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RUMO A POSSÍVEIS DRAMATURGIAS DO ESPAÇO

Towards Spatial Dramaturgies’ Possibilities

Marina Marcondes Machado


Docente do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da
Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

Resumo: Este artigo comenta o estado da atual pesquisa da autora e revela seus bastidores, em
termos de leituras bem como de procedimentos criativos. Toma como ponto de partida a
intersecção entre teatro, fenomenologia e psicanálise de modo a tecer uma rede de significados
para a expressão “dramaturgia do espaço”, em busca de modos de escrita para textos
dramatúrgicos que se mostrem como “roteiros de improviso”.
Palavras-chave: Dramaturgias do espaço; procedimentos de criação; rigor na ausência.

Abstract: This paper discusses the current state of the author’s research, touching upon her
readings and her creative procedures. Starting from the intersection of theater, phenomenology,
and psychoanalysis, the author aims to develop a network of meanings for the expression
“spatial dramaturgies,” searching for ways of writing dramaturgy as “improvisational routes.”
Keywords: Spatial dramaturgies; creative procedures; rigor in the absence.

(…) A multirreferencialidade percebida, num primeiro


está ligada a esse assumir momento, como portadora
um “vazio criador” na de uma infinidade de
complexidade do objeto. referências que ninguém,
Ela é um tipo de nem mesmo o sujeito,
questionamento poderá esgotar na análise.
permanente a respeito (René Barbier)
desse vazio. A prática
humana e social é

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Marina Marcondes Machado

Desde minha chegada a Belo instalação de miniaturas2 e observassem


Horizonte e consequentemente à os transeuntes do Parque, sem intervir
docência na UFMG, um alargamento de nos possíveis usufrutos, comentários,
espacialidades aconteceu em mim – debruçamentos, etc, que poderiam
comigo, fora de mim, com os outros – ocorrer. Ao longo das semanas, fui
no mundo. Morando em uma rua percebendo como esta proposta simples
arborizada, no bairro de Funcionários, e singela – mas talvez exatamente por
num apartamento de três pequenos isso de difícil acessibilidade ao jovem
cômodos para uma única moradora e estudante de Licenciatura em Teatro
encantada especialmente pela (talvez ávido demais por planos de aula
proximidade do Parque Municipal e procedimentos “corretos”) –
Américo Renê Giannetti. Somado à relacionava-se com outro momento de
novidade de morar numa cidade bem minha obra, a saber, meus estudos sobre
menor que São Paulo – mas ainda parte da obra de Maurice Merleau-
“grande” (dizem os mineiros, definindo Ponty. A relação íntima encontrava-se
Belo Horizonte: “uma roça grande”) –, no tripé corporalidade-espacialidade-
todo aquele contexto me preparou para temporalidade, e fiquei contente em
gestar um novo projeto de pesquisa perceber como hoje meu trabalho
acadêmica, desdobramento de meu pós- converge Winnicott e Merleau-Ponty
doutoramento. Esbocei um projeto, sem esforços, nem academicismos, mas
realizado com grupos de alunos da na chave daquilo que Kincheloe
graduação por dois semestres letivos, nomeou “rigor na ausência”:
experimento que intitulei “Tempos
dilatados para espaços encontrados”1. Em seu avanço em direção às
margens e à transcendência do
Neste experimento, os alunos tiveram
reducionismo, os bricoleurs3
como desafio desenvolver em seus
buscam identificar o que está
corpos uma atitude presente e ausente faltando em situações
(WINNICOTT, 1994), algo que nomeei determinadas – uma tarefa
“o estagiário zen”, de modo que ignorada por modos de

conseguissem realizar uma pequena


2
Objetos denominados por mim de “brinquedos-sucata”
(Autor, 1994), hoje mais conhecidos como “materiais não-
estruturados”: linhas, rolhas, tampas, caixinhas, etc.
1
Este trabalho gerou um artigo publicado na revista italiana 3
“Bricoleur” é como Kincheloe nomeia os pesquisadores na
Mimesis Journal / Scritture de la performance, com o título chave da “metodologia da bricolagem”, aquela na qual se
“Dilated times for found spaces”, vol. 2, n. 2, dez. 2013. admite “rigor na ausência”.

