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Apresentação de bebês ou batismo infantil?

por Nathan Cazé1

Neste ensaio, está sob análise o argumento que fundamenta a apresentação de bebês
no culto público da igreja no texto de Lucas 2:21-22. Segundo tal argumento, Jesus foi
apresentado no Templo e, por conseguinte, a igreja de Cristo deve apresentar seus bebês no
culto público da igreja. Em seguida, defendo que o batismo infantil deve ser praticado em vez
da apresentação de infantes.

Circuncisão
Lucas 2:21 Quando se completaram os oito dias para ser circuncidado o menino, foi-lhe
dado o nome de Jesus, que pelo anjo lhe fora posto antes de ser concebido.
Lucas estava descrevendo o que a lei cerimonial veterotestamentária ordenava, isto é,
que os varões fossem circuncidados ao oitavo dia após nascerem (Gn. 17:12; Lv. 12:3; ver, Lc
1:59). De acordo com Levítico 12:1-5, o tempo de purificação da mãe era cumprido somente
depois de quarenta dias de parto de um filho.
Tendo isto por contexto, Maria e José eram judeus e obedeciam às leis civis,
cerimoniais e morais do Antigo Testamento, e, portanto, Jesus, Deus encarnado, foi submetido
à ordenança da circuncisão no seu oitavo dia de vida, tornando-se membro do povo da
aliança/pacto.

Apresentação
Lucas 2:22 Terminados os dias da purificação, segundo a lei de Moisés, levaram-no a
Jerusalém, para apresentá-lo ao Senhor 23 (conforme está escrito na lei do Senhor: Todo
primogênito será consagrado ao Senhor), 24 e para oferecerem um sacrifício segundo o
disposto na lei do Senhor: um par de rolas, ou dois pombinhos.
Depois de quarenta dias desde o parto, Maria e José subiram para o Templo em
Jerusalém. Kretzmann comenta dizendo,
“Lucas considera necessário explicar os ritos relacionados com a purificação por
causa dos seus leitores que não estavam familiarizados com as leis judaicas. A
mãe estava impura, segundo as ordenanças de Moisés, durante sete dias após
o nascimento de um filho, e deve portanto permanecer separada por uma
questão de mais trinta e três dias. Estes quarenta dias, no total, denotaram os
dias da purificação levítica, Lev. 12. No final deste período, os pais subiram a
Jerusalém com o Menino para O apresentarem ao Senhor, pois o
primogênito do homem e do animal pertencia ao Senhor, Êx. 13:2, e teve de
ser redimido com um sacrifício. Uma vez que Maria e José eram pobres, não
podiam dar-se ao luxo de trazer um cordeiro. Maria, portanto, trouxe o sacrifício
menos caro, Lev. 12:6, 8. A forma como Maria trouxe o seu sacrifício, a oferta
pelo pecado e a oferta de ação de graças, é a seguinte. Ela entrou no Templo
pela “porta do primogênito”, esperou à porta de Nicanor enquanto a oferta de
incenso estava sendo feita no Lugar Santo. Seguiu então para o degrau mais

1
Artigo disponível em: <monoergon.wordpress.com>. 02 novembro 2022.

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alto da escada que conduzia do Átrio das Mulheres para o Átrio de Israel. Aqui
um sacerdote tirou o sacrifício da sua mão e fez a oferta. Foi então aspergida
com o sangue para indicar a purificação. Finalmente ela pagou cinco moedas de
prata para o Tesouro do Templo, colocando o dinheiro (cerca de 85 centavos)
numa das arcas do tesouro em forma de trombeta que se encontrava no Átrio
das Mulheres. Nota: A lei realmente referia-se apenas às mulheres que se
tornaram mães após o curso visual da natureza. A Virgem e o seu Filho
poderiam ter reivindicado a isenção. Mas Cristo humilhou-se tão completamente
por nós pecadores, tão completamente quis tornar-se carne da nossa carne, que
se submeteu mesmo a este rito humilhante de purificação no Templo.”2

Desta forma, vamos ler Êxodo 13:2, “Santifica-me todo primogênito, todo o que abrir a
madre de sua mãe entre os filhos de Israel, assim de homens como de animais; porque meu
é.”. Neste contexto, santificar ao Senhor significa que o primogênito deve ser separado ou, para
usar outra palavra, dedicado, ao serviço de Deus no Templo. Jesus era primogênito, foi levado
ao Templo já, antes, tendo sido circuncidado, e, lá, Maria e José foram purificados (verso 24)
pelo sacrifício que ofereceram, e Jesus redimido por cinco moedas de prata. Ou seja, ser
redimido significava que os pais pagavam o preço para resgatar o filho primogênito.
A apresentação a Jeová no Templo, quer de Jesus ou de quaisquer outros filhos
primogênitos de Israel, foi bem esclarecida por R. C. H. Lenski,
“... cada filho primogênito tinha de ser apresentado a Jeová como pertencente a
ele num sentido especial, isto é, para ser sacerdote do Senhor, mas uma vez
que o sacerdócio tinha sido atribuído à tribo de Levi, os filhos primogênitos
deviam ser resgatados ou comprados de volta ao Senhor pelo preço de cinco
siclos, cerca de dois dólares e meio em nosso dinheiro. Esta redenção dos
primogênitos foi um memorial da preservação dos primogênitos das famílias
israelitas no Egito na noite em que os primogênitos de todos os egípcios foram
mortos. Êx. 13:13, 15; Nm. 8:16, etc.; 18:15, etc. Os aoristas, verbo principal e
infinitivo, implicam que José pagou o dinheiro. Embora ele fosse pobre, não
devemos de forma alguma imaginar que este carpinteiro fosse um indigente.”3

Outrossim, Hendriksen explica o sentido de redimir o filho primogênito,


“A idéia subjacente ao ritual de redenção era esta: na noite da liber­tação de
Israel da “casa da servidão” todos os egípcios primogênitos foram mortos (Êx
12.29). Não obstante, ante os santos olhos de Deus, não só os egípcios, mas
também os israelitas haviam perdido a vida. Em lugar da morte, Deus estava
disposto a aceitar da tribo de Levi o serviço vitalício, primeiro no tabernáculo,
e depois no templo, e dos primogênitos das demais tribos cinco siclos como
oferenda simbólica, como se fosse uma confissão.”4
2
KRETZMANN, Paul E.The Popular Commentary of the Bible, New Testament, Vol 1, 1921, Luke 2:22,
http://www.kretzmannproject.org/. Nota do tradutor: tradução própria e negritos são ênfase minha.
3
LENSKI, R.C.H. The Interpretation of Saint Luke’s Gospel. Augsburg Publishing House, Minneapolis,
Minnesota, 1946, p. 141-142. N.T.: tradução própria.
4
HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento, Exposição do Evangelho de Lucas, Ed.
Cultura Cristã, Vol. 1, 2003, p. 229.

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A apresentação no Templo dos filhos primogênitos tem por prerequesito que estes já
estejam circuncidados, bem como em conexão com a oferta de sacrifício de purificação levada
ao Templo por parte dos seus pais, ocasião em que os pais também fazem o pagamento de
cinco siclos/moedas de prata pela redenção dos filhos primogênitos (Êx. 13:13, 15; Lv. 27:5;
Nm. 3:47; 18:16). Portanto, a apresentação de Jesus no Templo não justifica a prática hoje em
dia de apresentar bebês, pois nos dias de hoje tal rito está desconectado de sua finalidade
original.
A apresentação contemporânea de bebês contradiz as etapas e regulamentações da
apresentação no Templo, pois os bebês varões no contexto bíblico eram circuncidados e os de
hoje não o são; apenas os infantes do sexo masculino eram circuncidados enquanto hoje
bebês de ambos os sexos são apresentados; no contexto bíblico em questão, devia-se esperar
o ciclo de purificação da mãe que era de 40 dias (Lv. 12:1-5) para, a partir daí, levar o infante
masculino ao Templo para ser apresentado e redimido por cinco siclos/moedas de prata,
enquanto hoje não se observa o período de purificação da mãe e nem se leva ao Templo, o
qual está destruído, substituindo, assim, o Templo por igrejas locais, o que não corresponde ao
contexto bíblico porque os primogênitos não eram levados às sinagogas, mas sim ao Templo, e
nem se observa hoje a remissão de bebês pagando-se ao pastor ou igreja local o valor de
cinco siclos/moedas de prata; o primogênito varão era levado ao Templo, enquanto hoje não se
observa a primogenitura, mas, em vez disso, levam-se todos os infantes não ao Templo, mas à
igreja local.
A cerimônia de dedicação de varões primogênitos já circuncidados previamente era
sombra e tipo do que viria a se cumprir no futuro. Tal cumprimento se realizou na pessoa de
Jesus, o “primogênito de toda a criação” (Col. 1:5), para que “em tudo tenha a preeminência”
(Col. 1:18). Essa cerimônia encontrou e cumpriu o seu objetivo em Jesus, o antítipo das
sombras, o qual pode verdadeiramente redimir os perdidos, libertar os cativos e salvar todas as
pessoas (Lc. 2:29-32).

Da circuncisão ao batismo
Ademais, uma das principais razões utilizadas para praticar a apresentação de bebês é
para tal rito servir como uma substituição ao batismo de infantes e crianças. Enquanto nenhum
dos apóstolos ordenaram ou praticaram a apresentação de bebês nas reuniões da igreja
primitiva, e, portanto, não havendo nenhum respaldo bíblico para tal cerimônia, temos muitas
bases bíblicas para praticar o batismo infantil. A circuncisão no Antigo Testamento era um tipo
de batismo, e Paulo declara que o batismo é o antítipo da circuncisão, ou seja, o batismo
tomou o lugar da circuncisão, Colossenses 2:11-12, “Nele também fostes circuncidados com a
circuncisão que não é feita por mãos humanas, o despojar da carne pecaminosa, isto é, a
circuncisão de Cristo, sepultados com ele no batismo, com quem também fostes ressuscitados
pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos.” Gerhard5 explica isso dizendo,
Uma circuncisão sem mãos ocorre, pois a circuncisão no Antigo Testamento era
um tipo para o santo batismo. Tal como Deus o Senhor estabeleceu um pacto
com aquele que foi circuncidado (Gn. 17:10), também o Batismo é um pacto de
uma boa consciência com Deus (1 Ped. 3:21). Tal como o Senhor Deus na

5
GERHARD, Johann. A comprehensive explanation of Holy Baptism and the Lord's Supper (1610).
Repristination Press: Malone, Texas, 2014, p. 23. N.T.: Tradução própria.

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circuncisão exterior simultaneamente também interiormente cortou o prepúcio do
coração, Deut. 30:6, assim também a nossa carne pecaminosa é
simultaneamente subjugada e morta através da água exterior do Batismo.

Marquart6 também comenta dizendo,


“O batismo é a entrada normal do povo de Deus do Novo Testamento, assim
como a circuncisão era a iniciação para entrar no Israel do Antigo Testamento.
Observe como S. Paulo liga os dois em Colossenses 2:9-13. A circuncisão devia
ser realizada em bebês masculinos com oito dias de idade (Lev. 12:3). Agora, o
Novo Testamento não é mais estreito, mas mais amplo e muito maior do que o
Antigo Testamento, que era apenas uma sombra do Novo (João 1:17; Col. 2:17;
2 Cor. 3:4-18). Se agradou a Deus, mesmo no Antigo Testamento mais restritivo
e exclusivo, receber pequenos bebês de oito dias de vida no Seu Reino, quanto
mais agora, no Novo Testamento todo-universal e abrangente? E tal como a
circuncisão, destinada a bebês, foi realizada principalmente em adultos quando
Deus a estabeleceu inicialmente (Gn. 17:23-27), não é surpreendente que o
batismo, na altura da sua instituição e na primeira geração da igreja, tenha sido
dado em primeiro lugar aos adultos. No entanto, foram batizadas famílias ou
casas inteiras (Atos 16:15, 33; 1 Cor. 1:16), o que normalmente teria incluído
crianças de várias idades. Também sabemos pela história que os judeus na
época de Cristo praticavam o “batismo de prosélitos” (batismo de convertidos,
uma tradição judaica, porém não um sacramento dado por Deus) que era
administrado a famílias inteiras, incluindo os bebês. Se o nosso Senhor tivesse
pretendido uma prática diferente para o batismo que Ele deu, Ele teria tido de
fazer uma observação específica de excluir os bebês. Ele não fez tal coisa.”

J. N. Kildahl também faz uma observação pertinente sobre o sacramento do batismo tomando o
lugar do sacramento veterotestamentário da circuncisão, dizendo,7
Ora, é razoável supor que o sacramento que tomou o lugar daquele sacramento
do Velho Testamento, pelo qual os meninos eram recebidos na comunhão com
Deus, não deva ser aplicado aos meninos?
Podemos conceber que um sacramento tome o lugar de outro e não seja
destinado àquela classe à qual o antigo era especialmente aplicado?
Ou seja, não é razoável supor que o batismo nas águas, o qual sucedeu à prática da
circuncisão pela qual meninos eram recebidos na comunhão com Deus, não deva ser aplicado
aos meninos.
A Nova Aliança expande a abrangência e participação pactual que outrora era mais
restritivo sob a Antiga Aliança, mas agora é mais abrangente: “Porque todos quantos fostes
batizados em Cristo, já vos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego; não há servo
nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gálatas

6
MARQUART, Kurt E. The saving truth: doctrine for laypeople. Luther Academy, 2016. Kindle Edition.
(Kindle Locations 2241-2251). N.T.: tradução própria.
7
KILDAHL, John Nathan. Christian Dogmatics. 2017, p. 281. Disponível em:
<https://www.lutheranlibrary.org/pdf/552-kildahl-dogmatics.pdf#page277>. N.T.: tradução própria.

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3:27-28). Segue-se que os oponentes do batismo infantil precisam restringir a abrangência,
participação e efeitos do batismo na Nova Aliança.

