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Apenas Um Pouco Sem Vergonha

(Straight Guys 8)

Por: Alessandra Hazard

Sam Landon é um ladrão desabrigado de dezoito anos, que está


desesperado por uma vida diferente. Quando suas habilidades atraem a
atenção do Serviço Secreto de Inteligência, Sam aproveita ansiosamente a
chance. Está determinado a provar a si mesmo quando recebe sua primeira
missão: roubar um pendrive de um paranoico Chefe do crime. Para isso é
enviado disfarçado como bebê de açúcar de outro agente.
Dominic Bommer, seu "pai de açúcar", é escandalosamente bonito,
encantador, rico e praticamente perfeito - o sonho de todos os homossexuais.
Dominic é gentil, generoso e protetor. Exceto que "Dominic Bommer" não é
mais do que um papel desempenhado por um cínico agente do MI6 distante e
manipulador, que na verdade é hétero.
Sam está perfeitamente ciente de que tudo que Dominic faz é
cuidadosamente calculado, cada emoção fingida. Sabe que os homens
realmente não atraem Dominic e ele não quer Sam.
Mas, apesar de saber tudo isso, Sam ainda se vê se apaixonando
duramente por um homem que não existe.
Ou existe?
Capítulo 1

— Ele é muito jovem.


A mulher sentada atrás da mesa maciça deu ao homem um olhar
duro.
— Sério, agente? Você era muito mais novo quando o recrutamos.
Os olhos escuros do homem a encontraram firmemente.
— Ele é muito jovem. — Repetiu.
A mulher o estudou com os lábios franzidos. O agente 11 era um dos
seus agentes menos favoritos por esse motivo. Ele tinha... Opiniões. Pertencia
à categoria de homens que ela sempre detestou: homens que sempre
pensavam que estavam certos, tão confiantes em suas próprias habilidades
que todos aceitavam que estavam certos. Ele rasgava seus nervos. Em
particular, ela pensou que o agente 11 tinha um problema com uma mulher
sendo responsável, mas não tinha como provar isso. Ele nunca cruzou a linha e
sempre foi inflexivelmente educado, mesmo que muitas vezes sentisse que
discordava de suas decisões.
Infelizmente, ela não tinha escolha senão tolerá-lo. Ele era um dos
seus melhores agentes, se não o melhor. Sua taxa de sucesso era
incomparável. Ele era muito bom para se livrar, não importa o quanto não
gostasse de sua atitude.
Então ela voltou sua atenção para o garoto na tela. Para ser justa, o
agente 11 tinha um ponto: o garoto parecia jovem. Mas eles dificilmente
estavam em posição de ser exigentes.
— Nós precisamos dele. — Disse ela.
— Ele é um desabrigado e não treinado. — Disse o agente 11. — O
que ele pode fazer que nossos agentes treinados não podem?
Ela apertou os dentes. Ele a achava incompetente? Embora ele
estivesse mais perto de trinta que vinte, comparado a ela, ele não era mais
que um menino. Ela tinha vinte anos de serviços. Era verdade que não tinha
nenhuma experiência de campo, mas não se tornou Chefe do Serviço Britânico
de Inteligência Secreta sendo uma idiota.
Sabia que poderia dizer-lhe para fazer seu trabalho e parar de
questionar seus superiores. Mas não seria inteligente. O agente 11 sempre foi
mais cooperativo e eficiente se concordasse com a missão.
— Precisamos dele para a missão de Brylsko. — Disse ela.
Ele disse sem rodeios:
— Você quer usar uma criança inexperiente e inocente para roubar
dados altamente importantes de um senhor do crime polonês.
Ela encontrou seu olhar inabalável, ignorando seu tom não
impressionado.
— Ele é mais que experiente no trabalho. Essa - criança inocente -
tem sido um ladrão desde que tinha seis anos. Nossas fontes em gangues de
Londres - múltiplas fontes - dizem que ele é o melhor lá fora. Tem o apelido de
Sombra por um motivo. Aparentemente, é quase impossível pegá-lo, mesmo
quando você sabe que ele vai te roubar. Ele é muito bom.
Ela pensou que o agente 11 parecia um pouco interessado agora,
mas, como de costume, era difícil ler seu rosto.
— Tenho certeza de que A19 pode fazer o trabalho. — Disse ele. — E
ele não é um garoto.
— O agente 19 não é adequado para esta missão em particular. —
Afirmou. — Ele não pode desempenhar o papel de empresário rico e hedonista
nem pode ser um bebê de açúcar.
Ela se sentiu um pouco ridícula ao dizer as palavras - bebê de açúcar
- em uma conversa séria, mas gostava de ser franca. Era o que eles
precisavam para a missão, afinal de contas: dois agentes disfarçados em um
cruzeiro de luxo exclusivo para pessoas ricas que gostavam de parceiros
sexuais mais novos. A19, por todos os seus talentos consideráveis em
espionar, recolher e hackear dados, era um homem de vinte anos de aparência
comum com um caso de acne. Ele era mais adequado para missões que
exigiam agentes anônimos que poderiam se misturar com a
multidão. Definitivamente não era adequado para a missão de
Brylsko. Ninguém acreditaria que um rico empresário estaria interessado em
levar A19 como um pet, e ele era muito jovem para desempenhar o papel de
um rico papaizinho de açúcar.
O agente 11 também olhou para a tela.
— E você acha que este garoto sem-teto pode interpretar um pet
confiável? Mesmo que possa fazê-lo, ele provavelmente se desintegrará sob
pressão. Enganar pessoas aleatórias é uma coisa. Roubar um pendrive de um
senhor do crime paranoico e depois colocá-lo de volta sem que ele perceba é
outro.
Ela apertou a ponta do nariz. A pior parte era que sabia que as
preocupações de A11 eram válidas. Não pela primeira vez, desejava que
simplesmente pudessem eliminar o alvo e obter o pendrive, mas não era
possível. Eles não podiam arriscar.
— Pelo menos, ao contrário de A19, ele parece bem. — Disse ela,
olhando novamente para a tela.
O garoto na tela era definitivamente atraente. Era mais alto do que a
média, musculoso, com pernas longas e um sorriso agradável. Ele estava um
pouco pálido, como muitos ruivos eram, mas a palidez de sua pele só
acentuava seus olhos verdes brilhantes e a cor vermelha de seus lábios. Seus
olhos e esses cílios longos eram provavelmente suas melhores
características. Tudo bem, aquele cabelo vermelho era bastante infeliz, mas
algumas pessoas gostavam da cor. A curva da boca generosa do menino dava
a impressão de vulnerabilidade, algo que definitivamente atrairia os homens
mais velhos que gostavam de companheiros mais jovens.
O agente 11 soltou um suspiro.
— Muito bem. Quem vai enviar com ele no serviço de babá?
Ela o olhou e levantou uma sobrancelha. Pensou que tinha deixado
óbvio.
Ele soltou uma risada.
— Com o devido respeito, não pode ser sério, senhora. Você sabe que
não posso.
— E por que isso, A11? — Ela disse friamente.
Um sulco apareceu entre as sobrancelhas escuras. Era claramente a
resposta que ele esperava.
— Isso vai arruinar meu disfarce, senhora. Meu disfarce para a
missão W.
Ela suprimiu um suspiro. Era verdade que ficando disfarçado de papai
de açúcar poderia arruinar o disfarce de A11 para uma das suas mais
importantes missões de longo prazo. Mas não era nada que ela não tivesse
considerado antes.
— O risco é insignificante. — Disse ela. — A Missão W está na maior
parte situada na Rússia e na Inglaterra. É extremamente improvável que os
alvos cruzem os caminhos uns dos outros. Sua cobertura de longo prazo não
será comprometida.
Os lábios de A11 pressionaram juntos. Ele claramente discorda, mas
quando ela o encarou, ele não discutiu.
— Sim, senhora.
— Leia o arquivo do garoto. — Disse ela. — Você será o único a
recrutá-lo, para se familiarizar com seus antecedentes. É do tipo padrão, como
muitos antecedentes são. Nascido de mãe solteira, nenhum pai conhecido. A
mãe morreu quando tinha quatro anos. Câncer. Um parente o levou. Nossas
fontes indicam que o menino foi abusado emocionalmente por seus parentes,
talvez fisicamente também. — Ela encolheu os ombros, desconfortável com o
assunto. — De qualquer modo, ele fugiu quando tinha seis anos. Acreditamos
que se juntou à gangue de Ed Tucker e começou a roubar em troca de
proteção e um teto sobre a cabeça. — Olhou para o agente. — Não acho que
seja leal com a gangue. Use o anseio dele para uma vida estável e uma
casa. Tenho certeza de que não tenho que te ensinar a manipulá-lo.
Seus lábios se apertaram.
— Não, senhora.
— O menino será recrutado esta noite. Você irá supervisionar seu
progresso e treiná-lo se necessário.
Um músculo se contraiu no maxilar de A11. Ambos sabiam que um
agente sênior como ele, tinha coisas melhores a fazer do que treinar novatos.
— Sim, senhora. — Ele disse, formalmente.
— Está dispensado, agente. — Disse ela.
Ela o viu partir e franziu a testa quando a porta se fechou atrás dele.
Se perguntou se havia cometido um erro. O agente 11 não era
alguém que queria ter como seu inimigo.
Mas ela precisava mantê-lo em uma coleira.
Afinal, não era estúpida nem cega. Estava bem ciente de que era o
candidato mais provável para substituí-la.
Ela voltou a olhar para o ruivo na tela e sorriu.
Sim, a missão de Brylsko seria perfeita para seus propósitos.

Capítulo 2

A mulher cheirava a dinheiro.


Mordendo o lábio, Sam avaliou-a da cabeça aos pés, desde o vestido
de designer, a bolsa Prada até o novo e brilhante iPhone na mão.
Talvez nem precisasse procurar por mais ninguém. Precisava de
seiscentas libras1 - o mínimo que Tucker tinha estabelecido para ele. Então
esperava que a mulher tivesse dinheiro suficiente com ela.
Ignorando a voz de sua consciência, Sam se moveu em direção a ela,
dizendo a si mesmo que seiscentas libras eram trocados para alguém que
podia usar roupas que valiam pelo menos cinco mil.
A questão era, o que alguém assim fazia nessa parte de Londres?
Não que fosse seu problema ou qualquer coisa. Ela era apenas um
alvo e deveria pensar nela assim e nada mais. Tinha um trabalho a fazer, e
não podia se dar ao luxo de fracassar, se não quisesse se tornar o saco de
pancadas de Tucker esta noite, ou pior.
Sam suspirou, seus lábios franzindo.
Não pela primeira vez, queria chutar seu ser mais jovem por
concordar com a proteção de Tucker. Para ser justo, ele tinha apenas seis anos
na época, um pequeno menino desesperado, fácil de enganar, assustado e
sem defesa. Na época, a proteção de Tucker parecia uma dádiva de
Deus. Agora parecia como uma forma de escravidão, com suas crescentes
demandas. Sam sabia que Tucker nunca o deixaria sair de sua gangue. Ele era
o ganso dourado dele, capaz de trazer mais dinheiro do que todos os outros
meninos juntos. Ele nunca seria livre.
Empurrando o pensamento deprimente, Sam tentou se concentrar no
trabalho.
A mulher tinha sua bolsa na mão esquerda. Sua mão direita tinha
acabado de levar o iPhone ao ouvido.
Sam tirou seu próprio telefone maltratado, um Nokia antigo,
arranhado e manchado, mas indestrutível, e caminhou em direção à mulher,
com os olhos fixos em seu telefone. Nada suspeito. Apenas outro adolescente
enviando mensagens de texto a seus amigos e não dando atenção onde estava
indo.
Sam colidiu com a mulher, murmurou suas desculpas e se afastou, a

1
Moeda oficial da Inglaterra e Reino Unido.
bolsa dela dobrada debaixo da jaqueta.
Ele virou a esquina e desapareceu no beco escuro. Olhando em volta
e certificando-se de que estava sozinho, tirou a bolsa e abriu.
Seus olhos se arregalaram quando viu seu conteúdo. Dinheiro. Muito
dinheiro. E esses eram diamantes?
Algo frio pressionou contra a nuca de Sam.
— Não se mexa. — Disse uma voz masculina profunda.
Sam amaldiçoou em voz baixa. Estúpido. Deveria ter suspeitado de
algo. Tinha sido muito fácil, mesmo para ele.
— Leve-o ao carro. — Disse a mesma voz. Dois homens corpulentos
agarraram os braços de Sam e o arrastaram para a van negra estacionada ao
virar da esquina.
Sam não resistiu, sua mente estava correndo. Quem gostaria de
sequestrá-lo e por quê? Ele não era ninguém. Bem, não exatamente ninguém,
mas era um peixe pequeno num lago muito grande. Por que ele?
Os homens o empurraram para dentro, mas não entraram com
ele. Sam ouviu um deles entrar no banco do motorista e o outro ocupar o
assento do passageiro.
Quando começou a se perguntar se deveria tentar sair do carro, outro
homem entrou na parte de trás da van e sentou na sua frente.
Sam olhou-o cautelosamente. Não o reconheceu. Ele tinha cabelos
castanhos e olhos escuros, sua pele era morena, ou estava bronzeada. Sam
não sabia dizer qual. O homem estava vestido com calça preta e uma simples
camisa preta de gola alta que não fazia nada para esconder seu corpo alto e
musculoso.
— Olá, Sam. — Disse o homem quando o carro começou a se mover.
Sam piscou.
— Assustador.
Algo que poderia ser diversão cintilou nos olhos do homem.
— Eu poderia tornar ainda mais assustador. — Sua voz era
incrivelmente profunda e rica, o tipo de voz que chamava a atenção das
pessoas. — Você é Sam Landon, tem dezoito anos e é um membro da pequena
gangue de Ed Tucker.
A pele de Sam arrepiou. Ninguém sabia seu sobrenome. Nem
mesmo Tucker.
— O que quer de mim? — Ele disse.
O homem apenas o olhou por um longo momento.
Ele era muito atraente, Sam percebeu com desconforto e
aborrecimento.
Não era como se tivesse um problema com homens bonitos; era só...
Não gostava do efeito que tinham sobre ele. Sam tendia a corar, balbuciar e
fazer coisas estúpidas em torno de garotos bonitos - que sempre eram héteros
ou desinteressados nele - o que tornava tudo ainda mais mortificante.
Hormônios são terríveis e ter dezoito anos sugava.
— Aqui está a coisa... — Disse o homem. — Você está em apuros.
Roubou vinte mil libras e uma pulseira de diamantes de um cidadão
proeminente.
— Você armou para mim. — Sam disse. — Eu nunca fui pego!
O homem piscou lentamente, seus lábios se contorcendo.
— Isso é irrelevante. O importante é que foi pego roubando uma
soma substancial de dinheiro e uma herança inestimável. Normalmente, isso
significaria prisão.
Sam franziu os lábios.
— O que você quer?
— Queremos que trabalhe para nós. — Disse o homem.
Sam não podia dizer que estava surpreso. Ele suspeitou que fosse
uma armadilha. Sabia que tinha feito um nome próprio em certos círculos.
— Para quem você trabalha? Big Johnson? Xavier?
O homem riu, o som rouco e profundo.
Sam sentiu o estômago apertar e amaldiçoou seus estúpidos
hormônios mais uma vez.
— Ninguém tão excitante, receio. — Disse o homem. — Trabalho para
o SIS.
— SIS... — Sam repetiu confuso.
— Serviço de Inteligência Secreta. — O homem esclareceu, como se
Sam não soubesse o que era. — Ou MI6, se você preferir.
Sam o olhou por um momento antes de dizer:
— Prove.
O homem levantou as sobrancelhas.
— Você percebe que ser um Agente de Inteligência Secreta não é
algo que alguém anuncia, certo?
— Besteira. — Disse Sam. — Se você realmente é um agente do MI6,
precisará de algum tipo de identificação para provar à polícia que suas ações
são sancionadas pelo governo. É terrivelmente impraticável que seus
superiores não tenham problemas sempre.
Pela primeira vez, Sam viu algo como aprovação nos olhos escuros e
teve que lutar contra o rubor ameaçando colorir suas bochechas. Hummm.
Hormônios.
— Gosto de você, Red. — Disse o homem, o que realmente não
estava ajudando com a situação de seu rubor. — E normalmente, você estaria
certo. Mas, estritamente falando, os agentes do MI6 não estão autorizados a
realizar operações em casa, de modo que ter um ID real não ajudaria. A
maioria dos nossos agentes de campo possui identidades falsas emitidas pelo
MI5.
— Mas não você?
O homem sacudiu a cabeça.
— Pertenço a uma divisão especial que não possui IDs. Sou conhecido
como Agente 11, ou A11.
Sam riu.
— Agente11? Sério? Vai me dizer que há o agente 007 também?
O olhar que o agente 11 lhe deu foi definitivamente mordaz.
— Não, James Bond e seus similares não são reais. Mas o MI6 é. E
alguns de nós têm nomes código.
— Então, como você se chama? Sinto-me bobo, te chamando de
agente 11 na minha cabeça.
— Confidencial.
Sam sorriu.
— Seu nome é confidencial? Muito incomum.
— Coisinha insolente. — Murmurou o agente 11. — Não posso te
contar meu nome. Não tome isso pessoalmente. Apenas duas pessoas no MI6
conhecem o meu verdadeiro nome.
Sam recostou-se no assento e colocou as pernas no banco oposto, ao
lado do agente.
— Então, se eu concordar em trabalhar para o MI6, também recebo
um nome código? Posso escolher o número?
O agente 11 olhou para as pernas dele, sem parecer impressionado.
— Se for recrutado, será um estagiário por um tempo. Se participar
de missões enquanto estiver treinando, terá um nome código aleatório. Mesmo
se você completar com sucesso o programa de treinamento, provavelmente
será apenas o agente Landon. Desculpe te decepcionar, mas a maioria dos
agentes do MI6 não tem nomes código permanentes.
— Mas você tem. — Sam apontou, intrigado. — Por quê?
— Você sabe o que acontece com gatos curiosos, Red?
— Eles morrem.
— Precisamente.
Sam olhou para ele. Não estava certo de que o cara estava
brincando, considerando seu trabalho.
— Certo. — Sam disse com um sorriso estranho antes de franzir a
testa. — E pare de me chamar de Red.
O agente 11 encolheu os ombros.
— Então, vai aceitar o trabalho?
Sam inclinou a cabeça para o lado, um pouco confuso.
— Tenho uma escolha?
— Sempre há uma escolha. — Disse o agente 11.
— Se a outra opção é a prisão, não há realmente uma escolha.
O agente 11 o olhou de forma constante, algo surgindo em sua
expressão.
— Se realmente não deseja servir seu país e protegê-lo, saia do
carro. Não vou te impedir.
Sam teria zombado e revirado os olhos, mas o olhar sério e mortal no
rosto do agente o fez hesitar. Ele sentiu que esse homem não era um para
discursos patrióticos vazios.
— Você está falando sério.
— Claro que sim. — O agente 11 suspirou. — Olha, não é um
trabalho bonito. Às vezes você será forçado a fazer coisas... Que vai
absolutamente odiar, coisas que vão fazê-lo vomitar e querer evitar seu reflexo
no espelho. — O agente 11 deu um sorriso que não alcançou seus olhos. —
Confie em mim, se realmente não acredita que está fazendo o que é certo, que
seu país precisa que você aguente e continue com isso, não vai durar muito no
Serviço Secreto.
Sam ficou nervoso, sentindo-se um pouco desconfortável. Enquanto
não se considerava muito patriota e nunca teve a ambição de servir a Rainha e
ao País, também não era antipatriótico. Se tivesse uma escolha, ele gostaria
de estar no lado bom por uma vez. Sem mencionar que, se aceitasse o
emprego, ficaria livre de Tucker e sua ―proteção‖. Essa era uma vantagem
bastante significativa no livro de Sam.
— Você é um recrutador ruim. — Disse Sam. — Não deveria me
convencer de que eu seria louco por não aceitar uma oferta de trabalho como
essa?
Um genuíno olhar de diversão apareceu no rosto do agente 11.
— Provavelmente.
Sam viu isso como confirmação de que o agente recebeu ordens de
recrutá-lo, uma com a qual claramente discordava, mas foi forçado a seguir.
— Por que não quer que eu aceite a oferta de emprego?
— Você é muito jovem. — Disse o agente 11. — Este estilo de vida
não é seguro para crianças.
Sam sorriu torto.
— Sem ofensa, agente 11, mas meu estilo de vida atual também não
é seguro. — Ele hesitou. — Para que tipo de missão você me quer?
— Cond.
Sam cruzou os braços sobre o peito e fez uma careta exagerada.
— Você realmente é um recrutador ruim.
Os lábios do agente 11 se contraíram.
Sam suspirou, pensou por um momento e perguntou:
— Será que vou ter meu próprio apartamento? — Uma casa. Algo
meu.
— Sim. Depois de terminar o treinamento.
Sam lambeu os lábios secos.
— Onde eu assino?
O agente 11 tocou o pequeno comunicador de orelha que Sam nem
sequer notou até então.
— Ele está dentro. — Disse o agente 11, sua postura relaxou, mas
seus olhos continuaram sombrios.

Capítulo 3

A vida de um estagiário do MI6 não era tão glamorosa quanto Sam


imaginou que seria.
Por um lado, a sede real, não o prédio da SIS em Vauxhall que o
público conhecia, meio que o assustou. Havia câmeras em todos os lugares.
Todo o edifício era monitorado, havia vigilância eletrônica até mesmo nos
banheiros. Demorou algum tempo para se acostumar. Felizmente, embora
tivesse que compartilhar seu quarto na instalação de treinamento com outro
estagiário, o quarto não tinha câmeras de segurança, o que pelo menos lhes
proporcionava algum mínimo de privacidade.
Não que Sam visse muito do seu quarto. Treinava dezesseis horas
por dia e às vezes mais do que isso. Até agora, o treinamento incluía o físico,
de armas e equipamentos, em sistemas informáticos e eletrônicos, em línguas
estrangeiras e, claro, em combate.
Pelo menos, todo o treinamento físico parecia estar dando resultado:
seus braços começaram a parecer muito bem, e se realmente se olhasse na
frente do espelho, Sam já podia ver algo que se assemelhava a um pacote de
seis. Ou pelo menos um de quatro.
No entanto, não era como se pudesse usar seus novos músculos
brilhantes para pegar garotos gostosos, mais frequentemente do que não, Sam
estava tão cansado após as sessões de treinamento que apenas caia na cama
e dormia como os mortos.
Não se lembrava de dormir tão bem, não desde... Talvez não desde
que sua mãe morreu. Não que pudesse lembrar muito de sua mãe. Às vezes,
pensava que poderia se lembrar de um abraço quente e seguro e uma voz
suave cantando uma canção de ninar, mas essas pequenas lembranças eram
nebulosas, como um sonho. Não sabia se eram reais ou não. Era tão injusto
que não se lembrasse muito de sua mãe, mas poderia lembrar perfeitamente
do sorriso de escárnio no rosto de seu tio e de todas as palavras detestáveis
que havia dito. Pirralho sem valor. Sua mãe deveria ter te abortado quando
teve a chance. Você não é nada além de um fardo. Um parasita.
Depois de viver dois anos sobre a fúria induzida pelo álcool de seu
tio, Sam fugiu, mas essas palavras ficaram com ele. Prometeu a si mesmo que
nunca mais seria um fardo para ninguém.
Em suma, Sam se considerava um afortunado. Poderia ter sido pior,
muito pior. Seu tio nunca o machucou fisicamente. Nunca foi forçado a dormir
lá fora no inverno. Tudo bem que estar sob a ―proteção‖ de Tucker não era
muito melhor.
Em comparação com sua vida antiga, a vida de um estagiário do MI6
era fácil e agradável. Sam nem sequer se importou com o fato de parecer ser o
único inscrito num programa de treinamento tão intenso.
— Estou com tanto ciúme de você. — Kira, outro estagiário, disse
duas semanas depois do início do seu treinamento enquanto Sam fazia uma
pausa rara para o almoço. — Perguntei por aí. O programa de treinamento
acelerado é para casos especiais. O que significa que você terá uma missão
real em breve.
Sam assentiu. Tinha a sensação de que havia sido recrutado com
uma missão específica em mente. Estava muito curioso sobre isso e um pouco
nervoso.
Mas antes que pudesse dizer alguma coisa, notou que a atenção de
Kira estava em outro lugar.
— Esse agente especial está nos olhando. — Kira sussurrou com
entusiasmo.
Sam seguiu seu olhar.
Ficou imóvel quando viu o agente 11. Não o viu, desde que deixou
Sam no centro de treinamento há semanas.
O agente 11 era tão irritantemente quente quanto se lembrava. Os
ombros e os braços do homem pareciam injustamente bem nesse terno, e o
contraste entre sua camisa branca e seu pescoço bronzeado era...
Sam desviou os olhos e disse severamente a si mesmo que parasse
de cobiçar homens heterossexuais. Nas últimas semanas, já ouviu o suficiente
sobre o agente 11 para saber que o cara era hétero. Aparentemente, ele não
era tímido sobre o uso de seu corpo se a missão exigisse e havia seduzido
inúmeras mulheres, se os rumores fossem verdadeiros.
— Então, e daí? — Sam disse com um encolher de ombros.
— Você está de brincadeira? Agentes especiais normalmente nunca
se incomodam com novatos! São a elite, o melhor, o topo da cadeia alimentar.
— Você só quer transar com ele. — Sam disse com um sorriso
tentando suprimir o desejo de olhar para o agente 11. Hétero, hétero, hétero.
Maldição, será que algum dia aprenderia?
— É claro que sim. — Disse Kira descaradamente. — Quem não iria
querer? Mas esse não é o ponto. Os agentes especiais literalmente nunca vêm
aqui. Há, como, vinte deles e todos são, geralmente, profundamente secretos.
Meu Deus, ele até vindo para cá, Sammy!
— Não me chame de Sammy. — Sam corrigiu automaticamente, sua
mente correndo quando viu o agente 11 abordá-los com o agente Brown no
reboque. O agente Brown, o treinador habitual de Sam, parecia um pouco
desconfortável e... Talvez com raiva? Sam não tinha certeza. Ainda não era tão
bom em ler as emoções de pessoas treinadas para escondê-las.
— Landon. — Disse o agente Brown com uma voz entrecortada. —
Agente 11 se ofereceu para assumir o seu treinamento em tortura e
interrogação. Isso foi marcado para esta tarde. Siga-o.
Sam engoliu em seco. Não estava exatamente ansioso para a sessão
de treinamento desta tarde. Sabia que era tortura e interrogação. O
treinamento era obrigatório para todos os agentes de campo, deveriam ser
treinados para resistir à tortura, de modo que não dessem informações
confidenciais. Mas isso não significava que não tivesse com um pouco de
medo. Tinha um limiar de dor embaraçosamente baixo.
Sam olhou para o agente 11. O rosto do homem era impossível de
ler. Simplesmente empurrou a cabeça, fazendo sinal a Sam para segui-lo e
saiu. Sam lutou para alcançá-lo.
— Olá. — Disse Sam. — Você não disse olá. Grosseiro.
O agente 11 lhe lançou um olhar divertido e continuou caminhando.
— Olá, Red. Você está gostando do MI6?
— É... Interessante. — Disse Sam.
— Essa é uma maneira de dizer. — Disse o agente 11, levando-o a
sala de treinamento 4A.
Sam o seguiu até a sala e olhou ao redor nervosamente. Não podia
ver nenhuma ferramenta de tortura óbvia, mas o que sabia de como se
pareciam?
— Então você é um órfão? — Sam falou.
O agente tirou o casaco e jogou na mesa.
— O quê?
— Você é órfão? Perguntei, por que a maioria esmagadora dos
estagiários são. Tenho uma teoria que o MI6 prefere recrutar órfãos, que é,
tipo, fodido? E meio assustador, para ser honesto, porque o motivo é bastante
óbvio, sim? Acho que significa...
O agente 11 riu.
— Respire, Sammy.
Sam corou.
— Estou respirando. Não estou nervoso. É só... Deveria ter chamado
este curso de treinamento de forma diferente, você não acha? Tortura e
Interrogação soa assustador.
Os lábios do agente 11 se contraíram.
— Passarei sua sugestão para os superiores. — Mas então, a alegria
em seus olhos desapareceu, substituída por algo sombrio e implacável. —
Sente-se, Sam.
Sam sentou na única cadeira na sala. Por que estava tão escuro aqui?
— Sinistro. — Disse com uma risada que pareceu dolorosamente
estranha e nervosa mesmo para seus próprios ouvidos. Provavelmente não
enganava ninguém. — Então você vai me torturar agora?
O agente 11 olhou para ele de forma inabalável.
— Vou te contar um segredo. O treinamento de tortura e
interrogação é um monte de merda.
Sam piscou.
— O quê?
Os lábios sensuais do agente 11 se torceram em algo que não era um
sorriso.
— Se você for pego, não há quantidade de ―treinamento‖ que irá
prepará-lo para a coisa real.
Sam sentiu a boca seca.
— Então, para que é esse treinamento?
— Eliminar os mentalmente fracos.
Sam inclinou a cabeça, olhando para o chão.
— Acho que já falhei, então.
— É normal estar razoavelmente nervoso. Estar nervoso não te deixa
fraco. A chave é não permitir que seus nervos obtenham o melhor. Algum
nervosismo pode ser útil no campo, na verdade. Pode te fazer menos
imprudente.
Sam sorriu pesarosamente.
— Você fica nervoso? Durante uma missão?
— Não mais. — Disse o agente. — Mas não sou novato. Não tenho
mais dezoito anos de idade. Tenho uma década de experiência para confiar.
Sam ergueu o olhar.
— Uma década? Quantos anos você tem? — Era difícil identificar a
sua idade. Poderia ser entre vinte e cinco e trinta e cinco. Mas homens com
estrutura facial do agente 11 e a tez bronzeada poderiam parecer
ridiculamente bons mesmo aos quarenta anos. Isso era tão injusto.
— Confidencial. — Disse o agente.
Sam fez beicinho.
— Você não é divertido. — Olhou o outro homem com curiosidade. —
Então, se não vai me torturar e interrogar? O que eu deveria aprender?
— A única maneira infalível de evitar tortura e interrogatório, é não
ser pego. É o que vou te ensinar.
Sam sentou-se mais reto, sorrindo amplamente em excitação.
— Treinamento secreto?
O agente 11 retornou o sorriso dele.
— Sim. Mas temo que não seja tão excitante quanto pensa.
Duas horas depois, Sam estava inclinado a concordar. Treino secreto
parecia um monte de trabalho tedioso e difícil que envolveu um monte de
estudo e preparação.
— A chave para ser um bom agente secreto é conhecer seu disfarce
tão bem que possa pensar e agir como sua cobertura sem forçar isto. Um
momento de pausa, uma ligeira hesitação vai comprometer seu disfarce.
Curioso, Sam disse:
— Você já teve seu disfarce descoberto?
O rosto do agente 11 ficou estranhamente imóvel.
— Sim.
— Por quê? O que você fez de errado?
O agente não respondeu imediatamente.
Sam começou a se perguntar se havia atravessado alguma linha
quando o agente 11 disse calmamente.
— Fui ordenado a matar um espectador inocente, uma mulher
grávida que testemunhou algo que não deveria ter visto. Não pude. Ajudei-a
escapar.
Sam franziu a testa.
— Bem, você fez a coisa certa.
O rosto do agente estava vazio.
— Levou-me onze meses para me infiltrar naquele círculo de tráfico
sexual. Depois que meu disfarce foi queimado, levou ao MI6 mais dois anos
para obter outro agente. — A voz de Dominic era vazia.
Quando ele não continuou a falar, Sam disse, depois de uma
hesitação.
— Não entendo. Você ainda fez o certo.
— Li os relatórios. — Disse o agente 11, sua voz normalmente rica
estava vazia. — Havia crianças entre aqueles profissionais do sexo. A mais
nova tinha oito anos, a mais nova encontrada viva. — Ele encarou Sam e
sorriu. Não foi um sorriso bonito. — Ainda acha que fiz o certo?
Sam olhou para ele, incapaz de formar palavras. Se o agente 11 não
tivesse se exposto, salvando essa mulher, poderia ter salvado essas crianças
anos antes. Poderia ter, teria...
— Como você faz isso? — Sam sussurrou. — Como eu deveria tomar
decisões assim? — Como você vive com sua decisão?
Os lábios do agente 11 apertaram.
— Você pensa na imagem maior. Você tem que compartimentar.
Fazer o que se deve. E o mais importante, não foda tudo e torne-se
sentimental quando não deve.
Sam mordeu a parte interna de sua bochecha.
O agente 11 agarrou seu casaco e o colocou.
— Isso é o suficiente por hoje. Teremos instruções pré-missão
amanhã às oito. Depois disso, teremos uma semana para aperfeiçoar nossos
disfarces.
— Espere, o quê? Minha primeira missão será com você?
O agente apenas assentiu, algo cintilando em seus olhos, antes de
sair da sala.
— A resposta para sua pergunta é sim, por sinal. — Disse abrindo a
porta.
Sam franziu a testa, confuso.
— O quê?
— Os órfãos fazem os melhores recrutas.
E então se foi.

Capítulo 4

O andar administrativo era assustadoramente silencioso, um forte


contraste com o centro de treinamento, que sempre era barulhento e cheio de
pessoas. Sam normalmente não tinha autorização para estar nesse andar, mas
Claudia, a secretária da chefe, informou-lhe que, durante a duração desta
missão, teria a autorização necessária.
Apesar disso, Sam ainda se sentia como um impostor, dolorosamente
consciente de quão jovem e inexperiente era comparado a todos os outros na
sala de instruções. E se viu aproximando-se do agente 11, a única pessoa que
conhecia.
— Sente-se. — Disse a mulher na cabeceira da mesa.
Sam ocupou o assento ao lado do agente 11, oposto ao homem de
meia idade com óculos.
— Sam. — Disse a mulher, forçando Sam a olhar para ela, o que
estava evitando desde que entrou na sala. O olhar penetrante da mulher o
enervou um pouco. — Sei que você ainda é um estagiário e tem um longo
caminho a percorrer até completar seu treinamento, mas, infelizmente, não
temos agentes disponíveis que atendam aos critérios para esta missão, então
não temos escolha senão enviar um estagiário. Confio que você fará o seu
melhor nesse trabalho. Se fizer isso, seu treinamento será acelerado e será o
agente Landon em menos de dois meses.
— Amanda. — Disse o homem com óculos. — Não penso...
Um olhar duro da mulher – Amanda - silenciou o homem. Sam sabia
que seu nome provavelmente não era Amanda. Dizia-se que ninguém além de
alguns poucos superiores no governo conhecia o nome real da chefe. Dentro
do Serviço Secreto, Amanda era simplesmente conhecida como ―C‖. Ela era a
figura sombria por trás do chefe da SIS que o público em geral conhecia e que
não era mais do que um chamariz. Às vezes, todo esse segredo parecia um
pouco exagerado para Sam, antes dele lembrar que havia uma boa razão para
isso. Eles lidavam com terroristas em uma base regular.
— William, descreva os parâmetros da missão. — Amanda disse ao
homem com óculos. Olhando para Sam, ela acrescentou para seu benefício. —
William Mason é o chefe do nosso departamento de Inteligência.
Sam assentiu com gratidão, um pouco surpreso com o quão amável e
atenciosa Amanda estava sendo. Olhou para o agente 11 e o encontrou com
lábios torcidos num sorriso sardônico. Estranho.
A tela grande na parede ligou e Sam olhou para a foto de um homem
loiro de meia-idade.
William Mason limpou a garganta.
— Este é Milosz Brylsko, com quarenta e três anos, chefe do crime
polonês. Sua organização faz parte de um círculo de crime da Europa Oriental.
Brylsko é de particular interesse para nós porque é responsável por fornecer
armas a outros membros do círculo. — Os lábios de Mason franziram. — Se
nossa inteligência estiver correta, recentemente começou a vender armas
nucleares a vários governos europeus.
Sam mergulhou em seu assento, olhando para o agente 11, mas seu
rosto era inescrutável. Provavelmente já sabia disso.
Mason empurrou os óculos para cima e continuou
— Temos razões para acreditar que Brylsko tem uma fábrica nuclear
subterrânea num dos países do terceiro mundo, mas não temos provas. Até
agora, não conseguimos localizá-la. Este é um dos principais objetivos da
missão. O outro é saber quais países já compraram armas nucleares de
Brylsko. O problema é que ele é extremamente cuidadoso e paranoico. Não há
ligações telefônicas ou e-mails sobre armas nucleares que possamos
acompanhar. Não há uma única referência delas nos computadores de sua
organização, pelo menos os conectados à rede e nossos melhores hackers não
conseguiram encontrar nada de util.
Mason respirou fundo antes de continuar:
— Mas nossa fonte conseguiu saber que Brylsko mantém os dados
mais sensíveis num pendrive seguro que sempre carrega com ele. Precisamos
desse pendrive. E precisamos devolver a Brylsko sem que nunca descubra que
saiu de sua posse. É por isso que precisamos de um ladrão excepcional para
esta missão, Landon.
Sam franziu a testa.
— Por que você precisa devolver o pendrive? — Essa parte do plano
tornou a tarefa, de outra forma direta, consideravelmente mais desafiadora. Se
Brylsko realmente fosse tão paranoico quanto Mason disse, então
provavelmente verificaria se o pendrive ainda estava lá. Teriam mesmo tempo
suficiente para quebrar o código de acesso, copiar os dados criptografados e
colocar o pendrive de volta?
Foi Amanda quem respondeu, seu tom era cuidadoso.
— Porque há algumas informações muito sensíveis sobre esse
pendrive. Nós não queremos que alguém saiba que estamos de posse dele. É
por isso que poucas pessoas sabem sobre esta missão.
O agente 11 bufou.
Amanda olhou para ele.
— Seu comentário não é necessário, A11.
O agente 11 ergueu as sobrancelhas.
— Não disse nada, senhora.
Curioso, Sam olhou entre o agente e a Chefe da SIS. Era sua
imaginação, ou esses dois não gostavam um do outro?
Mason limpou a garganta.
— Nós lhe daremos um pendrive que se encaixa na descrição que
nossa fonte nos deu. Você irá trocar pelo original. Isso deve enganar Brylsko
momentaneamente, e nesse meio tempo você copia os dados e devolve o
pendrive original. No entanto, não sabemos com que frequência Brylsko acessa
os dados no pendrive, então, o ideal será descobrir antes de prosseguir, sem
comprometer seu disfarce, é claro.
Ele limpou a garganta novamente.
— Agora, sobre seu disfarce. Brylsko é extremamente paranoico.
Normalmente, é impossível abordá-lo sem que esteja cercado por guarda-
costas e sem ser submetido a extensas verificações de antecedentes. Mas
descobrimos que no final do mês, ele estará num cruzeiro de luxo exclusivo
que atende... Pessoas ricas com os gostos peculiares de Brylsko.
Mason fez uma pausa e deslocou-se no assento. Sam olhou para ele,
perguntando-se por que o homem parecia tão desconfortável.
— Que gostos? — Perguntou quando nem Amanda nem o agente 11
disseram nada.
Mason fez uma careta, um olhar de aversão apareceu em seu rosto.
— Brylsko tem um gosto por pets jovens. — Respondeu Amanda em
seu lugar, seu tom neutro. — Muito jovens, mas principalmente pouco acima
da idade de consentimento. Tanto quanto sabemos, ele não os coage. Gosta
deles dispostos. Gosta de ser... Generoso, os mantêm no luxo. Suponho que
acaricie seu ego.
As sobrancelhas de Sam franziram.
— Quer dizer que ele gosta de manter bebês de açúcar?
Um olhar familiar de diversão passou pelo rosto do agente 11.
— Você tem idade suficiente para saber o que é isso?
Sam o chutou debaixo da mesa, tinha dezoito anos, não era uma
criança! E estava prestes a dizer algo mordaz quando um pensamento o
deteve.
— Espera. Você quer que eu seja o bebê de açúcar? O bebê de açúcar
de Brylsko? — Tentou não mostrar o quanto a perspectiva o fez sentir mal.
— Nada tão drástico. — Disse Amanda. — Você será um dos ―animais
de estimação‖ colocado num leilão. A probabilidade de Brylsko tomar
conhecimento de você e te querer para si mesmo são bastante pequenas. Você
será comprado pelo nosso agente.
— Comprado? — Sam repetiu.
Mason suspirou.
— Sim. Os organizadores do cruzeiro fazem um leilão privado para
passageiros ricos que gostariam de comprar um chamado escravo. Os escravos
não são realmente escravos. É apenas uma fantasia doente para os ricos e
pervertidos. Nós verificamos, os escravos entram no arranjo de bom grado e
todo o dinheiro de suas vendas vão para suas contas bancárias. São
literalmente apenas mulheres e homens jovens que procuram um rico pai de
açúcar e que desejam tocar a fantasia de ser uma propriedade. — Mason deu
ao agente 11 um olhar aguçado. — Quero deixar claro que o leilão não é o
nosso alvo. Deixe-o quieto, A11. É obscuro, mas não é preocupante para o
MI6. Não jogue de herói.
O agente 11 assentiu.
— Vou tentar me conter.
Sam desejou parecer tão legal quanto o agente 11 quando estava
sendo sarcástico.
Amanda deu uma olhada no agente.
— Por favor, faça.
O agente 11 manteve seu olhar firme.
— Se você tem um problema com a minha condução de missões, não
é tarde demais para escolher outro agente, senhora. Sabe que esta missão
pode atrapalhar meu disfarce de longo prazo.
Amanda franziu os lábios.
— Nós já passamos por isso, A11. Seu outro disfarce não será
comprometido.
O maxilar do agente 11 apertou. Ele não disse nada.
Sam olhou entre eles com curiosidade. Pensou em perguntar sobre o
que era isso, mas então algo mais o acertou. Olhou para o agente 11.
— Você estará fingindo ser meu pai de açúcar?
— Sim, ele vai. — Disse Amanda, sua voz como aço, seus olhos
aborrecidos no agente. — Como William disse, Brylsko é extremamente
paranoico. Não tenho dúvidas de que ele executará verificações de
antecedentes em todos os passageiros. Nós não sabemos quão minuciosos
serão. Se sua cobertura falhar, sua outra provavelmente será a que Brylsko
descobrirá, o que irá mantê-lo seguro. Ele só pensará que está com muita
vergonha de suas fantasias pervertidas para reservar o cruzeiro sob seu nome
real.
O agente 11 deu um aceno rápido.
Mason disparou ao agente um olhar um tanto preocupado antes de se
virar para Sam e dar-lhe uma pasta de arquivos.
— Estude isso. Você é Samuel ―Sammy‖ Whitmarsh, um órfão com
poucos meios para se sustentar, mas com gosto pelas coisas caras. Você gosta
de homens mais velhos, especialmente se eles podem lhe dar o estilo de vida
que deseja. Desde que você tinha dezesseis anos, esteve em vários serviços
de namoro on-line, atendendo a bebês de açúcar. Descobriu sobre o cruzeiro
on-line, através de um amigo de um amigo, o cruzeiro tem alguma reputação
em certos círculos, por isso é plausível.
Sam pegou a pasta e a olhou ansiosamente, sua mente correndo
mais de cem quilômetros por hora.
Entretanto, percebeu quando Mason entregou ao agente 11 uma
pasta similar.
— Se qualquer um de vocês tiver alguma dúvida, venha até mim. —
Disse Mason. — Você tem seis dias para preparar o Sam. Teremos instruções
finais antes dele voar para a Turquia. Você vai sair uma semana depois.
O agente 11 assentiu e saiu da sala. Sam correu atrás dele.
— Tenho uma pergunta. — Disse uma vez que estavam no corredor.
O agente olhou para ele e continuou caminhando.
— Você ouviu Mason. Se tiver alguma dúvida, vá até ele.
— Você não é hétero? Tem certeza de que pode interpretar de
maneira convincente um papai gay?
O agente 11 realmente riu.
Sam piscou e cruzou os braços sobre o peito.
— Não gosto quando as pessoas riem as minhas custas.
— Sam. — Disse o agente suavemente. — Confie em mim, este não
será o disfarce mais estranho ou o mais difícil que já tive. Longe disso. — Ele
olhou para Sam, franzindo a testa. — Você ainda não pareceu entender. Não
importa quais são nossas preferências pessoais. É nosso trabalho. — Olhou
para a pasta na mão de Sam. — Estude seu disfarce. Tente entender o que
motiva o Sammy. Seu disfarce deve ser perfeito. Se não estiver, estamos
ambos ferrados. — O agente 11 olhou ao redor, com os olhos nítidos, antes de
se inclinar e dizer calmamente: — O que Amanda e Will não disseram foi que
não haverá uma equipe de extração se ferrarmos com o plano. Nós estaremos
sozinhos.
A boca de Sam ficou aberta.
— O quê? Por quê?
— Porque já tentamos pegar Brylsko antes. Nosso agente foi
descoberto. Mas, ao invés de apenas matá-lo, Brylsko fez muita confusão
sobre o Serviço de Inteligência Secreta Britânico ―espionando ilegalmente‖ um
―empresário honesto‖.
Os lábios do agente 11 se torceram.
— Brylsko tem muitas conexões no governo polonês e na União
Europeia, e tecnicamente, não há nenhuma prova conclusiva de que ele seja
algo além de um empresário. Ele é muito bom para cobrir suas pistas, o tipo
escorregadio que sempre tem um plano de contingência para tudo. Assim, o
Reino Unido foi colocado numa posição muito complicada. Oficialmente, esta
missão não é sancionada. Precisamos de provas de suas ações, mas não
podemos nos permitir ser capturados de novo. Brylsko e o governo polaco têm
muita alavancagem política como é, graças a esse fiasco.
— E queremos a alavancagem de volta. — Disse Sam. — Mas sem
alertar Brylsko para que não cubra suas pistas novamente?
O agente 11 sorriu e bateu no seu ombro.
— Nós faremos de você um agente secreto, Red.
Sam tentou não se envaidecer, mas falhou e gemeu internamente.
Hormônios estúpidos.
Capítulo 5

As sessões de treinamento secreto com o agente 11 na semana


seguinte, foram bizarras e educativas. Eram fascinantes de uma maneira que
as lições mais tradicionais de Sam não eram. O agente 11 destruiu
completamente as ideias preconcebidas que Sam tinha sobre a vida de um
espião secreto.
— Primeiro, esqueça tudo que viu em filmes de espionagem. — O
agente 11 disse, montando o rifle em suas mãos com calma e eficiência
praticada. — Na maioria das vezes, não participamos de perseguições de
carros cheias de adrenalina, explosões e tiros. Na maior parte do tempo,
você será invisível, misturando e recolhendo informações do interior de
qualquer organização criminosa em que recebeu ordens para se infiltrar. Não
é seu trabalho entrar com armas em punho. Existem outras divisões para isso.
— Está realmente dizendo que nunca teve missões de matar? — Sam
disse, sem se preocupar em esconder seu ceticismo.
— Não. — O agente 11 colocou o rifle em um tripé montado na sua
frente, olhou através dele e fez pequenos ajustes na mira. — Estou dizendo
que, quando me ordenam matar, é de forma silenciosa e imperceptível, sem
explosões envolvidas. Mas as missões de eliminação são realmente muito
raras. Não é nosso trabalho principal.
— Então, qual é o nosso trabalho principal? — Sam disse, ficando
confuso. — Infiltração?
Quando o agente não respondeu, Sam percebeu que havia colocado
protetores auditivos e estava prestes a dar um tiro. Rapidamente, Sam colocou
seus próprios protetores e observou o rosto concentrado do agente 11.
Finalmente, o outro homem disparou, o som ensurdecedor mesmo
com os protetores. O recuo empurrou o rifle em seu ombro, mas o agente 11
sequer piscou.
Ele acertou o alvo no centro.
Puxando o rifle em seu ombro, suas mãos acariciando o cano
enquanto se colocava em posição, o agente 11 disparou várias rodadas em
rápida sucessão, desta vez sem qualquer preocupação com o alvo. E ainda
acertou no centro.
Lambendo os lábios, Sam tentou pensar em algo repugnante. Não,
não estava ficando excitado por ver um cara quente manusear uma arma. Não,
não, não. Mas podia ser possível que tivesse um fetiche por competência.
— O que estava dizendo? — O agente 11 disse, tirando os protetores
auditivos de Sam e depois os dele.
Foi uma luta lembrar do que estavam falando.
— Hum... — Disse Sam, muito inteligentemente. — Qual é o nosso
trabalho, então?
— Nosso trabalho principal é olhar alguém nos olhos e mentir. Você
deve ser capaz de mentir tão bem que possa enganar até mesmo alguém que
te conhece, levando-o a pensar que não é realmente você.
Sam olhou diretamente para o rifle que o agente estava
desmontando.
— Por que precisa dessa coisa, então?
— Porque as coisas raramente são perfeitas, não importa quão bom
você seja. É claro que, se é um bom mentiroso, pode ser capaz de improvisar
e sair do problema, em vez de recorrer à força bruta. Isso é sempre preferível,
mas nem sempre possível. — O agente 11 afastou o rifle e olhou para Sam
atentamente. — Você estudou seu disfarce para a missão?
— Claro.
— Acha que entende o seu disfarce?
Sam assentiu depois de alguma hesitação. Ele fizera sua pesquisa e
estava bastante confiante, mas o olhar de avaliação do agente 11 estava
fazendo com que se questionasse novamente.
— Vamos ver. — Disse o agente 11 suavemente, levando Sam para
fora do campo de tiro e para a sala vazia mais próxima. Quando a porta se
fechou atrás deles, ele disse:
— Dispa-se.
Sam ficou olhando.
— Por quê?
— Por que acha?
Sam suprimiu a resposta inadequada e se forçou a pensar.
— Vou ficar nu durante o leilão. — Disse ele. — Quer verificar o quão
confortável estou em ficar nu na frente de um público.
A aprovação silenciosa nos olhos do agente fez com que calor se
espalhasse na barriga de Sam e, mais uma vez, teve que reprimir o desejo se
erguendo. Merda, aquilo estava ficando chato - e bastante alarmante, para ser
honesto. Não queria a aprovação do agente 11. Ele não queria.
— Sim. — Disse o agente 11. — Você é Sammy, um menino
aventureiro, que voluntariamente se inscreveu num leilão ilegal, procurando
um rico papaizinho para cuidar de suas necessidades. Nudez não incomoda
você. Gosta de atenção. Sabe que está bem. Está orgulhoso do seu corpo e
quer mostrá-lo para atrair a melhor pegada possível. — O agente 11 olhou-o
pensativo. — Você está excitado. Talvez até tenha provocado. Hmm... Corar
também seria aceitável. Você não é necessariamente uma virgem corada, mas
é inteligente o suficiente para entender que alguns homens poderosos gostam
da falsa inocência. Agora me mostre isso, Sammy.
Sam respirou fundo e começou a se despir, tentando entrar na
mentalidade certa. Não queria decepcionar esse homem. Queria provar que
poderia fazer isso. Queria ser bom.
Puxando sua roupa íntima e meias, Sam se endireitou, ciente de quão
nu estava. Após um momento de pausa, caiu de joelhos e esperou, seu olhar
baixou, os cílios ocultando sua expressão.
A partir daquela posição, tudo o que podia ver eram os sapatos
pretos brilhantes e a calça negra do agente 11. Respirou profunda e
uniformemente, tentando pensar como Sammy.
Não estava envergonhado.
Não estava embaraçado.
Sabia que era bonito e desejável...
Não, ele não era. O agente 11 era hétero. Sam provavelmente
parecia patético para ele, ajoelhado num chão frio, pálido, nu, e um pouco
excitado. As bochechas de Sam queimaram de humilhação.
— O que foi? — O agente disse, se aproximando. — Você estava indo
tão bem, mas agora está todo tenso e desajeitado.
Sam sacudiu a cabeça.
— Apenas sentindo-me autoconsciente. — Ele murmurou, olhando
para o chão.
— Não fique. — O agente 11 disse, empurrando a franja frouxa de
Sam para longe de seus olhos. — Olhe para mim, Red. — Sua voz era gentil,
mas imponente.
Sam obedeceu.
— Sinto muito... Não sou bom nisso. Pareço ridículo.
— Você não parece. Confie em mim, não tem motivos para se sentir
autoconsciente. Você é exatamente do tipo que os idiotas ricos gostam.
Sam zombou, incapaz de encontrar os olhos do outro homem.
— Vindo de um hétero, isso não significa muito. — Ele murmurou.
— Sam.
O comando na voz era impossível de ignorar. Relutantemente, Sam
olhou-o nos olhos.
— Eu posso ser hétero, mas não sou exatamente novo nisso. — Disse
o agente 11. — Tenho fingido ser um homem gay nos últimos anos para outra
missão.
A boca de Sam se abriu.
— Mesmo? Por quê?
O agente 11 sacudiu a cabeça.
— Eu não deveria estar falando sobre isso com você. Não tenho
autorização.
Sam deu a ele seus melhores olhos de cachorrinho.
— Por favor?
A expressão do agente 11 ficou tensa antes dele rir.
— Você é uma maldita ameaça. — Ele suspirou quando Sam sorriu. —
Tenho que namorar o herdeiro de um dos homens mais ricos do Reino Unido,
que é suspeito... De vários crimes internacionais muito graves. Meu disfarce
precisa ser à prova de balas. Precisa ser bom o suficiente para suportar
qualquer quantidade de escrutínio. É por isso que está demorando tanto.
Sam enrolou as mãos no colo.
— Como vai... Seduzir esse cara se você não é gay?
Agente 11 parecia quase divertido.
— Há coisas que podem me ajudar com isso.
Sam torceu o nariz.
— Viagra?
O agente encolheu os ombros, parecendo despreocupado.
— Se necessário. O cara é bonito o suficiente para ser confundido
com uma mulher, então pode não ser necessário. — Ele olhou para Sam. —
Meu ponto é, tenho fingido com sucesso ser um homem gay por
anos. Então, gosto de pensar que sei do que estou falando.
— E realmente não acha que pareço ridículo?
— Não. — Disse o agente 11. — Você parece bem. Agora vamos
tentar de novo.
Sam assentiu, inalou profundamente e relaxou seu corpo. Ele era
Sammy, um menino aventureiro que voluntariamente se inscreveu num leilão
ilegal, procurando um papaizinho.
A nudez não o incomodava. Sabia que parecia bem. Sabia que ele era
desejável. Gostava da atenção. Gostava de sentir os olhos em seu
corpo. Queria que as pessoas o quisessem. Queria ser adorado e mimado.
Ele era Sammy e se sentia bonito. Desejável.
— Bom trabalho, Sammy. — Disse o agente 11, colocando uma
grande mão calejada na nuca de Sam.
Sam não ficou tenso. Ele não recuou. Olhou através de seus cílios
para o outro homem, mordendo o lábio inferior e se inclinando para o toque
sutilmente.
Os olhos escuros sorriram para ele.
— Você está pronto.

