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C2_1A_VERMELHO_PORT_GK_2021.

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Palavras-chave:
Camões: sonetos • Soneto • Medida nova
20 • Lírica renascentista

Exercícios Resolvidos

Texto para os testes  e . Mas como causar pode seu favor rindo-se uma à outra, negando-se, temos um
nos corações humanos amizade, tipo especial de antítese chamado oxímoro.
se tão contrário a si é o mesmo Amor? Resposta: B
Amor é um fogo que arde sem se ver,
(Camões)
é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente,  adaptado – O poema tem 
é dor que desatina sem doer. como característica a oposi- O poema pode ser conside-
ção semântica. Há antítese rado como um texto
É um não querer mais que bem querer; em: a) argumentativo.
a) “Amor é fogo que arde sem se ver.” b) narrativo.
é solitário andar por entre a gente;
b) “É um contentamento descontente.” c) épico.
é nunca contentar-se de contente;
c) “É servir a quem vence, o vencedor.” d) de propaganda.
é cuidar que se ganha em se perder.
d) “Mas como causar pode seu favor.” e) teatral.
e) “Se tão contrário a si é o mesmo Amor?” Resolução
É querer estar preso por vontade; Resolução O texto, de fato, desenvolve ideias, argumen-
é servir a quem vence, o vencedor; Em “contentamento descontente”, as palavras tos, acerca do amor.
é ter, com quem nos mata, lealdade. são antônimas. Como elas se opõem, refe- Resposta: A

Exercícios Propostos

Texto para os testes de  a .  (MODELO ENEM) – Esse é um dos mais famosos poemas
da língua portuguesa. A estrutura sintática de suas três
Amor é um fogo que arde sem se ver, primeiras estrofes revela a vinculação de seu autor ao
é ferida que dói e não se sente; racionalismo do Classicismo, pois cada uma de suas frases
é um contentamento descontente, funciona como uma
é dor que desatina sem doer; faz perder o juízo a) exemplificação, já que cita um item que repete a ideia do
verso anterior.
É um não querer mais que bem querer; b) explicação, visto que retoma um pensamento contido na
é solitário andar por entre a gente; estrofe antecedente.
é nunca contentar-se de contente; c) definição, porque apresenta um atributo que caracteriza o
é cuidar que se ganha em se perder; sujeito da oração.
d) sublimação, uma vez que introduz um fato que não
É querer estar preso por vontade; apresenta aspectos sensoriais.
é servir a quem vence, o vencedor; e) narração, porque relata um fato apresentado no verso
é ter, com quem nos mata, lealdade. anterior.
RESOLUÇÂO:
Mas como causar pode seu favor favorecimento Cada um dos versos das três primeiras estrofes apresenta o Amor
como sujeito (explícito no primeiro verso e oculto nos demais),
nos corações humanos amizade,
um verbo de ligação e um predicativo do sujeito. Essa estrutura é
se tão contrário a si é o mesmo Amor?1 típica das definições. [Competência 6, Habilidade 18 das Matrizes
do ENEM.]
(Camões) Resposta: C

1 – Entenda: Mas como o favor do amor (isto é, o fato de ser “favorecido“ pelo
amor, ou seja, o fato de estar apaixonado) pode causar amizade nos corações
humanos, se o próprio Amor é tão contrário a si mesmo? Em outras palavras:
Como o homem pode ser amigo do amor (ou seja, pode gostar de amar), se o
próprio amor é tão inimigo de si mesmo?

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 Assinale a alternativa incorreta. (MODELO ENEM) – Camões domina o fazer poético para,
a) As três primeiras estrofes formam um único período, por de maneira expressiva, apresentar sua análise peculiar sobre o
isso só há ponto final no último verso da terceira estrofe. amor. Assim, coerente com a lógica do poema, o poeta traz na
b) O sujeito de cada um dos versos das três primeiras estrofes última estrofe uma definição sintética desse sentimento, por
é Amor — sujeito explícito no primeiro verso, elíptico nos meio da expressão
demais. a) “seu favor”.
c) A última estrofe inicia uma nova abordagem porque, nela, o b) “corações humanos”.
poeta inicia uma outra tentativa para definir o amor. c) “amizade”.
d) No último verso, a expressão “contrário a si“ é a última d) “contrário a si”.
definição do amor, que sintetiza as anteriores (“fogo que e) “mesmo Amor”.
arde sem se ver”, “ferida que dói e não se sente”). RESOLUÇÂO:
e) A interrogação da última estrofe exprime a necessidade de, Camões define o Amor, ao longo do poema, como um sentimento
por meio da lógica, se continuar buscando explicação para o ligado a contradições. Assim, a expressão “contrário a si” traduz
o contrassenso. [Competência 6, Habilidade 18 das Matrizes do
Amor. ENEM.]
RESOLUÇÃO: Resposta: D
Segundo o poema, o Amor não pode ser explicado pela lógica,
justamente por ser contraditório. É um sentimento que só pode
ser vivenciado em suas contradições. Essa é a conclusão na
pergunta retórica do eu lírico. [Competência 6, Habilidade 18 das
Matrizes do ENEM.]
Resposta: E

