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Universidade do Sul de Santa Catarina

Libras
Disciplina na modalidade a distância

Palhoça
UnisulVirtual
2011

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Créditos
Universidade do Sul de Santa Catarina | Campus UnisulVirtual | Educação Superior a Distância
Avenida dos Lagos, 41 – Cidade Universitária Pedra Branca | Palhoça – SC | 88137-900 | Fone/fax: (48) 3279-1242 e 3279-1271 | E-mail: cursovirtual@unisul.br | Site: www.unisul.br/unisulvirtual
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Ailton Nazareno Soares Aloísio José Rodrigues Patricia A. Pereira de Carvalho Poliana Simao Marcia Luz de Oliveira
Ana Luísa Mülbert Paulo Lisboa Cordeiro Schenon Souza Preto Mayara Pereira Rosa
Vice-Reitor Ana Paula R.Pacheco Paulo Mauricio Silveira Bubalo Luciana Tomadão Borguetti
Sebastião Salésio Heerdt Artur Beck Neto Rosângela Mara Siegel Gerência de Desenho e
Bernardino José da Silva Simone Torres de Oliveira Desenvolvimento de Materiais Assuntos Jurídicos
Chefe de Gabinete da Reitoria Charles Odair Cesconetto da Silva Vanessa Pereira Santos Metzker Didáticos Bruno Lucion Roso
Willian Corrêa Máximo Dilsa Mondardo Vanilda Liordina Heerdt Márcia Loch (Gerente) Sheila Cristina Martins
Diva Marília Flemming Marketing Estratégico
Pró-Reitor de Ensino e Horácio Dutra Mello Gestão Documental Desenho Educacional
Lamuniê Souza (Coord.) Cristina Klipp de Oliveira (Coord. Grad./DAD) Rafael Bavaresco Bongiolo
Pró-Reitor de Pesquisa, Itamar Pedro Bevilaqua
Pós-Graduação e Inovação Jairo Afonso Henkes Clair Maria Cardoso Roseli A. Rocha Moterle (Coord. Pós/Ext.) Portal e Comunicação
Daniel Lucas de Medeiros Aline Cassol Daga Catia Melissa Silveira Rodrigues
Mauri Luiz Heerdt Janaína Baeta Neves
Aline Pimentel
Jorge Alexandre Nogared Cardoso Jaliza Thizon de Bona Andreia Drewes
Pró-Reitora de Administração José Carlos da Silva Junior Guilherme Henrique Koerich Carmelita Schulze Luiz Felipe Buchmann Figueiredo
Acadêmica José Gabriel da Silva Josiane Leal Daniela Siqueira de Menezes Rafael Pessi
Marília Locks Fernandes Delma Cristiane Morari
Miriam de Fátima Bora Rosa José Humberto Dias de Toledo
Eliete de Oliveira Costa
Joseane Borges de Miranda Gerência de Produção
Pró-Reitor de Desenvolvimento Luiz G. Buchmann Figueiredo Gerência Administrativa e Eloísa Machado Seemann Arthur Emmanuel F. Silveira (Gerente)
e Inovação Institucional Marciel Evangelista Catâneo Financeira Flavia Lumi Matuzawa Francini Ferreira Dias
Renato André Luz (Gerente) Geovania Japiassu Martins
Valter Alves Schmitz Neto Maria Cristina Schweitzer Veit
Ana Luise Wehrle Isabel Zoldan da Veiga Rambo Design Visual
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Diretora do Campus Mauro Faccioni Filho Anderson Zandré Prudêncio João Marcos de Souza Alves Pedro Paulo Alves Teixeira (Coord.)
Universitário de Tubarão Moacir Fogaça Daniel Contessa Lisboa Leandro Romanó Bamberg Alberto Regis Elias
Milene Pacheco Kindermann Nélio Herzmann Naiara Jeremias da Rocha Lygia Pereira Alex Sandro Xavier
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Diretor do Campus Universitário Patrícia Fontanella Thais Helena Bonetti Luiz Henrique Milani Queriquelli Cristiano Neri Gonçalves Ribeiro
da Grande Florianópolis Roberto Iunskovski Valmir Venício Inácio Marcelo Tavares de Souza Campos Daiana Ferreira Cassanego
Hércules Nunes de Araújo Rose Clér Estivalete Beche Mariana Aparecida dos Santos Davi Pieper
Gerência de Ensino, Pesquisa e Marina Melhado Gomes da Silva Diogo Rafael da Silva
Secretária-Geral de Ensino Vice-Coordenadores Graduação Extensão Marina Cabeda Egger Moellwald Edison Rodrigo Valim
Adriana Santos Rammê Janaína Baeta Neves (Gerente) Mirian Elizabet Hahmeyer Collares Elpo Fernanda Fernandes
Solange Antunes de Souza Aracelli Araldi Pâmella Rocha Flores da Silva
Bernardino José da Silva Frederico Trilha
Diretora do Campus Catia Melissa Silveira Rodrigues Rafael da Cunha Lara Jordana Paula Schulka
Elaboração de Projeto Roberta de Fátima Martins Marcelo Neri da Silva
Universitário UnisulVirtual Horácio Dutra Mello Carolina Hoeller da Silva Boing
Jucimara Roesler Jardel Mendes Vieira Roseli Aparecida Rocha Moterle Nelson Rosa
Vanderlei Brasil Sabrina Bleicher Noemia Souza Mesquita
Joel Irineu Lohn Francielle Arruda Rampelotte
Equipe UnisulVirtual José Carlos Noronha de Oliveira Verônica Ribas Cúrcio Oberdan Porto Leal Piantino
José Gabriel da Silva Reconhecimento de Curso
José Humberto Dias de Toledo Acessibilidade Multimídia
Diretor Adjunto Maria de Fátima Martins Vanessa de Andrade Manoel (Coord.) Sérgio Giron (Coord.)
Moacir Heerdt Luciana Manfroi
Rogério Santos da Costa Extensão Letícia Regiane Da Silva Tobal Dandara Lemos Reynaldo
Secretaria Executiva e Cerimonial Rosa Beatriz Madruga Pinheiro Maria Cristina Veit (Coord.) Mariella Gloria Rodrigues Cleber Magri
Jackson Schuelter Wiggers (Coord.) Sergio Sell Vanesa Montagna Fernando Gustav Soares Lima
Marcelo Fraiberg Machado Pesquisa Josué Lange
Tatiana Lee Marques Daniela E. M. Will (Coord. PUIP, PUIC, PIBIC) Avaliação da aprendizagem
Tenille Catarina Valnei Carlos Denardin Claudia Gabriela Dreher Conferência (e-OLA)
Mauro Faccioni Filho (Coord. Nuvem)
Assessoria de Assuntos Sâmia Mônica Fortunato (Adjunta) Jaqueline Cardozo Polla Carla Fabiana Feltrin Raimundo (Coord.)
Internacionais Pós-Graduação Nágila Cristina Hinckel Bruno Augusto Zunino
Coordenadores Pós-Graduação Anelise Leal Vieira Cubas (Coord.) Sabrina Paula Soares Scaranto
Murilo Matos Mendonça Aloísio José Rodrigues Gabriel Barbosa
Anelise Leal Vieira Cubas Thayanny Aparecida B. da Conceição
Assessoria de Relação com Poder Biblioteca Produção Industrial
Público e Forças Armadas Bernardino José da Silva Salete Cecília e Souza (Coord.) Gerência de Logística Marcelo Bittencourt (Coord.)
Adenir Siqueira Viana Carmen Maria Cipriani Pandini Paula Sanhudo da Silva Jeferson Cassiano A. da Costa (Gerente)
Walter Félix Cardoso Junior Daniela Ernani Monteiro Will Marília Ignacio de Espíndola Gerência Serviço de Atenção
Giovani de Paula Renan Felipe Cascaes Logísitca de Materiais Integral ao Acadêmico
Assessoria DAD - Disciplinas a Karla Leonora Dayse Nunes Carlos Eduardo D. da Silva (Coord.) Maria Isabel Aragon (Gerente)
Distância Letícia Cristina Bizarro Barbosa Gestão Docente e Discente Abraao do Nascimento Germano Ana Paula Batista Detóni
Patrícia da Silva Meneghel (Coord.) Luiz Otávio Botelho Lento Enzo de Oliveira Moreira (Coord.) Bruna Maciel André Luiz Portes
Carlos Alberto Areias Roberto Iunskovski Fernando Sardão da Silva Carolina Dias Damasceno
Cláudia Berh V. da Silva Rodrigo Nunes Lunardelli Capacitação e Assessoria ao Fylippy Margino dos Santos Cleide Inácio Goulart Seeman
Conceição Aparecida Kindermann Rogério Santos da Costa Docente Guilherme Lentz Denise Fernandes
Luiz Fernando Meneghel Thiago Coelho Soares Alessandra de Oliveira (Assessoria) Marlon Eliseu Pereira Francielle Fernandes
Renata Souza de A. Subtil Vera Rejane Niedersberg Schuhmacher Adriana Silveira Pablo Varela da Silveira Holdrin Milet Brandão
Alexandre Wagner da Rocha Rubens Amorim
Assessoria de Inovação e Jenniffer Camargo
Gerência Administração Elaine Cristiane Surian (Capacitação) Yslann David Melo Cordeiro Jessica da Silva Bruchado
Qualidade de EAD Acadêmica Elizete De Marco
Denia Falcão de Bittencourt (Coord.) Jonatas Collaço de Souza
Angelita Marçal Flores (Gerente) Fabiana Pereira Avaliações Presenciais
Andrea Ouriques Balbinot Juliana Cardoso da Silva
Fernanda Farias Iris de Souza Barros Graciele M. Lindenmayr (Coord.)
Carmen Maria Cipriani Pandini Juliana Elen Tizian
Juliana Cardoso Esmeraldino Ana Paula de Andrade
Secretaria de Ensino a Distância Kamilla Rosa
Maria Lina Moratelli Prado Angelica Cristina Gollo
Assessoria de Tecnologia Samara Josten Flores (Secretária de Ensino) Simone Zigunovas
Mariana Souza
Osmar de Oliveira Braz Júnior (Coord.) Cristilaine Medeiros Marilene Fátima Capeleto
Giane dos Passos (Secretária Acadêmica) Daiana Cristina Bortolotti
Felipe Fernandes Adenir Soares Júnior Tutoria e Suporte Maurício dos Santos Augusto
Felipe Jacson de Freitas Delano Pinheiro Gomes Maycon de Sousa Candido
Alessandro Alves da Silva Anderson da Silveira (Núcleo Comunicação) Edson Martins Rosa Junior
Jefferson Amorin Oliveira Andréa Luci Mandira Claudia N. Nascimento (Núcleo Norte- Monique Napoli Ribeiro
Phelipe Luiz Winter da Silva Fernando Steimbach Priscilla Geovana Pagani
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Fernando Oliveira Santos
Priscila da Silva Djeime Sammer Bortolotti Maria Eugênia F. Celeghin (Núcleo Pólos) Sabrina Mari Kawano Gonçalves
Rodrigo Battistotti Pimpão Lisdeise Nunes Felipe Scheila Cristina Martins
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Tamara Bruna Ferreira da Silva Evilym Melo Livramento Daniela Cassol Peres Taize Muller
Marcio Ventura Tatiane Crestani Trentin
Fabiano Silva Michels Débora Cristina Silveira Osni Jose Seidler Junior
Coordenação Cursos Fabricio Botelho Espíndola Ednéia Araujo Alberto (Núcleo Sudeste) Thais Bortolotti
Coordenadores de UNA Felipe Wronski Henrique Francine Cardoso da Silva
Diva Marília Flemming Gisele Terezinha Cardoso Ferreira Janaina Conceição (Núcleo Sul) Gerência de Marketing
Marciel Evangelista Catâneo Indyanara Ramos Joice de Castro Peres Eliza B. Dallanhol Locks (Gerente)
Roberto Iunskovski Janaina Conceição Karla F. Wisniewski Desengrini
Jorge Luiz Vilhar Malaquias Kelin Buss Relacionamento com o Mercado
Auxiliares de Coordenação Juliana Broering Martins Liana Ferreira Alvaro José Souto
Ana Denise Goularte de Souza Luana Borges da Silva Luiz Antônio Pires
Camile Martinelli Silveira Luana Tarsila Hellmann Maria Aparecida Teixeira Relacionamento com Polos
Fabiana Lange Patricio Luíza Koing Zumblick Mayara de Oliveira Bastos Presenciais
Tânia Regina Goularte Waltemann Maria José Rossetti Michael Mattar Alex Fabiano Wehrle (Coord.)
Jeferson Pandolfo

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Idavania Maria de Souza Basso
Deonisio Schmitt

Libras
Livro didático

Design instrucional
Viviani Poyer
Karla Leonora Dahse Nunes

3ª edição

Palhoça
UnisulVirtual
2011

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Copyright © UnisulVirtual 2011
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.

Edição – Livro Didático


Professor Conteudista
Idavania Maria de Souza Basso
Deonisio Schmit

Design Instrucional
Viviani Poyer
Karla Leonora Dahse Nunes
Luiz Henrique Queriquelli (2ª edição)

Assistente Acadêmico
Roberta de Fátima Martins (3ª edição)

Projeto Gráfico e Capa


Equipe UnisulVirtual

Diagramação
Adriana Ferreira dos Santo
Marcelo Neri da Silva (3ª edição)

Revisão
B2B

419
B32 Basso, Idavania Maria de Souza
Libras : livro didático / Idavania Maria de Souza Basso, Deonisio Schmitt
; design instrucional Viviani Poyer, Karla Leonora Dahse Nunes, [Luiz
Henrique Queriquelli ; assistente acadêmico Roberta de Fátima Martins]. –
3. ed. – Palhoça : UnisulVirtual, 2011.

163 p. : il. ; 28 cm.

Inclui bibliografia.

1. Linguagem dos sinais. 2. Comunicação não-verbal. I. Schmitt,


Deonisio. II. Poyer, Viviani. III. Nunes, Karla Leonora Dahse. IV. Queriquelli,
Luiz Henrique. V. Martins, Roberta de Fátima. VI. Título.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul

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Sumário

Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Palavras dos professores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

UNIDADE 1 - História e cultura da comunidade surda. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17


UNIDADE 2 - LIBRAS – aspectos gerais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
UNIDADE 3 - LIBRAS – aspectos linguísticos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
UNIDADE 4 - LIBRAS no processo ensino-aprendizagem. . . . . . . . . . . . . . . 131

Para concluir o estudo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153


Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155
Sobre os professores conteudistas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
Respostas e comentários das atividades de autoavaliação. . . . . . . . . . . . . . 159
Biblioteca Virtual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163

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Apresentação

Este livro didático corresponde à disciplina Libras.

O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma


e aborda conteúdos especialmente selecionados e relacionados
à sua área de formação. Ao adotar uma linguagem didática
e dialógica, objetivamos facilitar seu estudo a distância,
proporcionando condições favoráveis às múltiplas interações e a
um aprendizado contextualizado e eficaz.

Lembre-se que sua caminhada, nesta disciplina, será


acompanhada e monitorada constantemente pelo Sistema
Tutorial da UnisulVirtual, por isso a “distância” fica
caracterizada somente na modalidade de ensino que você optou
para sua formação, pois na relação de aprendizagem professores
e instituição estarão sempre conectados com você.

Então, sempre que sentir necessidade entre em contato; você tem


à disposição diversas ferramentas e canais de acesso tais como:
telefone, e-mail e o Espaço Unisul Virtual de Aprendizagem,
que é o canal mais recomendado, pois tudo o que for enviado e
recebido fica registrado para seu maior controle e comodidade.
Nossa equipe técnica e pedagógica terá o maior prazer em lhe
atender, pois sua aprendizagem é o nosso principal objetivo.

Bom estudo e sucesso!

Equipe UnisulVirtual.

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Palavras dos professores

Caro aluno,

Seja bem-vindo à disciplina de Libras!

Com a oficialização e regulamentação da Língua Brasileira


de Sinais – LIBRAS, tornou-se imprescindível que todo
educador tenha essa formação, uma vez que traz importantes
informações a respeito das pessoas surdas, sua comunidade,
cultura e história.

Desta forma, os conteúdos estudados nesta disciplina são


fundamentais para o entendimento da realidade educacional
das pessoas surdas, bem como para conhecer a importância da
LIBRAS no processo educacional desses alunos, de forma a
efetivar um ensino qualificado e crítico.

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A língua é mais que tudo isso. É parte de nós mesmos, de nossa
identidade cultural, histórica e social. É por meio dela que
nos socializamos, que interagimos, que desenvolvemos nosso
sentimento de pertencimento a um grupo, a uma comunidade.
É a língua que nos faz sentir pertencendo a um espaço. É ela
que confirma nossa declaração: Eu sou daqui.

Irande Antunes

É com imensa satisfação que lhe entregamos este livro com


o objetivo de introduzi-lo no mundo dos surdos e da Língua
Brasileira de Sinais – LIBRAS.

Você já deve ter visto sua utilização entre pessoas surdas. Você
também já deve ter observado pessoas ouvintes utilizando essa
língua em vários contextos: nas propagandas de governo, nos
cultos religiosos televisionados, nos programas políticos etc.

Este livro não tem a pretensão de ser um “curso” de LIBRAS,


mas uma introdução a esta maravilhosa língua, tão diferente
da língua oral, mas nem por isso de valor menor. Nas próximas
páginas, você terá oportunidade de conhecer um pouco sobre
os “falantes” naturais da LIBRAS – não podemos estudar
uma língua sem conhecer o povo que a usa e a constituiu
historicamente. Conhecerá um pouco de sua história e de sua
cultura. Adentrará no estudo das características da LIBRAS,
sua estrutura gramatical e seu uso em sala de aula. Por fim,
conhecerá as formas utilizadas pelas pessoas surdas para
acessarem as informações e os conhecimentos e se comunicarem
entre si e com o mundo.

Esperamos que este material possa despertar em você o desejo de


aprofundamento nesta bela e rica cultura e no conhecimento da
Língua Brasileira de Sinais.

Seja bem-vindo(a) a Língua Brasileira de Sinais e bom estudo!

Profª Idavania Maria de Souza Basso


Prof. Deonisio Schmitt

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Plano de estudo

O plano de estudos visa a orientá-lo no desenvolvimento da


disciplina. Ele possui elementos que o ajudarão a conhecer o
contexto da disciplina e a organizar o seu tempo de estudos.

O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva


em conta instrumentos que se articulam e se complementam,
portanto, a construção de competências se dá sobre a
articulação de metodologias e por meio das diversas formas de
ação/mediação.

São elementos desse processo:

„„ o livro didático;

„„ o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem (EVA);

„„ as atividades de avaliação (a distância, presenciais e de


autoavaliação);

„„ o Sistema Tutorial.

Ementa
Cultura surda. História dos surdos. A Língua Brasileira de
Sinais. A importância da aquisição da LIBRAS. Formas de
utilização da LIBRAS no processo de aprendizagem.

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Objetivos

Geral:
Proporcionar aos alunos informações básicas sobre a Língua
Brasileira de Sinais – LIBRAS.

Específicos:
„„ Contribuir para o reconhecimento da LIBRAS
como uma língua que possui todas as características
linguísticas de qualquer outra.

„„ Proporcionar informações básicas sobre a comunidade


surda, sua cultura e história.

„„ Refletir sobre a LIBRAS no processo de ensino-


aprendizagem.

„„ Facilitar a comunicação entre surdos e ouvintes.

Carga Horária
A carga horária total da disciplina é 60 horas-aula.

Conteúdo programático/objetivos
Veja, a seguir, as unidades que compõem o livro didático desta
disciplina e os seus respectivos objetivos. Estes se referem aos
resultados que você deverá alcançar ao final de uma etapa de
estudo. Os objetivos de cada unidade definem o conjunto de
conhecimentos que você deverá possuir para o desenvolvimento
de habilidades e competências necessárias à sua formação.

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Libras

Unidades de estudo: 4

Unidade 1 – História e cultura da comunidade surda


O estudo desta unidade lhe propiciará conhecimentos sobre a
história da comunidade surda e sua cultura e arte como requisitos
para a compreensão da Língua Brasileira de Sinais.

Unidade 2 – LIBRAS – aspectos gerais


Nesta unidade, você terá oportunidade de entender a LIBRAS
como língua natural, as relações de iconicidade e arbitrariedade
pertinentes à modalidade visual-espacial que a caracteriza, bem
como as variações linguísticas mais comuns. Será esclarecido,
ainda, sobre os mitos em relação à LIBRAS.

Unidade 3 – LIBRAS – aspectos linguísticos


O estudo da Língua Brasileira de Sinais, nesta unidade, tem por
fim trazer conhecimentos a respeito de seus aspectos linguísticos:
fonologia, morfologia, sintaxe e semântica, além de uma breve
introdução à escrita de sinais pelo sistema signwriting.

Unidade 4 – LIBRAS no processo ensino-aprendizagem


Esta unidade trabalhará a LIBRAS no ambiente escolar, como
meio de ensino das pessoas surdas, envolvendo profissionais
como o professor bilíngue e o intérprete de LIBRAS como
fundamentais para o bom desempenho educacional desses alunos.
Finalizando, trazemos algumas considerações sobre a pedagogia
da diferença e a pedagogia dos surdos (pedagogia visual).

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Agenda de atividades/Cronograma

„„ Verifique com atenção o EVA, organize-se para acessar


periodicamente a sala da disciplina. O sucesso nos seus
estudos depende da priorização do tempo para a leitura,
da realização de análises e sínteses do conteúdo e da
interação com os seus colegas e professor.

„„ Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço


a seguir as datas com base no cronograma da disciplina
disponibilizado no EVA.

„„ Use o quadro para agendar e programar as atividades


relativas ao desenvolvimento da disciplina.

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Libras

Atividades obrigatórias

Demais atividades (registro pessoal)

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1
unidade 1

História e cultura da
comunidade surda

Objetivos de aprendizagem
„„ Proporcionar informações básicas sobre a comunidade
surda, sua cultura e história.

„„ Compreender as manifestações artísticas das


comunidades surdas como manifestações culturais
especificamente visuais.

Seções de estudo
Seção 1 História dos surdos: uma cronologia

Seção 2 Cultura surda

Seção 3 Comunidade surda

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo

Você conhece a língua brasileira de sinais? Já viu


pessoas surdas se comunicando por meio dela? Você
sabia que é por intermédio da língua de sinais que a
cultura surda se constitui?

Em algum momento de sua vida profissional, você poderá ter


um ou vários alunos surdos em suas turmas. E para ensiná-los
adequadamente, precisará levar em conta as suas especificidades.
Primeiro, porque eles não são deficientes, apesar de ainda serem
considerados desta forma por muitas pessoas. Segundo, porque
eles têm uma forma diferente de lidar com o mundo, uma forma
na qual prevalece a experiência visual. Terceiro, porque esta
experiência visual traz implicações diretas na constituição da
cultura surda – uma cultura essencialmente visual. E a maior
manifestação desta experiência visual é a língua de sinais, uma
língua tão legítima quanto qualquer outra.

Você já imaginou outras formas de dizer o que quer


dizer, sem usar a língua oral? Você já pensou que
existe um outro jeito de aprender, diferente do jeito
que você aprendeu em toda sua vida?

Compreender formas diferentes de apreensão do mundo, de


manifestação de conhecimentos e de expressão de ideias e
pensamentos é muito importante na formação de um educador,
pois não existe uma forma única de aprender, como também
não existe uma forma única de ensinar. Existem saberes que
se manifestam de maneira diferente daquela à qual estamos
acostumados e nem por isto são saberes menores ou formas
inferiores de expressão.

