O documento discute como grupos marginalizados lidam com memórias traumáticas através de três exemplos: 1) Memórias reprimidas na União Soviética que foram reivindicadas após a destalinização, 2) Judeus na Alemanha pós-guerra que preferiram o silêncio às memórias dolorosas, 3) Soldados alsacianos forçados a lutar para a Alemanha que negaram essa memória vergonhosa.
O documento discute como grupos marginalizados lidam com memórias traumáticas através de três exemplos: 1) Memórias reprimidas na União Soviética que foram reivindicadas após a destalinização, 2) Judeus na Alemanha pós-guerra que preferiram o silêncio às memórias dolorosas, 3) Soldados alsacianos forçados a lutar para a Alemanha que negaram essa memória vergonhosa.
O documento discute como grupos marginalizados lidam com memórias traumáticas através de três exemplos: 1) Memórias reprimidas na União Soviética que foram reivindicadas após a destalinização, 2) Judeus na Alemanha pós-guerra que preferiram o silêncio às memórias dolorosas, 3) Soldados alsacianos forçados a lutar para a Alemanha que negaram essa memória vergonhosa.
CADEIRA DE TEORIA E METODOLOGIA DA HISTÓRIA II PROFESSOR: FREDERICO DE CASTRO NEVES ALUNO: ANDERSON DOS DOS SANTOS PAIVA
RESENHA DO TEXTO “MEMÓRIA, ESQUECIMENTO, SILÊNCIO”
DE MICHAEL POLLAK
FORTALEZA, 11 DE FEVEREIRO DE 2022
Com enfoque nos elementos compositores dos lugares de memória, essenciais em âmbito coletivo, e à luz dos estudos de Pierre Nora, verifica-se, sob os estudos de Durkheim, a atribuição de uma objetificação a tais locais de memória (arquiteturas, regras de interação, música, culinária etc.). São esses elementos que definem, hierarquizam e classificam a face dos diferentes grupos sociais. Maurice Halbwachs ressalta a positividade da memória comum em relação aos corpos sociais coletivos, pois a partir delas é tomada uma coesão mútua não induzida pela coerção, e sim pela aderência dos coletivos, o que os transforma em uma espécie de “comunidade afetiva”, sendo expressa em sua forma mais nítida na composição de nação. E esta memória coletiva não expressasse individualmente, em suma, pois necessita, para compor-se e firma-se de seus elementos construtores, de um diálogo entre o âmbito individual e o âmbito plural, público, grupal, pois é interessante estabelecer respaldo para as lembranças individuais e coletivas numa tentativa de encontrar uma base de formação para os dois lugares de memória. De extrema importância, a identificação do que são, onde estão e por quem se dão as memórias concretas e imutáveis, ou a memória nacional, é um trabalho inerente aos estudos da memória coletiva, uma vez que es pesquisas modernas tem enfoque em como as memórias se tornam objetos, e não em atribuir às mesmas um perfil de objeto. Isto se relaciona intimamente com a história dos excluídos e marginalizados sociais, visto que a sua posição sócio-histórica e geográfica está atrelada aos tratamentos dados à memória por aqueles que sempre mantiveram esta hierarquia excludente; felizmente, em tempos de crise ou instabilidade dos lugares de memória, sobressalta a diferença entre as diferentes formações memoriais que, num ato natural, buscam se encaixar umas nas outras, ou reivindicar seu espaço na sociedade a partir de sua própria construção de memória. A partir de algumas análises de períodos históricos, é possível identificar aspectos comuns e diversos do processo de construção e reinvindicação da memória pelos grupos subterrâneos em contrapartida com os grupos hegemônicos comuns. Vale citar o processo de destalinização, onde após a denúncia dos crimes cometidos pelo Partido Comunista de Stalin, iniciou-se um processo de reafirmação de um lugar longinquamente clandestinizado, reprimido e suprimido pelo órgão estatal e comum social. A análise das ações contra os projetos estatais expositores de uma ordem hegemônica arbitrária, quando percebidos e refutados praticamente pelas minorias subterrâneas, é de interessante percepção em relação às etapas de tomada de suas memórias trancafiadas numa cadeia de imposição. Para além da derrubada de símbolos do antigo estado, o fato de que era diluída socialmente um modo de se viver reprimido, nas entrelinhas da sociedade, demonstra que não se trata apenas de uma disputa por memórias, mas sim de reinvindicação plena de uma identidade sociocultural que não pôde ser exposta como deveria, por muito tempo, como num sopro de liberdade fulcral. Também é sabido entender que o processo de rememoração pelos socialmente excluídos não passa somente por esse campo do grito de liberdade. Usando como exemplo o caso da