 (MODELO ENEM) – O soneto em análise é uma das mais


belas composições em língua portuguesa, pois concilia com
maestria recursos literários, líricos e reflexivos. Há nele largo
emprego de figuras de linguagem, o que revela que o autor
a) busca definir o Amor racionalmente, por meio de uma
operação intelectual, mas não há unicidade diante do caráter
dual desse sentimento.
b) consegue apaziguar o sentimento, o que demonstra a força
do apaixonado, capaz de anular as contradições do amor.
c) procura separar o que sente do que pensa, tarefa que se
mostra bem-sucedida graças à estrutura racional do soneto,
que opõe quartetos a tercetos.
d) busca construir versos bimembres, que contêm elementos
opostos, desembocando no clímax da última estrofe, com a
eliminação das oposições.
e) pretende descrever a intensidade da entrega ao Amor
(estrofe 1), os efeitos corporais desse sentimento
(estrofe 2), a submissão a ele (estrofe 3) e, finalmente, a
plenitude com o advento da harmonia (estrofe 4).
RESOLUÇÃO:
O soneto apresenta uma reflexão lírica. Isso é percebido pela
estrutura de suas orações, que respeita a lógica de uma definição.
No entanto, os vários predicativos que são atribuídos ao sujeito
Amor são contraditórios, o que acaba impossibilitando o esforço
de definição. A explicação para esse fracasso é o fato de o
sentimento analisado não se prender a operações racionais, o que
revela a incompatibilidade entre razão e sentimento.
[Competência 6, Habilidade 18 das Matrizes do ENEM.]
Resposta: A

Retrato de Camões Pintado em Goa (1581), de autor desconhecido.


– Fotografia: Fine Art Images / Album / Fotoarena.

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Texto para o teste


. Texto para os testes de a .
Busque Amor novas artes, novo engenho, SONETO DE FIDELIDADE
para matar-me, e novas esquivanças; desprezos
De tudo, ao meu amor serei atento
que não pode tirar-me as esperanças,
Antes1, e com tal zelo, e sempre, e tanto,
que mal me tirará o que eu não tenho.
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Quero vivê-lo em cada vão momento
Que não temo contrastes nem mudanças,
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
andando em bravo mar, perdido o lenho. barco
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
Mas, conquanto não pode haver desgosto embora
onde esperança falta, lá me esconde
E assim, quando mais tarde me procure
Amor um mal, que mata e não se vê.
Quem sabe a morte, angústia de quem vive,
Quem sabe a solidão, fim de quem ama,
Que dias há que na alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
Eu possa me dizer do amor (que tive):
vem não sei como, e dói não sei por quê.
Que não seja imortal, posto que2 é chama,
Mas que seja infinito enquanto dure.
(Camões)


