Você está na página 1de 72

Língua Portuguesa III – Prof.

Cesar Casella

Sintaxe

UnU Goiás – Segundo Semestre de 2013


INTRODUÇÃO AOS PROBLEMAS DE SINTAXE

► O termo sintaxe refere-se, tradicionalmente, à parte da


Gramática que descreve o modo como as palavras são
combinadas para compor sentenças e frases.
► Trata, em geral, de dispor regras de organização para as
partes que irão se combinar.
► Essas regras costumam ser obtidas pelo seleção de
formas utilizadas por escritores consagrados, isto é, torna-se
regra a combinação e organização das palavras nas
sentenças produzidas por indivíduos tidos, pelos gramáticos,
como 'autoridades' na escrita.

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
A ORDEM CANÔNICA

► Uma regra básica, e inicial para os estudos, é a de que


existe uma ordem direta, natural e predominante dos
elementos da frase em português: sujeito – verbo –
complementos.
► Ordem que também é conhecida como SVO: sujeito –
verbo – objetos.
► A gramática tradicional e normativa entende que é possível
que ocorram casos de ordem inversa, vendo-os como
recursos de estilo que visam enfatizar um ou outro
componente da frase.

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
A ORDEM CANÔNICA E AS INVERSÕES

► Observe-se, abaixo, que em (01) temos a ordem canônica.


Em (02) temos uma inversão que enfatiza o complemento e
em (03) uma que enfatiza o verbo.

(01) Macunaíma devolveu o olhar para Ci.


(02) A muiraquitã eu vi ontem.
(03) Subiram Macunaíma e Pietro Pietra na corda.

► A GT apresenta uma listagem das construções em que é


comum ou possível as inversões e não as explica.

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
OS ESTUDOS SINTÁTICOS

► O estabelecimento da Sintaxe como disciplina data do final


do século XIX, mas é a partir das ideias de Saussure e dos
trabalhos e aplicações delas derivadas que a Sintaxe foi
adquirindo o estatuto de área autônoma.

► A Sintaxe se distingue pela unidade linguística que


constitui o seu objeto de análise: a sentença (e o sintagma).

► É possível apresentar a Sintaxe a partir de dois métodos


distintos de abordagem: o Formalismo e o Funcionalismo.

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
OS ESTUDOS SINTÁTICOS

► A Gramática tradicional não consegue mais do que


constatar a existência de construções sintáticas em que a
ordem inversa aparece. Constata e sanciona, em verdade,
mas não consegue apresentar um princípio consistente que
explique essa variedade de construções.

► Berlinck, Augusto e Scher (2001:212-39) explicam como é


possível analisar e propor entendimentos para essa variedade
de construções sintáticas, a partir das abordagens formalista
e funcionalista.

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
A ANÁLISE DA ORDEM SINTÁTICA

► Possibilidades de ordenação sintática:

(04) Diadorim entregou o facão para Riobaldo.


(05) O Miguilim eu vi ontem.
(06) Na festa vieram o Manuelzão e o Augusto Matraga.
(07) O facão Diadorim entregou para Riobaldo.
(08) Eu vi o Miguelim ontem.
(09) O Manuelzão e o Augusto Matraga vieram na festa.
(10) Vieram o Manuelzão e o Augusto Matraga na festa.

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
A ANÁLISE DA ORDEM SINTÁTICA

► As sentenças a partir de seus constituintes básicos:

(04') S – V – OD – OI
(05') OD – S – V – Circ.
(06') Circ. – V – S
(07') OD – S – V – OI
(08') S – V – OD – Circ.
(09') S – V – Circ.
(10') V – S – Circ.

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
A ANÁLISE DA ORDEM SINTÁTICA

► As sentenças a partir de seus constituintes básicos:

(04') S – V – OD – OI
(05') OD – S – V – Circ.
(06') Circ. – V – S
(07') OD – S – V – OI
(08') S – V – OD – Circ.
(09') S – V – Circ.
(10') V – S – Circ.