A língua oral sempre foi valorizada como marca constitutiva


do ser humano. A concepção de que falar bem significa ser
inteligente ainda é muito forte em nossa cultura ouvinte. Mas é
possível “falar” sem usar as palavras orais? Sem articular os sons
com a boca? E é possível ouvir sem usar os ouvidos?

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Libras

É possível “ver vozes”?


Registre no espaço a seguir sua impressão.

Seção 1 - História dos surdos: uma cronologia


Durante muito tempo, a história dos surdos foi contada
pelas pessoas que ouvem e retratou a história das instituições
educativas, pessoas famosas e importantes que, de alguma
forma, procuraram trazer as pessoas surdas para o mundo da
“normalidade”, ou seja, para o mundo daqueles que ouvem.
Assim, compreendendo como “normal” o ser humano com um
corpo físico perfeito e sendo a surdez uma marca corporal que
foge a este padrão, as pessoas surdas foram consideradas como
um desvio da natureza, formadas com um corpo no qual faltava
uma parte – a audição e, portanto, incapazes, inferiores, doentes,
deficientes.

Podemos encontrar essa história nos manuais médicos, centrados


na patologia e nos processos de cura e reabilitação. Nós a
encontramos, também, nos registros das instituições educativas,
cujo objetivo maior e primeiro era o tratamento clínico-
terapêutico em detrimento do aspecto educacional. Mas será que
sempre foi assim?

Acompanhe a seguir uma retrospectiva cronológica dos


principais fatos que marcaram a história das pessoas surdas
como coletividade. Observe que estamos procurando respeitar a
perspectiva da comunidade surda sobre essa temática.

Unidade 1 19

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Antiguidade

A história humana mostra que desde da antiguidade aqueles


mais capazes sobreviviam enquanto que os fisicamente
“incapazes” eram sacrificados, abandonados à própria sorte,
isolados do grupo. Isto aconteceu desde a pré-história, e mesmo
sociedades mais complexas e desenvolvidas, como Grécia, Roma
e China, por exemplo, ao que tudo indica, não fizeram diferente.

Aristóteles, retratando o pensamento dominante desta época,


afirmava que a surdez comprometia a inteligência e que a
audição e a fala oral eram indispensáveis à compreensão das
ideias. Entretanto, um pensamento diferente foi manifestado por
Sócrates, no Crátilo de Platão:

Se não tivéssemos voz nem língua e assim quiséssemos


expressar coisas uns aos outros, não deveríamos, como
aqueles que ora são mudos, esforçarmo-nos para
transmitir o que desejássemos dizer com as mãos, a
cabeça e outras partes do corpo? (SACKS, 1998, p. 29).

Pesquisadores e historiadores surdos (PERLIN, 2002)


concordam que a antiguida

de foi um período de exclusão das pessoas surdas. Elas são


retratadas desde 1500 a.C. (LEVÍTICO 19:44 faz referência a
elas) e Perlin (2002) reflete que esta referência, ao mesmo tempo
Não amaldiçoarás ao surdo, nem
porás tropeço diante do cego (...)
em que marca o fato de os surdos serem citados no decreto, já
(LEVÍTICO, 19:44). demonstra seu reconhecimento como pessoas.

Idade Média

Durante a Idade Média, as marcas corporais, principalmente as


de nascença, eram tratadas como sinais de punição divina sobre o
corpo de um pecador criminoso e, por isso, quem as possuísse era
tratado com extrema severidade, sendo normalmente castigado e
punido.

Acreditava-se que os surdos tinham “alma” e deveriam ser


“salvos”, sendo recolhidos em asilos e instituições de abrigo onde

20

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Libras

predominava o caráter assistencial. Estudiosos surdos acreditam


que esses asilos e abrigos (e mais tarde as escolas residenciais)
tiveram papel importante no estabelecimento de uma forma de
Embora estudos afirmem
comunicação gestual entre os surdos asilados, que evoluiu mais que a língua de sinais
tarde para formas mais complexas, constituindo-se os embriões desenvolveu-se dentro das
das línguas sinalizadas. escolas residenciais nos
séculos XVII, há grande
probabilidade de existir
uma comunicação gestual
nos asilos e abrigos
católicos da Baixa Idade
Média. Também devemos
considerar a língua de
sinais utilizada em famílias
de surdos, cuja origem se
perde no tempo.

Figura 1.1 – Alfabeto Manual , século IX, Mauro Rábano

Séculos XVI e XVII

Datam do século XVI as primeiras tentativas de educação das


pessoas surdas por intermédio de preceptores que trabalhavam
com filhos da nobreza e ricos comerciantes burgueses. Cardano
(1501-1578), médico-filósofo, derrubou o conceito de que o
surdo não podia ser ensinado e contradisse Aristóteles afirmando
que surdez e inteligência são distintas; que a surdez é mais uma
barreira à aprendizagem do que uma condição mental; que é
possível compreender as ideias sem falar ou ouvir; e que a leitura
e escrita seriam as verdadeiras formas de educar os surdos:

Unidade 1 21

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Universidade do Sul de Santa Catarina

É possível dar a um surdo-mudo condições de ouvir


pela leitura e de falar pela escrita (...) pois assim como
diferentes sons são usados convencionalmente para
significar coisas diferentes, também podem ter essa
função as diversas figuras de objetos e palavras. (...)
Caracteres escritos e idéias podem ser conectados sem a
intervenção de sons verdadeiros. (SACKS, 1998, p. 29).

Pedro Ponce de Leon (1520-1584), monge beneditino espanhol,


foi o primeiro educador a procurar “desmutizar” surdos. A ele
é atribuído o primeiro Alfabeto Digital de que se tem notícia,
embora haja indícios de que já existissem outros anteriormente.

As primeiras publicações sobre a educação de surdos datam


do século XVII. Juan Pablo Bonet, em 1620, publicou o livro:
Reduccion de las letras y artes para enseñar a hablar a los mudos. J.
Bulwer, em 1644, publicou o primeiro livro inglês sobre a língua
de sinais e afirmou ser esta uma língua de sinais universais, cujos
elementos constitutivos são icônicos e, em 1648, publicou o livro
Philocopus, afirmando que a língua de sinais é capaz de expressar
conceitos da mesma forma que a língua oral.

Século XVIII

No século XVIII foram criadas as primeiras instituições


educativas para pessoas surdas na história. O alemão Samuel
Heinick (1712-1789), considerado na época o maior educador
de surdos, seguiu o método de oralização de Giovanni Conrado
Amam e fundou a primeira escola pública baseada no método
oral (1750). J. Rodrigues Pereira, espanhol adepto da oralização
do surdo, introduziu o alfabeto digital, o uso da visão e do tato
no ensino da fala, desenvolvendo o treino auditivo seguido de
noções de gramática. O abade francês Charles Michel de L’Epée
iniciou a instrução formal de duas crianças surdas com grande
êxito e, em 1760, transformou sua casa na primeira escola pública
para surdos (Instituto de Surdos e Mudos de Paris), utilizando
uma abordagem gestualista. Perlin (2002) lembra que:

22

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Libras

As escolas fundadas em outros países, nos moldes da


França, passaram a usar as línguas de sinais nacionais
e a explorar novos recursos na educação de surdos. O
currículo da escola para surdos, em Paris, passou a conter
língua de sinais, religião, língua nacional e formação
profissional.

Figuras 1.2 e 1.3 - Charles Michel L’Epée com alunos no Instituto de Surdos de Paris.
Fonte: Revista da FENEIS, 2001.

Século XIX

O século XIX trouxe grandes inovações históricas, recrudescendo


o embate entre oralistas e gestualistas. Jean-Marie Garpard Itard,
médico francês, foi o primeiro a fazer treinamento auditivo com
os hipoacústicos. Alexander Graham Bell, de família tradicional
no trabalho com a fala, defendeu o ensino dos surdos apenas pelo
Hipoacústicos ou
método oral. hipoacúsicos – termo
clínico utilizado de forma
Em 1815, Thomas Hopkins Gallaudet visitou o abade L’Epée e genérica para designar
trouxe um dos melhores alunos surdos – Laurent Clerc – para pessoas que apresentam
implantar nos Estados Unidos o ensino a surdos utilizando a dificuldade acentuada
para ouvir. É possível
Língua de Sinais. Fundaram, juntos, a primeira escola americana
perceber a mudança na
para surdos em Connecticut, em 1817. forma de denominar as
pessoas surdas de acordo
Desta iniciativa, outras escolas de surdos começaram a surgir na com as crenças e os
América, inclusive no Brasil, em 1857, quando Eduard Huet, valores predominantes
professor francês surdo convidado por D. Pedro II, criou no Rio de cada época. O termo
“hipoacúsico” reflete a
de Janeiro o Instituto Nacional dos Surdos-Mudos — INSM predominância da visão
(hoje INES – Instituto Nacional de Educação de Surdos). clínica sobre a pessoa
surda.

Unidade 1 23

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Em 1864 foi criada, nos Estados Unidos, a Universidade


Nacional para Surdos-Mudos, hoje Gallaudet University.

As primeiras organizações surdas surgiram em 1834 com


os banquetes realizados por iniciativa dos professores surdos
Ferdinand Berthier e Lenoir, nos quais se reuniram vários
surdos de diferentes profissões. Nesses banquetes festejavam o
aniversário de nascimento de L’Epée, falava-se em língua de
sinais e enfatizava-se o “povo surdo” e a “nação surda” que tirava
a pessoa surda do isolamento, dando-lhe identidade, cultura e
língua. Esses encontros deram origem a outras associações de
surdos que, com o tempo, difundiram-se em muitos países.

Até 1870, gradativamente a língua de sinais foi ganhando terreno


nas escolas americanas de surdos, sendo que, à época, 42% dos
professores daquelas escolas eram surdos. Até que, em 1880, no
Congresso Internacional de Educadores de Surdos em Milão,
na Itália, Graham Bell atuou fortemente na defesa do oralismo
e o método educacional para surdos foi colocado em votação. Os
professores surdos foram excluídos desse processo e o oralismo
triunfou com a recomendação da proibição oficial do uso das
línguas de sinais nas escolas. Esta proibição alcançou outros
setores da vida dos surdos, como o casamento entre pessoas
surdas, o uso da língua de sinais nas organizações de surdos e o
exercício da profissão de professor. Este foi um marco na história
dos surdos que dificilmente será esquecido, dado o nível de
transformações que causou em suas vidas.

A insistência em manter a língua de sinais fez com que,


novamente, a comunidade surda fosse rejeitada pela sociedade no
período pós-Congresso de Milão, ocasionando novo isolamento.
Fortalecia-se, desta forma, as associações como locais de
preservação da língua de sinais, da cultura e da história surda.

Século XX

O século XX trouxe consigo a comercialização dos aparelhos de


surdez, cada vez mais potentes e “necessários” ao modelo oralista.
No Brasil, o INSM adotou o oralismo oficialmente, embora
a língua de sinais tenha permanecido por longo tempo após o
Congresso de Milão, até ser totalmente proibida nas aulas, nos
corredores e dormitórios em 1911.
24

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Libras

Na Europa, as associações de surdos foram se fortalecendo e


sentiram a necessidade de criar uma organização internacional
ante as lutas em jogo. Em 1951 foi fundada, em Roma, a
Federação Mundial de Surdos – FMS, organização não
governamental internacional que representa em torno de setenta
milhões de surdos em todo o mundo. O oralismo espalhou-se
pelos países e a língua de sinais ficou confinada às associações
europeias resistentes.

Somente em 1960 a língua de sinais voltou a tomar corpo no


cenário acadêmico com a publicação do estudo linguístico da
língua americana de sinais por Willian Stokoe, afirmando ser
esta uma língua com características equivalentes a qualquer outra
língua oral, ocasionando uma reviravolta nas concepções sobre a
surdez e a educação das pessoas surdas.

Esses estudos favoreceram o surgimento de abordagens


educativas, como a Comunicação Total, nos anos de 1970, entre
outros métodos mistos, porém, essas abordagens ainda não
consideravam a língua de sinais como língua de fato. No Brasil, a
Comunicação Total foi introduzida por Ivete Vasconcelos no final
da década de 1970. Em 1969, foi publicado no Brasil o primeiro
dicionário de Língua de Sinais pelo Padre Eugênio Oates.
Muitos outros pequenos dicionários surgiram então, procurando
catalogar o léxico em sinais nos diversos países. A Dinamarca foi
o primeiro país a utilizar a escrita de sinais (signwriting), criada
em 1974 por Valerie Sutton.

Em 1977, foi criada no Rio de Janeiro a Federação Nacional de


Educação e Integração dos Deficientes Auditivos, FENEIDA,
com diretoria de ouvintes. Somente em 1987 os surdos
assumiram a direção da entidade, que passou a se chamar
FENEIS – Federação Nacional de Educação e Integração dos
Surdos, sendo presidente Ana Regina e Souza Campello. As
pesquisas sobre a Língua Brasileira de Sinais iniciaram na década
de 1980, com Lucinda Ferreira Brito, que apresentou, pela
primeira vez no Brasil, a proposta de uma educação de surdos
por meio do bilinguismo. Ela publicou, em 1995, a obra Por
uma gramática de língua de sinais, referência para inúmeras
pesquisas posteriores nessa área.

Unidade 1 25

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Universidade do Sul de Santa Catarina

A Comissão de Luta pelos Direitos dos Surdos foi criada em


1983, sendo uma de suas bandeiras de luta o reconhecimento
da Língua Brasileira de Sinais, instituindo o Comitê Pró-
oficialização da LIBRAS em 1995. O primeiro estado brasileiro a
reconhecer oficialmente a LIBRAS foi Minas Gerais, em 1991.

Durante cerca de 20 anos, a comunidade surda e ouvintes


simpatizantes lutaram bravamente pelo reconhecimento dos
direitos dos surdos e a legalização da LIBRAS usando, para
tanto, pesquisas, congressos, fóruns, amplos debates regionais
e nacionais. Inúmeras associações de surdos foram fundadas
em todo território nacional, sejam elas de caráter recreativo,
esportivo, social e político, fortalecendo a unidade de objetivos de
toda a comunidade surda.

Século XXI

O século XXI chegou trazendo grandes promessas, resultado de


décadas de lutas. Vários grupos de estudos surdos se formaram
recentemente nas universidades brasileiras para aprofundar os
conhecimentos a respeito da língua de sinais e da cultura surda.

Em Santa Catarina, por exemplo, o Fórum em Defesa dos


Direitos dos Surdos de Santa Catarina, juntamente com a
Associação de Surdos da Grande Florianópolis, a Sociedade
de Surdos de São José e o IATEL – Instituto de Audição e
Terapia de Linguagem, organizou o primeiro curso de Pedagogia
para surdos na modalidade a distância, em parceria com a
Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, formando
os primeiros profissionais surdos em curso específico no ano de
2005.

Na mesma época, o Centro Federal de Educação Tecnológica


de Santa Catarina – Unidade São José – CEFET/SJ, instituiu
as primeiras turmas do Curso de Educação de Jovens e Adultos
Surdos com Profissionalização em Desenho Técnico em uma
abordagem bilíngue e priorizando a aprendizagem visual.

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Libras

Também a Secretaria de Estado da Educação de Santa Catarina


institui a Política Estadual de Educação de Surdos, inovando
com a criação de turmas mistas com intérpretes de língua
de sinais e turmas em LIBRAS, com professores bilíngues e
professores surdos, em escolas-polo, em 2003.
Escolas-polo são unidades
escolares localizadas
Você conhece outras experiências de sucesso no Brasil
em diversas cidades
ou exterior? Que tal compartilhar seu conhecimento
catarinenses, atendendo a
com os colegas de turma. Acesse o EVA e registre seus
surdos de cidades vizinhas
comentários na ferramenta EXPOSIÇÃO.
no Ensino Fundamental e
na Educação de Jovens e
Adultos.

O Brasil reconheceu a LIBRAS como língua em 2002, após


muitas lutas da comunidade surda brasileira, por meio da Lei
10.436 (confira-a no anexo 1). Esta Lei foi regulamentada
pelo Decreto 5.626/2005 (anexo 2) e determina que a
Língua Brasileira de Sinais deve ser inserida como disciplina
curricular obrigatória nos cursos de licenciatura, pedagogia e
fonoaudiologia.

Em 2005, foi criada a primeira faculdade de surdos no INES,


Rio de Janeiro. A Universidade Federal de Santa Catarina –
UFSC, criou em 2006 o primeiro curso de licenciatura em
Letras-LIBRAS na modalidade a distância, com 500 alunos
Você pode conhecer o
espalhados em nove universidades no país, e está previsto, para programa do curso Letras-
futuro próximo, o início do curso de bacharelado em Letras- LIBRAS acessando o site
LIBRAS para formação de intérpretes de língua de sinais. <www.libras.ead.ufsc.br >

Com a regulamentação da Lei 10.436/02, multiplicou-se no país


a introdução da LIBRAS como disciplina curricular, bem como a
necessidade de profissionais capacitados para o exercício docente
com alunos surdos nos diferentes níveis de ensino.

Todas estas conquistas somente foram possíveis com a


organização das comunidades surdas e o apoio de ouvintes
sensíveis à causa surda, no sentido de reconhecer a pessoa surda
como cidadã, com todos os direitos inerentes ao ser humano.

Unidade 1 27

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Universidade do Sul de Santa Catarina

O discurso surdo que acompanha a história dos surdos


do Brasil vem provocando mudanças e, hoje, congressos,
seminários, encontros são organizados pelos surdos, de
forma autônoma, visando a revitalizar a cultura surda,
não como um lugar de subversão ou transgressão da
ordem, ou, ainda, como um gueto, como alguns temem,
mas como um lugar que prefigura como espécie de
solidariedade e conflui para o ponto da diferença da
história dos surdos com a História da humanidade.
(PERLIN, 2002, p. 104).

Seção 2 - Cultura surda

Em que consiste a cultura surda? Por que esse grupo


de pessoas possui uma cultura própria e em que
medida ela é diferente da cultura daqueles que
ouvem?

Devemos lembrar que a cultura é uma característica


especificamente humana. Assim como outras culturas, a surda
é constituída sobre a partilha de experiências e língua visuais.
É por meio da cultura que uma geração transmite a outra seus
valores, seus pontos de vista, sua história e forma de ser. E isto
acontece por meio da língua de sinais. Não existe cultura sem
língua. A maior marca da cultura surda é a língua de sinais, que
é vital para sua transmissão e evolução. A língua de sinais é,
portanto, sua manifestação mais importante.

Para a pesquisadora surda Gladis Perlin (2006), o mundo


moderno concebeu uma cultura hegemônica oriunda da divisão
de classes sociais, que é a cultura das classes mais fortes e
economicamente poderosas. Esta cultura é que define normas
de conduta, valores, crenças, formas de vida e o pensamento
dos povos. Nela, a cultura surda não existe ou, quando existe, é
subalterna, inferior, dominada. As pessoas surdas são tratadas
como “coitadinhas”, “deficientes”, e a língua de sinais não tem
espaço.

Somente com os estudos da teoria cultural recente se concebem


diferentes culturas, sendo cada uma delas respeitada, sem

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Libras

desnível ou dominação. Nesta perspectiva, as diferenças culturais


referem-se aos diferentes jeitos das pessoas, diferentes formas
de transformar o mundo, de representar o mundo. Isto implica
reavaliar concepções calcadas na supremacia de um grupo sobre
outro. A teoria cultural e os Estudos Culturais abriram campo
para o surgimento dos Estudos Surdos, em uma perspectiva que
abrange os estudos sobre a cultura surda, as identidades surdas,
a comunidade surda, a língua de sinais, a história surda, as artes
surdas sob um ponto de vista alicerçado nas diferenças culturais.
Conforme Skliar (2000, p. 110):

Os estudos surdos em Educação podem ser definidos


como um território de investigação educativa e de
proposições políticas que, por meio de um conjunto de
concepções lingüísticas, culturais, sociais, definem uma
particular aproximação ao conhecimento sobre a surdez
e os surdos. Nesses estudos, temos descrito a surdez
nos seguintes termos: uma experiência visual, uma
identidade múltipla e multifacetada, que se constitui em
uma diferença politicamente reconhecida e localizada, na
maioria das vezes, dentro do discurso da deficiência.

Perlin (2006) afirma que somos todos seres multiculturais.


Neste sentido, não há uma cultura superior à outra, seja em
relação à classe social ou ao uso de uma língua, mas diferentes
manifestações culturais produzidas pelos grupos humanos na
organização de suas vidas. Não há, portanto, “deficiência”, mas
diferença.
O que caracteriza
É muito importante o educador conhecer a cultura surda e
as sociedades na
entendê-la. Ela não é uma cópia inferior da cultura ouvinte. modernidade tardia (ou
É produzida pelos próprios grupos surdos, nas experiências pós-modernidade ou
visuais e naquilo que é importante para eles. Não é possível modernidade recente) é
entender a cultura surda sem conhecer a teoria cultural, pois justamente a “diferença”.
Para saber mais sobre as
somente nesta perspectiva ela tem lugar. Perlin (2006) aponta os
identidades culturais na
seguintes aspectos da cultura surda que devem ter a atenção dos pós-modernidade, leia
educadores: HALL, S. A identidade
cultural na pós-
„„ língua de sinais, modernidade. Rio de
Janeiro: DP&A, 2001.
„„ história cultural (não a história tradicional, dos fatos
históricos, mas nas formas de manifestação cultural),

Unidade 1 29

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Universidade do Sul de Santa Catarina

„„ literatura (há diferentes literaturas surdas),

„„ artes surdas e

„„ pedagogia dos surdos (um jeito surdo de aprender exige


um jeito surdo de ensinar).

As artes surdas

A comunidade surda produz as artes surdas como manifestação


cultural genuinamente visual. A literatura produzida em língua
de sinais consiste em história “oral”, histórias, contos, lendas,
fábulas, anedotas, poesia, peças de teatro, piadas, jogos de gestos
e muito mais. Esta literatura reconta a experiência histórica das
pessoas surdas e muitas vezes retrata a opressão exercida pelas
pessoas ouvintes.

A literatura em língua de sinais passa de geração para geração


seus valores, seu orgulho, seus saberes, reforçando o sentido de
um povo. A comunidade surda tem sua literatura em língua de
sinais e expressão corporal e facial registradas em vídeos, DVDs
e livros (veja indicações no final da unidade), tornando acessível
às novas gerações sua herança cultural. Têm destaque publicações
em jornais, revistas e livros escritos por e para as pessoas surdas,
pois representam tanto um entretenimento quanto o registro das
experiências surdas de uma pessoa ou um grupo.

Com a divulgação do sistema de escrita de sinais – signwriting,


ampliaram-se as possibilidades de releituras de obras da literatura
infantil universal, trazendo a público histórias como “Cinderela
surda”, “Rapunzel surda”, “Os três porquinhos surdos”, entre
outros, permitindo não apenas o acesso à literatura infantil
universal, mas a aspectos importantes da cultura surda.

O teatro surdo também tem destaque, trazendo um jeito


“surdo” de atuação e temas de interesse da comunidade surda
(amor, DST/SIDA, drogas, política, entre outros). É comum
acontecerem apresentações em língua de sinais de “Histórias
do Mundo Surdo” em congressos e encontros com objetivo de
diversão, esclarecimento e conscientização do “povo surdo” sobre
sua situação no mundo e seus direitos.

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Libras

Tecnologias

Em suas vidas, as pessoas surdas produziram formas de atuação


predominantemente visuais. O uso de equipamentos com
sinalizadores luminosos (como campainhas de porta, alerta
luminoso no aparelho telefônico, sinalização em corredores e
ambientes públicos, entre outros) e vibráteis (como aparelhos
celulares, relógios despertadores etc.) possibilitam viver no
mundo sem isolar-se dele, participando da vida do cidadão
comum.

