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2 de Setembro de 2021

7 coisas sobre PAD que todo servidor público precisa saber

Receber uma notificação informando que foi instaurado um processo


administrativo disciplinar (PAD) é uma das piores notícias que o servidor
público pode receber.

Por ser um processo que pode causar a demissão do agente público, o


PAD é sempre visto com preocupações por quem faz parte da administração
pública.

E não poderia ser diferente.

Apesar de ser um instrumento legítimo e necessário para o controle da


Administração Pública, o PAD, muitas vezes, é utilizado de forma indevida,
como ferramenta de vingança, ameaça, pressão ou até capricho autoritário.

Além disso, as poucas legislações que abordam o tema fazem com que
muitos servidores tenham dúvidas sobre o que pode e o que não pode
acontecer durante o Processo Administrativo Disciplinar.
Neste artigo eu vou te falar 7 coisas importantíssimas sobre o PAD que
podem salvar o seu cargo público.

1- A comissão do PAD não é formada


por juristas
Você já tentou ler algum artigo sobre gastrite em uma revista científica
voltada para médicos?

Se a sua resposta foi não, nem perca o seu tempo procurando um texto
desse tipo na internet.

Você não vai entender quase nada do que está escrito.

Pois bem.

Depois de alguns anos trabalhando na defesa de servidores que respondem


a processo administrativo disciplinar, eu percebi que a maioria dos
membros de comissão não gostam de receber defesas extremamente
técnicas e repletas de “juridiquês”.

E o motivo é óbvio: a maioria das comissões de PAD não é formada


por juristas.

Pelo contrário.

As comissões são formadas por servidores do quadro funcional daquele


órgão público e que são designados para compor a comissão responsável
por aquele processo administrativo disciplinar.

Isso acaba se tornando um problema por dois motivos:

1. os servidores não são acostumados a atuar com PAD e muitas


vezes sequer conhecem o trâmite de um processo administrativo
disciplinar;

2. eles não entendem, na maioria das vezes, nada sobre Direito.


A partir daí, já é possível deduzir a dificuldade que um servidor público
enfrenta ao ser designado como membro de uma comissão de PAD.

Sendo assim, sempre que houver uma defesa em um PAD, o servidor ou o


seu advogado deve trazer uma linguagem clara e acessível para que a
comissão consiga entender o que está sendo defendido.

Nesse ponto, destaco que é importante – e necessário – trazer o


embasamento legal.

Afinal, a Administração Pública é regida pelo princípio da legalidade.

Mas, a questão que eu quero deixar clara é que a defesa de um PAD não
precisa ser uma aula de latim repleta de termos jurídicos, pouco usuais e de
conhecimento restrito.

Não é isso que vai fazer a defesa do PAD ser vista com bons
olhos.

A defesa é o momento oportuno para que o servidor mostre a sua versão


dos fatos, rebatendo as acusações que estão sendo investigadas dentro
daquele processo.

Essas acusações, na maioria das vezes, serão descontruídas através de fatos


e provas, e não por uma dissertação jurídica.

Portanto, a dica é: não faça da defesa do PAD uma dissertação de


mestrado.

Atenham-se aos fatos e às provas, mencionando, sempre que necessário,


o embasamento jurídico e algum precedente favorável.

Uma defesa feita com uma linguagem truncada e de difícil compreensão


aumenta as chances de a comissão lê-la com desatenção.

Não por má-fé ou displicência, mas tão somente pela dificuldade de a


leitura fluir diante de tantos termos complexos.
E, claro, isso dá margem para que algum ponto importante da defesa
não seja levado em conta na hora da decisão.

2- Você não é obrigado a participar do


interrogatório (mas deveria!)
O interrogatório é um momento importantíssimo para a defesa do PAD.

É a hora que o servidor acusado tem a chance de falar, “olho no olho”, a sua
versão dos fatos para a comissão.

Além disso, o interrogatório do servidor é obrigatório dentro do


processo disciplinar, já que é considerado um ato de defesa.

Dito isso, fica claro que todo servidor que está respondendo a um PAD
deveria participar, ativamente, de seu interrogatório.

Contudo, não são poucos os casos que chegam aqui no escritório de


servidores que ficaram mudos na hora do interrogatório.

