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AULA ESTRUTURADA – DIREITO EMPRESARIAL

AULA 01

Planejamento

Conteúdo
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA;
INÍCIO DO CONTEÚDO.

Carga Horária: 03 HORAS


Unidades de Ensino
CUIABÁ/MT

Pré-aula

INTRODUÇÃO
O Direito de Empresa cuida da atividade econômica organizada presente no cotidiano
das pessoas, uma vez que, se todos somos consumidores, conforme discurso célebre do
então presidente norte-americano John Kennedy, inegável que existem outros que se
lançam à produção, à distribuição e à comercialização do que consumimos.
Na verdade, há interdependência entre consumidores e fornecedores, não se podendo
deixar de destacar que a atividade empresarial não se restringe aos interesses imediatos
e particularizados de consumidores e fornecedores, mas, em torno de tal atividade,
como fato jurídico relevante, atividade dinâmica, perene e necessária, pais e mães de
família se sustentam, tributos são auferidos, a livre-concorrência se estabelece, os
negócios entre empresários incrementam-se, os produtos tornam-se cada vez mais
eficientes e duráveis, a oferta aproxima-se da demanda, reduzindo a escassez, e
negócios jurídicos se concluem no mundo real e virtual, propiciando, por meio de uma
rede de interesses sobrepostos, trabalho, emprego, renda e cidadania.

A conclusão a que se chega é a de que a empresa corresponde a vetor de interesses


públicos e privados, subclassificação que, às vezes, é meramente teórica e superficial, já
que, como se disse, os interesses sobrepõem-se.

Melhor, então, será identificar a empresa como fato jurídico relevante, direito difuso,
constitucionalmente protegido, nos termos do art. 170 da Constituição Federal (CF).

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho


humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência
digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios:
I - soberania nacional;
II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;
IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
VI - defesa do meio ambiente;
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento
diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de
seus processos de elaboração e prestação;
VII - redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII - busca do pleno emprego;
IX - tratamento favorecido para as empresas brasileiras de capital
nacional de pequeno porte.
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte
constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração
no País.

Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer


atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos
públicos, salvo nos casos previstos em lei.

Com tais considerações, avançaremos nossos estudos, fazendo um breve relato


histórico do direito empresarial/comercial, desde o surgimento do comercio.

AULA
DO SURGIMENTO DO COMÉRCIO
O comércio, como atividade econômica, surgiu muito antes da criação das primeiras
normas de direito comercial.
Os fenícios desenvolveram apuradas técnicas de navegação, o que os levou a fazer do
comércio marítimo sua principal atividade econômica. Entretanto, embora essa
civilização tenha sido a primeira a fazer uso do alfabeto, tendo sido encontrados pelos
pesquisadores muitos registros, as evidências mostram que não havia leis específicas
para as práticas comerciais.

Avançando um pouco na história chegamos à Grécia antiga e, da mesma forma que os


fenícios, os gregos, embora tivessem suas leis escritas, não dispunham de qualquer
legislação específica para os atos de comércio.
No final do século I a.C. e início do século I d.C., o Império Romano viveu sua grande
fase de desenvolvimento comercial, mais ainda era o jus privatorium ou jus civile (direito
civil) que regia essa atividade.

Avançando um pouco mais, chegamos à Europa da Idade Média. Nesse período, o


Direito Canônico se fortaleceu na Europa, impondo as regras de direito comum ditadas
pelos líderes da Igreja.
Paralelamente ao desenvolvimento das cidades, o mercantilismo se tornava uma das
mais importantes atividades econômicas da Europa medieval. Primeiro surgiram as
feiras, que cresceram e deram origem aos mercados, que foram se fixando, dando
origem aos primeiros estabelecimentos comerciais.
Se destaca nesse momento a criação dos primeiros bancos, o surgimento das letras de
câmbio (títulos de crédito), das comendas (sociedades) e dos contratos mercantis
(contrato de seguro).
Esse desenvolvimento tornou evidente a necessidade da aplicação de regras específicas,
pois o Direito Canônico, além de não garantir a ordem e o funcionamento normal das
atividades mercantis, tinha uma concepção estática, que não combinava com as ideias
da burguesia. Dentre outras coisas, a Igreja condenava a cobrança de juros, sob a
alegação de que “o dinheiro é estéril e, portanto, não pode gerar frutos” (os juros).

