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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO - FACED


CURSO DE JORNALISMO

JANAINA ROSA BERNARDINO - 12011JOR044


MARIA EDUARDA KOYAMA DE MORAES -12011JOR055
MARIA EDUARDA MARRAMA LUQUES PEREIRA - 12011JOR001

Trabalho final apresentado como


exigência parcial para aprovação na
disciplina Ciência Política, do curso de
Jornalismo da Universidade Federal de
Uberlândia

Uberlândia - 2021
O filósofo Nicolau Maquiavel, na obra ‘O Príncipe', discorre sobre dois conceitos, que
são norteadores para inúmeras situações na contemporaneidade e que são significativas no
mundo político: a Fortuna e Virtú. A relação entre ambas é inerente à conquista e à
preservação de poder. Em linhas gerais, a Fortuna trata-se do acaso, “sorte”, aquilo que pode
ocorrer ou não, o que está fora do nosso controle, algo inesperado e imprevisível. Já a Virtú,
trata-se da capacidade que se tem de governar algo, por exemplo. Ou seja, tudo aquilo que
tem ações maduras, atentas e eficazes perante a conflitos do cotidiano, em uma grande
tentativa de colocar ordem no mundo. É centralizar as demandas do povo, e dissociar
opiniões e demandas pessoais.

Para que um sujeito se mantenha no governo esbanjando plenitude, ele deve saber se
adaptar a situações, ou seja, a realidade concreta. Portanto, ainda que haja falhas, seus
seguidores lhe devotam confiança por sua administração real e estratégias que sobrepõem as
dificuldades impostas pela imprevisibilidade. Para Maquiavel, nós enquanto seres humanos,
temos nossas ações governadas por esses dois conceitos. Dessa forma, ao analisar o governo
Bolsonaro, apresentaremos duas matérias que denotam o paradoxo da Fortuna e a Virtú do,
até então, presidente do Brasil.

O presidente Jair Bolsonaro é uma figura polêmica e por muitas vezes problemática.
São inúmeras reportagens e acontecimentos que vinculam a atual gestão ao caos que está o
Brasil hoje. Diariamente a seguinte pergunta paira na sociedade: ‘Como um presidente desse
foi eleito?’, fazendo jus ao bordão que circula entre os quatro cantos do Brasil de que
brasileiro não sabe votar. Para além disso, quais foram as ferramentas que levaram então,
Bolsonaro à presidência?

No dia 6 de Setembro de 2018, até então um dos candidatos à presidência, Jair


Bolsonaro sofreu um atentado durante um comício que promovia sua campanha eleitoral para
presidência do Brasil, tal fato impossibilitou que o deputado federal comparecesse aos
debates, que é de praxe em cenário de eleições. Ao analisar a reportagem “Foi a facada que
elegeu o capitão?”, escrita pelo colunista Ricardo Noblat, publicada no portal de Notícias
Veja, a utilizaremos como objeto de estudo para salientar que o atentado sofrido por
Bolsonaro, foi a Fortuna de sua posse. Ele, que não tinha nenhum partido como aliado,
ganhou certa vantagem, já que o acontecido lhe deu uma visibilidade midiática que ele jamais
teria e, consequentemente, sua campanha soube explorar a comoção gerada, além de ser uma
aposta arbitrária e de embargo ao PT. Conquista e manutenção de poder, no caso de
Bolsonaro, não foi por sua virtude, mas, sim, pelo acaso ou melhor, como salienta Maquiavel,
pela Fortuna. A facada fez com que Bolsonaro fosse visto como uma vítima, o que
modificou o modo como os demais o visualizaram. Tornou-se então, o fiel representante da
nação e da família tradicional brasileira, premissas que chamam a atenção da audiência:
salvador do país, alguém que tem coragem de se arriscar por um bem maior. O mito como
muitos se referem a ele. Com posicionamentos políticos ordinários, Bolsonaro para além da
facada foi eleito com um discurso baseado na exclusão, na democracia customizada para
poucos.

