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Belo Horizonte
2010
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................03
8. REFERÊNCIAS.......................................................................................................14
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Resumo
A idéia de segurança coletiva vem sendo aplicada desde a criação da Liga das
Nações, no final da primeira guerra, até as atuais operações de paz da ONU. Sua
aplicabilidade ainda é seriamente questionada, assim como sua continuidade.
Entender a base deste conceito, assim como o mesmo aparece no pacto da Liga das
Nações e na carta da ONU é de vital importância para se avaliar a legitimidade das
operações de paz que a última instituição mantém e entender se as mesmas tem sido
eficazes na manutenção da paz mundial.
Palavras Chave: Segurança Coletiva, ONU, Liga das Nações, Operações de Paz.
1. INTRODUÇÃO
Este artigo tem como objetivo principal avaliar em que medida o conceito de
Segurança Coletiva ajuda na manutenção da paz e da ordem mundial, e de que forma
as operações de paz da ONU se encaixam no contexto deste conceito. O mesmo é
dividido em três partes, basicamente. Na primeira parte é apresentada a evolução do
conceito de Segurança Coletiva desde a sua criação na Liga das Nações (LDN), no
final da Primeira Guerra Mundial, até o pós-guerra fria, passando pela criação da
Organização das Nações Unidas e o período da guerra fria. A forma pela qual se
apresenta esta evolução se dá na avaliação dos artigos do pacto da LDN e na carta da
ONU para se chegar a um conceito geral.
Após isso, são apresentadas duas operações de paz que a ONU realizou. Aqui
foram escolhidas as seguintes operações: Coréia (1950) e Ruanda (1994). Tais
operações foram escolhidas uma vez que, uma delas, foi implementada durante o
regime da guerra fria, e a outra no pós guerra fria. A idéia aqui é mostrar como este
período influenciou na decisão da Organização, além de exemplificar e corroborar com
o objetivo central deste artigo.
A última parte do artigo se destina a considerações finais, além de uma
potencial conclusão acerca do tema que foi pesquisado.
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Graduando em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
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clara de impor um tipo de paz aos vencidos pelos vencedores, uma vez que seu
escopo fora desenhado na conferência de paz em Paris, quando do tratado de
Versalhes. (HERZ & HOFFMANN, 2004)
É na Liga, também, que se observa a primeira tentativa de criar um sistema de
segurança coletiva. Baseada principalmente nos artigos 10, 11 e 16, tal conceito fora
concebido no sentido de que qualquer agressão, engajada por um estado, à
territorialidade de outro, membro da Liga ou não, enfrentaria retaliações econômicas,
comerciais, diplomáticas e até mesmo militares por parte dos Estados-Membros da
Liga ao agressor. A idéia aqui era evitar que tais agressões fossem iniciadas, uma vez
que todos os estados, munidos do calculo racional, não se engajariam em uma
disputa, seja ela armada ou não, uma vez que sofreriam retaliações de todos os outros
estados que teriam, muito provavelmente, uma força maior do que este agressor
sozinho no sistema internacional; nesse sentido, percebe-se a importância de não se
haver uma unipolaridade sistêmica, uma vez que o Estado unipolar teria forças
suficientes para derrotar qualquer coalizão de adversários.
O grande problema encontrado neste sistema seria o fato de que as decisões
da Liga deveriam ser tomadas por unanimidade, e não terem o caráter obrigatório,
além, é claro, da não participação dos Estados Unidos, o que tornaria uma sanção
econômica difícil de ser aplicada, uma vez que o referido país, à época, já era um
Estado em ascensão. A principal questão aqui, é que, esbarrando em interesses
estatais divergentes, a definição do que seria uma agressão não era clara, o que
dificultava a aprovação de uma resolução baseada no Artigo 16. Dessa forma, apesar
de o sistema criado prever uma ação mais rígida em relação a um agressor, uma
resolução deste porte, baseada no Artigo 16, nunca fora tomada.
