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Comissão Editorial

Camila Silva
Cyanna Missaglia de Fochesatto
Estela Carvalho Benevenuto
Jonathan Fachini da Silva
Lidiane Elizabete Friderichs
Priscilla Almaleh

Comissão Científica
Alba Cristina dos Santos Salatino Jonathan Fachini da Silva
Amilcar Jimenes Juliana Camilo
André do Nascimento Corrêa Juliana Maria Manfio
Bruna Gomes Rangel Letícia Rosa Marques
Camila Eberhardt Liane Susan Muller
Camila Silva Lidiane Friderichs
Carlos Eduardo Martins Torcato Marcelo Silva
Caroline Poletto Márcia Cristina Furtado Ecoten
Cláudio Marins de Melo Marcos Jovino Asturian
CyannaMissaglia de Fochessatto Mariana Couto Gonçalves
Daniela Garces de Oliveira Matheus Batalha Bom
Deise Cristina Schell Max Roberto Pereira Ribeiro
Dênis Wagner Machado Michele de Leão
Diego Garcia Braga Natália Machado Mergen
Douglas Souza Angeli Priscila Almalleh
Ficha Catalográfica Eduardo Gomes da Silva Filho Raul Viana Novasco
Elisa Fauth da Motta Rodrigo Luis dos Santos
C79 Estudos Históricos Latino-Americanos: conexões Brasil e América Latina. / Estela Carvalho Benevenuto Rodrigo Pinnow
Organizadores: Camila Silva, Cyanna Missaglia de Fochesatto, Estela Fabiane Maria Rizzardo Tatiane Lima
Carvalho Benevenuto, Jonathan Fachini da Silva, Lidiane Elizabete
Friderichs, Priscilla Almaleh. – Porto Alegre: Forma Diagramação, 2017.
Gabriele Rodrigues de Moura Tuane Ludwig Dihl
Helenize Soares Serres Site http://cehla-unisinos.weebl y.com/
ISBN 978-85-63229-17-5
Diagramação
1. História - América Latina. 2. Relações internacionais. I. Título.
Forma Diagramação

CDU 97/98 Realização


Corpo Discente do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do
Bibliotecário Responsável: Thiago Ribeiro Moreira CRB 10/1610
Vale do Rio dos Sinos

Apoio
Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Instituto Humanitas Unisinos (IHU)
Banco do Estado do Rio Grande do Sul S.A. (BANRISUL)
Museu da História da Medicina do Rio Grande do Sul (MUHM)
Apresentação

A presente obra é fruto do II Colóquio Discente de Es-


tudos Históricos Latino-Americanos  (CEHLA), edição de
2016, recebeu o subtítulo de Conexões Brasil e América La-
tina. A proposta foi discutir temáticas que pensaram de ma-
neira sistemática a conexão histórica do Brasil com seus vizi-
nhos. Nesse sentido, mais do que eixos de história comparada,
o enfoque desse segundo encontro foi pensar historicamente a
América Latina de maneira conectada nos seus aspectos políti-
cos, sociais e culturais.Para além de um contexto social em co-
mum que remete a diversidade étnica das sociedades indígenas
e os seus conflitos com os europeus, a escravidão africana e até
mesmo as ditaduras militares do século XX, fizeram com que
se buscasse valorizar uma cultura própria da América Latina a
partir de uma memória que compartilha elementos em comum.
Em consequência, estudos históricos cada vez mais ten-
dem a pensar uma história do Brasil conectada a esse amplo
contexto latino-americano. O que parece ter alterado uma lógi-
ca de recepção quase passiva de modelos sociais vindos da Eu-
ropa. Nesse sentido, contribuiu para aflorar um maior sentimen-
to de pertencimento a esse espaço e proporcionou a formulação
de projetos de sociedade e de expressões voltados à realidade
latino-americana.
O II CEHLA foi um evento promovido e organizado pelo
Corpo Discente do Programa de Pós-Graduação em História da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). O evento teve
por objetivo promover um espaço de encontro para acadêmicos
de outras universidades, a fim de fazer circular, dessa forma,
o conhecimento e possibilitar um ambiente profícuo de debate
entre diferentes perspectivas.
Para que tudo isso fosse possível contamos com o apoio
daqueles que agora fazemos questão de agradecer. Assim agra-
decemos o corpo docente do Programa de Pós-Graduação em
História-Unisinos, em especial pelo empenho da coordenadora
do PPGH, Profa. Dra. Eliane Fleck pelo o incentivo e recursos
disponibilizados.
Agradecemos aos colegas discentes do PPGH-Unisinos que
se empenharam na realização desse evento, propondo Simpó-
sios Temáticos, Minicursos e na ampla divulgação do evento nas
redes sociais.Agradecemos ao Instituto Humanitas (IHU) por
toda ajuda e instrução nos quesitos burocráticos, os recursos
materiais disponibilizados pelo Museu de História da Medicina
do Rio Grande do Sul (MUHM) e o Banco do Estado (Banrisul).
Por fim queremos destacar e agradecer a presença de to-
dos participantes, da graduação a pós-graduação, nos Simpó-
sios Temáticos, bem como participantes de outras áreas do co-
nhecimento (Letras, Educação, Ciências Sociais, Antropologia),
o que contempla nosso empenho para a abertura e diálogo nes-
se momento com os diversos níveis de formação e interdiscipli-
naridade.
É dessa forma que o corpo discente do PPGH/UNISINOS
acredita que se constrói o conhecimento histórico: no debate,
no diálogo, na divergência e na pluralidade. Os resultados desse
momento de construção de conhecimento estão registra-
dos aqui nessa valiosa obra Estudos Históricos Latino-
-Americanos: Conexões Brasil e América Latina. 

A todos e a todas, desejamos uma boa leitura!


