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Universidade do Sul de Santa Catarina

História da Matemática
Disciplina na modalidade a distância

Palhoça
UnisulVirtual
2011
Créditos
Universidade do Sul de Santa Catarina | Campus UnisulVirtual | Educação Superior a Distância
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Ailton Nazareno Soares Aloísio José Rodrigues Patricia A. Pereira de Carvalho Poliana Simao Marcia Luz de Oliveira
Ana Luísa Mülbert Paulo Lisboa Cordeiro Schenon Souza Preto Mayara Pereira Rosa
Vice-Reitor Ana Paula R.Pacheco Paulo Mauricio Silveira Bubalo Luciana Tomadão Borguetti
Sebastião Salésio Heerdt Artur Beck Neto Rosângela Mara Siegel Gerência de Desenho e
Bernardino José da Silva Simone Torres de Oliveira Desenvolvimento de Materiais Assuntos Jurídicos
Chefe de Gabinete da Reitoria Charles Odair Cesconetto da Silva Vanessa Pereira Santos Metzker Didáticos Bruno Lucion Roso
Willian Corrêa Máximo Dilsa Mondardo Vanilda Liordina Heerdt Márcia Loch (Gerente) Sheila Cristina Martins
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Pró-Reitor de Ensino e Horácio Dutra Mello Gestão Documental Desenho Educacional
Lamuniê Souza (Coord.) Cristina Klipp de Oliveira (Coord. Grad./DAD) Rafael Bavaresco Bongiolo
Pró-Reitor de Pesquisa, Itamar Pedro Bevilaqua
Pós-Graduação e Inovação Jairo Afonso Henkes Clair Maria Cardoso Roseli A. Rocha Moterle (Coord. Pós/Ext.) Portal e Comunicação
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Pró-Reitora de Administração José Carlos da Silva Junior Guilherme Henrique Koerich Carmelita Schulze Luiz Felipe Buchmann Figueiredo
Acadêmica José Gabriel da Silva Josiane Leal Daniela Siqueira de Menezes Rafael Pessi
Marília Locks Fernandes Delma Cristiane Morari
Miriam de Fátima Bora Rosa José Humberto Dias de Toledo
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Pró-Reitor de Desenvolvimento Luiz G. Buchmann Figueiredo Gerência Administrativa e Eloísa Machado Seemann Arthur Emmanuel F. Silveira (Gerente)
e Inovação Institucional Marciel Evangelista Catâneo Financeira Flavia Lumi Matuzawa Francini Ferreira Dias
Renato André Luz (Gerente) Geovania Japiassu Martins
Valter Alves Schmitz Neto Maria Cristina Schweitzer Veit
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Universitário de Tubarão Moacir Fogaça Daniel Contessa Lisboa Leandro Romanó Bamberg Alberto Regis Elias
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Diretor do Campus Universitário Patrícia Fontanella Thais Helena Bonetti Luiz Henrique Milani Queriquelli Cristiano Neri Gonçalves Ribeiro
da Grande Florianópolis Roberto Iunskovski Valmir Venício Inácio Marcelo Tavares de Souza Campos Daiana Ferreira Cassanego
Hércules Nunes de Araújo Rose Clér Estivalete Beche Mariana Aparecida dos Santos Davi Pieper
Gerência de Ensino, Pesquisa e Marina Melhado Gomes da Silva Diogo Rafael da Silva
Secretária-Geral de Ensino Vice-Coordenadores Graduação Extensão Marina Cabeda Egger Moellwald Edison Rodrigo Valim
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Solange Antunes de Souza Aracelli Araldi Pâmella Rocha Flores da Silva
Bernardino José da Silva Frederico Trilha
Diretora do Campus Catia Melissa Silveira Rodrigues Rafael da Cunha Lara Jordana Paula Schulka
Elaboração de Projeto Roberta de Fátima Martins Marcelo Neri da Silva
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Vanderlei Brasil Sabrina Bleicher Noemia Souza Mesquita
Joel Irineu Lohn Francielle Arruda Rampelotte
Equipe UnisulVirtual José Carlos Noronha de Oliveira Verônica Ribas Cúrcio Oberdan Porto Leal Piantino
José Gabriel da Silva Reconhecimento de Curso
José Humberto Dias de Toledo Acessibilidade Multimídia
Diretor Adjunto Maria de Fátima Martins Vanessa de Andrade Manoel (Coord.) Sérgio Giron (Coord.)
Moacir Heerdt Luciana Manfroi
Rogério Santos da Costa Extensão Letícia Regiane Da Silva Tobal Dandara Lemos Reynaldo
Secretaria Executiva e Cerimonial Rosa Beatriz Madruga Pinheiro Maria Cristina Veit (Coord.) Mariella Gloria Rodrigues Cleber Magri
Jackson Schuelter Wiggers (Coord.) Sergio Sell Vanesa Montagna Fernando Gustav Soares Lima
Marcelo Fraiberg Machado Pesquisa Josué Lange
Tatiana Lee Marques Daniela E. M. Will (Coord. PUIP, PUIC, PIBIC) Avaliação da aprendizagem
Tenille Catarina Valnei Carlos Denardin Claudia Gabriela Dreher Conferência (e-OLA)
Mauro Faccioni Filho (Coord. Nuvem)
Assessoria de Assuntos Sâmia Mônica Fortunato (Adjunta) Jaqueline Cardozo Polla Carla Fabiana Feltrin Raimundo (Coord.)
Internacionais Pós-Graduação Nágila Cristina Hinckel Bruno Augusto Zunino
Coordenadores Pós-Graduação Anelise Leal Vieira Cubas (Coord.) Sabrina Paula Soares Scaranto
Murilo Matos Mendonça Aloísio José Rodrigues Gabriel Barbosa
Anelise Leal Vieira Cubas Thayanny Aparecida B. da Conceição
Assessoria de Relação com Poder Biblioteca Produção Industrial
Público e Forças Armadas Bernardino José da Silva Salete Cecília e Souza (Coord.) Gerência de Logística Marcelo Bittencourt (Coord.)
Adenir Siqueira Viana Carmen Maria Cipriani Pandini Paula Sanhudo da Silva Jeferson Cassiano A. da Costa (Gerente)
Walter Félix Cardoso Junior Daniela Ernani Monteiro Will Marília Ignacio de Espíndola Gerência Serviço de Atenção
Giovani de Paula Renan Felipe Cascaes Logísitca de Materiais Integral ao Acadêmico
Assessoria DAD - Disciplinas a Karla Leonora Dayse Nunes Carlos Eduardo D. da Silva (Coord.) Maria Isabel Aragon (Gerente)
Distância Letícia Cristina Bizarro Barbosa Gestão Docente e Discente Abraao do Nascimento Germano Ana Paula Batista Detóni
Patrícia da Silva Meneghel (Coord.) Luiz Otávio Botelho Lento Enzo de Oliveira Moreira (Coord.) Bruna Maciel André Luiz Portes
Carlos Alberto Areias Roberto Iunskovski Fernando Sardão da Silva Carolina Dias Damasceno
Cláudia Berh V. da Silva Rodrigo Nunes Lunardelli Capacitação e Assessoria ao Fylippy Margino dos Santos Cleide Inácio Goulart Seeman
Conceição Aparecida Kindermann Rogério Santos da Costa Docente Guilherme Lentz Denise Fernandes
Luiz Fernando Meneghel Thiago Coelho Soares Alessandra de Oliveira (Assessoria) Marlon Eliseu Pereira Francielle Fernandes
Renata Souza de A. Subtil Vera Rejane Niedersberg Schuhmacher Adriana Silveira Pablo Varela da Silveira Holdrin Milet Brandão
Alexandre Wagner da Rocha Rubens Amorim
Assessoria de Inovação e Jenniffer Camargo
Gerência Administração Elaine Cristiane Surian (Capacitação) Yslann David Melo Cordeiro Jessica da Silva Bruchado
Qualidade de EAD Acadêmica Elizete De Marco
Denia Falcão de Bittencourt (Coord.) Jonatas Collaço de Souza
Angelita Marçal Flores (Gerente) Fabiana Pereira Avaliações Presenciais
Andrea Ouriques Balbinot Juliana Cardoso da Silva
Fernanda Farias Iris de Souza Barros Graciele M. Lindenmayr (Coord.)
Carmen Maria Cipriani Pandini Juliana Elen Tizian
Juliana Cardoso Esmeraldino Ana Paula de Andrade
Secretaria de Ensino a Distância Kamilla Rosa
Maria Lina Moratelli Prado Angelica Cristina Gollo
Assessoria de Tecnologia Samara Josten Flores (Secretária de Ensino) Simone Zigunovas
Mariana Souza
Osmar de Oliveira Braz Júnior (Coord.) Cristilaine Medeiros Marilene Fátima Capeleto
Giane dos Passos (Secretária Acadêmica) Daiana Cristina Bortolotti
Felipe Fernandes Adenir Soares Júnior Tutoria e Suporte Maurício dos Santos Augusto
Felipe Jacson de Freitas Delano Pinheiro Gomes Maycon de Sousa Candido
Alessandro Alves da Silva Anderson da Silveira (Núcleo Comunicação) Edson Martins Rosa Junior
Jefferson Amorin Oliveira Andréa Luci Mandira Claudia N. Nascimento (Núcleo Norte- Monique Napoli Ribeiro
Phelipe Luiz Winter da Silva Fernando Steimbach Priscilla Geovana Pagani
Cristina Mara Schauffert Nordeste)
Fernando Oliveira Santos
Priscila da Silva Djeime Sammer Bortolotti Maria Eugênia F. Celeghin (Núcleo Pólos) Sabrina Mari Kawano Gonçalves
Rodrigo Battistotti Pimpão Lisdeise Nunes Felipe Scheila Cristina Martins
Douglas Silveira Andreza Talles Cascais Marcelo Ramos
Tamara Bruna Ferreira da Silva Evilym Melo Livramento Daniela Cassol Peres Taize Muller
Marcio Ventura Tatiane Crestani Trentin
Fabiano Silva Michels Débora Cristina Silveira Osni Jose Seidler Junior
Coordenação Cursos Fabricio Botelho Espíndola Ednéia Araujo Alberto (Núcleo Sudeste) Thais Bortolotti
Coordenadores de UNA Felipe Wronski Henrique Francine Cardoso da Silva
Diva Marília Flemming Gisele Terezinha Cardoso Ferreira Janaina Conceição (Núcleo Sul) Gerência de Marketing
Marciel Evangelista Catâneo Indyanara Ramos Joice de Castro Peres Eliza B. Dallanhol Locks (Gerente)
Roberto Iunskovski Janaina Conceição Karla F. Wisniewski Desengrini
Jorge Luiz Vilhar Malaquias Kelin Buss Relacionamento com o Mercado
Auxiliares de Coordenação Juliana Broering Martins Liana Ferreira Alvaro José Souto
Ana Denise Goularte de Souza Luana Borges da Silva Luiz Antônio Pires
Camile Martinelli Silveira Luana Tarsila Hellmann Maria Aparecida Teixeira Relacionamento com Polos
Fabiana Lange Patricio Luíza Koing  Zumblick Mayara de Oliveira Bastos Presenciais
Tânia Regina Goularte Waltemann Maria José Rossetti Michael Mattar Alex Fabiano Wehrle (Coord.)
Jeferson Pandolfo
Eliane Darela
Marleide Coan Cardoso
Rosana Camilo da Rosa

História da Matemática
Livro didático

Revisão e atualização de conteúdo


Marleide Coan Cardoso
Rosana Camilo da Rosa

Design instrucional
Roseli Rocha Moterle

3ª edição

Palhoça
UnisulVirtual
2011
Copyright © UnisulVirtual 2011
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.

Edição – Livro Didático


Professoras Conteudistas
Eliane Darela
Marleide Coan Cardoso
Rosana Camilo da Rosa

Revisão e atualização de conteúdo


Marleide Coan Cardoso
Rosana Camilo da Rosa

Design Instrucional
Karla Leonora Dahse Nunes
Roseli Rocha Moterle (3ª edição)

ISBN
978-85-7817-273-2

Projeto Gráfico e Capa


Equipe UnisulVirtual

Diagramação
Delinea Design Soluções Gráfica e Digitais LTDA
Jordana Paula Schulka (3ª edição)

Revisão
Diane Dal Mago

510.9
D23 Darela, Eliane
História da matemática : livro didático / Eliane Darela, Marleide Coan
Cardoso, Rosana Camilo da Rosa ; revisão e atualização de conteúdo
Marleide Coan Cardoso, Rosana Camilo da Rosa ; design instrucional
[Karla Leonora Dahse Nunes], Roseli Rocha Moterle. – 3. ed. – Palhoça :
UnisulVirtual, 2011.
295 p. : il. ; 28 cm.

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7817-273-2

1. Matemática - História. 2. Teoria dos conjuntos. 3. Geometria –


História. 4. Trigonometria. 5. Álgebra. 6. Estática. I. Cardoso, Marleide Coan.
II. Rosa, Rosana Camilo da. III. Nunes, Karla Leonora Dahse. IV. Moterle,
Roseli Rocha. V. Título.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul


Sumário

Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7
Palavras das professoras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

UNIDADE 1 - A história dos números: a maior invenção da humanidade . . . 19


UNIDADE 2 - Teoria dos conjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
UNIDADE 3 - Conhecendo a história da geometria nas diferentes
culturas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
UNIDADE 4 - A geometria nas Idades Média, Moderna e
Contemporâne . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
UNIDADE 5 - O estudo da trigonometria nos diferentes tempos
históricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177
UNIDADE 6 - Uma visão geral da história da álgebra . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193
UNIDADE 7 - A estatística: aspectos históricos importantes . . . . . . . . . . . 243
UNIDADE 8 - Uma proposta de trabalho envolvendo a história
da Matemática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 253

Para concluir o estudo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 269


Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 271
Sobre as professoras conteudistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 277
Respostas e comentários das atividades de autoavaliação . . . . . . . . . . . . . 279
Biblioteca Virtual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 295
Apresentação

Este livro didático corresponde à disciplina História da


Matemática.

O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma


e aborda conteúdos especialmente selecionados e relacionados
à sua área de formação. Ao adotar uma linguagem didática
e dialógica, objetivamos facilitar seu estudo a distância,
proporcionando condições favoráveis às múltiplas interações e a
um aprendizado contextualizado e eficaz.

Lembre-se que sua caminhada, nesta disciplina, será


acompanhada e monitorada constantemente pelo Sistema
Tutorial da UnisulVirtual, por isso a “distância” fica
caracterizada somente na modalidade de ensino que você optou
para sua formação, pois na relação de aprendizagem professores
e instituição estarão sempre conectados com você.

Então, sempre que sentir necessidade entre em contato; você tem


à disposição diversas ferramentas e canais de acesso tais como:
telefone, e-mail e o Espaço Unisul Virtual de Aprendizagem,
que é o canal mais recomendado, pois tudo o que for enviado e
recebido fica registrado para seu maior controle e comodidade.
Nossa equipe técnica e pedagógica terá o maior prazer em lhe
atender, pois sua aprendizagem é o nosso principal objetivo.

Bom estudo e sucesso!

Equipe UnisulVirtual.

7
Palavras das professoras

Caro aluno,

Seja bem-vindo à disciplina de História da Matemática.

Os assuntos abordados nesta disciplina são fundamentais


para o entendimento do surgimento da Matemática, bem
como a importância da sua evolução ao longo da história da
humanidade.

As atividades didáticas na disciplina de matemática devem


estar fundamentadas na história dessa disciplina, e com este
livro desejamos incentivá-lo para o uso dessas teorias no
desenvolvimento de suas aulas, quando no exercício da sua
profissão.

Fizemos o possível para utilizar uma linguagem acessível, pois


é o que a modalidade de Educação a Distância exige.

Você terá, no decorrer da disciplina, oportunidade de


desenvolver atividades de autoavaliação, o que propiciará
uma reflexão sobre o estudo e sua importância no contexto
educacional em todas as séries.

Informamos que as tabelas e ilustrações sem indicação de fonte


foram elaboradas pelos autores.

Para finalizar, gostaríamos de desejar bom trabalho e ressaltar


que, mesmo nossa relação sendo desenvolvida no ambiente
virtual, estaremos em contato para orientá-lo sempre que
necessário. Uma dica: procure manter suas atividades em dia.

Ingresse na História da Matemática e bons estudos!

Profa Eliane Darela, Msc.


Profa Marleide Coam Cardoso, Msc.
Profa Rosana Camilo da Rosa, Msc.
Plano de estudo

O plano de estudos visa a orientá-lo no desenvolvimento da


disciplina. Ele possui elementos que o ajudarão a conhecer o
contexto da disciplina e a organizar o seu tempo de estudos.

O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva


em conta instrumentos que se articulam e se complementam,
portanto, a construção de competências se dá sobre a
articulação de metodologias e por meio das diversas formas de
ação/mediação.

São elementos desse processo:

„ o livro didático;

„ o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem (EVA);

„ as atividades de avaliação (a distância, presenciais e de


autoavaliação);

„ o Sistema Tutorial.

Ementa
Visão global dos períodos históricos da Matemática: egípcio
e babilônico, grego, chinês, hindu, árabe, Idades Média
e Moderna. Aspectos didáticos do uso da História da
Matemática no ensino fundamental e médio.
Universidade do Sul de Santa Catarina

Objetivos

Geral:
A disciplina objetiva proporcionar ao universitário uma visão
geral da evolução do conhecimento matemático como produção
humana, representado em diferentes momentos históricos.

Específicos:
„ Caracterizar o pensamento matemático nos diferentes
períodos históricos, destacando os sistemas de
numeração.

„ Resgatar a evolução do estudo dos números nas


diferentes culturas.

„ Relacionar o estudo dos números com os conteúdos do


ensino fundamental e médio, tornando-se um referencial
didático para abordagem deles.

„ Identificar a importância da evolução do pensamento


geométrico para o estudo da Matemática.

„ Destacar os principais matemáticos e suas contribuições


para o desenvolvimento da geometria euclidiana.

„ Destacar os principais matemáticos e suas contribuições


para o desenvolvimento da trigonometria.

„ Destacar Arquimedes como um reconhecido geômetra


de sua época e suas obras.

„ Relacionar a geometria projetiva com o Modernismo.

„ Destacar René Descartes e Pierre de Fermat como


precursores da geometria analítica.

„ Definir geometria não euclidiana e apresentar suas


contribuições no desenvolvimento de modelos
matemáticos.

12
História da Matemática

„ Estudar a geometria dos fractais, destacando-a como a


mais recente geometria.

„ Dar uma visão geral do desenvolvimento histórico da


álgebra.

„ Apresentar os grandes matemáticos que contribuíram


para o desenvolvimento da álgebra.

„ Mostrar o desenvolvimento da representação simbólica


da álgebra.

„ Apresentar a história dos diferentes processos resolutivos


das equações.

„ Resgatar a história das funções e suas aplicações nos


diferentes contextos.

„ Destacar a importância do cálculo desde sua origem até


os dias atuais.

„ Apresentar a história da estatística.

„ Contribuir para consolidar o papel didático-cultural da


história da Matemática na sala de aula.

Carga Horária
A carga horária total da disciplina é 60 horas-aula.

Conteúdo programático/objetivos
Veja, a seguir, as unidades que compõem o livro didático desta
disciplina e os seus respectivos objetivos. Estes se referem aos
resultados que você deverá alcançar ao final de uma etapa de
estudo. Os objetivos de cada unidade definem o conjunto de
conhecimentos que você deverá possuir para o desenvolvimento
de habilidades e competências necessárias à sua formação.

Unidades de estudo: 8

13
Universidade do Sul de Santa Catarina

Unidade 1 - A história dos números: a maior invenção da humanidade


Nesta unidade, você terá a oportunidade de conhecer a
evolução histórica dos números, bem como as contribuições de
cada civilização. A criação do zero e o sistema de numeração
posicional decimal representaram as principais contribuições para
a formalização do sistema de numeração hindu-arábico. Você
entrará em contato também com alguns métodos de operação
envolvendo cada sistema numérico, até chegar aos dias atuais,
culminando com o desenvolvimento do sistema de numeração
binário. Apresentamos ainda as atividades de autoavaliação, que
permitirão rever os conceitos discutidos ao longo das seções.

Unidade 2 - Teoria dos conjuntos


O estudo da teoria dos conjuntos intensificou-se a partir
das contribuições dos matemáticos Georg Cantor e Richard
Dedekind. Assim, nesta unidade, apresentamos alguns fatos
históricos relevantes relacionados com as propriedades de cada
conjunto, seus axiomas e sua organização a partir de uma ordem
lógica e não cronológica, culminando com a formalização da
teoria dos conjuntos, conforme conhecemos na atualidade.

Unidade 3 - Conhecendo a história da geometria nas diferentes


culturas
Nesta unidade, você terá a oportunidade de acompanhar o
processo de estudo dos objetos da geometria desenvolvidos
por diferentes civilizações. Mostraremos que o estudo
da geometria iniciou-se a partir de atividades empíricas
presentes, principalmente, nas culturas egípcias e babilônicas.
Destacamos, também, as relevantes contribuições de Tales
de Mileto, Pitágoras, Euclides, Zenão e Arquimedes para o
desenvolvimento deste ramo da Matemática. Os trabalhos dos
hindus e chineses também foram significativos, envolvendo o
estudo dos triângulos e do cálculo aproximado do número Pi.
Vale ressaltar que o estudo dos matemáticos da Antiguidade foi
tão relevante que durante muito tempo os árabes dedicaram-
se à tradução de suas obras. Os árabes também utilizavam a
trigonometria em seus estudos de astronomia.

14
História da Matemática

Unidade 4 - A geometria nas Idades Média, Moderna e Contemporânea


Esta unidade trata dos matemáticos que contribuíram
significativamente com a estruturação da geometria na história.
Na atualidade, sabe-se também que a geometria ramificou-se em
várias geometrias, destacando-se a euclidiana, a não euclidiana,
a analítica, a projetiva e a dos fractais, a mais recente das
geometrias.

Unidade 5 - Resgatando a trigonometria nos diferentes tempos


históricos
O estudo da trigonometria emergiu a partir das atividades
astronômicas. Eratóstenes, Hiparco e Ptolomeu foram expoentes
no desenvolvimento deste ramo da Matemática. O cálculo da
circunferência da Terra, efetuado por Eratóstenes, impulsionou o
cálculo do tamanho do sol e da lua. No entanto, Hiparco de Niceia
criou as primeiras tabelas trigonométricas que foram aperfeiçoadas
por Ptolomeu. Os hindus desenvolveram uma trigonometria a
partir da relação entre metade da corda e metade do ângulo central,
ou seja, meia corda. Buscaram no interior do círculo um triângulo
retângulo, o qual mais tarde levou ao desenvolvimento da razão seno.

Unidade 6 - Uma visão geral da história da álgebra


Destaca-se, nesta unidade, três momentos vivenciados pelo
estudo da álgebra: retórico, sincopado e simbólico. Seu início é
marcado com as equações da Antiguidade, escritas em versos e
resolvidas por diferentes métodos. A álgebra geométrica foi um
método utilizado pelos gregos para resolver equações. O uso
de uma simbologia para representar os termos de uma equação
contribuiu significativamente para a evolução da álgebra. Nesse
sentido, destacamos as contribuições de alguns matemáticos,
como: Viète, Descartes, Fermat, Euler e Gauss. A descoberta
do cálculo por Newton e Leibniz foi um marco importante
para o desenvolvimento de outras ciências. David Hilbert,
em seu estudo, foi o grande responsável pela formalização
da Matemática atual. Assim, as estruturas algébricas e seus
axiomas que compõem a Matemática moderna são resultados da
construção de todo conhecimento matemático em sua história.

15
Universidade do Sul de Santa Catarina

Unidade 7 - A estatística: aspectos históricos importantes


Nesta unidade, você irá conhecer alguns aspectos relacionados
com a história da estatística, que nasce na Antiguidade para
designar a coleta e a apresentação de dados quantitativos de
interesse do Estado. O grande impulso dado à estatística acontece
com o desenvolvimento do cálculo das probabilidades. Muitos
matemáticos contribuíram para o desenvolvimento da estatística,
dentre os quais podemos citar Blaise Pascal, Fermat, Legendre
e Laplace. Na atualidade, a estatística volta seus estudos para a
coleta, descrição e análise de dados mensuráveis numericamente.

Unidade 8 - Uma proposta de trabalho envolvendo a história da


Matemática
Nesta unidade, apresentamos uma sequência didática envolvendo
a história da Matemática a partir do estudo da geometria
dos fractais, mostrando que é possível envolver a história da
Matemática no desenvolvimento de um conteúdo curricular. O
contato com alguns fatos do passado pode ser uma dinâmica
bastante interessante para introduzir um determinado tema em
sala de aula.

16
História da Matemática

Agenda de atividades/Cronograma

„ Verifique com atenção o EVA, organize-se para acessar


periodicamente a sala da disciplina. O sucesso nos seus
estudos depende da priorização do tempo para a leitura,
da realização de análises e sínteses do conteúdo e da
interação com os seus colegas e professor.

„ Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço


a seguir as datas com base no cronograma da disciplina
disponibilizado no EVA.

„ Use o quadro para agendar e programar as atividades


relativas ao desenvolvimento da disciplina.

Atividades obrigatórias

Demais atividades (registro pessoal)

17
1
UNIDADE 1

A história dos números: a maior


invenção da humanidade

Objetivos de aprendizagem

„ Conhecer a evolução do processo de contar.

„ Reconhecer a representação dos números nas


diferentes culturas.
„ Diferenciar e conhecer a aritmética dos sistemas de
numeração das várias civilizações.
„ Caracterizar o pensamento matemático nos diferentes
períodos históricos, destacando os sistemas de
numeração.
„ Reconhecer a importância do sistema de numeração
binário para os problemas quantitativos, facilitando, de
forma significativa, a linguagem de máquina.

Seções de estudo
Seção 1 Como surgiu o processo de contagem?
Seção 2 A história da numeração egípcia
Seção 3 A história da numeração dos mesopotâmicos
Seção 4 A história da numeração chinesa
Seção 5 A numeração dos sábios maias
Seção 6 O sistema de numeração grego
Seção 7 O sistema de numeração romano
Seção 8 O sistema de numeração hindu
Seção 9 Os algarismos arábicos
Seção 10 Sistema de numeração binário
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


No estudo desta unidade, você vai perceber que os sistemas de
numeração conhecidos na atualidade foram resultados de muitos
estudos. Na história, várias foram as tentativas de representar
quantidades. Os sistemas foram surgindo com sua linguagem e
simbolismo para atender a determinadas necessidades práticas.
Para tanto, inventaram-se símbolos para representar os números
e, tempos depois, a notação posicional.

As civilizações antigas contribuíram, significativamente, cada


uma com o seu processo de contagem. Dentre elas, podemos citar
a dos egípcios, mesopotâmios, chineses, hindus, gregos, romanos,
maias e árabes.

Na atualidade, entre os sistemas de numeração mais evidenciados


estão o decimal e o binário.

Na Idade Moderna, foi desenvolvida a teoria dos conjuntos, que


tornou possível conceituar, classificar e estudar os números com
rigor e precisão.

Tais contribuições, você acompanha na leitura desta unidade.


Interessado? Então, bons estudos!

Seção 1 - Como surgiu o processo de contagem?


A descoberta dos números não aconteceu de repente. Para
conhecermos sua origem, precisamos conhecer um pouco do
passado, pois a história dos números faz parte da história da
humanidade.

Os homens, que há milhares de anos viviam em pequenos


grupos, não conheciam os números e nem sabiam contar. Para
se alimentar, caçavam, pescavam e colhiam frutos; para morar,
usavam cavernas; para se defender, usavam paus e pedras.

20
História da Matemática

Na Antiguidade, as pessoas tinham na natureza tudo o que


era necessário para sua subsistência. Com o passar do tempo,
o homem modificou o seu modo de vida, passando, então,
a cultivar plantas e a criar animais para, assim, aumentar a
variedade de alimentos. Quando descobriu o fogo, aprendeu a
cozinhar os alimentos e a se aquecer melhor.

O homem mudou seus hábitos, de nômades, alguns grupos


passaram a ser sedentários, tendo em vista que, quando acabava
a caça ou o alimento daquela região, ele era obrigado a mudar
de ambiente fixando-se, então, às margens de rios e lagos, pois
as terras eram mais férteis. Aos poucos, os homens descobriram
como construir suas casas, organizaram-se em comunidades nas
quais havia chefes e divisões de trabalho entre as pessoas.

Conforme essas mudanças iam acontecendo, surgia a necessidade


de contagem. O dia certo para o plantio de determinada
planta era feito contando as fases da lua. Um pastor necessitava
contar seu rebanho ao final de cada dia, para verificar se não
faltava nenhum animal. Em uma caçada, as pessoas tinham a
necessidade de registrar a quantidade de animais mortos.

Enfim, é possível afirmar que a criação dos números está


diretamente relacionada à evolução da civilização.

Técnicas primitivas de contagem


A utilização de recursos materiais mostrou-se de grande
importância nas primeiras contagens feitas pelo homem. Foi
contando objetos que, provavelmente, os números começaram
a ter um significado. Para o homem primitivo, o número 5, por
exemplo, estava associado aos cinco dedos da mão, cinco peixes, e
assim por diante.

Podemos citar o trabalho de um pastor primitivo, que levava


as ovelhas para pastar e à noite as recolhia, protegendo-as
dentro de um cercado. O controle desse rebanho era feito da
seguinte forma: o pastor, pela manhã, separava uma pedrinha
para cada ovelha que era solta e as colocava em um saquinho;
ao final do dia, retirava do saquinho uma pedrinha para cada
ovelha que recolhesse. Dessa forma, o pastor estabelecia uma

Unidade 1 21
Universidade do Sul de Santa Catarina

correspondência entre as pedrinhas e o rebanho de ovelhas. Ao


ver o último animal corresponder à última pedra de seu monte,
ele poderia estar certo de que nenhuma cabeça se perdera.

Fazer correspondência um a um é associar cada objeto de uma


coleção a um objeto de outra coleção. Essa correspondência foi
um dos passos decisivos para o surgimento da noção de número.

Figura 1.1 - Contando com pedras


Fonte: Mori e Onaga (1999, p. 8).

Você sabia?
A palavra cálculo origina-se da palavra latina calculus
e significa pedrinha.

Além das pedrinhas, o homem também utilizou conchas,


pérolas, frutos duros, ossos, pauzinhos, tudo organizado em
montinhos ou fileiras correspondentes à quantidade de seres ou
objetos que desejavam enumerar. Outras técnicas de contagem
utilizadas foram riscos alinhados na areia, nós em pequenas
cordas, ou uma espécie de rosário formado por conchas ou
pérolas. Também foram usados os dedos da mão ou os membros
das diferentes partes do corpo humano.

Grupos de pedras podem não ser propícios para conservar


informações, por isto o homem pré-histórico, às vezes, registrava
um número fazendo marcas em um bastão ou em um osso.

Observe o quanto o trabalho dos arqueólogos contribui para


a história da Matemática: um osso de lobo descoberto por

22
História da Matemática

arqueólogos em 1937, em um lugar da Europa, apresentava


risquinhos desenhados. Os estudos indicaram que esse osso tem
aproximadamente 30.000 mil anos, ou seja, tempo em que os
europeus habitavam cavernas. Tais descobertas arqueológicas
fornecem provas de que a ideia de número é muito mais antiga do
que se possa imaginar, e que precede a civilização e a escrita.

Figura 1.2 - Corda com nós


Fonte: Pasqualotti (1998).

Os incas, povo que habitava os Andes, davam nós em


cordões para estabelecer a contagem de objetos. Figura 1.3 - Cordões dos Incas
Fonte: Quipu (2005).

Muitas pesquisas arqueológicas contribuíram com as informações


que se têm acerca do passado. A investigação realizada por
antropólogos e outros cientistas mostra que os dedos foram e
continuam sendo um recurso valioso na realização da contagem,
em diversas culturas.

A tribo dos Kuikuro, que habita o Parque Nacional do Xingu


(no Mato Grosso), denomina de forma curiosa alguns números.
Acompanhe no Quadro 1.1, a seguir.

Nosso símbolo Na língua Kuikuro Significado em nossa língua

0 inhalü Não há

5 nhatüi Contei todos os dedos de uma mão

10 timüho Duas mãos

12 Takiko itükügü iheke Dois do pé

15 Heine utapügü Contei toda mão e um lado do pé

20 Tatute utapügü itükügü iheke Toda mão e todo pé


21 Aetsi tela inhatügü itükügü iheke Um peguei mão do outro

Quadro 1.1 - Números Kuikuro


Fonte: Imenes (1999, p. 14).

Unidade 1 23
Universidade do Sul de Santa Catarina

Você sabia?
A palavra dígito, que se refere aos símbolos 0, 1, 2, 3, 4,
5, 6, 7, 8 e 9, vem do latim dígitus e significa dedo.

Um método curioso de contar com as mãos foi o que determinou


a adoção da dúzia como unidade secundária, em diversos países.
Esse método de difícil verificação da veracidade, porém, usado
até hoje, consiste em contar de 1 a 12 usando os dedos de uma
única mão. Para isso, basta apoiar o polegar, sucessivamente,
em cada uma das três falanges dos quatro dedos opostos da
mesma mão. Como cada dedo possui três falanges, e estando
as do polegar excluídas da conta, pois é o mesmo que executa a
operação, conta-se até doze.

Figura 1.4 - Contando com as falanges


Fonte: Imenes (1999, p. 14).

24
História da Matemática

Curiosidade
Alguns documentos etnográficos registram que os elemas e os
papuas da Nova Guiné, os bosquímanos da África do Sul, os lenguas
do Chaco, no Paraguai, assim como vários outros aborígines, tinham o
costume de contar com o corpo.
Eles se referiam, em uma ordem sempre previamente estabelecida, às
articulações dos braços e das pernas, aos olhos, às orelhas, ao nariz,
à boca, ao tórax, aos seios, aos quadris, ao esterno e até às partes
genitais. Conforme a tribo, chegava-se a contar até 33 ou mais.

1 auricular direito
2 anular direito
3 médio direito
4 indicador direito
5 polegar direito
6 pulso direito
7 cotovelo direito
8 ombro direito
9 orelha direita
10 olho direito
11 nariz
12 boca
13 olho esquerdo
14 orelha esquerda
15 ombro esquerdo
16 cotovelo esquerdo
17 pulso esquerdo
18 polegar esquerdo
19 indicador esquerdo
20 médio esquerdo
21 anular direito
22 auricular esquerdo
23 seio direito
24 seio esquerdo
25 quadril direito
26 quadril esquerdo
27 partes genitais
28 joelho direito
29 joelho esquerdo
30 tornozelo direito
31 tornozelo esquerdo
Figura 1.5 - Técnica corporal utilizada pelos papua
32 pequeno artelho direito da Nova Guiné
33 artelho seguinte Fonte: Ifrah (1994, p. 33).
34 artelho seguinte
35 artelho seguinte

Unidade 1 25
Universidade do Sul de Santa Catarina

Seção 2 - A história da numeração egípcia


Uma das civilizações mais antigas da qual temos registros e que
se desenvolveu às margens do rio Nilo é a dos egípcios. Tudo
indica que foi essa civilização que inventou a escrita e um sistema
de numeração escrito, e podemos dizer que os grandes progressos
que marcaram o fim da Pré-história verificaram-se com muita
intensidade e rapidez no Egito.

Foi da necessidade de efetuar cálculos rápidos e precisos,


impossível de serem feitos com pedras ou nós, que estudiosos
do Antigo Egito passaram a representar quantidades utilizando
desenhos denominados símbolos.

Esses símbolos foram desenhados em hieróglifos, isto é, a escrita


dos antigos egípcios, sendo a maioria retirada da fauna e flora
do Nilo. Os egípcios gravavam os símbolos em monumentos de
pedra, utilizando cinzel e martelo, ou utilizavam um caniço com
material colorante na ponta e desenhavam esses símbolos em
folhas de papiro.

Você sabia?
Hieróglifo é a denominação dada pelos gregos à
escrita dos antigos egípcios. Significa literalmente
“escrita sagrada”, pois os gregos primeiramente viram
esses sinais nas paredes dos templos, das tumbas e
dos prédios públicos.

Por volta de 3000 a.C., a civilização egípcia já se encontrava


muito avançada e em expansão. Observando a necessidade de
memorizar o pensamento e a fala, bem como a lembrança dos
números, essa civilização descobriu, então, a ideia da escrita e da
notação gráfica dos números.

A primeira numeração egípcia foi fundamentada em uma base


estritamente decimal, porém, não tinha nenhum símbolo para o
zero. Os números de 1 a 9 eram representados por um número
respectivo de traços verticais e para as potências sucessivas de
10 a 1.000.000, símbolos individuais eram utilizados. Confira o
Quadro a seguir.

26
História da Matemática

1 Um traço vertical indicava a unidade.

Este sinal, semelhante a uma ferradura ou osso do calcanhar


10 invertido, indicava a dezena.

100 Uma corda enrolada, uma espiral, indicava a centena.

1.000 A flor de lótus representava o milhar.

10.000 O desenho de um dedo dobrado era o símbolo para dez mil

100.000 Um girino ou peixe representava cem mil.

Um homem espantado, com os braços esticados,


1.000.000 representava o milhão.

Quadro 1.2 - Símbolos egípcios

Vale ressaltar que, ao escrever os números, os egípcios não se


preocupavam com a ordem dos símbolos. Observe alguns exemplos.

(a) (b) (c)

52 52 52

Observe que o número 52 pode ser escrito de diversas maneiras,


utilizando os mesmos símbolos.

123

Veja agora a representação de alguns números, utilizando a


simbologia egípcia.

202

Unidade 1 27
Universidade do Sul de Santa Catarina

1045

As operações aritméticas no Antigo Egito

Adição

Os egípcios efetuavam operações aritméticas por meio de seus


algarismos. A adição não apresentava nenhuma dificuldade, pois
bastava justapor as representações dos números a somar e, em
seguida, reunir os números idênticos, substituindo a cada vez
dez símbolos de uma categoria pelo algarismo da classe decimal
imediatamente superior, isto é, formavam grupos de dez, do
mesmo modo que fazemos hoje.

Em nosso sistema de numeração, dez unidades formam a dezena;


dez dezenas formam a centena e assim por diante, como ocorre
também no sistema egípcio.

Para somar os números 154 e 268, por exemplo, superpõem-se


inicialmente as representações dos números correspondentes.
Agrupam-se, em seguida, as barras verticais, as ferraduras e
as espirais. Na sequência, substituem-se dez traços por uma
ferradura, dez ferraduras por uma espiral e assim por diante,
chegando, após as reduções, ao resultado da operação:

__________________________________

Logo, a operação resulta em , que


representa o número 422 em nosso sistema de numeração.

28
História da Matemática

Subtração
A subtração também não apresentava nenhuma dificuldade,
pois era idêntica à adição, bastava justapor as representações dos
números a subtrair. Observe o exemplo.
Utilizando os símbolos egípcios, vamos efetuar a seguinte
operação: 1325 – 1187 = 138
Assim, temos:

___________________________________________

Note que uma ferradura foi substituída por dez traços,


totalizando quinze traços, e uma espiral foi substituída por
dez ferraduras, totalizando onze ferraduras. Em seguida, fez-
se a subtração dos símbolos idênticos nas parcelas, obtendo o
resultado esperado.

Multiplicação e divisão

Como os egípcios só sabiam multiplicar ou dividir diretamente


por dois, para fazer a multiplicação ou a divisão de outros
números, utilizavam duplicações sucessivas, ou seja, para calcular
o resultado da operação pretendida, os egípcios iam dobrando o
número de parcelas. Observe o exemplo.

Vamos calcular 25 x 8.

„ 1 parcela, resultado: 8

„ 2 parcelas, resultado: 8 + 8 = 16

„ 4 parcelas, resultado: 16 + 16 = 32

„ 8 parcelas, resultado: 32 + 32 = 64

„ 16 parcelas, resultado: 64 + 64 = 128

Unidade 1 29
Universidade do Sul de Santa Catarina

Tabela 1.1 - Multiplicação egípcia

Número de parcelas Resultado


1 8
2 16
4 32
8 64
16 128

Buscavam na tabela um total de 25 parcelas. Note, então, que


1 + 8 + 16 = 25, logo, as demais eram desconsideradas. O
resultado da multiplicação 25 x 8 era a soma dos resultados dessas
três linhas: 8 + 64 + 128 = 200. Confira a resposta:
25
x8
_____
200
Vejamos, agora, essa mesma operação utilizando os símbolos
empregados pelos egípcios.

Tabela 1.2 - Multiplicação com símbolos egípcios

Número de parcelas Resultado

30
História da Matemática

A soma das parcelas é:

+ + =

O produto é dado por:

+ +

Cuja resposta é .

Não podemos deixar de reconhecer a habilidade e criatividade


dos egípcios nos cálculos com números inteiros.

Vamos exemplificar uma divisão: 3584 : 16.

Tabela 1.3 - Divisão egípcia

Número de parcelas Resultado


1 16
2 32
4 64
8 128
16 256
32 512
64 1024
128 2048

Observe que interrompemos a dobra sucessiva em 2048, pois


a multiplicação seguinte fornecerá um número superior ao
dividendo 3584.

Agora, procuramos, operando várias tentativas, na coluna da


direita os números que, adicionados, dão o nosso dividendo.
Assim, temos: 512 + 1024 + 2048 = 3584.

Unidade 1 31
Universidade do Sul de Santa Catarina

Adicionando os números correspondentes da coluna da esquerda,


temos: 32 + 64 + 128 = 224, que é o resultado da divisão.

Confira:

3584 | 16
0 224
ˇ

Multiplicação e divisão de um número por 10

Os egípcios também sabiam obter um rápido resultado da


multiplicação ou da divisão de um número por 10. O processo
consistia em substituir, na escrita do número em questão, cada
símbolo pelo algarismo de seu décuplo para a multiplicação e na
divisão pelo algarismo de seu décimo. Veja os exemplos.

1) 512 x 10 = 5120

500 10 2
É substituído automaticamente por: 5120.

5000 100 20

2) 3240 : 10 = 324

3000 200 40
É substituído automaticamente por: 324.

300 20 4

32
História da Matemática

Curiosidade
Este é um problema que fazia parte do cotidiano dos egípcios.
Imagine um cultivador de cereais da região de Mênfis, em 2000
a.C., aproximadamente. No final da colheita, um funcionário do
fisco veio controlar o estágio da produção e fixar o montante
da taxa anual. A colheita rendeu naquele ano uma quantidade
de trigo amidoeiro, que foi repartido em fileiras de 12 sacos
correspondendo a 128 fileiras.
O funcionário pega uma lasca de rocha que lhe servirá de rascunho
e efetua cálculos com a ajuda dos algarismos hieroglíficos para
determinar o número total de sacos de trigo. Ele vai efetuar a
multiplicação de 128 por 12.

Tabela 1.4 - Curiosidade

Número de parcelas Resultado

Unidade 1 33
Universidade do Sul de Santa Catarina

O total de sacos de trigo corresponde a:

Que em nossa linguagem é 1536.


Observe que a solução deste problema não exigiu a soma das
parcelas da coluna da esquerda, pois o total de 128 apareceu
explicitamente, correspondendo a 1536 na coluna da direita.
Adaptado do livro Os números: a história de uma grande invenção,
de Georges Ifrah

Papiros “Ahmes” ou de Rhind


Por volta de 1700 a.C., um escriba chamado Ahmes escreveu
um manual contendo problemas práticos de natureza
aritmética, algébrica e geométrica, conhecido como Papiro de
Ahmes.

O papiro de Ahmes é um antigo manual de Matemática.


Contém 80 problemas, todos resolvidos. A maioria envolvendo
assuntos do dia a dia, como o preço do pão, a armazenagem de
grãos de trigo, a alimentação do gado. O papiro também contém
várias regras empíricas para o cálculo de áreas e volumes. Há
instruções para as soluções dos problemas sem demonstrações
ou formalismos, coisas só registradas muito tempo depois pelos
gregos, a partir de Tales.

Acredita-se que esse material provém de um outro manuscrito,


produzido em alguma época entre 2000 e 1800 a.C.

Esse documento passou a ser chamado Papiro de Rhind, jovem


antiquário escocês, que de passagem por Luxor, cidade egípcia,
adquiriu o papiro com 30 cm de altura e 5m de comprimento,
que havia sido encontrado entre as ruínas dos túmulos dos
faraós.

Após a morte de Rhind, o papiro de Ahmes foi adquirido pelo


Museu Britânico e se encontra lá até hoje.

34
História da Matemática

Figura 1.6 - Papiro de Rhind


Fonte: Gomes (2005).

Você sabia?
O documento mais antigo da Matemática tem
cerca de 4.000 anos, e Ahmes é a primeira figura da
Matemática registrada na História.

Frações egípcias
Hoje é comum o uso de frações. Houve tempo, porém, em que
elas não eram conhecidas. Foi no Egito que se iniciou a usar
frações para medir e representar medidas.
Todos os anos, entre os meses de junho e setembro, o nível das
águas do rio Nilo começava a subir. Ao avançar sobre as margens,
as águas derrubavam as cercas de pedra que cada agricultor usava
para marcar os limites de suas terras. Uma nova marcação se
tornava necessária e, para isso, os estiradores de cordas, nome que
se dava aos profissionais que trabalhavam com cordas, esticavam
essas cordas para fazer a medição.
Havia uma unidade de medida marcada na própria corda e
os estiradores esticavam a corda e verificavam quantas vezes
aquela unidade de medida estava contida nos lados do terreno.
Dificilmente cabia um número inteiro de vezes nas dimensões
do terreno, por mais adequada que fosse a unidade de medida
escolhida.
Foi por essa razão que os egípcios criaram um novo tipo de
número: o número fracionário, cuja representação é uma fração.

Unidade 1 35
Universidade do Sul de Santa Catarina

Os egípcios usavam apenas frações que possuíam o número 1


dividido por um número inteiro como, por exemplo, 1/2, 1/3,
1/4, 1/5,... Tais frações eram denominadas frações egípcias e
ainda hoje têm muitas aplicações práticas. Eles não colocavam
o sinal de adição - + - entre as frações porque os símbolos das
operações ainda não tinham sido inventados.

Para escrever as frações unitárias, colocavam um sinal oval


alongado sobre o denominador, como demonstrado na Figura 1.6.

Figura 1.6 - Frações unitárias

Os cálculos com as frações egípcias eram muito difíceis. Para


2 1 1
descobrir que poderia ser escrito por meio da soma e ,
7 4 28
tinham que se empenhar muito.

No Papiro de Rhind, aparece uma tabela de decomposição de


2
frações do tipo , p ímpar, em frações unitárias. Na primeira
p
2 2 2
parte do papiro, há uma tabela contendo as frações , ,..., ,
3 5 101
representadas como uma soma de frações unitárias.

Veja os exemplos.
2 1 1 1 1
1) = + + +
29 24 58 174 232
2 1 1
2) = +
5 3 15
2 1 1
3) = +
11 6 66

Tais conversões eram necessárias, pois, ao que parece, os egípcios


sabiam operar apenas com frações unitárias e usando base
decimal. No entanto, não existe nenhuma indicação sobre o
processo usado para chegar a essas decomposições.

36
História da Matemática

Curiosidade
Pesquisadores investigando exaustivamente o
processo de decomposição das frações egípcias
chegaram ao seguinte Corolário:

Se p é um número primo, então, a decomposição de


2 2 1 1
em duas frações unitárias é única e = + .
p p p ( p + 1) ( p + 1)
2 2

Seção 3 - A história da numeração dos mesopotâmicos


Assim como os egípcios, outros povos depois deles também
criaram sistemas de numeração. A História se reporta aos
mesopotâmicos, que, do mesmo modo que os egípcios, também
esbarraram em algumas dificuldades para efetuar cálculos.
Por volta do ano 200 a.C., os babilônios desenvolveram um
sistema de numeração sexagesimal, ou de base sessenta, que
empregava o princípio posicional, considerado o sistema de
numeração mais admirável da Antiguidade.
A base sexagesimal significa que sessenta unidades de uma
determinada ordem eram nela equivalentes a uma unidade de
ordem imediatamente superior.
Os números de 1 a 59 formavam, assim, as unidades simples ou
de primeira ordem; os de 60 constituíam as unidades de segunda
ordem, as sessentenas; os múltiplos de 60, correspondiam às
unidades de terceira ordem e assim por diante.

Veja que interessante!


Essa numeração utilizava apenas dois algarismos: um
cravo vertical e uma asna. O símbolo , denominado
cravo, representava a unidade e era repetido para
números até 9, já a asna, representada por , equivalia
a dez, sendo repetido e usado com o símbolo da
unidade, conforme o necessário, para representar
números de 11 a 59.

Unidade 1 37
Universidade do Sul de Santa Catarina

Observe a Tabela 1.5, a seguir, onde estão representadas as


cinquenta e nove unidades significativas do sistema mesopotâmico.

Tabela 1.5 - Cinquenta e nove unidades babilônicas


Nº REP. Nº REP.

Note como escrevemos usando os símbolos mesopotâmicos.


1) O número dezessete:

1 asna e 7 cravos

2) E o número 55, como ficaria?

5 asnas e 5 cravos

Perceba que esses dois exemplos citados são de números


menores que 60, observe que para além de 59, a escrita se

38
História da Matemática

tornava posicional na base 60. Assim, o número 517, que


no nosso sistema posicional decimal exprime a expressão:
5x102 + 1x10 + 7 = 5x100 + 10 + 7 seria traduzido, no sistema
mesopotâmico, pela expressão: 5x 602 + 1x 60 + 7 = 5x3600 + 60 + 7

Observe os exemplos.

1) Como escrevemos o número 63?

[1; 3] = 1x60 + 3
Note que há um afastamento entre o cravo do lado esquerdo,
indicando que representa uma sessentena, e os outros três, do lado
direito, representam as 3 unidades formando, assim, o número 63.

2) Vamos escrever o número 1238.

[20; 38] = 20x60 + 38


Aqui você pode observar que temos 20 sessentenas e 38
unidades, pois o número 1238 foi dividido por 60 para obtermos
a quantidade de sessentenas, visto que estamos trabalhando no
sistema sexagesimal.

3) Agora escrevendo o número 7489.

[2; 4; 49] = 2x3600 + 4x60 + 49


Talvez facilite mais se você observar a tabela de argila que o
mesopotâmicos utilizavam.
Ordem das Ordem das Ordem das unidades
3600 sessentenas simples (1 a 59)

Unidade 1 39
Universidade do Sul de Santa Catarina

Cadê o zero?
Durante mais de quinze séculos, os astrônomos e matemáticos
babilônios ignoraram o zero, não que ele não fizesse falta, essa foi
uma das grandes dificuldades que eles tiveram que resolver.