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
A ANÁLISE DA ORDEM SINTÁTICA

► Nota-se uma diferença entre os padrões (06') e (10'), pois


nestes o sujeito vem posposto ao verbo. Registre-se que
algumas frases pospostas soam pouco naturais, como:

(11) Entregou Diadorim o facão para Riobaldo.

► Uma questão de análise sintática, então, é como explicar a


possibilidade de pospor ou não o sujeito e a possibilidade de
antepor ou não o complemento. As abordagens formalista e
funcionalista vão sugerir algumas respostas possíveis.

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
RESPOSTAS DO ESTUDO DIRIGIDO

► O princípio da ênfase é considerado é problemático, pois:

A). Se a inversão é uma construção enfática, se esperaria que


não fosse muito frequente. Porém, as gramáticas mesmo
salientam que a inversão é comum, tornou-se a construção
preferida.

B). Se a inversão pela ênfase é um recurso estilístico válido,


deveria ser possível para qualquer frase da língua
portuguesa. No entanto, é pouco natural uma inversão como:
O olhar devolveu para Ci Macunaíma.

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
RESPOSTAS DO ESTUDO DIRIGIDO

► O princípio da ênfase é considerado é problemático, pois:

C). Se a inversão se faz pela ênfase seria fácil definir que


elemento está sendo focado, enfatizado, mas nem sempre é
isto possível. Por exemplo, qual é o elemento enfatizado
quando temos dois elementos deslocados? Em “Na corda
subiram Macunaíma e Pietro Pietra” a ênfase recairia sobre o
sujeito posposto – Macunaíma e Pietro Pietra – ou sobre o
adjunto adverbial preposto? A anteposição e a posposição
tem o mesmo valor? Pode-se enfatizar dois elementos ao
mesmo tempo?

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
RESPOSTAS DO ESTUDO DIRIGIDO

► O Formalismo dedica-se as questões relacionadas à


estrutura linguística, ao sistema autônomo, a natureza de
seus constituintes e a relação entre eles, sem se voltar para
aos vínculos entre língua e situação comunicativa.

► A Sintaxe deve ser examinada como um objeto autônomo,


de um ponto de vista estritamente formal e os fenômenos
deverão ser tratados em termos de propriedades internas ao
sistema linguístico. Um exemplo de investigação formalista é
a Gramática Gerativa de Noam Chomsky.

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
RESPOSTAS DO ESTUDO DIRIGIDO

► O Funcionalismo dedica-se as questões relacionadas ao


funcionamento da língua, vendo-a como um sistema não-
autônomo, voltando-se para os vínculos entre língua e
situação comunicativa.

► A Sintaxe deve ser mais abrangente, escapar para além do


nível da sentença, os processos sintáticos sendo entendidos
nas suas relações com os processos semânticos e
discursivos (englobados aqui os textuais, os pragmáticos e os
sociolinguísticos).

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
RESPOSTAS DO ESTUDO DIRIGIDO

► A abordagem Funcionalista tem, segundo as autoras (p.


212) como um de seus centros de interesse privilegiado a
variação linguística. É esta abordagem que vê soluções para
a variação tanto no sistema linguístico quanto fora dele, no
ambiente social em que a língua é veículo de interação. Por
essas características a heterogeneidade constitutiva da língua
acomoda-se melhor a esta abordagem, fazendo-a presente
nos estudos variacionistas que tratam da sintaxe.

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
Língua Portuguesa III – Prof. Cesar Casella

As falhas de análise da
Gramática Tradicional

UnU Goiás – Segundo Semestre de 2013


CONSIDERAÇÕES INICIAIS

► Marcos Bagno (citando John Lyons) aponta que na origem


da Gramática Tradicional há dois equívocos 'fatais': a). a
separação rígida entre língua escrita e língua falada e b). o
entendimento de que a mudança nas línguas é 'corrupção',
'ruína' ou 'decadência'. Estes dois equívocos, o “erro clássico”
segundo Lyons, demarcam também a área de atuação da
Gramática: a dedicação exclusiva à língua escrita deixa de
fora toda a língua falada. A GT, optando pelo estudo da
escrita, tomando a escrita como objeto de interesse maior e
dentro da escrita centrando-se na literatura como parâmetro,
consolidou-se como elitista e aristocrática, desprezando todo
os outros usos da língua.

