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ARTIGO ORIGINAL

Gestão das perdas de água em sistemas de


abastecimento Data de entrada:
24/04/2019

Management of water losses in supply systems Data de aprovação:


19/12/2019

Bruno Sousa da Cunha1 | Simone Mendonça dos Santos2 | Beatriz Cruz Gonzalez2* DOI: https://doi.org/10.36659/dae.2021.033

ORCID ID Santos SM https://orcid.org/0000-0001-8254-5167


Cunha BS https://orcid.org/0000-0002-1201-5061 Gonzalez BC https://orcid.org/0000-0003-0498-1267

Resumo
Os indicadores de perdas de água nos sistemas de abastecimento são ferramentas úteis para a gestão e ava-
liação da sustentabilidade dos serviços de saneamento ambiental. Por meio de metodologia investigativa do
tipo estudo de caso, o presente artigo analisa o potencial do Programa de Gestão e Controle da Perdas de Água
(PGCP) da Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S.A. de Campinas-SP como instrumento de ges-
tão sustentável dos serviços de abastecimento. Os resultados demonstraram se tratar de um PGCP que atende
grande parte das boas práticas recomendadas pela literatura especializada. Contudo, sugerem que esforços
sejam direcionados ao fortalecimento da dimensão ética da sustentabilidade, notadamente influenciada pe-
las ações de comunicação social. Ademais, reforçam a importância de um plano de contingência para rápida
atuação em casos de escassez hídrica, num contexto de cooperação setorial (entre setores usuários ou não) e
governamental (de diferentes jurisdições territoriais).
Palavras-chave: Programa de gestão e controle. Sustentabilidade. Serviços de saneamento.

Abstract
Regarding the sustainability of sanitation services, an important indicator is the issue of water losses in the sup-
ply systems. By means of investigative methodology, the present paper analyzes the potential of the Water Loss
Management and Control Program (WLMCP) of the Society of Water Supply and Sanitation SA of Campinas-SP as
instrument for sustainable management of services supply. The results showed that the WLMCP tested meets with
most of the good practices recommended by the specialized literature. However, they suggest that efforts should
be directed at strengthening the ethical dimension of sustainability, which is influenced by social communication
actions. In addition, they reinforce the importance of a contingency plan for rapid action in cases of water scarcity,
in a context of sectoral cooperation (between user and non-user sectors) and governmental ( from different terri-
torial jurisdictions).
Keywords: Management and control program. Sustainability. Sanitation services.

1
Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) - Campinas - São Paulo - Brasil.
2
Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-USP) - São Carlos - São Paulo - Brasil.
* Autor correspondente: beatriz_cgonzalez@ufscar.br.

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Cunha BS, Santos SM, Gonzalez BC

1 INTRODUÇÃO Nesse sentido, destaca-se a importância dos


As perdas de água em sistemas de abastecimen- indicadores de sustentabilidade dos serviços de
to podem ser calculadas pela diferença entre o saneamento, entendidos como instrumentos
volume de água que entra no sistema e o volume tanto da gestão das águas urbanas como da ges-
de água autorizado para consumo (CARVALHO, tão dos serviços de saneamento. Definidos como
2014). Silva; Pádua; Borges (2016) classificam as “medidas quantitativas ou qualitativas de um
perdas em reais ou aparentes, sendo que as per- aspecto particular, desempenho, ou padrão de
das reais referem-se ao volume de água perdido serviço” (RASERA et al., 2017, p.64), tais indica-
desde o sistema de abastecimento até o regis- dores podem ser utilizados para monitoramento
tro, enquanto as perdas aparentes são aquelas e comparação da evolução histórica da qualida-
nas quais o consumo não é contabilizado, seja de do serviço prestado (ALEGRE et al., 2004).
por imprecisões na medição, seja por consumo As perdas de água nos sistemas de abastecimen-
não autorizado. to guardam estreitas relações com a questão
De acordo com Morais; Cavalcante; Almeida da conservação e do uso racional da água, que
integra uma das dimensões do conceito de sus-
(2010), além dos ganhos financeiros e ambien-
tentabilidade proposto por Barraqué (1998), as
tais do combate às perdas de água, a conscien-
quais, segundo Britto; Barraqué (2008), devem
tização social para o uso racional da água tem
ser contempladas por ações de competência das
impulsionado os gestores na busca por proces-
operadoras de serviços de saneamento. No que
sos decisórios mais estruturados, que tratem e
diz respeito à gestão dos serviços de abasteci-
controlem a questão de forma mais estratégica,
mento no Brasil, as decisões vêm sendo tomadas
no contexto da gestão empresarial
com base em análises comparativas de indicado-
No entanto, principalmente quando se trata de res do desempenho das operadoras, dentre eles
regiões densamente urbanizadas, a interface (TARDELLI FILHO, 2016): o Indicador Percentual
entre a gestão das águas urbanas e a gestão dos (IP), que exprime a relação entre os volumes de
serviços de saneamento deve ser priorizada, tan- perdas totais em um período e os volumes de
to pela elevada demanda de água para abasteci- água disponibilizados à distribuição; o Indica-
mento público como pelos impactos dos lança- dor Técnico (IT), relação entre os volumes totais
mentos de efluentes sem tratamento nos corpos perdidos em um período e o número de ligações
hídricos. Assim, corroborando Britto; Barraqué ativas de água; o Índice de Vazamentos da Infra-
(2008), entende-se que a questão da redução estrutura (IVI), que é a relação entre o volume
das perdas de água nos sistemas de abasteci- de perdas reais e o volume de perdas inevitáveis
para o sistema em questão, que traduz o quanto
mento deve ser discutida no âmbito da gestão
o sistema está distante do volume de perdas tec-
sustentável das águas urbanas, cujos principais
nicamente possível de ser alcançado e; o Índice
objetivos são a universalização do acesso à água,
de Perdas Aparentes (IPA), com o mesmo con-
em qualidade e quantidade, e a preservação da
ceito do IVI, sendo a relação entre o volume de
qualidade dos rios urbanos. Ressalta-se que,
perdas aparentes e um fator de 5% do volume
nessa perspectiva, a noção de sustentabilidade
micromedido na cidade ou região.
deve ter como princípio a justiça social, à qual
agregam-se as discussões relativas aos padrões O Sistema Nacional de Informações sobre Sane-
de consumo e à redução do desperdício (uso ra- amento (SNIS) se utiliza de uma composição de
cional), numa abordagem multissetorial. quatro indicadores para avaliar o desempenho

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dos prestadores de serviços de abastecimento. prestadora de serviço de abastecimento de uma


