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CERTIFICAÇÃO DE PACKING HOUSES PARA MERCADOS

INTERNOS E EXTERNOS

Daniela Mariuzzo, Enga. Alimentos, Ecolog Consultoria Integrada Ltda.


daniela.mariuzzo@ecolog.com.br, www.ecolog.com.br
RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo fornecer ao leitor uma visão atual sobre os
diferentes tipos de normas, padrões e protocolos existentes para a certificação de packing
houses, visando o mercado interno e o mercado de exportação. A necessidade de atualização
das cadeias produtivas de alimentos aos padrões de qualidade e segurança alimentar exigidos
pelos mercados consumidores, bem como as posturas ambientalmente corretas e socialmente
justas, são temas colocados na Introdução, mostrando mais uma vez que os pequenos, médios
e grandes produtores brasileiros deverão incluir as novas exigências do mercado consumidor
em suas estratégias de negócios. A seguir, aborda-se de forma sucinta os diferentes tipos de
normas de segurança alimentar e qualidade de produto, atualmente existentes para o mercado
consumidor interno, como a Produção Integrada de Frutas (PIF), a certificação de produtos
orgânicos e os selos internos criados pelas duas maiores redes varejistas do Brasil: Carrefour e
Pão de Açúcar. Nesta abordagem, são discutidas as características e os conceitos principais de
cada norma, e seus benefícios e vantagens para a comercialização. Na seqüência, são
discutidas as principais normas de segurança alimentar que atualmente vem sendo exigidas
pelos mercados consumidores internacionais, principalmente a Comunidade Européia, dentre
elas o British Retail Consortium Global Standart – Food (BRC GSF) e o Protocolo Europeu
de Boas Práticas Agrícolas, EurepGAP, além da certificação orgânica que já foi citada.Outras
duas normas que futuramente serão utilizadas e que já encontram espaço no mercado de
exportação, o selo FairTrade e a norma ISO 22000 (em elaboração) também serão
apresentados com o objetivo de manter o leitor atualizado e com acesso à informações que
podem ser estratégicas para o futuro do seu negócio. Por fim, as dificuldades da
implementação de requisitos de segurança alimentar para pequenos e médios produtores de
frutas são abordadas com base no trabalho prático que vem sendo desenvolvido pela Ecolog.

INTRODUÇÃO

Questões como segurança alimentar e preservação ambiental vêm adquirindo


importância crescente em todas as atividades realizadas pelo homem. No setor agropecuário,
nota-se a crescente cobrança dos órgãos públicos, ONG’s, consumidores e da própria
sociedade para que as propriedades rurais e os processadores de alimentos desenvolvam
atividades ambientalmente corretas e forneçam produtos seguros para o consumo em
diferentes mercados mundiais.

As barreiras não tarifárias impostas pelos países importadores, têm forçado os países
produtores a adequarem-se às rígidas normas fitossanitárias e a limites máximos de
contaminação dos produtos vegetais e animais por agrotóxicos e outros químicos, sendo que
cada vez mais os países produtores têm que provar que atendem a tais normas e requisitos
através de certificações.

Outro aspecto que passa a ser considerado quando se fala em negócio agropecuário é a
visão de Cadeia Produtiva que pressupõe que as empresas não podem mais atuar sozinhas,
devendo considerar a competitividade de seus fornecedores, compradores e de todos os
agentes participantes do encadeamento de atividades, como forma de sustentar a sua própria
competitividade e manter um posicionamento sustentável. Começa a surgir a cooperação entre
os mais diversos integrantes da cadeia, que atuam de forma coordenada e competem com
outras cadeias, como se fossem uma única empresa, estabelecendo estratégias e distribuindo
as vantagens conquistadas por todos os integrantes do sistema.
Este cenário apresenta novos desafios às organizações envolvidas na Cadeia Produtiva
de Alimentos, pois estas deverão de forma integrada, fazer uso mais eficiente dos seus
insumos, desenvolver processos e produtos mais limpos, gerenciar os recursos naturais e
humanos de forma mais responsável e garantir a segurança alimentar do produto final, práticas
estas que se tornam viáveis a partir da aplicação dos requisitos de normas e padrões nacionais
e internacionais.
O Brasil é um dos três maiores produtores mundiais de frutas, atrás apenas da China e
da Índia, com uma produção que supera 42 milhões de toneladas. A base agrícola da cadeia
produtiva das frutas abrange 2,2 milhões de hectares, gera 4 milhões de empregos diretos e
um PIB agrícola de US$ 11 bilhões. Este setor demanda mão-de-obra intensiva e qualificada,
fixando o homem no campo de forma única, pois permite uma vida digna de uma família
dentro de pequenas propriedades e também nos grandes projetos. É possível alcançar um
faturamento bruto de R$ 1.000 a R$ 20.000 por hectare. Além disso, para cada 10.000 dólares
investidos em fruticultura, geram-se 3 empregos diretos permanentes e dois empregos
indiretos. Visto por outro ângulo, 2,2 milhões hectares com frutas no Brasil significam 4
milhões de empregos diretos (2 a 5 pessoas por hectare). Em 2003, em relação ao ano anterior,
o Brasil teve um crescimento em 20% na exportação de frutas. Para os próximos 5 anos, o
Brasil tem a previsão de exportar US$ 1 milhão em frutas e para atingir este objetivo
estratégico, iniciou tanto a nível governamental como no setor privado, ações que buscam
organizar a cadeia produtiva de frutas e oferecer ao consumidor final segurança alimentar
efetiva, bem como garantias de que o processo foi ambientalmente correto e socialmente
justo (1).
Acompanhando as iniciativas mundiais na questão de sistemas de rastreabilidade e
segurança alimentar, o Brasil está implementando o Programa Brasileiro de Produção
Integrada de Frutas, iniciativa governamental, que desenvolve ferramentas para a
rastreabilidade capazes de identificar desde o talhão ou quadra em que as frutas foram
cultivadas até os bins e paletes em que são acondicionadas. Muito além de significar um
recurso para a segurança alimentar em sistemas como Análise de Perigos e Pontos Críticos de
Controle, APPCC e Boas Práticas de Fabricação, BPF, considera-se que a rastreabilidade
constitui peça elementar nos processos de certificação de produtos e rotulagem, estratégia que
resulta em significativo valor agregado aos produtos (2).
Paralelamente às iniciativas do governo, a pressão realizada pelas exigências do
mercado consumidor tem feito com que as empresas que já exportam e que querem exportar
já neste ano de 2004, tenham que se adequar rapidamente aos requisitos de protocolos
internacionais de Boas Práticas Agrícolas, adicionando à sua estratégia de negócios a
certificação dos seus processos produtivos e os custos envolvidos nesta certificação.
Com elevado volume de consumo de frutas per Capita e alto poder aquisitivo, os
países importadores, atualmente estão ditando as regras e o produtor que visa permanecer ou
entrar no mercado de exportação, vê-se praticamente obrigado a seguir tais regras.
Quanto ao mercado consumidor interno, pode-se dizer que a exigência por
certificações de frutas e hortaliças ainda é irrisória, ficando restrita à parcela da população que
possui alguma consciência sobre os benefícios do consumo de produtos seguros e que está
classificada com um padrão de vida que permita a aquisição de tais produtos diferenciados.
Normas e padrões de segurança alimentar aplicáveis a produtos destinados ao
mercado consumidor interno