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS

► Bagno (p.16) lembra que a língua escrita literária é apenas


uma fatia da língua escrita, que é só uma parte da língua.

Língua Escrita Literária

Língua Escrita

Língua Falada + Língua Escrita

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS

► O problema se prolonga, pois a tradição elitista e


aristocrática se perpetuou. Mas também se agrava, pois a
gramática, antes campo específico de investigação do uso da
língua pelos grandes escritores (a gramática grega entendida
algo como: 'a arte de escrever unicamente com finalidades
estéticas'), abandonou a sua especificidade e passou a
'reger', 'normatizar' e 'determinar' o uso de toda a língua.
Deste modo, a Gramática criada para servir de regra para a
literatura passou a ser regra para todo uso linguístico.

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS

► Para Bagno (p.17) “a GT saiu 'colonizando' todo o resto”.

GT

Língua
Escrita

Língua Falada

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
INCOERÊNCIAS DA GRAMÁTICA TRADICIONAL

► Bagno mostra algumas incoerências da descrição na GT,


mostrando que ela tem problemas 'internos', isto é, de
coerência metodológica que causam falhas de aplicação.

01. Artigo definido e indefinido;


02. Pronomes possessivos;
03. Termos essenciais;
04. Definição de pronome;
05. Classificação rígida das classes de palavras.

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
ARTIGO DEFINIDO E INDEFINDO

► O artigo indefinido indicaria seres quaisquer dentro de uma


mesma espécie, com sentido genérico. O artigo definido
indica seres determinados dentro de uma espécie, seu
sentido é particularizante.

O homem é mortal.
A mulher tem sido discriminada desde que o mundo é mundo.
Dizem que o brasileiro em geral tem ouvido musical.
Os carros são os maiores responsáveis pela poluição.

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
PRONOMES POSSESSIVOS

► Os pronomes possessivos referem-se às pessoas do


discurso, atribuindo-lhes a posse de alguma coisa.

Volta logo, querida! Tua ausência me faz sofrer muito.


Chegou a nossa vez de exigir respeito.
Dá pra você sair da minha frente, por favor?
Indiquei o meu jardineiro para o meu chefe.

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
TERMOS ESSENCIAIS

► As gramáticas dizem que o sujeito e o predicado são


termos essenciais da oração. Essencial deveria ser aquilo que
tem a ver com o próprio 'ser' de algo, aquilo que faz de
alguma coisa o que ela é. Portanto, não poderiam existir
orações sem sujeito.

Ø Choveu muito ontem.


Ø Venta bastante aqui.

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
DEFINIÇÃO DE PRONOME

► Os pronomes são tidos como as palavras que substituem o


nome (ou o substantivo).

O Excelentíssimo Senhor Embaixador do Grão-Ducado da


Pomerânia, Barão Johann Gehrhandt von Hohenzollern, fez
ontem um discurso na associação de empresários desta
capital. Ele disse que seu país tem muito interesse em
intensificar as relações econômicas com os brasileiros.

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
A FALTA DE BASES CIENTÍFICAS

► “De tudo isto se conclui que a Gramática Tradicional não


tem bases científicas consistentes. Seus preceitos são o
resultado de um processo bastante perverso: a transformação
em dogmas, em 'verdades' definitivas, um conjunto de
especulações filosóficas (...). Os autores da grande maioria
dos compêndios gramaticais normativos não submetem, até
hoje, as noções tradicionais a crítica, limitando-se a repetir –
inalterados – os conceitos usados pelos gramáticos das
gerações anteriores” (BAGNO 2004, p. 22).

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
EM BUSCA DE EXPLICAÇÕES PARA
OS FENÔMENOS SINTÁTICOS

► Como a descrição e a explicação da GT para os


fenômenos sintáticos é falha, a Linguística passa a buscar
alternativas de tratamento para os fenômenos sintáticos.

