mais rapidez porque quanto mais bens, mercadorias venderem mais emprego há,
maior dinâmica comercial, maior é a riqueza de um país, maior é o emprego, é necessário que as
transações comerciais sejam menos formalistas, que não sejam necessárias escrituras públicas
na venda de um frigorífico...; direito marítimo, esta cadeira direito marítimo é hoje pouco
estudada, há universidades que não tem, parece um contrassenso que sendo Portugal um país de
marinheiros hoje pouca atenção se dedique ao direito marítimo.

5º) Desenvolvimento do direito, específico cuidado para a chamada arte da invenção em


latim ars Inveniendi, A arte da invenção, que é o desenvolvimento do direito, significa que nós
temos leis, e as leis dão várias soluções e a partir destas soluções retiram-se outras, ou seja,
agora temos mais. É a criação de novas soluções a partir de outras e este processo, esta técnica
de desenvolver o direito, de aumentar o número de soluções é exatamente a arte da intervenção.
Esta técnica de desenvolver o direito, de aumentar ao número de soluções a partir de outras
passa por várias fases ou momentos:

1. 1º- A fase das leis,leges. Consiste na interpretação gramatical dos textos do corpus iuris
civilis, do corpo do direito civil Romano e do corpo do direito canónico, portanto,
textos de direito romano e direito canónico. Interpretação gramatical, mas, com uma
gramática que fornece o maior número de soluções, uma gramática dinâmica,
especulativa, que permite extrair do texto várias soluções, através do dinamismo que
essa gramática proporciona, não é uma gramática estática é aberta a novas
interpretações.
2. 2º fase das razões, rationes. Consiste em retirar argumentos para defesa, suporte das
soluções obtidas na primeira fase. A interpretação retira soluções e agora à que defendê-
las com argumentos, é a segunda fase desta técnica. Os argumentos são concedidos pela
tópica, podem ser contra a lei e podem ir além da lei, mas, todos eles dominados por
uma certa lógica probabilística, ou seja, não há certeza, há probabilidades. Não há
certeza nas novas soluções, não há certeza na argumentação, são probabilidades. Há
aqui o recurso á dialética e á retórica, estamos no domínio do provável, as novas
soluções são probabilidades, não há certezas. E como há probabilidade e não certezas
vem um terceiro momento. Em caso de empate temos o critério da autoridade –
critério quantitativo e qualitativo.
3. 3º fase da autoridade, Auctoritates. Autoridade é um saber jurídico, socialmente
reconhecido, ou seja, saber jurídico que a sociedade reconhece, isto é importante para
reforçar a opinião do jurisconsulto, da segunda fase, as razões. Razões há vários
jurisconsultos que defendem cada um a sua posição, interessa saber que a autoridade
é que o jurisconsulto goza no meio social, interessa conhecê-la.

Com tudo isto retiramos novas soluções, desenvolveu-se o direito, praticou se a arte
da invenção.

Consequências da escola, da atividade de escola dos comentadores, sobretudo através


desta arte da invenção, desenvolveu-se o direito, criaram-se novas soluções, estendeu-se o
direito através de um instrumento fundamental, que é a analogia. E desta arte de invenção
retiramos algo muito importante, é que desapareceu a interpretação e a integração,
desapareceram com autonomia, absorvidas pelo dinamismo, pela realização do direito, ou
seja, estes homens não falavam como hoje falamos em interpretação e integração como coisas
diferentes, englobaram nas num todo na figura da extensão do direito ou do desenvolvimento
do direito, no qual utilizavam a analogia como instrumento fundamental.

Esta escola, naturalmente, entrou em decadência, as escolas esgotam-se, os homens


esgotam-se e as escolas são aquilo que são os homens. E no séc XV, esta escola esta esgotado,
esgotou-se porque tornou-se cansativa a repetição de argumentos e de autores e isto tornou-
se enfadonho, cansativo. Abusou-se de argumentos, abusou-se do número de autores e
abusou-se sobretudo do princípio da autoridade, chegou-se a um ponto em que o
jurisconsulto mais notável, com mais autoridade, disse isto então, não se discute, aplica-se.
Esta aceitação sem crítica da autoridade levou a uma nova evolução, a uma verdadeira
revolução, colocada por quem defende uma interpretação mais livre, liberta do método da
autoridade, não achavam justo sacrificar a sua opinião pela opinião de um certo autor sem a
discutir, sem a criticar, todas as opiniões estão sujeitas a criticas, não podem ser admitidas de
uma forma acrítica e o método de autoridade não permitia esta critica, aceitava-se cegamente
aquilo que o autor tinha “criado”, e isto foi colocado em causa, e sendo isto colocado em
causa, a escola bartolista, a escola dos comentadores termina em decadência no sec XV.

 Tema 5 – Renovação do direito canónico

No sec XI caiu a escola dos comentadores, mas, também se estudou direito


canónico, ao lado do direito romano, estas duas escolas, dos glosadores e dos
comentadores, também estudaram o direito canónico, ao lado do direito romano, o
direito canónico viria depois a ser estudado na universidade portuguesa durantes muitos
séculos, portanto, não é só o estudo do direito romano que interessa, interessa também
ter uma ideia do estudo do direito canónico.
O direito canónico nunca se esqueceu, por isso é que não falamos em
renascimento, mas sim em renovação do direito canónico porque de certa forma ele
sempre foi estudado.

O direito canónico, é um direito que disciplina matérias da competência da igreja


católica, portanto, as matérias específicas da igreja católica são disciplinadas, são
solucionadas aplicando o direito da igreja, o direito canónico. E esse direito canónico,
definido como aquele que disciplina as matérias da competência da igreja católica,
passou, naturalmente, a sua evolução por vários momentos, ou seja, este direito
canónico também tem a sua história:

1º momento/época- Até ao séc IV, nós não dizemos desde até, porque desde não
temos uma data certa, mas, temos uma data certa que é o séc IV. Quais são as Fontes do
direito canónico? Há 2 tipos de fontes nesta época do direito canónico, época que
começa com o cristianismo e que termina no sec IV.

