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Universidade do Sul de Santa Catarina

Introdução à Filosofia

Disciplina na modalidade a distância


Universidade do Sul de Santa Catarina

Introdução à Filosofia
Disciplina na modalidade a distância

Palhoça
UnisulVirtual
2011

Introducao a Filosofia.indb 1 15/12/11 13:46


Créditos
Universidade do Sul de Santa Catarina | Campus UnisulVirtual | Educação Superior a Distância
Avenida dos Lagos, 41 – Cidade Universitária Pedra Branca | Palhoça – SC | 88137-900 | Fone/fax: (48) 3279-1242 e 3279-1271 | E-mail: cursovirtual@unisul.br | Site: www.unisul.br/unisulvirtual
Reitor Coordenadores Graduação Marilene de Fátima Capeleto Patrícia de Souza Amorim Karine Augusta Zanoni
Ailton Nazareno Soares Aloísio José Rodrigues Patricia A. Pereira de Carvalho Poliana Simao Marcia Luz de Oliveira
Ana Luísa Mülbert Paulo Lisboa Cordeiro Schenon Souza Preto Mayara Pereira Rosa
Vice-Reitor Ana Paula R.Pacheco Paulo Mauricio Silveira Bubalo Luciana Tomadão Borguetti
Sebastião Salésio Heerdt Artur Beck Neto Rosângela Mara Siegel Gerência de Desenho e
Bernardino José da Silva Simone Torres de Oliveira Desenvolvimento de Materiais Assuntos Jurídicos
Chefe de Gabinete da Reitoria Charles Odair Cesconetto da Silva Vanessa Pereira Santos Metzker Didáticos Bruno Lucion Roso
Willian Corrêa Máximo Dilsa Mondardo Vanilda Liordina Heerdt Márcia Loch (Gerente) Sheila Cristina Martins
Diva Marília Flemming Marketing Estratégico
Pró-Reitor de Ensino e Horácio Dutra Mello Gestão Documental Desenho Educacional
Lamuniê Souza (Coord.) Cristina Klipp de Oliveira (Coord. Grad./DAD) Rafael Bavaresco Bongiolo
Pró-Reitor de Pesquisa, Itamar Pedro Bevilaqua
Pós-Graduação e Inovação Jairo Afonso Henkes Clair Maria Cardoso Roseli A. Rocha Moterle (Coord. Pós/Ext.) Portal e Comunicação
Daniel Lucas de Medeiros Aline Cassol Daga Catia Melissa Silveira Rodrigues
Mauri Luiz Heerdt Janaína Baeta Neves
Aline Pimentel
Jorge Alexandre Nogared Cardoso Jaliza Thizon de Bona Andreia Drewes
Pró-Reitora de Administração José Carlos da Silva Junior Guilherme Henrique Koerich Carmelita Schulze Luiz Felipe Buchmann Figueiredo
Acadêmica José Gabriel da Silva Josiane Leal Daniela Siqueira de Menezes Rafael Pessi
Marília Locks Fernandes Delma Cristiane Morari
Miriam de Fátima Bora Rosa José Humberto Dias de Toledo
Eliete de Oliveira Costa
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Pró-Reitor de Desenvolvimento Luiz G. Buchmann Figueiredo Gerência Administrativa e Eloísa Machado Seemann Arthur Emmanuel F. Silveira (Gerente)
e Inovação Institucional Marciel Evangelista Catâneo Financeira Flavia Lumi Matuzawa Francini Ferreira Dias
Renato André Luz (Gerente) Geovania Japiassu Martins
Valter Alves Schmitz Neto Maria Cristina Schweitzer Veit
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Diretora do Campus Mauro Faccioni Filho Anderson Zandré Prudêncio João Marcos de Souza Alves Pedro Paulo Alves Teixeira (Coord.)
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Diretor do Campus Universitário Patrícia Fontanella Thais Helena Bonetti Luiz Henrique Milani Queriquelli Cristiano Neri Gonçalves Ribeiro
da Grande Florianópolis Roberto Iunskovski Valmir Venício Inácio Marcelo Tavares de Souza Campos Daiana Ferreira Cassanego
Hércules Nunes de Araújo Rose Clér Estivalete Beche Mariana Aparecida dos Santos Davi Pieper
Gerência de Ensino, Pesquisa e Marina Melhado Gomes da Silva Diogo Rafael da Silva
Secretária-Geral de Ensino Vice-Coordenadores Graduação Extensão Marina Cabeda Egger Moellwald Edison Rodrigo Valim
Adriana Santos Rammê Janaína Baeta Neves (Gerente) Mirian Elizabet Hahmeyer Collares Elpo Fernanda Fernandes
Solange Antunes de Souza Aracelli Araldi Pâmella Rocha Flores da Silva
Bernardino José da Silva Frederico Trilha
Diretora do Campus Catia Melissa Silveira Rodrigues Rafael da Cunha Lara Jordana Paula Schulka
Elaboração de Projeto Roberta de Fátima Martins Marcelo Neri da Silva
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Jucimara Roesler Jardel Mendes Vieira Roseli Aparecida Rocha Moterle Nelson Rosa
Vanderlei Brasil Sabrina Bleicher Noemia Souza Mesquita
Joel Irineu Lohn Francielle Arruda Rampelotte
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José Gabriel da Silva Reconhecimento de Curso
José Humberto Dias de Toledo Acessibilidade Multimídia
Diretor Adjunto Maria de Fátima Martins Vanessa de Andrade Manoel (Coord.) Sérgio Giron (Coord.)
Moacir Heerdt Luciana Manfroi
Rogério Santos da Costa Extensão Letícia Regiane Da Silva Tobal Dandara Lemos Reynaldo
Secretaria Executiva e Cerimonial Rosa Beatriz Madruga Pinheiro Maria Cristina Veit (Coord.) Mariella Gloria Rodrigues Cleber Magri
Jackson Schuelter Wiggers (Coord.) Sergio Sell Vanesa Montagna Fernando Gustav Soares Lima
Marcelo Fraiberg Machado Pesquisa Josué Lange
Tatiana Lee Marques Daniela E. M. Will (Coord. PUIP, PUIC, PIBIC) Avaliação da aprendizagem
Tenille Catarina Valnei Carlos Denardin Claudia Gabriela Dreher Conferência (e-OLA)
Mauro Faccioni Filho (Coord. Nuvem)
Assessoria de Assuntos Sâmia Mônica Fortunato (Adjunta) Jaqueline Cardozo Polla Carla Fabiana Feltrin Raimundo (Coord.)
Internacionais Pós-Graduação Nágila Cristina Hinckel Bruno Augusto Zunino
Coordenadores Pós-Graduação Anelise Leal Vieira Cubas (Coord.) Sabrina Paula Soares Scaranto
Murilo Matos Mendonça Aloísio José Rodrigues Gabriel Barbosa
Anelise Leal Vieira Cubas Thayanny Aparecida B. da Conceição
Assessoria de Relação com Poder Biblioteca Produção Industrial
Público e Forças Armadas Bernardino José da Silva Salete Cecília e Souza (Coord.) Gerência de Logística Marcelo Bittencourt (Coord.)
Adenir Siqueira Viana Carmen Maria Cipriani Pandini Paula Sanhudo da Silva Jeferson Cassiano A. da Costa (Gerente)
Walter Félix Cardoso Junior Daniela Ernani Monteiro Will Marília Ignacio de Espíndola Gerência Serviço de Atenção
Giovani de Paula Renan Felipe Cascaes Logísitca de Materiais Integral ao Acadêmico
Assessoria DAD - Disciplinas a Karla Leonora Dayse Nunes Carlos Eduardo D. da Silva (Coord.) Maria Isabel Aragon (Gerente)
Distância Letícia Cristina Bizarro Barbosa Gestão Docente e Discente Abraao do Nascimento Germano Ana Paula Batista Detóni
Patrícia da Silva Meneghel (Coord.) Luiz Otávio Botelho Lento Enzo de Oliveira Moreira (Coord.) Bruna Maciel André Luiz Portes
Carlos Alberto Areias Roberto Iunskovski Fernando Sardão da Silva Carolina Dias Damasceno
Cláudia Berh V. da Silva Rodrigo Nunes Lunardelli Capacitação e Assessoria ao Fylippy Margino dos Santos Cleide Inácio Goulart Seeman
Conceição Aparecida Kindermann Rogério Santos da Costa Docente Guilherme Lentz Denise Fernandes
Luiz Fernando Meneghel Thiago Coelho Soares Alessandra de Oliveira (Assessoria) Marlon Eliseu Pereira Francielle Fernandes
Renata Souza de A. Subtil Vera Rejane Niedersberg Schuhmacher Adriana Silveira Pablo Varela da Silveira Holdrin Milet Brandão
Alexandre Wagner da Rocha Rubens Amorim
Assessoria de Inovação e Jenniffer Camargo
Gerência Administração Elaine Cristiane Surian (Capacitação) Yslann David Melo Cordeiro Jessica da Silva Bruchado
Qualidade de EAD Acadêmica Elizete De Marco
Denia Falcão de Bittencourt (Coord.) Jonatas Collaço de Souza
Angelita Marçal Flores (Gerente) Fabiana Pereira Avaliações Presenciais
Andrea Ouriques Balbinot Juliana Cardoso da Silva
Fernanda Farias Iris de Souza Barros Graciele M. Lindenmayr (Coord.)
Carmen Maria Cipriani Pandini Juliana Elen Tizian
Juliana Cardoso Esmeraldino Ana Paula de Andrade
Secretaria de Ensino a Distância Kamilla Rosa
Maria Lina Moratelli Prado Angelica Cristina Gollo
Assessoria de Tecnologia Samara Josten Flores (Secretária de Ensino) Simone Zigunovas
Mariana Souza
Osmar de Oliveira Braz Júnior (Coord.) Cristilaine Medeiros Marilene Fátima Capeleto
Giane dos Passos (Secretária Acadêmica) Daiana Cristina Bortolotti
Felipe Fernandes Adenir Soares Júnior Tutoria e Suporte Maurício dos Santos Augusto
Felipe Jacson de Freitas Delano Pinheiro Gomes Maycon de Sousa Candido
Alessandro Alves da Silva Anderson da Silveira (Núcleo Comunicação) Edson Martins Rosa Junior
Jefferson Amorin Oliveira Andréa Luci Mandira Claudia N. Nascimento (Núcleo Norte- Monique Napoli Ribeiro
Phelipe Luiz Winter da Silva Fernando Steimbach Priscilla Geovana Pagani
Cristina Mara Schauffert Nordeste)
Fernando Oliveira Santos
Priscila da Silva Djeime Sammer Bortolotti Maria Eugênia F. Celeghin (Núcleo Pólos) Sabrina Mari Kawano Gonçalves
Rodrigo Battistotti Pimpão Lisdeise Nunes Felipe Scheila Cristina Martins
Douglas Silveira Andreza Talles Cascais Marcelo Ramos
Tamara Bruna Ferreira da Silva Evilym Melo Livramento Daniela Cassol Peres Taize Muller
Marcio Ventura Tatiane Crestani Trentin
Fabiano Silva Michels Débora Cristina Silveira Osni Jose Seidler Junior
Coordenação Cursos Fabricio Botelho Espíndola Ednéia Araujo Alberto (Núcleo Sudeste) Thais Bortolotti
Coordenadores de UNA Felipe Wronski Henrique Francine Cardoso da Silva
Diva Marília Flemming Gisele Terezinha Cardoso Ferreira Janaina Conceição (Núcleo Sul) Gerência de Marketing
Marciel Evangelista Catâneo Indyanara Ramos Joice de Castro Peres Eliza B. Dallanhol Locks (Gerente)
Roberto Iunskovski Janaina Conceição Karla F. Wisniewski Desengrini
Jorge Luiz Vilhar Malaquias Kelin Buss Relacionamento com o Mercado
Auxiliares de Coordenação Juliana Broering Martins Liana Ferreira Alvaro José Souto
Ana Denise Goularte de Souza Luana Borges da Silva Luiz Antônio Pires
Camile Martinelli Silveira Luana Tarsila Hellmann Maria Aparecida Teixeira Relacionamento com Polos
Fabiana Lange Patricio Luíza Koing  Zumblick Mayara de Oliveira Bastos Presenciais
Tânia Regina Goularte Waltemann Maria José Rossetti Michael Mattar Alex Fabiano Wehrle (Coord.)
Jeferson Pandolfo

Introducao a Filosofia.indb 2 15/12/11 13:46


Marciel Evangelista Cataneo

Introdução à Filosofia
Livro didático

Design instrucional
Leandro Kingeski Pacheco

1ª edição revista

Palhoça
UnisulVirtual
2011

Introducao a Filosofia.indb 3 15/12/11 13:46


Copyright © UnisulVirtual 2011
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.

Edição – Livro Didático


Professor Conteudista
Marciel Evangelista Cataneo

Design Instrucional
Leandro Kingeski Pacheco
João Marcos de Souza Alves (1ª Edição Revista)

Assistente Acadêmico
Aline Cassol Daga (1ª ed. rev.)

ISBN
978-85-7817-278-7

Projeto Gráfico e Capa


Equipe UnisulVirtual

Diagramação
Delinea Soluções Gráficas e Digitais LTDA
Michael Bernardini
Alberto Regis Elias (1ª ed. rev.)

Revisão
Amaline Boulus Issa Mussi

100
C35 Cataneo, Marciel Evangelista
Introdução à filosofia : livro didático / Marciel Evangelista Cataneo ;
design instrucional Leandro Kingeski Pacheco ; [assistente acadêmico Aline
Cassol Daga]. – 1. ed. rev. – Palhoça : UnisulVirtual, 2011.
183p. : il. ; 28 cm.

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7817-278-7

1. Filosofia. I. Pacheco, Leandro Kingeski. II. Daga, Aline Cassol. III. Título.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul

Introducao a Filosofia - iniciais.indd 4 25/01/12 14:41


Sumário

Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Palavras do professor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

UNIDADE 1 - O que é Filosofia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15


UNIDADE 2 - Conhecimento e conhecimento filosófico. . . . . . . . . . . . . . . . . 47
UNIDADE 3 - Filosofia e história: períodos e características. . . . . . . . . . . . . . 65
UNIDADE 4 - Os grandes temas da Filosofia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
UNIDADE 5 - A Filosofia na vida e a vida na Filosofia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139

Para concluir o estudo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165


Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167
Sobre o professor conteudista. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173
Respostas e comentários das atividades de autoavaliação. . . . . . . . . . . . . . 175
Biblioteca Virtual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183

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Apresentação

Este livro didático corresponde à disciplina Introdução à


Filosofia.

O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma


e aborda conteúdos especialmente selecionados e relacionados
à sua área de formação. Ao adotar uma linguagem didática
e dialógica, objetivamos facilitar seu estudo a distância,
proporcionando condições favoráveis às múltiplas interações e a
um aprendizado contextualizado e eficaz.

Lembre-se que sua caminhada, nesta disciplina, será


acompanhada e monitorada constantemente pelo Sistema
Tutorial da UnisulVirtual, por isso a “distância” fica
caracterizada somente na modalidade de ensino que você optou
para sua formação, pois na relação de aprendizagem professores
e instituição estarão sempre conectados com você.

Então, sempre que sentir necessidade entre em contato; você tem


à disposição diversas ferramentas e canais de acesso tais como:
telefone, e-mail e o Espaço Unisul Virtual de Aprendizagem,
que é o canal mais recomendado, pois tudo o que for enviado e
recebido fica registrado para seu maior controle e comodidade.
Nossa equipe técnica e pedagógica terá o maior prazer em lhe
atender, pois sua aprendizagem é o nosso principal objetivo.

Bom estudo e sucesso!

Equipe UnisulVirtual.

Introducao a Filosofia.indb 7 15/12/11 13:46


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Palavras do professor

Olá, acadêmico(a)!

Seja bem-vindo(a) ao Curso de Filosofia da UnisulVirtual.

O nosso curso tem como objetivos: favorecer atividades


de pesquisa, difundir a cultura filosófica e incentivar o
exercício da cidadania. É este o enfoque que daremos ao
apresentar, nesta disciplina, os conceitos introdutórios ao
estudo da Filosofia. Queremos familiarizá-lo(a) com o mundo
da Filosofia, convencê-lo(a) de que fez uma boa escolha
quando optou por aproximar-se da Filosofia e, motivá-lo(a) a
permanecer conosco, contribuindo com este projeto: um sonho
de muitos amantes da sabedoria.

Para quem ama a sabedoria, “longe é um lugar que não existe”. A


distância física que nos separa não é maior que o mútuo interesse
que nos une. Nós temos uma mesma paixão e, com o uso das
novas tecnologias de informação e comunicação, a distância
não é obstáculo para a produção, transmissão e socialização do
conhecimento, na interação entre docentes e discentes.

Filosofia é busca, é curiosidade em conhecer e inquietação, é


um “não se contentar de contente”. Por isso, não se limite a ler,
estudar, fazer o que é dito, sugerido, solicitado neste livro didático:
vá muito mais além, vá muito mais longe. Não tenha medo! Para
quem ama a sabedoria, “longe é um lugar que não existe”.

Bons estudos!

Professor Marciel Evangelista Cataneo

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Plano de estudo

O plano de estudos visa a orientá-lo no desenvolvimento da


disciplina. Ele possui elementos que o ajudarão a conhecer o
contexto da disciplina e a organizar o seu tempo de estudos.

O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva


em conta instrumentos que se articulam e se complementam,
portanto, a construção de competências se dá sobre a
articulação de metodologias e por meio das diversas formas de
ação/mediação.

São elementos desse processo:

„„ o livro didático;

„„ o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem (EVA);

„„ as atividades de avaliação (a distância, presenciais e de


autoavaliação);

„„ o Sistema Tutorial.

Ementa
O problema do conceito de Filosofia. Filosofia e outras formas
de conhecimento. Os dois eixos norteadores para o estudo
da Filosofia: o eixo histórico e o eixo temático. Panorama
da história da Filosofia: principais períodos e respectivas
características. Disciplinas clássicas da Filosofia.

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Objetivos

Geral
Apresentar a Filosofia e o conhecimento filosófico como uma
busca amorosa da sabedoria sobre a existência humana no tempo
e no mundo.

Específicos
„„ Identificar um conjunto de referenciais teóricos que lhe
possibilite divisar por detrás de tal multiplicidade de objetos
de estudo a unidade que caracteriza a prática filosófica.

„„ Conhecer e compreender as especificidades da prática


filosófica, diferenciando-a de outras formas de
conhecimento e de atitude.

Carga Horária
A carga horária total da disciplina é 60 horas-aula.

Conteúdo programático/objetivos
Veja, a seguir, as unidades que compõem o livro didático desta
disciplina e os seus respectivos objetivos. Estes se referem aos
resultados que você deverá alcançar ao final de uma etapa de
estudo. Os objetivos de cada unidade definem o conjunto de
conhecimentos que você deverá possuir para o desenvolvimento
de habilidades e competências necessárias à sua formação.

Unidades de estudo: 5

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Nome da disciplina

Unidade 1 - O que é Filosofia


Nesta unidade, você estuda o modo humano de ser e a origem
e necessidade da atividade filosófica; a Filosofia como atitude,
autonomia, reflexão, crítica, criatividade, sabedoria e visão de
mundo; os primórdios da Filosofia e do pensamento ocidental;
os objetivos e motivações do projeto pedagógico do curso de
graduação em Filosofia da UnisulVirtual.

Unidade 2 – Conhecimento e conhecimento filosófico


Por meio desta unidade, você conhece o conhecimento e o
conhecimento filosófico; as diferenças e aproximações entre
ciência e filosofia; e as peculiaridades do conhecimento filosófico,
assim como a missão do filósofo.

Unidade 3 – Filosofia e história: períodos e características


Você identifica, nesta unidade, a relação entre Filosofia e história; a
importância do conhecimento da história e da história da Filosofia;
as características dos diferentes períodos da história do pensamento;
a relação entre o surgimento dos filósofos e os principais eventos
históricos; e as características e transformações da sociedade ocidental.

Unidade 4 – Os grandes temas da Filosofia


Nesta unidade, você conhece os principais temas com os quais
se ocupa o pensamento ocidental no desenvolvimento da
Filosofia; as disciplinas clássicas da Filosofia; a aproximação do
pensamento do acadêmico com o mundo da Filosofia.

Unidade 5 – A Filosofia na vida e a vida na Filosofia


Nesta unidade, você estuda a relação entre a vida humana em seu
quotidiano e a reflexão filosófica; a importância do ter objetivos,
metas e ideais para a realização da existência humana em todas as
suas potencialidades; a Filosofia do cuidado como aproximação
ideal e desejável entre reflexão filosófica e vida humana; e o
momento existencial humano e seu necessário reencontro com a
sabedoria e a Filosofia.
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Universidade do Sul de Santa Catarina

Agenda de atividades/Cronograma

„„ Verifique com atenção o EVA, organize-se para acessar


periodicamente a sala da disciplina. O sucesso nos seus
estudos depende da priorização do tempo para a leitura,
da realização de análises e sínteses do conteúdo e da
interação com os seus colegas e professor.

„„ Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço


a seguir as datas com base no cronograma da disciplina
disponibilizado no EVA.

„„ Use o quadro para agendar e programar as atividades


relativas ao desenvolvimento da disciplina.

Atividades obrigatórias

Demais atividades (registro pessoal)

14

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1
unidade 1

O que é Filosofia

Objetivos de aprendizagem
„„ Identificar no modo humano a origem e a necessidade
da atividade filosófica.
„„ Conhecer e compreender a Filosofia como atitude,
autonomia, reflexão, crítica, criatividade, sabedoria e
visão de mundo.
„„ Identificar os primórdios da Filosofia e do pensamento
ocidental.
„„ Conhecer os objetivos e motivações do projeto
pedagógico do curso de graduação em Filosofia da
UnisulVirtual.

Seções de estudo
Seção 1 O desejo de compreender o mundo

Seção 2 O que é Filosofia?

Seção 3 Os primórdios da Filosofia

Seção 4 Filosofia na UnisulVirtual

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Nesta primeira unidade, conversaremos sobre a importância do
pensar e sobre o desejo humano de compreender a vida e o mundo.
Também veremos o que é a Filosofia e conheceremos as principais
etapas que percorreu no Ocidente. Afinal, concluiremos que a
busca pelo conhecimento e pela sabedoria fez surgir a Filosofia, e
que esta muito caracteriza o modo humano de ser.

Seção 1 – O desejo de compreender o mundo

Nosso impulso ao conhecimento é forte demais para


que ainda sejamos capazes de estimar a felicidade sem
conhecimento, ou a felicidade de uma ilusão forte, firme.
(NIETZSCHE, 1983, p. 139).

Diante do mundo, da realidade que o cerca, encontram-se


no homem o desejo e a necessidade de conhecer, explicar,
compreender, dominar, etc. Desejo e necessidade nos tiraram das
cavernas, dando início à aventura humana.

Homem: um ser que pensa


O homem é o animal que pensa! Assim se define o ser cuja
principal característica é a racionalidade. A possibilidade do uso da
razão nos faz diferentes de todos os outros seres, caracterizando-
nos como senhor de engenhos e potencialidades. E nos coloca
diante da realidade. Diferentemente de outros seres vivos que estão
“apenas” imersos no mundo, o homem está diante do mundo,
enfrentando-o, dando-lhe um sentido, transformando-o.

Veja o que diz Buzzi sobre o pensar humano.

16

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Introdução à Filosofia

Para Buzzi (1983, p. 11), “Pensar, na significação etimológica


do termo, quer dizer sopesar, pôr na balança para avaliar o peso
de alguma coisa”. Assim, aprender a pensar é aprender a avaliar.
Descobrir o verdadeiro “peso” de cada coisa, fato, realidade.
É esta atividade que produz o conhecimento: a justa medida
sobre determinado objeto. É por isso que Buzzi diz que o
conhecimento das “coisas” é obra dos que pensam.

Um ser que busca explicações


A Filosofia é obra humana. É da atitude do homem que pensa.
Ao fazê-lo, constrói a sua existência e origina a Filosofia.

Pensar é filosofar. Tudo começou na Grécia, banhada pelo mar


Mediterrâneo, cujas águas foram o berço de civilizações e impérios.
É na Grécia, com suas costas irregulares e suas muitas ilhas, que
um punhado de homens contempla os mistérios do céu e do mar.
O homem exercita o pensamento, diante do mistério. O homem
que pensa é inquieto e suspeita do que vê. A realidade como
se apresenta instiga o pensamento. O exercício do pensamento
desvela mistérios, revela o escondido, descobre a realidade.

Veja o que expressa Martins Filho (1997, p. 19) sobre os


primórdios da Filosofia:

Nos primórdios da história, as explicações que os homens


davam para os fenômenos e para as coisas eram de caráter
mitológico: forjavam mitos em que os deuses permeavam
todos os acontecimentos (lendas e estórias de seres
fabulosos, heróis e divindades) e que eram transmitidos
de geração em geração através da tradição oral [...] Os
gregos são o primeiro povo a dar explicações racionais
às coisas, surgindo daí a Filosofia. No entanto, nos
seus começos, a Filosofia não se distinguia das demais
ciências: o conhecimento humano primitivo era um
amálgama único...

Afinal, o que leva um homem à Filosofia?

Unidade 1 17

Introducao a Filosofia.indb 17 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

Para Aristóteles, é a admiração. Desde que dotado para tanto,


o homem, impressionado pelo mundo que o circunda, pela
variedade e diversidade das coisas que lhe são próximas, e,
mesmo, as que se encontram bem distantes, tenta explicá-las com
o recurso da razão.

Parafraseando Pessoa: “Pensar é preciso! Viver não é preciso.”


Não há nesta frase do poeta nenhum desprezo pela vida, ou
elogio exagerado à racionalidade. Pessoa fala de precisão, da
confiança, da certeza que brota do exercício do pensamento,
contrapondo-se às imprecisões que marcam a vida,
principalmente quando vivida sem reflexão.

Veja que, já na origem da Filosofia ocidental, encontramos a


convicção de que a vida, sem reflexão, não tem sentido. Sócrates,
por exemplo, é um grande defensor desta perspectiva.

Um ser capaz de compreender


Compreender o mundo em que vivemos e o tipo de sociedade
à qual pertencemos, o tipo de cultura e de civilização que
nos envolvem é tarefa da qual nenhum de nós pode abrir
mão. Por isso, pensar é preciso, pois permite a construção do
conhecimento, e disto depende a qualidade das nossas escolhas, a
realização dos nossos sonhos e projetos.

Pensar nos faz sujeito, protagonista da nossa própria


história, senhor de si. Pensar liberta, torna-nos livres.
Sistemas autoritários, regimes totalitários, tudo faz
com que o homem não pense. Fazem uso de todas as
formas de manipulação, alienando-o da sua própria
existência, levando-o a realizar um projeto de vida
que não é seu.

O pensamento e o conhecimento produzem ideias, renovam


todas as coisas, reinventam o mundo. Entre as qualidades
exigidas de um gestor no mundo dos negócios, por exemplo,
sobressai-se a capacidade de pensar. Ou seja, avaliar o peso de
cada coisa, fato, situação. Medir o peso de cada atitude, escolha,
decisão. A sobrevivência e o sucesso pessoal e profissional,

18

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Introdução à Filosofia

em realidade tão competitiva, dependem desta capacidade de


compreender o mundo que nos envolve, os relacionamentos e as
circunstâncias que nos definem.

Seção 2 - O que é Filosofia?


Você já pôde perceber que a Filosofia não é muito fácil de ser
definida, não é mesmo? Ela é conhecimento do homem sobre
si mesmo e o mundo. Diante desta afirmação, um universo de
saberes e mistérios podem ser vislumbrados.

Figura 1.1 - Immanuel Kant


Fonte: Neo Lumen Veritatis (2011).

Filosofia é uma atitude


Saiba que Filosofia é antes uma prática, um exercício do pensar.
Implica colocar a racionalidade a serviço da curiosidade, do
prazer de conhecer. Não basta apenas aprender uma série de
definições e teorias. É necessário aprender a filosofar. O filósofo
Immanuel Kant (1724-1804) costumava dizer a seus alunos:
“Não há Filosofia que se possa aprender, só se aprende a filosofar”
(KANT apud ARANHA e MARTINS, 1996, p. 72).

Filosofia é uma atitude! Você já deve ter ouvido esta expressão


em algum momento da sua vida: “Você tem que ter atitude!”

A atitude do filósofo caracteriza-se pela humildade


intelectual de quem convive com a dúvida; pela
admiração crítica diante dos mistérios e contradições
da realidade; pelo espanto e encantamento diante
do que se apresenta como normal ou natural.

Filosofia é autonomia
Conforme Pacheco e Nesi (2007, p. 23), a palavra “autonomia
está ligada à capacidade de pensar por si próprio”. Tem “origem
grega e é composta por duas outras palavras, autós e nómos.
Autós refere-se à condição de independência, de realizar algo

Unidade 1 19

Introducao a Filosofia.indb 19 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

por si mesmo, por si próprio. Nómos refere-se à lei, à norma, à


regra”. Autônomo “é aquele que é capaz de estabelecer regras e
procedimentos a partir de si mesmo”.

Os seres humanos encontram na autonomia um pressuposto


para a realização do sujeito no exercício da liberdade. Não
desenvolver esta habilidade implica ser conduzido, manipulado,
robotizado, coisificado. Filosofia é autonomia, pois, enquanto
reflexão, possibilita as escolhas que irão determinar os caminhos
pelos quais trilhará o indivíduo que pensa a vida e se torna apto a
conduzi-la segundo a sua própria vontade.

Filosofia é reflexão
O trabalho filosófico é um trabalho de reflexão. Esta palavra
define bem a atitude do filósofo: reflexão vem do verbo latino
reflectere, que significa voltar atrás. Filosofar significa, portanto,
retomar, reconsiderar os dados disponíveis, revisar, analisar,
examinar, prestar atenção. É este o sentido da expressão “acercar-
se amorosamente do saber”.

A Filosofia é um exercício de raciocínio, é uma maneira


de se posicionar diante das coisas e fatos do mundo.
A Filosofia não é um conjunto de conhecimentos
prontos, um sistema acabado, fechado em si mesmo.
Mas um constante ver e rever, que permite o desenvol-
vimento e a evolução.

A reflexão é o que qualifica o conhecimento filosófico, e esta


reflexão tem que ser um exercício profundo e sério: ela tem que
ser crítica.

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Introdução à Filosofia

Filosofia é crítica
A palavra crítica vem do grego “krisis” (crise) e significa
purificação, crescimento. É o conceito de crítica que torna a
reflexão filosófica qualitativamente superior a uma reflexão, pelo
simples prazer de refletir.

Conforme Pacheco e Nesi (2007, p. 25), “a crítica está ligada a


nossa capacidade de questionar e julgar”. Criticar significa “não se
conformar com as explicações já fornecidas sobre o nosso mundo”
e a realidade que nos cerca. A crítica está sempre em relação com
algo que nos é apresentado. É uma maneira privilegiada de nos
posicionarmos perante fatos, objetos, conceitos e situações. O
filósofo, feito criança envolta num mundo de muitos e variados
porquês, não pára de questionar. Tem um espírito inquiridor,
inquieto, investigativo.

Conforme Pacheco e Nesi (2007, p. 25), criticar abrange duas


características básicas: questionar os fundamentos, as idéias, as
causas e os efeitos de um fenômeno; julgar estes fundamentos ou
idéias como aceitáveis ou não.

Filosofia é crítica. A filosofia parte do que existe, analisa, critica,


coloca em dúvida, faz perguntas importunas, abre a porta das
possibilidades, faz entrever outros mundos e outros modos de
compreender a vida.

A Filosofia questiona o modo de ser das pessoas, das


culturas, do mundo. Questiona as práticas política, cien-
tífica, técnica, ética, econômica, cultural e artística. E, por
isso, incomoda. A Filosofia quer encontrar o significado
mais profundo dos fenômenos. Não basta saber como
funcionam, mas o que significam na ordem geral do
mundo humano. A Filosofia emite juízos de valor, ao
julgar cada fato, cada ação em relação ao todo.

Unidade 1 21

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Filosofia é criatividade
A Filosofia é criatividade e, conforme Pacheco e Nesi (2007, p. 25):

a criatividade está relacionada com a nossa capacidade de


gerar [novas explicações e realidades,] de criar o novo. [É
a atitude ou atividade criadora.] A criatividade representa
um passo posterior em relação à crítica. Se, ao criticar,
questionamos e julgamos as explicações sobre o nosso
mundo, então, agora estamos preparados para desenvolver
a criatividade, ao propor uma ‘nova’ explicação sobre o
mundo.

A crítica queima e purifica. A criatividade, por sua vez, constrói


o novo.

Aqui a Filosofia encontra-se com a ousadia. O filósofo não


tem medo de balançar as estruturas do que está estabelecido
e caminhar em direção ao novo, ao inaudito. O filósofo é
pensamento em busca do novo. Atividade de quem apressa o
parto de novas ideias e concepções, gerando novos sentidos e
explicações para a realidade.

A criatividade, enquanto atitude filosófica, exige a con-


templação, a admiração, que são filhas do tempo. A
criatividade exige o tempo da gestação do novo. Por isso
ela não pode ser apressada sob pena de ser falseada e
confundida com mero modismo, que muito barulho faz
para, num breve e curtíssimo tempo, dissolver-se no ar
pueril das novidades.

Filosofia é amor à sabedoria


A etimologia da palavra Filosofia confirma o enunciado. O
vocábulo, originário do verbo grego philosophein, significa amar
(philia) a sabedoria (sophia) ou procura amorosa da verdade,
entendida como reflexão da pessoa acerca da vida e do mundo. A
Filosofia, além de sofia (saber, ciência), é a procura dessa sofia.

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Introdução à Filosofia

A essência da Filosofia é a procura do saber e não


somente a sua posse: “O que eu sei, é que nada sei”,
dizia Sócrates (470-399 a.C.). O sábio não julga saber,
o sábio busca, procura, investiga. O verdadeiro sábio
sabe que a verdade não lhe pertence e, por isso, acer-
ca-se amorosamente dela.

Figura 1.2 – Pitágoras

A palavra Filosofia foi utilizada pela primeira vez por Pitágoras Fonte: Souza (2008).
(século V a.C.). Em resposta aos que o chamavam de “sábio”,
Pitágoras retrucava, exigindo não ser chamado assim, mas apenas
de “amante da sabedoria”, alguém que procura pelo saber, ou seja:
um filósofo. Veja a figura 1.2.

Filosofia é visão de mundo


Filosofar é olhar o mundo com os “olhos” da Filosofia. Por ser
uma particularidade do ser pensante, há um grau considerável de
subjetividade na atitude filosófica. Os filósofos podem chegar a
conclusões diversas, dependendo das premissas de partida e da
situação histórica dos próprios pensadores.

A Filosofia está sempre vinculada a um determinado contexto


histórico que procura, ao seu tempo, responder às questões que
intrigam a racionalidade humana. Estas diferentes concepções
são chamadas de sistemas filosóficos. Mas, em qualquer situação,
o processo do filosofar ultrapassará a mera informalidade,
enquanto compromisso com respostas satisfatórias e com assento
na realidade.

A Filosofia informal
Na vida cotidiana, as pessoas deparam-se com situações para as
quais buscam respostas. Estas questões rotineiras são refletidas no
ritmo em que acontecem, sem nenhum compromisso com a lógica,
a coerência, o formalismo científico, por pessoas comuns, dotadas
de racionalidade. Este pensar cotidiano dá origem a uma “filosofia”
vulgar, ou seja, popular, ou do povo. Uma sabedoria de vida.

Unidade 1 23

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Além destas reflexões que são provocadas naturalmente pelos


acontecimentos diários, as pessoas optam -- condicionadas pelo
meio em que vivem ou por tradições arraigadas -- , por princípios
básicos que norteiam as suas vidas. E, de alguma forma, mesmo
sem ser filósofo, toda pessoa tem uma proposta de vida, valores
que são eleitos no decorrer da vida, um perfil do que pretende
realizar na sua existência, uma maneira específica de enxergar e
viver a realidade, mesmo que isto não seja muito claro para ela.
Eis aqui o que podemos chamar de “filosofia” de vida.