Um sistema tão descentralizado como esse não poderia funcionar ou prover
qualquer tipo de segurança. Ao contrário, sua falha ao garantir a paz fez com que a
insegurança surgisse de forma que nenhum estado esperava ser defendido pelo
sistema de segurança coletiva da liga. Assim, vários conflitos eclodiram durante o
tempo de funcionamento da Liga e a mesma não foi capaz de evitá-los. Para citar
alguns destes conflitos temos: a Guerra do Chaco entre Bolívia e Paraguai (1932-
1935); a invasão da Manchúria pelo Japão em 1931; a absorção da Albânia pela Itália
em 1939; o começo da expansão alemã na Áustria e nos sudetos; além, é claro, das
agressões alemãs que anunciavam a segunda guerra mundial. (KOLB, 2007)
Desta forma, a Liga sucumbiu aos interesses estatais justamente por uma de
suas características mais valorizadas: o universalismo. Vale lembrar que a
necessidade de unanimidade para qualquer decisão se tornava um problema sério
uma vez que esbarrava nas políticas externas divergentes dos países e estes não
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Uma vez que falta uma base constitucional que traga uma definição específica
acerca do que seria, de fato, as Operações de Paz da ONU, uma definição consensual
das mesmas se torna difícil, já que estas eram adaptadas às peculiaridades de cada
conflito. Apesar desta falta de consenso, o Sub-Secretário Geral Marrack Goulding
definiu tais operações como “operações das Nações Unidas em que existe a atuação
de pessoal internacional, civis e/ou militares, que são estabelecidas a partir do
consenso das partes envolvidas e sobre o comando das Nações Unidas para ajudar a
controlar e resolver atuais ou potenciais conflitos internacionais ou internos, onde
estes últimos se configuram como uma ameaça à paz mundial.” (WEISS, 1994)
Devido a prerrogativa do veto que as superpotências rivais detinham, a única
vez em que fora autorizada uma missão de restauração da paz foi no caso da guerra
da Coréia, na década de 50; ainda assim, devido a falta de atenção da delegação
soviética que se encontrava ausente2 quando da votação da resolução, não podendo,
assim, vetá-la.
Em suma, a segurança coletiva criada no sistema ONU durante a guerra fria se
limitava, assim como a Liga das Nações, contra ameaças aos limites territoriais de um
Estado, ou em guerras civis que fossem consideradas ameaçadoras para o sistema
internacional vigente. Além disso, a Organização levava em conta o mecanismo da
Liga das Nações, onde todos os países membros deveriam se comprometer com a
questão colocada, ainda que de forma não específica. Isto fica visível nos artigos 43,
48 e 49 do capitulo VII, quando, afirmam que todos os membros prestarão ajuda na
manutenção da paz, ou seja, do status quo.
5. PÓS GUERRA FRIA E A AMPLIAÇÃO DO CONCEITO DE SEGURANÇA
Embora o Conselho tenha ficado praticamente inativo durante quase cinco
décadas, ao final da chamada guerra fria, quando do colapso da União Soviética, o
sistema se via diante de um novo panorama, onde, para alguns, existia uma
unipolaridade, e, para outros, uma multipolaridade desequilibrada. Assim, a
Organização passa por algumas mudanças. Mudanças essa não no seu estatuto, mas
pela forma como este era visto e considerado pelos Estados-Membros. “Destarte, as
normas sobre as quais se basearam as novas operações de paz passavam por um
momento de crescente universalização e enraizamento.” (HERZ & HOFFMANN, 2004)
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Tal ausência era um protesto à presença permanente de Taiwan, no lugar da China, no Conselho de
Segurança.
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A maioria destas PKO’s se deveram a conflitos que estavam em estado de latência durante a guerra-
fria e que eclodiram com o colapso da União Soviética. Conflitos estes que são, basicamente,
nacionalistas-separatistas.
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Agora, o general Ridgway comandava a operação. MacArthur fora retirado porque sua linha de
pensamento era divergente do que os Estados Unidos e da ONU.
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prejudicasse seus aliados da OTAN, por exemplo; da mesma forma que seria
igualmente ingênuo acreditar que a antiga União Soviética se posicionaria contrária a
seus aliados do Pacto de Varsóvia. Novamente recorrendo à lógica da segurança
coletiva, o tratamento de qualquer ameaça, seja ela advinda de qualquer país, deveria
ser o mesmo, o que não ocorre quando se avalia a história.
O segundo ponto levantado lida com o poder propriamente dito. Qualquer
tentativa de se aplicar a segurança coletiva em estados com alto grau de militarização
tornar-se-ia difícil quando se fala em algum tipo de resistência por parte do estado em
que se esta “combatendo”. Uma vez que os mesmos teriam um poder retaliatório
grande, qualquer engajamento teria o potencial de escalar para conflitos desastrosos e
devastadores. Além disso, não são somente as grandes potências que são difíceis de
lidar. O exemplo claro é o da própria Coréia contemporânea; como é percebido
atualmente, uma Coréia do Norte nuclear poderia, em caso de uma operação de paz,
ou sanção econômica, responder com um ataque retaliatório que poderia levar o
sistema internacional a beira de um colapso nuclear, devido, também, ao sistema de
alianças que se desenvolve paralelamente ao do sistema ONU.
