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Análise do poema de Luís de Camões

Amor é fogo que arde sem se ver


Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;


é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;


é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor


nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Tema: Amor, definido como um sentimento contraditório, mas


ainda assim procurado pelos corações humanos. Este tema das
contradições do amor, expresso por antíteses à maneira
petrarquista, é um lugar comum da lírica europeia quinhentista para
evidenciar a impossibilidade de definir o amor.

Assunto: O sujeito poético apresenta várias definições


contraditórias para o amor e termina revelando que não entende a
busca constante do ser humano por este sentimento, uma vez que
ele é tão contraditório.
Estrutura interna:
 O soneto divide-se em duas partes lógicas:
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
O amor é sofrimento
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer; 1ªparte: Fazem-se onze


é um andar solitário entre a gente; tentativas para definir o
O amor é
amor.
desprendimento é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;


O amor é doação é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor 2ªparte: As onze tentativas


O amor é paradoxo nos corações humanos amizade, são superadas por uma
interrogação retórica.
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Onze tentativas para definir o amor:


Amor é:  Um fogo que arde sem se ver;
 Ferida que dói;
 Um contentamento;
 Dor;
 Um não querer mais;
 Um andar solitário;
 Um nunca se contentar;
 Um cuidar que ganha;
 Querer estar preso;
 Servir a quem vence;
 Ter lealdade.
 O poema obedece ao seguinte esquema rimático:

Amor é fogo que arde sem se ver, A


é ferida que dói, e não se sente; B
é um contentamento descontente, B
é dor que desatina sem doer. A

É um não querer mais que bem querer; A


é um andar solitário entre a gente; B
é nunca contentar-se de contente; B
é um cuidar que ganha em se perder. A

É querer estar preso por vontade; C


é servir a quem vence, o vencedor; D
é ter com quem nos mata, lealdade. C

Mas como causar pode seu favor D


nos corações humanos amizade, C
se tão contrário a si é o mesmo Amor? D

 Recursos expressivos presentes ao longo do poema:

-Antítese: atribui duas características opostas a uma mesma


realidade. (vv.1-2)
-Anáfora: o sujeito poético repete o mesmo verbo «é» no início do
verso 2 até ao verso 11.
-Enumeração: apresenta várias características sobre o amor.
-Metáfora: o sujeito poético exagera a força do sentimento amoroso
«amor é um fogo…» (v.1)
Estrutura externa
 O poema é um soneto, formado por duas quadras e dois
tercetos.

 Os versos são decassílabos, porque os versos têm 10 sílabas


métricas:
(«A/mor/ é /fo/go /que ar/de /sem /se /ver»)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

 A rima é interpolada em «A», emparelhada em «B» e cruzada


em «C» e «D».

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