A solução encontrada pelos comerciantes foi a criação das Corporações de Ofícios e de


Artes, associações que contavam com um sistema de justiça próprio (Tribunal dos
Comerciantes), incumbido de julgar eventuais conflitos envolvendo seus membros.
As corporações eram autônomas relação à nobreza feudal, fazendo com que seus
próprios usos e costumes prevalecessem.

Esse é o marco para o surgimento do Direito Comercial, como o Direito dos


Comerciantes.

Surgimento e Evolução do Direito Comercial

A doutrina aponta três fases evolutivas, cada qual com seu sistema teórico-normativo
bem definido:
• 1a fase: Subjetiva – do Séc. XII ao séc. XVIII;
• 2ª fase: Objetiva – do Séc. XVIII ao séc. XX;
• 3ª fase: Subjetiva moderna - do séc. XX até dias atuais.

Fase Subjetiva
Esse período, que vai do séc. XII ao sec. XVIII, marca o surgimento do Direito Comercial,
como um sistema normativo próprio, (ius mercatorum), aplicável apenas aos membros
das Corporações de Ofício. Aos que não se enquadravam na categoria de comerciante
se aplicavam as normas gerais, ditadas pelo Direito Canônico.
Os usos e costumes foram, sem dúvida, a principal fonte do Direito Comercial nessa
primeira fase.

Fase Objetiva
No Séc. XVIII, quando os Estados Nacionais Monárquicos chamaram para si o monopólio
da jurisdição, os Tribunais de Comércio perderam seu caráter corporativo, passando a
ser atribuição do Estado a solução dos conflitos.
A era de Napoleão Bonaparte foi marcada pela criação de importantes leis, dentre elas
o Código Civil Francês de 1804 e o Código Comercial Francês de 1808, que adotou a
teoria dos atos de comércio, que ganhou essa denominação porque definia a aplicação
do direito comercial em função do objeto da relação jurídica - o ato de comércio.
Quase todos os Códigos Comerciais editados no século XIX, dentre eles o Código
Comercial brasileiro de 1850, adotaram a teoria dos atos de comércio.
Fase Subjetiva Moderna
O Código Civil italiano de 1942 adotou a teoria da empresa que, mais abrangente que a
anterior, conseguiu dar o adequado tratamento jurídico às atividades que e não se
enquadravam no conceito de ato de comércio.
Essa fase é denominada subjetiva moderna porque define a aplicabilidade da normas
em função do sujeito da atividade econômica organizada (não importando a natureza
dessa atividade): O empresário

Um aspecto interessante do Código italiano foi a unificação formal do direito privado,


ao apresentar, em uma única lei, a disciplina das relações civis e comerciais.

A grande importância do Código Civil italiano e da adoção da teoria da empresa foi fazer
com que o direito comercial deixasse de ser visto como o direito dos comerciantes, como
ocorria no período subjetivo das Corporações de Ofício, ou o direito dos atos de
comércio, como era visto no período objetivo do Código Napoleônico, para ser o direito
da empresa, bem mais abrangente.

A Teoria da Empresa
O jurista italiano Alberto Asquini, após estudar o Código Italiano de 1942, publicou um
estudo denominado “Perfis da empresa”, no qual analisa a empresa como um negócio
econômico que surge da organização dos fatores de produção.
Ao transportar esse fenômeno econômico para o mundo jurídico, Asquini observa que
a empresa pode se apresentar em quatro perfis. Por essa razão, sua teoria ficou
conhecida como “teoria poliédrica” (o termo poliedro vem do latim poli (muitos) + edro
(face) = muitas faces).

Os quatro perfis da empresa apresentados por Asquini são:

1 - Perfil Objetivo
Sob esse ponto de vista, a empresa é patrimônio e, por isso, é também conhecido como
perfil patrimonial. Neste sentido, ouvimos as pessoas falarem: “a empresa está
pegando fogo!” ou “a empresa está fechada”.
O que Asquini chamou de perfil objetivo da empresa corresponde, no atual direito
empresarial brasileiro ao estabelecimento, na definição do art. 1.142 do Código Civil:

Art. 1.142. Considera-se estabelecimento todo complexo de bens


organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade
empresária.