► Uma destas alternativas é a articulação entre a sintaxe, a


semântica e a pragmática, retirando a sintaxe do domínio da
visão linear, plana e unidimensional da Gramática, fazendo
com que ela estabeleça relações e ganhe valor na interação
com essas duas outras áreas dos estudos da linguagem. É a
proposta de Marcos Bagno em Português ou Brasileiro?

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
EM BUSCA DE EXPLICAÇÕES PARA
OS FENÔMENOS SINTÁTICOS

► Para Marcos Bagno:

A). a sintaxe é o estudo da relação que os signos


linguísticos, as palavras, mantêm entre si, em
uma abordagem que, na verdade, está voltada
para os fenômenos morfossintáticos, isto é,
para as relações entre as unidades
significativas (radical e desinências) que
compõem as palavras;

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
EM BUSCA DE EXPLICAÇÕES PARA
OS FENÔMENOS SINTÁTICOS

► Para Marcos Bagno:

B). a semântica é o estudo da relação que os signos


linguísticos mantêm com as coisas que eles designam, com o
mundo real que as palavras representam;

c). a pragmática é o estudo da relação que os usuários da


língua mantêm com os signos linguísticos e da interação entre
os diversos falantes.

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
ARTICULAÇÃO SINTAXE-SEMÂNTICA-PRAGMÁTICA

► Vejamos um exemplo conhecido:

(01) As luzes, por favor.

Se dito em uma palestra, pelo palestrante, no momento de


ligar o projetor, com as luzes acesas, significará um comando
para que as luzes sejam apagadas. Se pronunciado em uma
palestra, pelo palestrante, com as luzes apagadas, significará
um comando para que as luzes sejam acesas.

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
ARTICULAÇÃO SINTAXE-SEMÂNTICA-PRAGMÁTICA

► Assim, usando-se as mesmas palavras, pronunciadas do


mesmo modo e pelo mesmo falante, arranjadas na mesma
sequência no enunciado, se conseguirá dois efeitos
diferentes, opostos. No plano da sintaxe, como estabelecida
pela gramática, não há diferença alguma.

► Para explicar o acontecimento linguístico é preciso recorrer


à organização da frase (Sintaxe) aos sentidos possíveis do
texto (Semântica), à intenção do falante e ao contexto da
enunciação (Pragmática).

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
ARTICULAÇÃO SINTAXE-SEMÂNTICA-PRAGMÁTICA

► Outro exemplo de Marcos Bagno:

(02) Eu prometo que pagarei essa dívida antes de maio.


(03) Ele promete que pagará essa dívida antes de maio.

A análise sintática tradicional definiria que ambas são


períodos compostos por duas orações, uma principal com um
sujeito expresso por um pronome e um verbo, outra
subordinada objetiva direta formada por um verbo transitivo,
um objeto direto e um adjunto adverbial de tempo.

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
ARTICULAÇÃO SINTAXE-SEMÂNTICA-PRAGMÁTICA

► Não haveria nenhuma diferença sintática entre os dois


enunciados. Talvez fossem vistas as diferenças
morfossintáticas (variam o pronome-sujeito: eu/ele e as
terminações verbais: -o,-e/-ei,-á).

► Mas o verbo prometer é performativo, isto é, quando uma


pessoa diz que promete, imediatamente está fazendo uma
promessa, assumindo um compromisso. É o que acontece
com o falante em (02). Em (03), o falante mesmo não está
prometendo nada, não está empenhando seu nome, está
relatando um fato, falando de uma outra promessa.

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
ARTICULAÇÃO SINTAXE-SEMÂNTICA-PRAGMÁTICA

► Um último exemplo retirado de Bagno:

(04) Indiquei o meu jardineiro para o meu chefe.

► Nesse enunciado, a análise sintática dos sintagmas meu


jardineiro e meu chefe não encontra diferenças: ambos são
formados por um possessivo masculino singular e um
substantivo masculino singular. Porém, existe uma grande
diferença de sentido e de intenção quando alguém chama de
'meu' um jardineiro ou um chefe.

