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INTERNOS E EXTERNOS
O presente trabalho tem por objetivo fornecer ao leitor uma visão atual sobre os
diferentes tipos de normas, padrões e protocolos existentes para a certificação de packing
houses, visando o mercado interno e o mercado de exportação. A necessidade de atualização
das cadeias produtivas de alimentos aos padrões de qualidade e segurança alimentar exigidos
pelos mercados consumidores, bem como as posturas ambientalmente corretas e socialmente
justas, são temas colocados na Introdução, mostrando mais uma vez que os pequenos, médios
e grandes produtores brasileiros deverão incluir as novas exigências do mercado consumidor
em suas estratégias de negócios. A seguir, aborda-se de forma sucinta os diferentes tipos de
normas de segurança alimentar e qualidade de produto, atualmente existentes para o mercado
consumidor interno, como a Produção Integrada de Frutas (PIF), a certificação de produtos
orgânicos e os selos internos criados pelas duas maiores redes varejistas do Brasil: Carrefour e
Pão de Açúcar. Nesta abordagem, são discutidas as características e os conceitos principais de
cada norma, e seus benefícios e vantagens para a comercialização. Na seqüência, são
discutidas as principais normas de segurança alimentar que atualmente vem sendo exigidas
pelos mercados consumidores internacionais, principalmente a Comunidade Européia, dentre
elas o British Retail Consortium Global Standart – Food (BRC GSF) e o Protocolo Europeu
de Boas Práticas Agrícolas, EurepGAP, além da certificação orgânica que já foi citada.Outras
duas normas que futuramente serão utilizadas e que já encontram espaço no mercado de
exportação, o selo FairTrade e a norma ISO 22000 (em elaboração) também serão
apresentados com o objetivo de manter o leitor atualizado e com acesso à informações que
podem ser estratégicas para o futuro do seu negócio. Por fim, as dificuldades da
implementação de requisitos de segurança alimentar para pequenos e médios produtores de
frutas são abordadas com base no trabalho prático que vem sendo desenvolvido pela Ecolog.
INTRODUÇÃO
As barreiras não tarifárias impostas pelos países importadores, têm forçado os países
produtores a adequarem-se às rígidas normas fitossanitárias e a limites máximos de
contaminação dos produtos vegetais e animais por agrotóxicos e outros químicos, sendo que
cada vez mais os países produtores têm que provar que atendem a tais normas e requisitos
através de certificações.
Outro aspecto que passa a ser considerado quando se fala em negócio agropecuário é a
visão de Cadeia Produtiva que pressupõe que as empresas não podem mais atuar sozinhas,
devendo considerar a competitividade de seus fornecedores, compradores e de todos os
agentes participantes do encadeamento de atividades, como forma de sustentar a sua própria
competitividade e manter um posicionamento sustentável. Começa a surgir a cooperação entre
os mais diversos integrantes da cadeia, que atuam de forma coordenada e competem com
outras cadeias, como se fossem uma única empresa, estabelecendo estratégias e distribuindo
as vantagens conquistadas por todos os integrantes do sistema.
Este cenário apresenta novos desafios às organizações envolvidas na Cadeia Produtiva
de Alimentos, pois estas deverão de forma integrada, fazer uso mais eficiente dos seus
insumos, desenvolver processos e produtos mais limpos, gerenciar os recursos naturais e
humanos de forma mais responsável e garantir a segurança alimentar do produto final, práticas
estas que se tornam viáveis a partir da aplicação dos requisitos de normas e padrões nacionais
e internacionais.
O Brasil é um dos três maiores produtores mundiais de frutas, atrás apenas da China e
da Índia, com uma produção que supera 42 milhões de toneladas. A base agrícola da cadeia
produtiva das frutas abrange 2,2 milhões de hectares, gera 4 milhões de empregos diretos e
um PIB agrícola de US$ 11 bilhões. Este setor demanda mão-de-obra intensiva e qualificada,
fixando o homem no campo de forma única, pois permite uma vida digna de uma família
dentro de pequenas propriedades e também nos grandes projetos. É possível alcançar um
faturamento bruto de R$ 1.000 a R$ 20.000 por hectare. Além disso, para cada 10.000 dólares
investidos em fruticultura, geram-se 3 empregos diretos permanentes e dois empregos
indiretos. Visto por outro ângulo, 2,2 milhões hectares com frutas no Brasil significam 4
milhões de empregos diretos (2 a 5 pessoas por hectare). Em 2003, em relação ao ano anterior,
o Brasil teve um crescimento em 20% na exportação de frutas. Para os próximos 5 anos, o
Brasil tem a previsão de exportar US$ 1 milhão em frutas e para atingir este objetivo
estratégico, iniciou tanto a nível governamental como no setor privado, ações que buscam
organizar a cadeia produtiva de frutas e oferecer ao consumidor final segurança alimentar
efetiva, bem como garantias de que o processo foi ambientalmente correto e socialmente
justo (1).