2 - Perfil Subjetivo
Nesse sentido, empresa é o sujeito dotado de capacidade de adquirir direitos e
contrair obrigações. Podemos ver um exemplo do emprego do perfil subjetivo quando
alguém fala que “a empresa faliu”.
O que Asquini denominou perfil subjetivo da empresa corresponde, no direito
empresarial brasileiro atual, ao conceito de empresário, definido no art. 966 do Código
Civil Brasileiro.
3 - Perfil Funcional ou Dinâmico
Por esse perfil a empresa se confunde com a atividade econômica que objetiva o lucro,
a que Asquini denominava “força em movimento (...) dirigida para um determinado
escopo produtivo”.
Para atingir o fim lucrativo, é necessária a organização de diversos fatores de produção
ou circulação (capital, trabalho, matéria prima e tecnologia) que indicam o perfil
dinâmico da empresa.
Na linguagem do dia-a-dia, percebe-se o emprego do perfil funcional ou dinâmico
quando alguém diz que “a sociedade optou por continuar a empresa”. Assim, a empresa
é vista como a atividade econômica.

4 - Perfil Corporativo
Sob esse ponto de vista a empresa é entendida como uma espécie de família, formada
pelo empresário, empregados e colaboradores, todos trabalhando para o atingimento
do objetivo comum, que é o resultado útil e produtivo.
Pela teoria de Asquini, “o empresário e os seus colaboradores dirigentes, funcionários,
operários, não são de fato, simplesmente, uma pluralidade de pessoas ligadas entre si
por uma soma de relações individuais de trabalho, com fim individual, mas formam um
núcleo social organizado, em função de um fim econômico comum, no qual se fundem
os fins individuais do empresário e dos singulares colaboradores: a obtenção do melhor
resultado econômico na produção”.
Alguns autores alertam para o fato de o perfil corporativo estar ultrapassado, por se
identificar com a ideologia fascista, que predominava na Itália, em 1943.

Obs.: na atualidade o termo empresa designa, a princípio, a atividade econômica que


engloba um pouco de cada um dos perfis mencionados por Asquini.

O DIREITO COMERCIAL NO BRASIL


Durante o período colonial todas as relações jurídicas que aqui se desenvolviam eram
baseadas nas Ordenações Portuguesas que, por sua vez, foram influenciadas pelos
Direitos Romano e Canônico.
A vinda da família real, fugindo da invasão das tropas de Napoleão, foi um marco para a
elaboração de um sistema legislativo direcionado à economia. Em 1808 foi publicada a
Lei de Abertura dos Portos, que impulsionou a abertura para o comércio, e o Alvará de
12 de outubro de 1808, que criou o Banco do Brasil e as Juntas de Comércio, de
Agricultura, das Fábricas e Navegações.
Em 1822, quando a Independência foi proclamada, o Brasil ainda não tinha seu próprio
ordenamento jurídico, obviamente. Ficou então decidido que as leis portuguesas
continuariam a vigorar, podendo ser invocadas leis mercantis “de países cristãos com
boa jurisprudência”.
Nesse momento, as fontes legislativas do ordenamento jurídico brasileiro foram o
Código Comercial francês de 1807, o Código Comercial espanhol de 1829 e o Código
Comercial português de 1833. Todos esses adotavam a teoria francesa dos atos de
comércio.
O CÓDIGO COMERCIAL BRASILEIRO DE 1850
O Projeto do Código de Comércio foi elaborado em 1834, mas somente após dezesseis
anos de tramitação foi sancionada a Lei 556 – Código Comercial Brasileiro,
regulamentada pelo Decreto 737, de 1850.
Influenciado pelo direito francês, o Código Comercial brasileiro adotou a teoria dos atos
de comercio, como comprova seu art. 4º:

Art. 4º Ninguém é reputado comerciante para efeito de gozar da proteção


que este Código liberaliza em favor do comércio, sem que se tenha
matriculado em algum dos Tribunais do Comércio do Império, e faça da
mercancia profissão habitual (artigo n. 9).

Como é sabido, com a vigência do Código Civil de 2002, revogou-se a primeira parte do
Código Comercial de 1850 (a maior e principal parte). A partir disso, o Direito
Empresarial deixou de ter como fonte principal o Código Comercial, passando a ser
regulado pelo Código Civil.

Em razão disso, o Código Civil de 2002 adotou a teoria da empresa em detrimento da


teoria dos atos de comércio, conforme seu art. 966. Logo, a partir da vigência do Código
Civil de 2002, o Direito Empresarial passou a ter como disciplina qualquer atividade
profissional econômica e organizada para a produção ou a circulação de bens ou de
serviços, exceto as atividades intelectuais.