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
ARTICULAÇÃO SINTAXE-SEMÂNTICA-PRAGMÁTICA

► Quem chama um jardineiro de 'meu', diz, por


consequência, que tem um jardim em casa, que pode pagar
uma pessoa para cuidar desse jardim, que essa pessoa que
cuida do jardim depende do falante do enunciado. Quem
chama um chefe de 'meu', diz, por consequência, que não é
dono de um negócio próprio, que depende de um salário para
viver, que depende da pessoa que o comanda. Informações
transmitidas pela articulação do possessivo 'meu' com os
significados dos substantivos 'jardineiro' e 'chefe'.

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
Língua Portuguesa III – Prof. Cesar Casella

Uma abordagem
funcionalista da Sintaxe

UnU Goiás – Segundo Semestre de 2013


ANÁLISE FUNCIONALISTA DA ORDEM
SINTÁTICA

► A postura funcionalista – reunindo vários modelos teóricos


que, mesmo diferindo em certos aspectos, têm em comum a
visão de que a estrutura da língua só pode ser compreendida
plenamente em associação com os princípios de interação
verbal – assume a existência de alternativas de ordenação.
Assume, também, que não existe relação de hierarquia entre
estas alternativas, que os diversos padrões possíveis de
arranjo dos componentes são gramaticalmente equivalentes.
Não existe uma ordem primordial, básica, da qual todas as
outras derivam: as diversas construções coexistem.

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
ANÁLISE FUNCIONALISTA DA ORDEM
SINTÁTICA

► A explicação para esta coexistência de variedades é o fato


que os vários arranjos de ordenação cumprem funções
comunicativas diferentes.

► Esse papel discursivo, essa função comunicativa, não é


entendida como valor estilístico e sim como característica
essencial de cada arranjo, de cada padrão de ordenação,
constituindo, portanto, objeto de estudo gramatical.

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
CONSTRUÇÕES APRESENTATIVAS

► Um exemplo (p. 232), é o das chamadas construções


apresentativas. Citando o trabalho de Hetzron, mostra-se
frases (em português, inglês e húngaro, pois o fenômeno é
comum) que 'apresentam', 'introduzem', um novo tópico no
discurso, colocando o termo referente a essa entidade no fim
da sentença:

(01) Veio um homem.


(02) There came a man.
(03) Jött egy ember.

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
CONSTRUÇÕES APRESENTATIVAS

► A concepção de 'apresentação' origina-se em Weil e sua


proposta de dois componentes principais na frase: o ponto de
partida (noção inicial) e a enunciação propriamente dita.

► Várias dicotomias propostas modernamente para explicar a


organização da sentença (tema/rema, tópico/comentário,
dado/novo) tem por base a reflexão de Henri Weil. No modelo
da Gramática Funcional de Simon Dik (Functional Grammar,
1981 e The Theory of Functional Grammar, 1989) essa
reflexão é retomada e desenvolvida.

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
ESTRUTURA DE PREDICAÇÃO E
ARGUMENTAÇÃO

► Segundo o texto (p. 233), para Dik a oração possui uma


estrutura abstrata, subjacente, em que está especificada uma
predicação, isto é, uma estrutura de predicado e os termos
previstos pela sua significação, os seus argumentos. Assim,
os exemplos:

(04) Diadorim entregou o facão para Riobaldo.


(05) O Miguilim eu vi ontem.

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
PREDICAÇÃO E ARGUMENTAÇÃO

► Seriam analisados como:

PREDICADO TERMO TERMO TERMO

entregar Diadorim o facão para Riobaldo

► Note-severque não houve


eu lugar para o termo 'ontem', de (05).
Minguilim
Dik chama de satélites itens como este. Eles não são exigidos
pelo predicado, trazem informações adicionais (características
e localização do estado de coisas descrito; atitude do falante
em relação à mensagem; a natureza do ato de fala).

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
PREDICAÇÃO E ARGUMENTAÇÃO

► Não há nenhuma especificação quanto à ordem em que


esses constituintes aparecem no enunciado, sendo que a
análise apresentada valeria também para construções como:

(06) Entregou Diadorim o facão para Riobaldo.


(07) O facão Diadorim entregou para Riobaldo.
(08) Eu vi o Miguilim ontem.

