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POSSÍVEIS REPERCUSSÕES DA REFORMA DO ENSINO SOBRE A


FORMAÇÃO INICIAL DO PROFISSIONAL DO ENSINO RELIGIOSO

Delmo1
Francisco Willams Campos Lima2
Rosilene Quaresma3
RESUMO

O presente texto pretende levantar algumas questões que entendemos como


inadiáveis e, que, por esse motivo, precisam ser consideradas na atual conjuntura social,
econômica e política, na atual crise do capital, em que as políticas de formação docente
se conformam cada vez mais aos interesses hegemônicos do mercado. Para tanto,
empreendeu-se um estudo bibliográfico-documental, tendo-se como questão norteadora:
Como pode ser compreendida a formação do profissional do ensino religioso, no
contexto da reforma do Ensino Médio e quais as suas principais repercussões para a
formação inicial? Os documentos examinados e analisados consistiram,
fundamentalmente, no texto da Medida Provisória Nº 746, de 22 de setembro de 2016 e
sua justificativa apresentada pelo Ministro da Educação; o projeto político pedagógico
do Curso de Ciências da Religião da Universidade Estadual do Pará; a legislação
pertinente à área. O estudo permitiu concluir, com base no referencial teórico adotado,
que as reformas empreendidas no Estado brasileiro vêm trazendo repercussões para o
ensino religioso como área do conhecimento e, consequentemente para a formação
inicial dos docentes nesta área.
PALAVRAS-CHAVE: Reforma do Ensino Médio. Formação Inicial. Ensino Religioso.

INTRODUÇÃO

Pensar a formação docente no contexto das reformas porque vem atravessando


o Estado brasileiro parece-nos urgente e necessário, haja vista que estamos diante de
cenário de crise que se agudiza ainda mais devido às prioridades assumidas pelo atual
governo em relação às políticas educacionais em curso, as quais vêm repercutindo,
indubitavelmente, sobre os processos formativos que se desenvolvem nas instituições
formadoras.

Nesse contexto, a Reforma do Ensino Médio editada, recentemente, pela


Medida Provisória Nº 746, de 22 de setembro de 2016, vem sendo defendida pelo

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Governo de Michel Temer, como a suposta saída para resolver a grave crise do ensino
médio brasileiro, apresentando-se, para tanto, o argumento de que ao longo destes 20
anos, uma série de medidas foi adotada para esta etapa de ensino, sem que sua função
social, prevista no art. 35 da LDB, tivesse atingido os resultados esperados. Esse
argumento poderia ser considerado alvissareiro, se de fato, pudesse se constituir na
possibilidade de resolução dos problemas históricos, que vem enfrentando o Ensino
Médio, devido à ineficácia das políticas educacionais.

Entretanto, acrescentamos, nesse contexto, que um dos problemas que


precisam ser considerados e analisados sob a ótica da formação docente, diz respeito à
concepção de currículo que se tem hoje, para a educação básica, constituído por uma
pluralidade importante de áreas de conhecimento, entre as quais o ensino religioso, que,
se articuladas em torno de um projeto pedagógico consistente, poderiam ter relevância
social e política para a formação integral dos sujeitos, que frequentam a escola básica
brasileira, aspecto que não está sendo levado em conta pela onda reformista do governo
Temer e nem tampouco os processos de formação inicial desenvolvidos pelas
instituições de educação superior, que possibilitam a inserção de uma pluralidade
importante de professores na educação básica.

Com efeito, um dos componentes curriculares, que poderão perder ainda mais
espaço, com essa nova arquitetura do Ensino Médio, destaca-se o ensino religioso, que
embora seja considerado, área do conhecimento, indispensável para a formação do
cidadão, não vem sendo considerado como deveria para a formação dos adolescentes
jovens e adultos que frequentam a mencionada etapa da educação básica, por razões
históricas, pois como sabemos a formação de docentes para atuar no ER, esteve,
conforme Oliveira et al (2015), “condicionadas às concepções epistêmicas e
pedagógicas dadas às disciplinas no decorrer de seu percurso histórico na educação
brasileira” (p. 183). Portanto, no caso do ensino religioso, por exemplo, até a década de
1990, esteve associado a processo de formação promovido pelos agentes de pastorais
das instituições cristãs, o que, evidentemente, não habilitava o professor para o
exercício profissional, de acordo com a legislação vigente.

É, portanto, em relação a esse dilema teórico-prático, no que concerne às


políticas de formação docente, que o presente texto pretende levantar algumas questões
que entendemos como inadiáveis e, que, por esse motivo, precisam ser consideradas na
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atual conjuntura social, econômica e política que o Estado brasileiro vem atravessando,
na atual crise do capital, em que as políticas de formação docente se conformam cada
vez mais aos interesses hegemônicos do mercado.