Organizadores
SUMÁRIO

Apresentação .......................................................3
Cap. 1 - Arqueologia e cultura material............. 27
O guarani no Alto Vale do Rio dos Sinos: um panorama da
implantação do grupo............................................................29
Jefferson Aldemir Nunes
Pedro Ignácio Schmitz

(Des) enterrando Porto Alegre: caderno de campo de po(i)ética em


veladuras arqueológicas......................................................... 45
Vanessi Reis

Cap. 2 - Missões Jesuítas da América espanhola... 65


Um panorama econômico das Missões Jesuíticas, século XVII e
XVIII .................................................................................... 67
Helenize Soares Serres

A mulher indígena da pampa bonaerense: análise da obra “Los


indios. Pampas, puelches e patagones” segundo José Sanchez
Labrador S.J..............................................................................
Thaís Macena de Oliveira

Cap. 3 - História e Memória Iconográfica dos Sete


Povos das Missões................................................. 93
O museu das Missões: da importância do patrimônio cultural e
imaterial a beleza do acervo iconográfico................................ 95
Eduardo Gomes da Silva Filho
Cláudio Marins de Melo
As Missões Jesuítico-Guaranis: o Patrimônio Histórico-Cultural e [...] Ofrecen un campo muy espacioso a la pluma: o processo de
a Integração Regional (1979-1987)......................................... 107 escrita do Segundo Tomo da obra Paraguay Natural Ilustrado de
Érico Teixeira de Loyola José Sánchez Labrador S. J.................................................. 227
Mariana Alliatti Joaquim
O contexto da emancipação político-administrativa e as
negociações com o passado reducional em São Miguel das Missões A historiografia jesuítica e suas práticas de escrita: os contatos
nas décadas de 1970 e 1980........................................................123 de Guillermo Furlong SJ com as correntes historiográficas da
Sandi Mumbach primeira metade do século XX................................................245
André Luis Ramos Soares Mariana Schossler

Cap. 4 - Dimensões e conexões da Nova História D o modelo aos modelos: “exempla ad imitandum” e “vidas
Indígena............................................................ 139 veneráveis” em António Franco............................................261
Schaiane Pâmela Bonissoni
Notas sobre a mobilização indígena no Brasil (1970-2000)...... 141
Amilcar Jimenes
Cap. 6 - Registros Escritos da Igreja Católica como
Contato interétnico e transculturação no rapto de hispano-
fontes de pesquisa: temas e métodos de estudos......275
criollos ................................................................................. 153 Filhos naturais ou filhos ilegítimos? Uma análise do impacto das
Marcelo Augusto Maciel da Silva outras formas de uniões na Madre de Deus de Porto Alegre (1772-
1822).................................................................................. 277
História indígena e o casamento: revisitando a historiografia Denize Terezinha Leal Freitas
atual com objetivo de analisar as práticas matrimoniais no
aldeamento de Itapecerica (1733-1820)...................................171 O religioso e a pena, o rio e a água. O início da construção da
Marcio Marchioro fronteira no Vale Amazônico do Padre Cristóbal de Acuña (1639 -
1640)....................................................................................291
Cap. 5 - As práticas de escrita na Companhia de Maicon Alexandre Timm de Oliveira
Jesus: novos temas e abordagens de pesquisa.........189
O contexto político brasileiro na primeira metade do século xix e o
Illustres Varones: cronistas e historiógrafos da Província Jesuítica poder local.............................................................................309
do Paraguay.........................................................................191 Michele de Oliveira Casali
Gabriele Rodrigues de Moura
Los alcances de la visita pastoral como fuente para
“Llegamos al puerto más cercano”: a fronteira demarcada nos analizarlos procesos de territorialización del poder eclesiástico.
escritos do capelão José Quiroga S.J.*.................................... 209 Córdoba, Argentina 1875-1925............................................... 327
Maico Biehl Milagros Gallardo
Levantamento de dados dos registros paroquiais de óbito da Negritudes transfronteiriças: a relevância da noção de raça para
Freguesia Madre de Deus de Porto Alegre................................. 351 a escrita da história dos clubes sociais negros ao Sul do Atlântico
Mirele Alberton no pós-abolição.................................................................... 467
Fernanda Oliveira da Silva
Biografias coletivas através do uso de fontes paroquiais:
traficantes de escravos da Colônia do Sacramento - relações para Identidades e identificações em sociedades recreativas de
além do Rio da Prata............................................................367 afrodescendentes em Laguna(1903 – 1950)............................. 485
Júlio César da Rosa
Stéfani Hollmann

Música e associativismo religioso na trajetória do maestro Pardo


Cap. 7 - Experiências negras em debate: a
Joaquim José de Mendanha....................................................501
escravidão nas Américas, nos séculos XVIII e XIX
Letícia Rosa Marques
P opulação descrita na lista nominativa de Caçapava (1830)....
...........................................................................................387 Quando duas Marias se encontram... .................................... 513
André do Nascimento Corrêa Liane Susan Muller

Liberdade, terras e parentescos no litoral negro do Rio Grande do Cap. 9 - História das E/Imigrações: abordagens,
Sul, no século XIX.................................................................401
possibilidades e fontes.........................................527
Claudia Daiane Garcia Molet Os caminhos do Vale dos Sinos: ocupação, integração e o princípio
do desenvolvimento urbano no século XIX.............................. 529
Sobre o uso social da cor nos oitocentos: estudos em Palmas/PR..... Alex Juarez Müller
...........................................................................................419
Maria Claudia de Oliveira Martins Construção retórica do modelo ideal de jesuíta: vidas exemplares e
antijesuitismo pombalino.................................................... 547
Fontes visuais como afirmação da identidade étnica de um Ana Carolina Lauer de Almeida
grupo: análise de imagem no documentário Referências
Culturais Quilombolas........................................................ 437 Um olhar sobre a representação do imigrante europeu nas telas de
Sílvia Regina Teixeira Christóvão Pedro Weingärtner e José Lutzenberger ................................. 559
Cyanna Missaglia de Fochesatto
Cap. 8 - Espaços de sociabilidade e associativismo
negro no Brasil do pós-abolição........................... 451 Sociedade de Leitura Faulhaber: uma leitura dos primeiros
estatutos da instituição .......................................................573
Pretos e pardos: fora! Estudo de caso sobre as expulsões no Corpo de Denise Verbes Schmitt
Bombeiros do Rio de Janeiro em 1889....................................... 453 Marta Rosa Borin
Afonso Henrique Sant’ Ana Bastos Maria Medianeira Padoin
Legionários Brummer, imigrantes alemães e seus descendentes na Crime e etnicidade no Rio Grande do Sul: o caso da família
Guerra do Paraguai: contribuição militar, memória, e afirmação Massuda em Ijuhy (1891-1914)............................................... 695
da cidadania brasileira.........................................................587 RhuanTarginoZaleski Trindade
Eduardo Henrique de Souza Paulo Sérgio de Souza de Azevedo

Imigrantes, anarquistas e condenados.................................... 605 A sociedade dos amigos de Alberto Torres e a campanha contra a
Eduardo da Silva Soares imigração japonesa para o Brasil.......................................... 713
Glaucia Vieira Ramos Konrad Rodrigo Luis dos Santos