São eles: o Índice de Perdas de Faturamento (IPF), região densamente urbanizada como o municí-
que exprime a relação entre os volumes fatura- pio de Campinas-SP e, visando a uma avaliação
dos e os disponibilizados para distribuição e os mais ampla do que a simples análise de indica-
indicadores que relacionam o volume consumi- dores de desempenho, o presente artigo analisa
do e o disponibilizado para distribuição, o Índice o potencial do atual Programa de Gestão e Con-
de Perdas na Distribuição (IPD), o Índice Bruto de trole da Perdas de Água (PGCP) da Sociedade de
Perdas Lineares (IBPL) e o Índice de Perdas por Li- Abastecimento de Água e Saneamento S.A. - SA-
gação (IPL) (BRITO; BARRAQUÉ, 2008). NASA como instrumento de gestão sustentável
dos serviços de abastecimento do município de
Contudo, a utilização de indicadores de desem-
Campinas-SP.
penho como único ferramental da gestão dos
serviços de abastecimento traz à tona uma dis-
cussão relevante:

[...] ainda que haja iniciativas para uni- 2 METODOLOGIA


formizar as terminologias relacionadas às No contexto da presente pesquisa, optou-se
perdas de água – como aquelas desenvol- pela metodologia investigativa do tipo estudo
vidas pela International Water Association de caso, modalidade que compreende a escolha
(IWA) –, é possível perceber que ainda não de um objeto de estudo visando à investigação
se logrou uma linguagem técnica abso- de um caso específico, bem como à delimitação
lutamente comum, seja entre os diversos e contextualização, em tempo e lugar, para que
países, seja entre os diversos prestadores se possa realizar uma busca circunstanciada de
de um mesmo país. Essas iniciativas abrem informações (VENTURA, 2007). Dessa forma, na
espaço para ações de benchmarking1, ou referida pesquisa identificam-se quatro fases
seja, a comparação entre diversos presta- distintas, que mostram seu delineamento: a) de-
dores que atuam em realidades diferentes limitação da unidade-caso; b) seleção, análise e
(MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2015 p. 38). interpretação dos dados; c) discussão e avaliação
dos caminhos seguidos; d) conclusões. Portanto,
Além disso, a gestão sustentável dos sistemas como unidade-caso optou-se pela Sociedade de
de abastecimento envolve um conjunto amplo Abastecimento de Água e Saneamento S/A - SA-
de ações planejadas no sentido da conservação NASA, situada na cidade de Campinas-SP, por se
e uso racional da água, notadamente no subsis-
tratar de um caso típico de operador de sistema
tema de distribuição, numa abordagem preven-
de abastecimento, representante de um setor in-
tiva e não reativa (TARDELLI FILHO, 2016), que,
tensivo na utilização de recursos hídricos.
para além das ações diretamente relacionadas à
operação das redes (MORAIS;CAVALCANTE; AL- Assim, após análise documental do relatório de
MEIDA, 2010; PIECHNICKI et al., 2011), contem- sustentabilidade ano-base 2016 publicado pela
plem ações para a gestão das demandas (SILVA; empresa (Sociedade de Abastecimento de Água e
PORTO, 2003). Assim, diante da possibilidade de Saneamento S/A - Sanasa, 2017), foram identifi-
obtenção de informações junto a uma entidade cadas as principais ações definidas no âmbito do

1
Processo de avaliação da empresa em relação à concorrência, por meio do qual incorpora os melhores desempenhos de outras firmas e/ou
aperfeiçoa os seus próprios métodos. (DICIONÁRIO ONLINE PRIBERAM, 2017).

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PGCP. Posteriormente, foram avaliados os efeitos ações de planejamento e gestão das perdas ado-
das ações implementadas sobre a qualidade do tadas pela unidade caso com os subsistemas do
sistema de abastecimento público e do serviço sistema de abastecimento e os aspectos do ser-
público prestado. Para tanto, estruturou-se um viço público beneficiados, conforme Tabela 1 e
modelo de matriz de interação que confronta as respectiva escala de avaliação (Tabela 2).

Tabela 1 - Modelo de matriz de avaliação dos efeitos do PGCP.


Público/ Transparência
Abastecimento Público¹
Sociedade² Dimensão Resultados Parciais
(Dimensão Econômica)
(Dimensão Ética) Ambiental
Ligações de água

Reconhecimento
Tubulação (rede)

Ações de

Pontuação total

dimensão ética
Pontuação na
Reservatórios

na dimensão

na dimensão
planejamento na

econômica
Pontuação

Pontuação

ambiental
Captação

Consumo

da ação
gestão das perdas
Tarifa
ETA

IPD

IPF
Ação 1 (A1) A1¹ A1¹ A1¹ A1¹ AI1 A1² A1² A1² A13 A13 ∑A1 1,2,3 ∑A11 ∑A12 ∑A13
Ação 2 (A2)
Ação 3 (A3)
Ação 4(A4)
Ação (A5)
Ação 6 (A6)
Ação 7 (A7)
Troca/manutenção
5
de redes/ramais
Ação 8 (A9)
Ação 9 (A10)
Ação 10 (A11)
∑ na ∑ na ∑ na
∑ em todas
Pontuação total dimensão dimensão dimensão
dimensões
econômica ética ambiental
Fonte: elaborada pelos autores
Nota: A tabela apresenta uma situação de preenchimento da matriz, na qual a Troca/manutenção de redes/ramais recebe pontuação Alta (5), dado que qualquer
modificação nas redes/ramais tem forte influência sobre o subsistema de distribuição.

Tabela 2 - Escala de avaliação da matriz de interação. 3 REFERENCIAL TEÓRICO


Segundo a Organização das Nações Unidas
Interferência Avaliação
Baixa 1 (2018), a demanda mundial por água aumenta-
Média 3 rá a uma taxa de aproximadamente 1% ao ano
Alta 5
nas próximas décadas, sendo que a demanda por
Fonte: elaborada pelos autores
água das indústrias e das residências aumentará
muito mais rapidamente do que a demanda da
Após o preenchimento da matriz de interação, agricultura, que, contudo, manterá a dianteira no
utilizou-se software Microsoft Excel® para que diz respeito aos volumes totais consumidos.
construção de gráficos descritivos da situação Entretanto, se há indícios de que o crescimento
identificada na unidade-caso, os quais subsi- populacional e a demanda dos setores econô-
diaram a discussão dos resultados obtidos no micos afetam a disponibilidade hídrica para as
presente estudo. populações humanas (SORIANO et al., 2016), ve-

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rifica-se que o uso irracional da água é também giões do país. No caso específico do estado de São
aspecto a ser considerado na busca de soluções Paulo, conforme Soriano et al. (2016), há “uma
de enfrentamento da escassez hídrica (MAREN- carência de ações e investimentos na redução das
GO et al., 2015). Dessa forma, a adoção de po- perdas nas redes de abastecimento”.
líticas voltadas à conservação e uso racional de
Assim, no que diz respeito à sustentabilidade dos
água é estratégia recomendada nos diversos
serviços saneamento, um indicador a ser conside-
relatórios da Organização das Nações Unidas -
rado é a questão das perdas de água nos sistemas
ONU (ONU, 2006; UNITED NATIONS WORLD WA-
de adução e distribuição água, diretamente rela-
TER ASSESSMENT PROGRAMME - WWAP, 2018).
cionada às atividades de operação das entidades
No Brasil, além da gradativa e intensa redução dos prestadoras de serviço de abastecimento, sejam
índices pluviométricos, que têm prejudicado de elas empresas públicas ou privadas (BRITTO; BAR-
forma significativa a oferta de água para o abas- RAQUÉ, 2008). Segundo Tardelli Filho (2016), um
tecimento público (JACOBI; CIBIM; LEÃO, 2015), sistema de abastecimento de água contempla um
há ainda a pressão dos setores de irrigação e ge- processo que se inicia com a retirada da água do
ração de energia, que demandam grandes quan- corpo hídrico, seguida da adequação de sua quali-
tidades de água (SILVA et al., 2010). Tundisi (2008) dade, sendo então realizada sua distribuição para
classifica o estado crítico das infraestruturas de a população após tratamento. Esse mesmo siste-
saneamento em áreas urbanizadas, com perdas ma divide-se em: manancial; captação; estação
de até 30% nas redes de distribuição, como uma elevatória; adução; tratamento; reservação e; re-
das causas da crise hídrica que marca algumas re- des de distribuição (Fig. 1).

