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Paixão de Cristo: como foi a morte de

Jesus, segundo a ciência


 Edison Veiga
 De Bled (Eslovênia) para a BBC News Brasil

1 abril 2021

Legenda da foto,
Desconsiderando-se a religiosidade decorrente da figura de Jesus, ele foi um condenado
político
Religiosidade à parte, poucos duvidam que tenha vivido há 2 mil anos um
homem chamado Jesus, em parte do que hoje é Israel.
E que ele foi um judeu dissidente que acabou liderando um grupo de
seguidores. Sua atuação acabou incomodando o Império Romano. E, às
vésperas da Páscoa judaica, ele acabou condenado, torturado e morto por
crucificação — uma prática de pena capital comum na época.
Depois de sua morte, seguidores se encarregaram de espalhar seus
ensinamentos. Terminava a história e começava o mito, a religião, a teologia.
Essa transição ocorreu principalmente graças a um profícuo escritor da época,
pioneiro da Igreja Cristã e autor de muitos textos que hoje estão na Bíblia:
Paulo de Tarso (c. 5-67). Na década de 50 do primeiro século da nossa era,
cerca de 20 anos depois da morte de Jesus, ele produziu sete cartas cujos
textos sobreviveram ao tempo.
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"Nessas cartas reparamos que há uma mudança de enfoque. Paulo não mais
trabalha com o Jesus histórico, ele trabalha com o Jesus da fé", explica o
historiador André Leonardo Chevitarese, autor de, entre outros, Jesus de Nazaré:
Uma Outra História, e professor do Programa de Pós-Graduação em História
Comparada do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ).
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Diante disso, a primeira conclusão é que, desconsiderando a religiosidade