 Fonte do direito divino, São desde logo a sagrada escritura, que


compreende o antigo e o novo testamento e a chamada tradição, que é o
ensino de Jesus Cristo, as pregações de Cristo, aquilo que Jesus Cristo
ensinou
 Fontes do direito humano, constituída pelo costume, são as práticas dos
primeiros cristãos, as atuações, a atividade, aquilo que fizeram os
primeiros cristãos, considerado costume, fontes do direito humano.

2ºmomento/época- Vai do séc V ao séc XI, . Quando as Fontes

 Fontes do direito divino, mantem-se. Ou seja, a sagrada escritura e a


tradição.
 Fontes do direito humano, aumentam significativamente, sobretudo,
com os decretos e as decretais dos papas, dos pontífices, com os cânones
dos concílios e com diplomas de bispos e superiores das ordens
religiosas.

Tudo isto provocou um aumento significativo nas fontes do


direito canónico, a tal ponto, que se fizeram já compilações de direito
canónico, são as primeiras que encontramos do direito canónico, 3
importantes: uma conhecida pelos capítulos de Martinho, em latim
capitula martini, é uma compilação de direito canónico que se atribui a S.
Martinho de Dume (arcebispo de Braga), foi um homem que cristianizou
os suevos que se fixaram braga; a Coleção de Espanha, Collectio
Hispana, Esta nova compilação, coleção de Espanha tem sido atribuída a Santo
Isidoro de Sevilha, cristianizou os visigodos, sem certezas da autoria; Decreto 1,
Decreto de Ivo, feito por um vispo francês de Chartres. Todas estas três
compilações dizem-nos que estamos perante um momento já de grande
dinamização do direito canónico, em que cresceu o número de soluções
de normas canónicas e é isso exatamente, o seu abundante número
justifica a feitura destas compilações, verdadeiros códigos de direitos
canónico.

3º momento- sec XII, é caraterizado pela renovação do direito canónico, a


renovação no fundo é a afirmação da consolidação da ciência jurídica canónica,
que passa por um momento compilatório de normas extraordinário. No séc XII
também se deu o renascimento do direito romano, e agora na mesma cidade, na
mesma escola, em Bolonha. falamos não do renascimento do direito canónico,
mas a renovação do direito canónico porque o direito romano tinha sido
esquecido e por isso renasceu, renasce a ciência esquecida, mas, o direito
canónico nunca tinha sido esquecido manteve-se só que agora passa a ser
estudado com maior intensidade, que se reflete em novas compilações de direito
canónico particularmente importantes, a ciência jurídica progrediu imenso e
disso resulta a feitura de grandes compilações, época de grandes compilações de
direito canónico. Essas obras foram:

 1º O decreto de Graciano, sec XII, obra feita por João Graciano, monge de Bolonha,
foi ensinada sucessivamente nas várias universidades da Europa, incluindo a
universidade portuguesa, já por isso se vê o seu alcance. Esta grande obra, esta
grande compilação, tem uma particularidade muito importante para o direito
português, é que contêm uma norma que viria a ser acolhida nas cortes de 1211, que
é uma norma que, em caso de conflito entre o direito português e um direito
canónico, determina que a superioridade deve ser dada ao direito canónico por ser
um direito, digamos, da igreja e Portugal ser um país cristão.
 2º Decretais de Gregório IX, Sec XIII, 1234, É conhecida por decretais de Gregório
IX não que tenha sido o papa quem a fez, mas, que a mandou elaborar. Esta obra foi
feita por um teólogo espanhol, depois vem a ser canonizado e é conhecido como são
Raimundo de Penaforte. Portanto, Este homem compilador, grande jurista canónico
da nossa península foi o autor material desta obra. Uma particularidade importante é
a sua sistematização, esta obra compreende 5 livros e cada livro está dividido em
títulos e cada título em parágrafos, esta é a sistematização que nós encontramos nas
nossas ordenações, nas ordenações afonsinas, depois nas manuelinas e depois nas
Filipinas, esta obra influenciou profundamente todas as nossas futuras ordenações.
Mas, esta obra, que tinha 5 livros, foi considerada insuficiente. E daí que ainda no
séc XIII, em 1298. o papa Bonifácio VIII tenha mandado fazer mais um livro para
juntar aos 5, é conhecido pelo nome de o sexto de Bonifácio VIII.
 3º Sexto de Bonifácio VIII., séc XIII, em 1298. o papa Bonifácio VIII tenha
mandado fazer mais um livro para juntar aos 5 que eram insuficientes.
 4º Clementinas, séc. XIV, clementinas por ter sido mandada elaborar pelo papa
Clemente V. O movimento não acabou porque a produção legislativa mantém-se e
depois das clementinas, ainda assistimos a mais duas compilações.
 5º- As extravagantes de João XXII
 6º As extravagantes comuns,

Em 1500, um grande teólogo francês, chamado Chappuis, pegou em todas estas


compilações e com elas fez uma única compilação, portanto estas compilações fizeram parte de
uma obra unitária, uma única compilação a que foi chamado corpus iuris canonici, corpo do
direito canónico e chamou corpus iuris canonici exatamente para extinguir do corpus iuris
civilis do direito romano.

Doravante, passamos a ter o corpus iuris civilis que já tínhamos do direito romano e
agora o corpus iuris canonici, o corpo do direito canónico. É claro que a atividade legislativa
não terminou em 1500 continuou, naturalmente, e em 1917, o papa Bento XV mandou fazer
uma coletânea denominada de código ou codex iuris canonici (deixou de ser corpus), o código
do direito canónico.

Finalmente, em 1983, o papa João Paulo II promulgou aquele que é hoje o código de
direito canónico.

