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FACULDADE DE DIREITO DE FRANCA

JÚLIO DIAS TALIBERTI

ANÁLISE JURÍDICA DAS FAKE NEWS NA PROPAGANDA


ELEITORAL

FRANCA
2020
JÚLIO DIAS TALIBERTI

ANÁLISE JURÍDICA DAS FAKE NEWS NA PROPAGANDA


ELEITORAL

Trabalho de Curso apresentado à Faculdade de


Direito de Franca para aprovação no Curso de
Graduação em Direito. (Área de Concentração:
Direito Eleitoral).

Orientador: Prof. Dr. José Antônio de Martos

FRANCA
2020
Dedico este trabalho aos meus pais, Francisco José
Taliberti e Cláudia Alessandra Dias Taliberti, à
Mococa, berço de minha história e à Franca, berço de
minha vida acadêmica.
Agradeço à minha família pela crença, torcida e
apoio; ao meu orientador, Dr. José Antônio de
Martos, por todo auxílio na produção deste trabalho;
aos membros da Gestão União Acadêmica, do
Diretório Acadêmico “28 de Março”, pela trajetória
juntos percorrida. Por fim, agradeço a cada amigo que
esteve ao meu lado durante esta jornada.
Palavras são, na minha não tão humilde opinião,
nossa inesgotável fonte de magia.

J.K. Rowling
RESUMO

TALIBERTI, Júlio Dias. Análise Jurídica das Fake News na Propaganda Eleitoral. 2020.
Trabalho de Curso. Faculdade de Direito de Franca, Franca, 2020.

O presente trabalho possui como objetivo discorrer a respeito do fenômeno das fake news na
propaganda eleitoral sob uma perspectiva jurídica, de modo a identificar seus contornos e a
maneira pela qual a legislação brasileira já trata do assunto. Para tanto, foi necessário realizar
um levantamento histórico da legislação eleitoral no Brasil e analisar sua evolução, que revelou
não só a tradição democrática do país, como também a adaptação da legislação para as fraudes
que foram surgindo. Ainda, promoveu-se um estudo da propaganda política, seus princípios e
espécies, com destaque para a propaganda eleitoral e as modalidades em que esta ocorre, o que
permitiu notar a possibilidade da manifestação das fake news nas suas mais variadas formas.
Ademais, realizou-se um estudo das fake news, partindo da busca de um conceito amplo para
estas, o que permitiu identificar formas de fake news tratadas pela legislação eleitoral e os
respectivos crimes ou efeitos legais, bem como sua apuração e julgamento. Diante disso, foi
possível também destacar eventuais consequências das fake news na propaganda eleitoral como
a anulação da eleição e a teoria da perda de uma chance. Por fim, fez-se ainda um estudo sobre
o conflito entre a liberdade de expressão e a manifestação das fake news, partindo de casos
concretos. Para que todas estas análises e estudos fossem realizados o presente trabalho, foi
utilizado o método hipotético dedutivo, fazendo uma pesquisa bibliográfica, através de artigos
jurídicos, monografias nacionais e estrangeiras, variadas doutrinas e uma investigação
documental por meio de jornais, revistas e relatórios, bem como de jurisprudência dos tribunais
superiores, em especial do Tribunal Superior Eleitoral. Com isto, foi possível concluir que as
fake news são um fenômeno preocupante na atualidade, com grande potencial lesivo nas
eleições; entretanto, a legislação brasileira já possui mecanismos e dispositivos para lidar com
as diversas formas de fake news.

Palavras-chave: Fake News. Eleições. Direito Eleitoral. Propaganda Eleitoral. Propaganda


Política.
ABSTRACT

This paper aims to discuss the phenomenon of fake news in electoral propaganda from a
legal perspective, in order to identify its contours and the way which Brazilian legislation
already deal the issue. In order to that, it was necessary to carry out a historical survey of
electoral legislation in Brazil and analyze its evolution, which revealed not only the Brazilian
democratic tradition, but also the adaptation of the legislation to the frauds that were emerging.
Moreover, a study of political propaganda, its principles and species, was made with the
emphasis on electoral propaganda and the modalities that fake news occurs, which allowed to
notice the possibility of the manifestation of fake news in its most varied forms. In addition, a
study of fake news was carried out, based on the search for a broad concept for that, which
allowed the identification of forms of fake news dealt by the electoral legislation and the
respective crimes or legal effects, as well as their investigation and judgment. Hereupon, it was
also possible to highlight potential consequences of fake news in electoral propaganda, such as
the annulment of the election and the theory of the loss-of-a-chance. Finally, a study was carried
out on the conflict between freedom of expression and the manifestation of fake news, based
on specific cases. In order for all of these analyzes and studies were made, the present paper
used the hypothetical deductive method, doing a bibliographic search, through legal articles,
national and foreign monographs, various doctrines and a documentary investigation through
newspapers, magazines and reports, as well as the jurisprudence of the higher courts, especially
the Superior Electoral Court. With this, it was possible to conclude that fake news is an actual
worrying phenomenon, with great damage potential in the elections; however, Brazilian law
already has mechanisms and devices to deal with various forms of fake news.

Keywords: Fake News. Elections. Electoral Law. Electoral Advertisement. Political


Advertisement.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................10

1 ANTECEDENTES DA PROPAGANDA ELEITORAL ..................................... 12


1.1 DA TRADIÇÃO DEMOCRÁTICA ...................................................................... 12
1.2 DO BRASIL IMPÉRIO ......................................................................................... 13
1.3 DO BRASIL REPÚBLICA.................................................................................... 17
1.4 DO REGIME MILITAR ........................................................................................ 21
1.5 DA TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA E DA NOVA REPÚBLICA ...................... 24

2 DA PROPAGANDA POLÍTICA ........................................................................... 26


2.1 PRINCÍPIOS DA PROPAGANDA POLÍTICA .................................................... 26
2.2 ESPÉCIES DE PROPAGANDA POLÍTICA ........................................................ 28
2.2.1 Propaganda Institucional ..................................................................................... 28
2.2.2 Propaganda Intrapartidária .................................................................................. 29
2.2.3 Propaganda Partidária ......................................................................................... 30
2.2.4 Propaganda Eleitoral ........................................................................................... 31
2.3 ESPECIFICIDADES DA PROPAGANDA ELEITORAL ................................... 32
2.3.1 Propaganda Extemporânea .................................................................................. 32
2.3.2 Locais a se Realizar Propaganda ......................................................................... 33
2.3.3 Distribuição de Impressos ................................................................................... 36
2.3.4 Comícios e Atos Públicos de Campanha ............................................................ 36
2.3.5 Distribuição de Produtos ..................................................................................... 37
2.3.6 Propaganda no Rádio e na Televisão .................................................................. 38
2.3.7 Telemarketing Eleitoral ....................................................................................... 38
2.3.8 Disparo de Mensagens em Massa ....................................................................... 39
2.3.9 Propaganda Eleitoral na Internet ......................................................................... 40
2.4 DO DIREITO DE RESPOSTA.............................................................................. 42

3 DA ANÁLISE JURÍDICA DAS FAKE NEWS .................................................... 44


3.1 CONCEITO ........................................................................................................... 45
3.2 DA PREOCUPAÇÃO ATUAL COM O TEMA ................................................... 46
3.3 DA NORMATIVA SOBRE FORMAS DE FAKE NEWS ................................... 47
3.3.1 Divulgação de Fato Sabidamente Inverídico ...................................................... 47
3.3.2 Crimes Contra Honra .......................................................................................... 49
3.3.3 Pesquisa Eleitoral Falsa....................................................................................... 51
3.3.4 Perfis Falsos Para Fins Eleitorais ........................................................................ 53
3.3.5 Falsa Atribuição de Propaganda à Terceiro ........................................................ 54
3.3.6 Uso de Trucagem, Montagem ou Recursos Semelhantes ................................... 55
3.4 DA APURAÇÃO E JULGAMENTO DAS FAKE NEWS ................................... 56
3.5 ANULAÇÃO DE ELEIÇÃO EM VIRTUDE DE FAKE NEWS ......................... 59
3.6 TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE DIANTE DAS FAKE NEWS ......... 60
3.7 LIBERDADE DE EXPRESSÃO E FAKE NEWS ................................................ 62

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 66

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 69
10

INTRODUÇÃO

A escolha do presente tema justifica-se pela expansão do fenômeno das fake news no
mundo, o que fez com que este estrangeirismo caísse não só no vocabulário popular, mas
também no jurídico, através das decisões de Tribunais. Ainda, o ingresso na Era Digital e a
revolução causada pela internet nos meios de comunicação, elevaram o potencial lesivo das
fake news.
Com isto, as fake news assumiram um papel de destaque nas últimas eleições no mundo
e no Brasil, apresentando efeitos preocupantes na propaganda eleitoral e possível influência nas
eleições e, consequentemente, no regime democrático
Nas últimas eleições no Brasil, por exemplo, uma semana antes do primeiro turno, foram
identificadas onze publicações falsas com grande repercussão, sendo transmitidas pelas redes
sociais e aplicativos de mensagens, segundo levantamento do Grupo Globo1.
Desta forma, é preciso compreender tal fenômeno e promover uma análise das fake news
na propaganda eleitoral sob o prisma jurídico, de modo a buscar entender como a legislação
atualmente trata o assunto. É o que o presente trabalho se propõe a realizar.
Assim, para se atingir o objetivo almejado, qual seja, o de compreender como o
ordenamento jurídico pátrio trata das fake news na propaganda eleitoral, é preciso
primeiramente realizar um estudo da evolução histórica do Direito Eleitoral no Brasil, desde os
tempos de colonização até a redemocratização, para, assim, entender os movimentos
legislativos diante das mais variadas práticas que surgiram com o intuito macular a vontade
popular e impor interesses escusos.
Em seguida, mostra-se necessário explorar a propaganda política, gênero do qual são
espécies: a propaganda institucional, a intrapartidária, a partidária e a eleitoral; com destaque
para a última modalidade, pois é essa que visa, em suma, conquistar o voto do eleitor.
A abordagem deve ser realizada partindo de um exame dos princípios da propaganda
política e finalizando nas maneiras de realização da propaganda eleitoral, compreendendo,
assim, as práticas e mecanismos que são ou não permitidos neste período, bem como a maneira
pela qual as fake news podem despontar.

1
RAMALHO, Renan. PT, PCO, PSTU e PTC não assinam compromisso contra disseminação de conteúdos
falsos, diz TSE. Publicado em out. 2018. Disponível em:
<https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2018/noticia/2018/10/04/pt-pco-pstu-e-ptc-nao-assinam-compromisso-
contra-disseminacao-de-fake-news.ghtml>. Acesso em: 15 dez. 2019.
11

Posteriormente, faz-se necessário adentrar de fato no fenômeno das fake news, sendo
fundamental encontrar um conceito para o estrangeirismo que seja amplo, vez que o termo é
utilizado nas mais variadas situações.
Tal conceito deverá nortear as buscas por condutas no ordenamento jurídico pátrio que
possam ser enquadradas como fake news, realizando assim uma análise de cada uma delas
através de situações e casos jurídicos reais, bem como o posicionamento dos Tribunais perante
tais ações.
Por fim, identificadas tais condutas e dispositivos, mostra-se interessante analisar as
possíveis consequências e reflexos jurídicos que as fake news podem apresentar nas eleições e
fora dela, como a cassação de mandatos, a anulação de eleições e a indenização dos
prejudicados.
Ademais, o Legislativo e o Judiciário necessitam de extremo cuidado ao lidarem com as
fake news, no intuito de não promoverem censura prévia ou mitigação do direito à livre
manifestação do pensamento consagrado na Constituição Federal. Em razão disto, o presente
trabalho também se propõe a realizar um estudo de tal conflito de direitos.
12

1 ANTECEDENTES DA PROPAGANDA ELEITORAL E EVOLUÇÃO


LEGISLATIVA

1.1 DA TRADIÇÃO DEMOCRÁTICA

Para compreender a atuação das fake news na propaganda eleitoral e suas consequências
jurídicas no Direito é preciso antes entender e analisar a evolução das eleições no Brasil e da
propaganda em si, bem como seus atuais contornos e o impacto da rede mundial de
computadores no tema.
No Brasil, a tradição democrática de eleger os governantes remete aos princípios da
história do país pós-descobrimento. Gradualmente foi evoluindo e se expandindo, mas os
primeiros núcleos povoadores já carregavam consigo tal espírito: as bandeiras brasileiras, além
do objetivo de buscar riquezas, possuíam a missão de povoar as terras. Além disso, existem
registros de que a bandeira paulista de Pascoal Moreira Cabral, em 1719, onde se fundou
Cuiabá, ao descobrir ouro e ali resolver se instalar, realizou a eleição de guarda-mor regente2.
Neste momento, aquele povo realizou um contrato social, no qual, por vontade própria e
livre, se submeteu aos arbítrios de um líder, imaginando que este estabeleceria a lei, ordem e
progresso.
Apesar do governo em âmbito nacional ser organizado em uma monarquia, hereditária e
vitalícia, os governos locais das Vilas e das Cidades adotavam o formato republicano, com
eleições populares, regidas pelo Código Eleitoral da Ordenação do Reino, pelo qual se elegiam
os Juízes, Vereadores e Procuradores das Câmaras Municipais, com mandatos de tempo e
funções determinadas3.
Para tais cargos, só poderiam ser eleitos membros da nobreza das Vilas e das Cidades, os
chamados “homens bons e republicanos”. Entretanto, qualquer cidadão, abrangendo todos do
povo, poderia votar. Estes não escolhiam diretamente os ocupantes dos cargos citados, mas, de

2
FERREIRA, Manuel Rodrigues. A Evolução do Sistema Eleitoral Brasileiro. 2. ed. Brasília: TSE/SDI, 2005.
p. 18/19.
3
Id., Ibid. p. 28.
13

maneira simplificada, votavam em representantes da nobreza que elegiam aqueles que de fato
ocupariam as funções4.
Ademais, em 1821, o povo brasileiro foi convocado por D. João VI para escolher seus
representantes às cortes de Lisboa, na primeira eleição geral realizada no Brasil. Eleição esta
sem partidos e na qual não houve qualificação prévia dos votantes, podendo, inclusive, os
analfabetos votarem.
Ainda, destaca-se a complexidade do regramento desta eleição, pois havia quatro graus
para se chegar aos Deputados eleitos: o povo, como um todo, escolhia os compromissários, que
escolhiam os eleitores de paróquia, que por sua vez, escolhiam os eleitores da comarca, que,
por fim, elegiam os Deputados5.

1.2 DO BRASIL IMPÉRIO

A passagem do regime monárquico português para o Império do Brasil, com a


independência em 1822, trouxe significativas mudanças eleitorais. Destaca-se o direito de votar
e ser votado, pois com a ascensão da burguesia e dos intelectuais, estes pleiteavam os mesmos
privilégios de serem eleitos. Assim, após 1824 instaurou-se uma nova prerrogativa, só poderiam
votar e ser votados os cidadãos que tivessem determinada renda anual.
Em 03 de junho de 1822, D. Pedro I convocou a Assembleia Geral Constituinte e
Legislativa, cujos Deputados seriam eleitos na forma das instruções acordadas por um conselho,
sendo que tais instruções constituem a primeira lei elaborada especialmente para presidir as
eleições no Brasil6.
A referida eleição adotava o sistema indireto em dois graus, no qual o povo, com
determinadas restrições econômicas que privilegiavam os proprietários de terras e engenhos, e
com a exclusão do voto feminino, escolhia os eleitores que, por sua vez, escolhiam os
Deputados7. Entretanto, a Assembleia Constituinte eleita foi dissolvida pelo Imperador no final
de 1823, que outorgou a primeira Constituição Brasileira em 1824.

4
FERREIRA, Manuel Rodrigues. A Evolução do Sistema Eleitoral Brasileiro. 2. ed. Brasília: TSE/SDI, 2005.
p. 30.
5
Id., Ibid. p. 52/53.
6
Id., Ibid. p. 73.
7
Id., Ibid. p. 82.
14

A Constituição de 18248, em seu art. 94, inciso V, restringia àqueles com determinada
renda o privilégio de ser eleito Deputado, quatrocentos mil réis anuais, ou Senador, oitocentos
mil réis anuais. As eleições para Deputados ocorreriam em dois graus, podendo votar, em
primeiro grau, dentre outras restrições, aqueles com renda superior à cem mil réis.
As eleições para Senador ocorriam da mesma maneira que a para os Deputados, mas com
a formação de listas tríplices, sobre as quais o Imperador escolhia os membros que iriam compor
a Casa, era o que dispunha seu art. 43.
Ainda, os artigos 73 e 165 da Carta Magna previam que o Presidente da província seria
escolhido pelo Imperador e que seria estabelecido um Conselho-Geral eleito pelo povo, nos
mesmos moldes da eleição de Deputados.
Ademais, de acordo com o art. 168, nas Cidades e Vilas, o governo econômico e
municipal competia às Câmaras que eram eleitas pelo povo, sendo que o candidato mais votado
ocuparia o cargo de Presidente da Câmara, cujas funções eram as mesmas desempenhadas pelos
Prefeitos atualmente.
Em 1828 foi decretada a lei que dava formas às eleições nos Municípios, que até então se
utilizavam das ordenações no reino para tal. A grande mudança revela-se na eleição direta em
um só grau, somente realizadas nas Vilas e Cidades. Também, a lei foi a primeira a exigir
inscrição prévia dos eleitores, sendo afixada nas portas das igrejas a lista com os votantes. Ainda
não existiam partidos políticos, podendo o eleitor votar em quem bem entendesse9.
Somente após a abdicação de D. Pedro I, em 1831, é que surgiram os primeiros partidos
políticos, quais sejam: o Restaurador, que pedia a volta do Imperador, o Republicano, que
clamava o fim da monarquia e o Liberal, que pretendia ver conservada a monarquia, mas que a
Constituição de 1824 fosse reformada10.
Apesar da instabilidade envolvendo estes partidos e as mudanças que decorreram, os
embates e agitações políticos evidenciaram-se, em contraponto às amenidades das eleições
anteriores.
Manuel Rodrigues Ferreira descreve que antes das eleições os embates políticos se
restringiam às Casas de Leis, mas no dia das eleições as paixões políticas eram despertadas e
os embates públicos aconteciam, visando à vitória a todo custo. Com isto surgiram diversos