Você já deve ter notado que em nosso sistema de numeração há


vários momentos em que temos a necessidade de escrever o zero
em diferentes posições, já que é um sistema posicional. O mesmo
ocorreu com os babilônios - cada vez que uma potência de
sessenta vinha a faltar na escrita de um número, utilizavam um
espaço vazio.

Observe as representações onde estão faltando as unidades de


segunda ordem.

1)

[1 ; 25 ]

2)

[1 ; 0 ; 35 ]

3)
[ 1; 0 ; 40 ]

Quando algum escriba, não muito atencioso, omitia esses


espaços, ocorria uma confusão, ou mesmo quando era necessário
utilizar dois espaçamentos seguidos, isto é, quando havia a
ausência de ordens consecutivas, aí, a confusão era maior ainda.

Na tentativa de resolver esse problema, no século III a.C., os


babilônios introduziram, em substituição ao espaço vazio, signos
para identificar a ausência das unidades sexagesimais de uma
determinada casa.

40
História da Matemática

E foi assim que nasceu o zero babilônico, o mais antigo da


História.

Observe os exemplos.

1)
[30; 3; 0; 12]

2)
[ 3; 30; 0; 0; 23 ]

Curiosidade
Em uma tabuleta astronômica, proveniente de
escavações clandestinas em Warka (Uruk), com data
de aproximadamente o ano III a.C., havia o registro do
número

[2; 0; 25; 38; 4]


Atualmente, essa tabuleta encontra-se no Museu do
Louvre, na França.

Graças aos trabalhos de Otto Neugebauer, sabemos que os


astrônomos da Babilônia utilizaram o zero não somente em
posição intermediária, mas também em posição terminal ou
inicial.

Ainda na tabuleta astronômica, de mesma procedência que a


anterior, encontra-se o número babilônico:

, que está representando o número 60.

Note que ele poderia ser confundido com o número 1 se fosse


escrito sem o signo dupla asna. O signo que representava o zero,
para os babilônios, não o representava como número, e sim para
preencher os espaços vazios.

Unidade 1 41
Universidade do Sul de Santa Catarina

Seção 4 - A história da numeração chinesa

Sistema posicional
Dois mil anos após os matemáticos da Babilônia, os sábios
chineses criaram um engenhoso sistema de numeração
escrita que combinava o princípio de posição, barras verticais
e horizontais, seguindo um princípio ideográfico, para a
representação das nove unidades simples.

Esse sistema era similar a nossa numeração moderna, pois além


de sua base decimal, o valor dos algarismos é determinado nele
pelo lugar que ocupam na leitura dos números.

Observe a representação das nove primeiras unidades.

Note que as cinco primeiras unidades são representadas por


traços verticais justapostos, e os números seis, sete, oito e nove
por uma barra horizontal, que representa cinco unidades,
superposta em seu meio a uma, duas, três ou quatro barras
verticais.

Acompanhe os exemplos de alguns números.

1)

2)

Observe mais este exemplo:

42
História da Matemática

Note que conforme a maneira que o número doze fosse escrito,


poderia ser confundido com o três.

Os sábios chineses, observando essa ambiguidade, tiveram a ideia de


introduzir uma segunda notação para as unidades simples, formando
sinais análogos aos anteriores, mas dessa vez com barras horizontais.

Veja esta nova representação.

Para uma melhor visualização na escrita dos números, e para


distinguir bem as diversas ordens de unidades, eles alternaram os
algarismos da primeira notação com os da segunda. Usando os
dezoito símbolos alternadamente, em posições contadas da direita
para a esquerda, iniciando sempre com símbolos verticais, ou seja,
as unidades simples sempre verticais. Utilizando esse critério,
eles podiam escrever números tão grandes quanto desejassem,
dissipando, assim, as ambiguidades.

Acompanhe os exemplos.

1)

2)

Durante vários séculos, os matemáticos chineses ignoraram o zero.


A ausência de signo destinado a indicar as unidades, em falta de
uma determinada ordem, podia gerar confusão. Antes do século
VIII d.C., o lugar onde caberia um zero era sempre deixado vago.
Foi somente em 1.247, em uma obra, que o número 1.405.536 foi
escrito com um símbolo redondo para representar o zero. Veja sua
representação.

Unidade 1 43
Universidade do Sul de Santa Catarina

Ainda utilizando o sistema de numeração posicional, com seus


dezoito símbolos, os chineses efetuavam as operações aritméticas
utilizando pequenos bastonetes de marfim ou de bambu,
chamados chóu, que significa fichas de cálculo. Eles dispunham
esses bastonetes em quadrados sucessivos de um ladrilhado ou de
uma mesa em forma de mesa de xadrez.

Cada coluna correspondia a uma determinada ordem decimal:


a da direita correspondia às unidades, a seguinte às dezenas, a
outra às centenas e assim sucessivamente. Para se representar
um número, colocavam-se, nas colunas e segundo uma linha
previamente escolhida, tantos palitos quantos os correspondentes
à ordem decimal.

Para o número 3.421, por exemplo, colocavam-se, assim, um


palito na primeira coluna, dois na segunda, quatro na terceira e
três na quarta.

As adições e subtrações implicavam na representação dos


números no tabuleiro chinês e, posteriormente, a soma ou
subtração desses mesmos números, coluna a coluna.

Para a multiplicação, o método era igualmente simples: o


multiplicador era representado no topo do tabuleiro e o número
a multiplicar mais abaixo. Os produtos parciais eram colocados
nas linhas que ficavam entre os dois números e eram somados à
medida que iam aparecendo.

Na divisão, o divisor era colocado na linha de baixo, o dividendo


na do meio e o quociente na de cima. Esse último obtinha-se
retirando do dividendo os resultados dos produtos parciais.

Saiba mais
Você poderá ver um exemplo de multiplicação
utilizando os bastonetes chineses lendo: IFRAH,
Georges. História Universal dos Algarismos. 2. ed.,
Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1997. Vol 1: A
inteligência dos homens contada pelos números e
pelo cálculo.

44
História da Matemática

Símbolos clássicos
Na longa história da civilização chinesa, houve mais de um
sistema numérico. Além do posicional, os chineses utilizavam
e utilizam até os nossos dias sinais numéricos com traçado
mais simples. Eles utilizam habitualmente um sistema decimal
compreendendo treze sinais fundamentais, respectivamente
associados às nove unidades e às quatro primeiras potências de
dez. A representação desses símbolos está mostrada na Tabela 1.6.

Tabela 1.6 - Números clássicos chineses

Nº REP. Nº REP.

Esses símbolos ainda hoje são conhecidos tanto na China como


no Japão e têm semelhanças com o nosso sistema. Observe como
eles escrevem o número 573.

Unidade 1 45
Universidade do Sul de Santa Catarina

5 x 100 + 7 x 10 + 3

A diferença entre a nossa maneira de escrever e a deles é que, no


nosso caso, o 100 e o 10 ficam “ocultos”, não aparecem na escrita
573.

Esse sistema de numeração é fundamentado no princípio híbrido,


ou seja, os chineses utilizam a adição e a multiplicação ao mesmo
tempo.

A Tabela 1.7 apresenta a notação chinesa atual dos múltiplos


consecutivos de cada uma das quatro potências de dez, observe.

Tabela 1.7 - Quatro potências de 10

Curiosidade
Milhares de ossos e cascas de tartaruga que foram
descobertos no sítio arqueológico de Xiao Dun, vila
situada na província de Henan, constituem os mais
antigos testemunhos atualmente conhecidos da
escrita e da numeração chinesa, que datam da época
de Yin nos séculos XIV-XI a.C.

46
História da Matemática

Suan pan - o ábaco dos chineses


O ábaco de contas chinês, o suan pan, literalmente “prancheta de
cálculo”, constitui-se de um retângulo de madeira dividido em
duas partes e vários arames, denominados hastes, sobre os quais
estão enfiadas sete contas móveis, cinco na parte de baixo e duas
na de cima.

Cada haste corresponde a uma determinada ordem decimal que


se lê da direita para a esquerda, da seguinte forma: centésimas,
décimas, unidades simples, dezenas, centenas etc.

Cada uma das contas da parte inferior vale uma unidade, quando
deslocada para cima, enquanto que cada uma da parte superior
vale cinco unidades, quando deslocada para baixo. Note a
representação do número 234 na Figura 1.7.

Figura 1.7 - Representação do número 234

Esse ábaco permite efetuar qualquer operação de forma simples


e rápida. Para adicionar, basta ter em conta o princípio aditivo.
Consideremos a soma dos números 234, 432 e 567 na Figura 1.8.

12 33
Figura 1.8 - Representação da adição

Unidade 1 47
Universidade do Sul de Santa Catarina

Com um aprendizado bastante longo, um treinamento assíduo, é


possível realizar todas as operações no ábaco chinês, até mesmo
raízes quadradas ou cúbicas e resolver problemas mais complexos.
Alguns inconvenientes podem ocorrer, por exemplo, o menor
erro obriga a retomar os cálculos desde o início, pois os resultados
intermediários desaparecem no desenrolar das operações.

Vale ressaltar que a civilização chinesa é de uma criatividade


espetacular e, apesar de todo avanço da tecnologia, o ábaco
continua sendo muito utilizado, com agilidade, nas escolas e no
comércio em geral, por esse povo que preserva sua cultura.

Seção 5 - A numeração dos sábios maias


Uma das mais célebres das culturas pré-colombianas da América
Central é a Civilização Maia. Esse povo, que habitou a América
Central durante mais de mil anos, desenvolveu uma cultura
sofisticada, atingindo altos patamares nas mais diversas áreas,
tais como: arte, escultura, arquitetura, educação, matemática e
astronomia.

O progresso dessa cultura começou por volta do século IV d.C.


Suas descobertas astronômicas, por sua brilhante precisão,
ultrapassam muitas observações e cálculos feitos na Europa na
mesma época.

Eles desenvolveram um sistema de escrita bastante avançado,


assim como um calendário preciso.

Entre as realizações dos maias, notável foi o desenvolvimento


de um sistema de numeração vigesimal, ou seja, base vinte com
notação posicional e um símbolo especial para o zero.

Os maias adotavam um sistema de numeração nos quais


os números eram representados por símbolos bem simples:
pontos e traços. Os números até quatro eram representados,
respectivamente, por um, dois, três ou quatro pontos negros;
o cinco era representado por um pequeno traço horizontal;

48
História da Matemática

um, dois, três ou quatro pontos ao lado ou acima do traço


para os números de seis a nove; dois traços para o dez; e assim
sucessivamente.

O zero era representado por um símbolo semelhante a uma


concha ou uma casinha de caracol. Veja sua representação na
Figura 1.9.

Figura 1.9 - O zero maia

Note a representação das dezenove unidades de primeira ordem


dessa numeração vigesimal na Figura 1.10.

Figura 1.10 - Dezenove unidades de primeira ordem

A partir do número vinte, para números compostos de duas


ordens, colocavam-se o algarismo das unidades simples na parte
de baixo e o algarismo das vintenas na parte de cima. Veja a
representação de alguns números.

1)

Esta é a representação do número 20.

2)

Aqui se tem a representação do número 64.

Para números da terceira ordem, havia uma curiosa


irregularidade: para os sábios maias, o terceiro patamar indicava,
na realidade, os múltiplos de 360. Isso se deve ao fato de que a
numeração estava, de certo modo, relacionada com o calendário
anual, que consistia em dezoito meses de vinte dias cada um.
Observe alguns exemplos.

Unidade 1 49
Universidade do Sul de Santa Catarina

1)

O número 2199 está representado no exemplo 1.

2)

Temos, agora, a representação do número 364. Note que a concha


representa o espaço “vazio”, ou seja, o zero.

Como vimos, a terceira posição não é representada por múltiplos


de 20 x 20 como num sistema vigesimal puro, mas 18 x 20;
no entanto, para além desse ponto, a base vinte prevalecia
novamente. Veja como fica o número 9822.

Você sabia?
O sistema de numeração Maia tinha o dia como
unidade de base e contava com um ano de
aproximadamente 360 dias, para a facilidade dos
cálculos. O tempo decorrido a partir da era Maia era
avaliado em “kins” ou dias, em “uinals” ou meses de
20 dias e em “tuns” ou anos de 360 dias; depois em
“katuns”, que são ciclos de 20 anos; em “baktuns”, ciclos
de 400 anos; em “ pictuns”, ciclos de 8.000 anos; e assim
por diante, em ciclos 20 vezes maiores a cada vez.

Observe a Tabela 1.8.

50
História da Matemática

Tabela 1.8 - Unidades de tempo

1 kin 1 dia
1 uinal 20 kins 20 dias
1 tun 18 uinals 18 x 20d 360 dias
1 katun 20 tuns 20 x 18 x 20d 7.200 dias
1 baktun 20 katuns 20 x 20 x 18 x 20d 144.000 dias
1 pictun 20 baktuns 20 x 20 x 20 x 18 x 20d 2.880.000 dia

O zero Maia empregado no meio e no final das representações


numéricas ficou privado de qualquer possibilidade operatória,
em função da anomalia que os sacerdotes e astrônomos Maias
introduziram na terceira posição do sistema de numeração,
adaptando sua numeração à astronomia e ao calendário. Apesar
de suas descobertas, os Maias não deram o passo decisivo rumo
ao aperfeiçoamento da notação numérica.

Seção 6 – O sistema de numeração grego


Os gregos utilizaram no início uma notação numérica similar
à dos egípcios, decimal e aditiva. Só foi atribuído signo gráfico
especial à unidade e a cada uma das primeiras potências de sua
base. A unidade era representada por um ponto ou por um arco;
a centena, por uma espécie de L maiúsculo invertido; como segue
na Tabela 1.9.

Tabela 1.9 - Símbolos arcaicos

1 10 100 1.000 10.000

ou ou ou

A simplicidade desse sistema se tornou inconveniente, pois por


menor que fosse a representação numérica, exigia uma repetição
exagerada de signos idênticos, o que, sem dúvida, explica os
vários erros cometidos pelos escribas e copistas da época, levando
os gregos a acrescentar outros algarismos à sua lista inicial.

Unidade 1 51
Universidade do Sul de Santa Catarina

A partir do século VI a.C., eles simplificaram sua notação


numérica, introduzindo, progressivamente, um algarismo especial
para o cinco, um para cinquenta, um outro para quinhentos, mais
tarde, um para cinco mil, e assim por diante, também conhecida
como notação Ática. Veja a Tabela 1.10.

Tabela 1.10 - Notação numérica Ática

1 I 70 ∆∆ 4000 xxxx
2 II 80 ∆∆∆ 5000

3 III 90 ∆∆∆∆ 6000 x


4 IIII 100 H 7000 xx
5 200 HH 8000 xxx
6 I 300 HHH 9000 xxxx
7 II 400 HHHH 10000 M
8 III 500 20000 MM

9 IIII 600 H 30000 MMM

10 ∆ 700 HH 40000 MMMM

20 ∆∆ 800 HHH 50000

30 ∆∆∆ 900 HHHH 60000 M


40 ∆∆∆∆ 1000 x 70000 MM
50 2000 xx 80000 MMM
60 ∆ 3000 xxx 90000 MMMM

52
História da Matemática

Os símbolos Γ, ∆, H, X e M são as letras iniciais das palavras-


número gregas correspondentes, formas que se preservaram no
português nos prefixos, respectivamente, penta, deca, hecto e
quilo e na palavra miríade.

Veja a representação do número 5.384.

HHH ∆∆∆IIII
O outro sistema de numeração usado pelos gregos é chamado
sistema jônico, em que usavam as letras de seu alfabeto para
representar os números. O sistema usava vinte e sete letras do
alfabeto, nove para os inteiros menores que 10; nove para os
múltiplos de 10 inferiores a 100 e nove para os múltiplos de 100
inferiores a 1000.

O alfabeto grego clássico contém somente vinte e quatro letras,


por isso, foram usadas mais três letras do grego obsoleto. São
elas:

A Tabela 1.11 representa o sistema de numeração grego


utilizando o alfabeto desta civilização.

Tabela 1.11 - Sistema de numeração grego

Letra Nome da letra Valor

α Alfa 1

β Beta 2

γ Gama 3

δ Delta 4

ε Epsílon 5

ς Digama 6

ζ Dzeta 7

η Eta 8

(continua)

Unidade 1 53
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Letra Nome da letra Valor

θ Teta 9

ι Iota 10

κ Capa 20

λ Lambda 30

μ Mi 40

ν Ni 50

ξ Csi 60

ο Ômicron 70

π Pi 80

Copa 90

ρ Rô 100

σ Sigma 200

τ Tau 300

υ Ípsilon 400

φ Fi 500

χ Qui 600

ψ Psi 700

ω Ômega 800

Sâ 900

Observe que, nesse sistema, cada letra do alfabeto desempenha


um papel duplo: serve como um numeral e como uma letra.
Muitas vezes, usavam-se apóstrofos para indicar que uma letra
deveria ser interpretada como um numeral. Esse é um sistema de
base dez, porém, não é posicional.

Vejamos agora alguns exemplos.

1) 128

54
História da Matemática

2) 2764

Observe no exemplo 2 que a letra beta, à esquerda, precedida de


um acento embaixo, indica mil. O apóstrofo à direita, no alto,
indica que se trata de número e não de letra.

Para números superiores ou iguais a 10.000, utiliza-se a letra M


(miríade), conforme os exemplos.

1) Mα = 10.000
2) Mτβ = 120.000
3) Mκη = 280.000

Você sabia?
As notações gregas para os inteiros serviam bem aos
seus objetivos. Foi no uso de frações que o sistema
mostrou falhas, e como os egípcios, os gregos se
sentiram tentados a usar frações unitárias, o que
gerava muita confusão.

Seção 7 – O sistema de numeração romano


Apenas por volta do século III a.C. começou a se formar um
sistema de numeração bem mais prático e eficiente do que os
outros criados até então: o sistema de numeração romano.

Pouco se sabe a respeito da notação romana para os números.


Eles foram, na verdade, precedidos por formas muito mais
antigas que nada tinham a ver com as letras do alfabeto.

Nas inscrições mais antigas, em monumentos de pedra, a


unidade era representada por um traço vertical, o número cinco
pelo desenho de um ângulo agudo, a dezena por uma cruz, o
número cinquenta por um ângulo agudo, com um traço vertical,

Unidade 1 55
Universidade do Sul de Santa Catarina

o número quinhentos por um semicírculo e o milhar por um


símbolo cortado por uma cruz.

Veja essas representações na Tabela 1.12.

Tabela 1.12 - Algarismos romanos primitivos

1 5 10 50 100 500 1000

Com o passar do tempo, os algarismos primitivos foram


evoluindo e passando por transformações com propósito de
abreviação, rotação e até mesmo para facilitar a escrita.

Vejam: os algarismos primitivos para 1, 5 e 10 passaram a ser


representados pelas letras I, V, X.

Note a transformação do número 50 até evoluir para a letra L.

50

Agora, observe a transformação do número 100.

100

Esse último signo sofreu influência da palavra latina centum, que


significa cem.

Vamos acompanhar, agora, a transformação do algarismo arcaico


500.

500

Esse algarismo iniciou com uma rotação de 45º para a esquerda,


para, finalmente, ser confundido com a letra D.

O número mil também sofreu evolução. Para isso, escolheram o


M, inicial de mile, que significa mil em latim, a língua romana.

56
História da Matemática

1000

De maneira resumida, representamos o sistema numérico romano


na Tabela 1.13.

Tabela 1.13 - símbolos romanos

Símbolo I V X L C D M
Valor 1 5 10 50 100 500 1000

No sistema de numeração romano, os símbolos podem ser


repetidos até três vezes.

Veja.
III = 3
XX = 20
DCC = 700

O princípio da adição é uma característica importante na notação


romana. Se o símbolo de valor maior vem antes do de valor
menor, somam-se os seus valores.

Observe.
CX = 100 + 10 = 110
LIII = 50 + 3 = 53
DCV = 500 + 100 + 5 = 605

Se o símbolo de valor menor vem antes do de valor maior, ou vem


entre dois símbolos de valores maiores, faz-se uma subtração.

Note.
I L = 50 − 1 = 49
MIV = 1000 + (5-1) = 1000 + 4 = 1004
XD = 500-10 = 490

Para multiplicar o valor de um número por mil, coloca-se sobre


ele um traço horizontal.

Unidade 1 57
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Veja como fica.

V = 5.000
X = 10.000
LII = 52.000

A representação da multiplicação por cem mil consistia em


rodear por uma espécie de retângulo incompleto toda parte
numérica.

Os exemplos a seguir mostram esta notação.

A dificuldade da numeração romana se deve ao fato da


impossibilidade de execução de qualquer operação com os
números. Para efetuar essas operações, os romanos recorreram
ao ábaco. Acredita-se que esse sistema de numeração representou
uma regressão em relação a todas as numerações da história.

Mas o sistema numérico romano não desapareceu


completamente. Atualmente, podemos ver os seus sinais em
relógios ou nas fachadas de prédios antigos, em que há data
da construção. Sua utilização também é muito comum na
designação de papas e reis, bem como para representar capítulos
de livros.

Seção 8 - O sistema de numeração hindu


Os sábios hindus, especialmente os astrônomos, desde a
Antiguidade tinham verdadeira fixação por números grandes.
Isso fez com que o primeiro sistema de numeração desse povo
fosse muito limitado. As operações aritméticas, mesmo uma
simples adição, não eram possíveis e o maior número que se
podia escrever não passava de 99.999.

58
História da Matemática

Essa numeração escrita, muito rudimentar, comportava uma das


características do nosso sistema moderno. Os primeiros nove
algarismos eram representados por signos que não buscavam,
visualmente, lembrar os números correspondentes. Assim, o
algarismo 5, por exemplo, não era mais composto de cinco barras
ou cinco pontos.

Veja essa representação inicial na Tabela 1.14.

Tabela 1.14 - Numeração hindu arcaica

1 2 3 4 5 6 7 8 9

Observe que essa representação já constituía a prefiguração dos


nove algarismos significativos atuais, porém, não se submetendo
ainda à regra de posição. Isso fez com que esses algarismos não
fossem operacionais como os nossos.

Conforme já citado, o maior número que se podia escrever era


99.999, pois esse sistema de numeração estava alicerçado sobre o
princípio de adição e atribuía um algarismo especial a cada um
dos números. Assim sendo, comportava algarismos particulares
para cada unidade simples, para cada dezena, centena, milhar e
cada dezena de milhar.

Os hindus, com sua língua culta, o sânscrito, tiveram a ideia de


exprimir os números grandes por extenso. Mesmo sem saber, eles
já se direcionavam à descoberta do princípio de posição e do zero,
que apesar de oral, foi de extrema qualidade. Observe a Tabela
1.15.

Tabela 1.15 - Numeração por extenso

Nome eka dvi tri catur pañca sat sapta asta nava
Número 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Este sistema atribuiu as diferentes potências de dez nomes


especiais. Veja a Tabela 1.16.

Unidade 1 59
Universidade do Sul de Santa Catarina

Tabela 1.16 - Potências de dez

Potência de dez Nome


10 dasa
100 sata
1.000 sahasra
10.000 ayuta
100.000 laksa
1.000.000 prayuta
10.000.000 koti
100.000.000 vyarbuda
1.000.000.000 padma

Como você pode observar, essa numeração de base dez atribuía


um nome particular à dezena, e cada uma de suas potências e
nomes compostos a todos os outros números.

Os sábios hindus se acostumaram a exprimir os números


iniciando pelas potências de unidades simples, ou seja, onde
leríamos seis mil quinhentos e trinta e dois, os astrônomos
hindus, em sânscrito, enunciavam: dvi tri dasa panca sata sat
sahasra que significa “dois trinta quinhentos e seis mil”.

Objetivando abreviar, os matemáticos e astrônomos retiraram


os nomes indicadores da base e de suas diversas potências do
corpo dos números. Isso aconteceu no século V de nossa era. Veja
como ficaria o número exemplificado anteriormente - seis mil
quinhentos e trinta e dois.

Dois. TrÍ s. Cinco. Seis = 2 + 3x10 + 5x100 + 6x1000

Observe que com essa notação é possível escrever o mesmo


número com apenas quatro palavras. Assim, as nove unidades
simples, agora, possuem um valor dependente de sua posição na
descrição do número.

60
História da Matemática

Sem dúvida, foi um grande progresso, mas uma grande


dificuldade surgiu. Como exprimir o número 205, por exemplo,
onde há a ausência de um decimal?

Tendo em vista o hábito desse povo de expressar os números com


palavras, fez-se necessário uma especial que marcasse a ausência
de uma determinada casa. Eles recorreram à palavra sunya, que
significava, então, tal como hoje, em sânscrito, vazio ou nada, e
assim o nosso número 205 pôde ser escrito da seguinte maneira:

pañca sunya dvi = cinco. vazio. dois.

Ainda existiam dois problemas a serem solucionados, os números


não estavam no sistema posicional, somente em relação às
palavras, e o zero era apenas oral.

Começaram a surgir os primeiros exemplos dos números


utilizando a regra de posição e do zero, ainda no século V de
nossa era.

Você sabia?
Um dos primeiros locais onde aparece a notação
posicional é um tratado de cosmologia denominado
Lokavibhaga, publicado na data de 25 de agosto
de 458 do calendário juliano, por um movimento
religioso hindu para enaltecer as suas próprias
qualidades científicas e religiosas. Nesse texto, aparece
o número 14.236.713 escrito claramente:
triny ekam sapta sat trini dve catvary ekakam = três um
sete seis três dois quatro um

É possível considerar essa data segura, pois o texto contém


indicações relativas a determinados dados astronômicos hoje
conhecidos e datados.

Unidade 1 61
Universidade do Sul de Santa Catarina

Os hindus eram verdadeiros poetas. Para não ter que repetir


muitas vezes a mesma palavra na formação de um número, eles
recorreram aos sinônimos de alguns nomes em sânscrito. Veja
alguns exemplos no Quadro 1.3.

Número Sinônimos

Adi - o começo

Eka - Um Tanu – o corpo

Pitamaha – o primeiro pai

Asvi – os dois gêmeos

Dvi - dois Yama – o casal primordial

Netra – os olhos

Guna – as três propriedades primordiais

Tri - três Loka – os três mundos

Kala – as três divisões do tempo

Quadro 1.3 - Palavras-símbolos

A forma gráfica dos algarismos hindus, durante muitos séculos,


permaneceu pouco precisa. Dependendo do escriba, o mesmo
número poderia ter diferentes interpretações. Se algum erro era
cometido, ninguém era capaz de perceber. Assim, a representação
por números era insegura, ao passo que com a forma poética das
palavras-símbolos, o ritmo dos versos podia ser quebrado diante
do erro mais insignificante, e isso, sem dúvida, tornava possível
detectá-lo. Observe na Tabela 1.17 a evolução da notação da
numeração hindu.

Tabela 1.17 - Notação dos números hindus

Hindu
300 a.C

Hindu
500 d. C

62
História da Matemática

No início do século VII d.C., os nove primeiros algarismos


da numeração arcaica hindu receberam um valor variável,
dependendo da sua posição nas representações numéricas, e
o zero foi simbolizado por um ponto ou um pequeno círculo.
Mas dessa vez os números foram representados da direita para
esquerda, de acordo com as potências decrescentes de 10, a partir
do número associado às unidades mais elevadas. O número 2300
ficou representado da seguinte forma:

2 3 0 0

O cálculo dos indianos fundamentava-se na utilização de um


bastonete que desenhava os algarismos na terra ou areia. Esse
método era designado por hisâb al ghubâr ou hisâb ‘alâ at turâb,
que significa, respectivamente, cálculo com a poeira ou cálculo
com a areia. Para além do cálculo no solo, os indianos também
utilizavam as pranchetas de cálculo, às quais chamavam takht al
turâb ou takht al ghubâr, que significa, respectivamente, tabuleta
de areia ou tabuleta de poeira.

O sistema de numeração hindu apresenta diferentes formas de


desenvolver a multiplicação.

Observe o desenvolvimento de uma delas que possui o curioso


nome de per gelosia, que significa por janela. Esse processo
consiste em construir um quadro com tantas colunas quanto os
algarismos do multiplicando, e tantas linhas quanto os algarismos
do multiplicador.

Na parte de cima do quadro, partindo da esquerda para a direita,


escrevem-se os algarismos do multiplicando, à direita do quadro,
partindo de baixo para cima, escrevem-se os algarismos do
multiplicador. Divide-se cada casa do quadro em duas semicasas,
traçando nelas a diagonal, a partir do canto superior esquerdo.
Em cada casa escreve-se o produto relativo à linha e às colunas
correspondentes, o algarismo das dezenas na semicasa inferior e o
das unidades na semicasa superior.

Unidade 1 63
Universidade do Sul de Santa Catarina

O produto pretendido obtém-se somando os algarismos das


faixas obliquas. A leitura do resultado é feita da esquerda para a
direita e de baixo para cima.

Note o exemplo da multiplicação de 432 por 175.

O resultado é 75 600.

Seção 9 – Os algarismos arábicos


Segundo os historiadores, do ponto de vista intelectual, o século
IX d.C. foi essencialmente muçulmano, aliás, do século VIII ao
XIII desenrolou-se um dos períodos mais brilhantes da história
da ciência no mundo muçulmano. Nos países conquistados,
foram recolhidas todas as obras gregas, filosóficas, científicas ou
literárias encontradas. Todas eram traduzidas em língua árabe e
cuidadosamente estudadas. Os árabes, por intermédio dos gregos
e dos cristãos da Síria e da Mesopotâmia, recuperaram também o
velho sistema hexagonal posicional e o zero dos sábios babilônios,
adaptando-os à sua própria escrita em tábuas astronômicas.

Durante o seu reinado, os povos árabes travaram uma série


de guerras de conquistas. E como prêmios de guerra, livros
de diversos centros científicos foram levados para Bagdá e
traduzidos para a língua árabe.

64
História da Matemática

Em 809, o califa de Bagdá passou a ser al-Mamum, filho de


Harum al-Rahchid. Al-Mamum era muito vaidoso. Dizia com
toda a convicção:

Não há ninguém mais culto em todos os ramos do saber


do que eu.

Como era um apaixonado da ciência, o califa procurou tornar


Bagdá o maior centro científico do mundo, contratando os
grandes sábios muçulmanos da época.

Com um admirável espírito de síntese, os árabes conseguiram


aliar o rigor da sistematização dos matemáticos e filósofos gregos
ao aspecto essencialmente prático da ciência do hindu, levando
a um progresso admirável a aritmética, a álgebra, a geometria, a
trigonometria e a astronomia.

Em suma, os árabes trouxeram para a ciência uma vida nova,


um caráter original. Graças às suas conquistas e ao seu desejo de
converter o mundo, eles lhe atribuíram uma dimensão universal.

Assim, a atividade dos intelectuais islâmicos foi muito superior à


de qualquer outro grupo.

Florescendo sob o califa al-Mamum, o matemático, astrônomo e


geógrafo muçulmano al-Khowarismi influenciou o pensamento
matemático mais do que qualquer escritor medieval da área.
Al-Khowarismi é conhecido por seu trabalho em álgebra e
astronomia e por suas tabelas matemáticas, mas, talvez, uma de
suas maiores realizações tenha sido a introdução do chamado
sistema de notação indo-arábico no mundo ocidental. Seus
escritos foram o canal por meio do qual os “novos” numerais
se tornaram conhecidos no oeste, e por intermédio deles
revolucionou os passos comuns do cálculo.

Os números que conhecemos são algarismos arábicos, e


foram trazidos da Índia para o Ocidente, por isso também
são chamados indo-arábicos, sendo criação de Abu Abdullah
Muhammad Ibn Musa al-Khwarizmi (778-846). Al-Khwarizmi
nasceu na região central da Ásia, onde hoje está localizado
o Uzbequistão. Posteriormente, emigrou para Bagdá, onde

Unidade 1 65
Universidade do Sul de Santa Catarina

trabalhou na “Casa da Sabedoria” como matemático, durante a


era áurea da ciência islâmica.

Os números arábicos foram introduzidos na Europa por


Leonardo de Pisa, mais conhecido como Fibonacci, matemático
e mercador italiano, que escreveu o seu livro Liber abaci a partir
dos conhecimentos que adquiriu no Oriente.

Os algarismos indo-arábicos não foram adotados em Portugal


nem na Península Ibérica de imediato, mas com o tempo e as
facilidades apresentadas, foram adotados em todo o restante
da Europa. Hoje, é usada uma versão pouco modificada desses
algarismos na maioria dos países do mundo.

Deve-se notar que, ao longo de todo o tratado, os números são


expressos por palavras, não por símbolos, e os numerais são usados
apenas em alguns diagramas e algumas notas marginais. Os
métodos de cálculo ensinados verbalmente podiam ser aplicados
apenas ao sistema de numeração de valor relativo, no caso, o
indo-arábico, novo na época, usado pelos muçulmanos. Assim, a
divulgação desse trabalho de al-Khovarismi estimulou os eruditos
do Ocidente a apresentarem o que hoje chamamos de sistema de
numeração indo-arábico e a adquirirem a habilidade de manipulá-lo.

Mas os árabes interessaram-se também pelas culturas orientais.


Com relação aos números, primeiro eles se interessaram pela
numeração alfabética grega e judaica, cujo uso foi adaptado às 28
letras de seu próprio alfabeto.

Por intermédio dos gregos, dos cristãos da Síria e da


Mesopotâmia, eles recuperaram também o velho sistema
sexagesimal posicional e o zero dos sábios babilônios, adaptando-
os à sua própria escrita em suas tábuas astronômicas.

Mas quando eles tiveram acesso às descobertas hindus, foi como


uma iluminação. Mantendo frutuosas relações comerciais com a
Índia pelo golfo Pérsico, a partir do porto de Bassora, os árabes
se iniciaram na astronomia, na aritmética e na álgebra dos sábios
dessa civilização. A partir do final do século VIII, adotaram
o conjunto do sistema numérico hindu: números, numeração
decimal de posição, zero e métodos de cálculo.

66
História da Matemática

Latinizado, o nome al-Khowarismi transformou-se,


de fato, sucessivamente em Alchoarismi, depois
em Algorismi, Algorismus, Algorismo e, por fim, em
Algoritmo.

Durante muito tempo, este termo designou, assim, na Europa,


o cálculo por escrito inventado pelos árabes, antes de adquirir a
acepção mais ampla que lhe atribuímos, ou seja, procedimento
matemático que consiste em passar automaticamente e em um
encadeamento rigoroso de uma etapa seguinte.

Antes da invenção da imprensa, que ocorreu no século XV, os


livros eram copiados manualmente, um a um. Como cada copista
tinha a sua caligrafia, durante os longos séculos de copiagem
manual, as letras e os símbolos para representar números
sofreram muitas modificações. Além disso, como o sistema
de numeração criado pelos hindus foi adotado pelos árabes e
passado aos europeus, era natural que nesse percurso a forma de
escrever os dez algarismos sofresse alterações. Por volta do século
IV, como ainda não havia um símbolo para o nada, os hindus
representaram os algarismos da seguinte forma:

Quanto à numeração posicional e aos métodos de cálculo


originários da Índia, seus nove algarismos foram pura e
simplesmente recopiados. No século IX, já com o zero, a
representação evoluiu para:

No século XI, os hindus representavam os dez dígitos assim:

Unidade 1 67
Universidade do Sul de Santa Catarina

No mesmo século XI, os árabes que estavam no Ocidente


representaram assim:

De qualquer modo, foi por meio dessa grafia hindu, ligeiramente


modificada, que os dez algarismos foram difundidos pelas
províncias árabes do Oriente, tendo as seguintes representações:

E, afinal, isso era normal, pois era preciso que a forma dos
algarismos hindus fosse adaptada ao estilo próprio da escrita
dos árabes do Oriente. Nessa evolução, o pequeno círculo que
representava o zero tornou-se tão pequeno nos manuscritos que
acabou sendo finalmente reduzido a um simples ponto.

Com o império dos califas, esses algarismos tiveram no início


uma forma bastante próxima da grafia hindu de origem. Mas,
com a passagem dos séculos, eles evoluíram e assumiram pouco
a pouco, nos países mouros, um aspecto particular, bastante
diferente da grafia hindi de seus primos do Oriente próximo.
Observe as formas usadas pelos europeus nos séculos XV e XVI.

Teoricamente, pode-se supor que cada algarismo continha


originalmente exatamente a quantidade de ângulos cujo número
se desejava representar. Assim, o algarismo “1” era representado
por dois traços que se uniam num vértice superior (como um
“V” invertido); o “2” como um “Z”; o “3” como um sigma (∑)
invertido e o “4” quase da mesma forma como é hoje.

Em outras palavras, os números arábicos um, dois, três e quatro


foram baseados em traços que formam ângulos. Assim:
a) o número um tem um ângulo;
b) o número dois tem dois ângulos aditivos;
c) o número três tem três ângulos aditivos;
d) o número quatro tem quatro ângulos aditivos.

68
História da Matemática

Já o número zero era representado por um círculo, indicando a


ausência de ângulos.

A Figura 1.11 ilustra os números conhecidos e seus respectivos


ângulos.

Figura 1.11 - Números e ângulos


Fonte: Lemos (2009).

Isso poderia nos fazer concluir que a numeração hindu-arábica


tenha sido prontamente aceita pelos europeus, em vista de sua
superioridade. Entretanto, não foi isso que aconteceu. Foram
necessários alguns séculos para que as novas ideias triunfassem
definitivamente. Tal fato só aconteceu no século XVI. Durante
muitos anos, uma verdadeira batalha foi travada entre os adeptos
do novo sistema e os defensores do sistema antigo.

Os numerais hindu-arábicos chegaram a ser proibidos nos


documentos oficiais, mas eram usados na clandestinidade. A
perseguição, contudo, não conseguiu impedir a disseminação do
novo sistema, que se impôs pelas suas qualidades.

E durante muito tempo, os números foram expressos por


palavras, não por símbolos, e os numerais eram usados apenas em
alguns diagramas.

Os métodos de cálculo ensinados verbalmente podiam ser


aplicados apenas ao sistema de numeração, novo à época, de
valor relativo, usado pelos muçulmanos. Assim, a divulgação do
trabalho de al-Khovarismi estimulou os eruditos do Ocidente a

Unidade 1 69
Universidade do Sul de Santa Catarina

aprender o que hoje chamamos de sistema de numeração indo-


arábico e a adquirir a habilidade de manipulá-lo.

Curiosidade
A evolução da escrita do número 4 (representada
na Figura 1.12), devido à escrita cursiva, teria sido
modificada e fechada, facilitando a sua caligrafia e
futura tipografia, tornando-o diferente, por exemplo,
do símbolo da cruz.

Figura 1.12 - Evolução da escrita do número 4


Fonte: Lemos (2009).

Seção 10 - Sistema de numeração binário


Ainda sobre os sistemas de numeração, esses têm por objetivo
prover símbolos e convenções para representar quantidades de
forma a registrar a informação quantitativa e poder processá-la.

A representação de quantidades se faz com os números. Na


Antiguidade, conforme já citado nas seções anteriores, duas
formas de representar quantidades foram inventadas.

Inicialmente, os egípcios criaram um sistema em que cada


dezena era representada por um símbolo diferente. Outro sistema
foi o de numeração romano, o qual utilizava símbolos que
representavam as quantidades.

Nesta seção, evidencia-se o sistema de numeração binário como


uma importante construção humana, com diferentes aplicações
nos dias atuais.

70
História da Matemática

Voltando-se um olhar sobre a construção do sistema de


numeração binário, evidencia-se que as considerações que se
conhece sobre a representação dos números binários provêm do
matemático indiano Pingala, responsável pela primeira descrição
desse sistema numérico no século III a.C.

As tentativas de construção do sistema binário resultaram,


inicialmente, na construção de um conjunto de 8 trigramas, que
são apresentados no Quadro 1.13, consideradas as primeiras
representações análogas do sistema binário.

Símbolo do Significado
trigrama

Céu. Criador, forte. É espacial, invisível e ilimitado.


Representa o pai. Parte do corpo: cabeça. Símbolo animal: cavalo.

Terra. Receptivo, maleável, dedicado. É formal, visível e limitado.


Representa a mãe. Parte do corpo: ventre. Animal: vaca.

Montanha. Quietude. É o concreto, o sólido e a acumulação sólida.


Representa o filho mais novo. Parte do corpo: mão. Animal: cão.

Lago. Alegria, jovialidade. É a incógnita, a acumulação líquida.


Representa a filha mais nova. Parte do corpo: boca. Animal:
carneiro.

Trovão. O que desperta e movimenta. Desperta o mundo interior.


Representa o filho mais velho. Parte do corpo: pé. Animal: dragão.

Vento. Madeira, suave, penetrante. Desperta o movimento exterior.


Representa a filha mais velha. Parte do corpo: coxa. Animal: galo.

Fogo. Sol. Luminoso, aderente. É o impulso ascendente.


Representa a filha do meio. Parte do corpo: olho. Animal: faisão.

Água. Nuvens, abismo, perigo. É o impulso descendente.


Representa o filho do meio. Parte do corpo: ouvido. Animal: porco.

Quadro 1.4 - Os trigramas


Fonte: Adaptado de Britto ([200-]).

Este conjunto de 8 trigramas, análogos a números binários com


precisão de 3 e 6 bits, foram utilizados pelos antigos chineses no
texto clássico I Ching.

Unidade 1 71
Universidade do Sul de Santa Catarina

Conjuntos similares de combinações binárias foram utilizados


em sistemas africanos de adivinhação, tais como: o Ifá e a
Geomancia na era medieval do ocidente.

Você sabia?
Geomancia é a arte ideal das correspondências.

No entanto, consta em registros que o sistema numérico binário


moderno somente foi documentado de forma abrangente no
século XVIII por Gottfried Leibniz, em seu artigo Explication de
l’Arithmétique Binaire.

O sistema de Leibniz utilizou os símbolos 0 e 1, tal como o


sistema numérico binário presente na atualidade. Um dos escritos
de Leibniz sobre o sistema de numeração binário apresenta-se na
Figura 1.13.

Figura 1.13 - Página do artigo “Explication de l’Arithmétique Binaire”, 1703/1705, de Leibniz


Fonte: Leibniz... (2006).

72
História da Matemática

Boyer (1996) destaca que Leibniz era tanto filósofo quanto


matemático, por isso, contribuiu significativamente com o
estudo da lógica. Ele esperava pôr ordem em todas as coisas.
Símbolos universais ou ideogramas deveriam ser introduzidos
para o pequeno número de conceitos fundamentais necessários ao
pensamento, afirmava Leibniz.

Outro matemático que contribuiu significativamente com o


sistema de numeração binário, em 1854, foi o britânico George
Boole, que publicou um artigo detalhando um sistema lógico que
se tornaria conhecido como Álgebra Booleana. Seu sistema lógico
tornou-se essencial para o desenvolvimento do sistema binário,
particularmente sua aplicação a circuitos eletrônicos.

Mais tarde, no século XIX, antes mesmo dos computadores


a válvula, já eram utilizadas formas de armazenamento de
dados por meio de placas e cartões perfurados, semelhantes ao
sistema binário, em que todas as quantidades são representadas
utilizando-se o sistema de base dois, composto pelos símbolos
zero e um.

Curiosidade
Já no século XX, precisamente em 1937, Claude
Shannon produziu sua tese no Instituto Tecnológico
de Massachusetts (MIT), que implementava Álgebra
Booleana e aritmética binária, utilizando circuitos
elétricos pela primeira vez na história. Intitulado “A
Symbolic Analysis of Relay and Switching Circuits”, a
tese de Shannon praticamente fundou o projeto de
circuitos digitais.

A importância dos números binários aplica-se, principalmente,


para a linguagem de máquina, como o computador, visto que os
dados precisam ser interpretados usando-se o estado da corrente
elétrica (ligada/desligada, alta/baixa). Para resolver esse
impasse, adotou-se o sistema de numeração binária, que usa os
dígitos zero e um em sua representação, os quais correspondem
aos estados desligado e ligado, respectivamente. O uso de
dois símbolos determina que esse é um sistema de base 2. No
sistema binário, o valor de um símbolo (zero ou um) depende
de sua posição, o que significa que ele também é um sistema
posicional.

Unidade 1 73
Universidade do Sul de Santa Catarina

Foi John Von Neumann quem demonstrou como a lógica


binária poderia ser utilizada na formação de programas na
memória do computador. Esse conjunto de regras operacionais
foi chamado de algoritmo e era instalado na memória do
equipamento, de modo a controlar a sequência de operações,
em vez de as instruções serem ditadas por um painel de
programação, no qual uma fiação conectada determinava as
etapas de processamento.

Com base nesse conceito de programa armazenado, Von


Neumann participou da construção do primeiro computador com
programa armazenado, linguagem binária e processamento serial
da informação. A máquina de Von Neumann é a base de quase
todos os computadores, sendo, atualmente, desenvolvidos códigos
binários padronizados.

Os computadores modernos também utilizam apenas o sistema


binário, isto é, todas as informações armazenadas ou processadas
no computador usam apenas duas grandezas, representadas pelos
algarismos 0 e 1.

Embora o sistema binário resolva o problema das máquinas


eletrônicas, para nós, o sistema decimal continua sendo o
preferido, pois, para os seres humanos, o sistema numérico
decimal é bastante satisfatório, não sendo um sistema muito
prático para a máquina.

Então, o que fazer para que possamos conviver


harmoniosamente com os dois sistemas numéricos?

Precisamos saber como converter números de decimal para


binário e vice-versa. Vamos considerar alguns exemplos práticos.

„ Como faço para saber o valor decimal do seguinte


número binário?
11001110

74
História da Matemática

Utilizamos a Tabela 1.18, a seguir, para facilitar os cálculos.

Tabela 1.18 - Conversão do sistema binário em decimal

1 1 0 0 1 1 1 0
Multiplica por: 27 26 25 24 23 22 21 20
Equivale a: 128 64 32 16 8 4 2 1
Multiplicação: 1 x 128 1 x 64 0 x 32 0 x 16 1x8 1x4 1x2 0x1
Resulta em: 128 64 0 0 8 4 2 0
Somando tudo: 128 + 64 + 0 + 0 + 8 + 4 + 2 + 0
Resulta em: 206

Note que o número binário 11001110 equivale ao decimal 206.

Vale a pena ressaltar que desde quando se começou a registrar


informações sobre quantidades, foram criados diversos métodos
de representar essas quantidades. É o que se denomina sistema de
informação. Entre eles está o sistema de numeração binário, que
atualmente também é denominado de linguagem de máquina.

„ Operando com o sistema de numeração binário


Nem sempre 1 + 1 = 2.

Soma de binários
Para somar dois números binários 1100 e 111, o procedimento é
o seguinte:

Note que os números binários são base 2, ou seja, há apenas dois


algarismos: 0 ou 1. Na soma de 0 com 1, o total é 1. Quando se
soma 1 com 1, o resultado é 2, mas como 2 em binário é 10, o
resultado é 0 (zero) e passa-se o outro 1 para a “frente”, ou seja,
para ser somado com o próximo elemento, conforme assinalado
pelo asterisco.

Unidade 1 75
Universidade do Sul de Santa Catarina

Subtração de binários
Para subtrair dois números binários, o procedimento é o seguinte:

Observe que quando temos 0 menos 1, precisamos “emprestar”


do elemento vizinho. Esse empréstimo vem valendo 2 (dois), pelo
fato de ser um número binário. Então, no caso da coluna 0 - 1 =
1, porque na verdade a operação feita foi 2 - 1 = 1.

Este processo se repete e o elemento que cedeu o “empréstimo”


e valia 1 passa a valer 0. Os asteriscos marcam os elementos que
“emprestaram” para seus vizinhos. Perceba que, logicamente,
quando o valor for zero, ele não pode “emprestar” para ninguém,
então, o “pedido” passa para o próximo elemento e esse zero
recebe o valor de 1.

Multiplicação de binários
A multiplicação entre binários é similar à realizada normalmente.
A única diferença está no momento de somar os termos
resultantes da operação.

Perceba que na soma de 0 e 1 o resultado será 1, mas na soma de


1 com 1, em vez do resultado ser 2, ele será 0 e passa-se o 1 para
a próxima coluna, conforme assinalado pelo asterisco.

76
História da Matemática

Divisão de binários
Esta operação também é similar à realizada entre números
decimais.

Síntese

Ao abordarmos a evolução histórica dos números, você deve


ter percebido as contribuições que cada civilização deixou para
a humanidade. Tivemos a preocupação de apresentar os mais
diversos métodos de operação numérica, que foram ao longo dos
séculos evoluindo de acordo com as necessidades emergentes.

Você deve ter notado que a criação do zero foi um marco na


história dos números, bem como o sistema de numeração
posicional decimal, que se tornou um sistema universal. Nesse
contexto também se insere o sistema de numeração binário, que
impulsionou o desenvolvimento da tecnologia.

Antes de seguir adiante, faça as atividades de autoavaliação e


esclareça suas dúvidas com o seu professor.

Bons estudos!

Unidade 1 77
Universidade do Sul de Santa Catarina

Atividades de autoavaliação

1) A utilização de recursos materiais mostrou-se de grande importância


nas primeiras contagens feitas pelo homem. De acordo com o texto,
cite as técnicas de contagem apresentadas.
2) Com base no texto, quais as principais civilizações que contribuíram na
construção dos sistemas de numeração?
3) Elabore um quadro comparativo entre os sistemas de numeração
egípcio, babilônico e maia, relacionando os seguintes aspectos:
presença do zero, sistema posicional ou não, quais as operações
definidas.
4) Desenhe, em cada item, o que está faltando para completar a
representação do número 1462.

5) Os egípcios efetuavam todas as operações matemáticas por meio da


adição. Usando a técnica de calcular dos egípcios, efetue as operações
indicadas a seguir.
a) 97x25 =
b) 63:9 =
6) Escreva 382 e 3761 em numerais
a) egípcios:
b) romanos:
c) gregos (notação numérica ática):
d) babilônicos:
e) maias:
f) chineses (clássicos):
g) binário:

7) Descreva, de acordo com o texto, o surgimento das frações.

78
História da Matemática

2 1 1
2 = +
8) Decomponha utilizando o seguinte corolário: p p ( p + 1) ( p + 1) .
13
2 2

9) Durante mais de quinze séculos, os astrônomos e matemáticos


babilônios ignoraram o zero, não que ele não fizesse falta, esta foi
uma das grandes dificuldades que eles tiveram que resolver. Relate a
necessidade da criação do zero neste sistema.

10) Efetue a seguinte operação com os números escritos no sistema


mesopotâmico. Lembre-se que a base é sessenta.

11) Um sistema de numeração muito interessante é o chinês em barras,


que provavelmente remonta no tempo a mais de dois milênios. Escreva
com numerais em barra os seguintes números:
a) 4320
b) 43206
c) 765084

12) De origem remota e desconhecida, o sistema de numeração maia


foi descoberto pelas expedições espanholas no início do século XVI.
Este sistema é essencialmente vigesimal, mas seu segundo grupo
vale 18 . 2 = 360 em vez de 202 = 400. De acordo com o texto, justifique
esta situação.