decorrente da figura de Jesus, ele foi um condenado político.
"Jesus histórico conheceu uma morte política. Religião e política são coisas
muito unidas, principalmente quando estamos tratando de uma liderança
popular", acrescenta Chevitarese.
"Não há como separar as andanças [de Jesus] como algo só político ou só
religioso. As fronteiras são muito fluidas. E isso acaba sendo chave para
compreender o movimento de Jesus com Jesus [ainda vivo] e o movimento de
Jesus sem Jesus [depois da morte dele, com as pregações dos primeiros
seguidores]."
Paixão e morte
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Fim do Podcast
A morte na cruz, cujo simbolismo acabou se confundindo com a própria
religiosidade cristã, não era um acontecimento raro naquela época.
"A crucificação era a pena de morte usada pelos romanos desde o ano 217
a.C. para escravos e todos aqueles que não eram cidadãos do Império",
explica o cientista político, historiador especializado em Oriente Médio e
escritor italiano Gerardo Ferrara, da Pontifícia Universidade da Santa Cruz, de
Roma.
"Era uma tortura tão cruel e humilhante que não era reservada a um cidadão
romano. Era precedida pelo açoite, infligido com vários instrumentos, conforme
a origem e a proveniência social dos condenados."
"A crucificação não foi invenção romana mas estava amplamente disseminada
no Império Romano. Fazia parte de uma rotina dentro dos territórios que hoje
chamamos de Israel", pontua Chevitarese. "Mais ou menos uns 40 anos depois
da morte de Jesus, quando houve a tomada de Jerusalém, milhares de judeus
foram crucificados."
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Legenda da foto,
A crucificação não foi invenção romana mas estava amplamente disseminada no
Império Romano, diz pesquisador/ acima, obra de Jesus sendo erguido na cruz, de
Rubens
Os Evangelhos dedicam-se também a narrar as últimas horas de Jesus,
detalhando seu sofrimento. De acordo com as escrituras sagradas, ele teria
sido levado de uma instância a outra nessas horas de julgamento, com certa
hesitação entre as autoridades. Chevitarese diz que historicamente isso não
pode ser verdade.
Isto porque, a julgar pelos relatos, Jesus foi morto na antevéspera da Páscoa
judaica. "A festa da Páscoa é uma festa política, pois é quando se celebra a
passagem da escravidão para a liberdade, a saída do povo hebreu do Egito
para a 'terra onde corre o leite e o mel'", lembra o historiador.
"Então imaginemos: uma cidade abarrotada de judeus, como a autoridade
romana vai botar um judeu para carregar uma cruz pela cidade, no meio de
tantos judeus? Seria um convite à rebelião. Com uma pessoa como Jesus
ninguém poderia perder tempo. Foi pego e imediatamente crucificado." Para
Chevitarese, os relatos que existem dando conta de acontecimentos entre a
prisão de Jesus, na madrugada de quinta para sexta, e sua crucificação, horas
mais tarde, não são históricos; são teologia.
Alguns dias antes, no que acabou se eternizando como Domingo de Ramos,
Jesus tinha entrado em Jerusalém. Foi uma rara aparição dele em uma grande
cidade, o que teria transformado-o em alvo fácil das autoridades.
Mas por que ele incomodava? Porque liderava um grupo justamente
proclamando um novo reino, o Reino dos Céus, ou reino de seu pai. E seu
discurso era de um reino diametralmente oposto ao Império Romano, segundo
quatro pilares básicos. "Ele se torna messias por conta dessa ideia", defende
Chevitarese.
O primeiro pilar do reino defendido por Jesus era a justiça. Não qualquer
justiça, mas a justiça divina. "E ele se referia a Deus como papai, seu pai
celestial. Essa justiça tão equilibrada, era claro, se opunha a outro reino,
aquele que já estava instalado e que controlava a Judeia: o dos romanos",
compara o historiador. "Ele está dizendo: aqui no meu reino tem justiça; o do
César é o reino da injustiça."
O segundo ponto é que Jesus proclamava um reino de paz, também em
oposição ao estado bélico do governo imposto pelos romanos, um império que
avançava sobre outros povos.
O terceiro pilar é comensalidade: comida, bebida, fartura na mesa dos pobres,
dos camponeses. "O grupo que acompanhava Jesus ouvia sua pregação e, de
alguma maneira, achava interessante o que ele estava dizendo", diz
Chevitarese. Por fim, Jesus falava de um reino de igualdade, com a
coparticipação de todos. "O ministério de Jesus é de homens e mulheres,
iguais", nota o historiador.
"O importante é que [nesses discursos] política, religião, economia, sociedade,
tudo isso se inseria num programa messiânico. Não estava claro onde
começava a política e terminava a religião, nem onde terminava a religião e
começavam as questões sociais. Tudo estava interligado", completa.
"Jesus morre por causa de um reino, o reino de Deus. Esse é o movimento de
Jesus com Jesus. A geração seguinte, o movimento de Jesus sem Jesus,
ressignifica a morte dele como uma morte sacrificial, que ganha dimensão
estritamente religiosa."
As autoridades romanas que serviam na região já estavam mapeando os
movimentos de Jesus. E encontraram a oportunidade perfeita quando ele
resolveu entrar em Jerusalém. "Viram-no criando confusão no templo, às
vésperas da Páscoa, com a cidade cheia de judeus vindos das mais diferentes
regiões e pensaram: rapidamente esse homem tem de ser preso, crucificado",
diz o historiador.
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Legenda da foto,
Discurso de Cristo era de um reino diametralmente oposto ao do Império Romano;
acima, ele retratado em obra de Ticiano
"Todos os evangelistas concordam em situar a morte de Jesus em uma sexta-
feira, dentro do feriado da Páscoa", comenta Ferrara. Autor do livro Vita di Gesù
Cristo, o padre, biblista e arqueólogo italiano Giuseppe Ricciotti (1890-1964)
reuniu várias informações históricas, cruzou-as e concluiu que o mais provável
é que a execução tenha ocorrido no equivalente ao 7 de abril do ano 30.
A morte na cruz
Eram três as maneiras de se executar um condenado na Roma antiga.
Segundo explica Chevitarese, um objetivo as unia: não permitir a preservação
de vestígios de memória — em outras palavras, impossibilitar que restos
mortais fossem sepultados.
Geralmente aos circos romanos eram destinados os condenados por crimes
como assassinato, parricídio, crimes contra o Estado e estupros. Na arena,
esses criminosos enfrentavam feras até a morte — seus restos eram
devorados pelos bichos. Uma segunda forma de execução era a fogueira, que
também não deixava muitos resíduos do corpo.
A crucificação era a pena destinada a escravos que atentavam contra a vida
dos seus senhores e aqueles que se envolviam em rebeliões. Além de todos os
que não eram cidadãos romanos, caso de Jesus. "Ainda vivos, na cruz, aves
de rapina já começavam a comer o condenado. Três ou quatro dias depois, a
carne desse indivíduo, apodrecendo, caía da cruz e cães e outros animais
terminavam de fazer o serviço", contextualiza Chevitarese.
No início dos anos 2000, o médico legista norte-americano Frederick Thomas
Zugibe (1928-2013), professor da Universidade de Columbia e ex-patologista-
chefe do Instituto Médico Legal, fez uma série de experimentos com voluntários
para monitorar os efeitos que uma crucificação teria sobre o corpo humano. Os
resultados foram publicados no livro The Crucifixion of Jesus: A Forensic
Inquiry (A crucificação de Jesus: uma investigação forense, em tradução livre)
Para seus estudos, ele utilizou uma cruz de madeira com 2,34 metros na
vertical e 2 metros na horizontal. Indivíduos — todos adultos jovens, na faixa
dos 30 anos — foram suspensos nela e tiveram suas reações monitoradas
eletronicamente, com eletrocardiograma, medição de pulsação e aferição de
pressão sanguínea.
Atados assim, os voluntários não conseguiam encostar as costas na cruz e
relataram fortes cãibras causadas pelo desconforto da posição, além de
formigamentos constantes nas panturrilhas e nas coxas.
Na época de Jesus diferentes formas de cruz eram utilizadas nas execuções.
As principais eram a em forma de T e a em forma de punhal. Não há consenso
entre pesquisadores sobre qual teria sido a utilizada por Jesus. Ferrara acredita
que teria sido a segunda.
CRÉDITO,DOMÍNIO PÚBLICO
Legenda da foto,
"Detalhes da punição são confirmados pelo uso romano e por documentos históricos: os
condenados eram amarrados ou pregados no patíbulo com os braços estendidos e
erguidos no mastro vertical já fixado"; acima, crucificação retratada pelo artista Rubens
Para o médico Zugibe, Jesus carregou, em seu caminho até o local da
execução, apenas a parte horizontal. Ele escreveu que a estaca vertical
costumava ser mantida no local das crucificações, fora da cidade.
E baseou-se no fato de que a parte horizontal pesava cerca de 22 quilos. A
soma de ambas as partes tinha entre 80 e 90 quilos, o que tornaria impossível
de ser carregada em uma longa caminhada — que, conforme seus estudos,
teria sido de 8 quilômetros no caso de Jesus.
"Detalhes da punição são confirmados pelo uso romano e por documentos
históricos: os condenados eram amarrados ou pregados no patíbulo com os
braços estendidos e erguidos no mastro vertical já fixado", esclarece Ferrara.
"Os pés eram amarrados ou pregados, por outro lado, ao poste vertical, sobre
o qual uma espécie de assento de apoio se projetava na altura das nádegas. A
morte era lenta, muito lenta, e acompanhada por um sofrimento terrível. A
vítima, levantada do solo a não mais de meio metro, estava completamente
nua e podia ficar pendurada por horas, senão dias, sacudida por espasmos de
dor, náuseas e a impossibilidade de respirar corretamente, já que o sangue
nem sequer podia fluir para os membros que estavam tensos a ponto de
exaustão."
O que é um entendimento quase unânime entre os pesquisadores é que as
cravas eram pregadas nos pulsos, e não nas palmas das mãos — por conta da
compleição óssea, as mãos "se rasgariam" com o peso do corpo. "A estrutura
das mãos e a ausência de ossos importantes impediriam o suporte de um peso
tão grande e a carne das mãos seria dilacerada", ressalta Ferrara.
O médico Zugibe concluiu que os pregos tinham 12,5 centímetros de
comprimento. Ele defendia que Jesus tinha sido pregado, sim, nas mãos, mas
não no centro da palma e sim pouco abaixo do polegar. Já suspenso na cruz,
os pés de Jesus também foram fixados com cravas — segundo o médico, um
ao lado do outro, e não sobrepostos como o imaginário consagrou. Essas
perfurações, por atingirem nervos importantes, teriam sido causadoras de
dores insuportáveis e contínuas.
"Quanto tempo um indivíduo leva para morrer assim? Morre-se de cãibra, que
vai atrofiando seus músculos e levando-o a morrer por falta de ar, com muitas
dores, dores gigantescas no corpo todo", narra Chevitarese. Ferrara, por sua
vez, defende que Jesus tenha morrido por infarto do miocárdio, em decorrência
do esforço exaustivo.
Por meio de seus experimentos, Zugibe analisou as três hipóteses mais aceitas
para a morte de Jesus: asfixia, ataque cardíaco e choque hemorrágico. Sua
conclusão é que Jesus teve parada cardíaca em virtude da hipovolemia, ou
seja, a diminuição considerável do volume sanguíneo depois de toda a tortura e
das horas pregado na cruz. Teria morrido, portanto, de choque hemorrágico.
"[A morte na cruz] é uma morte de violência física absurda. O tempo dependia
das condições físicas em que se encontrava o crucificado. Se a tortura anterior
tivesse sido muito intensa, isso de certa forma poderia fazer com que ele
morresse mais rápido", diz Chevitarese. Ferrara acredita que "a agonia de
Jesus não tenha durado mais do que algumas horas, talvez até menos do que
duas, provavelmente devido à enorme perda de sangue devido à flagelação
[anterior]".
Torturas
CRÉDITO,DOMÍNO PÚBLICO
Legenda da foto,
A morte na cruz é uma morte de violência física absurda, lembra pesquisador/ acima, 'A
flagelação de Cristo', de Caravaggio
Se o condenado à morte de cruz era visto pelos romanos como parte de uma
"escória", um não cidadão considerado criminoso e oriundo dos estratos sociais
mais baixos, é de se supor que os carrascos não poupassem esses indivíduos
de toda sorte de agressões. Para tanto, o instrumento utilizado na tortura era
um chicote específico chamado de azorrague.
No caso de Jesus, Ferrara acredita que tenha sido utilizado um com bolas de
metal com pontas feitas de osso, capaz de rasgar a pele e arrancar pedaços de
carne. "Justamente por ele ser um 'criminoso' de baixa classe social e de
origem não nobre, no caso um judeu de pequena província oriental do império",
justifica ele.
De acordo com as pesquisas realizadas pelo médico Zugibe, o modelo de
chicote utilizado para o açoitamento de Jesus era feito com três tiras.
Condenados assim costumavam receber 39 golpes com o instrumento — na
prática, portanto, era como se fossem 117 chibatadas, já que essas pontas
feitas de osso de carneiro funcionavam como objetos perfurocortantes.
Isso, segundo explicações do médico, resultaria em tremores e até desmaios, e
um quadro de hemorragias intensas, danos no fígado e no baço e acúmulo de
sangue e líquidos nos pulmões.
No caminho até o local de crucificação, não havia limites para as torturas. Eram
espancados, ridicularizados, vítimas de intensa violência. Relatos bíblicos
afirmam que, por sarcasmo, uma coroa de espinhos teria sido cravada na
cabeça de Jesus.
Zugibe queria descobrir qual era a planta utilizada para a tal coroa. Depois de
entrevistar botânicos e estudiosos de biomas do Oriente Médio, chegou a duas
possíveis espécies que seriam capazes de fornecer espinhos grandes o
suficiente. Conseguiu as sementes e cultivou ele próprio as árvores para,
depois, analisá-las.
Acabou concluindo que foram utilizados ramos de uma árvore conhecida como
espinheiro-de-cristo-sírio. Segundo o legista, os ferimentos causados por esse
espinho na cabeça seriam capazes de, mais do que provocar intenso
sangramento na face e no couro cabeludo, atingir nervos da cabeça —
causando dores imensas.
Sepultamento
Chevitarese defende que a crucificação de Jesus, ao contrário do que narra a
Bíblia, tenha ocorrido longe de testemunhas oculares, justamente porque tudo
teria sido feito rapidamente e de modo a não provocar uma revolta da
população.
E que, também ao contrário do relato religioso, não houve sepultamento de
Jesus, tampouco restos mortais preservados. "Crucificados não eram
enterrados. Ficavam na cruz e, ainda vivos, aves de rapina já sabiam que eles
não podiam se mexer. E comiam olhos, nariz, bochecha, aquilo ficava
abarrotado de aves de rapina comendo o corpo ainda vivo", explica ele.
"[O corpo] passava alguns dias ali, quatro, cinco dias, pendurado. A carne
começava a apodrecer. Caía. Despencava. Cães e outros animais se
aproveitavam desses restos humanos para fazer seu banquete", relata.
Para ele, o que prova essa tese é que milhares de escravos foram crucificados
no período e não há registros de cemitérios ou mesmo de ossadas descobertas
dos mesmos. "Historicamente, crucificado não era enterrado", crava.
"Teologicamente, é claro que Jesus precisava ser enterrado — para depois
ressuscitar."

https://www.bbc.com/portuguese/geral-56609774
Crucificação
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

 Nota: Para a Crucificação de Cristo, veja Crucificação de Jesus.

