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Ética e valores

no mundo
corporativo
Com foco no desenvolvimento e
aprimoramento de expertises de equipes de

INTRODUÇÃO alta performance, a Unisinos promove o PADE


– Programa Avançado de Debates
Empresariais.

Uma oportunidade ímpar, destinada a


um seleto público de empresários e
executivos, para atualização e diálogo sobre
assuntos contemporâneos e emergentes. O
PADE sempre traz as principais tendências,
estratégias e soluções sistêmicas em áreas
clássicas e inovadoras de gestão e negócios,
em um ambiente de geração e
compartilhamento. Um espaço para
networking com grandes empresários e
executivos do cenário gaúcho e nacional.
PALESTRANTES
O debatedor foi o professor e Atendendo à excelência acadêmica
pesquisador da Escola de Gestão e Negócios buscada na universidade e à ampla
da Unisinos, Oscar Rudy Kronmeyer Filho. experiência na área, o palestrante convidado
Doutor em Engenharia de Produção, mestre foi o filósofo e professor Clóvis de Barros
em Administração de Empresas (UFRGS), Filho. Doutor e livre docente pela Escola de
pós-graduado em Ciências da Computação Comunicação e Artes da USP. Atua como
pelo CPGCC-UFRGS, pós-graduado em Gestão palestrante no mundo corporativo há 10 anos.
Empresarial (UFRGS). Consultor em gestão Publicou, entre outras, as seguintes obras:
estratégica e sistemas de avaliação de Felicidade ou Morte, A vida que vale a pena
desempenho e informação executiva. Gerente ser vivida, Somos todos canalhas, A Filosofia
regional da Associação Brasileira da Indústria explica as grandes questões da humanidade,
Elétrica e Eletrônica (ABINEE) no RS. Corrupção: Parceria degenerativa. Lançou em
2014, junto com Mário Sérgio Cortella, o livro
Ética e vergonha na cara!

OSCAR KRONMEYER
Apresentação inicial e análise Atendem a pressões mercadológicas,
teórico-acadêmica do tema foi conduzida questões legais, financeiras, governamentais e
pelo professor Oscar, que destacou a de stakeholders influentes na formação da
necessidade do debate sobre a ética no estratégia. Todos são afetados pela ética da
mundo corporativo, principalmente pela sociedade em que estão inseridos.
conjuntura em que o país vive, com empresas
envolvidas em corrupção. Diante de um Kronmeyer, então, apresenta o
assunto atual, o pesquisador focou a relatório do perfil ético dos profissionais das
influência da ética na sustentabilidade das corporações (Endeavor). O estudo mostra que
organizações em seus três eixos: econômico 69% dos executivos são flexíveis quando
financeiro, social e ambiental. confrontados em dilemas éticos no seu dia a
dia, ou seja, irão agir conforme o ambiente e
Em um mundo conectado, ser ético é as circunstâncias a que estiverem expostos;
uma vantagem competitiva?, questiona Oscar. enquanto 11% são desinteressados pelo
De acordo com ele, as estratégias empresariais assunto; e apenas 20% se identifica e pratica a
são formadas em parte por convicções, em ética.
parte pelo meio em que se organizam.
Nesse contexto, retoma: será que ser Então, afirma, “é possível dizer que o
ético é ser estratégico? O imperativo do empresariado age de maneira a contemplar a
executivo é que sem resultados não há maximização do lucro do investimento seus
sobrevivência. Então, o empresariado lida com recursos de capital, e não, em tese, para
o constante tensionamento entre a ética resolver problemas sociais”. Nesse sentido,
permanente e as responsabilidades de acrescenta que uma das principais razões
rentabilidade perante os stakeholders. Diante percebidas, pelas quais os seres humanos se
disso, coloca razões para a ética na estratégia. envolvem em comportamentos antiéticos, é a
sua natureza competitiva, e a busca pela
Muitos empresários escolhem conduzir vantagem sobre algo ou alguém. Essa
seus negócios de acordo com os padrões vantagem contempla cegamente a essência
éticos socialmente impostos, por já terem esse da competitividade: manter-se vivo, crescer,
fundamento de autocrítica, seja por influência reproduzir.
familiar, política, religiosa, ou para
preservarem sua reputação. Ações antiéticas Então, a questão que permanece é
podem implicar maus negócios, o que é esta: a ética é sustentável?
uma prática reprovada pela própria ética
da maximização do lucro. Um sistema social
contrariado pode ter reflexos negativos no
resultado das organizações. Mas as
organizações precisam investir capital em
infraestrutura, recursos humanos, tecnologia.
CLÓVIS DE BARROS FILHO