13) Nesta unidade, você estudou que o povo maia escrevia seus números
de maneira muito simples utilizando pontos e traços. Escreva,
utilizando o nosso sistema de numeração, os seguintes números maias:
a)

b)

Unidade 1 79
Universidade do Sul de Santa Catarina

14) O sistema de numeração grego conhecido como jônico ou alfabético


emprega 27 caracteres: 24 letras do alfabeto grego mais três obsoletas.
O apóstrofo e a letra M são utilizados juntos a esses caracteres, quando
os números são superiores a mil e 10 mil, respectivamente. Escreva os
seguintes números no sistema grego:
a) 257
b) 43
c) 4376
d) 46000

15) Represente em numerais romanos:


1
a) de MCXXVIII
4
b) 4 vezes XCIV

16) O sistema de numeração hindu é decimal e posicional. Conceitue um


sistema posicional.

17) O sistema de numeração hindu apresenta diferentes formas de


desenvolver a multiplicação, uma delas possui o curioso nome de per
gelosia, que significa “por janela”. Utilizando esse método multiplique
562 por 54.

18) Destaque as duas principais contribuições do povo árabe na


formalização do sistema de numeração indo-arábico.
19) Os sistemas de numeração foram desenvolvidos de acordo com
as necessidades de cada civilização. Com o sistema binário não foi
diferente. Aponte a necessidade que levou à criação deste sistema.

Saiba mais

Para aprofundar seus estudos relacionados com os números e suas


tradições, sugerimos que faça a leitura do capítulo 2: Os números
e suas simbologias nas tradições, do livro Números: o simbólico e o
racional na História, cujo autor é Iran Abreu Mendes, da editora
Livraria da Física, 2006.

80
2
UNIDADE 2

Teoria dos conjuntos

Objetivos de aprendizagem
„ Identificar os diferentes campos numéricos a partir dos
fatos históricos.
„ Conhecer os principais matemáticos que contribuíram
no desenvolvimento da teoria dos conjuntos.
„ Estabelecer um comparativo entre a evolução
histórica da teoria dos conjuntos e como essa teoria é
apresentada na educação básica.

Seções de estudo
Seção 1 Rigor e precisão no estudo dos números

Seção 2 A história da teoria dos conjuntos e os dias


atuais

Seção 3 História da teoria dos conjuntos e a educação


básica
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Nesta unidade, você estuda que durante a Idade Moderna
foi desenvolvida a teoria dos conjuntos e que essa possibilitou
conceituar, classificar e estudar os números com rigor e precisão.
Assim sendo, tornou-se necessário determinar critérios ou
propriedades para fazer uma classificação dos números e, dessa
forma, organizá-los por grupos ou conjuntos.

Então, aproveite o conteúdo desta unidade e inteire-se do


assunto, conhecendo os principais expoentes da história da teoria
dos conjuntos.

Seção 1 - Rigor e precisão no estudo dos números


Para pensarmos sobre a teoria dos conjuntos, alguns
questionamentos fazem-se importantes, como, por exemplo:

os números são diferentes? Como é possível


agrupar os números em conjuntos? Que critérios ou
propriedades são utilizados para dizer se um número
pertence ou não a um ou outro conjunto?

Buscando respostas para tais questionamentos, torna-se


importante retornar à história da Matemática enquanto uma
grande invenção humana, que esteve sempre ligada às atividades
humanas.

Segundo registros históricos, os números surgiram antes mesmo


de nossa própria história. Embora se saiba que os animais não
desenvolveram a capacidade de contagem, algumas espécies de
aves eram capazes de identificar entre inúmeros, a ausência de
um ovo em seu ninho. Para ilustrar essa afirmação, acompanhe
no quadro a seguir a história do senso numérico envolvendo o
corvo.

82
História da Matemática

Determinadas espécies animais demonstram ter senso


numérico.
Em certo lugar da Europa, o dono de uma plantação queria matar
um corvo que havia feito um ninho na torre de sua mansão. Mas
a ave era muito esperta. Se alguém se aproximasse da torre,
ela logo voava e ficava observando de uma árvore distante. Só
voltava se o perigo se afastasse.
Um dia, o agricultor tentou um truque. Dois homens entraram
no galpão vizinho à torre, e o pássaro fugiu. Pouco depois, um
dos homens saiu de lá, mas o pássaro não voltou para o ninho.
Percebeu que ainda havia outro esperando por ele!
O truque foi repetido no dia seguinte com três homens, dois deles
saindo logo depois do galpão. Mas o corvo também percebeu que
ainda restava um terceiro! No outro dia, tentou-se o mesmo com
quatro homens, sem que fosse possível enganar a ave.
Finalmente, foram usados cinco homens. Um deles permaneceu
no galpão, enquanto os outros saíram. Dessa vez, foi demais para
o pássaro e ele perdeu a conta. Incapaz de perceber a diferença
entre quatro e cinco, ele voltou ao ninho. Pobre corvo!

Fonte: IMENES (1999. p. 10).

Muitas linguagens humanas primitivas têm nomes para números


de determinados objetos, e não para a ideia geral de número em
si mesmo. A separação entre conceito abstrato de números e o
objeto sujeito à contagem levou um longo período de tempo para
ser consolidada.

Seja por meio de pedras, ossos, desenhos, dos dedos ou de outra


forma qualquer, em que procurava abstrair a natureza por meio
de processos de determinação de quantidades, a história nos
mostra que há muito tempo o homem teve a preocupação em
contar objetos e ter registros numéricos.

Figura 2.1 - Registros numéricos


Fonte: Gladcheff et al. (1996).

Unidade 2 83
Universidade do Sul de Santa Catarina

E essa procura pela abstração da natureza foi fundamental para


a evolução não só, mas também, dos conjuntos numéricos. Ao
se referenciar os conjuntos numéricos no contexto dos números,
torna-se relevante conhecer os vários conjuntos numéricos,
as propriedades dos números e as propriedades das operações
possíveis com números em cada conjunto, e as diferentes relações
entre os sistemas de números.

Neste contexto, não significa que consigamos estabelecer


historicamente a sequência com que os conjuntos numéricos
foram criados, mas a importância que eles desempenharam no
desenvolvimento da Matemática enquanto ciência abstrata.

As linguagens também desempenharam um papel primordial na


mudança da ênfase matemática da numeração para os números.
Do ponto de vista atual, tende-se a considerar a numeração
ligada aos meios de expressar números – a criação de símbolos
para as ideias, o conceito.

A numeração se desenvolveu da enumeração não verbal,


considerada um procedimento simplificador. É importante
ressaltar que, por exemplo, no contexto dos conjuntos finitos,
a última palavra significando o número é atribuída ao último
objeto do conjunto a ser contado, não só dá nome ao objeto,
enquanto o último de uma sequência, como também designa o
número cardinal do conjunto todo.

Assim, na abordagem moderna do ensino da Matemática


distinguiram-se números de numerais, levando esse estudo para
dois enfoques diferentes:

1. as propriedades dos números e


2. os sistemas numéricos.

Considera-se neste estudo as propriedades das operações com os


números e as relações que essas operações têm com os conjuntos
para os quais estão definidas.

Historicamente, o interesse pelos cálculos é anterior, em muitos


séculos, ao interesse pelas propriedades dos números. Por outro
lado, o interesse pelas propriedades dos números precede em
quase dois milênios o interesse pelos sistemas numéricos. É

84
História da Matemática

a partir desse último interesse, porém, que se produzem os


modelos unificadores e simplificadores da Matemática moderna.

Referencia-se na história aos povos orientais os interesses por


cálculos, enquanto que aos gregos, tradicionalmente, atribui-se o
interesse pelos sistemas numéricos. Na Modernidade, houve a síntese
das duas abordagens, alcançada nos últimos tempos, principalmente
pelos estudos de Georg Cantor, Richard Dedekind, Weiestrass,
entre outros, por meio da formalização da teoria dos conjuntos.

Ao se retornar à história dos conjuntos numéricos, sua representação


e propriedades são indispensáveis ao rigor matemático percorrido
durante muitos anos pelos matemáticos, a fim de eliminar da
linguagem matemática a ambiguidade e as contradições.

Discutem-se, a seguir, alguns elementos importantes na história,


envolvendo a representação dos conjuntos numéricos e sua
importância para o progresso da Matemática e, principalmente,
para o estudo dos objetos matemáticos.

Considerando que uma das primeiras necessidades que o ser


humano sentiu foi a de contar, ele também criou um sistema de
representação que tornasse possível tal processo de contagem.
É possível inferir que em um primeiro momento esse processo
aconteceu por comparação, mas à medida que a expansão
dos povos foi ocorrendo, novas necessidades provavelmente
emergiram e então houve a necessidade de sistematizar o
conhecimento. A transmissão oral de geração em geração não foi
suficiente e o registro tornou-se indispensável.

Junto à atividade de registrar nasce também a necessidade de criar


símbolos. Esses foram discutidos nas seções anteriores. Agora que
já temos o nosso sistema de numeração totalmente formalizado,
tornou-se importante categorizar os números em conjuntos.

Os conjuntos atualmente são descritos de maneiras diversas, como:

„ conjunto dos números naturais (N);

„ conjunto dos números inteiros (Z);

„ conjuntos dos números racionais (Q );

Unidade 2 85
Universidade do Sul de Santa Catarina

„ conjunto dos números irracionais (I);

„ conjunto dos números reais (R); e

„ conjunto dos números complexos (C).

Não se pode referenciar o rigor na Matemática sem referenciar


esses campos numéricos e suas características e propriedades.

O rigor da análise matemática vivenciado, sobretudo, nos séculos


XIX e XX baseia-se, principalmente, na teoria abstrata dos
conjuntos.

A teoria dos conjuntos semelhante à atual teve seu início de


formalização no ano de 1908, com Ernst Zarmelo, que foi
responsável por uma compilação de tudo o que havia sido
produzido sobre o assunto, sendo considerado o primeiro
de poucos matemáticos que se dedicaram à criação da teoria
axiomática dos conjuntos.

No contexto da teoria axiomática dos conjuntos, a intuição


foi excluída de qualquer papel formal posterior, sendo aceitas
apenas as proposições que decorrem dos axiomas. O fato é que
a existência no mundo físico dos objetos descritos por esses
axiomas é irrelevante para o processo de dedução formal.

No entanto, sabe-se que o estudo sistemático da teoria dos


conjuntos deve-se, principalmente, a Georg Cantor, com
trabalhos iniciados por volta de 1872, quando estudava a
representação da função por meio das séries trigonométricas.
Nesse estudo, Cantor investigou a descontinuidade de tais
funções.

O aparecimento de conjuntos mais complexos levou Cantor


a investigar os conjuntos infinitos em sua generalidade,
desenvolvendo o conceito de equivalência de conjuntos. Cantor
denominou de conjuntos equivalentes aqueles que têm a
mesma cardinalidade, ou a mesma potência, quando é possível
estabelecer uma correspondência que leve elementos distintos de
um conjunto a elementos distintos de outro, todos os elementos
de um e de outro conjunto sendo objetos dessa correspondência,
ou seja, uma bijeção.

É a partir da noção de equivalência que se dá origem ao conceito


abstrato de número natural. É essa abstração dos elementos
86
História da Matemática

concretos dos conjuntos equivalentes de diferentes objetos que leva


a mente humana a formar a noção de um número natural.

O conjunto dos números naturais é um conjunto, é infinito e


contável por definição.

Os números naturais tiveram suas origens nas palavras utilizadas


para a contagem de objetos, começando com o número um.
O primeiro avanço na abstração foi o uso de numerais para
representar os números. Isso permitiu o desenvolvimento de
sistemas para o armazenamento de grandes números.

Por exemplo, os babilônicos desenvolveram um poderoso sistema


de atribuição de valor baseado essencialmente nos numerais de 1
a 10. Os egípcios antigos possuiam um sistema de numerais com
hieróglifos distintos para 1, 10 e todas as potências de 10 até um
milhão.

Você sabia?
Uma gravação em pedra encontrada em Karnak,
datando de cerca de 1500 a.C. e atualmente no Louvre,
em Paris, representa 276 como 2 centenas, 7 dezenas
e 6 unidades; e uma representação similar para o
número 4 622.

Um avanço muito posterior na abstração foi o desenvolvimento


da ideia do zero com um número com seu próprio numeral. Um
dígito zero tem sido utilizado como notação de posição, desde
cerca de 700 a.C. pelos babilônicos, porém, ele nunca foi utilizado
como elemento final.

Os olmecas e a civilização maia utilizaram o zero como


um número separado desde o século I a.C., aparentemente
desenvolvido independentemente, porém, seu uso não se difundiu
na Mesoamérica – Mesopotâmia e América - o conceito, da forma
como ele é utilizado atualmente, originou-se com o matemático
indiano Brahmagupta, em 628.

Contudo, o zero foi utilizado como um número por todos


os computus (calculadoras da Idade Média), começando com
Dionysius Exiguus, em 525, porém, no geral, nenhum numeral
romano foi utilizado para escrevê-lo. Em vez disso, a palavra latina
para “nada”, “nullae”, foi empregada.

Unidade 2 87
Universidade do Sul de Santa Catarina

O primeiro estudo esquemático dos números naturais como


abstração, ou seja, como entidades abstratas, é comumente
atribuído aos filósofos gregos Pitágoras e Arquimedes.
Entretanto, estudos independentes também ocorreram por volta
do mesmo período na Índia, China e Mesoamérica.

No século XIX, uma definição do conjunto teórico dos


números naturais foi desenvolvida. Com essa definição, era
mais conveniente incluir o zero, que correspondia ao conjunto
vazio, como um número natural. Essa convenção é seguida pelos
teorizadores de conjuntos, logicistas e cientistas da computação.
Outros matemáticos, principalmente os teorizadores dos
números, comumente preferem seguir a tradição antiga e excluir
o zero dos números naturais.

Uma construção consistente do conjunto dos números naturais foi


desenvolvida no século XIX por Giuseppe Peano - comumente
chamada de Axiomas de Peano. É uma estrutura simples e
elegante, servindo como um bom exemplo de construção de
conjuntos numéricos.

1. Existe um número natural 0.

2. Todo número n tem um sucessor n’ no conjunto dos


números naturais (N).

3. Não existe nenhum número natural que tenha como


sucessor o número 0.

4. Se n ≠ m então n’ ≠ m’.

5. Se 0 tem uma propriedade e essa propriedade também é


possuída pelo sucessor de todos os números naturais que
a possuem, então, ela é possuída por todos os números
naturais. Esse axioma permite a técnica de demonstração
conhecida com indução matemática.

Os axiomas de Peano foram formulados pela primeira vez em


1889, na obra Arithmetices Principia nova methodo exposita, que
representava a tentativa de reduzir a aritmética comum a puro
simbolismo formal. Peano exprimia os postulados em símbolos,
em vez das palavras que usamos.

88
História da Matemática

Outro campo numérico é o conjunto dos números inteiros,


considerado um conceito fundamental em Matemática, que tomou
forma em um longo desenvolvimento histórico. Os matemáticos
hindus mostraram-se virtuosos no cálculo aritmético e algébrico,
o que permitiu conceber um novo tipo de símbolo para representar
dívidas que, posteriormente, o Ocidente chamaria negativo.

Os números negativos aparecem pela primeira vez na China


antiga, aproximadamente 4.000 anos atrás. Os chineses estavam
acostumados a calcular com duas coleções de barras - vermelhas
para os números positivos e pretas para os números negativos.

Os matemáticos indianos descobriram os números negativos


quando tentavam formular um algoritmo para a resolução de
equações quadráticas.

Você sabia?
A primeira vez que explicitamente as regras que
regem a aritmética com os números negativos
apareceram, em uma obra, foi na do matemático
Brahmagupta, que data do ano 628 d.C. Brahmagupta
não só utilizou os negativos em seus cálculos como os
considerou entidades separadas e os dotou de uma
aritmética concordante com a dos inteiros.

Muitos séculos se passaram para que o interesse pelos números


negativos fosse retomado. As atividades práticas do homem,
por um lado, e as exigências internas da Matemática, por
outro, determinaram o desenvolvimento do conceito de número
negativo. São exemplos disso, as contribuições de Brahmagupta.

Diofanto (séc. III) operou facilmente com os números negativos.


Eles apareciam constantemente em cálculos intermédios em
muitos problemas do seu Aritmetika, no entanto, havia certos
problemas para os quais as soluções eram valores inteiros
negativos, como, por exemplo: 4 = 4x +20.

Nessas situações, Diofanto limitava-se a classificar o problema de


absurdo. Nos séculos XVI e XVII, muitos matemáticos europeus
não apreciavam os números negativos e, se esses números
apareciam nos seus cálculos, eles os consideravam falsos ou

Unidade 2 89
Universidade do Sul de Santa Catarina

impossíveis. Michael Stifel (1487-1567), por exemplo, recusou-


se a admitir números negativos como raízes de uma equação,
chamando-lhes de numeri absurdi. Já Cardano referiu-se a esses
números como numeri ficti.

A situação mudou a partir do século XVIII, quando foi descoberta


uma interpretação geométrica dos números positivos e negativos,
como sendo segmentos de direções opostas. Assim, entre a aparição
e aceitação do número negativo decorreram mais de 1.000 anos.

Curiosidades
Dúvidas que aparecem hoje no contato com os
números inteiros já instigavam célebres matemáticos
como Euler, Laplace, Cauchy, Mac Laurin e Carnot, por
exemplo. Laplace (1749-1827) com respeito à Regra
de Sinais disse: “É difícil conceber que um produto
de (-a) por (-b) é o mesmo que a por b”. Mac Laurin
(1698-1746) disse a respeito do número negativo: “A
quantidade negativa, bem longe de ser rigorosamente
menos que nada, não é menos real em sua espécie
que a quantidade positiva”.
No final do século XVII, surgiu a obra de Viéte. Essa,
mais tarde ampliada, admitiu que as expressões
literais pudessem tomar valores negativos, no
entanto, a álgebra não teria conhecido um tal
avanço se essa generalização do número não
tivesse sido acompanhada por uma descoberta
igualmente fundamental, realizada em 1591 por Viéte
e aperfeiçoada em 1637 por Descartes: a notação
simbólica literal – uso de letras e sinais.
A legitimidade dos números negativos deu-se
definitivamente por Hermann Hankel (1839-1873), em
obra publicada em 1867 intitulada “Teoria do Sistema
dos números Complexos”. Hankel formulou o princípio
de permanência e das leis formais que estabelece um
critério geral de algumas aplicações do conceito de
número.
Finalmente, Dedekind (1831-1916), amigo de Cantor,
estabeleceu uma relação de equivalência entre pares
de números naturais e faz referência da subtração
como inversa da adição: a-b =c-d, logo a+d= b+d. Ele
demonstra que essa relação é de equivalência, e o
conjunto das classes de equivalência será o conjunto
dos números inteiros.

90
História da Matemática

Seção 2 - A história da teoria dos conjuntos e os dias atuais


Na atualidade, o conjunto dos números inteiros representados
pela letra Z apresenta-se da seguinte forma:

Z = {…, -3; -2; -1; 0; 1; 2; 3; …}

No conjunto Z, distinguimos alguns subconjuntos notáveis que


possuem notação própria para representá-los:

1. conjunto dos inteiros não negativos: Z+ = {0; 1; 2; 3; …};

2. conjunto dos inteiros não positivos: Z- = {…; -3; -2; -1; 0};

3. conjunto dos inteiros não nulos: Z* = {…, -3; -2; -1; 1; 2; 3; …};

4. conjunto dos inteiros positivos Z+* = {1; 2; 3; …};

5. conjunto dos inteiros negativos Z-* = {…; -3; -2; -1}.

Note que Z+ = N e, por esta razão, N é um subconjunto de Z.

Você sabia?
A representação dos números inteiros pela letra Z vem
de Zahl que, em alemão, significa número.

Um terceiro campo numérico dentro da complexidade dos


conjuntos é o conjunto dos números racionais. Segundo a
História, o homem teve necessidade de lidar com situações que
envolvem as frações bem antes das situações que envolveram
números negativos.

Os números racionais são considerados como números porque


indicam medidas e são resultados de divisões de números inteiros
com denominador diferente de zero.

Que tipo de números são os racionais? Por que os


chamamos de racionais?

Unidade 2 91
Universidade do Sul de Santa Catarina

Porque essa palavra vem de rateio, que significa divisão.

As primeiras referências históricas que temos sobre as frações são


advindas das divisões de terra que aconteciam em torno do rio
Nilo, no Egito.

Figura 2.2 - Delimitação de terras


Fonte: GUELLI (2002a).

Os egípcios interpretavam a fração somente como uma parte


da unidade. Porém, ao efetuar os cálculos, em qualquer um
dos sistemas empregados, as pessoas esbarravam em alguma
dificuldade. Apenas por volta do século III a.C. começou a se
formar um sistema de numeração bem mais prático e eficiente do
que os criados até então - o sistema de numeração romano.

Perceba, portanto, que a descoberta de números


racionais foi um grande passo para o desenvolvimento
da Matemática.

O rigor da Matemática está diretamente ligado ao


desenvolvimento da teoria dos conjuntos, que foi finalizada
apenas no século XX. É possível citar como grandes matemáticos
responsáveis por este desenvolvimento Georg Cantor, com as
contribuições de Richard Dedekind.

92
História da Matemática

Alguns aspectos importantes da vida de Dedekind


J. W. R. Dedekind nasceu em Braunschweing, Alemanha, no
ano de 1831. Nunca se casou e viveu até os oitenta anos. Iniciou
cedo seus estudos na Matemática, entrando em Göttingen aos
dezenove anos. Obteve seu doutorado três anos depois com uma
tese sobre o cálculo, elogiada por Gauss.

Permaneceu em Göttingen durante alguns anos, ensinando


e ouvindo aulas de Dirichlet e depois se dedicou ao ensino
secundário, principalmente em Brunswich, pelo resto de sua vida.
Dedekind viveu vários anos depois de sua célebre introdução
dos “cortes”, mas a famosa editora Teubneu deu como data de
sua morte, no calendário de matemáticos, o dia 4 de setembro
de 1899. Dedekind, que viveu ainda mais doze anos, escreveu
ao editor que passara a data de sua suposta morte em conversa
estimulante com seu amigo Georg Cantor.

A atenção de Dedekind se voltara para o problema de números


irracionais desde 1858, quando dava aulas de cálculo. Para ele, o
conceito de limite deveria ser desenvolvido por meio da aritmética
apenas, sem usar a geometria como guia. Ele se perguntou o que
há na grandeza geométrica contínua que a distingue dos números
racionais.

Dedekind chegou à conclusão de que a essência da continuidade


de um segmento de reta não se deve a uma vaga propriedade de
ligação mútua, mas a uma propriedade exatamente oposta - a
natureza da divisão do segmento em duas partes por um ponto
dado. Se os pontos de uma reta se dividem em duas classes tais
que todos os pontos da primeira estão à esquerda de todos os
pontos da segunda, então, existe um, e um só ponto que realiza
essa divisão em duas classes, isto é, que separa a reta em duas
partes.

Dedekind viu que o domínio dos números racionais pode ser


estendido de modo a formar um continuum de números reais, se
supusermos o que agora se chama o axioma de Cantor-Dedekind -
que os pontos sobre a reta podem ser postos em correspondência
biunívoca com os números reais.

Unidade 2 93
Universidade do Sul de Santa Catarina

Seção 3 - História da teoria dos conjuntos e a educação


básica
O conjunto dos números racionais, simbolizado pela letra Q, é o
conjunto dos números que podem ser escritos na forma de uma
fração p/q, com p e q inteiros quaisquer e q diferente de zero.

⎧a ⎫
Q = ⎨ a ∈ Z e b ∈ Z* ⎬
⎩b ⎭

Embora causando certo horror aos matemáticos de cada época,


a descoberta dos números irracionais é creditada aos pitagóricos,
que se deram conta que nem todas as medidas são inteiras. Ao
estudarem a relação dos lados de um quadrado de medida de uma
unidade, deu-se conta por meio do teorema de Pitágoras, que não
havia nenhum número conhecido que correspondesse a tal medida.

Figura 2.3 - Quadrado de lado 1 unidade

Essa descoberta abalou de tal forma as crenças dos pitagóricos


que eles resolveram manter os números irracionais em segredo,
de tal forma que era feito um juramento de nunca revelar a
existência desses “seres informes”.

Os pitagóricos acreditavam que tudo é número, mas ao dizerem


isso se referiam aos números inteiros, e a descoberta dos
irracionais representava para eles uma falha inexplicável na obra
do criador, devendo ser mantida em segredo, senão, iriam sofrer a
ira de Deus.

A demonstração de que 2 é irracional é


normalmente devida ao matemático grego e
pitagórico Hippasus (500 a.C.).

94
História da Matemática

Curiosidade
Existem duas lendas bem difundidas sobre os
números irracionais. A primeira conta que Hippasus
estava velejando com outros membros da seita
quando fez sua demonstração. Ao expor sua
descoberta aos colegas, esses foram tomados por
uma cólera imediata e atiraram o matemático ao mar.
A outra versão diz que Pitágoras expulsou Hippasus
assim que ficou sabendo que esse havia conseguido
a demonstração e ergueu um túmulo com seu nome,
pois para Pitágoras ele estava morto. Essas duas
lendas dão a dimensão do quanto os pitagóricos
tinham aversão aos números irracionais.

Quando a seita de Pitágoras chegou ao fim e seus ensinamentos


se espalharam pela Grécia Antiga, a mística em torno dos
irracionais se perdeu, para o bem da razão.

Quando expandimos um número irracional para sua forma


decimal, esse forma dízimas não periódicas.

Por exemplo: 3 é irracional e sua expansão decimal é


1.7320508075... até a décima casa, mas a dízima é infinita sem
nunca se repetir. Em contraste, os racionais formam dízimas
periódicas: 123/11 = 11,1818181818... e observa-se que a dízima
18 se repete regularmente até o infinito. Assim, é fácil prever,
por exemplo, qual o 100° dígito da dízima acima sem ter que
expandi-la até 100 casas decimais; no caso, o dígito é 8.

A partir da criação dos números racionais, postulado


por Dedekind, inicia-se a construção dos números reais,
representando a incorporação dos irracionais ao conjunto dos
racionais.

Essa construção só aconteceu de maneira formal a partir de


meados do século XIX, quando os matemáticos sentiram a
necessidade de uma fundamentação rigorosa dos diferentes
sistemas numéricos. E é interessante observar que a
fundamentação desses sistemas ocorreu na ordem inversa
de como é abordado na educação básica. Primeiro foram
organizados os números complexos, depois os números reais, os
racionais, os inteiros e finalmente os números naturais.

Unidade 2 95
Universidade do Sul de Santa Catarina

Curiosidade
É claro que antes de Dedekind já se trabalhava com
irracionais, manipulando-os segundo as leis formais
do cálculo com os racionais. Assim, embora 2
e 8 não tivessem significado preciso, eles eram
multiplicados entre si, produzindo um resultado claro
e inequívoco 2 . 8 = 4, o que faltava era uma
teoria que justificasse operações como essa.

A construção dos números reais foi resultado da colaboração


de vários matemáticos do século XIX, dentre eles Richard
Dedekind, Karl Weierstrass, Charles Méray e Georg Cantor.
Mas as teorias dos números reais que permaneceram foram a de
Dedekind e de Cantor. Agora, destaca-se a construção de Cantor
para os números reais.

Alguns aspectos importantes da vida de Georg Cantor


Georg Cantor nasceu em São Petersburgo, onde viveu até
1856, quando sua família transferiu-se para o sul da Alemanha.
Doutorou-se pela Universidade de Berlim, onde foi aluno de
Weierstrass, de quem teve grande influência na sua formação
matemática. Toda a sua carreira profissional foi construída em
Halle, para onde se transferiu logo que terminou seu doutorado
em Berlim. Para a construção dos números reais, Cantor partiu
dos racionais e suas propriedades.

Os números reais podem ser subdivididos em dois tipos de dois


modos diferentes:

1. como racionais e irracionais ou

2. como algébricos e transcendentes.

Cantor mostrou que mesmo a classe dos números algébricos,


que é muito mais geral que a dos racionais, tem ainda a mesma
potência que os inteiros. Portanto, a inclusão dos números
transcendentes proporciona ao sistema dos números reais a sua
densidade, resultando em uma potência maior que os demais
sistemas numéricos.

96
História da Matemática

Você sabia?
Os números irracionais nunca apresentam um
padrão e não há regras que permitam saber qual
será o algarismo em uma certa casa decimal. Alguns
números particulares já eram conhecidos muito antes
dos pitagóricos, mas não se sabia exatamente que
eles eram irracionais; essa propriedade tem intrigado
matemáticos do mundo inteiro em todas as áreas da
disciplina e tem também contribuído imensamente
para o desenvolvimento da própria Matemática.

Os incríveis resultados de Cantor o levaram a estabelecer a teoria


dos conjuntos como uma disciplina matemática completamente
desenvolvida, denominada teoria das coleções (Mengenlehre),
ramo que, em meados do século XX, teria efeitos profundos sobre
o ensino da Matemática.

Cantor despendeu muito esforço para convencer seus


contemporâneos da validade de seus resultados, pois havia
considerável horror infiniti e os matemáticos sentiam relutância
em aceitar o eigntlich unendlch ou infinidade completada.

Juntando provas sobre provas, Cantor finalmente construiu toda


uma aritmética transfinita. A potência de um conjunto tornou-se
o número cardinal do conjunto. Assim, o número do conjunto
dos números inteiros era o menor número transfinito E, e o
número do conjunto dos reais ou dos pontos de uma reta é um
número maior, C, o número do continuum.

Mesmo sem saber se existe ou não números transfinitos entre E e


C, Cantor provou que existem infinitos números transfinitos para
além de C, pois provou que o conjunto dos subconjuntos de um
conjunto sempre tem potência maior que o próprio conjunto.

David Hilbert descreve a nova matemática transfinita como “o


produto mais extraordinário do pensamento inteligível”, em que
almas tímidas tinham hesitado, Hilbert exclamava “Ninguém
nos expulsará do paraíso que Cantor criou para nós”.

A história dos números complexos revela-se fascinante. Tudo


começou quando Cardano, em 1545, publicou um trabalho e

Unidade 2 97
Universidade do Sul de Santa Catarina

propôs o seguinte problema: “Divida 10 em duas partes de modo


que o seu produto seja 40”.

Este problema, dizia ele, é “manifestamente impossível, mas,


mesmo assim, vamos operar”. Cardano, além de jogador,
astrólogo e professor, era também um médico de renome, e
mostrou que:
5 + −15
e
5 − −15

eram soluções do problema. Concluiu, porém, que essas


expressões eram “verdadeiramente sofísticas e sua manipulação
tão sutil quanto inútil”.

Cardano já havia deparado com essas raízes sofísticas ao resolver


equações do 3º grau. Ao aplicar uma regra que ele mesmo
publicara à equação:

x3 = 15 x + 4

x = 3 2 + −121 + 3 2 − −121

ver-se-ia, assim, diante do seguinte dilema: sabia ele que, por


um lado, −121 não existia e, pelo outro, que 4 era solução da
equação. Cardano não encontrou explicação. Seu mérito foi
chamar atenção para o problema.

O passo seguinte foi dado por Bombelli em 1560. Observando


a equação acima, ocorreu-lhe que talvez as duas raízes cúbicas
fossem expressões do tipo a − b −1 e a + b −1 e que estas,
somadas da maneira usual, dessem 4.

É evidente que se a soma das partes reais é 4, então, a parte real


de cada número forma 2 + b −1 , que deve ser raiz cúbica de
2 + 11 −1 , então, é fácil ver que b deve ser 1.

Logo x = 2 + 1 −1 + 2 − 1 −1 , ou 4.

98
História da Matemática

Sobre as raízes, Bombelli afirmava que “Foi uma ideia louca,


julgaram muitos e também eu fui dessa opinião. Tudo parecia ser
mais um sofisma que uma verdade”.

Essa investigação mostrou que algumas equações não possuíam


solução em termos dos números conhecidos. Um dos problemas
enfrentados consistia na solução da equação x² + 1 = 0.
Essa equação não parecia ter solução, pois contrariava o fato
de que todo número real distinto de zero, quando elevado
ao quadrado, é positivo. Os matemáticos indianos e árabes,
quando se deparavam com essas equações, recusavam-se
a definir algum símbolo para expressar a raiz quadrada
de um número negativo, pois consideravam o problema
completamente sem sentido.

No século XVI, raízes quadradas de números negativos


começaram a aparecer em textos algébricos, porém, os autores
frisavam que as expressões não possuíam significado e utilizavam
termos tais como ”fictícias”, “impossíveis”, “sofisticadas”, para
mencioná-las.

O matemático alemão Leibniz (1646-1716), um dos inventores


do Cálculo Diferencial, atribuía à raiz quadrada de –1 certo
caráter metafísico, interpretando-a como uma manifestação do
“Espírito Divino”; a mesma sensação de espanto sucedeu com o
matemático suíço Lenhard Euler.

Até hoje perdura o nome de números imaginários quando nos


referimos a raízes quadradas de números negativos.

Os matemáticos costumam representar os números reais como


pontos em uma reta denominada de reta real, onde a cada
ponto corresponde um único número real e a cada número real
associam um único ponto dessa reta.

Como a raiz quadrada de um número negativo não pode ser


representada nessa reta, persistiu um impasse até o século
XIX. O primeiro a propor uma visualização dos complexos,
identificando-os como pontos do plano bidimensional, foi o
autodidata norueguês Caspar Wessel, em 1797.

Unidade 2 99
Universidade do Sul de Santa Catarina

Essa ideia foi redescoberta por Jean-Robert Argand, um contador


suíço, que publicou em 1860 um livro sobre o assunto, e também
pelo genial matemático alemão Karl Friedrich Gauss. Como
era impossível associar um ponto da reta real à raiz quadrada de
um número negativo, a questão foi resolvida associando-se aos
números imaginários pontos sobre uma reta perpendicular à reta
real, passando pelo ponto zero, dessa forma, criando um sistema
de coordenadas cartesianas.

Nesse sistema, os números reais são colocados sobre o eixo


horizontal, denominado eixo real, e todos os números imaginários
sobre a reta perpendicular à reta real, passando pelo zero da reta
real horizontal, denominado de eixo imaginário.

Como −a = −1. a = i. a , todos os números imaginários


podem ser colocados no eixo imaginário como múltiplos de
i = −1 . Portanto, não só os imaginários passam a ter uma
representação gráfica, como as combinações possíveis de reais e
imaginários, ou seja, os números complexos são representados
por pontos no plano definido pelos eixos real e imaginário,
denominado plano complexo.

Assim, os números complexos têm sua representação geométrica


na Figura 2.4.

Figura 2.4 - Números complexos

100
História da Matemática

O talento e a genialidade de Gauss levaram a um dos resultados


mais profundos da Matemática, o Teorema Fundamenta Álgebra,
afirmando que toda equação polinomial possui solução no corpo dos
números complexos.

Além desse resultado importantíssimo, a álgebra dos


números complexos originou uma nova área de investigação
— a Análise Complexa — que tem um papel fundamental no
desenvolvimento da álgebra e da teoria dos números.

Os números complexos representam uma das estruturas mais


importantes da Ciência. Atualmente, é impossível imaginar a
Engenharia Elétrica, a Aerodinâmica ou a Dinâmica dos Fluídos
sem os números complexos. A Mecânica Quântica faz uso dos
números complexos e na Teoria da Relatividade de Einstein, o
espaço tridimensional é visto como real e a dimensão relativa ao
tempo como imaginário.

Síntese

Nesta unidade, você estudou os principais fatos históricos


relacionados com a teoria dos conjuntos. Hoje se sabe que essa
teoria fundamenta toda a Matemática moderna, pois, conforme
você observou, a partir dela foi feita a classificação numérica
com maior rigor, atendendo à necessidade que o mundo real
exigia. Tal fato só foi possível, principalmente, a partir das
contribuições dos matemáticos Georg Cantor e Richard
Dedekind.

Unidade 2 101
Universidade do Sul de Santa Catarina

Atividades de autoavaliação

1) Com base nos seus estudos sobre a teoria dos conjuntos, aponte três
características dessa teoria que podem ser consideradas fundamentais.

2) Cite o problema que deu origem ao estudo dos números complexos.

3) Destaque no mínimo três matemáticos que contribuíram


significativamente com o estudo dos números complexos e descreva,
de acordo com o texto, sua contribuição.

4) A teoria dos conjuntos fundamenta-se, principalmente, em dois


matemáticos: Richard Dedekind e Georg Cantor. Destaque, de acordo
com o texto, as principais contribuições desses matemáticos no
desenvolvimento dessa teoria.

Saiba mais

Para aprofundar os seus estudos sobre Cantor e Dedekind,


recomendamos a leitura do livro de BOYER, Carl B. História
da Matemática, 1996, páginas 390 a 395.

102
3
UNIDADE 3

Conhecendo a história da
geometria nas diferentes
culturas

Objetivos de aprendizagem
„ Reconhecer a geometria como uma construção
humana nas diferentes civilizações.
„ Destacar os principais matemáticos que contribuíram
nos estudos da geometria.
„ Caracterizar a geometria como uma área de
conhecimento presente nos diferentes tempos
históricos.
„ Reconhecer a importância da geometria nos diferentes
setores da sociedade, tais como: construções, objetos,
representações gráficas, arte, entre outras.

Seções de estudo
Seção 1 Origens da geometria
Seção 2 A geometria no Egito e na Mesopotâmia
Seção 3 A geometria na Grécia
Seção 4 A geometria na China e Índia
Seção 5 A geometria árabe
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Todas as geometrias são iguais? O estudo da geometria envolveu
diferentes civilizações?

No estudo desta unidade, você vai obter a resposta para esses


questionamentos e muito mais. Convidamos você para a
realização de uma viagem na história das civilizações e suas
descobertas envolvendo a geometria.

Você vai perceber que as representações que fazemos hoje


envolvendo os objetos da geometria, construíram-se desde as
primeiras civilizações, a partir de observações realizadas em
objetos da natureza e da vida cotidiana.

A busca pela formalização na história também aplicou-se aos


objetos da geometria e essa, aos poucos, foi sendo sistematizada
até que, na atualidade, podemos estudar todas as características
dos objetos da geometria, a partir de seus axiomas e postulados.
Os primeiros registros dessa formalização encontram-se nos
escritos de Euclides, e permaneceram na história até os dias
atuais.

Tudo isso você vai acompanhar na leitura desta unidade.


Motivado para iniciar? Então, bons estudos, acompanhados por
seu professor!

Seção 1 - Origens da geometria


A necessidade de controlar e registrar os diversos tipos de objetos
fez com que surgisse a Matemática. De forma semelhante,
observações oriundas da capacidade humana de reconhecer
configurações físicas, comparar formas e tamanhos, bem como a
necessidade de melhorar o sistema de arrecadação de impostos de
áreas rurais, fez surgir a geometria.

104
História da Matemática

Foram os antigos egípcios que deram os primeiros passos para o


desenvolvimento desse ramo da Matemática.

Do grego geo = terra e metria = medida tem-se a


palavra geometria, que significa “medir terra”.

No Egito, havia necessidade prática de refazer a subdivisão das


terras após cada cheia do Nilo. Segundo o historiador grego
Heródoto, é provável que os primeiros a acumular conhecimentos
práticos da Geometria tenham sido os estiradores de corda, que
eram assim chamados, devido aos instrumentos de medida com
cordas entrelaçadas utilizados para marcar ângulos retos.

Esses agrimensores aprendiam a determinar as áreas de lotes


de terreno, dividindo-os em retângulos e triângulos, tarefa
conhecida como triangulação. Acredita-se que foi assim que
nasceu a Geometria.

Na Antiguidade, os edifícios possuíam plantas regulares,


o que obrigava os arquitetos a construírem muitos ângulos
retos, isto é, de 90º. Mesmo com conhecimento restrito, esses
homens já resolviam o problema como um desenhista de hoje.
Por meio de duas estacas cravadas na terra, assinalavam um
segmento de reta. Em seguida, prendiam e esticavam cordas que
funcionavam como um compasso: dois arcos de circunferência
se cortam e determinam dois pontos que, unidos, seccionam
perpendicularmente a outra reta, formando os ângulos retos.

As primeiras fórmulas matemáticas para o cálculo de áreas de


superfícies planas foram as do retângulo, do triângulo e do
círculo.

A pavimentação, com mosaicos quadrados, de uma superfície


retangular, deu origem à fórmula da área do retângulo, que
consiste em multiplicar a base pela altura. Trabalhadores notaram
que, para conhecer o total de mosaicos, bastavam contar os de
uma fileira e repetir esse número por tantas fileiras quantas
houvesse.

Unidade 3 105
Universidade do Sul de Santa Catarina

Já para descobrir a área do triângulo, notou-se que cortando


o retângulo em duas partes iguais, segundo a linha diagonal,
apareciam dois triângulos iguais, cuja área, naturalmente, é a
metade da área desse retângulo.

Os antigos geômetras observavam que, para demarcar círculos,


grandes ou pequenos, era necessário usar uma corda, longa ou
curta, e girá-la em torno de um ponto fixo, que era a estaca
cravada no solo, como centro da figura. O comprimento dessa
corda, conhecido hoje como raio, estava relacionado com o
comprimento da circunferência. Retirando a corda da estaca
e colocando-a sobre a circunferência para ver quantas vezes
cabiam nela, comprovaram que cabia um pouco mais de seis
vezes e um quarto, para qualquer que fosse o tamanho da corda.
Assim, concluíram o seguinte: para conhecer o comprimento
de uma circunferência, basta verificar o comprimento do raio e
multiplicá-lo por 6,28.

Cerca de 2000 anos a.C., o escriba egípcio Ahmes, diante do


desenho de um círculo no qual havia traçado o respectivo raio,
tendo como propósito encontrar a área da figura, solucionou o
problema facilmente: escolheu um quadrado que tivesse como
lado o próprio raio da figura, dessa forma, comprovou que o
quadrado estava contido no círculo, aproximadamente, três vezes
e um sexto, o que equivale, atualmente, a 3,14 vezes. Concluiu,
então, que para saber a área de um círculo, bastaria calcular a
área de um quadrado construído sobre o raio e multiplicar a
respectiva área por 3,14.

Você sabia?
Consta no Livro dos Mortos, no antigo Egito, que
uma pessoa ao falecer deveria jurar aos deuses que
não enganou o vizinho, roubando-lhe terra. Era
um pecado punível com o seguinte castigo: ter o
coração comido por uma besta horrível chamada o
“devorador”. Roubar a terra do vizinho era considerado
uma ofensa tão grave como quebrar um juramento,
assassinar alguém ou masturbar-se em um templo.

106
História da Matemática

A noção de distância foi, sem dúvida, um dos primeiros conceitos


geométricos a ser desenvolvido. Dessa forma, fazia-se necessária
a utilização de medida.

As primeiras unidades de medida referiam-se direta ou


indiretamente ao corpo humano: palmo, pé, passo, braça,
cúbito. Por volta de 3.500 a.C., quando na Mesopotâmia e
no Egito começaram a ser construídos os primeiros templos,
seus projetistas tiveram de encontrar unidades mais uniformes
e precisas. Adotaram, então, a longitude das partes do corpo
de um único homem, geralmente o rei, e com essas medidas
construíram réguas de madeira e metal, ou cordas com nós, que
foram as primeiras medidas oficiais de comprimento.

Seção 2 - A geometria no Egito e na Mesopotâmia


No antigo Egito, assim como na Mesopotâmia, a geometria era
amplamente utilizada. Os egípcios e mesopotâmicos possuíam
expressivos conhecimentos de geometria já por volta de 2000
a.C., mas tudo indica que suas descobertas se deram de forma
indutiva, ou seja, por meio da prática. Os agrimensores usavam
a geometria para medir terrenos, enquanto os construtores
recorriam a ela para fazer edificações. As famosas pirâmides,
construídas próximas ao rio Nilo, são um exemplo disso.

A geometria babilônica também está relacionada com a


mensuração prática.
Os mais antigos registros da atividade do homem no campo da
Geometria datam de 3.000 a.C. São algumas tábulas de argila
cozida com vários exemplos concretos que mostram como os
babilônios conheciam as regras gerais para o cálculo de áreas de
retângulos, triângulos retângulos e isósceles, a área do trapézio
retângulo, bem como o volume de um paralelepípedo retângulo e
de um prisma reto com base trapezoidal.

Unidade 3 107
Universidade do Sul de Santa Catarina

A marca principal da Geometria babilônica é seu caráter


algébrico. Deve-se, portanto, aos babilônios antigos a divisão da
circunferência de um círculo em 360 partes iguais.

Você sabia?
Nos remotos tempos dos sumérios, existia uma
unidade de medida grande, uma espécie de milha
babilônica, igual a sete milhas atuais. Como a milha
babilônica era utilizada para medir grandes distâncias,
era natural que viesse a se transformar em uma
unidade de tempo, ou seja, o tempo necessário para
se percorrer uma milha babilônica – milha-tempo.
No primeiro milênio a.C., a milha-tempo foi adotada
para mensuração de espaços de tempo. Decidiu-se
que um dia era formado de 12 milhas-tempo, dividiu-
se um ciclo completo em doze partes iguais, e por
convenção, a milha babilônica foi dividida em 30
partes iguais. Dessa forma, chegamos a 12.30 = 360
partes iguais em um ciclo completo.

As principais fontes de informação a respeito da Geometria


egípcia são os papiros Moscou e Rhind. Dos 110 problemas
contidos nesses papiros, 26 são de Geometria, sendo que a
maioria é proveniente de fórmulas de mensuração necessárias
para calcular áreas de terras e volumes de celeiros.

Não há comprovações de que os egípcios conheciam o Teorema


de Pitágoras, mas existem problemas geométricos no papiro
Rhind que mostram o conhecimento desse povo em calcular a
área de um triângulo isósceles, tratando-o como dois triângulos
retângulos, deslocando-se um deles de modo que os dois juntos
formam um retângulo.

Teorias sobre congruência já eram utilizadas, bem como provas


matemáticas. O problema com a Geometria dos egípcios é que
lhes faltava uma clara distinção entre o que era exato e o que era
aproximação. No entanto, a regra dos egípcios para achar a área
do círculo é considerada um dos maiores sucessos da época.

Não se conhecem teoremas ou demonstrações formais da


matemática egípcia, mas as comparações sobre perímetros, áreas
de círculos e quadrados são as primeiras afirmações precisas da
história a respeito de figuras curvilíneas.

108
História da Matemática

Apesar de tudo isso, os egípcios não evoluíram muito em sua


matemática. A matemática de Rhind era a de seus antepassados.
A vida estável, tranquila do povo egípcio parece não ter motivado
progressos na área do cálculo.

Curiosidade
Um exemplo da fórmula do volume de um tronco de
pirâmide de bases quadradas encontra-se no Papiro
de Moscou. É o único exemplo, inquestionavelmente
correto, da matemática oriental antiga.

Seção 3 - A geometria na Grécia


Importantes mudanças na economia e na política foram
observadas no final do segundo milênio a.C., o que ocasionou a
decadência do poder dos egípcios e babilônicos, e outros povos
passaram a ocupar lugar de destaque.

Os gregos afirmavam que a geometria demonstrativa era


fundamental, e foram, assim, transformando a geometria
empírica dos egípcios e babilônicos.

Foram muitos os matemáticos gregos que contribuíram para


o desenvolvimento da geometria. Faremos referência apenas
àqueles que tiveram maior destaque ao longo da história, autores
de obras que até hoje fundamentam a geometria. Acompanhe a
seguir alguns.

Tales de Mileto
A geometria demonstrativa teve sua origem, por volta de 600
a.C., com Tales de Mileto, profundo estudioso em Astronomia e
Filosofia. Iniciou sua vida como mercador e após enriquecer passou
a viajar e dedicar-se aos estudos. Figura 3.1 - Tales de Mileto
Fonte: Ortiz (2009).

Unidade 3 109
Universidade do Sul de Santa Catarina

Com a frase: “As verdades matemáticas devem ser provadas”,


ele deu início a uma inovação revolucionária na Matemática.
Credita-se a Tales a demonstração que:

„ dois ângulos opostos pelo vértice são iguais;

„ em um triângulo isósceles, os ângulos da base são iguais;

„ qualquer ângulo inscrito em um semicírculo é reto;

„ qualquer diâmetro divide o círculo em duas partes iguais;

„ se dois triângulos têm dois ângulos e um lado em cada um


deles respectivamente iguais, então, esses triângulos são
iguais, que é o que conhecemos por lado-ângulo-lado.

Curiosidade
Pouco se sabe sobre Tales. Conta-se que em uma
ocasião demonstrou como era fácil ficar rico;
prevendo uma safra de olivas muito abundante,
obteve o monopólio de todas as prensas de azeite
da região; na ocasião adequada, alugou-as todas e
ganhou uma fortuna.

Não se pode citar com precisão a época, mas um grande


conhecimento da Geometria usado para resolver questões práticas foi
Tales quem deduziu: por semelhança de triângulos, esse magnífico
filósofo descobriu que a altura da pirâmide é igual à sombra mais a
metade da base. Veja a representação deste fato na Figura 3.2.

Figura 3.2 - Altura da pirâmide


Fonte: Guelli (2003).

110
História da Matemática

Observe na Figura 3.3 os triângulos semelhantes retirados da


pirâmide, em uma representação mais simples.

Figura 3.3 - Triângulos semelhantes

altura da pirâmide sombra da pirâmide


=
altura da vara sombra da vara

Logo, temos a altura da pirâmide determinada pela seguinte


fórmula:
h S h
pirâmide = pirâmide . vara
S
vara

Outra descoberta também creditada a Tales, e considerada a mais


importante da história da geometria, foi um teorema que leva
seu nome: Teorema de Tales. Esse teorema diz o seguinte: “Um
feixe de paralelas determina sobre duas transversais segmentos
proporcionais”.

Pitágoras
Por volta do ano 572 a.C., na ilha de Samos, uma das ilhas do
mar Egeu, próxima de Mileto, nasceu Pitágoras, um ilustre
geômetra grego, possivelmente seguidor de Tales.

Mudou-se para Crotona, uma colônia grega ao sul da Itália, por


ter se desentendido com Polícrates, onde fundou uma sociedade
voltada para Filosofia, Música, Ciências Naturais, Astronomia
e Matemática. Essa sociedade mantinha sua união por meio Figura 3.4 - Pitágoras de Samos
de ritos secretos e cerimônias, o que causou certo desconforto Fonte: Mathematical Thought
para as forças democráticas da região, que destruíram a escola, (2010).
dispersando a irmandade.

Unidade 3 111
Universidade do Sul de Santa Catarina

Tudo que se sabe sobre a obra de Pitágoras foi transmitido


por seus discípulos, que participavam dessa sociedade secreta.
Segundo Boyer (1974), Pitágoras é uma figura pouco menos
discutida que Tales, pois foi mais completamente envolto em
lenda e apoteose. Se Pitágoras permanece uma figura obscura,
isso se deve, em parte, à perda de documentos daquela época.