Este direito canónico foi estudado nas universidades, desde logo nas universidades
portuguesas, quem ensinava o direito canónico nas universidades era um professor
especializado no decreto, no ensino do decreto de Graciano, chamado decretista. O professor
que ensinava as decretais de Gregório IX chamava-se decretalista. Portanto, temos os decretistas
e os decretalistas, como hoje temos o penalista que ensina o direito penal, o comercialista que
ensina o direito comercial...
Olhando para Portugal, este direito canónico penetrou em Portugal, foi aplicado em
Portugal em que tribunais? Os tribunais do Estado, tribunais civis e os tribunais da igreja,
chamados tribunais eclesiásticos, pois, os tribunais da igreja aplicavam o direito canónico
quando:

 Em razão da matéria, havia matérias que obrigatoriamente só deviam ser julgados pelos
tribunais da igreja, eclesiásticos, exemplos: matrimónio, bens da igreja...
 Em razão das pessoas, havia pessoas que só podiam ser julgadas nos tribunais
eclesiásticos, os clérigos, os estudantes e os professores das universidades.

Fora dessas matérias, fora dessas pessoas, o direito canónico aplicou-se também nos
tribunais do Estado, nos tribunais civis, 2 situações importantes:

 Desde 1211, havendo conflituidades entre o direito canónico e o direito do Estado


(direito civil) aplicava-se o direito canónico, portanto, os nossos tribunais perante uma
questão em que existia uma controvérsia entre o direito canónico e o direito português
davam prioridade ao direito canónico.
 O direito canónico foi aplicado nos tribunais do estado para integrar as lacunas do
direito português, ou seja, como direito subsidiário, o direito subsidiário é o direito que
vem depois do direito principal, é o direito que se aplica quando não existe o direito
principal, o direito principal é o direito português. Um dos direitos subsidiários, que
foram vários, e ocupando um lugar destacadíssimo encontramos o direito canónico, o
que significa que muitas das nossas lacunas, lacunas do direito português foram
integradas pelos tribunais do estado através da aplicação do direito canónico.

Existe alguns canonistas na nossa Península?

Houve, destacando 2:

 Na Espanha, S. Raimundo de Penaforte, o autor das decretais de Gregório IX.


 Em Portugal, João de Deus, foi um destacado professor de direito canónico na
universidade de Bolonha.

Destaca-se ainda no direito canónico, o ensino na universidade portuguesa ao lado do


direito romano, existia aliás uma universidade especifica para o direito canónico, era a
faculdade de cânones, onde se ensinava o direito canónico, ao lado da faculdade de leis, onde se
ensinava o direito romano, portanto, duas faculdades, a de leis para o direito romano e a de
cânones para o direito canónico, lado a lado na nossa universidade.

Tema 6- Receção, em Portugal, do direito romano renascido na


Itália
Após muitos anos de esquecimento, a ciência jurídica renasceu em bolonha séc
XII na escola dos glosadores, depois passou para a escola dos comentadores, bartolista,
ou seja, na Itália. Essa ciência, que renasce no sec XII em Itália, chegou a Portugal mas,
existe dúvidas em que século, para alguns ainda chegoua a Portugal no sec XII, para
outros foi no sec XIII. Recuando a Bolonha, sec XII, renasce em Bolonha, ninguém
conhecia, ninguém estudava a ciência juridica, ninguém estudava direito, e os motivos
de carater politico, económicos, religiosos e culturais, com eles veio a renascer em
Bolonha, a ciência juridica, ou seja, o estudo do direito romano.

Significa que em Portugal, como na Espanha, como na França, na Europa exluindo a


Itália, não havia universidades, não se estudava direito, não se fazia ciência juridica, e
rapidamente, a Itália impôs com o estudo, com o renascimento do direito romano, em
Bolonha, e rapidamente essa pequena escola, esse pequeno convento, rapidamente, se
tornou numa grande universidade, porque a fama dos seus grandes doutores, desde logo
Irnérnio, depois Bártolo, passando pelos 4 doutores, a fama se impôs por toda a Europa,
por isso, os reis, a igreja dos vários países Europeus sentiram a mesma preocupação,
apoiaram e mandaram os seus estudantes para a Itália, para Bolonha estudar direito
romano., estudar direito canónico, estudar a ciência jurídica.

No caso especifico de Portugal, não havia cá em Portugal a ciência jurídica, por isso
mesmo, os reis, a igreja patrocinaram, apoiaram a ida dos estudantes portugueses para
Bolonha, para aí estudarem direito, fazerem ciência jurídica, para aí se formarem e para
depois regressando a Portugal trouxessem com eles a ciência juridica, a sua formação
juridica para que o direito português progredisse, para que o direito português deixasse
de ser um direito empirico, um direito cheio de imperfeições, para passar a ser um
direito mais perfeito, um direito de base científica, é este o desejo dos nossos reis, da
nossa igreja de mandar estudantes para a Itália para conhecerem o direito, para fazerem
ciência juridica, para se formarem e para que depois regressem a Portugal e pudessem
contribuir poderosamente para o progresso do direito português

O que se sentiu em Portugal, sentiu-se pela Europa for a, vários estudantes de vários
paises se reuniram em Bolonha, ficando conhecidos dois grupos:

 Grupo dos ultramontanos


O século XII foi caraterizado em Bolonha enquanto, o século XIII e XIV foi
caraterizado em Perusa. Ora, os comentadores são de Itália e os portugueses foram até
eles para aprenderem, mas quem trouxe para Portugal a ciência jurídica? Os estudantes
Portugueses que trouxeram os conhecimentos do Direito Romano. Outro fator foram os
livros: Glosa; CIC – os estudantes estudaram e guardaram estes livros, trazendo-os para
cá. E ainda, as obras Espanholas – Afonso X, “El sábio” mandou fazer compilações
coletâneas com influência no Direito Romano. Estas obras, são de Direito Romano e
foram traduzidas para a língua Portuguesa, encontrando-se nas nossas bibliotecas.
Afonso X era o avô do Rei D. Dinis de Portugal.

Em que século deu-se a entrada da ciência jurídica? No século XII com D. Afonso I
(figura jurídica). Mas se olharmos para um conjunto de fatores, a ciência jurídica
chegou até nós no século XIII porque se revela um alargamento no pensamento jurídico.