"Crucificação de São Pedro" por Caravaggio.

Crucificação ou crucifixão[1] é um método de pena de morte no qual a vítima é


amarrada ou pregada em uma viga de madeira e pendurada durante vários
dias até a eventual morte por exaustão e asfixia.[2][3][4]
Crê-se que o método tenha sido criado na Pérsia[5] e trazido no tempo
de Alexandre para o Ocidente. Os itálicos copiaram a prática dos cartagineses.
Neste ato se combinavam os elementos de vergonha e tortura, e por isso o
processo de crucificação era olhado com profundo horror. O castigo da
crucificação começava com a flagelação, depois do criminoso ter sido
despojado de suas vestes. No azorrague os soldados fixavam os pregos,
pedaços de ossos, e coisas semelhantes, podendo a tortura do açoitamento
ser tão forte que às vezes o flagelado morria em consequência do açoite. O
flagelo era cometido ao réu estando este preso a uma coluna.
No ato de crucificação a vítima era pendurada de braços abertos em
uma cruz de madeira, amarrada ou, raramente, presa a ela por pregos
perfurantes nos punhos e pés. O peso das pernas sobrecarregava a
musculatura abdominal que, cansada, tornava-se incapaz de manter
a respiração, levando à morte por asfixia. Para abreviar a morte os torturadores
às vezes fraturavam as pernas do condenado, removendo totalmente sua
capacidade de sustentação, acelerando o processo que levava à morte. Mas
era mais comum a colocação de "bancos" no crucifixo, que foi erroneamente
interpretado como um pedestal. Essa prática fazia com que a vítima vivesse
por mais tempo. Nos momentos que precedem a morte, falar ou gritar exigia
um enorme esforço.
O termo vem do Latim crucifixio ("fixar a uma cruz", do prefixo cruci-,
de crux ("cruz"), + verbo figere, "fixar ou prender".)[6]
A Crucifixão de Jesus é a narrativa central do Cristianismo e a cruz (algumas
vezes representando Jesus pregado nela) é o símbolo religioso central para
muitas Igrejas Cristãs.

Índice

 1Terminologia
 2Detalhes
o 2.1Formato da Cruz

o 2.2Colocação de Pregos

o 2.3Causa da Morte

o 2.4Sobrevivência

 3Evidência Arqueológica

 4História e Textos Religiosos


o 4.1Estados Pré-romanos

o 4.2Roma Antiga

 4.2.1História
 4.2.1.1A crucificação de Jesus de Nazaré
 4.2.2Sociedade e Legislação
 4.2.3Procedimento
o 4.3Islã

o 4.4Japão

o 4.5Myanmar

o 4.6Europa

 5Mundo Contemporâneo
o 5.1Execução Legal

o 5.2Jihadismo

o 5.3Outros incidentes terroristas

 6Nas Artes

 7Como devoção

 8Crucificações famosas

 9Ver também
 10Notas

 11Referências

 12Ligações externas

Terminologia
O Grego Antigo possui dois verbos para crucificação: ana-
stauro (ἀνασταυρόω), de stauros, "estaca", e apo-tumpanizo (ἀποτυμπανίζω)
"crucificar numa prancha",[7] junto com anaskolopizo (ἀνασκολοπίζω "empalar").
Em antigos textos pré Grego-Românicos anastauro normalmente significa
"empalar".[8][9][10]
O Novo Testamento Grego utiliza quatro verbos, três deles baseados
em stauros (σταυρός), normalmente traduzido como "cruz". O termo mais
comum é stauroo (σταυρόω), "crucificar", aparecendo 43
vezes; sustauroo (συσταυρόω), "crucificar com" ou "ao lado" aparece cinco
vezes, enquanto anastauroo (ἀνασταυρόω), "crucificar novamente" aparece
somente uma vez na Epístola de Hebreus 6:6 prospegnumi (προσπήγνυμι);
"fixar ou amarrar em, empalar, crucificar" ocorre somente uma vez em Atos dos
Apóstolos 2:23
A palavra portuguesa cruz deriva da palavra latina crux.[11] O termo
latino crux classicamente se refere a uma árvore ou qualquer construção de
madeira usada para enforcar criminosos como forma de execução. O termo
mais tarde veio a se referir especificamente a uma cruz. [12]
A palavra portuguesa crucifixo deriva do Latim crucifixus ou cruci fixus,
particípio passado de crucifigere ou cruci figere, significando "crucificar" ou
"amarrar a uma cruz".[13][14][15][16]

Detalhes

Este crucifixo é atribuído a Michelangelo, conhecido por mostrar crucificações nuas.


A crucificação era frequentemente feita para dissuadir suas testemunhas a
perpetrar crimes (em particular, crimes hediondos). Vítimas eram algumas
vezes deixadas penduradas após a morte para alertar potenciais criminosos.
Crucificação geralmente tinha como objetivo provocar uma morte que era
particularmente lenta, dolorosa (de onde vem o termo excruciante, literalmente
"pela crucificação"), horrível, humilhante e pública, utilizando quaisquer meios
que fossem apropriados a esse objetivo. Métodos de crucificação variavam
consideravelmente de acordo com o lugar e período histórico.
As palavras Gregas e Latinas para "crucificação" correspondiam à aplicação de
muitas formas dolorosas de execução, de empalamento preso em uma árvore,
em uma estaca vertical (uma cruz simplex ou a uma combinação de uma viga
vertical (em Latim, stipes) e uma viga cruzada (em Latim,
'patibulum'). Sêneca escreveu: "Eu vejo cruzes lá, não somente de um tipo
mais feitas em muitas maneiras diferentes: algumas têm suas vítimas com a
cabeça no chão; algumas empaladas em suas partes pudendas; outras
amarradas pelos braços na forca".[17] Em alguns casos, o condenado era
forçado a carregar a viga cruzada para o local de sua execução. [18] Uma cruz
inteira pesaria mais de 135 kg, mas a viga cruzada não seria um fardo tão
pesado, pesando em torno de 45 kg.[19] O historiador romano Tácito disse que a
cidade de Roma possuía um lugar específico para realizar as execuções,
localizada próximo da Porta Esquilina,[20] e possuía uma área específica
reservada para a execução de escravos (por crucificação). [21] Postes verticais
estariam presumivelmente fixados permanentemente naquele lugar e as vigas
cruzadas, com os condenados talvez pregados nelas, seriam amarradas aos
postes.
A pessoa executada poderia ser amarrada à cruz por cordas, embora pregos e
outros materiais afiados sejam mencionados de passagem pelo historiador
judaico Flávio Josefo, em que ele afirma que no Cerco de Jerusalém (70), "os
soldados tomados por fúria e ódio, pregaram aqueles que capturavam, um
após o outro, outro após o outro, a cruzes, só por pirraça".. [22] Objetos utilizados
na crucificação de criminosos, como pregos, eram vendidos
como amuletos com notória qualidade medicinal.[23]
Enquanto uma crucificação era uma execução, era também uma humilhação,
fazendo o condenado o mais vulnerável possível. Embora artistas
tradicionalmente retratem a figura na cruz com uma tanga ou cobrindo os
genitais, a pessoa crucificada era geralmente deixada nua. Escritos
de Sêneca afirmam que algumas vítimas tiveram uma vara de madeira enfiada
pela virilha.[24][25] Apesar de seu uso frequente pelos Romanos, os horrores da
crucificação não escaparam das críticas de alguns eminentes oradores
romanos. Cícero, por exemplo, descrevia a crucificação como "a mais cruel e
detestável punição",[26] e sugeria que "a simples menção da cruz deveria ser
removida não apenas do corpo de um cidadão romano, mas da sua mente,
seus olhos, seus ouvidos".[27] Em outra parte ele diz: "Pregar um cidadão
romano é um crime, açoitá-lo é uma abominação, matá-lo é quase um ato de
vil: crucificá-lo é -- o quê? Não existe uma palavra capaz de descrever tão
horrível ato".[28]
Frequentemente, as pernas da pessoa executada eram quebradas ou
esmagadas com uma barra de ferro, um ato chamado crurifragium, que era
também frequentemente aplicado em escravos, mesmo sem crucificação.
 Esse ato apressava a morte da pessoa mas também significava prevenir
[29]

aqueles que assistiam à crucificação de cometer crimes. [29]