8
BRASIL. Constituição (1824). Constituição Política do Império do Brazil de 22 de abril de 1824. Rio de
Janeiro. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm>. Acesso em: 01
nov. 2019.
9
FERREIRA, Manuel Rodrigues. A Evolução do Sistema Eleitoral Brasileiro. 2. ed. Brasília: TSE/SDI, 2005.
p. 115.
10
Id., Ibid. p. 121.
15

tipos de práticas fraudulentas, como o envio de listas em branco para serem preenchidas pelo
próprio Presidente da Província, nomeado pelo Imperador.
O autor também expõe a violência entre os envolvidos e a corrupção que permeava as
mesas eleitorais e autoridades atuantes no pleito, pois aquelas poderiam negar o direito ao voto
se quisessem11.
Diante de todas as fraudes e corrupções emergidas, surge o Decreto n. 157, de 4 de maio
de 1842, que, pela primeira vez na história do país, dispunha sobre o alistamento de eleitores,
através de uma Junta12. Previa também a possibilidade de fiscais ou interessados representarem
ao Presidente da Província abusos e ilegalidades nas listas de alistamento.
Em 1845, pela primeira vez, o Parlamento brasileiro passou a debater sobre a questão
eleitoral, elaborando uma legislação. Até então somente o governo que legislava.
A lei foi sancionada pelo Imperador somente em 1846 e revogava todos os dispositivos
anteriores, abordando os pleitos a nível nacional, estadual e municipal. A norma mantinha para
as eleições nas Cidades e Vilas o voto em único grau e, para os demais pleitos, em dois graus.
Entretanto, esta lei trazia muitas exigências peculiares que colocavam óbices e dúvidas
em sua execução. Diante disto, requereu-se ao Parlamento que a reformasse. Assim, em 1855,
a Assembleia Geral Legislativa elaborou e o Imperador decretou a nova lei eleitoral, alcunhada
de Lei dos Círculos13, que alterava substancialmente a lei de 1846.
A Lei passou a adotar o sistema distrital para a eleição dos Deputados e membros das
Assembleias provinciais, dividindo as Vilas em tantos distritos quanto fosse o número de seus
Deputados. A Lei mantinha ainda a eleição em dois graus e também previa eleições em até três
turnos de votação para que o candidato atingisse maioria absoluta.
Todavia, o modelo não foi bem aceito e em 1860 um novo decreto alterou as disposições
eleitorais, revogando a Lei dos Círculos. O Decreto determinou que as Vilas fossem agora
dividias em Distritos Eleitorais de três Deputados cada um, que seriam eleitos em um só
escrutínio.
Diversas críticas ao sistema eleitoral e às sucessivas reformas no modelo impulsionaram
movimentações no Brasil favorável à eleição direta, suprimindo os dois graus. Evidencia-se

11
FERREIRA, Manuel Rodrigues. A Evolução do Sistema Eleitoral Brasileiro. 2. ed. Brasília: TSE/SDI, 2005.
p. 122.
12
BRASIL. Decreto nº 157, de 04 de maio de 1842. Rio de Janeiro, 04 de maio 1842. Disponível em:
<http://legis.senado.leg.br/norma/386137/publicacao/15633544>. Acesso em: 03 nov. 2019.
13
BRASIL. Decreto n° 842, de 19 de setembro de 1855. Rio de Janeiro, 19 de setembro de 1855. Disponível
em: <http://www.tse.jus.br/eleitor/glossario/termos/lei-dos-circulos>. Acesso em: 03 nov. 2019
16

ainda que, apesar da existência de partidos políticos, não havia legislação que os regulassem,
como também não existia registro prévio das chapas ou candidatos.
Somente em 1875 é que surge uma nova lei eleitoral, o Decreto n. 2.67514, alterando o
sistema vigente. Evidencia-se a criação das Juntas Paroquiais de Qualificação, que organizavam
as listas dos eleitores e, quando as listas estavam finalizadas, eram emitidos títulos de eleitores.
A lei também atribuiu outras tarefas ao Judiciário, que passou a ser encarregado de esclarecer
dúvidas, fazer cumprir os dispositivos eleitorais e julgar recurso, inclusive das próprias listas
organizadas pelas Juntas.
Todavia, apesar das mudanças que sofreu nos anos seguintes, a lei ainda persistia no voto
indireto, motivo de críticas, principalmente vindas do partido Liberal. Diante disto, com aval
do Imperador, o Parlamento começou a discutir e elaborar uma nova lei eleitoral, sancionada
em 09 de janeiro de 1881, o Decreto n. 3.20915, que passou a substituir todas as outras.
A principal mudança foi a abolição do voto indireto e a instituição de um só grau de
votação, sendo este secreto, conforme art. 6° da Lei. Ainda, o alistamento deveria ser requerido
pelo eleitor, que deveria provar determinada renda anual, e passou a ser feitos pelos Juízes de
Direito. A Lei, ainda, restabelecia a eleição por Distritos, podendo haver dois turnos.
O cargo de Senador passou a ser vitalício, só havendo eleições em caso de morte, renúncia
ou aumento do número de cadeiras. Nesses casos os eleitores elegiam uma lista tríplice da qual
o Imperador escolhia um dos três mais votados, de acordo com o disposto no art. 16.
Evidencia-se a preocupação com a moralidade e legalidade do pleito, pois a Lei possuía
um capítulo destinado aos crimes eleitorais, impedindo, por exemplo, a organização de tropas
no dia da eleição a uma distância menor de seis quilômetros do local do pleito. Ainda, o §4° do
art. 15, permitia que os candidatos nomeassem fiscais junto às Assembleias Eleitorais.
Em 1889, com a queda do Império e instauração da República, o Brasil encerra um ciclo
de evolução eleitoral com uma legislação considerada completa para a época, que ainda sofreu
algumas poucas mudanças, mas foi resultado de sessenta e sete anos de aperfeiçoamento em
matéria eleitoral. Caberia agora à República dar novos contornos e excluir privilégios.

14
BRASIL. Decreto nº 2.675, de 20 de outubro de 1875. Rio de Janeiro. Disponível em:
<https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-2675-20-outubro-1875-549763-
publicacaooriginal-65281-pl.html>. Acesso em: 03 nov. 2019.
15
BRASIL. Decreto nº 3.029, de 09 de janeiro de 1881. Rio de Janeiro. Disponível em:
<https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-3029-9-janeiro-1881-546079-
publicacaooriginal-59786-pl.html>. Acesso em: 04 nov. 2019.
17

1.3 DO BRASIL REPÚBLICA

A primeira medida eleitoral aplicada, apenas quatro dias depois da proclamação da


República, foi o Decreto n. 6 do Governo Provisório16, que extinguia a exigência de
determinada renda para votar, permitindo o direito ao voto a todo cidadão, derrubando assim
privilégios do Império. No entanto, ainda excluía o direito ao voto feminino, além de, pela
primeira vez, não contemplar os analfabetos.
O Governo Provisório realizou no dia 15 de setembro de 1890 uma eleição para o
Congresso Nacional, que dentre suas funções teria a missão de modificar e aprovar o projeto de
Constituição elaborado pelo governo. Para tais eleições foi preciso uma nova lei eleitoral, que
em junho daquele ano foi decretada e apelidada de Regulamento Alvim17.
Cumpre evidenciar que o Império entregara o processo eleitoral à Justiça, como forma de
legitimar e moralizar as eleições. Todavia, a República substitui a Justiça pela Polícia. Manoel
Rodrigues Ferreira18 entende que essa medida foi uma forma dos Republicanos se garantirem
nas primeiras eleições.
A regulamentação também acabava com a restrição de renda para ser candidato à Câmara
e ao Senado, fazendo pontuais restrições, como, por exemplo, os Magistrados. A eleição seria
popular e direta, sendo o número de Deputados variável por Estado, revogando o voto distrital,
e cada unidade da federação daria três Senadores. Entretanto, os eleitores votavam em tantos
nomes quantos fossem as cadeiras a preencher.
O Regulamento, em seu art. 67, determinava, ainda, que esse Congresso elegeria o
primeiro Presidente e Vice-Presidente da República, retirando dos constituintes a prerrogativa
de decidir pela eleição direta ou indireta.
Dois meses depois da eleição, o Congresso aprovava a primeira Constituição da
República que previa eleições diretas para Presidente, na qual seria eleito aquele com maioria
absoluta de votos e, se não fossem atingidos, caberia ao Congresso, eleger um entre os dois
mais votados.

16
BRASIL. Decreto nº 6 do Governo Provisório, de 19 de novembro de 1889. Rio de Janeiro. Disponível em:
<https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-6-19-novembro-1889-508671-
publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 05 nov. 2019.
17
BRASIL. Decreto nº 511, de 23 de junho de 1890. Rio de Janeiro. Disponível em:
<https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-511-23-junho-1890-518227-
publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 05 nov. 2019.
18
FERREIRA, Manuel Rodrigues. A Evolução do Sistema Eleitoral Brasileiro. 2. ed. Brasília: TSE/SDI, 2005.
p. 224. p. 288.
18

Logo após a promulgação da Constituição, o Congresso cuidou de elaborar uma nova Lei
Eleitoral, sancionada pelo Presidente Floriano Peixoto, em 1892. A eleição para Senador seria
feita por Estado, cada eleitor votaria em nomes separados para quantas vagas houvesse naquele
ano. Já na eleição para Deputado, adotava-se novamente o voto distrital, no qual o Estado seria
dividido em Distritos que elegeriam três Deputados, podendo o eleitor votar em dois.
Ainda, a Constituição não previa os formatos das eleições estaduais e municipais, isto
caberia aos constituintes estaduais regulamentarem. Assim, o Presidente convocava as eleições
para Deputados Estaduais encarregados da missão. No Estado de São Paulo, como em muitos
outros, a Constituição Estadual dava liberdade para os Municípios regularem seu processo
eleitoral.
Uma das grandes imoralidades da República foi o voto descoberto, instituído pela Lei n.
426/189619. Através dele, o cidadão assinava duas cédulas perante a mesa, uma era depositada
na urna e a outra era devolvida ao eleitor rubricada pela mesa, desobrigando assim o sigilo do
voto e dando força a um dos pilares da República Velha: o voto de cabresto.
Nos anos seguintes, uma série de mudanças pontuais foram realizadas na legislação
eleitoral. Todavia, em 15 de novembro de 1904, o Presidente Rodrigues Alves sancionou a Lei
n. 1.269, que ficou conhecida como “Lei Rosa e Silva” e revogou a legislação anterior.
Desta lei, cumpre destacar que para a eleição de Deputados, os Estados seriam divididos
em distritos eleitorais de cinco Deputados cada. A lei mantinha a possibilidade de voto
descoberto e pela primeira vez estabelecia a unidade de alistamento, que se traduzia em um só
título de eleitor para todas as eleições.
Curioso destacar que nos anos de 1920 começaram a surgir paródias musicais de teor
político, com intuito de satirizar figuras públicas, inclusive os próprios Presidentes; contra isso,
nada dispunham os diplomas legais. Nos anos seguintes, a propaganda política começou a
germinar e, em 1929, surgiu o primeiro jingle eleitoral que se tem registro, “Seu Julinho Vem”,
embalando a campanha de Júlio Prestes.
Dentre as demais alterações que antecederam a Revolução de 1930, ainda vale destacar o
clima de questionamento da seriedade do processo eleitoral no Brasil, que levou ao surgimento
da Lei n. 3.139/191620, que além de confiar o alistamento exclusivamente ao Poder Judiciário,

19
BRASIL. Lei nº 426, de 07 de dezembro de 1896. Rio de Janeiro. Disponível em:
<https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1824-1899/lei-426-7-dezembro-1896-540240-publicacaooriginal-
40206-pl.html>. Acesso em: 06 nov. 2019.
20
BRASIL. Lei nº 3.139, de 02 de agosto de 1916. Rio de Janeiro, 02 ago. 1916. Disponível em:
<https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1910-1919/lei-3139-2-agosto-1916-574077-republicacao-97309-
pl.html>. Acesso em: 07 nov. 2019.
19

aumentou a austeridade para a qualificação eleitoral, através de maior rigor na apresentação da


documentação.
No decorrer dos últimos anos da República Velha, com a modernização do país através
do incremento industrial, novos grupos e movimentos começam a surgir, dentre muitos,
pedindo a moralização das eleições.
Após a Revolução, em 1932, foi finalmente transferido e centralizado o controle e
supervisão das eleições ao Poder Judiciário, com a criação da Justiça Eleitoral, que controlava
desde o alistamento dos eleitores até o reconhecimento dos eleitos, bem como a competência
para julgar matérias de cunho eleitoral.
O clamor por eleições mais confiáveis fez surgir também em 1932 o Código Eleitoral,
que regulava desde as eleições federais até as municipais. Dentre as principais mudanças,
instituía o voto feminino, acabava com o voto descoberto, determinando o pleito secreto, e
também fixava o sistema representativo proporcional. Todavia, ainda restringia o voto dos
analfabetos21.
Cumpre destacar também a necessidade de registro prévio de todas as candidaturas e,
apesar de ainda ser possível a eleição de candidatos independentes, o Código fazia menção aos
partidos pela primeira vez na legislação eleitoral.
Em 1933, a população foi convocada para eleger a Assembleia Nacional Constituinte. O
Decreto que fez o chamamento ainda determinou a parcela de cadeiras dos congressistas para
representantes de categorias profissionais, o que ficou conhecido como “representação
classista”.
A Constituição então é promulgada em 1934, sendo os Deputados eleitos pelo voto
proporcional e havendo dois Senadores eleitos pelo sistema majoritário por cada Estado. Ainda,
a Constituição recepcionou a Justiça Eleitoral como instituição, sendo composta pelo Tribunal
Superior Eleitoral e os Tribunais Regionais, atribuindo a ela a competência privativa para
organizar o processo eleitoral federal, estadual e municipal22.
Em 1937, Getúlio Vargas instaurou o Estado Novo, outorgando uma nova Constituição
com características extremamente autoritárias, influenciando penosamente no campo eleitoral.

21
BRASIL. Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932. Rio de Janeiro. Disponível em:
<https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-21076-24-fevereiro-1932-507583-
publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 07 nov. 2019
22
FERRARI, Cibele Maria de Rezende e. Direito Eleitoral: Sistema Eleitoral Brasileiro: Evolução Histórica, A
Legislação Eleitoral Vigente e Eleições 2004. São Paulo: Lemos e Cruz, 2004, p. 49.
20

A Constituição de 193723 extinguiu a recém criada Justiça Eleitoral e os partidos políticos,


suspendendo a realização de eleições livres e determinando a eleição indireta para Presidente
da República. Todavia, ainda dispunha sobre direitos políticos e inelegibilidades.
Entretanto, até o ano de 1945 não ocorreram eleições no Brasil, a ditadura nomeava
interventores nos Estados e até em Municípios, além de também dissolverem Congresso
Nacional24. Criticou-se muito a incongruência do governo brasileiro que, enquanto instaurava
uma ditadura no país, apoiava as democracias ocidentais na Segunda Guerra Mundial.
Diante da impossibilidade de sustentar o governo daquela forma, em 1945, o regime
anunciou eleições gerais e apresentou um novo Código Eleitoral25. O diploma previa o
restabelecimento da Justiça Eleitoral e, pela primeira vez, dispôs sobre a obrigatoriedade de
filiação partidária para ser candidato. Ainda, constou que os partidos deveriam possuir caráter
nacional.
Com isto, o Brasil obteve um cenário eleitoral totalmente diferente: os partidos políticos
passaram a realizar propagandas para difundirem seus programas e captarem candidatos, e o
eleitorado, apesar de ainda haver restrição o voto dos analfabetos, aumentava cada vez mais,
através da obrigatoriedade do voto.
Diante disto, o candidato passou a perceber a necessidade de se aproximar, relacionar e
convencer um número muito maior de eleitores. Assim, iniciou-se a era das campanhas
eleitorais, abrindo o mercado da propaganda eleitoral, que passou a contar com panfletos,
comícios, jingles e propagandas no rádio.
O Código Eleitoral de 1945 ainda contava com um título destinado às infrações penais,
culminando penas de multa e até detenção. Entretanto, tais tipificações dispunham sobre
práticas comuns e problemas retratados anteriormente, como tentar votar mais de uma vez ou
violar o sigilo do voto.
Nota-se que o diploma não se antecipou às questões que surgiriam com a evolução das
campanhas eleitorais, não definindo o que seria propaganda irregular. A única disposição neste
sentido era a proibição de propagandas políticas através de rádios, comícios ou reuniões

23
BRASIL. Constituição (1934). Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 16 de julho de
1934. Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao34.htm>.
Acesso em: 07 nov. 2019.
24
CAJADO, Ane Ferrari Ramos; DORNELLES, Thiago; PEREIRA, Amanda Camylla. Eleições no Brasil: uma
história de 500 anos. Brasília: Tribunal Superior Eleitoral, 2014. p. 39.
25
BRASIL. Constituição (1945). Decreto-lei nº 7.586, de 28 de maio de 1945. Rio de Janeiro. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/1937-1946/Del7586.htm>. Acesso em: 08 nov. 2019.
21

públicas no período compreendido entre quarenta e oito horas antes e vinte e quatro horas
depois da eleição.
A Constituição de 1946 consagrou a Justiça Eleitoral e dispôs sobre sua competência,
também tratando do alistamento e dos direitos políticos, estabelecendo ainda a competência
privativa da União para legislar em matéria eleitoral.
Em 1950, um novo Código Eleitoral passa a vigorar. Dentre as mudanças trazidas, cuidou
de padronizar as cédulas eleitorais e criar a cédula oficial26, afastando a necessidade dos
candidatos e partidos realizarem gastos extraordinários com a impressão de cédulas próprias,
barateando assim as campanhas.
Ainda, dentre as diversas infrações penais lá dispostas, no art. 175, item 28, havia
tipificação quanto à conduta de se referir, durante a propaganda, a fatos inverídicos em relação
a partidos ou candidatos, que pudessem exercer influência perante o eleitorado27.
Isto mostra que a preocupação com o tema de notícias e fatos falsos não é recente na
história brasileira.
A tipificação desta conduta é relacionada à eleição de 1945, na qual o Brigadeiro Eduardo
Gomes e Eurico Gaspar Dutra disputaram a Presidência, sendo que aquele teria dito em um
comício que dispensava o apoio da “malta de desocupados” que apoiavam o governo. A palavra
malta, apesar do significar “bando”, sentido aplicado no discurso do presidenciável, também
tem relação com os trabalhadores que carregam marmitas. A oposição utilizou desta segunda
interpretação para taxar o adversário de elitista e saiu vitoriosa, elegendo Dutra28.

1.4 DO REGIME MILITAR

Dias após a deposição do Presidente João Goulart e a instauração do Regime Militar, o


governo estabelece seu primeiro Ato Institucional29 e, sob a premissa de restaurar a ordem
econômica, financeira, política e moral do Brasil, estabelece eleições indiretas para Presidente.