Qual o principal local da Ciência Jurídica? A Universidade Portuguesa que surge de um


movimento que criou várias universidades pela Europa fora devido a três fatores:

1. Fatores Culturais: cada país europeu sentiu a necessidade de criar uma


universidade com o fim de desenvolver a sua própria cultura.
2.   Fatores Corporativos: sentiram a necessidade de criar várias corporações.
3.   Fatores Demográficos: a população de cada Estado aumentou.
Todos estes fatores levaram a uma imitação de Bolonha e alem disso, era difícil ir até
Itália pois, era um risco já que as auto- estradas eram muito pobres e havia muitas
selvas. Assim, as universidades criaram-se de formas diferentes, ou seja, há vários
processos formativos nomeadamente:
1. Universidade Consuetudinária: universidade que nasceu do nada, criada na
via do costume. Foi aumentando o número de alunos e número de professores.
Exemplo: Universidade de Bolonha.
2. Universidade de Sucessão: a partir de uma universidade formam-se duas. Há,
portanto, uma fragmentação da universidade muitas vezes devido a conflitos
entre alunos que se deslocam para outro local. Exemplo: Universidade de
Cambridge surgiu da Universidade de Oxford.
3. Universidade de Privilégio: universidade que nasce devido a um decreto-lei
que é autorizado pelo Papa. Exemplo: Universidade Portuguesa.

Universidade Portuguesa:
Foi criada por um decreto-lei do Rei Dinis e aprovado pelo Papa Nicolau IV. A
universidade foi fundada entre 12/11/1288 e 1/3/1290.
Em 1288, foi assinado um documento da reunião do alto clero em que este afirma ser
necessário uma universidade Portuguesa para não terem de se deslocar até Itália. Assim,
só faltava deslocarem-se até Roma e pedirem a autorização ao Papa.
Em 1290, foi assinada uma carta por D. Dinis que afirma que já criou a universidade e
concede privilégios aos alunos e aos professores.
A data reconhecida como sendo a inauguração da Universidade de Coimbra é 1/3/1290.
Numa universidade aprovada pelo Papa dá-se o direito ao aluno de exercer uma função
em qualquer universidade Europeia.
Quais as faculdades criadas aquando a faculdade Portuguesa?
1. Faculdade das Artes (ensinava retórica e dialética);
2. Faculdade dos Canones (ensinava direito consuetudinário);
3. Faculdade da Lei (ensinava Direito Romano);
4. Faculdade de Medicina (ensinava Medicina).
Os Estudantes não deixaram de ir para Itália porque uma universidade demora muito
tempo a construir-se e demora ainda mais a ter poder/ prestígio. A licenciatura italiana
era muito melhor que a Portuguesa. Ainda assim hoje não se diferencia, mas há medida
que a Universidade Portuguesa consolidou o seu prestígio, os estudantes vinham para
cá.

 Tema 7 – Receção em Portugal do direito canónico renascido


O direito canónico nunca se esqueceu, por isso é que não falamos em renascimento mas
sim em renovação do direito canónico porque de certa forma ele sempre foi estudado.

Noção de direito canónico:

Entende-se por direito canónico o conjunto de normas jurídicas que disciplinam as


matérias da competência da Igreja Católica, ou seja, o direito canónico é o direito que
regula dois tipos de relações: a relação hierárquica no seio da igreja, e a relação entre os
fiéis e a igreja.

Fontes do direito canónico:

A grande fonte do direito canónico é o próprio Jesus Cristo, no entanto, atendendo á


origem das normas temos:

 As fontes de direito divino: são constituídas pela Sagrada escritura (antigo e


novo testamento) e pela tradição. Neste caso, a igreja apenas propõe ou
interpreta declarativamente. A tradição encerra os ensinamentos e preceitos de
jesus cristo não consignados por escrito, mas só transmitidos oralmente, ou seja,
conhecemo-los através das obras dos santos padres, isto é, dos autores
eclesiásticos dos primeiros tempos da igreja.
 As fontes de direito humano: constituída pelos costumes dos primeiros
cristãos, desde o séc. IV que se dá um aumento das normas jurídico canónicas
derivadas de fontes de direito humano, como os decretos ou decretais dos
pontífices romanos; as leis dos concílios ecuménicos; os diplomas emanados de
autoridades eclesiásticas infra ordenadas; concórdias ou concordatas (acordos
entre a santa sé e os vários estados); a doutrina e a jurisprudência; as normas
jurídicas civis canonizadas, isto é, que a igreja fazia suas e mandava observar
mesmo em matérias eclesiásticas, e aplicar nos tribunais.

Momentos do direito canónico:

1º Momento – séc. I ao séc. IV: Aparece com a vida de Cristo e até ao Séc. IV tem
duas fontes que referi anteriormente, as de Direito Divino (textos sagrados como a
sagrada escritura, a Bíblia, o Velho e Novo Testamento, a tradição – ensinamentos de
Jesus Cristo) e as fontes de direito humano – o Costume.

2º Momento- séc. V ao séc. XI: Mantem-se as fontes de Direito Divino e aumentam as


de Direito Humano através dos decretos dos Papas, Concórdias, Concordatas, cânones,
consílios, aumentando de tal forma que surgem três compilações:

 A capitula Martini (capítulos de Martinho) criada por S. Martinho de Dume


(arcebispo de braga)
 A Collectio Hispana (coleção de Espanha), também conhecida por Collectio
Isidoriana, porque era erradamente atribuída a S.Isidoro de Sevilha.
 O Decretum de Ivo de Chartres (bispo)
As fontes do direito humano aumentaram tanto que se tornou necessário as
compilações.