Acompanhando as iniciativas mundiais na questão de sistemas de rastreabilidade e
segurança alimentar, o Brasil está implementando o Programa Brasileiro de Produção
Integrada de Frutas, iniciativa governamental, que desenvolve ferramentas para a
rastreabilidade capazes de identificar desde o talhão ou quadra em que as frutas foram
cultivadas até os bins e paletes em que são acondicionadas. Muito além de significar um
recurso para a segurança alimentar em sistemas como Análise de Perigos e Pontos Críticos de
Controle, APPCC e Boas Práticas de Fabricação, BPF, considera-se que a rastreabilidade
constitui peça elementar nos processos de certificação de produtos e rotulagem, estratégia que
resulta em significativo valor agregado aos produtos (2).
Paralelamente às iniciativas do governo, a pressão realizada pelas exigências do
mercado consumidor tem feito com que as empresas que já exportam e que querem exportar
já neste ano de 2004, tenham que se adequar rapidamente aos requisitos de protocolos
internacionais de Boas Práticas Agrícolas, adicionando à sua estratégia de negócios a
certificação dos seus processos produtivos e os custos envolvidos nesta certificação.
Com elevado volume de consumo de frutas per Capita e alto poder aquisitivo, os
países importadores, atualmente estão ditando as regras e o produtor que visa permanecer ou
entrar no mercado de exportação, vê-se praticamente obrigado a seguir tais regras.
Quanto ao mercado consumidor interno, pode-se dizer que a exigência por
certificações de frutas e hortaliças ainda é irrisória, ficando restrita à parcela da população que
possui alguma consciência sobre os benefícios do consumo de produtos seguros e que está
classificada com um padrão de vida que permita a aquisição de tais produtos diferenciados.
Normas e padrões de segurança alimentar aplicáveis a produtos destinados ao
mercado consumidor interno
AGRICULTURA ORGÂNICA
Buscando adequar a oferta aos novos padrões de qualidade e sanidade dos mercados
externo e interno, as redes varejistas foram as primeiras trabalhar qualitativamente no
aprimoramento das cadeias produtivas de frutas, que foi o estabelecimento de procedimentos
padronizados de pós-colheita e a implantação de sistemas de certificação de origem e de
rastreabilidade da produção.
No final da década de 90, começam a ser desenvolvidos programas próprios para
controlar a aplicação de agrotóxicos, padronizar as frutas e inspecionar a fase de pós-colheita,
a fim de minimizar danos mecânicos nos produtos. O “Selo Garantia de Origem” da rede de
supermercados Carrefour é um exemplo. Entre os 30 países onde o Carrefour atua, a filial do
Brasil é a que mais se empenhou nesse programa. Para receber o selo de garantia, os alimentos
devem cumprir as seguintes exigências: ser um produto saudável, com sabor autêntico,
aspecto visual atrativo, além de ser produzido por fazendas que se preocupam com a
preservação ambiental e sejam politicamente corretas em relação aos seus funcionários e à
comunidade. O selo de Garantia de Origem conta hoje com 42 produtos: frutas, verduras,
legumes, carnes, entre outros. Com isto, os produtores rurais se tornaram parceiros do
Carrefour, e não apenas fornecedores. No caso das frutas e legumes, nem todos os produtos
são certificados, por causa de problemas de sazonalidade e de logística . O uso de agrotóxicos
nos produtos vegetais é monitorado, e o produtor só pode aplicar defensivos registrados para a
cultura, e tem que obedecer ao período de carência entre a aplicação e o consumo, de forma a
evitar que o alimento chegue ao supermercado com resíduos químicos. É exigida uma
carência maior do que a mencionada na bula do defensivo e são feitas análises para a
detecção da presença de resíduos acima dos limites máximos permitidos. Todos os cuidados
com os produtos GO, os tornam de 20% a 60% mais caros que as mercadorias convencionais,
mas garantem tranqüilidade com relação ao seu histórico (10). O selo também dá aos produtos
brasileiros a possibilidade de serem exportados para outras unidades internacionais da rede.
Este ano, a previsão é de que sejam vendidos ao exterior 24 milhões de dólares de alimentos
brasileiros certificados. Em 2002, foram 11 milhões de dólares (10). Os fornecedores são
selecionados depois que os técnicos do Carrefour conhecem suas instalações e examinam as
condições de produção.