26
CAJADO, Ane Ferrari Ramos; DORNELLES, Thiago; PEREIRA, Amanda Camylla. Eleições no Brasil: uma
história de 500 anos. Brasília: Tribunal Superior Eleitoral, 2014. p. 45.
27
BRASIL. Lei nº 1.164, de 24 de julho de 1950. Rio de Janeiro. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1950-1969/L1164.htm>. Acesso em: 09 nov. 2019.
28
PARET, Benito. Marmiteiros e fake news. 2018. O Globo. Disponível em:
<https://oglobo.globo.com/opiniao/marmiteiros-fake-news-22427794>. Acesso em: 16 dez. 2019.
29
BRASIL. Ato Institucional nº 1, de 09 de abril de 1964. Brasília. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/AIT/ait-01-64.htm>. Acesso em: 10 nov. 2019.
22

Ainda, o ato previa a possibilidade de suspensão dos direitos políticos e a cassação de mandatos
legislativos federais, estaduais e municipais.
O advento do Ato Institucional n. 230, em 1965, extinguiu-se os partidos políticos
existentes, somente permitindo a organização de dois, MDB e ARENA, instituindo o
bipartidarismo no Brasil. Permitiu ainda a decretação de recesso parlamentar a qualquer tempo,
incumbindo ao Poder Executivo legislar neste período.
No mesmo ano é sancionado o novo Código Eleitoral31, que está até hoje em vigor e, além
das disposições de alistamento, qualificação, obrigatoriedade do voto e Justiça Eleitoral,
também continha um título destinado à propaganda partidária. Os dispositivos previam
propagandas que não seriam toleradas, como aquelas que instigassem à desobediência, que
provocassem animosidades contra forças armadas, que fossem consideradas subversivas, que
perturbassem o sossego público, entre outros.
Ainda, previa a possibilidade do ofendido por calúnia, difamação ou injúria demandar no
Juízo Cível a reparação do dano moral com responsabilidade subsidiária do partido político do
infrator, se constatada ação ou omissão. Ademais, aquele que sofresse os crimes contra honra
teria assegurado o direito de resposta.
No capítulo dos Crimes Eleitorais cabe destaque ao art. 323 que, seguindo o Código
anterior, tipificava a divulgação, durante a propaganda eleitoral, de fatos sabidamente
inverídicos em relação a partidos ou candidatos, que fossem capazes de exercerem influência
perante o eleitorado, agravando a pena se o crime fosse cometido pela imprensa, rádio ou
televisão.
O Código também tipificava a calúnia, difamação e injúria cometidas na propaganda
eleitoral ou visando fins de propaganda. É possível constatar assim que o Código Eleitoral de
1956 continuou a avançar e a se aperfeiçoar em matéria de propaganda eleitoral e crimes
eleitorais.
Em 1966 é lançado o Ato Institucional n. 332, estabelecendo eleições para Governadores,
incumbindo às Assembleias Legislativas estaduais a deliberação. Os Governadores ainda
seriam responsáveis por nomear os Prefeitos das capitais, após aprovação das mesmas

30
BRASIL. Ato Institucional nº 2, de 27 de outubro de 1965. Brasília. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/AIT/ait-02-65.htm>. Acesso em: 10 nov. 2019.
31
BRASIL. Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965. Brasília. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4737.htm>. Acesso em: 11 nov. 2019.
32
BRASIL. Ato Institucional nº 3, de 05 de fevereiro de 1966. Brasília. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/AIT/ait-03-66.htm>. Acesso em: 11 nov. 2019.
23

Assembleias. De tal forma, as únicas eleições diretas para cargos executivos se dariam para os
Prefeitos das cidades que não fossem capitais.
Ainda em 1966, o Ato Institucional n. 433 convocou o Congresso Nacional, que havia sido
fechado, para deliberar e promulgar a nova Constituição, o que se deu em 1967. A Carta Magna
possuía como objetivo assegurar e incorporar as disposições dos demais atos.
Em 1968, as disposições do Regime Militar têm seu ápice com o Ato Institucional n. 534,
que determinava o recesso do Congresso, que só voltaria com convocação do próprio
Presidente. Além das cassações de direitos políticos, os prejudicados ainda poderiam ter sua
liberdade vigiada, serem proibidos de frequentar determinados lugares e possuir domicílio
determinado.
Cabe destaque também à “Lei Falcão35”, de 1976, que impedia o acesso dos candidatos
às emissoras de rádio e televisão. As propagandas nestes veículos se limitavam a narração do
nome, número e currículo do candidato. Pela redação do dispositivo, era impedida inclusive a
apresentação de propostas, sendo tolerado apenas o anúncio do horário e local dos comícios.
Assim, é possível notar que cada vez mais as discussões políticas possam a ser realizadas
nos bastidores e as campanhas políticas são enfraquecidas, de mesmo modo é limitado o
mercado das propagandas eleitorais.
Nos anos seguintes, iniciou-se a abertura lenta e gradual do espaço democrático. Em 1978
a Emenda Constitucional n. 1136 revogou o AI 5, proibindo o governo de cassar mandatos,
suspender direitos políticos e determinar recessos parlamentares. Em 1979 a Lei n. 6.76737
permitiu a criação de novos partidos, reinstituindo o pluripartidarismo no Brasil. Ainda, em
1982 ocorreram eleições gerais para Governadores, com grande vitória da oposição ao regime.
Este cenário criou uma expectativa no país em favor das eleições diretas para Presidente,
ocasionando uma grande movimentação em torno desta agenda que tomou o nome de “Diretas
Já”.

33
BRASIL. Ato Institucional nº 4, de 07 de dezembro de 1966. Brasília. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/AIT/ait-04-66.htm>. Acesso em: 11 nov. 2019.
34
BRASIL. Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968. Brasília. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ait/ait-05-68.htm>. Acesso em: 11 nov. 2019.
35
BRASIL. Lei nº 6.639, de 01 de julho de 1976. Brasília. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1970-1979/L6339.htm>. Acesso em: 12 nov. 2019.
36
BRASIL. Emenda Constitucional nº 11, de 13 de outubro de 1978. Brasília, Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc_anterior1988/emc11-78.htm>. Acesso em: 12
nov. 2019.
37
BRASIL. Lei nº 6.767, de 20 de dezembro de 1979. Brasília. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1970-1979/L6767.htm>. Acesso em: 11 nov. 2019.
24

Todavia a Emenda “Dante de Oliveira” que representava esta pauta, acabou sendo
rejeitada em abril de 1984, mas o impacto se fez sentir e, no ano seguinte, o Colégio Eleitoral
elegeu o Presidente Tancredo Neves, candidato de oposição ao governo.
Entretanto, na véspera de sua posse, Tancredo é internado. O Vice-Presidente, José
Sarney, então toma posse e, com a morte do eleito, este se torna Presidente definitivamente.

1.5 DA TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA E DA NOVA REPÚBLICA

É no panorama descrito que acontece a transição para o governo democrático e, em


fevereiro de 1987, a Assembleia Nacional Constituinte começou a se reunir para a elaboração
da Constituição promulgada em 198838, que ficou conhecida como “Constituição Cidadã”, por
expandir o rol dos direitos sociais e políticos, havendo ainda, disposto sobre a permissão do
voto ao analfabeto.
A eleição direta para a Presidência em 1989 trouxe uma mudança muito forte no cenário
eleitoral e na forma de comunicação social. Pela primeira vez, um debate presidencial era
televisionado no Brasil, as pesquisas de opiniões e tendências eleitorais passaram a ser
massivamente realizadas pelos meios jornalísticos e a imagem dos candidatos é explorada de
forma mais intensa.
Ainda, a nova Carta, em suas disposições transitórias, determinou que em 1993 seria
realizado um plebiscito no qual seria definida a nova forma de governo, República ou
Monarquia, e o novo sistema, presidencialismo ou parlamentarismo. Por ampla maioria, foi
escolhida a República Presidencialista.
Para as propagandas, a Lei n. 8.624/199339 definiu que seriam montadas três frentes
parlamentares representando o Parlamentarismo com República, o Presidencialismo com
República e o Parlamentarismo com Monarquia. As frentes deveriam se organizar sob a forma
de sociedade civil, devendo ter estatuto e programa definidos. Cada frente teria dez minutos
para propaganda gratuita no rádio e televisão, sendo que poderiam levantar recursos para sua
campanha.

38
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 13 nov. 2019.
39
BRASIL. Lei nº 8.624, de 04 de fevereiro de 1993. Brasília. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8624.htm>. Acesso em: 13 nov. 2019.
25

Desde a redemocratização, o Brasil realizou sete eleições presidenciais, todas de forma


direta e com o voto universal, sendo que o desenvolvimento tecnológico, aliado à exploração
dos meios digitais, possibilitou o aperfeiçoamento das eleições, como o cadastramento único
dos eleitores e registro nacional unificado dos candidatos, evitando fraudes. Em 1996 os
eleitores começaram a votar em urna eletrônica, sistema que foi totalmente implementado no
ano 200040.
Cabe também destaque a Lei n. 9.504/199741 que passou a ser chamada de “Lei das
Eleições”, sendo instituída para regulamentar de forma uniforme o processo eleitoral, desde a
eleição para Presidência da República até a dos Vereadores. A lei regula temas como o registro
de candidaturas, propaganda eleitoral, direito de resposta, prestação de contas, condutas
vedadas em campanhas eleitorais e muitos outros. Nos mais de vinte anos de vigência, a referida
lei passou por diversas reformas importantes para o sistema eleitoral e é fundamental para o
desenvolvimento do presente trabalho.
A evolução histórica mostrou a necessidade de se criar e ampliar a propaganda eleitoral,
de modo à verdadeiramente atingir o eleitorado, pois, antes disto, as eleições, além da baixa
participação popular, eram norteadas pela vontade e interesse de grupos restritos. Mostrou ainda
que quanto mais agitada se torna a eleição, maiores são as fraudes e mecanismos obscuros
utilizados, obrigando a atuação legislativa para regular e impedi-los.
A revolução digital e a mudança nas formas de comunicação afetam a maneira de se fazer
essa propaganda, fazendo surgir também novas práticas que afrontam a soberania da vontade
popular. Nesta seara, também acontece a emersão e expansão de diversas formas de falsidade
envolvidas na propaganda.

40
CAJADO, Ane Ferrari Ramos; DORNELLES, Thiago; PEREIRA, Amanda Camylla. Eleições no Brasil: uma
história de 500 anos. Brasília: Tribunal Superior Eleitoral, 2014. p. 67.
41
BRASIL. Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997. Brasília, DF, Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9504.htm>. Acesso em: 13 nov. 2019
26

2 DA PROPAGANDA POLÍTICA

2.1 PRINCÍPIOS DA PROPAGANDA POLÍTICA

Etimologicamente a palavra propaganda tem origem no latim e faz alusão à Congregação


Propagandae Fidei, de Roma, que se destinava à propagação da fé42. A partir de então, o termo
passou a ser usado no sentido de difundir, divulgar e reproduzir pensamentos, ideias e
ideologias, na busca de convencer o interlocutor da escolha pelo seu objeto.
A propaganda política, na visão de José Jairo Gomes43, se caracteriza pela veiculação de
concepções ideológicas, com o objetivo de obter o manter e poder estatal. Tem em vista também
a prevalência uma posição, como no caso de um plebiscito; ou meramente informativo.
Todavia, antes de adentrar no estudo das espécies de propaganda política, é preciso conhecer
seus princípios.
Numa concepção geral, pode-se entender o termo princípio como um ponto de partida,
um alicerce para a construção de algo maior. No Direito, para Celso Antônio Bandeira de Mello,
o princípio é um “mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição
fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de
critério para sua exata compreensão”44.
No Direito Eleitoral não é diferente, podendo ser elencados como princípios da
propaganda política o da veracidade, legalidade, liberdade de expressão e comunicação,
liberdade de informação, igualdade, responsabilidade e controle judicial45.
Para o presente trabalho, importa destacar o princípio da veracidade, pelo qual os fatos
divulgados devem possuir uma correspondência com a realidade e verdade histórica, sendo
vedada a veiculação de informações falsas e a utilização de truques para dar aparência diversa
da verdadeira, a chamada “trucagem”.
O princípio da legalidade estabelece que, sendo a propaganda política regulada por lei,
não pode o cidadão esquivar de seu Império, sob pena das cominações legais dispostas.

42
NASCENTES, Antenor. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica,
1955.
43
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 14. Ed. São Paulo: Atlas, 2018, p. 492
44
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Elementos de Direito Administrativo. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1980, p.230.
45
Id., Ibid. p. 498
27

Evidencia-se ainda a competência privativa da União para legislar sobre o assunto. Todavia, o
Tribunal Superior Eleitoral expede Instruções para o fiel cumprimento da lei.
O princípio da liberdade de expressão e comunicação dá a independência na criação do
conteúdo e forma da propaganda, diferentemente do que acontecia na égide da “Lei Falcão”.
Tal princípio é essencial na construção de um ambiente democrático, no qual se promova o
debate. Entretanto, tal princípio não possui caráter absoluto, sendo sopesados os interesses no
caso concreto, como por exemplo, a previsão do art. 244, parágrafo único, inciso V, do Código
Eleitoral, quanto a vedação de veículos de sons a menos de quinhentos metros de hospitais.
Já o princípio da liberdade de informação versa sobre o outro polo da propaganda, o
interlocutor, sendo assegurado a todos os cidadãos o direito de se informar sobre o candidato,
seu programa de governo, suas propostas e também as informações da administração e das
eleições como um todo.
O princípio da igualdade versa sobre a paridade de armas entre os agentes, sendo as armas
os mecanismos e recursos à disposição, podendo os agentes ser os candidatos, os políticos
eleitos ou até mesmo os partidos. José Jairo Gomes46 explica que tal isonomia é somente formal
e não material, vez que, por exemplo, os partidos com maioria no Congresso possuem um maior
tempo de propaganda política. Podendo, assim, existirem campanhas milionárias e outras
simplórias, entretanto, todas possuindo a mesma oportunidade para alcançar este protagonismo.
O princípio da responsabilidade aduz que alguém sempre deve ser responsabilizado pela
propaganda, sendo os excessos atribuídos primeiramente aos candidatos e partidos. Todavia o
art. 241 do Código Eleitoral define a responsabilidade solidária aos agentes de comunicação
responsáveis por ela.
Por fim, pelo princípio do controle judicial, a propaganda é submetida ao controle da
Justiça Eleitoral, podendo inclusive ser utilizado o poder de polícia para inibir seus excessos.
Por exemplo, no caso citado de veículos de som próximos a hospitais, poderia o Juiz, inclusive
de ofício, determinar que se faça cessar.

46
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 14. Ed. São Paulo: Atlas, 2018, p. 498
28

2.2 ESPÉCIES DE PROPAGANDA POLÍTICA

A propaganda política é gênero, tendo como espécies a propaganda institucional, a


propaganda partidária, a propaganda intrapartidária e a propaganda eleitoral47, como se estudará
adiante.

2.2.1 Propaganda Institucional

Diante dos princípios da liberdade de informação na propaganda e da publicidade no


Direito Administrativo, é preciso que a administração não só seja transparente quanto a seus
atos, mas também que informe o cidadão. Para este fim, torna-se necessária a propaganda
institucional, feita pela própria administração para divulgar suas ações.
Tal espécie de propaganda deve também respeitar outro princípio da administração
púbica, que é o da impessoalidade. Ou seja, não se utiliza da divulgação para promover a figura
do administrador, mas sim da própria administração.
A própria Constituição Federal, no art. 37, §1°, determina que a publicidade dos atos,
programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deve possuir caráter educativo,
informativo ou de orientação social, sendo vedada a aparição de nomes, símbolos ou imagens
que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.
Ainda, a propaganda, para se configurar como institucional, também deve ser paga com
recursos públicos. Desta forma, é possível entender que o agente público que se utiliza da
propaganda institucional para autopromoção comete enriquecimento ilícito.
Em janeiro de 2018, o então Prefeito de São Paulo, João Dória, tornou-se réu de uma ação
civil pela prática de atos de improbidade administrativa em virtude da veiculação do slogan
“São Paulo – Cidade Linda”, representado por um coração vermelho com as letras “SP” em
propagandas institucionais. O Ministério Público Estadual entendeu que a utilização deste
slogan personalizava sua passagem pela administração pública, tornando-se impessoal e
gerando promoção de sua pessoa.

47
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 14. Ed. São Paulo: Atlas, 2018.
29

A sentença entendeu que o administrador atentou contra o princípio da impessoalidade e


o condenou, dentre outras penas, a abster-se de utilizar o slogan, à suspensão de seus direitos
políticos e à devolução integral dos valores gastos com as campanhas e veiculações
publicitárias.
O Tribunal acolheu em partes o recurso do então Prefeito48, entendendo que a propaganda
não vinculava diretamente sua identificação pessoal com o slogan, tampouco que este se
enriqueceu ilicitamente com esta conduta. Somente entendeu que ele violou o princípio da
legalidade, diante da lei municipal, alterada meses depois, que não permite o uso de logomarca
de identificação que não sejam o brasão da cidade com a inscrição “Cidade de São Paulo” 49. O
caso ainda não transitou em julgado e aguarda apreciação de Recurso Especial, todavia, ilustra
as diferentes interpretações que a propaganda institucional comporta.
Ainda, com a intenção de inibir propagandas institucionais que tenham cunho eleitoral, a
Lei das Eleições vedou propagandas institucionais nos três meses que antecedem o pleito, salvo
em grave e urgente necessidade pública reconhecida pela Justiça Eleitoral. Ademais, antes dos
citados três meses, o agente público não poderá realizar gastos que excedam a média dos
últimos três anos ou do último ano imediatamente anterior à eleição50.

2.2.2 Propaganda Intrapartidária

Esta espécie de propaganda é aquela promovida pelo filiado de partido político que
pleiteia ser candidato a um cargo eletivo e deverá ser escolhido pelos seus pares durante as
convenções partidárias.
A Lei das Eleições, em seu art. 36, §1°, permite ao candidato ao cargo eletivo a realização
de propaganda intrapartidária na quinzena anterior à escolha pelo partido, objetivando que seu
nome seja indicado; sendo que a escolha dos candidatos deve ser feita no período de 20 de julho
a 05 de agosto do ano eleitoral.

48
BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo. Apelação nº 1004481-97.2018.8.26.0053. Relator: Luís Francisco
Aguilar Cortez. São Paulo, SP, mar. 2019. Disponível em:
<https://esaj.tjsp.jus.br/cposg/show.do?processo.codigo=RI004UA7X0000&processo.foro=990&processo.numer
o=10044819720188260053&gateway=true#>. Acesso em: 02 dez. 2019.
49
SÃO PAULO (Município). Lei nº 14.166, de 6 de junho de 2006. São Paulo, SP, Disponível em:
<https://leismunicipais.com.br/a/sp/s/sao-paulo/lei-ordinaria/2006/1416/14166/lei-ordinaria-n-14166-2006-
regulamenta-o-uso-de-simbolos-oficiais-do-municipio-e-da-outras-providencias>. Acesso em: 02 dez. 2019
50
AYRES, Rodrigo Martiniano. Direito Eleitoral Descomplicado. 1 ed. Rio de Janeiro: Ferreira, 2011, p. 375.
30

Por não ser destinada aos eleitores em geral, mas somente aos filiados do respectivo
partido político, não se torna possível, nem lógica, uma propaganda que exceda o próprio
âmbito partidário.
Deste modo, a própria lei veda o uso de rádio, televisão e outdoor para realizá-la, sendo
que o simples potencial de atingir eleitores torna-se uma infração. Cita-se como exemplo, o
caso de um candidato que, durante as prévias partidárias, fixou propaganda em um caminhão e
o estacionou em frente ao local designado para a convenção do partido. O TSE entendeu o
potencial lesivo pela possibilidade de alcançar o eleitorado em geral51.
Assim, este tipo de propaganda deve ter o cuidado de somente atingir os filiados, sendo
possível, por exemplo, a fixação de faixas e cartazes nos locais próximos à convenção, com
mensagens aos participantes. Podem ainda ser enviados e-mails e cartas aos filiados52, além de
distribuídos panfletos nos limites do partido.