É preciso deixar claro, no entanto, que esta “filoso-


fia” informal é subjetiva e superficial. Não obedece a
nenhuma exigência formal ou rigorosa. É construída
artesanalmente ou espontaneamente, de acordo
com a vida que cada indivíduo vai levando. Seu único
limite são as convenções sociais, o espaço do outro.
Assim compreendida a Filosofia, cada ser humano
é um filósofo, pois pensa, reflete e cria a sua própria
forma de enxergar o mundo.

A Filosofia formal
A Filosofia não se resume apenas à filosofia de vida. Ela também
tem sua elaboração formal, seu compromisso com a lógica, seus
critérios universais. É a chamada Filosofia formal.

Para que uma reflexão possa ser chamada de filosófica, é preciso


que satisfaça a uma série de exigências. Entre elas, Saviani (2002)
destaca três:

„„ radicalidade: a Filosofia exige que a questão a ser


analisada seja colocada em termos radicais. Quer dizer, é
preciso que se vá até as raízes, até seus fundamentos, ou
seja, uma reflexão em profundidade;

„„ rigorosidade: deve-se proceder à reflexão com rigor, ou


seja, sistematicamente, segundo métodos determinados;

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Introdução à Filosofia

„„ totalidade: a questão não pode ser analisada de


modo parcial, mas em uma perspectiva de conjunto,
relacionando-a com os demais aspectos do contexto em
que está inserida.

O filósofo, além de pensar com maior rigor lógico,


com maior coerência, com maior espírito de sistema,
deve conhecer a história do pensamento humano,
saber explicar o desenvolvimento que o pensamento
teve e ser capaz de retomar os problemas a partir do
ponto em que se encontram, depois de terem sofrido
as mais variadas tentativas de solução. Esta estrutura
racional de tratamento das questões promove a pas-
sagem do mito para o logos, das explicações mitológi-
cas e religiosas para as explicações racionais.

Seção 3 - Os primórdios da Filosofia


Na história do pensamento ocidental, a Filosofia nasce na
Grécia, por volta do século VI a.C. Surge, por meio de longo
processo histórico, promovendo a passagem do saber mítico ao
pensamento racional.

O que caracteriza, portanto, a origem da Filosofia, o


aparecimento do espírito filosófico enquanto tal é a
passagem das explicações a partir do sobrenatural
para as explicações racionais ou humanas.

Os primeiros filósofos, assim como os poetas Homero e Hesíodo,


buscam uma explicação para a relação entre o caos e a ordem
do mundo. O que muda é a maneira de entender essa relação.
Enquanto o poeta vê os deuses como os responsáveis por tudo
que existe e acontece, os antigos pensadores preferem partir das
formas da natureza (terra, água, ar etc...) para entender a vida.

Unidade 1 25

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Universidade do Sul de Santa Catarina

A mitologia
A palavra grega mythos significa narrativa. Trata-se de uma palavra
que aponta a origem dos deuses, do mundo, dos homens, das
técnicas (fogo, caça, pesca, artesanato, guerra etc...) e da vida social.

No entanto, pode-se afirmar que os mitos são mais do que


simples narrativa. De acordo com Chaui (1998, p. 138), são
a maneira pela qual, através das palavras, os seres humanos
organizam a realidade e a interpretam.

O pensamento mítico grego teve início desde o séc. XXI


ao VI a.C. A verdade do mito não obedece à lógica da
verdade empírica, nem da verdade científica. É verdade
intuída, que não necessita de provas para ser aceita. É
uma intuição compreensiva da realidade, é uma forma
espontânea do homem situar-se no mundo.
Imanência é a qualidade do que
está aqui e faz parte deste mundo,
da realidade da natureza e da
realidade do homem. As características do logos, que o contrapõem ao pensamento
mítico, são a imanência (oposta à transcendência), o
naturalismo e o abandono do antropomorfismo.
Naturalismo é a concepção
A passagem da consciência mítica ou religiosa para a consciência
que defende a origem natural
do homem e do mundo, sendo a racional ou filosófica não aconteceu instantaneamente. Esses dois
natureza o lugar privilegiado para tipos de consciência coexistiram na sociedade grega. Durante
encontrar respostas e explicações muito tempo, os primeiros filósofos gregos compartilhavam de
para todo questionamento. diversas crenças míticas, enquanto desenvolviam o conhecimento
racional que caracterizaria a Filosofia.

Antropomorfismo refere -se


a explicações que atribuem aos O mito não é exclusividade de povos primitivos, nem
deuses e à natureza formas de civilizações nascentes, mas existiu em todos os
humanas. Uma espécie de metáfora tempos e culturas como componente indissociável
em que se fala dos deuses e da da maneira humana de compreender a realidade,
natureza a partir do entendimento, também na sociedade atual.
linguagem e realidade humana.

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Introdução à Filosofia

Tudo começou com Tales


O grego Tales de Mileto (624-546 a.C.) é considerado o marco
inicial da história da Filosofia. Ele se encontra entre os chamados
filósofos pré-socráticos (os que viveram antes de Sócrates). A
preocupação principal destes pensadores originais e originantes era a
de desvendar para estes gregos os segredos do universo, compreender
a natureza num sentido amplo, a physis. Por isso, dizemos que a
Filosofia primeira era cosmológica (estudo do cosmos). De acordo com Pacheco e Nesi
(2007, p. 20), os gregos antigos
Tales inaugura uma nova atitude do homem em relação ao mundo. tinham uma concepção de
natureza diferente da nossa,
Conforme Pacheco e Nesi (2007, p. 20), começou a questionar de hoje. O conceito de natureza
racionalmente a natureza com perguntas como essas: (physis) grego abrangia todas
as coisas que existem, inclusive
a subjetividade humana,
- Por que uma planta cresce? Por que ela se o processo de nascimento,
desenvolve e morre? Por que os seres vivos desenvolvimento e morte dos
nascem, desenvolvem-se e morrem? O que seres, o processo de geração e
garante a vida dos seres vivos? corrupção das coisas.

Qual o princípio (arkhé) que origina todos os


seres? De acordo com Pacheco e Nesi
(2007, p. 20), arkhé é uma
palavra grega que designa
princípio. Os primeiros
Tales não se satisfaz com as respostas dadas pela mitologia, que filósofos, os pré-socráticos,
atribuía a realidade e o sentido de todas as coisas à ação dos tinham em comum o fato de
deuses e a fenômenos inexplicáveis. “Ele procurava investigar, que investigavam qual seria o
compreender o mundo de modo racional” (questionando). princípio (arkhé) constitutivo
de todas as coisas presentes
Conforme Pacheco e Nesi (2007, p. 21), Tales na natureza (natureza esta
entendida em seu sentido
amplo como physis).

acredita que há razões, motivos, em função dos quais


uma planta, por exemplo, nasce, cresce e morre.
Fundamenta a investigação de Tales a concepção de
que o nascimento, o crescimento e a morte são efeitos
que podemos perceber, mas que existe uma causa que
originou esta mudança. Esta relação de causa e efeito, o
princípio da causalidade [...]

é o caminho de Tales para o entendimento racional da realidade e


“marca o surgimento da Filosofia como tentativa de investigação
racional da realidade”.(ibidem, p. 21).

Unidade 1 27

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Por que a Grécia?


Você sabe por que a Filosofia surgiu justamente na Grécia
e naquele período histórico? Quais as condições materiais
(políticas, econômicas, sociais, históricas etc...) que permitiram o
surgimento da Filosofia?

Acompanhe algumas das principais condições, segundo Chaui


(1998, p. 31-32).

Viagens marítimas - estas permitiram aos gregos descobrir que


os locais ditos pelos mitos como habitados por deuses, heróis
etc... eram, na verdade, habitados por outros seres humanos;
e que as regiões dos mares que os mitos diziam habitadas por
monstros e seres fabulosos, não possuíam nada disso. As viagens
produziram o desencantamento ou a desmistificação do mundo.
A explicação do mito já não era mais razoável.

Invenção do calendário - observe que este é uma forma de


calcular o tempo conforme as estações do ano, as horas do dia,
enfim os fatos importantes que se repetem, revelando, com isso,
uma capacidade de abstração nova, ou uma percepção do tempo
como algo natural, e não como um poder divino incompreensível.

Invenção da moeda - permitiu uma forma de troca que não


se realiza através das coisas concretas ou dos objetos concretos
trocados por semelhança (escambo), mas uma troca feita pelo
cálculo do valor semelhante das coisas diferentes, revelando,
assim, uma nova capacidade de abstração e generalização.

Surgimento da vida urbana - com predomínio do comércio e


do artesanato, dando desenvolvimento a técnicas de fabricação
e de troca, diminuiu o prestígio das famílias da aristocracia
proprietárias de terras, por quem e para quem os mitos foram
criados; além disso, o surgimento de uma classe de comerciantes,
que precisava encontrar pontos de poder e de prestígio para
suplantar o velho poderio da aristocracia de terras e de sangue
(famílias), fez com que se procurassem as artes, as técnicas,
os conhecimentos, favorecendo um ambiente onde a Filosofia
poderia surgir.

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Introducao a Filosofia.indb 28 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

Invenção da escrita alfabética - outro elemento que revela


o crescimento da capacidade de abstração e de generalização,
uma vez que a escrita alfabética ou fonética, diferentemente de
outras escritas (como, por exemplo, os hieróglifos dos egípcios ou Em torno do ano 1500 a.C.,
os ideogramas dos chineses), supõe que não se represente uma começou a formar-se no
seio da cultura semita,
imagem da coisa que está sendo dita, mas a ideia dela, o que dela
provavelmente na Síria, a
se pensa e se transcreve. escrita alfabética. O método
consistia na representação
Desenvolvimento da política - que introduz três aspectos novos gráfica de sons isolados
e decisivos para o nascimento da Filosofia: mediante sinais próprios. Foi
utilizado por numerosos povos
„„ a ideia da lei como expressão da vontade de uma antigos e, posteriormente,
permitiu aos fenícios criar seu
coletividade humana, que decide por si mesma o que é
alfabeto, o qual disseminaram
melhor para si e como ela definirá suas relações internas, por todos os países a que
dentro da polis; levaram sua civilização. Os
signos do alfabeto fenício,
„„ o surgimento de um espaço público, que faz aparecer como os de todas as línguas
um novo tipo de discurso, diferente daquele que era semitas, só representam as
proferido pelo mito. Agora, com a polis, surge a palavra consoantes. Os gregos, que
o adotaram por volta do ano
como direito de cada cidadão de emitir em público sua
800 a.C., acrescentaram-lhe
opinião, discuti-la com os outros, persuadi-los a tomar a representação das vogais.
uma decisão proposta por ele, de tal modo que surge o Todos os alfabetos posteriores
discurso político como a palavra humana compartilhada, procedem do semita ou
como diálogo, discussão e deliberação humana; do grego e dispõem de um
repertório de vinte a trinta
„„ a política estimula um pensamento e um discurso que não letras. A primitiva escrita
grega utilizava somente letras
procuram ser formulados por seitas secretas dos iniciados
maiúsculas; posteriormente,
em mistérios sagrados, mas que procuram, ao contrário, introduziram-se as minúsculas.
ser públicos, ensinados, transmitidos, comunicados e
discutidos. A idéia de um pensamento que todos podem
compreender e discutir, que todos podem comunicar e
transmitir, é fundamental para Filosofia.

Segundo Abrão (1999, p. 18), há uma diferença fundamental


entre o pensamento mítico e o pensamento racional dos primeiros
filósofos. A mitologia exprimia, na forma divina e celestial, todo
o conjunto de relações, quer dos homens entre si, quer entre o
homem e a natureza. Assim como os deuses são criadores do
mundo, o rei é o criador da ordem social. Por isso, a mitologia
apenas narra a sucessão de fenômenos divinos, naturais e
humanos. Ela não os explica, pois a explicação já está dada pelo
poder real.

Unidade 1 29

Introducao a Filosofia.indb 29 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

O desaparecimento do “rei divino” altera este cenário.


A pólis surge como criação da vontade humana. Os
acontecimentos, antes considerados realizações do
rei (e dos deuses) perdem a base de compreensão.
Tornam-se problemas. Para resolvê-los, o homem deve
servir-se do meio que ele próprio desenvolveu ao criar
a pólis: a razão.

Também o centro da cidade sofre uma mudança radical com a


ágora, a praça pública, onde acontecem as transações comerciais
Praça pública das antigas e as discussões sobre a vida da cidade. O acesso à ágora torna-se
cidades gregas, em geral cada vez maior, estendendo-se, com a instituição da democracia,
constituída de um espaço
a todos os que têm direito à democracia, ou seja, habitantes do
aberto, cercado de edifícios
públicos. Símbolo da sexo masculino, adultos e que não sejam estrangeiros ou escravos.
democracia grega, utilizada,
sobretudo, em atividades No entanto, muito antes do nascimento da pólis, a Grécia
políticas e assembléias dos já vivia uma vida cultural intensa, da qual Homero é o
cidadãos. representante. Os poemas atribuídos a ele, Ilíada e Odisséia,
narram as últimas guerras troianas, que ocorreram por volta de
1250 a.C. Ilíada conta a fase final dos combates.
Epopéia em 24 cantos atribuída
ao poeta grego Homero. Narra Derrotada Tróia, o herói Ulisses parte para Ítaca, sua terra natal,
as proezas do herói Aquiles na onde a esposa Penélope o espera. Odisséia descreve esta longa
Tessália, durante a última etapa
da guerra de Tróia, quando esta
viagem através dos mares.
é tomada pelos gregos.
Em Ilíada, explica por que os troianos eram vitoriosos em certas
Tróia: Cidade histórica erguida
por colonos gregos por volta do
batalhas e, em outras, a vitória cabia aos gregos. Os deuses
ano 700 a.C. Base dos épicos de estavam divididos: alguns, a favor de um lado; e outros, a favor
Homero. de outro. Zeus (o rei dos deuses) ficava com um dos lados a cada
Ulisses: Herói da mitologia vez: aliava-se a um dos grupos (gregos ou troianos) e fazia um
grega, filho do rei Laerte e de dos lados vencer uma batalha.
Anticléia. Protagonista das
epopéias homéricas, tornou-se A causa da guerra, aliás, foi uma rivalidade entre as deusas. Elas
símbolo da capacidade humana apareceram em sonho para o príncipe troiano Páris, oferecendo a
para superar as adversidades.
ele seus dons, e ele escolheu a deusa do amor, Afrodite. As outras
Odisséia: Epopéia do poeta deusas, enciumadas, o fizeram raptar a grega Helena, mulher do
grego Homero, escrita
provavelmente no século VIII
general grego Menelau, e isso deu início à guerra entre os humanos.
a.C. Narra as aventuras de
Ulisses, ou Odisseu, rei de Ítaca
e marido de Penélope.

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Introdução à Filosofia

Você quer saber mais sobre a Odisséia de Homero?


Então, assista ao filme “A Odisséia”.
Acompanhe os dados básicos, o resumo e contexto
histórico do filme.

TÍTULO DO FILME: “A ODISSÉIA” (The Odyssey, EUA 1997)


DIREÇÃO: Andrei Konchalovsky
ELENCO: Isabella Rosselini, Armand Assante, Eric
Roberts, Greta Scacchi, Geraldine Chaplin, Christopher
Lee, Irene Papas. 150 min, Alpha Filmes.

Resumo: O filme, uma produção de Francis Ford


Coppola, é uma adaptação do poema A Odisséia,
atribuído a Homero. Narra as aventuras de Ulisses na
guerra de Tróia e sua saga para retornar para Itaca e
para a sua amada Penélope. Para tanto, luta contra
a vontade de deuses e deusas e contra o poder das
criaturas mitológicas. A saga de Ulisses representa um
marco na passagem da Mitologia para a Filosofia, pois,
contra a força dos deuses, o herói usa as qualidades e
habilidades humanas (racionalidade, engenhosidade,
critividade, coragem).

Explicação racional e argumentada da realidade


Observando que os antigos narradores (Homero, Hesíodo)
só transmitiam tradições, sem dar nenhuma prova de suas
doutrinas, Aristóteles (384-322 a.C.), um dos fundadores da
Filosofia ocidental, distinguiu entre Filosofia e mito, dizendo
ser próprio dos filósofos dar a razão daquilo que falam, ou seja,
justificar as suas afirmações.

Estabeleceu-se assim, na cultura ocidental, uma primeira


delimitação do conceito de Filosofia como explicação racional
e argumentada da realidade. No entanto, não havia sido
definida, naquele momento, a separação da Filosofia e das
diversas ciências. Aristóteles, por exemplo, investigou tanto
sobre metafísica, como sobre física, história natural, medicina

Unidade 1 31

Introducao a Filosofia.indb 31 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

e história geral, todas reunidas sob a denominação comum de


Filosofia. Somente a partir do Renascimento, as diversas ciências
se diferenciaram, e a Filosofia foi-se definindo em seus atuais
limites e conteúdos.

Pode-se afirmar que o homem sempre se questionou sobre


temas como a origem e o fim do universo, as causas, a natureza
e a relação entre as coisas e entre os fatos. Essa busca de um
conhecimento que transcende a realidade imediata constitui
a essência do pensamento filosófico, o qual, ao longo da
história, percorreu os mais variados caminhos, seguiu interesses
diversos, elaborou muitos métodos de reflexão e chegou a várias
conclusões, em diferentes sistemas filosóficos.

Desta maneira, Filosofia é uma busca da sabedoria,


conceito que aponta para um saber mais profundo e
abrangente do homem e da natureza, o qual trans-
cende os conhecimentos concretos e orienta o com-
portamento diante da vida. A Filosofia pretende ser
também uma busca e uma justificação racional dos
princípios primeiros e universais das coisas, das ciên-
cias e dos valores, e uma reflexão sobre a origem e a
validade das ideias e das concepções que o homem
elabora sobre ele mesmo e sobre o que o cerca.

Seção 4 - Filosofia na UnisulVirtual


A presença da Filosofia na Unisul não começa com o
oferecimento deste curso na UnisulVirtual: temos uma história
de proximidade e afinidade com o saber filosófico. Nesta seção,
conheceremos um pouco desta história e acentuaremos alguns
aspectos do projeto pedagógico que norteia a proposta atual de
Filosofia na modalidade a distância.

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Introducao a Filosofia.indb 32 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

A Filosofia na Unisul
A Filosofia é considerada a mãe de todas as ciências. Está na
origem da civilização e mentalidade ocidental. Na antiga Grécia,
na passagem das explicações mitológicas para as tentativas
racionais de explicação e entendimento da realidade, nasce a
Filosofia, a ciência, a civilização ocidental. Não há produção ou
descoberta do conhecimento sem a atitude filosófica, por isso
a Filosofia não pode estar ausente da universidade virtual que
estamos construindo.

A Universidade do Sul de Santa Catarina foi fundada na cidade


de Tubarão, estado de Santa Catarina, no ano de 1964. Foi
amizade pela sabedoria, o prazer em conhecer, a constante e
inquieta busca pelo conhecimento que animou e encorajou os
fundadores da nossa instituição. Ampliar as possibilidades de
acesso ao conhecimento foi o ideal que desencadeou o processo
de fundação e posterior desenvolvimento da nossa universidade.

O Curso de Filosofia da Unisul, na modalidade presencial,


recebeu autorização de funcionamento do Conselho Estadual de
Educação em fevereiro de 1973, iniciando as suas atividades no
mesmo ano. Em 3 de novembro de 1977, o curso foi reconhecido
pelo Ministério da Educação.

Contrariando a orientação tecnicista reinante no cenário educacional


brasileiro no início dos anos setenta, a Unisul investe em cursos
de formação humana e contribui, significativamente, para a
transformação da história da região sul do estado catarinense.

São mais de três décadas de presença da Filosofia na história da


universidade, formando professores, pesquisadores e cidadãos
e oferecendo quadros para a gestão da universidade. Iniciou-
se primeiramente com a oferta da modalidade Licenciatura no
Campus Sul, em Tubarão, habilitando professores nas disciplinas
Filosofia, Psicologia e Sociologia. Cabe destacar, neste período,
a formação filosófica possibilitada pela Unisul ao clero da Igreja
Católica do sul de Santa Catarina. Depois, com a oferta da
modalidade Bacharelado, no Campus Norte, em Florianópolis,
tendo como clientela seminaristas de diversas regiões do Estado e
tantos outros amantes da sabedoria.

Unidade 1 33

Introducao a Filosofia.indb 33 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

Hoje nos encontramos mais uma vez diante de um


cenário propício, diante de uma nova oportunidade:
a Filosofia volta a ser considerada disciplina funda-
mental na formação básica do cidadão. A resolução nº
4, de 16 de agosto de 2006, do Conselho Nacional de
Educação inclui a disciplina Filosofia na grade curricu-
lar do Ensino Médio, gerando uma demanda significa-
tiva de profissionais habilitados nesta docência. O pre-
sente curso de Filosofia na modalidade Bacharelado é
o embrião da modalidade Licenciatura, a ser ofertada
na continuidade deste projeto pedagógico.

Também cabe registrar a significativa procura de profissionais das


mais diversas áreas e pessoas não comprometidas com atividades
laborativas por formação humana e conhecimentos filosóficos.

Vivenciamos uma nova sociedade. A sociedade da informação,


a sociedade do conhecimento. Um tempo de acelerado
desenvolvimento tecnológico, caracterizado pelo uso intensivo
das novas tecnologias da informação e da comunicação, que vem
provocando uma intensa e permanente mudança de paradigmas.
Neste contexto de mundo em mudança, o acesso e a apropriação
do conhecimento têm extrema importância para a sobrevivência
dos indivíduos e organizações.

A Filosofia na UnisulVirtual vem dar prosseguimento ao


compromisso da universidade com a formação de profissionais
nas mais diversas áreas de atuação e suprir uma lacuna na área
da formação humanística na grade de cursos oferecidos nesta
modalidade de ensino. Um curso que visa formar pessoas,
profissionais, cidadãos.

A educação a distância não tem como objetivo substituir o


ensino presencial, mas sim articular-se com este de maneira
complementar, sinérgica, produtiva e criativa. O objetivo
fundamental da educação a distância é o mesmo que sempre
animou a atividade filosófica: ampliar as possibilidades de produção
de conhecimento e acesso a ele; e promover a democratização do
ensino superior, permitindo o ingresso de parcelas da população
até então impedidas de cursar a universidade.

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Introducao a Filosofia.indb 34 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

Ensino a Distância e LDB


Em 1994, com a expansão da internet junto às Instituições de
Ensino Superior (IES), e com a publicação da Lei de Diretrizes e
Bases para a Educação Nacional (LDB), em dezembro de 1996 –
que oficializa a EaD como modalidade válida e equivalente para
todos os níveis de ensino – é que a universidade brasileira dedica-
se à pesquisa e oferta de cursos superiores a distância e ao uso
de novas tecnologias neste processo. (VIANNEY; TORRES;
SILVA, 2003, p. 16).

O Decreto n.º 2.494, de 10 de fevereiro de 1998, que


regulamenta o art. 80 da Lei que dispõe sobre as Diretrizes
e Bases da Educação Nacional no Brasil, estabelece que os
certificados e diplomas de cursos a distância terão validade
nacional e assim define a Educação a Distância

[...] uma forma de ensino que possibilita a auto-


aprendizagem, com a mediação de recursos didáticos
sistematicamente organizados, apresentados em
diferentes suportes de informação utilizados isoladamente
ou combinados, e vinculados pelos diversos meios
de comunicação. (BRASIL, 1998 apud VIANNEY;
TORRES; SILVA 2003, p. 35).

Vianney, Torres e Silva, 2003 destacam que o decreto introduz


o conceito de “auto-aprendizagem”, projetando o indivíduo
como um dos gestores de seu processo educacional. Privilegia
a informação possibilitada por recursos sistematicamente
organizados, ensejando a intervenção de outros gestores que,
mediante os meios de comunicação, deverão estabelecer uma
relação interativa entre instituição e aluno.

Com base no exposto pelo Decreto, pode-se caracteri-


zar a educação a distância como um processo em que
o aluno constrói o conhecimento interagindo com
professores e outros alunos de forma independente
da relação tempo-espaço. Deste modo, sua respon-
sabilidade passa pelos aspectos como estudar, onde
estudar e com que frequência estudar.

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Universidade do Sul de Santa Catarina

O papel da instituição de ensino nesta modalidade de educação,


por sua vez, é o de mediar o processo de interação, garantindo
a qualidade em todo o processo, em que o professor atua
como facilitador do percurso de aprendizagem do aluno; os
recursos técnicos de comunicação proporcionam igualdade de
oportunidades de acesso ao saber; respeita-se a autonomia do
aluno no processo de aprendizagem; a atividade educativa é
bidirecional; a educação é otimizada pela tecnologia; e a barreira
da distância geográfica é vencida.

O que significa estudar a distância


Estudar a distância significa modificar algumas referências e hábitos,
substituindo-os por outros mais apropriados para a condição de
aluno autônomo e a distância. Em vez de se pensar em “salas de
aula e horários de curso”, deve-se imaginar um espaço virtual de
gestão de horário de trabalho e de processo de aprendizagem.
Em vez de imaginar “receber uma aula e fazer os seus deveres no
prazo marcado”, é necessário imaginar um “caminho para uma
aprendizagem e realização de atividades para aprender”.

Estas diferenças não são apenas de vocabulário. Elas envolvem


atitudes, hábitos, estratégias de aprendizagem e responsabilidades
bem diferentes das que são normalmente desenvolvidas. Trata-
se de, partindo do que já se sabe, tentar desenvolver novas
aprendizagens a partir de um ambiente virtual de aprendizagem.

A EaD é, pois, uma alternativa pedagógica de grande alcance, que


deve utilizar e incorporar as novas tecnologias como meio para
alcançar os objetivos das práticas educativas, tendo sempre em vista
as concepções assumidas, de homem e sociedade, e considerando
as necessidades das populações a que se pretende servir.

Tem-se, também, a possibilidade da simultaneidade entre estudo


e trabalho; democratização de acesso aos estudos superiores a
uma ampla população geograficamente distante de instituições
universitárias; possibilidade de percorrer trajetórias diferentes de
estudo, na medida em que eles próprios estabelecem seus horários;
e possibilidade de realizar estudos diferentes daqueles orientados
pelos professores, ampliando-os na medida das suas necessidades.

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Introdução à Filosofia

A metodologia desenvolvida na UnisulVirtual pos-


sibilita a realização de estudos individualizados ou
estudos em grupo com objetivos de interagir na
busca de respostas para as dificuldades ou compar-
tilhar descobertas. Possibilita a emergência da roda
de crítica e debate, a troca e embate permanente de
ideias, próprios do exercício do filosofar. Possibilita
uma ampliação significativa da tarefa da Filosofia.

A UnisulVirtual é uma realidade. Um ambiente de busca, transmissão


e desenvolvimento do conhecimento. A Filosofia vem para a
UnisulVirtual por compartilhar com esta a convicção de que não há
ambiente em que a tarefa crítica da Filosofia não seja necessária.

A quem se destina o curso de Filosofia da UnisulVirtual


O curso de Filosofia da UnisulVirtual foi pensado para
profissionais das mais diversas áreas, portadores de graduação ou
não, desejosos de formação humana e filosófica que permita uma
atuação diferenciada no mercado de trabalho e um entendimento
dos problemas que afligem o ser humano em suas múltiplas
dimensões, a saber: cognitiva, afetiva, econômica, política,
cultural e ecológica.

Foi pensado também para lideranças políticas e comunitárias,


de movimentos sociais e organizações da sociedade civil,
atores sociais que reconhecem a importância da Filosofia
para o exercício da cidadania e a busca de uma sociedade
mais democrática. E também para amantes da sabedoria não
comprometidos (as) com atividades laborativas, que buscam na
Filosofia o conhecimento milenar sobre o ser humano e sobre o
mundo.

Um olhar rápido nas listas dos livros mais vendidos ou a consulta


aos lançamentos expostos nas livrarias revelam um fenômeno
digno de nota: entre eles encontram-se muitos que, de alguma
forma, são dedicados à Filosofia. Ao ser humano não basta o
viver: ele quer compreender a vida! A forte demanda por Filosofia
pode ser compreendida a partir da sensação de insegurança e
desamparo em face dos desafios do mundo contemporâneo.

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Vivemos com um pé num mundo que se dissolve diante dos


nossos olhos e com um pé num mundo que está surgindo. Onde
estamos? Para onde estamos indo? São questões que afloram
nas mentes e corações. E remetem para as clássicas questões
filosóficas: Quem sou eu? Por que estou aqui?

A Filosofia interpreta e interroga a vida, sonda a


época, pensa com ela e contra ela, questiona as
ilusões e reflete sobre teorias capazes de transcender
o presente e iluminar o futuro.

Este curso destina-se a todos e todas que sentem esta necessidade


profundamente humana de pensar a vida e de tê-la ao alcance das
suas mãos. Destina-se aos que se querem sujeitos e protagonistas
da sua própria história.

Quem são os filósofos?


Os filósofos são profissionais capazes de discutir a história da
Filosofia e de compreender e transmitir os sistemas filosóficos
elaborados pelos grandes pensadores da história e por grandes
correntes de pensamento.

O Curso de Filosofia visa gerar as competências exigidas por um


mundo e sociedade em constante transformação, habilitando-nos
para refletir, com autonomia e de maneira crítica, questões do
universo de trabalho e demais realidades que nos envolvem.

O campo de atuação do Graduado em Filosofia inclui a pesquisa


e produção teórica e atividades diversas, tais como a consultoria
em empresas, meios de comunicação, editoras, organizações não-
governamentais, assessoria de movimentos sociais, assessoria
política e outras. O licenciado em Filosofia irá dedicar-se à
atividade docente na área da Filosofia, no Ensino Médio.

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Introdução à Filosofia

Espera-se do profissional formado pelo Curso de Filosofia da Unisul:

„„ capacidade de argumentação com embasamento e


articulação do raciocínio na construção de um discurso
claro e objetivo, que demonstre habilidade na escrita e
expressão oral, compreensão e análise de textos e temas
filosóficos;

„„ compreensão das questões acerca do sentido e da


significação da existência humana e da relação intrínseca
entre o estudo da filosofia, a produção científica e o agir
pessoal e político;

„„ capacidade de relacionar o exercício da crítica


filosófica com a promoção integral da cidadania e com
o respeito à vida, dentro da tradição de defesa dos
direitos fundamentais da pessoa humana e da natureza
na elaboração de um saber que se contraponha aos
estereótipos étnicos, sociais e culturais;

„„ espírito de liderança junto às comunidades, instituições


sociais, ONGs, movimentos sociais e no interior de
empresas;

„„ conhecimento das técnicas de elaboração, execução e


avaliação de projetos de pesquisa e intervenção social; e

„„ aptidão (gosto) para a leitura e preparo acadêmico para


iniciar e desenvolver pesquisas filosóficas, domínio
do conhecimento filosófico e de suas técnicas de
investigação, transmissão e produção do conhecimento.

Objetivos comuns do Bacharelado em Filosofia


O projeto pedagógico do Curso de Graduação em Filosofia da
UnisulVirtual foi concebido a partir dos seguintes objetivos:

Unidade 1 39

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Universidade do Sul de Santa Catarina

„„ queremos promover a difusão da cultura filosófica


nas instituições de ensino e nos diferentes ambientes
educativos e corporativos, capacitando os acadêmicos
para a leitura, compreensão, interpretação, análise e
síntese dos clássicos da Filosofia habilitando-os para o
enfrentamento das realidades emergentes, favorecendo
a produção de novos conhecimentos e novos métodos
de transmissão dos conhecimentos, resgatando assim a
tradição do filósofo educador;

„„ queremos favorecer o exercício da cidadania,


proporcionando aos profissionais de qualquer área
instrumentos para a análise e compreensão da
realidade social, histórica e política do Brasil e do
mundo, despertando o senso crítico e propiciando o
desenvolvimento do espírito investigativo. Para tanto, faz-se
necessário aprimorar as habilidades de argumentação,
de embasamento de pontos de vista e de articulação do
raciocínio em um discurso claro e conceitual; e

„„ queremos desenvolver a liberdade e a solidariedade


humana, estimulando o cultivo de valores que enfatizem
a dignidade do indivíduo como cidadão, relacionando a
atividade filosófica ao exercício da crítica social voltada
para a promoção integrada da cidadania. A Filosofia
incentiva a prática constante da análise dos valores
que orientam o pensar e o agir humanos, despertando
capacidades que facilitem a atuação na elaboração e
coordenação de projetos de cunho artístico, cultural e
educacional e político.

Concluindo

A Filosofia faz parte da história da Unisul e faz parte da sua


história. E tem os seus méritos reconhecidos na busca da
realização do conceito de Universidade comprometida com o
desenvolvimento humano e a produção do conhecimento:

O que é uma universidade? É uma universalidade


de ciências, do conhecimento humano. Por isto nós
começamos a entrar no campo da saúde, no campo da
promoção social, no campo da tecnologia, para, aos
poucos, ir formando a Universidade que sonhávamos.

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Introdução à Filosofia

E também, no campo da Filosofia, com a concepção de


que não há ciência, não há universidade, sem Filosofia.
(DELLA GIUSTINA, 1995, p. 26).

Em síntese: queremos um profissional que saiba compreender o


contexto sociocultural do qual faz parte; relacionar-se – capaz
de trabalhar em equipe, estabelecer e gerir relacionamentos entre
pessoas e áreas de conhecimento; liderar – capaz de estimular,
orientar, conduzir, delegar poderes e conduzir processos;
empreender – capaz de identificar novas oportunidades e
implementar ações criativas e inovadoras; e decidir – capaz de
avaliar riscos e escolher soluções adequadas e ser responsável
pelas suas escolhas.

Desenvolvidas estas competências e habilidades, o profissional de


Filosofia está apto para atuar no campo da pesquisa acadêmica,
transmissão e difusão da cultura filosófica e em projetos científicos
e culturais nas diversas áreas do saber; como um cidadão
participante, questionador e atento aos problemas sociopolíticos.

Síntese

Você identificou, nesta unidade, que o desejo e a necessidade de


compreender o mundo e a própria existência, buscando para a
realidade uma explicação racional e argumentada da realidade,
fez surgir a Filosofia: um estar sendo homem no mundo! Tal
realização exige atitude, autonomia, reflexão, crítica, criatividade,
sabedoria e visão de mundo.

Conheceu, também, que a Filosofia faz parte da história da


Unisul e não poderia deixar de estar presente na universidade
virtual que estamos construindo com o Ensino a Distância, por
fidelidade aos objetivos e missão da nossa universidade: formar
pessoas, profissionais, cidadãos.

Unidade 1 41

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Por fim, você identificou que o ensino a distância exige atitude


filosófica, autonomia, criatividade, disciplina e clareza de objetivos,
ou seja, responsabilidade para consigo e fidelidades aos sonhos.

Você inicia um curso de graduação para quem se sente convidado a


interrogar a vida, transcender o presente e iluminar o futuro, sendo
protagonista, ator principal de sua vida e história. Venha com a gente!

Atividades de autoavaliação

Ao final de cada unidade, você realizará atividades de autoavaliação. O


gabarito está disponível no final do livrodidático. Mas se esforce para
resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, você promoverá
a sua aprendizagem.

1) Reveja o conteúdo da e depois responda: O que é Filosofia? Em


seguida, partilhe a sua reflexão com os(as) colegas através da
ferramenta Exposição, no Espaço Virtual de Aprendizagem (EVA).

2) A Filosofia ensina que a vida humana é um projeto que se realiza, ou


não, por meio das escolhas que fazemos. De acordo com os conceitos
de Filosofia apresentados nesta unidade, que contribuição ela aporta
para a realização deste ensinamento?