Trajetória do professor Mathias Schütz em “bom jardim”/rs na Desenho e fotografia: as produções de Philippi e Valck sobre as
segunda metade do século XIX................................................621 paisagens chilenas............................................................... 725
Eloisa Aparecida Pereira Dolija Samanta Ritter
Gisele Carine Souza Marcos Antônio Witt
José Edimar de Souza
Respeito e a difamação: o trabalho das parteiras e o conflito com os
Relatos de italianos sobre a cidade de Pelotas: possibilidades para médicos nas regiões de colonização italiana do Rio Grande do Sul.
novos estudos sobre a imigraçao italiana ............................... 635 ...........................................................................................735
Fabiano Neis Suelen Flores Machado

(Des)territorialização camponesa e hidroelétricas no leste de Diante do olhar popular um “santo”: a trajetória de padre
Antioquia Colômbia............................................................. 651 Reinaldo Wiest.................................................................... 747
José Anibal Quintero Hernández Ticiane Pinto Garcia Barbosa
Claudia Patrícia Zuluaga Salazar
A trajetória das práticas lúdicas como instrumentos de unificação
Centenário da imigração e colonização italiana em Silveira das comunidades japoneses..................................................... 761
Martins (1975-1977)...............................................................667 Tomoko Kimura Gaudioso
Juliana Maria Manfio André Luis Ramos Soares

Fascismo internacional e na serra gaúcha: das intenções do partido Imigração, progresso e civilidade: a construção das ideias políticas
nacional fascista as perspectivas do jornal Ilcorriere D’italianos do Visconde de Abrantes na obra “Memória sobre os meios de promover
anos 1920...............................................................................679 a colonisação” (1846)............................................................777
Lino Alan Ribeiro da Luz Dal Prá Welington Augusto Blume
Cap. 10 - Cidadãos da América Latina: conquistas, Diálogos entre patrimônio e história: a imigração italiana na
desafios e trajetórias.......................................... 793 Quarta Colônia................................................................... 925
Ricardo Kemmerich
Cidadanias divergentes, soberanias sobrepostas: pecuaristas
brasileiros no Estado Oriental do Uruguai em meados do Século
XIX.......................................................................................795 A instrumentalização das memórias da imigração nas
Carla Menegat comemorações do biênio da colonização e imigração............... 943
Tatiane de Lima
Liberdade e emancipação: conceitos fundamentais no processo de
descolonialidade ....................................................................811
Carolina Ramos Cap. 12 - Estereótipo, imaginário e representação:
Lilian Reis a construção do outro através da imprensa,
literatura e imagens .........................................959
Lei Saraiva de 1881 – um retrocesso para a cidadania dos
brasileiros............................................................................ 825 O gaúcho brasileiro de João Simões Lopes Neto......................... 961
Michele de Leão Aline Carvalho Porto

Cor e cidadania no jornal A Federação: fragmentos biográficos de


abolicionistas negros..............................................................837 Entre imagens, discursos e representações: o lugar da África na
Tuane Ludwig Dihl imprensa brasileira (1950-2009).............................................979
Ana Júlia Pacheco
Cap. 11 - Os lugares de memória latino-americanos
como objetos de investigação .............................. 857 Torres: representações imagéticas (1930-1980)..........................993
Arquivo como objeto: o estudo do processo de constituição de um Camila Eberhardt
acervo privado (Coleção Varela – AHRS).............................859
Camila Silva
!No pasarán!: Representações do fascismo pela imprensa libertária
O discurso do centro de preservação da história ferroviária do RS na no contexto da Guerra Civil Espanhola................................ 1007
década de 1980........................................................................873 Caroline Poletto
Cinara Isolde Koch Lewinski
O movimento religioso dos Monges Barbudos na imprensa: a
Pedro de Angelis, archivero de Rosas.......................................889
construção do outro como ameaça política............................ 1025
Deise Cristina Schell
Fabian Filatow

O museu como lugar de memória e identidade: a musealidade no


museu Gruppelli, Pelotas/RS................................................ 907 Horror em quadrinhos: a representação do Holocausto em Maus....
José Paulo Siefert Brahm ..........................................................................................1039
Diego Lemos Ribeiro Felipe Radünz Krüger
A imagem da mulher na imprensa carioca e santiaguina, 1889- Cap. 13 - Mulheres e suas Representações na
1930: possibilidades para uma análise histórica..................... 1049 América Latina ..............................................1177
Jury Antonio Dall’ Agnol
Militância, espaço feminino e imprensa alternativa no Brasil
As representações sobre os moradores da favela na grande imprensa dos setenta........................................................................... 1179
carioca durante o segundo governo Vargas (1951-1954)............1063 Adriana Picheco Rolim*....................................................................................................... 1179
Letícia Sabina Wermeier Krilo
As mulheres e as práticas de cura e cuidado........................... 1197
Álbum de Pelotas: as (in)visibilidades do mundo urbano sob a Eduarda Borges da Silva*.................................................................................................. 1197
ótica da modernidade............................................................ 1081
Mariana Couto Gonçalves A inclusão feminina no Café Aquários: uma análise
interseccional de gênero em um espaço marcado historicamente
Vistas do outro: a representação da mulher e do homem em pela sociabilidade masculina............................................... 1211
retratos................................................................................ 1095 Juliana Lima Castro
Marielen Baldissera
Helena Greco e o movimento feminino pela anistia: gênero e
Subjetividade e literatura: uma leitura da (des)construção da resistência na ditadura brasileira...................................... 1229
cultura indígenano período colonial......................................1113 Kelly Cristina Teixeira
Marina da Rocha
Luise Toledo Kern Estavam a escrever as brasileiras? Breve análise de galerias
oitocentistas de história literária brasileira sobre a representação
Para além da fronteira: representações e estereótipos da Revolução da participação feminina................................................... 1241
Mexicana no cinema dos EUA...............................................1125 Luiane Soares Motta
Rafael Hansen Quinsani
Trajetórias de mulheres latino-americanas invisibilizadas e
Entre fotografias, charges e humor: a política nas páginas suas contribuições na construção de um pensamento descolonial:
da revista ilustrada Kodak (Porto Alegre/RS, Primeira Salomé Ureña, María Luisa Dolz e Rosa Maria Egipcíaca... 1257
República).......................................................................... 1141 Paloma de Freitas Daudt
Rodrigo Dal Forno Leonardo Camargo Lodi

