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PCPR

SUMÁRIO

Noções de Direito Penal


Infração penal: elementos, espécies...................................................................................................................................... 3

Sujeito ativo e sujeito passivo da infração penal................................................................................................................. 18

Tipicidade, ilicitude, culpabilidade, punibilidade.......................................................................................................... 19/28

Erro de tipo e erro de proibição........................................................................................................................................... 16

Imputabilidade penal........................................................................................................................................................... 27

Concurso de pessoas............................................................................................................................................................ 29

Crimes contra a pessoa, o patrimônio e a administração pública....................................................................................... 33


Noções de Direito Penal
Fabrício Wagner

TEORIA GERAL DO CRIME – INFRAÇÃO PENAL regular de direito. Ainda, segundo a doutrina, existe uma causa
(CONCEITO DE CRIME, CRIME E CONTRAVEN- supralegal como excludente de ilicitude, que é o consentimento
do ofendido, contudo, este requer que o ofendido tenha capa-
ÇÃO PENAL, ELEMENTOS DO CRIME: CONDU- cidade para consentir, que o bem sobre o qual recaia a conduta
TA (AÇÃO E OMISSÃO), RESULTADO, RELAÇÃO do agente seja disponível e que o consentimento tenha sido
DE CAUSALIDADE, TIPICIDADE; CONSUMAÇÃO dado anteriormente ou simultaneamente ao ato.
E TENTATIVA, DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E AR- A culpabilidade, que é um juízo de reprovação pessoal
REPENDIMENTO EFICAZ, ARREPENDIMENTO que se faz sobre a conduta do agente, para a teoria finalis-
POSTERIOR, CRIME IMPOSSÍVEL, CRIME DO- ta, é composta dos seguintes elementos: a imputabilidade,
a potencial consciência da ilicitude do fato e a exigibilidade
LOSO E CULPOSO, AGRAVAMENTO DA PENA de conduta diversa.
PELO RESULTADO, ERROS, COAÇÃO MORAL E
OBEDIÊNCIA HIERÁRQUICA) Objeto de um Crime

O que é Crime? Pode-se afirmar que o objeto é aquilo sobre o que incide
a conduta delituosa. Ele se divide em:
a) Conceito material – Conduta humana que lesa ou a) jurídico: é o bem ou interesse protegido pela norma;
expõe a perigo bens jurídicos tutelados. Exemplo: homicídio (vida) e furto (patrimônio);
b) Conceito formal – Conduta humana proibida por lei, b) material: é a pessoa, coisa ou interesse sobre a qual
com cominação de pena. recai a conduta do agente.
c) Conceito analítico – Analisa cada um dos elementos
do crime, sem que com isso se queira fragmentá-lo, já que Sintetizando, temos como um dos exemplos o crime de
o crime é um todo unitário e indivisível. furto, em que o objeto jurídico seria o patrimônio e o objeto
material seria a coisa furtada. Pode haver coincidência entre
Deve-se considerar duas visões: esses objetos quando ocorre, por exemplo, o homicídio, pois
• bipartida: o crime é um fato típico e antijurídico; o homem é objeto material e também o titular do objeto
• tripartida: o crime é um fato típico, antijurídico e jurídico lesionado, ou seja, a vida. A regra é que inexistindo
objeto material, surge o crime impossível. Contudo, pode
culpável.
haver crime sem objeto material, nos casos de ato obsceno
ou falso testemunho, por exemplo.
A visão bipartida considera a culpabilidade um mero pressu-
posto para aplicação da pena, por isso a exclui de seu conceito. Diferença entre Crime e Contravenção Penal
Já a visão tripartida inclui a culpabilidade em seu conceito.
Adotaremos, então, a  Teoria Tripartida, que é a mais Contravenção
aceita pela doutrina.
Conceito de crime a partir da Teoria Tripartida. É um crime anão, um pequeno crime no sentido de
ferir patrimônio jurídico de menor reprovabilidade ante a
Quadro Esquemático sociedade. Em suma, definido apenas como um crime anão.
Para Nélson Hungria, as contravenções, por serem infrações
Antijurídico menos graves que os crimes, ofendem bens jurídicos não tão
Fato Típico Culpável importantes quanto os protegidos ao se tipificar um crime.
(ilícito)
(Elementos) (Elementos) As contravenções penais são infração de menor potencial
(Excludentes)
Conduta. Estado de necessi- Imputabilidade. ofensivo (suas penas isoladamente não excedem a dois anos),
dade. portanto, são da competência dos Juizados Especiais. Elas são
infrações de ação penal pública incondicionada (não neces-
Resultado. Legítima defesa. Potencial consciência
sitam de representação como condição de procedibilidade
da ilicitude. para a propositura da ação penal).
Nexo causal. Estrito cumprimen- Exigibilidade de condu- O Brasil adotou o sistema dicotômico, sendo que as infra-
to de dever legal. ta diversa. ções penais se classificam em crimes (ou delitos) e contraven-
Tipicidade. Exercício regular de ções. Nos crimes ocorre uma lesão ou um perigo concreto/
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direito. objetivo, ou seja, a probabilidade de ocorrência de uma lesão,


nas contravenções penais há apenas um perigo subjetivo, ou
O fato típico é composto dos seguintes elementos: con- seja, aquele abstrato, mera representação mental.
duta (dolosa/culposa, omissiva/comissiva), resultado (para As contravenções penais não admitem tentativa. É o que
os crimes materiais – aqueles que dependem do resultado se depreende do art. 4º da LCP (Lei de Contravenções Pe-
para se consumarem), nexo de causalidade (elo entre a nais). O legislador adotou esse critério por política criminal,
conduta e o resultado) e a tipicidade (formal – subsunção em virtude da pequena potencialidade lesiva da tentativa
do fato à norma; conglobante – que é a tipicidade formal de contravenção.
associada à tipicidade material, ou seja, leva-se em conside- O art. 7º da LCP traz:
ração o princípio da insignificância).
A ilicitude refere-se à relação de contrariedade ao ordena- verifica-se a reincidência quando o agente pratica
mento jurídico. Por exclusão, lícita será toda conduta em que o uma contravenção depois de passar em julgado a
agente tiver atuado sobre o amparo das excludentes de ilicitude sentença que tenha condenado, no Brasil ou no
previstas no Código Penal, a saber: legítima defesa, estado de estrangeiro, por qualquer crime, ou, no Brasil, por
necessidade, estrito cumprimento de dever legal e o exercício motivo de contravenção.