PIF – PRODUÇÃO INTEGRADA DE FRUTAS

Por definição, é a “produção econômica de frutas de alta qualidade, priorizando o uso


de métodos ecologicamente seguros que minimizam as aplicações de agroquímicos e,
evitando os efeitos secundários negativos desses produtos, o que promove a preservação do
meio ambiente e da saúde humana.”.
Atualmente, é o programa oficial do governo brasileiro para qualificar a fruticultura
nacional. Sua origem vem da metade do século XX com a tecnologia do "Manejo Integrado de
Pragas" na Europa. O mesmo grupo, sentindo a dificuldade de um sistema orgânico, pela falta
de tecnologia desenvolvida uniu-se à International Organization for Biological and Integrated
Control of Noxious Animals and plants (IOBC), com sede em Bruxelas, para criar um sistema
de produção intermediária entre a produção tradicional e a produção orgânica (3). Os
objetivos da Produção Integrada são: frutas com qualidade; produção sustentada, em sintonia
com o ambiente; rastreabilidade do sistema; utilizar técnicas de manejo do solo com baixo
impacto ambiental; selo de qualidade (4).
De forma geral pode-se de dizer que os sistemas de produção de frutas no Brasil
desenvolveram-se a partir de uma lógica produtivista com o uso intensivo de insumos
químicos. Diante do novo cenário mercadológico e visando, sobretudo, à manutenção da sua
capacidade competitiva, em 1997, a Embrapa de Uva e Vinhos, localizada em Bento
Gonçalves, no Rio Grande do Sul, desencadeou um processo para aprimorar todos os
segmentos que compõem a cadeia produtiva da maçã. Esta iniciativa resultou no lançamento
da primeira versão das Normas de Produção Integrada de Frutas. Na seqüência, foram
estabelecidos pomares comerciais com o objetivo de avaliar a viabilidade técnica e econômica
de Sistemas de Produção Integrada de Maçã (PIM), consolidando um projeto pioneiro de
produção integrada de frutas no Brasil. A seguir, para exemplificar um conjunto de
atendimento a requisitos já em funcionamento, é possível verificar os requisitos da PIM para
procedimentos de colheita e pós-colheita em empacotadoras (packing houses) conforme
estabelecidos na mais recente versão da norma oficial (5). A norma classifica os requisitos a
serem seguidos pelos produtores e processadores em OBRIGATÓRIOS, RECOMEDADOS,
PROIBIDOS e PERIMITDOS COM RESTRIÇÕES.
Para os procedimentos de COLHEITA E PÓS-COLHEITA, o produtor deverá atender
aos regulamentos técnicos específicos de ponto de colheita de cada cultivar de maçã; colher a
fruta de forma cuidadosa; proceder à higienização de equipamentos, embalagens (bins), local
de trabalho e de trabalhadores; manter e proteger das intempéries as frutas colhidas e seguir
os manuais de treinamento para a PIM. É recomendado que se proceda à implementação de
um sistema de boas práticas agrícolas (BPA); e à pré-seleção da fruta durante a colheita; ao
transporte as frutas colhidas para a empacotadora no mesmo dia da colheita e à regulagem
periódica dos instrumentos utilizados para avaliação do ponto de colheita. E finalmente
é proibido manter frutas do sistema PIM em conjunto com as de outros sistemas de produção
sem a devida identificação; e recolher frutas caídas no chão e misturar nos bins com as frutas
colhidas da PIM. Para os PROCESSOS DE EMBALAGEM E ETIQUETAGEM das frutas o
produtor deve proceder à identificação do produto conforme normas técnicas legais de
rotulagem e embalagem com destaque ao Sistema de Produção Integrada de Maçã – PIM e
para o TRANSPORTE E ARMAZENAGEM das frutas o produtor deve obedecer às normas
técnicas de armazenamento específicas para cada cultivar, com vistas à preservação dos
fatores de qualidade da maçã de acordo com os manuais de treinamento para a PIM. É item
recomendado que se realiza o transporte em veículos e equipamentos apropriados e
higienizados, conforme requisitos para a maçã. É item proibido armazenar na mesma câmara,
frutas que tenham um padrão de qualidade para o consumo in natura em conjunto com frutas
destinadas à indústria. Permite-se com restrição que o transporte de frutas do sistema PIM seja
feito em conjunto com as de outros sistemas de produção, desde que estejam identificadas; e
também, quando justificado, armazenar frutas provenientes do sistema PIM com outros
sistemas de produção devidamente separadas e identificadas. Para a LOGÍSTICA, é
recomendado ao produtor que este utilize métodos, técnicas e processos de logística que
assegurem a qualidade da maçã desde o pomar até a expedição. Existe uma ferramenta de
controle de todos estes, conhecida como AUDITORIA DE PÓS-COLHEITA onde o produtor
deve permitir auditorias que ocorrerão durante a recepção de frutas (Fevereiro a Abril) e
durante o período de conservação, que ocorrerá em Abril a Junho para atmosfera convencional
e Julho a Dezembro para atmosfera controlada.
O controle dos LIMITES MÁXIMOS de RESÍDUOS, deverá ser efetuado através de
AMOSTRAGEM PARA ANÁLISE DE RESÍDUOS em frutas, e para isso o produtor deverá
permitir a coleta de amostras para análise em laboratórios credenciados pelo MAPA; sendo
que obrigatoriamente, as coletas de amostras serão feitas ao acaso, devendo-se atingir um
mínimo de 10% do total das parcelas de cada produtor ou de grupos de pequenos produtores;
e também, amostras adicionais serão coletadas caso ocorram falhas no uso de agroquímicos;
fica proibido ao produtor comercializar frutas com níveis de resíduos acima do permitido na
legislação vigente. As ANÁLISES DE RESÍDUOS, deverão ser realizadas pelo método
multiresíduos para os produtos das famílias pertencentes aos organofosforados, carbamatos e
dithiocarbamatos e recomenda-se que as certificadoras utilizem laboratórios credenciados pelo
Inmetro a partir da safra 2005/2006.
Os PROCESSOS DE EMPACOTADORAS, deverão seguir vários critérios, para as
CÂMARAS FRIGORÍFICAS, EQUIPAMENTOS E EMPACOTADORAS, sendo que os
processadores de frutas deverão proceder a prévia higienização de câmaras frigoríficas,
equipamentos, empacotadora e trabalhadores e obedecer aos regulamentos técnicos de manejo
e armazenamento específico para cada cultivar de maçã de acordo com os manuais de
treinamento para a PIM.É recomendado ao processador da fruta que implemente as boas
práticas de fabricação (BPF) ou princípios do sistema de análises de perigos e pontos críticos
de controle (APPCC) em pós-colheita e também que implementem um plano de manutenção,
operação e controle dos equipamentos frigoríficos. E fica proibido ao produtor proceder à
execução simultânea dos processos de classificação e embalagem da maçã da PIM com a de