Porém, mais do que o uso de equipamentos de sinalização tátil


ou visual que substituem os sons, equipamentos estes externos às
pessoas, a cultura surda é marcada pela diferença de “ser surdo”,
que está no interior de cada pessoa surda e que faz parte de uma
apreensão do mundo no qual os significados e sentidos do mundo
são essencialmente visuais. Neste sentido, compreender a cultura
surda apenas por seus aspectos externos ou por aquilo que é
perceptível significa compreendê-la parcialmente, sem adentrar
realmente na sua essência.

Não basta, portanto, colocar sinalizadores visuais nas salas


de aula, um intérprete de língua de sinais e encher a aula de
imagens. O sentido mesmo do que é a “cultura surda” passa pela
interiorização do mundo por meio de experiências visuais, nas
quais a língua de sinais é primordial.

Mundo virtual
Assista ao vídeo Chapeuzinho Vermelho, a surda,
produzido por Andréa Iguma (ECA/USP). É um vídeo
em língua de sinais e está disponível no acervo da
BibVirt da Escola do Futuro/USP. É visualizado por
meio de videostreaming. Para ver, acesse:
„„ www.bibvirt.fufuto.usp.br/indez.html?principal.
html&2
> Clique em Especiais e depois em Chapeuzinho
Vermelho, a surda.

Unidade 1 31

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Figura 1.4 – Surdos em cena


Fonte: National Theatre of the Dealf, [20??].

Seção 3 - Comunidade surda


Em geral, a comunidade surda consiste naquelas pessoas surdas
ao redor do mundo que usam a língua de sinais e partilham
da cultura surda. Não é uma comunidade geograficamente
circunscrita e seus membros a consideram um grupo cultural cujo
elo é uma língua em comum – a língua de sinais.

Pessoas surdas formam uma comunidade, encontrando não


somente interação social, mas apoio emocional individual e
coletivamente. Não é difícil localizar as pessoas surdas em praças
públicas, shopping centers, bares, pontos de encontro para bate-
papo, namoros, fofocas, troca de informações etc. Estes locais
informais são muito importantes para a preservação da cultura
surda: a língua de sinais, as histórias surdas, as piadas etc.

A comunidade surda se organiza de diferentes maneiras, sendo a


principal delas as Associações de Surdos. Nestas associações, as
pessoas surdas têm seu espaço dialógico garantido, pois a língua
de sinais está presente em todos os momentos. Nesses lugares,
essas pessoas são elas mesmas, sem comparações com outras (as
que ouvem, principalmente) nem sentimentos de inferioridade ou
subalternidade. Nesses lugares, ser surdo não é um valor menor.

As associações de surdos assumem diferentes finalidades:


recreativas (esportes e lazer, principalmente), culturais e
políticas. Nos últimos anos, vem crescendo a atuação política da

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Libras

comunidade surda por intermédio de seus representantes – as


associações de surdos e a FENEIS.

As lutas políticas da comunidade surda por intermédio das


associações e seus representantes formam o Movimento Surdo.
Este movimento político é caracterizado pela união de todos
para alcançar um objetivo comum: a defesa de direitos humanos
imprescindíveis – o direito a uma educação de qualidade, ao
ensino em língua de sinais, ao intérprete de língua de sinais em
todos os espaços públicos, a legenda na TV, a melhores posições
no mercado de trabalho, entre outros.

A FENEIS é a representante nacional das associações de surdos,


da comunidade surda em geral e das instituições simpatizantes
ao Movimento Surdo. Como “entidade filantrópica, defende os
interesses da comunidade surda, lutando pela integração e plena
realização da cidadania do Surdo nas mais diversas áreas, tendo
caráter educacional, assistencial e sócio-cultural” (FENEIS, -
folder informativo). A FENEIS tem um papel muito importante
perante os órgãos governamentais, pois atua como instituição
consultiva nas decisões sobre políticas públicas relacionadas às
pessoas surdas, assim como instituição que propõe leis, políticas e
encaminhamentos, em geral, relacionados aos surdos brasileiros.

A Federação Mundial de Surdos – FMS (World Deaf


Federation – WDF), é uma organização não governamental com
a função de congregar associações, federações e organizações
nacionais de surdos e pela igualdade de oportunidades para as
pessoas surdas. Atualmente, a FMS representa cerca de setenta
milhões de surdos em todo o mundo e patrocina congressos,
encontros e fóruns internacionais divulgando a cultura surda
e a língua de sinais, contribuindo com o esclarecimento e a
organização das pessoas surdas que ainda vivem sem ter seus
direitos respeitados.

Unidade 1 33

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Figura 1.5 – Organização do Movimento Surdo em Florianópolis, 2005.


Fonte: Acervo dos autores.

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Libras

Síntese

Nesta unidade, você teve contato com informações básicas sobre


a história dos surdos, a cultura surda e a comunidade surda.
Estes conhecimentos são muito importantes, pois não podemos
aprender uma língua sem conhecer o povo que a produz e
a cultura na qual ela se manifesta. Podemos perceber que a
representação a respeito das pessoas surdas foi se modificando
no decorrer da história devido às mudanças de concepção
de homem, mundo e sociedade. Isto ocorreu também pelas
mudanças nas representações das próprias pessoas surdas em
relação a si mesmas, prevalecendo sempre a luta pelo direito de
serem consideradas pessoas como todas as outras e buscando seu
lugar na sociedade e no mundo.

O contato entre surdos produziu a língua de sinais, principal


elemento cultural desse grupo e responsável pela significação do
mundo. Por meio da língua de sinais, os grupos surdos foram
se organizando para preservar sua língua, sua cultura e sua
identidade e hoje tomam proporções mundiais. As formas pelas
quais as manifestações culturais surdas foram se desenvolvendo
podem nos informar sobre a riqueza conceitual que se origina na
experiência visual. Estas experiências visuais produzem formas
especificamente surdas de representar o mundo na arte e na
tecnologia e trazem reflexos importantes sobre a educação.

Unidade 1 35

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Atividades de autoavaliação

1) Analisando a complexidade do nosso cotidiano, você concorda com


a afirmação de Gladis Perlin de que somos todos seres multiculturais?
Justifique sua resposta.

36

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Libras

2) De acordo com as informações contidas no texto, de que forma se


manifesta a cultura surda?

3) Você conhece a associação de surdos de sua cidade ou região? Informe-


se e faça uma visita, observando:

- atividades desenvolvidas;
- faixa etária predominante;
- aspectos da cultura surda;
- língua de sinais.

Saiba mais
A invenção da surdez: cultura, alteridade, identidade e diferença
no campo da educação.

Organizado por Adriana da Silva Thoma e Maura Concini


Lopes (editado pela Universidade de Santa Cruz do Sul), é leitura
imprescindível para aqueles que desejam adentrar o mundo surdo.
Traz artigos de autoras surdas, como Gladis Perlin e Marianne
Stumpf, além de outras autoras, todas militantes da causa surda.
Vale a pena ler também o volume 2, publicado em 2006.

Unidade 1 37

book_libras.indb 37 16/12/2011 14:08:53


book_libras.indb 38 16/12/2011 14:08:53
2
unidade 2

LIBRAS – aspectos gerais

Objetivos de aprendizagem
„„ Proporcionar aos alunos informações básicas sobre a
Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS.

„„ Conhecer o sistema de transcrição para LIBRAS.

Seções de estudo
Seção 1 LIBRAS como língua natural

Seção 2 Iconicidade e arbitrariedade

Seção 3 Variações linguísticas

Seção 4 Mitos em relação à LIBRAS

book_libras.indb 39 16/12/2011 14:08:53


Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo

Você sabe o que é uma língua natural? E língua


materna? E língua nativa? E qual a diferença entre elas?

Nesta unidade, antes de iniciarmos propriamente o estudo


linguístico, vamos conhecer alguns aspectos da LIBRAS,
como iconicidade e arbitrariedade, variações linguísticas ou
regionalismos e esclarecer alguns mitos e equívocos em relação
a ela. Estas informações são importantes para o reconhecimento
da legitimidade das línguas de sinais e seu status como língua de
significação e de interação entre membros de uma determinada
comunidade – a comunidade surda.

Durante muito tempo, a língua de sinais foi rejeitada pelos


profissionais que trabalham com as pessoas surdas, especialmente
nas escolas e nos consultórios médicos. A crença generalizada
de que o uso de “gestos” poderia interferir na aquisição da
língua oral fez com que a comunidade surda fosse privada
desse instrumental linguístico para acessar o conhecimento
historicamente produzido pela humanidade. Paralelamente a isto,
a concepção de que a fala articulada caracteriza a espécie humana
fez com que qualquer outro tipo de comunicação ou outra
modalidade linguística fosse considerada menor e sem valor.
Também o fato de haver línguas privilegiadas em detrimento de
outras, línguas socialmente aceitas e línguas derivadas de línguas
orais contribuiu para a desqualificação das línguas sinalizadas,
tal como acontece com a língua dos povos colonizados e línguas
indígenas.

A crença de que falar com as mãos significava fazer “macaquices”


fez com que a língua de sinais fosse vista com preconceito e
evitada pelas famílias das crianças surdas. Mais do que isto, usar
a língua de sinais denunciava uma “deficiência” camuflada, visto
que a surdez não é uma marca corporal visível.
Cerca de 95% das crianças surdas
são filhas de pais ouvintes. Apenas
5% são de famílias surdas e têm a
língua de sinais como sua língua
materna.

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Libras

A comunicação entre pessoas surdas era vista como uma forma de


“gesticulação” das palavras da língua oral oficial, sem gramática,
sem léxico suficiente para expressar conceitos abstratos, uma
forma de comunicação limitada, deficiente e ineficaz. No entanto,
a língua de sinais permite a participação das pessoas surdas nos
mais diversos campos sociais e culturais, tornando seus “falantes”
independentes e autônomos para exercer seus direitos e deveres
como cidadãos, em igualdade de condições com as demais
pessoas.

Seção 1 - LIBRAS como língua natural

A primeira pergunta que se impõe é: o que é uma


língua de sinais?

A língua de sinais é uma língua natural de modalidade visual-


espacial que se expressa por meio de sinais manuais e expressões
não manuais. É visual porque é percebida pela visão (as línguas
orais são percebidas pela audição) e espacial porque é no espaço
que a língua de sinais se materializa. Por meio dela é possível
acessar as funções linguísticas e cognitivas da espécie humana.
A língua de sinais possui dialetos e variações regionais e
transforma-se continuamente no bojo das transformações da
própria comunidade surda.

Somente na segunda metade do século XX linguistas começaram


a pesquisar as línguas dos povos colonizados, entre elas as línguas
sinalizadas das comunidades surdas. Willian Stokoe, linguista
norte-americano, publicou o primeiro estudo da língua de sinais
americana – ASL - afirmando que as línguas sinalizadas são
tão complexas quanto as línguas orais e apresentam todos os
elementos linguísticos necessários para se constituírem como
tais: fonologia, morfologia, sintaxe, semântica e um léxico
suficientemente capaz de expressar conceitos e ideias abstratas,
pensamentos, sentimentos, humor, metáforas etc., manifestando-
se por meio de poesias, narrativas, teatro, contos, fábulas e outros
gêneros.

Unidade 2 41

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Universidade do Sul de Santa Catarina

A língua de sinais apresenta uma organização neural semelhante


à língua oral, organizando-se no cérebro da mesma maneira que
as línguas orais. São, portanto, línguas naturais.

Tal como acontece com estas línguas, existe um


período crítico para aquisição da língua de sinais,
recomendando-se que a criança surda, principalmente
sendo filha de pais ouvintes, deve ser colocada
em contato com surdos sinalizadores o mais
precocemente possível. Estudos mostram que as
crianças surdas expostas à língua de sinais desde a
mais tenra infância alcançam os mesmos patamares
linguísticos alcançados pelas crianças ouvintes da
mesma idade cronológica.

Compreende-se língua natural como línguas humanas,


produzidas nas interações entre seres humanos. As línguas de
sinais são naturais porque foram produzidas por seres humanos
nas suas relações. Não são línguas artificiais, pois têm falantes
nativos, em especial as famílias de surdos. Cada país tem sua
própria língua de sinais – não existe uma língua de sinais única
em todo o mundo. Tal como as línguas orais, cada país produz
sua própria língua de sinais, embora possa haver influência de um
país sobre outro. São, portanto, línguas nacionais.

A língua de sinais também é considerada a língua materna


das pessoas surdas, no sentido de ser a primeira língua que a
criança aprende de forma natural, nas relações dialógicas em seu
ambiente.

O conceito de língua nativa também se aplica à de sinais, uma


vez que ela identifica a pessoa com uma determinada cultura ou
comunidade, no caso, a cultura e a comunidade surdas.

Daí poder-se reconhecer uma preocupação reincidente,


de todas as comunidades lingüísticas, com a preservação
da língua, seja pelo fato de ela representar um fator de
identidade cultural, seja pela condição de ela constituir
o meio privilegiado de garantir a necessária interação
social. (ANTUNES, 2007, p. 19).

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Libras

A língua de sinais é a primeira língua (L1) das pessoas surdas, e


a língua oral majoritária de seu país é a sua segunda língua (L2).
No caso brasileiro, a LIBRAS é a primeira língua das pessoas
surdas e a Língua Portuguesa é a segunda língua. A aquisição da
primeira língua pelas crianças surdas se dá de forma natural no
contato com surdos sinalizadores adultos, membros da cultura
e comunidade surdas. Já a segunda língua é aprendida de forma
sistemática, ou seja, precisa ser ensinada por meio de técnicas
específicas de ensino de língua estrangeira e geralmente acontece
na escola.

Segundo a UNESCO (1995), a língua de sinais se constitui


no melhor e mais eficaz meio de instrução e apropriação do
conhecimento, permitindo acesso a níveis superiores de educação.

1.1 - O sistema de transcrição para a LIBRAS

Para melhor compreensão dos conceitos aprsentados neste livro,


utilizaremos o sistema de transcrição da LIBRAS adotado pela
FENEIS com base nos estudos de Ferreira-Brito (1995) e de
outros pesquisadores. Isto se faz necessário porque a LIBRAS
é uma língua de modalidade visual-gestual e precisamos
“transcrever” os exemplos dos conceitos trabalhados para melhor
visualizá-los.
Você poderá acessar o
Neste texto, trabalharemos com as seguintes convenções:
site <www.acessobrasil.
org.br/libras> e verificar
outros exemplos, além de
pesquisar diferentes fontes
citadas no final desta
unidade.

Unidade 2 43

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Universidade do Sul de Santa Catarina

„„ sinais da LIBRAS: em letras maiúsculas da língua


portuguesa.
Ex.: CASA, ESTUDAR, CRIANÇA etc.

„„ sinal único: duas ou mais palavras da língua portuguesa


separadas por hífen.
Ex.: CORTAR-COM-FACA, NÃO-QUERER “não querer”,
COMER-MAÇÃ, MEIO-DIA, AINDA-NÃO etc.

„„ sinal composto: duas ou mais palavras separadas pelo


símbolo ^ .
Ex.: CAVALO^LISTRA “zebra”;

„„ datilologia: palavra separada letra por letra por hífen.

Ex.: J-O-Ã-O, A-N-E-S-T-E-S-I-A.

„„ sinal soletrado: datilologia da palavra ou algumas letras


dela em itálico.
Ex.: R-S “reais”, A_C_H_O “acho”, QUM “quem”, N-U-N-C-A

„„ ausência de marca para gêneros (masculino e feminino) e


número (plural): símbolo @
Ex.: AMIG@ “amiga(s) e amigo(s)”, FRI@ “fria(s) e frio(s)”,
MUIT@ “muita(s) e muito(s), TOD@ “toda(s) e todo(s)”, EL@
“ela(s) e ele(s)”, ME@ “(minha(s) e meu(s)”.

„„ expressão facial e corporal: especificação sobreposta ao


sinal.
a) tipo de frase: !, ?, !? ou interrogativa ou ...i... , negativa ou
... neg ...
b) advérbio de modo ou intensificador: muito,
rapidamente, expressão facial “espantado”

„„ concordância de gênero (pessoa, coisa, animal):

Ex.: pessoaANDAR, veículoANDAR, coisa-


arredondadaCOLOCAR

segue >

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Libras

„„ concordância de lugar e/ou número-pessoal:

a) variáveis que indicam lugar:


i= ponto próximo à 1ª pessoa
j = ponto próximo à 2ª pessoa
k e k’ = pontos próximos à 3ª pessoa
e = esquerda
d = direita

b) pessoas gramaticais:
1s, 2s, 3s = 1ª, 2ª e 3ª pessoa do singular;
1d, 2d, 3d = 1ª, 2ª e 3ª pessoas do dual;
1p, 2p, 3p = 1ª, 2ª e 3ª pessoa do plural etc.

Exemplos: 1sDAR2s “eu dou para você”


2Sperguntar3p “você pergunta para eles/elas”

„„ tradução da LIBRAS: são utilizadas aspas (“ ”) para


tradução da LIBRAS para o português.
Ex.: VOCÊ ONDE CASA “Onde você mora?”

Fonte: Felipe; Monteiro, 2001, p. 21-23.

Unidade 2 45

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Seção 2 - Iconicidade e arbitrariedade

Para a linguística, iconicidade refere-se à propriedade que certos


elementos linguísticos têm de representar, por semelhança, o
mundo real ou sua imagem. Na língua de sinais, a iconicidade
representa um objeto em sua forma física, ou seja, um sinal é
icônico quando, em sua produção, existe uma forte relação com o
objeto representado. Veja os sinais a seguir, por exemplo. O que
eles lembram?

TELEFONE BORBOLETA

CASA DINHEIRO

Um sinal é icônico quando, ao ser produzido, é possível prever


a forma, o movimento, uma relação espacial, uma ação e seus
significados.

O caráter icônico da língua de sinais foi considerado um


traço negativo, pois se acreditava que, por representar objetos
concretos, não a tornava suficiente para representar conceitos
abstratos. Strobel & Fernandes (1998, p. 4) esclarecem:

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Libras

A modalidade gestual-visual espacial pela qual a


LIBRAS é produzida e percebida pelos surdos leva,
muitas vezes, as pessoas a pensarem que todos os sinais
são o desenho no ar do referente que representam. É
claro que, por decorrência de sua natureza lingüística,
a realização de um sinal pode ser motivada pelas
características do dado da realidade a que se refere, mas
isso não é regra. A grande maioria dos sinais da LIBRAS
é arbitrária, não mantendo relação de semelhança alguma
com seu referente.

A arbitrariedade de uma língua diz respeito à relação existente


entre forma (palavra ou sinal) e significado. Na língua de sinais,
como nas línguas orais, os sinais apresentam uma conexão
arbitrária com seus referentes, sendo praticamente impossível
prever o significado de um sinal ou o sinal de um determinado
referente. A arbitrariedade está presente nas relações gramaticais
das línguas, uma vez que estas diferem umas das outras. Veja,
agora, os sinais a seguir e tente determinar seus significados.

AMIGO QUEIJO

LÍNGUA AIDS

Como você pôde ver, o significado destes sinais não está


explícito na forma como eles se apresentam: AMIGO, QUEIJO,
LÍNGUA, AIDS, respectivamente.

Unidade 2 47

book_libras.indb 47 16/12/2011 14:08:56


Universidade do Sul de Santa Catarina

Agora, procure imaginar sinais para as imagens a seguir.

A primeira figura, por exemplo, poderia representar um cavalo ou


um cavalo de corrida. Haveria, então, mais de um sinal para ela.
A segunda figura, em um primeiro olhar, poderia ser um sapo,
uma rã ou uma perereca, representados pelo mesmo sinal. A
terceira figura é bastante óbvia: um leão e, portanto, apenas um
sinal. Já a quarta figura estaria representando o teatro, o carnaval
ou máscaras e você encontrará mais de um sinal para representá-
la, de acordo com o contexto no qual ela for inserida.

O que queremos demonstrar aqui é que a língua de sinais é


composta por sinais icônicos e sinais arbitrários, estabelecidos
convencionalmente pelos seus “falantes”, como em todas as
culturas. A arbitrariedade ou convencionalidade das línguas
naturais está presente na língua de sinais.

Seção 3 - Variações linguísticas


Nem todos os usuários de uma língua falam do mesmo jeito, por
isto, todas as línguas naturais possuem variações linguísticas. A
LIBRAS também apresenta dialetos regionais, reforçando seu
caráter de língua natural. As variações na LIBRAS ocorrem de
várias formas, como alterações na configuração de mãos (forma
que a mão assume na realização do sinal) ou na localização

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Libras

espacial do sinal (local onde o sinal é realizado), sem que seu


sentido e significado sejam perdidos ou modificados. Também há
sinais diferentes para representar um mesmo referente, usado em
diferentes regiões do país, às vezes do mesmo estado. Vejamos
alguns exemplos.

ÔNIBUS1 ÔNIBUS2

SEMANA1 SEMANA2

BEBER1 BEBER2

Percebeu a diferença?

Unidade 2 49

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Os dicionários produzidos nas várias regiões do Brasil


demonstram essas variações nos sinais. Mas é importante saber
que as variações não acontecem apenas nos sinais (léxico), mas
também na estrutura sintática (sentenças) e no significado.
No site <www.
acessobrasil.org.br/libras>
você encontrará vários
sinais que são realizados
de maneiras diferentes
Seção 4 - Mitos em relação à LIBRAS
numa mesma região (Rio
de Janeiro).
Você sabia que existem alguns mitos em relação à
língua de sinais?

Veja a seguir alguns desses mitos e seus respectivos


esclarecimentos.

A língua de sinais é uma mistura de mímica e gestos naturais.

Não. A língua de sinais é uma língua natural com todas as


características gramaticais e lexicais das línguas orais. Os sinais
não são os “gestos naturais” que acompanham as línguas orais,
mas signos com significado e sentido próprio. A expressão facial
e corporal faz parte da língua de sinais e tem característica
gramatical constituinte da própria língua.

A língua de sinais é a mesma em qualquer país do mundo.

Não. Cada país tem sua língua de sinais tal como tem sua língua
oral. Por exemplo: ASL (Língua de Sinais americana), BSL
(Língua de Sinais Britânica), LSA (Língua de Sinais Argentina)
etc. Alguns países têm mais de uma língua oficial, incluindo
a língua de sinais. Existe um alfabeto manual internacional
utilizado em conferências internacionais, bem como alguns
sinais de conhecimento geral entre os países, mas não pode ser
considerada uma língua de sinais universal.

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Libras

A língua de sinais é pobre, incapaz de transmitir ideias abstratas.

Não. A língua de sinais é extremamente rica, capaz de transmitir


emoções, sentimentos, solicitar a cooperação de companheiros,
contar piadas, dar ordens, fazer ameaças, ironias e promessas,
perguntar e responder sobre qualquer coisa.

Os surdos se comunicam usando o alfabeto manual.

Não. O alfabeto manual (ou digital) representa as letras do


alfabeto da língua oral de um país e é apenas um recurso para
soletrar nomes de pessoas, ruas, remédios, rótulos, lugares e
vocábulos não existentes na língua de sinais. Conhecer e usar o
alfabeto manual não significa conhecer e usar a língua de sinais.
Conheça outros mitos em
relação à língua de sinais
em QUADROS & KARNOOP
(2004).

Síntese

Nesta unidade, você teve contato com aspectos gerais da língua


de sinais, que é uma língua rica, sofisticada e tão complexa
quanto qualquer língua oral. Ela apresenta todos os aspectos
linguísticos que constituem as línguas naturais e é capaz de
expressar quaisquer conceitos, ideias, sentimentos. Por meio
dela, é possível manifestar desejos, planejar ações, estabelecer
interações significativas em qualquer contexto. A primeira língua
(L1) das pessoas surdas é a língua de sinais e a língua oral oficial
do país é sua segunda língua (L2).