AUTONOMIA, IMPORTÂNCIA E CONCEITO DO DIREITO EMPRESARIAL


Embora o novo Código Civil tenha disciplinado normas de direito empresarial (unificação
formal), ainda sobrevive a autonomia científica do direito empresarial. E o argumento,
invencível, em favor da autonomia é a ética do empresário, o qual atua movido pelo
individualismo e pela onerosidade presumidos em suas relações empresariais. Ao
contrário do direito civil moderno, pautado pela boa-fé objetiva, o direito empresarial
disciplinado pelo Código Civil não ignora a ética empresarial, tanto que exclui certas
atividades profissionais do conceito de empresa, além de proibir alguns agentes públicos
de exercerem a mercancia.
Fábio Ulhoa Coelho, entre outros, rememora que a autonomia do direito empresarial,
ainda que referido como direito comercial, deriva de sua inscrição como sub-ramo
categoricamente enumerado como competência legislativa privativa da União (art. 22,
inc. I).

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo,
aeronáutico, espacial e do trabalho;

PRINCÍPIOS DO DIREITO EMPRESARIAL


• Princípio da função social da empresa
A função social da empresa busca assegurar ainda a utilização dos bens de produção
segundo sua função social, de modo que deverá haver, sob pena de violação a esse
princípio, responsabilidade social na atividade empresarial.

• Princípio da Preservação da empresa


A conservação da empresa embasa-se na importância da continuidade das atividades de
produção de riquezas pela circulação de bens ou prestação de serviços como um valor
a ser protegido, e reconhece os efeitos negativos da extinção de uma atividade
empresarial, que acarreta prejuízos não só aos investidores, como a toda a sociedade.
Preservar a empresa significa resguardar os mercados de fatores de produção e de
consumo do local, da região, do estado e do país em que ela se encontra.

• Princípio da Livre-iniciativa
Trata-se de um princípio fundamental previsto pela Constituição da República de 1988,
no art. 1º, inc. IV, dotado de eficácia positiva e negativa, como toda norma
constitucional.
Referido princípio é considerado fundamento da ordem econômica, conferindo à
iniciativa privada o papel de protagonista na produção ou circulação de bens e serviços.
Não reduz seu alcance apenas às empresas, senão também às indústrias e aos contratos
em geral.

• Princípio da Livre-concorrência
O princípio da livre-concorrência, introduzido na ordem constitucional pela carta de
1988, preceitua que todos podem livremente concorrer, com lealdade, no mercado,
visando à produção, à circulação e ao consumo de bens e serviços.
Visa a impedir que o poder econômico domine o mercado, que a avalanche capitalista,
impulsionada pelo lucro, concentre o poder econômico de maneira antissocial e, pois,
abusiva. Com efeito, esse princípio ultima por exigir do Estado uma atitude proativa no
mercado para coibir excessos por meio de tratamento desigual aos desiguais, na medida
em que se desigualam, porquanto um tratamento uniforme, por exemplo, a empresas
de grande e de pequeno porte, ocasionará concorrência desleal.

• Princípio da boa-fé objetiva


Impõe ao empresário e à sociedade empresária o dever de “buscar a realização de seus
interesses na exploração da atividade empresarial cumprindo rigorosamente a lei e
adotando constante postura proba, leal, conciliatória e colaborativa”.

FONTES DO DIREITO EMPRESARIAL


De acordo com os ensinamentos de Rubensd Requião, fontes do direito comercial são
as formas pelas quais surgem as normas jurídicas. Essa fontes são divididas em
diretas/primárias e indiretas/secundárias.
Como fonte diretas/primarias, temos as leis, dentre elas o Código Civil de 2002. Além
disso existem as leis autônomas de cunho comercial, como por exemplo a Lei de
Sociedade Anônima (Lei 6.404/76); Lei de Registro de Empresa (Lei 8934/94), Codigo de
Defesa do Consumidor, dentre outras.
As fontes indiretas/secundarias, por sua vez, são a analogia, costumes e os princípios
gerais de direito. Eles servem para complementar o sistema normativo mercantil
quando existem lacunas legislativas.

DO EMPRESÁRIO
O empresário caracteriza-se como o empreendedor que, individualmente, predispõe-se
a exercer a atividade empresarial. O risco de tal escolha se apresentará patente em caso
de insucesso do empreendimento, hipótese em que o patrimônio particular do
empreendedor também responderá pelo passivo a descoberto da atividade empresarial.
Em outras palavras, em relação aos credores do empreendimento, o empresário não
poderá invocar o princípio da separação patrimonial.
O regime jurídico do empresário foi estabelecido no Código Civil entre seus arts. 966-
980.

Pós-aula
CRONOGRAMA DE ATIVIDADES DA DISCIPLINA:
23/02/2022 - AULA 02 – DA EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA E
DAS SOCIEDADES

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