outros sistemas de produção. Para o CONTROLE DAS DOENÇAS EM PÓS-COLHEITA:
que irão utilizar tratamentos físicos, químicos e biológicos, o processador deverá utilizar
métodos, técnicas e processos indicados nos anexos técnicos e nos manuais de treinamento
para a PIM. É recomendado que se proceda, preferencialmente, aos tratamentos físicos e
biológicos. E fica proibida a comercialização da fruta antes de três meses de armazenamento
no caso de aplicação de um fungicida em pós-colheita, o depósito de restos de produtos
químicos e lavagem equipamentos em fontes de água, riachos, lagos, etc.; e o uso do mesmo
ingrediente ativo em pré e pós-colheita, bem como a utilização de fungicidas em
termonebulização de câmaras frigoríficas. É permitido com restrição o uso de fungicidas em
pós-colheita, somente quando justificado, prevendo-se a degradação de resíduos antes da
época de comercialização das frutas; nos casos de químicos, somente, mediante receituário
agronômico, justificando a necessidade e assegurando níveis de resíduos dentro dos limites
máximos permitidos pela legislação.
E finalmente, o SISTEMA DE RASTREAMENTO E CADERNOS DE CAMPO E
DE PÓS-COLHEITA, estão divididos dentre os seguintes requisitos: SISTEMA DE
RASTREABILIDADE, onde o produtor deve instituir cadernos de campo e de pós-colheita
para o registro de dados sobre o manejo da fruta desde a fase de campo até a fase de
comercialização (embalagem), e demais dados necessários à adequada gestão da PIM, e deve
também manter o registro de dados atualizado e com fidelidade, para fins de rastreamento de
todas as etapas do processo. É recomendado que seja instituído o sistema de código de barras;
o uso de etiquetas coloridas ou outros sistemas que permita a rápida e única identificação de
bins de diferentes parcelas. A RASTREABILIDADE no campo deve ser realizada até a
parcela e na empacotadora até o palete. Para o controle da manutenção do atendimento aos
requisitos citados, são realizadas AUDITORIAS, sendo que o produtor e o processador da
fruta deverão, respectivamente, permitir auditorias no pomar nos períodos de floração raleio
manual e na colheita, e na empacotadora, na época da entrada da fruta (colheita) e na
embalagem; para produtores já certificados pelo organismo avaliador da conformidade
(OAC), a partir do segundo ano, obrigatórias somente duas auditorias no campo sendo uma
até o raleio manual e a outra próxima a colheita e uma na empacotadora durante o período de
embalagem.
O conjunto de registros exigidos nos packing houses que processam frutas para a PIM
pode ser encontrado no documento Caderno de Pós – Colheita, Produção Integrada de Maçã –
PIM (6) e contém os seguintes modelos de planilhas de controle: Controle de Limpeza e
Sanitização na Empacotadora e Câmaras Frigoríficas, Controle de Recepção, Mapa da Fruta
Armazenada, Controle das Câmaras de Atmosfera Controlada, Controle de Qualidade da Fruta
Armazenada, Controle da Fruta Armazenada, Laudo de Classificação de Maçãs, Controle da
Fruta Embalada e Controle das Visitas de Inspeção.
Como conseqüência do bom desempenho técnico obtido pelo programa da PIM e da
pressão do mercado externo, outras cadeias sentiram-se estimuladas e começaram a se
organizar para a implantação da produção integrada que privilegia a sustentabilidade
ambiental e a segurança alimentar, pré-requisitos para se realizar a conversão de propriedades
em sistema convencional para sistemas agroecológicos de produção. Com o apoio do
Ministério da Agricultura e do Abastecimento as cadeias produtivas de pêssego, uva, manga,
citros, mamão, caqui, figo, goiaba, lima ácida, maracujá e tangerina, começaram a ser
avaliadas, aprimoradas e expandidas a partir dos seus tradicionais pólos produtivos,
preparando essas cadeias para um segundo salto qualitativo: o desenvolvimento dos sistemas
de pós-colheita, certificação de origem e rastreabilidade da produção.
Atualmente, grande parte do trabalho da PIF nas demais culturas tem sido focalizada à
produção no campo de frutas no sistema de produção integrada. Entretanto, pouco tem sido
feito no manejo da colheita e pós-colheita, sendo de fundamental importância sua
implementação dentro das normas PIF, para assegurar a rastreabilidade do sistema que
permita a concessão de um selo de qualidade controlada. Como a qualidade total é um
objetivo fundamental da PIF, é importante redefinir alguns parâmetros que afetam a qualidade
na colheita e pós-colheita como: índices de maturação, normas de colheita, tratamentos pós-
colheita, produtos de higiene agro-industrial, embalagens, refrigeração, transporte e
comercialização para todas as frutas em questão (7). Como se sabe, o manejo pós-colheita é
muito complexo e especifico para as distintas espécies de frutas, com exigências variáveis de
acordo com o mercado de destino. Assim, o processo de implementação da PIF necessita de
normas na área de pós-colheita que complemente o trabalho de campo realizado na fase de
pré-colheita. A elaboração de diretrizes nacionais neste campo, assistência técnica,
capacitação e treinamento de pessoal são etapas importantes a serem consideradas. Somente
dessa forma poderá ser viabilizada a operação de rastreabilidade que, mediante um selo de
qualidade, poderá garantir ao consumidor a qualidade de uma fruta produzida, embalada e
comercializada nos padrões PIF.
É importante salientar que está em execução pelo Centro de Qualidade em
Horticultura, CQH do CEAGESP (8) o projeto “Manejo e logística da colheita e pós-colheita
na Produção Integrada de Frutas no Brasil” que tem por objetivo geral estabelecer normas e
procedimentos, que obedeçam às diretrizes da Produção Integrada de Frutas do Ministério de
Agricultura e do Abastecimento, para a colheita e pós-colheita de banana, caqui, figo, goiaba,
laranja, lima ácida, maracujá e tangerina e como resultados esperados prover articulação à
adesão ao Sistema Produção Integrada de Frutas dos diversos elos da cadeia de produção de
banana, caqui, figo, goiaba, laranja, lima ácida, maracujá e tangerina e consolidar as normas e
procedimentos detalhados e instrumentos de controle de qualidade de colheita e pós-colheita
específicos para cada elo da cadeia de produção, que garantam a obediência aos princípios da
PIF dos produtos citados.
O Inmetro, órgão que estrutura o funcionamento nas normas da PIF quer adequá-las às
exigências do EurepGAP e para isso a proposta brasileira, que prevê a equalização dos
sistemas de análise, deverá ser encaminhada ao comitê avaliador até outubro do corrente ano.
Atualmente, o PIF já certifica sete tipos de frutas: maçã, uva, manga, mamão, melão, pêssego
e caju.