Capítulo 6

Em qualquer outra circunstância, Sam teria ficado animado em


participar de um cruzeiro pelo Mediterrâneo, especialmente quando o navio era
como um hotel cinco estrelas, incluindo mesas repletas de cristais e vasos de
palmeiras.
Tudo bem que não viu muito do navio antes que entrasse numa
enorme cabine abaixo do convés, que servia como cabine temporária para
todos os garotos e garotas que participavam do leilão.
Sam lutou para manter sua expressão adequadamente animada,
enquanto observava os outros conversarem animadamente sobre o leilão, que
deveria começar em menos de meia hora. Seu estômago revirou
desconfortavelmente.
Para se distrair, olhou para os outros meninos e meninas. Havia cerca
de duas dúzias deles, e todos pareciam surpreendentemente bonitos e
confiantes. Não importava o quanto tivesse estudado para o seu disfarce, Sam
se sentia como uma fraude, como se a qualquer momento imaginariam que
não pertencia aquele lugar.
— Nervoso?
Apenas seu treinamento com o agente 11 o impediu de se
encolher. Colando um sorriso, ele se virou.
Uma garota da sua idade sorria para ele com simpatia. Ela era muito
pequena e bonita, com longos cabelos dourados e enormes olhos azuis.
— Você é novo nisso, não é?
Sam assentiu. Ele estava feliz por ter um disfarce de novato; não
achava que poderia ter conseguido se passar por alguém experiente naquilo.
— Sou Sammy. — Disse ele, estendendo a mão.
A garota a sacudiu.
— Sou Marta. Prazer em conhecê-lo! — Ela passou o braço pelo dele e
sorriu. — Não fique nervoso, querido. Vai ficar tudo bem. Minha melhor amiga
participou deste cruzeiro no ano passado e não poderia estar mais feliz com
seu papaizinho.
— Mesmo? Ela tem um bom?
Martha sorriu.
— Eu o vi. Apenas quarenta e quatro e se encaixam pra
caralho. Trata-a como uma princesa. Estou com tanta inveja, espero ser
comprada por alguém com metade dos seus bens.
Sam mal se impediu de se encolher. Era difícil acreditar que todas
aquelas pessoas, aparentemente normais, quisessem ser compradas como
escravas.
Para ser justo, sabia que o dinheiro provavelmente não era a única
motivação para eles. De acordo com sua pesquisa, alguns bebês de açúcar
gostavam da sensação de segurança, de estar sendo provido, cuidado. Alguns
gostavam genuinamente de fazer homens mais velhos - ou mulheres -
sentirem-se jovens novamente e proporcionar-lhes conforto e afeição após um
dia estressante.
Também sabia que alguns deles, na verdade, eram animais de
estimação, que serviam outras pessoas. E, claro, alguns bebês de açúcar
estavam lá apenas por dinheiro.
Ele se perguntou a que categoria Martha pertencia. Decidiu que não
faria mal perguntar.
— O que você está procurando? — Sam disse. — Um relacionamento
completo ou um companheirismo mutuamente benéfico?
Martha deu de ombros.
— Estou aberta. Quero dizer, obviamente não vou assinar um
contrato ―tudo incluso‖ com alguém que não estou razoavelmente atraída, mas
vou ficar bem com todo o resto, desde que sejam legais e me tratem
bem. Gosto de pessoas e elas gostam de mim, então não espero nenhum
problema em prover apenas companhia. — Ela piscou. — Mas, obviamente,
ficaria mais feliz com um papaizinho que adoraria meu corpo francamente
incrível.
Sam bufou e decidiu que gostava dela.
— E você? — Ela disse.
Sam encolheu os ombros.
— Gosto da ideia de ser o favorito de alguém. Tipo, amo ser adorado,
mimado e elogiado. O sexo é secundário para mim, mas obviamente não me
importo com sexo, se ele não for feio.
Ela sorriu em compreensão.
— Tenho certeza que vai encontrar alguém. — Disse ela, dando-lhe
um tapinha no braço. — Você tem cílios incríveis! Eu queria que os meus
fossem...
— Atenção, por favor!
Eles se voltaram para a mulher de meia-idade num terno, que
apareceu na porta. Se Sam não soubesse melhor, ele a tomaria por uma
administradora em uma empresa de negócios mediana.
— Por favor, preparem-se. Podem deixar suas roupas e coisas
aqui. Nenhum telefone é permitido. Não se preocupem, suas posses estarão
seguras.
Martha sorriu para Sam e começou a se despir. Não havia sinal de
vergonha ou embaraço em seu rosto bonito, como se despir-se numa sala
cheia de estranhos fosse perfeitamente normal.
Sam seguiu o exemplo, escondendo sua inquietação.
Eu posso fazer isso, ele disse a si mesmo com firmeza.

*****
Meia hora depois, ajoelhado na plataforma redonda no meio da
enorme sala, nu e tremendo, Sam já não tinha mais a certeza de que
conseguiria fazê-lo.
Toda a experiência era surreal. Podia ver pelo canto do olho os outros
pets, ajoelhados de maneira semelhante, com as cabeças baixas,
completamente nus, enquanto dezenas de homens ricos em ternos feitos sob
medida e algumas mulheres em vestidos igualmente caros andavam pela
plataforma, ficando ociosos, conversando e os examinando, como se fossem
gado em exposição para potenciais compradores - o que supunha que fossem.
Sam estava dividido entre rir histericamente do ridículo total da
situação e odiar cada um daqueles ricos idiotas. Era repugnante e meio triste
que o dinheiro pudesse tornar qualquer fantasia ridícula de algumas pessoas
realidade.
A pior parte era que nem sequer vislumbrara o agente 11 até
agora. Isso fez seu estômago apertar com ansiedade. Conforme instruído, não
esteve em contato com o MI6 desde que chegara à Turquia. E se algo tivesse
acontecido e o agente 11 nem estivesse no navio? E se o disfarce dele já
tivesse sido explodido? E se Sam estivesse sozinho ali? E se...
— Levante a cabeça, garoto. — Disse uma voz masculina, num inglês
com forte sotaque. Um sotaque polonês.
Sam fez o possível para não congelar. Ergueu a cabeça devagar e
conseguiu manter a expressão dócil ao encontrar os olhos pálidos de Brylsko.
Ele tinha visto a foto do alvo, é claro. Objetivamente, Brylsko era
bastante atraente para um homem de meia-idade. Seu cabelo loiro tinha
apenas um toque de cinza nas têmporas; seus dentes eram brancos, sua pele
suave. Mas apesar de sua aparência arrumada, havia algo... Oleoso no
homem. Reptiliano. Ele lembrou Sam de uma cobra. Uma cobra escorregadia.
— Quantos anos tem, querido? — Brylsko disse, seu olhar varrendo
Sam.
Suprimindo a vontade de falar que toda a informação estava
disponível nos tablets fornecidos pelos organizadores do leilão - um dos quais
estava nas mãos de Brylsko - Sam olhou para baixo e disse suavemente:
— Dezoito, senhor.
Brylsko o segurou pelo queixo e levantou seu rosto novamente. Sam
não conseguiu reprimir o estremecimento de repulsa ao toque. Esperando que
Brylsko confundisse isso com excitação, Sam se inclinou para o toque, seus
olhos examinando a sala discretamente.
Onde diabos estava o agente 11?
— Um menino tão bonito. — Disse Brylsko, segurando sua bochecha e
passando o polegar sobre o lábio inferior de Sam. — Talvez eu dê um lance por
você.
O estômago de Sam rolou. Lutou para manter sua expressão
inalterada. Não tinham considerado essa possibilidade. De acordo com a
inteligência do MI6, Brylsko sempre tinha bebês femininos; ele não
deveria estar interessado nele.
Acalme-se, Sam disse a si mesmo, respirando uniformemente. Ele
não era realmente um escravo e não era um leilão real: realmente poderia
recusar um contrato com o maior lance, se não gostasse deles. O problema era
que, se Brylsko fizesse uma oferta por ele e vencesse, provavelmente ficaria
muito ofendido se Sam recusasse sua oferta generosa.
Isso seria prejudicial para a missão: precisava se aproximar o
suficiente do alvo para roubar o pendrive, afinal.
Porra. Não estava preparado para isso. Seria mentira dizer que
nunca distraiu seus alvos antes de roubá-los, mas isso era outra coisa. Não era
apenas um flerte sem sentido. Não podia imaginar deixar Brylsko tocá-lo, fodê-
lo, possuí-lo. O simples pensamento o fez enjoado. Não queria ser uma
prostituta, nem mesmo pela Rainha e o País.
Antes que pudesse reagir às palavras de Brylsko, uma voz familiar
disse:
— Ele é realmente muito bonito.
Sam quase suspirou de alívio. Agente 11.
Ele olhou para a voz e piscou, observando a figura do agente. Ele
parecia... Parecia completamente diferente. Na semana em que Sam não o viu,
o agente 11 conseguiu fazer um bom trabalho. Enquanto a barba estava bem
cuidada, mudava sua aparência muito, fazendo-o parecer um pouco mais
velho. E isso não era tudo. Havia algo diferente na maneira como o agente se
comportava.
Não parecia mais uma arma cuidadosamente controlada; sua postura
era relaxada, quase preguiçosa, o corte de seu terno de grife de alguma forma
escondendo seu físico impressionante. Era a imagem perfeita de um civil rico e
hedonista. Até a voz dele soava muito melhor do que normalmente.
O agente 11 e Brylsko trocaram um olhar que durou um pouco
demais, até que Brylsko sorriu agradavelmente e estendeu a mão.
— Milosz Brylsko. E você é Dominic Bommer, acredito.
Sam mal escondeu sua surpresa e medo. O nome do agente 11 para
esta missão deveria ser William Robertson, não Dominic Bommer. Seu disfarce
já estava queimado?
Sam olhou para o agente, mas ele não parecia surpreso nem
cauteloso. Parecia... Envergonhado?
— Apreciaria se mantivesse meu nome verdadeiro quieto. — O agente
11 disse com uma pequena careta, apertando a mão de Brylsko. Depois riu. —
Minha família ficará muito chocada se descobrirem que estou num cruzeiro
como esse.
Brylsko bufou.
— Famílias. Acho que quanto menos souberem sobre nossos...
Interesses, melhor. — Seus olhos azuis se voltaram para Sam. — Não é
verdade, querido?
— Não tenho família, senhor. — Sam disse suavemente, sua mente
correndo. Brylsko havia descoberto o outro disfarce do agente 11? O agente 11
não queria se comprometer? Mudou alguma coisa para esta missão?
— É uma pena. — Disse Brylsko com algo parecido a um sentimento
genuíno. — Fala polonês, garoto?
Sam balançou a cabeça, esperando, além da esperança, que isso o
tornasse menos atraente aos olhos de Brylsko.
— Não sou muito bom em idiomas, senhor. É por isso que prefiro
morar em um país de língua inglesa.
Brylsko olhou para o agente 11.
— Parece que está com sorte, Sr. Bommer. Ou é Lorde
Bommer? Receio não estar muito familiarizado com títulos britânicos e
honoríficos.
O agente 11 sacudiu a cabeça com um sorriso triste.
— A menos que meu primo morra sem deixar filhos, serei um simples
senhor pelo resto da vida. Não ligo para títulos, de qualquer maneira. Não sou
esnobe. Dominic está bem.
— Então deve me chamar de Milosz. — Brylsko olhou para Sam. —
Você está interessado no garoto? Deveria estar. Estou quase tentado, mas
odeio manter meu animal de estimação num país no qual ele não quer estar.
Isso seria cruel, e não sou um homem cruel.
Sam esperava que seu rosto não traísse sua descrença e alívio.
— Ainda não decidi. — Disse o agente 11, olhando para Sam. — Mas
o menino é realmente bonito. — Ele colocou a mão no pescoço de Sam, o
polegar subindo lentamente até chegar ao lábio inferior de Sam.
Desta vez, o arrepio de Sam não foi causado por repulsa.
— Muito bonito. — Disse o agente 11, sua voz profunda ficando mais
rouca.
Sam não teve que convocar o rubor que aqueceu suas
bochechas. Sabia que sua reação era estúpida, ―Dominic‖ era um excelente
ator, mas ele não podia evitar.
— Sammy, não é? — O agente 11 disse, olhando para o crachá aos
pés de Sam.
Sam assentiu, seus olhos se fecharam quando ―Dominic‖ começou a
passar os dedos fortes pelos seus cabelos. Parecia impossivelmente bom. Ele
quase podia entender porque todas essas pessoas queriam viver aquela
fantasia.
Brylsko riu.
— Ele já parece bastante tomado por você.
— Você está, Sammy? — Dominic disse.
Sam forçou os olhos a abrirem e assentiu, inclinando-se para o
toque.
Tinha quase certeza de que podia ver aprovação nos olhos do agente
11.
— Aceitará um contrato comigo, se eu fizer uma oferta por você? — O
agente murmurou, acariciando a bochecha de Sam com os nós dos dedos.
Em vez de responder, Sam virou a cabeça e se aninhou na mão do
agente 11. Antes que pudesse pensar duas vezes, beijou-a suavemente.
Por uma fração de segundo, houve um olhar estranho nos olhos do
outro homem, mas desapareceu tão rápido que não tinha certeza se não tinha
imaginado.
Agente 11 sorriu para ele.
— Vou te ver mais tarde, então.
E então ele recuou - e Sam percebeu que esquecera completamente
que Brylsko estava a poucos metros de distância, observando-os.
— Vamos dar uma olhada em outros pets? — Disse o agente 11,
olhando para Brylsko.
Brylsko olhou de Sam para Dominic, o rosto indecifrável, antes de
acenar e passar para o próximo animal de estimação.
Sam baixou o olhar, obrigando-se a não olhar para o agente 11 se
afastando.

*****
Oito pessoas deram lances por ele. Oito.
Sam pensou que oito pessoas o queriam o suficiente para comprá-lo
por uma quantia exorbitante de dinheiro.
As pessoas ricas eram loucas de pedra.
No final, ―Dominic Bommer‖ ganhou o leilão. Brylsko não tinha feito
nenhuma oferta por ele, comprou uma linda garota de cabelos escuros, mas
Sam o pegou lhe olhando algumas vezes. Não sabia o que fazer com
aquilo. Brylsko suspeitava de algo?
Sam ainda estava ponderando enquanto ele e ―Dominic Bommer‖
lidavam com as formalidades. Para um leilão ilegal, havia uma quantidade
surpreendente de papelada. Parecia que os organizadores do leilão não eram
nada além de competentes. Por curiosidade, examinou seu contrato e quase
ficou boquiaberto ao ver o ultrajante ―Subsídio‖ que Dominic ofereceu para lhe
pagar todos os meses.
Finalmente, depois do que pareceu séculos, o agente 11 o conduziu
em direção ao que provavelmente era sua cabine. Sam foi obediente, tentando
ignorar o toque na parte inferior das costas. Deus. Como deveria se concentrar
no trabalho quando parecia perder todo o seu foco, toda vez que aquele
homem o tocava? Aquilo estava começando a ficar muito chato.
A porta se fechou atrás deles e Sam olhou ao redor da cabine. Era
espaçosa e confortável. A mala de Sam já estava lá, na enorme cama que
dominava a cabine. Sam lambeu os lábios e se virou para olhar para o
parceiro.
Agente 11 estava desabotoando seu paletó, seus olhos varrendo a
cabine de uma maneira aparentemente casual, mas Sam sabia que estava
procurando por grampos. Foi avisado sobre isso. Até que o agente confirmasse
que a cabine estava livre de grampos, tinham que continuar jogando seus
papéis.
— O que gostaria que eu fizesse, senhor? — Sam disse suavemente.
O agente 11 estremeceu um pouco, tirando o paletó e indo até o
guarda-roupa para pendurá-lo.
— Primeiro, não me chame de senhor. Dominic está bem.
Sam assentiu, pronunciando o nome silenciosamente. Provavelmente
precisava começar a pensar no agente como Dominic. Não podia se dar ao luxo
de entregá-los.
— Como gostaria que eu te chamasse? — Dominic disse, afrouxando a
gravata, seus olhos escuros encobertos e enganosamente cansados, enquanto
continuavam varrendo a cabine.
Sam franziu a testa, não entendendo a pergunta.
— Sammy?
Dominic riu, seus dedos bronzeados desabotoando sua camisa branca
de uma maneira que era muito distrativa. Sam tentou não encarar a princípio,
mas depois percebeu que Sammy, o Bebê Doce, iria cobiçar seu papaizinho,
especialmente quando ele era tão gostoso.
— Algumas pessoas têm uma aversão a apelidos. — Dominic
esclareceu, deixando a camisa aberta, revelando seu peito largo e musculoso,
e um conjunto absolutamente perfeito de abdominais, com um rastro de
cabelo escuro desaparecendo em sua cintura.
Sam quase choramingou com a injustiça daquilo. Por que os quentes
sempre eram héteros?
— Sammy?
Sam piscou e desviou o olhar da trilha feliz de Dominic.
Dominic levantou as sobrancelhas um pouco.
Sam corou, percebendo que foi pego babando. Ele bateu os cílios.
— O quê? Um cara não pode olhar para o seu papaizinho quente?
A expressão de Dominic ficou divertida.
— É bom saber que não me acha repulsivo. — Ele olhou para o
contrato que colocou na mesa. — Precisamos conversar sobre isso, a
propósito. Mas primeiro, tome um banho. Você fede.
— Eu não!
— Você fede aos outros homens que te tocaram.
O leve desprezo nos lábios de Dominic era perfeito, sua expressão
um pouco zombeteira, mas principalmente possessiva. Sam sentiu vontade de
aplaudir sua atuação.
Ele não podia, claro.
Em vez disso, colocou seu sorriso mais insolente.
— Vai se juntar a mim?
Os lábios de Dominic se contraíram.
— Talvez. Se você for muito bom.
Sorrindo, Sam pegou o pijama da mala e foi até o
banheiro. Conforme instruções pré-missão, ele se despiu rapidamente e
começou a tomar banho, colocando o chuveiro na posição mais alta. Se a
cabine estivesse grampeada, o chuveiro era o único lugar em que podiam
conversar sem serem ouvidos. Deus, esperava que a cabine não estivesse
grampeada. Não tinha certeza se poderia agir como Sammy, o bebê de açúcar
o tempo todo. Pelo menos, não tinha que fingir ser atraído por seu papai.
Sam fez uma careta ao pensar, uma nova onda de mortificação
lavando sobre ele. Só podia esperar que Dominic pensasse que era um
excelente ator. A única coisa pior do que ser atraído por um homem
heterossexual, era esse homem saber disso e sentir pena dele.
Não vacilou quando a porta do banheiro abriu. Fechou os olhos,
deixando a água bater em seu rosto e ombros, de costas para a porta. Mas se
perguntou se o agente 11 gostava da vista.
Não seja bobo. Não importa o quão legal seu traseiro seja, não
transformará um homem hétero em gay.
Depois de alguns minutos, sentiu um corpo firme e musculoso
pressionando contra suas costas. Uma barba roçou sua orelha antes que o
agente 11 dissesse baixinho sobre o som da água.
— Dois grampos na cabine, um no banheiro. Possivelmente uma
câmera escondida no guarda-roupa, mas ainda não é possível verificar sem
despertar suspeitas.
Sam respirou fundo.
— Por que há grampos? Disseram que seria altamente improvável.
Ele sentiu Dominic suspirar contra sua orelha.
— A verificação de antecedentes de Brylsko era mais completa do que
o esperado por Amanda. Meu disfarce foi queimado porque tenho uma
cobertura bastante pública como Dominic Bommer na Inglaterra. Fui capaz de
explicar o uso de um nome falso, mas claramente Brylsko ainda tem algumas
suspeitas, se instalou grampos na minha cabine. — Suas mãos acariciaram o
peito de Sam. — Isso obviamente complica as coisas, mas se provarmos a ele
que somos quem dizemos, sua guarda deve baixar.
— Estamos em perigo? — Sam disse, tentando ignorar as grandes
mãos calejadas em sua pele. Trabalho. Aquilo era trabalho para Dominic.
— Não em perigo imediato. — O agente murmurou, arrastando as
mãos por todo o peito de Sam, seus lábios roçando no seu pescoço. — Brylsko
é muito paranoico. Se realmente suspeitasse que eu estava atrás dele, não
teria me deixado entrar no navio.
Sam suspirou.
— Qual é o plano agora?
— Nada mudou. Nós jogamos nossos papéis e tentamos chegar perto
o suficiente de Brylsko.
— E os grampos?
— Não fazemos nada sobre eles. Os civis nunca os notariam.
Sam mordeu o lábio.
— Mas se houver grampos e câmeras na cabine... Nós teremos que...
Ele sentiu os músculos de Dominic ficarem tensos.
— Sim. Desculpe por isso, Red. — Ele suspirou contra a nuca de
Sam. — Eu te disse, você é muito jovem para este trabalho.
Sam franziu os lábios.
— Pare de me tratar como uma criança. Cresci nas ruas de Londres,
sabia? Estou pronto para isso. Você está?
Dominic soltou um ruído frustrado.
— Não é um jogo, Sammy. Você entende o que vai fazer?
— Entendo.
— Mesmo? — As mãos de Dominic se moveram para os quadris de
Sam.
Sam engoliu em seco e disse ao seu pau para se comportar.
Previsivelmente, seu pênis não escutou.
— Sim.
Dominic xingou baixinho, seu corpo praticamente irradiando
frustração.
— Eu não vou te foder. — Ele disse no ouvido de Sam.
O pênis de Sam se contraiu com a palavra 'foder'.
— Mas vou ter que fazer alguma coisa. — Disse Dominic. — Você
entende isso, certo?
Sam assentiu, lambendo os lábios.
— Eu posso chupar seu pau? — Ele ofereceu, esperando que não
parecesse muito ansioso. — Não é nada demais, na verdade. Gosto disso. —
Isso era uma espécie de eufemismo, para ser honesto. Ele amava chupar pau,
sempre teve um pouco de fixação oral.
Dominic exalou alto.
— Tudo bem. — Disse ele antes de tirar as mãos de Sam. —
Vá. Comporte-se normalmente. Mostrar alguma emoção e nervosismo também
seria apropriado. Não procure por grampos.
— Sim, senhor. — Disse Sam, pretendendo dar-lhe uma saudação
insolente, mas quando realmente viu o agente 11 nu e molhado, esqueceu
como falar. Felizmente, Dominic não estava olhando em sua direção e não
podia vê-lo babando de novo.
Finalmente, Sam conseguiu afastar os olhos e saiu do banheiro.
Assim que estava na cabine, percebeu que havia deixado o pijama no
banheiro. Gemendo de frustração, caminhou até a sua mala e remexeu nela,
tentando encontrar algo para dormir e determinado a não pensar no corpo
molhado e musculoso do agente 11. Ou seu pênis, de dar água na boca,
mesmo em estado de descontração.
Hétero, indisponível, muito mais velho e fora do meu alcance.
Sam repetiu isso em sua cabeça, mais e mais, mas foi inútil.
A única coisa em que parecia ser capaz de se concentrar era o fato
estimulante de que logo conseguiria chupar aquele pau.
Foda-se sua vida.

Capítulo 7

Sam já estava estendido sob os lençóis quando a porta do banheiro


abriu e fechou.
Não abriu os olhos quando o colchão afundou e um corpo pesado se
juntou a ele na cama.
Mas quando um braço musculoso envolveu sua cintura, Sam o fez.
— Você se importa? — Dominic disse, sua voz rouca de sono.
Sam se perguntou se a sonolência era real.
Ele se perguntou se algo naquele homem era real.
E se perguntou quem era o agente 11 e o que estava realmente
pensando por trás da máscara perfeita de Dominic Bommer.
— Não. — Respondeu Sam, virando-se para o outro homem.
A cabine estava iluminada apenas pela luz fraca da mesa, e o rosto
de Dominic estava meio nas sombras. Mas Sam ainda podia ver mais do que o
suficiente. Dominic estava apenas com uma boxer preta, seu corpo longo,
musculoso e absolutamente de dar água na boca.
Sam desviou o olhar para o rosto de Dominic, embora não foi uma
grande melhoria. Ele se viu encarando impotente a mandíbula firme de
Dominic e os lábios perfeitamente esculpidos.
— Provavelmente deveríamos conversar. — Disse Dominic com um
bocejo que Sam estava quase certo de que era falso. — Conhecer um ao outro.
— Provavelmente deveríamos. — Sam concordou, reprimindo o
desejo de procurar as escutas no quarto. Alguém estava ouvindo a conversa
deles nesse momento? Alguém os estava assistindo?
Dominic fez um barulho afirmativo, fechando os olhos.
— Mas estou exausto depois de toda a emoção de hoje. Tive um longo
voo e quase fui expulso do cruzeiro, antes mesmo de começar.
Profundamente consciente das escutas, Sam tentou pensar no que
Sammy, o bebê de açúcar, diria. Sammy provavelmente seria curioso.
— É verdade que usou um nome falso para chegar até aqui? —
Perguntou Sam. Seria suspeito se não perguntasse. — Por quê?
— Não queria que ninguém em casa descobrisse que estava num
cruzeiro como este. — Dominic sorriu com tristeza, sem abrir os olhos. — Você
provavelmente adivinhou que sou novo nisso.
— Mesmo?
— Até alguns meses atrás, eu teria rido se alguém me dissesse que
pagaria por companhia.
— Por que está fazendo isso, então? Hum, não parece exatamente
que precisa pagar por companhia.
Dominic abriu os olhos e olhou para ele.
— Eu trabalho para uma das maiores empresas financeiras do Reino
Unido. Depois que fui promovido a chefe de departamento, não tive tempo
para namorar. E, geralmente, estou cansado demais depois do trabalho para
sair e bater em alguém. — Ele fez uma careta. — Uma noite só não é o que
quero, de qualquer forma. Ficou velho anos atrás.
Sam olhou para ele com curiosidade. Agora ele se perguntava para
que servia este disfarce. Era o que o agente 11 usaria para seduzir aquele rico
herdeiro que mencionou há algum tempo?
— O que quer, então? — Sam murmurou.
— Sempre quis algo estável. Talvez até casamento e algumas
crianças, em algum momento. Mas não tenho tempo, pelo menos, não agora.
Talvez quando as coisas estiverem menos agitadas no trabalho, eu ache a hora
certa, mas...
— Mas, por enquanto, só quer algo descomplicado, mas estável. —
Sam terminou para ele, balançando a cabeça em compreensão. Ele não podia
evitar, mas admirou a capacidade do agente 11 de mentir de forma tão
convincente. Essa missão claramente comprometera seu outro disfarce, mas o
agente ainda achava uma maneira de tornar a participação de Dominic
Bommer neste cruzeiro algo crível.
— Sim. — Disse Dominic e riu baixinho, sua voz atada com
sonolência. — Nem lembro como acabei nos sites dos papaizinhos, mas acho
que o Google sabe de tudo.
Sam riu disso.
— O mesmo aqui. Você é meu primeiro também. Quero dizer,
conversei com alguns potenciais papaizinhos nesses sites, mas não foi
realmente a lugar nenhum. — Ele fez uma careta. — Tipo, sou tão mente
aberta quanto um cara comum, mas faço uma linha para enviar a um estranho
uma foto minha usando um babador para bebês e nada mais.
Dominic riu, uma risada profunda e genuína, que enviou uma emoção
através do corpo de Sam.
— Realmente? — Dominic disse.
Sorrindo, Sam assentiu, sentindo-se estupidamente satisfeito consigo
mesmo por fazer Dominic rir. Essa parte da história era real o suficiente. Ele
tinha feito uma conta em um site de namoro bebê e conversou com algumas
pessoas. Foi muito esclarecedor.
— Sim. Acho que é verdade quando dizem que há muitos esquisitos
na internet. — Disse Sam. — Quase desisti de procurar, mas alguém
mencionou esse cruzeiro, que os organizadores checavam todas as origens de
potenciais papais de açúcar, eliminando os esquisitões. — Essa parte era
supostamente verdadeira, mas considerando que Brylsko foi aprovado, Sam
não tinha muita fé nisso.
Sam olhou para Dominic.
— Então... Realmente aprecio se me disser se estou fazendo algo que
não quer que eu faça. Todo o meu conhecimento sobre esse tipo de
relacionamento é teórico, sabe?
Dominic cantarolou em concordância.
— Eu vou, mas isso vai nos dois sentidos, Sammy. Sei que disse em
seu questionário que era flexível e estava disposto a tentar praticamente
qualquer coisa, mas se estiver desconfortável com algo que eu pedir, vai me
dizer. — Ele olhou para Sam seriamente. — Sei que estou te pagando pela sua
companhia, mas você não é uma prostituta e não quero que pense que deve
fazer tudo o que eu quiser.
Sam sorriu para ele.
— Obrigado. — Ele disse suavemente, sentindo-se ridiculamente
tocado. Que diabo, ele não era nem um verdadeiro bebê de açúcar. — Estou
feliz que você seja meu primeiro papaizinho.
Dominic apenas olhou para ele por um tempo, sua expressão
impossível de ler na penumbra.
— Estou feliz que seja você também.
Eles se encararam.
O silêncio se estendeu e o coração de Sam começou a bater forte.
Estava se tornando cada vez mais difícil ignorar que estava na cama
com um homem insanamente atraente, que deveria ser seu papai de açúcar.
Cujo pênis iria chupar.
Sam lambeu os lábios.
— Porra, estou batido. — Disse Dominic, quebrando o silêncio. —
Vamos dormir. Conversaremos amanhã.
Sam lutou para esconder sua decepção. Obviamente, sabia por que
Dominic fingia estar cansado: queria adiar o inevitável, pelo tempo que
pudesse.
Se Dominic pensou que Sam apreciaria, estava errado. Qual era o
ponto em adiar o que aconteceria de qualquer maneira? O suspense só iria
deixá-lo mais ansioso.
Essa não é a razão pela qual não quer esperar, sua voz interior disse
maliciosamente. Você está morrendo de vontade de se sufocar em seu pênis.
Sam franziu o cenho, suas bochechas em chamas.
— Posso chupar seu pau antes de irmos dormir?
O corpo de Dominic não ficou tenso, mas Sam sentiu algo nele
mudar. Dominic olhou-o com admiração.
— Como um obrigado por me escolher? — Sam acrescentou com uma
audácia que não sentia. — Nick, posso dar um beijo de boa noite ao seu pau?
Dominic riu.
— Isso foi terrível. Você é uma coisinha sem vergonha, não é?
Sam sorriu.
— Ei, não sou pequeno! Eu sou alto! Não sou muito mais baixo que
você.
Um pequeno sorriso curvou os lábios sensuais de Dominic.
— Você é como um cervo bebê, Red. — Ele rolou de costas e levantou
as sobrancelhas, olhando para Sam através de pálpebras pesadas, uma
imagem de masculinidade e indulgência. — Se acha que pode me deixar duro
quando estou tão cansado, vá em frente, Bambi.
Sam olhou para a cueca preta de Dominic e engoliu nervosamente,
sabendo que o desinteresse de Dominic não tinha nada a ver com o cansaço.
Era apenas trabalho para ele. Não tinha interesse em Sam.
— Segundos pensamentos?
— Não. — Disse Sam, movendo-se entre as coxas grossas e
musculosas do agente. Inclinou-se e esfregou a protuberância sob a cueca de
Dominic.
Dominic não estava duro, mas o tamanho de seu pênis ainda fazia a
boca de Sam encher de água. Porra, queria aquilo em sua boca, queria senti-lo
endurecer dentro dele - por causa dele. Quanto tempo se passou desde que
chupou um pau tão grande? Tempo demais.
Sam arrastou os lábios entreabertos ao longo do comprimento do
pênis antes de chupar a cabeça através do tecido. Dominic respirou fundo.
Sam sorriu, puxou a boxer para baixo e deu uma pequena lambida na cabeça,
antes de lambê-lo da base até a ponta. O pênis de Dominic começou a
endurecer.
Satisfeito, Sam levou o pênis em sua boca, gemendo um pouco
quando sentiu que endurecia ainda mais. Começou a balançar a cabeça para
cima e para baixo no comprimento endurecido, girando a língua em torno dele
e cantarolando alegremente quando ficou mais grosso e mais longo, esticando
seus lábios até o limite. O gosto, o alongamento, a sensação do pau grosso
acariciando a pele sensível dentro de sua boca o deixou tonto.
A única coisa que o incomodava era o quão quieto Dominic estava.
Sam olhou para cima e viu que ele tinha os olhos fechados, a mandíbula
cerrada. O único sinal visível de que estava se divertindo era a ereção na boca
de Sam.
Ele estava pensando em alguma mulher?
O pensamento o incomodou mais do que provavelmente deveria, o
incomodou o suficiente para soltar o pênis de Dominic e dizer:
— Olhe para mim.
Dominic abriu os olhos, sua expressão difícil de ler enquanto
observava Sam lamber seu pênis lentamente. Sam estava com medo de que a
ereção de Dominic murchasse, agora que ele não podia fingir que estava
recebendo um boquete de uma mulher, mas o pênis permanecia duro e grosso
contra os seus lábios.
Olhando Dominic nos olhos, Sam sorriu e lambeu a ponta grossa, o
toque de sua língua provocando. Ele podia sentir as coxas de Dominic tensas.
Uma mão grande pousou em cima da cabeça de Sam. O toque foi
gentil, os dedos de Dominic roçando sua orelha sensível e, em seguida,
acariciando sua bochecha. Sam estremeceu e virou o rosto para acariciar a
palma de Dominic. Ele notou a mudança na expressão de Dominic só porque
estava observando-o de perto.
Carinho.
Dominic gostava dele.
Isso deixou Sam tonto. Ele não se importava que o sentimento não
fosse nem sexual, nem romântico para o agente 11. O importante era que era
genuíno; pelo menos, Sam tinha certeza disso.
— Você é tão jovem... — Murmurou Dominic, olhando para Sam com
uma expressão estranha e fixa. — Um bebê.
Sam lambeu a cabeça de seu pênis.
— Não tão jovem. — Disse ele com um sorriso, e levou o pau de
Dominic de volta em sua boca.
Não foi o melhor boquete que já deu, mas provavelmente foi o mais
entusiasmado. Sabia que era desleixado, babando em todo o pênis de Dominic,
com excesso de zelo e ansioso para agradar, mas não podia evitar. Sempre
gostou de chupar pau, mas absolutamente amava chupar Dominic,
cantarolando e gemendo, enquanto balançava a cabeça para cima e para
baixo, tentando levar o máximo do pênis dentro de sua boca.
Dominic observou-o chupar seu pau através de olhos escuros e
pálpebras pesadas, acariciando preguiçosamente o cabelo de Sam, sua
linguagem corporal fodidamente indulgente, como se estivesse afagando o seu
animal de estimação favorito. Algo nisso atingiu Sam do jeito errado, mas
gostava demais de ter as mãos de Dominic em seus cabelos para dizer a ele
para parar.
— Estou perto, bebê... — Dominic advertiu em algum momento, um
ligeiro aperto de sua voz baixa, traindo que não estava tão composto quanto
parecia.
Bebê.
Sam gemeu e não saiu, fodendo a boca no pênis vazando e
saboreando o gosto de pura excitação masculina. Queria que Dominic gozasse
em sua boca, queria uma prova de que ele, Sam, fizera aquilo. Se perguntou o
que o agente 11 estava pensando, se gostava de ver um garoto gay chupando
seu pau.
Ele olhou para cima, encontrou os olhos de Dominic e engoliu o pênis
até que atingiu sua garganta. Engasgou um pouco, mas pareceu fazer o truque
e Dominic gozou, sua respiração engatando e sua mão agarrando o cabelo de
Sam.
Sam engoliu em seco e continuou chupando o pênis, até que Dominic
sibilou um pouco e o puxou. Desapontado que acabou, Sam baixou o rosto no
estômago de Dominic, lambendo o interior de sua própria boca e perseguindo
o gosto.
Deus, queria fazer isso de novo.
Por fim, Sam levantou a cabeça e olhou para o outro homem. O rosto
de Dominic estava relaxado, o contentamento rolando de seu corpo em ondas.
Agora ele parecia sonolento de verdade, seus dedos brincando com o cabelo de
Sam.
Sam sorriu, sentindo-se satisfeito e um pouco convencido.
— Venha aqui. — Disse Dominic.
Sam se deitou, pressionando o rosto contra o ombro de Dominic.
— Bom trabalho. — Disse Dominic, dando um beijo na sua cabeça. —
Agora, cuide do seu pequeno problema e então poderemos dormir.
Sam piscou, surpreso que Dominic tivesse notado sua excitação e não
escolheu ignorá-la.
— Ok. — Disse ele, deslizando a mão em sua cueca e puxando para
fora seu pau duro.
Enfocando o rosto no braço de Dominic, ele se tocou vagarosamente.
Uma parte dele ficou maravilhada com a sensação natural de conforto. Não
sentiu nenhum constrangimento, mesmo que estivesse abraçado a um homem
hétero, enquanto se masturbava com a permissão desse homem. Não parecia
embaraçoso. Ele se sentiu bem. Seguro, confortável e excitado. Quando dedos
fortes começaram a brincar com seu cabelo novamente, Sam gemeu no ombro
de Dominic e começou a acariciar seu pênis com mais força.
— É isso... — Dominic murmurou, puxando seu cabelo um pouco. —
Solte-se, Sammy.
Sam fez, gozando com um gemido, seus dedos ondulando, enquanto
o prazer passava por seu corpo. Deus, a sensação...
Ele apenas observou Dominic limpando seu estômago com uma
toalha.
— Agora, durma. — Disse Dominic, colocando um Sam sonolento de
volta ao seu lado.
Júbilo. Sam nunca soube realmente o que significava, mas agora o
fez, porque ter Dominic o envolvendo, depois que ambos gozaram, parecia
como a melhor coisa de todas. O peso reconfortante do braço de Dominic, os
pequenos arrepios ainda subindo e descendo na sua pele, e o calor da
respiração de Dominic contra sua testa... Não queria se mexer novamente. E
nunca em sua vida se sentiu tão seguro.
Sam dormiu e sonhou com um dia quente de verão.

Capítulo 8

Sam bocejou e enterrou o rosto mais fundo no travesseiro. Seu


travesseiro se moveu.
— Levante e brilhe, dorminhoco.
Sam abriu os olhos. Ele se viu olhando nos olhos escuros de Dominic,
com os rostos a centímetros de distância.
— Dormiu bem? — Dominic disse, sua voz grossa de sono.
Sam ficou meio dividido entre socá-lo e empurrá-lo de costas e
lambê-lo da cabeça aos pés. Ninguém devia ser tão atraente e ter uma voz tão
sexy.
— Dormi como um bebê. — Sam murmurou, suprimindo ambos os
desejos. — Seu braço é muito confortável.
— Estou feliz que pelo menos um de nós estava confortável. — Disse
Dominic, seus lábios se contorcendo. — Meu braço ficou dormente horas atrás.
Corando, Sam moveu a cabeça para o peito de Dominic.
— Melhor?
Dominic riu.
— Eu gosto de você, Sammy.
Sam sorriu contra a pele quente de Dominic e beijou-o no peito.
— Gosto de você também. — Ele gostava. Um pouco demais para seu
conforto. Não era apenas atração física; na sua idade, foi atraído por muitas
pessoas. Ele se sentia bem com Dominic. Confortável. Protegido e quente por
dentro. Como se nada de ruim pudesse acontecer.
— Temos que levantar? — Ele murmurou, aninhando-se no peito de
Dominic. O cara tinha peitorais incríveis, mas, para desgosto de Sam, não era
a razão pela qual ele não queria se mexer. — Acaricie meu cabelo.
Dominic bufou.
— Mandão. — Disse ele, mas fez o que lhe foi dito.
Sam cantarolou em contentamento quando os dedos de Dominic
começaram a passar pelos seus cabelos. Porra, estava ficando um pouco
viciado naquelas mãos. Tentou não imaginar o quão agradável aquelas mãos
se sentiriam em seu corpo; era inútil pensar em algo que nunca aconteceria.
— Temos que levantar. — Disse Dominic depois de alguns minutos de
silêncio confortável. — Estou com fome e você provavelmente também está. É
um garoto em crescimento. Devemos ir ao restaurante. — Procurar por
Brylsko.
Sam suspirou. Sabia que Dominic estava certo. Não podiam passar o
dia na cama, não importa o quão atraente a perspectiva parecesse agora.
— Tudo bem. — Disse ele, relutantemente rolando fora de Dominic e
tentando se colocar na mentalidade certa.
Tinham um trabalho a fazer. Sem mencionar que provavelmente era
uma boa ideia colocar alguma distância entre eles. Estava ficando muito
confortável com Dominic. Para alguém que tinha sido independente a vida
toda, esse... Apego rápido em formação estava começando a lhe dar nos
nervos. Se não tivesse cuidado, estaria em apuros. Ele precisava lembrar que
era apenas um novato que Dominic - agente 11 - tinha que tomar conta nessa
missão. Nada mais.
Quanto mais cedo fizesse o trabalho, melhor.

*****
Martha fez um discreto sinal de positivo para Sam quando ele e
Dominic se sentaram no restaurante. Ela estava na companhia de um homem
de meia-idade, com cabelos grisalhos, que se portava como se fosse dono do
mundo. O cara tinha um rosto forte e robusto, mas parecia que poderia ser o
pai dela em vez do seu amante. Martha parecia feliz o suficiente, então
imaginou que seu papaizinho estivesse bem.
Sam olhou para o próprio companheiro e reprimiu um suspiro. O
papaizinho de Martha não tinha nada dele. Dominic parecia escandalosamente
gostoso naquele terno escuro, a camisa azul meio desabotoada, revelando a
pele bronzeada, em que Sam queria esfregar o rosto. Ele provavelmente
estava encarando novamente. Felizmente, Dominic não pareceu notar, seus
olhos varrendo o restaurante de uma maneira aparentemente descontraída.
Embora Sam não olhasse em volta, soube imediatamente quando
Brylsko entrou na sala. A expressão de Dominic não mudou, nem endureceu,
nem o olhou. A única coisa que traiu Dominic foi o quão frio seus olhos ficaram
quando tomou um gole de café. Sam foi incomodamente lembrado de que
aquele homem não era apenas um espião. Também era um assassino
sancionado pelo governo, quando a ocasião pedia isso.
— Tente estas. — Disse Sam, mastigando uma panqueca. —
Deliciosas.
O gelo derreteu dos olhos de Dominic quando desviou o olhar para
Sam.
— Estão? — Ele disse. — Você deve comer seus legumes também.
— Você não é minha mãe. — Disse Sam, estendendo a mão para
outra panqueca.
Dominic deu-lhe um olhar aquecido.
— Eu deveria esperar que não.
Sam quase gemeu em voz alta. Foi realmente necessário? O agente
11 merecia um Oscar por sua performance.
— Venha aqui. — Disse Dominic, dando um tapinha no seu colo.
— Estamos em um restaurante, Nick. — Sam apontou com um
sorriso, embora estivesse perfeitamente consciente de que era uma desculpa
esfarrapada. Não era um restaurante normal. Outros bebês de açúcar se
aconchegavam contra seus papais de açúcar ou estavam sentados em seus
colos. Um cara estava ajoelhado aos pés de uma mulher de meia-idade, a
bochecha apoiada no seu joelho. Brylsko colocou seu bebê na coleira,
enquanto a conduzia ao restaurante.
Ele e Dominic eram um dos poucos casais que se comportavam
normalmente.
Estavam se destacando.
— Sammy.
Sam reprimiu um suspiro. Dominic estava certo. Não podiam deixar
Brylsko suspeitar de qualquer coisa.
Sam se levantou e sentou no colo de Dominic. Ele meio que esperava
alguma estranheza, mas deveria saber melhor. Seu corpo pareceu se fundir
imediatamente com o de Dominic, ficando repugnantemente relaxado e flexível
contra o peito firme. Cristo, ele cheirava tão bem.
— Ele está olhando para nós. — Dominic disse baixinho no ouvido de
Sam, sua mão acariciando suas costas. Para o olhar casual, provavelmente
parecia que Dominic o estava sentindo e sussurrando coisas doces. — Ele está
usando uma corrente de ouro em volta do pescoço, e parece que há algo nela,
mas está sob a camisa dele. Impossível dizer se é o pendrive ou não.
— Vamos ter que esperar até que ele dê um mergulho na piscina. —
Sam murmurou, lutando para manter sua atenção na missão quando tudo o
que queria era fechar os olhos e permanecer nos braços de Dominic para
sempre.
Dominic riu.
— A piscina? Qual?
— Há mais de uma? — Sam suspirou. Ele já podia vê-los vagando
pelo convés o dia todo, tentando pegar Brylsko sem camisa. — Mencionei que
minha pele odeia o sol e que o sentimento é mútuo?
Dominic riu, levantou o rosto de Sam e beijou seu nariz descontente.
— Vou te proteger disso.
Sam absolutamente não derreteu numa poça de gosma. Decidiu que
odiava homens heterossexuais, especialmente aqueles que eram ridiculamente
quentes e que o tratavam como se fosse algo precioso.
— Você pode me proteger do sol?
— Eu posso colocar protetor solar em você.
Sam sorriu maliciosamente.
— Em toda parte?
Os olhos de Dominic estavam risonhos.
— Criança travessa.
Sam sorriu.
— Ainda pensa em mim como uma criança depois da noite passada?
Uma careta mal visível cruzou o rosto de Dominic.
— Não me lembre.
Sam tentou não ficar ofendido e falhou.
— Aviso que fui informado de forma confiável, por várias fontes, que
sou ótimo em chupar pau.
A expressão de Dominic ficou comprimida.
— Eu realmente não precisava dessa informação.
Uma risada deixou os lábios de Sam quando percebeu o que era
aquilo. Ele baixou a voz.
— Tenho vivido nas ruas desde que tinha seis anos, Nick. Realmente
acha que era um garotinho inocente, uma virgem corada que ficaria
incomodada com o que aconteceu na noite passada? Não precisa se preocupar
com a minha virtude inexistente. — Ele sorriu e beijou a bochecha de Dominic,
estremecendo quando a barba dele fez cócegas em sua pele. — Mas é muito
doce da sua parte.
— Doce. — Disse Dominic com riso em sua voz. — Não me lembro da
última vez que alguém me chamou de doce.
Sam encostou a bochecha na de Dominic.
— Eu não sei... Seu pau se provou muito doce para mim.
— Sammy... — Disse Dominic, meio rindo, meio gemendo.
O que Dominic estava prestes a dizer foi interrompido quando uma
voz familiar disse:
— Uma bela manhã, não é?
Sam ficou tenso, mas relaxou novamente quando a mão de Dominic
acariciou suas costas.
— É. — Disse Dominic, estendendo a mão livre para um aperto de
mão. Sua expressão era educada e amigável. — Milosz. Receio não me lembrar
do nome de sua companheira.
— Este é meu animal de estimação, Anika. — Disse Brylsko,
acariciando a coleira de couro em sua mão. A garota, Anika, era muito bonita e
muito quieta, a imagem da submissão. Brylsko olhou para ela com uma
expressão vagamente possessiva que, para surpresa de Sam, parecia
genuinamente afetuosa. — Ela não é linda?
— Tenho certeza que ela é. — Disse Dominic, lançando um olhar
neutro para a menina, antes de voltar seus olhos para Sam, seu olhar se
tornando muito mais apreciativo. — Mas tenho medo de não ser um bom juiz
da beleza feminina.
Cristo, ele era bom. Mesmo sabendo que o agente 11 era hétero,
Sam não podia dizer que ele era nada além de honesto.
Brylsko riu.
— Eu posso ver isso. — Ele deu a Sam um longo olhar.
Sam apertou-se contra Dominic, esperando que sua inquietação não
fosse óbvia.
— Vai participar da apresentação de shibari2 com seu garoto? —
Perguntou Brylsko, voltando seu olhar para Dominic. — Já me disseram que
eles têm artistas incríveis.
Sam esperava que Dominic concordasse, mas ele balançou a cabeça
com um encolher de ombros.
— Não sou tão interessado em escravidão. Sou um homem simples de
gostos simples. Talvez outro dia, se não tivermos nada para fazer.
— Hmm, isso é uma pena. Tenho certeza de que veremos você por aí.
— Brylsko levou seu animal à mesa deles.
— Por que disse não? — Sam sussurrou quando estavam sozinhos.
Dominic beijou o canto da sua boca.
— Tenho certeza que ele estava nos testando. Não podemos parecer
ansiosos para ir onde quer que ele vá. Além disso, Dominic Bommer não tem
nenhum histórico de estar interessado em qualquer forma de BDSM, então
seria duplamente suspeito.
— E você? — Sam murmurou, lambendo os lábios e tentando não
olhar para a boca de Dominic. Ele nunca esteve tão dolorosamente consciente
da boca de outro homem.
— E eu?
— Você está interessado em escravidão?

2
Arte japonesa de amarração erótica.
— Você não gostaria de saber! — Dominic disse, dando um beijo no
nariz de Sam.
Sam fez beicinho.
Dominic riu.
— Então, o que agora? — Disse Sam, olhando em volta para se
certificar de que ninguém estava perto o suficiente para ouvi-los.
— Comemos, damos uma longa caminhada ao redor do navio. Se
tivermos sorte, Brylsko tira a camisa em algum momento.
— E se não tivermos?
O rosto de Dominic ficou sério.
— Se não tivermos, vamos pensar em outra coisa. Você consegue
roubar essa corrente?
Sam pensou por um momento antes de concordar.
— Sim. Se estiver perto o suficiente e ele estiver distraído por alguma
coisa.
Dominic olhou para ele atentamente.
— Pode colocar de volta no pescoço dele sem que ele perceba?
Sam fez uma careta.
— Talvez. — Era um grande talvez.
— Não é bom o suficiente. Não vou deixá-lo correr esse risco quando
não sabemos ao certo se o pendrive está nessa corrente.
— Pode não haver escolha. — Disse Sam em voz baixa, embora
também não fosse exatamente fã desse plano. Realmente era muito arriscado.
— Esse será o nosso último recurso. — Disse Dominic. — Temos
tempo para encontrar uma solução melhor.
Sam franziu os lábios, pressionando o nariz no oco da garganta de
Dominic.
— Há outra opção, sabe. — Ele sussurrou com relutância. — Para
levá-lo a tirar a camisa.
Ele sentiu os músculos de Dominic endurecerem contra ele.
— Não.
— Só estou dizendo que...
— Não. — Dominic cortou-o, sua voz como gelo.
Sam suspirou.
— Ele está interessado em mim. Posso dizer. Talvez não estivesse
interessado o suficiente para fazer uma oferta, mas o suficiente para não dizer
não, se um amigo se oferecesse para compartilhar seu garoto.
Dominic ficou quieto.
Por fim, ele disse:
— Encontraremos outro caminho.
Sam olhou para a expressão séria de Dominic e sentiu uma sensação
quente se enrolar em seu peito e em seu coração.
Deus, isso era ruim.