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No que se refere à conversão da pena de multa (caso não 2. Crime omissivo: nasce de um não agir por parte do
fosse paga) em prisão simples, a legislação atual já não mais agente, quando era seu dever agir. Independe de qualquer re-
permite, embora fosse esse o teor do art. 9º da LCP. Contudo, sultado. É um típico crime de mera conduta. Em consequên­
foi ele revogado pela Lei nº 9.268/1996. O referido artigo cia, não se admitem a tentativa e a coautoria.
trazia que a multa era convertida em prisão simples, de acor- 3. Crime comissivo por omissão (omissivo impróprio):
do com o que dispõe o Código Penal sobre a conversão de ocorre a omissão do agente que, por disposição legal, tem
multa em detenção. Todavia, a lei aqui mencionada, alterou o dever de se manifestar em determinadas situações, e sua
a redação do art. 51 do CP estabelecendo que, “transitada omissão concorre para a ocorrência de uma ação criminosa.
em julgado a sentença penal condenatória, a multa será Exemplo clássico é quando a mãe abandona o próprio filho
convertida em dívida de valor, aplicando-se-lhe as normas da recém-nascido, provocando-lhe a morte. Essa classificação
legislação relativa à dívida da Fazenda Pública, inclusive no só é admitida nos crimes materiais (crimes de resultado),
que concerne às causas interruptivas e suspensivas da pres- entretanto eles admitem a tentativa, mas não admitem a
crição”. Resumindo, hoje não existe mais no CP a conversão coautoria, sendo possível a participação.
de multa em detenção e, reflexamente, também não mais 4. Crime material: é aquele em que a lei prevê a conduta
existe a citada conversão para prisão simples no caso das e o respectivo resultado. Exemplo: furto.
contravenções penais. É o que ensina Vítor E. Rios Gonçalves. 5. Crime formal: para a sua caracterização, exige-se ape-
Traz, também, o art. 8º da LCP: nas a ação, independentemente do resultado pretendido ser
ou não alcançado. Exemplo: crime de extorsão. Como regra,
no caso de ignorância ou de errada compreensão da esta modalidade não admite tentativa, só ocorrendo quando
lei, quando escusáveis (aquele em que qualquer pes- verificada a possibilidade de fracionamento da conduta.
soa comum incorreria, nas mesmas circunstâncias), 6. Crime de mera conduta: caracteriza-se com a simples
a pena pode deixar de ser aplicada. conduta do agente que não deseja qualquer resultado.
Exemplo: crime de violação de domicílio. Em outras palavras,
Há entendimento de que este artigo foi revogado desde 1984 é aquele em que o tipo penal somente prevê a conduta e com a
com a reforma do CP, que trouxe o erro de proibição, se ine- sua prática ocorre a consumação. Não há previsão de um resul-
vitável, como causa de exclusão da culpabilidade, devendo o tado naturalístico. A consumação se dá com a ação prevista na
réu ser absolvido. Como o referido artigo faz alusão a crime, norma. Ex.: porte ilegal de arma; violação de domicílio. Esses
que é infração mais grave que contravenção, seria injusto crimes não admitem tentativa e nem concurso de agentes.
que nas contravenções, infrações de menor gravidade, não 7. Crime geral: pode ser praticado por qualquer pessoa,
se aplicasse o referido princípio. não exigindo condição ou situação de seu agente. Exemplo:
Finalmente, quanto às penas previstas para as contra- furto.
venções penais, o art. 5º da LCP traz prisão simples e multa, 8. Crime especial ou próprio: para a sua existência é ne-
que poderão ser aplicadas isoladas ou cumulativamente. cessário que o agente detenha alguma condição específica,
A prisão simples é aquela cumprida, sem rigor penitenciário, sem a qual inexiste o crime. Exemplo: a condição de funcio-
em cadeia pública, no regime semiaberto ou aberto, ficando nário público para a prática do crime de corrupção passiva.
o preso separado dos condenados a pena de detenção ou 9. Crime de mão própria: essa espécie de crime poderá
reclusão, penas estas aplicadas aos praticantes de crime e ser praticada por qualquer pessoa, desde que o faça dire-
não de contravenção. tamente, sendo incabível a autoria imediata. É impossível a
coautoria, podendo haver, porém, a participação.
Diferenças básicas entre Crime e Contravenção
A título de exemplo: Túlio, em razão de seu casamento
com Maria, declarou no cartório de registro de pessoas
Crime Contravenção naturais que era divorciado, sendo o matrimônio com Maria
1. Pune as condutas mais 1. Pune as condutas menos consumado. Entretanto, Túlio era casado com Claudia, mas
graves. graves. estavam separados de fato há muitos anos. Serviram como
2. Punido com pena de reclu- 2. Punida apenas com pena testemunhas Joana e Paulo, primos de Túlio, que tinham
são ou pena de detenção, de prisão simples ou multa. conhecimento do casamento e da separação de fato deste
podendo haver a multa 3. Tem caráter preventivo, com Claudia. Assim pode-se afirmar que se trata de crime
cumulativa ou alternativa. visando à lei das contraven- próprio, sendo coautores Joana e Paulo, primos de Túlio.-
3. Tem caráter repressivo, ções penais a coibir condu- 10. Crime preterdoloso ou preterintencional: em linhas
situando o direito somente tas conscientes que possam gerais, são os crimes qualificados pelo resultado. O agente
após a ocorrência do dano trazer prejuízo a alguém. não pretende o resultado que alcança; entretanto, por culpa,
a alguém. 4. Só é cabível a Ação Penal produz resultado além do desejado. É necessária a vontade
4. São possíveis todos os tipos Pública Incondicionada. (dolo). Exemplo: lesões corporais seguidas de morte.
de ações penais. 5. Cometido no exterior, não Poderia ser assim também dissertado: é o crime no qual
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5. Cometido no exterior pode pode ser punido no Brasil.


o resultado lesivo vai além daquele pretendido pelo agente.
ser punido no Brasil. 6. A tentativa não é punida.
Este visa a um determinado ato lesivo, mas o resultado ex-
6. É punível a tentativa. 7. Limite máximo de cumpri-
7. Limite máximo de cumpri- mento da pena: 5 anos.
cede o desejado. Há dolo no antecedente (conduta inicial)
mento da pena: 30 anos. 8. S e g u e o r i t o d a L e i e culpa no consequente (resultado final). Há um resultado
8. Segue qualquer rito proces- nº 9.099/1995, Lei do Jui- agravador culposo após a conduta típica dolosa.
sual. zado Especial Criminal, 11. Crimes qualificados pelo resultado: segundo Rogério
pois trata-se de conduta de Greco, o  crime será qualificado pelo resultado quando o
menor potencial ofensivo. agente atua com dolo na conduta e dolo quanto ao resultado
do qualificador, ou dolo na conduta e culpa no que diz respei-
Classificação dos Crimes to ao resultado qualificador (que é o crime preterdoloso). No
crime qualificado pelo resultado existe dolo e dolo ou dolo
1. Crime comissivo: resulta de um agir, de um fazer por e culpa, daí, pode-se afirmar que todo crime preterdoloso é
parte do agente, que alcança o resultado mediante uma qualificado pelo resultado, mas nem todo crime qualificado
ação positiva. pelo resultado é preterdoloso. Caracteriza dolo e dolo a con-

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duta descrita como lesão corporal qualificada pela perda ou 19. Crimes comuns: são aqueles que podem ser pratica-
inutilização de membro e dolo e culpa na conduta descrita dos por qualquer pessoa.
como lesão corporal qualificada pelo resultado do aborto. 20. Crimes próprios: para que existam, é necessário que
O crime será, ainda, qualificado pelo resultado quando hou- o agente detenha uma condição especial, como ser mãe em
ver culpa e culpa, como, por exemplo, causar lesão corporal infanticídio, ou funcionário público em crimes de peculato,
a terceiro acidentalmente, que devido a elas, correr à vítima corrupção passiva etc.
risco de morte, ocorrendo a forma culposa tanto no tipo 21. Crimes de perigo: são crimes que se consumam com
quanto no seu resultado, ou culpa e dolo, como, por exemplo, a mera possibilidade de dano, basta que haja exposição do
no caso de o agente causar lesões corporais a terceiros sem bem a perigo de dano, como no caso do crime de periclitação
intenção, mas, propositalmente, deixar de prestar socorro. da vida ou saúde de outrem. O perigo pode ser concreto,
12. Crime simples: é aquele que apresenta apenas um quando o próprio tipo exige a existência de uma situação
tipo penal, como no homicídio. de perigo efetivo, ou abstrato, em que a situação de perigo
13. Crime complexo: dá-se quando a conduta é tipificada é somente presumida, como no caso do crime de quadrilha,
pela fusão de mais de um tipo legal. São também chamados em que o agente será punido, mesmo que o bando não tenha
pluriofensivos por lesarem ou exporem a perigo de lesão mais cometido um ilícito sequer.
de um bem jurídico tutelado. Exemplo: latrocínio (roubo e 22. Crimes de dano: para que existam é necessário que
homicídio). Em outras palavras, é aquele no qual há a fusão haja efetiva lesão ao bem jurídico protegido pela norma,
de dois ou mais tipos penais. O crime complexo tutela mais de como no caso de homicídio.
um bem jurídico. O crime complexo pode existir, também, no 23. Crime instantâneo: é aquele em que o seu momento
caso em que um tipo serve como circunstância qualificadora consumativo se dá num instante determinado, como no
de outro. Exemplificam a fusão de dois ou mais tipos penais o homicídio.
crime de extorsão mediante sequestro (em que se conjuga o 24. Crimes instantâneos de efeitos permanentes: são
crime de extorsão e o crime de sequestro, que são dois tipos aqueles que se consumam em um dado instante, mas os seus
penais distintos), o roubo (que une o crime de furto ao crime efeitos são permanentes, como no homicídio.
de violência corporal e/ou ao constrangimento ilegal, que tam- 25. Crime principal: ele existe independentemente de
bém são tipos penais distintos). Exemplifica o segundo caso, ou outro, como no furto.
seja, quando um tipo serve como circunstância qualificadora 26. Crime acessório: é aquele que depende de outro para
de outro o latrocínio (em que o homicídio qualifica o roubo). existir, como o crime de receptação.
Ressalte-se que o delito de latrocínio é crime hediondo e é 27. Crime progressivo: é aquele em que agente quer
julgado por juízes singulares, por não se tratar de crime doloso atingir um resultado mais grave, mas, para atingi-lo, vai
contra a vida, mas de crime contra o patrimônio. praticando várias e sucessivas ações delituosas até atingir o
14. Crimes permanentes: o delito tem sua consumação seu intento, como no caso daquele que vai lesionando seu
por todo o tempo em que o bem jurídico tutelado está sendo desafeto gradativamente até levá-lo à morte. Note que neste
atacado, vindo a prolongar-se no tempo. Exemplo: crime de caso ele só irá responder por homicídio, já que este crime
cárcere privado. absorve o de lesões corporais (princípio da consunção).
15. Crime continuado: é a prática reiterada da mesma 28. Progressão criminosa: diferentemente do crime pro-
conduta típica considerada dentro de um lapso temporal que gressivo, nesse o agente busca atingir um resultado e o atinge,
caracterize a homogeneidade da conduta. O agente pratica sendo que, após conseguir realizar o seu intento, resolve
vários crimes, mas, por uma ficção jurídica, será punido violar outro bem jurídico protegido pela norma, produzindo
considerando-se uma só ação com a pena aumentada de um crime ainda mais grave, como querer lesionar alguém e,
um sexto a dois terços. após atingir esse objetivo, resolve matar a vítima. Observe que,
16. Crime plurissubjetivo: exige-se o concurso de pesso- mesmo tendo praticado dois delitos, irá o agente responder
as, ou seja, somente poderá ser praticado por duas ou mais apenas pelo mais grave (princípio da consunção), no caso, por
pessoas. Exemplo: formação de quadrilha.
homicídio. O que diferencia a progressão criminosa do crime
17. Crime hediondo: são insuscetíveis de fiança, anistia,
progressivo é que neste caso há um só crime; já, naquele, há
graça e indulto, mas admitem liberdade provisória, devendo
dois crimes, daí ser chamado de progressão criminosa. Em
ainda a pena ser cumprida inicialmente em regime fechado,
outras palavras, no crime progressivo existe apenas o crime
podendo, entretanto, haver progressão de regime após o
cumprimento de 2/5 da pena (se o réu é primário) ou 3/5 fim, embora, para alcançá-lo, o agente tivesse que percorrer
(no caso de reincidência). É bom ressaltar ainda que para tais um caminho que violasse bens jurídicos tutelados pelo orde-
crimes, a prisão temporária terá duração de 30 (trinta) dias, namento jurídico. Já na progressão criminosa, o agente pratica
prorrogáveis uma vez, por igual período, no caso de extrema mais de um crime, querendo violar o ordenamento jurídico e,
necessidade. São hediondos os crimes: não satisfeito, procura realizar outro delito, atingindo um outro
• homicídio simples, quando praticado em atividade bem jurídico tutelado e mais grave que o primeiro.
típica de grupo de extermínio, ainda que praticado por 29. Crime falho: é o mesmo que tentativa perfeita ou
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um só agente; acabada, em que o agente esgota toda sua capacidade ofen-