Figura 1 - Sistema de abastecimento de água


Fonte: Tardelli Fillho (2016).

Destaca-se que a maior parte das tubulações en- é no subsistema de distribuição que se concen-
contra-se nas ruas das áreas urbanas, associa- tram as maiores de perdas (GUMIER; LUVIZOTTO
das ao trecho final da ligação ao cliente (ramal JUNIOR, 2007).
predial, com hidrômetro, para medição do con-
sumo e faturamento), compondo o subsistema Britto; Barraqué (2008) propõem uma discussão
de distribuição (TARDELLI FILHO, 2016). De fato, sobre a sustentabilidade da gestão dos serviços

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de saneamento, centrada nas interfaces desse uma das dimensões de sustentabilidade propos-
sistema de gestão com a gestão das águas ur- tas por Barraqué (1998). Entende-se, portanto,
banas. Assim, partindo-se de um conceito de que a dimensão ambiental da sustentabilidade
sustentabilidade (BARRAQUÉ, 1998) que con- da gestão das águas urbanas pode/deve contar
templa três dimensões: a ambiental, a econô- com a ação planejada dos operadores de serviços
mica e a ética, os autores discutem as ações de abastecimento, visando ao uso racional e ao
necessárias à internalização de tal conceito por combate aos desperdícios na operação de seus
parte dos diversos atores intervenientes na ges- sistemas, além do fomento à gestão da deman-
tão das águas urbanas. da, por meio de práticas não diretamente ligadas
à operação dos sistemas.
Nesse contexto, a dimensão ambiental envolve-
ria questões de salubridade e preservação dos Entre as ações possíveis, destacam-se: a detec-
recursos hídricos (incluindo a questão do uso ra- ção e o reparo sistemático de vazamentos na
cional); a dimensão econômica o financiamento rede e o controle de pressão na rede e redução
dos serviços de saneamento, tendo em vista a de consumo operacional. Em relação à gestão
garantia e manutenção das infraestruturas exis- das demandas: contas explicativas do consumo,
tentes e; por fim, a dimensão ética o estabeleci- campanhas de esclarecimento junto à população
mento de tarifas equitativas, aceitas pelos usuá- diretamente beneficiária de medidas ativas de
rios, considerando-se a essencialidade do acesso conservação e incentivo à conservação, autoge-
à água, em qualidade e quantidade. rida dos grandes consumidores (BRITTO; BARRA-
Vale ressaltar que a sustentabilidade na gestão QUÉ, 2008). Os resultados das referidas ações,
das águas urbanas demanda um conjunto de além de poupar a exploração de novos manan-
ações setoriais coordenadas, que extrapolam ciais, conduzem a um maior equilíbrio financeiro
as competências dos prestadores de serviço para a operadora de saneamento, por postergar
de abastecimento e, portanto, devem ser dis- a expansão da produção e os investimentos re-
cutidas em um contexto mais amplo de Gestão lativos à execução de novas captações, estações
Integrada dos Recursos Hídricos (SILVA; POR- de tratamento e adutoras para transporte da
TO, 2003). Assim, conforme destacam Britto; água (GUMIER; LUVIZOTTO JUNIOR, 2007).
Barraqué (2008), a sustentabilidade nesse caso
Dessa forma, indicadores de perdas, como o Ín-
pressupõe, além da existência de um quadro
dice de Perdas na Distribuição (IPD) e o Índice
institucional favorável à proteção dos recursos
de Perdas no Faturamento (IPF), são referenciais
hídricos, o bom funcionamento dos instrumen-
para a avaliação do desempenho da dimensão
tos das Política Nacional de Gestão de Recursos
ambiental da sustentabilidade por parte dos
Hídricos (Lei. No. 9.433/1997) e das políticas de
prestadores de serviços de saneamento. O IPD
uso e ocupação do solo, principalmente no que
(Eq. 1) avalia em termos percentuais do volume
diz respeito à proteção das faixas marginais de
de água produzido quanto é efetivamente con-
rios e áreas de mananciais.
sumido no sistema de abastecimento, enquan-
No presente artigo, ênfase será dada às ações to o IPF (Eq. 2) avalia em termos percentuais o
que podem ser desenvolvidas pelos prestado- quanto da água produzida pelo sistema de abas-
res de serviços de abastecimento, no âmbito de tecimento não foi faturada (MINISTÉRIO DAS CI-
suas competências legais, considerando-se cada DADES, 2015).

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Volume de água produzido + Volume de água tratada importado − Volume de água consumido − Volume de serviço
𝐼𝐼𝐼𝐼𝐼𝐼 (%) =
Volume de água produzido + Volume de água tratada importado − Volume de serviço
𝑋𝑋 100 (1)

IPD (%)=(Volume de água produzido+Volume de água tratada importado-Volume de água consumido-Volu-


me de serviço)/(Volume de água produzido+Volume de água tratada importado-Volume de serviço) X 100

Volume de água produzido + Volume de água tratada importado − Volume de água faturado − Volume de serviço
𝐼𝐼𝐼𝐼𝐼𝐼 (%) = 𝑋𝑋 100 (2)
Volume de água produzido + Volume de água tratada importado − Volume de serviço

IPF (%)=(Volume de água produzido+Volume de água tratada importado-Volume de água faturado-Volume


de serviço)/(Volume de água produzido+Volume de água tratada importado-Volume de serviço) X 100

Como se pode observar, a sustentabilidade ambien- déficits de acesso aos serviços de abastecimento
tal está diretamente relacionada à sustentabilida- encontram-se em regiões onde os usuários tem
de econômica, dado que, por exemplo, as perdas no a menor capacidade de pagamento, no escopo
faturamento podem reduzir a capacidade financei- do presente artigo, a influências das ações pla-
ra da operadora de manter adequadamente seus nejadas da Sociedade de Abastecimento de Água
sistemas. A sustentabilidade econômica, por sua e Saneamento S.A (Sanasa) serão avaliadas ape-
vez, está ligada à possibilidade de os serviços se- nas em relação à capacidade de manutenção da
rem prestados com qualidade, sem interrupções no qualidade de suas infraestruturas.
consumo, dada a capacidade financeira para ope-
rar e manter as infraestruturas de captação, adu- Conforme Britto; Barraqué (2008), embora em
ção, tratamento de água, reservação e distribuição países em desenvolvimento o financiamento da
em qualidade e quantidade apropriadas (BRITTO; universalização do acesso aos serviços de sanea-
BARRAQUÉ, 2008). Como ferramentas de análise mento seja ainda um desafio, é importante des-
do desempenho da sustentabilidade econômica, os tacar a perspectiva ética que envolve a definição
autores anteriormente citados sugerem a compa- de tarifas adequadas à capacidade de pagamen-
ração dos custos necessários para os serviços pres- to dos usuários. Aqui, fica evidente a relação en-
tados atualmente com as receitas obtidas. tre a dimensão econômica e a dimensão ética.