Capítulo 9

Dominic Bommer, ou o homem conhecido como Dominic Bommer,


raramente se sentia sensível em fazer o que precisasse para o sucesso de uma
missão. Fazia anos que algo o fazia hesitar.
Era por isso que uma parte dele estava incrédula por ter recusado
considerar a opção que tornaria sua missão muito mais fácil de realizar. Era
inútil negar que emprestar seu garoto a Brylsko seria a maneira mais fácil de
saber onde ele guardava o pendrive. Para não mencionar que trocar isso pelo
falso seria muito mais fácil se o alvo estivesse... Distraído.
Distraído.
A mera ideia fez com que os dedos de Dominic coçassem por uma
arma, uma faca. Qualquer coisa.
Porra. Isso era inaceitável. O garoto não deveria ter importância. Ele
tinha feito muito pior em nome da Rainha e do País do que sacrificar a saúde
mental de um adolescente. Não era como se Brylsko fosse matar ou prejudicar
fisicamente o garoto. Era apenas sexo. Uma troca de fluidos corporais. Não era
como se o próprio Dominic nunca tivesse que foder as pessoas que ele
abominava pelo sucesso de sua missão. Então, por que não podia deixar o
garoto fazer isso? O avisou que não era um trabalho para alguém com
estômago fraco. O garoto ignorou seu aviso, e agora ele deve lidar com as
consequências. Simples assim.
Exceto que não importa o que Dominic dizia a si mesmo, isso não
mudava nada. Sabia que não permitiria que Sammy o fizesse, e fim da
história. E isso o irritava.
Esse... Protecionismo era inaceitável. Perigoso.
— Você está muito quieto. — Sammy disse, inclinando-se para ele,
apertando a mão no braço de Dominic.
Dominic olhou ao redor do convés, procurando câmeras de
segurança. Não conseguiu ver nenhuma, mas mesmo que tivesse perdido
algumas, era altamente improvável que seriam ouvidos sobre a música alta
tocada no bar. Não havia nenhum passageiro próximo o suficiente deles. Era
tão seguro falar quanto poderia ser.
Olhou de volta para o garoto. Olhos verdes ansiosos o estudavam.
— Alguma coisa errada? — Disse Sammy.
Dominic balançou a cabeça. Dificilmente podia dizer ao garoto sobre
o que estava pensando. Sam provavelmente ficaria horrorizado se descobrisse
que Dominic tentava se convencer de fazer a coisa inteligente e usar o seu
corpo para obter as informações de que precisavam.
Por outro lado, talvez devesse falar com Sammy. Não tinha escapado
do seu conhecimento que o garoto desenvolveu uma paixãozinha por ele.
Provavelmente deveria cortar o mal pela raiz e liberar o garoto da ilusão de
que ele era algum tipo de cavaleiro de armadura brilhante. A mera ideia quase
fez Dominic rir. Ele não era mais que uma arma. Alguns o chamariam de
assassino de sangue frio. Alguns o chamariam de bastardo manipulador de
duas caras. E não estariam errados.
— Tudo bem, o silêncio é um pouco sinistro. — Sammy disse com
uma risada, com os olhos brilhando de curiosidade.
Cristo. O garoto era desdenhosamente atraente.
Dominic gostava dele. Realmente gostava dele, e esse era o ponto
crucial do problema. Isso não acontecia com ele. Havia aprendido há muito
tempo a manter distância emocional de outras pessoas durante suas missões.
Não eram mais que alvos e danos colaterais.
Mas essa criança... Sammy olhava para ele como se fosse o sol, não
um agente do governo cínico com muitos rostos e mãos manchadas de
sangue. Isso o fez querer fazer algo cruel, para limpar aquele olhar do rosto do
garoto.
Mas... Ele gostou disso. Não era nada além de uma fantasia, mas
gostava dela, gostava que Sammy pensasse que ele era um homem muito
melhor do que era.
— Você não deveria ter uma queda por mim. — Disse Dominic.
Ruivos não coram lindamente, mas de alguma forma, este cora.
Para o crédito de Sam, ele nem tentou negar isso.
— Eu sei. — Ele disse com um suspiro. — Isso também me irrita. Não
se preocupe, tenho certeza que vai passar logo. Sou um adolescente. Tenho
uma nova paixão a cada duas semanas.
Dominic riu, colocando um beijo na testa de Sammy.
— Nada para se envergonhar, Bambi. Fico lisonjeado.
Sam sorriu meio entrecortado.
— Não estou envergonhado. Apenas irritado. Você sabe o quanto é
ruim ter uma paixão por um cara hétero? Por que eles não poderiam me
colocar com alguém feio?
Dominic riu. Na verdade, não era tão divertido, mas a expressão
irritada e amuada de Sam era loucamente adorável. Essa não era uma palavra
que já esteve em seu vocabulário, mas cabia neste garoto.
— Não é engraçado. — Sammy disse, olhando-o furioso.
Era tão intimidante quanto o latido de um filhote de cachorro.
— Vou apresentá-lo ao agente Quinn quando voltarmos. — Dominic
disse, ainda sorrindo fracamente. — Ele é gay, perto da sua idade, e deve ser
pelo menos um oito. Tenho certeza de que você vai se apaixonar por ele em
pouco tempo.
— Um oito não faria isso. — Resmungou Sam. — Você já se viu no
espelho?
Pela primeira vez em muito tempo, Dominic não sabia o que dizer.
Sabia como se parecia, é claro. Teria sido ridículo afirmar que não estava
ciente de algo que ele costumava usar sempre que uma missão exigisse. Mas
este não era um alvo. Este era um garoto de quem ele gostava. Apesar de
menosprezar isso, Dominic sabia que as paixonites não correspondidas podiam
prejudicar muito quando se é um adolescente.
Sam riu.
— Pare. Posso ouvi-lo entrar em pânico. Não estou realmente
apaixonado por você nem nada. Já disse que tenho uma nova paixão todas as
semanas. Uma vez tive uma paixão por um padre que foi muito gentil comigo.
Me convenci de que estava tragicamente apaixonado por ele, mas então vi um
filme com Tom Hardy3 e esqueci tudo sobre meu amor épico pelo padre.
— Isso é reconfortante. — Disse Dominic secamente. E realmente era.
Não queria que Sammy se apaixonasse por ele. Não queria que o garoto se
machucasse.
Esse protecionismo não era exatamente novo. Sentiu-se protetor do
3
É um ator, produtor e roteirista britânico conhecido pelos seus papéis em filmes como A origem. Batman: O
Cavaleiro das Trevas Ressurge e Mad Max: Estrada da Fúria. Em 2016 foi indicado ao Oscar de Melhor Ator
Coadjuvante pelo filme O Regresso.
garoto - embora, com certeza, não nesse grau - mesmo em sua primeira
reunião - quando viu a emoção e saudade nos olhos de Sam quando perguntou
a Dominic se ele teria sua própria casa se aceitasse o trabalho. Desde o
primeiro encontro, Dominic foi um pouco atraído pelo rapaz, que poderia ser
arrogante e sem vergonha num momento, tímido e vulnerável no próximo.
Queria proteger o garoto, mesmo de si mesmo. Talvez especialmente de si
mesmo.
— Embora adoraria chupar seu pênis. — Sammy disse com saudade.
Dominic suspirou.
— Você ainda tem um filtro do cérebro para a boca?
Sammy sorriu.
— Um filtro do cérebro à boca? O que é isso?
Nada de que você precise. Pensou Dominic, olhando o rosto
sorridente do garoto. Talvez fosse por isso que gostava tanto de Sammy. Era
algo puro e genuíno num mundo que era tudo, menos isso.

Capítulo 10

Sam estava ficando frustrado. O dia foi infrutífero até agora.


Passaram a andar por aí, alternando entre o bar, a piscina principal, a piscina
menor, o spa e os restaurantes. Vislumbraram Brylsko algumas vezes, mas ele
estava se misturando com outros passageiros ou tocando seu bebê de açúcar.
Não tirou a camisa nem mesmo quando ficou na piscina.
— E agora? — Sam murmurou, sentindo-se derrotado quando
voltaram ao seu quarto. Estava meio receoso de que Dominic mudasse de ideia
e aceitasse sua oferta de emprestá-lo a Brylsko.
Dominic apertou seu ombro.
— Paciência. — Disse calmamente. — Temos tempo.
Bocejando, Sam inclinou-se para ele. Sempre achou que andar com o
braço de alguém ao redor dele fosse incômodo e desconfortável, mas de
alguma forma, não era estranho com Dominic. Neste ponto, ter o braço de
Dominic ao redor dele o fazia se sentir tão à vontade que sentiu falta disso
depois que Dominic o removeu.
— Sim, você provavelmente está certo. — Sam sorriu torto. —
Provavelmente seria estúpido de minha parte esperar que isso fosse rápido.
Tudo acontece tão rápido em filmes de espiões. — Deu uma risada ao olhar de
Dominic. — Eu sei, eu sei! Você me disse para esquecer todas as coisas que vi
nesses filmes.
— Para ser justo, os filmes têm algumas coisas corretas. Mas não
podem mostrar quanto tempo ficamos sem fazer nada enquanto esperamos o
alvo cometer um erro.
Sam mordeu o lábio.
— Mas e se ele não fizer isso?
— Ele vai. Não importa o quão paranoico seja, vai deixar sua guarda
escorregar em algum momento.
Sam encolheu os ombros. Não compartilhava a confiança de Dominic,
mas...
— Confiarei em seu julgamento sobre isso. Você é o agente especial,
e eu sou o novato aqui.
Quando Dominic lhe lançou um olhar afiado, Sam se perguntou se ele
ainda estava sendo óbvio. Estava tentando controlar seus sentimentos o dia
todo. Não queria a piedade de Dominic. Não queria que pensasse que sua...
Coisa por ele fosse mais forte do que uma paixonite. Porque não era. Não era,
caramba.
Sam ficou aliviado de terem chegado ao quarto e Dominic não podia
mais questioná-lo. Seu alívio, no entanto, foi de curta duração quando viu a
cama. Murmurando algo sobre sua bexiga cheia, correu para o banheiro e
fechou a porta.
Debruçando-se contra ela, olhou para seu rosto no espelho. Parecia
vermelho e com os olhos brilhantes. Quase febril. Apenas pela proximidade de
Dominic.
Porra.
Afastando o olhar, Sam saiu da porta e foi escovar seus dentes, mas
realmente não tinha nenhum motivo para demorar. Tomaram banho após o
mergulho na piscina. Não havia nada impedindo que rolassem na cama e
transassem - algo que seria esperado se estivessem sendo observados.
Sam ainda estava se estressando sobre isso quando deitou na cama e
esperou que Dominic saísse do banheiro.
Não sabia o que fazer.
O que sabia era que não queria dormir com alguém que na verdade
não o desejava. Não importa o quanto o mero pensamento de sexo com
Dominic fizesse sua pele ficar quente, o fato de que seria nada além de uma
tarefa árdua para Dominic matava toda a sua excitação.
Não podia fazer isso. Seria embaraçoso e estranho para ambos. Não
se importava que esse Dominic - agente 11 - tivesse feito isso muitas vezes
em sua linha de trabalho. Uma coisa era se oferecer para sugar o pênis de
Dominic - uma boca era uma boca, afinal de contas, e eles tinham que fazer
algo sexual, para não estragarem seus disfarces - mas obrigar Dominic a
realmente foder alguém que não queria, fazia o estômago de Sam revirar.
Sim, era seu trabalho, e tinham que fazer o que precisavam, mas havia linhas
que preferia não cruzar.
— O que há com esse rosto? — Dominic disse, deslizando entre os
lençóis e aproximando-se de Sam. Ele era grande e quente, e cheirava
impressionantemente bem. Sam queria esfregar o rosto por ele - queria
esfregar-se contra ele.
Deus, odiava sua vida.
Colocando a cabeça no ombro nu de Dominic, Sam molhou os lábios.
— Tenho uma confissão para fazer. — Disse, batendo os dedos no
peito de Dominic.
— Hmm? — Dominic disse, cobrindo os dedos finos de Sam com os
seus maiores.
— Não sou tão experiente quanto aleguei quando preenchi o
questionário para o leilão. — Fingindo embaraço, Sam jogou com os dedos de
Dominic. — Nunca fiz sexo. Quero dizer, apenas boquetes e punhetas, sabe?
Ele podia sentir a surpresa de Dominic. Claro que ficou surpreso, Sam
estava saindo do script.
— Sério? — Dominic murmurou.
— Sim. Sei que isso provavelmente é bobo, mas sempre pareceu ser
importante para mim. Algo como confiança, sabe? — Sam encontrou os olhos
de Dominic e podia ver a compreensão e uma pitada de alívio neles.
— Entendo. — Disse Dominic. — Posso esperar. Ainda sou
praticamente um estranho para você. Não temos que seguir todo o caminho
agora.
Sam sorriu, abraçando-o com força.
— Obrigado! Estava tão nervoso, tão assustado de lhe contar.
Dominic o beijou na testa, os lábios secos e suaves. O gesto de afeto
parecia dolorosamente genuíno.
— Você pode me dizer qualquer coisa, Bambi. Sempre.
Isso não ajudava com sua estupida paixão.
Sorrindo, Sam esfregou o nariz, colocando a mão na nuca de
Dominic.
— Tudo bem. — Sussurrou, inalando o cheiro de Dominic e
aumentando sua proximidade, sentindo-se um pouco tonto e excitado. —
Gosto muito de você. — Disse Sam, tentando e não conseguindo convencer-se
de que estava apenas jogando para o seu possível público. — Assim, gosto
muito, sabe?
Algo cintilou nos olhos de Dominic.
— Sim. — Ele disse, roçando castamente os lábios de Sam com os
seus. — Agora feche seus olhos e durma, querido.
Sam fez beicinho.
— Mas eu queria te dar um boquete.
— Você pode me dar um pela manhã. — Dominic disse com um
sorriso. — Agora, feche seus olhos.
Sam fechou os olhos obedientemente, embora não esperasse
adormecer em breve, enquanto Dominic estava tão tentadoramente perto.
No entanto, para sua surpresa, ele dormiu.
Acordou ao som das ondas balançando contra o navio e a sensação
da mão de Dominic acariciando seus cabelos. Sam decidiu que não queria se
mover.
— Bom dia. — Disse Dominic, sua voz rouca de sono fazendo coisas
terríveis para a sanidade e o corpo de Sam, como de costume.
— Bom dia. — Sammy disse, pressionando um beijo na bochecha de
Dominic e estremecendo quando a barba dele roçou sua pele lisa. Deslizou a
mão e pegou a ereção matinal de Dominic. — Acredito que me foi prometido
algo. — Disse Sam, sorrindo sonolento.
Dominic bufou, se recostou e puxou o pau para fora.
Sam olhou-o com avidez por um momento antes de se inclinar e
engolir.
Sugou lentamente, tomando seu tempo e saboreando o sabor,
aproximando Dominic do orgasmo e parando, repetidas vezes, até que a
expressão sonolenta e indulgente desapareceu do rosto de Dominic, seus
músculos flexionados e seus olhos escuros observando Sam com clara
frustração.
— Sammy...
Sam soltou o pau com um pop e piscou inocentemente.
— O quê?
Por um momento, Dominic pareceu em conflito antes que sua mão
agarrasse um punhado dos cabelos bagunçados de Sam e puxasse-o de volta
para seu pênis. Foda, sim. Aí estava a atitude irritantemente indulgente de
Dominic; agora ele fodia a boca de Sam como se realmente quisesse, o
fazendo se sentir impotente e poderoso ao mesmo tempo. Ele fez isso com
Dominic. O conhecimento subiu à sua cabeça e ele gemeu em torno do pau
espesso de Dominic, deixando-o foder sua garganta e desfrutando a cada
segundo.
Dominic já estava perto, então não demorou muito. Cedo demais, ele
estava gozando na sua garganta, fazendo Sammy se queixar de decepção
quando seu pênis amolecendo escorregou de sua boca.
— Foda-se, estou tão excitado agora. — Reclamou Sam, empurrando
o rosto na garganta de Dominic. — Estou morrendo, Nick.
Dominic – o bastardo - riu.
— Pobre bebê! — Ele disse, dando um beijo na testa suada de
Sammy. — Aonde dói?
— Onde você acha? — Sam resmungou, não apreciando a diversão de
Dominic. Perguntou-se se era possível realmente morrer de frustração sexual.
Dominic zumbiu, passando os dedos pelos cabelos de Sam.
— Por que você não lida com isso?
— Por que não você? — Sam disse, dizendo a si mesmo que estava
perguntando apenas porque ficaria estranho se não o fizesse.
— Não vou te tocar até sentir que você confia completamente, em
mim. — Dominic riu com uma nota de auto depreciação. — Nunca tive um bom
autocontrole, Sammy. Se começar a tocar em você, não conseguirei parar.
Sam se perguntou se alguma vez ele seria tão bom mentiroso.
— Ah, vamos. — Disse Dominic. — Você não estava tímido ontem.
— Não sou tímido. — Resmungou, aproximando-se para puxar a
ereção para fora. — É que não é a mesma coisa. Minha mão, quero dizer. Não
é tão bom quanto quando alguém me toca. Mas acho que os mendigos não
podem escolher.
— Pode ser bom. — Dominic disse em sua orelha. — Você está
apressado. Não tenha pressa. Brinque com você mesmo. Pense em algo que
quer.
Sam pressionou o rosto no ombro de Dominic, manipulou seu pênis e
sentiu uma onda de excitação, como liquido espesso, correr na sua coluna e
barriga. Em sua mente, Dominic o tocava, beijava suas coxas na parte interna,
sua barba esfregando contra sua pele sensível. Sugava seu pênis, seus olhos
escuros olhando para ele. Dominic lambia sua entrada e fodia-o com a língua.
Sammy empurrou mais forte, gemendo enquanto as imagens
brilhavam rapidamente, embaçando. Enterrou o rosto no pescoço de Dominic,
respirando seu cheiro. Esperava que não estivesse ultrapassando, mas Dominic
não pareceu se importar. Também não parecia se importar com seus gemidos,
ou o jeito que Sam sugava levemente no pescoço dele enquanto se
masturbava.
— Em que está pensando? — Dominic murmurou em seu ouvido. —
Em mim?
A mão de Sam congelou em seu pênis enquanto lutava pela resposta
correta.
Afastou um pouco e olhou para Dominic, sentindo-se um pouco
confuso. Não entendeu por que Dominic perguntou isso. Realmente queria
saber? Por quê?
— Sim. — Ele disse, corando, mas olhando Dominic nos olhos.
A expressão no rosto de Dominic era completamente inescrutável. Ele
estava olhando para Sam, seu olhar escuro e intenso.
Sam estava começando a se perguntar se havia algo errado com ele,
porque estar envergonhado só parecia excitá-lo mais. Retomou as caricias em
seu pênis, consciente do pesado olhar de Dominic sobre ele, apreciando-o -
apreciando sua atenção um pouco demais.
Perguntou-se o que Dominic estava pensando. O que pensaria se
soubesse que Sam estava imaginando-o espalhando suas nádegas e lambendo
sua bunda.
Sam gemeu e gozou, os dentes afundando no ombro de Dominic para
abafar seu gemido.
— Não foi tão ruim, foi? — Dominic disse depois, acariciando suas
costas e pescoço de uma maneira que parecia quase possessiva, mas Sam
sabia a verdade.
Mais tarde, enquanto se vestiam para sair, Sam notou algo no
pescoço de Dominic.
Uma mordida de amor. Ele deixou uma marca em Dominic.
Era vermelha e muito óbvia, e Sam não podia olhar para isso sem se
sentir estranho pelo resto do dia.

Capítulo 11

Dominic estava chateado.


Isso, ou tinha rancor contra o pobre saco de pancadas que estava
agredindo.
Correndo numa esteira, Sam o observou pelo canto do olho. Ele
tentou não fazer, realmente tentou, mas seu olhar continuou retornando a
Dominic como se o agente fosse um imã pelo qual estava inexplicavelmente
atraído. Não parecia importar que a academia fosse enorme, ainda estava
ciente do homem do outro lado dela.
Sam lambeu os lábios, tentando não olhar as gotas de suor na testa e
no pescoço de Dominic, ou a maneira como sua camiseta preta encharcada de
suor não fez absolutamente nada para esconder seus músculos esculpidos.
Sam estava quase babando enquanto observava a flexão dos músculos de
Dominic cada vez que ele socava o saco.
Estava irremediavelmente excitado, mas em sua defesa, era muito
sensual.
Para não mencionar que Sam tinha uma razão legítima para observá-
lo.
Dominic estava cada vez mais tenso e retraído com todos os dias que
não conseguiram verificar a localização do pendrive. Eles estavam há cinco
dias no cruzeiro, e a guarda de Brylsko ainda não tinha escorregado. O cara
era verdadeiramente paranoico. Sua cabine era guardada o tempo todo por
dois seguranças, e Brylsko não foi visto sem sua camisa, nem mesmo uma
vez.
Sam podia entender o humor sombrio de Dominic; também estava
ansioso. Faltavam apenas três dias. Se eles não avançassem em breve,
Dominic provavelmente mudaria de ideia e o ofereceria para Brylsko. Talvez
por isso Dominic parecia tão chateado. Talvez estivesse com raiva de que teria
que recorrer a isso depois de prometer a Sam que ele não teria que fazer isso.
Seu estômago embrulhou com o pensamento, Sam alcançou seu
Gatorade e tomou alguns goles quando uma voz familiar disse:
— Você não deve beber enquanto corre, pet.
Sam sempre foi bom em tomar decisões rápidas. Ele já estava
sufocando com sua bebida antes do plano está totalmente formulado em sua
cabeça. Sam gritou enquanto tropeçava na esteira e caiu em direção ao som
da voz.
Ele quase sorriu quando as mãos de Brylsko o pararam enquanto sua
bebida derramava toda na camiseta de Brylsko.
— Oh, meu Deus, sinto muito! — Sam pediu desculpas, com os olhos
arregalados e balbuciando. — Você me assustou! Deixe-me limpar isso! — Ele
pegou alguns guardanapos da mesa próxima e começou a esfregar a camisa
embebida de Brylsko. Definitivamente, havia um objeto em forma de pendrive
sob a camisa, mas não era possível verificar se era idêntico ao falso que ele
havia recebido para trocar. A camisa deveria sair.
— Pare de se preocupar, garoto. — Brylsko disse com uma risada. —
É apenas uma camisa. Eu tenho dezenas mais. Sem danos causados.
Ele havia mencionado quão inquietante era que às vezes esse homem
parecia gentil e descontraído? Por que os vilões da vida real não poderiam ser
mais parecidos com os dos filmes? Teria sido menos fodido.
Sam sorriu tímido.
— Você provavelmente deve tirar isso antes de ficar pegajoso,
senhor.
Brylsko sorriu.
— Como eu posso dizer não, quando uma coisa tão bonita quer me
ver sem camisa?
Sam quase revirou os olhos. Mas do lado de fora, ele sorriu, olhando
Brylsko através dos cílios. Ugh, flertar com homens assustadores era chato.
Sam, por pouco, conseguiu não se encolher quando Brylsko se aproximou, o
olhar fixo nas suas pernas cobertas com um minúsculo short branco.
Quando Brylsko tirou sua camisa, Sam forçou seus olhos a percorrer
todo o peito do homem, não deixando que eles permaneçam no pendrive por
muito tempo. Para ser justo, Brylsko estava em boa forma, mas em
comparação com o de Dominic, seu corpo não tinha nada para admirar.
Sam esperava que não fosse óbvio que ele estava fingindo a
apreciação em seus olhos enquanto murmurava com um sorriso torto.
— Embora esteja feliz com o meu papai de açúcar, agora sinto um
pouco por não saber polonês.
Sorrindo, Brylsko piscou para ele.
— Talvez eu possa conversar com Dominic sobre compartilhar.
Sam forçou uma risada.
— Eu não seria contra isso, mas não acho que ele concordaria.
Mãos familiares se acomodaram em seus quadris.
— Sim! — Dominic disse por trás dele. — Temo não ser muito bom
em compartilhar, amor.
Sam relaxou de volta contra Dominic, a tensão em seu corpo
esvaindo. Foda, obrigado. Ele não pensou que poderia continuar a flertar por
muito mais tempo. Ele não era tão bom como um mentiroso.
— Isso é uma pena. — Brylsko disse, deslizando o olhar para
Dominic.
Sam não podia ver a expressão de Dominic, mas não deve ter sido
agradável, porque o olhar de Brylsko mudou sutilmente, seus olhos ficando
cautelosos e um pouco desconfiados.
Sam deu uma cotovelada em Dominic tão discretamente quanto
pôde. O que diabos ele estava fazendo? Queria comprometer seus disfarces?
Dominic se esqueceu de que deveria ser um homem rico, hedonista e
inofensivo?
— Você não tem motivos para ficar com ciúmes. — Sam disse com
um sorriso carinhoso, virando-se para olhar para Dominic. Ele quase
estremeceu quando viu sua expressão gelada. Porra. Isso exigia medidas
drásticas ou Brylsko poderia suspeitar.
Sam enrolou os braços no pescoço de Dominic e pressionou o corpo
contra o dele.
— Não seja um homem das cavernas. — Ele deu um selinho nos
lábios de Dominic, tremendo um pouco no contato. — Sr. Brylsko é um homem
bonito e interessante, mas estou feliz em pertencer a você. Sério. Você não
tem motivos para se sentir inseguro. Já se viu no espelho? Todos aqui estão
com inveja de mim.
Finalmente, a expressão de Dominic descongelou, um sorriso
pesaroso e tímido torcendo os lábios.
— Me desculpe Milosz. — Ele disse com uma risada. — Sempre fui
muito possessivo das minhas coisas. Eu me deixo levar às vezes.
Brylsko assentiu com a cabeça, sua cautela desaparecendo.
— Eu sou da mesma maneira, então entendo completamente. — Seus
olhos azuis varreram Dominic.
— Você está em muito bom estado para alguém que passa a maior
parte do tempo atrás de uma mesa.
Sam olhou para Brylsko, mas não sabia se ele desconfiava.
Dominic bufou, enfiando Sam no lado dele e acariciando seu braço nu
de maneira distraída.
— Eu espero que sim. Gasto uma pequena fortuna com a adesão na
academia. Se eu parar de malhar, ganho peso rapidamente. Perigos de um
trabalho de mesa.
Brylsko zumbiu de forma incoerente, sua atenção já mudando para
seu pet do outro lado da academia.
— Parece que meu pet me quer. Até a próxima.
Ele caminhou em direção a sua bebê de açúcar.
Antes que Sam pudesse dizer alguma coisa, Dominic pegou seu pulso
e o levou para fora da academia. Seu rosto era neutro, seus ombros relaxados,
mas o aperto no pulso de Sam era um pouco forte demais para o conforto.
Franzindo o cenho, Sam resistiu à vontade de exigir explicações sobre
o comportamento completamente irracional de Dominic. Ele esperou até que
estivessem no convés, longe de qualquer outro passageiro.
— O que diabos foi isso? — Ele gritou, virando-se para Dominic.
Dominic olhou-o impassivelmente.
— Eu sou o único que deveria estar perguntando isso.
As sobrancelhas de Sam franziram.
— Por que você está chateado? Foi uma ideia brilhante. Ele se
aproximou de mim, então não era suspeito, até você vir e arruinar todo o meu
trabalho! — Seu lábio inferior tremeu um pouco. Estava estupidamente
chateado. Pensou que Dominic ficaria orgulhoso e satisfeito, não com raiva.
— Eu consegui verificar a localização do pendriver e confirmar que o
nosso parece semelhante o suficiente. Você deveria me louvar ao invés de
estar com raiva. — Ele odiava que não conseguisse evitar a dor na sua voz.
Por que a opinião de Dominic era tão importante para ele, afinal? Não vivia
pelo louvor de Dominic.
Um músculo flexionou no maxilar de Dominic.
— Você não deveria ter agido sem me consultar primeiro.
Sam olhou para ele com incredulidade.
— Você é o único que me ensinou a confiar em meus instintos e fazer
o que quiser para o sucesso da missão. E, a propósito, li os parâmetros da
missão. Você pode superar-me, mas nesta missão eu sou o agente principal;
você é o agente de suporte. Eu deveria fazer a maior parte do trabalho. Você
está aqui para se certificar de que eu não foda tudo e me machuque.
— Exatamente. — Dominic falou.
Sam zombou.
— Eu posso cuidar de mim mesmo. O que ele faria comigo em um
lugar público? Acho um homem como ele...
Dominic puxou-o para perto e beijou-o.
Sam gostaria de dizer que colocou resistência, que hesitou antes de
beijar de volta.
A vergonhosa verdade era que derreteu no momento em que os
lábios de Dominic tocaram os dele, sua mente ficando bem vazia e seu corpo
se tornando flexível e formigando por toda parte. Sua boca era a única parte
dele que parecia poder se mover, beijando de volta com abandono
despreocupado, lábios agarrados aos de Dominic, sugando sua língua. Seus
pequenos suspiros e gemidos se transformaram em gemidos cheios quando as
mãos de Dominic começaram a se mover, acariciando suas costas, as nádegas,
a parte de trás das suas coxas nuas. Foda-se, ele estava morrendo. Estava a
um centímetro de Dominic.
Dominic quebrou o beijo e se afastou.
Sammy olhou para ele, desorientado, corado e tão excitado que não
podia pensar. Por que Nick parou?
— Ele se foi. — Dominic disse, passando os dedos pelos cabelos
escuros.
— Quem?
Dominic olhou para ele.
— Brylsko estava se aproximando de nós. Ele quase nos ouviu. Você
deveria ter mais cuidado, Sammy.
É claro.
Sam se virou e cruzou os braços sobre o peito, a garganta entupida
pelas lágrimas de humilhação.
Atrás dele, Dominic suspirou.
— Me desculpe pela reação exagerada. — Disse ele rigidamente. —
Você fez um bom trabalho.
De alguma forma, o louvor que Sam queria pareceu sem sentido e
vazio.
— Agora, só temos que descobrir como tirar essa corrente dele. —
Dominic disse com sua voz de negócios.
Sam piscou as lágrimas estúpidas e respirou fundo.
Quando ele falou novamente, conseguiu parecer muito mais frio e
profissional do que se sentia.
— Não há nenhuma maneira livre de risco para tirá-la sem ele
perceber. É muito resistente e pesada, especialmente com um pendrive
conectado a ela. Mas...
Ele pensou por um momento, imaginando o pendrive em sua mente.
— Existe uma corrente pequena e mais fina que liga o pendrive à
corrente principal. Parecia fraca e facilmente quebrável. Se estiver escuro o
suficiente, eu poderia me aproximar e romper a corrente mais fina sem que ele
percebesse imediatamente.
— Mas se não trocarmos os pendrives, ele notará eventualmente que
o seu está faltando.
Sam balançou a cabeça, observando o navio atravessar a água.
— É improvável que suspeite de qualquer coisa se ele encontrar o
pendrive aos seus pés. Correntes rompem. Não é incomum. Ele vai se achar
afortunado de não perder o pendrive, e que o encontrou antes que qualquer
outro pudesse levá-lo. Mas preciso que o espaço seja razoavelmente escuro e
devemos garantir que as câmeras de segurança não tenham visão noturna.
Ele podia sentir o olhar de Dominic sobre ele.
— Pode funcionar. — Ele disse. — Brylsko gosta das apresentações de
shibari que acontecem toda noite. A sala geralmente é muito escura, o foco
apenas nos artistas.
— Perfeito. — Sam disse com entusiasmo forçado. — Você pode
descobrir sobre as câmeras? Se puder me dizer onde as câmeras de segurança
têm pontos cegos, seria ainda mais fácil.
— Claro. — Houve uma pausa. — Está tudo bem?
Sam sorriu e se virou.
— Claro. — Ele disse, olhando Dominic nos olhos. — Por que não
estaria?
Dominic olhou para ele por um momento antes de assentir.
Sam não se enganou ao pensar que tinha convencido Dominic.
Afinal, ele era apenas um novato fingindo sentir algo que não fazia.
Era impossível enganar um mestre.

Capítulo 12

Sam tentou ficar com raiva de Dominic, mas não era realmente de
guardar rancor. Agora se sentia um pouco para baixo e muito estúpido. O
agente 11 fez o seu trabalho quando o beijou. Não era intenção de Dominic
tirar vantagem. Sam não tinha motivos para ficar bravo ou chateado. Não era
culpa de Dominic que Sam tivesse uma grande paixão por ele, um homem
hétero e mais velho que estava fora do seu alcance de qualquer maneira. Ele
estava sendo estúpido e irracional. Deve concentrar seus esforços em fazer o
trabalho e terminar a missão. Quando a missão acabar, provavelmente não
veria muito de Dominic de qualquer maneira. Agentes especiais normalmente
têm pouco a ver com os estagiários.
Em vez de tranquilizá-lo, o pensamento fez uma bola de ansiedade se
acomodar no fundo de seu estômago.
Sam esperava ser bem-sucedido em esconder o que sentia, mas é
claro, Dominic percebeu.
— Você está chateado. — Ele disse quando se juntou a Sam no
chuveiro naquela tarde.
Sam manteve os olhos fora do corpo de Dominic. Ele não sentia
vontade de ser humilhado novamente, obtendo um sinal inapropriado.
— Um pouco. — Ele admitiu com um sorriso pesaroso, enxaguando o
cabelo e olhando para qualquer lugar, exceto para o outro homem. — Não
importa.
Dominic pegou seu queixo e inclinou o rosto para cima.
— O que há de errado, Sammy?
Sam nunca gostou muito de ser chamado de nada além de Sam. Mas
gostava da forma como Dominic dizia Sammy. Era quente, carinhoso e suave.
Parecia um carinho.
— Fale comigo. — Dominic disse, olhando-o atentamente. — Você
pode me dizer qualquer coisa. Somos uma equipe, lembra?
Sam olhou para ele e não sabia o que dizer. Tudo o que queria no
momento era esconder seu rosto contra o pescoço de Dominic e o deixar
segurá-lo e acariciar seus cabelos. Cristo, isso era uma maldição. A coisa dele
para Dominic era a mais estranha mistura de desejo, pouca força de vontade e
uma necessidade infantil de conforto.
— Não é nada. — Sam disse, deixando cair o olhar e odiando-se por
ser uma criança sobre isso.
— Isso é sobre o beijo?
Assustado, Sam olhou para ele e corou sob o olhar compreensivo de
Dominic, que murmurou:
— Você não deve deixar algo tão superficial quanto uma paixão te
derrubar quando está indo tão bem.
Sam ergueu o nariz e riu.
— Você poderia ter a decência de fingir que não notou nada, sabe.
Isso está ficando mortificante.
Sorrindo, Dominic beijou-o no nariz.
— Nada mortificante sobre isso. Eu também tive dezoito anos.
Lembro-me de como é ruim.
— Eu não acredito em você. — Sam disse, inclinando sua bochecha
superaquecida contra Dominic. — Você provavelmente também era muito
quente aos dezoito anos. Todas as garotas provavelmente estavam na sua.
— Bem. — Dominic disse. — Você acreditaria em mim se eu dissesse
que tinha espinhas?
— Não. — Sam disse, sorrindo apesar de si mesmo.
Dominic deixou cair um beijo no topo da sua cabeça.
— Passará, Sammy.
— Eu sei. — Sam suspirou. — Mas ainda é uma merda. Não posso
esperar para superar isso. — Desesperado por uma mudança de assunto,
disse: — Você teve a chance de verificar as câmeras na sala de Shibari?
— Sim. — Dominic falou, com suas mãos deslizando sobre as costas
de Sam. — Há três. Sem infravermelhos. Há dois pontos cegos na sala, um
atrás da coluna e outro à esquerda da porta.
Sam fechou os olhos, tentando imaginar a sala em sua mente. Ele a
viu apenas fugazmente, mas tinha uma boa memória.
Exceto que ele teve problemas para se concentrar. As mãos de
Dominic eram muito perturbadoras. O estranho era que o toque de Dominic
não parecia impessoal. Dominic estava lavando Sam como se tivesse todo o
direito de tocá-lo, suas mãos confiantes e gentis.
Sam puxou os quadris para trás. A situação era bastante
embaraçosa.
— A coluna é a solução. — Ele disse, limpando a garganta. O
ultrabook que recebeu do MI6 podia ser pequeno, mas o brilho de sua tela
ainda o iluminaria em uma sala escura, a menos que Sam o usasse atrás da
coluna. Ele franziu a testa. — Está seguro de que o programa pode decodificar
a senha do pendrive em alguns minutos?
— Não é a primeira vez que usei. O programa foi desenvolvido pelos
nossos melhores hackers. Há muito pouco que não pode decodificar.
— Muito pouco? Isso não é muito reconfortante.
As mãos ensaboadas de Dominic se moveram para a parte inferior
das suas costas.
— Todos estão confiantes de que funcionará. Além disso, Brylsko não
é o tipo de empregar programadores de computador de primeira linha. Ele é
muito paranoico que vão apunhalá-lo pelas costas e roubar todo o seu
dinheiro.
— Então, quando estamos fazendo isso? — Sam disse, tentando
ignorar o peso perfeito das mãos de Dominic na parte inferior das suas costas.
Deus, sentia... Seu ânus apertou, seu pênis dolorosamente duro enquanto
imaginava os longos dedos de Dominic escorregando mais baixo e acariciando
entre suas nádegas.
— Quanto mais cedo, melhor. — Dominic disse, suas mãos
mergulharam mais baixo, passando nas nádegas e coxas. — Então, esta noite.
Sam não podia mais se concentrar na conversa.
— Tudo bem. — Ele conseguiu falar afastando-se. Não pôde olhar nos
olhos de Dominic enquanto saia do banheiro.
Sério, sua vida era foda.
Capítulo 13

Dominic não estava exatamente feliz em ser atribuído a esta missão.


Como regra geral, os agentes sêniores não gostavam de ser babás e ele não
era exceção. Cuidar de um novato era tedioso, na melhor das hipóteses, e
extremamente irritante se o novato continuasse estragando tudo.
Cuidar de Sammy não era tedioso nem irritante. O garoto era muito
esperto, rápido para aprender e ansioso para agradar.
Não era Sammy quem era o problema. Era ele.
Nada tinha preparado Dominic para o quão agitado e desconfortável
se sentia enquanto seu parceiro novato se arriscava. Se algo desse errado,
Dominic não poderia ajudar. Esta missão em particular exigia um conjunto de
habilidades que ele não possuía. Embora tenha feito alguns furtos no passado,
este trabalho exigia alguém que fosse melhor do que apenas bom. Exigia
alguém excepcional.
Alguém como Sammy.
Dominic não conseguia encontrar Sammy, apesar de procurá-lo
ativamente. A sala estava escura, o palco no centro era o único lugar
iluminado. O público estava espalhado por toda a sala, principalmente em
pares, uma boa parte deles não estava prestando atenção à performance de
shibari, ocupados tateando seus parceiros.
Como suspeitava, este show era apenas uma desculpa para alguns
passageiros excêntricos se engajarem em sexo público sob o disfarce de
assistir a uma demonstração de servidão profissional. A escuridão dava uma
ilusão de privacidade, mas provavelmente era excitante o suficientemente.
Considerando que a maioria dos casais nem sequer estava mais tentando ficar
quietos, isso fazia com que se perguntasse quantos desses shows terminavam
numa grande orgia.
Um casal perto dele começou a transar.
Dominic não lhes deu atenção, seus olhos examinando a escuridão.
Sentia-se cada vez mais no limite, quanto mais Sammy estava fora de sua
visão. Tinha que lembrar a si mesmo que o garoto era muito bom no que fazia.
Mas, isso não diminuía em nada sua preocupação: estava bem ciente de que,
às vezes, se destacar em algo não era suficiente. Às vezes, havia
circunstâncias fora do controle. Roubar um pendrive enquanto Brylsko estava o
usando em uma corrente ao redor do pescoço não era uma tarefa fácil,
considerando a paranoia de Brylsko. Mas estava escuro e Brylsko também
estava distraído pela garota em seu colo. Poderia dar certo. Como, também
poderia espetacularmente explodir em seus rostos.
Dominic olhou na direção de Brylsko. Mal conseguia distinguir sua
forma. A garota de Brylsko parecia estar o chupando, mas não podia dizer com
certeza; estava muito escuro. Não conseguia ver Sammy em lugar nenhum.
Os minutos se arrastavam.
Manteve um olho na performance de Shibari. Estava perto do fim.
Foram informados de que haveria um strip-tease depois disso, mas não havia
como saber se as luzes seriam ligadas entre as performances. Droga. Deveria
ter visto o vídeo de segurança de shows anteriores enquanto vigiava a sala à
tarde.
Dominic franziu os lábios no pensamento.
Teria verificado o vídeo de segurança se não estivesse ansioso para
voltar para Sammy, sua pele coçando com o desconforto depois de ver o modo
como Brylsko devorara o menino com os olhos. Homens como Brylsko
costumavam conseguir o que queriam e Dominic não queria deixar Sammy
sozinho mais tempo do que o necessário.
Era a primeira vez desde o leilão que ele e Sammy estavam
separados por mais de alguns minutos e Dominic não conseguia parar de
pensar que algo daria errado na sua ausência. Tinha aprendido a confiar em
seus instintos há muito tempo, mas desta vez se perguntou se estava ficando
paranoico. Nada tinha acontecido com o garoto enquanto estava ausente.
Encontrou Sammy no chuveiro, perfeitamente saudável e seguro. O
alívio que sentiu ao vê-lo foi... Desconcertante. O desejo de tocar Sammy e ter
certeza de que ele estava bem foi mais do que apenas desconcertante. Cristo,
fale sobre exagerar. Esta superproteção estava começando a persegui-lo.
Havia o proteger e, em seguida, havia a necessidade que sentia de proteger e
garantir que o garoto estivesse bem.
Sem mencionar que não deveria ter tocado Sammy do jeito que o
tocou no chuveiro - não quando o garoto tem uma enorme queda por ele.
Lembrar do rosto cheio de vergonha de Sammy quase fez Dominic
sorrir. Não deveria ter sido atraente, mas foi, e era uma sensação tão estranha
que o deixava fora de si toda vez que se sentia carinhoso.
Ele não gostava.
E ainda assim, aqui estava ele.
A paixão óbvia do garoto nem o incomodava. E particularmente não o
incomodava que tivesse que transar com Sammy se Brylsko ficasse muito
desconfiado. Dominic preferiria não fazer isso - principalmente porque não
queria mexer com a cabeça de Sammy quando o garoto já estava apaixonado
por ele - mas a ideia de fazer sexo com Sammy não era... Não era exatamente
repugnante. Não o fazia se sentir desapegado ou levemente repugnado como
se sentia nas raras ocasiões em que teve que foder com um alvo masculino.
Embora não quisesse foder com Sammy, também não estava abalado
pela ideia de tocá-lo dessa maneira. Ele já o tocava o tempo todo. Era fácil
tocá-lo. Talvez muito fácil. Não precisava forçar nenhum gesto de carinho. Na
maioria das vezes, se viu beijando Sammy na ponta do nariz ou na testa
porque queria. Tocava-o porque queria.
Ele queria.
Não era sexual. Dominic nunca se sentiu atraído por homens e
Sammy não era exceção. O menino apenas empurrava todos os botões certos
nele, botões que nem se quer sabia que tinha. Sentia uma estranha atração
pelo menino, seus instintos mais baixos precisavam tê-lo, não era sexual.
Sammy tinha uma habilidade única para fazê-lo se sentir carinhoso, divertido,
ferozmente protetor e possessivo.
Dominic fez uma careta com a lembrança de sua reação exagerada
quando Brylsko estava olhando para Sammy na academia. Sam estava certo,
ele foi completamente irracional. Não podia acreditar que quase arruinou a
missão só porque não gostava da maneira como o alvo estava quase comendo
o seu parceiro com os olhos.
Um leve toque em seu ombro o trouxe de volta ao presente, seus
músculos ficaram tensos por um momento antes de reconhecer o toque.
Sammy.
Dominic sentiu a tensão em seu corpo ser drenada.
— Está feito. — Sussurrou Sammy, no colo de Dominic, onde estava
sentado no início do show.
Dominic apertou seus braços ao redor do menino.
— O programa funcionou? — Ele murmurou na orelha de Sammy.
— Foi ótimo. — Sammy disse calmamente, desabotoando a camisa de
Dominic. — Não vou fazer isso de novo. Quase fui pego. Ainda bem que o cara
deixa cair toda sua guarda quando está sendo chupado. — Ele riu e Dominic
sorriu com indulgencia, reconhecendo os sinais de adrenalina.
— Deixe meu cabelo bagunçado também. — Disse Dominic, passando
a mão pelos cabelos de Sammy. Precisavam parecer desgrenhados. — E o
ultrabook?
— O escondi atrás daquelas mesas não usadas no canto. — Sammy
disse, enfiando os dedos pelos cabelos de Dominic. — Coloquei o pendrive no
assento dele, perto da coxa. Ele deve encontrá-lo sem problemas. Espero que
apenas pense que ele ou sua garota quebraram a corrente em um ataque de
paixão. — Ele riu novamente, enterrando o rosto no peito de Dominic. — Porra,
isso foi divertido.
— Para você, talvez. — Disse Dominic, passando a mão entre eles e
abrindo o botão da calça de Sam.
— Hum. Temos que fazer isso?
— Sim. — Dominic abriu o zíper de Sammy. — Devemos parecer tão
ocupados quanto os outros. Quando ele se der conta do pendrive, será
suspeito o suficiente. Não há necessidade de atrair a atenção por estarmos
diferente dos outros.
— Tudo bem. — Sammy disse, seus dedos hábeis começando a
trabalhar no botão da calça de Dominic. — A propósito, meu tesão não tem
nada a ver com você. É... Adrenalina.
— Você não precisa ficar tão defensivo. — Dominic disse com ironia,
enrolando a mão em torno da ereção de Sammy. Estava quente. E pulsava
ligeiramente em sua mão.
Sammy suspirou, escondendo o rosto contra o ombro de Dominic.
— Nunca fui tão humilhado na minha vida.
Apesar de suas palavras, a humilhação não parecia estar matando a
ereção de Sam. Estava dura no punho de Dominic, e quando começou a
acariciá-lo, Sam gemeu suavemente.
Não era a primeira vez que Dominic tinha a mão no pênis de outro
homem. Teve duas missões que tinha que tirar informações de um alvo
masculino. Nas duas vezes, teve que se esforçar muito para não mostrar como
entediado e indiferente estava.
Não se sentia nem entediado nem indiferente agora. Talvez a
diferença fosse que ficou ridiculamente apegado a esse garoto nas poucas
semanas que o conhecia.
— Goze. — Dominic disse, sua mão acariciando o pau do menino mais
rápido, enquanto seu outro braço o puxava para mais perto de si.
Sammy gemeu, os dentes afundando no pescoço de Dominic e
provavelmente deixando um grande hematoma - novamente.
— Nick. — Ele ofegou, se contorcendo no colo de Dominic. — Nick, eu
preciso...
— O que você precisa, bebê? — Dominic disse, se inclinando para
encostar na bochecha de Sammy, apertando a mão em torno do seu pênis.
Foda-se, ele gostava disto. Gostava de cuidar do seu menino.
Respirando duramente, Sam trouxe a boca para a orelha de Dominic
e sussurrou:
— Toque em meu ânus. Gosto quando os homens brincam com a
minha entrada.
Dominic fez um barulho estrangulado. Às vezes, era difícil acreditar
como Sammy poderia ser completamente sem vergonha.
Mas se Sammy realmente queria.
Dominic trouxe dois dedos de sua mão livre para a boca e os molhou
antes de colocá-los debaixo do cós do jeans de Sam. No momento em que
seus dedos acariciaram o ânus dele, Sam gemeu, estremecendo com todo o
seu corpo.
— Oh, Deus, Nick. — Ele ofegou, se fodendo no punho de Dominic. —
Oh, Deus.
— Isso. — Disse Dominic, apertando a mão ao redor do pau de Sam.
— Você foi tão bom. Um bom menino. — Ele empurrou a ponta do dedo para
dentro do garoto. Sammy ficou rígido antes de soltar um gemido alto e gozar,
seu ânus apertando o dedo de Dominic.
— Desculpe. — Sam murmurou, sem fôlego.
Dominic deu um beijo em sua testa suada.
— Por quê?
— Por fazer uma bagunça em seu estômago. Você provavelmente
está enojado.
Surpreendentemente, ele não estava. Seu estômago estava coberto
de sêmen, seu dedo ainda estava na bunda do outro homem, mas não se
sentia enojado.
Um pouco confuso, Dominic puxou o dedo para fora e envolveu seu
braço ao redor de Sammy, o deixando descansar contra ele enquanto se
recuperava do seu orgasmo.
De repente, as luzes se acenderam.
Seus olhos levaram alguns segundos preciosos para se ajustar ao
brilho súbito. Quando finalmente conseguiu focar seu olhar, Dominic
encontrou-se olhando para uma sala cheia de pessoas meio vestidas e
desgrenhadas. Um casal no canto ainda estava transando, não se importando
com a audiência os apreciando.
Brylsko estava olhando ao redor da sala com os olhos estreitados, o
pendrive girando na mão.
Tenso, Dominic rapidamente virou o olhar para o garoto esparramado
em seu colo.
Sammy sorriu para ele atordoado, parecendo corado e exausto, seu
pau gasto ainda na mão de Dominic, que provavelmente parecia quase tão
obsceno, sua camisa levantada, sêmen secando em seu estômago e sua
braguilha aberta.
Era perfeito. Ninguém em sã consciência suspeitaria que o maldito
garoto em seu colo tinha algo a ver com o pendrive de Brylsko.
Quando Dominic ariscou outro olhar para Brylsko, Milosz estava
levando seu animal de estimação da sala. Ele parecia menos tenso do que há
alguns minutos, tendo provavelmente concluído que a corrente tinha apenas
quebrado e ninguém tinha culpa.
Dominic suspirou, a tensão deixando seu corpo.
— Bom trabalho. — Ele disse, passando os nódulos contra a bochecha
corada de Sammy.
Sammy sorriu para ele.
Quando as luzes se apagaram novamente para o show de strip-tease,
Sammy pegou o ultrabook e Dominic o colocou debaixo da jaqueta.
Eles saíram de mãos dadas, apenas um casal normal voltando para
sua cabine depois de uma aventureira noite fora.
Capítulo 14

Os últimos dias do cruzeiro foram surpreendentemente normais.


Brylsko não parecia estar preocupado ou suspeitar deles e o ultrabook com os
dados roubados estava armazenado com segurança no compartimento secreto
da mala de Sam.
Como não tinham nada além de manter seus disfarces, Sam decidiu
se divertir enquanto podia. Afinal, não era todos os dias que tinha a
oportunidade de estar em um exclusivo cruzeiro de luxo no Mediterrâneo.
Invejoso da pele bronzeada de Dominic, Sam estava determinado a
fazer algo sobre sua fantasmagórica pele branca e passou os últimos dias
vagando pela piscina, bebendo coquetéis elegantes e trabalhando no seu
bronzeado. Sua pele odiava o sol, mas às vezes conseguia pegar uma cor em
vez de ficar queimado, então havia esperança.
Mas estava rapidamente começando a se arrepender desse plano,
porque Dominic insistia em espalhar protetor solar da sua cabeça aos pés a
cada duas horas. Era uma tortura. Sam nunca tinha estado tão excitado e
sexualmente frustrado em sua vida.
— Pare de choramingar. — Dominic disse severamente quando Sam
se queixou de ser despertado de sua soneca. — Você é um ruivo com uma pele
muito pálida. Já ouviu falar de câncer de pele?
Sam cedeu, porque Dominic estava certo; não tinha nada a ver com o
fato de que a atenção e a proteção de Dominic o deixava tonto e quente por
dentro.
Certo. Deus, quem estava tentando enganar aqui? Sua paixão por
Dominic estava começando a realmente, realmente o preocupar. Era tudo
culpa de Dominic por ser lindo, gentil, cuidar e protegê-lo tão bem. Às vezes,
Sam quase odiava o agente 11 por ser um ator tão bom. Para não mencionar
que não era exatamente fácil superar sua paixão quando tinha que chupar o
pênis de Dominic todos os dias para manter seus disfarces.
Mas logo isso acabaria. Sam pensou enquanto estava bem acordado
nos braços de Dominic. Amanhã chegariam a Barcelona e depois voltariam
para Londres.
Amanhã tudo acabaria. Dominic deixaria de fingir que o queria.
Dominic deixaria de tocá-lo. Deixaria de chamá-lo de bebê e outros apelidos
ridiculamente carinhosos.
Amanhã Dominic deixaria de ser Dominic.
Ele seria o agente 11 de novo, um agente especial indiferente, muito
bom para ter algo em comum com um novato como Sam. Era muito
improvável que trabalhassem juntos em uma missão novamente, e qual outra
razão que Dominic - agente 11 - teria para sair com um garoto como ele?
Sam tentou dizer a si mesmo que a sensação de perda oca que torcia
seu interior era normal. Era normal estar um pouco chateado. Mas passaria.
Era apenas uma paixonite. Passaria.
Tinha que passar.
Por favor. Pensou desesperadamente, pressionando a bochecha no
ombro de Dominic e apertando os olhos. Por favor.

