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Ciclo Revista:

Experiências em
formação no IF Goiano
V. 03, N. 01 – 2019
Ciclo Revista:
Experiências em
formação no IF Goiano
V. 03, N. 01 – 2019
©2019 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia CONSELHO EDITORIAL
Goiano - IF Goiano
Adriana A Alves Vilela Andrade
Diretora de Comunicação Social e Eventos: Adriana Aparecida Molina Gomes
Cláudia Sousa Oriente de Faria Adriana Araújo Cintra
Projeto Gráfico e Diagramação: Adson Pereira de Souza Aline Gobbi Dutra Guimarães
Carolina Santos Melo de Andrade
Revisão: Sarah Suzane A. Bertolli Venâncio Gonçalves Celso Martins Belisário
Bibliotecário: Johnathan Pereira Alves Diniz Christina Vargas Miranda e Carvalho
Cinthia Maria Felicio
ISSN: 2447-8792 (impresso) | 2526-8082 (eletrônico) Claudiney Goulart
Dulcinéia de Oliveira Gomes
Esdras Lins Bispo Junior
Fábio Pereira Santana
Flávio Gomes de Moraes
Jair Messias Bolsonaro Gecirlei Francisco da Silva
Presidente da República Grace Kelly Souza Carmo Goulart
Grazielle Alves dos Santos
Abraham Bragança de Vasconcellos Weintraub Heloisa Baleroni Rodrigues de Godoy
Ministro da Educação Jordana Sebastiana Gregório
Jorge Lima Loiola
Ariosto Antunes Culau José Luís Coelho da Silva
Secretário da Educação Profissional e Tecnológica Kamila Rodrigues Coelho
Lia Raquel de S. Santos
Vicente Pereira de Almeida Luciana Aparecida Siqueira Silva
Reitor Luiza Ferreira Rezende de Medeiros
Márcia Leão da Silva Pacheco
Virgílio José Tavira Erthal Marco Antônio Franco do Amaral
Pró-Reitor de Ensino Maria Andréia Corrêa Mendonça
Michelle Castro Lima
Sebastião Nunes da Rosa Filho Onilda Aparecida Gondim
Pró-Reitor de Extensão Relicler Pardim Gouveia
Renata Rolins de Oliveira
Fabiano Guimarães Silva Roberto Barcelos Souza
Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação Rosemara Perpetua Lopes
Rosenilde Nogueira Paniago
Elias de Pádua Monteiro Sandra Regina Longhin
Pró-Reitor de Desenvolvimento Institucional Sangelita Miranda Franco Mariano
Simônia Peres da Silva
Tania Marcia de Freitas Montes Tiago Clarimundo Ramos
Pró-Reitora de Administração e Planejamento Vanderlei Balbino da Costa
Vânia Carmem Lima
Victor Passuello
ORGANIZADORAS Vívian de Faria Caixeta Monteiro -
Wender José de Souza
Wilciene Nunes do Vale
Vívian de Faria Caixeta Monteiro
Simônia Peres da Silva

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação(CIP)


Sistema Integrado de Bibliotecas (SIBI) – Instituto Federal Goiano

C568
Ciclo Revista: experiências em formação no IF Goiano / Instituto Federal Goiano,
v. 3, n. 1 (2019). - Goiânia: IF Goiano, 2016.
242 p., il.

Anual
ISSN: 2447-8792 (impresso)
ISSN: 2526-8082 (eletrônico)

Contem experiências apresentadas no III Encontro de Licenciaturas e Pesquisa em


Educação do IF Goiano (ELPED) e 4º Encontro de Licenciaturas do Sudoeste Goiano e do
Encontro do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (IV ELICPIBID).

1. Formação de professores. 2. Formação continuada 3. Experiências didático-pedagógi-


cas. 4. Pesquisa em educação. 5 ELPED. 6. ELICPIBID. I. Instituto Federal Goiano.
CDU: 371.13
Ficha elaborada por Johnathan Pereira Alves Diniz – Bibliotecário/CRB 1 nº 2376
SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA GOIANO

Ciclo Revista:
Experiências em
formação no IF Goiano
V. 03, N. 01 – 2019
Fabiano José Ferreira Geraldo Pereira da Silva Junior
Diretor de Implantação do Campus Campos Belos Campus Trindade

Emerson do Nascimento Fernando Godinho de Araujo


Diretor do Campus Avançado Catalão Campus Urutaí

Cleiton Mateus Sousa


Diretor Geral do Campus Ceres EQUIPE DA PRÓ-REITORIA DE ENSINO

Eduardo Vasconcelos Virgílio José Tavira Erthal


Diretor do Campus Cristalina Pró-Reitor de Ensino

Sidney de Souza Silva Vívian de Faria Caixeta Monteiro


Diretor do Campus Avançado Hidrolândia Diretora de Desenvolvimento de Ensino

Juliana Cristina da Costa Fernandes Cláudio Virote


Diretora do Campus Avançado Ipameri Coordenador de Ensino Médio e Técnico

José Junio Rodrigues de Souza Hellayny Silva Godoy de Souza


Diretor Geral do Campus Iporá Coordenadora de Ensino de Graduação

Gilberto Silvério da Silva Angela Pacheco Maria Nunes


Diretor Geral do Campus Morrinhos Núcleo de Registros Acadêmicos

Italo Lacerda Fernandes Klaudia Maria Longo Hassel Mendes


Diretora de Implantação do Campus Posse Núcleo de Registros Acadêmicos

Anisio Correa da Rocha Stephanny Loren Carvalho Gonçalves


Diretor Geral do Campus Rio Verde Núcleo de Registros Acadêmicos

Júlio Cézar Garcia Johnathan Pereira Alves Diniz


Diretora de Implantação do Campus Trindade Núcleo de Biblioteca

Gilson Dourado da Silva Antoniel Aniceto de Oliveira


Diretor Geral do Campus UrutaÍ Pesquisador Institucional

Miriã Nunes Porto Lima


Apoio Pedagógico

Simônia Peres da Silva


DIRETORES DE ENSINO OU EQUIVALENTES Apoio Pedagógico

Wellington Machado Lucena Andrea Fernandes Braga


Campus Campos Belos Apoio Pedagógico

Marcos Jungmann Bhering Thiago de Oliveira Piloto


Campus Avançado Catalão Secretaria

Adriano Honorato Braga Francimar Alves Ximenes


Campus Ceres Diretor de Assistência Estudantil

Alécio Rodrigues Nunes Leigh Maria de Souza


Campus Cristalina Coordenadora do Núcleo de Apoio
Pedagógico e Inclusão Social
Thays Martins Vital da Silva
Campus Avançados de Hidrolândia Gabriela Nogueira Almeida
Tradutora e Intérprete de Linguagem de Sinais
Maria Luiza Batista Bretas
Campus Avançados de Ipameri Joseany Rodrigues da Cruz
Coordenadora do Núcleo de Educação a Distância
Marlucio Tavares do Nascimento
Campus Iporá Daniela Costa Custodio
Apoio Pedagógico e Administrativo
Luciano Carlos Ribeiro da Silva
Campus Morrinhos Marina Campos Nori Rodrigues
Apoio Pedagógico
Frederico do Carmo Leite
Campus Posse Salvador Ribeiro Pedreira Junio
Programador Visual
Edson Souchie
Campus Rio Verde Silvestre Linhares da Silva
Programador Visual
Editorial

Neste número da revista meri, Cristalina e Catalão);2)


“Ciclo Revista: Experiências Universidade Estadual de
em Formação no IF Goiano” Goiás - Campus Quirinópolis
apresenta-se os resultados de e Santa Helena; 3) Universida-
pesquisas, experiências ad- de Federal de Goiás –Regional
ministrativas e didático-pe- de Jataí; 4) Instituto Federal de
dagógicas apresentadas no 3º Educação, Ciência e Tecnolo-
Encontro de Licenciaturas e gia de Goiás -Campus Jataí; 5)
Pesquisa em Educação do IF Universidade de Rio Verde; 6)
Goiano (III ELPED) e 4º Instituto Superior de Educação
Encontro de Licenciaturas do Almeida Rodrigues; 7) Secre-
Sudoeste Goiano, o 4º En- taria Municipal de Educação
contro do Programa Institu- de Rio Verde; e 8) Subsecreta-
cional de Bolsas de Iniciação ria de estado de Goiás.
à Docência (IV ELICPIBID)
do Sudoeste Goiano. Estes eventos constituíram-
-se em espaço de discussão de
Com o tema Educação em temas relacionados a políticas
Trânsito: Diálogos entre Políti- educacionais, a formação e tra-
cas Públicas, Formação e Tra- balho docente e os seus desdo-
balho Docente, nestes eventos bramentos na educação básica.
foram debatidas questões acer- Ao diminuir a distância entre o
ca de políticas educacionais, que é pensado nas Instituições
formação e trabalho docente, de Ensino Superior ( IES) e
problematizando o atual cená- o que é vivido na escola bási-
rio nacional. Eventos organi- ca, buscou-se contribuir com a
zado por meio de um diálogo formação continuada de todos
profícuo, tecido entre oito ins- os envolvidos no evento (pales-
tituições: 1) Instituto Federal trantes convidados, professores
de Educação, Ciência e Tec- universitários, professores da
nologia Goiano - IF Goiano, escola básica e alunos de gra-
com a participação dos seus duação, inclusive bolsistas de
doze campi (Rio Verde, que se- iniciação à docência do Pibid),
dia o evento, e os demais campi por meio da participação nas
de Morrinhos, Urutaí, Iporá, conferências, mesas redondas
Ceres, Trindade, Campos Be- e da aprendizagem de novos
los, Posse, Hidrolândia, Ipa- procedimentos didático/meto-
dológicos decorrentes da realização de diversos Não obstante, ao apresentar as produções neste
minicursos, incluindo as Tecnologias da Infor- número da revista, pretende-se destacar e valori-
mação e da Comunicação (TIC). zar as diversas vozes dos atores protagonistas - os
discentes dos cursos de Licenciaturas, professo-
Os trabalhos resultantes de pesquisas cientí- res da educação básica e ensino superior e demais
ficas e relatos de experiências, aqui apresentados, profissionais da educação.
nos convidam a uma reflexão sobre a formação de
professores, políticas educativas, processos de en- Cumpre parabenizar a todos os autores dos
sino-aprendizagem na educação básica mediados textos aqui apresentados. Espera-se que todas as
pela pesquisa e pelas tecnologias; reflexões estas, reflexões que compõe esta rica coletânea repre-
que trazem contribuição aos processos educati- sentem uma efetiva contribuição aos profissio-
vos da rede pública, especialmente na região do nais da educação, de modo especial, aos futuros
sudoeste goiano, ao colocar em evidências novas professores que se encontram em formação, aos
possibilidades formativas para uma melhor qua- professores que formam professores e aos profes-
lidade do processo ensino-aprendizagem. sores da educação básica.

Dessarte, o esforço coletivo para a organiza-


ção destes eventos, com abundantes possibilida-
des formativas, traduzirá em avanços da pesquisa
na área da educação e/ou ensino, na implementa- Rosenilde Nogueira Paniago
ção de novos projetos de pesquisa e consolidação Coordenadora da Comissão Organizadora do
dos já existentes entre as instituições promotoras. III ELPED / IV ELICPIBID
Ciclo Revista: Experiências em
Formação no IF Goiano

A Ciclo Revista: Experiên- zou aos professores e técnicos


cias em formação do IF Goia- administrativos do IF Goiano,
no constitui como um espaço a divulgação de experiências
privilegiado de socialização de exitosas desenvolvidas em di-
experiências e conhecimentos ferentes modalidades de ensino
produzidos por docentes, técni- e áreas de conhecimento, que
cos administrativos e alunos no culminou na primeira edição
IF Goiano. Originou a partir da Ciclo Revista. Em 2017
da implementação do Ciclo de ocorreu o IV Ciclo Formação
Formação, realizado pela Pró- cujo tema foi Plano Estratégico
-Reitoria de Ensino (PROEN), de Permanência e Êxito, com o
no qual são discutidas as expe- objetivo de qualificar o debate
riências inovadoras acerca das institucional, bem como pro-
metodologias de ensino, das mover a troca de experiências
ações organizativas e curricula- acerca das políticas de perma-
res, das rotinas administrativas nência e êxito dos estudantes,
e pedagógicas desenvolvidas no tendo em vista a superação da
âmbito do IF Goiano. evasão e retenção na educação
básica e na educação superior.
Em 2013, foi realizado o I Tais relatos deram origem a se-
Ciclo de Formação, abordando gunda edição da Ciclo Revista.
o tema Rotinas Administrati-
vas e Pedagógicas de Gestão do A terceira edição da Ciclo
Ensino Superior que refletiu so- Revista apresenta uma coletâ-
bre o desenvolvimento do tra- nea de artigos científicos e re-
balho dos coordenadores dos latos de experiência mais bem
cursos de Graduação. No ano avaliados pela Comissão Cien-
de 2014, o II Ciclo de Forma- tífica do 3º ELPED (Encontro
ção ocorreu em parceria com o de Licenciaturas e Pesquisa
Instituto Federal de Goiás (IF em Educação do IF Goiano),
Goiás) e o Instituto Federal de 4º Encontro de Licenciaturas
Brasília (IFB), e refletiu sobre do Sudoeste Goiano e 4º En-
a trajetória dos Institutos Fe- contro do Programa Institu-
derais, priorizando os cursos cional de Bolsas de Iniciação
de Ensino Médio Integrado. a Docência – ELICPIBID do
O III Ciclo de Formação, que Sudoeste Goiano. O evento
aconteceu em 2015, oportuni- realizado em junho de 2018, no

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 9


Campus Rio Verde, do Instituto Federal Goia- didáticos. No Eixo 4 Ensino Médio Integrado
no, teve como tema Educação em trânsito: diálogos e Educação de Jovens e Adultos são debatidos os
entre políticas públicas, formação e trabalho docente princípios e fundamentos da integração e in-
e debateu questões acerca de políticas educacio- terdisciplinaridade no currículo e na prática
nais e formação de professores, tendo em vista a pedagógica, incluindo ainda reflexões sobre a
melhoria da qualidade da formação de docentes Educação de Jovens e Adultos. Os artigos do
e do processo ensino-aprendizagem na educação Eixo 5 Educação, Diversidade e Cultura tratam
básica, especialmente da rede pública, na região das questões relativas ao processo de inclu-
do sudoeste goiano. são na educação escolar, adaptação curricular
e flexibilização da avaliação da aprendiza-
Esta terceira edição da Ciclo Revista, estru- gem. Em Educação e Multimídia, Eixo 6, são
turada em oito eixos temáticos e trinta e cinco apresentados estudos que discutem o uso e as
artigos, aborda no Eixo 1 as Políticas Educacio- contribuições das tecnologias da informação e
nais, Currículo e Gestão Escolar e repercussões comunicação para as práticas educativas esco-
na formação docente, nas práticas pedagógi- lares. Finalmente no Eixo 7 Educação e Meio
cas e no funcionamento da escola. O Eixo 2 Ambiente aborda aspectos históricos que mar-
Formação, Prof issionalização e Trabalho trata da caram a construção do conhecimento no ensi-
construção da identidade docente, dos princí- no de Ciências e a contribuição da educação
pios norteadores da docência e suas implica- ambiental para a conservação dos recursos na-
ções na formação de professores e no exercí- turais rumo ao desenvolvimento sustentável.
cio profissional. No Eixo 3, intitulado Práticas
Pedagógicas e Metodologias de Ensino, discute
os princípios e pressupostos do planejamen-
to e da organização das atividades de ensino, Vívian de Faria Caixeta Monteiro
bem como as diferentes estratégias e recursos Simônia Peres da Silva
Sumário

EIXO I - POLÍTICAS EDUCACIONAIS, CURRÍCULO


E GESTÃO ESCOLAR...........................................................................15

POLÍTICAS PÚBLICAS DE FORMAÇÃO DOCENTE NO ÂMBITO DA EDUCAÇÃO


PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA E SUA RELAÇÃO COM O PIBID.................16

PERSPECTIVAS DISCENTES E POSSIBILIDADES DOCENTES NA EDUCAÇÃO


PROFISSIONAL TÉCNICA INTEGRADA AO ENSINO MÉDIO...........................25

EIXO II - FORMAÇÃO, PROFISSIONALIZAÇÃO


E TRABALHO DOCENTE.......................................................................34

A FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA ATUAÇÃO


NA EDUCAÇÃO INFANTIL............................................................................35

APRENDIZAGEM DA DOCÊNCIA NO PIBID MEDIADA PELOS


PROFESSORES SUPERVISORES.................................................................43

CÍRCULOS DE LEITURA E LETRAMENTO LITERÁRIO NA FORMAÇÃO


DE PROFESSORES......................................................................................51

EU, VOCÊS E O WHATSAPP NO PROCESSO ENSINO E APRENDIZAGEM:


EXPERIÊNCIA CRIATIVA SOB O FAZER PEDAGÓGICO..................................56

FORMAÇÃO DE PROFESSORES: UMA RELEITURA DO


PROCESSO FORMADOR..............................................................................62

EIXO III - PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E METODOLOGIAS DE ENSINO.......67

BIOQUÍMICA NO ENSINO MÉDIO: CONTRIBUIÇÕES DE UM JOGO DIDÁTICO


SOBRE CARBOIDRATOS E LIPÍDIOS............................................................68
PRÁTICAS EXTENSIONISTAS: PROJETO POESIA HOJE................................71

JUVENTUDE E ESCOLA NO MUNICÍPIO DE CAMPO ALEGRE DE GOIÁS........74

PERCEPÇÃO DOCENTE SOBRE O ENSINO DA DISCIPLINA DE METODOLOGIA


DA PESQUISA NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO DO
INSTITUTO FEDERAL GOIANO.....................................................................79

DESENVOLVIMENTO DE UM JOGO DIDÁTICO COMO RECURSO FACILITADOR


NO ENSINO DE QUÍMICA.............................................................................86

ESTUDO DE CASO DAS PRÁTICAS DE ENSINO DE PROFESSORAS NOS


ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL EM LÍNGUA PORTUGUESA E
CIÊNCIAS DA NATUREZA............................................................................93

CAFÉ COM LITERATURA: LEITURA LITERÁRIA INTER/MULTI/


TRANSDISCIPLINAR.................................................................................102

JOGOS DIDÁTICOS: UMA


FERRAMENTA PARA AUXILIAR NA APRENDIZAGEM DOS ESTUDANTES....106

A EXPERIMENTAÇÃO COM O MOTOR STIRLING NO ENSINO DE FÍSICA.....112

A INSERÇÃO DE JOGOS
COMO RECURSO DIDÁTICO NO ENSINO DA MATEMÁTICA........................115

MATEMÁTICA E MÚSICA: UMA PROPOSTA DE APRENDIZAGEM................119

PRÁTICAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM DESENVOLVIDAS NO ÂMBITO


EDUCACIONAL EM FORMA DE GRUPO DE PESQUISA...............................128

AÇÕES EDUCATIVAS NÃO FORMALIZADAS EM AMBIENTE LABORAL:


ESTUDO EXPLORATÓRIO EM EMPRESA AGROINDUSTRIAL DE ALIMENTOS....
132

CONSTRUÇÃO DO CUBO UTILIZANDO A TÉCNICA DO ORIGAMI.................140


BUSCANDO DIFERENTES ESTRATÉGIAS DIDÁTICAS PARA O TRABALHO
COM O ENSINO DE CIÊNCIAS NOS ANOS FINAIS
DO ENSINO FUNDAMENTAL......................................................................145

ESTRATÉGIAS DE ENSINO E
CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO: uma análise crítico-reflexiva de um curso de
Licenciatura em Química.........................................................................152

RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE TABULEIRO PINOS COLORIDOS APLICADO


NO EVENTO “MATEMÁTICA NAS PRAÇAS ................................................160

EIXO IV - ENSINO MÉDIO INTEGRADO E EDUCAÇÃO


DE JOVENS E ADULTOS....................................................................165

PEDAGOGIA DO OPRIMIDO E A PRÁTICA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO DE


JOVENS E ADULTOS..................................................................................166

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: O MODELO DO PROCESSO DE ENSINO


APRENDIZAGEM NA UNIDADE PRISIONAL DE JARAGUÁ...........................171

PESQUISA E INOVAÇÃO NO ENSINO MÉDIO TÉCNICO INTEGRADO: O QUE


ENSINAR? “GARIMPANDO SUGESTÕES”..................................................178

PRÁTICA DE LEITURA, ESCRITA E ARTE NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E


ADULTOS EM MORRINHOS-GO.................................................................187

EIXO V - INCLUSÃO, DIVERSIDADE E CULTURA..................................190

DISLEXIA: UM ESTUDO DE CASO


COM POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA...........................191
ADAPTAÇÃO CURRICULAR E FLEXIBILIZAÇÃO NA AVALIAÇÃO: ALGUNS
DILEMAS DA INCLUSÃO`..........................................................................198

EIXO VI - EDUCAÇÃO E MULTIMÍDIA..................................................203

ENSINO DE FRAÇÕES NO ENSINO FUNDAMENTAL: CONTRIBUIÇÃO DA


TECNOLOGIA DE COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO PARA UMA PEDAGOGIA
VISUAL.....................................................................................................204

MUDANÇA NAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS DO SÉCULO XX E SUA


RELAÇÃO COM A RESISTÊNCIA À INCORPORAÇÃO DAS TIC ....................209

WEBQUEST NO ENSINO DE BIOLOGIA: UM ESTUDO DE CASO COM ALUNOS


DO ENSINO MÉDIO...................................................................................219

EIXO VII - EDUCAÇÃO E MEIO AMBIENTE..........................................227

CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO DE QUÍMICA: ABORDAGEM DO


TEMA RESÍDUOS NA AGRICULTURA..........................................................228

HERBERT SPENCER E OS TRABALHOS DE EVOLUÇÃO NA REVISTA


BRASILEIRA DE HISTÓRIA DA CIÊNCIA.....................................................236
Eixo I
Políticas Educacionais, Currículo
e Gestão Escolar

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 15


POLÍTICAS PÚBLICAS DE FORMAÇÃO DOCENTE
NO ÂMBITO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E
TECNOLÓGICA E SUA RELAÇÃO COM O PIBID
MINEIRO, Eliane Cristina Gualberto Melo1; OLIVEIRA, Edna Guiomar Salgado2;
SANTOS, Lílian Gleisia Alves3; LOPES, Frederico Antonio Mineiro4

1. INTRODUÇÃO

As políticas públicas brasileiras voltadas para o campo educa-


cional, especificamente no que concerne à educação profissional e
tecnológica, vêm se adequando às transformações tecnológicas e
às exigências oriundas do mercado de trabalho, além de procurar
atender a determinações legalmente previstas no que tange aos di-
reitos dos cidadãos.

Neste contexto, desde a chegada dos portugueses ao Brasil até


o cenário político e econômico contemporâneo percebem-se avan-
ços e retrocessos das políticas públicas nos diferentes níveis e mo-
dalidades de ensino, dentre elas a educação profissional, marcada
por políticas que implicam diretamente os contextos local e nacio-
nal. A partir dessa ótica, o cenário mundial da globalização requer
ações governamentais capazes de promover o desenvolvimento de
uma educação profissional e tecnológica que atenda às exigências
de um mercado de trabalho competitivo. Nesses termos, as atuais
legislações brasileiras, em sua maioria, sinalizam uma preocupação
com a formação dos estudantes, bem como com a sua inserção no
mundo do trabalho.

1 Instituto Federal de Educação Em consonância com esses ideais, em 29 de dezembro de 2008,


do Norte de Minas Gerias – Cam- o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei n.º 11.892,
pus Salinas. E-mail: eliane.minei- que criou 38 Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnolo-
ro@ifnmg.edu.br gia, com a finalidade de ofertar educação profissional e tecnológica
2 Instituto Federal de Educação em todos os níveis e modalidades e promover a integração e a ver-
Ciência e Tecnologia do Norte de ticalização da educação profissional, desde a educação básica até
Minas Gerais- Campus Salinas. a educação superior (BRASIL, 2008). Percebe-se, portanto, que
E-mail: edna.oliveira@ifnmg.edu.br os Institutos Federais (IFs) apresentam-se enquanto uma política
3 Instituto Federal de Educação pública voltada para a educação profissional e tecnológica.
do Norte de Minas Gerais - Cam-
pus Salinas. E-mail: lilian.santos@ Um dos requisitos previstos na referida legislação trata-se da
ifnmg.edu.br oferta de que o mínimo de 20% (vinte por cento) de suas vagas seja
4 Universidade Federal de Minas destinado aos cursos de licenciaturas para a formação docente em
Gerais. E-mail: fredericominei- nível superior. Contempla-se, assim, a formação docente nos IFs,
ro@ufmg.br tendo o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência

16 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


(PIBID) uma política pública para contri- 3. DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS
buir com a permanência dos acadêmicos nos
cursos de licenciatura. Neste contexto, reside Nesta seção, será abordada a temática
a relevância deste estudo, na medida em que das políticas públicas de formação docente
é implementado um programa voltado para nas licenciaturas, apresentando, brevemente,
a formação docente em cursos de licencia- o processo histórico de criação dos Institu-
turas nos IFs, reflexo das políticas públicas tos Federais de Educação, Ciência e Tecno-
de expansão da Rede Federal de Educação logia, enquanto política pública da educação
Profissional e Tecnológica (REFT), o que profissional e tecnológica, bem como sua re-
possibilita novas perspectivas para o ensino. lação com o PIBID.

Assim, este estudo tem como objetivos: 3.1 OS INSTITUTOS FEDERAIS ENQUANTO
apresentar o IFNMG enquanto política pú- POLÍTICA PÚBLICA DA EDUCAÇÃO PRO-
blica de educação profissional e tecnológica; FISSIONAL E TECNOLÓGICA
analisar as políticas públicas de formação
docente nos cursos de licenciatura do IFN- O processo histórico da Educação Profis-
MG – Campus Salinas, e sua relação com sional e Tecnológica (EPT) no Brasil ocorreu
o PIBID. em processos de mudanças de ordem política
e econômica no sistema do país. Desde sua
origem, a educação profissional esteve voltada
para as classes sociais menos favorecidas, que
exercia as atividades que exigiam trabalho bra-
2. METODOLOGIA çal e esforço operacional, havendo a distinção
entre aqueles que detinham o saber teórico e
A metodologia aplicada a esta pesqui- aqueles que executavam as tarefas manuais tí-
sa respaldou-se na abordagem qualitativa, picas da classe operária.
na medida em que possibilita uma análise
científica que se possa compreender melhor Nesse sentido, historicamente, a educa-
o objeto de estudo desta pesquisa. ção brasileira está marcada pela dualidade
estrutural entre a formação acadêmica e a
Para delinear esse enfoque, utilizou-se a formação profissional, como afirma Mou-
pesquisa documental e a análise bibliográ- ra (2007), na medida em que existem tipos
fica, posto que tais técnicas não se excluem diferentes de escolas destinadas para classes
entre si; ao contrário, complementam-se e sociais distintas, isto é, a educação básica de
possibilitam o aprofundamento do estudo a caráter mais propedêutico, dirigida à forma-
ser investigado. Segundo Severino (2007), ção das elites, e o ensino profissionalizante,
na pesquisa documental, “tem-se como fon- geralmente de caráter mais instrumental,
te de documentos no sentido amplo, ou seja, voltado para as demais classes sociais, isto é,
não só de documentos impressos, mas, so- àqueles com baixa renda.
bretudo de outros tipos de documentos, tais
como jornais, fotos, filmes, gravações, docu- Nessas circunstâncias, no início do sécu-
mentos legais” (SEVERINO, 2007, p. 122). lo XX houve um esforço por parte do poder
público para organizar a formação profissio-
Quanto ao tipo de pesquisa, optou-se nal. Mais precisamente no ano de 1909, ini-
por desenvolver uma pesquisa descritiva, a ciou-se uma nova etapa da educação profis-
fim de descrever o objeto de estudo de for- sional no Brasil, com destaque para a criação
ma minuciosa, tendo como lócus investiga- da Rede Federal de Educação Profissional e
tivo o Instituto Federal do Norte de Minas Tecnológica (REFT), que teve seus marcos
Gerais - Campus Salinas. regulatórios iniciais traçados pelo Decreto
n.º 7.566, assinado pelo presidente Nilo Pe-
çanha em 23 de setembro de 1909, criando
19 “Escolas de Aprendizes Artífices”.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 17


Após quase cem anos da regulamentação tendida como política pública, ampliando o
da Rede Federal de Educação Profissional e leque do campo investigativo.
Tecnológica, o governo federal sancionou a
Lei n.º 11.892, de 29 de dezembro de 2008, A nova Constituição Federal do Brasil
que criou 38 Institutos Federais de Educa- de 1988 trouxe inovações no sistema educa-
ção, Ciência e Tecnologia, com a finalidade cional, culminando com a aprovação da Lei
de ofertar educação profissional e tecnológica de Diretrizes e Bases da Educação Nacio-
em todos os níveis e modalidades e promo- nal - Lei n.º 9.394/96, que alterou a organi-
ver a integração e a verticalização da educa- zação do sistema escolar. Neste contexto, a
ção profissional, desde a educação básica até LDB n.º 9394/96 apresentou, pela primeira
a educação superior. A mencionada lei insti- vez na história da educação brasileira, um
tuiu a Rede Federal de Educação Profissional, capítulo específico destinado à educação
Científica e Tecnológica no âmbito do sistema profissional e tecnológica. Ramos (2010, p.
federal de ensino, vinculada ao Ministério da 46) ratifica que “a educação profissional foi
Educação (BRASIL, 2008). regulamentada como modalidade própria
de ensino, independente dos níveis esco-
Nesse sentido, a denominação de Rede lares, porém com eles articulados”. Assim,
Federal de Educação Profissional e Tecno- essa modalidade de educação passou a ser
lógica tem sido, conforme Pacheco (2011, p. tratada mais profundamente pela LDB.
56), “utilizada como referência a um con-
junto de instituições federais, vinculadas ao Cabe salientar que a LDB n.º 9394/96,
MEC, voltadas para a educação profissional em seu artigo 391, prevê que a educação pro-
e tecnológica em nível médio e superior”. fissional e tecnológica “integra-se aos dife-
Para o autor, o termo “rede” é compreen- rentes níveis e modalidades de educação e às
dido não somente como um agrupamento dimensões do trabalho, da ciência e da tec-
de instituições, mas também como forma e nologia” (BRASIL, 1996). Além disso, a lei
estrutura de organização e funcionamento salientou que será “desenvolvida em articu-
(PACHECO, 2011). lação com o ensino regular ou por diferen-
tes estratégias de educação continuada, em
No âmbito conceitual, a expressão “edu- instituições especializadas ou no ambiente
cação profissional” abrange uma série de de trabalho” (BRASIL, 1996). Percebe-se,
processos educativos e está articulada à portanto, que a educação profissional, pre-
educação básica e à educação superior. No conizada na LDB, otimiza as chances de
Brasil, a Lei n.º 5.692/71, ao instituir a pro- capacitação profissional e empregabilidade,
fissionalização compulsória no 2º grau, in- em diversos campos e níveis de atuação.
troduziu o termo “ensino profissionalizan-
te”, tentando superar os aspectos negativos Diante do contexto das reformas educa-
inspirados pelo termo “ensino profissional”, cionais brasileiras, a educação profissional
devido a sua destinação aos filhos dos tra- e tecnológica vem ganhando destaque, es-
balhadores (FRIGOTTO; CIAVATTA; pecialmente a partir dos anos de 1990, por
RAMOS, 2009). Com a implementação do meio de proposições e implementações de
Plano Nacional de Educação Profissional, políticas públicas e programas governamen-
a partir de 1995, passou-se a utilizar a ex- tais focados nessa temática. Tais movimen-
pressão “educação profissional”, sendo con- tos de reforma e implantação de políticas e
solidada pela Lei de Diretrizes e Bases n.º programas iniciados no primeiro governo de
9394/96. Fernando Henrique Cardoso prosseguiram
no segundo e tiveram sequência, marcadas
Cabe salientar, portanto, que no campo por inflexões e continuidades no primeiro
educacional passou-se a produzir estudos e segundo governos de Luiz Inácio Lula
que privilegiam a abordagem da educação
na sua dimensão de política estatal (AZE-
VEDO, 2004). Neste viés, a educação é en- 1  Redação dada pela Lei nº 11.741, de 2008

18 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


da Silva até a atualidade, conforme indica ferentes modalidades de ensino. Além dis-
Lima Filho (2010). so, vincula-se ao Ministério da Educação e
possui natureza jurídica de autarquia, sendo
3.2 A FORMAÇÃO DOCENTE NAS LICEN- detentor de autonomia administrativa, pa-
CIATURAS NO IFNMG – CAMPUS SALINAS trimonial, financeira, didático-pedagógica e
disciplinar (BRASIL, 2008).
A política de constituição dos Institutos
Federais de Educação, Ciência e Tecnolo- O IFNMG foi instituído pela integra-
gia representa uma das ações estabelecidas ção do Centro Federal de Educação Profis-
no Plano de Desenvolvimento da Educação sional e Tecnológica (CEFET) de Januária
(PDE), o qual foi lançado em 2007 pelo e da Escola Agrotécnica Federal de Salinas
MEC e apresenta princípios e programas (EAF Salinas), instituições com mais de 50
para a educação brasileira e contempla a anos de experiência na oferta da educação
educação profissional. profissional (IFNMG, 2013). Nesse proces-
so, as duas instituições históricas deixaram
Nesses termos, conforme o artigo 2º da de existir, passando a constituir uma nova
Lei n.º 11.892/08, os Institutos Federais se instituição com novas concepções, atribui-
apresentam como instituições de “educação ções e desafios.
superior, básica e profissional”, o que, se-
gundo Pacheco (2011, p. 64), “confere aos Neste cenário, no âmbito do IFNMG é
Institutos Federais uma natureza singular, ofertada uma gama de cursos, desde cursos
na medida em que não é comum no sistema técnicos de nível médio (nas modalidades
educacional brasileiro atribuir a uma única integrado, concomitante e subsequente ao
instituição a atuação em mais de um nível ensino médio), cursos do programa nacional
de ensino”. São ofertados nos IFs, nesse de integração da educação profissional com
sentido, cursos desde a formação inicial e a educação básica na modalidade de edu-
continuada, cursos técnicos de nível médio cação de jovens e adultos (PROEJA), for-
até as graduações tecnológicas, que são de mação inicial e continuada (FIC) até cursos
nível superior, ampliando o leque de atuação superiores (tecnologia, bacharelado, licen-
em termos de ofertas educativas. ciatura) e pós-graduação. Também são ofer-
tados cursos à distância, como no âmbito do
Há de se notar que os cursos de licencia- Programa Mulheres Mil e Bolsa-Formação
tura, os bacharelados e as engenharias deverão do Programa Nacional de Acesso ao Ensino
circunscrever as áreas do conhecimento rela- Técnico e Emprego (PRONATEC).
cionadas às ciências da natureza, matemática e
suas tecnologias (PACHECO, 2011). O IFNMG começou a fazer parte do
plano de expansão da Rede Federal de Edu-
O que se pode verificar é que pela plu- cação Profissional, Científica e Tecnológica,
ralidade de cursos e currículos ofertados, o que possibilitou a implantação de novos
os Institutos detêm a característica da plu- campi. Com sua organização estrutural no
ricurricularidade, como afirma Pacheco formato multicampi, a instituição é com-
(2011), na medida em que contemplam não posta, atualmente, pela reitoria, sediada em
só diferentes formações (cursos e níveis), Montes Claros, e por onze campi: Campus
mas também os nexos possíveis entre dife- Almenara, Campus Araçuaí, Campus Ari-
rentes campos do saber. nos, Campus Diamantina, Campus Avan-
çado Janaúba, Campus Januária, Campus
Como os demais Institutos, o Instituto Montes Claros, Campus Pirapora, Campus
Federal do Norte de Minas Gerais (IFN- Avançado Porteirinha, Campus Salinas,
MG) é uma instituição de educação supe- Campus Teófilo Otoni (BRASIL, 2013).
rior, básica e profissional, pluricurricular
e multicampi, especializada na oferta de A promulgação da Lei nº 11.892 provoca
educação profissional e tecnológica nas di- uma transformação significativa em relação

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 19


à formação docente, o que surge como uma 2010, seus cursos de graduação, sendo quatro
inovação nestas instituições que historica- cursos de licenciatura (Ciências Biológicas,
mente ofereceriam prioritariamente a edu- Química, Física e Matemática), juntamente
cação profissional e tecnológica. Ao criar com outros cursos de bacharelado. As licen-
os Institutos Federais, a Lei n.º 11.892/08 ciaturas têm como objetivo central formar
determina que o mínimo de 20% (vinte por e qualificar profissionais para atuarem nos
cento) de suas vagas sejam destinadas aos diversos setores da área de conhecimento,
cursos de licenciaturas para a formação do- em especial na formação de professores para
cente em nível superior. o exercício do magistério na educação bá-
sica, contribuindo significativamente com o
Em consonância com a LDB 9394/96, desenvolvimento socioeconômico da região.
a Lei 11.892 estabelece, como objetivo dos
IFs, no artigo 7º, inciso VI, alínea b, a in- 3.3 O PIBID NO IFNMG –
tenção de ministrar em nível de educação CAMPUS SALINAS
superior: cursos de licenciatura, bem como
programas especiais de formação pedagó- A tríade ensino, pesquisa e extensão
gica, com vistas na formação de professores constitui a essência das instituições de ensi-
para a educação básica, sobretudo nas áreas no superior (IES). A LDB n.º 9394/96 pre-
de ciências e matemática, e para a educação vê finalidades para a educação superior, en-
profissional (BRASIL, 2008). tre as quais o ensino, a pesquisa e a extensão.

De acordo com o Art. 62 da LDB, a for- Os Institutos Federais, por serem tam-
mação docente para atuar na educação básica bém instituições de educação superior espe-
cializados na oferta de educação profissional
far-se-á em nível superior, em curso de li- e tecnológica, possuem essa caracterização
cenciatura, de graduação plena, em univer- institucional, o que possibilita o desenvol-
sidades e institutos superiores de educação, vimento de atividades direcionadas aos ob-
admitida, como formação mínima para o jetivos a serem alcançados, devendo estabe-
exercício do magistério na educação infan-
lecer a indissociabilidade entre o ensino, a
til e nos 5 (cinco) primeiros anos do ensino
pesquisa e a extensão.
fundamental, a oferecida em nível médio,
na modalidade Normal (BRASIL, 1996).
O IFNMG – Campus Salinas desenvol-
ve uma grande quantidade de ações, proje-
Percebe-se que a lei abrange aos Institu- tos e programas. No ensino, destaca-se o
tos Superiores de Educação a oferta da for- Programa Institucional de Bolsa de Inicia-
mação docente, em cursos de licenciaturas, ção à Docência (PIBID), promovido com o
de graduação plena. Para Barros (2013), este apoio da Coordenação de Aperfeiçoamen-
aspecto merece destaque e, to de Pessoal de Nível Superior (Capes),
sendo instituído legalmente pela LDB n.º
neste sentido, entende-se que a formação de 9.394/96, Decreto n.º 7.219/2010 e a Por-
professores constitui um elemento indispen- taria PIBID n.º 260/2010. A Portaria Ca-
sável para que a educação consiga responder pes n.º 96, de 18 de julho de 2013, está em
estas demandas e que alcance a tão desejada vigor atualmente, que trata da normativa do
excelência, afinal o professor é sujeito do pro-
programa, revogando a Portaria 260/2010.
cesso ensino-aprendizagem, ele é responsá-
vel pela mediação entre o conhecimento e o
aluno (BARROS, 2013, p. 27). O PIBID, de acordo com a Portaria n.º
96/2013 e Decreto n.º 7.219/2010, “tem
por finalidade fomentar a iniciação à docên-
Com essa nova política de expansão da cia, contribuindo para o aperfeiçoamento da
educação profissional, bem como com o formação de docentes em nível superior e
intuito de atender à referida legislação, o para a melhoria da qualidade da educação
IFNMG – Campus Salinas implantou, em básica pública brasileira”. Como o próprio

20 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


nome indica, o PIBID é uma iniciativa formação inicial de docentes formados nos
que incentiva a iniciação na docência pela cursos de licenciatura, proporcionando a
formação em nível superior, nos cursos de articulação entre educação superior e edu-
licenciatura, inserindo os acadêmicos em cação básica. Ao inserir os licenciandos no
escolas públicas de educação básica, para cotidiano das escolas públicas, o programa
que possam vivenciar ações e práticas for- proporciona oportunidades de vivenciar,
mativas, contribuindo para a valorização do na prática, experiências metodológicas e
magistério. didático-pedagógicas, contribuindo para a
conexão entre a teoria e a prática indispen-
Conforme o artigo 3º, do Decreto nº sáveis à formação dos futuros professores.
7.219, são objetivos do PIBID: As instituições integrantes do PIBID são
vinculadas à Capes, que concede cinco mo-
I - incentivar a formação de docentes em dalidades de bolsas aos participantes desse
nível superior para a educação básica; II - programa, que, de acordo com a Portaria n.º
contribuir para a valorização do magisté- 96/2013, se classificam em:
rio; III - elevar a qualidade da formação
inicial de professores nos cursos de licen- I – coordenação institucional, para o pro-
ciatura, promovendo a integração entre fessor de licenciatura que coordena o pro-
educação superior e educação básica; IV jeto Pibid na IES; II – coordenação de
- inserir os licenciandos no cotidiano de área de gestão de processos educacionais,
escolas da rede pública de educação, pro- para o professor de licenciatura que auxilia
porcionando-lhes oportunidades de cria- o coordenador institucional na gestão do
ção e participação em experiências meto- projeto na IES; III – coordenação de área,
dológicas, tecnológicas e práticas docentes para o professor de licenciatura que coor-
de caráter inovador e interdisciplinar que dena o subprojeto; IV – supervisão, para
busquem a superação de problemas iden- o professor da escola pública de educação
tificados no processo de ensino-apren- básica; V – iniciação à docência, para o es-
dizagem; V - incentivar escolas públicas tudante de licenciatura (BRASIL, 2013).
de educação básica, mobilizando seus
professores como coformadores dos futu-
ros docentes e tornando-as protagonistas De acordo com o Projeto Pedagógico do
nos processos de formação inicial para o Curso (PPC) dos cursos de licenciatura do
magistério; e VI - contribuir para a arti- IFNMG – Campus Salinas, o egresso, além
culação entre teoria e prática necessárias à de desenvolver competências e habilidades
formação dos docentes, elevando a quali- específicas ao exercício da profissão e quali-
dade das ações acadêmicas nos cursos de ficações profissionais básicas, deverá ser um
licenciatura. (BRASIL, 2010). profissional que atenda aos requisitos da for-
mação do professor de ensino fundamental
Os projetos apoiados no âmbito do PI- e ensino médio, de acordo com as diretrizes
BID são propostos por instituições de en- estabelecidas pelos Parâmetros Curricula-
sino superior em parceria com escolas de res Nacionais para o ensino médio e ensino
educação básica da rede pública de ensino, fundamental e as recomendações do MEC
e desenvolvidos por grupos de licencian- para os cursos de licenciatura, conforme o
dos sob supervisão de professores de edu- art. 62 da Lei 9.394/96 e as Resoluções do
cação básica e orientação de professores Conselho Nacional de Educação CNE/CP
das IES. Para tanto, o programa concede n.º 2/2015 (BRASIL, 2015).
bolsas aos acadêmicos de licenciatura par-
ticipantes do referido projeto mediante Referenciada nesses fundamentos legais
repasse de recursos financeiros, a fim de e na efetivação das licenciaturas, a implan-
custear suas atividades. tação do PIBID no Campus Salinas foi
concretizada no ano de 2011, por meio do
Tendo em vista a elevação da qualida- edital 001/2011, no qual consta o projeto
de do ensino e valorização do magistério, “Licenciatura em Ação”, que possui quatro
o PIBID visa, ainda, elevar a qualidade da subprojetos, um para cada licenciatura.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 21


os Institutos Federais diante deste cenário,
O projeto “Licenciatura em Ação” teve
não pode se furtar de proporcionar uma
como foco subsidiar a formação do futuro formação docente que vá além do para-
docente, promovendo a sua inserção no ló- digma de licenciatura atual, no sentido de
cus que é a escola, de modo a buscar propor- promover o diálogo entre teoria e prática,
cionar uma sólida formação acadêmica. As sustentados nos pilares trabalho e ciência,
ações do Projeto Licenciatura foram apre- não em uma perspectiva mercadológica,
sentadas no relatório anual do PIBID de produtivista e sim numa visão emancipa-
2011, Campus Salinas, em que consta que tória. (BARROS, 2013, p.57).
esse projeto:
A autora enfatiza ainda que esses cursos
consagra-se como oportunidade de reco- “abrem um novo leque de possibilidades
nhecimento e ressignificação da prática no desenho das licenciaturas, sem perder
docente a partir de uma intervenção peda- de vista as peculiaridades desta instituição
gógica interdisciplinar, uma vez que mar- e o seu compromisso com o fortalecimento
ca o encontro entre teoria e prática com
desta modalidade de formação” (BARROS,
vistas para a melhoria na educação básica,
2013, p.57).
na perspectiva de uma escola pública, de
qualidade e integrada com a comunidade
(BRASIL, 2011, p. 3). Nesse contexto, tendo como foco o cum-
primento da função social, a melhoria da
qualidade de vida, atendendo às expectati-
Constata-se, portanto, que o PIBID ini- vas e aos interesses da comunidade escolar,
ciou no Campus Salinas no ano de 2011 além de atingir os objetivos institucionais,
com participação de 54 acadêmicos bolsis- o IFNMG - Campus Salinas desenvolve
tas, tendo esse quantitativo ampliado para suas atividades de ensino, pesquisa e exten-
70 bolsistas nos anos de 2012 e 2013. Já a são por meio de ações, programas e proje-
partir de 2014, conforme consta nos res- tos conjugados na integração entre ciência
pectivos relatórios de atividades do PIBID, e tecnologia, almejando o desenvolvimento
houve uma ampliação no número de vagas da região onde se instala.
disponibilizadas aos acadêmicos licencian-
dos que almejassem participar do projeto,
passando a 120 bolsas destinadas aos inte- 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
ressados, permanecendo assim até o ano de
2017. Vale ressaltar que tais vagas se referem Nas reflexões acerca da reforma da educa-
às disponibilizadas aos licenciandos matri- ção profissional e tecnológica e da expansão
culados dos cursos de Matemática, Ciências da REFT, constatou-se que uma das ações
Biológicas, Física e Química, no IFNMG do governo federal para a educação profis-
- Campus Salinas participantes do PIBID. sional brasileira foi a criação dos Institutos
Federais, por meio da Lei 11.892/2008.
De acordo com os relatórios anuais do
PIBID, esse programa oportunizou aos Assim, em dezembro de 2008, vários
acadêmicos das licenciaturas do Campus CEFETs, escolas agrotécnicas federais, es-
Salinas um novo olhar sobre o processo colas técnicas federais e escolas técnicas
pedagógico, além de vivenciar a construção vinculadas às universidades federais trans-
do processo dialético de ação-reflexão-ação formaram-se em IFs, onde são ofertados
com vistas à constituição da identidade do- desde cursos técnicos de nível médio até
cente. Neste sentido, é nítida a relevância do pós-graduação, incluindo as licenciaturas e
programa e como contribui para o aperfei- cursos superiores de tecnologia.
çoamento da formação para o magistério.
O modo como o Campus Salinas desen-
De acordo com Barros (2013), volve suas ações e seus programas de ensino,
como é o caso do PIBID, revela iniciativas
que fomentam a iniciação à docência. Pelo

22 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


o que foi constatado, esses programas es- Oficial da União, Brasília, DF, 25 de junho
timulam o desenvolvimento de atividades de 2010.
de ensino, condição necessária para o apri-
moramento do processo educativo e, con- _____. Decreto n.º 7.566, de 23 de se-
sequentemente, para assegurar um melhor tembro de 1909. Disponível em: <http://
processo de ensino-aprendizagem e forma- portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf3/de-
ção dos futuros profissionais. Dessa forma, creto_7566_1909.pdf Acesso em: 10 nov.
além de educar os estudantes para a atuação 2018.
profissional e contribuir para a permanência
dos bolsistas, essas ações permitem novas _____. Instituto Federal do Norte de Minas
perspectivas, espírito crítico, formação cida- Gerais. Projeto Institucional de Bolsa de
dã, na perspectiva humanística. Iniciação à Docência-PIBID 2011. Dis-
ponível em: <http://www.ifnmg.edu.br/pi-
Nesse sentido, a função primordial de to- bid>. Acesso em: 10 nov. 2018.
das essas ações educativas se materializa na
indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa ______. Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
e a extensão, associada aos diversos saberes cação Nacional - Lei n.º 9.394, de 20 de
da comunidade, contribuindo para o desen- dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes
volvimento local e regional e à promoção da e bases da educação nacional. Disponível
cidadania mediante a relação dialógica entre em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
o contexto acadêmico e as demandas sociais. Leis/L9394.htm>. Acesso em: 10 nov. 2018.

_____. Lei de Diretrizes e Bases da Edu-


cação Nacional Lei n.º 5.692, de 11 de
agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases
5. REFERÊNCIAS para o ensino de 1º e 2º graus, e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.
AZEVEDO, Janete M. Lins de. A educa- planalto.gov.br/CCiViL_03/LEIS/L5692.
ção como política pública. 3ª ed. Campi- htm>. Acesso em: 10 nov. 2018.
nas, SP : Autores Associados, 2004. Coleção
Polêmicas do Nosso Tempo. vol. 56. ______. Lei n.º 11.892, de 29 de dezembro
de 2008. Institui a Rede Federal de Educa-
BARROS, Giuliana de Sá Ferreira. Aná- ção Profissional, Científica e Tecnológica,
lise do Programa Institucional de Bolsas cria os Institutos Federais de Educação,
de Iniciação à Docência e sua relação com Ciência e Tecnologia, e dá outras providên-
a permanência nos cursos de licenciatura cias. Disponível em: <www.planalto.gov.br/
do Instituto Federal do Norte de Minas ccivil_03/_ato 2007-2010/2008/lei/l11892.
Gerais - Campus Salinas: limites e pers- htm>. Acesso em: 10 nov. 2018.
pectivas. Brasília/DF, 2013. 131f. Disserta-
ção (Mestrado) – Universidade de Brasília, ______. Portaria n.º 96 de 18 de julho de
Programa de Pós-graduação em Educação, 2013. Regulamento do Programa Institu-
Brasília, 2013. cional de Bolsa de Iniciação à Docência.
Diário Oficial da União, Brasília, DF. 2013.
BRASIL. Constituição da República Fe- Disponível em: <http://www.capes.gov.br/
derativa do Brasil de 1988. Disponível em: images/stories/download/legislacao/Por ta-
<www.planalto.gov.br.> Acesso em: 10 nov. ria_096_1_8j ul13__ Aprov aRegulamen-
2018. toPIBID.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2018.

_____. Decreto no 7.219, de 24 de junho _____. Ministério da Educação. Conse-


de 2010. Dispõe sobre o Programa Insti- lho Nacional de Educação. Conselho Ple-
tucional de Bolsa de Iniciação à Docência no. Resolução n.º 2, de 1º de julho de
- PIBID e dá outras providências. Diário 2015. Disponível em: ttp://portal.mec.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 23


gov.br/index.php?option=com_docman&- fissional e tecnológica no Brasil contem-
view=download&alias=17719-res-cne-cp- porâneo: Desafios, tensões e possibilidades.
-002-03072015&category_slug=julho- Porto Alegre: Artmed, 2010. p.141-158.
-2015-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 10
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sica e educação profissional e tecnológica:
FRIGOTTO, Gaudêncio, CIAVATTA, dualidade histórica e perspectivas de inte-
Maria; RAMOS, Marise. Vocational Ed- gração. Holos, ano 23, vol. 2, 2007.
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UNIVOC, 2009. p. 1307-1319 fissional e tecnológica. Brasília; São Paulo:
Fundação Santillana; Editora Moderna,
LIMA FILHO, Domingos Leite. Univer- 2011.
sidade tecnológica e redefinição da institu-
cionalidade da educação profissional: con- SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodo-
cepções e práticas em disputa. In: MOLL, logia do trabalho científico. 23ª ed. São
Jaqueline e colaboradores. Educação pro- Paulo: Cortez, 2007, 304 p.

24 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


PERSPECTIVAS DISCENTES E POSSIBILIDADES
DOCENTES NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
TÉCNICA INTEGRADA AO ENSINO MÉDIO
OLIVEIRA, Flávia Alves de Castro¹; SOUZA, Clécia Messias²;
SOUZA, José Carlos Moreira³; FELICIO, Cinthia Maria4

1. INTRODUÇÃO

A educação profissional de nível médio oferecida no Brasil é


norteada por diversos estudos e pesquisas no campo da educação
e do mundo do trabalho. Isso porque a educação profissional tem
sido pauta de mudanças e tem assumido diversas faces ao longo
da história da educação no Brasil. Dentro desse contexto, com a
Lei nº 11.892/2008 houve a institucionalização da Rede Federal
de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e a criação dos
Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia e a amplia-
ção da oferta do ensino médio integrado nas instituições públicas
de educação.

Como parte da Rede Federal de Educação Profissional e Tec-


nológica do país, tem-se o Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia Goiano – Campus Ceres (IF Goiano – Campus Ce-
res), que além da oferta de cursos técnicos subsequentes e conco-
mitantes, cursos superiores e de pós-graduação, oferece também a
modalidade de curso técnico integrado ao ensino médio nas áreas
de meio ambiente, informática e agropecuária. Sua proposta de
educação busca contribuir para melhorar as condições de inserção
social, política, cultural e econômica dos seus alunos. Nesse senti-
do, Kuenzer (2005) entende que a proposta de educação profissio-
nal de nível médio deve ser caracterizada pela formação de um jo-
vem contextualizado e que possa contribuir com as transformações
políticas, econômicas, sociais e culturais da sociedade.

Mais do que nunca, o Ensino Médio no início do novo século de-


verá superar a concepção conteudista que o tem caracterizado, em
face de sua versão predominantemente propedêutica, para promo-
1,2,3,4 Instituto Federal de ver mediações significativas entre os jovens e o conhecimento cien-
Educação, Ciência e Tecnologia tífico, articulando saberes tácitos, experiências e atitudes (KUEN-
Goiano – Campus Morrinhos ZER, 2005, p. 42).
E-mail dos autores: ¹flavia.
castro@ifgoiano.edu.br; ²clecia.
sousa@ifgoiano.edu.br; ³jose.mo- Porém, muitos educadores, gestores e alunos da educação profis-
reira@ifgoiano.edu.br; 4cinthia. sional integrada ao ensino médio, assim como a própria sociedade
felicio@ifgoiano.edu.br não se apropriam da discussão da concepção de Ensino Médio In-

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 25


tegrado, na perspectiva de formação humana 2. METODOLOGIA
integral e para o mundo do trabalho. Ao invés
disso, para Moura (2007), é reforçada a ideia A pesquisa está sendo realizada no Insti-
de educação profissional de caráter tecnicista tuto Federal Goiano – Campus Ceres, junto
e profissionalizante como compensatória para ao Curso Técnico em Informática integrado
alguns, e para outros a formação propedêutica ao Ensino Médio, em que inicialmente 31
como sendo necessária. estudantes da Turma B do 3ª Ano preen-
cheram um formulário do GoogleForms, com
Levando-se em consideração que na ins- 15 questões fechadas que buscavam identi-
tituição há alunos originários de diversas re- ficar o perfil do estudante e também para as
giões, com características sociais e culturais possíveis motivações de estarem realizando
diferentes e que se matricularam nesse curso o curso. A pesquisa é do tipo exploratória e
técnico integrado, muitas vezes sem o co- descritiva, e utiliza métodos mistos para tra-
nhecimento da proposta de educação pro- tamento e análise dos dados. O questionário
fissional, se torna importante pensar como aplicado coletou informações sobre a ori-
a instituição tem alcançado os projetos de gem, a motivação, o interesse e a percepção
vida e as perspectivas de formação de seus desses discentes em relação ao ensino inte-
alunos em relação à educação profissional, grado, bem como as suas expectativas após a
o mundo do trabalho e à formação integra- conclusão do curso. Após a coleta de dados,
da. Como o ensino médio profissionalizante foi feito o tratamento estatístico, a análise
tem contribuído para a formação humana dos dados e a interpretação dos resultados
tanto na dimensão do mundo do trabalho obtidos, por meio de planilhas e gráficos.
quanto como possibilidade de preparação
dos jovens para dar sequência nos estudos
em nível superior em detrimento da forma-
ção profissional?

A partir desse contexto, questiona-se: quais 3. DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS


são as motivações e as perspectivas de forma-
ção dos estudantes que cursam o Técnico em Na proposta em estudo, cabe apresen-
Informática integrado ao Ensino Médio, em tar algumas ideias do contexto educacional
relação à educação profissional oferecida no brasileiro em termos da educação básica e
IF Goiano – Campus Ceres? Outra questão profissionalizante e do processo de integra-
que se insere na problemática em discussão é ção do ensino médio ao técnico, a partir de
como os docentes inseridos na proposta polí- um breve histórico da educação profissional
tico-pedagógica e na oferta do curso reconhe- no país. Após pensar estes aspectos, serão
cem as expectativas do público-alvo e quais apresentadas algumas situações, a partir
atividades/mecanismos do processo ensino- das análises das respostas e possíveis impli-
-aprendizagem são mobilizados para o alcan- cações para o trabalho docente, mudanças
ce dos anseios dos estudantes? curriculares entre outros aspectos, a serem
pensados tanto pelos professores quanto
Assim, torna-se importante conhecer gestores desses cursos.
algumas motivações e as expectativas dos
discentes concluintes do Curso Técnico em 3.1 A DUALIDADE DO SISTEMA EDU-
Informática Integrado ao Ensino Médio do CACIONAL BRASILEIRO E A EDUCAÇÃO
IF Goiano - Campus Ceres e estabelecer PROFISSIONAL
reflexões que possam sugerir contribuições
com as práticas pedagógicas dos professores No Brasil, a dualidade do sistema educa-
que atuam neste curso e em outros cursos cional se confunde com a própria história do
da educação profissional técnica integrada país. No início do século XIX o que existia
ao ensino médio, desde o início. era a educação propedêutica, voltada para a
formação dos filhos das elites, porém, já era

26 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


possível vislumbrar traços de uma educação ção técnica, e assim separando a modalidade
profissional, tendo em vista o aumento da de ensino que é oferecida aos filhos dos ope-
produção manufatureira. No entanto, esse rários, da modalidade oferecida aos filhos
tipo de educação foi voltada para as classes dos burgueses e detentores do poder econô-
menos favorecidas, com intuito de conse- mico no capitalismo. Para Frigotto, Ciavat-
guir mão de obra barata. Em 1854 foram ta e Ramos (2012, p. 13), “a regressão mais
criadas as Casas Asilos, para onde eram en- profunda, sem dúvida, ocorreu logo após a
caminhados “pobres e desvalidos da sorte”. promulgação da LDB, no ensino médio e
De acordo com Manfredi, técnico, mediante o Decreto nº 2.208/97”.

Crianças e jovens em estado de mendicân- Contudo, o Decreto 5.154/2004, que


cia eram encaminhados para essas casas, revoga o Decreto nº 2.208/97, trouxe uma
onde recebiam instrução primária – no nova perspectiva para a educação profissio-
âmbito da leitura, da escrita, da aritméti- nal, pois, além de manter as ofertas dos cur-
ca, da álgebra elementar, da escultura, do
sos técnicos concomitantes e subsequentes,
desenho, da geometria entre outros – e
em seu Art. 4º, §1º, incluiu a possibilidade
aprendiam alguns dos seguintes ofícios:
tipografia, encadernação, alfaiataria, tor- de integração do ensino médio com o ensi-
nearia, carpintaria, sapataria entre outros. no técnico de nível médio. Com a promul-
Concluída a aprendizagem, o artífice per- gação de tal decreto houve a possibilidade
manecia mais três anos no asilo, trabalhan- de superar a dualidade do sistema educa-
do nas oficinas, com a dupla finalidade cional brasileiro e apesar da concentração
de pagar sua aprendizagem e formar um das escolas privadas em aprovar estudantes
pecúlio, que lhe era entregue no final do para vestibulares em universidades públicas,
triênio (MANFREDI, 2016, p. 55). e das políticas de incentivo e investimento
precárias nas escolas públicas que acabam
As últimas décadas do século XX, no por ofertar ensino médio de baixa qualida-
Brasil, foram marcadas por iniciativas polí- de, ganha destaque a ampliação da oferta do
tico-econômicas que visaram o desenvolvi- ensino médio integrado nas instituições pú-
mento e crescimento do modo de produção blicas federais de educação.
capitalista, dos processos de dominação e do
aumento das desigualdades e da exclusão Nesse contexto, o ensino médio como
social, provocadas pela acumulação do ca- etapa final da educação básica e como a
pital. Para Moura (2007), esse crescimento etapa da vida escolar onde há formação
trouxe a necessidade de que o poder público de jovens e adolescentes, exerce papel im-
e as camadas dirigentes se posicionassem portante, e em torno das discussões entre a
em relação à educação no Brasil, e assim, ao necessidade de uma educação geral e uma
longo dos anos, por meio de decretos e leis, educação profissional unitária, o que se per-
vem sendo apresentadas diversas propostas cebe, na atualidade, é um Ensino Médio em
para a educação básica e a educação profis- evidente crise, onde a classe trabalhadora é
sional no Brasil. a que mais sofre. Contudo, vários são os au-
tores que apontam para uma educação uni-
Em 1996, o projeto original da Lei nº tária e universal na busca de romper a dua-
9.394/1996 (LDB) tinha como objetivo lidade na educação, de forma a possibilitar
uma escola básica e unitária que fosse uni- uma formação ampla e integral do homem.
versal e gratuita para todos, não saiu vito- Para Marise Ramos:
rioso nos embates políticos. No período
marcado pela LDB de 1996 e o Decreto nº A concepção da escola unitária expressa o
2.208/97, a educação profissional tinha or- princípio da educação como direito de to-
ganização curricular própria e independente dos. Uma educação de qualidade que pos-
do ensino médio, o que reforçou ainda mais sibilite a apropriação dos conhecimentos
construídos até então pela humanidade,
a dualidade educacional, separando o ensino
o acesso à cultura, etc. Não uma educa-
médio da educação profissional ou forma-

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 27


ção só para o trabalho manual e para os
inseridos.
segmentos menos favorecidos, ao lado de
uma educação de qualidade e intelectual
para o outro grupo. Uma educação unitá- Para tanto, faz-se necessário compreen-
ria pressupõe que todos tenham acesso aos der os pressupostos teóricos que norteiam
conhecimentos, à cultura e às mediações a concepção do ensino médio integrado,
necessárias para trabalhar e para produzir fundamentar-se nos conceitos e estudos que
a existência e a riqueza social (RAMOS, permeiam a integração da educação profis-
2007, p. 02). sional articulada com o ensino médio. Para
Ciavatta (2012), um dos eixos norteadores
Sendo importante então que os docentes do ensino médio integrado é a adesão da
estejam conscientes de seu papel, no sentido vontade política de se romper com a simples
de estabelecer práticas pedagógicas que pro- preparação para o mercado de trabalho.
movam o desenvolvimento da criticidade e
autonomia dos alunos. Neste contexto va- O primeiro pressuposto da formação in-
mos conhecer algumas implicações da evo- tegrada é a existência de um projeto de
lução das propostas educacionais e os resul- sociedade no qual, ao mesmo tempo, se
tados destas no IF Goiano - Campus Ceres. enfrentem os problemas da realidade bra-
sileira, visando a superação do dualismo
das classes, e as diversas instâncias, respon-
sáveis pela educação (governo geral, secre-
tarias de Educação, direção das escolas e
3.2 O ENSINO MÉDIO INTEGRADO DO professores) manifestarem a vontade polí-
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, tica de romper com a redução da formação
à simples preparação para o mercado de
CIÊNCIA E TECNOLOGIA GOIANO – CAM-
trabalho (CIAVATTA, 2012, p. 98-99).
PUS CERES
Com a Lei nº 11.892/2008 houve a ins- A partir da manifestação dessas diversas
titucionalização da Rede Federal de Educa- instâncias, a concepção do ensino médio in-
ção Profissional, Científica e Tecnológica e a tegrado passa a articular-se com o mundo
criação dos Institutos Federais de Educação, do trabalho, destacando a importância de
Ciência e Tecnologia. E a partir dessa lei, no uma educação básica que faça a integração
seu art. 5º, que ficou estabelecida a criação dos conhecimentos científicos, dos conhe-
do Instituto Federal de Educação, Ciência cimentos acumulados historicamente pelo
e Tecnologia Goiano, mediante a integração homem, e também dos conhecimentos de
dos Centros Federais de Educação Tecno- formação profissional. Ciavatta, ao mencio-
lógica de Rio Verde e de Urutaí, e da Escola nar Gramsci, destaca ainda que:
Agrotécnica Federal de Ceres. Como resul-
tado da lei mencionada, houve a expansão No caso da formação integrada ou do en-
de toda a rede federal de educação no país sino médio integrado ao ensino técnico,
e, consequentemente, a ampliação da oferta queremos que a educação geral se torne
do ensino médio integrado nas instituições parte inseparável da educação profissional
em todos os campos onde se dá a prepa-
públicas que ofertam a Educação Profissio-
ração para o trabalho: seja nos processos
nal e Tecnológica.
produtivos, seja nos processos educativos
como a formação inicial, com o ensino
Procura-se destacar, neste estudo, o en- técnico, tecnológico ou superior. Significa
sino médio oferecido no Instituto Federal que buscamos enfocar o trabalho como
Goiano – Campus Ceres. Por oferecer essa princípio educativo, no sentido de supe-
etapa de formação, a instituição encontra rar a dicotomia trabalho manual/trabalho
na sua articulação da educação básica com intelectual, de incorporar a dimensão in-
a educação profissional, desafios que possi- telectual ao trabalho produtivo, de formar
bilitem a formação humana integral e a pre- trabalhadores capazes de atuar como diri-
gentes e cidadãos (Gramsci, 1981, p. 144
paração dos jovens como cidadãos emanci-
apud Ciavatta, 2012, p. 84).
pados e atuantes na sociedade ao qual estão

28 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


A partir daí, percebe-se a importância como síntese de toda a produção da relação
do entendimento e da reflexão do trabalho dos seres humanos com o seu meio.
como princípio educativo, o trabalho que
transcende, que busque a unidade entre a Moura (2010), analisando o ensino mé-
teoria e a prática, bem como formação de dio no Brasil, entende que grande parte das
cidadãos emancipados e não alienados, com escolas particulares adota uma concepção
capacidade de transformação social. Tra- equivocada ao substituir o todo (a forma-
balho como princípio educativo é uma das ção integral) pela parte (prosseguimento
dimensões que norteiam a superação da de estudos via aprovação no vestibular) ao
dualidade e a formação humana integral. concentrar seus esforços nesse último, e que,
Formação humana integral no sentido de por outro lado, as escolas públicas tentando
preparar cidadãos capacitados para com- reproduzir o mesmo academicismo e sem
preender o mundo do trabalho e a realidade ter a mesmas condições materiais para isso,
social, econômica, política e cultural na qual acabaram realizando uma formação que não
estão inseridos. se mostra efetiva para o ingresso digno no
mundo do trabalho, e nem é muito signi-
Nesta concepção, o trabalho se constitui ficativa quanto ao eixo prosseguimento dos
em direito e dever e engendra o princípio estudos em nível superior.
formativo ou educativo. O trabalho como
princípio educativo deriva do fato de que Na dimensão de formação humana inte-
todos os seres humanos são seres da na-
gral e ingresso digno no mundo do trabalho,
tureza e, portanto, têm a necessidade de
se insere o ensino técnico integrado ao ensi-
alimentar-se, proteger-se das intempéries
e criar seus meios de vida. É fundamental no médio oferecido pelo IF Goiano – Cam-
socializar, desde a infância, o princípio de pus Ceres. Contudo é necessário observar se
que a tarefa de prover a subsistência, e ou- a prática e os projetos desenvolvidos na ins-
tras esferas da vida pelo trabalho, é comum tituição e no dia a dia dos estudantes estão
a todos os seres humanos, evitando-se des- condizentes com a formação que se oferece
sa forma, criar indivíduos ou grupos que e principalmente com formação que se pre-
exploram e vivem do trabalho de outros tende alcançar. Convém ressaltar aqui, que
(Frigotto, 2012, p. 60). os objetivos de um curso técnico integrado
ao ensino médio estão alinhados às pro-
E neste sentido a articulação entre tra- postas de integração que não estabeleçam a
balho e formação, conhecimento e práti- continuidade da dualidade: formação pro-
cas que se solidarizam e se complemen- pedêutica/formação profissional. Também
tam pela ação intencional dos docentes tem o desafio de não formar trabalhadores
podem buscar uma compreensão mais alienados e que procurem somente se ade-
ampla do ambiente e das implicações so- quar às exigências impostas pelo mercado
ciais, econômicas, políticas que tais ações capitalista, sendo isto alcançado pela pro-
podem desencadear, propiciando novos moção de práticas educativas que levem em
olhares sobre a formação e qualificação consideração os contextos formativos que
profissional em todos os níveis, formação demandam a proposta de integração e supe-
e preparação plena para a vida. ração das dicotomias que ainda persistem na
educação brasileira.
Segundo Alves (2009), a proposta de in-
tegração do ensino médio e do ensino téc- Para tanto, um fator importante e que
nico de nível médio, possui um significado precisa ser considerado pela gestão escolar e
e um desafio para além da prática interdis- os docentes, seria o conhecimento dos seus
ciplinar, pois implica um compromisso de discentes, suas origens, trajetórias e as ex-
construir uma articulação e uma integração pectativas que esses manifestam em relação
orgânica entre o trabalho como princípio ao curso e ao futuro, para que assim possam
educativo, a ciência como criação e recriação estabelecer propostas que contemplem as
pela humanidade de sua natureza e cultura, necessidades formativas e o desenvolvimen-

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 29


to pessoal e profissional de seus discentes. coletivamente, entre os professores da área
Nesse sentido, importante lembrar que di- técnica e das disciplinas da área comum,
versos jovens e adolescentes que ingressam estratégias que, por meio das disciplinas
na instituição com diferentes objetivos, des- básicas e do desenvolvimento de projetos e
conhecem o que seria a formação integrada pesquisas, articulem o geral e o específico, a
oferecida pela instituição. teoria e a prática, também visitas aos setores
produtivos e estágios, onde os discentes per-
Nesse sentido, concorda-se com Corrêa cebam para além da proposta de disciplinas
(2012), quando diz que: puras e fragmentadas.

A compreensão da importância das rela- Desse modo, considera-se, tal como


ções sociais e materiais na escola para o Moura (2013), que o papel da educação
processo de produção da existência hu- profissional vai além da preparação para a
mana de professores, de alunos, enfim, instrumentalidade. Não se deve negar a im-
de todos aqueles que fazem parte do seu
portância dos conhecimentos técnicos ine-
coletivo, representa uma das questões de
rentes à formação, mas deve-se ratificar a
grande relevância, especialmente quando
se busca um melhor entendimento do pro- importância da formação humana integral,
cesso educativo que se desenvolve na esco- na perspectiva da autonomia e da emanci-
la (CORRÊA, 2012, p. 129). pação dos sujeitos. Nesse sentido, conforme
considera Franco (2016), o desenvolvimento
de práticas pedagógicas que problematizem
Necessário se faz ainda compreender as- questões da vivência profissional e ainda
pectos da formação e atuação docente, suas consiga relacionar conhecimentos distintos
concepções e propostas educacionais, de e complementares, possibilitaria uma toma-
modo que o professor possa estar sintoniza- da de decisão consciente e autônoma. E as-
do com a formação integral dos estudantes, sim, neste estudo vamos buscar estabelecer
com o desenvolvimento de práticas educa- algumas situações e propostas, embora inci-
tivas que se voltem para o desenvolvimento pientes, a partir da caracterização e das in-
e consolidação dos processos educacionais dicações de estudantes que estão concluindo
(FRANCO, 2016). Trata-se de processos o curso Técnico em Informática integrado
educacionais que sejam condizentes com as ao Ensino Médio e propostas para o plane-
necessidades formativas dos alunos e com jamento e ação docente para uma formação
a proposta pedagógica do curso, qual seja, integral do aluno.
uma formação integral dos sujeitos envol-
vidos no processo educacional e superação
da dicotomia que ainda permeia a formação 3.3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
dos estudantes brasileiros.
Após a análise das respostas dos 31 dis-
Para tanto, se a escola se insere no con- centes pesquisados, foi possível perceber
texto da educação profissional e ainda tem que a maioria (67,74%) está na faixa etária
como uma de suas propostas a integração de 17 anos, sendo 19 mulheres e 12 homens.
do ensino médio e do ensino técnico, se faz A maioria se considera branca ou parda e
necessário observar se a prática e os projetos são oriundos de escola pública, ressalvando
desenvolvidos no dia a dia dos estudantes que há um número considerável de alunos
estão condizentes com a formação proposta que cursaram o ensino fundamental, ou
e, principalmente, se fornece condições para parte dele, em escola particular (total de 14
a formação da autonomia dos alunos envol- alunos). Segundo 67,7% dos alunos pesqui-
vidos na proposta educacional em estudo. sados, o fator prosseguimento/continuidade
nos estudos e a qualidade do ensino médio
E neste sentido, o desafio emerge da na instituição foi o que mais os influenciou
possibilidade de se estabelecer caminhos em da escolha do curso, conforme apresentado
que haja a integração proposta, definindo no gráfico presente na figura 1.

30 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


Figura 3: Motivos de fazer a parte técnica do curso
Figura 1: Fator de influência na escolha do curso

Com relação ao grau de exigência da


Foi possível perceber ainda que, após a instituição, 58,1% diz que é alto nas duas
conclusão do ensino médio integrado, 80,6% modalidades de ensino. Outro ponto a ser
dos alunos tem como maior objetivo exata- destacado é o fato de 61,3% dos discentes
mente o ingresso em curso superior, de acordo entenderem que a instituição prepara na
com o gráfico apresentado na figura 2. mesma medida para o mercado de trabalho
e para dar prosseguimento nos estudos de
nível superior (figura 4).

Figura 2: Maior objetivo após a conclusão do curso


Figura 4: Preparação da instituição

Resta saber como a proposta do curso


Os dados coletados indicam uma pre- poderá conciliar os objetivos da preparação
ferência pelo Ensino Médio, uma vez que para o mundo do trabalho e o desenvolvi-
a expressiva maioria dos entrevistados mento humanizado dos discentes proposto
(93,5%) respondeu que, se a instituição nas políticas educacionais quando se fala na
oferecesse somente essa modalidade de en- integração dessas dimensões. Neste contex-
sino, cursariam. Já se fosse apenas o curso to, como pode ser analisado o desejo desses
técnico a ser oferecido somente 6,5% dos estudantes para acesso ao ensino superior?
discentes, cursariam. A maioria dos alunos Discentes esses que afirmam se sentirem
demonstrou baixo ou irrelevante interesse preparados seja para a atuação profissional,
em trabalhar na área técnica, tanto quando seja para a continuidade dos estudos, pois
ingressou no curso quanto atualmente, res- apenas 6,5 % declararam se sentirem pre-
saltando, conforme pode ser verificado no parados apenas para o mercado de trabalho.
gráfico demonstrado na figura 3, que 77,4%
dos discentes pesquisados declararam fazer
a parte técnica do curso por ser obrigatória.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 31


4. CONSIDERAÇÕES FINAIS cação profissional no Paraná (2003-2007).
01/08/2009. 213 f. Dissertação (Mestrado
Levando-se em consideração o que foi em educação). Setor de Educação, Universi-
observado entre os discentes da turma estu- dade Federal do Paraná. Curitiba: 2009.
dada, percebe-se que grande parte dos alu-
nos que ingressaram na instituição, declara- BRASIL. Decreto nº 2.208, de 17 de abril
ram buscar um Ensino Médio de qualidade de 1997. Regulamenta o § 2 º do art. 36 e
alinhado ao desejo de ingressar no ensino os arts. 39 a 42 da lei nº 9.394, de 20 de de-
superior público. No contexto em estudo, as zembro de 1996, que estabelece as diretrizes
análises das respostas parecem sugerir uma e bases da educação nacional. Brasília, DF:
dicotomia entre a proposta de integração 17 de abril de 1997. Disponível em: <http://
dos cursos e os alunos que buscam uma me- www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/
lhor preparação para o mundo do trabalho, d2208.htm>. Acesso em 10 nov. 2018.
com maior qualificação profissional.
________. Decreto nº 5.154, de 23 de ju-
Para a turma investigada, o reconheci- lho de 2004. Regulamenta o § 2 º do art.
mento dessas expectativas, desde o princi- 36 e os arts. 39 a 42 da lei nº 9.394, de 20
pio do curso, poderia possibilitar práticas de dezembro de 1996, que estabelece as
educacionais e o desenvolvimento de ativi- diretrizes e bases da educação nacional.
dades mais significativas e que pudessem de Brasília, DF: 23 de julho de 2004. Dispo-
fato possibilitar uma maior integração dos nível em: <http://www.planalto.gov.br/
cursos profissionais ao médio. Porém os re- ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/
sultados parciais podem servir de orientação d5154.htm>. Acesso em 10 nov. 2018.
do trabalho dos docentes e auxiliar nas to-
madas de decisões, seja nas questões curri- ________. Lei nº 11.892, de 29 de de-
culares ou de gestão escolar. zembro de 2008. Institui a Rede Fede-
ral de Educação Profissional, Científica e
Nesse contexto, compreender as pers- Tecnológica, cria os Institutos Federais de
pectivas de formação dos alunos, pode pos- Educação, Ciência e Tecnologia, e dá ou-
sibilitar a oferta de cursos técnicos integra- tras providências. Brasília, DF: 29 de de-
dos ao ensino médio que superem o caráter zembro de 2008. Disponível em: <http://
tecnicista e proporcionem uma educação www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
que forme cidadãos críticos, devidamen- 2010/2008/lei/l11892.htm>. Acesso em 10
te preparados para o mundo do trabalho e nov. 2018.
ao mesmo tempo, se assim desejarem, dar
continuidade aos estudos de nível superior. CIAVATTA, M. A formação integrada:
Também, cabe ainda considerar que com- a escola e o trabalho como lugares de me-
preender as diferentes perspectivas dos mória e de identidade. In: FRIGOTTO,
discentes na sua trajetória escolar pode se Gaudêncio; CIAVATTA, Maria; RAMOS,
tornar relevante para a prática docente, ca- Marise (orgs.) Ensino Médio Integrado:
bendo ao professor refletir sobre o conheci- concepção e contradições. 3. ed. São Paulo:
mento das expectativas dos alunos e sobre Cortez, 2012.
os desafios para a preparação crítica destes,
diante do enfrentamento das exigências de CORRÊA, V. As relações sociais na esco-
qualificação profissional e preparação para a la e a produção da existência do professor.
vida social, econômica e política. In: FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA,
Maria; RAMOS, Marise (orgs.) Ensino
Médio Integrado: concepção e contradi-
5. REFERÊNCIAS ções. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2012.

ALVES, Wilson João Marcionilio. Finan- FRANCO, M. A. do R. S. Prática pedagó-


ciamento e políticas públicas para a edu- gica e docência: um olhar a partir da episte-

32 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


mologia do conceito. Rev. Bras. Estud. Pe- histórica e perspectiva de integração. Revis-
dagog., Brasília , v. 97, n. 247, p. 534-551, ta Holos, Natal, v.2, p.1-27, 2007. Disponí-
Dec. 2016 . vel em: <http://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.
php/HOLOS/article/viewFile/11/110>.
FRIGOTTO, G; CIAVATTA, M.; RA- Acesso em 10 nov. 2018.
MOS, M. (orgs.). Ensino Médio Integrado:
concepção e contradições. 3. ed. São Paulo: MOURA, D. H. Algumas possibilidades de
Cortez, 2012. organização do ensino médio a partir de uma
base unitária: trabalho, ciência, tecnologia e
KUENZER, A. Z. (Org.). Ensino Médio: cultura. In: Anais do I Seminário Nacio-
construindo uma proposta para os que vivem nal: currículo em movimento – Perspectivas
do trabalho. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2005. Atuais de Belo Horizonte, novembro de
2010. Disponível em: <http://www.obser-
MANFREDI, S. M. Educação Profissional vatoriodoensinomedio.ufpr.br/wp-content/
no Brasil: Atores e cenários ao longo da his- uploads/2014/02/ALGUMAS-POSSIBI-
tória. 1. ed. Jundiaí: Paco Editorial, 2016. LIDADES-DE-ORGANIZACAO-DO-
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MOURA, D. H. Produção de Conhecimen-
to e Políticas Públicas e Formação Docente RAMOS, M.. Concepção do Ensino médio
em Educação Profissional. 1. ed. Campinas: integrado. Rio Grande do Norte, ago./2007.
Mercado das Letras, 2013. (Série Educa- Disponível em: <https://tecnicadmiwj.files.
ção Geral, Educação Superior e Formação wordpress.com/2008/09/texto-concepcao-
Continuada do Educador). -do-ensino-medio-integrado-marise-ra-
mos1.pdf> . Acesso em 10 nov. 2018.
MOURA, D. H. Educação básica e edu-
cação profissional e tecnológica: dualidade

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 33


Eixo II
Formação, Profissionalização
e Trabalho Docente

34 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


A FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA
ATUAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
NASCIMENTO, Ana Lúcia Ribeiro¹; LIMA, Michelle Castro²;
AMARAL, Marco Antônio Franco³; PRADO, Heloisa Maria4.

1. INTRODUÇÃO

Pensar sobre uma educação de qualidade requer refletir algumas


variáveis intrínsecas ao sistema educacional, quais sejam, formação
do professor, políticas públicas nos âmbitos social, econômico e
educacional para além de estruturas físicas e pedagógicas. O pro-
fessor, considerado um facilitador da aprendizagem, necessita ter
uma formação que lhe permita promover a emancipação do aluno
em todas as suas especificidades.

A proposta desta pesquisa é refletir sobre a formação do pro-


fessor para atuar na Educação Infantil, haja vista que esta etapa é
extremamente importante, pois nessa fase a criança está em pleno
desenvolvimento motor, cognitivo e emocional.
1 Universidade Federal de Goiás
– Regional Catalão. E-mail: ana- Entendemos que não só a escola é responsável pelo pleno de-
minzinha@hotmail.com; senvolvimento da criança, a família e toda comunidade escolar
2 Instituto Federal de Educação, estão envoltos no processo de formação do aluno, porém, o foco
Ciência e Tecnologia Goiano – da pesquisa é refletir sobre a formação do professor que atua na
Campus Morrinhos. E-mail: mi- Educação Infantil e para tal, buscamos refletir sobre os cursos de
chelle.lima@ifgoiano.edu.br; pedagogia e os saberes inerentes à profissão.
3 Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia Goiano – Com esse desígnio, por meio de fontes bibliográficas, faremos
Campus Morrinhos. E-mail: mar- uma análise do contexto histórico da educação brasileira para re-
co.amaral@ifgoiano.edu.br fletir sobre a formação docente, especificamente a do professor que
atua nas séries iniciais da Educação infantil.
4 Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia Goiano –
Campus Morrinhos. E-mail: he- A história da educação colonial brasileira compreende algumas
loisaprado007@gmail.com etapas distintas conforme Saviani (2010):

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 35


Quadro 1 – Etapas da Educação Colonial no Brasil

Etapas da Educação Colonial no Brasil

Etapa Período Característica do período


Chegada dos primeiros jesuítas até a promulgação do
1ª Etapa 1549 - 1570
Ratio Studiorum
Marcado pela organização e consolidação da Educação
2ª Etapa 1599 - 1759
jesuítica com o Ratio Studiorum
3ª Etapa 1759 - 1808 Corresponde à fase Pombalina.

Fonte: Saviani (2010).