Para tanto, empreendeu-se um estudo bibliográfico-documental, tendo-se como


questão norteadora: Como pode ser compreendida a formação do profissional do ensino
religioso, no contexto da reforma do Ensino Médio e quais as suas principais
repercussões para a formação inicial? Os documentos examinados e analisados
consistiram, fundamentalmente, no texto da Medida Provisória Nº 746, de 22 de
setembro de 2016 e sua justificativa apresentada pelo Ministro da Educação; o projeto
político pedagógico do Curso de Ciências da Religião da Universidade Estadual do
Pará; a legislação pertinente à área.

Para dar sustentação teórica as reflexões empreendidas neste trabalho, partiu-se


da concepção de Estado de Marx e Engels (1984), que admitem que a classe que dispõe
dos meios de produção material são detentoras também dos meios de produção
intelectual. Nessa perspectiva, consideramos que as políticas de formação inicial que
são apresentadas subliminar e, em alguns casos, explicitamente, pelas reformas do
Estado capitalista, estão vinculadas aos interesses da classe dominante, deixando assim,
de priorizar áreas do conhecimento que não atendem, de imediato aos interesses do
mercado, a exemplo do ensino religioso, filosofia e sociologia, que perderam
importância na atual organização curricular trazida pela reforma do ensino médio.

As ideias e concepções teóricas de outros autores também serviram para


fundamentar as nossas análises, a exemplo, de OLIVEIRA et al (2015) que nos
permitiram compreender a necessidade de se estabelecerem diretrizes curriculares
unificadas para organização do Ensino Religioso em todo o país (OLIVEIRA et al ,
2015; JUNQUEIRA, 2002 ).

Portanto, em meio às contradições que se verificam, no contexto do Estado


capitalista, considera-se necessário provocar o debate acerca das políticas de formação
inicial para o ensino religioso, com seus desafios, o que na opinião de autores como
Oliveira et al (2015) requer “pensar e definir uma organização curricular mínima para a
formação de docentes do ensino religioso” (p. 185), assim como a definição e
implementação de políticas públicas para essa área, uma vez que se registra um déficit
histórico a esse respeito.
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1. POLÍTICAS DE FORMAÇÃO INICIAL PARA O ENSINO RELIGIOSO NA


REFORMA DO ENSINO MÉDIO: UM HIATO A SER ENFRENTADO

Argumenta-se, preliminarmente, nesta seção, que um fato precisa ser objeto


específico de questionamento e de inquietação por parte de todos aqueles que militam
em favor da formação docente para o ensino religioso, compreendida aqui como
formação inicial, conforme Oliveira et al (2015), uma vez que: “[...] nunca foi assumida
pelas políticas públicas na normatização para a educação superior no Brasil.” Esse
aspecto, na opinião dos autores em referência torna a situação do ensino religioso ainda
mais crítica quando se compara com as demais áreas do conhecimento.

Não obstante aos problemas inerentes a formação inicial, ressaltamos que a


Universidade Estadual do Pará, de maneira pioneira, se apresenta como uma honrosa
exceção, sobretudo quando se considera entre as instituições públicas de ensino
superior, uma vez que vem formando profissionais para atuar na educação básica, na
área do ensino religioso, há mais de 15 anos, isto é, licenciados em Ciências da
Religião, como estabelece o objetivo geral do Curso constante de seu Projeto Político
Pedagógico, nos seguintes termos:

Formar profissionais com Licenciatura em Ciências da Religião para


exercerem, com a devida competência teórico-prática, as funções de
magistério na educação básica em suas etapas e modalidades, a partir
de uma visão ampla e contextualizada de educação e educação escolar
nas Amazônias, de modo a assegurar a produção e difusão de
conhecimentos na área de ensino religioso; os direitos e objetivos de
aprendizagem dos educandos dos sistemas educacionais. (UEPA,
Projeto Político Pedagógico do Curso de Ciências da Religião, 2016).

Observa-se, entretanto, certa assimetria das reformas educacionais em curso -


ou que estão sendo concebidas pelo Estado brasileiro - em relação à formação
acadêmica conferida pela Universidade Estadual do Pará, haja vista que o egresso do
Curso de Ciências da Religião passa a ter seu campo de atuação profissional reduzido na
educação básica.

Com efeito, a reforma do Ensino Médio, por exemplo, vem se constituindo,


fundamentalmente, pela redefinição da base nacional comum, conferindo maior
importância, em termos de carga horária, a áreas do conhecimento como Português,
Matemática e Inglês, em detrimento, portanto, às demais áreas e conteúdos,
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indispensáveis à formação de um sujeito crítico e refletivo. Essa forma considerada


reducionista de conceber o currículo escolar traz implicações para os processos de
formação dos profissionais para a educação básica.