É com o nome 'Selo de Origem Controlada', criado há quatro anos, que Companhia
Brasileira de Distribuição - Grupo Pão de Açúcar atesta a procedência de alguns itens de suas
gôndolas. Atualmente, a certificação aparece na carne bovina, suína e de aves encontradas em
todas as lojas brasileiras. As FLV (frutas, legumes e verduras), que, em sua maioria, já são
monitorados, ainda não ganharam o selo devido à dificuldade de se criar metodologias
eficientes de análise para cada cultura. Há dois anos, vem sendo realizado o Programa
Nacional de Qualificação de FLV, onde são fornecidas orientações básicas de Boas Práticas
de Fabricação para os fornecedores, através de visitas de técnicos qualificados nos galpões de
processamento ou packing houses. As principais recomendações dos técnicos estão baseadas
no cumprimento das Portarias 326, 368 e CVS 6/99, da Vigilância Sanitária, que os
produtores e processadores deverão comprovar que estão seguindo para que então evoluam na
classificação e recebam o “Selo de Origem Controlada”. Além do cumprimento da legislação,
é também solicitado ao produtor que esta desenvolva um programa de 5S e um Sistema
APPCC. Após o recebimento do selo, são realizadas visitas periódicas por técnicos, com o
objetivo de verificar a manutenção do sistema em funcionamento (11).
Com a entrada em vigor do “Food Safety Act 1990 (FSA)” no Reino Unido, os
varejistas, bem como os demais envolvidos na cadeia de suprimento de alimentos, passaram a
tomar todas as precauções para evitarem falhas, seja no desenvolvimento, manufatura,
distribuição, propaganda ou na venda de gêneros alimentícios aos consumidores. Com isso,
criou-se a necessidade de inspeções da performance técnica em instalações de produção de
alimentos, sendo que por muitos anos estas inspeções foram desenvolvidas pelos varejistas,
separadamente, utilizando critérios individuais e padrões próprios. Em 1998, o “British Retail
Consortium”, uma associação de varejistas britânicos, desenvolveu e introduziu seu Protocolo
Técnico com padrões para as empresas que abasteciam o varejo com gêneros alimentícios.
Inicialmente, tal Protocolo Técnico foi desenvolvido para produtos de marca do varejo
(Retailer Branded Products), e atualmente o protocolo BRC disseminou-se para várias outras
áreas e setores da indústria de alimentos, serviços de alimentação e manufatura de
ingredientes. Desde 1998, data do seu lançamento, o protocolo BRC foi revisado em duas
ocasiões e a Terceira Edição foi publicada em abril de 2002. Em cada revisão, o BRC tem
consultado extensivamente várias partes interessadas, para garantir a aceitabilidade e
integridade do protocolo.
Em janeiro de 2003, reconhecendo que o nome e escopo do “BRC Food Technical
Standart” necessitava de mudanças para refletir seu uso real, este passou a ser chamado de
“BRC Global Standart – Food” (BRC GSF). Esta alteração também visou atender outros
setores ligados ao suprimento de gêneros alimentícios que necessitavam de padrões ligados à
segurança alimentar.
O BRC GSF foi criado para amparar os varejistas no processo de atendimento de todas
as obrigações legais e de proteção ao consumidor, através da definição de parâmetros comuns
que possam ser auditados nas empresas fornecedoras de gêneros alimentícios. Desde a
introdução do FSA, as obrigações repassadas aos varejistas do Reino Unido se transformaram
em boas práticas que se espalharam por toda a cadeia de suprimentos de gêneros alimentícios
e com isso, os fornecedores aceitaram estes princípios como um processo de identificação dos
pontos críticos que permitem nortear sua forma de trabalho. Os padrões definidos pelo BRC
GSF incorporaram os princípios fundamentais bem como os padrões, antes individuais, de
forma a refletir tanto os requisitos dos varejistas como dos fornecedores. É importante deixar
claro que os padrões do protocolo BRC não têm a pretensão de substituir os requerimentos
legais que requeiram um nível de controle mais exigente.
A auditoria técnica das companhias de produção de suprimentos baseado nos padrões
do protocolo BRC GSF, é apenas parte do processo de suprimento, sendo que a decisão final
está baseada na confiança entre o fornecedor e o varejista. Os padrões estabelecidos pelo
protocolo BRC GSF são revistos regularmente pelos membros do BRC e as revisões são feitas
quando apropriadas.
Escopo do protocolo BRC Global Standard – Food (BRC GSF) - O BRC GSF define
exigências para o abastecimento do mercado com os seguintes produtos:
Cada seção do Technical Standard começa com um parágrafo destacado com texto em
negrito, e cada parágrafo indica a intenção do protocolo, e define os requisitos que todos os
fornecedores devem atender de forma a receberem o certificado. Abaixo do termo de intenção,
existem três colunas de critérios específicos:
Sendo que resumidamente tais níveis de critérios podem ser apresentados como:
Nível elevado (Higher Level): Para atender a este nível, primeiramente todos os
critérios do Nível Básico devem ter sido alcançados. Além disso, todos os critérios da coluna
II devem ser atendidos para que a empresa receba o certificado de Nível Elevado (Higher
Level). Além do atendimento ao Nível Elevado é incentivado que a empresa aspire para o
atendimento aos demais critérios da coluna III, Recomendações de Boas Práticas
(Recommendations on Good Pratices).