Deste modo, os primeiros ensaios sobre missões era a conversão religiosa, educação
o ensino no Brasil surgiram em meados do e trabalho, ou seja, além dos índios serem
século XVI com a chegada dos jesuítas que forçadamente catequisados, eles tinham que
tinham o objetivo de catequisar os índios, prestar serviços para os portugueses.
pois suas almas deveriam ser salvas e só por
meio da fé cristã esse propósito poderia ser Com o decorrer desse processo, o Padre
alcançado. Nesse mesmo século, igreja e Antônio Vieira interveio para que os colo-
Estado eram próximos, já que um auxilia- nos parassem de escravizar os índios, mas
va o outro, favorecendo seus interesses e em foi vencido pelos colonos e teve que desistir
1549, Tomé de Sousa chegou ao Brasil tra- da ideia, se retirando e posteriormente re-
zendo padres jesuítas para fortificar a pro- tornando em 1680, quando as missões jesuí-
pagação do catolicismo e, a partir de então, ticas já haviam se expandido e já contavam
formaram-se as missões e os colégios foram com plantações e criação de gado.
fundados conforme a afirmação de Saviani:
No século XVIII, por meio da cateque-
É com essa forma de sociedade e esse tipo se, os jesuítas já haviam alcançado algumas
de educação que vieram a se chocar os con- conquistas políticas e econômicas exercendo
quistadores europeus. E, para fazer face aos o “monopólio do ensino” (SAVIANI, 2010,
íncolas, isto é, os habitantes da terra que se p. 15) até sua expulsão pelo Marquês de
pretendia conquistar, eles foram obrigados
Pombal, que era inimigo dos padres jesuítas,
a acionar formas específicas de intervenção
por intermédio do Alvará de 28 de junho de
na prática educativa, dando origem ao que
estou chamando de “pedagogia brasílica”. 1759, instaurou as aulas régias, uma forma
E os artífices dessa pedagogia foram, fun- de ensino que era mantida pela coroa por-
damentalmente, os missionários (SAVIA- tuguesa. De acordo com Saviani (2010), por
NI, 2010, p. 39). meio das Reformas Pombalinas, abriram-se
oportunidade para novas ideias pedagógicas
Com o intuito de catequizar os povos orientadas no laicisismo.
indígenas, as ordens religiosas formaram as
chamadas missões, que se tratavam de gru- Na colônia brasileira, na qual os jesuí-
pos jesuítas que chegaram ao Brasil junto tas tinham colégios (missões), Pombal os
com os colonizadores. Destacam-se, nessa acusou de apoiar os indígenas na resistên-
época, a fundação de colégios; o primeiro cia contra Portugal. Os atritos com a or-
em Salvador, os demais no Rio de Janeiro, dem religiosa se sucederam e Pombal ficou
Pernambuco e Bahia. Os jesuítas fundaram conhecido pelo grande impulso que deu à
também vilas e cidades em torno das mis- educação em seu país, isso fazia parte de
sões, tal como São Paulo, que se originou a seu plano de atualizar Portugal em relação
partir do colégio e teve como principal res- ao restante da Europa. Pombal, nessa época,
ponsável o Padre Anchieta. O princípio das já pretendia garantir sua pátria conseguindo

36 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


algum cargo importante, em que colocasse colas Normais, após a Revolução Francesa,
em prática os modelos econômicos e polí- surgindo também o problema da instrução
ticos, porém, esperou até a morte de Dom popular, daí a necessidade de criar institui-
João V, que ocorreu em 31 de julho de 1750. ções encarregadas de preparar professores.
Mas, em 1769 tornou-se oficialmente Mar- Saviani diz: “no Brasil a questão de prepa-
quês de Pombal, nome que ficou marcado ro de professores emerge de forma explícita
na política e história. após a independência, quando se cogita da
organização da instrução popular” (SAVIA-
Com o Alvará de 28 de junho, ocorre- NI, 2009, p. 143).
ram algumas mudanças como as “Reforma
dos Estudos Menores” e a “Reforma dos No ano de 1938 foi criado, no Brasil, o
Estudos Maiores” que compreendem ao curso de pedagogia, encarregado de formar
ensino primário e secundário e o ensino de educadores e pesquisadores para as Escolas
nível superior, respectivamente, que visa- Normais e essas escolas preparavam os pro-
vam a solução para a educação em Portugal. fessores para as séries iniciais.
Contudo, nada foi resolvido e as disciplinas
continuaram as mesmas: Latim, Grego e A partir daí o interesse por mão de obra
Retórica. Sendo assim, nada de novo foi co- especializada na educação passou por gran-
locado e o ensino continuou o mesmo. de mudança e expansão. Ao observarmos o
passado brasileiro, no qual a educação era
Passado o período da educação colonial, tida como uma arte, em que o papel de en-
o Brasil inaugura um novo tempo que per- sinar era feito por amor e considerado um
passa a Abolição da Escravatura e a Procla- sacerdócio, percebemos na atualidade os
mação da República com novas reformas resquícios desse pensamento ao verificar-
e métodos, adventos de grupos escolares, mos que o magistério da educação infantil
modernização e industrialização. E de acor- e das séries iniciais do ensino fundamental
do com Saviani (2010) é nesse período que é exercido, em sua maioria, por mulheres.
surge a Associação Brasileira de Educação Essa visão romântica de que a mulher tem
(ABE) por iniciativa de treze intelectuais o dom para esse magistério, difundidas no
e que mais tarde no ano de 1932 liderado século XIX, ainda se reflete nas salas de aula
por Fernando de Azevedo lança o Mani- em pleno século XXI.
festo dos Pioneiros da Educação Nova, um
documento importante que defendia que a Para a mulher foi dada a função de cui-
formação do professor deveria ser elevada dar dos filhos e não uma profissão a ser
ao nível superior e integrada à universidade. valorizada; podemos entender o porquê de
ainda haver resquícios dessa crença princi-
A formação de professores ainda é um palmente na educação infantil. A educação
tema bastante discutido, seja pela prática em um segundo momento passou a ser vista
de quem vai semear conhecimento, seja do como uma ciência e retornou como algo que
ponto de vista de quem o recebe e está se requer criatividade. No entanto, havendo
preparando para entrar nessa área. Os sécu- uma junção, digamos assim, da arte com a
los XX e XXI, por exemplo, em termos de ciência. Muito se tem conquistado na valo-
ensino universitário, passam por um tripé rização da educação e do professor, mas há
da educação: pesquisa, ensino e extensão, os ainda um longo caminho a percorrer, prin-
quais os professores devem propor de forma cipalmente na Educação Infantil.
que gerem um diálogo acerca do assunto.
No Brasil, a formação do professor para
A preocupação com as primeiras insti- atuar na Educação Infantil é levada de ma-
tuições para a formação de professores co- neira negligente, já que não se faz obrigató-
meçou na França. Primeiramente com um ria uma formação superior para atuação nessa
estabelecimento não formal de formação de área, conforme retratado na Lei de Diretrizes
professores. Depois disso, surgiram as Es- e Bases da Educação em seu artigo 62:

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 37


A formação de docentes para atuar na
seu Art. 61, Inciso I, a LDB considera a
educação básica far-se-á em nível superior,
em curso de licenciatura, de graduação formação continuada como capacitação em
plena, em universidades e institutos supe- serviço, como aperfeiçoamento profissional
riores de educação, admitida, como forma- continuado no Art.67, Inciso II e como trei-
ção mínima para o exercício do magistério namento em serviço no Art. 87. No Art. 67
na educação infantil e nas quatro primeiras da LDB diz que a formação continuada é
séries do ensino fundamental, a oferecida um direito do professor e que ele é um ins-
em nível médio, na modalidade Normal trumento de valorização profissional.
(BRASIL, 1996).
No Plano Nacional de Educação – PNE,
A Lei apresenta uma polissemia ao lei 10.172 de 2001 observamos que “a for-
tratar da Educação Infantil. De modo ele- mação continuada assume particular impor-
mentar, podemos dizer que essa modalida- tância, em decorrência do avanço científico
de é tratada de qualquer maneira, de forma e tecnológico e de exigência de um nível de
desmerecida por se tratar da primeira fase conhecimentos sempre mais amplos e pro-
da Educação Básica, ao que deveria ocorrer fundos da sociedade moderna” (BRASIL,
de maneira inversa exatamente por isso, por 2001, p. 67).
ser a base da educação, na qual deveria atuar
profissionais altamente capacitados, já que Através da Portaria n° 1.403, de 09 de
uma má formação na educação infantil e junho de 2.003, o MEC instituiu o Sistema
nas séries iniciais pode acarretar problemas Nacional de Certificação e Formação Con-
educacionais muitas vezes irreversíveis. tinuada de Professores que em seu Art. 01
apontava que “o sistema em tela compreen-
Ponte (2005, p. 32) “considera insuficiente de um exame nacional de certificação do
a formação inicial dos professores e coloca a professor, uma bolsa de incentivo a forma-
formação continuada em serviço, como um ção continuada e a implantação de uma rede
processo em constante construção e recons- nacional de centros de pesquisa e desenvol-
trução e de extrema importância para melho- vimento da educação” (BRASIL, 2003).
ria do processo de aprendizagem”. Com relação a certificação através de exa-
me, não foi bem aceito pelos profissionais da
Assim, encarar desafios advindos de ace- educação, que pressionaram o governo, que
leradas mudanças socioculturais requer do por sua vez recuou e não deu continuidade
educador habilidades pedagógicas que se nesse processo de exame, mas manteve os
aperfeiçoam na formação continuada e que centros de pesquisa e desenvolvimento da
agrega conhecimento às práticas dos pro- educação, os quais deveriam se dedicar ao
fessores, ou seja, especializar-se para estar desenvolvimento de programas de formação
apto a agir de uma maneira viável diante das continuada de professores e gestores, ao de-
transformações que ocorrem. senvolvimento tecnológico e a prestação de
serviços para redes públicas de ensino.
Diante disso, torna-se relevante falarmos
sobre a formação do educador dessa área. A Lei nº 9.424 de 1996, que criou o Fun-
Ser o responsável pela educação na fase ini- do de Manutenção e Desenvolvimento do
cial da vida escolar de uma criança requer Ensino Fundamental e Valorização do Ma-
um olhar sensível para além de pensar a gistério (FUNDEF) e que vigorou até 2006,
infância de maneira crítica. Com a Lei de deixou em dificuldade a educação infantil, o
Diretrizes e Bases da Educação Nacional - ensino médio e a EJA, por falta de vinculação
LDB 9394 de 1996 houve uma distribuição de recursos e que foi substituída pela Lei nº
de responsabilidades sobre a manutenção 11.494 de 2007, que criou o Fundo Nacio-
da formação continuada entre os entes fe- nal de Desenvolvimento do Ensino Básico e
derados, aumentando assim as oportunida- Valorização do Magistério (FUNDEB) que
des formativas na esfera pública, ao mesmo atende todas as etapas da educação básica e a
tempo em que definiu suas finalidades. Em Educação de Jovens e Adultos (EJA) e obri-

38 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


ga a construção de um plano de carreira para 3. A FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA A
os profissionais da educação básica e, ainda, a ATUAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
capacitação profissional especialmente voltada
à formação continuada, o que proporcionou a Quanto à educação brasileira da infân-
melhoria salarial e profissional dos profissio- cia, a prioridade é o cuidado e assistência
nais do magistério. para a criança de zero a seis anos e foi ini-
ciada no Brasil nas décadas de 1970 e 80
Já com o Decreto nº 6.755, de 29 de por ocasião da luta dos movimentos sociais
janeiro de 2009, o presidente Luiz Inácio pela implantação das creches e pré-escolas.
Lula da Silva instituiu a política nacional de A imagem do professor na educação infantil
formação de profissionais do magistério da era de uma mulher considerada uma edu-
educação básica, que disciplina a atuação da cadora natural, paciente, que saiba agir com
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pes- bom senso e seja guiada pelo coração.
soal de Nível Superior (Capes) no fomento
a programas de formação inicial e continua- Rousseau, considerado o precursor da edu-
da. No seu Art. 2, inciso XI, aponta que “a cação de crianças menores de seis anos, foi
formação continuada entendida como com- um dos defensores do papel da mulher como
ponente essencial da profissionalização do- educadora natural para essa faixa etária. Froe-
cente, devendo integrar-se ao cotidiano da bel foi conhecido por construir um ambiente
escola e considerar os diferentes saberes e a para as crianças pequenas, denominando de
experiência docente” (BRASIL, 2009), e no “Jardim de Infância”, associou a esse ambiente
inciso XII “a compreensão dos profissionais a figura da “jardineira”, que deveria trabalhar
do magistério como agentes formativos de com as crianças com todo o amor e carinho.
cultura e, como tal, da necessidade de seu Para, além disso, a figura “jardineira” tem mais
acesso permanente a informação, vivencia e proximidade com a tarefa de ser mãe, do que
atualização cultural” (BRASIL, 2009). ser uma profissional que educa crianças pe-
quenas. Montessori, no início do séc. XX, des-
tacou que a função da educadora não era ensi-
2. METODOLOGIA nar, mas apenas orientar e facilitar o processo
de aprendizagem.
Esta pesquisa caracteriza-se como qua-
litativa, que de acordo com Silveira e Cor- A LDB 9394/96 trouxe uma nova pers-
dova (2009) envolvem aspectos da realida- pectiva para a carreira dos professores. Ela
de que não podem ser quantificados. “La passou a incluir a educação em creches e
investigación cualitativa se basa en un re- pré-escolas na educação básica e a definir o
planteamiento de la relación sujeto-objeto. mesmo tipo de formação para os professores
La integración dialéctica sujeto-objeto es el que atuam na educação infantil e nas quatro
principio articulador de todo el andamiaje primeiras séries do ensino fundamental. As
epistemológico de la investigación cualitati- exigências de formação de professores defi-
va” (FERNÁNDEZ, 2007, p. 54). niram como meta a formação em nível su-
perior e, como exigência mínima, a forma-
Segundo Fernández (2007), a pesquisa ção em nível médio, na modalidade normal.
qualitativa é um processo de interpretação
de dados e a posição do pesquisador deve As creches foram criadas para atender
ser considerada na elaboração de significa- crianças de zero a seis anos em período in-
dos que alcancem os objetivos propostos. tegral e as pré-escolas para atender crianças
entre quatro e seis anos, funcionando em
De caráter exploratório, esta pesquisa período parcial e com o objetivo de prepa-
caracteriza-se metodologicamente como rá-las para o processo de escolarização for-
bibliográfica que, de acordo com Fonseca mal. Em 2006, o ensino fundamental passa
(2002), é feita a partir de levantamentos a ser de 9 anos e a pré-escola passa a atender
teóricos já analisados. crianças de 4 e 5 anos.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 39


Segundo Winnicolt (1990), a subjetivi- 3.1 HABILIDADES PARA DOCÊNCIA NA
dade do professor é construída diariamente EDUCAÇÃO INFANTIL E A FORMAÇÃO
nos seus modos de ser, pensar e se relacionar. CONTINUADA
Um professor se constitui juntamente com
a soma de suas experiências no mundo, ou A docência na Educação Infantil neces-
seja, o professor é feito de sua história. sita de habilidades de ensino ligadas ao lú-
dico. É necessário contextualizar a vivência
De acordo com Tardif (2002), as pes- da criança em sala de aula e envolver brinca-
quisas na América do Norte e na Europa deiras educativas, pois é muito importante
que abordam a questão da subjetividade nessa fase o ato de brincar. Deve-se encarar
dos professores no exercício de sua profis- a criança como um ser pensante, construtor
são partem de três orientações teóricas: a) de seus conhecimentos.
Inspiração psicológica: se caracteriza pelo
conhecimento ou pelo pensamento dos pro- Até a metade do século XX as institui-
fessores; b) Fenomenologia existencial: trata ções de Educação Infantil exerciam apenas
das histórias de vida pessoal e profissional, o papel de cuidar da alimentação, da higiene
dos estudos sobre as crenças dos professores; e da segurança física. Atualmente, os profes-
c) Remete a subjetividade do professor às sores da Educação Infantil têm como obje-
experiências que construiu no social como tivos não apenas o cuidar, porém educar de
estruturantes de sua profissionalização. maneira contextualizada, envolvendo prin-
cipalmente o brincar, incentivando a socia-
Embora a LDB tenha estabelecido a exi- lização da criança, com o intuito de melhor
gência de formação prévia e apropriada para prepará-la para as séries iniciais.
o trabalho junto a crianças de zero a seis
anos, corre-se o risco de haver uma prática É equivocado afirmar que só agora as creches
de copiar o modelo da escola das primeiras e pré-escolas se transformaram em institui-
séries. Tal prática estaria reforçando a ideia ções educativas, já que é impossível cuidar
da educação infantil como um período ne- de crianças sem educá-las. O que é novo é a
exigência de normatização que assegure pro-
cessário para preparar a criança para a alfa-
postas pedagógicas de qualidade para todos
betização.
[…] (CRAIDY, 2002, p. 61).

Portanto, o papel da educação infantil


traz consigo uma visão de infância que não Como afirma a autora, o cuidar de crian-
desconsidere o seu tempo presente como a ças está extremamente ligado ao educar,
própria vida, e não mais como uma prepa- porém não era visto dessa forma, acredita-
ração para a vida. A qualidade da educação va-se que para exercer cargos na Educação
infantil é construída progressivamente e Infantil bastava apenas a prática do cuidar,
demanda acionar as condições estruturais e que era adquirida ao longo da vida dos que
contextuais no sentido de melhorar as con- ali atuavam, com a criação de filhos, irmãos,
dições no exercício da profissão. sobrinhos e outros.

Espera-se que a formação do professor Ao longo de sua carreira o professor deve


de educação infantil permita o desenvolvi- sempre levar consigo a reflexão da sua práxis
mento de pensamento e de prática educativa pedagógica, na qual os conhecimentos que
adequados ao desenvolvimento e à aprendi- são construídos ao longo de sua trajetória
zagem da criança, à cultura, ao contexto da devem ter sentido entre teorias e práticas
escola e às orientações em nível nacional. fundamentadas no desenvolvimento infan-
til. Portanto, a formação continuada busca
suprir as lacunas entre prática e teoria.

O embasamento em teorias na Educa-


ção Infantil é de extrema importância, pois

40 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


assim o educador poderá desenvolver uma profissional docente precisa alargar conti-
prática pedagógica adequada para cada ne- nuadamente sua própria capacidade.
cessidade da criança. Como é descrito na
LDB, é na Educação Infantil que ocorre o Assim, o docente, compreendido em sua
desenvolvimento das primeiras aprendiza- tarefa de energizar a busca, o empenho e
gens, a descoberta do mundo e a compreen- o esforço intelectual dos demais sujeitos
são das suas ações. Oferecer à criança a prá- com os quais se relaciona, num intercâm-
bio solidário, de enriquecimento mútuo,
tica condizente à sua realidade e inserção no
tem sua vitalidade, também, nas próprias
ambiente é responsabilidade do professor.
ações desencadeadas em torno do proces-
so de formação continuada. Por isto, seu
Piaget, Vygotsky e Wallon tentaram mos- campo privilegiado de aprendizagem está
trar que a capacidade de conhecer e apren- na própria prática coletiva, está no exercí-
der se constrói a partir das trocas estabe- cio diário que lhe oferece constantes desa-
lecidas entre o sujeito e o meio. As teorias fios, impondo – lhe a urgência de ampliar
sociointeracionistas concebem, portanto, constantemente sua própria capacidade,
o desenvolvimento infantil como um pro- exigindo – lhe ao mesmo tempo, uma bus-
cesso dinâmico, pois as crianças não são ca permanente de adequação do projeto
passivas, meras receptoras das informações político – educativo à realidade histórica,
que estão à sua volta. [...] (FELIPE, 2001, composta por homens e mulheres concre-
p. 27). tos com suas angústias, necessidades e de-
sejos (CALDERANO, 2012, p. 63).

A educação continuada é um investi-


mento que os professores e as instituições Investigações feitas por Calderano, em re-
devem procurar obter buscando melhorias lação às aspirações e à satisfação profissional,
nas práticas e na carreira profissional. Ela levam em conta que distintas são as aspirações
deve partir da necessidade e do contexto por parte dos profissionais, confirmam a asso-
no qual se encontra a realidade do profes- ciação de ambas e dão conta de que, quanto
sor, respeitando seus valores, suas crenças e maior o nível de aspiração profissional, maior
experiências. No Art. 67 da LDB, a forma- é a probabilidade de se alcançar o grau mais
ção continuada é um direito do professor e alto de satisfação profissional.
um instrumento de valorização profissional.
Portanto, oferecer a formação continuada é É imprescindível refletir sobre a forma-
dever nacional, estadual e municipal. ção do professor para atuar na Educação
Infantil. É preciso que a criança nessa etapa
da vida seja considerada uma cidadã de di-
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS reitos. O professor assume então seu papel
formativo mediando e propondo situações
A ação docente é um recurso fundamen- de aprendizagem capazes de emancipar o
tal para a construção da cidadania, pois o aluno e desenvolver suas capacidades res-
ser professor amplia o processo de formação significando o conhecimento adquirido em
intelectual, pessoal e profissional dos cida- situações da vida real, tornando-se um ci-
dãos. Contudo, este não é o único responsá- dadão capaz de inserir-se na sociedade em
vel pela formação deste aluno. É preciso que que se encontra e refletir frente à realidade
a escola e a família tenham um relaciona- de modo crítico e consciente.
mento pautado em interesses e necessidades
semelhantes, ou seja, a plena formação do
ser humano. 5. REFERÊNCIAS

Merece destaque a desvalorização social BRASIL. Senado Federal. Lei de Dire-


e pessoal da profissão docente, o qual es- trizes e Bases da Educação Nacional: nº
tagnado coloca em xeque sua competência 9394/96. Brasília: 1996.
e saúde profissional. Segundo Calderano, o

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 41


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dia, MG: Ed. UFU, 2013.
BRASIL. Lei n. 11.494 de 2007. Regu-
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CRAIDY, C.M. A educação da criança de SAVIANI, Demerval. História das Ideias


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na conjuntura nacional e internacional. In: SP: Autores Associados, 2010.
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GURDIÁN-FERNÁNDEZ, Alicia. El
Paradigma Cualitativo en la Investigación

42 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


APRENDIZAGEM DA DOCÊNCIA
NO PIBID MEDIADA PELOS
PROFESSORES SUPERVISORES
Beatriz Cruvinel Oliveira Silva¹; Rosenilde Nogueira Paniago²

1. INTRODUÇÃO

Esta pesquisa foi desenvolvida no contexto do Pibid e Pivic1


do IF Goiano. Teve como objetivo identificar o papel do profes-
sor supervisor para a aprendizagem da docência dos alunos da
Licenciatura em Química. O Pibid é um programa vinculado à
Capes2/MEC, com o objetivo de melhorar a formação dos alunos
nos cursos de licenciatura. Segundo a Portaria 096/2013, o Pibid
visa “incentivar a formação de docentes em nível superior para a
educação básica; contribuir para a valorização do magistério; ele-
var a qualidade da formação inicial de professores nos cursos de
licenciatura, promovendo a integração entre educação superior e
educação básica” (Portaria nº 96/2013, p. 2).

Diante do exposto, a pesquisa foi conduzida pelas questões:


Que ações os professores supervisores estão mobilizando para que
os licenciandos bolsistas aprendam a ser professores? Qual é o pa-
pel do professor supervisor no contexto do Pibid?

O presente texto encontra-se estruturado da seguinte forma:


inicialmente será apresentado o percurso metodológico da pesqui-
sa, posteriormente uma breve fundamentação teórica sobre os sa-
beres necessários ao exercício da docência e atividades formativas,
para, em seguida, apresentar-se a análise dos dados.

2. METODOLOGIA

Esta investigação trata de um estudo de caso de abordagem


1. Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia Goiano – Cam-
qualitativa, que visa não dar uma resposta final e correta diante
pus Rio Verde - GO. E-mail do autor: de tal problema exposto, e sim avaliar e analisar os vários pontos e
biiacruvinel-@hotmail.com. faces do objeto. Segundo André (2013, p.17), a pesquisa é qualita-
tiva “[...] porque se contrapõe ao esquema quantitativista de pes-
2. Professora orientadora - Institu-
to Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia Goiano – Campus Rio 1  Programa de iniciação a pesquisa voluntária
Verde - GO. E-mail do autor: rose-
nilde.paniago@ifgoiano.edu.br. 2  Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 43


quisa (que divide a realidade em unidades enfrentar, ou seja, devem estar capacitados
passíveis de mensuração, estudando-as iso- para que saibam lidar com os problemas e
ladamente)”. No estudo aqui apresentado, com os alunos que estão inseridos na sala
optou-se pelo estudo de caso, por se tratar de aula, por exemplo, como lidar a respeito
de uma situação delimitada em uma escola. de determinada sala com uma determinada
Conforme André (2013), o estudo de caso, disciplina.
é “[...] o estudo descritivo de uma unidade,
seja uma escola, um professor, um aluno ou Então, o Pibid pode ser entendido como
uma sala de aula.” (ANDRÉ, 2013, p. 30). espaço de formação para iniciação à docên-
cia, semelhante ao Estágio Curricular Su-
Para a coleta de dados foram utilizados pervisionado (ECS) e contribui para que os
os seguintes instrumentos: a observação recém-chegados aos cursos de graduação de
com registro em diário de campo e a entre- Licenciaturas possam ter a oportunidade de
vista com quatro bolsistas do Pibid (BP) e ensino da metodologia e da prática docen-
um professor supervisor. Os bolsistas serão te, visando assim identificar problemáticas
identificados como PB1, PB2, PB3 e PB4 e que influenciam o processo ensino-apren-
o professor supervisor como PS. Para que a dizagem, dando também a possibilidade de
observação se torne válida, além de determi- analisar vários aspectos do cotidiano escolar,
nar o objeto a ser estudado “[...] precisa ser como a gestão escolar que tem como uma
antes de tudo controlada e sistemática. [...] das causas que influencia a contribuição
Definindo-se claramente o foco da investi- dentro dos problemas educacionais brasilei-
gação e sua configuração espaço-temporal ros (CARVALHO, 2012).
[...]”(LUDKE, ANDRÉ, 1986, p. 25). No
diário de campo, procurou-se registrar to- Apesar de serem espaços semelhantes
dos os dados observados durante a coleta. de aprendizagem da docência, o Pibid vem
As observações ocorreram durante as reu- com o propósito de proporcionar ao aluno
niões que aconteciam na escola uma vez por da graduação desde o primeiro ano da fa-
semana no período vespertino, juntamen- culdade a possibilidade de poder vivenciar
te com a professora supervisora e quando dentro do ambiente que futuramente irá
combinado com o coordenador de área no trabalhar, o aprender a se portar perante
IF Goiano, ou quando se encontravam em uma sala de aula, consequentemente com os
outro momento ou turno. deveres e obrigações que o professor tem de
cumprir; já o estágio oportuniza essa vivên-
cia apenas a partir do 5º período do curso de
3. DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS Licenciatura.

Ensinar é uma atividade complexa, e Pensando nas práticas de aprendizagens


mais ainda é o ato de “ensinar” os alunos da desenvolvidas no ECS, algumas podem ser
graduação a serem professores, a se portarem incorporadas ao Pibid, pois aprender a ser
em uma sala de aula e lhes ensinar os deve- professor requer participação em experiên-
res que um futuro profissional da educação cias diversas na escola e sala de aula. To-
deve saber ao ser inserido no meio social do mando as práticas do ECS como exemplo,
local de trabalho. Pensando assim é bastante destaca-se a observação do contexto esco-
complexo o entendimento do ‘ser professor’, lar, em sala de aula e a prática de ensino e
já que exercer esse cargo não é simplesmen- aprendizagem supervisionada pelo pro-
te inserir o sujeito nesse meio de trabalho fessor regente da sala de aula. Por meio da
sem uma formação adequada. Tem-se que observação, seja nas diversas situações da
levar em conta que os professores enfrenta- escola ou em sala de aula, os formandos po-
rão desafios no processo ensino e aprendi- dem problematizar o que estão observando
zagem dos alunos da educação básica, o que e procurar, partindo de investigação, recons-
implica comprometimento e saberes para truir novas práticas de ensino. No caso da
lidarem com as diversas situações que vão sala de aula, podem aprender por meio da

44 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


observação, analisando dentre algumas ver- diversidade de aprendizagem dos alunos, como
tentes a relação professor-aluno, podendo elaborar uma prova, como fazer um planejamen-
imitar ou não o professor, observado aquilo to de aula, e todos os outros afazeres que um pro-
que vê como método bom, como também ir fessor tem. São, pois, ações que devem ser mobi-
construindo o seu próprio modo de agir pe- lizadas desde o início do curso superior, com a
rante a análise crítica do sujeito observado finalidade de formar professores preparados para
(PIMENTA; LIMA 2012). enfrentar a realidade desafiadora do exercício da
docência. É importante, portanto, que no Pibid
Reconhecendo que a discussão acerca os professores supervisores orientem a realização
dos saberes e atividades mobilizadoras da de projetos inovadores para a escola, como for-
aprendizagem docente foi limitada face ao ma de mediar à aprendizagem dos BP e, con-
aprofundamento que exige. A seguir serão sequentemente, motivar o interesse dos alunos
apresentadas as análises dos dados de pes- da rede pública de educação básica, conforme
quisa, destacando o papel do professor su- diz a Portaria nº 096/2013, que o Pibid visa “in-
pervisor. serir os licenciandos no cotidiano de escolas da
rede pública de educação, proporcionando-lhes
Ao observar a atual Portaria nº 096/2013, oportunidades de criação e participação em ex-
que rege o programa, o papel dos PS se des- periências metodológicas, tecnológicas e práticas
taca, tendo em vista a vinculação às ações docentes de caráter inovador e interdisciplinar
pedagógicas de incentivo à docência dos [...]” (Portaria nº 096/2013, p.2)
formandos:

Art. 42. São deveres do supervisor:


I – elaborar, desenvolver e acompanhar as PAPEL DO PROFESSOR SUPERVISOR
atividades dos bolsistas de iniciação à do- NO PROGRAMA
cência;
II – controlar a frequência dos bolsistas de Ao falar sobre o papel do supervisor no
iniciação à docência na escola, repassando programa, assim se manifesta a PS:
essas informações ao coordenador de área;
V – participar de seminários de iniciação à Incentivar os bolsistas a realizarem boas
docência do Pibid promovidos pelo proje- práticas docentes, saberem mediar confli-
to do qual participa; tos e realizar projetos. Esclarecer possíveis
XI - compartilhar com a direção da escola dúvidas a respeito da docência. Realizar pu-
e seus pares as boas práticas do Pibid na blicações a respeito de trabalhos. Organizar
perspectiva de buscar a excelência na for- os relatórios e plano de trabalho (PS, 2015).
mação de professores; e
Conforme se observa, PS enfatiza a im-
XII - elaborar e desenvolver, quando pos-
sível, projetos interdisciplinares [...]. portância dos professores supervisores incen-
tivarem os bolsistas a realizarem boas práticas
docentes, realizar projetos na escola e a publica-
Na compreensão de que o exercício da do- ção de tais trabalhos desenvolvidos em eventos.
cência implica o desenvolvimento de práticas de O depoimento de PS acerca do professor
ensino em sala de aula, bem como outras ativida- supervisor condiz com o que é sinalizado
des que envolvem desde o trabalho pedagógico, na Portaria nº 096/2013, ao esclarecer que
gestão escolar, dentre outras, infere-se que uma esses professores possuem a incumbência de
tarefa importante dos supervisores é a iniciação ensinar o aluno da graduação a ser professor.
a docência dos futuros professores. Logo se vê Auxiliando assim na motivação e no cresci-
que o papel do PS é proporcionar aos forman- mento profissional de um futuro professor,
dos várias possibilidades de aprendizagens sobre o que pode ser notado no momento em que
o ‘ser professor’, desde o trabalho em uma sala a PS supervisora destaca “Esclarecer possíveis
de aula, como se portar diante dos alunos, quais dúvidas a respeito da docência.”.
estratégias didáticas utilizar de modo a atender a

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 45


Ao falar sobre qual o papel do professor mobilizem e que podem ser mudadas, para
supervisor assim dizem os BP: fazer com que as escolas públicas de edu-
cação básica sejam futuramente um local
No meu ver, o papel dos professores é: orientar onde a distância entre o professor e aluno
os alunos a docência da realidade escolar, que diminua, para que se ministrem as aulas
não é a mesma estudada e discutida nas au- com mais sabedoria, de modo a, consequen-
las do ensino superior; incentivar a práticas temente, obter alunos mais participativos
docentes, mesmo que seja por amor, orientar
(Carvalho, 2012). A esse respeito, Paniago e
quanto às obrigações dos professores duran-
Sarmento (2016) corroboram ao afirmarem
te um ano letivo; ensinar como se deve por-
tar perante uma classe, ensinar como se deve que a prática de supervisão no Pibid, tensio-
tratar os alunos na faixa etária que iremos na os saberes dos professores e motiva-os a
trabalhar e orientar das responsabilidades de buscarem novas alternativas didáticas para
formar alunos, entre outros (BP 4). desenvolverem suas práticas de ensino.

O papel do supervisor é de correlacionar a


pesquisa técnica científica com a realidade da
escola, alunos e professores (BP 3). ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM DA DO-
CÊNCIA MEDIADAS PELO PROFESSOR
SUPERVISOR
O papel do supervisor é observar se as ativi-
dade propostas em reuniões estão sendo rea- No desenvolvimento das atividades do
lizadas, propor atividades e participar do Pibid, é exigido aos PB cumprirem uma
planejamento das mesmas, conduzir as ati- média de 12 horas na escola, sob a orienta-
vidades do Pibid, e comunicar os mesmos in- ção do PS. No caso investigado, os alunos se
tegrantes do grupo sobre oportunidades que a reúnem semanalmente, em torno de 3 ho-
escola oferece para a ampliação da experiência
ras. Assim foi registrado no diário de campo
e do conhecimento (BP 2).
acerca de um dos momentos de reunião, sob
a orientação de PS:
Conforme se observa, os BP possuem a
percepção de que o papel do professor su- A supervisora tinha levado várias ideias
pervisor no Pibid é o auxílio da aprendiza- como jogos didáticos, oficinas que englo-
gem da docência. De modo que BP 2 e BP 4 bassem o ensino de ciências, como a reci-
apontam atividades mais correlacionadas às clagem, reutilização de materiais alterna-
tivos, alimentação saudável que engloba
práticas de ensino em sala de aula (portar-se
também problemas ambientais como um
diante dos alunos) e condução de reuniões
ensino alternativo, para ser desenvolvidas
e planejamentos; enquanto o BP 3 pontua durante todo o ano (CRUVINEL, 2015,
que ao professor supervisor cabe estabelecer p. 5).
relação entre pesquisa científica e realidade
da escola. Nesse caso, infere-se que o depoi-
mento dos BP 2 e BP 4 se aproximam mais Conforme se observa, há uma preocupa-
da compreensão acerca do papel do profes- ção por parte da PS para cumprir com as
sor que aqui se defende. orientações do programa, qual seja orientar
as práticas de ensino a serem desenvolvidas
Além do exposto, tem-se que ser discu- por meio de projetos na escola.
tido, ainda, que o papel do professor super-
visor dentro do Pibid é uma ação também Sendo o exercício da docência uma ação
de construção de sua própria aprendizagem, complexa que envolve o conhecimento da
pois ele pode repensar e rever o seu método disciplina, dos métodos de ensino, da forma
de ensino, pode se autoavaliar e trazer para como o aluno o aprende, enfim dos funda-
os acadêmicos a possibilidade de ser discu- mentos da educação, procurou identificar
tida e observada a problemática do ensino e que tipo de aprendizagens estão ocorrendo
a reflexão sobre possíveis instrumentos que no Pibid. A respeito de quais aprendizagens

46 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


Durante estes sete meses em que tive no
são necessárias e importantes para ser um
PIBID vivenciei várias experiências que
bom professor diz a PS: me ensinaram como deve ser um professor
[...] Ao realizarmos aulas com experimen-
Ter um bom relacionamento com docentes to e a confecção do protótipo de um reator
e discentes; apresentar uma organização anaeróbio nos mostrou a necessidade de
adequada em planejamento, avaliações e aulas práticas na aprendizagem dos alunos
demais registros; leitura de diversas fontes (BP 2).
sobre temas selecionados à educação; amar
a profissão; estar disposto a contribuir po-
Os depoimentos dos BP indicam a im-
sitivamente na sociedade; adotar estraté-
gias de ensino de acordo com a realidade portância do Pibid para a aprendizagem de
de cada turma (PS, 2015). ser professor. Conforme BP1, a inserção no
programa possibilita com que aprenda o que
é realmente ser professor, pois, por meio das
Pode ser observado que a PS tem conhe- aulas do curso de Licenciatura não foi pos-
cimento do que deve ser ensinado para que sível perceber a complexidade que é de fato
os bolsistas aprendam a ser bons professo- o cotidiano de uma escola e de sala de aula.
res; já que no ensino atual temos professo- Aqui Gatti (2010) colabora ao dizer que as
res que não adotam novas metodologias e práticas dos cursos de Licenciaturas estão
estratégias que fazem com que os alunos se distantes da escola de educação básica, futu-
sintam instigados a participarem das aulas. ro campo de trabalho do formando.
Ressalta-se que essa é uma tarefa de mui-
ta persistência, estudo e consequentemente Por meio da inserção na escola durante
conhecimento de como deve lidar com o o Pibid, os formandos podem participar de
conteúdo a ser ensinado, a forma como ele reuniões, de planejamento, de elaboração e
deve ser trabalhado com os alunos, e o modo aplicação de aulas práticas, conforme aponta
como o professor relaciona o conteúdo que o BP2 e perceberem como de fato é a reali-
faz com que os alunos vejam interesse em dade do seu futuro campo de trabalho, que
aprender, como, por exemplo, correlacionar muitas vezes é diferente do que se aprende
a matéria com o dia a dia deles. na faculdade.

Atualmente, não está sendo realizado Assim, de modo geral, no depoimento


um trabalho coletivo nas escolas, no qual o dos BP foi possível identificar que partici-
docente que ensina interage com os alunos a param de projetos na escola, feira de ciências
serem ensinados, de tal forma que o profes- e eventos que contribuem para sua apren-
sor/aluno interagem entre si, transformando dizagem de ser professor. Vejamos algumas
assim o conteúdo a ser ensinado mais cla- atividades sobre possíveis aprendizagens
ro, de fácil explicação, entendimento e mais da docência que os PS dizem ter realiza-
diálogo, não só dentro da sala de aula em do: trabalho com projetos, feira de ciências,
si, mais dentro de toda escola, com toda a elaboração de plano de aula, prática em sala
equipe escolar. de aula com alternativas metodológicas di-
ferenciadas, observação do professor super-
Vejamos agora o que os BP dizem a res- visor em sala de aula, lançamento de notas,
peito das aprendizagens: frequência e conteúdo em diário, aplicação
em reforço e produção e apresentação das
Dentro do Pibid aprendemos sobre a ex- experiências do Pibid em eventos.
periência prática da função do professor.
Aprendemos que um bom planejamento, Nas observações realizadas foi possível
seja para uma aula [...] na escola, percebi constatar que as feiras de ciências foram
que se tratava de um trabalho muito mais
momentos de imensa interação entre os BP
complexo do que as aulas teóricas foram
e alunos da educação básica e aprendizagens,
capazes de transmitir (BP 1).
conforme registro em diário de campo:

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 47


Neste dia ocorreu a feira de ciências na te perguntas de língua portuguesa e mate-
escola, durante todo o período, (matutino, mática, aplicamos algumas questões com o
vespertino e noturno [...] visitei todas as 9º ano, onde cada bolsista citava palavras
sala que eram divididas por alguns proje- para os alunos escreverem de forma correta
tos que envolvia alguma disciplina; resolvi segundo a língua portuguesa e questões de
junto com minha supervisora do Pibid ela- soma, divisão e subtração dentro da disci-
borar um questionário, a ser aplicado aos plina de matemática. (CRUVINEL, 2015,
alunos com as seguintes perguntas: Você p.14)
já participou de alguma feira de ciências?
Vocês acha interessante a feira, para o an- Conforme se observa, são várias as pos-
damento das aulas? Você acha que deve- sibilidades de aprendizagem no programa.
ria ocorrer mais eventos como a feira de
Que inclui, inclusive, o trabalho com outras
ciências, que fizesse com que os alunos
elaborassem os trabalhos, fazendo assim atividades que não são necessariamente vin-
a fácil compreensão do conteúdo aborda- culadas à área da Licenciatura, que no caso
do? Apliquei o questionário para uns 30 da presente se refere à Química.
alunos, de variadas séries, mais as respos-
tas nem sempre eram significantes, pois Apesar das várias possibilidades de apren-
os alunos ficavam constrangidos quando dizagens observadas, também foi possível
eu referia as devidas perguntas a eles, ou constatar fragilidades. Diante de todas as
muitas das vezes eles nem sabiam o que atividades que foram ditas terem sidas reali-
responder. Apesar disto, mais tardar, quan- zadas, é importante destacar que durantes o
do a feira já havia acabado, 3 bolsistas apa-
período de observação e realização da pes-
receram, com isso a supervisora pediu que
eles pegassem o questionário e digitassem quisa (que durou em torno de 10 meses) tais
para enviar ao nosso coordenador, já que o atividades que dizem ter sido realizadas por
mesmo havia pedido que tudo que fizés- dois dos BP e a PS não foram evidenciadas.
semos, enviássemos a ele, e assim fizemos Portanto, das várias ações citadas, tais como:
(CRUVINEL, 2015 p.11). elaboração de plano de aula, elaboração e
aplicação de avaliação aos alunos, observa-
Ademais, no período em que se deu a ção do/a professor/a supervisor/a em sala de
realização desta pesquisa, foi registrado que aula e lançamentos de notas, frequências e
houve produção e apresentação das expe- conteúdos em diário, não foi possível cons-
riências do Pibid em eventos, participação tatar tal concretude durante o período da
em feira de ciências, aplicação de aula de pesquisa. O que se presume que ocorreram
reforço, dentre outros; como registrado no em período anterior, visto que dois dos bol-
diário de campo: “não houve encontro, pois sistas que disseram ter realizado, já estavam
neste dia, os bolsistas estavam participação há mais tempo na escola.
de eventos em Jataí, o 2º Encontro de Li-
cenciaturas do Sudoeste Goiano e 2º En- Apesar das evidências de aprendizagens
contro de Pibid do Sudoeste Goiano, onde 4 relatadas pelos BP participantes da pesquisa,
bolsistas apresentaram trabalho, dentre eles e sinalizadas no diário de campo, importan-
um trabalho sobre “ Tratamento de Esgoto te salientar que nem todos participaram de
Doméstico no Ensino de Química: um re- todas as atividades citadas e estas não foram
lato de Experiência de um Projeto em An- representativas de tudo o que acontecia nos
damento no Colégio da Rede Pública em momentos em que os PB estavam na escola
Rio Verde- GO”(CRUVINEL, 2015. p.10). durante o Pibid. Conforme é apresentado
no diário de campo:
Compartilha-se outra evidência de pos-
sibilidades de aprendizagens: No dia 27 de agosto, apenas uma bolsista
não compareceu já que somos num total
Neste dia nos reunimos todos os 4 bolsis- de 5; neste dia a professora supervisora
tas estavam presentes na reunião, e como apresentou o livro O Valor do Amanhã, que
se aproximava a Prova Brasil, que seria rea- contém vários projetos possíveis para se-
lizada em novembro, onde contém somen- rem desenvolvidos na escola, porém os 2

48 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


outros estavam digitando um trabalho que
possibilidades de aprendizagens, percebeu-
a nossa supervisora pediu pra eles digita-
rem, trabalho cujo não tem nenhum vín- -se também fragilidades que influenciam de
culo com o Pibid, e o outro ficou sem fazer forma negativa, que decorrem da ausência
nada. Passamos a tarde toda desocupados, de práticas mais efetivas na escola, como a
uma vez ou outra um bolsista dava suges- participação dos BP em peso dentro das sa-
tões de alguns possíveis projetos, porém las de aula com a observação do professor
nada se decidiu, a supervisora disse que supervisor, já que essas ações não acontece-
não havia tempo para ser desenvolvido ne- ram durante o período da pesquisa. Vejamos
nhum projeto esse bimestre porque era um o que o PS diz a respeito de como ele tem
bimestre um pouco apertado, mais um dia mediado tais práticas e quais são as dificul-
de reunião sem nenhuma produtividade
dades que tem enfrentado: Procuro mediar
(CRUVINEL, 2015, p. 13)
o máximo possível, porém alguns contratempos
acontecem, como, por exemplo, dificuldade de con-
Este relato é representativo de muitas ciliar projetos com o cronograma da escola [...].
reuniões que ocorreram durante o Pibid,
tendo em vista que foram vários os encon- É válido dizer que durante o período da
tros em que os BP ficaram na escola sem pesquisa percebeu-se a ausência de várias
nada desenvolverem, como se não houvesse ações que poderiam ser realizadas dentre as
um diálogo efetivo entre o professor super- quais se cita: a presença efetiva em sala de
visor e coordenador. Além do mais, no ano aula, seja para observação ou prática de ensi-
de 2015, algumas práticas não ocorreram na no, a sistematização e registro das atividades
escola conveniada. Para ilustrar, no primeiro em portfólio ou instrumento equivalente de
semestre, os PB permaneceram por 3 me- acompanhamento, como forma de melho-
ses participando de estudos sob a orientação rar a escrita e promover a reflexão, conforme
do coordenador de área na IES, conforme é aponta a Portaria 096/2013, visto que tais
descrito no diário de campo: ações já estão inseridas no calendário esco-
lar. Se o intuito do Pibid é ensinar os BP as
A partir desta data, por quase três meses serem professores, logo então uma das ações
todos os bolsistas começariam a se encon- seria a observação do PS em sala de aula, o
trar no Instituto Federal Goiano, com o que não influenciaria para que a PS mudasse
nosso coordenador um Encontro Forma- seu roteiro escolar não aconteceu no perío-
tivo do PIBID, promovido em torno da
do da pesquisa, surge aí uma problemática,
temática: ensino de matriz energética na
como é relatada no diário de campo:
educação CTS (CRUVINEL, 2015, p.5).

Bom, já que uma das ações para que os


Diante do exposto, deve ser levado em bolsistas aprendam a ser professores é
conta que o estudo motivou os alunos diante observar as aulas do PS, o que não acon-
da temática a desenvolverem projetos na es- teceu no período da pesquisa. Surge uma
pergunta porque quando ao desenvolver
cola que o envolvesse, como a reutilização da
a pesquisa com o consentimento de todos
água da chuva, produção de energia solar, pro-
para contribuir, uns dos procedimentos
dução de lixo, dentre outros. Foram momen- que pretendíamos fazer seria a observação
tos significativos para o aprendizado dos BP, e do PS em sala de aula, por que quando
também para despertar assim novas ideias que eu perguntei pra tal PS se concordava em
poderiam ser realizados na escola. observar a aula que ela ministraria ela não
concordou? Já que tal ação está inserida
Por outro lado, se durante 3 meses de como parte do estágio, e como já percebi o
trabalho, os BP ficaram desenvolvendo es- Pibid não deixa de ser um estágio (CRU-
tudos sob a orientação do coordenador no VINEL, 2015, p.14).
IF Goiano, e os demais momentos consis-
tiram, muitas vezes, em reuniões na escola, Diante das fragilidades citadas deve ser
sem que os BP desenvolvessem alguma ati- levado em conta que as práticas analisadas,
vidade, é possível se concluir que, apesar das de certo modo, não atenderam as indicações

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 49


da Portaria nº 096/2013, que sinaliza como conhecimento que o PS tem em saber o que
características dos projetos do Pibid: “VII- se deve ser feito e ensinado para contribuir
-cotejamento da análise de casos didático-pe- e ensinar os BP a serem bons professores.
dagógicos com a prática e a experiência dos
professores das escolas de educação básica, em
articulação com seus saberes sobre a escola e REFERÊNCIAS
sobre a mediação didática dos conteúdos”.
ANDRÉ, M..Etnografia da prática esco-
lar. 6 ed. São Paulo: Papirus, 2013.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
BRASIL, Coordenação de Aperfeiçoa-
Os resultados mostram que o Pibid tem mento de Pessoal de Nível Superior. Por-
sido importante para a aprendizagem da taria 096, de 18 de julho de 2013. Brasília.
docência e que o professor supervisor tem Disponível em: <http://www.capes.gov.br/
um papel fundamental nesse processo. En- images/stories/download/legislacao/Porta-
tretanto, no ano de 2015, percebeu que o ria_096_18jul13_AprovaRegulamentoPI-
seu papel não foi ativo apesar das iniciativas BID.pdf> Acesso em 11 nov. 2018.
propostas. A inserção em práticas da sala de
aula foi rara, quase inexistente para alguns CARVALHO, Anna; GIL-PÉREZ, Da-
BP. Em muitas das reuniões houve apenas o niel. Formação de Professores de Ciências
cumprimento de horário na escola, mas sem (Tendências e Inovações). 10ª ed. São Pau-
que os BP desenvolvessem alguma ativida- lo: Cortez, 2011.
de que os incentivasse a serem professores, o
que sugere aí alguns questionamentos: acaso CARVALHO, Anna. Os Estágios nos
o coordenador e o professor supervisor não Cursos de Licenciatura. São Paulo: Cen-
estão dialogando para a elaboração de ati- gage Learning, 2013.
vidades a serem desenvolvidas com os BP?
O professor supervisor tem autonomia para CRUVINEL, Beatriz. Diário de campo,
a definição das ações a serem desenvolvidas 2015, 20p.
no Pibid? Por que não aconteceu a imersão
dos bolsistas do Pibid em situações diversas LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli. Pesqui-
de aprendizagem da docência? Não aconte- sa em Educação: Abordagens Qualitati-
ceu por falta de conhecimento do PS? Por vas. São Paulo: EPU, 1986
falta de tempo? Não aconteceu porque o
coordenador julgou outras ações mais im- PANIAGO, Rosenilde; SARMENTO, Te-
portantes? São questionamentos que con- resa. O processo de estágio supervisionado
duzirão outras pesquisas. na formação de professores portugueses e
brasileiros. Revista Educação em Questão,
Uma proposta formativa de melhoria Natal, v. 53, nº 39, p. 76-103, maio/ago. 2015.
para os professores supervisores que auxilia-
ria os bolsistas a serem bons professores, que PANIAGO, Rosenilde; SARMENTO, Te-
deveria ocorrer em todos os lugares onde resa. O Programa institucional de bolsa de
acontece o programa, seria encontros for- iniciação a docência no contexto da forma-
mativos entre PS e coordenadores, para que ção de professores no IF Goiano. Itinera-
pudessem ser suscitados a uma reflexão so- rius Reflectionis, Jatai, v.12, n.1, 2016.
bre o seu papel como mediador da aprendi-
zagem dos BP a partir de estudos sobre teo- PIMENTA, Selma; LIMA, Maria. Está-
rias a formação de professores e da própria gio e Docência. 7ª ed. São Paulo: Cortez,
documentação da Capes. Já que pode ser 2012.
observado que se nem tudo que é propos-
to para que os BP realizassem é cumprido,
um dos motivos pode ser devido à falta de

50 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


CÍRCULOS DE LEITURA E
LETRAMENTO LITERÁRIO NA
FORMAÇÃO DE PROFESSORES
CASTRO, Eder Alonso¹; LIMA JÚNIOR, Walter Guarnier de²

1. INTRODUÇÃO

Os estudos, realizados no Brasil, dedicados ao letramento, re-


montam à década de 80, (SOARES, 2001; KLEIMAN, 2001;
dentre outros) avolumando-se e ganhando novas perspectivas de
investigação, com o passar dos anos, como no caso do letramento
literário (COSSON, 2014a). O que não quer dizer, por outro lado,
que o sentido para o termo letramento tenha se tornado estável e
inflexível; por isso, entendemos, como Magda Soares (2004), que
letramento ainda é um termo com sentido fluido e impreciso. Por
outro lado, partindo do seu olhar sobre o letramento, entendido
como “estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever,
mas cultiva e exerce as práticas sociais da escrita” (SOARES, 2001,
p. 47), o letramento literário pressupõe que o estudante não seja
somente capaz de ler poemas e narrativas, mas também capaz de
se apropriar desses textos por meio das experiências estéticas de
prazer e fruição vivenciadas por meio da leitura.

Para que as aulas de literatura despertem, no aluno da Educa-


ção Básica, a motivação e o prazer pela leitura literária, é necessário
que, em primeiro lugar, o próprio professor busque desenvolver o
gosto e o hábito da leitura literária, sendo capaz de compreender
e interpretar as entrelinhas sugeridas por ela. Para isso, é indis-
pensável uma formação acadêmica que contemple conhecimentos
significativos e aprofundados sobre a literatura infanto-juvenil,
propriamente dita, suas principais obras e autores, e sobre a teoria
dos seus modos e métodos de ensinar (ROCHA & LOPES, 2016,
p. 2). Partindo de tais questões, relacionadas à formação literária
de futuros educadores e consequentemente formadores de leitores
de literatura, surgiu o projeto – Círculos de Leitura e Letramento
1 Instituto Federal de Brasília – Literário na Formação de Professores – uma profícua experiência
Campus Gama – DF. eder.castro@ de leitura e letramento literário vivenciada no segundo semestre
ifb.edu.br de 2017, pelo professor regente da disciplina Literatura Infanto-
2 Centro Universitário IESB – -Juvenil e por alguns graduandos do segundo período do Curso
Campus Oeste – DF. walter.ju- de Pedagogia do Centro Universitário IESB, Campus Oeste, em
nior@iesb.br Ceilândia-DF.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 51


Segundo Cosson (2014b, p. 139), o círcu- letras de música) e dos mais variados au-
lo de leitura e letramento literário caracteri- tores (Machado de Assis, Cecília Meireles,
za-se por frequentes encontros de grupos de dentre outros), eram selecionados e envia-
leitores que se reconhecem como parte dos previamente, via e-mail, aos participan-
integrante de uma determinada comunida- tes. Esses, por sua vez, se encarregavam da
de de leitores de literatura. Tal prática im- leitura atenta do material, deixando, para os
plicaria, segundo o autor, três pontos fun- encontros, uma releitura rápida seguida de
damentais para o bom aproveitamento da interpretação conjunta e discussões. Como
leitura em grupo. São eles: “o caráter social não eram obrigatórios, os encontros ocor-
da interpretação dos textos” e a consequen- riam sempre com um número restrito de es-
te manipulação e apropriação do repertório tudantes, uma média de oito, a cada semana.
textual “com um grau maior de consciência”; O pequeno grupo, porém, foi interessante,
“a leitura em grupo estreita os laços sociais, uma vez que facilitou a interação entre seus
reforça identidades e a solidariedade entre integrantes, potencializando o diálogo e en-
as pessoas”; por fim, “os círculos de leitura riquecendo as análises literárias.
possuem um caráter formativo”.
A experiência vivenciada e descrita, em
detalhes, neste artigo, buscou, por meio da
2. METODOLOGIA abordagem qualitativa (STAKE, 2011), ex-
plicar eventos específicos ocorridos durante
O projeto “Círculos de Leitura e Letra- a realização e execução do projeto “Círculos
mento Literário na Formação de Professo- de Leitura e Letramento Literário na For-
res” foi uma experiência exitosa de leitura e mação de Professores”, sobretudo um caso
letramento literário vivenciada no segundo específico analisado.
semestre de 2017, por um professor e oito
graduandos do Centro Universitário IESB,
Campus Oeste, em Ceilândia - DF. O re- 3. DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS
ferido projeto, num primeiro momento, foi
idealizado a fim de amenizar as dificuldades 3.1 LETRAMENTO LITERÁRIO E CÍRCULO
de leitura e análise literárias enfrentadas pe- DE LEITURA
los estudantes do segundo período do curso
de Pedagogia, frente aos textos utilizados O letramento, segundo Magda Soares
durante as aulas da disciplina Literatura In- (2003), designa o processo pelo qual as pes-
fanto-Juvenil. Durante a execução do pro- soas se relacionam com o mundo da escrita.
jeto, porém, seus organizadores perceberam Dessa forma, seria equivocado defender a
a necessidade de ampliar as intenções que existência de pessoas iletradas, uma vez que
motivaram sua criação, buscando não ape- todos estão diariamente em contato com a
nas sanar dificuldades, mas oferecer, aos pro- escrita. O que se defende, porém, é a exis-
fessores em formação, o desenvolvimento/ tência de níveis de letramento, variáveis
aperfeiçoamento das habilidades de leitura conforme a realidade cultural de cada um.
e um maior contato com o texto literário.
Atualmente, a definição mais difundi-
Os encontros, realizados semanalmente, da e aceita para letramento é de autoria de
sob a forma dos círculos de leitura e letra- Magda Soares (2003), que o entende como
mento literário, sempre no período da ma- “o resultado da ação de ensinar ou de apren-
nhã e após as aulas da disciplina Literatura der a ler e escrever, o estado ou condição que
Infanto-Juvenil, eram temáticos e os textos adquire um grupo social ou um indivíduo
literários escolhidos e discutidos respeita- como consequência de ter-se apropriado da
vam esse critério basilar. Dentre os temas escrita”. O letramento, assim, seria o resulta-
tratados, estavam: a consciência, a velhice, do ou a consequência do processo de alfabe-
a solidão e a guerra. Os textos, geralmente tização, entendido como o processo inicial
curtos, de vários gêneros (poemas, contos, de transmissão de leitura e de escrita.

52 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


É relevante destacar, porém, que os estu- críticos, em especial, futuros professores, que
dos envolvendo o letramento se desdobram, em sua atividade docente serão os responsá-
hoje, em várias direções, como para os do- veis por formar tantos outros leitores.
mínios da matemática, ciência, literatura,
atingindo até mesmo a esfera do mundo 3.2 EXPERIÊNCIA COM CÍRCULOS DE
digital. Em consequência disso, são usados, LEITURA LITERÁRIA NA FORMAÇÃO DE
com frequência, termos como: letramen- PROFESSORES
to matemático, letramento científico, le-
tramento literário, letramento digital, para O objetivo do projeto de oferecer, aos
designar certas habilidades nos respectivos pedagogos em formação, o desenvolvimen-
campos do conhecimento. to/ aperfeiçoamento das habilidades de lei-
tura e um maior contato com o texto literá-
O letramento literário, expressão que aqui rio foi realizado a contento. O contato com
nos interessa, é definido pelas Orientações os textos literários curtos facilitou a leitura,
Curriculares Nacionais – OCEM (BRA- por parte dos acadêmicos, assim como o
SIL, 2006, p. 24) “como estado ou condição empreendimento das discussões realizadas
de quem não apenas é capaz de ler poesia durante os círculos de leitura semanais. O
ou drama, mas dele se apropria efetivamente “clima” de informalidade, criado durante as
por meio da experiência estética, fruindo-o”. discussões, por outro lado, deixou os estu-
A concepção de fruição, que sustenta o con- dantes mais confiantes, ao ponto de se ar-
ceito anterior, exclui a dimensão passional riscarem mais na análise dos textos, postura
na comunicação da literatura com o leitor. A não muito comum nas aulas da disciplina
fruição advém da crise a que a obra é capaz Literatura Infanto-Juvenil, contexto que
de fazer abater sobre o leitor, de colocá-lo propiciou o surgimento do referido projeto.
em choque com o universo até então des- O sucesso obtido com o desenvolvimento/
conhecido, podendo a partir daí resultar ou aperfeiçoamentos das habilidades de lei-
não em prazer. tura literária dos estudantes vinculados ao
projeto desencadeou, ainda, constatado não
Os círculos de leitura e letramento lite- só pelas discussões quanto pela análise dos
rário, por sua vez, são uma ótima estratégia registros, o afloramento da criticidade, habi-
para se buscar, por meio da exploração do lidade fundamental para um leitor compe-
texto literário, o desenvolvimento desse tipo tente, como mostra o relato de experiência
específico de leitor, na medida em que criam de um participante do projeto:
uma espécie de ambiente favorável, por meio
de grupos de trabalho, ao desenvolvimento Nos encontros literários, descobri que tex-
de habilidades de leitura literária individual. tos literários e poemas não são um mate-
A análise de textos empreendida nesses cír- rial cansativo e difícil de utilizar em sala
culos de leitura, segundo Cosson, de aula, como acreditava. Na verdade, vejo
que podem e devem ser utilizados em con-
teúdos variados e não apenas na matéria
(...) toma a literatura como um processo
específica de literatura. Percebi também
de comunicação, uma leitura que demanda
que os debates promovidos agregaram
respostas do leitor, que o convida a pene-
novas perspectivas, mostrando a profundi-
trar na obra de diferentes maneiras, a ex-
dade que um texto pode ter, deixando de
plorá-la sob os mais variados aspectos. É
forma mais clara e simples a pluralidade
só quando esse intenso processo de intera-
existente em nossa sociedade. Um aspecto
ção se efetiva que se pode verdadeiramen-
que me marcou bastante e que influenciou
te falar em leitura literária (COSSON,
de modo extraordinário, a ponto de aguçar
2014a, p. 29).
minha vontade de diversificar as leituras,
foi ver a paixão e o entusiasmo demons-
trado em cada encontro pelo dirigente do
As análises literárias empreendidas nesse
projeto.
tipo de grupo de leitura revelam-se como óti-
ma estratégia para a formação de leitores mais

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 53


O relato mostra que a experiência vi- O desenvolvimento do letramento lite-
venciada pelo participante dos círculos de rário (COSSON, 2014a), de forma siste-
leitura e letramento literário proporcionou matizada e constante, dos professores em
a ressignificação de suas crenças em relação formação, por meio de círculos de leitura, é
à literatura. O que antes era uma dificulda- fundamental, uma vez que, após formados,
de passou, após os encontros do grupo, a ser serão eles os responsáveis pela formação de
um conhecimento mais fluido. Outro pon- outros grupos de leitores literários. Além do
to, evidenciado no relato do participante, é a letramento literário, outros benefícios dos
paixão identificada no dirigente do projeto, círculos de leitura devem ser destacados:
que teria disseminado, durante as reuniões a resignificação do ato de ler, a motivação
do grupo, o prazer pela leitura e o interesse para a leitura, o busca por outras leituras, o
pela busca da enorme diversidade de textos desenvolvimento da autonomia, dentre tan-
que esperam para serem lidos. tos outros.

A experiência de sucesso, aqui exposta,


4. CONSIDERAÇÕES FINAIS mostra que existem muitas maneiras de me-
lhorar a qualidade da Educação, bastando,
As experiências vivenciadas pelos acadê- para isso, apenas certa dose de dedicação e
micos do segundo semestre do Curso de Pe- empenho por parte dos formadores de pro-
dagogia do Centro Universitário IESB, por fessores e das instituições em que estão vin-
meio do projeto “Círculos de Leitura e Le- culados.
tramento Literário na Formação de Profes-
sores” revelaram que as dificuldades de lei-
tura, muitas vezes, facilmente perceptíveis, 5. REFERÊNCIAS
durante as disciplinas de graduação, podem
ser diminuídas e/ou até mesmo sanadas por BRASIL, R. Orientações Curriculares Na-
completo por meio de atividades de caráter cionais: linguagens, códigos e suas tecnolo-
coletivo, como no caso dos círculos de leitu- gias. Ensino Médio. Brasília: MEC/Semtec,
ra que, além de estreitar a relação entre os 2006.
estudantes, criando um “clima” agradável à
aprendizagem, proporcionam uma intensa COSSON, R. Letramento literário: teoria e
troca de conhecimentos. prática. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2014a.

O objetivo de oferecer, aos pedagogos ____________ Círculos de leitura e letra-


em formação, o desenvolvimento/ aperfei- mento literário. São Paulo: Contexto, 2014b.
çoamento das habilidades de leitura e um
maior contato com o texto literário, por KLEIMAN, A. Modelos de letramento e
meio dos encontros para discussão de textos, as práticas de alfabetização na escola. In:
foi alcançado. É claro que o desenvolvimen- KLEIMAN, A. (Org.) Os significados do
to e/ou aperfeiçoamento das habilidades de letramento: uma nova perspectiva sobre a
leitura literária obtido, junto aos acadêmi- prática social da escrita. Campinas: Merca-
cos, não são homogêneos em seu todo, pois do das letras, 2001. P. 15-61.
cada participante saiu de um nível específico
de leitura, atingindo outro nível, o que nem ROCHA, P. A.; LOPES, R. V. N. Literatu-
sempre irá coincidir com seus pares. Respei- ra infanto-juvenil: história e relação com a
tada a heterogeneidade do grupo, tanto no pedagogia. Revista Querubim, Ano 12, Se-
início quanto ao final dos encontros, consta- ção Especial, p. 1-6, Dez. 2016.
taram-se enormes progressos na habilidade
de ler textos literários assim como na habili- SOARES, M. Letramento e alfabetização:
dade de registrar o resultado das discussões as muitas facetas. Trabalho apresentado na
e análises empreendidas. 26° Reunião Anual da ANPED, Minas Ge-
rais, 2003.

54 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


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tá, Niterói, n. 37, p. 255-267, 2. Sem. 2014.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 55


EU, VOCÊS E O WHATSAPP NO PROCESSO
ENSINO E APRENDIZAGEM: EXPERIÊNCIA
CRIATIVA SOB O FAZER PEDAGÓGICO
PURIFICAÇÃO, Marcelo M.1; SCHWERTNER, Suzana F.2; SCHUCK,
Rogério J.³; QUARTIERI, Marli T.4; AMADO, Nélia M. P.5.

RESUMO:

O presente artigo nasceu a partir das experiências e do fazer


pedagógico em turmas de Pedagogia do 3º e 7º períodos de uma
instituição pública do sudoeste goiano. Tem por objetivo apresen-
tar o WhatsApp como uma possibilidade de ferramenta coope-
rativa e colaborativa com o processo ensino/aprendizagem. A di-
versidade presente na universidade - e consequentemente na sala
de aula - pode ser vista como um suave convite à adesão a novos
paradigmas e nesse cenário, as tecnologias podem ser aliadas do
processo. O método utilizado foi a pesquisa-ação que, segundo
Barbier (2007), coloca o pesquisador na posição de “participante
engajado” e apresenta, entre outras possibilidades, a interligação
entre o conhecer e o agir ou “ajuda a extrair da ação novos conheci-
mentos” (THIOLENT, 2011). O diálogo teórico está estruturado
no aparato de autores cujas perspectivas teóricas perpassam pelo
viés das tecnologias, do sujeito e/ou da aprendizagem, tais como:
Masetto (2003-2007); Sacristán & Pérez (1996); Costa (2007);
Larrosa (2000) e Foucault (1997). À guisa de conclusão, pontua-
mos que o uso WhatsApp como ferramenta tecnológica pode ser
um instrumento facilitador e motivador da relação dialógica entre
professor/aluno e propulsor do processo ensino/aprendizagem por
ser uma estratégia acessível que pode aproximar o alunado em tor-
1 Centro Universitário de Minei- no de um fazer pedagógico dinâmico e criativo.
ros –UNIFIMES - Goiás. maxi-
mo@unifimes.edu.br
Palavras-chave: WhatsApp. Novas Tecnologias. Conheci-
2 Universidade do Vale do Taquari mento. Aprendizagem.
– UNIVATES – RS. suzifs@uni-
vates.br
3 Universidade do Vale do Taqua- CONSIDERAÇÕES INICIAIS
ri – UNIVATES – RS. rogerios@
univates.br A educação é um processo sócio-cultural que está na gênese hu-
4 Universidades do Vale do Ta- mana, de caráter flexível, mutável e dinâmico, que, segundo afirmam,
quari – UNIVATES – RS. mt- é um direito de todos e um dever do Estado. Pode ser também com-
quartieri@univates.br preendida como um aglomerado de práticas discursivas, pelas quais
5 Universidades de Algarve gravitam o fazer pedagógico, materializando-se na sala de aula. O ele-
UALG - PT. namado@ualg.pt mento central desse processo é o ser [a pessoa], por isso, na atualidade,

56 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


é tão comum a propagação do discurso que tante que o professor saiba aproveitar as
prima por uma educação humanizada, que potencialidades do celular como recurso pe-
perpassa a valorização do ser, que constrói e dagógico, haja vista que essa tecnologia mó-
que transforma a sua subjetividade. vel é de fácil acesso e faz parte do dia a dia
do aluno”. Larrosa (2000) em sua obra “Pe-
Nesse universo educacional está o ensino dagogia Profana”, nos impulsiona a encarar
superior e, nele, o curso de Pedagogia onde a pedagogia de maneira diferente, a quebrar
nos deparamos com a sala de aula e toda paradigmas herdados e viajar por caminhos
sua diversidade, lugar que segundo Larrosa alternativos, convidando-nos a repensar a
(1999, p.56) interlaça “subjetividade e expe- educação como relação com o novo, reati-
riência” na construção da “tecnologia do eu”. vando o conceito central de experiência.
No entanto, percebe-se que a educação su-
perior no contexto das licenciaturas, vivencia O pontapé inicial dessa experiência, no en-
na atualidade uma grande crise; sobreviver a tanto, foi pensar de que forma as TIC’s - de ma-
ela significa enfrentar desafios. Um deles é neira especial o aplicativo WhatsApp - pode-
a escassez de alunos nessa modalidade de riam colaborar com a interação entre professor
ensino. A cada ano, nos deparamos com o e aluno e mediar o processo de aprendizagem.
esvaziamento das salas de aulas e na redução
dos alunos que recebemos, sem contar que Para Fleury (2003, apud. LOPES e VAS,
um percentual significativo demonstra falta 2016, p. 2) “o uso massivo de redes sociais e
de interesse e compromisso com seu proces- de aplicativos móveis, modela essa socieda-
so formacional. É comum, nesse contexto, de do conhecimento”, sendo que os reflexos
o professor estar em sala ministrando aulas, disso chegaram à sala de aula. Tais prepo-
enquanto que alunos, alheios, navegam pe- sições reforçam a ideia de que estamos no
las redes sociais. caminho certo e que a aprendizagem pode
ser motivada pelo viés da mobilidade advin-
A evolução das tecnologias digitais de da do uso do aplicativo.
informação e comunicação tem transforma-
do profundamente a sociedade em todas as Mas, afinal, o que é o WhatsApp?
suas dimensões, inclusive a educação.
É um aplicativo multimídia de comunica-
Nesse contexto, a educação contemporâ- ção instantânea e sua principal função é a
nea, que se encontra povoada por um novo troca de mensagens de texto, vídeos e ima-
perfil de aluno – conectado às redes sociais -, gens entre usuários, e é compatível com
dispositivos móveis como Tablet, Smart-
precisa adaptar seus cenários (escolas, faculda-
phones e Iped, porém mais utilizados em
des, universidades etc.) e seus atores (alunos,
Smartphones e Iped com acesso à internet
professores e servidores educacionais) para o via Wi-Fi ou 3G (NERI 2015, p.1).
uso das TIC´s. O grande desafio do momento
está exposto. Precisamos mudar paradigmas.
Ao invés de combatermos o uso das tecnolo- A motivação pela escolha dessa fer-
gias por nossos alunos, classificando-as como ramenta como objeto de nossa pesquisa
elemento de dispersão e entraves no processo se deu pelo fato de 97,87% dos 47 alunos
de aprendizagem, é essencial e urgente que as envolvidos serem usuários do aplicativo. A
incluamos em sala de aula. sua aplicabilidade em sala de aula, da forma
como foi pensada nesta experiência, coloca
Essa experiência teve por objetivo apre- os alunos em constante pesquisa, uma vez
sentar o WhatsApp como uma possibilida- que a proposta era que eles pensassem, or-
de de ferramenta pedagógica cooperativa e ganizassem/construíssem os argumentos,
colaborativa com o processo ensino/apren- que podem ser reorganizados nas falas dos
dizagem. Corroborando esse pensamento, outros alunos. O professor, nesse contexto, é
remetemos a Costa (2007 apud. FELICIA- um elemento importantíssimo, pois ele é o
NO, 2016, p. 3) que afirma que “é impor- mediador das relações de diálogo, podendo

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 57


inclusive mensurar o nível de compreensão um conjunto de procedimentos para interli-
dos conceitos e organizar ou reorganizar o gar conhecimento e ação, ou extrair da ação
discurso em sala de aula. novos conhecimentos”.

Ao final dessa experiência constatou-se Para estruturação e execução das ideias,


que os alunos obtiveram importantes ga- passamos pelas seguintes etapas:
nhos, como por exemplo o aumento do nú-
mero e nível de leitura, melhoria na análise ETAPA 1 – Diante do grande número
de textos, compreensão de conceitos, cons- de alunos alheios ao processo de formação
trução de argumentos, na forma de condu- e dispersos durantes as aulas utilizando as
ção e resolução de problemas, nas relações redes sociais, foi feita uma parada nas ati-
pessoais (aluno-aluno; aluno-professor; vidades e uma autoavaliação sobre o curso
professor-aluno) e na qualidade dos traba- de Pedagogia, levando em consideração o
lhos (individuais e em grupos). perfil do egresso que se deseja formar, con-
forme especificado no Projeto Pedagógico
Essa estratégia de aprendizagem foi apli- do Curso e as metodologias/estratégias de
cada nas disciplinas: Conhecimento e Cur- ensino utilizadas pelos professores. Diante
rículo (3º período do Curso de Pedagogia) e da discussão, constatou-se o que Foucault
Seminário Integrado de Educação Matemáti- (1997) salienta em sua obra ‘Vigiar e Punir’
ca para fase I do Ensino Fundamental (7º pe- quando afirma que nós, professores, forma-
ríodo do Curso de Pedagogia). Em 2018, está mos nossos sujeitos, pois o sujeito é sempre
também sendo utilizada em outras disciplinas resultado de uma prática. Então, por que
e por outros professores dos cursos de Pedago- não transformarmos as redes sociais em fer-
gia, Educação Física e Psicologia. ramentas pedagógicas e os sujeitos tecnoló-
gicos em seres um pouco diferentes, no que
tange ao processo de aprendizagem?
PROCEDIMENTOS ADOTADOS.
ETAPA II - Apresentação da proposta
Este estudo teve como foco a inserção do WhatsApp como recurso pedagógico aos
das Tecnologias da Informação e Comuni- alunos. O aplicativo passaria a ser utilizado
cação em sala de aula do curso de Pedagogia como um instrumento a mais no processo
de uma instituição de ensino pública do su- avaliativo, correspondendo a 20% da nota.
doeste de Goiás, por meio do aplicativo do A proposta foi recebida com festa pelos alu-
WhatsApp. Tal estudo pode ser classificado, nos do curso. No entanto, para esse primeiro
quanto à abordagem, como qualitativo já momento de experiência, havia a necessida-
que, segundo Gonçalves e Meirelles (2004, de de se criar os critérios – para não ocorrer
p. 137), trata-se da “investigação de valores, a banalização do processo de ensino - e se-
atitudes, percepções e motivações do públi- lecionar as turmas nas quais seria aplicada a
co pesquisado, com o objetivo principal de experiência.
compreendê-los”.
ETAPA III – Critério de seleção das
Quanto aos procedimentos técnicos as- turmas. Foram levados em consideração os
sumiu o caráter de pesquisa-ação no sentido seguintes fatores:
que lhe dá Lopes e Vas (2016, p.4), citando
Barbier (2007), ao afirmar que nesse tipo de a) O perfil da(s) disciplina(s) a serem
pesquisa, o pesquisador “é um participan- ministradas no Curso de Pedagogia e o grau
te engajado, não se limitando a ser e estar de dificuldade dos alunos. Optamos por tra-
indiferente ao problema da pesquisa, assim balhar com disciplinas mais teóricas.
como seus resultados e a busca de mudan-
ças”. Na sequência, citam também Thiolent b) Turmas com maior número de usuá-
(2011), ao salientar que a pesquisa-ação rio do aplicativo. Selecionamos o 3º período
pode ser encarada como um “caminho ou (22 alunos, 100% de usuário do WhatsApp;

58 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


disciplina: Conhecimento e Currículo) e o ramenta pedagógica se iniciaram em 21 de
7º período (25 alunos dos quais 24 são usuá- agosto de 2017.
rios do aplicativo e apenas 01 não usuário.
Disciplina: Seminários Integrados de Ma- O professor utilizou como estratégia en-
temática). caminhar para discussão nos grupos o tema
a ser trabalhado na sua aula seguinte; assim,
ETAPA IV – Estabelecer os critérios de todos chegavam na sala com conhecimen-
uso. Nessa etapa, falamos como seria utili- tos prévios e/ou leitura(s) sobre o assunto.
zado o WhatsApp nas disciplinas. Ficou Como resultado, tivemos maior interação e
estabelecido que cada sala administraria seu discussão nas aulas, o que implicou signifi-
grupo sendo estritamente proibido qualquer cativamente nos resultados finais.
tipo de comunicação que não fosse relacio-
nada com as disciplinas propostas, ou seja,
mensagens de bom dia; palminhas, carinhas, O QUE MELHOROU?
propagandas, correntes de orações, dentre
outras, estavam banidas. Na sequência, fo- Compreender o papel do ensino nesse ce-
ram escolhidos os alunos de cada sala que nário novo, cercado pela (r)evolução digital
ficariam responsáveis pela criação do grupo. que envolve a educação é por demais neces-
Ficou ainda determinado que, toda segun- sário. Por isso, as estratégias de ensino direcio-
da-feira, o professor faria a provocação aos nam para uma busca constante de novas expe-
grupos e durante toda a semana os alunos riências que possam promover aprendizagem.
alimentariam o diálogo sobre a temática Nesse contexto, o professor é o maestro dessa
proposta com a mediação direta do profes- importante orquestra. O que se constata, no
sor. Os diálogos poderiam ser escritos ou entanto, é que “a sociedade muda e experi-
em áudio. As turmas pediram que fosse es- menta desafios mais complexos, a educação
colhida uma secretária para acompanhar e formal continua de maneira geral, organiza-
registrar o número de participação de cada da de modo previsível, repetitivo, burocrático,
aluno durante a semana. pouco atraente” (MORAN, 2013, p.12).

ETAPA V – Criar condições para inse- Ao professor cabe a busca por estratégias
rir na dinâmica o único aluno que não ti- de ensino, que possam tornar a sala de aula
nha acesso ao aplicativo WhatsApp. Num mais atrativa. Como Masetto (2003, p. 86),
primeiro momento foram colocadas duas acreditamos que o “essencial no conceito de
possibilidades: a) que o aluno encaminhas- técnicas ou estratégias é sua característica
se, via mensagem, sua participação; b) que de instrumentalidade. Todas as técnicas são
utilizasse o e-mail pessoal para participar. instrumentos e como tais, necessariamente
No bojo da discussão, uma aluna não con- precisam estar adequadas a um objetivo e
cordou com nenhuma das duas opções, ale- ser eficientes na construção deste”.
gando que elas apenas possibilitavam que o
colega participasse enviando contribuição, A aplicabilidade da estratégia de ensi-
mas limitava o acesso às respostas dos ou- no com o auxílio do WhatsApp melhorou
tros colegas. Diante de seu argumento, o de forma expressiva o ambiente social de
próprio aluno se propôs a participar por áu- aprendizagem, primeiro devido ao au-
dio através do celular de uma colega, faria as mento da “valorização do desenvolvimen-
leituras todas as noites, dos comentários da to das relações” (MASETTO, 2007, p.
turma e, ali mesmo faculdade, gravaria o seu 30) e, segundo, porque transformou, como
áudio, comentando as que achasse relevante pregam Sacristân e Pérez Gómes (1996),
comentar, participando, assim, dos diálogos. a vida da sala de aula, de modo que os alu-
Propôs-se, ainda, a encaminhar, também nos pudessem vivenciar práticas sociais e
por áudio, todas as semanas, a sua contri- intercâmbios acadêmicos que os condu-
buição para o debate. A ideia foi aceita e os zissem à solidariedade, à colaboração, à
trabalhos utilizando o WhatsApp como fer- experimentação compartilhada.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 59


Quando isso acontece, a aprendizagem as provocações enviadas semanalmente eram,
passa a ser vista de forma especial, em seu na verdade, a preparação por meio de leitu-
sentido mais amplo, sendo mais significati- ra, investigação e/ou pesquisa para a aula da
va. “Aprendizagem significativa, seja por re- semana seguinte. Com o estudo prévio, a di-
cepção, seja por descoberta, se opõe a apren- nâmica, a participação e o nível de debate nas
dizado mecânico, repetitivo e memorístico” aulas melhoraram significativamente.
(AUSUBEL, apud SACRISTÁN; PÉREZ
GÓMEZ, 1996, p. 46).
CONCLUSÃO
Na concepção dos alunos envolvidos, a
melhoria se deu nas relações de diálogos. A estratégia de utilização do aplicativo
Como diz Freire (2014) “o diálogo é o pon- WhatsApp em sala de aula proporcionou aos
to central na atividade de ensinar”. alunos uma certa autonomia na gestão do seu
processo de aprendizagem e um aumento na
Segundo relatos dos alunos participan- interação entre eles. Por se tratar de uma fer-
tes, “foi diferente, professor, ver a turma ramenta conhecida por todos, o processo foi
inteira, complementar uma fala minha. Na facilitado e bastante dinâmico. Os alunos par-
sala de aula física, isso nunca seria possível, ticiparam com textos escritos, áudios, apresen-
pois sou tímida e tenho vergonha de falar tação de imagens, vídeos e links, sempre tendo
em público. Tive certeza de que eu existo e o cuidado de correlacioná-los com a temática
sou percebida pelos meus colegas” (Aluna C, (provocação) da semana.
3º período de Pedagogia). “Quando chegava
o dia do professor enviar a provocação da Quando questionados sobre o nível de
semana, eu ficava ansiosa. Queria ser sem- satisfação do uso do WhatsApp como fer-
pre uma das primeiras a comentar. Na sala ramenta de aprendizagem, as turmas - os
de aula real, quase não falava, pois alguns 47 alunos - foram unânimes em afirmar um
olhares me calavam antes mesmo de iniciar” maior nível de satisfação. Da mesma forma,
(Aluna L, 7º período de Pedagogia). quando lhes foi perguntado se o WhatsApp
influenciou na sua rotina de estudo, todos
Tomando por base os dois depoimentos responderam que sim. Um exemplo disso
acima, percebe-se a importância da estraté- está na fala da aluna Y do 3º período de
gia (experiência) no processo de desenvol- Pedagogia: “no começo estava participando
vimento dos alunos e o quanto foi signifi- só para ganhar os dois pontos. Depois, fui
cativo para eles vivenciá-la. Nesse contexto, percebendo que estava gostoso participar.
como ensinam Sacristãn e Pérez Gómes Me senti inteligente. Tudo que o professor
(1996, p.47) o “indivíduo capta a signifi- falava na aula, eu sabia. Algumas coisas eu
cação do material novo em função das pe- aprendi sozinha, outras, aprendi nas partici-
culiaridades históricas construídas em sua pações dos meus colegas”.
estrutura cognitiva”.
O professor mediador do processo pode
Portanto, foi visível a mudança na rela- comprovar o que Ausubel (1968) chama
ção entre alunos, alunos e professor, e pro- de novos significados, ou seja, a fusão entre
fessor e alunos. No momento dos feedbacks novas ideias, com estratégias diferenciadas,
dos diálogos da semana, percebia-se a sala agregadas aos velhos conteúdos, podem ge-
mais unida, com um clima de humanização rar como produto significativo para os alu-
no ar. Também se constituiu uma experiên- nos, a aprendizagem. As técnicas/estratégias
cia prazerosa a utilização, em meio às aulas, de ensino são instrumentos importantíssi-
das falas dos alunos como exemplos. Eles se mos para o processo de ensino-aprendiza-
sentiam extremamente valorizados por per- gem; por isso precisamos abrir a sala de aula
ceberem que todos tinham vez e voz. ao novo, precisamos quebrar paradigmas.

A título de explicação é bom registrar que À guisa de conclusão, pontuamos que o

60 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


uso WhatsApp como ferramenta tecnoló- da Educação: estudos foucaultianos. Petró-
gica pode ser um instrumento facilitador e polis, Rio de Janeiro: Vozes, 1999.
motivador da relação dialógica entre profes-
sor/aluno e propulsor do processo de ensi- LARROSA, Jorge; VEIGA-NETO, Al-
no/aprendizagem. É uma estratégia acessí- fredo. Pedagogia profana: danças, piruetas e
vel que pode aproximar o alunado em torno mascaradas. 3. ed. Belo Horizonte: Autên-
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GONÇALVES, C. A., MEIRELLES, A. cola S.A. Brasília: CNTE, 1996.
M. Projetos e Relatórios de Pesquisa em
Administração. São Paulo: Atlas, 2004. THIOLLENT, Michel. Metodologia da
pesquisa-ação. 18º Ed. São Paulo: Cortez,
LARROSA, Jorge. Tecnologias do Eu e 2011.
Educação. In: SILVA, T.T. (Org) O sujeito

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 61


FORMAÇÃO DE PROFESSORES: UMA
RELEITURA DO PROCESSO FORMADOR
Zilda Gonçalves de Carvalho Mendonça

1. INTRODUÇÃO

O século XXI, desde o seu início, caracterizou-se como o século


mais documentado, mas também o mais incerto (Imbernón, 2000).
Não é preciso muito esforço para reconhecer os paradoxos que ca-
racterizam a sociedade, a cultura, a economia, a educação, a política
e tantos outros aspectos. Neste contexto, (re)pensar a formação de
professores, inicial ou continuada, para qualquer nível de ensino,
é tarefa que se apresenta como um enorme desafio para qualquer
um. Contudo, é um exercício necessário uma vez que o modelo
vigente, em seus diferentes aspectos, não atende às necessidades
profissionais, pessoais e do mercado de trabalho.

Assim, o estudo se propôs a, mais uma vez, salientar algumas


das dificuldades recorrentes no processo formador de professores
para a educação básica, de modo a contribuir com as discussões
sobre as exigências estabelecidas pelos órgãos governamentais para
as licenciaturas. Algumas questões orientam o trabalho: Por que
as reformas e estudos não resultam em transformações exitosas na
formação de professores para a educação básica? Quais as prin-
cipais dificuldades no processo formador? Tais questões são (re)
visitadas sem intenção conclusiva, preferencialmente salientando
as interfaces que continuam em aberto nesse processo formador.

2. METODOLOGIA

O estudo, ora proposto, privilegiou a modalidade descritiva,


com abordagem qualitativa por meio de pesquisa bibliográfica.
Esta foi realizada conforme orientações de Severino (2016).

3. DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS
Doutora em Educação/UFU. Pro-
fessora titular, aposentada da Facul- A escolarização é uma exigência, cada vez mais acentuada, da
dade de Pedagogia/UNIRV. E-mail: sociedade atual. Em tudo e para tudo se faz necessária a compro-
zildamendonca@hotmail.com vação da escolaridade e os conhecimentos são, o tempo todo, testa-

62 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


que a sociedade e também a escola e os
dos por meio de múltiplos meios. Dessa for-
docentes custamos remover. Continuar
ma, leis e instrumentos governamentais de apegados a essa cultura pragmática mer-
todas as instâncias pretendem democratizar cantilizada e a esse entulho será continuar
o acesso à escola, uma vez que além da classe reduzindo nosso papel docente a transmi-
média e elites, as classes populares engros- tir os conhecimentos científicos e técnicos
sam a demanda pela escola e pela educação. basicamente nas suas dimensões úteis, prá-
ticas, na sua vinculação imediatista com
Para atender a tal demanda, a escola e uma visão estreita do conhecimento e da
os professores necessitam se conscientizar ciência imposta pelo mercado (ARROYO,
que se encontram imersos em uma com- 2000, p. 212).
plexidade que coloca em cheque a profis-
são docente. Com isso passa a exigir que o Diante desta realidade, não é demais
processo formador se modifique e supere as lembrar que:
concepções de ensino e de aprendizagem,
as quais já não se reduzem ao domínio dos A formação de professores em cursos es-
conteúdos das disciplinas (estanques) e de pecíficos é inaugurada no Brasil no final
metodologias de ensino. O professor, agora, do século XIX com as Escolas Normais
deve lidar com o conhecimento em constru- destinadas à formação de docentes para
as “primeiras letras”. Essas escolas corres-
ção, com o imediatismo, com o utilitarismo
pondiam ao nível secundário de então. De-
e com o relativismo.
vemos lembrar que nesse período, e ainda
por décadas, a oferta de escolarização era
Nessa direção, “procurar saber como é bem escassa no país, destinada a bem pou-
que os sujeitos vão se formando professo- cos. Nos inícios do século XX aparece a
res tem sido uma preocupação dos que vêm preocupação com a formação de professo-
pesquisando sobre a formação do educa- res para o secundário (correspondendo aos
dor. No fundo, o que se quer é saber de que atuais anos finais do ensino fundamental
modo o professor vai constituindo-se pro- e ao ensino médio), em cursos regulares e
fissional ao longo de sua vida” (CASTRO e específicos. A formação desse tipo de pro-
fessor inicia-se com a criação de universi-
CARVALHO, 2001, p. 152). E no proces-
dades. Até então esse trabalho era exercido
so de enfrentamento rumo a uma proposta
por profissionais liberais ou autodidatas,
mais adequada para a formação do professor mas há que considerar que o número de
necessário, há que se considerar que escolas secundárias era bem pequeno, bem
como o número de alunos (GATTI e
Cada nova ideologia, nova moda econômi- BARRETO, 2009, p. 37).
ca ou política, pedagógica ou acadêmica,
cada novo governante, gestor ou tecno- E desde então, ao tratar sobre este tema
crata até de agências de financiamento se há que se embrenhar, primeiramente, nas
julgam no direito de nos dizer o que não
questões legais que embasam e orientam
somos e o que devemos ser, de definir nos-
a criação e exercício de cursos formadores.
so perfil, de redefinir nosso papel social,
nossos saberes e competências, redefinir o Contudo, “mover-se em meio à legislação
currículo e a instituição que nos formarão educacional sobre formação de professores,
através de um simples decreto (ARROYO, que comporta idas, voltas, remendos, com-
2000, p. 24). plementos e iniciativas paralelas de poderes
públicos, não é simples” (Id Ibid, p. 53). E
E ainda são encontrados fatores de peso com isso, as instituições, muitas vezes, ficam
nesse processo que contribuem para as coi- perdidas, confusas em meio a tantas exigên-
sas não saírem do lugar. cias e mudanças. Às vezes, sem que ainda
tenham contemplado resultados que adve-
A resistência de alguns e a perplexidade nham em qualquer análise ou reflexão por
de muitos docentes têm como raiz a que- parte dos formadores, formandos e escolas
bra da cultura e do pensamento únicos. É sobre o que foi proposto para estudo e o que
o entulho cultural de tempos autoritários de fato ocorreu.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 63


Mas não é só a questão legal que apresenta superaria essa dicotomia? De que forma o
amarras para a formação docente. Não é re- estágio aproxima o estudante da realidade?
levante, nesse momento, estabelecer ordem Como entender o estágio como pesquisa e
de importância e nem dar conta de todas as como realizá-la no estágio? Que profissio-
questões que se apresentam como lacunas, di- nal se quer formar? Quais os caminhos da
ficuldades, impossibilidades ou qualquer outro profissionalização docente? Para que serve
entrave para essa tarefa. Contudo, para esse o estágio para quem não exerce a profissão?
processo, Gatti (2016) enfatiza: E para quem já é professor? Quais funda-
mentos embasam os estágios nos cursos?
O problema da formação de professores Como ocorre a interação estágio com as ou-
começa na faculdade. Os docentes de pe- tras disciplinas formativas? Como cumprir
dagogia e das licenciaturas – de matemá- a alta carga horária de estágios no formato
tica, língua portuguesa, biologia etc. – não dos cursos oferecidos e para estudantes, pre-
sabem ensinar para quem dará aula. Isso
ferencialmente, noturnos? Como têm sido
porque eles mesmos não aprenderam como
planejados e operacionalizados os estágios?
fazer isso. Para não dizer que a formação
didática não existe, podemos dizer que Quais os espaços de formação dos orienta-
ela é precária. A maioria dos futuros pro- dores de estágios? Como têm sido apresen-
fessores não aprende como lecionar. Não tados os resultados dos estágios?
recebem na faculdade as ferramentas que
possibilitarão que eles planejem da melhor Essas e muitas outras perguntas sobre o
forma possível como ensinar ciências, ma- tema são objetos de estudo por muitos pes-
temática, física, química e mesmo como quisadores. Contudo, a discussão e as pro-
alfabetizar. Muitos de nossos professores postas apresentadas ainda não chegaram a
saem da faculdade sem saber alfabetizar
surtir os efeitos esperados, uma vez que to-
crianças. É um problema grave (GATTI,
dos os envolvidos ainda não mudaram suas
2016, s/p).
concepções e preferem a repetição da cul-
tura enraizada de formação de professores.
E a gravidade deste problema não se en-
cerra só com essa questão da didática e da Outra questão que merece destaque na
ausência de formação docente dos professo- formação de professores é a inserção das
res formadores. Durante os cursos de Peda- mídias e as tecnologias e, através delas, a
gogia e Licenciaturas, dentre outras situa- educação a distância.
ções, há muito o que questionar e resolver
sobre os estágios. As Diretrizes Curriculares A educação a distância cresce, assume pro-
Nacionais para cada curso, instituídas por porções gigantescas, notadamente a oferta
meio das Resoluções CNE/CP nº1/2002 por instituições privadas de ensino, sem
e CNE nº 2/2002, determinam princípios, infraestrutura de apoio adequada. Algu-
mas instituições de ensino superior têm
fundamentos, procedimentos que devem
apostado no sucesso da EaD, defendendo-
ser atendidos pelas instituições que formam
-a como solução para a baixa escolarização
professores para educação básica, ao esta- do povo brasileiro. Há certo ufanismo e
belecerem as matrizes curriculares para os as críticas são contestadas como fruto de
cursos oferecidos pelas mesmas. preconceitos e resistências a mudanças
(GARCIA, 2009, p. 160).
Mas, tais instituições não conseguem
responder a muitas perguntas inerentes à Considerando os pontos que aparecem em
realização dos estágios obrigatórios. Pi- destaque nesta provocação, faz-se relevante
menta e Lima (2012) apresentam vários tomar as mídias e as tecnologias como poten-
questionamentos sobre o estágio, os quais cializadoras temáticas para busca de funda-
merecem destaque: O estágio é a imitação mentação teórica que possa alinhavar práticas
de modelos? A prática se resume à instru- de estudo, pesquisa e ensino, especialmente no
mentalização técnica? O que se entende que tange à formação de professores, através
por teoria e por prática? Como o estágio delas e para uso das mesmas.

64 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


Dentre tantos itens que incomodam Já analfabetismo político diz-se das pes-
quando se trata da formação docente, há soas que não se interessam por política. Não
que se falar dos analfabetismos. Em nosso pesquisam, não estudam, não se informam,
país fala-se de analfabetos políticos, analfa- não participam, se recusam a ver e ouvir
betos funcionais, analfabetos digitais... E se qualquer assunto que envolva o tema. Tais
parar para pensar, há ainda outros analfabe- pessoas se instalam numa zona de conforto
tismos. É fato que as tecnologias fascinam, de tal modo que não evidenciam qualquer
seduzem, hipnotizam seus usuários e os que consciência crítica. O discurso sempre será
contemplam à distância. O risco dessa si- marcado pelas expressões: “detesto política”,
tuação se transformar contexto de alienação “todos políticos são iguais”, “política não se
e fabricação de outras ignorâncias é latente. discute”, “política é coisa para desocupado”.
E nessa teia encontram-se professores, es-
tudantes e toda a sociedade. E o que parece Tais analfabetismos, quando presentes
inovador pode ser a porta para novos anal- nos discursos e práticas dos professores for-
fabetismos. madores de professores, transformam-se em
riscos assustadores de estar preparando ge-
O analfabetismo funcional é definido rações de docentes alienados e conformados.
como:

Analfabetismo funcional é a incapaci- 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS


dade que uma pessoa demonstra ao não
compreender textos simples. Tais pessoas, O estudo se propôs a sublinhar algumas
mesmo capacitadas a decodificar minima- das dificuldades recorrentes no processo
mente as letras, geralmente frases, senten-
formador de professores para a educação
ças, textos curtos e os números, não de-
básica. Para tanto, chamou a atenção para
senvolvem habilidade de interpretação de
textos e de fazer operações matemáticas. a necessidade da escola e dos professores se
Também é definido como analfabeto fun- conscientizarem que se encontram imersos
cional o indivíduo maior de quinze anos em uma complexidade que desafia a profis-
possuidor de escolaridade inferior a quatro são docente. E para tratar sobre o tema, há
anos letivos (WIKIPÉDIA, 2018, grifo no que considerar, primeiramente, as questões
original). legais que embasam e orientam a criação e
exercício de cursos formadores.

Mas a questão legal, sozinha, não represen-


O número de brasileiros que, embora ta todas as impossibilidades e impasses para a
apareçam nas estatísticas dos órgãos oficiais formação docente. Questões como os estágios,
do país como alfabetizados e, na verdade, a relação teoria/prática, a realidade do aluno,
são analfabetos funcionais é demasiado os projetos de formação continuada, professo-
grande. Ainda em busca de dados mais pre- res universitários sem formação para formar
cisos, para o momento é relevante destacar professores, falta de compromisso e preparo
que tais pessoas não são capazes de realizar, para pesquisa, analfabetismos dentre outros.
de forma satisfatória, qualquer função liga- Para cada item apresentado como questão são
da à leitura ou à escrita. Mal conseguem as- encontradas, na vivência no contexto forma-
sinar o próprio nome. Às vezes, é necessário dor para docência, perguntas, dúvidas, inter-
que alguém alfabetizado escreva seu nome pretações distorcidas, professores formadores
para, então, copiá-lo, por exemplo no caso que não sabem formar e mais impossibilida-
das eleições. Ler se aprende lendo. Escrever des ou entraves.
se aprende escrevendo. Quando estas práti-
cas inexistem, o sujeito não forma o hábito.
E sem este, não há alfabetizados, embora
tenham frequentado a escola.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 65


5. REFERÊNCIAS

ANALFABETISMO Funcional. In: Wi- culdades-nao-sabem-formar-professores.


kipédia: a enciclopédia livre. Disponível em: html. Acesso: 15 de março de 2018.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Analfabetis-
mo_funcional. Acesso: 30/3/2018. IMBERNÓN, Francisco (org). A Educa-
ção no Século XXI: os desafios do futuro
ARROYO, Miguel G. Ofício de Mestre: imediato. Porto Alegre: Armed, 2000.
imagens e auto-imagens. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2000. MOURA, Manoel O. de. A Atividade de
ensino como Ação Formadora. In: CAS-
GARCIA, Dirce Maria F. (Org). Formação TRO, Amelia D. de. E CARVALHO,
e Profissão Docente em tempos digitais. Anna Maria P. de. (Org). Ensinar a Ensi-
Campinas, SP: Alínea, 2009. nar: didática para a escola Fundamental e
Média. São Paulo: Pioneira Thomson Lear-
GATTI, Bernadete A. e BARRETO, ning, 2002.
Elba Siqueira de Sá (Coord). Professores
do Brasil: impasses e desafios. Brasília: PIMENTA, Selma Garrido e LIMA, Ma-
UNESCO, 2009. ria Socorro L. Estágio e Docência. São
Paulo: Cortez, 2012.
GATTI, Bernadete A. Nossas Faculdades
não sabem formar professores. Disponível SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodo-
em: https://epoca.globo.com/educacao/no- logia do Trabalho Científico. São Paulo:
ticia/2016/11/bernardete-gatti-nossas-fa- Cortez, 2016.

66 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


Eixo III
Práticas Pedagógicas
e Metodologias de Ensino

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 67


BIOQUÍMICA NO ENSINO MÉDIO:
CONTRIBUIÇÕES DE UM JOGO DIDÁTICO
SOBRE CARBOIDRATOS E LIPÍDIOS
OLIVEIRA, Adrielly Aparecida de1; SANTOS, Paulo César dos2; RAMOS, Tiago Clarimundo3

1. INTRODUÇÃO

Apesar das discussões sobre Bioquímica [um campo interdis-


ciplinar que envolve a Química e a Biologia] ocorrerem superfi-
cialmente no ensino médio, conceitos como carboidratos e lipídios
têm sido abordados com estudantes da terceira série. Porém, se-
gundo Correia (2003), os estudantes têm apresentado dificuldade
na aprendizagem desses conteúdos.

Outrossim, persiste na educação básica a falta de interesse dos


alunos, mormente pelo estudo de assuntos de cunho científico. Pa-
ralelamente, as atividades desenvolvidas pelos professores parecem
não engajar os estudantes com o processo de ensino e aprendiza-
gem. Segundo Rodrigues (2013), a mera exposição de teoria segui-
da da resolução de exercícios, metodologia comumente empregada
nas escolas, não tem estimulado o aluno a aprender.

Para Menegolla e Sant’Ana (2011), as práticas didático-pe-


dagógicas são um conjunto de procedimentos, com o intuito de
promover o ensino e a aprendizagem de determinado assunto [ou
tema] pelos discentes. É nessa perspectiva que são sugeridos os
jogos didáticos, de modo a associar diversão à educação na cons-
trução do conhecimento (KISHIMOTO, 1996; SOARES, CA-
VALHEIRO, 2006).
1 Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia Goiano –
Campus Rio Verde. E-mail do Com base nessas considerações, o presente estudo consiste em
aluno: adrielly-aparecida2010@ avaliar contribuições de um jogo didático sobre Bioquímica para
hotmail.com o ensino e aprendizagem de conteúdos de carboidratos e lipídios
com estudantes do ensino médio.
2 Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia Goiano –
Campus Rio Verde. E-mail do
aluno: paulocesar2010rv@hot- 2. METODOLOGIA
mail.com
Toda investigação foi realizada em uma escola estadual de Rio
3 Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia Goiano – Verde-GO, com estudantes de duas turmas da terceira série do
Campus Rio Verde. E-mail do alu- ensino médio. Primeiramente, os bolsistas de iniciação à docência,
no: tiago.ramos@ifgoiano.edu.br em colaboração com a professora supervisora do Programa Insti-

68 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


tucional de Bolsa de Iniciação à Docência
(Pibid), abordaram com os discentes concei-
tos básicos de Bioquímica, com ênfase nos
conteúdos de carboidratos e lipídios. Várias
informações relativas ao desenvolvimento
das tarefas no jogo foram previamente re-
passadas aos participantes da pesquisa. Na
sequência, realizou-se o jogo.

2.1. MATERIAIS
Figura 1 – Estrutura do tabuleiro e as cartas do jogo
• Canetinhas, nas cores azul,
preto e rosa; (IV) Ganha a rodada o participante que
• Cartolina; chegar primeiro na linha de chegada.
• Dado;
(V) Ganha o jogo o grupo que mais par-
• Lápis de cor, nas cores amarelo, azul, ticipantes vencerem a rodada.
marrom, rosa escuro, rosa claro, verde
escuro, verde claro;
• Quatro peões, do jogo ‘banco imobiliá- 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
rio’ para marcar as casas;
• Régua; Na efetiva aplicação da proposta, três
alunos auxiliaram ao longo do jogo; sendo
• Tesoura. que um ficou responsável por escrever os
nomes dos participantes no quadro, outro
por ler as cartas-perguntas e outro por ler as
cartas-curiosidades.
2.2. REGRAS DO JOGO
Os estudantes se dividiram em quatro
Na proposta didático-pedagógica (Figu- grupos, de acordo com suas afinidades. Cada
ra 1), foram definidas as seguintes regras: grupo escolheu um representante para jogar
a primeira rodada, com intuito de que todos
(I) As casas rosas escuras remetem às car- jogassem uma rodada. Entretanto, em razão
tas-perguntas. Sempre que o peão cair em da disponibilidade de tempo de apenas uma
uma dessas cartas, um aluno [responsável pela aula, foram realizadas apenas duas rodadas.
leitura das cartas-perguntas] faz a pergunta A ordem de cada jogador foi definida por
relacionada à Bioquímica para um jogador sorteio. Os dados referentes à ordem, nome
responder. Quem responde pode receber aju- e pontos de cada grupo foram todos anota-
da dos participantes de seu grupo. Se o grupo dos no quadro.
acertar a pergunta, permanece no lugar. Caso
contrário terá de voltar uma casa. Ao abordar os conceitos básicos de
Bioquímica, antes do jogo, havia certo de-
(II) As casas azuis remetem às cartas- sinteresse por parte dos discentes. Poucos
-curiosidades. Essas cartas apresentam fatos alunos fizeram anotações concernentes ao
interessantes sobre o tema, com finalidade conteúdo explanado pelos bolsistas Pibid.
de despertar o interesse de todos os alunos. De igual modo, poucos discentes demons-
traram algum conhecimento prévio sobre o
(III) As casas rosas claras, amarelas, ver- tema. Antes da aplicação do jogo didático,
des escuras e marrons são algumas ‘pegadi- embora os discentes tenham demonstrado
nhas’ que visam realçar o aspecto divertido certa compreensão de que os carboidratos
do jogo. são fontes de energia para o ser humano;

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 69


não manifestaram nenhum conhecimento não há pretensão alguma, neste trabalho, de
sobre os lipídios. defender o jogo didático como substituto de
outras metodologias. À guisa de conclusão,
No início da prática, alguns alunos se re- reitera-se que, de acordo com os resultados
cusaram a envolver, mas após o início do jogo, alcançados com a proposta, o jogo didático
todos acabaram participando. Durante o jogo, pode ser um importante recurso para o estu-
conforme os representantes de cada grupo di- do de Bioquímica no ensino médio.
recionavam as perguntas que lhes tinham sido
feita a outros do grupo, pouco a pouco todos
foram se posicionando em volta do tabuleiro. 5. REFERÊNCIAS
Cada carta-curiosidade que era lida desperta-
va o interesse de todos. Como todos os alu- CORREIA, P. R. M. A. Bioquímica como
nos se mantiveram concentrados, não houve Ferramenta Interdisciplinar: Vencendo o
dispersão no jogo. Os alunos se envolveram Desafio da Integração de Conteúdos no
bastante com o jogo, inclusive com solicitude Ensino Médio. Química Nova na Escola,
em responder às perguntas sobre o tema car- v. 19, p. 19-23, 2004.
boidratos e lipídios.
KISHIMOTO, T. M. Jogo, Brinquedo,
Brincadeira e a Educação. São Paulo: Cor-
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS tez, 1996.

O aspecto lúdico presente no jogo foi MENEGOLLA, M.; SANT’ANNA, I. M.


importante, em um primeiro momento, para Didática: aprender a ensinar. São Paulo:
suscitar a curiosidade e adesão por parte dos Loyola, 2011.
estudantes. De outro lado, constatou-se que,
para além de despertar o interesse dos es- RODRIGUES, R. Z. Jogos no Processo
tudantes da terceira série do ensino médio, de Ensino de Ligações Químicas para a
o referido jogo permitiu engajá-los com as Educação de Jovens e Adultos. 2013. 37 f.
perguntas e elaboração de respostas que, so- Trabalho de conclusão (Graduação) – Fa-
bretudo potencializaram o desenvolvimento culdade de Química, UFRGS, Porto Alegre.
do raciocínio e a aprendizagem.
SOARES, M. H. F. B.; CAVALHEIRO, E.
Em síntese, o jogo repercutiu em pra- T. G. O Ludo como um Jogo Para Discu-
zerosa mobilização por parte dos partici- tir Conceitos em Termoquímica. Química
pantes no sentido de querer aprender mais Nova na Escola, v. 23, p. 27-31, 2006.
sobre Bioquímica. Adverte-se, porém, que

70 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


PRÁTICAS EXTENSIONISTAS:
PROJETO POESIA HOJE
SILVA, Dione; LEMES, Jenifer, ANDRADE, Mateus

1. INTRODUÇÃO

A arte é sem dúvida a forma mais criativa e divertida de se


expressar, porém muitas pessoas não têm acesso a ela. O projeto
de extensão “Poesia Hoje” foi desenvolvido no Instituto Federal
Goiano - Campus Ceres, com intuito geral de disseminar cultura
literária, oportunizar aos participantes do projeto e comunidade
externa contato com diferentes poetas e despertar o lado artístico
e criativo não só dos alunos envolvidos no projeto, mas também
de todos que tiverem contato com as práticas, além, é claro, de
ampliar as relações sociais entre alunos, servidores, discentes e co-
munidade externa do município.

Outro ponto importante trabalhado neste projeto é o enri-


quecimento cultural de jovens e adultos, colocando-os em con-
tato com diferentes poetas, trabalhando as formas de expressões,
vocabulário, e controle emocional, expressos por meio da arte, no
caso em questão, a recitação. Muito mais que trabalhar o que é arte
e poesia, possibilitamos e levamos até as pessoas cultura poética,
incentivando-as a exercer e usufruir da diversificação artística de
cada sujeito, bem como refletir sobre as questões identitárias e dis-
cursivas. Este projeto se identifica com a proposta das Instituições
de Ensino Públicas Federais no que diz respeito à indissociabilida-
de entre ensino, pesquisa e extensão e à produção de conhecimen-
tos inter e transdisciplinares em prol da melhoria das condições
Instituto Federal de Educação, de vida das comunidades interna e externa. Também se identifica
Ciência e Tecnologia Goiano – com a proposta do Plano Nacional de Extensão e com os novos
Campus Ceres. E-mail do autor: referenciais para a formação de professores da Educação Básica
dione.silva@ifgoiano.edu.br instituídos nas Resoluções CNE/CP1/2002 e CNE/CP2/2002
Instituto Federal de Educação,
pelo Conselho Nacional de Educação (CNE).
Ciência e Tecnologia Goiano –
Campus Ceres. E-mail do autor: O presente trabalho tem como objetivo mostrar as experiên-
jenifertaina.if@gmail.com cias bem-sucedidas do projeto de extensão “ Poesia Hoje”. Para
tanto, na metodologia apresentaremos os métodos emprega-
Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia Goiano – dos para realizar tal experiência, incluindo descrição do contexto
Campus Ceres. E-mail do autor: e dos procedimentos. No desenvolvimento deste trabalho iremos
animegomes19@hotmail.com expor a importância do ensino da Literatura, bem como da poesia

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 71


e apresentaremos os resultados parciais do 3. DESENVOLVIMENTO
projeto. Por fim, iremos expor os comentá-
rios dos alunos que participaram do projeto
nas considerações finais. 3.1 LITERATURA E POESIA

Quanto ao ensino de literatura , acredi-


2. METODOLOGIA ta-se que ele é uma das formas mais férteis
de favorecer pontes interculturais e, assim,
A primeira instância do projeto de exten- convocar algo da subjetividade dos envol-
são “Poesia Hoje” foi criada e desenvolvida vidos no processo de ensino-aprendizagem
por professores e alunos1 da instituição, estes de língua materna e estrangeira. Muitos es-
foram convidados por seu idealizador2. O pri- pecialistas, dentre eles, Zarate (1986) e De
meiro passo dado foi a criação de um canal Carlo (1998) têm destacado a importância
no Youtube,3 intitulado “Poesia Hoje”, no qual de se promover diálogos interculturais entre
poemas foram escolhidos e recitados, em uma aprendizes da língua. De acordo com esses
sala de vídeo, disponibilizada pelo Instituto autores, seria uma forma de se evitar a xe-
Federal Goiano - Campus Ceres. Depois da nofobia e promover a colaboração entre os
gravação dos vídeos e sua edição, feita pela alunos. O estudo da literatura perpassa pela
comissão destinada a este trabalho, eles foram cultura, fortalecendo os laços de conheci-
postados. Facebook e Instagram foram utili- mento intercultural e o respeito ao outro.
zados como ferramentas de divulgação, pá- Dessa forma, é relevante trabalhar a litera-
ginas foram criadas nessas redes sociais para tura, já que é parte essencial do universo cul-
ampliar o contato com o público. Utilizamos tural no qual se insere determinada língua.
de uma filosofia integrativa, na qual qualquer
indivíduo ou grupo interessado pode partici- De acordo com o poeta João Cabral de
par, o projeto está aberto para qualquer um Melo Neto (2016):
que tenha interesse, podendo este recitar um
poema e/ou poesia para o canal. Poesia não serve para rimar palavras ou
burilar frases de efeito. Ela relativiza as
Existe comissões4 responsáveis e desig- defesas que criamos para nos aprisionar;
nadas para realizarem atividades específicas, remove as máscaras com que tentamos nos
esconder ou nos engrandecer. Desmistifica
isso facilita o desenvolvimento e agiliza o
toda fantasia que não exista para celebrar,
processo. Cada umas das designações tra-
mas para enganar os outros e a nós mes-
balham aspectos diferentes, mas que estão mos. O exercício da poesia revela a inuti-
ligados entre si. As decisões tomadas, quan- lidade de nossos álibis. É o par de asas a
do necessárias, são discutidas entre todos os nosso alcance.
participantes fixos, estes discutem e entram
em consenso, é preciso que todos os mem-
bros estejam cientes e de acordo sobre qual- Portanto, ela é uma maneira lúdica de
quer mudança desejada ou feita no projeto, disseminar a cultura, permite que proble-
para que esta possa acontecer. mas da sociedade sejam discutidos de for-
ma mais pacífica e respeitosa, colaborando
também para melhor inserção de um indiví-
1  Alunos do ensino médio integrado ao Curso duo no meio social, melhorando sua relação
Técnico de Informática. com a literatura, compreensão de texto e do
2  Prof. Dione Uester Costa Silva do Instituto mundo a sua volta.
Federal Goiano- Campus Ceres.

3  Link do canal: https://www.youtube.com/ 3.2 RESULTADOS


channel/UCSpp7hySOT42EPcncPlFwkg

4  Foram criadas quatro comissões, a saber: edi- Após gravados os vídeos, postamos no
ção, divulgação, gravação, poesia e eventos. canal, em um espaço de tempo relativamen-

72 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


te curto atingimos um bom número de ins- “O trabalho me aproximou da poesia,
critos, e um ótimo número de visualizações, antes tinha um olhar desatencioso sobre ela.
os alunos envolvidos no projeto estão cada Para mim, foi incrível gravar os vídeos, es-
vez mais empolgados com os incríveis resul- tar com meus amigos, e o melhor de tudo,
tados, que a cada dia só traz mais felicitação receber elogios pela recitação, essa é minha
ao grupo. parte preferida, pois melhor do que realizar
o trabalho, e ver os resultados positivos e
O trabalho foi bem elogiado, e diversas saber que ele está sendo valorizado, isso é
pessoas procuraram o grupo para participar. fascinante” -JENIFER.
Houve um contato diferente e uma forma
descontraída de trabalhar a arte, o olhar crí- Diante disso, concluímos que o trabalho
tico é desafiado e a interação em tempo real, tem grande relevância não só para os que
entre pessoas com pensamentos e ponto de estão em contato direto com ele, mas tam-
vista tão diversos foi uma forma incrível de bém para aqueles que o acompanha por trás
trabalhar as relações sociais. do holofotes, pois, como já foi dito, ele pro-
move a integração no meio social e artístico,
A interação entre as diferentes classes permitindo um maior conhecimento sobre a
foi essencial para a aprendizagem e apro- cultura e a própria poesia.
ximação de ambas, todos os preconceitos
ou problemas foram deixados de lado, e a
visão social de todos os membros também 5. REFERÊNCIAS
foi trabalhada a partir do momento que o
trabalho em grupo foi iniciado. DE CARLO, M. L’interculturel. Paris: Clé
International, 1998.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ZARATE, G. Enseigner une culture


étrangère. Paris: Hachette, 1986.
Tendo em vista que os objetivos do
projeto foram: disseminar cultura literária,
oportunizar aos participantes do projeto e
comunidade externa contato com diferentes
poetas, despertar o lado artístico e criativo
não só dos alunos envolvidos no projeto e
melhorar a leitura e interpretação, acredita-
mos que esses objetivos foram alcançados,
conforme podemos ver por meio dos co-
mentários dos alunos a seguir:

“Está sendo maravilindo, até gosto mais


de poesia depois que entrei no projeto, co-
nheço mais autores.” - SARAH

“Sempre gostei de mexer com edição,


mas nunca tinha pegado pra fazer algo sé-
rio. Estou gostando, percebi que é algo que
eu realmente gosto de fazer e também estou
aprendendo coisas novas. Não só isso mas
também estou gostando ainda mais de poe-
sias e tendo um contando ainda maior com
a arte e à literatura. Sinto que cresci como
pessoa mesmo tendo pouco tempo que co-
meçamos.” - MATEUS

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 73


JUVENTUDE E ESCOLA NO MUNICÍPIO
DE CAMPO ALEGRE DE GOIÁS
MARCELINO, Divina Aparecida Correia da Silva; ALVES, Maria Zenaide

RESUMO: Este trabalho apresenta os resultados de uma pes-


quisa sobre os motivos que levam à evasão escolar de jovens estu-
dantes do ensino médio do único colégio estadual do município
rural de Campo Alegre de Goiás-GO. Utiliza-se da pesquisa qua-
litativa, tendo a coleta de dados por meio de observações, diário de
campo, aplicação de um pequeno questionário e entrevistas com
jovens matriculados nos anos de 2015 e 2017, na 1ª e 3ª série do
ensino médio, respectivamente, e que não estavam frequentando a
escola no momento da realização da pesquisa. As entrevistas foram
gravadas mediante autorização dos sujeitos e, posteriormente, fo-
ram transcritas para a realização das análises que serviram de apoio
para a apresentação dos dados de maior relevância. Observou-se
que há vários fatores empíricos, internos e externos à escola, que
levam o aluno a evadir-se da escola, entre os quais cita-se a violên-
cia doméstica, falta de condição financeira da família, baixa esco-
laridade dos pais, gravidez na adolescência e falta de oferta do en-
sino médio no turno noturno pela unidade escolar. Os resultados
mostram que, para enfrentar os fatores internos da evasão, a escola
precisa desenvolver ações para tornar-se mais atrativa, buscando,
por meio do diálogo, conhecer os alunos que adentram aos seus
portões, bem como dar voz a eles, a fim de expressarem os anseios
que envolvem a fase da juventude.

PALAVRAS-CHAVE: Juventude. Evasão escolar. Ensino Médio.

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho é parte da pesquisa “Estado atual, políticas


e formação de professores do ensino médio: em foco as escolas in-
terioranas do estado de Goiás” e traz uma abordagem sobre jovens
estudantes do ensino médio do município de Campo Alegre de
Goiás – GO. A cidade fica localizada na região sudeste de Goiás,
às margens da BR-050, distante de Catalão a 75km, no sentido
Universidade Federal de Goiás –
Regional Catalão. E-mail do autor Brasília - DF. De acordo com os dados do censo do IBGE- 2010,
e co-autor: divinamarcelino@hot- o município apresenta nível de escolaridade abaixo da média do
mail.com; zenpiaui@yahoo.com.br Estado. Do total de 489 jovens com faixa etária entre 15 e 19 anos

74 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


residentes no munícipio, apenas 201 (41%), 2. METODOLOGIA
encontravam-se matriculados no Ensino
Médio, enquanto que no estado de Goiás o Trata-se de um estudo exploratório e a
número de matriculados nessa faixa etária abordagem qualitativa foi utilizada como
chega a 48% 1. Isso talvez seja porque mui- base metodológica na realização deste tra-
tos jovens que ingressam no ensino médio balho, por ser uma abordagem que permite
acabam abandonando os estudos com a jus- ao pesquisador recolher dados de forma des-
tificativa de ingresso no mercado de traba- critiva através do contato direto com o am-
lho, até porque o município oferece poucas biente e os sujeitos da pesquisa. De acordo
oportunidades de trabalho que exijam nível com Bogdan e Biklen (1994), esse tipo de
médio ou superior de escolaridade. pesquisa começou a ser praticada mais efeti-
vamente a partir dos anos setenta, quando as
Este trabalho insere-se no campo dos agências federais de financiamentos em pes-
estudos da juventude que compreende, no quisa manifestaram interesse por propostas
Brasil, a parcela da população brasileira com que tinham a abordagem qualitativa como
idade de 15 aos 29 anos, conforme o Esta- caráter avaliativo. Até então, predominavam
tuto da Juventude (Lei 12.582/13). Os su- as abordagens quantitativas considerando
jeitos na idade de 15 e 18 anos são definidos que essa perspectiva de pesquisa permite ex-
pela Lei 8.069/90 (Estatuto da Criança e do plorar muito mais: “a abordagem da inves-
Adolescente-ECA) como adolescentes. No tigação qualitativa exige que o mundo seja
período da juventude está inserida a adoles- examinado com a ideia de que nada é tri-
cência, que é considerada uma fase interme- vial, que tudo tem potencial para constituir
diária de rápido desenvolvimento físico e uma pista que nos permita estabelecer uma
mental, é potencialmente um momento da compreensão mais esclarecedora do nosso
vida em que os jovens passam por muitas objeto de estudo” (BOGDAN e BIKLEN,
transformações e desafios. 1994, p.49).

Partindo de alguns questionamentos so- A coleta de dados foi feita a partir do le-
bre a escolarização de jovens moradores de vantamento junto à secretaria da Unidade
municípios rurais, como Campo Alegre de Escolar, a fim de identificar quem eram os
Goiás, busquei nesse Trabalho de Conclusão alunos(as) da 1ª a 3ª séries do Ensino Mé-
de Curso possíveis respostas para perguntas dio, que evadiram-se da escola nos anos de
como: de onde vem esses jovens? Por que 2015 a 2017, a partir daí, buscamos locali-
escolheram viver aqui? O que fazem? Quais zá-los para em seguida estabelecer a entre-
as dificuldades que enfrentam para frequen- vista. Tal instrumento foi necessário para o
tar a escola? Qual a importância da escola levantamento de questionamentos que nos
para seu futuro como profissional? Assim, levaram a conhecer o contexto no qual esses
meu objetivo com este trabalho é apresentar jovens se encontram atualmente, buscando
alguns elementos que caracterizam e expli- descobrir os motivos que os levaram a se
cam o processo de escolarização dos jovens afastarem da escola na última etapa da edu-
nesse município, apontando alguns fatores cação básica.
que contribuem para a evasão escolar.
O diário de campo também foi utilizado
para anotações de observações feitas durante
o desenvolvimento da pesquisa, no sentido de
enriquecer as informações que foram descritas
neste trabalho. As entrevistas foram utilizadas
por se considerar um dos instrumentos bási-
1 http://ibge.gov.br/cidadesat/painel/populacao.
cos para a captação de dados, conforme sa-
php?lang=&codmun=520480&search=goias|-
campo-alegre-de-goias|infograficos:-evolucao- lientam Ludke e André (2013, p. 38): “Esta é,
-populacional-e-piramide-etaria – Acessado em alias, uma das principais técnicas de trabalho
10 de junho de 2017 em quase todos os tipos de pesquisa utilizada

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 75


nas ciências sociais”. Também foram obser- sala de diretoria, secretaria, laboratório de
vadas as questões de ética para que houvesse informática (desativado por falta de dina-
respeito e harmonia entre pesquisador e en- mizador e manutenção das máquinas), um
trevistado e assim as informações fluíssem de biblioteca com razoável acervo bibliográfico
maneira natural e verdadeira. (porém, sem bibliotecário); possui também
uma sala equipada para atendimento edu-
Identificados os sujeitos, procedemos cacional especializado, sala dos professores,
com a realização das entrevistas, seguidas ampla cozinha, banheiros masculino e femi-
da transcrição e análise do conteúdo. A nino, um banheiro acessível com chuveiro
amostra foi composta por apenas duas alu- para os alunos da inclusão. Todo o prédio
nas. Isso porque, inicialmente, a proposta escolar encontra-se em reforma, inclusive
era que se entrevistasse três alunos que se a quadra de esportes está sendo coberta e
matricularam na 1ª série do Ensino Médio recebendo um novo piso. Há uma horta es-
no ano de 2015 e evadiram-se no decorrer colar mantida em parceria com a Agrofava
dos três últimos anos, da seguinte forma: (empresa agrícola da região), por meio de
um aluno da 1ª série/2015, um aluno da 2ª um projeto social que tem sido de grande
série/2016 e um aluno da 3ª série/2017. O relevância para o fornecimento de verduras
primeiro passo foi procurar a secretaria da e legumes que tornam a alimentação dos
escola pesquisada e fazer o levantamento de alunos mais saudável. O pátio externo pos-
todos os alunos evadidos nos anos citados. sui árvores frutíferas e é acessível aos alu-
Em seguida, procedeu-se à seleção e análi- nos. Atualmente, são 39 funcionários entre
se desses alunos para saber qual deles ainda efetivos e contratados, para atender aos 598
residiam no município e localizá-los para alunos matriculados no ano de 2017. O co-
falar sobre esse trabalho, se estavam dispos- légio dispõe de recursos como: data show,
tos a nos conceder a entrevista. Dentre os aparelho de som, home theater, copiadora e
jovens contatados, se dispuseram a colabo- impressora. O acesso à internet é exclusivo
rar uma aluna da 1ª série, um aluno da 2ª para uso da secretaria.
série (o único aluno evadido da 2ª/2016 que
ainda residia no município) e uma aluna da O Colégio Estadual Major Emídio
3ª série/2017. As entrevistas com esses alu- funciona nos turnos matutino e vesperti-
nos foram agendadas com antecedência nos no, sendo a única escola estadual que ofe-
horários e locais escolhidos por eles, porém rece o Ensino Fundamental – Anos finais
não foi possível realizar a entrevista com o e o Ensino Médio regular. No município
aluno da 2ª série, uma vez que o mesmo não há mais três escolas municipais que ofere-
compareceu no dia e horário marcado. Pro- cem a Educação Infantil e o Ensino Fun-
curou-se estabelecer diálogo com ele, a fim damental – Anos iniciais, dentre essas uma
de remarcar a entrevista, mas não se obteve oferece o Ensino Fundamental e Médio na
sem sucesso. Logo após, soube-se que esse modalidade EJA – no turno noturno, em
aluno voltou para Minas Gerais, onde reside parceria com o SESI de Catalão, oportuni-
sua família. Com as outras duas alunas, tudo zando a educação para aqueles que não ti-
transcorreu normalmente, as entrevistas veram acesso à escola na idade oportuna e
foram realizadas nos dias, locais e horários que necessitam de trabalhar durante o dia.
agendados. Há também um CEMEI – Centro Muni-
cipal de Educação Infantil e uma escola do
campo que oferece a Educação Infantil e
3. DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS o Ensino Fundamental – Anos iniciais em
salas multisseriadas. Na cidade há também
A pesquisa foi realizada no Colégio Es- o CEMEPE – Centro Municipal de Even-
tadual Major Emídio – CEME, que está tos e Programas Educacionais, que oferece,
situado no centro da cidade de Campo Ale- à população em geral, cursos de artesanato,
gre de Goiás. Possui uma boa infraestrutura, pintura, música, dança, capoeira e natação.
com 11 salas de aula, uma sala de reuniões,

76 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


poucos materiais, não dava pra comprar
A cidade de Campo Alegre de Goiás,
tudo, tinha que ficar dividindo o caderno
por ser muito pequena, não possui infraes- em duas matérias. Era muito complicado
trutura capaz de oferecer trabalho para toda (Maria Clara, 20 anos).
a população. Para a maioria dos habitantes,
a principal fonte de renda vem dos trabalhos
no campo em períodos de plantio e safra. Nesse sentido, observa-se que para as
Nesses intervalos, boa parte da população famílias pobres manterem seus filhos na es-
tem a necessidade de buscar outras formas cola, ainda que sendo jovens, é um desafio
de trabalho para garantir o seu sustento. As- muito grande. Costa (2007, p.25) pontua o
sim, muitos jovens, acabam abandonando seguinte: “É verdade que a evasão escolar
os estudos para trabalhar e ajudar a com- está diretamente ligada a múltiplos fatores
plementar a renda da família. Isso ficou evi- como a pobreza, pouca escolaridade da fa-
dente na entrevista com uma das alunas: mília, falta de oportunidade ou pouco estí-
mulo na valorização da vida escolar do sujei-
aí eu já estava trabalhando de carteira as- to na idade regular ou não.” Isso se verifica
sinada, estava assim nossa vida estava me- também com uma das jovens pesquisadas.
lhorando, eu comecei a ajudar meu marido
nós não estava passando muita dificuldade Durante a entrevista, a ex-aluna falou
assim... [...] eu deixei a escola porque eu
um pouco das condições que viveram assim
não tive assim... ou era eu largar meu servi-
que chegaram na cidade de Campo Alegre.
ço e continuar estudando e tendo a minha
vida assim né, só com o básico (Thalia, 18 Por não possuírem família residindo no lo-
anos). cal e não terem condições financeiras para
alugar um imóvel, passaram a morar num
barraco de lona, em condições precárias.
Essa realidade de Campo Alegre tam-
bém acontece em outras cidades brasilei- Então, a gente veio para Campo Alegre
ras. A evasão escolar no Brasil dos jovens em 2009, e o meu pai sempre fez serviços
por necessidade de trabalho, segundo Néri gerais assim... bico quando aparecia, aí a
(2009), corresponde à média de 21,7%. Isso gente morou por um tempo num barra-
quinho de lona no bairro Céu Azul, depois
evidencia, também, a dificuldade financeira
disso a gente ganhou uma casa da prefeitu-
enfrentada pelos jovens pobres.
ra, e... aconteceu muitas coisas né? (Thalia,
18 anos).
Durante a pesquisa, houve relatos de
evasão devido às condições financeiras da
família e dificuldades em manter as neces- Apesar de viver nessas condições, ele
sidades básicas para permanência do aluno permaneceu na escola enfrentando os desa-
na escola. Nesse sentido, observa-se a falta fios da exclusão social desse sistema capita-
de implementação de políticas públicas que lista que se instaurou em nosso país. Nesse
garantam os direitos dos alunos, previstos contexto, foi possível observar também que
na Lei de Diretrizes e Bases da Educação as condições financeiras e de acesso à esco-
(LDB 9.394/96). Art. 3º, item I – “igualda- la se configuraram como fator de impedi-
de de condições para o acesso e permanência mento para a inclusão desses indivíduos na
na escola”. Percebe-se que esse direito está educação básica. Ainda hoje, observa-se que
longe de ser assegurado, frente a declaração os jovens de baixa renda enfrentam muitos
dessa aluna que evadiu-se da escola por não desafios para concluir os estudos básicos.
ter condições financeiras para a aquisição Em seus estudos sobre “quem é este alu-
dos materiais básicos: no que chega à escola”, Dayrell e Carrano
(2014, p.111) afirmam que “a juventude é
...mais tive dificuldade financeira, tinha uma construção histórica”, levando em con-
vez que não tinha dinheiro pra comprar sideração as representações e os sentidos
um lápis, aí eu tinha que pedir empresta- que lhes são atribuídos nessa fase da vida,
do pros colegas, tinha ano que comprava portanto, tudo o que o jovem vivencia du-

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 77


rante o seu processo de formação, seja no BRASIL. Lei Federal nº 8.069 de 13 de ju-
meio familiar, na escola ou na sociedade, lho de 1990. Estatuto da Criança e do Ado-
ele tende a reproduzir. Se os progenitores, lescente. Diário Oficial da União 1990.
por algum motivo não puderam estudar e
conseguem sobreviver sem a educação for- BRASIL. Lei Federal nº 12.582 de 05 de
mal, porque eles também não conseguiriam? agosto de 2013. Estatuto da Juventude.
Para muitos jovens que deixam de frequen- Diário Oficial da União 2013.
tar a escola, a educação básica que se adquire
dentro dos muros da instituição escolar, não COSTA, R. C. L. Proeja - um estudo ex-
tem tanta importância para sua constituição ploratório sobre os fatores da evasão escolar
enquanto ser humano e cidadão de direitos. causados pelo afastamento. 2007, CEFET-
-MG. Trabalho de Conclusão de Curso de
Pós-Graduação.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
DAYRELL, Juarez; CARRANO, Paulo.
Apesar desta pesquisa ter sido realizada Juventude e Ensino Médio: quem é este
em uma única escola, foi possível observar aluno que chega à escola. In: DAYRELL,
na bibliografia consultada que a evasão es- Juarez; CARRANO, Paulo; MAIA, Carla
colar é um problema educacional de grandes Linhares (Org.). Juventude e Ensino Médio:
proporções no cenário nacional. Percebe-se sujeitos e currículos em diálogo. Belo Hori-
que em todos os lugares há uma preocupa- zonte: Editora UFMG, 2014. P. 101-133
ção com relação ao que se deverá fazer para
diminuir esses índices de evasão e desistên- LUDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pes-
cia dos jovens. A pesquisa apontou para a quisa em Educação, abordagens qualitativas
necessidade de ações pedagógicas pensadas [2 ed.]. Rio de janeiro, E.P.U., 2013.
em diálogo com os jovens para que a escola
se torne mais atrativa, investindo em recur- NÉRI, M. C. Fundação Getúlio Vargas.
sos pedagógicos, audiovisuais e de pesquisa, Motivos da Evasão Escolar. Rio de Janeiro,
bem como na formação continuada dos pro- 2009.
fessores, para que tenham condições de tra-
balharem de forma contextualizada, aliando
o conhecimento científico com o cotidiano
do aluno; além de políticas públicas que ga-
rantam o acesso e a permanência de forma
efetiva desses jovens na escola até a conclu-
são da educação básica, preparando-os para
atuarem de forma responsável na tomada de
decisões na sociedade.

5. REFERÊNCIAS

BOGDAN, R., BIKLEN, S. K. Investi-


gacão qualitativa em educação. Tradução
Maria J. Alvarez, Sara Bahia dos Santos e
Telmo M. Baptista. Porto, Portugal: Porto
Editora, LDA, 1994.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Edu-


cação Nacional - Lei 9394 de 1996. Brasília,
1996.

78 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


PERCEPÇÃO DOCENTE SOBRE O ENSINO DA
DISCIPLINA DE METODOLOGIA DA PESQUISA NOS
CURSOS DE GRADUAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO
DO INSTITUTO FEDERAL GOIANO
GUERRA, Genaina Fernandes1; NOLL, Matias2

1. INTRODUÇÃO

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei


Federal nº 9394/96, no seu Artigo 43, Inciso III, do Capítulo IV,
estabelece que a educação superior tem como uma das finalidades:
“incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando
o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão
da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem
e do meio em que vive” (BRASIL, 2005). Ao incentivar a pesqui-
sa e a investigação científica, tal lei constitui amparo legal para
que a Metodologia da Pesquisa seja disciplina presente na maioria
dos projetos pedagógicos de cursos de graduação e pós-graduação
(LARANJEIRAS et. al., 2011).

A Metodologia da Pesquisa é uma disciplina fundamental no


desenvolvimento de produções científicas pelos estudantes que
precisam desenvolver trabalhos científicos nos cursos de gradua-
ção (MAIA, 2008). Para Gil (2002), a produção científica ocorre
através dos conhecimentos disponíveis e da utilização criteriosa de
métodos, técnicas e demais procedimentos científicos.

No entanto, Paim et. al (2010) relatam que a produção cien-


tífica ainda se limita, em grande parte, à elaboração de trabalhos
pelos docentes e discentes dos cursos de mestrado e doutorado.
Apesar da disciplina de Metodologia da Pesquisa ter por finalida-
Mestranda do Programa de Pós- de incentivar a pesquisa e a produção acadêmica, observa-se um
-Graduação stricto sensu em Edu- distanciamento do estudante para desenvolver tais atividades no
cação Profissional e Tecnológica; ensino superior (ARAÚJO et. al, 2015). Para as autoras, isso ocor-
2. Prof. Dr. do Programa de Pós re, em parte, devido à forma como os conteúdos são transmitidos
– Graduação Stricto sensu em e também pela falta de afinidade dos estudantes com a disciplina.
Educação Profissional e Tecnoló-
gica. Instituto Federal de Educa-
ção, Ciência e Tecnologia Goiano A falta de empatia dos estudantes com a Metodologia da Pes-
– Campus Morrinhos. E-mail do quisa requer dos professores meios para reverter a visão negativa
autor: genainaguerra1@gmail.com dos discentes e ressignificar o sentido dos conteúdos (LARAN-

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 79


JEIRAS et al., 2011). O professor univer- Para Nunes (2001), compreender a prática
sitário precisa rever sua prática no sentido docente a partir da ótica dos sujeitos envol-
de aproximar o conteúdo da realidade e vidos contribui para a ampliação e discus-
experiências dos acadêmicos (BORGES; são do processo ensino-aprendizagem nos
ALENCAR, 2014). Logo, são necessários cursos de graduação. Lames et. al (2011)
procedimentos de ensino que melhorem a consideram que investigar e compreender
compreensão dos conteúdos ministrados a atividade docente poderá oferecer contri-
(CRUZ et. al, 2009). buições significativas para o ensino, a pes-
quisa e a extensão.
Segundo Debald (2003), dominar o
conteúdo e conhecer metodologias trans- Desta forma, este trabalho se justifica
formadoras são mudanças necessárias na pela necessidade de conhecer as diretrizes
docência universitária. Dessa forma, Rios metodológicas utilizadas no desenvolvi-
et. al (2016) dizem que o professor necessita mento da disciplina de Metodologia da Pes-
rever sua prática e organizar seus conteúdos quisa, e também devido à reduzida discus-
de modo a proporcionar um ensino signifi- são e literatura sobre a disciplina em questão
cativo capaz de contribuir para o aprendi- nos cursos de graduação. Tem por objetivo
zado. Nesse sentido, Maia (2008) relata que analisar, a partir da percepção dos profes-
estratégias adequadas podem levar o indiví- sores, as estratégias utilizadas no ensino da
duo a adquirir hábitos e posturas que bene- disciplina de Metodologia da Pesquisa nos
ficiem sua vida profissional e pessoal. cursos de graduação do Instituto Federal
Goiano, bem como identificar os conteúdos
O professor universitário precisa domi- trabalhados nas aulas desta disciplina.
nar o conteúdo que ministra, reinventar suas
práticas de ensino, organizar os conteúdos,
enfim, estar em contínuo processo de atua- 2. METODOLOGIA
lização para atender às exigências do ensi-
no (RIOS, et. al, 2016). Assim, a qualidade Neste trabalho, utilizamos uma abor-
da educação nas universidades leva à refle- dagem qualitativa do tipo estudo de caso
xão sobre o papel do docente e sua prática institucional. Prodanov e Freitas (2013) co-
na produção do conhecimento científico mentam que o estudo de caso pode ser de
e formação de profissionais competentes indivíduos, instituições, grupos, comunidade
(SLOMSKI, 2008). ou outros. Esse modelo de pesquisa é mais
adequado ao tipo de problema deste traba-
Em relação à disciplina de Metodolo- lho que procura analisar aspectos envolvidos
gia da Pesquisa, a escolha dos conteúdos e no ensino da disciplina de Metodologia, a
os procedimentos de ensino são essenciais partir da percepção docente, já que “[...] ela
na formação do estudante e do profissional aborda o conjunto de expressões humanas
(MOREIRA; CALEFFE, 2011). Contribui constantes nas estruturas, nos processos, nos
para que os estudantes encontrem respostas sujeitos, nos significados e nas representa-
às suas indagações, embasadas em procedi- ções” (MINAYO, 1994, p.15).
mentos metodológicos de cunho científico
(PRONANOV; FREITAS, 2013). Sendo Quanto aos procedimentos, como o
assim, o estudo desta disciplina é relevante tema é algo que não pode ser quantificado,
por fundamentar a elaboração de trabalhos realizaremos revisão bibliográfica, análise de
científicos e estimular a atitude investigativa documentos e entrevistas com os docentes
do discente (LARANJEIRAS et al., 2011). da disciplina de Metodologia do Instituto
Federal Goiano (IF Goiano). Os documen-
De acordo com Rios et. al (2016), a do- tos consultados são os regulamentos dos
cência no ensino superior ainda é pouco cursos de graduação, projetos pedagógicos,
pesquisada em relação à formação acadêmi- ementas da disciplina de metodologia da
ca e pedagógica do professor universitário. pesquisa e planos de ensino. Com exceção

80 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


dos planos de ensino, todos os outros docu- trabalhados, as dificuldades encontradas, a
mentos encontram-se disponíveis no portal importância da disciplina que ministram
do IF Goiano, local da pesquisa. para o curso de graduação e as percepções
e expectativas que possuem em relação ao
Os participantes desta pesquisa são os desenvolvimento da disciplina.
professores da disciplina de Metodologia
da Pesquisa dos cursos de graduação do IF Para Santos (2016) também devemos
Goiano, nos Campus que oferecem essa mo- analisar os aspectos ligados ao planejamen-
dalidade de ensino. Os Institutos Federais to das aulas e à formação pedagógica para
de Educação, Ciência e Tecnologia fazem a docência. O roteiro semiestruturado para
parte da Rede Federal de Educação Pro- entrevista será validado por uma banca de
fissional e Tecnológica. Estas instituições 3 doutores. As atividades de coleta somente
caracterizam-se por possuir uma estrutura terão início após aprovação pelo Comitê de
multicampi e oferecer ensino na educação Ética em Pesquisa.
básica, superior e profissional, garantindo a
integração entre o ensino, a pesquisa e a ex- Serão respeitados todos os princípios
tensão (SANTOS; GENTIL, 2013). éticos quanto à pesquisa com seres humanos
de acordo com as resoluções 466/12 (BRA-
Após a consolidação dos contatos com SIL, 2012) e 510/16 (BRASIL, 2016). Aos
os gestores e professores dos campi pesqui- participantes será garantida a manutenção
sados para acesso às informações, procede- do sigilo e da privacidade e a possibilida-
remos com as fases de coleta e análise de da- de de desistência a qualquer momento. As
dos. Os planos de ensino serão solicitados entrevistas estão condicionadas à assinatura
diretamente aos participantes da pesquisa. do Termo de Consentimento Livre e Escla-
As percepções dos professores acerca do recido (TCLE).
ensino da disciplina de Metodologia serão
coletadas por meio de entrevista gravada
com questões semiestruturadas que, pos- 3. DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS
teriormente, será transcrita e analisada em
categorias de conteúdo. Neste trabalho, apresentaremos o resul-
tado parcial a partir de um levantamento
Os professores entrevistados serão iden- bibliográfico sobre alguns aspectos relacio-
tificados em suas falas pela letra P (profes- nados às atividades docentes no ensino da
sor), seguida do número correspondente à disciplina de Metodologia da Pesquisa no
ordem cronológica da entrevista para garan- Ensino Superior. Para analisar a percepção
tir o anonimato dos participantes. A partir dos professores e outros aspectos sobre o
das entrevistas realizadas, serão identifica- ensino da disciplina em questão, está sendo
das as categorias de análise associadas às realizada pesquisa documental e também
estratégias de ensino de Metodologia. Os serão realizadas entrevistas após aprovação
dados serão analisados por meio da técnica pelo Comitê de Ética em Pesquisa.
de análise de conteúdo para o qual Bardin
(1995) prevê três etapas principais: 1ª) A A análise da literatura nos permitiu
pré-análise; 2ª) A exploração do material; e apresentar relatos importantes acerca do
3ª) O tratamento dos resultados. ensino de Metodologia da Pesquisa, bem
como da prática docente no ensino superior.
Na busca por analisar as percepções dos Almeida e Pimenta (2014) relatam que as
professores acerca das exigências e estra- universidades têm por finalidade proporcio-
tégias necessárias ao ensino da disciplina nar a produção do conhecimento e da crítica
de Metodologia da Pesquisa, abordaremos por meio de atividades de ensino, pesquisa
questões como: o que é preciso para exercer e extensão. Pelo fato de se proporem a for-
a docência no ensino superior, quais as es- mar indivíduos críticos e reflexivos, capazes
tratégias utilizadas nas aulas, os conteúdos de lidar com desafios, as instituições de en-

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 81


sino precisam inovar as suas práticas, a fim terferir na preparação dos estudantes para a
de garantir a aprendizagem dos estudantes pesquisa. Maia (2008) acrescenta ainda que
(LIBÂNEO, 2011). a presença de muitas regras limita o desen-
volvimento do estudante para pensar e es-
É nesse sentido que Dalarme (2015) men- crever, diminuindo a aceitação da disciplina.
ciona que a educação pode conduzir nossos
educandos à emancipação através de práticas Moreira e Caleffe (2011) relatam tam-
que desenvolvam o espírito crítico e reflexivo. bém preocupações teóricas e práticas em
Ensinar é uma tarefa complexa, pois exige co- relação à disciplina em questão. Dentre elas,
nhecimento específico da própria disciplina e os autores destacam as formas de ensino, o
da condução dos recursos pedagógicos no sen- desinteresse dos estudantes, a falta de aten-
tido de estimular o aprendizado dos estudan- ção de professores/orientadores de outras
tes (ZABALZA, 2004). disciplinas, além de carga horária e matriz
curricular inadequadas.
Nos estudos de Junges e Behrens (2015),
fica evidente que o professor universitário Slomski (2008) relata a falta de forma-
precisa ter formação específica na sua área de ção específica para a docência. A autora diz
atuação e também conhecimentos pedagó- que a maioria dos professores universitários
gicos para ensinar, além dos saberes de suas não contou com formação específica para
vivências e de seu desenvolvimento científico. atuação profissional em sala de aula. Desta
Por ser complexa, a prática pedagógica no en- forma, o professor precisa se manter atua-
sino superior exige decisões éticas e políticas lizado em outros campos do conhecimen-
e um processo de formação para os docentes to para ter uma visão da realidade coerente
(CORRÊA; RIBEIRO, 2013). com suas práticas e discursos no exercício da
sua profissão (RIOS et. al, 2016).
No processo de construção do conhe-
cimento, o educador, além de transmissor Diante desse contexto, Zabalza (2004),
de conhecimento, precisa mediar o apren- Junges e Behrens (2015) e Rios et. al (2016)
dizado, usando recursos didáticos que de- concordam que o professor universitário
senvolvam a capacidade crítico-reflexivo do precisa repensar a sua disciplina e revisar
estudante (BORGES; ALENCAR, 2014). constantemente a sua docência em busca
Para Freire (1996, p. 14), “não há ensino sem de uma prática inovadora para que possa
pesquisa e pesquisa sem ensino”. No enten- responder adequadamente às exigências da
der do autor, faz parte da natureza da prática atualidade. O ensino superior exige o do-
docente a indagação, a busca, a pesquisa, de- mínio de conhecimentos específicos e uma
vendo o professor se assumir como pesqui- didática e metodologia adequadas para o
sador durante toda a sua formação. exercício profissional.

Em se tratando de pesquisa, a disciplina de


Metodologia disponibiliza vários métodos e CONSIDERAÇÕES FINAIS
técnicas para coleta e processamento de infor-
mações visando à resolução de problemas e a Podemos considerar, com base nes-
construção do conhecimento (PRODANOV; te estudo bibliográfico, que a disciplina de
FREITAS, 2013). Maia (2008) esclarece que, Metodologia da Pesquisa possui diretrizes
desta forma, a disciplina fornece condições metodológicas relevantes para um melhor
para melhorar a produtividade dos estudantes desempenho dos estudantes nas atividades
e a qualidade das suas produções. acadêmicas, profissionais e pessoais. Porém
torna-se necessária uma proposta de for-
No trabalho de Moreira e Caleffe (2011), mação pedagógica que promova mudanças
nota-se a relevância do estudo da disciplina inovadoras na prática dos professores uni-
de Metodologia da Pesquisa, porém a forma versitários, em especial àqueles ligados á
como os conteúdos são trabalhados pode in- disciplina em questão.

82 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


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Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 85


DESENVOLVIMENTO DE UM
JOGO DIDÁTICO COMO RECURSO
FACILITADOR NO ENSINO DE QUÍMICA
SOARES, Joceline Maria da Costa1; ABADIA, Gilzenia Jane dos Santos2;
SILVA, Luciana Aparecida Siqueira3; CARVALHO, Christina Vargas Miranda4

Resumo: Os jogos são indicados como um tipo de recurso didá-


tico educativo que podem ser utilizados em momentos distintos
para o ensino de Química. Objetivou-se neste trabalho identificar
conteúdos químicos de difícil compreensão abordados no Ensino
Médio e, a partir de então, utilizar jogos e atividades lúdicas como
recurso que intervém na aprendizagem. Por meio da aplicação de
questionário aos professores de Química, identificamos os conteú-
dos nos quais os discentes do Ensino Médio apresentam dificulda-
de de compreensão. O jogo intitulado “Trilha Periódica” abordou o
conteúdo Classificação Periódica dos Elementos, sendo elaborado,
testado e aplicado aos alunos da 1ª série do Ensino Médio. Para
construção da proposta, utilizamos materiais recicláveis e/ou de
baixo custo, com o propósito de que a atividade pudesse ser desen-
volvida em diferentes realidades escolares. Reconhecemos que o
jogo corroborou com melhorias significativas quanto à compreen-
são do assunto abordado.

Palavras-chave: Jogo Didático. Atividade Lúdica. Química. Ta-


bela Periódica.

1. INTRODUÇÃO

A Química é citada pelos alunos do Ensino Médio como uma


das disciplinas mais difíceis e complicadas de estudar, e a difi-
1, 2, 3, 4 Instituto Federal de Edu- culdade aumenta por conta de ser abstrata e complexa (SILVA,
cação, Ciência e Tecnologia Goia- 2011). Considerando-se tal constatação, os professores são cons-
no – Campus Urutaí tantemente desafiados a desenvolverem atividades por meio das
quais as aulas tornem-se mais dinâmicas e interativas, o que pode
e-mail do autor1: jocelinecosta-
facilitar a compreensão por parte dos alunos.
soares@gmail.com
e-mail do autor 2: gilzeniajane@ Atualmente os jogos didáticos vêm sendo utilizados com fre-
hotmail.com quência no ensino de Química. Muitos autores, como Beltran
e-mail do autor 3: luciana.siquei- (1997), Soares (2008), Oliveira e Soares (2005), Soares e Cava-
ra@ifgoiano.edu.br lheiro (2006), Santos e Michel (2009), Godoi, Oliveira e Codog-
e-mail do autor 4: christina.carva- noto (2010), Cunha (2012), Saturnino, Luduvico e Santos (2013)
lho@ifgoiano.edu.br e Silva, Cordeiro e Kiill (2015) destacam a eficiência dos jogos

86 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


e atividades lúdicas no ensino de Química, jogos e atividades lúdicas como recurso que
bem como retratam o interesse dos alunos intervém na aprendizagem, auxiliando o en-
que advém da diversão proporcionada pelos tendimento dos conteúdos químicos e tor-
jogos, além de ressaltarem que esse recurso nando a ação do educando mais ativa.
ajuda a aproximação aluno-aluno e aluno-
-professor.
2. METODOLOGIA
De acordo com Soares (2008), a utiliza-
ção de jogos e atividades lúdicas no ensino de O presente trabalho foi um dos resulta-
Química melhora a relação professor/aluno, dos de um projeto vinculado ao Programa
e com esses recursos tem-se um maior en- Institucional de Bolsas de Iniciação Cien-
volvimento entre as duas partes, sendo que tífica (PIBIC), cadastrado junto à Diretoria
o professor acompanha as atividades sem a de Pesquisa do Instituto Federal Goiano -
relação de autoritarismo das aulas tradicio- Campus Urutaí e desenvolvido no próprio
nais, consequentemente, os alunos passam a Campus, no período de agosto de 2014 a
observar o docente como um auxiliador. O julho de 2015.
uso de jogos está descrito nos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN), pois desen- Trata-se de uma pesquisa-ação que, de
volve a capacidade afetiva e as relações in- acordo com Tripp (2005) é uma estraté-
terpessoais, permitindo ao aluno colocar-se gia para o desenvolvimento de professores
no ponto de vista do outro, refletindo, assim, e pesquisadores de modo que eles possam
sobre os seus próprios pensamentos (BRA- utilizar suas pesquisas para aprimorar seu
SIL, 1997). ensino e, em decorrência, o aprendizado de
seus alunos. Para isso, deve-se planejar, im-
Kishimoto (1998) declara que o jogo plementar, descrever e avaliar uma mudança
educativo tem duas funções, em que a pri- para a melhora de sua prática, aprendendo
meira é a função lúdica, propiciando diver- mais, no correr do processo, tanto a respeito
são e o prazer quando escolhido voluntaria- da prática quanto da própria investigação.
mente, sendo a segunda a função educativa,
ensinando qualquer coisa que complete o A coleta de dados foi realizada por meio
indivíduo em seu saber e sua compreensão da aplicação de questionário aos professores
de mundo. de Química, pelos quais identificamos os
conteúdos químicos abordados nas séries do
A aprendizagem que advém do ato de Ensino Médio que os discentes apresentam
brincar é evidente, pois os jogos exercitam dificuldade de compreensão. Após a iden-
não apenas os músculos e promovem diver- tificação do conteúdo, os jogos e atividades
são, mas instigam principalmente os alunos lúdicas foram elaborados, testados e aplica-
a pensar, o que desenvolve o cognitivo dos dos aos alunos dos Cursos Técnicos Inte-
discentes em relação ao aprendizado em grados ao EM do Instituto Federal Goiano
Química (CHATEAU, 1984). Os jogos – Campus Urutaí. Para construção das pro-
são indicados como um tipo de recurso di- postas, utilizou-se materiais recicláveis e/ou
dático educativo que pode ser utilizado em de baixo custo, com o propósito de que as
momentos distintos, como na apresentação atividades pudessem ser desenvolvidas em
de um tema, na ilustração de aspectos re- diferentes realidades escolares.
levantes ao conteúdo, na revisão ou síntese
de conceitos importantes e na avaliação de Anterior e posteriormente ao desenvol-
assuntos já desenvolvidos (CUNHA, 2012). vimento da proposta, realizamos uma son-
dagem de conhecimento acerca do assun-
Nesse sentido, objetivou-se no presente to abordado no jogo e/ou atividade lúdica,
trabalho identificar conteúdos químicos de aplicando-se um pré e um pós-teste aos
difícil compreensão abordados no Ensino alunos participantes, contendo questões ob-
Médio (EM) e, a partir de então, utilizar jetivas e discursivas. No pós-teste, inserimos

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 87


uma questão discursiva com a finalidade de intitulado “Trilha Periódica” (Figura 1). O
avaliar a contribuição da proposta no ensino jogo apresenta cartas enumeradas conten-
de Química. do questões (cartas azuis) sobre “Tabela
Periódica” e outras contendo as respostas
A partir dos dados coletados, organiza- (cartas pretas). O participante ainda tem
mos tabelas para que pudéssemos gerar os bônus (cartas verdes) e penalidades (car-
gráficos e, assim, melhor analisar e discutir tas vermelhas), conforme a questão for
os resultados. respondida correta ou incorretamente.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O questionário para identificar os conteú-


dos químicos considerados como difíceis de
serem compreendidos no EM foi respondido
no 2º semestre de 2014 por 7 (sete) professores
de Química do IF Goiano – Campus Urutaí.
Os conteúdos apontados por eles como sendo
o de maior dificuldade de entendimento em
Química, na 1ª, 2ª e 3ª séries do EM estão
apresentados no Quadro 1.

Quadro 1. Conteúdo considerado difícil de ser


compreendido pelos discentes, de acordo com os Figura 1. Tabuleiro e peças do jogo
professores de Química “Trilha Periódica”. Fonte: As autoras.

Conteúdo diagnosticado por série


do Ensino Médio O jogo foi aplicado para 34 alunos de
duas turmas. Iniciamos a “Trilha Periódi-
Classificação Periódica
1ª série ca” dividindo os alunos em grupos de 4 a
dos Elementos
5 pessoas, no qual cada grupo recebeu um
2ª série Cálculos Químicos tabuleiro, uma tabela periódica, uma folha
com as regras do jogo (Quadro 2), uma cai-
3ª série Reações Orgânicas xa contendo as cartas, além de um dado e os
peões com diferentes cores.
Fonte: Dados da pesquisa.
Quadro 2. Regras do jogo “Trilha Periódica”
Com as informações obtidas pelo ques-
tionário aplicado aos professores, iniciamos Regras do Jogo
o desenvolvimento de três propostas de ati-
vidade com os alunos da 1ª, 2ª e 3ª séries 1. Número de jogadores: 3 a 5 pessoas.
do EM. Especificamente aqui apresentare- 2. Ordem dos jogadores: Joga-se o dado;
mos os resultados obtidos com os alunos da aquele que tirar o maior número inicia o jogo.
Havendo empate entre dois ou mais jogado-
1ª série do Curso Técnico em Informática res, esses jogam o dado novamente até haver
Integrado ao EM do IF Goiano/Urutaí. A desempate. A sequência das jogadas acontece
partir do conteúdo identificado como mais em ordem decrescente, ou seja, quem tirar o
difícil de ser ensinado, elaboramos a propos- maior número será o primeiro a jogar e, assim,
sucessivamente.
ta cuja temática foi “Classificação Periódica
dos Elementos”. 3. Início do jogo: O jogador lança o dado e
avança na “Trilha Periódica”. Retira uma carta
no “monte questões” (cartas azuis) referente ao
A atividade desenvolvida abordou o número da casa que se encontra. Respondendo
conteúdo “Classificação Periódica dos correto, o jogador retira uma carta no “monte
Elementos”, que foi um jogo de tabuleiro bônus” (cartas verdes). Caso responda errado,

88 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


o jogador retira uma carta no “monte penalida-
de“ (cartas vermelhas). e, também, as questões que não foram res-
pondidas. A partir disso, os resultados ob-
4. Para verificar se a resposta do jogador está
correta ou errada, retira-se a carta correspon-
tidos estão apresentados nas Figuras 2 e 3.
dente ao número da questão no “monte res-
posta” (cartas pretas).
5. As cartas devem ser colocadas em seus res-
pectivos montes após cada jogada.
6. Vence o jogo aquele que chegar primeiro ao
final da “Trilha Periódica”.

Fonte: As autoras.

Anterior e posteriormente ao jogo, os Figura 2. Análise da sondagem de conhecimento ante-


alunos responderam um questionário (pré- rior ao jogo (pré-teste). Fonte: Dados da pesquisa.
-teste e pós-teste), contendo questões abor-
dando diferentes aspectos do conteúdo “Ta-
bela Periódica”, conforme apresentado no
Quadro 3. As questões contidas nos testes
aplicados eram diferentes, no entanto, apre-
sentavam a mesma abordagem do conteúdo.

Quadro 3. Temáticas abordadas no questionário


(pré-teste e pós-teste)

Questão
Abordagem da Questão
(Q)

Indicar qual a família terminal da Figura 3. Análise da sondagem de conhecimento pos-


Q1 terior ao jogo (pós-teste). Fonte: Dados da pesquisa.
tabela periódica.

Identificar as características que


Q2 elementos de um mesmo período Com base nos resultados, percebemos
têm em comum.
que os alunos ampliaram seu conhecimento
Identificar as características que acerca do conteúdo abordado após a partici-
Q3 elementos de uma mesma família pação no jogo, no que se refere a quase todas
têm em comum. as questões, exceto a Q4. Nesta questão, não
houve acertos em nenhum momento dos
Significado dos termos: elementos testes, no entanto, notamos que alguns alu-
Q4
transurânicos e cisurânicos.
nos inverteram os conceitos de elementos
Indicar a família que representa os
transurânicos e cisurânicos.
gases nobres, os elementos alcali-
Q5
nos, alcalinos terrosos, halogênios e Consideramos expressiva a quantidade
calcogênios. de alunos que não responderam ao teste an-
tes do jogo, sendo este índice superior aos
Determinar o elemento por suas
acertos e erros em quase todas as questões,
características (número de camadas,
Q6 família, representativo ou transi- exceto na Q1. Destacamos que, após o jogo,
ção, número de níveis energéticos, os índices de acertos e erros aumentaram,
elétrons de valência). enquanto o percentual de alunos que não
respondeu diminuiu. Observamos que os
Fonte: As autoras. alunos apresentaram-se mais confiantes em
responder as questões após o jogo, pois a
As respostas do pré e pós-testes foram quantidade de alunos que respondeu, mes-
analisadas considerando os acertos, os erros mo que suas respostas estivessem erradas,

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 89


aumentou. Costa (2013) declara que, após al. (2012), Costa (2013), Silva et al. (2013)
a aplicação do jogo didático Ludo Químico, e Silva, Cordeiro e Kiill (2015) em seus tra-
os alunos demonstraram muita segurança balhos envolvendo a utilização de jogos para
ao responder o que lhes era perguntado. abordagem do conteúdo Tabela Periódica,
o que também relataram que houve uma
De acordo com Godoi, Oliveira e Co- melhora significativa no entendimento de
dognoto (2010), professores da disciplina como utilizar a tabela.
Química relatam que o assunto “Tabela Pe-
riódica” é visto pelos alunos simplesmente No pós-teste, havia uma sétima ques-
como uma tabela que traz algumas infor- tão relacionada à contribuição do jogo na
mações e que não mais precisarão dela. Isso aprendizagem do conteúdo: O jogo “Trilha
provavelmente ocorre porque os alunos têm Periódica” contribuiu para a aprendizagem do
dificuldade para entender o que está dispos- conteúdo “Classificação Periódica dos Elemen-
to nessa tabela e fazer correlações entre as tos?” Algumas respostas dos alunos são apre-
informações lá contidas. sentadas a seguir.

Silva, Cordeiro e Kiill (2015) relatam que os Aluno A: “Sim, pois o jogo além de ajudar
dados obtidos a partir da aplicação de questio- no aprendizado é um modo de dis-
nário anterior ao jogo mostraram um conheci- trair brincando com os colegas.”
mento superficial, uma vez que, na maioria das
respostas, não se verificou a relação da tabela Aluno B: “Sim, porque as coisas que eu não
periódica com a classificação periódica e pro- sabia, que eu não aprendi na aula,
priedades dos elementos químicos. Esse fato consegui aprender. Um jogo muito
pode estar relacionado à pouca interação alu- interessante.”
no-aluno e aluno-professor durante as aulas. A
aprendizagem pode ocorrer de modo superficial Aluno C: “Sim, essa atividade me ensinou
e os alunos terem dificuldades para compreender de maneira melhor e mais fácil de
os conteúdos. Os mesmos autores apontam que, aprender, tive interesse e ainda me
com base nas respostas dos alunos no questioná- diverti aprendendo.”
rio aplicado após o jogo, foi verificado que estes
interagiram com os colegas e a pesquisadora, Aluno D: “Sim, porque ao mesmo tempo que
buscando ampliar os seus conhecimentos acerca a gente se diverte a gente aprende
dos conteúdos químicos. e tudo que é divertido, é fácil de
aprender.”
Além disso, observamos que o jogo
“Trilha Periódica” possibilitou aos alunos Diante do exposto, reconhecemos que o
fazerem correlações com as informações jogo “Trilha Periódica” cumpriu sua dupla
contidas na tabela periódica. Os alunos função, conforme destacado por Kishimoto
assimilaram a localização dos elementos (1998), a função lúdica e a função educativa,
na tabela por meio da semelhança de suas pois percebemos que os alunos se diverti-
propriedades e número de níveis energéti- ram e aprenderam sobre o tema abordado.
cos e, também, reconheceram o nome das Costa (2013) ressalta que os jogos pedagó-
famílias 1 ou 1A (alcalinos), 2 ou 2A (alca- gicos não são substitutos de outros métodos
linos terrosos), 16 ou 6A (calcogênios), 17 de ensino. São suportes para o professor e
ou 7A (halogênios) e 18 ou 0 (gases nobres). poderosos motivadores para os alunos que
E ainda, perceberam que na tabela periódica usufruem dos mesmos como recurso didáti-
encontram-se dados que vão além de nome, co para a sua aprendizagem.
símbolo, massa e número atômicos passan-
do a compreender como os elementos fo- Rosa e Rossi (2008) destacam que a bus-
ram organizados em famílias e períodos. ca por novas metodologias e estratégias de
Barra, Tavares e Costa (2009), Godoi et al. ensino para a motivação da aprendizagem
(2010), Siqueira e Mello (2010), Focetola et que sejam acessíveis, modernas e de baixo

90 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


custo, é sempre um desafio para os profes- CHATEAU, J. O Jogo e a Criança. Guido de
sores. Nessa perspectiva, asseveramos que Almeida. São Paulo: Summus Editora, 1984.
o jogo “Trilha Periódica” é uma ferramenta
promissora para auxiliar na compreensão de COSTA, A. F. Ludo químico: uma al-
conteúdos relacionados à Classificação Pe- ternativa didática para o ensino da tabela
riódica dos Elementos, podendo ser cons- Periódica. In: IX Congresso de Iniciação
truído com materiais de baixo custo, o que o Científica do IFRN (CONGIC). Instituto
torna um material didático acessível a todos. Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Rio Grande do Norte. Natal, RN, 2013.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS CUNHA, M. B. Jogos no ensino de quí-


mica: considerações teóricas para sua uti-
A partir da realização desta pesquisa iden- lização em sala de aula. Química Nova na
tificamos os conteúdos químicos considerados Escola, v. 34, n. 2, p. 92-98, 2012.
por professores, de difícil compreensão pelos
alunos do EM e, tais dados, permitiu-nos FOCETOLA, P. B. M. CASTRO, P.
realizar a proposta do projeto do PIVIC pelo J.; SOUZA, A. C. J.; GRION, L. da S.;
qual elaboramos atividades lúdicas/jogos para PEDRO, N. C. da S.; IACK, R. dos S.;
estudantes de diferentes séries. ALMEIDA, R. X.; OLIVEIRA, A. C.;
BARROS, C. V. T. VAITSMAN, E.;
Especificamente sobre a proposta aqui BRANDÃO, J. B. GUERRA, A. C. de O.;
apresentada, percebemos que o jogo “Trilha SILVA, J. F. M. Os Jogos Educacionais de
Periódica” corroborou com melhorias signi- Cartas como Estratégia de Ensino de Quí-
ficativas quanto à compreensão do assunto mica. Química Nova na Escola, v. 34, n. 4,
abordado. Notamos também que, os alunos se p. 248-255, 2012.
mostraram estimulados pela atividade, favore-
cendo o acesso à informação de forma lúdica GODOI, T. A. F.; OLIVEIRA, H. P. M.;
de um conteúdo considerado de difícil com- CODOGNOTO, L. Tabela Periódica: um
preensão. Desse modo, reconhecemos as con- super trunfo para alunos do Ensino Funda-
tribuições do jogo “Trilha Periódica” como re- mental e Médio. Química Nova na Escola,
curso facilitador no ensino de Química e que v. 32, n. 1, p. 22-25, 2010.
auxilia a compreensão de conteúdos químicos
por alunos do Ensino Médio. KISHIMOTO, T. M. O jogo e a educação In-
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92 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


ESTUDO DE CASO DAS PRÁTICAS DE ENSINO
DE PROFESSORAS NOS ANOS INICIAIS
DO ENSINO FUNDAMENTAL EM LÍNGUA
PORTUGUESA E CIÊNCIAS DA NATUREZA
PANIAGO, Josenilde1

INTRODUÇÃO

O objetivo desta pesquisa foi analisar as práticas de ensino de


duas professoras nos anos iniciais do Ensino Fundamental (EF)
quando ensinam Língua Portuguesa e Ciências, procurando de-
tectar se há ou não convergências nas abordagens dos conteúdos
e metodologias para um ensino de Ciências com características
progressistas de alfabetização na perspectiva do letramento. Sa-
lienta-se, ainda, que se trata de um estudo na perspectiva de diag-
nóstico. Com a análise paralela das práticas de ensino de Língua
Portuguesa e Ciências, buscou-se uma referência ou unidade de
análise sobre as características do ensino de Ciências nesse contex-
to escolar, em particular.

Espera-se que este trabalho, ao sistematizar informações sobre as


práticas de ensino das professoras em Língua Portuguesa e Ciências,
contribua com a reflexão e as futuras abordagens de Ciências neste
contexto escolar, com vistas a um maior equilíbrio e qualidade do cur-
rículo, dimensionando melhor o ensino de Ciências.

Assim, as questões de pesquisas foram: como os conteúdos


de ensino são abordados pelas professoras de Ciências e Língua
Portuguesa? Quais as metodologias utilizadas em suas aulas? Que
concepções pedagógicas permeiam suas práticas? De modo geral,
as questões estão configuradas na principal questão: Quais as con-
vergências e divergências ocorrem nas práticas de ensino de duas
professoras nos anos iniciais do Ensino Fundamental (EF) nas
disciplinas de Língua Portuguesa e Ciências em relação às aborda-
1 Escola Municipal Apóstolo gens dos conteúdos e métodos de ensino? Há alguma dessas áreas
Paulo, Mato Grosso. josypania- privilegiadas nesse contexto? O Ensino de Ciências a que ocorre é
go2012@hotmail.com relegado ao segundo plano em face de Língua Portuguesa?

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 93


A importância do ensino de Ciências mas se antecipa e se alonga na inteligência
e Língua Portuguesa nos anos iniciais do do mundo, em que o aluno compreende e se
Ensino Fundamental em uma perspectiva sente instigado a desvendar as situações que
progressista vivencia por meio de leitura.