Todavia, embora dados relativos a indicadores da A dimensão ética da sustentabilidade envolve a


situação financeira das operadoras, como o Indi- percepção e a aceitabilidade dos usuários com
cador de Desempenho Financeiro (IDF) e o Índice relação à qualidade dos serviços prestados. As-
de Evasão de Receitas (IER), sejam periodicamen- sim, há a necessidade de compatibilizar a via-
te disponibilizados pelo SINIS, devido à comple- bilidade econômica da empresa com a garantia
xidade dos fatores que intervêm na sustentabili- de acesso e essencialidade dos serviços de sa-
dade econômica de operadoras e das estratégias neamento, processo que passa pela definição de
propostas (ver discussões divergentes em MA- tarifas sociais e normas que garantam a conti-
DEIRA, 2010 e SILVA et al. (2010), principalmente nuidade de prestação dos serviços mesmo na
em países em desenvolvimento, onde os maiores inadimplência (BRITTO; BARRAQUÉ, 2008). Con-

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tudo, tais mecanismos dependem essencialmen- mentado desde 1994, o qual prevê uma série de
te do aparato regulatório, não diretamente liga- ações de diagnóstico, monitoramento e atuali-
do às atividades operacionais das prestadoras. zação do seu sistema de abastecimento, segun-
do diretrizes preconizadas por ABES (2013). Os
O peso que as tarifas exercem sobre as despesas
principais indicadores de controle utilizados são
mensais das famílias pode se constituir em indica-
o índice de Perdas na Distribuição (IPD) e o Índi-
dor de desempenho da sustentabilidade ética. Se-
ce de Perdas no Faturamento (IPF). Em relatórios
gundo ONU (2006), nenhuma família deve despen-
publicados em 2016, a empresa divulgou uma
der mais que 3% de seu rendimento mensal para
redução no valor do IPF de 34,6% para 12,5%,
satisfazer suas necessidades de água. Entretanto, o
e do IPD de 37,7% para 21,6%, no período de
principal indicador utilizado pelo SINIS para avaliar
1994 a 2016 (Tabela 3), calculados segundo fór-
essa questão é a Tarifa Média Praticada (MINISTÉ-
mula proposta pelo Ministério das Cidades (Sa-
RIO DAS CIDADES, 2015), inviável para avaliar o de-
nasa, 2017a).
sempenho da dimensão ética, dadas as diferenças
socioeconômicas das diversas regiões do país.

Dado o volume de dados e informações que de- Tabela 3 - Sustentabilidade do PCGP.


vem ser levados em conta no planejamento e ges- Resultados 1994 - 2016
tão do controle das perdas de água nos sistemas Eficiência do sistema de distribuição 62,3 – 78,4%
Índice de perdas de faturamento – IPD 37,7 – 21,6%
de abastecimento, entende-se que, no que se
Índice de perdas de faturamento – IPF 34,6 – 12,5%
refere às competências das operadoras e ao seu Volume de água economizado 454 milhões m³
papel perante às questões socioambientais do Recurso economizado R$ 962 milhões
Recurso investido R$ 204 milhões
município onde atua, tais questões deveriam ser
Recurso economizado - Recurso investido R$ 758 milhões
avaliadas no contexto de um Programa de Gestão Fonte: Sanasa (2017).
e Controle das Perdas de água (PGCP), numa abor-
dagem estratégica, preventiva, dinâmica e intera-
tiva. Segundo a Associação Brasileira de Engenha- Além do benefício ambiental da redução dos vo-
ria Sanitária e Ambiental - Abes (2015), um PGCP lumes de captação de água bruta retirados dos
deve fazer parte do planejamento estratégico de mananciais, há de se evidenciar também os be-
uma operadora de abastecimento, devendo con- nefícios financeiros do PCGP para a empresa. No
siderar aspectos técnicos, econômicos e de práti- ranking do Índice médio de Perdas no sistema de
cas de gestão como forma de dar sustentabilidade Distribuição, divulgado no Sistema Nacional de
às ações planejadas e aos respectivos resultados. Informações sobre Saneamento - SNIS (MINISTÉ-
RIO DAS CIDADES, 2019), que inclui os 27 presta-
dores de abrangência local de maior porte com
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO dados cadastrados, a Sanasa, junto com a ope-
radora do município de São José do Rio Preto -SP,
4.1 Panorama do Programa de Controle e
Gestão das Perdas da Sanasa ocupa a terceira posição, mantendo-se abaixo da
média nacional, de 38,5% (Fig. 2).
A Sociedade de Abastecimento de Água e Sa-
neamento S.A. - Sanasa possui PGCP imple-

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Figura 2 - Índice de Perdas na Distribuição (IPD) dos 27 prestadores de abrangências local de maior porte participantes
do SNIS em 2018, na qual a linha vermelha representa o valor médio nacional desse indicador, que foi de 38,5%.
Fonte: Ministério das Cidades - SNIS (2018, p.90).

Os dados de 1986 a 2016 evidenciam uma redu- da média nacional e da média das operadoras da
ção nos valores de IPD e de IPF, desde a imple- bacia dos rios Piracicaba, Capivarí e Jundiaí, da
mentação do PGCP, alcançando valores abaixo qual faz parte (Fig. 3 e 4).

Figura 3 - Histórico do Índice de Perdas de Faturamento (IPF) da Sanasa.


Fonte: Sanasa (2017).

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Figura 4 - Histórico do Índice de Perdas na Distribuição (IPD) da Sanasa.


Fonte: Sanasa (2017).

É possível verificar ainda os reflexos dos períodos hidrômetros que funcionaram em baixa vazão por
de estiagem entre os anos de 2013 e 2014 (MA- períodos maiores, principalmente para medidores
RENGO et al., 2015) na tendência dos indicadores. do tipo velocimétrico, que apresentam elevada
No IPF, houve uma redução brusca e anormal em submedição em baixas vazões (Sanasa, 2017).
2015, passando de 15,1%, em 2014, para 11,2%
em 2015, devido à mudança no padrão de consu- Com auxílio da Fig. 5, observa-se também que no
mo de água da população, ocasionando aumento período analisado não houve a necessidade de
considerável na quantidade de ligações com con- ampliação dos volumes de água captados, mes-
sumo abaixo do volume mínimo, que é de 10 m³/ mo diante do aumento populacional constatado.
mês. No IPD, a queda de consumo resultou no au- Observa-se ainda uma redução de aproximada-
mento da submedição, causado pelo aumento de mente 37% no volume de água perdida.