É bem verdade que o direito ao silêncio é permitido nesse caso.

Porém, essa está longe de ser a melhor opção.

O servidor que está respondendo a um PAD deve se aproveitar do


interrogatório para falar tudo o que for preciso para esclarecer os pontos
controvertidos dentro daquele processo.

Nesse sentido, mesmo se for o caso de um PAD persecutório, com alegações


falsas sobre o servidor, ele não deve ficar inerte.

Para evitar uma pena de demissão no PAD, a melhor estratégia é participar


ativamente do interrogatório, além de produzir uma boa defesa escrita
quando for o momento certo.
3- Direito de participar das oitivas de
testemunhas
É direito do servidor ser notificado para participar das oitivas de
testemunhas.

Além daquelas arroladas pela comissão, o servidor acusado também tem o


direito de levar suas testemunhas para serem ouvidas pela comissão.

Nesse ponto eu destaco algo que vem acontecendo com alguma frequência
nos PAD’s.

Principalmente quando é caso de perseguição/assédio dentro do órgão


público.

O servidor apresenta o requerimento com as testemunhas que devem ser


ouvidas pela comissão, e o seu pedido é indeferido de maneira ilegal.

Sobre esse assunto, eu recomendo que você assista ao vídeo abaixo para
saber o que fazer em situações como essas.

Indeferimento de oitiva de testemunha: cerceamen…


cerceamen…
Por fim, é importante destacar que, em muitos processos administrativo
disciplinares, é a oitiva de testemunha que vai salvar o emprego do
servidor acusado.

Isso porque existem situações em que as únicas provas do ato investigado


são testemunhais, não havendo documentos para demonstrar a boa-fé e o
bom comportamento do servidor.

Essa parte do PAD é tão importante que eu já escrevi um texto só sobre ela.

Clique aqui para ler!

4- Produção de provas
Além das testemunhas, o servidor tem o direito de produzir provas que
possam esclarecer os fatos investigados dentro do processo.

Essas provas podem ser documentos do acervo do órgão, e-mails, fotos,


vídeos e até perícia.

Inclusive, quando o servidor se encontra com algum tipo de doença


psiquiátrica e isso o impossibilita de responder ao PAD naquele momento,
é direito dele pedir uma perícia médica para ser avaliado.

Neste sentido, o artigo 160 da Lei nº 8.112/90 (Estatuto dos Servidores


Públicos Federais) diz o seguinte:

Art. 160. Quando houver dúvida sobre a sanidade mental do acusado, a


comissão proporá à autoridade competente que ele seja submetido a
exame por junta médica oficial, da qual participe pelo menos um
médico psiquiatra.

Parágrafo único. O incidente de sanidade mental será processado em


auto apartado e apenso ao processo principal, após a expedição do
laudo pericial.
Além disso, outras situações podem necessitar da avaliação de um perito
especialista para se produzir uma prova.

Um exemplo comum é em casos de falsificação de documentos.

O perito (grafotécnico) tem os conhecimentos e as ferramentas necessárias


para descobrir se determinado documento foi adulterado, comprovando se
houve enxertos, montagens ou outras rasuras que possam demonstrar
falsidade em um documento.

Outro ponto que merece destaque é que alguns tipos de provas estão sob
domínio exclusivo da Administração Pública.

Nesses casos, o servidor deverá fazer um requerimento à comissão do PAD


para que seja providenciado o acesso a essas provas, sendo dever da
comissão, com base no princípio da verdade real, garantir que elas sejam
trazidas aos autos do processo administrativo disciplinar.

Da mesma forma que expliquei no vídeo do tópico anterior (se você não o
assistiu, assista), o servidor deve pedir a produção de provas com uma
explicação detalhada sobre a pertinência daquela prova naquele processo.

E se mesmo assim a comissão recusar a produção de determinada prova, o


servidor deve buscar o poder judiciário para corrigir essa ilegalidade.

5- A comissão de PAD não é sua amiga


(mas também não é sua inimiga)
Ano passado eu escrevi um texto que repercutiu bastante entre as
comissões de processo administrativo disciplinar. (Leia aqui)

É um texto que conta a história de um servidor que acreditou nas


orientações da comissão do PAD e acabou sendo demitido injustamente
quando estava perto de se aposentar.