“Eu” e “outro”: uma leitura de O Reino de Gonçalo M. Tavares.... Classe, gênero e raça no cotidiano da Santa Casa de Misericórdia
.......................................................................................... 1159 De Porto Alegre (1889 - 1895)................................................ 1273
Sandra Beatriz Salenave de Brito Priscilla Almaleh
De Amélia para Amélia: representações de feminilidades nas “Não poupe adversários: castigue nas pessoas e bens, respeitando a
correspondências enviadas da baronesa Amélia para sua filha família”: a perseguição política a Karl Von Koseritz, Frederico
Amélia entre os anos de 1885 e 1917 em Pelotas....................... 1285 Hansel E João Nunes Da Silva Tavares no alvorecer da República,
Talita Gonçalves Medeiros 1890 a 1893........................................................................... 1421
Gustavo Figueira Andrade
Cap. 14 - Estado, partidos, eleições e sistemas Carlos Piassini
políticos: novos olhares sobre temas tradicionais da Maria Medianeira Padoin
História Política .............................................. 1301
O conceito de “populismo” na historiografia brasiliera........... 1439
A política amazonense e um possível “prototrabalhismo” na
Marcos Jovino Asturian
década de 1930.......................................................................1303
Amaury Oliveira Pio Júnior
Para eleger Brizola e Mondin: a aliança entre PTB e PRP nas
O jornal Correio do Povo e o projeto de Reconstrução Nacional Pós- eleições de 1958 no Rio Grande do Sul.................................... 1455
Samuel da Silva Alves
Golpe: as forças armadas e seu “destino manifesto”................ 1319
Camila de Almeida Silva
O IBAD na política brasileira: imprensa e ideologia durante a
Origens do pensamento ordoliberal: uma pequena leitura do projeto década de 1960.......................................................................1471
alemão de recuperação econômica........................................1337 Thaís Fleck Olegário
Caroline Rippe de Mello Klein
As comemorações de 1º de maio pelo Partido Comunista do Brasil
A trajetória da Aliança Renovadora Nacional (Arena) em em Rio Grande (década de 1950): A festa no espaço da política......
Alegrete (1966-1979)..............................................................1353 ......................................................................................... 1483
Diego Garcia Braga Tiago de Moraes Kieffer

Alberto Pasqualini em campanha eleitoral: trabalhismo e Cap. 15 - Autoritarismos, movimentos civis e


mobilização (1946-1954)...................................................... 1371 revolucionários na América Latina ................ 1495
Douglas Souza Angeli
O corporativismo e as associações étnicas: tecendo comparações
Os reflexos da atividade política de Leonel Brizola entre os entre o Rio Grande do Sul e a província de Buenos Aires (1900-
militantes do PTB em Dom Pedrito-RS.................................1389 1920).................................................................................. 1497
Felipe Vargas da Fonseca Alba Cristina Couto dos Santos Salatino

“Novo poder, novas ideias”: A identidade de uma elite ascendente O governo de Salvador Allende e da Unidade Popular: a
(1947-1964)......................................................................... 1405 especificidade do processo chileno............................................ 1513
Gabriela Tosta Goulart Amanda Barbosa Maracajá de Morais
Resistência camponesa e hidrelétrica calderas no oriente de Alguns apontamentos sobre o livro Batismo de Sangue, de Frei
Antioquia, Colômbia.......................................................... 1527 Betto................................................................................... 1661
Claudia Patrícia Zuluaga Salazar Vinícius Viana Juchem
Jose Anibal Quintero Hernandez
Cap. 16 - Polícia, Criminalidade e Violência na
O exílio brasileiro (1964-1979): apontamentos sobre possibilidades e história recente da América Latina ................. 1677
limites de investigação ....................................................... 1543 A repressão às drogas em Porto Alegre no final dos anos de 1920....
Débora Strieder Kreuz ..........................................................................................1679
Carlos Eduardo Martins Torcato
A Política de Segurança Nacional e o Conceito Estratégico
Nacional em reformulação na ditadura civil-militar (1969- A Polícia Política do Brasil no período autoritário de Vargas:
1974)................................................................................... 1559 vigilância e controle dos comunistas na fronteira sul do país. 1691
Diego Oliveira de Souza Estela Carvalho Benevenuto

“Verdadeira demonstração agressiva de força”: análise das ações Forças armadas e a brigada militar – uma análise sobre a relação
da classe padeiral porto-alegrense no ano de 1913.................... 1575 de dominância na ditadura civil-militar de 1964: repressão e
resistência...........................................................................1709
Dionathan Dias Kirst
Kelvin Emmanuel Pereira da Silva

Apontamentos sobre os processos de redemocratização no Brasil e “Proponho-vos, também, a construção, na casa de correção, de
na Argentina......................................................................1589 um pavilhão para isolamento de tuberculosos.”- as medidas de
Lidiane Elizabete Friderichs saneamento e a condição de saúde dos presos na casa de correção em
Porto Alegre-RS entre os anos de 1910 a 1917.............................1721
Operação limpeza: a perseguição aos grupos de onze companheiros Lisiane Ribas Cruz
no Rio Grande do Sul............................................................1599
Marli de Almeida Cap. 17 - História da Educação e Políticas
Educacionais no Brasil e na América Latina... 1737
A greve do 1/3 no Rio Grande do Sul....................................... 1615
Do projeto a repercussão: Manoel Bomfim e a educação brasileira
Mateus da Fonseca Capssa Lima
durante a primeira metade da República Velha...................1739
Dênis Wagner Machado
CIA e ITT: o plano dos 18 pontos e a implantação do caos........ 1631
Renata dos Santos de Mattos Tecendo história a partir da escola técnica comercial do colégio
Farroupilha - POA/RS (1950-1972): análise das mudanças
Conexões entre a gênese da política de boa vizinhança e a elite causadas no ensino comercial brasileiro(Decreto nº 5.692/1971)....
intelectual latino-americana no século XX......................... 1647 ..........................................................................................1757
Rodrigo Pinnow Eduardo Cristiano Hass da Silva
O percurso histórico educacional de Novo Hamburgo e o sucesso A insibilidadade do negro na Guerra dos Farrapos: a Batalha de
atribuído à educação municipal pelo Banco Mundial..........1775 Porongos, uma análise historiográfica comparativa entre os anos
Ester Rosa Ribeiro de 1997-2011...........................................................................1885
Angela Caroline Weber Ricardo Figueiró Cruz

O livro didático e o PNLD: um estudo de caso no ensino de inglês....