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Introdução à Filosofia

3) A filosofia informal é um dos níveis filosóficos possíveis. Sobre isso é


CORRETO afirmar:
01) Exige uma lógica e método apropriado para ser comprovada.
02) Conhecida também por filosofia de vida de cada um.
04) Faz refletir de maneira superficial as questões do dia-a-dia.
08) É a filosofia do cotidiano, das questões rotineiras.
16) É refletida pelas pessoas comuns, sem estudos mais aprofundados.
32) Exige radicalidade, sistemática e visão de totalidade.

Somatória:______________

4) Caracterize as três exigências da Filosofia formal, segundo Saviani.

Saiba mais

Que tal um contato com um texto filosófico? Então leia o trecho


abaixo do texto de Martin Heidegger. Mas não leia uma vez só.
Leia com atenção, sublinhe palavras ou expressões desconhecidas,
pesquise, use a ferramenta “tutor”, no Espaço Virtual de
Aprendizagem (EVA) para dirimir dúvidas. Divirta-se!

Unidade 1 43

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Que é isto — A filosofia?


O caminho para o qual desejaria apontar agora (para responder
à questão proposta) está imediatamente diante de nós. E,
precisamente pelo fato de ser o mais próximo, o achamos difícil.
Mesmo quando o encontramos, movemo-nos, contudo, ainda
sempre desajeitadamente nele. Perguntamos: Que é isto — a
filosofia? Pronunciamos assaz freqüentes vezes a palavra “filosofia”.
Se, porém, agora não mais empregarmos a palavra “filosofia’ como
um termo gasto; se em vez disso, escutarmos a palavra “filosofia”
em sua origem, então, ela soa philosophía. A palavra ‘filosofia” fala
agora através do grego. A palavra grega é, enquanto palavra grega,
um caminho. De um lado, esse caminho se estende diante de nós,
pois a palavra já foi proferida há muito tempo. De outro lado, ele já
se estende atrás de nós, pois ouvimos e pronunciamos esta palavra
desde os primórdios de nossa civilização. Desta maneira, a palavra
grega philosophía é um caminho sobre o qual estamos a caminho.
Conhecemos, porém, este caminho apenas confusamente, ainda
que possuamos muitos conhecimentos históricos sobre a filosofia
grega e os possamos difundir.
A palavra philosophía diz-nos que a filosofia é algo que, pela
primeira vez e antes de tudo, vinca a existência do mundo grego.
Não só isto — a philosophía determina também a linha mestra de
nossa história ocidental-européia. A batida expressão “filosofia
ocidental-européia” é, na verdade, uma tautologia. Por que? Porque
a “filosofia” é grega em sua essência — e grego aqui significa:
a filosofia é nas origens de sua essência de tal natureza que ela
primeiro se apoderou do mundo grego e só dele, usando-o para
se desenvolver. Mas a essência originariamente grega da filosofia
é dirigida e dominada, na época de sua vigência na Modernidade
Européia, por representações do cristianismo. A hegemonia destas
representações é mediada pela Idade Média. Entretanto não se
pode dizer que por isto a filosofia se tornou cristã, quer dizer, uma
tarefa da fé na revelação e na autoridade da Igreja. A frase: a filosofia
é grega em sua essência, não diz outra coisa que: o Ocidente e a
Europa, e somente eles, são, na marcha mais íntima de sua história,
originariamente “filosóficos”. Isto é atestado pelo surto e domínio
das ciências. Pelo fato de elas brotarem da marcha mais íntima da
história ocidental-européia, o que vale dizer do processo da filosofia,
são elas capazes de marcar hoje, com seu cunho específico, a
história da humanidade pelo orbe terrestre.
Consideremos por um momento o que significa o fato de
caracterizarmos uma era da história humana de “era atômica”.
A energia atômica descoberta e liberada pelas ciências é
representada como aquele poder que deve determinar a marcha
da história. Entretanto a ciência nunca existiria se a filosofia

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Introdução à Filosofia

não a tivesse precedido e antecipado. A filosofia, porém, é:


he philosophía. Esta palavra grega liga nosso diálogo a uma
tradição historial. Pelo fato de esta tradição permanecer única,
ela é também unívoca. A tradição designada pelo nome grego
philosophía, tradição nomeada pela palavra historial philosophía,
mostra-nos a direção de um caminho, no qual perguntamos: Que
é isto — a filosofia?
A tradição não nos entrega à prisão do passado e irrevogável.
Transmitir, delivrer, é um libertar para a liberdade do diálogo com o
que foi e continua sendo. Se estivermos verdadeiramente atentos à
palavra e meditarmos o que ouvimos, o nome “filosofia” nos convoca
para penetrarmos na história da origem grega da filosofia. A palavra
philosophía está, de certa maneira, na certidão de nascimento de
nossa própria história; podemos mesmo dizer: ela está na certidão
de nascimento da atual época da história universal que se chama era
atômica. Por isso somente podemos levantar a questão: Que é isto —
a filosofia?, se começamos um diálogo com o pensamento do mundo
grego.
Porém, não apenas aquilo que está em questão, a filosofia,
é grego em sua origem; mas também a maneira como
perguntamos, mesmo a nossa maneira atual de questionar ainda
é grega.
Perguntamos: Que é isto...? Em grego isto é: ti estin. A questão relativa
ao que seja algo permanece, todavia, multívoca. Podemos perguntar,
por perguntar, por exemplo: Que é aquilo lá longe? Obtemos então a
resposta: uma árvore. A resposta consiste em darmos o nome a uma
coisa que não conhecemos exatamente.
Podemos, entretanto, questionar mais: Que é aquilo que
designamos “árvore”? Com a questão agora posta avançamos
para a proximidade do ti estin grego. E aquela forma de questionar
desenvolvida por Sócrates, Platão e Aristóteles. Estes perguntam,
por exemplo: Que é isto — o belo? Que é isto — o conhecimento?
Que é isto — a natureza? Que é isto — o movimento? Agora,
porém, devemos prestar atenção para o fato de que nas questões
acima não se procura apenas uma delimitação mais exata do que
é natureza, movimento, beleza; mas é preciso cuidar para que,
ao mesmo tempo, se dê uma explicação sobre o que significa
o “que’, em que sentido se deve compreender o ti. Aquilo que
o ‘que’ significa se designa o quid est, tò quid: a quidditas, a
qüididade. Entretanto, a quidditas se determina diversamente
nas diversas épocas da filosofia. Assim, por exemplo, a filosofia
de Platão é uma interpretação característica daquilo que quer
dizer o ti. Ele significa precisamente a idéia. O fato de nós, quando
perguntamos pelo ti, pelo quid, nos referirmos à “idéia” não é
absolutamente evidente. Aristóteles dá uma outra explicação

Unidade 1 45

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Universidade do Sul de Santa Catarina

do ti, que Platão. Outra ainda dá Kant, e também Hegel explica


o tí de modo diferente. Sempre se deve determinar novamente
aquilo que é questionado através do fio condutor que representa
o ti, o quid, o “que”. Em todo caso: quando, referindo-nos à
filosofia, perguntamos: Que é isto?, levantamos uma questão
originariamente grega.

Fonte: Versão eletrônica do livro “Que é isto – A Filosofia?”


(Martin Heidegger). Tradução e notas: Ernildo Stein. Créditos
da digitalização: Membros do grupo de discussão Acrópolis
(Filosofia).

Para aprofundar as questões abordadas nesta unidade, confira


estas indicações de leitura:

CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 12 ª. ed. São Paulo:


Ática, 2002.

GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia. Romance da história


da filosofia. São Paulo: Cia da Letras, 1996.

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2
unidade 2

Conhecimento e conhecimento
filosófico

Objetivos de aprendizagem
„„ Identificar o conceito de conhecimento e de
conhecimento filosófico.
„„ Compreender diferenças e aproximações entre ciência e
Filosofia.
„„ Identificar peculiaridades do conhecimento filosófico.

„„ Conhecer a missão do filósofo.

Seções de estudo
Seção 1 O que é conhecimento

Seção 2 Ciência e Filosofia

Seção 3 Comunicar e compreender

Seção 4 A missão do filósofo

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Nesta unidade, daremos continuidade à busca da compreensão
e entendimento do conceito e abrangência da Filosofia,
estudando-a como um caminho privilegiado de construção
e descoberta do conhecimento. Neste sentido, você estuda
o método e os objetivos da Filosofia como realização das
potencialidades humanas, sujeito e objeto de todo conhecimento.

Seção 1 – O que é conhecimento

O conhecimento em nós, transmudou-se em paixão,


que não se intimida diante de nenhum sacrifício e no
fundo nada teme; a não ser a sua própria extinção.
(NIETZSCHE, 1991, p. 139).

A sociedade em que vivemos é frequentemente caracterizada


como sociedade do conhecimento. Conhecimento é mais do que
ter informações e dados sobre determinado tema ou assunto.
Conhecimento implica saber quais informações e dados são
relevantes e em que situações usá-los. Conhecimento é sabedoria de
vida. Esta perspectiva filosófica está na base de todo esforço humano
por compreender as coisas e o mundo e atribuir-lhes sentido.

O conhecimento
Você sabe o que é conhecimento?

Conhecimento é a relação que se estabelece entre um


sujeito cognoscente e um objeto. Assim, todo conhe-
cimento pressupõe dois elementos: o sujeito que quer
conhecer e o objeto a ser conhecido. Por extensão,
dá-se também o nome de conhecimento ao saber
acumulado pelo ser humano através das gerações.

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Introdução à Filosofia

No processo de conhecimento, quem conhece acaba apropriando-se, de


certo modo, do objeto que conheceu, ou seja, transforma em conceito
esse objeto e o reconstitui em sua mente. O conceito, no entanto, não é
o objeto real, não é a realidade, mas apenas uma forma de conhecer (ou
conceber, ou conceituar) a realidade.

Deve-se ressaltar que a relação estabelecida no processo de


conhecimento pode implicar uma transformação tanto do sujeito
quanto do objeto. O sujeito transforma-se mediante o novo saber e
o objeto também pode transformar-se, pois o conhecimento lhe dá
sentido. A partir do momento em que o sujeito conhece novos fatos,
ele pode modificar sua ação, agir com mais liberdade, fazer com mais
precisão, etc. O objeto pode ser aperfeiçoado, porque o conhecimento
do sujeito permitirá desenvolvê-lo.

O conhecimento, portanto, implica uma posse da reali-


dade. Essa posse confere ao ser humano a grande vanta-
gem de se tornar mais apto para uma ação consciente. A
ignorância tolhe as possibilidades de avanço, mantém as
pessoas prisioneiras das circunstâncias. O conhecimento
libera: permite atuar para modificar em benefício as
circunstâncias. Contudo aqui cabe uma pergunta tipica-
mente filosófica: Em benefício de quem?

Conhecimento filosófico

Já o conhecimento filosófico tem por origem a capacidade de


reflexão do homem; e, por instrumento, o raciocínio. Será a
Ciência suficiente para explicar o sentido geral do universo? Os
que respondem que não, esses buscam essa explicação através
da Filosofia. Filosofando, ultrapassam-se os limites da Ciência
-- delimitados pela necessidade de comprovação concreta -- para
compreender ou interpretar a realidade em sua totalidade.

Tendo o ser humano como tema permanente de suas


considerações, o filosofar pressupõe a existência de um dado
determinado sobre o qual refletir, por isso apóia-se nas ciências.
Mas sua aspiração “ultrapassa” o dado científico, já que a essência
do conhecimento filosófico é a “busca” do saber, e não sua posse.

Unidade 2 49

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Tratando de compreender a realidade dos problemas


mais gerais do homem e sua presença no universo, a
Filosofia interroga o próprio saber e transforma-o em
problema. É, sobretudo, especulativa, no sentido de
que suas conclusões carecem de prova material da rea-
lidade. Mas, embora a concepção filosófica não ofereça
soluções definitivas para numerosas questões formu-
ladas pela mente, ela se traduz em ideologia. E, como
tal, influi diretamente na vida concreta do ser humano,
orientando sua atividade prática e intelectual.

A Filosofia, por sua vez, propõe oferecer um tipo de


conhecimento que busca, com todo o rigor, a origem dos
problemas, relacionando-os a outros aspectos da vida humana,
numa abordagem globalizante.

Segundo Platão, o homem começa a conhecer pela forma


imperfeita de opinião (a doxa); depois passa ao grau mais
avançado da ciência (episteme);para só então ser capaz de atingir o
nível mais alto do saber filosófico.

Se a ciência tende cada vez mais para a especialização,


a filosofia, no sentido inverso, quer superar a
fragmentação do real, para que o homem seja resgatado
na sua integridade e não sucumba à alienação do saber
parcelado. Por isso a filosofia tem uma função de
interdisciplinaridade, estabelecendo o elo entre as diversas
formas do saber e do agir (ARANHA; MARTINS, 1996,
p. 73).

Filosofia: negação cética e dogmática

Você sabe o que é ceticismo? E dogmatismo?

Ceticismo é uma posição filosófica a qual afirma que


é impossível o conhecimento, seja como juízo de
valor ou como conclusão. O dogmatismo, ao contrá-
rio, considera certos conhecimentos como certezas e
verdades absolutas e indubitáveis.

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Introdução à Filosofia

Comparando as duas posições, perceba que elas têm algo em


comum: a visão imobilista do mundo. Enquanto o dogmático
atinge uma certeza e nela permanece, o cético afirma que não é
possível alcançá-la.

A Filosofia, no entanto, é movimento, pois o mundo


é movimento: a tese e a antítese serão superadas
pela síntese, a qual, por sua vez, será nova tese, e
assim por diante.

A Filosofia é a procura da verdade, não a sua posse: “fazer filosofia


é estar a caminho; as perguntas em filosofia são mais essenciais que
as respostas e cada resposta transforma-se numa nova pergunta”.
(JASPERS, 1971 apud ARANHA; MARTINS, 1996, p. 76).

Seção 2 - Ciência e Filosofia


Filosofia e Ciência manifestam o esforço do ser humano em se
aproximar da verdade das coisas. Possuem caminhos semelhantes
com pretensões diferentes. Veremos nesta seção o que aproxima e
o que diferencia estes dois campos do exercício da racionalidade.

2.1) Aproximações e diferenças

Quais aproximações podem ser traçadas entre a Ciência e a


Filosofia?

Ciência e Filosofia são caminhos para o conhecimento. A


Ciência busca descobrir as causas pelas quais as coisas são. Visa o
conhecimento “certo” (seguro) pelas causas (causas próximas). A
Filosofia busca compreender as causas últimas das coisas: o que uma
coisa é, não de um ponto de vista particular, mas em todo o seu ser.

No começo da história do pensamento ocidental, não havia


esta divisão. Para os antigos gregos, a Filosofia era a ciência
universal e abarcava todo esse conjunto de conhecimentos que
agrupamos sob os nomes de ciência, de arte e de Filosofia. Tal
concepção perdurou até a Idade Média. No Renascimento e
Idade Moderna, consuma-se a autonomia da arte e da ciência.

Unidade 2 51

Introducao a Filosofia.indb 51 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

Do ponto de vista material, ciência e Filosofia aplicam-


se ao mesmo objeto: o mundo e o homem. Mas cada
disciplina estuda este objeto comum sob um aspecto
que lhe é próprio.

A ciência investe na determinação das leis dos fenômenos. A


Filosofia quer conhecer a natureza profunda das coisas, suas causas
supremas e seus fins derradeiros: visa propriamente, em todas
as suas partes, o conhecimento do que ultrapassa a experiência
sensível (ou os fenômenos), e do que só é acessível à razão.

A Filosofia é uma ciência universal enquanto tende


a conhecer não tudo, como pensavam os antigos
gregos, mas os primeiros princípios de tudo.

Ciência e Filosofia são caminhos autônomos para o conhecimento.


Uma explicação científica não é uma explicação filosófica;
nem uma explicação filosófica, uma explicação científica. O
encadeamento dos fenômenos, como a ciência os visa descobrir,
deixa intacta a questão da natureza profunda das coisas, de seu
valor e seu fim. O conhecimento das essências, dos valores e dos
fins não nos saberia dar a ciência das ligações fenomenais.

O Método da Filosofia
Você conhece o método da Filosofia?

O método filosófico é, a um tempo, experimental e


racional. Definimos a Filosofia como a ciência das
coisas por suas causas “supremas”.

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Introdução à Filosofia

Observe as explicações.

„„ A Filosofia parte da experiência -- se a Filosofia é, de


início, “ciência das coisas”, a saber, do homem, do mundo
e de Deus, devemos começar por conhecer as coisas que
queremos explicar; isto é, nosso ponto de partida será
normalmente tomado na experiência. É de fato pelas
propriedades das coisas que nós podemos conhecer sua
natureza. E essas propriedades, é a experiência -- vulgar
ou científica -- que nos faz descobri-las. Assim o método
filosófico será primeiramente experimental, no sentido
de que o ponto de partida da Filosofia é tomado na
experiência.

„„ A Filosofia visa, pela razão, o que está além da experiência


-- mas como a Filosofia é, por seus fins, essencialmente
metafísica -- isto é, quer ir além da experiência sensível e
chegar até as causas primeiras - o homem não as vê e não as
toca com os seus sentidos, e não as pode então atingir a não
ser por uma faculdade “superior” aos sentidos. Eis porque
método filosófico é também um método racional. Razão
natural, fundada na evidência de seu objeto.

Seção 3 - Comunicar e compreender


Nesta unidade, veremos o que faz da Filosofia um campo de
estudo essencialmente humano, voltado para as necessidades
e aspirações do ser humano, favorecendo a comunicação e a
compreensão da realidade.

Filosofia é Comunicação

A modernidade trouxe o predomínio das ciências naturais sobre


as ciências humanas. Tal postura é identificada no cenário do
conhecimento como positivismo e encontra em Augusto Comte
(1798-1857) o seu principal defensor. O positivismo, segundo
Aranha (1996, p. 139), exprime a exaltação provocada no século
XIX pelo avanço da ciência moderna, capaz de revolucionar o
Figura 2.1 - Augusto Comte
mundo com uma tecnologia cada vez mais eficaz. Veja a figura 2.1. Fonte: Olivieri ([200-?]).

Unidade 2 53

Introducao a Filosofia.indb 53 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

Esse entusiasmo desemboca no cientificismo, visão reducionista


segundo a qual a ciência seria o único conhecimento válido. Dessa
forma, o método das ciências da natureza – baseado na observação,
experimentação e matematização – deveria ser estendido a todos os
campos do conhecimento e a todas as atividades humanas.

Como o positivismo dá enorme importância à experimentação, sem


a qual a ciência não seria possível, isso vale também para as ciências
humanas. Assim, a sociologia, a psicologia, a economia e a Filosofia
deveriam usar um método semelhante ao das ciências da natureza.

O positivismo fica mais compreensível se for esclare-


cido o que é um fato positivo, ou seja, aquele que
pode ser medido e controlado pela experiência. O
termo positivo provém do latim positivus, que sig-
nifica: que repousa sobre algo seguro; cuja realidade
não pode ser posta em dúvida. Um fato positivo é
algo certo, real, verdadeiro.

Sendo assim, todo conhecimento do mundo material decorre dos


dados “positivos”, que constituem o objeto de estudo para o sujeito
cognoscente. Consequentemente, o conhecimento das realidades
consideradas como não positivas (metafísica, teologia, etc...) é
menosprezado, pois não é possível de ser verificado na prática.
O conhecimento será científico se primar pela objetividade,
promovendo o distanciamento necessário entre o objeto estudado e
a realidade existencial do sujeito cognoscente (pesquisador).

Jüergen Habermas (1929-) desmascara a aparente “neutralidade”


das ciências naturais, revelando o “interesse” que orienta o processo
do conhecimento destas: interesse técnico de dominação da
natureza. Em contrapartida, defende que o interesse que orienta o
processo de conhecimento das ciências histórico-hermenêuticas é o
da comunicação. Entre estas últimas, situamos a Filosofia.

Habermas, contudo, ressalta que ambas as formas de


conhecimento, geradas pelos respectivos interesses, servem a um
interesse mais fundamental, o da emancipação da espécie: o
conhecimento instrumental permite ao ser humano satisfazer
as suas necessidades, ajudando-o a libertar-se da natureza
exterior (por meio da produção); o conhecimento comunicativo

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Introducao a Filosofia.indb 54 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

o impele a emancipar-se de todas as formas de repressão social.


(HABERMAS, 2003)

O caminho da Filosofia é o da comunicação. Como


ciência essencialmente humana, visa aproximar
pessoas, culturas, mentalidades. Ensina a conviver
com o diferente, ressaltando para tal a importância de
se ter firmeza quanto aos próprios princípios e visão
de mundo. Usar a Filosofia para a dominação é desvir-
tuá-la de sua natureza, transformando-a em ideologia,
visão mascarada e falsa de realidade.

Filosofia é explicação compreensiva da realidade

O sociólogo Max Weber (1864–1920) preocupou-se em


estabelecer a diferença entre a metodologia das ciências naturais
(biológicas e exatas) e das ciências sociais (humanas). Segundo
o autor, a metodologia das ciências sociais deveria levar em
consideração o fato de que o conhecimento dos fenômenos
naturais é um conhecimento de algo externo ao próprio homem,
enquanto o que se procura conhecer nas ciências sociais é a
própria experiência humana.

De acordo com esta distinção, entre experiência externa e


experiência interna, pode-se distinguir uma série de contrastes
metodológicos entre os dois grupos de ciências. As ciências
exatas partiriam da observação sensível e seriam experimentais,
procurando obter dados mensuráveis e regularidades estatísticas
que conduzissem à formulação de leis de caráter matemático.

As ciências humanas, ao contrário, dizendo respeito à própria


experiência humana, seriam introspectivas, utilizando a intuição
direta dos fatos; e procurariam atingir não generalidades de
caráter matemático, mas descrições qualitativas de tipos e formas
fundamentais da vida e do espírito humano.

Unidade 2 55

Introducao a Filosofia.indb 55 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

O modo explicativo seria característico das ciências


naturais, que procuram o relacionamento causal entre
os fenômenos. A compreensão seria o modo típico
de proceder das ciências humanas, que não estudam
fatos que possam ser explicados propriamente, mas
visam os processos permanentemente vivos da expe-
riência humana e procuram extrair deles seu sentido.

Os sentidos (ou significados) são dados, segundo Dilthey


(2011), na própria experiência do investigador, e poderiam ser
empaticamente apreendidos na experiência dos outros.

As ciências sociais estudam o mundo da cultura, uma criação


do espírito humano. Nelas, homem é sujeito e objeto ao mesmo
tempo. Visam a compreensão: um mergulho empático no espírito
dos agentes históricos em busca do sentido e de sua ação.

Veja, a seguir, no quadro 2.1, as diferenças entre as ciências


sociais e as ciências da natureza, segundo Weber (2002).

Tipo de Ciência Objeto Método Objetivo


Ciências da Natureza Natureza Explicação Leis Gerais
Singularidade dos
Ciências Sociais Sociedade (homem) Compreensão fenômenos
Quadro 2.1 - Ciências Sociais x Ciências da Natureza
Fonte: Werber, 2002.

Seção 4 – A missão do filósofo


O que faz o filósofo em meio a uma sociedade que vê no
conhecimento a possibilidade de realização pessoal e profissional?
É o que veremos nesta seção.

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Introducao a Filosofia.indb 56 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

A caverna

Platão (427–347 a.C.) revela em sua obra República o que está


em jogo na alegoria da caverna: mostra que o conhecimento
consiste em o ser humano ficar livre das correntes que o
condenam à ignorância, e desvenda que o problema do
conhecimento – em última análise – confunde-se com o da
educação. (PLATÃO, 1989).

O homem deve caminhar desde a opinião até a ciência,


educando-se gradualmente. No mundo sensível, os homens são
como escravos presos numa caverna e obrigados a ver, no fundo
dela, as sombras projetadas por um fogo que arde fora. Tomam
estas sombras pela realidade, porque não conhecem a realidade
verdadeira. De fato, trata-se de operar a passagem do mundo
sensível (ilusão) ao mundo inteligível (conhecimento), e este é um
doloroso e difícil movimento de alforria.

Desse modo, há uma ilusão constitutiva de nossa primeira


abordagem do real. As sombras da caverna são essas aparências
sobre a parede de nossos sentidos. Deformamos o real porque
o apreendemos espontaneamente através de nossas impressões
sensíveis, de nossos desejos, nossas paixões, nossos interesses,
nossos hábitos, em suma, através de tudo aquilo que nos confina
nesse reino de ilusões em que – impotentes para ver os objetos
cujas sombras não passam de sombras – ignoramos que o são e as
tomamos por realidade. Esta impotência está ligada à passividade
do espírito acostumado desde a infância a receber, sem exame,
muitas crenças falsas como verdadeiras.

A missão do filósofo

Segundo Platão, a educação consiste, desse modo, em volver o


homem da consideração do mundo sensível à consideração do
mundo do ser; e, em conduzi-lo, gradualmente, a avistar o ponto
mais alto do ser, que é o bem. O bem corresponde, no mundo
do ser, ao que o sol é no mundo sensível. O sol torna as coisas
visíveis com a sua luz e as faz nascer, crescer e alimentar-se; assim
o bem não só torna cognoscíveis as substâncias que constituem o
mundo inteligível, mas lhes dá ainda o ser de que são dotadas.

Unidade 2 57

Introducao a Filosofia.indb 57 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

Conforme Platão, faz parte da educação do filósofo o regresso à


caverna, que consiste na reconsideração e na reavaliação do mundo
humano à luz do que se viu fora deste mundo. Regressar à caverna
significa, para o homem, pôr o que se viu à disposição da comunidade.

Deverá, pois, reabituar-se à obscuridade da caverna; e, então,


verá melhor do que os companheiros que ali permaneceram
e reconhecerá a natureza e os caracteres de cada imagem, por
ter visto o seu verdadeiro exemplar: a beleza, a justiça e o bem.
Assim poderá o Estado ser constituído e governado por gente
desperta, e não por quem sonha e combate entre si por sombras, e
disputa o poder como se este fosse um grande bem.

Sintetizando, atente que, na alegoria da caverna, Platão resume a


concepção a respeito do conhecimento, da realidade e da Filosofia.
Acorrentados no interior de uma caverna e de costas para a
abertura dela, os prisioneiros só podem ver as sombras do que
acontece lá fora. Quando um deles consegue se libertar e visualiza
a realidade externa, a luz ofusca a sua vista e o sol o deslumbra.
Somente aos poucos, e com dificuldade, ele consegue adaptar-se à
nova realidade, percebendo que o mundo onde vivera até agora era
irreal, feito apenas de reflexos e sombras do mundo verdadeiro.

Se ele voltar e tentar convencer os outros de que ainda estão


acorrentados, corre o risco de ser incompreendido e, mesmo,
perigo de vida.

Essa é, no entanto, a missão do filósofo: orientar, auxi-


liar, motivar as pessoas para que possam, por si só,
tirar as correntes da alienação e favorecer o conheci-
mento sobre a realidade em que estão inseridas.

Não é um processo fácil e nem rápido, mas deve ser enfrentado,


sob pena de se ficar apenas vendo as sombras dos fatos que
acontecem (opiniões), sem entender-lhes o significado real
(conhecimento, verdade).

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Introducao a Filosofia.indb 58 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

Síntese

Caro aluno, nesta unidade, você estudou que conhecimento


implica uma posse da realidade e nos torna aptos para a ação
consciente, característica da atitude filosófica.

Identificou que a ciência e a Filosofia são caminhos para o


conhecimento e possuem sua validade reconhecida ao longo da
história do ocidente, uma vez que oferecem possibilidade de
emancipação da espécie e realização dos projetos humanos.

Também conheceu uma reflexão sobre a missão da Filosofia e do


filósofo, que implica ajudar a “tirar” as pessoas das sombras, das
ilusões e da escuridão das cavernas, de ontem e de hoje.

Atividades de autoavaliação

Para praticar os conhecimentos apropriados nesta unidade, realize as


atividades propostas. O gabarito está disponível no final do livrodidático.
Mas se esforce para resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois,
assim, você promoverá a sua aprendizagem.
1) Assinale as alternativas corretas.
Através da alegoria da caverna, Platão quer demonstrar que:
a) o ser humano deve caminhar da opinião à ciência, educando-se
gradualmente;
b) o conhecimento consiste em ficar livre das correntes que condenam o
ser humano à ignorância;
c) trata-se de operar a passagem do mundo inteligível ao mundo sensível,
e este é um doloroso e difícil movimento de alforria;
d) no mundo das ideias (inteligível), os homens são como escravos presos
numa caverna e obrigados a ver no fundo dela as sombras por um fogo
que arde fora; e
e) esta alegoria sintetiza também a missão do filósofo: tirar das pessoas as
correntes da alienação e favorecer o conhecimento sobre a realidade
em que as pessoas estão inseridas.

Unidade 2 59

Introducao a Filosofia.indb 59 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

2) Não é possível negar a Filosofia sem fazer Filosofia! Por quê?

3) Por que a Filosofia “procura” ser uma negação do ceticismo e do


dogmatismo?

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Introducao a Filosofia.indb 60 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

4) Hoje, é comum ouvirmos afirmações do tipo: “Ciência e Filosofia


são diferentes”. Por que esta reflexão não aconteceu na Filosofia
Antiga? Que fatores surgidos na modernidade contribuíram para esta
diferenciação?

Saiba mais

Para complementar o estudo desta unidade, leia o texto


que segue. É uma reflexão sobre o homem com os “olhos”
da Filosofia. Procure observar, na leitura, as diferenças e
aproximações entre o conhecimento científico e o conhecimento
filosófico sobre o homem.

Veja, também, como a ação consciente (ação acompanhada de


reflexão) é de fundamental importância para a realização da vida.
Por fim, perceba o quanto o conhecimento filosófico contribui
para o estabelecimento de relações saudáveis e equilibradas
do homem consigo mesmo, com o mundo das coisas e com os
outros. Boa leitura!

Unidade 2 61

Introducao a Filosofia.indb 61 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

A Vida Humana

A existência humana é radicalmente diferente da vida dos animais. Os


animais são levados pela vida, segundo simplesmente o movimento
interno de seu dinamismo biológico. A vida não lhes é problemática,
pois se encontram, já, sempre, plenamente constituídos em seu
ser. Não podem ser mais do que já são. O homem pode ser mais
do que aquilo que recebeu como seu ser, ao nascer. Não nasce
pronto, realizado. Por isso, precisa assumir a sua vida como tarefa e
responsabilidade sua. Não lhe basta ir vivendo, simplesmente. Precisa
assumir o compromisso de ter que ir realizando a sua vida como
projeto seu. Sua vida é um “ir-se-dando”, como concretização de suas
capacidades e potencialidades. Isto, porque o homem é um ser “por
fazer-se”, um ser que é projeto.
Assim, a existência humana é, em primeiro lugar, o encarregar-
me do meu ser, recebido sob minha responsabilidade. É um ir
desenvolvendo as potencialidades e capacidades e, neste processo,
construindo a própria vida. Neste sentido, a existência humana é
uma vontade pessoal, assumida, alimentada, desenvolvida. E quando
isso não ocorre mais, o homem não vive: vegeta. E é por isso que só
o homem pode perder a vontade de viver. E mais: por esta razão, há
vidas qualitativamente diferentes: umas vividas mais intensamente;
outras, menos.
Em segundo lugar, viver é projetar-se para o futuro. É lutar, preparar,
construir um futuro. É propor-se ideais, objetivos, metas e ir em
busca de sua realização, de sua concretização. E, neste movimento,
ir constituindo a própria vida. O homem é o que ele vai fazendo de
si mesmo, de sua vida. E ele sempre pode ser mais, nunca esgota
plenamente as possibilidades de realização de sua vida.
Sujeito de realizações, o homem é um ser no mundo. Vive no mundo.
Precisa do mundo para realizar sua vida, para caracterizar o que
projeta ser. Isto é, o homem sempre se encontra numa determinada
circunstância, num contexto determinado, que é o seu mundo, no
qual e a partir do qual vai realizando-se e construindo sua vida. Com
efeito, ao nascer, o homem é dado num mundo e submetido as suas
leis. Ao mesmo tempo, e ao longo de sua existência, vai enfrentando
os obstáculos e desafios que o mundo lhe apresenta. E, nesta
atividade de enfrentamento e superação dos desafios que o contexto
em que vive lhe apresenta, vai construindo sua própria vida. E mais:
vai criando um mundo propriamente humano – o mundo cultural –
segundo seu modo de ser.
No mundo, o homem compreende-se como distinto do mundo.
Diferente dos animais, que nele vivem totalmente imersos e
submetidos às suas leis, o homem vive no mundo e com o mundo.

62

Introducao a Filosofia.indb 62 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

Vive situado face ao mundo. É um ser consciente. Isto é, é o único ser


capaz de compreender o mundo e de compreender-se a si mesmo.
É capaz de dizer o que as coisas são e qual o significado da sua vida.
É capaz de compreender o contexto em que vive e, a partir disso,
escolher o que quer ser, como deve agir, como vai realizar a sua vida.
E, por isso, pode assumir com responsabilidade sua vida como tarefa e
projeto seu.
Como ser consciente, o homem, e somente ele, é capaz de tomar
distância frente ao mundo e de tomá-lo como objeto de sua
compreensão; a partir disso, é capaz de agir conscientemente sobre
o mundo e transformá-lo de acordo com essa compreensão. E neste
processo, que é a própria vida humana entendida como práxis,
o homem vai atualizando suas potencialidades e capacidades,
e constituindo a sua vida. A práxis, unidade indissolúvel entre
ação e reflexão, é a atualidade e manifestação do ser do homem.
Com efeito, é pela práxis que o homem vai desenvolvendo suas
potencialidades e realizando sua vida como um projeto. E, neste
sentido, a práxis é simplesmente estar sendo homem.Por outro lado,
a vida humana compreendida como práxis manifesta que o homem
é constitutivamente um ser de relações. Relações que constituem
sua própria vida, aquilo que ele é. Por exemplo: alguém só é pai na
medida em que está em relação com (ao ter) um filho. Sem filho,
ninguém pode ser pai. E a relação é de paternidade, que constitui
alguém como pai. Daí a relação constituir o homem naquilo que ele é.
E o homem vai realizando sua vida à medida que estabelece relações.
Há, fundamentalmente, dois níveis distintos de relações: a relação do
homem com o mundo das coisas (natureza) e a relação do homem
com os outros. E, nesta medida, relação do homem consigo mesmo.
A relação do homem com as coisas se caracteriza por ser uma relação
de manipulação, de utilização e apropriação. Isto é, as coisas são úteis,
utensílios com os quais o homem conta para ir construindo a sua vida.
Com efeito, o homem é um ser de necessidades, um ser de carências.
A necessidade, a carência é a falta do necessário para a vida (casa,
alimento, roupa...). Assim, o homem abre-se ao mundo, desejando
aquilo de que necessita. Quando obtém, reproduz sua vida e vai
realizando-a. Assim, as coisas são objetos de uso, úteis, que permitem
ao homem, através de sua apropriação pela práxis cotidiana, ir
realizando sua vida. Porém, nem tudo que o homem necessita,
encontra-se imediatamente ao alcance da mão. Neste caso, a coisa útil
precisa ser produzida, através do trabalho, o necessário (produto do
seu trabalho) para ir vivendo. Assim, o trabalho, relação fundamental
do homem com a natureza, é a atividade humana que produz (põe
a existência) a coisa útil (produto) de que o homem necessita para ir
realizando a sua vida.