Com vários questionamentos sobre os Ele retoma a reflexão de que, durante


tensionamentos entre ética e negócios séculos, quando se pensava sobre a própria
provocados pelo professor Oscar Kronmeyer, conduta, utilizava-se a palavra “moral”, que
o professor Clóvis de Barros Filho, explicador chegou a cair em desuso pelo fato de carregar
de nascença, como gosta de intitular-se, uma pecha de ranço e conservadorismo, visto
antecipa que, para entendermos a ética, que remete a antepassados. A soberania da
devemos, primeiro, recapitular a sua essência. palavra moral foi substituída por ética,
Ele explica que a palavra ética existe há 2.500 emboras falasse de uma com tanta frequência
anos, mas que passou parte da sua vida quanto de outra. “Essas palavras, que já foram
restrita a especialistas. Não saía da faculdade sinônimas, hoje são a elas atribuídas
ou de tribunais. A ética só passou a ganhar significados diferentes. Contudo, não é
destaque público de 30 anos para cá, e porque moral caiu em desuso que seu
rapidamente se tornou a palavra mais significado tenha desaparecido, tampouco
repetida nos espaços públicos no mundo que a ética, emergente, tenha tomado outra
inteiro. “Mas o que aconteceu para que essa forma. O uso das palavras obedece à lógica do
palavra assumisse tal protagonismo?”, interesse de quem as emprega”, elucida.
questiona.
Clóvis sublinha que moral é uma está ligada à escolha que se presume que deva
elucubração da mente, pois, a partir de uma ser uma escolha universal.
associação de ideias, permitem-nos escolher a
melhor maneira de agir. A essa escolha, está A moral é a preferência sobre uma
atribuída deliberação e juízo de valor. “A conduta quando o indivíduo não se sente
moral é reflexão sobre o agir ante a reflexão ameaçado por nada. Ele está livre, autônomo
sobre uma pluralidade de escolhas”, afirma. e soberano para decidir. Não está ligado à
Isto quer dizer que toda vez que pensamos polícia, à mídia, a nada exterior, apenas ao
sobre nosso comportamento há materialidade íntimo. Trata-se de um princípio interno.
moral? “Quando todo mundo desaparece, a
sociedade dorme, a repressão baixa a
O professor explica que nem todo guarda – ainda existe você, para avaliar
pensamento possui materialidade moral. você mesmo”, poetiza.
Neste instante, expõe o exemplo da dúvida
sobre o sabor do sorvete a escolher em uma Seja para o indivíduo ou para a
sorveteria. “Vamos imaginar que estamos em empresa, agir com moral significa entender a
uma sorveteria e deparamos com uma tabela própria identidade e efetuar uma avaliação de
de sabores a escolher. Nesse momento, consciência sobre a própria conduta. Mesmo
teremos de escolher algum em detrimento de que isso exija abrir mão de vantagens,
outro. Contudo, não há uma superioridade de prazeres, lucros em nome de um
princípios entre os sabores, apenas uma entendimento sobre uma conduta aceitável
questão de preferência”, argumenta. Segundo por você mesmo. E, ele lembra, quando não
ele, quando não se vê nada além de fazemos isso, há flexibilização da moral.
preferência, não tem a ver com moral. A moral
O paradigma que se vive hoje é que Não se pode fazer as duas coisas ao mesmo
nunca se falou tanto em ética, e nunca se tempo. Toda decisão ética é acompanhada de
vislumbrou uma sociedade tão um dilema”, pontua. A ética, no mundo dos
desmoralizada. E não existe alguém além de negócios, não é diferente. Em uma
nós mesmos para resolver isso. A partir de organização, os manuais de ética devem ser