• homicídio qualificado; siva, mas que não produz nenhum resultado naturalístico.
• latrocínio; 30. Crime exaurido: é o crime em que o agente o con-
• extorsão qualificada pela morte; suma e, logo após, vem a agredir o mesmo bem jurídico,
• extorsão mediante sequestro e na forma qualificada; lesionando-o, contudo, não representa irrelevante penal,
• estupro; como no caso de furtar um celular de alguém e, logo após,
• estupro de vulnerável; destruí-lo. Nessa situação, o agente só responderá pelo furto.
• epidemia resultando em morte; 31. Crime unissubsistente: é aquele em que, com um
• falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de único ato, ele se perfaz, como no caso da injúria verbal.
produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais; 32. Crime plurissubsistente: é aquele em que, para se
• genocídio. consumar, depende da realização de mais de um ato, como
no estelionato.
18. Crimes putativos: quando o agente supõe estar pra- 33. Crime vago: é aquele em que o seu sujeito passivo
ticando uma conduta delituosa e, na realidade, os seus atos é a coletividade, por não ter personalidade jurídica, como
não caracterizam crime. Há erro, blefe. o ato obsceno.

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34. Crime multitudinário: é aquele cometido por tumul- a) Teoria Naturalista ou Causal ou Clássica
to, como o linchamento. • Concebida no século XIX, por Liszt e Beling, perdurou
35. Crime de opinião: é aquele decorrente do abuso de até o século XX, com a chegada do finalismo.
liberdade de expressão, como o crime de injúria. • O momento histórico era o fim do absolutismo monár-
36. Crime de ação múltipla ou de conteúdo variado: quico e domínio do positivismo, em que havia forte
é aquele em que o próprio tipo já o descreve de várias influência das ciências físicas e naturais.
modalidades de realização, como no caso de induzimento, • A sociedade vinha de um histórico em que o Estado
instigação ou auxílio ao suicídio. era submetido ao império de uma pessoa e agora com
37. Crime habitual: é todo aquele que só pode se con- o positivismo passou ao império da lei.
sumar se houver habitualidade na conduta. • Neste contexto político nasceu a Teoria Naturalista,
38. Crime de ímpeto: é aquele cometido por um mo- em que pouco havia para se interpretar a norma. A lei
mento de impulsividade. era para ser cumprida. Portanto crime era aquilo que
39. Crime funcional: é aquele em que o sujeito ativo é o legislador dizia sê-lo e ponto final.
funcionário público. • O conceito de fato típico era o resultado de uma sim-
ples comparação objetiva com o que fora praticado,
Infração Penal (arts. 13 a 22) com o que se encontra descrito em lei. Não havia
nenhuma apreciação subjetiva.
Infração penal significa ofensa real ou potencial a um • Segundo essa teoria, o conceito de conduta é a ação
bem jurídico, levando-se em consideração os elementos ou omissão voluntária e consciente que exterioriza
subjetivos do tipo, a ilicitude e a culpabilidade. movimentos corpóreos. Ela é meramente neutra, ou
Em linhas gerais, infração penal se refere a crime, o qual seja, sem qualquer valoração, não se analisando neste
pode ser conceituado sob dois aspectos: o material e o momento a finalidade do agente.
formal ou analítico. No material, o crime se relaciona a um • O crime estava dividido em dois momentos: Parte
comportamento humano voluntário ou descuidado, que lesa Objetiva, ou também chamada de externa (era o
ou expõe a perigo bens jurídicos colocando a coletividade chamado injusto penal formado pelo fato típico e anti-
ou sociedade em desarmonia. Sob o aspecto formal ou ana- juridicidade) e a Parte Subjetiva ou também chamada
lítico, o crime seria todo fato que subsumiria a uma norma de interna (culpabilidade).
preestabelecida num ordenamento jurídico. • O fato típico era oco, sem valoração. A conduta era a
O Brasil adotou o sistema dicotômico, sendo que as infra- exteriorização de movimentos corpóreos que causava
ções penais se classificam em crimes (ou delitos) e contraven- um resultado. O fato típico era meramente descritivo.
ções. Nos crimes ocorre uma lesão ou um perigo concreto/ Para um fato ser típico somente interessava quem
objetivo, ou seja, a probabilidade de ocorrência de uma lesão, tinha causado o resultado e se este resultado estava
nas contravenções penais há apenas um perigo subjetivo, ou previsto em lei. Se um suicida pulasse em frente a um
seja, aquele abstrato, mera representação mental. carro e morresse, o motorista teria praticado um fato
Para se atingir um ilícito penal, o agente normalmente típico. Na parte subjetiva do crime é que se discutiria
perfaz alguns caminhos a fim de obter uma meta delineada. se houve intenção de matar ou não.
A esse caminho dá-se o nome de iter criminis, que, nada mais • A ilicitude era objetiva, traduzida como a contrariedade
é do que o caminho percorrido pelo agente para a obtenção ao Direito. Não havia a necessidade que o agente esti-
do resultado delituoso. O iter criminis é composto das se- vesse atuando com consciência da causa de exclusão
guintes fases: cogitação, preparação, execução, consumação de ilicitude. Era definida por exclusão: todo fato típico
e exaurimento. que não fosse acobertado por uma causa de exclusão
Pois bem, vamos voltar ao conceito de crime e passar a de ilicitude era um fato ilícito. Estávamos diante do
estudá-lo de forma pormenorizada, que é a chamada Teoria injusto penal.
Geral do Crime. • Assim, a ação era desgarrada de qualquer finalidade.
Lembrando o conceito de crime, segundo a teoria tri- Se havia uma modificação no mundo exterior por
partida: obra da conduta, havia nexo de causalidade. Se este
fato estivesse tipificado em lei havia fato típico. Se a
Fato Típico Antijurídico (Ilícito) Culpável conduta não estivesse amparada por uma causa de
(Elementos) (Excludentes) (Elementos) excludente de ilicitude, estávamos diante da parte
Conduta. Estado de necessidade. Imputabilidade. objetiva completa de um crime.
• A culpabilidade era psicológica, formada apenas: pela
Resultado. Legítima defesa. Potencial consciên- finalidade do agente (dolo e a culpa) e a imputabi-
cia da ilicitude. lidade. Assim a ausência de dolo ou culpa excluía a
Nexo causal. Estrito cumprimento Exigibilidade de culpabilidade. O dolo era natural, formado de: vontade
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de dever legal. conduta diversa. e consciência de praticar os elementos do tipo.