Unidade 2 63

Introducao a Filosofia.indb 63 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

Porém, mais fundamental que a relação do homem com o mundo das


coisas, e absolutamente primeira, é a relação do homem com o outro.
Essa relação é o ato pelo qual o sujeito humano se dirige diretamente
a outra pessoa (aperto de mão, beijo, agressão...), ou indiretamente,
por mediação do mundo das coisas. O específico desta relação é ser
uma relação de alguém com alguém, e não uma relação de alguém
com algo. O outro, como alguém com quem se está em relação, não
é coisa, instrumento; por isso, não pode ser manipulado, coisificado,
instrumentalizado. É uma pessoa que exige ser reconhecida.
É apelo constante ao diálogo, à convivência, à comum-união. Isto
exige uma atitude de respeito (deixar o outro ser ele mesmo), saber
ouvir, ter confiança (fé no outro), atitude serviçal. Só assim é possível
a vida em comum-unidade. E o homem pode realizar sua vida em
comunhão, com o outro.
Fonte: GAMBIN, Pedro. A vida humana Revista Mundo Jovem, Porto
Alegre, Abril de 1997.

Para aprofundar as questões abordadas nesta unidade, você poderá


pesquisar o seguinte livro:
PRADO, Jr. Caio. O que é Filosofia. [Coleção Primeiros Passos]
São Paulo: Editora Brasiliense. 2007. (Sinopse: Qual a natureza,
o objeto e o valor da investigação filosófica? A Filosofia é apenas
uma citação literária ou uma modalidade de conhecimento?
Qual a relação entre conhecimento científico e conhecimento
filosófico? A Filosofia enquanto conhecimento do conhecimento.
A Filosofia segundo os próprios filósofos: dos antigos gregos até
Hegel e Marx).

64

Introducao a Filosofia.indb 64 15/12/11 13:46


3
unidade 3

Filosofia e história: períodos e


características

Objetivos de aprendizagem
„„ Compreender a relação entre Filosofia e História.

„„ Compreender a importância do conhecimento da


História e da História da Filosofia.
„„ Identificar as características dos diferentes períodos da
história do pensamento.
„„ Relacionar o surgimento dos filósofos com eventos
históricos.
„„ Identificar características e “evolução” da sociedade
ocidental.

Seções de estudo
Seção 1 Filosofia e história

Seção 2 A Filosofia Antiga e Medieval

Seção 3 A Filosofia Moderna

Seção 4 A Filosofia do século XX

Seção 5 A racionalidade ocidental

Introducao a Filosofia.indb 65 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Nesta unidade, vamos conversar sobre a relação entre Filosofia
e história, confrontando pensamentos e fatos que marcaram
o desenvolvimento da mentalidade do homem ocidental.
Percorreremos os períodos da história da Filosofia com o objetivo
de despertar a sua curiosidade e lhe alimentar a vontade de
estudar Filosofia.

Seção 1 - Filosofia e história


Nesta seção, veremos a relação entre a Filosofia e a História; o
pensamento que pensa o tempo, a cultura, os acontecimentos,
procurando encontrar um sentido para eles, ora interpretando,
ora direcionando os fatos. Há uma relação umbilical entre estas
duas instâncias da existência humana.

O pensamento ocidental
Estudar Filosofia é estudar o desenvolvimento do pensamento
ocidental. Acompanhar o homem ocidental no desenvolvimento
da sua racionalidade, ao desdobrar-se sobre si mesmo e sobre o seu
mundo. Porém, embora este desenvolvimento constitua a espinha
dorsal do estudo da Filosofia, cabe ressaltar que o aprendizado da
Filosofia não se limita ao estudo da história da Filosofia.

Ao longo do curso, você conhecerá uma quantidade


impressionante de autores e de teorias, muitas das
quais com a pretensão de estabelecer um juízo
definitivo sobre os mais variados temas. A atividade
filosófica não tem compromisso com certezas
definitivas. Em muitos momentos da história do
ocidente, esta pretensa certeza representou a morte
da Filosofia, o seu silêncio ou submissão.

66

Introducao a Filosofia.indb 66 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

O estudo da história procura elucidar os fatos no emaranhado de


interesses e sentidos que os compõem, na tentativa de encontrar
a verdade dos fatos. A Filosofia, por sua vez, em vez de certezas,
nos dá inquietações.

Ao estudar a história da Filosofia, o ser cognoscente pensa o


pensado e assim o faz até aprender a pensar por si mesmo. Esta
é a ambição da Filosofia: possibilitar ao ser humano o exercício
pleno da racionalidade, o pensar por si mesmo.

Estudar a história da Filosofia é dialogar com o


pensamento dos filósofos, com a realidade do
mundo, com as inquietudes do “eu”. Partilhar com o
passado nossas alegrias, angústias e perplexidades.
Aprender com o passado e contra ele, numa relação
dialética que promove o desenvolvimento das ideias
e concepções, aquelas mesmas que dão sentido ao
mundo humano.

Mergulhar na história do pensamento é entrar num tempo não


cronológico. Um tempo de busca, tempo conduzido pela vontade de
conhecer a verdade deste mundo e a natureza das coisas.

A História e a Filosofia
Não estudamos a história da Filosofia para repetir o que foi pensado
e dito, reproduzir respostas que, longe do contexto existencial em
que foram produzidas, apresentam-se anacrônicas. É mais do que
isso: é ter a coragem de formular explicações novas, muitas vezes
para os mesmos problemas, e submetê-las à crítica e desenvolvimento
de outros que se dedicarem a esta tarefa. Feito isso, colocamos a
nossa racionalidade a serviço desse grande mutirão de ideias que faz
a caminhada da humanidade.

O pensamento filosófico é filho do tempo. A Filosofia


é sempre a filosofia de uma época, de determinado
contexto histórico-social. O filósofo pensa o seu tempo
na ambição de ultrapassá-lo, vencê-lo, conduzi-lo.

Unidade 3 67

Introducao a Filosofia.indb 67 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

Mas a história da humanidade não começou com a Filosofia. A


Filosofia é um ponto de chegada à racionalidade, antecedida por
acontecimentos significativos. Reproduzimos aqui uma linha do
tempo com os principais fatos que marcaram a humanidade até o
surgimento da Filosofia na Grécia.

Veja, na linha do tempo, os principais fatos da história do período:

3400 – Primeiro sistema escrito, pelos sumérios, no sul da


Mesopotâmia (região entre os rios Tigre e Eufrates, no Oriente
Médio).
2700 – Início da construção de pirâmides no Egito.
2500 – Comércio marítimo entre Egito e Biblos (atual Líbano).
Surgimento das primeiras cidades na China.
1500 – Expansão do Império Egípcio até o Oriente Médio. Início
do uso de metal e cobre no Peru. População mundial estimada
em 28 milhões.
1200 – Decadência do império egípcio. Surgimento da civilização
olmeca no México.
1000 – Fenícios desenvolvem o comércio marítimo, no
Mediterrâneo oriental. David torna-se rei de Israel, com
Jerusalém como capital. População mundial estimada em 70
milhões.
930 – Primeiros textos hebraicos (salmos, eclesiastes). Primeira
versão do épico hindu Mahabharata.
850 – Surgimento dos poemas épicos Ilíada e Odisséia, atribuídos
a Homero.
814 – Data legendária da fundação da cidade de Cartago pelos
fenícios.
776 – Primeiros jogos olímpicos.
753 – Legendária fundação de Roma.
Fonte: Uol Bibliteca, [200-?].

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Introducao a Filosofia.indb 68 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

Seção 2 - A Filosofia Antiga e Medieval


A Filosofia surgiu na Grécia Antiga, com o propósito de libertar
o pensamento de suas bases míticas, para dar à vida explicações
diferentes daquelas que dependiam de deuses e superstições. Era
uma atividade dos homens sábios (philos = amigo ou amante;
sophia = sabedoria), que se punham a pensar sobre conceitos
estabelecidos, buscando novos entendimentos.

Academicamente, a Filosofia é dividida em:

„„ Antiga;

„„ Medieval;

„„ Moderna; e

„„ Contemporânea.

A Filosofia Antiga
A Filosofia Antiga compreende o período que vai do século VI
a.C. até o século II d.C.

Tem início com os pré-socráticos, que são os filósofos anteriores


a Sócrates e que viveram na Grécia por volta do século VI a.C.,
sendo considerados os criadores da Filosofia Ocidental. Essa
fase, que corresponde à época de formação da civilização grega,
caracteriza-se pela preocupação com a natureza e o cosmos.
Ela inaugura uma mentalidade baseada na razão, e não mais no
sobrenatural ou na tradição mítica.

Unidade 3 69

Introducao a Filosofia.indb 69 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

Os pré-socráticos também são chamados de filósofos


da natureza (physis). A palavra grega phisis, como
explica Abrão (1999, p. 24), pode ser traduzida
por natureza. Mas seu significado é mais amplo.
Refere-se também à realidade, não aquela, pronta
e acabada, mas a que se encontra em movimento
e transformação, a que nasce e se desenvolve.
Neste sentido, a palavra significa gênese, origem,
manifestação.
Saber o que é a phisis, assim, levanta a questão da
origem de todas as coisas que constituem a realidade,
que se manifestam no movimento; e procura saber se
há um princípio único (arké) que dirige e ordena todas
as coisas no mundo. Com estes tema ocupam-se os
primeiros filósofos.

Tales de Mileto diz que tudo é água! A água é o elemento


primordial de tudo que existe. Anaximandro de Mileto diz que o
apeíron, um tipo de matéria a partir da qual tudo o mais é feito, é o
princípio único de todas as coisas. Anaxímenes de Mileto diz que
o ar é o elemento originante de todas as coisas. Pitágoras de Samos
afirma que o número é o princípio de todas as coisas e que todo o
universo é regido por leis matemáticas. Heráclito de Éfeso afirma
que todas as coisas estão em movimento e são originadas por ele.

Um grupo de narradores e pensadores de diversas partes da


Grécia, sobretudo de Atenas, contribuiu para a reflexão filosófica
na antiguidade: os Sofistas. Estes livres pensadores exerciam o
ensino de forma profissional e remunerada. Na maioria, eram
professores itinerantes, que encaminhavam os jovens na vida
pública e gozavam de grande prestígio social. Os sofistas são
todos estrangeiros. Excluídos da condição de cidadãos, não se
interessam pelos destinos da cidade.

Assim, não se preocupam com o que uma argumentação possa


ter de justo ou injusto, moral ou imoral. Basta-lhes que seus
discípulos aprendam a falar (não importa o que, desde que falem
bem, de modo convincente) e que os remunerem pelo ensino.
Eram criticados pelos filósofos clássicos e acusados de relativismo
moral. Entre os principais representantes estão Protágoras,
Górgias e Hípias.

70

Introducao a Filosofia.indb 70 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

Sócrates, Platão, Aristóteles são os principais


representantes da época áurea da Filosofia Antiga,
também chamada de Filosofia Clássica.

“Sócrates fez a Filosofia descer dos céus à Terra”, é o que dizia


Cícero. Antes, os filósofos buscavam obsessivamente uma
explicação para o mundo natural. Para Sócrates, no entanto, a
especulação filosófica deveria se voltar para o homem e tudo o
que fosse humano, como a ética e a política. Dizia que a Filosofia
não era possível enquanto o indivíduo não se voltasse para si
próprio e reconhecesse suas limitações. “Conhece-te a ti mesmo”,
era seu lema.

Para Platão, o sentido da Filosofia – o amor da sabedoria – é o


de conduzir o homem do mundo das aparências ao mundo da
realidade, ou da contemplação das sombras à visão das ideias,
imutáveis e eternas, iluminadas pela ideia suprema do bem (cf.
alegoria da caverna).

Aristóteles aperfeiçoa e sistematiza as descobertas de Platão


e Sócrates. Desenvolve a lógica dedutiva clássica, que postula
o encadeamento das proposições e das ligações dos conceitos
mais gerais para os menos gerais. A lógica, segundo ele, é um
instrumento para atingir o conhecimento científico, ou seja,
aquilo que é metódico e sistemático.

Se, com Platão, a Filosofia já havia alcançado


extraordinário nível conceitual, pode-se afirmar que
Aristóteles – pelo rigor de sua metodologia, pela
amplitude dos campos em que atuou e por seu
empenho em considerar todas as manifestações do
conhecimento humano como ramos de um mesmo
tronco – foi o primeiro pesquisador científico no
sentido atual do termo.

Unidade 3 71

Introducao a Filosofia.indb 71 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

Veja, na linha do tempo, os principais filósofos da história


neste período.

640 – 548 a.C. – Tales de Mileto


610 – 547 a.C. – Anaximandro588 – 524 a.C. – Anaxímenes
570 – 490 a.C. – Pitágoras
540 – 470 a.C. – Heráclito
530 – 460 a.C.– Parmênides
504 – ?a.C. – Zenão de Eléia
499 – 428 a.C. – Anaxágoras
490 – 435 a.C. – Empédocles
485 – 380 a.C. – Górgias
481 – 411 a.C. – Protágoras
475 – ? a.C. – Leucipo
470 – 399 a.C. – Sócrates
460 – 370 a.C. – Demócrito
444 – 365 a.C. – Antístenes
427 – 348 a.C. – Platão
400 – ? a.C. – Diógenes
384 – 322 a.C. – Aristóteles
365 – 275 a.C. – Pirro
341 – 270 a.C. – Epicuro
334 – 262 a.C. – Zenão de Cicio
331 – 232 a.C. – Cleantes
281 – 205 a.C. – Crísipo
180 – 110 a.C. – Panécio
98 – 55 a.C. – Lucrécio
106 – 43 a.C. – Cícero
4 a.C. – 65 d.C. – Sêneca
50 – 125 – Epicteto
121 – 180 – Marco Aurélio

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Introducao a Filosofia.indb 72 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

150 – 215 – Clemente de Alexandria


185 – 254 – Orígenes
205 – 270 – Plotino
232 – 305 – Porfírio

Fonte: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo ([200-?]).

Veja, na linha do tempo, os principais fatos da história neste


período.

594 a.C. – Sólon começa as reformas da lei ateniense.


586 a.C. – Nabucodonosor 2° invade Jerusalém; israelitas são
levados para o cativeiro da Babilônia. Gregos colonizam a
Espanha.
539 a.C. – Israelitas retornam do cativeiro da Babilônia.
509 a.C. – Proclamação da República Romana. Império persa
atinge a Índia. Pregação de Sidarta Gautama (Buda).
508 a.C. – Clístenes proclama a constituição democrática
ateninense.
499 a.C. – Tales dá início à Filosofia Grega.
490 a.C. – Pensamento de Confúcio começa a se propagar na
China.
472 a.C. – Atenas lidera a Liga de Delos.
443 a.C. – Péricles passa a governar Atenas. Heródoto escreve
História. Invenção do calendário solar na China.
431 a.C. – Início da Guerra do Peloponeso (Atenas e Esparta).
Demócrito cria a teoria atômica.
405 a.C. – Fim da Guerra do Peloponeso, com a vitória de Esparta.
399 a.C. – Sócrates é condenado à morte, em Atenas.
371 a.C. – Tebas derrota Esparta e domina a Grécia. Roma
domina o Lácio, construindo estradas e aquedutos. Hipócrates
desenvolve a medicina.

Unidade 3 73

Introducao a Filosofia.indb 73 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

334 a.C. – Alexandre torna-se senhor do império persa; seus


domínios se estendem até a Índia.
323 a.C. – Morte de Alexandre e desintegração do seu império.
284 a.C. – Inauguração da Biblioteca de Alexandria (norte do
Egito), com 100 mil volumes.
280 a.C. – Surgimento da cultura maia na Guatemala.
264 a.C. – Início das Guerras Púnicas, entre Roma e Cartago.
210 a.C. – Começa a construção da Grande Muralha da China.
146 a.C. – Fim das Guerras Púnicas e consolidação de Roma sobre
o Mediterrâneo ocidental. Budismo se espalha pelo sudeste
asiático.
133 a.C. - Caio e Tibério Graco iniciam reformas em Roma.
73 a.C. – Spartacus lidera revolta de escravos contra Roma.
63 a.C. – Liderados por Pompeu, romanos dominam a Síria e a
Palestina.
45 a.C. – César torna-se ditador romano.
44 a.C. – César é assassinado.
27 a.C. – Otaviano aceita o título de Augusto, marcando o início
do Império Romano.
19 a.C. – Romanos conquistam a Península Ibérica e criam três
províncias, entre elas a Lusitânia, atual Portugal.
6 a.C. – Nasce Jesus de Nazaré.
1 – Começa a era depois de Cristo. População mundial chega a
aproximadamente 170 milhões.
14 – Morte de Augusto. Tibério torna-se imperador, ficando no
poder até 37. Ovídio escreve Metamorfose.
27 – Jesus é batizado e começa a sua pregação.
30 – Jesus é crucificado.
37 – Calígula torna-se imperador.
54 – Império Romano sob Nero.
64 – Cristãos são acusados e martirizados pelo incêndio de
Roma.

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Introducao a Filosofia.indb 74 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

70 – Início da diáspora judaica após destruição do templo em


Jerusalém. Surge o primeiro evangelho (S. Mateus).
75 – Começa a construção do Coliseu Romano. Provável data da
invenção, na China, do papel.
79 – Erupção do vulcão Vesúvio destrói a cidade de Pompéia, na
Itália.
98 – Auge da expansão territorial romana. Cristianismo também
se espalha.
100 – População mundial: 180 milhões.
132 – Surgimento da cultura Teotihuacán, no México.
200 – População mundial: 190 milhões.
212 – Cidadania é estendida a todos os homens livres do Império
Romano.

Fonte: Uol Biblioteca, [200-?].

A Filosofia Medieval
A Filosofia Medieval compreende o período que vai do século II
d.C. até XV d.C.

Este período da história do pensamento ocidental é marcado pelo


encontro da Filosofia com o cristianismo. Um encontro marcado
por tensões entre a fé e a razão, que se iniciou no Império Romano
e prolongou-se por toda a Idade Média, determinando a forma que
a Filosofia assumiu por mais de um milênio. A Filosofia tornou-se
cristã, e a fé cristã assimilou procedimentos racionais.

A Patrística

A Patrística é assim chamada por ser a Filosofia dos padres da


Igreja Católica, nos primeiros séculos do cristianismo. Tem como
objetivo desenvolver um pensamento que acomode o cristianismo e
a tradição filosófica, a fé e a razão, procura conciliar as verdades da
revelação bíblica com a Filosofia Grega (razão).

Unidade 3 75

Introducao a Filosofia.indb 75 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

O conteúdo do Evangelho, no qual se apoiava a fé cristã nos


primórdios do cristianismo, era um saber de salvação, revelado, não
sustentado por uma filosofia. O objetivo era claro: somente com tal
conciliação seria possível converter os pagãos para a nova religião.
Na impossibilidade de fazerem valer suas idéias racionalmente,
os padres da Igreja apresentam um novo argumento: o dogma,
ou seja, verdades reveladas por Deus e, portanto, irrefutáveis e
inquestionáveis. Com isso surge uma distinção entre verdades
reveladas e verdades da razão humana. Nesse sentido, o grande
tema da Filosofia Patrística é da possibilidade ou impossibilidade
de conciliar fé e razão.

Dentre os chamados santos padres, Santo


Agostinho (354-430) é quem leva mais longe a
conciliação entre a fé e a razão: elabora a “Filosofia
Cristã”, como ele a chamaria.(AGOSTINHO,2002).

A Escolástica
Apologética significa um
discurso ou escrito que defende, Quando desapareceu o poder do Império Romano do Ocidente, a
justifica, elogia uma pessoa ou Igreja arrogou-se a supremacia universal. O papa foi reconhecido
coisa.A Filosofia Patrística era como a autoridade máxima, a quem deviam submeter-se os
apologética, pois usava a razão poderes temporais. Assim, a hierarquia eclesiástica de Roma
para defender a fé cristã em meio
representou o fator aglutinante das monarquias ocidentais. A
a um mundo cultural que lhe era
desfavorável. O que não é mais progressiva conversão dos bárbaros ao cristianismo fez da Igreja a
necessário na Idade Média, com instituição mais importante da Idade Média.
o predomínio da cristandade.
Outros exemplos do uso do termo As exigências que se apresentavam aos filósofos cristãos já não
apologia: Apologia de Sócrates; eram as mesmas, pois o pressuposto de que partiam não era o
apologia ao crime; apologia às
paganismo, mas o próprio cristianismo. A Filosofia, assim, deixou
drogas.
de ser apologética e tornou-se docente, magistral ou escolástica.

A escolástica pode ser conceituada como o ensino


teológico-filosófico da doutrina aristotélico-tomista
ministrado nas escolas de conventos e catedrais e
também nas universidades européias da Idade Média
e do Renascimento. O desenvolvimento da escolástica
vale-se, além da Igreja e de sua imposição da unificação
da fé cristã, do emprego do latim, tornado universal.

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Introducao a Filosofia.indb 76 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

Tomás de Aquino (1225-1274) é o grande nome da Filosofia


Medieval. Um trabalhador incansável e de espírito metódico, que
se empenhou em ordenar o saber teológico e moral acumulado
na Idade Média. Ele não partiu de Deus para explicar o mundo,
mas, sobre a experiência sensorial, empregou o conhecimento
racional para demonstrar a existência do Criador. As “cinco vias”
são cinco argumentos que provariam a existência de Deus a partir
dos efeitos por ele produzidos, e não da ideia de Deus. Veja a
figura 3.1.
Figura 3.1 – São Tomás de Aquino
Veja, na linha do tempo, os principais filósofos deste período. Fonte: Skoob (2010).

354 – 430 – Santo Agostinho

480 – 524 – Boécio


980 – 1037 – Avicena
1079 – 1142 – Abelardo
1126 – 1198 – Averróis
1200 – 1280 – Santo Alberto
1214 – 1292 – Roger Bacon
1227 – 1274 – Santo Tomás de Aquino
1265 – 1308 – Duns Scotus
1300 – 1349 – Guilherme de Ockham

Fonte: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo ([200-?])

Veja na linha do tempo os principais fatos da história neste período.

235 – Começo do declínio do Império Romano.


284 – Princípio da civilização Maia clássica.
300 – População mundial em torno de 190 milhões.
306 – Constantino torna-se imperador romano.
313 – Edito de Milão legaliza o Cristianismo no Império Romano.

Unidade 3 77

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Universidade do Sul de Santa Catarina

320 – Início do Império Gupta na Índia.


324 – Bizâncio é reconstruída por Constantino.
326 – Constantino declara domingo como dia sagrado para os
cristãos.
330 – Renomeada de Constantinopla, Bizâncio torna-se capital
do Império Romano.
378 – Visigodos derrotam o exército romano.
391 – Teodósio proíbe os cultos pagãos.
395 – O Império Romano é dividido em dois, Ocidental e
Oriental.
400 – Agostinho publica Confissões. População mundial em
torno de 190 milhões.
410 – Visigodos saqueiam Roma.
434 – Átila torna-se o rei dos Hunos.
476 – Deposição de Rômulo marca o fim do Império Romano.
Começa a Idade Média.
496 – Clóvis, rei dos francos, dá inicio ao reino Merovíngio.
500 – Os bretões, sob a liderança do legendário rei Artur,
derrotam os saxões, retardando o avanço destes sobre a
Bretanha. População mundial em torno de 195 milhões.
525 – Budismo, agora misturado ao taoísmo, alcança grande
popularidade na China.
527 – Justiniano, imperador bizantino, tenta restaurar a parte
ocidental do Império Romano.
550 – Ataque huno encerra Império Gupta, na Índia.
570 – Nascimento de Maomé (Muhammad).
600 – População mundial: aproximadamente 200 milhões.
607 – Unificação do Tibete, que se torna o centro da religião
budista.
622 – Auge do Império Maia, no México.
632 – Maomé morre.
637 – Jerusalém é conquistada por tropas muçulmanas.

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Introducao a Filosofia.indb 78 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

641 – Biblioteca da Alexandria é destruída pelos árabes.


680 – Divisões internas no Islamismo criam os xiitas e os sunitas.
700 – População mundial estimada em cerca de 210 milhões. Data
aproximada em que os chineses inventaram a pólvora.
711 – Árabes mulçumanos ocupam a Espanha.
751 – Pepino III encerra a dinastia Merovíngia e inicia a
Carolíngia. Córdoba torna-se o centro da cultura muçulmana na
Espanha.
768 – Carlos Magno torna-se rei dos francos.
800 – Carlos Magno é coroado em Roma pelo papa Leão III.
População mundial: 220 milhões.
827 – Árabes conquistam Sicília e Creta, derrotando os
bizantinos.
833 – Criação de um observatório em Bagdá.
885 – Paris é cercada pelos vikings.
896 – Declínio da civilização Maia e ascensão da cultura tolteca.
900 – População mundial: 240 milhões.
907 – Fim da dinastia Tang na China leva à dissolução do império.
925 – Pedra passa a ser usada no lugar de madeira em
construções na Europa Ocidental.
936 – Budismo se espalha na Coréia.
960 – Início da dinastia Sung na China.
986 – Vikings estabelecem colônias na Groenlândia.
1000 – População mundial: 265 milhões.
1016 – Auge do Império Bizantino.
1054 – Cisma da Igreja Católica (Romana e Ortodoxa).
1090 – Relógio mecânico movido à água é inventado na China.
1095 – Papa Urbano II convoca cruzada para reconquistar
lugares sagrados.
1099 – Cruzados conquistam Jerusalém. Auge do sistema feudal
na Europa.
1100 – População mundial: 270 milhões.

Unidade 3 79

Introducao a Filosofia.indb 79 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

1138 – Princípios da arquitetura gótica.


1150 – Templo Khmer, Angkor Wat, é erguido no Camboja.
Declínio dos toltecas no México.
1166 – Astecas entram no México.
1167 – Fundação da Universidade de Oxford, na Inglaterra.
1170 – Fundação da Universidade de Paris. Começa a música
polifônica.
1193 – Budismo Zen no Japão.
1200 – Civilização Inca (Cuzco) se desenvolve.
1209 – Fundação da Universidade de Cambridge. Criação da
ordem franciscana.
1213 – Genghis Khan dá início ao Império Mongol.
1215 – Religião muçulmana chega ao sudeste asiático e à África.
1235 – Início do Império Mali na África Ocidental.
1236 – Reino de Castela conquista Córdoba.
1261 – Bizâncio reconquista Constantinopla.
1271 – Marco Polo dá início à viagem a China.
1300 – Surgimento de novo Império Maia em Yucatán.
População mundial: 360 milhões.
1307 – Início do reino do Benin no sul da Nigéria (África
Ocidental).
1309 – Dante começa a escrever A Divina Comédia.
1337 – Começa a Guerra dos Cem Anos entre França e Inglaterra.
1347 – Peste Negra chega à Europa.
1353 – Turcos otomanos invadem a Europa.
1368 – Fundação da dinastia Ming na China.
1400 – População mundial: 350 milhões. Balé começa nas cortes
renascentistas italianas.
1405 – Mongol Tamerlane conclui a conquista da Pérsia, Síria e
Egito.
1410 – Início da pintura a óleo.

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Introducao a Filosofia.indb 80 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

1413 – Início das viagens marítimas portuguesas.


1420 – Portugueses descobrem a ilha da Madeira.
1431 – Joana d’Arc é queimada na França.
1432 – Portugal chega ao arquipélago de Açores.
1440 – Começa a ser escrito As Mil e Uma Noites, em árabe.
1453 – Turcos otomanos conquistam Constantinopla, marcando
o fim da Idade Média. Termina a Guerra dos Cem Anos e começa,
na Inglaterra, a Guerra das Rosas.
1455 – Impressão da Bíblia de Gutenberg.
1469 – Fernando de Aragão e Isabel de Castela se casam,
começando o processo de unificação da Espanha.
1478 – Começa a Inquisição Espanhola.
1492 – Árabes e judeus expulsos da Espanha. Cristóvão Colombo
chega à América.
1494 – Portugal e Espanha assinam o Tratado de Tordesilhas.
1498 – Vasco da Gama atravessa o Cabo da Boa Esperança, na
atual África do Sul.
1500 – População mundial: 400 milhões (demografia). Cabral
chega ao Brasil.

Fonte: Oxford Encyclopedia of World History, 1999.

Seção 3 - A Filosofia Moderna


A Filosofia Moderna compreende o período que vai do século
XVII a.C. ao XIX d.C.

O Renascimento
A escolástica chegou ao seu limite. A desagregação da
cristandade, com a reforma protestante e o renascimento cultural,
trouxe novas questões. A desintegração da estruturas feudais,
as grandes descobertas da ciência e a ascensão da burguesia
assinalam a emergência do Renascimento.

Unidade 3 81

Introducao a Filosofia.indb 81 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

Em contraste com a Filosofia Medieval, dogmática e submissa à


Igreja, a Filosofia Moderna é profana e crítica, representada por
leigos que procuram pensar de acordo com as leis da razão e do
conhecimento científico. O resultado é a ruptura dos vínculos com
a teologia e um crescente processo de secularização da Filosofia.

Veja, na linha do tempo, os filósofos deste período.

1401 – 1464 – Cusa, Nicolau de


1466 – 1536 – Erasmo, Desidério
1469 – 1527 – Maquiavel, Nicolau
1483 – 1546 – Lutero, Martin
1490 – 1525 – Müntzer, Tomás
1509 – 1564 – Calvino, João
1530 – 1596 – Bodin, Jean
1533 – 1592 – Montaigne, Michel Eyquem de
1548 – 1593 – Giordano, Bruno
1557 – 1638 – Althusius, Johannes
Fonte: Oxford Encyclopedia of World History, 1999.

Veja na linha do tempo os principais fatos da história neste


período.

1503 – Leonardo da Vinci pinta Mona Lisa. Franceses chegam às


costas brasileiras.
1508/12 – Michelângelo pinta a Capela Sistina.
1509 – O relógio é inventado em Nuremberg, na atual Alemanha.
1517 – Começo da Reforma Religiosa na Alemanha.
1519 – Magellan cruza o Oceano Pacífico.
1521 – Hernán Cortés conquista os astecas, no México.

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Introdução à Filosofia

1531 – Expedição Martim Afonso de Souza marca o início da


colonização.
1532 – Fundação de São Vicente, primeira vila brasileira.
1533 – Francisco Pizarro derrota o Império Inca, no Peru.
1534 – Fundação da Ordem dos Jesuítas. Criação das quatorze
capitanias hereditárias no Brasil, por D. João III.
1538 – Primeiros escravos africanos chegam ao Brasil.
1542 – Portugueses aportam no Japão.
1543 – Nicolau Copérnico conclui a obra De Revolutionibus
Orbium.
1545 – Começa o Concílio de Trento.
1549 – Chega ao Brasil o primeiro Governador-Geral, Tomé de
Souza. Fundação de Salvador.
1551 – Fundação da Universidade de Lima, a primeira na
América.
1554 – Fundação de São Paulo.
1557 – Portugueses fundam Macau, na China.
1565 – Fundação do Rio de Janeiro.
1570 – D. Sebastião concede liberdade aos índios.
1572 – Camões publica o clássico Os Lusíadas.
1580 – Espanha ocupa Portugal (união das coroas ibéricas).
1583 – Invenção do microscópio e do termômetro.
1594 – William Shakespeare escreve Romeu e Julieta.
Fonte: Oxford Encyclopedia of World History, 1999.

O Racionalismo
Este período tem como principal característica uma crescente
confiança na capacidade do intelecto humano e o surgimento de
uma série de sistemas fundados na convicção de que a razão constitui
o instrumento fundamental para a compreensão do mundo. Esta
era a ideia central comum ao conjunto de doutrinas conhecidas
tradicionalmente como Racionalismo, e cuja primeira manifestação

Unidade 3 83

Introducao a Filosofia.indb 83 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

aparece na obra de René Descartes (1596-1650). Dá-se a descoberta


da subjetividade: “Penso, logo existo!”. O conhecimento do mundo
não se faz sem o sujeito, deslocando o foco do objeto para o sujeito
capaz de conhecer; da realidade para a razão.

O Empirismo
Em oposição à crença racionalista, que se baseia, em grande
medida, na razão, surge o empirismo, doutrina que reconhece a
experiência como fonte válida de conhecimento. O empirismo
deu início a uma nova e transcendental etapa na história
da Filosofia, tornando possível o surgimento da moderna
metodologia científica. O que o caracteriza e define é a afirmação
de que a validade das proposições depende exclusivamente da
experiência sensível. Nega qualquer outra espécie de realidade
além da que se atinge pelos sentidos. Entre os principais
representantes estão John Locke (LOCKE, 1999), Thomas
Hobbes, George Berkeley, David Hume, Stuart Mill, Herbert
Spencer.

O Iluminismo
O racionalismo cartesiano e o empirismo inglês preparam o
surgimento do Iluminismo. O Iluminismo foi uma revolução
intelectual ocorrida na Europa e, particularmente, na França,
durante o século XVIII. Na verdade, foi o apogeu e a
consolidação dos ideais renascentistas, que começaram a ser
difundidos por todo o velho continente.

Foi durante o Século das Luzes (século XVIII) que se consolidou


a separação entre a religião e as ciências. A grande preocupação
dos iluministas era descobrir o funcionamento de todas as coisas,
e apenas a razão era capaz de levá-los a tanto. Deve-se entender o
Iluminismo também como uma reação burguesa ao absolutismo.
Propunha-se a reorganização da sociedade e a adoção de uma
política centrada no homem, que lhe garantisse sua total liberdade.

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Introducao a Filosofia.indb 84 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

A publicação da Encyclopédie (1751-1772), sob a direção


do francês Denis Diderot, constitui exemplo excepcional
desse empenho. Jean-Jacques Rousseau e o barão de
Montesquieu defenderam a liberdade e a igualdade
entre todos os cidadãos. Montesquieu propôs, em O
espírito das leis (1748), a divisão dos poderes como
garantia da liberdade política. Rousseau, em O contrato
social (1762), reconheceu como depositário do poder
o povo, que o cede aos governantes mediante uma
delegação revogável segundo sua vontade.

O Criticismo
Diante desta efervescência, surge um filósofo que questiona o
poder absoluto da razão: será que a razão pode conhecer tudo?
Qual o conhecimento que possui fundamento? A razão é levada a
julgamento pelo Criticismo do Immanuel Kant (1724-1804).

Kant objetivou superar o racionalismo e o empirismo. “Supera”


esses dois movimentos ao afirmar que o conhecimento só existe
a partir dos conceitos de matéria e forma: a matéria vem da
experiência sensível (a posteriori) e a forma é dada pelo sujeito que
pensa (a priori). O conhecimento é um processo de síntese no qual
o intelecto proporciona a forma e a experiência oferece o conteúdo.

1561 – 1626 – Galilei, Galileu


1564 – 1642 – Galileu Galilei
1568 – 1639 – Campanella, Tommaso
1571 – 1630 – Kepler, Johannes
1588 – 1679 – Hobbes, Thomas
1596 – 1650 – Descartes, René
1614 – 1687 – More, Henry
1623 – 1662 – Pascal, Blaise

Unidade 3 85

Introducao a Filosofia.indb 85 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

1632 – 1677 – Espinosa, Baruch


1632 – 1704 – Locke, John
1638 – 1715 – Malebranche, Nicolas
1646 – 1716 – Leibniz, Gottfried Wilhelm
1668 – 1744 – Vico, Giambattista
1679 – 1754 – Wolff, Christian
1685 – 1753 – Berkeley, George
1689 – 1755 – Montesquieu
1694 – 1778 – Voltaire
1711 – 1776 – Hume, David
1712 – 1778 – Rousseau, Jean-Jacques
1713 – 1784 – Diderot, Denis
1717 – 1783 – D’Alembert, Jean Le Round
1724 – 1804 – Kant, Immanuel
Fonte: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. ([200-?])

Veja na linha do tempo os principais fatos da história neste


período.

1603 – Shakespeare escreve Hamlet.


1609 – Galileu inventa o telescópio.
1612 – Franceses fundam São Luís, no Maranhão.
1614 – Padre Antônio Vieira chega ao Brasil.
1615 – Cervantes publica Dom Quixote. Franceses expulsos do
Maranhão.
1618 – Guerra dos Trinta Anos começa na Europa.
1629 – Bandeira de Raposo Tavares e Manuel Preto destrói
missões jesuíticas no Paraná.
1630 – Início do Quilombo dos Palmares. Holandeses ocupam
Pernambuco.

