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Morreram quase metade das colmeias nos Estados Unidos ao longo do último ano e
em boa parte da Europa a situação também é preocupante. Mas por cá há cada vez
mais abelhas, apesar das múltiplas ameaças
“Se as abelhas desaparecem, o Homem sobreviverá apenas mais quatro anos”. Esta
citação atribuída a Albert Einstein está cada vez mais presente na cabeça dos
apicultores norte-americanos, que no último ano voltaram a sofrer uma perda massiva
de colmeias, desta vez na ordem dos 44%, bem acima do valor considerado aceitável
nos Estados Unidos (até 20%).
“O efetivo nacional passou de 566 mil colónias de abelhas em 2013 para 619 mil em
2015”, adianta à VISÃO Manuel Gonçalves. O presidente da Federação Nacional de
Apicultores de Portugal destaca a importância dos mais de 50 milhões de euros
investidos no setor através de apoios comunitários, o que impulsionou “a chegada à
atividade de um grande número de jovens apicultores”.
Por norma, o número de abelhas diminui no inverno e é reposto até ao verão, quando
o bom tempo traz mais alimento e a reprodução dispara. O drama nos Estados Unidos
é que, no último ano, a taxa de mortalidade na estação mais quente foi idêntica à da
estação mais fria.
Por cá, Manuel Gonçalves nota “uma maior dificuldade para repor as baixas” ocorridas
durante o inverno, mas garante que os dados da Comissão Europeia para Portugal
(taxa de moralidade de 18,1% em 2012-13 e de 9% em 2013-14) “estão em linha com a
perceção dos apicultores no terreno”. Ou seja: há anos mais problemáticos do que
outros devido à complexidade que envolve a manutenção de uma colmeia.
Outro foco de ameaça é a Vespa velutina (ou asiática), que desde 2012 se instalou no
norte litoral do país e ataca as abelhas. O combate a esta espécie predadora requer
muitas vezes intervenção especializada (para aniquilar os seus ninhos), o que levou a
Assembleia da República a aprovar, na semana passada, uma campanha de informação
sobre o que fazer quando se detetar um ninho. “Se algum dia esta vespa estiver
presente em todo o país, pode causar prejuízos de 5 milhões de euros no setor
apícola”, alerta Manuel Gonçalves.
Já em relação aos pesticidas, “embora presentes”, como assinala Paulo Russo, as suas
implicações na morte das abelhas “não estão quantificadas” em Portugal. E
entretanto, acrescenta António Murilhas, “surgem novos atores em cena, como o
fungo Nosema ceranae”, já identificado em várias colmeias dizimadas nos Estados
Unidos e na Europa e que os cientistas suspeitam ter um efeito devastador quando
interage com outro agente. Qual? Ninguém sabe ao certo.
Menos dúvidas oferecem as consequências de uma quebra acentuada da quantidade
de abelhas no mundo. Sem a polinização pela qual são responsáveis, frutos como a
cereja, o melão, a maçã ou o pêssego ficariam em causa, assim como muitos legumes,
casos do nabo ou da abóbora. As plantas polinizadas pelas abelhas também poderiam
desaparecer e, por conseguinte, os animais que delas se alimentam, interferindo assim
em toda a cadeira alimentar. Daí a suposta declaração fatalista de Einstein sobre o
futuro da Humanidade sem abelhas – suposta porque, na mesma medida em que não
existem evidências irrefutáveis dos motivos que levam ao colapso das colmeias,
também não há provas concretas de que o prémio Nobel da física em 1921 tenha
algum dia realizado tal profecia.