..........................................................................................1787
Gabrielle de Souza Alves

Caminhos para a (re)valorização do pensamento latino-


americano na educação contemporânea...............................1805
Jonas Hendler da Paz
Maria Julieta Abba

Educação tecnicista em Santa Catarina (1969-1983): uma


análise dos planos de governo e dos planos estaduais de educação...
......................................................................................... 1821
Liara Darabas Ronçani

Anísio Teixeira (1900-1971): considerações sobre rendimento escolar


e qualidade da educação brasileira.......................................1839
Márcia Cristina Furtado Ecoten

Ensino médio integrado à educação profissional e tecnológica:


desafios da EJA....................................................................1855
Paula Rochele Silveira Becher
Roselene Moreira Gomes Pommer

Cap. 18 - Primeiros estudos: iniciação a pesquisa em


História........................................................... 1869
Iconografias de guerra: conflito com o Paraguai a partir da
pintura histórica................................................................. 1871
Guilherme Vierte
Capítulo 09 - História das E/Imigrações: abordagens, possibilidades e fontes

A trajetória das práticas lúdicas


como instrumentos de unificação das
comunidades japoneses

Tomoko Kimura Gaudioso*


André Luis Ramos Soares**

Introdução

A imigração japonesa no Brasil iniciou-se a partir da ne-


cessidade de introduzir a mão de obra barata na produção de
café, principalmente na região de São Paulo, ainda no início do
século XX. Esses imigrantes, na sua maioria oriunda de família
pobre em busca de dinheiro e com intuito de retornar ao Japão
assim que enriquecesse (HANDA, 1970, pp. 386-413). Preocu-
pavam-se em juntar riquezas o mais rápido possível e para isso
empenhavam-se no trabalho quase escravo, mas não tinham
intuito de se radicar-se no Brasil nem buscava comprar imóveis
e desenvolver seu negócio próprio. Alguns desses imigrantes,
depois de passar dificuldades na zona rural, acabavam se mi-
grando para cidades, dedicando-se ao comércio.
No caso do Rio Grande do Sul, os dois primeiros japone-
ses chegaram no ano de 1920 e 1921 da região de São Paulo e
se casaram com as gaúchas e acabaram se radicando na terra
gaúcha. Depois disso, vieram algumas famílias de imigrante das
outras regiões do Brasil sem que fossem foram significativas.
No que se sabe, houve tentativa de colonização na Horizontina,

*
Mestre em Direitos Especiais, coordenadora do Memorial da Imigração e
Cultura Japonesa da UFRGS, doutoranda em História pelo Programa de Pós-
-Graduação em História da UFSM.
**
Doutor em Arqueologia, coordenador do Núcleo de Estudos de Património e
Memória da UFSM.

760 761
Capítulo 09 - História das E/Imigrações: abordagens, possibilidades e fontes

antigo distrito do município de Santa Rosa, localizada a 524 zando a segunda leva imigratória onde as pessoas visavam bus-
km a noroeste do capital Porto Alegre, emancipado em 1954. car novas terras e aí permanecer como segunda pátria. Depois
Essa colônia, chamada Colônia de Santa Rosa, foi planejada em desta leva, a imigração tornou-se mais espontânea, com maior
1936 pela Kaigai Kogyo Kabushiki Gaisha (Overseas Develop- ingresso de técnicos que atuariam nas áreas produtivas secun-
ment Company Limited) para diluir a colonização japonesa que dária e terciária.
se concentrava em São Paulo para sul do país e assentar os ja- Findo o acordo para introdução sistemática dos japoneses
poneses em novo espaço. ao Brasil, a empresa de recrutamento e incentivo à imigração
Cabe relembrar aqui que, o Ministro da Fazenda daquela também perderam, a primeira vista, suas razões de existir. Os
época, Kazue Shoda, em 1918, proferiu discurso afirmando que imigrantes passaram a receber apoio através de outros órgãos
a empresa mencionada acima, mais conhecida como empresa governamentais, direta ou indiretamente do Japão, tais como
Kaigai Kogyo Kabushiki Kaisha, cuja sigla é KKKK,em diversas JAMIC, o que possibilitou a permanência desses em solo brasi-
literaturas que trata da colonização japonesa, foi instituída com leiro, inclusive no Rio Grande do Sul. Em relação a manutenção
objetivo de ampliar o desenvolvimento além mar do império da prática cultural japonesa como identidade nacional, cons-
japonês e que, para concretização desse intuito, não bastava ciente ou não, a comunidade japonesa realiza várias atividades
enviar as pessoas mas também o recurso financeiro necessário anuais, preservando determinadas nomenclaturas e algumas
(SHODA, 1918)1. datas comemorativas.
Segundo Ogasawara (2004, p. 232), a empresa por parte
brasileira que foi contratado foi Dahne Conceição & Cia, sendo Metodologias utilizadas: a de pesquisa oral e da escrita
o presidente da época o engenheiro Ildo Meneghetti. O assen-
A utilização da metodologia da história oral se deve ao fato
tamento das famílias japonesas iniciou neste mesmo ano, mas
de haver poucos dados escritos relativos ao assunto. Tendo em
com a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial e, por
vista a cultura diferenciada a do ocidente e com cultura organi-
loteamentos estarem localizados às margens do rio Uruguai,
zacional endemicista da etnia japonesa, a utilização de fontes
zona de segurança nacional, logo esses imigrantes se dispersa-
orais, “permitirá articular as experiências daquele que, a partir
ram para outras localidades do país, alguns para o Mato Grosso,
de uma perspectiva histórica, estão desarticulados” (GARRIDO,
outros para interior do Paraná e Rio Grande do Sul, descaracte-
1993, p. 36), pois a documentação em forma de escrita nem
rizando a colônia por completo.
sempre é completa ou contêm informações que possa satisfazer
Coincidentemente ou não, quando a imigração japonesa
a pesquisa historiográfica almejada.
ao RS foi retomada depois da guerra, com o reinício de relação
diplomática entre dois países em 1952, foi eleito governador do É importante precisar que o uso das fontes orais permite
estado gaúcho o Sr. Ildo Meneghetti, mais precisamente após não apenas incorporar indivíduos ou coletividades até ago-
ra marginalizados ou pouco representados nos documentos
1956. Este esforço de introdução da etnia japonesa ao RS per- arquivísticos mas também facilita o estude atos e situ-
durou de forma programada e sistemática até 1963, caracteri- ações que a racionalidade do momento histórico completo
impede que apareçam nos documentos escritos (GARRIDO,
1
National Diet Library, 2009. 1993, p. 36)