A língua de sinais apresenta características icônicas, que é a


propriedade de representar um conceito pela sua forma, textura,
seu movimento etc. O caráter arbitrário ou convencional da
língua de sinais, também característica das línguas naturais,
diz respeito à quase impossibilidade de prever o significado de
um sinal, pois este é constituído nas relações culturais de seus
usuários.

Unidade 2 51

book_libras.indb 51 16/12/2011 14:08:57


Universidade do Sul de Santa Catarina

As variações linguísticas também estão presentes na língua de


sinais e dizem respeito às diferentes formas de realização de um
sinal em uma mesma região, bem como nas diferentes regiões do
país.

Esclarecendo alguns mitos em relação à língua de sinais, ela não


é uma mistura de gestos e mímica, difere de país para país e o
alfabeto manual é, na verdade, mais um empréstimo linguístico
da língua portuguesa.

Como você pôde ver, a língua de sinais é uma língua natural


como as línguas orais, pois não foi criada artificialmente; é
materna, pois é a primeira língua que os surdos adquirem de
forma natural; é nativa, porque identifica seus usuários com a
comunidade e a cultura surda.

Atividades de autoavaliação

1) O que é língua natural, língua materna e língua nativa?

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book_libras.indb 52 16/12/2011 14:08:57


Libras

2) Explique por que a LIBRAS é uma língua de modalidade visual-espacial.

3) Qual a diferença entre sinais icônicos e sinais arbitrários?

4) Este exercício refere-se ao sistema de transcrição para LIBRAS. Relacione


a 2ª coluna de acordo com a 1ª.

( 1 ) Sinal da LIBRAS ( ) “Ana gosta de João.”


( 2 ) Sinal único ( ) CASA^ESTUDAR “escola”
( 3 ) Sinal composto ( ) FILH@, AMIG@
( 4 ) Datilologia ( ) PODER-NÃO “não pode”
( 5 ) Sinal soletrado ( ) S-L “sol”; A-L “azul”
( 6 ) Gênero e número ( ) “Estou com fome”
( 7 ) Tradução da LIBRAS ( ) EQUIPE, CADEIRA, VER
( ) R-E-G-I-N-A-L-D-O, A-A-S
( ) BEBÊ^BRINCAR – “boneca”
( )TRABALHAR-MUITO
( ) UNIVERSO, REDAÇÃO, LUA
( ) V-I “vai”, D-R “doutor”
( ) A-P-A-R-E-C-I-D-A, O-M-O
( ) EL@, BONEC@

Unidade 2 53

book_libras.indb 53 16/12/2011 14:08:57


Universidade do Sul de Santa Catarina

Saiba mais

Para aprofundar seus estudos sobre os aspectos estudados nesta


unidade, consulte os seguintes materiais e sites:

Efeitos de modalidade de língua: as línguas de sinais


Ronice Muller de Quadros
Revista Educação Temática Digital nº 18
Texto ETD – 2006 – 120 .pdf
Disponível no Ambiente Virtual

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book_libras.indb 54 16/12/2011 14:08:57


3
unidade 3

LIBRAS – aspectos linguísticos

Objetivos de aprendizagem
„„ Reconhecer a LIBRAS como língua que possui todas as
características linguísticas de qualquer outra língua.

„„ Conhecer os aspectos linguísticos da LIBRAS em seus


vários componentes.

Seções de estudo
Seção 1 O espaço de sinalização

Seção 2 Fonologia

Seção 3 Morfologia

Seção 4 Sintaxe

Seção 5 Semântica

Seção 6 A escrita da língua de sinais

book_libras.indb 55 16/12/2011 14:08:57


Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Conforme afirmamos anteriormente, a língua de sinais contém os
mesmos componentes constitutivos encontrados nas línguas orais:
um léxico – composto dos sinais convencionais da comunidade
que a produz; uma estrutura gramatical – sistema de regras que
regem o uso do léxico; e está sujeita às regras das situações de
interação, ou seja, as regras de uso da língua.

Muitas pessoas acreditam que o conhecimento do léxico


ou vocabulário da LIBRAS é suficiente para tornar-se um
bom sinalizador. É comum recorrer à memorização de sinais
encontrados nos poucos dicionários disponíveis. É como se fosse
possível aprender a língua portuguesa decorando o dicionário
Aurélio. O resultado é que saberemos muitas palavras, mas isto
não implica, necessariamente, sabermos onde e como usá-las.

Da mesma forma, outras pessoas acreditam que o domínio da


estrutura gramatical – as regras de construção de palavras e
sentenças – é suficiente para sinalizar de forma compreensível,
adequando verbos, classificadores, usando adequadamente o
espaço de sinalização e as expressões faciais.

Entendemos que o conhecimento isolado do léxico ou da


estrutura gramatical não satisfaz as necessidades daqueles que
desejam aprender a língua de sinais, ou qualquer outra língua.
É necessário compreender que esses dois componentes estão
intimamente envolvidos, fornecendo a estrutura necessária capaz
de compreender um “falante” da língua de sinais (recepção) e
produzir textos coerentes e com sentido nesta língua (produção).

Nesta unidade, trabalharemos com os aspectos linguísticos da


LIBRAS, mais especificamente a estrutura gramatical em seus
níveis fonológico, morfológico, sintático e semântico. Também
serão abordados alguns aspectos da escrita da língua de sinais.

Dadas as limitações deste trabalho, optamos por apresentar


a estrutura gramatical da LIBRAS, reportando os alunos ao
conhecimento do léxico da LIBRAS no site <www.acessobrasil.
orgbr/libras>. Outros dicionários on-line e em CD-Rom poderão
ser utilizados na realização das atividades propostas, para
comparação de sinais e ampliação de vocabulário.

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Libras

Seção 1 – O espaço de sinalização

Os surdos usam o olhar para tudo. A questão


do olhar é fundamental, por exemplo, quando
os surdos conversam, eles o fazem a partir do
estabelecimento do olhar. Não há comunicação se
não houver o estabelecimento do olhar. Os surdos
pensam, sonham, planejam as coisas na língua
de sinais, que é uma língua visual-espacial. Os
surdos vêem a língua, enquanto os ouvintes ouvem
a língua. Na própria língua, o olhar apresenta
funções associadas à gramática espacial. O olhar
é a base das experiências visuais. Até mesmo os
espaços físicos são organizados de modo a atender
o pré-requisito do estabelecimento do olhar.
(QUADROS; PIMENTA, 2006, p. 14)

Conforme já dito anteriormente, a LIBRAS é uma língua visual-


espacial em que os sinais são realizados dentro de um espaço e
percebidos pela visão.

Ferreira-Brito (1995) propôs o seguinte esquema para


visualização do espaço de realização dos sinais:

Figura 3.1 –Espaço de realização dos sinais na LIBRAS


Fonte: Adaptada de Langevin e Ferreira Brito, 1995.

Nesse espaço estão contidos “todos os pontos dentro do raio


de alcance das mãos e que se desloca junto com o enunciador.”
(FERREIRA-BRITO, 1995, p. 214).

Unidade 3 57

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Universidade do Sul de Santa Catarina

É nesse espaço que se realizam:

„„ a produção dos sinais;

„„ a indicação de um objeto ou pessoa (referentes) presentes;

„„ a indicação de um objeto ou pessoa (referentes) ausentes;

„„ a indicação de um lugar definido ou indefinido.

Para a produção de um sinal, são necessários vários parâmetros,


sendo os principais a configuração da mão, o movimento da
mão e a localização onde o sinal é realizado. Estes parâmetros
se combinam simultaneamente, ao contrário das línguas orais,
caracterizadas pela sequencialidade (ou linearidade) de seus
elementos.

A indicação de um objeto ou pessoa (referentes) presentes ou


ausentes e/ou de um lugar definido ou indefinido se dá por meio
de um sinal chamado apontação. Por exemplo, ao falar com uma
pessoa sobre um objeto ou pessoa presentes não é necessário tocá-
los para identificá-los, bastando direcionar o dedo indicador no
espaço de sinalização e direcionar o olhar, voltando-o para o seu
interlocutor.

APONTAR1 APONTAR2

Segundo Quadros e Pimenta (2006, p. 9), “usa-se a apontação


para indicar pessoas (eu, tu, ele, ela, nós, vocês, eles), para indicar
localização (aqui, ali, lá) e para pronomes demonstrativos (este,
esse, esta, essa).”

Os referentes dentro de um discurso são marcados dentro do


espaço de sinalização. É possível falar de duas ou mais coisas ao
mesmo tempo estabelecendo pontos no espaço de sinalização.
58

book_libras.indb 58 16/12/2011 14:08:58


Libras

Podemos indicar Chapeuzinho Vermelho no lado


direito e o Lobo Mau no lado esquerdo; ao falar de
um ou de outro, indica-se o “local” previamente
estabelecido no espaço.

É possível comparar referentes contrastantes no espaço de


sinalização, determinando um ao lado direito, outro ao esquerdo.
Estabelecendo estes pontos no espaço, indica-se um e explica-se
o motivo de ele ser melhor ou pior que o outro, procedendo da
mesma forma com o outro referente. Por exemplo, localizamos no
espaço as cidades de São Paulo e Florianópolis; ao apontar para o
ponto onde está localizada a cidade de São Paulo, podemos dizer
que ela é maior, mais produtiva, mais violenta, mais poluída que
Florianópolis. Por outro lado, apontando para o ponto onde está
localizada a cidade de Florianópolis, podemos dizer que ela é
muito bonita, tem muitas praias, não tem poluição etc.

Lembramos que o espaço de sinalização também tem uma


dimensão vertical, ou seja, é possível estabelecer pontos acima da
altura do sinalizador, indicando referentes que estão ACIMA,
EM CIMA, AO NORTE, NO ALTO, NO HEMISFÉRIO
NORTE, NOS ESTADOS UNIDOS etc., em contraste
com outro ponto localizado na região média do corpo (altura
do umbigo) para referentes que estão ABAIXO, EMBAIXO,
AO SUL, NO CHÃO, NO HEMISFÉRIO SUL, NA
ARGENTINA etc. O mesmo ocorre com as posições diagonais.
Veja as figuras a seguir.

Figura 3.2 – Sinalização – dimensão vertical e diagonal


Fonte: SignWriting® Site, 2010.
Conhecer o espaço de sinalização é fundamental para a
compreensão dos aspectos gramaticais da língua de sinais, que
você verá nesta unidade.

Unidade 3 59

book_libras.indb 59 16/12/2011 14:08:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Outro aspecto importante é conhecer a perspectiva do sinal, que


pode ser a do sinalizador (a pessoa que está sinalizando) ou do
observador (a pessoa que vê os sinais).

Figura 3.3 – Sinalização – Perspectiva do Sinal


Fonte: SignWriting® Site, 2010.

Neste trabalho, todos os sinais são feitos na


perspectiva do sinalizador.

Seção 2 – Fonologia

Fonologia é a parte da linguística que estuda as


unidades mínimas sem significado de uma língua.
Nas línguas orais, as unidades mínimas são os sons da
fala. Já na língua de sinais, as unidades mínimas são as
configurações de mãos, os movimento e a localização.

A LIBRAS é produzida pelas mãos em conjunto com expressões


faciais e movimentos corporais. Os sinais são produzidos da
combinação do movimento das mãos (M) com um determinado
formato (CM) em um determinado lugar no espaço (L), podendo
este lugar ser no próprio corpo do sinalizador ou no espaço
à frente do corpo. A orientação da mão e as expressões não-
manuais (expressões faciais e corporais) também fazem parte dos
estudos da fonologia da língua de sinais.
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book_libras.indb 60 16/12/2011 14:08:58


Libras

Estas características fundamentais configuram a língua de sinais


como uma língua de modalidade visual-gestual, tendo como
aspecto principal a simultaneidade, ou seja, estes elementos
ocorrem ao mesmo tempo.

Desta forma, o nível fonológico da LIBRAS compreende a


produção de sinais pela combinação de três elementos básicos,
chamados Parâmetros Primários:
A localização de um sinal
„„ Configuração de mão (CM).
também é chamada de
Ponto de Articulação ou
„„ Movimento (M).
Locação

„„ Localização (L).

Estudos realizados por Stokoe sobre a Língua de Sinais


Americana (ASL) apontam estes elementos como unidades
mínimas, sem significado, tal como acontece com os fonemas
(sons da fala) nas línguas orais. É a combinação destes elementos
ou parâmetros que forma o sinal. Veja cada um deles.

1. Configurações de mãos (CM)


Os sinais são realizados
com a mão dominante
do sinalizador,
independentemente de ser
a direita ou a esquerda.

Unidade 3 61

book_libras.indb 61 16/12/2011 14:08:59


Universidade do Sul de Santa Catarina

É chamado de configuração de mão (CM) o formato e a posição


que as mãos assumem durante a realização de um sinal. O
primeiro estudo linguístico da LIBRAS, feito por Ferreira-Brito
(1995), encontrou 46 CM. Pimenta e Quadros (2006) apontam
61 CM. No site <www.acessobrasil.org.br/libras>, que utilizamos
neste estudo, temos 60 CM.

Veja a seguir o quadro das configurações de mão descritas por


Ferreira-Brito (1995).
Compare estas configurações
de mãos com as do site <www.
acessobrasil.org.br/libras>

Figura 3.4 - Configurações de mão 1


Fonte: FERREIRA-BRITO (1995, p. 220).

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Libras

Figura 3.5 - Configuração de mãos

Durante a produção de um sinal, a CM pode permanecer a


mesma ou pode alterar durante sua realização e assumir mais
de uma CM ou, ainda, ser realizado por ambas as mãos, com a
mesma CM ou com CM diferentes. Veja os exemplos.

„„ sinais realizados por uma mão e duas CM diferentes

LARANJA COMER

Outros exemplos – DIFÍCIL, PATO, CAVALO, ÁGUA

Unidade 3 63

book_libras.indb 63 16/12/2011 14:08:59


Universidade do Sul de Santa Catarina

„„ sinais realizados por duas mãos com CM diferentes

ESCREVER ÁRVORE

Outros exemplos – BANDEIRA, CAFEZINHO, HOTEL,


LER

„„ sinais realizados por duas mãos com CM iguais

AGORA TRABALHAR

Outros exemplos – FAMÍLIA, DIDÁTICA, EMPREGADA,


APREENDER

Lembre-se: existem sinais realizados com as duas


mãos em que cada uma apresenta uma configuração
de mão diferente.

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book_libras.indb 64 16/12/2011 14:09:00


Libras

1.1 - O alfabeto manual

A LIBRAS utiliza algumas CM para representar as letras


do alfabeto da Língua Portuguesa, conhecido como Alfabeto
Manual ou Alfabeto Digital. Todas as línguas de sinais
representam as letras das línguas orais com CM feitas com uma
ou as duas mãos. Conheça o alfabeto manual do Brasil.

Figura 3.6 - Alfabeto manual


Fonte: FCEE, s/d.

2. Movimento

Um movimento é estabelecido em relação a um objeto e


um espaço. Na língua de sinais, o objeto é representado por
uma determinada configuração de mão (CM), e o espaço de
sinalização é compreendido entre um ponto logo acima da cabeça
e a cintura do sinalizador (veja esquema de Ferreira-Brito para o
espaço de realização de sinais, 1995).

Unidade 3 65

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Sinais sem movimento – são realizados junto ao corpo ou no


espaço próximo ao corpo, com uma das mãos ou ambas as mãos.

MENTE FEBRE

SILÊNCIO DESCULPAR

AZAR GARGANTA

Outros exemplos – HOTEL, CADEADO, RADAR2,


AMÉRICA, JOELHO

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Libras

2.1 Tipos de movimento

A maioria dos sinais apresenta movimento em sua realização.


Esses movimentos variam muito e descrevem uma variedade de
formas e direções, o que torna este parâmetro bastante complexo:
movimentos internos da mão, movimentos de pulso, movimentos
direcionais no espaço ou no corpo e conjuntos de movimentos no
mesmo sinal (Ferreira-Brito, 1995). Vejamos cada um deles.

„„ Movimentos internos da mão – referem-se aos


movimentos dos dedos (abrir, fechar ou esticar),
mudando rapidamente a configuração de mão. Exemplos:

EXPLICAR

LAPISEIRA

Outros exemplos – PLANETA, NAMORAR, CHORAR,


VENDER, MUNDO

Unidade 3 67

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Universidade do Sul de Santa Catarina

„„ Movimento de pulso – refere-se à rotação e mudança de


direção do pulso. Exemplos:

ACONTECER CHUTAR BOLA

Outros exemplos – MÚSICA2, CAIR2, EDUCAÇÃO


FÍSICA, DOUTOR

„„ Movimentos direcionais no espaço ou no corpo –


podem ser de vários tipos:

„„ retilíneo

RÉGUA AMARELO

Outros exemplos – EMPURRAR, ELEGANTE, JULGAR,


DIREITO1

68

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Libras

„„ helicoidal

ESPIRAL CACHO DE CABELO

Outros exemplos – ANCESTRAIS, ALTO2, ALTITUDE,


FURACÃO

„„ circular

LÍNGUA DE SINAIS PAÍS

Outros exemplos – ÓRBITA, INTERNET, BICICLETA,


BRINCAR

Unidade 3 69

book_libras.indb 69 16/12/2011 14:09:03


Universidade do Sul de Santa Catarina

„„ semicircular

SAPO MEIA-HORA

Outros exemplos – GUARDAR, VIADUTO, SAÚDE

„„ sinuoso

BRASIL MONTANHA

Outros exemplos – RABISCAR, LONGE, PIXAR, FAVELA1

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Libras

„„ angular

PAZ DIFÍCIL

Outros exemplos – ILUSTRAÇÃO, FLORIANÓPOLIS

2.2 Direcionalidade

A direcionalidade do movimento pode ser de três tipos.

„„ Unidirecional: movimento em uma direção, realizado


por uma ou duas mãos.

SOL EDIFÍCIO

Outros exemplos – FEIO, AMARELO, JÁ, TEXTO

Unidade 3 71

book_libras.indb 71 16/12/2011 14:09:04


Universidade do Sul de Santa Catarina

„„ Bidirecional: pode ser realizado por uma ou pelas duas


mãos, em duas direções diferentes.

TRABALHAR ENCONTRAR

Outros exemplos – COMPARAR, AVALIAR, JUSTIÇA,


ECLIPSE

„„ Multidirecional: não tem uma direção definida.

PERGUNTAR DAR

Outros exemplos – VÁRIOS1, JOGAR-CARTAS,


VENTANIA, DISTRIBUIR

Lembre-se: existem sinais realizados com as duas


mãos nos quais cada uma apresenta um movimento
diferente.

72

book_libras.indb 72 16/12/2011 14:09:05


Libras

3. Localização

A localização é o local no espaço em frente ao corpo ou no


próprio corpo do sinalizador onde os sinais são realizados. A
localização é também chamada de ponto de articulação ou
locação.

Ferreira-Brito (1995, p. 215) esclarece que

alguns pontos são muito precisos, tais como ‘a ponta do


nariz’, enquanto outros são mais abrangentes, como ‘à
frente do tórax’. Em outras situações, o ponto onde o
sinal é realizado não é relevante. Neste caso, o ponto de
articulação é chamado espaço neutro.

No corpo, as quatro regiões principais para realização dos sinais


são:

„„ cabeça

ÁGUA CULTURA

Outros exemplos – PENSAR, SURDO, RESPEITO, TERÇA-


FEIRA

Unidade 3 73

book_libras.indb 73 16/12/2011 14:09:05


Universidade do Sul de Santa Catarina

„„ tronco

AMIGO SAÚDE

Outros exemplos – CORAÇÃO, AMAR, FOME

„„ braços

PEDAGOGIA EDUCAÇÃO

Outros exemplos – SACI, MODELO, SÉRIE, ARQUITETO,


MAGISTÉRIO

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book_libras.indb 74 16/12/2011 14:09:06


Libras

„„ mãos

PAPEL ESCREVER

Outros exemplos – PAGAR, SUBLINHAR, SECRETÁRIO,


ANTECEDÊNCIA

Os sinais podem ser realizados no espaço neutro, ou seja, à frente


do sinalizador sem determinar nenhum referente específico. Por
exemplo:

LIVRO PROVA

Outros exemplos – PLANEJAMENTO, TELEVISÃO,


PACIÊNCIA

Unidade 3 75

book_libras.indb 75 16/12/2011 14:09:06


Universidade do Sul de Santa Catarina

4. Orientação da mão

Refere-se à direção da palma da mão durante a realização do


sinal.

Fonte: www.signwriting.com

Veja os exemplos a seguir:

„„ para baixo

CONVERSAR HORIZONTAL

Outros exemplos – AUDITÓRIO, FLORIANÓPOLIS,


MAIS4, DESCER

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book_libras.indb 76 16/12/2011 14:09:07


Libras

„„ para cima

ACREDITAR

GOVERNO

Outros exemplos – FÁCIL, LEVE2, DEITAR1, ESCREVER

„„ para o corpo (dentro)

CORAÇÃO COMPARAR

Outros exemplos – CACHORRO, ALEGRE, DESCONFIAR,


DITADURA
Unidade 3 77

book_libras.indb 77 16/12/2011 14:09:07


Universidade do Sul de Santa Catarina

„„ para fora

IMAGINAR QUARTA-FEIRA

Outros exemplos – ILUMINAR, MOSTRAR1, ACRE, LEI2,


ADEUS

„„ para o lado direito

BATER SEPARAR

Outros exemplos – AFASTAR2, IDENTIDADE

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Libras

„„ para o lado esquerdo

VERTICAL QUENTE

Outros exemplos – DANÇAR2, AFASTAR2, GOSTOSO

Lembre-se: existem sinais realizados com as duas


mãos nos quais cada uma apresenta uma orientação
de mão diferente.

5. Expressões não manuais

As expressões não manuais são aspectos muito importantes na


língua de sinais. Elas referem-se às expressões faciais e corporais
que podem ou não assumir uma característica gramatical.
Essas expressões traduzem sentimentos, dão mais sentido
ao sinal e, em muitos casos, determinam o significado de
um sinal. Lembramos que a principal característica da
língua de sinais é a simultaneidade, ou seja, os elementos
se apresentam todos ao mesmo tempo, constituindo
um todo. Desta maneira, as expressões não manuais
são constitutivas dos sinais. Ferreira-Brito (1995, p. 41)
apresenta um exemplo esclarecedor:

Unidade 3 79

book_libras.indb 79 16/12/2011 14:09:08


Universidade do Sul de Santa Catarina

A diferença entre PENSAR, DUVIDAR e


ENTENDER (SP) é feita por estes componentes não
manuais. Nos três sinais, a configuração é a mão em
Esses sinais são G, com a ponta do indicador em contato com a parte
utilizados em São Paulo/ lateral da cabeça. Em PENSAR há apenas um toque;
SP. em DUVIDAR, o toque é acompanhado do olhar e da
expressão facial indicando dúvida e de balanço da cabeça
para os lados; ENTENDER é realizado com um toque
do indicador e um rápido afastamento, enquanto os olhos
se abrem.

Vamos visualizar este exemplo:


Veja estes sinais no site <www.
acessobrasil.org.br/libras>.

PENSAR DUVIDAR ENTENDER

Como você observou, a expressão facial foi determinante para


atribuir significado aos sinais.

As expressões faciais podem ser de dois tipos: afetivas ou


gramaticais.

As afetivas expressam nossas emoções, nossos sentimentos,


estados de espírito, representando: dor, raiva, alegria, tristeza,
emoção, euforia etc.