3º Momento – Séc. XII até hoje: É aqui que se dá a renovação do Direito Canónico
que se traduz na elaboração de grandes coletâneas / compilações das quais a primeira:

 A Decretum de Graciano (Monge de Bolonha) que passou a ser usado nas


faculdades de Direito Canónico, onde se faz uma síntese e compilação dos
princípios e normas vigentes.
 As decretais de Gregório IX, também conhecidas apenas por decretais, esta
compilação divide-se em cinco livros. Tem interesse para os povos da Península
Ibérica e para nos Portugueses. Para os povos Ibéricos o interesse consiste no
facto de que esta obra foi encomendada a um canonista da Península –
Raimundo de Penaforte. Para os Portugueses o interesse prende-se com a
divisão das ordens afonsinas, que se basearam no modelo das Decretais de
Raimundo de Penaforte (5 livros).
 O livro sexto ou Sexto de Bonifácio VII, representa um corpo autónomo que
utilizava a sistematização gregoriana, em cinco livros.
 As clementinas
 As extravagantes comuns, indica que são textos que se encontram fora das
coletâneas autenticas.

Em 1500, o teólogo Chappuis juntou todas as obras numa só obra a que chamou o
Corpus Iuris Canonici (Corpo do Direito Canónico) para distinguir do CIC do Direito
Romano.

Penetração em Portugal

A renovação legislativa e doutrinal do direito canónico não tardaria a difundir-se pela


Europa. Desta forma, em 1917 o Papa Bento XV mandou fazer nova compilação a que
chamou Código do Direito Canónico. Em 1983 o Papa João Paulo II promulgou o atual
Código do Direito Canónico.

Os professores que estudavam os Decretum eram os decretistas.

O Direito Canónico foi aplicado em 2 Tribunais Portugueses: os da igreja (eclesiásticos)


e nos Tribunais do Estado (Civis). Os Tribunais da igreja aplicavam o Direito Canónico
em razão da matéria e das pessoas). Os Tribunais Civis aplicavam o Direito Canónico
como Direito principal e subsidiário: Principal quando conflituava com o Direito
Português – aplicação principal e Subsidiário nas lacunas do Direito português – direito
subsidiário.

O direito canónico foi ensinado na Universidade Portuguesa desde 1290 ate 1836. Em
1836, o governo de Passos Manuel fundiu as duas faculdades e o Direito Canónico
começou a definhar.
Desta forma, e para concluir, João de Deus foi o canonista português mais importante, e
por isso devemos tê-lo sempre presente nas nossas memórias.

 Tema 8- Direito Português entre 1248 e 12446\7

Caracterização. A influência Romano- Canónica:


Este período corresponde à 2a época do Direito Comum. Começa em 1248 porque nesta
altura Portugal já tem ciência jurídica Romano- Canónica. Tem também um Direito
mais perfeito tendo uma diferença abissal com o anterior.
As diferenças aparecem desde logo no conceito de Lei e na dinamização da Lei como
fonte de direito, que até aqui eram escassas, tornando-se agora abundantes e com
influência das ciências.

Fontes:
 Lei: é um instrumento poderoso, através do qual o Rei afirma a sua
superioridade. Isto terá um papel importante na moralização do Direito
nomeadamente revogando os costumes injustos como por exemplo os abusos da
nobreza sobre o povo. Esta lei tem uma base científica, coisa que não acontecia
anteriormente. Em Roma, a Lei era a vontade do Imperador. Agora, é a vontade
do Rei. A lei tinha que ser publicada, todos tinham que a conhecer, para isso
faziam várias cópias manuscritas e colocavam no Adro da Igreja, liam em voz
alta no fim da missa e voltavam a repetir no domingo seguinte. A lei não tinha
vacatio legis, era de aplicação imediata.
 Resoluções Régias: têm um valor inferior à Lei e resultam de pedidos ao Rei.
Traduziam-se, de facto, nas respostas do soberano aos agravamentos feitos pelos
representantes das três classes sociais.
 Decadência do costume como fonte de direito: anteriormente era tudo aquilo
que não fosse lei, hoje como tem uma ciência jurídica é a prática constante e
reiterada, observada ao longo dos anos (elemento material), praticada na
convicção de obediência à Lei (elemento espiritual).
 Forais e foros ou costumes: os foros ou costumes são compilações medievais
concedidas aos municípios ou simplesmente, organizadas por iniciativa destes.
Abrangem normas de direito político e administrativo, normas de direito
privado, como as relativas a contratos de direitos reais, direito de família,
sucessão, entre outros. Tem uma amplitude e alcance muito mais vastos do que
os forais.
 Concórdias e Concordatas: mantêm-se nesta época como fonte do direito.
 Direito Subsidiário: quando as fontes jurídicas portuguesas não forneciam
solução para as hipóteses concretas, recorria-se ao Direito Romano, Canónico e
Castelhano.

Coletâneas privadas:
Careciam, nesta época, de aprovação por qualquer Rei. Não tendo, portanto,
vigorando oficialmente. Porém, segundo o Professor Almeida Costa, estes foram
trabalhos preparatórios para as Ordenações Afonsinas. Apenas duas chegaram aqui:
 Livro das Leis e Posturas: elaboradas nos finais do século XIV e inícios do
século XV. Nele encontrámos preceitos de D. Afonso II, D. Afonso III, D. Dinis
e D. Afonso IV e uma lei, posteriormente acrescentada, do Infante D. Pedro
(futuro D. Pedro I). Esta obra teve o objetivo de coligir e não coordenar a
legislação. Careceu de um plano sistemático e nela contiveram várias repetições
de textos.
 Ordenações de D. Duarte: assim designadas por terem sido encontradas na
biblioteca deste Rei, que limitou-se a acrescentar um índice e um discurso sobre
as virtudes do bom julgador. Reuniu as leis de D. Afonso II a D. Duarte,
possuindo uma organização: diplomas agrupados pelos reinados e, dentro de
cada um deles, agrupados em função das matérias.