2.2.3 PROPAGANDA PARTIDÁRIA

A propaganda partidária é aquela promovida pelo partido político com intuito de atingir
a sociedade em geral, divulgando seu programa, projetos, valores e ideologia, buscando,
principalmente, angariar novos filiados e adeptos.
Aos partidos políticos é assegurado pela Constituição Federal, no art. 17, §1°, o direito
de antena, que se trata do acesso gratuito ao rádio e à televisão na forma da lei. Todavia, a Lei
n. 13.487/2017 revogou os dispositivos da Lei dos Partidos Políticos que dispunham sobre a
propaganda gratuita53. Desta forma, a verba antes destinada ao custeio da propaganda partidária
foi alocada no Fundo Especial de Financiamento de Campanha.
O partido deve tomar o cuidado para que a propaganda se restrinja a seus valores, ideais
e programa, como descrito; pois ultrapassar seus limites e realizar campanha eleitoral neste
espaço, promovendo uma figura, por exemplo, é considerada propaganda antecipada.

51
BRASIL. Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro. Agravo de instrumento nº 3815. Relatora: Min. Laurita
Vaz. DJE - Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 36, p 47-48, Duque de Caxias, RJ, fev. 2014, p. 47/48.
52
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Consulta n° 1673 – Resolução 23.086 de 24 de março de 2009. Relator
Min. Felix Fischer. DJE – Diário da Justiça Eletrônico, Tomo 166, set. 2009.
53
BRASIL. Lei n. 13.487, de 06 de outubro de 2017. Brasília, DF. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13487.htm>. Acesso em: 03 dez. 2019.
31

As propagandas irregulares podem ser impugnadas por meio da representação, a qual


deverá ser apresentada por outro partido político, ou até mesmo o Ministério Público. Se a
inserção for nacional, será responsável pela apreciação o Tribunal Superior Eleitoral, se for
estadual, pelos Tribunais Regionais Eleitorais54.

2.2.4 Propaganda Eleitoral

A propaganda eleitoral é a espécie elaborada pelos candidatos, partidos políticos,


coligações e apoiadores, com o intuito de captar votos do eleitorado, para que sejam investidos
no cargo público eletivos. Caracteriza-se por tentar levar ao conhecimento popular os motivos
e razões pelos quais o eleitor deveria escolher determinado candidato. José Jairo Gomes55 divide
a classificação da propaganda eleitoral em três itens: forma de realização, sentido e momento
em que é levada a efeito.
Quanto à forma de realização, a propaganda eleitoral pode ser expressa ou sublimar.
Expressa é aquela em que diretamente se pede o voto, transmitindo-se de forma clara e
inequívoca. Subliminar é aquela que influi no voto do eleitor, através de estímulos de conteúdo
político eleitoral, todavia, sem ser percebido diretamente pelo receptor, atingindo seu
inconsciente.
Quanto ao sentido, a propaganda pode ser positiva ou negativa. Na propaganda positiva
exaltam-se as características positivas do candidato, como sua história, gestão ou capacidade.
Já a propaganda negativa é aquela que busca desqualificar o candidato adversário, apontando
suas falhas, seus trabalhos impopulares, na busca de torná-lo uma figura aparentemente
incompetente, desleal ou distante.
Ainda, a propaganda eleitoral negativa pode se subdividir em comparativa, depreciativa
ou mentirosa56. Todavia, é preciso pontuar que a propaganda negativa, por natureza, nada tem
de irregular, a ilicitude se dará nos casos em que houver excesso, cometendo crimes como
calúnia e difamação.

54
AYRES, Rodrigo Martiniano. Direito Eleitoral Descomplicado. 1 ed. Rio de Janeiro: Ferreira, 2011, p 383.
55
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 14. Ed. São Paulo: Atlas, 2018, p. 501.
56
SILVA, Guilherme de Abreu e; HELPA, Caroline de Fátima. O direito de atacar o adversário e o controle da
mentira na propaganda eleitoral negativa. Revista Brasileira de Direito Eleitoral, Belo Horizonte, ano 9, n. 17,
p.49-61, jul./dez. 2017
32

Importa ressaltar, ainda, quanto ao sentido, que a propaganda pode ser mista. Assim, ao
mesmo tempo em que descaracteriza o adversário, faz o contraponto de outro candidato,
enaltecendo-o.
Quanto ao momento da realização, a propaganda pode ser tempestiva ou extemporânea.
Será tempestiva aquela realizada dentro do período estabelecido pela lei, atualmente iniciando-
se no dia 16 de agosto e encerrando-se às vésperas da eleição desta forma, será extemporânea,
ou azada, aquela promovida antes ou depois de tal lapso.

2.3 ESPECIFICIDADES DA PROPAGANDA ELEITORAL

O estudo aprofundado das especificidades da propaganda eleitoral mostra-se necessário


para entender a regulação, possibilidade e influência da promoção dos candidatos nos mais
variados veículos de comunicação, bem como os impedimentos e entraves existentes.

2.3.1 Propaganda Extemporânea

Conforme explanado, a propaganda eleitoral só é permitida num determinado lapso


anterior às eleições, durante o chamado período eleitoral. O candidato já deve ter sido escolhido
internamente nas convenções e ter seu pedido de registro requerido à Justiça Eleitoral. Se a
propaganda for realizada fora deste determinado tempo, irá se qualificar como extemporânea.
Evidencia-se, ainda, que não existe um marco inicial para que a propaganda se classifique
como antecipada, podendo a promoção ocorrer a qualquer tempo, até mesmo no ano anterior
ao certame, sob risco de tornar lícita a propaganda fora do período eleitoral57.
O Tribunal Superior Eleitoral58 tem estabelecido alguns elementos que caracterizam a
propaganda antecipada, tais como: alusão a uma pretensa candidatura, o pedido expresso ou
implícito de votos, difusão de ações políticas que se pretende desenvolver ou a transmissão da

57
ZÍLIO, Rodrigo López. Direito Eleitoral noções preliminares, elegibilidade e inelegibilidade, processo eleitoral
(da convenção à prestação de contas), ações eleitorais. 2. ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2010, p. 286
58
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Agravo de Instrumento n°. 152491. Relator: Min. Luiz Fux. DJE - Diário
de Justiça Eletrônico, Tomo 72, Curitiba, PR, abr. 2015, p. 83/84.
33

ideia de que o beneficiário é o mais apto para o desempenho de determinada função pública.
Desta forma, a propaganda extemporânea não se restringe àquela explícita.
Por outro lado, o art. 36-A da Lei da Eleições, expõe um rol de atividades que não
configuram como propaganda eleitoral antecipada. Podendo ser citado como exemplo a
participação de pré-candidatos em entrevistas e programas de rádio e televisão, a divulgação de
atos parlamentares e debates legislativos ou a campanha de arrecadação prévia de recursos na
modalidade prevista no art. 23, inciso IV, §4°, da referida lei.
Entretanto, o mesmo artigo faz a ressalva de que estes atos não podem envolver pedido
explícito de voto, menção à pretensa candidatura e exaltação das qualidades pessoais do pré-
candidato.
Quanto à propaganda eleitoral online, o art. 57-C da Lei das Eleições veda a veiculação
de qualquer tipo de propaganda eleitoral paga na internet. Todavia, o impulsionamento de
conteúdo, estratégia onerosa para aumento de alcance nas redes sociais, por partidos políticos,
candidatos e coligações, no período eleitoral é permitido. Se realizado fora dele também pode
qualificar como propaganda antecipada.
Ainda, não se configura propaganda antecipada a livre e espontânea manifestação de
pessoas naturais, mesmo que sobre alusão às candidaturas, partidos políticos, propostas e temas
eleitorais.
Por fim, quanto à responsabilidade pela propaganda antecipada, o art. 36, §3°, determina
aplicação de multa para quem divulgá-la, neste caso, para quem a criou. O beneficiário só
poderá ser responsabilizado se ficar comprovado que teve prévio conhecimento da promoção,
afastando assim sua responsabilidade objetiva.

2.3.2 Dos Locais a se Realizar Propaganda

A Lei das Eleições, em seu art. 37, veda a realização de propaganda eleitoral de qualquer
natureza em bens que pertençam ao Poder Público e nos bens de uso, tais como: postes de
iluminação, viadutos e parada de ônibus. Por esta restrição, veda-se também a pichação de
muros, a instalação de placas, faixas, cavaletes e semelhantes em locais públicos ou de uso
comum. Aquele que o fizer está sujeito à obrigação de restauração do bem e, em caso de
descumprimento, à multa.
34

Todavia, bens de uso comum, para fins eleitorais, possuem sentido diverso daquele
instituído pelo Código Civil. O art. 37, §4°, da Lei das Eleições, dispõe que, além daqueles bens
previstos na codificação privada, são de uso comum todos aqueles em que a população em geral
tem acesso, como cinemas, clubes, academias, comércio em geral, ainda que sejam de
propriedade privada. Isto, pois, segundo José Jairo Gomes59, o abuso na utilização dos bens
privados de acesso geral poderia comprometer o equilíbrio que deve permear as eleições, o que
feriria a paridade de armas na disputa.
Entretanto, de forma excepcional, de acordo com o art. 37, §6º, da Lei das Eleições, a
propaganda é permitida em vias pública através do uso de bandeiras e colocação de mesas para
distribuição de materiais de campanha. Em ambos os casos, desde que sejam móveis e não
dificultem o andamento do trânsito de pessoas e veículos, sendo que esta mobilidade fica
caracterizada pela possibilidade de colocação e retirada dos instrumentos entre as seis horas e
as vinte e duas horas.
Apesar da vedação de propaganda nos locais de serviço público, esta restrição não deve
embaraçar a livre manifestação de pensamento ou o direito de ir e vir daqueles que buscam o
serviço, como deixar o veículo com adesivos no estacionamento de um campus universitário,
ou adentrar na repartição pública utilizando materiais de identificação de um determinado
candidato.
Ainda, apesar de não previsto na legislação, o Tribunal Superior Eleitoral considerou o
derramamento de material de campanha, como santinhos ou panfletos, nas vias e locais
públicos, o que acontece principalmente próximo aos locais de votação, como propaganda
irregular, sujeitando-se o infrator à multa60.
Também é vedada a propaganda eleitoral em bens cujo uso dependa da autorização,
cessão ou permissão do poder público, como bancas de jornal e revista, veículos de transportes,
coletivos urbanos, mesmo que sejam de empresas privadas e inclusive táxis61, já que estes
dependem de licença, conforme estabelece o art. 37, caput, da Lei das Eleições.
Quanto aos serviços de transporte privado urbano, como Uber e outros aplicativos de
carona remunerada, estes não dependem de autorização do poder público. José Jairo Gomes62

59
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 14. Ed. São Paulo: Atlas, 2018, p. 517.
60
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Instrução nº 53850. Relator: Min. Gilmar Mendes. DJE - Diário de
Justiça Eletrônico. Brasília, DF, Tomo 243, dez. 2015, p. 57/79.
61
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Agravo de Instrumento n°. 2890. Relator: Min. Fernando Neves da
Silva. Diário de Justiça da União, Volume 1, p.158, Faxinal dos Guedes, SC, ago. 2001., Página 158.
62
GOMES, Op. cit. p. 518
35

entende que por ser acessível ao público em geral, indistintamente, o automóvel não pode conter
propaganda interna ou externa.
Já nos bens de propriedade e acesso privados, a realização da propaganda está
condicionada à autorização do proprietário ou possuidor, que deverá ser espontânea e gratuita.
Desde 2017, a Lei das Eleições, em seu art. 37, §2º, limitou a propaganda fixada em automóveis
ou espaços residenciais à materiais, como adesivos ou papéis, impedindo que estas excedam
meio metro quadrado.
A Resolução n. 23.551/201863 do Tribunal Superior Eleitoral, em seu art. 15, §5°, vedou
ainda a propaganda realizada mediante inscrição ou pintura em fachadas, muros ou paredes. A
exceção está nas sedes de partidos políticos, que podem inscrever apenas seus nomes, pois trata-
se de identificação institucional.
A inscrição de nomes do candidato e propaganda no comitê de campanha encontra
divergências na doutrina e jurisprudência, existindo três posições. A primeira entende que
somente é possível o adesivo de até meio metro, pois outras formas configurariam propaganda
eleitoral64. A segunda, que tem prevalecido, é que somente o comitê central pode ostentar dados
como nome e número do candidato na fachada65. A terceira, que se mostra mais correta, é que
a identificação em que a veiculação dos dados na fachada de qualquer comitê trata-se de sua
identificação66, não sendo, portanto, propaganda propriamente dita.
Ocorrendo a infração, aquele que a comete fica sujeito às sanções cumuladas de retirada
da propaganda e multa, sendo que a Súmula 48 do Tribunal Superior Eleitoral67 dispõe que a
retirada da propaganda irregular, realizada no bem particular, não afasta a multa.
Ainda sobre propaganda em bens particulares, o art. 37, §1°, da Lei das Eleições, também
veda a propaganda promovida em outdoor, sendo conceituado como engenhos publicitários
explorados comercialmente ou aqueles, mesmo sem finalidade lucrativa, que tenham dimensões
iguais ou superiores a vinte metros quadrados68, podendo inclusive ser digital. A penalidade,
além da remoção, é multa no valor de cinco a quinze mil reais.

63
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Resolução nº 23.551, de 18 de dezembro de 2017. Brasília, DF.
Disponível em: <http://www.tse.jus.br/legislacao-tse/res/2017/RES235512017.html>. Acesso em: 05 dez. 2019.
64
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial Eleitoral nº 332757. Relator: Min. Marcelo Ribeiro,
Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico, p. 91, jul. 2011.
65
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 14. Ed. São Paulo: Atlas, 2018, p. 520.
66
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Recurso Especial Eleitoral nº 28485. Relator: Min. José Delgado. DJ -
Diário de Justiça. Brasília, DF, abr. 2008, p. 14.
67
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. A retirada da propaganda irregular, quando realizada em bem particular,
não é capaz de elidir a multa prevista no art. 37, § 1º, da Lei nº 9.504/1997. Relator: Min. Dias Toffoli. Súmula
48. Disponível em: <http://www.tse.jus.br/legislacao/codigo-eleitoral/sumulas/sumulas-do-tse/sumula-tse-no-
48>. Acesso em: 05 dez. 2019.
68
GOMES, José Jairo. Op. cit., p. 522
36

2.3.3 Da Distribuição de Impressos

É permitida a veiculação de propaganda eleitoral através da distribuição de folhetos,


adesivos, volantes e outros impressos, conforme art. 38, caput, da Lei das Eleições. Este
material poderá ser distribuído em vias públicas e locais que não sejam destinados à prestação
de serviço público, sendo desnecessária a autorização da Justiça Eleitoral, do Poder Público ou
da Polícia para tanto.
Todo material de campanha impresso deverá conter o número do CNPJ ou CPF do
responsável pela confecção, bem como de quem a contratou. Sendo que sua divulgação é de
responsabilidade do partido, coligação ou candidato.
Ainda, a distribuição de material, bem como qualquer ato público de campanha como
passeatas, está limitada até as vinte e duas horas do dia que antecede a eleição, sendo vedado
qualquer tipo de distribuição no dia do pleito.

2.3.4 Dos Comícios e Atos Públicos de Campanha

Comícios são atos de campanha pelos quais os candidatos a cargos políticos se


apresentam diante de um público suas razões, propostas e projetos, buscando cativar o
eleitorado e conquistar votos. Trata-se de uma das mais tradicionais formas de propaganda
eleitoral e é costumeiro que os candidatos e demais oradores fiquem sobre palanques ou carros
de sons em vias públicas.
Não é necessária autorização ou licença policial ou judicial para que ocorram. Entretanto,
aquele que o promove deve realizar a comunicação à Autoridade Policial com, no mínimo, vinte
e quatro horas de assistência, para que esta possa tomar as providências necessárias para a
realização do ato, como a instalação de cavaletes e a alterações no funcionamento do tráfego.
De acordo com o art. 39, §4º, da Lei das Eleições, os comícios podem ser realizados até
as quarenta e oito horas que antecederem o pleito, ocorrendo no horário compreendido entre as
oito horas da manhã até a meia noite, com exceção do comício de encerramento da campanha,
que poderá durar até duas horas da manhã.
No ato pode ser utilizada aparelhagem de som e telão para transmitir o próprio comício
ou vídeos da campanha. Entretanto é proibida a transmissão de show artístico ou outra atração
37

para entreter e animar o público, somente é possível a transmissão dos jingles eleitorais do
candidato.
Já o art. 39, §7º, da Lei das Eleições, veda a apresentação de grupos musicais ou outras
formas de entretenimento, como performance de humoristas, o que popularmente é chamado
de “showmício”. Todavia esta conduta não prevê sanção específica em caso de
descumprimento, sendo possível a tipificação no delito de desobediência do Código Eleitoral,
previsto no art. 347, ou a configuração de gasto ilícito de campanha, conforme disposto no art.
30-A, §2°, da Lei das Eleições.
Ainda, o art. 39, §9º, da Lei das Eleições, permite a realização de carreatas e passeatas
até as vinte e duas horas do dia que antecede a eleição, devendo estas também serem
comunicadas no mesmo prazo dos comícios.
O uso de carro de som, mini trio elétrico, trio elétrico e alto falante, também é permitido
das oito às vinte e duas horas da véspera do dia da eleição. Todavia, sofre algumas restrições
como o limite de nível de pressão sonora de oitenta decibéis e o respeito à distância de duzentos
metros de hospitais, escolas, igrejas, sedes dos poderes e outros.
O direito de se reunir publicamente no dia das eleições também sofre restrições em prol
da paz social, sendo vedado, até o término do horário de votação, a aglomeração de pessoas
com vestuários padronizados ou com instrumentos de propaganda como broches e adesivos.

2.3.5 Da Distribuição de Produtos

Até 2006, era comum a confecção e distribuição gratuita de produtos como camisetas,
chaveiros, bonés e brindes em geral. Entretanto, a Lei n. 11.300/200669 modificou a Lei das
Eleições, proibindo em seu art. 39, §6°, a distribuição de quaisquer bens ou materiais que
possam proporcionar vantagem ao eleitor.
Entretanto esta norma está sujeita a um subjetivismo do que seria vantagem ao eleitor.
José Jairo Gomes70 dá o exemplo da distribuição de marcadores de santinhos na forma de
marcadores de página, dizendo que se não se pode negar a vantagem, é preciso convir a
insignificância.

69
BRASIL. Lei nº 11.300, de 10 de maio de 2006. Brasília. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11300.htm>. Acesso em: 09 dez. 2019.
70
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 14. Ed. São Paulo: Atlas, 2018, p. 527.
38

Ainda, a proibição de distribuição destes bens não impede que apoiadores do candidato
produzam ou solicitem a produção de produtos para seu uso pessoal. Sendo também permitida
a venda de material institucional de partidos políticos, por exemplo, como vem fazendo o
Partido Novo. Todavia, não podem conter nome ou número de candidatos.

