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CORPO,
Artigo
COMUNICAÇÃO
E CONHECIMENTO:
REFLEXÕES PARA
A SOCIALIZAÇÃO
DA HERANÇA
ARQUEOLÓGICA
NA AMAZÔNIA1
Cristiana Barreto2
1- Uma primeira versão deste trabalho foi apresentada no Seminário “Tecnologia, Arte e Patri-
mônio: abordagens críticas sobre aquisição e transformação de conhecimentos” organizado em
dezembro de 2011 pelo LINTT (Laboratório Interdisciplinar de Tecnologia e Território) e CEstA
(Centro de Estudos Ameríndios), Universidade de São Paulo.
2- Pesquisadora do Laboratório de Arqueologia dos Trópicos e Pós-doutoranda do Museu de
Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo.
Abstract
Resumo This article presents ideas about the role
Este artigo parte de algumas reflexões so- archeologists play in the processes of turn-
bre o papel do arqueólogo no atual contexto ing public Amazonian archaeological heri-
de discussões sobre multivocalidade na so- tage, within the present debates about mul-
cialização do patrimônio arqueológico da tivocality. It advances some concepts and
Amazônia, para apresentar uma proposta methods for improving communication
conceitual e metodológica de comunicação and knowledge transmission which would
e transmissão de conhecimento científico be more in tune with public archaeology
mais afinada com uma arqueologia pública practices for XXI century. In sum, it pro-
do século XXI. Em resumo, trata-se de pri- poses to prioritize certain areas of archaeo-
vilegiar certas áreas da interpretação arque- logical interpretation with a greater poten-
ológica cuja capacidade agentiva de comu- tial for visual communication and from
nicação visual e esferas de reconhecibilidade which recognition spheres can be expanded
sejam mais abrangentes e inclusivas quanto and become more inclusive of the types of
aos públicos e audiências em jogo. audiences at play.
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Figura 1- Exemplo de equipamentos urbanos com design inspirado em peças arqueológicas. À esquerda, telefone
público em forma de urna marajoara em Belém; à direita calçada com desenho de muiraquitã em Santarém.1
1- Todas as fotografias deste artigo são de autoria de Cristiana Barreto (com exceção do material compilado na figura 5)
do objeto arqueológico como herança cultu- mensagens que estão sendo veiculadas sobre
ral, movimento no qual a voz da arqueolo- o passado arqueológico da Amazônia atra-
gia, isto é o conhecimento científico, fica vés destes projetos. Os usos destes objetos e
muitas vezes ausente. imagens teriam sido diferentes caso houves-
Não se trata aqui da defesa de um “puris- se um entendimento mais aprofundado so-
mo” cultural; o artesanato é uma área em bre os povos que os fabricaram, os contextos
que inovações e reapropriações estão sem- em que foram encontrados e o papel espe-
pre ocorrendo e a referência à história (ou cial que eles podem desempenhar na com-
pré-história) pode ser uma estratégia bas- preensão de nosso passado indígena?
tante positiva e genuína para reforçar a iden- Com exceção das primorosas réplicas de
tidade de um local e dar a conhecer esta his- cerâmicas arqueológicas efetuadas de forma
tória e este passado aos visitantes e turistas bastante exclusiva por alguns artesãos, na
(Borges, 2012). Amazônia, nos parece que o conteúdo ar-
Contudo, esta não tem sido a direção to- queológico não só vem se tornando secun-
mada no design de artesanato da Amazônia. dário para o grande público, mas também
Ao contrário, usos e abusos do patrimônio vem sendo reapropriado para fins variados,
arqueológico têm ocorrido de forma a afas- não apenas comerciais, mas, sobretudo,
tar o público cada vez mais do universo dos como marca de identidade visual, às vezes
conhecimentos produzidos pela arqueolo- reforçando antigos estereótipos sobre as so-
gia. Quer seja a urna funerária Marajoara ciedades indígenas amazônicas, em uma vi-
transformada em telefone público em Be- são ainda bastante “colonizadora” da histó-
lém, os muiraquitãs tornados calçamento ria pré-colonial.
em Santarém, ou ainda a vasta gama de ce- A própria idéia de que objetos arqueoló-
râmicas “tapajoaras” vendidas nos merca- gicos podem ser replicados ad infinitum, ou
dos, devemos nos perguntar quais são as ilimitadamente transformados, em suas
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lha de artefato
particularmente
privilegiada para
a transmissão de
con he ci mento,
tanto no passado,
como no presen-
te. Contudo, se-
ria falacioso e et-
nocêntrico de
nossa parte, usar-
mos esta base co-
mum para proje-
tar nossas noções
ocidentais de cor-
po e humanidade
em uma leitura
direta do material
Figura 5: As caras da divulgação científica na arqueologia da Amazônia: a escolha intuitiva das peças
arque ológ ico.