Mandamento universal de Jesus


Devemos batizar as crianças com base no mandamento de Jesus em Mateus 28:19,
“Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e
do Espírito Santo;”. Esta ordenança de Jesus é de escopo universal e contradiz a objeção de
que “não existe passagem bíblica mandando batizar infantes”. Não se deve ignorar que os
infantes fazem parte de todas as nações assim como fazem parte do mundo (João 3:16; 1João
2:2; 2Cor. 5:19), o qual é objeto do amor universal de Deus; o mandamento que se refere ao
gênero (isto é, o mundo) inclui suas espécies (isto é, infantes e adultos). Já que os infantes
fazem parte de todas as nações, deveria haver uma passagem bíblica ordenando a exclusão
de infantes caso Jesus pretendesse que estes não pudessem ser batizados e nem fazerem
parte da promessa (cf. At. 2:38-39), mas não existe uma passagem bíblica como tal e a ordem
é para “todas as nações”.
Ademais, Jesus revela que é a sua vontade que as crianças fossem até ele e que das
tais é o reino dos céus (Marcos 10:13-16); estas crianças, Lucas chama de “bebês”
referindo-se a elas como βρέφος (brephos) (Lc. 18:15-16). Como diz Marquart, “Uma vez que
Cristo estabeleceu para a Sua igreja não cerimônias de bênção de crianças, mas batismo, é
pelo batismo que os bebês devem ser permitidos e não proibidos de vir até Ele hoje.”8 (confira,
também, a exposição de Martin Chemnitz no Anexo II).
Além disso, existe outra objeção que afirma que primeiro deve-se ensinar (discipular)
para depois batizar. Isto não é o que Jesus manda fazer, como bem explica Hanko,9
“Há duas coisas que desejamos apontar sobre esse importante versículo.
Ao invés de ser prova contra o batismo infantil, esse versículo é justamente o
oposto – uma prova muito forte para ele. Os Batistas argumentam que Jesus nos
ordena primeiramente a ensinar (fazer discípulos) as nações e então batizá-las.
Os infantes, dizem eles, não são grandes o suficiente para serem ensinados ou
discipulados e, portanto, não podem ser batizados. Contudo, isso ignora vários
pontos importantes.
Primeiro, como já mostramos em conexão com Marcos 16:16, a palavra
então não está no versículo. Jesus não diz: “Ensinais todas as nações, e então
as batize”. Se tivesse, os Batistas estariam corretos ao ensinar o batismo
somente dos crentes.
Segundo, o versículo fala de nações, não indivíduos. Na própria natureza
do caso, portanto, essas duas atividades de discipular e batizar devem
acontecer simultaneamente. Uma pessoa não pode esperar até que toda uma
nação seja ensinada antes de começar a batizar, ou não haveria nenhum
batismo.

8
Ibidem. (Kindle Locations 2224-2226). N.T.: tradução própria, e negrito é ênfase minha.
9
HANKO, Ronald. Doctrine according to Godliness. Reformed Free Publishing Association, p. 274-275.
In: Discipulando e batizando as nações. Monergismo. Novembro/2007. Disponível em:
<https://www.monergismo.com/textos/batismo/discipulando-batizando-nacoes-dag_ronald-hanko.pdf>.
Acesso em: 14 outubro 2022.

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A própria gramática do texto é contra a visão Batista. O texto deve ser
entendido como dizendo: “Ensinais todas as nações quando batizarem-nas” ou
“Ensinais todas as nações após batizá-las”. Não pode significar “Ensinai todas
as nações antes de batizá-las”. A passagem, de fato, não diz nada sobre a
ordem na qual o ensino e o batismo ocorrem.
Além do mais, nações incluem crianças. É impossível discipular e batizar
nações sem também discipular e batizar as crianças que pertencem a essa
nação.”
Assim, Marcos 16:16 não estabelece um passo a passo cronológico, não vemos a palavra
“então”, e o verso 16 descreve o resultado daquele que crê e é batizado, ou seja, o
recebimento da salvação.
Há também uma crítica popular segundo a qual não existe uma ordem divina para
batizar infantes e, por conseguinte, não se deve batizar infantes. A esta crítica, David Hollaz
responde começando pelo mandamento universal de Jesus em Mateus 28:19,
“Resposta: O mandamento universal fornece evidência suficiente para nós de
que ele concede a descida [nas águas batismais] aos infantes. Caso contrário,
poderíamos usar a mesma lógica para concluir: nenhum mandamento divino
explícito é dado para que os transilvanianos sejam batizados; portanto, nenhum
transilvaniano deve ser batizado. Nenhum mandamento explícito é dado para
que a Eucaristia seja oferecida às mulheres. Portanto, não deveria ser oferecido
a elas? Mas, assim como das palavras “Bebam dele, todos vocês”, fazemos uma
dedução correta em relação às mulheres, também por causa das palavras
“batize todas as nações”, argumentamos irrefutavelmente em relação às
crianças.”10

Todos pecaram
Os infantes não são inocentes e precisam ser batizados, pois são concebidos em
pecado original e em decorrência disso a sua natureza é pecaminosa; esse pecado original
compõe-se de culpa e corrupção hereditária, “Portanto, assim como o pecado entrou no mundo
por um só homem, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os
homens, pois todos pecaram” (Rom. 5:12; cf. v. 12-19), e todos pecaram (Rom. 3:23). O
pecado reina sobre os infantes mesmo que ainda não cometeram pecados: “mesmo sobre
aqueles que não cometeram pecado semelhante à transgressão de Adão” (Rom. 5:14).
Por causa da queda de Adão, somos pecadores (cf. Gn. 2:17). Gênesis 8:21, “[...] Não tornarei
a amaldiçoar a terra por causa do homem, pois a imaginação do seu coração é má desde a
infância [...]”; Salmo 51:5, “Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu
minha mãe.” (cf. João 3:5-6); Efésios 2:1-3, “1 Ele vos vivificou, estando vós mortos nos
vossos delitos e pecados, 2 nos quais outrora andastes, segundo o curso deste mundo,
segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos de
desobediência, 3 entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa
carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira,

10
HOLLAZ, David. Baptism and the Means of Salvation. Traduzido por Nathaniel Biebert. Disponível em:
<https://studiumjournal.com/translation/baptism-means-salvation>. Acesso em: 23 outubro 2022. N.T.
tradução própria.

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como também os demais.”; Romanos 8:7 “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra
Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser”; João 3:5-6, “Respondeu
Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode
entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é
espírito”. Sendo que quem nasce da carne é carne, então quem quer que seja nascido da
carne precisa nascer de novo da água e do Espírito, ou não poderá ser salvo. Ninguém nasce
sendo adulto, mas sim sendo infante. Os infantes nascem da carne e são carne. Portanto, os
infantes precisam nascer da água e do Espírito. A idade da criança não a exclui de sua
natureza pecaminosa herdada de Adão e ela precisa nascer da água e do Espírito. Em
seguida, ainda no contexto de João 3, após essa conversa com Nicodemos, Jesus e seus
discípulos foram para a Judéia e lá batizaram pessoas (João 3:22), e João Batista também
batizava (vs. 23), o que contextualiza a palavra ‘água’ na conversa de Jesus com Nicodemos,
confirmando o entendimento que ‘água’ ali se tratava da água do batismo.

Batismo como obra de Deus e seus efeitos reais


Algumas tradições entendem que o batismo é uma obra que o batizado faz para Deus
e, por conseguinte, o batizado precisa ter atingido uma certa idade mágica da razão para então
realizar a obra de ser batizado, o que, por conseguinte, exclui os infantes de serem batizados,
pois, segundo esta tradição, os infantes não atingiram a idade da razão para compreender o
significado do batismo e sua condição de pecador. Estas tradições ainda ensinam que o
batismo é um sinal exterior e público à vista de todos presentes na cerimônia para atestar que
o batizado tomou uma decisão de entregar a sua vida a Jesus. Este entendimento é
problemático porque, além de se excluir os infantes, não crê na doutrina bíblica dos benefícios
e efeitos reais e literais envolvidos no batismo da pessoa. Este entendimento errôneo acaba
por rejeitar a necessidade do novo nascimento mediante o batismo de infantes ou de adultos, e
por ignorar que o batismo é um pacto de graça e um meio de graça pelo qual Deus concede
perdão dos pecados (At. 2:38; 22:16; Ef. 5:26) e a salvação (Tito 3:5; 1Pedro 3:20-21; João
3:3-5).
Deus é o dono dos meios; Jesus disse que “mesmo destas pedras, Deus pode suscitar
filhos a Abraão” (Mt. 3:9), mostrando que Deus não está limitado a suscitar filhos a partir do
meio comum que conhecemos, de homem e mulher; Jesus usou o lodo como meio para curar a
cegueira do homem (Jo. 9:6); a mulher que padecia há 12 anos de hemorragia teve fé que se
ela tocasse no manto de Jesus ela seria curada (Mt. 9:21) e isso foi o que aconteceu quando
ela tocou na borda do manto de Jesus e foi curada (Mt. 9:20, 22), o que mostra que Deus usou
a fé dela e a borda do manto de Jesus como um meio para transferir o poder de cura de Jesus
para ela (Mc. 5:30; Lc. 8:46). Da correta interpretação da doutrina do batismo segue-se que o
batismo é uma obra que Deus faz para o batizado (e não o contrário) e que somente Deus
pode regenerar e renovar nossos corações e nos voltar para ele mediante o batismo: “não em
virtude de obras de justiça que nós houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos
salvou mediante o lavar da regeneração e renovação pelo Espírito Santo” (Tito 3:5). Este
texto de Tito não diz que o batismo simboliza salvação e nem que representa a lavagem da
regeneração e renovação, mas sim que salva de fato e regenera e renova de fato; é uma
linguagem real e é errado adulterar essa linguagem acrescentado palavras que Deus não
colocou aí, tal como “simboliza/representa a salvação”. Aqui, alguém poderá perguntar, “como

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pode a água ter algum poder para realizar tais benefícios?”. Respondemos dizendo que a água
do batismo não é água comum, mas que tal água
“é formulada na Palavra de Deus e unida à Palavra de Deus. Assim, ela é um
meio poderoso através do qual a Santíssima Trindade trabalha poderosamente:
o Pai recebe aquele que é batizado como Seu filho querido; o Filho lava-o dos
seus pecados com o Seu sangue; o Espírito Santo regenera e renova-o para a
eternidade. Concluímos a partir daí: 1. Que não só a água é um elemento vital
do Batismo, mas também a Palavra que dá à água este poder de regeneração,
renovação e salvação. Pois, a água seria água comum e corrente sem a
Palavra; também, nunca, jamais poderia ter tal poder celestial.”11

Lutero, em seu Catecismo Maior, também explica que a Palavra de Jesus que diz “batizando-os
em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt. 28:19) não pode ser separada da água
do batismo, “Por isso, admoesto mais uma vez que de modo nenhum se deve permitir que
estas duas, a palavra e a água, sejam dissociadas e separadas. Pois se a palavra é separada
da água, esta não é em nada diferente da água que a empregada utiliza para cozinhar.”12
Tratando-se ainda de Tito 3:5, “... nos salvou mediante o lavar da regeneração e
renovação pelo Espírito Santo”, Gerhard comenta,13
“Uma pessoa não só renasce através do santo Batismo (isto é, que seus
pecados são perdoados e se torna filho de Deus e herdeiro da vida eterna);
antes, ela também é renovada; isto é, ela recebe o Espírito Santo que começa a
renovar o entendimento, a vontade e todas as forças do corpo e da alma para
que a imagem perdida de Deus comece a se renovar na pessoa para que o
espírito daqui em diante lute contra a carne para superá-la e constrangê-la. Tudo
isso para que o pecado não domine na pessoa, mas, ao contrário, possa ser
resistido forçosamente.
No entanto, deve-se notar que esta renovação não é concluída imediatamente;
antes, o pecado permanece na carne, mas não é considerado para condenação.
Além disso, sua poderosa supremacia é retirada. [...]
Em Tit. 3:5, o batismo é expressamente chamado não apenas de banho de
renascimento, mas também de renovação do Espírito Santo. Esta mesma
renovação ocorre no homem interior (2 Cor. 4:16), no espírito da mente (Efésios
4:23), por meio do qual o velho homem é despido e o novo vestido, que se
renova para conhecimento segundo a imagem daquele que o fez (Cl 3:10).”

Semelhantemente, em 1 Pedro 3:21, o apóstolo Pedro se refere à água do dilúvio para


fazer uma comparação entre como a água do dilúvio foi usada para salvar Noé e sua família e
como Deus opera através da água do batismo para nos salvar. Assim, lemos que “vos salva, o
batismo,” (1Pd. 3:21. ACF). O batismo salva assim como seu antítipo, as águas do Dilúvio, fez
11
GERHARD, Johann. A comprehensive explanation of Holy Baptism and the Lord's Supper (1610).
Repristination Press: Malone, Texas, 2014, p. 64. N.T.: Tradução própria.
12
Livro de Concórdia: as confissões da Igreja Evangélica Luterana. São Leopoldo; Porto Alegre: Sinodal;
Concórdia; Comissão Interluterana de Literatura, 2021, p. 494.
13
GERHARD, Johann. A comprehensive explanation of Holy Baptism and the Lord's Supper (1610).
Repristination Press: Malone, Texas, 2014, p. 94. N.T.: Tradução própria.

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com que Noé e os outros sete fossem literal e realmente salvos (“se salvaram pela água”, verso
20), pois Pedro está fazendo uma comparação entre os benefícios salvíficos da água do Dilúvio
ao retratar os benefícios salvíficos da água do batismo. Simplificando, o batismo é um dos
meios pelos quais Deus nos coloca na “arca”, que é Jesus!
Pedro continua ao dizer que o batismo nos salva “da indagação de uma boa
consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus Cristo;” (1Pd. 3:21. ACF/ARA/ARC).
A palavra indagação é traduzida a partir do substantivo eperotema (ἐπερώτημα)14 e a Almeida
1819 e versões Revised Standard Version a traduz por interrogação. A Bíblia King James Fiel,
seguindo a tradução da King James Version, traduz assim, “Tal como esta figura, agora,
também, o batismo nos salva, não do despojamento da imundície da carne, mas a resposta de
uma boa consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus Cristo;”15. Eperotema está
também ligado ao verbo eperotao16, verbo usado por Jesus em Lucas 2:46 quando Ele
interrogava e fazia perguntas aos doutores da lei. Bengel comenta sobre o significado de
eperotema, levando em consideração que os batismos passavam por um interrogatório
batismal, com perguntas e respostas,
“Por conseguinte, é a indagação de uma boa consciência que nos salva; ou seja,
o perguntar, no qual nos dirigimos a Deus com uma boa consciência, sendo os
nossos pecados perdoados e postos de lado. Compare 1 Pedro 3:16; Hebreus
10:22. Este perguntar ocorre no batismo; e é exercido em todos os atos de fé, de
oração, e de vida cristã; e Deus considera-o sempre digno de uma resposta.