86

Introducao a Filosofia.indb 86 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

1637 – Descartes publica Discurso sobre o Método, marco da


Filosofia Moderna.
1640 – Portugal volta a se tornar independente da Espanha
(Restauração).
1643 – Luís XIV chega ao poder na França.
1649 – Termina a construção do Taj Mahal, na Índia.
1651 – Thomas Hobbes escreve Leviatã.
1654 – Expulsão definitiva dos holandeses do Brasil.
1670 – Concluída a construção do Palácio de Versalhes, na
França.
1674 – Bandeira de Fernão Dias Pais a Minas Gerais.
1687 – Newton publica a lei da gravidade.
1695 – Destruição de Palmares e morte de seu líder, Zumbi.
1698 – Savery inventa o motor a vapor.
Fonte: Oxford Encyclopedia of World History, 1999.

O Idealismo
O Idealismo consiste na interpretação da realidade exterior e
material a partir do mundo interior, subjetivo e espiritual. Isso
implica a redução do objeto do conhecimento ao sujeito do
conhecedor. Ou seja: o que se conhece sobre o ser humano e o
mundo é produto de idéias, representações e conceitos elaborados
pela consciência humana.
Friedrich Hegel (1770-1831) afirma que a idéia passa por
Figura 3.2 - Friedrich Hegel
transformação contínua e tudo se desenvolve através da lógica Fonte: The Free Dictionary (2011).
dialética, do vir-a-ser, em três fases: a tese, a antítese e a síntese.

A tese é a afirmação; a antítese é a negação da primeira; a síntese,


o resultado da dialética do sim e do não, isto é, dos contrários
(Bussola, 1998, p. 47). Entre os principais representantes estão
Johann Gottlieb von Fichte, Friedrich Wilhelm von Schelling,
Friedrich Hegel, Immanuel Kant, George Berkeley.

Unidade 3 87

Introducao a Filosofia.indb 87 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

O Materialismo
Em contraposição ao idealismo, surge o Materialismo. O
Materialismo é a concepção filosófica que aponta a matéria como
substância primeira e última de qualquer ser, coisa ou fenômeno.
Para os materialistas, a realidade é matéria em movimento, que
produz efeitos surpreendentes, entre os quais a consciência.
Figura 3.3 - Karl Marx
Fonte: Ramos (2011).
No século XIX, Karl Marx (1818-1883) utiliza o método
dialético desenvolvido por Hegel e o adapta à sua teoria, o
materialismo histórico, que considera o modo de produção da
vida material como condicionante da história.(MARX, 1996).

Desta abordagem nasce um novo conceito de história, em que o


motor interno é a contradição. Conhecer a gênese, o processo de
constituição pelas mediações contraditórias é conhecer o real.

O Positivismo
As descobertas científicas e os avanços técnicos do século XIX
fazem crer que o homem pode dominar a natureza, com uma ciência
e tecnologia cada vez mais eficazes. Neste clima de exaltação do
progresso científico, surge o Positivismo, e a convicção de que o
único porto seguro para o conhecimento é a ciência. Defendem os
positivistas que o método das ciências da natureza – baseado na
observação, experimentação e matematização – deve ser estendido a
todos os campos do conhecimento e a todas as atividades humanas.

Esse entusiasmo desemboca no cientificismo, visão reducionista


segundo a qual a ciência seria o único conhecimento válido. Augusto
Comte (1798-1857) é o grande nome desta corrente filosófica.
(COMTE,1999).
Veja, na linha do tempo, os principais filósofos deste período.

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Introducao a Filosofia.indb 88 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

1770 – 1831 – Hegel, Georg Wilhelm Friedrich

1775 – 1854 – Schelling, Friedrich


1788 – 1860 – Schopenhauer, Arthur
1798 – 1857 – Comte, Augusto
1804 – 1872 – Feuerbach, Ludwing
1806 – 1873 – Mill, John Stuart
1809 – 1865 – Proudhon, Pierre Joseph
1813 – 1855 – Kierkegaard, Sören Aabye
1818 – 1883 – Marx, Karl
1820 – 1895 – Engels, Friedrich
1833 – 1911 – Dilthey, Wilhelm
1838 – 1916 – Mach, Ernst
1839 – 1914 – Peirce, Charles Sanders
1843 – 1896 – Avenarius, Richard
1844 – 1900 – Nietzsche, Friedrich
Fonte: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. ([200-?])

Veja, na linha do tempo, os principais filósofos deste período.

1720 – China conquista o Tibete.


1741 – Bering chega ao Alasca.
1742 – Celsius desenvolve a escala em centígrados.
1751 – Diderot publica o primeiro volume de sua Enciclopédia.
1755 – Terremoto destrói Lisboa.
1756 – Começa a Guerra dos Sete Anos.
1757 – Escola fisiocrata na França inicia a teoria econômica
moderna.

Unidade 3 89

Introducao a Filosofia.indb 89 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

1759 – Expulsão dos jesuítas do Brasil. Voltaire publica Cândido.


1762 – Rousseau lança Contrato Social, clássico do iluminismo.
1764 – Mozart escreve a sua primeira sinfonia, aos 8 anos de
idade.
1774 – Luís XVI chega ao poder na França. Priestley descobre o
hidrogênio.
1775 – Começa a Guerra da Independência nos EUA. Jenner
descobre o princípio da vacinação.
1776 – Adam Smith publica Pesquisa sobre a Natureza e as
Causas da Riqueza das Nações. Assinada a Declaração de
Independência, nos EUA.
1777 – Cresce a indústria têxtil na Inglaterra.
1781 – Kant publica Crítica da Razão Pura.
1783 – Fim da Guerra da Independência (EUA). Irmãos
Montgolfier realizam o primeiro “vôo humano”, num balão de ar
quente. Cavendish identifica a composição da água.
1787 – Constituição norte-americana é assinada.
1789 – Revolução Francesa: fim da Idade Moderna e início da
Contemporânea.
Lavoisier começa a química moderna. Inconfidência Mineira.
1791 – Revolta escrava no Haiti, sob o comando de Toussaint
L’Ouverture.
Thomas Paine publica Os Direitos do Homem.
1792 – Proclamação da República Francesa. Julgamento dos
inconfidentes e execução de Tiradentes.
1793 – Começa o Regime do Terror na França.
1799 – Napoleão assume o poder.
1800 – Alessandro Volta fabrica a primeira bateria. População
mundial estimada em 900 milhões.
1803 – Inglaterra declara guerra contra a França de Napoleão.
1804 – Haiti torna-se o segundo país independente da América.
1808 – Começam os movimentos de independência nas colônias
espanholas sul-americanas. Corte portuguesa chega ao Brasil
fugindo de Napoleão; abertura dos portos brasileiros.

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Introducao a Filosofia.indb 90 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

1811 – Paraguai e Venezuela tornam-se independentes.


1812 – EUA declaram guerra à Inglaterra.
1814 – Napoleão abdica do poder. Stephenson inventa a
locomotiva a vapor.
1815 – Napoleão retorna, mas sofre derrota definitiva em
Waterloo. Brasil torna-se Reino Unido a Portugal e Algarves.
1816 – Argentina declara independência.
1817 – Estoura a Revolução Pernambucana (Brasil).
1820 – Primeira iluminação urbana, em Londres.
1821 – México torna-se independente. Hegel publica
Fundamentos da Filosofia do Direito.
1822 – Independência do Brasil.
1824 – Peru independente. Beethoven compõe a Nona Sinfonia.
Promulgada a primeira Constituição Brasileira.
1825 – Guerra entre Brasil e Argentina pela província Cisplatina
(Uruguai).
1830 – Revolução liberal na França.
1831 – D. Pedro I abdica do trono (Brasil).
1835 – A Guerra dos Farrapos irrompe no Rio Grande do Sul,
contra o governo federal (Brasil). Revolta dos malês na Bahia
(Brasil).
1840 – Começam as Guerras do Ópio na China.
1843 – D. Pedro II assume o poder moderador (Brasil).
1846 – Início da guerra entre México e EUA. Anestesia é usada
pela primeira vez em hospital.
1848 – Revoluções se alastram na Europa. Marx e Engels
publicam O Manifesto Comunista.
1850 – Lei Eusébio de Queiroz extingue o tráfico de escravos
(Brasil).
1857 – José de Alencar publica O Guarani (Brasil).
1859 – Charles Darwin publica A Origem das Espécies. Primeiro
poço de petróleo é perfurado, nos EUA.
1861 – Começa a Guerra da Secessão nos EUA.

Unidade 3 91

Introducao a Filosofia.indb 91 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

1862 – Abraham Lincoln liberta os escravos (EUA).


1864 – Inicia a guerra do Paraguai. Lincoln é assassinado (EUA).
1870 – Fim da Guerra do Paraguai. Carlos Gomes compõe O
Guarani (Brasil).
1872 – Primeiro recenseamento no Brasil.
1876 – Alexander Graham Bell inventa o telefone.
1885 – Gottlieb Daimler produzem o primeiro carro movido a
gasolina.
1886 – Pemberton, farmacêutico norte-americano, inventa a
Coca-Cola.
1888 – Lei Áurea abole a escravidão, no dia 13 de maio (Brasil).
1889 – Proclamação da República, em 15 de novembro (Brasil).
1891 – Promulgada a Constituição dos Estados Unidos do Brasil
(Brasil).
1895 – Röentgen descobre o raio-X. Irmãos Lumière constroem o
primeiro aparelho cinematográfico.
1896 – Primeiros Jogos Olímpicos modernos, em Atenas.
Marconi inventa o telégrafo sem fio.
1897 – Destruição de Canudos.
1899 – Machado de Assis publica sua obra-prima, Dom Casmurro
(Brasil).
1900 – População mundial: 1.550.000.
Fonte: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, ([200-?]).

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Introducao a Filosofia.indb 92 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

Seção 4 - A Filosofia do século XX


Após duas guerras mundiais, o Holocausto e os ataques
nucleares a Hiroshima e Nagasaki, em 1945, o humanismo
europeu ruíra de alto a baixo e, com ele, a confiança iluminista
na técnica e na ciência como agentes da civilização.

O pensamento ocidental passa por uma tremenda angústia,


mostrando que a ciência, a Filosofia, o conhecimento, são
incapazes de resolver os problemas da humanidade. No século
XX, mais homens foram mortos ou abandonados à morte por
decisão humana que jamais antes na história. (HOBSBAWN,
1999, p. 21).

A Filosofia passou a mostrar que as ciências não possuem


princípios totalmente certos, seguros e rigorosos para as
investigações, que os resultados podem ser duvidosos e
precários, e que, frequentemente, uma ciência desconhece até
onde pode ir e quando está entrando no campo de investigação
de uma outra.

Fenomenologia e Existencialismo
Neste contexto de dúvida e desencanto, diversos pensadores
passam a questionar o sentido da vida humana. Surge, assim,
o existencialismo, interpretando esta urgente renovação e, ao
mesmo tempo, testemunhando a situação de angústia na qual
o flagelo horroroso da guerra lançara à humanidade.

O Existencialismo acredita que é a existência do ser


humano, como ser livre, que define sua essência, e
não a essência ou a natureza humana que determina
sua existência. O homem primeiro vive e só depois
pode ser definido.

O Existencialismo traz a experiência pessoal para a reflexão


filosófica, opondo-se à tradição de que o filósofo deve manter
certa distância entre ele próprio, como sujeito pensante, e o
objeto que o examina. Os temas de reflexão do existencialismo

Unidade 3 93

Introducao a Filosofia.indb 93 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

giram basicamente em torno do homem e da realidade humana: a


pessoa, a liberdade, a realidade individual, a existência cotidiana, o
sentido da vida e da morte. Entre os principais representantes estão
Soren Kierkegaard (1813-1855), Martin Heidegger (1889-1976),
Maurice Merleau-Ponty (1908-1961), Jean-Paul Sartre (1905-
1980).

O Existencialismo usa como método a


Fenomenologia, desenvolvida por Edmund Husserl
(1859-1938). A fenomenologia é o estudo do
fenômeno, daquilo que realmente se manifesta.
Ela despreza pressupostos e realiza uma descrição
daquilo que se mostra por si mesmo, anterior a
toda crença e juízo.

O Neopositivismo
A partir do começo do século XX, teve início uma reflexão
radical sobre a natureza da Filosofia, sobre a determinação de
seus métodos e objetivos: o neopositivismo.

No que diz respeito ao método, destacaram-se as novas reflexões


sobre o estudo analítico da linguagem e o impulso dado à
Filosofia da ciência. Representa a ênfase em ver a Filosofia, antes
de tudo, como análise, ou seja, elucidação, esclarecimento. Nesse
aspecto, seu interesse voltou-se fundamentalmente para a lógica
e a análise dos conceitos subjacentes à linguagem, considerando
que muitos dos dilemas filosóficos habituais podem ser resolvidos
– ou deixados de lado, por insolúveis – mediante o estudo dos
termos em que estão expostos.

Seus principais representantes são Rudolf Carnap (1891-1969),


Ludwig Wittgenstein (1889-1951), Bertrand Russel (1872-1970),
Karl Popper (1902-1994).

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Introducao a Filosofia.indb 94 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

A crítica à sociedade capitalista


A Filosofia cumpre a sua missão de ser crítica ao confrontar as
necessidades e desejos humanos com os valores de uma época
ou estrutura sociohistórica. Destacamos, aqui, três exemplos
de posturas filosóficas questionadoras da sociedade moderna,
industrial e capitalista.

Jürgen Habermas (1929-) Crítico da doutrina positivista e


do tecnicismo da sociedade industrial capitalista, luta pelo
restabelecimento de uma opinião pública democrática e crítica.
Habermas acredita que, mesmo numa sociedade de conflitos e
interesses antagônicos, permanece como possibilidade histórica
um núcleo universal de comunicação entre os homens.

Por isso, ele apresenta a sua teoria da ação comunicativa


como uma situação ideal na qual homens de boa vontade
buscam o diálogo para solução de problemas comuns;
colocam-se em acordo com algumas regras do jogo, aceitando
que prevalecerá entre eles sempre o melhor argumento e que
se curvarão diante das consequências das posições assumidas
processualmente no debate de ideias e posições políticas,
mudando suas formas de agir socialmente.

Herbert Marcuse (1898-1979) Denunciou o caráter repressivo


da sociedade industrial e pregou transformações revolucionárias
tanto nas instituições sociais como nas atitudes do homem,
que, a seu ver, se deve libertar, inclusive pela sexualidade, das
convenções e condicionamentos que o escravizam.

Acusou a sociedade capitalista de criar necessidades de consumo


artificiais e incessantemente renovadas, mediante a manipulação
das consciências pelos meios de comunicação de massa,
fonte de um estilo de vida que chamou “unidimensional” – o
conformismo. Suas ideias tiveram grande influência na rebelião
estudantil de 1968.

Michel Foucault (1926-1984) Analisa as estruturas da sociedade


ocidental e constata que diferentes práticas na medicina, nas
penitenciárias, na educação, dão forma ao pensamento ocidental e
produzem a ideia normativa e universal de ser humano. Foucault

Unidade 3 95

Introducao a Filosofia.indb 95 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

mostra a arbitrariedade das instituições, o espaço de liberdade de


que dispomos e as mudanças que podemos efetuar.

Foucault conclui que refletimos em nosso pensar a sociedade, a


política, a história, os olhares universais, as estruturas formais,
as instituições do Ocidente! Opõe-se à maneira como o saber
circula e funciona nas relações de poder. (FOUCAUT, 1997).

Luta por uma nova subjetividade, que consiste em mostrar às


pessoas que elas são muito mais livres; toma por verdade alguns
temas fabricados na história: a pretensa evidência pode e deve
ser criticada e destruída. Considera que o papel do intelectual é
mudar algo no espírito das pessoas, mostrando que a realidade
social e os conceitos que a sustentam, resultam de processos
históricos e que todos nós podemos ser muito mais livres.

Veja, na linha do tempo, os filósofos deste período.

1848 –1915 – Windelband, Wilhelm

1856 –1939 – Freud, Sigmund1859 –1941 – Bergson, Henri

1859 –1938 – Husserl, Edmund


1866 –1952 – Croce, Benedetto
1871 –1919 – Luxemburgo, Rosa
1872 –1970 – Russell, Bertrand
1874 –1928 – Scheler, Max
1874 –1945 – Cassirer, Ernest
1880 –1936 – Spengler, Oswald
1884 –1962 – Bachelard, Gaston
1885 –1971 – Lukács, Georg
1885 –1977 – Bloch, Ernest
1889 –1951 – Wittgenstein, Ludwig
1889 –1976 – Heidegger, Martin
1891 –1937 – Gramsci, Antonio

96

Introducao a Filosofia.indb 96 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

1891 –1970 – Carnap, Rudolf


1892 –1940 – Benjamin, Walter
1892 – 1964 – Koyré, Alexandre
1895 – 1973 – Horkheimer, Max
1898 – 1979 – Marcuse, Herbert
1900 – – Gadamer, Hans-Georg
1901 – 1981 – Lacan, Jacques
1902 – 1994 – Popper, Karl
1903 – 1969 – Adorno, Theodor Wiesegrund
1905 – 1980 – Sartre, Jean-Paul
1905 – 1995 – Lévinas, Emmanuel
1908 – 1961 – Merleau-Ponty, Maurice
1913 – – Ricoeur, Paul
1915 – 1980 – Barthes, Roland
1922 – – Kuhn, Thomas
1922 – 1974 – Lakatos, Imre
1922 – – Apel, Karl-Otto
1925 – 1995 – Deleuze, Gilles
1926 – 1984 – Foucault, Michel
1928 – – Chomsky, Noam
1929 – – Habermas, Jürgen
1930 – – Derrida, Jacques
1931– – Rorty, Richard
1934 – 1995 – Dussel, Enrique
Fonte: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo ([200-?]).

Veja na linha do tempo os principais fatos da história neste período:

Unidade 3 97

Introducao a Filosofia.indb 97 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

1904 – Vacinação obrigatória gera distúrbios no Rio de Janeiro (Brasil).


1905 – Einstein anuncia a Teoria da Relatividade.
1906 – Santos Dumont voa com o 14 Bis.
1910 – Revolta da Chibata eclode no Rio (Brasil).
1913 – Ford desenvolve a linha de produção nas suas fábricas.
1914 – Começa a Primeira Guerra Mundial, na Europa.
1917 – Começa a Revolução Russa. Greve operária pára São Paulo
(Brasil).
1918 – Fim da Primeira Guerra Mundial, com a derrota da
Alemanha e seus aliados.
1919 – Assinatura do Tratado de Versalhes. Fundação das Ligas
das Nações.
1920 – Primeira irradiação musicada.
1922 – Mussolini chega ao poder na Itália. Realização da Semana
de Arte Moderna em São Paulo (Brasil).
1924 – Começa a Coluna Prestes.
1926 – Hirohito torna-se imperador do Japão.
1927 – Lindenberg realiza a primeira travessia aérea do Atlântico.
1928 – Stálin assume o poder na União Soviética.
1929 – Quebra da Bolsa de Nova York.
1930 – Revolução de 1930 marca o início da Era Vargas (Brasil).
1932 – Revolta Constitucionalista, em São Paulo (Brasil).
1933 – Hitler torna-se o Primeiro ministro alemão.
1935 – Primeira transmissão de TV (Alemanha).
1936 – Guerra Civil Espanhola. Primeira transmissão televisiva, na
Inglaterra.
1937 – Japoneses ocupam Pequim, Xangai e Nanquim. Picasso
pinta Guernica. Instalação do Estado Novo (Brasil).
1939 – Hitler invade a Polônia: começa a Segunda Guerra
Mundial.
1940 – Paris é ocupada pelos alemães.
1941 – Ataque japonês a Pearl Harbour precipita a entrada dos
EUA na Guerra.

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Introducao a Filosofia.indb 98 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

1942 – Brasil entra na Segunda Guerra.


1944 – Desembarque aliado na Normandia (Dia D).
1945 – Fim da guerra na Europa, em 8 de maio. EUA explodem
bombas atômicas no Japão. Capitulação do Japão, no dia 15 de
agosto. Vargas renuncia à presidência (Brasil).
1947 – Independência da Índia e Paquistão.
1948 – Criação do Estado de Israel.
1949 – China torna-se comunista. Simone de Beauvoir lança O
Segundo Sexo. Assinado o Tratado do Atlântico Norte (Otan).
1950 – Começa a Guerra da Coréia. Vargas é eleito presidente
(Brasil).
1951 – Primeiro computador comercial é lançado nos EUA.
1954 – Vargas comete suicídio (Brasil).
1955 – Começa a Guerra do Vietnã.
1957 – União Soviética dá largada à corrida espacial, lançando o
Sputnik.
1959 – Castro lidera a Revolução Cubana.
1960 – Kubitschek inaugura Brasília.
1961 – Jânio Quadros renuncia à presidência.
1963 – Kennedy é assassinado nos EUA.
1964 – João Goulart é deposto do poder pelos militares.
1966 – Começa a Revolução Cultural na China.
1968 – Protestos estudantis em vários países.
1969 – Homem chega à Lua.
1973 – Allende é derrubado por Pinochet no Chile.
1981 – Cientistas isolam o vírus da AIDS.
1983 – Internet é criada.
1989 – Queda do muro de Berlim.
1991 – Fim da União Soviética.
1999 – Cientistas escoceses produzem clone de uma ovelha.
Fonte: 5. 400 anos ([200 -?]).

Unidade 3 99

Introducao a Filosofia.indb 99 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

Seção 5 - A Racionalidade ocidental


A Filosofia é a filosofia de um tempo. Retrata a mentalidade e o
pensamento dos seres humanos de uma determinada época e o
desenvolvimento de determinada cultura. A civilização ocidental
vem mudando consideravelmente ao longo dos anos, e a Filosofia
acompanha estas mudanças, contribuindo para a compreensão do
pensamento nos diferentes contextos existenciais.

Acompanhe, no Quadro 3.1 seguinte, a caracterização, grosso modo, do


desenvolvimento da racionalidade ocidental nos seus principais períodos:

Idade Antiga Idade Média Idade Moderna e


(V a.C. – IV d.C.) (V d.C. – XVI) Contemporânea
(XVI – XX)
Ideia básica Phisis – natureza Homo Faber
Deus
Ação é contemplação Ação é fabricação
ou razão explicativa Contemplação - Fé
Ócio Resultados
Servo da natureza Senhor de si
Ser humano Livre ou escravo Servo de Deus Livre e iguais pela
razão
Objetivismo Objetivismo Subjetivismo
Verdade Adequação do sujeito Adequação do sujeito Adequação ao sujeito
ao objeto (natureza) ao objeto (Deus) “Penso, logo existo!”.
Mito e Filosofia Teologia Ciência e Tecnologia
Saber mais
Contemplação da Contemplação de Deus Conhecer é ação
importante
natureza humana
Eterno retorno é uma concepção
cíclica da realidade do mundo e da Atividade de escravos Castigo devido ao Ação autocriadora
Trabalho
existência, na qual nossas vidas (negativo) pecado (negativo) (positivo)
e tudo mais que existe continua Separação entre Atividade artificial
se repetindo infinitamente, para Política Atividade natural política (negativa) e
moral Mal necessário
sempre. Na modernidade, Nietzsche
recupera esta concepção antiga de Fisiológica Antropológica
história e dá para ela uma dimensão Nascer e morrer Teológica
História Início com o homem
ética: assim como, no mundo da Início e fim em Deus
Eterno retorno (progresso – processo)
natureza, cada decisão tomada
por nós vai continuar produzindo Quadro 3.1 - O desenvolvimento da racionalidade ocidental
Fonte: Adaptado de um quadro sobre a evolução da racionalidade ocidental elaborado pelo Prof.
resultados, cada decisão vale para Selvino Assmann, da Universidade Federal de Santa Catarina. 2006.
sempre. A temporalidade não existe
e, muito menos, as circunstâncias
atenuantes da natureza transitória. Este é o cenário em que se desenvolve o pensamento ocidental,
Passarás à eternidade, fazendo o ora explicando, ora questionando, ora conduzindo estas
que estás fazendo agora. O homem
mudanças e acontecimentos.
está condenado a ser, eternamente,
o mesmo.

100

Introducao a Filosofia.indb 100 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

A história do pensamento ocidental é a história do


desenvolvimento da racionalidade enquanto possibilidade
humana de encontrar explicações de ordem natural para a
realidade das coisas, do mundo e da sua própria existência.

Síntese

Somos seres humanos e nada do que é humano deve nos causar


estranhamento. A Filosofia é obra humana e, por isso, chegamos
ao final do estudo de mais uma unidade com uma sensação de
familiaridade com o mundo da Filosofia. O mundo da Filosofia é
o nosso mundo.

Vimos que estudar Filosofia é estudar a evolução do pensamento


ocidental, sabendo que, ao entrar em contato com o pensamento
de filósofos das mais diferentes épocas, não devemos ter a
pretensão de encontrar respostas definitivas. A única pretensão
aceitável por parte de quem faz e de quem estuda Filosofia é a de
pensar por si mesmo.

Unidade 3 101

Introducao a Filosofia.indb 101 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

Atividades de autoavaliação

Para praticar os conhecimentos apropriados nesta unidade, realize as


atividades propostas.
O gabarito está disponível no final do livrodidático. Mas se esforce para
resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, você promoverá
a sua aprendizagem.
1) Os principais teóricos da História da Filosofia afirmam que a Filosofia da
Antiguidade é cosmocêntrica, a Filosofia da Idade Média é teocêntrica e
a Filosofia Moderna é antropocêntrica. Você encontra no estudo desta
unidade argumentos que justifiquem esta afirmação? Fundamente sua
resposta.

2) Você concorda com a afirmação de que o cristianismo fez mudar o


curso da Filosofia e da história ocidental? Sim? Não? Justifique.

102

Introducao a Filosofia.indb 102 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

3) Considere o seguinte texto:

A escolástica chegou ao seu limite. A desagregação da cristandade,


com a reforma protestante e o renascimento cultural, trouxe novas
questões. A desintegração das estruturas feudais, as grandes
descobertas da ciência e a ascensão da burguesia assinalam
a emergência do Renascimento. Em contraste com a Filosofia
Medieval, dogmática e submissa à Igreja, a Filosofia Moderna é
profana e crítica, representada por leigos que procuram pensar
de acordo com as leis da razão e do conhecimento científico. O
resultado é a ruptura dos vínculos com a teologia e um crescente
processo de secularização da Filosofia.

Agora, relacione a descoberta e a valorização da subjetividade e da


individualidade com a Filosofia Moderna.

Unidade 3 103

Introducao a Filosofia.indb 103 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

4) O filósofo contemporâneo Herbert Marcuse acusou a sociedade


capitalista de criar necessidades de consumo artificiais e
incessantemente renovadas. Cite fatos atuais e comportamentos
humanos que justifiquem tal crítica.

5) Reveja, nesta unidade, o quadro que caracteriza o desenvolvimento da


racionalidade ocidental e faça um breve comentário, citando exemplos,
sobre a evolução do conceito de política nas Idades Antiga, Média e
Moderna.

104

Introducao a Filosofia.indb 104 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

Saiba mais

Para refletir sobre a sua história, a história do mundo e a história


da Filosofia Ocidental, faça uma leitura comparativa entre o texto
da unidade e o conteúdo da música Metamorfose Ambulante, de
Raul Seixas (Gravadora Philips, 1973):

Metamorfose Ambulante
Eu prefiro ser

Essa metamorfose ambulante


Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Eu quero dizer
Agora o oposto do que eu disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou

Se hoje eu sou estrela


Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor
Lhe tenho horror

Unidade 3 105

Introducao a Filosofia.indb 105 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

Lhe faço amor


Eu sou um ator
É chato chegar
A um objetivo num instante
Eu quero viver
Nessa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou
Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator

Eu vou desdizer
Aquilo tudo que eu lhe disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Fonte: Seixas (1973).

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Introducao a Filosofia.indb 106 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

Para aprofundar as questões abordadas nesta unidade, pesquise os


seguintes livros:


BUZZI, Arcângelo. Introdução ao pensar. Petrópolis: Vozes,


1983.

 EERDT, Mauri Luiz. Pensando para viver: alguns caminhos


H
da Filosofia. Florianópolis: Sophos, 2000.

MORA, G. Filosofia para todos. São Paulo: Paulus, 2001.

MARTINS FILHO, Ives Gandra. Manual esquemático de


história da filosofia. São Paulo: Editora LTR, 1997.

PRADO JR., Caio. O que é filosofia. [Coleção Primeiros


Passos] 17. ed. São Paulo: Brasiliense, 1990.

Unidade 3 107

Introducao a Filosofia.indb 107 15/12/11 13:46


Introducao a Filosofia.indb 108 15/12/11 13:46
4
unidade 4

Os grandes temas da Filosofia

Objetivos de aprendizagem
„„ Conhecer os principais temas com os quais se ocupa
a Filosofia.
„„ Identificar as disciplinas clássicas da Filosofia.

Seções de estudo
Seção 1 O homem

Seção 2 O mundo

Seção 3 A cultura

Seção 4 A cidade e o Estado

Seção 5 A religião

Seção 6 A arte

Seção 7 As disciplinas clássicas da Filosofia

Introducao a Filosofia.indb 109 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Nesta unidade, você vê uma pequena contextualização e caracterização
dos grandes temas sobre os quais se debruçaram os filósofos que
fizeram a história do pensamento ocidental. Veja que, ainda hoje, estas
temáticas representam as grandes questões para as quais buscamos
a sabedoria no exercício do pensar. Também apresentaremos as
principais disciplinas da Filosofia. Estas temáticas e disciplinas farão
parte da sua rotina ao longo do curso que estamos iniciando.

Aproveite bem o conteúdo que segue e não se esqueça de


buscar mais informações, saciar a curiosidade, aproximar-se
amorosamente do saber, como faz todo filósofo.

Seção 1 – O homem
Quem sou Eu?

Primeira e fundamental questão filosófica. Objetivo de todo o


conhecimento. A preocupação com o homem é coisa antiga no
pensamento ocidental e perpassa todos os grandes momentos da
história da Filosofia. Vejamos:

O que diz a Filosofia Grega

Na Filosofia Grega, como já vimos, a preocupação primeira


dos filósofos é desvendar os mistérios do cosmos, os segredos do
universo. Mas, mesmo quando contempla a escuridão dos céus, o
brilho dos astros, os corpos celestes e planetas, o homem grego busca
compreender quem ele é e qual o lugar do ser humano no universo.

Protágoras (485-410 a.C.), sofista, afirmava ser o homem a


medida de todas as coisas. Sócrates traz a Filosofia dos céus
para a terra e inaugura no ocidente a investigação antropológica
(tendo o homem como centro das investigações). Sócrates define
o homem como o ser que pensa (animal racional). Platão define
o homem como alma espiritual e imortal. Aristóteles define o
homem como animal político com alma e corpo, mortal.

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Introducao a Filosofia.indb 110 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

Com sua Filosofia, Sócrates procura responder à questão:


“O que é a natureza ou realidade última do homem?”

Sua resposta é precisa e inequívoca: o homem é sua alma, pois é


sua alma que o distingue de qualquer outra coisa.

Mas o que Sócrates entende por “alma”? Ele a concebe como


a nossa atividade pensante e eticamente operante. Ou seja, a
consciência e a personalidade intelectual e moral. Cuidar de
si mesmo, agora, significa cuidar da própria alma (animação).
Mais do que o corpo, a tarefa do educador consiste em ensinar os
homens a cuidarem da própria alma.

Desse modo, Sócrates opera uma revolução no


tradicional quadro de valores. Os verdadeiros valores
não são aqueles ligados às coisas exteriores, como
riqueza, o poder, a fama, e, tampouco, os ligados ao
corpo, como o vigor, a forma, a saúde física e a beleza,
mas somente os valores da alma, que se resumem,
todos, no conhecimento. Consequentemente, a
“virtude” do homem não pode ser outra senão a
“sabedoria”, ao passo que o vício seria a privação da
“sabedoria”.

Por que o homem pratica o mal? Segundo Sócrates, por que não
conhece o bem, é vítima da “ignorância”. Ou seja: o mal reduz-
se a um “erro de cálculo”, a um “erro da razão”, precisamente à
“ignorância” do verdadeiro bem.

Em relação à noção de valor, são ainda importantes os conceitos


de liberdade e felicidade. Em relação à liberdade, Sócrates afirma
que o verdadeiro homem livre é aquele que sabe dominar os
seus instintos. E o verdadeiro homem escravo é aquele que, não
sabendo dominar os seus instintos, torna-se vítima deles.

A excelência da razão humana manifesta-se no autodomínio, ou


seja, o domínio de si mesmo nos estados de prazer, dor e cansaço,
no urgir das paixões e dos impulsos. Aliás, isto significa o domínio
da racionalidade sobre a animalidade, tornando a alma (razão)
senhora do corpo e dos instintos ligados ao corpo. A liberdade,

Unidade 4 111

Introducao a Filosofia.indb 111 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

por sua vez, consiste na afirmação da racionalidade sobre a


animalidade. Com efeito, para o sábio que vence os instintos e
elimina todas as coisas supérfluas, basta a razão para viver feliz.

Com isso, Sócrates inverte a noção de herói. O herói,


tradicionalmente, era aquele capaz de vencer todos os inimigos,
os perigos, as adversidades e o cansaço externos. Já o novo herói é
aquele que sabe vencer os inimigos interiores. Da mesma forma,
a Felicidade não pode vir das coisas exteriores, do corpo, mas
somente da alma; a saúde da alma é a ordem da alma – e essa
ordem “espiritual”, ou harmonia interior, é a felicidade.

O que diz o Cristianismo

O cristianismo defende a concepção criacionista, segunda a qual


Criacionismo é uma doutrina o homem foi criado por Deus e, como criatura de Deus, tem
que exprime a convicção de que seu fim último em Deus, que é o seu bem mais alto e o seu valor
o céu, a terra, o homem etc. supremo. Deus exige do homem a obediência e a sujeição a seus
devem a Deus a sua existência. mandamentos imperativos supremos.
Fundamentação na explicação
bíblica exposta no livro do
Gênesis pela qual o homem Assim, pois, na concepção cristã, o ser e o fazer
nasceu de uma ação divina do homem definem-se, não em relação com uma
imediata, através do ato da comunidade humana (como a pólis) ou com o universo
criação. inteiro (cosmos), mas, antes de tudo, em relação a Deus.
O homem vem de Deus e todo o seu comportamento
— incluindo a moral — deve orientar-se para ele
como objetivo supremo. A essência da felicidade (a
beatitude) é a contemplação de Deus; o amor humano
fica subordinado ao divino; a ordem sobrenatural tem a
primazia sobre a ordem natural humana.

Como ser criado por Deus à sua imagem e semelhança, o ser


humano é o ápice da criação, e tudo o mais foi criado para que
ele tenha vida, cresça e se multiplique. O destino do homem é
dominar a criação e dar continuidade à obra do criador. Para
tanto, deve estar em contínuo relacionamento com o criador e em
sintonia com a sua vontade.

112

Introducao a Filosofia.indb 112 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

O que diz a Filosofia Moderna e Contemporânea

O Iluminismo (século XVII e XVIII) defende que a razão deve


iluminar as mentes e conduzir a humanidade ao progresso e à
felicidade, desejando que o homem seja sujeito da sua própria história.
Para Kant, o Iluminismo representa a saída do homem da sua
minoridade, manifesta na coragem de usar o próprio entendimento.
Defende o ideal de que o homem é o cidadão que tem o mundo como
a sua pátria. O bem supremo do homem é a liberdade de pensamento,
capaz de dar forma a um homem virtuoso, “iluminado”. (Kant, 1993).

A Filosofia Moderna faz do homem o ponto de


partida da reflexão filosófica.
Immanuel Kant, por exemplo, divide toda a Filosofia
em questões antropológicas: (a metafísica e a teoria do
conhecimento) que posso saber?; (moral) que posso fazer?;
(a religião) que posso esperar?; e (antropologia) o que é o
homem?