Naquela história, eu mostrei que a comissão do PAD, algumas vezes,


está mal-intencionada e isso pode levar à demissão do servidor.
Ou seja: eu demonstrei que a comissão do PAD pode ser a grande
vilã na demissão do servidor público.

Pois bem.

De fato, existem PAD’s em que a comissão está realmente interessada na


demissão do servidor.

Contudo, justiça seja feita: na maioria dos casos, a comissão é


imparcial e só está ali para cumprir o seu papel de investigar os
fatos.

Por isso, o servidor acusado não deve ser agressivo com os membros da
comissão de PAD.

Não deve ficar brigando sem motivos a cada oitiva que ocorrer durante o
processo.

Afinal, é importante lembrar que são os membros da comissão que vão


fazer o relatório final opinando pela aplicação ou não da penalidade.

É claro que, se o servidor ou o seu advogado perceberem que a comissão


está agindo de má-fé, eles deverão assumir uma postura mais austera.

E sempre que algum direito for violado, o judiciário deverá ser


acionado.

6- O PAD pode levar à sua demissão!


Não leve o processo na brincadeira.
Muitos PAD’s que chegam aqui no escritório terminaram com uma
demissão injusta do servidor público.

Na maioria dos casos, o servidor investigado não participou ativamente do


processo.
São processos em que o servidor não falou nada em seu interrogatório, não
participou das oitivas de testemunha, e, o pior: não apresentou uma
defesa combatendo as acusações que lhe foram impostas.

É bem verdade que quando o servidor não apresenta uma defesa, a


comissão é obrigada a nomear um defensor dativo para fazê-la.

Porém, como eu disse no início do texto, uma boa defesa de PAD deve se
ater às provas e aos fatos para descontruir as acusações que estão sendo
imputadas ao servidor.

E na maioria das vezes, o servidor dativo designado para fazer a


defesa no PAD não sabe absolutamente nada a respeito daquele
caso, e sequer conhece o servidor, o que dificulta a execução de uma boa
defesa escrita.

E esse tipo de processo dificilmente é anulado na justiça, pois ao


juiz só é permitido fazer o controle de legalidade dos atos dentro do PAD.

Ou seja, ele vai avaliar se os procedimentos dentro do PAD seguiram o que


estava previsto na lei, não cabendo ao judiciário substituir o administrador
público para a aplicação da penalidade.

Portanto, não leve o PAD na brincadeira: ele pode causar a sua demissão!

7- A demissão do servidor pode ser


anulada pela justiça
Existem PAD’s em que, mesmo com uma boa defesa técnica, o servidor
acaba sendo punido com a demissão.

A demissão é a pena capital na Administração Pública e só deve ser


aplicada em casos graves.

Além disso, ela deve ser proporcional ao ato faltoso cometido pelo
servidor, não podendo ser aplicada em casos de faltas leves ou médias.
Contudo, a demissão acaba sendo aplicada de forma indevida em
alguns PAD’s, e os motivos são quase sempre os mesmos:

1. falta de conhecimento técnico por parte da comissão (pena


desproporcional/julgamento contrário às provas);

2. interesse da Administração Pública em demitir aquele servidor


(perseguição);

3. ausência de uma boa defesa do servidor;

Dos três motivos acima, a demissão mais difícil de ser revertida na


justiça é a terceira, quando o servidor não faz uma boa defesa
durante o processo administrativo disciplinar.

Nas duas primeiras situações, quase sempre o juiz anulará a demissão


do servidor, determinando que ele seja imediatamente reintegrado ao
cargo, e com o direito de receber todas as verbas que deixou de
ganhar enquanto esteve afastado do cargo.

Por isso eu sempre enfatizo em meus textos:

O momento de se ganhar um PAD é na via administrativa!

Mesmo quando for necessário levar o PAD à justiça para anular a demissão,
as chances de êxito são muito maiores quando a defesa
administrativa tiver sido bem feita.

É isso. Espero que tenham gostado.

Até a próxima!

Disponível em: https://sergiomerola85.jusbrasil.com.br/artigos/1272976581/7-coisas-sobre-pad-que-


todo-servidor-publico-precisa-saber

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