ἐπερώτημα. A palavra parece denotar as promessas feitas no batismo. São


Lucas 2:46, usa a palavra ἐπερωτᾷν para interrogar, onde fala do menino Jesus
como sendo encontrado no templo, sentado no meio dos doutores, tanto
ouvindo-os como fazendo-lhes perguntas. A palavra parece compreender, como
referido no batismo, as perguntas e respostas mútuas que compõem o processo
de ensino de um lado, e a estipulação do outro. T. Ver Quarterly Review, vol. 71,
p. 332.”17

Meyer, após resumir algumas interpretações, explica o significado que faz mais sentido ao
referir-se a eperotema como um contrato,
“Os fatos são estes: foi celebrado um contrato sob a forma de pergunta e
resposta: spondesne? spondeo (comp. Puchta, Curs. der Instit. v. 3, p. 97); pela
pergunta, por um lado, foi proposto o contrato; pela resposta, por outro, foi
celebrado. ἐπερώτημα é então esta pergunta pela qual se iniciou a celebração
de um contrato, não então o contrato em si, e muito menos o compromisso que
foi feito por aquele que respondeu. O autor da pergunta vinculou-se pela sua

14
Mickelson's Enhanced Strong's Dictionaries of the Greek and Hebrew Testaments. G1906 ἐπερώτημα
eperotema (ep-e-rō'-tee-ma) n. an inquiry.
15
BKJFiel. Disponível em: <https://www.bkjfiel.com.br/biblia/1pe/3>. Acesso em: 24 outubro 2022.
16
Mickelson's Enhanced Strong's Dictionaries of the Greek and Hebrew Testaments. G1905 ἐπερωτάω
eperotao (ep-e-rō-taō') v. to ask for, i.e. inquire, seek.
17
BENGEL, Johann Albrecht. “Commentary on 1 Peter 3”. Bengel's Gnomon of the New Testament.
1897. Disponível em: <https://www.studylight.org/commentaries/eng/jab/1-peter-3.html>. Acesso em: 24
outubro 2022. N.T.: tradução própria.

Página 9
pergunta a aceitar aquilo que aquele que deu a resposta prometeu. Se, então, a
designação do batismo como ΣΥΝΕΙΔΉΣΕΩς ἈΓ . ἘΠΕΡΏΤΗΜΑ ΕἸς ΘΕΌΝ
deve ser explicado a partir do procedimento legal, só pode ser falado como tal,
na medida em que a pessoa batizada, pela recepção do batismo, entra numa
relação por assim dizer de contrato com Deus, no qual se submete com fé à
promessa de salvação de Deus. Também não se pode negar que isto esteja
realmente em harmonia com a natureza do batismo, mais especialmente se se
considerar que em processos judiciais, ligados à celebração de um contrato, o
inquirido pronunciou o seu spondeo na expectativa de que o interrogador
preenchesse as condições previamente estipuladas, a que se tinha
comprometido. Isto explica a expressão ΣΥΝΕΙΔΉΣΕΩς ἈΓΑΘῆς , que aponta
para a circunstância de que o recipiente do batismo, ao submeter-se a ele, tem o
propósito honesto de cumprir fielmente as condições sob as quais o
consentimento divino é dado. Esta interpretação distingue-se das acima
mencionadas pela sua precisão concreta. Sem dúvida que ἘΠΕΡΏΤΗΜΑ, neste
sentido jurídico, só pode ser encontrado em escritos de data posterior; mas
como esta forma de celebração de contrato pertenceu a uma época anterior,
pode presumir-se que a palavra tinha sido utilizada anteriormente, portanto, em
fraseologia jurídica.”.18

J. P. Lange também concorda e escreve,


“Os interrogatórios batismais eram utilizados na primitiva, mesmo na Igreja
Apostólica, e Pedro parece referir-se a eles aqui. Ver Atos 8:37; Hebreus 6:1-2;
cf. Romanos 10,10. Justino Mártir, Apol. 1, c. 61; Tertuliano, de Spect., c. 4; de
Coronâ Mil., c. 3, e de Resurrect. Carnis, c. 48. “Anima non lavatione sed
responsione sancitur”. Cf. Cyprian, Ep. 70, 76, 85; Hippolytus, Theophan., c. 10;
Origen, Exhortatio ad Martyr, c. 12; Vales in Euseb. 7, 8, e Euseb. 7, 9, onde
Dionísio, Bp. de Alexandria, no século III, fala de uma pessoa que esteve
presente no batismo de alguns que foram batizados recentemente, e ouviu as
perguntas e respostas, τῶν ἐπερωτήσεων καὶ . Ver mais em Wordsworth.-M.].”19

Outrossim, o teólogo Luterano, David Chytraeus, diz,


A palavra grega eperh?t?ma [sic], que Pedro utilizou aqui, significa um pacto
pessoal, não uma simples promessa de uma parte para a outra, mas uma
obrigação mútua, um contrato elaborado a partir de uma pergunta e resposta de
ambas as partes. Tal como num tratado cada parte expressa a sua vontade e
intenção com palavras e cada lado está vinculado por certas condições, assim

18
MEYER, Heinrich August Wilhelm. “Commentary on 1 Peter 3”. Meyer's Critical and Exegetical
Commentary on the New Testament. 1832. Disponível em:
<https://www.studylight.org/commentaries/eng/hmc/1-peter-3.html>. Acesso em: 25 outubro 2022. N.T.:
tradução própria.
19
LANGE, Johann Peter. “Commentary on 1 Peter 3”. “Commentary on the Holy Scriptures: Critical,
Doctrinal, and Homiletical”. 1857-84. Disponível em:
<https://www.studylight.org/commentaries/eng/lcc/1-peter-3.html>. Acesso em: 23 outubro 2022. N.T.:
tradução própria.

Página 10
também Deus Pai, Filho e Espírito Santo se vincula, por causa de Cristo
Mediador, a receber aquele que foi batizado e a purificá-lo do pecado e a dar-lhe
justiça e vida eterna. O batizado recebe esta promessa pela fé e, por sua vez,
promete e resolve ser obediente a Deus.20

O apóstolo Pedro, então, faz uma alusão ao modo de como ocorriam os batismos na igreja
primitiva, em que o ministro perguntava à pessoa a ser batizada e ela respondia, fazendo um
compromisso (com valor de contrato/pacto) mútuo com relação a Deus de viver uma nova vida.
A tradução da Almeida Século 21 traduz eperotema por promessa e a versão católica, Bíblia de
Jerusalém, por compromisso solene, refletindo o entendimento de o batizado responder ao
interrogatório batismal fazendo um compromisso/contrato/pacto de viver em novidade de vida
e, Deus, por sua vez, cumprindo a promessa da salvação. O batizado, tendo sido salvo pelo
batismo, pode ter uma boa consciência diante de Deus. Por fim, o batismo cristão veio a ser
praticado após a ressurreição de Jesus, o que corresponde à parte final do verso, “pela
ressurreição de Jesus Cristo”.
O efeito salvífico do batismo não é devido ao elemento da água, mas sim à eficácia da
Palavra de Deus, o mandamento de Jesus de batizar “em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Santo” (Mt. 28:19) unida ao elemento da água.
Uma dúvida recorrente de quem não crê no batismo como um meio da graça de Deus
para salvação é se este é absolutamente necessário para a salvação. Isto negamos, pois, em
vez de absolutamente necessário, o batismo é ordinariamente necessário para a salvação.
Lange comenta dizendo,
“Pode uma pessoa ser salva sem o Batismo? Jesus disse: “Quem crer e for
batizado será salvo, mas quem não crer será condenado” (Mc 16:16). A fé
recebe o benefício do Batismo. O batismo não salva simplesmente por causa do
ato praticado. A incredulidade condena. Não é a falta do Batismo que condena,
mas sim a falta de fé que condena. Assim, numa situação teórica, uma pessoa
que tem fé em Cristo, mas morre antes de poder ser batizada, ainda seria salva.
Além disso, uma pessoa batizada que morresse na incredulidade seria
condenada. Ela teria perdido o benefício do seu batismo por incredulidade.”

“Finalmente, e as crianças que morrem antes do nascimento? Aqui


consolaríamos os pais cristãos que, embora Deus nos tenha vinculado aos
meios da graça, ele não vinculou isso necessariamente a si próprio. O Espírito
Santo foi capaz de ser ativo no coração de João Batista antes do seu
nascimento (Lc 1:41). Este caso excepcional, contudo, não ousa ser usado para
negligenciar os meios de graça a que Deus nos vinculou, nem pode levar-nos a
assumir que as crianças não são pecadoras e por natureza sob a ira de Deus.”21
Sobre a morte de infantes antes de seu nascimento, Gerhard comenta dizendo que,

20
CHYTRAEUS, David. On Baptism. Disponível em: <https://studiumjournal.com/translation/baptism>.
Acesso em: 30 março 2023. N.T.: própria tradução para o português.
21
LANGE, Lyle W. God so loved the world: a study of Christian doctrine. Northwestern Publishing House,
Milwaukee, Wisconsin, 2005. Kindle Edition. (Kindle Locations 9573-9577) e (Kindle Locations
9583-9586), respectivamente. N.T.: tradução própria.

Página 11
"Deus o Senhor não está vinculado aos meios da mesma forma que nós, seres
humanos, de forma que Ele não possa ajudar através do Seu poder divino sem
meios. Pois da mesma forma que nós, os seres humanos, estamos vinculados
aos meios relativos aos assuntos externos desta vida, assim também em
assuntos relativos à vida eterna estamos vinculados à Palavra e aos
Sacramentos sagrados; pelo contrário, como Deus o Senhor não está de forma
alguma vinculado aos meios em assuntos externos (uma vez que Ele pode
manter a vida do homem sem comida [e] dar saúde novamente sem médicos),
assim também em assuntos relativos à vida eterna, Ele não está vinculado aos
meios que Ele próprio ordenou. Assim, Ele pode fazer uma pessoa ser salva
sem [os usar]".22

Portanto, o soberano Deus não está limitado a meios externos e pode agir e salvar as pessoas
sem eles. Gerhard explica que Deus nos ordenou e nos vinculou aos sacramentos para nós
não os desprezarmos ou negligenciarmos, mas Ele próprio não está limitado aos sacramentos.
Quanto ao sacramento do batismo, este é o meio ordenado a nós para regeneração (Tt. 3:5),
por meio do qual, composto de água e Palavra, somos lavados do pecado (Ef. 5:26) e somos
salvos (1Pd. 3:21).

Fé é dom de Deus
Outrossim, há uma objeção que diz que os infantes não podem ter fé, mas isso não é
verdade, pois as escrituras atribuem fé às aos infantes tal como o Salmo 8:2(3) que afirma que
os infantes podem louvar a Deus (tradução da Septuaginta traz “louvor” (αἶνον, aínon))23; o
Salmo 22:9 demonstra que quando Davi estava aos seios de sua mãe, Deus agiu de forma que
o fez (“fizeste-me”) confiar/crer no Senhor, “Mas tu és o que me tiraste do ventre; fizeste-me
confiar, estando aos seios de minha mãe.”; Salmo 71:6 (ARA), “Em ti me tenho apoiado
desde o meu nascimento; do ventre materno tu me tiraste, tu és motivo para os meus
louvores constantemente.”; Em Mateus 18:6, Jesus diz que os pequeninos podem crer nele
(“que creem em mim”): “Mas se alguém fizer tropeçar um destes pequeninos que crêem em
mim, melhor lhe seria amarrar uma pedra de moinho no pescoço e se afogar nas profundezas
do mar”; vemos em Mateus 19:14 que as crianças querem ir à Jesus e delas pertence o reino
dos céus, “Jesus, porém, disse: Deixai os pequeninos, não os embaraceis de vir a mim,
porque dos tais é o reino dos céus”. Jesus faz referência ao louvor perfeito de pequeninos e
crianças de peito, Mateus 21:16 (cf. Salmo 8:2(3)), “Ouves o que estes estão dizendo?
Respondeu-lhes Jesus: Sim; nunca lestes: Da boca de pequeninos e crianças de peito
tiraste perfeito louvor?” Ninguém consegue verdadeiramente louvar a Deus sem que tal
louvor proceda da fé; Marcos 10:15, “Digo-lhes a verdade: Quem não receber o Reino de Deus

22
GERHARD, Johann. A comprehensive explanation of Holy Baptism and the Lord's Supper (1610).
Repristination Press: Malone, Texas, 2014, p. 179. N.T.: Tradução própria.
23
The Septuagint. 3 ἐκ στόματος νηπίων καὶ θηλαζόντων κατηρτίσω αἶνον ἕνεκα τῶν ἐχθρῶν σου τοῦ
καταλῦσαι ἐχθρὸν καὶ ἐκδικητήν. Disponível em: <https://www.septuagint.bible/-/psalmos-8#>. Acesso
em: 23 outubro 2022.
A Bíblia Ave Maria segue a tradução da Septuaginta e traduz assim: “Da boca das crianças e dos
pequeninos sai um louvor que confunde vossos adversários, e reduz ao silêncio vossos inimigos”
(compare com Mateus 21:16).

