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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

Curso de Engenharia Civil

HIDROLOGIA

Capítulo 8a – Água no solo

1
Introdução
• Solo actua como reservatório de regulação da água
que precipita.
– Reduz o caudal que drena superficialmente.
– Atrasa a descida da água que nele penetra.
– Controla a alimentação do aquífero.
• Solo inclui partículas sólidas, água e ar; fases sólida
e líquida são consideradas incompressíveis.
Partícula de solo

Ar
Água 2
2
Classificação de solos
• Diversas classificações: ISSS – International Soil
Science Society, USDA – US Department of
Agriculture, BS – British Standards, LNEC –
Laboratório Nacional de Engenharia Civil, ASTM –
American Society of Testing Materials.
• USDA é a mais apropriada para utilização em
hidrologia.
• Classificação baseia-se sobretudo no tamanho das
partículas.

3
Classificação da USDA

3
2

5 6
4

8
9
7
11 12
10

4
Classificação da USDA
Zona Designação USDA Designação
1 Clay Argiloso
2 Sandy Clay Argilo-arenoso
3 Silty Clay Argilo-siltoso
4 Sandy Clay Loam Franco-argiloso-arenoso
5 Clay Loam Franco-argiloso
6 Silty Clay Loam Franco-argiloso-siltoso
7 Sandy Loam Franco-arenoso
8 Loam Franco
9 Silt Loam Franco-siltoso
10 Sand Arenoso
11 Loamy Sand Arenoso-franco
12 Silt Siltoso
5
Classificação do LNEC

B C

D E

G H
F I

6
Classificação do LNEC
Zona Designação
A Argila
B Argila arenosa
C Argila siltosa
D Areia argilosa
E Silte argiloso
F Areia
G Areia siltosa
H Silte arenoso
I Silte

7
Quantidade de água no solo
Va Ar Ma  0

Vf
Vw Água Mw

Vt Mt

Vs Sólidos Ms

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Definições relacionadas
Vw
• Teor (volúmico) de humidade do solo 
Vf Vt
• Porosidade de um solo n
Vw Vt
• Grau de saturação S 
Vf

• Verifica-se então que   nS


• Grau de saturação varia entre 0 e 1, teor de
humidade varia entre 0 e n.
• Teor mássico de humidade w = Mw / Ms
9
Definições relacionadas
d  t  d w
n  1  w
s w d

ρd – massa volúmica do solo seco


ρs – massa volúmica dos sólidos do solo
ρt – massa volúmica do solo
ρw – massa volúmica da água

10
Definições relacionadas
• Capacidade de campo θcc – teor de humidade
residual de um solo inicialmente saturado que se
deixou drenar livremente durante 2-3 dias.
• Água permanece retida por efeito da capilaridade e
da adsorção.
• Ponto de emurchecimento permanente θep – teor de
humidade abaixo do qual as plantas já não
conseguem retirar água do solo e murcham, não
conseguindo recuperar mesmo depois de colocadas
numa atmosfera saturada.
• Valores típicos de sucção das plantas: 0,33 atm para
θcc e 15 atm para θep 11
Água utilizável pelas plantas
• Total de água utilizável pelas plantas varia entre a
capacidade de campo e o ponto de emurchecimento.
• Perto do ponto de emurchecimento, plantas já estão
em stress, rendimento cultural baixa muito.
• Considera-se que apenas 0,5 (θcc – θep) pode ser
utilizada vantajosamente pelas plantas.
• Profundidade do solo a considerar depende do tipo
de vegetação (raízes): 0,5 m – plantas herbáceas
anuais; 2.5 m – árvores de grande porte.

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Água utilizável em função da classe
textural
Designação n=s  cc  ep  r  cc- ep
Arenoso 0,437 0,091 0,033 0,020 0,058
Arenoso-franco 0,437 0,125 0,055 0,036 0,070
Franco-arenoso 0,453 0,207 0,095 0,041 0,112
Franco-argiloso-arenoso 0,398 0,255 0,148 0,068 0,107
Franco 0,463 0,270 0,117 0,029 0,153
Siltoso 0,490 0,293 0,083 0,015 0,210
Franco-argiloso 0,464 0,318 0,197 0,155 0,121
Franco-siltoso 0,501 0,330 0,133 0,015 0,197
Argilo-arenoso 0,430 0,339 0,239 0,109 0,100
Franco-argiloso-siltoso 0,471 0,366 0,208 0,039 0,158
Argilo-siltoso 0,479 0,387 0,250 0,056 0,137
Argiloso 0,475 0,396 0,272 0,090 0,124