antropomorfas em capas de catálogos, livros e guias temáticos confirma o seu potencial comunicativo. (Isso é justamente
o que vemos nas
cas museológicas contemporâneas têm en- transformações feitas livremente pelo arte-
fatizado a importância das experiências sanato).
sensoriais no nível do aprendizado indivi- E é aí que se faz necessário o trabalho de
dual. tradução do arqueólogo, a mediação das
“Learning is defined as “an act of perception, interaction diferenças, e os enfoques comparativos en-
and assimilation of an object by an individual”, which tre “eles” e “nós”, entre como concebemos e
leads to an “acquisition of knowledge or the development construímos nossos corpos e como e eles o
of skills or attitudes” (Allard and Boucher, 1998). Learn- faziam no passado. E além disso, como fab-
ing relates to the individual way in which a visitor as-
ricavam seus corpos comparativamente aos
similates the subject (ICOM, 2010).
de outras gentes. Afinal, conforme nos lem-
Não por acaso, os objetos antropomorfos bra Eduardo Viveiros de Castro,
estão entre os mais expostos nas vitrines de “comparison is not just our primary analytic tool. It is
museus e exposições, e cujas imagens foram also our raw material and our ultimate grounding, be-
mais veiculadas em capas de catálogos, re- cause what we compare are always and necessarily, in
vistas e materiais de divulgação científica one form or other, comparisons” (Viveiros de Castro,
2004:4)
em geral. (Figura 5).
Assim, seguimos aqui o que tanto Sally
A MEDIAÇÃO DAS DIFERENÇAS: UM Price (1989) como Edward Morphy (1994)
EXERCÍCIO NECESSÁRIO vêm argumentando em relação à apreciação
O foco na percepção, reconhecimento e e entendimento de objetos etnográficos pelo
interação visual de elementos identitários, público ocidental em geral: não basta expor
sobre uma base universalmente comum (o estes objetos com base em um universalis-
corpo humano), constitui assim uma esco- mo estético; é preciso primeiro criar con-
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dições de igualdade para se entender as tais quais eixos de simetria que atuam no es-
diferenças, e segundo, traduzir estas difer- paço ritual, ritmo, movimento, efeitos ciné-
enças de acordo com os universos culturais ticos, e muitos outros que podemos identifi-
específicos com que se está lidando. Hodder car nos motivos pintados, incisos, e na
também nos lembra o importante papel do relação entre os elementos bi e tridimensio-
arqueólogo não só como um interprete en- nais. Incluem-se aqui as combinações de
tre o passado e presente, mas também entre elementos que compõem seres híbridos,
diferentes perspectivas sobre o passado animais e humanos. São todos elementos
(Hodder, 1992). que fazem parte da tecnologia de encanta-
A seleção, tradução e a mediação, no en- mento de determinados rituais funerários
tanto, só serão possíveis se a arqueologia (Barreto, 2009).
avançar no entendimento dos princípios e Algumas constantes, como as formas tu-
técnicas que conferem a capacidade agenti- bulares com tampa, a antropomorfia, sobre-
va destes objetos, primeiro na arena de tudo com a representação de uma face hu-
“leitura” para os quais foram feitos; as inten- mana, a divisão entre urna/tampa
ções e efeitos almejados para o público correspondendo a corpo/cabeça, a constru-
“original”, dentro de uma perspectiva das ção do corpo na posição sentada, a presença
teorias de percepção e agência dos objetos. de pintura e adornos corporais, a indicação
Na arqueologia amazônica, boa parte do sexo, e a variabilidade de tamanho (às
dos corpos fabricados em cerâmicas, consti- vezes correlacionada com a idade), e o uso
tui na verdade segundos corpos para o en- de elementos decorativos (incisos ou pinta-
terro secundário de indivíduos. De maneira dos) em faixas e espirais com representações
geral, os objetos que vemos nas estantes das de cobras, fazem parte desta linguagem pan-
lojas de artesanato, se inspiram em urnas fu- -amazônica.
nerárias de variados complexos culturais em São estes elementos que garantem uma
tempos arqueológicos. das características fundamentais para se de-
O conjunto de urnas funerárias conheci- finir estilos particulares, isto é, aquilo que
das para a Amazônia pré-colonial certa- Peter Roe, em sua definição de estilo, chama
mente exibe um grau de semelhança que de reconhecibilidade – um termo que vimos
compõe uma linguagem comum, pan- empregando com um sentido mais amplo
amazônica. Uma síntese panorâmica destes neste texto, mas que aqui se refere à capaci-
registros ao longo da bacia amazônica indi- dade do objeto em ser identificado enquanto
ca, sobretudo, uma longa permanência de distinto de outros estilos (Roe, 1995:30).