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pesquisa monológicos e copo vazio / está cheio de ar” (canção


objetivistas. Nesse contexto,
de Gilberto Gil). As imagens, vazio-
buscam cultivar uma forma
cheio, também remetem ao que Marion
mais elevada de criatividade
do pesquisador que os leva a Milner (1991) afirma ser necessário
produzir, como os poetas, para que a arte aconteça: necessitamos
conceitos e ideias sobre o de “um vazio grávido”; para Milner é
mundo social que não existiam
também importante aceitar a arte como
anteriormente. Esse rigor na
“um conhecimento que não conhece a si
ausência pode ser expresso de
inúmeras maneiras, incluindo
mesmo”. Assim se delineia a moldura
a capacidade dos bricoleurs para meu projeto de pesquisa atual, cujo
de: mote é a potência contida nas
• imaginar coisas que nunca
dramaturgias do espaço. Aqui percebo
existiram;
uma fértil união entre psicanálise,
• ver o mundo como ele
poderia ser; fenomenologia e cena contemporânea,
• desenvolver alternativas a três interesses que posso reunir em uma
condições opressivas única área: a área da criação.
existentes;
• discernir o que está faltando
Psicanálise, teatro e fenomenologia:
de uma forma que promova
vontade de agir; por uma “cena relacional”
• entender que o mundo é
muito mais do que aquilo que O psicanalista inglês D. W.
se pode ver. (KINCHELOE, Winnicott (1896-1971) nos alerta para a
2007, p. 34-35)
necessidade de espaços relacionais
acolhedores, nos anos iniciais da vida
Também, aos poucos, percebo
das crianças. O brincar “espontâneo e
como a maturidade de meu pensamento
criativo” é, para ele, princípio de toda
sobre arte, educação, ensino-
atividade criadora e humanizante – seja
aprendizagem do teatro hoje é vivida
no campo das ciências, da filosofia, do
em um ritmo diverso, ansiando muito
fazer artístico, da religiosidade. O
pouco por “resultados” ou “produtos”,
conceito criado por Winnicott, que situa
em busca de afinação com um work in
as origens da criatividade e a
process infindo, inúmeras vezes
importância do brincar na infância,
precário, mas sempre conectado no fato
nomeia-se “espaço potencial”
de que “é sempre bom lembrar / que um

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(WINNICOTT, 1994). O espaço conectar e deixar fluir o tipo de brincar


potencial constitui-se um “lugar que Winnicott nomeia de brincar “livre
psíquico” entre o bebê e sua mãe, entre e espontâneo” – algo que se dá longe
o adulto e a criança, entre você e eu, das receitas, dos pragmatismos e dos
entre o artista e seu público, entre o jogos de regras, contato relacional
cientista e a comunidade leiga, e assim ôntico refletido no espaço psíquico do
por diante. espaço potencial – este ontológico –
A noção de espaço potencial também nomeado pelo psicanalista
mostra-se extremamente atual. Muitos “área do consolo” e “área da ilusão”.
estudiosos trabalham a partir dela, de Winnicott foi pioneiro, na história da
modo a pensar os modos de vida e a arte Psicanálise, em positivar as capacidades
contemporânea; um dos expoentes deste humanas do devaneio e da imaginação,
pensamento é Bourriaud (2009), como tratando-as não como “defesas”, mas,
revela seu livro Arte Relacional. Nesta antes, como categorias humanizantes e
chave, a arte não está congelada na sua próprias da gênese criativa.
“exata” e “pura” materialidade, mas, Percebemos também, e
antes, se faz sentir nas possibilidades transformamos esta percepção em
relacionais, afetivas, efetivas e pesquisa, a estreita relação entre o
inovadoras, naquilo que a relação brincar imaginativo e o fazer teatral,
espectador-obra instaura. Também seja na vida das crianças quanto na dos
Ryngaert inspirou-se em Winnicott: em atores, professores de teatro, e das
seu livro Jogar, Representar (2009) deu pessoas adultas em geral.
significação ao espaço entre-espaços, As duas percepções
aos intervalos entre-seres e entre- possibilitaram, ao longo do tempo, o
mundos, como fonte criadora e surgimento de um campo de trabalho
transformadora: de si, do outro, do teórico-prático, como pesquisadora
mundo. estudiosa dos aspectos comuns entre
Percebemos, ao longo de cerca psicanálise, teatro e fenomenologia,
de vinte anos de convivência com trabalho que desenvolvo,
crianças e jovens, como professora de processualmente e em fluxo contínuo,
teatro, uma dificuldade crescente, desde a escrita do trabalho de conclusão
observando as novas gerações, para de curso na graduação em Psicologia