Assinale a alternativa incorreta. (MORAES, Vinicius de. Soneto de Fidelidade.
Disponível em: http://www.viniciusdemoraes.com.br/
a) O poema pode ser dividido em duas partes: 1.a — os dois pt-br/poesia/poesias-avulsas/soneto-de-fidelidade.
quartetos: o sujeito lírico diz que, em seu estado Acesso em: 20 jul. 2019.)
desesperado, nenhum mal pode piorar sua situação; 2.a —
os dois tercetos: apesar de tudo, Amor ainda lhe reserva um 1 – De tudo... Antes: Inversão, chamada hipérbato ou, no caso, anástrofe, porque
inverte a ordem normal dos termos da expressão antes de tudo.
mal indefinível.
2 – Posto que: porque, já que. O sentido normal da locução é concessivo (“em-
b) Os versos “Olhai de que esperanças me mantenho!” e bora”) e ela vem com o verbo no subjuntivo (“posto que seja estudioso, foi mal na
“Vede que perigosas seguranças!” contêm ironia carregada prova”). O sentido causal (“porque”) é um brasileirismo (uso próprio do Brasil).
de amargura.
c) O sentido dos versos 7-8 é que quem está no meio do mar (MODELO ENEM) – Uma das vertentes mais consagradas
bravo, sem nenhum barco ou navio (“lenho”), não pode da poesia de Vinicius de Moraes (1913-1980) é o soneto, por
temer nenhuma virada da sorte que piore sua situação. meio do qual o poeta se mostra vinculado à tradição vinda de
d) O poema se encerra com uma engenhosa definição do Camões. Em “Soneto de Fidelidade”, essa filiação à poética
Amor: “Um não sei quê, que nasce não sei onde, / Vem não camoniana é percebida na associação do amor a
sei como e dói não sei por quê”. a) chama, por isso eterno.
e) Os dois versos finais do poema são uma explicação do “mal b) vento, por isso destruidor.
que mata e não se vê”. c) encantos, por isso otimista.
d) oposições, por isso contraditório.
RESOLUÇÃO: e) pensamento, por isso racional.
Os versos da alternativa d não correspondem a uma definição do
amor, mas sim do mal que o Amor põe na alma do amante. Amor,
RESOLUÇÃO:
na verdade, é o sujeito elíptico da frase, e o “não sei quê“, o seu
Ao discorrer sobre o amor, Vinicius de Moraes apresenta uma
objeto: Amor pôs um “não sei quê“ na alma do eu lírico.
extensa enumeração de oposições semânticas (rir x pranto, pesar
[Competência 6, Habilidade 18 das Matrizes do ENEM.]
x contentamento, canto x riso, infinito x enquanto dure). Trata-se
Resposta: D
de um procedimento já presente na poesia lírica de Camões, que
apresenta uma visão paradoxal do amor. Assim, o poeta
modernista mostra-se vinculado à tradição camoniana.
[Competência 5, Habilidade 17 das Matrizes do ENEM.]
Resposta: D

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 (MODELO ENEM) – Nesse soneto, há oxímoro ou  (MODELO ENEM) – O contrassenso da última estrofe do
paradoxo em: soneto consiste em uma aparente impossibilidade. Isso é
a) “Eu possa me dizer”. eliminado quando se tem em mente que o eu poemático quis
b) “amor (que tive)”. dizer que
c) “Que não seja imortal”. a) o amor, mesmo sendo finito, deve ser vivido com
d) “posto que é chama”. intensidade.
e) “infinito enquanto dure”. b) a vida, por ser contraditória, atrapalha a felicidade amorosa.
RESOLUÇÃO: c) a paixão, por ser complexa, é marcada pela falta de lógica.
Há oposição de ideias em “infinito enquanto dure”. [Competência d) a morte, inevitável destino humano, limita a felicidade.
5, Habilidade 17 das Matrizes do ENEM.] e) o homem, porque é finito, não entende a infinitude do amor.
Resposta: E
RESOLUÇÃO:
Quando Vinicius de Moraes declara que o amor é chama, ele
demonstra ter consciência de que esse sentimento é efêmero. Ao
acrescentar a essa emoção a qualidade de infinitude, introduz a
ideia de ausência de limite emocional. Assim, ele defende a
vivência do amor como uma experiência intensa. [Competência 6,
Habilidade 18 das Matrizes do ENEM.]
Resposta: A

Camões na Prisão em Goa (1556), de autor desconhecido. – Fotografia:


Christophel Fine Art / Universal Images Group via Getty Images.

Marcus VINICIUS da Cruz DE Mello MORAES (1913-1980): Diplomou-se em Direito no


Rio de Janeiro, sua cidade natal, passando depois uma temporada de estudos em Oxford,
na Inglaterra. Foi crítico e censor cinematográfico. Seguindo a carreira diplomática, teve
oportunidade de residir em diversas partes do mundo. A partir do movimento da Bossa
Nova — em que Vinicius foi figura importante, contribuindo para a renovação do estilo das
letras de música —, tornou-se figura popular, talvez o mais popular dos poetas que o Brasil
já tenha conhecido. Suas opiniões, sua vida boêmia e a “imagem” que compôs em suas
apresentações com músicos populares acabaram por afastá-lo da diplomacia.

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