AGRICULTURA ORGÂNICA

Segundo o Instituto Biodinâmico (9), como Agricultura Orgânica entende-se um


amplo e variado espectro de práticas agrícolas, adaptáveis conforme a realidade local, sempre
de acordo com princípios biológica e ecologicamente corretos. A totalidade e a essência
Agricultura Orgânica não se deixam resumir em normas, pois exigem respostas sempre novas
às diferentes situações em que forem realizadas. Ainda assim, há a necessidade de se definir
um padrão mínimo, a partir do qual um produto possa ser considerado como orgânico -
possibilitando clareza, entendimento e confiança entre produtores e consumidores. Diretrizes
de Qualidade com esse fim já são usadas em inúmeros países, para produtos orgânicos em
geral (Normas da IFOAM - International Federation of Organic Agriculture Movements). Na
prática, usam-se Selos de Qualidade (juntamente à marca específica de cada produtor) para
indicar a concordância com as Diretrizes, que são atestadas por certificadoras competentes.As
Diretrizes são gerais, baseadas nas normas da IFOAM e do Mercado Comum Europeu n°
2092/ 91. As Diretrizes IBD 2004 (9) para PROCESSAMENTO, ARMAZENAGEM,
TRANSPORTE E EMPACOTAMENTO DA PRODUÇÃO, dizem que os estabelecimentos
de processamento a serem inspecionados devem seguir as normas da vigilância sanitária. Nas
inspeções serão pedidos alvará de funcionamento, certificado ambiental e outros documentos
pertinentes. As diretrizes somente permitem o uso de aditivos e auxiliares tecnológicos para
algumas das finalidades como: manter o valor nutritivo dos produtos; melhorar a qualidade de
conservação e estabilidade dos produtos; dar aos produtos uma composição, consistência e
aspecto aceitáveis; levando-se em conta algumas observações. Esses aditivos e auxiliares
tecnológicos serão tolerados nos casos: quando não existir a possibilidade de se elaborar um
produto similar; quando não for empregada dose maior do que a permitida; quando não forem
utilizados apenas para facilitar e reduzir o tempo de processamento e para melhorar a
manipulação, aumentar o aroma, cor e valor nutritivo perdidos durante o processo. No Anexo
V das diretrizes, estão descritos em detalhes os aditivos e auxiliares tecnológicos permitidos
no processamento de produtos certificados. Para a obtenção de flavorizantes, a partir de
produtos de origem orgânica, preferencialmente, deverão ser utilizados meios físicos. Quanto
ao MÉTODO DE PROCESSAMENTO, este deverá ser escolhido sempre com o intuito de
limitar a quantidade de aditivos e ingredientes auxiliares. Os métodos de processamento
permitidos são o físico ou mecânico; o biológico; a defumação; a extração; a precipitação; e a
filtração. Os métodos de irradiação e microondas são proibidos. Também é vetado o uso de
microrganismos modificados por engenharia genética e seus produtos. No rótulo dos produtos,
sejam de origem animal ou vegetal, deverão ser mencionados todos os ingredientes utilizados,
tanto básicos quanto condimentos, conservantes, corantes, acidulantes etc. Estes ingredientes
só podem ser substâncias brandas, de origem natural e conhecida, comprovadamente não
nocivas à saúde. Seu uso deverá ser discutido com o Instituto Biodinâmico. E se no
processamento de um produto houver mistura com outros ingredientes (em qualquer caso,
mas especialmente no caso de carnes e derivados), o Selo de Qualidade será definido pelo
seguinte critério: . quando os materiais orgânicos utilizados estiverem em pelo menos 95% de
concentração em peso e outro ingrediente não certificado em até 5% de concentração do peso
do produto o Selo será reconhecido como ORGÂNICO (vide Anexo V, item 2.1 das
Diretrizes). Em relação às MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS, estes deverão estar
comprovadamente livres de resíduos de produtos não-orgânicos. O processamento e manuseio
de produtos orgânicos devem ser feitos em local e hora diferentes do manuseio e
processamento de produtos convencionais.
Dentro do mercado de alimentos orgânicos, a demanda por frutas é ainda maior,
registrando-se através de pesquisas ao consumidor, o intenso desejo de consumir frutas
tropicais e temperadas, que além de isentas de agrotóxicos são preferidas nos aspectos
organolépticos (sabor e odor mais adocicados, por exemplo) em comparação com as obtidas
em sistemas convencionais de produção.
Contudo, para a conquista desse mercado estratégico é preciso acelerar a
implementação de medidas que aumentem cada vez mais a competitividade das frutas
orgânicas brasileiras no mercado internacional. Entre as mais importantes, são citadas: revisão
da política tributária, crédito especial para o setor, programas de desenvolvimento do setor
produtivo e de incentivo ao consumo de alimentos orgânicos, apoio de investimento em
tecnologia para todos os elos da cadeia produtiva, maior presença política externa, definição
de estratégias comerciais e maior integração entre os diversos elos da cadeia.