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(PUC-SP, 1997) até o pós- “Territórios do Brincar”, pesquisa de


doutoramento em Pedagogia do Teatro pós-doutoramento, com bolsa FAPESP
(ECA-USP, 2009): dezessete anos de e supervisionada pela professora Dra.
experiência em pesquisa, na busca por Maria Lucia de Barros Souza Pupo,
possibilidades criativas e criadoras em realizada em 2009, na ECA-USP. Com
meus campos de trabalho. base nas anotações etnográficas de
Hoje, no ano de 2014, minha situações de espera, percebi como, na
pesquisa abre-se para o estudo de corporalidade das crianças, o espaço
dramaturgias do espaço, e insere-se em circundante é elemento crucial de suas
um campo fértil para pensar a potência ações, apenas perdendo para a
da teatralidade encontrada em lugares influência do gesto e da palavra do
cotidianos, ordinários, bem como extra- adulto acompanhante. Observei
cotidianos – no entanto, não minuciosamente quais eram as ações
programados para o acontecimento mais recorrentes no ato de esperar: meu
teatral estrito senso, tal como pensado nicho observacional eram espaços onde
classicamente, nas estruturas palco- adultos e crianças encontravam-se em
plateia e cujo cerne tende a ser o texto. “estado de espera”, na Rodoviária de
Pensar a teatralidade dos espaços São Paulo, nas filas de ônibus, estações
encontrados é ousar propor uma espécie de trem e metrô, bem como em filas em
de “não-teatro” – na chave da não-arte, geral, e na saída de uma escola
tal como desenhada por Alan Kaprow municipal e entrada nas peruas
(2003) –, a ser completado pelos outros: escolares. Aquelas ações inspiraram um
sejam eles protagonistas, coadjuvantes texto dramatúrgico, um dos resultados
ou antagonistas, mergulhados na finais da pesquisa: “A sutil diferença”.
situação vivida ou distanciados, mas No entanto, desde antes, já
todos parte da paisagem compartilhada, durante o mestrado (Cacos de infância,
ou seja, atuantes da cena relacional. publicado em livro, em 2004, pela
Annablume e FAPESP), procurei
Corporalidade, espacialidade, trabalhar textos dramatúrgicos abertos –
temporalidade os quais nomeei, não sem ironia
brincante, “Roteiros de improviso”.
Retomei as possibilidades da Neles, buscava por esboços de cenas e
escrita dramatúrgica, a partir de cenários, contextos e situações, rabiscos

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e garatujas, rubricas e didascálias, que corporalidade, temporalidade e


não apontassem, de nenhuma maneira, a espacialidade. Se, classicamente, o
forma final ou a solução cênica para o teatro revela como seus ingredientes
ator ou o encenador. Agir assim, como primordiais o personagem, o tempo
escritora do texto teatral (às vezes sem teatral, o espaço ficcional e a ação [dita]
texto estrito senso), é convidar o ator e dramática; na chave contemporânea,
o leitor a percorrerem uma via longa e podemos dizer que a corporalidade ou
imaginativa. fisicalidade, daquele que lê / vive /
Hoje, percebo que a interpreta os roteiros de improviso,
radicalização daquele procedimento, em substituiria a “personagem”; a
minha pesquisa acadêmica, encontrará temporalidade e a espacialidade dos
eco na criação de dramaturgias do lugares escolhidos como sítios de
espaço, com base em “espaços dramaturgias do espaço, pertencentes à
encontrados”: fotografias de sites mundaneidade, também substituem o
specifcs que em sua imagética “já são”, cenário bem como a linha do tempo
ou seja, já remetem a um campo criativo ficcional, necessária no teatro de texto.
e narrativo potencialmente fértil… Um Minha pesquisa hoje se encontra
campo a ser completado: por mim, em no ponto de desvendar os mistérios de
pequenos poemas que apresentam como comunicar as descobertas feitas
personagens ou personas, ou em nos momentos etnográficos: riqueza
“didascálias etnoficcionais” — e, observacional que imagens e descrições
especialmente, algo a ser completado densas parecem não dar conta de um
pelo leitor / ator / transeunte do espaço novo e inusitado “espaço potencial”
escolhido / etc. entre dramaturgo, ator e receptor da
Este modo de fazer o texto cena (cotidiana).
chegar de fora para dentro, por assim
dizer, tecendo os fios de uma narrativa Dramaturgias do espaço
propositalmente aberta, frágil e passível
de interpretação novamente no campo Assim, explicito ao leitor deste
“de fora”, ou melhor, dizendo, em busca artigo como meu projeto artístico e
do “entre”, concretiza uma ação cênica acadêmico quer nomear “dramaturgias
diversa, advinda dos existenciais do espaço”: em sintonia com o filósofo