Figura 5 - Volume de água captado, que compreende os volumes consumido e perdido,


nos anos de 1994 (à esquerda) e 2016 (à direita).
Fonte: Sanasa (2017)

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Gestão das perdas de água em sistemas de abastecimento

Embora a empresa possua indicadores da ordem dices percentuais, devido à facilidade de com-
de 21,6% de IPD e 12,5% de IPF, abaixo da mé- preensão, são os mais utilizados.
dia nacional brasileira, outras operadoras, em
âmbito nacional e estadual declaram IPD e IPF
menores. Na literatura especializada é possível 4.2 Ações previstas no âmbito do PGCP
identificar operadoras de países desenvolvidos, da Sanasa
como Alemanha e Japão, que obtêm valores de O Quadro 1 apresenta as principais ações previs-
IPD e IPF bem menores do que os valores alcan- tas no PGCP da Sanasa, as quais foram agrupa-
çados pela autarquia (ABES, 2013). Contudo, das em três categorias, a saber: categoria ges-
conforme Tsutiya (2006), há de se ter cautela tão, que contempla ações que numa abordagem
na utilização de tais indicadores como base de de gestão da qualidade, propiciam a melhoria
comparação do desempenho de operadoras di- contínua, por meio da avaliação sistemática e re-
ferentes, uma vez que valores similares desses direcionamento das ações de controle; a catego-
índices não necessariamente refletem situa- ria técnica, que contempla ações relacionadas ao
ções de operação semelhantes, em função de gerenciamento das infraestruturas e operação,
outras características específicas dos sistemas possibilitando a rápida atuação sobre os vaza-
de abastecimento, como a densidade da rede e mentos, aparentes ou não; e a categoria comuni-
o número de ligações. Contudo, conforme Tar- cação, que contempla ações de conscientização
delli filho (2016), apesar das imperfeições os ín- e comunicação com os usuários.

Quadro 1 - Ações para Gestão e Controle das Perdas implementadas pela Sanasa - Campinas/SP
Categoria Ações planejadas pela SANASA Descrição
G1 - Instituição de Gerência A empresa possui gerência específica “Controle de Perdas e Sistemas” para a coordenação das ações e
específica para gestão das perdas rotinas específicas relacionadas à gestão e controle das perdas.
Se utiliza do MASPP - Método de Análise e Solução de Problemas de Perdas de Água para
gerenciamento do seu PCGP. Além disso, é certificada pela ABNT NBR ISO 9001, possuindo um Sistema
G2 - Utilização de ferramentas de Gestão da Qualidade. A ação permite:
de qualidade voltadas ao • Estabelecimento de rotinas de trabalhos, documentação e acompanhamento dos processos
gerenciamento das perdas operacionais;
• Facilidade de detecção e reparo de vazamentos;
• Melhor desempenho da equipe nas rotinas relacionadas ao PCGP.
Mantém programa de capacitação e treinamento de funcionários para manutenção preventiva,
Gestão preditiva e corretiva, sendo os hidrômetros inspecionados, dimensionados, instalados e especificados,
além de monitorar permanentemente os consumos para gerenciamento dos seus resultados. Este
processo conta com:
• Banco histórico dos consumos, equipamentos e ocorrências de manutenção;
G4 - Treinamento/Capacitação de
• Ações corretivas, preventivas e preditivas, sendo os medidores substituídos, se necessário;
funcionários no sentido da gestão
• Monitoramento do comportamento histórico dos volumes apurados para cada hidrômetro, a partir de
das perdas
sistemas informatizados;
• Consistência dos consumos apurados;
• Diagnóstico sistemático dos hidrômetros: vistorias no local, levantamento do perfil de consumo por
meio de um registrador de dados (data logger) e adequação do equipamento que mais retratará o
consumo real.
Mediante a fiscalização das obras dos sistemas de água e esgoto, é possível tomar conhecimento de
como foram executadas por meio de acompanhamento técnico durante a execução, que visam à coleta
de informações para cadastro em uma base cartográfica digital, podendo ser integrados com o banco
de dados alfanumérico comercial, financeiro e técnico, para a interpretação das informações a fim de
T1 - Existência e atualização de tomada de decisões. A ação permite:
Técnica
cadastro técnico • Readequação da infraestrutura do sistema de água tais como reservatórios, redes, ramais e demais
componentes, para eliminar e ou reduzir perdas reais, garantindo a qualidade e as demandas
requeridas;
• Redução do custo operacional;
• Melhoria da imagem e a satisfação dos usuários.
continua...

Revista DAE | São Paulo | v. 69, n 230 / pp 67-86 | Abr a Jun, 2021 77
Cunha BS, Santos SM, Gonzalez BC