*****
Quando chegaram a Barcelona, ele ainda não se sentia pronto.
Tudo parecia tão... Decepcionante. Sam havia esperado um confronto
aberto com Brylsko, que destruísse seus disfarces, por algum tipo de violência
que provaria que Brylsko era mais do que apenas um empresário hedonista de
meia idade. Mas não houve nada. Ninguém os deteve enquanto deixavam o
navio e entravam num táxi.
— Isto foi decepcionante. — Sam murmurou, olhando pela janela do
carro.
Dominic - agente 11, caramba! - resmungou.
— Decepcionante é bom, confie em mim. Significa um trabalho bem
feito. — Ainda assim, ele parecia um pouco tenso. Não era óbvio, mas depois
de mais de uma semana estando em contato com ele, Sam aprendeu a
diferença entre um agente do MI6 completamente relaxado e um agente do
MI6 que estava realmente tenso enquanto fingia estar relaxado.
Sam se animou.
— Estamos em perigo? — Sussurrou, olhando com olhos arregalados.
Talvez o motorista fosse um dos homens de Brylsko. Talvez fosse sequestra-
los!
O agente 11 deu uma risada.
— Não. Desculpe te desapontar.
Sam suspirou.
— Não é minha culpa que a missão foi chata. Ser um agente secreto
não é tudo isso que as pessoas falam.
O agente 11 sorriu, com dentes brancos destacando contra sua pele
beijada pelo sol, ainda com a barba por fazer e injustamente lindo.
Deus, queria tanto beijá-lo.
Engolindo em seco, Sam desviou o olhar.
Ficou em silêncio depois disso, balançando sua perna ansiosamente
enquanto esperava que chegassem ao aeroporto. Pegou o agente 11 o
observando algumas vezes, mas ele também ficou calado.
Só quando o avião estava decolando, Sam deixou escapar, sem olhar
para o seu companheiro.
— Então você já tem uma missão depois dessa?
— Sim.
Sam olhou para suas mãos, lembrando-se de que isso não era dá sua
conta. Não tinha o direito de perguntar.
Para sua surpresa, o agente 11 falou voluntariamente.
— Vou trabalhar na minha missão de longo prazo.
Sam virou a cabeça para ele.
— O Dominic Bommer?
O outro homem assentiu.
Sam molhou os lábios.
— Aquela em que você deve seduzir o filho de um figurão?
Com sua expressão impenetrável, o agente 11 assentiu novamente.
— Oh! — Sam suspirou e desviou o olhar de novo, tentando ignorar o
nó apertado em seu estômago.
Não era ciúme. Não tinha o direito de ficar com ciúmes. Esse era o
trabalho de Dominic. Ele também era o trabalho de Dominic. Não significava
nada para Dominic - ao agente 11. Era bom lembrar disso.
O agente 11 suspirou.
— Sam.
Sam tirou o seu novo celular dado pelo MI6 e colocou os fones de
ouvido.
— Sammy. — Disse Dominic.
— O quê. — Sam disse sem rodeios, olhando a tela de seu celular.
— Você está bravo comigo?
— Não. — Disse Sam. — Por que eu estaria com raiva de você?
— Não faça isso. — Disse Dominic.
— Fazer o quê?
— Não minta. — Disse Dominic calmamente. — Você não é assim.
Você diz o que pensa. Isso é raro. Não permita que isso mude.
Sam zombou.
— Mentir não é o nosso trabalho?
Dominic soltou uma risada com suas próprias palavras jogadas de
volta para ele.
— Não deixe o trabalho mudá-lo. Você nunca deve deixar suas
missões afetá-lo fora do trabalho. Se fizer isso, não durará muito com o MI6.
Sam levantou o olhar para Dominic.
— Só isso? É fácil para você? Manter seu trabalho separado da sua
vida?
— Claro que não é. — Disse Dominic, sua expressão sombria. — Mas
você deve aprender a dividir. Pense em si mesmo como um ator que tira a
maquiagem do palco após uma apresentação. Da mesma forma, tudo o que
acontece durante uma missão não é real. É uma performance.
Bom.
Sam riu.
— Você não precisa me dizer isso, sabe. Entendo. Devo superar
minha paixonite tola e parar de ser estúpido. Eu consigo, está bem? — Se
forçou a encontrar os olhos de Dominic com firmeza. Dominic queria
honestidade, não era? Poderia ser brutalmente honesto. — Sei que você
realmente não se importa comigo. Não sou um completo idiota.
Dominic apertou os lábios, uma expressão fechada em seu rosto. Sua
mandíbula serrou e ele desviou o olhar antes de dizer com rigidez.
— Não foi isso o que quis dizer. Não sou a porra de um robô, sabe.
Eu... Me importo com você. Eu lhe disse, sua quedinha não me incomoda. Nem
estava pensando nisso quando falei. Só queria que fosse sincero comigo. Se
está com raiva, diga que está com raiva. Não quero que minta para mim.
O nó apertado no estômago de Sam afrouxou um pouco.
— Você vai ser honesto de volta?
Dominic riu, como se Sam tivesse dito algo engraçado e olhou para
ele.
— Eu já sou. Você acha que sou tão sincero com todos?
Sam franziu a testa. Agora que pensava sobre isso, se lembrou das
pessoas no MI6 fazendo fofocas sobre como distante e fechado o agente 11
era. Apesar de trabalhar para o MI6 há uma década, o agente 11 ainda era um
mistério para a maioria de seus colegas de trabalho.
— Não é? — Sam perguntou suavemente.
Dominic balançou a cabeça com um sorriso irônico.
— Agora, me diga o que te chateou. Não sou um leitor de mentes.
— Hum. — Sam estudou suas unhas com mais interesse do que
precisava. — Acho que estou apenas me sentindo descartável. Substituído por
outra pessoa.
Podia sentir o olhar de Dominic sobre ele.
— Você está com ciúmes?
Corando, Sam fez uma careta.
— Não. — Ele resmungou sem convicção.
Merda, isso era humilhante.
— Sammy. — Dominic disse com um suspiro. — Minha próxima
missão será completamente diferente dessa.
Havia algo sobre o tom de Dominic que fez Sam olhar para ele.
Dominic beliscou a ponta do nariz.
— Também não estou ansioso para a minha próxima missão, sabe.
Herdeiro de um império do crime ou não, o cara que deveria usar também é
uma pessoa. É possível que ele nem esteja ciente das atividades criminosas do
seu pai.
— Então por que o seduzir?
Dominic fez uma careta.
— Porque seu pai é um filho da puta paranoico. Ele faz Brylsko
parecer ingênuo e confiante. É impossível chegar perto dele, porque ele
literalmente não confia em ninguém. Seu filho é o único ponto fraco que tem.
Ele não parece ter muito carinho por seu filho, mas parece que quer deixar
tudo para sua carne e sangue, então deve começar a confiar nele em algum
momento em breve. E tenho que me tornar a pessoa que seu filho confia. É a
única maneira de conseguir alguém dentro.
Sam franziu a testa.
— Por que o MI6 está envolvido, no entanto? A inteligência doméstica
não é o trabalho do MI5.
Dominic encolheu os ombros um pouco.
— É uma operação conjunta com MI5. O alvo tem conexões com uma
quadrilha sul-americana de tráfico humano e a máfia russa.
Sam olhou para as nuvens pela janela. Embora racionalmente
entendesse que a missão de Dominic era importante, se sentia doente com o
pensamento de que Dominic iria seduzir outro cara, sorrir para ele, beijá-lo,
tocá-lo e fazer sexo com ele.
Mas não era como se sua opinião fosse importante. Ele era apenas
um garoto gay com uma paixão estúpida por um homem heterossexual.
— Tudo bem. — Disse sem emoção. Ligou a música e fechou os
olhos.
Não se lembrava de adormecer, mas deveria ter, porque a próxima
coisa que percebeu, era que tinham pousado e Dominic desabotoava seu cinto
de segurança enquanto ele piscava com força para afugentar o sono. Sentia-se
desorientado.
— Venha. — Disse Dominic, o guiando para fora do avião com uma
mão colocada na parte inferior das suas costas.
Sam se inclinou para o toque antes de se afastar, como uma boneca
de pano puxada em duas direções diferentes.
— Sammy? — Dominic disse.
Pare de me chamar de Sammy. Sam quase surtou, mas não o fez.
Não tinha condições para falar depois de tudo - também tinha problemas para
pensar em Dominic como o agente 11.
— Vamos pegar nossa bagagem e encontrar um táxi. — Disse Sam,
olhando para frente.
A viagem de táxi para a sede foi silenciosa.
Não era um silêncio amigável. Sam fechou os olhos e fingiu dormir,
dolorosamente consciente do homem ao lado dele. Pensou que podia sentir o
olhar de Dominic sobre ele, mas, no entanto, sabia que era só sua imaginação.
Foi um alívio quando o táxi finalmente os deixou na sede.
— Nós realmente precisamos relatar imediatamente? — Disse Sam,
sem olhar para Dominic.
— Sim. — Dominic disse, se aproximando do scanner de íris.
Ele apitou e ficou verde.
Sam o seguiu até o prédio, tentando não parecer que estava
arrastando os pés. Deveria estar animado. Completou com sucesso sua
primeira missão de campo. Ia ser motivo de inveja no centro de treinamento.
O centro de treinamento... Parecia que fazia meses desde que esteve
lá.
Parecia que se passaram meses desde Dominic...
Dominic não existe. Sam se lembrou com raiva. Havia apenas o
agente 11, que em breve iria seduzir outro homem.
— Bem-vindo de volta, A11. — Disse Claudia, dando um sorriso a
Dominic. — Como foi seu voo?
— Bom. — Dominic disse laconicamente. — C está em seu escritório?
— Sim, mas ela quer que você arquive seu relatório da missão e
entregue os dados recuperados ao departamento de Inteligência. — Claudia
olhou para Sam pela primeira vez. — O agente Landon deve relatar
pessoalmente. Ela está esperando por você.
Sam não conseguia ver o rosto de Dominic, mas pode ver seus
ombros levemente tensos.
— Por que ele?
Claudia encolheu os ombros.
— C não se explica a mim.
Dominic deu um aceno de cabeça e olhou para Sam, algo cintilando
em seus olhos quando seus olhares se encontraram.
E então se virou e foi embora.
Sam o observou ir, suas entranhas em nós.
Quando as portas do elevador se fecharam atrás de Dominic, Sam se
encontrou olhando fixamente e estupidamente para elas, sentindo-se perdido e
sozinho. Tinha esquecido como era. Realmente esqueceu.
— Sam? Você está bem?
— Sim. — Sorrindo fracamente para Claudia, Sam bateu na porta e
entrou no escritório de Amanda.
Capítulo 15

— Olá, Sam. — Amanda disse com um sorriso agradável. — Por


favor, sente-se.
Ele fez, esperando que não parecesse tão nervoso quanto se sentia.
O que ela queria com ele?
— Com todo o devido respeito, madame, não entendo por que
solicitou um relatório de missão de mim. — Disse Sam. — Certamente o
agente 11 pode lhe dar um relatório melhor.
Amanda lhe deu outro sorriso.
— Verdade. Mas o agente 11 não precisa estar aqui para enviar seu
relatório. — Ela o estudou por alguns instantes. — Sam, vou ser franca com
você. Pedi que viesse sozinho, porque queria ter certeza que não estava
traumatizado pela missão. Obviamente você se sentiria pressionado na
presença do agente 11 e não seria capaz de falar com franqueza.
Sam olhou para ela.
— O quê?
Amanda deu-lhe um olhar compreensivo.
— Você não precisa ter medo, Sam. Pode me dizer se o agente 11 o
pressionou a fazer qualquer coisa que não quisesse fazer durante o curso da
missão. Você é muito jovem e inexperiente e o agente 11 não tem o direito de
coagi-lo em qualquer coisa, missão ou não. Não aceito coerção sexual com os
adolescentes.
Sam olhou para ela com descrença antes de ter que virar para
esconder sua raiva. A coragem dessa mulher. Será que ela acha que sou
estúpido?
Respirando fundo, Sam encontrou seus olhos e disse com toda a
calma que podia.
— Tenho medo de não ter entendido, senhora. O agente 11 não foi
nada, se não atencioso. Ele foi de uma grande ajuda e apoio para mim quando
eu precisava e definitivamente não me obrigou a fazer nada que não quisesse.
Tenho dezoito anos, senhora. Um adulto. Um adulto legalmente.
O sorriso da mulher ficou um pouco tenso.
— Entendo. Você pode ir, Landon.
Sam nunca tinha saído de uma sala tão rápido.
— Não tolero coerção sexual de adolescentes. — Repetiu em voz
baixa, raiva apertando sua garganta. Se ela realmente não tolerasse isso, não
teria designado um adolescente para essa missão. Não que se sentisse coagido
de qualquer forma - longe disso - mas era o princípio do assunto.
Pensando nisso, olhando para trás, Sam podia ver os sinais de uma
armadilha cuidadosamente plantada. Nunca em nenhum momento das
instruções pré-missão foi explicitamente dito que teria que realizar atos
sexuais, se necessário. Estava fortemente implícito, mas ela poderia
argumentar que Sam não tinha entendido. Agora, Amanda poderia reivindicar
a inocência e colocar toda a culpa em Dominic - se Sam expressasse queixas,
o que obviamente ela estava esperando. Se sentia muito bem em decepcioná-
la. Sam queria poder dizer tudo o que pensava sobre ela, mas...
Uma mão agarrou seu braço e o puxou para uma sala que nem tinha
notado. O grito de Sam foi interrompido quando viu que era Dominic.
— O que ela queria? — Ele disse.
Sam olhou para a câmera de segurança no canto da sala. Dominic
seguiu seu olhar e assentiu. Pegando o pulso de Sam, o levou para fora da sala
e caminhou em direção ao elevador.
Sam estava tão confuso que levou um tempo para perceber que
Dominic estava indo para o quarto de Sam na academia de treinamento. Isso
fazia sentido. Os quartos eram o único lugar onde lhes davam um pouco de
privacidade.
— E aí cara. — Patrick, seu companheiro de quarto, disse quando viu
Sam. — É bom te ver de volta. — Ele olhou incerto para Dominic. — Você
está...
— Fora. — Disse Dominic. — Pode voltar em uma hora.
— Inacreditável. — Sam disse quando Patrick realmente se levantou
e saiu do quarto sem se queixar.
Sam deitou em sua cama, enterrou o rosto no travesseiro e fechou os
olhos.
— Não deveria ter dito a Patrick para voltar em uma hora. Não há
muito o que dizer. Amanda só tentou me fazer acusá-lo de má conduta sexual.
Disse a ela que você não fez nada que eu não quisesse. Fim da história. Você
não tem nada com que se preocupar. — Só queria que Dominic o deixasse em
paz para que pudesse ser miserável sozinho. — Tchau. Você não tem um
herdeiro rico para seduzir?
— Pelo amor de Deus, Sammy...
— Pare de me chamar assim! — Sam respondeu, rolando sobre suas
costas e olhando para Dominic. — A missão acabou. Não precisa ser carinhoso
comigo, me tocar ou falar comigo... — Sua voz quebrou e Sam olhou mais
firme, se odiando e a esse homem, porque agora mesmo tudo o que queria era
ser embrulhado nos braços de Dominic e que lhe dissesse pequenas e doces
mentiras.
— Isso não tem nada a ver com a missão. — Disse Dominic. — Pensei
que era óbvio que você não era apenas uma missão para mim. Realmente me
importo com você. Por que isso é tão difícil de acreditar?
— Por quê? — Sam repetiu incrédulo, se sentando. Ele estava falando
sério? — Nem sequer sei seu nome verdadeiro! Como deveria acreditar em
algo que você diz quando não conheço nada real sobre você? Nunca conheci
uma pessoa tão parecida com um camaleão!
Toda a raiva pareceu desaparecer do corpo de Dominic. Ele suspirou,
passando a mão pelo rosto.
— Meu verdadeiro nome é Dominic.
Sam olhou para ele, confuso.
— O que?
Dominic se aproximou e se sentou ao lado dele.
— É uma longa história.
Sam olhou seu perfil.
— Tenho tempo. — Disse suavemente, ainda tentando envolver sua
mente em torno do fato de que Dominic era realmente Dominic.
O agente 11 - Dominic - ficou quieto por um tempo.
— Meu pai morreu quando eu tinha onze anos. — Disse finalmente. —
Um acidente de carro. Minha mãe se casou novamente um ano depois. Odiava
meu padrasto. — Havia algo autodepreciativo no sorriso de Dominic. — Estava
constantemente com raiva quando era adolescente. Pensei que também odiava
minha mãe. Me sentia traído, achei que ela tivesse traído meu pai ao se casar
logo após sua morte e para piorar com o melhor amigo dele. Na minha cabeça
ela deveria estar traindo meu pai antes da morte dele.
— Ela estava? — Sam disse calmamente.
Dominic encolheu os ombros.
— Não penso assim, mas naquela época, tinha certeza e não queria
viver com eles. Fugi de casa quatro vezes antes que minha mãe finalmente
desistisse e pedisse aos parentes do meu pai para que cuidassem de mim.
— Então você cresceu com seus parentes?
— Não. — Disse Dominic. — Meu pai... Ele pertencia a um ramo
empobrecido de uma família muito antiga e influente, então todos os seus
parentes eram um bando de ricos esnobes. Todos ficavam olhando para mim.
— Dominic parecia quase divertido. — Provavelmente pode adivinhar o que
aconteceu.
Sam inclinou a cabeça para o lado.
— Não suportou seus parentes esnobes e fugiu novamente?
Dominic assentiu com um resmungo.
— Acho que me via como um rebelde. Naquela época, morei nas ruas
por um tempo, entrando em problemas e mal saindo. Mas no momento em
que fiz quinze anos, cresci um pouco e percebi que na verdade não odiava
minha mãe e que estava errado em tratá-la do jeito que tratei. Sentia falta
dela. — Dominic fez uma pausa. — Mas era tarde demais. Ela morreu
enquanto estava fora. Complicações durante o trabalho de parto. — O rosto de
Dominic estava completamente vazio. — Nem sabia que ela estava grávida.
Oh!
Sam estremeceu por dentro.
— Sinto muito. — Ele disse, tocando com incerteza a mão de
Dominic. Achou que seria estranho, mas no momento em que o tocou, suas
mãos imediatamente se uniram e os dedos se entrelaçaram. Se acostumaram
a ficar de mãos dadas.
Dominic olhou para suas mãos.
— Sim. — Disse ele. — Eu também.
Eles ficaram em silêncio por um tempo, enquanto Dominic
distraidamente brincava com os dedos de Sam.
Quando Sam começou a pensar que Dominic não iria continuar, ele
fez.
— Depois disso... Provavelmente pode imaginar que me senti como
uma merda. — Disse Dominic. — Me tornei um canhão solto. Quando tinha
dezesseis anos, acabei na prisão depois de esfaquear o líder de uma das
gangues de Londres, mas o MI6 me soltou e limpou meu registro. — Ele sorriu
ironicamente. — Estavam recrutando. Queriam alguém jovem e capaz, alguém
que pudessem moldar da maneira que quisessem, e não doía que eu fosse de
uma família antiga e assim poderiam me usar para se infiltrarem na classe alta
quando precisassem.
— Por que você finge que seu nome verdadeiro é apenas um
disfarce? — Sam murmurou, olhando para seus dedos entrelaçados. A mão de
Sam não era pequena por qualquer meio, mas na mão de Dominic ela
diminuía, sua pele muito mais escura do que a de Sam. Isso fazia Sam se
sentir engraçado. Não conseguia afastar seu olhar.
— Isto é um disfarce, de certa forma. — Disse Dominic. — Só porque
é meu nome verdadeiro não significa que as pessoas sabem que Dominic
Bommer é uma pessoa real. Ele não é. Minha educação é real o suficiente,
assim como meu trabalho na Grayguard, mas a maioria dos meus supostos
interesses e preferências são falsas. Até meus parentes não sabem que não
sou gay. Quando fui designado para esta missão há dois anos, eu ―saí do
armário‖ e comecei a construir meu disfarce. Por causa desta missão, Dominic
Bommer deve ser o homem perfeito dos sonhos de Luke Whitford: um homem
gay, confiante e confiável, que quer uma relação séria e uma família. Este
disfarce não é mais real do que qualquer outro que tive.
— Luke Whitford? — Sam disse, olhando para o rosto de Dominic. —
É ele que você deveria seduzir? Nem sabia que ele era gay.
Dominic levantou as sobrancelhas.
— Você o conhece?
Sam bufou.
— Sou um ladrão, Nick. Ele é o herdeiro do homem mais rico da
Inglaterra. Conhecer pessoas ricas era parte do meu trabalho.
Também sabia que Luke Whitford era muito bonito. Não apenas
bonito, nem mesmo lindo - ele era magnifico. Então, mesmo um homem
heterossexual provavelmente poderia se sentir atraído por ele.
Sam limpou a garganta.
— Então, quando sua missão começa oficialmente? Há um motivo
pelo qual você esperou tanto tempo?
— Existe. — Disse Dominic, começando a mexer com os dedos de
Sam novamente. — Precisava deixar meu disfarce à prova de balas e tivemos
que esperar por um sinal de que Whitford tinha começado a confiar em seu
filho. Sabemos que Whitford enviou seu filho à Rússia no inverno passado,
para representá-lo no ramo russo da Whitford Industries. Curiosamente, Luke
foi sequestrado em fevereiro, após uma reunião com Roman Demidov, o
bilionário russo suspeito de ser o chefe da máfia russa.
Sam franziu a testa.
— Espere, Luke Whitford foi sequestrado? Eu não sabia disso.
— Poucas pessoas sabem. Seu pai conseguiu manter em sigilo. Ele
nem sequer chamou a polícia. Mas o melhor amigo de Luke - meu primo James
- falou com seu pai, um político muito influente, para pedir ajuda ao MI6. —
Dominic sorriu. — Foi meio engraçado. Nós já sabíamos sobre o
desaparecimento de Luke, mas tivemos que fingir. No entanto, James
confirmou que Luke foi ver Roman Demidov antes de desaparecer, por isso não
foi inteiramente inútil. Parece que Whitford finalmente começou a confiar em
seu filho, então minha missão pode começar oficialmente agora que Luke
voltou.
— Espere. — Disse Sam novamente. — Luke foi encontrado?
— Há pouco tempo atrás. — Dominic disse, seu polegar acariciando a
pele fina entre os dedos de Sam. — Ele foi interrogado por nossos agentes,
mas não conseguiram tirar muito dele. Luke disse não saber quem o
sequestrou ou por quê. Disse que não foi Roman Demidov, que foi sequestrado
algumas horas depois do encontro com o russo.
Sam olhou para Dominic com curiosidade.
— Você não acredita nisso?
Desembaraçando suas mãos, Dominic bateu na ponta do nariz de
Sam com o polegar, sua expressão suave, mas triste.
— Acabei de perceber que não deveria estar falando isso. É sigiloso
por um motivo. Esse seu rostinho é um perigo para a segurança nacional.
Sam sorriu, seu rosto quente.
— Tarde demais, não pode fingir que não disse! Continue falando.
Dominic bufou, seu dedo cutucando a pequena covinha que apareceu
na bochecha de Sam quando sorriu.
— Sim, acho que Luke está mentindo. — Disse ele. — A questão é o
porquê. De qualquer forma, a missão agora tem uma chance, então vou
descobrir em breve.
Certo.
O bom humor de Sam despencou.
— Então... — Ele disse, olhando para qualquer lugar, exceto para
Dominic. — Já que você vai se concentrar nessa missão, significa que vai parar
de vir à sede?
— Sim. — Disse Dominic. — Assim que começar a namorar seu filho,
Whitford provavelmente mandara seus homens me seguirem. Ele é realmente
paranoico.
— Ele sabe que seu filho é gay?
— Temos informações conflitantes. Parece que Luke acha que seu pai
não sabe que é gay, mas temos certeza de que Whitford sabe. Whitford tinha
homens seguindo os dois últimos namorados de Luke. Assustou um deles, na
verdade. Não parece que esteja feliz com a sexualidade de seu filho, mas até
onde sabemos, ele ainda não confrontou Luke. Talvez esteja esperando que
seja apenas uma fase e seu filho vai superar.
— Boa sorte com isso. — Sam disse com escarnio, quase sentiu pena
de Luke, antes de lembrar que logo ele estaria namorando seu Dominic.
Ele não é seu, uma voz em sua cabeça disse com sarcasmo. Tinha
tanto poder sobre Dominic quanto Luke Whitford. Menos, na verdade.
Era uma pílula amarga de engolir.
Sam se levantou e caminhou até a mala. Alguém deve ter deixado
isso lá enquanto falava com Amanda. Começou a desfazer a mala, apesar de
não haver pressa para fazê-lo. Precisava de algo para se ocupar enquanto
fingia que tudo estava bem - que estava totalmente bem com Dominic
seduzindo outro cara. Um cara muito bonito, muito rico e bem-educado.
Sam olhou fixamente para a camisa verde nas mãos. Era uma das
suas poucas camisas que não tinha jogado fora depois de se tornar um
estagiário do MI6. Estava esfarrapada e desbotada por causa das muitas
lavagens, mas não tinha nenhum buraco, o que era bom o suficiente em seu
livro.
Se perguntou se Luke Whitford já usara algo assim.
Quase riu desse pensamento.
— Você ainda está com raiva. — Afirmou Dominic.
— Não. — Sam disse honestamente. Não estava mais com raiva.
Acreditava agora que se Dominic não se importasse pelo menos um pouco com
ele, não teria dito nada a Sam sobre ele e sua missão.
Simplesmente não mudava nada.
— Então, se você não pode vir para a sede, isso significa que não vou
te ver por um longo tempo, certo? — Sam disse, olhando sua mala sem
realmente vê-la. — Meses, não é?
Tinha ouvido que missões como essa poderiam demorar muito.
Às vezes, anos.
Sua garganta apertou e Sam se viu enrolando a camisa na mão. Era
apenas uma queda. Uma paixonite. Não havia motivo para que seu peito
doesse tanto assim.
— Provavelmente. — Disse Dominic depois de um momento.
Sam deu um aceno rápido.
Por que Dominic não ia embora?
Sentiu mais do que ouviu Dominic caminhar.
Sam endureceu, seus dedos tremendo.
Podia sentir Dominic perto, logo atrás dele.
— Sammy. — Ele disse calmamente, colocando a mão na nuca de
Sam.
Sam estremeceu. Levou toda a sua força de vontade para não se
inclinar para o toque.
— A partir de amanhã, não vou vir muito aqui. — Disse Dominic. —
Vou te dar meu número, aquele que o MI6 não conhece. Se algo acontecer - se
Amanda tentar algo novamente, atribui-lo a outra missão ou alguém lhe
causar algum problema - você vai me ligar. Entendeu?
Sam mordeu o lábio inferior com tanta força que sentiu o gosto de
sangue. Uma parte dele odiava Dominic por isso, por cuidar dele e dar-lhe uma
estúpida esperança.
Sam assentiu, tirando o celular dado pelo MI6.
— Não, seu telefone é rastreado e todas as conversas são
registradas. Aqui. — Dominic pegou um celular, aparentemente idêntico ao de
Sam, e entregou-o a ele. — Um telefone descartável. Já coloquei o meu
número nele. Não deixe ninguém saber que você tem isso.
Sam ficou de pé, pegou o telefone e olhou para o outro homem.
Dominic tinha uma expressão muito estranha no rosto. Era intensa,
mas difícil de ler. Ele olhou para Sam por um longo momento antes de dar um
passo à frente.
Sam olhou para ele, sem respirar, seu coração batendo como louco, e
pensou que talvez...
— Fique seguro, Bambi. — Dominic bateu em seu ombro e saiu do
quarto.
Sam se moveu em direção a sua cama, se sentou e deixou o rosto
cair em suas mãos.
— Idiota. — Ele sussurrou.
Às vezes, se perguntava o que sua mãe pensaria dele se ainda
estivesse viva.
Ela provavelmente teria vergonha de ter dado à luz uma coisa tão
estúpida e patética como ele.

Capítulo 16

Maldição.
As mãos de Dominic apertaram o volante. Não olhou para o espelho
retrovisor enquanto a sede desaparecia de vista. Tinha mais autocontrole do
que isso. Pouco.
— Idiota, estupido. — Murmurou em voz baixa. Não só era
completamente impotente para resistir a Sammy quando perguntou algo, mas
também teve que suprimir as ideias completamente insanas e paranoicas de
que algo aconteceria com Sammy quando não estivesse por perto para
protegê-lo.
Sammy não precisava de proteção. Ele não era nem indefeso nem
ingênuo. Havia sobrevivido mais de uma década nas ruas. E não precisava de
Dominic para segurar sua mão. Ele ficaria bem enquanto Dominic se
concentrasse na missão Whitford - mesmo que a missão durasse meses.
Seus lábios apertaram com o pensamento.
Dominic tinha que lembrar a si mesmo que só conhecia o menino há
um mês. Não era tempo suficiente para ficar tão... Apegado.
Além disso, alguma distancia os faria bem. Sammy superaria sua
paixão e acharia outro objeto para suas afeições. Quando Dominic o visse de
novo, Sammy provavelmente lhe diria que tinha uma paixonite por um garoto
de sua idade e não pareceria mais atordoado e excitado toda vez que Dominic
o tocasse.
O pensamento era... Estranho.
O fato de que era estranho provava que definitivamente precisava de
uma boa distância do garoto.

*****
Ele conseguiu por três horas.
Em defesa de Dominic, teve uma boa razão para ligar para Sammy.
Ou então, disse a si mesmo.
Sammy respondeu no quarto toque.
— Nick?
Dominic, que estava jogado no sofá, se endireitou. Parecia que o
garoto esteve chorando.
— Você está bem?
Conseguiu ouvir Sam respirar fundo antes de responder.
— Sim, estou bem. Estava apenas cochilando. Algo errado?
Dominic franziu a testa, sem dúvida não acreditava nele.
— Não. Só queria saber o que exatamente Amanda disse.
— Oh! Já te disse tudo.
Dominic estremeceu.
— Eu sei, mas preciso de todos os detalhes.
— Ela queria te colocar em apuros. — Disse Sammy. — Tentou me
convencer a dizer que você me coagiu a fazer sexo. — Ele zombou. — Ela
realmente teve a coragem de fingir ser toda simpática e compreensiva, como
se eu não tivesse ideia de que foi ela que pediu para você me recrutar para
essa missão, perfeitamente consciente de que algum tipo de sexo
provavelmente estaria envolvido. Fingiu que foi sua ideia e que suas ações não
foram autorizadas.
Dominic murmurou pensativo.
— Interessante.
— Por que ela te odeia? — Disse Sam.
— Ela acha que estou atrás de seu trabalho.
— Você está?
— Talvez.
— Sério? Você quer ser o Chefe do MI6?
Dominic fez uma careta.
Querer era uma palavra muito forte.
— Em alguns anos talvez. É algo que estou considerando.
— Você não é um pouco jovem para esse trabalho?
Dominic encolheu os ombros um pouco.
— Tenho experiência suficiente. A idade pode realmente ser uma
coisa positiva. O principal motivo pelo qual os superiores estão considerando
substituir Amanda é porque ela é muito antiquada. Tecnologicamente, estamos
um pouco atrás de agências de inteligência estrangeiras como a CIA, e não
porque não temos capacidade. Amanda está presa em seus velhos hábitos e se
recusa a dar ao departamento de Pesquisa e Desenvolvimento financiamento
suficiente. Isso é frustrante às vezes, porque, por exemplo, nossa última
missão teria sido muito mais fácil se tivéssemos alguma tecnologia que a CIA
possui. Então sim, às vezes é tentador ter o controle do MI6, então não
estaremos mais presos no século passado.
— Mas o programa para hackear que os técnicos nos deram era bem
legal. — Disse Sam, um sorriso na voz dele. — Posso ou não ter feito uma
cópia ilegal para mim.
Dominic sorriu, alívio o percorrendo com a leveza na voz de Sammy.
Tinha começado a pensar que não conseguiria ouvi-la novamente.
— Vou fingir que não ouvi isso. — Disse secamente.
— Ouviu o quê? — Sammy disse, com uma voz muito inocente e
doce.
Dominic riu. Poderia vividamente imaginar grandes olhos verdes
olhando para ele com fingida confusão e inocência. Se Sammy estivesse aqui,
ele... Iria beijar Sammy na ponta do seu nariz. Ou talvez em sua bochecha.
Sammy iria corar e fazer aquela coisa subconsciente que sempre fazia quando
Dominic o tocava, iria se inclinar para o toque, como se pedisse mais. Ele
sempre queria mais.
— Nick? — Sammy disse com incerteza, o trazendo de volta ao
presente.
Dominic balançou sua cabeça, aturdido por seus próprios
pensamentos.
— Desculpe, fiquei distraído por um momento. — Ele esfregou um
dedo entre as sobrancelhas, franzindo a testa. — Sam?
— O quê?
Dominic não podia acreditar no que estava prestes a perguntar.
— Nós estamos bem? — Parecia tão estranho e embaraçoso como
esperava. Estava perguntando a um garoto de dezoito anos que tinha
compartilhado uma missão se estavam bem, embora realmente não tivesse
feito nada de errado. Não deveria se importar que Sammy estivesse chateado
com a sua próxima missão.
— Existe um nós? — Perguntou Sammy.
Dominic fechou os olhos.
— Não estaria perguntando se não houvesse. Não quero que você
pense que não te quero por perto agora que a missão acabou.
Havia silêncio na linha.
— Você quer?
A total vulnerabilidade na voz de Sammy deixou o peito de Dominic
apertado com protecionismo.
— Claro que sim, bebê. — Se ouviu dizer. Imediatamente, Dominic
fez uma careta. Não deveria ter usado o apelido carinhoso. A missão tinha
terminado e, continuar usando os apelidos só mexeria com a cabeça de
Sammy - com as duas cabeças. As coisas já estavam bem complicadas.
— Não tinha certeza de que você queria. — Confessou Sam, sendo
completamente sincero. Dominic não precisava vê-lo para saber que Sammy
estava sorrindo, apenas um pouco.
Percebendo que também estava sorrindo, Dominic passou a mão pelo
rosto, um mal-estar se acomodando em seu estômago.
Que diabos estava fazendo?
— Tenho que ir. — Disse laconicamente e terminou a ligação.
Imediatamente, se sentiu como um idiota - um idiota maior do que já
era.

*****
Sammy ligou para ele duas horas depois.
— Olá. — Ele disse, soando tímido, mas determinado. Dominic podia
imaginá-lo mordendo seu lábio, o queixo apoiado nos joelhos dobrados. A
imagem era perturbadora e vívida em sua mente.
— Ei. — Dominic disse, abrindo a geladeira. — Está tudo bem?
— Sim. — Disse Sammy. — Só... Você meio que desligou sem dizer
adeus e eu estava apenas... — Ele parou antes de gemer. Parecia abafado,
como se Sammy o fizesse em sua mão. — Basicamente, sou aquele garoto
pegajoso e chato que quer garantir que as pessoas não o odeiam
secretamente. Por favor, me ignore. Vou desligar e nunca mais usar um
telefone.
Dominic se viu sorrindo.
— Não o odeio secretamente. Estamos bem. Desculpe, se lhe dei a
impressão de que não queria falar com você.
— Então por que desligou tão abruptamente?
Dominic hesitou. Seu primeiro instinto era mentir - com seu trabalho,
sempre era - antes que se lembrasse de que a honestidade deveria ir nos dois
sentidos.
— Para ser honesto, queria parar de conversar com você. — Disse
Dominic, fechando a geladeira fazendo uma nota mental para fazer compras o
mais rápido possível. — Mas não porque te odeio secretamente.
Houve um silêncio na linha.
Dominic caminhou até seu laptop e se sentou novamente. A imagem
de Luke Whitford o encarava na tela. Luke parecia um pouco mais novo que os
seus vinte e três anos. Com seus cabelos dourados, características finas e
lábios cheios, ele era claramente muito bonito. Era mais bonito do que a
maioria das mulheres que Dominic conhecia. Era uma pena que não pudesse
sentir uma centelha de atração por ele, o que tornava sua missão bem mais
difícil. Fingir desejo não era fácil, mesmo para alguém tão experiente quanto
ele. Sempre diziam que a falta de ereção era a prova mais condenatória.
Estava olhando essa imagem durante a última hora, tentando encontrar algo
sobre Luke que o atraísse. Não poderia tomar Viagra sempre que saísse com
Luke.
Era uma das razões pelas quais Dominic odiava missões chamariz,
especialmente quando o alvo era do sexo masculino. Nem sempre era atraído
pelas mulheres que deveria seduzir, mas com as mulheres era bem mais fácil
enganar seu corpo para acreditar que estava atraído por elas. Até agora não
foi bem-sucedido em convencer seu corpo de que queria Luke Whitford.
Claro, o fato de que seus pensamentos continuavam retornando para
Sammy com uma frequência irritante não estava exatamente o ajudando a se
concentrar no trabalho.
— Então, por quê? — Sammy disse finalmente.
Dominic se recostou em seu assento.
— Desliguei antes que pudesse dizer algo estúpido. Mais estúpido do
que já disse. — Ainda não podia acreditar que tinha chamado Sam de bebê.
Cristo, tinha enlouquecido?
— O que você quer dizer?
— Olhe. — Dominic disse com um suspiro. — Estou tentando não ser
um idiota. Sei que não é legal mexer com alguém. Não queria fazer isso,
mas... Não consigo ser firme com você como deveria.
Deveria ter sido mais firme com Sammy sobre sua paixonite em vez
de chamá-lo por apelidos carinhosos.
— Espere. — Sammy disse, parecendo estar dividido entre rir e
suspirar. — Se é sobre você me chamar de bebê, sei que você não é... Sei que
não me vê dessa maneira. Não se preocupe. Não estou delirando.
— Ainda assim. — Disse Dominic. — Eu deveria estar... Deveria haver
uma linha. Sou o adulto com mais experiência. Deveria ser o mais
responsável. Mas, em vez de ser responsável, continuo escorregando e
tratando você como... Como... — Meu bebê. — Não consigo ser tão firme com
você quanto deveria ser.
— Awww. — Sammy parecia que estava sorrindo. — Você está
dizendo que gosta muito de mim, Nick?
Dominic deu um sorriso pesaroso. Se fosse assim tão simples.
— Acho que fiquei um pouco apegado a você, Red.
Ele praticamente ouviu o sorriso de Sammy.
— É claro que você ficou. — Disse ele. — Tenho uma personalidade
cativante.
— Você tem. — Dominic disse, sorrindo fracamente.
Ficaram em silêncio por um tempo, mas desta vez o silêncio era
confortável.
— Sei que você não pode vir para a sede. — Sammy disse de
repente. — Mas posso ir na sua casa? Quando tiver tempo?
Dominic olhou para a imagem de Luke sem ver.
Quando não respondeu, Sammy murmurou com uma risada
estranha:
— Ok, vamos fingir que não disse nada.
— Vai parecer tão suspeito quanto eu indo para a sede. — Disse
Dominic. — Minha casa provavelmente será vigiada após Whitford ouvir sobre
o meu namoro com seu filho.
— Oh! Tudo bem. Entendi. Esqueça, foi estupido sugerir isso de
qualquer maneira.
Dominic fez uma careta. Às vezes, a insegurança de Sammy era de
partir o coração.
— Lembre-se do que lhe disse sobre prestar atenção ao que as
pessoas falam ao invés de deixar sua opinião preconcebida afetar seu
julgamento? Tudo o que disse foi que você não pode vir à minha casa da sede,
pois mais cedo ou mais tarde, os homens de Whitford te seguiriam de volta ao
MI6, não importa o quanto você seja cuidadoso.
— Não vão!
— Vão. Você é muito talentoso com o que faz, mas ainda é apenas
um novato. Não tem experiência prática e cometerá um erro, porque todo
novato faz.
Sammy ficou em silêncio, claramente desanimado.
O maxilar de Dominic apertou.
Não se atreva, disse sua parte racional.
Mas outra voz sussurrou que Sammy estava triste, estava sozinho,
vulnerável e precisava dele.
— Mas você pode ficar comigo se quiser. — Disse Dominic, se
encolhendo com o seu autocontrole, ou a falta dele.
— O quê?
Sammy parecia tão atordoado como parte de Dominic estava com
essa sugestão.
Era um homem reservado. Tentava manter sua vida pessoal longe da
profissional, tanto quanto possível. Em uma década com o MI6, nunca ofereceu
a um colega para ficar com ele. A maioria de seus colegas nem sabia onde
morava. E agora estava oferecendo para compartilhar sua casa com um garoto
de dezoito anos que só conhecia a um mês. O que diabos estava errado com
ele? Nunca tinha se apegado às pessoas tão rápido ou tão forte. Se Sammy
fosse uma mulher, Dominic poderia ter culpado a paixão. Como Sammy era
um garoto, estava apenas perplexo e irritado pela intensidade desse apego.
Para não mencionar que convidar um garoto gay que tinha uma
paixão por ele para viver em sua casa era o oposto do esperto. Era a definição
de irresponsável.
Mas, aparentemente, se Sammy estivesse chateado, todo seu
pensamento racional saia pela janela. Inacreditável.
Apertando a ponta do nariz, Dominic explicou:
— Não há regras que o impeçam de morar em algum lugar além da
instalação de treinamento. Enquanto você estiver com um treinador
qualificado, nem precisa ir para a sede até seus testes dentro de alguns
meses.
— E você é um treinador qualificado? — Disse Sam.
Dominic sorriu um pouco.
— Não, mas sou a próxima melhor coisa. Todos os agentes da minha
classificação estão qualificados para treinar novatos.
— Mas não vai interferir no seu disfarce? Seria suspeito se alguém
com quem não está relacionado vivesse com você.
— Na verdade. — Disse Dominic pensativo. — Provavelmente será
menos suspeito se você morar comigo. Se Richard Whitford conseguir
descobrir que estive naquele cruzeiro, também descobrirá que comprei um
animal de estimação no leilão. Será mais suspeito se meu amante de repente
desaparecer depois de chegar em casa.
— Mas e Luke? — Disse Sammy. — Ele não ficará emocionado se
descobrir que está vivendo com o amante que comprou em algum cruzeiro
pervertido. Isso contradiz com sua imagem de homem confiável que procura
um relacionamento sério.
Dominic soltou um suspiro.
— Eu sei. — A missão de Brylsko comprometeu seu disfarce de
qualquer maneira. — Vou tentar não trazer Luke para casa, mas se ele
descobrir sobre você, digo que era um garoto sem-teto que encontrei perto de
casa alguns anos atrás, que senti pena e o trouxe para morar comigo.
Obviamente, direi que você é hétero.
— Não vai funcionar se Luke descobrir sobre o cruzeiro do
papaizinho. — Sam apontou, jogando de advogado do diabo.
Dominic murmurou em acordo, considerando e descartando ideias.
— Poderia dizer que o trouxe para casa quando tinha, digamos,
quinze anos. — Disse Dominic. — Você morou comigo por alguns anos, mas
então ficou chateado e fugiu quando descobriu que eu estava pensando em me
estabelecer e criar uma família. Direi a Luke que você tem problemas de
confiança e abandono. É foi por isso que fugiu e não consegui encontrá-lo por
um tempo. Então ouvi de alguém que você estava desesperado por dinheiro e
se inscreveu para algum cruzeiro pervertido. Claro que tive que interferir. Mas
não poderia simplesmente arrastá-lo de volta, então tive que o comprar para
mantê-lo a salvo de velhos e mulheres pervertidas. Então aqui estamos.
— Isso... — Sammy disse. — Isso poderia funcionar, na verdade. Isso
explica perfeitamente por que alguém como Dominic Bommer estaria em um
cruzeiro como esse. — Ele fez uma pausa antes de perguntar em voz baixa: —
Você realmente quer que eu viva com você?
Cristo, Dominic queria abraçá-lo.
— Sim, Sammy. Arrume suas coisas. Vou conversar com Amanda e
buscá-lo em algumas horas.
— Mas ela te odeia. Tem certeza de que não vai dizer não?
Dominic sorriu severamente.
— Tenho certeza.

Capítulo 17

Com a mochila pendurada no ombro, Sam saiu do elevador e parou


no meio do caminho quando viu Amanda parada ali, com os braços cruzados
atrás das costas, a postura ereta e a expressão fria.
Ela estava esperando por ele?
Uma sensação de pavor o encheu, sua excitação desaparecendo na
incerteza. Ele arquivara os formulários apropriados que Dominic lhe dissera
para arquivar, mas, apesar das palavras de Dominic, Sam não estava tão
confiante de que Amanda não o proibiria de sair da sede e morar com Dominic.
— Senhora? — Ele disse cautelosamente. — Eu posso ir, certo? Estou
autorizado.
— Claro que você pode ir, Sam. — Ela disse com um sorriso gentil. —
Mas tenha cuidado. Agora entendo porque você se recusou a registrar qualquer
queixa contra o agente 11. — Seus lábios se curvaram. — Agente 11 tem...
Um certo efeito em algumas mulheres, e parece que você também foi vítima
disso. Claro que não é sua culpa. Você é jovem e impressionável e ele é
especialista em manipular as pessoas.
Sam colocou um sorriso que provavelmente era tão falso quanto o
dela.
— Obrigado por me avisar, senhora. É muita gentileza da sua parte.
Agora, se me der licença... — Ele saiu do prédio antes que ela pudesse detê-lo.
Porra do inferno. Até Brylsko parecia muito mais simpático que
Amanda.
Suspirando, Sam lembrou a si mesmo que ele era tendencioso e que
isso provavelmente afetava seu julgamento. Amanda também deve ter
algumas qualidades admiráveis. Ela era obviamente muito capaz e ambiciosa
já que conseguiu um trabalho tão prestigioso. Não deve ter sido fácil ter
sucesso em um campo governado por homens.
Suas palavras o incomodavam, mas provavelmente não pelas razões
que ela queria. Estava incomodado que as palavras dela não conseguiram
plantar nem um pedaço de dúvida nele. Ele confiava completamente em
Dominic - confiava nele muito além de uma mera paixão.
O som de uma buzina de carro fez Sam pular.
Ele olhou em volta até que seu olhar parou no Mercedes prateado.
Quando viu Dominic ao volante, o seu coração disparou e ele corou, sem
nenhuma razão. Ugh.
Sorrindo timidamente, Sam caminhou até o carro e subiu no banco
do passageiro, colocando sua bolsa a seus pés.
— Amanda sempre foi tão assustadora? — Ele disse. — Ela apenas
tentou me convencer de que você é um grande lobo mau manipulando um
garoto ingênuo e impressionável como eu.
Dominic ligou o motor.
— Não, ela nem sempre foi assim. Ela apenas se sente ameaçada e
não é uma de cair sem lutar.
— Ela é má. — Sam resmungou.
Dominic riu.
— Ela não é má, Sammy. Não é mais mal ou manipuladora do que
eu.
Sam franziu a testa, discordando e não entendendo como Dominic
poderia estar tão calmo sobre isso.
— Ela está tentando te colocar em apuros.
— Não é a primeira vez e não será a última. — Disse Dominic,
voltando os olhos para a estrada.
Sam olhou para o perfil dele. Dominic se barbeou. Ele parecia muito
bom com uma barba, mas a visão de sua mandíbula bem barbeada e a pele
bronzeada de seu pescoço fez a boca de Sam encher de água. Ele queria
lamber o queixo e depois acariciar o pescoço de Dominic. Queria...
O olhar de Sam moveu-se impotente para os antebraços bronzeados
e musculosos de Dominic expostos pelas mangas arregaçadas.
Afastando seus olhos famintos, Sam fechou as mãos em punhos.
Talvez não fosse uma boa ideia concordar em morar com Dominic,
afinal.
— Como a convenceu de que eu deveria morar com você? — Sam
disse, olhando para as mãos.
— Ela não precisou de muito convencimento. Sabe que é culpa dela
que meu disfarce foi comprometido. Eu a avisei, ela não deu ouvidos. Agora
devemos trabalhar com isso. Ela sabe que o desaparecimento do meu bebê de
açúcar da minha vida tornaria as coisas ainda mais suspeitas. Pode não gostar
de mim, mas não é idiota. Sabe o quanto minha missão é importante. Ela não
vai deixar seus rancores pessoais afetá-la novamente.
Sam não estava tão certo disso, mas não discutiu. Dominic a
conhecia melhor do que ele.
Quando chegaram a uma linda casa em Kensington, Sam
provavelmente não deveria ter ficado tão surpreso. Ele sabia que Dominic
Bommer era supostamente rico e bem-sucedido, por isso não era de
surpreender que ele tivesse uma casa num dos bairros mais caros de Londres.
Mas ainda parecia surreal quando ele seguiu Dominic para dentro da
casa.
Ela era tão bonita e elegante do lado de dentro quanto do lado de
fora, mas, para surpresa e alívio de Sam, era aconchegante e parecia viva, não
tão impessoal e intimidantemente perfeita quanto esperava.
O enorme sofá marrom na sala de estar parecia particularmente
confortável e convidativo, e Sam se esparramou nele com um suspiro de
felicidade.
— Por todos os meios, fique à vontade. — Disse Dominic
ironicamente, mas seus olhos eram suaves quando o olhou. Ele pegou a
mochila de Sam e desapareceu no quarto de hóspedes.
— Peça-nos pizza, Nick! — Sam gritou. — Com calabresa, presunto e
bacon.
— Você quer que eu prepare um banho de espuma para você
também? — Dominic gritou.
— Ótima ideia! — Sam disse, sorrindo quando ouviu Dominic rir e
chamá-lo de bebê preguiçoso.
Havia uma sensação borbulhante em seu peito que tornava
impossível parar de sorrir.
Era assim que a felicidade parecia?

*****
Uma semana depois, Sam tinha certeza de que nunca foi mais feliz
em sua vida.
Viver com Dominic era ainda melhor do que imaginou. Esperava se
sentir um pouco desajeitado, como normalmente fazia quando ficava na casa
de alguém, mas Dominic nunca o fizera sentir-se intruso ou indesejável.
O único problema era que morar com Dominic não estava
exatamente ajudando-o a se livrar de sua paixão. A palavra – paixão - parecia
tão inadequada para a sensação de calor que enchia seu coração enquanto
observava Dominic fazer o café da manhã, com olhos sonolentos, barba por
fazer e um pouco mal-humorado. Sam queria puxá-lo para perto e beijá-lo
tanto que se sentia como se estivesse engasgando com a necessidade.
Odiava ver Dominic saindo para o trabalho, mas adorava quando
voltava para casa. Não importava o quanto Dominic estivesse cansado, sempre
tinha um sorriso para Sam. Ele parecia feliz em ver Sam, feliz em passar o
tempo com ele depois do trabalho, feliz em treiná-lo e tê-lo por perto.
Às vezes, Sam o convencera a jogar videogame - por que Dominic
sequer possuía um Xbox, se nunca o usava? - e às vezes eles trabalhavam no
ginásio no andar de baixo, mas na maioria das vezes, sentavam juntos e
assistiam filmes. Aquelas noites eram as favoritas de Sam.
Era uma dessas noites. Estavam esparramados no sofá, a TV era a
única fonte de luz na sala. A cabeça de Sam estava no colo de Dominic, os
dedos dele passando pelo seu cabelo distraidamente enquanto assistiam ao
filme.
Se alguém perguntasse, Sam não seria capaz de explicar como eles
terminaram assim - começaram nas extremidades opostas do sofá com uma
distância muito respeitável entre eles. Isto era genuinamente desconcertante.
Não parecia importar o quanto Sam tentava não ser tão carente pelo afeto de
Dominic; nunca funcionou.
Independentemente de como acabaram assim, Sam sabia que ele
provavelmente deveria se afastar, mas Deus, não podia. Os dedos de Dominic
traçavam padrões em seu couro cabeludo, pequenos movimentos minúsculos
que deixavam o corpo de Sam arrepiado. Sentia como se estivesse flutuando,
profundo contentamento percorrendo seu corpo a cada toque gentil. Ele não
queria que isso acabasse.
— Ei. — Dominic murmurou, olhando para ele. — Por que você está
sorrindo?
Ele estava?
Sam encolheu os ombros, sorrindo impotente. Ele olhou nos olhos de
Dominic, seu peito inchando com aquela sensação quente e intensa que estava
com medo de nomear.
— Isso é provavelmente muito sentimental, mas adoro você. Sabe
disso, certo?
Dominic se inclinou e beijou-o no nariz.
Franzindo o nariz, Sam riu.
— Isso não conta, sabe. Diga algo sentimental.
Dominic bufou.
— Sammy, você tem um espião/assassino do governo acariciando
seu cabelo. Não fica mais sentimental do que isso para mim.
Sam fez beicinho.
— Você não presta.
Dominic riu, seu polegar empurrando o lábio inferior de Sam.
— Pare de fazer beicinho. Agentes secretos não fazem cara feia.
— Este faz. — Disse Sam arrogantemente e lambeu o polegar de
Dominic.
— Bruto. — Disse Dominic, mas não afastou a mão.
— Discordo. — Disse Sam, lambendo o polegar novamente. Suas
pálpebras se fecharam, ele chupou o polegar em sua boca. O gosto da pele de
Dominic, a sensação de algo duro em sua boca estava rapidamente deixando-o
tonto e com tesão. Deus. Fazia muito tempo desde que chupou um pau.
— Jesus, Sammy. — Disse Dominic, soando um pouco estrangulado e
tirou o polegar.
Parecia um balde de água fria.
Sam abriu os olhos, o rosto quente de vergonha.
— Desculpe. — Ele disse sem jeito. — Você provavelmente notou que
tenho um caso grave de fixação oral. — Ele forçou uma risada. — Tipo, se você
não quer que eu chupe seu pau, é melhor não colocar coisas na minha boca.
Dominic não riu.
Era difícil ler sua expressão no brilho sombrio da TV.
— Podemos, por favor, esquecer? — Sam disse com uma careta. —
Vou sair e encontrar alguém. — Sam reprimiu outra careta. Ele não estava
exatamente ansioso para chupar o pau de algum cara aleatório, mas não podia
deixar sua frustração sexual estragar as coisas entre eles. Sam suspirou. — Eu
estava planejando sair e transar de qualquer maneira. Isso vai me ajudar a me
livrar dessa paixão irritante.
Dominic tirou a mão do cabelo de Sam.
— Sim, provavelmente seria melhor se você sair e... Ficar com
alguém da sua idade. — Sua voz soou um pouco estranha: desconfortável e
rígida - quase como se a ideia de uma conexão gay fosse nojenta.
Sam franziu a testa.
— Nunca te imaginei um homofóbico.
— Claro que não sou. — Disse Dominic, as sobrancelhas se unindo. —
É apenas... Conexões de uma noite podem ser perigosas. Há muitos idiotas
arrepiantes por aí.
Revirando os olhos, Sam sentou.
— Sou um menino grande, Dominic. Posso cuidar de mim mesmo. —
Ele foi para o seu quarto. Se quisesse arrumar alguém, precisava se trocar.
Ele tentou ignorar o nó de desconforto em seu estômago.
Por que sentia como se fosse trair Dominic?