80

book_libras.indb 80 16/12/2011 14:09:09


Libras

Já as expressões faciais gramaticais representam marcações


lexicais ou sentenciais. As que têm representação lexical são
associadas à palavra, ou seja, marcam pronomes, advérbios, grau
do substantivo etc. Por exemplo:

BONITO BONITINHO BONITÃO

As expressões com representação sentencial dizem respeito


à função sintática, ou seja, representam sentenças negativas,
interrogativas, imperativas, etc. Strobel & Fernandes (1997, p.
14) trazem estes exemplos, comparando sentenças com a Língua
Portuguesa.

PORTUGUÊS LIBRAS
Você encontrou seu amigo? VOCÊ ENCONTRAR AMIG@ (expressão de interrogação)
Você encontrou seu amigo. VOCÊ ENCONTRAR AMIG@ (expressão de afirmação)
Você encontrou seu amigo! VOCÊ ENCONTRAR AMIG@ (expressão de alegria)
Você encontrou seu amigo?! VOCÊ ENCONTRAR AMIG@ (expressão de dúvida/desconfiança)
Você não encontrou seu amigo. VOCÊ NÃO-ENCONTRAR AMIG@ (expressão de negação)
VOCÊ NÃO-ENCONTRAR AMIG@ (expressão de interrogação/
Você não encontrou seu amigo? negação)
Quadro 3.1 - Comparação entre Português e LIBRAS.

Unidade 3 81

book_libras.indb 81 16/12/2011 14:09:09


Universidade do Sul de Santa Catarina

Veja estes exemplos no vídeo, no EVA .


Exemplos de sinais feitos somente com
expressão facial: NINGUÉM5, ROUBAR2, TSC...TSC
(desapontamento), UFA, CABISBAIXO.

As expressões corporais estão presentes nos sinais


da mesma forma que as faciais e especificam sinais
que envolvem movimentos corporais. Por exemplo:
BAMBOLÊ, MANCAR, TROTAR, RASTEJAR2,
GARGALHAR2, JET SKI, DANÇAR.

Seção 3 – Morfologia
Você sabe o que significa a palavra morfologia?

Morfologia é a parte da linguística que estuda a


estrutura interna e a formação das palavras ou sinais.

Existem pouquíssimos estudos realizados sobre a morfologia das


línguas de sinais, o que nos faz recorrer, mais uma vez, a uma
aproximação com os aspectos morfológicos das línguas orais.
Se no campo da fonologia os estudos recaem sobre as unidades
mínimas sem significado, em morfologia estudam-se as unidades
mínimas com significado, ou seja, as palavras ou sinais.

Tal como as palavras nas línguas orais, os sinais pertencem a


categorias ou classes de palavras/sinais (um léxico, como dito
anteriormente) e existe um sistema de criação de novos sinais que
resulta da combinação das unidades com significado. A partir de
agora, abordaremos os processos de criação de sinais.

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book_libras.indb 82 16/12/2011 14:09:09


Libras

Como nas línguas orais, novos sinais podem ser criados a


partir de processos de derivação, formação de compostos
e empréstimos lingüísticos. Quadros e Karnopp (2004)
referem, além destes processos, a incorporação de numeral e
incorporação de negação no processo de formação de sinais em
LIBRAS.

3.1 Processo de derivação

Você já deve ter observado, na Língua Portuguesa, várias palavras


que derivam de outras. Por exemplo: pão – padaria – padeiro; flor
– floricultura – floreira – florista. Algumas palavras derivam de
verbos, como: preparar – preparação; agradecer – agradecimento
etc. A língua de sinais também apresenta esta característica,
distinguindo nomes de verbos por meio de mudanças mínimas
no parâmetro movimento, na expressão facial ou incorporação
de um outro sinal para produzir um segundo significado.

Veja estes exemplos de derivação.

a) Movimento

CADEIRA SENTAR
Repetição do movimento Apenas um movimento

Unidade 3 83

book_libras.indb 83 16/12/2011 14:09:10


Universidade do Sul de Santa Catarina

FALAR FALAR SEM PARAR


Movimento com uma mão Movimento com duas mãos e alongamento do
movimento

b) Expressão facial

CANSAR CANSADO
Sinal raiz Sinal raiz + expressão facial

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book_libras.indb 84 16/12/2011 14:09:10


Libras

c) incorporação de outro sinal

CALMA
Sinal raiz

CALMANTE
Incorporação de sinal

3.2 Formação de compostos

Sinais compostos são formados quando um sinal principal


– chamado núcleo – for acompanhado de um outro sinal –
chamado adjunto – para o especificar. Esta estrutura está
presente em todas as línguas e é chamada de binária. Veja estes
exemplos:

ZEBRA: CAVALO ^LISTRAS

NACIONALIDADE: NARCER^ONDE

ONÇA: LEÃO^BOLINHAS (no tórax)

Unidade 3 85

book_libras.indb 85 16/12/2011 14:09:11


Universidade do Sul de Santa Catarina

Ao acrescentarmos um sinal a um outro, seu significado original


é modificado. Por exemplo:

CASA

CASA^ESTUDAR = ESCOLA

CASA^CRUZ = IGREJA

HOMEM

HOMEM^TÁXI = TAXISTA

HOMEM^JOVEM = RAPAZ

HOMEM^RURAL = LAVRADOR

HOMEM^ELETRICIDADE = ELETRICISTA

3.2.1 Sinais compostos com formatos

São sinais formados por dois sinais, sendo que um deles


representa a forma do objeto que se quer especificar. Por exemplo:

RETÂNGULO ^ ESCREVER (no ar) – QUADRO-NEGRO

RETÂNGULO^DIRIGIR – CARTEIRA DE MOTORISTA

RETÂNGULO ^ESCOLA – SALA DE AULA

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book_libras.indb 86 16/12/2011 14:09:11


Libras

3.2.2 Sinais compostos por categorias

São sinais que representam categorias ou grupos classificatórios,


acrescentando-se o sinal VÁRI@ (vários) a um sinal núcleo. Por
exemplo:

MAÇÃ^VARI@ - frutas

CACHORRO^VARI@ - animais

VERMELHO^VARI@ - cores ou colorido

BRINCADEIRA^VARI@ - jogo

CARRO^ÔNIBUS^VARI@ - transportes

3.3 Empréstimos linguísticos

As línguas naturais utilizam com frequência palavras de outras


línguas para enriquecer seu vocabulário ou quando não têm
uma palavra correspondente em seu léxico. Este processo de
formação de palavras é chamado empréstimo linguístico ou
estrangeirismo e acontece por meio de contato social entre as
diferentes línguas. A língua de sinais apresenta vários tipos de
empréstimo linguístico: lexical ou soletração, inicialização, sinais de
outras línguas de sinais, domínios semânticos e empréstimos fonéticos.
Veja cada um deles.

„„ Empréstimo lexical ou soletração – é a utilização


do alfabeto manual para traduzir nomes próprios ou
palavras que representam conceitos ainda sem um sinal
equivalente em LIBRAS. Você já conheceu o Alfabeto
Manual Brasileiro na seção Fonologia e exercitou alguns
exemplos. Entretanto, existem palavras da Língua
Portuguesa que são “soletradas” na língua de sinais,
como, por exemplo:

Unidade 3 87

book_libras.indb 87 16/12/2011 14:09:11


Universidade do Sul de Santa Catarina

N-U-N-C-A; M-A-I-O; M-A-R-Ç-O; B-A-R, V-A-I; etc.

A soletração também é utilizada para siglas:

I-R – Imposto de Renda

B-B – Banco do Brasil

„„ Inicialização – é a utilização da configuração de mão


correspondente à primeira letra da palavra em Língua
Portuguesa em movimento. Por exemplo:

BRASIL VERDE MARROM ROXO

A letra inicial dos nomes das pessoas também é utilizada na


criação de seu sinal de identificação.

„„ Sinais de outras línguas de sinais – Por exemplo:

ANO – Língua de Sinais Americana

I LOVE YOU (eu te amo) – Língua de Sinais


Americana

VERMELH@, LARANJA – Língua de Sinais


Americana ou Língua de Sinais Francesa

„„ Domínios semânticos – Ferreira-Brito (1995) refere que


em Recife, por exemplo, quase todos os sinais utilizados
para cores são empréstimos linguísticos, não sendo
termos nativos, com exceção de AMAREL@.

„„ Empréstimos fonéticos – é a tentativa de representar


visualmente o som da palavra em português. Ferreira-
Brito (1995) refere, por exemplo, que o sinal utilizado
em São Paulo para DICIONÁRIO é #PÁ BURRO,
derivada da expressão em língua portuguesa “pai dos
burros”, sendo que uma parte do sinal representa o

88

book_libras.indb 88 16/12/2011 14:09:11


Libras

sinal literal (burro) e a outra parte (pai) foi percebida


foneticamente, embora de forma parcial (PÁ). Veja este
outro exemplo de empréstimo fonético:

Neste exemplo, são


utilizadas as letras do
alfabeto digital S e I,
sendo esta última um
empréstimo fonético,
representando o som
“i” tal como é percebido
auditivamente.
SE

3.4 Incorporação de numeral

Este processo é bastante comum na língua de sinais e refere-se ao


processo de incorporar uma configuração de mão com significado
de numeral a um sinal núcleo, modificando-se seu significado.
Por exemplo:

UM-MÊS DOIS-MÊS TRÊS-MÊS

Unidade 3 89

book_libras.indb 89 16/12/2011 14:09:14


Universidade do Sul de Santa Catarina

UM-HORA DUAS-HORA TRÊS-HORA

Outros exemplos – UM-DIA, DOIS-DIA, TRÊS-DIA e


QUATRO-DIA.

UM-ANO, DOIS-ANO, TRÊS-ANO e QUATRO-ANO.

Esta representação vai apenas até o número quatro.


A partir daí, os sinais são compostos por dois sinais
separados. Por exemplo: DEZ^MÊS, SEIS^HORA,
NOVE^DIA, QUINZE^ANO etc.

3.5 Incorporação de negação

A negação em LIBRAS pode ocorrer de três formas:

„„ com o uso do sinal NÃO acompanhado de expressão


facial correspondente:

COMER-NÃO FALAR-NÃO

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book_libras.indb 90 16/12/2011 14:09:14


Libras

„„ negação simultânea ao sinal do referente negado, com


um movimento da cabeça:

PRECISAR-NÃO

SABER-NÃO

„„ negação incorporada ao sinal. Neste caso o sinal


apresenta uma alteração em um de seus parâmetros,
especialmente no movimento:

GOSTAR NÃO GOSTAR

Unidade 3 91

book_libras.indb 91 16/12/2011 14:09:15


Universidade do Sul de Santa Catarina

TER NÃO TER

Veja exemplos em vídeo on-line.

3.6 Classes de sinais

As línguas naturais possuem formas diferenciadas para expressar


conceitos e nem todas possuem as mesmas classes gramaticais.
Os estudos sobre a língua de sinais ainda são bastante recentes e
não há concordância, entre os pesquisadores, sobre quais seriam
suas classes gramaticais. O fato de ser uma língua de modalidade
visual-espacial pode diferenciar esta categorização e, por este
motivo, estabelece-se uma aproximação com as classificações
feitas para as línguas orais. Neste estudo, abordaremos as
seguintes classes: substantivos, adjetivos, numerais, advérbios,
classificadores, sistema pronominal e verbos.

92

book_libras.indb 92 16/12/2011 14:09:15


Libras

3.6.1 Substantivos

Os substantivos dão nomes aos seres, objetos, conceitos,


sentimentos, lugares etc. Por exemplo: MENIN@, CADEIRA,
JORNAL, PRAIA, ALEGRIA, FORÇA, PEDRA etc.

Não há flexão de gênero (masculino e feminino) nos sinais,


uma vez que há sinais diferentes para cada sexo. Por exemplo:
GENRO, NORA; PAI, MÃE; MADRASTA, PADRASTO.
Em alguns casos, a indicação de sexo pode ser feita por meio dos
sinais HOMEM ou MULHER após o substantivo. Por exemplo:

IRM@^HOMEM - irmão

IRM@^MULHER - irmã

A flexão de número é realizada pelos valores singular, dual


e plural. O singular é expresso pelo próprio sinal. O valor
dual é expresso pela repetição do sinal ou pelo sinal DOIS
colocado antes ou depois do substantivo. Já o plural é expresso
pela repetição do sinal três ou mais vezes, pela indicação da
quantidade ou ainda pelo sinal MUITO colocado após o
substantivo. Veja este exemplo:

ÁRVORE – uma árvore

DOIS^ÁRVORE – duas árvores

ÁRVORE^ÁRVORE^ÁRVORE – muitas árvores


(FLORESTA)

ÁRVORE^MUITO – muitas árvores (FLORESTA)

Unidade 3 93

book_libras.indb 93 16/12/2011 14:09:16


Universidade do Sul de Santa Catarina

3.6.2 Adjetivos

Os adjetivos expressam as qualidades e as características dos


seres, objetos, lugares etc. e são realizados por sinais. A flexão de
grau dos adjetivos na língua de sinais é marcada de várias formas,
entre elas:

- intensificação do movimento. Exemplo:

BRAVO MUITO-BRAVO

- expressão facial. Exemplo: BONIT@, BONITINH@,


BONITÃO

Pesquisa
Procure no site <www.acessobrasil.org.br/libras> os
seguintes sinais:
ALTO; BAIXO; LONGE; PERTO; ALEGRE; TRISTE; DURO;
MOLE; FORTE; FRACO; FRIO; ESQUISITO; FÁCIL; FELIZ;
ZANGADO; TRANQUILO; NERVOSO; OTIMISTA; VELHO;
NOVO; ÓTIMO.

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Libras

3.6.3 Numerais

Os numerais indicam quantidades, posições, valores monetários,


pesos e medidas. Veja como cada situação se apresenta na língua
de sinais.

„„ Cardinais sem referencial – sinalizam uma quantidade


sem nenhuma referência, como número de uma casa, do
telefone, do RG, do CPF, um número sorteado, etc., que
são sinalizados da seguinte maneira:

„„ Cardinais com referencial – sinalizam numerais com


referência de

- unidade de tempo: idade, hora, mês etc.

- unidade de peso: grama, quilograma, tonelada, etc.

- unidade de medida: metro, centímetro, quilômetro.

Estes sinais são sinalizados da seguinte maneira:

Figura 3.7: Cardinais


Fonte: Coutinho (2000, p. 90).

Unidade 3 95

book_libras.indb 95 16/12/2011 14:09:16


Universidade do Sul de Santa Catarina

„„ Ordinais espaciais – sinalizam uma classificação ou


colocação por ordem em um espaço determinado. Por
exemplo: o quinto lugar, o oitavo andar, a primeira da fila
etc. e são representados da seguinte maneira:

Figura 3.8: Ordinais


Fonte: Coutinho (2000, p. 96)

„„ Ordinais temporais – sinalizam uma classificação ou


colocação de ordem temporal. Por exemplo: o primeiro a
sair; a sexta a chegar; o segundo tema, a quarta pergunta,
etc. e são representados com os sinais ordinais espaciais.

3.6.4 Sistema pronominal

Os pronomes na língua de sinais são realizados por meio da


apontação (dedo indicador em direção ao referente) da seguinte
maneira, conforme os exemplos dados:
Observamos aqui exemplos de
incorporação de numeral tal como
descrito anteriormente nesta
unidade.

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Libras

„„ pronomes pessoais

EU TU-VOCÊ EL@

NÓS NÓS-DOIS NÓS-TRÊS

VOCÊ-DOIS VOCÊ-TRÊS VOCÊ-TOD@

EL@ EL@-DOIS EL@-TRÊS

Unidade 3 97

book_libras.indb 97 16/12/2011 14:09:18


Universidade do Sul de Santa Catarina

„„ pronomes demonstrativos – estes pronomes e os


advérbios de lugar têm o mesmo sinal (CM em G) e
são diferenciados pelo contexto pelo estabelecimento do
olhar. Veja os exemplos de Strobel e Fernandes (1997):

EST@ / AQUI – olhar para o lugar apontado, perto da 1ª


pessoa.

ESS@ / AÍ – olhar para o lugar apontado, perto da 2ª pessoa.

AQUEL@ / LÁ – olhar para o lugar distante apontado.

98

book_libras.indb 98 16/12/2011 14:09:19


Libras

Veja exemplos em vídeo on-line.

Você se lembra do espaço de sinalização? Entendê-


lo é fundamental para o uso correto do sistema
pronominal.

„„ pronomes possessivos

ME NOSSO SE

DEL@ DEL@ DOIS DEL@ TRÊS

Unidade 3 99

book_libras.indb 99 16/12/2011 14:09:20


Universidade do Sul de Santa Catarina

„„ pronomes interrogativos – são marcados,


fundamentalmente, pela expressão facial interrogativa
simultânea ao sinal.

QUE/QUEM QUAL QUANTO

QUANDO ONDE COMO

POR QUÊ?

Veja exemplos em vídeo on-line.

100

book_libras.indb 100 16/12/2011 14:09:21


Libras

„„ pronomes indefinidos – referem-se à 3ª pessoa, de um


modo genérico. Por exemplo:

NINGUÉM (acabar) NINGUÉM/NADA NENHUM/NADA

Pesquisa
Pesquise no site <www.acessobrasil.org.br/libras>
os seguintes sinais, observando semelhanças e
diferenças:
ALGUM; TODO; OUTRO; QUALQUER; ALGUÉM, NADA,
CADA; UM

3.6.5 Verbos

Os verbos exprimem ações, estados ou fenômenos da natureza.


Na língua de sinais, os verbos não apresentam as flexões dos
verbos da Língua Portuguesa e são divididos em três classes:

„„ verbos simples – não flexionam em pessoa e número


e também não incorporam um local previamente
estabelecido no espaço. A maioria destes verbos são
sinais realizados em contato ou muito próximo ao corpo.
Alguns são verbos de estado enquanto que outros são de
ação. Por exemplo:

Unidade 3 101

book_libras.indb 101 16/12/2011 14:09:21


Universidade do Sul de Santa Catarina

SABER ESQUECER APRENDER

COMER FALAR GRITAR

Outros exemplos – NAMORAR, LER, QUEBRAR,


ENTENDER, RIR

„„ verbos com concordância – são verbos de movimento


ou direcionais. Flexionam em pessoa e número e
incorporam um local previamente estabelecido no
espaço. São realizados no espaço neutro e especificam,
sem erro, o sujeito e o objeto. A direção do movimento
indica o sujeito e o objeto. Veja o exemplo com o verbo
RESPONDER.

102

book_libras.indb 102 16/12/2011 14:09:22


Libras

1sRESPONDER2s 2sRESPONDER1s 2sRESPONDER3s

3sRESPONDER2s 3sRESPONDER1s 3sESPONDER3s

Outros exemplos – DAR, PERGUNTAR, INFORMAR,


ENSINAR, DIZER

Veja exemplos em vídeo on-line.

„„ verbos espaciais – também são verbos com concordância


ou direcionais, pois incorporam locais previamente
estabelecidos no espaço. Estes verbos apresentam a
característica de incorporar o objeto por meio de um
classificador. Veja os exemplos.

Unidade 3 103

book_libras.indb 103 16/12/2011 14:09:23


Universidade do Sul de Santa Catarina

IR COLOCAR ENTRAR

Verbo IR – IR LONGE, IR NORTE, IR SÃO PAULO


Verbo COLOCAR - BORRACHA MESA coisa-
pequenaCOLOCAR.
Verbo ENTRAR – ENTRAR-CASA; ENTRAR-CAIXA;
ENTRAR-ROUPA

3.6.6 Advérbios

Os advérbios modificam um verbo, um adjetivo, um outro


advérbio ou uma oração inteira. A língua de sinais apresenta
advérbios que representam as mesmas circunstâncias
representadas nas línguas orais.
Visualize estes sinais no site <www.
acessobrasil.org.be/libras>.
„„ tempo – AGORA, CEDO, TARDE, NUNCA,
ONTEM, HOJE, AMANHÃ, SEMPRE

„„ modo – ASSIM, MAL, BEM, DEPRESSA,


DEVAGAR, COMO

„„ lugar – AQUI, LÁ, PERTO, LONGE

„„ dúvida – TALVEZ

„„ afirmação – SIM

„„ negação – NÃO

„„ intensidade – MAIS, MUITO

104

book_libras.indb 104 16/12/2011 14:09:24


Libras

3.6.7 Classificadores (Cl)

Para compreender melhor o que são os classificadores e para que


servem, você deverá fazer um rápido exercício: procure descrever
os seguintes objetos utilizando seu corpo, sem usar a voz.

bola de gude, bola de basquete, bola de fogo, bola de


futebol, bola de tênis, bola de pingue-pongue.

Observe que para cada um destes objetos você utilizou


configurações de mão, movimentos e expressões faciais
diferentes. Os classificadores servem, justamente, para este tipo
de descrição, pois são sinais que utilizam configurações de mão
(CM) para descrever as formas dos objetos e seres.

Existem classificadores tanto nas línguas orais quanto nas


de sinais. Classificador (Cl) é uma unidade com sentido que
especifica, detalha, caracteriza um sinal, geralmente um verbo
ou um adjetivo, embora possa funcionar como nome, advérbio de
modo ou locativo, conforme Ferreira-Brito (1995, p. 102-103).

Em relação aos verbos, esta pesquisadora afirma que “em


LIBRAS, assim como em ASL, os Classificadores funcionam
como partes dos verbos em uma sentença, estes sendo chamados
verbos de movimento ou de localização.” Por exemplo:

Unidade 3 105

book_libras.indb 105 16/12/2011 14:09:24


Universidade do Sul de Santa Catarina

Figura 3.9: Andar


Fonte: Ferreira-Brito (1995, p. 105).

Quanto aos adjetivos, Campello (2007) explica que os


classificadores são auxiliares da língua de sinais que determinam
as especificidades e “dão vida” a uma ideia ou um conceito,
ou seja, aos signos visuais, e têm o objetivo de comunicar
visualmente. Para ela,

O Classificador representa forma e tamanho dos


referentes, assim como características dos movimentos
dos seres em um evento, tendo, pois, a função de
descrever o referente dos nomes, adjetivos, advérbios de
modo, verbos e locativos e muitos outros, diferentemente
do adjetivo da língua portuguesa.

106

book_libras.indb 106 16/12/2011 14:09:24


Libras

São exemplos, segundo Campello (2007):

- forma de um copo;

- largura de um livro;

- altura de uma pessoa;

- peso de um homem;

- formas dos cabelos das pessoas;

- duas pessoas andando na mesma direção;

- andar tropeçando;

- pessoas sentada na sala de aula (enfileiradas) etc.

Quadros e Pimenta (2006, p.71) esclarecem que os classificadores


“desempenham uma função descritiva podendo detalhar som,
tamanho, textura, paladar, tato, cheiro, formas em geral de
objetos inanimados e seres animados”.

Vale lembrar que as expressões faciais têm importância


fundamental na realização dos classificadores, intensificando seu
significado.

Seção 4 – Sintaxe
Nesta seção, você verá a definição de sintaxe e a que se refere o
seu estudo.

Sintaxe é a parte da gramática que estuda a


disposição das palavras na frase e das frases no
discurso, bem como a relação lógica das frases entre
si.

Unidade 3 107

book_libras.indb 107 16/12/2011 14:09:24


Universidade do Sul de Santa Catarina

O uso do espaço e a simultaneidade são mecanismos


fundamentais na estruturação das frases em LIBRAS, pois esta
é uma língua de modalidade visual-espacial, como já vimos.
Quadros e Karnopp (2004, p. 127) afirmam que a sintaxe
da LIBRAS requer “enxergar” esse sistema que não é oral-
auditivo, pois “qualquer referência usada no discurso requer o
estabelecimento de um local no espaço de sinalização (espaço
definido na frente do corpo do sinalizador)”.