Administração da justiça - Tribunais superiores:


O Território Português começa a ser invadido por Tribunais, nomeadamente:
 Tribunais dos Julgados: Tribunais em que o Juiz é nomeado pelo Rei (atuais
Tribunais de Comarcas).
 Tribunais dos Senhorios: Tribunais em que o Juiz é um funcionário do senhor
ou o próprio senhor.
 Tribunais dos Consílios: Tribunais dentro dos territórios pertencentes ao
conselho. Os juízes são nomeados pelas Assembleias Municipais. Já nesta época
se admitia recurso para Tribunais Superiores, pelo que tínhamos:
 Casa da Justiça da Corte: é um Tribunal ambulatório circulante, que
acompanha o Rei nas suas deslocações. No reinado de D. Afonso V passou a
designar-se “Casa da Suplicação” – Suplica= Recurso – e, a seguir à Revolução
Liberal no século XX, passa a chamar-se Supremo Tribunal de Justiça.
 Casa da Cível: espécie de Tribunal da 2ª Instância. Primeiro fixa-se em
Santarém e mais tarde em Lisboa. Assim, a Justiça ficou muito centralizada
nessa cidade, tornando-se difícil para as populações de outras cidades deslocar-
se até lá, pelo que, com as Ordenações Filipinas foi transferida para o Porto
passando a designar-se: Relação do Porto.

Breve referência à:
Lei das Sesmarias: consiste na divisão da terra em seis partes (conforme os dias da
semana exceto o Domingo). Cada Terra ficava a cargo do seu sesmara. Mais tarde, com
a redução das terras a repartir, passou a haver no conselho apenas um ou dois sesmaras
nomeados pelo Rei. A agricultura era a principal fonte de riqueza. Era importante que os
terrenos fossem produtivos. Porém, a peste negra que atingiu o país no século XIV
levou a uma volta inicial de mão-de-obra. Os salários das profissões artesanais, o
incentivo da fuga dos campos para as cidades levam a uma carência de mão-de-obra
rural e diminuição de produção agrícola. Neste contexto, D. Fernando, em 1375, criou a
lei das Sesmarias, mais tarde incluída nas Ordenações Afonsinas. Conteúdo:
 Proprietário das terras obrigado a lavrá-las e semeá-las e ainda possuírem o gado
necessário de trabalho;
 As autoridades podiam expropriar o proprietário que não cumprisse as diretivas
e entregar as terras a outros;
 Aqueles que não fossem proprietários e não pudessem mendigar tinham de
trabalhar as terras pelo salario fixado localmente;
 Só podiam mendigar aqueles certificados pelas autoridades locais (incapazes do
trabalho).
Lei Mental: quando um nobre ou clérigo ajudava o Rei Português, este recompensava-o
dando-lhe terras conquistadas. Assim, havia um clero e uma nobreza poderosos face a
um Rei empobrecido. A Lei Mental trata-se de uma resolução tomada pelo Rei João I,
mas nunca traduzida durante a sua vida em forma de lei. Definia que, as doações
efetuadas pelo Rei, podiam ser sujeitas a condicionalismos de nível sucessório.
Conteúdo:
 Princípio da indivisibilidade: o terreno ou património familiar devia ser
entregue apenas a um herdeiro e não repartido;
 Princípio do primogénito: o herdeiro = filho mais velho ou os seus descentes
como herdeiros legítimos.
 Princípio da masculinidade: os bens só devem ser transmitidos ao filho e não à
filha.

 Tema 9- Ordenações
Ordenação:

Ordenação significa por em ordem as fontes que estavam dispersas (costumes,


concordata, concórdias), colocando-as em coletâneas, para que o jurista não perca
tempo à procura da fonte sem saber onde ela está.
Para evitar a perda de tempo, criam os livros encontrando-se as Fontes no Direito de
Família. A partir de um certo tempo é desnecessário um código com as diferentes
fontes, sendo mais fácil se for um livro divido em cinco partes.

Ordenações Afonsinas:

Estamos no princípio da segunda dinastia: Dinastia de Avis. Interessava dar ordem às


fontes que andavam dispersas. Assim, D. João I, que casou com Dona Filipa de
Lencastre no Porto, mandou fazer as várias recolhas das fontes e ordená-las, pois a sua
dispersão era caótica. Então nomeou um jurisconsulto de alto nível: João Mendes para
esta tarefa, que começou o trabalho e fez o primeiro livro e entretanto, o Rei morreu e
sucedeu o seu filho D. Duarte que mandou prosseguir com a obra só que, Mendes
morreu e então nomeu Rui Fernandes para continuar com o livro. Assim escreveu o 2º,
3º, 4º e 5º livro. Com isto surgiram vários problemas nomeadamente: a obra foi
promulgada por D. Afonso V (neto de D. João I) e como foi ele que promoveu, este
livro ficou conhecido por Ordenações Afonsinas. Ora, o problema surge quando se
repara que, o primeiro livro tem um estilo e os restantes livros tem outro estilo.
Assim, o primeiro livro tem um estilo decretário e estilo legislativo. Os restantes
livros têm um estilo ordinatório e de transcrição literal.
Porque são constituídos por cinco livros?
Porque teve como modelo os decretórios do Papa Gregório IX que foram feitos por D.
Raimundo. Tem cinco livros e por isso foi seguido pelo compilador.
Porquê diferentes estilos?
O primeiro é um estilo moderno e o segundo é um estilo antigo. Estes livros foram
escritos por dois compiladores e cada um tem o seu estilo. Só que esta resposta leva a
um problema: o livro antigo é o mais moderno porque? Será que a ciência jurídica
regrediu? É preciso criar direito, criar uma norma jurídica. Se há uma fonte, transcreve-
se. Pelo que, no primeiro livro não havia fontes, no segundo livro as fontes já podiam
ser transcrevidas.
Esta obra foi concluída em 28/07/1446 na rua de Arruda e foi promulgada em
Dezembro de 1446 ou Janeiro de 1447. Assim, temos no:
 Livro 1: Direito Público do Estado.
 Livro 2: Privilégio da Coroa.
 Livro 3: Processo Civil.
 Livro 4: Código Civil.
 Livro 5: Código Penal.