O mesmo autor ainda ressalta que várias biografias de


Pitágoras foram escritas na Antiguidade, mas se perderam.
Outra dificuldade para caracterizar claramente a figura de
Pitágoras provém do fato de que a ordem que ele fundou era
comunitária, além de secreta. Conhecimento e propriedade
eram comuns, por isso a atribuição de descobertas não era
feita a um membro específico da escola. É melhor, por isso,
não falar na obra de Pitágoras, e sim das contribuições dos
pitagóricos.

Entre as contribuições dos pitagóricos, destacamos na geometria


a demonstração geral de vários teoremas, em especial o que
veio a ser denominado Teorema de Pitágoras: “o quadrado
da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos outros dois
lados, denominados catetos”. Isso vale para qualquer triângulo
retângulo. Esse teorema já era conhecido por egípcios, chineses e
mesopotâmicos, séculos antes, porém, sem prova. Eles já sabiam
que qualquer triângulo, cujos lados são proporcionais a 3, 4 e 5, é
um triângulo retângulo.

A história conta que foi Pitágoras quem realizou pela primeira


vez a demonstração, utilizando figuras planas na areia ou
trabalhando com cordas. A maioria dos historiadores acredita
que foi uma demonstração do tipo geométrico, isto é, baseada na
comparação de áreas.

Acredita-se que a demonstração de Pitágoras pode ter sido como


a exemplificada na Figura 3.5.

112
História da Matemática

Figura 3.5 - Teorema de Pitágoras


Fonte: Projeto Araribá (2006).

Demonstração:

„ Do quadrado, de lado a + b, da esquerda temos quatro


triângulos retângulos iguais.

„ A área da região formada quando se tiram os quatro


triângulos retângulos é igual a c2.

„ Agora, na figura da direita, desenhamos o mesmo


quadrado de lado a + b, mas colocamos os quatro
triângulos retângulos em outra posição.

„ A área da região formada quando se retiram os quatro


triângulos retângulos é igual a a 2 + b2.

„ Logo, a área do quadrado de lado c é a soma das áreas dos


quadrados, cujos lados medem a e b, isto é: c2 = a2 + b2.

Essa é, provavelmente, a mais bela demonstração do teorema de


Pitágoras.

Lidando com os números de várias maneiras, pois para os


pitagóricos “O número dirige o Universo” ou “Tudo é número”,
os pitagóricos descobriram propriedades interessantes e curiosas.

Segundo os pitagóricos, um número podia ser perfeito,


deficiente ou excessivo, dependendo da soma de seus divisores.

Unidade 3 113
Universidade do Sul de Santa Catarina

Observe os exemplos no quadro a seguir.

Exemplo 1
„ Um número é perfeito quando a soma de seus divisores, com
exceção dele mesmo, é igual ao próprio número.
O número 6 é um número perfeito, pois os divisores de 6 são 1, 2,
3 e 6, logo, somando 1 + 2 + 3 = 6.

Exemplo 2
„ Um número é deficiente quando a soma de seus divisores, com
exceção dele mesmo, é menor que o próprio número.
O número 9 é um número deficiente, pois os divisores de 9 são 1,
3 e 9, logo, somando 1 + 3 = 4.

Exemplo 3
„ Um número é excessivo quando a soma de seus divisores, com
exceção dele mesmo, é maior que o próprio número.
O número 12 é um número excessivo, pois os divisores de 12 são
1, 2, 3, 4, 6 e 12, logo, somando 1 + 2 + 3 + 4 + 6 = 16.

Outra descoberta interessante feita pelos pitagóricos foi o


número amigo. O que há de coincidência entre dois números
amigos é que a soma dos divisores de um, com exceção dele
mesmo, resulta no outro número e vice-versa.

Observe o seguinte exemplo: os números 284 e 220 são amigos,


pois os divisores de 220 são 1, 2, 4, 5, 10, 11, 20, 22, 44, 55, 110
e 220.

Fazendo a soma de 1+ 2+ 4+ 5+ 10+ 11+ 20+ 22+ 44 + 55 +110 = 284.

Observe, agora, que os divisores de 284 são 1, 2, 4, 71, 142 e 284.

Fazendo a soma de 1+ 2+ 4+ 71+ 142 = 220.

Logo, os números 220 e 284 são amigos.

114
História da Matemática

Foram esses matemáticos que também descobriram os números


figurados, os quais expressam o número de pontos em certas
configurações geométricas, representando um elo entre a
aritmética e a geometria. Denominam-se números triangulares,
quadrados, pentagonais e outros.

Figura 3.6 - Números triangulares

Para saber o número de pontos de um número triangular,


podemos desenhar ou observar pela Figura 3.6, cujo número de
pontos da base corresponde à soma dos n primeiros termos de
uma P.A. Em que a1 = 1 e r = 1, dado por:

n.(n + 1)
Tn = 1 + 2 + 3 + ... + n =
2
A representação dos números quadrados é ilustrada na Figura 3.7:

Figura 3.7 - Números quadrados

O enésimo número quadrado é dado pela fórmula Sn = n 2 .

Uma das maiores descobertas dos pitagóricos foram os números


irracionais. Acompanhe como eles chegaram à conclusão da
existência desses números.

Com o objetivo de calcular a medida da diagonal de um


quadrado de lado um, inicialmente eles construíram na areia um
triângulo retângulo com catetos de mesma medida e, utilizando
cordas, aplicaram um quadrado sobre cada lado do triângulo.
Veja a Figura 3.8.

Unidade 3 115
Universidade do Sul de Santa Catarina

Figura 3.8 - Diagonal do quadrado de lado


Fonte: Guelli (2003).

Cada cateto foi dividido em três partes iguais. Para isso, usaram
quadradinhos, conforme verifica-se na Figura 3.9.

Figura 3.9 - Divisão do cateto em três partes iguais.


Fonte: Guelli (2003).

Utilizando como unidade de medida a letra “u”, dividiram a


hipotenusa em parte iguais. Veja a Figura 3.10.

Figura 3.10 - Unidade de medida “u”.


Fonte: Guelli (2003).

116
História da Matemática

Foi aí que surgiu a dificuldade, pois na hipotenusa não cabia um


número inteiro de vezes do lado do quadrado de lado “u”. Note a
Figura 3.11.

Figura 3.11 - Primeira medida da hipotenusa


Fonte: Guelli (2003).

Os pitagóricos buscaram, então, uma nova alternativa, dividindo


cada cateto em seis partes iguais, conforme a Figura 3.12.

Figura 3.12 - Segunda divisão da hipotenusa


Fonte: Guelli (2003).

Observe que, mais uma vez, encontraram o mesmo problema,


isto é, na hipotenusa não cabia um número inteiro de vezes ao
lado do quadrado de lado “u”. A Figura 3.12 descreve a situação.

Assim, eles foram dividindo sucessivamente, até concluírem que,


por mais que dividissem os catetos em partes cada vez menores, o
lado do quadrado continuava não cabendo um número inteiro de
vezes na hipotenusa.

Constataram que, surpreendentemente, a razão entre hipotenusa e


um cateto desse triângulo não representa um número racional. Foi

Unidade 3 117
Universidade do Sul de Santa Catarina

algo perturbador para os pitagóricos, pois, segundo sua filosofia,


todas as situações dependiam dos números inteiros. A Matemática
exigiu, então, que um novo número surgisse: os irracionais.

Os pitagóricos já sabiam que hipotenusa ao quadrado é igual à


soma dos quadrados dos catetos. Utilizaram o triângulo retângulo,
cujos catetos mediam uma unidade de comprimento, conforme a
Figura 3.13, constatando que a hipotenusa equivale a um número
que multiplicado por si mesmo é dois, visto que não conheciam o
símbolo . Surgia o primeiro número irracional: 2 .

Figura 3.13 - Diagonal do quadrado

Por algum tempo 2 foi o único número irracional conhecido.


Mais tarde, segundo Platão, Teodoro de Cirene (425 a.C.)
mostrou que 3, 5 , 6 , 7 , 10 , 11, 12 , 13, 14 , 15 e 17
também são irracionais.

Dentro da geometria, os pitagóricos descobriram três dos cinco


poliedros regulares e fizeram deles uma parte importante do
estudo desse ramo da Matemática. A história conta que eles
conheciam o cubo, o tetraedro e o dodecaedro. Os outros dois
sólidos, octaedro e o icosaedro, foram descobertos dois séculos
depois, por Teeteto.

Os gregos acreditavam que os cinco sólidos correspondiam aos


elementos do Universo.

„ O tetraedro corresponde ao fogo.

„ O cubo, à terra.

„ O octaedro, ao ar.

„ O icosaedro, à água.

„ O dodecaedro, ao Universo.

118
História da Matemática

Você sabia?
Os poliedros regulares são conhecidos como poliedros
de Platão, pois pouco depois dos pitagóricos, Platão
e seus seguidores estudaram esses sólidos com
intensidade.

Os três problemas clássicos da geometria


Os matemáticos gregos estudaram três problemas de geometria
que desempenharam papel importante no desenvolvimento da
Matemática. São problemas de construção e resistiram a todas as
tentativas dos gregos para resolvê-los utilizando somente a régua
sem graduação e o compasso, os únicos instrumentos utilizados
por Euclides nos Elementos.

Ficaram conhecidos como os três problemas clássicos:

1. a duplicação do cubo;

2. a quadratura do círculo;

3. a trissecção do ângulo.

Ao longo da história da Matemática, a quadratura do círculo é o


mais famoso dos chamados problemas clássicos da Matemática
grega. Quadrar um círculo significa construir, com régua e
compasso, um quadrado que tenha exatamente a mesma área do
círculo.

O processo matemático implica transformar um segmento de


reta de mesma medida e, em seguida, gerar um quadrado a partir
daquele mesmo segmento de reta. Assim, o quadrado limitará
uma área de mesma medida da área limitada pela circunferência.

As discussões acerca desse problema ultrapassaram a Antiguidade


e continuam até hoje desafiando a curiosidade de estudiosos
de um modo geral. Muitos matemáticos tentaram resolvê-lo,
esbarrando na impossibilidade de sua resolução, apenas com
régua e compasso.

Unidade 3 119
Universidade do Sul de Santa Catarina

Um importante passo ocorreu no ano de 1761, em uma tentativa


de resolução do problema, quando Johann Lambert provou que π
é irracional. Isso ainda não provou a impossibilidade de resolução
do problema com apenas régua e compasso, visto alguns números
irracionais serem construíveis com régua e compasso.

A conclusão final da impossibilidade de resolver o problema


por meio da Álgebra geométrica ocorreu em 1882, quando o
matemático alemão Carl Lindermann provou que não é possível
construir um segmento de medida π com régua e compasso.

Várias foram as tentativas na busca de alcançar a quadratura


do círculo e inúmeros foram os resultados e conclusões que
conduziram a novas descobertas matemáticas, tais como: as
relações existentes entre o comprimento da circunferência e o seu
diâmetro, e entre as áreas do círculo e do quadrado.

Zenão
Natural de Eleia, cidade grega no sul da Itália, filho de
Teleutágoras, conterrâneo e discípulo de Parmênides, Zenão
nasceu por volta de 496-488 a.C. e morreu por volta de 435-425
a.C., tendo se destacado pela metodologia a que recorreu em defesa
das ideias do seu mestre. Em lugar de tentar provar as teses que
esse professava, procurou deduzir as consequências contraditórias
das hipóteses dos adversários, recorrendo a uma técnica lógica
Figura 3.14 - Zenão de Eleia similar a qual viria a ser conhecida como “redução ao absurdo”.
Fonte: Pinela (2003-2010)
A obra pela qual ficou conhecido foi escrita na sua juventude e
publicada contra a sua vontade. É chamada Epicheiremata. Nessa
obra, defendeu o ser uno, contínuo e indivisível de Parmênides
contra o ser múltiplo, descontínuo e divisível dos pitagóricos.
Supõe-se que essa obra tenha sido escrita antes de 460 a.C., e é
possível que tenha escrito obras posteriormente.

Você sabia?
A palavra paradoxo vem do grego parádoxos, que
significa contrário à previsão ou à opinião comum, e
passou ao português por meio da palavra paradoxon
em latim, que significava coisa contrária à opinião.
Assim sendo, um paradoxo é uma afirmação que
aparenta ser contraditória ou oposta ao senso comum.

120
História da Matemática

Paradoxos são ferramentas eficientes para demonstrar que


algumas ideias normalmente assumidas como verdadeiras
nem sempre merecem aderência inquestionável. A utilização
dos paradoxos em uma demonstração pode ser semelhante
à utilização da redução ao absurdo em que, a partir de certa
premissa, chega-se a uma conclusão que se sabe absurda,
provando-se a sua falsidade naquele contexto.

Zenão se tornou famoso em virtude de paradoxos explanados em


sua obra Epicheiremata. Apenas 200 palavras sobreviveram dessa
sua obra. A maioria dos registros dos seus ensinamentos chegou
aos dias de hoje nomeadamente por intermédio de Aristóteles
e Simplicius. Esses paradoxos tinham o objetivo de defender a
teoria do seu mestre Parmênides de que a realidade era única,
imutável e imóvel, pelo que mudança, movimento, tempo e
pluralidade não passariam de ilusões.

Ensinou em Atenas por diversos anos antes de regressar a Eleia.


Esse matemático não só era muito respeitado no seu estado,
como também era, em geral, célebre e muito respeitado como
professor, chegando até a existir homens que percorriam muitos
quilômetros para poder aprender com ele.

Zenão era, sobretudo, um filósofo e não tanto matemático, mas


os seus paradoxos contribuíram para o desenvolvimento do rigor
lógico e matemático e foram insolúveis até o desenvolvimento
dos conceitos de continuidade e infinito. Ele foi o primeiro
questionador na história da Matemática, os seus paradoxos
espantaram matemáticos durante séculos e a tentativa de resolvê-
los conduziu a numerosas descobertas.

Dentre os paradoxos de Zenão, dos que envolvem o movimento e


chegaram até nós, por Aristóteles, quatro merecem atenção:

„ a dicotomia;

„ o Aquiles;

„ a flecha;

„ o estádio.

Unidade 3 121
Universidade do Sul de Santa Catarina

Descrevendo o paradoxo Aquiles


De acordo com este paradoxo, em uma corrida em que o mais
lento começa com vantagem, enquanto estiver a correr, nunca
será ultrapassado pelo mais veloz, pois aquele que persegue deve
primeiro chegar ao ponto de onde a fuga do mais lento começou,
sendo que o mais lento deve, necessariamente, já estar alguma
distância à frente. Ou seja, antes de apanhar o mais lento, o mais
veloz terá sempre de alcançar o ponto onde o mais lento estava
anteriormente.

Na transmissão tradicional desse paradoxo, temos uma corrida


entre Aquiles, o herói grego da Ilíada de Homero, forte e
corajoso como nenhum outro, simbolizando a velocidade, e
opostamente a tartaruga, símbolo da lentidão.

A conclusão parece um pouco estranha, mas é o resultado do


seguinte raciocínio: a tartaruga, que é a mais lenta, começa
a corrida com uma determinada vantagem sobre Aquiles, o
mais veloz; quando Aquiles chega ao ponto de onde começou
a tartaruga, essa já não está lá e, apesar de não ter andado
tanto como Aquiles, já está num segundo ponto mais à frente,
prosseguindo a corrida. Quando Aquiles chega a esse segundo
ponto, a tartaruga já estará mais à frente em um terceiro ponto;
quando Aquiles chegar a esse terceiro ponto, ela estará mais à
frente em um quarto ponto, e assim sucessivamente.

Logo, apesar de Aquiles estar cada vez mais próximo da


tartaruga, nunca chega a alcançá-la, pois sempre que chega ao
ponto onde estava a tartaruga em um momento atrás, ela já
está mais à frente. Portanto, desde que não pare, a tartaruga irá
sempre à frente e ganhará a corrida, pois Aquiles poderia correr
infinitamente que não a apanharia.

Zenão, com esse paradoxo, pretendia desacreditar os defensores


da “continuidade” de um movimento, ou seja, aqueles que
defendiam a infinita divisibilidade do espaço. Nesse paradoxo,
faz-se confusão entre uma distância infinita e uma distância
infinitamente divisível, pois podemos considerar que Aquiles tem
de percorrer um número infinito de intervalos que são aqueles
que a tartaruga tem de vantagem sobre ele, sempre que chega ao
ponto onde ela estava antes de iniciar esse intervalo: o intervalo

122
História da Matemática

inicial entre Aquiles e a tartaruga; o intervalo que a tartaruga


percorreu enquanto Aquiles chegou onde ela estava no início;
o intervalo que Aquiles percorreu até onde a tartaruga avançou
enquanto ele chegou ao ponto inicial da tartaruga; e assim
sucessivamente.

A problemática desse paradoxo centra-se na soma infinita de


números, ou seja, nem sempre uma soma infinita de números
resulta em infinito. É totalmente compreensível a confusão que
paradoxos como esses causaram, se tivermos em conta que só
muitos séculos mais tarde se desenvolveriam os conceitos de
continuidade, limites de sucessões e somas infinitas. O modo
como em uma corrida se pode percorrer uma infinidade de
pontos em tempo finito (apesar de infinitamente divisível), só
seria explicado séculos depois, com o desenvolver da Matemática.

Euclides
Pouco se sabe sobre a vida de Euclides, filósofo e matemático
grego. Segundo consta, parece ter sido ele o fundador da famosa
escola de Matemática de Alexandria, onde foi professor.

A história conta que sua formação deve ter se dado na escola


de Atenas, tendo em vista o tempo que viveu nessa cidade, com
os sucessores de Platão. Esse gênio da Matemática, cuja figura Figura 3.15 - Euclides
irradiava simpatia e bondade, de caráter bondoso e gentil, era Fonte: Euklid-von-
Alexandria (2005).
conhecido, segundo Boyer (1974), como “um bondoso velho”.

Uma das frases célebres de Euclides é: “não há uma estrada real


para a geometria”.

Euclides foi um geômetra notável, autor de mais de dez tratados,


cujos enfoques são os mais variados. De todas as suas obras, cinco
sobreviveram até os nossos dias: Os Elementos, Os Dados, Divisão
de figuras, Os fenômenos e Óptica, sendo essa última um dos
primeiros trabalhos sobre perspectiva.

A habilidade de Euclides em expor fez com que sua obra


principal Os Elementos alcançasse mais de 1.500 edições,
constituindo-se, no começo do século XX, a obra mais difundida
depois da Bíblia.

Unidade 3 123
Universidade do Sul de Santa Catarina

Os Elementos estão divididos em treze livros ou capítulos, em um


total de 465 proposições. Os seis primeiros capítulos tratam da
geometria plana elementar; os três seguintes, sobre teoria dos
números; o livro X, sobre os incomensuráveis; e os três últimos
versam sobre geometria no espaço.

O livro I apresenta vinte e três definições, começando com


conceitos básicos, postulados e axiomas preliminares necessários.
Contém teoremas sobre congruência de triângulos, teoria
das paralelas, bem como a demonstração de que a soma dos
ângulos de um triângulo é igual a dois ângulos retos. As demais
proposições do livro tratam de paralelogramos, triângulos e
quadrados, com ênfase no cálculo de áreas. Vale ressaltar que na
proposição 47 tem-se a demonstração do teorema de Pitágoras
atribuída universalmente ao próprio Euclides.

Vejamos as cinco primeiras, das vinte e três definições,


que o livro traz, e observe como até hoje as utilizamos no
desenvolvimento de muitos estudos.

1. “Ponto é o que não tem parte”.

2. “Linha é o comprimento sem largura”.

3. “Os extremos de uma linha são pontos”.

4. “Linha reta é a que repousa igualmente sobre todos os


pontos”.

5. “Superfície é aquilo que só tem comprimento e largura”.

Os cinco postulados presentes no livro I estão relacionados


abaixo.

1. “Traçar uma reta de qualquer ponto a qualquer ponto”.

2. “Prolongar uma reta finita continuamente em uma linha


reta”.

3. “Descrever um círculo com qualquer centro e qualquer raio”.

4. “Que todos os ângulos retos são iguais”.

124
História da Matemática

5. “Que, se uma reta cortando duas retas faz os ângulos


interiores de um mesmo lado menores que dois ângulos
retos, as duas retas, se prolongadas indefinidamente, se
encontram desse lado em que os ângulos são menores
que dois ângulos retos”.

É importante salientar que o postulado cinco foi submetido a um


estudo crítico por conter uma afirmação pouco clara de evidência.
E foi a partir desses estudos que se originaram novos ramos da
geometria. Vamos a seguir relacionar os cinco axiomas presentes
no livro I.

1. “Coisas que são iguais a uma mesma coisa são também


iguais entre si”.

2. “Se iguais são somados a iguais, os totais são iguais”.

3. “Se iguais são subtraídos de iguais, os restos são iguais”.

4. “Coisas que coincidem uma com a outra são iguais uma a


outra”.

5. “O todo é maior que a parte”.

Relativamente pequeno, o livro II, possui quatorze proposições


que abordam transformações de áreas, bem como a Álgebra
geométrica da escola pitagórica. É nele que se encontram,
entre as proposições interpretadas, atualmente, em linguagem
moderna, uma que enuncia a lei dos cossenos e outras que
retratam equivalentes geométricos de muitas identidades
algébricas, tais como:

(a + b) 2 = a 2 + 2ab + b 2
(a + b).(a − b) = a 2 − b 2
4ab + (a − b) 2 = (a + b) 2

O livro III é constituído de trinta e nove proposições, contendo


muitos dos teoremas sobre círculos, cordas, secantes, tangentes
e medidas de ângulo que encontramos em textos modernos de
geometria elementar.

Unidade 3 125
Universidade do Sul de Santa Catarina

Com dezesseis proposições, o livro IV aborda a construção, com


régua e compasso, de polígonos regulares de três, quatro, cinco,
seis e quinze lados, bem como a inscrição e a circunscrição desses
polígonos em um círculo dado.

No livro V, Euclides registrou a teoria das proporções de Eudoxo,


aplicável tanto a grandezas comensuráveis e incomensuráveis.
Essa teoria resolveu a crise lógica que se abateu sobre a
Matemática decorrente da descoberta dos irracionais pelos
pitagóricos. Com vinte e cinco proposições, relata regras
equivalentes às propriedades distributivas à esquerda e à direita
da multiplicação em relação à adição e à subtração, bem como
a lei associativa da multiplicação. Esse livro também apresenta
regras para “maior que” e “menor que”, e as propriedades, bem
conhecidas, das proporções.

Um estudo sobre semelhança de triângulos está relatado


no livro VI, bem como construções de terceiras, quartas e
médias proporcionais. Nele também está registrada a resolução
geométrica de equações quadráticas e a demonstração de
teoremas relativos a razões e proporções que aparecem em
triângulos, paralelogramos e outros polígonos semelhantes.
Uma proposição que assegura que a bissetriz de um ângulo
de um triângulo divide o lado oposto em segmentos
proporcionais aos outros dois lados é também relatada nesse
livro.

Os livros VII, VIII e IX, com um total de cento e duas


proposições, tratam da teoria elementar dos números, ao
contrário do que se pensa, pois frequentemente tem-se a ideia de
que Os Elementos só tratam de geometria. A distinção de vários
tipos de números é feita no livro VII, abordando números pares
e ímpares, primos e compostos. É apresentado, nesse livro, o
conhecido algoritmo euclidiano, que consiste em achar o máximo
divisor comum de dois ou mais números inteiros, bem como
verificar se dois números inteiros são primos entre si. A última
proposição consiste em uma regra para achar o mínimo múltiplo
comum de vários números.

As proporções contínuas e progressões geométricas relacionadas


são os temas abordados no livro VIII. Se tivermos uma

126
História da Matemática

a b c
proposição contínua = = , então a, b, c, d formam uma
b c d
progressão geométrica.

No livro IX encontram-se muitos teoremas significativos. Um


deles fornece uma dedução geométrica da fórmula da soma dos
primeiros n-termos de uma progressão geométrica, e a última
proposição estabelece a notável forma para números perfeitos.
A prova de Euclides, da proposição vinte, demonstrando
que o número de números primos é infinito, é considerada
universalmente pelos matemáticos um modelo de elegância.

Os irracionais são o foco do livro X, com cento e quinze


proposições, que contêm na sua maioria equivalentes geométricos
de números expressos com radicais quadráticos. Entre esses
teoremas, há alguns equivalentes aos processos para racionalizar
a a
denominadores de frações da forma e .
b± c b± c

Os três livros restantes, XI, XII e XIII, tratam de geometria


sólida. O material do livro XI contém trinta e nove proposições
sobre geometria em três dimensões. Euclides define um sólido
como “aquilo que tem comprimento, largura e espessura”. As
definições e os teoremas sobre retas e planos no espaço, bem
como os teoremas sobre paralelepípedos, também se encontram
neste livro.

No livro XII temos dezoito proposições referentes à medida de


figuras, cujas demonstrações usam o método de exaustão.

O último livro desenvolve construções, visando à inscrição dos


cinco sólidos regulares em uma esfera.

Você sabia?
O significado do termo “elementos”, segundo Proclo,
vem dos gregos antigos, que definiam os “elementos”
de um estudo dedutivo como os teoremas-mestre, ou
teoremas-chave, de uso geral e amplo no assunto.

Unidade 3 127
Universidade do Sul de Santa Catarina

Arquimedes
Arquimedes é considerado o mais brilhante cientista da
Antiguidade. Seus achados são utilizados ainda nos dias de hoje, seja
nas integrais, seja na descoberta de novos postulados e axiomas. Há
uma série de fatos curiosos da vida dele que nos mostram inúmeras
facetas da personalidade e da geniosidade desse sábio.

Nascido em Siracusa, situada na ilha da Sicília, por volta de


287 a.C., Arquimedes, filho do astrônomo Fídias, viveu muitos
Figura 3.16 - Arquimedes
Fonte: Archimedes (2006). anos em Alexandria, onde foi um dos maiores discípulos
da Universidade e teve como professor Cônon, seguidor de
Euclides. Ao completar seus estudos, retornou a sua cidade
natal, mas continuou comunicando suas descobertas e trocando
conhecimentos.

Foi guerreiro e ajudou a defender Siracusa contra o ataque dos


romanos, utilizando as engenhosas máquinas de guerra, como
catapultas para lançar pedras, cordas, polias e ganchos para
levantar e espatifar os navios romanos, todas inventadas por ele.

Morreu assassinado por engano por um soldado, durante o saque


de Siracusa em 212 a.C. O comandante romano Marcelo ficou
consternado com a morte do ilustre matemático e ordenou que
fosse construído um túmulo entalhado, com uma esfera inscrita
em um cilindro, tal como Arquimedes desejara.

Arquimedes morreu quando já havia estendido as fronteiras


da Matemática, muito além do que recebera de Euclides,
conquistando a reputação de o maior gênio da Antiguidade.

Os trabalhos científicos de Arquimedes causam admiração até


hoje, sobretudo pela precisão dos cálculos. Ele criou métodos
para resolver problemas de áreas e volumes, destacando-se entre
os grandes matemáticos da época.

Seus principais trabalhos foram:

na geometria plana,

„ a medida de um círculo,

„ a quadratura da parábola e

128
História da Matemática

„ sobre as espirais;

na geometria espacial,

„ sobre a esfera e o cilindro e

„ sobre os cones e os esferóides;

na Matemática aplicada,

„ sobre o equilíbrio de figuras planas - Lei das alavancas - e

„ sobre os corpos flutuantes – Lei da hidrostática;

na aritmética,

„ o problema dos bois e

„ o arenário;

outros,

„ Stomachion e

„ bomba de água em parafuso.

Dentre as obras de Arquimedes, descreveremos três: A medida de


um círculo, Sobre o equilíbrio de figuras planas e Sobre os corpos
flutuantes.

A medida de um círculo

A medida do círculo resolveu antigos problemas relativos


à circunferência, demonstrando que os coeficientes de
proporcionalidade entre o perímetro da circunferência e seu
diâmetro e a área do círculo e o quadrado de seu raio são iguais
a uma constante que foi chamada de pi. Veja que espetáculo a
demonstração desse estudo.

Para calcular o valor da constante pi, Arquimedes usou o


método da exaustão, que consistia em calcular o comprimento
da circunferência por aproximação servindo-se de polígonos e
circunscritos à circunferência.

Unidade 3 129
Universidade do Sul de Santa Catarina

Vamos considerar:

C → comprimento da circunferência.

2p → perímetro do polígono inscrito.

2P → perímetro do polígono circunscrito.

A Figura 3.17 representa a inscrição e a circunscrição dos


polígonos.

Figura 3.17 - Polígonos inscritos e circunscritos


Fonte: Di Pierro Netto (1998).

Observe que à medida que aumenta o número de lados do


polígono, o seu perímetro vai se aproximando cada vez mais
do comprimento da circunferência. Note, também, que o
comprimento C está compreendido entre os perímetros 2p e 2P,
ou seja: 2 p < C < 2 P .

Acompanhe o método que Arquimedes usou para o cálculo da


C
razão .
2r
Vamos considerar que o quadrado circunscrito tenha lado
unitário, logo, seu perímetro 2P será 4cm.

Em um círculo de raio r, vamos inscrever e circunscrever um


quadrado na Figura 3.18.

Figura 3.18 - Quadrado circunscrito e inscrito

130
História da Matemática

O lado do quadrado inscrito é encontrado aplicando-se o teorema


de Pitágoras, logo, tem-se:
2 2
⎛1⎞ ⎛1⎞
 = ⎜ ⎟ +⎜ ⎟
2

⎝2⎠ ⎝2⎠
1 1
2 = +
4 4
2
2 =
4
2
 =
4
2
=
2
1
= 2
2

Podemos então concluir que o perímetro do quadrado inscrito é


1
2p = 2,8cm, pois 2 p = 4. 2.
2
Sendo C o comprimento da circunferência, temos:

2 p < C < 2P

Dividindo todos os termos pelo diâmetro (2r), temos:

2 p C 2P C
< < ou 2, 8 < < 4
1 2r 1 2r
Arquimedes foi duplicando o número de lados dos polígonos
inscritos e circunscritos até obter uma figura de 96 lados,
C 10 1
provou que a razão está entre 3 e 3 , ou seja,
2r 71 7
C
3,14085 < < 3,14286 .
2r

22
Na Antiguidade, usava-se a fração em substituição de pi. O
7
resultado 3,142857143... fornece uma precisão razoável. O valor
de pi, com dez casas decimais, é suficiente para a maioria das
aplicações práticas.

Unidade 3 131
Universidade do Sul de Santa Catarina

Você sabia?
Segundo Elon Lages Lima (2004), o inglês Willian
Shanks calculou pi com 707 algarismos decimais
exatos em 1873. Em 1947, descobriu-se que o cálculo
de Shanks errava no 527o algarismo e, portanto, nos
seguintes. Com auxílio de uma maquininha manual,
o valor de pi foi então calculado com 808 algarismos
decimais exatos. Depois vieram os computadores.
Com seu auxílio, em 1967, na França calculou-se
pi com 500.000 algarismos decimais exatos e, em
1984, nos Estados Unidos, com mais de dez milhões,
precisamente 10.013.395 de algarismos exatos.

A constante que caracteriza a razão entre o comprimento da


circunferência e o diâmetro é representada pela letra grega π,
que é a décima sexta letra do alfabeto grego. Essa representação
é bem recente e foi proposta em 1706, pelo matemático inglês
Willian Jones, significando periferia ou circunferência. Jones não
era conhecido o suficiente para divulgar sua ideia, então, essa
tarefa coube ao matemático suíço Leonard Euler (1707-1783), que
a princípio usava p ou c.

Foi somente em 1737 que Euler adotou sistematicamente o


símbolo π. O prestígio de Euler era tamanho que o símbolo foi
adotado mundialmente.

Sobre o equilíbrio dos planos

Arquimedes pode ser chamado de pai da Física Matemática.


Sua obra sobre a lei da alavanca é parte de seu tratado Sobre o
Equilíbrio dos Planos.

Ele descreveu várias proposições, que têm como ponto central


o equilíbrio entre pesos. Na primeira, ele demonstra que ao
colocarmos uma alavanca apoiada no seu centro de massa e
suspendermos dois pesos a distâncias iguais em relação ao ponto
de apoio, ela permanece em equilíbrio, pois as massas dos dois
corpos são iguais. Essa situação está representada na Figura 3.19.

132
História da Matemática

Figura 3.19 - Equilíbrio de pesos iguais


Fonte: Cardoso, Freire, Mendes Filho (2006, p. 224).

Outra situação também demonstrada por esse sábio matemático


aborda que pesos diferentes colocados a uma mesma distância de
um ponto central não se equilibram e a alavanca irá inclinar para
o lado do peso maior. Observe essa situação na Figura 3.20.

Figura 3.20 - Pesos em desequilíbrio


Fonte: Cardoso, Freire, Mendes Filho (2006, p. 225).

Arquimedes também demonstrou que pesos desiguais só irão se


equilibrar se forem colocados em distâncias diferentes, sendo que
o peso maior deve estar a menor distância do centro da alavanca.
Veja a situação ilustrada na Figura 3.21.

Figura 3.21 - Pesos diferentes, distâncias diferentes


Fonte: Cardoso, Freire, Mendes Filho (2006, p. 225).

Entre essas proposições, a mais importante e completa de todas é


a lei de “Equilíbrio das Alavancas”.
Se duas magnitudes são comensuráveis ou incomensuráveis,
elas se equilibram a distâncias inversamente proporcionais às
magnitudes. Observe a Figura 3.22.

Unidade 3 133
Universidade do Sul de Santa Catarina

Figura 3.22 - Lei da alavanca


Fonte: Cardoso, Freire, Mendes Filho (2006, p. 225).

Daí, tem-se a seguinte proporção:

D1 M 2
=
D2 M 1

Então, se houver equilíbrio, a razão entre as distâncias é


inversamente proporcional às suas correspondentes massas. O
princípio da alavanca explica por que um grande bloco de pedra
pode ser levantado por um pé de cabra. Conta a história que
Arquimedes teria dito a Hierão, rei de Siracusa: “Deem-me uma
alavanca e um ponto de apoio e eu levantarei a Terra”.

Figura 3.23 - Lei da alavanca


Fonte: Cardoso, Freire, Mendes Filho (2006, p. 222).

Sobre os corpos flutuantes

Das descobertas de Arquimedes, algo muito frequente é o fato de


que depois de compreendida, vê-se que é extremamente simples.
Assim foi com o princípio hidrostático, parte integrante da obra
Sobre os Corpos Flutuantes.

Conta-se que o rei Hierão desconfiou que sua coroa não tivesse
sido feita com ouro puro, e sim com mistura de prata. Para tirar
a dúvida, pediu ajuda ao seu amigo Arquimedes, que descobriu
como resolver o problema enquanto tomava banho e refletia

134
História da Matemática

sobre o fato de que corpos imersos na água se tornam mais leves,


exatamente pelo peso da água que deslocam.

Assim sendo, Arquimedes idealizou uma forma de resolver o


problema do rei e na sua empolgação saiu nu pelas ruas de Siracusa
gritando: “Eureka! Eureka!”, que significa: descobri! descobri!

O princípio hidrostático, também conhecido como Lei do


empuxo ou princípio de Arquimedes, afirma que, quando
mergulhamos um corpo qualquer em um líquido, verificamos que
esse exerce sobre o corpo uma força de sustentação, isto é, uma
força dirigida para cima, que tende a impedir que o corpo afunde
no líquido. Podemos perceber a existência dessa força ao tentar
mergulhar, na água, um pedaço de madeira. Essa força vertical
é dirigida para cima e denomina-se empuxo do líquido sobre o
corpo mergulhado.

Essa questão é de grande importância em construção naval, pois,


em geral, é a forma adotada para o projeto das secções dos cascos
dos navios. Ainda hoje, a construção naval segue as teorias indicadas
nessa obra escrita por esse grande mago da Matemática Física.

Seção 4 - Geometria na China e Índia


De acordo com Boyer (1996), as civilizações da China e da Índia
são muito mais antigas que as da Grécia e Roma, porém, não
mais que as do vale do Nilo e Mesopotâmia. As civilizações das
margens dos rios Yang-tze e Amarelo são da época compatível à
do Nilo ou de entre os rios Tigre e Eufrates. Mas pouco material
de natureza primária oriunda dela chegou até nós. Isto porque os
povos da época faziam muitos de seus registros em bambu, que é
um material perecível.

Assim, as datas dos documentos vindos da China não são


precisas, por exemplo, a data estimada para o documento chinês
Chou Pei Suang Ching, considerado o clássico chinês mais
antigo, difere em até mil anos. Aceita-se como razoável uma data

Unidade 3 135
Universidade do Sul de Santa Catarina

de 300 a.C. As palavras de Chou Pei parecem referir-se ao uso


do gnomon no estudo das trajetórias circulares no céu, e o livro
com esse título trata de cálculos astronômicos, embora contenha
uma introdução relativa às propriedades do triângulo retângulo e
alguma coisa sobre o uso de frações.

A obra registra um diálogo entre um príncipe e seu ministro


sobre calendário. Nela, o ministro diz ao governante que a
arte dos números deriva do círculo e do quadrado; o quadrado
pertencendo à Terra e o círculo, aos céus. Na China, a
geometria originou-se basicamente da mensuração, tornando-se
essencialmente um exercício de aritmética ou álgebra.

Tão importante quanto o Chou Pei, talvez ainda mais influente,


é o livro de Matemática chinês Chui-Chang Suan-Shu, também
conhecido como Nove Capítulos Sobre a Arte Matemática. Esse
livro contém 246 problemas de mensuração de terras, agricultura,
engenharia, propriedades de triângulos retângulos, impostos,
cálculos, soluções de equações, sociedades.

Nas obras chinesas, destaca-se a justaposição de resultados


precisos e imprecisos, primitivos e elaborados. São usadas regras
corretas para as áreas de triângulos e trapézios.

A área do círculo era calculada tomando três quartos do


quadrado sobre o diâmetro ou um doze avos do quadrado da
circunferência. Para esses cálculos, adotavam o valor do π =
3. Em relação à área do segmento, o “Nove Capítulos” usa o
s ( s + c)
resultado aproximado de , em que s é a seta, ou seja, raio
2
menos o apótema e c a corda ou base do segmento.

Esta obra em relação à geometria chinesa também trata de


triângulos. Para exemplificar, usa-se o conhecido problema do
bambu quebrado:

- Há um bambu de 10 pés de altura cuja extremidade


superior, ao ser quebrada, atinge o solo a 3 pés da haste.
Achar a altura da quebra.

136
História da Matemática

É interessante observar que o quadrado mágico teve seu primeiro


registro efetuado pelos chineses. É provável que sua origem seja
ainda mais antiga, porém, como não foi registrada, não foi dada
a conhecer. Os chineses gostavam especialmente de diagramas.
O quadrado mágico foi supostamente trazido para os homens por
uma tartaruga do Rio Lo nos dias do lendário Imperador Yii.
Veja na Figura 3.24 o desenho de um quadrado mágico.

4 9 2

3 5 7

8 1 6

Figura 3.24 - Quadrado mágico

Durante toda sua história, a ciência chinesa sofreu com


vários problemas, que impediram sua continuidade e seu
aprimoramento.

Em 213 a.C., o imperador da China mandou queimar os livros


existentes. Mesmo que algumas cópias tenham sido salvas,
a perda foi irreparável. No século XX, Mao-Tsé-Tung, com
sua “Revolução Cultural”, também promoveu uma queima
generalizada de livros, considerados “subversivos”.

Provavelmente, houve contato cultural entre Índia e China e


entre a China e o Ocidente. Muitos dizem que houve influência
babilônica na Matemática chinesa, apesar de que a China não
utilizava frações sexagesimais.

Curiosidades
A Matemática chinesa é tão diferente da Matemática
de outros povos da mesma época que seu
desenvolvimento ocorreu de forma independente.
Lui Hui, no terceiro século, determinou um valor para
Pi utilizando, primeiro, um polígono regular com 96
lados (3,14), e depois utilizando um polígono regular
com 3072 lados (3,14159).

Unidade 3 137
Universidade do Sul de Santa Catarina

Outro clássico famoso apresentado no Chou Pei é a discussão


em torno do teorema de Pitágoras, mas sem nenhuma prova,
conforme se visualiza na Figura 3.25.

Figura 3.25 - Prova do Teorema de Pitágoras


Fonte: Eves (2002, p. 244).

De acordo com Eves (2002), um acontecimento importante


ocorrido em janeiro de 1984 foi a descoberta de um livro de
aritmética escrito em tiras de bambu, desenterrado de túmulos
que remontam à dinastia Han. O trabalho transcrito por volta
do século II a.C. é uma coleção de mais de noventa problemas
envolvendo as quatro operações fundamentais, proporções, áreas
e volumes. Esse é, atualmente, considerado o trabalho chinês
mais antigo de que se tem notícia.

No período pós-Han, encontram-se muitos matemáticos dedicados


a calcular o número π, a razão entre a circunferência e o diâmetro
de um círculo. Credita-se a um general do século III, chamado
Wang Fan, a aproximação racional 142/45 de π, ou seja, 3,155. Um
contemporâneo de Wand Fan, chamado Liu Hui, escreveu um
breve comentário sobre os nove capítulos. Nele, encontra-se algum
material novo sobre mensuração, como a relação
3,1410 < π < 3,1427

Cerca de dois séculos mais tarde, Tsu Ch’ung-Chih (430-501)


e seu filho, em livros de autoria dos dois que se perderam,
encontraram a seguinte relação:

3,1415926< π < 3,1415 927

É notável a aproximação racional 355/113 que fornece π


corretamente até a sexta casa.
Após o declínio da Matemática grega clássica, a Matemática
da China tornou-se uma das mais criativas do mundo, sendo
responsável pelo desenvolvimento da geometria descritiva.

138
História da Matemática

Muitas das descobertas chinesas em Matemática acabaram


fazendo o caminho da Europa via Índia e Arábia. Mas foi com
a chegada dos jesuítas na China que a Matemática ocidental
se fez presente com a tradução de Os Elementos de Euclides,
representando um papel significativo no desenvolvimento
subsequente da Matemática na China.

No entanto, sabe-se que a partir da Idade Média, a Matemática


chinesa não tinha realizações que se comparassem às europeias e do
Oriente Próximo. Possivelmente, a China absorvia mais Matemática
do que enviava. É provável que as ciências chinesas e hindus sofreram
influências mútuas durante o primeiro milênio de nossa era.

A geometria também teve seu desenvolvimento a partir de


matemáticos expoentes hindus. A Matemática hindu apresenta
mais problemas históricos do que a grega; os matemáticos
indianos raramente referiam-se aos predecessores e exibiam
surpreendente independência em seus trabalhos matemáticos.

Pouco se sabe sobre a Geometria e a própria Matemática hindu,


a fonte mais antiga preservada são as ruínas encontradas em
Mohenjo Daro, um sítio localizado a nordeste da cidade de
Karachi, no Paquistão, datado de mais de 5.000 anos. O povo
desta cidade tinha o sistema de escrita, contagem, pesos e
medidas e cavava canais para irrigação.

A Índia, assim como o Egito, tinha seus “esticadores de corda”.


As primitivas noções geométricas tomaram corpo no escrito
conhecido como “Sulvasutras”, que significa regras de cordas.
Esse escrito tem três versões, sendo que a mais conhecida tem o
nome de “Apastamba”.

Nesta primeira versão, da mesma época de Pitágoras, são


encontradas regras para construção de ângulos retos por meio de
ternas de cordas cujos comprimentos formam tríadas pitagóricas.
Esse escrito, provavelmente, sofreu influência babilônica, visto
que as tríadas encontram-se nas tábuas cuneiformes. A origem e
a data dos Sulvasutras são incertas, de modo que não é possível
relacioná-los com a primitiva agrimensura egípcia ou com o
problema grego de duplicar um altar.

Por volta de 450 d.C. até perto do fim do século XV, a Índia
foi vítima de numerosas invasões estrangeiras. Primeiro vieram

Unidade 3 139
Universidade do Sul de Santa Catarina

os hunos, depois, no século VIII, os árabes e no século XI, os


persas. Durante esse período, despontaram vários matemáticos
hindus eminentes, destacando-se Ãryabhata, Brahmagupta e
Bhaskara. Acompanhe no quadro a seguir uma síntese de seus
principais trabalhos.

Eminentes matemáticos hindus


Aryabhata: publicou, em 499, uma obra intitulada “Aryabhatiya”.
Essa publicação é um pequeno volume sobre Astronomia e
Matemática, semelhante aos “Elementos” de Euclides, porém,
de oito séculos antes. São compilações de resultados anteriores.
Essa obra contém: nome das potências de dez, até a décima;
regras de mensuração (muitas erradas); área do triângulo;
volume da pirâmide (incorreto); área do círculo; volume da esfera
(incorreto) e áreas de quadriláteros (algumas incorretas). Também
encontramos cálculos com a medida do tempo e trigonometria
esférica.
Brahmagupta: viveu na Índia central pouco mais de cem
anos depois de Aryabhata. Tem pouco em comum com seu
predecessor, que vivia no leste da Índia. Seu trabalho mais
importante foi a generalização da fórmula de Heron para achar
a área de qualquer quadrilátero. Talvez a melhor produção da
Geometria hindu desse período, e um tanto solitária quanto à
sua excelência, seja o seu trabalho sobre quadriláteros cíclicos,
todos com lados, diagonais e áreas racionais.
Bhaskara: entre as inúmeras contribuições para Matemática
em relação à Geometria em sua obra, “Lilavati”, Bhaskara
apresenta tópicos sobre mensuração, tríadas pitagóricas, entre
outras. Bhaskara condena severamente seus predecessores por
usarem as fórmulas de Brahmagupta para área e as diagonais
do quadrilátero geral, porque percebeu que um quadrilátero
não é univocamente determinado por seus lados. Ele não
percebeu que as fórmulas são realmente corretas para todos os
quadriláteros cíclicos.
Depois de Bhaskara, a Matemática hindu fez apenas progressos
irregulares até os tempos modernos. De acordo com Boyer,
somente no século passado apareceu outro matemático hindu
genial parecido com Bhaskara, o matemático Srinivasa Ramanujan
(1887-1920). O gênio hindu do século XX, em sua obra um tanto
desorganizada, apresenta a força do raciocínio intuitivo, e pouco
caso pela Geometria já evidenciada por seus predecessores. No
entanto, não se pode deixar de citar as contribuições da Índia, em
particular, o desenvolvimento da trigonometria da função seno
substituindo a tabela de cordas dos gregos.

140
História da Matemática

Seção 5 - Geometria árabe


Até o século VII, os árabes encontravam-se divididos em várias
tribos, algumas sedentárias e outras nômades. Geralmente, essas
tribos eram hostis entre si e desde tempos remotos ocupavam a
Península Arábica, localizada no Oriente Próximo e limitada
pelo Mar Vermelho, Golfo Pérsico e Oceano Índico.

Em 613, Maomé (570-632) começa a pregação de uma nova


religião, na condição de profeta de Alá, deus único e verdadeiro.
Essa nova religião denominou-se religião Islâmica. Islam significa: submissão.

Em 622 ocorre a “hégira”, mudança de Maomé de Meca para


Medina por causa das perseguições sofridas, marcando o início
do calendário islâmico. Após muitos anos de lutas, Maomé
consegue impor a nova religião a todos os muçulmanos, sendo
Meca a principal cidade sagrada. As demais cidades também logo
foram conquistadas e aderiram ao islamismo.

Depois da morte de Maomé, os árabes foram governados pelos


califas. Esses califas estenderam o domínio muçulmano da Índia
até a Península Ibérica. A expansão árabe auxiliou para que a
Europa interiorizasse a economia e aumentasse a ruralização da
sociedade, expandindo o processo de feudos.

No início, as relações entre a Europa cristã e os muçulmanos foi


extremamente violenta e antagônica. Nesse período, começou a
ocorrer o movimento conhecido como as Cruzadas, com o intuito
de tomar de volta a cidade santa de Jerusalém do domínio islâmico.

Os ataques muçulmanos praticamente fizeram desaparecer o


comércio cristão no Mediterrâneo Ocidental, contribuindo ainda
mais para o processo de feudalismo na Europa.

Na Península Ibérica, os árabes realizaram uma revolução


agrícola construindo canais de irrigação, açudes e moinhos
d’água, introduzindo o cultivo de cana-de-açúcar, algodão,
cânhamo e arroz. Por todo o império circulavam moedas
cunhadas em Bagdá, capital do império. Trabalhos em couro
feitos em Córdoba e canais de irrigação em Valência foram
algumas das soluções desenvolvidas na economia.

Unidade 3 141
Universidade do Sul de Santa Catarina

Foram fundamentais para a conservação de grande parte da


cultura mundial as maneiras como os árabes se apoderaram
do saber grego e hindu. Inúmeros trabalhos de Astronomia,
Medicina e Matemática foram traduzidos para o árabe e assim
preservados até serem novamente traduzidos para o latim e outras
línguas, preservando a ciência grega e hindu.

Durante o reinado do califa al-Mansur, foram levados para


Bagdá os trabalhos de Brahmagupta traduzidos para o árabe.
O califa seguinte, Harun al-Rashid, que significa Arão, o justo,
reinou de 786 a 808, e cujo nome tornou-se conhecido por causa
das Mil e Uma Noites, patrocinou a tradução de muitos clássicos,
entre eles parte dos Elementos de Euclides. Um erudito médico,
filósofo, linguista e matemático foi Tâbit ibn Qorra (826-901),
que fez a primeira tradução realmente satisfatória da obra os
Elementos.

Outro escritor de “Khorâsân”, mas de uma época


consideravelmente posterior, foi Nasir ed-din. É dele o primeiro
trabalho de Trigonometria plana e esférica. Saccheri (1667-1733)
iniciou o seu trabalho sobre Geometria não euclidiana a partir
do conhecimento que tinha dos escritos de Nasir ed-din sobre os
postulados das paralelas de Euclides.

Os matemáticos árabes deram também algumas contribuições


próprias. Em Geometria, pode-se mencionar o trabalho feito
por Abu’l-Wefa (940-998) com compassos “enferrujados”, ou
compasso de abertura fixa, a solução geométrica das equações
cúbicas dada por Omar Khayyam (1044-1123) e as pesquisas
de Nasir ed-din sobre o postulado das paralelas de Euclides.
Tal como os hindus, os matemáticos árabes consideravam-
se primordialmente como astrônomos, mostrando, por isso,
grande interesse por Trigonometria, usando as seis funções
trigonométricas.

Por tudo isso, ressalta-se a importante influência do povo árabe


na Matemática. Convém ressaltar, também, que os muçulmanos
ao expandir o islamismo cometeram um dos maiores crimes
contra a humanidade. Após a queda de Alexandria frente aos
muçulmanos, o califa mandou queimar todos os manuscritos

142
História da Matemática

encontrados na biblioteca, cerca de 600.000, argumentando


que: “se constam do alcorão não precisam ser guardados e se não
constam são inúteis”. Conta a lenda que os escritos alimentaram
as caldeiras dos banhos durante seis meses.