Os estudos sobre a sintaxe da língua de sinais apontam que a


ordem básica nas frases é SVO (SUJEITO – VERBO – OBJETO),
embora sejam permitidas outras variações. Temos, por exemplo:

JOÃO COMER CHOCOLATE


S V O

PAULA PASSAR VESTIBULAR

S V O

EU COMPRAR REVISTA

S V O

Nas línguas orais, os diferentes tipos de sentenças são


identificados pela entonação da voz acompanhada ou não
de gestos e, na sua forma escrita, pelos sinais de pontuação.
Os tipos de sentenças em LIBRAS são estabelecidos pelas
expressões faciais e corporais, que informam se são afirmativas,
interrogativas, exclamativas, negativas ou imperativas. Você já
viu alguns exemplos na seção 2 – Fonologia. Vamos rever estes
conceitos, com os seguintes exemplos trazidos por Felipe e
Monteiro (2001, p. 52-55).

„„ Forma afirmativa: expressão facial neutra

MEU NOME M-A-R-I-A

„„ Forma interrogativa: sobrancelhas franzidas e um


ligeiro movimento da cabeça inclinando-se para cima.

108

book_libras.indb 108 16/12/2011 14:09:24


Libras

NOME QUAL? (expressão facial interrogativa feita


simultaneamente ao sinal QUAL).

NOME? (expressão facial feita simultaneamente ao sinal


NOME).

„„ Forma exclamativa: sobrancelhas levantadas e um


ligeiro movimento da cabeça inclinando-se para cima
e para baixo. Pode vir também com um intensificador
representado pela boca fechada com um movimento para
baixo.

EU VIAJAR RECIFE, BOM! BONIT@ LÁ!


CONHECER MUIT@ SURD@

„„ Forma negativa: a negação pode ser feita por meio de três


processos:

a) com o acréscimo do sinal NÃO à frase afirmativa:


BLUSA FEI@ COMPRAR NÃO

b) com a incorporação de um movimento contrário ao


sinal negado: GOSTAR-NÃO CARNE PREFERIR
FRANGO PEIXE

EU TER-NÃO TTD
TTD ou TDD – telefone
c) com um aceno de cabeça, que pode ser feito
para surdos.
simultaneamente com a ação que está sendo negada ou
juntamente com os processos acima:

EU VIAJAR PODER-NÃO

Veja exemplos em vídeo on-line.

Reveja os exemplos de incorporação de negação


na seção 3 – Morfologia.

Unidade 3 109

book_libras.indb 109 16/12/2011 14:09:24


Universidade do Sul de Santa Catarina

Veja a seguir alguns exempos de frases em LIBRAS e português


encontradas no site <www.acessobrasil.org.br/libras>.

Sinal – ESCOLA
TOD@ CASA^ESTUDO NORMAL AULA COMECAR FEVEREIRO O-U
MARÇO.
Todas as escolas começam as aulas, normalmente, em fevereiro ou
março.
Entendendo a transcrição
@ - gênero/número
^ - sinal composto
O-U – sinal soletrado

Sinal – HISTÓRIA
PROFESS@ 3sENSINAR1s HISTÓRIA INDEPENDÊNCIA BRASIL.
A professora de História me ensinou sobre a Independência do Brasil.
Entendendo a transcrição
@ - gênero/número
3sENSINAR1s – 3s – 3ª pessoa; 1s – 1ª pessoa

Sinal – RASCUNHO
PRIMEIR@ VOCÊ ESCREVER RASCUNH@ DEPOIS ESCREVER LIMP@.
Primeiro você faz rascunho, depois passa a limpo.
Entendendo a transcrição
@ - gênero/número

Sinal – TESTE2
TESTE GEOGRAFIA EU NOTA RUIM EU PRECISAR ESTUDARmuit@.
Tive nota ruim no teste de geografia, preciso estudar mais.
Entendendo a transcrição
ESTUDARmuit@ - derivação / intensidade

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Libras

Sinal – VERBO3
AGORA AULA PORTUGUÊS lsENSINAR2s VERBO.
Agora na aula de português vou ensinar sobre verbos.
Entendendo a transcrição
1sENSINAR2s – 1s – 1ª pessoa; 2s – 2ª pessoa

Sinal – LIÇÃO
POR-QUE CASA VOCÊ LIÇÃO TERMINAR-NÃO?
Por que você não fez a lição de casa?

Sinal – ACABARl
TEXTO PREPARAR ACABAR ALIVIAD@<brrrru>
Já acabei o texto e estou aliviado.
Entendendo a transcrição
@ - gênero/número
<brrrru> - expressão facial feita com o tremular dos lábios

Sinal – CAFEZINHO
B-A-R CAFÉ PEQUEN@ VALOR 1-REAL ABSURDO!
O cafezinho no bar custa um real, isso é um absurdo!
Entendendo a transcrição
B-A-R - sinal soletrado
@ - gênero/número
1-REAL - incorporação de numeral

Sinal – PINTAR9
M-Ã-E ME@ PREFERIR PINTAR-ROLO CASA DEL@.
A minha mãe prefere pintar a casa dela com o rolo.
Entendendo a transcrição
M-A-E - sinal soletrado
@ - gênero/número
PINTAR-ROLO – classificador

Unidade 3 111

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Sinal – INFORMAÇÃO
ANTIGAMENTE SURD@ INFORMAÇÃO POUC@ AGORA AUMENTAR POR-
CAUSA
SURGIMENT@ C-C.
Antigamente o surdo tinha pouca informação, que agora aumenta com
o surgimento da “Closed-
caption”.
Entendendo a transcrição
@ - gênero/número
POR-CAUSA - sinal composto
C-C - sinal soletrado (abreviação de Closed Caption)

Sinal-ESPARRAMAR
CRIANÇA CORRER pessoaCAIR LEITE ESPARRAMAR-CHÃO.
A criança estava correndo, caiu e esparramou leite no chão.
Entendendo a transcrição
pessoaCAIR - Classificador
ESPARRAMAR-CHÃO - Classificador

Sinal – NEGATIVO2
VOCÊ TER NEGATIVO? 2sDAR1s EU COPIAR.
Você tem os negativos? Poderia me dá-los para copiar.
Entendendo a transcrição
? - frase interrogativa
2sDAR1s - 2s – 2ª pessoa; 1s -1ª pessoa

Sinal – PALESTRA
EU GOSTARmuito PALESTRA SURD@ CULTURA BRASIL.
Eu gostei muito da palestra sobre a cultura surda no Brasil.
Entendendo a transcrição
GOSTARmuito - intensificação do movimento
@ - gênero/número

112

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Libras

Seção 5 – Semântica
Você sabe o que é semântica? Veja a definição a seguir.

Semântica é a parte da gramática que estuda o


sentido e a aplicação das palavras ou sinais em um
enunciado.

Tal como acontece na Língua Portuguesa, os sinais possuem


sentidos que podem variar de acordo com o contexto em que são
utilizados. Também é possível modificar o sentido de um sinal
quando o unimos a outro sinal. Existem pouquíssimos estudos
sobre a semântica das línguas de sinais, razão pela qual fazemos
um estudo aproximativo com aqueles feitos com as línguas orais.
Nestas, o estudo das relações de significado e sentido pode
ser dividido em dois níveis: nível lexical (relativo aos sinais
– antonímia, sinonímia, polissemia, entre outros) e nível das
sentenças (significado da estrutura, ambiguidade etc.).

5.1 Nível lexical

As principais relações semânticas no nível do léxico presentes na


língua de sinais são:
Veja no site <www.
„„ relação de equivalência (sinonímia) – refere-se a sinais
acessobrasil.org.br/
(ou palavras) diferentes que têm sentidos idênticos ou libras>.
semelhantes, podendo ser substituídas uma pela outra em
diferentes contextos. Exemplos de sinônimos:

PESSOA1 – PESSOA2

ABANDONAR2 – DEIXAR3

LEMBRAR1 – LEMBRAR2

M-E-S-T-R-A-D-O – MESTRADO

IMPRIMIR1 – IMPRIMIR2

Unidade 3 113

book_libras.indb 113 16/12/2011 14:09:25


Universidade do Sul de Santa Catarina

„„ relação de oposição (antonímia) – refere-se a sinais com


sentidos opostos entre si. Exemplos de antônimos:

GRANDE – PEQUENO

ECONOMIZAR – GASTAR

SIM – NÃO

GANHAR – PERDER

SUBIR – DESCER

„„ polissemia – refere-se à propriedade do sinal (ou palavra)


apresentar mais de um sentido. Neste aspecto, a língua
de sinais apresenta uma rica especificação do sinal com
o uso dos classificadores, como você viu anteriormente.
Para compreender melhor, veja o exemplo do sinal FINO
no site <www.acessobrasil.org.br/libras>, que apresenta
cinco significados/sentidos diferentes.

FINO1 – roupa fina (elegante)

FINO2 – lápis fino (diâmetro)

FINO3 – pernas finas (diâmetro, espessura)

FINO4 – livro fino, de poucas páginas (espessura,


quantidade)

FINO5 – pessoa fina (refinada, bem educada)

A polissemia também se aplica a sinais idênticos, mas com


significados diferentes. Esses sinais também são chamados
homônimos. A diferenciação desses sinais se dá pelo contexto no
qual são produzidos. Por exemplo:

114

book_libras.indb 114 16/12/2011 14:09:25


Libras

OCUPADO – NÃO-PODER

OCUPADO

AÇÚCAR – DOCE

AÇÚCAR

SÁBADO – LARANJA

SÁBADO

Outros exemplos – PENSAR – DUVIDAR – ENTENDER

LIBERDADE – DEMOCRACIA – DEIXAR2

RECADO – RESPOSTA

Unidade 3 115

book_libras.indb 115 16/12/2011 14:09:25


Universidade do Sul de Santa Catarina

5.2 Nível das sentenças

As relações semânticas que você estudou também aparecem no


nível das sentenças. Trataremos aqui das relações de equivalência
(sinônimos), oposição (antônimos), presentes no significado da
estrutura frasal e as relações de ambiguidade.

„„ Sentenças sinônimas

ONTEM ENCONTRAR HOMEM MULHER


ESTRANHOS PERTO CASA

ONTEM ENCONTRAR PESSOAS DOIS


ESTRANHOS PERTO CASA

Neste exemplo, os sinais referentes homem e mulher podem ser


substituídos pelos sinais referentes a duas pessoas, sem que o
significado se altere. O mesmo acontece nos exemplos a seguir.

V-E-R-A ROUPA VENDER


V-E-R-A CALÇA VESTIDO BLUSA VENDER

A-N-A MULHER P-A-U-L-O


P-A-U-L-O MARIDO A-NA

BONITO VOCÊ
FEIO VOCÊ-NÃO

FILHO PEDIR NATAL BOLA BICICLETA


SKATE
FILHO PEDIR NATAL BRINQUEDOS^VÁRIOS

„„ Sentenças antônimas

ONTEM IR CASA AMIGO ESCOLA


ONTEM NÃO-IR CASA AMIGO ESCOLA

Neste exemplo, a alteração do sinal IR para o sinal oposto NÃO-


IR muda o sentido da sentença. Veja outros exemplos.

V-E-R-A ROUPA VENDER


V-E-R-A ROUPA COMPRAR

116

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Libras

J-O-Ã-O BONITO
J-O-Ã-O FEIO

SAPATO VELHO GANHAR


SAPATO NOVO GANHAR

PREFEITO BOM GOVERNO


PREFEITO RUIM GOVERNO

PROVA MATEMÁTICA ESTUDAR


PROVA MATEMÁTICA ESTUDAR-NÃO

„„ Ambiguidade

A ambiguidade refere-se à duplicidade de sentidos que pode


haver em uma frase e é muito frequente nas línguas orais.
Entretanto, a língua de sinais tem como peculiaridade o uso de
referentes no espaço de sinalização, o que torna praticamente
impossível ‘ a ambiguidade de sentidos. Quadros (1997, p. 57)
afirma que o uso dos indicativos espaciais, incluindo os pronomes, permite
co-referência explícita e reduz a possibilidade de ambigüidade (...) o uso do
espaço é sistemático, favorecendo a identificação clara e correta do referente”.
Veja o exemplo que esta autora traz.

PAULO CONTAR JOÃO MULHER DELE CAIR

Paulo contou a João que a mulher dele caiu.

Nas línguas orais, esta sentença apresenta ambiguidade, pois


não está claro se quem caiu foi a mulher de Paulo ou de João. A
modalidade visual-espacial da língua de sinais permite explorar
o espaço de sinalização, estabelecendo locais específicos para
PAULO e JOÃO, esclarecendo o contexto. Desta forma, o
sinalizador explicitará o sentido da sentença com o sinal DELE
direcionado a um dos pontos estabelecidos no espaço como

Unidade 3 117

book_libras.indb 117 16/12/2011 14:09:25


Universidade do Sul de Santa Catarina

referentes a PAULO ou JOÃO. Este direcionamento poderá ser


feito pela apontação (sinal diretamente direcionado ao referente)
ou direcionamento do olhar. Não há, então, presença de
ambiguidade.

Seção 6 – A escrita da língua de sinais

O sistema signwriting

Nós, surdos, precisamos de uma escrita que represente os


sinais visuais-espaciais com os quais nos comunicamos,
não podemos aprender bem uma escrita que reproduz os
sons que não conseguimos ouvir.
Marianne Stumpf,
pesquisadora surda da escrita de sinais

Você sabia que a língua de sinais era considerada ágrafa até


pouco tempo atrás? As pesquisas no Brasil somente iniciaram no
final da década de 1990, com a pesquisadora surda Marianne R.
Stumpf, em Porto Alegre. O sistema signwriting foi criado pela
coreógrafa americana Valerie Sutton em 1974, que criou esse
sistema para registrar qualquer língua de sinais sem passar pela
tradução das línguas orais.

O sistema signwriting utiliza símbolos para representar as


configurações de mãos, os movimentos (pontos de contatos,
movimentos dos dedos e movimentos das mãos), posições e
movimentos de partes do corpo (ombros, cabeça e tronco) e
expressões faciais das línguas de sinais. Veja alguns exemplos.

Representação de configurações de mãos:

118

book_libras.indb 118 16/12/2011 14:09:26


Libras

Representação de movimentos:

Representação de posições e movimentos de partes do corpo:

Há também símbolos para posição da mão em relação ao chão


ou à parede, pontos e tipos de contato e expressões faciais e
corporais. Agora veja alguns exemplos de sinais:

SW1 SW2 SW3 SW4

SW5 SW6

O sistema signwriting utiliza o software Sign Writer, também


criado por Sutton, que é um editor de sinais que permite a escrita
de sinais por meio do computador utilizando o sistema DOS,

Unidade 3 119

book_libras.indb 119 16/12/2011 14:09:26


Universidade do Sul de Santa Catarina

sendo apreciado pelas crianças surdas das escolas de surdos que


têm a LIBRAS em seu currículo.

Para utilizar com sucesso o sistema signwriting, é necessário


saber a língua de sinais com fluência, pois é muito comum a
interferência da estrutura da Língua Portuguesa.

As representações básicas do signwriting são internacionais, por


isto é possível escrever diversas línguas de sinais com elas. Vale
lembrar que a escrita de sinais utiliza símbolos convencionais
e não desenhos, pois estes não têm significado fixo. Pode-se
escrever o sinal CASA, mas não “desenhar” o sinal CASA, por
exemplo.

A comunidade surda brasileira já produziu livros de


literatura infantil utilizando o sistema signwriting
enfatizando aspectos da cultura surda, por exemplo:
Cinderela Surda, Rapunzel Surda, Patinho Surdo, entre
outros, todos elaborados por surdos no Rio Grande
do Sul. Várias histórias e lendas brasileiras estão sendo
traduzidas em signwriting, tornando possível o acesso
à literatura mundial para as pessoas surdas.

O ensino da escrita de sinais está vinculado ao uso de


computadores, tornando-se este um instrumento fundamental
no desenvolvimento dessa escrita. Aliado ao conhecimento
tecnológico pelo computador, a escrita de sinais possibilita ao
surdo a transmissão direta de suas ideias e pensamentos para a
escrita sem passar pela língua oral, além do acesso à história e
cultura surdas de outros países, ampliando sua visão de mundo
e seu posicionamento diante dele. Além disso, fortalece a
identidade surda, a autonomia e a liberdade de expressão do
surdo.

A inclusão da escrita de sinais nos currículos das escolas de


surdos tem sido uma das muitas lutas da comunidade surda, uma
vez que ela facilita o acesso ao conhecimento produzido pela
humanidade, bem como a introdução de novos conhecimentos
produzidos pela comunidade surda.

120

book_libras.indb 120 16/12/2011 14:09:26


Libras

Aula de escrita de sinais – CEFET/SJ-2004

A aprendizagem do si stema SignWriting pelos


estudantes surdos permite uma mudança radical de
atitude frente à escrita – A percepção do “não posso””
– “não compreendo” – ““não consigo” – “não gosto” –
“sempre escrevo errado”, passa a ser “eu posso” – “eu
consigo compreender” – “se eu estudar vou aprender”.
Marianne Stumpf

Atividades de autoavaliação

Desenvolva as atividades a seguir, referentes à seção 2 desta unidade.


Para a realização destas atividades, acesse o site <www.acessobrasil.
org.br/libras>.

1) Procure dois sinais para cada uma das CM a seguir:

Unidade 3 121

book_libras.indb 121 16/12/2011 14:09:26


Universidade do Sul de Santa Catarina

2) Procure três exemplos de sinais com:

- uma mão e duas CM –


- duas mãos com CM diferentes –
- duas mãos com CM iguais –

3) Nesta atividade, você deverá encontrar a configuração de mão


pertencente a cada sinal, relacionando a primeira coluna com a
segunda:

( ) PATO
a)

( ) PARTICULAR
b)

( ) MANAUS
c)

( ) RIO DE JANEIRO
d)

( ) CULTURA
e)

122

book_libras.indb 122 16/12/2011 14:09:26


Libras

( ) ABRAÇO
f)

( ) METODOLOGIA
g)

( ) EMBAIXO
h)

( ) ÉTICA
i)

( ) OPINIÃO
j)

4) Vamos treinar? Com o alfabeto digital, “soletre” as seguintes palavras e


números:
„„ seu nome

„„ seu endereço completo

„„ seu telefone

„„ seu e-mail

„„ Piratininga, Damasco, Troia, Alfa Centauro, Andrômeda, Imbituba

„„ Tylenol, Cebion, diclofenaco monossódico, Gelol, Aspirina

„„ Miguel Fallabela, Glória Menezes, Olívio Dutra, Michael Jackson,


Madonna

5. Procure no site do INES (www.acessobrasil.org.br/libras) dois exemplos


para cada tipo de movimento:

„„ sinal com movimento retilíneo

„„ sinal com movimento helicoidal

„„ sinal com movimento circular

„„ sinal com movimento semicircular

„„ sinal com movimento sinuoso

„„ sinal com movimento angular

123

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Universidade do Sul de Santa Catarina

„„ sinal com movimento unidirecional

„„ sinal com movimento bidirecional

„„ sinal com movimento multidirecional

6) Procure no site do INES (www.acessobrasil.org.br/libras) três exemplos


para cada tipo de movimento:

„„ sinal articulado na cabeça

„„ sinal articulado no tronco

„„ sinal articulado nos braços

„„ sinal articulado nas mãos

„„ sinal articulado no espaço neutro

7) Procure no site do INES (www.acessobrasil.org.br/libras) dois exemplos


para cada orientação de mão:

„„ para cima

„„ para baixo

„„ para o corpo (dentro)

„„ para fora

„„ para o lado direito

„„ para o lado esquerdo

Desenvolva as atividades a seguir referentes à seção 3


desta unidade.

1) Procure no site do INES (www.acessobrasil.org.br.libras) os seguintes


sinais:

TELHA - TELHADO
PAPEL – PAPEL^VENDER
PRISÃO - APRISIONAR
JOELHO - JOELHADA
LABIRINTO - LABIRINTITE
BARRIGA - BARRIGUDO
124

book_libras.indb 124 16/12/2011 14:09:27


Libras

Registre nas linhas a seguir quais deles apresentam derivação por:

„„ movimento

„„ expressão facial

„„ incorporação de outro sinal

2) Procure no site <www.acessobrasil.org.br> os seguintes sinais:

„„ verbos simples – COMER; GOSTAR; SONHAR; RIR

„„ verbos com concordância – SUBIR; ANDAR; PERGUNTAR; DAR

„„ verbos espaciais – SENTAR; SAIR; EMPURRAR

3. Procure outros exemplos de cada tipo de verbo.

Unidade 3 125

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Desenvolva as atividades a seguir referentes à seção 4


desta unidade.

1) Para esta atividade, você precisará entrar no Espaço Virtual de


Aprendizagem - EVA. Observe o professor no vídeo e assinale os tipos
de frases conforme ele for sinalizando.

( ) FRASE AFIRMATIVA
( ) FRASE EXCLAMATIVA
( ) FRASE INTERROGATIVA
( ) FRASE NEGATIVA com acréscimo do sinal não
( ) FRASE NEGATIVA com incorporação de movimento contrário ao sinal
( ) FRASE NEGATIVA com aceno da cabeça

Desenvolva as atividades a seguir referentes à seção 5


desta unidade.

Para esta atividade, você precisará de um livro sobre a Gramática da


Língua Portuguesa e do site <www.acessobrasil.org.br/libras>.
1) Procure na Gramática da Língua Portuguesa exemplos de palavras
sinônimas, antônimas e homônimas (polissêmicas). Verifique no
site os sinais correspondentes a estas palavras e observe as diferenças
e semelhanças entre as duas línguas. Registre suas conclusões com
exemplos.

126

book_libras.indb 126 16/12/2011 14:09:27


Libras

Desenvolva as atividades a seguir referentes à seção 6


desta unidade.

1) Compare a escrita do alfabeto manual da LIBRAS com as configurações


de mão correspondentes.

Fonte: Dicionário Básico Português - LIBRAS

É possível observar que sete representações de letras e uma de


números apresentam marcas de movimento. Quais são elas?

LETRAS:
NÚMEROS:

Unidade 3 127

book_libras.indb 127 16/12/2011 14:09:27


Universidade do Sul de Santa Catarina

Saiba mais

Para aprofundar seus estudos sobre os aspectos estudados nesta


unidade, consulte os seguintes materiais:

Livros

POR UMA GRAMÁTICA DE LÍNGUA DE SINAIS –


Lucinda Ferreira Brito (1995)

Este foi o primeiro livro sobre o estudo linguístico da LIBRAS


publicado no Brasil e reúne os resultados das pesquisas feitas
pela autora. É considerado um marco nos estudos dessa
área, referência para todas as pesquisas posteriores até nossos
dias. Traz textos bastante profundos abrangendo os aspectos
descritivos da LIBRAS, a metodologia de pesquisa das línguas
de sinais e uma pesquisa comparativa de línguas de sinais. É
leitura fundamental para quem deseja aprofundar-se no assunto.

EDUCAÇÃO DE SURDOS – A AQUISIÇÃO DA


LINGUAGEM – Ronice Muller de Quadros (1997)

É leitura indispensável àqueles que desejam se dedicar à educação


de surdos. Neste livro, são contempladas discussões e reflexões
que permeiam o cotidiano escolar dos surdos no Brasil: as
propostas educacionais, as línguas de sinais e sua estrutura, a
aquisição da língua de sinais pelas crianças surdas e o processo de
aquisição da Língua Portuguesa como segunda língua.

LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA: ESTUDOS


LINGÜÍSTICOS – Ronice Muller de Quadros e Lodenir
Karnopp 2004

Estas duas linguistas, com vasta experiência no âmbito da língua


de sinais, descrevem e analisam a LIBRAS em seus aspectos
fonológicos, morfológicos e sintáticos. Leitura fundamental para
aprofundamento na língua de sinais.