Apreciação Crítica: Méritos e Deméritos das ordenações afonsinas:


1º Mérito: é a primeira compilação oficial aprovada para vigorar em Portugal. E é
importante ser a primeira já que não há amor como o primeiro.
2º Mérito: não se conhecia as leis lá compiladas, se não fosse esta obra não sabia-se da
sua existência.
1º Demérito: falta de unidade (choque entre os princípios do direito português e direito
romano).
2º Demérito: há leis atribuídas a um Rei mas que pertence a outro.
O Rei D. Manuel I reinou no período mais brilhante da História de Portugal. Quando ele
subiu ao poder encontra as ordenações com 60 anos, pelo que a maior parte já estavam
ultrapassadas: outras leis estão de fora (leis extravagante) que reconsideram as
diferenças de João I e portanto, há uma desordenação, um verdadeiro caus e para salvar
é preciso uma nova ordenação. Mas houve uma coisa que facilitou o trabalho, já que
surgiu a imprensa. Enquanto no tempo de D. João V era à mão e demorava muito
tempo, agora tinha-se a imprensa que foi um importante impulso para a ordenação desta
compilação.

Ordenações Manuelinas:

Em 1514, recebidos por Manuel I entregam os 5 livros da compilação. Manuel diz que
aquela obra não presta e é recusada. Pior que isso, o Rei exigiu a destruição da obra e
ainda afirma que, se esta obra fosse encontrada na biblioteca ou em casa de alguém era
multado. Assim, a obra foi destruída mas sobreviveu um exemplar de cada livro que
agora, se encontra na Torre do Tombo em Lisboa.
Em 1521, entregam uma nova ordenação e Manuel muito satisfeito, aceita, surgindo a
Ordenação Manuelina de 1521. Tinha estilo decretório e legislativo mostrando que a
ciência jurídica andou para a frente e não para trás.

Ordenações Manuelinas e Afonsinas:


Algo aparece e algo desaparece. Ora, as Afonsinas têm as leis de Mouro e Judeus e as
Manuelinas não. Porque desaparecem? Porque Manuel I fez um ultimato ou os Judeus e
os Mouros convertessem ao cristianismo ou eram expulsos do país. Tal não aconteceu e
portanto, desapareceu a norma. Com ela, desaparece também, o Direito de Avoenga
(retrato familiar). Aparece pela primeira vez a figura jurídica dos assentos: quando
aparece uma lei é preciso interpretá-la, só que apesar de ter regras (elemento histórico,
racional, sistemático), uma lei pode ter diversos sentidos de interpretação. Num
Tribunal, uma lei pode ser interpretada hoje de uma maneira e amanha de outra, ou seja,
está-se perante um caus jurista já que um advogado e um juiz não sabem a decisão do
Tribunal. Quando assim é, convoca-se o legislador para fixar uma interpretação. Está-se
perante uma interpretação autêntica. E assim, o problema esta resolvido, pois os
Tribunais têm que seguir esta interpretação pelo manual interpretativo.
Só que o Rei Manuel I, tinha muito mais que fazer (Descobrimentos), então ordenou aos
Tribunais que em vez de bater à porta do rei, batiam à do Tribunal Supremo. Este antes
de julgar, deve expor as suas dúvidas à casa do regedor que recebe uma carta e convoca
os seus “sócios” – desembargadores que, escolhem a interpretação preferida. Ela é
registrada na casa da suplicação. Registrar aquela interpretação é assentar e assim, dá
origem ao Assento da Casa de Suplicação.
Ainda hoje, assentar significa registrar. Como foi ideia de Manuel, verificou-se esta
norma nas Ordenações Manuelinas.

Consagração como Regime Supletivo a Comunhão Geral de Bens:


Aplica-se quando omitirem uma determinada situação. Há uma lacuna. Para regular
recorre-se a um negócio jurídico do Código Supletivo. O negócio jurídico tem o acordo
de vontades e o problema surgido é resolvido de acordo com a vontade das partes.
Assim, duas pessoas casam, realizam um contrato que se chama compra e venda
chamado de casamento. Antes do casamento devem fazer um acordo nupcial com o
regime jurídico que pretende dos bens. Existe três tipos possíveis:
 Comunhão Geral dos Bens: é dos dois, do homem e da mulher. Tudo é de
todos, tem subjacente o ideal de família, o amor é comum logo tudo é comum.
 Separação Completa de Bens: o homem tem os seus bens e a mulher os seus.
 Bens adquiridos são Comuns: é uma posição intermédia, é a comunhão dos
bens adquiridos. Hoje se não for mencionado aplica-se a comunhão de
adquiridos – Regime Supletivo – consagrado nas Ordenações Manuelinas e não
nas Afonsinas. Porque é que a Comunhão Geral dos Bens se impôs como regime
supremo? Em 1521 nasce as Ordenações Manuelinas. Verifica-se em Portugal
que no norte foram aplicados o segundo e terceiro regime e no sul era o primeiro
regime. Porque era assim? Porque o Norte era mais rico e quem é rico não quer
ficar pobre com o casamento. No sul o homem é pobre e não é egoísta de ser
rico, não tinham ambição e por isso, como o cristianismo era religião dos pobres
Amor Comum, tinham comunhão geral de bens. Alastrou-se para o Norte e no
tempo de Manuel I estava a expandir-se e por isso, foi estabelecido esse regime.
Mas porque foi substituído? Porque o casamento como contrato de comum amor
desapareceu e apareceu o casamento por conveniência. È um casamento
condenado a dissolver-se, e portanto o nº de divórcios aumentou estabelecendo o
terceiro regime jurídico.

Coleção das Leis Extravagantes de D. Duarte Nunes do Leão:


 
Em 1521 foram criadas novas Ordenações. E passado 48 anos, em 1569, as leis feitas
estão de fora: legislação extravagante. Neste tempo fizeram e revogaram muitas leis. Na
altura do Rei D. Sebastião e D. Henrique pediram a Duarte Nunes do Leão,
desembargador da casa da Suplicação, que fizesse uma Ordenação para completar a
anterior. A Compilação das Leis Extravagantes de Duarte Nunes esteve em vigência,
logo vigoraram oficialmente.
Qual foi a técnica do desembargador? Ele fez uma síntese de cada lei e depois uma
compilação do resumo (estilo sintético). Um ano depois, o Rei D. Sebastião atingiu a
maioridade e passa a governar, mas morreu em Alcácer Quibir e Portugal perdeu a
independência.  
Assim, veio Filipe I de Portugal, em 1595, que publicou uma nova Ordenação:
Ordenações Filipinas.
 