Quadro 1 - Continuação...
Categoria Ações planejadas pela SANASA Descrição
Com um sistema de distribuição de aproximadamente 3.518,33 km de rede, a empresa realiza pesquisas
T2 - Troca/manutenção de redes/
e levantamentos por meio de dados apontados pelos rompimentos de redes e ramais, que visam indicar
ramais
os trechos ou áreas mais críticas na priorização de troca de redes.
Prevê a operação do sistema dentro das pressões recomendadas, isto é 15 a 50 mca. A Sanasa continua
com a implantação de Controladores Inteligentes de baixíssimo custo para VRP’s.
A ação permite:
T3 - Controle e redução de
• Operar o sistema de abastecimento de água com mínimas pressões nas redes e ramais, para minimizar as
pressão nas redes
perdas físicas, desde que não haja prejuízo as demandas contratadas e atendimento as normas vigentes;
• Controlar as pressões no sistema, mantendo mínimas pressões nas redes e ramais, minimizando as
perdas físicas, mantendo as demandas contratadas com atendimento as normas vigentes.
Realiza a medição mensal do volume do consumo dos consumidores por meio das ligações de água
e dos registros dos hidrômetros. No recebimento desses equipamentos, são realizados testes que
simulam o funcionamento em uma situação real, em laboratórios credenciados pelo INMETRO,
T4 - Micromedição conforme as normas vigentes, garantindo o desempenho metrológico da medição. A empresa vem
(troca hidrômetros) realizando a troca de hidrômetros antigos por volumétricos (classe c), por apresentarem diversas
vantagens em relação aos medidores tradicionais tipo velocimétricos, tais como: maior sensibilidade
para registrar com precisão baixas vazões, menor submedição; maior precisão metrológica; manutenção
da curva de erros ao longo da vida útil e maior durabilidade, em torno de 10 anos.
Os macromedidores são instalados tanto nas entradas e saídas das ETAs, nos centros de reservação
e distribuição, como nos setores de medição, aferindo em tempo real os volumes de água bruta,
filtrada e produzida.Atualmente medem 100% dos volumes captados, tratados e disponibilizados nos
reservatórios de distribuição. A ação permite:
• O apuramento dos indicadores de perdas, controle dos volumes na setorização, além de auxiliar em um
T5 - Macromedição
melhor controle na avaliação sistema;
• O monitoramento das pressões nos centros de armazenamento de água, nas malhas de rede das
setorizações, reservatórios, servindo também como parâmetro para indícios de perdas físicas;
• Combate às perdas físicas pelo extravasamento com o controle de volume dos reservatórios,
auxiliando na identificação de grandes perdas físicas na estrutura e nas redes de distribuição.
Como uma das atribuições da coordenadoria de Macromedição, estrutura, controle, estanqueidade e
pesquisa de vazamentos, cujo objetivo visa a garantia da qualidade e da água e garantir um baixo índice
de perdas ao novo sistema distribuidor de água
T6 - Teste de recebimento
A ação permite:
de redes novas
• Correção dos vazamentos causados por defeitos de material e por falha humana em redes e ramais
novos, garantindo as mínimas perdas possíveis, com a correção de vazamentos, seja por defeitos de
materiais, seja por falha na instalação.
Técnica São realizadas por funcionários da coordenadoria de Macromedição, estrutura, controle, estanqueidade
e pesquisa de vazamentos. Os equipamentos são de última geração, operados por funcionários
treinados, trabalhando de Segunda a Sexta-feira nos horários das 07:30 às 17:30 e das 23:00 às
T7 - Pesquisa/localização 08:00 horas. Os vazamentos são sanados por funcionários dos DOMASAs, na qual as ligações de ferro
vazamentos não aparentes galvanizado com vazamentos são totalmente trocadas por tubos de PEAD.
A ação permite:
• Localização pontual de vazamentos não visíveis, tanto em redes como em ramais de água para reparo,
eliminando as perdas de água.
Os reparos de vazamentos aflorantes são realizadas pelos DOMASA’s, que registram todas as
ocorrências, tempo de execução, material utilizado, horas trabalhadas, mão de obra e equipamentos
envolvidos. Esse sistema já prioriza os chamados mais urgentes, informando o tempo máximo de
intervenção para conserto. Os DOMASA’s são descentralizados a fim de aumentar a produtividade e
T8 - Conserto de rompimentos/
reduzir o tempo de atendimento (ver Fig. 10).
vazamentos
A ação permite:
• Manutenção do fornecimento de água tratada, em qualidade e quantidade, de acordo com as
necessidades atuais, por meio das manutenções preventivas e corretivas, em reservatórios, redes,
ligações e demais unidades operacionais, reduzindo as perdas físicas.
Isolamento de áreas, principalmente aquelas abastecidas pelos Centros de Reservação e Distribuição
(CRD) com Telemetria (automação), onde existe o macromedidor, responsável pelo controle do volume
de água de chegada e volume micromedido utilizado, no intuito de propiciar a obtenção do real IPD e
T9 - Setorização/isolamento
IPF, como também o diagnóstico e providências para melhoria do processo. A ação permite:
de áreas
• Melhor controle do sistema de distribuição, separando-o em zonas de pressões distintas, evitando a
mistura entre zonas diferentes, para reduzir perdas físicas causadas por alta pressão;
• Redução dos desperdícios com energia elétrica por recalques desnecessários.
Permite o monitoramento do Sistema de Água, por meio do envio on-line de dados de vazão, nível de
água e pressão, para posterior atuação na operação do Sistema de forma otimizada e globalizada,
enfatizando as etapas de Captação, Produção e Reservação. Possibilita maior precisão na coleta de
dados, visando à equalização do sistema, além de permitir a racionalização do funcionamento das
T10 - Telemetria e telecomando
bombas (energia elétrica), auxiliou no planejamento de produção, minimizando a utilização de insumos
dos sistemas de água
em horários de pico. A ação permite:
• Eliminação dos extravasamentos nos centros de reservação;
• Operação segura e rápida do sistema, evitando custos elevados de insumos;
• Detecção imediata de anormalidades no Sistema de Distribuição, por meio de alarmes.
Possui cadastro comercial atualizado com os dados e localização dos principais usuários finais,
T11 - Existência e atualização de categorizado segundo perfil de consumo. A ação permite:
cadastro comercial •Acompanhamento da evolução oferta/demanda;
•Maior eficiência no atendimento à eventuais ocorrências que impliquem perdas de água.

continua...

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Gestão das perdas de água em sistemas de abastecimento

Quadro 1 - Continuação...
Categoria Ações planejadas pela SANASA Descrição
A empresa instituiu o PAS - Programa de Ação Sustentável: Abastecimento em Núcleos
Residenciais Urbanizados e não Urbanizados do Município de Campinas. Por meio do engajamento
C1 - Programas de da comunidade, o programa identifica as condições específicas do território, por meio de visitas de
conscientização e campo e discussões junto a diversos órgãos do município (Associações de Moradores, Secretaria
combate às fraudes de Municipal de Habitação, Secretaria Municipal de Planejamento entre outros). Assim, buscando o
aumento da adimplência, o programa atua por meio de incentivos tarifários e/ou a negociação de
débitos.
Comunicação Possui Canal da Ouvidoria, que atende chamadas internas e externas, por escrito, entregues por meio
C2 - Existência de canal de
social do Serviço de Atendimento ao Cliente ou enviadas pelo site da Sanasa ou entregues pessoalmente a um
sugestões/reclamações
dos membros da Comissão.
A coordenadoria de Micromedição e Uso Racional da empresa vem investindo em pesquisa e estudos
de tecnologias (dispositivos e equipamentos economizadores) adequados aos múltiplos usos, além
C3 - Programas de uso racional de promover projetos no tema do uso racional da água, envolvendo toda comunidade atendida numa
da água abordagem educativa. A ação permite:
• Combate a fraudes, a partir da detecção e regularização em ligações de água, reduzindo as perdas
aparentes e de faturamento.

Observa-se que as ações promovidas pelo atual teração (Tabela 4), que permitiu avaliar as influên-
PGCP da SANASA atendem a grande parte dos cias das referidas ações sobre os componentes das
critérios de boas práticas descritos em literatura três dimensões da sustentabilidade, verifica-se
(ALEGRE et al., 2005; TSUTIYA, 2006; SILVA; PÁDUA; que o PGCP da Sanasa atua com maior ênfase no
BORGES, 2016; ABES, 2013; ABES 2015). Entretan- gerenciamento e controle de 4 componentes: IPD,
to, conforme resultados obtidos com a matriz de in- Tubulações, IPF e Ligações de água (Fig. 6).

Tabela 4 - Matriz de interação - Grau de influência das ações do PCGP da Sanasa nos componentes e dimensões da
sustentabilidade dos serviços de abastecimento.
Uso
Público/
Infraestrutura de abastecimento racional
Sociedade Resultado Parcial
(Dimensão Econômica) (Dimensão
(Dimensão Ética)
Ambiental)
Categoria

Ações de
Ligações de água

Reconhecimento
Tubulação (rede)

Pontuação total

dimensão ética
planejamento na
Pontuação na
Reservatórios

na dimensão

na dimensão
econômica
Pontuação

Pontuação

ambiental
Captação

Consumo

gestão das perdas


da ação
Tarifa
ETA

IPD

IPF

Instituição
de Gerência
G1 5 5 3 5 1 1 1 1 5 5 32 19 3 10
específica para
gestão das perdas
Utilização de
ferramentas
de qualidade
G2 5 5 1 1 3 1 1 5 5 3 30 15 7 8
Gestão

voltadas ao
gerenciamento
das perdas
Capacitação
de funcionários
G3 no sentido 3 3 5 5 1 1 1 5 3 3 30 17 7 6
da gestão das
perdas
Pontuação total 92 51 17 24

continua...