2.3.6 Da Propaganda no Rádio e Televisão

Os serviços prestados pelo rádio e pela televisão são concedidos pelo Poder Público,
estando seus bens afetos à sujeição a uma finalidade social. De tal modo, estes veículos não
podem ser empregados em favor de determinadas candidaturas, devendo sempre pautar a
atuação pela imparcialidade.
A propaganda eleitoral só pode ser veiculada no horário eleitoral gratuito, sendo vedada
a propaganda paga, conforme art. 36, §2°, da Lei das Eleições, o que não se confunde com os
gastos do candidato para a produção do conteúdo, assim, não se admite que seja paga a
veiculação da propaganda.
Ainda, importa evidenciar que o art. 53 da Lei das Eleições veda a censura prévia da
propaganda, sendo a responsabilidade pelo conteúdo promovido de inteira responsabilidade dos
partidos e candidatos, sem nenhuma análise prévia da Justiça Eleitoral. As análises e sanções
só são realizadas após a transmissão do conteúdo.
Já o §1° do mesmo artigo, proíbe a veiculação de propaganda que possa degradar ou
ridicularizar candidatos, sendo que o candidato ou partido infrator pode sujeitar-se à perda do
direito de veiculação de propaganda no horário eleitoral gratuito no dia seguinte. Entretanto,
evidencia-se que a mera crítica ao governo ou ao candidato não configura ridicularizarão ou
degradação, estando protegido pela livre manifestação do pensamento.

2.3.7 Do Telemarketing Eleitoral

A propaganda eleitoral via telemarketing consiste em agentes de campanha de um


candidato contatar, através de ligações, diretamente o eleitor para pedir-lhe o voto; também
podendo consistir no uso de mensagens gravadas.
39

Entretanto, em 2014, o Tribunal Superior Eleitoral expediu a Resolução n.


23.404/201471, cuja algumas de suas disposições vedam expressamente o telemarketing
eleitoral. Entretanto, a Resolução foi matéria da Ação Direta de Inconstitucionalidade n.
5.12272, alegando ofensa à livre manifestação do pensamento, à liberdade de consciência, à livre
expressão da atividade de comunicação e ao acesso à informação. Alega ainda a incompetência
do TSE para criar regra restritiva.
A ação teve seu julgamento concluído em maio de 2018 e, por maioria de votos, foi
julgada improcedente, reconhecendo assim a constitucionalidade da Resolução. A inicial
argumentava, principalmente, um sopesamento do direito à liberdade de expressão e do direito
à intimidade, podendo o primeiro ser limitado a fim de se proteger a intimidade e a vida privada.
O Ministro Luiz Fux ponderou tratar-se de uma invasão do domicílio do eleitor. Já o
Ministro Marco Aurélio abriu divergência, afirmando que a manifestação de pensamento e
informação não devem sofrer qualquer restrição. Aduziu ainda que o TSE ultrapassou sua
competência, invadindo a seara da União ao criar uma regra restritiva73.

2.3.8 Do Disparo de Mensagens em Massa

De acordo com o art. 57-B, inciso III, da Lei das Eleições, é possível a realização de
propaganda eleitoral através do envio de mensagens eletrônicas, que compreendem e-mails,
SMS e mensagens através de plataformas como o Whatsapp.
Assim, algumas empresas passaram a oferecer serviços de disparo de mensagens em
massa, principalmente através de aplicativos. Todavia, a compra destes serviços não é
regulamentada pela legislação, podendo ser punível somente caso incorra em outro tipo de
vedação, como a divulgação de notícia falsa ou realizada para denegrir a imagem do candidato.

71
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Resolução nº 23.404, de 27 de fevereiro de 2014. Relator: Min. Dias
Toffoli. DJE - Diário de Justiça Eletrônico. Brasília, DF, Disponível em: <http://www.tse.jus.br/legislacao-
tse/res/2014/RES234042014.htm.>. Acesso em: 09 de dez. 2019.
72
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 5122. Relator: Ministro Edson
Fachin. Brasília. Disponível em: <http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4572005>. Acesso em:
09 dez. 2019.
73
BRASIL SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. STF julga constitucional resolução do TSE que proíbe
telemarketing eleitoral. 2018. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=377334>. Acesso em: 09 dez. 2019.
40

Nas eleições de 2018, por exemplo, a empresa Havan foi apontada pela Folha de São
Paulo como uma das contratantes deste serviço de disparo de mensagens em massa para apoiar
o candidato Jair Bolsonaro74. Entretanto, em casos como este, a compra dos serviços por uma
empresa configura doação não declarada para a campanha, o que é vedado.
Em audiência pública realizada pelo Tribunal Superior Eleitoral, no dia 27 de novembro
de 2019, a representação jurídica do Whatsapp sugeriu que a já citada Resolução que proíbe
propaganda eleitoral via telemarketing seja expandida, vedando também o disparo em massa
de mensagens através de aplicativos e a compra destes serviços para fins de propaganda
eleitoral75.

2.3.9 Da Propaganda Eleitoral na Internet

Uma verdadeira revolução da comunicação ocorre com a chegada e difusão da internet.


Antes, as comunicações partiam de poucos emissores, como redes de televisão, rádios e jornais,
podendo atingir muitos receptores. Com o ingresso neste novo período, as comunicações
passaram a ter novas possibilidades, pois a internet permite que inúmeras pessoas se tornem
emissoras de conteúdo e canais de comunicação, possibilitando, ainda, uma inteiração em
tempo real76.
Diante disto, foi necessário um aprofundamento e desenvolvimento da Justiça Eleitoral,
bem como da legislação pertinente, pois, agora, milhões de pessoas são possíveis promotoras
de propaganda eleitoral.
Apesar de a legislação ter demorado um lapso considerável para acompanhar a inovação,
José Jairo Gomes77 afirma que nesse ínterim a Justiça se pronunciava conforme era acionada,
sempre ponderando acerca da liberdade de expressão e comunicação, bem como do direito à
informação.

74
MELLO, Patrícia Campos. Empresários bancam campanha contra o PT pelo WhatsApp. 2018. Disponível
em: <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/10/empresarios-bancam-campanha-contra-o-pt-pelo-
whatsapp.shtml>. Acesso em: 09 dez. 2019.
75
PONTES, Felipe. WhatsApp quer incluir em norma eleitoral proibição a disparos em massa. 2019.
Disponível em: <https://epocanegocios.globo.com/Brasil/noticia/2019/11/whatsapp-quer-incluir-em-norma-
eleitoral-proibicao-disparos-em-massa.html>. Acesso em: 09 dez. 2019.
76
RAIS, Diogo et al. Direito Eleitoral Digital. São Paulo: Thomson Reuters, 2018, p. 43.
77
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 14. Ed. São Paulo: Atlas, 2018, p. 554.
41

Desde 2009, a Lei das Eleições trata do tema propaganda na internet, passando por
diversas modificações ao longo dos anos. O art. 57-B da referida lei, permite a propaganda em
sítio eletrônico do candidato, partido, ou coligação, por meio de mensagem eletrônica e por
meio de blogs, redes sociais, sítios de mensagens e aplicações semelhantes.
Quanto às mensagens eletrônicas, diante da disposição do art. 28, §2°, da Resolução n.
23.551/2017 do TSE, os Tribunais interpretam que as mensagens de cunho eleitoral se
submetem às regras da propaganda eleitoral quando não há consensualidade tácita ou expressa
entre remetente e destinatário.
Evidencia-se também que, apesar da vedação à veiculação de qualquer tipo de propaganda
eleitoral paga na internet, a reforma de 2017 abriu exceção, criando o art. 57-C na Lei das
Eleições, que permite o impulsionamento de conteúdos. O impulsionamento trata-se de uma
estratégia de propaganda na qual o interessado aumenta a difusão do conteúdo vinculado,
alcançando um maior número de usuários, mediante o pagamento de um valor preestabelecido,
ocorre costumeiramente através das redes sociais.
Todavia, este impulsionamento, com fins eleitorais, ou seja, de angariar votos, deve ser
feito exclusivamente pelos candidatos, partidos e coligações, ou seus representantes legais,
sendo vedada a contratação de impulsionamento por pessoa natural ou física, o que é previsto
no art. 57-B, inciso IV, alínea “b”, da Lei das Eleições. Nas eleições de 2018, tornou-se
emblemático o caso do empresário Luciano Hang, que impulsionou publicações no Facebook
para promover a campanha do candidato Jair Bolsonaro. No referido caso, o TSE multou o
promotor do conteúdo em dez mil reais78.
Evidencia-se também que o conteúdo impulsionado é de inteira responsabilidade do
contratante, mesmo que não seja candidato, partido ou coligação. O provedor que possibilite o
impulsionamento só será responsabilizado se, após ordem judicial, não tomar as providências
para, nos prazos e termos delimitados, tornar indisponível o conteúdo apontado como
infringente pela Justiça Eleitoral, se obteve prévio conhecimento do conteúdo a ser veiculado,
conforme disposto no art. 57-F, parágrafo único, da Lei das Eleições.
A mesma lei, em seu art. 57-H, também pune com multa aquele que realiza propaganda
eleitoral na internet atribuindo indevidamente sua autoria a terceiro, inclusive a candidato,
partido ou coligação. Ainda, de acordo com o §1° do mesmo artigo, constitui crime a

78
VEJA. TSE multa dono da Havan por pagar anúncios no Facebook para Bolsonaro. Publicado em set.
2018. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/politica/tse-multa-dono-da-havan-por-pagar-anuncios-no-
facebook-para-bolsonaro/>. Acesso em: 09 dez. 2019.
42

contratação, mesmo que indireta, de grupo de pessoas para emitir comentários na internet com
o objetivo de ofender a honra ou denegrir a imagem de candidato, partido ou coligação.
Por fim, evidencia-se novamente que não deve ser confundida a propaganda eleitoral com
a livre manifestação do pensamento. Todavia, a Lei das Eleições, em seu art. 57-D, também
veda o anonimato na internet durante a campanha eleitoral.

2.4 DO DIREITO DE RESPOSTA

Diante do princípio da liberdade de informação, é direito do eleitor tomar conhecimento


sobre os participantes do pleito eleitoral. Entretanto, outro princípio deve ser balizado na
disputa, que é o da veracidade. Deste modo, os conteúdos devem apresentar íntimo vínculo com
a realidade fática e histórica, sendo inclusive crime, previsto no art. 323 do Código Eleitoral, a
divulgação de fatos sabidamente inverídicos em propagandas eleitorais, sendo, ainda,
intolerável aquela propaganda que calunia, difama, ou injuria pessoas, órgãos ou entidades que
exerçam autoridade pública.
Diante disto, a Lei das Eleições, em seu art. 58, garante o direito de resposta ao candidato,
partido ou coligação, atingido por conceito, imagem ou afirmação caluniosa, difamatória,
injuriosa ou sabidamente inverídica, difundidos por qualquer veículo de comunicação social,
mesmo que de forma indireta.
Para José Jairo Gomes, de forma simples, “o direito de resposta constitui oportunidade
conferida ao ofendido para se manifestar”79. O autor afirma, ainda, que mesmo diante da
restrição subjetiva do dispositivo, qualquer pessoa física ou jurídica pode invocar o direito de
resposta, sendo assegurado desde a escolha do candidato por convenção e, para as coligações,
entende Rodrigo Lins80, que desde a sua constituição.
A expressão “qualquer veículo de comunicação” disposta na lei abrange desde os grandes
jornais, até redes sociais. Tendo o Tribunal Superior Eleitoral pela procedência do pedido de
resposta em publicação no Twitter:

79
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 14. Ed. São Paulo: Atlas, 2018, p. 591.
80
AYRES, Rodrigo Martiniano. Direito Eleitoral Descomplicado. 1 ed. Rio de Janeiro: Ferreira, 2011, p 414.
43

Eleições 2010. Propaganda Eleitoral. Twitter. Direito de resposta. Sítios de


mensagens instantâneas e assemelhados. Possibilidade jurídica. 1. O Twitter
se insere no conceito de sítios de mensagens instantâneas e assemelhados”,
previsto no art. 57-B da Lei 9.504/97, e é alcançado pela referência a
“qualquer veículo de comunicação social” contida no art. 58 da Lei das
Eleições. 2. O direito de resposta em razão de mensagem postada no Twitter
é cabível. Relevância de o detentor da página ser coordenador de comunicação
de campanha eleitoral. 3. Deferido o direito de resposta, o próprio usuário,
exercendo o controle de conteúdo que detém sobre a sua página no Twitter,
deve postar o texto da resposta. 4. Direito de resposta concedido.81

Todavia, Karpstein e Knoerr apontam que “a crítica dirigida à administração


governamental e à atuação de candidato como homem público não somente é legal mas também
salutar para a vida democrática”82, não devendo isto ser confundido com ofensas à honra
pessoal de candidatos.
O direito de resposta poderá ser pleiteado ante à Justiça Eleitoral em vinte e quatro horas
se a propaganda for veiculada no horário eleitoral gratuito; em quarenta oito horas se for
transmitida através de emissoras de rádio e televisão; setenta e duas horas no caso de imprensa
escrita; e a qualquer tempo tratando-se de conteúdo divulgado na internet. Os prazos são
contados a partir da veiculação da ofensa, tudo isto de acordo com o art. 58 da Lei das Eleições.
A título ilustrativo, nas eleições de 2018, o TSE concedeu o direito de resposta ao
candidato Jair Bolsonaro em virtude de críticas veiculadas no programa de rádio do
presidenciável Geraldo Alckmin, que tirou do contexto uma fala de seu adversário e, segundo
a decisão, ultrapassou a esfera da crítica política, tornando-se uma divulgação de fato
distorcido83.
Por fim, evidencia-se que os custos com a veiculação da resposta deverão ser arcados por
aquele que veiculou a propaganda inadequada, sendo que a resposta deverá ser difundida nos
mesmos moldes da ofensa, por exemplo, caso a ofensa tenha sido impulsionada, a resposta
também deverá ser, tudo às expensas do ofensor.

81
______. Tribunal Superior Eleitoral. Representação nº 361895. Relator: Min. Henrique Neves Da Silva.
Brasília, DF, out. 2010. Disponível em: < http://consultoriaeleitoral.com/consulta-
jurisprudencia.php?pageNum_Busca=20&totalRows_Busca=161>. Acesso em: 24 mar. 2020.
82
KARPSTEIN, Carla Cristine; KNOERR, Fernando Gustavo. O direito de resposta na propaganda
eleitoral. Revista Brasileira de Direito Eleitoral – RBDE, Belo Horizonte: Fórum, ano 1, nº 1,
jul./dez. 2009, p. 34.
83
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Representação nº 11541. Relator: Min. Luís Felipe Salomão. Brasília,
DF, set. 2018. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/dl/fachin-multa-haddad-propaganda-negativa.pdf>.
Acesso em: 23 mar. 2020.
44

3 ANÁLISE JURÍDICA DAS FAKE NEWS

3.1 CONCEITO

Primitivamente, o estrangeirismo fake news aparenta fácil definição, bastando uma


simples tradução para compreender que se trata de notícias falsas. Em debate promovido pela
ALESP, o professor Luís Mauro Sá Martino destacou que existem notícias falsas desde que há
política, pois sempre houveram grupos tentando conquistar a opinião pública plantando fatos
inverídicos com ares de verdade84.
No livro Direito Eleitoral Digital85 os autores conceituam fake news como “notícias
falsas, mas que aparentam ser verdadeiras”. Todavia, os mesmos apontam que diante do
contexto de utilização tão diverso, não se torna fácil a definição, podendo se referir a de fato
uma notícia falsa, uma reportagem parcial ou deficiente, ou ainda uma agressão a alguém ou
uma ideologia.
Entretanto, Diogo Rais aponta que a melhor tradução e interpretação não é “notícia falsa”,
mas sim, “notícia fraudulenta”, sabidamente mentirosa e produzida com o objetivo de provocar
algum dano86.
Já Aline Osório conceitua fake news como “informações manifestamente inverídicas,
manipuladas, criadas ou divulgadas intencionalmente com potencial de dano” 87
. Todavia, a
mesma afirma que para entendê-las é preciso também apontar o que não é fake news, excluindo
manchetes sensacionalistas, juízo de valor e opiniões.

84
SÃO PAULO (Estado), Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Assembleia Debate: Fake News.
Publicado em ago. 2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Yg9AK9moEs4>. Acesso em: 10
dez. 2019.
85
RAIS, Diogo et al. Direito Eleitoral Digital. São Paulo: Thomson Reuters, 2018, p. 69.
86
RAIS, Diogo. A melhor tradução para fake news não é notícia falsa, é notícia fraudulenta. Consultor
Jurídico. São Paulo, ago. 2018. Disponível em <https://www.conjur.com.br/2018-ago-12/entrevista-diogo-rais-
professor-direito-eleitoral>. Acesso em: 16 dez. 2019.
87
OSÓRIO, Aline. Seminário Internacional de Fake News e Eleições. Brasília. Publicado em mai. 2019.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=bnpR1RB08HE&t=1886s>. Acesso em: 16 dez. 2019.
45

É nítido assim que diversas condutas poderiam ser entendidas como fake news. Diante
disto, aponta ser mais certeiro o conceito mais aberto formulado por Allcott e Gentzkow que
tratam fake news como “sinais distorcidos não relacionados com a verdade”88.
Assim, é evidente que as notícias falsas não são um elemento somente da atualidade.
Entretanto, como já exposto, com difusão da internet, cada indivíduo se tornou um potencial
veículo de comunicação com capacidade de atingir milhões de outros e isto potencializou o
alcance das notícias falsas, popularizando o termo fake news.

3.2 DA PREOCUPAÇÃO ATUAL COM O TEMA

A narrada conjuntura de maior difusão de conteúdos inverídicos trouxe grandes


influências no Direito Eleitoral, gerando significativas mudanças no cenário eleitoral e
preocupações no âmbito legal, judicial, jornalístico, político e social e fazendo com que o
estrangeirismo fake news caísse no discurso popular.
O fenômeno no âmbito eleitoral popularizou-se principalmente pela eleição à presidência
dos Estados Unidos entre Donald Trump e Hillary Clinton. Pesquisas apontam a divulgação de
cento e quinze histórias falsas favoráveis à Trump e quarenta e uma pró Hillary, somando juntas
mais de trinta e sete milhões e seiscentos mil compartilhamentos89.
O jornal O Estado de São Paulo realizou um levantamento no Google Trends, plataforma
que mostra as buscas mais realizadas pelos internautas, cuja conclusão foi no sentido de que
durante as eleições de 2018 pelo menos um boato envolvendo os presidenciáveis estava entre
as dez buscas mais realizadas, sendo doze o número de boatos entre as principais buscas. A
título de comparação, em 2014 somente três boatos relacionados a presidenciáveis estiveram
entre as principais buscas90.