população judia em retorno à Alemanha e à Áustria no pós-Segunda Guerra Mundial, identifica-se um lugar de silêncio que não deve necessariamente cumprir a agenda de exposição adotada no primeiro exemplo. Ao retornarem ao território, a falta de um ente social ouvinte de suas dores e desejos não se deu como esperado, pois um sentimento de culpa e de não pertencimento alimentado por autoridades locais, suprimiu sua confiança em reviver publicamente as memórias de um tempo anterior, mas que se tornou algo essencialmente traumatizante. A rememoração, neste caso, não atenderia a uma demanda de reestruturação pacífica e confortante, como deveria ser para além da luta pela retomada, mas sim assumiu um lugar de gatilho para algo que marcou esse grupo negativamente. Assim, o silêncio assumido e imposto para estas pessoas seria um âmbito mais viável de reconstrução de uma identidade perdida em meio à dor e sofrimento coletivos, bem como, em âmbito individual, não repassar essa malícia para as gerações futuras, numa tentativa de reconstruir à elas uma realidade distante, quase à parte, daquela vivida pelos seus adultos. Pode-se dizer, como último exemplo, o caso da memória sobreposta à algo que seria uma identidade negativa de um grupo. Salientando o caso dos soldados alsacianos incorporados ao exército alemão à força. Após a tomada da região da Alsácia pela Alemanha, o recrutamento obrigatório fora imposto e muitos soldados do antigo exército local foram obrigados a integrar-se ao exército alemão, o que gerou revoltas, atos de resistência e deserção. Após o período de guerra, num campo nacional e continental de grau de contribuição destes para com o partido nazista, adotou-se uma postura de negação a um passado de vergonha, sendo adotada a postura posterior de militância e luta pelo reconhecimento de um perfil não participativo, contribuinte, mas corseado e obrigado a integrar uma memória da qual não faziam parte, e tampouco gostariam de o fazer. Pelos mesmos e suas famílias, reivindicou-se um reconhecimento de seu sofrimento e falta de opções em meio ao caos, em detrimento com os seus atos e participações no lado inimigo. Fala-se, então, de uma tentativa de reconstrução de memória que não parte de um lugar de silêncio ou retomada prática, mas sim de uma desassociação a uma memória grupal tida como coletiva (pelo partido Nazista) que não se funde com a memória grupal das tropas alsacianas. Dos três exemplos, identifica-se os perfis do proibido, do indizível e do vergonhoso, respectivamente, aos diferentes processos de retomada da memória coletiva e individual. É de extrema importância salientar que para todos os casos, os lugares de silêncio, dos não-ditos, entre a memória grupal, dos marginalizados, e do coletivo nacional são lugares problemáticos, mas entendíveis a partir de uma perspectiva de traumatismo e manutenção da vida, bem como do diálogo entre o vivido e o vívido. Demonstra, pois, os lugares atribuídos pelos Estados às memórias minoritárias, e como ele se põe a preservar essa polarização nítida de lugares de memória, num processo de apagamento e modificação de lembranças que, por muitas vezes, gera ou aliterações, ou vícios de relato. Porém, são neles que os indivíduos dos mais variados grupos conseguiram preservar sua identidade coletiva positiva, aquela que não tange ao sofrido, mas ao presente em contraponto com o que era e como se modificou até a atualidade. O passado, então, assume esse lugar peculiar e denso de revivência e esquecimento, de retomada e retirada, de acordo com o seu respaldo para cada grupo ou indivíduo, numa relação sempre íntima do presente. Não ocorre, na maioria dos casos, uma dissociação da realidade vivenciada atual, uma vez que o modo como é lidado o processo de rememoração interfere no modo como os coletivos e seus integrantes regem seu modus operandis social. Ao mesmo tempo que há uma aderência ao processo de relembrança, de conto de uma realidade de dor, resistência e sobrevivência, há uma supressão, falta de palavras, para a crueldade passada, e a negação de seu repasse para um presente minimamente confortável, e um futuro em que se almeja o total desvinculo com o tempo sofrido. Claro, há crítica estes processos de esquecimento ou silenciamento, visto se entender importante o conhecimento do que se houve e dos sentimentos causados e resguardados pelo tempo, para o entendimento da própria realidade e afastamento de repetições, mas se entende, de toda forma, o nível de confidencialidade, numa ordem de preservação e construção de uma face positiva para a identidade individual e grupal sociais.