Tipicidade. Exercício regular de Assim, a culpabilidade era concebida como o vínculo
Direito. psicológico que une o autor ao fato.
• O erro de tipo excluía o dolo, sendo tratado como causa
Elementos ou Requisitos do Fato Típico de excludente de culpabilidade.
• Nesta fase a concepção bipartida de crime era incabível,
Conduta: é a ação ou omissão, consciente e voluntária, uma vez que não se pode admitir um delito sem dolo
manifestada no mundo exterior, dirigida a uma finalidade. ou culpa. Como estes elementos se encontravam na cul-
(CAPEZ). pabilidade, esta necessariamente deveria ser elemento
O conceito de conduta evoluiu durante os séculos atra- do crime. Assim a teoria adotada era a Tripartida.
vessando várias teorias quais sejam: Teoria Naturalista ou
Causal ou Clássica, Teoria NeoKantista ou Causal-Valorativa b) Teoria Neokantista ou Causal-Valorativa ou Neoclássica
ou Neoclássica, Teoria Finalista, Teoria Social da Ação, Teoria • É uma reação a teoria clássica, pois afirma que o
Funcional e Teoria Constitucionalista do Delito (elaborada tipo penal não é somente descritivo de uma conduta
por Luiz Flávio Gomes). reprovável. A definição de crime como composto de

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elementos puramente objetivo (fato típico e ilícito) e volta a ser natural, composto de vontade e consciência
elemento subjetivo (culpabilidade) é questionado. de praticar os elementos do tipo.
• Em 1915, Mezger afirma que alguns tipos penais eram • A ilicitude continua sendo a contrariedade ao Direito.
compostos além de componentes objetivos, de subjeti- Constitui um desvalor sobre o fato típico. Em princípio
vos (“para si ou para outrem”, “com o intuito de” etc.) e todo fato típico é ilícito. A tipicidade é ratio cognoscendi
normativos (“ato obsceno”, “documento”, “coisa alheia”). da ilicitude, ou seja, é critério indicador da ilicitude.
• A conduta não era neutra, como afirma os causalistas, O fato típico somente não será ilícito se o agente atuar
e sim expressava uma valoração. sob o abrigo de uma causa de excludente de ilicitude
• Mezger afirma que na análise do revogado tipo penal (legítima defesa, estado de necessidade, estrito cum-
da rapto para fins libidinosos (“raptar + mulher honesta primento do dever legal e exercício regular do Direito).
+ com fim libidinoso”) era impossível uma mera com- • A culpabilidade é a reprovação social da conduta do
paração externa do fato concreto com a norma. Há a agente. O dolo e a culpa deixam de ser seus elementos
necessidade de um outro tipo de análise. e passam a integrar a conduta. A culpabilidade passa
• Assim concluiu-se que o tipo penal não era composto a ser normativa pura composta de: imputabilidade,
somente de elementos objetivos, mas havia a presença potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de
de elementos normativos e subjetivos. conduta diversa.
• A ilicitude não era puramente formal. Nasce o tipo do • O erro de tipo passa a excluir o fato típico e o erro de proi-
injusto: a tipicidade perde sua autonomia e é inserida bição a culpabilidade. Excluem também a culpabilidade,
na antijuridicidade (ratio essendi). a imputabilidade e a inexigibilidade de conduta diversa.
• Frank, em relação à culpabilidade, em 1907, descobriu • O atual Código Penal Brasileiro adotou a teoria finalista
a existência de elementos normativos. Assim a culpabi- da ação. Em seu art. 18, I e II, expressamente reconhece
lidade deixa de ser psicológica e passa a ser psicológico- que um crime é doloso ou culposo, desconhecendo a
-normativa. A culpabilidade passou a ser formada de nossa legislação a existência de um crime em que não
imputabilidade, dolo normativo (vontade, consciência haja dolo ou culpa.
de praticar elementos do tipo e consciência da ilicitude • O art. 20, caput, do CP, afirma que o erro incidente
real e atual) e exigibilidade de conduta diversa. Assim, sobre os elementos do tipo exclui o dolo, o que de-
os elementos normativos são: consciência da ilicitude monstra que este último pertence ao fato típico.
no dolo e a exigibilidade de conduta diversa. • Críticas: há três hipóteses em que o CP não é finalista:
• O erro de tipo continua sendo tratado como causa de a) Crime impossível: o CP adotou a Teoria Objetiva
excludente da culpabilidade. Da mesma forma a inim- temperada. Se houver absoluta ineficácia do meio
putabilidade, o erro de proibição e a inexigibilidade de ou do objeto, o fato será atípico. Todavia segundo
conduta diversa. a teoria finalista a ação dirigida a uma finalidade
• Nesta fase há uma teoria unitária do erro, pois tanto o (ex.: matar alguém) deve ser punida. Welzel adotou
erro de tipo como o erro de proibição excluem o dolo a Teoria Subjetiva, encontrada no CP Alemão, pois
que aqui é normativo, pois contém a consciência da se alguém tenta matar um cadáver responderá pelo
ilicitude. crime tentado.
• Assim, segundo a Teoria Neoclássica, descobriu-se que b) A pena da tentativa: o CP adotou a Teoria Objetiva,
o tipo penal continha elementos objetivos, normativos em que a pena da tentativa é menor que a pena do
e subjetivos, todavia não se transportou o dolo e a crime consumado. Segundo a Teoria Finalista de
culpa da culpabilidade para o fato típico. Welzel, a teoria a ser adotada deveria ser a Subje-
tiva, uma vez que se deve prestigiar o desvalor da
c) Teoria Finalista ação de não o desvalor do resultado. O Código Penal
• Reação a Teoria Naturalista. Preconizada por Hanz Militar Brasileiro adotou em relação a tentativa a
Welzel, no final de 1920 e início de 1930. Teoria Subjetiva.
• Welzel parte do pressuposto que o delito não poderia c) Concurso de pessoas: o CP adotou a Teoria Restritiva
ser mais qualificado a partir de um simples desvalor em que o mandante é considerado partícipe. Para
do resultado, sendo primeiro um desvalor da conduta. Welzel a teoria a ser adotada é a Teoria do Domínio
Segundo exemplo de Fernando Capez, matar alguém Final do Fato.
do ponto de vista objetivo, configura sempre a mesma
ação. Todavia matar alguém para vingar o estupro da d) Teoria Social da Ação
filha é diferente de matar por dinheiro. A diferença está • Preconizada por Hans-Heinrich Jescheck, afirma aceitar
no desvalor da ação, já que o resultado em ambos os a Teoria Finalista da Ação, todavia acrescentado a ela
casos foi o mesmo: a morte. a visão do impacto social da conduta praticada.
• Para Jescheck, um fato quando for considerado por
Noções de Direito Penal

• Assim dependendo de elemento subjetivo do agente,


ou seja, a sua finalidade mudará a qualificação jurídica uma sociedade como normal, correto e justo, não
do crime. Portanto o dolo e a culpa estão na própria poderá ao mesmo tempo ser enquadrado como um
conduta. Com a mera observação externa não se pode fato típico.
concluir qual crime foi praticado. Ex.: um médico apal- • Assim, para Jescheck, a conduta é toda ação ou omis-
pa um a mulher despida. Sem a análise da finalidade são com a finalidade de causar um resultado típico
não é possível saber se estamos diante do tipo penal socialmente relevante. Tal pensamento foi por ele
de atentado violento ao pudor ou de um simples exa- denominado de Teoria da Adequação Social.
me, fato atípico. Da mesma forma em atropelamento, • Para esta teoria, todo fato típico possui uma elementar
não se sabe se decorreu de uma imprudência ou da implícita, não escrita, que consiste na repercussão do
vontade de matar. dano na coletividade. Se a conduta for socialmente
• A conduta, portanto é conceituada como a ação ou aceita, não há que se falar em fato típico.
omissão voluntária, voltada a uma finalidade do agente. • Atenção: não confundir adequação social com princípio
• O dolo e a culpa saem da culpabilidade e passam a da insignificância: este o fato é atípico porque o bem
integrar a conduta. O dolo deixa de ser normativo e jurídico tutelado sofreu uma lesividade ínfima na ade-