Na sociedade contemporânea, é impor- É pelo ensino de Ciências, desde as sé-


tante que a educação escolar seja um pro- ries iniciais, que se pode fazer um convite
cesso essencial à formação para o exercício à criança para indagar, pensar, elaborar no-
da cidadania, da reflexão e da tomada de de- vas ideias, experimentar e discutir hipóte-
cisão em uma sociedade marcada por tantos ses. Essas atitudes suscitam que os alunos
avanços. Defende-se, então, que nos anos agucem a curiosidade e a produção própria.
iniciais do EF é primordial que as práticas Outro aspecto citado por Carvalho e Gil-
de ensino dos professores oportunizem o -Perez (2011) que parece interferir no ensi-
desenvolvimento da capacidade de leitura e no de Ciências é a visão simplista do ato de
compreensão crítica, questionamentos e re- ensinar, pois um grande número de profes-
solução de problemas por parte dos alunos. sores a apresenta como algo simples.
Neste contexto, todas as disciplinas podem
concorrer para despertar esta capacidade; no Em face das mudanças atuais em termos
caso do ensino de Ciências, defende-se que sociais, econômicos e ambientais, defende-
este deva ser trabalhado por meio de leituras -se o ensino nos anos iniciais do EF que
instigantes e incentivo à pesquisa, de forma avancem das práticas tradicionais, nas quais
a levar os alunos a perceberem que a Ciência se pauta Freire (2005):
está presente no cotidiano das pessoas.
Em lugar de comunicar-se, o educador faz
Quanto à Língua Portuguesa nos anos “comunicados” e depósitos que os educan-
iniciais, esta não pode se ater ao mero exercí- dos, meras incidências, recebem pacien-
cio de transmissão de conhecimentos desco- temente, memorizam e repetem. Eis aí a
concepção “bancária” da educação, em que
nectados com a prática social do aluno, para
a única margem de ação que se oferece aos
quem se ensina leitura e escrita sem refletir
educandos é de receberem os depósitos,
sobre as práticas sociais em que se encontra guardá-los e arquivá-los [...] (FREIRE,
inserido. É necessário que as crianças sejam 2005, p. 33).
alfabetizadas na perspectiva do letramento,
o que, conforme Soares (2008) significa:
Desse modo, a educação defendida por
[...] orientar a criança para que aprenda Freire (2005) é importante para se discutir
a ler e escrever levando-a a conviver com a presente pesquisa, ao defender a formação
práticas reais de leitura e de escrita: substi- problematizadora e libertadora, em uma
tuindo as tradicionais e artificiais cartilhas perspectiva progressista que coloque em
por livros, revistas, por jornais, enfim, pelo
discussão a realidade complexa, desigual e
material de leitura que circula na escola e
injusta em que vivemos atualmente.
na sociedade, e criando situações que tor-
nem necessárias e significativas práticas de
produção de texto (SOARES, 2008, p. 45).
METODOLOGIA

Assim, a autora entende que as pro- Para responder às questões propostas,


postas pedagógicas da atualidade apontam fundamentamos nossa metodologia nos
para a necessidade de se levar o aluno a ex- princípios da abordagem qualitativa, na
perimentar e a ter domínio das práticas de concepção proposta por Bogdan e Biklen
leitura e de escrita que estão dispostas na (1994) ao explicarem que esta perspectiva
sociedade. Desta maneira, o ato de ler, por- contempla vários procedimentos de inves-
tanto, não se esgota na decodificação pura tigação e apresenta como características:
da palavra escrita ou de linguagem escrita, o ambiente do sujeito, como fonte direta

94 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


dos dados, sendo o instrumento principal De modo geral, ao observar as práticas
o investigador; é descritiva; enfatiza mais o de ensino da PLP e PC não houve situa-
processo do que o produto. “ao apreender as ções significativas que revelassem aborda-
perspectivas dos participantes, a investiga- gens de conteúdos vinculados à vivência dos
ção qualitativa joga luz sobre as dinâmicas alunos. Mesmo que a PLP tenha procurado
das situações, dinâmica esta que é frequen- incitar os alunos a se envolverem nas aulas,
temente invisível para o observador exte- por meio de questionamentos, e a PC te-
rior” (BOGDAN E BIKLEN, 1994, p.18). nha arrolado algumas situações da vida das
crianças em sala de aula, como o trabalho
Considerando o universo de possibili- com a temática da água, houve por parte
dades da abordagem qualitativa, optamos das duas professoras uma preocupação em
pelo estudo de caso. Para André (2006), o demasiado em seguir a sequência didática
estudo de caso se caracteriza por ser um es- dos livros, como forma a cumprir com os
tudo com objeto limitado, ou seja, tal como conteúdos estabelecidos pela secretaria de
uma pessoa, uma instituição ou grupo. Nes- educação (presentes no Currículo de 9 anos)
se sentido, achou-se oportuno a escolha do Essa situação nos faz lembrar o que Libâneo
estudo de caso, por se tratar o objeto de es- (1994, p. 78) já apontava:
tudo da presente na investigação limitado à
prática de ensino de duas professoras. Ade- É dada excessiva importância à matéria
mais, houve uma preocupação em relação que está no livro, sem preocupação de tor-
ao tempo de coleta de dados, de modo que ná-la mais significante e mais viva para os
apesar da distância e dos desafios enfrenta- alunos. Muitos professores querem, a todo
custo, terminar o livro até o final do ano le-
dos, procurou-se manter um tempo de con-
tivo, como se a aprendizagem dependesse
tato alargado com as práticas de ensino das
de “vencer” o conteúdo do livro. São ideias
professoras, o que implicou, inclusive, em falsas. O livro didático é necessário, mas
permanecer por semanas na escola, campo por si mesmo ele não tem vida. É um re-
empírico da pesquisa, de modo que foram curso auxiliar cujo uso depende da inicia-
observadas um total de 39 aulas das duas tiva e imaginação do professor. Os conteú-
professoras participantes da pesquisa, aqui dos do livro didático somente ganham vida
identificadas como PLP e PC. quando o professor os torna como meio de
desenvolvimento intelectual, quando os
Práticas de ensino de ciências e língua alunos conseguem ligá-los com seus pró-
prios conhecimentos e experiências, quan-
portuguesa: o que revelam os dados?
do através deles aprendem a pensar com
sua própria cabeça.
Dos dados gerais da pesquisa seleciona-
mos um recorte de acordo com os seguintes
eixos: a abordagem dos conteúdos a partir A preocupação em cumprir com os con-
da vivência dos alunos; os métodos de en- teúdos estabelecidos no currículo do sistema
sino das professoras; concepções pedagógi- de ensino municipal, de certa forma, trazem
cas que sustentam as práticas de ensino das algumas consequências, uma delas é a de
professoras. não trabalhar de forma efetiva com os sa-
beres da realidade em que os alunos estão
A abordagem dos conteúdos a partir da inseridos, de forma a incitá-los à tomada de
vivência dos alunos decisões e intervenção em sua realidade, nos
moldes do enfoque CTS que defendemos
Apesar da frequente defesa de um ensino para o ensino de Ciências.
contextualizado, que incite o aluno a pen-
sar, a se posicionar frente aos problemas de Considerando que a instituição de ensi-
sua realidade, ainda prevalece, na educação no pesquisada está inserida numa área rural,
brasileira, um ensino descontextualizado, espaço rico em aprendizagens, laborató-
distante da vida das crianças (FREIRE, rio vivo para aulas de Língua Portuguesa e
2005) . Ciências, é importante e necessário promo-

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 95


ver correlação entre os conteúdos propostos Para Libâneo (1994, p. 150-151), métodos
no currículo e a vivência dos alunos, para de ensino constituem “o caminho para atingir
se alcançar o envolvimento das crianças no um objetivo”. Para o autor, o professor “utiliza
processo de aprendizagem e para ensejar intencionalmente um conjunto de ações pas-
sensibilidade e percepção da relação entre o sos, condições externas e procedimentos, a que
que estão aprendendo e suas vivências. chamamos métodos de ensino”.

Pudemos observar em campo, PLP e PC Assim, compreendemos que métodos


não chegam a alcançar um ensino de Ciên- de ensino contemplam atividades, procedi-
cias e Língua Portuguesa que consiga dialo- mentos, métodos, técnicas a serem selecio-
gar efetivamente com a vivência dos alunos. nados pelos professores com a finalidade de
Há algumas tentativas modestas e pontuais, cumprir com os objetivos da aula e promo-
então não podemos afirmar que práticas de ver a aprendizagem.
ensino voltadas para incorporar as vivências
dos alunos estejam ocorrendo efetivamen- A partir do exposto, ao acompanhar as
te. Assim, consideramos que um Ensino de práticas de ensino da PC trazemos algumas
Ciências e Língua Portuguesa com as carac- situações analisadas que sinalizam os proce-
terísticas que chamamos de progressista, en- dimentos utilizados. No trabalho dos con-
fim, a alfabetização científica na perspectiva teúdos sobre animais domésticos e animais
do letramento é uma possibilidade remota selvagens, a professora trabalhou na 1° aula
para a realidade que relatamos. com leitura e interpretação e na 2° aula, ob-
servações de animais selvagens e domésticos
Os métodos de ensino das professoras (com uso de data show), distribuiu ainda fi-
guras (sobre o conteúdo) para que os alunos
Os avanços científicos e tecnológicos realizassem a classificação: animais selva-
provocam transformações e exercem fortes gens e domésticos e, em seguida, forneceu
influências em todas as áreas de conheci- uma “cruzadinha” de palavras.
mento. A Ciência e a Tecnologia trazem
descobertas e melhoria na qualidade de Embora tenha havido esforços da pro-
vida da humanidade em vários aspectos. fessora, verificamos que o trabalho realizado
Entretanto, ao mesmo tempo em que esses envolvendo as situações mencionadas não
avanços refletem melhorias, também oca- propiciou uma prática de ensino dialógica
sionam preocupações diante de incertezas e fundamentada nas necessidades de alunos
e a percepção de que nem tudo que emana oriundos de família do campo. Os métodos
da Ciência e Tecnologia se reverte em pro- escolhidos e aplicados pela PC não dei-
gresso definitivo. Isso implica a necessidade xaram claro para os alunos o que são ani-
de as instituições escolares trabalharem com mais domésticos e selvagens, para auxiliar
esta questão que enseja controvérsias e im- os alunos na compreensão do conteúdo e
plica escolhas que envolvem todos em um para atender às necessidades didáticas que
processo democrático. se espera numa aula de Ciências Naturais
para alunos dessa idade e nível de desenvol-
Nesse caso, o ensino exige que o docente vimento, e considerando suas características
leve os alunos a investigarem, a aguçarem socioculturais.
sua curiosidade, de forma que ele consi-
ga articular sua realidade social, conteúdo Observamos a escassez de situações que
e possa construir suas próprias conclusões proporcionassem atividades para que as
sobre os acontecimentos, a partir de ações crianças explorassem o texto, cujo objetivo
pedagógicas com vistas a um ensino pro- foi diferenciar os animais domésticos dos
gressista, conforme defendemos. Alcançar animais selvagens. Durante a aula, a pro-
esta perspectiva de ensino envolve práticas fessora trabalhou a leitura do texto, sem a
e metodologias de ensino que alcancem as utilização de diversas estratégias e recursos
vivências e problemas das crianças. didáticos (tais como apontaremos poste-

96 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


riormente neste texto) que possibilitassem crianças se apresentaram com vestimentas
um maior envolvimento dos alunos no pro- adequadas para tal representação e painéis
cesso de ensino e aprendizagem. com ilustrações de acordo com as cenas. Fi-
cou sugestivo e atraente. Após as crianças
De modo geral, os procedimentos ado- assistirem a história, a PLP foi explorando
tados por PC na organização do ambiente gradativamente o mesmo texto com o auxí-
(sala) para a realização das atividades e lei- lio de um livro didático.
turas também não favorecia uma abordagem
dialógica. Normalmente, colocava os alunos PLP: E daí vocês gostaram?
sentados em fila e conduzia as leituras, qua-
ALUNO: Eu gostei desse filme, de verdade!
se que exclusivamente no livro didático, do
qual ela partia para a exposição dos assuntos. ALUNA: Eu gostei quando a abelha disse
Os alunos ouviam e, às vezes, participavam. que tinha que repartir.
ALUNO: Um dia trouxe lanche e reparti
Considerando que os alunos se encon- tudo com meus colegas.
tram em processo de alfabetização, é impres- PA: Agora vamos relembrar a his-
cindível que explorem ao máximo a riqueza tória Quem vai ficar com o pês-
que traz o texto sobre animais domésticos sego? [Ela releu a história e foi
e selvagens e que reflitam sobre as questões mostrando as imagens do livro,
que podem emergir da leitura, de maneira quando chegou na figura da gi-
que percebam as várias oportunidades de rafa perguntou] Vocês conhe-
expressão. Neste sentido, acessar e debater cem uma girafa?
acerca do ambiente natural próximo do alu- ALUNO: Já vi num zoológico.
no, pode ser uma prática de ensino adequa-
ALUNO: Quando eu lembro de uma gi-
da à promoção de um Ensino de Ciências e rafa eu lembro do focinho dela,
Língua Portuguesa convergentes com uma ela fica meio parecido com vaca
abordagem CTS, o que já evidenciado em (PANIAGO, 2015, vídeo grava-
outra oportunidade, em Paniago, R.; Pania- ção – aula da PLP).
go, J.; Oliveira (2014, p. 183).
Em seguida, a interpretação oral e es-
O laboratório vivo do campo oportuni- crita, oportunizou tempo suficiente para os
za trabalhar as proposições previstas nas alunos se expressarem, fazendo referências
orientações dos documentos oficiais, além do texto com seu cotidiano, gradativamen-
de instigar o aluno a problematizar e a fa- te o texto foi sendo explorado. Observou-se
zer intervenção em sua realidade vivida e
que a professora propôs situações de intera-
de contribuir para a construção de uma
ção entre o material escrito, lido por ela e a
sociedade sustentável, para a relação com o
trabalho e os saberes do homem do campo. leitura do ambiente natural e acontecimen-
tos do cotidiano do aluno. Considerando
que o leitor constrói significados a partir de
Analisando as observações das práticas sua interação com a leitura, pode-se afirmar
de ensino da PLP, tendo como foco os mé- com base em Bakhtin (1997, p. 90) que “[...]
todos de ensino utilizados por ela, trazemos ler é tanto uma experiência individual e
à análise de uma aula, na qual foi trabalhada única, quanto uma experiência interpessoal
a história: “Quem vai ficar com o pêssego?”. e dialógica”.
A PLP procurou fazer uma sequência di-
dática, proporcionando situações de apren- Observamos nas aulas da PLP, que ela
dizagens variadas em Língua Portuguesa, se amparou no livro didático, mas de forma
e em outras áreas de conhecimento, tais moderada, não como o único recurso didá-
como: Matemática, Ciências/ Informática. tico. Para além do livro didático, foi possível
A história mostrada por meio de data show identificar a utilização de várias estratégias
representa uma dramatização que aconteceu didáticas tais como: exposição dialogada,
com crianças de uma escola. Na história, as problematização, trabalho em grupo, se-

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 97


quência didática, leitura de textos varia- Concepções pedagógicas que susten-
dos, exposição por meio de data show, aula tam as práticas de ensino das professoras.
no laboratório de informática, explicação
dos conteúdos a partir da leitura de textos A determinação das intencionalidades
e do livro didático e abordagem de outras nos processos de ensino é primordial para
áreas de conhecimento, como conteúdos de a definição do que se ensinar. Nesse sentido,
Ciências no ensino de Língua Portuguesa. é fundamental que os professores discutam
Também foram vários os recursos didáti- junto aos seus alunos os objetivos e justifi-
cos identificados em suas aulas, tais como: cativas do que ensinam; ajude-os a identifi-
apostilas, livros de histórias, bingos, livro car as suas contribuições para sua vida em
didático, vídeo, data show, maquete corpo perspectiva de ser, profissional e política; in-
humano, computador, entre outros. cite-os a questionar a finalidade do conhe-
cimento a ser ensinado, suas aplicações e sua
A partir da observação e considerando função social.
as condições objetivas da escola, foi possível
percebermos que a PC poderia se utilizar De modo geral, ao analisar a prática da
de outras estratégias e recursos disponíveis PLP, foi possível observar a predominância
para o ensino de Ciências, tais como proble- de várias perspectivas de ensino amalgama-
matização, busca de informações em fontes das, desde a postura tradicional, a constru-
variadas, observação do ambiente natural, tivista com a prática assentada no ideário
experimentação, leitura de textos de diver- da escola novista. Em sua prática de ensino,
sos gêneros, sistematização de conhecimen- constatou-se que havia uma preocupação
tos próximo das vivências das crianças, in- por parte dela em proporcionar estratégias
centivo a pequenas pesquisas, dramatização, didáticas de forma diferenciadas, de tornar
mini-seminários, aulas dialogadas, estudo os conteúdos compreensíveis para os alu-
da fauna e flora local, pesquisa de campo, nos. Ao utilizar de situações concretas que
dentre outras. Dos recursos disponíveis na facilitem a compreensão dos alunos face
escola, citamos o trabalho com jogos, port- aos conteúdos trabalhados, a PLP evidencia
fólio e laboratório com uso de material al- uma prática consubstanciada na perspectiva
ternativo que pode incluir sucatas e descar- da escola nova, na definição trazida por Li-
táveis. Tais possibilidades nos remetem, aos bâneo (1994).
PCN de 1ª a 4ª série de Ciências (BRASIL,
1997) ao esclarecer a importância de como Na observação das aulas da PLP, uma
as pesquisas de campo no ensino de Ciên- situação nos chamou a atenção: em um tra-
cias, podem beneficiar práticas de ensino ao balho envolvendo o ensino de Ciências e
promover visitas em vários ambientes no Língua Portuguesa, resultando na produção
entorno da escola e nas próprias residências dos alunos de uma ficha técnica. Nesse pro-
dos alunos, como nas plantações, nas áreas cesso, quando aguardávamos o sinal para o
de conservação, dentre outras. início da aula, a PLP assim relatou: “Gos-
to de Ciências, então planejei para as aulas
Concluímos na análise desta seção que de Língua Portuguesa um texto que traz
PLP lança mão de repertório diversificado o nome de muitos animais” (PANIAGO,
de metodologias em suas práticas de ensino, 2015, p. 37). Isso nos levou a questionamen-
ao passo que PC prefere uma postura am- tos: Acaso a professora PLP planejou a aula
parada quase que exclusivamente pelo livro de Língua Portuguesa vinculada ao ensino
didático. Na sequência faremos a apresenta- de Ciências por conhecer os objetivos da
ção das análises acerca das concepções pe- presente pesquisa? Ou é um procedimento
dagógicas que sustentam a prática de ensino que já faz parte da rotina da professora?
das professoras.
Ao observar a aula, foi possível identi-
ficar que a professora colheu informações
sobre os saberes das crianças, sobre o as-

98 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


sidades e estimulando os seus interesses,
sunto “animais”, lançando questionamentos:
possa buscar por si mesmo conhecimentos.
“ Gostam de animais? Que animais vocês
conhecem? Conhecem animais que vivem
no zoológico? Conhecem animais que não Percebemos ainda, que a prática de en-
são brasileiros? “ (PANIAGO, 2015, aula da sino da PLP possui resquícios na tendência
PLP, p. 37). tradicional de ensino, traduzido pela forma
pouco dialógica de se relacionar com os
Após os questionamentos, a professora alunos em algumas situações, o que ocorria
distribuiu um texto para que as crianças les- quando a professora precisava manter a dis-
sem e interpretassem. Foi destacado o nome ciplina em sala de aula. Desta forma, apesar
dos animais do texto, e, em seguida feita a son- de PLP incentivá-los a participar das aulas,
dagem em relação aos conhecimentos prévios questioná-los de modo que eles apresentas-
dos alunos, no que se refere a peso, altura, e sem suas opiniões, ela lançava mão constan-
outras características importantes dos animais temente de sua autoridade como professora
em destaque. Logo após, a professora, levou os para manter a disciplina e a ordem em sala
alunos para a sala tecnológica para que aces- de aula. Em alguns momentos era ríspida, e
sassem a internet e coletassem dados sobre os outras vezes, gritava com os alunos, eviden-
animais citados. Assim, fica evidente por meio ciando uma relação hierarquizada e vertica-
de vídeo gravação que a professora na sala de lizada tal qual a criticada por Freire (2005).
informática orienta as crianças a conseguirem O autor criticava a relação verticalizada en-
as informações necessárias para produzirem tre professor e aluno e defendia uma relação
o texto do gênero ficha técnica. E os alunos horizontal em que os professores estabele-
completaram a ficha técnica em cartazes, de- cem o diálogo constante com os alunos.
senhando os animais e, em seguida, fizeram a
apresentação oral em sala e no final, os traba- Na observação da prática de ensino de
lhos foram expostos no mural da escola, para PC, apesar de utilizar de métodos de ensi-
que as crianças se sentissem valorizadas e vis- no, como dinâmicas e brincadeiras na expo-
sem o resultado coletivo da atividade. sição dos conteúdos, a professora se utilizou
de forma expressiva da exposição verbal,
A situação indicada sinaliza que a PLP em que sempre apresentava o conteúdo e
utilizou de algumas das características da es- aplicava as atividades, o que podemos iden-
colanovista, na medida em que, possibilitou: tificar como uma tendência tradicional de
a) a inserção da atividade por meio de ques- ensino (LIBÂNEO, 1994). A PC consegue
tionamentos; b) o levantamento de dados se afastar da mera exposição algumas vezes
pelas crianças no laboratório de informática por meio de dinâmica de grupo e brincadei-
acerca dos animais; c) a construção da ficha ras, mas pouco prolonga essas situações. Do
técnica pelas crianças com as informações ponto de vista da nossa análise, tendo em
coletadas no laboratório de informática; e) vista um ensino de alfabetização científica
desenho dos animais e discussão dos da- na perspectiva do letramento e de inspira-
dos em sala de aula. Conforme se observa, ção progressista o PC não chega a desen-
a professora direcionou os alunos para que volver a aula com base em conhecimentos
buscassem a sua aprendizagem, não apenas resultantes dos interesses e necessidades das
se posicionou em sala de aula e transmitiu crianças, em que ocorre o aprender fazendo;
os conhecimentos aos alunos. Nesse sentido, em que prevalece o uso de tentativas expe-
Libâneo (1994, p. 65) esclarece que: rimentais, a descoberta, trabalho com proje-
tos, pesquisa, dentre outras. O que conside-
A didática da Escola Nova ou Didática ramos ideal.
ativa é entendida como “direção da apren-
dizagem”, considerando o aluno como su- Na observação das aulas das professoras,
jeito da aprendizagem. O que o professor observamos que PLP sinalizou uma práti-
tem a fazer é colocar o aluno em condições
ca de ensino mais diversificada e adequada,
propícias para que, partindo de suas neces-
pela forma como distribuía o tempo em sala

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 99


de aula, a forma como controlava a quanti- servações e análises, que uma preocupação
dade de conteúdos novos e trabalhava ou- central das professoras foi a de cumprir os
tros conteúdos além da Língua Portuguesa, conteúdos de ensino propostos pelo pro-
como Ciências. Entendemos que essa pos- grama curricular da secretaria de educa-
tura de PLP, mais produtiva do ponto de ção e, de certa forma, foi dado um especial
vista do ensino, se deve ao tempo de expe- destaque ao ensino dos conteúdos, enten-
riência no magistério e a sua formação. dendo esses, em termos de desenvolvi-
mento cognitivo dos alunos. Ou seja, em
Entretanto, concluímos das observações, certa medida, as observações nos sugerem
que as duas professoras não atuavam em uma que as professoras colocam mais ênfase
perspectiva progressista que aqui defendemos, em prática de ensino que privilegiam o
segundo nossa análise, pelo fato de não ficar desenvolvimento cognitivo dos alunos e
explícito em suas aulas, os questionamentos menor ênfase em práticas de ensino vol-
sobre as intencionalidades críticas e políticas tadas para especificidades dos sujeitos, da
do ensino, o porquê se ensinar esse ou aquele comunidade local, questões de natureza
conteúdo, conforme afirma Delizoicov e An- social e socioeconômicas etc.
gotti (2011, p. 66) qual conhecimento cientí-
fico pertinente e relevante deve ser ensinado? Em se tratando de crianças que convivem
Quais critérios devem balizar a exclusão dos em um cenário do campo, rico em experiên-
conhecimentos que não serão abordados na cias sociais, culturais e ambientais, o ensino
educação escolar? de Ciências, é frequentemente desafiado a
ser inovado, trazer esse ambiente para den-
Conforme já argumentamos, ambas as tro da sala de aula, questionar conteúdos pe-
professoras de certa forma limitaram o tra- trificados no currículo e abrir espaço para as
balho com os conteúdos do livro didático e experiências das crianças e seu entorno, suas
nas proposições do plano municipal de edu- comunidades e problemas cotidianos. Neste
cação, sem as transcenderem e avançarem viés, a alfabetização científica na perspectiva
para uma perspectiva da educação como do letramento é alternativa importante para
prática social, ou de considerarem seus as- ampliar os conhecimentos das crianças e
pectos críticos, históricos e sociais. Ou de incitá-las desde os anos iniciais a perceber
lançarem mão de conteúdos a partir da pro- os desafios, o sistema de injustiça social no
blematização da vida dos alunos, uma ação meio do qual está inserida, a perceberem os
pedagógica defendida por Freire (2005) e malefícios e benefícios da ciência para si, a
que consideramos essencial para promover sociedade e meio ambiente.
um ensino progressista e especificamente
um ensino de Ciências ancorado no ideá-
rio freiriano, com vistas a formar as crian- CONSIDERAÇÕES FINAIS
ças, os jovens e os adultos com capacidade
de tomada de decisões, com capacidade de Na análise da prática de ensino das pro-
participar com autonomia do meio em que fessoras, por meio da observação e do vídeo
está inserido e de participarem ativamente gravação, em que considerando as várias
na sociedade em que estão inseridos. intervenientes analisadas, tais como: for-
ma de abordar os conteúdos, métodos de
Acrescenta-se às dimensões propos- ensino utilizados e as indicações de con-
tas pela autora, as perspectivas políticas, cepção pedagógica, foi possível observar
o posicionamento crítico, como condição de maneira geral que a PLP possui mais
importante a ser contemplado no proces- perfil docente para realizar um trabalho na
so ensino e aprendizagem das crianças, alfabetização científica na perspectiva do
para que elas aprendam a exercer a sua letramento do que a PC, embora não com-
capacidade de participação, intervenção e plete essa possibilidade plenamente. Há
poder de decisão na realidade, na qual está um potencial para o trabalho pedagógico
inserida. No entanto, concluímos das ob- nessa perspectiva progressista.

100 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


Ao observar a prática docente de cada pro- CARVALHO, A. P.; GIL-PÉREZ, D.
fessora e se inteirar da concepção de algumas Formação de professores de ciências. 10.
tendências pedagógicas, encontramos a ne- ed. São Paulo: Cortez, 2011.
cessidade de defender um ensino de Ciências
com aporte na alfabetização científica na pers- DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. A.
pectiva do letramento capaz de revela ruma Metodologia do Ensino de Ciências. São
ligação estreita com a perspectiva progressista, Paulo: Cortez, 2011.
e o professor precisa considerar a formação in-
tegral do aluno, desde os anos iniciais para que FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 42.
ele possa participar das constantes mudanças, ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005.
no ambiente e em sua própria realidade, e
pensar numa formação ancorada em reflexões, LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cor-
pelo ato de investigar e de descobrir para ele se tez, 1994.
posicionar frente às situações do seu cotidiano.
LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pes-
Por fim, a pesquisa sinaliza que o ensino quisa em educação: abordagens qualitati-
de Ciências Naturais não tem sido valoriza- vas. São Paulo: EPU, 1986.
do da mesma forma que o de Língua Por-
tuguesa, pois, se para ensinar Língua Por- PANIAGO, J. N. Diário de Campo e ar-
tuguesa foi destinado uma professora com quivo de imagens. Pesquisa de mestrado
formação em Pedagogia e uma relevante em Educação (arquivos de 2014 e 2015).
experiência no magistério, enquanto que PPGE/UFG/Jataí - Goiás, 2015.
para o ensino de Ciências atuava uma pro-
fessora sem formação em pedagogia. Fato PANIAGO, R.; OLIVEIRA, M.; PANIA-
que incita um questionamento: não seria o GO, J. Projetos de Ensino e Pesquisa: Práti-
ensino de Ciências tão importante quanto cas vivenciadas em uma escola no/do campo.
o de Língua Portuguesa em uma perspec- Revista Reflexão e Ação, Santa Cruz do
tiva mais ampla de letramento? É eviden- Sul, v. 22, n. 2, p. 170-194, 2014. Disponível
te que a prática da PLP, sua experiência e em: <http://online.unisc.br/seer/index.php/
formação influenciaram o seu trabalho em reflex/index>. Acesso em 30 nov. 2018.
sala de aula, inclusive adotando estratégias
didáticas que favoreciam um trabalho com a SOARES, M. Alfabetização e Letramen-
disciplina de Língua Portuguesa e eventual- to. São Paulo: Contexto, 2008.
mente se aproximando de Ciências.

REFERÊNCIAS

BAKHTIN, M. M. A Estética da criação


verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

BOGDAN, R. BIKLEN, S. Investigação


qualitativa em educação: uma introdução
à teoria e aos métodos. Portugal: Porto
Editora, 1994.

BRASIL. SECRETARIA DE EDUCA-


ÇÃO FUNDAMENTAL Parâmetros
curriculares nacionais: Ciências Naturais,
4. Brasília: MEC/SEF, 1997.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 101


CAFÉ COM LITERATURA: LEITURA
LITERÁRIA INTER/MULTI/
TRANSDISCIPLINAR
MATOS, Josiane Silvéria Calaça1; DOMINGUES, Ângela Claudia Dias2;
MATOS, Fernando Barbosa ; OLIVEIRA, Raquel Martins de4; SOUSA, Taynara Maria Mendonça de5
3

1. INTRODUÇÃO

Quando se pensa no trabalho com o texto literário em sala de


aula é necessário que sejam feitas algumas reflexões sobre o as-
sunto. A primeira reflexão que é proposta a fazer é “O que é lite-
ratura?” ou “O que é um texto literário? Segundo Lajolo (1990)
qualquer tipo de texto pode ser considerado literatura e isso de-
pende do ponto de vista de cada um. O importante é que o texto
literário seja escrito por alguém e também lido por outro alguém.
Embora muitos professores de Língua Portuguesa/Literatura
compartilhem das ideias de Lajolo e acreditem que qualquer tipo
de texto pode ser considerado literário, em sala de aula o trabalho
com o texto literário acaba, muitas vezes, se limitando aos clássicos
da literatura e deixando de lado bons textos de escritores pouco
conhecidos e também contemporâneos. Isso ocorre por vários mo-
tivos, entre eles o foco do ensino médio no ENEM, vestibulares e
concursos.

Dentre os vários textos literários existentes encontram-se auto-


res pouco conhecidos nacionalmente e mais atuais que agradam o
público juvenil e tecnológico da atualidade. Público esse que tem
um gosto literário muito diversificado, o que torna a seleção dos
textos a serem lidos uma atividade muito importante pois os textos
precisam ser do agrado do público-leitor senão a prática da leitura
ficará comprometida e o professor não conseguirá alcançar o obje-
tivo de formar alunos/leitores.
Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia Goiano – É notável que o aluno, quando ingressa na escola, e durante as
Campus Morrinhos séries iniciais, apresenta grande interesse pela leitura e por textos
literários, porém, com o passar dos anos e a medida que avança
E-mail dos autores:
nos estudos, vai deixando de ver na leitura e também no texto li-
1- josiane.matos@ifgoiano.edu.br; terário um lugar de diversão, imaginação e “viagem pelo mundo”
2-angela.dominges@ifgoiano.edu.br; para enxergar um lugar de atividades desgastantes de exercícios,
provas, fichas de leitura etc. As atividades de leitura propostas pelo
3- fernando.matos@ifgoiano.edu.br;
professor, principalmente o de Língua Portuguesa/Literatura, em
4- raquel.oliveira@ifgoiano.edu.br; sala de aula objetivam apenas o cumprimento das tarefas escolares,
5- taynara.souza@ifgoiano.edu.br preparação para o ENEM, vestibulares e concursos, tornando-se

102 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


para os alunos uma obrigação, em que as es- para que o aluno realmente desempenhe o
colhas pessoais são deixadas de lado. ato de leitura. Ao planejar suas aulas no de-
correr do ano letivo o professor irá introduzir
O aluno, enquanto leitor e produtor de “espaços” para que o aluno leia textos que ele
textos, perde sua voz e vez, pois as leituras mesmo escolheu. Outra atitude importante
são imposições e não escolhas. Por ser uma que o professor deve tomar é de selecionar
imposição e não uma escolha, o ato de ler, textos literários tendo em vista os interesses
seja de um texto literário ou não, acaba se e a capacidade interpretativa dos alunos. Ao
tonando uma tarefa difícil e, muitas vezes, ler obras de interesse pessoal e dentro de sua
massacrante. Segundo Silva, “na escola, capacidade interpretativa o aluno se sentirá
diante da imposição das leituras idealizadas mais estimulado e, consequentemente, terá
pelos professores e pelos livros didáticos, mais vontade de ler independente do tipo
constrói-se o mito de que a leitura literária é de texto.
difícil, complexa e inacessível para os alunos,
subestimando-se a capacidade interpretati- A atividade de leitura realizada na escola
va dos educandos” (SILVA, 2006, p. 517). é de grande importância para a formação de
cidadãos críticos e conscientes, por isso deve
No dia a dia, dentro da sala de aula, o ser realizada de forma significativa, na qual
que se percebe é que a escola não consegue haja troca de experiências, discussões sobre
desenvolver adequadamente a habilidade de os textos e valorização das interpretações
leitura, isso porque ela está mais preocupada dos alunos. A leitura deve propiciar a refle-
em cumprir o currículo e preparar o aluno xão, criatividade e imaginação e, acima de
para o vestibular e concurso, do que formar tudo, proporcionar prazer. Neste contexto,
um leitor. Assim, a atividade de leitura, que leitura e literatura estão estreitamente rela-
antes era uma atividade lúdica, com o passar cionadas e ambas contribuem para a forma-
dos anos escolares se torna mero instrumen- ção do leitor. Segundo Silva, “é fundamental
to avaliativo. A leitura crítica, interpretativa que a escola aborde a função social da li-
e a análise de textos literários diversos não teratura como uma possibilidade de “ler o
se realiza e a escola não desempenha o seu mundo”, contribuindo assim para a forma-
papel de formar leitores críticos e autôno- ção de leitores críticos, capazes de articular
mos capazes de desenvolver uma leitura crí- a leitura de mundo à leitura produzida em
tica do mundo. De acordo com Silva: sala de aula” (SILVA, 2006, p. 517).

A leitura e a literatura sofrem um processo Buscando articular a leitura de mundo à


de escolarização, no qual o artificialismo leitura em sala de aula; instigar o desenvol-
revela-se de modo recorrente por meio de vimento da habilidade de leitura crítica por
atividades, exercícios escolares isolados, meio do contato com a literatura; formar lei-
sem que o aluno perceba a leitura como
tores apreciadores da arte, explorando o tex-
“ação cultural historicamente constituída”
to literário com seus elementos constitutivos
(SILVA, 2006, p. 517).
e sua relação com o contexto de criação; ler
textos literários com envolvimento da ima-
A escola não forma leitores, apenas cum- ginação e da emoção; valorizar a literatura e
pre automaticamente o que está previsto no outras manifestações culturais como formas
currículo escolar e o aluno, mais uma vez, de compreensão do mundo e de si mesmo;
avança de uma série para outra, porém a integrar a disciplina de língua portuguesa/
leitor crítico não. O leitor avança para a sé- literatura às demais disciplinas do currículo
rie seguinte, muitas vezes sem ter “lido” um escolar é que se propôs o desenvolvimen-
único texto. to do projeto “Café com Literatura: leitu-
ra literária inter/multi/transdisciplinar”. O
Diante deste cenário, onde a escola não projeto também buscou viabilizar leituras,
forma leitores, é necessário que o professor discussão e análise de diferentes textos e de
reavalie o seu trabalho e crie oportunidades diferentes gêneros literários.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 103


2. METODOLOGIA dentro da literatura. Durante os encontros,
um professor ficou encarregado de condu-
A metodologia adotada para o desenvol- zir as discussões apresentando seu ponto de
vimento do projeto foi a realização de en- vista (análise) sobre a(s) obra(s)/tema em
contros mensais. Esses encontros contavam questão. As obras/temas que foram traba-
com apresentações musicais como abertura, lhadas no decorrer do projeto foram esco-
depois uma palestra e, por último, um de- lhidas de acordo com indicações dos alunos
licioso lanche e sorteio de brindes. As pa- e professores, possibilitando, assim, que em
lestras eram proferidas por professores de cada encontro fosse discuto um tema dife-
várias áreas de conhecimento e sobre temas rente e do agrado de determinado grupo de
diversos. Ao final de cada palestra abria-se alunos e professores, portanto significativo.
espaço para questionamentos, tirar dúvidas As escolhas efetuadas pelos integrantes/
e trocar ideias. participantes do projeto puderam contem-
plar clássicos da literatura mundial, nacio-
Ao término do projeto foram realizadas nal e regional (autores goianos), assim como
5 palestras, sendo: 1- HQs (Universo Mar- obras da atualidade. No pri-
vel e DC.) com o professor Paulo Eduardo meiro encontro, realizado dia 13/12/2016,
Nogueira IF Goiano – Campus Morrinhos; o professor de informática Paulo Eduardo
2- Poesia Ontem e Hoje com o professor Nogueira fez uma explanação sobre os HQs
Ulysses Rocha Filho, UFG – Catalão GO; da Marvel e DC, o que chamou a atenção
3- Literatura de Autoajuda com a professo- de muitos alunos, também leitores e admi-
ra Ana Flávia, Rede Municipal de Ensino radores de HQs. No terceiro encontro, dia
– Morrinhos GO; 4- Literatura de autoria 08/05/2017, tivemos uma palestra sobre li-
feminina com a professora Luciana Borges teratura de autoajuda ministrada pela pro-
– UFG Catalão GO; 5- Literatura e Cinema fessora da rede municipal de ensino Ana
com o professor Ivan Viana – UFU Uber- Flávia de Oliveira. Ela apontou as princi-
lândia MG. pais características desse tipo de literatura e
também os principais autores nacionais. O
O projeto também realizou uma ofici- público adorou a forma dinâmica da pales-
na sobre produção de contos para prepa- trante em abordar o tema e também tiveram
rar os alunos interessados em participar do a oportunidade de tirar algumas dúvidas so-
concurso de contos e uma “Manhã Cultu- bre o assunto. Ao final da palestra tivemos
ral” (encerramento do projeto). Na Manhã muitos alunos parabenizando a equipe exe-
Cultural, foram realizadas atividades como cutora do projeto pela escolha do tema. Os
apresentações musicais, dança e declamação demais encontros, totalizando cinco, ocorre-
de poemas. Também nesse dia ocorreu uma ram de acordo com os primeiros.
mostra de desenho e de fotografia.
Além das palestras, durante os encontros
A última atividade realizada foi a visita havia apresentações musicais dos alunos do
técnica à cidade de Goiás. Os alunos que IF Goiano – Campus Morrinhos, sorteio de
produziram os 15 melhores contos foram brindes e o famoso “café”, no qual era ser-
para a cidade de Goiás conhecer a casa/ vido aos alunos um lanche regado a café e
museu da escritora goiana Cora Coralina e sucos variados.
outros museus. A visita foi custeada pelo IF
Goiano Campus Morrinhos. No último encontro e culminância do
projeto, além das apresentações musicais
também houve apresentações de dança, tea-
3. DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS tro, declamação de poemas, mostras de de-
senho e fotografia. Neste último encontro,
O projeto foi desenvolvido em forma também foram divulgados os nomes dos
de encontros, em sua maioria mensais, nos ganhadores do I Concurso de Contos do
quais se discutia sobre determinado tema IF Goiano Campus Morrinhos - Café com

104 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


Literatura: Contando Estórias. O concurso tura pois, durante os encontros, eles davam
de contos foi realizado pelo projeto e com o exemplos de obras lidas e também pediam
apoio da direção geral e da direção de ensi- indicações de leitura aos palestrantes.
no do IF Goiano – Campus Morrinhos.
Outro ponto positivo que vale a pena
A última atividade desenvolvida pelo ser destacado é a quebra do preconceito em
projeto, em 24/11/2017, foi levar os alu- relação a certas obras literárias, como as de
nos ganhadores do concurso de contos (15 autoajuda. Muitos alunos acreditavam que
melhores contos) para uma visita técnica à esse tipo de literatura não possuía valor li-
cidade de Goiás para conhecer a casa da es- terário e acabavam zombando daqueles que
critora goiana Cora Coralina, o museu de gostavam desse tipo de leitura. Durante a
arte sacra Igreja da Boa Morte e a antiga palestra da professora Ana Flávia de Oli-
casa de Câmara de Cadeia. A organização veira, muitos alunos se mostraram surpresos
do projeto reuniu os 30 melhores contos e diante das explicações da palestrante sobre a
pretende, em 2018, publicá-los em um livro. função e características da literatura de au-
toajuda. Ao final dessa palestra foi possível
Ao final das atividades desenvolvidas perceber que alunos entenderam a questão
pelo projeto foi possível perceber que os do preconceito que há dentro do contex-
alunos, além de gostarem das atividades, to literário e fora dele, cabendo a cada um
também ampliaram o conhecimento sobre combatê-lo.
a literatura. O projeto funcionou como um
espaço para se divertir, expor ideias, discus- O clima de descontração e lazer que preva-
sões e aquisição de conhecimento. Os alu- leceu durante o desenvolvimento das ativida-
nos se sentiam a vontade, ou seja, faziam des também merece ser destacado. Era notável
parte do projeto. O interesse dos alunos pelo no semblante dos alunos a satisfação e alegria
projeto foi grande, o que se comprovou pela que eles estavam sentindo. Eles estavam ali
participação dos mesmos nas atividades de- naquele lugar porque queriam, não havia obri-
senvolvidas ao longo de 2017 e pela quan- gação, por isso o prazer de participar.
tidade de alunos inscritos no I Concurso de
Contos do IF Goiano Campus Morrinhos
- Café com Literatura: Contando Estórias. 5. REFERÊNCIAS
Os alunos participavam das atividades por-
que realmente queriam. LAJOLO, Marisa. O que é literatura. 12ª
Ed. Editora Brasiliense. São Paulo, 1990.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS SILVA, Ivanda Maria Martins. Literatura


em Sala de Aula: da teoria literária à prá-
Ao término da execução do projeto, con- tica escolar. Anais do PG Letras 30 Anos
cluiu-se que seu desenvolvimento foi muito Vol. I (1): 514-527. UFPE. Recife, Pernam-
relevante, ao final de 2017, muito se comen- buco. 2006. Disponível em: <http://www.
tava dentro do Instituto sobre o projeto. pgletras.com.br/Anais-30Anos/Docs/Ar-
Diante de críticas tão produtivas a organi- tigos/5.%20Melhores%20teses%20e%20
zação resolveu-se continuar desenvolvendo disserta%C3%A7%C3%B5es/5.2_Ivanda.
o projeto em 2018. pdf>. Acessado em: 02 de agosto de 2016.

Ao final do projeto foi possível notar que


os alunos deixaram de lado a ideia de que
a boa literatura é somente a dos clássicos,
eles perceberam que aquilo que eles estavam
lendo também era literatura e tinha o seu
valor. Também foi possível perceber que os
alunos estavam mais interessados pela lei-

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 105


JOGOS DIDÁTICOS: UMA
FERRAMENTA PARA AUXILIAR NA
APRENDIZAGEM DOS ESTUDANTES
SILVA, Maria Lucia Fontineles da1; NUNES, Patrícia Gouvêa2

1. INTRODUÇÃO

O seguinte texto apresenta uma pesquisa que foi conduzida


como parte integrante do estágio obrigatório do curso de Licen-
ciatura em Ciências Biológicas, vinculado à pesquisa sobre o es-
tágio nas Licenciaturas do Instituto Federal Goiano – Campus
Rio Verde do Laboratório Interdisciplinar de Formação de Edu-
cadores (LIFE), constituindo-se em uma oportunidade do aluno
estagiário, mais do que observar as aulas dos professores efetivos,
mas também investigar a docência e demonstrar sua criatividade
e até mesmo contribuir com novas ideias para a prática docente
(SANTOS, S., 2017).

Tendo em vista toda a dificuldade enfrentada pelos professores


de ciências, apesar da evolução da tecnologia e das pesquisas na
área docente, principalmente quanto à motivação de seus alunos
na sala de aula (AVELAR, 2015), buscou-se trabalhar com a apli-
cação de jogos, como auxílio ao professor em suas aulas.

Sabe-se que há hoje muitos recursos à disposição dos educa-


dores para dinamizar a aula, tornando-a mais interessante a seus
alunos. No entanto, isso demanda tempo por parte do professor
em preparar aulas de forma a serem mais agradáveis ao seu públi-
co, atingir seus objetivos e passíveis da utilização de recursos que
estejam de acordo com o conteúdo trabalhado (FIALHO, 2008).
1 Instituto Federal de Educação,
No que diz respeito à aplicação de jogos como auxílio ao ensino
Ciência e Tecnologia Goiano –
Campus Rio Verde. E-mail da au-
de ciências, diversos trabalhos demonstram sua eficácia (MIRAN-
tora: fontineles.lucia@gmail.com. DA, 2001; BORGES E LIMA, 2007; PEDROSO, 2009), uma
br; vez que, quando bem planejado e elaborado, este tem a capacidade
de prender a atenção dos alunos, tornar a aula dinâmica e interes-
2 Instituto Federal de Educação,
sante, além de ser uma ótima ferramenta para ajudar os alunos a
Ciência e Tecnologia Goiano –
Campus Rio Verde. E-mail da assimilarem o conteúdo estudado em sala, visto que eles precisam
autora: patricia.nunes@ifgoiano. ter uma base teórica para conseguirem participar eficazmente da
edu.br atividade lúdica (DE OLIVEIRA et al, 2016).

106 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


Com base nisto, o objetivo deste texto é meio de observação das aulas, avaliação do
apresentar os elementos da experiência do- livro didático e a Base Curricular obriga-
cente no estágio quanto à eficácia da utili- tória de Ciências do Ensino Fundamental
zação de jogos didáticos no ensino de ciên- II. O jogo foi confeccionado, utilizando-se
cias nos anos finais do ensino fundamental, materiais de fácil acesso a qualquer pessoa
a fim de identificar se, de fato, eles podem que os queira reproduzir.
ser utilizados como ferramentas de auxílio
para facilitar aos alunos a aprendizagem dos O jogo:
conteúdos abordados.
Bom de mira (Fig. 1). Trata-se de um
jogo de caçapas, para perguntas e respos-
2. METODOLOGIA tas. Para confeccioná-lo foram utilizadas
algumas garrafas pet de 2,5 L, 2 L e 1,5 L,
Compreende-se a abordagem qualitativa tesoura, estilete, uma placa de isopor e cola
enquanto exercício desta investigação, como quente. As garrafas foram cortadas em al-
uma proposta que não apresenta rigidamen- turas diferentes na parte superior, para que
te estruturada, pois ela permite que a imagi- se tivesse uma abertura na qual o aluno pu-
nação e a criatividade levem os investigado- desse arremessar uma bolinha e, foram co-
res a propor trabalhos que explorem novos ladas sobre a base de isopor com cola quen-
enfoques, acredita-se que esta representa te, dispostas em círculo. Para aplicação foi
uma forma que pode se revestir de um ca- necessária uma bolinha de borracha para
ráter inovador, trazendo contribuições im- ser arremessada na tentativa de acertar al-
portantes no estudo da docência (LUDKE guma caçapa. Vale ressaltar que o jogo aqui
e ANDRÉ, 2014). mencionado, é passível de alteração em suas
aplicações por parte do professor, visto que,
O estágio que oportunizou esta investi- o que o define são as perguntas utilizadas.
gação foi conduzido no Colégio Estadual Portanto, sua execução deve ser moldada
Abel Pereira de Castro, na cidade de Rio visando o conteúdo a que ele será aplicado.
Verde – GO, com os alunos do 8º ano do
ensino fundamental, no turno vespertino, Figura 1: Jogo Bom de Mira
constituindo-se de duas fases: Primeira -
observação e levantamento de dados/ es-
trutura e caracterização da escola, acompa-
nhamento das aulas do professor de ciências
e levantamento dos conteúdos estudados.
Para tanto, foram realizadas entrevistas com
a gestão e outros funcionários e também
com os professores e alunos, além de contar
também com anotação em diário de bordo.
E a segunda – execução do projeto: confec-
ção e aplicação do jogo.

Para a confecção do jogo, foram avalia- Fonte: Foto tirado pela autora.
dos os conhecimentos prévios dos alunos,
por meio de um questionário, contendo per- Antes da aplicação dos jogos, foram
guntas objetivas relativas aos conteúdos es- ministradas aulas (de 50 minutos) para re-
tudados por eles ao longo do ano. Os dados visar o conteúdo utilizado para elaboração
obtidos foram tabelados e serão apresenta- das perguntas do jogo. Após aplicação do
dos posteriormente. Os conteúdos utiliza- jogo, aplicou-se um segundo questionário,
dos para a montagem e utilização do jogo, contendo as mesmas perguntas do primeiro,
foram selecionados de acordo com os temas porém em uma ordem diferente, a fim de
estudados pelos alunos ao longo do ano, por avaliar se o jogo foi de fato eficaz na apren-

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 107


dizagem dos alunos. Os dados foram tabe- 3.2. AS AULAS
lados e serão apresentados posteriormente.
Durante as aulas, procurou-se dar maior
ênfase aos conteúdos em que os alunos de-
3. DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS monstraram maior carência, sendo que a
participação deles foi fundamental, principal-
mente com os questionamentos que condu-
3.1. QUESTIONÁRIO ziram o andamento da aula. Levando-se em
consideração que a escola em que se realizou
Os dados do questionário aplicado antes a pesquisa conta com algumas ferramentas
das aulas de revisão serviram como base para auxiliares que podem ser utilizadas pelos pro-
saber o nível de retenção de conhecimento fessores de ciências, como por exemplo um
por parte dos alunos. Segundo mostra a Ta- torso1, este foi utilizado nas aulas de revisão,
bela 1, o percentual de erros e acertos de- e despertou bastante a curiosidade dos alunos,
monstram o nível de dificuldade evidencia- que manusearam as peças e fizeram muitas
do por alguns alunos em lembrarem do que perguntas a respeito das estruturas, ligando-as
aprenderam ao longo do ano. aos conteúdos estudados.

Tabela 1 – Percentual de acertos das questões Como já mencionado, a utilização de


no questionário prévio, baseados nos ferramentas visuais durante as aulas pode
60 alunos participantes. ser de grande valor para o docente, uma vez
que é evidente que a aprendizagem se dá de
QUESTÕES (%) ACERTOS
maneira mais significativa quando o aluno
1 52 % está motivado, de igual maneira, se o pro-
2 68 % fessor também está motivado, ensinará com
mais qualidade (AVELAR, 2015).
3 87 %
4 39 %
5 76 % 3.3. O JOGO
6 65 %
Os alunos demonstraram-se muito in-
7 54 % teressados e animados em participarem do
Fonte: Dados do 1º questionário jogo proposto (Fig. 2). Caracterizado como
aplicado pela autora. um jogo de perguntas e respostas, a nature-
za dinâmica deste se deu pela forma como
Esses dados demonstram que apenas o o aluno “ganhava” o direito de responder à
estudo comum dos conteúdos auxiliados pergunta.
pelo livro, listas de exercícios e explicação
do professor não apresentam tanta eficácia. Segundo as regras do jogo, primeiro era
Segundo estudos, as alternativas utilizadas necessário que o aluno acertasse a bolinha
pelos professores como: recursos áudio vi- em uma das caçapas onde continham per-
suais, experimentação, estudo de campo e, guntas diversas sobre os temas estudados,
principalmente os lúdicos, têm mostrado sendo que o nível de dificuldade das per-
resultados bastante animadores (DA SIL- guntas era estabelecido de acordo com a
VA et al, 2017; DE OLIVEIRA et al, 2017; cor da caçapa em que se encontravam. O
DOS SANTOS et al, 2017; SANTOS, G. jogo exigia tanto conhecimento individual,
2017). Isso se deve, principalmente, pelo ca- quanto trabalho em equipe, pois os alunos
ráter dinâmico que estas práticas conferem
às aulas, além do que constituem uma ferra-
menta adicional ao professor na tentativa de 1  Representação de parte do corpo humano,
manter seus alunos motivados com o apren- excluindo a cabeça e os membros (Dicionário
dizado (DA SILVA et al, 2017). Houaiss, 2018).

108 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


foram divididos em dois times, onde um
aluno jogava a bolinha e outro era solicitado
para responder à pergunta. Em caso de dú-
vida, o aluno poderia solicitar ajuda ao seu
grupo, que então poderia lhe auxiliar ou res- Figura 2: Aplicação do jogo nas turmas C e D do 8º
ponder a pergunta, no entanto, neste caso a ano no Colégio Estadual Abel Pereira de Castro, Rio
pontuação diminuía. Verde – GO, período vespertino.

A participação de todos foi bastante satis- Porém, mudanças na prática docen-


fatória, tanto em relação ao entusiasmo com te ainda são passíveis de muitos estudos e,
o jogo, quanto ao comprometimento dos principalmente, ações que possibilitem o
alunos em acertarem as perguntas. Muitos interesse por parte dos professores, a fim de
alunos apresentaram dificuldades em alguns buscarem melhorar sua prática e esperar que
conteúdos como: sistema muscular, sistema isso se reflita no aprendizado de seus alunos
digestório e nervoso, visto por eles como sen- (BARCELOS, 2007).
do “complexos”. Ainda assim, todos se empe-
nharam muito em fazer parte do projeto que
se configurou em ganho para eles. 3.4. AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA DO JOGO

De fato, a utilização do lúdico permitiu O segundo questionário (Tabela 2), aplica-


aos alunos, que assimilassem melhor o que do após o jogo, permitiu constatar que o jogo
estavam estudando, isso porque eles esta- cumpriu seu papel como ferramenta didática
vam, ao mesmo tempo aprendendo brin- capaz de ajudar no ensino-aprendizado.
cando, sem o peso da responsabilidade e
obrigação da aprovação. Além disso, segun- Tabela 2 – Percentual de acertos das questões no
do Lima &Azevedo (2017), os jogos didá- questionário posterior a aplicação do jogo, baseados
ticos têm grande contribuição na formação nos 60 alunos participantes.
acadêmica, pois auxiliam no desenvolvi-
QUESTÕES (%) ACERTOS
mento do senso crítico, desenvolvimento de
competências e ainda, melhora a relação do 1 96 %
professor com os alunos. Resultados seme- 2 96 %
lhantes foram demonstrados por Gonzaga 3 96 %
et. al. (2017), com aplicação de jogos do en- 4 83 %
sino de Ecologia; Miranda et al. (2016), no
5 65 %
estudo de Astronomia, dentre outros.
6 74 %
7 87 %
Fonte: Dados do 2º questionário aplicado
pela autora.

Pode-se observar, comparando as ques-


tões equivalentes nos questionários aplica-
dos, tanto no primeiro quanto no segundo,
que os alunos apresentaram desempenho
superior no segundo questionário em rela-
ção ao primeiro, o que pode estar relacio-
nado com a aplicação do jogo, visto que o
caráter lúdico no estudo dos conteúdos faz
com que o envolvimento dos alunos favo-
reça o aprendizado, deixando-o divertido e
não como uma obrigação, como é visto por
muitos alunos (BORGES E LIMA, 2007).

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 109


Outro ponto importante a ser ressalta- apresentado resultados bastante promisso-
do aqui, foi a diminuição da pressão sobre os res, como já mencionado. De fato, pode-se
alunos ao serem avaliados sem caráter repro- constatar que o jogo retira o rigor do ensino
vativo, como normalmente acontece com as e do aprendizado, tão presentes no cotidia-
provas teóricas escritas, demonstrando que es- no escolar, por tornar-se algo divertido para
tas não devem ser utilizadas como ferramenta os alunos, os permitindo aprender sem a ne-
única para avaliar o aprendizado dos alunos. cessidade de terem que fazê-lo para alcançar
uma nota mínima e serem aprovados.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Poder pôr em prática o conhecimento


que venho adquirindo ao longo da gradua-
A utilização do jogo como ferramenta ção foi uma oportunidade fantástica, além
didática atendeu às expectativas, demons- do que a experiência que estou adquirindo
trando-se bastante eficaz. Os dados obtidos como docente com os estágios, sem dúvida
em ambos os questionários ressaltam que, me ajudará imensamente no futuro, quando
de fato, alternativas são necessárias aos pro- a responsabilidade de uma sala de aula tor-
fessores da Educação Básica, a fim de que o nar-se inteiramente minha como professora.
ensino não seja um peso para eles e o apren-
dizado seja prazeroso ao aluno.
5. REFERÊNCIAS
Ainda que muitos trabalhos tenham de-
monstrado que os jogos didáticos desem- AVELAR, A. C. A motivação do aluno no
penham um papel muito importante, são contexto escolar. Sistema Integrado de Pu-
necessárias mais pesquisas voltadas à sua blicações Eletrônicas da Faculdade Ara-
utilização efetiva na sala de aula, bem como guaia – SIPE. v.3 ∙ 2015 ∙ p. 71-90. Aces-
demais áreas de conhecimento nos quais so: 20 de março de 2018. Disponível em:
possa ser explorado. <www.faculdadearaguaia.edu.br/sipe>

É importante salientar que, mesmo com BORGES, R. M. R., & LIMA, V. D. R.


todas as disciplinas didáticas e práticas pe- Tendências contemporâneas do ensino
dagógicas previstas e constantes nos cursos de Biologia no Brasil.  Revista electrónica
de Licenciatura em Ciências Biológicas, de Enseñanza de las Ciências,  6 (1), 165-
elas não são capazes de proporcionar aos 175.2007.
discentes a oportunidade de vivência real da
prática docente quanto o Estágio Supervi- DA SILVA, M. J., PEREIRA, M. V., &
sionado obrigatório. ARROIO, A. O papel do Youtube no en-
sino de ciências para estudantes do ensino
Ao observar as aulas do professor pude médio. Revista de Educação, Ciências e
perceber algumas dificuldades que são nor- Matemática, 7(2). 2017.
malmente enfrentadas pelos professores da
educação básica, principalmente em questão DE OLIVEIRA, F. C., DA SILVA, S. B.,
de superlotação de alunos em sala de aula. DE MOURA, N. A., & ENZWEILER,
Porém, ministrar as aulas e conduzir a apli- M. P. Jogos no ensino de genética: uma
cação do jogo com as turmas, proporcionou- proposta para a aprendizagem da 1ª lei de
-me a oportunidade de viver esse momento Mendel. In Semiedu.2017.
como docente.
DE OLIVEIRA, N. C., SERAFIM, N. T.,
A ideia de utilizar jogos no ensino de TEIXEIRA, M. R., & FALONE, S. Z. A
ciências partiu do fato de que o lúdico vem produção de jogos didáticos para o ensi-
sendo estudado como uma estratégia didá- no de biologia: contribuições e perspecti-
tica, com o fim de auxiliar o professor e aju- vas. Ciclo Revista, 1(2). 2016.
dar os alunos a aprender brincando, e tem

110 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


DOS SANTOS, W. H. L., DEL PINO, J. SANTOS, G. Uma perspectiva multi-
C., SÁ-SILVA, J. R., & PINHEIRO, R. S. cultural a partir da temática cachaça com
A ideia do lúdico como opção metodológica o uso de recursos audiovisuais no ensino
no ensino de ciências e biologia: o que di- de química. e-Mosaicos, 6(12), 155-161.
zem os TCC dos egressos do curso de ciên- 2017. Acesso: 20 de março de 2018. Dis-
cias biológicas licenciatura da Universidade ponível em: <http://www.e-publicacoes.
Federal do Rio Grande do Sul?PESQUI- uerj.br/ojs/index.php/e-mosaicos/article/
SA EM FOCO, 21(2). 2017. view/29569/21444>

FIALHO, N. N. Os jogos pedagógicos SANTOS, S. M. C. O lúdico na educação


como ferramentas de ensino. In: Congres- infantil: experiências e vivências no estágio
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12306). 2008. duação) - Curso de Pedagogia, Universida-
de Federal do Rio Grande do Norte, Na-
GONZAGA, G. R., MIRANDA, J. C., tal, 2017. Acesso em: 22 de março de 2018.
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22 de abril de 2018. Disponível em: <ht-
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da competência leitora/escritora no ensino
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gria de aprender. In: Ciência Hoje, v.28, p.
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PEDROSO, C. V. Jogos didáticos no ensino


de biologia: uma proposta metodológica ba-
seada em módulo didático. In CONGRES-
SO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, IX.
2009.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 111


A EXPERIMENTAÇÃO COM
O MOTOR STIRLING NO
ENSINO DE FÍSICA
MARQUES, Natany Silverio1; ABREU, Styven Gomes de2;
THOMÁZ, André Angelo Ferrato3; RAMOS, Tiago Clarimundo4

1. INTRODUÇÃO

Em grande parte das escolas de educação básica, predomina


um ensino de Física excessivamente guiado pela transmissão de
conteúdos, mas sem uma preocupação de torná-los mais signifi-
cativos para os estudantes. A inquietação de muitos professores
acaba se limitando a esgotar o livro, como se a aprendizagem de-
pendesse apenas de sua reprodução.

Adverte-se que o material didático é importante; contudo, sua


apropriação em sala de aula deve ultrapassar a mera reprodução,
com empreendimento de atividades que possam estimular a cria-
tividade, a imaginação e a reflexão sobre os conhecimentos abor-
dados com os discentes (LIBÂNEO, 1994). Outrossim, diversos
autores (ARAÚJO; ABIB, 2003; LABURÚ, 2006; MARINELI;
PACCA, 2006; HEIDEMANN; ARAUJO; VEIT, 2016; entre
outros) têm sugerido o uso da estratégia da experimentação nas
aulas de Física para promover a ressignificação dos conteúdos e
1 Instituto Federal de Educa- mobilizar os estudantes com o processo de ensino e aprendizagem.
ção, Ciência e Tecnologia Goia-
no – Campus Rio Verde. E-mail: É com base nessas considerações que o presente estudo tem
naatymarques1@hotmail.com por objetivo analisar potencialidades de uma prática com o mo-
2 Instituto Federal de Educação, tor Stirling na disciplina de Física, junto a estudantes do ensino
Ciência e Tecnologia Goiano – médio, em uma escola estadual de Rio Verde-GO, com indicação
Campus Rio Verde. E-mail: sty- de alguns encaminhamentos que podem favorecer o ensino e a
vengomes@gmail.com aprendizagem de termodinâmica.
3 Colégio Estadual Professor
Quintiliano Leão Neto – Rio Ver- Importa realçar que a invenção tecnológica do motor Stirling
de-GO. E-mail: andreferrato@ remonta ao ano de 1816, no início da revolução industrial, um
gmail.com período de rápido desenvolvimento em todas as áreas do conheci-
mento, inclusive na engenharia. A principal motivação de Robert
4 Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia Goiano – Stirling em propor essa máquina térmica surgiu da preocupação
Campus Rio Verde . E-mail: tiago. com os frequentes acidentes que ocorriam nas indústrias devido
ramos@ifgoiano.edu.br à fragilidade dos materiais aplicados na construção das caldeiras,

112 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


que não suportavam as altas pressões de va- 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
por. O motor Stirling, por sua vez, era mais
seguro justamente por funcionar com pres- Previamente, os bolsistas de iniciação
sões relativamente baixas. científica desenvolveram um exitoso traba-
lho de sensibilização dos participantes a fim
de obter a adesão dos mesmos à pesquisa.
2. METODOLOGIA Logo após confirmarem a disposição de co-
laboração dos sujeitos, iniciaram-se as ativi-
No bojo das intervenções realizadas, dades em aulas de Física que estavam sob a
no decorrer do segundo semestre de 2017, regência de um professor que tinha forma-
com os estudantes de uma turma de ensi- ção específica na área.
no médio, os bolsistas de iniciação científica
trataram, nas aulas de Física, mais especifi- Na construção do motor Stirling modelo
camente de assuntos relacionados ao campo gama (Figura 1) foram utilizados os seguin-
da termodinâmica em estreita articulação tes materiais: duas latas de refrigerante vazias,
com questões tecnológicas e sociais. duas latas de tinta vazias, tinta spray azul, raio
de bicicleta, lã de aço, bexiga tamanho 10, dois
Houve a exploração teórica das leis da CDs justapostos; rolamento de DVD, tampa
termodinâmica, com uma ampla discussão plástica com altura de 3 cm, joelho PVC 20
sobre a evolução das máquinas térmicas. Na mm, mangueira, resina epóxi, parafusos, alica-
sequência, fez-se um experimento para de- te, estilete, segueta, furadeira, brocas de 2 mm
monstração e análise do funcionamento de e 3 mm, arame, ferro de solda, chave phillips,
um motor Stirling modelo gama. lamparina caseira e etanol.

Conforme descrito em Fernandes e


Sousa (2003), o motor Stirling é uma má-
quina de combustão externa com um ciclo
termodinâmico de compressão isotérmica,
seguida do aquecimento isocórico, expansão
isotérmica e resfriamento isocórico. Quanto
maior a diferença de temperatura entre a câ-
mara quente e a câmara fria, maior é o ren- Figura 1: Protótipo do motor Stirling modelo gama.
dimento dessa máquina. Embora existam Fonte: Acervo dos autores.
variadas opções de combustível, optou-se
nessa prática pelo uso do etanol. As latas foram cortadas e fez-se a adap-
tação dos pistões, bexiga e conexões de
O protótipo didático de modelo gama modo a evitar vazamentos. Encaixou-se o
compôs-se de dois cilindros independen- virabrequim em dois furos de uma das la-
tes feitos com duas latas de refrigerante. tas de refrigerante. Colocou-se o volante de
Um pistão de deslocamento, suspenso por CDs acoplado ao eixo do virabrequim.
uma haste, que desloca o ar entre as câmaras
quente e fria. Um segundo pistão de traba- Neste estudo, não houve qualquer pre-
lho, separado do cilindro quente, que pro- tensão de prescrever uma sequência de pro-
duz as compressões e expansões do fluido. tocolos. Todavia, inicialmente, no que tange
ao funcionamento do motor, os estudantes
Ao final de cada encontro com os estu- puderam compreender que ao ser aquecido
dantes, fez-se também o registro em memó- no cilindro quente, o ar expande seu volume.
ria de campo para sistematizar as impressões O ar aquecido é transferido pelo pistão de
e outras considerações concernentes aos re- deslocamento que força o pistão de trabalho
sultados alcançados ao longo da pesquisa. para cima. No cilindro de trabalho, o ar res-
fria-se e reduz seu volume, forçando o pistão
de trabalho para baixo. O pistão de desloca-

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 113


mento sobe transferindo o ar para parte in- ticular esforço por parte do professor em dar
ferior do cilindro quente. Com isso, o pistão sentido ao conhecimento ministrado.
de deslocamento chega ao ponto de origem
completando um ciclo. Não obstante, os
participantes da pesquisa conseguiram per- 5. AGRADECIMENTOS
ceber, principalmente, que o funcionamento
do motor Stirling dependia da diferença de À Diretoria de Pesquisa e Pós-Gradua-
temperatura entre as câmaras quente e fria. ção do Instituto Federal Goiano – Campus
Rio Verde, pelo apoio financeiro.
Outrossim, destaca-se que os diversos
momentos de imersão dos aprendizes com
o projeto do motor Stirling contribuiu, so- 6. REFERÊNCIAS
bretudo, para enriquecer o processo de en-
sino e aprendizagem de termodinâmica, ARAÚJO, M. S. T.; ABIB, M. L. V. S. Ati-
mormente através das discussões de natu- vidades Experimentais no Ensino de Física:
reza sociocientífica relativas às tomadas de Diferentes Enfoques, Diferentes Finalida-
decisão e aplicação do conhecimento físico des. Revista Brasileira de Ensino de Físi-
no enfrentamento de problemas sociais que ca, v. 25, n. 2, p. 176-194, jun. 2003.
foram suscitadas em sala de aula.
FERNANDES, B. L.; SOUSA, R. P. Mo-
No fechamento dos trabalhos, os parti- tor Stirling. Revista Ciência e Tecnologia,
cipantes da pesquisa chegaram, inclusive, a v. 6, n. 9, p. 1-16, 2003.
compartilhar os conhecimentos adquiridos
no projeto com a comunidade, na Feira de HEIDEMANN L. A.; ARAUJO I. S.; VEIT
Ciências promovida pela escola. E. A. Atividades experimentais com enfoque
no processo de modelagem científica: Uma
alternativa para a ressignificação das aulas de
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS laboratório em cursos de graduação em Física.
Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 38,
Nesta pesquisa, desde os primeiros en- n. 1, p. 1504, mar. 2016.
contros, predominou-se uma atmosfera de
grande seriedade, cooperação, empatia e res- LABURÚ, C. E. Fundamentos para um
peito mútuo entre todos participantes, pro- experimento cativante. Caderno Brasileiro
piciando prosseguir com os trabalhos. de Ensino de Física, v. 23, n. 3, p. 382-404,
dez. 2006.
Destarte, o desafio de levar a experimen-
tação de baixo custo com o motor Stirling LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cor-
serviu não apenas para despertar o interesse, tez, 1994.
mas potencializou intenso engajamento dos
participantes da pesquisa com a (re)constru-
ção de conhecimentos científicos do campo
da termodinâmica de modo integrado a ou-
tras questões mais abrangentes da vivência
tecnológica e social.

Por fim, assevera-se que toda interven-


ção pedagógica jamais irá apresentar um
fim em si mesma. É nesse sentido que, para
além da pretensão de indicar quaisquer se-
quências didáticas a serem reproduzidas em
sala de aula, conclui-se que toda atividade
experimental no ensino de Física exige par-

114 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


A INSERÇÃO DE JOGOS
COMO RECURSO DIDÁTICO NO
ENSINO DA MATEMÁTICA
ARAÚJO, Pedro Augusto Barbosa¹; BATISTA, Rosana Santos Gonçalves²;
OLIVEIRA, Taynara Machado³; LOVATO, Agda Teixeira4.

1. INTRODUÇÃO

O Programa Institucional de Bolsas e Iniciação à Docência


(PIBID) é uma iniciativa do governo federal que visa incentivar
a formação de professores a nível superior para atuação no de-
senvolvimento básico. Um dos objetivos é impulsionar o elo entre
professores em formação e a prática em sala de aula. De acordo
com o Ministério da Educação, uma das propostas do PIBID é
o incentivo à carreira do magistério nas áreas de educação básica
com maior carência de professores com formação específica.

Esse programa oferece bolsas aos estudantes dos cursos de li-


cenciatura que participam de subprojetos de iniciação à docência,
desenvolvidos pelas instituições de ensino superior (IES) em par-
ceria com as escolas da rede pública, que ofertam o ensino básico.
Com esse projeto é possível que o acadêmico de licenciatura tenha
uma aproximação com o espaço sala de aula antes de entrar no
mercado de trabalho, tendo a oportunidade de vivenciar e parti-
cipar do processo de ensino-aprendizagem dos alunos e se prepa-
rarem para serem futuros professores. Ao participar desse projeto
1 Instituto Federal de Educação, temos a oportunidade de ensinar e também aprender com os pro-
Ciência e Tecnologia Goiano – fessores regentes, o que contribui satisfatoriamente para a forma-
Campus Urutaí –GO. e-mail do ção daqueles que pretendem seguir o magistério.
autor: augusto1103@outlook.com
2 Instituto Federal de Educação,
A partir do momento em que o subprojeto PIBID - Matemáti-
Ciência e Tecnologia Goiano ca passou a ser desenvolvido no Colégio Estadual Rodrigo Rodri-
– Campus Urutaí –GO. e-mail gues da Cunha (CERRC), no segundo semestre de 2016, observa-
do coautor : rosanagoncalves3@ mos o impacto que causava sobre os alunos dos 6º e 7º anos, que
gmail.com se mostravam interessados e ansiosos por terem a oportunidade de
3 Instituto Federal de Educação,
aprenderem os conteúdos propostos de maneira diversificada.
Ciência e Tecnologia Goiano –
Campus Urutaí –GO. e-mail do Devido às políticas públicas de proletarização do magistério,
coautor : taynagta81@hotmail.com torna-se cada vez mais difícil para o professor encontrar tempo e
elaborar atividades diversificadas e dinâmicas. Outro fator desafia-
4 Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia Goiano – dor para a profissão docente é o uso da Tecnologia de Informação
Campus Urutaí –GO. e-mail do e Comunicação que vem desafiando mudanças na prática peda-
orientador : agda.lovato@gmail.com gógica, e através do PIBID a escola tem a oportunidade de levar

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 115


novos recursos para as salas de aula sem in- e critérios. Prodanov e Freitas (2013) acre-
terferir na sua rotina escolar. Partindo dessa ditam que quando a pesquisa se encontra na
linha de pensamento, buscamos sempre or- fase preliminar, tem como finalidade pro-
ganizar e levar para os alunos, jogos e ativi- porcionar mais informações sobre o assun-
dades relacionadas aos conteúdos dados pe- to que vamos investigar, possibilitando sua
los professores regentes, para que pudessem definição e seu delineamento, isto é, facilitar
ter a oportunidade de compreender e fixar, a delimitação do tema da pesquisa; orientar
porém para que esse trabalho fosse realmen- a fixação dos objetivos e a formulação das
te aproveitado, nós, bolsistas, tínhamos em hipóteses ou descobrir um novo tipo de en-
mente que não bastava apenas levar os jogos foque para o assunto, assim ela assume as
para a sala de aula sem compreender como formas de pesquisas bibliográficas, estudos
eles poderiam afetar os alunos. de caso e pesquisa-ação.

Na tentativa de criar uma abordagem para Hoje, a pesquisa-ação privilegia seus par-
a Educação Matemática que possa levar ticipantes por meio de processos de autoco-
tanto a um maior controle sobre o co- nhecimento e, quando focaliza a educação,
nhecimento quanto à consciência crítica, informa e ajuda nas transformações. Para
é importante ter uma teoria pedagógica
Elliott (1997), a pesquisa-ação permite su-
adequada que possa guiar e esclarecer prá-
perar as lacunas existentes entre a pesquisa
ticas especificas de sala de aula. (FRAN-
KENSTEIN, 2005, p.102) educativa e a prática docente, ou seja, entre
a teoria e a prática, e os resultados ampliam
as capacidades de compreensão dos profes-
Vimos, em muitos trabalhos sobre o as- sores e suas práticas, por isso favorecem am-
sunto, que o jogo aplicado de maneira corre- plamente as mudanças. Como esse tipo de
ta em sala de aula pode ser muito importan- pesquisa foi realizada em grupo (6 turmas
te para o ensino-aprendizagem dos alunos. com um total de mais ou menos 180 alunos)
Flemming e Collaço de Mello (2003) acre- cada participante pôde aprender com suas
ditam que o jogo contribui para que o pro- próprias experiências e, ao mesmo tempo,
cesso ensino-aprendizagem seja produtivo tornar esse aprendizado aberto a todos os
e agradável tanto para o educador quanto integrantes da pesquisa.
para o educando.
A utilização dos jogos na segunda fase do
Nessa perspectiva, nós, bolsistas atuantes ensino fundamental possibilitou que os alunos
no CERRC, sempre buscamos atividades que do 6º e 7º anos compreendessem as proprie-
complementassem o conteúdo em sala de aula, dades das operações básicas e a formaliza-
ou em alguns casos auxiliassem em conteúdos ção de conceitos primordiais da matemática.
que os alunos sempre demonstravam dificul- Além de tornar expressivo o encontro com
dade, como a tabuada e as quatro operações novas práticas, o jogo cria um cenário em que
básicas da matemática. Levando em conside- se apoderar desses conhecimentos tem uma
ração todos os aspectos citados acima, em se- razão mais próxima do ponto de vista infantil
tembro de 2017, aplicamos a oficina “Batalha e com isso os alunos participam ativamente do
Naval” com os alunos de sexto e sétimo ano do processo educativo.
ensino fundamental, no intuito de revisar os
conteúdos que seriam cobrados na avaliação
bimestral de matemática. 3. DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS

Aplicamos o jogo batalha naval e o adap-


2. METODOLOGIA tamos de acordo com o objetivo da oficina.
Utilizamos um banner feito de juta que pos-
Este trabalho tem caráter exploratório, suía vinte bolsos, sendo cinco na horizontal,
ou seja, tem como intuito uma proximidade enumerados de 1 a 5, quatro na vertical com
da realidade estudada, por meio de métodos as letras de A a D, um notebook com caixas

116 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


de som, fichas com as questões que envol- 2º O banner foi colocado suspenso no
vem potências, as quatro operações básicas quadro, de modo que todos poderiam
da matemática e alguns enigmas matemáti- visualizá-lo e ter acesso. Distribuímos
cos (as fichas eram trocadas de acordo com aleatoriamente quinze perguntas e
as séries e suas dificuldades), quadro branco cinco bombas sem que os alunos pu-
e canetão. dessem ver onde estavam.

Para a aplicação, houve a participação 3º Foi chamado um integrante de cada


de três bolsistas do subprojeto PIBID-Ma- equipe, para decidir quem começaria,
temática (Pedro Augusto Barbosa Araújo, utilizando “par ou ímpar”.
Rosana Santos Gonçalves Batista e Taynara
de Oliveira Machado), sob o acompanha- 4º Escolhido aleatoriamente, o inte-
mento da supervisora do colégio, Rosi- grante de cada equipe iria à frente e
ney Domingas de Araújo, tendo início às escolheria uma letra e um número do
12h45min com término às 17h45min do banner correspondente ao bolso no
dia 22 de setembro de 2017. qual estava a questão. O aluno po-
deria utilizar o quadro branco para
realizar os cálculos, e tinha 2 minutos
cronometrados para isso. Se acertas-
se, o ponto era da sua equipe. Caso o
aluno tirasse a bomba, ele e mais três
integrantes da equipe teriam que pa-
gar um “mico” que a equipe adversária
escolhesse.

5º Cada resposta correta era marcada no


quadro branco.

Ao final da oficina a equipe vencedora


seria a que obtivesse mais pontos.

Ao aplicar a oficina observamos o inte-


Fonte: BATISTA, Rosana Santos Gonçalves, 2017. resse dos alunos em participar, porém mui-
Figura 1: Batalha Naval da Oficina tos se recusavam a ir à frente, já que se sen-
tiam acanhados, principalmente nas turmas
de sétimo ano. Esse fato ocorre muitas vezes
por terem medo de rejeição caso errassem
Primeiramente explicamos o fun- a questão e não garantissem o ponto para
cionamento do jogo, cujo objetivo era a equipe, ou por simplesmente terem difi-
acertar o maior número de questões, as culdades em responder. Com os alunos das
quais valiam um ponto para a equipe turmas do sexto ano, ainda podia-se obser-
que respondesse corretamente, e dois var uma certa inocência de ser criança, o que
pontos para quem cumprisse o desafio contribuiu para melhor participação. Inde-
da “bomba”, que nessa oficina consistia pendentemente desses imprevistos, tivemos
em dançar ou cantar uma das vinte mú- a participação da maioria.
sicas que a equipe adversária escolhesse
de uma lista previamente estabelecida. Os alunos que iam à frente para respon-
der a questão podiam contar com nossa aju-
A oficina ocorreu da seguinte forma: da, caso ocorresse alguma dúvida, mas sem
que entregássemos a resposta. Caso respon-
1º A sala foi dividida em duas equipes. dessem de forma incorreta, corrigíamos e
mostrávamos a maneira exata de resolver.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 117


Com essa iniciativa os alunos se empol- Como bolsistas do PIBID foi possível vi-
garam, principalmente quando alguém re- venciar essa experiência que nos aproximou
tirava a ficha com a bomba, pois para eles do espaço sala de aula, o que soma grande
era divertido ver os colegas “pagando mico”. ajuda para nossa formação acadêmica. Por
Como o critério de escolha da equipe foi fim podemos ressaltar que essa oficina teve
simplesmente dividir a sala ao meio, tive- um saldo positivo, já que os alunos pediram
mos a oportunidade de fazer com que alu- várias vezes para levar mais atividades di-
nos se interagissem e trabalhassem em gru- versificadas, ou seja, vale a pena inovar nas
po, o que é uma ótima maneira de preparar metodologias.
os alunos para a sociedade. Ao final, demos
um pirulito para cada aluno, como forma
de agradecimento por terem participado de 5. REFERÊNCIAS
nossa oficina, e incentivo para mostrar que
também se pode aprender matemática de BRASIL, Parâmetros curriculares na-
maneira divertida. cionais: matemática. Brasília: MEC/SEF,
1997.

FLEMMING, Diva Marilia; COLLAÇO


DE MELLO, Ana Claudia. Criatividade
Jogos Didáticos. São José: Saint-Germain,
2003.

MEC. PIBID - Apresentação. Disponí-


vel em: <http://portal.mec.gov.br/pibid >.
Acesso em: 01 agosto 2017.

PRODANOV, Cleber Cristiano; FREI-


Fonte: MACHADO, Taynara de Oliveira, 2017 TAS, Ernane Cesar. Metodologia do Tra-
Figura 2: Aplicação da Oficina Batalha Naval balho Científico: Métodos e Técnicas da
Pesquisa e do Trabalho Acadêmico. Novo
Hamburgo: Rio Grande do Sul,2013.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A aplicação da oficina contribuiu para


que os alunos tivessem um contato maior
com os conteúdos antes da prova. Em rela-
ção às operações básicas da matemática foi
possível perceber que os alunos do 6º ano
ainda tem certa dificuldade, principalmente
quando tinham que resolver um problema
por meio de multiplicação e divisão. Ob-
servamos também que os alunos de ambas
as turmas desenvolveram uma certa dificul-
dade em relação a exercícios de raciocínio
lógico, e isso se deve, principalmente, pela
falta de interpretação dos problemas pro-
postos. Outro aspecto importante a se frisar
é a socialização dos estudantes durante a
oficina. Isso foi um dos pontos mais positi-
vos do trabalho e evidenciou que quando há
cooperação, o ensino surte mais efeito.

118 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


MATEMÁTICA E MÚSICA: UMA
PROPOSTA DE APRENDIZAGEM
CABRAL1, Rafayane Barros; GOULART2, Claudiney

Resumo:Nesta pesquisa, foram investigados assuntos envolvendo


matemática e música, sugerindo resolução de problemas musicais
com o auxílio da matemática, de modo que os alunos estabeleçam
relações entre a Matemática e Música. Abordamos Frações, Fun-
ções Exponenciais, Logarítmicas e Trigonométricas, Progressão
Geométrica e Mínimo Múltiplo Comum, propondo um trabalho
diversificado. Com este estudo, foi possível perceber o quanto a
matemática está ligada à música e despertará a curiosidade e o
interesse do aluno na matemática quando se insere a música no
contexto. Estudos comprovam que por meio da música pode-se
até curar determinadas doenças, ajudar o aluno a melhorar sua au-
toestima, socializar-se melhor, contribuir para o seu aprendizado,
aumentando sua capacidade de concentração, dentre outros be-
nefícios. Destacamos alguns fatos históricos, relacionamos o Som
e a Trigonometria, a Matemática e a Música, definimos alguns
elementos básicos da Teoria musical, ressaltamos algumas contri-
buições de Euler no campo da Matemática e a Teoria Musical e
sugerimos uma estratégia de trabalho em sala de aula utilizando a
Teoria Musical como motivação.

Palavras-chave: Música, Matemática, Aprendizagem, Ondas, Som.

INTRODUÇÃO
Universidade Federal de Goiás - Em 2009, foi desenvolvido um projeto chamado Coral Escolar,
Mestrado Profissional em Mate- que teve duração de 2 anos, com esse trabalho pode-se observar
mática em Rede Nacional – Cam-
que os alunos envolvidos nesse projeto começaram a fazer cone-
pus Jataí
xões entre a Matemática e a Música, assim por ocasião da especia-
rafayaneb@hotmail.com lização, pudemos registrar essa experiência no trabalho.
1 Mestre em Matemática - concen-
tração no Ensino da Matemática Gardner (2007) relata que pessoas talentosas em termos ma-
2 Doutor em Matemática - con- temáticos frequentemente manifestam um considerável interesse
centração em Equações Diferen- pela música, talvez isso aconteça porque a música se apresenta
ciais e Parciais como um campo extremamente fértil para a mente matemática.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 119


A relação entre a Música e a Matemática Abdounur (2003) relata que um osso de
existe, desde a antiguidade, identificada nos urso com idade entre 43.000 e 82.000 anos,
estudos pitagóricos sobre a Música, de acor- encontrado em 1995 nos Alpes da Eslováquia,
do com Abounur (2003), fato de fundamental apresentava buracos que produziam sons que
importância para sua evolução. Observamos possuíam elementos fundamentais da atual
que alunos que praticam Música, apresentam escala diatônica. Porém, os primeiros registros
um grande esforço em destacar-se em outras de notações musicais foram entre os séculos
áreas do conhecimento, não apenas em Ma- IV e V conforme Teixeira (2015). Os neumas
temática (BASTIAN, 2009). Dessa forma, possibilitavam ao cantor conhecer a direção da
nota-se que é interessante explorar problemas melodia, mas não indicavam com precisão as
envolvendo Música como uma ferramenta notas, foram se desenvolvendo graficamente
para o aprendizado da Matemática. no decorrer do século IX ao XIII.

Estudos comprovam que alunos que es- Os primeiros indícios da existência de


tudam música podem ter sua inteligência relações entre a Matemática e a Música
ampliada. Bastian (2009) fez um experi- ocorreu por volta do século VI a.C., na es-
mento com alunos da educação básica num cola Pitagórica, esses pensadores relaciona-
período de 4 anos e aqueles que foram sub- ram intervalos musicais com o conceito ma-
metidos à educação musical expandida tive- temático de frações (ABDOUNUR, 2003).
ram um desempenho no teste de QI (111) Pitágoras, por sua vez, almejava entender o
superior ao dos alunos que não usufruíram que chamamos hoje em dia de harmonia.
de uma educação musical durante o período Saltoy (2003) comenta que a busca pela
QI (105). harmonia cósmica já era objeto de estudo
de inúmeros cientistas da idade Média. Da
Alguns aspectos históricos na evolução antiguidade até o Renascimento, conhecia-
da Música, bem como a sua relação com a -se sete planetas. Nesse sentido, Pitágoras
Matemática, serão abordados, sendo feita definiu a conceito de harmonia das esferas,
uma relação entre a trigonometria e som e, coincidindo com sete sons harmônicos.
entre a Matemática e Música.
De acordo com Abdounur (2003), os
Serão destacadas algumas definições gregos desenvolveram o tetracordes e de-
acerca da Teoria Musical, ressaltando na se- pois uma escala com sete tons, Pitágoras,
quência algumas importantes contribuições Arquidas, Aristoxeno, Eristóstenes desen-
de Euler no campo da Matemática relacio- volveram diferentes critérios de afinidade.
nada Música, em seguida faremos algumas Eristótenes elaborou a diferenciação entre
sugestões para o trabalho da Matemática intervalos calculados aritmeticamente entre
inserida na Música, bem como algumas su- 284 e 202 a.C., entre muitos outros registros
gestões de atividades que podem ser feitas pertinentes à Matemática e à Música.
em sala de aula ou extraclasse, tendo a Mú-
sica como motivação para ensino de diver- Juliani (2003) destaca que os chineses
sos conceitos matemáticos. desenvolveram desde os tempos antigos as
sequências pentatônicas contendo a partir
do Dó, Ré, Mi, Sol e Lá, que corresponde
BREVE CONTEXTO HISTÓRICO às 5 primeiras notas do ciclo das quintas,
comparadas aos cinco elementos da filosofia
Não se sabe ao certo o início das primei- natural: água, fogo, madeira, metal e terra.
ras manifestações musicais, mas um registro
bastante antigo é o Salmo 51 de Davi, re-
gistrado por volta do século X a.C., pois os FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS E O SOM
Salmos eram uma maneira do povo de Israel
louvar a Deus. Pitágoras foi pioneiro em estabelecer rela-
ções entre a Matemática e a Música, ao reali-

120 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


zar experimentos com uma corda, percebendo central que possui uma frequência de 440 Hz1.
que o som produzido representava uma deter- Dessa forma, é importante entender o que é o
minada fração do som original. A partir daí som. O Som é uma onda longitudinal que se
conseguiu organizar uma escala musical (sé- propaga através da matéria, seja sólido, líquido
culo VI a.c.) (PAPADOULOS, 2014). ou gasoso, o qual não pode ser percebido caso
não haja um meio material.
Quanto ao movimento de um ponto P
sobre uma circunferência de raio 1 no sen- É importante destacar suas proprieda-
tido anti-horário, seu percurso pode ser de- des. A intensidade é a propriedade que o
terminado por uma função seno, o qual tem som tem de ser mais forte ou mais fraco, a
valor máximo em y = 1. Altura é a propriedade que o som tem de ser
mais grave ou agudo e o Timbre é a qualida-
Enquanto o tempo t varia de 0 a 1 se- de do som (LINK, 2010).
gundo, o ângulo a varia de 0 a 2π, ou seja, o
ponto P completou um ciclo em um segun- A amplitude é a altura da onda em re-
do. O número de ciclos realizados em um lação ao seu ponto médio, que nada mais é
segundo denominamos frequência. que a intensidade do som. A frequência é
o número de vezes que uma onda completa
Linck (2010) desenvolveu um modelo seu movimento e volta ao seu estado ini-
matemático que mostram que as notas mu- cial dentro de uma determinada unidade de
sicais podem ser representadas por ondas tempo, que pode ser dada em Hertz (Hz),
senoidais, que se define pela seguinte fór- ou seja, ela está associada com a rapidez com
mula geral: que uma onda se propaga, conforme MO-
RAIS, 2008.
Y = A . sen (bx + c)

Temos que Y é a variação da pressão; A é


a amplitude máxima da onda, b = 2πf; onde
f é a frequência,x representa o tempo em se-
gundos e c a fase, que se trata do momento
em que a curva senoide se inicia. Dessa for-
ma, podemos reescrever a fórmula:

Y = A . sen(2πfx + c) Fonte: https://anasoares1.wordpress.com/

Vejamos o gráfico de uma frequência de Ratton (2002), citado por Link (2010),
15 Hz: destaca que o ouvido humano só capta sons
entre 20 a 20.000 Hz, de modo que os sons
entre 20 e 200 Hz são ditos graves e sons
entre 5.000 a 20.000 Hz são ditos agudo. Os
sons entre 200 e 500 Hz são chamados de
sons intermediários. Chamamos de infras-
sons aqueles abaixo de 20 Hz e ultrassons
aqueles acima de 20.000 Hz.
Fonte: SOUZA, Luciana Gastaldi e Sardinha, et al.
Matemática e Música: Relações e suas implicações no O timbre, como já foi dito anteriormente,
Ensino da Matemática. é a qualidade do som, permitindo que façamos
a distinção de uma mesma nota ao ser toca-
Assim pode-se relacionar a frequência com
algumas notas musicais, por exemplo, o ‘lá’
1 O Lá4 com frequência de 440 Hz é o mais uti-
lizado na afinação de instrumentos.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 121


da em um piano ou em um violão, conforme Conforme Teixeira (2015), a música é
MED (1996). Por exemplo, formas arredon- representada por figuras chamados ‘notas’,
dadas de ondas em gráficos da função seno as quais variam de acordo com a duração do
produzem timbres mais suaves e formas mais som e silêncio, e recebem nomes distintos:
pontiagudas produzem sons mais estridentes.