Capítulo 18

Sammy saiu de seu quarto quinze minutos depois, vestindo uma


camiseta preta e um jeans apertado que mostrava suas longas pernas. Quando
se abaixou para pegar o telefone na mesa de café, Dominic franziu os lábios e
desviou o olhar.
— Provavelmente não voltarei até de manhã. — Disse Sammy. —
Posso levar o seu carro?
Dominic levantou.
— Estou levando você.
— O quê? Não! — Sam o alcançou na entrada da garagem. — De jeito
nenhum!
— Por que não? — Dominic disse, entrando em seu carro. — Você
acha que nunca fui a um clube gay?
— Não é isso. — Disse Sammy, subindo no banco do passageiro. —
Porra, isso é estranho, Nick. Não quero você lá enquanto eu... — Ele corou e
desviou o olhar, parecendo envergonhado.
— Dê-me o endereço. — Disse Dominic uniformemente.
Sammy deu-lhe o endereço. Dominic ligou o carro com o rosto
cuidadosamente inexpressivo. Sammy estava absolutamente certo: ele não era
uma virgem ingênua cuja virtude precisava ser protegida. Poderia cuidar de si
mesmo. Se queria chupar o pau de um estranho, não era da conta de Dominic.
— Você está bem? — Sammy disse, olhando para Dominic com
cautela.
— Claro.
Sammy deu de ombros.
— Você parece meio chateado.
Dominic ficou tão surpreso que quase bateu no carro na frente deles.
Porra. Não conseguia se lembrar da última vez que alguém percebeu
corretamente que ele estava com raiva e chamou sua atenção para isso. Desde
quando se tornou tão transparente?
— Estou preocupado. — Disse ele, com os olhos fixos à frente. —
Conexões de uma noite muitas vezes podem dar errado. Não quero que você
se machuque.
Sam suspirou.
— Acho que é gentileza sua, mas pela última vez: não sou um bebê.
Vou ficar bem. Prometa-me que não vai interferir.
Dominic não disse nada.
— Nick... — Disse Sammy.
— Eu prometo. — Disse ele secamente.
Eles não falaram pelo resto da viagem.
O clube estava muito cheio, mas felizmente a música não era muito
alta. Dominic pediu uma cerveja que não tinha intenção de beber, encostou-se
no balcão e seguiu Sammy com os olhos.
Aquele jeans era fodidamente obsceno. Eles deixaram Dominic
desconfortável e nervoso. Ele teve que resistir ao desejo de encontrar um
cobertor e envolver Sammy para que ninguém pudesse cobiçá-lo.
— Namorado? — Uma voz masculina gritou sobre a música.
Dominic olhou para o homem - alto, loiro, irrelevante - antes de
voltar seu olhar para Sam. Ele estava dançando com alguém agora. O cara
tinha por volta de vinte anos, um típico atleta, todo musculado e sem cérebro.
— Não. — Disse ele, percebendo que o loiro ainda estava esperando
por sua resposta. — Apenas um garoto que eu tenho que cuidar.
— Isso deve chupar. — Disse o loiro com simpatia. — Como você
ficou sobrecarregado com o dever de babá?
Dominic não respondeu. O atleta estava todo em Sammy agora, suas
mãos escorregando da cintura estreita para sua bunda empinada. Aumentando
o aperto em sua cerveja, Dominic lembrou a si mesmo que não era da sua
conta. Sammy não era um bebê. Ele havia prometido não interferir.
— Ele é seu irmão mais novo? — O loiro disse, claramente não
entendendo que ele não estava interessado.
Algo sobre ser chamado de irmão de Sam o atingiu do jeito errado.
— Não. — Disse Dominic brevemente. Ele sabia que estava sendo
rude. Normalmente tentava dispensar as pessoas gentilmente, sem ferir seu
orgulho, mas agora a polidez era a última coisa em sua mente.
Estava com raiva, e ficou com mais raiva por estar com raiva. Essa
possessividade era bruta e bagunçada, considerando que ele não queria
Sammy desse jeito. Racionalmente, aprovou o que Sammy estava fazendo.
Irracionalmente, estava imaginando muitas maneiras em que poderia matar o
idiota que atualmente estava tateando seu Sammy com as mãos sujas e
indignas.
Naquele momento, Sammy olhou para ele e franziu a testa. Dominic
levou alguns instantes para perceber o porquê: estava tão cheio que o homem
loiro estava praticamente colado ao seu lado.
Dominic sabia que deveria empurrar o loiro para longe.
Ele não fez isso.
Era uma tática suja; estava perfeitamente ciente disso. Uma parte
dele estava um pouco incrédula - por que ele estava fazendo isso? - mas uma
parte maior só queria que Sammy abandonasse aquele idiota e voltasse para
ele.
Não teve que esperar muito. Logo Sam estava voltando para ele.
— Você é um idiota, sabe disso, certo? — Ele disse, encarando
Dominic antes de empurrar o loiro para longe e envolver um braço possessivo
em torno da cintura dele.
— Onde estão suas maneiras, Sammy? — Dominic disse, sorrindo
desculpando-se com o loiro, que estava olhando confuso entre eles.
Zombando, Sam disse ao loiro.
— Eu te fiz um favor. Ignore o quão quente ele é. Ele é problema do
pior tipo.
Balançando a cabeça em perplexidade, o loiro se afastou.
— Agora se desculpe. — Disse Sammy, erguendo o queixo com
teimosia, os braços cruzados, os olhos verdes tempestuosos, procurando briga.
Dominic não pôde evitar um sorriso carinhoso.
— Parece que é verdade o que dizem sobre o temperamento dos
ruivos.
Sammy olhou furioso para ele.
— Eu não sei sobre outros ruivos, mas esse ruivo está bravo pra
caramba. Peça desculpas por empatar minha foda.
Dominic lançou um olhar perplexo.
— Perdão? Eu estava cuidando do meu próprio negócio...
— Argh!
Sammy era ainda mais fofo quando estava furioso.
Rindo, Dominic pegou seus punhos.
— Estou brincando, acalme-se.
— Você é um idiota. — Sammy disse, respirando com dificuldade,
ainda corado de raiva.
— Eu sou. — Disse Dominic com um sorriso. — Vamos para casa.
Você pode gritar comigo de forma mais eficaz.
Sam abriu a boca para argumentar, mas então deve ter percebido
que um clube barulhento não era um bom lugar para uma conversa.
Ele saiu em disparada. Sorrindo, Dominic o seguiu para fora do clube
num ritmo mais calmo.
A viagem de volta para casa foi gasta num silêncio furioso, com
Sammy olhando pela janela e ignorando-o.
Dominic não pôde deixar de pensar que ele era como um gato - um
gatinho ruivo - sibilando com raiva.
— Pare de sorrir. — Sam falou quando saíram do carro. — Não é
engraçado. Estou muito bravo com você.
— Por quê? — Dominic disse suavemente, dirigindo o garoto para
dentro de casa com uma mão gentil na parte inferior das costas.
Com as bochechas rosadas, Sammy franziu o cenho.
— Não finja que não sabe. Você fez isso de propósito. — Ele se
sentou no sofá e olhou para Dominic. — Você podia não dar a mínima para
aquele loirinho, mas o deixou ficar em cima de você só para me fazer... — Ele
se cortou e apertou os lábios.
— Ciúmes? — Dominic disse.
— Sim! — Sammy olhou para ele desafiadoramente. — Você está
negando isso?
Suspirando, Dominic sentou no chão na frente de Sammy.
— Não. — Disse ele, envolvendo os dedos ao redor do tornozelo do
garoto. — Você está certo. Sou um idiota. Te manipulei para distraí-lo daquele
cara que você estava atacando.
A raiva nos olhos de Sammy foi substituída por confusão.
— Por quê? Isso é o que não entendo.
Dominic acariciou o tornozelo de Sam distraidamente enquanto
pensava em como responder sua pergunta.
— Por quê? — Sammy disse novamente, frustração evidente em sua
voz.
Dominic deixou seus olhos vagarem pelo rosto de Sam, sobre as
feições que se tornaram tão valiosas para ele em tão pouco tempo.
— Eu não sou exatamente indiferente a você. Longe disso.
Os olhos verdes de Sam se arregalaram, a perplexidade pairando
sobre suas feições.
— Mas você é...
— Hétero, sim. — Disse Dominic. — É, não é sexual, porra, é
complicado. — Ele suspirou, acariciando o tornozelo de Sammy. — Nas últimas
semanas, fiquei um pouco ligado a você. Sinto que você é meu. Apenas meu.
— Seus lábios se torceram. — E acho que não gosto de mais ninguém tocando
o que é meu.
As sobrancelhas de Sammy franziram.
— Não é justo para mim. — Disse ele, sua voz vacilante.
Porra.
— Eu sei, amor. — O carinho escorregou de sua boca antes que
pudesse pará-lo. Dominic apertou o tornozelo de Sammy. — Eu me sinto como
um bastardo, mas você pediu honestidade. E esta é a verdade.
Sammy pegou o lábio entre os dentes, encarando Dominic antes de
gemer.
— Sabe, eu tenho certeza que deveria querer dar um soco em você
por ser um idiota tão egoísta e possessivo, mas tudo que quero é chupar seu
pau.
O pau de Dominic contraiu. Ele não ficou surpreso com a reação do
seu corpo. Era uma resposta incontrolável neste momento. Ele estava
praticamente condicionado a associar a boca de Sammy com prazer.
— Você pode, se quiser. — Disse ele antes que pudesse pensar duas
vezes.
— Realmente? — Sammy disse sem inflexão, olhando para Dominic
atentamente. — Você vai me deixar chupar seu pau? Eu não preciso da sua
pena, Nick.
— Que pena? — Dominic sorriu com tristeza. — Este sou eu sendo
um idiota possessivo. Tudo o que estou dizendo é que se você quiser chupar
um pau, quero que seja o meu.
— Você é hétero. — Sammy disse, dando-lhe um olhar incerto.
— Então o quê? — Dominic disse, levantando-se e colocando uma
mão na parte de trás do sofá ao lado do rosto de Sammy. Ele se inclinou,
pairando sobre o garoto. — Eu era hétero há uma semana também quando
você chupou meu pau todos os dias.
— Nós estávamos numa missão. — Disse Sammy, sua respiração
acelerando, seus olhos verdes fixos nele com fome. — Era diferente.
— Era? — Dominic disse, roçando os dedos sobre o queixo de
Sammy. Seria mentira dizer que não gostou do efeito que sua proximidade
tinha no garoto. Nunca se considerou egocêntrico, mas porra, amava ser o
centro do mundo dele. Era confuso, mas foi direto para seu pênis. — Acha que
não gostei? Você é bom em dar boquetes.
Sammy engoliu em seco.
— Tudo bem, mas será temporário. Eu vou superar essa paixão. Em
breve. Muito em breve.
— Ok. — Disse Dominic, passando a mão sobre o pescoço de Sammy
e sentindo-o estremecer. — O que você quiser. Quer um beijo?
Sammy fez um pequeno som, inclinando-se ao toque.
— Eu posso?
— É claro. — Disse Dominic antes de encaixar suas bocas.
Dominic havia beijado muitas pessoas, mas beijar Sammy não
parecia nada como beijar alvos masculinas ou até mulheres. Ele nunca beijou
ninguém que sentia como dele. Nunca sentiu que a única coisa que importava
era tirar gemidos de Sammy, pequenos sons quebrados de prazer que o faziam
sentir-se com três metros de altura. O garoto era maravilhosamente receptivo,
estremecendo ao menor sinal da língua de Dominic e beijando-o com fome.
Era estranhamente viciante, e Dominic se viu fechando os olhos e se deixando
aproveitar o calor escorregadio da boca suave e ansiosa de Sammy.
Foi mais difícil interromper o beijo do que esperava.
— Merda. — Sussurrou Sammy, com os olhos vidrados e a respiração
ofegante. — Esta é uma ideia terrível.
Dominic beijou-o no nariz, passando o polegar sobre os lábios
vermelhos, úmidos e trêmulos de Sammy.
— Provavelmente. — Ele disse, fascinado por quão inchada e abusada
a boca de Sam parecia. — Eu não vou beijar você de novo se não quiser.
Sammy bufou e puxou-o para cima dele.
— Não se atreva. — Disse ele, puxando a cabeça de Dominic para
baixo e unindo seus lábios.
Dominic tentou apoiar-se nos cotovelos e tirar um pouco do peso
considerável de cima do garoto magro, mas Sammy não estava tendo nada
disso: passou os braços e as pernas ao redor de Dominic, unindo seus corpos e
gemendo na boca dele.
Cedendo, Dominic beijou-o profundamente, sua mente ficando mais
nebulosa quanto mais tempo tinha a língua na boca de Sammy. Ele estava
excitado - muito mais excitado do que jamais esteve com qualquer alvo
masculino, seu pênis pressionou contra a coxa de Sammy através das
camadas de tecido que os separavam.
Podia sentir a ereção do garoto, mas não parecia nem um pouco
errado, como normalmente se sentia com alvos masculinos. Enquanto era um
alívio - Dominic não queria que isso parecesse trabalho - provava o quão
estranho era seu apego por Sammy.
— Nick... — Sammy ofegou contra seus lábios, se contorcendo. — Por
favor. Eu quero gozar. Me faça gozar.
Dominic alcançou entre eles e espalmou o pau do garoto através de
seu jeans. Ele deu um bom aperto e Sammy gemeu, longo e sem vergonha.
— O que você quer, bebê?
Sammy olhou para ele aturdido, suas bochechas coradas e a boca
molhada.
— Você pode... — Ele engoliu, corando mais forte. — Pode me
dedilhar?
Dominic olhou para ele. Se soltou de Sammy e ficou de pé.
Desapontamento e constrangimento passaram pelo rosto de Sammy.
Dominic disse:
— Tire a roupa e espere por mim em seu quarto.
O olhar arregalado e excitado de Sammy foi a última coisa que ele
viu antes de sair para pegar suprimentos de seu quarto.
Esta é uma ideia terrível, uma voz sibilou na parte de trás da mente
de Dominic.
Dominic pegou a garrafa de lubrificante e olhou para o pacote de
preservativos que ficava na gaveta ao lado dele.

Capítulo 19

Sam estava tremendo.


Seus dedos tremiam quando ele se despiu apressadamente e olhou
para sua própria cama.
Deveria deitar-se?
Olhou para a porta aberta e decidiu que seria menos complicado se já
estivesse na cama quando Dominic viesse.
Houve o som de passos, e Sam subiu na cama e deitou de bruços.
— Pronto? — Dominic disse. Sua voz soou um pouco estranha.
O estômago de Sam apertou, arrepios cobrindo sua pele. Ele enfiou a
testa em seus braços cruzados e soltou um longo suspiro.
— Sim. — Apesar de seus nervos, ele estava excitado. Nunca esteve
mais excitado.
Podia sentir o ligeiro balanço do colchão quando Dominic deitou na
cama, mas parecia distante e abafado pela onda de sangue em seus ouvidos.
Podia sentir o olhar de Dominic nele.
Ele gostou do que via? Ou era indiferente?
Dominic colocou uma mão quente em suas costas e Sam estremeceu,
as nádegas se apertaram e os dedos enrolaram no tecido de sua colcha.
— Calma. — Dominic murmurou, passando a mão sobre a bunda de
Sam, que exalou lentamente, forçando a tensão de suas costas e pernas.
O primeiro movimento dos dedos lubrificados de Dominic contra sua
bunda fez Sam tremer, seu pênis tão duro que era doloroso. Ele gemeu
quando Dominic separou suas nádegas e esfregou lubrificante entre elas. Seu
dedo pegou a entrada de Sam, que se contorceu, tentando empurrar de volta
contra o dedo, levá-lo.
— Impaciente. — Disse Dominic com uma risada, ainda segurando
Sam com uma mão pesada em seu quadril e deslizando um dedo da outra para
cima e para baixo ao longo da sua rachadura, pequenos arrastos sobre sua
entrada que o fez se contorcer e gemer. — Foda-se, você realmente gosta
disso. — Havia algo como fascínio na voz de Dominic.
Sam gemeu na colcha.
— Pare de brincar e apenas faça.
Dominic, o idiota, não escutou, esfregando sua entrada, uma pressão
escorregadia que circulou e depois sumiu. Era enlouquecedor. Sam se
contorceu, os dedos se enrolando, enquanto Dominic continuava a acariciar
sua entrada. Era imensamente frustrante.
— Eu te odeio. — Sam choramingou, fazendo Dominic bufar.
— Fui informado de forma confiável que você me adora.
— Retiro isso. — Sam resmungou. — Você é o pior... Ngghh. —
Finalmente, Dominic empurrou um dedo dentro dele.
— Lá vamos nós. — Ele murmurou, puxando o dedo para trás. Sam
seguiu com seus quadris e soltou um suspiro quando a outra mão de Dominic o
empurrou para baixo, forçando-o a ficar quieto, o pênis de Sam apertado
agradavelmente embaixo dele.
— Eu disse que você poderia se mexer? — Dominic começou a
acariciá-lo gentilmente, apenas um dedo grosso entrando e saindo do canal de
Sam, que arqueou os braços, afastando as coxas para tentar encontrar alguma
vantagem e fazer com que Dominic o tocasse com mais força. Deus, ele amava
isso, amava o alongamento, mas precisava de mais.
— Mais duro. — Ele gemeu, arqueando as costas e tentando obter
alguma pressão sobre sua próstata. Mas era como se Dominic estivesse
evitando isso de propósito, e Sam fez um som frustrado, tremendo de
antecipação. Vamos lá, vamos lá, vamos lá.
Dominic bufou e torceu o dedo. Sam soltou um longo gemido, seu
corpo todo estremecendo.
— Foda-se, mais.
Desta vez, Dominic escutou, deslizou o dedo para fora e empurrou
dois. Sam engasgou de prazer, a grande extensão dos dedos grossos de
Dominic esfregando dentro dele era tão perfeita que já estava prestes a gozar.
Era tão bom. Ele apertou os olhos, ofegando por ar. Teve um lampejo
de como deveria parecer, coxas abertas, braços tremendo e suor em suas
têmporas enquanto se fodia de volta nos dedos grossos de Dominic, sem
vergonha e carente. Mas Deus, a sensação era tão incrível que ele não se
importou.
Sabia que estava gemendo e balbuciando algo incoerente e levou um
tempo para perceber o que estava dizendo. Nick, por favor, me foda, coloque
seu pau em mim - vai ser tão bom - preciso de você, preciso do seu pau em
mim, preciso que me foda com força.
Merda, o que Dominic deveria estar pensando? Ele parecia uma puta.
Uma onda de mortificação cobriu Sam, a vergonha se misturando
com prazer, o que na verdade o empurrou para a borda, seu canal apertou os
dedos de Dominic quando ele gozou com um gemido, prazer rolando através
de seu corpo.
Sam não conseguia nem apreciar o brilho, seu rosto estava quente de
vergonha quando o silêncio se estendeu.
Dominic puxou os dedos com cuidado.
Sam mordeu o lábio. Cristo, ele estava tão vazio. Apesar de gozar,
ainda se sentia estranhamente insatisfeito, querendo mais.
O silêncio foi quebrado pelo som de um zíper deslizando.
Com os olhos arregalados, Sam rolou de costas.
Dominic tinha seu pênis para fora e estava acariciando a si mesmo,
seus olhos escuros fixos nas pernas abertas de Sam.
Sam olhou para o pau vermelho e grosso de Dominic. Estava duro.
Dominic estava duro de dedilhá-lo.
Ou, mais provavelmente, Dominic estava duro do implorar sem
vergonha de Sam por seu pênis. Sam poderia conseguir, realmente. Embora
peitos e vagina não fizessem nada para ele, podia ficar duro assistindo
pornografia em linha reta - o ato do sexo, os sons e conversa suja poderiam
ser suficientes para excitá-lo um pouco. Era provavelmente o mesmo para
Dominic. Ele não deve ler muito sobre isso.
Ofegante, Sam disse com voz rouca:
— Eu posso fazer isso. Vou te chupar.
Dominic moveu seu olhar para o rosto de Sam, ainda se acariciando.
Seus lábios se contraíram.
— Não acho que você poderia chupar um pirulito agora.
Sam estava prestes a objetar antes de perceber que Dominic
provavelmente estava certo: ele ainda estava sem fôlego, seu coração batendo
forte, seu corpo desossado e pesado. Se tentasse chupar um pau agora, ele
provavelmente iria engasgar, e não da maneira divertida.
Mas... Tinha outro lugar que Dominic poderia foder sem qualquer
esforço de Sam ou perigo de sufocá-lo.
Lambendo os lábios, Sam olhou para o pênis de Dominic.
— Você pode simplesmente colocar isso, sabe. Estou todo esticado e
escorregadio.
A mão de Dominic parou de se mover.
— Sammy...
— Apenas dizendo. — Disse Sam, corando. — Não é grande coisa. Por
que desperdiçar todo o trabalho duro que fez? Você me fez gozar e agora
tenho que devolver o favor, certo? Não me importo que seja dessa maneira. —
Era o eufemismo do século e, depois de toda a sua implacável mendicância,
Dominic estava perfeitamente ciente disso.
Mas ele não desmentiu Sam.
Quando Dominic não disse nada, Sam finalmente encontrou coragem
para olhar seu rosto.
Dominic estava olhando para ele com uma expressão muito estranha,
uma mistura de diferentes emoções em seus olhos.
Sam sustentou seu olhar, seu coração martelando em algum lugar de
sua garganta.
— Eu prometo que não vou fazer grande coisa disso. Eu já gozei,
então, não vai ser sexo. Apenas um canal molhado para você foder.
Os olhos de Dominic pareceram ficar mais escuros.
— Preservativo?
A respiração de Sam engatou, seu pênis contraiu.
— No bolso do meu jeans.
Ele assistiu, sem fôlego, quando Dominic rasgou a embalagem e rolou
o preservativo sem uma palavra. Ele nem se incomodou em se despir, apenas
se moveu entre as coxas abertas de Sam e enfiou seu pênis. Porra...
Sam soltou um gemido quando a cabeça rompeu a borda sensível e
inchada. Agarrando suas coxas, Dominic espalhou-as incrivelmente largas e
empurrou todo o caminho. Sam ofegou, seu pau inchando novamente
enquanto tentava se ajustar ao pênis enterrado dentro dele. Parecia
esmagador. Parecia glorioso.
Tentando engolir seus gemidos, Sam só pôde segurar a cabeceira da
cama enquanto Dominic lhe dava a melhor foda de sua vida. Não era como se
ele tivesse imaginado sexo com Dominic. Não foi carinhoso. Foi sujo, com
Dominic basicamente usando-o, completamente vestido, menos o seu pau
empurrando dentro dele.
Sam não se importou. Isso foi o que ele sugeriu, afinal. Estava bem
em ser usado para o prazer de Nick, bem com tudo, contanto que Nick não
parasse.
Tentou não fazer nenhum barulho, tentou não balançar de volta no
pênis de Dominic, não importando o quanto estivesse desesperado por aqueles
golpes cruéis contra sua próstata que enviavam faíscas através de sua pele.
Ele tinha dito a Dominic que não seria realmente sexo, então não queria ser
muito óbvio sobre se divertir.
Mas Deus, ele não podia. Sam soltou um gemido quando Dominic
acertou sua próstata com incrível exatidão, - de novo, de novo e de novo - até
que Sam gozou novamente, reprimindo um grito quando seu orgasmo inundou
através dele como uma correnteza, uma corrida brutal de êxtase impiedoso.
Ele era uma bagunça trêmula e ofegante, empurrando a cada movimento do
pênis de Dominic dentro dele.
Finalmente, Dominic gemeu e parou de se mover, seu pênis
suavizando dentro de Sam.
Sam suspirou, sentindo falta de ar e felizmente fodido.
Seus olhos se fecharam. Ele falaria com Dominic em um minuto.
Mas quando abriu os olhos, já era manhã.
Ele estava sozinho, Dominic em nenhum lugar para ser visto.
Capítulo 20

— Bom dia. — Disse Dominic, tomando seu café. Ele já estava vestido
para o trabalho, com uma calça cinza e uma camisa branca que parecia
obscenamente boa contra a pele bronzeada.
Sam desviou os olhos e sentou-se à mesa.
— Bom dia. — Ele disse, tentando agir normalmente. Havia prometido
a Dominic que não tinha ilusões e que não queria ser um mentiroso.
Eles tinham fodido. Dominic o tinha fodido.
À luz do dia, parecia surreal. Se não estivesse um pouco dolorido,
pensaria que tudo foi um sonho.
— Vou chegar em casa tarde hoje à noite. — Disse Dominic.
Os olhos de Sam se voltaram para ele.
— Por quê?
Dominic fez uma ligeira careta.
— Tenho um encontro com Luke Whitford.
Sam sentiu o estômago apertar.
— Já? — Ele disse fracamente. — Isso foi rápido.
— Meu primo James providenciou, na verdade. — Dominic tomou
outro gole de sua caneca. — Ele é o melhor amigo de Luke. Nem precisei pedir
a ele para fazer isso. Aparentemente, James acha que Luke precisa de alguma
distração depois do sequestro.
— Estranho. — Sam murmurou. — Concordar com um encontro
apenas um mês depois de uma experiência tão traumática.
Dominic assentiu.
— Parece um pouco estranho.
— Poderia ser uma armadilha?
— Improvável. James é um cara legal, um dos meus melhores
parentes, na verdade. Ele parece genuinamente preocupado com o amigo.
Estou começando a pensar que ele está esperando que vou tirar a mente de
Luke de algo, ou alguém.
Sam olhou para ele com curiosidade.
— O que você quer dizer?
Dominic encolheu os ombros.
— É só um palpite. Eu poderia estar errado.
— Vamos lá, diga-me de qualquer maneira! — Sam disse, dando a
Dominic seus melhores olhos de cachorrinho. Ficou um pouco surpreso com o
quão fácil era agir normalmente, provocar Dominic e ser um pirralho. Ele não
se sentia diferente com Dominic, agora que eles transavam - talvez um pouco
mais consciente dele fisicamente, mas desde que sempre esteve
extremamente consciente do corpo de Dominic, não era nada incomum. Sam
tinha certeza de que era um bom sinal de que nada havia mudado para ele.
Você não pode cair mais fundo se você já está no fundo, uma voz
disse hesitante no fundo de sua mente.
Sam ignorou isso.
Dominic suspirou, parecendo muito sofrido, mas apaixonado.
— Luke Whitford tem um tipo. Ele parece ter um fraquinho pelos
idiotas, especialmente quando eles são altos, sombrios e mais velhos que ele.
Se realmente foi sequestrado por Roman Demidov, não é impossível que tenha
desenvolvido algo para Demidov. O russo se encaixa perfeitamente no tipo de
Luke.
Você também, pensou Sam, infeliz. Em voz alta ele disse:
— Pensei que Luke estava procurando por um relacionamento sério e
comprometido?
Dominic olhou para ele por cima da borda da caneca.
— Não é exatamente raro pensar com seu pênis no calor do momento
e fazer coisas que não deveria.
Seus olhos se encontraram e seguraram, o olhar de Dominic firme e
sério.
O estômago de Sam despencou.
— Sim. — Ele disse baixinho. — Acho que você está certo.
Aparentemente inconsciente de seu desconforto, Dominic continuou:
— Eu realmente considerei ir para o tipo imbecil, mas Luke parece ser
racional o suficiente para entender que ele não pode confiar em homens assim,
não importa o quão atraído por eles possa ser. Em última análise, preciso da
confiança dele, então o papel de um homem com quem ele gostaria de se
casar é mais útil a longo prazo do que o papel de um homem que ele gostaria
de foder.
Sam zombou. Se Dominic pensava que Luke não iria querer dormir
com ele, teria uma surpresa.
Dominic olhou para o relógio e baixou a caneca.
— Merda, estou atrasado. — Ele se levantou, pegando o paletó na
parte de trás da cadeira e deslizando pelos braços e ombros.
— Boa sorte com Luke. — Sam forçou.
Dominic fez uma pausa e olhou para ele.
— Obrigado, Sammy. — Disse Dominic, sua voz profunda, quente e
crua. Sua mão roçou o ombro de Sam quando passou por ele a caminho da
porta.
Quando a porta se fechou atrás dele, Sam afundou em seu assento,
lambendo os lábios. Ele nunca quis tanto um beijo de adeus antes. Talvez
alguma coisa tenha mudado, afinal.

*****
Sam olhou em volta nervosamente, meio que esperando ser expulso
do centro de comando a qualquer momento. Mas ninguém olhava para ele,
todos os manipuladores ocupados cuidando de seus respectivos agentes e
ocasionalmente latindo ordens para eles. Nunca esteve no centro de comando
antes e, estritamente falando, ele provavelmente não deveria estar lá, mas
sua autorização não ainda foi revogada depois da missão Brylsko, então
aproveitou a chance para assistir a missão de Dominic.
Enquanto observava Dominic sorrir e flertar com Luke Whitford, Sam
estava começando a se arrepender. Ele tentou se lembrar que Dominic era
hétero e não estava interessado em Luke, mas era inútil. A admiração, a
atração nos olhos escuros de Dominic quando ele olhou para Luke pareciam
absolutamente genuínos. Virou o estômago de Sam por vários motivos
diferentes. Luke era tão lindo. Sam podia ver até mesmo homens
heterossexuais o achando atraente. Mas se Dominic fingia estar atraído por
ele... Se era tão bom em fingir, como poderia ter certeza de que Dominic não
mentia para Sam sobre não ter pena dele?
Quanto mais tempo assistia o encontro de Dominic e Luke, pior Sam
se sentia. Luke parecia um cara legal. O que Dominic estava fazendo era tão
frio e manipulador. Dominic havia pesquisado os relacionamentos passados de
Luke e sabia por que todos eles fracassaram. Ele sabia o que Luke estava
procurando num relacionamento e cuidadosamente elaborou sua imagem na
do homem dos sonhos de Luke. Era engenhoso e repugnante.
— Veja, vou ser direto com você. — Dominic disse a Luke, sua
expressão séria. — Eu não quero qualquer mal-entendido aqui. Quero me
certificar de que estamos na mesma página. — Ele olhou Luke nos olhos, seu
olhar franco e calmo. — Estou cansado da cena de clube e relacionamentos
casuais. Neste momento, gostaria de um marido e dois filhos para mimar. —
Dominic encolheu os ombros. — Eu realmente gosto de você, mas se um
relacionamento sério não é no que está interessado, é melhor me dizer agora.
— Você está correndo um grande risco, A11. — Disse o manipulador
de Dominic, parecendo agitado. — O que você vai fazer se ele disser não?
Dominic, é claro, ignorou seu manipulador, perfeitamente calmo e
confiante de que funcionaria.
Isso aconteceu.
Luke levou o copo aos lábios e deu um gole na bebida. Claramente
surpreso e inseguro de como responder.
Dominic sorriu, parecendo divertido.
— Eu não estou propondo nem nada. — Ele disse, erguendo a mão
sobre a mesa e pegando a livre de Luke. Sam olhou para ele, odiando o quão
bem a pequena mão de Luke parecia na de Dominic. Enquanto isso, Dominic
continuou: — Não quero que você surte. Só estou dizendo que gosto do que
vejo. Um sorriso como o seu não mente, e gostaria muito de conhecê-lo
melhor. Você gostaria de me conhecer?
Luke sorriu para Dominic e assentiu, claramente encantado com a
franqueza, a confiança e a honestidade de Dominic.
Sam sentiu-se mal do estômago.
O resto do encontro correu bem. Sam podia ver a tensão nos ombros
de Luke se esvaindo, a ligeira cautela em seus olhos desaparecendo,
substituída por sorrisos genuínos. Ele estava se segurando um pouco, e
enquanto claramente não estava se apaixonando por Dominic, os seus olhos
continuavam apreciando o rosto, as mãos e os ombros largos de Dominic sob o
terno.
Sam não podia nem culpar o cara: Luke teria que estar morto ou ser
hétero para não apreciar o físico e carisma de Dominic.
Depois do jantar, a dupla deu uma curta caminhada e Dominic
realmente comprou flores para Luke. Sam zombou - quão interessante era
isso? - mas Luke claramente não compartilhava sua opinião, olhando para
Dominic e parecendo totalmente encantado. Certo. Luke era um romântico
sem esperança.
Foi um alívio quando Dominic finalmente deixou Luke em casa.
Mas o alívio de Sam não durou muito tempo.
O manipulador de Dominic invadiu as câmeras de segurança do
prédio de Luke; portanto, Sam teve uma visão na primeira fila dos olhos de
Dominic quando ele beijou Luke em despedida. Eles estavam em branco e
indiferentes. Quando Dominic terminou o breve beijo, ele sorriu para Luke,
seus olhos cheios de afeição e desejo.
Sam cambaleou até o banheiro mais próximo e lavou o rosto com
água fria, tentando reprimir a vontade violenta de vomitar. Ele estava
tremendo, seu estômago revirando de desconforto e desgosto.
Naquele momento, olhando para seu próprio rosto pálido no espelho,
entendeu o que Dominic quis dizer quando falou que o trabalho de um agente
do MI6 não era para todos. Dominic o havia avisado, mas Sam ignorou.
Olhando para trás, se sentiu muito jovem e muito tolo. Ele não era
como Dominic. Não tinha estômago para mentir e enganar pessoas inocentes,
mesmo pela Rainha e o País. Ele não conseguia se imaginar usando outras
pessoas em nome de uma missão. Não podia se imaginar no lugar de Dominic,
forçado a tocar, beijar e dormir com alguém por quem não estava atraído. Ele
não sabia como Dominic fazia isso. Deve exigir uma força mental incrível –
uma que Sam claramente não tinha, se apenas observar a missão de Dominic
o fez se sentir mal.
Bem, supunha que era melhor que descobrisse agora e não depois.
Sam se endireitou, respirou fundo e saiu do banheiro, tentando
ignorar a sensação de perda enquanto se dirigia ao departamento de RH.

Capítulo 21

Dominic voltou para casa algumas horas depois que deixou Luke em
casa. Enquanto a noite foi bem-sucedida no que diz respeito à missão, ele teve
que fazer um desvio para o seu pub favorito na tentativa de se livrar do gosto
ruim em sua boca.
Gostava de Luke Whitford. Ele parecia um cara legal com problemas
com o pai, que queria muito um relacionamento comprometido e uma
família. Usar isso contra Luke fez Dominic se sentir como a pior escória na
Terra.
Beber não apagou o sentimento - nunca apagava - mas diminuiu um
pouco. Ele não estava bêbado - sabia quando parar antes que suas faculdades
fossem comprometidas - então não estava mais que levemente embriagado
quando chegou em casa.
Havia luz na sala de estar.
Isso o fez franzir a testa. Não esperava que Sammy esperasse por
ele. Já era bem depois da meia-noite. Talvez Sam tivesse adormecido
assistindo televisão. Esperava que Sammy estivesse dormindo. Ele não queria
vê-lo, não esta noite. Ou melhor, queria vê-lo um pouco demais para o próprio
conforto, absorver seu afeto caloroso como o bastardo ganancioso e egoísta
que era e fingir por um tempo que ele era a pessoa decente que Sammy
acreditava que fosse.
E era precisamente por isso que não deveria ver Sam agora.
Tendo em mente que o garoto poderia estar dormindo, Dominic
destrancou a porta e entrou na casa tão silenciosamente quanto pôde.
Sammy não estava dormindo.
Estava sentado no sofá, claramente vestido para sair. A bolsa com as
coisas dele estava a seus pés.
Dominic de repente ficou desperto, sentindo-se completamente
sóbrio.
— Pensei que você estaria dormindo. — Se ouviu dizer, seu peito
apertado. Maldição, ele sabia que não deveria ter fodido Sam - sabia que isso
tornaria as coisas estranhas - mas não pensou que Sammy realmente fosse
embora por causa disso. Talvez o fato de agir como se a noite passada nunca
tivesse acontecido foi um erro. Talvez deveriam ter falado e ter certeza de que
estavam na mesma página.
— Eu estava na sede. — Disse Sam, com os olhos verdes em
branco. — Assisti a sua missão.
Dominic abriu a boca e fechou sem dizer nada. Seus ombros ficaram
tensos quando percebeu o que isso significava.
— E o que você achou? — Ele finalmente disse, sua voz calma, como
se seu coração não batesse com força no peito... Com algo que parecia muito
como medo. Provavelmente estava confuso, mas ele era praticamente viciado
na forma como Sammy o olhava - como se ele fosse o mundo de Sammy - e
não sabia o que faria se mudasse para desgosto e desapontamento.
— Acho que você estava certo e eu estava errado.
— O quê?
Sammy sorriu tristemente.
— Eu sai, Nick.
Dominic olhou para ele. Talvez estivesse mais bêbado do que
pensava, porque seu cérebro não conseguia entender as palavras de Sammy.
— Saiu?
Sammy assentiu.
— Preenchi todos os formulários apropriados. Sou apenas um
estagiário, então não havia tantos, na verdade. Obviamente, assinei um NDA4
e devolvi o equipamento do MI6... — Sammy mastigou o lábio e estendeu o
telefone que Dominic lhe deu. — Acho que devo devolvê-lo também.
Dominic olhou do telefone para o rosto de Sammy. Ele não precisava
perguntar o que tinha causado isso. Poderia adivinhar. Sempre pensou que
Sam não era adequado para o MI6 - ele não era endurecido o suficiente para
as coisas que o MI6 queria que fizesse. Enquanto sua conduta durante a
missão de Brylsko foi exemplar, Sammy não foi forçado a fazer nada que
achasse particularmente desagradável e imoral. A missão de Whitford era
diferente. Provavelmente foi a primeira vez que Sam se deparou com a

4
Acordo de confidencialidade.
realidade do trabalho de Dominic.
— Você não vai dizer que preciso pensar nisso? — Sammy disse com
um sorriso torto.
— Não. — Disse Dominic. — Tenho certeza que você já pensou.
Sammy assentiu.
— Eu acho... Vou embora, então. — Disse ele, pegando a mochila e
levantando-se. — Te esperei apenas para dizer adeus.
O interior de Dominic apertou.
— Você tem um lugar para ir?
Sammy colocou a mochila sobre o ombro.
— Eu vou ficar bem. Talvez não tenha uma casa, mas nunca dormi
sem um teto sobre minha cabeça. Tenho amigos. Mais ou menos.
— Mais ou menos? — Dominic disse, em grande parte não
convencido.
Sam encolheu os ombros.
— Pessoas que me devem favores. — Seus lábios se curvaram em
um sorriso triste que tinha uma ponta de amargura. — E não é como se não
pudesse roubar se tiver que fazer.
— Você odeia roubar.
Sammy encolheu os ombros novamente, evitando os olhos dele.
— Vou fazer o que tiver que fazer. Não é como se eu fosse bom em
qualquer outra coisa. — Ele se moveu em direção à porta.
— Sammy.
O garoto parou, olhando para baixo.
— Olhe para mim.
Quando Sam finalmente olhou com uma expressão incerta, Dominic
disse:
— Você quer ir embora?
Sam piscou.
— Eu já lhe disse que sai.
— Não. — Dominic disse, aproximando-se. Ele roçou os nódulos
contra a bochecha de Sammy e viu-o se mover instintivamente para o toque.
Algo nele relaxou. Tinha medo de que Sammy se afastasse de seu toque
depois de vê-lo mentir e manipular Luke. — Você quer sair da minha casa?
Se afastar de mim.
Era o que ele queria dizer e ambos sabiam disso.
Sammy molhou os lábios, uma ruga apareceu entre suas
sobrancelhas.
— Esta é uma pergunta séria? Já não sou um estagiário do MI6,
Nick. Eu não deveria estar aqui.
— Você pode ficar se quiser.
Sammy o olhou fixamente. Por um longo momento, ele não disse
nada.
— Por quê? — Ele finalmente disse, sua voz calma. — Para que você
precisa de um garoto sem-teto?
— Você pode não ser mais do MI6, mas eu ainda deveria ter um bebê
de açúcar. — Disse Dominic, esperando aparentar casualidade e não como se
quisesse fazer Sammy ficar. Que não era realmente isso.
Mentiroso.
Nunca foi bom em mentir para si mesmo. Havia uma parte dele que
queria forçar Sammy a ficar. Aquela parte queria agarrar o garoto e beijá-lo
até ele esquecer seu próprio nome e lembrar-se apenas de Dominic. E ficou
enojado que queria manipular Sam para ficar. Ele deveria deixá-lo ir. Estava se
tornando cada vez mais óbvio que não podia confiar em si mesmo com Sam. O
garoto estaria mais seguro nas ruas do que debaixo do seu teto.
Como se estivesse ouvindo seus pensamentos, Sammy sacudiu a
cabeça.
— Se Luke descobrir, tenho certeza de que você pode facilmente
encontrar uma mentira convincente para explicar onde está o seu bebê de
açúcar. — Ele sorriu com tristeza. — Não vamos fingir que sou necessário para
o sucesso da sua missão. Vi o quão bem o agente 11 pode mentir. Ele não
precisa de mim aqui.
Dominic aproximou-se e colocou as mãos nos ombros de Sammy,
resistindo ao impulso de envolver o seu rosto em forma de coração.
— E se eu disser que quero você aqui? Não o agente 11. Eu.
Sammy engoliu em seco, seus olhos examinando o rosto de
Dominic.
— Por quê? — Ele disse, sua voz vacilante. — O que você quer
comigo? Sou um garoto gay ignorante e estúpido com uma paixão
inconveniente por você.
— Você não é estúpido.
Sammy fez uma careta.
— Eu nem obtive meu GCSE5. Sou tão ignorante quanto é
possível. Roubar é a única coisa em que sou bom. — Ele riu. — Tive que roubar
livros infantis para aprender sozinho como ler e escrever. Não tenho um
vocabulário horrível graças ao fato de amar a leitura.
— Você ainda é muito jovem. Pode estudar e conseguir seu
certificado. — Quando Sammy o olhou cético, Dominic apertou os ombros dele
e disse: — Você irá. Na verdade, não é raro que os recrutas do MI6 tenham
educação irregular. Temos acordos com o governo para os casos que o
fazem. Você pode ser educado em casa até que possa fazer os exames para
então se inscrever em uma faculdade de sua escolha.
— Mas não estou mais com o MI6. — Disse Sam. — Nunca poderei
pagar lições particulares ou universidade sem roubar, muito...
— Eu pagarei. — Disse Dominic.
Quando Sam franziu a testa e abriu a boca, Dominic o cortou.
— Não é nada para mim. Eu não sou exatamente pobre.
As sobrancelhas de Sammy franziram.
— Eu sei que seu disfarce Dominic Bommer é supostamente muito
rico, mas...
— Sam... — Dominic disse com um sorriso irônico. — Dominic

5
Certificado geral de educação secundária.
Bommer sou eu. Minhas preferências e vida pessoal podem ser falsas, mas
minha situação financeira não é. Eu realmente sou um chefe de departamento
em uma das maiores empresas financeiras do país. Sem mencionar que ser um
agente sênior de campo paga muito bem, considerando os perigos do
trabalho. Não sou bilionário, mas estou bem.
Sammy balançou a cabeça, piscando.
— Ainda assim... Eu não... — Ele deu uma olhada em Dominic. —
Você ainda não respondeu por que me quer aqui, porque quer pagar por minha
educação e... — Sammy parecia perdido, seus olhos verdes ficando confusos.
— Eu não entendo.
Cristo, Dominic queria abraçá-lo.
Então o fez.
Sammy ficou rígido em seus braços por exatamente um segundo
antes de o abraçar. Foda, ele se encaixava perfeitamente nos braços de
Dominic, tão perfeitamente que era difícil soltá-lo.
— Quero que fique porque me importo com você. — Disse Dominic
contra a testa de Sammy. — Quero você na minha casa, seguro, quente e
confortável. Porque você merece isso. E se você se chamar de estúpido
novamente, eu... — Ele lutou para criar uma ameaça adequada. Para alguém
que conhecia dúzias de diferentes técnicas de tortura, era surpreendentemente
difícil ameaçar Sammy com qualquer coisa. — Vou mudar a senha do Wi-Fi e
não lhe direi qual é.
Sam começou a rir contra seu ombro.
— Ok, isso é realmente muito assustador. Obrigado, Nick. Eu também
me importo com você.
Dominic se pegou sorrindo - um sorriso quente e suave que mostrava
muito mais sobre como se sentia do que estava com vontade de mostrar. O
sorriso parecia estranho em seus lábios e ele estava contente de que Sammy
não pudesse vê-lo.
Dominic limpou a garganta.
— Então, você vai ficar. — Perguntou, se afastando e estudando o
garoto. Embora tenha formulado isso como uma declaração, era sem dúvida
uma pergunta.
Sammy assentiu.
— Se você quer que eu fique, vou ficar. — Ele sorriu um pouco,
diversão aparecendo em seus olhos. — O que posso dizer? Eu me acostumei
com a vida mimada de ser seu bebê de açúcar.
Dominic resmungou.
— Boa noite. — Ele caminhou para o seu quarto, tentando não pensar
sobre a satisfação que sentiu quando Sammy se chamou de seu bebê de
açúcar.
Jesus. Ele tinha um problema.

Capítulo 22

Na manhã seguinte, enquanto Sam observava Dominic fazer uma


omelete antes de ter que partir para o trabalho - para o seu trabalho oficial,
não o MI6 - percebeu quão realmente fodido ele era.
Ou estava errado ontem de que nada mudou em relação aos seus
sentimentos por Dominic, ou estava muito cansado e satisfeito para se sentir
embaraçado em torno dele - mais do que normalmente era.
Enquanto a atenção de Dominic estava no fogão, os olhos de Sam
varreram impetuosamente sobre seus ombros largos e os músculos de suas
costas debaixo daquela camisa. Imaginou correr sua boca sobre as veias nos
antebraços de Dominic, descobertos por suas mangas enroladas. Ele lambeu
os lábios, tentando e incapaz de suprimir a fome roendo-o, fome que não tinha
nada a ver com o estômago vazio. Ele não podia ficar quieto, o desejo de tocar
era quase irresistível.
E a parte irritante era que Dominic provavelmente o beijaria e
deixaria chupar seu pênis se Sam pedisse. Ele poderia até masturbá-lo
novamente - ou fodê-lo - se Sam pedisse. O conhecimento o corroía,
tentando-o e horrorizando ao mesmo tempo.
Embora Dominic disse que preferia que Sam ficasse com ele ao invés
de com algum tipo aleatório, Sam estava desconfortável iniciando o sexo
novamente, especialmente depois de ver Dominic sendo forçado a ter um
romance com Luke Whitford. Sam não conseguia tirar da sua mente os olhos
vazios de Dominic enquanto ele beijava Luke. E se Dominic também se sentia
assim enquanto beijava Sam? E se ele estivesse apenas forçando isso?
O pensamento o deixou doente.
— Posso te perguntar algo? — Disse Sam.
Dominic virou, sua expressão curiosa.
— Certo.
— Quando você beijou Luke ontem, como foi? Igual a quando você
me beija?
Dominic desligou o fogão, tirou o avental e olhou Sam
cuidadosamente.
— Não. — Era imaginação de Sam ou Dominic realmente parecia
desconfortável?
Não, não era sua imaginação.
O estômago de Sam caiu.
— Você está mentindo.
— Eu não estou. Claro que foi diferente. Ele é minha missão. Você é
meu...
Quando Dominic se cortou, Sam olhou para ele com um sorriso
torto.
— Seu o quê? Um garoto gay que você sente pena?
Dominic deu-lhe um olhar comprimido.
— Estamos de volta a isso? Eu disse que não era piedade.
— Então, o que era? — Disse Sam. — Você parecia entediado quando
beijou Luke! E ele é, como, cinco vezes mais atraente que eu.
— Ele não é. — Dominic disse, franzindo a testa. — E eu não estava
entediado quando o beijei. Fiquei focado.
Sam zombou e cruzou os braços sobre o peito.
— Por favor. Você parecia resignado, na melhor das hipóteses. Não
me diga que não se importou em beijá-lo. Você claramente fez.
Passando uma mão pelos cabelos escuros, Dominic suspirou.
— Não posso acreditar que estamos discutindo se gostei de beijar
alguém ou não. Tudo bem, não gostei. Se fosse por mim, nunca o beijaria. Não
prova que não gostei de te beijar.
— Você gostou de me beijar, então? — Disse Sam, finalmente
encontrando a coragem de perguntar.
Quando Dominic não disse nada, Sam assentiu com a cabeça, o rosto
torcendo em uma careta mortificada. Deus, como era embaraçoso.
— Vê? Você nem pode dizer isso. Você odiou.
— Pelo amor de Deus. — Dominic disse, seus olhos brilhando de
frustração. — Eu não odiei isso. Gostei. Muito. Feliz agora?
Sam olhou para Dominic em dúvida, sem saber se deveria acreditar
nele.
— Realmente? — Falou em voz baixa.
Os olhos de Dominic suavizaram um pouco. Ele rodeou a ilha da
cozinha e puxou Sam, tirando-o da cadeira.
— Olhe... — Ele disse, suas mãos escorregando para a parte inferior
das costas de Sam. — Eu sou um bom mentiroso, e minto muito por causa do
trabalho. Não vou negar isso. Mas nunca menti para você. — Ele o olhou
atentamente. — Confie em mim. Por favor, Sammy.
Sam exalou tremendo.
— Mas como você pode querer me beijar se não gostou de beijar
Luke? Ele é...
— Ele não é cinco vezes mais atraente do que você. — Dominic disse
com deboche.
Sam mordeu o interior de sua bochecha.
— Talvez não, mas ele definitivamente é muito mais feminino do que
eu. Então, logicamente, os homens heterossexuais devem ficar mais
confortáveis beijando-o.
Dominic riu.
— Não funciona assim.
— Mas...
— Maldição. — Dominic o puxou mais perto e beijou-o com força,
sua boca suave, quente e completamente perfeita. Era embaraçoso o quão
rápido Sam ficou desossado contra o corpo de Dominic, os dedos dos pés
curvando com prazer, a boca se abrindo ansiosamente para acomodar a língua
de Dominic, puro êxtase se espalhando pelo seu corpo.
Ele gemeu quando Dominic parou o beijo.
— Sabe o que gosto ao te beijar? — Dominic disse, pressionando suas
testas juntas. — Gosto de como você responde. Você me beija como...
Como... Se pertencesse a mim, como se fosse meu, como se sua boca fosse
minha. — Ele deu a Sam outro beijo curto e duro. — É muito viciante.
Sam piscou para ele aturdido. Não podia acreditar que Dominic
realmente gostasse que ele perdesse as funções cerebrais e se tornasse um
escravo das suas necessidades básicas no momento em que colocava a boca
na dele. Era um pouco estranho, mas que seja. Sam não se importava,
contanto que Dominic realmente gostasse de beijá-lo.
— Tudo bem. — Sam disse e beijou Dominic novamente.
Ele não tinha certeza de por quanto tempo se beijavam, o ambiente
estava silencioso, exceto pelos sons escorregadios de suas bocas se movendo
juntas e os suaves suspiros de prazer. Sam não sabia o que Dominic estava
sentindo, mas esperava que o beijo fosse tão bom para Dominic quanto era
para ele. Viciante. Dominic chamou sua boca de viciante. Sam podia se
relacionar totalmente, porque ele parecia completamente incapaz de parar de
beijar Dominic, seu corpo formigando e doendo por toda parte, com fome,
muita fome.
Levou um tempo para registrar o zumbido.
— Seu telefone. — Sam conseguiu dizer contra os lábios de
Dominic.
Dominic não parou de beijá-lo ou de lamber sua boca.
— Seu telefone, Nick. — Disse Sam novamente.
Puxando para trás, Dominic olhou ao redor, seus olhos escuros um
pouco desfocados antes de se acomodarem no telefone na mesa. Ele se
aproximou, olhou para o identificador de chamadas e franziu a testa antes de
responder.
— A11.
Sam viu os ombros de Dominic ficaram tensos.
— Você tem certeza de que é ele? — Disse Dominic. Houve uma
pausa quando Dominic ouviu a resposta. — Estarei na sede em quinze
minutos.
Ele desligou e virou-se para Sam, suas sobrancelhas juntas.
— O helicóptero de Richard Whitford caiu em Columbia. Sem
sobreviventes.
— O pai de Luke? — Disse Sam. — Isso significa que sua missão foi
cancelada?
Dominic balançou a cabeça, pegando seu casaco e saindo.
— Isso significa apenas que os parâmetros da missão acabaram de
mudar. Por sinal, você poderia ligar para o meu número de trabalho e dizer à
minha secretária que tenho um encontro urgente com a Riverwood Trading?
— O quê?
Dominic sorriu para sua confusão.
— É uma empresa criada pelo MI6 que é usada como cobertura para
nossos agentes. É um cliente da Grayguard, por isso é uma boa cobertura para
mim quando preciso sair em missões.
— Por que você não liga para a sua secretária? — Sam disse,
seguindo Dominic para o carro. Ele provavelmente estava pegajoso, mas não
podia evitar isso.
— Eu posso estar muito ocupado para responder meu telefone. Diga a
ela que esqueci meu celular em casa.
— E se ela pergunta quem eu sou? — Sam disse, observando Dominic
entrar no carro.
Dominic rolou a janela lateral e olhou para ele.
— Diga-lhe a verdade. Que mora comigo e que confio em você.
Sam engoliu em seco e assentiu.
— Tudo bem. — Ele disse, estendendo a mão e ajeitando a gravata
de Dominic. Não conseguindo fazer diferente; ele precisava tocá-lo.
Uma certa emoção passou pelo rosto de Dominic. Ele apertou a mão
de Sam, soltou e ligou o motor.
— Vejo você esta noite.
Sam viu o carro desaparecer antes de entrar na casa.
Ele trancou a porta e recostou-se contra ela, um pequeno sorriso
curvando seus lábios. Sabia que estava sendo ridículo - ainda não
tinha nenhuma ideia de onde eles realmente estavam – mas, porra, se sentiu
um pouco feliz. Era errado? Ser feliz, embora provavelmente não durasse?
Mas e se durasse?