NORMAS INTERNAS DE REDES VAREJISTAS

Buscando adequar a oferta aos novos padrões de qualidade e sanidade dos mercados
externo e interno, as redes varejistas foram as primeiras trabalhar qualitativamente no
aprimoramento das cadeias produtivas de frutas, que foi o estabelecimento de procedimentos
padronizados de pós-colheita e a implantação de sistemas de certificação de origem e de
rastreabilidade da produção.
No final da década de 90, começam a ser desenvolvidos programas próprios para
controlar a aplicação de agrotóxicos, padronizar as frutas e inspecionar a fase de pós-colheita,
a fim de minimizar danos mecânicos nos produtos. O “Selo Garantia de Origem” da rede de
supermercados Carrefour é um exemplo. Entre os 30 países onde o Carrefour atua, a filial do
Brasil é a que mais se empenhou nesse programa. Para receber o selo de garantia, os alimentos
devem cumprir as seguintes exigências: ser um produto saudável, com sabor autêntico,
aspecto visual atrativo, além de ser produzido por fazendas que se preocupam com a
preservação ambiental e sejam politicamente corretas em relação aos seus funcionários e à
comunidade. O selo de Garantia de Origem conta hoje com 42 produtos: frutas, verduras,
legumes, carnes, entre outros. Com isto, os produtores rurais se tornaram parceiros do
Carrefour, e não apenas fornecedores. No caso das frutas e legumes, nem todos os produtos
são certificados, por causa de problemas de sazonalidade e de logística . O uso de agrotóxicos
nos produtos vegetais é monitorado, e o produtor só pode aplicar defensivos registrados para a
cultura, e tem que obedecer ao período de carência entre a aplicação e o consumo, de forma a
evitar que o alimento chegue ao supermercado com resíduos químicos. É exigida uma
carência maior do que a mencionada na bula do defensivo e são feitas análises para a
detecção da presença de resíduos acima dos limites máximos permitidos. Todos os cuidados
com os produtos GO, os tornam de 20% a 60% mais caros que as mercadorias convencionais,
mas garantem tranqüilidade com relação ao seu histórico (10). O selo também dá aos produtos
brasileiros a possibilidade de serem exportados para outras unidades internacionais da rede.
Este ano, a previsão é de que sejam vendidos ao exterior 24 milhões de dólares de alimentos
brasileiros certificados. Em 2002, foram 11 milhões de dólares (10). Os fornecedores são
selecionados depois que os técnicos do Carrefour conhecem suas instalações e examinam as
condições de produção.
É com o nome 'Selo de Origem Controlada', criado há quatro anos, que Companhia
Brasileira de Distribuição - Grupo Pão de Açúcar atesta a procedência de alguns itens de suas
gôndolas. Atualmente, a certificação aparece na carne bovina, suína e de aves encontradas em
todas as lojas brasileiras. As FLV (frutas, legumes e verduras), que, em sua maioria, já são
monitorados, ainda não ganharam o selo devido à dificuldade de se criar metodologias
eficientes de análise para cada cultura. Há dois anos, vem sendo realizado o Programa
Nacional de Qualificação de FLV, onde são fornecidas orientações básicas de Boas Práticas
de Fabricação para os fornecedores, através de visitas de técnicos qualificados nos galpões de
processamento ou packing houses. As principais recomendações dos técnicos estão baseadas
no cumprimento das Portarias 326, 368 e CVS 6/99, da Vigilância Sanitária, que os
produtores e processadores deverão comprovar que estão seguindo para que então evoluam na
classificação e recebam o “Selo de Origem Controlada”. Além do cumprimento da legislação,
é também solicitado ao produtor que esta desenvolva um programa de 5S e um Sistema
APPCC. Após o recebimento do selo, são realizadas visitas periódicas por técnicos, com o
objetivo de verificar a manutenção do sistema em funcionamento (11).

Protocolos Internacionais de Garantia de Segurança Alimentar

BRC Global Standart – Food (BRC GSF) (12)

Com a entrada em vigor do “Food Safety Act 1990 (FSA)” no Reino Unido, os
varejistas, bem como os demais envolvidos na cadeia de suprimento de alimentos, passaram a
tomar todas as precauções para evitarem falhas, seja no desenvolvimento, manufatura,
distribuição, propaganda ou na venda de gêneros alimentícios aos consumidores. Com isso,
criou-se a necessidade de inspeções da performance técnica em instalações de produção de
alimentos, sendo que por muitos anos estas inspeções foram desenvolvidas pelos varejistas,
separadamente, utilizando critérios individuais e padrões próprios. Em 1998, o “British Retail
Consortium”, uma associação de varejistas britânicos, desenvolveu e introduziu seu Protocolo
Técnico com padrões para as empresas que abasteciam o varejo com gêneros alimentícios.
Inicialmente, tal Protocolo Técnico foi desenvolvido para produtos de marca do varejo
(Retailer Branded Products), e atualmente o protocolo BRC disseminou-se para várias outras
áreas e setores da indústria de alimentos, serviços de alimentação e manufatura de
ingredientes. Desde 1998, data do seu lançamento, o protocolo BRC foi revisado em duas
ocasiões e a Terceira Edição foi publicada em abril de 2002. Em cada revisão, o BRC tem
consultado extensivamente várias partes interessadas, para garantir a aceitabilidade e
integridade do protocolo.
Em janeiro de 2003, reconhecendo que o nome e escopo do “BRC Food Technical
Standart” necessitava de mudanças para refletir seu uso real, este passou a ser chamado de
“BRC Global Standart – Food” (BRC GSF). Esta alteração também visou atender outros
setores ligados ao suprimento de gêneros alimentícios que necessitavam de padrões ligados à
segurança alimentar.
O BRC GSF foi criado para amparar os varejistas no processo de atendimento de todas
as obrigações legais e de proteção ao consumidor, através da definição de parâmetros comuns
que possam ser auditados nas empresas fornecedoras de gêneros alimentícios. Desde a
introdução do FSA, as obrigações repassadas aos varejistas do Reino Unido se transformaram
em boas práticas que se espalharam por toda a cadeia de suprimentos de gêneros alimentícios
e com isso, os fornecedores aceitaram estes princípios como um processo de identificação dos
pontos críticos que permitem nortear sua forma de trabalho. Os padrões definidos pelo BRC
GSF incorporaram os princípios fundamentais bem como os padrões, antes individuais, de
forma a refletir tanto os requisitos dos varejistas como dos fornecedores. É importante deixar
claro que os padrões do protocolo BRC não têm a pretensão de substituir os requerimentos
legais que requeiram um nível de controle mais exigente.
A auditoria técnica das companhias de produção de suprimentos baseado nos padrões
do protocolo BRC GSF, é apenas parte do processo de suprimento, sendo que a decisão final
está baseada na confiança entre o fornecedor e o varejista. Os padrões estabelecidos pelo
protocolo BRC GSF são revistos regularmente pelos membros do BRC e as revisões são feitas
quando apropriadas.

Exigências do protocolo BRC GSF - Para se atender às exigências do protocolo BRC


GSF deve-se:

 Adotar e implementar um plano APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos


de Controle);
 Adotar um sistema de gerenciamento da qualidade efetivo (funcionando) e
documentado, por exemplo ISO 9001:2000.
 Estabelecer controle operacional dos padrões, produtos, processos e pessoas;
 Cumprir os dois níveis do protocolo: Foudation Level e Higher Level

Escopo do protocolo BRC Global Standard – Food (BRC GSF) - O BRC GSF define
exigências para o abastecimento do mercado com os seguintes produtos:

 Produtos para o varejo;


 Produtos derivados de alimentos, processado ou preparados;
 Ingredientes para uso em empresas de alimentação;
 Empresas de manufatura ou preparo de alimentos.