Formato da Cruz

Crux simplex, uma estaca simples de madeira. Imagem de Justus Lipsius.

A crucificação de Jesus. Imagem de Justus Lipsius[30]

Mais informações: Instrumentos da crucificação de Jesus


A forca na qual a crucificação era realizada podia possuir várias formas. Flávio
Josefo descreve múltiplas torturas e posições de crucificação durante o Cerco
de Jerusalém conforme Tito crucificou os rebeldes;[2] Sêneca registrou: "Eu vejo
cruzes lá, não de somente um tipo, mas feitas de diferentes maneiras: algumas
têm a vítima com a cabeça ao chão; algumas empaladas pelas partes
pudendas; outras com os braços esticados na forca." [24]
Algumas vezes a forca era somente uma estaca vertical, chamada em Latim
de crux simplex.[31] Esta era facilmente construída para torturar e matar o
condenado. Constantemente, contudo, havia uma peça cruzada amarrada ao
top para dar a forma de um T (crux comissa) logo abaixo do topo, como na
forma mais comum do simbolismo cristão (crux immissa).[32] A mais antiga
imagem de uma crucificação Romana retrata um indivíduo em uma cruz em
forma de 'T'. É um grafite encontrado em uma taberna em Putéolos, datado da
época de Trajano ou Adriano (final do século I e início do século II EC.).[33] [nota 1]
Alguns autores do século II garantiam que os braços da pessoa crucificada
deveriam ser esticados e não amarrados a uma estaca simples: Luciano de
Samósata fala de Prometeu crucificado "sobre a ravina com suas mãos
esticadas" e explica que a letra 'T' (a letra grega tau) era vista acima como um
sinal de mau presságio (similar ao modo como o número treze é visto
atualmente como um número de azar), dizendo que a letra conseguiu esse
"significado maligno" devido ao "instrumento odioso" que possuía aquela forma,
um instrumento no qual tiranos sacrificavam pessoas. Testemunhas de
Jeová sustentam que Jesus foi crucificado em uma crux simplex, e que a crux
immissa foi utilizada primeiramente como um símbolo Cristão no período da
suposta conversão do Imperador Constantino.[34] Outras formas eram em forma
da letra X e Y.
As passagens do Novo Testamento sobre a crucificação de Jesus não
explicitam o formato da cruz, mas primeiros escritos que falam sobre seu
formato, a partir do ano 100 EC, descrevem sua forma como a da letra T (a
letra grega tau)[35] ou composta de uma viga vertical e uma viga transversal,
algumas vezes com uma pequena projeção para o alto. [36][37]
Colocação de Pregos

Janela de Crucificação por Henry E. Sharp, 1872, em Igreja Evangélica Luterana Alemã de São
Mateus, Charleston, Carolina do Sul

Em representações populares da crucificação de Jesus (possivelmente porque


em traduções de «Disseram-lhe os outros discípulos: Vimos o Senhor. Mas ele
respondeu: Se eu não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, e não puser o meu
dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de modo
algum hei de crer.» (João 20:25) as chagas são descritas como sendo "em
suas mãos"), Jesus é retratado com pregos em suas mãos. Mas em Grego a
palavra "χείρ", normalmente traduzidas como "mão", podia se referir à toda
porção do braço abaixo do cotovelo,[38] e para denotar a mão como uma forma
distinta de braço algumas outras palavras poderiam ser adicionadas, como
"ἄκρην οὔτασε χεῖρα" (ele a feriu no final do χείρ, i.e., "ele a feriu na mão". [39]
Uma possibilidade que não requer amarração é que os pregos eram fixados
logo acima do pulso, entre os ossos do antebraço (o rádio e a ulna).[40]
Um experimento que foi tema de um documentário Busca pela Verdade: A
Crucificação, do canal National Geographic,[41] mostrou que os pés pregados
forneciam suporte suficiente para o corpo e que as mãos poderiam ter sido
simplesmente amarradas. Pregar os pés ao lado da cruz alivia a pressão nos
pulsos colocando a maior parte do peso na parte de baixo do corpo.
Outra possibilidade, sugerida por Frederick Zugibe, é que os pregos podem ter
sido fixados em determinado ângulo, entrando pela palma na área da base do
polegar e saindo pelo pulso, atravessando o túnel carpal.
Um descanso para os pés (suppedaneum) preso à cruz, talvez com o propósito
de retirar o peso da pessoa dos pulsos, é adicionado às vezes em
representações da crucificação de Jesus, mas não é discutido em fontes da
Antiguidade. Alguns acadêmicos interpretam o Grafite de Alexamenos, a mais
antiga representação existente da crucificação, como incluindo o apoio dos
pés.[42] Fontes da Antiguidade também mencionam o sedile, um pequeno acento
preso à frente da cruz, aproximadamente no meio, [43] que poderia ter servido
para um propósito similar.
Em 1968, arqueologistas descobriram em Giv'at ha-Mivtar, ao nordeste
de Jerusalém, os restos de um certo Jehohanan, que fora crucificado no século
I. Os restos incluíam um osso do calcanhar com um prego atravessado pelo
lado. A ponta do prego era dobrada, talvez para amarrar um nó na viga
superiora, o que impedia de ser extraído do pé. Uma primeira medida incorreta
do tamanho do prego levou alguns a acreditarem que ele teria penetrado
ambos os calcanhares, sugerindo que o homem tivesse sido colocado em
alguma posição lateral, mas a medida real do prego, 11.5 cm, sugere que nesta
crucificação os calcanhares foram pregados em lados opostos da viga vertical.
[44][45][46]
 O esqueleto de Giv'at ha-Mivtar é atualmente o único exemplo encontrado
de crucificação na Antiguidade nos registros arqueológicos. [47]
Causa da Morte

"Dacoits birmaneses preparados para execução", fotografia de Willough Wallace Hooper (c. 1880).
"Dacoit" é um anglicismo da palavra "bandido" no idioma Hindu.