► A ordem é vista como um mecanismo de expressão


superficial e representa um dos recursos em que se pode
expressar formalmente as relações e as funções que foram
estabelecidas na estrutura frasal subjacente.
Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.
In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
PRINCÍPIOS DE ORDENAÇÃO

► As sequências de constituintes, que efetivamente se


realizam no enunciado, são determinadas pela interação de
uma série de princípios de ordenação.

► “No domínio da sentença, esses princípios dizem respeito,


principalmente, à organização da informação. Ou seja, a
ordenação dos constituintes vai depender de como o falante
avalia a informação de que o seu ouvinte dispõe – aquilo que
ele já conhece e o que é novo para ele – e, a partir disso,
organiza sua fala para provocar alguma mudança nesse
conjunto de informações, fornecendo ao destinatário de sua
mensagem algo de novo” (p. 234).

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
PRINCÍPIOS DE ORDENAÇÃO

► Alguns princípios de ordenação, presentes nas línguas e


que interagem gerando os diferentes padrões de arranjos da
sentença, são:

a). preferência de que constituintes com a mesma


especificação funcional ocupem a mesma posição estrutural;
b). tendência a que, em certas posições da estrutura do
enunciado, ocorram sempre as mesmas categorias
gramaticais e constituintes com função de tópico ou de foco;
c). tendência a organizar a frase, segundo um grau crescente
de complexidade categorial, da esquerda para a direita.

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
ESQUEMA GERAL DE ORDENAÇÃO

► O esquema geral decorrente destas forças de ordenação:

P1 (V) S (V) O (V)

Em que P1 seria uma posição reservada para constituintes de


determinadas categorias, como pronomes relativos e
conjunções subordinativas, ou para constituintes com a
função de tópico. O esquema resguarda a possibilidade de
variação de posição dos verbos, representados pelo V entre
parênteses.

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
A ORDENAÇÃO NO PORTUGUÊS

► A partir do esquema geral volta-se aos exemplos e busca-


se a ordem na língua portuguesa:

(04) Diadorim entregou o facão para Riobaldo.


(08) Eu vi o Miguelim ontem.
(09) O Manuelzão e o Augusto Matraga vieram na festa.

Em que vê-se que o sujeito acumula a função pragmática de


tópico, constituindo este padrão:

P1/S V (O) (X)

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
A ORDENAÇÃO NO PORTUGUÊS

► Nos exemplos:

(05) O Miguilim eu vi ontem.


(07) O facão Diadorim entregou para Riobaldo.

Se vê que dois constituintes aparecem antepostos ao verbo, e


o sujeito é diferente do tópico ou do foco, constituindo outro
padrão:

P1 S V X

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
TÓPICO E FOCO

► A distinção entre tópico e foco se dá pelo contexto. Em:

(10) Quando você viu o Miguilim?


(05) O Miguilim eu vi ontem.
(11) O que Diadorim fez com o facão?
(07) O facão Diadorim entregou para Riobaldo.

Temos o P1 interpretado como tópico, pois ele é a informação


que é requerida e dada. São uma volta ao texto anterior, com
papel coesivo importante.

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
TÓPICO E FOCO

► A distinção entre tópico e foco se dá pelo contexto. Em:

(12) Quem você viu ontem?


(05) O Miguilim eu vi ontem.
(13) O que Diadorim entregou para Riobaldo?
(07) O facão Diadorim entregou para Riobaldo.

Temos o P1 interpretado como foco, pois ele é a informação


mais importante da frase. É uma informação nova, com papel
progressivo importante.

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
A ORDENAÇÃO NO PORTUGUÊS

► E volta-se ainda aos exemplos:

(14) Na festa vieram o Manuelzão e o Augusto Matraga.


(15) Vieram o Manuelzão e o Augusto Matraga na festa.

Em que temos sujeitos pospostos ao verbo. Os padrões


seriam, respectivamente:

P1 V S V S X

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
A ORDENAÇÃO NO PORTUGUÊS

► Estes padrões explicam-se assim:

a). O sujeito não é tópico, nem constitui isoladamente o foco,


a informação mais importante ou saliente, não havendo razão
pragmática para que ele ocupe P1.

b). O sujeito faz parte do bloco que carrega a informação


nova do enunciado, denominado frase-comentário.