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quação social a conduta é atípica porque a sociedade da vigência da norma e da estabilidade do Direito
deixou de considerá-la injusta. Penal. Não se deve preocupar-se com o conteúdo da
• Portanto, para a Teoria Social da Ação, somente será norma, mas, sim, com o seu cumprimento, de forma a
crime aquelas condutas voluntárias que produzam re- manter a estabilidade do sistema. Assim, o crime não
sultados típicos de relevância social. As ações humanas tem a finalidade de proteção a bens jurídicos, e sim,
que não produzirem um dano socialmente relevante e conservar o sistema e a norma. Aquele que descumpre
se mostrarem ajustadas à vida social num determinado a norma e pratica um crime desestabiliza o sistema e
momento histórico não podem ser consideradas crimes. deve ser retirado dele. A finalidade da pena é exercitar
• Jescheck exemplifica a sua teoria: ferimentos produzi- a confiança despertada pela norma, não havendo que
dos em uma luta entre profissionais do boxe. A conduta se falar em aspecto retributivo. É o chamado Direito
a despeito de ser voluntária e finalística produz um Penal do Inimigo.
resultado típico e aceito socialmente. Assim, conclui
que se trata de um fato atípico. f) Teoria Constitucionalista do Delito (Luiz Flávio Gomes)
• Críticas • Luiz Flávio Gomes, baseado em Munhoz Conde e Silva
a) Mutação de critérios de justo e injusto na evolução Sanches (doutrinadores espanhóis) constrói um con-
dos costumes. ceito analítico tripartite. Ele chama o crime de injusto
b) O nosso ordenamento jurídico no art. 2º da LICC punível. Para ele, a Teoria Geral do Crime, ou melhor,
afirma que o costume, ainda que contrário à lei, não do injusto punível consiste em:
a revoga. Da mesma forma, não é dado ao julgador • INJUSTO PUNÍVEL = FATO TÍPICO + ILÍCITO + PUNIBILI-
revogar regras editadas pelo legislador. O desuso DADE ABSTRATA.
deve compelir o legislador a retirar a norma do • Fato típico é: conduta, resultado, nexo causal e tipicida-
ordenamento jurídico. de penal. A TIPICIDADE PENAL = TIPICIDADE FORMAL
c) O termo “relevância social” é extremamente vasto, + TIPICIDADE MATERIAL. A tipicidade formal é a ade-
podendo abarcar fenômenos diversos. quação do fato a lei. A tipicidade material é: Existência
d) O nosso ordenamento jurídico prevê para diversas de um resultado jurídico (lesão ou perigo de lesão ao
situações o estrito cumprimento do dever legal e o bem jurídico); Imputação objetiva da conduta (criação
exercício regular do Direito. de um incremento de um risco proibido penalmente
e) Concentra enorme subjetivismo nas mãos do julga- relevante); Imputação objetiva do resultado (cone-
dor, o que gera uma enorme insegurança e contraria xão direta com o risco criado e esteja o resultado no
o princípio da taxatividade. âmbito de proteção da norma); Imputação subjetiva
f) Conclui-se, portanto, que a Teoria Social da Ação (dolo e culpa e outros eventuais requisitos subjetivos
pretendeu ir além da Teoria Finalista, todavia ao especiais).
• Ilicitude: é a contrariedade da conduta com o ordena-
privilegiar o resultado socialmente relevante, regre-
mento jurídico.
diu a Teoria Causalista, pois enfatizou o desvalor do
• Punibilidade abstrata: existência de um fato formal-
resultado deixando de lado o desvalor da ação.
mente ameaçado por uma pena.
• A culpabilidade está fora do Direito Penal. É o juízo de
e) Teoria Funcional
reprovação do agente. É o elo entre o delito e a pena.
• Não se trata de uma Teoria da Conduta, e sim, de uma
análise de toda a Teoria Geral do Crime. Tal teoria tenta Passemos a analisar cada uma das partes do conceito de
explicar o Direito Penal a partir de suas funções. Há conduta: “é a ação ou omissão, consciente e voluntária, mani-
duas concepções em relação a essa teoria: segundo festada no mundo exterior, dirigida a uma finalidade”. (CAPEZ).
Roxin e segundo Jakobs.
• Com Roxin, em 1970, nasce o funcionalismo teleoló- 1) Ação: comportamento positivo. Toda ação no Direito
gico, que analisa a Teoria Geral do Crime não a partir Penal deve ser revestida de dolo ou culpa.
da dogmática e do tecnicismo jurídico, e sim, a partir 2) Omissão: o comportamento negativo pode gerar duas
de políticas criminais. hipóteses de crime:
• O Estado deve, em primeiro lugar, estabelecer qual • Crime omissivo próprio: inexiste o dever jurídico de agir.
a sua estratégia de política criminal, tendo em vista Assim para a omissão ter relevância causal com o resul-
a defesa da sociedade, o desenvolvimento pacífico e tado deve haver um tipo incriminador descrevendo a
harmônico entre os cidadãos e a aplicação da justiça omissão. Ex.: crime de omissão de socorro, art. 135 CP.
ao caso concreto. A subsunção formal do fato concreto • Crimes omissivos impróprios (omissivos impúrios,
e a norma pouco valem aos fins de Direito Penal. espúrios ou comissivos por omissão): o agente possui
• A conduta para essa teoria não pode ser entendida o dever jurídico de agir previsto em uma norma e se
somente em sua concepção finalista, mas inserida
Noções de Direito Penal

omite. Há uma norma dizendo o que deve ser feito,


dentro de um contexto social. Se o Direito Penal tem criando uma relação causal. Omitindo-se, responderá
a função de proteger bens jurídicos, somente haverá pelo resultado ocorrido. O art. 13 § 2º descreve quem
crime quando tais valores forem lesados ou expostos são as pessoas que possuem o dever jurídico de agir:
a lesão. a) Dever legal: quando houver determinação especí-
• Assim, Roxin passa a considerar a Teoria Geral do Crime fica em lei, ex.: pai, mãe, policial, bombeiro – mãe
a partir de dois aspectos: a separação da causação deixa de amamentar o filho e este morre.
da imputação e aplicação da política criminal como b) Dever do garantidor: quando o omitente assumiu
norteadora do conceito de crime. por qualquer modo a obrigação de agir, podendo ser
• CRIME = FATO TÍPICO + ILÍCITO + RESPONSABILIDADE obrigação contratual ou extracontratual. Ex.: olha
(CULPABILIDADE e NECESSIDADE CONCRETA DA PENA). meu filho para mim que eu vou dar um mergulho,
• É a aplicação do princípio da insignificância. e a pessoa se distrai e a criança morre afogada.
• Com Jakobs, em 1984, nasce o funcionalismo-sistêmi- c) Dever por ingerência da norma: com o seu compor-
co, em que afirma que o Direito Penal não existe para tamento anterior criou o risco. Ex.: “A” joga “B” na
simples proteção do bem jurídico. Sua função é cuidar piscina e não procura salvá-lo, vindo “B” a falecer.