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Maurice Merleau-Ponty, que designou edifício propício para a cena – e do


nossos corpos, como “espaço corpo teatro “de bilheteria” – adentrando o
próprio” (1999); e em sintonia com campo interdisciplinar de psicanálise,
Winnicott, que nos presenteou com a educação de crianças e teatralidade. Se
noção de “espaço potencial”; a rigor, a teatralidade está no mundo, “só que eu
em termos vivenciais e relacionais, as preciso aprender”, parafraseando a
dramaturgias do espaço prescindem de canção de Paulinho da Viola, como
minhas definições. Elas “já são”. faço? Como ensino? Como desaprendo
Encontram-se nos espaços cotidianos, e o antigo paradigma que separa e divide
revelam-se extra-cotidianamente, caso “os que fazem” e “os que assistem”?
algum olhar assim as captem.
Neste caminho, penso que as Para concluir
ações, que positivam aquele fenômeno, Criar roteiros criativos,
são as que oferecem “novos óculos” aos brincantes e poéticos, sem nunca deixar
transeuntes, “lentes fenomênicas” aos de lado uma verdadeira política da
cidadãos comuns, espectadores da cena imaginação, em nome do que Gaston
cotidiana, de modo a enriquecer com Bachelard nomeou “razão imaginante”
teatralidade seus percursos já (apud BARBOSA, 1996), é o que
estabelecidos. proponho em minha pesquisa, aqui
Como forneço esses novos esboçada, comunicada de modo parcial,
óculos? Mas, antes ainda, como e por em sua fragilidade e efemeridade,
que deveria fornecê-los? Pois não são os reveladas pela completa dependência
próprios transeuntes e cidadãos comuns dos espaços e de sua riqueza
que me mostram a riqueza relacional e teatralizante – bem como por sua
potência dramatúrgica de seus tempos- absoluta necessidade de corpos entre-
espaços vividos? espaços, que enxerguem o invisível do
Penso ser este o enigma mais ato de mergulhar na espacialidade
atual de quem ensina teatro no século compartilhada.
XXI: trabalhar junto a jovens que serão Segue, para finalizar esta breve
professores de teatro. Trata-se, para reflexão, um exemplo de roteiro de
mim, de um enigma para quem recusou, improviso, esboço criado a partir de
com veemência, a situação palco-plateia observações etnográficas e estudo
stricto sensu, saindo do teatro como

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poético-criativo de fotografias feitas no


Parque Municipal de Belo Horizonte4:

Dramaturgias do Espaço
no Parque Municipal de Belo Horizonte

Conforme falo, vou arrumando os


objetos, tirando-os de uma sacola e
talvez “de mim” (bolso, pochete..?).
A fala inicial seria algo em torno do
fato de minha iniciação teatral ter sido Como vim só, fico vazia… como este
5
com o Ilo Krugli , do Teatro Ventoforte, banco do Parque Municipal. O
que me ensinou que Arte é depoimento Parque… espaço potencial, espaço
(adesão à definição da dra. Nise da riquíssimo de teatralidade que leio (leio
Silveira6) e há também adesão ao dizer o Mapa) – adentro – habito – revisto –
de José Saramago: Tudo é visto (brinco de vestir o mapa, e fico
autobiografia. vestida dele).
Aliás, o Parque Municipal me acolheu,
Conto então que prestei o Concurso, uma espécie de casa para habitar
passei, e me mudei durante os dias:
de São Paulo para Belo Horizonte. tal como é para Pedro, o mendigo que
Chego no dia 6 de junho de 2012. Mais vira gato… e que me ensinou a virar
ou menos 15 dias depois, tem início a também.
greve dos professores.