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
ATIVIDADE 7

É possível, a depender da base teórica adotada, falar em


topicalização do objeto direto (TOD), um tipo de construção
que possui como característica o deslocamento do objeto
direto à esquerda, sem a retomada clítica no comentário. Via
de regra, o nestes casos sintagma nominal é acompanhado
por um determinante definido:

a). O livro a menina comprou.


b). A bola ele chutou.

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
ATIVIDADE 7

É possível, no português brasileiro, a concordância verbal


com tópicos não-argumentais, isto é, existem sintagmas
prepostos ao verbo que adquirem estatuto de sujeito, levando
o verbo a flexionar-se em concordância:

a). As minhas pernas racharam a pele.


b). Essas casas batem muito sol.

a'). As minhas pernas, rachou a pele.


b'). Essas casas, bate muito sol.

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
ATIVIDADE 7

É possível, a depender da teoria admitida, falar-se em Duplo


sujeito, uma construção em que há o deslocamento de um
sintagma nominal para a esquerda da oração, ocupando o
tópico e, logo após, surgindo um pronome para ocupar a
posição de sujeito da sentença-comentário:

a). Os homens, eles acham que podem tudo.


b). Juliana, ela gosta de comer bastante.

Com base em: BERLINCK, R. A., AUGUSTO, M. R. A. e SCHER, A. P. Sintaxe.


In: MUSSALIM, F. e BENTES, A. C. [orgs.]. Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras (v. 1). São Paulo: Cortez, 2001.
Língua Portuguesa III – Prof. Cesar Casella

As estratégias de
relativização

UnU Goiás – Segundo Semestre de 2013


AS TRÊS ESTRATÉGIAS

► Como se dá o uso dos pronomes relativos quando se tem


um verbo que rege preposição?

► Os falantes do PB têm a sua disposição três estratégias


para a combinação preposição + pronome relativo:

(A) Esse é um filme de que eu gosto muito.


(B) Esse é um filme que eu gosto muito dele.
(C) Esse é um filme Ø que eu gosto muito.

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
AS TRÊS ESTRATÉGIAS

► A estratégia A é a única aceita pela tradição gramatical.


Bagno a chama de relativa padrão.

► A estratégia B é rejeitada pela Gramática Normativa. É


chamada de relativa copiadora pois ela possui um pronome
cópia que causa uma dupla substituição aparente.

► A estratégia C é ignorada pela Gramática Normativa. É


chamada de relativa cortadora pois nela a preposição regida
pelo verbo é suprimida.

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
UTILIZAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001. BAGNO 2004, páginas 95 e 97
A IDADE DE CADA UMA

► A relativa padrão remonta à formação da norma-padrão


clássica, vem do período clássico da língua portuguesa.

► A relativa copiadora remonta à formação das línguas


românicas e ao latim vulgar, vem do período arcaico da língua
portuguesa.

► A relativa cortadora remonta ao período moderno da


língua portuguesa e pode ser constatado também em outras
línguas românicas como o francês canadense.

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
RELATIVA COPIADORA:
HIPÓTESE CIENTÍFICA

► Por qual motivo se utiliza a relativa copiadora?

► O português é uma língua essencialmente analítica e a


oração relativa (ou oração adjetiva, na nomenclatura da GT) é
a expressão de um fenômeno sintético. Assim, temos uma
oposição entre análise e síntese, que vem à tona com a
estratégia copiadora.

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
RELATIVA COPIADORA:
HIPÓTESE CIENTÍFICA

► As orações relativas, em geral, representam uma síntese:

(01) São Paulo é uma cidade rica que tem graves problemas
sociais.

Expressa-se em (01) duas informações diferentes: (a) “São


Paulo é uma cidade rica” e (b) “São Paulo tem graves
problemas sociais”. O que acima realiza dois serviços: é uma
conjunção (liga as duas orações) e é o sujeito do verbo tem.

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
RELATIVA COPIADORA:
HIPÓTESE CIENTÍFICA
► A língua portuguesa, como as outras línguas românicas,
usa processos analíticos de construção sintática (e por isso
temos conjunções, artigos, preposições, etc).