128

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Libras

Cursos

LIBRAS EM CONTEXTO – FENEIS

Este curso faz parte do Programa Nacional de Apoio à Educação


dos Surdos, desenvolvido pelo MEC em parceria com a
FENEIS. Foi elaborado pelo grupo de estudos da LIBRAS
da FENEIS, sob coordenação da Profª Tânia Amara Felipe e
Mirna S. Monteiro. O curso tem 120 horas e o material consta
de apostila e DVD. É oferecido por professores de LIBRAS
credenciados pela FENEIS nas associações de surdos brasileiras.

A Federação Mundial de Surdos instituiu um Alfabeto Manual Procure a associação


de surdos de sua região
Internacional para uso em Congressos e encontros mundiais de
e informe-se sobre os
surdos. Compare-o com o utilizado no Brasil. cursos de LIBRAS. É muito
importante o contato
com os surdos para o
aprendizado da LIBRAS
e conhecimento da
comunidade e da cultura
surda.

Unidade 3 129

book_libras.indb 129 16/12/2011 14:09:27


book_libras.indb 130 16/12/2011 14:09:27
4
unidade 4

LIBRAS no processo ensino-


aprendizagem

Objetivos de aprendizagem
„„ Refletir sobre a utilização da LIBRAS no processo de
aprendizagem.

„„ Conhecer o papel do professor bilíngue e do intérprete


de língua de sinais no contexto educacional.

„„ Estabelecer relações entre a pedagogia da diferença e a


pedagogia dos surdos.

Seções de estudo
Seção 1 O ensino em LIBRAS

Seção 2 O intérprete de LIBRAS na sala de aula

Seção 3 Por uma Pedagogia Visual e uma Pedagogia da


Diferença

book_libras.indb 131 16/12/2011 14:09:27


Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Muito provavelmente, você terá alunos surdos em suas turmas em
algum momento de sua vida. Você já pensou sobre isso? Você já
teve experiências neste sentido?

Não faz muito tempo, a maioria dos alunos surdos estudava


em instituições especiais e concluíam com muita dificuldade o
ensino fundamental. Em Santa Catarina, os surdos estudaram
ou estudam em turmas de ouvintes a partir ou desde o início dos
anos 1960 e os resultados não foram melhores. Poucos concluíam
o ensino médio ou profissionalizante e o número de surdos nas
universidades era bastante reduzido.

A luta dos movimentos surdos por melhores condições


educacionais para essas pessoas trouxe transformações que foram
além do acesso à escola, transformações que incidem com força
total na formação dos profissionais que trabalham com esses
alunos. Por isto, o aprendizado da LIBRAS se tornou condição
sine qua non para a comunidade escolar de um modo geral. A
LIBRAS deixou de ter o status de língua de comunicação e
passou a ser língua de ensino, ou seja, as pessoas surdas aprendem
por meio de uma pedagogia visual em que a língua de sinais tem
papel preponderante e permeia todas as situações do contexto
educacional, dentro e fora da sala de aula.

Nesta unidade, você refletirá sobre a LIBRAS dentro da sala de


aula, como ela acontece e quais os personagens envolvidos no
processo ensino-aprendizagem e sua formação. Conhecerá alguns
aspectos da pedagogia visual e como ela se manifesta na educação
dos surdos dentro da perspectiva da pedagogia da diferença.
Verá, ainda, como esses aspectos se articulam naquilo que os
pesquisadores surdos chamam de pedagogia dos surdos e quais seus
reflexos nas políticas educacionais inclusivas.

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book_libras.indb 132 16/12/2011 14:09:27


Libras

Seção 1 - O ensino em LIBRAS


Em 2002, a Língua Brasileira de Sinais foi reconhecida em
todo território nacional por meio da Lei 10.436 (anexo 1).
A regulamentação desta Lei pelo Decreto-Lei nº 5.626 em
2005 (anexo 2) trouxe para o contexto educacional dois novos
profissionais: o professor de LIBRAS e o intérprete de LIBRAS,
com atribuições específicas e a responsabilidade de facilitar
o acesso ao conhecimento para os alunos surdos, colocando
a LIBRAS, desta forma, no rol das medidas necessárias para
promover e garantir a acessibilidade de alunos surdos na escola
e na sociedade. Assim, a LIBRAS passou a fazer parte do nosso
cotidiano, estando presente nas declarações oficiais e propagandas
do governo, nos programas políticos em época eleitoral, nas
escolas de um modo geral, na televisão etc.

Trazer a língua de sinais para a sala de aula foi uma conquista


para a comunidade surda, pois significa o reconhecimento da
diferença linguística desse grupo cultural e um posicionamento
mais aberto diante de suas especificidades visuais.

Entretanto, em que medida a língua de sinais


efetivamente está presente nas escolas onde os
surdos estudam?

Nossa experiência tem mostrado que, apesar desta conquista


histórica, ainda há muito caminho a ser percorrido. Para refletir
um pouco sobre isto, abordaremos a forma como a língua de
sinais tem sido introduzida nas escolas regulares de ouvintes.

Unidade 4 133

book_libras.indb 133 16/12/2011 14:09:28


Universidade do Sul de Santa Catarina

1.1 A LIBRAS entra na escola

Muitas vezes uma proposta bilíngüe é traduzida na


prática pela colocação de um intérprete na sala de aula,
como se esse procedimento isolado garantisse a plena
aprendizagem dos alunos surdos e o acesso a todos
os conteúdos escolares. O mesmo se verifica com a
inserção de uma aula semanal de Língua de Sinais para
a turma de ouvintes onde a criança surda estuda com o
objetivo de “facilitar” a comunicação na sala de aula. Tais
práticas são, na verdade, uma forma de justificar o título
“bilíngüe” das propostas educacionais para surdos, pois a
Língua de Sinais não tem papel constitutivo e é encarada,
infelizmente, como mero recurso ou instrumento de
comunicação apenas. (BASSO, 2003, p. 85).

Muito se tem escrito sobre a situação educacional dos surdos nas


escolas de ouvintes (e também nas escolas especiais) e a ineficácia
das alternativas pedagógicas utilizadas para que eles tenham
acesso ao conhecimento. É evidente a constatação de que, ao
final de anos de frequência à escola, esses alunos saem com um
mínimo de conhecimento, sendo muitas vezes considerados
analfabetos funcionais e têm dificuldades de acessar níveis
superiores de ensino. Estudos recentes apontam e afirmam a
necessidade de ter a língua de sinais como língua de ensino
desses alunos, promovendo acesso aos conhecimentos elaborados
pela humanidade e tornando-os participativos da sociedade em
geral (SKLIAR, 1997, 1998; QUADROS, 1997; LACERDA &
GOES, 2000; STUMPF, 2002, 2004; PERLIN, 2006).

As lutas por uma educação efetiva e de qualidade fizeram


com que a LIBRAS fosse inserida no contexto escolar e isto
tem acontecido de diversas formas: cursos temporários para
a comunidade escolar, com carga horária entre 40 e 60 horas
de estudos; como atividade das salas de recursos das escolas
públicas, atendendo somente aos alunos surdos duas ou três vezes
por semana; como estudos extracurriculares nas salas de aula
de ouvintes nas quais estão inseridos alunos surdos, permitindo
que toda a turma tenha acesso à LIBRAS; e, finalmente, como
disciplina obrigatória

134

book_libras.indb 134 16/12/2011 14:09:28


Libras

conforme determina a lei. Na maioria das vezes, o profissional


encarregado dessas aulas é um professor surdo (ou instrutor de
língua de sinais), contratado temporariamente para este fim, e,
em alguns casos, essa função é exercida por um professor ouvinte
com algum conhecimento da língua de sinais.

Estas práticas trazem algumas implicações: na maioria


das vezes, os alunos surdos das escolas regulares têm
pouco ou nenhum contato com os professores surdos,
uma vez que a carga horária destinada à língua
de sinais é bastante reduzida, mesmo nas salas de
recursos.

A língua de sinais não tem o status das demais disciplinas,


pois não consta ainda da grade curricular e, portanto, apenas
tangencia o universo escolar dos alunos surdos. Os professores
surdos também encontram resistência entre os professores
ouvintes, pois ainda existe a concepção de que eles são
“deficientes” e a língua de sinais é uma língua menor. Os cursos
feitos para a comunidade escolar são muito importantes e dão
uma visão geral da língua de sinais, introduzindo um vocabulário
básico e noções da cultura e da história dos surdos, favorecendo
minimamente a comunicação; porém, não instrumentaliza o
professor ouvinte para o ensino em língua de sinais, o que o
colocaria na posição de um professor bilíngue,como veremos
adiante.

Outros fatores a considerar são a formação dos professores


de LIBRAS e o espaço destes nas escolas. Até pouco tempo,
as aulas de LIBRAS nas escolas, nas associações de surdos e
outras instituições eram ministradas por instrutores de língua de
sinais, com formação pela FENEIS e escolarização em Ensino
Médio. No entanto, para atuarem em escolas públicas, esses
profissionais necessitam ter formação para o magistério, ou
seja, formação no ensino médio para o magistério ou em nível
superior em Pedagogia. Isto reduziu muito o número daqueles
considerados aptos para as aulas de LIBRAS. A alternativa que
o poder público encontrou foi aproveitar os professores ouvintes

Unidade 4 135

book_libras.indb 135 16/12/2011 14:09:28


Universidade do Sul de Santa Catarina

de seus quadros funcionais que tivessem algum conhecimento


da língua de sinais para essas aulas, deixando fora do processo os
surdos sem a graduação exigida, embora possam ser excelentes
professores de LIBRAS. As consequências desta alternativa são
muitas.

a) O baixo nível de proficiência dos professores ouvintes


em língua de sinais ocasiona a perda de elementos
linguísticos importantes para a constituição da própria
língua de sinais.

b) A interferência da língua portuguesa na estrutura


linguística da LIBRAS, descaracterizando-a e
contribuindo para sua deterioração.

c) A perda do elemento identitário e cultural, o surdo


adulto com o qual a criança surda se identifica, localiza-
se no mundo e adquire as pautas de conduta de sua
comunidade.

d) O comprometimento do processo de aquisição de


conceitos e negociação de sentidos, que somente é
possível quando partilhados uma língua comum, o que
contribui para uma série de mal-entendidos em sala de
aula.

Com estas e outras consequências, por mais boa vontade que


se tenha, é forçoso reconhecer a precariedade do processo
educacional oferecido aos alunos surdos e a necessidade, urgente,
de uma formação adequada e de qualidade dos professores
ouvintes como professores bilíngues.

No momento não temos os profissionais ouvintes


usando a língua de sinais. São poucos e é preciso
expandir os cursos de língua de sinais na escola e com
os professores surdos dando aula de LIBRAS para os
ouvintes entenderem a cultura surda, identidade surda e
movimentos surdos. (SCHMITT, 2007, p. 39).

A educação bilíngue compreende o ensino das pessoas surdas


por meio de duas línguas: a Língua Brasileira de Sinais, como
primeira língua, e a Língua Portuguesa, como segunda língua.

136

book_libras.indb 136 16/12/2011 14:09:28


Libras

De uma maneira simplificada, podemos definir o professor


bilíngue como aquele que tem proficiência nas duas modalidades
linguísticas: espaço-visual da LIBRAS e oral-auditiva da Língua
Portuguesa.

A formação do professor bilíngue vai muito além do


conhecimento da LIBRAS, pois compreende o domínio de uma
pedagogia voltada para as experiências visuais, denominada pelos
estudiosos surdos como pedagogia visual ou pedagogia da
diferença.

Por quê?

Porque concebe uma forma de ensinar que respeita as


peculiaridades dos alunos surdos, que apreendem o mundo por
meio da visão, com implicações significativas na sua cultura.
Neste sentido, vai muito além de acrescentar imagens (figuras,
fotografias e vídeos) no planejamento, mas de trabalhar
significativamente essas imagens, de forma a proporcionar
uma elaboração conceitual mais ampla e profunda, com base
nas experiências visuais. Conceber um ensino nestas condições
significa dar relevância à imagem como signo, e não como
complemento ou acessório da palavra escrita ou falada.

A atuação do professor bilíngue com os alunos surdos


corresponderá à elaboração de atividades linguísticas
significativas em LIBRAS, plenas de conteúdo e importância
real. Longe de propor atividades estruturais repetitivas, o
professor bilíngue discutirá o conteúdo das aulas em LIBRAS,
utilizando as experiências visuais e fazendo com que os alunos
realmente apreendam esse conteúdo, pois a negociação de
sentidos em língua de sinais é fundamental para o aprendizado e
desenvolvimento da criança surda.

Mas como se dá a formação desse professor?

Unidade 4 137

book_libras.indb 137 16/12/2011 14:09:28


Universidade do Sul de Santa Catarina

Se não basta apenas saber LIBRAS e Língua Portuguesa, é


necessário que a formação desse professor contemple vários
elementos, sendo os mais importantes:

„„ conhecimento profundo da estrutura linguística da


LIBRAS;

„„ conhecimento da comunidade surda e suas manifestações


culturais;

„„ estudos sobre formas diferenciadas de ensino-


aprendizagem;

„„ estudos sobre a pedagogia visual e pedagogia da


diferença, na perspectiva dos Estudos Culturais.

Somente nesta perspectiva é possível fazer uma educação


de surdos voltada para as necessidades próprias das pessoas
surdas e coerentes com suas lutas históricas por emancipação e
reconhecimento de seus direitos.

Figura 4.1: Professor bilíngue

138

book_libras.indb 138 16/12/2011 14:09:28


Libras

Seção 2 - O intérprete de LIBRAS na sala de aula


Esta seção é bastante
prática, envolvendo
A interpretação da língua de sinais surge como resposta a conceitos sobre a
uma demanda social das pessoas surdas à necessidade de atuação dos intérpretes
romper com as barreiras de comunicação que as isolam da educacionais nas
sociedade e o direito a participar nesta em igualdade de unidades de ensino nas
condições aos demais cidadãos. quais existam alunos
Rodriguèz e Burgos (1999). surdos, sem adentrarmos
numa reflexão mais
aprofundada neste
A regulamentação da Lei 10.436/2002 por meio do Decreto-Lei momento, embora ela seja
5.626/2005 trouxe para dentro da escola dois novos profissionais: necessária. Optamos pelo
o professor de LIBRAS e o intérprete de Língua de Sinais. Veja esclarecimento sobre este
o que diz a Lei: profissional, deixando a
reflexão para uma outra
oportunidade.

Art. 21. A partir de um ano da publicação deste Decreto, as


instituições federais de ensino da educação básica e da educação
superior devem incluir, em seus quadros, em todos os níveis,
etapas e modalidades, o tradutor e intérprete de Libras - Língua
Portuguesa, para viabilizar o acesso à comunicação, à informação
e à educação de alunos surdos.

§ 1º O profissional a que se refere o caput atuará:


I - nos processos seletivos para cursos na instituição de
ensino;
II - nas salas de aula para viabilizar o acesso dos alunos
aos conhecimentos e conteúdos curriculares, em
todas as atividades didático-pedagógicas; e
III - no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-
fim da instituição de ensino.

Unidade 4 139

book_libras.indb 139 16/12/2011 14:09:28


Universidade do Sul de Santa Catarina

Junto com o professor de LIBRAS, o intérprete de língua de


sinais é um dos principais profissionais no processo ensino-
aprendizagem dentro das salas de aula onde estão inseridos
alunos surdos. Você já deve ter visto esse profissional atuando
em alguma situação: palestra ou conferência, culto religioso,
propaganda política, programas educativos e vídeos. São
múltiplos os espaços onde atuam esses profissionais, mas é no
espaço de sala de aula que eles têm sua maior atuação.

A presença de um intérprete de língua de sinais não significa


apenas que o direito do aluno surdo ao acesso à informação está
sendo respeitado, mas também o direito do professor ouvinte, que
tem pouco domínio desta língua, de ter um profissional que o
interprete em suas aulas para um aluno que não fala português.

Conforme Rodriguéz e Burgos (1999 p. 29-30), o intérprete de


língua de sinais auxilia a:

„„ Eliminar barreiras de comunicação nos locais onde se


encontram pessoas surdas e ouvintes, que compartilham
línguas diferentes.

„„ Facilitar às pessoas surdas o acesso a informações e


conhecimentos por meio da sua própria língua – a língua
de sinais.

„„ Favorecer a independência da pessoa surda, usuária


da língua de sinais, para tomar suas próprias decisões,
ajudando-a a dispor da informação necessária para
formar um critério.

„„ Reconhecer o direito a acessar a informação e à


comunicação, tanto da pessoa surda usuária da língua
de sinais, como da pessoa não competente em língua de
sinais.

Apresentamos aqui algumas informações básicas relativas a esse


profissional e sua atuação no espaço pedagógico.

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book_libras.indb 140 16/12/2011 14:09:28


Libras

O que é um intérprete de língua de sinais?

O intérprete é um profissional bilíngue que efetua a comunicação


entre surdos e ouvintes, da língua de sinais para a língua oral e
vice-versa.

O que é um intérprete educacional?

É um intérprete profissional que atua dentro das unidades


escolares onde estudam alunos surdos. Geralmente, é também
um profissional da educação, com graduação em nível superior, e
deve ter formação específica nessa área.

Quais os requisitos para o exercício dessa profissão?

O intérprete deve ter:

„„ fluência em LIBRAS;

„„ fluência em Língua Portuguesa;

„„ conhecimento da comunidade surda e convivência com


ela;

„„ graduação em nível superior;

„„ formação específica na área da interpretação em língua


de sinais, reconhecida por órgão competente.

Deve ser:

„„ profissional bilíngue;

„„ reconhecido pelas associações e/ou órgãos responsáveis


(FENEIS; PROLIBRAS).

Unidade 4 141

book_libras.indb 141 16/12/2011 14:09:28


Universidade do Sul de Santa Catarina

Qual o papel do intérprete de língua de sinais em sala de aula?

Facilitar a comunicação entre alunos surdos usuários da língua


de sinais e seus pares ouvintes no contexto educacional (aula
propriamente dita, palestras, reuniões, trabalhos em grupo, saídas
de estudo, ou seja, todas as situações do cotidiano escolar que
envolvam a participação dos alunos). O intérprete deve transmitir
a mensagem o mais fielmente possível, evitando interferências
pessoais e interpretações inadequada sobre qualquer assunto,
respeitando os envolvidos no ato comunicativo – professor e
alunos. O intérprete deve considerar, ainda, a idade do aluno e
os interesses pessoais para desenvolver um trabalho adequado.
Alunos de diferentes idades e níveis de escolaridade têm atitudes
e interesses bastante diversos que devem ser levados em conta no
momento da interpretação.

Onde o aluno surdo e o intérprete devem posicionar-se na sala de aula?

O melhor lugar para o aluno posicionar-se é onde ele possa olhar


na mesma direção que seus colegas e o intérprete deve ficar ao seu
lado ou próximo a ele. O intérprete também pode ficar ao lado do
professor ou do material visual que este esteja utilizando.

Qual o tempo médio de interpretação?

O ideal é que haja um intervalo a cada 20 ou 30 minutos para


que o intérprete possa refazer-se, uma vez que o trabalho de
interpretação é bastante cansativo. Para isso, seriam necessários
pelo menos dois intérpretes para cada sala de aula. Entretanto,
a realidade mostra que na maioria dos casos o intérprete atua
sozinho em sala de aula, interpretando até quatro horas de aula
seguidas. Isto traz um desgaste físico e mental muito grande,
além de riscos de lesões físicas (LER e DORT, principalmente).
Em razão disto, é muito frequente a perda da qualidade da
interpretação dado o desgaste mental, comprometendo o acesso
ao conteúdo que está sendo trabalhado em sala de aula. Intervalos
de 10 minutos a cada meia hora poderiam minimizar esta
situação, mas o ideal é a presença de dois profissionais na sala de
aula.

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book_libras.indb 142 16/12/2011 14:09:29


Libras

Como deve ser a relação entre o intérprete e o professor regente?

Ambos devem ser parceiros no processo ensino-aprendizagem.


O aluno surdo é, antes de tudo, um aluno como qualquer outro,
sob a responsabilidade do professor regente. Este deve procurar
passar seu planejamento (tema da aula, texto que utilizará em
aula, materiais, atividades, vídeos etc.) para o intérprete com
antecedência para que ele possa fazer os arranjos necessários
ao seu trabalho de interpretação. O intérprete de língua de
sinais não é um professor-auxiliar ou assistente do professor
regente (apesar de ser, também, um educador) ou um professor
particular do aluno surdo. É um profissional necessário às
atividades específicas de interpretação e atuará neste contexto.
O intérprete deve ser um colaborador do professor regente no
sentido de fornecer informações sobre alternativas visuais para os
conteúdos a serem trabalhados, esclarecendo sobre a característica
de aprendizagem dos surdos (essencialmente visual) e aspectos
da língua de sinais e da cultura surda que podem (e devem) ser
abordados em sala de aula.

Como explicar para os alunos a presença do intérprete em sala


de aula?

É normal os alunos ficarem curiosos em relação a uma outra


pessoa em sala de aula além do professor. É importante que este
esclareça a presença do intérprete e qual sua função com relação
ao aluno surdo e demais membros do grupo. Algumas regras
deverão ser observadas por todos os presentes.

„„ Falar no ritmo e na velocidade normal. O intérprete


avisará caso o professor esteja falando rápido ou devagar
demais ou necessite que a informação seja repetida.

„„ É impossível interpretar mais de uma pessoa de cada vez,


portanto, é necessário observar se todos estão falando ao
mesmo tempo e dar oportunidade para que todos falem,
cada um a seu turno.

Unidade 4 143

book_libras.indb 143 16/12/2011 14:09:29


Universidade do Sul de Santa Catarina

„„ Olhar para o surdo e não para o intérprete, ou seja, fazer


perguntas diretamente ao aluno surdo, evitando diálogos
somente com o intérprete. O aluno surdo deve participar
de todas as atividades pedagógicas com suas próprias
opiniões e conhecimentos.

„„ Evitar perguntas pessoais sobre o aluno surdo para o


intérprete.

Quais os principais preceitos éticos que devem ser observados


pelo intérprete?

Quadros (2004, p. 28) nos esclarece a respeito:

a) confiabilidade (sigilo profissional);

b) imparcialidade (o intérprete deve ser neutro e não


interferir com opiniões próprias);

c) discrição (o intérprete deve estabelecer limites no seu


envolvimento durante a atuação);

d) distância profissional (o profissional intérprete e sua vida


pessoal são separados);

e) fidelidade (o intérprete deve ser fiel, ele não pode alterar


a informação por querer ajudar ou ter opiniões a respeito
de algum assunto, o objetivo da interpretação é passar o
que realmente foi dito).

Como você pode observar, o exercício profissional do intérprete


de língua de sinais tem suas especificidades e requer tanto um
conhecimento profundo da língua de sinais e da cultura surda
como de técnicas e procedimentos adequados de tradução e
interpretação geral e no âmbito educacional. O conhecimento
adequado da língua portuguesa também é imprescindível, uma
vez que ele traduzirá e interpretará o aluno surdo, suas opiniões
e ideias; será a “voz do surdo” em sala de aula, necessitando de
habilidades adequadas para isto.

