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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA

LUCAS CUNHA SANTOS

Resenha do capítulo XII do livro Arqueologia Brasileira, do autor André


Prous

Professora: Monica Nunes Sampaio

Laranjeiras/SE
2018.1
Prous, André. Arqueologia brasileira. Revisão do texto: Wilma Gonsalves rosas. Editora
Universidade de Brasília, 19992.

A Pré-história Amazônica

Nesta resenha pretendo, através dos limites da minha interpretação, resumir o


capítulo XII do livro Arqueologia brasileira, lançado no de 1991 pelo arqueólogo André
Prous. O capitulo XII é intitulado de “ A Pré-História Amazônica”.

O autor começa o capitulo falando a respeito das teorias de povoamento da


Amazônia, onde diz que a orientação teoria Norte Americana é quem monopoliza os campos
de interpretação. Ele apresenta alguns nomes importantes como Howard que foi um dos
primeiros a tentar organizar os dados que se existia, que o levou a identificação de seis
complexos cerâmicos. Outro nome de destaque é o antropólogo Julian Steward, que é autor
de um quadro teórico, onde os indígenas amazonenses são classificados como estando no
estágio socioeconômico ‘marginal’, ou seja, da ‘floresta tropical’, onde as pressões ecológicas
os impediria de construir sociedades complexas, ou seja, hierarquizadas. Fugindo um pouco
do tema mais nem tanto, é interessante descartar que atualmente esse quadro teórico proposto
por Steward é considerado etnocentrista, onde utiliza de suas visões de mundo para montar
suas interpretações, renegando completamente o outro lado e seu próprio modo de viver e
compreender sua existência. Mas retornado a teoria proposta, ele acreditava que devido as
condições ecológicas de extrema dificuldade seria impossível que algum dia os povos
indígenas terem alçando grandes densidades populacionais.

Prous, cita o casal B. Megges e C. Evans, que foram enviados por Steward no
ano de 1950 para testar suas teorias em campo, sendo que o casal é entendido como referência
para orientação de trabalhos na Amazônia. Onde eles desenvolveram um trabalho, de
“identificação” de onde possivelmente as tecnologias como a cerâmica poderia ter sido
difundidas, para assim se descobrir seus locais iniciais. Gostaria de ressaltar, que devido a
outros estudos, sei que as teorias propostas pelo casal são de teor difucionistas, onde ele
desconsidera a capacidade criativa das populações indígenas, e entende que as tecnologias
como por exemplo a cerâmica teria sido trazidas de fora do continente.

O autor cita o Hilbert, que teria organizado as “fases cerâmicas” identificadas,


e as divido em quatro horizontes. O que era considerado o mais antigo seria o ‘Hachurado-
zonado’, que contaria com decorações de linhas principalmente incisas paralelamente; outro
horizonte seria o ‘Borda incisa’, onde possuiria bordas planas e horizontais decoradas com
incisões ou pontuações, sua data estipulada é 500 AD; Haveria o horizonte ‘Policromo’, que
era caracterizado por apresentar uma decoração pintada com englobo branco, sobre o qual são
traçadas linhas pretas ou vermelhas, sua data estimada é 1000 AD; o ultimo seria o ‘Inciso-
ponteado’ que possuí adornos modelados alternando com incisões e pontuações e sua data
seria na proto-história. Com o tempo se percebeu que a antiguidade desses horizontes era
muito maior do que se estimava então passaram a ser chamados de Tradições, onde uma
sucederia a outra e influenciaria. As criticas que foram feitas a esse quando são devido as
discrepâncias cronológicas ou pelo sentido difucionista de influencias culturais. Autores como
Rouse questionaram a metodologia utilizada, pelo fato dela servir apenas para caracterizar as
tipologias cerâmicas, mas não para interpretações no campo econômico e social.