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Acrescido a isso, mesmo os documentos escritos e que tra- nal perdurou entre os imigrantes japoneses, do qual garantiria
te do mesmo assunto como ata de uma reunião, é possível que seu vínculo enquanto grupo e etnia japonesa, de tal forma que,
os conteúdos dos mesmos não sejam idênticos pois em língua como cordão umbilical do recém-nascido,porém contínuo à sua
portuguesa as palavras devem necessariamente preencher re- mãe, esses imigrantes e seus descendentes mantêm forte con-
quisitos do Código Civil Brasileiro e que nem sempre favorece a tato com o Japão.
decisão do grupo enquanto detentora da cultura japonesa. No Brasil observa-se vários grupos e associações e fede-
Isto não significa que deve ignorar a metodologia de aná- rações tais como associações locais de imigrantes e seus des-
cendentes chamados nihonjin-kai, as das províncias chamados
lise documental pois, como esclarece Cellard, o documento es-
Kenjin-kai, associações por interesse do grupo com forte identi-
crito é insubstituível a qualquer outra fonte de informações dos
dade cultural japonesa como as de dança, arranjo de flores, de
acontecimentos históricos.
karaokê, jogos esportivos típicos entre outros.
Ele é, evidentemente, insubstituível em qualquer reconsti- Em se tratando de associações de províncias, os kenjin-
tuição referente a um passado relativamente distante, pois -kai, há no Brasil 47 associações, correspondentes aos estados
não é raro que ele represente a quase totalidade dos ves-
tígios da atividade humana em determinadas épocas. Além geopoliticamente divididos de seguinte forma: o Capital Tóquio,
disso, muito freqüentemente, ele permanece como o único um estado com categoria de dô, dois estados com categoria de
testemunho de atividades particulares ocorridas num pas-
fu e mais 43 províncias, os ken, totalizando assim 47 associa-
sado recente (CELLARD, 2008, p. 295).
ções e que, no Brasil, todos são identificados como província.
Pode se citar por exemplo, os imigrantes da região da província
Portanto, o documento também é um instrumento impor-
de Kumamoto. Os associados residentes no Rio Grande do Sul
tante para compreender os fatos e atos histórico-culturais. Con-
realizam seus encontros anualmente na Associação de Assistên-
siderando peculiaridade da comunidade japonesa, o cruzamento cia Nipo e Brasileira do Sul, em Porto Alegre e, nesse dia, eles
de informações obtidos através a aplicação de duas metodolo- se confraternizam, trazendo de suas casas as comidas típicas da
gias aumenta a credibilidade nos resultados obtidos. região e compartilham-no com os compatriotas, trocam recei-
tas, falam em dialeto local e apresentam filhos, noras, genros
Sistema organizacional do povo japonês: jichi-tai e netos que se inserem ao grupo e assim reconhecido como
membro da associação.
O povo japonês, desde seus primórdios, tem se organiza- A identidade dos indivíduos enquanto pertencentes a um
do em sociedade prezando o seu pertencimento àquele grupo determinado espaço de convivência é o que mantém identida-
social do qual se sentia representada. Essas organizações lo- de cultural pois como afirma Michel de Certeau, “um lugar é a
cais, chamados de jichi-tai, são formados regionalmente, po- ordem segundo a qual se distribuem elementos nas relações de
dendo ser de caráter comercial, como cooperativas, associações coexistência”. Da mesma forma, a associação serve como o lu-
de produtores, associação de determinado grupo social que se gar de encontro para o exercício de se sociabilizar e de se iden-
forma por interesse comum ou organização de caráter público tificarem suas semelhanças, tornando esses lugares simbólicos
como vilarejo ou até cidade. Esse comportamento organizacio- (CERTEAU, 1994, p. 201).

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Ainda mais, este espaço, oferecendo o local para a sociabi- desta vev os identificados conforme a etnia de origem, ou seja,
lização, ao mesmo tempo, garante a preservação da cultura de por terem Japão como o país de origem. Atualmente, conforme
origem para os que estão para vir, a nova geração de descen- informação da Associação de Assistência Nipo e Brasileira do
dentes japoneses que estão por vir, pois Sul2, há no estado dezessete associações, chamados nihonjin-
-kai. Os que tem maior número de associados no momento são
(...) um grupo, sabe-se, não pode exprimir o que tem dian- o Gravataí-nihonjin-kai e Ivoti-nihonjin-kai. A Associação dos
te de si – o que ainda falta – senão por uma redistribuição
do seu passado. Também a história é sempre ambivalente:
japoneses de Porto Alegre está representada por Associação de
o lugar que ela destina ao passado é igualmente um modo Assistência Nipo e Brasileira do Sul que, segundo discurso do
de dar lugar a um futuro (CERTEAU,1982, p.93).
presidente da Associação, Milton Hiwatashi, da segunda gera-
ção de imigrantes e dos próprios associados, a associação sem-
Formando grupo social com identidade nipônica, na sua pre manteve esse caráter de ser representativo dos japoneses
construção simbólica, tanto como intenção de demarcar “ter- porto-alegrenses e, por esse motivo, não haveria necessidade
ritorialidade” mesmo fora de país de origem ou mesmo sem de criar uma nova associação com ônus de assumir tarefas me-
intenção aparente, faz de cada sujeito protagonista inserido de ramente burocráticos.
signos compartilhados como pertencente a seu país de origem. Essas associações possuem presidente e a diretoria e são
O vínculo com o Japão, além da relação de parentesco ou eleitos anualmente para planejar e executar eventos anuais
sentimento compatriota que cada um dos associados possui, além de representar a comunidade japonesa local e ser a porta-
cada província mantém programa de incentivo aos estudos no -voz da mesma diante das autoridades ou comunidade externa
Japão, oferecendo bolsa de estudos aos descendentes. Durante a esta. Quando o evento a nível estadual ou nacional se realiza,
a estada na província correspondente, o bolsista, além de seu a associação local fica responsabilizada de organizar excursões
estudo específico, é convidado a participar nos eventos e festi- para participarem nesses eventos.
vidades para conhecer e integrar-se com os moradores locais.
O Rio Grande do Sul possui imigrantes e descendentes oriundas As atividades lúdicas dos imigrantes
de várias regiões do Japão possibilitando a identificar diversida-
de cultural de cada uma dessas regiões como comidas típicas As atividades lúdicas que os imigrantes japoneses realizam
regionais, algumas danças e músicas assim como diversidade enquanto grupo pode ser divididos conforme suas característi-
linguística como uso de dialetos diversos, reforçando o vínculo cas específicas. Essas atividades foram ou são reproduzidas em
do sujeito com a terra natal do antepassado como se ainda per- associações, em menor ou maior grau, conforme número de
tencesse a ela.
2
A Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul foi a primeira associação
Além disso, esse modelo de associação por identidade ge- fundada pelos japoneses no Rio Grande do Sul no intuito de auxiliar os imi-
ográfica possibilitou a criar dentro do próprio Rio Grande do Sul grantes que vinham ao RS, proporcionando-lhes assistência médica, odonto-
lógica e outros auxílios como oferecimento de casa de estudantes para que os
as associações por microrregião dentro do próprio estado, tendo filhos desses imigrantes pudessem estudar no Capital. Outro papel importante
como referência a concentração de imigrantes em cada região, da associação era organizar eventos festivos e de lazer para esses imigrantes.