É preciso lembrar, também, o papel das Cruzadas. Com elas


a Europa cristã teve, novamente, contato com a Matemática
grega, traduzida para o árabe. Isso veio a influenciar muito a
Europa medieval e serviu como fonte para o desenvolvimento da
Matemática durante a Idade Média.

Considera-se, então, que a grande importância deixada pelo povo


árabe durante a Idade Média refere-se às traduções de grandes
obras da Matemática da Antiguidade, possibilitando o acesso ao
conhecimento matemático em diferentes culturas.

Síntese

Nesta unidade, você conheceu a história da geometria até o início


da Idade Média. Foi destaque, aqui, a origem da geometria, a
geometria no Egito e Mesopotâmia, na Grécia, na China e Índia
e, finalmente, a geometria árabe. Esta unidade fundamenta toda
a geometria desenvolvida nos tempos remotos.

Os grandes matemáticos de cada época buscaram fundamentar-


se na geometria antiga e a partir dela construir outras geometrias.
Lembre-se, então, que é fundamental ter o domínio da leitura
desta unidade para aprofundar seus estudos.

Vale ressaltar que a geometria, até aqui, fundamenta-se,


principalmente, no conhecimento das obras de Euclides.

Unidade 3 143
Universidade do Sul de Santa Catarina

Atividades de autoavaliação

1) Provavelmente, as primeiras observações feitas pelo ser humano,


relacionadas à geometria, ocorreram por meio do reconhecimento de
semelhanças e diferenças em objetos do seu cotidiano. Fundamentado
na leitura desta unidade, destaque as principais necessidades que
levaram à criação da geometria.

2) Explique como os egípcios e mesopotâmicos utilizavam a geometria.

3) Os gregos contribuíram de forma significativa com o desenvolvimento


da geometria. Começaram a transformar a geometria empírica dos
egípcios e babilônicos para uma geometria teórica. Fundamentado no
texto, elabore um quadro com as contribuições de Tales, Pitágoras e
Arquimedes para a geometria.

4) Euclides de Alexandria (300 a.C) é o autor de Elementos, obra em 17


volumes, dos quais treze foram encontrados e traduzidos. Nesta obra,
a geometria é apresentada quase da mesma forma que é estudada
modernamente, permitindo-nos estabelecer uma relação entre os
Elementos e os Currículos atuais de Matemática. Elabore uma atividade
em nível de ensino fundamental envolvendo um conceito euclidiano.

5) A história da geometria é marcada por diferentes contribuições em


cada civilização. De que forma as civilizações chinesa, hindu e árábe
contribuíram para o desenvolvimento da geometria?

Saiba mais

Você poderá enriquecer mais esse assunto fazendo a leitura do


artigo: “Um Enigma: Arquimedes e os Espelhos Ardentes”, do
livro De Arquimedes a Einstein: a face oculta da invenção científica,
do autor Pierre Thuillier, publicado pela editora Jorge Zahar,
1994.

144
4
UNIDADE 4

A geometria nas Idades Média,


Moderna e Contemporânea

Objetivos de aprendizagem
„ Destacar os principais matemáticos que contribuíram
nos estudos da geometria nas Idades Média, Moderna
e Contemporânea.
„ Reconhecer a importância da geometria nos diferentes
setores da vida da sociedade, tais como construções,
objetos, representações gráficas, arte, entre outras.
„ Diferenciar a geometria euclidiana da não euclidiana.
„ Identificar objetos matemáticos a partir da geometria
dos fractais.

Seções de estudo
Seção 1 A geometria na Idade Média
Seção 2 A geometria na Idade Moderna
Seção 3 A geometria na Idade Contemporânea
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


A geometria da Idade Moderna diferenciou-se da geometria da
Antiguidade?

Nesta unidade, você terá a oportunidade de conhecer a


Geometria voltada para outras áreas da atividade humana e
não somente para a Matemática. A geometria projetiva, por
exemplo, marca uma nova era para a pintura, a geometria
analítica possibilita relacionar a representação algébrica com a
representação geométrica de grandezas variáveis.

Muitos matemáticos contribuíram significativamente com a


estruturaçao atual da geometria.

Na atualidade, sabe-se também que a geometria ramificou-se em


várias geometrias, destacando-se a euclidiana, a não euclidiana e
analítica, entre outras.

Com a leitura desta unidade, voc ê terá uma visão geral do


desenvolvimento marcante que a geometria sofreu a partir
da Idade Moderna. Esperamos que você aproveite a leitura e
enriqueça seus conhecimentos sobre o assunto.

Seção 1 – A geometria na Idade Média


De acordo com Boyer (1996), acompanhando a história da
Matemática na Europa ao longo da Idade das Trevas, desde
os primeiros séculos medievais ao ponto alto no tempo dos
escolásticos, desde o início do século até a obra de Fibonacci e
Oresme, no século treze e no quatorze o progresso foi notável,
mas os esforços de todo período medieval não se comparam
às realizações da Matemática da Grécia Antiga. O período
medieval é marcado principalmente pelas traduções de grandes
obras da Antiguidade.

146
História da Matemática

Considera-se também que o progresso da Matemática não foi


continuadamente ascendente em nenhuma parte do mundo, seja
Babilônia, Grécia, China, Arábia ou mundo romano. Na Europa
medieval, houve um declínio a partir das obras de Bradwardine
e Oresme. Bradwardine ficou conhecido por escrever sobre os
conceitos básicos de contínuo e discreto, infinitamente grande
e infinitamente pequeno, além de escrever sobre aritmética e
geometria. A Europa sofreu drasticamente com os efeitos da
peste negra e com a Guerra dos Cem Anos.

Dentre os matemáticos destacados na Baixa Idade Média está


Boécio. Seus livros de geometria e aritmética foram adotados
por muitos séculos nas escolas. A geometria de Boécio se resume
nos enunciados das proposições do livro I e outras proposições
dos livros III e IV de Euclides, aliados a algumas aplicações de
mensuração.

O século XIII assistiu ao surgimento das universidades de Paris,


Oxford, Cambridge, Pádua e Nápoles. As universidades vieram
a se tornar fatores poderosos de desenvolvimento da Matemática.
Durante esse século, Johannes Campanus fez uma tradução para
o latim de Elementos de Euclides, que posteriormente se tornou a
primeira versão impressa dessa obra.

Segundo Eves (2002), em 1220 apareceu a Practica Geometriae


de Fibonacci, uma alentada coleção de material sobre Geometria
e Trigonometria, em uma abordagem hábil, feita com rigor
euclidiano e alguma originalidade.

Outro matemático que se destacou na Idade Média foi Johann


Muller, conhecido como Regiomontanus, responsável pela
tradução de parte da obra Almagesto. Ele também traduziu
trabalhos de Apolônio, Herão e Arquimedes e publicou um
tratado conhecido como triangulis omnimodis, escrito por volta de
1464 e publicado em 1533, sendo considerada a mais importante
de suas obras, pois trata-se da primeira importante exposição
europeia sistemática de Trigonometria plana e esférica, em um
tratamento independente da Astronomia.

Nesse período, França e Inglaterra assumiram a liderança na


Matemática no século XIV. Já no século XV, as universidades

Unidade 4 147
Universidade do Sul de Santa Catarina

italianas, alemãs e polonesas tomaram a frente da Matemática,


substituindo o escolasticismo decadente de Oxford e Paris.

Ainda no contexto da Idade Média, mas situando-se entre


os séculos XII e XV, encontramos o período durante o qual a
Europa teve acesso ao conhecimento matemático produzido
pelos árabes ou por eles difundido. A queda do Império Romano
do Oriente levou a uma fuga dos sábios de Constantinopla
para o Ocidente e pôs a Europa novamente em contato com a
tradição cultural grega e com as obras originais de traduções
árabes. Por volta do século XV, a Europa dominava as conquistas
matemáticas alcançadas por gregos, hindus e muçulmanos.
Destacando-se as contribuições indo-arábicas, temos o sistema
decimal de numeração – que pela primeira vez incluía o zero – e
algumas descobertas relevantes no campo da Trigonometria. A
Matemática indo-arábica fez largo uso das tábuas para o cálculo
de valores trigonométricos, frações, raízes etc. A difusão desses
conhecimentos deveu-se à invenção da imprensa e à criação das
universidades citadas anteriormente.

Seção 2 – A geometria na Idade Moderna


Na Idade Moderna, o século XVII é particularmente importante
na história da Matemática. De acordo com Eves (2002), o
grande avanço dado à Matemática na Idade Moderna se deveu,
em grande parte, sem dúvida, aos avanços políticos, econômicos
e sociais da época. O século XVII testemunhou ganhos
ponderáveis na batalha pelos direitos humanos. Nessa época, o
mundo vivenciou o espírito de internacionalismo intelectual e no
ceticismo científico; ocorreu também o deslocamento da atividade
matemática da Itália para a França e Inglaterra.

Nesse período, o grande matemático Kepler deu notáveis


contribuições ao estudo dos poliedros, a geometria das cônicas.
A Idade Moderna é marcada por grandes matemáticos, como
Desargues, engenheiro e arquiteto, com seu trabalho relacionado
com a história da geometria, sendo considerado um clássico do

148
História da Matemática

desenvolvimento inicial da geometria projetiva sintética. Nessa


mesma época, houve também o desenvolvimento da geometria
analítica e da geometria não euclidiana.

A geometria projetiva

Figura 4.1 - Imagens em perspectiva


Fonte: Le Goff (2006, p.26;31).

Muitos matemáticos, com o intuito de produzir quadros mais


realistas, criaram os elementos de uma teoria geométrica
subjacente denominada perspectiva. Essa teoria foi
consideravelmente ampliada no início do século XVII, por um
grupo de matemáticos franceses motivados por Desargues (1591-
1661).
Figura 4.2 - Foto de
A obra de Desargues foi negligenciada pela geometria analítica, Girard Desargues
que será tratada no próximo tópico. O grupo de geômetras Fonte: Girard... (2008).
estava envolvido em aplicar os infinitésimos à geometria. Graças
à geometria projetiva, o infinito geométrico ganha dimensão
humana. O infinito potencial dos filósofos transforma-se em
infinito real dos geômetras.

Para Euclides e seus sucessores, a linha, a reta, o plano e o sólido


dos geômetras estritamente euclidianos eram todos finitos,
embora indefinidamente prolongáveis para a construção e
demonstração.

As discussões envolviam o quinto postulado de Euclides,


proposição não demonstrada, sendo formulada modernamente da
seguinte forma: por um ponto fora da reta passa uma e somente
uma paralela a essa reta. Sabe-se hoje que essas tentativas eram
vãs: o quinto postulado de Euclides não pode ser demonstrado.

Unidade 4 149
Universidade do Sul de Santa Catarina

A geometria projetiva nasceu da conjunção da ciência da


perspectiva, surgida por necessidades práticas com a teoria das
cônicas, de Euclides e Apolônio de Perga.

A evolução das ideias relativas ao infinito geométrico passou pela


questão da perspectiva, a representação de um plano em terceira
dimensão, levando ao desenvolvimento da perspectiva linear.

A geometria perspectiva linear consiste em projetar sobre o plano


do quadro as linhas imaginárias que vão do objeto representado
até o olho, suposto como pontual, do pintor ou observador, sendo
denominada pelos matemáticos como projeção cônica. Desargues,
em seu ensaio para atingir a compreensão sintética das diversas
ocorrências de curvas cônicas obtidas pela intersecção plana
de um cone de base circular, rompeu com a concepção finitista
herdada dos gregos a respeito da linha reta, da superfície plana e
dos sólidos.

Figura 4.3 - Visualização em perspectiva


Fonte: Le Goff (2006, p. 28).

Assim, Desargues também repensou as cônicas, curvas geradas


pela intersecção entre cone de base circular e um plano. Tais
figuras – elipse, parábola e hipérbole – suscitaram renovado
interesse de Johannes Kepler em suas órbitas planetárias elípticas,
de Athanasius Kircher e seus espelhos parabólicos, passando por
Descartes e a classificação das curvas do segundo grau.

Qualquer secção de um cone por um plano produz uma curva


que é uma perspectiva do círculo. Desargues percebeu que uma
cônica não passa de um círculo observado do ponto de vista
adequado. Kepler já havia observado que a parábola não passa de
uma elipse em que um de seus focos tende ao infinito.

150
História da Matemática

Figura 4.4 - Visualização em perspectiva de secções cônicas


Fonte: Le Goff (2006, p. 30).

Por fim, as descobertas de Desargues tornaram possível uma


teoria geral das projeções, à qual se dedicaram geômetras da
primeira metade do século XIX, como Gaspar Monge, Jean-
Victor Poncelet e Michel Chasles. A geometria projetiva
construída por esses matemáticos, por sua vez, permitiu entrever
a possibilidade de geometrias não euclidianas e, ao mesmo
tempo, ajudou a conceber para elas modelos euclidianos, nos
quais aparecem representações no infinito.

Assim, pode-se considerar que a reintrodução da geometria


projetiva só ocorreu no final do século XVIII, por Gaspar
Monge, quando criou a geometria descritiva. Essa teve origem
em projetos de fortificações e refere-se a uma maneira de
representar e analisar objetos tridimensionais por meio de
projeções sobre planos. Monge reuniu em sua volta grandes
estudiosos da geometria, destacando-se Lazare Carnot, Charles
J. Brinchon e Jean-Victor Poncelet.

Mas o verdadeiro ressurgimento da geometria projetiva foi


empreendido por Gergonne Poncelet. Durante um período em
que foi prisioneiro dos russos, Poncelet planejou a grande obra
sobre geometria projetiva que publicou em Paris no ano de 1822.
Com o desenvolvimento da geometria projetiva e os novos meios
de cálculos, abre-se caminho para novos campos de estudos para
a geometria moderna. Esse novo percurso nos estudos das formas
geométricas analisa os sólidos de vários ângulos diferentes. Seu
criador, o francês Jean Victor Poncelet (177-1867), em 1822,
demonstrou seus raciocínios. Visto de ângulos diferentes, por
exemplo, uma pirâmide pode aparecer como um triângulo (vista
de frente) ou um quadrado (vista de cima).

Unidade 4 151
Universidade do Sul de Santa Catarina

A obra de Poncelet foi continuada por Michel Chasles (1798-


1880), professor de tecnologia de máquinas em 1841, e que
a partir de 1846 teve a cadeira de geometria na Sorbonne.
A Chasles se deve a ênfase à geometria projetiva, sobre as
c−a d −a
seis razões duplas = de quatro pontos lineares ou
c −b d −b
quatro retas concorrentes, e a invariância dessas razões sob
transformações projetivas. Chasles é considerado um dos últimos
geômetras conhecido na França.

As ideias de Chasles apresentam muitos pontos em comum com


outros matemáticos, entre eles destaca-se Jakob Steiner. Steiner,
em seu “Systematische Entwicklungen”, tratou a geometria
projetiva a partir das considerações métricas. No entanto, foi
o matemático alemão K. G. C. van Staudt, antes estudante de
Gauss, que construiu a geometria projetiva sem a referência
de grandeza e número. A geometria de van Staudt foi muito
importante ao mostrar como uma geometria projetiva podia ser
estabelecida sem o conceito de distância, abrindo, assim, caminho
para a ideia de se ter uma geometria não métrica, em que a
noção de distância podia ser apenas definida. Alguns anos mais
tarde, Laguerre (1834-1886), na França, discutiu a possibilidade
de impor uma medida em uma geometria não métrica, mas foi
Arthur Cayley quem elaborou o conceito de uma métrica em uma
geometria projetiva em seu “Sexto artigo sobre Quânticas”.

A geometria projetiva teve grande influência sobre a arte.


A partir dela, pintores passaram a elaborar suas obras em
três dimensões, apresentando em seus quadros a noção de
profundidade, conforme Figura 4.5.

Figura 4.5 - Visualização em perspectiva da obra Anunciação, de Bordone (1500-1571)


Fonte: Le Goff (2006, p. 24).

152
História da Matemática

A geometria analítica
Enquanto Desargues, Blaise Pascal e Poncelet inauguraram
um novo tempo para a geometria projetiva, Pierre de Fermat e
Descartes, representados na Figura 4.6, estavam concebendo
as ideias da moderna geometria analítica. Há uma diferença
fundamental entre essas duas matérias, sendo a geometria
projetiva um ramo da geometria e a geometria analítica
considerada um método da geometria.

Se Descartes, em 1628, estava ou não de posse da geometria


analítica não é claro, mas a data efetiva da invenção da geometria
cartesiana não pode ser muito posterior a isso. Por essa época,
Descartes deixou a França indo para a Holanda, onde passou os
20 anos seguintes. Figura 4.6 - Fermat e
Descartes
Fonte: Pierre... (2007);
Durante sua estada na Holanda, foi chamada a atenção para os René (2007).
problemas das três ou quatro retas de Papus. Pensando que seus
amigos não tinham resolvido o problema, Descartes aplicou seu
novo método e resolveu sem dificuldade. Isso levou–o a perceber
a generalidade de seu ponto de vista. Como consequência,
escreveu a obra bem conhecida, “LA GÉOMÉTRIE”, que levou a
geometria analítica ao conhecimento de seus contemporâneos.

A obra “La Géométrie” não foi apresentada como um tratado, mas


como um dos três apêndices do Discurso de “La Méthode”.

A geometria cartesiana agora é sinônimo de analítica, mas o


objetivo fundamental de Descartes era muito diferente daquele
dos textos modernos, o tema é estabelecido na primeira frase.

“[...] todo conhecimento de geometria pode facilmente ser reduzido a


termos tais que o conhecimento dos comprimentos de certos segmentos
basta para a construção [...]”

Como essa afirmação indica, o objetivo é geralmente uma


construção geométrica, e não necessariamente a redução da
geometria à álgebra. A obra de Descartes é com demasiada
frequência descrita simplesmente como aplicação da álgebra
à geometria, ao passo que, na verdade, poderia sem bem
caracterizada como sendo a tradução de operações algébricas em
linguagem geométrica.

Unidade 4 153
Universidade do Sul de Santa Catarina

A primeira secção de “La Géométrie” tem como título “como


os cálculos de aritmética se relacionam com operações de
geometria”, a segunda seção descreve “como a multiplicação,
a divisão, e a extração de raízes quadradas são efetuadas
geometricamente”. Aqui, Descartes fazia o que até certo ponto
al-Khowarizme e Oughtred já realizavam, isto é, forneciam um
correspondente geométrico para as operações algébricas. Mostra,
também, que as cinco operações aritméticas correspondem a
construções simples com régua e compasso, justificando assim a
introdução de termos aritméticos em geometria.

Descartes deve ter deixado claro quão longe estavam os


pensamentos relacionados com as considerações práticas, hoje
associadas, frequentemente, ao uso de coordenadas. Ele não
estabelecia um sistema de coordenadas a fim de localizar pontos
como um medidor de terras ou um geógrafo, nem pensava em
coordenadas como um par de números, sendo que a expressão
produto cartesiano não tem tempo específico de uso.

“La géométrie”, em seu tempo, foi tanto um triunfo da teoria não


prática quanto as cônicas de Apolônio na Antiguidade, apesar do
papel extraordinariamente útil que ambas representam em seu
tempo. Considera-se também que o uso de coordenadas oblíquas
era quase igual nas duas obras, confirmando que a origem da
geometria analítica está na Antiguidade. As coordenadas de
Oresme (1323?/1382), que influenciaram Galileu, estão próximas
na forma e no ponto de vista moderno.

Figura 4.7 - Representação gráfica de uma função por Oresme


Fonte: Boyer (1996, p. 181).

Mesmo que Descartes conhecesse a representação gráfica das


funções de Oresme, e isso não é evidente, não há nada em
sua forma de pensar que indique ter ele percebido qualquer
semelhança entre a finalidade da latitude de formas e sua própria
classificação das construções geométricas.

154
História da Matemática

A teoria das funções tirou grande proveito da obra de Descartes,


mas a noção de forma ou função não teve papel aparente no
desenvolvimento da geometria cartesiana.

Além das contribuições de Descartes ao estudo da geometria


analítica, outros matemáticos também contribuíram com o seu
desenvolvimento, destacando-se Pierre de Fermat, cuja obra,
não publicada em vida, era conhecida como “A introdução aos
lugares”. Nessa obra, Fermat havia descoberto o mesmo método
de Descartes, mas ela circulava apenas na forma de manuscrito,
sendo sua exposição muito mais didática que a de Descartes.
Fermat pouco publicou durante sua vida.

A geometria vislumbrada por Fermat era um tanto mais


próxima da atual, referindo-se às ordenadas usualmente tomadas
perpendicularmente ao eixo das abscissas. Além disso, Fermat e
Descartes perceberam uma Geometria analítica com mais que
duas dimensões.

Curiosidades
Há certos problemas que envolvem só uma incógnita
e que podem ser chamados determinados, para
distingui-los dos problemas de lugares. Há outros que
envolvem duas incógnitas e que nunca podem ser
reduzidos a uma só, e esses são problemas de lugares.
Nos primeiros problemas, procuramos um ponto
único, nos segundos, uma curva. Mas se o problema
proposto envolve três incógnitas, deve-se achar, para
satisfazer a equação, não apenas um ponto ou curva,
mas toda uma superfície. Assim, aparecem superfícies
como lugares etc.

Considera-se também que é possível que Fermat, desde 1629,


estivesse de posse de sua geometria analítica, pois por essa
época ele fez duas descobertas significativas que se relacionam
de perto com seu trabalho sobre lugares. A mais importante
dessas foi descrita alguns anos depois em um tratado, também
não publicado durante a vida, chamado “Método para achar
máximos e mínimos”.

Unidade 4 155
Universidade do Sul de Santa Catarina

Assim, considera-se que o desenvolvimento da geometria


analítica é mérito não de uma só pessoa. Dois franceses,
Pierre de Fermat (1601-1665) e René Descartes (1596-1650),
curiosamente ambos graduados em Direito, nenhum deles
matemático profissional, são os responsáveis por esse grande
avanço científico: o primeiro movido basicamente por seu grande
amor à Matemática e o segundo, por razões filosóficas. E, diga-
se de passagem, não trabalharam juntos: a geometria analítica é
um dos muitos casos, em ciência, de descobertas simultâneas e
independentes.

A geometria de mais de três dimensões foi desenvolvida por


Cayley em 1843, que iniciava o estudo da geometria analítica
ordinária do espaço n-dimensional, usando o estudo dos
determinantes como instrumento essencial. Cayley expressou
em coordenadas homogêneas o espaço n-dimensional por
determinantes. Muitas fórmulas simples de dimensões dois e três
podem ser convenientemente expressas em n dimensões.

Cauchy contribuiu com a Geometria analítica em n dimensões,


denominando de pontos analíticos e retas analíticas quando
estava representando em dimensões superiores a R³.

Contudo, é importante considerar que a geometria analítica,


como é hoje, pouco se assemelha às contribuições deixadas
por Fermat e Descartes, seus maiores expoentes. Inclusive sua
marca mais característica, um par de eixos ortogonais, não era
usada por nenhum deles. Mas, cada um a seu modo, sabia que a
ideia central era associar equações a curvas e superfícies. Nesse
particular, Fermat foi mais feliz, enquanto que Descartes superou
Fermat na notação algébrica.

Saiba mais
A geometria analítica moderna apresenta outros
expoentes no seu desenvolvimento. Podemos citar
Julius Plucker (1801-1868), que publicou a obra
“Annales de Gergonne” em 1826; em seguida, tornou-
se o primeiro especialista em geometria analítica de
sua época. Outros como Gabriel Lamé, Gergonne e
Möbuis auxiliaram na abreviação das notações. Para
aprofundar seu estudo, leia as páginas 373 a 377 de
Boyer, 1996.

156
História da Matemática

Seção 3 – A geometria na Idade Contemporânea

A geometria não euclidiana


O aparecimento, no palco matemático, das geometrias não
euclidianas, há um século e meio, foi acompanhado por surpresa
e descrença consideráveis. A existência de tais geometrias
é hoje facilmente explicada, mas o seu desenvolvimento foi
motivado principalmente pelo quinto postulado de Euclides,
conhecido como axioma das paralelas, que conduziu a criação
de outros tipos de geometria, destacando a não euclidiana, que
foi concebida no final do século XIX e propõe a possibilidade de
negar o postulado das paralelas.

Desde os gregos, a geometria tem tido um aspecto dual, afirma-


se que é uma descrição precisa do espaço em que vivemos, e que
é também uma disciplina intelectual, uma estrutura dedutiva.
A geometria de Euclides era baseada sobre certo número de
axiomas e postulados.

De acordo com Davis (1985, p.251), o quinto postulado de


Euclides pode ser assim enunciado:

Se duas retas, em um mesmo plano, são cortadas por uma


outra reta, e se a soma dos ângulos internos de um lado é
menor do que dois retos, então, as retas se encontrarão, se
prolongadas suficientemente do lado em que a soma dos
ângulos é menor do que dois ângulos retos.

A palavra axioma ou postulado, em uma primeira versão,


significa uma verdade evidente por si própria ou universalmente
reconhecida, uma verdade aceita sem demonstração.

Na geometria dedutiva, o axioma funciona como um alicerce


sobre o qual conclusões posteriores se basearão. Na geometria
como descrição do mundo, o axioma funciona como uma
afirmativa verdadeira e precisa do mundo das experiências
espaciais. Nesse caso, a geometria dedutiva abandona o mundo
real e fundamenta-se em seus axiomas e postulados.

Mas nem sempre os axiomas e postulados são verdades evidentes.


Foi o que aconteceu com o 5º postulado de Euclides. Por não

Unidade 4 157
Universidade do Sul de Santa Catarina

se mostrar evidente aos matemáticos, esse levou a atenção de


muitos estudiosos e a tentativa de sua demonstração levou ao
desenvolvimento da geometria não euclidiana.

Assim, as primeiras investigações sobre o quinto postulado de


Euclides procuravam diminuir as dúvidas sobre sua validez,
tentando deduzi-lo logicamente dos outros axiomas que pareciam
ser evidentes. O axioma se tornaria, então, um teorema, e sua
posição estaria assegurada. Todas as tentativas falharam, pois,
sabe-se hoje que ele não pode ser deduzido de outros axiomas,
isso aconteceu em 1868.

Para o desenvolvimento da geometria não euclidiana, muitos


matemáticos contribuíram significativamente, destacando-
se: Gauss, Lobatchevski, Riemann e Bolyai, representados
respectivamente na Figura 4.8:

A descoberta da geometria não euclidiana foi acompanhada de


muitas compreensões falsas, dúvidas e hesitações. Parecia estar
à beira da loucura. Destaca-se, por exemplo, que o pai de Bolyai
escreveu-lhe em determinado momento: “Pelo amor de Deus,
por favor desista. Tema-a quanto as paixões sensuais, pois ela,
também, poderá consumir todo seu tempo e roubar-lhe a saúde, a
paz de espírito e a felicidade na vida”.

Com a descoberta de que se têm duas geometrias não


Figura 4.8 - Gauss, Lobatchevski,
Riemann e Bolyai euclidianas, Klein, em 1871, denominou as geometrias da
Fonte: Carl... (2005); Nikolaï (2010); seguinte forma: geometria riemanniana ou elíptica ou esférica,
Barbosa (2001-2009); János (2005).
geometria de Lobatchevski ou hiperbólica e geometria plana ou
Euclidiana, também denominada de parabólica.

Curiosidades
A geometria de Lobatchevski apresenta o seguinte
axioma:
* Sejam dados em um plano α uma reta l e um ponto P
que não está em l . Há, então, pelo menos duas retas que
passam por P e são paralelas a l.

A geometria de Riemann apresenta o seguinte


axioma:
* Sejam dados em um plano α uma reta l e um ponto P
que não está em l. Não há, então, retas passando por P e
paralelas a l.

158
História da Matemática

Assim, por volta de 1820 já se conheciam os principais teoremas


da geometria não euclidiana, nome dado por Gauss, que não
publicou suas conclusões. No ano de 1829, Lobachevsky as
publicou e no ano de 1832 foi a vez de Janos Bolyai. Os trabalhos
desses matemáticos foram independentes, sendo esses últimos
considerados descobridores da geometria não euclidiana.

A razão pela qual Gauss manteve em segredo suas descobertas,


foi o fato de que a filosofia de Kant, filósofo iluminista, dominava
a Alemanha da época e seus dogmas eram que as ideias da
geometria euclidiana eram as únicas possíveis. Gauss sabia que
essa ideia era totalmente falsa, mas para não entrar em conflito
com os filósofos da época, resolveu manter-se em silêncio.

Foi necessário passarem mais de 20 séculos para Gauss (1777-


1855) verificar a não-demonstrabilidade do quinto postulado e a
possibilidade da construção de uma Geometria não euclidiana.
Na mesma época, o russo Nicolai Ivanovich Lobachevsky
(1792-1856) e o húngaro Janos Bolyai (1802-1860), trabalhando
independentemente, construiram uma geometria na qual o
postulado da paralela não vale mais. Em 1826, Lobachevsky cria
a geometria não euclidiana, em que para os teoremas de Euclides
serem válidos é desnecessário supor que se pode construir uma
paralela a uma outra reta, passando por um ponto fora desta reta.
No entanto, o trabalho de Lobachevsky, devido à barreira da
língua e à lentidão com que as informações de novas descobertas
circulavam naqueles dias, foi ignorado na Europa ocidental por
alguns anos.

As geometrias euclidiana, de Lobachevsky e riemanniana


possuem três conjuntos distintos de conclusões, denominados
teoremas. Nessas geometrias, há formas diferentes de medida,
bem como aspectos projetivos diferentes.

Unidade 4 159
Universidade do Sul de Santa Catarina

Curiosidades
O famoso teorema de Pitágoras agora possui três
formas:
1. Geometria euclidiana: c² = a² + b²

2. Geometria de Lobachevsky:
c −c a −a b −b

2( e k + e k ) = (e k + e k )(e k + e k ) em que k é uma


constante fixa e

e = 2,718... .

3. Geometria riemanniana: a forma diferencial ds² = α


⎛a b ⎞
dx² + 2 β dxdy + γdy² onde ⎜ ⎟ é positivo-definida.
⎜b g ⎟
⎝ ⎠

A fim de discutir a consistência lógica da geometria não


euclidiana, torna-se necessário a substituição das palavras “reta”
por “círculo máximo”, a palavra “ponto” substituída por “par de
pontos”. Um círculo formado sobre a superfície de uma esfera
por um plano que passa pelo centro da esfera. A partir dessas
considerações, todos os axiomas são verdadeiros. Na verdade,
pode-se demonstrar facilmente como teoremas, a partir dos
axiomas da geometria euclidiana sólida, que a superfície de
uma esfera é uma superfície não euclidiana, diz-se então que a
superfície da esfera euclidiana é um modelo para os axiomas da
geometria não euclidiana.

A real independência do postulado das paralelas com


relação aos outros postulados de Geometria euclidiana só foi
inquestionavelmente estabelecida quando se obtiveram provas da
consistência da geometria não euclidiana. Essas foram fornecidas
por Eugenio Beltrami, Felix Klein, Henri Poincaré e outros. O
método consistia em construir um modelo em que a geometria
não euclidiana tivesse uma interpretação como parte do espaço
euclidiano, então, qualquer inconsistência da geometria não-
euclidiana implicaria uma inconsistência correspondente na
euclidiana. Em 1854, Riemann mostrou que se a infinitude da
reta fosse descartada, e a reta fosse simplesmente assumida como

160
História da Matemática

ilimitada, então, com alguns outros pequenos ajustes nos demais


postulados, outra geometria não euclidiana se desenvolveria.

Devido ao entrelaçamento entre espaço e matéria, torna-se


impossível determinar se o espaço físico é euclidiano ou não
euclidiano. Toda mensuração envolve suposições físicas e
geométricas, pode-se explicar um resultado de muitas maneiras
dependendo das características do espaço e da matéria que estão
sendo consideradas.

Assim, a descoberta de uma nova geometria não altera o


comportamento dos elementos já construídos. Contudo, todos
os novos elementos serão interpretados na nova geometria.
Pode imaginar que cada elemento tem um registro que lhe diz
a que geometria pertence. As noções básicas que são afetadas
pela escolha da geometria são as medidas das distâncias e dos
ângulos.

A razão pela qual a geometria euclidiana permaneceu como única


durante muitos anos deve-se, principalmente, ao fato de que a
maioria das pessoas vive restrita a pequenas porções da superfície
da Terra, sendo sua curvatura desprezivelmente pequena nessas
regiões. Assim, um pedreiro ou um carpinteiro devem usar a
geometria euclidiana, enquanto que um aviador ou um iatista
devem usar a não euclidiana.

Algumas curiosidades sobre a geometria não euclidiana.


1) A soma dos ângulos de um triângulo na geometria elíptica é
MAIOR que 180 graus.

α + β + γ > 180°

Figura 4.9 - Triângulo no espaço esférico


Fonte: A geometria... (2005).

Unidade 4 161
Universidade do Sul de Santa Catarina

A geometria elíptica, que tem como caso particular a geometria


esférica, pode ser visualizada pelo ponto de vista dos “chatóides”
habitantes de um mundo de duas dimensões, restrito à superfície
de uma gigantesca esfera. Para esses chatóides, uma “reta”, isto é,
a menor distância entre dois pontos, deve ser o segmento de um
grande círculo que passa pelos pontos e cujo raio é o próprio raio
da superfície esférica, conforme Figura 4.10.

Figura 4.10 - Superfície esférica


Fonte: A geometria... (2005).

Atualmente, outra aplicação da geometria não euclidiana


relaciona-se com a rotina dos voos internacionais, essa noção de
“reta” ficou corriqueira. Um avião que vai de Fortaleza a Lisboa,
sem escalas, não segue uma reta (em azul) traçada no mapa
múndi. Segue a trajetória (em vermelho) correspondente a um
segmento de círculo máximo entre as duas cidades. Os chatóides
e os pilotos concordam que essa é a “reta” real, pois é o caminho
mais curto entre os dois pontos, seguindo a superfície terrestre,
conforme a Figura 4.11.

Figura 4.11 - Distâncias nas diferentes geometrias


Fonte: A geometria... (2005).

2) A soma dos ângulos de um triângulo desenhado sobre a


superfície de uma pseudoesfera é MENOR que 180 graus,

162
História da Matemática

como esperado de uma superfície que represente a geometria


hiperbólica, assim, α + β + γ < 180°. Observe a Figura 4.12.

Figura 4.12 - Espaço hiperbólico


Fonte: A geometria... (2005).

Observe que quanto maior o triângulo, menor é a soma de seus


ângulos.

3) A soma dos ângulos de um triângulo desenhado sobre a


superfície plana ou euclidiana é IGUAL a 180 graus, como
esperado de uma superfície que represente a geometria
parabólica, assim, α + β + γ = 180°. Observe a Figura 4.13.

Figura 4.13 - Espaço euclidiano

Era preciso ter uma imaginação excepcional para considerar a


possibilidade de uma geometria diferente daquela de Euclides.
Pois o espírito humano por dois milênios estivera limitado,
pelo preconceito da tradição, à firme crença de que o sistema de
Euclides era certamente a única maneira de descrever em termos
geométricos o espaço físico, e que qualquer sistema geométrico
contrário não poderia ser consistente.

Unidade 4 163
Universidade do Sul de Santa Catarina

Geometria dos fractais


A geometria dos fractais tem raízes no século XIX e algumas
indicações neste sentido vêm muito antes na Grécia homérica,
Índia, China, entre outros. Mas foi somente há poucos anos
que essa geometria foi se consolidando com o desenvolvimento
dos computadores e também com a ajuda de novas teorias em
diversas áreas, como a Física, Biologia, Astronomia e também a
Matemática.

Diferentes definições de fractais surgiram, mas o termo fractal foi


utilizado pela primeira vez pelo matemático Benoit Mandelbrot.
A origem dessa palavra vem do latim fractus, que significa
irregular ou quebrado.

Mandelbrot, “o pai dos fractais”, queria que a palavra ilustrasse


um novo conceito que ele elaborou analisando as formas
geométricas. Porém, em 1982, com a publicação de seu livro
intitulado “The Fractals Geometry of Nature”, o termo passou a
caracterizar formas irregulares estudadas também em outras
áreas, como a Geologia e o mercado financeiro.

Foram muitas as teorias criadas, mas nunca foi conseguido


organizar ideias a fim de criar uma definição formal para o que
viria a ser a teoria dos fractais. Foi Mandelbrot que conseguiu
reunir fragmentos de ideias e gerar uma nova, que deu origem à
teoria dos fractais.

Os fractais necessitam de muitas interações para serem gerados


e é quase impossível de ser feito manualmente, ou seja, com o
auxílio de um computador, o processo é bem mais viável e o
tempo de pesquisa se torna muito mais reduzido.

A utilização de computadores, para realizar seus cálculos e


simulações, foi muito importante nos estudos de Mandelbrot,
diz-se até que essa foi uma grande chave no desenvolvimento de
seus estudos.

Os fractais são formas geométricas abstratas, geradas a partir


de uma fórmula matemática, muitas vezes simples, aplicada de
forma iterativa, em que seus resultados obtidos são fascinantes e
de beleza única.

164
História da Matemática

Na geometria fractal é possível encontrar números quebrados


entre as diversas dimensões espaciais, o que é impossível de
acontecer na geometria euclidiana, que se utiliza apenas de
números inteiros como dimensão. No caso dos fractais, dimensão
tem como significado estritamente o número fracionário ou
irracional. Esse é o caso de uma esponja, em que o volume
apresenta porosidades e vazios, que se encaixam entre a segunda
e a terceira dimensão, não podendo, assim, ser representados por
números inteiros.

Podemos definir fractal como uma figura geométrica n-


dimensional, que é independente em escalas, ou seja, cada
pedacinho pode ser visto como uma “réplica” em um tamanho do
todo.

Os fractais podem apresentar infinitas formas diferentes, mas


existem duas características que são frequentes nessa geometria:
a complexidade infinita e a autossimilaridade. A primeira é uma
propriedade dos fractais significando que nunca se conseguirá
representá-lo por inteiro, pois existe uma quantidade infinita de
detalhes, reentrâncias e saliências cada vez menores. O fractal
que apresenta a autossimilaridade costuma apresentar pequenos
pedaços que são similares ao seu todo.

A geometria dos fractais tem seu legado desde Euclides, porém,


ele não estudou esses objetos por não apresentarem formas bem
definidas. Uma característica observada nos fractais é que quanto
mais se reduz a unidade padrão de medida, maior será a extensão
do objeto medido. Por consequência dessas propriedades, a
geometria dos fractais é utilizada para descrever, analisar,
modelar e interpretar as formas presentes na natureza.

Os fractais têm dimensões diferentes e próprias em cada imagem.


Um ponto considera-se como dimensão zero; uma linha, como
dimensão um; uma superfície plana, como dimensão dois; e um
sólido, como dimensão três.

Um dos diferenciais de uma figura fractal é a irregularidade que


encontramos em curvas, que têm sua dimensão entre um e dois, e
em superfícies, que apresentam dimensão entre dois e três.

Unidade 4 165
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para melhor compreensão, a Figura 4.14 mostra as diferenças da


dimensão topológica, representada pela geometria euclidiana e a
dimensão fractal.

Figura 4.14 - Diferenças entre dimensões


Fonte: Siqueira (2005).

A recente história da geometria dos fractais remete para o


matemático polonês Benoit Mandelbrot, conforme referenciado
anteriormente.

Esse matemático nasceu em Varsóvia, Polônia, no dia 20 de


novembro de 1924, sendo filho de um comerciante de roupas e
uma médica. Aos doze anos, devido à Segunda Guerra Mundial,
sua família emigrou para a França. Lá, a responsabilidade por sua
educação ficou a cargo de seu tio paterno, Szolem Mandelbrot,
que até então era professor de Matemática no Collège de France.
Figura 4.15 - Benoit Mandelbrot
Fonte: Mandelbrot (2005). Mandelbrot cresceu em um meio onde predominava o assunto
“matemática”. Esse fato despertou o seu interesse pelo tema,
especialmente pela Geometria. Essa foi uma ideia não aprovada
pelo seu tio, que trabalhava em análise avançada, estudando o
cálculo. O mesmo apresentava a opinião, que também era a de
outros matemáticos, de que os estudos sobre geometria tinham
chegado ao seu fim, e que o interesse por ela partia apenas de
estudantes amadores.

Na época, com as ocupações que ocorriam devido à guerra, a


família Mandelbrot fazia constantes mudanças de residências,
tornando a escolaridade do jovem menino uma tarefa nada
fácil. Mas, com essas deslocações que fazia junto ao irmão

166
História da Matemática

mais novo, e levando consigo uns poucos livros, ele aprendeu


coisas ao seu jeito, como não fazer nada de modo racional, ou
mesmo insignificante, adquirindo assim sua independência e sua
autoconfiança.

Mandelbrot teve sua carreira acadêmica dividida, principalmente,


entre os Estados Unidos e a França, onde frequentou os melhores
centros como Lycze Rolin, Lyon, École Polytechnique, Sorbonne e
Instituto Californiano de Tecnologia. Foi no ano de 1952 que concluiu
seus estudos na Universidade de Paris, obtendo seu Ph.D., cuja tese
agregou ideias de termodinâmica, da cibernética de Norbert Wiener
e também da Teoria dos Jogos de John von Neumann.

Em 1958, ele aceitou trabalhar no departamento de investigação


da International Business Machines (IBM).

Além de trabalhar na IBM, Mandelbrot foi professor de


Matemática, Engenharia, Economia e também Fisiologia.
Recebeu muitos prêmios e honras, como reconhecimento de
seus feitos notáveis, como por exemplo, a Bernard Medal for
Meritorious Service to Science, em 1985. No ano seguinte, recebeu
a Franklin Medal, em 1988 foi a Steinmetz Medal, no ano de 1991
recebeu a Nevada Medal e, em 1993, o prêmio Wolf de física. E,
em 23 de junho de 1999, atribuído pela University of St Andrews,
Mandelbrot recebeu o Honorary Degree of Doctor of Science.

Mandelbrot teve seus estudos favorecidos por importantes


trabalhos de outros matemáticos, como George Cantor, Giusepe
Peano, David Hilbert, Waclaw Sierpinski, Gaston Julia, Pierre
Fatou e Helge Von Koch, trabalhos esses conhecidos como
precursores.

Dentre os precursores, relataremos fragmentos históricos


importantes de Waclaw Sierpinski e Helge Von Koch.

Waclaw Sierpinski
Waclaw Sierpinski nasceu em 14 de março de 1882 na Polônia.
Figura 4.16 - Waclaw
Filho de médico, revelou seu imenso talento na Matemática e Sierpinski
foi reconhecido rapidamente pelo seu primeiro professor da área. Fonte: Waclaw (2011).

Unidade 4 167
Universidade do Sul de Santa Catarina

Em 1899, Sierpinski entrou para o departamento de Física e


Matemática da Universidade de Warsaw.

Sierpinski teve uma enorme reputação nas décadas de 1920–


1930, chegando ao ponto de uma das crateras lunares receber o
seu nome. Abaixo, serão representados os passos necessários para
a construção do triângulo, tapete e da esponja de Sierpinski.

Triângulo de Sierpinski

O triângulo de Sierpinski é um fractal aproximadamente 40


anos mais jovem que o conjunto de Cantor, e foi apresentado
pelo matemático polonês Waclaw Sierpinski. A seguir, será
demonstrada a construção deste triângulo.

1) Considerar um triângulo equilátero;

Figura 4.17 - Primeiro passo da construção do Triângulo de Sierpinski


Fonte: Triângulo... (2006).

2) Marcar os segmentos dos pontos médios formando quatro


triângulos equiláteros;

Figura 4.18 - Segundo passo da construção do triângulo de Sierpinski


Fonte: Triângulo... (2006).

3) Remover o triângulo central;

Figura 4.19 - Terceiro passo da construção do triângulo de Sierpinski


Fonte: Triângulo... (2006).

168
História da Matemática

Tapete de Sierpinski

Para a construção do tapete de Sierpinski, aplica-se a mesma


técnica de remoção utilizada no triângulo de Sierpinski. As
Figuras 4.20, 4.21 e 4.22 ilustram essa construção.

1) Inicia-se a partir de um quadrado;

Figura 4.20 - Primeiro passo da construção do tapete de Sierpinski


Fonte: Kinouchi (2009).

2) Divide-se o quadrado em nove quadrados congruentes


eliminando o central;

Figura 4.21 - Segundo passo da construção do tapete de Sierpinski


Fonte: Kinouchi (2009).

3) Aplica-se o mesmo procedimento em cada um dos oito


quadrados, e o processo repete-se sucessivamente.

Figura 4.22 - Terceiro passo da construção do tapete de Sierpinski


Fonte: Kinouchi (2009).

Unidade 4 169
Universidade do Sul de Santa Catarina

Esponja de Sierpinski

A Figura 4.23 representa a esponja de Sierpinski ou esponja


de Menger. Ela representa um fractal gerado a partir de um
cubo. Partindo-se do cubo inicial, divide-se em 27 cubos iguais,
tira-se o cubo central e os seis cubos centrais de cada face. Na
sequência, repete-se o processo em cada um dos cubos restantes
indefinidamente.

Figura 4.23 - Esponja de Menger


Fonte: Kinouchi (2009).

Curva de Koch
De acordo com Barbosa (2002), pouco se conhece da vida de
Helge Van Koch, sabe-se apenas que ele foi um matemático
polonês. No período de 1904 e 1906, admitiu uma curva que
recebeu seu nome: “Suer une courbe continues sans tangente, obtenue
par une construction géomètrique élèmentaire”, “Une methode
géomètrique élèmentaire pour courbes planes”.

A curva de Koch foi um excelente exemplo de curva sem


tangente. A seguir, será demonstrado como se realiza a
construção dessa curva.

Construção da curva de Koch

Para realizar a construção da curva de Koch, faz-se necessário


acompanhar os seguintes passos.

1) Considerar um segmento de reta;

Figura 4.24 - Primeiro passo da construção da curva de Koch.


Fonte: Kinouchi (2009).

170
História da Matemática

2) Dividir o segmento em três segmentos iguais;

Figura 4.25 - Segundo passo da construção da curva de Koch


Fonte: Kinouchi (2009).

3) Construir um triângulo equilátero em cada um dos segmentos


da Figura 4.25 em que o segmento central, referido no
primeiro passo, servirá de base;

Figura 4.26 - Terceiro passo da construção da curva de Koch


Fonte: Kinouchi (2009).

4) Substituir cada um dos segmentos de acordo com os passos 2 e 3.

Figura 4.27 - Quarto passo da construção da curva de Koch


Fonte: Kinouchi (2009).

Barbosa (2002) afirma que a curva de Koch é outra curva obtida


realizando cópias de cópias.

Essa curva deu origem a um outro fractal, conhecido como floco


de neve ou ilha de Von Koch, que é um modelo rudimentar da
costa de uma ilha e muito semelhante a um floco de neve.

Unidade 4 171
Universidade do Sul de Santa Catarina

Ilhas de Koch
O mais conhecido Floco de neve de Koch, ou estrela de Koch,
correponde à mesma curva, mas este modelo é construído
partindo-se de um triângulo equilátero e não de um segmento de
reta.

Nas palavras de Mandelbrot, o floco de neve de Koch é “um


modelo grosseiro, mas vigoroso de uma linha costeira”.

É um fractal que, conforme já citado, sua construção parte de um


triângulo equilátero com lados de tamanho 1. Ao meio de cada
lado, adiciona-se um novo triângulo equilátero com um terço do
tamanho, e assim por diante, como se pode verificar na Figura
seguinte 4.28. Contudo, a área permanece menor que a área do
círculo que circunda o triângulo original.

Portanto, uma linha infinitamente longa é rodeada por uma área


finita.

Figura 4.28 - Ilha de Koch


Fonte: Kinouchi (2009).

172
História da Matemática

Você sabia?
Os fractais podem ser aplicados em diversas áreas
da Medicina, como Epidemiologia, Oncologia e
Cardiologia.
Na Oncologia, de acordo com Lopes e Pantaleão
(2000), os fractais são utilizados na análise de tumores
cerebrais in vitro:

Tumour profiles were traced at


- 239h, - 296h, - 345h,
- 407h, - 432h, after the start
of the experimente (see text)

Figura 4.29 - Tumor cerebral


Fonte: Lopes e Pantaleão (2000).

De acordo com os autores, a técnica fractal aplicada determina


a dimensão fractal do tumor em diferentes escalas. Esta técnica
facilita os pesquisadores, pois auxilia na detecção de tumores
mesmo em sua fase inicial.

Os autores ainda destacam que com a técnica da dimensão


fractal, pode-se diferenciar melhor os tumores benignos
dos malignos, pelo fato desses últimos possuírem maior
irregularidade em seu contorno. A dimensão fractal dos
contornos classifica os tumores malignos e benignos, e também
detecta o estágio em que se encontram.

Figura 4.30 - Tumores benignos e malignos


Fonte: Lopes e Pantaleão (2000).

Unidade 4 173
Universidade do Sul de Santa Catarina

Síntese

Nesta unidade, você conheceu outras geometrias além da


euclidiana. No entanto, deve ter observado que em nenhum
momento a geometria euclidiana perdeu sua validade, ou seja,
seus axiomas e postulados não deixaram de ser verdadeiros.

Como você deve ter observado na sua leitura, nas Idades Média,
Moderna e Contemporânea a geometria inaugura um novo
tempo.

Com o advento da Modernidade, os estudos da geometria


interferem, principalmente, nas obras de arte, nas representações
das grandezas variáveis em um plano.

Ela deixa de ser exclusivamente sobre um único espaço, o


euclidiano, e passa a ser estudada sob outros olhares. Nasce assim
a geometria não euclidiana e a dos fractais, cujos fundamentos
foram discutidos no texto que você acabou de estudar.

Assim, o estudo dos objetos da geometria proporcionaram o


desenvolvimento da trigonometria.

Atividades de autoavaliação
1) Durante muitos séculos, o ser humano teve uma única visão de espaço:
a euclidiana. Buscando demonstrar o quinto postulado de Euclides, no
século XIX são inventadas outras geometrias. Cite essas geometrias,
seus criadores e suas principais características.

2) A geometria projetiva surge com as dificuldades dos artistas do


Renascimento em dar aos quadros que pintavam uma forma real dos
objetos inspirados, de modo que as pessoas, ao olharem, identificasse
-osem dificuldades. Isso levou os artistas a estudarem profundamente
as leis que determinassem a construção dessas projeções. Com
esses estudos, eles chegaram à teoria fundamental da perspectiva
geométrica, que se expandiu por um pequeno grupo de matemáticos
franceses, motivados por Gerard Desargues. Cite as principais razões
que motivaram Desargues a desenvolver a geometria projetiva.