Capítulo 23

Dominic destrancou a porta da frente e a abriu.


A casa estava tão quieta e escura quanto se esperaria que fosse às
duas da manhã. Só podia sorrir cansadamente lembrando suas palavras para
Sammy que o veria à noite. Às vezes, odiava seu trabalho - ambos. Ele tinha
apenas 27 anos, mas graças a sua vida dupla, às vezes sentia-se anos mais
velho.
Às vezes se perguntava por que estava fazendo isso. Enquanto seu
emprego na Grayguard tinha começado como uma cobertura fácil, agora ele
tinha o trabalho de um chefe de departamento em cima de seu trabalho no
MI6. Como resultado, em dias como este, se sentia cansado, mal conseguindo
se arrastar para casa, com a cabeça latejando e o corpo dolorido.
Talvez estivesse ficando velho demais para uma vida dupla,
especialmente uma tão exigente quanto a dele.
Era por isso que hesitava em aceitar a posição de Chefe do SIS
quando o alto escalão acabasse por forçar Amanda a renunciar em poucos
anos. Ele não achava que conseguiria conciliar as duas posições de diretoria
efetivamente. Já estava lutando como estava. Mas, novamente, dias como
esse não aconteciam com frequência.
Suspirando, Dominic empurrou a porta do quarto e ficou imóvel.
Sammy estava dormindo em sua cama.
Ficou claro que ele estava tentando esperar por Dominic: a lâmpada
de cabeceira estava acesa e havia um livro aberto ao lado dele. O fato de que
Dominic não tinha notado a luz fraca antes de entrar no quarto, falou muito
sobre como ele estava cansado. Seu lapso na vigilância não o agradou,
fazendo com que se perguntasse mais uma vez se precisava mudar alguma
coisa sobre seu trabalho. Não importaria que ele tivesse a melhor taxa de
sucesso em missões se fosse emboscado em sua própria casa porque estava
cansado demais para prestar atenção.
Dominic se aproximou da cama, seus passos silenciosos. Afrouxando
a gravata, olhou para o garoto adormecido. Um sentimento estranho se
instalou em seu estômago quando percebeu que a camiseta preta que Sammy
estava vestindo era dele.
Tirando a gravata, Dominic começou a desabotoar a camisa, os olhos
ainda no garoto deitado na cama. Ele tinha dificuldade em desviar o olhar. A
visão era profundamente satisfatória em um nível tão primitivo, que o fez se
encolher. Nunca se considerou um homem possessivo, nunca foi um em seus
relacionamentos, nem mesmo com a única mulher que amou. E, no entanto,
aqui estava ele, sendo todo homem das cavernas e essa merda sobre um
garoto que ele dera um lar.
Cristo, que bagunça. Nunca deveria ter tocado Sammy desse jeito. O
que aconteceu durante a missão deveria ter ficado lá. Agora, com as linhas
desfocadas, complicou tudo desnecessariamente.
Pela primeira vez em anos, Dominic não sabia o que fazer. Não
estava disposto a machucar o garoto dizendo que se arrependeu de transar
com ele e que não deveriam fazer isso de novo. Mas continuar a brincar com
Sammy também seria um erro. Uma paixão era inofensiva o suficiente. Mas
paixões poderiam se transformar em algo mais, algo que doeria. Se ele
estivesse pensando racionalmente, teria deixado Sammy transar com outra
pessoa - alguém gay. Isso era a coisa certa a fazer. Sammy deveria conhecer
um rapaz simpático e gay de sua idade que pudesse devolver seus
sentimentos e fazê-lo feliz. Alguém que não fosse um idiota manipulador que
mentia, matava e usava pessoas para viver.
Com o maxilar apertado, Dominic despiu-se rapidamente e foi ao
banheiro.
Depois de tomar banho e terminar sua rotina noturna, fez uma
pausa, olhando seu reflexo no espelho. Tentou ver o que Sammy via nele.
Tudo o que podia ver era um homem de aparência cansada, com olhos, e
personalidade, vazios. Passou tanto tempo fingindo ser alguém que não era
que não tinha mais certeza de quem diabos era e o que queria.
Dominic se afastou do espelho.
Quando saiu do banheiro, Sammy estava sentado na cama, piscando
grogue.
— Nick?
— Ei. — Disse Dominic, caminhando para o seu guarda-roupa. Ele
tirou uma nova boxer e vestiu antes de deitar na cama com um suspiro.
— Cansado? — Sammy disse simpaticamente.
Dominic fez um barulho afirmativo, fechando os olhos.
— Eu vou ir, então.
Ele deveria deixá-lo ir. Mas, caramba, queria o calor de Sammy,
queria se enterrar nele até que a sensação fria e vazia em seu peito fosse
embora.
— Fique.
Ele não teve que abrir os olhos para saber que Sammy estava
sorrindo quando deitou e se aconchegou debaixo do seu braço.
— Por que você chegou tão tarde? — Sammy disse, sua bochecha
pressionada ao lado do peito de Dominic.
— Longa história. — Disse Dominic com um suspiro, acariciando o
braço de Sammy para cima e para baixo. — Estive na sede durante toda a
manhã, coordenado com nossos agentes em Columbia. Tivemos que ter
certeza de que é realmente Richard Whitford e que ele está realmente morto.
Não seria a primeira vez que alguém falsifica a própria morte - mas é ele; não
há engano.
— E agora o quê? — Sammy disse, correndo os dedos
preguiçosamente sobre o peito nu de Dominic.
— Eu não sei. — Disse Dominic, puxando Sammy mais apertado
contra ele. Aos poucos, a sensação de frio desapareceu. Quando estava com
Sammy, sempre acontecia. — O acidente de helicóptero provavelmente não foi
um acidente. Nossos agentes em Columbia suspeitam do chefe do crime local,
Alvaro Lopez, mas não há provas. E...
— E o quê?
Dominic abriu os olhos.
— Encontramos algo interessante. Há algumas semanas, Álvaro
López teve um encontro com um certo oligarca russo.
— Mesmo? O mesmo homem que suspeita de sequestrar Luke
Whitford?
— Sim. Roman Demidov. Que coincidência, né?
As sobrancelhas vermelho-escuras de Sammy franziram.
— Mas o que isso significa? Demidov sequestra o filho de Whitford e,
em seguida, permite que ele escape alguns meses depois. Luke aparece ileso e
nega o envolvimento de Demidov. Então, apenas algumas semanas após o
retorno de Luke, Demidov organiza para o pai de Luke ser morto? Isso... Huh.
Tem um cheiro de peixe podre.
— Sim. — Disse Dominic. — Pensei que Luke era um cara bom que
não prejudicaria uma mosca, mas talvez eu estivesse errado.
Sammy olhou para ele com curiosidade.
— Você realmente acha que Luke conspirou com seu sequestrador
contra o pai?
Dominic acariciou a nuca de Sammy.
— Talvez. Roman Demidov é um homem bonito. Por todas as contas,
é hétero, mas ele é um filho da puta implacável e manipulador. Luke poderia
ser uma vítima da síndrome de Estocolmo. Não seria a primeira vez. Na
verdade, acontece com mais frequência do que você pensa.
Sammy mordeu o lábio inferior.
— Mas se Luke está envolvido na morte do pai, isso significa que ele
é perigoso. Você pode estar em perigo.
— Não mais do que estava antes. Além disso, Luke poderia ser
completamente inocente. Nós o temos sob vigilância e ele não tem estado em
contato com Demidov desde seu retorno à Inglaterra. E Luke parecia
genuinamente chocado com a morte do pai.
Sammy enrijeceu contra ele.
— Você estava com Luke?
Dominic assentiu, estudando o rosto do garoto.
— Estava com ele na Grayguard quando recebeu a notícia. Seu
choque parecia bastante real, embora não parecesse particularmente
aborrecido. Mas, no entanto, ele e seu pai não eram muito próximos, então
não é tão surpreendente assim.
— Ele pode ser um bom mentiroso. — Disse Sammy. — Aparências
podem enganar.
— Elas podem. — Admitiu Dominic, observando Sammy com cuidado.
— Você está chateado que eu estava com Luke? Não é por isso que cheguei
em casa tão tarde. — Ele nem sabia por que sentia necessidade de se explicar.
Sammy não era sua esposa ou seu marido. — Foi um dia infernal na
Grayguard. Tive que trabalhar até tarde porque não cheguei no trabalho até o
final da tarde.
Sammy franziu os lábios.
— Se você está insinuando que estou com ciúmes, não estou.
— Claro que não está. — Disse Dominic suavemente, reprimindo um
sorriso e dando um beijo na testa de Sammy. Verdade seja dita, ele não se
importava com o ciúme de Sammy. — Você não tem motivos para ficar com
ciúmes. A propósito, por que está vestindo minhas roupas?
Sammy ficou vermelho.
— Não foi porque senti sua falta ou algo assim. — Disse ele,
emburrado.
Dominic manteve o rosto sério.
— Eu disse que era?
Olhando para ele com desconfiança, Sammy disse:
— Eu não tenho muitas roupas.
A diversão de Dominic desapareceu.
— O quê?
Sammy baixou o olhar, traçando linhas no peito de Dominic com o
dedo.
— Joguei minhas roupas velhas fora quando fui recrutado, elas não
eram muito boas e recebi roupas para trabalhar de qualquer maneira, mas
agora... — Sammy deu de ombros, evitando os olhos de Dominic.
Dominic olhou para ele.
— Está dizendo que não tem roupas?
— Eu tenho. — Disse Sammy, olhando para qualquer lugar, menos
para ele. — Apenas não muitas. Esta camiseta não é tão extravagante quanto
o resto de suas roupas, então imaginei que você não se importaria se eu
pegasse emprestado. Posso lavar depois...
Dominic segurou o queixo de Sam e o obrigou a encontrar seus olhos.
— Eu não me importo. Pode pegar o que quiser. Mas amanhã vamos
às compras. Se você devolveu todos os pertences recebidos pelo MI6,
precisará de mais do que apenas roupas.
Franzindo a testa, Sammy abriu a boca, mas Dominic o interrompeu
antes que ele pudesse dizer qualquer coisa.
— Não é caridade. E não aceito não; você não pode mudar minha
mente. Podemos seguir em frente agora? Não é um problema, Sammy.
Sam soltou um longo suspiro de sofrimento e sorriu ironicamente.
— Você percebe que agora é praticamente meu papaizinho de
verdade, certo?
Dominic riu, beliscando a bochecha de Sammy.
— Isso significa que você é meu bebê de açúcar de verdade?
Sammy sorriu mais largo, olhando-o com olhos sonolentos.
— Não me importo de ser um bebê de açúcar, desde que seja seu.
O pênis de Dominic contraiu. As palavras de Sammy empurraram
todos os seus botões certos - ou melhor, todos os errados, sua possessividade
egoísta ergueu a cabeça feia novamente.
Ele limpou a garganta, enfiando os dedos pelos cabelos do menino.
— Você não deveria dizer coisas assim. Estou tentando ser um
homem melhor aqui.
— O que quer dizer? — Sammy disse. — Não há nada de errado com
você. Já é um bom homem.
Dominic olhou para ele.
— Você ainda acha isso depois de assistir meu encontro com Luke?
Depois de me ver invadindo sua confiança, manipulando suas emoções e
inseguranças? — E ele tinha feito coisas muito piores do que isso no passado,
coisas que preferia que Sammy não soubesse.
Os lábios de Sam formaram uma linha fina.
— Um tempo atrás, você me disse que o que acontece em uma
missão não deveria afetar o meu verdadeiro eu. Por que isso não se aplica a
você? Não é como se quisesse ferir as pessoas, certo? Não é você. É o seu
trabalho.
— Eu sei. — Disse Dominic. — É só... — Ele embalou a bochecha de
Sammy com a mão, absorvendo o carinho nos olhos dele. Esteve almejando
isso o dia todo. Passava o dia sendo o agente 11, sem nome ou fingindo ser
uma pessoa que ele não era. Em dias como este, Dominic sentia-se uma
fraude, um homem com emoções falsas, comportamento falso e sexualidade
falsa. Não ajudava que estivesse usando seu nome real para essa missão, o
que bagunçou sua cabeça mais do que qualquer trabalho secreto jamais fez.
Ele queria algo real. Algo que era só dele.
— Estou tentando ser um homem melhor. — Disse ele, olhando para
os lábios de Sammy.
— Não há nada de errado com você. — Sussurrou Sammy, lambendo
os lábios com a ponta da língua. — Pare de dizer coisas estúpidas e me beije.
Está tudo errado comigo.
Dominic pensou enquanto se inclinava e fazia o que Sam pediu. Os
lábios de Sammy estremeceram ao menor toque, separando-se para sua
língua com uma ansiedade que destruiu qualquer remanescente de
autocontrole que possuía. Dominic gemeu e lambeu seu caminho na boca de
Sammy, querendo se colocar mais fundo no garoto até que tudo o que podia
sentir era Sammy, seu calor e afeição.
Porra, isso era... Era algo pelo qual esteve ansioso o dia todo, se
Dominic fosse honesto consigo mesmo. Isso - sentir os lábios trêmulos e
carentes de Sammy contra os dele - isso era real. Isso era dele. Sammy era
dele.
Depois de suas experiências passadas com alvos masculinos, Dominic
tinha certeza de que nunca poderia ser atraído por um homem - sexo com
homens sempre pareceu errado, mesmo com o Viagra - mas não podia negar
que era puxado para este garoto, emocionalmente atraído por ele de uma
maneira que nunca foi por mulher alguma, e esse apego emocional parecia
transbordar e se transformar em uma necessidade física, sua sexualidade seria
condenada. Ele queria tanto o carinho e o afeto de Sammy que queria se
colocar dentro do garoto o mais profundamente possível até que fosse o
mundo inteiro dele.
Jesus, a direção de seus pensamentos era muito perturbadora.
Dominic sabia que o relacionamento deles estava se tornando perigosamente
desequilibrado, com Dominic tendo muito poder sobre o garoto - financeiro,
emocional e físico - e certamente não podia ser saudável, mas Sam não
parecia se importar. Sammy não era nem um pouco tímido, apenas se
entregando a ele, honesto e ansioso, confiando nele para não feri-lo - ou
machucá-lo, se Dominic quisesse. Era viciante da pior maneira possível, e
Dominic sabia que não deveria se entregar a isso, mas se viu beijando Sam
mais forte e mais profundo, puxando o garoto para mais perto e depois
rolando para cima dele quando não era o bastante. Porra, queria rastejar
dentro de Sammy e se afogar nele.
— Nick... — Sammy sussurrou contra seus lábios, sua voz trêmula e
rouca, suas mãos impotentes segurando os ombros nus de Dominic. — Pare de
me beijar assim a menos que vá me foder. Isso é cruel. Pare de me beijar ou
me foda.
Afastando-se daquela boca doce e viciante, Dominic olhou para o
garoto que estava sob ele: o rosto corado e os lábios vermelhos e inchados, as
pernas compridas e pálidas abertas para acomodar os quadris de Dominic. Ele
não podia ver a ereção de Sammy, mas podia sentir contra sua coxa, longa e
magra, como tudo no garoto.
Objetivamente, ele não deveria querer Sammy. Gostava de suas
mulheres com quanto mais curvas, melhor, e o garoto pálido e magro embaixo
dele não deveria excitá-lo. Mas Deus ajude os dois, ele fez. Dominic estava
duro como uma rocha, seu corpo ansioso por sexo, ansioso para foder, tomar,
consumir.
Não fazia sentido. Sua fome por Sammy desafiava a lógica, a
sexualidade e o pensamento racional, originários de algo mais primitivo do que
a atração normal. Parecia uma força, uma contra a qual ele não podia lutar.
Mesmo o desequilíbrio de poder entre eles apenas o excitou. Ele gostou de ser
capaz de fornecer a Sammy posses materiais. Gostou que Sammy tivesse uma
paixão óbvia por ele. Gostou de ser o centro do mundo de Sammy.
E não queria que isso mudasse.
Puta merda. Estava se tornando um idiota.
— Então, você vai me foder ou não? — Sammy disse, olhando para
ele aturdido, seus dedos cavando nas nádegas de Dominic.
— Eu vou.
Os olhos de Sammy arregalaram, sua boca bem-beijada se abriu. Ele
olhou para Dominic sem piscar pelo que pareceram horas antes de puxar a
cabeça de Dominic para baixo e beijá-lo novamente.
Depois disso, Dominic sentiu-se perdido na sensação da boca macia e
faminta de Sammy, apenas vagamente consciente de tirar a camisa de Sammy
e dar o pontapé inicial na cueca. A sensação da pele jovem e macia contra sua
boca era gloriosa. Dominic arrastou os lábios pelo pescoço de Sammy,
beijando e mordiscando a pele imaculada e perfeita... Tão macia... Tão suave e
sensível ao toque... Sammy choramingou quando Dominic agarrou seu mamilo
rosado, enterrou os dedos no cabelo dele e empurrou sua cabeça para baixo
com insubmissão.
Ele foi; lambendo e beijando a barriga tremula e pálida de Sammy,
até seu pênis duro e vazando. Sammy gemeu quando Dominic o engoliu em
sua boca.
Não era o primeiro pênis que Dominic já havia chupado. Mas era a
primeira vez que ele realmente quis fazer isso. Agora quase podia entender
porque Sammy gostava de chupar pau. A sensação do pênis de Sammy se
movendo em sua boca era surpreendentemente boa. Os ruídos que o garoto
estava fazendo eram mais do que apenas bons, e Dominic chupou o pau com
mais força, querendo ouvir mais deles.
Quando sentiu que Sammy estava perto, Dominic se afastou.
Olhando para o garoto ofegante e corado embaixo dele, se abaixou e deu um
puxão em seu próprio pau, para afastar sua excitação, um pouco surpreso por
não ter perdido sua ereção enquanto chupava a de Sam.
— Lube? — Sammy disse, olhando para o pênis de Dominic com algo
que só poderia ser descrito como fome.
E porra, ele queria saciar essa fome.
— Sim. — Disse Dominic secamente. Estendeu a mão para a gaveta
com a garrafa de lubrificante e preservativos que mantinha lá. — Fique de
barriga para baixo.
Sammy piscou para ele atordoado, observando Dominic lubrificar os
dedos e depois fez o que lhe foi dito: ficou de joelhos, os cotovelos caindo para
a cama, o traseiro para cima e as costas curvados num arco que era pura
pornografia.
Dominic lambeu os lábios secos, lembrando o quão apertado esse
traseiro era, como era bom estar dentro dele e assistir Sammy se abrir para
seu pênis.
Apertando a mandíbula, colocou uma camisinha e preparou o garoto
com o máximo de cuidado que sua impaciência permitia, incapaz de desviar o
olhar da entrada de Sammy, que estava vermelha e brilhante onde estava
esticada em torno de seus dedos grossos.
— Vamos. — Sammy sussurrou, sua voz falhando. — Por favor. Não
quero dedos, quero você.
— Sim. — Dominic tirou os dedos, observando fascinado enquanto o
anel se fechava em torno de nada. Inclinando-se, ele deu uma longa lambida.
Sammy gemeu, arqueando as costas.
— Nick...
Dominic deu outra lambida antes de se endireitar e alinhar seu pênis
contra a abertura brilhante. Ele cutucou a cabeça gorda contra ela, provocando
os dois por um longo momento antes de empurrar com um gemido. Sammy
estremeceu sob ele, um gemido agudo saindo de seus lábios enquanto suas
paredes internas apertavam em torno do seu pênis com força.
Cristo. Tão bom pra caralho.
Agarrando os quadris de Sammy, Dominic começou a empurrar, seus
olhos apertados, um rosnado torcendo os lábios enquanto ele se concentrava
em não gozar como um maldito virgem. Ele queria fazer Sammy se sentir
bem. Essa era sua prioridade, não seu próprio prazer.
Com os dentes afundados no lábio inferior, Dominic inclinou as
estocadas até conseguir acertar a próstata de Sammy pelo menos em todas as
outras estocadas. Era surpreendentemente difícil e não porque ele não
soubesse como fazê-lo. Ele era proficiente o suficiente para fazer sexo com
homens, mas com os alvos masculinos ele poderia facilmente se concentrar em
pregar a próstata do homem, porque não tinha que lutar contra sua própria
necessidade de perseguir seu prazer. Com os alvos masculinos, Dominic era
um agente no controle total de si mesmo; com Sammy, ele era apenas um
homem lutando pelo controle.
Sammy não estava exatamente ajudando seu autocontrole, fodendo-
se de volta no pênis de Dominic com um abandono desenfreado, deixando
escapar um fluxo constante de grunhidos e gemidos que só serviam para
estimular ainda mais Dominic. Sammy era um garoto tão doce, mas era
absolutamente sem vergonha na cama. Dominic gostou da puta pelo seu pênis
que o garoto era. Sammy fodeu como se não pudesse viver sem isso - sem o
pênis de Dominic nele. Não deveria ser tão excitante, mas porra...
Dominic sentiu seus impulsos crescerem com força e erráticos, a
cabeceira batendo contra a parede. Rosnando, agarrou o pênis de Sammy e
começou a acariciá-lo no mesmo ritmo de suas investidas. Sammy soluçou
algo ininteligível e gozou, seu canal apertando com força em torno do pênis de
Dominic.
Gemendo, Dominic deixou seu controle deslizar ainda mais, seu
aperto nos quadris de Sammy machucavam, e ele chupou duramente a pele da
nuca de Sammy quando o prazer o alcançou, afogando-o em sensações que se
intensificaram até explodirem num clímax que o deixou agarrado a Sammy.
Deus. Jesus Cristo.
Parecia que horas se passaram antes que ele pudesse pensar
novamente.
— Porra, estou esmagando você. — Ele rolou para fora de Sammy e
beijou a parte de trás do pescoço do garoto, inalando seu cheiro. — Você está
bem?
Os últimos resquícios de seu brilho desapareceram quando Sam não
respondeu, as costas ainda voltadas para Dominic.
— Sammy?
O ruivo sentou-se.
— Estou bem.
Dominic estreitou os olhos, estudando as costas do garoto.
— Eu te machuquei? — Ele disse, sentando e tocando o ombro de
Sam.
Sammy se afastou do toque em vez de se inclinar como de costume.
O sangue de Dominic gelou.
— Claro que não. — Sammy disse com uma risada, finalmente
virando a cabeça. — Foi incrível e você sabe disso, mas acho que... Eu acho
que nós não deveríamos... Eu deveria parar de pedir para você transar comigo.
Ele sorriu torto.
— Será mais inteligente se não fizermos mais isso. Não está
exatamente ajudando com a minha paixão. Recuso-me a ser aquele garoto gay
idiota e pegajoso que não pode aceitar a dica.
Ele riu um pouco, olhando para baixo. Quando ergueu o olhar de
volta para Dominic, sua expressão era dolorosamente honesta.
— Mas se continuarmos assim, sei que me tornarei ele. Sei que você
tem um fraquinho por mim, mas prometa que não vai me satisfazer de agora
em diante. Eu não quero ter esperanças apenas para elas serem esmagadas de
novo e de novo. E não quero que minha... Minha paixão estúpida arruíne nosso
relacionamento. Não quero que percamos o que temos por algo que nunca
dará certo. Não com você.
Dominic só pôde olhar para ele, surpreso demais para falar. Embora,
surpresa fosse uma palavra muito inadequada para a tempestade confusa de
emoções dentro dele.
Sammy saiu da cama e pegou suas roupas descartadas. Deslizando
para dentro da camisa, caminhou de volta para Dominic e beijou-o castamente
na bochecha.
— Obrigado pelo ótimo sexo, Nick. — Ele murmurou com um bocejo.
— Não se preocupe, eu vou trabalhar em superar minha paixão estúpida.
Amigos?
— Claro. — Ele provavelmente deveria ter ficado aliviado, mas tudo o
que sentia era errado e confuso.
Sammy sorriu para ele e saiu do quarto com um sonolento boa noite.
Quando a porta se fechou atrás dele, Dominic olhou para ela sem ver.

Capítulo 24

Jess Sanders amava seu trabalho. A loja era sofisticada, por isso
raramente ficava lotada ou barulhenta. Na maioria das vezes, se sentava atrás
do balcão, lendo revistas de moda ou assistindo TV, o que ela mais gostava.
Pegue aquele casal gay, por exemplo.
Bem, Jess assumiu que fossem um casal. Se eles eram amigos, era
muito estranho com certeza.
O homem de cabelos escuros claramente pertencia à clientela rica
que vinha à loja. Era óbvio, não só pelo Rolex no pulso e seu impecável terno
escuro, mas também pela maneira segura que se portava. E ele cheirava a
dinheiro e poder, que não era tão incomum ou notável; Jess via dezenas de
homens como ele todos os dias.
Era seu companheiro que parecia interessante.
Jess não podia pensar numa razão para um homem como este ser
amigo do ruivo naquelas roupas baratas, mal ajustadas e tênis desgastado.
Verdade seja dita, o dono da loja dissera a Jess para certificar-se de que
pessoas pobres não estragassem o visual da loja. Jess não sabia como ia
conseguir, mesmo que tivesse inclinada a ouvir seu empregador. Além disso,
tinha o pressentimento de que se tentasse ser fria e condescendente com o
ruivo, não iria gostar de reação do outro homem.
Ela não pensou que eram amigos. Eles eram mais do que bonitos, e
Jess não quis dizer sua aparência, embora também fossem. Na sua opinião,
eles eram absolutamente adoráveis juntos. O homem de cabelos escuros
parecia muito insistente sobre comprar tudo que o ruivo até mesmo dirigisse
um pequeno olhar, sem sequer verificar a etiqueta de preço, então eles
acabaram com uma considerável pilha de casacos, jeans, camisas e camisetas.
O rapaz ruivo, realmente estava parecendo um pouco sobrecarregado quando
se aproximaram do balcão.
Jess fechou sua revista, moveu-se para o registo e somou as pilhas
de roupas.
— Isso deu um total de 1.942 Libras.
O ruivo arregalou seus olhos verdes comicamente.
Jess sentiu uma pontada de desconforto. Talvez ela devesse ter se
certificado de que o garoto soubesse que as roupas não eram baratas. Ia ser
estranho pra caramba.
Felizmente, o outro homem nem sequer piscou. Ele puxou a carteira
e entregou a Jess seu cartão de crédito.
— Nick, isso é demais. — O garoto protestou enquanto Jess
educadamente colocava suas compras nas embalagens. — Sério, eu não...
— Tudo bem. — O chamado Nick disse, seu tom conclusivo. — Não se
preocupe.
— Mas...
— Sammy, não se preocupe. — Disse Nick, suavizando a voz quando
percebeu o desconforto do ruivo. — Sei que o deixa desconfortável, mas me
deixa desconfortável demais vê-lo em trapos, enquanto estou usando roupa de
grife. — Faz-me parecer um cretino. — As pessoas pensarão que não estou
cuidando bem de você.
Sammy bufou.
— Acha que não sei o que está tentando fazer? — Ele disse, rolando
os olhos. — E não é seu trabalho cuidar de mim.
— Não é meu trabalho... — Nick concedeu, olhando-o fixamente. —
Eu quero fazê-lo. Por favor, me permita?
Jess controlou a vontade de sorrir quando o ruivo corou e deixou cair
seu olhar, seus cílios longos tremulando contra o seu rosto pálido.
Sério, eles eram muito bonitos!
— Jessica? — Nick disse, olhando em seu crachá.
Percebendo que ainda não tinha devolvido seu cartão, Jess corou e
fez exatamente isso.
— Obrigada por comprar aqui! Por favor, volte sempre.
Acenando educadamente, Nick pegou as sacolas e conduziu Sammy
para fora da loja, com uma mão na parte inferior das costas do rapaz.
Jess sorriu para si mesma quando a porta fechou atrás deles.
Em momentos como este, ela quase desejava que gostasse de
homens. Seria muito bom ter um homem mais velho que a enchesse de
presentes caros e a tratasse como uma princesa.
Jess riu. Nenhuma quantidade de roupas caras a faria gostar de pau.
Era uma coisa boa que sempre poderia encontrar uma bela mulher
mais velha.

*****
Às vezes, ser chefe do RH do MI6 podia ser tedioso, Rachel Longwood
meditou quando bateu na porta. Ela desejava poder delegar esta visita a um
dos seus assistentes, mas nenhum deles estava equipado para lidar com o
agente 11.
A doce Débora sem dúvida o deixaria convencê-la a concordar com o
que quisesse enquanto Alan... Ele era uma pessoa doce e um competente
assistente, mas Rachel tinha de admitir que lhe faltasse astúcia para enfrentar
o agente 11.
A porta se abriu, revelando um ruivo que lhe parecia vagamente
familiar. Rachel o vira apenas de passagem, desde que era Deborah quem
cuidava dos novatos.
Não ficou surpresa quando o garoto apresentou sua demissão
semanas atrás, como fizeram alguns dos estagiários, infelizmente, incapaz de
lidar com a pressão ou o treinamento físico. Mas ela ficou muito surpresa nesta
manhã quando o Manipulador do agente 11 informou que o rapaz
aparentemente ainda vivia com o agente.
— Senhora? — Sam disse.
— Olá. — Rachel sorriu. — Ele está em casa?
— Você sabe que estou. — Disse o agente 11, aparecendo por cima
do ombro de Sam. Seus olhos inescrutáveis a estudaram por um momento. —
Que surpresa, Rachel. Mas pode entrar. — Ele tocou no ombro do garoto
suavemente e Sam se afastou. Ele esparramou-se no sofá marrom enorme, e
pegou um iPad. O rapaz não parecia que ia deixá-los a sós quando o agente 11
acenou para Rachel sentar no sofá do outro lado da sala e caiu na poltrona em
frente a ela.
— Bem? — Agente 11 disse, olhando para ela com expectativa. — A
que devo o prazer?
Como chefe do RH, Rachel sabia que seu verdadeiro nome era
Dominic, mas ele nunca a convidara para chamá-lo pelo seu primeiro nome e,
verdade seja dita, ela não podia pensar nele como Dominic.
Embora fosse mais novo do que ela, o agente 11 estava no MI6 há
mais tempo. Ele sempre seria o agente 11 para ela, um homem bonito, mas
distante, e ela sempre teve problemas para lê-lo.
Ele poderia ser como um camaleão se a missão exigisse: confiante,
tímido, arrogante, humilde, paquerador, sério; o que deixava muito difícil dizer
sua personalidade real.
Rachel levantou suas sobrancelhas, olhando para o garoto
descansando sobre o outro sofá.
— Você provavelmente pode adivinhar por que estou aqui.
A expressão do agente 11 não mudou.
— Não vejo como meus hóspedes são uma preocupação para o MI6.
Às vezes Rachel esquecia que o agente 11 veio de uma família
aristocrática, tão antiga quanto a Rainha e sua linhagem. Olhando sua
expressão arrogante, ela facilmente podia acreditar, mas, novamente, talvez
essa arrogância casual resultasse da confiança do agente em suas habilidades.
Talvez fosse um pouco dos dois.
Em qualquer caso, ela absolutamente recusava-se a ser intimidada
por seu olhar frio, odiando o fato de que já não se sentia tão confiante quanto
antes. Mas não mostraria.
— A cláusula de não divulgação, A11, está em seu contrato por um
motivo... — Ela disse. — Seu hóspede não está autorizado a saber nada sobre
o seu trabalho, e ainda assim ele está vivendo com você enquanto está
conduzindo uma missão. Ele não pode viver com você agora que não está
conosco. Não pode estar familiarizado com informações confidenciais.
O rapaz bufou de seu sofá, confirmando a suspeita de que ele não
estava absorto em seu iPad como fingia estar.
Dirigindo a Sam um olhar que ela não pôde mais uma vez ler, agente
11 se recostou na poltrona.
— Sammy, por que não vem aqui e diz a senhora simpática, o que
você pensa?
O ruivo estava ao seu lado em questão de segundos. Cruzando seus
braços sobre o peito, o jovem empoleirou-se no braço da poltrona do agente
11. Quase perdendo o equilíbrio, Sam agarrou o ombro do agente, e
perscrutou Rachel com olhos verdes brilhantes.
— Olhe, a menos que você possa magicamente me fazer desaprender
as informações confidenciais que já aprendi antes de me demitir do MI6, qual é
o ponto? Não é mais inteligente manter-me onde possa ter um olho em mim,
em vez de me deixar ir e vender a sua preciosa informação para outra pessoa?
Rachel franziu os lábios e olhou para o agente 11, mas ele não
parecia incomodado pela insolência do rapaz. Na verdade, também não parecia
incomodado que o rapaz ainda não tivesse retirado a mão do seu ombro.
Rachel olhou de um para o outro, curiosamente, tentando adivinhar
que tipo de relação eles tinham. Ela sempre se orgulhou de ler bem as
pessoas, mas agora estava confusa. Que o agente 11 e Sam Landon não
tinham linguagem corporal de amigos; isso ela tinha certeza.
Além disso, não tinha de mais nada. Enquanto ela não pensou que
eles fossem amantes, - a relutância do agente 11, quando se tratava de
seduzir homens era bem conhecida - havia algo ali, algo que ela não podia
colocar o dedo.
Por um lado, o agente 11 não parecia tão à vontade com alguém
invadindo seu espaço pessoal. Rachel admirava a habilidade de Dominic
Bommer de não mostrar emoções, mas mesmo ele não conseguia apagar
completamente a tensão, pouco perceptível em seus músculos, sempre que
alguém chegava perto dele - tensão que não estava lá agora.
Que estranho.
Era interessante que a guarda do agente estivesse baixa. Ele parecia
considerar o ruivo como... Algo seguro? Talvez algo incluído na sua bolha
pessoal? Como uma extensão dele.
Mais e mais curioso.
— Talvez. — Rachel concedeu. — Mas as regras existem por um
motivo. — Ela olhou para o agente 11 firmemente. — Está explicitamente
indicado em seu contrato que só pode falar sobre seu trabalho com seu
cônjuge, ou seus parentes designados, se você não tem um. Então é isso.
Receio que Sam não possa viver com você. Isso criaria um precedente ruim
para outros agentes. — Só pensar nisso lhe dava dor de cabeça. Ela estaria
lidando com todas as queixas e demandas de outros agentes, se deixasse o
agente 11 se safar desta.
Rachel fingiu não ver a expressão de Sam cair quando percebeu que
ela não estava cedendo. No interior, estremeceu. Ela não era cruel. Sabia que
o garoto nunca teve uma casa, e agora estava tirando sua casa novamente.
Sentiu pena dele. Mas regras são regras, e ela não se tornara chefe do RH do
MI6 por ser mole.
— Tudo bem. — Disse o agente 11. — Vou preencher a papelada
necessária amanhã.
Ela piscou.
— Perdão?
Agente 11 levantou-se.
— Vou colocar Sam como meu parente designado.
Levou todo o seu considerável autocontrole para se impedir de ficar
de boca aberta.
Rachel disse lentamente:
— Quer que este garoto seja a pessoa tomando decisões relativas à
sua saúde, se você estiver incapacitado? — Para um agente ativo, essa era
uma preocupação legítima, então esse era um incrível show de confiança.
Agente 11 deu-lhe um olhar sereno.
— Sim, estou ciente do que parentes designados são.
— Bem. — Ela disse, ficando de pé e olhando para o rapaz, que tinha
uma expressão estranha no rosto. — Suponho que é seu direito escolher quem
quiser. Vou embora. — Ela caminhou em direção à porta, seus passos
ressoando no meio do silêncio que caiu sobre a sala. — A propósito. — Ela
disse, parando com a mão na maçaneta da porta. — Amanda quer um relatório
sobre a missão Whitford.
O agente 11 deu um aceno decidido de cabeça, enquanto Sam olhou
para baixo.
Rachel saiu, se sentindo mais confusa do que em anos.
O que estava acontecendo entre esses dois?

*****
Quando a porta fechou atrás de Rachel, Sammy disse em voz baixa,
sem olhar para Dominic:
— Não precisa fazer isso, sabe. Eu posso morar em outro lugar. Não
quero que sinta que tem de...
— Eu não diria isso a ela se não quisesse. — Disse Dominic,
encolhendo os ombros. — Não há ninguém que eu confie mais do que você, de
qualquer forma.
Com os olhos brilhantes, Sammy sorriu, atirou-se para frente e o
abraçou com força, enterrando seu rosto contra a garganta de Dominic.
Dominic o abraçou de volta.
Ficaram assim por um tempo, no silêncio, enquanto Sammy agarrou-
se a ele como uma criança pequena, sua respiração instável e irregular,
enquanto Dominic fingia não notar a umidade em seu pescoço.
Quando Sammy levantou a cabeça, poucos minutos depois, parecia
mais composto.
— Obrigado, Nick. — Ele disse com voz rouca. — Estou... Estou
honrado que você confie em mim tanto assim. Eu... — Ele engoliu e sorriu. —
Confio em você mais que ninguém, também.
Dominic retornou o sorriso.
— Bom saber. — Ele disse secamente. — Agora que estabelecemos a
confiança mútua, acho que posso parar de esconder as joias de família debaixo
da minha cama.
Sammy riu, seus olhos verdes brilhando com alegria.
— Joias de família, hein? — Ele disse, seus braços ainda em torno de
Dominic. — Elas são valiosas?
Dominic fez um som afirmativo, o peito apertado com carinho quando
olhou para o rosto sorridente de Sammy. Foda-se, ele estava tão... Inclinando-
se, beijou Sammy no nariz. Não foi o suficiente. Seu olhar caiu para os lábios
carnudos, e a vontade de esmagá-los com os seus era quase irresistível.
Maldito inferno sangrento.
Dominic recuou às pressas, ruborizado. Jesus, ele não sabia mais o
que se passava com ele quando estava perto de Sammy.
Sabia que gostava de vir para casa para um Sammy com olhos
sonolentos esperando por ele, não importa o quanto era tarde. Sabia que
gostava de cozinhar para os dois, que gostava de ensinar Sammy a cozinhar
sem queimar a casa. Gostava de comprar coisas para Sammy e ver seus lindos
olhos se iluminarem. Gostava de vê-lo nas roupas que tinha comprado para
ele. Gostava de ver Sammy feliz e ser a causa de sua felicidade.
Separadamente, nenhuma dessas coisas era particularmente
estranha. Mas juntas, tinha que admitir que fossem um pouco.
Sem mencionar que, querer beijar Sammy sem ser pedido para era
mais do que apenas um pouco estranho, considerando o fato de que era
hétero, e Sammy parecia genuinamente querer que fossem só amigos.
Nas últimas semanas, desde que tiveram sexo, Sammy foi
perfeitamente afetuoso e amigável, mas havia uma distância quase
imperceptível entre eles que não estava lá antes - distância que incomodava
Dominic mais do que devia.
— Algo errado? — Sammy disse, inclinando sua cabeça.
— Não. — Disse Dominic, virando o rosto e olhando o relógio. —
Acabei de me lembrar que preciso buscar Luke.
Sammy assentiu com a cabeça, sua expressão neutra.
— Como vão as coisas? Vocês ainda não são oficiais?
Dominic o olhou cuidadosamente, mas por mais que tentasse, não viu
sequer um traço de ciúme. Parecia que Sammy estava bem com sua pequena
paixão, que era... Bom. Realmente era.
— Não, estamos apenas namorando casualmente. Ele tem estado
muito ocupado lidando com as consequências da morte do seu pai. Prometi
ajudá-lo a resolver algumas questões, na verdade.
— Que é promissor, não é? — Sammy disse. — E Roman Demidov?
Dominic franziu a testa para o lembrete.
— Está na Suíça. Ainda não fez contato com Luke. Talvez Luke não
tenha nada a ver com a morte do pai, afinal de contas.
Sammy franziu os lábios.
— Ou talvez eles saibam que o MI6 está observando-os.
Dominic encolheu os ombros, pegando as chaves do balcão.
— Não se esqueça de que você tem suas aulas em duas horas.
Sorrindo, Sammy revirou os olhos.
— Sim, pai.
— Eu não sou seu pai. — Dominic disse e quase fez uma careta. A
voz dele tinha saído muito mais dura do que pretendia.
Sammy levantou as sobrancelhas, olhando curiosamente para ele.
— Você está estranho hoje. Apague isso, você tem estado um pouco
estranho há semanas. Tenso.
— Eu tenho um trabalho estressante, Sam. — Dominic disse,
encolhendo os ombros em seu casaco.
Sammy riu.
— Alguém lhe disse o quanto é engenhoso seu jeito de mentir sem
mentir? Sei que você tem um trabalho estressante. Não é a razão pela qual
está estranho. E você nunca me chama de Sam a menos que haja algo.
Dominic ficou dividido entre sentir-se ridiculamente orgulhoso e
consternado que aparentemente era tão fácil de ler, então lhe deu um sorriso
torto.
— Sinto muito. Acho que só preciso transar. Fico muito irritável se
não o fizer. — Era verdade o suficiente, embora ele não soubesse por que
estava dizendo isso a Sammy.
Sabe por que, seu bastardo viscoso.
Dominic ignorou a voz em sua mente, observando a reação de
Sammy.
Os olhos de Sammy se arregalaram, suas narinas dilataram.
— Então ainda não transou com ninguém desde que nós... — Ele
parou, ruborizou e então deu de ombros. — Faz semanas. Você deve procurar
alguém.
Quando Sammy não se ofereceu para chupar seu pau, como estava
esperando, Dominic balançou a cabeça.
— Talvez eu devesse. Não espere por mim.
Sammy já estava olhando seu iPad.
— Ok. — Ele murmurou distraidamente, sem prestar atenção.
Dominic olhou-o por uns momentos e depois saiu.
Ele não bateu a porta, mas chegou perto.

Capítulo 25

Frequentar cursos de recuperação de estudos não era tão assustador


quanto Sam tinha esperado, quando Dominic o convenceu há semanas.
Ninguém ria dele por não saber algo. Todos estavam numa posição
semelhante. Sam não era nem mesmo o garoto mais velho, então não chamou
atenção. Realmente até fez alguns amigos da sua idade, Lisa e Andy. Embora
não tivessem muito em comum, gostou deles. Eles eram tão... Normais.
Fizeram-no sentir-se normal, também. Era um sentimento tão novo,
considerando que fora de ser um sem teto a viver numa mansão em
Kensington.
— Quer uma carona? — Andy disse quando saíram do prédio.
Sam balançou a cabeça.
— Obrigado, mas vou pegar o trem. Ainda não está escuro...
Lisa deu-lhe uma cotovelada discretamente e fez com a boca,
aceite...
Sam piscou, confuso.
Suspirando, exasperadamente, Lisa inclinou-se no seu ouvido e
sussurrou:
— Ele gosta de você, idiota.
Lentamente, Sammy olhou para Andy, que corou imediatamente.
Ah!
Agora que Sam pensou nisso, não podia acreditar como não
percebera. Ele não era exatamente inexperiente. Era só... Não podia imaginar
estar com alguém além de Dominic. E isso era o cerne do problema, não era?
Tinha esquecido que outras pessoas poderiam estar atraídas por ele, e que
poderia ser atraído por outras pessoas. Ele estava obcecado por Dominic.
Com toda a honestidade, Sam sabia que devia começar a olhar para
outros caras. Ele precisava tirar Dominic de sua mente e seu coração. Não
havia nenhum ponto em ficar triste por uma coisa que nunca ia acontecer. Ele
tinha tentado - tentado muito, mas não era fácil. Seu coração se recusou a
ouvir sua mente, não importa quão determinado Sam estava em superar seus
sentimentos por Dominic antes que pudesse fazer algo estúpido... Como dizer
a Dominic que o amava.
Como fizera semanas atrás durante o sexo.
A lembrança fez seu peito apertar. Eu te amo. Tinha escapado
quando gozou, mas graças a Deus suas palavras provavelmente saíram
ininteligíveis para Dominic ouvir claramente. Sam queria dizê-las novamente
depois do sexo, quando seus corpos ainda estavam unidos, com Dominic
respirando pesadamente contra sua pele, ainda se recuperando de seu
orgasmo. Eles pareciam tão perto um do outro naquele momento, e as
palavras quase o sufocaram, querendo sair. Eu te amo, eu te amo, eu te
amo...
Isso o assustou.
De certa forma, ter sexo com Dominic tinha ajudado. Tinha se livrado
da ilusão de que poderia brincar com Dominic sem ficar de coração partido. Ele
teria seu coração quebrado se não fizesse algo.
Alguma coisa como sair com outro cara.
Suprimindo o seu mal-estar, Sam sorriu para Andy, tentando vê-lo
como um namorado em potencial.
Andy não deixava de ser atraente. Tinha rosto bonito, forte, com
belos olhos azuis e cabelo castanho avermelhado. Nunca seria tão
devastadoramente atraente quanto Dominic, mas...
Sam exalou forte, irritado. Dominic não era dele. Dominic nunca seria
verdadeiramente dele. Dominic provavelmente estava fodendo uma mulher
deslumbrante naquele momento.
Sam empurrou o pensamento longe, obrigou-se a sorrir para Andy.
Pelo menos se havia uma coisa que aprendera com Dominic, era como fingir
interesse e atração quando realmente não sentia nada.
Andy sorriu de volta, batendo seus ombros juntos.
— Gosto de você. Então posso lhe dar uma carona?
Antes que Sam pudesse responder, houve o som de um carro
encostando próximo.
Seu estômago fez um pequeno flip-flop quando viu a Mercedes prata.
Odiou que seu mundo parecesse imediatamente resumir-se ao homem saindo
do carro, todos os seus sentidos sintonizando nele.
— Droga. — Disse Lisa. — Muito bom!
— Eu sei... — Sam murmurou antes que pudesse se conter,
ganhando um olhar estranho de Andy.
Andy estava entre ele e o homem se aproximando.
— Você o conhece?
Sammy assentiu com a cabeça, tentando parecer indiferente, quando
disse a Dominic:
— O que faz aqui?
O olhar aguçado de Dominic desviou-se para Andy por um momento
antes de focar nele.
— Meus negócios acabaram antes do esperado. Achei que pudesse
buscá-lo.
— Sam vai de carona comigo. — Disse Andy, pisando mais perto
dele.
Sam franziu a testa, mas antes que pudesse responder, Dominic
disse, muito suavemente:
— Não se incomode, rapaz. Vivemos em Kensington e seria inútil
você conduzir até lá quando sou perfeitamente capaz de levar Sammy para
casa.
— Vocês moram juntos? — Lisa falou admirada.
— Você não disse que não tinha família? — Disse Andy, virando-se
para Sam.
— Ele não tem. — Dominic disse, seu olhar preguiçoso e seu tom
casual, como se não soubesse que estava dando-lhes a impressão errada.
Sam olhou para ele incrédulo e confuso demais para estar zangado.
Sorrindo, Dominic virou-se para Lisa e apertou a mão dela.
— Dominic Bommer.
— Lisa. — Ela disse simplesmente, sorrindo um pouco.
Sam esperava que a expressão em seu rosto não fosse muito azeda.
— Vamos lá, então. — Ele disse, caminhando em direção do carro de
Dominic. — Tchau. — Disse tardiamente, acenando para Lisa e Andy.
Lisa colocou os dedos na orelha como um telefone, e falou com a
boca para ele: Ligue-me.
Andy evitou o seu olhar, sua mandíbula apertada.
Sentindo uma pontada de culpa, Sam acomodou-se no banco do
passageiro e esperou Dominic entrar no banco do motorista.
— O que foi isso? — Sam disse. Não saiu com raiva; ele ainda estava
confuso.
Dominic arrancou com o carro.
— O que quer dizer? Vou levá-lo para casa.
Sam estreitou os olhos.
— Pare de fingir que não entendeu. Você só os fez pensar que somos
um casal. De propósito! Você não faz nada sem querer.
Os olhos de Dominic estavam fixos na estrada.
— Não gostei de como aquele cara estava olhando para você.
Sam piscou.
— Andy? E como ele estava olhando para mim?
Para zombar Dominic torceu os lábios completamente.
— Ele é o típico adolescente sexy à procura de sexo fácil.
Sam olhou para ele.
— Não concordamos que eu deveria sair com alguém da minha
idade?
— Você deveria... — Dominic disse após uma breve pausa. — Mas
esse garoto não era suficientemente bom. É óbvio que ele só quer transar. Ele
não dá a mínima para você.
— E você determinou tudo isso após conhecê-lo por um total de dez
segundos? — Sam disse ironicamente, dando a Dominic um olhar curioso. Se
ele não soubesse, pensaria...
— Eu sou um espião. — Dominic disse serenamente. — Sou treinado
para perceber essas coisas.
Certo. É claro.
Sam franziu os lábios.
— E se tudo que eu também queria era uma boa transa? Andy
serviria muito bem para isso.
Com um músculo pulsando em sua mandíbula Dominic completou:
— Faça o que quiser, então.
Sam suspirou.
— Olhe, obrigado por cuidar de mim, mas posso me cuidar. Não
preciso ser mimado.
A tensão não deixou o corpo de Dominic por completo. Ele não disse
nada.
Sam suspirou novamente, estendendo a mão e apertando o braço de
Dominic.
— Vamos lá, Nick. Não quero que fiquemos bravos um com o outro.
Eu realmente, realmente aprecio que você se importe, mas há uma coisa como
superproteção, sabe?
Dominic permaneceu em silêncio, olhando para frente, mesmo que
eles estivessem presos no trânsito.
— Vamos. — Disse Sam, se aproximando e pressionando sua
bochecha no ombro de Dominic. — Desemburre. Odeio quando fica rabugento.
Você fica distante e gelado, e não tem permissão para ser distante e gelado
comigo.
— Pirralho. — Dominic disse com um grunhido. — Estraguei você
demais.
Sorrindo, Sam pressionou seus lábios na bochecha áspera de
Dominic.
— Adoro ser mimado por você. — Ele sussurrou, corando. Adorava a
atenção e o cuidado que Dominic tinha com ele. — Isso, vamos nos beijar e
fazer as pazes?
Dominic virou a cabeça e beijou-lhe com força, um beijo molhado,
profundo e de língua.
Acabou tão de repente quanto começou.
Com a respiração instável, Sam olhou confuso para Dominic, quando
o outro homem olhou para o carro da frente, que finalmente começou a se
mover. Dominic parecia calmo e sereno, mas Sam sabia que com Dominic não
significava nada.
— O que foi isso? — Sam, finalmente, disse com uma risada, tocando
seu lábios úmidos e trêmulos.
— Fiz o que pediu. — Dominic disse rigidamente, sem olhar para ele.
— Beijar e fazer as pazes.
Sam deu-lhe um olhar incrédulo, mas escolheu não exprimir sua
descrença. Não falou com Dominic pelo resto da viagem.
Ele tinha muito que pensar.
E planejar.

Capítulo 26

Naquela noite, deitado na sua cama macia, Sam cuidadosamente


considerou suas opções.
Por um lado, nunca foi de desistir de alguma coisa que queria sem
uma luta. Se houvesse uma pequena chance de Dominic na verdade o querer -
além de Sammy é muito gostoso, então por que não? - Sam se culparia se não
lutasse por essa oportunidade.
Por outro lado, não queria estragar o relacionamento deles, só porque
era muito impaciente para obter mais informações, e não havia nada mais
importante para ele do que sua relação com Dominic. Finalmente conhecia
uma pessoa que adorava, e que também se preocupava com ele. Finalmente
tinha um lar, e Sam não quis dizer esta casa, não importa o quanto era boa.
Iria viver feliz com Dominic numa cabana se ele o amasse.
Mesmo admitir na sua mente o deixou nervoso. Não porque pensou
que Dominic o colocaria para fora se descobrisse que Sam estava apaixonado
por ele, depois que Dominic o fizera seu parente designado, Sam se sentia
seguro o suficiente sobre sua relação para saber que Nick não faria isso; mas
porque uma grande parte dele tinha certeza de que Dominic nunca o amaria de
volta, e que estava fadado a sofrer.
Mas talvez Dominic pudesse amá-lo.
Esse pensamento tentador era tudo no que conseguia pensar depois
que Dominic o beijou. Pensar sobre a possibilidade enviou arrepios de calor por
seu corpo.
Ele faria qualquer coisa pelo amor de Dominic.
Mas antes que pudesse agir, precisava saber com certeza que
Dominic realmente o queria.
Havia muita coisa em risco.