Temos que uma série de frequências


sonoras produzem a característica que nos
permite reconhecer a fonte do som, essa
série é denominada série harmônica. Con-
forme [8], ao ouvirmos uma nota, podemos
identificar também uma série de outras fre-
quências secundárias mais agudas, que não
perceberemos sozinhas, esse conjunto de
sons define o timbre de cada instrumento.

Segundo MED (1996), série harmônica


é o conjunto de sons que acompanham um
som fundamental, som gerador, som principal.
Em uma série harmônica os intervalos que Fonte: http://julianajaremczuk.blogspot.com.
a formam começam com oitavas justas e fi- br/2013/07/partitura.html
cando sempre menores, ou seja:
A palavra ‘clave’ vem do latim que sig-
8ª J - 5ª J - 4ª J - 3ª M - 3ª m - 3ª m - 2ª nifica chave, atualmente utiliza-se três tipos
M - 2ª M - 2ª M - 2ª M - 2ª m ... de claves:
A clave de Sol marca seu
Os harmônicos da série soam com in- lugar da nota sol na segun-
tensidades diferentes em cada instrumento, da linha. Fonte: http://julia-
ressalta MED (1996), porém nenhum ins- najaremczuk.blogspot.com.
trumento produz um som puro, o diapasão br/2013/07/partitura.html
fornece um som mais limpo que as demais A clave de Fá marca seu
formas de som. lugar da nota fá na 4ª linha.
Fonte: http://www.geoci-
ties.ws/asomatica/Teoria/
ApostilaII.htm
TEORIA DA MÚSICA
A clave de Dó indica a co-
Para estabelecer relações entre a Mate- locação da nota dó. Fonte:
http://www.fotolog.com/
mática e a Música é importante que sejam
celofane/68093156/
definidos alguns elementos da Música.

Em MED (1996) é definido que o pen-


tagrama é a disposição de cinco linhas pa-
ralelas horizontais e quatro espaços, onde é
possível escrever as notas musicais, contam-
-se as pautas e as linhas de baixo para cima. Fonte: https://incentivomusical.wordpress.com/tag/
pentagrama/

O semitom é o menor intervalo entre


dois sons consecutivos quaisquer, dessa for-
Fonte: http://www.sotutorial.com/index.php/tutoriais- ma a soma de dois semitons teremos um
-teorial-musical/teoria-musical-003-pentagrama/ tom. Assim, podemos definir os acidentes,
são eles:

122 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


 Sustenido: eleva a altura da nota em
Intervalos
um semitom, analogamente o dobra-
do sustenido eleva um tom inteiro e o
triplo sustenido três semitons;

 Bemol: abaixa a altura da nota em um Fonte: http://professorwagnerluciano.blogspot.com.br/


semitom, analogamente o dobrado
bemol abaixa um tom inteiro e o tri-
plo bemol três semitons;
Esses intervalos apresentados são todos
 Bequadro: anula o efeito dos aciden-
simples, aqueles intervalos que possuem mais
tes anteriores, sustenido ou bemol.
de oito notas, ou seja, com mais de 6 tons, são
chamados de intervalos compostos.
O Sistema Natural define com precisão
o número de vibrações para cada nota e as
relações entre elas (PEREIRA, 2013). Te- MÚSICA E MATEMÁTICA
mos que o Coma é a nona parte de um tom,
por exemplo: entre Dó e Ré existem 9 co- No século IX, Guido d’Arezzo, um monge
mas, entre Dó e Dó# são 5 comas e entre o italiano, fez a classificação dos sons, retirando
Réb e Ré também são 5 comas, logo Dó# ≠ de um hino a São João Batista em latim, o se-
Réb, já no Sistema Temperado essa diferen- guinte esquema (MORAIS, 2008):
ça é eliminada, ou seja, entre Dó e Dó# são
4,5 comas e entre o Réb e Ré também são “UT queant laxix REsonare fibris MIra
4,5 comas, assim teremos Dó# = Réb. gestorum FAmuli tuorum, SOLve polluti LA-
bii reatum. Sancte Ioannes. ”
Intervalo é a diferença de altura entre
dois sons, a relação existente entre duas al- Porém, no século XVI, Giusepe Doni,
turas, ou ainda, o espaço que separa um som músico italiano, propôs mudar Ut para Dó,
do outro. É importante estabelecer sua clas- para facilitar a pronúncia, sendo sete notas
sificação, temos intervalos de: musicais, podendo variar de acordo com a
altura, por exemplo, o Lá central possui uma
Dois sons com o mesmo

nome e mesma altura. frequência de 440 Hz, o Lá com uma oitava
abaixo possui uma frequência de 220 Hz, já
Menor é composto por um semitom e o
2ª o Lá com uma oitava acima do lá central
maior é composto por um tom.
possui uma frequência de 880 Hz, ou seja,
Menor é composto por um tom e toda sequência de oitavas de uma nota espe-
3ª 1 semitom e o maior é composto
cífica é uma P.G. (Progressão Geométrica)2
por dois tons.
de razão 2.
Justa é formado por dois tons e um
4ª semitom e o maior é por 6 semitons
Para MED (2009), a música é a arte de
ou 3 tons.
combinar sons simultânea e sucessivamente,
Justa é composto por 3 tons com ordem, equilíbrio e proporção dentro

e um semitom
do tempo, mas Pereira (2013) ressalta que
Menor é composto por 3 tons ou 2 a música é uma sucessão de som e silêncio
6ª semitons e o maior é por 4 tons organizada ao longo do tempo, a qual possui
e um semitom.
melodia, harmonia e ritmo. A melodia é o
Menor é composto por 4 tons e 2 semi- conjunto de sons apresentados de forma su-
7ª tons e o maior é composto por
5 tons e 1 semitons.
Justa é composto por 5 tons

e 2 semitons.
2  Uma P.G. é uma sequência de números que
cada termo, começando pelo segundo, é igual ao
produto entre termo anterior e uma constante,
chamada de razão da progressão geométrica.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 123


cessiva, na harmonia os sons se apresentam Perceba que para encontrar uma fre-
de forma simultânea e o ritmo é a ordem e quência em relação ao Dó central por
a proporção que os sons são apresentados. exemplo, basta multiplicar a fração que cor-
respondente àquela nota. A nota Dó possui
Pensando nisso, observamos que escala uma frequência aproximada de 264 Hz, para
musical com sete notas repetirá a primeira obter a frequência de Fá dentro da mesma
nota no oitavo som, porém, mais agudo, mas oitava basta multiplicar 264 por 4/3.
a escala musical de Pitágoras não possuía a
mesma distância entre as notas, de modo Essas relações são muito utilizadas por
a medida que os sons evoluíam, não havia fabricantes de instrumentos musicais, ex-
uma repetição com a mesma proporção, plica Juliani (2003), mesmo sem saberem o
assim trata-se de uma escala em espiral, e motivo, entendem a sua importância.
não cíclica, o que dificulta a transposição de
músicas para outros tons, além de nunca se
coincidir com o ciclo das quintas, que tra- EULER E A MÚSICA
ta-se de um ciclo com intervalos de quintas
justas (formada por 3 tons e um semitom) Utilizando a Teoria Musical, Euler tenta
entre as notas. Por exemplo, entre Dó e Sol mostrar que é possível utilizar números para
há um intervalo de quinta justa, entre Sol e se obter intervalos consonantes, e encontrar
Ré também, e assim por diante. um critério para separar consonâncias de
dissonâncias (Knobloch, 2008). Dessa for-
Euler havia percebido que na divisão ma, Euler definiu um grau de afabilidade
aritmética feita por Pitágoras, utilizando o d(n) para cada número natural.
Percurso da Quintas, teríamos que percorrer
12 quintas para obter 7 oitavas exatas (CA- Seja n=p1a1.p2a2.p3a3...pmam1, temos que
MARGOS, 2010), mas isso só é verdade se d(n) = a1(p1 - 1) + ::: + am(pm - 1) + 1
estivermos falando de uma escala musical
temperada, pois 312 ≠ 219, do contrário tería- O que Euler ainda precisava era de apli-
cabilidade em intervalos arbitrários, sendo
mos , com n = 12 e p = 7, o que é um assim o grau de consonância de um interva-
absurdo, pois para 3n = 2p+n, não é possível lo ou acorde deve ser o grau de afabilidade
encontrar uma solução inteira. do mínimo múltiplo comum (m.m.c.) dos
números envolvidos: d (a:b) = d (mmc(a,b)).
Com isso, fez-se necessário a criação da
escala temperada, que se trata da divisão das Euler utilizou números imaginários na
notas de uma escala musical com a mesma função 2x para obter ondas que se tratava
distância entre os sons, acarretando numa de uma determinada nota musical, desco-
leve desafinação, porém, para alguns pitagó- brindo assim que cada nota depende das
ricos da época, a música deixaria de ser sa- coordenadas do número imaginário a qual
grada e passaria a ser humana. Dessa forma corresponde (SALTOY, 2003).
as sete notas passariam para 12 notas, as 7
notas naturais mais 5 acidentes. Na sequência, Euler desenvolveu a fun-
ção zeta, a qual utilizava para expressar algu-
Para se ter um valor preciso dessa divisão mas importantes propriedades dos números
dos intervalos, foi feito o seguinte cálculo: se primos. Segundo Saltoy (2003), temos que
o Dó central equivale a 1, o Dó uma oitava ao misturar ao acaso os números imaginá-
a cima teria o dobro da sua altura, assim, se rios com a função zeta de Euler, Riemann
são 12 intervalos, teremos i12 = 2, o que nos descobriu uma nova maneira de escutar os
dá aproximadamente i = 1,0594631, tornan- tons misteriosos dos números primos, era
do mais fácil a transposição de músicas para uma música que apenas matemáticos da
o tom desejado. época poderiam ouvir.

124 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


Conforme Knobloch (2008), uma série des em sala de aula ou atividades extraclasse,
de potência é um polinômio que continua assim despertando o professor para o tema
até o infinito. A análise das funções trans- aqui discutido e, a partir das ideias sugeri-
cendentais nada mais é que uma expansão das, eles possam desenvolver suas próprias
natural da álgebra. A decomposição de po- atividades, podendo até mesmo ser sugeri-
linômios em fatores pode ser aplicada às das por alunos. Este trabalho é importante
funções transcendentes que são equações também para que os alunos percebam algu-
de grau infinito, ao buscar dedução de uma mas das inúmeras relações existentes entre a
fórmula para calcular essa série que Euler Matemática e a Música, tornando o ensino
definiu a função zeta: mais prazeroso, possibilitando maior apren-
dizagem.

Aqui sugerimos algumas vídeo-aulas que


consideramos interessantes:
Através dessa função foi possível tocar
uma música que revelasse os segredos dos 1. Matemática e Música partes 1 e 2,
números primos, de acordo com Saltoy estes vídeos foram produzidos pela UNI-
(2003). As senóides criadas por essa função VESP TV, ressalta o fato de que, na anti-
revelavam uma estrutura harmônica oculta. guidade, a Música era ensinada como uma
O som podia ser representado por um grá- ciência exata, mostrando a sua evolução ao
fico onde o eixo horizontal representava o longo da história, bem como os principais
tempo e o eixo horizontal representava o filósofos e matemáticos que tiveram gran-
volume e a altura do som e cada momen- des contribuições nessa área. Faz alusões
to. Ao reproduzir o gráfico escalonado que acerca de assuntos diversos nos campos da
contava o número de primos da mesma for- Matemática e Música, abordando de forma
ma, somou as alturas das funções de onda, dinâmica cada tema. Essas vídeo-aulas estão
derivando da paisagem zeta, assim ao serem disponíveis nos seguintes links:
tocadas ao mesmo tempo, tais ondas repro-
duziam o som dos números primos. <https://www.youtube.com/watch?v=ETP-
zsN-vgE8>
PROPOSTA DE ENSINO DE CONTEÚDOS
MATEMÁTICOS INSERIDOS NA MÚSICA <https://www.youtube.com/watch?v=GF-
ZngfZU6Yk>
Propomos uma metodologia de ensino
da Matemática para os alunos da educação 2. Matemática em toda parte, esse vídeo
básica, quer seja em um trabalho sistemático sugere algumas propostas para o ensino da
ou esporádico, a exploração de 10 problemas Matemática de forma mais criativa.
em aula expositiva ou em forma de debates,
os quais envolvam Matemática e Música, Disponível em: <https://www.youtube.
sugeridos por Pereira (2013)3. com/watch?v=Z93YDhKfgkc>

Objetiva-se mostrar a professores e alu- 3. Arte e Matemática, estabelece parale-


nos que é possível tornar o ensino de Ma- los entre a Matemática Pura e a Matemática
temática mais interessante. Não será explo- Aplicada, Cinema e Teatro, Escultura e Pin-
rado um assunto - e sim daremos sugestões tura, e os diferentes tipos de música. Define
para que possam ser desenvolvidas ativida- algumas características do som. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?-
v=8X53JhvHxO0>
3 Veja dissertação completa em <https://repo-
sitorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/5438/5/ 4. Matemática da Música, coloca que a
Disserta%C3%A7%C3%A3o%20-%20Rafaya- Música é um exercício de aritmética secre-
ne%20Barros%20Cabral%20-%202015.pdf>). to, segundo Leibniz, filósofo e matemático,

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 125


explorando músicas clássicas e populares A Música é envolvente, e como a Mate-
para mostrar a presença da Matemática na mática, está muito presente em nossas vidas,
Música. sendo apreciada pelos mais variados grupos
étnicos, sociais e culturais.
Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=IV_SajId4XI> Ao realizar este trabalho, observamos
que há poucos estudos sobre o assunto, mes-
Pode-se ainda explorar o editor de grá- mo percebendo que desde muito antes de
ficos Geogebra, na construção de gráficos Pitágoras essas conexões foram observadas.
relacionados aos sons e às funções trigono- Assim, o desenvolvimento de um trabalho
métricas, dessa forma os alunos puderam sistemático ou em eventuais projetos, ex-
visualizar as funções no plano, em três di- plorando este contexto Matemática/Música
mensões ou através de animações4. poderá trazer resultados surpreendentes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

A Matemática está em toda parte, nas ABDOUNUR, O.J. Matemática e música:


artes, na construção, na natureza e em nosso O pensamento analógico na construção. 3ª
cotidiano, no entanto observa-se que fre- edição, editora Escrituras, São Paulo - SP.
quentemente pessoas com habilidades ma- 2003.
temáticas demonstram interesse na Música.
BASTIAN, H.G. Música na escola, a con-
Ao estudar Música, identifica-se a ne- tribuição do ensino da música no aprendi-
cessidade de haver uma compreensão signi- zado e no convívio social da criança. Edi-
ficativa em Matemática, pois se o indivíduo tora Paulinas, São Paulo - SP, 2009.
apresenta algum déficit no aprendizado de
Matemática, consequentemente terá difi- CAMARGOS, C.B.R. Música e Matemá-
culdades no aprendizado da Teoria Mu- tica: A harmonia dos números revelada em
sical. Propomos um trabalho diferenciado uma estratégia de modelagem. Dissertação
envolvendo essas duas áreas, de modo que de mestrado. Universidade Federal de Ouro
ao estudar Música, o aluno se interesse pela Preto - MG. 2010.
Matemática.
GARDNER, H., Inteligências múltiplas:
Ao desenvolver o projeto “Coral Escolar” a teoria na prática. Porto Alegre: Artmed,
no local de trabalho, que teve duração de 2 1995, Reimpressão 2007.
anos, tivemos a oportunidade de ensinar um
pouco de Teoria Musical aos alunos envol- JULIANI, J.P., Matemática e Música. Uni-
vidos no projeto, de forma que os próprios versidade Federal de São Carlos, São Car-
alunos observaram a proximidade entre los-SP. 2003.
Música e a Matemática. Pudemos observar
também que alguns alunos com problemas KNOBLOCH, E. Euler. transgressing li-
de aprendizagem em Matemática melhora- mits: The in_nite and music theory, Qua-
ram consideravelmente. Os alunos do pro- derns d’Historia de l’Enginyeria. volum IX,
jeto, de um modo geral, se mostraram mais Berlin, 2008.
concentrados e preparados para assumir de-
terminadas responsabilidades. LINCK, F.G. Música e Matemática: ex-
periências didáticas em dois diferentes con-
textos. UFRS, Porto Alegre - RS, 2010.

4  O Geogebra está disponível para download no MED, Bohumil. Teoria da música. 4ª edi-
site: https://www.geogebra.org/download ção, Editora Musimed, Brasília - DF - 1996.

126 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


MORAIS, Marcos Vinícius Gomes. Ál-
gebra dos Tons. Disponível em: <https://
www.ucb.br/sites/100/103/... /MarcosVi-
niciusGomesMorais.pdf>, Acesso 4 abril
2018.

PAPADOPOULOS, Athanase. Mathema-


tics and group theory in music,vol. II (ed.
L. Ji, A. Papadopoulos and S.-T. Yau), H..
2014.

PEREIRA, Marcos. Matemática e Músi-


ca: De Pitágoras aos dias de hoje. UNIRIO.
Rio de Janeiro - RJ. 2013.

SALTOY, Marcus du. The Music of Prime,


Special Markets Department, HarperCol-
lins Publishers, New York, - USA - 2003.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 127


PRÁTICAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM
DESENVOLVIDAS NO ÂMBITO EDUCACIONAL
EM FORMA DE GRUPO DE PESQUISA
SOUZA, Raquel Rodrigues Máximo1; MARTINS, Ana Claudia2;
NOLL, Priscilla Rayanne3; NOLL, Matias4

Resumo: O Grupo de Pesquisa sobre a Saúde da Criança e do


Adolescente (GPSaCA) aborda aspectos que contribuem para
construção e socialização de conhecimentos conjuntos, tendo
como objetivo desenvolver pesquisa científica por meio de investi-
gação e estudos relacionados à saúde da criança e do adolescente.
Esta temática é relevante, pois atualmente há uma grande carência
no cuidado aos indivíduos com essa faixa etária. O grupo realiza
estudos e ações em forma de grupo de pesquisa, o que possibili-
ta o aperfeiçoamento no processo de ensino da instituição, pro-
porcionando aprofundamento de conhecimentos curriculares dos
discentes. O GPSaCA possui um site que é utilizado como ferra-
menta de divulgação, o qual foi atualizado pelo grupo, sendo este
um dos melhores meios para alcançar o público-alvo. Conclui-se
que estudos e ações bem elaboradas contribuem para o processo de
ensino-aprendizagem e promovem hábitos saudáveis.

Palavras-chave: Pesquisa.Ações.Saúde.Crianças.Adolescentes.

1. INTRODUÇÃO

Por muitas décadas a saúde da criança e do adolescente foi tra-


tada da mesma forma que a dos adultos, desconsiderando aspectos
importantes e particulares de desenvolvimento e crescimento infan-
til. Segundo Ariés (2011) “a infância não era percebida pela família
e nem pelo Estado como uma etapa do ciclo vital, com necessidades
singulares”. Neste sentido, políticas e programas de atenção à saúde da
criança e do adolescente necessitam de uma visão integrada e articula-
da com as transformações sociais, econômicas e políticas.

Figueiredo e Melo (2007) destacam que os profissionais da


área da saúde devem articular as diretrizes políticas e as práticas
de saúde, bem como ampliá-las por meio de pesquisas e criação de
tecnologias. Tais aspectos possibilitarão a reorganização das práti-
1,2,3,4 Instituto Federal de Edu-
cação, Ciência e Tecnologia Goia- cas de saúde da família e da atenção integrada à saúde da criança e
no – Campus Ceres. E-mail do do adolescente sendo capazes de promover a saúde e qualidade de
autor: raquelrms2008@gmail.com; vida de crianças e adolescentes.

128 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


As crianças e os adolescentes são sujeitos melhor forma de promover e compartilhar
de direitos e devem ser tratados com priori- os conhecimentos adquiridos com a comu-
dade nas políticas tanto educacionais quan- nidade acadêmica. O GPSaCA tem como
to de saúde. Portanto, segundo Lima (2016), objetivo desenvolver atividades educacio-
o investimento no cuidado e na educação é a nais, de pesquisa científica e de promoção de
base de todas as demais competências para saúde por meio da investigação e discussão
uma vida digna como um futuro cidadão, de estudos relacionados à saúde da criança e
consciente de seus direitos e deveres. Deste do adolescente no Instituto Federal Goiano
modo, discutir, estudar e promover conheci- e no estado de Goiás.
mentos dentro de instituições em forma de
grupo de pesquisa, aperfeiçoa o processo de
ensino-aprendizagem da instituição, pro- 2. METODOLOGIA
porcionando aprofundamento de conhe-
cimentos curriculares dos discentes. Além Trata-se de um projeto de ensino desenvol-
disto, fortalece a conscientização de toda a vido pelo GPSaCA. Este grupo iniciou suas
comunidade sobre a importância da atenção atividades em 2014 e visa, desde o início, inves-
à criança e do adolescente. tigar os mais variados aspectos relacionados a
saúde da criança e do adolescente. As atividades
Este trabalho relata a experiência das do grupo tratadas nesse relato de experiência
atividades do Grupo de Pesquisa Sobre a foram conduzidas no Instituto Federal de Edu-
Saúde da Criança e do Adolescente (GP- cação, Ciência e Tecnologia Goiano (IF Goia-
SaCA) em forma grupo de pesquisa envol- no) Campus Ceres), no período de setembro a
vendo disciplinas de saúde da criança e do dezembro de 2017. Em um primeiro momento
adolescente, metodologia científica, bioesta- buscou-se a melhor ferramenta de divulgação
tística, programa de saúde e informática. O do GPSaCA, o qual possui um site (www.gp-
Grupo de pesquisa além de realizar ativida- saca.com.br). Foi feita a atualização do site, o
des de pesquisa e extensão, está cadastrado qual estava desatualizado desde 2015. Portan-
na diretoria de ensino e desenvolve um pro- to, utilizando conhecimentos em informática,
jeto com encontros semanais, em busca de este foi aprimorado, ao mesmo tempo em que
aprofundar conhecimentos sobre a saúde da foram cadastrados novos integrantes do grupo,
criança e do adolescente e também buscar a como ilustrado na figura 1.

A B C

Figura 1: Site GPSaCA atualizado, sendo a página inicial (A), os membros cadastrados atualmente (B)
e os projetos em vigência (C). Fonte: acervo pessoal..

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 129


Em um segundo momento, baseados 3. DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS
nos conhecimentos de programas de saúde
foram programadas e realizadas atividades Em meio a debates e pesquisas, o grupo
de promoção de saúde que envolveram o buscou obter conhecimentos e aprofundar-se
público em questão. A primeira atividade na temática de saúde da criança e do adoles-
realizada foi com o público dos escolares e cente, conhecimentos diversos como com-
estudantes do IF Goiano – Campus Ceres. preensão da escrita científica, bioestatística,
Após um planejamento baseado em leituras bem como atividades práticas educativas. O
e discussão de alguns artigos como Louzada aprimoramento do site ocorreu durante toda a
et al. (2015), Monteiro et al. (2015) e Far- vigência do projeto de ensino, iniciando com o
det et al. (2017), optamos pela criação de cadastro de novos integrantes no grupo, atua-
murais informativos sobre o marketing de lização da agenda de reuniões e dos eventos
alimentos saudáveis, para assim, despertar próximo relacionados ao tema do projeto, pos-
o interesse da criança e do adolescente, por sibilitando assim o acesso do público no an-
comidas necessárias e sobre as quantidades damento das atividades do grupo. Publicações
de açúcar existentes em determinados pro- recentes de artigos e projetos em andamento
dutos de consumo, buscando ressaltar os di- também foram postados na plataforma, dispo-
versos sinônimos de açúcar apresentados nos nibilizando, dessa forma, conteúdo de divul-
rótulos de alimentos industrializados. Estes gação digital.
murais foram desenvolvidos pelo grupo e
expostos para o público no mural restauran- Baseados nesta ideia, para criar um mu-
te estudantil da instituição. Após exposição, ral divertido, que representasse o marketing
foram avaliados o interesse e a interatividade e chamasse atenção do público, construiu-se
dos adolescentes diante do mural. com o tema “a liga das verduras” como mos-
tra na figura 3, constituído por verduras ca-
As reuniões para desenvolvimento das racterizadas de super-heróis, o que fomen-
atividades são feitas semanalmente, com os tava uma alimentação saudável.
integrantes do grupo (figura 2), onde são
realizados estudos, leituras, debates e reali- Figura 3: Mural sobre o consumo
zadas as atividades de promoção de saúde. consciente de verduras

Figura 2: Reunião semanal GPSaCA

Fonte: acervo pessoal Fonte: acervo pessoal

O GPSaCA também colaborou com um O segundo mural foi desenvolvido de


projeto de pesquisa na comunidade Qui- uma maneira que demonstrasse, a diversi-
lombola do Cedro, do município de Minei- dade de sinônimos que os açucares podem
ros, Goiás. Conduzimos uma pesquisa com- ser encontrados nos rótulos de alimentos in-
parativa entre as diferenças e semelhanças dustrializados. Utilizou-se cores variadas, de
das expressões corporais, dos jogos e brinca- forma que os alunos observassem com cau-
deiras dos quilombos desde o surgimento da tela, para assim, conscientizá-los da impor-
comunidade até hoje através de entrevistas tância de ler os rótulos com atenção, como
com os moradores da comunidade. descrito na figura 4.

130 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


Figura 4: Mural sobre os diferentes científico, com o intuito de promover a saú-
nomes do açúcar finalizado. de coletiva no âmbito da educação em saúde
em instituições de ensino. Ações de educa-
ção em saúde precisam ser desenvolvidas no
âmbito escolar e são primordiais para a for-
mação da criança e do adolescente. Um am-
biente que deve conter espaços para discus-
sões de questões de saúde entres educadores
e estudantes, além de ações de promoção de
saúde que corrobore para o processo de en-
sino-aprendizagem.

5. REFERÊNCIAS
Fonte: acervo pessoal
ARIÉS P. História social da criança e da
Foi realizada a avaliação do interesse e família. 2. ed. Rio de Janeiro: Livros Técni-
a interatividade dos adolescentes diante do cos e Científicos; 2011.
mural. Eles se mostraram bastante interes-
sados, visto que discutiram com outros co- FARDET, Anthony et al. The degree of
legas e professores o conteúdo abordado (fi- processing of foods which are most widely
gura 5). Segundo os alunos, como a temática consumed by the French elderly population
de saúde foi abordada em um contexto que is associated with satiety and glycemic po-
eles conhecem e se interessam, a compreen- tentials and nutrient profiles. Food Funct,
são é mais simples. S.l, v. 8, n. 2, p.651-658, jan. 2017.

Figura 5: Resultado medido por meio do interesse do FIGUEIREDO, G. L. A.; MELLO, D. F.


público-alvo no mural sobre o consumo consciente Atenção à saúde da criança no brasil: aspec-
de verduras tos da vulnerabilidade programática e dos
direitos humanos. Revista Latino-Ameri-
cana de Enfermagem,  v.15,  n.6,  Ribeirão
Preto. Nov./Dez. 2007.

LIMA, Fabiano de Freitas. A percepção


dos enfermeiros da estratégia de saúde da
família do território de Manguinhos sobre
Fonte: acervo pessoal a sexualidade infantil e a implicação para o
cuidado à saúde da criança. Niterói: [s.n.],
A pesquisa com os quilombolas permitiu 2016.
adquirir conhecimentos sobre cultura, es-
porte e jogos. Os entrevistados relataram o Louzada, Maria Laura da Costa et al. Ultra-
quanto as brincadeiras e a cultura se perdeu -processed foods and the nutritional dietary
ao longo do tempo. profile in Brazil. Revista de Saúde Pública.
v. 49, Jun. 2015.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS MONTEIRO, Carlos Augusto et al. Die-


tary guidelines to nourish humanity and the
Diante da grande carência de atenção à planet in the twenty-first century. A blue-
saúde de crianças e adolescentes, o grupo print from Brazil. Public Health Nutrition,
de pesquisa desenvolveu diferentes ações de [s.l.], v. 18, n. 13, p.2311-2322, 24 set. 2015.
promoção de saúde para este público, em- Cambridge University Press (CUP). http://
basadas em leitura e discussão de material dx.doi.org/10.1017/s1368980015002165.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 131


AÇÕES EDUCATIVAS NÃO FORMALIZADAS
EM AMBIENTE LABORAL: ESTUDO
EXPLORATÓRIO EM EMPRESA
AGROINDUSTRIAL DE ALIMENTOS
BORGES, Rosângela Lopes1; FELICIO, Cinthia Maria2; FERNANDES-SOBRINHO, Marcos3

RESUMO: Processos educacionais acontecem durante toda a


vida e em todos os espaços, não se restringem ao ambiente escolar e
conforme o espaço, intencionalidade e diversas finalidades vão sur-
gindo denominações para melhor entendimento dos fins, existência
ou não de certificação e outras. A educação, seja formal, informal
ou não formal apresenta interseções, apesar de objetivos distintos
por vezes, visam a preparação dos indivíduos para viverem melhor
em sociedade, buscando condições de equidade e promoção de me-
lhorias, sejam no ambiente, na qualidade de vida ou na qualificação
para o trabalho, por exemplo. Com o objetivo de entender mais
sobre como pode acontecer a educação não formal no ambiente
laboral, foi realizada uma investigação qualitativa, utilizando dois
instrumentos de coleta de dados, um questionário composto de 12
questões e um formulário com 9 questões elaboradas no Google
Forms, ambos com questões abertas e fechadas, respondidos pela
analista de comunicação em uma empresa agroindustrial de ali-
mentos situada no interior goiano e integrante de equipe formada
por 5 pessoas responsáveis por organizar os treinamentos e outras
atividades de educação não formal nesta empresa. As ações educa-
1 Mestranda do Programa de Pós- tivas realizadas nestes espaços, acontecem com treinamentos nos
-Graduação em Educação Profis- mais diversos setores, aos seus 1.500 funcionários e alguns exem-
sional Tecnológica (ProfEPT/IF plos foram apresentados, como o projeto “Acolhida” para a qualifi-
Goiano). E-mail: rosalb2@hot- cação profissional dos funcionários que estão iniciando na empresa
mail.com
e envolvem parcerias com Sebrae ou Senai. Outro projeto realizado
2 Instituto Federal de Educação, envolve visitas às escolas da região onde a empresa está situada,
Ciência e Tecnologia Goiano – “Projeto nas Escolas”. Realiza ainda programas antitabagismo, con-
Campus Morrinhos. E-mail: cin- trole da obesidade e hipertensão em parceria com a Unimed; tem o
thia.felicio@ifgoiano.edu.br projeto “Carnaval com saúde”, e apesar da empresa atender a ques-
3 Instituto Federal de Educa- tão legal de contratação de colaboradores com deficiência, ainda
ção, Ciência e Tecnologia Goiano não tinham previsto nenhuma ação para inclusão social e atitudinal.
– Campus Urutaí; Programa de A educação não formal pode contemplar diversos aspectos da vida
Pós-Graduação em Educação Pro- e acontecer no ambiente em empresas com ações para melhorias no
fissional Tecnológica (ProfEPT/ trabalho, na vida dos trabalhadores e familiares, no entanto precisa
IF Goiano); Programa de Pós-Gra-
desenvolver mais ações inclusivas.
duação em Gestão Organizacional
da Universidade Federal de Catalão
(PPGGO/UFCat). E-mail :mar- Palavras-chave: Espaços educativos; Educação para o trabalho;
cos.fernandes@ifgoiano.edu.br Inclusão atitudinal.

132 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


verdadeiro processo realizado ao longo da
1. INTRODUÇÃO
vida em que cada indivíduo adquire atitu-
des, valores, procedimentos e conhecimen-
A educação é um dos requisitos básicos tos da experiência cotidiana e das influên-
para que o indivíduo tenha acesso aos servi- cias educativas de seu meio - da família,
ços disponíveis na sociedade e possa exercer no trabalho, no lazer e nas diversas mídias
sua cidadania. Negar o acesso a esse direi- de massa (MARANDINO, 2017, p. 812).
to implica, em geral, negar direitos huma-
nos fundamentais. Esse direito basilar, no Trilla (2008, p. 33) também fala em “tri-
entanto, tem sido, muitas vezes, restrito ao partição do universo educativo”. Para este
âmbito escolar e negligenciado nas suas de- autor a educação igualmente pode ser divi-
mais formas. dida em “formal”, “não formal” e “informal”,
apesar de considerar muito difícil distinguir
No fim da década de 60, no entanto, a as fronteiras para precisar onde começa uma
educação não formal se tornou parte do e termina a outra, nas complexas situações
discurso internacional em políticas educa- da vida.
cionais (SMITH, 1996) e focava as neces-
sidades de grupos em desvantagens, com Assim, as ideias de Morandino (2017) e
propósitos notadamente definidos e flexí- Trilla (2008) convergem quanto ao conceito
veis quanto à organização e métodos. Nesse da educação informal, ao trazerem exemplos
momento, o sistema de educação formal, so- desta como sendo aquela que o indivíduo
bretudo de países em desenvolvimento, não recebe desde o seu nascimento, quando os
se adaptava às mudanças socioeconômicas pais ensinam seus filhos como comer, como
em curso na mesma rapidez [dessas mudan- falar, arrumar a casa, realizar uma brincadei-
ças], o que requereu dos diferentes setores ra ou jogar. Complementam ainda, que esta
da sociedade articulações ao enfrentamento educação não tem espaços e horários fixos
de novas demandas por parte dela. e nem é separada do seu cotidiano, porém
ela é a base de todas as outras e perdura por
O documento da Organização das Na- toda a vida do indivíduo.
ções Unidas para Educação, Ciência e Cul-
tura (UNESCO), de 1972, Learning to be: Neste sentindo, não se pode restringir
the Faure report firmou metas quanto à “edu- a educação a um lugar apenas. Ela ocorre
cação ao longo da vida” (lifelong education) desde o nascimento do ser humano, no seio
e à “sociedade de aprendizagem” (learning familiar, com a convivência diária e as trans-
society). Esse documento exerceu forte in- missões dos costumes dos pais para os fi-
fluência à divisão do sistema educacional lhos. A esse tipo de instrução os autores que
em três grupos categoriais, antes problema- embasam esse trabalho intitulam-na como
tizadas por Smith (1996) em seu texto, defi- sendo educação informal. De maneira mais
nidas da seguinte forma: simples, ela ocorre durante o processo de so-
cialização do indivíduo.
[...] educação formal: sistema de educação
hierarquicamente estruturado e crono- No caso da educação não formal, não há
logicamente graduado, da escola primá- um professor especificamente, no entanto,
ria à universidade, incluindo os estudos há o envolvimento de um “educador” que
acadêmicos e as variedades de programas
assume a responsabilidade de desenvolver
especializados e de instituições de trei-
atividades para mediar processos de ensino-
namento técnico e profissional; educação
não formal: qualquer atividade organizada -aprendizado. E é justamente na intencio-
fora do sistema formal de educação, ope- nalidade de se ensinar que esta se difere da
rando separadamente ou como parte de educação informal.
uma atividade mais ampla, que pretende
servir a clientes previamente identificados A educação não formal, foco deste traba-
como aprendizes e que possui objetivos lho, é aquela que abre “janelas” para o mun-
de aprendizagem; - educação informal: do em que o indivíduo circunda. Gerada da

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 133


própria necessidade da sociedade, ela educa Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)
para a civilidade. Daí as divisões que vão (BRASIL,1997,1998 e 2000).
surgindo como: educação para a saúde, para
o trânsito, para o meio ambiente, para o tra- Para Garcia (2010), outro fator que in-
balho, educação sexual entre outras. terferiu no crescimento da educação não
formal foram as exigências das indústrias e a
O objetivo deste trabalho de pesquisa evolução dos meios de comunicação. Perce-
foi averiguar como ocorre a educação não beu-se que havia distância entre a formação
formal, dentro de determinada empresa de do trabalhador e as mudanças no mercado
processamento de alimentos de origem ani- profissional. Já a televisão, e em especial a
mal no interior do estado de Goiás e que internet fizeram com que se percebesse que
servirá de contexto para compreensão desta a educação não era um monopólio da escola
modalidade de educação e estabelecimento e da família.
de algumas reflexões críticas sobre o consta-
do no âmbito da educação para o trabalho e Foi a partir do momento em que se per-
outros abordados pela empresa investigada. cebeu que a escola e a família já não davam
conta da realidade social atual é que surgiu
a educação não formal. Tanto o ambiente
2. EDUCAÇÃO FORMAL, NÃO FORMAL familiar quanto o de trabalho foram modifi-
E INFORMAL cando-se com o passar do tempo.

Partindo do pressuposto ético de que Uma questão difícil de se estabelecer de


todo ser humano tem o direito à educação, forma definitiva e que precisa ser conside-
e isto segue escrito na Constituição Federal rada, seria onde começa a educação formal
brasileira, de 1988. No entanto, esse direito e termina a informal? E neste universo ain-
tem se limitado ao nível básico de escola- da precisa ser considerada a educação não
rização, obrigatório e gratuito, muitas vezes formal. Considera-se a intencionalidade
sendo comercializado, como uma mercado- um critério que pode a princípio distinguir
ria. Gadotti (2005) defende que esse direito a educação formal e não formal daquela
deve se estender ao longo de toda a vida, não que acontece informalmente. No entanto,
se restringindo à permanência do educando isto é difícil de delimitar em alguns casos,
no ambiente escolar. onde apesar de ainda poder ser considerada
informal, a educação dos pais para com os
Dessa forma, deve-se entender a educa- filhos, de maneiras diversas, seja intencional
ção sob outros olhares. Freire (1997, p. 50) (TRILLA, 2008).
fala da importância das experiências infor-
mais “[...] nas ruas, nas praças, no trabalho, Assim, resta entender, portanto, que a
nas salas de aula das escolas, nos pátios dos educação pode ocorrer de maneira formal,
recreios [...]” como parte da formação dos quando são oferecidas em ambientes esco-
seres humanos. lares ou acadêmicos, e também, de maneira
não formal como definida por Trilla (2008,
O termo educação não formal, de acordo p. 42) em que o autor considera, como
com Garcia (2010), teve seu início junta- conceito de educação não formal,“[...] o
mente com uma crise no sistema escolar. Tal conjunto de processos, meios e instituições
sistema fora compreendido como impossi- específicas e diferenciadamente concebidos
bilitado de responder a todas as demandas em função de objetivos explícitos de forma-
de formação e socialização humana. Essa ção ou de instrução não diretamente volta-
questão envolvia a necessidade de se ensinar dos à outorga de graus próprios do sistema
sobre meio ambiente, trânsito e orientação educacional regrado.”.
sexual, por exemplo, daí o surgimento dos
chamados Temas Transversais dentro do Essa definição apresenta, conforme
âmbito escolar e que estão apresentados nos problematizado pelo autor, a existência de

134 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


pais, a família em geral, os amigos, os vizi-
fronteiras muito próximas entre uma e ou-
nhos, colegas de escola, a igreja paroquial,
tra maneira em se pensar a educação. E por os meios de comunicação de massa, etc.
mais que se busquem critérios que possam (GOHN, 2006b, p. 29).
caracterizar uma e outra, há sempre algum
aspecto que demanda uma nova perspectiva
de visão a se considerar. Assim sendo, em Asenjo, Asensio e Rodríguez-Moneo
determinadas épocas ou culturas são aceitos (2012) definem a educação informal como
critérios de especificidade ou diferenciação aquela que abarca tudo aquilo que a educa-
que incluem e delimitam um tipo de edu- ção não formal e a formal conseguem alcan-
cação em uma ou outra destas formas, con- çar. Estes autores alertam ainda que a fina-
forme a cultura ou aspectos legais vigentes lidade de qualquer programa educacional é
(TRILLA, 2008). acender algum tipo de aprendizado em seu
público, assim sendo, embora os processos
Neste sentido, Gadotti (2005) argumen- de ensino e aprendizagem sejam diferentes,
ta que toda educação é, de certa forma, edu- eles não são totalmente independentes.
cação formal, no sentido de ser intencional,
mas o cenário pode ser diferente. Tanto a Calado (2014) discute em seu texto so-
educação formal quanto a não formal po- bre a importância da educação não formal
dem emitir certificados, o que muda é o para a inclusão social. Para ele, programas que
espaço (lugar) e o tempo (flexível ou não). desenvolvem o ensino e a aprendizagem em
Por isso, não se deve estabelecer fronteiras comunidades marginalizadas trazem grandes
muitas rígidas entre essas duas modalidades, resultados que permitem reduzir as restrições
pois conforme já foi dito, os próprios currí- que limitam a capacidade de fazermos esco-
culos escolares podem abordar a educação lhas. As competências adquiridas durante este
não formal, nas relações interpessoais, so- processo serão a base de cidadãos, crescendo
ciais e humanas, na interação com a natu- em igualdade de oportunidades.
reza, o meio ambiente e com aquilo que faz
sentido para as nossas vidas. Outro exemplo de inclusão social por
meio da educação não formal pode ser visto
A educação não formal, por exemplo, no texto de Toledo (2009). A autora expli-
designa um processo com várias dimensões cita sobre uma ação realizada na cidade de
tais como: a aprendizagem política dos di- São Vicente-SP, intitulado “Projeto Arte
reitos dos indivíduos enquanto cidadãos; no Dique”. Neste local, é efetivado um tra-
a capacitação dos indivíduos para o traba- balho sociocultural com uma população
lho; desenvolvimento de potencialidades; carente, formada por pessoas de diferentes
a aprendizagem de conteúdos que possi- idades e procedências. Por meio de oficinas
bilitem às pessoas fazerem uma leitura do temáticas de arte, música, teatro e etc., os
mundo do ponto de vista da compreensão envolvidos proporcionam aqueles que estão
do que se passa ao seu redor. Em suma, a à margem da sociedade a chance de se ve-
educação não formal é vista como um dos rem incluídos nela.
núcleos básicos de uma Pedagogia Social
(GOHN, 2006a).
3. METODOLOGIA
Gohn (2006b) explica quem são os edu-
cadores nos três tipos de educação da se- Num primeiro momento, foi realizada
guinte maneira: uma pesquisa bibliográfica, buscando emba-
samento teórico sobre a educação formal e
Na educação formal sabemos que são os não formal, tomando como base: livros, arti-
professores. Na não-formal, o grande edu- gos, teses, revistas, com um recorte temporal
cador é o “outro”, aquele com quem inte- de 2005 a 2017. No segundo momento, foi
ragimos ou nos integramos. Na educação realizada a pesquisa de campo, que quanto à
informal, os agentes educadores são os
sua natureza, consiste no estudo de fenôme-

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 135


nos sem a intervenção sistemática do pes- bricas de rações para aves, granjas de ma-
quisador e que, por isso, não é experimental. trizes, incubatório e frigorífico que abate
Pretende-se levantar dados qualitativos, em cerca de 300 mil frangos por dia. A empresa
relação à educação não formal, tendo-se en- produz uma grande quantidade (200 tone-
tão uma pesquisa de natureza qualitativa. ladas) e variedade de derivados, congelados
e resfriados diariamente. Sendo estes co-
De acordo com Lakatos e Marconi mercializados em todas as regiões do Brasil
(2003), quanto aos objetivos, a pesquisa ex- e também no exterior.
plicativa registra fatos, analisa-os, interpre-
ta-os e identifica suas causas. Compreende- A entrevistada tem 35 anos, há quatro
-se, então, que seja a mais adequada, já que anos ocupa o cargo de Analista de Comu-
se pretendeu levantar dados a respeito da nicação da Agroindústria de Alimentos, em
educação não formal e avaliá-los posterior- estudo. É licenciada em Geografia e Pós-
mente. -graduada em Comunicação Organizacio-
nal e Relações Públicas. Segundo ela, tra-
Em relação ao tempo da pesquisa, ado- balha no Departamento de Comunicação,
ta-se o conceito de Gil (2008) de estudo atuando com as comunicações interna e ex-
transversal. Isso porque a pesquisa de campo terna, criação e desenvolvimento de projetos
foi realizada em um curto período de tem- na área social e educacional, promoção de
po ou num determinado momento, período eventos corporativos, elaboração de textos e
este necessário para a aplicação do questio- monitoramento da marca nas mídias sociais.
nário.
A Analista relatou que são oferecidos
Como ferramenta de coleta de dados, cursos, treinamentos, eventos culturais e
utilizou-se o questionário que, segundo educativos para cerca de 1.500 colaborado-
Lakatos e Marconi (2003, p. 21), é um ins- res. Dentre eles, o “Projeto Acolhida” que
trumento “[...] constituído por uma série oferece cursos de qualificação profissional
ordenada de perguntas, que devem ser res- para os colaboradores em parceria com o
pondidas por escrito e sem a presença do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pe-
entrevistador”. E para recolher informações quenas Empresas (Sebrae) e o Serviço Na-
prévias sobre o campo de interesse e levan- cional de Aprendizagem Industrial (Senai),
tamento de dados, foi utilizado o Google além de acolher os novos funcionários, mo-
Formulários aplicado à Analista de Comu- nitorando as etapas de adaptação e do de-
nicação da empresa Agroindustrial de Ali- senvolvimento profissional.
mentos, situada no interior de Goiás.
Há também uma proposta desta Empre-
Ambos os instrumentos eram compostos sa que denominaremos “Projeto nas Escolas”
por questões mistas. O questionário conti- que atende estudantes em diferentes eta-
nha 12 questões, sendo que três eram fe- pas de formação (escolas e universidades),
chadas e nove eram abertas. Já o formulário contemplando visitas monitoradas e expe-
continha nove questões sendo que quatro riências educativas em diferentes empresas
eram fechadas e cinco eram abertas. Todos do Grupo. Ressalta-se que há um gama de
os encontros com a entrevistada foram gra- empresas como: fazendas, granjas, frigorí-
vados com autorização após a assinatura do ficos, fábrica de óleos vegetais, moinho de
Termo de Consentimento Livre e Esclare- calcário, armazéns gerais, fazendas, posto de
cido (TCLE). combustível, transportadora, plantações de
eucalipto e etc.

4. DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS De acordo com a Analista de Comuni-


cação, a equipe que promove essa educação
A empresa agroindustrial de alimentos não formal é composta por cinco pessoas
é um complexo industrial composto por fá- que buscam: “[...] a capacitação dos indi-

136 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


víduos para o trabalho; o desenvolvimento inclusão social dentro da empresa. Averi-
de potencialidades; o compartilhamento de guou-se apenas que a empresa não promove
experiências e uma aprendizagem que ca- uma ação de inclusão social e atitudinal.
pacite os indivíduos a se organizarem com
objetivos comunitários.”. Os projetos sociais educativos ou “[...]
associativismo brasileiro no meio popular
A empresa, segundo a entrevistada tem [...]” são trabalhos realizados sob a “ban-
uma grande preocupação com o meio am- deira da inclusão social” e que se configu-
biente, e por isso, promove reciclagem do ram como a prática da educação não for-
lixo produzido, faz tratamentos da água e mal (GOHN, 2009, p. 30). Para a autora,
do efluente, usa apenas eucalipto reflores- a educação não formal abrange o exercício
tado. Além disso, promove ações educativas de práticas que capacitam os indivíduos a se
coordenadas por uma engenheira ambien- organizarem com objetivos comunitários,
tal, como palestras sobre sustentabilidade e voltadas para a solução de problemas co-
uso consciente da água aos funcionários de letivos cotidianos. Daí advém a importân-
todos os setores. cia do trabalho de inclusão social e atitudi-
nal dentro das empresas.
A preocupação com a saúde de seus co-
laboradores, bem como com a comunida-
de, faz com que a Empresa de Alimentos 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
ofereça também como educação não for-
mal programas de antitabagismo, contro- Depois da pesquisa bibliográfica e da
le da obesidade e hipertensão em parceria pesquisa de campo, pode-se entender me-
com a Confederação Nacional das Coope- lhor a importância que a educação tem fora
rativas Médicas (Unimed). Além disso, os do ambiente escolar formal. Não podendo
restaurantes da empresa, em parceria com ser limitada apenas a esses ambientes, mas
uma empresa multinacional que produz ali- compreendida como ensino cotidiano capaz
mentos nutricionais, possuem uma equipe de preparar o ser humano para viver melhor
de profissionais que oferecem alimentação na sociedade.
balanceada e saudável aos colaboradores da
Empresa, assim buscam promover uma cul- Inferimos que seja possível que as em-
tura que associe preocupações com valores presas possam oferecer uma educação não
nutricionais, saúde e qualidade de vida a formal, de qualidade. Que sejam capazes
seus colaboradores. não só de capacitar profissionalmente os
seus colaboradores, mas também, possa
Durante o mês de fevereiro, período que influenciar novos comportamentos, novas
antecede o Carnaval em cada ano, é ofere- maneiras de pensar e, consequentemente,
cido aos funcionários do Grupo um projeto mudar até mesmo a cultura. Especificamen-
com a temática “Carnaval com saúde”. De te na empresa pesquisada, percebeu-se que é
acordo com a Analista, promove palestras uma instituição que se preocupa com a na-
sobre a importância do uso de preservativos tureza, saúde, alimentação, bem estar físico e
e a realização do sexo seguro, além de distri- psíquico de seus funcionários. Fazendo uso
buir camisinhas gratuitamente. da educação não formal para promover ne-
les novos hábitos e promover uma vida mais
Apesar de ter sido relatado que há a saudável em sociedade.
presença de várias pessoas com deficiência
dentre elas: mobilidade reduzida, surdez, Vale ressaltar que a inclusão social é uma
Síndrome de Down e cadeirantes (como meta do mundo inteiro, e a barreira às pes-
exige a Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, soas com deficiência não está nelas e sim na
que estabelece, no Artigo 93, contratação de capacidade de lhes propiciar oportunidades.
pessoas com deficiência nas empresas), não Entendemos que ações educativas como as
foi possível averiguar se há um trabalho de identificadas no campo desta pesquisa di-

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 137


minuem fatores de segregação socioeconô- CALADO, Pedro. O papel da educação
mica. Além disso, a educação não formal, não-formal na inclusão social: a experiên-
em formato de projetos socioeducativos, cia do programa escolhas. Revista Interac-
promove a integração das classes marginali- ções, n. 29, pp. 60-94 (2014). Disponível
zadas na sociedade, e possibilita ao trabalhar em: <http://revistas.rcaap.pt/interaccoes/
uma vida mais digna e igualitária. article/viewFile/3922/2952>. Acesso em:
30 fev. 2018.
Entre as dificuldades encontradas ao de-
senvolvimento deste estudo, realçamos a di- FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia:
ficuldade de acesso aos colaboradores, o que, saberes necessários à prática educativa. São
sobremaneira, trouxe-nos limitações quanto Paulo: Paz e Terra, 1997.
ao detalhamento das informações, vez que
se mostrou unilateral. Esperamos, com esta GADOTTI, Moacir. A Questão da Edu-
publicação provocar entre colegas, novos es- cação Formal/Não-Formal. Institut Inter-
tudos com o intuito de avançar nas práticas national des Droits de L’enfant (IDE) Droit
educativas não formalizadas, no contexto à l’éducation: solution à tous les problèmes
corporativo das organizações. ou problème sans solution? Sion (Suisse),
18 au 22 octobre 2005. Disponível em:
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Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 139


CONSTRUÇÃO DO CUBO UTILIZANDO
A TÉCNICA DO ORIGAMI
SOUZA, Thais Aparecida Rezende1; TEIXEIRA, Agda Lovato2

1. INTRODUÇÃO

Este é o relato de experiência de uma atividade realizada du-


rante o estágio supervisionado, na qual abordamos a geometria. A
intenção era ensinar e revisar o conteúdo de geometria espacial
fazendo uso de materiais nos quais os alunos pudessem sair do
conceito abstrato e ter contato com o conteúdo trabalhado.

Nas últimas décadas, a Educação Matemática vem passando


por mudanças quando nos referimos à forma de seu ensino, ou seja,
professores buscam novas estratégias para chamar a atenção do
aluno para a disciplina. Segundo Britto (1984, p. 151 apud Rancan
e Giraffa 2012, p. 2),

A Matemática sempre foi ensinada; porém, sempre foi um ensino


verbalístico, preso à memorização de símbolos e formas, que exigia
o exercício da memória sem as vantagens da compreensão. Os en-
sinamentos tinham base no método dedutivo, não contando com
os recursos da curiosidade, da experimentação ou da concretização.

A necessidade de trabalhar com a geometria se deu a partir dos


PCN (1998) que apontam o conteúdo como um dos ramos mais
antigos da matemática que teve seu desenvolvimento a partir da
necessidade do homem e salienta ainda que

as atividades de Geometria são muito propícias para que o pro-


fessor construa junto com seus alunos um caminho que a partir
de experiências concretas leve-os a compreender a importância e a
necessidade da prova para legitimar as hipóteses levantadas (BRA-
SIL, 1998, p. 126).

A utilização de estratégias diferenciadas no ensino da geome-


tria proporciona aos discentes uma aprendizagem considerável,
Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia Goiano – uma vez que eles estão a todo tempo em contato direto com o ma-
Campus Urutaí. E-mail do autor: terial desenvolvendo suas habilidades e ao mesmo tempo fixando
th27souza@outlook.com conteúdos geométricos importantes.

140 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


Com isso, o material manipulável ao Este trabalho caracteriza-se como uma
qual nos recorremos para desenvolver esta pesquisa qualitativa que, segundo Gonçal-
oficina foi a técnica do origami, ves (2003, p. 68) preocupa-se “com a com-
preensão, com a interpretação do fenômeno,
[...] palavra de origem japonesa formada considerando o significado que os outros
por dois radicais, ori e Kami. Kami tornou- dão às suas práticas, o que impõem ao pes-
-se gami quando combinado com ori. Ori, quisador uma abordagem hermenêutica.”
significa dobrar, e Kami significa ao mes-
mo tempo papel e Deus, uma indicação
O estudo também pode ser caracteriza-
da importância do papel para os japoneses
do como pesquisa-ação que
(OLIVEIRA, 2005, p. 2).

[...] é um tipo especial de pesquisa par-


A justificativa do tema está no fato de ticipante, em que o pesquisador se intro-
a geometria ser pouco ensinada nas escolas, duz no ambiente a ser estudado não só
visto a importância do conteúdo presente para observá-lo e compreendê-lo, mas
sobretudo para mudá-lo em direções
no nosso dia a dia. Além disso, o origami
que permitam a melhoria das práticas e
foi escolhido por se tratar de uma técnica
maior liberdade de ação e de aprendi-
muito antiga, mas de fácil acesso e em sala zagem dos participantes. Ou seja, é uma
de aula pode tornar as aulas de matemática modalidade de atuação e observação
mais interessantes na visão dos estudantes centrada na reflexão-ação. Apresenta-se
possibilitando a eles o reconhecimento de como transformadora, libertadora, provo-
todos os elementos do cubo, pois cando mudanças de significados. (FIO-
RENTINI, 2004 apud FIORENTINI &
O pensamento geométrico desenvol- LORENZATO, 2009, p. 112)
ve-se inicialmente pela visualização: as
crianças conhecem o espaço como algo Na pesquisa-ação, o pesquisador se insere
que existe ao redor delas. As figuras no ambiente a ser estudado para observar os
geométricas são reconhecidas por suas
aspectos mais importantes e mudá-lo trazen-
formas, por sua aparência física, em sua
do para os participantes mais liberdade e me-
totalidade, e não por suas partes ou proprie-
dades (BRASIL, 1997, p. 127). lhoria nas práticas de ensino aprendizagem.
Para o desenvolvimento do trabalho faz-se
necessário leituras de referenciais teóricos que
O objetivo desta ação era revisar o con- possam fundamentar a pesquisa.
teúdo de geometria espacial, mais precisa-
mente os conceitos de aresta, vértice, face, Além disso, podemos destacar o tipo de
perímetro e área da face do cubo, utilizando pesquisa como descritiva, pois
como estratégia a técnica do origami.
Uma pesquisa é considerada descritiva
quando o pesquisador deseja descrever ou
2. METODOLOGIA caracterizar com detalhes uma situação,
um fenômeno ou um problema. Geral-
mente este tipo de investigação utiliza a
A atividade apresentada foi desenvol-
observação sistemática (não etnográfica)
vida durante o estágio supervisionado nos
ou a aplicação de questionários padroni-
dias vinte e vinte e sete de outubro de dois zados, a partir de categorias previamente
mil e dezessete, com as turmas do sexto ano definidas (FIORENTINI & LOREN-
matutino e vespertino, respectivamente, ZATO, 2009, p. 70).
do Colégio Estadual “Dr. Vasco dos Reis
Gonçalves” na cidade de Urutaí Goiás. Em
cada turma foram necessárias duas aulas de Durante todo o desenvolvimento da ati-
cinquenta minutos para que a oficina fosse vidade a principal forma de coleta de dados
concluída e o objetivo alcançado. foi a observação das atitudes dos alunos, di-
ficuldades e dúvidas que surgiam ao longo

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 141


do processo de construção do cubo e tam- brados para o mesmo lado, pois se esta regra
bém durante a resolução de uma atividade não fosse obedecida eles não se encaixariam
escrita aplicada ao final da aula onde eles na hora de montar o cubo.
deveriam usar o conhecimento adquirido
para responder as questões.

3. DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS

Para iniciar a oficina primeiramente fa-


lamos um pouco sobre a técnica do origa-
mi e, em seguida, começamos o processo de
construção do cubo. Entregamos a eles uma
folha de papel sulfite e ensinamos, à fren-
te, como ela deveria ser cortada para que se
tornasse a representação de um quadrado. O
primeiro passo é dobrar a folha de manei-
ra que ela se torne a representação de um Figura 2: alunos construindo o cubo
triângulo e depois tirar o excesso de folha
com o auxílio de uma régua, assim teremos Mesmo eles sendo lembrados a todo mo-
o módulo para a construção da face do cubo, mento destas exigências tivemos um contra-
como mostra a figura 1. tempo na hora de encaixar os módulos, pois
alguns se confundiram e acabaram dobran-
do de lados diferentes. Outro fator que in-
fluenciou para que isso acontecesse foi que
aqueles que terminaram primeiro tentou
ajudar os colegas e alguns módulos acaba-
ram sendo dobrados de forma diferente. No
entanto, como eles já estavam habituados
à dobradura simplesmente desdobravam e
dobravam de novo.

Figura 1: passo a passo do corte da folha Na hora de encaixar as faces do cubo,


fizemos o mesmo processo de mostrar à
Para começar a construção do cubo – na frente, porém eles não conseguiram acom-
qual começa a utilização da técnica do ori- panhar, então a opção foi ajudar cada um
gami - entregamos outras cinco folhas para deles neste processo o que acabou tomando
cada aluno, pois o sólido em questão é for- muito tempo.
mado por seis módulos diferentes.
Quando todos tinham seus cubos mon-
O passo a passo para a construção do tados falamos sobre suas propriedades utili-
cubo foi realizado uma vez à frente, para zando o material construído por eles como
que os alunos pudessem acompanhar. Em auxílio na explicação.
seguida eles deveriam construir as outras
cinco faces sozinhos seguindo os passos en- O cubo é um paralelepípedo retângulo
sinados anteriormente, como mostra a figu- composto por seis faces quadradas de tama-
ra 2. À medida que as dúvidas surgiam era nhos proporcionais, onde suas arestas são
feita a intervenção mostrando mais uma vez todas congruentes. Ele é composto, além
como eles deveriam proceder. Durante todo das seis faces, por doze aresta que é o seg-
o processo de dobradura dos módulos, cha- mento de reta onde duas faces se encontram
mávamos a atenção para a importância de e oito vértices, que são os pontos de inter-
todos estarem o mais perfeito possível e do- secção ente duas arestas. Falamos também

142 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


sobre o cálculo do perímetro que é a soma No entanto, devemos levar em consi-
das medidas de todos os lados, e área das deração alguns fatos ocorridos durante o
faces do cubo que é simplesmente calcular a desenvolvimento da oficina nas duas sé-
área do quadrado. ries, pois notamos que no sexto A os alu-
nos se mostraram mais interessados, em-
Por fim, solicitamos que fizessem uma penhados e concentrados em fazer uma
atividade escrita composta por três questões, boa construção do cubo, enquanto que o
sendo a primeira de verdadeiro ou falso en- sexto B demonstrou um pouco menos de
volvendo os elementos do cubo e as demais interesse por parte de alguns alunos, eles
pediam para calcular o perímetro e área da são mais dispersos e isso acabou dificul-
face do cubo respectivamente. Para respon- tando um pouco o trabalho.
der a atividade eles deveriam usar o cubo de
origami como auxilio. Isso nos leva a perceber que por mais
diferente que seja a aula o professor
Ao analisar a atividade, notamos que as nunca vai conseguir atingir a todos os
duas turmas mostraram compreender muito alunos da mesma forma, uma vez que
bem cada um dos conceitos, no entanto, ao cada um tem uma personalidade e mui-
julgar como verdadeiro ou falso uma alter- tas vezes já estão acostumados com o
nativa que dizia que o cubo possuía vinte e tradicional que acham desnecessário
quatro arestas a maioria julgou como ver- uma aula mais dinâmica e criativa.
dadeiro, mas provavelmente isso aconteceu
pela falta de atenção na hora de contar as Apesar disto, os resultados alcançados
arestas no cubo construído. Nas questões nos motivam a continuar buscando novas
dois e três somente um aluno errou as duas e estratégias de ensino, uma vez que se faz
isso se deve ao desinteresse que ele demons- necessário estimular o pensamento e a cria-
trava durante a atividade. tividade dos alunos tornando-os estudantes
ativos em sala de aula.
No mais, percebemos que a oficina foi bem
aceita pela maioria dos alunos e de certa forma
conseguimos chegar ao nosso objetivo que era 5. REFERÊNCIAS
levar uma aula diferente onde os alunos conse-
guissem diferenciar com clareza os elementos BRASIL. Parâmetros Curriculares Na-
do cubo, tendo o uso da dobradura origami cionais. Matemática. Brasília: MEC/SEF,
sido bem sucedida em sala de aula. 1997.

BRASIL. Secretaria de Educação Fun-


4. CONSIDERAÇÕES FINAIS damental. Parâmetros Curriculares Na-
cionais: Matemática. Brasília: MEC/SEF,
A experiência com esta oficina demons- 1998, 148 p. Disponível em:<http://portal.
trou que o uso de dobraduras é uma estra- mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/matematica.
tégia que envolve os alunos desenvolvendo pdf>. Acesso em: 14 out. 2017.
a aprendizagem dos conceitos geométricos
e também o trabalho em equipe, pois ficou FIORENTINI, Dario; LORENZA-
bem claro o interesse deles em ajudar os co- TO, Sergio. Investigação em Educação
legas que tiveram um pouco mais de dificul- Matemática: percursos teóricos e metodo-
dade no manuseio do origami. lógicos. - 3. Ed.rev. - Campinas, SP: Editora
Autores Associados, 2009. – (Coleção for-
Ao inserir o origami como alternativa de mação de professores).
ensino aprendizagem percebemos que acaba
permitindo aos alunos expor sua criativida- GONÇALVES, Eliza Pereira. Conversas
de ao mesmo tempo em que conceitos geo- sobre iniciação à pesquisa científica – 3. Ed.
métricos importantes são fixados. – Campinas, SP: Editora Alínea, 2003. 80p.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 143


OLIVEIRA, Fatima Ferreira.  Origa-
mi: matemática e sentimento. Disponí-
vel em: <http://www.nilsonjosemachado.
net/20041008.pdf>. Acesso em: 03 out.
2017.

RANCAN, Grasiele; GIRAFFA, Lucia


Maria Martins. Geometria com origami:
incentivando futuros professores. In: IX
Seminário ANPED SUL, 2012, Brasil.
Disponível em:<http://repositorio.pucrs.
br/dspace/bitstream/10923/8688/2/GEO-
METRIA_COM_ORIGAMI_INCEN-
TIVANDO_F UTUROS_PROFESSO-
RES.pdf >. Acesso em: 10 fev. 2018

144 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


BUSCANDO DIFERENTES ESTRATÉGIAS
DIDÁTICAS PARA O TRABALHO COM O
ENSINO DE CIÊNCIAS NOS ANOS FINAIS
DO ENSINO FUNDAMENTAL
QUIRINO, Thays dos Santos(Estudante)1; SILVA, Felipe Torres da ², PANIAGO, Rosenilde
(Orientador)³; CARNEIRO, Valdivino Alves4 (Colaborador)

1. INTRODUÇÃO

Desde os anos iniciais da alfabetização o trabalho docente tem


sido relevante na formação de vida das pessoas. Tais relações são
base que se concretizam na vivência, tornando os sujeitos aptos a
viver em sociedade. Sabendo que o professor é um agente facili-
tador do conhecimento, e reconhecendo que o trabalho docente
é exposto a desafios constantemente, esta pesquisa focaliza o uso
de alternativas didático-pedagógicas no ensino-aprendizagem de
Ciências nos anos finais do Ensino Fundamental.

Esta pesquisa, aprovada no edital nº 06/2017 do Programa de


Iniciação Científica do IF Goiano, foi desenvolvida no Labora-
tório Interdisciplinar de formação de professores (LIFE), do IF
Goiano - Campus de Rio Verde.
1 Estudante de Iniciação à Docên-
cia– Instituto Federal de Educa- O uso de estratégias didáticas para auxiliar o ensino-apren-
ção, Ciência e Tecnologia Goiano dizado tem sido um grande aliado do professor, porém, devido
– Campus Rio Verde GO – e-mail: a cumprimentos de horários, diários, e avaliações, a maioria dos
thaysquirino1@gmail.com;
docentes recorre a estratégias menos atraentes para ministrar, tais
2 Estudante de Iniciação à Docên- como: atividades baseadas apenas no livro didático, o uso do qua-
cia– Instituto Federal de Educa- dro negro, tornando assim o ensino-aprendizagem desmotivante,
ção, Ciência e Tecnologia Goiano maçante e seguindo a tendência tradicional de ensino. Assim, a
– Campus Rio Verde GO – e-mail: linha tênue entre o comodismo e a cobrança da coordenação, di-
feliperv16@hotmail.com;
reção e os desafios de lidar com turmas heterogêneas, entre outros,
3 Orientadora – Instituto Fe- torna o docente estagnado, e os alunos cada vez mais desanimados
deral de Educação, Ciência e e desinteressados pelo processo ensino-aprendizagem nas institui-
Tecnologia Goiano – Cam- ções escolares.
pus Rio Verde – GO – e-mail:
rosenilde.paniago@if goiano.
Diante do exposto, esta pesquisa que se encontra em andamen-
4Colaborador- Professor do En-
sino Fundamental- Rio Verde - to objetiva buscar de forma colaborativa, estratégias didático-pe-
GO- e-mail: professorvaldivinoal- dagógicas para o ensino de Ciências nos anos finais do Ensino
ves@gmail.com Fundamental, com o intuito de contribuir com o ensino e aprendi-

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 145


zagem tornando-o motivador e instigante. De modo geral, a pesquisa está sendo
Importante destacar que segundo Paniago desenvolvida em algumas etapas: 1) Le-
(2017), são várias as estratégias que os pro- vantamento dos conteúdos propostos pelos
fessores podem utilizar parar o trabalho em Parâmetros curriculares e referências cur-
sala de aula, que podem ser desenvolvidas riculares do estado de Goiás para o ensino
de diferentes maneiras: problematização, de ciências da Natureza (6º ano 9º ano); 2)
observação, experimentação, leituras, sis- realização de diagnóstico da escola e junto
tematização do conhecimento, ensino com aos alunos; 4) realização de intervenção. As
pesquisa, aula expositiva dialogada, drama- duas primeiras etapas já foram desenvolvi-
tização, seminário, pesquisa de campo, tra- das, e a terceira ainda está em andamento,
balho com projetos, música, filmes, jogos portanto, serão apresentados dados referen-
didáticos, entre outros. tes as duas primeiras etapas e uma interven-
ção já iniciada na terceira.

2. METODOLOGIA
3. DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS
Esta pesquisa de abordagem qualitativa
está sendo realizada em colaboração com o Os resultados já obtidos foram configu-
professor de Ciências de uma escola da rede rados nos seguintes eixos: proposta curricu-
pública estadual de Rio Verde. lar para o ensino de Ciências da Natureza
(6º ao 9º ano); realização do diagnóstico:
A tarefa do professor no dia a dia de sala aspectos da escola e olhar dos alunos acerca
de aula é extremamente complexa, exigin- do conteúdo; atividades de intervenção.
do decisões imediatas e ações, muitas vezes,
imprevisíveis. Nem sempre há tempo para
distanciamento e para uma atitude analítica
como na atividade de pesquisa. Isso não sig- 3.1. PROPOSTA CURRICULAR PARA O
nifica que o professor não deve ter um espírito
ENSINO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA (6º
de investigação. É exatamente importante que
AO 9º ANO)
ele aprenda a observar, a formular questões e
hipóteses e a selecionar instrumentos e dados Nesta etapa da pesquisa, foi possível
que o ajudem a elucidar seus problemas e a identificar os conteúdos a partir do bimestre
encontrar caminhos alternativos na sua prática e do eixo temático sugerido pelo parâmetro
docente (ANDRÉ, 2008). curricular do estado de Goiás. Na análise da
proposta curricular do estado de Goiás para
Como instrumentos de coleta de dados, o 7º ano do ensino fundamental, foi possível
foi utilizada observação com registro em identificar os conteúdos propostos, o con-
diário de campo, entrevista e questionário. teúdo destacado no Currículo Referência do
O diário de campo foi usado para registrar Estado de Goiás era relacionado à Alimen-
os dados referentes ao diagnóstico na esco- tação, já o conteúdo proposto pelo livro di-
la, levantamento dos conteúdos de Ciências dático era referente aos biomas, o que sinali-
propostos pelas referencias curriculares do za que o estado adota uma forma específica
estado de Goiás e as intervenções realizadas de organização de sua proposta curricular
em sala de aula. O questionário sociocultu-
ral foi executado com a intencionalidade de Feito o levantamento inicial, em diálogo
conhecer o perfil dos alunos, seus conheci- com o professor da turma, foram seleciona-
mentos prévios e principais dificuldades em dos alguns temas que seriam trabalhados no
relação aos conteúdos de Ciências trabalha- 4º bimestre, período em que poderiam ser
dos em sala de aula. A entrevista foi realiza- efetivadas as práticas com o uso de estratégi-
da no final da intervenção, teve a finalidade cas didáticas elaboradas no LIFE. Os conteú-
de identificar qual a opinião dos alunos so- dos destacados foram “Nutrição: composição
bre as ações promovidas. dos alimentos e importância dos nutrientes

146 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


no organismo, e pirâmide alimentar”. Partin- cial, entre outros. Estes projetos são reali-
do deste tema foi possível intervir de forma zados no decorrer do ano letivo, e tem valor
cooperativa com o professor da sala. Esta in- significativo no desenvolvimento intelec-
tervenção se deu de maneira em que ideias de tual, social dos alunos, professores e todos
modelos estratégicos foram criadas de acordo os envolvidos. Quanto aos recursos disponí-
com a proposta curricular adotada pela escola veis para o ensino-aprendizagem de Ciên-
e com o pressuposto que para se aplicar uma cias, foi possível observar que a escola dis-
intervenção é fundamental conhecer o con- põe de laboratório de ciências, nele contém
texto da escola em termos curriculares, social vidrarias, instrumentos para realização de
e cultural (PANIAGO, 2017). Por isso, foi experimentos, reagentes, livros, esqueletos,
realizado também um diagnóstico que será microscópio, globo, pias, projetor, quadro
descrito a seguir. negro, bancadas, espécies em conservações,
entre outros. Inclusive, foi possível identifi-
car a forma como o professor titular da tur-
ma faz uso do laboratório.
3.2 REALIZAÇÃO DO DIAGNÓSTICO: AS-
PECTOS DA ESCOLA E OLHAR DOS ALU-
NOS ACERCA DO CONTEÚDO
O diagnóstico é uma ação importante
antes de realizar-se uma ação interventiva,
ficando evidente o dever de observar o am-
biente escolar, conhecer os alunos e aspectos
que interferem em sua aprendizagem e Car-
valho (2013, p. 3) expressa sua posição em
relação a este assunto.

A sala de aula em que um professor vai


trabalhar não está isolada no mundo, ela
se encontra dentro de uma escola que tem
seus valores bem estabelecidos. O profes-
sor sabe que o seu trabalho está estreita-
mente relacionado e desenvolvido pelo
coordenador geral, pelo coordenador da
área e pela direção, embora após fechar a
porta da classe, a responsabilidade do en-
sino e a aprendizagem dos alunos seja sua
(CARVALHO,2013, P. 3). Figuras 1.1 e 1.2: Aplicação do questionário
sócioeconômico e específico
Durante o período de visitação ao colé-
gio, pode-se verificar sua estrutura e rela- Por meio do questionário foram ava-
ções entre professor/aluno no âmbito esco- liadas as condições sociais e conhecimento
lar. Os dados foram registrados em diário específico na disciplina de ciências no eixo
de campo para posterior análise de campo. temático “Corpo humano e saúde”, previsto
Por meio de observações em sala de aula foi para ser executado no 3º Bimestre do ano
possível identificar alguns aspectos impor- letivo, contendo os seguintes temas: Nu-
tantes no ensino aprendizagem, conforme trição, circulação, respiração e alimentação.
registrado em diário de campo. Sabendo disso, esta foi a primeira ação de-
senvolvida para averiguar a situação da tur-
Ao analisar a realidade da escola, evi- ma. Com o auxílio do professor de ciências,
denciou-se que os professores desenvolvem os alunos se dirigiram ao auditório da esco-
vários projetos, tais como: meio ambiente, la, onde foram entregues o questionário, foi
sarau literário, feira de ciências, função so- explicado como eles deveriam responder, e

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 147


nhar o desenvolvimento dos temas á base de
sua finalidade. Como resultado desta ação
atividades a serem realizadas pelos alunos.
ficou acentuado o nível de conhecimento (CARVALHO, 2011, p.43)
dos mesmos, que seria um nível intermediá-
rio sobre o assunto, já que os alunos ainda
não dominavam conceitos sobre o conteúdo. Assim, todas as ações de intervenção
foram previamente planejadas de modo a
Ao realizar o diagnóstico junto aos alu- atender os seguintes questionamentos: Para
nos, a preocupação era identificar o perfil que trabalhar este conteúdo – objetivos? O
dos alunos, aspectos importantes sobre a que trabalhar- - conteúdos? E como traba-
relação entre professor e aluno, problemas lhar-metodologia? Para isso, o planejamen-
sociais, pois segundo Cordeiro (2010, p. 83): to é fundamental.

É nessa instância da socialização entre os O planejamento é um processo de raciona-


iguais que se constituem e se afirmar as- lização, organização e coordenação da ação
pectos importantes da construção da per- docente, articulando a atividade escolar e a
sonalidade de cada uma das crianças. Ali problemática do contexto social. A escola,
se exercitam expectativas, desejos, projetos, os professores e aos alunos são integrantes
planos, interações as mais diversas. Ali se da dinâmica das relaciones sociais; tudo o
experimentam dimensões afetivas impor- que acontece no meio escolar está atraves-
tantes, constroem-se amizade e inimizade, sado por influências econômicas, políticas
afinidade e repulsas, exercitam-se formas de e culturais que caracterizam a sociedade
liderança, de autoridade e de reação contra de classe. Isso significa que os elemen-
essas mesmas lideranças e autoridades. tos do planejamento escolar- objetivos,
conteúdos, métodos- estão recheados de
Assim, também esse diagnóstico foi im- implicações sociais, têm um significado
portante para verificar o conhecimento dos genuinamente político. Por essa razão, o
alunos em relação ao conteúdo programático. planejamento é uma reflexão acerca das
nossas opções e ações; se não pensarmos
detidamente sobre o rumo que devemos
dar ao nosso trabalho, ficaremos entregues
4. ATIVIDADES DE INTERVENÇÃO aos rumos estabelecidos pelos interesses
dominantes na sociedade (LIBÂNEO,
Como já fora afirmado há uma varie- 1994, p. 245).
dade de estratégias didáticas que os pro-
fessores podem mobilizar em suas aulas,
como forma de dinamizar o processo ensi- Como as ações previstas para esta etapa
no-aprendizagem. da pesquisa ainda estão acontecendo, apre-
sentar-se-á, algumas já desenvolvidas, como
Carvalho (2011, p.43) descreve sobre a a confecção de cartazes, aulas práticas no la-
problemática de desenvolver atividades para boratório de ciências da escola e a realização
auxiliar no ensino-aprendizagem dos alunos. de projetos pelos alunos.

O interesse por saber programas atividades Foi desenvolvida junto com o professor
de aprendizagem manifesta-se como uma de ciências a primeira ação prática, que ti-
das necessidades formativas básicas dos pro- nha como o objetivo dinamizar o trabalho
fessores. Inclusive aqueles que orientam seu do processo-ensino aprendizagem do con-
ensino como uma transmissão de conhe-
teúdo programático com os alunos sendo
cimentos já elaborados consideram muito
ele “Alimentação saudável”. Para efetuar
conveniente poder completar suas explica-
ções com algum tipo de atividade dos alu- esta ação, procuramos incitar os alunos a
nos. Esse interesse cresce, é logico, quando produzirem e participarem de forma ativa
se pretende organizar a aprendizagem como no processo ensino-aprendizagem. Então
uma construção de conhecimentos por par- inicialmente foi sugerido que os alunos con-
te dos alunos. Nesse caso, já não se trata de feccionassem cartazes informativos sobre o
preparar algumas atividades, mas de dese- tema. Os cartazes foram expostos no mu-

148 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


ral da escola, e durante a confecção foram ação de higiene, foi solicitado que lavassem
discutidos assuntos sobre a composição dos todas as frutas antes do preparo, posterior-
alimentos. mente foi discutido com os outros alunos
sobre a importância da higienização na ali-
mentação.

Os alimentos utilizados foram: abacaxi,


mamão, melão, laranja, banana e maçã; en-
quanto manuseava o corte dos alimentos, o
professor de ciências e os alunos prepararam
um suco de abacaxi utilizando como matéria
prima a casca do abacaxi, enfatizando a reci-
clagem e o uso de todos os componentes dos
alimentos. Em todos os momentos da aula
prática, o professor de ciências, juntamente
com a pesquisadora, ressaltava estudos reali-
zados nas aulas anteriores sobre a alimentação
e nutrição. A avaliação foi feita por observa-
ção, e domínio sobre o assunto. Por fim, esta
atividade foi tranquila e produtiva não teve
nenhum desentendimento, comportamento
indisciplinado dos alunos. As fotos abaixo si-
nalizam as atividades trabalhadas:

Figura 2.1 e 2.2 Confecção de cartazes informativos

Outra atividade realizada sobre o tema


“Alimentação saudável” foi a prática no labo-
ratório de ciências da escola onde foi produzi-
do junto com os alunos uma salada de frutas.
Inicialmente foram planejadas as aulas, onde
esclarecia o objetivo, conteúdo, metodologia,
avaliação desta atividade prática.

Posteriormente os alunos adentraram-


-se no laboratório de ciências, e sentaram
em volta da bancada principal; já na segun-
da bancada estava o professor de ciências,
sempre colaborativo, manuseando os instru-
mentos para a realização da salada de frutas.
Logo em seguida, foi distribuído roteiro da
aula prática, e pedido para que um aluno
desse início a primeira leitura do roteiro Figura 3.1 e 3.2: Aula prática sobre
da aula, depois da leitura foi explicado seu alimentação saudável
objetivo e sua finalidade. Para dinamizar a
prática, dois alunos auxiliaram no preparo As práticas de intervenção realizadas se
da salada de frutas, antes que eles inicias- ancoram nos pressupostos teóricos de Car-
sem, fizeram higiene das mãos, e orientados valho e Gil-Peréz (2011), ao apontarem
a como deveriam ser lavadas, seguindo esta que é preciso que os professores precisam:

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 149


romper a inércia e trabalhar com inova- ram incitados a questionar, problematizar e
ção, pesquisa e formação permanente, uma realizar pesquisa sobre a temática alimenta-
condição fundamental na prática docente; ção saudável e sobre as atividades realizadas
trabalhar coletivamente, desde a elaboração nesta etapa interventiva. Os resultados fo-
da aula até as diversas formas de avaliação; ram apresentados na “Bioprospectar- Feira
ter conhecimento da matéria a ser estuda- de Ciências” realizado no Campus Rio Ver-
da, porém, ir além disto, buscar sempre estar de, onde os alunos exibiram em forma de
atualizado, pois conhecimentos literários pôster as ações promovidas por esta pesqui-
costumam ser insuficientes, e se desta- sa, e foram premiados.
car fazendo leituras sobre conhecimento e
desenvolvimento científicos recentes para
transmitir uma visão ampla sobre o assunto
a ser mencionado; saber relacionar os con-
teúdos, trabalhar de forma interdisciplinar;
principalmente tornar o trabalho docente
cientifica onde a ciência anda de mãos da-
das com a didática assim o trabalho se torna
criativo de pesquisa e inovação.

Ademais, os resultados das intervenções


já realizadas sinalizam que os alunos, se sen-
sibilizaram quanto à importância de uma
alimentação saudável e certamente o proje-
to mudará os hábitos cotidianos dos alunos, Figura 4.1: Participação dos alunos no
conforme destacam em suas narrativas: evento “Bioprospectar”.

A aula sobre salada de fruta eu gostei muito.


Aprendi que devemos lavar bem as mãos e os
alimentos a usar luvas prender o cabelo antes
de fazer as refeições (Aluno A)

Eu aprendi que as frutas são ricas em vita-


minas e fibras. Como a laranja que tem a
vitamina C que previne a gripe, e também
podemos usar a casa de vários alimentos
para fazer sucos e etc. (Aluno B)

Aulas diferentes nos ajudam a aprender


mais. A professora Tais e Valdivino nos
ensinaram no laboratório a fazer uma sa-
lada de frutas natural com abacaxi, melão,
maçã, mamão, e banana. Aprendendo tam-
Figura 4.2: Alunas que apresentaram os resultados
bém que as frutas são fonte de vitaminas,
que a casca de abacaxi podemos fazer suco desta etapa da intervenção.
dele (Aluno D)

Depois dessa experiência fomos comer


a salada de frutas que estava uma delícia, 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
logo depois fomos tirar uma foto para
recordar esse momento feliz e proveitoso Sabendo a relevância de se trabalhar
que tivemos (Aluno C) novas estratégias didáticas de ensino, esta
pesquisa em sua primeira fase, obteve resul-
Outra intervenção realizada foi o traba- tados significativos em se tratando de dife-
lho com projetos. Para tanto, os alunos fo- rentes possibilidades didático-pedagógicas.

150 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


Logo fica evidente a importância desta pes- CORDEIRO, Jaime. Didática. Editora
quisa na profissão da docência, pois possi- Contexto. 1ª edição. 2007
bilita um trabalho coletivo entre docentes,
alunos, e toda equipe participante desta pes-
quisa. Além disso, a aproximação da pes-
quisadora com o campo da educação básica
por meio de um trabalho investigativo foi
fundamental, licenciando do curso de Quí-
mica, foi importante para sua aprendizagem
como docente.