Cada seção do Technical Standard começa com um parágrafo destacado com texto em
negrito, e cada parágrafo indica a intenção do protocolo, e define os requisitos que todos os
fornecedores devem atender de forma a receberem o certificado. Abaixo do termo de intenção,
existem três colunas de critérios específicos:

 Nível básico ou de fundação (Foundation Level)


 Nível elevado (Higher Level)
 Recomendações de Boas Práticas (Recommendations on Good Practices)

Sendo que resumidamente tais níveis de critérios podem ser apresentados como:

Nível básico ou de fundação (Foundation Level): Todos os critérios definidos na


coluna I devem ser atendidos para que a empresa receba o certificado de Nível Básico
(Foudation Level). Além do atendimento ao Nível Básico é incentivado que a empresa aspire
para o atendimento aos demais critérios da coluna II, Nível Elevado (Higher Level) e o da
coluna III, Recomendações de Boas Práticas (Recommendations on Good Practices).

Nível elevado (Higher Level): Para atender a este nível, primeiramente todos os
critérios do Nível Básico devem ter sido alcançados. Além disso, todos os critérios da coluna
II devem ser atendidos para que a empresa receba o certificado de Nível Elevado (Higher
Level). Além do atendimento ao Nível Elevado é incentivado que a empresa aspire para o
atendimento aos demais critérios da coluna III, Recomendações de Boas Práticas
(Recommendations on Good Pratices).
Recomendações de Boas Práticas (Recommendations on Good Practices): Estes
critérios são recomendados a todos os fornecedores como sendo as melhores práticas de
processo que devem ser alcançados pelas empresas. Onde estas recomendações não forem
alcançadas, é necessário que estas áreas de não conformidade sejam documentadas através do
Relatório de Avaliação (Evaluation Report).

É esperado, dentro de um andamento normal da empresa, que esta alcance inicialmente


os dois primeiro níveis e ao final atenda a todos os critérios. Quando isso acontecer, será
necessário realizar inspeções periódicas e um Relatório de Avaliação deverá ser criado, onde
deverão constar os desvios de atendimento aos padrões. As não conformidades relatadas
deverão ser atendidas e as melhorias deverão ser propostas. Podem existir fornecedores que
por uma série de motivos, não consigam atender aos níveis mais avançados. Neste caso deverá
existir uma apreciação formal do varejista, informando sua intenção em manter suas compras
deste fornecedor individual.

Benefícios do BRC Global Standard – Food - Entre os benefícios da implementação


do BRC GSF, pode-se citar: um único padrão e protocolo, permitindo que as avaliações sejam
realizadas por Órgãos de Certificação, que sejam acreditados pela EM 45011 ou certificados
pelo Guia 65 da ISO/IEC; verificação única, comissionada pelo varejista e com freqüência de
inspeção previamente acordada. Isso permite aos fornecedores, reportarem sua situação
baseados no status das inspeções do protocolo; o escopo do protocolo é detalhado e cobre
todas as áreas de segurança alimentar e legislação; o protocolo endereça parte das exigências
tanto dos varejistas como fornecedores; através da avaliação do protocolo é possível manter-
se atualizado sobre o processo de adequação, falhas e não conformidades, bem como ações
corretivas. Como os Órgãos Certificadores estão acreditados internacionalmente, a
certificação tem validade em outros países fornecedores de produtos alimentícios.

EUREPGAP (13)

O EUREP (Euro-Retailer Produce Working Group), um grupo formado por atacadistas e


varejistas europeus, desenvolveu em conjunto com outros membros da cadeia produtiva de
alimentos o Protocolo EUREPGAP, com o objetivo de reconhecer os progressos significantes
já realizados por muitos produtores, cooperativas, organizações de produtores, redes locais e
internacionais em desenvolver e implementar sistemas agrícolas levando em consideração as
boas práticas, com o objetivo de minimizar os impactos adversos ao meio ambiente e a
proteção ao trabalhador.
O protocolo EUREPGAP estabelece uma estrutura de Boas Práticas na Agricultura
(em inglês, GAP, Good Agricultural Practices) em propriedades rurais, e define elementos
essenciais para o desenvolvimento das boas práticas para a produção global de produtos horti-
fruti (frutas, vegetais, bulbos, saladas, flores e mudas). Ele define os padrões mínimos
aceitáveis para as lideranças do negócio varejista na Europa, no entanto, padrões para
distribuidores individuais e aqueles adotados por alguns produtores podem exceder os
estabelecidos pelo Protocolo.
O EUREPGAP é uma forma de incorporar as práticas do Manejo Integrado de Pragas
(MIP) e da Produção Integrada de Culturas (PIC) na rede comercial de produção agrícola. A
adoção do MIP/PIC é considerada pelos membros do EUREP como essencial para a
implantação da agricultura sustentável. O EUREP suporta os princípios e encoraja o uso do
Sistema APPCC, Análise de Perigos e dos Pontos Críticos de Controle no processo produtivo.
Para o EUREP, é essencial que todas as organizações envolvidas na cadeia produtiva
de alimentos aceite sua parte nestas tarefas e se responsabilize em implementar
completamente e manter os requisitos do Protocolo EUREPGAP, pois para que a confiança do
consumidor nos produtos frescos seja mantida, tais padrões de boas práticas na agricultura
devem ser adotados, e exemplos de práticas inadequadas devem ser eliminados da indústria.
O Protocolo EUREPGAP é o documento normativo para a certificação. Este
documento deve ser verificado seguindo as regras descritas no documento Regulamentação
Geral do EUREPGAP para Frutas Frescas e Vegetais (em sua última versão). Os produtores
receberão sua aprovação para o EUREPGAP através de verificação independente de um
organismo certificador que seja aprovado pelo EUREP. O período de verificação deve ser
ajustado juntamente com o distribuidor.

Escopo do protocolo EUREPGAP - Os itens avaliados no Protocolo EUREPGAP são


os seguintes:

1. Rastreabilidade
2. Manutenção de registros
3. Estoques de sementes, mudas e variedades
4. Histórico do local e gerenciamento do local
5. Gerenciamento do solo e dos substratos
6. Uso de fertilizantes
7. Irrigação
8. Proteção do cultivo
9. Colheita
10. Tratamento pós-colheita
11. Gestão de resíduos e poluição, reciclagem e reuso
12. Saúde do trabalhador, segurança e bem estar
13. Questões Ambientais
14. Atendimento aos clientes/reclamações

Benefícios do protocolo EUREPGAP - Uma vez obtida a certificação EUREPGAP, o


produtor é capaz de demonstrar:

 Respeito às legislações nacional e internacional.