O tempo necessário para alcançar a morte poderia variar de horas a dias


dependendo do método, da saúde da vítima e do ambiente. Uma revisão de
literatura feita por Maslen and Mitchell[48] identificou evidências científicas para
diversas possíveis causas de morte: ruptura cardíaca,[49] falha cardíaca,
[50]
 hipovolemia,[51] acidose,[52] asfixia,[53] arritmia,[54] e embolia pulmonar.[55] A morte
poderia resultar de qualquer combinação de um desses fatores ou de outras
causas, incluindo sepse seguida de infecção devida às feridas causadas pelos
pregos, ou pela flagelação que frequentemente precedia a crucificação,
eventual desidratação, ou predação animal.[56][57]
Uma teoria atribuída a Pierre Barbet atesta que, quando todo o peso do corpo é
suportado pelos braços esticados, a causa típica da morte era asfixia.[53] Ele
escreveu que o condenado teria muita dificuldade para inspirar, devida à super
expansão dos músculos do tórax e pulmões. O condenado deveria então se
suspender pelos braços, levando à exaustão, ou ter seus pés apoiados por um
suporte ou peça de madeira. Quando não podia mais sustentar seu corpo, o
condenado morreria em poucos minutos. Alguns acadêmicos, inclusive
Frederick Zugibe, atestam outras causas da morte. Zugibe suspendeu
indivíduos em testes com seus braços de 60° a 70° em relação à vertical. As
cobaias tiveram dificuldade de respirar durante os experimentos, mas sofreram
rapidamente um aumento da dor,[58][59] o que é consistente com o uso romano da
crucificação para atingir uma morte prolongada e agonizante. Não obstante, a
posição dos pés das cobaias de Zugibe não são referendadas por qualquer
evidência histórica ou arqueológica.[60]
Sobrevivência
Uma vez que a morte não ocorre imediatamente após a crucificação,
sobreviver após um curto período de crucificação é possível, como no caso dos
que escolhem a cada ano serem crucificados de forma não letal como devoção.
Há um registro antigo de uma pessoa que sobreviveu a uma crucificação que
tinha objetivo de ser letal, mas foi interrompida. Josefo escreveu: "Eu vi muitos
cativos crucificados, e me lembrei de três deles como meus antigos
conhecidos. Eu estava muito triste e com lágrimas em meus olhos e fui ter
com Tito, e contei a ele sobre meus conhecidos; então ele imediatamente
ordenou que fossem retirados, e que cuidassem muito bem deles, para que se
recuperassem; ainda assim dois deles morreram nas mãos do médico,
enquanto o terceiro se recuperou."[61] Josefo não deu detalhes sobre o método
ou a duração da crucificação dos três amigos antes de serem retirados.

Evidência Arqueológica
Embora o antigo historiador Josefo (e também outras fontes, [quais?]) tenha
registrado a crucificação de milhares de pessoas pelos romanos, há somente
uma única descoberta arqueológica de um corpo crucificado datado por volta
do período de vida de Jesus. Ela foi descoberta em Givat HaMivtar, Jerusalém
em 1968.[62] Não é necessariamente surpresa haver somente uma descoberta
como essa, porque o corpo crucificado era normalmente deixado para
apodrecer na cruz e logo não seria preservado. A única razão destes restos
arqueológicos terem sido preservados foi porque membros da família deste
indivíduo em particular o deram um enterro tradicional.
Os restos foram encontrados acidentalmente em um ossuário com o nome do
homem crucificado, 'Jehohanan, o filho de Hagakol'. [63][64][65][66][67][68] Nicu Haas, um
antropólogo na Universidade Hebraica de Medicina de Jerusalém, examinou a
ossada e descobriu que ela possuía um osso do calcanhar com um prego na
sua lateral, indicando que o homem fora crucificado. A posição do prego em
relação ao osso indica que os pés foram pregados pela lateral e não pela
frente; várias hipóteses foram cogitadas sobre se os pregos eles tivessem sido
fixados juntos na frente da cruz, ou um no lado direito e outro do lado
esquerdo. A ponta do prego possuía fragmentos de madeira de oliveira
indicando que ele fora crucificado em uma cruz de desse tipo de madeira em
uma oliveira de fato. Uma vez que oliveiras não são muito altas, isso sugere
que o condenado foi crucificado na altura da vista.
Adicionalmente, um fragmento de madeira de acácia foi encontrado entro os
ossos e a cabeça do prego, possivelmente para impedir o condenado de
deslizar seu pé sobre o prego. Suas pernas foram encontradas quebradas,
possivelmente para acelerar sua morte. Achava-se que porque no período
romano o ferro era raro, os pregos seriam removidos dos corpos para
economizar. De acordo com Hass, isso poderia explicar porque somente um
prego foi encontrado, já que a cabeça do prego em questão fora dobrada de
maneira que não poderia ser removido.
Hass também identificou um arranhão na superfície interna do osso rádio do
antebraço, próximo do pulso. Ele deduziu pela forma do arranhão, como
também pelos ossos do pulso intactos, que o prego fora fixado no antebraço
naquela posição. Contudo, muito das descobertas de Hass foram
questionadas. Por exemplo, posteriormente foi descoberto que os arranhões na
região do pulso eram não traumáticos - e, portanto, não uma evidência de
crucificação - enquanto um novo exame no osso do calcanhar revelou que os
dois calcanhares não foram pregados juntos, mas sim separadamente a cada
lateral da viga vertical da cruz.[65]

História e Textos Religiosos


Estados Pré-romanos
Crucificação (ou empalamento), em uma forma ou outra, era usado
pelos Persas, Cartagineses e Macedônios.
Os Gregos eram geralmente contra a realização de crucificações. [69] Não
obstante, em seu relato Histories, ix.120–122, o escritor
grego Heródoto descreveu a execução de um general persa nas mãos dos
atenienses por volta de 479 AEC.: "Pregaram-no em uma prancha e o
penduraram-no ... este Artayctes que morreu crucificado."[70] O Commentary on
Herodotus de How e Wells afirma: "Eles o crucificaram com as mãos e pés
esticados e o pregaram às partes da cruz.; cf. vii.33. Esta barbaridade,
incomum entre os Gregos, pode ser explicada por enorme ojeriza ou pelo
respeito ateniense aos costumes locais."[71]
Alguns teólogos cristãos, partindo de escritos de Paulo de
Tarso em Gálatas (Gálatas 3:13), interpretaram uma alusão à crucificação
em Deuteronômio 21:12-23. Esta passagem é sobre ser enforcado em uma
árvore e pode ser associada com linchamento ou enforcamento tradicional.
Contudo, a lei hebraica limitava a pena capital a somente quatro métodos de
execução: apedrejamento, cremação, estrangulamento e decapitação,
enquanto que a passagem em Deuteronômio foi interpretada como uma
obrigação de pendurar o corpo como aviso.[72] O fragmento do Testamento
Aramaico de Levi (DSS 4Q541) registra na coluna 6: "Deus... (parcialmente
legível)- definirá ... certos erros . ... (parcialmente legível)-Ele julgará ...
pecados revelados. Investigue e procure e descubra como Jonas chorou.
Assim, você não destruirá os fracos descartando-os ou por ... (parcialmente
legível)-crucificação ... Não permita que o prego o toque." [73]
O rei judeu Alexandre Janeu, rei da Judeia de 103 AEC. a 76 EC., crucificou
800 rebeldes, ditos Fariseus, no meio de Jerusalém.[74][75]
A Alexandre, o Grande é reputada a crucificação de 2.000 sobreviventes
do cerco da cidade Fenícia de Tiro,[76] como também a do médico que tratou
sem sucesso o amigo de Alexandre, Heféstio. Alguns historiadores também
conjeturaram que Alexandre crucificou Calístenes, seu biógrafo e historiador
oficial, por objetar a adoção de Alexandre pela cerimônia persa da adoração
real.
Em Cartago, a crucificação era uma forma de execução estabelecida, que
poderia ser imposta até a generais por sofrerem uma grande derrota. [77][78][79]
Roma Antiga
História
A hipótese de que a forma adaptada de crucificação dos Romanos
Antigos pode ter sido originada do costume primitivo arbori suspendere—
pendurar em arbor infelix ("árvore maldita") dedicada aos deuses do mundo
inferior — é rejeitada por William A. Oldfather, que mostrou que esta forma de
execução (o supplicium more maiorum, castigo de acordo com os modos dos
ancestrais) consistia em suspender alguém em uma árvore, sem dedicação a
nenhum deus em particular, e açoitando-o até a morte. [80] Tertuliano mencionou
um caso no século I no qual árvores foram usadas para crucificação,
[81]
 mas Sêneca previamente utilizou a frase infelix lignum (madeira infeliz) para
a estaca ("patibulum") ou para a cruz toda.[82] Platão e Plutarco são as duas
fontes principais de criminosos carregando seu próprio patíbulo à execução. [83]
Famosas crucificações em massa se seguiram à Terceira Guerra Servil in 73-
71 AEC (a rebelião de escravos sob o comando de Espártaco), outras
às guerras civis romanas nos séculos II e I AEC., e à Destruição de
Jerusalém em 70 EC. Crasso crucificou 6.000 dos seguidores de Espártaco
caçados e capturados após sua derrota em batalha. [84] Josefo registrou a
história dos Romanos crucificando pessoas ao longo das muralhas de
Jerusalém. Também registrou que os soldados romanos se deliciavam
crucificando criminosos em diferentes posições.
Constantino, o primeiro imperador cristão, aboliu a crucificação no Império
Romano em 337 devido à veneração por Jesus Cristo, sua mais famosa vítima.
[85][86][87]