aproximadamente 1200 anos da prática de Além da reconhecibilidade, para Roe, entre
enterramentos secundários em urnas outros elementos importantes na definição
cerâmicas antropomorfas, de uma ponta à de um estilo, está o que ele chama de contex-
outra da bacia amazônica. tualidade, ou seja, o fato de que sua reco-
São, portanto, artefatos rituais que encer- nhecibilidade depende do contexto a sua
ram a intenção de representar corpos huma- volta, podendo ser induzida ou não por este
nos (pessoas ou personagens ?) de formas contexto (o que certamente acontecia em
mais ou menos icônicas, dependendo da tempos pré-coloniais, visto serem os sítios
tradição cultural e que, para além da forma arqueológicos em que foram encontrados
do corpo humano, apresentam elementos prováveis territórios de domínio ritual, fu-
estilísticos de engajamento com o público nerário e, portanto, sagrado).
Na Amazônia pré-colonial, o contexto é visitante olhe para uma urna Maracá e reco-
sem dúvida parte deste alto grau de reco- nheça ali uma pessoa sentada sobre um ban-
nhecibilidade dos objetos funerários antro- co, ou seja capturado pelo olhar de uma
pomorfos. Muitos dos sítios em que são en- urna Marajoara com seus grandes olhos de
contradas as urnas exibem algum aspecto coruja?
que garantem sua preservação e sua visibili- Roe fala também da capacidade dos ob-
dade, associados a verdadeiros marcos da jetos de afetar emocionalmente (affect ) ou
paisagem, marcos estes que podem ser natu- sensitivamente o público. Mas não no senti-
rais (como as grutas, abrigos, e topos de do estetizante em que museus e exposições
morros) ou construídos, como os tesos de com materiais etnográficos vêm trabalhan-
Marajó e os túmulos Aristé e que, portanto, do na linha de “deixar o objeto falar por si
podem atuar como um marcador de lugares só”. Ao contrário, a idéia é justamente usar o
sagrados (assim como os templos religiosos objeto para entender as ações, as intenções,
em geral) onde se exibem as marcas estilísti- as técnicas e linguagens usadas para produ-
cas tradicionais e ancestrais das sociedade zir determinados efeitos no público.
que os constroem. Aqui talvez a reconhecibilidade se daria
Nos cemitérios Maracá, as urnas ficam simplesmente pelo fato de se tratar de um
em lugares protegidos (como abrigos e ca- tema universal, o corpo, em que sua compo-
vernas), e ao invés de serem enterradas, fi- sição, por mais que seja culturalmente espe-
cam expostas aos visitantes (Guapindaia, cífica, seja sempre reconhecível por outro
2001). As urnas Aruã e Mazagão também ser humano. Mas em se tratando de socieda-
não eram propriamente enterradas, mas des ameríndias da Amazônia, entre as quais
eram colocadas em abrigos ou outros luga- sabemos que a forma do corpo humano
res protegidos, porém visíveis (Meggers e nem sempre corresponde à noção de huma-
Evans, 1957). nidade, e que estas formas podem ser múlti-
Esta visibilidade intencional sugere forte- plas, híbridas (antropo e zoomorfas ao mes-
mente a prática de uso da representação dos mo tempo), transformacionais e instáveis,
ancestrais enquanto marcadores de identida- em outras palavras, podem ser corpos cons-
de política e cultural para um mundo exte- truídos sob a teoria nativa do perspectivis-
rior, isto é, para as outras sociedades amazô- mo ameríndio (Viveiros de Castro, 2002),
nicas contemporâneas. Em tempos não podemos simplesmente lançar mão des-
pré-coloniais, a variação que encontramos te tipo de reconhecibilidade universal. A
nas formas de representação do corpo, com mediação e a tradução são necessárias.