Página 12
como uma criança, nunca entrará nele". Se podemos receber o reino de Deus como uma
criança, segue-se que as crianças também podem ir à Jesus, podem crer nele e dele
receberem o reino de Deus; João Batista ficou cheio do Espírito Santo desde o ventre materno,
“Porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do
Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe” (Lucas 1:15; cf. vs. 39-45). 1 João 2:13-14,
“Pais, eu lhes escrevo porque vocês conhecem aquele que é desde o princípio. Jovens, eu lhes
escrevo porque venceram o Maligno. Filhinhos, eu lhes escrevi porque vocês conhecem o
Pai. Pais, eu lhes escrevi porque vocês conhecem aquele que é desde o princípio. Jovens, eu
lhes escrevi, porque vocês são fortes, e em vocês a Palavra de Deus permanece e vocês
venceram o Maligno”. O apóstolo Pedro descreve três categorias de pessoas: os pais, os
jovens e os filhinhos. Ele afirma que os filhinhos conhecem o Pai, e conhecer a Deus é um
atributo da fé. Assim, os filhinhos, que são crianças e infantes, podem ter fé.
Lange comenta sobre o racionalismo e empirismo de quem afirma que os infantes não
conseguem crer e, portanto, não devem ser batizados:24
“Os bebês não podem crer; por conseguinte, não devem ser batizados. Este
argumento confunde a fé e o conhecimento consciente. A fé envolve
conhecimento, mas este conhecimento é um conhecimento do coração, e não
apenas um conhecimento da cabeça. Os bebês podem crer. A fé salvífica é
essencialmente confiança em Jesus. Jesus disse: “Mas qualquer que fizer pecar
um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe
pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho, e se submergisse na profundeza
do mar.” (Mt 18:6). As pessoas que perderam as suas capacidades mentais para
as doenças que alteram a mente ainda podem ter fé. Tal como as crianças, cujos
corações foram transformados pelo Espírito Santo através do Batismo. A razão
não pode compreender como isto pode ser, mas a fé aceita as palavras e
promessas de Deus. Como Lutero observou:
Assim, fazemos o mesmo com o batismo infantil. Trazemos a criança com a
intenção e a esperança de que ela possa crer, e oramos a Deus para lhe
conceder fé. Mas não batizamos nesta base, mas unicamente sob o
mandamento de Deus. Porquê? Porque sabemos que Deus não mente. O meu
próximo e eu — em suma, todas as pessoas — podemos enganar e errar, mas
a Palavra de Deus não pode enganar. (LC Fourth Part:57)
Portanto, trazemos as crianças para serem batizadas, porque confiamos que
através do Batismo Deus operará fé nos seus corações.
Aqui devemos também notar o paralelo da circuncisão no Antigo Testamento
com o Batismo no Novo Testamento (como Paulo o observa em Col 2:11-12). A
circuncisão deveria ser realizada em todos os machos no oitavo dia. O batismo
tomou o lugar da circuncisão. Não há nenhuma ordem para batizar no oitavo dia,
mas o paralelo entre a circuncisão de bebês e o batismo de bebês é claro.”

Outrossim, Johann Gerhard, refutando a teoria de que os infantes e as criancinhas


pequeninas não podem ter fé para crer em Jesus, faz o seguinte comentário defendendo que

24
LANGE, Lyle W. God so loved the world: a study of Christian doctrine. Northwestern Publishing House,
Milwaukee, Wisconsin, 2005. Kindle Edition. (Kindle Locations 9537-9547). N.T.: tradução própria.

Página 13
os infantes (sucklings, em inglês, que significa crianças de peito ou crianças que mamam) e
criancinhas pequeninas podem sim ter fé para crer em Jesus:25
RESPOSTA: Não diz David em Sl. 8:3, e Cristo em Mat. 21:16, que Deus tirou
para Si o louvor da boca das criancinhas e das crianças que mamam? Cristo não
diz de tais crianças que são levadas até Ele em braços que tais são o Reino de
Deus (Mt. 19:14, Mc. 10:14, Lc 18:15)? Como podem, então, as crianças
pequeninas serem consideradas descrentes? 2. Mesmo que a criança que Cristo
colocou no meio dos apóstolos fosse um pouco crescida, ainda não há (no que
diz respeito à compreensão do artigo da fé) qualquer diferença entre ela e as
criancinhas pequeninas, uma vez que esta criança não podia dar mais conta da
sua fé do que as outras menores. 3. O que Cristo aqui diz, A menos que se
arrependam e se tornem como as crianças, não entrarão no reino dos céus
(Mt. 18:3), Ele aplica noutros lugares às criancinhas pequeninas: Quem não
receber o reino de Deus como uma criança pequenina, não entrará nele
(Marcos 10:15). Além disso, quem quer excluir dele [o reino de Deus] as
crianças pequeninas? No v. 10-11, o Senhor Cristo diz: Cuidai que nenhum de
vós despreze um destes pequeninos, pois eu vos digo que os seus anjos
nos céus vêem sempre o rosto de Meu Pai que está nos céus; pois o Filho
do Homem veio para salvar o que se perdeu; portanto, concluímos que Cristo
fala das criancinhas em geral (quer sejam circuncidadas ou batizadas) e verifica
em relação a elas que crêem, o que também é evidente pelas palavras: quem
quer que aborreça um destes pequeninos que crêem em Mim, etc. (v. 6).
Assim, Cristo [usa] o exemplo da situação desta criança para falar em geral das
criancinhas pequeninas. 4. Além disso, Cristo exige que nos arrependamos e
nos tornemos como as crianças, se tivermos alguma vontade de entrar no Reino
de Deus. Mas se as crianças não crêem, devem os crentes velhos tornarem-se
como as crianças descrentes–sem mencionar que as crianças não serão salvas
se não crerem? 5. Além disso, se as crianças menores forem excluídas e não
forem entendidas como sendo incluídas sob o termo “destes pequeninos”, então,
daí resultaria que primeiro devem tornar-se como crianças crescidas ou
perder-se eternamente–o que é absurdo. 6. E porque é que Cristo retrataria
crianças crescidas e não as menores como um exemplo de simplicidade em
matéria de fé e verdadeira humildade, uma vez que a experiência atesta que o
mal aumenta continuamente nas crianças? [Cf.] 1 Cor. 14:20: Com respeito ao
mal, sejam crianças.

Se segue que se os infantes não podem ter fé, então: (a) quando eles morrem, estão perdidos
sem salvação, ou (b) a fé em Jesus Cristo não é necessária para a salvação.
A fé é um “dom de Deus” (Ef. 2:8) e não uma conquista humana mediante habilidades
cognitivas e racionais de adultos. Se cremos que a fé é dom e obra de Deus, não podemos
limitar a operação e poder de Deus à adultos somente, pois, naturalmente, nem mesmo os
adultos podem crer no Filho de Deus à parte da obra do Espírito Santo, quem realiza tanto o

25
GERHARD,Johann. A comprehensive explanation of Holy Baptism and the Lord's Supper (1610),
Repristination Press, Malone: Texas, 2014, p. 167-168. N.T.: tradução própria.

Página 14
querer como o efetuar (Fp. 2:13). A graça de Deus opera a fé no batizado, quer seja infante ou
adulto. O efeito no ato do batismo é o dom do Espírito Santo ao batizado, ou seja, este é salvo
e incorporado ao corpo de Cristo por obra do Espírito Santo. Este dom de salvação é
gratuitamente concedido in actu pela ação do Espírito Santo de agregá-lo ao corpo de Cristo
sem a intervenção do batizado. O batizado posteriormente precisa permanecer na fé e
desenvolver a sua salvação (Fp. 2:12-13). Enquanto permanecer na fé, continuará a fazer parte
do corpo de Cristo.

Batismo de Jesus
Existe uma objeção que diz que somente os adultos devem ser batizados porque Jesus
foi batizado quando adulto. O desdobramento lógico deste argumento nos levaria a batizar a
partir de 30 anos de idade, pois Jesus foi batizado quando tinha 30 anos de idade; que o
batismo deveria ser no rio Jordão, ou o batismo não seria válido; e que mulheres não poderiam
ser batizadas porque Jesus era homem.
Jesus foi batizado por razões diferentes em relação ao nosso batismo. João Batista
batizava para arrependimento e remissão de pecados, isto é, para que os batizados tivessem
seus pecados realmente perdoados (Mc. 1:4; Lc. 3:3), pois Jesus disse que o batismo de João
era necessário para cumprir toda a justiça (Mt. 3:15). Ninguém pode ter qualquer justiça sem o
real e literal perdão dos pecados. Diferente das outras pessoas que eram batizadas por João
Batista, Jesus não tinha pecado e não precisava ser batizado para perdão de pecados. João,
sem saber por que Jesus queria ser batizado por ele, recebeu uma resposta de Jesus, que lhe
disse (Mateus 3:15) “Deixa por agora, porque assim nos convém cumprir toda a justiça”.
Assim que João batizou Jesus, o evangelho de Mateus 3:16-17 diz, “E, sendo Jesus batizado,
subiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como
pomba e vindo sobre ele. E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em
quem me comprazo”. Jesus disse que o batismo de João era necessário para cumprir toda a
justiça. Como o Espírito de Deus descendo sobre Jesus e a voz de Deus Pai chamando-o de
Filho amado cumpre toda a justiça? Jesus não precisava que o céu lhe fosse aberto, pois
Jesus veio de lá; e Jesus não precisava que o Espírito Santo viesse sobre ele, porque o
Espírito Santo eternamente procede do Filho e do Pai; e Jesus já sabia que o Pai o amava.
Então como isso tudo cumpre toda a justiça? Jesus colocou na água do batismo tudo o que lhe
pertence pela graça de Deus, então quando somos batizados o céu se abre para nós, o
Espírito Santo vem sobre nós para fazer habitação em nós, e o Pai nos ama com amor salvífico
e nos adota para sermos os seus filhos.
O propósito de Jesus se tornar um homem era o de cumprir todas as profecias sobre o
Messias. Ele veio ao mundo que tinha criado para executar tudo de acordo com o plano de
salvação do seu Pai, e o batismo era uma parte fundamental deste plano. Os termos “Messias”
e “Cristo” significam ambos “o ungido”. O batismo de Jesus era uma forma de unção,
significando o início do seu ministério público, ensinando e pregando, e demonstrando o seu
poder (Is. 61:1-2). O batismo de Jesus serviu também para confirmar a sua identidade como o
Filho de Deus (Mt. 3:16-17), que veio à terra para viver e morrer por nós.
Pelo batismo de Jesus, Deus mostra que o batismo nos salva porque Jesus se fez parte
do batismo, santificando-o, e mostrando, assim, que a fonte e poder por trás da salvação
envolvida no batismo é o próprio Jesus. Pelo batismo de Jesus, ele transforma o batismo de

Página 15
João Batista no batismo cristão, o qual é trinitário, em nome do Pai, e do Filho e do Espírito
Santo (Mt. 28:19; cf. Mc. 16:16). Sobre isso, Lutero escreveu em seu sermão:
“Portanto, já não é “água simples”, mas água na qual o Filho de Deus se banha,
sobre a qual paira o Espírito Santo, sobre a qual Deus Pai prega. Isso é o que é
o batismo — não quando é simplesmente água, mas quando são acrescentadas
as palavras: “Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. Isto ainda hoje é
verdade. Quando eu batizo “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”,
então hoje também estão presentes o Filho, que santificou o batismo com o seu
corpo, o Espírito Santo, que o santificou com a sua presença, e o Pai, que o
santificou com a sua voz. Quando estas palavras são acrescentadas, não há
mais “água simples”, mas todo o céu está presente. Por conseguinte, não
devemos ver o batismo como uma obra humana.”26

Batismos de famílias inteiras


Existem relatos neotestamentários de famílias inteiras que foram batizadas:
Atos dos Apóstolos 2:38 Pedro respondeu: “Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado
em nome de Jesus Cristo, para perdão dos seus pecados, e receberão o dom do Espírito
Santo. 39 Pois a promessa é para vocês, para os seus filhos e para todos os que estão
longe, para todos quantos o Senhor, o nosso Deus chamar”.
A promessa do perdão dos pecados e do dom do Espírito Santo pertencem aos pais e aos
filhos também, e tal promessa é transmitida por meio do batismo. O dom do Espírito Santo é a
salvação (cf. Tito 3:5, “nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito
Santo”). Ademais, refletindo o entendimento de que o batismo é um pacto da graça, Gerhard
comenta o texto de Atos 2:38,
“Sobre aqueles a quem a promessa é estendida, o mesmo deve ser recebido no
pacto de Deus através do Batismo. Mas então, a promessa é estendida não só
aos adultos, mas também aos seus filhos. Assim, os filhos dos crentes também
devem ser batizados. E é de notar que a mesma promessa que S. Pedro está
aqui chamando à mente era comumente lembrada em referência à “semente”,
sob a qual se incluíam também as crianças menores, uma vez que eram
recebidas no pacto de Deus através da circuncisão no Antigo Testamento. Pedro
deseja dizer: Assim também as crianças menores no Novo Testamento devem
ser recebidas no pacto através do Batismo.”27

Atos dos Apóstolos 16:14 Uma das que ouviam era uma mulher temente a Deus chamada
Lídia, vendedora de tecido de púrpura, da cidade de Tiatira. O Senhor abriu seu coração para
atender à mensagem de Paulo. 15 Tendo sido batizada, bem como os de sua casa, ela nos
convidou, dizendo: “Se os senhores me consideram uma crente no Senhor, venham ficar em
minha casa”. E nos convenceu.
26
LUTHER, Martin. “This is my son, the beloved: sermon on the baptism of Jesus”. Word & World,
Volume XVI, Number 1, Luther Seminary, St. Paul, MN, 2014, p. 9. Disponível em:
<https://wordandworld.luthersem.edu/content/pdfs/16-1_Edges_of_Life/16-1_Luther_Sermon.pdf>. N.T.:
tradução própria.
27
GERHARD, Johann. A comprehensive explanation of Holy Baptism and the Lord's Supper (1610).
Repristination Press: Malone, Texas, 2014, p. 133. N.T.: Tradução própria.

Página 16
Atos dos Apóstolos 16:31 Eles responderam: “Creia no Senhor Jesus, e serão salvos, você e
os de sua casa”. 32 E pregaram a palavra de Deus, a ele e a todos os de sua casa. 33
Naquela mesma hora da noite o carcereiro lavou as feridas deles; em seguida, ele e todos os
seus foram batizados.

1 Coríntios 1:16 (Batizei também os da casa de Estéfanas; além destes, não me lembro se
batizei alguém mais.)

Batismo significa apenas imersão?


Neste ensaio, não pretendo discorrer muito sobre o debate de batismo por imersão
versus aspersão, derramamento, ou efusão. Uma breve citação28 de Chemnitz será o suficiente
para esclarecer esta questão:
“Chemnitz:* “O verbo Baptizein não significa necessariamente imersão. Pois é
usado em João 1:33, e Atos 1:5 para designar o derramar do Espírito Santo. E é
dito dos Israelitas, 1 Co. 10:2, terem sido batizados em Moisés, na nuvem e no
mar, os quais, todavia, não foram imergidos no mar, nem mergulhados na
nuvem. Portanto, Paulo, um intérprete mui seguro, diz que batizar é o mesmo
que purificar ou limpar pelo lavar da água na Palavra, Ef. 5:26. Quer, portanto, a
água seja usada por efusão, imersão, derramamento ou aspersão, há um
batismo. E até mesmo a lavagem das mãos, sofás e copos, nos quais a água foi
empregada, seja por efusão, imersão ou derramamento, Marcos 7:4, é chamada
de Batismo. Nem no batismo instituído por Cristo há necessidade de esfregar o
corpo com água, como é necessário para mover a sujeira da carne, 1 Pedro
3:21. Visto que, portanto, nosso Senhor não prescreveu um modo fixo de
empregar a água, não há mudança nas substanciais do Batismo, embora em
diferentes Igrejas a água seja usada de diferentes modos.
* Sobre Mat. 28:19. Exam. Concil. Trid. Ed. 1653.””