 Manutenção da confiança do consumidor na qualidade e segurança do
alimento.
 Minimização dos impactos negativos no meio ambiente, conservando a
natureza e a vida selvagem.
 Redução do uso de agrotóxicos.
 Aumento da eficiência do uso de recursos naturais.
 Responsabilidade com a saúde e segurança do trabalhador.
 Adequação das instalações (galpões, packing houses, etc).
 Treinamento e capacitação de todos os funcionários e demais envolvidos no
processo produtivo (implementação de Sistema APPCC e de Boas Práticas
Agrícolas e de Fabricação)
 Criação de documentos de controle das etapas do processo produtivo, com
objetivo de proporcionar a segurança alimentar do produto final e sua
rastreabilidade.

FAIRTRADE ou "COMÉRCIO JUSTO" (14,15)

A certeza de que os trabalhadores que produziram os alimentos não foram explorados


e, além disso, o incentivo ao desenvolvimento em países pobres é uma prática conhecida
como "fairtrade" (comércio justo), e que está conquistando cada vez mais adeptos na Europa,
nos Estados Unidos, no Canadá e no Japão. Um movimento que começou a tomar forma há
15 anos hoje soma entidades de 17 países, reunidas na Fairtrade Labelling Organizations
(FLO), em uma iniciativa para permitir que os consumidores do hemisfério Norte fiquem
seguros de que estão ajudando produtores do hemisfério Sul quando vão ao supermercado
fazer compras. Existem diversas organizações internacionais com esse objetivo, mas a
Fairtrade se destaca pela amplitude e pela adoção de um selo que identifica os produtos que
certifica. Em 2003, foram comercializadas 77 mil toneladas de produtos com o rótulo
Fairtrade, num volume de negócios que está próximo dos US$ 500 milhões (cerca de R$ 1,4
bilhão), sendo que a Organização Mundial do Comércio calcula que em 2002 a agricultura
movimentou no planeta mais de US$ 580 bilhões. Em geral, uma mercadoria com o selo da
Fairtrade é de 10% e 20% mais cara. A Fairtrade garante aos produtores um preço mínimo,
que não se sujeita às flutuações dos mercados de commodities. O princípio do selo se
fundamenta em que o preço mínimo do comércio justo cubra os custos de produção, pois um
dos principais problemas na agricultura hoje em dia é que os preços dos mercados mundiais
nem sequer cobrem esse custos. A Fairtrade também paga um extra, ou "premium", que deve
ser obrigatoriamente investido no desenvolvimento social e econômico das cooperativas e
associações e suas comunidades. O "premium" em alguns casos pode chegar a centenas de
milhares de dólares.
Para obter o selo Fairtrade, e assim atrair a atenção dos consumidores politicamente
corretos, os produtores e varejistas precisam aderir a uma série de princípios. Na questão
ambiental, os produtores que aderem às regras da Fairtrade estão proibidos de usar diversos
tipos de pesticidas e devem assumir o compromisso de evitar a erosão da terra e proteger
fontes naturais de água, florestas virgens e ecossistemas de alto valor ecológico. Embora não
seja obrigatório, o cultivo de produtos 100% orgânicos é encorajado. A Fairtrade afirma que
seu trabalho beneficia mais de 800 mil famílias de agricultores, reunidas em 375 organizações
produtoras em cerca de 50 países da África, da Ásia e da América Latina. Na outra parte da
cadeia, são 337 empresas comerciantes registradas (exportadores, importadores, processadores
e manufatores). Apesar do tamanho de sua agricultura, o Brasil não ocupa uma posição de
destaque entre os cerca de 50 países que escoam parte de sua produção por meio da Fairtrade.
As cooperativas e associações brasileiras ligadas à Fairtrade reúnem por volta de 1.500
produtores e se limitam a poucas mercadorias (suco de laranja, café, polpa de manga e
banana), nos Estados de Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Bahia, Minas Gerais, Espírito
Santo e Paraíba. Em São Paulo, apenas a Coagrosol (Cooperativa dos Agropecuaristas
Solidários de Itápolis) trabalha com a Fairtrade. Criada em 2000 na cidade localizada 359 km
a noroeste da capital, a cooperativa reúne 50 pequenos produtores. Da produção de 150 mil
caixas de laranja da Coagrosol, dois terços se transformam em 400 toneladas de suco de
laranja que são exportados pelo esquema de comércio justo. Cada tonelada rende ao produtor
US$ 1.200 (receberiam apenas US$ 900 se vendessem no mercado normal). Além disso,
recebem US$ 100 extras por tonelada para investir no desenvolvimento social e econômico da
comunidade. Representantes dos trabalhadores rurais, da cooperativa e da Pastoral da Criança
decidiram aplicar o "premium" em cursos de alfabetização e informática e em uma oficina de
artesanato em madeira para as crianças. Também optaram por tratar o aterro sanitário, criar
uma usina de compostagem e comprar equipamentos para um programa de combate à
desnutrição infantil.

ISO 22000 (16)

A International Organization for Standardization (ISO) está desenvolvendo uma


norma para a certificação de sistemas de gestão de segurança alimentar. Esta é uma
oportunidade para atingir uma padronização internacional no campo das normas de segurança
alimentar e isso também propiciará uma ferramenta para a implementação do APPCC através
da cadeia de abastecimento de alimentos porque é adaptável para todos os interessados desta
cadeia. A ISO 22000 tem o principal objetivo de oferecer uma solução para os problemas
referentes ao grande número de normas que as empresas exportadoras devem atender para
permanecerem no mercado. Há um interesse internacional considerável nesta norma. O grupo
de trabalho que está desenvolvendo a ISO 22000 tem representantes de 14 países que
representam todos os continentes. O grupo de trabalho também conta com representantes de
organizações como o Codex Alimentarius, da Global Food Safety Initiative (GFSI) e da
Confederation of the Food and Drink Industry of the European Union (CIAA).
Entretanto, a aceitação pelos envolvidos na cadeia produtiva e o uso desta norma
como base para controlar a segurança de alimentos em todas as fases da cadeia de produção se
converte em um condicionante para o sucesso da mesma.
A importante vantagem da ISO 22000, é que será possível usá-la em toda a cadeia
produtiva. Ela será aceita internacionalmente e cobrirá quase todos os requisitos das outras
normas atuais. A mais importante diferença entre normas como a BRC e a IFS, é que a ISO
22000 não terá uma lista detalhada de requisitos de boas práticas.
A ISO 22000 terá como requisito a implementação de boas práticas pelas organizações
e espera que as empresas definam as boas práticas que lhes são apropriadas. Para isso, a
norma faz referência a vários códigos de boas práticas internacionalmente reconhecidos e
relacionados com o Codex Alimentarius.
A norma é constituída por três partes:
 Requisitos para boas práticas de fabricação ou programas de pré-requisitos;
 Requisitos para o APPCC de acordo com os princípios do APPCC do Codex
Alimentarius;
 Requisitos para um sistema de gestão.