88
ALLCOTT, Hunt; GENTZKOW, Matthew. Social media and fake news in the 2016 election. Journal of
Economic Perspectives, Pittsburgh: American Economic Association, v. 31, n. 2, 2017, p. 212. Traduzido pelo
Autor. Disponível em: aeaweb.org/issues/453. Acesso em: 16 dez. 2019
89
Id., Ibid. p.212.
90
PEREIRA, Pablo; TOLEDO, Luiz Fernando; MONNERAT, Alessandra. O terreno movediço das "fake
news". 2018. O Estado de S. Paulo. Disponível em: <https://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,o-terreno-
movedico-das-fake-news,70002527030>. Acesso em: 14 dez. 2019.
46

O serviço de checagem do Grupo Globo, chamado de Fato ou Fake, identificou em uma


semana, antes do primeiro turno, onze publicações falsas de grande repercussão circulando nas
redes sociais e aplicativos de mensagens91.
Diogo Rais92 chega a dizer que um novo mercado surgiu através das empresas que lucram
com a produção e difusão de notícias falsas, seja através do aumento de visualização em suas
páginas ou de interessados que a contratam para tanto.
A preocupação com a desinformação durante o período eleitoral foi tanta que o Tribunal
Superior Eleitoral elaborou um termo de compromisso contra disseminação de conteúdos falsos
assinado por trinta e um partidos políticos, os quais se comprometeram a manter o ambiente de
higidez informacional, reprovar qualquer prática ligada à utilização de conteúdo falso e atuar
como agentes colaboradores contra a disseminação de notícias falsas.
Essa preocupação não atingiu apenas a Justiça Eleitoral, mas as campanhas políticas
também. A exemplo, o citado levantamento realizado pelo jornal o Estado de São Paulo também
relata que o Partido dos Trabalhadores estruturou uma equipe para monitorar sites e redes
sociais, sendo que assim que conteúdos inverídicos eram encontrados, o departamento jurídico
da campanha era acionado para buscar na Justiça a remoção do conteúdo.
Na busca pelo combate à disseminação de notícias falsas também surgiram diversas
agências de checagem, também conhecidas pelo estrangeirismo fact-checking, que analisam a
veracidade dos conteúdos divulgados em redes sociais, sites e aplicativos de mensagens.

3.3 DA NORMATIVA SOBRE FORMAS DE FAKE NEWS

Diante do conceito amplo de fake news adotado, há que se admitir que diversas práticas
tipificadas pela legislação podem ser entendidas como tal. Desse modo, para os estudos da
normativa, é possível identificar seis principais formas da fake news tratadas pela legislação
brasileira, sendo elas: divulgação de fato sabidamente inverídico, crimes contra honra,

91
RAMALHO, Renan. PT, PCO, PSTU e PTC não assinam compromisso contra disseminação de conteúdos
falsos, diz TSE. Publicado em out. 2018. Disponível em:
<https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2018/noticia/2018/10/04/pt-pco-pstu-e-ptc-nao-assinam-compromisso-
contra-disseminacao-de-fake-news.ghtml>. Acesso em: 15 dez. 2019.
92
RAIS, Diogo. O que é "Fake News". 2017. Disponível em:
<https://www.mackenzie.br/fakenews/noticias/arquivo/n/a/i/o-que-e-fake-news/>. Acesso em: 15 dez. 2019
47

pesquisas falsas, a criação de perfis falsos para fins eleitoras, falsa atribuição de propaganda a
terceiro e uso de trucagem, montagem ou recursos semelhantes na propaganda eleitoral.

3.3.1 Divulgação de Fato Sabidamente Inverídico

Como visto, há tempos o Código Eleitoral trata da divulgação de fato inverídico através
de seu art. 323, que tipifica como crime “divulgar, na propaganda, fatos que sabe inverídicos,
em relação a partidos ou candidatos e capazes de exercerem influência perante o eleitorado”. A
pena é de detenção de dois meses a um ano ou o pagamento de cento e vinte a cento e cinquenta
dias-multa, sendo agravada caso o crime seja cometido pela imprensa, rádio ou televisão.
Rui Stoco e Leandro de Oliveira Stoco asseveram que o sujeito ativo deste tipo pode ser
qualquer pessoa, pois se trata de crime comum, não sendo próprio de candidato. Ainda, que o
Estado é o sujeito passivo deste crime93. Todavia, também pode ser vítima os partidos e
candidatos.
Joel Cândido, ao tratar do tema, afirma que a norma “protege a lei, a honra e a ética na
propaganda, valores de que os participantes dos embates do processo eleitoral não podem se
distanciar”94.
A premissa básica deste tipo é a divulgação de fatos inverídicos através da propaganda.
Desta forma, não se pune aquele que divulga fatos verídicos, mesmo que sejam pejorativos.
Também não se pune aquele que prolifera fatos inverídicos por meios que não se caracterizem
como propaganda. Quanto ao tipo da propaganda, Luiz Carlos dos Santos 95 assevera que não
tendo a lei restringido o alcance do tipo, este deverá abarcar todas as espécies de propaganda
política.
O tipo também faz a exigência do requisito subjetivo que é o dolo do agente divulgar um
conteúdo que tem a consciência de ser inverídico, ou seja, o infrator tem a consciência da
ilicitude. Assim, não incorrerá em crime quem faça a divulgação de fato que acredita ser
verdadeiro.

93
STOCO, Rui; STOCO, Leandro de Oliveira. Legislação Eleitoral Interpretada: Doutrina e Jurisprudência.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 527.
94
CÂNDIDO, Joel José. Direito Eleitoral Brasileiro. Bauru: Edipro, 2004, p. 298.
95
GONÇALVES, Luiz Carlos dos Santos. Crimes Eleitorais e Processo Penal Eleitoral. São Paulo: Atlas, 2015,
p.80.
48

Ainda, o tipo ainda condiciona o crime à capacidade da propaganda exercer influência


sobre o eleitorado. Nas palavras de Rui Stoco e Leandro Stoco, exige-se o “‘dano potencial’ ou
o ‘perigo de dano’” 96, os mesmos afirmam também que cabe tentativa, pois é possível que se
impeça a divulgação após a entrega do texto ou imagem a órgão de impressa, por exemplo.
Esclarece Sebastião Feltrin: “Não importa o meio utilizado para essa divulgação, não há
distinção entre os simples serviços de alto-falantes geralmente utilizados nas pequenas Cidades
e a própria televisão que alcança número incontável de eleitores.”97
Desta forma, é evidente que a propaganda realizada na internet, redes sociais e aplicativos
de mensagens, também podem ser os meios para a realização da divulgação de conteúdos falsos.
O tipo penal disposto no art. 323 do Código Eleitoral poderia ser entendido como a fake
news em sentido estrito. Diante do conceito de fake news apresentado por Diogo Rais, este diz
que para identificá-las como objeto do Direito são necessários três elementos fundamentais,
sendo eles: falsidade, dolo e dano98, conforme demonstrado acima.

3.3.2 Crimes Contra Honra

Caluniar, difamar ou injuriar alguém na propaganda eleitoral, ou visando fins de


propaganda, também é tipificado como crime pelo Código Eleitoral nos artigos 324, 325 e 326,
respectivamente.
A calúnia na propaganda eleitoral é crime comum, no qual o indivíduo que a comete
imputa falsamente a alguém fato criminoso na propaganda eleitoral ou visando fins de
propaganda, sendo punida com pena de seis meses a dois anos e pagamento de dez a quarenta
40 dias-multa. A calúnia cometida fora destes conceitos será tipificada pelo Código Penal.
O fato criminoso não se trata de mera desqualificação da pessoa, como chamá-la de
ladrão; para configurar é preciso que a imputação se molde no tempo e espaço, como, por
exemplo, afirmar que o candidato em determinada data e determinado local dirigiu embriagado.

96
STOCO, Rui; STOCO, Leandro de Oliveira. Legislação Eleitoral Interpretada: Doutrina e Jurisprudência.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 527.
97
STOCO, Rui et al. Leis Penais Especiais e sua Interpretação Jurisprudencial. 7. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2001, p. 1609-1610.
98
RAIS, Diogo. A melhor tradução para fake news não é notícia falsa, é notícia fraudulenta. Consultor
Jurídico. São Paulo, ago. 2018. Disponível em <https://www.conjur.com.br/2018-ago-12/entrevista-diogo-rais-
professor-direito-eleitoral>. Acesso em: 16 dez. 2019.
49

Quanto à vítima do crime, a pessoa caluniada, esta não precisa ser exclusivamente o
candidato, como explica Luiz Carlos do Santos99. A imputação deve visar interferir ou
influenciar o processo eleitoral e ser realizada na propaganda eleitoral. Também não se restringe
às pessoas físicas, podendo o partido político ser vítima.
Importante evidenciar que incorre nas mesmas penas aquele que, sabendo ser falsa a
imputação, a propaga ou divulga, conforme art. 324, §1°, do Código Eleitoral. Todavia, como
explica o mesmo autor, diante da liberdade de imprensa, não se pode atribuir aos veículos de
comunicação social este crime por noticiarem a ofensa.
Apesar de a calúnia na maioria das vezes se assemelhar em muito à divulgação de fato
sabidamente inverídico, José Joel Cândido, em sua obra, explica que na calúnia a imputação
falsa: “tem que ser penalmente típica e na divulgação basta ser de fatos inverídicos, que nem
sempre são criminosos. Ademais na divulgação tem que haver potencialidade de influência
(negativa) no eleitorado, elemento do tipo inexigível na calúnia.”100
Ainda sobre a calúnia, em 2019 foi sancionada a Lei n. 13.834, que tipificou a
denunciação caluniosa com finalidade eleitoral e a incluiu no Código Eleitoral. De acordo com
seu art. 326-A, aquele que dá causa à instauração de investigação policial ou administrativa,
processo judicial, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa, atribuindo a outrem a
prática de crime ou ato infracional de que sabe ser inocente, com a finalidade eleitoral é punido
com reclusão de dois a oito anos e multa.
O §3° do mesmo artigo declara que incorre na mesma pena aquele que, sabendo da
inocência do denunciado e com a finalidade eleitoral, divulga ou propala, por qualquer meio ou
forma, o ato ou fato que falsamente foi atribuído ao denunciado.
A difamação na propaganda eleitoral, ou visando a fins de propaganda, ocorre quando o
indivíduo imputa fato ofensivo à reputação de outrem, ofendendo sua honra objetiva, ou seja,
aquela que goza no meio social. Trata-se de crime doloso e comum, não precisando nem que
ofensor ou ofendido sejam candidatos, basta que seja na propaganda eleitoral ou para fins
dela101. É punida com pena de detenção de três meses a um ano, e pagamento de cinco a trinta
dias-multa.

99
GONÇALVES, Luiz Carlos dos Santos. Crimes Eleitorais e Processo Penal Eleitoral. São Paulo: Atlas, 2015,
p.84.
100
CÂNDIDO, Joel José. Direito Eleitoral Brasileiro. Bauru: Edipro, 2004, p. 298.
101
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Habeas-Corpus nº 187635. Relator: Min. Aldir Passarinho Junior. DJE
- Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 033, fev. 2011. p. 44-45.
50

A difamação não exige que o fato seja falso. Todavia, Luiz Carlos dos Santos102 entende
que a criminalização eleitoral da difamação deve exigir que o fato seja mentiroso. Isto, pois, é
da própria natureza do debate, do regime democrático e das campanhas eleitorais a exposição
de fatos verídicos sobre o adversário.
Assim, o Direito Eleitoral admite a divulgação de um fato desonroso, ligado à propaganda
eleitoral, desde que seja verdadeiro, pois atende ao interesse público o conhecimento da vida
dos pretensos candidatos, limitando assim a sua privacidade e intimidade.
Por fim, a injúria na propaganda eleitoral, ou visando seus fins, ocorre quando o indivíduo
ofende a dignidade ou o decoro de outrem, que também não precisa necessariamente ser
candidato. É punida com pena de detenção de até seis meses ou pagamento de trinta a sessenta
dias-multa.
Ofende, assim, a honra subjetiva da vítima, ou seja, a percepção que ela tem de si mesma,
não apontando fatos, como nos tipos anteriores, mas sim qualidades negativas, como defeitos,
vícios, aparência e outros.
A injúria pressupõe a intenção deliberada de ofender, não necessitando a qualidade
atribuída ser falsa. Para caracterização do tipo previsto no Código Eleitoral, é necessária uma
motivação envolvida na disputa política, devendo repercutir no contexto da campanha eleitoral.
Todavia, trata-se de um crime cuja análise é muito delicada para se precisar qual é o
marco que separa o crime de injúria na propaganda e a mera crítica deferida à pessoa que
escolheu se candidatar e, consequentemente, se expor aos azares da vida pública. Desse modo,
não é admissível que se cerceie a prerrogativa dos adversários de expor o comportamento do
candidato.
A título de exemplo, Luiz Carlos dos Santos narra caso em que ofereceu denúncia em
face de candidato que em um comício afirmou que seu adversário era “corno” e “não sabia
quem era o pai de seus filhos”103. Esta ofensa, no cenário eleitoral, claramente tem a intenção
de ofender a honra subjetiva do adversário.
Ademais, cumpre evidenciar que nos crimes contra a honra, no contexto eleitoral, são de
ação pública incondicionada. O mesmo autor critica a desnecessidade de representação,
afirmando que este modelo transforma o Ministério Público Eleitoral em árbitro da honra alheia.
A opção se deve ao objeto jurídico tutelado pela norma, que no caso dos crimes contra
honra no âmbito eleitoral, nas palavras do Juiz Carvalho Mange, “é o interesse social de evitar

102
GONÇALVES, Luiz Carlos dos Santos. Crimes Eleitorais e Processo Penal Eleitoral. São Paulo: Atlas,
2015, p.86.
103
Id., Ibid. p.90.
51

degenere a propaganda eleitoral em pretexto para retaliações pessoais”104. Entretanto, esta


opção encontra divergência na doutrina e na jurisprudência.
Diferentemente da difamação e da calúnia, a injúria é mais difícil de ser identificada como
fake news, pois não possui um contexto fático em seu entorno, sendo, no conceito popular, um
xingamento. Todavia, a injúria pode ser o antecedente de uma fake news.

3.3.3 Pesquisa Eleitoral Falsa

José Jairo Gomes define pesquisa eleitoral como:

“o levantamento e a interpretação de dados atinentes à opinião ou preferência


do eleitorado quanto aos candidatos que disputam as eleições. Tem por
finalidade verificar a aceitação ou desempenho dos concorrentes no
certame”105.

São instrumentos comuns de avaliação dos concorrentes e divulgados nos veículos de


comunicação.
Entretanto, apesar da pesquisa eleitoral em si não ser uma forma de propaganda, é muito
utilizada para tal. Assim, as pesquisas influenciam psicologicamente a opinião dos eleitores,
que tendem a escolher os que despontam na projeção, no chamado “efeito manada”.
Deste modo, os candidatos à frente das pesquisas as divulgam mostrando sua aceitação
pelo eleitorado, já outros mostram seu crescimento para demonstrar que é possível vencer a
eleição. Através delas prega-se também o voto útil, pedindo ao eleitor que deixe de votar em
um candidato pouco citado, para se unir em torno de uma proposta semelhante, mas com mais
chances de êxito.
Dois são os tipos de pesquisas elaboradas: a interna e a externa. A primeira se restringe
ao conhecimento do partido, não sendo divulgada. Já a segunda é realizada para divulgação
pública, sendo desta que o Direito Eleitoral se ocupa, pois, de acordo com o art. 33 da Lei das
Eleições, toda pesquisa a ser divulgada deve ser registrada na Justiça Eleitoral até cinco dias

104
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Recurso em Habeas-Corpus nº 113. Relator: Min. Caputo Bastos. DJ
- Diário de Justiça. Guarulhos, SP, jun. 2008.Página 26.
105
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 14. Ed. São Paulo: Atlas, 2018, p. 485.
52

antes de sua publicação, para permitir seu controle social. A regulação específica do assunto é
evidenciada através da Resolução n. 23.453/15 do TSE106.
Assim, mesmo que a pesquisa tenha sido realizada corretamente, ela não pode ser
divulgada sem o registro, sendo punível com multa.
Nas eleições municipais de Mococa/SP ocorridas em 2016, um cidadão que não concorria
a nenhum cargo, publicou em sua rede social: “Atualizando!!!! Pesquisa de preferência para
candidatos a cargo de Prefeito local, encomendada pela atual Gestora Pública”, seguindo
narrando os percentuais, colocando o candidato de sua preferência com uma vantagem de mais
de quarenta por cento das intenções. Diante disto, a coligação prejudicada ofereceu
representação, sendo o indivíduo condenado a pagar multa de cinquenta mil reais. A decisão
foi confirmada pelo TRE/SP107.
Entretanto, se a pesquisa devidamente registrada e pública conter comprovada
irregularidade nos dados divulgados, os responsáveis estarão sujeitos à detenção de seis meses
a um ano, com alternativa de prestação de serviços à comunidade, e multa no valor de dez a
vinte mil UFIR. A irregularidade poderá se referir a qualquer dos requisitos dos incisos do art.
33 da Lei das Eleições. Ainda, conforme art. 34, §3°, da Lei da Eleições, deverão veicular os
dados corretos na mesma forma da pesquisa irregular.
Ademais, pode a pesquisa em si ser fraudulenta, ou seja, fictícia, inventada. Neste caso,
sua divulgação constitui crime punível com detenção de seis meses a um ano e multa de
cinquenta a cem mil UFIR, prevista no art. 33, §4°. Assim, a manipulação ou criação de dados
constitui evidente e perigosa forma de fake news, principalmente diante de sua capacidade de
influenciar o eleitorado.
Todavia, há que se saber diferenciar a pesquisa fraudulenta daquela cuja previsão não se
concretizou, mas foi devidamente realizada. Em 1985, por exemplo, disputaram à Prefeitura de
São Paulo, dentre outros, Fernando Henrique Cardozo e Jânio Quadros, sendo que as pesquisas
divulgadas às vésperas da eleição apontavam uma vitória de Fernando Henrique com cerca de
sete por cento de vantagem, o que culminou no registro da icônica foto do candidato sentado
na cadeira do Prefeito. Quando as urnas foram apuradas, Jânio fora eleito com quatro por cento
de vantagem e posou desinfetando a cadeira. O episódio ficou marcado como um dos maiores
descompassos das pesquisas eleitorais.

106
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Resolução nº 23.453, de 15 de dezembro de 2015. Relator: Min. Dias
Toffoli. DJE - Diário de Justiça Eletrônico. Brasília, DF. Disponível em: <http://www.tse.jus.br/legislacao-
tse/res/2015/RES234532015.htm>. Acesso em: 18 dez. 2019.
107
BRASIL. Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo. Recurso Eleitoral nº 249-35.2016.6.26.0073. Relator:
Juiz Marcelo Coutinho Gordo. São Paulo, SP. fev. 2017.
53

O TRE/SP já manifestou também que a má colocação do candidato em determinada


pesquisa não pode ser tida por ofensiva, nem representa fato inverídico, pois as pesquisas não
passam de meras indicações de tendência, de valor precário e que com a menor variação do
universo pesquisado pode ter um resultado diferente108.

