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Amor é fogo que arde sem se ver; É querer estar preso por vontade;

É ferida que dói e não se sente; É servir a quem vence, o vencedor;


É um contentamento descontente; É ter com quem nos mata lealdade.
É dor que desatina sem doer;
Mas como causar pode seu favor
É um não querer mais que bem querer; Nos corações humanos amizade,
É solitário andar por entre a gente; Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder; Luís de Camões
Esta cantiga alheia: O rosto sobre ua mão,
os olhos no chão pregados,
Na fonte está Leanor que, do chorar já cansados,
lavando a talha e chorando, algum descanso lhe dão.
às amigas perguntando: Desta sorte Leanor
vistes lá o meu amor? suspende de quando em quando
sua dor; e, em si tornando,
Voltas mais pesada sente a dor.

Posto o pensamento nele, Não deita dos olhos água,


porque a tudo o Amor a obriga, que não quer que a dor se abrande
cantava, mas a cantiga Amor, porque em mágoa grande
eram suspiros por ele. seca as lágrimas a mágoa.
Nisto estava Leanor Depois que de seu amor
o seu desejo enganando, soube, novas perguntando,
às amigas perguntando: d' improviso a vi chorando.
vistes lá o meu amor? Olhai que extremos de dor!

Luís de Camões

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