Os requisitos para Boas Práticas de Fabricação não são listados na norma, mas são
referenciados às boas práticas existentes. O formato da norma é o mesmo da ISO 9001 e ISO
14001, o que permite a sua integração com um sistema integrado desenvolvido de gestão de
risco.
Se todos os interessados, como por exemplo, as redes de supermercados, aceitarem a
ISO 22000 como base para a implantação dos requisitos de um sistema de gestão e somente
definirem um número limitado de requisitos adicionais, a sobreposição de diferentes normas e
auditorias de certificação irá desaparecer. Isto, certamente, será um benefício para toda a
indústria de alimentos. A publicação do Draft International Standard (DIS) é esperada para o
primeiro semestre de 2004. Depois da publicação, fica na dependência dos comentários e a
votação final dos membros da ISO quando a versão final será publicada. O plano original
indica que isto ocorrerá em setembro de 2004, mas é provável que isto seja postergado por
mais seis meses. A versão DIS da ISO 22000 pode ser usada como uma ferramenta para
melhorar o sistema de gestão de segurança de alimentos das organizações. Os requisitos são
desenvolvidos por especialistas em APPCC de todas as partes do mundo e a norma terá
reconhecimento internacional. As empresas que já estão certificadas por uma norma de
segurança de alimentos estarão aptas a atualizar seus sistemas com os requisitos adicionais da
ISO 22000 e terão a oportunidade de serem certificadas contra esta nova norma. A quantidade
de esforço para isto dependerá do nível de conformidade da norma certificada com a nova
norma ISO 22000.

CONCLUSÕES
A experiência prática, obtida através dos trabalhos desenvolvidos pela Ecolog
Consultoria Integrada, na implementação de requisitos das normas de segurança alimentar de
frutas, tem mostrado algumas limitações, sendo que os principais fatores que dificultam o
processo de implementação, se devem aos seguintes aspectos:

Culturais - O produtor, de pequenas e médias propriedades rurais não está habituado a


registrar os tratos culturais realizados durante os estágios de cultivo e nem as etapas e
tratamentos de processamento das frutas. O produtor também, muitas vezes não acredita que
serão necessários registros e históricos das atividades realizadas com a fruta, desde o viveiro
até o palete, pois acreditam que uma vez consumida, a fruta irá desaparecer e não causará
maiores problemas. Ou seja, o produtor tem dificuldade de enxergar a principal demanda da
cadeia produtiva, com o consumidor no extremo da cadeia exigindo comprovação de
segurança alimentar.

Operacionais – O produtor relaciona a necessidade de registro de informações com


complicações no seu processo produtivo, como necessidade de contratação de mão-de- obra
especializada, ou então treinamento de mão-de-obra já existente na fazenda, deslocamento de
pessoal de suas atividades específicas, aumento do número de documentos e papéis,
necessidade de espaço para guardar documentos.

Financeiros – Muitas vezes o produtor terá que alocar recursos financeiros, por menor
que seja o investimento, para o desenvolvimento e a implementação de um sistema de
rastreabilidade, e de melhorias nas instalações, sendo que hoje, não existem linhas de
financiamento especiais para tal.

Dentre outras dificuldades que podem ser citadas, estas em âmbito estrutural, estão a
precariedade de algumas regiões produtoras de frutas em relação a infra-estrutura de packing
house ou centrais de beneficiamento, armazenamento, transporte, distribuição e
comercialização de seus produtos. Deve-se ressaltar que não se aplica na maioria das
empresas da cadeia produtiva de frutas de maior expressão na exportação. Outro fator
estrutural complicador é que a cadeia de produção de frutas e hortaliças frescas tem, na sua
complexidade, características muito marcantes: a pulverização e a sazonalidade da produção,
a perecibilidade do produto, a transformação e a rápida desvalorização comercial do produto
com a perda do frescor, a grande fragilidade comercial dos produtores e a inexistência de um
elo coordenador da cadeia. Outras dificuldades a serem superadas incluem a falta de uma
política de defesa fitossanitária em âmbito nacional, a carência de infra-estrutura organizada
para as frutas, abrangendo transporte e armazéns frigorificados, critério e crédito para
comercialização e armazenagem e o sistema tributário da produção, notadamente na que se
refere a ICMS para movimentação entre estados brasileiros, só para citar alguns problemas.

A exportação de frutas, verduras e legumes tem um grande potencial de riqueza e de


melhoria da competitividade do produto nacional. Nos grandes países exportadores de
produtos frescos a melhoria da qualidade do produto para o mercado interno, a adoção de
normas de classificação, a adoção de embalagens adequadas e de sistemas modernos de
movimentação de carga, foi alavancada pelas exigências da exportação. Só uma pequena
parcela da produção atende às exigências do mercado de exportação, o restante deve ser
destinado aos seus diversos melhores nichos de mercado: venda ao varejo em unidades de
compra, venda ao varejo a granel ou a venda ao serviço de alimentação, onde o custo do
produto e determinante ou ainda à industrialização do produto (7).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Ibraf, Estatísticas, www.ibraf.org.br


2. As novas ferramentas da agroindústria – Processamento, soluções para processos
agroindustriais, http://www.agropro.com.br/pages.php
3. www.abpm.org.br
4. http://www.ufpel.tche.br/pif/
5. Normas Técnicas Específicas para a Produção Integrada de Maçã – NTEPIM, versão
julho 2003, www.abpm.org.br
6. Caderno de Pós – Colheita Produção Integrada de Maçã – PIM, versão julho 2003,
www.abpm.org.br
7. Anita de Souza Dias Gutierrez, coordenadora do CQH, www.ceagesp.com.br
8. www.ceagesp.com.br
9. Diretrizes para o Padrão de Qualidade ORGÂNICO INSTITUTO BIODINÂMICO®
2004, 11a Edição Revisada (www.ibd.com.br)
10. Arnaldo Eijsink, diretor de agronegócios do Carrefour (www.agrimidia.com.br)
11. Hélio Nishimura, consultor FLV – Companhia Brasileira de Distribuição,
comunicação pessoal.
12. Ecolog Consultoria Integrada, documentos de circulação interna, 2004.
13. Ecolog Consultoria Integrada, documentos de circulação interna, 2004.
14. http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft0404200403.htm
15. http://www.fairtrade.net/
16. Texto traduzido da publicação “LRQ Review”, edição de abril/2004, publicada pelo
Lloyd’s Register Quality Assurance.

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