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Nos três exemplos, a mãe, o desconhecido e o “A” têm Nexo de causalidade: assim como no resultado, o nexo
o dever jurídico de agir, e se omitiram, respondendo, então, causal só pode ser verificado nos crimes materiais. É a re-
pelo resultado ocorrido, qual seja a morte, e, portanto, pelo lação objetiva de causa e efeito existente entre a conduta
crime de homicídio, e não pelo crime de omissão de socorro. e o resultado naturalístico, averiguando-se se a conduta foi
Para finalizar o entendimento, observe o exemplo a se- a causadora do resultado. A sua verificação atende apenas
guir: Maria está passeando no parque e avista uma criança se as leis da física, mais especificamente da causa e efeito. Por
afogando, e nada faz, vindo a criança a morrer. Como Maria esta razão a sua aferição independe de qualquer apreciação
não está relacionada entre as pessoas que têm o dever jurí- jurídica, da verificação de dolo ou culpa. Ex.: motorista diri-
dico de agir, responderá pelo crime de omissão de socorro gindo prudentemente atropela pedestre que atravessa a rua
qualificado pela morte, classificado como crime omissivo sem olhar. Mesmo sem atuar com dolo ou culpa o motorista
próprio. Todavia, se um bombeiro avista uma criança se deu causa ao resultado. A teoria adotada pelo nosso CP é a
afogando, e nada faz, vindo a criança a morrer, como há o Teoria da Equivalência dos Antecedentes Causais: segundo
dever jurídico de agir, responderá o bombeiro pelo resultado essa teoria, toda e qualquer conduta que de algum modo,
ocorrido, ou seja, pelo crime de homicídio, classificado aqui ainda que minimamente tiver causado o resultado, será
como crime omissivo impróprio. causa. É também conhecida como a Teoria da conditio sine
qua non. Temos como espécies de causas: dependentes: é
aquela que se origina na conduta e independentes: é aquela
Crimes Omissivos Crimes Omissivos que foge ao desdobramento causal da conduta, produzindo
Próprios Impróprios por si só o resultado. As causas ou concausas absolutamente
Omissão prevista no tipo Omissão não prevista no independentes e as causas relativamente independentes
penal. tipo penal. constituem limitações ao alcance da teoria da equivalência
Agente não tem o dever Agente tem o dever jurídico das condições. Quanto às causas independentes podemos
jurídico de agir. de agir. classificá-las em:
Crime de mera Conduta. Crime Material.
a) Causas absolutamente independentes podem ser
Não cabe tentativa nem Comporta tentativa. Não com- (exemplos segundo CAPEZ):
concurso de agentes. porta concurso de agentes. • Preexistente: existe antes da conduta ser praticada
e atua independentemente de seu cometimento de
3) Consciente e Voluntária: possibilidade, ainda que maneira que com ou sem ação o resultado ocorreria.
mínima de escolha consciente. Ex.: A aguarda B sair de casa para atirar nele. A atira
• Haverá vontade: atos impulsivos (emoção e paixão), e B morre. Causa da morte envenenamento ocorrido
atos automáticos, atos de inimputáveis, coação moral anteriormente. B estava com depressão e tomou ve-
irresistível (há conduta o que não há é culpabilidade), neno.
atos instintivos. • Concomitante: não tem qualquer relação com a con-
• Não haverá vontade: atos inconscientes (sedado, hip- duta e produzem o resultado independentemente
notizado, sonâmbulos), atos reflexos (susto), atos de desta, no entanto por coincidência, atuam no mesmo
caso fortuito, força maior e coação física. momento. Ex.: no momento que A atira em B, B está
sofrendo um infarto. Causa mortis: infarto.
4) Manifestado no mundo exterior: ao Direito, só importa • Superveniente: atuam após a conduta. Ex.: A queren-
o que é externado. O pensamento ou a mera vontade não do matar B coloca veneno em seu copo. B toma e sai
configuram crime. para trabalhar. Antes que o veneno faça efeito, B ao
5) Dirigida a uma finalidade: segundo a Teoria Finalista atravessar a rua é atropelado por um ônibus. Causa
da Ação, adotada por nosso Código Penal, o dolo e a culpa mortis: atropelamento.
encontram-se na conduta.
Consequências: rompe o nexo causal e o agente somente
Resultado: é a modificação do mundo exterior decor- responde pelos atos até então praticados. Nos três exem-
rente de um comportamento, ou seja, é onde se chegou plos, A não deu causa à morte de B, portanto responde por
devido à conduta delituosa. A Teoria Naturalística classifica homicídio tentado.
os crimes em:
• Crimes materiais: é aquele que o tipo penal prevê b) Causas Relativamente Independentes
conduta e resultado e o crime se consuma com a ocor- São elas:
rência do resultado. Ex.: homicídio (a conduta é matar • Preexistente: atuam antes da conduta. Ex.: A desfere
e o resultado é a morte. O crime somente se consuma uma facada no braço de B, com o intuito de lesionar,
com o resultado morte). todavia B é hemofílica e vem a falecer em face da
Noções de Direito Penal

• Crime formal: é aquele que o tipo penal prevê conduta conduta somada à contribuição de seu peculiar estado
e resultado e o crime se consuma com a ocorrência da fisiológico.
conduta. Ex.: extorsão mediante sequestro. São tam- • Concomitante: A atira na vítima que, com o susto, sofre
bém chamados de crimes incongruentes (a conduta é um ataque cardíaco e morre. O tiro provocou o susto
a privação da liberdade, o resultado é a obtenção do e, indiretamente, a morte. A causa da morte fora a
resgate. Assim, com a privação da liberdade o crime parada cardíaca.
já se consuma, independentemente da obtenção do • Superveniente: A colide no carro de B, causando-lhe
resgate, sendo este chamado exaurimento do crime). lesões. No caminho do hospital, a ambulância capota
• Crime de mera conduta: é aquele que o tipo penal e B morre.
somente prevê a conduta e com a sua prática ocorre Obs.: em relação às causas relativamente indepen-
a consumação. Não há previsão de um resultado natu- dentes, preexistentes e concomitantes, não rompem o
ralístico. Ex.: porte ilegal de arma (a conduta é portar nexo causal , respondendo o autor pelo resultado ocor-
arma sem possuir a permissão para tanto. O crime não rido: Homicídio Consumado. Na causa superveniente,
prevê resultado, consumando-se, assim, com o simples se ela estiver na linha de desdobramento físico da ação
porte de arma ilegal). (choque anafilático), responderá pelo crime na forma

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consumada, caso contrário, se não estiver na linha de nenhuma justificativa, faz surgir a ideia do injusto (injusto
desdobramento (ambulância capotar), responderá penal ou injusto típico), que é a terceira fase da análise do
pelo crime ocorrido em sua forma tentada. delito. Enquanto os adeptos da Teoria dos Elementos Nega-
tivos do tipo afirmam que a tipicidade e a antijuridicidade
Tipicidade: em linhas gerais, a tipicidade nada mais é do compõem a mesma fase do delito e a culpabilidade compõe a
que a perfeita subsunção da conduta praticada pelo agente a segunda fase do crime, para a concepção tripartite bem como
um tipo penal incriminador. Em outras palavras, procura-se para a Teoria da Ratio Cognoscendi (ou Teoria Indiciária),
verificar se a conduta do agente se amolda a alguma descri- que é a que tem preferência da maioria dos doutrinadores,
ção trazida pela lei penal. Se a conduta é contrária à norma haveria três fases do crime: a tipicidade, a antijuridicidade
penal, ou seja, antinormativa, ter-se-á a chamada tipicidade e a culpabilidade, esta sendo entendida como injusto típico
formal. Se a conduta ofender a bens considerados relevan- ou injusto penal.
tes para a legislação penal, ter-se-á a chamada tipicidade Em síntese, o  modelo clássico do finalismo de Hanz
material. Ao somatório de tais tipicidades, dá-se o nome de Welzel não se afasta da Teoria Indiciária, pelo contrário,
tipicidade conglobante. prevalece em detrimento da Teoria dos Elementos Negativos
do Tipo, uma vez que a tipicidade opera como um desvalor
Tipicidade conglobante = Tipicidade formal + Tipicidade provisório, que deve ser configurado ou descartado mediante
material. a comprovação de causas de justificação, em que o tipo nada
• Tipicidade formal: verifica-se se a conduta praticada mais é do que a razão indiciária da ilicitude (GRECO).
amolda-se a um tipo penal. Em outras palavras, a  tipicidade poderia ser definida
• Tipicidade material: verifica-se se a conduta praticada como a subsunção do fato à norma. É a integral correspon-
ofende a bens considerados relevantes para a legisla- dência do fato praticado com a conduta prevista no tipo
ção penal. penal. É a relação entre o fato e a descrição legal. Segundo
Zaffaroni, o tipo penal é um instrumento legal, logicamente
Ex.: “A” subtrai uma caneta de “B”. A conduta de sub- necessário e de natureza predominantemente descritiva,
trair um patrimônio alheio amolda-se ao crime de fur- que tem por função a individualização de condutas humanas
to, portanto, temos a tipicidade formal. Todavia, a sub- penalmente relevantes.
tração de uma caneta, lesiona de forma insignificante A tipicidade conglobante seria a tipicidade formal asso-
o patrimônio alheio, aplicando-se, assim, o princípio ciada à tipicidade material.
da insignificância. Portanto, temos no exemplo acima Tipicidade formal (ou tipicidade legal) seria a subsunção
a tipicidade formal, mas não a material, e então, não do fato à norma penal, ou seja, seria o ato antinormativo; já a
há que se falar em tipicidade conglobante, tendo em tipicidade material deve se atentar para a relevância do bem
vista que esta é a somatória daquela. jurídico lesado do caso concreto, a fim de que se aplique o
princípio da insignificância.
O tipo penal passa por três momentos distintos: no O tipo penal pode ser básico ou derivado. Básico será
primeiro, procura-se, tão somente, verificar se a conduta o tipo descrito na conduta proibida ou imposta pela lei
praticada pelo agente encontra-se descrita na norma penal; penal. Ex.: homicídio simples. Derivado são as descrições
no segundo, procura-se verificar se a conduta praticada pelo complementares por circunstâncias que podem aumentar
agente tem comportamento ilícito, ou seja, procura-se veri- ou diminuir a pena prevista para o tipo básico. Ex.: homicídio
ficar se o caráter da conduta tem indício de antijuridicidade privilegiado, homicídio qualificado etc.
(tipo como ratio cognoscendi – tipo como razão indiciária Também é relevante mencionar as chamadas elemen-
da ilicitude); no terceiro, há uma fusão entre a tipicidade e tares do crime. Segundo Greco, elementares são figuras
a antijuridicidade, ou seja, não existe fato típico se a con- essenciais da conduta tipificada, sem as quais podem ocorrer
duta praticada pelo agente é permitida pelo ordenamento duas formas de atipicidade: absoluta ou relativa. A absoluta
jurídico. Sendo assim, quem atua de forma típica também ocorre quando, pela falta da elementar, o fato se torna um
atua antijuridicamente, enquanto não houver uma causa indiferente penal. Ex.: furtar coisa própria, pensando ser de
de exclusão do injusto. Havendo causa justificativa, elas outrem. Neste caso o agente não pratica furto, por lhe faltar
atingem não só a tipicidade da conduta, mas, também, a elementar “coisa alheia móvel”, prevista no tipo. A relativa
a antijuridicidade. No terceiro momento o tipo passa a ser passa a existir quando, pela ausência da elementar ocorre
a razão de ser da ilicitude (ratio assendi). Em decorrência desclassificação do fato para uma outra figura típica. Ex.: mãe
da ratio assendi surge a teoria dos elementos negativos do que mata o próprio filho, logo após o parto, sem estar sob
tipo, ou seja, sempre que a conduta do agente não é ilícita influência do estado puerperal. Nessa situação, ela não irá
não existe o próprio fato típico, tendo em vista que a anti- responder por infanticídio, mas, por homicídio.
juridicidade integra o tipo penal e a existência de causas de Em síntese, a atipicidade absoluta é um indiferente pe-
justificação faz desaparecer a tipicidade. Em outras palavras, nal, enquanto que a atipicidade relativa é a desclassificação
Noções de Direito Penal