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associados e por condições etárias pois em alguns locais como O undokai é realizado no Japão, geralmente no dia 29 de
município de Santa Maria, onde predomina os idosos com mais abril, que corresponde a dia do verde atual, o que correspon-
de 70 anos de idade e com pouca família japonesa, já não se de a data de aniversário do imperador Meiji, denominado Ten-
realiza atividades como gincana esportiva e festival de talentos. chosetsu. Esse dia é feriado nacional no Japão sendo que em
Essas atividades podem ser classificadas conforme as ca- escolas públicas e privadas e até em empresas, realizam esse
racterísticas que cada um apresenta tendo caráter regional, fa- evento esportivo com participação de famílias resultando numa
miliar ou individual. Cada uma delas, fortemente vinculados a atividade unificadora nacional. Embora essa atividade de cunho
cultura japonesa, complementam umas às outras, rememora o nacionalista tenha sido extinguida pela imposição dos Estados
passado e fortalece o sentimento de pertencimento como japo- Unidos após Segunda Guerra Mundial como atividade comemo-
neses. rativa alusivo ao aniversário do Imperador Meiji com forte co-
notação de implantação do imperialismo japonês, unificadora
Através dessas atividades exercidas coletivamente é que
do Japão moderno, a atividade sobreviveu no pós-guerra como
possibilita a construção da memória coletiva pois não basta a
atividade comemorativa ao Dia do Verde e envolve diversos as-
reconstrução individual da memória. Mais do que isso, faz se
pectos sociais. O undokai, no Rio Grande do Sul é realizado no
necessário que
dia primeiro de maio oferecendo espaço para os imigrantes in-
(...) esta reconstrução se opere a partir de dados ou de teragirem entre si e com a comunidade apresentando diversos
noções comuns que se encontram tanto no nosso espírito aspectos socialmente relevantes.
como no dos outros, porque elas passam incessantemente
desses para aquele e reciprocamente, o que só é possível Em primeiro lugar, é o espaço onde os indivíduos podem se
se fizeram e continuam a fazer parte de uma mesma so-
tornar invisíveis pela dissolução da diversidade e disparidade,
ciedade. Somente assim podemos compreender que uma
lembrança possa ser ao mesmo tempo reconhecida e re- principalmente a sua posição econômica e social, tornando-os
construída. (HALBWACHS, 2004, p. 38-39)
oneness, isto é, tornarem-se uno. Em segundo lugar, é o espaço
de socialização, pois ao participar das atividades, ocorre a so-
Nesse sentido, ao participar dos eventos sociais como gin- cialização e compartilhamento de diversidades entre os presen-
canas esportivas ou artísticas, os imigrantes japoneses acabam tes, que pode ser a própria diversidade regional do Japão, tanto
por resgatar sua identidade cultural. por fornecer espaço para compartilhar os alimentos preparados
O undokai é evento esportivo que ocorre em diversas co- como exercer prática linguística como dialetos.Em terceiro lu-
munidades onde as pessoas, individualmente ou em grupo par- gar, é o espaço para formar identidade japonesa, sobremaneira
ticipam em competições, desde crianças até os idosos. Divididos os que residem no exterior como imigrantes japoneses, identifi-
em categorias, as atividades tais como corrida, corrida de reve- cando-se pertencentes à etnia japonesa, tanto por presença de
zamento, jogo de come-pão, corrida com saco, corrida em casal indivíduos com conformação física quanto por modo de compor-
e outras atividades ocorrem de forma dinâmica, muitas vezes tamento de ser o japonês. Em quarto lugar, ao ser espaço em
precedido de uma ginástica acompanhado de música chamado que as pessoas e grupos participam das competições, é também
radio-taisou onde todos os presentes participam. é um lugar da prática de realização pessoal.