Com o desenvolvimento das ciências e surgimento das mais


diferentes especialidades, a Filosofia Contemporânea divide e
esfacela o homem, privilegiando uma ou outra dimensão da pessoa
humana: Marx: o homem econômico; Freud: o homem instintivo;
Kierkegaard: o homem angustiado; Bloch: o homem utópico;
Heidegger: o homem existente; Ricoeur: o homem falível; Gadamer:
o homem hermenêutico; Marcel: o homem problemático; Gehlen: o
homem cultural; Luckmann: o homem religioso.

É claro que esta “especialização” permite profundidade


de análise e produção de conhecimentos sobre o
homem a um nível jamais visto, mas traz também muitas
dúvidas, na medida em que uma visão fragmentada
impõe-se com a pretensão de definir o homem.

A contribuição da Filosofia Moderna para o entendimento do ser


humano não é conclusiva. Ela está justamente nestas variadas e
numerosas noções as quais deixam claro que nenhuma concepção
unilateral e reducionista dá conta de defini-lo em suas muitas
facetas. Tal tarefa exige esforço interdisciplinar que contemple os
mais diferentes discursos num saber multidisciplinar.

Unidade 4 113

Introducao a Filosofia.indb 113 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

O que diz a esfinge

Um ensinamento da antiguidade sobre o homem, contido na


esfinge assíria de Khorsabad, chamada Kerub, muito nos diz sobre
o ser humano. A esfinge era composta de quatro partes: corpo de
boi; tórax de leão; asas de águia e cabeça de homem. De acordo
com Pierre Weil (1995, 25-26), existe uma tradição muito antiga
segundo a qual cada uma destas partes representa uma parte do
WEIL, Pierre. O corpo fala.
corpo físico do homem e também sua correspondência psicológica.
Rio de Janeiro 1995. Veja o quadro 4.1.

Boi Abdômem Vida Instintiva e Vegetativa


Leão Tórax Vida Emocional

Águia Cabeça Vida Mental (intelectual e espiritual)

Consciência e domínio dos três inconscientes


Homem Conjunto anteriores
Quadro 4.1 - “eis o homem”
Fonte Adaptado de Weil (1995).

Com esta esfinge, os antigos assírios nos ensinam que, no


conhecimento do homem, devemos levar em consideração os
instintos, as emoções e a razão, buscando o perfeito equilíbrio
entre estas diferentes dimensões do mesmo ser. O homem que
realiza plenamente todas as suas potencialidades é consciência e
domínio dos instintos, das emoções e da razão.

Você encontrou alguma dificuldade para entender o


ensinamento da esfinge? Que dimensão do ser humano
fala mais alto em você? Instintos? Emoções? Ou razão?
Figura 4.1 - Esfinge Kerub
Fonte: (1995).

Seção 2 - O Mundo
Espanto, inquietação, admiração, curiosidade, medo, respeito,
reverência, dominação: atitudes que marcam a relação do homem
com o mundo, com a natureza, com o cosmos; uma questão que
tem feito a história da filosofia ao longo dos séculos.

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Introducao a Filosofia.indb 114 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

O que diz a Filosofia Grega

A Filosofia nasce com os pré-socráticos, com a contemplação


do universo. Ao manifestarem preocupação com a natureza e o
cosmos, os filósofos pré-Socráticos (século VI a.C.) inauguram
uma mentalidade baseada na razão, e não mais no sobrenatural
ou na tradição mítica. Defendem que a racionalidade humana
pode encontrar na natureza todas as respostas (naturalismo).

Eram homens de saber prático, acostumados a viajar, dedicados


à política e ao trabalho intelectual. A partir de fatos particulares,
conceituaram a realidade como um todo organizado e animado.
Diante da multiplicidade e da mutabilidade das aparências,
buscavam um princípio unificador, geral, imutável, ao qual
chamaram arké – origem, substrato e causa de todas as coisas e no
qual se ultimam todos os seres. Estude alguns deles.

Tales de Mileto (625-546 a.C.) é chamado por Aristóteles de


fundador da Filosofia, por ter criado uma nova concepção de
mundo que a escola de Mileto denominou logos, palavra grega
que significa razão, palavra ou discurso. Trata-se de uma primeira
tentativa de explicar racionalmente o universo, sem recorrer a
entidades sobrenaturais.

Tales teria sido um precursor do pensamento científico ao


substituir a explicação mítica da origem do universo pela
explicação física de sua cosmologia baseada na água. Para ele, a
água era o princípio formador da matéria, porque o que é quente
precisa da umidade para viver, o morto resseca-se, os germes são
úmidos e os alimentos estão cheios de seiva. É natural que as
coisas nutram-se daquilo de que provêm. A água é o princípio da
natureza úmida, que entretém todas as coisas, e a terra repousa
sobre a água.

Anaximandro de Mileto (610-546 a.C.) foi discípulo e sucessor


de Tales, mas se recusa a ver a origem do real em um elemento
particular: todas as coisas são limitadas, e o limitado não pode
ser, sem injustiça, a origem das coisas. Por isso, Anaximandro
é conhecido por sua concepção quase teológica do apeiron, o
ilimitado, indefinido e imperecível, que tudo rodeia eternamente
e que é também a arké, ou o princípio do processo cosmológico.

Unidade 4 115

Introducao a Filosofia.indb 115 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

Anaxímenes de Mileto (588-524 a.C.) defende ser o ar o elemento


que dá origem a todas as coisas; elemento vivo, que constitui as coisas
através de condensação ou rarefação. O ar (aêr) produz todas as outras
substâncias, tanto por se rarefazer em fogo, como por se condensar
em vento, névoa, água, terra e pedra. Essa foi a primeira vez, na
tradição ocidental, que se ofereceu um tratamento físico das diferentes
substâncias em termos de modificações de uma substância básica. A
respiração foi o fenômeno que impressionou Anaxímenes, porque se
pode soprar ar quente (quando este está rarefeito, isto é, quando a boca
está aberta), ou ar frio (quando este é condensado, ou quando se assobia).

Pitágoras de Samos (571-497 a.C.) foi o fundador de um


grupo ao mesmo tempo científico e religioso. Considerou os
números como princípio de todas as coisas e a semelhança com
a divindade como fim último e suprema felicidade dos seres
humanos. Cada coisa possui um número (arithmós arkhé) que
expressa a “fórmula” da sua constituição íntima. Da mesma
forma, as leis que governam o cosmos são também relações
matemáticas.

A Filosofia de Pitágoras constitui uma metafísica matemática. Na sua


opinião, os números não representam apenas a expressão da harmonia
da regularidade dos fenômenos, mas os próprios princípios de todas
as coisas. Tudo sai da unidade absoluta: um é o ponto; dois fazem
a linha; três determinam a superfície; quatro geram o sólido. Eis,
portanto, a extensão da matéria. O mundo se traduz nesses números
e em seus múltiplos, e, por isso, os pitagóricos consideram sagrado o
número dez, que contém em si a totalidade das coisas (1+2+3+4= 10).

Heráclito de Éfeso (540-480 a.C.) afirmava que todas as coisas


estão em movimento, que é processado através de contrários.
Segundo ele, a estrutura do mundo é contraditória e dinâmica,
e tudo está em constante modificação. Daí sua frase: “Não nos
banhamos duas vezes no mesmo rio”, já que nem o rio nem quem
nele se banha são os mesmos em dois momentos diferentes da
existência. Tudo flui e nada permanece. O movimento produz-se
pela tensão entre os contrários e provoca “o eterno retorno” de
todas as coisas, regido pelo logos, que constitui a lei do universo.

Platão (428-347 a.C.) não compartilha da concepção de que


a realidade do mundo tenha causas mecânicas ou naturais.
Denomina estas causas de natureza não-física, realidades

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Introducao a Filosofia.indb 116 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

inteligíveis representadas pelos termos idéia e eidos, que


significam “forma”. As Idéias de que fala Platão são mais do que
conceitos ou representações puramente mentais: representam
“entidades”, “substâncias”. As Idéias platônicas são a essência das
coisas, ou seja, aquilo que faz com que cada coisa seja aquilo que é.

Segundo Platão, as Idéias existem “em si” e “por si”. Afirma


que as Idéias existem “em si e por si” e se impõem ao
sujeito de modo absoluto. Com isso, Platão pretendeu
sustentar que o sensível só se explica mediante o recurso
ao supra-sensível; o relativo, mediante o absoluto;
o sujeito em movimento, mediante o imutável; e o
compatível, mediante o eterno.

Ainda na visão platônica, o mundo das ideias, pelo menos


implicitamente, é constituído por uma multiplicidade de ideias:
ideias dos valores estéticos, ideias dos valores morais, ideias
das diversas realidades corpóreas, ideias dos diversos entes
geométricos e matemáticos etc. A ideia que ocupa o vértice e
condiciona todas as outras, e não é condicionada por nenhuma
delas (o incondicionado ou absoluto) é a ideia do Bem.

Como é possível o mundo sensível? Há um modelo (o mundo Ideal),


existe uma cópia (mundo Sensível) e existe um Artífice, que produziu a
cópia, servindo-se do modelo. O mundo Inteligível (o modelo) é eterno,
como eterno é também o Artífice (a Inteligência). O mundo sensível,
ao contrário, construído pelo Artífice, nasceu, isto é, foi gerado.

Mas por que o Artífice quis gerar o mundo?

A resposta de Platão é a seguinte: o Artífice divino gerou o mundo


por “bondade” e amor ao Bem. Animado pelo desejo do Bem, o
Artífice realizou a obra mais bela possível. O mal e o negativo que
permanecem neste mundo derivam da margem de matéria sensível,
presente na personificação e concretização das ideias perfeitas.

Unidade 4 117

Introducao a Filosofia.indb 117 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

O mundo sensível, assim, se forma “cosmos”, ordem perfeita,


porque assinala o triunfo do inteligível sobre a necessidade cega
da matéria, por obra da Inteligência do Artífice.

O que diz a Filosofia Cristã

Representativa da Idade Média, a Filosofia cristã procura


conciliar a fé com a razão. Um dos grandes expoentes deste
período é Santo Agostinho. Ao olhar para a realidade do
mundo, Santo Agostinho apresenta a teoria da cidade dos
homens e da cidade de Deus: os pecadores formam a cidade
terrestre, que é o mundo dos homens. Essa cidade não é
necessariamente má, porém, governada pela vontade humana,
tende para o pecado e é castigada por Deus de tempos em
tempos. A cidade dos homens é fruto do egoísmo, e a cidade
celeste é criação do amor divino. (AGOSTINHO, 2002).

Segundo Agostinho, o que fundamenta a origem das duas


cidades são dois amores. O amor por si mesmo, que leva ao
desprezo de Deus e das coisas de Deus, dá origem à cidade dos
homens, na terra. O amor a Deus que leva ao desprezo de si e das
coisas do mundo gera a cidade de Deus, no céu: “Dois amores
fundaram, pois, duas cidades, a saber: o amor próprio, levado ao
desprezo a Deus, a terrena; o amor a Deus, levado ao desprezo de
si próprio, a celestial” (AGOSTINHO, 2002, p. 169).

Essas duas cidades ou reinos existem simultaneamente


na história humana, representadas na luta entre o bem
e o mal, entre Deus e o Demônio. Essa luta terminará
somente com o Juízo Final, que realizará a separação
desses dois reinos, assegurando o triunfo definitivo
de Deus sobre o Demônio. Será a vitória definitiva da
Cidade de Deus, com o retorno do Messias e o Juízo
Final. Na Filosofia de Agostinho, o mundo é lugar onde
se trava a batalha entre o bem e o mal.

São Tomás de Aquino é o outro grande expoente da Filosofia


Medieval. Segundo Tomás, a razão pode provar a existência de
Deus através de cinco vias, todas de índole realista: considera-se
algum aspecto da realidade dada pelos sentidos como o efeito do

118

Introducao a Filosofia.indb 118 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

qual se procura a causa. Tomás de Aquino não partiu de Deus para


explicar o mundo, mas, sobre a experiência sensorial, empregou o
conhecimento racional para demonstrar a existência do Criador.
As “cinco vias” são cinco argumentos que provariam a existência
de Deus a partir dos efeitos por ele produzidos, e não da ideia de
Deus: o movimento; a causa primeira; ser necessário; a ideia da
perfeição; a inteligência ordenadora. Para a Filosofia de Tomás
de Aquino, no mundo o assiste-se à manifestação da presença de
Deus, criador, organizador e condutor da realidade do mundo.

O que diz a Filosofia Moderna

Se os pensadores medievais haviam concebido o mundo como


um todo orgânico, hierarquizado segundo uma suposta ordem
estabelecida por Deus, os renascentistas conceberam-no como uma
pluralidade regida por leis físicas e convenções humano-sociais.

O mundo humano separa-se gradualmente do mundo da pura


natureza e a origem e desdobramento da vida sobre o planeta
ganha uma nova explicação: a teoria evolucionista.
Evolucionismo é a doutrina
O progresso atingido pelas ciências experimentais com a
que exprime a convicção
produção de novos conhecimentos e o desenvolvimento de novas de que o ser realiza-se pelo
tecnologias permite um controle, nunca antes experimentado, do desenvolvimento interno
homem sobre a natureza. de suas possibilidades em
direção a novas metas, de
Veja no texto que segue: forma ininterrupta. Entre
as diferentes espécies há
uma sucessão progressiva,
das mais simples para
A partir de Descartes (e de Galileu), as matemáticas as mais complexas, e o
passaram a constituir o modelo e a linguagem de todo homem atual é fruto desta
conhecimento científico: substituem a qualidade sentida evolução.
pela quantidade medida. O conhecimento permite
que nos tornemos “mestres e possuidores da natureza”.
Compete ao homem modelar e dominar o mundo: “Saber
é Poder”, já dizia Francis Bacon. Nada há na natureza
que não seja quantitativo. A matemática é aplicável à
totalidade do real. Eis o postulado do racionalismo,
reduzindo a quase nada o papel da experiência sensível
e subordinando o objeto à Razão. Sendo assim, é
proclamada a independência da Subjetividade, cujo
primeiro ato de conhecimento é a Reflexão, a consciência
de si mesmo reflexiva: a consciência toma consciência de

Unidade 4 119

Introducao a Filosofia.indb 119 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

si mesmo como Sujeito e como Objeto de conhecimento.


(JAPIASSU, 1996, p. 94).

O Positivismo faz sucesso e defende que todo conhecimento do


mundo material decorre dos dados “positivos”, ou seja, aqueles
que podem ser medidos e controlados pela experiência, os
quais constituem o objeto de estudo para o sujeito cognoscente.
Conseqüentemente, o conhecimento das realidades não positivas
(metafísica, teologia, especulação filosófica) é menosprezado,
por não ser possível ser verificado na prática. O ser humano se
limita-se a descrever os fenômenos e a estabelecer “as relações
constantes de semelhança e sucessão entre eles”. O conhecimento
é pragmático: não se pretende achar as causas ou a essência das
coisas, mas descobrir as leis que as regem.

Em contrapartida, no final do século XIX e século XX, a


Fenomenologia e o Existencialismo defendem que o mundo
adquire sentido com a existência humana. Como doadora de
sentido, como fonte de significado para o mundo, a consciência não
se restringe ao mero conhecimento intelectual, mas é geradora de
intencionalidades não só cognitivas como afetivas e práticas.

Não existe mundo, ou conhecimento, com sentido,


sem o homem. O olhar sobre o mundo é o ato pelo
qual o ser humano experiencia o mundo, percebendo,
imaginando, julgando. Isso significa que não existe
pura consciência, separada do mundo, pois toda
consciência é consciência de alguma coisa. Todo
objeto será sempre percebido por um sujeito que lhe
dá significado e sentido. É a proposta da retomada da
humanização da ciência.

Seção 3 - A cultura
A atividade do ser pensante em busca da satisfação de suas
necessidades constrói um mundo humano, diferente do mundo
dado. É esta a temática deste tópico, também de fundamental
importância para a construção do pensamento filosófico.

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Introducao a Filosofia.indb 120 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

A forma de vida de um povo

A palavra cultura tem sua origem no latim (colere, cultus) e


significa tudo o que é cultivado. Referindo-se ao ser humano,
cultura significa tudo o que é obra do homem na sociedade, em
contraposição ao que é simplesmente natural.

É a forma de vida de um povo, transmitida pela tradição, na qual o


indivíduo se insere e leva adiante suas realizações, na qual descobre
e faz seu um sistema de valores que lhe é anterior e que o acolhe.
Inserido no meio cultural, o indivíduo também é criador de cultura
e deixa sua obra para o acervo comum dos que compartilham a sua
cultura.

Cultura é, pois, o conjunto dos costumes humanos, o modo de


vida (modus vivendi) que os homens, no decurso dos tempos,
desenvolveram e desenvolvem reunidos em sociedade. É a
maneira de agir, de pensar, de sentir que se manifesta na
linguagem, no código de leis, na religião, na criação estética.
Este modo de vida também se manifesta nos instrumentos e
ferramentas utilizadas, nas vestimentas, nas habitações onde se
busca abrigo (ULMANN, 1991, p. 84).

Um sentido para a vida

A cultura constrói um chão (ethos) ordenando o mundo e o agir dos


homens de acordo com os valores que preserva e propaga. Noções
de valor, de dever, de bem e de mal, de lícito e ilícito, permissões,
tabus e proibições são construções culturais e fazem parte da
“alma” que dá sentido à vida dos indivíduos e de um povo.

Toda cultura é expressão dos anseios criadores do


espírito humano em busca da satisfação de suas
necessidades e sonhos. A cultura é integrada por
forças sociais muito diferentes e complementares,
como a religião, a pátria, as instituições, os vínculos de
parentesco, o idioma, as festas, a arte, etc. Um mundo
de valores tão diferentes que inspiram os seus povos,
bem como suas formas diversas de habitar, vestir,
falar, trabalhar, relacionar-se. A cultura é a expressão
da vida criadora de um povo.

Unidade 4 121

Introducao a Filosofia.indb 121 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

A cultura nasce da satisfação das necessidades básicas, ligadas à


sobrevivência e manutenção da vida dos grupos humanos. O ser
humano busca alimentar-se, aquecer-se, abrigar-se do frio, dos
ventos, dos inimigos, das intempéries. Estas necessidades básicas
geram necessidades instrumentais, tais como a construção de
artefatos, e necessidades integrativas, tais como a organização em
grupos cooperativos e o desenvolvimento de um sentido de valor
e ética. (MALINOWSKI, 1975, p. 43).

Seção 4 - A cidade e o Estado


A Cidade (pólis) na antiguidade e o Estado na modernidade são
construções do mundo cultural, obras da racionalidade humana,
personificação da existência do ser pensante. Por isso, não
escapam ao olhar atento da Filosofia. Vejamos:

A Cidade Antiga

O homem da Filosofia clássica grega é um animal político


e encontra na pólis um lugar de realização de todas as suas
potencialidades. A pólis é o lugar onde a vida humana pode ser
vivenciada em todas as possibilidades e potencialidades: o lugar
da civilização (civitas).

A Filosofia é filha da pólis. A vida na pólis introduz três aspectos


novos e decisivos para o nascimento da Filosofia. Veja em seguida.

„„ A ideia da lei como expressão da vontade de uma coletividade


humana que decide por si mesma o que é melhor para si e
como definirá suas relações internas, dentro da pólis.

„„ O surgimento de um espaço público, que faz aparecer


um novo tipo de discurso, diferente daquele que era
proferido pelo mito. Agora, com a pólis, surge a palavra
como direito de cada cidadão de emitir em público sua
opinião, discuti-la com os outros, persuadi-los a tomar
uma decisão proposta por ele, de tal modo que surge o
discurso político como a palavra humana compartilhada,
como diálogo, discussão e deliberação humana.

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Introducao a Filosofia.indb 122 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

„„ A estimulação de um pensamento e um discurso que não


procuram ser formulados por seitas secretas dos iniciados
em mistérios sagrados, mas que procuram, ao contrário,
ser públicos, ensinados, transmitidos, comunicados e
discutidos. A ideia de um pensamento que todos podem
compreender e discutir, que todos podem comunicar e
transmitir, é fundamental para a Filosofia. Praça pública das antigas
cidades gregas, em
geral constituída de um
A vida urbana enfraquece o saber das tradições religiosas da
espaço aberto, cercado
mitologia. Na mitologia, os deuses são criadores do mundo, e o de edifícios públicos.
rei, escolhido por deus, é o criador da ordem social. A pólis rompe Símbolo da democracia
com este mecanismo ao surgir como criação da vontade humana. grega, utilizada sobretudo
Os acontecimentos, antes considerados realizações do rei (e dos em atividades políticas e
assembléias dos cidadãos.
deuses), perdem a base de compreensão. Tornam-se problemas do
homem. Para resolvê-los, o homem deve servir-se do meio que
ele próprio desenvolveu ao criar a pólis: a razão. Em 479 a.C. acontece a
vitória de Atenas sobre
Também o centro da cidade sofre uma mudança radical com a os persas, consolidando
a democracia na cidade.
ágora, a praça pública, onde acontecem as transações comerciais
Dentre os novos valores
e as discussões sobre a vida da cidade. O acesso à ágora torna-se que surgem está o da
cada vez maior, estendendo-se, com a instituição da democracia, educação. Trata-se de
a todos os habitantes do sexo masculino, adultos e que não sejam formar cidadãos aptos à
estrangeiros ou escravos. vida pública, e, para isso,
exigem-se bons oradores,
que saibam argumentar
Os atenienses compartilham a experiência da democracia, em
em público. Dessa
que o mundo humano aparece como uma criação do próprio educação encarregam-se
homem. Nesse mundo, não há um único princípio que tudo os sofistas
comanda, mas convenções que os homens estabelecem, para,
segundo os sofistas, depois abandonar.

Na democracia, na qual as diferenças sociais e


econômicas não contam, a linguagem é a grande
força que têm os seres humanos. Por isso, a vida na
pólis faz crescer em importância a Filosofia, a Oratória
e a Retórica enquanto artes do convencimento.

A morte de Sócrates e as experiências políticas levaram Platão


a verificar que não é possível ser justo na cidade injusta e que a
realização da Filosofia implica não só a educação do homem, mas
a reforma da sociedade e do Estado.

Unidade 4 123

Introducao a Filosofia.indb 123 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

Na visão platônica, a sociedade perfeita seria aquela em que


cada classe e unidade estivessem fazendo o trabalho ao qual
sua natureza e sua aptidão melhor se adaptassem; aquela em
que nenhuma classe ou indivíduo interfeririam nos outros, mas
em que todos cooperariam na diferença para produzir um todo
harmonioso. Este seria um Estado justo (na justa medida). O
fim do Estado é tornar o indivíduo feliz, facilitando-lhe a prática
das virtudes. Sua constituição corresponde às três partes da alma
e distingue-se no Estado em três classes sociais: a) os filósofos,
únicos capazes de desempenhar cargos públicos; b) os guerreiros,
incumbidos da defesa social; e c) os operários, encarregados da
sua subsistência material.

O Estado moderno

A ideia moderna de Estado aparece a partir do Renascimento,


quando se começa a refletir sobre a relação entre governados
e governantes e a questionar os regimes absolutistas. A
modernidade mostra que o Estado representa um poder que,
para ser legítimo, deve ser respeitado sem ter de recorrer à força,
pois recebeu da sociedade autorização para exercer tal poder. A
organização do Estado materializa um acordo entre os cidadãos,
por isso ele tem o controle do poder e está autorizado a legislar,
administrar e, se necessário, punir.

O Estado é uma construção da sociedade moderna,


representa e encarna os valores da modernidade. Dife-
rentemente dos governos monárquicos, representa-
dos pela figura do rei, o Estado não tem rosto. Isto lhe
confere um poder muito maior do que o das anteriores
formas de organização social. Este poder se confron-
tará, por vezes, com o ideal de liberdade individual
cultivado na modernidade.

O sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) fez do Estado o


seu principal objeto de reflexão e mostrou que as características
principais do Estado moderno são o exercício do poder
burocrático e o monopólio da violência física autorizada, condição
para o exercício da soberania e necessária para fazer cumprir a lei.
(WEBER, 2002).

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Introducao a Filosofia.indb 124 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

Diferentemente da realeza, que dizia “o estado sou eu”; na


modernidade, compreendemos que o Estado moderno somos
nós, está em nós: nós o elegemos e por isso lhe obedecemos. O
Estado é um instrumento inventado pelos homens para resolver
um problema fundamental: a ordem e a segurança necessárias
para a vida em comunidade.

Seção 5 - A religião
A reflexão sobre Deus e sobre a experiência religiosa está presente
em toda a história da Filosofia. Os pré-socráticos concebiam
Deus como imanente ao mundo, como parte da realidade das
coisas. Tales dizia que todas as coisas estão cheias de Deus
e Xenofantes fala de um único Deus, estático e imanente ao
mundo. Sócrates, Platão e Aristóteles fazem Filosofia num
contexto politeísta em que os deuses retratam as grandezas e
misérias humanas.

O que é experiência religiosa

A experiência religiosa é produto da fé humana na existência


de uma ou mais entidades divinas -- um deus ou muitos deuses,
e na possibilidade de se relacionar com este(s). Ela provém das
revelações do mistério, do oculto, por algo que é interpretado
como mensagem ou manifestação divina. Tais revelações são
transmitidas por alguém, por tradição acumulada ao longo da
história, ou através de escritos sagrados.

De modo geral, a experiência religiosa apresenta


respostas para questões que o homem religioso
não consegue resolver segundo o seu juízo, com
o conhecimento científico ou filosófico. Assim, as
revelações feitas pelos deuses ou em seu nome são
consideradas por este homem como satisfatórias e
aceitas como expressões de verdade. Tal aceitação,
porém, racional ou não, tem necessariamente de
resultar da fé que o aceitante deposita na existência
de uma divindade.

Unidade 4 125

Introducao a Filosofia.indb 125 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

A dimensão do sagrado
As religiões organizam-se em torno da noção do que é sagrado. O
sagrado abrange tudo o que este mundo pode ter de misterioso e que
não podemos entender por meio do simples esforço da inteligência.

A palavra ‘sagrado’ vem do latim sacer, que significa


‘separado’. A religião impõe uma separação entre o
mundo dos homens em relação com a divindade e
o mundo natural. Assim, o que os homens criaram,
e cuja origem é misteriosa, pode chegar a ter um
caráter sagrado.

O sagrado sempre provocou, nas culturas primitivas, fascínio


e temor. O sentido do sagrado é o sentimento da absoluta
dependência do homem em relação a um poder que o supera
infinitamente e que dá sentido a sua existência. Sendo assim,
surgem as concepções de que um ser vivo é um ser movido por
algo invisível que lhe mantém a vida.

Disto conclui-se que tudo o que se move, corre ou se transforma,


possui uma força invisível que o dirige. No universo do sagrado,
essas forças, esses espíritos, dominam o mundo e constituem a
realidade última de todas as coisas. O caminho do sagrado é o da
experiência de que algo invisível domina o mundo visível.

O fundamento da fé

A religião encontra na fé o seu fundamento. A fé nos pede para


acreditar no impossível. Caracteriza uma determinada atitude do
indivíduo que se deixa conduzir pelos princípios de determinada
crença. A fé pede humildade ao homem que reconhece a sua
ignorância (não saber) e sua fragilidade. A fé pede também
confiança, ou seja, acreditar sem compreender, sem evidências
concretas. Por isso, a fé não pode ser posta à prova. Quando assim
o fazemos, acabamos por perdê-la. É o que dizem diferentes
concepções religiosas do ocidente.

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Introducao a Filosofia.indb 126 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

Um fundamento para a moralidade

Na história do ocidente, as concepções religiosas têm-se


transformado num fundamento para a moralidade. Para os
judeus, foi Moisés quem mudou a maneira de honrar ao Deus
único. Já não se trata de oferecer um sacrifício para demonstrar
nosso temor da força divina. Basta respeitar as regras de vida que
Deus ditou a seu povo. A religião converte-se em um respeito
de cada instante da vida cotidiana e não demonstrável somente
durante a cerimônia do sacrifício. O cristianismo acrescentará
uma dimensão interior a essa interpretação.

A expressão concreta de cada religião está relacionada com


as características sociais, econômicas e culturais de cada
civilização e da cada época, para as quais estabelece um
fundamento para a moralidade.

Seção 6 - A Arte
Quando a racionalidade silencia, surge a arte como espelho
da alma, e a reflexão faz-se emoção, sentimento, afeto, beleza,
alegria e dor, medo e confiança. Eis o homem, falando do
mundo, falando de si, feito arte.

Expressão de um conhecimento

A arte oferece o conhecimento sobre determinada coisa ou


realidade, interpretado pela sensibilidade do artista e traduzido
numa obra. Desde os tempos pré-históricos, o ser humano
constrói no mundo suas próprias coisas, demonstrando maior
ou menor habilidade. A esse conjunto de coisas construídas pelo
homem e que se distinguem por revelarem capricho, talento,
beleza, chamamos de arte.

Quem já não sentiu o efeito de alguma obra de arte


sobre os seus sentimentos, emoções, juízos?

Unidade 4 127

Introducao a Filosofia.indb 127 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

Mas não é tarefa fácil explicar, exatamente, o que leva as pessoas


a se encantarem com uma obra de arte, ou entender as razões
pelas quais milhões de seres humanos, ao longo da história,
sentem-se fascinados e atraídos por manifestações artísticas.

A arte é produto do fazer humano. E deve combinar


habilidade com imaginação. Qualquer que seja sua
forma de expressão, cada obra de arte é sempre
perceptível, com identidade própria. A arte é
manifestação (expressão) dos sentimentos humanos.
Uma capacidade de comunicar sentimentos, partilhar
visões de mundo, emoções e racionalidades.

Expressão de humanidade

Desde os mais remotos tempos, a arte nos define como seres


humanos e nos diferencia qualitativamente das demais criaturas.
Este simbolismo (capacidade que o objeto ou obra de arte
tem de evocar uma outra realidade) que contém a obra de arte
corresponde a uma particularidade da espécie humana.

Na Grécia, a procura da beleza não se limitava à capacidade


criadora dos artistas: ela defendia, demonstrava, questionava
valores. A ideia da beleza está ligada às noções de harmonia,
simetria, equilíbrio, justa proporção e se transforma numa proposta
ética na medida em que busca reproduzir, no comportamento
moral dos indivíduos e sociedade, esses valores e ideais.

Com a modernidade, a arte deixou de considerar a beleza


(equilíbrio entre forma e conteúdo) como a meta principal, para
se ocupar da realidade humana. Passa a expressar a vontade, visão
do mundo do artista, com o objetivo de manifestar sentimentos
ou provocar uma reflexão.

Em cada época, a arte reflete, em parte, o tipo de


sociedade em que se desenvolve. Na modernidade
contemporânea, a arte liberta-se de todos os padrões
e enquadramentos, dificultando inclusive a sua
definição. Não tem compromisso nem mesmo com
uma linguagem compreensível.

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Introducao a Filosofia.indb 128 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

Expressão da liberdade

Para Nietzsche, a arte é a única prática autêntica, porque é uma


ilusão que se reconhece como tal e, portanto, não pretende
expressar a verdade de um mundo inventado, como a ciência ou a
religião. Só na criação artística o homem é livre de inventar suas
próprias regras. Segundo ele, a arte fará nos tempos modernos
o que fez a Filosofia na Grécia antiga: manifestará o espírito do
homem livre. (NIETZSCHE, 2007, p. 32).

Durante vários séculos, nos quais a arte era considerada uma


imitação da natureza, a criação artística não era valorizada como
uma criação original. Muitas veze tratava-se de ser fiel a uma
tradição, a uma técnica. A partir do Renascimento, o interesse
pelo novo permitiu uma liberdade maior aos artistas que se
concentraram em sua capacidade de inovação.

O artista manifesta em sua obra a sua forma de


ver o mundo. Nesta concepção, a obra não tem
compromisso com a verdade, mas quer comunicar
um olhar sobre o mundo, do lugar de um sujeito
que domina esta linguagem. Por isso se deseja livre,
comprometida somente com os sentimentos e
emoções do sujeito que por ela fala. E se o discurso
proferido na obra de arte falar com sentido também
para nós: será arte!

Seção 7 - As disciplinas clássicas da Filosofia


A Filosofia é uma explicação racional da realidade mediante a
elaboração de conceitos. Há quem duvide da sua utilidade, e, para
estes, vale citar o texto de Ewing (1984):

Não esgotamos, porém, tudo o que pode ser dito em


favor da Filosofia. Pois, à parte qualquer valor que
lhe pertença intrinsecamente acima de seus efeitos, a
Filosofia tem exercido, por mais que ignoremos isso, uma
admirável influência indireta até mesmo sobre a vida de
gente que nunca ouviu falar nela. Indiretamente, tem sido
destilada através de sermões, da literatura, dos jornais e

Unidade 4 129

Introducao a Filosofia.indb 129 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

da tradição oral, afetando assim toda a perspectiva geral


do mundo. Em grande parte, foi através de sua influência
que se fez da religião cristã o que ela é hoje. Devemos
originalmente a filósofos idéias que desempenharam
papel fundamental para o pensamento em geral, mesmo
em seu aspecto popular, como, por exemplo, a concepção
de que nenhum homem pode ser tratado apenas como
um meio ou a de que o estabelecimento de um governo
depende do consentimento dos governados. No âmbito
da política, a influência das concepções filosóficas tem
sido expressiva. Nesse sentido, a Constituição norte-
americana é, em grande parte, uma aplicação das idéias
do filósofo John Locke; ela apenas substitui o monarca
hereditário por um presidente. Similarmente, admite-se
que as idéias de Rousseau tenham sido decisivas para a
Revolução Francesa de 1789.

Como foi visto, a Filosofia é, antes de tudo, uma prática de


vida que procura pensar os acontecimentos além de sua pura
aparência. Assim, ela pode se voltar para qualquer objeto. Pode
pensar a ciência, seus valores, seus métodos, seus mitos; pode
pensar a religião; pode pensar a arte; pode pensar o próprio ser
humano em sua vida cotidiana. Entre as áreas de conhecimento
da Filosofia, destacamos as que seguem.

Filosofia Política

A Filosofia Política estuda a relação entre política e poder,


autoridade, violência, coerção, origem e formas do Estado, ideias
conservadoras, revolucionárias etc. Procura entender a política,
refletindo sobre a luta pelo poder, sobre as instituições por meio
das quais se exerce o poder, e promove a análise crítica das
ideologias e sistemas políticos. A Filosofia dedica atenção especial
à política por ser ela elemento indispensável na vida social.

Teoria do Conhecimento

O conhecimento é o pensamento que resulta da relação


que se estabelece entre o sujeito que conhece e o objeto
que é conhecido. A Filosofia preocupa-se com as formas e
possibilidades de o sujeito conhecer o real e de se apropriar

130

Introducao a Filosofia.indb 130 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

dele. A Teoria do Conhecimento é uma disciplina filosófica que


investiga quais são os problemas decorrentes da relação entre o
sujeito e o objeto do conhecimento, bem como as condições do
conhecimento verdadeiro e os tipos de conhecimento.

Ética ou Filosofia Moral

É uma parte da Filosofia que busca refletir sobre o


comportamento humano sob o ponto de vista das noções de
bem e de mal, de justo e de injusto. Sendo assim, ela tem, pelo
menos, dois objetivos: elaborar princípios de vida capazes de
orientar o homem para uma ação moralmente correta e refletir
sobre os sistemas morais elaborados pelos homens.

O comportamento humano é sempre um comportamento moral,


dotado de moralidade. A Ética ou Filosofia Moral faz deste
comportamento seu objeto de reflexão.

Lógica

Interessa aos filósofos a formulação de raciocínios que cheguem


a resultados verdadeiros. Para alcançar este objetivo, diversos
pensadores lançaram-se à tarefa de analisar as estruturas dos
raciocínios, organizando-as e classificando-as. Esta é a tarefa da
Lógica enquanto disciplina filosófica.