Em terceiro lugar, fala-se dos danos econômicos não somente para os estados
agressores, mas também aos que tem algum tipo de acordo comercial com os
primeiros. Um exemplo claro é a Suíça que se recusou a aplicar sanções econômicas
à Itália de Mussolini porque tinha, com esta, vários acordos comerciais. Embora a
Bulgária tenha se posicionado em favor das sanções contra a África do Sul, devido à
política do apartheid, a mesma vendia armas, por debaixo dos panos. “Uma coisa era
os estados concordarem que a política do apartheid era uma clara ameaça à paz,
outra coisa era engajarem-se coletivamente contra esta política em detrimento de seus
interesses nacionais”. (WEISS, 1994)
Em quarto lugar, a lógica do sistema de segurança coletiva pressupõe que
todos os estados devem ter igual importância para o sistema internacional. Assim, o
Oriente Médio, local em que existem reservas abissais de petróleo, deveria ser
equiparado com a Somália, onde não existem reservas naturais, ou potenciais
econômicos, iguais aos do Oriente Médio; além disso, uma Coréia do Sul e do Norte
durante a guerra fria deveriam ter tratamentos iguais aos de Ruanda. Assim, percebe-
se que a localização geopolítica influencia sobremaneira em questões relacionadas à
aplicação da segurança coletiva.
Apontados estes quatros motivos, percebe-se que a lógica que a ONU propõe,
não somente não é seguida, mas também que a solução encontrada para esta falta de
aplicabilidade não tem, de fato, seguido a universalidade que a Organização preza.
Uma vez que a ONU não conseguiu nem sequer começar os diálogos acerca da
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criação de seu braço armado, as operações de paz são uma espécie de “quebra-
galhos” no sentido de que não deixam a idéia de uma Organização que se empenha
para alcançar a estabilidade mundial morrer. Assim como o ex-Secretário Geral
Hammarskjold afirmou, as PKO’s estão previstas no famoso “artigo seis e meio”.
Embora as guerras, civis ou inter-estatais, sejam, atualmente, moralmente
discriminadas pela população de forma geral, as mesmas foram uma realidade no
passado e também o são no presente. Apesar de a Organização das Nações Unidas
tentarem, de forma quase que exaustiva, alcançar a paz e a estabilidade mundial,
percebemos que os interesses estatais ainda são os que prevalecem nas relações
internacionais. Prova disso é o próprio sistema de segurança coletiva proposto pela
ONU que ainda não existiu de fato, apesar dos mais de sessenta anos da
Organização. A idéia de se criar um sistema no qual todos os países prezariam pela
paz e agiriam em conformidade aos regulamentos, além de tomarem partido em toda e
qualquer ação que se constituísse em ameaça à paz, ainda é uma realidade distante
para o sistema internacional como um todo. Nas palavras de Weiss (1994): “se
acordos internacionais em questões de segurança fossem fáceis de se alcançar, nós,
provavelmente, viveríamos, ou alcançaríamos, uma governança global e não somente
a segurança coletiva.”
Abstract
The idea of collective security has been applied since the creation of the League of
Nations, at the end of the First World War, to the current peacekeeping operations of
UN. Its applicability is still seriously questioned, as well as it's continuity. Understanding
the basis of this concept, as it appears in the covenant of the League of Nations and in
the UN charter is of vital importance to assess the legitimacy of the peacekeeping
operations that the latter institution maintains and understand whether they have been
effective in maintaining world peace.
8. REFERÊNCIAS
BBC. Rwanda: How the genocide happened. Reino Unido: BBC, 2008. Disponível
em: < http://news.bbc.co.uk/2/hi/1288230.stm > Acesso em: 5/02/2010.
BRANT, Leonardo Nemer Caldeira; DINIZ, Pedro Ivo Ribeiro (Coord.). Comentário à
carta das nações unidas. Belo Horizonte: CEDIN, 2008.
KOLB, Robert. The eternal problem of collective security: from the League of
Nations to the United Nations. In: Refugee Survey Quarterly 26: 220-225. Oxford
Journals, 2007.
LIGA DAS NAÇÕES, League of Nations Covenant. First World War: 2000.
Disponível em: < http://www.firstworldwar.com/source/leagueofnations.htm > Acesso
em 28 /01 /2009
NYE, Joseph Jr. Cooperação e Conflito nas Relações Internacionais. São Paulo:
Gente, 1994.
ONU, United Nations Assistance Mission for Rwanda (UNAMIR). Rwanda Crisis. New
York: ONU, 1994. Disponível em: <
http://www.un.org/en/peacekeeping/missions/past/unamirS.htm#UNAMIR > Acesso
em: 03/02/2010.
PRUNIER, Gérard. The Rwanda Crisis: history of a genocide. London: C. Hurst &
Co. : 2002.
WEISS, Thomas G.; FORSYTHE, David P.; COATE, Roger A. The United Nations
and changing world politics. 4th ed. Boulder: Westview, 1994.