174
História da Matemática

3) A geometria analítica foi criada principalmente pelos matemáticos


René Descartes e Pierre de Fermat, a fim de estabelecer relações
entre a Álgebra e a Geometria e métodos que auxiliam a resolução de
vários problemas. Por meio da geometria analítica, pode-se estudar
as propriedades de uma figura, utilizando-se de processos algébricos.
Contudo, é importante considerar que a geometria analítica, como
é hoje, pouco se assemelha às contribuições deixadas por esses
matemáticos, pois sua marca mais característica, um par de eixos
ortogonais, não foi usada por nenhum deles. Mas cada um a seu modo
sabia que a ideia central era associar equações a curvas e superfícies.
A partir dessas considerações, proponha uma atividade que relacione
a álgebra com a geometria, para ser desenvolvida em uma série do
ensino médio.

Saiba mais

Para saber como calcular a dimensão fractal, leia Descobrindo a


Geometria Fractal para a sala de aula de Ruy Madsen Barbosa.
Editora Autêntica, 2002, p. 66-69.

Unidade 4 175
5
UNIDADE 5

O estudo da trigonometria nos


diferentes tempos históricos

Objetivos de aprendizagem
„ Identificar os elementos precursores do
desenvolvimento da trigonometria.
„ Destacar os principais matemáticos que contribuíram
nos estudos da trigonometria.
„ Caracterizar a trigonometria como uma área de
conhecimento presente nos diferentes tempos
históricos.
„ Reconhecer a primeira razão trigonométrica elaborada.

Seções de estudo
Seção 1 Origem da trigonometria
Seção 2 Principais matemáticos que contribuíram
para o desenvolvimento da trigonometria
Seção 3 A primeira razão trigonométrica: seno
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


A Matemática edificou-se à medida que a humanidade foi se
desenvolvendo e exigindo o domíno de novos conhecimentos.
Com a trigonometria não foi diferente.

O desafio desta unidade para você, a partir de seu estudo, é


conhecer as principais situações que levaram ao desenvolvimento
da trigonometria, bem como conhecer os matemáticos envolvidos
nessa grande descoberta.

Sabe-se que a trigonometria envolve o conhecimento da medida de


ângulos e lados dos triângulos, mas não é só. Então, vamos iniciar
nossos estudos buscando entender por que a Trigonometria se
desenvolveu como um importantíssimo ramo da Matemática e está
presente de forma contundente na nossa realidade.

O conhecimento da história da trigonometria facilitará também a


sua atuação em sala de aula como educador.

Bons estudos e sucesso nesta unidade! Não esqueça, qualquer


dúvida, entre em contato com o seu professor.

Seção 1 – Origem da trigonometria


De acordo com registros, a primeira civilização a utilizar a
trigonometria foi a dos egípcios, seguidos dos babilônicos e chineses.

Dois conceitos marcam o início da trigonometria. São eles: razão


entre dois números e triângulos semelhantes. São conceitos em
que os matemáticos da Antiguidade se fundamentavam para
calcular a altura de pirâmides, a largura de rios, a altura das
montanhas, bem como os problemas gerados pela Astronomia,
agrimensura e navegação.

No Egito, pode-se confirmar a presença da trigonometria com o


papiro de Ahmes. Nele, relata-se a importância na construção de
pirâmides de manter uma inclinação constante das faces, o que

178
História da Matemática

levou os egípcios a introduzirem o conceito de seqt de um ângulo.


O seqt de um ângulo representava a razão entre o afastamento
horizontal e a elevação vertical da pirâmide.

Além disso, os egípcios também tiveram a ideia de associar


sombras projetadas por uma vara vertical às sequências
numéricas, relacionando, assim, o comprimento da vara com
as horas do dia, formando um relógio de sol, que poderia ser
chamado de gnômon. Podemos dizer, então, que tais ideias
estavam anunciando a chegada, séculos depois, dos conceitos de
função tangente e cotangente de um ângulo.

Na Babilônia, a trigonometria foi utilizada associada à


religiosidade e à ciência. Para isso, eram elaborados calendários
de plantio e de astrologia, estudadas as fases da lua, os pontos
cardeais e até as estações do ano.

Na China antiga também se constatou o uso da trigonometria por


volta de 1110 a.C. Os triângulos retângulos eram frequentemente
usados para medir distâncias, comprimentos e profundidades.
Evidências indicam, também, que a medida de ângulo e suas
relações trigonométricas já estavam presentes entre os chineses
durante o reinado de Chóupei Suan-King. Na literatura
chinesa encontramos uma frase que podemos traduzir por: “o
conhecimento vem da sombra e a sombra vem do gnômon”.

O conhecimento trigonométrico, utilizado pelos egípcios,


babilônicos e chineses, foi repassado aos gregos, que vieram a
superar os seus mestres. Na Grécia, a trigonometria teve um
grande desenvolvimento e a civilização grega passou a servir de
preceptora a todas as nações.

Sendo assim, na próxima seção abordaremos três matemáticos


gregos que contribuíram para o desenvolvimento da
trigonometria: Eratóstenes, Hiparco e Ptolomeu.

Você sabia?
A palavra trigonometria vem do grego Tri = três,
gono = ângulo e metrien = medida, que significa medida
dos ângulos de um triângulo. A trigonometria determina
um ramo da Matemática que estuda a relação entre as
medidas dos lados e dos ângulos de um triângulo.

Unidade 5 179
Universidade do Sul de Santa Catarina

Seção 2 - Principais matemáticos que contribuíram


para o desenvolvimento da trigonometria

Eratóstenes
Natural de Cirene, colônia grega a oeste do Egito, Eratóstenes
(276-196) viveu parte da juventude em Atenas, onde estudou na
escola de Platão e foi singularmente talentoso em todos os ramos
do conhecimento de seu tempo. Destacou-se como matemático,
astrônomo, geógrafo, historiador, filósofo, poeta e atleta.
Quando tinha cerca de quarenta anos de idade, foi convidado por
Ptolomeu III do Egito a mudar-se para Alexandria e ser tutor de
Figura 5.1 - Eratóstenes seu filho e bibliotecário chefe da universidade local.
Fonte: Eratóstenes (2006).
Esse matemático não conseguiu ser pioneiro em nenhuma das
atividades que desenvolveu, por isso era conhecido como β (beta), a
segunda letra do alfabeto grego, deixando claro que o reconheciam
como o segundo em tudo. Porém, foi Eratóstenes que fez a primeira
demonstração do tamanho do círculo máximo da terra, por meio da
análise das sombras projetadas por colunas verticais localizadas nas
cidades de Alexandria e Siena, na época chamada Assuan.

Eratóstenes sabia o dia exato em que ocorreria o solstício de verão


na cidade de Assuan, às margens do Nilo. Nesse dia, ele poderia
observar perfeitamente as águas de um poço, pois o mesmo
ficaria completamente iluminado pelos raios solares. Também
observou que no mesmo dia e horário as colunas verticais da
cidade de Alexandria projetavam uma sombra perfeitamente
mensurável, conforme Figura 5.2.

Figura 5.2 - Raios solares


Fonte: Ferreira, Veloso, Bastos (2006).

180
História da Matemática

Ele aguardou até o dia 21 de junho, dia do solstício de verão em


Assuan, e fez uma experiência. Solicitou que fosse fincada uma
vareta verticalmente em Alexandria, ao meio-dia, ao mesmo
tempo que em Assuan. Eratóstenes, então, mediu o ângulo de
inclinação desses raios solares. A partir dessas informações, ele
pôde afirmar que a Terra possui forma esférica.

Figura 5.3 - Comparação das sombras


Fonte: Astro World Brasil (2011).

Vamos acompanhar o raciocínio de Eratóstenes.

Ele mediu o ângulo formado entre a vareta e a sombra em


Alexandria, pois em Assuan não havia sombra. As retas r e s são
paralelas, já que os raios do sol são aproximadamente paralelos.
Como as duas retas paralelas são interceptadas por uma reta
^ ^
transversal, os ângulos a e b são congruentes. Note que o
^
ângulo a é formado pela vareta e sua sombra em Alexandria,
^
e o ângulo b é o ângulo formado no centro da Terra, pelo
prolongamento das varetas fixadas em Alexandria e Assuan.

Figura 5.4 - Raciocínio de Eratóstenes


Fonte: Guelli (2003).

Unidade 5 181
Universidade do Sul de Santa Catarina

^
Eratóstenes mediu e concluiu que o ângulo a formado era de
1
7,2º, que corresponde aproximadamente avos dos 360º de
50
circunferência da Terra.

^ ^
Como a = b , a distância entre Assuan e Alexandria também era
de 1 da circunferência da Terra.
50

Portanto, o comprimento do mediterrâneo terrestre deveria ser


50 vezes a distância entre Alexandria e Assuan. As duas cidades
situavam-se a uma distância desconhecida, então, Eratóstenes,
com uma equipe de instrutores, fez a medição obtendo 5000
stadium de distância entre as cidades. Então, observe que:

360∫ → x
1
.360∫ → 5000 stadium
50
1.800.000
x=
7, 2
x = 250.000 stadium

Eratóstenes concluiu, dessa forma, que a circunferência da Terra


era de aproximadamente 250.000 stadium.

O stadium, antiga medida grega, valia:

1Km = 6, 3 stadium

Logo:

1Km → 6, 3 stadium
x → 250.000 stadium
250.000
x=
6, 3
x = 39.682, 53 Km

182
História da Matemática

O valor encontrado por Eratóstenes para a medida da


circunferência da Terra foi 39.682,53 Km, a qual aproximou-se
muito do valor real que é de 40.076 km.

Saiba mais
Outra contribuição de Eratóstenes, não relacionada
com a trigonometria, mas bem conhecida dos
matemáticos é o “Crivo de Eratóstenes”, um método
sistemático para isolar números primos entre um
determinado conjunto de valores.
Para exemplificar, vamos determinar os números
primos entre 1 e 30.
„ Inicialmente, identifica-se a raiz quadrada do maior
número da relação, que no caso é 30: 30 = 5, 48 .
Tomemos apenas a parte inteira do número, que é 5.
„ Eliminaremos o número 1 e os demais números não
primos.
„ O 2 será o primeiro número da sequência, é primo,
pois embora seja par, nenhum outro número o
divide a não ser a unidade.
„ Em seguida, identificam-se os múltiplos de 2 e
retiram-se da lista. Na sequência, identifica-se o
próximo número primo e eliminam-se novamente
seus múltiplos e assim sucessivamente, até
chegarmos ao número cinco, que é o nosso para a
eliminação de múltiplos.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

Quadro 5.1 - Crivo de Eratóstenes


Veja que os números primos entre 1 e 30 são: 2, 3, 5, 7,
11, 13, 17, 19, 23 e 29.
O Crivo de Eratóstenes evidencia um processo
de determinação dos números primos a partir da
sequência numérica dos números naturais.

Unidade 5 183
Universidade do Sul de Santa Catarina

Hiparco de Nicéia
Hiparco foi astrônomo, construtor, cartógrafo e matemático.
Viveu na Grécia entre os anos de 180 e 125 a.C., foi fortemente
influenciado pela matemática da Babilônia. Assim sendo, ele
também acreditava que a melhor base para realizar contagens era
a base 60, e foi por isto que ao dividir a circunferência, utilizou
um múltiplo de 60.
Figura 5.5 - Hiparco de Nicéia A circunferência foi dividida em 360 partes iguais e cada uma
Fonte: Oliveira Filho e Saraiva
(2010). dessas partes recebeu o nome de arco de 1 grau. Cada arco de um
grau foi dividido em 60 partes iguais e cada uma dessas partes
recebeu o nome de arco de 1 minuto. Cada arco de 1 minuto
também foi dividido em 60 arcos de 1 segundo.

Com a circunferência de 360º, ficou fácil criar uma unidade de


medida para os ângulos. Observe a Figura 5.6.

Equinócios da primavera e do
outono são os dois únicos dias do Figura 5.6 - Arco de 1 grau
ano em que o dia e a noite têm a Fonte: Guelli (2003).
mesma duração.A precessão dos
equinócios foi uma descoberta de
Hiparco. Ela corresponde à posição
O ângulo de 1 grau é um ângulo que determina um arco de um
ocupada pelo sol em relação às grau em qualquer circunferência com centro no vértice desse
estrelas fixas na entrada do outono ângulo.
e da primavera; esta posição é
denominada ponto equinocial. Tudo o que se sabe sobre as realizações científicas de Hiparco
provém de fontes indiretas. As consideradas mais importantes
foram no campo da trigonometria, em que o comentador Têon
de Alexandria atribui a Hiparco um tratado em doze livros que
se ocupa da construção de uma tábua de cordas.

184
História da Matemática

Você sabia?
Em uma circunferência, a distância entre dois pontos
quaisquer A e B é chamada de corda.
Hiparco construiu uma tabela com os valores
das cordas de uma série de ângulos de 0º a
180º, considerada precursora das atuais tabelas
trigonométricas, representando um grande avanço
para Astronomia, e valeu a Hiparco o título de pai da
trigonometria.

Ptolomeu
Entre 85 d.C. e 165 d.C., Alexandria produziu o grande
geômetra, filósofo e astrônomo Claudio Ptolomeu. O nome desse
astrônomo alexandrino – Claidious Ptilomeus – tem origem
grega, pouco se sabe sobre sua vida.

Com seus estudos e livros, Ptolomeu contribuiu para todos


os ramos do saber científico, mas se destacou fortemente na
Figura 5.7 - Ptolomeu
trigonometria. Infelizmente, parte de seus escritos se perderam, Fonte: Ptolomeu (2006).
mas os que restam são suficientes para documentar a importância
de seu trabalho.

Sua obra mais importante é um tratado, com treze livros,


denominada Síntese matemática, conhecida até hoje como
Almagesto, que significa “o maior de todos”. No Almagesto
encontramos uma tabela trigonométrica bem mais completa que
a de Hiparco, onde são fornecidas as medidas das cordas de uma
circunferência para ângulos que variam de meio em meio grau,
entre 0º e 180º.

Em todos os seus cálculos, Ptolomeu utilizou uma circunferência


com raio de 60 unidades e determinou as cordas correspondentes
aos ângulos de 90º, 60º e 120º, que indicava por crd 90º, crd 60º
e crd 120º, respectivamente.

Unidade 5 185
Universidade do Sul de Santa Catarina

A Figura 5.8 ilustra como Ptolomeu calculou a corda de 90º.

Figura 5.8 - Corda de 90º

Para calcular essa corda, usamos o teorema de Pitágoras.

( crd 90 ) 0 2
= r2 + r2

( crd 90 ) 0 2
= 2r 2

crd 900 = 2r 2

crd 900 = r 2

crd900 = 60 2

Vejamos, agora, o cálculo da corda de 60º, na Figura 5.9.

Figura 5.9 - Corda de 60º

Ptolomeu concluiu que o triângulo era equilátero, portanto, a


corda crd 60º = 60.

186
História da Matemática

Na sequência, Ptolomeu calculou o valor da corda do suplemento


do ângulo de 60º. Acompanhe seu raciocínio na Figura 5.10.

Figura 5.10 - Corda de 120º

( crd120 ) + ( crd 60 ) = ( r + r )
0 2 0 2 2

Como crd 60º é igual ao raio r, temos:

( crd120 ) 0 2
+ r 2 = ( 2r )
2

( crd120 ) 0 2
= 4r 2 − r 2

( crd120 ) 0 2
= 3r 2

crd1200 = 3r 2
crd1200 = r 3
crd1200 = 60 3

Embora não fizesse uso dos termos seno e co-seno, mas


das cordas, Ptolomeu utilizou o que pode ser considerado o
prenúncio da conhecida relação fundamental . Semelhantemente,
em termos de cordas, esse matemático também conhecia as
propriedades que, em linguagem atual, são:

sen ( x + y ) = senx.cos y + seny.cos x


sen ( x − y ) = senx.cos y − seny.cos x
coss ( x − y ) = cos x.cos y + senx.seny
cos ( x + y ) = cos x.cos y + senx.seny

Unidade 5 187
Universidade do Sul de Santa Catarina

Saiba mais
Para você inteirar-se melhor a respeito do Almagesto
de Ptolomeu, sugerimos que faça a leitura das páginas
28, 29 e 30 do livro Tópicos de História da Matemática
para uso em sala de aula: Trigonometria, cujo autor é
Edward S. Kennedy. Editora Atual.

Seção 3 – A primeira razão trigonométrica: seno


No final do século IV, começou a surgir na Índia um conjunto de
textos matemáticos denominados Siddhanta, cujo significado é
sistemas de astronomia. Apenas no século VIII é que os cientistas
voltaram sua atenção para os hindus, um povo que sempre
surpreendera o mundo com sua Matemática original e significativa.

O Siddhanta, também conhecido por Surya Siddhanta – sistema


do sol –, foi escrito em versos na língua sânscrita, apresentava
regras enigmáticas de Astronomia com raríssimas explicações.
Essa obra abriu as portas para a trigonometria, por não ter
seguido o mesmo pensamento de Ptolomeu, que relacionava as
cordas de um círculo com ângulos centrais correspondentes. Para
os hindus, era necessário apresentar a trigonometria baseada na
relação entre a metade da corda, chamada por esse povo de jiva,
e a metade do ângulo central, pois assim poderiam trabalhar com
triângulo retângulo. Observe a Figura 5.11.

Figura 5.11 - Meia corda

188
História da Matemática

Os estudos de Al Battani, matemático árabe fundador da escola


de Bagdá no século IX, ficaram entre o Almagesto e Siddhanta.
Esse matemático influenciou, significativamente, na adoção da
trigonometria hindu pelos árabes, principalmente a partir da sua
genial ideia de introduzir o círculo de raio unitário. Com isso
demonstrou que a razão jiva é válida para qualquer triângulo
retângulo, independente do valor da hipotenusa.

Com essas ideias, novas tabelas trigonométricas foram elaboradas


a
com o valor da corda correspondente a , sendo interpretado
2
como a razão:
cateto oposto
= jiva
hipotenusa

Que pode ser escrito:


cateto oposto jiva
=
hipotenusa 1

Essa razão passaria a se chamar seno. O primeiro aparecimento


real do seno de um ângulo se deu no desenvolvimento de um
trabalho dos hindus. O seno era chamado de jya ou jiva, uma
das grafias para a palavra “corda” em hindu. Partindo de jya, os
árabes foneticamente derivaram jiba que, devido à prática entre
eles de se omitir as vogais, escrevia-se jb. Na sua tradução do
árabe para o latim, Gerardo de Cremona interpretou jb como
sendo as consoantes da palavra jaib, que em latim significa baía
ou enseada, e escreve-se sinos, de onde vem a palavra atual seno.

A partir daí, a razão entre o cateto oposto e a hipotenusa passou


a se chamar seno. Toda a trigonometria que estudamos hoje
fundamenta-se no seno dos hindus. Deve-se a Edmund Gunter,
no século XVII, o termo co-seno para o seno do complemento
de um ângulo. Gunter sugeriu combinar os termos complemento
e seno em co-sinos, que logo foi modificado para cosinos, que em
português é co-seno.

Enquanto os conceitos de seno e co-seno foram originados pelos


problemas relativos à Astronomia, a tangente e co-tangente
surgiram das necessidades de medição de alturas e distâncias,
sem estarem associadas a ângulos.

Unidade 5 189
Universidade do Sul de Santa Catarina

Síntese
Com a leitura desta unidade, você teve a oportunidade
de conhecer alguns aspectos importantes relacionados ao
desenvolvimento da trigonometria. Você estudou que ela
desenvolveu-se a partir de necessidades no desenvolvimento
de atividades relacionadas com a Astronomia, agrimensura e
navegação.

O contato com os objetos da geometria, agora envolvendo razão


de semelhança e a necessidade de inclinações constantes, como
as faces das pirâmides levaram ao desenvolvimento da noção de
ângulo.

A palavra trigonometria relaciona-se com a medida dos ângulos


de um triângulo, inaugurando um novo ramo da Matemática,
que estuda a relação entre as medidas dos lados e dos ângulos de
um triângulo.

Buscando entender essas relações, o estudo da trigonometria


aconteceu com as contribuições de muitos matemáticos. Nós
destacamos alguns que você ficou conhecendo na sua leitura.

Esperamos que você utilize esses recortes históricos em suas


aulas, quando estiver no exercício de sua profissão, mostrando aos
alunos a importância da Matemática na história da humanidade.

Desejamos a você sucesso!

190
História da Matemática

Atividades de autoavaliação
1) A trigonometria constituiu-se em um campo conceitual da Matemática
a partir dos estudos dos ângulos e triângulos. Quais os conceitos que
marcam o início da trigonometria? Explique.
2) Eratóstenes, Hiparco e Ptolomeu foram os principais matemáticos que
contribuíram para o desenvolvimento da trigonometria. Destaque as
principais contibuições desses matemáticos para este campo conceitual
da Matemática.
3) A trigonometria constituiu-se, principalmente, a partir de duas grandes
obras: Almagesto de Ptolomeu e o Siddhanta dos hindus. Diferencie o
desenvolvimento da trigonometria apresentado nessas duas obras.
4) A primeira razão trigonométrica sistematizada foi o seno. Descreva a
construção histórica dessa razão.

Saiba mais

Sobre o Almagesto de Ptolomeu, sugerimos que faça a leitura das


páginas 28, 29 e 30 do livro Tópicos de História da Matemática
para Uso em Sala de Aula: Trigonometria, cujo autor é Edward S.
Kennedy. Editora Atual, 1994.

Unidade 5 191
6
UNIDADE 6

Uma visão geral da história da


álgebra

Objetivos de aprendizagem
„ Reconhecer a presença da álgebra nas diferentes
civilizações.
„ Destacar os principais matemáticos que contribuíram
nos estudos da álgebra.
„ Caracterizar a álgebra como a área de conhecimento
da Matemática responsável pela formalização dessa
disciplina.
„ Reconhecer a álgebra como a linguagem formal da
Matemática.
„ Identificar as equações como a linguagem da álgebra
nos diferentes tempos.
„ Caracterizar as diferentes álgebras desenvolvidas em
cada civilização.

Seções de estudo
Seção 1 Egito: as equações da Antiguidade
Seção 2 Álgebra babilônica: o estilo retórico
Seção 3 Grécia: a álgebra geométrica
Seção 4 Índia e Arábia: a álgebra dos versos
Seção 5 A álgebra moderna e contemporânea
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Com o estudo desta unidade, você entrará em contato com o
mais recente campo da Matemática que foi formalizado - a
álgebra. O estudo dela, principalmente relacionado com a solução
das equações, desafiou o ser humano desde a Antiguidade.

Lidar com números negativos, em seus diferentes aspectos,


por exemplo, representou muitos séculos de dedicação. Os
primeiros algebristas procuravam abandonar as situações que
envolvessem tais números. No entanto, como em qualquer área
de conhecimento, sempre há aqueles que persistem em estudar o
diferente. Assim, à medida que foram aparecendo equações que
exigiam soluções diferentes de números inteiros ou racionais,
os matemáticos de cada época buscaram possíveis soluções
envolvendo tais situações.

Muitas vezes, suas conclusões não representavam verdades, mas


proporcionavam que outros matemáticos, ao descobrir o suposto
“erro”, iniciassem novos estudos e possibilidades de solução para o
problema proposto.

Assim, nesta unidade oferecemos a você a oportunidade de


conhecer algumas dessas situações em que o desenvolvimento
da álgebra constituiu-se um conjunto de estudos, realizado
por diferentes matemáticos, em diferentes tempos e espaços,
culminando com o que conhecemos por álgebra moderna.

Assim, da álgebra elementar até a moderna há uma riquíssima


história de dedicação e estudo de diferentes personalidades
matemáticas.

Bons estudos!

194
História da Matemática

Seção 1 - Egito: as equações da Antiguidade


No Egito, os estudos relacionados com a álgebra surgiram quase
que ao mesmo tempo que na Babilônia. A maior parte dos
problemas do Papiro de Ahmes refere-se a assuntos do dia a dia
dos antigos egípcios, que lidavam com questões envolvendo o pão
e a cerveja, balanceamento de rações para gado e aves domésticas e
armazenamento de grãos. Havia outros problemas desse papiro que
não se referiam a situações concretas, mas aos próprios números.

A resolução de alguns desses problemas exigia a solução de equações


lineares da forma x + ax = b ou x + ax + bx = c, onde a, b e c são
conhecidos e x é desconhecido. Segundo Boyer (1974), a incógnita
era chamada de “aha”, que para Guelli (2003) significa “montão”.

Os egípcios não usavam a álgebra, mas acredita-se que conseguiam


resolver esses problemas por meio de um método conhecido, mais
tarde, como método de falsa posição ou regra do falso.

O problema de número 24 do Papiro de Ahmes solicita: “o valor


de aha sabendo que aha mais um sétimo de aha dão 19”.

Hoje, podemos traduzir este problema para a álgebra, por meio


desta equação:

1
x+ x = 19
7

Inicialmente, atribuíam para aha um valor falso, por exemplo, o 7,


e resolviam as operações à esquerda do sinal de igualdade sobre esse
suposto número. O resultado era, então, comparado com o resultado
pretendido, e usando proporções chegava-se à resposta correta.

Acompanhe como Ahmes utilizou a regra do falso para encontrar


a solução deste problema:

1
x+ x=
7
1
= 7 + .7 =
7
= 7 +1 =
=8

Unidade 6 195
Universidade do Sul de Santa Catarina

Os valores falsos 7 e 8 eram, então, usados para montar a


proporção com os elementos do problema. Observe a Tabela 6.1.

Tabela 6.1- Regra do falso 1

Valor falso Valor verdadeiro


7 Aha ou montão
8 19

7 aha
=
8 19
aha.8 = 7.19
aha.8 = 133
133
aha =
8
aha − 16, 625

Matemáticos de várias partes do mundo adotaram a regra do


falso 1 dos egípcios. Acompanhe este famoso quebra-cabeça
hindu do século VII.

Um colar se rompeu quando brincavam dois


namorados
Uma fileira de pérolas escapou
A sexta parte ao solo caiu
A quinta parte na cama ficou
Um terço pela jovem se salvou
A décima parte o namorado recolheu
E com seis pérolas o colar ficou
Diga-me leitor, quantas pérolas tinha o colar dos
namorados?

Traduzindo este problema para a linguagem moderna, temos a


seguinte equação:

x x x x
x− − − − =6
6 5 3 10

196
História da Matemática

Esse famoso problema era também resolvido utilizando a regra


do falso, em que o montão ou aha representava a quantidade de
pérolas do colar.

O valor falso escolhido pode ser 60, que substituído no primeiro


membro da igualdade resulta em:

60 60 60 60
60 − − − − =
6 5 3 10
= 60 − 10 − 12 − 20 − 6 =
= 12

Utilizando os dados do problema, tem-se a seguinte proporção.


Note a tabela 6.2.
Tabela 6.2 - Regra do falso 2

Valor falso Valor verdadeiro


60 Aha ou montão
12 6

60 aha
=
12 6
12aha = 360
360
aha =
12
aha = 30

Observe que 30 era o número de pérolas do colar dos namorados.


A álgebra no Egito era escrita no estilo retórico, isto é, verbal. As
expressões eram escritas totalmente em palavras.

Curiosidade
Os egípcios representavam a adição e a subtração
por diversos sinais. Segundo Eves (2004), na Álgebra
egípcia existiam símbolos para mais e menos,
esses registrados no papiro de Ahmes. Em geral,
nos hieróglifos apareciam duas pequenas pernas
de avestruz entre os sinais numéricos. Quando os
pés estavam voltados para a direção da escrita,
representavam mais; quando voltados na direção
oposta, representavam menos.

Unidade 6 197
Universidade do Sul de Santa Catarina

Seção 2 - Álgebra babilônica: o estilo retórico


Provavelmente, a álgebra se originou na Babilônia, sendo
utilizado o estilo retórico para escrever as equações.

Os babilônios resolviam equações quadráticas por um método


equivalente ao de substituição em uma fórmula geral ou por outro
de completar quadrados. Também discutiam algumas equações
de grau três e biquadradas.

Encontrou-se uma tabela que os babilônios achavam muito


útil, correspondendo à tabulação dos valores n3+n2 para valores
inteiros de n. Essa tabela foi essencial para a álgebra babilônica.

Não usavam letras para quantidades desconhecidas, pois o


alfabeto ainda não tinha sido inventado, mas palavras como
“comprimento”, “largura”, “área” e “volume” eram utilizadas para
representar termos desconhecidos.

Os escribas da Babilônia resolviam com muita eficiência diversas


equações do 20 grau, com três termos que podiam ser expressas
na forma hoje representada como: x2 – bx = c.

A solução dessa equação equivale exatamente à fórmula:

2
⎛b⎞ b
x = ⎜ ⎟ +c +
⎝2⎠ 2

Observe como se chegou a essa fórmula.

x2 – bx = c
2
⎛b⎞
Somar ⎜ ⎟ em ambos os lados da igualdade, fica, assim, escrita a
⎝2⎠
equação:
2 2
⎛b⎞ ⎛b⎞
x 2 − bx + ⎜ ⎟ = c + ⎜ ⎟
⎝2⎠ ⎝2⎠

O primeiro membro é um trinômio quadrado perfeito, cuja forma


2
⎛ b⎞
fatorada é: ⎜ x − ⎟ ;
⎝ 2⎠

198
História da Matemática

Reescrevendo, tem-se:
2 2
⎛ b⎞ ⎛b⎞
⎜x− ⎟ = c+⎜ ⎟
⎝ 2⎠ ⎝2⎠

Extraindo a raiz quadrada do segundo membro, tem-se:

2
⎛ b⎞ ⎛b⎞
⎜x− ⎟ = c+⎜ ⎟
⎝ 2⎠ ⎝2⎠

Isolando x:
2
⎛b⎞ b
x = ⎜ ⎟ +c +
⎝2⎠ 2

Alicerçado nessa fórmula, o escriba babilônico resolvia o seguinte


problema:

Qual é o lado de um terreno quadrado, se a área menos o lado é 12?

A solução deste problema equivale a resolver a equação x2 – x = 12.

A Tabela 6.3 mostra a resolução pela forma retórica e pela


fórmula algébrica.

Tabela 6.3 - Resolução da equação x2 – x = 12

Forma retórica Fórmula algébrica

b b
2
⎛1⎞
Como a metade de um é meio, x = ⎜ ⎟ + c + = (0, 5) 2 + c +
⎝2⎠ 2 2

b
multiplique meio por meio, x = (0, 5).(0, 5) + c +
2

b
o que dá vinte e cinco centésimos. x = 0, 25 + c +
2

b
Some isto a doze x = 0, 25 + 12 +
2
continua...

Unidade 6 199
Universidade do Sul de Santa Catarina

Forma retórica Fórmula algébrica

para encontrar doze inteiros e vinte e cinco b


x = 12, 25 +
centésimos. 2

Este número é o quadrado de três inteiros e b


x = 3, 5 +
cinco décimos. 2

Agora, some a metade de um a três inteiros 1


x = 3, 5 + = 3, 5 + 0, 5
e cinco décimos, 2

para descobrir que o lado do quadrado vale x=4


quatro.

Segundo Boyer (1974), até os tempos modernos não havia ideia


de resolver uma equação quadrática da forma x2 + px + q = 0,
onde p e q são positivos, pois a equação não tem raiz positiva. Por
isso, as equações na Antiguidade, na Idade Média e mesmo no
início do período moderno foram classificadas em três tipos:

„ x2 + px = q

„ x2 = px + q

„ x2 + q = px

Essas equações são encontradas em textos do período babilônico


antigo, de uns 4.000 anos atrás.

Saiba mais
Aprofunde seus conhecimentos relacionados a essas
equações lendo Boyer (1974), p. 22 a 31.

Seção 3 - Grécia: a álgebra geométrica


A álgebra grega, que foi formulada pelos pitagóricos e por
Euclides, era geométrica. A álgebra de Euclides utilizava
segmentos de reta, quadrados, retângulos, triângulos e outras
figuras geométricas para representar elementos desconhecidos.

200
História da Matemática

Acompanhe a resolução de um caso clássico de álgebra, de


acordo com a álgebra geométrica de Euclides.

O que nós escrevemos como (a + b)2 = a2 + 2ab + b2 era concebido


pelos gregos em termos do diagrama representado na Figura 6.1,
enunciado por Euclides em Elementos, livro II, proposição 4
como:

Se uma linha reta é dividida em duas partes quaisquer, o


quadrado sobre a linha toda é igual aos quadrados sobre
as duas partes, junto com duas vezes o retângulo que as
partes contêm.

Figura 6.1 - Construção geométrica de (a + b)2


Fonte: Guelli (2003).

De forma semelhante, também a diferença de dois quadrados


a2 – b2 = (a + b) . (a – b) era traduzida para a linguagem da
geometria. Euclides visualizava concretamente esse produto
notável por meio da construção geométrica representada na
Figura 6.2.

Figura 6.2 - Construção geométrica de (a + b) . (a – b)


Fonte: Boyer (1974).

Unidade 6 201
Universidade do Sul de Santa Catarina

Segundo Guelli (2003), a álgebra geométrica dos matemáticos


gregos não tinha resposta para vários problemas, então, por
volta do ano 400 da Era Cristã surge Diofanto, um estudioso
de Alexandria, que começa a mudar todo o panorama da
Matemática com a criação dos primeiros símbolos matemáticos,
inicialmente utilizando a abreviação de palavras.

Diofanto de Alexandria teve uma importância enorme para o


desenvolvimento da Álgebra ao introduzir o estilo sincopado de
escrever equações. Na álgebra sincopada, algumas expressões vêm
escritas em palavras e outras são abreviadas.

Nada se sabe, com certeza, acerca da nacionalidade de Diofanto


e da época certa em que viveu, mas a maioria dos historiadores
tende a situá-lo no século III de nossa era.

Uma das melhores fontes de problemas algébricos gregos é a


coleção conhecida como Palatine ou Antologia Grega, que contém
quarenta e seis problemas numéricos, em forma abreviada,
reunida por volta de 500 d.C. Nesta coleção, existe um quebra-
cabeça em versos que diz o seguinte:

Aqui jaz Diofanto. Maravilhosa habilidade – Pela arte da


álgebra a lápide nos diz sua idade:
Deus lhe deu um sexto da vida como infante,
Um duodécimo mais como jovem, de barba abundante;
E ainda uma sétima parte antes do casamento;
Em cinco anos nasce-lhe vigoroso rebento
Lástima! O filho do mestre e sábio do mundo e vai
Morreu quando da metade da idade final do pai
Quatro anos mais de estudos consolam-no do pesar;
Para então, deixando a terra, também ele alívio encontrar.

Se esse enigma é historicamente exato, Diofanto viveu oitenta e


quatro anos. Na linguagem moderna, o enigma é traduzido da
seguinte forma:

x x x x
x= + + +5+ + 4
6 12 7 2

202
História da Matemática

Realizando os cálculos necessários, chegamos ao valor de x = 84,


que representa o tempo que Diofanto viveu.

A fama de Diofanto fundamenta-se em sua obra denominada


Arithmetica, um tratado que era, originalmente, constituído
de treze livros, dos quais só os seis primeiros se preservaram. O
problema de número 28 do livro II enuncia o seguinte.

Encontre dois números quadrados tais que seu produto acrescido de um


deles resulta um número quadrado.
2 2
⎛3⎞ ⎛ 7 ⎞
As respostas encontradas por Diofanto foram ⎜ ⎟ e ⎜ ⎟ .
⎝ 4 ⎠ ⎝ 24 ⎠

Você sabia?
Na Grécia Antiga, a palavra aritmética significava
teoria dos números, não computação.

A Arithmetica de Diofanto apresenta um engenhoso tratamento


das equações indeterminadas – geralmente duas ou mais
equações com diversas variáveis que têm uma infinidade de
soluções racionais positivas. Essas são chamadas, com frequência,
de equações diofantinas, embora Diofanto não tenha sido o
primeiro a resolver tais sistemas.

Diofanto tinha abreviações para a incógnita, potências da


incógnita até de expoente seis, para subtração, igualdade e
inversos.

Um número desconhecido, a incógnita, é representado por um


símbolo parecido com a letra grega ζ; o quadrado da incógnita
se indica por ∆Y ; o cubo da incógnita representa-se por K Y ; a
quarta potência, quadrado-quadrado, por ∆Y ∆; a quinta potência,
quadrado-cubo por ∆K Y ; e a sexta potência, cubo-cubo, por K YK.

Os coeficientes numéricos eram escritos depois dos símbolos


para as potências que estavam associadas, e a adição dos termos
era indicada por justaposição. Já a subtração era representada por
abreviação de uma só letra colocada antes dos termos a serem
subtraídos.

Unidade 6 203
Universidade do Sul de Santa Catarina

Em termos atuais, com o sistema de numeração decimal e


o nosso alfabeto, podemos entender da seguinte maneira os
símbolos matemáticos criados por Diofanto:

„ a incógnita é representada por um símbolo especial


semelhante ao x;

„ o sinal da adição não é usado;

„ a subtração tem um símbolo especial: M, abreviação de


menos.

„ os termos independentes também têm um símbolo: u,


abreviação de unidade;

„ a igualdade é representada pela expressão: é igual a;

„ o número 1 ao lado de x indica que o coeficiente da


incógnita é a unidade;

„ se a incógnita for diferente de 1, utiliza-se xx.

Observe os exemplos na Tabela 6.4.

Tabela 6.4 - Comparação entre linguagem moderna e de Diofanto

Linguagem moderna Linguagem de Diofanto


x + 4 = 12 x1 u4 é igual a u12
x–5=8–x x1 M u5 é igual a u8 M x1
3x + 6 = x – 7 xx3 u6 é igual a x1 M u7

Para as potências, os símbolos utilizados são:

„ Q , para x2;

„ C, para x3

„ QQ , para x4

„ QC, para x5

„ CC, para x6.

204
História da Matemática

Note os exemplos representados a seguir na Tabela 6.5.

Tabela 6.5 - Potências na linguagem moderna e de Diofanto

Linguagem Moderna Linguagem de Diofanto


x2 = 9 Q1 é igual a u9

2x 2 = 6x Q2 é igual a xx6

x4 = 5x 3 QQ1 é igual a C5

Os símbolos de Diofanto marcam a passagem da álgebra retórica


para a álgebra sincopada.

Seção 4 - Índia e Arábia: a álgebra dos versos


Índia
Os hindus foram hábeis aritméticos e deram contribuições
significativas à álgebra, sendo que Brahmagupta e Bhaskara
foram os mais proeminentes algebristas desta civilização.

Os hindus resolviam equações quadráticas completando


quadrados e aceitavam números negativos e raízes irracionais.
Tinham também conhecimento de que uma equação quadrática,
com raízes reais, tem duas raízes.

Na Álgebra hindu, Brahmagupta destacou-se por ter dado todas


as soluções inteiras da equação linear diofantina, enquanto que
Diofanto tinha se contentado em dar uma solução particular de
uma equação indeterminada.

A álgebra de Brahmagupta também usava abreviações. A


adição era indicada por justaposição; a subtração, colocando
um ponto sobre o subtraendo; e a divisão colocando o divisor
sob o dividendo. As operações de multiplicação e extração de
raízes quadradas, bem como quantidades desconhecidas, eram
representadas por abreviações de palavras adequadas.

Unidade 6 205
Universidade do Sul de Santa Catarina

Bhaskara foi o mais importante matemático hindu do século


XII. A sua incrível habilidade chegou até nós por meio de dois
livros: Lilavati e Vija-Ganita, que apresentam muitos problemas
sobre equações de primeiro e segundo graus, radicais, medidas e
triângulos retângulos.

Você sabia?
Bhaskara conseguiu descobrir dois números
a = 1776319049 e b = 22615390 que satisfazem a
equação a2 = 1 +61b2.

Bhaskara, em Lilavati, resolve muitos problemas pela regra


da inversão, conhecida dos matemáticos hindus desde a
Antiguidade. Acompanhe o exemplo a seguir.

Digam-me: qual é o número inteiro positivo que, multiplicado por


5, aumenta depois 9, divide-se por 6, multiplica-se por si mesmo,
acrescenta-se a 19 e, depois de extraída a raiz quadrada, diminui
2, divide-se por 4 e dá 2?

Para resolver esse problema, é necessário inverter tudo, isto é,


começar do fim e fazer as operações inversas indicadas.

Observe:

„ onde a instrução do problema diz divide-se por quatro dá


dois, multiplicamos dois por quatro que dá oito:
2 . 4 0 = 8;

„ onde a instrução é para diminuir dois, somamos oito a


dois, que dá dez:
8 + 2 = 10;

„ onde diz depois de extraída a raiz quadrada, elevamos dez


ao quadrado, que dá cem:
(10)2 = 100

„ onde se solicita que se acrescenta a dezenove, diminuímos


dezenove de 100, que dá oitenta e um:
100 – 19 = 81;

206
História da Matemática

„ na instrução multiplica-se por si mesmo, extraímos a raiz


quadrada de oitenta e um, que é nove:
81 = 9 ;

„ onde diz se divide-se por seis, multiplicamos nove por seis,


que dá cinquenta e quatro:
9 . 6 = 54;

„ na instrução aumenta depois nove, diminuímos nove de


cinquenta e quatro, que resulta em quarenta e cinco:
54 – 9 = 45;
„ na instrução que multiplicado por cinco, dividimos
quarenta e cinco por cinco, que dá nove:
45 ÷ 5 = 9.

Logo, o número solicitado no problema é 9.

Para resolver este problema por métodos modernos, representamos


o número procurado por x e resolvemos a seguinte equação:

⎡⎛ 5 x + 9 ⎞ ⎛ 5 x + 9 ⎞ ⎤
⎢⎜ 6 ⎟ . ⎜ 6 ⎟ ⎥ + 19 − 2
⎣⎝ ⎠⎝ ⎠⎦
=2
4

Segundo Eves (2004), os textos escolares hindus eram escritos


em versos e também os problemas eram frequentemente usados
para entretenimento social.

A álgebra hindu tem o estilo sincopado, na qual algumas


expressões são escritas em palavras e outras são abreviadas.

Curiosidade
Grande parte do conhecimento da álgebra hindu vem
do texto Lilavati, de Bhaskara. Conta-se sobre esse
trabalho uma história romântica. Segundo o relato,
os astros pressagiavam infortúnios medonhos para
Lilavati, a filha única de Bhaskara, se ela não se casasse
numa certa hora de um certo dia propício. Chegado
o dia, a ansiosa noiva debruçou-se sobre um relógio
de água para aguardar esse momento. Mas eis que
cai uma pérola de seu cabelo, sem que se notasse,
obstruindo o fluxo de água. E quando o acidente foi
percebido, o momento propício já tinha passado. Para
consolar a infeliz jovem, Bhaskara deu a seu livro o
nome da filha (EVES, Howard, 2004, p. 255).

Unidade 6 207
Universidade do Sul de Santa Catarina

Arábia
Foi por volta do ano 750 de nossa era que o Império Árabe se
dividiu em dois segmentos: os ocidentais, em Marrocos, e os
orientais, que se estabeleceram em Bagdá.

Nesse período, foram convidados estudiosos da Síria e da


Mesopotâmia, coordenados por três grandes figuras: al-Mansur,
Harum al-Rachid e al-Mamum, assim, Bagdá se tornou uma
nova Alexandria.

Durante o reinado de Harum al-Rachid, parte dos Elementos de


Euclides foi traduzida. Em 809, Harum al-Rachid foi sucedido
por seu filho al-Mamum e foi no seu califado, entre 809 e
833, que os árabes se entregaram totalmente à sua paixão por
tradução.

Al-Mamum decidiu e determinou a tradução para o árabe de


todos os escritos gregos que fossem encontrados. Nesse período,
o Almagesto de Ptolomeu e uma versão integral dos Elementos de
Euclides foram traduzidos. Foi ele quem estabeleceu, em Bagdá,
a “Casa da Sabedoria” (“Bait al-hikma”), somente comparável,
no mundo antigo, ao Museu de Alexandria. Para trabalhar nesse
centro de estudos, al-Mamum contratou os mais brilhantes sábios
muçulmanos da época.

Entre eles, estava o maior matemático árabe de todos os tempos


- Mohammed ibn Musa al-Khowarizmi, que ficou tão conhecido
na Europa Ocidental quanto Euclides, graças a seus feitos
no campo da Astronomia, fundamentados, inicialmente, em
ensinamentos vindos da Índia, por meio do Siddhanta. Também
escreveu algumas obras sobre Matemática, tabelas astronômicas,
tratados sobre o astrolábio e o relógio de sol, bem como livros de
Aritmética e Álgebra. Morreu por volta de 850.

Um dos livros de al-Khowarizmi é denominado “Sobre a arte


hindu de calcular”, que explica minuciosamente como funcionava
o sistema de numeração decimal. Foi por meio dessa obra que
outros povos tomaram conhecimento, pela primeira vez, dos dez
símbolos inventados pelos matemáticos hindus.

208
História da Matemática

É por essa razão que os símbolos ficaram conhecidos em todo o


mundo como notação de al-Khowarizmi, de onde se originou o
termo latino algorismo, que em português é algarismo.

Al-Khowarizmi é considerado o “Pai da Álgebra”. O seu livro


mais famoso intitula “Hisab al-jabr wa-al-muqabalah” e desse
título veio o termo álgebra.

A palavra “al-jabr” presumivelmente significa algo como


“restauração” ou “completação” e parece referir-se à transposição
de termos subtraídos para o outro lado da equação. Já a palavra
muqabalah, ao que se diz, refere-se à “redução” ou ao “equilíbrio”,
isto é, ao cancelamento de termos semelhantes em lados opostos
da equação.

Al-Khowarizmi não utilizava nenhum tipo de símbolo na


resolução de suas equações, mas três elementos se faziam
presentes: raízes (x), quadrados (x2) e números que eram os
coeficientes das variáveis e os termos independentes.

Observe como al-Khowarizmi enunciava suas equações do


primeiro grau nos exemplos a seguir.

1) Raízes iguais a números: 6x + 2x + 3x = 33


“É preciso, em primeiro lugar, que vocês somem seis
raízes com duas raízes e com três raízes. Como onze
raízes valem o mesmo que trinta e três unidades, então, o
valor de uma raiz é três unidades.”

Na linguagem moderna, a atual, tem-se:

6 x + 2 x + 3 x = 33
11x = 33
33
x=
11
x=3

Unidade 6 209
Universidade do Sul de Santa Catarina

2) Raízes e números iguais a números: 5x + 7 = 42

“Vocês devem entender que, quando se diminuem do


resultado, as unidades que acompanham as raízes, então
cinco raízes, são o mesmo que trinta e cinco unidades.
Dividindo trinta e cinco unidades por cinco, vocês têm
que o valor de uma raiz é sete.”

Na linguagem moderna, a atual, tem-se:

5 x + 7 = 42
5 x = 42 − 7
5 x = 35
35
x=
5
x=7

3) Raízes iguais a números e raízes: 4x = 64 + 2x

“Nessa equação, vocês devem diminuir duas raízes de


cada lado da equação; portanto, duas raízes valem o
mesmo que sessenta e quatro unidades. Agora, vocês
devem dividir sessenta e quatro unidades por duas raízes,
para encontrar o valor de uma raiz que é trinta e dois”.

Na linguagem moderna, a atual, tem-se:

4 x = 64 + 2 x
4 x − 2 x = 64 + 2 x − 2 x
2 x = 64
64
x=
2
x = 32

Al-Khowarizmi em sua obra Al-jabr separou e classificou as


equações do segundo grau em vários tipos:

210
História da Matemática

1) Números e quadrados iguais a números: 5 + x2 = 30

“É preciso entender que quando se tomam as unidades


que acompanham o quadrado e se diminuem do
resultado essas unidades mencionadas, o quadrado vale
o mesmo que vinte e cinco unidades; portanto, temos de
determinar um número que, multiplicado por ele mesmo,
resulta vinte e cinco. Então, vocês têm que a raiz vale
cinco unidades.”

Na linguagem moderna, a atual, tem-se:

5 + x 2 = 30
x 2 = 30 − 5
5.5 = 25
x=5

2) Quadrados iguais a raízes: 3x2 = 6x

“Se o quadrado junto com três é igual a seis raízes,


digam-me, quanto vale uma raiz?”

Neste caso, a raiz zero não era conhecida.

3) Quadrados e números iguais a raízes: x2 + 21 = 10x

Segundo Boyer (1974), as raízes desta equação são x = 3


e x = 7, correspondendo à regra x = 5 ± 25 − 21 , e al-
Khowarizmi, em sua obra, chama a atenção para o
fato de que o que chamamos de discriminante deve ser
positivo.

4) Raízes e números iguais a quadrados: 3x + 4 = x2.

5) Quadrados e raízes iguais a números: x2 + 10x = 39.

Al-Khowarizmi resolvia as equações utilizando somente palavras,


inclusive para expressar os números, e seu método consistia em
“completar o quadrado”. As soluções dos casos 3), 4) e 5) são
encontradas por esse método.

Unidade 6 211
Universidade do Sul de Santa Catarina

Acompanhe a resolução da equação x2 + 10x = 39 usando o método


de completar o quadrado na versão de al-Khowarizmi e na atual:

“Em primeiro lugar, vocês devem perceber que, somando o


quadrado com dez raízes, vamos encontrar trinta e nove”.

x2 + 10x = 39

Portanto, devemos determinar a metade das raízes nesta forma


10
(metade do coeficiente do termo em ).
2
E multiplicar essa metade por si mesma, o que dá vinte e cinco.

10 10
. = 5.5 = 25
2 2

Vinte e cinco somados ao quadrado e às dez raízes resulta sessenta e quatro.

x2 + 10x + 25 = 39 + 25

Compreendam, então, que o número que multiplicado por si mesmo dá


sessenta e quatro é oito.

( x + 5) 2 = 64
x + 5 = 64
x+5 =8

“E se do oito diminuirmos cinco unidades, vamos descobrir que uma


raiz vale três unidades.”

x=8–5
x=3

A solução dessa equação é expressa somente pela raiz positiva,


pois al-Khowarizmi não conhecia os números negativos.

Ele também sabia definir quando uma equação do segundo


grau não possui raízes reais. Acompanhe o seu raciocínio neste
exemplo.

x2 + 8 = 3x

212
História da Matemática

É preciso que vocês entendam também que quando tomam a metade


das raízes nessa forma da equação e, então, multiplicam a metade por
ela mesma; se o que resulta da multiplicação for menor que as unidades
mencionadas acima como acompanhando o quadrado, então, vocês não
têm uma equação.

x2 + 8 = 3x
1,5 . 1,5 = 2,25
x2 + 8 = 3x
(oito são as unidades que acompanham o quadrado).

Como 2,25 < 8, a equação não possui raízes reais.

A álgebra de al-Khowarizmi também utiliza a álgebra geométrica


de Euclides para resolver equações do segundo grau. Vamos
novamente utilizar o exemplo x2 + 10x = 39 para confirmar se a
reposta x = 3 está correta.