13
Tensão superficial e capilaridade
• Fluidos no solo: água e ar – na superfície de
separação, moléculas são atraídas de forma
diferente pelas vizinhas de cada um dos fluidos
• Superfície interfacial depende das pressões de um
lado e do outro da superfície
• Diferença de pressões equilibradas por tensões
tangenciais (tensões superficiais, σ), resultantes
iguais

14
Tensão superficial e capilaridade



p

Calote esférica de raio R e eixo vertical


15
Tensão superficial e capilaridade
• Em condições de equilíbrio, R = 2σ/Δp, R – raio da
calote
• Tensão superficial da água em contacto com o ar =
0,072 N/m à temperatura de 20 ºC
• Tubo cilíndrico de raio r, pequeno, com
extremidades abertas, mergulhado numa tina com
água
– Perímetro do bordo do calote = 2π r
– Água sobe se material do tubo tiver maior adesão à água
(água molha o tubo) ou desce se material tiver maior
adesão ao ar (água não molha o tubo)
16
Tensão superficial e capilaridade
r 

hc

17
Tensão superficial e capilaridade
• Pressão no eixo do tubo logo abaixo da superfície
interfacial = pa – γw hc
• Como Δp = pa – (pa – γw hc) = γw hc, R cos α = r,
obtém-se 2  cos ()
hc 
w r
• α – ângulo de contacto, hc – altura capilar
• Para o vidro, α = 0 º

18
Tensão superficial e capilaridade

hfc
hfc

a) Diâmetros iguais b) Diâmetros diferentes

19
Tensão superficial e capilaridade
• Superfície freática – lugar geométrico dos pontos
onde a água num solo saturado se encontra à
pressão atmosférica
• Água em repouso – superfície freática horizontal
• Franja capilar – camada de solo saturado acima da
superfície freática por efeito da capilaridade
• Teor de humidade de saturação de areia inferior ao
da argila, idem para a franja capilar

20
Teor de humidade na franja capilar
z
areia

argila

hfc
hfc
s areia s argila 

21
Potencial hidráulico
• Água no solo – energia cinética é desprezável,
considera-se apenas a energia potencial
• Água desloca-se das zonas de maior para as de
menor energia potencial
• Energia potencial gravítica Hg = z (por unidade de
peso)
• Energia potencial de pressão Hp = ψ = p/γ (por
unidade de peso); pressão positiva abaixo da
superfície freática, negativa acima dela
22
Potencial hidráulico
• Potencial de pressão acima da superfície freática
depende da textura do solo e disposição das
partículas – potencial matricial
• Sucção: designação de – p ou de – ψ
• Potencial hidráulico H = energia potencial total
• H=z+ψ
• Tomando para referência a cota da superfície
freática e a pressão atmosférica, tem-se em
qualquer ponto do solo saturado, incluindo a franja
capilar, ψ = - z
23
Pressão de água no solo
Superfície do solo


a
Superfície freática

b

24
Relação entre o teor de humidade e a
sucção

z = -

e sw (Tw )
z max  10,33 
w

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Capacidade de campo e ponto de
emurchecimento permanente
• Capacidade de campo – teor de humidade que
corresponde a uma sucção de 0,33 atm
• Ponto de emurchecimento permanente - teor de
humidade que corresponde a uma sucção de 15 atm
• Sucção correspondente ao ponto de
emurchecimento permanente não é atingível por
capilaridade, apenas por adsorção e adesão
molecular

26
Lei de Darcy
• Lei de Darcy para o escoamento em meio poroso,
saturado, homogéneo e isotrópico

V  K s grad (H)
• Ks – coeficiente de permeabilidade ou condutividade
hidráulica do solo saturado
• Generalização da lei de Darcy a meios porosos
insaturados: K = K(ψ)

27
Condutividade hidráulica de solos
saturados (cm/h) (Rawls et al. 1993)

0.005
0.01

0.05

0.2 0.1
0.4

1.0 0.6

10 5.0 2.0
20

28
Relação entre a condutividade
hidráulica e a sucção

-1
-2 L

29
Relação entre a condutividade
hidráulica e a sucção
• Condutividade hidráulica K = v L / (ψ1 – ψ2), sendo v
a velocidade aparente do escoamento; K varia com
a sucção K ()