Desse modo, argumentamos sobre a urgência de se refletir sobre a respeito da


formação do profissional do ensino religioso, haja vista que essa área contribui,
indubitavelmente, para o reconhecimento e a valorização da diversidade cultural e
religiosa do País, aspecto que caracteriza a nação brasileira. Considera-se, assim, que a
supressão ou negação do ensino religioso como campo específico do conhecimento,
compromete a função precípua da escola, na educação básica, seja ela pública, privada
ou confessional, pois, de acordo com Cordeiro (2015), a religião é acima de tudo “como
fato antropológico e social, que permeia a vida dos cidadãos de qualquer sociedade, de
todas as culturas” (p. 145).

Por esse motivo, considera-se que a formação docente para o ensino religioso é
absolutamente necessária, no contexto da educação contemporânea, para que se tenha,
no cotidiano da escola básica, profissionais que promovem a reflexão interdisciplinar
sobre o fenômeno religioso, de modo que leve o aluno a ter consciência do significado
da religião em sua vida, assim como sua função na sociedade (CORDEIRO, 2015).

2. POSSÍVEIS IMPLICAÇÕES DA REFORMA DO ENSINO MÉDIO PARA A


FORMAÇÃO INICIAL DO PROFESSOR DO ENSINO RELIGIOSO

É imperioso reconhecer os graves problemas que atingem a educação básica e


em especial o ensino médio, em razão dos resultados pífios conquistados por duas
décadas, desde a redemocratização País. Nesse sentido, consideramos a necessidade de
manter uma agenda permanente de reflexão sobre os problemas e entraves constatados
na gestão das políticas educacionais.

Entretanto, o que se tem observado, é o que se pode considerar de


subordinação dos governos aos ditames das agências multilaterais, que prescrevem um
conjunto de medidas a serem contempladas nas políticas públicas, sem que sejam
acolhidas as vozes dissonantes e os principais implicados nesses processos de reformas.
Assim, constatam-se que os interesses econômicos e políticos, advindos do modelo de
Estado Neoliberal que se tem, hoje, determina o rumo das políticas educacionais,
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traduzindo-se, por meio da elaboração de concepções e da construção de propostas que


buscam pretensamente dar soluções aos problemas oriundos do campo educacional, a
exemplo da reforma do ensino médio.

É, portanto, em decorrência desse processo permeado de contradições, que se


propõe a identificação das possíveis implicações dessa reforma para a formação inicial
dos professores do ensino religioso. Compreendemos, assim, que uma das principais
implicações que podem ser identificadas, a priori, diz respeito à aparente
desvalorização dessa área do conhecimento, manifestada, inclusive, pelo silenciamento
dos arautos da reforma. Essa postura cerceadora poderá causar ainda mais dúvidas e
perplexidades por parte dos egressos dos cursos de licenciatura, que se deparam com a
circunscrição do mercado de trabalho, o que representa, consequentemente, desafio para
as instituições formadoras, que precisarão adaptar suas propostas curriculares à nova
arquitetura do ensino médio.

Ressaltamos, por outro lado, que o exame acerca dos argumentos em prol da
reforma do ensino médio, quanto à capacidade da medida provisória promover uma
flexibilização no currículo, além de revelar desconhecimento do princípio da
flexibilidade já existente na Lei 9394/96, implica retrocesso em relação às conquistas
históricas no sentido do reconhecimento de áreas do conhecimento indispensáveis à
formação básica do cidadão, a exemplo do ensino religioso, no termos do art. 33, da
mencionada Lei. Com base nesse argumento os cursos de licenciatura de ciências da
religião, por exemplo, que vinham conquistando maior importância e visibilidade no
cenário educacional, se constituindo, por essa razão, numa importante opção de trabalho
para muitos jovens e adultos, oferecendo-lhes condições reais de empregabilidade,
poderão se tornar menos atrativos.

Outro aspecto a ser considerado em relação à reforma do ensino médio, diz


respeito à definição de itinerários formativos de forma precoce, o que poderá contribuir
para que muitos adolescentes e jovens vivam, ao final dessa etapa final da educação
básica, um drama pela escolha compulsória ou precipitada que, inevitavelmente, o que
poderá provocar desinteresse em relação a áreas importantes do conhecimento. Em
relação ao ensino religioso, esse aspecto poderá ser mais facilmente verificado, haja
vista o tratamento nada isonômico conferido à mencionada área do conhecimento, no
currículo da escola básica.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

[...] uma visão integrada do estudante, apoiada nos quatro pilares de


Jacques Delors: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a
conviver e aprender a ser, buscando uma formação ampla do jovem,
tanto nos aspectos cognitivos quanto nos aspectos socioemocionais, o
que é fundamental para tornar a escola atrativa e significativa,
reduzindo as taxas de abandono e aumentando os resultados de
proficiência.

REFERÊNCIAS

DELORS, Jacques e outros. Educação um tesouro a descobrir. Relatório para a


UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. São Paulo:
MEC/Cortez, 1998.

JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo. O processo de escolarização do ensino


religioso no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2002.

NÓVOA, António, coord. - "Os professores e a sua formação". Lisboa : Dom Quixote,
1992. 

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