um grau de iconicidade mais ou menos agu- Devemos reconhecer e explicitar alguns
çado, pode traduzir a necessidade de se man- outros princípios de representação dos se-
ter uma linguagem extra-regional, e talvez res, como algumas das linguagens metafóri-
seja esta intenção de comunicação com ou- cas utilizadas comumente nas artes amerín-
tros mundos que tenha assegurado sua reco- dias que tomam a simetria e a composição
nhecibilidade até os dias de hoje, mesmo em das partes de um corpo (humano ou não)
contextos de conhecimentos ocidentais. pela representação de animais, ou a compo-
Mas o que garante a reconhecibilidade sição de uma serie de artefatos, para além
deste estilo panamazônico para o público daquilo que chamamos de antropomorfos
em geral, que desconhece estes contextos es- (como, por exemplo, a composição das vasi-
pecíficos? O que faz com que um turista ou lhas marajoaras ou xinguanas). Contrapon-
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de forma mais ou menos didática para um são do outro a partir do conhecimento que
público não nativo. Os temas a serem explo- se tem de si, das diferenças e semelhanças.
rados podem girar em torno dos diferentes Se quisermos efetivar o projeto de uma
significados associados aos padrões de va- socialização do patrimônio arqueológico da
riabilidade formal, os diferentes tratamentos Amazônia de forma menos hierárquica e
corporais (pinturas, adornos, penteados), os autoritária, fazendo uma real diferença não
significados das diferentes posições em que só para a preservação do patrimônio, mas
os corpos são representados (sentados, em também para despertar interesses locais no
pé, em posição de parto, etc.), os diferentes seu gerenciamento, não basta incluí-los na
modelos de corpo de acordo com o contexto arena da multivocalidade; não basta deixar
cultural (comparando-se as estatuetas mara- os outros falarem, pois como nos lembra
joara com as tapajônicas, por exemplo), e Hodder, nem sempre os discursos construí-
relacionando este gênero de representação a dos sobre este patrimônio estão alinhados
outros, dentro dos sistemas artefatuais indí- com os mesmo interesses éticos de celebra-
genas amazônicos. ção de um herança arqueológica. Assim, o
A idéia aqui, não é apenas transmitir as arqueólogo tem um papel ativo fundamen-
associações dos materiais a determinadas tal a cumprir nesta arena de multivocalida-
identidades culturais que a arqueologia clas- de, que envolve a comunicação, a mediação
sifica com categorias tais como tradição, e a tradução do conhecimento arqueológico
fase, cultura, complexo cultural ou outras. para os cenários de patrimonialização que
Mas fazer ver, nos objetos, as linguagens e os se apresentam na Amazônia do século XXI.
sistemas nativos de comunicação e expres- Vista desta maneira, a atuação do arque-
são destas identidades, compartilhá-los com ólogo na Amazônia não mais deveria se res-
o público. tringir à comunicação do seu conhecimento
em veículos de divulgação científica, quer os
AS CULTURAS SÃO FEITAS PARA DIA- acadêmicos ou os mais generalizados, mas
LOGAR engajar-se mais profundamente nos projetos
Assim dizia o slogan que, no início do sé- de comunicação visual (governamentais ou
culo XXI anunciou a criação de um novo privados), de design de produtos, de fomen-
museu em Paris para abrigar as coleções de to ao artesanato, de programação cultural,
culturas antes ditas “primitivas”, mas agora tais quais feiras, festivais e exposições, etc.
reconhecidas como primeiras, ou primor- O papel do arqueólogo é procurar as áre-
diais. as, temas, recortes, problemas e, sobretudo,
Na museologia do século XX, a produção linguagens onde este diálogo é mais prová-
de grupos e povos mais ou menos distantes vel e profícuo, e fornecer, a partir de todo o
da civilização ocidental aos poucos migrou seu instrumental teórico e metodológico
dos tradicionais museus de antropologia próprio da disciplina, os elementos para tor-
para os museus de arte. Contudo, aprende- nar a troca de conhecimento possível, isto é,
mos que nem sempre basta expor esta pro- aprender sobre os artefatos arqueológicos a
dução enquanto obra de arte para as fazerem partir da relação do público com eles e fazer
falar. Reiterando as idéias de Sally Price, é uma arqueologia do presente para melhorar
preciso achar a lente certa para fazer ver as a arqueologia do passado.
diferenças e abrir o diálogo. É preciso esta- Como apontam Bezerra de Almeida e
belecer relações que iluminem a compreen- Najjar (2009), no Brasil, são ainda muito tí-
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como com os quilombolas (Guimarães, e estilo na cerâmica funerária da Amazonia antiga. Tese de dou-
torado, MAE-USP, São Paulo.
2003) e comunidades locais em geral. A re-
BEZERRA, M. 2005 Make Believe Rituals: Refl ections on the
lação com o público escolar também tem Relationship between Archaeology and Education through the
sido objeto de reflexões relevantes (Bezerra Perspective of a Group of Children in RJ, Brazil. Archaeologies, v.
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está sendo construído fora da arena de con-
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o público deve também ser pensada a partir
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