O autor fala a respeito das ocupações ou vestígios mais antigos, que são
datados antes do período cerâmico, onde cita o Mato Grosso, onde possui um sitio datado
entre 10350 e 3800; em Tapajós foram encontradas pontas de flechas que possuem 6000 anos
ou mais; no Pará os vestígios da gruta do gavião seria caracterizados por detritos líticos
diversos e restos alimentícios onde a datação mais antiga seria de 11000 BP; Já em Roraima,
foram encontrados um pilão de pedra, uma bola e um batedor, que são datados em 4000 BP;
no Amapá por sua vez, possui algumas peças líticas datada em 3700.

Os primeiros ceramistas amazônicos na época segundo o autor seria grupos de


pescadores e coletores litorâneos do tipo sambaqui, no Equador em “Valdivia” e na Colômbia
em “Puerto Hormiga”, onde a cerâmica teria surgido por volta de 3200 BC. Ele cita que a B.
Meggers, que ao obter uma datação 980 BC para a cerâmica Marajó mais antiga, ou seja, essa
seria a datação cerâmica mais antiga de todo território brasileiro, atribuiu sua origem a difusão
vinda de Valdivia. Porem, nos anos 70 datações de 2500 e 3200, foram obtidas no Pará, onde
foi caracterizada de “fase Mina”, ou seja, essas datações são mais antigas que qualquer uma
das outras citadas, o que nos faz crer que existiriam vários focos independentes de
desenvolvimento cerâmico, como além dos já citados, existiria também outros como é o caso
do Aruás.

Acreditava-se que já existiria alguns indícios de domesticação das plantas,


como é o caso de vestígios de fumo encontrados em cachimbos no rio Javali da Fase Castália
e Fase Jauari. Outros indícios seriam identificados pelos Evans na população Ananatuba e etc.

Ele cita algumas tradições e fala a respeito de pressupostos teóricos que


acabam interferindo em analises realmente significativas para a construção de conhecimento e
o indicado segundo o autor para o atual estagio de pesquisa seria definir estilos regionais ou
invés de se tentar estabelecer “Tradições” que se baseiam em pressupostos difucionistas, que
com a avançar do tempo se tornam cada vez mais inapropriados que não se sustentam nem
mesmo em sua fase inicial.

Nessa parte do texto que irei tratar agora ele fala a respeito da Tradição
‘subandina’ Policroma, onde o casal Evans havia agrupado como já citei todos as fases
cerâmicas que tivesse decorações de traços pretos ou vermelhos englobados por branco, onde
creditavam aos seus fabricantes o status de mais ‘evoluídos’ que teria tido contato com grupos
mais ‘adiantados’ que seus vizinhos. Então acreditavam que somente os povos Policromicos
possuiriam uma agricultura intensiva o que permitiria uma produção alimentar maior e uma
demografia dinâmica, como também permitia uma ultra especialização de trabalho, onde
haveria artesoes especializados, estruturas politicas e religiões desenvolvidas, em suma, o
velho etnocentrismo, caracterizando como melhor aquilo que mais se parece com si. Dentro
dessa tradição existiria algumas subtradições como a Marajoara, que englobaria algumas
fases, como por exemplo a Aristé, no Amapá; a Fase Itacoatiara e etc. Outra “subtradição”
seria Guarita, que possuiria Fases como a “Eponima, que possuiria uma decoração
essencialmente em vasos abertos datados em 1150+ 47 AD; a Fase Apuá, que apresenta uma
cerâmica muito semelhante e é datado em 825 AD; outras fases só se possui as datações como
é o caso das fases Manicoré 1135 – 1185 AD e Pupunhas 1400 AD.

Segundo o autor, o padrão policrômico aparenta ser bastante homogêneo e


possui uma maior credibilidade que o padrão ‘Borda incisa’, porem isso provocas polemicas
principalmente a respeito de sua origem, onde novamente o casal Evans atribui a difucinismos
de outras regiões mais adiantadas, porem Lathrap que aparenta ser menos determinista,
acreditava que sua invenção teria se dado ainda em território Amazônico Brasileiro. Outra
questão que é posta seria a semelhança com as cerâmicas Tupiguarani.