Por fim, o uso de diferentes estratégias


didáticas no ensino-aprendizagem dina-
miza o ensino e aprendizagem e provoca o
envolvimento dos alunos. Como dito neste
artigo, as estratégias didáticas felicitam o
trabalho exercido pelo professor na execu-
ção de conteúdos propostos pela bimestrali-
zação da base curricular do estado de Goiás.

4. REFERÊNCIAS

GOIÁS. Secretária da Educação do Estado


de Goiás. Currículo Referência da Rede
Estadual de Educação de Goiás: Versão
Experimental Disponível em: http://www.
seduc.go.gov.br/imprensa/documentos/
arquivos/Curr%C3%ADculo%20Refer%-
C3%AAncia/Curr%C3%ADculo%20
Refer%C3%AAncia%20da%20Rede%20
Estadual%20de%20Educa%C3%A7%-
C3%A3o%20de%20Goi%C3%A1s!.pdf

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. Cortez,


1994

ANDRÉ, Marli. O papel da pesquisa na


formação e na prática dos professores. 9ª
ed. 2008

CARVALHO, Anna Maria Pessoa. For-


mação de professores de Ciências. 10ª ed.
2011.

PANIAGO, Rosenilde Nogueira. Os pro-


fessores, seu saber e seu fazer. Paraná: edi-
tora Apris. 1ª edição. 2017.

CARVALHO, Anna Maria Pessoa. Os es-


tágios nos cursos de licenciatura. Editora
Cengage Learnig. 1ª edição. 2013 .

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 151


ESTRATÉGIAS DE ENSINO E
CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO: UMA ANÁLISE
CRÍTICO-REFLEXIVA DE UM CURSO DE
LICENCIATURA EM QUÍMICA
JESUS, Weslei Oliveira de1; CARVALHO, Christina Vargas Miranda2;
SILVA, Luciana Aparecida Siqueira3

Resumo: O ambiente educacional é considerado um espaço privi-


legiado de construção do conhecimento, no qual a aprendizagem
é oportunizada por diferentes meios e processos. Neste ambiente,
cabe ao professor, em seus diferentes níveis de atuação, mediar o
processo de ensino e aprendizagem, tendo como desafio a for-
mação de cidadãos conscientes e/ou de profissionais aptos para
(con)viver numa sociedade em constante mudança. O presente
trabalho tem como objetivo analisar e refletir sobre as estratégias
de ensino e os critérios de avaliação adotados pelos docentes do
curso de Licenciatura em Química do Instituto Federal Goiano
– Campus Urutaí. Trata-se de um estudo de caso com abordagem
quali-quantitativa, utilizando-se de documentos e entrevistas para
coleta de dados. Os resultados indicam que há uma diversidade de
métodos utilizados na prática educativa dos docentes participan-
tes e nos meios de avaliar o aprendizado dos acadêmicos, porém,
tantos recursos não são suficientes e resultam, por vezes, em aulas
repetitivas em determinados períodos do curso.

Palavras-chave: Estratégias de ensino. Critérios avaliativos. For-


mação docente.

1. INTRODUÇÃO

O ambiente educacional é considerado um espaço privilegiado


de construção do conhecimento, no qual a aprendizagem é opor-
tunizada por diferentes meios e processos. Neste ambiente cabe ao
professor, em seus diferentes níveis de atuação, mediar o proces-
1,2,3 Instituto Federal de Educa- so de ensino e aprendizagem, tendo como desafio a formação de
ção, Ciência e Tecnologia Goiano
cidadãos conscientes e/ou de profissionais aptos para (con)viver
– Campus Urutaí – GO
numa sociedade em constante mudança.
e-mail do autor 1: weslei_olivei-
ra@outlook.com De acordo com Baptista (2015, p. 10) “a educação desempenha
e-mail do autor 2: christina.carva- um papel crucial nos processos de desenvolvimento humano, in-
lho@ifgoiano.edu.br dividuais e coletivos, representa um dos pilares fundamentais das
e-mail do autor 3: luciana.siquei- sociedades democráticas contemporâneas”. Dessa forma, ressal-
ra@ifgoiano.edu.br ta-se o valor da aprendizagem eficiente no processo educacional,

152 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


que propicia o crescimento dos educandos, vorecer o processo de aquisição de conhe-
o aprimoramento dos conhecimentos e o cimentos.
desenvolvimento de novas habilidades e
competências. Diante disso, objetiva-se no presente tra-
balho analisar e refletir sobre as estratégias
No entanto, para que esse processo seja de ensino e os critérios de avaliação adota-
eficaz torna-se fundamental utilizar es- dos pelos docentes do curso de Licenciatura
tratégias de ensino e critérios de avaliação em Química do Instituto Federal Goiano –
adequados, que despertem o interesse dos Campus Urutaí.
alunos pelo saber. Para Gil (2011), a con-
jugação entre fatores relacionados à escola e
ao aluno podem trazer um melhor desem- 2. METODOLOGIA
penho escolar, ou seja, a motivação do corpo
discente aliada as experiências, metodolo- A pesquisa é um estudo de caso, que
gias e ferramentas dos docentes resultam busca descrever as estratégias de ensino e os
em crescimento acadêmico. critérios de avaliação utilizados por docen-
tes no curso, com abordagem quali-quanti-
Uma estratégia de ensino é uma aborda- tativa. A coleta de dados foi realizada por
gem adaptada pelo professor que determina meio da análise de documentos, sendo es-
o uso de informações, orienta a escolha dos tes, o Projeto Pedagógico do Curso (PPC)
recursos a serem utilizados, permite escolher do curso de Licenciatura em Química do
os meios para o alcance de objetivos especí- IF Goiano – Campus Urutaí e os planos
ficos, compreende o processo de apresenta- de ensino das disciplinas ministradas no 1º
ção e aplicação de conteúdos (BRIGHEN- semestre de 2017, além de entrevistas com
TI; BIAVATTI; SOUZA, 2015). Portanto, os docentes atuantes no curso nesse período
os docentes devem buscar por práticas pe- delimitado.
dagógicas que facilitem a transmissão de
conhecimentos aos estudantes.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Entretanto, o êxito do processo educa-
cional relaciona-se também com o ato de 3.1 PROJETO PEDAGÓGICO DO CURSO E
avaliar, na intenção de verificar se o trabalho PLANOS DE ENSINO
do professor proporcionou a compreensão
dos conteúdos pelos estudantes, sendo ne- A partir da análise do PPC do curso
cessário refletir se o modo de avaliar favo- de Licenciatura em Química do Instituto
rece o processo de ensino e aprendizagem. Federal Goiano – Campus Urutaí (PPC,
De acordo com Luckesi (2002), a função de 2013) reconhecemos as disciplinas ofertadas
avaliar possibilita ao educador condições de em todas as turmas do curso. Por se tratar
compreensão do estágio em que o aluno se de um curso com oferta de vagas anual, em
encontra, possibilitando trabalhar suas difi- cada semestre são ofertados quatro perío-
culdades e avançar em termos de novos co- dos (1º semestre: 1º, 3º, 5º e 7º períodos;
nhecimentos. 2º semestre: 2º, 4º, 6º e 8º períodos). A re-
lação entre as disciplinas ofertadas em cada
Haydt (1988, p. 11) declara que “a avalia- período do 1º semestre de 2017 e o código
ção pode ser útil para orientar tanto o alu- do professor responsável é apresentada no
no como o professor: fornece informações Quadro 1. Para atribuição dos códigos aos
sobre o aluno para melhorar sua atuação e professores foi considerada a lista dos res-
dá elementos ao professor para aperfeiçoar pectivos nomes em ordem alfabética.
seus procedimentos didáticos”. Desse modo,
consideramos que a avaliação deve ocorrer
respeitando-se as diferenças de aprendiza-
gem de cada estudante, na tentativa de fa-

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 153


Quadro 1. Disciplinas ofertas no curso de Licenciatura em
Química do IF Goiano - Campus Urutaí no 1º semestre de 2017

Período Disciplina Docente responsável

Estrutura e Propriedade da Matéria D9


Fundamentos Filosóficos da Educação D4
Introdução ao Laboratório de Química D9
1º Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) D5
Matemática Elementar D1
Metodologia Científica D8
Transformações Químicas D12
Cálculo Diferencial e Integral II D14
Didática D4
Física Geral e Experimental II D16

Fundamentos Sócio-Históricos da Educação D8
Oficina de Prática Pedagógica de Química Analítica D3
Química Analítica Quantitativa D11
Estatística Básica D15
Físico-Química II D12
5º Metodologia do Ensino de Química II D6
Psicologia da Aprendizagem D2
Química Orgânica II D13
Análise Espectroscópica de Compostos Orgânicos *
Estágio Supervisionado no Ensino de Química II D6

Oficina de Prática Pedagógica de Química Orgânica D10
Química Inorgânica II D7
Fonte: Dados da pesquisa e do PPC.

*Essa disciplina não foi ofertada no 1º semestre de As disciplinas voltadas às áreas do co-
2017. Os alunos regularmente matriculados no curso, nhecimento de Ciências Naturais e Mate-
que estão frequentando o 7º período, cursaram a mática (áreas I e II) englobam 11 disciplinas
disciplina no 1º semestre de 2016, quando estavam e aquelas voltadas às áreas do conhecimen-
no 5º período. to de Ciências Humanas e de Linguagens
(áreas III e IV) englobam 10 disciplinas.
Assim, observamos que as disciplinas ofer-
tadas no 1º semestre de 2017 do curso in-
Identificamos 22 disciplinas que geral- vestigado encontram-se equânimes no to-
mente são ofertadas no 1º semestre do cur- cante às áreas do conhecimento.
so, porém, no 1º semestre de 2017 foram
ofertadas 21 de acordo com os registros da No entanto, há muitos pesquisadores
coordenação do curso, que foram ministra- no campo da educação que elucidam que
das por 16 docentes. Agrupamos as disci- os cursos de licenciatura apresentam ca-
plinas em quatro áreas, conforme Quadro 2, racterísticas bacharelescas, nos moldes da
para melhor interpretação dos dados. racionalidade técnica, considerando neces-

154 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


Quadro 2. Agrupamento das disciplinas por área

Área Disciplinas Englobadas

- Estrutura e Propriedade da Matéria


- Físico-Química II
- Introdução ao Laboratório de Química
I. Disciplinas específicas
- Química Analítica Quantitativa
de Química
- Química Inorgânica II
- Química Orgânica II
- Transformações Químicas
- Cálculo Diferencial e Integral II
II. Disciplinas envolvendo con- - Estatística Básica
teúdos matemáticos e físicos - Física Geral e Experimental II
- Matemática Elementar
- Didática
- Fundamentos Filosóficos da Educação
III. Disciplinas envolvendo - Fundamentos Sócio-Históricos da Educação
conteúdos pedagógicos - Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS)
- Metodologia Científica
- Psicologia da Aprendizagem
- Oficina de Prática Pedagógica de Química Analítica
IV. Disciplinas específicas do - Metodologia do Ensino de Química II
Ensino de Química - Oficina de Prática Pedagógica de Química Orgânica
- Estágio Supervisionado no Ensino de Química II
Fonte: Dados da pesquisa.

sário um conhecimento teórico sólido que a avaliação do rendimento escolar será feita
constitua a base para o exercício profissio- com notas variáveis de zero a dez, abrangen-
nal, concebendo a prática como um mundo do um conjunto de atividades, tais como:
resolução de listas de exercícios, apresen-
à parte do corpo teórico de conhecimentos
tação de seminários, redação de resumos e
(LÔBO; MORADILLO, 2003). Espe-
resenhas, elaboração e apresentação de aulas,
cificamente sobre o curso de Licenciatura relatórios de aulas práticas e visitas técnicas,
em Química, Gauche et al. (2008), Fran- prova oral e escrita. É importante salientar
cisco Junior, Peternele e Yamashita (2009) que dessa maneira, a avaliação do discente
e Mesquita e Soares (2014) elucidam que não se resumirá a apenas um instrumento
a formação de professores de Química de- (PPC, 2013, p. 99).
corre como apêndice do currículo do curso
de bacharelado. Nesse contexto, salienta-se Para a análise dos planos de ensino, soli-
que não estamos afirmando que o curso não citamos os mesmos à coordenação do curso
apresenta tais características, visto que não pois, não estavam disponíveis à consulta por
analisamos/avaliamos todas as disciplinas meio digital. A coordenação do curso nos es-
presentes no PPC do curso e que são ofer- clareceu que os docentes tem liberdade para
tadas ao longo dos oito períodos. escolher a forma como ministrará sua(s)
disciplina(s), podendo utilizar variadas me-
Ao analisar o PPC buscando-se verificar todologias e diversos critérios para avaliar se
se esse documento propõe métodos de como os acadêmicos estão compreendendo o con-
deve ocorrer a avaliação da aprendizagem dos teúdo. Além disso, os docentes são orienta-
acadêmicos do curso, constatamos que dos a buscar por novas alternativas educa-

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 155


tivas e instrumentos de avaliação durante o e confirmam o que encontramos expresso
processo de ensino e de aprendizagem, caso no PPC. No Quadro 3 estão apresentadas
percebam as fragilidades e necessidades da as metodologias e os critérios de avaliação
turma. Tais esclarecimentos corroboram identificados nos planos de ensino.

Quadro 3. Metodologia e critérios de avaliação verificados nos planos de ensino

Área Metodologia Critérios de Avaliação

Aula expositivo-dialogada, Avaliação contínua, provas es-


atividades avaliativas, atividades critas e individuais, avaliações
I. Disciplinas específicas de
práticas de laboratório, leitura e práticas, entrega de relatórios e
Química
discussão de artigos científicos, lista de exercícios, seminários e
resolução de exercícios. participação em sala de aula.

Aula expositivo-dialogada, aulas


Avaliações escritas e indi-
experimentais, debates com a
viduais, entrega de listas de
II. Disciplinas envolvendo con- turma, resolução de exercícios,
exercícios, trabalhos avaliati-
teúdos matemáticos e físicos seminários e utilização de recur-
vos, seminários, participação e
sos de multimídia: data show e
discussão em sala de aula.
softwares matemáticos.

Aulas expositivas, análise e


produção textual, dinâmicas em Avaliação contínua, avaliação
grupo, estudo dirigido, leitura prática, atividades realizadas
III. Disciplinas envolvendo e discussão de textos, filmes e em classe e extraclasse, provas
conteúdos pedagógicos documentários, pesquisas indi- individuais, produção textual,
viduais, seminários temáticos e seminários, trabalhos indivi-
utilização de recursos multi- duais e em grupo.
mídia.

Escrita e apresentação do
Aula expositivo-dialogada,
relatório de estágio, miniaulas,
atividades avaliativas, leitura e
IV. Disciplinas específicas do participação nas discussões em
discussão de artigos científicos,
Ensino de Química sala de aula, pontualidade na
produções individuais, miniau-
entrega de atividades, seminá-
las, seminários.
rios e trabalhos escritos.

Fonte: Dados da pesquisa.

Observamos que o conjunto de disci- critérios de avaliação repetitivos em disci-


plinas agrupadas em uma mesma área uti- plinas ofertas em um mesmo período. As-
lizam metodologias e critérios de avaliação sim, notamos que grande parte das meto-
semelhantes, o que associamos ao fato de dologias utilizadas pelos docentes exige dos
contemplarem conteúdos que são melhores acadêmicos resultados expressivos por meio
assimilados por aulas expositivas, leituras, de avaliações individuais e sem consulta,
estudos, resolução de exercícios ou por dis- peculiar das disciplinas específicas das áreas
cussões. De modo geral, os docentes do cur- de conhecimento de Ciências da Natureza e
so pesquisado utilizam diversos instrumen- Matemática (áreas I e II).
tos e práticas educativas para ministrar suas
aulas, que vão do quadro e giz aos recursos De maneira análoga, nas disciplinas com
de multimídia, da prática no laboratório à conteúdos pedagógicos e específicas do
didática da profissão professor. Ensino de Química (áreas III e IV), perce-
bemos que a metodologia e os critérios de
No entanto, essa semelhança e diversi- avaliação estão direcionados à formação da
dade de recursos resultam em métodos e identidade docente dos acadêmicos, valori-

156 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


zando-se as exposições de ideias, produção guir, na Figura 1 são apresentados os dados
textual, discussões, roda de conversa, tra- referentes ao tempo de profissão docente.
balhos individuais e em grupos. De acordo
com Pimenta e Lima (2006) a profissão do-
cente é uma prática social, que como tan-
tas outras, é uma forma de se intervir na
realidade social, ou seja, um traço cultural
compartilhado que estabelece relações com
o que acontece em outros âmbitos da socie-
dade e de suas instituições.

O saber docente segundo Tardif (2014)


trata-se de um conjunto de diferentes sabe- Figura 1. Tempo de profissão docente.
res, provenientes de diversas fontes, que são Fonte: Dados da pesquisa
construídos, relacionados e mobilizados pe-
los professores de acordo com as exigências Notamos que 28,5% dos docentes pos-
de sua atividade profissional. Dessa forma, suem tempo inferior a 5 anos atuando na
notamos que as disciplinas das áreas III e educação, sendo o mesmo percentual para
IV exercem o papel de desenvolver a capaci- aqueles entre 5 e 10 anos de carreira e 43%,
dade de articular a teoria do conhecimento atuam como docentes há um tempo superior
científico com a prática docente. a 10 anos. No entanto, 64% possuem carreira
docente no IF Goiano – Campus Urutaí por
3.2 ENTREVISTA COM OS DOCENTES tempo inferior a 5 anos, 28,5% entre 5 e 10
ATUANTES NO CURSO anos e apenas 7,5% por mais de 10 anos. Com
relação a carreira docente no curso de Licen-
Após a identificação dos 16 docentes ciatura em Química, 78,5% atuam a menos de
atuantes no curso no primeiro semestre de 5 anos e 21,5% entre 5 e 10 anos.
2017, contactamos e indagamos os mes-
mos acerca de seu interesse em participar da Ao realizar uma análise comparati-
pesquisa. Assim, agendamos previamente a va entre o exposto nos planos de ensino e
data e o horário das entrevistas com os do- o discurso das entrevistas, notamos que os
centes interessados, de acordo com sua dis- docentes tem o plano de ensino como um
ponibilidade. No período entre 27/06/2017 instrumento norteador de sua disciplina, se-
à 05/07/2017 realizamos as entrevistas com guindo de forma coerente o que foi proposto
14 professores(as) pois, dois não quiseram no início do semestre, tanto no que se refere
participar. aos procedimentos metodológicos, quanto
avaliativos. No entanto, todos(as) relataram
Através das entrevistas, notamos que to- que as metodologias utilizadas e os crité-
dos os docentes atuam em suas respectivas rios de avaliação adotados são previamente
áreas de formação inicial, que segundo Gatti discutidos com a turma e, se necessário, são
(2010) é um fator importante para a quali- feitas adaptações no decorrer do semestre.
dade da educação. Entre os docentes entre-
vistados estão: 2 especialistas, 7 mestres(as), Percebemos que os professores têm a
no qual 2 estão cursando o doutorado, 4 preocupação de refletir sobre sua prática do-
doutores(as) e 1 pós-doutora. Constatamos cente. A respeito do professor como prático
que 57% dos docentes já haviam ministrado reflexivo, Freire (1996, p. 39) elucida que “é
a(s) disciplina(s) para o curso de Licencia- pensando criticamente a prática de hoje ou
tura em Química, enquanto 43% ministrava de ontem que se pode melhorar a próxima
a(s) disciplina(s) pela primeira vez. Obser- prática”. Zeichner (1993) revela que
vamos que nenhum docente atua apenas na
educação básica, 43% atuam na educação o professor reflexivo reconhece a riqueza
superior e 57% em ambos os níveis. A se- da experiência que reside na prática dos

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 157


bons professores. [...] Reflexão sobre a
De modo similar, as disciplinas perten-
prática também significa o reconhecimen-
to de que o processo de aprender e ensi- centes às áreas III e IV preferem abordar os
nar se prolonga durante toda a carreira do conteúdos por meio de rodas de conversas,
professor [...]. Assim, os formadores de seminários, leituras e aulas dialogadas, prio-
professores têm a obrigação de ajudar os rizando a discussão de assuntos relacionados
futuros professores a interiorizarem, du- a formação docente. Para isso, são utilizados
rante a formação inicial, a disposição e a recursos de multimídia, materiais impres-
capacidade de estudarem a maneira como sos, cartazes, portfólios, visando auxiliar na
ensinam e de a melhorar com o tempo, res- elaboração e construção de instrumentos
ponsabilizando-se pelo seu próprio desen- didáticos. O processo avaliativo é qualitati-
volvimento profissional. (p. 17)
vo e contínuo, considerando a criatividade e
a evolução do acadêmico na construção de
Desse modo, permanecendo em Zeichner, sua personalidade docente.
observamos o compromisso desses formado-
res de educadores ao (re)pensar sua prática, o Ao considerarmos as funções da ava-
que pode ser percebido a partir das seguintes liação no processo de ensino e de apren-
falas: “Nenhum profissional está pronto e aca- dizagem, destacamos as considerações de
bado, ele deve estar sempre aberto a novas mu- Trevelin e Neiva (2011) que nos esclare-
danças” (D9) e “Me reconheço como um professor cem que, por meio da avaliação diagnós-
tradicional e tento me ajustar” (D16). tica verificam-se as características indivi-
duais e de grupos e, além disso, possíveis
problemas de aprendizagem e suas causas.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Já a avaliação formativa pode ser usa-
da como feedback tanto para o estudante
O curso de Licenciatura em Química pos- quanto para o professor, para identificar
sui uma matriz curricular que procura ofertar deficiências e reformular trabalhos. Por
em cada período disciplinas que favoreçam a outro lado, a avaliação somativa classifica
consolidação do conhecimento científico, bem o estudante segundo seus níveis de apro-
como o desenvolvimento e aprimoramento de veitamento com critérios estabelecidos,
práticas educativas. Pelas entrevistas, obser- seja de forma impositiva ou combinada.
vamos que as metodologias e os critérios de
avaliação utilizados pelos docentes atuantes Por fim, nos apropriamos das considera-
no curso condizem com as proposições feitas ções de Trevelin e Neiva (2011) e reconhe-
nos planos de ensino. cemos que os docentes das áreas I e II uti-
lizam meios avaliativos somativos e que os
Notamos também, que há uma diver- docentes das áreas III e IV preferem meios
sidade de métodos utilizados na prática formativos, o que não evidencia a existên-
educativa e nos meios de avaliar o apren- cia de condições que compreendam a forma
dizado dos acadêmicos, porém, tantos como o aluno apropria-se do conhecimento.
recursos não são suficientes e resultam, No entanto, enaltecemos a atitude dos do-
por vezes, em aulas repetitivas em deter- centes em refletir sobre sua prática, o que
minados períodos do curso. As disciplinas se torna indispensável para que os profes-
agrupadas nas áreas I e II priorizam aulas sores em formação, dentre os quais muitos
expositivas e experimentais, utilizando de se espelham em seus professores formado-
recursos de multimídia, quadro, giz e la- res, percebam a necessidade de mudança ao
boratório para a explicação dos conteúdos. longo de toda a carreira docente.
O aprendizado dos acadêmicos é avaliado
por meio da capacidade de reprodução de
exercícios feitos em sala, compreensão de 5. AGRADECIMENTOS
práticas e agregação de conceitos, tornan-
do o processo avaliativo em grande parte Ao Instituto Federal Goiano, aos docen-
quantitativo e individual. tes do curso de Licenciatura em Química

158 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


do Campus Urutaí e a toda comissão orga- a licenciatura em Química: em contexto as
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res da Educação Básica em interface com

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 159


RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE
TABULEIRO PINOS COLORIDOS APLICADO
NO EVENTO “MATEMÁTICA NAS PRAÇAS
CARVALHO, Wesley Monteiro de1; MOTA, Eliane Fonseca Campos2 (Orientadora)

1. INTRODUÇÃO

Este relato descreve a minha experiência vivenciada na aplica-


ção do tabuleiro pinos coloridos no desenvolvimento do projeto de
extensão “Matemática nas praças”, executado nas cidades de Pires
do Rio - GO, Orizona - GO, Urutaí - GO e Ipameri - GO na
Semana Nacional da Ciência e Tecnologia ocorrido em outubro de
2017. Mas, de que projeto estamos falando?

O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunica-


ções (MCTIC) propôs em 2017 para as Universidades e Institutos
Federais que ofertam o Curso de Licenciatura em Matemática que
estas instituições elaborassem e desenvolvessem um projeto com a
temática “A matemática está em tudo”. Essa temática foi escolhi-
da devido ao fato de o Brasil sediar dois eventos importantes na
área da matemática em 2017, a saber, a Olimpíada Internacional
da Matemática e o Congresso Internacional de Matemáticos. O
“objetivo dessa proposta é o de aproximar a Ciência e Tecnologia
da população, promovendo eventos que congregam centenas de
instituições a fim de realizarem atividades de divulgação científica
em todo o País”1.

Pensar um projeto que atendesse a temática “a matemática está


em tudo” parecia ser fácil, mas na verdade foi um desafio, pois,
essa temática remetia a contextualização e a interdisciplinarida-
de que são dois aspectos que precisa ser melhorado no ensino da
matemática, que ainda está centrada na resolução de exercícios. É
perceptível que a matemática está presente nos mais diversos cam-
pos de atuação, eis alguns desses campos, a “agricultura, pecuária,
biologia, engenharia, demografia, medicina, sociologia, política,
atividades tecnológicas, industriais, comerciais, administrativas,
além daquelas relativas a ações bélicas, lamentavelmente” (HUE-
Instituto Federal de Educação, TE; BRAVO, 2007, p.18). Contudo, a matemática também está
Ciência e Tecnologia Goiano – mais perto de nós e em situações corriqueiras, como por exemplo,
Campus Urutaí
E-mail do autor: wesleyifgti@
gmail.com; 1  In: Disponível em http://snct.mctic.gov.br. Acesso: 01/04/2018.

160 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


na culinária, na moda, nas movimentações Participaram do evento as escolas muni-
bancárias, compra e venda, na decoração cipais, estaduais e particulares, desde o ensi-
ou reorganização do espaço de nossa casa, no fundamental I até o ensino médio, bem
no planejamento do nosso dia, no clima e como toda comunidade, porém, as escolas
temperatura da nossa cidade, no nosso cor- predominaram no evento.
po, nas brincadeiras e jogos, dentre outras
situações. No contexto escolar também ve- Foram desenvolvidos jogos matemáti-
mos a aplicação da matemática, como por cos e quebra-cabeças, exposições, oficinas e
exemplo, nas disciplinas de física, química, teatro. Os jogos matemáticos e quebra-ca-
artes, ciências biológicas, geografia e histó- beças propostos para o evento foram dispo-
ria. Como juntar tudo isso, ou parte disso, nibilizados pelo Laboratório de Educação
num projeto de extensão? Primeiramente Matemática do Instituto Federal Goiano -
foi preciso pensar o espaço para desenvolver Campus Urutaí e outros foram confeccio-
esse projeto e o que levar para esse espaço nados pelos próprios licenciandos. Alguns
de forma que mostrasse a matemática pre- dos jogos e quebra-cabeças desenvolvidos
sente nos mais diversos campos de atuação, foram: jogo da velha 3D, dama vertical,
no cotidiano e nas disciplinas do contexto tabuleiro pinos coloridos, advinha matrix,
escolar da educação básica. Surge então, o quebra-cabeça, jogo do labirinto, dama
projeto “Matemática nas praças” elaborado com operações matemáticas, jogo das ar-
pelos professores de Matemática, aprova- golas, torre de hanói, tangran, jogo do se-
do e financiado pelo Conselho Nacional de máforo, desafio com palitos, jogo konane,
Desenvolvimento Científico e Tecnológico jogo do produto, pescaria da matemática,
(CNPq) e executado com o apoio e orga- dentre outros. As oficinas realizadas foram:
nização dos licenciandos do Curso de Li- confecção de um palhaço com materiais
cenciatura em Matemática do IF Goiano recicláveis (matemática na reciclagem e no
Campus Urutaí”. O objetivo desse projeto artesanato), confecção de um cartão fractal,
foi aproximar a matemática do dia-a-dia da confecção da pipa tetraédrica (matemática
comunidade, nas praças públicas das cidades nas brincadeiras) e confecção de um cofre
de Pires do Rio, Orizona, Urutaí e Ipame- de barro (matemática na cerâmica). Houve
ri trazendo para o evento uma matemática ainda, atividades interdisciplinares: a ma-
contextualizada e interdisciplinar. temática no corpo (IMC, altura), a mate-
mática no DNA, a matemática nas molé-
culas, a matemática na pirâmide alimentar
2. METODOLOGIA e a matemática na moda. As exposições
traziam artesanatos (a matemática dos ta-
O evento “Matemática nas Praças” foi petes e crochês), os sólidos de Platão e o
realizado nos dias 24, 25, 26 e 27/10/2017, varal matemático. E por fim, aconteceu um
respectivamente, na Praça Gaudêncio Rin- teatro mostrando a matemática nos movi-
con Segóvia em Pires do Rio – GO; na Pra- mentos corporais, na temporalidade e na
ça Calçadão em Orizona – GO; na Praça harmonia e sincronização do grupo. Po-
do Museu em Urutaí – GO e na Praça da rém, esse relato de experiência dedica-se a
Igreja Matriz do Divino Espírito Santo em aplicação do tabuleiro pinos coloridos.
Ipameri-Go. Teve duração de 9 horas, ini-
ciando-se às 8h e finalizando às 17h. Ele foi O tabuleiro pinos coloridos foi disponi-
organizado pelos professores de matemática bilizado pelo Laboratório de Educação Ma-
e pelos alunos do Curso de Licenciatura em temática, num total de 04 (quatro) unidades.
Matemática e teve o apoio do IF Goiano Confeccionado em madeira, é um tabuleiro
Campus Urutaí, IF Goiano Campus Ipa- que possui 20 pinos que podem ser movi-
meri, Diocese de Ipameri, Prefeituras Mu- mentados, dos quais, 5 são azuis, 5 verdes, 5
nicipais, Saneago, Centros de Convivências vermelhos e 5 amarelos, conforme pode ser
dos municípios e algumas escolas. visto na imagem a seguir.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 161


Figura – Tabuleiro Pinos Coloridos gando desafios aos jogadores, colocando-os
em disputas por menor tempo, fazendo mi-
nicampeonatos e por fim desafiando-os a
pensar de forma inversa, ou seja, a colocar as
peças de forma mais aleatória possível.

3. DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS

A partir dessa atividade pude observar


a curiosidade despertada pelo tabuleiro pi-
nos coloridos nas pessoas. Crianças, jovens
e adultos se envolveram com o jogo e juntos
aprenderam enquanto jogavam.
Fonte: http://www.matemoteca.com.br/index-pinos-
coloridos.asp (2018) Não apresentaram dificuldades na com-
preensão da regra do manuseio do tabuleiro
pinos coloridos e, ao dominar a dinâmica do
mesmo, se propuseram a uma competição,
O tabuleiro pinos coloridos contribui no qual, aquele que agrupasse os pinos em
para o desenvolvimento do raciocínio ló- menor tempo, ganharia a competição. Esse
gico-matemático, concentração e coorde- fato gerou euforia, vibração, empolgação
nação motora. Seu objetivo é conseguir se- com o tabuleiro pinos coloridos. Porém,
parar e agrupar os pinos de mesma cor nas mesmo aqueles que jogaram individual-
extremidades do tabuleiro. Há outras varia- mente se concentraram e seguiram até o
ções, como por exemplo: variação 2, montar fim, conforme proposto pela regra.
uma sequência de cores numa extremidade e
repeti-la nas outras; variação 3, montar duas Trago alguns relatos específicos que
sequências de duas cores cada, cada uma no chamaram minha atenção. Um deles acon-
lado maior do suporte; variação 4, com as teceu em Ipameri-GO com um aluno com
duas sequências de duas cores cada prontas, necessidade educacional específica, a qual
trocar de posição essas sequências; varia- não tive conhecimento, com aproximada-
ção 5, montar o sulco menor do tabuleiro mente 16 anos de idade. Essas informações
(aquele que fica no meio) uma sequência de me foram passadas pela professora que o
quatro cores e solicitar que a sequência seja acompanhava. O fato é que o aluno possuía
montada nos quatro cantos do tabuleiro; dificuldades em raciocinar no agrupamento
variação 6, solicitar que embaralhe as cores. das cores. Com o auxílio da professora, esse
Contudo no evento as variações solicitadas aluno, conseguiu realizar esse agrupamento.
foram a primeira e a sexta. Ele pode ser Porém, ao desafiá-lo a realizar o caminho
aplicado para crianças a partir de 5 anos e inverso (desagrupar as cores), esse aluno
até mesmo para os adolescentes e adultos. não conseguiu, o que não se pode concluir
Há quem defenda a utilização desse tipo de que ele não conseguiria em outro momento
material “como recurso didático pedagógico e em outras circunstâncias após a aplicação
voltado a estimular e efetivar a aprendiza- desse mesmo tabuleiro por mais vezes, na
gem, desenvolvendo todas as potencialida- sala de aula ou recreio ou até mesmo em
des e habilidades dos alunos a partir da edu- casa com o acompanhamento e intervenção
cação infantil” (SILVA, 2004, p.26). de um adulto estimulando-o nesse desafio.
Na cidade de Orizona, outro caso também
O tabuleiro pinos coloridos, pode ser jo- chamou atenção, com um aluno com neces-
gado individualmente ou em grupo. Ele foi sidade educacional específica. A princípio
aplicado nas quatro cidades participantes do não havia notado essa necessidade, mas foi
projeto. No decorrer do evento, foram agre- no decorrer de suas jogadas que percebi que

162 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


ele levava mais tempo que os demais para de todos, da comunidade em si. Assim os jo-
agrupar os pinos por cores. Percebi ain- gos, as oficinas e as exposições agregaram, ao
da certa dificuldade na fala, porém, o fato mesmo tempo, elementos do dia a dia e da
interessante é que depois de várias jogadas matemática e contribuiu para mostrar que
ele conseguiu agrupar os pinos por cores no a ciência está presente na vida das pessoas
mesmo tempo dos demais e ainda conse- desmistificando a concepção de que a mate-
guiu realizar o processo inverso de desagru- mática é para “poucos” e que a matemática
pamento. escolar não tem relação com a matemática
do cotidiano.
Em minha experiência trago, também,
um caso ocorrido na cidade de Orizona- Quanto à aplicação do tabuleiro pinos
-GO, com uma pessoa adulta na faixa dos coloridos, pude observar que em casos de
50 anos de idade, baixa renda, semianalfa- pessoas com necessidades educacionais es-
beta e oriunda de zona rural, informações pecíficas ele pode se tornar eficaz para o
que obtive em breve diálogo posteriormente seu desenvolvimento cognitivo. Mesmo
com o mesmo. Em primeiro momento essa demonstrando dificuldades em atingir os
pessoa quis somente observar os alunos jo- objetivos do jogo, na medida em que eram
gando, então a questionei sobre o porquê acompanhados e estimulados, esses parti-
de não jogar também. Então, com seguinte cipantes desenvolviam seu raciocínio por
resposta “não, não dou conta” e com certo meio da manipulação, e por vezes por si
desconforto e envergonhado, recusou, po- mesmos, conseguiam atingir os objetivos.
rém depois de algum tempo essa pessoa de-
cidiu jogar. Não apresentou dificuldade no Na experiência da aplicação do tabuleiro
entendimento do objetivo do jogo, mas no pinos coloridos com o caso da pessoa adulta,
início teve dificuldade de desenvolver o ra- notei que, através do desafio, a pessoa se in-
ciocínio para agrupar os pinos. Pude perce- teressou e quis jogar, apesar de dificuldades.
ber que após algumas jogadas ele conseguiu No inicio se sentiu motivada a continuar e
atingir os objetivos do jogo, e ao conseguir, ao fim se sentiu eufórica, contribuindo em
demonstrou alegria e quis continuar a jogar. seu desenvolvimento e motivando-o a que-
Depois de algum tempo resolveu parar e ir rer novos desafios. Por isso, torna-se inte-
embora, entretanto retornou depois de al- ressante o incentivo ao desenvolvimento de
guns minutos para continuar. atividades através de materiais manipuláveis
para educação em diversos contextos, pois
De maneira geral, houve casos de pessoas pelo exemplo do jogo tabuleiro pinos colo-
que se interessaram, jogaram e depois de al- ridos, foi possível atingir diversos públicos
gumas jogadas consideraram o jogo pouco de forma positiva, desde crianças a adoles-
desafiador e desinteressante. À medida que centes e adultos, principalmente em relação
isso aconteceu, essas pessoas desistiram de à educação para pessoas com necessidades
continuar a jogá-lo. educacionais específicas.

Em relação aos adolescentes, pude per-


4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ceber que, não de forma geral, mas houve
um desinteresse pelo jogo tabuleiro pinos
O projeto “matemática nas praças” foi colorido, talvez pelo fato de ser pouco de-
um importante evento que envolveu desde safiador para esse determinado público. Por
órgãos de fomento à pesquisa e desenvolvi- essa experiência, acredito que a quantidade
mento tecnológico à colaboração de gover- de pinos e de cores presentes no tabuleiro
nos locais, centros acadêmicos e comunida- atenda melhor ou motive mais, o público
de escolar e comunidade em geral. Diante infantil. Para que haja um maior interesse
disso, o evento atingiu seu objetivo, pois pelos jovens pelo jogo é preciso repensar a
mesmo com grandes variações de público quantidade de pinos e cores, talvez o dei-
foi evidente o envolvimento e participação xando mais complexo e mais desafiador.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 163


Sugiro que esse tabuleiro seja trabalhado
com as crianças nas escolas, pois ele se mos-
trou eficaz para a concentração e raciocínio,
além de atrair a atenção das pessoas.

5. REFERÊNCIAS

HUETE, J.C.S; BRAVO, J.A.F. O ensi-


no da matemática: fundamentos teóricos e
bases psicopedagógicas. Porto Alegre, RS:
Artmed Editora S.A., 2007.

SILVA, M. S. Clube da Matemática: jogos


educativos. 3ª ed. Campinas, SP: Ed. Papi-
rus, 2004.

164 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


Eixo IV
Ensino Médio Integrado e Educação
de Jovens e Adultos

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 165


PEDAGOGIA DO OPRIMIDO E A PRÁTICA
PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO DE
JOVENS E ADULTOS
FERREIRA, Bruna Lima ¹; BERNARDES, Keila Thaysa ²;
Oliveira, Flavia Aparecida de ³; AMARAL, Marco Antônio Franco do4

1. INTRODUÇÃO

A Educação de Jovens e Adultos no Brasil acompanha o pró-


prio desenvolvimento da educação que, por sua vez, está relaciona-
da aos modelos econômicos e políticos, teóricos vigentes no Brasil.
Paulo Reglus Neves Freire nasceu em 19 de setembro de 1921,
em Recife, e foi um educador fundamental na transformação da
EJA no Brasil. Seus estudos e sua atuação eram voltados para a
população mais oprimida socialmente. Freire defendia a ideia de
que o importante do ponto de vista de uma educação libertadora, e
não “bancária”, é que, em qualquer dos casos, os homens se sintam
sujeitos de seu pensar, discutam o seu pensar, sua própria visão de
mundo, manifestada implicitamente ou explicitamente, nas suas
sugestões e nas de seus companheiros (FREIRE, 2017, p. 120).

O presente trabalho consiste na realização de um paralelo com o


livro Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire, buscando incorporar seus
estudos às nuances da educação de jovens e adultos (EJA) e assim,
compreender o processo de ensino-aprendizagem. Nesse sentido, ire-
mos nos fundamentar no conceito de educação libertadora defendido
por Freire, ao longo de sua obra, e reconhecer o papel fundamental do
educando como sujeito autônomo do conhecimento. Iremos, sobretu-
do, compreender o significado da escolarização para os alunos da edu-
cação de jovens e adultos e nos convidar a refletir sobre a necessidade
de se criar políticas educacionais que rompam com os estigmas e os
preconceitos atrelados à suposta lacuna cultural, retomando a estudos
com um olhar voltado para essa população de adultos analfabetos e
sua história de vida.

2. METODOLOGIA
Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia Goiano – Metodologicamente, conforme seus objetivos, este trabalho
Campus Morrinhos. E-mail do
consiste numa pesquisa exploratória que, de acordo com Prodanov
autor: brunacativa@gmail.com;
flavia.nicolyfellipy@gmail.com; e Freitas (2013), tem como finalidade proporcionar mais informa-
keilathaysapnn@gmail.com; mar- ções sobre o assunto a ser investigado, possibilitando sua defini-
co.amaral@ifgoiano.edu.br ção e seu delineamento, isto é, facilitar a delimitação do tema da

166 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


ação) e, muito menos, numa concepção de
pesquisa; orientar a fixação dos objetivos e a
homem como “ser insignificante”.
formulação das hipóteses ou descobrir um
novo tipo de enfoque para o assunto.
A ação política junto aos oprimidos tem de
Quanto aos procedimentos técnicos, a ser, no fundo, “ação cultural” para a liber-
pesquisa se classifica como bibliográfica e, dade, por isto mesmo, ação com eles. A sua
conforme Prodanov e Freitas (2013), é ela- dependência emocional, fruto da situação
borada a partir de material já publicado, concreta de dominação em que se acham
constituído principalmente de livros, re- e que gera também a sua visão inautêntica
do mundo, não pode ser aproveitada a não
vistas, publicações em periódicos e artigos
ser pelo opressor. Este é que se serve desta
científicos, jornais, boletins, monografias, dependência para criar mais dependência
dissertações, teses, material cartográfico, in- (FREIRE, 2017, p.73).
ternet, com o objetivo de colocar o pesqui-
sador em contato direto com todo material
já escrito sobre o assunto da pesquisa. Ao voltar para sala de aula, o sujeito da
EJA, que se constituí de certo grau de vulne-
Nesse sentido, o presente trabalho toma rabilidade, muitas vezes encontra-se preso a
como base bibliográfica, a 63ª edição, do li- uma lacuna cultural, advinda de anos lon-
vro “Pedagogia do Oprimido”, publicada pela ge da escola e uma situação socioeconômi-
editora Paz e Terra, em 2017. E assim busca ca que lhe dá pouco tempo para se dedicar
desenvolver uma reflexão sistemática e crítica aos estudos, em sua maioria no período no-
do conceito de educação libertadora apresen- turno, quando o aluno chega à sala de aula
tado por Freire, associando-o à compreensão cansado devido a uma longa jornada de tra-
do significado da escolarização para os alunos balho diário. Reconhecendo isso, é bastante
da educação de jovens e adultos. encorajadora a proposta de educação liber-
tadora na escolarização de jovens e adultos,
propondo e motivando o retorno de milha-
3. DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS res de indivíduos à escola, complementando
seus estudos, e também, almejando novos
3.1 CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO LIBERTADORA caminhos, rumo à qualificação profissional
e à autonomia do conhecimento.
A obra Pedagogia do Oprimido apresen-
ta uma interessante discussão sistemática e Esta busca nos leva a surpreender, nela,
crítica sobre a educação, partindo de duas duas dimensões: ação e reflexão, de tal
perspectivas, a do oprimido e a do opressor. forma solidárias, em uma interação tão ra-
Assim, por intermédio desta análise, traba- dical que, sacrificada, ainda que em parte,
uma delas, se ressente, imediatamente, a
lharemos a perspectiva de educação liberta-
outra. Não há palavra verdadeira que não
dora associada à realidade histórica dos es-
seja práxis. Daí que dizer a palavra verda-
tudantes da Educação de Jovens e Adultos deira seja transformar o mundo (FREIRE,
(EJA), sujeitos que retomam seus estudos 2017, p. 107).
já na vida adulta, e diante do processo de
crença e reconhecimento da própria opres-
são, buscam superar, enquanto homens de Freire (2017) afirma que não se faz de
vocação, suas próprias dificuldades. A para B ou de A sobre B, mas de A com
B, mediatizados pelo mundo. Mundo que
Freire prescreve um trabalho educativo impressiona e desafia a uns e a outros, ori-
que respeita o diálogo e a união indissociá- ginando visões ou pontos de vista sobre ele.
vel entre ação e reflexão (práxis) - ou seja, Visões impregnadas de anseios, de dúvidas,
um trabalho que, ao priorizar a de esperanças ou desesperanças que impli-
citam temas significativos, à base dos quais
práxis, não se funde no ativismo (ação sem se constituirá o conteúdo programático da
reflexão) ou na sloganização (reflexão sem educação.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 167


Nesse sentido, o papel principal do pro- passa de conteúdos vazios e desconectados
fessor é mostrar ao aluno da EJA que ele da realidade do aluno. Muitas vezes, os alu-
não é um “ser insignificante”, limitado pela nos são tratados como crianças, alienados a
idade ou condição socioeconômica, e sim, a uma realidade que não é a sua e submetidos
partir da projeção de sua realidade cultural, a uma aprendizagem mecânica, com con-
abrir novos caminhos que estabeleçam rela- teúdos pouco significativos. “Desta manei-
ções entre o saber escolar e o saber do aluno. ra, a educação se torna um ato de depositar,
“Para isto, contudo, é preciso que creiamos em que os educandos são os depositários e
nos homens oprimidos. Que os vejamos o educador, o depositante” (FREIRE, 2017,
como capazes de pensar certo também” p. 80).
(FREIRE, 2017, p. 73).
Neste sentido, nos questionamos: se o alu-
no é um mero depositório de conhecimen-
3.2 CONCEPÇÃO “BANCÁRIA” DA EDUCAÇÃO to, pode-se limitar o que é depositado, bem
como o excesso e a qualidade do mesmo?
Freire conceitua e critica o modelo Para Freire, sim. Na sociedade de opressores
de “educação bancária” e posiciona-se na e oprimidos, isso não seria um problema. Já
busca de alternativas que substituam tal que o foco do opressor é diminuir e mani-
modelo de educação que parece não exis- pular o oprimido, estes que se tornam reféns
tir. A educação bancária se fundamenta daqueles que os veem como seres alienados,
na relação educador-educando em que o sem opinião e sem poder de voz.
educador é percebido como o detentor do
conhecimento e da verdade absoluta, e o Quando um aluno chega à EJA, já traz
educando um receptor passivo e dócil do consigo uma bagagem de pré-conceitos so-
conhecimento. ciais. Ele mesmo se vê como um indivíduo
incapaz, responsável por todo o seu fracasso
Falar da realidade como algo parado, es- escolar na infância e, consequentemente, na
tático, compartimentado e bem- compor- vida adulta. Suas experiências de vida não
tado, quando não falar ou dissertar sobre possuem valor, o que conta para a sociedade
algo completamente alheio à experiência opressora é o quanto o aluno é.
existencial dos educandos, vem sendo,
realmente, a suprema inquietação desta
educação. A sua irrefreada ânsia. Nela, o
educador aparece como seu indiscutível
agente, como seu real sujeito, cuja tarefa 3.3 DIALOGICIDADE COMO PRÁTICA
indeclinável é “encher” os educandos dos DA LIBERDADE
conteúdos de sua narração. Conteúdos que
são retalhos da realidade desconectados da Agora, adentramos ao conteúdo do diá-
totalidade em que se engendram e em cuja logo que se pronuncia entre educador e edu-
visão ganhariam significação. A palavra, cando, pressupondo uma relação dialógica e
nestas dissertações, se esvazia da dimensão problematizadora que se organiza, sistema-
concreta que devia ter ou se transforma
ticamente, em torno da práxis, que a partir
em palavra oca, em verbosidade alienada e
de uma atividade prático-crítica estabelece
alienante. Daí que seja mais som que sig-
nificação e, assim, melhor seria não dizê-la o conteúdo programático de uma verdadeira
(FREIRE, 2017, p. 79-80). educação transformadora do mundo.

Para Freire (2017), o conteúdo progra-


A partir de então, contextualizamos a mático da educação não é uma doação ou
EJA, como formadora de sujeitos constituí- imposição – um conjunto de informes a
dos de histórias diversas, mas que, ao aden- ser depositado nos educandos –, algo me-
trar os portões da escola, isso não parece fa- ramente capaz de depositar passivamente
zer diferença. Geralmente, o que o educador conteúdos técnicos e científicos, que pouco
tem para oferecer e realmente deseja não estimulam o pensamento crítico e reflexivo.

168 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


Nesse viés passivo, tanto faz para a socie- Nesse sentido, Freire (2017) afirma que
dade o que está sendo produzido, contanto a educação libertadora, problematizadora, já
que a produção não se volte contra o produ- não pode ser o ato de depositar, ou de narrar,
tor. É uma lógica absurda, porém tão real. ou de transferir, ou de transmitir “conheci-
“Na visão “bancária” da educação, o “saber” mentos” e valores aos educandos, meros pa-
é uma doação dos que se julgam sábios aos cientes, à maneira da educação “bancária”,
que julgam nada saber” (FREIRE, 2017, mas um ato cognoscente. Como situação
p. 81). Um mero favor, para os educandos gnosiológica, em que o objeto cognoscível,
que nunca chegarão aos pés do educador ou em lugar de ser o término do ato cognos-
terão chances alguma de ultrapassá-lo - ou cente de um sujeito, é o mediatizador de su-
seja, uma sociedade opressora, egoísta e pre- jeitos cognoscentes, educador, de um lado,
conceituosa, que rotula a todas as pessoas educandos, de outro, a educação problema-
segundo os seus próprios interesses. tizadora coloca, desde logo, a exigência da
superação da contradição educador-edu-
O método de “educação bancária” é bas- candos.
tante contraditório, e percebemos isso pelos
próprios elementos que a descreve: “Desta maneira, o educador já não é
a) O educador é o que educa; os educan- o que apenas educa, mas o que, enquanto
dos, os que são educados; educa, é educado, em diálogo com o edu-
cando que, ao ser educado, também educa”.
b) O educador é o que sabe; os educan- (FREIRE, 2017, p. 95). A educação aqui
dos, os que não sabem; se concretiza a todo momento, ligando-
-se à realidade de cada indivíduo e sem a
c) O educador é o que pensa; os educan-
dos, os pensados;
existência de autoridades e/ou sujeitos de-
tentores de conhecimento. Essa concepção
d) O educador é o que diz a palavra; os se encaixa nos parâmetros que devem e/ou
educandos, os que a escutam docil- deveriam fazer parte da Educação de Jovens
mente; e Adultos.

e) O educador é o que disciplina; os edu- Como já foram mencionados anterior-


candos, os disciplinados; mente, os alunos da EJA são indivíduos que
já construíram uma história de vida, e mui-
f ) O educador é o que opta e prescreve
sua opção; os educandos, os que se- tas de suas deficiências, se é que podemos
guem a prescrição; chamar assim, estão no fato de não terem o
conhecimento escolar. Porém, isso não sig-
g) O educador é o que atua; os educan- nifica que são seres vazios de conhecimento,
dos, os que têm a ilusão do que atuam, ou se assemelhem às crianças da educação
na atuação do educador; infantil, todos nós adquirimos conhecimen-
tos o tempo todo e em todo o lugar.
h) O educador escolhe o conteúdo pro-
gramático; os educandos, jamais ouvi-
dos nesta escolha, se acomodam a ele;
A concepção problematizadora sugeri-
da por Freire parte do pressuposto de que
i) O educador identifica a autoridade do o homem é um ser histórico e acredita na
saber com sua autoridade funcional, historicidade dos homens. “Por isto mesmo
que opõe antagonicamente à liberda- é que os reconhece como seres que estão sen-
de dos educandos; estes devem adap- do, como seres inacabados, inconclusos em e
tar-se às determinações daquele; com uma realidade que, sendo histórica tam-
bém, é igualmente inacabada” (FREIRE,
j) O educador, finalmente, é o sujeito do
2017, p.102). Enquanto existir a humanida-
processo; os educandos, meros objetos
(FREIRE, 2017, p. 82-83).
de também existirá a história e ela se perpe-
tuará até o seu fim. Essa é a lei da vida e do
mundo. E falando de homens, a educação

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 169


não pode faltar, e é estudando a historicida- atento à realidade do aluno e disposto a es-
de dos homens que compreendemos o ato tabelecer uma relação dialógica com o edu-
de educar e ser educado. cando, de tal forma que possibilite a forma-
ção de sujeitos pensantes e questionadores
“O mundo, agora, já não é algo sobre que da realidade em que vivem.
se fala com falsas palavras, mas o mediatizador
dos sujeitos da educação, a incidência da ação
transformadora dos homens, de que resulte a 5. REFERÊNCIAS
sua humanização” (FREIRE, 2017, p. 105). E
educar não é necessariamente saber de tudo FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido.
que ocorreu no passado, mas saber que deter- 63ª. ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e
minados acontecimentos fizeram a diferença e Terra, 2017.
de uma forma ou de outra, estão presentes em
nossas vidas, quer saibamos ou não, o motivo. PRODANOV, Cleber Cristiano; FREI-
Para Freire (2017, p. 105), “esta busca do ser TAS, Ernani Cesar de. Metodologia do
mais, porém, não pode realizar-se no isola- trabalho científico [recurso eletrônico]:
mento, no individualismo, mas na comunhão, métodos e técnicas da pesquisa e do traba-
na solidariedade dos existires, daí que seja im- lho acadêmico.
possível dar-se nas relações antagônicas entre
opressores e oprimidos”.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Educação de Jovens e Adultos (EJA)


é uma modalidade de educação que envolve
um conjunto de aprendizagem, formais ou
não formais, destinando-se seu processo de
ensino-aprendizagem para indivíduos adul-
tos, jovens e idosos que por qualquer moti-
vo, não conseguiram concluir seus estudos
na idade apropriada.

Antes de tudo, o aluno da EJA é um


sujeito formado por certo grau de vulnera-
bilidade, cujas condições socioeconômicas
não permitiram que tivesse acesso à cultura
letrada. E aí encontra uma garantia de aces-
so à educação e, possivelmente, qualificação
profissional.

Nesse sentido, deve-se estabelecer um


diálogo entre educador-educando, contem-
plando uma relação de confiança entre am-
bos, e assim pretender a libertação do sujeito
oprimido, que alcança sua autonomia resta-
belecendo sua autoestima e reconhecendo-
-se como indivíduo inserido no processo de
construção de seu próprio conhecimento.

Como ressalta Freire, o educador deve


ser um mediatizador do conhecimento,

170 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: O
MODELO DO PROCESSO DE ENSINO
APRENDIZAGEM NA UNIDADE
PRISIONAL DE JARAGUÁ
GONÇALVES, João Vitor Rodrigues1

1. INTRODUÇÃO

Segundo o Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN),


órgão vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública
(MJ), em 2013 cerca de 10% dos presos exerciam alguma atividade
educacional, em 2017 já se fala em 13%. O significativo aumento
alerta sobre um objeto de estudo extremamente importante.

Descrever o planejamento e a execução do processo de ensi-


no-aprendizagem voltados à população carcerária e seus impactos
positivos, além das dificuldades encontradas por parte omissa do
Ministério da Educação (MEC), juntamente com as Secretarias
Estaduais de Educação e Administração Penitenciária (SEAP)
dos estados que compõem a federação, justifica a pesquisa.

Como uma espécie de antídoto em longo prazo, a educação, em


especial a alfabetização direcionada ao contexto prisional, tem por
prioridade desenvolver o senso de cidadania do detento.

Segundo Santos (2005 apud SALLA, 1999, p. 67), “[...] por


mais que a prisão seja incapaz de ressocializar, um grande número
de detentos deixa o sistema penitenciário e abandona a marginali-
dade porque teve a oportunidade de estudar”.

Inicialmente, o objetivo geral se baseia em analisar a qualidade


da oferta de ensino na Unidade Prisional de Jaraguá (UPJA) e seus
efeitos, em seguida, os objetivos específicos estabelecem um con-
traste entre alguns dados atuais colhidos para direcionar o leitor a
1 Universidade Estadual de Goiás uma visão sistêmica a respeito do assunto, apresentar embasamen-
– Campus Goianésia to legal que assegure o direito do acesso à educação dos detentos
E-mail do autor: dhc.goianesia@ e detalhar o processo de aprendizagem (estruturas, expectativas e
gmail.com; multidisciplinaridade) desenvolvido no local.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 171


2. METODOLOGIA Constituídos em sua maioria por ho-
mens (cerca de 93%), com idades variadas
O processo metodológico científico pode entre 18 e 29 anos, com traços étnico sociais
ser definido como um conjunto de proposi- comuns, composta geralmente por jovens
ções coerentes, objetivas e desprovidas (até negros, pobres e de baixa escolaridade, a
certo ponto) de valores (SANTOS, 2005 maioria da grande massa da população car-
apud JÚNIOR, 1989). cerária do Brasil não usufrui de seus direitos
assegurados por lei.
Para elaboração do referencial teórico,
foi imprescindível a utilização do método É de extrema importância ressaltar que
de análise bibliográfica, pautada na pesqui- o acesso à educação não pode ser entendido
sa de alguns periódicos online, legislações e como um privilégio concedido ao preso. Pen-
órgãos governamentais. sando nisso e contextualizando o ambiente
dos detentos, em 2001, aprovado em Con-
É empregado na estrutura de compo- gresso Nacional, foi instituído o Plano Na-
sição o método hipotético dedutivo, com cional de Educação (PNE) que dava origem
ênfase na observação sistêmica e observa- à Modalidade de Ensino Educação de Jovens
ção participante e o método estatístico com e Adultos (EJA), desenvolvendo o conceito de
prioridade na análise e discussão de dados. “educação ao longo de toda a vida, que há de
se iniciar com a alfabetização.”
Os dados coletados em relação à UPJA
foram extraídos por meio da pesquisa em O PNE (2001) estabelecia também a
campo e entrevista indireta com a coorde- necessidade de implantar, nas unidades pri-
nadora do projeto, também responsável pela sionais e nas unidades de jovens infratores,
sua administração. Nesta etapa, foi possível programas de educação voltados ao nível
extrair dados quantitativos a respeito dos fundamental e médio, e integrar ações do
detentos, aspectos essenciais, como, por poder público que conduzam à garantia
exemplo: a infraestrutura, a superlotação e destes programas.
os principais desafios enfrentados pela insti-
tuição; bem como a necessidade de extensão Inicialmente, o direito do acesso à edu-
do projeto e demais outros assuntos. cação no sistema carcerário é uma garantia
essencial, encontrada em diversas maneiras,
como, por exemplo, no Art. 208 da Consti-
3. DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS tuição Brasileira de 1988, que retrata o en-
sino fundamental de “forma gratuita e obri-
De acordo com dados colhidos do Le- gatória a todos”, em sincronia com o Art. 5
vantamento Nacional de Informações Pe- da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
nitenciárias do Ministério da Justiça (IN- (LDB), cujo texto afirma que a educação “é
FOPEN), em 2013 a população carcerária direito público e subjetivo.”
no Brasil se aproximava de algo em torno
de 537 mil detentos. Já a Rede Brasil Atual É importante ressaltar que:
(RBA) aponta um número estimado de 700
mil detentos em 2017. A educação, direito de todos e dever do
Estado e da família, será promovida e in-
Segundo a RBA (2017), acompanhando centivada com a colaboração da socieda-
o ritmo do crescimento, o índice de presos de, visando ao pleno desenvolvimento das
pessoas, seu preparo para o exercício da
com ensino fundamental incompleto salta
cidadania e sua qualificação para o traba-
de 44% em 2013 para 70% em 2017. E pou-
lho (CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLI-
co se nota em avanços positivos concretos, CA FEDERATIVA DO BRASIL, 1988,
com apenas 10,92% dos presos envolvidos CAPÍTULO III, DA EDUCAÇÃO, DA
em alguma atividade educacional em 2013 CULTURA E DO DESPORTO, SE-
para 13% em 2017. ÇÃO I, DA EDUCAÇÃO, Art. 205).

172 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


a inclusão social, cultural e econômica das
Com aspectos igualmente parecidos, a
pessoas aprisionadas ( JÚNIOR, 2015
LDB (1998), em seu Art. 2, reforça clara- apud ONOFRE, 2013, p. 52).
mente o comprometimento do Estado e da
família com a educação, e norteia os princí-
pios da liberdade e solidariedade como ba- Porém, se a educação fosse trabalhada
ses essenciais no desenvolvimento do edu- como direito, o que de fato é, não haveria
cando, priorizando o conceito de cidadania. necessidade de caracteriza-la como estraté-
gia de ressocialização. Até porque a reinser-
Tratando-se em amplitude nacional, a Lei ção do preso é dever do sistema penitenciá-
de Execuções Penais (LEP) direciona o Esta- rio, como prevê a LEP (TEIXEIRA, 2007).
do como responsável de garantir a assistência
educacional de seus detentos, pautado nos ob- É necessário que haja uma distorção
jetivos de oferecer instrução básica e oportuni- cultural significativa no entendimento da
zar, por meio da educação, uma possível nova sociedade, de suas instituições e da mídia
experiência de reinserção social. acerca das prisões, desmistificando os papéis
sociais e os estigmas concebidos ao longo do
O ensino ministrado aos presos e presas tempo, para que os avanços sejam sentidos.
integrar-se-á ao sistema estadual e muni-
cipal de ensino e será mantido, adminis- Sabendo disso, a educação situada nes-
trativa e financeiramente, com o apoio da te contexto deve promover a restauração da
União, não só com os recursos destinados
autoestima do indivíduo focando na realiza-
à educação, mas pelo sistema estadual de
ção pessoal e preparando-o para a reinser-
justiça ou administração penitenciária
(LEI DE EXECUÇÃO PENAL, 1984, ção na sociedade (TEIXEIRA, 2007).
Anexo V, Da Assistência Educacional, Art.
18-A inciso 1§). Na busca por compreender o ensino na
UPJA, a pesquisa se atenta a determinados
pontos impactantes que se repetem nas de-
Segundo Da Cunha (2010, apud GOF- mais prisões e afetam diretamente à educa-
FMAN, 1978) antes mesmo do século XX, a ção como um todo.
sociedade caracterizava a prisão unicamente
como uma instituição punitiva, com obje- O grande problema é que esta oferta se or-
tivo de privação da liberdade sem nenhum ganiza de forma precária e sem muita ins-
conceito aplicado à ressocialização. titucionalização na rede de ensino, como
prevê a LEP. Na maior parte das Secreta-
rias responsáveis pela Administração Peni-
Compartilhando desse mesmo concei-
tenciária não há um setor para organizar a
to, mas, ao mesmo tempo, pensando em
assistência educacional. Na falta de orien-
alguma maneira de minimizar os estragos tações por parte do Ministério da Educa-
deste equívoco, Santos (2005) enfatiza o ção, os Estados e o Distrito Federal foram
desenvolvimento da educação no sistema organizando a oferta de acordo com seu
penitenciário como uma possível solução ou entendimento e suas possibilidades e isto
tentativa de devolver ao indivíduo a digni- talvez explique um percentual tão baixo de
dade humana, moral e social. presos participando das atividades educa-
cionais (TEIXEIRA, 2007, p. 18).
Esse novo conceito remete à ideia de
que:
3.1 O QUE HÁ ATRÁS DAS CELAS?
a educação na prisão deve ser vista pela
perspectiva de direitos humanos, por que De acordo com dados colhidos por meio
ela constitui um valor em si mesma, um da pesquisa em campo, atualmente a UPJA
conjunto de ferramentas e de capacidades abriga cerca 218 detentos, com capacidade
que ampliam as possibilidades de imple-
ideal para 70, o que representa um aumento
mentação de projetos que contribuam para
de 311,4%.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 173


Além da superlotação e da falta de in- Levar em consideração a cultura na qual
fraestrutura adequada, a omissão do poder estão inseridos e torná-la participante no
executivo municipal se agrupa nas princi- processo é ponto-chave de diferenciação do
pais dificuldades encontradas para o desen- ensino. Partindo dessa inserção e valorização
volvimento do projeto. O índice de presos da cultura, é possível adaptar determinados
que frequentam a sala de aula representam conteúdos, temas, assuntos e propor ativi-
apenas 4,5% do contingente total da unida- dades que se adéquem ao perfil dos alunos
de, distante ainda dos 13% de acordo com a em sala de aula. Isso facilita a compreensão
média nacional, segundo o DEPEN (2013). e a absorção de conhecimentos e possibili-
ta maior abertura e aproximação dos alunos
Comportando cerca de 10 alunos, a UPJA, para com o professor.
por meio da EJA, oferece a 1º etapa que con-
templa a alfabetização, 1º, 2º, 3º, 4º e 5º anos Por meio da pesquisa em campo e da ob-
do ensino fundamental 1, dividida em semes- servação participante, foi possível ao autor
tres. Isso reforça o comprimento da LEP em identificar a composição do processo de en-
seu Art. 18, ao afirmar que “o ensino de 1º sino-aprendizagem e propor uma estrutura
grau será obrigatório, integrando-se no siste- com características interdependentes, man-
ma escolar da Unidade Federativa.” tendo como base principal a assimilação do
conhecimento, instrumento pelo qual se
A regularização veio por meio de um pro- relaciona diretamente com os elementos ci-
jeto de extensão do Colégio Estadual Ma- tados acima, cujas bases metodológicas são
noel Ribeiro de Freitas Machado. A estrutura diferentes, subdivididas com suas funções,
curricular utilizada na unidade é integrada especificando seus objetivos.
ao sistema municipal e estadual, dividida em
conteúdos básicos como, por exemplo: língua Figura 2. Modelo do processo de ensino-aprendiza-
portuguesa, matemática, geografia, história, gem na UPJA em 2017
ciências e ensino religioso.

3.2 O ENSINO NA UPJA

O atrativo é a diversificação dos instrumen-


tos didáticos pedagógicos na UPJA que intera-
gem diretamente no processo de ensino apren-
dizagem do preso. De acordo com o autor, há Autor: João Vitor Rodrigues Gonçalves.
uma composição interdependente que se orga-
niza de forma hierárquica fazendo com que os O modelo de execução do processo de
elementos descritos abaixo possam se relacionar ensino-aprendizagem se inicia com a assi-
entre si, construindo desta forma uma estrutura milação do conhecimento, é a base pela qual
de comunicação extremamente importante para o conteúdo deve ser trabalhado com função
que o conteúdo seja ministrado com segurança. de exercitar a capacidade motora e de racio-
cínio lógico do detento. Essas funções são
Figura 1. Estrutura dos elementos de formação do encontradas predominantemente na etapa
processo de ensino aprendizagem na UPJA em 2017 de alfabetização, e tem por objetivo desen-
volver a leitura, a escrita, a capacidade de
realizar pequenas operações matemáticas e
demais outras habilidades.

Nessa primeira base os textos, os sons e as


sentenças começam a se materializar e estes
conhecimentos adquiridos se tornam obri-
Fonte: João Vitor Rodrigues Gonçalves (2017). gatórios para desenvolver a segunda base, a

174 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


interpretação do conhecimento. Suas prin- segunda fase. Estes dados foram coletados
cipais funções se restringem a exercitar a ca- por meio da pesquisa em campo e são passí-
pacidade técnica e conquistar a atenção do veis de observação, uma vez que a qualidade
aluno. Para que o objetivo da segunda base do ensino e o processo de ensino aprendiza-
seja alcançado é necessário utilizar instru- gem conseguem alcançar seus objetivos.
mentos didático-pedagógicos que auxiliem
na assimilação dos conteúdos de forma que Gráfico 1. Quantitativo geral de detentos por grau de
mantenha, ao mesmo tempo, o interesse dos instrução na UPJA em 2017.
alunos e que continue desenvolvendo outras
habilidades técnicas. Entre os mais diversos
exemplos encontrados para desenvolver a
capacidade de interpretação, pode-se citar a
utilização de jogos, gincanas, contos, histó-
rias, desafios, e até mesmo relatos pessoais.

A exemplificação do conhecimento, ter-


ceira e última base, define sua função sendo
responsável pela construção de valores éticos Fonte: João Vitor Rodrigues Gonçalves (2017).
e morais e principalmente do senso de ci-
dadania, se utilizando de temas transversais É necessário expandir a oferta do EJA
como, por exemplo: conceitos de diversida- com a 2º Etapa, que contempla a segun-
de, igualdade, liberdade, fraternidade, gover- da fase do ensino fundamental (6º ao 9º
no, justiça, política, sociedade, democracia, ano) com bases nos dados citados acima, e
família dentre outros os incorporando nos preservar o modelo do processo de ensino
conteúdos da grade curricular através de si- aprendizagem, atuando preventivamente
tuações e problemas propostos pelo educa- em longo prazo, uma vez que quanto mais
dor, que irão exigir dos alunos a capacidade cedo houver o contato e familiarização com
de reflexão já adquirida anteriormente para a educação a chance do indivíduo se resso-
que se possa também desenvolver a habili- cializar é maior.
dade de compreensão. A interdependência
de cada uma das bases é fundamental para
que o processo ocorra com naturalidade. O 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
objetivo da última base é trabalhar a mul-
tidisciplinaridade, por meio do educador, e Através da pesquisa em campo foi possí-
permitir ao aluno uma maior reaproximação vel concluir que a UPJA possui característi-
e reavaliação pessoal à cerca de suas crenças, cas estruturais e organizacionais sinônimas
atitudes e valores e uma readaptação em re- com o perfil de quase todas as unidades pri-
lações aos mesmos por meio das habilidades sionais do país, representadas principalmen-
e conhecimentos adquiridos. te através da superlotação e de condições
extremamente precárias nas celas ocupadas.
A Constituição de 1988, a LDB, a LEP e o
3.3 ANALISANDO A REALIDADE. PNDE ao longo do trabalho, reforçam em
alguns de seus artigos, o direito do acesso
Segundo o DEPEN, em 2013, 50,88% à educação aos detentos e desmistificam a
do número total de presos no país são jovens ideia ilusória do que este direito se caracte-
com idade entre 18 e 29 anos. A Ala “B” da rizava como benefício adquirido.
UPJA comporta 65 jovens com a faixa etária
de idade entre 18 e 25 anos, representando Analisando as estruturas que dão ori-
aproximadamente 30% do quantitativo ge- gem de fato ao modelo do processo de en-
ral da unidade. A maioria destes jovens já sino aprendizagem, formuladas por meio da
possuem a primeira fase do ensino funda- observação participante, pode-se deduzir
mental completo e parte interrompida da que o detento se torna sujeito e ao mesmo

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 175


tempo protagonista do processo. As bases ______. Lei n. 9394/1998 - Lei de Diretri-
delimitam suas funções e constroem ao de- zes e Bases da Educação
correr do processo todas as habilidades téc-
nicas e humanas, através da multidisciplina- ______. Lei n. 7210/1984 - Lei de Execu-
riedade, exigidas de acordo com a primeira ção Penal
etapa, mesmo com um pequeno índice de
alunos participantes, o projeto surte efeitos ______. Lei n. 10.172/2001 – Plano Nacio-
significativos. nal de Educação

No que se diz respeito com a revisão bi- BRASIL (Distrito Federal). Ministério da
bliográfica e analisando as legislações que Justiça. Departamento Penitenciário Nacio-
amparam e asseguram a educação no con- nal. Educação no Sistema Prisional. Brasí-
texto prisional, pode se concluir que é ex- lia, 2013. 22p.
tremamente necessário enfatizar uma união
mais assídua entre o Governo Federal atra- Da CUNHA, E. L. Ressocialização: o desa-
vés MEC, MJ e dos Governos Estaduais fio da educação no sistema prisional femini-
através das suas respectivas Secretarias de no. Cadernos CEDES, Campinas, v. 30, n.
Estado de Educação e Administração Pe- 81, ago 2010. Disponível em:< http://www.
nitenciária em um envolvimento maior tra- scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
tando a educação carcerária como política d=S0101-32622010000200003&lang=pt>.
pública, oferecendo formação pedagógica Acesso em 30 nov. 2017
adequada aos professores e servidores.
De Oliveira, C. Direito Negado: Menos de
Sabendo disto, deve-se propor um cur- 13% da população carcerária tem acesso à
rículo flexível que permita uma maior liber- educação. Rede Brasil Atual. São Pau-
dade na escolha de conteúdos por parte do lo, jul. 2017. Seção Educação. Disponível
educador, que atenda, de fato, as necessida- em:<http://www.redebrasilatual.com.br/
des e expectativas de aprendizagem adapta- educacao/2017/07/menos-de-13-da-popu-
das ao aluno, contextualizando a cultura e lacao-carceraria-tem-acesso-a-educacao>.
o ambiente carcerário. Para que isso ocorra, Acesso em 30 nov. 2017
órgãos governamentais e agentes políticos
competentes devem construir debates in- JÚNIOR, N. C. Educação e Direitos Hu-
tensos a cerca do assunto se apoiando em manos: Os desafios políticos e educacionais
pesquisas já realizadas que demonstram na elaboração e implantação do plano esta-
avanços e possíveis resultados a médio e dual da educação nas prisões do estado de
longo prazo, se comprometendo em custear Goiás. Anais do VIII Seminário Política
financeiramente todos os encargos. Com e Administração da Educação da Região
todos os pontos considerados necessários Centro – Oeste. Goiânia, mar. 2005. Seção
neste trabalho, relacionando de forma direta GT – 05 Educação e Direitos Humanos,
entre si e assumindo o papel transformador diversidade cultural e inclusão social. Dis-
que a educação propõe, é possível reeducar ponível em: < http://eventos.ufg.br/SIEC/
uma sociedade com algumas poucas pessoas portalproec/sites/site8981/site/documents/
privadas de liberdade. anais-VIII-seminario-anpege.pdf>. Acesso
em 30 nov. 2017

5. REFERÊNCIAS SANTOS, S. M. Ressocialização através da


educação. Direito Penal, ago. 2005. Seção
BRASIL. Constituição (1988). Constitui- Artigos. Disponível em: <https://www.di-
ção da República Federativa do Brasil, Bra- reitonet.com.br/artigos/exibir/2231/Res-
sília, Senado, 1988. socializacao-atraves- da-educacao>. Acesso
em 29 nov. 2017

176 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


TEIXEIRA, C. J. P. O Papel da Educação
como Programa de Reinserção Social para
Jovens e Adultos privados de Liberdade:
Perspectivas e Avanços. Salto para o Futu-
ro. Rio de Janeiro, 2007. Seção PGM 1. Dis-
ponível em: < http://cdnbi.tvescola.org.br/
resources/VMSResources/contents/docu-
ment/publicationsSeries/1426102139217.
pdf#page=14>. Acesso em 01 dez. 2017

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 177


PESQUISA E INOVAÇÃO NO ENSINO
MÉDIO TÉCNICO INTEGRADO: O QUE
ENSINAR? “GARIMPANDO SUGESTÕES”
SOUZA, Rita Rodrigues de

1. INTRODUÇÃO

A inclusão de disciplinas relacionadas à metodologia científica


nos cursos técnicos integrados vem ao encontro de uma formação
omnilateral a que os institutos federais se propõem a realizar. Po-
de-se, ainda, afirmar que essas disciplinas são impactantes tanto na
formação discente quanto na atuação docente. Elas têm provocado
muitos questionamentos sobre quais conteúdos devem ser selecio-
nados e como tratá-los em sala de aula no ensino médio, uma vez
que, tradicionalmente, formam parte da formação do acadêmico
do ensino superior. Qual área de conhecimento deveria se respon-
sabilizar por ministrá-la é outro ponto, principalmente, à época de
distribuição de carga horária.

Este artigo busca apresentar uma discussão em torno da orga-


nização do trabalho com essa disciplina no ensino médio técnico
integrado. Para tanto, apresenta e discute dados relacionados à de-
preensão de sugestões de temáticas para serem abordadas, em sala
de aula, no contexto de ensino e aprendizagem do ensino médio
técnico integrado, na disciplina de Introdução à pesquisa e inova-
ção, ministrada no 1º ano do Curso Técnico Integrado em Manu-
tenção e Suporte em Informática. As sugestões de temáticas visam
ao cumprimento de um dos aspectos da formação discente que é o
domínio dos princípios científicos e tecnológicos para a produção
de conhecimentos, processos e produtos, implícitos na ementa da
disciplina. Aspecto esse que sobreviveu à mudança da Lei de Dire-
trizes e Bases da Educação (LDB nº 9394/96).

A discussão e os dados apresentados aqui compõem o projeto de


pesquisa “Nas sendas da leitura e da produção de texto na Educação
Técnica e Tecnológica: investigações em língua materna e estrangei-
ra, do continuum técnico-acadêmico às práticas sociais”, em anda-
mento em um dos campi do Instituto Federal de Goiás, cujo plano
de trabalho vinculado a ele, no qual se insere, mais especificamente a
Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia de Goiás – pesquisa descrita neste artigo, intitula-se “Leitura e escrita de textos
Campus Jataí. ritarodrigues.sou- escolares/acadêmicos: adaptações teórico-metodológicas para pes-
za@bol.com.br quisa e inovação no Ensino Médio Técnico Integrado Integral.”

178 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


Como docente da disciplina Introdução opina sobre essas mudanças, e mais ainda,
à pesquisa e inovação no 1º ano do Curso pouco ou nada são preparados para tais mu-
Técnico em Manutenção e Suporte em In- danças. A prática docente com a disciplina de
formática, pelo segundo ano consecutivo e Introdução à pesquisa e inovação e a pesquisa
pesquisadora à frente dos projetos supracita- científica em Programa Institucional de Bolsas
dos, compreendo pela vivência cotidiana de de Iniciação Científica para o Ensino Médio
planejar e ministrar essa disciplina e pelas (PIBIC-EM), com foco nesta problemática,
leituras teóricas que a depreensão de temá- têm suscitado questionamentos como, por
ticas a serem tratadas em sala de aula nessa exemplo: que temáticas selecionar a partir da
disciplina passa por aspectos que vão desde ementa; como apresentar de modo significa-
a motivação para alunos e alunas adolescen- tivo conceitos basilares da pesquisa científica
tes até a necessidade, advinda da ementa da para adolescentes; quais habilidades procurar
disciplina, da abordagem de temáticas que desenvolver neles e, ainda, que adaptações são
introduzam, ao discente, conceitos e prin- possíveis e/ou necessárias aos textos teóricos
cípios da pesquisa científica e de inovação. sobre pesquisa científica.

O estudo dessa temática e a sua socia- Acerca da dificuldade de se trabalhar a


lização se justificam pela necessidade de se disciplina de metodologia da pesquisa cien-
discutir a constituição, configuração e prá- tífica, Campos e Siqueira (2013) relatam
ticas pedagógicas atinentes a disciplinas que vários são os fatores que proporciona-
de cunho teórico-metodológicas no ensino ram um impacto negativo a alguns alunos
médio técnico integrado, voltadas para a do Instituto Federal do Amapá (IFAP).
concepção de pesquisa científica, métodos Apontam como exemplo, a falta de base no
e técnicas de pesquisa, escrita acadêmica e ensino fundamental com limitações de lei-
inovação. Ressalto que não só disciplinas, tura, ausência de atividades práticas e uso de
mas também como princípios da pesquisa metodologias de ensino ultrapassadas.
científica podem ser tratados em todas as
disciplinas contribuindo para o desenvolvi- Para trazer o alunado para o ambiente
mento da Ciência. da cientificidade, Campos e Siqueira (2013)
comentaram que vêm sendo indispensável a
Neste artigo, entretanto, me restrinjo tão mudança de paradigmas com a inserção de
somente à questão de possíveis temáticas trabalhos textuais (escrita e leitura), dinâmi-
passíveis de serem incorporadas às discus- cas em grupo, correlação da metodologia da
sões de sala de aula com adolescentes na pesquisa científica com a área específica, téc-
disciplina de Introdução à Pesquisa e Inova- nicas de apresentação de seminários, buscan-
ção. Empreendendo essa investigação, com- do, com todas essas ferramentas, contribuir
preendo também que estou realizando uma para formação de um técnico com habilida-
atividade de reflexão de aspectos da minha des básicas de pesquisa. A pesquisa desses
prática pedagógica, portanto, vivenciando autores já ilumina possibilidades de práticas
um momento de formação continuada de de sala de aula e o que propomos neste arti-
caráter autodidata, nessa área em que atuo go – sugestões de temáticas – pode agregar
e não tive formação inicial. Vivenciei, como elementos de motivação para discussão, pro-
aluna de graduação e pós-graduação, con- posição de debates, projetos e outros.
teúdos da disciplina de metodologia cien-
tífica, mas não uma formação para traba- Primeiramente, trago uma discussão
lhá-los com adolescentes recém-egressos do teórica acerca da formação docente para o
ensino fundamental. trabalho com a pesquisa científica. Em se-
gundo lugar, apresento a metodologia usada
Mudanças são propostas, há prescrições, para a coleta e análise de dados. Em terceiro
cobranças para um novo fazer pedagógicos, lugar, analiso os dados e, para finalizar, teço
para isso e para aquilo, contudo quem está na considerações finais abrangendo desde o
linha de frente – o docente – pouco ou nada desenvolvimento até os resultados obtidos.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 179


Fundamentação teórica na atividade produtiva das comunidades de
maneira crítica.
Formação inicial e continuada e a educa-
ção científica: exigências para mudanças Pode-se depreender dos objetivos apre-
sentados por Medina e Sanmartín (1990)
Cada docente, dentro da sua área de que dois remetem ao questionamento da
formação, pode contribuir para a formação construção do conhecimento, o primeiro
técnico-tecnológica do discente. A forma- traz sobre a atuação sobre a natureza, con-
ção inicial docente nem sempre contempla tudo, esse questionamento pode ser esten-
conteúdos basilares sobre pesquisa científi- dido para outras searas do conhecimen-
ca, muitas vezes, nas licenciaturas, o/a aca- to de cunho social, cultural e histórico. O
dêmico/a faz pesquisa por “modelo”, não segundo, tendão de Aquiles na formação/
que seja incorreto, porém a discussão acerca atuação docente, é o diálogo teoria e prá-
do fazer da pesquisa científica pode resultar tica. O terceiro objetivo encaminha para
em mais qualidade ao produto final. Nesse uma discussão também complexa que é a
aspecto, a formação continuada pode subsi- interdisciplinaridade, a qual pela configura-
diar um outro desempenho discente em sala ção do sistema escolar acaba sendo preju-
de aula, pois dicada, mesmo que cada docente, de modo
individual, tente praticá-la. É um exercício
o professor é o grande articulador para ga- que exige tempo de preparação, disposição e
rantir a mobilização dos saberes, o desen- diálogo com os pares.
volvimento do processo e a realização de
projetos, nos quais os alunos estabelecem A formação de um leitor crítico e um
conexões entre o conhecimento adquirido
cidadão atuante configura uma das tarefas
e o pretendido com a finalidade de resolver
da escola em todos os níveis, em cada um
situações-problema, em consonância com
suas condições intelectuais, emocionais e deles a partir de suas particularidades e, so-
contextuais (PINHEIRO; SILVEIRA; bretudo, observando a adequação temática
BAZZO, 2007, p. 08) e prática pedagógica à maturidade discente,
contexto de ensino e aprendizagem, recursos
pedagógicos e material didático disponível
A inclusão de questões atinentes à CTS no mercado e/ou elaborado pelo docente.
na escola, sob a luz de Medina e Sanmartín Essa preparação se refere a muitas ques-
(1990), requer que quatro objetivos sejam tões incluindo o desenvolvimento científi-
observados, a saber: (a) questionar as formas co-tecnológico presente na nossa sociedade
herdadas de estudar e atuar sobre a nature- contemporânea. Pinheiro, Silveira e Bazzo
za, as quais devem ser constantemente re- (2007) chamam a atenção para esse aspecto
fletidas. Sua legitimação deve ser feita por e comentam que
meio do sistema educativo, pois só assim é
possível contextualizar permanentemente Apesar de os meios de comunicação esta-
os conhecimentos em função das necessida- rem disseminando os pontos preocupantes
des da sociedade; (b) questionar a distinção do desenvolvimento científico-tecnológico
convencional entre conhecimento teórico - como a produção de alimentos trans-
gênicos, as possibilidades de problemas
e conhecimento prático - assim como sua
na construção de usinas nucleares, o tra-
distribuição social entre ‘os que pensam’ e
tamento ainda precário do lixo e outros
‘os que executam’ – que reflete, por sua vez, - muitos cidadãos ainda têm dificuldades
um sistema educativo dúbio, que diferencia de perceber por quê se está comentan-
a educação geral da vocacional; (c) com- do tais assuntos e em quê eles poderiam
bater a segmentação do conhecimento, em causar problemas a curto ou longo prazo.
todos os níveis de educação; (d) promover Mal sabem as pessoas que atrás de gran-
uma autêntica democratização do conhe- des promessas de avanços tecnológicos es-
cimento científico e tecnológico, de modo condem-se lucros e interesses das classes
que ela não só se difunda, mas que se integre dominantes. Essas que, muitas vezes, per-

180 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


suadindo as classes menos favorecidas, im- antes de mais nada, uma atitude ou dispo-
põem seus interesses, fazendo com que as sição subjetiva do pesquisador que busca
necessidades da grande maioria carente de soluções sérias, com métodos adequados,
benefícios não sejam amplamente satisfei- para o problema que enfrenta. Essa atitu-
tas (PINHEIRO; SILVEIRA; BAZZO, de não é inata na pessoa. É conquistada ao
2007, p. 03). longo da vida, à custa de muitos esforços e
exercícios. Pode e deve ser aprendida, nun-
A discussão a respeito do desenvolvi- ca, porém, transmitida. (CERVO; BER-
mento tecnológico-científico, o que é, como VIAN, 1983, p. 18)
acontece, a quem serve precisa constar entre
os conteúdos a serem abordados em sala de Para Cervo e Bervian (1983), o desenvol-
aula como uma das formas de proporcionar vimento da ciência deve fazer a existência hu-
ao discente uma construção de conheci- mana mais significativa, ecoando em Pinhei-
mentos sobre o assunto. Bazzo (1998, p. 34) ro, Silveira e Bazzo (2007). No contexto da
é enfático quanto a isso e defende que um educação básica, faz-se necessária a busca de
cidadão tem o direito à leitura e ao entendi- subsídios de temas e questões atinentes ao co-
mento da ciência, não só de conceitos mera- tidiano do discente e que possibilitem viven-
mente e sim compreender “suas implicações ciar a pesquisa de modo significativo. Nesse
e consequências, para poder ser elemento sentido, “o ensino-aprendizagem passará a ser
participante nas decisões de ordem políti- entendido como a possibilidade de despertar
ca e social que influenciarão o seu futuro e no aluno a curiosidade, o espírito investigador,
o dos seus filhos”. Em tempos de “mudan- questionador e transformador da realidade”
ças”, como os que estamos vivenciando, esse (PINHEIRO; SILVEIRA; BAZZO, 2007,
compromisso torna-se mais presente e mais p. 08). O processo de ensino e aprendizagem,
exigente. Assim, assim entendido, distancia de um processo em
que visa a memorização e acúmulo de conteú-
precisamos de uma imagem de ciência e dos em função de futuras avaliações. A LDB,
tecnologia que possa trazer à tona a di- no que se refere ao ensino médio, ressalta, em
mensão social do desenvolvimento cientí- seu artigo 36, a necessidade que se desenvolva
fico-tecnológico, entendido como produto
resultante de fatores culturais, políticos e [...] a educação tecnológica, a compreen-
econômicos. Seu contexto histórico deve são do significado da ciência, das letras e
ser analisado e considerado como uma das artes; o processo histórico de transfor-
realidade cultural que contribui de for- mação da sociedade e da cultura; a língua
ma decisiva para mudanças sociais, cujas portuguesa como instrumento de comuni-
manifestações se expressam na relação do cação, acesso ao conhecimento e exercício
homem consigo mesmo e os outros. (PI- da cidadania.
NHEIRO; SILVEIRA; BAZZO, 2007,
p. 04)
O artigo 36 da LDB complementa que
A inserção da disciplina Introdução à novas formas de trabalho em sala de aula
pesquisa e inovação no ensino médio téc- deverão ser propostas. Urgem metodologias
nico e tecnológico pode ser um diferencial de ensino e de avaliação que estimulem a
na formação discente. Com isso não se quer iniciativa dos estudantes. Dessa forma, caso
eximir o papel das demais disciplinas na persista o processo ensino e aprendizagem,
formação técnico-científica do discente. Ela centrado no ensino e na avaliação, praticado
pode contribuir para que o aluno “conceba em muitas escolas, não será formado um ci-
uma imagem de ciência e tecnologia” a par- dadão dotado das habilidades que o Ensino
tir de uma dimensão social, nas palavras de Médio pretende. Urge, ainda, pensar em no-
Pinheiro, Silveira e Bazzo (2007). A cons- vas formas de trabalho, de metodologia, de
trução dessa imagem é gradual e requer, de enfoque e de posturas.
modo geral, o monitoramento e mediação
docente/pesquisador para que ela aconteça É preciso estimular o aluno a desenvolver a
e com ela o espírito científico, que é adaptabilidade e flexibilidade, formando-o

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 181


como pessoa que tome decisões, avalie o
2. METODOLOGIA
papel das decisões humanas na determina-
ção da sobrevivência e da vida na sociedade
futura. É, pois, imprescindível desenvolver Inicialmente, seriam analisados li-
nos alunos a capacidade de diferenciar o vros de metodologia científica como
que é conhecimento do que é informação, Severino (2007) e Marconi e Lakatos
verificando o que há de mais relevante para (2006), quase sempre manuais de leitura
poder resolver criticamente um problema obrigatória em referências de cursos de
específico no campo sócio-tecnológico. graduação e pós-graduação. Refletindo
(PINHEIRO; SILVEIRA; BAZZO, acerca dos objetivos da pesquisa e sobre
2007, p. 10) o próprio desenvolvimento da mesma,
vislumbrou que seria produtivo se fos-
Para o desenvolvimento das habilidades se realizada uma adaptação e um outro
apontadas por Pinheiro, Silveira e Bazzo caminho fosse seguido. Desse modo, op-
(2007), no contexto escolar, exige um tra- tou-se pela análise de resenhas de livros.
balho conjunto e que valorize o fomento As obras foram apresentadas em ordem
da iniciativa discente para a construção de cronológica decrescente de 2014 a 2006,
conhecimento a partir do enfrentamento de no quadro 1, a seguir:
demandas sociais e culturais.