144

book_libras.indb 144 16/12/2011 14:09:29


Libras

Seção 3 - Por uma pedagogia visual e uma pedagogia


da diferença

Um jeito surdo de aprender exige um jeito surdo de


ensinar.
Gladis Perlin

Nesta seção, trataremos da perspectiva pela qual os estudiosos


surdos têm abordado a surdez e o surdo – a pedagogia da
diferença, que propõe outras leituras com base nas diferenças
culturais para os conceitos que têm balizado a educação dos
surdos. Ressignificar a surdez como uma marca cultural e
não como uma patologia implica ressignificar, também, toda
uma postura educacional para que esta assuma seu papel
emancipatório e transformador em lugar da reabilitação e
normalização ainda presente em nossos dias. O foco passa a ser
o surdo como uma pessoa completa (RANGEL e STUMPF,
2004) e não mais um ouvinte com defeito, prejudicado por uma
condição biológica limitadora. Na pedagogia da diferença, há a
diferença cultural e a diferença linguística e não uma relação de
dominação e supremacia de um grupo sobre outro.

Neste contexto, não cabe a mesma pedagogia existente, mas


uma outra, pautada na concepção da diferença como marca
constitutiva humana e, portanto, uma pedagogia que não é
homogênea e única. Não cabe, também, o mesmo tipo de
professor, a mesma metodologia (com algumas “adaptações
visuais”), os mesmos recursos pedagógicos, a mesma forma de
registro escrito. É preciso criar uma outra forma de ensinar
porque as pessoas surdas aprendem pelas experiências visuais
e significam o mundo nas interações em língua de sinais. E,
como não pode deixar de ser, o currículo também necessita
ser outro; daí uma pedagogia visual ou, como os estudiosos e
pesquisadores surdos denominam, a pedagogia dos surdos.

Perlin (2004, p. 81) aponta que

não se trata de uma pedagogia pronta, mas de uma


pedagogia histórica que assume o jeito surdo de ensinar,
de propor o jeito surdo de aprender, experiência vivida
por aqueles que são surdos.

Unidade 4 145

book_libras.indb 145 16/12/2011 14:09:29


Universidade do Sul de Santa Catarina

Essa pedagogia, que vem sendo construída e refletida no fazer


dos educadores surdos, propõe algumas condições básicas.
(PERLIN, 2006).

„„ Enfatizar o fato de “ser surdo” – significa a identificação


da pessoa surda como um sujeito cultural, membro
de uma comunidade que tem uma cultura, história e
língua próprias, negando, assim, sua identificação com a
“deficiência”.

É por isso que não há bilingüismo, muito menos


multilingüismo, fora da multiculturalidade e não esta
como fenômeno espontâneo, mas criado, produzido
politicamente, trabalhado, a duras penas, na história.
(FREIRE, 1992, p. 157).

„„ Conservar a identidade do “povo surdo” – pautado na


diferença cultural e não na subalternidade.

Denominar povo é novamente uma estratégia de poder.


De que se constitui esse povo? De associações, de
organizações locais, nacionais e mundiais de surdos, de
lutas, de cultura, de políticas. Não como uma simples
comunidade a quem podem impor regras mas como uma
estrutura forte que se defende, impõe suas regras, seus
princípios. (PERLIN, 2006, p. 82).

„„ Exaltação da língua de sinais – o currículo e toda


ação pedagógica deve ser na língua de sinais. Ela deve
perpassar todos os espaços educacionais e inclui a escrita
da língua de sinais. “Sem a presença da língua de sinais é
questionável qualquer pedagogia dos surdos”. (PERLIN,
2006, p. 76).

„„ Transmitir valores culturais – requer uma metodologia


surda com valores surdos, presentes nas formas pelas
quais a comunidade surda organiza e reorganiza suas
relações com o mundo.

„„ Atitudes interculturais – de respeito pelas diferentes


culturas, de valorização das trocas culturais, de
construção de atitudes solidárias de interação entre
diferentes grupos.

146

book_libras.indb 146 16/12/2011 14:09:29


Libras

A multiculturalidade não se constitui na justaposição


de culturas, muito menos no poder exacerbado de uma
sobre as outras, mas na liberdade conquistada, no direito
assegurado de mover-se cada cultura no respeito uma
da outra, correndo o risco livremente de ser diferente,
sem medo de ser diferente, de ser cada uma “para si”,
somente como se faz possível crescerem juntas e não na
experiência da tensão permanente, provocada pelo todo-
poderosismo de uma sobre as demais, proibidas de ser.
(FREIRE, 1992, p. 156).

Neste sentido, a presença de pesquisadores e professores


surdos, representantes legítimos de uma identidade cultural, é
fundamental na proposição dessa nova pedagogia. Ela pressupõe
que a língua de sinais deve ser o instrumento de acesso ao
conhecimento e às informações; que o registro deve contemplar
outras formas além do registro escrito em português; que tem o
português como segunda língua; que o espaço da cultura surda
é o espaço da diferença; que a língua de sinais deve ser usada
pelos alunos, funcionários e professores no cotidiano escolar; que
a experiência visual seja predominante neste modelo (PERLIN,
2002, p. 66). E o professor de surdos, na pedagogia da diferença,
necessariamente tem de ser bilíngue.

Refletir sobre essa pedagogia somente é possível se todos


os envolvidos no processo educacional estiverem realmente
engajados na luta pela sua construção. Luta, porque ela implica
rompimentos com concepções já fossilizadas sobre a cultura, a
educação, a língua de sinais e as pessoas surdas. Desta forma,
alguns questionamentos são urgentes: que representações
nós temos sobre a surdez e os surdos; que posição nós temos
assumido em relação à língua de sinais e à cultura surda; o que
está por trás do nosso fazer pedagógico em relação aos surdos;
se nós estamos dispostos a pensar dentro de uma perspectiva
cultural que celebra a diferença.

A proposta educacional vigente, apesar dos avanços legais


em relação à obrigatoriedade do ensino de LIBRAS nas
escolas, ainda está longe de atingir minimamente os ideais da
comunidade surda. Nós, educadores, temos o compromisso ético
de ajudar a romper as barreiras que impedem os diferentes grupos
culturais do pleno exercício de cidadania, de exercerem seus
direitos, de conquistarem uma vida mais digna e justa.

Unidade 4 147

book_libras.indb 147 16/12/2011 14:09:29


Universidade do Sul de Santa Catarina

Sonhar é imaginar horizontes de possibilidades; sonhar


coletivamente é assumir a luta pela construção das
condições de possibilidade. A capacidade de sonhar
coletivamente, quando assumida na opção pela vivência
da radicalidade de um sonho comum, constitui atitude
de formação que orienta-se não apenas por acreditar
que as situações-limite podem ser modificadas, mas,
fundamentalmente, por acreditar que essa mudança
se constrói constante e coletivamente no exercício
crítico de desvelamento dos temas-problemas sóciais
que as condicionam. O ato de sonhar coletivamente, na
dialeticidade da denúncia e do anúncio e na assunção
do compromisso com a construção dessa superação,
carrega em si um importante potencial (trans)formador
que produz e é produzido pelo inédito-viável, visto
que o impossível se faz transitório na medida em que
assumimos coletivamente a autoria dos sonhos possíveis.

Paulo Freire – Pedagogia dos sonhos possíveis

Síntese

Esta unidade teve a preocupação de apresentar algumas reflexões


sobre a introdução da LIBRAS no ensino de surdos. Hoje, ela
é visível nas salas de aula não apenas como língua dos alunos
surdos, mas pela presença de professores bilíngues e intérpretes
de língua de sinais, embora ainda com o objetivo de auxiliar a
comunicação entre surdos e ouvintes e não como língua de ensino
destes alunos. Tanto o professor bilíngue quanto o intérprete
de língua de sinais necessita de uma sólida formação que vai
além do conhecimento da língua de sinais, abrangendo aspectos
da cultura surda e das experiências visuais que permeiam o
processo de aprendizagem dos surdos. Pesquisadores e estudiosos
surdos apontam o caminho da pedagogia da diferença como
campo possível para a construção de uma pedagogia visual, ou
pedagogia dos surdos.

Na perspectiva dos estudos culturais, a pedagogia da diferença


é um caminho para a criação de alternativas educacionais mais
justas, que respeitem as diferenças entre culturas, que valorizem

148

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Libras

saberes diversos dos instituídos, que exaltem as diferentes


línguas como manifestações culturais genuínas, que afirmem
as diferentes identidades individuais e coletivas. Neste sentido,
a comunidade surda convida todos para participarem dessa
construção coletiva, em direção a uma pedagogia que reflita as
suas peculiaridades como grupo cultural. Esta disciplina não
teve somente o objetivo de apresentar a Língua Brasileira de
Sinais aos educadores e futuros educadores, mas de inserir, ainda
que brevemente, essas pessoas nas discussões que se travam
diariamente na educação das pessoas surdas, no sentido de
abrir um leque que envolve outras formas de pensar a surdez, os
surdos, a língua de sinais, a história e a cultura surda. Esperamos
ter alcançado este fim.

Atividades de autoavaliação

1) Com base nas informações sobre o intérprete educacional, o que este


profissional deveria fazer se:

a) o professor delegasse a ele a responsabilidade de passar o conteúdo


desenvolvido em sala de aula para o aluno surdo?

Unidade 4 149

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Universidade do Sul de Santa Catarina

b) o aluno surdo o informasse que não está entendendo a explicação do


professor?

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Libras

Saiba mais

Filmes

BABEL (2006). Drama sobre o problema de comunicação em


diversas partes do mundo. A personagem surda evidencia a
realidade e os conflitos das pessoas surdas no mundo ouvinte com
muita lucidez. Imperdível.

A MÚSICA E O SILÊNCIO (1998). Drama franco-alemão


sobre família de pais surdos e filhas ouvintes e a relação de uma
delas com a música. Os personagens surdos são interpretados por
atores surdos.

OS FILHOS DO SILÊNCIO (1986). Romance sobre o


relacionamento entre uma moça surda e um professor ouvinte. É
interessante observar o significado da língua de sinais para cada
um deles. Muitos atores deste filme são surdos.

Mr. HOLLAND – ADORÁVEL PROFESSOR (1995). Traz


a história de um professor de música que descobre que o filho é
surdo. Os conflitos entre o mundo ouvinte e o mundo surdo estão
presentes de uma forma bastante realista. Um filme leve, mas
muito envolvente.

GESTOS DE AMOR (1993). Drama italiano que mostra


o encontro e romance entre um surdo oralizado e uma surda
usuária da língua de sinais. É um filme lento e denso, mas
profundo nas reflexões que traz sobre as relações familiares e
educacionais dos surdos.

Unidade 4 151

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Livros

O VÕO DA GAIVOTA – Escrito por Emmanuelle Laborit,


uma atriz surda francesa, que conta sua experiência na luta pelos
surdos na França. É um livro sensível, escrito de forma leve,
abordando conceitos e preconceitos da nossa sociedade em relação
aos surdos. Emmanuelle recebeu o prêmio Molière de melhor
atriz por sua atuação teatral em “Os Filhos do Silêncio”. (Editora
Best Seller – Círculo do Livro, 1996)

MÃOS FAZENDO HISTÓRIA – Organizado por Sabine


Antonialli Arena Vergamini, este livro trás o relato de histórias
de vida de surdos brasileiros, suas experiências com a surdez, com
a família, com a escola, com a língua de sinais e a comunidade
surda. Leitura obrigatória para quem deseja aprender a ver com
os olhos dos surdos. (Editora Arara Azul, 2003).

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Para concluir o estudo

Caro aluno,

Você acabou de vislumbrar uma pequena parte do


universo surdo, conheceu sua história, sua cultura e sua
comunidade. As noçõtes sobre os aspectos linguísticos
da língua brasileira de sinais – LIBRAS e da escrita
de sinais tiveram como objetivo principal apresentar
os elementos que a caracterizam como língua natural,
materna e nativa de uma comunidade que luta pelo seu
reconhecimento e de sua cultura.

Acreditamos que não seja possível aprender uma língua


sem conhecer aqueles que a criam em suas interações
culturais, e por isto apresentamos este estudo desta
forma. Assim, trouxemos reflexões sobre a importância
que a comunidade surda atribui ao ensino da LIBRAS
nas escolas, para surdos e ouvintes, tendo o professor
como nosso principal alvo, pois é ele o mediador entre
as diferentes culturas presentes no meio escolar. Na
perspectiva da pedagogia da diferença, a escola se coloca
como local privilegiado onde culturas diversas interagem,
constituindo-se mutuamente num processo de constante
transformação. Nesta perspectiva, não há lugar para
dominações, para opressão, para a deficiência, para a
segregação, para o preconceito. Utopia? Paulo Freire
diz que é impossível viver sem sonhos, e acreditamos que
uma escola possível para os surdos começa, justamente,
no sonhar de tantos surdos por uma escola mais aberta
às diferenças, uma sociedade mais solidária, um mundo
melhor para todos.

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Referências

ANTUNES, I. Muito além da gramática: por um ensino sem


pedras no caminho. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
BASSO, I. M. S. Educação de pessoas surdas: novos olhares
sobre as questões do ensinar e do aprender língua portuguesa.
2003. Dissertação (Mestrado em Educação). UFSC/CED,
Florianópolis, 2003.
CAMPELLO, A. R. S. Classificadores. Anotações de aula no Curso
de Capacitação de Intérpretes de língua de sinais. São José:
FENEIS-SC, 2007.
FELIPE, T. A., MONTEIRO, M. S. Libras em contexto: curso básico,
livro do professor instrutor. Brasília: Programa Nacional de Apoio
à Educação dos Surdos, MEC: SEESP, 2001.
_____. Libras em contexto: curso básico, livro do estudante/
cursista. Brasília: Programa Nacional de Apoio à Educação dos
Surdos, MEC: SEESP, 2001.
FENEIS. Folder informativo. Florianópolis: Federação Nacional
de Educação e Integração dos Surdos – Escritório Regional de
Santa Catarina, 2005.
FERREIRA BRITO, L. Por uma gramática de Língua de Sinais. Rio
de Janeiro: Tempo Brasileiro/ UFRJ – Departamento de Linguística
e Filologia, 1995.
FREIRE, P. Pedagogia da esperança: um reencontro com a
pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de
Janeiro: DP&A, 2001.
LACERDA, M. C. B. F.; GÓES, M. C. R. Surdez – processos
educativos e subjetividade. São Paulo: Lovise, 2000.
LODI; HARRISON; CAMPOS (org.). Letramento e minorias. Porto
Alegre: Mediação, 2002.
PERLIN, G. T. História dos surdos. Florianópolis: UDESC/CEAD,
2002.
_____. O lugar da cultura surda. In: THOMA, A. S.: LOPES, M. C. A
invenção da surdez – cultura, alteridade, identidade e diferença
no campo da educação. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004.

book_libras.indb 155 16/12/2011 14:09:30


_____. SURDOS: Cultura e Pedagogia. In: THOMA, A. S.: LOPES, M. C. A
invenção da Surdez II – espaços e tempos de aprendizagem na educação
de surdos. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2006.
_____. A cultura surda e o intérprete de língua de sinais. Palestra
proferida na abertura do curso de capacitação de intérpretes de língua de
sinais. São José. FENEIS/SC, 2006.
QUADROS, R. M. Educação de surdos – a aquisição da linguagem. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1997.
_____. KARNOPP, L. Língua de Sinais Brasileira: estudos lingüísticos.
Porto Alegre: Artmed, 2004.
RODRÍGUEZ, E. S.; BURGOS, M. P. L. Técnicas de interpretación de lengua
de signos. Barcelona: Fundación CNSE, 1999.
SACKS, O. Vendo vozes. Uma viagem ao mundo dos surdos. São Paulo:
Cia. das Letras, 1998.
SCHMITT, D. História cultural na educação dos surdos: a história
da primeira turma de surdos de Santa Catarina. Projeto de pesquisa
apresentado para banca de qualificação de Mestrado em Educação, UFSC,
2007.
SCHMITT, D., SILVA, F. I., BASSO, I. M. S. Curso de Pedagogia para Surdos:
Língua Brasileira de Sinais. Florianópolis: UDESC/CEAD, 2002.
SKLIAR, C. (org.). Educação e exclusão: abordagens socioantropológicas
em educação especial. Porto Alegre: Mediação, 1997.
_____. (org.). A surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre:
Mediação, 1998.
SKLIAR, C.; LUNARDI, M. L. Estudos Surdos e Estudos Culturais em
Educação: um debate entre professores ouvintes e surdos sobre o currículo
escolar. In: LACERDA, M. C. B. F.; GÓES, M. C. R. Surdez – processos
educativos e subjetividade. São Paulo: Lovise, 2000.
STROBEL, K. L.; FERNANDES, S. Aspectos lingüísticos da LIBRAS. Curitiba:
SEE, 1997.
STUMPF, M. R. Transcrições de língua de sinais brasileira em signwriting. In:
LODI, HARRISON & CAMPOS (org) – Letramento e minorias. Porto Alegre:
Mediação, 2002.
_____. Sistema signwriting: por uma escrita funcional para o surdo. In:
THOMA, A. S.; LOPES, M. C. A invenção da surdez – cultura, alteridade,
identidade e diferença no campo da educação. Santa Cruz do Sul:
EDUNISC, 2004.
THOMA, A. S.; LOPES, M. C. A invenção da surdez – cultura, alteridade,
identidade e diferença no campo da educação. Santa Cruz do Sul:
EDUNISC, 2004..

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Sobre os professores conteudistas

Deonisio Schmitt é graduado em Pedagogia para


Surdos pela Universidade do Estado de Santa
Catarina (UDESC), com especialização em Prática
Interdisciplinar: Educação Infantil e Séries Iniciais
pela Faculdade Capivari (FUCAP). Atualmente, cursa
o mestrado em Educação na Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC), desenvolvendo pesquisa sobre
a História Cultural da Educação dos Surdos: a história
da primeira turma de surdos de Santa Catarina. É
aluno do curso Letras-Libras pela UFSC e do curso
de especialização em Educação de Surdos – Aspectos
Culturais, Políticos e Educacionais pelo CEFET-
SC. É também coautor do Caderno Pedagógico de
Língua Brasileira de Sinais para educação a distância
da UDESC, pesquisador de LIBRAS no Grupo de
Estudos Surdos da UFSC com a Profª Ronice Muller de
Quadros. É professor de LIBRAS para crianças, jovens
e adultos surdos e ouvintes e membro da Sociedade de
Surdos de São José (SSSJ-SC). Foi membro da diretoria
da Federação Nacional de Educação e Integração de
Surdos em Santa Catarina (FENEIS-SC) no período
2003-2007.

Idavania Maria de Souza Basso é pedagoga com


habilitação em Educação de Surdos pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP),
especialista em Alfabetização pela Universidade do
Estado de Santa Catarina (UDESC) e mestre em
Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC), desenvolvendo pesquisa sobre o ensino de
língua portuguesa para surdos nas escolas regulares. É
coautora do Caderno Pedagógico de Língua Brasileira de
Sinais para educação a distância da UDESC.

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Desenvolve pesquisas sobre ensino de LIBRAS para surdos


e ouvintes e Língua Portuguesa como segunda língua para
surdos. É professora da Prefeitura Municipal de Florianópolis.
Foi membro da diretoria da Federação Nacional de Educação
e Integração dos Surdos em Santa Catarina (FENEIS-SC) no
período 2003-2007.

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Respostas e comentários das
atividades de autoavaliação

Unidade 1
1) Resposta pessoal.

2) A cultura surda se manifesta pelas experiências visuais que


constituem as pessoas surdas como uma comunidade. Estas
experiências se explicitam na literatura, nas artes, na história
cultural, em uma pedagogia da diferença e, principalmente,
na língua de sinais. A cultura surda não é “vista” somente
no uso de tecnologias que facilitam a vida cotidiana, mas é
“sentida” como uma maneira de estar no mundo e vivenciá-
lo por meio das experiências essencialmente visuais, nas
quais a língua de sinais é a manifestação mais importante.

3) Resposta pessoal.

Unidade 2

1) Língua natural: é a língua produzida nas interações entre


seres humanos; não é uma língua artificial.

Língua materna: é a língua que a criança aprende de maneira


natural, nas relações dialógicas em seu ambiente.

Língua nativa: é a língua que identifica o indivíduo com uma


determinada comunidade e cultura.

2) A língua de sinais difere da língua oral justamente na


modalidade. A LIBRAS é uma língua de modalidade visual-
espacial porque se expressa por meio de sinais manuais
realizados no espaço e nas expressões não manuais e é
percebida pela visão. A língua oral manifesta-se pelos
canais auditivo-orais, ou seja, são percebidas pela audição e
expressas pela voz.

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Universidade do Sul de Santa Catarina

3) Sinais icônicos são sinais que apresentam semelhança com aquilo que
representam, sendo facilmente identificáveis. Já os sinais arbitrários
são sinais que não apresentam nenhuma semelhança com o que
representam, pois são sinais convencionados culturalmente.

Unidade 3
Seção 2

1) Resposta pessoal
2) Resposta pessoal
3) A sequência das respostas é: C, E, G, F, I, A, J, D, B, H
4) Resposta pessoal
5) Resposta pessoal
6) Resposta pessoal
7) Resposta pessoal

Seção 3

1) movimento:
PRISÃO – APRISIONAR / LABIRINTO – LABIRINTITE
expressão facial:
BARRIGA – BARRIGUDO / JOELHO – JOELHADA
incorporação de outro sinal:
TELHA – TELHADO / PAPEL – PAPEL^VENDER

Seção 4

1) A sequência das respostas é: 5, 3, 1, 2, 4, 6.

Seção 5

1) Resposta pessoal

Seção 6

1) A sequência das respostas é:

LETRAS: Ç, H, I, K, W, X, Z NÚMERO: 8

160

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Libras

Unidade 4
1) a) O intérprete deve lembrar ao professor que a
responsabilidade do processo ensino-aprendizagem em
sala de aula é do professor, não do intérprete. Geralmente,
o professor tem pouco conhecimento da língua de sinais e
sente dificuldade em relação à comunicação. O intérprete
pode sugerir que os professores e toda a comunidade
escolar tenham acesso à língua de sinais por meio de cursos
com profissionais competentes. Isto auxiliaria a fazer desse
professor um professor bilíngue, com condições para ensinar
alunos surdos em sua língua.

b) O intérprete deve sempre remeter as questões do aluno ao


professor, que sempre deve ser informado quando o aluno
surdo não entender o conteúdo. Como qualquer outro aluno,
deve solicitar novas explicações quando o conteúdo não for
compreendido. O intérprete não deve aproveitar-se disto e
fazer, ele mesmo, uma nova explicação naquele momento,
pois esta função é do professor. Ele pode sugerir novas
abordagens e recursos visuais que auxiliem na compreensão
do conteúdo, mas não assumir o processo de ensino.

161

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Biblioteca Virtual

Veja a seguir os serviços oferecidos pela Biblioteca Virtual aos


alunos a distância:

„„ Pesquisa a publicações on-line


<www.unisul.br/textocompleto>
„„ Acesso a bases de dados assinadas
<www.unisul.br/bdassinadas>
„„ Acesso a bases de dados gratuitas selecionadas
<www.unisul.br/bdgratuitas >
„„ Acesso a jornais e revistas on-line
<www.unisul.br/periodicos>
„„ Empréstimo de livros
<www.unisul.br/emprestimos>
„„ Escaneamento de parte de obra*

Acesse a página da Biblioteca Virtual da Unisul, disponível no EVA,


e explore seus recursos digitais.
Qualquer dúvida escreva para: bv@unisul.br

* Se você optar por escaneamento de parte do livro, será lhe enviado o


sumário da obra para que você possa escolher quais capítulos deseja solicitar
a reprodução. Lembrando que para não ferir a Lei dos direitos autorais (Lei
9610/98) pode-se reproduzir até 10% do total de páginas do livro.

book_libras.indb 163 16/12/2011 14:09:30


book_libras.indb 164 16/12/2011 14:09:30
capa libras novo_curvas.pdf 1 16/12/2011 14:44:14

CM

MY

CY

CMY

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