A teologia católica que hoje se ensina nas universidades, centros de estudos superiores e seminários oferece, tanto no seu conjunto como nas suas várias disciplinas, uma abundância de material científico quase incompreensível. Em particular, a especialidade de dogmática, que assume a função de integrar os resultados de cada uma das disciplinas teológicas específicas em uma visão global, compilou tal quantidade de material que é quase impossível para os alunos completar com sucesso a tarefa de alcançar uma síntese global, sem falar em uma visão concreta da interconexão interna dos temas centrais. A discrepância entre o acúmulo de conhecimento concreto e a ausência de uma síntese conceitual poderia trazer à mente as palavras irônicas que Mefistófeles dedica ao aluno no Fausto de Goethe: “Ele tem todos os componentes em mãos, mas falta, infelizmente, o vínculo espiritual.» Mas isso não autoriza simplesmente jogar ao mar, como mero lastro histórico, as múltiplas variedades da teologia cristã. A vastidão de seu campo surge como consequência necessária da pretensão de validade universal da fé cristã. Ao proclamar a verdade de que Deus se revelou na criação, redenção e reconciliação como origem e fim do homem e do mundo, a teologia é obrigada a não excluir, por princípio, qualquer parte do conhecimento como possível objeto de sua reflexão. Apesar e sobretudo das tensões e convulsões concretas, a história de 3.500 anos da revelação oferece um continuo de tradição em que Javé sempre figura como o sujeito da revelação e o povo da aliança do Antigo e do Novo. O Testamento encontra sua identidade na resposta de fé à palavra de Deus falada na história. Precisamente pela universalidade da revelação manifestada em Jesus Cristo, é necessário realizar um trabalho de mediação crítica e positiva entre a concepção histórica e escatológica da verdade do cristianismo e todas as formas de expressão do humano. Portanto, é perfeitamente válido confrontar a auto compreensão cristã não apenas com as reivindicações de verdade das religiões concretas da humanidade que competem entre si e com o cristianismo, mas também com as concepções teóricas e práticas da visão do mundo e do homem da filosofia e das ciências históricas, sociais e naturais. O movimento ecumênico e as tentativas de inculturação do cristianismo —ainda de origem européia— nas jovens Igrejas da América Latina, África e Ásia também são campos de trabalho para a teologia católica. E, por fim, embora não no último semestre, o estudo da teologia exige que o aluno se familiarize com as diversas ciências auxiliares, e mais especificamente que conheça línguas estrangeiras e aprenda a manejar métodos filológico-históricos e instrumentos hermenêuticos. O "vínculo espiritual" é o "fio de Ariadne" com o qual se escapa do labirinto do objeto material aparentemente inesgotável da teologia. Este fio é descoberto quando a unidade da teologia é concebida a partir da origem do ato de fé pessoal e indivisível. A unidade da teologia depende da unidade precedente da fé, apoiada, por sua vez, tanto na sua confissão como na sua prática, na autocomunicação de Deus. Se a razão teológica é entendida como explicação da fé, segue-se que ela é parte constitutiva da fé. E, como a fé, também a teologia é determinada pelo acontecimento do encontro do homem com a palavra de Deus na forma de sua auto mediação no acontecimento de Cristo e na missão do Espírito. A fé é o resultado da ação do Espírito. A almejada perspectiva universal que garante a visão da unidade interior de cada um dos temas e métodos da teologia é a auto manifestação do Deus Trino na mediação da pessoa e da história de Jesus de Nazaré para o salvação de todos. A construção e estrutura da confissão de fé cristã (credo) permite-nos descobrir os três níveis de referência, entrelaçados entre si, da teologia. O "eu" - ou respectivamente o "nós" - dos homens estabelece, pela fé, uma relação com Deus. Essa relação é mediada por Jesus Cristo e permanece presente na Igreja por meio do Espírito de Deus. Os três principais mistérios da fé cristã são assim mencionados: a Trindade, a encarnação e o dom do Espírito/santificação do homem. Em coordenação com eles aparecem os três círculos de tópicos básicos: teologia, cristologia, antropologia. Portanto, cada um dos tratados dogmáticos pode ser apresentado de acordo com a seguinte perspectiva global:
Os três dogmas básicos do cristianismo
A Trindade de Deus: As pessoas da única essência divina A encarnação: O Filho eterno torna-se homem O Espírito e a graça: A vinda de Deus no Espírito Santo
Da função da teologia de estabelecer uma relação entre a multiplicidade de temas (objeto
material) e a unidade de perspectiva (objeto formal) emergem os objetivos e o programa do "Manual de dogmática": 1.Informações Básicas Essas informações terão a seguinte articulação (exceto nos casos em que a própria natureza do tema exija modificações): I. as abordagens das questões no momento atual, II. fundamentos bíblicos, III. a evolução histórica (dos dogmas), 4. exposição sistemática. 2. Introdução a uma formação teológica independente Este Manual não é, de acordo com seu gênero literário, uma enciclopédia teológica ou um substituto para qualquer dicionário. Não é uma introdução ao cristianismo nem um catecismo. É uma introdução à teologia dogmática. 3. Metodologia Os tratados específicos de teologia dogmática estão listados na seguinte ordem: 1. Epistemologia teológica da revelação 2. Antropologia Teológica 3. Doutrina da criação 4. Teologia 5. Cristologia/soteriologia 6. Pneumatologia 7. Teologia trinitária 8. Mariologia 9. Escatologia 10. Eclesiologia 11. Doutrina dos sacramentos 12. Doutrina da Graça