Agora irei tratar de outra tradição citada pelo autor, que seria a Tradição
‘inciso- ponteada’, onde os Evans a caracterizaram como sendo de uma decoração complexa
ou barroca, que combina incisões, pontuações e figuras biomorfas. Dentro de suas
manifestações materiais está a famosa cerâmica Tapajônica, onde os sítios se encontram nas
bordas dos rios e lagoas entre Santarém e Óbidos. A cultura Santarém é uma das que fazem
parte dessa tradição, sendo que possui vários sítios ao redor dos rios já citados e do Jari, esses
sítios são caracterizados por uma terra altamente antropogênica, fruto de ocupações muito
numerosas e sucessivas, indo contra as alegações etnocêntrica. Dentro as varias manifestações
podemos ver 3 tipos de representações que mais se destacam dentro das cerimoniais, essas
seriam os vasos ”Cariátides”, que apresentam uma base anelar que é decorada com incisões
sobre a qual figuras femininas nuas são representadas e ao seu redor são aplicadas
modelagens em formas de animais, esse tipo de vaso em especifico seria utilizado para os
rituais, onde as mulheres estariam proibidas de participar. Outro tipo de vasilha seria o “ vazo
de gargalo”, que apresenta um bojo globular representando corpos de jacarés, onde saem duas
cabeças opostas e simétricas, onde podem aparecer representações de outros animais. O
terceiro tipo comporta grandes cálices sobre um pedestal na maioria das vezes representados
por decorações de cobras onde podem aparecerem representações masculinas e femininas.
Vários outros tipos de estatuas antropomórficas podem ser identificadas, sendo que podem ser
dos mais diversos significados e objetivos. As representações líticas dessa cultura comporta
laminas de machado feitos de pedras verde (Muirakitã).

Mais ao norte e noroeste, pelo curso do rio Trombetas e no baixo Nhamundá ,


se reconhece outro tipo de cultura Ponta-Incisa, que recebe a nomeação de Konduri, que se
caracteriza por uma profusão de apliques modelados entre os quais aparecem sapos, urubu-rei
e etc. sendo que se destacam as representações diferentes nos olhos. sendo que nas regiões
onde essa cultura aparece representada, foram encontradas dezenas de estatuetas de esteatita,
que representam figuras humanas dominadas e protegidas por um animal, onde foram
interpretadas como fazendo parte de rituais ligados a consumos de alucinógenos, onde
sabemos que são praticadas nas “viagens” Xamanicas.

Agora irei tratar de um sub tópico que o autor nomeia de “Pesquisas na


fronteira entre o Brasil e a Bolívia”, onde ele nos diz que a região que marca essa fronteira
recebeu pouca atenção tanto do lado da Bolívia quanto do Brasil, onde até o momento os
trabalhos vem se concentrado nos estados do Acre, nos afluentes do rio Purus e no Mato
Grosso, no alto Guaporé, Mamoré e Madeira. Na parte norte-ocidental do Mato Grosso, só se
possui vestígios datadas no período cerâmico, onde se identifica a subtradição Guarita, com
cerâmicas policromas ou decoradas com incisão, justamente por isso se acredita que a região
era um local de confluência cultural, onde pode ter surgido uma cultura de transição entre as
do planalto meridional, mata Amazônica e da planície que vai desde os Andes Bolivianos até
o sul Peruano. Alguns sítios são localizados nas margens dos rios, onde é possível se
encontrar petroglifos que são associados aos ceramistas Guaritas. Em um sitio se localizou
evidencias de polidores, que atestam a utilização de objetos polidos, e a grande quantidade de
afloramentos de pedras reforçam essa ideia, como também a grande presença de machados
polidos, sendo que esse sitio é atribuído a tradição ‘Policroma’.

As fases mais recentes apresentam grande semelhanças com a tradição ‘Inciso-


Ponteada’, onde aparentar ser contemporâneas e possuem um território bem delimitado, onde
o autor diz que apresentam uma afinidade indiscutível com as cerâmicas Bolivianas Maxos,
onde a decoração varia, porem as incisões são as mais características, sendo que não faltam
representações antromorfos. Já a fase Caju, apresenta urnas duplamente carenadas, onde
aparecem também estatuetas ocas de corpo globular.