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Tabela 4 - Continuação...
Uso
Público/
Infraestrutura de abastecimento racional
Sociedade Resultado Parcial
(Dimensão Econômica) (Dimensão
(Dimensão Ética)
Ambiental)
Categoria

Ações de

Ligações de água

Reconhecimento
Tubulação (rede)

Pontuação total

dimensão ética
planejamento na

Pontuação na
Reservatórios

na dimensão

na dimensão
econômica
Pontuação

Pontuação

ambiental
Captação

Consumo
gestão das perdas

da ação
Tarifa
ETA

IPD

IPF
Existência e
T1 atualização de 1 1 3 5 1 1 1 1 1 1 16 11 3 2
cadastro técnico
Troca/
T2 manutenção de 1 1 5 5 1 3 1 3 5 3 28 13 7 8
redes/ramais
Controle e
T3 redução de 1 1 5 5 1 1 5 3 5 3 30 13 9 8
pressão nas redes
Micromedição
T4 (troca 1 1 1 1 1 3 5 1 5 5 24 5 9 10
hidrômetros)
T5 Macromedição 5 5 1 3 5 1 1 1 5 3 30 19 3 8
Teste de
T6 recebimento de 1 1 5 5 1 1 1 3 3 3 24 13 5 6
redes novas
Técnica

Pesquisa/
localização
T7 1 1 5 5 1 1 1 3 5 1 24 13 5 6
vazamentos não
aparentes
Conserto de
T8 3 3 5 5 1 1 1 3 5 3 30 17 5 8
vazamentos
Setorização/
T9 isolamento de 1 1 5 5 5 1 1 1 5 3 28 17 3 8
áreas
Telemetria e
T10 telecomando dos 3 3 3 5 3 1 1 1 3 3 26 17 3 6
sistemas de água
Existência e
atualização
T11 1 1 1 1 1 5 3 3 1 5 22 5 11 6
de cadastro
comercial
Pontuação total da categoria 282 143 63 76
Programas de
conscientização
C1 1 1 5 1 1 3 5 5 1 5 28 9 13 6
e combate às
Comunicação Social

fraudes
Existência
de canal de
C2 1 1 1 1 1 1 1 5 3 5 20 5 7 8
sugestões/
reclamações
Programas de uso
C3 1 1 1 1 1 5 5 5 3 3 26 5 15 6
racional da água
Pontuação total da categoria 74 19 35 20
Somatório da
pontuação
35 35 55 59 29 31 35 49 63 57
das ações nos
componentes

Ao se analisar a máxima pontuação possível em das ações sobre os componentes da dimensão cor-
cada dimensão da sustentabilidade, observa-se que respondeu a 70,6% da máxima pontuação possível
o PCGP obteve melhor desempenho na dimensão na dimensão, seguida da dimensão econômica (com
ambiental (Fig. 7), na qual o somatório da influência 50,1%) e, por fim, da dimensão ética (com 45,1%).

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Gestão das perdas de água em sistemas de abastecimento

90
59 63 57
55 49
Resultado

45 35 35 29 31 35

Reservatórios
Tubulação (rede)
ETA

IPF
Captação

Consumo

Reconhecimento
Ligações água

Tarifa

IPD
Econômica Ética Ambiental

Figura 6 - Potencial de influência das ações do PGCP da SANASA nos componentes da sustentabilidade
dos serviços de abastecimento.

Máx. Pont. Possível Pont. Obtida Desempenho (%)

50.1

213

45.1
115 70.6

425 120

255
170

ECONÔMICA ÉTICA AMBIENTAL

Figura 7 - Desempenho do PCGP da SANASA nas dimensões da sustentabilidade dos serviços de abastecimento.

Muito embora esse desequilíbrio entre o po- penhar seu papel como ferramenta de planeja-
tencial de ação do PCGP sobre as dimensões da mento estratégico/empresarial e, num contexto
sustentabilidade possa sugerir uma inadequação mais amplo, de gestão sustentável dos serviços
das ações planejadas, ao se analisar a totalidade de abastecimento. Assim, mesmo as ações T1 e
das ações (Fig. 8), observa-se que nenhuma das C2, que alcançaram apenas 16 e 20 pontos res-
ações ultrapassou 32 pontos de um total de 50 pectivamente, não podem ser consideradas ina-
pontos possíveis, sendo que a maioria das ações dequadas à gestão e controle das perdas, dado
obteve um somatório próximo a 25 pontos. Além o papel importante que desempenham sobre di-
disso, dada interdependência das três dimensões mensões específicas: nota-se, por exemplo, que
da sustentabilidade, entende-se que é pela tota- 68,7% da pontuação obtida pela ação T1 deriva
lidade das ações que o PCGP consegue desem- de sua influência na dimensão econômica.

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Cunha BS, Santos SM, Gonzalez BC

50
Somatório da pontuação

32 30 30 30 30 30
28 28 26 28 26
24 24 24 22
25 20
16

0
G1 G2 G3 T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10 T11 C1 C2 C3
Ações previstas no PCGP da Sanasa

Figura 8 - Pontuação das ações do PCGP da Sanasa nas dimensões da sustentabilidade do serviço de abastecimento

Por outro lado, a análise agregada das ações intensidade na dimensão ética, com aproxima-
nas categorias (gestão, técnica ou comunicação damente 47% da pontuação relacionados a essa
social) demonstrou que as categorias gestão e dimensão (Fig. 9). Importante ressaltar que a di-
técnica possuem comportamento similar, exer-
mensão ambiental, na qual o PCGP obteve me-
cendo maior influência na dimensão econômica,
com respectivamente 55% e 51% da pontua- lhor desempenho considerando-se o conjunto
ção relacionados a essa dimensão. Por sua vez, das ações, é influenciada de maneira bastante
a categoria comunicação social atua com mais similar pelas três categorias.
55%

51%
Percentagem da pontuação da categoria

47%
relacionada à dimensão

27%

27%
26%
26%

22%
18%

ECONÔMICA ÉTICA AMBIENTAL


Dimensões da sustentabilidade

Gestão Técnica Comunicação social

Figura 9 - Influência das categorias de ação nas dimensões da sustentabilidade dos serviços de abastecimento

Depreende-se do exposto que, tendo em vista to, conforme resultados aqui obtidos, a categoria
uma atuação mais harmônica e equilibrada do de ações que possui maior potencial é a comu-
PCGP da Sanasa nas três dimensões da sustenta- nicação social, que, neste caso, deve fomentar o
bilidade, há de se identificar alternativas para o uso racional da água numa perspectiva integra-
fortalecimento da dimensão ética. Nesse contex- da. Incentivos diretos à troca de aparelhos e à