Ordenações Filipinas:

Entraram em vigor em 1603 e assim permaneceu até 1867, ou seja, vigorou durante 264
anos. Esta obra foi mandada fazer por D. Filipe I de Portugal, porque a anterior já estava
desatualizada (Ordenações Manuelinas e Compilação de Duarte Nunes). Só que não é
bem assim, porque as novas ordenações reproduziram as antigas, não inovaram quase
nada. Então, o que o Rei quis, foi mostrar aos Portugueses que mesmo sendo Espanhol,
respeita as leis Portuguesas. Teve um motivo político já que, quis mostrar respeito pelo
Direito Português. Não pretendeu alterá-lo para não ser acusado de querer modificar
esse mesmo direito. D. João IV também se limitou a confirmar estas Ordenações por ser
Direito Português.

Méritos e Deméritos das Ordenações Filipinas:

1º Mérito: Foi uma grande obra, daí ter vigorado durante 264 anos.
1º Demérito ou Filipismo: Falta de clareza.
2º Demérito ou Filipismo: Falta de cuidado (leis revogadas permaneceram).
3º Demérito ou Filipismo: Falta de princípios.
As justificações que se arranjaram para justificar os aspetos negativos foram as
seguintes:
Rei Filipe não quis inovar as leis para não ser acusado de ser inovador.
Crise no pensamento jurídico da população.

Fontes do Direito Português e Direito Subsidiário:

Olhando para o Código civil, temos como fontes:


 Fontes imediatas: leis e normas corporativas.
 Fontes mediatas: uso, costume e equidade.

Mas, e segundo as Ordenações? Quais são as fontes?


 Lei: diploma escrito que manifesta a vontade do Rei, que é o legislador. Existe
leis solenes e não solenes, podem ser decretos e etc. O movimento legislador
arranca em 1211 com as Cortes de Coimbra.
 Costume: é a prática contante e reiterada, observada ao longo dos anos
(elemento material), praticada na convicção de obediência à lei (elemento
espiritual).  O costume tem uma particularidade: se o Rei não disser nada em
troca ao costume, significa que aceita-o, logo é a sua vontade tácita. Requisitos
do Costume: Se for secundum e praeter legem deve estar em vigor durante 10
anos. Se for contra legem deve estar em vigor durante 40 anos. Sendo assim, o
primeiro requisito é a duração, o segundo é a introdução por dois atos do
Tribunal. Já o terceiro requisito é a racionalidade.
 Estilo da Corte: é a jurisprudência constante dos Tribunais. Requisitos do
Estilo da Corte: 1º Não podem ser contra a lei. 2º Deviam ser aplicadas duas
vezes nos Tribunais. Só a terceira vez de aplicação é que é considerada fonte do
Direito.

Se estas fontes têm falhas, isto é, se o Direito Português sofre de lacunas, estas deviam
ser integradas. E como se integravam as lacunas? Recorrendo-se a outro Direito, ao
Direito Subsidiário. Assim, os livros a recorrer eram o Direito Romano e Canónico e
Castelhano. Antigamente, o recurso era livre, agora tem de seguir uma ordem
específica:

Nas Ordenações Afonsinas: tratava matéria espiritual (Direito Canónico) e temporal


(Direito Romano), com uma exceção: o Direito Romano é um Direito Pagão e Portugal
é um país Cristão, pelo que, não se deve aplicar leis que contradigam o Cristianismo.
Assim, salvo essas leis, pode-se aplicar o Direito Romano, caso contrário seria aplicado
o Direito Canónico. O Direito Romano pode ser pecunioso, por exemplo: figura de
usucapião. Imaginando que, temos o proprietário de um prédio e o possuidor desse
mesmo prédio. Passado 30 anos, a situação continua igual e o possuidor adquire a
usucapião mesmo sabendo que esta a prejudicar o proprietário, isto é, está a agir com
má-fé. Então aplicou-se para esta figura o Direito Canónico pois não se prevê um ato de
má- fé no Cristianismo, pelo que fica afastada a solução Romana. Só que, o Direito
Romano também pode ser lacunoso, pois os Romanos também tinham uma capacidade
jurídica com falhas, e nesses casos aplica-se o Direito Canónico. O mesmo podia
acontecer com ele, e assim recorria-se à Glosa de Acúrsio. E esta recorria à opinião de
Bartolo, que também se não soubesse solucionar o problema, teria de recorrer ao Rei.

Nas Ordenações Manuelinas: desaparece a distinção entre matéria espiritual e


temporal. Recorre-se primeiro ao Direito Romano se não for pecunioso. Caso o seja,
recorre-se ao Direito Canónico, pelo que, a solução é a mesma. A segunda alteração é: e
se o Direito Canónico for lacunoso? Recorre-se à Glosa e se esta também o for, recorre-
se à opinião de Bartolo desde que, a sua opinião seja comum à dos Doutores, senão
recorria-se ao Rei. Como era criada a opinião dos Doutores? Através do método
quantitativo e qualitativo. E ainda, através do método misto (mistura dos métodos
anteriores). A opinião dos Doutores não era aplicada. Ela serve de travão à Glosa e à
opinião de Bartolo. A sua função é meramente de filtro, logo não é Direito Subsidiário.
Nas Ordenações Filipinas: o problema é exatamente o mesmo que nas manuelinas,
apenas esta matéria está num livro diferente, encontra-se no livro III das ordenações.

As Ordenações estabeleceram esta ordem de prioridade mas será que os Tribunais


aplica-a ou segue-a? Aplica o Direito Subsidiário quando surge uma lacuna? Nem
sempre, por vezes, colocavam o Direito Subsidiário por entender que, oferecia uma
solução melhor à do Direito Português. E outras aplicavam o Direito Castelhano para
integrar as lacunas e este não era Direito Subsidiário. Eram abusos do poder, e com
estas práticas violavam as Ordenações.

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