3.3.4 Perfis Falsos para Fins Eleitorais

É inegável a importância que as redes sociais tomaram para a propaganda eleitoral. Os


comícios em praças públicas começaram a ser substituídos por vídeos do candidato transmitidos
em tempo real e acompanhados por milhares de pessoas. Assim, o engajamento que o candidato
consegue obter nas redes sociais ou a repercussão negativa de suas publicações tornou-se um
fator de influência do eleitorado, causando efeitos sentimentais semelhantes à pesquisa
eleitoral.
Diante disso, tornou-se comum a criação de perfis em redes sociais baseados em
informações inverídicas de seu utilizador, para atuarem de maneira favorável a um determinado
candidato, partido ou ideologia. A criação destes perfis pode ocorrer de forma individualizada
e personalizada, ou na forma de robôs, que nas palavras Pablo Ortellato “são programas que
postam coisas automaticamente. Têm um repertório de contas falsas que são operadas por uma
máquina”109, afirmando serem normalmente utilizados para republicarem conteúdos, de modo
que determinadas postagens figurem entre as mais acessadas.
De antemão, cumpre lembrar que a Constituição Federal, em seu art. 5°, inciso IV, ao
positivar a liberdade de manifestação do pensamento como um direito fundamental, veda
expressamente o anonimato, com o intuito de responsabilizar, civil ou criminalmente, aquele
que comete algum ilícito durante o exercício, como uma injúria.
O Código Penal110 tipifica o crime de falsa identidade, quando o indivíduo atribui para si
ou para outrem identidade falsa, com intuito de obter vantagem, para si ou terceiro, ou causar

108
STOCO, Rui; STOCO, Leandro de Oliveira. Legislação Eleitoral Interpretada: Doutrina e Jurisprudência.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 530.
109
ORTELLADO, Pablo. O que é um robô na web e como ele pode influenciar o debate nas redes?
Especialistas explicam. 2017. Matéria realizada por Clara Velasco e Roney Domingos. Disponível em:
<https://g1.globo.com/economia/tecnologia/noticia/o-que-e-um-robo-na-web-e-como-ele-pode-influenciar-o-
debate-nas-redes-especialistas-explicam.ghtml>. Acesso em: 19 dez. 2019.
110
BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Rio de Janeiro, RJ, Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 19 dez. 2019.
54

dano. É possível atribuir esta conduta a quem cria um perfil falso nas redes sociais, desde que
busque atingir esses fins e seja baseado em identidade real.
A lei eleitoral foi mais específica. O art. 57-D da Lei das Eleições, ao afirmar que durante
a campanha eleitoral é livre a manifestação do pensamento por meio da internet, veda o
anonimato. Se o perfil for utilizado para propaganda, o responsável ficará sujeito à multa no
valor entre cinco mil a trinta mil reais, estendendo-se a penalidade também ao beneficiário que
tenha prévio conhecimento, conforme leciona o §2° do mesmo artigo.
Já o §1° do art. 57-H, tipifica como crime a contratação direta ou indireta de grupo de
pessoas com a finalidade específica de emitir comentários na internet para ofender a honra ou
denegrir a imagem de candidato partido ou coligação. Salienta-se, que a redação evidentemente
excluiu a possibilidade de comentários desfavoráveis a terceiro que não seja candidato, partido
ou coligação.
Todavia, nada veda que estes grupos de pessoas se utilizem de contas falsas ou até robôs
para emitirem os comentários nas redes socais. A pena prevista para este crime é detenção de
dois a quatro anos, e multa de quinze mil a cinquenta mil reais para quem contrata. Os
contratados também estão sujeitos à detenção de seis meses a um ano, com alternativa de
prestação de serviços à comunidade, e multa de cinco a trinta mil reais.

3.3.5 Falsa Atribuição de Propaganda a Terceiro

O art. 57-H da Lei das Eleições proíbe a conduta de realizar propaganda eleitoral na
internet, atribuindo indevidamente sua autoria a terceiro, incluso os candidatos, partidos e
coligações. A transgressão da norma, além das demais medidas cabíveis, é punível com multa
de cinco a trinta mil reais.
Neste caso, a informação é falsa não por seu conteúdo, mas sim por sua autoria. Nas
palavras de Marcos Ramayana: “trata-se de falsidade nominal e ideológica pela internet, quando
o agente ativo da ilicitude procura ludibriar a Justiça Eleitoral induzindo-a ao erro com a
afirmação de que a propaganda ofensiva veiculada é de autoria de outras pessoas”111.
Assim, o art. 57-H da Lei das Eleições, claramente trata de mais uma forma de fake news.
Evidencia-se também que o artigo não exige que a falsidade tenha o condão de efetivamente

111
RAMAYAMA, Marcos. Direito Eleitoral. 10. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2010, p. 457.
55

confundir o eleitorado, influenciar na eleição ou que haja efetivo prejuízo, basta a constatação
da conduta diante de seu potencial lesivo.
Como exemplo, pode-se citar o Recurso Eleitoral n. 50548, julgado pelo TRE/RJ, no qual
um indivíduo publicou em sua rede social uma imagem da candidata à reeleição para o cargo
de Prefeito com os dizeres: “Não se enganem, continuaremos esse governo tirano, injusto e
larápio. Que só que só vai tirar de você, da sua família e do seu Município” 112
, sendo que a
frase era seguida do nome da candidata, como se ela houvesse proferido os dizeres. O indivíduo
que divulgou foi condenado ao pagamento de multa no valor de cinco mil reais.
Ainda, o artigo não faz distinção de que a propaganda vinculada deva ser negativa, é
possível que seja atribuída à terceiro propaganda na qual se diz falsamente que este apoiou um
do candidato, quando não o fez. Isto aconteceu também nas eleições de 2018, quando
circularam imagens falsas que diziam que o ex-Presidente Fernando Henrique Cardozo havia
declarado apoio ao candidato Fernando Haddad113. Apesar de o caso não ter chegado à Justiça
e o ex-Presidente apenas ter desmentido o fato em suas redes sociais, entende-se que a conduta
daquele que criou a imagem poderia ser enquadrada no art. 57-H da Lei das Eleições.

3.3.6 Uso de Trucagem, Montagem ou Recursos Semelhantes

O art. 45, inciso II, da Lei das Eleições, veda expressamente às emissoras de rádio e
televisão “usar de trucagem, montagem ou outro recurso de áudio ou vídeo que, de qualquer
forma, degradem ou ridicularizem candidato, partido ou coligação, ou produzir ou veicular
programa com este efeito”.
Todavia, no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 4.451/DF114, o
Supremo Tribunal Federal julgou inconstitucional este inciso, por entender que fere a liberdade
de expressão e informação, vez que não cabe ao Estado, em uma democracia, definir

112
BRASIL. Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro. Recurso Eleitoral n° 50548. Relator: Marcus
Henrique Niebus Steele. DJE - Diário da Justiça Eletrônico. Tomo 207, ago. 2013, p 05/07.
113
LIBÓRIO, Bárbara. É #FAKE que FH declarou voto em Fernando Haddad neste 2° turno. 2018. O Globo.
Disponível em: <https://oglobo.globo.com/fato-ou-fake/e-fake-que-fh-declarou-voto-em-fernando-haddad-neste-
2-turno-23190993>. Acesso em: 22 dez. 2019.
114
______. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4451. Relator: Ministro
Alexandre de Moraes. Brasília, DF. Disponível em:
<https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=3938343>. Acesso em: 22 dez. 2019.
56

previamente o que pode ser veiculado. A liberdade de expressão e a citada ação serão estudadas
oportunamente.
Entretanto, o art. 55 da mesma lei faz igual vedação aos partidos, coligações ou candidatos
durante a propaganda eleitoral no horário gratuito. A punição a estes está prevista no parágrafo
único do citado artigo e sujeita o partido ou coligação à perda de tempo equivalente ao dobro
do usado na prática do ilícito, no horário gratuito subsequente, punição dobrada em caso de
reincidência.
Trucagem é a utilização de truques, artimanhas, para dar aparência ou efeito desejado a
alguma coisa. Já a montagem é a construção de uma imagem se utilizando outras. Ainda, tem
sido muito utilizado e discutido um novo fenômeno chamado de deep fake, que é a utilização
de programas capazes de mapear as expressões faciais de uma pessoa e através dela criar vídeos
nos quais a imagem desta pessoa faça ou diga qualquer coisa com perfeição. O deep fake além
de uma forma de fake news, é passível de ser enquadrado no art. 55 da Lei das Eleições.
A finalidade desta norma é vedar que se utilize de espaço e tempo público nos meios de
comunicação para atacar outros candidatos com um material desvinculado da verdade, vez que
o objetivo da propaganda gratuita é informar o eleitorado.
Importa evidenciar que a sanção neste artigo prevista tem caráter extrapenal e atinge o
partido ou a coligação. Já as demais formas vistas, possuem caráter penal e atingem a pessoa
física, de modo a ser possível cumular estas com a trucagem ou a montagem, sem incorrerem
em bis in idem.

3.4 DA APURAÇÃO E JULGAMENTO DAS FAKE NEWS

Como visto, diversas formas de fake news podem incorrer em crimes previstos na própria
legislação eleitoral. No caso das infrações penais, estas deverão ser comunicadas ao juízo
eleitoral da zona onde a mesma ocorreu, sendo a comunicação remetida ao Ministério Público
para que, caso assim entenda, ofereça a denúncia, de acordo com o art. 356 do Código Eleitoral.
A titularidade das ações penais eleitorais é do Ministério Público, sendo, portanto,
incondicionada à representação, inclusive nos crimes eleitorais contra honra. Entretanto, não
sendo a denúncia exercida no prazo legal, admite-se o exercício da queixa-crime subsidiária. O
processo penal das infrações criminais eleitorais é previsto no Código Eleitoral, em seus artigos
355 a 364, sendo o Código de Processo Penal aplicado de maneira subsidiária.
57

Entretanto, sem prejuízo da persecução penal, a propaganda ilícita, incluso as


modalidades de fake News, podem ser apuradas e julgadas através da representação, cujo
procedimento é previsto no art. 96 da Lei 9.504/97.
A representação é a via processual a ser utilizada para cessar a propaganda eleitoral ilícita
e responsabilizar o agente ou beneficiário. Pode ser objeto da representação o direito de resposta
do ofendido, suspensão de determinada propaganda, remoção de conteúdo da internet, perda de
tempo destinado à propaganda eleitoral, impedimento de apresentação de determinados
programas, suspensão da programação normal da emissora de rádio ou televisão e, dentre
outros, aplicação de sanção de multa. Nas palavras de José Jairo Gomes: “são respostas
sancionatórias que visam coibir especificamente o desvirtuamento da propaganda”115.
A representação pode ser ajuizada pelo candidato, partido político, coligação ou pelo
próprio Ministério Público que, caso não seja autor, deverá obrigatoriamente intervir. No polo
passivo da ação pode figurar o responsável pela divulgação da propaganda e, quando
comprovado seu prévio conhecimento, o beneficiário.
José Jairo Gomes defende que o prévio conhecimento não pode ser presumido, mas fica
evidente em situações como nas quais o candidato seja diretamente responsável pela
propaganda ou dela se beneficie, se a conjuntura dos fatos revelarem a impossibilidade de o
beneficiário não ter tido conhecimento da propaganda ou ainda se o candidato for notificado da
propaganda irregular e, no prazo de quarenta e oito horas, não providenciar sua retirada116.
Na hipótese de se constatar o prévio conhecimento do beneficiário, o Código Eleitoral,
no art. 241 e seu parágrafo único, prevê a possibilidade de solidariedade do partido pelos
excessos praticados por seus candidatos e adeptos. Todavia, tal solidariedade não alcança outros
partidos que venham a compor a coligação.
Ainda, a competência na representação varia conforme a eleição. Nas eleições
municipais, são competentes para julgar as representações os Juízes Eleitorais, nas eleições
federais, estaduais e distritais, os Tribunais Regionais Eleitorais, e na eleição presidencial, é
competente o Tribunal Superior Eleitoral.
A petição inicial segue as exigências do art. 319 do Código de Processo Civil e é
imprescindível que seja acompanhada das provas do fato alegado, tendo em vista a celeridade
imposta ao rito; sendo impossível sua juntada, o autor deve indicá-la para ser produzida
posteriormente em juízo. Ainda, a produção posterior de provas só abrange aquelas que não

115
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 14. Ed. São Paulo: Atlas, 2018, p. 567.
116
Id., Ibid. p. 575.
58

poderiam ter sido produzidas desde logo e apresentadas com a peça vestibular117, sendo que a
inicial deve estar acompanhada da prova de autoria, bem como, se for o caso, do prévio
conhecimento do beneficiário.
Ademais, a ausência do pedido não torna a petição inicial inepta, pois, conforme
entendimento do Tribunal Superior Eleitoral, é suficiente que a inicial descreva os fatos e
aponte o ilícito praticado118. Desse modo, o pedido pode estar implícito.
Quanto ao prazo para a propositura da ação, a jurisprudência dominante atual do Tribunal
Superior Eleitoral tem fixado que a representação deve ser proposta até a data da eleição, sob
pena de carência da ação devido à falta de interesse de agir119.
No que se refere à propaganda gratuita realizada nas emissoras de rádio e televisão, o
prazo para ajuizamento é de quarenta e oito horas, contadas da transmissão da propaganda. José
Jairo Gomes explica que este prazo tem a finalidade de impedir o armazenamento tático de
representações, ou seja, ajuizar várias ações em determinado momento da campanha para
subtrair mais tempo do adversário120.
Por fim, evidencia-se também a possibilidade de concessão de tutela provisória de
urgência nas representações eleitorais, devendo estar evidenciado o fumus boni iuris e o
periculum in mora. No caso de uma fake news divulgada por um candidato em sua rede social,
seria possível que este fosse representado com pedido liminar de remoção do conteúdo, por
exemplo.

3.5 ANULAÇÃO DE ELEIÇÃO EM VIRTUDE DE FAKE NEWS

O ex-Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Ministro Luiz Fux, afirmou em entrevista


a possibilidade de cassação de um mandato adquirido em virtude de fake news “se o resultado
da eleição for fruto de uma ‘fake news’ capaz de ter essa expressão, anula a eleição”121.

117
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 14. Ed. São Paulo: Atlas, 2018, p. 572.
118
BRASIL. Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal. Agravo de instrumento nº 4491. Relator: Min. Luiz
Carlos Madeira. DJ - Diário de Justiça, Volume 1, Brasília, DF, set. 2005.
119
RAIS, Diogo et al. Direito Eleitoral Digital. São Paulo: Thomson Reuters, 2018, p. 141.
120
GOMES, Op. cit., p. 577.
121
EXAME. Fux: Se candidato for eleito por fake news, pleito pode ser anulado. 2018. Disponível em:
<https://exame.abril.com.br/brasil/fux-se-candidato-for-eleito-por-fake-news-pleito-pode-ser-anulado/>. Acesso
em: 29 dez. 2019.
59

Conforme afirmou, uma propaganda falsa que visa destruir a candidatura de outrem pode gerar
uma configuração de abuso de poder e levar a uma cassação.
A afirmação é baseada no art. 222 do Código Eleitoral que diz: “é também anulável a
votação, quando viciada de falsidade, fraude, coação, uso de meios de que tratar o Art. 237, ou
emprego de processo de propaganda ou captação de sufrágios vedado por lei”. Evidencia-se,
ainda, que o objetivo do art. 222 do Código Eleitoral é proteger a real vontade do eleitor, sua
íntima intenção de voto, impedindo o desvirtuamento de princípio e procedimentos eleitorais
Evidente que o artigo trata de diversas condutas capazes de anular uma eleição. Fato é
que, diante das diversas modalidades de fake news apontadas, é possível identificar que estas
se enquadram em uma ou mais condutas.
Por falsidade, entende o Tribunal Superior Eleitoral que se trata de qualquer artifício ou
ardil que induza o eleitor a erro, sendo capaz de influenciar sua vontade no momento do voto,
seja favorecendo um candidato ou prejudicando seu adversário122. Evidentemente que uma fake
news como a divulgação de informação sabidamente inverídica se encaixa nesta conduta.
O referido art. 237 do Código Eleitoral trata da interferência do poder econômico e o
desvio ou abuso de poder de autoridade. É possível vislumbrar que a contratação de um grupo
de pessoas, seja através de seus próprios perfis nas redes sociais, perfis falsos ou robôs, com o
fim de emitir comentários na internet, pode configurar a hipótese de abuso de poder econômico
e assim também anular uma eleição.
Outra conduta prevista é o emprego de processo de propaganda vedado por lei. Neste
caso, pode-se vislumbrar, por exemplo, a veiculação de uma propaganda que transmite um
vídeo criado através de deep fake no qual aparece o adversário dizendo coisas que não disse,
prejudicando assim sua candidatura. Todavia, é preciso que seja oferecida a representação no
período cabível.
Por fim, expõe-se que, conforme a frase já transcrita do Ministro Luiz Fux, para anular a
eleição baseado no argumento das fake news é preciso que esta tenha sido fator essencial do
resultado da eleição, de tal modo que uma propaganda que contenha uma notícia inverídica e
tenha sido removida, por exemplo, não tem o condão de anular toda uma eleição.

122
BRASIL. Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais. Agravo de instrumento nº 4461. Relator: Min.
Francisco Peçanha Martins. DJ - Diário de Justiça, p. 146, Canaã, MG, fev. 2004.
60

3.6 TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE DIANTE DE FAKE NEWS

A perda de uma chance é uma teoria importada do direito francês, perte d’une chance,
que está inserida dentro da temática de responsabilidade civil. Nas palavras de Flávio Tartuce,
“A perda de uma chance está caracterizada quando a pessoa vê frustrada uma expectativa, uma
oportunidade futura, que, dentro da lógica razoável, ocorreria se as coisas seguissem o seu curso
norma”123. Diante da frustração do evento, o dano torna-se passível de reparação, em face do
responsável pelo desvio do curso normal.
Para que fique caracterizada, é preciso que as chances do evento acontecer sejam sérias e
reais, representando mais que uma esperança subjetiva. Sérgio Savi, entende aplicável a teoria
quando a probabilidade da oportunidade malograda for superior a cinquenta por cento124.
Assim, aliado aos requisitos comuns às indenizações, é possível identificar que para a
caracterização da perda de uma chance, é necessária a presença dos seguintes requisitos:
conduta do agente, através de uma ação ou omissão; nexo de causalidade entre a conduta e a
frustração do objetivo com probabilidade de ocorrer; e dano em virtude do não acontecimento.
Diante do desenvolvimento da teoria no Brasil, passou-se a questionar a possibilidade de
sua aplicação no processo eleitoral, diante da frustração de um candidato em ser eleito, em razão
de uma conduta ilícita do adversário.
Desse modo, questiona-se também se a divulgação de uma fake news, dentre as diversas
modalidades vistas, ao influenciar o resultado de uma eleição, gera a responsabilidade do
divulgador de indenizar o candidato derrotado nas urnas, aplicando-se a teoria da perda de uma
chance.
Para tanto, é preciso observar que no Brasil existem muitos Municípios com menos de
cinco mil habitantes, nos quais a diferença de votos nas eleições torna-se muito menor. Não só,
existem casos em diversos certames eleitorais, inclusive em eleições majoritárias, nos quais a
diferença de votos é extremamente pequena.
A título de exemplo, em 2016, na cidade de São José do Rio Pardo/SP, em um universo
de 41.564 eleitores, a diferença entre o eleito e o segundo colocado para o cargo de Prefeito foi
de apenas três votos125.