uma sucessão de eventos, criamos um construídos pelos colaboradores de todos os
protocolo de experiências que costuram uma níveis hierárquicos da organização. pode
sociedade da desconfiança. “Mas, se a haver escolhas que você, líder da organização,
sociedade está assim, é porque nós somos talvez esteja de fora.
assim. Por exemplo, o Facebook é uma ótima
ferramenta para conectar pessoas, conversar, Outro ponto destacado pelo professor
compartilhar; mas é uma ferramenta para o é que quando se toma uma decisão em busca
bullying digital. E quem vai resolver essa de uma posição ética, lida-se com fidelidade.
questão? Isso é conosco. Aristóteles não falou “A confiança é um reflexo mecânico da
sobre isso, nem Kant, Jesus também não”, moral”, diz. Agir com fidelidade é a
exemplifica, em tom de brincadeira. matéria-prima da confiança, afinal,
colaboradores investiram na empresa,
Tomar uma decisão baseada em mudaram de cidade, moldaram agenda,
princípios éticos é como dormir com um criaram expectativas, sonharam. Agir com
cobertor curto em um dia frio, segundo o fidelidade é um respeito ao passado;
professor. “Esquentar a canela é tão o alinhamento entre o discurso de ontem e a
importante que se torna um valor, mas prática de hoje; uma homenagem a você
esquentar as orelhas também é importante. mesmo, enquanto trajetória.
“Agir com fidelidade é dizer para o Em vias de conclusão, Clóvis de Barros
mundo que tudo o que você já Filho reitera que o lucro calcado em ações
experienciou fez sentido”, diz. antiéticas não é sustentável para as
organizações. “Se o negócio precisar da
Nessa perspectiva, adiciona que a mentira para atingir as metas, espero que
fidelidade está alinhada ao princípio de feche. O sistema só será sadio se puder lucrar
sustentabilidade da empresa. “O mercado muito dizendo a verdade”, destaca. Ele
não está alheio a nós. Precisamos exigir aconselha que a condução dos negócios seja
competição em terreno de justiça, em que imbuída de propósito ético. Apenas dessa
prevaleça o mérito, a dedicação. O mercado forma, segundo o professor, atingiremos uma
será o que quisermos que ele seja”, diz. De vida plena. E, nessa busca por excelência,
acordo com o professor, se a corrupção no traremos sucesso genuíno às organizações.
país é uma questão cultural, como dizem, é
algo que dá para mudar.

Só se começou a falar de ética quando


vimos a hecatombe da moral, segundo Clóvis.
Tal fato ficou tão alarmante que se percebeu a
necessidade da intervenção coletiva, com
vistas a criar condições de convivência que
garantissem cotas de felicidade iguais a
todos. A ética tornou-se o entendimento
entre mais de uma pessoa sobre como cada
um deve agir. Nesse contexto, Clóvis de Barros
Filho, em conjunto com Mario Sérgio Cortella,
propuseram uma definição, que foi
considerada pela Academia Francesa de
Filosofia e que os fez figurar junto com
Jean-Jacques Rousseau: “A ética é a
inteligência compartilhada a serviço do
aperfeiçoamento da convivência”.

O que pode ameaçar a ética é que todo


aquele que, inconformado com a pequenez
da sua cota de felicidade, resolva a agir de
maneira antiética. A esse, segundo o filósofo,
chamamos de canalha. “A ética é a vitória da
convivência sobre a canalhice”, reitera.
Parafraseando Kant, o valor moral de uma
conduta não reside nas consequências, mas
na intenção de quem agiu, isto é, nos valores
para tal ação.

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