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Seria difícil encontrar hoje um crítico literário respeitável que gostasse de ser apanhado defendendo
como uma ideia a velha antítese estilo e conteúdo. A esse respeito prevalece um religioso consenso.
Todos estão prontos a reconhecer que estilo e conteúdo são indissolúveis, que o estilo fortemente
individual de cada escritor importante é um elemento orgânico de sua obra e jamais algo meramente
“decorativo”. Na prática da crítica, entretanto, a velha antítese persiste praticamente inexpugnada.
Susan Sontag. “Do estilo”. Contra a interpretação.
Mulher Proletária
(Jorge de Lima)
Mulher proletária
— única fábrica que o operário tem, (fabrica filhos)
Tu na tua superprodução de máquina humana
forneces anjos para o Senhor Jesus,
forneces braços para o senhor burguês.
Mulher proletária,
o operário, teu proprietário há de ver, há de ver:
a tua produção,
a tua superprodução,
ao contrário das máquinas burguesas salvar o teu proprietário.
04. Leia o que se afirma a seguir, sobre a voz poética, presente nos versos do poema Mulher
Proletária:
I- O enunciador do poema apresenta a mulher proletária como um ser subjugado aos ditames da
burguesia industrializada.
II- No poema, a mulher trabalhadora é reificada, sendo vista, assim, não como mãe ou esposa, mas como
máquina presa à lógica de produção do sistema burguês capitalista.
III- Há uma voz no poema que denuncia a depreciação da mulher no mundo do trabalho como pessoa
humana, em favor da necessidade de superprodução mercantil, sustentadora das desigualdades sociais.
IV- Vê-se, no poema, a emergência de uma voz alinhada com a visão de orientação marxista que
defende que a sociedade capitalista se ergue na malbaratada oferta de mão de obra do trabalhador para
a indústria mercantil. Está correto o que se diz em
Ⓐ I, II e III apenas. Ⓑ I, II e IV apenas.
Ⓒ III e IV apenas. Ⓓ I, II, III e IV.
05. As relações de sentido que o poeta estabelece no poema podem ser representadas por
vários pares de oposição semântica de palavras, EXCETO por:
Ⓐ sujeito x objeto. Ⓑ libertação x escravidão.
Ⓒ produção x riqueza. Ⓓ igualdade x desigualdade.
06. Analisando o verso do poema “forneces braços para o senhor burguês”, a figura de linguagem
que aí se destaca é:
Ⓐ metonímia, tendo em vista que o termo “braços” mantém com o termo “filhos” uma relação de
contiguidade da parte pelo todo para o poeta destacar que o que mulher proletária fabrica é só uma parte
do seu rebento, os “braços”, utilizados para proveito da atividade capitalista, e não “filhos”, na sua
completude como seres humanos, para estabelecer com estes uma relação afetiva.
Ⓑ catacrese, uma vez que, como não há um termo específico para o poeta expressar, de forma
adequada, a ideia de “fornecer filhos”, ele se utiliza da expressão “fornecer braços”, lógica semelhante ao
que se costuma usar em termos como “braços da cadeira”.
Ⓒ hipérbole, já que o verso quer enfatizar a ideia de exagero de alguém fornecer inúmeros braços para o
trabalho da indústria mercantil.
Ⓓ prosopopeia, pois o poeta está personificando a máquina como se fosse uma mulher produtora de
filhos.
08. Na sinopse, vemos grande semelhança com o gênero resumo, já que a revista apresenta os
principais acontecimentos de "Capitão América: Guerra Civil", assim como algumas informações
mais técnicas, como os atores participantes associados aos seus respectivos personagens no
filme.
09.
Nessa tirinha, a personagem faz referência a uma das mais conhecidas figuras de linguagem para:
a) condenar a prática de exercícios físicos.
b) valorizar aspectos da vida moderna.
c) desestimular o uso das bicicletas.
d) caracterizar o diálogo entre gerações.
e) criticar a falta de perspectiva do pai.
10. Na frase: “O pessoal estão exagerando, me disse ontem um camelô”, encontramos a figura de
linguagem chamada:
a) silepse de pessoa
b) elipse
c) anacoluto
d) hipérbole
e) silepse de número
11. Nos trechos: “…nem um dos autores nacionais ou nacionalizados de oitenta pra lá faltava nas
estantes do major” e “…o essencial é achar-se as palavras que o violão pede e deseja”
encontramos, respectivamente, as seguintes figuras de linguagem:
a) prosopopeia e hipérbole;
b) hipérbole e metonímia;
c) perífrase e hipérbole;
d) metonímia e eufemismo;
e) metonímia e prosopopeia.