Solo argiloso

Solo arenoso

- 30
Curvas de condutividade hidráulica
A
• Haverkamp et al. (1977) K  Ks B
A 
• A, B – parâmetros de ajustamento
• Ks pode ser obtido da figura de Rawls ou pela
fórmula de Kozeny-Carmen

K s  1058 ( s   cc ) 4

31
Infiltração
• Infiltração – entrada de água no solo a partir da sua
superfície.
• Intensidade de infiltração – caudal que entra por
unidade de área da superfície do solo (LT-1).
• Infiltração acumulada – volume que entrou no solo
durante um certo intervalo de tempo (L).
• Factores que influenciam a infiltração:
– Disponibilidade de água à superfície.
– Características do solo (textura grosseira ou fina).
– Teor de humidade do solo.
32
Infiltração
• Capacidade de infiltração - infiltração que ocorre
quando à superfície do solo se dispõe e se mantém
ao longo do tempo uma fina película de água, à
pressão atmosférica (Ψ = 0).
• Nessa situação, temos intensidade de infiltração à
capacidade do solo e infiltração acumulada à
capacidade do solo.
• Quanto mais seco estiver o solo, maior será a
capacidade de infiltração.

33
Perfis de humidade para infiltração à
capacidade dos solos

34
Frente de humedecimento
• Frente de humedecimento – região do solo onde
num dado instante o teor de humidade começa a
aumentar e a água dessa região começa a deslocar-
se para baixo.
• Velocidade de deslocamento da frente de
humedecimento vai diminuindo com o tempo.

35
Curvas de capacidade de infiltração

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Modelos de infiltração
Modelo f F tp te

fc  f0  fc 
F  fct  te  ln 

k p  p  fc 
Horton
f  f c  (f o  f c )e  kt f f

 0 c 1  e  kt
k
) tp 
1  f0  fc
ln
k  p  f c



 
f0  p
kp

2
1  2 

1 1 tp   S  4 K s P  S ( 2p  K s ) S 2
Philip f
1
St 2  Ks F  Ks t St 2 4K s2   te 
2 4p ( p  K s ) 2

1 1
Kostiako  1  (1  )P  1 
f   t  F t tp   te 
1
 
v 1   1   p 
  

37
Modelo de Horton
• Parâmetros f0, fc, k
• f0 – intensidade de infiltração inicial à capacidade do
solo.
• fc – intensidade de infiltração ao fim de um tempo
longo = condutividade hidráulica ou permeabilidade
do solo saturado.
• k – factor de escala temporal.

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Valores de fc = Ks
Grupo de Características do solo fc (mm/h)
solos
A Areias profundas, loesses profundos, solos 8-12
agregados com matéria orgânica
Loesses pouco profundos e solos franco-
B arenosos 4-8

Solos francos-argilosos, franco-arenosos pouco


C profundos, solos com baixo teor em matéria 1-4
orgânica, solos com elevado teor de argila

Solos com grande percentagem de matérias


D expansíveis, argilas plásticas pesadas, alguns 0-1
solos salinos
39
Redistribuição de água no solo
• Água infiltrada em excesso em relação à capacidade
de campo continua a descer no solo.
• Quando pára a infiltração, a camada próxima da
superfície tende rapidamente para a capacidade de
campo.
• A frente de humedecimento continua a descer no
solo.
• Se nível freático estiver muito baixo, a camada
superior do solo fica à capacidade de campo e não
há recarga do aquífero.
40
Redistribuição de água no solo
0

-50

t = 900 s
z (cm)

-100
2700

-150

-200
0,0 0,1 0,2 0,3
 (-)
41
Redistribuição de água no solo

42
Medição do teor de humidade
• Importante para a agricultura
• Medição por secagem (várias amostras)
– pesar, secar, voltar a pesar; diferença dá o volume de
água na amostra
• Sonda de neutrões
– emite neutrões rápidos que são retardados quando
colidem com os átomos de hidrogénio da água; sonda
mede os neutrões lentos

43
Medição do teor de humidade
• Tensiómetro
– bolbo de porcelana porosa, cheio de água, ligado a um
manómetro
– colocando o bolbo em contacto com o solo não saturado,
a água passa do bolbo para o solo, reduzindo a pressão
medida no manómetro

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Exercícios sugeridos do livro
“Hidrologia e Recursos Hídricos”
• 7.1 a 7.3
• 7.7
• 7.9

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