os pressupostos das causas de justificação nada mais são do do crime.


que elementos negativos do tipo, os quais, quando faltarem,
tornam-se possível fazer um juízo definitivo sobre a antiju- Crime Doloso
ridicidade do fato. Os elementos negativos do tipo são as
causas de justificação, uma vez que eles integram o tipo e só O dolo é a vontade livre e consciente de realizar a conduta
permitem que ele opere quando ausentes no caso concreto prevista no tipo penal incriminador. Nos termos do CP, a carac-
(GRECO). Partindo-se do pressuposto de que se deve estudar terização de uma conduta dolosa prescinde da consciência ou
a conduta típica concomitantemente com as suas causas jus- do conhecimento da antijuridicidade dessa conduta e requer
tificativas, surge a Teoria Finalista de Welzel afirmando que apenas a presença dos elementos que compõem o tipo ob-
uma ação só pode ser convertida em um delito, se presentes jetivo. No Brasil, duas teorias são adotadas para explicá-lo: a
a tipicidade, a antijuridicidade e a culpabilidade, sendo que Teoria da Vontade, que define o dolo direto, ou seja, aquele
cada elemento seguinte deve pressupor o antecedente. Para em que o agente quer levar a efeito a conduta prevista no tipo
a Teoria dos Elementos Negativos do Tipo, ou o fato é típico incriminador; e a Teoria do Assentimento (ou consentimento),
e antijurídico, ou não é nenhuma coisa e nem outra. A partir que define o dolo eventual, ou seja, aquele em que o agente
do instante em que o agente realiza uma conduta típica sem não quer diretamente o resultado, mas o aceita de antemão.

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Aqui, atua com dolo aquele que, antevendo como possível o culposo. Cada um responde pela sua culpa, pela sua parcela
resultado lesivo com a prática de uma conduta, mesmo não de contribuição para o risco criado. A jurisprudência admite
o querendo de forma direta, não se importa com a sua ocor- coautoria em crime culposo, mas tecnicamente não deveria
rência, assumindo o risco de vir a produzi-lo. ser assim, mesmo porque a coautoria exige uma concordân-
Também chamado intencional, o dolo é a vontade livre cia subjetiva entre os agentes (Luiz Flávio Gomes).
e consciente de realizar a conduta prevista no tipo penal
incriminador. Para Welzel, o dolo possui dois momentos, Observações
sendo um intelectual (o sujeito decide o que quer) e um Faz-se mister ressaltar que a punição por dolo é a regra,
volitivo (o sujeito decide fazer o que queria). mas admite-se sanção por culpa. É caso excepcional, uma vez
Para o Código Penal, ninguém pode ser punido por um que ela só é admissível quando a lei textualmente a prevê.
fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosa-
mente, exceto se tal modalidade vier prevista em lei admitin- Vários são os elementos que compõem o delito culposo.
do a punição na forma culposa. Em outras palavras, a regra São eles:
é que todo crime é doloso, só podendo haver punição por • conduta humana voluntária, seja ela comissiva ou
crime culposo se houver previsão expressa em lei, ou seja, omissiva (geralmente dirigida a uma finalidade lícita);
a culpa é exceção. • inobservância de um dever objetivo de cuidado (de-
Partindo dessas premissas, sinteticamente, dois seriam corrente de imprudência, negligencia ou imperícia,
os tipos de dolo: causando, por consequência, danos a bens de terceiros);
a) direto (determinado): o agente quer, efetivamente, • resultado lesivo não querido nem assumido pelo
cometer a conduta descrita no tipo penal incriminador, livre agente (é necessário que cause resultado naturalís-
e conscientemente. Aqui, se adotada a Teoria da Vontade. tico, ou seja, alteração no mundo exterior para que
Exemplo: A atira em B, porque quer matá-lo. seja penalmente relevante)20;
b) indireto (indeterminado): divide-se em: • nexo de causalidade (o resultado só será imputado ao
1) dolo eventual: embora o agente atue sem a vontade agente se a sua conduta lhe tiver dado causa);
de efetivamente causar o resultado danoso, assumiu o risco • previsibilidade (previsível é o resultado quando puder
de fazê-lo. Aqui, encontra-se o dolo eventual, aquele em que ser mentalmente antecipado por normal diligência do
o agente assume o risco e antevê o resultado, mas tem dúvida agente). Observe que se o agente não puder prever
quanto a sua efetivação. Adota-se a Teoria do Assentimento aquilo que é previsível, tem-se a culpa inconsciente,
(ou Consentimento). Exemplo: A quer tirar um racha com B visto que, no caso da culpa consciente, o agente é capaz
e acaba por atropelar e matar C. A vontade de A era tirar um de prever que o resultado possa ocorrer, mas acredita
racha, mas assumiu o risco de atropelar e matar C. sinceramente que não ocorrerá. A Doutrina divide a
2) dolo alternativo: o agente dirige a sua ação a resultado previsibilidade em objetiva e subjetiva. A objetiva
se refere a saber se é possível a uma pessoa comum
incerto, não lhe importando qual venha ser o alcançado.
prever o resultado naturalístico, pois, caso não seja
Exemplo: o agente atira para matar ou ferir a vítima.
possível, ou seja, se qualquer homem comum agisse
da mesma forma, não poderia ser imputado ao agente
Crime Culposo
o resultado. Já na previsibilidade subjetiva não se faz
a substituição pelo homem médio. O que se analisa
Também dito quando não há intenção. No delito culposo, são as condições pessoais, particulares às quais estava
a conduta do agente é dirigida, em regra, a um fim lícito. submetido o agente ao tempo da conduta realizada,
Enquanto que no delito doloso, pune-se o agente pela ação ou seja, consideram-se as limitações e experiências
impulsionada para uma finalidade ilícita, no culposo, visto ser pessoais do agente no caso concreto (GRECO);
a finalidade geralmente lícita, pune-se o agente pelos meios • tipicidade (deve haver previsão legal expressa para tal
empregados, já que desatendeu à obrigação objetiva de cui- modalidade de infração).
dado para não lesar a bens jurídicos de terceiros (GRECO).
Já Mirabete define delito culposo como a conduta humana Os crimes culposos decorrem de três fatores:
voluntária que produz resultado antijurídico não querido, a) imprudência (ação descuidada): prática de ato que
mas previsível, e excepcionalmente previsto, que podia, não deveria ter ocorrido. É o desprezo pela conduta normal
com a devida atenção, ser evitado. Os crimes culposos, por (conduta positiva sem os devidos cuidados, que causa resul-
sua natureza, são considerados tipos penais abertos, tendo tado lesivo previsível ao agente). É exteriorizada em um fazer.
em vista que o texto não traz uma definição precisa que se Exemplo: dirigir em alta velocidade. Outro exemplo: João, que
adéque à conduta do agente ao modelo abstrato previsto nunca usou uma arma de fogo, manuseia uma e acaba por
na lei. Aqui, a ação típica não está determinada legalmente, dispará-la, matando José, que a tudo assistia ao seu lado.
contudo, não fere o princípio da legalidade, pois, impossível Ao fazer isso, pratica uma conduta culposa imprudente.21
é que a lei possa descrever com exatidão todos os compor- b) negligência: deixar de praticar um ato que deveria
Noções de Direito Penal