*****
Na noite seguinte, Sam voltou de suas aulas mais cedo que o
habitual. Embora já fossem nove horas, Dominic não estava em casa ainda.
Normalmente ficava preocupado quando Dominic trabalhava até mais tarde -
mas naquele dia isso lhe convinha muito bem.
Sam pediu pizza, tomou um banho e depois foi para o quarto de
Dominic. Abrindo o guarda-roupa, examinou seu conteúdo. Balançando a
cabeça com carinho com a quantidade de ternos caros - quase todos iguais -
Sam encontrou uma camisa verde que esperava não custasse centenas de
libras e a colocou. Era muito macia e cheirava fracamente a Dominic.
Sam sorriu para seu reflexo. A cor realçou seus olhos. Embora não
fosse muito mais baixo do que Dominic, não tinha seus ombros e peitorais,
assim a camiseta parecia bem grande nele, caindo logo abaixo de suas coxas.
Era o comprimento perfeito, não muito curto para parecer indecente, mas
curta o suficiente para acentuar suas pernas. Suas pernas eram sua melhor
característica na opinião de Sam, e ele não era tímido em explorá-las. Nem
para explorar o fato de que Dominic gostava de vê-lo em suas roupas. Dominic
não era óbvio a respeito disso, mas sempre o tocava mais quando Sam usava
suas roupas. Isso tinha que significar alguma coisa, certo?
Mordendo os lábios algumas vezes para torná-los mais vermelhos, e
correndo a mão pelo cabelo, Sam acenou para seu reflexo, satisfeito com a
aparência. Com certeza transaria com ele mesmo. Se Dominic não o
quisesse... Bem, pelo menos assim saberia com certeza que não tinha chance
com Dominic e pararia de esperar o impossível, desta vez para sempre.
Sam foi para a sala de estar na hora de abrir a porta para o
entregador de pizza. Depois de pagar pela pizza e colocar na mesa do café,
ligou a TV e esticou-se no sofá. Dominic mandou-lhe uma mensagem que
estaria em casa logo. Agora tudo o que tinha que fazer era esperar.
Não teve que esperar por muito tempo.
Cinco minutos mais tarde, a porta abriu e Dominic entrou. Soltando a
pasta na porta, encolheu os ombros fora de sua jaqueta com um suspiro.
— Estou velho demais para isso. — Ele disse, atirando-se no espaço
ao lado das pernas de Sam e deixando a cabeça cair no estômago dele.
Sam tentou ignorar o frio no estômago, e analisou o comportamento
do outro homem. Havia outro sofá perfeitamente confortável na sala, mas
Dominic escolheu o de Sam. Isso tinha que significar alguma coisa, certo?
— Coitadinho. — Murmurou Sam, enfiando os dedos pelo cabelo de
Dominic e massageando o couro cabeludo. — Como foi seu dia?
— Chato. — Disse Dominic, fazendo carinho no estômago de Sam. —
É a minha camisa?
— Era.
Dominic bufou suavemente.
— Pensei que compramos roupas o bastante para você parar de
roubar as minhas.
— Mentira. — Sam disse com um sorriso. — Você me comprou roupas
porque gosta de me comprar coisas.
— Culpado das acusações. — Murmurou Dominic, fechando os olhos.
— Vai dormir em mim?
— Provavelmente.
— Tem pizza.
— Hmm, tentador, mas não o suficiente para me fazer levantar.
Sam estava feliz que Dominic não pudesse ver o olhar apaixonado no
seu rosto.
— Acho que deveria deixar seu trabalho se te desgasta tanto.
— Qual deles? — Dominic disse com um suspiro, mergulhando mais
fundo no estômago de Sam, as mãos grandes fixando-se nas coxas suas nuas.
Sam se encolheu, desesperadamente tentando pensar em algo
nojento. Tesão era a última coisa que ele precisava agora. À noite não ia
exatamente como tinha imaginado. Enquanto Dominic o estava tocando, nem
parecia notar o que estava fazendo; estava claramente apenas confortável
com ele.
Sam esperava... Não sabia o que esperava. Que Dominic de repente
percebesse que estava muito sexy e saltasse nos seus ossos? Estúpido.
— Falando do meu trabalho... — Murmurou Dominic, suas palavras
abafadas pela camisa de Sam. — Estou indo numa viagem de negócios para
Tóquio. Vou amanhã de manhã.
As sobrancelhas de Sam se ergueram.
— Quanto tempo vai ficar fora?
— Uma semana.
Sam franziu os lábios, ficando infeliz, seu estômago apertando. Uma
semana sem Dominic parecia ser uma vida inteira.
— Uma semana? — Ele repetiu.
Dominic soltou um suspiro.
— Não é o ideal, mas não há nada que eu possa fazer. As
negociações são importantes demais para mandar outra pessoa. A missão vai
ter que esperar. O MI6 vai vigiar Luke enquanto estou fora.
E quanto a mim?
Sam mordeu o interior da bochecha, engolindo as palavras mal-
humoradas. Ele se recusou a ser pegajoso. Não seria pegajoso. Ele não queria.
— Eu poderia levá-lo comigo. — Dominic disse como se ouvindo seus
pensamentos. — Adoraria o Japão.
Aquecido pelas palavras de Dominic, Sam sorriu e separou mais as
pernas para acomodar os ombros de Dominic. Sua posição provavelmente
parecia muito obscena. Para um observador desprevenido, provavelmente
pareceria que Dominic estava lhe dando um boquete.
O pau dele contorceu-se com o pensamento.
— Você já esteve no Japão antes?
— Sim, algumas vezes. — O polegar de Dominic traçou a coxa de
Sam ociosamente. — Tive uma longa missão lá. Boa cultura... Muito
interessante. E as pessoas. Gostei do povo.
— Parece que há uma história aí. — Disse Sam.
Dominic não disse nada por alguns instantes.
— Havia uma mulher... — Ele disse, sua voz um pouco vazia e
melancólica. — Eu me apaixonei por ela.
O sorriso de Sam desvaneceu-se.
— Obviamente, não deu certo. Relacionamentos à distância
raramente fazem. Mas... — Dominic se interrompeu.
Sam se contorceu debaixo de Dominic e levantou.
— A pizza está esfriando!
Agora ele entendia por que as pessoas se diziam esmagadas ante a
decepção e tristeza; parecia um peso em seu peito, nos pulmões, forte e
avassalador, tornando difícil respirar.
Não pôde encontrar os olhos de Dominic pelo resto da noite, não
querendo que Dominic visse o quanto doeu. Não é como se tivesse esquecido
que Dominic era hétero - nunca esquecera, mas...
Talvez tivesse, afinal. Nunca viu Dominic com uma mulher que
estivesse realmente interessado. Lembrar-se da sexualidade de Dominic foi
como um soco no estômago. E pensar que realmente alimentara o pensamento
de que Dominic podia querê-lo... Parecia tão patético e ridículo agora.
Dominic ainda estava apaixonado por aquela mulher? Iria vê-la
enquanto estava no Japão?
As perguntas permaneceram na ponta da sua língua pelo resto da
noite, mas nunca deixaram seus lábios. Covarde. Estava sendo um covarde.
Não importava se Dominic amava uma mulher ou não. Ele certamente não o
amava.
Então Sam usou tudo que aprendera no MI6 e colocou um sorriso nos
lábios, um sorriso que não conseguia sentir. Ele brincou, sorriu, e até riu. Se
Dominic notou algo, não comentou.
A noite foi... Tolerável. Mesmo que seu patético plano de sedução foi
um fracasso total, não ia reclamar de uma noite que passara com Dominic.
Mendigos não podem escolher. Sammy pensou amargamente,
afastando sua decepção, e jurando a si mesmo que seria a última vez que teria
esperanças quando se tratava de Dominic.
Homens heterossexuais não se tornam gays na vida real.
Pelo menos não para alguém como Sam.

Capítulo 27

Dominic voltou ao quarto do hotel muito tarde depois de um longo


dia de negociações, apenas para receber uma ligação da sede. Que forma
perfeita de acabar um dia de merda.
Fez sua varredura habitual do quarto, verificando todas as superfícies
e olhando debaixo da cama, antes de finalmente atender a chamada.
— Roman Demidov teve uma reunião com Luke Whitford ontem à
noite. — Amanda informou, sem se preocupar com as simpatias sociais. — Não
fomos capazes de ouvir sua conversa, porque parece que Demidov tinha um
bloqueador com ele. Talvez suspeite do nosso envolvimento. Talvez seu
disfarce foi descoberto.
— E talvez seja uma precaução normal para ele. — Disse Dominic, seu
tom tão frio quanto o dela. — Pessoas como Demidov são muito inteligentes
para serem pegas assim.
— Talvez. — Admitiu ela. — No entanto, finalmente temos um contato
entre Demidov e Luke Whitford, mas você não está disponível porque tem uma
reunião de negócios no Japão. Você ainda se lembra do seu trabalho principal,
agente?
Dominic apertou os lábios juntos.
— Sou um chefe de departamento da maior empresa financeira do
país, senhora. Fazer meu trabalho pela metade não é uma opção. A não ser
estar no meu leito de morte, não havia nenhuma maneira de evitar de
participar dessa reunião quando o potencial acordo vale bilhões. Isso teria
acabado com meu disfarce.
— Você não deveria ter aceitado a promoção para chefe de
departamento, então. — Disse Amanda. — Era para ser um disfarce fácil para
você. Não era para comprometer sua disponibilidade para missões. Você é,
antes de tudo, um agente MI6 e um empresário em segundo lugar, e não o
contrário.
— Estou ciente, senhora. — Disse Dominic, irritado. — Isso é tudo?
Amanda terminou a ligação.
Dominic resistiu ao desejo de jogar algo.
Puta merda.
Desabotoou a camisa e deixou-se cair na cama, alongando os
músculos rígidos.
Estava ciente de que ultimamente o malabarismo entre seus
empregos se tornava cada vez mais difícil.
Talvez Sammy estivesse certo e ele devesse sair.
Dominic suspirou.
Sammy.
Estava no Japão há cinco dias e o menino estava constantemente em
sua mente, causando uma sensação vaga e insatisfeita que não desapareceria,
independentemente do que ele fizesse, como uma coceira persistente sob sua
pele.
Perguntou-se o que Sammy estaria fazendo agora. Era um pouco
depois do meio dia em Londres. Deveria estar em casa.
Perdendo a luta consigo mesmo, Dominic alcançou seu telefone.
Sammy respondeu no segundo toque.
— Ei! — Ele disse, sua voz quente, brilhante e alegre. Feliz por ouvi-
lo.
Dominic encontrou-se sorrindo, seus ombros perdendo a tensão pela
primeira vez naquele dia.
— Oi.
— Você parece cansado.
— Um pouco. — Dominic admitiu, fechando os olhos. Se ativasse sua
imaginação, quase podia se enganar pensando que Sammy estava perto o
suficiente para tocar. — Como estão seus estudos?
— Você realmente quer que eu fale sobre isso? É muito chato.
— Realmente não me importo com o que você fala. — Admitiu
Dominic. — Apenas fale comigo. Você pode recitar uma lista de compras se
quiser.
Sammy fez um barulho simpático.
— As negociações vão tão mal?
— Não é nada que não esperava. Mas sim, foi um longo dia. — E tudo
o que quero agora é você.
Felizmente, Sammy não o questionou e começou a falar sobre tudo e
nada: o cachorrinho que aparentemente apareceu em seu bairro, o novo jogo
de videogame que acabou de sair, suas aulas, o filme que ele vira com seus
amigos, e de repente foi ficando quieto.
— Nick? — Sammy disse, hesitante.
— Hum?
— Tive um encontro com Andy ontem à noite.
Os olhos de Dominic se abriram.
— O quê?
— Eu deveria sair com amigos da minha idade. — Sammy disse,
quase desafiadoramente. — E Andy realmente gosta de mim.
Os lábios de Dominic se curvaram numa linha fina.
— E você? Gosta dele?
— Ele é bonito e engraçado. E não tem mau hálito.
Dominic olhou para o teto.
— Você quer dizer que ele te beijou.
— Bem... — Disse Sammy. — Sim. Isso geralmente ocorre quando
adolescentes vão em um encontro.
Normalmente, Dominic riria de sua resposta atrevida, mas no
momento, rir era a última coisa em sua mente.
— Você gostou?
— Hum... — Disse Sammy. — Foi bom, acho.
— Tão bom quanto quando eu te beijo?
O que diabos você está fazendo? Uma voz grunhiu no fundo de sua
mente, mas Dominic estava além de ser razoável. Queria ouvir Sammy - seu
Sammy, droga - confirmar que era dele, de Dominic e de mais ninguém.
Podia ouvir Sammy respirar de modo irregular.
— Por que você está perguntando isso? O que importa para você?
Dominic teve que relaxar conscientemente a mandíbula.
Sim, o que isso importa para ele?
Sammy tinha dezoito anos. Não era uma criança. É normal que beije
e faça sexo com pessoas de sua idade. Com essa idade, Dominic transava
todos os dias.
Não era da conta dele quem Sammy fodia. Dominic era apenas o...
Quem exatamente ele era para Sammy? Apenas um homem mais velho com
quem ele morava. Um amigo. E nada mais. Não era dono do garoto e essa
possessividade estranha era grosseira.
— Perguntei por que me importo com você. — Disse Dominic,
dolorosamente consciente de quão inadequada isso soou.
Sammy zombou.
— Também me preocupo com você, mas não faço perguntas tão
intrusivas sobre sua vida pessoal.
— Você pode perguntar o que quiser. — Dominic disse irritado. — Não
tenho nada a esconder.
Houve silêncio na linha.
Sam limpou a garganta.
— Então, você a viu?
— Quem?
— A japonesa que você costumava ver.
Dominic estreitou os olhos, infeliz com a mudança de assunto.
— Asami? Sim, na verdade.
Almoçaram juntos dois dias atrás. A separação deles fora amigável o
suficiente, então o encontro não era constrangedor. Apenas estranho. Era
estranho ver a mulher que ele amou e sentir... Praticamente nada.
E ele realmente era apaixonado por ela. Dominic podia lembrar a
paixão instantânea, o fascínio, a luxúria, a resposta da atração em seus olhos
escuros. Ela não era um alvo, mas trabalhava para a empresa em que se
infiltrou para encontrar ciberterroristas que pretendiam anexar malware ao
enorme jogo de vídeo online que a empresa estava desenvolvendo. O ligeiro
conflito de interesses não o impediu de fazer seu trabalho e ele completou com
sucesso sua missão, apesar de ficar completamente distraído por uma bela
mulher em sua cama.
Claro, Asami finalmente descobriu que o designer gráfico americano
por quem ela se apaixonou era realmente um oficial da Inteligência Britânica.
Terminaram porque ele não estava disposto a deixar o MI6 e se mudar para o
Japão, nem mesmo por ela. Asami não ficou zangada quando lhe disse isso.
Não era o estilo dela. Ela se aproximou, puxou a cabeça para perto e beijou-o.
— Sabe onde me encontrar quando se cansar de bancar James Bond.
— Disse antes de sair da sua vida.
No fundo, ele pensou que ela estava certa e que, eventualmente, eles
reavivariam sua relação.
Mas dois dias atrás, quando se sentou em frente a ela no restaurante
que frequentavam, Dominic percebeu que não podia imaginar estar com ela.
Os sentimentos desapareceram. Não restava mais nada além de uma atração
superficial por uma mulher bonita e inteligente. Ela não mudou nos três anos
desde que a viu pela última vez - ainda pequena e bonita, seu rosto em forma
de coração tão deslumbrante quanto se lembrava - mas sua risada já não
aquecia seu peito e a curva de seus lábios não fazia seu coração bater mais
rápido. Foi estranho, porque não se lembrava de ter deixado de amá-la.
— Você não está voltando, está? — Disse Asami calmamente, seus
olhos doces enganosamente suaves.
Ele podia ver o arrependimento e a nostalgia em seu olhar, mas ela
não pareceu ficar com o coração partido. Uma parte dela tinha claramente
seguido em frente.
Assim como ele, sem perceber.
— Oh! — Sammy disse, puxando-o para o presente. — Foi... Foi como
você esperava?
Dominic não sabia como responder a isso. Esperava que quando a
reencontrasse, se sentisse tão apaixonado por ela quanto já fora uma vez, e
isso bagunçasse ainda mais toda a confusão de emoções que estava vivendo.
Então, em certo sentido, seu encontro com Asami foi uma grande decepção.
Mas, supôs que foi bom vê-la e pôr um fim.
— Foi bom. — Disse com uma voz cortada, ainda irritado com a
mudança de assunto. Não havia terminado de falar sobre o encontro de
Sammy com aquele garoto cheio de espinhas. Apenas pensar nos lábios de
Andy nos de Sammy, na língua de Andy na doce boca dele, o fizeram querer
bater em algo. Ou matar alguém.
— Você está voltando, certo? — Sam deixou escapar.
O quê?
— Claro. — Dominic disse devagar, desejando poder ver o rosto de
Sam. — O que lhe deu a ideia de que não voltaria?
Sammy não disse nada.
Dominic sentiu seu coração acelerar quando algo lhe ocorreu.
— Você sentiu a minha falta?
Podia ouvir Sammy inalar trêmulo.
Por um longo tempo, houve apenas silêncio. Tudo o que Dominic
podia ouvir era o som da respiração de Sammy. Sentia-se incrivelmente
íntimo, como se não estivessem separados por meio mundo.
Ele fechou os olhos e pensou em sua última noite juntos, lembrando
como se sentiu ao repousar com o rosto pressionado contra a barriga de
Sammy através da camisa que ele usava - a camisa de Dominic - e ainda podia
sentir seu corpo doer com a simples intimidade e perfeição. Lembrou-se da
suavidade sedosa das coxas de Sammy contra suas mãos enquanto se
separavam para acomodar Dominic entre suas pernas.
— Você sente minha falta? — Perguntou novamente, sua voz rouca e
mal reconhecível.
— Sim. — Sammy sussurrou por fim. — Sinto muito sua falta.
Droga.
Dominic sentiu sua mão se mover para seu pau, que já estava meio
duro por razões que não queria pensar. Acariciou-se lentamente por cima de
sua calça.
— Dormi em sua cama ontem à noite. — Murmurou Sammy, sua voz
vacilante. — Espero que esteja tudo bem.
— Você sabe que está. — Dominic disse, abrindo a fivela do cinto e
depois o zíper. Seu pau gostou da ideia de Sammy dormir em sua cama, com o
cheiro dele nos lençóis. — Você está vestindo minha roupa novamente? — Ele
disse antes que pudesse se parar.
— Sim. — Admitiu Sammy, parecendo envergonhado. — Vou lavá-las
antes de retornar.
— Não se preocupe. — Dominic disse e mordeu o lábio com força,
pegando seu pau. Queria saber se poderia se convencer de que não estava se
masturbando ao ouvir o som da voz de Sammy, mas mesmo ele não
conseguiria mentir tão bem assim. — Você sabe que pode usar alguma das
minhas roupas.
Quero lhe dar tudo o que quiser. Quero cuidar de você, vou cuidar
tão bem de você.
Mal segurou as palavras.
Sammy fez um pequeno e estrangulado tipo de barulho que foi direto
ao seu pênis. Dominic apertou seu pau mais forte, acariciando suas bolas com
a outra mão, imaginando como Sammy estava agora: corado e um pouco
envergonhado, mas também satisfeito e excitado, usando a roupa de Dominic
porque sentia a sua falta.
Não precisava perguntar se Sammy estava se tocando ou não; ele
sabia. Conhecia os pequenos ruídos que Sammy fazia e a forma como a
respiração dele ficava instável enquanto se masturbava.
Não podia perguntar, de qualquer maneira. Desta forma, ambos
podiam fingir que não estavam fazendo o que estavam fazendo. No entanto,
Sammy provavelmente não tinha ideia de que Dominic também estava se
masturbando - ao som de sua respiração.
Cristo. Que tipo de pervertido se tornou? Isso era loucura.
Absolutamente insano.

*****
Na manhã seguinte, Dominic estava com um péssimo humor depois
de uma longa noite de exame de consciência, e seu humor não melhorou em
nada pelo fato de ter um encontro via Skype agendado com Luke no início da
manhã.
Colocar a máscara de um cara simpático e agradável não era fácil
quando estava com um humor de merda.
Mas é claro que faria isso. Não era como se tivesse uma escolha.
Sorriu, flertou e provocou Luke, sua postura relaxada e seus olhos
fixos em Luke atentamente, mesmo que sua mente estivesse preocupada com
outras coisas.
Mas quando Luke trouxe o nome de Sam, a atenção total de Dominic
foi para ele.
— Eu me confundi com o encontro marcado e fui a sua casa esta
tarde. — Disse Luke. — Conheci Sam.
Dominic lutou para manter sua postura relaxada inalterada. Seu
sangue esfriou, seus instintos protetores entraram. Por fora, sorriu, fazendo
uma cara de surpresa.
— Você conheceu Sammy? Ele não disse nada sobre isso quando
conversamos.
— Sim. — Disse Luke. — Você não mencionou que não vivia sozinho.
Dominic olhou-o cuidadosamente. Embora tivesse se inclinado a
pensar que Luke era um cara bom, o encontro de Luke com Roman Demidov
provou que ele não era tão inocente quanto aparentava.
— Não mencionei porque não era fácil de explicar. Algumas pessoas
entenderiam de maneira errada.
Luke deu um sorriso torto.
— Gosto de pensar que não sou apenas algumas pessoas.
Luke Whitford era um cara interessante. Flertava facilmente, mas
Dominic não acreditava que havia uma intenção seria por trás do flerte.
Enquanto Luke parecia atraído por ele num nível superficial, não ia além disso.
Era curioso. Para não soar presunçoso, mas Luke foi a primeira
pessoa em sua carreira que estava se mostrando difícil de encantar. Isso fez
com que se perguntasse se Luke tinha sentimentos por outra pessoa. Para o
bem de Luke, esperava que esse alguém não fosse Roman Demidov.
— Espero que você não seja. — Disse Dominic, olhando para Luke
através de olhos pesados e olhando para os lábios dele. — Eu gosto do cabelo,
por sinal. Nem sabia que o seu era tão encaracolado.
Esperava que o desejo em seu olhar parecesse sincero o suficiente.
— Quando conheci Sam... — Dominic começou; voltando o olhar para
os olhos de Luke. — Ele era um garoto sem moradia e meio faminto. Levei-o
para casa. Dei-lhe uma casa. — Encolheu os ombros. — Praticamente é isso.
— Oh! — Luke disse, parecendo surpreso. — Isso é... Extremamente
gentil.
Dominic balançou a cabeça.
— Na verdade, não. Você teria feito a mesma coisa se o tivesse visto
naquela época.
— Você disse que algumas pessoas pensariam errado. Por quê?
Dominic pensou rapidamente, considerando e descartando suas
opções. Precisava fazer com que Luke acreditasse que via Sammy como uma
criança, não um objeto de atração.
— Porque as pessoas têm lixo em suas mentes. Sim, sei que parece
estranho. Ele mora comigo, sou aberto sobre minha sexualidade, e sou muito
mais velho do que ele. Não somos parentes, ainda assim paguei por sua
educação, pago por tudo, então, claro, as pessoas começam a assumir alguma
besteira. Sammy é hétero, é uma criança, e não sou um maldito pedófilo, mas
algumas pessoas ainda pensam que sou seu papai de açúcar. — Dominic riu,
como se fosse a coisa mais ridícula que já ouviu.
Luke não riu com ele.
— Você tem certeza de que não é? — Ele murmurou. — Se entendo
bem, um relacionamento papai/bebê de açúcar não é necessariamente sexual.
Dominic sentiu seu sorriso desaparecer. Ele não gostou do que Luke
estava dizendo. Não o incomodava quando Sammy fazia piadas sobre ser seu
bebê, mas o aborreceu que Luke estava implicando que seu relacionamento
era um arranjo mutuamente benéfico baseado em dinheiro.
— Eu tenho certeza. — Disse Dominic, mais incisivo do que pretendia.
— Sam não fica comigo por causa do meu dinheiro. Sou sua família. —
Gostava de gastar seu dinheiro com Sammy e sabia que ele gostava
secretamente de todos os mimos e atenção, mas não era somente sobre
dinheiro. Isso Dominic tinha certeza. O dinheiro não era o ponto.
— Desculpe. — Disse Luke, parecendo um pouco desconcertado. —
Estou perguntando apenas porque ele não parecia feliz em me ver. Ele
pareceu... Um pouco ameaçado.
Dominic suspirou, passando a mão pelo rosto.
— Sammy é inseguro. Acha que vou me livrar dele quando começar
minha própria família. — Olhou Luke nos olhos. — Ele está errado. Ele não vai
a lugar algum, não importa o que alguém pense. — Mais uma vez, sua voz saiu
mais dura do que deveria. Droga. Esta... Coisa estava comprometendo sua
missão. Dominic tentou suavizar. — É uma criança que precisa de uma casa.
Não tem ninguém mais além de mim.
Luke assentiu, mas ainda parecia um pouco reservado pelo resto da
conversa.
Assim que a ligação terminou, Dominic praguejou. Precisava fazer
algo sobre o problema de Sammy antes que isso estrague completamente a
missão. O que diabos havia de errado com ele? Se Amanda ouvisse essa
conversa, teria suas bolas e ela estaria absolutamente certa. Nada já o fez
perder a compostura dessa maneira durante uma missão.
Até Sammy.
Sammy, Sammy, Sammy. Droga. Ultimamente era somente nisso
que pensava.
As coisas não poderiam continuar assim.
Capítulo 28

Dominic nunca fora impaciente para chegar em casa. Sempre morou


sozinho e nunca havia ninguém esperando por ele em casa quando voltava de
suas viagens de trabalho. Então a impaciência transbordando em sua pele,
enquanto estava sentado no táxi, era um sentimento muito estranho. Parecia
que algo estava rastejando sobre ele e se pegou tamborilando os dedos sobre
o assento da cabine.
Finalmente, o táxi chegou. Depois de pagar o motorista e pegar sua
mala, saiu do carro, seu coração disparou em seu peito quando viu Sammy
correndo em sua direção.
— Nick!
Dominic tirou os óculos escuros e sorriu, abrindo os braços quando
Sam colidiu com ele. Dominic abraçou-o com força, enterrando o rosto no
pescoço do garoto. Porra. A sensação...
Percebendo um movimento em sua visão periférica - Luke Whitford
estava na varanda, observando-os - Dominic ficou tenso, momentaneamente
irritado e com raiva por não poder ser ele mesmo em sua própria casa. Ele se
perguntaria como conseguiu perder Luke ou seu carro, mas estava bem ciente
de que tinha algo parecido com visão de túnel quando se tratava de Sammy.
Não parecia o jeito de Luke, fingir não vê-lo.
Respirando fundo, assumiu o papel do Dominic Bommer que Luke
conhecia - aquele que era um homem gentil, que havia dado um lar a um
garoto sem teto, por bondade de seu coração.
— Ok, deixe-me olhar para você. — Disse Dominic, recuando para
olhar para Sammy. — Você cresceu mais um centímetro em uma
semana? Neste ritmo, estará mais alto que eu em breve.
Mas Sammy não parecia perceber que deveria desempenhar um
papel, seus olhos verdes encaravam Dominic avidamente.
— Senti sua falta. — Ele deixou escapar, apertando os braços em
torno de Dominic novamente e sussurrou, quase sem som, se agarrando a
ele. — Leve-me com você na próxima vez.
Engolindo a tensão súbita em sua garganta, Dominic sorriu e o
abraçou de volta, deixando um beijo no topo da cabeça do garoto.
— Eu também senti, Sammy. — Disse, tentando manter a voz leve e
divertida para benefício de Luke. Tinha a sensação de que não foi totalmente
bem-sucedido.
Olhou na direção de Luke, fingindo notá-lo agora. Sorriu para ele
por cima do ombro de Sam.
Luke deu-lhe um sorriso fraco.
— Oi.
Relutantemente, Dominic soltou o garoto em seus braços e caminhou
na direção de Luke.
— Oi. Estava planejando ligar para você. Não esperava que me
encontrasse aqui. Não que esteja infeliz em te ver. — Agudamente ciente do
olhar de Sammy em suas costas, se inclinou para roçar os lábios de Luke com
os seus, mas Luke virou a cabeça para que o beijo pousasse em sua
bochecha. Dominic se afastou, estudando o outro homem com uma careta. —
Tudo bem?
Luke cruzou os braços sobre o peito.
— Eu... Eu não acho que quero ser seu namorado.
Dominic podia contar em seus dedos o número de vezes que ficou tão
surpreso.
— Posso perguntar por quê? — Ele disse.
Empurrando sua franja de seus olhos, Luke deu de ombros, algo
parecido com desconforto em sua expressão.
— Eu só... Tive minha parte ruim de relacionamentos. Meu primeiro
namorado acabou por ser casado e com crianças. Meu segundo me abandonou
por alguém mais excêntrico, quando me recusei a fazer algumas das coisas
que queria fazer. O terceiro surtou e me abandonou quando disse a ele que
realmente não fazia casual e queria uma família em algum momento. O quarto
surtou quando descobriu quem era meu pai. — Ele deu a Dominic um sorriso
irônico. — E meu pai sempre teve coisas mais importantes a fazer do que ser
um pai para mim. Provavelmente entende agora.
Dominic olhou para ele. Embora tenha pesquisado o passado de Luke
Whitford extensivamente, não tinha percebido o quão profundamente esse
desejo de compromisso era.
— Quer um homem completamente comprometido com você.
— Quero um homem que vai ouvir meus pensamentos, um homem
que me colocará em primeiro lugar em sua vida e cuidará de mim. — Disse
Luke em voz baixa. — Realmente gosto de você, Dominic, mas parece que
você também não é esse homem.
Porra.
Dominic olhou para Sammy.
— É sobre o Sammy? Não é o que parece. Ele é apenas uma criança.
— Ele não é uma criança. — Disse Luke com uma risada. — Abra seus
olhos. Ele é apenas cinco ou seis anos mais novo que eu. — Ele balançou a
cabeça. — E não importa, de qualquer maneira. Mesmo que realmente não
seja o que parece, ele é extremamente importante para você. E talvez seja
egoísta da minha parte, mas estou farto de receber migalhas de atenção e
afeto de alguém. Estive lá, fiz isso, peguei a camiseta. Acho que mereço
melhor. Todo mundo merece. Você também.
Dominic teve que reprimir o desejo de xingar. Nunca falhou tão
espetacularmente em uma missão. Ou arriscou tanto. Ele já podia imaginar a
reação de Amanda quando descobrisse por que Luke Whitford rompeu com ele.
Mas não havia nada que pudesse fazer.
Tinha que jogar seu papel até o fim.
Dominic se inclinou e beijou Luke na bochecha.
— Eu realmente gosto de você, Covinhas. Se mudar de ideia, sabe
onde me encontrar.
Assentindo, Luke se afastou.
— Obrigado por tudo, Nick. — Ele disse suavemente. — E desculpe se
te magoei. Eu não queria. Realmente pensei que poderíamos funcionar, que
poderia me apaixonar por você. — Ele deu a Dominic um sorriso torto. — Você
é meio que tudo que procurei em um homem. Mas estou começando a ver que
não é suficiente. Então, sim, desculpe se, involuntariamente, te magoei.
Dominic deu uma risada.
— Ter um cara lindo e doce no meu braço não foi exatamente uma
dificuldade para mim.
— Bajulador. — Disse Luke com uma risada, beijando-o na
bochecha. — Tenho que ir antes de seu Sammy me matar por tentar roubar
seu papaizinho.
— Ha-ha, hilário. — Dominic brincou.
Luke apenas sorriu, acenou para Sammy e entrou em seu carro.
Dominic esperou que seu carro desaparecesse antes de se permitir
xingar. Não ajudou em nada para livrá-lo de sua frustração.
— O que aconteceu?
Dominic riu, pegando sua mala.
— Acabei de falhar na missão, foi o que aconteceu. — Ele entrou na
casa, tentando refrear sua raiva. Principalmente, era raiva de si mesmo, mas
também havia raiva irracional de Sammy.
— O quê? — Sammy o seguiu para dentro. — Por quê?
Deixando cair a mala no sofá, Dominic se virou e caminhou em
direção a ele. Deve ter havido algo em sua linguagem corporal, porque os
olhos de Sammy se tornaram cautelosos. Ele deu um passo para trás e depois
outro, e outro, até que suas costas baterem na porta.
— Nick... — Ele disse incerto.
— Por que acha? — Dominic disse, colocando uma mão na porta
acima da cabeça de Sammy e pairando sobre ele. Olhando para o seu rosto
confuso, queria... Os dedos da mão livre flexionaram, coçando para tocar. —
Ele me largou. Aparentemente, acha que estou muito ligado a você para ser
um bom namorado para ele.
O pomo de Adão de Sammy se moveu.
— Quer dizer que falhou na missão por minha causa?
Os lábios de Dominic torceram.
— Eu falhei na missão porque Amanda achou que era uma ótima ideia
me designar para uma missão de papaizinho e comprometer meu disfarce. E,
então, falhei em fazer Luke acreditar que te dei uma casa porque senti pena de
você, que é apenas uma criança pela qual sinto pena. — Ele riu. — Luke queria
um homem que o colocasse em primeiro lugar. Em vez de convencê-lo de que
poderia ser esse homem, disse a ele que sua presença em minha casa não
estava em discussão. — Dominic deu uma risada, incapaz de acreditar que
realmente dissera isso. — É como se eu não pudesse pensar quando... Não
tenho ideia de como vou explicar isso aos superiores.
E, para piorar as coisas, não queria ir à sede e dar o relatório, como
deveria. Teria que se afastar de Sammy para isso. Dominic pressionou o nariz
contra o lado do rosto de Sammy. Respirando fundo, falou baixinho:
— O que você fez comigo? — Ele não podia acreditar no que havia
acontecido com suas prioridades. Tudo o que queria no momento era respirar
Sammy, tocá-lo em todos os lugares, pressionar seus corpos mais perto e
enterrar-se nele. Estava inalando o cheiro de Sammy como um homem
obcecado, deixando queimaduras de barba na bochecha macia de Sammy.
Ele podia sentir a respiração de Sammy por sua vez ofegando.
— Nick...
Dominic queria arrastar a boca pelo pescoço de Sammy e chupar a
pele perfeita e leitosa.
— O quê?
— Você está me confundindo. — Disse Sammy, apertando os dedos
segurando o cabelo de Dominic.
Dominic riu na pele de Sammy.
— Isso faz dois de nós. — Ele tinha pensado muito desde a sua
ligação para Sammy, mas ainda não tinha ideia do que era isso. Era inegável
que tinha um traço possessivo imenso por este garoto. Mal podia negar o
quanto odiava a ideia de homens, além dele, tocando Sammy.
E essa era outra coisa. Ele não podia mais fingir que sua necessidade
de tocar em Sammy era platônica. Não era. Parece que ficou tão
emocionalmente ligado ao garoto que queria estar fisicamente ligado a ele
também, sua sexualidade seria condenada.
— Jesus! — Disse contra a bochecha de Sammy. — Você tem alguma
ideia do quanto estraga tudo? Você estragou tudo. — Suas prioridades, sua
sexualidade, suas emoções. Sammy tinha mudado tudo, tinha ficado tão fundo
em sua pele, que Dominic nem se importava que iria receber merda em sua
vida por seu ‗foda-se‘.
Sammy não disse nada. Ainda estava muito apertado contra ele.
Quando Dominic levantou a cabeça, viu que o rosto de Sam estava
muito pálido e vazio.
Antes que pudesse perguntar o que estava errado, o telefone de
Dominic tocou.
Fazendo caretas, ele se afastou e atendeu a ligação.
— A11. — Disse Dominic, já sabendo do que se tratava. O carro de
Luke estava grampeado e havia câmeras de vigilância do lado de fora da casa
de Dominic. Não havia como o MI6 já não saber o que aconteceu.
— Meu escritório, dez minutos. — A voz gelada de Amanda disse
antes que a linha ficasse inoperante.
Suspirando, Dominic se virou para dizer a Sam que tinha que ir, mas
ele não estava em lugar algum para ser visto, a porta da frente escancarada.
Com as sobrancelhas franzidas, Dominic pensou em segui-lo, mas
não tinha tempo de descobrir do que se tratava. Amanda já estava brava o
suficiente sem ele se atrasar.

*****
Sam andou. Nem sabia para onde estava indo. Só sabia que tinha
que se afastar dos olhos negros acusadores de Dominic.
Embora Dominic não o culpasse pelo fracasso da missão, estava
implícito. Podia sentir o ressentimento, a agressão na linguagem corporal de
Dominic. Talvez Nick não tivesse dito isso imediatamente, mas claramente
culpava seu apego por Sam, que era basicamente a mesma coisa que culpá-
lo.
E estava absolutamente certo em culpar Sam.
Dominic ainda não sabia que Luke falou com ele várias vezes
enquanto estava fora, e Sam tinha fodido. Sabia que não havia conseguido
conter totalmente seu ciúme. Foi rude e agressivo com Luke, apenas querendo
que ele saísse da casa. Sam provavelmente tornou óbvio que não via Dominic
como um garoto hétero desabrigado veria a pessoa que o deixava morar em
sua casa.
Dominic certamente descobriria em breve.
E, então, culparia Sam, se já não o fizesse, e se ressentiria por criar
problemas para ele no trabalho. Amanda, sem dúvida, aproveitaria essa
oportunidade para fazer com que Dominic parecesse muito mal e pouco
profissional. Depois de falhar numa missão tão importante, não havia nenhuma
maneira no inferno que Dominic seria indicado como o Chefe do SIS.
E era sua culpa.
Sam afastou a umidade de seus olhos. Engolir o nó dolorido na
garganta era mais difícil.
Sentou no banco, enterrou as mãos nos cabelos e ficou olhando para
os pés. Para os novos sapatos que Dominic comprou para ele.
Não levou nada a Nick, além de problemas, desde que se agarrou a
ele como uma espécie de... Parasita.
Um parasita. Isso era o que ele era, não é? Dominic gastou uma
quantia estúpida de dinheiro e tudo o que conseguiu foi uma missão
fracassada, cortesia de Sam. E não foi uma missão pequena. Era uma missão
de alto perfil, que Dominic tinha passado anos construindo o disfarce. O
fracasso da missão colocaria o MI6 de volta vários anos. Quantas pessoas
morreriam por causa disso? Quantas pessoas morreriam por causa de
Sam? Quantas pessoas morreriam antes que Dominic percebesse que Sam não
valia as vidas perdidas e danificadas?
Sam ainda se lembrava com perfeita clareza do olhar de Dominic
quando contou a Sam sobre a missão em que havia fracassado, porque ficou
sentimental e se recusou a matar a mulher grávida.
— Levou-me onze meses para me infiltrar naquele círculo de tráfico
sexual. Depois que meu disfarce foi queimado, levou ao MI6 mais dois anos
para conseguir outro agente. — A voz de Dominic era vazia. — Havia
crianças entre aqueles profissionais do sexo. A mais nova tinha oito anos, a
mais nova encontrada viva. — Ele encarou Sam e sorriu. Não foi um sorriso
bonito. — Ainda acha que fiz a coisa certa?
Mesmo que Dominic não o culpasse agora, a longo prazo, quando as
consequências de sua missão fracassada fossem mais claras, ele o faria, assim
como claramente se arrependia de ter escolhido a vida daquela mulher sobre o
destino daquelas pobres crianças. A corporação de negócios de Richard
Whitford também era suspeita de tráfico humano, entre outras coisas.
Claro, Dominic gostava dele, mas aos olhos de Dominic, seu apego
por Sam comprometera sua missão. Quantos dias seriam necessários antes
dele começar a lamentar dar-lhe uma casa?
Com os olhos ardendo, Sam apertou os lábios trêmulos com força.
Talvez devesse simplesmente sair. Não seria capaz de suportar ver
arrependimento e ressentimento no rosto de Dominic. Não queria se tornar um
parasita grudento aos olhos dele.
Não era como se tivesse uma chance de ser mais. Dominic não o
queria assim, na verdade, não. Claro, Dominic era possessivo, protetor e
apaixonado por ele, mas essas emoções não eram amor. Alguém poderia ser
apaixonado e protetor de uma criança. Alguém poderia ser possessivo com um
brinquedo comprado. Possessividade não tinha nada a ver com amor.
Dominic tinha uma mulher que amava, esperando que voltasse para
ela. Tudo o que sentia por Sam claramente não era sério o suficiente para
impedir que ele se reunisse com seu pássaro japonês. Luke Whitford entendera
tudo errado. Dominic definitivamente não colocou Sam em primeiro lugar em
sua vida, e nunca faria isso.
Se Sam ficasse, seria ele a implorar por migalhas de afeição de
Dominic, como um filhote de cachorro idiota e apaixonado, que
constantemente ficava no caminho, o qual Dominic não se livrava por pena e
carinho desorientado. Deveria ir embora antes de se tornar mais patético do
que já era, e antes que o carinho de Dominic fosse substituído por
arrependimento e ressentimento.
Antes que se tornasse um fardo.
Você tem alguma ideia do quanto estraga tudo? Você estragou tudo.
Enxugando os olhos novamente, Sam se levantou e se afastou da
casa de Dominic. Ele poderia ter voltado para pegar suas coisas, Dominic
provavelmente já tinha saído para se encontrar com Amanda, mas estava com
muito medo de fazer isso. Estava com medo de não ser forte o suficiente para
sair se estivesse cercado por tudo que o lembrava de Dominic.
Não queria ou precisava de bens materiais, de qualquer maneira.
Os lábios de Sam se contorceram num sorriso amargo. Sempre
poderia roubar o que precisava, afinal. Essa era a única coisa que era bom.
Quando a distância entre ele e a casa de Dominic cresceu, a dor na
garganta de Sam tornou-se quase insuportável.
Nunca mais verei Dominic novamente.
O pensamento pareceu um soco no estômago, fazendo-o cambalear e
parar, com os olhos arregalados e sem fôlego.
Ele não podia fazer isso.
Não podia.
— Você pode, porra! — Sam sussurrou, cavando as unhas em suas
palmas. Rangendo os dentes, se forçou a recomeçar a andar. Parecia andar
contra um vento forte, cada passo um esforço. Ignorou a voz pequena e
carente no fundo de sua mente, sussurrando que não podia simplesmente sair
sem dizer a Dominic. Sam não deixou que isso o influenciasse. Não podia falar
com Dominic: um olhar para ele faria sua determinação desmoronar.
Além disso, não precisava ver Dominic para informá-lo de que estava
saindo.
Sam pegou seu telefone - o único elo restante entre ele e Dominic - e
digitou uma mensagem rápida. Devia muito a Dominic.

Sinto muito. Obrigado por tudo. Por favor, não me procure.

Sammy olhou para o texto, hesitando. Meio que queria dizer a


Dominic que o amava. Poderia nunca ter o amor de Dominic, mas não queria
ser lembrado por Dominic como aquele garoto gay estúpido, com uma queda
por ele.
Uma paixão era algo excitante, juvenil e fugaz. A sensação que
apertava seu peito quando Sam olhava para a foto que definiu como fundo da
tela de bloqueio não era nenhuma dessas coisas. Havia tirado aquela foto há
algumas semanas. Dominic estava hilário e mal-humorado naquela manhã de
domingo, recusando-se a sair da cama e encarando Sam sonolento por acordá-
lo. Ele disse a Dominic que a foto era engraçada demais para não ser sua tela
de bloqueio. Não lhe dissera que o fazia sorrir cada vez que a via.
Mordendo o lábio com tanta força que podia sentir o gosto do sangue,
enviou a mensagem sem acrescentar nada que iria se arrepender depois,
desligou o telefone e jogou na lata de lixo mais próxima.

Capítulo 29

Sam não voltou para a gangue de Tucker. Mesmo se quisesse, o que


não queria, não poderia voltar para lá. Dominic o encontraria facilmente se o
fizesse.
Nutriu a ideia de ser independente apenas por alguns instantes; não
importava o quanto gostaria, não seria inteligente. Mais cedo ou mais tarde,
Tucker iria encontrá-lo. Precisava da proteção de outra gangue.
A gangue de Billy Redknap operava no lado oposto da cidade em
relação a Tucker, o que combinava perfeitamente com Sam. Billy não fez
muitas perguntas e aceitou-o em sua gangue com avidez - Sam tinha alguma
reputação. O negócio era simples: deveria dar 70% de seus ―ganhos‖ a Billy
em troca de proteção e um teto sobre sua cabeça. Sam concordou.
Naquela primeira noite, ficou acordado por um longo tempo, incapaz
de dormir. Não era a dureza da cama, nem o cheiro desagradável do quarto
que ele recebera, dormira em lugares piores que aquele. Era a ansiedade e a
incapacidade de relaxar com os sons de pessoas desconhecidas indo e
vindo. Não havia ferrolho na porta e Sam estava dolorosamente ciente
disso. As paredes eram muito finas e ficava estremecendo toda vez que
alguém ria ou gritava. Quando pessoas começaram a fazer sexo no quarto à
sua esquerda, enterrou o rosto debaixo do travesseiro, tentando não ouvir ou
se perguntar se o sexo era consensual. Não era como se pudesse fazer
qualquer coisa, se não fosse. Ainda não tinha nem amigos, nem aliados
naquela gangue e não tinha ilusões sobre suas proezas físicas.
Quando a mulher gemeu de prazer, Sam respirou e empurrou o
travesseiro do rosto. Olhou para o teto escuro, desejando relaxar e dormir,
mas não conseguiu. Não se sentia seguro o suficiente para dormir.
Ele queria Nick.
Encolhendo-se, virou-se de bruços, mas sentiu-se exposto demais, de
modo que se virou de costas, com a pele arrepiada.
Se perguntou o que Dominic estava fazendo. Ainda estava na sede,
tentando resolver a bagunça que a missão Whitford se tornara? Ou estava
procurando por ele?
Suprimindo o desejo traidor de ser encontrado, pensou no que
deveria fazer para evitar isto. Talvez devesse pintar o cabelo. O cabelo ruivo
era muito perceptível. Também devia evitar câmeras de segurança por um
tempo. Com certeza, Dominic desistiria de procurá-lo depois de algumas
semanas?
Ignorando a esperança patética em seu peito, esperanças de que
fosse mais importante para Dominic do que isso, virou-se para o lado e
abraçou seu travesseiro fino.
Não se sentia sozinho. Não se sentia assustado. Não se sentia
doente.
Só queria o seu Nick.
Não podia imaginar nunca mais vê-lo, nunca mais sentir seus braços
ao redor dele, nunca...
— Cale a boca, cale a boca, cale a boca... — Sussurrou rouco.
Sua respiração sufocada e molhada se transformou em lágrimas, seu
corpo estremecendo enquanto tentava respirar, seus olhos apertados com
força.
Ele era forte. Não ia voltar correndo para Dominic.
Ele era forte.

Capítulo 30

Seis meses depois

Foi um acidente.
Aquela era a parte enlouquecedora disso. Estava se esforçando para
não ser um idiota patético e viver sua vida ao máximo, sem pensar em
Dominic a cada dois minutos, e estava indo tão bem - tudo bem, estava
exagerando um pouco, mas ainda assim! - ele estava bem. Ok. Pensava em
Dominic não mais do que dez vezes por dia, o que era... Mais do que um pouco
deprimente, mas ainda um progresso enorme.
Então, sim, foi um acidente total. Não procurava notícias sobre
Dominic. Havia reprimido esse desejo meses atrás.
O jornal jazia inocentemente na mesa da cozinha. Provavelmente
pertencia a Dave ou Patty. Sam tinha a intenção de ler a seção de esportes
quando pegou, mas congelou quando viu o sobrenome familiar em uma das
manchetes.
Herdeiro de Whitford namorando um oligarca russo.
E lá, logo abaixo dessa manchete, havia uma foto de Luke Whitford
sorrindo para Roman Demidov.
Olhou para a foto. Então folheou o artigo. Foi bastante informativo.
Afirmava que Demidov havia recentemente transferido a sede de seu
império comercial de Genebra para Londres e pretendia investir em negócios
locais.
O jornal sugeriu que Demidov se mudou para a Inglaterra com o
único propósito de estar perto de seu namorado.
Isso fez Sam rir. Se aquele homem de olhos frios fosse capaz de
amar, comeria o chapéu.
Mas isso o fez se perguntar por que Demidov havia se mudado para a
Inglaterra. Se era verdade que Luke estava namorando com ele, isso
praticamente confirmava que estava envolvido na morte de seu próprio pai.
Franzindo a testa, Sam examinou o resto do artigo. Dizia que o casal
feliz pretendia passar o Natal na Suíça, onde a família de Roman ainda vivia.
Sam acariciou seu lábio pensativamente. Se as fontes estivessem
corretas, a casa de Demidov estaria vazia no Natal.
Sam balançou a cabeça, colocando o jornal no chão.
Era loucura. Ele não ousaria.
Não era da sua conta. Considerando o que fazia para viver, seria o
auge da hipocrisia de repente querer ajudar as autoridades.
Mas...
Por fim, foi culpa dele que o MI6 não tenha se infiltrado nas
Indústrias Whitford.
Não seria correto corrigir seu próprio erro?

*****
No começo, Sam considerou invadir a cobertura de Luke, mas a
segurança do prédio era muito apertada. Foi decepcionante e interessante. Não
se lembrava que a segurança de Luke era tão boa quando Dominic estava
saindo com ele.
Imaginando que, como Luke estava em conluio com Demidov, o
russo devia possuir informações incriminatórias suficientes, decidiu se
concentrar na casa de Demidov.
Não demorou muito para descobrir onde Demidov morava. Bilionários
não eram exatamente conhecidos por serem discretos.
Então, dois dias antes do Natal, observou Roman Demidov colocar a
mala no carro e ir embora.
Sam olhou para a casa grande e não se moveu de seu lugar. Tinha
que ter cuidado. Depois de sua passagem pelo MI6, tinha uma ideia de que
medidas de segurança malucas o russo poderia ter. Sam suspeitava que não
havia nenhuma maneira que pudesse entrar naquela casa sem disparar
alarmes de segurança.
Mas não tinha que arrombar.
Ele poderia... Conseguir as chaves.
Homens como Roman Demidov poderiam ter medidas de segurança
de primeira linha, mas homens ricos não faziam suas próprias tarefas
domésticas, especialmente quando moravam sozinhos. Tinham empregados. E
estes tinham cópias das chaves.
Depois de vigiar a casa por horas, a paciência de Sam finalmente foi
recompensada à noite, quando uma mulher de meia-idade saiu da
casa. Provavelmente algum tipo de governanta, se tivesse que adivinhar. Ele a
observou trancar a porta.
Quando ela entrou no carro, Sam rapidamente subiu na bicicleta que
pegou emprestada de Scotty e a seguiu.
Entrar no apartamento dela foi bastante fácil, pois estava roubando
as chaves enquanto estava no chuveiro. A parte mais difícil seria colocá-las de
volta no armário depois de as copiar com o kit de duplicação de chaves que
pegou da gangue, antes de sair.
Mas quando deu uma boa olhada nas chaves, franziu a testa
infeliz. Eram chaves de alta segurança, que eram impossíveis de
copiar. Deveria ter esperado que não fosse tão fácil. Agora teria que esperar
que a mulher não notasse as chaves perdidas e avisasse a segurança de
Demidov cedo demais.
Como o tempo era essencial, voltou para a casa de Demidov o mais
rápido que pôde.
Estava completamente escuro quando chegou lá.
Até onde sabia, depois de horas de vigiar a casa, havia seis
seguranças, mas a maioria parecia estar no que imaginava ser a sala de
segurança, e apenas dois guardas pareciam patrulhar regularmente a
casa. Seria um desafio, mas não recebeu o apelido de Sombra por nada.
Sam prendeu a respiração enquanto usava as chaves da governanta
para abrir a porta da frente. Havia uma pequena chance de notificar a
segurança, mas nada aconteceu. A casa permaneceu praticamente quieta. Ele
podia ouvir vozes masculinas abafadas de uma das salas, mas a porta estava
fechada e não era difícil passar despercebido.
A parte mais difícil era passar por câmeras de segurança. Felizmente,
as dicas de Dominic sobre como encontrar pontos cegos de câmeras vieram a
calhar e Sam não foi pego. Mas seu progresso foi frustrantemente lento, e
encontrou seu coração batendo mais e mais rápido, quanto mais o tempo
passava.
Apesar de ter um tempo desde que participou de uma invasão - não
era sua especialidade - a experiência passada de Sam o ajudou muito a
navegar por uma casa desconhecida. Mas seu progresso não foi ajudado pelo
fato de que algumas vezes teve que se esconder em quartos quando os
guardas de patrulha passavam por ele.
Deus, seu coração parecia estar prestes a explodir de seu
peito. Geralmente ficava mais calmo quando estava trabalhando, mas desta
vez não estava invadindo a casa de algum civil inocente. Se fosse pego, não
chamariam a polícia.
Finalmente, no terceiro andar, encontrou uma porta de madeira
trancada com um bloqueio. Bingo.
Com cuidado para não tocar a porta, Sam olhou a fechadura por
alguns momentos antes de sorrir. Honestamente. Esperava melhor de
Demidov.
Povo rico e sua obsessão por tudo caro e chique.
Sacudiu a cabeça e abriu a bolsa. Para ser justo, aquele bloqueio
tinha alguns recursos bem legais e era impossível bloquear a captura por
meios normais, mas tinha uma grande falha de segurança. Poderia ser aberto
essencialmente com uma chave de fenda e uma chave de torque.
Para ser justo, isso não poderia ser feito por amadores, o bloqueio
seria travado se cometesse um erro, mas, felizmente, Sam não era um
amador.
Puxando as ferramentas necessárias, Sam olhou ao redor, forçando a
audição, embora não pudesse ouvir os guardas, não significava que não
estivessem perto, mas tudo estava quieto.
Mordendo o lábio em concentração, colocou um pedaço de chave em
branco na fechadura e, em seguida, enfiou a chave de fenda atrás dela, com
tanta força quanto pôde. Estremecendo um pouco com o barulho, apertou sua
chave e girou a chave de fenda no ângulo necessário.
A fechadura girou e ele escorregou para dentro, com o coração
martelando no peito. Meio que esperava ouvir os guardas vindo correndo, mas
não deve ter havido tanto barulho quanto imaginara.
Acalmando-se quando nada aconteceu, ligou a lanterna e olhou em
volta. Era um escritório, como esperava. Felizmente, não havia câmeras de
segurança na sala.
Sam foi até a mesa e ligou o computador. Enquanto ele iniciava,
procurou nas gavetas da escrivaninha. Havia muitos documentos importantes,
mas a maioria estava em russo. Foi imensamente frustrante, considerando que
não tinha certeza do que estava procurando.
Idealmente, seria algo que provaria que Roman Demidov e Luke
Whitford estavam por trás da morte de Richard Whitford, mas qualquer tipo de
prova de seus crimes seria bom o suficiente para ele.
Você não dá a mínima para os crimes deles, disse uma voz maliciosa
no fundo de sua mente. A única coisa que quer é agradar Dominic e ter um
motivo para contatá-lo.
Sam franziu os lábios, abrindo outra gaveta. Claro que se importava
em deter pessoas más.
E você é bom? A voz sussurrou ironicamente. Invadindo a casa de
alguém, apenas porque está morrendo por uma razão para ver
Nick. Patético. Provavelmente ele nem se lembra de você. Ele é um espião
profissional. Teria te encontrado, se realmente tentasse. Se realmente
quisesse.
Aquilo não era verdade. Dominic não o encontrou porque Sam tinha
sido cuidadoso, não porque... Não porque...
Sam empurrou o pensamento para longe, odiando o modo como fazia
sua garganta e peito doerem. Tinha um trabalho a fazer. Não podia se permitir
distrair com pensamentos estúpidos. Porque eram idiotas.
Eram tão estúpidos que o assombravam há meses.
Talvez Dominic tivesse ficado feliz em se livrar dele. Talvez foi um
alívio voltar para casa e vê-lo desaparecido. Talvez Dominic nem tivesse se
incomodado em procurar por ele.
Percebendo que não era a tela do computador que estava ficando
embaçada, Sam piscou furiosamente. Quando isso não funcionou, limpou a
umidade de seus olhos. Umidade, não lágrimas. Ele não estava chorando.
Vamos, controle-se, caramba. Disse a si mesmo e focou no
computador.
Era necessária uma senha, claro.
Era uma coisa boa que estava preparado. Tirou um pendrive do bolso
e conectou.
Estritamente falando, roubou propriedade do governo quando copiou
o programa de hackers do MI6 para seu armazenamento em nuvem, mas Sam
não se sentia particularmente culpado por isso. Era útil e gostava de coisas
úteis. Não tinha realmente pensado que iria precisar disso; copiou apenas no
caso.
Foi uma coisa boa que o fez.
Sorriu quando a tela de senha desapareceu e o Windows inicializou
normalmente.
Como esperava, o computador estava isolado de qualquer rede. Foi
uma das primeiras coisas que seu treinador do MI6 tocou na cabeça dos
estagiários: nenhum computador estava completamente protegido, desde que
estivesse conectado à Internet. Se alguém tivesse algo a esconder, era preciso
cortar um computador de qualquer rede.
Parecia que Roman Demidov tinha algo a esconder.
Sorrindo um pouco, começou a copiar qualquer coisa que parecesse
remotamente promissora.
Mais tarde, iria culpar o brilho da tela e sua alegria pela invasão bem-
sucedida por sua falta de atenção na porta.
Mais tarde, ele se culparia por ficar ganancioso demais e querer
copiar o máximo de documentos possível.
Mas a retrospectiva era de meio a meio.
— Bem, bem, bem. O que temos aqui?