Concluo que não há base bíblica para apresentação de infantes no culto público da
igreja a fim de substituir o batismo infantil; os apóstolos não praticaram e nem ensinaram tal rito
de apresentação de bebês; que tal rito de apresentação hoje em dia está desligado e
desconexo com o propósito e regulamentações originais a sua prática de forma que tal rito não
corresponde a sua instituição original e chega a ser uma deturpação do rito original; e que o
batismo de infantes encontra seu fundamento no Novo Testamento, devendo ser praticado pela
igreja de Cristo segundo as Escrituras assim como os apóstolos e igreja primitiva criam e
praticavam.

Anexo I

28
KRAUTH, Charles P. Baptism: the doctrine set forth in Holy Scripture, and taught in the Evangelical
Lutheran Church. Gettysburg: J. E. Wible, Printer, North-East Corner of the Diamond, 1866, p. 27-28. N.T.
tradução própria.

Página 17
Catecismo Menor de Martinho Lutero29

IV O Sacramento do Santo Batismo

Como o chefe de família deve ensiná-lo com simplicidade a sua casa.

Primeiro
O que é o Batismo?
O batismo não é apenas água simples, mas é a água compreendida no mandamento divino e
ligada à Palavra de Deus.
Qual é esta Palavra de Deus?
É a que nosso Senhor Jesus Cristo diz no último capítulo de Mateus: “Ide, portanto, fazei
discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”.
{Mat. 28:19}

Segundo
O que dá ou aproveita o batismo?
Opera a remissão dos pecados, livra da morte e do diabo e dá a salvação eterna a quantos
creem, conforme dizem as palavras e promessas de Deus.

Quais são essas palavras e promessas de Deus?


São as que nosso Senhor Jesus Cristo diz no último capítulo de Marcos: “Quem crer e for
batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado” [Mc 16.16].

Terceiro
Como pode a água fazer coisas tão grandes?
A água, em verdade, não as faz, mas a Palavra de Deus que está unida à água, e a fé que
confia nesta Palavra de Deus unida com a água. Pois sem a Palavra de Deus, a água é água
simples e não batismo. Mas com a Palavra de Deus, a água é batismo, isto é, água de vida,
cheia de graça e um lavar de renascimento no Espírito Santo, como diz Paulo na carta a Tito,
no capítulo terceiro:
“[Deus] nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele
derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que,
justificados por sua graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna.
Fiel é esta palavra” (Tt 3.5-8).

Quarto
O que significa esse batizar com água?
Significa que o velho homem em nós, por contrição e arrependimento diários, deve ser afogado
e morrer com todos os pecados e maus desejos e, por sua vez, sair e ressurgir diariamente
novo homem, que viva em justiça e pureza diante de Deus eternamente.

29
LUTERO, Martinho. O sacramento do santo batismo. Extraído de “Catecismo Menor de Lutero”.
Disponível em: <https://catechism.cph.org/pt/o-sacramento-do-santo-batismo.html>. Acesso em: 22
outubro 2022.

Página 18
Onde está escrito isso?
Paulo diz em Romanos, capítulo sexto: “Fomos, pois, sepultados com ele [Cristo] na morte pelo
batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim
também andemos nós em novidade de vida” (Rm 6.4).

Página 19
Anexo II
Uma breve Apologia ao Pedobatismo, por Martin Chemnitz30

243 — “O batismo infantil tem base na Palavra de Deus?”

Sim. Porque Cristo declara a respeito das crianças: “Delas é o reino dos céus” (Mt 19:14; Mc
10,14); e ninguém que é nascido da carne pode entrar no reino de Deus a menos que renasça
(Jo 3:3). Essa regeneração e renascimento ocorrem pela água e pelo Espírito (Jo 3:5), pois o
batismo é a lavagem da regeneração do Espírito Santo (Tt 3:5). Visto que, então, Cristo deseja
que as criancinhas se tornem participantes do reino dos céus, e isso ocorre por meio do
Batismo, é certamente o significado, a vontade e a ordem de Cristo que as crianças sejam
batizadas.

Primeiro, a promessa do reino de Deus deve ser aplicada por meio de um certo meio ou
instrumento instituído pelo próprio Deus, pois a promessa sem aplicação não beneficia
ninguém. Portanto, também a promessa do reino dos céus, que é dada às crianças (Mc 10,14),
deve ser aplicada a eles por certos meios. A Escritura declara que esse meio é o Batismo (Jo
3:5;Tt 3:5).

Segundo, Cristo também quer que as crianças sejam salvas, pois Ele diz: “Não é a vontade do
Pai celestial que uma dessas crianças pereça” (Mt 18:14).
O Pai celestial nos salvou pela lavagem da regeneração. Portanto, é a vontade de Deus que as
crianças sejam batizadas e que não morram, mas sejam salvas.

Terceiro, as crianças são concebidas e nascem em pecado, de modo que por natureza são
filhos da ira (Sl 51:5; Ef 2:3). Portanto, eles devem obter o perdão dos pecados, para que não
pereçam, mas sejam salvas (Lc 1:77; Rm 4:7), sendo o Batismo o meio divino pelo qual os
pecados são perdoados e lavados (At 2:38; 22:16).

Quarto, Cristo deseja e ordena que as criancinhas sejam trazidas a Ele, para que possa
abençoá-los (Mc 10:14,16). Agora, alguém pergunta: “Como isso é feito?” E a Escritura declara
que aqueles que são batizados se revestem de Cristo no Batismo (Gl 3:27), pois eles são
batizados em Sua morte e ressurreição (Rm 6:3; 1º Pe 3:21). Cristo purifica e santifica a igreja,
pela qual se deu, por meio da lavagem da água pela Palavra (Ef 5:26), sendo esta mesma
coisa a verdadeira bênção (Gl 4:14;Ef 1:3). Segue-se, portanto, que a ordem de Cristo é que as
crianças sejam batizadas.

Quinto, o Batismo do Novo Testamento sucedeu à circuncisão do Antigo Testamento (Cl 2:


11–12). Portanto, assim como no Antigo Testamento o pacto da graça divina foi aplicado e
selado por meio da circuncisão não apenas para adultos, mas também para crianças (Gn
17:10,12), assim também agora no Novo Testamento que a graça deve ser corretamente

30
CHEMNITZ, Martinz. Chemnitz’s Works: Enchiridion, The Lord’s Supper, and the Lord’s Prayer: 5
(Locais do Kindle: 2557–2623). Concordia Publishing House, 2007.
Tradução de Nathan Lachmann. Disponível em:
<https://wittenbergs.wordpress.com/2021/04/12/apologia-pedobatismo-chemnitz/>.

Página 20
aplicada e confirmada como por um selo tanto para crianças quanto para adultos através do
Batismo, visto que a graça de Deus foi feita não menos, mas sim mais abundante e mais rica
no Novo Testamento.

Sexto, Isaías 49:22 profetiza que no Novo Testamento não apenas adultos seriam implantados
na igreja, mas também as crianças. Eis que ele declara: “trarão os teus filhos nos braços, e as
tuas filhas serão levadas sobre os ombros”. E Pedro diz em Atos 2:39, depois de haver
batizado os adultos: “Esta promessa foi feita a vocês e a seus filhos”. Desta forma também os
apóstolos batizaram famílias inteiras (At 16:33; 1 Co 1:16). Quando uma casa ou família é
mencionada, bebês não são excluídos. É, portanto, claro e manifesto a partir disso que a
doutrina do batismo infantil não é apenas ortodoxa, mas também útil e necessária, a qual dá
um doce conforto aos pais e filhos de sua salvação.

244 — “Mas Cristo une o ensino e o batismo, dizendo: ‘Ensine e batize’. As


crianças, então, não devem ser batizadas porque não podem ser
ensinadas!”

É evidente a partir do relato do Evangelho que os apóstolos também ficaram ofendidos e


perturbados por esta questão. À vista disso, quando crianças pequenas sem enfermidades
físicas foram trazidas a Cristo, eles [os apóstolos] pensaram consigo mesmos:

“Espere! Essas criancinhas são muito pequenas para receber a Palavra ou ensino;
o que, então, Cristo pode fazer com eles em matéria de salvação?”

Eles, portanto, não queriam permitir que aquelas criancinhas incomodassem a Cristo sendo
levadas [a Ele], mas sustentavam que, para elas, era preciso esperar até que crescessem e se
tornassem ensináveis. Cristo, indignado com a presunção deles, diz que Ele pode e irá lidar
com as crianças trazida a Ele, para que elas possam se tornar participantes de Sua bênção e
de Seu reino (Mt 19: 14–15; Mc 10: 14–16; Lc 18: 16–17; Mt 29:19).

Portanto, quando Ele nos diz “Ensinem e batizem” não quer dizer o que os anabatistas
imaginam, mas que a Palavra e os Sacramentos deveriam ser associados na Igreja, pois é uma
lavagem de água pela Palavra (Ef 5:26). Onde o Evangelho não é ensinado, ali o Batismo não
é corretamente administrado. Mas onde o Evangelho é corretamente proclamado, os pais são
ensinados que essa promessa da graça se destina também a seus filhos (At 2:39). Portanto,
filhos de colo e filhas que estejam sobre seus ombros[37] devem ser levados a Cristo; pois Ele
deseja conferir Sua bênção e o reino de Deus também a eles (Mc 10: 14–16).

Assim como no Antigo Testamento, ambos eram ordenados a ensinar e a circuncidar, e os


adultos eram primeiro ensinados, depois circuncidados (Gn 17), mas os bebês eram
circuncidados primeiro (Gn 17:12) e ensinados mais tarde, numa época em que eles tinham
idade suficiente para entender e fazer perguntas (Dt 6:20; Ex 12:26), assim também todo o
ministério do Novo Testamento consiste na Palavra e nos Sacramentos.

Página 21
Quando os adultos são convertidos pela primeira vez, o ensino precede e o Batismo segue (At
2:41; 8:12, 35–38; 10: 44–48), com relação aos filhos dos cristãos, a mesma ordem de ensino e
batismo é observada como antigamente, seguida no Antigo Testamento no ensino e
circuncisão, pois o que era a circuncisão no Antigo Testamento agora é o Batismo no Novo
Testamento (Cl 2: 11–12).

Assim João, escrevendo aos filhos dos crentes, para que eles possam conhecer o Pai celestial,
dá [a eles] este conforto primeiro, que eles têm o perdão dos pecados através do Seu nome (1
Jo 2:12–13); isso se aplica a eles, uma vez que são batizados em nome de Cristo para a
remissão dos pecados (At 2:38); porque essa promessa se aplica também às criancinhas (At
2:39; Is 49:22).

245 — “Mas está escrito: ‘Aquele que crê e é batizado, etc.’ Agora, visto
que a fé é pelo ouvir, como então podem os bebês crer?”

Cristo diz expressamente que as crianças que são trazidas a Ele obtêm e recebem o reino de
Deus, ou seja, o perdão dos pecados, a graça e a salvação eterna (Mc 10:14; Lc 18:16), e
acrescenta: “Em verdade vos digo que se não vos converterdes e não vos fizerdes como
crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus”. Mas aqueles que recebem e possuem o
reino de Deus, estes estão apropriadamente na assembleia dos crentes, pois sem fé ninguém
pode agradar a Deus (Hb 11:6); e quem não crer será condenado (Mc 16:16).

Daí também a circuncisão, que também foi realizada em crianças pequenas, é chamada de
selo da justiça da fé (Rm 4:11). Portanto, não há dúvida de que o Espírito Santo é dado
também às crianças no batismo. Ele trabalha e efetua a regeneração neles, embora não
possamos compreender e conceber a natureza dessa obra divina. De sorte que o Batismo é
uma lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo, que é abundantemente
derramado sobre os batizados, para que, sendo justificados, sejam feitos herdeiros da vida
eterna, (Tt 3: 5–7). O exemplo de João Batista no ventre de [sua] mãe mostra que o Espírito
Santo pode realizar Sua obra nas crianças também antes do uso da razão (Lc 1:41).

246 — “Os sacramentários* ensinam corretamente que os filhos dos


batizados e dos crentes são filhos de Deus e herdeiros da vida eterna
também antes do batismo e sem batismo?”

Este é um erro antigo que Agostinho condenou nos Pelagianos e refutou em seu “De baptismo
parvulorum”, Livro 2, cap. 25 e 26. Em defesa de seu erro, eles aplicaram mal a mesma
passagem que os calvinistas proclamam — 1º Coríntios 7:14 — embora nessa passagem
apenas este ponto seja feito, a saber; que uma esposa crente pode, em sã consciência, viver
com um marido descrente e dar-lhe filhos, pois para o puro todas as coisas são puras (Tt 1:15).

Mas Paulo claramente e sem distinção declara sobre todas as coisas que trazemos conosco
quando nascemos neste mundo: Éramos por natureza filhos da ira; a saber, não apenas
aqueles que são gerados de pais pagãos, mas também nós, diz Paulo, que nascemos de pais

Página 22
circuncidados (Ef 2:3), pois aquele que é nascido da carne é carne e não pode entrar no reino
de Deus, a menos que nasça de novo da água e do Espírito (Jo 3:5–6). A promessa da graça
certamente se aplica também às criancinhas (Gn 17:7). Mas, para que isso seja feito, deve
haver uma aplicação dessa promessa, de modo que as criancinhas sejam levadas a Cristo (Mc
10:13; Is 49:22).

Conforme fora mostrado acima, é exatamente isso que ocorre no Batismo. São, então, os filhos
de crentes que morrem antes do nascimento ou ao nascer condenados? De maneira nenhuma!
Mas visto que nossos filhos, trazidos à luz pela bênção divina, são, por assim dizer, dados em
nossas mãos e ao mesmo tempo os meios são oferecidos, ou é possibilitado pelo selo do pacto
da graça a ser aplicado a eles, ali de fato aquela declaração divina muito solene se aplica: O
filho varão, a carne de cujo prepúcio não é circuncidado no oitavo dia, sua alma será apagada
de seu povo (Gn 17:14). Por isso, o Senhor quando encontrou Moisés no caminho quis matá-lo,
porque ele havia negligenciado a circuncisão de seu filho (Ex 4:24–26).