Estética e Filosofia da Arte

A estética pretende alcançar um tipo específico de conhecimento:


aquele que é captado pelos sentidos. Ela parte da experiência
sensorial para chegar a um resultado definido como “o belo”,
que não apresenta a mesma clareza e distinção lógico-racional
de outras disciplinas. Seu principal objeto de investigação é a
obra de arte. O ideal de beleza da estética manifesta harmonia
e equilíbrio entre a forma e o conteúdo. A Filosofia da Arte,
por sua vez, é uma reflexão filosófica sobre os diversos aspectos
histórico-culturais das manifestações artísticas.

Unidade 4 131

Introducao a Filosofia.indb 131 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

7.6) Metafísica ou Ontologia

A metafísica designa o que está além do mundo físico e provém


da tradição aristotélica. Identifica os livros que tratavam do que
Aristóteles denominava Filosofia Primeira, algo parecido ao
que hoje se entende por Ontologia (estudo da origem dos seres).
Ao longo da história da Filosofia, tem sido comum incluir na
metafísica tanto os estudos mais abstratos sobre o conceito de
realidade, sobre o ser, bem como as reflexões filosófico-teológicas
sobre o ser supremo, a causa primeira etc.

Antropologia Filosófica

A Antropologia Filosófica é o estudo ou a reflexão acerca do ser


humano. Desde o início da cultura ocidental, a reflexão sobre
o ser humano foi uma constante no pensamento filosófico. É
o homem interrogando a si mesmo e sobre a sua relação com
o mundo exterior. Para Vaz (1991, p. 10-11), a Antropologia
Filosófica precisa cumprir três tarefas fundamentais; a elaboração
de uma idéia do homem que leve em conta, de um lado, os
problemas e temas presentes ao longo da tradição filosófica e,
de outro, as contribuições recentes das ciências; uma justificação
crítica dessa idéia; uma sistematização filosófica dessa idéia do
homem que seja capaz de responder ao problema clássico da
essência: “O que é o homem?”.

Filosofia da Linguagem

A linguagem como manifestação da humanidade do homem,


signos, significações, é o objeto de estudo da Filosofia da
Linguagem. Trata-se de tendência contemporânea da Filosofia,
que se pretende limitar a considerar os fatos da linguagem.
Conforme Wittgenstein (1994, p. 165):

“A maioria das questões e proposições dos filósofos


provém de não entendermos a lógica de nossa
linguagem... Não é de admirar que os problemas mais
profundos não sejam propriamente problemas.”

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Introducao a Filosofia.indb 132 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

História da Filosofia

O estudo dos diferentes períodos da Filosofia, de filósofos, de


temas e problemas, de relações entre o pensamento filosófico e
as condições econômicas, políticas, sociais e culturais de uma
sociedade, de mudanças de concepção do que seja a Filosofia e de
seu papel, constituem o objeto de estudo da História da Filosofia.

Síntese
O que é o homem? que é o mundo? que é a cultura? que é a cidade?
que é a religião? que é a arte? Compreender a vida e dar um sentido
para ela é a nossa tarefa, uma tarefa humana. Ao perseguir tais
conceitos e temáticas, a Filosofia busca a real natureza de cada coisa.
Por isso ela pensa o mundo e volta-se sobre ele, abrindo perspectivas
de conhecimentos favoráveis à realização pessoal.

Atividades de autoavaliação

Para praticar os conhecimentos apropriados nesta unidade, realize as


atividades propostas.
As respostas estão disponíveis no final do livrodidático. Mas se esforce
para resolver as atividades sem ajuda das mesmas, pois, assim, você
promoverá a sua aprendizagem.
1) Comente a afirmação: “A cultura é a expressão da vida criadora de um
povo.”

Unidade 4 133

Introducao a Filosofia.indb 133 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

2) A esfinge, criatura monstruosa com corpo de leão, cabeça humana


e asas, monstro devorador, na representação mais comum, foi
um importante tema mitológico nas antigas civilizações egípcia
e mesopotâmica. Na Grécia, literatura e arte inspiraram-se
frequentemente no mito de Édipo e da esfinge. Esta, segundo a
lenda, aterrorizava os habitantes da cidade de Tebas e matava os que
não conseguiam resolver o enigma por ela proposto: “Que animal
caminha com quatro pés pela manhã, dois ao meio-dia e três à tarde e,
contrariando a lei geral, é mais fraco quando tem mais pernas?”. Qual a
resposta para este enigma?

3) Você é capaz de estabelecer uma relação entre as ideias sobre homem


e sobre mundo apresentadas na Filosofia Grega com as defendidas
pela Filosofia Cristã? Releia o conteúdo da unidade e tente superar este
desafio.

4) Faça uma interpretação da esfinge Kerub, dos assírios, completando


o quadro com exemplos de atitudes manifestas nos comportamentos
humanos da atualidade:

Simbolismo Característica Principal Exemplo de Atitudes


Guiado pelos instintos e vida
Homem Boi vegetativa
Homem Leão Guiado pelas emoções
Homem Águia Guiado pela razão
Com domínio sobre os instintos,
Ser Humano emoções e razão

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Introducao a Filosofia.indb 134 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

5) Relacione a primeira coluna com a segunda:


( ) Filosofia da Linguagem
( ) Metafísica ou Ontologia
( ) Ética ou Filosofia Moral
( ) Estética ou Filosofia da Arte
( ) Lógica
( ) Teoria do Conhecimento
( ) Filosofia Política
( ) História da Filosofia
( ) Antropologia Filosófica

I. Estuda a produção filosófica e sua relação com os diferentes contextos


históricos.
II. Investiga as manifestações artísticas em busca da realização do
conceito de belo.
III. Estuda as possibilidades do conhecimento e a relação que se
estabelece entre sujeito cognoscente e objeto a ser conhecido.
IV. Um campo de reflexão em que o homem interroga a si mesmo,
buscando a compreensão da sua natureza.
V. Considera os fatos da linguagem como objeto primordial da
investigação filosófica.
VI. Visa orientar o homem em suas ações e comportamentos.
VII. Busca a compreensão do que está além da física e investiga a origem
dos seres.
VIII. Auxiliar na formulação de raciocínios que cheguem a resultados
verdadeiros é o objetivo desta disciplina.
IX. Estuda as relações que se estabelecem na sociedade em vista da
manutenção ou conquista do poder.

Unidade 4 135

Introducao a Filosofia.indb 135 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

Saiba mais

Ao final desta unidade, delicie-se com a crônica que segue, de


Antônio Prata. Um misto de Filosofia, arte, visão de mundo,
crítica da cultura, reflexão sobre o homem e sobre o sentido da
vida. Boa leitura!

Devagar é mais Gostoso


Crônica de Antônio Prata
O cara chegou empolgado como se fosse me comunicar
a descoberta da vida em Marte ou a receita mágica para
transformar pão duro em ouro. O que contou, no entanto, me
pareceu bem menos interessante: os japoneses haviam criado
um computador capaz de processar 3 milhões de dados em 1
segundo. “Três milhões!”, repetia ele entusiasmado e com umas
gotinhas de suor na testa.
Não que eu quisesse acabar com a alegria do sorridente
entusiasta da revolução informática, mas tive que perguntar: “e
para que serve, filho de Deus, processar tantos dados ao mesmo
tempo?”
O indivíduo me olhou, admirado de que eu não me admirasse
diante de estupenda velocidade. Fitou-me com uma cara
estranha, e ali eu pude perceber que, por trás de seu espanto
pela minha falta de espanto, havia um terceiro espanto: ele
também não sabia qual era a utilidade daquela colossal
capacidade do computador japonês. Simplesmente nunca tinha
parado para pensar no assunto. E acho que ele não é o único.
Quantos de nós ficamos de queixo caído diante da suposta
rapidez que a tecnologia pratica?
Temos a ilusão de que supercomputadores que fazem num
segundo o que há anos fazíamos em dias, com aviões que
percorrem em horas o que há séculos percorríamos em meses,
o trabalho ficará mais rápido, a vida mais fácil, voltaremos mais
cedo para casa e teremos tempo para brincar com o cachorro,
jogar pingue-pongue e comer brigadeiro. Mentira!
Do jeito que o mundo está organizado (visando o lucro em
primeiro lugar), quanto mais rápida é a tecnologia, mais teremos
que trabalhar! Suponhamos que há 50 anos um trabalhador
levasse oito horas para fazer uma mesa e que hoje, com a

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Introducao a Filosofia.indb 136 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

tecnologia disponível, leve apenas duas. O que acontece com


esse trabalhador?
a) trabalha só duas horas por dia, entrega a mesa ao chefe e vai
para casa feliz, brincar com os filhos;
b) Trabalha o dia inteiro, assim como fazia antes, faz quatro mesas em
vez de uma e só vai para casa exausto, no final da tarde.
Quem respondeu b, acertou. Se o mundo funciona como
uma enorme empresa, que só pensa na grana, nenhum
supercomputador ou qualquer outra invenção vai conseguir
deixar nossa vida mais tranqüila.
Se a nossa ambição é ganhar tempo, sugiro que tiremos o pé
do acelerador e o ponhamos no freio. Deixemos de lado, um
pouco, os computadores que processam 3 milhões de dados
e comecemos a processar, em nossos cérebros, uma meia
dúzia de questões realmente fundamentais: para que serve
tanto computador, se a cada 4 segundos uma pessoa morre de
fome no mundo? Para que serve tanta velocidade, se uma das
principais causas de morte entre os jovens, nas grandes cidades,
são os acidentes de trânsito? E para que tanta pressa, meu Deus,
se não sabemos sequer para onde estamos indo?
Se a sua ambição é ganhar tempo, sugiro que tire o pé do
acelerador.
Fonte: Prata ([200-?)].

Se desejar fazer uma viagem pelas raízes da espécie humana e


assistir ao florescer da razão e das tecnologias, localize o vídeo:

• A Guerra do Fogo (La guerre du feu). Direção de Jean-Jaques


Annaud. Fox Film, 100 min. VHS, França-Canadá, 1981.

E que tal ler um livro que irá problematizar os conteúdos


apresentados nesta unidade e nas disciplinas que você frequentará
ao longo do curso de Filosofia?

• NIETZSCHE, Friedrich W. Assim falou Zaratustra. Trad.


Pietro Nasseti. São Paulo: Martin Claret, 2002.

Unidade 4 137

Introducao a Filosofia.indb 137 15/12/11 13:46


Introducao a Filosofia.indb 138 15/12/11 13:46
5
unidade 5

A Filosofia na vida e a vida na


Filosofia

Objetivos de aprendizagem
„„ Relacionar a vida humana em seu quotidiano e a
reflexão filosófica.
„„ Compreender a importância dos objetivos, metas e
ideais para a realização da existência humana em todas
as suas potencialidades.
„„ Identificar a ‘Filosofia do Cuidado’ como aproximação
ideal e desejável entre reflexão filosófica e vida humana.
„„ Analisar o momento existencial humano e seu
necessário reencontro com a sabedoria e a Filosofia.

Seções de estudo
Seção 1 A Filosofia e a vida

Seção 2 Ter objetivos é preciso

Seção 3 A Filosofia do cuidado

Seção 4 A defesa da sabedoria

Introducao a Filosofia.indb 139 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Filosofia é um exercício de pensamento, uma atitude de
reflexão diante da vida e sobre ela. O pensar é a própria
existência humana e, necessariamente, está sempre vinculado
às experiências concretas do dia-a-dia. Do dia-a-dia, é daí que
nasce, nutre-se e se constitui a Filosofia.

O homem vive no mundo, é o seu mundo. No mundo e


com o mundo, faz da vida quotidiana objeto de reflexão,
compreendendo-a, escolhendo-a, assimilando-a, transformando-a.
O pensamento filosófico, sempre que se afasta da experiência
quotidiana, não o faz com a intenção de negá-la, mas de estar mais
presente nela, percebendo-a em toda a sua amplitude.

Seção 1 – A Filosofia e a vida


Ao longo de sua evolução histórica, a Filosofia sempre foi um
campo de luta entre concepções antagônicas: materialistas e
idealistas, empiristas e racionalistas, etc. Esse caráter antagonista
da especulação filosófica decorre da dificuldade de se alcançar
uma visão total das múltiplas facetas da realidade.

Entretanto, é justamente no esforço de pensar essa realidade,


para alcançar a sabedoria, que o homem vem conquistando ao
longo dos séculos uma compreensão mais cabal de si mesmo e
do mundo que o cerca, e uma maior compreensão das próprias
limitações de seu pensamento. Isso permite ao homem a
reconstrução do seu passado, que, por sua vez, o ajudará na
compreensão do presente e na construção do futuro.

O saber filosófico, conforme Luckesi e Passos (1996, p. 92-


93), analisa o cotidiano dos seres humanos em sociedade,
buscando investigar o seu sentido e o seu papel. Desse modo,
quando trata dos assuntos e temas, mesmo da forma mais
abstrata, tem articulações e fundamentação na realidade
concreta e só faz sentido se for um saber que se voltará para o
concreto, oferecendo-lhe, sob a forma de visão de mundo, um
direcionamento para a práxis.

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Introducao a Filosofia.indb 140 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

E, sendo uma concepção de mundo, a Filosofia


cumprirá bem o seu papel de norteadora da práxis
humana, à medida que ultrapassar os limites indivi-
duais de autores e estudiosos acadêmicos e der forma
ao modo de pensar e de ser da multidão, das grandes
massas. O poder do pensamento filosófico está na
possibilidade de direcionar o sentido e o significado
do cotidiano da coletividade social.

Viver é escolher

Vimos que, desde a mais remota Antiguidade, o ser humano


aspira a compreender a si mesmo e o mundo em que vive.
Assim nasceu a Filosofia no ocidente. Esta aspiração humana de
interpretar o mundo, a sociedade e a si próprio é mais do que um
desejo, pois, no homem, curiosidade e necessidade andam juntas.
Vamos conversar agora sobre o modo de ser humano.

Um ser que pode ser mais

O ser humano não se encontra, ao nascer, plenamente constituído


em seu ser. Esta aparente fragilidade inicial é o grande diferencial
da espécie humana: o ser humano pode ser mais. Por isso não
basta ao ser humano viver simplesmente. Ele quer compreender
a vida, pois precisa realizá-la. O ser humano é um ser “por fazer-
se”. Precisa, conforme Gambin (1987), assumir o compromisso
de ir realizando sua vida como um projeto seu. Para tanto, vê-se
constantemente diante de escolhas, possibilidades, caminhos, e
GAMBIN, Pedro. A Vida
constrói a sua vida a partir das escolhas que faz. Humana. Revista Mundo
Jovem, abr. 1987.

Unidade 5 141

Introducao a Filosofia.indb 141 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

Viver é escolher. Eu, você, todos nós, somos fruto das


nossas escolhas. É claro que nem todas as nossas
escolhas foram conscientes e livres. Por isso podemos
dizer que a nossa liberdade tem o tamanho das
nossas possibilidades de escolher. Escolhemos com
consciência quando a escolha é acompanhada de um
saber (conscientia). Ter consciência (saber o que está
escolhendo) é condição necessária para ser responsá-
vel. A vida, vivida como um projeto, exige responsabi-
lidade consigo, manifesta nas nossas escolhas.

O desejo de escolher bem

O homem é um ser consciente, no mundo e distinto do mundo.


É o único capaz de tomar distância do mundo, compreendê-lo e
transformá-lo. Esta ação consciente do homem sobre o mundo é
denominada pela filosofia de práxis: unidade indissolúvel entre
ação e reflexão.

Pela práxis, o homem, ser de necessidades e carências,


abre-se ao mundo produzindo aquilo de que necessita
para reproduzir e realizar a sua vida. O homem precisa
do mundo e dos outros para produzir a sua vida. A vida
humana depende da relação do ser humano com o
mundo, com a natureza, com a sociedade.

Por isso, a ação consciente demonstra a responsabilidade do


homem consigo, com a natureza e com os outros. O ser humano
realiza a sua vida por meio das relações que estabelece com as suas
ações. Consigo, a relação é de descoberta da individualidade, da
psique, do eu. Esta relação implica autoconhecimento, cultivo da
auto-estima e uma atitude de cuidado para consigo mesmo.

Com os outros estabelecem-se relações de cooperação ou


competição, de solidariedade ou individualismo. A relação com
a natureza é mediada pelo trabalho. Pelo trabalho, o homem
produz o necessário para a subsistência, manutenção e reprodução
da vida. A relação com os outros e com a natureza é a base da
construção da identidade do indivíduo e da cultura.

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Introducao a Filosofia.indb 142 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

A ação consciente colocá-nos diante do desafio de esco-


lher o bem e o bom. Os antigos diziam que: o que é bom para
a leoa, não pode ser bom à gazela. E, o que é bom à gazela, fatalmente
não será bom à leoa. Deste tipo de dilema surge a necessi-
dade de definir o bom e o bem.

Os filósofos antigos adotaram diversas posições na definição do


que é bom, sobre como lidar com as prioridades em conflito dos
indivíduos versus o todo.

Aristóteles (384-322 a.C.) definia como objetivo de todo o


pensar a busca do contentamento e a felicidade com o bem
supremo a ser alcançado.

Mas o que é a felicidade? O que o(a) deixa contente?


O que lhe faz bem?

Para responder a esta questão, surgiram diferentes escolas de


pensamento no mundo antigo, cuja influência perdura até os
nossos dias. Conheça-as.

„„ O Eudemonismo (do grego eudaimonia, felicidade)


defende que o bom é o que traz felicidade. Se o(a) deixou
feliz, é bom, e pronto!

„„ O Hedonismo (do grego hedoné, prazer) diz que o bom


é o que dá prazer. Devemos buscar o prazer! Como um
fim em si mesmo, exacerbando os sentidos, buscando o
prazer duradouro.

„„ O Utilitarismo defende que o bom é o que é útil e


vantajoso. Tendo utilidade é bom! Mas, útil para quem?
Para quantos? E os velhos, inválidos e crianças?

Unidade 5 143

Introducao a Filosofia.indb 143 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

Escolher, eis o desafio! Escolher o bem, escolher o que


é bom, para si mesmo, para os outros, para o mundo.
Construir o seu projeto de vida com as escolhas que faz e
encontrar o contentamento, a existência feliz.

Pensar assim é viver a vida com arte, como ensinavam os


antigos gregos; viver como quem constrói um projeto e ergue
uma construção, edifica uma obra. Viver com cuidado, como
um artista atento aos mínimos detalhes de sua obra, sendo
otimista consigo (auto-estima) e com os outros (respeito e boa fé);
fomentando em si e nos outros o desejo de ser melhor.

Desta forma, o objetivo da ética é determinar o que é bom, tanto


para o indivíduo como para a sociedade como um todo. É o que
veremos na próxima seção.

Seção 2 - Ter objetivos é preciso


Desde a mais remota Antiguidade, o homem aspira a
compreender a si mesmo e o mundo em que vive. Todo o
desenvolvimento mitológico, religioso, filosófico e científico
originou-se dessa aspiração humana de interpretar o mundo, a
sociedade e a si próprio. Vamos conversar, agora, sobre o modo
de ser humano.

Cabe lembrar que somos parte da natureza e que, como tal, o


destino da vida humana é uma simbiose com o planeta Terra.
Entre a humanidade e o mundo da matéria existe uma afinidade
COMBLIN, J. Antropologia Cristã.
Petrópolis: Vozes p. 159.
profunda e radical. A existência humana é de real colaboração
entre a terra e os seres humanos.

Um ser de muitas necessidades

Vimos que o homem não nasce pronto, precisa realizar a sua vida,
suprindo suas necessidades. O homem é um ser de necessidades
biológicas, psíquicas e sociais, satisfeitas na relação que estabelece
com a natureza, consigo mesmo e com os outros.

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Introducao a Filosofia.indb 144 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

Entre todas as necessidades supracitadas, uma se impõe


sobre todo ser humano: compreender a vida e dar sentido a
ela! “Deixa a vida me levar... vida leva eu”, pode ser um bom
refrão para um samba, mas não se constitui num caminho
confiável para a realização das potencialidades e existência
humana. Compreender a vida e dar um sentido a ela: eis a
tarefa fundamental para a qual todo homem é chamado!

Veja uma reflexão poética sobre este tema no texto da norte-


americana Nadine Stair.

“Se eu pudesse viver de novo a minha vida, na próxima trataria


de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, viveria mais
frouxo. Seria mais bobo do que fui; de fato levaria a sério só umas
poucas coisas. Seria menos higiênico. Correria mais riscos, faria mais
viagens, contemplaria mais crepúsculos, escalaria mais montanhas,
nadaria em muitos rios. Iria a mais lugares desconhecidos, comeria
mais sorvetes e menos vagens, teria mais problemas reais e
menos imaginários. Fui uma pessoa dessas que viveu sensata e
pacificamente cada minuto de sua vida; e é claro que tivemos
momentos de alegria. Mas, se pudesse voltar atrás trataria de ter
somente bons momentos. Pois, caso não saibam, disto está feita a
vida, só de momentos. Nunca percam o agora. Eu era um desses
que nunca vão a lugar algum sem um termômetro, uma bolsa de
água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas; se pudesse
voltar a viver, viajaria com menos peso. Se pudesse voltar a viver,
andaria descalço desde o começo da primavera até o fim do outono.
Andaria de carrocinha, contemplaria mais alvoradas e brincaria com
as crianças, se tivesse a vida pela frente. Mas vejam, tenho 85 anos e
sei que estou morrendo”.

Fonte: Stair (1990)

Unidade 5 145

Introducao a Filosofia.indb 145 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

Ter objetivos é tudo!


Você já deve ter visto esta frase em algum lugar:

“Não há vento favorável para aquele que não sabe aonde vai!”

Ela é atribuída ao filósofo latino Sêneca (4 a.C.- 65 d.C.) e faz


sucesso nas palestras e seminários motivacionais, porque mostra,
com muita clareza, a necessidade de termos objetivos na nossa vida.

Neste sentido, também a frase: “Homem, conhece-te a ti


mesmo”, pode ser lida de uma maneira moderna e atual. Ao
escolher esta frase como símbolo de sua filosofia, Sócrates (470-
399 a.C.) ensina que o cultivo da alma (o conhecimento) vale
mais do que toda riqueza material. O autoconhecimento permite
ao ser humano compreender a vida, dar razão e sentido para ela e
dar sentido também para as coisas que tem ou deseja.

Pare e pense: a vida, sem reflexão, vale a pena?


Nós sabemos o quanto é importante saber para onde
se quer ir, não é mesmo?

A vida humana é feita de luta, esforço, dedicação, que nos


permitem preparar e construir um futuro. Para tanto, precisamos
ter ideais, objetivos e metas.

O poeta catarinense Lindolff Bell (1984) diz, em um dos


seus poemas, que cada um de nós é o que espera da vida, que
somos do tamanho da nossa esperança: “Menor do que o meu
sonho... não posso ser”.

É da natureza do ser humano apostar na esperança, arriscar o


real pelo sonho, transformar sonhos em desafios. Sem sonhos,
sem esperança, sem objetivos na vida, não somos capazes nem de
lutar, nem de sofrer.

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Introducao a Filosofia.indb 146 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

Por isso, ao falarmos sobre o modo humano de ser, podemos


dizer: ter objetivos é tudo! Os objetivos atualizam a esperança e
nos tornam fortes. Fazem-nos acreditar que é possível alcançar
uma vida melhor e mais humana. Dão-nos a consciência de que
somos seres inacabados, de que não estamos prontos.

E você? Tem clareza dos seus objetivos?

Pensar assim é viver a vida com arte, como ensinavam os antigos


gregos. Viver como quem constrói um projeto e ergue uma
construção edifica uma obra. Viver com cuidado, como um artista
atento aos mínimos detalhes de sua obra sendo otimista consigo
(auto-estima) e com os outros (respeito e boa-fé), fomentando em si
e nos outros o desejo de ser melhor.

A força da inquietude
A Filosofia é movimento, dinamismo, questionamento, mudança.
A atividade filosófica é para os inquietos, para os que não se
acomodam e nem se contentam com as primeiras respostas.

Qualquer atividade que envolva a racionalidade


ensina a pensar, mas nenhuma atinge a radicali-
dade da atividade filosófica. Nenhuma instiga tanto,
nenhuma demonstra tanta capacidade e vontade de
nos converter realmente em seres livres.

Mas de que liberdade estamos falando? A atitude filosófica nos


torna livres dos condicionamentos sociais e culturais que não
criamos, das escolhas que não fizemos, dos caminhos que não
escolhemos. Permite o exercício da liberdade de dar um sentido
único, totalmente nosso para a realidade que nos circunda;
envolve, mas não nos aniquila quando, diante dela, impomos a
atitude filosófica.

Unidade 5 147

Introducao a Filosofia.indb 147 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

A filosofia liberta. E mesmo as obras filosóficas que


mostram a originalidade do pensamento devem ser
lidas e compreendidas dentro deste contexto de
exercício da liberdade. Não procure nelas respostas ou
caminhos. A filosofia liberta porque não faz discípulos
ou seguidores. Os filósofos não oferecem respostas
definitivas, senão uma inquietude que leva a colocar
em suspenso as pretensas verdades.

A filosofia constrói o mundo. Sua tarefa não se resume a explicar


o mundo. Ao dar um sentido para ele, o pensamento filosófico
manifesta como ele é e como o desejamos.

A inquietude filosófica leva-nos ao diálogo com as visões


concebidas da realidade. Dialogar filosoficamente é pôr à prova
o que pensamos saber. Dialogamos com as obras filosóficas, com
as concepções pré-concebidas da realidade, com nossas crenças
e convicções, com as nossas dúvidas e inquietações. Dialogamos
o tempo todo no exercício da atividade pensante, buscando o
sentido da vida e das coisas. Isto é filosofia na vida.

Seção 3 - A Filosofia do cuidado


Vimos até aqui, que viver é escolher ser mais e, para tal, é
necessário escolher bem, escolher o bem, ou seja: o que favorece
a realização dos nossos objetivos e, consequentemente, da nossa
vida. Vimos também que o pensar nos permite ver mais, ver o
que não se enxerga num primeiro olhar, ver com profundidade as
diferentes facetas da nossa existência.

Nesta unidade, ainda visando estabelecer uma relação entre


a vida e a filosofia, conversaremos sobre o termo cuidado
como síntese e encontro da filosofia com a ética e com a vida,
radicalmente humana no seu modo de ser.

148

Introducao a Filosofia.indb 148 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

O desejo de ser feliz

A tradição ocidental, desde os gregos clássicos, define a felicidade


como objeto de estudo da filosofia, como saber supremo a ser buscado.

Felicidade para quem? Para quantos? A que preço? O


que posso fazer para ser feliz? O que não devo fazer para
ser feliz? Qual é o caminho para a felicidade? Qual o seu
conteúdo? O que é ser feliz? A felicidade é um senti-
mento, duradouro, forte? Ou não passa de uma leviana e
pueril emoção? Você é feliz? Ou você está feliz?

Ser ou não ser feliz, eis a questão na qual se resume a vida.

Estamos vivendo tempos introspectivos. O ser humano, no


começo do terceiro milênio, volta para si, busca conhecer-se e
viver a vida de dentro para fora: exteriorizar-se! Quer existir!
Acontecer! Mas, na busca de realizar este intento, encontra
muitas dificuldades.

A sociedade industrial capitalista criou um estereótipo de homem


e vende este seu “tipo ideal” como caminho e possibilidade de
realização do desejo de ser feliz. Um indivíduo que encontra
no sucesso, no poder, no ter e no prazer um sentido para a
vida. Disto resulta um indivíduo que não conhece a si mesmo e
confunde a sua identidade com as emoções que vive e as coisas
que tem. Um indivíduo que cuida de tudo, das coisas que tem e
deseja, e que se esquece de si mesmo.

A Filosofia do cuidado

A felicidade, a realização dos nossos sonhos e objetivos, o estar


sendo plenamente humano não é dádiva que recebemos ao
nascer: é uma conquista, uma escolha, um propósito! Por isso, há
que se viver com arte, com consciência, com cuidado. A busca da
felicidade implica um cuidado do ser humano consigo mesmo.
E, nisto, a Filosofia tem muito a contribuir. É aqui que ela se
aproxima da vida e da sua mais sublime tarefa.

Unidade 5 149

Introducao a Filosofia.indb 149 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

Martin Heidegger (1889-1976) chama-nos a atenção para


o cuidado. Define-o como o solo em que se move toda a
interpretação do ser humano, o fundamento para qualquer
interpretação do humano. É a partir da condição, do encontrar-se
como ser-aí, do estar lançado no espaço da mundanidade, que a
pessoa constrói o seu modo de ser, a sua existência, a sua história,
o seu sentido.

Com o termo dasein (ser-aí), Heidegger define o sentido


do existir e da existência humana: a existência humana é
movimento, difusão, diluição. Ao se difundir e se diluir no
mundo, o ser-aí perde-se e, através da angústia, se revela e
se encontra. Estar angustiado é estar ocupado e preocupado
com o sentido da existência, com o sentido de tudo que a
compõe: o mundo, a vida, o trabalho, a educação, as relações,
os sentimentos. A angústia não é uma fatalidade: é existência
humana; e oferece o solo observável a partir do qual se pode
apreender a totalidade originária da presença, quando o ser-aí
se descobre estar-junto-com-o-outro nos diferentes espaços e
tempos do cotidiano.

O termo cuidado manifesta a atitude do homem


diante da angústia: é o próprio ser da existência na
sua capacidade de projetar-se a si mesmo e de poder-
ser. Palavras como precaução, diligência, carinho, zelo,
responsabilidade, servem como descrição adjetivada
para uma compreensão do cuidado. Com a atitude de
cuidado, o dasein (ser-aí) dá lugar ao ser-em-si, reve-
lando uma compreensão acerca do modo como se
organiza e vive o ser humano.

Michel Foucault (1926-1984) também contribui para a nossa


reflexão na medida em que critica as pretensas evidências da
sociedade moderna. Segundo Foucault, a sociedade moderna
toma por verdades temas fabricados na história e os impõe aos
indivíduos como normalidade. Foucault luta por uma nova
subjetividade com a consequente afirmação do indivíduo. O que
significa para ele uma libertação de uma dupla coação política.

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Introducao a Filosofia.indb 150 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

Ou seja, a sociedade moderna, ao incentivar o individualismo


e a subjetividade, instaura um processo de individualização.
Pensamos e desejamos ser sujeito, ser único, ser vip, ser prime,
ser especial. Esta individuação gera um paradoxo: a totalização.
Quanto mais buscamos ser diferentes, mais somos massificados,
totalizados. O pseudo-sujeito não passa de um sujeitado: quem
escolhe o que você vê, come, consome? Diante deste poder
arbitrário, Foucault propõe uma verdadeira insurreição contra
as estruturas epistemológicas que agem no nível inconsciente,
nutrem os campos do saber, manifestam-se nos Discursos,
dando sentido às coisas. E, nesse movimento, produzem
o normal e o patológico e um ideal de homem: o Homem
Ocidental!

O objetivo do pensamento de Foucault é mostrar às


pessoas que elas são muito mais livres e que a pre-
tensa evidência pode e deve ser criticada e destruída.
Este é o papel da filosofia e do intelectual: mudar algo
no espírito das pessoas!

Pacheco e Nesi (2007, p. 221) apresentam a ética de Foucault


como autoformação do sujeito; como o cuidado de si:

um exercício, uma prática moral de si sobre si mesmo,


que permite ao sujeito transformar-se e atingir um modo
de ser. O cuidado de si é um exercício em que o sujeito
pratica a liberdade. A liberdade é vista, por sua vez, como
condição básica para a existência da ética. E a ética é
entendida como a prática refletida, racional da liberdade...

E continuam os autores explicitando que

se, por um lado, o cuidado de si é uma prática em que


se exercita a liberdade, por outro lado esta liberdade não
significa liberdade absoluta, mas, antes, autodomínio,
autoconhecimento, além do conhecimento de certas
regras de conduta e prescrições morais. (PACHECO;
NESI, 2007, p.221).

Unidade 5 151

Introducao a Filosofia.indb 151 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

Cabe lembrar, segundo os nossos comentadores, que o cuidado de


si não significa amor exagerado por si mesmo, nem negligência
pelos outros, nem abuso dos outros, mas, também, cuidado
dos outros. Contudo o cuidado dos outros é, para Foucault,
um momento posterior ao cuidado de si. Assim, à medida que
exercito o cuidado de mim mesmo, desenvolvo as condições
necessárias para também cuidar dos outros. (PACHECO; NESI,
2007, p. 220-222).

No livro “Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela


terra”, Leonardo Boff propõe o resgate do modo de ser cuidado
como possibilidade de estabelecimento de uma relação simbiótica
Simbiose: associação entre
espécies vivas, beneficiando-se
entre o ser humano e o cosmos.
mutuamente; por extensão,
associação entre seres vivos, Ao demonstrar a origem latina do termo, encontra dois
sistemas sociais e máquinas; é significados: cura, desvelo, solicitude, atenção; e cogitare-cogitatus,
o que ocorre, concretamente, preocupação, inquietação (BOFF, 2004, p. 90).
no funcionamento de nossas
sociedades atuais (BOFF, 2004, p.
198).
Segundo Boff, o cuidado é um modo de ser, isto é, a forma como a
pessoa humana estrutura-se e se realiza no mundo com os outros.

O autor apresenta o cuidado com singularidade humana: “Não


temos cuidado. Somos cuidado. Sem cuidado, deixamos de
ser humanos”. (BOFF, 2004, p. 89). Aqui o cuidado é atitude
filosófica e comportamento ético. A atitude de cuidado provoca
preocupação, inquietação e responsabilidade do ser humano
consigo e com tudo mais que o rodeia, a natureza e os outros.

O cuidado sempre acompanha o ser humano. Na


sua falta, manifesta-se a negligência e a indiferença.
A negligência é a atitude de desleixo, descuido para
consigo mesmo. É o oposto da atitude filosófica, a
vida vivida sem cuidado, sem reflexão, sem consciên-
cia e responsabilidade. A indiferença é a atitude de
desleixo, descuido para com a natureza e os outros.
A negligência é a morte da filosofia. A indiferença é a
morte da ética.

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Introducao a Filosofia.indb 152 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

O filósofo e educador espanhol Fernando Savater, no livro Ética


como amor-próprio, define o amor-próprio como um ideal de
excelência, de realização plena do humano; e afirma que o mais
amante de si mesmo é aquele que “se empenha acima de todas as
coisas pelo que é justo, ou prudente, ou qualquer coisa conforme
a virtude”. (SAVATER, 2000, p. 41).

Em sua proposta de ética, o autor aproxima-se da dimensão do


cuidado quando afirma que o ideal do amor-próprio é o trato
que o “eu” quer para si mesmo. Aqui a expressão trato tem o
sentido de cuidado ou relação com algo; ajuste, transação, acordo
(ibidem p. 90). O “eu” configura no ideal de seu amor-próprio a
qualidade e o tipo de atenção que deseja para si mesmo e também
estabelece a qualidade da relação a qual gostaria de sustentar na
sua necessária inserção na realidade social e natural. (ibidem, p.
91).

No amor próprio, encerra-se um instinto e um projeto humano:

O homem, cada homem, ama a si mesmo. Ama a si


mesmo porque cada um é para si mesmo, a condição
de possibilidade imprescindível de todo o resto. Se não
amasse a si mesmo não poderia amar nenhuma outra
coisa; quando ama qualquer coisa, ama a si mesmo como
requisito necessário da coisa amada. Quando amo, me
amo. Quando me amo, sinto as bases para poder amar os
outros. (SAVATER,2000, p. 209).

A filosofia é busca, é atitude, é inquietação, é cuidado.


E pode manifestar-se de uma maneira especial, na
arte de quem reflete sobre a vida tendo como ponto
de partida o sentimento, a emoção. Artistas que nos
dão a dimensão do “sinto, logo existo”. Dimensão tão
necessária enquanto companheira do nosso carte-
siano e tradicional, “penso, logo existo”.