„ Primeiro, al-Khowarizmi desenhou um quadrado, cuja


área representa o termo x2. Observe a Figura 6.3.

Figura 6.3 - Quadrado de lado x


Fonte: Guelli (2002).

„ O termo 10x é interpretado como a área de um retângulo


de lados , conforme Figura 6.4.

Figura 6.4 - Retângulo de lados 10 e x


Fonte: Guelli (2002).

Unidade 6 213
Universidade do Sul de Santa Catarina

„ Al-Khowarizmi dividiu esse retângulo em quatro


retângulos de áreas iguais entre si. Observe a Figura 6.5.

Figura 6.5 - Divisão de retângulo em quatro áreas iguais


Fonte: Guelli (2002).

„ Aplicou cada um desses novos retângulos sobre os lados


do quadrado de área x2, conforme Figura 6.6.

Figura 6.6 - Contorno do quadrado com os retângulos


Fonte: Guelli (2002).

Perceba que a área da figura formada é dada por:

A = x2 + 4 . (2,5) . (x)
A = x2 + 10x

A equação que estamos resolvendo é x2 + 10x = 39 e como a área


da figura 6 é A = x2 + 10, pode-se concluir que a área dessa figura
é igual a 39.

Para completar o quadrado representado na Figura 6.6, é


necessário acrescentar quatro pequenos quadrados nos cantos,
conforme mostra a Figura 6.7.

214
História da Matemática

Figura 6.7 - Quadrado completo


Fonte: Guelli (2002).

Agora, você pode perceber que a área do quadrado representado


na Figura 6.7 é igual a:

A = 39 + 4.(2, 5.2, 5)
A = 39 + 4.6, 25
A = 39 + 25
A − 64

Como a área do quadrado é A = i2, o lado do quadrado é i = 64 ,


que é igual a i = 8.

Então, al-Khowarizmi deduziu que a raiz da equação é:

x=8–5
x=3

Dessa forma, provou que a resposta x = 3, encontrada


anteriormente pelo método de completar o quadrado, está
correta.

Segundo Boyer (1974), a álgebra de al-Khowarizmi tinha uma


deficiência séria que precisava ser removida antes de poder servir
eficazmente aos seus fins nos tempos modernos, isto é, uma
notação simbólica tinha que ser desenvolvida para substituir a
forma retórica.

Unidade 6 215
Universidade do Sul de Santa Catarina

Seção 5 - A álgebra moderna e contemporânea


Nesta seção, trataremos da história da álgebra e os principais
matemáticos modernos e contemporâneos que contribuíram com
o seu desenvolvimento.

Conforme discutido na Seção 4, al-Khwarizmi é considerado


um dos principais expoentes no desenvolvimento da álgebra. Ele
inaugura um tempo especial no desenvolvimetno da linguagem
matemática. Os sucessores de al-Khwarizmi empreendem
progressivamente a aplicação da aritmética à álgebra, da álgebra
à aritmética, de ambas à trigonometria, da álgebra à teoria
euclidiana dos números, da álgebra à geometria, da geometria
à álgebra. Essas aplicações foram sempre os fatos fundadores
de novos ramos da Matemática. Assim, nascem a álgebra dos
polinômios, a análise combinatória, a análise numérica, a
resolução numérica de equações, a nova teoria dos números e a
construção geométrica das equações.

Considera-se que os séculos XVI, XVII e XVIII foram um


período importante na história da Matemática. Neles se
processou a transição entre a Antiguidade e a Modernidade. No
início do século XVI, a partir das contribuições de chineses,
indianos e árabes e de alguns autores europeus medievais, a
Matemática conhecida era ainda essencialmente a dos antigos
gregos. Enquanto que no final do século XVIII, os conteúdos e
formalismos já são, praticamente, do nosso tempo.

O primeiro grande momento desse período de renovação pode,


no que diz respeito à chamada Matemática pura, ser facilmente
identificado: é a descoberta da fórmula para as soluções das equações
do 3º grau por matemáticos da península itálica, tais como: del Ferro
(1465-1526), Tartaglia (1506-1557) e Cardano (1501-1576). Logo a
seguir, veio a resolução das equações do 4º grau por Ferrari (1522-
1565) e o início da manipulação das raízes quadradas de números
negativos desenvolvida por Bombelli (1526-1572).

Mesmo nesse período, não se pode deixar de se evidenciar que a


álgebra estava, então, completamente permeada pela linguagem
e pelos métodos da geometria. Era essa a tradição grega,
nomeadamente dos Elementos de Euclides. Pode-se considerar
que as dificuldades apresentadas pelos gregos em lidar com os

216
História da Matemática

números irracionais, que emergem da aplicação do teorema de


Pitágoras, causou o adiamento do desenvolvimento da álgebra.

A partir do final do século XVI, a álgebra inicia um processo


de gradual autonomia relativa à geometria, com a progressiva
introdução de simbologia mais concisa, com o uso de letras para
denotar coeficientes e incógnitas e o abandono do princípio
geométrico da homogeneidade dimensional.

Os principais nomes envolvidos nessa “libertação” da Álgebra


são: Viète (1540-1603), Descartes (1596-1650), Fermat (1601-
1665) e Wallis (1616-1703). Com Descartes e Fermat aparecem
as primeiras aplicações sistemáticas do “método das coordenadas”,
que mais tarde passou a se chamar geometria analítica, que
permite uma fecunda identificação da geometria com a álgebra.

Os progressos da álgebra e das suas notações e a introdução da


geometria analítica criaram as condições para a invenção do
cálculo diferencial e integral por Newton (1642-1727) e Leibniz
(1646-1716), que será discutido posteriormente nesta mesma seção.
Esse extraordinário instrumento permitiu a resolução de inúmeros
problemas matemáticos, astronômicos e físicos, tendo provocado
uma verdadeira explosão de investigações e descobertas por todo o
século XVIII, com os matemáticos Bernoulli (Jacques (1654-1705)
e Jean (1667-1748) e os seus métodos sofisticados para resolver
problemas de máximos e mínimos, além de Euler (1707-1783),
d’Alembert (1717-1783) e muitos outros.

Talvez a mais notável aplicação do novo cálculo tenha sido a


demonstração, por Newton, das três leis sobre o movimento dos
planetas, enunciadas pelo matemático e astrônomo Kepler (1571-
1630), após exaustivas observações astronômicas.

Newton mostrou que essas três leis podem ser deduzidas da lei da
gravitação universal, que tinha anteriormente, em uma prodigiosa
intuição unificadora, postulado como explicação tanto da queda
dos corpos sobre a Terra como do movimento dos astros.

O trabalho de Kepler surgiu na sequência das observações de


Tycho Brahe (1546-1601) e da audaciosa formulação sistemática
de Copérnico (1473-1543), que alterou por completo as concepções
dominantes do universo, substituindo as de Ptolomeu.

Unidade 6 217
Universidade do Sul de Santa Catarina

Vimos, inicialmente, que as novas possibilidades oferecidas pela


Álgebra estavam na origem de uma nova estratégia e de uma
nova racionalidade. Essa estratégia é inerente ao desenvolvimento
da própria Álgebra após al-Khwarizmi e em suas relações com
outras disciplinas matemáticas. Estratégia que consiste, na
álgebra, em explicitar, cada vez mais, as estruturas e as operações
e suas relações com as outras disciplinas.

Apesar da genialidade, al-Khowarizmi não conseguiu expressar


as equações totalmente em símbolos, sem usar nenhuma palavra.
Isso só aconteceu 700 anos mais tarde, a partir das grandes
mudanças ocorridas na Europa, na transição da Idade Média
para a Idade Moderna.

Nesse período, especialmente nos séculos XV e XVI, o comércio


progrediu, as cidades cresceram, o artesanato se desenvolveu, as
grandes navegações ampliaram os limites do mundo.

Acompanhando essas mudanças, ocorreu também um


extraordinário desenvolvimento da arte, da ciência e da cultura em
geral - o Renascimento. Enormes progressos foram presenciados
em todas as ciências. Com a Matemática não foi diferente.

Nesse período, a Europa Ocidental tinha recuperado a maior


parte das principais obras matemáticas da Antiguidade.
A álgebra árabe fora perfeitamente dominada e tinha sido
aprefeiçoada, tanto pela resolução das cúbicas e quárticas quanto
por um uso parcial do simbolismo.

Você sabia ?
No período da Renascença, que ocorreu no final do
século XVI, a França e a Espanha estavam em guerra.
Para que o inimigo não decobrisse seus planos,
cada um usava códigos em suas mensagens. Para
os espanhóis, isso não funcionava, pois sempre que
um mensageiro era preso, os franceses descobriam
imediatamente os planos militares do inimigo. Como
poderia acontecer isso se apenas algumas pessoas
de confiança conheciam a chave do código? “Os
franceses têm pacto com o demônio”, mas o demônio
era um advogado francês inteligente e arguto, capaz
de descobrir as chaves secretas das mensagens
espanholas, Francois Viète.

218
História da Matemática

A história da Matemática, durante o período moderno, difere da


história na Antiguidade ou no mundo medieval, pelo menos em
um ponto: nenhum grupo de matemáticos nacional conservou a
liderança no conhecimento matemático por longo período.

Na sequência, destacam-se François Viète, Thomas Harriot,


René Descartes, Pierre de Fermat, John Wallis, Isaac
Newton, Gottfried Wilhelm von Leibniz, Leonhard Euler,
Carl Friedrich Gauss e David Hilbert, como matemáticos
expoentes no desenvolvimento da álgebra nas Idades Moderna e
Contemporânea.

François Viète
Matemático algebrista francês nascido em Fontenay-le-
Comte, que defendeu o uso das frações decimais em lugar
das sexagesimais, aperfeiçoou as notações algébricas, além de
contribuir para a teoria das equações.

Apesar de ser mais conhecido como matemático, foi também


um dos melhores especialistas em cifras de todos os tempos e
Figura 6.8 - François Viète
introduziu métodos gráficos, bem como a trigonometria para Fonte: François (2005).
solucionar equações. Esses trabalhos podem ser encontrados
em sua obra intitulada “Isagoge in artem analyticum” (1591),
considerada a mais antiga sobre a álgebra simbólica.

Acrescentou um primeiro apêndice, “Logistice speciosa”, no qual


tratou da adição, multiplicação e mostrou como elevar um
binômio até á sexta potência. No segundo apêndice, “Zetetica”,
explicou a resolução das equações.

Embora exercendo a profissão de advogado e essencialmente um


administrador público, tornou-se a mais importante figura da
Matemática do século XVI.

Usando a Matemática como lazer, seu primeiro grande trabalho,


neste campo, foi Canon mathematicus (1579), que devia servir
de introdução trigonométrica a seu Harmonicon coeleste, o
qual nunca foi publicado. Apaixonado por Álgebra, François
Viète viveu de 1540 até 1603 e passou para a história como o
principal responsável pela introdução dos símbolos no mundo da

Unidade 6 219
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Matemática. Por isso, ficou conhecido como o Pai da Álgebra


Moderna.

Na Álgebra, foi Viète que adotou vogais para representar as


incógnitas e consoantes para os números conhecidos. Também
utilizou gráficos para resolver equações cúbicas e biquadradas e
a trigonometria, para as equações de graus mais elevados. Viète,
que também simplifica as relações trigonométricas, pode ser
considerado um precursor da geometria analítica.

Você sabia?
Viète usava de uma simbologia para substituir
palavras por símbolos matemáticos. Veja alguns
exemplos.

x2 = 4 x3 = 8 2x2 – 5x + 2 = 0
⇓ ⇓ ⇓
A área é O cubo é A2 área m A5
igual a 4 igual a 8 p é igual a 0

O próximo passo de Viète foi substituir m e p por sinais,


inspirado em um truque usado pelos comerciantes da época. Por
exemplo, de um dia para o outro, para indicar que havia vendido
8 kg de arroz de um saco, representava por – 8. Se desejasse
indicar que transferiu 2 kg de um saco para o outro, então,
representava por + 2.

Assim, Viète adotou os sinais de + para p e de – para m , para a


multiplicação, introduziu a palavra in.

Foi graças a François Viète que, pela primeira vez na história


da Matemática, os objetos de estudo passaram a ser não mais
problemas numéricos sobre preço do pão, idade de pessoas ou
lado de figuras, mas sim as próprias expressões algébricas. A
partir de Viète, as equações passaram a ser consideradas o idioma
da Álgebra.

220
História da Matemática

Curiosidade
Robert Record (1510-1558), matemático inglês,
contribuiu com a Álgebra criando o símbolo de
igualdade a partir do seguinte enunciado: “Porei,
como muitas vezes uso no trabalho, um par de retas
gêmeas de mesmo comprimento, assim: , porque
duas coisas não podem ser tão iguais.”

Thomas Harriot
Nascido em Oxford, Inglaterra, em 1560, e falecido em 1621,
em Londres, foi renomado matemático e astrônomo e fundou
a escola inglesa de Álgebra. Tornou-se o principal cientista
no círculo de Raleigh e recebeu uma pensão do duque de
Northumberland. Em seu Artis Analyticae Praxis ad Aequationes
Algebraicas Resolvendas (1631), publicada apenas após sua morte,
Harriot melhorou a teoria das equações, percebendo uma Figura 6.9 - Thomas Harriot
importante relação entre coeficientes e raízes, demonstrando Fonte: Thomas (2008).
que as equações poderiam ter raízes negativas e imaginárias. No
Artis, ele detalhou a formação de equações de raízes conhecidas e
revelou que qualquer equação de enésimo grau e o produto de n
equações lineares são equivalentes.

Harriot também introduziu os sinais > (maior que) e < (menor


que), além de conseguir eliminar as poucas palavras que restavam
da álgebra de Viète, representando, dessa forma, as potências das
incógnitas, conforme segue.

x2 x3 x4
⇓ ⇓ ⇓
AA AAA AAAA

Assim, por exemplo:

x 2 = 81
AA = 81
x3 = 27
x3 − 5 x + 4 = 0
AA − A5 + 4 = 0

Unidade 6 221
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Você sabia?
Thomas Harriot construía telescópios, sendo que o
primeiro foi feito na mesma época que o de Galileu,
e também estudava os cometas. Em seu estudo,
descobriu as manchas solares e os satélites de Júpiter,
independentemente de Galileu, porém, não publicou
suas descobertas. Com seus alunos, fez o estudo da
topografia lunar, mas sua descrição só foi publicada
em 1788, e seu mapa da lua ficou inédito até 1965.
Também descobriu a lei da refração (curvatura da
luz) antes do notável matemático holandês Willebrod
van Roijen Snell ou o eminente matemático e filósofo
francês René Descartes, mas deixou de publicar sua
descoberta.

René Descartes
René Descartes nasceu no ano de 1596 em La Haye, conhecida,
desde 1802, por “La Haye-Descartes”, na França, e faleceu em 11
de fevereiro de 1650, em Estocolmo, na Suécia.

Foi um dos maiores matemáticos de sua época, embora sua maior


contribuição seja na geometria analítica. Também foi responsável
por aprimorar o simbolismo da álgebra introduzindo o atual
Figura 6.10 - René Descartes sistema de expoentes inteiros positivos. Grande parte de sua obra
Fonte: René... (2007).
La Géométrie consiste naquilo que hoje denominamos “teoria
das equações”, e contém a regra de sinais para determinar o
número de raízes possitivas e negativas de uma equação.

Descartes usava as letras finais do alfabeto, x, y e z para as


variáveis e as primeiras letras a, b, c,... para as constantes.

Ele apresentava uma forma diferente de ver as coisas: ao passo


que pensamos em parâmetros e incógnitas como números,
Descartes pensava como segmentos. Ele rompeu com a tradição
grega, pois em vez de considerar x2 e x3 como área e volume,
interpretava como segmentos, permitindo abandonar o princípio
da homogeneidade. Descartes podia escrever uma expressão
como a2 . b2 – b porque, como ele dizia, “deve-se considerar
a quantidade a2 . b2 dividida uma vez pela unidade”, isto é, o
segmento unitário, e a quantidade b muitiplicada duas vezes pela
unidade.

222
História da Matemática

Descartes mostrou como as operações algébricas, inclusive a


resolução de quadráticas, são interpretadas geometricamente,
em seguida, dedicou-se para a aplicação da álgebra a problemas
geométricos determinados, formulando o seguinte método geral:

Se, pois, queremos resolver qualquer problema, primeiro


supomos a solução efetuada, e damos nomes a todos
os segmentos que parecem necessários à construção -
aos que são desconhecidos e aos que são conhecidos.
Então, sem fazer distinção entre segmentos conhecidos
e desconhecidos, devemos esclarecer a dificuldade
de modo que mostre mais naturalmente as relações
entre esses segmentos, até conseguirmos exprimir uma
mesma quantidade de dois modos. Isso constituirá uma
equação, numa única incógnita, pois os termos de uma
dessas expressões são juntas iguais aos termos da outra.
(BOYER, 1996, p. 232-233).

Descartes, em La géométrie, havia discutido sobre a geometria


e a álgebra, e o objetivo do seu método agora era duplo: 1) por
processos algébricos libertar a geometria de diagramas e 2) dar
significados às operações da álgebra, por meio de interpretações
geométricas.

Descartes foi mais longe que qualquer algebrista predecessor a


ele. A álgebra formal vinha progredindo desde a Renascença e
encontrou em Descartes o seu auge. La géométrie é considerado
o texto mais antigo que um estudante atual pode seguir sem
encontrar dificuldade nas notações, com excessão do símbolo ∞
que era usado no lugar do sinal de =.

É evidente que Descartes substituía a homogeneidade formal


por homogeneidade em pensamento, o que tornou sua álgebra
geométrica flexível - tão flexível que na verdade lemos xx ou “x
quadrado”, sem jamais enxergar mentalmente um quadrado.

Descartes aperfeiçoou a álgebra de Viète, criou a notação que


usamos até hoje para expoentes, com as seguintes inovações:

A área = AA = A 2

A cubo = AAA = A 3

Substituiu a palavra in pelo sinal “.”

Unidade 6 223
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Você sabia?
O Princípio da Homogeneidade aliado à existência de
grandezas fundamentais permite-nos desenvolver
uma forma poderosa de testar a correção de qualquer
equação física do ponto de vista dimensional. Esse
princípio exige que ambos os membros da equação
tenham as mesmas dimensões, no caso de haver
somas ou diferenças, todos os termos de cada
membro terão de ter também as mesmas dimensões.

Pierre de Fermat
Pierre de Fermat nasceu em 1601, na cidade de Beaumont-de-
Lomagne, na França, e morreu em 1665, em Castres, também
em França.

As contribuições de Fermat para o cálculo geométrico e


infinitesimal foram inestimáveis. Ele obtinha, com seus cálculos,
a área de parábolas e hipérboles e determinava o centro de massa
de vários corpos. Em 1934, Louis Trenchard Moore descobriu
Figura 6.11 - Pierre de Fermat uma nota de Isaac Newton dizendo que seu cálculo, antes tido
Fonte: Pierre... (2007).
como de invenção independente, fora fundamentado no “método
de monsieur Fermat para estabelecer tangentes”.

Contudo, o que mais interessava a Fermat, na verdade, era um


ramo da Matemática chamado teoria dos números, que tem
poucas aplicações práticas claras. É da teoria dos números seu
famoso teorema, conhecido como último Teorema de Fermat.
Este teorema tem um enunciado extremamente simples:

xn + yn = zn não existe para x, y, z, inteiros e positivos e n


inteiro, positivo e n > 2.

Fermat utilizou a notação de Viète e não a de Descartes, e


esboçou o caso mais simples de equação linear na forma “D in
A aequetur B in E” , isto é, Dx = By em simbolismo moderno,
sendo que o gráfico passa na origem, ou semirreta, pois Fermat e
Descartes não usavam abscissa negativa. A equação ax + by = c2
foi esboçada como um segmento de reta no primeiro quadrante.
A proposição de Fermat diz que toda equação do primeiro grau
representa uma reta.

224
História da Matemática

Fermat, em seguida, mostrou que xy = k2 é uma hipérbole, e que


uma equação da forma xy + a2 = bx + cy pode ser reduzida a uma
da forma xy = k2 por translação de eixos. A equação x2 = y2 ele
considerava uma só reta ou semirreta. Também mostrou que a2 ± x2
= k2 é uma parábola, que x2 + y2 + 2ax + 2bx = c2 é um círculo, que a2
– x2 = ky2 é uma elipse, e que a2 + x2 = ky2 é uma hipérbole.

Uma das obras mais importantes de Fermat trata-se do chamado


Método para achar máximos e mínimos. Ele considerou lugares
dados por equações y = xn, por isso, elas são chamadas até hoje de
“parábolas de Fermat”, se n é positivo, e “hipérbole de Fermat”, se
n é negativo.

Para as equações da forma y = f(x), ele notou um modo muito


engenhoso para determinar pontos onde uma função assume
um máximo ou um mínimo. Ele comparou o valor f(x) num
ponto com o valor f(x + E) num ponto vizinho, ao comparar os
valores f(x) com , f(x + E) Fermat percebeu que são praticamente
iguais, por isso, depois de dividir tudo por E fazia E = 0. Os
resultados davam as abscissas dos pontos de máximo e mínimo
do polinômio, que se tem o processo hoje denominado de
diferenciação, pois equivale encontrar:
f ( x + E ) − f ( x)
lim .
E →0 E
Por isso, Laplace considera Fermat como descobridor do cálculo
diferencial. Evidentemente, Fermat não tinha o conceito de
limite. O seu processo de mudar ligeiramente a variável e
considerar valores vizinhos é a essência da análise infinitesimal.

Durante o desenvolvimento da geometria analítica, Fermat


descobriu como aplicar seu processo de valores vizinhos para
achar a tangente a uma curva algébrica da forma y = f(x). Se P
é um ponto da curva y = f(x) em que se procura a tangente, e
se as coordenadas de P são (a, b), então, um ponto vizinho da
curva com coordenadas x = a + E, y = f(a + E) estará tão perto da
tangente que se pode pensar nele estando sobre a tangente.
f ( x + E ) − f ( x)
O processo de Fermat equivale dizer que lim
E →0 E
é a inclinação da tangente em x = a, mas Fermat não explicou
suficientemente seu método, dizendo ser semelhante ao seu
método de máximo e mínimo.

Unidade 6 225
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Ele também desenvolveu um método para o cálculo de área sob


a curva, desde x = 0 e x = a em que dividia o intervalo de x = 0
até x = a em uma infinidade de subintervalos, tomando os pontos
com abscissas a, aE, aE2, aE3... onde E é uma quantidade menor
que um. Nesses pontos, Fermat levantava ordenadas da curva
e depois aproximava a área sob curvas por meio de retângulos.
Note a Figura 6.12.

Figura 6.12 - Área sob uma curva


Fonte: Boyer (1996).

b
Em notação moderna tem-se ≡a x n dx , basta observar que isso
f ( x + E ) − f ( x)
é lim , para valores negativos de n exceto n = – 1.
E →0 E
Fermat usava um processo semelhante, só que é tomado como
maior que um e se aproxima de um por cima, então, a área
encontrada que se acha sob a curva, varia desde x = a até o
b
infinito. Para achar ∫0 x − n dx , bastava, então, observar que isso é
b a
∫0 x n dx − ∫ x n dx .
0

Assim, durante sua vida, Fermat ocupou-se de muitos problemas


envolvendo análise infinitesimal, quadraturas, volumes,
comprimento de curvas, centro de gravidade e a teoria dos
números, da qual é considerado o fundador, referenciando-se os
números perfeitos e amigáveis, números figurados, quadrados
mágicos, tríadas de Pitágoras, divisibilidade e números primos.

Em relação aos números primos, Fermat conjecturou que os


n
inteiros 22 + 1, agora conhecidos como “números de Fermat”, são
sempre primos. Na verdade, hoje sabe-se que esses números não
são todos primos.

226
História da Matemática

Fermat foi o verdadeiro “príncipe dos amadores” em Matemática.


Nenhum matemático profissional de sua época contribuiu tanto
para o assunto, no entanto, ele era tão modesto que quase nada
publicou.

John Wallis
John Wallis nasceu em Asford, Kent, Inglaterra, no dia 22 de
novembro de 1616, e morreu em 28 de outubro de 1703 em
Oxford, Inglaterra. Considerado um grande matemático, seus
trabalhos relacionam-se, principalmente, com o cálculo, sendo o
mais influente predecessor de Newton.
Figura 6.13 - John Wallis
Estudou os trabalhos de Kepler, Bonaventura Cavalieri, Torricelli Fonte: Jesseph (1999
e Descartes. Participante ativo de reuniões científicas, colaborou apud WEISSTEIN,
1996-2007).
para a criação da Royal Society de Londres (1662), uma
organização dedicada ao progresso da ciência e protagonizou
muitos debates com eminentes contemporâneos, como o filósofo
político Thomas Hobbes.

John Wallis foi o primeiro estudioso a abreviar o conceito de


“infinito” com o símbolo ∞ , que foi criado a partir de uma visão
do 1000 (M) em cifras romanas, pensando, talvez, nas curvas da
figura geométrica liminiscata.

Você sabia?
Durante as férias de Natal, quando tinha 15 anos de
idade, Wallis pegou o livro de Álgebra do irmão e
ficou ao mesmo tempo deliciado e intrigado com os
símbolos estranhos que encontrou. Em pouco tempo
conseguiu dominar o livro; essa experiência marcou
o início de uma carreira extremamente produtiva em
Matemática.

Em sua obra Tractatus de sictionibus conicis, publicada em 1655,


continha a primeira discussão a respeito das cônicas como curvas
do segundo grau, com as quais ajudou a interpretar a geometria
analítica de Descartes.

Unidade 6 227
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A imaginação de Wallis possibilitava-lhe uma capacidade


de abstração na qual ele construía representações de objetos
matemáticos, tais como a Figura 6.14.

Figura 6.14 - Triângulo dividido em ‘n’ fatias.


Fonte: Geraldi (2007).

Na Figura 6.14, Wallis abstraiu o triângulo como composto


por infinitos paralelogramos de espessura infinitesimal, pois, ao
calcular a área de cada paralelogramo e somando-as, obteria a
área do triângulo em questão. As ideias de Wallis fundamentam-
se no princípio de Bonaventura Cavalieri.

Além dessa contribuição, ele também calculou áreas representadas pela


notação moderna: ∫ (1 − x≤) dx , ∫ (1 − x≤) dx , ∫ (1 − x≤) dx , e assim
1 1 1
0 1 2
0 0 0
2 8
por diante, sendo suas áreas iguais a 1, , ,..., respectivamente.
3 15
1
1
Assim, na tentativa da calcular a área referente à ∫0
(1 − x ≤) 2 dx
da Figura 6.15, Wallis inventou um método de interpolação
sofisticada.

Figura 6.15 - Área calculada por Wallis


Fonte: Boyer (1996).

228
História da Matemática

Wallis também observou que o valor da área da figura situa-se


2 1
entre 1 e , uma vez que o expoente situa-se entre 0 e 1.
3 2
John Wallis é considerado um importante historiador da
Matemática. O seu livro Treatise on Algebra tem uma enorme
riqueza histórica. Nele, o autor aceita raízes negativas e
complexas. Ele tinha como desafio descobrir um quadrado que
tivesse a mesma área que o círculo.

Isaac Newton
Isaac Newton nasceu no dia 25 de dezembro de 1642 e faleceu
em 1727. Ingressou no Trinity College em 1661, provavelmente
sem pensar em vir a ser um matemático, pois não estudou
particularmente o assunto. No primeiro ano, entrou em contato
com as obras de Euclides, Kepler, Viète, Wallis, também veio a
conhecer as obras de Galileu, Fermat, Huygens e outros. Mais
tarde, Newton declarou: “se enxerguei mais longe que Descartes
Figura 6.16 - Isaac Newton
é porque me sustentei sobre os ombros de gigantes”. Fonte: Isaac (2009).

Por volta de 1664, atingiu a fronteira do conhecimento


matemático oferecendo suas contribuições. A primeira descoberta
acontece em 1665, quando exprime as funções em termos de
séries infinitas. Também começa a estudar taxa de variação
ou fluxo, quantidades variáveis continuamente, ou fluentes,
destacando-se: comprimento, áreas, volumes, distância e
temperaturas. Newton relacionou as séries infinitas e as taxas de
variação, denominando de “meu método”, também chamado de
Método das Fluxões. Nesse estudo, Newton abordava notações
novas aplicadas ao que hoje se chamam de derivadas e integrais.
Em vida, Newton publicou grandes obras, sendo as principais De
Analisy e Principia.

Em Principia, Newton descobriu o método das séries infinitas


e o cálculo, reconhecendo, em sua primeira edição, que Leibniz
estava de posse de um método semelhante ao seu.

Em De analisy, apresentou a expansão binomial infinita. Embora


nunca tivesse dispensado esforços para publicar seus resultados,
sabia que seus seguidores, Gregory e Mercator, em 1668, tinham
revelado sua obra sobre séries infinitas.

Unidade 6 229
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Durante os anos de 1665 e 1666, logo após ter obtido grau A e


B em seus estudos, o Trinity College foi fechado por causa da
peste. Nesse período, Newton foi viver em casa e pensar, onde fez
quatro das principais descobertas:

1) o Teorema Binomial;

2) o Cálculo;

3) a Lei da Gravitação;

4) a Natureza das Cores.

Newton era, primariamente, um geômetra, sendo descrito como


um expoente da geometria pura, mas os primeiros esboços
manuscritos de suas ideias mostram que ele usava livremente a
álgebra e uma variedade de instrumentos algorítmicos e notações.

Não foi o primeiro a diferenciar ou a integrar, nem ver a relação


entre essas operações no teorema fundamental do cálculo. Sua
descoberta consistiu na consolidação desses elementos em um
algoritmo geral e aplicável a todas as funções, sejam algébricas ou
transcendentes.

A própria história da Matemática destaca que Newton e Leibniz


são considerados os grandes fundadores do cálculo diferencial e
integral.

Gottfried Wilhelm von Leibniz


Gottfried Wilhelm von Leibniz nasceu em Leipzig, em 1646,
e faleceu no ano de 1716, em Hannover. Aos 15 anos entrou na
universidade e aos 16 obteve grau de bacharel. Foi estudante de
Direito, Teologia, Filosofia e Matemática. Ficou conhecido como
o último sábio a conseguir um conhecimento universal.

O interesse de Leibniz pela Matemática resultou de uma missão


Figura 6.17 - Gottfried Wilhelm diplomática a Paris em 1672, quando encontrou Christiaan
von Leibniz
Fonte: Gottfried (2005). Huygens, que o presenteou com a cópia do trabalho sobre
oscilação do pêndulo, iniciando sua carreira na Matemática.
Leibniz foi aluno de Huygens, estudando obras de Barrow,
Cavalieri, Pascal, Descartes e outros.

230
História da Matemática

Ao ler Pascal, Leibniz percebeu que a tangente ou inclinação


de uma dada curva podia ser encontrada formando-se a razão
entre as diferenças das ordenadas e das abscissas de dois pontos
vizinhos da curva, à medida que essa diferença se tornasse cada
vez menor.

Notou ainda que a área sob a curva podia ser tomada como a
soma das ordenadas de uma infinidade de retângulos estreitos,
conforme Figura 6.18.

Figura 6.18 - Triângulo isósceles reto


Fonte: Boyer (1996).

Em um manuscrito, datado de 1675, Leibniz obteve o que


chamou de um triângulo característico, conforme Figura 6.19.

Figura 6.19 - Triângulo característico


Fonte: Boyer (1996).

Unidade 6 231
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l p
Leibniz procedeu da seguinte forma = , resultando na equação
a y
pa = yl, usando o sinal ≡, a equação torna-se ∫ pa = ∫ yl , em
y2
que a soma ≡ yl é de 0 a y e assim fornece a área, , de um
2
triângulo isósceles reto, mostrado na Figura 6.19. Dessa forma,
y2 y y2
Leibniz obteve a relação ∫ pa = ∫ yl = ou ∫ pdx = ∫ ydy =
2 0 2
, conforme a integração hoje.

Leibniz não tinha só uma notável habilidade para construir


notações, mas também criou os termos abscissa, ordenada,
coordenada, eixo de coordenadas e função. Inclusive inventou os
determinantes, no contexto da resolução de sistemas de equações
lineares.

O teorema de Leibniz permite escrever facilmente a derivada da


enésima de um produto de duas funções, assim, y = u.v, onde u e
v são funções de x. Exemplo: a derivada de quarta ordem
d4y
= y 4 = u 4 v 0 + 4u 3v1 + 6u 2 v 2 + 4u1v3 + u 0 v 4 , em geral, tem-se:
dx 4

n
y n = ∑ Cn , k u n − k v k .
k =0

Seu estudo de séries infinitas iniciou-se da mesma forma que


Newton, e levando, dessa forma, à descoberta das relações
modernas de derivada e integral. O desenvolvimento da
descoberta do cálculo por Leibniz ocorreu paralelamente ao da
descoberta que Newton efetuou, porém, a notação desenvolvida
por Leibniz apresentou-se muito melhor para as aplicações do
conceito de cálculo.

Leonhard Euler
Considerado o mais importante matemático da época, nascido
em Basiléia, na Suíça, em 1707, morreu em 1783. O pai de
Euler era ministro religioso e também tinha conhecimentos
matemáticos, tendo sido aluno de Jacques Bernoulli. Foi ele quem
Figura 6.20 - Leonhard Euler ajudou Euler nos princípios da Matemática, embora esperançoso
Fonte: Leonhard (2006). de que seu filho seguisse a carreira teológica.

232
História da Matemática

Assim, Euler recebeu uma formação ampla, incluindo


Matemática, Teologia, Medicina, Astronomia, Física e línguas
orientais. Sua formação geral possibilitou-lhe, por indicação dos
irmãos Bernoulli, professores de matemática da academia S.
Petersburgo, em 1727, ocupar a cadeira de Filosofia natural nessa
academia na Rússia, para onde migrou.

Você sabia?
Catarina I foi fundadora da academia S. Petersburgo,
com sua morte, essa quase foi extinta, pois os novos
governantes mostraram menos interesse pelos sábios
estrangeiros que Catarina e seu falecido marido Pedro
demonstravam.

Com a volta de Daniel Bernoulli para Basiléia, Euler, aos 26


anos de idade, tornou-se o principal matemático da academia
S. Petersburgo. Casou-se, teve 13 filhos, e fixou-se seriamente
nas pesquisas matemáticas, tornando-se o matemático que mais
produziu, chegando a 800 páginas por ano, durante toda sua
vida. Ainda nessa academia, havia uma revista de Matemática,
a Commentarii Academiae Scientiarum Imperialis Petropolitanae, à
qual Euler contribuiu significativamente com suas publicações.
Os editores não se preocupavam com material para publicação,
enquanto Euler trabalhasse, seus artigos eram escritos enquanto
brincava com seus filhos.

Em 1735, por excesso de trabalho, perdeu a visão do olho direito.


Euler deixou uma quantidade expressiva de material escrito
para ser publicada, inclusive após sua morte. Em 1771, fez
uma cirurgia no olho esquerdo, sendo que durante alguns dias
enxergou novamente, mas, em consequência de uma catarata,
Euler passou os últimos 17 anos de sua vida cego. Porém, nunca
deixou de pesquisar, ditava suas descobertas para seus filhos ou
escrevia de giz em uma lousa.

Unidade 6 233
Universidade do Sul de Santa Catarina

Você sabia?
Euler, cedo, conquistou reputação internacional, antes
de mudar para a Rússia, ainda na Basileia, recebeu
menção honrosa da Académie de Paris, por um ensaio
sobre mastros de navio. Em 1724, partilhou com
Maclaurin e Daniel Bernoulli um prêmio por ter escrito
sobre as marés. Em 1741, foi convidado para fazer
parte da academia de Berlim, onde passou 25 anos
de sua vida. No entanto, nunca deixou de escrever
para a academia de S. Petersburgo, de onde recebeu
uma pensão da Rússia. Também contribuiu para a
academia da Prússia.

De acordo com Boyer (1996), de 1727 a 1783, Euler escreveu


sobre Matemática pura e aplicada, praticamente na notação que
utilizamos hoje, pois nenhum matemático foi tão responsável
pela forma da Matemática de nível universitário quanto ele,
considerado o elaborador de notações mais bem sucedido de
todos os tempos.

Euler usava a letra e para representar a base dos logaritmos


naturais. Também foi responsável pelo uso definitivo da letra π,
para razão da circunferência pelo diâmetro. Entre os símbolos
1
usados por Euler está i para −1 . Adotou e x = (1 + )i , usou o
i
símbolo i no lugar de ∞ e hoje escrevemos
x
e x = lim(1 + ) h , considerado um dos limites fundamentais.
h →∞ h

Curiosidade
Os três símbolos e, π, i pelos quais Euler em grande
parte foi responsável, podem ser combinados com
os dois inteiros mais importantes, 0 e 1, na célebre
igualdade eπ.i + 1 = 0.

Atualmente, não só usamos as notações introduzidas por Euler


para representar os números, mas usamos em geometria, álgebra,
trigonometria e análise. O uso das letras minúsculas a, b e c para
lados dos triângulos e A, B e C para os ângulos opostos, as letras
r, R e s para o raio da circunferência inscrita e circunscrita e o
semiperímetro do triângulo, respectivamente. A fórmula 4rRs =
abc, relacionando os seis comprimentos.
234
História da Matemática

A designação lx para logaritmo de x, o uso da letra ∑ para indicar


adição. Mas talvez a notação mais importante de todas seja a f(x)
para a função de x.

Finalizando, nossas notações atuais são fundamentadas,


principalmente, em Euler.

Saiba mais
Para saber mais sobre a vida e obras de Euler, sugere-
se a leitura da obra de Boyer (1996), p. 307, 308 e 310.

Carl Friedrich Gauss


Carl Friedrich Gauss (1777-1855), diferente dos demais
matemáticos apresentados até aqui, foi um menino prodígio.
Quando criança, divertia-se com cálculos matemáticos.

Curiosidade
No período escolar, o professor de Gauss, em sala
de aula, solicitou à classe que somasse os numerais
Figura 6.21 - Carl Friedrich
de 1 até 100, seguindo a instrução de que cada um Gauss
deveria colocar sua ardósia sobre a mesa, quando Fonte: Carl... (2005).
completassem a tarefa. Quase que imediatamente,
Gauss, aos 10 anos de idade, colocou a sua resposta e
disse: “aí está professor!” Ao conferir a resposta dada,
o professor percebeu que Gauss foi o único que fizera
os cálculos corretamente, tendo como resposta 5050.
Gauss somou mentalmente a soma dos termos de
uma progressão aritmética, presumivelmente pela
m(m +1)
fórmula .
2

Seus professores levaram os talentos de Gauss à atenção do


Duque de Brunswick, que apoiou seus estudos até a universidade.

Gauss descobriu que é possível construir um polígono regular de


17 lados com régua e compasso, ou seja, sendo o número de lados
representado por um número primo, pois até a sua época, outros
matemáticos já haviam construído polígonos regulares com régua
e compasso, com número de lados múltiplos de dois, três e cinco.

Unidade 6 235
Universidade do Sul de Santa Catarina

Entre as descobertas mais importantes, podemos destacar


o método de mínimos quadrados, a prova da reciprocidade
quadrática na teoria dos números e seu trabalho sobre o
teorema fundamental da álgebra. Na primeira das quatro
provas do Teorema Fundamental da Álgebra, Gauss acentuou
a importância de demonstrar a existência de pelo menos uma
raiz, que foi tema de sua tese de doutorado, intitulada “Nova
Demonstração do Teorema que Toda Função Algébrica Racional
inteira de uma Variável pode ser Decomposta em Fatores Reais de
Primeiro ou Segundo Grau”.

Nessas demonstrações iniciais, Gauss admite que os coeficientes


da equação polinomial são números reais. Já na sua última
demonstração, que aconteceu aos 70 anos de idade, admite
coeficientes como quaisquer números complexos.

No teorema fundamental da Álgebra de Gauss, as afirmações


“Toda equação algébrica de grau n tem n raízes” e “Toda equação
algébrica de grau n tem uma raiz da forma a + bi, em que a e b
são números reais”, são equivalentes.

Você sabia ?
Outros matemáticos anteriores a Gauss já haviam
estudado as equações e suas raízes. Os hindus
perceberam que as equações quadráticas tinham duas
raízes; Cardano, e outros algebristas italianos embora,
ainda sem conhecer claramente as raízes negativas e
imaginárias, exibiu três raízes para as cúbicas e quatro
para as quárticas. Viète considerou a possibilidade da
equação polinomial f(x) = 0 em fatores lineares, mas
tinha aversão aos números negativos e imaginários.
Peter Roth foi o primeiro a escrever que uma equação
polinomial de grau n tem n raízes. Albert Girard
afirmou que uma equação algébrica tem tantas raízes
quanto é o grau de sua potência. D’Alembert fez a
primeira tentativa de demonstração do Teorema
Fundamental da Álgebra, seguidos de Euler e Joseph
Louis Lagrange.

Embora Gauss tenha demonstrado também o horror ao infinito,


insistindo que não poderia existir um infinito completo na
Matemática, sua Matemática forneceu o ponto de partida
para algumas das principais áreas da Matemática moderna,

236
História da Matemática

destacando-se a álgebra. Os estudantes de Gauss tendiam a


tornar-se astrônomos e não matemáticos. Tinha responsabilidade
com o ensino, mas como a maior parte de seus estudantes eram
mal preparados, ele evitava o ensino em sala de aula, sentindo
que o retorno não valia o investimento e o tempo dedicado.

Gauss tinha teoremas latentes sobre os números complexos


escritos em seu diário ou em memorandos. Junto a um
importante matemático, Augustin-Louis Cauchy, versava sobre
uma variedade de tópicos, especialmente sobre funções de
variável complexa, sendo que mais tarde Cauchy tornou-se o seu
fundador efetivo.

David Hilbert
David Hilbert nasceu em 23 de janeiro de 1862 em Wehlau, hoje
Znamensk, perto de Konigsberg na Prússia Oriental, e faleceu
em 14 de fevereiro de 1943, em Gottingen.

Hilbert foi um brilhante matemático, famoso como renomado


professor de geometria euclidiana em Gottingen. Doutor pela
Universidade de Konigsberg, onde também foi professor no Figura 6.22 - David Hilbert
período de 1886 a 1895. Ao concluir seu doutorado, retornou Fonte: David... (2005).
para a Universidade de Gottingen, onde deu continuidade à
brilhante tradição matemática de Gauss e Riemann, bem como
de Peter Gustav Lejeune Dirichlet, um grande matemático da
época, e transformou a universidade em foco permanente de
atenção por suas ideias inovadoras nesse campo de estudos.

Saiba mais
Para conhecer mais sobre Dirichlet, leia Howard Eves
(2004), páginas 537 a 539.

Mas Hilbert destacou-se também nos estudos relacionados


com a teoria algébrica dos números, geometria, topologia,
equações diferenciais, cálculo de variações e outros campos. Sua
consagração definitiva veio com a publicação Grundlagen der
Geometrie, em 1899, traduzido em vários idiomas, e apresentada
no Congresso Internacional de Matemática de Paris, no ano de
1900.

Unidade 6 237
Universidade do Sul de Santa Catarina

Essa obra é composta de uma coleção de vinte e três postulados


conhecidos como axiomas de Hilbert, reduzindo a geometria a
uma série de axiomas e dando uma contribuição crucial para os
fundamentos formalísticos da Matemática.

Divulgou um importante trabalho sobre equações integrais no


ano de 1909, importante para o desenvolvimento da Matemática
do século XX, de onde se originou a análise funcional. Também
desenvolveu o espaço infinito-dimensional, hoje chamado espaço
de Hilbert, e contribuiu para o desenvolvimento da teoria cinética
dos gases e a teoria da radiação.

O projeto de formalização da Matemática significa uma aplicação


da teoria dos conjuntos e a análise de uma parte dela própria,
ou seja, uma combinatória finita. E Hilbert é considerado o pai
dessa teoria.

Em meados do século XX, o formalismo tornou-se atitude


filosófica nos textos e escritos matemáticos. O formalismo
contemporâneo descende do formalismo de Hilbert, embora esse
acreditava na Matemática finita e concebia a Matemática infinita
denominando-a de metamatemática.

Para os formalistas, a Matemática é somente um jogo de


deduções lógicas, definindo-a como a ciência das demonstrações
rigorosas, ou seja, a ciência das deduções formais, dos axiomas
aos teoremas. Seus enunciados não têm conteúdo, até que seja
fornecida uma interpretação.

A influência do formalismo como estilo de exposição


matemática aparece nos textos básicos produzidos por Nicolas
Bourbaki, incluindo teoria dos conjuntos, a álgebra e a análise,
influenciando significativamente a Matemática no mundo, nas
décadas de 1940 e 1950.

O estilo formalista penetrou gradualmente no ensino da


Matemática em níveis mais elementares, com o nome de
“Matemática Moderna”, invadiu até o jardim de infância, com
textos de teoria dos conjuntos. A linguagem da Álgebra atingiu
o seu auge no século XX, sendo considerada a linguagem da
Matemática, onde as letras e transpuseram as fronteiras das
línguas, figurando na maioria das culturas.

238
História da Matemática

Você sabia?
Nicolas Bourbaki é o pseudônimo coletivo sob o
qual um grupo de matemáticos, na sua maioria
franceses, escreveu uma série de livros que
expunham a Matemática avançada moderna. Esses
livros começaram a ser editados em 1935. Com o
objetivo de fundamentar toda a Matemática na
teoria dos conjuntos, o grupo lutou por mais rigor
e simplicidade, criando uma nova terminologia e
conceitos ao longo dos tempos. Entre as notações
criadas pelos Bourbaki, incluem-se: o símbolo para o
conjunto vazio Ø e termos como injetiva, sobrejetiva e
bijetiva.

A finalização da construção da álgebra, na História, deu-se com


a estruturação da álgebra moderna, focalizando a axiomática das
estruturas de grupos, anéis e corpo, além da importante relação
de ordem do conjunto dos números reais, estabelecida a partir de
seus axiomas.

Síntese

Com a leitura desta unidade, você teve a oportunidade de


conhecer grande parte da aventura humana da formalização da
ciência matemática, desde o processo mais simples de resolução
de uma equação por meio de palavras, até a sistematização final
representada na atual álgebra moderna.

Conforme você constatou a partir da leitura desta unidade,


muitas foram as contribuições até chegar ao que temos hoje
em termos de linguagem formal da Matemática ou linguagem
algébrica.

A álgebra permaneceu durante muito tempo ligada à geometria,


assim denominada de álgebra geométrica. Aos poucos, foi se
constituindo em um campo da Matemática voltado para as
estruturas algébricas e seus respectivos axiomas.

Unidade 6 239
Universidade do Sul de Santa Catarina

Então, da álgebra elementar, voltada ao estudo das equações, até


a álgebra moderna, apresentamos os mais importantes nomes
da Matemática, cuja dedicação foi incontestável no ramo dessa
ciência.

Convido você para verificar seu processo de aprendizagem e


resolver as atividades propostas na autoavaliaçao desta unidade.

Fique atento! Qualquer dúvida, entre em contato com seu


professor!

Atividades de autoavaliação
1. O processo de resolução de algumas equações propostas no papiro de
Ahmes exigia uma equação linear simples e o método utilizado para
resolvê-la ficou conhecido como regra de falsa posição. Elabore um
problema e mostre o processo resolutivo pela regra da falsa posição.

2. O processo resolutivo das equações quadráticas utilizado pelos


babilônios permitia encontrar a raiz positiva da equação. Resolva por
meio da fórmula dos babilônicos a seguinte equação: 10x2 + 3x – 13 = 0.

3. Os matemáticos da Grécia Antiga preferiam geometria à álgebra.


Geralmente, resolviam os problemas matemáticos analisando figuras
geométricas. Dê a expressão algébrica na forma fatorada, que
representa a região hachurada da seguinte figura:

4. Você leu que as equações aparecem na história da Matemática com


diferentes processos resolutivos. Quais os matemáticos hindus e árabes
que contribuíram significativamente com esse processo?

5. A linguagem matemática atual é resultado de muitas tentativas de


formalização desta ciência por grandes matemáticos. Fundamentado
no texto, complete o quadro a seguir relacionando as contribuições de
cada matemático para o desenvolvimento da álgebra.

240
História da Matemática

MATEMÁTICOS CONTRIBUIÇÕES

François Viète

Thomas Harriot

René Descartes

Pierre de Fermat

John Wallis

Isaac Newton

Leibniz

Leonhard Euler

Gauss

David Hilbert

Saiba mais

Você pode enriquecer seu conhecimento relacionado com


as estruturas algébricas fazendo a leitura do artigo “Foco na
Axiomática e nas Estruturas”, da revista Scientific American.
Gênios da Ciência: A Vanguarda Matemática e os Limites da
Razão (2007). Páginas 88 a 98.

Unidade 6 241
7
UNIDADE 7

A estatística: aspectos
históricos importantes

Objetivos de aprendizagem
„ Reconhecer que a estatística na história representou a
forma de lidar com dados que podem ser mensuráveis.
„ Destacar os principais matemáticos que contribuíram
nos estudos da estatística.

Seções de estudo
Seção 1 Origem da estatística
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Esta unidade possibilitará a você um estudo sobre a história de
mais um campo conceitual da Matemática: a estatística.

A estatística apresenta-se na história da humanidade como uma


importante ferramenta para lidar com dados mensuráveis ou
conjecturar sobre possibilidades de um evento acontecer quando
apresentado ao acaso.

No decorrer do texto, você observará que os estudos da estatística


iniciam-se com atividades relacionadas à necessidade de
determinar a quantidade de terras em uma certa situação. Mais
tarde, aparece o estudo das probalilidades, envolvendo jogos de
azar e a astronomia.

Na atualidade, a estatística está presente em todas as áreas de


conhecimento, com objetivos específicos para cada setor da
sociedade em geral, conforme você conhecerá com a leitura desta
unidade.

Assim, você terá o entendimento dessa evolução, bem como


conhecerá alguns dos principais matemáticos que se dedicaram
ao estudo da estatística para culminar com sua estruturação
atual.

Boa leitura!

Seção 1 - Origem da estatística


Para responder ao desenvolvimento social na Antiguidade,
surgiram as primeiras técnicas estatísticas. Quando as sociedades
primitivas se organizaram, sentiram a necessidade de tomar
decisões que exigiam o conhecimento numérico dos recursos
disponíveis. Sabe-se que três séculos antes do nascimento de
Cristo já se faziam estatísticas.

244
História da Matemática

As primeiras estatísticas foram realizadas para que os


governantes das grandes civilizações antigas tomassem
conhecimento dos bens que o Estado possuía, e como estavam
distribuídos pela população. Mas a palavra estatística mesmo só
apareceu, pela primeira vez, no século XVIII, e foi sugerida pelo
alemão Gottfried Achemmel (1719-1772), palavra essa que deriva
de statu, que significa estado, em latim.