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Gestão das perdas de água em sistemas de abastecimento

conservação autogerida de grandes consumido- de água nas bacias do Jaguari, Camanducaia e


res constituem, portanto, ações cabíveis no con- Atibaia (SANASA, 2017).
texto de um programa permanente de gestão das
Assim, embora a empresa de saneamento deva
demandas (SILVA; CONEJO; GONÇALVES, 1998).
pautar sua estratégia na antecipação das crises,
Convém ressaltar que a perspectiva de análise definindo um plano de contingência a ser im-
aqui utilizada enfocou os resultados no longo plementado de acordo com evolução da relação
prazo, numa perspectiva de gestão integrada, oferta/demanda, entende-se que uma visão mais
que entende os setores usuários, dentre eles, o abrangente das ações de conservação e uso ra-
setor de saneamento, como agentes importan- cional de água deve ser adotada (SILVA; PORTO,
tes de desenvolvimento sustentado, que prioriza 2003). Segundo os autores, são bem conhecidos
o uso racional dos recursos com equidade social, das operadoras de serviços de abastecimento
combinando medidas estruturais, estruturantes os programas de controle e gerenciamento das
e de gestão (SILVA; PORTO, 2003; ABES, 2013; perdas de faturamento, que implicam (no caso
ABES, 2015). Assim, considerando-se que a es- das perdas físicas) em ganhos efetivos de dis-
cassez hídrica é temática constante em diver- ponibilidade de água na bacia; contudo, outras
sas regiões do planeta, com efeitos nos custos ações relacionadas à gestão das demandas, que
operacionais de tratamento e distribuição e na implicam redução no volume de água faturada,
situação financeira das operadoras de abasteci- tradicionalmente não integram o planejamento
mento, ABES (2015) destaca três blocos de ações estratégico desses sistemas. Há um limite eco-
gradativas a serem adotadas no âmbito de um nômico para a redução das perdas, além do qual
plano de contingência para rápida atuação em os custos das ações de controle superam custos
casos de escassez hídrica, a saber: (i) a partir de de exploração e distribuição da água (ou ao custo
informações de monitoramento e gestão da re- marginal para a exploração de um novo sistema
lação oferta/demanda, disparo na mídia de cam- produtor de água) (ABES, 2015).
panhas para a economia de água e reforço nas
Ademais, dado que as ações de gestão das de-
ações de controle das perdas e reúso de água;
mandas de água no contexto da bacia hidro-
(ii) além de campanhas na mídia, são definidas
gráfica não são de competência exclusiva das
restrições a certos usos, além de medidas coer-
prestadoras de serviços de abastecimento, o que
citivas e; (iii) adoção de medidas extremas de ra-
exige o engajamento de toda a sociedade (ABES,
cionamento, por meio da imposição de cotas de
2015), pressupõe-se que a execução de um plano
consumo que, do ponto de vista das perdas de
mais abrangente para gestão das demandas exi-
água, é menos danosa que a realização de rodí-
ja o envolvimento de todo Sistema (Estadual) de
zios de abastecimento.
Gerenciamento de Recursos Hídricos – no Estado
No caso específico da Sanasa, no ápice da es- de São Paulo instituído pela Lei n° 7.663/1991–
cassez hídrica de 2015, quando os reservatórios que possui o aparato instrumental e normativo
do sistema Cantareira apresentavam apenas adequado para tanto, com destaque para a ou-
4,54% do volume, a empresa não contava com torga de direito de uso, a cobrança pelo uso dos
nenhuma diretiva interna ou plano de contin- recursos hídricos e o papel das agências de bacia
gência vigentes, e a previsão de colapso só não (SILVA; PORTO, 2003).
se concretizou devido à Resolução Conjunta
Por fim, é importante ressaltar que, dada a es-
ANA/DAEE no. 50/2015 que definiu regras e
treita relação entre quantidade/qualidade dos
condições de restrição de uso para captações

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recursos hídricos e o disciplinamento do uso e de mecanismo de transparência, engajamento


ocupação do solo, o sucesso de qualquer es- e comunicação social, deve integrar o planeja-
tratégia de conservação e uso racional da água mento econômico-financeiro das operadoras,
dependerá de mecanismos, normativos ou não, devido às reduções no faturamento e ao incre-
de articulação entre a gestão dos serviços de sa- mento dos custos operacionais em situações de
neamento e a gestão urbana (de competência racionamento. Por fim, diante da essencialidade
das municipalidades), dados os inúmeros con- e complexidade da gestão das perdas de água
flitos relacionados tanto à regulação fundiária, à em sistemas de abastecimento, depreende-se
reurbanização e ao reassentamento como à apli- que o sucesso de qualquer PGCP pressupõe o
cação de sanções e penalidades no combate às pleno funcionamento dos sistemas de geren-
fraudes e incentivo ao uso racional. ciamento de recursos hídricos no contexto da
bacia hidrográfica, com seus instrumentos e
instituições devidamente articulados, via me-
canismos de cooperação setorial (entre setores
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS usuários ou não) e governamental (de diferen-
No atual cenário brasileiro, em meio a um nú- tes jurisdições territoriais).
mero considerável de entidades prestadoras de
serviços de abastecimento que atuam na au-
sência de um programa específico para a ges-
tão das perdas de água, a Sociedade de Abaste- 6 CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES
cimento de Água e Saneamento S/A, autarquia Todos os autores contribuíram de forma igualitária.
responsável pelos serviços de saneamento no
município de Campinas-SP, destaca-se por
contemplar em seu PGCP grande parte das boas
7 REFERÊNCIAS
práticas recomendadas pela literatura especia- ALEGRE, H.; COELHO, S.T.; ALMEIDA, M.C.; VIEIRA, P., Controlo de
lizada. Contudo, considerando o papel funda- perdas de água em sistemas públicos de adução e distribuição.
mental das operadoras de serviços de abaste- LNEC IRAR INAG, Lisboa, 306p, 2005. ISBN: 972-99354-4-0

cimento, num contexto mais amplo de gestão ALEGRE, H.; HIRNER, W.; BAPTISTA, J.M.; PARENA, R., Indicadores
(sustentável) dos serviços de saneamento, os de desempenho para serviços de abastecimento de água. Série
GUIAS TÉCNICOS, International Water Association – IWA Lisboa,
resultados obtidos nesse estudo de caso suge-
277 p., 2004. E-Book. ISBN: 1 900222 27 2. Disponível em: <
rem que esforços sejam direcionados ao fortale- https://www.pseau.org/outils/ouvrages/ersar_indicadores_de_
cimento da dimensão ética da sustentabilidade, desempenho_para_servicos_de_abastecimento_de_agua_2004.
pdf> Acesso em 27/01/2021.
notadamente influenciada pelas ações ligadas
à comunicação social. Entende-se que intensi- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AM-
BIENTAL– (ABES). Controle e redução de perdas nos sistemas
ficação da relação da empresa com os usuários
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