Quadro 1: Resenhas analisadas

TÍTULO DA RESENHA/
OBRA RESENHADA
RESENHADOR(A)(S)(ES)

Resenha do livro inovação u 2.0: reinventando os


papéis da universidade na economia do conheci-
mento (TORNATZKY; RIDEOUT, 2015)

Branca Terra. Mestrado em Engenharia Civil.


TORNATZKY, Louis G.; RIDEOUT, Elaine C. Doutorado em Engenharia de Produção pela Univer-
Innovation U 2.0: Reinventing University Roles sidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ/COPPE
in a Knowledge Economy, 2014. (1999). Eduardo Pacheco Campos. Graduação em
Administração pela Universidade do Estado do Rio
de Janeiro (2014). Jana Almeida Nogueira. Gra-
duação em direito pela Universidade Candido Men-
des. Leonardo Lehnemann Agostinho Martins.
Mestrado em Ciências Contábeis pela Universidade
do Estado do Rio de Janeiro.

MAZZUCATO, Mariana. O estado empreen-


dedor: desmascarando o mito do setor público x Leandro dos Santos.
setor privado. São Paulo: Portfolio-Penguin, 2014.

CRUZ, Renato. Inovação. A revolução do Sebastião Carlos de Morais Squirra. Professor do


conhecimento nas empresas brasileiras. São Paulo: Programa de Pós-Graduação em Comunicação da
Editora Senac, 2011. 237 p. Universidade Metodista de São Paulo.

DEMO. Pedro. Pesquisa: Princípio Científico e


Sem indicação de resenhador.
Educativo. 14 ed. Editora Cortez, 2011, 124p.

Marina A. E. Negri. Criatividade Revista e atua-


GIGLIO, G. Zula; WECHSLER, M. Solange;
lizada. Doutoranda em Artes pelo Instituto de
BRAGOTTO, Denise. Da criatividade à inova-
Artes da Universidade Estadual de Campinas (IA
ção. Campinas: Papirus Editora, 2010. 206 p.
UNICAMP).

182 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


Ana Carolina Barbosa Angeli. Tecnóloga em
Hotelaria pela Faculdade Hebraico-Brasileira
CASTELLI, Geraldo. Hospitalidade: a inovação
Renascença, especialista em gestão de negócios
na gestão nas organizações prestadoras de servi-
para Hotelaria na Fundação Armando Álvares
ços. São Paulo: Saraiva, 2010. 250 p.
Penteado e mestranda em Hospitalidade na Uni-
versidade Anhembi Morumbi.

GALLO, Carmine. Inovação: a arte de Steve Jobs. Antônio Cesar Galhardi. Faculdade de Tecnologia
Alfragide/Portugal: Lua de Papel, 2010. 237 p de Jundiaí - FATEC-JD/CEETEPS

SCHULZ, Peter Alexander Bleinroth. A encru- Resenhas Bibliográficas: A Encruzilhada da


zilhada da nanotecnologia: inovação, tecnologia e Nanotecnologia. Flávia Ferreira dos Santos. Mes-
riscos. Rio de Janeiro: Vieira & Lent, 2009. 128 p. tranda da UFPR.

BAUMGARTEN, Maíra. Conhecimento e


Airton Moreira Jr. Mestrando do Programa de
sustentabilidade: políticas de ciência, tecnologia e
Pós-graduação em Sociologia da Universidade
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Federal de São Carlos (UFSCar).
UFRGS / Sulina, 2008, 264 p.

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mudança e cultura docente. Brasília: Liber Livro, pela Universidade Federal de Mato Grosso
2006. 215 p (UFMT).

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

Foram lidas e analisadas dez (10) rese- de elaboração dos trabalhos acadêmicos.
nhas de livros que abordam sobre pesquisa e Inovação e inovação tecnológica. Proprie-
inovação. As resenhas podem apontar para dade intelectual” (IFG, 2015, p. 50-51).
questões críticas de cunho social, político,
ético. A limitação quantitativa se deu devido
ao tempo de duração da pesquisa do plano
de trabalho, um ano. Há outras etapas da 3. DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS:
pesquisa em andamento, como, por exem- DAS RESENHAS ÀS TEMÁTICAS PARA
plo, a análise de outros materiais que tratam SALA DE AULA
a metodologia da pesquisa científica, como
vídeo, slides e apostilas. Assim, a utilizei a O trabalho de pesquisa consistiu na lei-
pesquisa documental para a coleta de da- tura minuciosa das resenhas selecionadas
dos. Ressalto, que neste trabalho, apresento com o fim de depreender propostas de te-
dados e análise atinente a aspectos relacio- mas que pudessem gerar algum tipo de pro-
nados à pesquisa. Destaco, também, que se posta de trabalho pedagógico com o aluna-
buscou uma análise qualitativa do conteúdo do do ensino médio integrado. O exercício
das resenhas, assim o fator quantitativo, tor- de leitura realizado trouxe luz para a minha
na-se secundário, não menos importante. prática docente.

De cada resenha, extraíram-se, a partir da A importância de discutir com os alunos


leitura crítica, elementos que revelam posi- e alunas os avanços da ciência e tecnologia,
cionamentos sobre pesquisa científica e ino- suas causas, consequências, os interesses
vação e/ou questões relacionadas a elas que econômicos e políticos, de forma contextua-
podem possibilitar uma projeção de qual(is) lizada, está no fato de que se deve conceber
conteúdo(s) tratar em sala de aula contem- a ciência como fruto da criação humana. Por
plando a ementa da disciplina Introdução à isso, ela está intimamente ligada à evolução
pesquisa e inovação, que é: “Conhecimento do ser humano, desenvolvendo-se permea-
científico. A pesquisa e seus instrumentos, da pela ação reflexiva de quem sofre/age as
metodologia e tipologia. Estudo das formas diversas crises inerentes a esse processo de

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 183


desenvolvimento, assim propõem Pinheiro, adaptações de modo que se tornem mais
Silveira e Bazzo (2007). acessíveis para esse público. A partir dos
objetivos da disciplina, elas podem gerar fo-
As temáticas extraídas das resenhas são mento para múltiplas atividades de pesquisa
amplas e para o trabalho com adolescen- científica. Seguem, no quadro 2, as suges-
tes, faz-se necessário que elas passem por tões temáticas:

Quadro 2: Temas sobre pesquisa a partir de resenhas.


Resenha/Obra Pesquisa Sugestões de Temáticas
- Pesquisa e campos de atuação dos
A pesquisa possibilita aos sujeitos atuarem em sujeitos.
Terra et al (2015) ciências, inovação e negócios, compreendendo os
processos práticos e o ambiente técnico. - Pesquisa e processos práticos e
ambiente técnico.
Atenção aos investimentos em pesquisa realizadas
pelo governo. Reconhecimento das tecnologias - Pesquisa e o papel do Estado.
Mazzucato
emergentes de grande potencial, na integração des- - Pesquisa e tecnologia.
(2014)
sas tecnologias e a focalização no design dos produ- - Pesquisa e satisfação dos clientes.
tos para a satisfação dos clientes.
O Brasil ainda se inicia nos processos que estimu-
lem a criação científica de peso, obliterado pelas - Pesquisa no Brasil.
Squirra (2012) políticas tímidas do passado, mas também pelas - Pesquisa e o sistema político e
inúmeras amarras do sistema capitalista mundial- econômico.
mente estruturado.
Essa pesquisa não é restrita a laboratórios de ex-
periência, mas atividade cotidiana em que o aluno - Pesquisa e atividades cotidianas.
Pedro Demo desafiado, torna-se dono do problema, estimulado,
(2011) instigado a buscar ajuda, e acessar recursos, costu- - Pesquisa e construção de conhe-
rando as informações, construindo seu próprio co- cimentos.
nhecimento.
Engajada no propósito de discorrer sobre aspectos
conceituais e prolongamentos de pesquisa, e tam-
bém a compartilhar casos de aplicações práticas
tanto da criatividade, como da inovação na atua- - Pesquisa e criatividade.
lidade, a obra apresenta um abrangente panorama - Pesquisa e inovação.
Negri (2010)
desses dois flancos, composto, em sua gênese, por - Pesquisa e diferentes áreas de
resultados de experiências atreladas à educação, às conhecimento.
organizações corporativas, ao gerenciamento de
crises, à arte, à psicologia, à jurisprudência, entre
outros campos de atuação.
O estudo da hospitalidade está aberto a novas pes-
- Pesquisa: confronto entre teorias
quisas e aprofundamentos, para o que é impres-
Angeli (2010) e a prática entre estudiosos e
cindível o confronto da teoria com a prática entre
profissionais.
estudiosos e profissionais.
O conhecimento científico não é divulgado nas es-
colas tanto quanto poemas de grandes autores. No
entanto, há que ter cautela ao divulgar uma nova tec- - Pesquisa científica e o contexto
nologia. Existem até mesmo cientistas que acreditam escolar.
GALHARDI e divulgam a tal tecnologia encontrada como forma
de “salvar o mundo”, criando uma expectativa errônea - Pesquisa e critérios para a divul-
na população. É preciso discernir o real do exagero no gação de resultados.
momento em que nos deparamos com informações a
respeito da ciência.
Existem grandes diferenças entre o modo como o
Estado formulava a política científica e tecnológica
- Pesquisa e política científica e
Airton Moreira Jr nos três primeiros períodos (1946- 1989) e o modo
tecnológica
como ele passa a administrá-la a partir da década
de 1990.

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

184 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


Como resultados, por meio de análise de arranjos de trabalho pedagógico e a pes-
documental, depreenderam-se as seguintes quisa empreendida contribuiu para iluminar
possibilidades: (a) temáticas que apontam as escolhas pedagógicas.
para questões sociais, políticas, econômicas
e culturais; (b) a necessidade de pensar uma
organização de apresentação das temáticas; 5. REFERÊNCIAS
e, (c) o imperativo de um trabalho que es-
tabeleça um fio condutor interdisciplinar ANGELI, Ana Carolina Barbosa. Revis-
para possibilitar ao discente a construção de ta Hospitalidade. São Paulo, v.VII, n. 2, p.
sentido e ocorra, desse modo, a integração 143-145, jul.-dez. 2010. RESENHA DE
de conteúdos de distintas áreas do conheci- LIVRO: CASTELLI, Geraldo. Hospitali-
mento. Em síntese, aprender e ensinar sobre dade: a inovação na gestão nas organizações
o desenvolvimento da ciência seja em qual- prestadoras de serviços. São Paulo: Saraiva,
quer área do saber é um compromisso polí- 2010. 250 p.
tico e social do docente e discente.
BAZZO, W. A. Ciência, Tecnologia e So-
ciedade: e o contexto da educação tecnoló-
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS gica. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1998.

A atividade de pesquisa empreendida me CAMPOS, V. B. ; SIQUEIRA, K. F. E. En-


possibilitou refletir acerca da minha prática sino de metodologia científica para alunos
pedagógica na disciplina de Introdução à dos cursos técnicos: Estudo d caso no Insti-
pesquisa e inovação com discentes do ensino tuto Federal do Amapá. Polêmica!, v. 2. N.
médio técnico integrado integral. O exer- 3 (2003).
cício de ler as resenhas e depreender os te-
mas iluminou possibilidades de arranjos de CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodo-
trabalhos como temas para pesquisas, deba- logia Científica. 3.ed. São Paulo: Mc Gra-
tes, atividades de leitura e escrita em sala de w-Hill do Brasil, 1983.
aula como “resolução de problemas” usando
a argumentação e exemplificação buscando DAMASCENO, Kelly Katia. Resenha.
o diálogo entre diferentes áreas de conhe- Revista Brasileira de Estudos Pedagógi-
cimento, característica imprescindível da cas. V. 87, n. 216, n. 2006. 273-275 p. Dis-
pesquisa científica. Desse modo, o objetivo ponível em: http://rbep.inep.gov.br/index.
central da pesquisa foi alcançado: garimpar php/rbep/article/view/802/777>. Acesso
sugestões de temáticas e promover formação em: 20 de nov. de 2018.
continuada para a docente pesquisadora.
GALHARDI. Antonio Cesar. Resenha
A reflexão que faço se aproxima da pro- Crítica: Inovação: a arte de Steves Jobs.
posição de Gerhard (2010, p. 13), de que “a RETC. Revista Eletrônica de Tecnologia
disciplinaridade característica do currículo e Cultura. Centro Paula Souza. Fatec 14 ed.
escolar termina por prejudicar a formação Abril, 2014 Jundiaí. 158-162. Disponível
integral e o conhecimento científico dos em: <http://201.55.32.167/retc/index.php/
alunos, pois tolhe neles os resultados real- RETC/article/view/150>. Acesso em: 10 de
mente úteis do conhecimento, como a capa- nov. 2018.
cidade de pensar globalmente certo proble-
ma.” Em consideração a essa problemática, GERHARD, Ana Cristina. A fragmenta-
o trabalho escolar precisa contemplar, de ção dos saberes na educação científica es-
modo mais sistemático, a interdisciplinari- colar na percepção de professores de uma
dade. No caso específico dos cursos técnicos escola de ensino médio. Dissertação (Mes-
integrados, essa prática se faz necessária. No trado em Educação em Ciências e Matemá-
atinente à disciplina de Introdução à pes- tica). 150p. Pontifícia Universidade Católica
quisa e inovação, ela possibilita vários tipos do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 185


IFG. Instituto Federal de Goiás. Projeto RESENHA DO LIVRO PESQUISA:
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Paulista Júlio de Mesquita Filho. São Paulo,
Brasil.

186 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


PRÁTICA DE LEITURA, ESCRITA E ARTE
NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
EM MORRINHOS-GO
OLIVEIRA, Sarah Marques1; AMARAL, Marco Antônio Franco2;
LIMA, Michelle Castro³; MARIANO, Sangelita Miranda Franco4

1. INTRODUÇÃO

Práticas de letramento na Educação de Jovens e Adultos (EJA)


são elementos essenciais para a construção da cidadania. Assim,
desenvolver espaços informais que propiciem aos alunos uma pos-
sibilidade de compartilhar experiências e participarem de um pro-
cesso de letramento é fundamental em uma sociedade que busca
uma melhor qualidade de vida para este segmento da nossa popu-
lação. Neste contexto, este projeto de extensão tem como foco de-
senvolver encontros semanais de rodas de leitura, conversa e escrita
a respeito de experiências cotidianas que serão partilhadas pelos
participantes na busca de sentido para a leitura e escrita. A arte,
nesse contexto, é usada como uma ponte entre a leitura e a escrita
onde Jovens e Adultos são capazes de compreender o mundo com
outros olhos, mostrando mesmo aqueles que já viveram muito, sua
capacidade de criação e imaginação despertando a cidadania plena
e transformação social e cultura. Sendo assim:

[...] estimula a inteligência e contribui para a formação integral do


indivíduo, sem ter o foco na formação artística em si, por essa razão
pode-se considerar que a arte se coloca como um trabalho educati-
vo importante para a dimensão humana (QUADROS, 2011, p. 55).

De modo geral, o projeto de extensão também se faz importan-


te ao trazer além de atividades de alfabetização e letramento, uma
troca de experiências vividas pelos alunos.

2. METODOLOGIA

Para o desenvolvimento do projeto foram realizados de junho a


dezembro de 2017, encontros semanais de 2 horas com a partici-
pação de 25 idosos realizando as seguintes atividades no Centro de
Referência de Assistência Social em Morrinhos Goiás:
Instituto Federal de Educação, Ciên-
cia e Tecnologia Goiano – Campus
Morrinhos. E-mail do autor: sarah- a) Rodas de conversa: foram trabalhados verbalmente temas
marques_25@hotmail.com emergentes que fazem parte do cotidiano dos alunos. Estes con-

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 187


teúdos são latentes e circunstanciais do dia a • Colcha de Retalhos: trabalhamos um
dia de indivíduos adultos. texto com o título Colcha de Retalhos,
que falava sobre a vida e de como os
b) Realização de leituras: leitura de tex- momentos dela formavam uma col-
tos relacionados com temas emergentes cha e logo depois foram entregues
trazidos pelos próprios alunos. Propomos pedaços de tecidos para que cada
e estimulamos a inserção do adulto em seu um fizesse uma pintura relacionada
contexto social e político promovendo o a momentos de suas vidas e depois
despertar para a cidadania plena e transfor- juntamos para formar uma colcha de
mação social. Acreditamos que a leitura da retalhos.
palavra proporcionará uma nova leitura do
mundo. • Minha Vida: foi pedido a eles que es-
crevessem sobre suas vidas como uma
c) Escrita de texto: os alunos foram esti- forma de avaliar a escrita e também
mulados a articular sílabas, formando pala- procurar entender cada um dos alunos.
vras, extraídas da sua realidade, do seu coti-
diano e das suas vivências. Nesse sentido, vai • Autorretrato: foi feita uma dinâmica
além das normas metodológicas e linguísti- que compreendeu um espelho dentro
cas, na medida em que propõe aos homens e de uma caixa que foi passada por cada
mulheres alfabetizados que se apropriem da aluna e elas tinham que falar sobre
escrita e da palavra para se politizarem, na aquela pessoa que estavam vendo
busca de uma visão de totalidade da lingua- dentro da caixa. Após a dinâmica, foi
gem e do mundo. A partir das palavras gera- pedido para que elas desenhassem o
doras, provenientes da realidade dos alunos, seu autorretrato.
iniciamos a construção do texto.
• Moreninha Linda: foi trabalhada
d) Foi usado a vivência da arte no proje- a música Moreninha Linda, que os
to como intermédio entre a leitura e a escrita alunos demonstraram gostar muito.
como uma forma didática de ensinar. Há vá- A música foi lida e cantada e depois
rios caminhos adotados para a realização do selecionamos algumas palavras e co-
projeto como a elaboração de atividades artís- mentamos sobre elas, evocando lem-
ticas relacionadas sempre com a leitura e a es- branças do passado e promovendo
crita, em que os idosos são acompanhados nas cópia das palavras grifadas no texto.
atividades para uma melhor execução.
• Felicidade: foi levada uma frase sobre
Metodologicamente, acreditamos que a Felicidade e em cima dela os alunos
ação direta do aluno na construção do seu escreveram a palavra FELICIDADE
conhecimento é fundamental para a busca com letras recortadas de jornais e fi-
pela cidadania. zeram o acróstico de acordo com o
que os faziam feliz.

3. DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS • Assim eu vejo a vida: foi introduzido


um texto da Cora Coralina chamado
O público atendido foi de 25 idosos, em Assim Eu Vejo a Vida, sobre o qual co-
sua maioria mulheres, sendo que algumas mentamos como os alunos levam as
tinham dificuldade na leitura e na escrita suas vidas e, logo em seguida, escre-
por conta da idade, levando em conside- vemos algumas palavras no quadro e
ração as dificuldades motoras e outras não pedimos para que lessem e falassem
tiveram a oportunidade de aprender a ler um pouco delas, e os seus significados
e escrever quando jovens. No decorrer do para cada um podendo assim conhe-
projeto foram realizadas algumas atividades ce-los um pouco mais.
considerando a sequência didática a seguir:

188 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


• Natureza: foi trabalhado um poema 5. REFERÊNCIAS
chamado Cuide bem da Natureza e
nele havia algumas palavras desta- QUADROS, Imara Pizzato. Palavras cien-
cadas e, após comentarmos o poema, tíficas sonhantes em território úmido fei-
falamos em específico sobre essas pa- to a mão: a arte popular da canoa pantanei-
lavras e os alunos copiaram uma frase ra. 364 f. Tese (Doutorado em Educação)
e pintaram um desenho proposto na – Universidade Federal de Mato Grosso,
atividade. Cuiabá, 2013.

• Qual é a música: foi dividida a turma


em dois grupos, no qual eles tinham
que se lembrar de músicas com as pa-
lavras que foram escolhidas, sendo um
exercício para auxiliar na memória de-
les através das palavras e um jogo di-
vertido, pois os alunos adoram música.

• Caça-palavras - Colcha de Retalhos:


foram levadas algumas palavras refe-
rentes ao poema introduzido em uma
aula interior e feito um caça-palavras
como um exercício de ginastica cere-
bral importante principalmente para
os idosos.

Em decorrência deste projeto, os alunos


aparentam uma melhora significativa no de-
senvolvimento motor, pois alguns dos alunos,
pela elevada idade, já apresentam dificulda-
des. Acredita-se que, dessa forma, a arte possa
contribuir efetivamente para que esses idosos
tenham a maior capacidade de se expressar
criativamente e um ganho na capacidade oral
e escrita. Acreditamos também que ele tem
sido um importante espaço de apropriação
da leitura e da escrita com intermédio da arte
para um despertar de cidadania plena e trans-
formação social e cultural.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Contudo, o projeto foi muito importante


tanto para nós quanto para as pessoas aten-
didas por ele, pois ocorreu uma grande troca
de experiências, nas quais notamos o desen-
volvimento dos idosos em algumas partes.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 189


Eixo V
Inclusão, Diversidade
e Cultura

190 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


DISLEXIA: UM ESTUDO DE CASO
COM POSSIBILIDADES DE
INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA
MOURA, Sabrina Silva¹; MENDONÇA, Fernanda Fátima Mendes²;
SOUSA, Géssica Alves de³; AMARAL, Marco Antônio Franco do4

1. RESUMO

A dislexia é uma dificuldade de aprendizagem muito presente


no ambiente escolar e tema de recorrentes discussões na atualida-
de, que pode ser diagnosticada tanto na infância quanto na vida
adulta. O presente artigo é oriundo de uma pesquisa concluída,
qualitativa e bibliográfica, que se inicia com um arcabouço teórico
descrevendo posteriormente um estudo de caso. Tem como obje-
tivo entender e analisar possíveis estratégias para ajudar um aluno
disléxico, demonstrando aos educadores diferentes métodos para
compreender suas capacidades e necessidades, chegando assim a
uma definição de dislexia, as causas e quais sinais são demonstra-
dos pelo indivíduo que podem ajudar a diagnosticar o transtorno.
Observando que a dislexia é um distúrbio de aprendizagem e não
uma doença e se diagnosticada no início os resultados de possíveis
intervenções podem obter mais sucesso, ou seja, o indivíduo vai
melhorar o processo de ensino e aprendizagem mais facilmente,
concluímos que se faz necessário o apoio da família em conjunto
com a escola, que deve orientar seus profissionais a desenvolver
metodologias de ensino que possibilitem maior desenvolvimento
do aluno.

Palavras-chave: Dislexia. Transtorno. Intervenções. Metodologias.

2. INTRODUÇÃO

A dislexia é um transtorno de aprendizagem com origem neu-


robiológica e possíveis causas genéticas ou adquiridas, sendo ca-
racterizada principalmente pela dificuldade de leitura e escrita, po-
dendo prejudicar muito o desenvolvimento escolar da criança que
necessita de estratégias educacionais e maior atenção do professor
para seu desenvolvimento.
Instituto Federal de Educação, Ciên-
cia e Tecnologia Goiano – Campus Um grande número de crianças pode ser afetado por esse dis-
Morrinhos. E-mail do autor: sabrina- túrbio, que faz parte da realidade das salas de aula em diferentes
moura396@gmail.com.br fases do desenvolvimento, cabendo a uma equipe de profissionais

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 191


como pedagogo, fonoaudiólogo e psicólogo nhecimento.” Assim, estudo de caso qualita-
fazer seu diagnóstico com o intuito de faci- tivo é uma exposição e verificação acentuada
litar o processo de alfabetização. de um fato ou unidade social. Ele pode ser
ainda qualificado como uma pesquisa em-
Desse modo, o presente estudo discute pírica que analisa o fato em sua realidade e
a seu respeito da dislexia apresentando um ocorre em um contexto restrito.
estudo de caso realizado em sala de aula
com um aluno disléxico, tendo como obje- Com relação ao delineamento da pesqui-
tivo um entendimento geral do transtorno, sa, foi realizada primeiramente uma seleção
suas causas, sintomas e possíveis interven- de autores observando suas considerações e
ções. A dislexia faz parte do cotidiano de analisando como poderiam contribuir para
inúmeros pais e professores que, por falta de o estudo desenvolvido que no presente mo-
conhecimento a respeito, lidam de maneira mento está concluído. Posteriormente, foi
incorreta com a situação que muitas vezes feita uma verificação bibliográfica introdu-
demora a ser diagnosticada, dificultando o tória do assunto abordado no tema. A partir
tratamento e as possibilidades de interven- disto, foi construído e depois analisado o
ção pedagógica. estudo de caso.

A pesquisa relata alguns resultados, como


3. METODOLOGIA o processo de afetividade do aluno, família e
professor, que é de grande importância para
Para Gil (2002) a pesquisa pode ser clas- o desenvolvimento do disléxico; uso de me-
sificada com base nos seus objetivos e com todologias diversificadas dentro do âmbito
ligação aos seus procedimentos técnicos. A educacional como uma forma de estimular
metodologia desenvolvida nesta pesquisa o discente para obter êxito; a participação da
fundamenta-se na pesquisa qualitativa, ou família tem grande relevância no processo de
seja, tem base no caráter subjetivo, usando a desenvolvimento de ensino e aprendizagem e
literatura para o embasamento teórico e o sistema de avaliação deve-se adequar às ne-
análise de um transtorno de aprendizagem cessidades do aluno com transtorno.
denominado dislexia. Quanto aos objetivos,
esta pesquisa é entendida como exploratória
e tem como objetivo 4. DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS

proporcionar maior familiaridade com o Atualmente, muito se discute a respeito


problema, com vistas a torná-lo mais ex- da dislexia, assim abordaremos seus concei-
plícito ou a constituir hipóteses. Pode-se tos, sintomas e possíveis intervenções ne-
dizer que estas pesquisas têm como obje- cessárias para enfrentar seus obstáculos em
tivo principal o aprimoramento de ideias
atividades escolares, como leitura e escrita.
ou a descoberta de intuições. Seu plane-
Assim, diferentes autores conceituam a dis-
jamento é, portanto, bastante flexível, de
modo que possibilite a consideração dos lexia como
mais variados aspectos relativos ao fato es-
tudado (GIL, 2002, p. 41). um transtorno genético e hereditário da
linguagem, de origem neurobiológica, que
se caracteriza pela dificuldade de decodifi-
Quanto aos procedimentos técnicos ela car o estímulo escrito ou o símbolo gráfico.
A dislexia compromete a capacidade de
é classificada como um estudo de caso. Para
aprender a ler e escrever com correção e
Gil (2002) o estudo de caso é caracteriza-
fluência e de compreender um texto. Em
do por “uma modalidade de pesquisa am- diferentes graus, os portadores desse defei-
plamente utilizada nas ciências biomédicas to congênito não conseguem estabelecer a
e sociais. Consiste no estudo profundo e memória fonêmica, isto é, associar os fone-
exaustivo de um ou poucos objetos, de ma- mas às letras (BRUNA, 2011, p. 1).
neira que permita seu amplo e detalhado co-

192 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


ras que superam as das não-disléxicas, uma
Para Costa, Malloy-Diniz e Miranda
vez que elas tendem a ativar outras áreas do
(2016, p. 7) “a dislexia é caracterizada pela cérebro para compensar as suas dificuldades
dificuldade com a fluência correta na leitura (RUBINO, 2008, p. 84-85).
e por dificuldade na habilidade de tradução
dos sons em letras e das letras em seus sons.”
Ainda de acordo estes autores, crianças com A dislexia pode estar associada a outras
dislexia geralmente demoram mais para perturbações, pois
começar a falar, têm mais dificuldade para
pronunciar e aprender novas palavras, não embora a base cognitiva da dislexia seja
entende rimas facilmente, e cometem mais um déficit fonológico, é frequente a co-
erros ao escrever “t” por “d” ou “f ” por “v”. morbilidade com outras perturbações:
perturbação da atenção com hiperativi-
dade (ADHD), perturbação específica da
Segundo Teles (2004, p. 03), “a dislexia
linguagem (PEL), discalculia, perturbação
é uma incapacidade específica de aprendi-
da coordenação motora, perturbação do
zagem, de origem neurobiológica, carac- comportamento, perturbação do humor,
terizada por dificuldades na correção e/ou perturbação de oposição e desvalorização
fluência na leitura de palavras e por baixa da autoestima (TELES, 2004, p.08).
competência leitora e ortográfica”. Essas
dificuldades resultam de um déficit fonoló-
gico, inesperado, em relação às outras capa- 4.1 DISLEXIA - DIFICULDADES CORRE-
cidades cognitivas e às condições educativas. LACIONADAS
Secundariamente podem surgir dificuldades
de compreensão, experiência de leitura re- O déficit fonológico, segundo Farrell
duzida que pode impedir o desenvolvimento (2008), é o bloqueio da pronúncia de uma
do vocabulário e dos conhecimentos gerais. criança e existe obstáculo em comparar sons da
pronúncia a alterações de sentido. Na dislexia,
Desde então esta perturbação tem recebi- o principal déficit cognitivo está na eficácia de
do diversas denominações: “cegueira verbal retratar ou recordar sons da fala (fonemas), ou
congênita”, “dislexia congênita”, “estrefos- seja, encontra-se um obstáculo nas expressões
simbolia”, “alexia do desenvolvimento”, fonológicas. Essa carência fonológica leva ao
“dislexia constitucional”, “parte do contí-
mapeamento mental incompleto das letras do
nuo das perturbações de linguagem, carac-
alfabeto em fonemas. Tanto o déficit fonoló-
terizada por um déficit no processamento
verbal dos sons” (TELES, 2004, p.3). gico, quanto o mapeamento grafema-fonema
opera no nível cognitivo.

De acordo com Rubino (2008, p.84), “a O reconhecimento e o parecer dos blo-


dislexia é um transtorno de aprendizagem queios fonológicos abarcam notar: revelação
hereditário e sem cura, que acarreta uma fa- de incorreções, ausências ou outras dificul-
lha nas conexões cerebrais, principalmente dades na modificação ou na interação em
nas regiões responsáveis pela leitura, pela sala de aula no linguajar persuasivo da crian-
escrita e pela soletração”. ça. No caso de a criança ter impedimento de
adquirir a compreensão da fala, sugere que
As dificuldades causadas por esse trans- ela pode ter dificuldades nos elementos da
torno podem ser melhoradas em até 80% fala que apresentam significados. Outra é
desde que seja diagnosticado o mais preco- a da dificuldade de percepção auditiva e de
cemente possível e tratado de forma ade- processamento auditivo, na qual menciona o
quada. autor que alguns aspectos sensórios da fala
são pertinentes para o progresso da cons-
Os disléxicos têm a inteligência acima da ciência fonêmica, foi proposto que a capa-
média, apesar de seu desempenho escolar su- cidade de leitura pode estar ligada à com-
gerir ao contrário. As pessoas disléxicas mos- preensão da fala, um aspecto da percepção
tram-se mais criativas e têm ideias inovado- auditiva refere-se à chamada categorização

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 193


fonética. Na criação de diferentes sons da qual tendem a memorizar palavras fáceis e
fala, há inúmeras durações entre o instante curtas, desprezando frases longas e difíceis.
da liberação do ar pelos lábios e a vibração Assim, deve-se utilizar uma linguagem di-
das pregas vocais. Para notar as dificuldades reta, clara, objetiva e ainda verificar se houve
de processamento auditivo, é preciso obser- entendimento.
var a presença de: dificuldades de discrimi-
nação, sequencialização, combinação e seg- Para identificar se esse indivíduo tem as
mentação auditiva; inabilidade de percepção características mencionadas, se deve desen-
de sons consonantais em diferentes condi- volver atividades que abordam jogos de me-
ções (inicial, medial, final). mória e observar se apresentam dificuldades
em lembrar instruções, sequência de núme-
Nas dificuldades visuais e processamento ro, fatos e datas, compromissos e prazos de
visual os alunos precisam de letras coloridas trabalhos.
para se direcionar, pois as cores pretas e bran-
cas fazem com que eles embaralhem as letras Na dificuldade de sequencialização (or-
como se elas estivessem flutuando. Também, dem temporal), as pessoas apresentam uma
se a escrita estiver bastante pequena irá causar resistência em dar sequência a certas ativi-
uma dificuldade na criança, levando a perder o dades como: relatar a ordem de suas ativi-
sentido das palavras e se distraem demorando dades ao longo do dia, sequência numérica.
a voltar no devido lugar onde pararam. Isso
resulta na incapacidade de leitura. Uma teoria
que está associada a esta dificuldade é a mag- 4.2 FATORES E INDÍCIOS DA DISLEXIA
nocelular, na qual a criança tem dificuldades
em produzir tarefas visuais, pois veem as letras Estudos recentes apontam como uma
embaralhas e desalinhadas. das causas da dislexia a produção excessiva
de testosterona pela mãe durante a gestação
Neste sentido, há observações a serem da criança, origem neurobiológica e pertur-
feitas para avaliar as dificuldades visuais do bações no parto ou início da vida. Na maio-
aluno: indica uma dificuldade imprópria ria dos casos, a dislexia é descoberta a partir
para a idade em distinguir letras que pare- dos seis anos, pois é o momento que o aluno
cem as mesmas (m-n); apresenta uma com- está sendo alfabetizado.
plexidade indevida à idade para diferenciar
letras que são as mesmas, mas tem formas Assim, delimitamos alguns fatores que
alteradas (M-m); elimina ou transpõe parte podem causar a dislexia.
de uma palavra (que pode indicar um pro-
blema de segmentação visual).
4.2.1 CAUSAS NEUROBIOLÓGICAS
As crianças que apresentam dislexia têm
dificuldades motoras que podem refletir Existe uma pequena alteração no cérebro
em sua ortografia e, assim, retardar as suas que causa essa condição. Assim, o indivíduo
habilidades causando insucesso de algumas possui algumas alterações em partes do cé-
atividades desenvolvidas ao longo de sua rebro. Em contrapartida, utiliza partes que
vida escolar e pessoal. Enquanto as pessoas outra pessoa sem dislexia não desenvolve ou
fazem atividades como manter o equilíbrio tem dificuldade de acessar.
de modo automático, indivíduos disléxicos
precisam dar uma atenção especial a isso.
Para chegar a uma avaliação concreta dessa 4.2.2 CAUSAS EMOTIVAS
dificuldade, podem-se desenvolver ativida-
des que envolvem a motricidade. A dislexia também pode ocorrer por
razões emocionais, como, por exemplo,
Os indivíduos disléxicos podem ter con- no momento da descoberta do transtorno,
sigo uma memória verbal de curto prazo, na pois esse indivíduo pode se sentir inferior

194 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


em relação à sociedade. Por isso, o acom- 4.3 ESTUDO DE CASO
panhamento de familiares e equipe psico-
pedagógica é de extrema importância, pois Foi realizado um estudo de caso com um
quanto mais rápido ocorrer o procedimento aluno do 6º ano de uma escola de tempo in-
de intervenções melhor será para a saúde e tegral. O menino de 11 anos diagnosticado
desenvolvimento da pessoa. com dislexia tem a presença de uma profes-
sora de apoio para ajudar a suprir suas ne-
cessidades. Esse aluno apresenta uma leitura
4.2.3 CAUSAS ASSOCIATIVAS bastante lenta (silabada), nunca termina as
tarefas passadas no quadro. O seu caderno é
Um dos sinais que mais apontam que uma incompleto, ele cansa facilmente, tem receio
pessoa aflige-se de dislexia é que lhe custa re- de escrever textos ditados por um mediador,
lacionar um conceito com uma palavra, um inseguro, disperso, tem uma memória curta
som com uma letra ou um texto. Portanto, o e bastante agitado. Ele também exibe com-
aluno com dislexia tem uma parte do cérebro portamento agressivo perante os colegas
atingida que bloqueia essa associação. quando não consegue algo do seu interes-
se. Por isso, as avaliações propostas a ele são
adaptadas de acordo com a sua necessidade.
4.2.4 CAUSAS METODOLÓGICAS
Sua família apresenta ser bastante pre-
Os métodos utilizados para ensinar uma sente em sua vida escolar e pessoal, deixan-
criança são fundamentais e devem ser apli- do a escola intermediar o seu transtorno de
cados, observando se não estão prejudican- aprendizagem. Porém, a escola não conse-
do determinado discente, pois um método gue dar apoio adequado para seu desenvol-
mal aplicado ou sem estudo adequado para vido devido ao excesso de alunos com difi-
a produção, pode afetar gravemente um alu- culdades para um único professor de apoio,
no e este desenvolver a dislexia. sendo sete discentes para um docente.

Desta forma, precisa-se atentar a alguns Durante a avaliação feita, foi proposto
sintomas: a) leitura tardia e lenta: é uma das um jogo de palavras chamado Aramumo:
formas mais claras, pois a criança não tem palavras cruzadas, desenvolvido em parce-
muito bem incorporada a associação entre ria entre o Instituto ABCD, Organização
letra e som, por isso vai ler de forma mais da Sociedade Civil de Interesse Público
prolongada que o restante dos colegas; b) não (OSCIP) que atua apoiando a educação de
utiliza pontuações e nem faz pausas: na leitu- crianças com dificuldades e distúrbios de
ra e na escrita, um disléxico não usa as pausas aprendizagens e Iniciativa de desenvolvi-
porque o seu sentido de espaço e de tempo é mento de software dos alunos do Instituto
diferente. Além do que também é comum que Tecnológico de Aeronáutica (ITABITS).
troque sílabas, palavras ou números de ordem; O objetivo do jogo é estimular a atenção,
c) pouca habilidade física: além das questões memorização e transformar fonemas em
associadas com a leitura, uma pessoa disléxi- palavras concretas. O resultado foi bastante
ca também se reconhece porque fisicamente preciso em relação ao seu laudo de dislexia,
é desastrada, algo que se nota, principalmente uma vez que o aluno apontou dificuldades
na hora de praticar esporte e de realizar tra- de memorização, espaço e tamanho das pa-
balhos manuais; d) não distingue a direita da lavras. Enquanto ele demora 4 minutos para
esquerda: também é um claro sintoma de que a realização do jogo, outro aluno da mes-
uma pessoa tem dislexia, pois tem dificuldades ma idade e ano escolar sem dislexia realiza
quanto à lateralidade. o mesmo jogo em poucos segundos. Outra
avaliação proposta foi o ditado de um tex-
to pequeno com sílabas similares e palavras
curtas. O aluno mostrou-se bastante re-
sistente no início e logo disse: “Eu não sei

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 195


escrever com você ditando”. O texto escrito A escola, por sua vez, deve trabalhar em
pelo aluno apresentou palavras juntas e sem colaboração com os responsáveis, oferecendo
a percepção de separação, além de ausências informações, disponibilizando um professor
de algumas letras. de apoio quando possível e orientando seus
profissionais que precisam criar estratégias
para interagir com o aluno disléxico em sala,
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS usando sempre uma linguagem direta, clara
e objetiva na hora das explicações, verifican-
A dislexia é um distúrbio de aprendizagem do sempre seu entendimento; reconhecendo
e não uma doença, que possui tratamento, po- seus acertos e nas séries iniciais permitindo
rém não tem cura e provoca dificuldades na o uso de tabuadas, material dourado, ábaco;
leitura e escrita, se fazendo necessárias inter- entre outras coisas.
venções como estratégias educacionais pro-
movidas por um educador que deve adaptar Muitos professores possuem receio em
as avaliações simplificando conteúdos para trabalhar com crianças disléxicas, porém
adequar as necessidades do aluno. ao estar frente a essa situação devem tra-
tar o aluno com naturalidade, trazê-lo para
O diagnóstico precoce é importante para perto da lousa, uma vez que isso favorece o
o desenvolvimento do aluno, uma vez que diálogo facilitando o acompanhamento e a
intervenções adequadas com professores de orientação, possibilitando o olhar direto no
apoio podem auxiliar em seu rendimento momento da fala. Como esse aluno possui
escolar. Desse modo, os docentes e a família suas particularidades, deve-se evitar subme-
necessitam saber reconhecer os sinais apre- tê-lo a pressões de tempo ou competições
sentados pela criança disléxica, pois, quan- com os colegas como, por exemplo, um pe-
to antes o transtorno for descoberto, mais dido para que leia em voz alta.
favoráveis serão os métodos de intervenção.
Como o disléxico tende a responder me-
É fundamental o apoio da família na vida lhor trabalhando com as partes do que com
escolar da criança estando presente no proces- o todo, o professor, ao apresentar o conheci-
so educacional proposto pela instituição, dado mento fragmentado, pode tomar essa prática
que é na escola em que ficam mais claros os como uma estratégia interessante para obter
primeiros sinais da dislexia, sendo essencial maior êxito, uma vez que estimular, incen-
também um suporte em casa havendo horá- tivar e fazer com que o aluno se sinta capaz
rios para fazer atividades, além da afetividade construindo sua autoestima, o que também
que os pais devem transmitir à criança. influencia no processo de aprendizagem.

Não é necessário que a criança diagnos- Com relação ao processo avaliativo,


ticada com dislexia fique em uma sala espe- como o aluno com dislexia tem dificuldade
cial, pois tem muito a ofertar e a receber dos em entender o que lê, não devem ser apli-
demais alunos. Contudo, para que tenha um cadas avaliações que contenham somente
bom desenvolvimento pedagógico os pais e textos, principalmente científicos e longos.
também professores podem tomar algumas Antes de começar a prova o professor pre-
atitudes. Os pais devem ter comunicação cisa ler em voz alta, verificando se os alu-
com a escola e informar sobre as particula- nos entenderam as perguntas e sempre que
ridades de seu filho como, por exemplo, suas possível dar preferência às avaliações orais
potencialidades e capacidades. Eles devem por meio das quais o discente terá oportu-
também ajudar nas atividades de casa en- nidades de expor o que sabe sobre o assunto
contrando o melhor horário e preparando como se fosse uma conversa.
um lugar adequado que seja o mais silencio-
so possível com espaço suficiente para que
se desenvolvam os exercícios.

196 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


6. REFERÊNCIAS

BRUNA, Maria Helena Varella. Doenças


e Sintomas: Dislexia. 2011. Disponível em:
<https://drauziovarella.uol.com.br/doen-
cas-e-sintomas/dislexia/>. Acesso em: 16
mar. 2018.

COSTA, Danielle de Souza; MALLOY-


-DINIZ, Leandro Fernandes; MIRANDA,
Débora Marques de. Aprendizagem de A a
Z: Cartilha de Aprendizagem. Belo Hori-
zonte: Pearson, 2016. 26 p.

FARRELL, Michael. Dislexia e outras dificul-


dades de aprendizagem específicas: Guia do
professor. Porto Alegre: Artmed, 2008.Tradução
de: Maria Adriana Veríssimo Veronese.

GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Pro-


jetos de Pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas,
2002

RUBINO, Rejane. Sobre o conceito de dis-


lexia e seus efeitos no discurso social. Re-
vistas USP, São Paulo, v. 13, n. 24, p.84-97,
jun. 2008.

TELES, Paula. Dislexia: Como identifi-


car? Como intervir?.Revista Portuguesa
de Clínica Geral, Lisboa, v. 20, n. 5, p.1-23,
dez. 2004.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 197


ADAPTAÇÃO CURRICULAR E
FLEXIBILIZAÇÃO NA AVALIAÇÃO:
ALGUNS DILEMAS DA INCLUSÃO`
COSTA, Vanderlei Balbino¹; RODRIGUES, Vânia Ramos2

1. INTRODUÇÃO

O mundo da pós-modernidade, globalizado, sem fronteiras,


ligado por redes, está frente alguns dilemas sócio-educacionais:
abrigar nas escolas em todos os níveis diferentes sujeitos, com di-
versas expectativas, anseios e necessidades educativas especiais.

Pensar a educação no novo milênio, que ora se inicia, é pensar


que a escola brasileira encontra-se na atualidade aberta aos dife-
rentes públicos, que busca na educação sua emancipação política,
sua inserção enquanto sujeitos sociais dotados de direitos e sua
cidadania, construída a partir de sua inclusão escolar nos diversos
espaços sociais.

Nos últimos anos, em especial na década de 1990, diversos


movimentos borbulharam em relação à educação especial em uma
perspectiva inclusiva. Só para exemplificar, tivemos em Jomtien –
Tailândia a Declaração Mundial de Educação Para Todos (UNES-
CO, 1990); na Espanha – a Declaração de Salamanca (UNESCO,
1994) e a Declaração da Guatemala (UNESCO, 1999).

No que concerne à legislação brasileira, tivemos pela primeira


vez em 500 anos de história da educação, um capítulo específico
sobre educação especial que passou a dirimir os pressupostos su-
leadores nos processos de inclusão escolar das pessoas com defi-
ciência, transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades/
superdotação.

Os fragmentos deste ensaio teórico têm, entre outras metas,


discutir temas polêmicos que estão intrínsecos à educação, como:
currículo adaptado e flexibilização da avaliação às pessoas com de-
1 Universidade Federal de Goiás – ficiência.
Regional Jataí. vanderleibalbino@
gmail.com Nossas reflexões, neste ensaio teórico, procuraram responder
2 Universidade Federal de Goiás a seguinte questão de pesquisa: os professores da escola comum
– Regional Jataí. vaniaramosr@ fazem adaptação no currículo e flexibilizam a avaliação aos estu-
gmail.com dantes com deficiência?

198 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


São inúmeros os objetivos que temos dos, não implica altos custos, não exige con-
neste ensaio. Nesse sentido, pretendemos tato com os sujeitos da pesquisa e possibilita
alcançar os seguintes: averiguar se os pro- uma leitura aprofundada das fontes”.
fessores do ensino comum fazem adaptação
no currículo escolar, quando em suas salas
de aula, há presença de estudantes com de- 3. DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS
ficiência; identificar se na escola comum,
os professores flexibilizam as avaliações; Não é nossa intenção conceituar currí-
analisar se é pela falta de formação inicial e culo neste trabalho. No entanto, pensamos
continuada que os professores têm dificul- que o currículo ministrado em sala de aula
dades para adaptar o currículo e flexibilizar se configura em uma construção social dos
as avaliações. conteúdos o qual possibilita que os estudan-
tes obtenham conhecimentos de tudo que
está sendo estudado e discutido em sala de
2. METODOLOGIA aula (COSTA, 2016b).

Nossa opção, neste trabalho, foi pela pes- Ao longo dos anos, a educação das pes-
quisa qualitativa, aqui entendida por Lüdke soas com deficiência continua sendo um
e André (1986, p. 11) como “a pesquisa qua- grande desafio nos processos inclusivos,
litativa tem o ambiente natural como sua seja nas escolas que não estão adaptadas às
fonte direta de dados e o pesquisador como mudanças, seja para os professores que não
seu principal instrumento”. tiveram, em seus cursos de formação inicial,
disciplinas que possibilitassem discutir a in-
Apoiamo-nos em referenciais biblio- clusão escolar desses novos sujeitos sociais
gráficos para construir este ensaio teórico. presentes nos diversos espaços escolares. E
Deste modo, Severino (2007 p. 123) assi- então fazemos a seguinte indagação: Mas,
nala que “nas investigações bibliográficas, o por que isso ainda está presente no interior
pesquisador parte das pesquisas já existentes das escolas em todos os níveis? Na nossa
para fundamentar seu trabalho”. concepção, estes problemas que não são no-
vos, ainda estão sendo vividos há anos nas
Procuramos dar ênfase nos documen- escolas nos dias atuais.
tos legais que embasam o ensino inclusivo.
Desse modo, lançamos mão de alguns do- Ao revisitar a literatura especializada
cumentos como a Lei de Diretrizes e Ba- que enfatiza essa problemática educacio-
ses da Educação Nacional (LDBEN) nº nal, é notório assinalar que falta formação
9.394/1996 (BRASIL, 1996). Utilizamos inicial e continuada para os professores que
também, neste ensaio teórico, a Declaração vão atuar na inclusão escolar dos estudantes
Mundial de Educação para Todos (UNES- com deficiência. Registra-se a ausência de
CO, 1990) e a Conferência Internacional de trabalho cooperativo entre professores do
Salamanca (UNESCO, 1994). Esses docu- ensino comum e do ensino especial. Nota-
mentos nos fizeram perceber que é necessá- mos também que em relação aos processos
rio tornar em todos os níveis o ensino mais inclusivos, falta envolvimento do gestor,
inclusivo, bem como o currículo acessível a coordenador pedagógico e parcerias entre
todas as pessoas, não importando se essas escolas, professores e famílias, esta última,
são ou não deficientes. da maior importância para a escolarização
dos estudantes com deficiência.
Se considerarmos que nossa reflexão
utilizou-se também documentos para fun- No contexto da educação especial, em
damentar esta investigação, apoiamo-nos uma perspectiva inclusiva, é notório acen-
em Piana (2009, p. 122) ao assinalar que tuar que as adaptações curriculares nas es-
“a pesquisa documental apresenta algumas colas inclusivas, precisam priorizar o que
vantagens por ser fonte rica e estável de da- os alunos devem apreender, como e quando

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 199


apreender; como, quando e de que forma À luz da literatura especializada que enfati-
devemos avaliar os alunos, sem promover za essa problemática, Lopes (2010) acentua
comparações entre os que são especiais e os que as avaliações para os alunos de inclusão
“normais”. não devem adotar critérios comparativos.
Esses devem ser avaliados de acordo com
Outra preocupação que os docentes de- seu desempenho cognitivo. Nessa mesma
vem ter em relação à escolarização dos es- direção, Costa (2016a) acentua que não de-
tudantes com deficiência situa-se no nível vemos fazer plano de aula uniforme, padrão,
individual. Neste sentido, as parcerias entre homogêneo, uma vez que os alunos têm rit-
professores do ensino comum e do ensino mos de aprendizagem diferenciados. Dessa
especial precisam ser adotadas, principal- forma, recomenda que é necessário selecio-
mente no que concerne às avaliações que nar métodos e conteúdos mais acessíveis aos
jamais deverão ser comparativas. Para tanto, alunos, sejam eles, com e sem deficiência.
é fundamental que ao se referir às dificulda-
des, devemos identificar os fatores negativos Ao considerar que as adaptações no cur-
que interferem no processo ensino-aprendi- rículo, a flexibilização nas avaliações reque-
zagem desses novos sujeitos sociais presen- rem de nós, professores, critérios que não
tes nas escolas. objetivam adotar planejamentos homogê-
neos, pensamos que a introdução de ativi-
Ao nos referirmos à escolarização dos dades previamente planejadas, alternativas e
estudantes com deficiência, cumpre-nos complementares, estaremos oportunizando
acentuar que as adaptações curriculares que todos os alunos possam aprender.
devem considerar as reais necessidades
dessas adaptações, bem como os níveis de Ao longo destas reflexões teóricas, con-
desenvolvimento de todos os alunos, não seguimos aferir que não é fácil a tarefa de in-
importando se esses são ou não deficien- cluir. Para tanto, questionamos: o que fazer
tes. Os professores, necessariamente, devem para promover a inclusão? Na nossa concep-
observar que os estudantes com deficiência ção, há algumas formas para que possamos
aprendem em diferentes ritmos, tempos e implementar essas ações, como: conhecer os
desenvolvimento intelectual. alunos para descobrir quais são suas necessi-
dades educativas especiais. Assim, podemos
Nas escolas inclusivas, é relevante as- verificar como os alunos devem participar
sinalar que os estudantes com deficiência de todas as atividades curriculares propostas
precisam das adaptações curriculares, uma pelos professores na sala de aula.
vez que o processo ensino-aprendizagem
nem sempre ocorre de forma igual aos de- Talvez, uma das maiores dificuldades
mais alunos “normais”. Frente ao exposto, que os professores enfrentam em relação
a literatura especializada recomenda que aos alunos de inclusão é a de identificar o
podemos introduzir novos conteúdos não que esses já vem sabendo da sua realidade,
previstos aos demais alunos. Deste modo, considerando que um dos papéis da escola
podemos eliminar conteúdos que não com- é o de sistematizar o saber. Esse pressupos-
prometem a formação dos educandos em to requer dos professores conhecer a famí-
todos os níveis. Isso nos possibilita trabalhar lia dos alunos com deficiência, uma vez que
os conteúdos de forma cooperativa/colabo- esta se constitui em uma das parcerias mais
rativa, agrupando os alunos que sabem, que relevantes na escola inclusiva.
têm maior facilidade aos que não sabem, ou
que estão com maior dificuldades. Também, talvez, um dos problemas que
enfrentamos nas escolas, ao se referir a in-
Um dos dilemas que os professores ainda clusão escolar das pessoas com deficiência
enfrentam no processo de escolarização dos em todos os níveis, está no planejamento
estudantes com deficiência em todos os ní- das aulas, que em via de regras, são homo-
veis, concerne às adequações nas avaliações. gêneas; ou mesmo, nos objetivos propostos,

200 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


que não são acessíveis aos alunos, que têm ses ditos normais é que definem e defendem
ritmos e tempos diferentes para aprender; qual é a melhor inclusão para nós.
bem como nas atividades propostas em sala
de aula, que não são adaptadas às diferentes Ao longo desta reflexão, identificamos
necessidades educativas especiais; nas ava- que há diversas sugestões que possibilitam o
liações, comparativas que ao invés de obser- acesso ao currículo. Partindo dessa premis-
var o desenvolvimento e desempenho dos sa, Costa (2016b) ressalta que devemos nos
alunos, são aplicadas para punir os que não preocupar em adaptar materiais escritos de
deram respostas satisfatórias aos professo- uso comum para todos os estudantes com
res; finalmente, nos conteúdos ministrados, e sem deficiência. Neste sentido, pensamos
elaborados e planejados de forma uniforme ser necessário incluir nas nossas aulas dese-
(FRANCO, 2007). nhos, gráficos, vídeos e materiais concretos
que contribuem na compreensão dos con-
Ao se referir aos processos inclusivos dos teúdos que estão sendo ministrados.
estudantes com deficiência, uma das dificul-
dades que enfrentamos está nas adaptações Outra decisão pedagógica que precisa-
curriculares que não possibilitam que os mos tomar, quando se refere à inclusão dos
recursos didáticos pedagógicos, os proce- estudantes com deficiência, é providenciar
dimentos de ensino e as estratégias, sejam programas, recursos tecnológicos e softwa-
adequadas a esses sujeitos com alguma li- res que facilitem a compreensão dos con-
mitação física, intelectual, auditiva e visual, teúdos que planejamos no decorrer do ano
uma vez que os estudantes diferentes/defi- letivo. Essa decisão requer de nós, profes-
cientes estão em desvantagens aos demais sores, (re)conhecimento e sensibilidade, de
alunos que intitulamos de “normais”. que cada aluno é único em sua especificida-
de, uma vez que aprende de forma, tempo e
Quando pensamos nas adaptações cur- ritmo diferente aos demais.
riculares devemos ficar atentos que essas se
constituem de diferentes níveis. Em relação Nessas reflexões, identificamos que em
ao Projeto Político Pedagógico, este deve plena era da educação especial inclusiva, há
focalizar a organização escolar e os serviços um grupo que defende para os estudantes
de apoio oferecidos aos estudantes com ne- com deficiência apenas a escola especial,
cessidades educativas especiais. Em se tra- uma vez que não acreditam na possibilida-
tando do papel do professor que atua com de da inclusão. Neste emaranhado universo
alunos especiais, na sala de aula comum, o de posições teóricas, por sua vez, há outro
currículo deve observar os procedimentos grupo que defende a inclusão de todos, in-
didático-pedagógicos que podem ser imple- dependente se são ou não deficientes.
mentados aos alunos com deficiência.

5. REFERÊNCIAS
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
BRASIL. Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro
A nossa velha e nova escola continua de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
promovendo a seleção entre bons, perfeitos, cação Nacional. Brasília, 1996.
normais, bem constituídos. E os estudan-
tes com deficiência continuam incluídos de COSTA, Vanderlei Balbino. Adaptação
forma excludente. O problema que viven- curricular: das dificuldades às possibilida-
ciamos é o de que a inclusão se dá pela do- des. ENCONTRO DE PESQUISA EM
cilidade dos “normais” que nos aceitam, ou EDUCAÇÃO DA REGIÃO CENTRO
seria pela legislação que os obrigam? Neste OESTE – REUNIÃO CIENTÍFICA
sentido, indagamos: por que o “normal” não REGIONAL DA ANPED: Projeto Na-
se coloca em discussão? Ele é inquestioná- cional de Educação: desafios éticos, polí-
vel? Então, entendemos que o pior, é que es- ticos e culturais, 13, 2016. Brasília. Anais.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 201


Brasília: Universidade de Brasília (UnB), sidades educativas especiais. Coordenado-
ANPEd, 2016b. ria Nacional para a Integração da Pessoa
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COSTA, Vanderlei Balbino. Reflexão do- sília: 1994. Disponível em: <http://portal.
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202 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


Eixo VI
Educação e Multimídia

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 203


ENSINO DE FRAÇÕES NO ENSINO
FUNDAMENTAL: CONTRIBUIÇÃO DA
TECNOLOGIA DE COMUNICAÇÃO E
INFORMAÇÃO PARA UMA PEDAGOGIA VISUAL
SILVA, Adriano Aparecido da1; CHAGAS, Flomar Ambrosina Oliveira1;
PIMENTA, Adelino Candido1; FERREIRA, Regimar Alves1

1. INTRODUÇÃO

Este trabalho é resultado de uma proposta do uso das Tecnolo-


gias da Comunicação e de Informação (TIC), aplicada nas aulas de
matemática para o ensino de frações, visando atender a proposta
da pedagogia visual. Essa proposta fundamenta-se em Campello
(2008), Borba (2010) e Peixoto (2015), os quais levantam discus-
sões importantes sobre o rompimento com o tradicionalismo na
sala de aula. Compreendendo as preocupações em relação ao pro-
cesso de ensino dos alunos em termos de estratégias educacionais,
nota-se que devemos avançar nas questões metodológicas e o uso
da TIC é uma forma de possibilitar condições visuais no ensino de
matemática. Campello (2008, p.13) escreve sobre a importância de
“propostas pedagógicas pautadas na visualidade a fim de reorientar
os processos de ensinar e de aprender”, assim valorizando as pecu-
liaridades do sujeito surdo.

Nesse sentido, além da visualidade, para Oliveira et al. (2015) é


preciso preparar também atividades contextualizadas que possibi-
litem ao discente uma aprendizagem significativa.

A função de ensinar requer uma integração de conhecimentos,


para fins de facilitar (mediar) a constituição da subjetividade dos
alunos, isto é, essa função não deve ser entendida, simplesmente,
como transmissão de conhecimentos, mas sim como um apoio para
fornecer estratégias e recursos aos alunos, a fim de que eles possam
interpretar o mundo em que vivem, por meio de sua própria his-
tória (OLIVEIRA et al., 2015, p. 66 apud HERNÁDEZ, 1998).

Dessa forma, pensando no ensino de frações, que os alunos


pudessem ir além de identificar somente a sua representação, e
que fossem capazes de compreender a utilização e as necessidades
práticas cotidianas, faz-se presente o uso de frações no dia a dia,
1 Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia de Goiás - ressaltando-se a importância de uma abordagem dialética na sala
Campus Jataí. E-mail do autor: de aula que considere o sujeito como um ser ativo e em constante
adrianointerprete@gmail.com movimento.

204 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


De acordo com Sartoretto (2010, p.8), 3. METODOLOGIA E RESULTADOS
“a escola que acolhe e tira partido das dife-
renças busca construir coletivamente uma Os participantes deste trabalho foram 36
pedagogia que parte das diferenças dos estudantes da educação básica, com idades
seus alunos como impulsionadoras de no- entre onze e quatorze anos de uma esco-
vas formas de organizar o ensino”. Assim, la estadual da cidade Rio Verde – GO. O
ao entender a escola como o local social trabalho foi realizado no turno matutino
privilegiado para a formação dos sujeitos na sala de aula do 6º ano e ocorreu duran-
surdos também se sugere estratégias que te quatro aulas de matemática com duração
contextualize o conteúdo com o ensino de cinquenta minutos cada. Em cada uma
de Língua Brasileira de Sinais (Libras), das quatro aulas ministradas foram utiliza-
conforme a Lei da Lei Federal n. 10.436, dos recursos didáticos diferenciados (car-
de 24 de abril de 2002 que dispõe sobre a tolina; jogos: dominó de fração; quadro,
Língua Brasileira de Sinais para os surdos pincel e apagador; computador; data show;
e o Decreto n. 5.626, de 22 de dezembro softwares), porém com ênfase nos softwares:
de 2005 que institui o ensino aos surdos dividindo a pizza e dividindo frações com
na língua de sinais, como primeira língua dinheiro, frações do professor Sagaz, multi-
e a língua portuguesa como segunda. plicando com o trevo de 4 folhas. A seguir
as descrições dos momentos trabalhados.
As técnicas pedagógicas exploradas pelas
TIC proporcionam amplas potencialidades Primeiro momento: apresentar ao alu-
de inovação nas metodologias de ensino e de no surdo a proposta em Libras (sinais em
aprendizagem e é importante valorizar esta Libras, jogos e softwares), com intuito de es-
ferramenta para favorecer as práticas visuais timular sua percepção visual de fração, con-
e o sucesso escolar dos discentes. Conforme forme as figuras de 1 a 8.
Borba (2010, p.3), “os softwares educacionais
têm a capacidade de realçar o componente vi-
sual da matemática atribuindo um papel im- Figura 1: Apresentação dos jogos.
portante à visualização na educação matemá-
tica”, portanto, a escola é o espaço articulador
de conhecimentos para formar sujeitos críti-
cos, instiga-nos a pensar em como articular as
peculiaridades do surdo em um ensino que é
predominantemente transmitido exclusiva-
mente em língua portuguesa como primeira
língua, causando prejuízo significativo para a
formação do surdo.

Fonte: Do próprio autor (2017).


2. OBJETIVOS
Figura 2: Apresentação dos softwares.
As atividades foram pensadas com o ob-
jetivo de que os alunos pudessem ir além
de identificar a representação de frações, e
que fossem capazes de compreender a utili-
zação e as necessidades práticas cotidianas,
quando se faz presente o uso da fração no
dia a dia e proporcionar o ensino de Libras,
relacionado ao contexto estudado visando a
atender à inclusão do surdo.

Fonte: Do próprio autor (2017).

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 205


Segundo momento: dialogar com toda O terceiro momento: o uso da TIC para
a turma para esclarecer sobre as atividades assistir a um vídeo bilíngue sobre as frações
e os objetivos das aulas com uma proble- e suas aplicações no dia a dia e ensinar Li-
matização inicial e ouvir as hipóteses dos bras (alfabeto, números e sinais do contexto
alunos. Escrevi uma pergunta no quadro, das atividades) para os alunos. Logo, traba-
sendo: Temos três barras de chocolate e lhar com materiais manipuláveis retomando
precisamos dividi-las entre quatro alunos. os conceitos matemáticos que envolvem fra-
É possível atribuir uma barra a cada um? ções e demonstrando passo a passo o que é
Como poderíamos proceder a essa divisão uma fração contextualizando (fomentar dis-
de forma que todos recebam chocolate em cussões para os alunos dar opiniões: divisão
quantidades iguais? Convidei os alunos para de pizzas, bolo, barras de chocolate) como
fazerem uma roda e sentar no chão infor- sendo algo natural e necessário para a vida
malmente, no intuito de investigar sobre o do aluno. Neste momento, a formação de
uso das frações no seu cotidiano. No cen- grupos para utilização do jogo: dominó de
tro da roda, uma cartolina, para de acordo fração e a utilização dos softwares (dividindo
com as falas deles, representar (desenhar) os a pizza e dividindo frações com dinheiro)
seus dizeres relacionados ao conteúdo pro- exemplos de situações-problema para uma
posto. O objetivo foi deixar o aluno dispor melhor compreensão dos números fracioná-
das suas estratégias para que pudesse cons- rios. Após percepção de que alguns alunos
truir um fundamento em sua mente, para tal não compreenderam que R$ 0,05; R$ 0,10;
operação, o que pode acontecer por meio de R$ 0,25 e R$ 0,50 centavos eram valores
situações do contexto social. Em uma abor- menores que R$ 1,00 pelo fato de observar
dagem dialética, a partir das escritas dos nas moedas os números “5”, “10”, “25” e “50”
alunos realizou-se o processo de demons- em relação à moeda de “1”, houve neces-
trações das frações na prática. As figuras 3 sidade de reforçar a atividade: “Dividindo
e 4 dizem sobre a participação dos alunos. Frações com Dinheiro”, assim surgindo o
Fracolé (fração com picolé). Desta forma,
Figura 3: Roda de conversa combinei com os alunos, na aula seguin-
te cada um trouxesse moedas diversas: R$
0,05, R$ 0,10; R$ 0,25 e R$ 0,50 até soma-
rem R$ 1,00, para verificarmos, na prática,
quantas moedas das já especificadas ou alea-
tórias precisariam para comprar um picolé
de R$1,00. A seguir figuras 5 e 6 com uso
de softwares e de jogos.

Figura 5: Jogo do Dominó em fração


Fonte: Do próprio autor (2017).

Figura 4: Ensino de fração em Libras

Fonte: Do próprio autor (2017).

Fonte: Do próprio autor (2017).

206 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


Figura 6: Uso do Software - Dividindo a pizza. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho, considerou-se positiva a


utilização das TIC para o ensino de frações
no ensino fundamental, por permitir práti-
cas visuais nas aulas de matemática e des-
pertar o interesse dos discentes com o uso
da tecnologia, como apoio aos processos de
ensino e de aprendizagem.

Fonte: Do próprio autor (2017). Ainda como ponto positivo, os alunos


relataram a aula ser diferente e com a in-
Quarto momento: neste último mo- formalidade de sentarem-se ao chão, possi-
mento, continuação do Fracolé, para possi- bilitou dialogar com o professor e com os
bilitar a introdução do conceito de números colegas sobre o assunto da aula. Para outros
decimais e do uso de softwares (frações do alunos, o uso de softwares e a ação de ir ao
professor Sagaz, multiplicando com o tre- quadro para dar suas contribuições foram
vo de 4 folhas). Tais atividades foram para práticas que instigaram a aprendizagem.
identificar o aprendizado dos alunos, não Porém, muitos desafios foram apontados,
sendo aplicado nenhum questionário. As como, por exemplo, superar a falta de labo-
imagens abaixo representam a culminância ratórios de informáticas nas escolas públicas
do projeto. e as indisciplinas dos alunos.

Já como pontos negativos para eles, foi


Figura 7: Construção do Fracolé não ter um computador para cada aluno.
Levando em consideração os discentes in-
disciplinados, foi importante observar que
durante este trabalho, nem sempre a propos-
ta aplicada consegue atingir a todos. Contu-
do, o fato de ter várias atividades planejadas:
roda de conversa, jogos, vídeos e softwares
foram opções para conseguir a atenção de
toda a turma. No momento da roda de con-
versa, foi necessário propor outra atividade
para três alunos, os quais tinham “fama” na
escola de indisciplinados. Eles se identifica-
Fonte: Do próprio autor (2017). ram com o jogo: dominó com fração. Dei a
liberdade de jogarem, mas com um acordo,
Figura 8: Culminância do Fracolé após aprendizado explicar para a turma so-
bre as regras do jogo e como monitores me
ajudaram a orientar os grupos.

Notei que reconhecer e ter a percepção das


capacidades e das preferências de atividades de
alguns alunos contribuiu para a aula ocorrer
Fonte: Do próprio autor (2017). satisfatoriamente. Com a aprendizagem e a
inclusão do ensino da Libras, relacionado ao
contexto do conteúdo, despertaram novas ex-
perimentações necessárias para a vida dos alu-
nos e isso motivou o aluno surdo e os ouvintes
ao uso da Libras. Outra situação importante
para o entendimento dos alunos envolveu au-

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 207


las diferentes daquelas que estavam acostuma- OLIVEIRA, Jáima Pinheiro de et al. Algu-
dos, conforme relatos deles. Outra percepção mas questões sobre a formação de professo-
importante foram as dificuldades dos alunos res para atuar com alunos surdos no contexto
em trabalharem com dinheiro, daí surgiu o da educação inclusiva. In: BAGAROLLO,
Fracolé (fração com picolé), que possibilitou Maria Fernanda; FRANÇA, Denise Ma-
introduzir o conceito de números decimais, ria Vaz Romano (org.). Surdez, Escola e
adição, multiplicação, subtração e divisão e os Sociedade: reflexões sobre Fonoaudiologia
alunos valorizaram cada moedinha, pois acu- e Educação. Rio de Janeiro: Wak Editora,
mulando-as teriam uma quantidade maior e, 2015, p. 65 – 92.
após compreensão, compramos os picolés.
PEIXOTO, Joana.  Relações entre sujeitos
Portanto, este trabalho possibilitou refle- sociais e objetos técnicos: uma reflexão ne-
xões sobre o ensino de frações no ensino fun- cessária para investigar os processos edu-
damental e a contribuição das TIC na prática cativos mediados por tecnologias.  Revista
visual para outra compreensão deles e nossos, Brasileira de Educação,  Rio de Janeiro, v.
respeitando as peculiaridades de todos os su- 20. n. 61, p. 317-332, abr./jun. 2015. Dis-
jeitos envolvidos no processo ensino e apren- ponível em: <http://moodle2.ifg.edu.br/
dizagem. Conclui-se que esta proposta pode pluginfile.php/12328/course/section/2668/
contribuir significativamente, como uma ação sujeitos.pdf>Acesso 20 set.
inicial, a fim de propiciar aos discentes criti-
cidade e despertar para a consciência de seu SARTORETTO, Mara Lúcia. A Educa-
compromisso social e político. ção Especial na Perspectiva da Inclusão:
recursos pedagógicos acessíveis e comunica-
ção aumentativa e alternativa. Brasília: Mi-
5. REFERÊNCIAS nistério da Educação Especial [Fortaleza]:
Universidade Federal do Ceará, 2010.
BRASIL. Secretaria de Educação Especial.
Decreto n° 5.626, de 22 de dezembro de
2005. Regulamenta a Lei n° 10.436, de 24
de abril de 2002.

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Sala de Aula de Matemática. In: X ENEM
- Encontro Nacional de Educação Mate-
mática, 2010, Salvador. X ENEM - En-
contro Nacional de Educação Matemática,
2010. Disponível em: <http://
www.rc.unesp.br/gpimem/downloads/arti-
gos/borba/marceloxenen.PDF> Acesso 20
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CAMPELLO, Ana Regina e Sousa. Peda-


gogia visual na educação dos surdos-mu-
dos. (Tese) Programa de Pós-Graduação
de Educação – Universidade Federal de
Santa Catarina, Florianópolis, 2008, 166 f.
Disponível em: <http://www.cultura-sor-
da.org/wp-content/uploads/2015/04/Te-
sis_Souza_Campello_2008b.pdf> Acesso
10 set. 2017.

208 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


MUDANÇA NAS TENDÊNCIAS
PEDAGÓGICAS DO SÉCULO XX E SUA
RELAÇÃO COM A RESISTÊNCIA À
INCORPORAÇÃO DAS TIC
PACHECO, Márcia Leão da Silva1; LOPES, Rosemara Perpetua2

Resumo: Apresentamos resultados parciais de uma pesquisa de


mestrado, atualmente em desenvolvimento, que tem por objetivo
geral investigar se a resistência ao uso das Tecnologias de Informa-
ção e Comunicação (TIC) na educação existe em escolas estaduais
de Goiás, confirmando o apontado pela literatura educacional, e
que relação mantém com a formação continuada. Por resistência
entendemos a rejeição à mudança. Tendo em vista esse objetivo,
buscamos responder às seguintes questões: a resistência ao uso das
TIC na educação, apontada pela literatura educacional, está pre-
sente em escolas estaduais goianas? Que relação mantém com a
formação continuada? A pesquisa tem cunho quanti-qualitativo
e adota o método histórico-analítico. Neste trabalho, buscamos
identificar as principais tendências pedagógicas que configuram o
pensamento educacional brasileiro no século XX e localizar indí-
cios de resistência, por meio de uma revisão da literatura pertinen-
te, incluindo Libâneo (1992), Manacorda (2006), Saviani (2013) e
Romanelli (2014), vislumbrando atender a um dos objetivos espe-
cíficos da mesma, que consiste em caracterizar a resistência ao uso
das TIC no ambiente escolar, caso exista. A revisão da literatura
pertinente é desenvolvida do seguinte modo: a) breve descrição
dos principais aspectos históricos, tendo como marco histórico o
Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova; b) tendências peda-
gógicas que marcaram o século XX; c) elementos indicativos de
resistência no contexto focalizado. Os resultados apontam resis-
tência à mudança no período histórico investigado e sugerem que
a mesma é anterior à discussão sobre a presença e o uso de tecno-
logias digitais na educação pública brasileira e extrapola os limites.
1 Programa de Pós-Graduação em
Palavras-chave: Tendências pedagógicas. Resistência. Educação
Educação da Universidade Federal
de Goiás – Regional Jataí (UFG-
Básica. Tecnologias.
-REJ). Agência financiadora: Fun-
dação de Amparo à Pesquisa do
Estado de Goiás (FAPEG). mar- 1. INTRODUÇÃO
cia.pacheco@seduc.go.gov.br
2 Universidade Federal de Goiás Apresentamos uma revisão teórica sobre o campo educacional
– Regional Jataí (UFG-REJ). ro- brasileiro no século XX, investigando indícios de resistência à mu-
semaralopes.ufg@gmail.com dança, com prioridade para as tendências pedagógicas, e em que mo-

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 209


mento elas eclodiram. À palavra “resistência” Mantendo o foco no processo de incor-
atribuímos o sentido de rejeição ao novo. poração das TIC ao processo de ensino e
aprendizagem da educação pública brasilei-
A revisão é parte de uma pesquisa de ra, destacamos as tendências pedagógicas e
mestrado em andamento, que tem como ob- o fazer docente a elas subjacentes, conside-
jetivo geral investigar se a resistência ao uso rando sua reconfiguração histórica. Na pers-
das Tecnologias de Informação e Comuni- pectiva de Libâneo (1993, p. 52), tendência
cação (TIC) na educação existe em escolas pedagógica consiste no
estaduais de Goiás, confirmando o aponta-
do pela literatura educacional, e que relação [...] entendimento dos objetivos, con-
mantém com a formação continuada, e está teúdos e métodos da educação [que] se
relacionada a um dos objetivos específicos, modificam conforme as concepções de
que consiste em caracterizar a resistência ao homem e da sociedade que, em cada con-
texto econômico e social de um momento
uso das TIC no ambiente escolar, caso exista.
da história humana, caracterizam o modo
de pensar, o modo de agir e os interesses
De cunho quanti-qualitativo, a pesquisa das classes e grupos sociais [...] é sempre
abarca pesquisa bibliográfica, análise do- uma concepção da direção do processo
cumental e pesquisa de campo, esta última educativo subordinada a uma concepção
realizada por meio de questionário e entre- político-social.
vista semiestruturada.
A relação entre essas tendências e a re-
sistência às TIC na escola é objeto de dis-
2. JUSTIFICATIVA TEÓRICA cussão neste trabalho.

Ao longo do tempo, “a escola é um pro-


duto do processo de modernização”, (TE- 3. METODOLOGIA
DESCO, 2001, p. 11), sempre vinculada
entre a inclusão social e a própria constru- De acordo com Saviani (2013), Mana-
ção pessoal. Neste sentido, “os movimentos corda (2006) e Romanelli (2014), mudanças
educacionais não estão alheios a essa crise no campo educacional brasileiro acontece-
[...], e as respostas simples do passado não ram com maior intensidade a partir do Ma-
são mais suficientes para definir uma orien- nifesto dos Pioneiros da Educação Nova,
tação político-educacional que responda aos em 1932, considerado um marco.
objetivos de democracia e eqüidade na dis-
tribuição do conhecimento” (TEDESCO, Em vista desses pressupostos, realizamos
2001, p. 12). um resgate histórico no período do século
XX, priorizando os principais aspectos que
Pressupondo que escola não está à mar- geraram mudanças acentuadas no campo
gem da sociedade, do contexto atual desta- educacional.
camos as TIC e seu impacto sobre o proces-
so educativo, compreendendo que O resgate é feito por meio de revisão teó-
rica, engloba Libâneo (1992), Manacorda
[...] as tecnologias são tão antigas quanto (2006), Saviani (2013) e Romanelli (2014) e
a espécie humana. [...] O uso do raciocí- outros, desenvolvida, essa, conforme o per-
nio tem garantido ao homem um processo curso visualizado no Quadro 01.
crescente de inovações. Os conhecimentos
daí derivados, quando colocados em prá-
tica, dão origem a diferentes equipamen-
tos, instrumentos, recursos, produtos, pro-
cessos, ferramentas, enfim, a tecnologias.
(KENSKI, 2012, p. 15).

210 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


Quadro 01: Percurso metodológico da revisão teórica

Sequência Etapa Enfoque

Principais acontecimentos no campo educacio-


1ª parte Resgate histórico
nal brasileiro no século XX
Tendências pedagógicas do
2ª parte Contexto histórico e suas características
século XX
Momentos históricos que indicam a existência
3ª parte Resistência à mudança
de resistência às mudanças

Fonte: Elaboração própria.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 REFORMAS NO CAMPO EDUCACIONAL BRASILEIRO NO SÉCULO XX

Nas duas primeiras décadas do século XX, o campo educacional brasileiro passou por
reformas, como as verificadas no Quadro 02.

Quadro 02: Reformas educacionais na educação brasileira nas duas primeiras décadas do século XX

Ano Reforma Mudanças decorrente da Reforma

- Princípio de liberdade de ensino


Lei Orgânica do Ensino – Código
1901 - Equiparou as escolas privadas às oficiais
Epitácio Pessoa
(públicas)
- Liberdade de ensino
1911 Reforma Rivadávia Correa
- Desoficialização do ensino
- Reoficializou o ensino
1915 Reforma Carlos Maximiliano
- Introduziu o exame vestibular
- Introdução do regime seriado no ensino
1925 Reforma João Luís Alves
secundário

Fonte: Elaborado a partir de Saviani (2013, p. 170).

No início do século XX, “a pedagogia do orientação do novo governo de tratar a edu-


método intuitivo manteve-se como refe- cação como questão nacional” (SAVIANI,
rência durante a Primeira República, sendo 2013, p. 195-196).
que, na década de 1920, ganha corpo o mo-
vimento da Escola Nova, que já irá influen- Nesse período, líderes da época começa-
ciar várias das reformas da instrução pública ram a se reunir em torno de debates sobre a
efetivadas no final dessa década” (SAVIA- educação, de várias tendências, trabalhando
NI, 2013, p. 140). coletivamente. Segundo Saviani (2013), esse
grupo fundou a Associação Brasileira de
Entrando no Período da Segunda Repú- Educação (ABE), e, em 1927, organizou a I
blica, na década de 1930, tivemos a criação Conferência Nacional de Educação. Refle-
do Ministério da Educação e o ministro tindo a força dessa Associação, continuaram
“baixou um conjunto de sete decretos, co- a ocorrer, nos anos seguintes, as Conferên-
nhecidos como Reforma Francisco Campos cias Nacionais de Educação.
[...]. Com essas medidas resultou evidente a

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 211


acentuadamente o sistema educacional
Em 1932, um grupo de educadores pu-
das camadas populares. (ROMANELLI,
blica o Manifesto dos Pioneiros da Educa- 2014, p. 174, grifos da autora).
ção Nova, sobre o qual diz Saviani:

Dois aspectos marcam, portanto, a estru- Reforçando essa ideia, Libâneo (2012)
tura do texto do “Manifesto”: é por um diz que a
lado, um documento doutrinário e, por
outro, um documento de política educa- [...] escola brasileira em que, num extre-
cional. Como documento doutrinário, o mo, estaria a escola assentada no conheci-
texto declara-se filiado à Escola Nova. [...] mento, na aprendizagem e nas tecnologias,
Como documento de política educacional, voltada aos filhos dos ricos, e, em outro, a
mais do que a defesa da Escola Nova, está escola do acolhimento social, da integra-
em causa no “Manifesto” a defesa da escola ção social, voltada aos pobres e dedicada,
pública. (2013, p. 252-253) primordialmente, a missões sociais de as-
sistência e apoio às crianças. (LIBÂNEO,
2012, p. 16).
O Manifesto exerceu influência sobre
artigos da Constituição de 1934, como “o
Artigo 148, que afirma ser a educação di- Com o Período da Nova República, em
reito de todos e dever dos poderes públicos 1946, foi promulgada a nova Constituição,
proporcioná-la, concomitantemente com que resgatava algumas ideias dos Pioneiros
a família” (ROMANELLI, 2014, p. 155). da Educação, que, para Saviani (2013, p.
Entretanto, na Constituição de 1937 o Es- 281), consistem em: “concurso de títulos e
tado já não é mais obrigado a prestar ma- provas para o exercício do magistério, [...]
nutenção ao ensino público, dispondo sobre descentralização do ensino, [...], cooperação
os trabalhos manuais e enfatizando o ensino da União [...], vinculação orçamentária [...]
profissional. e competência da União para legislar sobre
as diretrizes e bases da educação nacional”.
Por iniciativa do então Ministro da Edu-
cação Gustavo Capanema, em 1942, foram Em 1948, o anteprojeto da Lei de Dire-
promulgadas “as leis orgânicas do ensino, trizes e Bases da Educação Nacional (LDB),
conhecidas como Reformas Capanema. foi encaminhado para a Câmara Federal,
Com isso, embora por reformas parciais, sendo que, só depois de 13 anos de muitas
toda a estrutura educacional foi reorganiza- discussões é que foi promulgada a primei-
da” (SAVIANI, 2013, p. 269). Nesse con- ra LDB, no ano de 1961, dispondo sobre o
texto, surgiram escolas profissionalizantes, Conselho Federal de Educação, a educação
como o Serviço Nacional de Aprendizagem propedêutica e a profissional e a elaboração
Industrial (SENAI) e o Serviço Nacional do Plano Nacional de Educação (PNE).
de aprendizagem Comercial (SENAC).
Segundo Romanelli (2014, p. 161), “na ver- Nessa época, Paulo Freire começou a
dade, [...], constituído de um objetivo novo trabalhar algumas ideias referentes à alfabe-
e bem característico do momento histórico tização, e, por isso, foi chamado para coor-
em que vivíamos, a lei nada mais fazia do denar o Plano Nacional de Alfabetização,
que acentuar a velha tradição do ensino se- interrompido pelo Golpe Militar, em 1964.
cundário acadêmico, propedêutico e aristo- A educação brasileira passou a ser coorde-
crático”. nada pelas forças armadas, em decorrência
dessa situação, universidades foram invadi-
[...] o sistema oficial de ensino, em seus ra- das, professores e alunos foram presos. Para
mos secundário e superior, continuou sen- Saviani (2013, p. 336) “a década de 1960 foi
do o sistema das elites, ou, ao menos, das época de intensa experimentação educativa
classes médias e altas, enquanto o sistema [experiência dos colégios vocacionais e de
“paralelo” de ensino profissional, ao lado
aplicação], deixando clara a predominân-
das escolas primárias, passou a ser mais
cia da concepção pedagógica renovadora”.