O primeiro dado disponível sobre um levantamento estatístico


aparece em 3.050 a.C., relacionado à riqueza da população do
Egito, cujo objetivo principal era conhecer os recursos humanos e
econômicos disponíveis para a construção das pirâmides.

Já no ano de 2.238 a.C., o imperador chinês Yao mandou realizar


uma estatística ordenada com fins industriais e comerciais.
No ano 1.400 a.C., Ramsés II ordenou a realização de um
levantamento sobre as terras do Egito.

Desde a queda do Império Romano, passou-se praticamente


um milênio sem conhecer dados estatísticos importantes, a não
ser os realizados por Pipino, em 758, e por Carlos Magno, em
762, com o objetivo de identificar e cadastrar as terras que eram
propriedades da Igreja.

Considerando a Idade Moderna, especificamente no século


XVII, na Inglaterra, a estatística inaugura um novo momento,
em que os estudiosos John Graunt (1620-1674) e William Petty
(1623-1687) buscavam leis quantitativas para traduzir fenômenos
sociais e políticos da sociedade.

Mas o grande impulso dado à estatística acontece com o


desenvolvimento do cálculo das probabilidades. As relações entre
a probabilidade e os conhecimentos estatísticos mostram-se
extremamente importantes no desenvolvimento da estatística.

O cálculo de probabilidades originou-se da correspondência entre


dois grandes matemáticos do século XVII: Blaise Pascal (1623-
1662) e Pierre de Fermat (1601-1665), para solucionar problemas
relacionados com jogos de azar, muito em moda nos salões da
França, sustentados pelo lazer da aristocracia.

Unidade 7 245
Universidade do Sul de Santa Catarina

Na verdade, antes de Pascal e Fermat, alguns outros matemáticos


italianos, como Niccolò Fontana Tartaglia (1499-1557), Girolamo
Cardano (1501-1576), seguidos por Galileu Galilei (1564-1642),
interessaram-se por problemas de probabilidades relacionados
com jogos de dados.

Curiosidade
A necessidade de medir a margem de incerteza nos
cálculos que envolvem sequências de eventos levou
à teoria das probabilidades. A ideia de controlar o
acaso e prever as chances de acertar ou errar surge
nas mesas de jogos de azar. Um inveterado jogador
de dados francês, o cavalheiro nobre Chevalier de
Méré, propõe para Blaise Pascal, um dos grandes
matemáticos e filósofos do século XVII, o seguinte
problema: como dividir os lucros de um jogo de
dados que precisa ser interrompido. Pascal resolve o
problema junto com Pierre de Fermat, outro gênio
de seu tempo, e abre um novo ramo da Matemática:
teoria das probabilidades e análise combinatória,
que são a base de toda a estatística e das modernas
técnicas de pesquisa.

Boyer (1996) também destaca as contribuições da família


Bernoulli e de Leibntiz, representados nas obras de Jacques
Bernoulli Acta Eruditorum e Ars conjectandi ou arte de conjecturar,
publicado em 1713, oito anos após sua morte.

Esse é o mais antigo volume substancial sobre teoria das


probabilidades, pois o tratado de Huygens (1629-1695), na
verdade, é reproduzido como a primeira das quatro partes
de Ars Conjectandi, junto ao comentário de Bernoulli. A
segunda parte de Ars conjectandi contém uma teoria geral de
permutações e combinações, facilitada pelos teoremas binomial
e multinomial.

Também a terceira e quarta partes da Ars conjectandi são


dedicadas principalmente, a problemas que ilustram a teoria
das probabilidades. Especificamente, a quarta parte contém o
célebre teorema, o qual Bernoulli e Leibniz, que haviam trocado
correspondência, denominaram a “Lei dos grandes números”.

246
História da Matemática

Esta lei afirma que: se p é a probabilidade de um evento, se m é o


número de ocorrências do evento em n experiências, se é um número
positivo arbitrariamente pequeno, e se P é a probabilidade de que a
m
desigualdade | − p | < e esteja satisfeita, então limP = 1 .
n n →∞

Pode-se afirmar que Jean Bernoulli abriu o caminho para a


quantificação da incerteza com seu teorema, cujo enunciado,
na sua forma moderna, é o que se conhece como a “lei fraca dos
grandes números”.

Você sabia?
O matemático francês Legendre (1752-1833) foi uma
figura importante em geodésia, e em conexão com
isso desenvolveu o método estatístico dos mínimos
quadrados. Um caso simples do método dos mínimos
quadrados pode ser descrito como na sequência, se as
observações de um fenômeno levaram a três ou mais
equações, em duaxs variáveis, conforme segue:

(a12 + a22 + a32 ) x + (a1b1 + a2b2 + a3b3 ) y + (a1c1 + a2 c2 + a3c3 ) = 0

(a1b1 + a2b2 + a3b3 ) x + (b12 + b22 + b32 ) y + (b1c1 + b2 c2 + b3c3 ) = 0

Paralelamente ao trabalho dos probabilistas, desenvolveram-


se métodos de grande utilidade no tratamento dos dados de
observação, em particular da astronomia e da geodésia, de onde
surgiu a Teoria dos Erros. A importância da curva normal e o
uso amplo da palavra erro bem demonstram o quanto desses
conceitos foi incorporado à teoria estatística.

Os astrônomos, por exemplo, tratavam com observações


discordantes, da seguinte forma: realizavam a média aritmética Figura 7.1 - Legendre
das observações feitas após o descarte das observações que Fonte: Adrien-Marie (2008).
julgavam discordantes.

No século XVIII, os matemáticos Marquês de Laplace (1749-


1827) e Carl Friedrich Gauss (1777-1855) contribuiram com a
teoria da probabilidade.

Unidade 7 247
Universidade do Sul de Santa Catarina

Gauss, durante seus estudos relacionados com a Astronomia,


percebeu que tinha habilidade computacional. Sendo conhecedor
do método dos quadrados mínimos, enfrentou o desafio de
calcular a órbita em que se movia o recém-planeta Ceres. Com
isso, desenvolveu um método de cálculo das órbitas dos planetas,
que ficou conhecido como o método de Gauss.

Os estudos relacionados com instrumentos e observações


o levaram a resultados significativos à teoria dos erros. Sua
crescente compreensão sobre a natureza dos erros instrumentais,
observacionais e técnicos foi reforçada por sua imersão em
mensuração e geodesia, resultando em uma coleção de relatórios
sobre a teoria dos erros.

Gauss chegou à curva dos erros com espírito empírico, adotando


como axioma o princípio de que o valor mais provável de uma
quantidade desconhecida, observada com igual precisão várias
vezes sob as mesmas circunstâncias, é a média aritmética das
observações.

Após várias considerações gerais, principalmente sobre a função


de frequência dos erros f(x) como a de ter um máximo para
x = 0, de ser sintética e admitir valor nulo fora do limite dos erros
possíveis, obteve a curva dos erros, que ficou conhecida como a
curva de Gauss. Seu trabalho foi publicado em 1809, com o título
latino Theoria Motus Corporum Coelestium in Sectionibus Conicis
Solum Ambientium, com uma seção final sobre combinações.

Outro matemático que contribuiu com a teoria das probabilidades


Figura 7.2 - Laplace foi Laplace. Suas produções foram sintetizadas na sua obra
Fonte: Pierre-Simon (2005).
monumental Théorie Analytique des Probabilités, publicada em
1812. Nesta obra aparece a demonstração formal da teoria dos
quadrados mínimos, desenvolvida por Legendre, mas esse não
publicou.

A teoria das probabilidades deve mais a Laplace do que a


qualquer outro matemático. Ele escreveu que “no fundo a teoria
das probabilidades é apenas o senso comum expresso em números”.

Também com significativas contribuições ao estudo da


probabilidade, podemos citar o matemático Abraham de Moivre
(1667-1754). Mesmo trabalhando com aulas particulares para se

248
História da Matemática

sustentar, produziu uma quantidade considerável de obras. Em


1711, publicou Philosophical Transactions, um trabalho sobre as leis
do acaso, expandindo-se posteriormente em a Doctrine of Chances,
em 1718. Essa obra contém numerosas questões sobre dados, o
problema de pontos com chances diferentes de ganhar, tirar bolas
de cores diferentes de um saco e outros jogos. Alguns problemas
já haviam aparecido em Ars conjectandi. De um modo geral, é de
De Moivre que deriva a teoria das permutações e combinações
dos princípios de probabilidades.

De Moivre interessou-se particularmente por desenvolver os


processos gerais e notações para a teoria das probabilidades que
ele considerava a “nova álgebra”. Ele foi considerado o primeiro a
∞ p
trabalhar com a fórmula de probabilidades e − x dx = . Também
2


0 2
em sua obra aparece a lei dos erros ou curva de distribuição por
ele traduzida.

Nos séculos XIX e XX, inicia-se outra fase do desenvolvimento


da estatística, ampliando e interligando os conhecimentos
construídos anteriormente. Nesses séculos, a estatística passa
a ser aplicada em diferentes áreas do conhecimento. Dois dos
grandes nomes associados a esse desenvolvimento são: Ronald
Fisher (1890-1962) e Karl Pearson (1857-1936).

Assim, na atualidade, a estatística não se limita apenas ao


estudo da demografia e da economia. O seu campo de aplicação
ampliou-se à análise de dados em Biologia, Medicina, Física,
Psicologia, Indústria, Comércio, Meteorologia, Educação, entre
outros. Na sua origem, a estatística estava ligada ao Estado, como
já aqui foi referido. Hoje, não só se mantém essa ligação, como
todos os Estados e a sociedade em geral dependem cada vez mais
dela.

A estatística é vista como a disciplina científica que trata da


coleta, descrição e análise de dados mensuráveis numericamente,
bem como das conclusões e decisões fundamentadas em tais
análises, face às incertezas e variações que podem ocorrer no
mundo real.

Unidade 7 249
Universidade do Sul de Santa Catarina

Síntese

Nesta unidade, a partir de sua leitura, você teve a oportunidade


de conhecer os principais matemáticos que contribuíram para o
desenvolvimento da estatística.

Foi possível verificar que o seu desenvolvimento aconteceu,


principalmente, a partir da necessidade de se levantar dados
quantitativos, relacionados em um primeiro momento com a
quantidade de bens do Estado, levando a palavra estatística a
derivar de statu, que significa estado em latim.

Mais tarde, a estatística passou a abranger outras áreas, e não só


a contagem em geral, mas também a prever a ocorrência de um
evento acontecer dentro de uma dada amostra, abrindo caminho
para o que se conhece hoje como a teoria das probabilidades,
voltada em um momento inicial para os jogos de azar.

Contemporaneamente, você deve ter percebido que os princípios


da estatística apresentam aplicações em muitas áreas de
conhecimento, conforme apresentado nesta unidade, sendo
uma importante ferramenta matemática disponível para os mais
diferentes setores da sociedade atual.

Assim, finalizamos nossos estudos sobre alguns elementos


históricos dos diversos campos da Matemática. Porém, não
pretendemos, em nenhum momento, esgotar esse estudo.

Sabemos que muito ainda há para ser lido, explorado e conhecido


sobre a história desta importante ciência.

Esperamos que este livro fundamente as ideias da Matemática


como uma construção humana, elaboradas a partir de
contradições e dedicação de muitos estudiosos, desde os tempos
mais remotos.

250
História da Matemática

Atividades de autoavaliação

1. A estatística, assim como os demais campos conceituais da Matemática,


foi resultado da contribuição de muitos matemáticos. A partir da leitura
do texto, destaque esses matemáticos e suas principais contribuições.

2. Na atualidade, a estatística se aplica a diversas áreas de conhecimento.


Elabore uma síntese destacando as suas aplicações apresentadas ao
longo de sua história.

3. Entre os objetivos do bloco Tratamento da Informação previstos nos


Parâmetros Curriculares Nacionais, destaca-se:
„ a criação de registros pessoais para comunicação das informações;
„ interpretação e elaboração de listas, tabelas simples, de dupla
entrada e gráficos de barra para comunicar a informação obtida;
„ produção de textos escritos a partir da interpretação de gráficos e
tabelas;
„ valorização da troca de experiências com seus pares, como forma de
aprendizagem;
„ curiosidade por questionar, explorar e interpretar os diferentes usos
dos números, reconhecendo sua utilidade na vida cotidiana.

a) A partir desses objetivos, para a realização desta atividade, você deve


trocar informações com seus colegas de turma, buscando conhecer
a estatura de cada colega. b) De posse desses dados, elabore uma
atividade que pode ser proposta para uma turma da educação
básica, envolvendo o bloco Tratamento da Informação.

Unidade 7 251
Universidade do Sul de Santa Catarina

Saiba mais
A estatística compõe um dos campos de estudo da matemática
na educação básica. Para saber mais sobre esse importante campo
da Matemática, acesse PCN+ on–line, no site do Ministério da
Educação.

252
8
UNIDADE 8

Uma proposta de trabalho


envolvendo a história da
Matemática

Objetivos de aprendizagem
„ Com o estudo desta unidade, o aluno estará apto a
elaborar uma sequência didática envolvendo a história
da Matemática, para uma turma da educação básica.

Seções de estudo
Seção 1 Sequência didática
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Nesta unidade, apresenta-se uma sequência didática, realizada no
desenvolvimento de um Trabalho Final de Curso de Matemática
- Licenciatura da UNISUL, com algumas adaptações feitas pelas
autoras, envolvendo a geometria dos fractais, considerada a mais
recente na história da Matemática.

Em sala de aula, pode-se inserir a história da Matemática,


como uma tendência no desenvolvimento do conteúdo, como
um importante elemento integrador do tema abordado. Com
esta unidade, pretendemos proporcionar a você a visualizaçao
de que por meio de uma sequência didática é possível inovar
a ação pedagógica, mostrando ao educando que a Matemática
constituiu-se na história a partir das contribuiçoes de muitos
estudiosos. E que, por mais que se pense que tudo já está
descoberto, sempre haverá algo de novo a ser estudado.

Uma sequência didática apresenta elementos constitutivos


considerados relevantes ao desenvolvimento de uma aula
bem planejada. Entre eles, destacam-se: identificação, tema,
justificativa, objetivos, estratégias, procedimentos, avaliação e
referências, conforme segue sugestão.

Seção 1 - Seqüência didática

1 Identificação
Secretaria do Estado de Educação
Gerência de Educação
Escola de Educação Básica: ...
Município: ...
Disciplina: Matemática
Professoras: Eliane Darela, Marleide Coan Cardoso e Rosana
Camilo da Rosa

254
História da Matemática

Nível de Ensino: Médio Turno: ...


Série: ... Turma: ...
Data: ... Cronologia: 5h/a

2 Tema: Geometria dos fractais

3 Justificativa
Os fractais correspondem à mais recente geometria, surgindo
nos anos 1970. O seu estudo é de suma importância, devendo
ser inserido nos planos de ensino da disciplina de Matemática.
Uma vez que a geometria euclidiana não pode explicar formas
irregulares que encontramos à nossa volta, como as nuvens,
árvores, costas litorâneas, entre outras.

Os fractais podem estar presentes e serem aplicados junto a


conteúdos que fazem parte do currículo, na sala de aula, pois é
flexível, adaptando-se às atividades a serem realizadas, tanto no
ensino fundamental quanto no ensino médio.

Portanto, pode-se dizer que a geometria fractal é de grande


importância, pois a partir dela podemos gerar diversas fórmulas
matemáticas, produzindo resultados de forma interativa, tendo
como característica a autossimilaridade. E, por isto, é fundamental
que o aluno compreenda essa geometria, sendo ela aplicada
também a diversas áreas do conhecimento, como a Biologia, Física,
Geografia, Medicina, Metereologia, entre outras.

4 Objetivos
„ Relacionar algumas figuras com formas geométricas
conhecidas.

„ Construir uma árvore fractal, identificando sua lei de


formação.

„ Construir o gráfico correspondente à lei de formação da


árvore fractal, identificando o domínio e a imagem, bem
como classificando-a como crescente e decrescente.

Unidade 8 255
Universidade do Sul de Santa Catarina

„ Construir o cartão fractal, identificando a lei de


formação.

„ Reconhecer, no triângulo de Sierpinski, a variação da


área e do perímetro.

„ Apresentar os vários fractais desenhados a partir de


programas e softwares educacionais.

„ Visualizar os vários fractais existentes na natureza, com a


ajuda do computador.

5 Conteúdos envolvidos
„ Sequências numéricas

„ Função exponencial

„ Figuras geométricas: plana e espacial

6 Estratégias

6.1 Recursos

„ Objetos fractais da natureza – sólidos geométricos;

„ Caderno de atividades;

„ Papel cartão, régua, tesoura, cola, transferidor;

„ Computador.

6.2 Técnicas

„ Aula expositiva e dialogada;

„ Construção de matérias envolvendo a geometria fractal


em sala de aula.

256
História da Matemática

7 Procedimentos

7.1 Problematização

Entre os objetos de estudo que envolvem a geometria dos fractais,


estão: as árvores, as nuvens, os relâmpagos, entre outros.

Utilizando-se de várias iterações, vamos construir a árvore


fractal, de acordo com os passos indicados na atividade 2 do
caderno de atividades.

7.2 Historicização

Este item, relacionado com a história dos fractais, está


apresentado no caderno de atividades.

7.3 Operacionalização

A operacionalização da aula acontecerá a partir dos seguintes


procedimentos:

„ apresentação do tema, justificando sua importância e


destacando os objetivos;

„ abordagem da problematização e historicização;

„ distribuição do caderno de atividades, que contém a


programação da aula, bem como as atividades que serão
desenvolvidas.

7.4 Conclusão da aula

Após o término das explicações, solicita-se que os alunos


desenvolvam as atividades abaixo, objetivando melhor
compreensão e fixação do conteúdo, conforme proposta no
caderno de atividades.

8 Avaliação
A avaliação deve ser contínua e processual.

Unidade 8 257
Universidade do Sul de Santa Catarina

8.1 Objetivo geral

Conhecer a geometria fractal, bem como algumas de suas


aplicações, destacando a importância de trabalhar esse tema em
sala de aula.

8.2 Objetivos específicos

Ao término da aula, o aluno deverá ser capaz de:

„ identificar um objeto da geometria fractal;

„ identificar nos fractais estudados a lei de formação,


associando a função exponencial;

„ construir o gráfico das funções obtidas, determinando o


domínio, a imagem e o seu crescimento;

„ identificar a variação da área e do perímetro no triângulo


de Sierpinski;

„ visualizar, por meio de computador, alguns fractais


da natureza e outros desenhados por programas
computacionais.

8.3 Instrumentos de avaliação

O aluno será avaliado por meio dos seguintes critérios:

„ participação no desenvolvimento das atividades;

„ resolução das atividades propostas;

„ domínio do conteúdo.

9 Referências
BARBOSA, Ruy Madsen. Descobrindo a geometria fractal:
para sala de aula. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

As atividades referentes ao desenvolvimento da aula estão


desenvolvidas no caderno de atividades, conforme segue.

258
História da Matemática

Unidade 8 259
Universidade do Sul de Santa Catarina

Um pouquinho de História
Durante séculos, os objetos e os conceitos da Filosofia e da
geometria euclidiana foram considerados como os que melhor
descreviam o mundo em que vivemos. As novas geometrias,
não euclidianas e fractais, inauguram o novo momento para a
Matemática, considerando a geometria euclidiana a sua base
conceitual.

A ideia dos fractais teve a sua origem no trabalho de alguns


cientistas, entre 1857 e 1913. Em 1872, Karl Weierstrass
encontrou o exemplo de uma função com a propriedade de
ser contínua em todo seu domínio, mas em nenhuma parte
diferenciável. O gráfico desta função é chamado, atualmente,
de fractal. Em 1904, Helge von Koch, não satisfeito com a
definição muito abstrata e analítica de Weierstrass, deu uma
definição mais geométrica de uma função similar, atualmente
conhecida como Koch snowflake (ou floco de neve de Koch), que é
o resultado de infinitas adições de triângulos ao perímetro de um
triângulo inicial. Cada vez que novos triângulos são adicionados,
o perímetro cresce, e fatalmente se aproxima do infinito.
Dessa maneira, o fractal abrange uma área finita dentro de um
perímetro infinito.

Também houve muitos outros trabalhos relacionados a essas


figuras, mas essa ciência só conseguiu se desenvolver plenamente
a partir da década de 1960, com o auxílio da computação. Um
dos pioneiros a usar essa técnica foi Benoît Mandelbrot, um
matemático que já vinha estudando tais figuras. Mandelbrot
foi responsável por criar o termo fractal, e responsável pela
descoberta de um dos fractais mais conhecidos, o conjunto de
Mandelbrot.

260
História da Matemática

Atividade 1
Relacionar as figuras apresentadas, aproximando-as com as
formas geométricas euclidianas conhecidas.

Unidade 8 261
Universidade do Sul de Santa Catarina

Atividade 2

a) Construir uma árvore fractal.

„ Desenhar o segmento de reta vertical com 4 cm;


„ Fazer uma bifurcação na extremidade superior do
segmento com um ângulo 60º;
„ Construir os segmentos da bifurcação com medida
igual à metade do segmento anterior;
„ Repetir o processo a partir do segundo passo;
„ Fazer quatro iterações.

b) A partir dessas iterações, represente no quadro abaixo a


quantidade de segmentos referentes a cada iteração.

Iteração Quantidade de segmentos

c) Em seguida, encontre o modelo matemático que


representa o número de segmentos em função do número
de iterações. Na sequência, represente graficamente
essa situação, determinando o domínio e a imagem e
classificando-a quanto ao crescimento.

Representação gráfica
Domínio:_____________________
Imagem:______________________
Crescente ( ) Decrescente ( )

262
História da Matemática

Atividade 3
Construção do cartão fractal “Degraus Centrais”.

a) Construir o cartão fractal, seguindo os passos abaixo.

„ Tomar uma folha de papel A4 e dobrá-la ao meio.

„ A parte marcada pela dobra dividir em quatro partes


iguais com dobraduras.

„ Recortar as duas extremidades até a metade da folha.

„ Dobrar a parte central entre os dois cortes.

„ Dividir a parte central dobrada em quatro partes iguais


e recortar novamente as extremidades até a metade.

„ Repetir os cortes e as dobraduras enquanto a largura


do papel permitir.

„ Abra as dobras e empurre o fractal, montando os


cartões.

Observe a sequência de imagens a seguir, que mostra a formação


do cartão fractal.

Unidade 8 263
Universidade do Sul de Santa Catarina

b) Construir um quadro, envolvendo o nº. de iterações, a


quantidade de degraus e o nº. total de degraus.

Iterações Número de degraus Número total de degraus

c) Representar o modelo matemático referente ao número


de degraus na segunda e na terceira coluna.

d) Construir o gráfico das funções obtidas, determinando


o domínio, a imagem e classificando-a quanto ao
crescimento.

264
História da Matemática

4) Os triângulos de Waclaw Sierpinski

Waclaw Sierpinski (1882-1969), matemático polonês,


revelou seu imenso talento na área das ciências exatas.
Em 1899, Sierpinski entrou para o departamento
de Física e Matemática da Universidade de Warsaw.
Esse matemático desenvolveu um trabalho chamado
“Triângulo de Sierpinski”, considerado um dos fractais
precursores.

A figura abaixo mostra a construção do “Triângulo de


Sierpinski”.

a) Lembre-se de que a construção do triângulo de


Sierpinski ocorre eliminando o triângulo central de
cada iteração. Observando a sequência de triângulos,
identifique o modelo matemático que representa o
número de triângulos codificados com a cor preta, em
função do número de iterações.
b) Realizando inúmeras iterações no triângulo de
Sierpinski, o que acontece com relação à área desse
triângulo?
c) E o que você observa no perímetro?

Unidade 8 265
Universidade do Sul de Santa Catarina

Síntese

Nesta unidade, você ficou conhecendo como é possível elaborar


uma sequência didática envolvendo a história da geometria dos
fractais. O objetivo dessa sequência foi mostrar a possibilidade de
se inserir a história da Matemática no desenvolvimento da aula, a
partir do que denominamos historicização.

Sabemos também que a inserção da história da Matemática


é parte integrante do seu planejamento, não representando
nenhuma novidade, mas vale a pena ressaltar que o planejamento
das aulas de Matemática deve envolver a história do tema a ser
abordado.

Atividades de autoavaliação

Despertar a criatividade do aluno, a partir de atividades


diferenciadas em sala de aula, pode auxiliar no desenvolvimento
do raciocínio lógico, além de minimizar os problemas
relacionados ao processo de abstração, exigido nas aulas de
Matemática.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, o jogo,


quando aplicado de forma planejada, no contexto da aula, pode
representar um importante recurso pedagógico, tornando-se
uma forma interessante de propor problemas ao aluno, pelo
favorecimento da criatividade na elaboração de estratégias,
na construção de uma atitude positiva perante os erros, na
socialização, bem como no enfrentamento de desafios.

Pensando nisso, elabore um jogo envolvendo um tema da história


da Matemática estudado neste livro, com a finalidade de inserir-
la como uma tendência aplicada ao ensino da Matemática.

266
História da Matemática

Sugestões de jogos:

„ Dominó

„ Jogo da memória

„ Trilha

„ Passa ou repassa

„ Bingo

„ Entre outros.

Como se trata de uma atividade de jogo, lembre-se de que esse


deve conter os seguintes itens:

„ objetivos;

„ organização da classe (individual, duplas, trios, entre


outros);

„ recursos necessários;

„ regras bem definidas antes de iniciar o jogo.

Saiba mais
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), o
jogo quando aplicado de forma planejada, no contexto da aula,
pode representar um importante recurso pedagógico, tornando-
se uma forma interessante de propor problemas ao aluno, pelo
favorecimento da criatividade na elaboração de estratégias,
na construção de uma atitude positiva perante os erros, na
socialização, bem como no enfrentamento de desafios.

Unidade 8 267
Universidade do Sul de Santa Catarina

Sobre a utilização de jogos matemáticos, sugerimos a obra:

SMOLE, Kátia Stocco; DINIZ, Maria Ignez; MILANI, Estela.


Cadernos do mathema: jogos de matemática de 6º a 9º ano.
Porto Alegre: Artmed, 2007.

268
Para concluir o estudo

Prezados alunos!

Neste momento finalizamos uma breve viagem na


História da Matemática. Breve no sentido de que
ainda é possível aprofundar os estudos, buscando os
conhecimentos relacionados à história dessa ciência.

Fundamentando-se no estudo da História da


Matemática, o curso de Matemática-Licenciatura
apresenta a disciplina História da Matemática como
uma possibilidade de articulação entre os conceitos
matemáticos e seu desenvolvimento na sociedade com as
demais disciplinas do curso.

A partir do estudo desta disciplina, você poderá abordar


com mais propriedade essa importante tendência
nas atividades iniciadas no Estágio Supervisionado,
preparando-se, finalmente, para a atividade de docência.

Dessa forma, essa pequena viagem ao longo da história


pretendeu mostrar que a Matemática é uma ciência
com uma longa trajetória histórica. E a partir desse
enfoque, essa disciplina oferece a você, futuro professor
de matemática, a possibilidade de inserir em suas aulas
os temas referentes à História da Matemática como
um referencial didático que poderá inovar as aulas de
Matemática da educação básica.

Para viabilizar isso, apresentamos algumas sugestões


de leitura e de inserção da História da Matemática no
contexto das aulas dessa disciplina. Esperamos que
você tenha aproveitado bem o seu estudo e isso tenha
contribuído significativamente com a atividade de
docência para a qual você está se preparando com muita
dedicação.
Universidade do Sul de Santa Catarina

E, nesse ponto, nossa viagem se encerra, mas a sua continua.


Esperamos que você possa identificar a Matemática, a partir
de sua história, relacionando os conceitos matemáticos com as
necessidades e as preocupações dos vários povos em diferentes
momentos históricos, identificando a utilização da Matemática
em cada um deles e estabelecendo comparações entre os conceitos
e processos matemáticos do passado e do presente.

Sucesso! Desejamos que você continue sua caminhada de


formação, como futuro educador, com muito entusiasmo.

As autoras.

270
Referências

A GEOMETRIA hiperbólica e a pseudo-esfera. Seara da Ciência,


2005. Disponível em: <http://www.seara.ufc.br/donafifi/
hiperbolica/hiperbolica5.htm.>. Acesso em: 18 maio. 2011. il.
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272
História da Matemática

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Universidade do Sul de Santa Catarina

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274
História da Matemática

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html>. Acesso em: 1 jun. 2011. il.

275
Sobre as professoras conteudistas

Eliane Darela é mestre em Engenharia de Produção


pela Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC) e licenciada em Matemática pela UFSC. É
professora horista na UNISUL desde 1998, onde vem
desenvolvendo atividades com alunos dos cursos de
Engenharia, Química Industrial, Administração e
Matemática. É também professora de Matemática do
ensino médio na rede pública estadual desde 1989. É
coautora do livro didático Trigonometria e Números
Complexos, disciplina na modalidade a distância da
Unisul Virtual.

Marleide Coan Cardoso possui graduação em


Licenciatura em Ciências pela Universidade do Sul de
Santa Catarina (1985), especialização em Educação
Matemática pela Fundação Educacional de Criciúma
(1989), habilitação plena em Matemática pela UnC
(Universidade do Contestado) (1997) e mestrado
em Ciência da Linguagem pela Universidade do Sul
de Santa Catarina (2003), doutoranda em Ciência
da Linguagem. Atualmente, é professora horista da
Universidade do Sul de Santa Catarina na modalidade
de ensino presencial e a distância. Atua como docente
na disciplina de Matemática na educação básica desde
1984, nas disciplinas de Cálculo, Práticas de Ensino,
Introdução a Análise Matemática no Ensino Superior,
também é docente na Pós-Graduação em Educação
Matemática.

Rosana Camilo da Rosa é mestre em Engenharia de


Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC) e licenciada em Matemática pela UFSC. É
professora horista na UNISUL desde 1993, onde vem
desenvolvendo atividades com alunos dos cursos de
Engenharia, Arquitetura, Ciências da Computação e
Universidade do Sul de Santa Catarina

Matemática. É professora do ensino médio do Colégio Dehon,


vinculado a UNISUL, e também atua como professora de
Matemática do ensino médio na rede pública estadual desde
1989. Também tranbalha como professora na modalidade de
ensino a distância na Unisul Virtual e é coautora do livro didático
Trigonometria e Números Complexos, disciplina na modalidade
a distância da Unisul Virtual.

278
Respostas e comentários das
atividades de autoavaliação

Unidade 1

1) O uso de pedras, marcas em bastão ou ossos, dedos da


mão ou membros das diferentes partes do corpo humano
foram as técnicas primitivas de contagem utilizadas pelo
homem. A história também conta que o homem utilizou
conchas, pérolas, frutos duros, pauzinhos, tudo organizado
em montinhos correspondentes à quantidade de seres ou
objetos que desejavam enumerar.

2) Civilização egípcia, Civilização Mesopotâmica, Civilização


Chinesa, Civilização dos gregos, Civilização Romana,
Civilização Maia, Civilização Hindu e Civilização Árabe.

3)
Sistema
Presença Operações
Civilização Posicional ou
do Zero definidas
Não
Adição,
subtração,
Egípcia Não Não posicional
multiplicação e
divisão

Multiplicação
e potenciação
Posicional –
Babilônica Sim encontradas
base 60
em tabuletas de
argila

Não apresenta. A
Posicional – numeração era
Maia Sim
base 20 relacionada ao
calendário.

4) Na primeira figura, falta o símbolo egípcio dez; na segunda


figura está faltando o símbolo que representa o um, e na
última falta o símbolo que representa o cem.
Universidade do Sul de Santa Catarina

5) a)

1 25
2 50
4 100
8 200
16 400
32 800
64 1600

Na primeira coluna, os números 1, 32 e 64 totalizam 97. Somando os


valores correspondentes na segunda coluna temos: 25+800+1600 =
2425 que é o produto de 97x25.

b)

1 9
2 18
4 36

Na segunda coluna, os números 9, 18 e 36 totalizam 63. Somando os


valores correspondentes na primeira coluna temos: 1+2+4=7 que é o
quociente de 63 por 9.

6) 382 3761

Egípcios

Romanos CCCLXXXII MMMDCCLXI

Gregos HHH ∆∆∆II xxx HH ∆I


Babilônico

Maias

Chineses

Binário 101111110 111010110001

280
História da Matemática

7) Foi no Egito que se iniciou o uso de frações para medir e representar


medidas. Entre os meses de junho e setembro, o nível das águas do
rio Nilo começava a subir. Ao avançar sobre as margens, as águas
derrubavam as cercas de pedra que cada agricultor usava para marcar
os limites de suas terras. Uma nova marcação se tornava necessária e,
para isso, os estiradores de cordas, nome que se dava aos profissionais
que trabalhavam com cordas, esticavam essas cordas para fazer a
medição. Havia uma unidade de medida marcada na própria corda e
os estiradores esticavam a corda e verificavam quantas vezes aquela
unidade de medida estava contida nos lados do terreno, dificilmente
cabia um número inteiro de vezes nas dimensões do terreno, por mais
adequada que fosse a unidade de medida escolhida.
Foi por essa razão que os egípcios criaram um novo tipo de número: o
número fracionário, cuja representação é uma fração.

8) Substitua p por 13 e obtenha a decomposição solicitada.

2 1 1
= +
13 13.(13 + 1) (13 + 1)
2 2
2 1 1
= +
13 91 7

9) Em nosso sistema de numeração, o indo-arábico, há vários momentos


em que temos a necessidade de escrever o zero em diferentes
posições, visto ser um sistema posicional. No sistema de numeração
mesopotâmico, os babilônios cada vez que uma potência de sessenta
vinha a faltar na escrita do número, utilizavam um espaço vazio.
Quando um escriba desatento omitia esses espaços, ocorria uma
confusão. Quando havia a ausência de duas ordens consecutivas, a
confusão era maior ainda. Para resolver este problema, os babilônios
introduziram signos especiais para identificar a ausência das unidades .
Foi dessa forma que nasceu o zero babilônico.

10) 268 (no sistema de numeração atual)

281
Universidade do Sul de Santa Catarina

11)
a) 4320

b) 43206

c) 765084

12) A irregularidade na terceira ordem se deve ao fato de que a numeração


estava, de certo modo, relacionada com o calendário anual, que
consistia em 18 meses de vinte dias cada um.

13) a) 31 b) 93701

14) a) 257 βεζ

b) 43 δγ

c) 4376 δγζς

d) 46.000 Mμς

15) a) CCLXXXII b) CCCLXXVI

16) É um sistema de numeração no qual a mudança da posição de um


símbolo muda o número representado.

17)

282
História da Matemática

Portanto, o produto de 562 por 54 é igual a 30348.

18) Aperfeiçoamento do sistema de numeração hindu e divulgação entre


outras culturas.

19) A necessidade da criação do sistema de numeração binário está


relacionada principalmente para linguagem de máquina, como o
computador. Na linguagem de máquina, os dados são interpretados
usando o estado da corrente elétrica (ligada/desligada). O sistema de
numeração binário usa os dígitos zero e um, os quais correspondem
aos estados ligado e desligado respectivamente.

Unidade 2

1) Sistematização da teoria dos números; propriedades dos números e a


criação dos símbolos com a categorização dos números em conjuntos.

2) Divida o número 10 em duas partes, de modo que seu produto seja 40.

3)
Matemáticos Contribuição
Propôs o seguinte problema:
Divida o número 10 em duas
Cardano
partes de modo que seu
produto seja 40.

Atribuiu a raiz quadrada


de -1 o caráter metafísico,
Leibniz interpretando como uma
manifestação do espírito
divino.

Primeiro a propor a
visualização dos números
Caspar Wessel
complexos como pontos no
plano bidimensional.

283
Universidade do Sul de Santa Catarina

4)
Matemáticos Contribuição
Números reais podem ser
divididos em números racionais
e irracionais ou algébricos e
transcendentes.
Desenvolveu a teoria dos
George Cantor conjuntos denominada teoria
das coleções. Construiu a
aritmética transfinita. Provou que
o conjunto dos subconjuntos
tem potência maior que o
próprio conjunto.

Concluiu que a continuidade


de um segmento de reta
depende da natureza da divisão
do segmento em duas partes
por um ponto – Cortes de
Richard Dedekind
Dedekind. Percebeu que a partir
dos números racionais pode-
se formar um continuum de
números reais incorporando-se
os irracionais.

Unidade 3

1) As principais necessidades que levaram a criação da geometria se deu


por meio da capacidade humana de reconhecer configurações físicas;
comparar formas e tamanhos; necessidade de melhorar a arrecadação
de impostos de áreas rurais.

2) Os egípcios e mesopotâmicos utilizavam a geometria para medir


terrenos e fazer edificações. Para exemplificar, citamos as famosas
pirâmides do Egito. As duas civilizações conheciam fórmulas para
calcular áreas de retângulos, triângulos, trapézios, bem como volume
de paralelepípedos. No papiro de Rhind existem problemas que
utilizam fórmulas de mensuração para calcular áreas de terras e
volume de celeiros.

284
História da Matemática

3)
Geômetras Contribuições
Demonstrou que:

1) dois ângulos opostos pelo


vértice são iguais;

2) em um triângulo isósceles os
ângulos da base são iguais;

3) qualquer ângulo inscrito em


um semicírculo é reto;

4) qualquer diâmetro divide o


circulo em duas partes iguais
Tales
5) se dois triângulos têm dois
ângulos e um lado em cada um
deles respectivamente iguais,
então, esses triângulos são iguais,
que é o que conhecemos por
lado-ângulo-lado.

6) Teorema de Tales:
“Um feixe de paralelas determina
sobre duas transversais,
segmentos proporcionais”.

1) Demonstração do teorema
de Pitágoras utilizando figuras
planas na areia ou trabalhando
com cordas. A maioria dos
historiadores acredita que foi
uma demonstração do tipo
geométrico, isto é, baseada na
comparação de áreas.

Pitágoras 2) Classificação dos números em


perfeitos, amigos, deficientes e
excessivos;

3) Descobriram os números
figurados;

4) Descoberta dos irracionais.

285
Universidade do Sul de Santa Catarina

1) Obras na geometria plana e


espacial; na matemática aplicada,
na aritmética.

2) Cálculo do número pi pelo


método da exaustão.
Arquimedes
3) Considerado pai da Física
Matemática por suas obras: Lei da
Alavanca e Lei do Empuxo.

4) Sugestão de uma atividade para a 7ª série do ensino fundamental

Tema: Reconhecendo as posições de duas retas no plano a partir da


observação da quadra esportiva.

5)
Civilizações Contribuições

A geometria originou-se
basicamente da mensuração,
Chinesa tornando-se essencialmente um
exercício de aritmética ou álgebra.

Solução geométrica das equações


cúbicas por Omar Khayyam.
Responsáveis pelas grandes
traduções da matemática
Árabe da antiguidade, incluindo a
geometria. Tinham grande
interesse pela trigonometria,
usando as seis funções
trigonométricas.

Obra Sulvasutras que aborda


a construção de ângulos
retos por meio de cordas.
Trabalhavam com o cálculo de
Hindu
áreas de vários quadriláteros.
Precursores do desenvolvimento
da trigonometria substituindo a
tabela de cordas dos gregos.

286
História da Matemática

Unidade 4

1)
Geometria Criador Características

Nasceu da conjunção da
ciência da perspectiva,
Girard Desargues e
Projetiva surgida por necessidades
Gergonne Poncelet
práticas com a teoria das
cônicas.

A obra de Descartes é com


demasiada frequência
descrita simplesmente
como aplicação da álgebra
Rene Descartes e
Analítica à geometria, ao passo que
Pierre de Fermat
poderia ser caracterizada
como sendo a tradução de
operações algébricas em
linguagens geométricas.

Negação do quinto
postulado de Euclides
associado a novos
espaços, como o esférico
Geometria não Gauss, Lobatchevski, e o hiperbólico.
euclidiana Riemann e Bolyai As noções básicas que são
afetadas pela escolha da
geometria são as medidas
das distâncias e dos
ângulos.

Geometria dos Complexidade infinita e


Benoit Mandelbrot
fractais autossimilaridade.

2) A geometria projetiva nasceu da conjunção da ciência da perspectiva,


surgida por necessidades práticas com a teoria das cônicas, de Euclides
e Apolônio de Perga. A evolução das ideias relativas ao infinito
geométrico passou pela questão da perspectiva, a representação
de um plano em terceira dimensão, levando ao desenvolvimento
da perspectiva linear e também de um plano em terceira dimensão,
levando ao desenvolvimento da perspectiva linear.

287
Universidade do Sul de Santa Catarina

3) Para responder esta questão, você pode pesquisar em livros de


ensino médio, atividades que envolvam a representação gráfica e a
representação algébrica das funções.
Um exemplo a ser considerado como resposta nesta questão está
relacionado com a representação gráfica e algébrica de uma função
polinomial do primeiro grau, assim enunciado:
Dado a função f(x) = x+1 definida em reais, represente-a graficamente.

Unidade 5

1) Dois conceitos marcam o início da trigonometria, são eles: razão entre


dois números e triângulos semelhantes. São conceitos em que os
matemáticos da antiguidade se fundamentavam para calcular a altura
de pirâmides, a largura de rios, a altura das montanhas, bem como os
problemas gerados pela astronomia, agrimensura e navegação.

2)
Matemáticos Contribuições

Foi Eratóstenes que fez a primeira


demonstração do tamanho do
círculo máximo da terra por meio
da análise das sombras projetadas
Eratóstenes
por colunas verticais, localizadas
nas cidades de Alexandria e Siena,
na época chamada Assuan.

288
História da Matemática

Dividiu a circunferência em 360


partes iguais, e cada uma dessas
partes recebeu o nome de arco de
1 grau.
Hiparco
Têon de Alexandria, atribui a
Hiparco um tratado em doze
livros, que se ocupa da construção
de uma tábua de cordas.

Contribuiu para todos os


ramos do saber científico, mas
se destacou fortemente na
Trigonometria. Sua obra mais
Ptolomeu importante é um tratado, com
treze livros, denominada Síntese
matemática, conhecida até hoje
como Almagesto, que significa “o
maior de todos”.

Para responder essa questão você deve reler a seção 2 da unidade 5.


Nela você encontrará as principais contribuições de cada um desses
matemáticos citados.
3)

Almagesto de Ptolomeu Siddhanta


É um tratado com treze Surgiu na Índia no final do
livros, denominado Síntese século IV um conjunto de textos
Matemática, conhecido por matemáticos denominados
Almagesto, que significa o maior Siddhantas, que significa
de todos. Nele encontramos sistemas de astronomia. Eram
uma tabela trigonométrica onde conhecidos também por Surya
são fornecidas as medidas das Siddhanta, que significava
cordas de uma circunferência sistema do sol. Essa obra abriu
para ângulos que variam de as portas para a Trigonometria,
meio em meio grau, entre 0° por não ter seguido o mesmo
e 180°. Em todos os cálculos, pensamento de Ptolomeu, que
Ptolomeu utilizou uma relacionava as cordas de um
circunferência com raio de 60 círculo com o ângulo central
unidades e determinou as cordas correspondente. Para os hindus, a
correspondentes aos ângulos trigonometria era fundamentada
centrais de 90°, 60° e 120°. na relação entre a metade da
corda (jiva) e a metade do ângulo
central, pois podiam, dessa
forma, trabalhar com o triângulo
retângulo.

Para responder essa questão, você deve reler a Seção 3, que trata da
grande obra dos hindus “O Siddhanta”. Em Ptolomeu você encontrará
referências sobre o Almajesto.

289
Universidade do Sul de Santa Catarina

4) Por meio dos árabes, a trigonometria, baseada na meia corda de


uma circunferência apresentada pelos hindus, chegou à Europa. Os
árabes haviam traduzido textos de trigonometria do sânscrito. Os
hindus tinham dado o nome de jiva à metade da corda, e os árabes
a transformaram em jiba. Na língua árabe é comum escrever apenas
as consoantes de uma palavra, deixando que o leitor acrescente
mentalmente as vogais. Desse modo, os tradutores árabes registraram
jb. Na sua tradução do árabe para o latim, Robert de Chester interpretou
jb como as consoantes da palavra jaib, que significa “baía” ou “enseada”,
e escreveu sinus, que é o equivalente em latim. A partir daí, a jiba, ou
meia corda hindu, passou a ser chamada de sinus, e, em português, seno.

Unidade 6

1) Exemplo de um problema envolvendo o método da falsa posição:“O


valor de aha se aha mais meio aha dão 12”. Inicialmente, toma-se o
valor de aha como sendo 2 e resolve-se o lado esquerdo da equação:

1
x+ ⋅x =
2
1
2+ ⋅2 =
2
2 +1 =
3

Com esse valor obtido, efetua-se a proporção em que o valor utilizado


2 está para 3 e o valor de aha está para 12, ou seja:

2 aha
=
3 12
2 ⋅ 12 = 3 ⋅ aha
24 = 3 ⋅ aha
24
= aha
3
8 = aha
aha = 8

290
História da Matemática

2) x=1. Sugestão: divida todos os coeficientes da equação por 10 e


transporte o termo independente para o segundo membro)

3) r2. (9π - 1)

4) Os matemáticos hindus que contribuíram de forma muito significativa


para o estudo das equações foram Bramahgupta e Bhaskara, e os
matemáticos árabes foram mais importantes foram al-Mansur, Harum
al-Rachid, al-Mamum e al-Khowarizmi.

5)
MATEMÁTICOS CONTRIBUIÇÕES
Aperfeiçoou as notações
algébricas e contribui para a
teoria das equações. Adotou
vogais para representar as
incógnitas e consoantes para
os números conhecidos.
François Viète
Também utilizou gráficos para
resolver equações cúbicas e
biquadradas e a trigonometria,
para as equações de graus mais
elevados.
Melhorou a teoria das
equações, percebendo
uma importante relação
entre coeficientes e raízes,
Thomas Harriot demonstrando que as equações
poderiam ter raízes negativas
e imaginárias. Harriot também
introduziu os sinais > (maior
que), e < (menor que).

Também foi responsável por


aprimorar o simbolismo da
álgebra, introduzindo o atual
sistema de expoentes inteiros
René Descartes
positivos. Descartes usava as
letras finais do alfabeto, x, y e z
para as variáveis e as primeiras
letras a, b, c, para as constantes.

291
Universidade do Sul de Santa Catarina

Início da libertação da álgebra


da geometria e abandono
do princípio geométrico da
homogeneidade dimensional,
Pierre de Fermat
com progressiva introdução
de simbologia mais concisa
para denotar coeficientes e
incógnitas.

Início da libertação da álgebra


da geometria e abandono
do princípio geométrico da
homogeneidade dimensional,
John Wallis
com progressiva introdução
de simbologia mais concisa
para denotar coeficientes e
incógnitas.

Descobriu o método das séries


infinitas e o cálculo. Também
Isaac Newton descobriu o teorema binomial,
a lei da gravitação e a natureza
das cores.

Tinha grande habilidade para


construir notações; criou os
termos abscissas, ordenada,
coordenadas, eixo de
Leibniz
coordenadas e função, inventou
determinantes. Descobriu
as relaçoes modernas entre
derivadas e integrais.

292
História da Matemática

Atualmente, não só usamos


as notações, introduzidas
por Euler, para representar
os números, mas usamos
em geometria, álgebra,
trigonometria e análise. O uso
das letras minúsculas a, b e
c para lados dos triângulos
Leonhard Euler
e A, B e C para os ângulos
opostos, as letras r, R e s
para o raio da circunferência
inscrita e circunscrita e o
semiperímetro do triângulo
respectivamente. A fórmula
4rRs = abc, relacionando os seis
comprimentos.

Entre as descobertas mais


importantes, podemos
destacar o método de
mínimos quadrados, a prova
Gauss
da reciprocidade quadrática
na teoria dos números e seu
trabalho sobre o teorema
fundamental da álgebra.

Mas Hilbert destacou-


se também nos estudos
relacionados com a teoria
David Hilbert Gauss algébrica dos números,
geometria, topologia, equações
diferenciais e cálculo de
variações.

293
Universidade do Sul de Santa Catarina

Unidade 7

1) Destaca-se que os seguintes matemáticos contribuíram


significativamente no desenvolvimento da estatística:
 Gottfried Achemmel sugeriu a palavra estatística.

 Blaise Pascal e Pierre de Fermat solucionaram problemas


relacionados com jogos de azar, muito em moda nos salões da
França, sustentados pelo lazer da aristocracia.

 Marquês de Laplace e Carl Friedrich Gauss contribuiram com a teoria


da probabilidade.

 Laplace foi muito importante para o desenvolvimento da Teoria das


Probabilidades.

 Ronald Fisher e Karl Pearson: com a contribuição desses


matemáticos, a estatística passa a ser aplicada em diferentes áreas
do conhecimento.

2) Oriente-se pelas seguintes informações:


Os estudos da estatística iniciam-se com atividades relacionadas à
necessidade de determinar a quantidade de terras em uma certa
situação. Mais tarde, aparece o estudo das probalilidades envolvendo
jogos de azar e a astronomia. Na atualidade, a estatística está presente
em todas as áreas de conhecimento, com objetivos específicos para
cada setor da sociedade em geral, conforme você constatou na leitura
desta unidade.

3) Na educação básica, são muitos os momentos em sala de aula em


que podemos explorar os conceitos de estatística, envolvendo várias
disciplinas. Desse modo, você pode propor uma atividade para
qualquer série de educação básica, desde que envolva o campo
conceitual de tratamento da informação e outra área de conhecimento.
Por exemplo: realizar uma pesquisa envolvendo preferências de times,
número de pessoas da família, estatura dos alunos. A partir dos dados
coletados, você pode realizar atividades envolvendo a construção de
gráficos, tabelas.

Unidade 8

Nesta questão, sugere-se a escolha de um dos jogos sugeridos no


contexto da questão, para que seja aplicado na educação básica.

294
Biblioteca Virtual

Veja a seguir os serviços oferecidos pela Biblioteca Virtual aos


alunos a distância:

„ Pesquisa a publicações on-line


<www.unisul.br/textocompleto>
„ Acesso a bases de dados assinadas
<www.unisul.br/bdassinadas>
„ Acesso a bases de dados gratuitas selecionadas
<www.unisul.br/bdgratuitas >
„ Acesso a jornais e revistas on-line
<www.unisul.br/periodicos>
„ Empréstimo de livros
<www.unisul.br/emprestimos>
„ Escaneamento de parte de obra*

Acesse a página da Biblioteca Virtual da Unisul, disponível no EVA,


e explore seus recursos digitais.
Qualquer dúvida escreva para: bv@unisul.br

* Se você optar por escaneamento de parte do livro, será lhe enviado o


sumário da obra para que você possa escolher quais capítulos deseja solicitar
a reprodução. Lembrando que para não ferir a Lei dos direitos autorais (Lei
9610/98) pode-se reproduzir até 10% do total de páginas do livro.

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