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Conforme Sato, “antes mesmo de desembarcar em ter- brasileiros não eram vistos com bons olhos, tanto pela família
ra firme, algumas atividades recreativas eram realizadas pelos como pela comunidade de modo que esses festivais eram con-
imigrantes a bordo do navio” sendo que essa atividade “tor- siderados importantes.
nou-se um referencial comemorativo para sociabilizar/integrar Hoje em dia esse papel do festival está modificando. O
nipônicos e os descendentes (...), bem como na identificação aumento de casamentos entre etnias diferentes e de crianças e
identitária dos membros com a festa” (SATO, 2011, p.1). jovens mestiços, o espaço passou a ser um lugar de convivência
No Rio Grande do Sul, o undokai já era realizada logo que dessas famílias que busca o contato com a cultura de origem.
os primeiros imigrantes se instalaram e formaram em grupos. Algumas atividades mais tradicionais que compunha o enguei-
Segundo depoimento de primeiros imigrantes, se fazia undokai kai também foi sendo substituído por outros. Atualmente se ob-
na cidade de Santa Maria e na região de grande Porto Alegre no serva mais a apresentação de canto do que a de peças teatrais.
início da década de 1960, ora utilizando espaço público, o cam- O engueikai da Colônia Japonesa de Ivoti, por exemplo, possui
po de alguma chácara ou pátio da fábrica, como a de Lanifício na sua programação diversas apresentação de música, dança e
Kurashiki, localizado no município de Sapucaia do Sul, perto do canto, de diversos tipos, mas umas que outras peças de teatro,
capital. Dentre esse evento esportivo se destaca o undokai or- com participação de professora de língua japonesa, alunos e
ganizada pela Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul alguns membros da comunidade local.
pois nesse evento participam equipes formados por associações Essas atividades artísticas contribuíram e continuam con-
regionais, equipes de nihonjin-kai, o que destaca o papel de tribuindo para construção de identidade nacional japonês pois,
undokai como evento socializador e rememorador da identidade como bem lembra Stuart Hall,
dos imigrantes japoneses. O momento mais importante formal
é a entrega da Grande Taça ao final do evento, com caráter de (...) as culturas nacionais são compostas não apenas de
instituições culturais, mas também de símbolos e repre-
reconhecimento regional, tornando visível diante de outros gru- sentações. Uma cultura nacional é um discurso – um modo
pos que compõe imigração japonesa no estado. de construir sentidos que influencia e organiza tanto nos-
sas ações quanto a concepção que temos de nós mesmos
Outro evento lúdico é o festival de talentos chamado (HALL, 2005, p. 50).
engueikai. Esse evento é um festival de talentos em que os
participantes mostram diversos talentos artísticos no evento, O caráter intermediador e agente de entrelaçamento e for-
desde teatro até declamação de poesias. O objetivo desse even- talecimento do laço familiar permanece através desta atividade
to lúdico é reunir as famílias num espaço comum onde podem lúdica, pois nesse fazer social, as famílias deixam suas tarefas
conversar, dialogar e trocar informações do cotidiano. É tam- do cotidiano e participam ativa e passivamente e encontram o
bém o lugar em que os jovens podem mostrar seus talentos tempo para ver os parentes, irmãos, sogros e netos, conversam
e habilidades se conhecerem. Na época em que o casamento e compartilham as novidades da família. Tornou-se espaço que
ocorria de forma mais endêmica, dentro da própria comunida- os netos, já com pouca feição física de um japonês poder viven-
de, o engueikai exercia papel importante para acharem os ma- ciar de perto a cultura japonesa, comendo a comida que a avó
ridos e mulheres. O casamento entre os jovens japoneses e os preparou à moda japonesa e trouxe para compartilhar.

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O saber fazer da família também é reconhecido neste es- As datas destas atividades variam conforme a região,
paço pois, através da banca de comida que se vende algumas principalmente para que seus membros possam competir nos
iguarias, esta ou aquela família se destaca, ora oferecendo do- campeonatos estaduais, nacionais e mesmo internacional. Uma
ces típicas, conservas ou mesmo pré-ingredientes como tikuwa, característica interessante é a presença de brasileiros na com-
kamaboko e konhaku que são usados para preparo de comida petição, cantando músicas representativas do Japão. A identi-
final. As pessoas que compram essas comidas sempre trocam dade cultural, nesse caso, é por afinidade com a música japone-
informações com outras acerca da peculiaridade dos produtos, sa e, cantando sem sotaque de estrangeirismo, fica impossível
geralmente elogiando-os, estendendo indiretamente o elogio à distinguir a diferença étnica. Para esses brasileiros, portanto, o
família. karaokê é mera atividade de lazer e não possui caráter de iden-
Algumas associações regionais preferem participar somen- tidade nacional japonês.
te do engueikai organizada pela Associação de Assistência Nipo Entretanto, mesmo que o karaokê seja uma invenção con-
e Brasileira alegando que já não há condições de organizar tal siderado mais recente do que se pensa, ainda assim é uma tra-
evento por envelhecimento de seus membros e que os jovens, dição, carregado de simbologia nipônica. Conforme Hobsbawm,
agora com nova família, moram mais próximos a metrópole ou
(...) por “tradição inventada” entende-se um conjun-
mesmo por terem se emigrado ao Japão em busca de oportuni-
to de práticas, normalmente reguladas por regras, tácita
dade profissional quiçá se identificando como próprio japonês. ou abertamente aceitas; tais práticas, de natureza ritual
ou simbólica, visam inculcar certos valores e normas de
Outra atividade lúdica bastante apreciada entre membros comportamento através de repetição, o que implica,
da comunidade japonesa é o Karaokê. Esta atividade lúdica, automaticamente; uma continuidade em relação ao passa-
do (HOBSBAWM, 1997, p. 9).
tem caráter de demonstrar a habilidade musical do participante.
É uma competição de canto, na maioria de canção japonesa ou Nesse sentido, o karaokê também é uma prática da identi-
de canções estrangeiras mas adaptados ou traduzidos para o dade nacional japonesa, uma continuidade do passado nipônico
japonês, acompanhado de fundo musical previamente gravada. dos imigrantes que participam.Ainda existem outras formas de
Iniciada no início da década de 1970 pelos jovens imigrantes lazer como atividade desportiva típicas do Japão como jogos de
como nodo-jiman, isto é, competição de canto através da exi- Gate-ball e Soft-ball além de danças típicas, culinária e outros.
bição de talento no canto, com o advento da tecnologia, passou Essas atividades são igualmente relevantes na pesquisa para
a ser acompanhado de fundo musical e ganhou o nome de ka- identificar como memória é exercida para lembrar o passado
raokê, como já ocorria no Japão depois da difusão de aparelhos e como isto é rememorado para o presente e contribui para a
como toca-fitas e gravadores. construção do futuro. Assim, esse assunto será tratado oportu-
Sua prática vem se reproduzindo como exercício da busca namente, na continuidade da presente pesquisa.
de memória do passado em que ela exerce, ao mesmo tempo,
como instrumento de integração local e regional desses imi- Considerações Finais
grantes pois essas atividades são organizadas localmente e em
forma de competições regionais e estaduais. No início da imigração japonesa ao Brasil, nas primeiras

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décadas do século XX, o governo do imperador Meiji traçou a HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2004.

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neses que retornaram de antigas colônias. Esses imigrantes têm POLLAK, Michael. Memória e identidade social. Estudos Históricos, Rio de Ja-
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associação maior, a Associação de Assistência Nipo e Brasileira Felipe. Pesquisa documental: pistas teóricas e metodológicas. Revista Brasilei-
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do Sul, de forma regular e contínua ao longo dos anos, sempre
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em torno da niponicidade. In: XXVI Simpósio Nacional de História, 2011. São
Mais do que atividades que contribuem para formação de uma Paulo/SP. 2011. Anais... ANPUH/ São Paulo, 2011.
das etnias formadora do povo gaúcho, elas também contribuem
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