Veja que bela reflexão sobre o sentido da Filosofia nas nossas


vidas nesta composição (letra e música) de Sérgio Magrão e
Luis Carlos Sá, imortalizada na voz de Milton Nascimento
(Universal Music, 1981):

Unidade 5 153

Introducao a Filosofia.indb 153 15/12/11 13:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

Caçador de Mim
Por tanto amor
Por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu caçador de mim

Preso a canções
Entregue a paixões
Que nunca tiveram fim
Vou me encontrar
Longe do meu lugar
Eu, caçador de mim

Nada a temer senão o correr da luta


Nada a fazer senão esquecer o medo
Abrir o peito a força, numa procura
Fugir às armadilhas da mata escura

Longe se vai
Sonhando demais
Mas onde se chega assim
Vou descobrir
o que me faz sentir

Eu, caçador de mim

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Introducao a Filosofia.indb 154 15/12/11 13:46


Introdução à Filosofia

Também vale recordar, ao final desta reflexão sobre a filosofia do


cuidado, a receita antropológica de Epicuro (341-270 a.C.), uma
bela síntese da atitude filosófica perante a vida:

„„ não há nada a temer contra os deuses;

„„ não há necessidade de temer a morte;

„„ a felicidade é possível; e

„„ podemos escapar à dor.

Epicuro dizia que a “palavra” é como um pharmakon;


tanto substância que cura, quanto substância que enve-
nena, depende da forma como ela é transmitida. E que a
felicidade é uma conquista, é um direito de todos.

Epicuro busca o silêncio do campo para desenvolver a sua


filosofia e escolhe um prédio com um jardim nos arredores de
Atenas, longe do tumulto da vida pública. Suas lições acontecem
no jardim. “Os filósofos do Jardim” passaram a indicar a Escola e
os seguidores de Epicuro.

Tauria de Oliveira Gomes ( 2003, p. 151) assim sintetiza a


“filosofia do jardim”:
Conheça o texto de Táuria
Oliveira Gomes, A Ética
de Epicuro: um estudo
a realidade é perfeitamente penetrável e cognoscível pela da carta a “Meneceu”.
inteligência do homem; nas dimensões do real existe lugar Metanoia, uma Revista
para a felicidade do homem; desde que ele aprenda como Eletrônica da UFSJ - São
buscá-la, a felicidade é ausência de dor e perturbação, e João del-Rei, n. 5, p.147-
para atingi-la o homem só precisa de si mesmo. 162, jul. 2003.

A autora afirma que a doutrina de Epicuro ensinada no Jardim


pregava que a vida prática deve ser não somente a nossa principal
mas também nossa única preocupação. Para Epicuro, a filosofia
não é uma ciência, (no sentido de produzir conhecimentos e
descobertas); é uma regra de comportamento (como devo agir?).

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Universidade do Sul de Santa Catarina

E, por fim, encontramos no texto que segue (GOMES, 2003,


p.151) um complemento para a compreensão e o conceito de
Filosofia que desenvolvemos neste livro didático:

Epicuro dizia que a filosofia era uma atividade destinada


a estabelecer, por meio de raciocínios e de discussões,
uma vida feliz, sendo o filosofar não apenas uma
questão de palavras, mas sobretudo de atos. Ensinava
que os homens fazem mal em perder tempo com buscas
determinadas apenas pela curiosidade sobre assuntos que
lhes importam pouco ou mesmo nada, quando deveriam
concentrar todos os seus cuidados sobre as coisas que
dizem respeito à sua felicidade.

Seção 4 - A defesa da sabedoria


No dia 13 de agosto de 1987, o Prof. Osvaldo Della Giustina,
fundador da Unisul e, na época, Chefe de Gabinete do
Ministério da Educação, proferiu uma Aula inaugural no curso
de Filosofia da Fundação Educacional de Brusque (FEBE), em
Brusque, Santa Catarina, desenvolvendo a seguinte temática:
“O renascimento da Filosofia.” Passados mais de vinte anos,
reproduzimos os principais conteúdos da reflexão apresentada por
este visionário, para concluirmos esta unidade sobre a Filosofia
na vida e a vida na Filosofia.

Também queremos registrar, com esta inclusão, a histórica


insistência do Prof. Osvaldo na defesa da Presença da
Filosofia na nossa Universidade e sua preciosa colaboração na
elaboração do projeto pedagógico deste curso, bem como na
sua e implantação e animação.

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Introdução à Filosofia

O renascimento da Filosofia
Osvaldo Della Giustina
Inicio, manifestando a minha convicção de que as crises
existenciais pelas quais estamos passando, que se manifestam
nas perplexidades éticas e comportamentais e que se
ampliam para as crises das instituições políticas, econômicas
e sociais, ameaçando a vida humana em sociedade; decorrem
essencialmente disto: vivemos um tempo em que o
conhecimento, e mesmo a simples informação, ameaçam tomar
o lugar da sabedoria. Esta nefasta substituição vem acontecendo
num processo progressivo e sorrateiro de renúncia do homem à
sua condição humana, sem que ele mesmo o perceba.
A substituição da sabedoria pelo conhecimento e pela
informação ameaça reduzir o homem a um simples componente
do processo tecnológico da sociedade no meio de sua história,
isto é, a alguém que, tendo perdido sua especificidade de ser
humano – a sabedoria – se reduziu a máquina – ao nível do
elemento a informação, repositório ou memória de informações:
informações captadas, armazenadas e expressas, sem que
tenha havido o processo de análise e síntese, através do qual
a informação, elaborada pela inteligência, se transforma em
conhecimento, e o conhecimento apreendido pela consciência
num processo global, e por ela ativado, se transforma em
sabedoria.
Isto quer dizer que é necessário levantar a voz em defesa do
retorno do homem à sabedoria como condição de salvá-lo de ser
submetido e comido pelos processos cegos com que sua própria
criação o ameaça. Não por que esses processos tenham crescido
demasiadamente, mas por que o homem não soube entendê-los,
crescer mais do que eles e dominá-los.
No entanto, tem-se disseminado a mentalidade de que este país
não necessita da Filosofia, por que a filosofia não oferece mercado
de trabalho, não tem utilidade. Tal argumento, e argumentos
equivalentes usados com freqüência, revelam a pobreza dos
conceitos que se têm do trabalho, da formação e, sobretudo,
do homem, de sua capacidade de criar e fazer, a partir de sua
qualidade essencial de pessoa.
Na verdade, são enganosas as informações de que a ciência
moderna ultrapassou a filosofia e de que as ciências sociais, a
psicologia, a história, a economia ou a política são instrumentos
mais eficazes de compreender a realidade ou atuar sobre ela.
Essas posturas revelam que pouco se entende da filosofia,
do homem e da sociedade, e todos estamos pagando um

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Universidade do Sul de Santa Catarina

preço muito caro por isto. O que é preciso, pois, é retornar à


sabedoria. O que é o filósofo, senão o amigo da sabedoria, o
“filos ten sophias”, como já o tinham definido os gregos?
Na verdade, a decadência da filosofia está na ordem direta da
incapacidade de entendê-la, incapacidade de fazê-la crescer na
mesma direção e no mesmo ritmo ou velocidade, com que se
vêm desenvolvendo as outras ciências, ou as outras coisas.
No entanto, é preciso entender que todas essas ciências,
as ciências experimentais, param no liminar das coisas
experimentáveis, e que, a partir deste nível, é possível realizar
ainda o salto para o mundo das coisas dedutíveis ou das
fórmulas, que nos levam um pouco mais adiante na descoberta
das coisas. Mas sempre, e apenas, das coisas.
Existe, porém, o mundo do ser e de relações, que está além
da experimentação e das fórmulas da lógica matemática, e é
neste mundo do ser e das relações que está a lama das coisas:
a dignidade, a liberdade, a justiça, a ética; que, em última
análise, constitui a revelação da verdade. Esta alma não é
redutível a nenhuma fórmula matemática, nem à repetição ou
quantificação de experimentos. E, ai do mundo que perde a
percepção, ou o entendimento, de sua alma!
Retorno a dizer, pois, neste contexto, que a decadência
da filosofia é proporcional à incapacidade de empurrar o
pensamento filosófico para além dos limites que alcançarem
as ciências, seja a química fina, a engenharia biológica, a
astrofísica, a sociologia ou a matemática.
Nesta perspectiva, a filosofia há de continuar sendo a ciência
da totalidade do homem. Porque no infinito todas as coisas se
encontram, e a filosofia limita neste infinito.
Na verdade, são enganosas as informações de que a ciência
moderna ultrapassou a filosofia e de que as ciências sociais, a
psicologia, a história, a economia ou a política são instrumentos
mais eficazes de compreender a realidade ou atuar sobre ela.
Essas posturas revelam que pouco se entende da filosofia,
do homem e da sociedade, e todos estamos pagando um
preço muito caro por isto. O que é preciso, pois, é retornar à
sabedoria. O que é o filósofo, senão o amigo da sabedoria, o
“filos ten sophias”, como já o tinham definido os gregos?
Na verdade, a decadência da filosofia está na ordem direta da
incapacidade de entendê-la, incapacidade de fazê-la crescer na
mesma direção e no mesmo ritmo ou velocidade, com que se
vêm desenvolvendo as outras ciências, ou as outras coisas.

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Introdução à Filosofia

No entanto, é preciso entender que todas essas ciências,


as ciências experimentais, param no liminar das coisas
experimentáveis, e que, a partir deste nível, é possível realizar
ainda o salto para o mundo das coisas dedutíveis ou das
fórmulas, que nos levam um pouco mais adiante na descoberta
das coisas. Mas sempre, e apenas, das coisas.
Existe, porém, o mundo do ser e de relações, que está além
da experimentação e das fórmulas da lógica matemática, e é
neste mundo do ser e das relações que está a lama das coisas:
a dignidade, a liberdade, a justiça, a ética; que, em última
análise, constitui a revelação da verdade. Esta alma não é
redutível a nenhuma fórmula matemática, nem à repetição ou
quantificação de experimentos. E, ai do mundo que perde a
percepção, ou o entendimento, de sua alma!
Retorno a dizer, pois, neste contexto, que a decadência
da filosofia é proporcional à incapacidade de empurrar o
pensamento filosófico para além dos limites que alcançarem
as ciências, seja a química fina, a engenharia biológica, a
astrofísica, a sociologia ou a matemática.
Nesta perspectiva, a filosofia há de continuar sendo a ciência
da totalidade do homem. Porque no infinito todas as coisas se
encontram, e a filosofia limita neste infinito.
Por todas essas razões, que têm fundamentalmente a ver
com o homem, sua sobrevivência e a preservação de sua
dignidade, é com satisfação que vemos o renascimento dos
cursos de filosofia, o debate sobre a importância da Filosofia e
sua volta aos currículos de formação escolar.
É necessário, no entanto, nesta satisfação, não perder de
vista, algumas questões. Dentre estas, creio que a mais
importante é a da qualidade da filosofia, porque talvez
pior do que não ter filosofia nenhuma, é ter apenas um
arremedo de filosofia, uma tintura de filosofia, que não passa
de filosofia do quotidiano, a filosofia do futebol, a filosofia
dos planos, filosofia das ruas, do governo, a filosofia, enfim,
inadequadamente entendida e inadequadamente expressa.
Tal ameaça se agrava, na medida em que vivemos um
vácuo do pensamento filosófico, causado, dentre outras
razões, no campo político, pelo poder autoritário; no
campo do desenvolvimento econômico e social, pela
postura tecnocrática, comandada pela ilusão das equações
econométricas e do milagre tecnológico; e, no campo teológico,
talvez, pela própria sede de justiça que passou a queimar os
lábios dos pregadores como queimava os do profeta Isaías.

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Agora temos que resgatar este tempo, vencer o obstáculo do


vazio do pensamento e a carência de homens que saibam
pensar. Na verdade, não se forma um filósofo como se treina um
digitador de computadores ou um programador, ou mesmo o
analista de seus sistemas.
É que o filósofo precisa chegar além da informação. Seu desafio
é descobrir a alma das coisas, seu preparo é chegar à sabedoria.
Este processo só acontece com a reflexão e, portanto, com a
paciência do tempo. Estamos ameaçados de gastar esta geração
neste doloroso processo de recuperação, ou recriação, do novo
pensamento.
A segunda questão é de ordem geral. O impacto da revolução
industrial e da revolução tecnológica desestruturou e inibiu o
pensamento filosófico.
De um lado, esta inibição levou a confundir a filosofia (e, às vezes,
a teologia) com simples propostas interpretativas da história, ou
da economia, ou da sociedade. Neste campo, estão o marxismo,
o liberalismo ou, mesmo, o socialismo e o capitalismo, ou, ainda,
a perspectiva da teologia chamada da libertação.
De outro lado, a filosofia renunciou à lógica, ou ao pensamento,
para aderir à intuição, ao sentimento. Neste campo, situam-se
o existencialismo e, a partir das filosofias da angústia, que ele
gerou, as posturas místicas, ou escapistas, sua contrapartida. A
intuição, o sentimento, a percepção são métodos auxiliares do
conhecimento, são formas de buscar a sabedoria, mas não são a
sabedoria.
A grande questão é que a busca da sabedoria – ou seja, a
descoberta da verdade, exige uma lógica além da lógica do
computador, e uma ultrapassagem, além do caos. Não há sentido
em que se admita que só pelo caos o homem sobreviva, quando
todo o universo sobrevive pela lógica. E nem há sentido, pois,
em dizer-se que o caos existe por causa da liberdade, como seu
pressuposto ou sua conseqüência.
O que é preciso, na verdade, é que a lógica como a liberdade, a
ética e a verdade, sejam postas numa dimensão além do caos.
Então prosseguirá a filosofia como a ciência além das ciências, a
liberdade como a postura além da angústia e o homem como o
ser além da máquina.

Fonte: Della Giustina, 1995.

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Introdução à Filosofia

Síntese

Filosofia e vida são dois lados de uma mesma moeda. A Filosofia


é, ao mesmo tempo, norteadora e produto do existir humano.
A Filosofia orienta o ser humano em suas escolhas e caminhos,
favorecendo nele o desejo de ser mais e melhor, de bem escolher
em vista dos seus projetos, de desenvolver suas potencialidades,
de realizar os seus sonhos e desejos. A Filosofia faz a vida valer a
pena. E a vida faz valer a pena estudar Filosofia.

Vimos, nesta unidade, que a atitude filosófica diante da vida


manifesta cuidado do ser humano consigo, com os outros e
com a natureza. Também vimos que cuidamos porque amamos
e amamos porque conhecemos. Filosofia, amor à sabedoria, é
atitude de cuidado!

E, por fim, num grito em defesa da sabedoria como modo


humano de ser, manifestamos os objetivos do projeto pedagógico
do nosso curso de Filosofia na UnisulVirtual: numa sociedade
que manifesta apreço pelo conhecimento e pela informação,
a sabedoria vem nos lembrar da centralidade das dimensões
humanas esquecidas. O ser humano é que dá sentido e direção
para o conhecimento e a informação. Estes não podem ser
usados contra o humano. A sabedoria resgata a possibilidade de
manifestação da vida em todas as suas formas, em toda a sua
plenitude. Por isso, queremos a Filosofia!

Unidade 5 161

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Atividades de autoavaliação

Para praticar os conhecimentos apropriados nesta unidade, realize as


atividades propostas. As respostas estão disponíveis no final do livro
didático. Mas se esforce para resolver as atividades sem ajuda das
mesmas, pois, assim, você promoverá (estimulando) a sua aprendizagem.

1) Depois de ter estudado o conteúdo desta unidade, elabore um


breve comentário sobre a afirmação: “A reflexão filosófica permite a
reconstrução do passado, a compreensão do presente e a construção
do futuro”.

2) Descreva a sua interpretação para as frases: “Não há vento favorável


para aquele que não sabe aonde vai!” e “Menor do que o meu sonho...
não posso ser”.

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Introdução à Filosofia

3) Conceitue Filosofia como um exercício de liberdade.

4) Por que o amor-próprio pode ser entendido como atitude filosófica?

Unidade 5 163

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Universidade do Sul de Santa Catarina

5) Encontre no conteúdo desta unidade argumentos em favor da tese:


a tarefa da filosofia é auxiliar, orientar o ser humano na busca e no
encontro da vida boa e feliz!

Saiba mais

Para aprofundar as questões abordadas nesta unidade, você


poderá pesquisar os seguintes livros:

 OFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano – compaixão


B
pela terra. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2004.

SAVATER, Fernando. Ética como amor-próprio. São Paulo:


Martins Fontes, 2000.

EPICURO. Pensamentos. São Paulo: Martin Claret, 2005.

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Para concluir o estudo

Chegamos ao final do estudo da disciplina. Com certeza,


durante o caminho, você questionou alguns pensamentos
e conceitos apresentados neste livro, identificou excessos
e lacunas. Esta é a primeira edição deste livro didático
de Introdução à Filosofia, e muita coisa terá de ser
melhorada e acrescentada. Críticas e contribuições serão
sempre bem-vindas. Este é o espírito da UnisulVirtual.

Como amizade prazerosa com a sabedoria, busca


incessante do saber, procuramos demonstrar que a
Filosofia tem muito a nos dizer e ensinar. Procuramos
ressaltar a nossa condição de ser racional, animal que
pensa, reflete, analisa, indaga, escolhe e faz história. A
Filosofia nos lembra de que fomos feitos para sermos
sujeitos, condutores dos nossos projetos e caminhos. E,
por nenhum motivo, podemos abrir mão do direito e do
dever de exercer a humanidade em todos os seus aspectos
e potencialidades.

Com a apresentação da Filosofia e da proposta do


nosso curso, procuramos lembrar do ideal magnânimo,
verdadeiramente grandioso, que deve acompanhar as
nossas escolhas e decisões: ser melhor, buscar a perfeição,
exercitar a virtude, para o bem de todos e garantia de
futuro, do mundo e da humanidade.

Ao concluirmos esta disciplina, reafirmamos a certeza


de que o futuro da possibilidade de convivência passa
pelo resgate das dimensões humanas na condução dos
projetos de vida e sociedade. Pensar as organizações de
uma perspectiva humana, eis o desafio da Filosofia e de
todos nós.

Sejam felizes na continuidade dos estudos e sucesso!

Professor Marciel Evangelista Cataneo.

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Introducao a Filosofia.indb 166 15/12/11 13:46
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Introducao a Filosofia.indb 171 15/12/11 13:46


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VIANNEY, João; TORRES, Patrícia Lupion; SILVA, Elizabeth Farias da. A
universidade virtual no Brasil: o ensino superior a distância no país.
Tubarão: Ed. UNISUL, 2003.
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172

Introducao a Filosofia.indb 172 15/12/11 13:46


Sobre o professor conteudista

Marciel Evangelista Cataneo é graduado em Filosofia


pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
e Bacharel em Teologia pelo Instituto Teológico de
Santa Catarina (ITESC). Mestre em Educação pela
Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL).
Professor universitário desde março de 1990, leciona
Filosofia, Sociologia e Ética nos cursos de graduação da
Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). É o
coordenador do Curso de Filosofia da UnisulVirtual.

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Respostas e comentários das
atividades de autoavaliação

Unidade 1
1) Filosofia é pensar, descobrir o verdadeiro “peso” (valor) de
cada coisa, fato, situação. O “peso” de cada atitude, escolha,
decisão. Filosofia é atitude (prática) e requer humildade,
dúvida, admiração, espanto, encantamento. Filosofia é
autonomia: capacidade de pensar por si próprio e estabelecer
as suas próprias regras e leis. Filosofia é reflexão, ou seja, voltar
atrás e revisar, analisar, examinar a vida e a existência. Filosofia
é crítica, questionamento, purificação. Filosofia é criatividade,
atividade que cria o novo. Filosofia é, literalmente, amor à
sabedoria. Refletindo sobre estes e outros conceitos, você
pode agora elaborar a sua concepção de Filosofia, criar o seu
conceito e partilhar com os colegas no Fórum.

2) Aceitando a tese de que a vida não nos é dada pronta e que


temos que realizá-la, transformá-la num projeto, a Filosofia
permite a ação consciente, a ação acompanhada de sabedoria
para que as nossas atitudes e escolhas venham a somar para a
realização do nosso projeto, da nossa vida. Realizar a vida como
um projeto exige atitude, e atitude filosófica: pensamento,
autonomia, reflexão, criticidade, criatividade, sabedoria.

3) Somatória: 30

4) Radicalidade --- A Filosofia exige que a questão a ser analisada


seja colocada em termos radicais. Quer dizer, é preciso que se
vá até às raízes, até seus fundamentos, ou seja, uma reflexão
em profundidade.
Rigorosidade --- Deve-se proceder à reflexão com rigor, ou
seja, sistematicamente, segundo métodos determinados.
Totalidade --- A questão não pode ser analisada de modo
parcial, mas numa perspectiva de conjunto, relacionando-a
com os demais aspectos do contexto em que está inserida.

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Unidade 2
1) As alternativas corretas são: a; b; e.

2) Para negar algo você precisa argumentar, pensar, refletir e, ao fazer isto,
você estará fazendo filosofia.

3) Ceticismo e dogmatismo são dois caminhos a serem evitados na busca


do conhecimento, na aproximação da sabedoria: o ceticismo não crê
na possibilidade de conhecer, e o dogmatismo defende ter encontrado
a verdade, tornando com isso toda atitude de busca desnecessária.
Filosofia é busca, é procura, é movimento. Ceticismo e dogmatismo
possuem uma visão imobilista do mundo, não permitindo o pleno
desenvolvimento da atitude filosófica.

4) Na filosofia antiga, a Filosofia era a ciência universal e abarcava todo


o conjunto de conhecimento que hoje agrupamos sob os nomes
de ciência, arte, Filosofia. No Renascimento e Idade Moderna, a
Filosofia coloca o ser humano no centro das preocupações, a arte
e ciência adquirem autonomia da Filosofia e dão origem ao rol de
ciências particulares que hoje temos. A modernidade trouxe o
desenvolvimento da ciência e da técnica, promovendo a autonomia da
ciência e da própria Filosofia.

Unidade 3
1) A filosofia na Antiguidade é cosmocêntrica; nasce do desejo de
encontrar na natureza uma explicação para natureza e o cosmo. Por
isso os filósofos pré-socráticos também são chamados de filósofos
da natureza (physis). A questão da origem de todas as coisas que
constituem a realidade é o centro das preocupações destes primeiros
filósofos. A filosofia clássica, embora coloque o ser humano no centro
das suas preocupações, não abandona o fundamento cosmológico:
Sócrates traz a filosofia dos céus para a terra e preocupa-se com o
autoconhecimento (ética); Platão vê a harmonia do cosmos e quer
reproduzi-la na pólis (política); Aristóteles quer desvendar os segredos
da natureza no estudo da matéria (ciência).
A filosofia da Idade Média é teocêntrica; nasce do encontro, marcado
por tensões, aproximações e total assimilação, do cristianismo com
a filosofia grega. Visava, em um primeiro momento, desenvolver um
pensamento que acomodasse a religião cristã com a tradição filosófica;
aproximar a fé da razão, para converter os pagãos, inclusive os mais

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Introdução à Filosofia

cultos, para a nova religião (patrística). Desenvolveu-se com o objetivo


de ensinar as verdades da fé cristã, servindo-se da filosofia para tal
intento (Escolática).
A filosofia moderna é antropocêntrica; é profana e crítica, representada
por leigos que procuram pensar de acordo com as leis da razão e do
conhecimento científico. O resultado deste movimento é a ruptura dos
vínculos com a teologia e um crescente processo de secularização da
filosofia. O pensamento moderno funda-se na convicção de que a razão
constitui o instrumento fundamental para a compreensão do mundo.
Também manifesta a concepção de que a experiência é a única fonte
válida de conhecimento. O objetivo do pensamento neste período
é descobrir o funcionamento de todas as coisas e apenas a razão era
capaz de levá-lo a tanto. Também defende a necessidade de uma
reorganização da sociedade e a adoção de uma política centrada no
homem, que lhe garantisse sua total liberdade.

2) O encontro entre o cristianismo e a filosofia foi marcado por tensões


entre a fé e a razão. Este encontro teve início no Império Romano,
quando o cristianismo se torna religião oficial do império e prolongou-
se por toda a Idade Média, determinando a forma que a filosofia
assumiu por mais de um milênio. A filosofia tornou-se cristã e a fé cristã
assimilou procedimentos racionais.
Quando desapareceu o poder do Império no Ocidente, a Igreja
arrogou-se a supremacia universal. O papa foi reconhecido como a
autoridade máxima a que deviam submeter-se os poderes temporais.
Assim, a hierarquia eclesiástica de Roma representou o fator aglutinante
das monarquias ocidentais. A progressiva conversão dos bárbaros ao
cristianismo fez da Igreja a instituição mais importante da Idade Média.
Desenvolve-se um conhecimento sobre Deus, e a filosofia se torna
serva da teologia, limitando em muito seu campo de ação.

3) Subjetividade e individualidade são valores da modernidade,


consequências da valorização do ser humano e de suas potencialidades
e realizações, surgidas com o Renascimento e a Filosofia Moderna. São
conceitos que evocam a autonomia do indivíduo, do seu pensamento,
diante dos sistemas filosóficos, ideológicos, religiosos. Subjetividade e
individualidade dão origem ao conceito de sujeito, grande conquista e
bandeira do pensamento moderno.

4) Como vimos no estudo da unidade, Marcuse acusou a sociedade


capitalista de criar necessidades de consumo artificiais e
incessantemente renovadas, mediante a manipulação das consciências
pelos meios de comunicação de massa, fonte de um estilo de vida que
chamou “unidimensional”— o conformismo. Na crítica de Marcuse, o

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Universidade do Sul de Santa Catarina

homem moderno é transformado por um eficiente instrumento de


manipulação, em homem consumo: aquele que encontra na compulsão
por consumir um sentido para a sua existência. Na ilusão de consumir,
somos consumidos e temos a nossa vida tomada por atividades que
dêem lucro, para poder consumir mais. Estar no mercado, poder
consumir é ícone de realização. Você pode citar inúmeros exemplos
de consumo motivados pelo apelo comercial e modismos; e que não
se constituem necessidades para a manutenção da vida, consumo
centrado no luxo, na moda, no status.

5) Na Idade Antiga, política é vista como uma atividade natural. Faz parte
da natureza do cidadão contribuir com a discussão sobre os destinos
da sua pólis. O homem realiza-se na pólis e deve estar constantemente
preocupado com ela. A participação política define o cidadão e
manifesta o ideal de homem grego.
Na Idade Média, impera o dualismo da Filosofia de Santo Agostinho e de
São Tomás de Aquino: céus e terra, dia e noite, trevas e luz, bem e mal.
A política, vista como preocupação com o mundo, com as coisas que
passam, cai em descrédito. É considerada uma distração para o homem
em sua caminhada para a verdade, o céu, a luz. Os santos e justos, os
moralmente irrepreensíveis, devem se afastar desta atividade. Política
não é para gente boa e honesta! Tal mentalidade perdura até os nossos
dias.
Na Idade Moderna a política passa a ser vista como um mal necessário,
uma obrigação da convivência social que exige aparar arestas, a
resolução de conflitos de ideias e interesses através da argumentação
e negociação para que esta convivência seja possível. Você pode citar
exemplos de atitudes e estilos de vida hodiernos que representam ou
manifestem estas diferentes concepções.

Unidade 4
1) A origem latina do termo (colere, cultus), tudo o que é cultivado,
confirma a expressão citada na questão. Cultura significa tudo o
que é obra do homem na sociedade, em contraposição ao que
é simplesmente natural. É a forma de vida de um povo, fruto das
realizações e atividade criadora dos indivíduos. Uma maneira de agir,
de pensar, de sentir, que se manifesta na linguagem, no código de leis,
na religião, na criação estética. É expressão dos anseios criadores do
espírito humano em busca da satisfação de suas necessidades e sonhos.

2) O animal é o homem: ao nascer (pela manhã) engatinha; quando


adulto (ao meio-dia) caminha; quando idoso (à tarde) busca o auxílio de

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Introdução à Filosofia

uma bengala, bastão ou apoio. Quando nasce, é mais necessitado de


cuidados e proteção.

3) O homem, na Filosofia Grega busca, compreender quem ele é e qual


o seu lugar no universo. Como ser que pensa (animal racional), ele é a
medida de todas as coisas. Sócrates define o homem como atividade
pensante e eticamente operante. Platão define o homem como alma
espiritual e imortal. Aristóteles define-o como animal político. O
homem realiza-se na medida em que conhece a si mesmo, a natureza e
a pólis, o que lhe possibilita o autodomínio e a ação consciente.
Na filosofia cristã, medieval, o homem foi criado por Deus e, como sua
criatura, tem seu fim último Nele, que é o seu bem mais alto e o seu
valor supremo. Deus exige do homem a obediência e a sujeição a seus
mandamentos imperativos supremos. O homem vem de Deus e todo o
seu comportamento — incluindo a moral — deve orientar-se para Ele.
Como ser criado por Deus à sua imagem e semelhança, o ser humano
é o ápice da criação, e tudo o mais foi criado para que ele tenha vida,
cresça e se multiplique. O destino do homem é dominar a criação e dar
continuidade à obra do Criador. Para tanto, deve estar em contínuo
relacionamento com o Criador e em sintonia com a sua vontade.
A explicação para a origem do mundo, na filosofia grega, não está
no sobrenatural ou na tradição mítica. Está na própria natureza. Os
primeiros filósofos (pré-socráticos) defendem que a racionalidade
humana pode encontrar na natureza todas as respostas (naturalismo)
para o seu entendimento e explicação. Eles conceituaram a realidade
como um todo organizado e animado e, diante da multiplicidade e da
mutabilidade das aparências, buscavam um princípio unificador, geral,
imutável, ao qual chamaram arké: origem, substrato e causa de todas as
coisas e no qual se ultimam todos os seres.
Platão não compartilha da concepção de que a realidade do mundo tenha
causas mecânicas ou naturais. Busca explicar o mundo a partir de causas
de natureza não-física, realidades inteligíveis representadas pelos termos
ideia e eidos, que significam “forma”. As Ideias de que fala Platão são mais
do que conceitos ou representações puramente mentais: representam
“entidades”, “substâncias”. As Ideias platônicas são as essências das coisas,
ou seja, aquilo que faz com que cada coisa seja aquilo que é. Segundo
ele, há um modelo (o mundo Ideal), existe uma cópia (mundo sensível),
e existe um Artífice, que produziu a cópia, servindo-se do modelo. O
mundo Inteligível (o modelo) é eterno, como eterno é também o Artífice
(a Inteligência criadora). O mundo sensível foi construído pelo Artífice que,
em sua atividade, forma o “cosmos”, a ordem perfeita, triunfo do inteligível
sobre a necessidade cega da matéria.
Na filosofia cristã, Santo Agostinho. Ao olhar para a realidade do mundo,
apresenta a teoria da cidade dos homens e da cidade de Deus: os
pecadores formam a cidade terrestre, que é o mundo dos homens. Essa
cidade não é necessariamente má, mas, governada pela vontade humana,

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Universidade do Sul de Santa Catarina

tende para o pecado e é, de tempos em tempos, castigada por Deus. A


cidade dos homens é fruto do egoísmo; e a cidade celeste é criação do
amor divino. Estas “duas” cidades ou reinos existem simultaneamente na
história humana, representadas entre a luta do bem e do mal, entre Deus e
o Demônio. Essa luta terminará somente com o Juízo Final. Na Filosofia de
Agostinho, o mundo é o lugar onde se trava a batalha entre o bem e o mal.
Tomás de Aquino traz uma novidade para a reflexão cristã: ele
não parte da ideia de Deus para explicar o mundo, mas parte do
conhecimento sobre o mundo para provar a existência de Deus. Ou
seja, sobre a experiência sensorial, empregou o conhecimento racional
para demonstrar a existência do Criador. As “cinco vias” são cinco
argumentos que provariam a existência de Deus a partir dos efeitos por
ele produzidos na obra da criação. Nesta concepção, o mundo, obra do
criador, manifesta a sua natureza e presença.

4)
■■ Homem Boi: dê exemplos de atitudes e ações onde somos guiados
pelos instintos (vontades, desejos, compulsões) e necessidades da
vida vegetativa (comer, dormir, procriar). Não que estas atitudes
não tenham o seu valor; a pergunta é: quem está no controle? Você
domina, ou é dominado?
■■ Homem Leão: dê exemplos de atitudes e ações em que somos guiados,
tomados, dominados pelas emoções, pelos sentimentos, pelo coração;
em que a racionalidade cede aos impulsos emocionais e afetivos.
■■ Homem Águia: dê exemplos de atitudes e ações radicalmente racionais,
nas quais a razão, o raciocínio, o cálculo domina as ações. Aqui medimos
a finalidade, os prós e os contra, as consequências de cada ato.
■■ Ser humano: dê exemplos de atitudes que demonstrem domínio
sobre os instintos, emoções e razão, dimensões do homem integral
que não podem ser negligenciadas ou esquecidas: nós somos
instinto, paixão e razão.

5)
( V ) Filosofia da Linguagem
( VII ) Metafísica ou Ontologia
( VI ) Ética ou Filosofia Moral
( II ) Estética ou Filosofia da Arte
( VIII ) Lógica
( III ) Teoria do Conhecimento

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Introdução à Filosofia

( IX ) Filosofia Política
( I ) História da Filosofia
( IV) Antropologia Filosófica

Unidade 5
1) Filosofia é reflexão, por isso permite “voltar atrás” e compreender,
entender, organizar experiências vividas e, ao seu tempo, não
compreendidas. Filosofia é visão de mundo: permite o entendimento
do contexto existencial, da realidade que nos cerca, possibilita a
ação consciente ao analisar o cotidiano dos seres humanos em
sociedade, buscando investigar o seu sentido e o seu papel. Filosofia é
projeto, a atitude filosófica propõe metas, perseguindo ideais; dá um
direcionamento para a práxis. Através desse movimento, o homem vem
conquistando, ao longo dos séculos, uma compreensão mais cabal
de si mesmo e do mundo que o cerca, e uma maior compreensão das
próprias limitações de seu pensamento.

2) A primeira frase, atribuída a Sêneca, dá conta da necessidade de


ter objetivos, metas, ideais. É preciso saber para onde queremos ir.
Só assim será possível identificar ventos favoráveis e contrários. A
segunda frase, de Lindolff Bell, dá conta da necessidade de sonhar e
de transformar estes sonhos em desafios, metas, objetivos, buscando a
realização deles.

3) Filosofia é um exercício de liberdade: ao ensinar a pensar, a Filosofia


torna-nos livres dos condicionamentos sociais e culturais que não
criamos, das escolhas que não fizemos, dos caminhos que não
escolhemos. Torna-nos livres, ao permitir-nos um sentido único,
totalmente nosso para a realidade que nos circunda, envolve. A filosofia
liberta, porque não quer fazer discípulos ou seguidores. Os filósofos
não oferecem respostas definitivas, senão uma inquietude que leva
a colocar em suspenso as pretensas verdades. Na atitude filosófica,
inquietude é libertação.

4) O amor-próprio, assim como é definido por Savater, pode ser entendido


como atitude filosófica, pois encerra um instinto e um projeto humano.
Pode ser entendido como atitude filosófica, porque ele se aproxima da
dimensão do cuidado: o ideal do amor-próprio é o trato (relação com
algo ou alguém) que o “eu” quer para si mesmo. Segundo Savater, o
“eu” configura no ideal de seu amor-próprio a qualidade e o tipo de
atenção que deseja para si mesmo e, também, estabelece a qualidade

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da relação a qual gostaria de sustentar na sua necessária inserção na
realidade social e natural.

5) O objetivo da Unidade 5 é desenvolver esta tese: “A Filosofia manifesta


o desejo e a vontade humana na busca e no encontro da vida boa
e feliz!” Para desenvolver esta tese, as seções desta unidade falam
da relação entre a Filosofia e a vida; da necessidade de ter objetivos;
do viver com cuidado e com sabedoria. Em toda a unidade, você
encontrará argumentos que corroboram esta tese.

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