sendo um mistério para os pesquisadores por causa, especialmente, de seus sofisticados trabalhos em cerâmica e pela falta de elementos que possam determinar o rumo que esses povos, notadamente, os marajoaras e os tapajônicos teriam tomado, considerando-se que foram sucedidos por outros menos dotados de caracteres artísticos e menor cuidado em suas produções cerâmicas.
Especialmente estes dois povos, entre alguns outros
que vamos mencionar, carregam elementos muito sofisticados na sua produção, desde o manuseio da argila na confecção de vasos, objetos variados e urnas funerárias, quanto na sua decoração, excessivamente rebuscada, dando uma impressão robusta de que tenham sido inspiradas em algo muito complexo de sua antiga cultura ou de algo que muito teria impressionado os seus autores.
Excepcionalmente, as peças funerárias carregam
uma complexidade de formas e figuras, ora pintadas, ora gravadas mediante o processo de excisão e incisão, além de apliques em alto relevo, dando-lhes um aspecto de beleza e mistério. Outro fator que chama muito a atenção dos pesquisadores é o que se refere às peças denominadas “tanga” ou “babal” de uso feminino e de grande interesse por causa de sua inusitada presença somente naquela região do Pacoval, em Marajó, e de suas enigmáticas decorações. Gastão Cruls escritor e expedicionário na região Amazônica em 1928/1929 escreveu em seu livro ‘Hiléia Amazônica’: “Uma das cousas que mais causaram admiração e espanto aos primeiros estudiosos em arqueologia americana, foi a insistência com que apareciam na sua cerâmica, como motivo ornamental, desenhos perfeitamente geométricos, que em tudo lembravam a mais pura arte clássica. Daí a tendência, logo manifestada por alguns, de radicar as misteriosas raças ameríndias às mais velhas civilizações orientais.”
Também o grande investigador das coisas
Amazônicas, Raimundo Morais, escreveu em seu livro ‘O Homem do Pacoval’: “Por muito que tenhamos falado na louça aborígine encontrada em Marajó, volvido um dia, passado um mês, gasto um ano, aparecem novos motivos para a nossa incipiente literatura. O enigma envolto nos hieróglifos que decoram tão formosos objetos de argila, ganha curvas imprevistas, ângulos singulares, mataimes ainda não percebidos.”
Concordamos que há mesmo algo de misterioso
nesta região em relação ao povo que aí habitou e deixou estas relíquias de barro com sua rica simbologia de estranho significado como testemunho de sua presença. Queremos neste artigo mostrar alguns destes significativos trabalhos amazonenses e seu rico acervo de ideogramas gravados na sua igualmente rica produção cerâmica, como uma marca indelével de algo que teria sido profundamente importante para estes povos.
Tesos ou ‘mounds’ – elevações construídas na
ilha de Marajó, de grande extensão que serviam para habitações ou para sepultamento dos mortos.
A Ilha de Marajó tem cerca de 48000 km2 de
extensão, sendo considerada a maior ilha flúvio- costeira do mundo. Situa-se na foz do rio Amazonas, estado do Pará e assemelha-se a um ovo da boca de uma grande serpente. A ilha de Marajó foi também chamada de grande Ilha Joanes, nome este que se deve ao fato de que havia sido povoada por diversos povos, entre eles os aroans, mucoans, ingaíbas, mariapans e cariponás. Entre estes povos havia também uma tribo chamada de inionas que, com o passar do tempo, reduziu-se para o nome de joanes, dando assim origem ao nome anterior da ilha de Marajó. O lado ocidental da ilha é mais elevado, situando-se a cerca de 20 m do nível do mar e o oriental ainda se encontra em processo de sedimentação e está sujeito a inundações periódicas. Possui vários canais e rios, formando uma grande quantidade de pequenas ilhas que compõem o delta interior do rio Amazonas.
A partir do século XIX pesquisas arqueológicas
descobriram nesta região um tipo de objetos cerâmicos que possuíam uma técnica e uma arte muito superior aos que foram encontrados em outros locais do país. Há, entretanto, inexistência de dados precisos dos grupos pré-colombianos que ali poderiam ter habitado e escavações efetuadas em diversos lugares levaram a concluir que pelo menos quatro estilos diferentes existiram na ilha, além do regularmente chamado de marajoara. Os sítios marajoaras localizam-se na metade ocidental da ilha, próximo ao lago Arari e os tesos ali encontrados indicam terem sido construídos para fins específicos: como localização de aldeias ou como cemitérios. Além dos vasos cerâmicos com aprimoradas decorações em cores também foram encontrados ídolos, cachimbos, bancos, tangas e adornos zoormorfos e antropomorfos