Capítulo 31

A voz o fez congelar.


Lentamente, Sam levantou a cabeça e se encolheu ao ver o homem
alto inclinado casualmente contra a porta, com uma arma na mão. Foda-se.
O homem ligou as luzes.
Quando os olhos de Sam se ajustaram ao brilho súbito, ele se viu
olhando nos olhos azuis pálidos de Roman Demidov.
Sam engoliu em seco, suando frio. Havia algo sobre esse homem que
o fazia sentir medo. Sam se perguntou se saltar do terceiro andar seria menos
doloroso do que o que Demidov faria com ele.
Ele olhou para a janela atrás dele
— Nem pense nisso. — Disse Demidov, aproximando-se. O russo não
estava nem apontando a arma para ele, mas segurou-a com uma confiança
fácil que lembrou Sam do modo como Dominic lidava com armas, então ele
não duvidou que este homem poderia apontar a arma para ele numa fração de
segundo se lhe desse uma razão para isso.
Passando seu olhar sobre o corpo alto e poderoso de Roman
Demidov, Sam pensou miseravelmente que o russo nem precisaria de uma
arma para matá-lo. Ele tinha uma construção semelhante a Dominic. Na
verdade, ele parecia um pouco com Dominic - se Dominic tivesse olhos azuis
assustadores e pele mais pálida.
Você pode parar de pensar em Dominic quando há um chefe do crime
russo a poucos metros de distância? Sam se irritou, consternado com a direção
previsível de seus pensamentos.
— Quem é você? — Roman Demidov disse, sua postura relaxada
contradizendo o olhar penetrante e atento em seus olhos. — Ou melhor, quem
te mandou?
— Ninguém. — Disse Sam. — Eu não queria causar danos.
Demidov realmente riu. Soava perturbadoramente normal. Por que os
vilões soavam tão normais? Primeiro Brylsko, agora Demidov. Neste ponto,
algumas gargalhadas do mal seriam refrescantes.
— Você entrou na minha casa no meio da noite e invadiu meu
computador só por diversão? — Roman disse suavemente. — Eu deveria
acreditar, garoto?
— Eu considero isso um pedido de emprego. — Disse Sam, parecendo
tão sincero e ansioso quanto conseguiu. Você deve ser capaz de olhar alguém
nos olhos e vender a mentira mais escandalosa.
Sam extraiu força da memória e continuou:
— Estou na gangue de Billy Redknap, senhor. Ouvi que você está
contratando, então... — Ele abaixou a cabeça em falso embaraço. — Eu queria
te impressionar. Ouvi dizer que você não contrata qualquer um. — Sam
realmente não tinha ideia se Demidov estava contratando ou não. Era só um
palpite. Demidov tinha se mudado para Londres muito recentemente, então,
logicamente, ele deve estar contratado, certo?
Ele esperou, prendendo a respiração e rezando para que Demidov
comprasse a mentira.
A porta se abriu novamente.
— Roman, por que está demorando tanto...
Sam quase gemeu. Apenas a sorte dele. Luke Whitford tinha o pior
timing do mundo.
— Luke, espere por mim lá embaixo. — Disse Demidov, mas Luke o
interrompeu.
— Que é aquele?
Antes que Sam pudesse ter esperanças de que ele não seria
reconhecido, Luke esmagou essa esperança também.
— Espere, eu o conheço.
Em um instante, a postura relaxada de Demidov se foi.
— Você conhece o pequeno ladrão?
As sobrancelhas de Luke franziram.
— É Sam, o garoto que vivia com Dominic.
— Com Bommer? — Roman disse, seus olhos perfurando Sam. — Ah,
sim, eu me lembro agora. — Ele disse algo em russo, o que fez Luke franzir a
testa e responder também em russo.
Roman parecia vagamente divertido agora.
— A questão é, o que o animal de Bommer está fazendo na minha
casa no meio da noite? — Ele olhou para o computador e todos os traços de
diversão deixaram seu rosto. — Ele conseguiu invadir meu computador. Se não
retornássemos pelo meu passaporte ou viessemos dez minutos depois, ele
teria roubado... Alguma informação muito sensível.
— O quê? — Luke disse, aproximando-se.
— Fique onde está, amor. — Disse Demidov suavemente antes de
agarrar Sam pelo colarinho e empurrá-lo contra a parede com tanta força que
sua visão ficou escura por um momento. — Você tem cinco segundos para me
dizer quem te mandou. — Disse Demidov, pressionando algo frio e duro contra
a garganta de Sam. A arma.
Sam engoliu em seco, olhando nos olhos gelados do russo. Ele podia
sentir que este homem não fazia ameaças vazias. Ele mataria Sam sem
hesitação.
— Ninguém. — Disse Sam.
O russo sorriu e Sam sentiu uma sensação de afundamento no
estômago.
— Tudo bem. — Disse Roman. — Conte-me sobre Dominic Bommer.
Sam apertou os lábios.
Roman riu.
— Você percebe que seu silêncio é sem sentido, certo? Sua presença
aqui confirma que Bommer não é quem ele parece ser.
Sam não disse nada.
— Você realmente acha que Dominic está por trás disso? — Luke
interrompeu, franzindo a testa.
— Dominic. — Disse Roman com um leve sorriso de escárnio. — Eu
sempre soube que havia algo sobre o seu namorado perfeito. Simplesmente
não pude provar isso.
Luke revirou os olhos.
— Alguma vez você vai desistir? Dominic nunca foi meu namorado. E
eu realmente duvido que ele seja...
— O quê? — Roman disse cortantemente. — Um mentiroso que te
usou? Você é muito ingênuo e confiante.
Luke abriu a boca e fechou-a antes de se aproximar e olhar
diretamente para Sam pela primeira vez.
— Isso é verdade? Dominic apenas fingiu estar interessado em mim?
Sam desviou o olhar. Era mais fácil mentir para Demidov, que nem
parecia ter um coração, do que para Luke.
— Eu não sei do que você está falando. Dominic não tem nada a ver
com porque estou aqui. Sou realmente um membro da gangue de Billy
Redknap. Você pode checar; estou dizendo a verdade. Eu não moro mais com
Dominic. Não o vejo há meio ano.
— Por quê? — Luke disse, olhando-o com desconfiança. — Você
estava ridiculamente perto. Tenho certeza que estava apaixonado por ele.
Era humilhantemente fácil fazer seus olhos lacrimejarem.
— Ele não me queria assim. Então eu parti. Foi difícil ficar.
A expressão de Luke mudou para simpática.
— Pelo amor de Deus, Luke. — Disse Roman. — Ele está brincando
com você. — A arma se moveu para a têmpora de Sam e pressionou com
força. — Infelizmente para você, eu não sou tão suave de coração. Você tem
cinco segundos para me dizer a verdade. Este é o último aviso.
Sam não disse nada.
Roman disse em seu ouvido:
— Três, dois...
Sam apertou os olhos, seu corpo tremendo.
— Pare com isso, Roman! — Luke disse, fazendo os olhos de Sam se
abrirem. — Você está brincando comigo? Ele é apenas um garoto. Não pode
ter mais que dezoito anos.
— Ele tinha idade suficiente para invadir a minha casa. — Disse
Roman. — Você tem alguma ideia do que ele estava tentando roubar, e quase
conseguiu? — Ele deu a Luke um olhar que Sam não entendeu. — Você sabe
que ainda não terminei.
Os lábios carnudos de Luke diminuíram quando os apertou. Ele
suspirou, passando os dedos pelo cabelo encaracolado.
— Tudo bem. Mas abaixe a arma. Você está me deixando nervoso.
Sam ficou chocado e aliviado quando Roman realmente o ouviu.
— Deve haver outra maneira de chegar ao fundo disso. — Disse Luke,
puxando o telefone. — Ligarei para Dominic. Fale com ele. Tenho certeza de
que é tudo um mal-entendido.
Roman murmurou algo baixinho em russo.
— Eu ouvi isso. — Disse Luke com um sorriso. — Mas você ainda me
ama.
Para a surpresa de Sam, Roman apenas deu a Luke um olhar fixo
antes de empurrar Sam para a cadeira e forçá-lo a se sentar.
— Eu não sei por que você ainda tem o número de Bommer. — Disse
ele, pegando o celular de Luke e dando a arma para ele.
— Seu ciúme é adorável. — Disse Luke, aceitando a arma com uma
careta.
Roman não se dignou a responder, levando o telefone ao ouvido.
— Dominic Bommer? Aqui é Roman Demidov. Eu tenho algo seu.
Sam inalou tremulamente, seu estômago apertando em nós. Ele se
perguntou como era confuso que apesar de seu medo, raiva e culpa, a emoção
mais esmagadora que estava sentindo no momento era excitação. Excitação,
saudade e vontade de ver Dominic. Tudo no que conseguia pensar era o
quanto sentia falta dele, o quanto queria vê-lo, cheirá-lo, senti-lo.
Deus, ele era sem esperança.
Você é tão idiota, sua voz interior disse maliciosamente. Dominic não
ficará exatamente feliz em vê-lo, especialmente em tais circunstâncias. Não só
ele era o motivo do fracasso da missão, como também queimou a cobertura de
Dominic e o colocou em perigo.
Percebendo que tinha perdido completamente o resto da conversa de
Roman com Dominic, Sam se deu um chute mental. Simplesmente fantástico.
Agora não tinha ideia do que Roman disse a Dominic.
— Ele vem? — Luke disse, pegando seu telefone e devolvendo a arma
ao russo.
— Dei a ele meia hora. — Roman encolheu os ombros, virando os
olhos para Sam. — Acho que vamos ver o quanto ele valoriza você.
— Você não deveria ligar para Vlad lidar com isso? — Luke disse. — É
um problema de segurança. Esse é o trabalho dele.
— Dei a ele alguns dias de folga. — Disse Roman, inclinando o quadril
contra a mesa e olhando para a arma em sua mão. — Está tudo bem. Não me
importo de fazer o trabalho sujo de vez em quando.
Um arrepio percorreu a espinha de Sam. Ele não duvidou da
capacidade de Dominic de cuidar de si mesmo, mas este homem tinha a
vantagem de estar na sua casa - e ter um refém. Ele também tinha os olhos
de um assassino.
Sam olhou para Luke, desnorteado como ele poderia estar ao lado
deste homem. Luke não parecia mau. Ele parecia normal.
— Como você pode estar com um homem assim? — Ele deixou
escapar antes que pudesse se conter. — O sexo é tão bom?
Luke piscou.
Roman realmente riu. Ele parecia genuinamente divertido.
— Sim, o sexo é tão bom, kotyonok6?
Luke olhou furioso para Roman, suas bochechas coradas. Então ele
olhou para Sam com um olhar apertado.
— Ele não é mau.
Sam deu-lhe um olhar de descrença.
Agora Luke parecia defensivo.
— Ele não é. Quero dizer, ele pode ser um bastardo total para as
pessoas que não ama, mas no fundo, ele é um pouco sentimental.
— Não estrague minha reputação, pet. — Disse Roman, olhando para
Luke. — Seja um bom menino e vá para a sala de segurança. Diga ao Kolya
para vir aqui. Tenho algumas perguntas para ele.
Luke fez uma careta.
— Não seja muito duro com ele. Sua esposa acabou de dar à luz. É
totalmente compreensível que estivesse distraído.
— Receio não ser tão compreensivo quanto você. — Disse Roman.
— Estou muito feliz por ele e sua esposa, mas isso não justifica sua falta de
vigilância. Isso - apontou para Sam - é inaceitável.
Luke franziu os lábios, olhando para Roman com desconfiança.
— Não vou te deixar sozinho com Sam.
Roman levantou as sobrancelhas.
— Você não tem motivos para ficar com ciúmes. Eu não tenho uma
torção de sequestro.
Luke bufou.
— Você é hilário. — Ele cruzou os braços e sentou na outra cadeira.
— Não estou me movendo. Você pode buscar Kolya você mesmo. Ou ligue
para ele.
Roman disse algo em russo, sua voz seca e um pouco divertida.

6
Gatinho em russo.
Luke corou e também disse algo em russo.
Sam observava-os com o canto do olho, mas a cada minuto que
passava tinha dificuldade em focar sua atenção neles.
Dominic viria?
Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, o interfone da
mesa apitou.
Roman se aproximou e apertou o botão dele.
— Sim?
— Há um homem aqui, senhor. — Disse uma voz masculina. —
Dominic Bommer. Disse que você está esperando por ele. Não está armado.
Sam endireitou-se, o coração martelando em algum lugar da
garganta.
— Traga-o para cima. — Disse Roman antes de olhar para Sam. —
Venha aqui.
Relutantemente, Sam se levantou e se aproximou. O russo apertou a
arma contra sua têmpora novamente.
Luke suspirou.
— Isso é mesmo necessário? Dominic não está armado. Ele é
inofensivo.
Roman deu uma risada baixa.
— Vamos ver o quanto ele é inofensivo.
Todos olharam para a porta.

Capítulo 32

Sam não tinha certeza se estava respirando quando a porta abriu e


dois guardas de segurança empurraram Dominic para dentro.
— Deixe-nos. — Disse Roman. — Vou falar com você mais tarde,
Kolya.
Um dos guardas estremeceu e deu um aceno de cabeça antes de sair
com o outro e fechar a porta.
Sam mal notou isso.
Olhou para Dominic faminto, seus olhos percorrendo todo o rosto
dele, absorvendo seus penetrantes olhos escuros, a curva de seus lábios, seu -
seu tudo. Deus, como poderia uma pessoa ainda dar a sensação de chegar em
casa depois de meio ano de intervalo?
Sam lambeu os lábios, cravando as unhas em suas mãos quando
Dominic encontrou seus olhos. Seu corpo balançou em direção a Dominic,
tentando seguir o impulso. Sam caiu em si apenas quando a arma pressionou
com mais força contra sua têmpora.
Certo. Não estava exatamente em posição de ir a Dominic. Além
disso, não conseguia nem ler a expressão no rosto dele enquanto olhava para
Sam. Era muito estranha e fixa. Dominic provavelmente não estava feliz em
vê-lo.
— O que... — Dominic disse, afastando seu olhar de Sam e mudando-
o para a arma na mão de Roman. Sua expressão se transformou em confusão
e alarme. — O que... Está acontecendo aqui?
Sam piscou, sem saber o que fazer com aquilo. Se não soubesse
melhor, acharia que Dominic tinha medo de armas.
E então entendeu.
Deus, Nick era bom.
— Eu te disse que era desnecessário, Roman. — Luke disse
exasperado, ficando de pé. — Ei. — Disse ele, voltando-se para Dominic, uma
mistura de constrangimento e desconforto em seu rosto. — Tenho certeza que
é tudo um grande mal entendido. Desculpe pela arma. Roman é apenas
paranoico.
Franzindo a testa, Dominic olhou entre Luke e Roman.
— Esse é o seu novo namorado, certo? E o que Sammy está fazendo
aqui? — Ele olhou diretamente para Sam, que estava olhando para ele. —
Onde diabos você esteve todos esses meses? Tem alguma ideia de como fiquei
preocupado?
Sam baixou o olhar, sem precisar pensar muito.
— Sinto muito. — Ele murmurou. — Eu não queria te preocupar, Nick.
A arma parou de pressionar com força contra sua têmpora, então
eles devem ter sido convincentes. Mas a voz de Roman ainda estava fria
quando ele disse:
— Você está alegando que não tem nada a ver com o seu garoto
invadindo minha casa e meu computador?
A carranca de Dominic se aprofundou. Ele moveu seu olhar de volta
para Sam.
— Sammy? Isso é verdade? — Quando Sam não disse nada, os lábios
de Dominic apertaram. — Mesmo? Retornou aos seus velhos hábitos depois de
tudo que fiz por você, quando me prometeu que parou?
Sam lembrou a si mesmo que Dominic estava apenas
desempenhando seu papel e que a decepção em seus olhos não era real. Mas
ainda fazia com que se sentisse miserável.
— Eu não tinha para onde ir. — Disse ele, com a voz embargada. —
Precisava de proteção contra Tucker. Então fui até a gangue de Billy Redknap.
Preciso pagar por sua proteção, e roubar é a única coisa em que já fui bom.
— Isso tudo é muito tocante, Sammy. — Disse Roman, não
parecendo tocado. — Mas eu devo acreditar que você acabou de escolher a
minha casa para invadir, depois que seu... Guardião, passou semanas
tentando entrar na calça de Luke?
— O que você está sugerindo aqui? — Dominic disse, estreitando os
olhos. Ele não parecia perigoso. Apenas ofendido.
— Não estou sugerindo nada. — Disse Roman e envolveu sua mão
livre em volta da garganta de Sam frouxamente. — Essa não era uma
pergunta retórica, Sammy.
Um músculo se contraiu no queixo de Dominic.
— Não, não foi uma coincidência. — Disse Sam, sua mente correndo
e seu estômago revirando. Deus, ele não queria deixar Dominic para baixo
novamente. Eles disseram que a melhor mentira continha um elemento de
verdade. Mas seria suficiente para convencer alguém como Roman Demidov?
— Alguns dias atrás, me deparei com um artigo sobre Luke e você.
Isso chamou minha atenção apenas porque eu conhecia Luke. O artigo dizia
que você se mudou para a Inglaterra muito recentemente e que era muito rico.
Dizia que estaria fora da cidade no Natal. Então pensei... Pensei que não devia
ser muito difícil invadir sua casa. Era provável que com todo o caos da
mudança sua segurança ainda não seria perfeita. — Ele olhou de lado para
Roman, na esperança de avaliar o quão bem estava indo, mas o rosto do russo
era impossível de ler.
— Isso não explica por que você estava invadindo meu computador.
— Disse Roman. — Alguém poderia pensar que um ladrão estaria mais
interessado em posses materiais.
Sam zombou.
— É o século XXI. Venda de Informações. Não pesa nada, é mais fácil
vender sem ser pego e tem um preço mais alto.
— Você alegou que era um pedido de emprego antes de Luke te
reconhecer. — Disse Roman, sua voz baixa, claramente não querendo que
Dominic o ouvisse.
A esperança se acendeu dentro dele. Se o russo achava que Dominic
não tinha a menor ideia de suas atividades criminosas, isso significava que o
disfarce de Dominic ainda estava seguro.
Pela primeira vez em sua vida, Sam ficou incrivelmente grato por ser
um ruivo pálido. Não foi difícil fazer-se corar.
— Eu fiquei nervoso e menti, ok? Ouvi algumas coisas sobre você,
mas não tenho ideia de quais são verdadeiras. — Ele baixou a voz também. —
Ninguém sabe muito sobre você. É um peixe novo na lagoa. Todo mundo quer
saber por que se mudou para cá e o que quer. É por isso que qualquer
informação sobre você é tão valiosa. Menti porque você parecia querer me
matar.
Roman deu-lhe um olhar longo e penetrante. Sam mal resistiu ao
impulso de se contorcer. Só o fato de poder sentir o olhar inabalável de
Dominic sobre ele deu-lhe forças para não desmoronar e se entregar.
— Como posso dizer que você não está mentindo de novo? — Roman
disse, a mão apertando em torno de sua garganta - apenas um pouco, mas o
suficiente para fazer os pulmões de Sam doerem.
— Deixe-o ir. — Disse uma voz fria.
Sam parou de respirar. Roman ficou quieto também.
Quando eles viraram a cabeça, foram recebidos com a visão de uma
faca afiada pressionada contra a garganta de Luke. E Dominic... O empresário
inofensivo e confuso tinha ido embora. Era como olhar para uma pessoa
diferente.
O rosto de Dominic era duro, seus olhos escuros fixos em Roman.
Luke estava muito quieto e com os olhos arregalados. Ele nem parecia estar
respirando, uma pequena gota de sangue visível em sua pele leitosa, onde a
faca estava pressionada contra o pescoço dele. Um pequeno movimento da
mão de Dominic poderia ser fatal.
Roman estava absolutamente rígido ao lado de Sam.
— Claro, você pode atirar em mim. — Disse Dominic, seu olhar
travado com o de Roman. — Mas você vai arriscar? Eu poderia ser mais rápido.
Ele vai morrer por causa da sua arrogância.
— Posso matar o garoto. — Disse Roman, sua voz soando quase
inumana quando ele pressionou a arma com mais força contra a têmpora de
Sam, que se encolheu.
Apenas a tensão quase imperceptível no queixo de Dominic traiu que
a possibilidade o incomodava.
— Você poderia. — Ele concordou, no mesmo tom assustadoramente
amigável. — Mas se fizer isso, eu vou cortar a garganta do seu.
Roman deu uma risada.
— É uma ameaça vazia, Bommer. Se você é um agente do MI6, e
provavelmente é, você não vai.
A expressão de Dominic não mudou.
— Eu não sou mais um agente do MI6. Ninguém está me
monitorando. — Seus lábios se torceram em algo vagamente parecido com um
sorriso. — Nietzsche7 não disse que você pode se tornar um monstro se lutar
contra monstros por muito tempo? Se acha que sou incapaz de matar, você
está delirando. Provavelmente matei mais pessoas do que você. — O olhos
dele pareciam os de Roman, frios, mas seu tom era suave quando ele disse
baixinho: — Posso matar todos nesta casa e fazer com que pareça um
acidente. Não é nada que eu não tenha feito antes. Mas aqui está a coisa. Não
dou a mínima para você, Demidov. Prefiro não ter mais sangue nas minhas
mãos do que já tenho. Eu vim pelo que é meu. Deixe o garoto ir e todos
esqueceremos disso.
Franzindo a testa, Sam olhou para Dominic confuso. Ele estava sendo
honesto? Certamente Dominic não tinha desistido do MI6? Ele amava o seu
trabalho!
O russo deu um suspiro.
— E você acha que pode me ameaçar, sair daqui e continuar com sua
vida?
Ele parecia divertido, mas Sam sabia que não se sentia realmente
divertido. Podia sentir a incrível tensão no corpo de Roman. Pela primeira vez,
Sam considerou a possibilidade de que o russo aparentemente sem coração
pudesse genuinamente amar Luke. Não havia outro motivo para não atirar em
Dominic. Ele tinha uma arma contra a têmpora de Sam e seguranças apenas a
um grito de distância. Tinha toda a vantagem do mundo.
Mas parece que a faca pressionada contra a garganta de Luke negava
toda a vantagem que ele tinha.
— Eu não estou te ameaçando. — Disse Dominic, sua expressão tão
fria quanto a de Roman. — Ainda acho que pessoas como você pertencem à
prisão, mas não tenho interesse em te caçar. Não sou mais do MI6 e não sou
7
Foi um filósofo, filólogo, crítico cultural, poeta e compositor prussiano do século XIX, nascido na atual Alemanha. Ele
escreveu vários textos críticos sobre a religião, a moral, a cultura contemporânea, filosofia e ciência, exibindo uma
predileção por metáfora, ironia e aforismo.
um justiceiro. A única coisa que me interessa é manter as pessoas com quem
me preocupo em segurança. — Ele olhou para Luke antes de nivelar seu olhar
com Roman. — Tenho certeza que você entende. Agora chute a arma aqui e
deixe o garoto ir.
Houve um longo e tenso silêncio enquanto Dominic e Roman se
encaravam.
— Roman... — Disse Luke, quebrando o silêncio. — Eu me sinto um
pouco tonto.
Havia um pequeno fio de sangue escorrendo pelo seu pescoço. Não
parecia perigoso, mas parece que era o suficiente para influenciar Roman.
Sussurrando algo em russo, Roman largou a arma e chutou em direção a
Dominic antes de empurrar Sam naquela direção também.
Sam tropeçou e quase caiu, mas a mão de Dominic pegou seu braço
em um aperto de ferro. Pegando a arma, Dominic praticamente arrastou Sam
para fora do escritório.
A última coisa que Sam viu antes que a porta se fechasse atrás deles
foi o olhar de alívio no rosto de Roman Demidov enquanto examinava o
pescoço de Luke, seu outro braço apertado ao redor de seu amante.
Talvez aquele homem tenha um coração, afinal.

Capítulo 33

Assim que ficaram sozinhos, Sam percebeu que havia algo de errado
em Dominic. Além do forte aperto no seu braço, Dominic não lhe deu atenção,
seus olhos escuros percorreram o corredor e olharam para qualquer lugar
menos para ele. Sam pensaria que Dominic estava apenas procurando por
perigo, mas podia sentir que não era só isso.
— Nick? — Sam sussurrou incerto.
Um músculo se contraiu no queixo de Dominic. Ele ignorou Sam.
Sua garganta estava desconfortavelmente apertada, Sam aceitou a
sugestão e calou-se, seguindo Dominic em silêncio.
Para sua surpresa, Dominic dirigiu-se para a porta da frente.
— Há seguranças lá. — Sam murmurou. Dominic não disse nada.
Percebendo que ele havia colocado a arma e a faca sob o casaco, Sam franziu
a testa. — Roman provavelmente disse a eles para nos impedirem de sair.
Dominic continuou ignorando-o.
Sam olhou para ele, começando a ficar chateado também. Sim, ele
tinha fodido tudo, mas quase conseguiu! Foi puro azar que Roman tivesse
voltado para casa. Por que Dominic estava tratando-o desse jeito?
Por que ele não olha para mim?
Sam estava tão chateado com isso que não podia nem se sentir
culpado quando quatro guardas armados os encontraram na porta da frente.
Dominic apenas suspirou em aborrecimento. Ignorando as armas
apontadas para ele, disse:
— Ligue para seu chefe e deixe-me falar com ele por alguns
instantes.
Os guardas trocaram olhares antes de um deles finalmente puxar um
telefone. Ele disse algo em russo antes de entregar o telefone para Dominic.
— Se eu não voltar dentro de uma hora, você vai ter o MI6 batendo
na sua porta. — Disse Dominic ao telefone. — Tenho certeza de que você tem
coisas melhores para fazer no Natal do que responder a perguntas
desconfortáveis.
Sam não pôde ouvir o que Roman disse, mas fez os músculos de
Dominic ficarem tensos.
— Foi só um corte. Se realmente quisesse machucá-lo, eu teria. Diga
a Luke que peço desculpas. Isso é tudo?
Ele devolveu o telefone ao guarda, que ouviu o que quer que Roman
dissesse e baixou a arma.
— Você pode ir.
Apertando o braço de Sam, Dominic saiu da casa, arrastando Sam
para o seu carro estacionado.
— Entre. — Ele gritou sem olhar para Sam quando sentou no banco
do motorista.
Atirando-lhe um olhar desconfiado, Sam fez o que lhe foi dito.
A viagem foi em silêncio.
Sam fechou as mãos em punhos e olhou pela janela, fingindo que não
podia sentir a tensão sufocante e furiosa no carro e ciente do corpo de Dominic
com cada centímetro dele. Mesmo agora, apesar de sua atitude defensiva,
raiva e culpa, suas entranhas doíam com necessidade. Seu coração não se
importava que Dominic estivesse zangado com ele e nem seu corpo. Tudo que
o seu corpo queria era as mãos de Dominic nele, desejando qualquer contato,
seja gentil ou violento.
Deus, ele estava além da ajuda.
Finalmente, depois do que pareceram horas, eles chegaram à casa
familiar. A visão disso fez seu peito doer. Não foi sua casa por muito tempo,
mas foi tão feliz nela.
Sam não se apressou em sair do carro. Foi lento o suficiente para
forçar Dominic a pegar seu braço e arrastá-lo para fora, a pele de Sam
formigou pelo contato apesar das camadas de tecido entre eles.
Sam olhou para o rosto tenso de Dominic, e seu estômago apertou de
nervoso. Ele nunca o viu tão bravo.
Dominic abriu a porta e empurrou-o para dentro. Sam obedeceu o
suficiente, mas se virou e cruzou os braços sobre o peito assim que Dominic
fechou a porta.
— Sinto muito por ter sido pego, mas você não precisava intervir! Eu
quase o convenci, pude sentir! Você estragou seu disfarce
desnecessariamente! Se esperasse alguns minutos... — Ele guinchou quando
Dominic sentou no sofá e o puxou de bruços sobre o colo.
— Esperar pelo quê? — Dominic gritou, puxando a calça de moletom
e cueca de Sam. — Por ele sufocá-lo? — Ele trouxe uma mão para baixo na
bunda de Sam, com força.
Sam gritou, mais por surpresa do que por dor.
— Você está falando sério? Eu não sou criança para apanhar! E ele
não estava me sufocando! Estava tudo sob controle... Oof.
O segundo tapa ardeu mais.
— Sob controle? — Dominic rosnou, entregando outro tapa afiado, e
depois outro. — Ele tinha uma arma na sua cabeça. Você tem alguma ideia de
como esse homem é perigoso? Poderia ter te matado. Não teria sido nada para
ele.
— Ele não fez. — Sam tentou fracamente, fechando os olhos.
— Você teve sorte que Luke estava com ele. — Dominic disse,
entregando outra palmada dolorosa. — Ele é o ponto fraco de Demidov. Se
Luke não estivesse lá... — Sua mão ficou imóvel, apenas um peso na bunda de
Sam antes que seu toque se transformasse em um aperto contundente. —
Porra, você tem alguma ideia...
A próxima coisa que Sam sabia era que estava de costas e Dominic
estava em cima dele, sólido, pesado e perfeito.
Olhos escuros olhavam para ele.
— Porque você partiu?
Sam passou a língua sobre os lábios secos, o coração trovejando no
peito. Estava ciente de quão alto ele estava respirando, seus pulmões
gananciosos se enchendo com o cheiro de Dominic, como um viciado.
Dominic olhou para ele atentamente.
— Você estava realmente com a gangue de Redknap?
— Você não sabia? — Sam conseguiu falar.
— Não procurei por você.
Com a garganta dolorida e desconfortável, Sam lutou para manter o
rosto calmo. Embora esse fosse seu pior medo, não acreditava realmente que
Dominic nem se importaria em procurá-lo.
Os lábios de Dominic se torceram. Ele deu a Sam um olhar quase
odioso.
— Pare de parecer assim quando foi você quem me disse para não te
procurar. Ou queria que eu fosse um daqueles idiotas assustadores e
controladores que perseguem as pessoas contra seus desejos?
Claro que sim!
Ruborizando, Sam engoliu a resposta instintiva. Jesus, isso era mais
do que mortificante.
— Você quer dizer... Que queria me procurar? — Ele disse em voz
baixa.
Dominic riu, o som tão sem graça quanto dissonante.
— Você poderia dizer isso. — Deslocando seu peso para um cotovelo,
Dominic levou a outra mão até o rosto de Sam. Ela pairou um centímetro
acima da bochecha de Sam, seus dedos se contraindo um pouco. — Eu poderia
ter te encontrado em alguns dias se realmente tentasse. Teria sido tão fácil
usar os recursos à minha disposição para te perseguir. Eu nunca cruzei essa
linha em todos os anos com o MI6, nunca fui tentado, mas foda... — Dominic
parou, seus olhos escuros vagando por todo o rosto de Sam, como se não
acreditasse que ele estava realmente lá.
Sam olhou para ele, realmente olhou para ele pela primeira vez
naquela noite. Embora Dominic estivesse tão devastadoramente bonito como
sempre, havia linhas cansadas e tensas ao redor dos seus olhos que falavam
de noites sem dormir e estresse.
Será que... Teria sido tão ruim para Nick quanto para ele? Isso
poderia ser possível?
— E então eu recebo o telefonema do sangrento Roman Demidov. —
Disse Dominic. — Porque você decidiu que era uma boa ideia invadir a casa de
um chefe do crime russo?
Eu queria compensar o meu erro e obter alguma prova para o MI6.
Ele poderia dizer isso, mas não fez.
Sam disse a Dominic a verdade, a qual estivera em negação.
— Foi uma desculpa para vê-lo novamente.
As narinas de Dominic alargaram.
Sua mão finalmente tocou a bochecha de Sam, o toque mal lá, mas
tão bom, e um pequeno gemido subiu do fundo do peito de Sam. Ele virou a
cabeça para pressionar os lábios trêmulos na mão de Dominic, sentindo-se
envergonhado por sua carência, mas incapaz de se controlar.
— Sinto muito. — Ele sussurrou com urgência. — Por arruinar sua
missão e criar problemas para você no trabalho. Eu queria deixar de ser um
parasita, fazer a coisa certa e ficar longe, mas... Mas... — Ele fechou os olhos
com auto depreciação fazendo seus olhos arderem. — Eu não sou... Não sou
forte o suficiente, sinto muito...
Dominic inclinou suas testas juntas.
— Garoto bobo. — Ele disse bruscamente, acariciando a bochecha e o
pescoço de Sam levemente. — Não sei de onde você tirou a ideia idiota de que
era um parasita, mas se você disser isso de novo, vou te bater de verdade. —
Segurando o rosto de Sam num aperto bastante duro, Dominic pressionou sua
boca numa bochecha dele, depois na outra, seus lábios entreabertos e sua
respiração superficial e rápida. — Porra, Sammy, eu quero... — Com um
pequeno gemido, ele encaixou seus lábios contra os de Sam e lambeu a
entrada em sua boca.
Sam fez um barulho que nem sequer soava humano, sua mente
felizmente vazia quando Dominic deu-lhe um profundo beijo sujo. Ele não
podia nem beijar de volta, de tão sobrecarregado que estava.
Só podia se contorcer sob o corpo pesado de Dominic e aceitar o
ataque em sua boca, deixando Dominic fazer o que quisesse, desde que não
parasse.
Ele não conseguia nem entender mais o que estava acontecendo, o
que isso significava ou por que Dominic estava devorando sua boca como se
fosse um banquete e ele um homem faminto. Sam também se sentia muito
faminto para se importar.
Sua mente estava muito lenta e confusa com desejo e alívio -
finalmente, senti sua falta, precisava que você precisasse de mim - então
demorou um tempo embaraçoso para perceber que Dominic o carregava para
algum lugar, suas bocas ainda unidas.
Cama. Esta era uma cama em que ele estava, e então estava nu, em
seguida Dominic estava nu também, nu e em cima dele, e havia tanta pele que
se sentiu tonto e oprimido.
Ele perdeu a noção do tempo de uma maneira que nunca fez durante
o sexo. Não era como se Sam nunca tivesse sentido desejo; isso era outra
coisa. Ele nunca se perdeu em um homem até Dominic, e a sensação era tão
assustadora e avassaladora quanto estimulante.
Distantemente, como se em um sonho, Sam registrou alguém
gemendo e choramingando antes de perceber que era ele. Eram as suas mãos
vagando pelas costas largas e magníficas de Dominic e cavando os músculos
das nádegas dele quando Dominic pegou os dois pênis na mão e começou a
acariciá-los juntos, beijando-o sem parar.
Era glorioso, incrível, mas não estava nem perto o suficiente. Depois
de meses separados, se sentia muito faminto e carente, precisando de mais,
mais e mais, precisando sentir Nick em todos os lugares: nele, debaixo dele,
ao redor dele, dentro dele, tão fundo quanto podia até Sam saciar os meses de
separação. Fome queimava seu corpo de dentro para fora.
— Nick... — Sam falou, ofegante, os olhos arregalados, mas sem ver
como a mão lubrificada de Dominic acariciava os dois. Palavras. Ele precisava
de palavras. — Isso não é... Suficiente. Preciso de você.
Ele provavelmente não estava fazendo nenhum sentido, considerando
que Dominic estava lhe dando a masturbação de sua vida.
— Sim. — Disse Dominic, chupando seu pescoço. Ele parecia tão
longe quanto Sam se sentia. — Eu sei, bebê. — Suas mãos massagearam as
coxas de Sam e as separaram. — Quero ir tão fundo, te foder tão bem que
nunca conseguirá que eu saia de você. — Levantando a cabeça do pescoço de
Sam, olhou para ele, seu olhar desfocado de repente se tornando divertido. Ele
deu a Sam um sorriso torto, sacudindo a cabeça. — Porra, às vezes eu ouço as
coisas que saem da minha boca e só...
Sam riu atordoado, passando os braços pelo pescoço de Dominic e
arrastando-o para outro beijo. Ele não queria falar. Não tinha certeza se podia
falar. Só podia gemer e beijar Dominic desesperadamente, sua pele
supersensível de fome e necessidade.
Foda-me, entre em mim, quero te sentir de dentro.
Sam não tinha certeza se estava dizendo aquelas palavras em voz
alta, mas deve ter, porque Dominic estava empurrando um dedo escorregadio
dentro dele, e Sam absolutamente se perdeu, choramingando, ofegando e
exigindo mais.
Quando o pênis de Dominic deslizou dentro dele, Sam estava quase
delirando, contorcendo-se no pênis de Dominic com gemidos baixos e
desavergonhados, pernas tão abertas que suas coxas doíam.
Era uma dor boa, mas não tinha nada a ver com o prazer de balançar
seu corpo toda vez que Dominic puxava para fora e enchia-o até a borda
novamente. A plenitude parecia inacreditavelmente boa, mas o ritmo do pênis
de Dominic era muito lento. Era certamente uma tortura.
— Você está tentando me matar? — Sam resmungou, balançando os
quadris para encontrar as estocadas de Dominic. — Mais forte.
Respirando fundo, Dominic dobrou as pernas de Sam contra o peito e
mudou o ângulo, acertando sua próstata com estocadas curtas e intensas que
fizeram Sam gemer, com lágrimas nos olhos. Era tão intenso que não podia
fazer nada além de ficar ali deitado, imóvel e indefeso, empalado no pênis
grosso de Dominic.
Deus, Sam não tinha certeza de quanto tempo durou. Cada músculo
em seu corpo estava se esforçando com a necessidade de obter mais de Nick,
mais de seu pênis, mais de tudo, apesar de Dominic estar mantendo-o tão
cheio que podia sentir todo o caminho em sua barriga.
— Deus, olhe para você. — Disse Dominic, empurrando com força.
— Parece tão lindo com o meu pau te enchendo.
Apertando os olhos, Sam gemeu, absorvendo cada investida do pênis
de Dominic e perdendo-se no prazer. Mas não podia gozar, equilibrando-se na
borda e incapaz de tropeçar.
— Porra, Sammy. — Disse Dominic com voz rouca, murmurando no
lado do seu rosto enquanto o fodia. — Deus, eu te amo.
Os olhos de Sam se abriram e ele gozou com um soluço
estrangulado, seu canal apertando em torno do pênis de Dominic, que rosnou
e empurrou nele mais algumas vezes antes de ficar imóvel.
Lutando para estabilizar sua respiração, Sam olhou para o teto, de
olhos arregalados. Dominic estava praticamente esmagando-o sob seu peso,
mas Sam mal notou isso.
— Desculpe, eu provavelmente sou pesado. — Dominic murmurou e
rolou-os, de modo que Sam ficasse em cima dele.
Sam encostou a bochecha corada contra o peito de Dominic, dizendo
a si mesmo para não ler muito nas palavras dele. As pessoas diziam alguma
merda idiota durante o sexo; ele também era culpado disso.
Mas e se Dominic quis dizer isso?
Quando o batimento cardíaco de Dominic ficou mais e mais lento,
Sam murmurou hesitante:
— Nick?
— Mmm? — Dominic murmurou, sua mão acariciando as costas de
Sam antes de se fixar em sua bunda.
— Você quis dizer isso? — Sam disse, sua voz mais incerta do que
teria gostado. — Realmente me ama?
O peito de Dominic parou de se mover por um momento antes dele
voltar a respirar.
— Antes de você sair... — Ele começou, passando os dedos pelo
cabelo de Sam. — Não sabia o que fazer do nosso relacionamento, o que eu
queria que fosse. Não sabia o que diabos queria de você. Seduzir alvos
masculinos sempre foi uma tarefa tão grande, então eu tinha certeza de que
era completamente hétero, mas era diferente com você.
— Diferente?
A mão de Dominic na sua bunda se moveu um pouco.
— Foi fácil tocar em você, mesmo no começo. Nunca tive que me
forçar. A primeira vez que você se masturbou enquanto te segurei... Sabe o
que pensei?
— O quê?
— Pensei que você parecia muito bonito em meus braços, todo
corado e excitado. — Dominic bufou. — Olhando para trás, é meio óbvio que
houve alguma atração latente desde o começo, mas eu não reconheci o que
era porque não achava que poderia ser atraído por homens. Tipo, passei horas
tentando encontrar algo atraente em Luke, de modo que seria mais fácil fingir
atração por ele, mas não pensei duas vezes que nunca tive esse problema com
você.
— Mas... E sua mulher japonesa? Você teve um encontro com ela em
Tóquio.
Dominic deu uma risada.
— Sammy, passei toda a viagem ao Japão tentando não ligar para
você a cada hora como um estudante apaixonado. Para ser honesto, esperava
que o encontro com Asami me distraísse. Estava ficando embaraçoso como o
inferno.
Sam sorriu contra o peito de Dominic.
— Mesmo? Você deveria ter me ligado a cada hora. Eu não teria me
importado. Senti sua falta terrivelmente. — Seu sorriso desapareceu. Essa
semana sem Dominic não foi nada comparado aos últimos seis meses sem ele.
Acariciou o peito de Dominic, lembrando-se de que ele estava ali. — E então o
quê?
— Quando me masturbei ouvindo sua voz, ficou óbvio que eu tinha
um problema. — Disse Dominic secamente.
Sam piscou, sua mente voltando para a última ligação de Dominic do
Japão.
— Você também?
— Pensei que você notou.
— Não! — Disse Sam, sorrindo. — Eu estava um pouco ocupado no
momento. Então, foi assim que você soube?
— Não! — A diversão deixou a voz de Dominic. Sua mão parou de
acariciar o cabelo de Sam e seu braço escorregou para envolver firmemente as
suas costas nuas. — Eu estava apaixonada por Asami e me senti triste depois
do nosso rompimento, mas não foi nada perto de como me senti depois que
você partiu. Porra, Sammy. — Seu braço apertou ainda mais, tornando difícil
respirar, mas Sam não reclamou.
Ele estava ocupado sorrindo como um louco.
— Você sentiu muito a minha falta?
Dominic rolou-os de lado. Eles se entreolharam, os rostos estavam
separados por centímetros e os corpos ainda se emaranhavam com tanta força
que era difícil dizer onde ele terminava e Dominic começava.
Os olhos de Dominic ainda estavam suaves e pesados devido ao
sexo, mas seu olhar se tornou mais intenso enquanto olhava para Sam.
— Eu estava tão perto de desistir da minha missão e voltar a Londres
para te procurar.
— Você estava no exterior?
Dominic fez uma careta.
— Sim, Amanda me arranjou uma nova missão por ter falhado na de
Whitford e me mandou para a Síria. Tenho certeza que ela viu isso como
punição, mas eu estava quase feliz. Isso me deu tempo para pensar... E
perceber algumas coisas. Me demiti do MI6 assim que voltei.
Sam franziu a testa.
— Por quê?
— Você sabe que isso estava vindo por um tempo. Tornou-se mais
difícil equilibrar os dois trabalhos sem comprometer nenhum deles. Então fiz a
escolha. — Uma ruga se formou entre as sobrancelhas de Dominic. — Talvez
eu esteja envelhecendo, mas meu trabalho na Grayguard me dá uma sensação
de estabilidade que é mais atraente quanto mais eu ganho. Não sou o viciado
em adrenalina que já fui. E mentir o tempo todo mexe com minha cabeça. —
Os nós de Dominic roçaram o lábio inferior de Sam. — Eu estava tão ocupado
vivendo vidas falsas que perdi a única coisa real que queria. Então parei.
— Você achaaa... Achaaa que sou a coisa real? — Sam corou com a
gagueira, odiando o quão inseguro soou, mas tinha ficado tão acostumado a
pensar que Dominic nunca retornaria seus sentimentos que ainda não parecia
real.
Dominic encostou a testa na sua, colocou uma mão na nuca de Sam
e riu baixinho.
— Você conhece a expressão ‗louco de amor‘? Pensei que fossem
apenas palavras. Mas definitivamente me sinto um pouco louco... — Ele deu a
Sam um beijo curto e voraz, suas mãos subindo e descendo pelo seu corpo. —
Porra, eu teria feito isso, sabe.
Sam se afastou um pouco.
— Feito o quê?
Havia algo sombrio na expressão de Dominic enquanto olhava para
Sam.
— Se Demidov tivesse realmente atirado em você, eu teria feito o
que ameacei. Não tenho orgulho disso, mas sei que o faria.
A boca de Sam ficou seca.
— Não seja bobo. Você não é... Esse tipo de homem.
— Não sou? — Dominic apertou as testas novamente, a respiração
ríspida e instável, um sorriso sem graça torcendo seus lábios. — De certa
forma, Demidov e eu somos cortados do mesmo tecido, Sammy. Eu teria
matado Luke se ele te tirasse de mim. Olho por olho. Ele sabia disso. Essa é a
única razão pela qual te deixou ir.
Sam sabia que provavelmente deveria se sentir incomodado, mas era
difícil se incomodar com qualquer coisa quando estava envolvido nos braços de
Dominic.
— Estamos em perigo?
— Não penso assim. — Disse Dominic contra sua bochecha, apertando
o braço ao redor das costas de Sam novamente. — Ele não teria nos deixado
partir se realmente quisesse vingança. Não há nada com que se preocupar.
— Nada? — Sam disse ceticamente.
— Ele sabe que eu realmente não queria machucar Luke e só queria
protegê-lo. Demidov é um bastardo, mas entende o desejo de proteger seus
entes queridos. Além disso, Demidov tem estado quieto desde que se mudou
para Londres. Há rumores de que está fechando o lado obscuro de seus
negócios. Não parece que ele quer problemas se puder ser evitado. De
qualquer forma, não sou exatamente alguém que possa simplesmente fazer
desaparecer. Ele nos deixará em paz. — Dominic beijou-o no nariz. — Não se
preocupe. Vai ficar tudo bem.
Enterrando a mão no cabelo de Dominic, Sam assentiu com um
sorriso estúpido.
— Não estou preocupado. Sei que estou seguro com você.
Dominic se afastou um pouco para olhá-lo nos olhos. Sam olhou de
volta, irremediavelmente pego por aquele olhar escuro e demorado.
— Porra, isso está mexendo com a minha cabeça. — Disse Dominic.
Sam piscou, confuso.
— O quê?
Dominic riu.
— Às vezes, tenho esses pensamentos sobre você... Eles iriam te
assustar... Inferno, eu me assusto. — Ele passou o polegar gentilmente sobre
o lábio inferior de Sam. — Mas, ao mesmo tempo, você me faz querer ser um
homem melhor, ser um bom homem. — Ele se inclinou e chupou o lábio de
Sam suavemente. — Fode um pouco minha mente. Mas eu te amo, Deus.
Sentindo que seu peito estava prestes a explodir de felicidade, Sam
sorriu contra a boca de Dominic.
— Eu também. Mas você provavelmente já sabe disso.
Dominic começou a rir.
— Certo, Sr. ―É apenas uma paixão!‖ Isso deveria ser uma confissão
de amor?
Sam fez uma careta antes de rir também.
— Ah, cale a boca. Era tão óbvio que era embaraçoso.
A risada de Dominic morreu, seu olhar ficou sério e intenso.
— Diz. Eu quero ouvir isso, Sammy.
Sam sentiu o rosto quente.
— Eu te amo. — Disse ele, sentindo-se ridiculamente tímido. — Te
amo mais do que qualquer coisa.
Um rubor apareceu nas maçãs do rosto de Dominic, seus olhos
brilhando com algo como satisfação.
— Cristo... As coisas que eu quero fazer com você...
Sam o empurrou de costas e olhou para ele com um sorriso lascivo.
— As coisas que eu quero fazer com você...
Dominic deu-lhe um sorriso lento e preguiçoso.
— Sou todo ouvidos.

Epílogo

A pequena aldeia nos Alpes Suíços não recebia muitos recém-


chegados. Às vezes, havia turistas procurando novas rotas de esqui, mas a vila
não ficava perto das principais atrações turísticas, por isso não acontecia com
muita frequência.
Então, quando Sophie Blauch ouviu o boato de que a pequena cabana
na beira da vila foi finalmente vendida para alguém - um casal britânico - foi
imediatamente investigar. Ela vive nessa aldeia há mais de quarenta anos; era
praticamente seu dever dar as Boas-vindas aos recém-chegados.
Sophie ficou um pouco desapontada porque os novos donos da
cabana não pretendiam residir permanentemente ali - aparentemente a
haviam comprado para as férias - mas mesmo assim eram pessoas tão
interessantes.
Eles eram um casal impressionante: dois homens bonitos, altos e
bem vestidos, recém-casados e obviamente apaixonados. O mais velho,
Dominic, provavelmente tinha trinta e poucos anos. Ele era bem-educado, mas
um pouco reservado. Verdade seja dita, havia algo em seus olhos que fez
Sophie se perguntar se ele realmente era o empresário que afirmava ser.
O mais novo, Sam, era tão fofo. Aparentemente, ele era um tipo de
jornalista de videogame que escrevia reportagens sobre jogos. Internamente,
Sophie zombava de um trabalho tão estranho, mas o jovem era tão
obviamente orgulhoso de seu trabalho que ela não tinha coragem de dizer
nada.
Quando perguntou como eles se conheceram, a coisa mais estranha
aconteceu.
— Ele me sequestrou. — Disse Sam.
— Nos conhecemos num cruzeiro. — Dominic o corrigiu. — Um
cruzeiro muito chato.
— Ele me comprou num leilão. — Sam disse com um sorriso que era
deliciosamente sujo.
Sophie corou. Ela pode ser velha, mas não estava morta.
Dominic deu ao marido uma expressão sofredora e disse:
— Por favor, ignore-o, Sophie. Ele tem uma imaginação vívida.
Sam riu e concordou, colocando a mão na de Dominic e entrelaçando
os dedos.
Poucas pessoas teriam notado o olhar que o casal trocou, o pequeno
sorriso brincalhão nos lábios de Dominic enquanto ele apertava a mão do
ruivo, mas Sophie o fez.
E ela se perguntou o quanto de verdade havia naquela conversa.

Fim

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