A maior crucificação de que se tem notícia ocorreu em 71AEC., ao tempo


de Pompeu, em Roma. Dominada a revolta de 200 mil escravos sob o
comando de Espártaco (a Terceira Guerra Servil), as legiões romanas,
furiosas, num só dia crucificaram cerca de 6.000 dos revoltosos vencidos.
A crucificação de Jesus de Nazaré
Ver artigo principal: Crucificação de Jesus

O método da crucificação adquiriu grande importância para o Cristianismo, já


que de acordo com os cristãos Jesus de Nazaré havia sido entregue
pelos judeus aos romanos para crucificação.
Sociedade e Legislação

O Grafite de Alexamenos, uma representação satírica


da adoração cristã, ilustrando um homem adorando
um burro crucificado (Roma, período estimado de 85
ao século III). Possui a inscriçãoΑΛΕΞΑΜΕΝΟΣ
(ΑΛΕΞΑΜΕΝΟϹ) ΣΕΒΕΤΕ (ϹΕΒΕΤΕ) ΘΕΟΝ, que pode ser
traduzida como "Alexamenos respeita Deus". Em
exibição no museu Colina do Palatino, Roma, Itália.
(esquerda). Um traçado moderno.(direita).

A crucificação tinha por objetivo ser um espetáculo pérfido: a mais dolorosa e


humilhante morte possível.[88][89] Era utilizada para punir escravos, piratas e
inimigos do estado. Originalmente era reservada para escravos (então ainda
chamada de "supplicium servile" por Sêneca), e posteriormente ampliada para
cidadãos das classes baixas (humiliores).[43] As vítimas da crucificação eram
despidas[43][90] e colocadas em exibição pública[91][92] enquanto eram lentamente
torturadas até a morte de modo que pudessem servir como um espetáculo e
dissuasão.[88][89]
De acordo com o Direito Romano, se um escravo assassinasse seu senhor ou
senhora, todos os escravos do senhor ou senhora seriam crucificados como
punição.[93] Ambos homens e mulheres eram crucificados.[92][94][95] Tácito registrou
em seus Anais que quando Lúcio Pedânio secundo foi assassinado por um
escravo, alguns senadores tentaram impedir a crucificação em massa dos seus
quatrocentos escravos[93] porque havia muitas mulheres e crianças, mas por fim
a tradição venceu e eles foram todos executados.[96] Embora nenhuma
evidência conclusiva de crucificação feminina, a mais antiga imagem de uma
crucificação romana pode ser de uma mulher crucificada, seja ela real ou
imaginária.[nota 2] A crucificação era uma morte tão pérfida e humilhante que o
assunto era de alguma forma um tabu na cultura romana, e algumas poucas
crucificações foram especificamente documentadas. Uma das poucas
crucificações femininas que temos documentada é a de Ida, uma liberta (ex-
escrava) que foi crucificada por ordem de Tibério. [97][98]
Procedimento
A crucificação era tipicamente conduzida por equipes especializadas, formadas
por um comandante centurião e seus soldados.[99] Primeiro, o condenado era
despido[99] e flagelado.[43] Isto causaria à pessoa uma grande hemorragia e
próximo de um estado de choque. O condenado tinha usalmente de carregar a
travessa da cruz (patibulum em Latim) ao local da execução, mas não
necessariamente a cruz inteira.[43]
Durante a caminhada da morte, o prisioneiro, provavelmente [100] ainda nu após a
flagelação,[99] caminharia pelas ruas abarrotadas das pessoas[91] carregando
um titulus - uma placa indicando o nome do prisioneiro e seu crime. [43][92][99] Ao
chegar ao local de execução, escolhido por ser um local público, [91][92][101] o
condenado seria despido de qualquer roupa restante e então pregado à cruz
nu.[18][43][92][101] Se a crucificação ocorria em um local definido como local de
crucificação, a viga vertical (stipes) poderia estar fixa permanentemente ao
chão.[43][99] Neste caso, primeiramente os pulsos do condenado seriam pregados
ao patibulum, e então ele ou ela seria erguido do chão com cordas e para ser
dependurada no patibulum elevado enquanto ele seria amarrado ao stipes.[43]
[99]
 Em seguida os pés ou tornozelos seriam pregados na viga vertical. [43][99] Os
'pregos' eram pontas de ferro cônicas de 12 a 17 cm, com uma cabeça
quadrada de 76mm.[44] O titulus também seria amarrado à cruz para indicar aos
espectadores o nome da pessoa e seu crime enquanto ele morria na cruz, e
aumentando o impacto ao público.[92][99]
Pode ter havido variações consideráveis nessa posição na qual prisioneiros
eram pregados na cruz e como seus corpos eram suspensos enquanto eles
morriam.[89] Sêneca registrou: "Eu vejo cruzes lá, não de um único tipo mas
feitas de várias maneiras: algumas têm as vítimas com a cabeça ao chão;
algumas empaladas nas partes pudicas; outras com os braços estendidos na
viga horizontal."[24] Uma fonte alega que para judeus (aparentemente não para
outros), o homem seria crucificado com suas costas à cruz como é
tradicionalmente retratado, enquanto uma mulher seria pregada com o rosto
virado para cruz, provavelmente com suas costas para os espectadores, ou ao
menos com o stipes com algum grau de modéstia se visto pela frente.[46] Tais
concessões eram "únicas" e nunca feitas fora do contexto judeu. [46] Diversas
fontes mencionam algum tipo de apoio amarrado aos stipes para ajudar a
sustentar o corpo da pessoa,[102][103][104] consequentemente prolongando
o sofrimento e humilhação da pessoa[89][91] evitando a asfixia causada pela
crucificação sem suporte. Justin Martyr chama o suporte de cornu, or
"chifre,"[102] fazendo com que alguns acadêmicos acreditem que ele poderia ter
uma forma pontuda feita para atormentar a pessoa crucificada. [105] Isso seria
consistente com a observação de Sêneca de vítimas com suas partes pudicas
empaladas.
Na crucificação ao estilo romano, o condenado poderia levar alguns dias para
morrer, mas a morte era muitas vezes acelerada por ação humana. "Os
guardas romanos presentes poderiam deixar o local somente após a vítima ter
morrido, e era sabido que aceleravam a morte de forma deliberada fraturando a
tíbia e/ou a fíbula, espetando uma lança no coração, cortes profundos no peito
ou com uma fogueira aos pés da cruz para asfixiar a vítima." [57] Os romanos
algumas vezes quebravam as pernas do prisioneiro para acelerar a morte e
normalmente proibiam o enterro.[92] Por outro lado, a pessoa era
deliberadamente mantida viva o máximo possível para prolongar seu
sofrimento e humilhação, de maneira a provocar o máximo de medo às
pessoas.[89] Os corpos dos crucificados eram tipicamente deixados na cruz para
decompor e serem comidos por animais.[89][106]
Islã
Mais informações: Hirabah

O Islã se espalhou em uma região onde muitas sociedades, incluindo o Império


Persa e o Império Romano, usavam a crucificação para punir traidores,
rebeldes, ladrões e escravos criminosos.[107] O Corão cita a crucificação em seis
passagens, das quais a mais significante para futuras aplicações legais é a do
verso 5:33:[107][108]

O castigo, para aqueles que lutam contra Deus e contra o Seu Mensageiro e semeiam
“ a corrupção na terra, é que sejam mortos, ou crucificados, ou lhes seja decepada a
mão e o pé opostos, ou banidos. Tal será, para eles, um aviltamento nesse mundo e,

no outro, sofrerão um severo castigo.[109]