12. (ENEM) –
Cidade grande
Que beleza, Montes Claros.
Como cresceu Montes Claros.
Quanta indústria em Montes
Claros.
Montes Claros cresceu tanto,
ficou urbe tão notória,
prima-rica do Rio de Janeiro,
que já tem cinco favelas
por enquanto, e mais promete.
(Carlos Drummond de Andrade)
13. (Unicamp) –
Morro da Babilônia
À noite, do morro
descem vozes que criam o terror
(terror urbano, cinquenta por cento de cinema,
e o resto que veio de Luanda ou se perdeu na língua
Geral).
Quando houve revolução, os soldados
espalharam no morro,
o quartel pegou fogo, eles não voltaram.
Alguns, chumbados, morreram.
O morro ficou mais encantado.
Mas as vozes do morro
não são propriamente lúgubres.
Há mesmo um cavaquinho bem afinado
que domina os ruídos da pedra e da folhagem
e desce até nós, modesto e recreativo,
como uma gentileza do morro.
(Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p.19.)
14. (UFPA) –
Tecendo a manhã
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
(MELO, João Cabral de. In: Poesias Completas. Rio de Janeiro, José Olympio, 1979)
Nos versos:
“E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo…”
tem-se exemplo de:
a) eufemismo
b) antítese
c) aliteração
d) silepse
e) sinestesia
15. (ENEM) –
Pérolas absolutas
Há, no seio de uma ostra, um movimento — ainda que imperceptível. Qualquer coisa imiscui-se pela
fissura, uma partícula qualquer, diminuta e invisível. Venceu as paredes lacradas, que se fecham como a
boca que tem medo de deixar escapar um segredo. Venceu. E agora penetra o núcleo da ostra,
contaminando-lhe a própria substância. A ostra reage, imediatamente. E começa a secretar o nácar. É
um mecanismo de defesa, uma tentativa de purificação contra a partícula invasora. Com uma paciência
de fundo de mar, a ostra profanada continua seu trabalho incansável, secretando por anos a fio o nácar
que aos poucos vai se solidificando. É dessa solidificação que nascem as pérolas.
As pérolas são, assim, o resultado de uma contaminação. A arte por vezes também. A arte é quase
sempre a transformação da dor. [...] Escrever é preciso. É preciso continuar secretando o nácar, formar a
pérola que talvez seja imperfeita, que talvez jamais seja encontrada e viva para sempre encerrada no
fundo do mar. Talvez estas, as pérolas esquecidas, jamais achadas, as pérolas intocadas e por isso
absolutas em si mesmas, guardem em si uma parcela faiscante da eternidade.
SEIXAS, H. Uma ilha chamada livro. Rio de Janeiro: Record, 2009 (fragmento).
Nessa crônica, a repetição do trecho “Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que...”
configura-se como uma estratégia argumentativa que visa
A surpreender o leitor com a descrição do que as pessoas faziam durante o seu tempo livre
antigamente.
B sensibilizar o leitor sobre o modo como as pessoas se relacionavam entre si num tempo mais
aprazível.
C advertir o leitor mais jovem sobre o mau uso que se faz do tempo nos dias atuais.
D incentivar o leitor a organizar melhor o seu tempo sem deixar de ser nostálgico.
E convencer o leitor sobre a veracidade de fatos relativos à vida no passado.
Texto 2
O lugar-comum em que se converteu a imagem de um poeta doentio, com o gosto do macabro e do
horroroso, dificulta que se veja, na obra de Augusto dos Anjos, o olhar clínico, o comportamento
analítico, até mesmo certa frieza, certa impessoalidade científica.
CUNHA, F. Romantismo e modernidade na poesia. Rio de Janeiro: Cátedra, 1988 (adaptado).
Em consonância com os comentários do texto 2 acerca da poética de Augusto dos Anjos, o poema O
morcego apresentase, enquanto percepção do mundo, como forma estética capaz de
A reencantar a vida pelo mistério com que os fatos banais são revestidos na poesia.
B expressar o caráter doentio da sociedade moderna por meio do gosto pelo macabro.
C representar realisticamente as dificuldades do cotidiano sem associá-lo a reflexões de cunho
existencial.
D abordar dilemas humanos universais a partir de um ponto de vista distanciado e analítico acerca do
cotidiano.
E conseguir a atenção do leitor pela inclusão de elementos das histórias de horror e suspense na
estrutura lírica da poesia.