Recomendações de Boas Práticas (Recommendations on Good Practices): Estes
critérios são recomendados a todos os fornecedores como sendo as melhores práticas de
processo que devem ser alcançados pelas empresas. Onde estas recomendações não forem
alcançadas, é necessário que estas áreas de não conformidade sejam documentadas através do
Relatório de Avaliação (Evaluation Report).
EUREPGAP (13)
1. Rastreabilidade
2. Manutenção de registros
3. Estoques de sementes, mudas e variedades
4. Histórico do local e gerenciamento do local
5. Gerenciamento do solo e dos substratos
6. Uso de fertilizantes
7. Irrigação
8. Proteção do cultivo
9. Colheita
10. Tratamento pós-colheita
11. Gestão de resíduos e poluição, reciclagem e reuso
12. Saúde do trabalhador, segurança e bem estar
13. Questões Ambientais
14. Atendimento aos clientes/reclamações
Os requisitos para Boas Práticas de Fabricação não são listados na norma, mas são
referenciados às boas práticas existentes. O formato da norma é o mesmo da ISO 9001 e ISO
14001, o que permite a sua integração com um sistema integrado desenvolvido de gestão de
risco.
Se todos os interessados, como por exemplo, as redes de supermercados, aceitarem a
ISO 22000 como base para a implantação dos requisitos de um sistema de gestão e somente
definirem um número limitado de requisitos adicionais, a sobreposição de diferentes normas e
auditorias de certificação irá desaparecer. Isto, certamente, será um benefício para toda a
indústria de alimentos. A publicação do Draft International Standard (DIS) é esperada para o
primeiro semestre de 2004. Depois da publicação, fica na dependência dos comentários e a
votação final dos membros da ISO quando a versão final será publicada. O plano original
indica que isto ocorrerá em setembro de 2004, mas é provável que isto seja postergado por
mais seis meses. A versão DIS da ISO 22000 pode ser usada como uma ferramenta para
melhorar o sistema de gestão de segurança de alimentos das organizações. Os requisitos são
desenvolvidos por especialistas em APPCC de todas as partes do mundo e a norma terá
reconhecimento internacional. As empresas que já estão certificadas por uma norma de
segurança de alimentos estarão aptas a atualizar seus sistemas com os requisitos adicionais da
ISO 22000 e terão a oportunidade de serem certificadas contra esta nova norma. A quantidade
de esforço para isto dependerá do nível de conformidade da norma certificada com a nova
norma ISO 22000.
CONCLUSÕES
A experiência prática, obtida através dos trabalhos desenvolvidos pela Ecolog
Consultoria Integrada, na implementação de requisitos das normas de segurança alimentar de
frutas, tem mostrado algumas limitações, sendo que os principais fatores que dificultam o
processo de implementação, se devem aos seguintes aspectos:
Financeiros – Muitas vezes o produtor terá que alocar recursos financeiros, por menor
que seja o investimento, para o desenvolvimento e a implementação de um sistema de
rastreabilidade, e de melhorias nas instalações, sendo que hoje, não existem linhas de
financiamento especiais para tal.
Dentre outras dificuldades que podem ser citadas, estas em âmbito estrutural, estão a
precariedade de algumas regiões produtoras de frutas em relação a infra-estrutura de packing
house ou centrais de beneficiamento, armazenamento, transporte, distribuição e
comercialização de seus produtos. Deve-se ressaltar que não se aplica na maioria das
empresas da cadeia produtiva de frutas de maior expressão na exportação. Outro fator
estrutural complicador é que a cadeia de produção de frutas e hortaliças frescas tem, na sua
complexidade, características muito marcantes: a pulverização e a sazonalidade da produção,
a perecibilidade do produto, a transformação e a rápida desvalorização comercial do produto
com a perda do frescor, a grande fragilidade comercial dos produtores e a inexistência de um
elo coordenador da cadeia. Outras dificuldades a serem superadas incluem a falta de uma
política de defesa fitossanitária em âmbito nacional, a carência de infra-estrutura organizada
para as frutas, abrangendo transporte e armazéns frigorificados, critério e crédito para
comercialização e armazenagem e o sistema tributário da produção, notadamente na que se
refere a ICMS para movimentação entre estados brasileiros, só para citar alguns problemas.