Outro conceito desenvolvido por Maquiavel, é a Virtú. Embora a palavra tenha sido
traduzida para “virtude”, ela não remete às conhecidas virtudes cristãs e tradicionais de
moralismo e senso comum presentes no imaginário popular, mas sim à conceitos de firmeza,
senso de oportunidade e virilidade; para Maquiavel, o governante deve ser adaptável e sábio,
devendo tomar decisões baseadas na necessidades do contexto e nas circunstâncias
apresentadas. Assim, em teoria, ele deve saber que nem sempre a justiça ou o “bem” serão a
resposta correta, e deve também estar preparado para lidar com os chamados “lobos” -
pessoas, geralmente interesseiras, que se não administradas podem enfraquecer quem está no
poder.
Para o autor, é imprescindível que o governante possua tanto a Fortuna, quanto a
Virtú para obter sucesso e estabilidade em sua gestão, pois embora seja necessária a
existência da sorte e oportunidade, é preciso também as habilidades de manter um mandato.
A reportagem “Bolsonaro Derrete” feita por Henrique Rodrigues para a Revista Fórum,
expõe com dados a clara decadência do governo do atual presidente da república, de forma
que, em seu primeiro mandato, Jair Messias apresenta uma forte rejeição da população
brasileira: segundo pesquisas, apenas 22% dos brasileiros consideram sua gestão ótima ou
boa, enquanto o índice de reprovação atingiu 53%, um recorde bem negativo.
Um dos motivos para esses números são os vários problemas econômicos e sociais
causados por seu governo, como os altos índices de inflação, o aumento significativo do
desemprego e o crescimento notório da pobreza e miséria do país - que colocou o Brasil de
volta no mapa da fome. Várias atitudes tomadas pelo presidente durante seu mandato nos
trouxeram para a crise que o país enfrenta atualmente, demonstrando que ele não possui a
virtú, na medida em que apresenta uma compreensão nula das nuances governamentais e da
capacidade de gestão das problemáticas brasileiras. Em momentos de imprevisibilidade, seu
comportamento no geral piora a situação.
Além disso, outro problema do governo de Jair Bolsonaro são suas falas. Tendo um
discurso extremamente autoritário, segregador e falacioso, o presidente continua destilando
pensamentos contraproducentes e inconstitucionais, de forma a afastar até mesmo seus
apoiadores. O fato é que uma das principais características do conceito de virtú é a
priorização das necessidades e interesses da nação acima de praticamente tudo, inclusive de
questões e opiniões pessoais, o oposto das ações de nosso atual Presidente da República, que
é conhecido por expor constantemente suas individualidades e ideologias unilaterais,
governando para um grupo seleto de apoiadores e tendo atitudes que prejudicam a imagem
nacional como um todo.
Enfim, para Maquiavel, sem virtú, é impossível se obter uma gestão eficaz que
garanta adequadamente o funcionamento da sociedade e uma estabilidade sem oposição. E
esse conceito claramente está representado no cenário atual, em que o Brasil está um caos e
há uma forte rejeição à figura de Jair, graças a sua falta de “virtudes”.
Assim, é possível afirmar que Bolsonaro foi beneficiado com muita Fortuna. O
sentimento antipetista e o acontecimento da facada durante o período eleitoral foi
extremamente benéfico a ele, pois possibilitou que ele faltasse aos debates que poderiam
demonstrar sua falta de virtudes - o que, por sua vez, propiciou sua vitória nas urnas. Porém,
apenas a sorte não é suficiente para manter, realmente, um governo longo, estável e próspero:
de nada adiantará o excesso de fortuna sem a virtú, pois um governante despreparado não
saberá utilizar a sorte (fortuna) a seu favor, estando fadado ao fracasso eventualmente.
E Bolsonaro, evidentemente, como mostra no texto “Bolsonaro Derrete”, está fadado
ao fracasso e rejeição da população graças a total falta de virtú.

REFERÊNCIAS

VEJA. Foi a facada que elegeu o capitão? Disponível em:


https://veja.abril.com.br/blog/noblat/foi-a-facada-que-elegeu-o-capitao/. Acesso em: 1 nov.
2021.
REVISTA FÓRUM. Bolsonaro derrete: apenas 22% consideram governo ótimo
ou bom, diz Datafolha. Disponível em: https://revistaforum.com.br/politica/bolsonaro-
derrete-22-governo-otimo-ou-bom/. Acesso em: 1 nov. 2021.

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