123
TARTUCE, Flávio. Manual de Responsabilidade Civil. São Paulo: Método, 2018.
124
SAVI, Sérgio. Responsabilidade civil por perda de uma chance. São Paulo: Atlas. 2006. p 33.
125
G1 GLOBO. Eleição do Prefeito de Rio Pardo com diferença de 3 votos gera repercussão. 2016.
Disponível em: <http://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/eleicoes/2016/noticia/2016/10/eleicao-do-Prefeito-de-
rio-pardo-com-diferenca-de-3-votos-gera-repercussao.html>. Acesso em: 30 dez. 2019.
61

Ademais, evidencia-se ainda que nas eleições proporcionais para Vereador, é muito
comum que um candidato seja eleito com uma diferença muito pequena sobre o outro do mesmo
partido.
Diante destes cenários, é possível afirmar que uma fake news tem uma enorme capacidade
de gerar prejuízos em uma eleição, chegando a definir seu resultado. Desta forma, não só é
possível a aplicação da teoria da perda de uma chance, como já houve sua aplicação pelo
Superior Tribunal de Justiça:

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. Recurso Especial. 1)


NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL AFASTADA. 2) PERDA
DE UMA CHANCE QUE GERA DEVER DE INDENIZAR. 3)
CANDIDATO A VEREADOR, SOBRE QUEM PUBLICADA NOTÍCIA
FALSA, NÃO ELEITO POR REDUZIDA MARGEM DE VOTOS. 4) FATO
DA PERDA DE UMA CHANCE QUE CONSTITUI MATÉRIA FÁTICA
NÃO REEXAMINÁVEL PELO STJ. I.- Os Embargos de Declaração são
corretamente rejeitados se não há omissão, contradição ou obscuridade no
acórdão embargado, tendo a lide sido dirimida com a devida e suficiente
fundamentação. II.- As Turmas que compõem a Segunda Seção desta Corte
vêm reconhecendo a possibilidade de indenização pelo benefício cuja chance
de obter a parte lesada perdeu, mas que tinha possibilidade de ser obtida III.-
Aplica-se a teoria da perda de uma chance ao caso de candidato a Vereador
que deixa de ser eleito por reduzida diferença de oito votos após atingido por
notícia falsa publicada por jornal, resultando, por isso, a obrigação de
indenizar. IV.- Tendo o Acórdão recorrido concluído, com base no firmado
pelas provas dos autos, no sentido de que era objetivamente provável que o
recorrido seria eleito vereador da Comarca de Carangola, e que esse resultado
foi frustrado em razão de conduta ilícita das rádios recorrentes, essa conclusão
não pode ser revista sem o revolvimento do conteúdo fático-probatório dos
autos, procedimento vedado em sede de Recurso Especial, nos termos da
Súmula 7 desta Corte. V.- Recurso Especial improvido. (STJ – Resp: 821004
MG 2006/0035112-2, Relator: Ministro Sidnei Beneti, Data de Julgamento:
19/08/2010, T3 – TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJE:
24/09/2010)

Por fim, evidencia-se que não basta a existência de uma fake news e a derrota no pleito
eleitoral para a configuração da perda de uma chance, mas é preciso que a fake news tenha de
fato sido essencial para aquele resultado, mesmo que a diferença de votos seja maior, pois deve-
se considerar também o alcance do meio de comunicação utilizado para a divulgação para
mensurar o impacto da fake news.
62

3.7 LIBERDADE DE EXPRESSÃO E FAKE NEWS

Uma das grandes preocupações legislativas e judiciárias quando se trata do tema fake
news é a liberdade de expressão. Isto porque a garantia da liberdade de expressão está
intimamente ligada à ideia de democracia, não sendo realista a existência de uma democracia
sem que os cidadãos possam manifestar seus pensamentos.
Diante disso, a liberdade de expressão e livre manifestação do pensamento não pode
sofrer limitações prévias, como a censura. Isto não quer dizer manifestações mentirosas, falsas,
caluniosas e semelhantes não serão responsabilizadas. Mas sim, que as legislações e decisões
judiciárias devem pautar-se neste direito fundamental, punindo os excessos, como é o caso das
fake news.
Desta forma, já tendo sido abordado os conceitos e modalidades da fake news, é preciso
entender o que não é fake news e está abrangido pela liberdade de expressão, como, por
exemplo, pensamentos e opiniões, por mais catastróficos e sensacionalistas que sejam.
Neste sentido, existem dois casos emblemáticos tratados pelo TSE. O primeiro refere-se
a uma propaganda eleitoral veiculada pelo PSDB na eleição de 2002, na qual a atriz Regina
Duarte aparecia em um vídeo dizendo que tinha medo de uma eventual vitória de Lula, pois
com ele o Brasil corria risco de perder toda a estabilidade que fora conquistada, manifestando
que também tinha medo da volta da inflação desenfreada.
O caso foi levado ao TSE através da Representação n. 587, na qual se pedia a suspensão
da propaganda, sob argumento de ser manifestamente inverídica. Ao indeferir a liminar o então
Ministro Geraldo Grossi anotou: “não posso ter como inverdade sabida, previsões, palpites ou
meras adivinhações, ainda que catastróficas, sobre o que poderá vir a ser o Governo de fulano
ou beltrano, se efetivamente vier a se tornar governo”126. Sob fundamento da liberdade de
expressão, a representação foi julgada improcedente.
O segundo caso emblemático trata-se de uma propaganda veiculada pelo PT nas eleições
de 2014, criticando a proposta da adversária Marina Silva de dar autonomia ao Banco Central.
Na propaganda, a comida dos pratos sumia na mesa de uma família, enquanto o narrador
explanava que dar autonomia ao Banco Central seria entregar aos banqueiros grande poder de
decisão.

126
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Representação n° 587/DF. Relator: Min. Gerardo Grossi. Brasília/DF.
DJ - Diário de Justiça, out. 2002.
63

A propaganda também foi representada alegando ser fato sabidamente inverídico e o caso
assim ficou ementado:

ELEIÇÕES 2014. ELEIÇÃO PRESIDENCIAL. PROPAGANDA


ELEITORAL. DIREITO DE RESPOSTA. INSERÇÃO. FATO
SABIDAMENTE INVERÍDICO. ART. 58 DA LEI N° 9.504/97. EMPREGO
DE MEIOS PUBLICITÁRIOS DESTINADOS A CRIAR,
ARTIFICIALMENTE, NA OPINIÃO PÚBLICA, ESTADOS MENTAIS,
EMOCIONAIS OU PASSIONAIS. ART. 242 DO CÓDIGO ELEITORAL.
IMPROCEDÊNCIA. CRÍTICA POLÍTICA. LIBERDADE DE
EXPRESSÃO.
I- O fato sabidamente inverídico, a que se refere o art. 58 da Lei n° 9.504/97,
para fins de concessão de direito de resposta. É aquele que não demanda
investigação, ou seja, deve ser perceptível de plano, a “olhos desarmados”.
Além disso, deve denotar ofensa de caráter pessoal a candidato, partido ou
coligação. Precedentes.
II- A parte final do caput do (vetusto) art. 242 do Código Eleitoral, no sentido
de que não se deve empregar na propaganda eleitoral, “meios publicitários
destinados a criar, artificialmente, na opinião pública, Estados mentais,
emocionais ou passionais”, não pode embaraçar a crítica de natureza política
– ainda que forte e ácida -, ínsita e necessária ao debate eleitoral e substrato
do processo democrático representativo. Precedente específico: Rp n°
587/DF, Rel. Min Gerardo Grossi, Publ. Sessão de 21.10.2002.
III- Em prol da liberdade de expressão, afasta-se a concessão de direito de
resposta e indefere-se pedido de suspensão definitiva de inserção na qual se
disse, com apoio de imagens eloqüentes (enfocando tristeza por escassez de
comida), que a plataforma política da representada, sobre a autonomia do
Banco Central, representaria entregar aos banqueiros vultuoso poder de
decisão sobre a vida do eleitor e de sua família.
IV- Improcedência dos pedidos127.

Ainda, é preciso evidenciar que, em virtude da liberdade de expressão, a legislação


eleitoral impede cortes instantâneos e censura prévia sobre o teor dos programas a serem
exibidos na televisão, rádio ou internet, conforme dispõe o art. 41, §2° e o art. 53, ambos da Lei
das Eleições. Ou seja, a Justiça Eleitoral não pode apreciar o conteúdo da propaganda eleitoral
antes que esta seja exibida.
Na mesma linha de raciocínio, o art. 45, inciso II128 e III129, da Lei n. 9.504/97, foram
declarados inconstitucionais através da ADI n. 4.451/DF, que teriam como escopo proteger a

127
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Representação: 12256120146000000. Brasília/DF 251252014. Relator:
Min. Tarcísio Vieira de Carvalho Neto. Brasília, DF, ago.2014. Disponível
em:<http://inter03.tse.jus.br/sadpPush/ExibirDadosProcesso.do?nprot=249432014&comboTribunal=tse>.
Acessado em: 23 mar. 2020.
128
“II - usar trucagem, montagem ou outro recurso de áudio ou vídeo que, de qualquer forma, degradem ou
ridicularizem candidato, partido ou coligação, ou produzir ou veicular programa com esse efeito.”
129
III - veicular propaganda política ou difundir opinião favorável ou contrária a candidato, partido, coligação, a
seus órgãos ou representantes;
64

honra e a dignidade daqueles que entram na disputa eleitoral. Os incisos foram suspensos
liminarmente em decisão que afirmou não caber ao Estado definir previamente o que pode ou
não ser dito por indivíduos e jornalistas.
A decisão liminar foi também fundamentada no argumento de que os programas
humorísticos e charges também gozam de total liberdade para exprimir ideias, pensamentos e
críticas, mesmo que em tom irônico e áspero. O acórdão que por fim julgou a ação procedente
ficou assim ementado:

LIBERDADE DE EXPRESSÃO E PLURALISMO DE IDEIAS. VALORES


ESTRUTURANTES DO SISTEMA DEMOCRÁTICO.
INCONSTITUCIONALIDADE DE DISPOSITIVOS NORMATIVOS QUE
ESTABELECEM PREVIA INGERÊNCIA ESTATAL NO DIREITO DE
CRITICAR DURANTE O PROCESSO ELEITORAL. PROTEÇÃO
CONSTITUCIONAL AS MANIFESTAÇÕES DE OPINIÕES DOS MEIOS
DE COMUNICAÇÃO E A LIBERDADE DE CRIAÇÃO HUMORISTICA.
1. A Democracia não existirá e a livre participação política não florescerá onde
a liberdade de expressão for ceifada, pois esta constitui condição essencial ao
pluralismo de ideias, que por sua vez é um valor estruturante para o salutar
funcionamento do sistema democrático. 2. A livre discussão, a ampla
participação política e o princípio democrático estão interligados com a
liberdade de expressão, tendo por objeto não somente a proteção de
pensamentos e ideias, mas também opiniões, crenças, realização de juízo de
valor e críticas a agentes públicos, no sentido de garantir a real participação
dos cidadãos na vida coletiva. 3. São inconstitucionais os dispositivos legais
que tenham a nítida finalidade de controlar ou mesmo aniquilar a força do
pensamento crítico, indispensável ao regime democrático. Impossibilidade de
restrição, subordinação ou forçosa adequação programática da liberdade de
expressão a mandamentos normativos cerceadores durante o período eleitoral.
4. Tanto a liberdade de expressão quanto a participação política em uma
Democracia representativa somente se fortalecem em um ambiente de total
visibilidade e possibilidade de exposição crítica das mais variadas opiniões
sobre os governantes. 5. O direito fundamental à liberdade de expressão não
se direciona somente a proteger as opiniões supostamente verdadeiras,
admiráveis ou convencionais, mas também aquelas que são duvidosas,
exageradas, condenáveis, satíricas, humorísticas, bem como as não
compartilhadas pelas maiorias. Ressalte-se que, mesmo as declarações
errôneas, estão sob a guarda dessa garantia constitucional. 6. Ação procedente
para declarar a inconstitucionalidade dos incisos II e III (na parte impugnada)
do artigo 45 da Lei 9.504/1997, bem como, por arrastamento, dos parágrafos
4º e 5º do referido artigo. (TSE – Ação Direta de Inconstitucionalidade
4.451/DF Relator: Ministro Alexandre de Moraes, Data de Julgamento:
21/06/2018).

Nesse sentido, é preciso compreender que mesmo diante das fake news, não caberá o
controle prévio, sob risco de estar censurando o conteúdo. Todavia, como citado, a legislação
apresenta outras soluções civis, penais e eleitorais para o combate às fake news.
65

Diante disto, especialistas vêm entendendo que o combate às fake news pode se tornar um
risco à liberdade de expressão, na busca de se controlar o conteúdo difundido. Eduardo
Mendonça, em entrevista, disse: “No Brasil, ainda não chegamos a um consenso se há déficit
da Previdência Social. Então, dizer que haverá remoção de fake news é perigoso. O que é fake
news?”130.
Assim, é preciso que haja uma preocupação legislativa e judiciária na tratativa das fake
news para que não se limite a liberdade de expressão, mas sim, sejam punidos seus excessos,
através da análise de cada caso concreto.

130
MENDONÇA, Eduardo. Combate às fake news pode ser um risco à liberdade de expressão. [Entrevista
cedida a Luciana Pádua]. Jota, maio, 2018. Disponível em: <https://www.jota.info/coberturas-especiais/liberdade-
de-expressao/liberdade-expressao-fake-news-09052018>. Acesso em: 02 jan. 2020.
66

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho se propôs a realizar uma análise jurídica acerca do fenômeno das fake
news no âmbito da propaganda eleitoral, de modo a entender a atuação destas através dos meios
de difusão de conteúdos e identificar no ordenamento jurídico pátrio condutas tipificadas que
possam ser enquadradas como fake news.
Para tanto, realizou-se um exame da evolução da legislação eleitoral no país, desde os
tempos de colônia até a redemocratização, o que permitiu perceber, em primeiro lugar, a
tradição democrática do Brasil, com registro de eleições desde as primeiras expedições para
desbravar o país.
Ainda, foi possível notar a existência de um movimento circular ao longo da história: a
maior participação popular nas eleições aumenta as agitações eleitorais, bem como o número
de fraudes para macular a vontade popular. Conforme estes novos ardis surgem, a legislação
tenta acompanhá-los para reprimi-los, trazendo maior legitimidade ao pleito e, com esta maior
confiança no sistema eleitoral, maior se torna a participação dos cidadãos no certame.
Em seguida, promoveu-se um estudo sobre a propaganda política, gênero do qual são
espécies as propagandas: institucional, intrapartidária, partidária e eleitoral. Esta última
mereceu especial destaque no trabalho, pois é a modalidade na qual se busca diretamente o voto
do eleitor e, consequentemente, o êxito no pleito.
Foi preciso, assim, examinar os princípios da propaganda política, por ser fonte basilar o
direito, de modo que estes pudessem nortear o desenvolvimento dos trabalhos. Dentre os
princípios, evidencia-se o da veracidade, da liberdade de expressão e comunicação e da
liberdade de informação, por estarem intimamente ligados ao tema e às análises casuísticas
realizadas.
Ademais, foram estudadas as modalidades e especificidades da propaganda eleitoral
como a propaganda na internet, bem como o regramento jurídico incidente, o que permitiu
concluir que as fake news estão aptas a se manifestar nas mais variadas formas de difusão da
propaganda.
Feitas tais considerações nos capítulos inicias, adentrou-se de fato na análise jurídica das
fake news, partindo da necessidade de encontrar um conceito aberto para o estrangeirismo,
frente ao contexto diverso em que o termo tem sido utilizado.
Neste sentido, após a análise de diversos conceitos formulados por especialistas,
despontou como mais correto e apto a atingir os objetivos deste trabalho aquele formulado por
67

Allcott e Gentzkow, podendo, assim, fake news ser entendida como sinais distorcidos não
relacionados com a verdade.
Partindo de tal conceito, foi possível encontrar no ordenamento pátrio, em especial no
Código Eleitoral e na Lei das Eleições, seis condutas tipificadas que podem ser enquadradas
como fake news, quais sejam: a divulgação de fato sabidamente inverídico, os crimes contra
honra, as pesquisas falsas, a criação de perfis falsos para fins eleitorais, a falsa atribuição de
propaganda a terceiro e o uso de trucagem, montagem ou recurso semelhante na propaganda
eleitoral.
As condutas citadas, bem como os crimes a elas relacionados, foram amplamente
abordados e examinados, o que permitiu concluir que a legislação brasileira atualmente possui
mecanismos para tratar das fake news e até dos casos mais inovadores, como a citada deep fake.
Deste modo, foi possível identificar um ponto comum aos crimes envolvendo as fake
news: o ânimo do agente em cometer o ilícito, no fato sabidamente inverídico. Por exemplo, o
agente que propaga informação que sabe ser inverídica, caso não tenha este conhecimento, não
incorre em crime.
Os demais crimes, cada um com suas especificidades, também exigem tal elemento
subjetivo, ou seja, não incorre em condutas tipificadas e identificadas como fake news o agente
que age com culpa, ou seja, desconhecimento acerca da falsidade envolvida.
Com isto, foi possível reconhecer consequências e reflexos das fake news no cenário
eleitoral e também fora dele, como a possibilidade de cassar o mandato, anular a eleição e até
mesmo de reparar danos causados através da teoria da perda de uma chance, tudo isto embasado
em doutrinas sobre o assunto e julgados relacionados.
Ainda, tal estudo casuístico de julgados e de cenários reais permitiu verificar os contornos
das fake news frente a cada crime identificado, permitindo estabelecer limites para a liberdade
de expressão e livre manifestação do pensamento.
A partir da análise de casos práticos envolvendo a liberdade de expressão, principalmente
julgados do Tribunal Superior Eleitoral e do Supremo Tribunal Federal, foi possível notar que
o julgador resguarda tal garantia estampada na Constituição Federal, não admitindo com
inverdades previsões ou meras adivinhações, ainda que catastróficas.
De tal modo, é possível indicar que o Judiciário e o Legislativo devem ter muito cuidado
ao lidar com o tema, para que as legislações criadas e os julgados não incorram em censura. O
controle preventivo mais adequado se mostra a informação aos cidadãos, e a repressão deve ser
realizada frente ao caso concreto.
68

Por fim, diante de todo o exposto, é preciso primeiramente reconhecer que as fake news
são um problema da atualidade, agravado principalmente pelo desenvolvimento tecnológico e
a revolução dos meios de comunicação e difusão do conteúdo. Ademais, é possível concluir
que a legislação brasileira vigente possui mecanismos punitivos eleitorais para a repressão de
condutas que se enquadrem como fake news.
69

REFERÊNCIAS

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