Quando esses meios não nos são dados — como quando no Antigo Testamento um homem
morria antes do oitavo dia da circuncisão — da mesma forma quando eles, que, nascidos no
deserto no intervalo de 40 anos, não podiam ser circuncidados por causa do assédio diário por
inimigos e peregrinações constantes, morreram incircuncisos (Js 5: 5–6), e quando hoje as
crianças morrem antes de nascerem — em tais casos a graça de Deus não está ligada aos
Sacramentos, mas essas crianças devem ser trazidas e recomendadas a Cristo em orações.

E não se deve duvidar de que essas orações são ouvidas, pois são feitas em nome de Cristo
(Jo 16:23; Gn 17:7; Mt 19:14). Visto que, então, não podemos trazer crianças ainda não
nascidas a Cristo por meio do Batismo, devemos, portanto, fazê-lo por meio de orações
piedosas. Os pais devem ser lembrados disso, e se talvez tal caso ocorrer, eles devem ser
encorajados com esse conforto.

* — “Sacramentários” ou “Sacramentalistas” na época eram termos utilizados para identificar a


posição reformada acerca do assunto.

[37] Cf. Is. 49:22

Página 23
Anexo III
David Henkel (Pastor Luterano) refutando Joseph Moore (Pastor
metodista) sobre a regeneração batismal e batismo de João31

Estes são alguns trechos que traduzi do livro HENKEL, David. Answer to Mr. Joseph Moore, the
Methodist: with a few fragments on the doctrine of justification. New Market, Va.: Printed by S.G.
Henkel. 1825.

David Henkel, um pastor luterano, responde a vários argumentos de Joseph Moore, um pastor
metodista. Está em análise o debate sobre a questão da regeneração batismal.

“O Sr. M também diz, p. 10. “O caso de Simão, o feiticeiro, registrado em Atos 8. 13, 23,
estabelecerá plenamente este ponto. Diz-se que o próprio Simão também creu, e foi batizado,
v. 13, ou seja, creu na doutrina que Filipe pregava, e nessa fé foi batizado: mas não foi
regenerado, pois Pedro disse-lhe: “Percebi que ainda estás no fel da amargura e no laço da
iniquidade”. Se segue que ele nunca foi regenerado. Portanto, o batismo em água não é
regeneração, etc.

Resposta. O meu oponente disse que a pregação do Evangelho é o meio ordinário de


regeneração. Ora, Simão também ouviu o evangelho pregado, e não foi regenerado; portanto,
a pregação do evangelho não pode ser o meio, de modo que, se isto provar alguma coisa
contra o batismo, faz o mesmo contra a pregação do evangelho; e se for contra mim, é
igualmente contra ele próprio. Dizer “se o batismo fosse um meio de regeneração, não haveria
tantas pessoas perversas que são batizadas, pois todas elas seriam regeneradas”, tornou-se
um “cantão vulgar, e passa por um bom argumento”, enquanto que na realidade apenas se
calcula que derrubará tudo o que é sagrado. Pois se esta for uma boa razão, que o batismo
não é um meio de regeneração, porque há pessoas más, que são batizadas, então posso
argumentar com a mesma propriedade e plausibilidade: a oração é um exercício inútil porque
há muitos que oram e no entanto continuam hipócritas — não há a menor virtude na pregação
do evangelho porque há muitos que a ouvem, e no entanto frequentam assembleias ilícitas —
as escrituras sagradas não são a palavra de Deus; porque há muitos, que as lêem, mas são e
permanecem infiéis — o próprio Espírito Santo não pode ser uma energia divina porque os
judeus, e muitos milhares além deles, com quem ele lutou, não foram convertidos, nem
regenerados! Nem um deísta, nem um ateu poderiam ter inventado uma objeção mais
diabólica, para derrubar a religião cristã, do que a alegada pelo meu oponente, contra a
doutrina do batismo, aqui em questão. Muitas pessoas possuem mentes tão grosseiras, e
bárbaras, que imaginam “se o batismo é para fazer algum bem, deve ser como algum remédio
carnal, que, se apenas aplicado, funcionará fisicamente, sem qualquer aquiescência mental”; e
quando não conseguem perceber uma alteração súbita e sensata, concluem: que não é nada a
não ser uma sombra; e depois, da forma mais selvagem, blasfemam esta instituição bendita. A

31
Fonte:
<https://monoergon.wordpress.com/2023/04/14/david-henkel-pastor-luterano-refutando-joseph-moore-pa
stor-metodista-sobre-a-regeneracao-batismal-e-batismo-de-joao/>. Minha tradução.

Página 24
mente de um homem, não é como um cata-vento sobre um espigão, que é movido pela
violência dos ventos, sem ser capaz de fazer qualquer resistência, de modo que não devemos
concluir que se o batismo possui virtudes regeneradoras, deve, infalivel e irresistivelmente,
regenerar cada um, a quem é administrado. O batismo é um meio espiritual; por conseguinte, o
objetivo das suas operações não é físico, mas espiritual; portanto, só pode revelar-se salutar
onde não encontra demasiada oposição. Deve-se admitir, infelizmente!, que muitos dos
batizados não caminham em novidade de vida; no entanto, isto não é prova da deficiência do
batismo, mas apenas que eles sufocam as suas operações benditas.”

HENKEL, David. Answer to Mr. Joseph Moore, the Methodist: with a few fragments on the
doctrine of justification. New Market, Va.: Printed by S.G. Henkel. 1825, p. 44-45.Link:
https://archive.org/details/answertomrjoseph00henk/page/44/mode/2up?view=theater

David Henkel, um pastor luterano, responde a vários argumentos de Joseph Moore, um pastor
metodista. Está em análise mais um argumento sobre a questão da regeneração batismal.

“3. O Sr. M. diz p. 10, 11: “Nosso Senhor declara: ‘Se não vos arrependerdes, todos de igual
modo perecereis’. Lucas 13. 3, 5. E São Paulo diz: ‘Deus ordena a todos os homens em toda a
parte que se arrependam’. Atos 17—E também aos anciãos da igreja em Éfeso, ele disse, ‘que
nada vos tinha deixado de anunciar que fosse proveitoso para vós; mas que, de casa em casa,
se manifestou publicamente, testificando tanto aos judeus como também aos gregos,
arrependimento para com Deus, e fé em nosso Senhor Jesus Cristo’. Atos 20, 20,21. Por isso,
diz ele, ‘eu vos protesto, no dia de hoje, que estou limpo do sangue de todos; porque jamais
deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus’, versículos 26, 27. Estas escrituras provam
inegavelmente, que o batismo na água não é regeneração, nem o meio ordinário; porque é pelo
arrependimento para com Deus, e pela fé em nosso Senhor Jesus Cristo, que obtemos esta
bênção. Ora, o batismo não é nem arrependimento nem fé; porque muitos foram batizados, os
quais nunca se arrependeram nem creram; e muitos se arrependeram e creram, de modo a
serem regenerados e nascerem de novo, que nunca tinham sido batizados. Portanto, o batismo
em água não é regeneração, nem o meio ordinário.

Pedro diz: ‘Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que os vossos pecados possam
ser apagados, quando os tempos de refrigério vierem pela presença do Senhor’. Atos 3, 19.
Aqui note-se que temos de nos arrepender e converter, para sermos regenerados; então é que
todos os nossos pecados são apagados, e os refrescantes aguaceiros da graça divina entram
nas nossas almas, não do batismo de água, mas da presença do Senhor. Das passagens da
Escritura acima citadas, é evidente que o batismo na água não é regeneração, nem umo dilúvio
celestial, nem meios vulgares pelos quais obtemos esta bênção; mas temos de nos arrepender,
e crer no Senhor Jesus Cristo, com o coração para a justiça, a fim de sermos regenerados, e
nascidos de novo por um nascimento espiritual. Sem o qual também nós pereceremos,
batizados ou não batizados com água”.

Página 25
Resposta. Nenhum homem, eu presumo, nega que a fé e o arrependimento são necessários
para a remissão dos pecados; e também a mente mais superficial percebe que nenhum deles é
batizado. Não afirmou o meu oponente que a pregação do evangelho é o meio de
regeneração? ora, da mesma forma que ele prova que o batismo não é o meio, assim também
posso provar que a pregação do evangelho não é, pois quem não sabe, que a fé, e o
arrependimento não estão pregando o evangelho? Da mesma maneira, também posso provar,
que não podemos ser salvos por Cristo; pois devemos ser regenerados pela fé e pelo
arrependimento; ora, Cristo não é fé, nem arrependimento; portanto, não somos salvos por
Cristo! A mais horrenda lógica! Não acaba aqui; posso aplicá-lo mais longe, a saber: não
podemos ser regenerados pelo Espírito Santo porque é pelo arrependimento, e pela fé; mas o
Espírito Santo não é nenhum destes; portanto, não podemos ser regenerados por Ele. Não é
necessário provar que o batismo é fé e arrependimento para estabelecer o ponto em questão.
Basta provar que o batismo é o meio pelo qual o Espírito opera sobre um pecador, para
produzir o arrependimento, pelo qual obtemos o perdão do pecado. Ora, o que é um meio para
produzir o arrependimento, é certamente o meio de regeneração. O mesmo se pode dizer de
Cristo, o Espírito Santo, e da pregação do evangelho. Cristo envia o Espírito; o Espírito opera
através do evangelho para produzir o arrependimento; e pelo arrependimento obtemos a
remissão pelos pecados; e assim, embora as escrituras o atribui ao arrependimento, no
entanto, é facilmente percebido que isto não exclui causas e meios para produzir o
arrependimento. Se o meu adversário tivesse provado “que o batismo não é um meio pelo qual
o Espírito opera”, então só poderia ter provado que não era um meio de regeneração. Mas
como ele não o fez, o seu argumento é um sofisma descarado, pelo qual ele não só exclui o
batismo como meio, mas também Cristo, o Espírito, e a pregação do evangelho. Que o batismo
é o meio já foi parcialmente estabelecido, e será ainda mais ilustrado e confirmado.

Neste lugar considero oportuno, e meu dever, responder a uma falsa representação feita
por muitos, especialmente entre os metodistas, contra as doutrinas luteranas, e a comunidade.
Tais representam luteranos como pobres, ignorantes, carnais, sem qualquer conhecimento da
obra interior do Espírito, e que a maioria dos seus pregadores afirmam que se alguém for
batizado apenas com um pouco de água, catequizado, e receber a Ceia do Senhor, será
infalivelmente salvo sem qualquer arrependimento. Eles então, como o Sr. M. cita diversas
passagens das escrituras para provar a necessidade de arrependimento, e, quando isto é feito,
eles imaginam que provaram a importância do batismo; e para terminar a sua declamação,
acrescentam, “se os luteranos não se arrependerem, e experimentarem o perdão dos pecados,
irão todos para o inferno; não obstante, o seu batismo na água!” Admite-se que há demasiados
pecadores não regenerados que são chamados luteranos, assim como também há muitos
hipócritas sutis entre os metodistas; mas eu nego que todos os luteranos são estranhos à nova
vida em Cristo, e declaro como calúnia que os seus livros de confissão, ou, que os seus
ministros ensinam, ou, que é uma opinião, que é geralmente recebida entre eles, que se o
pecador só for batizado, etc., que sem arrependimento será salvo. Os nossos livros simbólicos,
muitos outros tratados, escritos na nossa igreja, e os nossos sermões insistem no
arrependimento; embora ensinemos que o batismo é o meio de regeneração. O Espírito pelo
batismo como meio opera sobre o pecador, para realizar o arrependimento; daí, a remissão
pelos pecados; este é o propósito para o qual o administramos; e se for devidamente aplicado

Página 26
e as suas operações não forem demasiado violentas, e se for constantemente resistido,
produzirá estas bênçãos. Não nos considerariam esses metodistas injustos, e censuradores, se
concluíssemos que, porque pregam e oram, e têm outros exercícios diversos, que por isso
negam o trabalho interior do Espírito, e se lhes disséssemos “se não se arrependerem, irão
para o inferno, com todas as vossas pregações, orações e exercícios”, não responderiam:
“sabemos muito bem, sem que nos digam, que o arrependimento é necessário, e por isso
pregamos, oramos, etc., para o produzir”. Como isto seria, sem dúvida, tratá-los de forma
injusta, e ímpia, igualmente injusta, tal trataria os luteranos, palmando-o sobre eles, como se
negassem a obra interior do Espírito, quando este é o próprio desígnio, para o qual
administram o batismo.”

HENKEL, David. Answer to Mr. Joseph Moore, the Methodist: with a few fragments on the
doctrine of justification. New Market, Va.: Printed by S.G. Henkel. 1825, p. 45-48.

Link: https://archive.org/details/answertomrjoseph00henk/page/44/mode/2up?view=theater

David Henkel, um Pastor Luterano, responde a Joseph Moore, um Pastor Metodista, que tenta
provar que, uma vez que a regeneração é o efeito do onipotente poder de Deus, o batismo não
pode, portanto, ser o meio.

“ 1. O Sr. M. diz p. 5, 6, “Do acima exposto, [tendo citado algumas passagens das escrituras
que falam de regeneração] parece que a regeneração é uma mudança interna, radical da alma,
pela qual ela recebe um novo nascimento da morte do pecado para a vida da justiça—uma
nova criação desse estado corrupto e profano, em que estamos pelo pecado e pela
transgressão, na imagem santa e justa do nosso bendito Redentor—uma transportação do
poder das trevas, em que estamos, anterior a tal mudança, e somos trazidos para a luz e
liberdade dos queridos filhos de Deus. Assim obtemos o perdão de todos os nossos pecados,
somos transformados, pela renovação da nossa mente, na imagem de Deus, e somos
capacitados a conhecer e a fazer o que a vontade de Deus nos diz respeito. Não é evidente
que se a regeneração implica uma mudança tão profunda e radical do coração, que o batismo
na água, nem nada externo pode ter efeito? Pode alguma coisa, sem o poderoso poder de
Deus, ou sem as energias operativas daquele Espírito Todo-Poderoso, que ressuscitou o corpo
de Cristo dos mortos, e soprou para as narinas do primeiro homem, e ele se tornou uma alma
viva, efetuar tal mudança? tal morte para o pecado, e novo nascimento para a justiça? Penso
que é evidente que não pode”.