(02) Dedi librum Petri Paulo.


(03) Dei o livro de Pedro a Paulo.

(02') Librum Petri Paulo dedi.


(02'') Paulo Petri librum dedi.
(02''') Petri dedi librum Paulo.

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
RELATIVA COPIADORA:
HIPÓTESE CIENTÍFICA

► As orações relativas (produto de uma síntese) são um


“corpo estranho” no português, analítico. Os falantes, para
eliminar esta estranheza recorrem à quebra do que, isto é,
divide-se as suas duas funções. Na estratégia copiadora, o
pronome relativo fica dispensado da função de sujeito (que
passa a ser ocupada por outro pronome pessoal, que pode
ocupar esta função) e fica com a de conjunção.

(04) São Paulo é uma cidade rica que ela tem graves
problemas sociais.

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
RELATIVA COPIADORA:
HIPÓTESE CIENTÍFICA

► A construção não é mais uma subordinação, passando a


ser uma coordenação. Observe-se que o pronome relativo
pode ser trocado por outras conjunções:

(05) São Paulo é uma cidade rica mas ela tem graves
problemas sociais.
(06) São Paulo é uma cidade rica e ela tem graves problemas
sociais.

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
RELATIVA COPIADORA:
HIPÓTESE CIENTÍFICA

► A estranheza é ainda mais acentuada quando temos em


cena as preposições. Elas ocupam, geralmente, lugares bem
definidos na sintaxe (antes do termo regido: pré – posição),
porém isto não ocorre nas orações relativas padrão, em que
as preposições são deslocadas:

(07) Essa é uma rua de que nunca ouvi falar.

preposição consequente antecedente

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
RELATIVA COPIADORA:
HIPÓTESE CIENTÍFICA

► O falante, respeitando a tendência analítica da língua


portuguesa e respeitando a ordem antecedente – preposição -
consequente, reconfigura a sintaxe valendo-se de um
pronome cópia:

(07) Essa é uma rua que nunca ouvi falar dela.

antecedente preposição consequente

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
RELATIVA CORTADORA:
HIPÓTESE CIENTÍFICA

► As relativas cortadoras são uma opção dos falantes para


se esquivar de: a). parecer pedante ao usar a relativa padrão;
b). parecer ignorante ao usar a relativa copiadora. Para
Bagno a utilização da estratégia cortadora é uma questão de
atitude do falante.

► Outra explicação é de natureza sintática: no português há


amplo uso de categorias vazias e de elipses, isto é, há a
possibilidade de apagamento da preposição.

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
RELATIVA CORTADORA:
HIPÓTESE CIENTÍFICA

► Os verbos que regem preposições e que as mantêm


'soldadas' semanticamente (tais como gostar-de; chegar-a;
chegar-de; falar-de; falar-com; falar-a; etc) permitem, ao
mesmo tempo:

A). que se apague a preposição;


B). que se evite o deslocamento drástico da relativa padrão;
C). que se fuja da relativa copiadora, desprestigiada.

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
RELATIVA CORTADORA:
HIPÓTESE CIENTÍFICA

► Assim, pode-se analisar melhor casos como:

(08) O copo ø que eu bebi.

preposição consequente antecedente

(09) O copo que eu bebi nele.

antecedente preposição consequente

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
RELATIVA CORTADORA:
HIPÓTESE CIENTÍFICA

► Assim, pode-se analisar melhor casos como:

(10) Desconto para as três cidades ø que você mais liga.

preposição consequente antecedente

(11) Desconto para as 3 cidades para as quais você mais liga.

(12) Desconto para as 3 cidades que você mais liga para elas.

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.
AS ESTRATÉGIAS DE RELATIVIZAÇÃO

► Podemos observar ainda outras questões interessantes:

A). O desaparecimento de 'cujo' (páginas 84-86);


B). Exemplos de relativas cortadoras em usos reais de jornais
e revistas (páginas 91-94);
C). A 'vitória' da estratégia cortadora.

Com base em: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São


Paulo: Parábola, 2001.

Você também pode gostar