212 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


Neste período, também, ocorreu a Ação Po- Em 1967, foi criado o Movimen-
pular, manifestações populares de uma gera- to Brasileiro de Alfabetização (MO-
ção, que foi derrotada pela repressão. BRAL) e, em 1971, a segunda LDB, que
dispõe sobre a Educação Básica, forma-
De acordo com Romanelli (2014), neste ção de professores e disciplinas escola-
contexto de mobilização popular, de edu- res. Na perspectiva de Saviani (2013),
cação popular e de avanços tecnológicos, nessa época tem destaque a concepção
ocorreu um “crescimento da demanda social pedagógica tecnicista (objetiva e opera-
de educação, o que provocou, consequente- cional), a concepção analítica (clareza e
mente, um agravamento da crise do siste- consistência) e a visão crítico-reprodu-
ma educacional, [...], acabou por servir de tivista (crítica e reprodutivista). Desse
justificativa para a assinatura de uma série modo, para Saviani (1999), existem dois
de convênios [...] chamados ‘Acordos ME- grupos de teorias educacionais, indica-
C-Usaid’1” (ROMANELLI, 2014, p. 202). dos no Quadro 03.

Quadro 03: Teorias educacionais na estrutura da sociedade

Teorias não-críticas Teorias crítico-reprodutivistas

Teorias que entendem ser a educação um instru- Teorias que entendem ser a educação um instru-
mento de equalização social, portanto, de supera- mento de discriminação social, logo, um fator de
ção da marginalidade. marginalização.

A sociedade é concebida como essencialmen- A sociedade é concebida sendo essencialmente


te harmoniosa, tendendo à integração de seus marcada pela divisão entre grupos ou classes anta-
membros. gônicas que se relacionam à base da força.

Fonte: Elaborado a partir de Saviani (1999, p. 15-16.)

Por volta de 1980, foram definidas “as 3.2 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS EMER-
idéias que vieram a constituir a proposta GENTES NO SÉCULO XX
contra-hegemônica denominada ‘pedagogia
histórico-crítica’” (SAVIANI, 2013, p. 420).
O resgate histórico do século XX mos-
Assim, chegamos ao fim do século XX, tra que os acontecimentos sociais, políticos
com as reformas de ensino amparadas no e econômicos exerceram influência sobre o
prefixo “neo” (SAVIANI, 2013, p. 451), e, se- campo educacional. Consequentemente, as
gundo Saviani (2013, p. 449), no lema “quali- tendências pedagógicas decorrem das exi-
dade total”. Na perspectiva do autor, o século gências do período vivido.
se encerra sem um desfecho favorável para o
campo educacional brasileiro, devido à falta de Nessa perspectiva, no Quadro 04, traça-
“propostas concretas em defesa de uma educa- mos um paralelo entre as tendências peda-
ção pública de qualidade acessível a população gógicas, o contexto histórico e suas caracte-
brasileira” (SAVIANI, 2013, p. 451). rísticas.

1  Acordos MEC-Usaid são “convênios entre o


MEC e seus órgãos e a Agency for International
Development (AID) – para assistência técnica e
cooperação financeira dessa Agência à organiza-
ção do sistema educacional brasileiro” (ROMA-
NELLI, 2014, p. 202).

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 213


Quadro 04: Tendências pedagógicas no contexto histórico educacional brasileiro e suas características
Característica(s) da(s)
Tendência pedagógica Década(s) Contexto tendência(s)
pedagógica(s)
Ensino promovido
Tradicional 1550 a 1760 Repetitiva e mecânica
pelos jesuítas
Manifesto dos Pionei-
Renovadora 1930 Experimentação
Tendências liberais ros da Educação Nova
ou hegemônicas Manifesto dos Pionei-
Não diretiva 1930 Formação de atitudes
ros da Educação
1960, 1970 e
Tecnicista Regime Militar Técnicas específicas
1980
Libertadora 1970 e 1980 Fim do Regime Militar Tema gerador
Tendências pro- Autogestão e movimen-
Libertária 1980 Abertura democrática
gressistas ou con- to operário
tra-hegemônicas Histórico- Contexto cultural e
1980 Abertura democrática
crítica social

Fonte: Elaborado pela autora, a partir de: Libâneo (1992), Queiroz e Moita (2007),
Saviani (2013) e Libâneo (1992).

Portanto, o discurso pedagógico é sempre


Conforme verificado no Quadro 04, se- social, no sentindo de que tende, de uma
gundo Libâneo (1992), as tendências pedagó- lado, a considerar como sujeitos da educa-
gicas se dividem em dois grupos: as tendências ção as várias figuras dos educandos, pelo
liberais e as tendências progressistas. Percebe- menos nas duas determinações opostas de
mos que as tendências pedagógicas têm um usuários e de produtores, e, de outro lado, a
indicador referente ao momento histórico em investigar a posição dos agentes da educa-
ção nas várias sociedades da história. Além
que suas características começam a ser inse-
disso, é também um discurso político, que
ridas no campo educacional, no entanto, não reflete as resistências conservadoras e as
podemos afirmar que uma tendência pedagó- pressões inovadoras presentes no fato edu-
gica se esgota em decorrência do aparecimen- cativo e, afinal, a relação dominantes-do-
to de outra, considerando que as tendências minados. (MANACORDA, 2006, p. 6)
pedagógicas sofrem adequações ao longo do
tempo, como diz Saviani (2013, p. 446), “vão Nesse sentido, encontramos alguns indi-
metamorfosear-se”. cadores de resistência às mudanças no cam-
po educacional brasileiro, ao longo do sécu-
3.3 ELEMENTOS INDICATIVOS DE RESIS- lo XX, decorrentes de disputas pelo poder2,
TÊNCIA À MUDANÇA NO CAMPO EDUCA- do ensino público e/ou dos movimentos e
CIONAL BRASILEIRO reformas.

Um indício de resistência observado no


Como dito, ao longo do século XX, início do século XX está na fundação do Parti-
acontecimentos históricos ocorreram nos do Socialista Brasileiro, em 1902. Os partidos
campos social, político, econômico e educa- operários, segundo Saviani (2013, p. 182), co-
cional. Ao focalizarmos esses quatro cam- meçaram “reivindicando o ensino público, cri-
pos, percebemos que eles têm uma relação ticavam a inoperância governamental no que
de interdependência, pois a mudança em se refere à instrução popular e fomentavam o
um, afeta diretamente o outro. É justamente
no momento de mudanças que surgem as
contradições e as resistências. 2  Neste trabalho a palavra “poder” está relacio-
nada ao segmento dominante da sociedade bra-
sileira.

214 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


surgimento de escolas operárias e de bibliote- entre os católicos e os escolanovistas, com a
cas populares”. Neste cenário, as “pedagogias publicação do Manifesto dos Pioneiros da
do movimento operário” (SAVIANI, 2013, p. Educação Nova e a fundação da Confedera-
181) estiveram presentes no campo educacio- ção Católica Brasileira de Educação. Neste
nal brasileiro, no período referente à Primeira contexto, a resistência à mudança é explíci-
República (1889 a 1930). ta, seja por motivos religiosos ou políticos.
Como destaca Saviani (2013, p. 254), “a re-
Neste contexto, outro indício de resis- cepção foi polêmica”.
tência parte da Igreja Católica e do receio
de perder o poder perante a sociedade. Para o autor, nessa época, Anísio Teixei-
Assim, “A difusão da Escola Nova irá en- ra enfrentou vários obstáculos em função da
contrar resistência na tendência tradicional resistência das classes dominantes no Brasil,
representada, na década de 1930, hegemo- assim denominadas por Saviani (2013), em
nicamente pela Igreja Católica” (SAVIANI, relação às desigualdades sociais.
2013, p. 140). No entanto, “a resistência dos
católicos não chegou a impedir o avanço dos Portanto, as dificuldades enfrentadas pela
pioneiros, que, a partir do início da década educação vinham desses setores resisten-
de 1930, começaram a ocupar os principais tes às mudanças, os quais continuavam
postos da burocracia educacional” (SAVIA- controlando a sociedade brasileira. Anísio
identificava essas resistências também na
NI, 2005, p. 14).
forma como nosso processo político tinha
se organizado, cristalizando a tendência
Também gerou resistência à proibição dos políticos profissionais a utilizar o es-
do ensino religioso nas escolas públicas, o paço público e o poder público como ins-
que, segundo Saviani (2013, p. 180), concre- trumento de defesa de interesses, privados
tizou-se na chamada “resistência ativa”. o que conduzia a uma política clientelista
e personalista. Diante desse quadro colo-
Considerando a educação uma área estra- cava-se a questão de como encontrar me-
tégica, os católicos esmeraram-se em orga- canismos para se contrapor a essas tendên-
nizar esse campo criando, a partir de 1928, cias. (SAVIANI, 2013, p. 222).
nas diversas unidades da federação, Asso-
ciações de Professores Católicos (APCs)
A visão católica entendia que os pais ti-
que vieram a ser aglutinadas na Confe-
nham o direito de decidir sobre a educação
deração Católica Brasileira de Educação.
Com essa força organizativa, os católicos de seus filhos, enquanto o movimento esco-
constituíram-se no principal núcleo de lanovista defendia duas “bandeiras”: gratui-
idéias pedagógicas a resistir ao avanço das dade e obrigatoriedade.
idéias novas, disputando, palmo a palmo
com os renovadores, herdeiros das idéias Com o fortalecimento dos movimen-
liberais laicas, a hegemonia do campo tos populares, vinculados às ideias de Paulo
educacional no Brasil a partir dos anos de Freire, e a Ação Popular, houve, segundo Sa-
1930. (SAVIANI, 2013, p. 180). viani (2013, p. 339), um desmembramento
das ideias renovadoras, cujo desdobramento
Assim, temos mais um indício de re- apresentamos no Quadro 05.
sistência, pois, torna-se evidente o conflito

Quadro 05: Triplo desdobramento das ideias renovadoras no campo pedagógico

Pela esquerda Pelo centro Pelo direita

Educação popular Pedagogias não-diretivas Pedagogia tecnicista


Pedagogia da libertação Ensaios de experimentação

Fonte: Saviani (2013, p. 339).

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 215


[...] deslocando o eixo do processo educa-
No cenário dos anos de 1960, começa
tivo do aspecto lógico para o psicológico;
a emergir a crise da Pedagogia Nova, ten- dos conteúdos para os métodos; do profes-
do como pano de fundo a Guerra Fria e os sor para o aluno; do esforço para o inte-
avanços tecnológicos nos processos de co- resse; da disciplina para a espontaneidade.
municação, que desencadeiam uma corrente [...] [onde] o lema “aprender a aprender”
de pensamento sobre a escola e a educação, liga-se à necessidade de constante atuali-
entendendo que a escola não era a única res- zação exigida pela necessidade de ampliar
ponsável pelo processo da educação formal, a esfera de empregabilidade. (SAVIANI,
institucionalizada. Neste contexto, segun- 2013, p. 431-432).
do Saviani (2013, p. 345), são assinados os
“Acordos MEC-Usaid”, e em decorrência A resistência às mudanças torna-se mais
deste panorama, na perspectiva do autor, a evidente no fechamento do século, seja por
pedagogia tecnicista, entendida como “pres- discordar das propostas apresentadas, seja
suposto da neutralidade científica e inspirada pela disputa do poder, seja pela luta por uma
nos princípios de racionalidade, eficiência e escola pública, gratuita e obrigatória. Perce-
produtividade, [...] advoga a reordenação do bemos que o século XXI se inicia em pleno
processo educativo de maneira a torna-lo ob- conflito educacional, pois, ao longo de todo
jetivo e operacional” (SAVIANI, 1999, p. 23), o século XX, não foi possível organizar uma
torna-se a pedagogia oficial das escolas, pro- proposta educacional nacional que surtisse
vocando críticas e dando margem a estudos efeito positivo e que fosse aceita plenamente
chamados de tendência crítico-reprodutivista. pelos movimentos educacionais, “e até hoje
não conta com um sistema organizado em
Portanto, o mérito da tendência crítico- âmbito nacional” (SAVIANI, 2005, p. 267).
-reprodutivista foi dar sustentação teórica
para a resistência ao autoritarismo, para a
crítica à pedagogia tecnicista e para des- 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
mistificar a crença, bastante comum entre
os educadores, na autonomia da educação
Neste trabalho, buscamos identificar as
em face das relações sociais. (SAVIANI,
2013, p. 395). principais tendências pedagógicas que confi-
guram o pensamento educacional brasileiro
no século XX e localizar indícios de resistên-
A década de 1980 foi considerada por cia. Realizada a revisão da literatura pertinen-
Saviani (2013, p. 402) uma “década perdi- te, percebemos que a resistência existiu neste
da”, tanto no campo econômico, como no período, em contextos que envolviam: a dis-
campo educacional, apesar de grandes mo- puta pelo poder, os movimentos populares, a
vimentos educacionais, como as propostas defesa do ensino público, gratuito e obrigató-
das pedagogias contra-hegemônicas. rio, a laicidade do ensino e a erradicação do
analfabetismo. Estamos cientes de que os re-
Chega ao fim o século XX, com as ten- sultados apresentados podem variar conforme
dências já mencionadas e com as mudan- o referencial teórico abordado, ou seja, de que
ças no campo educacional, decorrentes da nossas escolhas teórico-metodológicas impac-
exigência de mão-de-obra cada vez mais tam sobre os resultados.
qualificada e preparada em menor tempo,
refletindo, como dito, a ideia da “qualidade Os indícios localizados no período ana-
total” (SAVIANI, 2013, p. 439), e sendo a lisado apontam: resistência da Igreja Cató-
educação considerada um investimento in- lica: receio de perder o poder perante a so-
dividual, na qual o indivíduo apenas adquire ciedade; resistência dos partidos operários:
um status de empregabilidade, mediante a receio de não ter acesso ao ensino público;
“metamorfose, a ressignificação do lema resistência à proibição do ensino religioso
‘Aprender a Aprender’” (SAVIANI, 2013, p. nas escolas públicas: disputa pela hegemo-
433), emergindo uma nova tendência, cha- nia do campo educacional no Brasil; resis-
mada de neoescolanovismo. tência em relação à organização do processo

216 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


político: disputa do espaço público como a exemplo da verificada com as tecnologias
instrumento de interesses privados; resis- na educação? Corresponde, essa, ao ranço
tência ao tecnicismo: receio de ser substituí- de uma época ou reflete e confirma o que
do pela máquina. afirma Tedesco (2001) sobre reação à mu-
dança dentro e fora do campo educacional?
Desse rol, destacamos a tendência tecni- Por ser novidade, dado permanecerem como
cista, emergente na década de 1970, época tal na rede pública, em especial no Estado
em que, devido ao processo de industrializa- de Goiás, serão as tecnologias alvo de eterna
ção e pelo fato de a educação ser entendida resistência? Estaria a resistência atrelada aos
como um investimento, alguns educadores interesses e, por conseguinte, ao poder de
tinham o receio de serem substituídos pela grupos dominantes, aqui concebido a partir
máquina, receio que ainda paira sobre a co- de Paro (2010)?
munidade escolar no século XXI, fomentan-
do a resistência ao uso das TIC no ensino, Conforme a literatura educacional,
sendo este o objeto da pesquisa de mestrado quando o assunto é aula com tecnologias di-
que atualmente desenvolvemos. gitais, dois extremos se evidenciam: os que
apoiam e os que rejeitam as TIC.
O exposto sugere que a resistência, ao
longo da história da educação brasileira no O exposto vem ao encontro da premissa
século XX, vem em decorrência de mudan- de que na educação a resistência não é prer-
ças, não quaisquer, mas aquelas que afetam o rogativa das tecnologias, isto é, a primeira
status quo vigente ou, no caso da educação, não existe somente em decorrência da se-
mudanças que afetam as certezas existentes, gunda. No contexto histórico abordado, a
traduzidas, essas, em práticas e concepções resistência se configura como reação, talvez,
validadas por determinado grupo. não à mudança, propriamente dita, mas à
alusão de uma suposta perda com a mesma.
Conforme Tedesco, assim emoldurado,
esse cenário Como dito, a pesquisa aqui abordada está
em andamento. Prosseguimos investigando.
[...] deixa transparecer que as atuais trans-
formações exigem novas posturas dos
atores educacionais, até porque o caráter 5. REFERÊNCIAS
sistêmico delas revela que conseguirão
melhores resultados as estruturas adequa-
BUENO, S. Minidicionário da Língua
das para a implementação das mudanças
Portuguesa. São Paulo: FTD, 2007.
que o momento histórico estiver indican-
do. [...] esperamos que estas mudanças não
se transformem em cortina de fumaça para KENSKI, V. M. Educação e tecnologias: o
abandonar o que alguns já chamam de ve- novo ritmo da Informação. 8. ed. Campinas,
lhos dogmas da educação pública, gratuita, SP: Ed. Papirus, 2012.
universal e obrigatória (2001, p. 10).
LIBÂNEO, J. C. Democratização da Es-
Ressalvadas as limitações do resgate his- cola Pública – a pedagogia crítico-social
tórico aqui empreendido, ele aponta que a dos conteúdos. São Paulo: Loyola, 1992.
resistência vem junto com processos de mu-
dança, sugerindo que todo e qualquer pro- LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cor-
cesso de mudança dentro e fora da educação tez, 1993.
traz como corolário a resistência.
______. O dualismo perverso da escola
Em outras palavras, em contextos de mu- pública brasileira: escola do conhecimento
dança surge a resistência. Se isto se confir- para os ricos, escola do acolhimento social
ma, o que pensar da resistência permanen- para os pobres. Educação e Pesquisa, São
te, que dura e perdura ao longo do tempo, Paulo, v. 38, n. 1, p. 13-28, 2012.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 217


MANACORDA, M. A. História da Edu-
cação: da antiguidade aos nossos dias. 12.
ed. São Paulo: Cortez, 2006.

QUEIROZ, C. T. A. P. MOITA, F. M. G. S.
C. As tendências pedagógicas e seus pres-
supostos. Campina Grande; Natal: UEPB/
UFRN, 2007.

ROMANELLI, O. O. História da Educa-


ção no Brasil. 40. ed. Petrópolis, RJ: Vozes,
2014.

SAVIANI, D. Educação socialista, peda-


gogia histórico-crítica e os desafios da so-
ciedade de classe. In: LOMBARDI, J. C.;
SAVIANI, D. (Orgs). Marxismo e educa-
ção: debates contemporâneos. Campinas:
Autores Associados, 2005. p. 224-274.

______. Escola e democracia. 32. ed. Cam-


pinas, SP: Autores Associados, 1999.

______. História das idéias pedagógicas


no Brasil. 4. ed. Campinas, SP: Autores As-
sociados, 2013.

PARO, V. H. Educação como exercício do


poder: crítica ao senso comum em educa-
ção. 2. ed. 2. reimpr. São Paulo, SP: Editora
Cortez, 2010.

TEDESCO, J. C. O novo pacto educati-


vo: educação, competitividade e cidadania
na sociedade moderna. 3. reimpr. São Paulo:
Ática, 2001

218 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


WEBQUEST NO ENSINO DE
BIOLOGIA: UM ESTUDO DE CASO
COM ALUNOS DO ENSINO MÉDIO
BARROS, Raquel Rodrigues1; GREGÓRIO, Jordanna Sebastiana2

Resumo: A inclusão das Tecnologias da Informação e Comuni-


cação (TIC) na atual sociedade implica um desafio para todas as
áreas de conhecimento, principalmente para a educação. Neste
sentido, a webquest surge como uma estratégia didática que utiliza
a internet no ensino-aprendizagem. O trabalho teve como objetivo
investigar as potencialidades e desafios da utilização da webquest
como recurso didático no ensino de Biologia, para uma turma do
2° ano do ensino médio de uma escola pública de Nova Xavanti-
na – MT. Para atingir o objetivo explicitado, orientamo-nos pelos
preceitos da pesquisa qualitativa. Utilizamos como instrumentos
para coleta de dados a observação e o questionário. Para a análise
dos dados foi utilizada a análise de conteúdo. Para a criação da
webquest, utilizamos o site “Webquest fácil”. Os estudantes, durante
três dias, envolveram-se com as atividades propostas sobre os con-
teúdos “Platelmintos e Nematelmintos” para realizarem as ativida-
des prescritas na webquest. Apontamos como resultados, que esse
recurso foi positivo para o desenvolvimento do ensino de Biologia,
pois demonstrou ser um suporte pedagógico que possibilitou a
pesquisa orientada utilizando a internet, de forma a proporcionar
uma forma de aprendizagem confiável.

Palavras-chave: Ensino de Biologia. Tecnologias na educação.


Webquest.

1 Graduada em Ciências Biológi- 1. INTRODUÇÃO


cas pela Universidade do Estado
de Mato Grosso – Campus de
Nova Xavantina. E-mail do autor:
No contexto educacional, o computador é uma ferramenta
raquelbr_nx@hotmail.com nova que pode e deve auxiliar nas atividades educacionais, propor-
cionando novas possibilidades de aprendizagem. A inclusão das
2 Docente do Curso de Licencia- Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), nas diversas
tura Plena em Ciências Biológi-
esferas sociais, implica um desafio para todas as áreas de conhe-
cas da Universidade do Estado de
Mato Grosso – Campus de Nova cimento, principalmente no campo educacional, uma vez que o
Xavantina. E-mail do autor: gre- processo de ensino-aprendizagem necessita atender às exigências
goriojordanna@gmail.com. desse mundo tecnológico (ALMEIDA, 2015).

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 219


A integração das TIC, principalmente alunos indicadores (qualitativos e quantitati-
da internet, no currículo escolar e nas prá- vos) pelos quais serão avaliados e, por último,
ticas de sala de aula, pode fornecer aos estu- vi) a conclusão que proporá um desfecho.
dantes um ambiente propício ao desenvol-
vimento de uma aprendizagem significativa Frente às possibilidades de utilização da
e colaborativa. Neste contexto, a webquest webquest na educação, o problema que mo-
surge como uma estratégia inovadora capaz tivou e orientou esta pesquisa pode ser ex-
de facilitar a aprendizagem dos alunos, sen- presso na seguinte pergunta: quais as contri-
do uma metodologia de ensino que tende buições da webquest como recurso didático
a estimular competências intelectuais mais no ensino de Biologia?
complexas em colaboração entre os colegas
(ABAR; BARBOSA, 2008). Em consonância com a questão de pes-
quisa, o objetivo geral foi investigar as po-
Segundo Abar e Barbosa (2008, p. 11), tencialidades e desafios da utilização da
a “webquest é uma atividade didática, estru- webquest como recurso didático no ensino
turada de forma que os alunos se envolvam de Biologia, em uma escola pública, com
no desenvolvimento de uma tarefa de in- alunos do segundo ano do ensino médio, no
vestigação usando principalmente recursos município de Nova Xavantina-MT.
da Internet”. Autores como Barato (2004)
e Barros (2005) concordam que a webquest Os objetivos específicos foram identificar
é uma atividade que utiliza a internet para o para qual finalidade os participantes mais
ensino, estimulando nos alunos a criativida- utilizam a internet em seu cotidiano; verificar
de, motivação, promovendo a cooperação, a a familiaridade dos participantes em relação
interatividade, a aprendizagem colaborativa, à webquest; elaborar e aplicar uma webquest
a pesquisa, o senso crítico e a parceria aluno relacionada aos conteúdos de Biologia; e ana-
e professor. lisar a opinião dos alunos em relação à parti-
cipação na atividade da webquest.
A webquest surgiu em 1995, quando o
professor Bernie Dodge, da Universidade Justificamos a importância da pesquisa,
Estadual de San Diego nos Estados Uni- pois buscou identificar e aperfeiçoar a utiliza-
dos, preocupado com o papel do educador ção de recursos tecnológicos no processo de
na atualidade, apresentou uma ferramenta ensino-aprendizagem, visando a compressão
desenvolvida para uma nova proposta de dos alunos mediante o processo de pesquisa
ensino. Segundo ele, essa proposta visa- e construção do seu próprio conhecimento.
va revolucionar o processo pedagógico de
modo que o professor não fosse mais a fi- Ressaltamos que este trabalho é um re-
gura transmissora de conhecimento na sala corte do trabalho de conclusão de curso in-
de aula, mas sim mediador do processo de titulado “Utilização da webquest no ensino
ensino-aprendizagem, pois “o objetivo dos de biologia: um estudo de caso com alunos
professores não é a transmissão, é a trans- do segundo ano do ensino médio”, apre-
formação, e o papel deles é reunir fontes de sentado ao curso de Licenciatura Plena em
conhecimento para os alunos e ajudá-los a Ciências Biológicas da Universidade do Es-
usá-las” (DODGE, 1995, p. 1). tado de Mato Grosso.

Para Dodge (1995), uma webquest deve


ter uma estrutura lógica que contém os se- 2. METODOLOGIA
guintes componentes básicos: i) introdução
do tema a ser tratado, ii) tarefa executável,
iii) processo que orientará os alunos na rea- 2.1 CARACTERIZAÇÕES DA PESQUISA
lização da tarefa, iv) os recursos que estarão
disponíveis na web para a produção do co- Para atingir os objetivos, orientamo-nos
nhecimento, v) a avaliação que fornecerá aos pelos preceitos da pesquisa qualitativa. Jus-

220 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


tificamos a opção metodológica da pesqui- riormente, elaboramos e agrupamos as uni-
sa, pois, na investigação qualitativa, os dados dades de registro, estabelecendo categorias.
colhidos não são expressos somente através
de números; o foco principal da pesquisa, na
abordagem qualitativa, são as falas e as escri- 2.2 ÁREA DE ESTUDO
tas dos sujeitos que podem ser expressas nos
registros escritos (BOGDAN; BIKLEN, A presente pesquisa foi realizada com
1994; LÜDKE; ANDRÉ, 1986). uma turma do segundo ano do ensino mé-
dio de uma escola pública estadual, localiza-
A presente pesquisa caracterizou-se da no município de Nova Xavantina, Mato
como estudo de caso. Segundo Lüdke; An- Grosso, com a maioria dos alunos perten-
dré (1986), o estudo de caso como estratégia centes a famílias de classe média/baixa. A
de pesquisa é o estudo de um caso, simples escola dispõe de uma sala de informática
e específico ou complexo e abstrato e deve com 12 computadores com sistema opera-
ser sempre bem delimitado. Pode ser seme- cional Windows XP, ligados em rede.
lhante a outros, mas é também distinto, pois
tem um interesse próprio, único, particular e
representa um potencial na educação. 2.3 A AMOSTRA

Utilizamos como instrumentos para co- A turma participante era constituída


leta de dados a observação e o questionário. por 24 alunos, sendo 14 do sexo feminino
Nesse sentido, buscamos observar todas as e 10 do sexo masculino. A faixa etária da
ações dos participantes no decorrer da ação. amostra compreendia entre 15 e 17 anos. A
Essas observações foram descritas em notas referida turma foi selecionada para o desen-
de campo, procurando detalhar o máximo volvimento da atividade, uma vez que já es-
possível tudo o que ocorreu durante as aulas tava sendo acompanhada pela pesquisadora
em que a webquest foi aplicada. durante a disciplina de Estágio Curricular
Obrigatório.
Foram elaborados dois instrumentos, sen-
do o primeiro aplicado aos participantes antes
da execução da webquest, o qual foi composto 2.4 A CONSTRUÇÃO DA WEBQUEST
por 7 questões descritivas, que tinham o intui-
to de auxiliar na caracterização e descrição dos Para a criação da webquest, utilizamos o
sujeitos, bem como realizar um levantamento site “Webquest fácil”. Optamos pela utiliza-
sobre o conhecimento prévio dos participan- ção do referido site, uma vez, que existem
tes em relação a webquest e a utilização da in- páginas para construção que exigem auto-
ternet por parte da amostra. rização do administrador, o que demanda
tempo, podendo chegar a meses para serem
O segundo instrumento era composto liberadas, dessa forma optamos por esse site,
por 5 questões de múltipla escolha, o qual pois o mesmo exige cadastro de um e-mail
foi aplicado aos participantes depois da rea- e senha e quase que imediatamente a plata-
lização das atividades da webquest e tinha forma de construção já está liberada.
como intuito verificar a opinião dos parti-
cipantes em relação utilização do recurso no Como relatado anteriormente, uma we-
ensino dos conteúdos. bquest deve ser estruturada a partir de um
tema central, que leve o aluno a se motivar
Para a análise dos dados foi utilizada a pelo mesmo, onde o professor assume a
análise de conteúdo. A luz dos referenciais posição de orientador/mediador e o aluno
teóricos de Bardin (2011), inicialmente numa função ativa no processo de apren-
realizamos uma pré-análise do material, dizagem. Neste sentido, inicialmente esco-
selecionando os documentos que seriam lhemos o tema da webquest, “Platelmintos e
analisados e formulando hipóteses. Poste- Nematelmintos”. Na sequência, buscamos a

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 221


inclusão de imagens e materiais para pes- 2.6 APLICAÇÃO DA WEBQUEST
quisa de fontes seguras para desenvolvi-
mentos das tarefas e conclusão da webquest. Durante três dias, os estudantes en-
volveram-se com as atividades propostas
Após a elaboração, a webquest foi dispo- sobre os conteúdos “Platelmintos e Ne-
nibilizada na plataforma educacional para matelmintos” para realizarem as atividades
que os alunos, na prática, desenvolvessem prescritas na webquest.
as atividades on-line, como visualizado na
Figura 1. Os alunos se deslocaram da sala de aula
para o laboratório de informática, onde foi
explicado a eles de forma simples e objetiva
o que era uma webquest, como funcionaria
e como realizariam as tarefas propostas. Os
alunos foram divididos em grupos devido
à quantidade de computadores presente na
sala de informática, em seguida foi apresen-
tada a introdução sobre Platelmintos e Ne-
matelmintos.

Na sequência os alunos foram convida-


dos a realizar a Tarefa 1, a qual solicitava
Figura 1 - Layout final da webquest. eles pesquisassem as principais característi-
cas dos Platelmintos e Nematelmintos.

2.5 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS No segundo dia, novamente no labora-


tório de informática, os alunos retomaram
A webquest intitulada “Platelmintos e as atividades propostas. Separados ainda em
Nematelmintos” foi desenvolvida para ser grupos, eles realizaram a Tarefa 2. A pro-
aplicada em três encontros, sendo classifica- posta foi pesquisar com base nos links dis-
da, portanto, como uma webquest curta. En- ponibilizados na webquest as doenças cau-
tende-se por webquest curta, quando ocupa sadas por Platelmintos e Nematelmintos.
de uma a três aulas e tem como objetivo a Cada grupo ficou responsável por pesquisar
obtenção e integração de conhecimentos. um tipo de doença e responder no caderno
Já uma webquest longa constitui-se como com clareza e fundamento.
aquela, que leva de uma semana a um mês
para ser explorada pelos alunos, e tem como Ainda no segundo dia os alunos reali-
objetivo a extensão e o aprimoramento de zaram a Tarefa 3, que compreendia a par-
conhecimentos (PEREIRA, 2008). ticipação em um Quizz on-line. O Quizz
era composto por 12 perguntas de todo o
Escolhemos o tema da webquest “Platel- conteúdo sobre Platelmintos e Nematel-
mintos e Nematelmintos”, uma vez que este mintos, de forma que o grupo que acertasse
tema já seria usado para o desenvolvimento o número maior de questões, ganhava um
do Estágio Curricular Supervisionado na prêmio. Ao final da Tarefa 3, foi explicado
escola e sendo assim aproveitando o uso do como funcionaria a quarta e última tarefa
tema para criação e aplicação da webquest da webquest,
para a coleta de dados. Após a elaboração, a
webquest foi disponibilização na plataforma A Tarefa 4 consistia em apresentar um
educacional para que os alunos, na prática, seminário sobre as principais doenças cau-
desenvolvessem as atividades on-line. sadas por Platelmintos e Nematelmintos.
Para esta atividade os alunos foram dividi-
dos em oito grupos de três a quatro alunos.
Todas as informações necessárias para rea-

222 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


lização da atividade estavam disponíveis na concordamos com Santana; Rossini; Pretto
webquest, tanto no que diz respeito a avalia- (2012, p. 12) ao afirmar que “é preciso refle-
ção da tarefa, quanto ao material disponível tir sobre as relações entre as tecnologias di-
para a pesquisa dos grupos. gitais e a educação, e novas formas de pensar
a própria educação no seio da sociedade in-
formacional”.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo Almeida (2009), os adolescen-
3.1 A UTILIZAÇÃO DA INTERNET tes de hoje vivem mergulhados no mundo
PELOS ALUNOS digital, pois pertencem à geração conecta-
da, e a cada dia acentua-se a distância entre
Antes de aplicarmos a webquest procu- as novas tecnologias que surgem e a escola,
ramos realizar um diagnóstico da amostra, devido às dificuldades ainda não superadas
a fim de identificarmos alguns fatores im- pelos sistemas de ensino para incorporá-las
portantes no que diz respeito à utilização às atividades da escola.
da internet pelos alunos. Desta forma, apre-
sentamos, neste tópico, a resposta dos alu- 3.2 OPINIÕES DOS ALUNOS SOBRE A
nos em relação a três perguntas realizadas UTILIZAÇÃO DA WEBQUEST NO ENSINO
por meio questionário inicial, sendo elas: se DA BIOLOGIA
os participantes tinham acesso à internet e
quais os locais onde mais utilizavam; para Após a aplicação da webquest foi solici-
qual finalidade os participantes mais utili- tado aos alunos que respondessem ao ques-
zam a internet e se possuíam familiaridade tionário final, a fim de avaliarmos a opinião
com o recurso webquest. dos participantes em relação à utilização do
recurso no ensino do conteúdo da Biologia.
De acordo com as respostas, identifica-
mos que os alunos possuem acesso à inter- O primeiro critério foi verificar a opinião
net. Em relação ao local em que se conec- dos participantes em relação à atividade,
tam a internet, os participantes apontaram sendo que poderiam escolher as seguintes
os mais variados locais como a própria re- alternativas: ótima, criativa, boa, regular ou
sidência, nos vizinhos, casas de amigos, lan- ruim. As respostas dos alunos foram descri-
chonetes, entre outros. tas na Tabela 1.

No que diz respeito às motivações que os Tabela 1 - Opinião dos participantes sobre a
levam ao acesso à internet, a maioria afirmou atividade webquest.
que utiliza a internet para ter acesso às redes
sociais, como Facebook, WhatsApp ou jogos, Quantidade de
Categorias
respostas
sendo que poucos afirmaram utilizar a inter-
net para pesquisas de atividades escolares. Ótima 2

Sobre a familiaridade dos alunos com Criativa 9


o recurso webquest, identificamos que ape-
nas um aluno que respondeu o questioná- Boa 1
rio, tinha conhecimento sobre o que é uma
webquest, mas que nunca havia utilizado, os Regular 2
demais nunca tiveram conhecimento sobre
Ruim 0
uma webquest.

Estes resultados demonstram que a Como podemos observar a maioria dos


maioria dos alunos tem acesso à internet alunos consideraram o recurso da webquest
e ficam conectados boa parte de seu dia. como interessante.
Levando em consideração este contexto

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 223


A webquest chama a atenção dos alunos, mática, para que os alunos possam aprender
pois por meio da montagem das webpages, também por meio do computador, ultrapas-
podemos ter ilustrações contextualizadas, de sando as aulas tradicionais.
forma que as páginas fiquem graficamente
mais atrativas. Segundo Castro; Tavares O terceiro critério tinha como objetivo
(2005) é inegável o fato de as webquests de verificar entre os participantes qual a
apresentarem uma boa solução de apoio ao parte da webquest que eles mais gostaram,
ensino, uma vez que não preveem a aqui- sendo que as respostas podem ser verifica-
sição de conhecimento através da memori- das na Tabela 3.
zação, mas antes por meio de um processo
evolutivo em que se estimulam as capacida- Tabela 3 - Opinião dos participantes em relação à
des de análise, de síntese e de pesquisa. atividade da webquest que mais agradou.
Quantidade de
O segundo critério tinha a finalidade de Categorias
respostas
verificar como os alunos percebiam a im- Pesquisar sobre os sistemas bio-
portância do desenvolvimento de atividades lógicos dos Filos Platelmintos e 8
realizadas como a webquets em sala de aula. Nematelmintos
As respostas a esta questão foram demons- Pesquisar sobre as doenças
tradas na Tabela 2. causadas sobre os Platelmintos 3
e Nematelmintos
Tabela 2 - Opinião dos participantes em relação à Resolução do Quizz 2
importância do desenvolvimento da webquest. Elaboração e Apresentação dos
seminários sobre as doenças
Quantidade de 1
Categorias causadas por Platelmintos e
respostas Nematelmintos
Importantes, porque saem da
4
rotina da sala de aula
Interessantes, porque utilizam o
10
computador e a internet Durante essa atividade, observamos que
Sem importância, por que não os alunos se sentiram mais à vontade por
acrescentam em nada de útil à 0 praticarem atividades em coletividade e ti-
vida escolar veram mais opções de links para a pesquisa
Desinteressantes, porque não na internet. Outro fator que identificamos
contém nada de novo e moti- 0 foi que os alunos gostaram dos materiais se-
vador
lecionados para pesquisa, por apresentarem
informações de forma clara e objetiva, des-
pertando o interesse pela pesquisa sobre a
Os resultados apontaram que a maio- diversidade no ambiente virtual, o qual dis-
ria dos alunos considerou a importância da ponibiliza textos e vídeos de forma interati-
webquest por utilizarem o computador e a va e dinâmica.
internet. Todos temos interesses pelo uso
da internet e quando utilizamos uma aula Segundo as autoras Silva; Farias (2011),
diferenciada para os alunos tirando eles da ao percorrerem tais recursos propostos pelo
rotina da sala de aula e conduzindo para o objeto, os alunos declararam que a apren-
laboratório de informática, dando liberdade dizagem estava ocorrendo de forma mais
a eles para experimentarem esses recursos, agradável, uma vez que as informações fo-
ficam extremamente satisfeitos e interessa- ram oferecidas em diferentes linguagens:
dos. verbal, verbo-visual e imagética.

Segundo Souza (2013), o computador é O quarto critério questionava os alunos


utilizado como uma ferramenta pedagógica, sobre o interesse deles em realizar outras
e as escolas devem se adequar a essa situa- atividades como esta. As respostas podem
ção, disponibilizando laboratórios de infor- ser analisadas na Tabela 4.

224 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


Tabela 4 - Opinião dos participantes em relação à uma turma de segundo ano do ensino mé-
utilização da webquest em atividades futuras. dio de uma escola pública de Nova Xavan-
Quantidade de tina – MT.
Categorias
respostas
Sim 10 Em relação à construção da webquest
Não 0
verificamos que este processo demanda
tempo e dedicação. A questão não está
Talvez 4
ligada ao simples domínio da tecnologia,
mas à elaboração de uma atividade que es-
timule o aluno a pesquisar, estudar, encon-
Identificamos que boa parte dos alunos trar soluções para o desafio proposto e que
tem interesse em participar de atividades o aluno consiga realizá-la.
envolvendo o recurso da webquest futura-
mente. Para as autoras Pereira; Melo (2010), Antes de aplicarmos o recurso da web-
a utilização de tecnologias computacionais quest buscamos realizar um diagnóstico com
possibilita a realização de processos mais os participantes e identificamos que todos
criativos, oportunizando aprendizagem mais os alunos têm acesso à internet nos mais
ativa aos alunos e, dessa forma, consiste em variados locais e ficam conectados durante
reforçar as capacidades do sujeito para ele boa parte do seu tempo. A tecnologia faz
próprio gerir seus projetos, seus progressos, parte do dia a dia das crianças, adolescentes
suas estratégias diante das tarefas e dos obs- e adultos, porém esse contexto ainda não foi
táculos, ou seja, toda ação educativa somen- inserido no contexto escolar.
te pode estimular o autodesenvolvimento e
a autoaprendizagem, modificando seu meio, Outro fator que identificamos é que
entrando em interação com ele. quando essas tecnologias são aplicadas de
forma a desenvolver nos alunos a autonomia
Como última questão do questionário fi- de construírem seus conhecimentos de for-
nal, os participantes deveriam comentar, de ma colaborativa, como no caso da presente
forma discursiva, sobre sua opinião em rela- pesquisa, esses sujeitos sentem muitas difi-
ção à utilização da webquest na aprendiza- culdades, pois essa não é uma metodologia a
gem do conteúdo trabalhado (Platelmintos qual esses sujeitos estão acostumados e sim
e Nematelmintos). a simples memorização dos conteúdos.

Obtivemos como resultado desta per- Outra verificação ao utilizar a webquest


gunta que os participantes gostaram muito como recurso digital foi a forma em que
dessa atividade, considerando-a como uma ocorreu aprendizagem colaborativa entre os
forma diferente e inovadora que possibilitou alunos, na qual o trabalho em grupo favore-
entender melhor o conteúdo, uma vez que ceu a troca de discussões tendo o professor
orientou os participantes nas pesquisas rela- como mediador.
cionadas aos conteúdos estudados.
Diante de toda a reflexão exposta, pro-
pomos maior aprofundamento sobre a efi-
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS cácia do uso da webquest como ferramenta
nas práticas pedagógicas, de modo a pro-
Buscamos, durante a realização desta porcionar um ambiente capaz de promo-
pesquisa, responder quais as contribuições ver aprendizagem de forma colaborativa.
da webquest como recurso didático no ensi- Acreditamos que o uso de webquest pode
no de Biologia. Neste sentido, propusemos contribuir para uma aprendizagem real,
como objetivo investigar as potencialidades desde que seja utilizada na construção do
e desafios da utilização da webquest como conhecimento e não para simples repro-
recurso didático no ensino de Biologia, para dução de saberes.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 225


5. REFERÊNCIAS DODGE, Bernie. Webquest: uma téc-
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226 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


Eixo VII
Educação e Meio Ambiente

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 227


CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL NO
ENSINO DE QUÍMICA: ABORDAGEM DO
TEMA RESÍDUOS NA AGRICULTURA
ALMEIDA, Juliano da Silva Martins1; RIBEIRO, Geize Kelle Nunes2; SILVA, Pedro Augusto Sardinha3;
CARVALHO, Camila Alves de4 , SOUZA, José1; PEREIRA, Maria2

1. INTRODUÇÃO

O desenvolvimento científico e tecnológico vivenciado nas últi-


mas décadas tem provocado alterações significativas no meio am-
biente, trazendo à atualidade reflexões e questionamentos quanto
ao verdadeiro papel da educação na sociedade, ou seja, como agen-
te transformador e auxiliar na preservação do meio ambiente.

Historicamente, a Revolução Verde iniciada em meados de


1940, proporcionou o desenvolvimento da agricultura em diversas
regiões do planeta. O uso de sementes modificadas, maquinários
agrícolas resistentes aos diversos tipos de terrenos e a dependência
maciça de fertilizantes aplicados diretamente no solo, elevaram a
produtividade agrícola de várias culturas, impulsionando, ainda, o
aumento das áreas de plantio. Com isso, surgiram problemas am-
bientais decorrentes do mal uso do solo, como, por exemplo, a de-
gradação de sua estrutura físico-química. Desde então, foi crescen-
te a busca pelo aumento da produtividade agrícola, sem a devida
preocupação para com o solo (KAMOGAWA, 2003).

Nesse contexto, é interessante destacar que, na antiguidade, o


solo era considerado um recurso renovável. Sua utilização maciça
1 Instituto Federal de Educação, pelos agricultores ao longo dos séculos ocasionou a poluição de
Ciência e Tecnologia Goiano – suas camadas mais profundas pelo excesso de insumos agrícolas
Campus Iporá. E-mail do autor: decorrentes da Revolução Verde, ou ainda, seu empobrecimento
juliano.almeida@ifgoiano.edu.br; mineral (FAVARETTO; DIECKOW, 2007).
2 Universidade Federal de Goiás
– Regional Catalão. E-mail do au- O solo é um dos principais recursos naturais. Ele permite o
tor: geize_ribeiro@hotmail.com; cultivo de plantas, permanência e sobrevivência de diversos seres
3 Instituto Federal de Educação,
vivos, é reservatório de recursos naturais como a água e minérios,
Ciência e Tecnologia Goiano – além de permitir ao homem o desenvolvimento de diversas ativi-
Campus Iporá. E-mail do autor: dades. Logo, entende-se que cuidar do solo significa cuidar da pró-
pedroaugusto.ss2014@gmail.com; pria vida terrestre e da subsistência das espécies animais e vegetais
que dele dependem.
1 Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia Goiano –
Campus Iporá. E-mail do autor: Para Rocha (2015), a forma acelerada com que a degradação
carvalho.c.alves@gmail.com; dos solos tomou forma nas últimas décadas, despertou-se, na so-

228 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


ciedade, a necessidade de se desenvolver a Nesse sentido, compreendemos que a
Educação Ambiental em ensino de solos. disciplina de Química pode ser utilizada
Entendemos que a educação possui verten- como um instrumento capaz de entrelaçar
tes imprescindíveis para esse processo, po- os conhecimentos científicos com a con-
dendo oferecer instrumentos de elaboração vivência ambiental, já que muitos dos seus
e modificação de valores, condutas e atitu- conteúdos se encaixam nessa temática. As-
des. A abordagem pedológica na Educação sim, o presente trabalho buscou desenvolver
Ambiental é recente e ainda pouco utilizada a conscientização ambiental dos participan-
(MUGGLER et al., 2006). tes quanto ao solo, seu uso e a utilização de
resíduos na agricultura, promovendo a (re)
Ao discorrer sobre a influência do solo construção de conceitos sobre sustentabili-
no cotidiano, nota-se a necessidade de re- dade e Educação Ambiental.
conhecê-lo como um recurso essencial para
a sobrevivência das espécies, pois ele tem
papel fundamental na sustentabilidade do 2. METODOLOGIA
meio ambiente (FAVERO, 2014). Desse
modo, percebe-se que é necessário fomentar O presente trabalho, de caráter qualita-
a sensibilização das pessoas em relação ao tivo, foi desenvolvido no Instituto Federal
solo, considerando a sustentabilidade como de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano,
valores étnicos a serem cumpridos, diante Campus Iporá, na forma de minicurso, com
da desvalorização na qual se encontra este 20 alunos do 1° ano do Ensino Médio Inte-
recurso natural (MUGGLER et al., 2006). grado ao curso Técnico em Química.

A conservação do solo é o alicerce da As atividades de ensino foram com-


sustentabilidade do meio ambiente, e o es- preendidas por aulas expositivas dialogadas
tudo científico proporciona a aquisição de sobre os conteúdos: resíduos, classificação e
informações sobre o papel que exerce na problemática; solo, sustentabilidade e meio
natureza, demonstrando sua importância na ambiente; aplicação dos resíduos de escó-
sociedade (BECKER, 2005). rias siderúrgicas e gesso na agricultura; e,
demonstração visual dos resíduos para os
Seguindo esse intuito, o desenvolvimen- participantes.
to da Educação Ambiental nas escolas, por
meio de temas geradores de aprendizagem, Os dados foram coletados por meio da
como o solo, tem o papel de transformar e aplicação de questionários discursivos, nos
preparar cidadãos responsáveis para as ques- quais, buscou-se compreender as concep-
tões ambientais ( JACOBI, 2003). O solo ções dos participantes sobre “o uso de resí-
pode ser utilizado como proporcionador duos na agricultura”, além de outros termos
da interdisciplinaridade, possibilitando ao relacionados à temática, como por exemplo,
professor desenvolver ideias sobre este, em “uso sustentável do solo”, “degradação do solo”,
muitas áreas do conhecimento, pois se pode “compreensão do termo resíduos”.
articular as demais áreas do saber científico
com o tema (LIMA, 2005). Para análise dos dados e escrita dos re-
sultados, realizou-se a análise dos fragmen-
O descarte cotidiano de resíduos urba- tos de falas de dez participantes escolhidos
nos e industriais no solo caracteriza-se como aleatoriamente. Desse modo, os partici-
um dos principais impactos ambientais cau- pantes foram identificados com a letra P e
sados neste recurso natural. Essa problemá- um número de 0 a 10. Quando necessário,
tica pode ser trabalhada em sala de aula por adotou-se a análise do discurso para melhor
meio da Educação Ambiental, sendo agente interpretação dos resultados.
transformador de atitudes e valores, alertan-
do as gerações do presente sobre causas e
consequências da degradação ambiental.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 229


3. DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS vimento de trabalhos no contexto escolar, e
que tratem das questões ambientais atuais.
Discussões sobre sustentabilidade têm Contudo, é interessante reforçar ainda que,
permeado diferentes espaços na atualidade, a maioria dos participantes faz a associa-
o que pode ser justificado pela constante de- ção do termo com “uso consciente” e “sem
gradação que alguns recursos naturais que agressão”, indicando a adoção de práticas
vêm sofrendo nas últimas décadas, como por ambientais conscientes. Desse modo, uma
exemplo, a contaminação de lençóis freáti- melhor compreensão sobre as concepções
cos, o uso indiscriminado da água pelo meio dos participantes sobre “uso sustentável do
urbano ou rural. Segundo Gadotti (2008), solo”, pode ser visualizada em alguns frag-
sustentabilidade é equilíbrio dinâmico com mentos de falas a seguir:
o outro e com o meio ambiente, é harmonia
entre os diferentes. Logo, a sustentabilidade “O uso sustentável do solo, está ligado ao modo
sendo um tema tão questionado e signifi- como os produtores o utilizam para efetuar a
cativo, tem com ela um importante compo- plantação de grãos, os quais os métodos utili-
nente educativo que deve ser trabalhado nas zados devem causar mínimo ou nenhum dano
ao solo”. (P1)
escolas a fim de que os alunos possam iden-
tificar quais as mudanças de hábito cultural “Ouvi falar algumas vezes. São formas de
precisam ser realizadas para a preservação utilizar o solo sem prejudicar o meio ambien-
do ecossistema, além disso, pode proporcio- te, muitas vezes com o uso de resíduos descar-
nar uma educação formadora e consciente. tados que podem ser utilizados como adubo”.
(P4)
Nesse sentido, os participantes foram
questionados inicialmente sobre o termo “É usufruir do solo com sabedoria, ou seja, ao
“uso sustentável do solo”. Buscando agrupar mesmo que eu estou usufruindo do solo eu es-
teja cuidando dele, fornecendo minerais para o
inicialmente as concepções verificadas, no-
solo produzir com qualidade.” (P5)
ta-se na Figura 1 que, 40% acreditam que o
termo destacado refere-se ao manejo cons- “Em minha opinião é o ato de manejar o solo
ciente do solo, 20% fazem referência ao uso com bons objetivos, levando em conta para isso
do solo sem agressão, outros 10% acreditam o uso de técnicas sustentáveis que não agridem
na reposição de nutrientes e plantio cons- o meio ambiente e estão mais aptos a produ-
ciente e, 20% não possuíam conhecimento zir.” (P8)
sobre o termo destacado.
Os sistemas produtivos incoerentes ao
uso da terra, sobretudo, mal manejo do solo,
determinam uma total insustentabilidade, a
onde acontece a destruição expressiva des-
se bem natural acontecendo pelo uso de
agrotóxicos, desmatamento, causando assim
vários prejuízos ambientais, desse modo de-
clinando a qualidade do solo, sendo ele ne-
cessário para a vida do homem ao longo do
tempo (CURCIO et al, 2013).
Figura 1. Concepções dos participantes sobre uso
sustentável do solo. Fonte: Dados coletados durante Em relação às formas de degradação
a atividade de ensino. causadas ao solo (Tabela 1), foi possível ob-
servar que todos os participantes apresen-
De maneira geral, foi possível observar taram conhecimento satisfatório quando
que os participantes não possuíam um co- questionados, sendo as formas mais citadas,
nhecimento sólido ou satisfatório sobre “uso “agrotóxicos”, “desmatamento” e “erosão”. Al-
sustentável do solo”, o que pode estar rela- gumas disciplinas do Ensino Fundamental,
cionado a inexistência ou baixo desenvol- como por exemplo, Geografia e Ciências,

230 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


abordam conteúdos relacionados ao solo, o ções dos participantes P1, P4, P7 e P8 so-
que permite de certa forma, a construção bre o termo resíduos (Tabela 2), nota-se
desse tipo de conhecimento. que os mesmos o relacionam com “resto”,
ou seja, algo que não tem mais utilização.
Tabela 1. Concepções dos participantes sobre formas Essas concepções podem estar relacionadas
de degradação causadas ao solo. aos hábitos cotidianos desses, que por sua
vez, pode ocasionar o aumento da quanti-
Concepções de degradação dade de resíduos gerados em seus lares, ao
Participante
do solo
não se adotarem práticas de consumo sus-
“Uso de agrotóxicos, herbicidas, tentável, ou seja, reutilizarem os resíduos
etc.; o plantio de apenas um tipo de de maneira adequada. Sabe-se atualmente
P1
espécie no solo por um longo período que, o aumento na geração de resíduos é um
de tempo.” problema mundial que está relacionado aos
padrões culturais da população, implicando
“Desmatamento, queimadas, uso de
P5
agrotóxicos na agricultura.”
diretamente na poluição de rios e solos, pelo
descarte incorreto do lixo produzido.
“Eu acho que a erosão pluvial é uma
delas, pela quantidade de chuva pode Tabela 2. Concepções dos participantes sobre o
P6
se levar partes do solo ocorrendo a per- termo resíduos.
da de resíduos orgânicos e minerais.”
Participante Concepções sobre resíduos
“O desmatamento das encostas de
rios, pode causar erosões. O uso de “Ao se utilizar algum produto, seja
P7
agrotóxicos pode causar a contamina- de matéria-prima doméstica ou
ção do solo.” P1 industrial, sempre resta algo que não
é utilizado. Entendo resíduos como
“Talvez o uso de fertilizantes ou mes- isso. Lixo.”
P9 mo os desmatamentos pode prejudicar
o solo.” “Resto de algo utilizado. Resto de
P4 comida em um prato, resto de veneno
Fonte: Dados coletados durante a atividade na plantação.”
de ensino.
“Restos de componentes ou de mate-
Aos nos referirmos às falas dos partici- riais, por exemplo, resíduo de caroço
de algodão pode ser reutilizado de
pantes P1, P5, P7 e P9 sobre agrotóxicos várias maneiras para se ajudar o solo,
e fertilizantes, é interessante destacar que P6
como dando alguns nutrientes através
o uso em excesso no solo pode ocasionar a da decomposição ou reutilizando
contaminação do lençol freático, ou ainda, como complemento na alimentação
corpos d’água que se encontram próximas às das vacas.”
áreas de aplicação.
“Seria a sobra de alguma coisa, por
exemplo, a espuma gerada pela lava-
Além de que o uso indiscriminado de P7 gem de algo, se a espuma for para os
agrotóxicos e adubações desequilibradas re- rios, pode causar a falta de oxigenação
duz drasticamente a diversidade biológica para os peixes.”
do solo, causando doenças nas plantas e au-
“Resíduos são restos não utilizáveis
mentando a imunidade das espécies de in- P8
ou sem serventia.”
setos e pragas. Um dos fatores que influen-
ciam é o manejo irregular onde cerca de 50 Fonte: Dados coletados durante a atividade
a 80 % de todo inseticida e fungicida cai no de ensino.
solo e não na planta.
A reutilização de resíduos domésticos
Outro questionamento feito aos parti- é essencial e tem como objetivo o reapro-
cipantes, referiu-se ao conhecimento sobre veitamento e a redução de um produto
o termo “resíduos”. Ao analisar as concep- no qual seria descartado, assim evitando

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 231


o acúmulo de lixo, a poluição do solo, de
rios e lagos. Além de gerar economia, o
lixo doméstico pode ser utilizado para
fabricação de adubo orgânico através da
compostagem, este que por sua vez não
polui o solo e ajuda no crescimento sau-
dável da planta (SANTOS, 2011).

Ao contrário dos demais participantes,


P6 (Tabela 2) afirma que resíduo é algo
que pode ser reaproveitado, ou seja, pode Figura 2. Concepções iniciais dos participantes sobre
ser destinado a outro fim que não seja a uso de resíduos na agricultura. Fonte: Dados coleta-
deposição em algum lugar específico. O dos durante a atividade de ensino
participante apresenta melhor compreen-
são do assunto abordado, o que pode es- Posteriormente, foi abordada a utilização
tar associado a hábitos culturais de sua de resíduos na agricultura. Nesse contexto,
família. De certo modo, P6 ao se referir, deu-se ênfase à aplicação de resíduos indus-
por exemplo, ao uso do caroço de algodão triais, como medida de disposição final de
no solo ou na alimentação de vacas, deve um resíduo após o processo industrial. Os
apresentar algum tipo de conhecimento resíduos destacados foram as escórias side-
cultural sobre os benefícios do mesmo às rúrgicas, provenientes da siderurgia, ricos
situações expostas. O caroço de algodão, em cálcio (Ca), magnésio (Mg) e silício (Si)
por exemplo, apresenta bons teores de e o gesso agrícola, subproduto da produção
cálcio, enxofre, magnésio, potássio, ferro e de ácido fosfórico, rico em Ca e enxofre
zinco, elementos essenciais ao desenvolvi- (S). Foram destacados os principais impac-
mento das plantas. tos ambientais causados por esses resíduos
quanto à sua disposição incorreta.
A utilização dos resíduos na agricultu-
ra tem por objetivo a preservação da saúde As escórias são constituídas basicamente
pública, a conservação dos recursos am- por uma mistura de óxidos e silicatos de Ca
bientais, a sustentabilidade, a economia e Mg; ferro metálico; e outras espécies que
e outros princípios ambientais. Podendo aparecem em menor proporção. Elevado
ela ser usada como fertilizantes, uma ideia teor dos elementos de liga presentes na su-
seria o adubo orgânico que se tornou uma cata, muitas vezes utilizada na produção do
alternativa atrativa, no ponto de vista am- aço, pode resultar em escórias com altos teo-
biental e econômico. res de metais pesados, dentre eles o cromo
(Cr), o níquel (Ni) e o chumbo (Pb) (COS-
Na Figura 2, observa-se que, 60% dos TA, et al., 1991; FERRAND & EMERY,
participantes, destacaram, inicialmen- 1995; BORGOS, 1999).
te, a utilização de “resíduos orgânicos”
e “agrícolas” como formas de resíduos Em relação ao gesso, os principais efeitos
aplicados na agricultura. As concepções causados ao meio ambiente pela disposição
dos participantes podem estar relacio- incorreta, são evidenciados pela lixiviação de
nadas ao cotidiano que estão inseridos, sulfatos, fluoretos, metais pesados e radio-
tendo em vista que alguns são prove- nuclídeos para o solo e subsolo, contamina-
nientes da zona rural. ção de reservatórios subterrâneos; absorção

232 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


direta de metais pesados e radionuclídeos miliares com a aplicação do resíduo. Ao
pelas plantas; contaminação de humanos final da discussão, avaliou-se o conheci-
e animais, pela emissão de radiação gama, mento dos participantes sobre “o uso de
proveniente das pilhas de gesso; entre ou- resíduos na agricultura”, com o intuito de
tros (SILVA & GIULIETTI, 2010). verificar mudança conceitual dos mesmos
ou construção de conhecimento.
A discussão sobre o uso de resíduos na
agricultura, mostrou-se interessante para Na Tabela 3, é possível perceber a mu-
a maioria dos participantes, tendo em dança conceitual/construção do conheci-
vista que, alguns destes residem em áreas mento de alguns participantes sobre o uso
agrícolas e já conheciam os benefícios do de resíduos na agricultura ao final da ativi-
gesso ao solo, relatando experiências fa- dade de ensino.

Tabela 3. Concepções inicial e final dos participantes sobre o uso de resíduos na agricultura.

Participante Concepção inicial Concepção final

“O uso de resíduos industriais na agricultura pode ser utilizado


P2 “Sim. Esterco.” como nutrientes para as plantas. Deve ser usado de forma correta
no solo, pois tem tanto ponto negativo como positivo.”

“O uso de resíduos de indústria facilita o crescimento e desen-


volvimento das plantas, auxiliando de diversas formas, como
P5 “Não.”
por exemplo, na distribuição das raízes e no armazenamento de
água.”

“Na agricultura pode se “O uso desses resíduos é de grande importância, visto que contri-
P7 usar resíduos de alimentos bui de duas formas: auxilia na fertilização do solo e plantas, e
para a adubação.” contribui para a redução do volume de resíduos nas indústrias.”

“O uso de resíduos em geral na agricultura, pode sim ajudar na


P9 “Uso de esterco.” produção agrícola e na disposição correta dos mesmos. Porém, na
medida incorreta podem prejudicar o solo e a produção.”

“Uso de resíduos serve para melhorar o solo e, consequentemente,


“Resíduos caseiros utili-
uma plantação mais enriquecida. Mesmo emitindo poluentes, as
zado para enriquecimento
P10 indústrias procuram uma forma de minimizar a quantidade de
do solo na agricultura
resíduos descartados com a reutilização para melhorar o solo ou
familiar.”
absorção de nutrientes pelas plantas.”

Fonte: Dados coletados durante a atividade de ensino

Diante desse paralelo, foi possível per- o composto (produto da compostagem, que
ceber que após a problematização das con- pode ser utilizado como adubo).
cepções prévias e o desenvolvimento de ati-
vidades que proporcionaram a organização
do conhecimento, os participantes toma- 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
ram consciência de que o uso de resíduos
na agricultura apresenta tanto benefícios A sustentabilidade no solo mostra ser um
quanto malefícios estando isso relacionado tema de extrema necessidade ao ser trabalha-
às suas diversas formas de utilização, bem do nas escolas, pois o pouco conhecimento
como as necessidades de cada solo e planta- que os alunos têm do assunto não possibilita
ção. Além disso, eles perceberam que dife- uma formação ambiental consciente. Com
rentes tipos de resíduos podem ser utiliza- isso a interdisciplinaridade pode ser utilizada,
dos na agricultura, e não somente esterco e já que a educação ambiental abrange várias

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 233


disciplinas escolares, dando ênfase a Química COSTA, L.M.; AMARAL SOBRINHO,
que está presente no assunto, sendo ela uti- N.M.B.; DIAS, L.E.; BARROS, N.F. Apli-
lizada como ferramenta capaz de mesclar os cation of a steel industry residue to an Oxi-
conhecimentos científicos junto à sustentabi- sol including microbal activity. In: Trace
lidade ambiental. substances in environmental health conferen-
ce, 25. s. l., 1991. Proceeding, p. 245-356. 1991.
Ao início do minicurso percebeu-se que
grande parte dos alunos sentiram dificulda- CURCIO, G. R.; BONNET, A. A degra-
des em responder o questionário, já que não dação do solo e algumas implicações fun-
possuíam conhecimento suficiente sobre tal cionais ecológicas. Embrapa. 2013.
assunto. Não sabiam ao certo o que era re-
síduo, como poderia ser feito seu descarte FAVARETTO, N. e DIECKOW, J. Con-
de maneira correta e como ele poderia ser servação dos recursos naturais solo e água.
reutilizado de maneira que não poluísse o In: Lima et al. (Eds.). O solo no meio am-
meio ambiente ou degradasse o solo. biente. Curitiba: UFPR/Setor de Ciências
Agrárias ,2007. p.111-126
Com o desenvolvimento das atividades
e a análise do segundo questionário, notou- FAVERO, M. M.; O Estudo do Solo no
-se que os alunos assimilaram, (re)construí- Ensino de Ciências dos Anos Finais no
ram, os conceitos trabalhados, bem como Nível Fundamental. 2014. 51p. Produção
conseguiram relacionar o tema com os seus Didático-Pedagógica - PDE – 2014. Almi-
cotidianos. Isso proporcionou o desenvolvi- rante Tamandaré – PR, 2014.
mento de conhecimento científico sobre a
sustentabilidade do solo, vivenciando a sua FERRAND, B.; EMERY, J. Recent impro-
importância para a vida do homem e de vements in quality of steel slag aggregate.
toda biodiversidade. Dessa forma, conclui- Transportation Research Record, v. 1486.
-se que foi alcançado o real objetivo do en- p. 137-141, 1995.
sino qualitativo sobre a sustentabilidade do
solo e sua importância em nosso meio. GADOTTI, M. Educar para a Sustenta-
bilidade. Inclusão Social. Brasília: 2008. v.3,
É importante destacar, ainda, que esse as- n.1, p.75–78.
sunto é integrador e globalizante, uma vez que
a sustentabilidade do solo não pode ser traba- JACOBI, P. Educação Ambiental, Cidada-
lhada de forma isolada de temas políticos eco- nia e Sustentabilidade. Cadernos de pes-
nômicos, sociais e culturais. Tendo a sociedade quisa. n. 118, p. 189 – 205. 2003.
assim uma visão que favorece adoção de valo-
res e atitudes que dizem respeito ao desenvol- KAMOGAWA, L. F. O. Crescimento eco-
vimento sustentável do solo. nômico, uso dos recursos naturais e degra-
dação ambiental: Uma aplicação do modelo
EKC no Brasil. Piracicaba: Escola Superior de
5. REFERÊNCIAS Agricultura Luiz de Queiroz, 2003. 121 p

BECKER, E. L. S. Solo e Ensino. VIDYA, LIMA, M. R. O Solo no Ensino de Ciên-


Santa Maria, v. 25, n. 2, p. 73 – 80, Julho/ cias no Nível Fundamental. Ciência &
Dezembro de 2005. Educação, v. 11, n. 2, p. 383 – 395, 2005.

BORGOS, E.C. Pyromettalurgical treat- ROCHA, W. M. Oficina de Educação


ment of bof slags for the production of Ambiental: Aprendendo os conteúdos so-
construction materials and refining fluxes. bre solo, por meio de Oficina Pedagógica.
In: Japan-Brazil symposium dust processin- 2015. 117p. Dissertação em Mestrado –
g-energy-environment in metallurgical in- Programa de Pós-Graduação em Ensino de
dustries, 1. Proceeding. São Paulo. 1999. Ciências e Matemática, Pontifícia Universi-

234 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


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zonte, 2015.

MUGGLER, C. C.; SOBRINHO, F. A. P.;


MACHADO, V. A. Educação em Solos:
princípios, teoria e métodos. Revista Bra-
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2006.

SANTOS, L. O. Um projeto de reutiliza-


ção de resíduos domésticos para o ensino
formal. UNB, Brasília, 2011.

SILVA, R. M.; GIULIETTI, M. Fosfoges-


so: geração, destino e desafios. Agromine-
rais para o Brasil. Rio de Janeiro: CETEM/
MCT, 2010

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 235


HERBERT SPENCER E OS TRABALHOS
DE EVOLUÇÃO NA REVISTA
BRASILEIRA DE HISTÓRIA DA CIÊNCIA
FIALHO, Wanessa Cristiane Gonçalves1; MENDONÇA; Samuel2

Resumo: O presente trabalho é parte de uma pesquisa de douto-


rado e tem como propósito apresentar os trabalhos sobre evolução
e Herbert Spencer encontrados no periódico da Revista Brasileira
de História da Ciência e suas relações com o ensino da Biologia
no Ensino Médio. A pesquisa, em andamento, é do tipo quali-
tativa, sem desprezar dados quantitativos e para a sua realização
o método empregado foi o bibliográfico. Para este estudo foram
analisadas todas as edições do referido periódico entre os anos de
1995 a 2016, último volume encontrado no portal, o que soma
um total de 47 edições. Desse total foram encontrados 10 traba-
lhos, entre artigos e resenhas relacionados diretamente à evolução
biológica e, entre esses, três estavam diretamente relacionados a
Herbert Spencer. Ao se analisar os trabalhos encontrados no pe-
riódico da SBHC têm-se uma visão ampliada do valor da HFC,
que pode ser inserido nos diferentes conteúdos de aulas do ensino
básico. Essa inserção deve ser feita de forma gradual, para que os
estudantes possam aprender a pensar criticamente com relação às
descobertas científicas, de como ocorreram e que são provenientes
de um processo, que pode começar com um cientista e terminar
com outro cientista, por exemplo.

Palavras-chave: Herbert Spencer. História e Filosofia da Ciência.


Ensino Médio. Biologia.

1. INTRODUÇÃO

Pesquisadores renomados marcaram a História e a Filosofia da


Ciência, como, por exemplo, Herbert Spencer (1820-1903), filó-
1 Doutoranda em Educação pela
PUC Campinas. Professora da
sofo inglês, autor de várias obras, escritas em diversas áreas. Ele
UEG, Campus Quirinópolis - deixou artigos e livros escritos no campo da sociologia, da psicolo-
GO. Bolsista CAPES. E-mail: gia, da política e na área da educação, dentre outras contribuições.
wanessafialho76@gmail.com Ao escrever suas obras dava especial valor aos estudos sobre as
ciências, entre elas a Biologia. Em relação aos seus escritos temos:
2 Professor Titular da PUC Cam-
pinas. Bolsista Produtividade do Educação, intelectual, Moral e Física (1927), Primeiros Princípios
CNPq. E-mail: samuelms@gmail. (1902) e Princípios da Biologia (1866), este último será mais explo-
com rado durante este trabalho.

236 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


Dessa forma, o presente trabalho é parte para compreender o presente e para pensar e
de uma pesquisa de doutorado, em anda- conjecturar o futuro é muito atraente quan-
mento, e tem como propósito apresentar os do pensamos na ciência, incluindo a biolo-
trabalhos sobre evolução e Herbert Spencer gia”. Dessa forma, pensar o ensino de Ciên-
encontrados no periódico da Revista Brasi- cias utilizando a HFC é acreditar que esses
leira de História da Ciência e suas relações conteúdos representam um dos caminhos
com o ensino da Biologia no Ensino Médio, para se apresentar os avanços da Ciência ao
dado que a História e a Filosofia da Ciência longo de toda a história da humanidade até
(HFC) estão se reaproximando novamente os dias atuais.
do ensino de Ciências e essa relação entre
teoria e prática do ensino de Ciências é for- Ao se investigar o evolucionismo de
talecida quando é utilizada a HFC (MAT- Spencer e, seu legado para a HFC, sabe-
TEWS, 1995). mos que esse caminho do conhecimento é
melhor aproveitado, no ensino básico, para
Ao se utilizar a HFC nas aulas de Ciên- a aprendizagem da Biologia, uma vez que
cias, elas atuam estimulando o estudante esse pesquisador foi importante para a área
no desenvolvimento do pensamento crítico da evolução e seu desenvolvimento.
para entender as ações que os cientistas tive-
ram, na época de uma determinada desco-
berta, até chegarem a essa descoberta. 2. METODOLOGIA

Portanto, o estudo de fatos históricos A pesquisa, em andamento, é do tipo


que marcaram uma determinada época re- qualitativa, sem desprezar dados quanti-
presenta fonte de aprendizado da constru- tativos e para a sua realização o método
ção de um conhecimento, o que auxilia na empregado foi o bibliográfico. Para o de-
desmistificação da Ciência, os processos de senvolvimento deste estudo, a fase de busca
experimentação, caminhos trilhados, acertos bibliográfica iniciou-se no ano de 2017 não
e erros. Assim, o uso da HFC, para Mar- sendo encerrada essa fase, mas iniciando em
tins (2006, p. xxviii) “[...] contribui para a 2018 a fase de pesquisa empírica, em escolas
formação de um espírito crítico e desmis- estaduais, com professores de Biologia que
tificação do conhecimento científico, sem, lecionam para o Ensino Médio.
no entanto, negar seu valor”. Uma vez que a
Ciência, no cotidiano, é feita por tentativas e Na primeira fase da pesquisa, procu-
erros, pela observação, discussão, confronto rou-se por artigos científicos relacionados
de ideias de diferentes personagens, ou es- à História e à Filosofia da Ciência, que ti-
ses conhecimentos aceitos hoje foram sendo nham como principal foco Herbert Spen-
aperfeiçoados, aos poucos, a partir de um cer. Para tanto, uma busca foi realizada nas
experimento falho, a princípio e que, ao lon- edições do periódico “Revista Brasileira de
go de um determinado período foi se modi- História da Ciência” da Sociedade Brasilei-
ficando até chegar a uma verdade provisória ra de História da Ciência - SBHC, edições
aceita ainda. on-line, da referida revista.

Também é verdade que o uso da HFC A Sociedade Brasileira de História da


não traz respostas para todos os problemas Ciência foi fundada em 1983 e, devido
que a escola possui hoje, como, por exem- a sua atuação no país, criou a revista da
plo, o baixo índice de aprendizagem das SBHC no ano de 1985. Em 2008, para que
Ciências, comprovado pelas provas internas essa revista atingisse um público maior da
e externas, como a da prova de Avaliação área da Ciência o seu nome mudou para
Dirigida Amostral - ADA, do Estado de Revista Brasileira de História da Ciência.
Goiás. Porém, concordamos com Flach e Esse periódico é semestral e os artigos da
Del Pino (2016, p. 238), ao afirmarem que SBHC estão disponíveis on-line a partir
“[...] a ideia de que o passado pode ser útil do ano de 1985.

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 237


Para a atual pesquisa foram analisadas Spencer. Em seguida passou-se a análise dos
todas as edições do referido periódico entre resumos, das palavras-chave e, dos textos
os anos de 1985 a 2016, último volume en- completos que apresentavam relação com
contrado no portal, o que soma um total de esse filósofo.
47 edições. Desse total foram encontrados
10 trabalhos, entre artigos e resenhas rela-
cionados diretamente à evolução biológica 3. DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS
e, entre esses, três estavam diretamente rela-
cionados a Herbert Spencer. Para essa busca Ao analisar a Revista Brasileira de His-
levou-se em consideração primeiro os títu- tória da Ciência foram encontrados 10 tra-
los que apresentavam como tema a evolução balhos relativos à evolução biológica, con-
na área da Biologia, ou o nome de Herbert forme descrito no quadro 1, abaixo citado.

Quadro 1: Trabalhos encontrados na SBHC com o tema evolução biológica

Ano/v./no Trabalho Título

1991, no6 Artigo Galileu e Darwin: interpretações naturais, evidências e absurdos.

1994, no11 Artigo As Ideias de herança de Darwin: suas explicações e sua importância.

1994, no11 Artigo O evolucionismo biológico de Henri Bergson.

O papel da geração espontânea na teoria da progressão dos


1994, no11 Artigo
animais de J. B. Lamarck.

1995, no13 Artigo Unidades Fisiológicas de Herbert Spencer

2003, v.1,no1 Artigo August Weismann e evolução: os diferentes níveis de seleção.

Explicação e persuasão na argumentação darwiniana em “The Expres-


2003, v.1,no2 Artigo
sion of the Emotions in Man and Animals”.

Watson e Crick: a história da descoberta da estrutura do


2004, v.2,no2 Resenha
DNA (Ricardo Ferreira)

2009, v.2,no1 Artigo Erasmus Darwin e a árvore da vida

2009, v.2,no2 Artigo Dawkins, Dennett e as tentativas de universalização do Darwinismo

Fonte: Autoria própria

As análises do quadro anterior apontam análise dos estudos de Spencer sobre here-
que existe um período definido para o de- ditariedade, na obra Principles of Biology. No
senvolvimento de trabalhos sobre a evolu- desenvolvimento do artigo, a autora afirma
ção biológica, compreendido entre os anos que Spencer é conhecido, na Biologia, pelo
de 1991 a 2009. Antes ou depois desse pe- seu evolucionismo e que suas ideias sobre
ríodo não foram mais encontrados trabalhos evolução foram publicadas antes mesmo de
desse tema. Os trabalhos em itálico repre- Darwin e Wallace. Castañeda (1995) aponta
sentam os três trabalhos encontrados que as ideias biológicas de Spencer, explicando o
fazem referência a Herbert Spencer. que Spencer chamou de “unidades fisiológi-
cas”, ao compará-las à hereditariedade.
Entre os trabalhos encontrados na Re-
vista Brasileira de História da Ciência re- Textos como o de Castañeda (1995) tor-
lacionados a Herbert Spencer está o de nam-se importantes fontes de aprendiza-
Castañeda (1995), no qual a autora fez uma gem para a História e a Filosofia da Ciên-

238 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


cia, uma vez que a autora vai apresentando, Já no trabalho de Martins (2003), a au-
ao longo de todo o trabalho, o processo de tora faz uma retrospectiva de como teria
construção do conhecimento que Spencer sido o processo de “fazer ciência” vivencia-
vivenciou, na época dele, para tentar desven- do por Weismann. Ele foi um importante
dar os princípios da hereditariedade. Nesse evolucionista também, seguidor das ideias
sentido, a autora aponta os erros e acertos de Darwin, acreditava fielmente na seleção
desse filósofo, mas também mostra ao leitor natural, mas discordava de Darwin e outros
que os erros cometidos fazem parte de um pesquisadores no que se referia à herança
processo científico, uma vez que, por exem- dos caracteres adquiridos. Essa discordância
plo, as pesquisas realizadas por Spencer se que ele tinha, com relação à herança gené-
deram numa época em que não se conhecia tica, fez com que recebesse várias críticas da
direito a célula e, muito menos as funções academia na época.
do núcleo celular.
Martins (2003) explica em seu trabalho
Os estudos da História e a Filosofia da que entre os opositores às ideias de Weis-
Ciência são importantes meios de apren- mann, na época, estavam os neolamarckistas,
dizagem para estudantes no ensino básico, como Spencer. É interessante notar que no
pois abordam fatos históricos que normal- próprio texto da autora citada é dito que os
mente não são estudados ou apresentados experimentos de Weismann foram baseados
nos livros didáticos do Ensino Médio. em experimentos anteriores ao dele, como
aqueles envolvendo modelos microscópicos
A partir da forma como os textos da de hereditariedade propostos por Darwin,
HFC são trazidos para o ensino de Biolo- Spencer, Hugo de Vries, entre outros.
gia, os estudantes irão perceber como foi
lento o processo de pesquisa, experimenta- O trabalho de Martins (2003) representa
ção, dúvidas ao qual todo cientista passa até um dos exemplos primordiais de como uti-
conseguir chegar a um novo conhecimento. lizar o conhecimento que se tem da HFC.
A partir do uso da HFC os educandos ve- Uma vez que a autora vai apresentando, ao
rão que os cientistas também têm um cami- longo de todo o trabalho, como é o processo
nho longo até chegarem à construção dos de construção e desconstrução das ideias dos
conceitos e concepções utilizados na atua- cientistas e de como existiam, assim como
lidade. Isso pode levar as crianças e jovens na atualidade permanecem, as correntes que
a entenderem os conteúdos que estudam, advogam a favor e contra um determinado
ao apreenderem que essa construção dos pensamento. Como, por exemplo, citado por
significados dos termos científicos demo- Martins (2003), ao falar do livro escrito e di-
rou anos para serem feitas. E, por último, o vulgado por Weismann no período de 1867
uso da HFC pode ser importante para os a 1904 que: “suas ideias sofreram modifica-
educandos entenderem que “a aceitação ou ções conforme o estado de conhecimento da
o ataque a alguma proposta não dependem época, por isso o livro constitui um reflexo
apenas de seu valor intrínseco, de sua funda- da própria evolução intelectual do autor” (p.
mentação, mas que também nesse processo, 56). Isso demonstra, a partir das reflexões da
estão envolvidas outras forças tais como as autora, como é o processo de pesquisa, expe-
sociais, políticas, filosóficas ou religiosas” riência e descoberta, na Ciência.
(MARTINS, 1998, p. 18).
E, no último trabalho no qual se en-
Por isso, escritos como o de Castañeda contra direta menção a Herbert Spencer
(1995) são essenciais por discutirem evolu- no texto, Toledo (2009) começa discutindo
cionistas como Spencer, apresentando fatos pontos-chave sobre o darwinismo, heredi-
importantes para o ensino da Biologia e de tariedade e mutação. A seguir o autor tece
como o uso da História da Biologia pode ser seus comentários sobre a seleção natural até
benéfico para a educação básica. chegar à “luta pela vida”, passando então a
expressão “sobrevivência dos mais aptos”,

Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 239


criada por Herbert Spencer, e adotada por é uma verdade única, acabada e que, os cien-
Darwin. tistas são passivos de erros, ao longo de suas
jornadas em busca de verdades provisórias.
Em relação ao texto de Toledo (2009),
o autor apresenta fatos esclarecedores re- Assim, a HFC deve ser desenvolvida
lativos a erros na teoria de Spencer, como no ensino básico de maneira a aproximar o
comentado ao afirmar que: conhecimento escolar da Ciência à aprendi-
zagem dos estudantes e não criar uma bar-
Há também a confusão com o darwinismo reira entre a Ciência e os jovens aprendizes,
social de Herbert Spencer. Mas esse está passando uma imagem fantasiosa das des-
fundado em uma visão errônea da biologia, cobertas científicas.
pois nem sempre a evolução vai do homo-
gêneo para o heterogêneo, como Spencer
defendia. Algumas vezes estruturas mais
simples surgem de estruturas mais comple-
5. REFERÊNCIAS
xas. Além disso, o darwinismo social tinha
fortes implicações éticas em que os pobres CASTAÑEDA, Luzia Aurelia. Unidades
deveriam ser deixados de lado, pois eram Fisiológicas de Herbert Spencer. Revista
menos aptos a sobreviver. O darwinismo Brasileira de História da Ciência, n0 13, p.
universal, é claro, não tem tais implicações 3- 8, 1995. . Disponível em: < http://www.
éticas absurdas (TOLEDO, 2009, p. 256). sbhc.org.br/revistahistoria/view?ID_RE-
VISTA_HISTORIA=29 > Acesso em
Além desse exemplo de erro cometido 12/12/2017.
por cientistas, Toledo (2009) faz comen-
tários em relação a outros pesquisadores, ______ As Ideias de herança de Darwin:
apontando críticas e erros cometidos ao suas explicações e sua importância. Revista
descreverem suas teorias. Por isso, esses e da SBHC, n. 11, p. 67- 73, 1994.
os outros textos evolutivos que foram en-
contrados na revista analisada auxiliam no FLACH, Pâmela Ziliotto Sant’Anna e del
entendimento de fatos históricos que ocor- PINO, José Claudio. Afinal, para que ser-
reram e que vão trazendo novos conheci- vem a história e a filosofia da biologia?
mentos para a sociedade como um todo e, Educação Por Escrito, Porto Alegre, v. 7, n.
em especial, para a aprendizagem escolar. 2, p. 236-252, jul.-dez. 2016

LUDWIG, Roberto José. Galileu e Dar-


4. CONSIDERAÇÕES FINAIS win: interpretações naturais, evidências e
absurdos. Revista da SBHC, n 6, p. 21-30,
Ao se analisar os trabalhos encontrados 1991.
no periódico da SBHC têm-se uma visão
ampliada do valor da HFC, que pode ser MARTINS, Lilian Al- Chueyr Pereira. Au-
inserido nos diferentes conteúdos de aulas gust Weismann e evolução: os diferentes
do ensino básico. Essa inserção deve ser fei- níveis de seleção. Revista Brasileira de His-
ta de forma gradual, para que os estudantes tória da Ciência, n0 1,v. 1, p. 53- 74, 2003.
possam aprender a pensar criticamente com Disponível em: < http://www.sbhc.org.br/
relação às descobertas científicas, de como revistahistoria/view?ID_REVISTA_HIS-
ocorreram e que são provenientes de um TORIA=21 > Acesso em 22/03/2018.
processo, que pode começar com um cien-
tista e terminar com outro cientista, por ________ A história da ciência e o ensino
exemplo. da Biologia. Ciência & Ensino, 5: 18-21,
1998.
A partir desses apontamentos, é possível
notar a importância do estudo dos fatos da ________ O papel da geração espontânea
HFC, para esclarecermos que a ciência não na teoria da progressão dos animais de J.

240 Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019


B. Lamarck. Revista da SBHC, n. 11, p. 57- ZIA, Alessandro. Explicação e persuasão
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Ciclo Revista: Experiências em Formação no IF Goiano – V. 3, N.01 – 2019 241

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