Resposta. É admitido que nada menos do que a onipotência pode efetuar a


regeneração. Mas será esta uma razão pela qual o batismo não pode ser o meio? Não, o meu
oponente poderia dizer, com igual propriedade, que requer o poder onipotente de Deus para
criar um homem, por essa razão ele não pode nascer de uma mãe. Ou, requer o poder
onipotente de Deus, para produzir um pé de milho; portanto, a plantação da semente, da terra,
da chuva e dos raios de sol, não pode ser o meio da sua produção. Que homem de bons
princípios argumentaria desta maneira? Da mesma forma que ele prova que o batismo não

Página 27
pode ser o meio de regeneração, ou seja: porque requer a omnipotência de Deus para o
realizar, eu também poderia provar que todos os meios na natureza são inúteis para produzir
qualquer coisa, porque nada pode ser produzido sem omnipotência.

O Sr. M. não só nega que a regeneração é efetuada pelo batismo, mas também diz que
nada externo pode afetá-lo. Se nada externo como meio, que aqui é o ponto em questão, pode
efetuar a regeneração, então é evidente que as escrituras sagradas, nem como são escritas,
nem como são pregadas, bem como o batismo, podem ser qualquer meio de graça; pois todas
elas são externas. O meu adversário, ao negar que o batismo seja o meio de regeneração, foi
levado a negar todos os meios externos; daí, as sagradas escrituras, pois são externas; e aqui
ele manifesta-se, quer como fanático, quer como deísta, pois, se nenhum meio externo pode
efetuar a regeneração, é evidente que a palavra de Deus não pode, como também é externa;
portanto, segundo esta teoria, se Deus regenerar alguém, ele faz isso sem a palavra do
Evangelho, batismo, ou qualquer outro meio. Isto põe imediatamente de lado a validade divina
do evangelho. Se nenhum meio externo regenerar, então é em vão olhar para a palavra de
Deus, assim como para o batismo, ou usar qualquer outro meio; portanto, nenhuma
oportunidade de ser salvo; a menos que nós pelas obras carnais e perversas da nossa razão
possamos merecer a salvação; caso contrário, teríamos de ficar adormecidos, como os
Epicurianos; ou então esperar, e olhar para as nuvens para experimentar a regeneração por um
milagre extraordinário.

Quando a eficácia divina da palavra de Deus e do batismo é justificada, pode-se ouvir


multidões que professam o cristianismo, como se fossem perfuradas, exclamarem: “Só Deus
pode salvar um pecador! ele deve fazer a obra! só o Espírito! o Espírito! a pregação do
evangelho e o batismo na água são obras do homem; pois os homens pregam e batizam!”. Tal
negação, de que as bênçãos divinas estão contidas na palavra evangélica e no batismo, elas
paliam-se a si próprias, seja por algum trabalho próprio carnal como chamam oração e
mortificações corpóreas, a fim de render a Deus um equivalente para a salvação; ou, por
estarem adormecidas, até as suas imaginações desordenadas figurarem para si próprias
sonhos celestiais, e as suas mentes ficarem rodeadas de ilusões satânicas; estão certas de
que o Espírito Santo começou a sua obra nelas e em algum paroxismo fanático; ou num jardim,
campo, bosque ou algum lugar solitário, imaginam ouvir uma voz sobrenatural, e sem qualquer
palavra evangélica ou batismo, experimentam perceptivelmente a regeneração. Por isso não é
tão surpreendente que a palavra de Deus, tal como é revelada nas escrituras, e o batismo,
quando exibido como meio de graça, seja tão ofensivo para elas, como para Thomas Paine,
Voltaire, e os seus discípulos! Homens iludidos! não podem eles ver que o evangelho é o poder
de Deus para a salvação de todos os que creem, Rom. 1. 16, e que o batismo é a própria
instituição de Deus, e inclui o seu nome bendito, que é ele próprio. Não obstante, estes
fanáticos enchendo os seus sermões com o que sonharam e sentiram; e assim pregando a si
próprios em vez de Cristo; no entanto, para que não sejam vistos como infiéis, professam crer
nas escrituras, depois de espiritualizar textos diversos, que se opõem à sua opinião, e
administram o batismo, e a Ceia do Senhor, como uma forma de piedade. Tais são apontados
pelo apóstolo, que eles “têm uma forma de piedade, mas negam o seu poder”. 2 Tim. 3, 5.
Quando se coloca a questão: eles negam o poder do quê? a resposta será: da forma de
piedade, pois o antecedente é a forma de piedade. {…}

Página 28
Sem vergonha, e sem prestar atenção ao bom senso dos seus leitores, o meu
adversário diz, p. 40, que no uso dos meios devemos receber a bênção, quando antes, ele
poderia ter o descaramento de afirmar que a bênção não está contida nos meios, nem que
qualquer coisa externa poderia efetuar a regeneração; pelo que ele se contradiz
redondamente.”

HENKEL, David. Answer to Mr. Joseph Moore, the Methodist: with a few fragments on the
doctrine of justification. New Market, Va.: Printed by S.G. Henkel. 1825, p. 52-54.

Link: https://archive.org/details/answertomrjoseph00henk/page/44/mode/2up?view=theater

Nota do Tradutor: as chaves { } são minha inserção.

“Esta seção contém uma investigação da interpretação do meu oponente em 1 Ped. 3. 20, 21.

Este texto citado no meu tratado, o meu oponente também citou, p. 35, uma parte do meu
comentário sobre o mesmo: a saber,

“Sr. H. p. 35, diz: “O dilúvio em que os antediluvianos pereceram foi uma figura de batismo.
‘Oito almas foram salvas na arca pela água. A figura correspondente, onde até o batismo
também agora nos salva’. O dilúvio consistia em água, assim como o batismo. A água
sustentou a arca para que oito almas pudessem flutuar nela e serem salvas; o Espírito Santo
move-se sobre a água no batismo, e Cristo é revestido assim etc.”.

Sobre isto o Sr. M. observa, p. 36: “Se o dilúvio é uma figura do batismo, então o batismo
também deve ser uma figura do dilúvio porque o apóstolo diz, ‘o batismo é uma figura
correspondente’. Assim, então, aqui estaria uma figura representando outra figura; o que não
seria correto”.

Resposta. Que o batismo é chamado figura correspondente, não prova que seja uma figura
do dilúvio. Nem o apóstolo diz “que o batismo é uma figura do dilúvio”, mas a figura
correspondente. O que está aqui em inglês chamado figura correspondente, está no original,
ἀντίτυπον, que é um antítipo, ou um tipo correspondente. Mas será um antítipo um tipo de um
tipo anterior? De modo algum. Um antítipo não é emblemático, mas é a substância
correspondente de um tipo anterior, ou figura.

O meu oponente prossegue: “De acordo com a doutrina do Sr. H, o dilúvio é apenas de fato
uma figura muito pobre do santo batismo dele, pois foi um dilúvio destruidor, ou dilúvio de ira
divina, assim como um dilúvio de água, pela qual todos os ímpios foram destruídos! Mas o
santo batismo dele é um dilúvio salvador, ou dilúvio da graça divina, pelo qual todos os ímpios,
que a recebem, são salvos do pecado e da ira divina!”.

Resposta. Pode um dilúvio de destruição, não ser também um dilúvio de segurança? Embora
os antediluvianos tenham perecido na água, no entanto, por ela, as oito almas foram salvas. Se

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o batismo é um dilúvio de salvação, deve ser também um dilúvio de destruição. O apóstolo diz:
“Sabendo isto, que o nosso velho homem está crucificado com ele, que o corpo do pecado
pode ser destruído, que doravante não devemos servir o pecado”. Rom. 6, 6. De novo— “Se
viverdes segundo a carne, morrereis; mas se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo,
vivereis”, cap. 8, 13. Estes textos mostram que se o corpo do pecado não for destruído,
morreremos; mas do contrário, viveremos. Através do Espírito o corpo do pecado deve ser
destruído, o qual, como já provei, é administrado pelo batismo, cuja destruição provará a nossa
felicidade final. Embora o dilúvio tenha sido destrutivo, apesar disso, é uma figura própria do
batismo; pois se o batismo é um meio de salvação, deve ser também o da destruição, pois o
velho homem em nós deve perecer, antes que o novo possa finalmente ser triunfante.

Nego que isto seja a verdade, o que diz o meu oponente: que o meu santo batismo salva
todos os ímpios, que o recebem, do pecado e da ira divina. Não há tal ideia exposta ao longo
do meu tratado, mas o contrário é afirmado. Ver p. 33, 34, 35. Nem eu preguei tal doutrina. Sr.
M., tu não me deves acusar falsamente!

“Mas”, continua o Sr. M., “Como o Apóstolo diz que o batismo é uma figura correspondente,
prova em primeiro lugar, que o batismo é uma figura; portanto, um sinal, ou emblema”.

Eu respondo: Cada figura (muito menos um antítipo) não é um emblema; aquela é uma mera
imagem alusiva, a qual é o significado de um emblema. Oito almas foram salvas na arca pelo
dilúvio, que era verdadeiramente uma figura; mas era, portanto, um mero dilúvio
emblemático?—e foram elas apenas emblematicamente salvas? Aquele destruiu os ímpios.
Mas foi apenas um emblema de destruição? Não—o dilúvio era real—as oito almas foram
realmente salvas—os ímpios foram destruídos; e, no entanto, serviu como prefiguração do
batismo. Ora, se o dilúvio e os seus efeitos eram reais, que era uma figura, quanto mais deve o
batismo do seu antítipo, ou a figura correspondente, ser real no que diz respeito às suas
propriedades e efeitos!

O meu oponente acrescenta: “2. prova que havia outra figura a que o apóstolo se referia.
Agora a questão é: como era a outra figura? A minha resposta é: era a arca. Pois as oito almas
não foram salvas pela água; mas foram salvas na arca, de perecerem pela água: daí uma
figura de Cristo, e a salvação que recebemos do dilúvio da ira divina por estarmos dentro dele.
Portanto, o batismo é uma figura correspondente; isto é, uma figura do batismo do Espírito,
pelo qual somos salvos e purificados de todo o pecado, ‘pela ressurreição de Jesus Cristo’; ou
pelo poder daquele espírito que ressuscitou Cristo dos mortos”.

Resposta. O Sr. M. contradiz positivamente o apóstolo Pedro, quando afirma: que as oito
almas não foram salvas pela água. Isto parecerá mais claro, citando totalmente as palavras do
texto: —“Os quais (os espíritos na prisão v. 19) em outro tempo foram desobedientes, quando a
longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca, na qual
poucas, isto é, oito almas, foram salvas pela água. A figura correspondente à qual o batismo
também agora nos salva (não do despojamento da imundície da carne, mas a resposta de uma
boa consciência para com Deus), pela ressurreição de Jesus Cristo”. 1 Ped. 3. 20, 21. Qual é o
antecedente da frase “a figura correspondente”? Resposta: Água—e o texto diz positivamente,

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“oito almas foram salvas pela água”. Ora, que autoridade tem o meu oponente, por afirmar, que
não foram salvas pela água? Em quem devemos acreditar?—Nele?—ou, São Pedro?

O que ele alega de Heb. 11. 7— não é prova de que as oito almas não tenham sido salvas
pela água. Este texto prova simplesmente que Noé preparou a arca para a salvação da sua
casa, pois na arca, como diz São Pedro, oito almas foram salvas, não pela arca, mas pela
água. Se não tivesse havido um dilúvio de água, que uso teria havido para a arca? Certamente
não para flutuar e ser salvo pela terra seca! De fato, a arca era necessária; mas sem a água,
teria sido preparada em vão, já que não teria havido destruição sem a água, nem as oito almas
poderiam ter sido salvas porque não teriam estado em perigo.

Quando ele afirma que “o batismo é uma figura correspondente, ou seja, uma figura do
batismo do Espírito”, ele viola os papéis da crítica sagrada. O apóstolo não diz isso. Se a
interpretação do Sr. M. estivesse correta, o texto diria: “em que poucas, isto é, oito almas foram
salvas pela água. A figura correspondente onde o batismo também nos salva agora, cujo
batismo é a figura correspondente do batismo do Espírito, pelo qual somos salvos”. Esta última
frase, não faz parte do texto, mas é a adição mais rude, e contradiz as palavras do apóstolo.
Pois ele só fala de uma figura correspondente, que é o batismo, que é propriamente o antítipo
do dilúvio; mas o meu oponente faz deste antítipo, ou substância de uma figura anterior, que é
o dilúvio, um tipo do batismo do Espírito; Parece, porque ele odeia a ideia, que o batismo deve
ser o meio de salvação, e, no entanto, este texto é tão contra ele; para que ele tenha razão,
força nele outro antítipo, e assim perverte as escrituras. Não considero necessário dizer mais
sobre este assunto, como qualquer pessoa, que leia a sua interpretação pode ver, que tenha
contradito o apóstolo.

O meu adversário acrescenta: “2. prova que havia outra figura a que o apóstolo se referia.
Agora a questão é: como era a outra figura? A minha resposta é: era a arca. Pois as oito almas
não foram salvas pela água; mas foram salvas na arca, de perecerem pela água; daí uma
figura de Cristo, e a salvação que recebemos do dilúvio da ira divina por estarmos dentro dele.
Portanto, o batismo é uma figura correspondente, ou seja, uma figura do batismo do Espírito,
pelo qual somos salvos e purificados de todo o pecado, ‘pela ressurreição de Jesus Cristo;’ ou
pelo poder daquele Espírito que ressuscitou Cristo dos mortos”.

Resposta. O Sr. M. contradiz positivamente o apóstolo Pedro, quando afirma: que as oito
almas não foram salvas pela água. Isto parecerá mais claro, citando totalmente as palavras do
texto: —“Os quais (os espíritos na prisão v. 19) em outro tempo foram desobedientes, quando a
longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca, na qual
poucas, ou seja, oito almas, foram salvas pela água. A figura correspondente à qual o batismo
também agora nos salva (não do despojamento da imundície da carne, mas a resposta de uma
boa consciência para com Deus), pela ressurreição de Jesus Cristo”. 1 Ped. 3. 20, 21. Qual é o
antecedente da frase “a figura correspondente”? Resposta: Água—e o texto diz positivamente:
“oito almas foram salvas pela água”. Ora, que autoridade tem o meu oponente, por afirmar, que
não foram salvas pela água? Em quem devemos acreditar?—Nele?–-ou, São Pedro?

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O que ele alega de Heb. 11. 7— não é prova de que as oito almas não foram salvas pela
água. Este texto prova simplesmente que Noé preparou a arca para a salvação da sua casa,
pois na arca, como diz São Pedro, oito almas foram salvas; não pela arca, mas pela água. Se
não tivesse havido um dilúvio de água, que uso teria havido para a arca? Certamente não
flutuar e ser salvo pela terra seca! De fato, a arca era necessária, mas sem a água teria sido
preparada em vão, como não teria havido destruição sem a água, nem as oito almas poderiam
ter sido salvas, porque não teriam estado em perigo.