4
Fotografias feitas pela autora, no Parque Municipal
Américo René Giannetti, Belo Horizonte, 2014.
5
Ilo Krugli é meu mestre, da juventude e para sempre.
6
Nise da Silveira foi médica psiquiatra e analista junguiana,
pioneira na inserção da arte como possibilidade terapêutica
em hospitais psiquiátricos no Brasil.

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(Assim se mostra a pesquisa Potência Nem só de Anjo vive o Parque.


das Dramaturgias do Espaço: mímesis. (Mostro a barata, exploro minha
Mimésis? Mimesis. Mimé…………. relação com ela). No final, digo:
Miau……..) MUNDANEIDADE. Comentando, como
criança que brinca, que arruma seu faz
Me torno gato como Pedro, ( mostro o de conta: “Ela mora no Viaduto Santa
gato laranja) Thereza” (e a coloco ali).
depois, me torno pedra ao lado do
Banco Vazio.

E espero.

Espero pela comunicação que o Anjo


que Perdeu a Cabeça parece ter a fazer.

Há pesquisadores que estão ilhados em


uma estrutura grega. Mulher
inatingível, qual transeunte do Parque a
vê?
Eu ví. E fotografei.

Ela está perto do Peixe Fóbico… Ícone


Mimésis. Entro na pesquisa. Mergulho
do aspecto infantil do Parque, não sai
na conjuntura: mulher sem cabeça.
de sua Caixa Acrílica há anos!
(escondo a cabeça dentro da camiseta,
e silencio – pausa dramática, pós-
dramática?!)

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próprios dados (auto) biográficos e


na cozinha das suas pesquisas.
Termino, retomando Kincheloe:

(…) sobre o valor do uso do conhecimento


produzido pela bricolagem, sustento que,
ao empregar as dimensões metodológica,
teórica, interpretativa, política e narrativa
da bricolagem, os pesquisadores tornam
Mimésis. Mímesis. Mi… Mimi… sh sh
visíveis uma série de traços anteriormente
sh shaninho! Acho o gato laranja – que reprimidos do mundo social. Por estarem
sou eu – e digo, terminando: descrevendo dimensões do cosmos
“Eu saí”. sociocultural, político, econômico, psicológico e
pedagógico que nunca existiram antes, os
E saio.
bricoleurs estão desenvolvendo o que se pode
Penso que as dramaturgias do
chamar de elemento imaginativo ficcional da
espaço cabem hoje em meu projeto de pesquisa. (KINCHELOE, 2007, p. 35)
pesquisadora e docente como “um
procedimento”: um procedimento de
criação, um modo de ver – a Recebido em: 14/05/2014
espacialidade, as pessoas que ali Aprovado em: 04/07/2014
habitam, bem como o “todo”, o mundo
compartilhado – e um modo de viver a Referências Bibliográficas:
profissão. Agora, posso retomar o que
Kincheloe afirma ser o rigor na BARBIER, René. A Pesquisa-Ação.

ausência: tratei neste artigo de um Brasília: Liber Livro, 2007.

procedimento que se imbrica em minha


BARBOSA, Pedro. Metamorfoses do
biografia, de tal modo, e em certa dose,
Real. Porto: Afrontamento, 1996.
que resta uma espécie de dúvida na sua
replicabilidade; mas o rigor está BOURRIAUD, Nicolas. Estética
justamente nisso: na transparência da Relacional. São Paulo: Martins, 2009.
desmontagem (CABALLERO, 2011) da
CABALLERO, Ileana Diéguez.
pesquisa, de modo que outros possam
Cenários liminares: Teatralidades,
juntar-se a mim, mesmo que – e
especialmente – motivados por seus

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performances e política. Uberlândia:


EDUFU, 2011.

KAPROW, Allan. Essays on the


blurring of art and life. London:
University of California Press, 2003.

KINCHELOE, Joe. Pesquisa em


educação: Conceituando a bricolagem.
Porto Alegre: ARTMED, 2007.

MERLEAU-PONTY, Maurice.
Fenomenologia da Percepção. São
Paulo: Martins Fontes, 1999.

MILNER, Marion. A loucura suprimida


do homem são. Rio de Janeiro: Imago,
1991.

RYNGAERT, Jean-Pierre. Jogar,


representar. São Paulo: Cosac e Naify,
2009.

WINNICOTT, Donald Woods. Playing


and Reality. London, New York:
Tavistock / Routledge, 1994.

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