Os textos de hadith fornecem citações contraditórias sobre o primeiro uso da


crucificação sob a Lei Islâmica, atribuindo-as variadamente ao
próprio Maomé (por assassinatos e roubo de um pastor) ou ao segundo
califa Omar (aplicada a dois escravos que assassinaram sua dona). [107] A
jurisprudência clássica islâmica aplica o verso 5:33 principalmente a ladrões de
estradas sendo uma punição prescrita nas escrituras (hudud).[107] A predileção
pela crucificação em relação a outras punições mencionadas no verso ou sua
sua combinação (a qual Sadakat Kadri chamou de "o equivalente islâmico ao
enforcamento, afogamento e esquartejamento que europeus medievais
aplicavam a traidores".[110]) está sujeita à "regras complexas e contestadas" na
jurisprudência clássica.[107] A maior parte dos acadêmicos pedia a crucificação
para ladrões de estradas assassinos, enquanto outros permitiam a execução
por outros métodos neste cenário.[107] Os principais métodos de execução são:[107]

Expor o corpo do culpado após a execução por outro método, prescrito pela
"maioria dos acadêmicos"[107][111] e em particular por Ibn Hanbal e Al-Shafi'i;
[112]
 ou Hanbali e Shafi'i.[113]

Crucificar o culpado vivo, para então executá-lo com um golpe de lança ou
outro método, prescrito por maliques, muitos hanafis e a maioria dos xiitas
duodecimanos;[107] a maioria dos maliques;[111] Malik, Abu Hanifa, e al-Awza'i;[112] ou
maliques, hanafis e chafeítas.[113]

Crucificar o culpado vivo e poupar sua vida se ele sobreviver por três dias,
prescrito pelos xiitas.[111]

A maior parte dos juristas clássicos limitam o período da crucificação em três


dias.[107] A crucificação engloba a asfixia ou empalamento do corpo a uma tora
ou tronco de árvore.[107] Diversas opiniões de minorias também preveem a
crucificação como punição por vários outros crimes.[107] Casos de crucificação
referentes à maioria das prescrições legais foram registrados na história do
Islã, e exposição prolongada dos corpos crucificados era especialmente
comum para oponentes religiosos e políticos.[107][114]
Japão

Crucificação antiga na Era Meiji (c. 1865–1868), Yokohama, Japão. Um servo de 25 anos, Sokichi,


foi executado por crucificação por assassinar o filho de seu empregador durante um roubo. Ele foi
asfixiado amarrado, ao invés de pregado, a uma estaca com duas vigas cruzadas. [115][116]

Os Vinte e Seis Mártires do Japão.

A crucificação foi introduzida no Japão durante o Período Sengoku (1467–


1573), após uma era de 350 anos sem pena de morte. [117] Acredita-se que tenha
sido sugerida aos japoneses pela introdução do Cristianismo na região,
[117]
 embora métodos similares de punição tenham sido usados anteriormente
na Período Kamakura. Conhecido em japonês como haritsuke (磔 ), a ?

crucificação era usada no Japão antes e durante o Xogunato Tokugawa.


Diversas técnicas relacionadas à crucificação eram utilizadas. Petra Schmidt,
em "Capital Punishment in Japan", escreveu:[118]
Execução por crucificação incluía, antes de tudo, hikimawashi (i.e, desfile em um cavalo
pela cidade); então o miserável era amarrado a uma cruz feita de uma estaca vertical e
duas vigas horizontais. A cruz era erguida, o condenado perfurado por lanças várias vezes
pelos dois lados e inevitavelmente morto com um golpe final na garganta. O corpo era
deixado na cruz por três dias. Se um condenado à crucificação morresse na prisão, seu
corpo era preservado e a punição realizada no corpo morto. Com Toyotomi Hideyoshi, um
dos grandes unificadores do século XVI, a crucificação invertida (i.e, sakasaharitsuke) era
frequentemente utilizada. A crucificação na água (mizuharitsuke) era reservada
principalmente a cristãos: uma cruz era erguida na maré baixa; quando a maré subia, o
condenado era submergido na água até a cabeça, prolongando a morte por muitos dias

Em 1597 vinte e seis mártires cristãos foram pregados em cruzes


em Nagasaki, Japão. Entre os executados estavam Santo Paulo Miki, Filipe de
Jesus e Pedro Bautista, um espanhol Franciscano que trabalhara em torno de
dez anos nas Filipinas. As execuções marcaram o início de uma longa
história perseguição ao cristianismo no Japão, que continuou até sua
descriminalização em 1871.
A crucificação foi usada como forma de punição de prisioneiros durante
a Segunda Guerra Mundial. Ringer Edwards, um australiano prisioneiro de
guerra, foi crucificado por matar gado, junto com outros dois. Ele sobreviveu 63
horas antes de ser baixado.
Myanmar
Em Myanmar, a crucificação era um elemento central em diversos rituais de
execução. Felix Carey, um missionário em Myanmar de 1806 a 1812,
[119]
 escreveu:[120]
Quatro ou cinco pessoas, após serem terem as mãos e pés pregados em uma cruz,
tiveram primeiro suas línguas cortadas; em seguida suas bocas foram cortadas de orelha a
orelha, suas orelhas cortadas e finalmente o abdome rasgado.
Seis pessoas foram crucificadas da seguinte maneira: suas mãos e pés pregados em uma
cruz; então seus olhos foram arrancados com um gancho sem corte; e dessa maneira
foram deixados para morrer; dois morreram no período de quatro dias; os demais foram
soltos, mas morreram gangrenados no sexto ou sétimo dia.
Quatro pessoas foram crucificadas, não pregadas mas com as mãos e pés amarrados
bem esticados, em postura ereta. Nesta posição eles ficaram até a morte; tudo o que eles
desejavam comer era pedido como uma forma de prolongar suas vidas e miséria. Em
casos como este, as pernas e pés dos criminosos começavam a inchar ao final de três ou
quatro dias; dizem que alguns viveram neste estado por uma quinzena, e morreram por fim
de fatiga e necrose. Aqueles que eu vi, morreram ao final de três ou quatro dias.

Europa
Cartaz mostrando um soldado alemão pregando um homem a uma árvore, quando soldados
americanos vêm em seu resgate.Publicado em Manila pelo Bureau of Printing (1917).

Durante a Primeira Guerra Mundial, havia rumores constantes de que soldados


alemãs crucificaram um soldado canadense em uma árvore ou na porta de um
estábulo com baionetas ou facas de combate. O ocorrido foi reportado
inicialmente em 1915 pelo soldado George Barrie da 1ª Divisão Canadense.
Duas investigações, uma pós-guerra oficial e a outra independente
pela Canadian Broadcasting Corporation, concluíram que não havia evidência
para comprovar a história.[121] Não obstante, o produtor britânico de
documentários Iain Overton em 2001 publicou uma artigo alegando que a
história era verdadeira, identificando o soldado como Harry Band. [121][122] O artigo
de Overton foi base para um episódio do documentário Secret
History no Channel 4.[123]
Há registros de que a crucificação foi usada diversas vezes contra a população
civil alemã da Prússia Oriental quando foi ocupada pelas forças soviéticas ao
final da Segunda Guerra Mundial.[124]

Mundo Contemporâneo

Prisioneiro acorrentado ajoelhando, polegares apoiando os braços, impressão fotográfica em cartão


estereoscópio, Mukden, China (c. 1906)