Já no Acre quatro fases foram identificadas e são agrupadas em uma mesma


tradição, que seria a Quinari, as fases são Epônima Quinari, que ocupa a região vizinha ao rio
Acre; a fase Japuni; a fase Iacó; e por ultimo a fase Aracu, que seria a mais importante e
possuiria sepultamentos cinerários em urnas munidas de tampas, onde a decoração geralmente
é excisa porem pode haver policroma.

Agora irei tratar de outro sub tópico que trata a respeito das pesquisas da
fronteira com a Venezuela e as Guianas. Nessa região só foi possível se identificar uma única
tradição que seria a “Rupunani”, que foi definida pelo casal Evans na região da Guiana
inglesa. Um pote coletado no abrigo Maloca da Perdiz II, continha ossos de dois adultos e
uma criança carbonizados, sendo que essa ocupação é atribuída a grupos (proto) Aruak,
justamente pelo fato dos povos desse grupos linguísticos cremarem seus mortos, e sua datação
acabou entrando no período histórico devido ao aparecimento de contas de vidros segundo o
autor. Gostaria de questionar novamente os determinismos, lembrando que atualmente foi
apresentado uma tese de doutorado na universidade federal de Sergipe onde também foram
encontradas contas de vidro em uma camada de 2000 anos, longe de querer criar expectativas
que podem estar erradas apenas digo que essas evidencias precisam serem analisadas com
cuidado e com a mente aberta para todas as possibilidades.

Agora irei falar das influencias tupiguaranis na Amazônia, onde existe marcas
nítidas de sua influência entre o Xingu e o Tocantins, onde foram encontradas vestígios
cerâmicos tipo carrugado típicos dos tupi, porem também apresentam evidências da tradição
Inciso-Ponteada, em todos os caso duas fases cerâmicas são identificadas, como sendo
influenciadas pelos Tupiguaranis, a fase “Tucuri” datada em 1000 Ad e a fase “Tauari” que é
datada em 440 AD. Nessa parte o autor cita que se acreditavam que o berço dos Tupiguaranis,
e diz que o Brochado defende a tese que os Tupis e os Guaranis sejam oriundos da tradição
amazônica Policroma.

Agora irei tratar do último tópico que o autor chama de “reflexões sobre a Pré-
história Amazônica”, já acoplando meu pensamento sobre as ideias propostas. A muito tempo
existe a ideia de que não existiria a possibilidade da Amazônia abrigar populações
“complexas” devido a suas condições climáticas, que inviabilizaria a agricultura, então os
impulsos tecnológicos viriam de fora, obedecendo aos modelos difucionistas. Isso pode até se
sustentar nas regiões de terras firmes, onde não foram feitos estudos realmente
representativos, com tudo parece provável que as regiões das Várzeas, poderia ter aproveitado
dos ricos recursos de terras aluviais, que era propicia para agricultura de plantas com um ciclo
vegetativo curto. Considera-se frequentemente que a agricultura na Amazônia sempre foi de
mandioca, porem segundo os relatos etnográficos e evidencias mais recentes é possível se
atestar que foi praticado o cultivo do milho, e através dele as populações diminuíram
drasticamente algumas práticas como a caça, coleta e pesca, e desenvolveram uma ocupação
com densidades populacionais que devem ser consideradas, pois atravessam as barreiras
deterministas que foram imposta sobre o território amazônico, que foi por muito tempo
considerado um “fim de mundo” onde a atenção dos pesquisadores sempre se voltou para
culturas andinas, justamente pelo fato dessas culturas representarem a maior proximidade com
os padrões etnocêntricos, que insistem em dizer que o nível de “civilização” só pode ser
alcançado através de sociedades numerosas e essas por sua vez só podem se sustentar através
do poder coercitivo, então com certeza as culturas mais desenvolvidas da região Amazônia
certamente viria dos andes. O que se sabe atualmente nega completamente isso e sabe-se que
existe uma grande confluência de culturas onde as influencias são mútuas, então é legitimo
admitir que os antigos amazonenses, que se situavam no contato entre os dois mundos,
tenham desempenhado um papel de intermediários, onde além de influenciar também
receberam influencias tanto ocidentais quanto setentrionais.

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