Quando afirma que “o batismo é uma figura correspondente, ou seja, uma figura do batismo
do Espírito”, ele viola os papéis da crítica sagrada. O apóstolo não diz isso. Se a interpretação
do Sr. M. estivesse correta, o texto diria: “na qual poucas, isto é, oito almas, foram salvas pela
água”. A figura correspondente à qual o batismo também agora nos salva, cujo batismo é a
figura correspondente do batismo do Espírito, pelo qual somos salvos”. Esta última frase não
faz parte do texto, mas é a adição mais rude, e contradiz as palavras do apóstolo. Pois ele só
fala de uma figura correspondente, que é o batismo, que é propriamente o antítipo do dilúvio,
mas o meu oponente faz deste antítipo, ou substância de uma figura anterior, que é o dilúvio,
um tipo do batismo do espírito. Parece, porque ele odeia a ideia, que o batismo deve ser o
meio de salvação, e no entanto, este texto é tão contra ele que, para que ele possa ter razão,
força nele outro antítipo, e assim perverte as escrituras. Não considero necessário dizer mais
sobre este assunto, como qualquer pessoa, que leia a interpretação dele pode ver, que tenha
contraditado o apóstolo.”

HENKEL, David. Answer to Mr. Joseph Moore, the Methodist: with a few fragments on the
doctrine of justification. New Market, Va.: Printed by S.G. Henkel. 1825, p. 72-75.

Link: https://archive.org/details/answertomrjoseph00henk/page/72/mode/2up

“SEÇÃO XII

Esta seção contém uma resposta a diversas objeções, que são alegadamente contra a
doutrina: que o batismo é o meio ordinário de regeneração.

Enquanto existem objeções diversas alegadas contra esta doutrina, não só pelo meu
oponente, mas também por outros, que são calculadas para confundir as mentes de muitos,
considero necessário fazer a seguinte declaração do mesmo, com as minhas respostas:

Objeção I. Jesus Cristo é o nosso único Salvador. Assim, se crermos que somos salvos pelo
batismo, fazemos disso um Salvador, o que é um absurdo.

Resposta. Quando ensinamos que somos salvos pelo batismo, nada mais entendemos, a
não ser que Cristo nos salva; pois Ele instituiu-o, e é o meio nas suas próprias mãos, para
efetuar a nossa regeneração. De acordo com esta objeção, seria impossível, para Deus,
empregar quaisquer meios na salvação de um pecador, para que os meios não se tornem um
Deus, e um Salvador. Consequentemente, devemos negar que a pregação do Evangelho é um

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meio para que o mesmo não se torne um Deus. Esta deve ser uma filosofia maravilhosa, de
que Deus não pode salvar, ou realizar qualquer coisa por meios, a menos que acreditemos que
assim eles se tornem um Salvador, e um Deus! Esta objeção é tão absurda como se eu
dissesse: já que um autor emprega a sua caneta, ao escrever um livro, portanto a caneta é o
autor!

Objeção II. As escrituras declaram que somos regenerados pela palavra de Deus, como diz
São Pedro, 1ª Epístola. 1, 23; ‘tendo renascido, não de semente corruptível, mas de
incorruptível, pela palavra de Deus, a qual vive e permanece para sempre’. Se a palavra de
Deus, como este texto indica suficientemente, for o meio, como pode então o batismo ser o
meio ordinário? Portanto, alguém pode ser regenerado pela palavra, sem batismo.

Resposta. É prontamente admitido que a palavra de Deus é um meio auxiliar. Mas isto não
prova que o batismo não é o meio ordinário, nem que também podemos ser regenerados tanto
sem, quanto com ela, a não ser que se pudesse provar que era impossível um meio ordinário
ter o seu auxiliar. Sem a palavra de Deus, nada saberíamos sobre o batismo, nem sobre o seu
propósito e valor. Pela palavra somos conduzidos ao batismo, e por ela descobrimos as
promessas divinas, que nele estão seladas, para que não nos pareça uma cerimónia
desprovida de significado. Se não fosse pela palavra, nunca deveríamos ter sido batizados por
nós próprios, nem teríamos os nossos descendentes dedicados a Deus por este sacramento.
Ora, como a palavra nos leva ao batismo e nos ensina a usá-lo, é, portanto, também
necessariamente um meio de regeneração. Pois o que me leva à lavagem da regeneração,
deve ser um meio auxiliar de regeneração. Uma vez que a palavra me revela as promessas
divinas no batismo, para que eu aprenda a crer nelas e a ser salvo, consequentemente, a este
respeito, a palavra é o meio; mas isto não exclui, mas sim inclui o batismo.

Objeção III. Se o batismo fosse o meio de graça comum, deveríamos ver mais bons frutos
naqueles que são batizados do que vemos. Muitos deles vivem tão mal como aqueles que não
são batizados. Se o batismo é a lavagem da regeneração, então porque é que nem todos os
batizados são regenerados? Isto indica que o batismo não está ligado a nenhuma virtude
divina.

Resposta. Esta objeção é popular, e com muitos passa por um argumento incontestável.
Numa das seções anteriores, foi respondida; no entanto, acrescentarei o seguinte:

1. Muitos cujos filhos foram batizados, não lhes dão trabalho, quando chegam à idade da
maturidade, para os instruir quanto ao uso e propósito do batismo; assim, como a boa
semente não recebe alimento, como se pode esperar que prospere? Suponhamos que
um lavrador tinha plantado uma boa semente, mas negligenciou o seu cultivo; ervas
daninhas nocivas invadiram-na, e impedem a sua fertilidade. Poderíamos concluir que
ele falava a linguagem da razão, se vilipendiasse a semente, ou negasse o seu princípio
de procriação? Diríamos que ele está fora de si. Apesar de não ouvirmos homens
sóbrios vilipendiarem a semente, eles negligenciaram o seu cultivo, mas muitos depois
de negligenciarem a educação religiosa dos seus filhos, e de os constatar sem graça,

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eles, como homens desprovidos do uso da sua razão, negam a virtude divina do
batismo.
2. Há poucos que creem que o batismo é a lavagem da regeneração. O clero da maioria
das denominações protestantes concorda em chamar-lhe um emblema, e representá-lo
como não essencial para a salvação, e assim afundá-lo o mais baixo possível, na
estimativa dos seus ouvintes. Embora os papistas admitam que se trata de uma
lavagem de regeneração, mas como também sustentam que as boas obras são
necessárias para nos justificar perante Deus, é evidente, que não obstante duvidarem
que o batismo seja uma lavagem perfeita de regeneração. Pois se o batismo é uma
lavagem perfeita de regeneração, porque é que nem sempre posso ter acesso a ela,
quando tenho caído? Que necessidade tenho de ser salvo por obras legais?

Suponhamos agora que a grande maioria dos ministros, de todas as denominações,


concordaram em difamar a autenticidade divina das escrituras sagradas, representando-as aos
seus ouvintes como não sendo essencialmente necessárias para serem lidas, e que seria até
perigoso depender delas, como regra de fé e conduta; seria racional concluir que as escrituras
não eram mais do que uma sombra, porque muitas pessoas têm-nas na sua posse e não são
beneficiadas? Não diria cada homem de discernimento: “não é de admirar que o povo não seja
beneficiado pelas escrituras, quando o clero, por quem é conduzido, o inspira com a crença de
que estas são inúteis”, para que se tornem dilatórios na sua utilização, e independentemente
das suas promessas e preceitos? Qual é a doutrina popular no que diz respeito ao batismo? Os
eruditos degradam o batismo com palavras polidas, de forma sistemática, enquanto os iletrados
vilipendiam o mesmo, em linguagem vulgar. Depois de terem feito tudo para degradar esta
instituição, e para arrancar da mente do povo todas as promessas sagradas, que Deus lhes
estipulou nela, eles são então os primeiros que, com uma santidade fingida, estabelecem a
queixa melancólica: “há poucos bons frutos a serem descobertos, em muitos deles, os quais
são batizados!”.

Objeção IV. É uma doutrina perigosa ensinar às pessoas que o batismo é o meio de
regeneração, para que elas não pensem que se apenas forem batizadas, estarão bastante
seguras; por conseguinte, entregar-se-ão ao pecado, sem restrições.

Resposta. Em concordância com esta objeção, também seria perigoso instruir o povo de
que Deus é bom para todos, e que ele ama os seus inimigos, para que não pensem, “já que ele
é tão bom, e bondoso, não nos castigará pelos nossos crimes; portanto possamos continuar
em pecado”. Em suma, não há nada pelo qual Deus manifeste o seu Amor e Bondade para
com os pecadores, mas sim o que pode ser passível de tal abuso, e contra o qual uma tal
objeção pode ser alegada. Qual é a diferença se os pecadores creem que a bondade e
misericórdia de Deus são manifestadas no batismo, ou por qualquer outro meio? Pois os que
estão determinados a abusar do mesmo o farão, com o perigo da sua própria alma.

Objeção V. Se o batismo for o meio ordinário de regeneração, então deve seguir-se: que
todos aqueles que não forem batizados serão condenados. Há muitos milhares que não são
batizados; ora, supor que todos estes se percam, é extremamente descaridoso.

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Resposta. Desta forma, eu poderia também provar que é muito descaridoso ensinar que quem
não crê em Jesus Cristo será condenado, porque há muitos milhares que não crêem, e muitos
mais nunca ouviram o seu nome. Que cristão presumiria dizer que a fé em Jesus Cristo não é
essencial para a salvação, porque seria descaridoso supor que todos estão perdidos, os quais
estão destituídos dela? De que forma Deus lida com os pagãos, e outros, que são
inevitavelmente destituídos do evangelho e dos sacramentos, de modo a estender a sua
misericórdia e benevolência a todos eles, para que fiquem sem desculpa, se o número deles
não for salvo, é um assunto sobre o qual não posso dizer nada nesta pequena obra. Só posso
observar que, embora Deus seja imparcial, ele sabe inventar meios em abundância, pelos
quais pode mostrar aos pagãos a sua salvação. Qualquer dispensação que tenha ordenado
para salvar os pagãos mediante Cristo, não interfere de modo algum com a dispensação sob a
qual vivemos. Não podemos esperar ser salvos de qualquer outra forma, a não ser aquela que
nos é revelada pelas escrituras.”

HENKEL, David. Answer to Mr. Joseph Moore, the Methodist: with a few fragments on the
doctrine of justification. New Market, Va.: Printed by S.G. Henkel. 1825, p. 102-105.

Link: https://archive.org/details/answertomrjoseph00henk/page/102/mode/2up?view=theater

David Henkel sobre o batismo de João sendo um para arrependimento, para perdão dos
pecados

“[…] Mais uma vez, João batizou antes de inaugurar Cristo, no Jordão, como sumo sacerdote;
portanto, antes de Cristo aparecer como um professor público. Ver Lucas 3. João 1. Será
possível que Nicodemos não tenha sabido nada deste batismo, quando no seu tempo
Jerusalém, e toda a Judéia, saíram até ele para serem batizados? O batismo de João não foi
realizado com água? Sim, muito certamente. Mas era uma lavagem judaica? Não. Pois se
fosse, teria sido mais antigo que João; nem os advogados e fariseus o teriam rejeitado, porque
estavam muito atentos aos rituais da lei. João diz: “eu, em verdade, vos batizo com água, para
o arrependimento” Mat. 3, 11. É evidente que muitos dos que João batizou estavam antes num
estado impenitente, pois ele chama-lhes uma raça de víboras, v. 7, e exorta-os a
arrependerem-se. Ora, sendo que João lhes disse: “Eu vos batizo com água, para o
arrependimento”, isso revela que o batismo era um meio de arrependimento. Mais uma vez, “E
ele (João) percorreu toda a terra ao redor do Jordão, pregando o batismo de arrependimento,
para o perdão dos pecados”. Lucas 3, 3; “Então disse Paulo, certamente João batizou com o
batismo de arrependimento, etc.”. Atos 19, 4. Estes textos não só mostram que o batismo de
João foi para o arrependimento, mas também é positivamente chamado de “batismo de
arrependimento”. O que pode ser um batismo de arrependimento senão um batismo que efetua
o arrependimento? que é exatamente o mesmo que uma inundação de regeneração. Quando
digo, “a mãe de uma criança”, quero dizer que a criança nasceu da mãe: o batismo de
arrependimento é analisado da mesma forma; consequentemente um batismo, que é a causa
do arrependimento. Aqui devo observar que embora o meu oponente tenha ridicularizado o
título do meu tratado: viz. “dilúvio celestial de regeneração” como infundado nas escrituras,

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contudo, como o batismo de João foi positivamente um batismo de arrependimento, e pelo
batismo temos a remissão dos pecados, é a mesma coisa que um dilúvio de regeneração. Esta
única expressão “batismo de arrependimento”, como aplicada ao batismo de João, com água, é
suficiente para refutar todos os sofismas, daqueles que negam que o batismo seja um meio de
regeneração.

O batismo de João não diferiu essencialmente daquele, que está em voga desde a
ressurreição do Salvador; pois o Espírito também o acompanhou, pois era um batismo de
arrependimento; pois sem o Espírito, não pode haver arrependimento genuíno. Pertence ao
ofício do Espírito Santo: guiar em toda a verdade, glorificar, e receber de Cristo, e para o
mostrar ao seu povo; João 13. 13, 15. Ora, João só podia apontar para Cristo, como “o cordeiro
de Deus, que tira o pecado do mundo”, mas não como um Salvador já crucificado; e como
tendo “por si mesmo purificado os nossos pecados, e sentado à destra da majestade nas
alturas”; por isso, o batismo de João não podia incluir essas coisas, como já realizado; e aqui, o
batismo após a ressurreição do nosso Salvador é superior porque inclui a obra da redenção,
como plenamente realizada. Ora, se o batismo de João não podia incluir a obra da redenção,
como já realizada, e, no entanto, era um batismo de arrependimento, quanto mais não deveria
o batismo posteriormente ser um meio de arrependimento; portanto, de regeneração, pois
recebe um Salvador, como tendo realizado plenamente a obra da redenção, e portanto
superior.”

HENKEL, David. Answer to Mr. Joseph Moore, the Methodist: with a few fragments on the
doctrine of justification. New Market, Va.: Printed by S.G. Henkel. 1825, p. 59-60.

Link: https://archive.org/details/answertomrjoseph00henk/page/59/mode/2up?view=theater

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