A crucificação ainda é utilizada como um raro método de execução em alguns


países. A punição por crucificação (șalb) imposta pela lei islâmica é
amplamente interpretada como uma exposição do corpo após a execução,
crucificação seguida de apunhalada no peito ou crucificação por três dias,
sendo que passados três dias sem morrer, a pena é comutada. [125]
Execução Legal
Diversas pessoas foram executadas por crucificação na Arábia Saudita nos
anos 2000s, embora na ocasião eles tenham sido primeiro decapitados e
depois crucificados. Mais recentemente, em março de 2013, um ladrão foi
condenado à crucificação por três dias.[126] Contudo, o método foi outro.
Ali Mohammed Baqir al-Nimr foi preso em 2012 quando tinha 17 anos por fazer
parte dos protestos de antigoverno na Arábia Saudita durante a Primavera
Árabe.[127] Em maio de 2014, foi sentenciado a ser publicamente decapitado e
então crucificado.[128]
Teoricamente, crucificação é ainda uma das punições Hadd no Irã.[129][130]
Se uma pessoa crucificada sobreviver após três dias de crucificação, aquela
pessoa tem a pena suspensa e pode viver.[131] Execução por enforcamento é
descrita da seguinte forma: "Em execução por enforcamento, o prisioneiro será
pendurado em uma forca que deve ser similar a uma cruz, com suas costas
contra a cruz, e o rosto voltado na direção de Meca [na Arábia Saudita], e com
as pernas em posição vertical longe do chão." [132] O Código Penal do Sudão,
baseado na interpretação do governo da Xaria,[133][134] inclui execução seguida de
crucificação como pena. Quando, em 2002, 88 pessoas foram sentenciadas à
morte por crimes relacionados a assassinato, roubo armado e conflito entre
etnias, a Anistia Internacional escreveu que eles poderiam ser executados por
enforcamento ou por crucificação.[135]
Crucificação é uma punição legal nos Emirados Árabes Unidos.[136][137]
Jihadismo
Em 5 de Fevereiro de 2015 as o Comitê dos Direitos das Crianças das Nações
Unidas relatou que o Estado Islâmico do Iraque e do Levante haviam cometido
"diversos casos de execução em massa de garotos, como também informação
de decapitações, crucificação de crianças e sepultamento de crianças vivas.". [138]
Em 30 de Abril de 2014, extremistas islâmicos conduziram um total de sete
execuções públicas em Raqqa, no norte da Síria.[139] As imagens, originalmente
postadas no Twitter por um estudante de Oxford, foram compartilhados por
uma conta do Twitter de um conhecido membro do ISIS fazendo com que as
grandes mídias incorretamente atribuíssem as crucificações ao grupo. [140] Na
maior parte dos casos de "crucificação" as vítimas são baleadas primeiro e
então seus corpos são expostos,[141] mas também houve relatos de
"crucificação" antes do fuzilamento e decapitação, [142] como também um caso no
qual um homem teria sido "crucificado vivo por oito horas" sem confirmação de
sua morte.[141]
Outros incidentes terroristas
O grupo de direitos humanos Karen Women Organization documentou o caso
de forças do Tatmadaw crucificando diversos camponeses Karen em 2000
no Distrito de Dooplaya no estado de Kayin em Myanmar.[143][144]
Em 22 de Janeiro de 2014, um ativista antigoverno e membro
do AutoMaidan foi sequestrado por um grupo desconhecido e torturado por
uma semana. Seus captores o mantiveram no escuro, cortaram um pedaço de
sua orelha e o pregaram em uma cruz. Seus captores finalmente o deixaram ao
lado de uma floresta de Kiev após forçá-lo a confessar que era um espião
americano e ter aceitado dinheiro da Embaixada dos Estados Unidos na
Ucrânia para organizar protestos contra o então presidente Viktor Yanukovych.
[145]

Em 2015, um vídeo surgiu retratando membros do Batalhão de Azov, um


regimento oficial das Forças Armadas da Ucrânia, supostamente crucificando
um rebelde separatista da Nova Rússia e queimando-o vivo. Então declararam
que "todos os separatistas, traidores da Ucrânia e milicianos [sic] serão
tratados da mesma forma". O Batalhão de Azov é associado com
neonazismo e usam símbolos associados à SS como o wolfsangel e sol negro.
Eles supostamente enviaram o vídeo para a
organização hackativista CyberBerkut, que respondeu ameaçando não fazer
prisioneiros do Exército Ucraniano ou milicianos a partir de então. A
autenticidade do vídeo não foi confirmada. [146]

Nas Artes
Ver artigo principal: Crucificação nas Artes

Escultura: Crucificação, homenagem a Mondrian, por Barbara Hepworth, Reino Unido


(2007)
 

Alegoria na Polônia (1914-1918), cartão postal por Sergey Solomko


 

Carro flutuante na festa da Virgem de San Juan dos Lagos, Colonia Doctores, Cidade do
México (2011)
 

Charge política antissemita americana, Sound Money revista, edição de 15 de Abril de


1896
 

Manifestante amarrado a uma cruz em Washington D.C. (1970)

Como devoção
Crucificação devocional em San Fernando, Pampanga, Filipinas, Páscoa 2006
Mais informações: Crucificação nas Filipinas
A Igreja Católica desaprova a auto crucificação como uma forma de devoção:
"Práticas penitenciais que levam a auto crucificação com pregos não são
incentivadas."[147] Não obstante, a prática não é rara.
Nas Filipinas, alguns católicos são voluntariamente, de forma não letal,
crucificados por um certo tempo na Sexta-feira Santa para replicar os
sofrimentos de Cristo. Pregos esterilizados são inseridos pela palma da mão
entre os ossos, além de haver um apoio no qual os pés são pregados. Rolando
del Campo, um carpinteiro em Pampanga, prometeu ser crucificado toda Sexta-
feira Santa por 15 anos se Deus ajudasse sua mulher em um parto complicado,
[148]
 enquanto que em San Pedro Cutud, Ruben Enaje foi crucificado 27 vezes.
[149]
 A Igreja nas Filipinas repetidamente interveio reprovando as crucificações e
auto flagelação, enquanto o governo alega que não pode impedir os devotos. O
Ministério da Saúde das Filipinas insiste que os participantes do rito deveriam
se vacinar contra tétano e que os pregos utilizados deveriam ser esterilizados.
[150]

Em outros casos, a crucificação é simplesmente simulada como uma peça da


Paixão, como na cerimônia de encenação que é realizada anualmente na
cidade de Iztapalapa, na periferia da Cidade do México, desde 1833,[151] e na
mais famosa Encenação da Paixão de Oberammergau. Além disso, desde
meados do século XIX, um grupo de flagelantes no Novo México,
chamados Hermanos de Luz ("Irmãos da Luz"), tem conduzido anualmente
uma encenação da crucificação de Cristo durante a Semana Santa, na qual um
penitente é amarrado (mas não pregado) a uma cruz. [152]

Crucificações famosas

A revolta dos escravos da Terceira Guerra Servil: Entre 73 e 71A EC. um grupo
de escravos, por fim chegando a cerca de 120.000, sob o comando (pelo menos
parcial) de Espártaco se revoltou contra a República Romana. A revolta por fim
acabou esmagada e, enquanto o próprio Espártaco provavelmente tenha morrido
na batalha final da insurgência, aproximadamente 6.000 de seus seguidores foram
crucificados ao logo de 200 km da Via Ápia entre Cápua e Roma como um aviso a
possíveis insurgentes.

Jesus de Nazaré: sua morte por crucificação por ordem de Pôncio Pilatos (por
volta de 30 ou 33), descrita nos quatro Evangelhos do século I, é referenciada
repetidamente como algo bem sabido nas primeiras cartas de São Paulo. Pilatos
era o governador da Judeia à época, e ele é explicitamente associado à
condenação de Jesus não somente pelos Evangelhos mas também por Tácito.
[153]
 A acusação era de que Jesus era o Rei dos Judeus.

São Pedro: Apóstolo cristão, que de acordo com a tradição foi crucificado de
cabeça para baixo por seu pedido (por isso a Cruz de São Pedro), uma vez que
ele não se sentia digno de morrer da mesma maneira que Jesus.

Santo André: Apóstolo cristão e irmão de São Pedro, que é tradicionalmente
dito ter sido crucificado em uma cruz em forma de X (por isso a Cruz de Santo
André).

Simeão de Jerusalém: de acordo com o Bispo de Jerusalém, crucificado em
106 ou 107 EC.

Manes: o fundador do Maniqueísmo, foi descrito por seguidores como sendo
morto por crucificação em 274 EC.

Santo Hugo de Lincoln: uma garoto inglês cujo desaparecimento em 1255
desencadeou um libelo de sangue contra judeus locais. Um homem judeu foi
torturado até ele confessar ter matado a criança. A história de Santo Hugo se
tornou bem conhecida nas baladas poéticas medievais.

Eulália de Barcelona: foi venerada como santa. De acordo com sua
hagiografia, ela foi despida, torturada e finalmente crucificada em uma cruz em
formato de X.[154]

Vilgeforte: foi venerada como uma santa e representada como uma mulher
crucificada, contudo sua lenda vem da interpretação incorreta de um crucifixo
coberto conhecida como Santa Face de Lucca.

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