tamentos negligentes suscetíveis de se realizar. ter sido praticado. Falta o comportamento esperado do
No Direito Penal não existem compensação e nem agente (conduta negativa, uma omissão). É considerada uma
presunção de culpas. O primeiro caso ocorre quando dois inércia psíquica. Ex.: esquecer arma municiada em local de
agentes, agindo de forma culposa, causam danos recíprocos, fácil acesso;
neste caso, cada agente responderá por sua conduta culposa, c) imperícia (falta de conhecimento técnico): prática de
independentemente da conduta do outro. No segundo caso, um ato sem a devida aptidão, seja ela momentânea ou não.
a culpa do agente deve ser sempre provada e nunca presu- Há, nesse ato praticado, imprudência e negligência. Exemplo:
mida, tendo em vista o princípio da presunção de inocência. médico-cirurgião que comete um erro médico durante uma
Parte da doutrina tradicional e da jurisprudência brasi- cirurgia. Observe que a imperícia está ligada a uma atividade
leira admite coautoria em crime culposo. Quanto à partici- profissional do agente.
pação, a doutrina é praticamente unânime: não é possível
nos crimes culposos. A verdade é que a culpa (como infração Diferença entre Dolo Eventual e Culpa Consciente
do dever de cuidado ou como criação de um risco proibido
relevante) é pessoal. Doutrinariamente, portanto, também Em ambos os casos, o agente é capaz de prever o resultado
não é sustentável a possibilidade de coautoria em crime lesivo. No dolo eventual, o agente não queria diretamente o

11
resultado, mas assume o risco de vir a produzi-lo. Ele não se erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.
importa que o resultado ocorra. A ele é indiferente. Já na cul- A culpa imprópria ocorre sob a forma de descriminante pu-
pa consciente, o agente espera sinceramente que não ocorra tativa, como, por exemplo, a legítima defesa putativa, que
o resultado. Na culpa consciente há superconfiança; no dolo constitui erro de tipo permissivo. A culpa imprópria também
eventual, indiferença. Havendo dúvida na ocorrência de um ou pode ser chamada culpa por assimilação, por extensão ou
outro, deve-se optar pelo culposo (Princípio do in dubio pro reo). por equiparação, onde o agente age com dolo, quando o
erro é vencível, respondendo por um crime culposo. Parte
Culpa Imprópria da Doutrina entende que se o ato é doloso, mas o crime é
culposo, seria uma exceção no cabimento de tentativa em
É aquela em que o agente por erro de tipo inescusável
(evitável) supõe estar diante de uma causa excludente de crime culposo, contudo, o entendimento majoritário é que
licitude. Em virtude de erro evitável pelas circunstâncias, não se admite tentativa para os delitos culposos, tendo em
o agente dá causa dolosamente a um resultado, mas res- vista que o primeiro elemento da tentativa é o dolo, àquele
ponde como se tivesse praticado um delito culposo. É  a definido como a vontade livre e consciente de querer praticar
chamada descriminante putativa prevista no art. 20, § 1º, infração penal. Como nos crimes culposos o agente não tem
do CP, em que traz que não há isenção de pena quando o em sua conduta um fim ilícito, não cabe tentativa.

Dolo Direito Dolo Eventual Culpa Inconsciente Culpa Consciente


O agente prevê o resul- O agente prevê o resultado O agente possui previsibilidade, todavia O agente tem previsão do resul-
tado e quer o resultado. e assume o risco de produ- diante do caso concreto há ausência de tado, mas em momento algum
zir o resultado. previsão e o agente em nenhum mo- aceita a produção do resultado.
mento quis produzir o resultado.

Crime Consumado denominado de tentativa idônea. O agente tem noção do que


quer, inicia sua prática a fim de obter o resultado típico, mas
Consumado é quando nele se reúnem todos os elemen- não consegue por algum fato alheio.
tos de sua definição legal. Iter criminis é o caminho percorrido Como regra, a pena para o crime tentado é a mesma do
pelo crime desde sua idealização até sua consumação. Cinco crime consumado reduzida de um a dois terços.
são as fases do iter criminis:
• cogitação (cogitatio ): é a fase interna ao agente. São A tentativa pode ser:
os pensamentos, as maquinações; • perfeita ou acabada: também conhecida como crime
• preparação (atos preparatórios): é munir-se de ape- falho. Dá-se quando o agente pratica todos os atos
trechos, ou seja, é a escolha dos meios utilizáveis na executórios, mas não se consuma o crime por questões
produção do resultado; alheias à sua vontade. Observe que aqui ele esgota
• execução: o bem jurídico tutelado começa a ser atin-
toda sua capacidade ofensiva, porém o crime não se
gido ou exposto a perigo. Coloca-se em prática aquilo
que se programou; consuma. Ex.: desferir todos os tiros de que dispõe
• consumação: é a realização de todos os atos contidos contra a vítima, mas esta não vem a óbito;
no tipo penal. Normalmente o agente atinge o resul- • imperfeita ou inacabada: ocorre quando não são
tado a que se quis chegar; praticados todos os atos executórios, que são inter-
• exaurimento: é quando se esgota plenamente o delito. rompidos, geralmente por circunstâncias externas. Ex.:
o agente inicia atos de execução do crime de estupro,
Obs.: o exaurimento, de acordo com a doutrina domi- mas, quando chega a polícia, ele empreende fuga;
nante, é fase do iter criminis, embora, para muitos, não • branca ou incruenta: a vítima sequer é atingida, não
se enquadra, haja vista a possibilidade da consumação do sofrendo qualquer dano. Não resulta nenhum tipo
crime sem o seu exaurimento, fato verificado nos crimes de lesão na vítima. Ela pode ser verificada tanto na
formais, como, por exemplo, o crime de extorsão, que se tentativa perfeita quanto na imperfeita;
consuma mesmo que o autor não receba a vantagem inde- • cruenta: a vítima é atingida, mas não da forma que
vida. O recebimento da vantagem indevida, aqui menciona- pretendia o agente. Ex.: o agente, com animus necandi
do, seria mero exaurimento. Só há se falar em iter criminis (vontade de matar), dispara vários tiros, não mata a
quando se tratar de delito doloso, não existindo quando a vítima, mas lhe causa lesões. Também se verifica na
conduta do agente for culposa. tentativa perfeita e imperfeita;
• inidônea: também denominada crime impossível.
Em princípio, não há punição para a preparação. Excepcio- Verifica-se quando iniciada a execução, o crime jamais
Noções de Direito Penal

nalmente, haverá se se tratar de formação de quadrilha ou crime se consumaria por ineficácia absoluta do meio (como
independente. Observe que a cogitação e preparação são fases usando arma desmuniciada para matar alguém) ou
internas de realização do crime e, como regra, são irrelevantes
por absoluta impropriedade do objeto (como tentando
para Direito Penal, exceto quando o CP tipifica a simples cogita-
matar uma pessoa que já se encontra morta, fato este
ção e preparação como infrações de per si, autônomas, ou seja,
não se trata de mero ato preparatório, mas de crime autônomo. desconhecido pelo agente).
Ex.: incitação ao crime; quadrilha ou bando etc.
Segundo o Mestre Guilherme de Souza Nucci, os crimes
Obs.: vale ressaltar que a cogitação jamais poderá ser ob- que não admitem tentativas , dentre outros, são: os culposos
jeto de repreensão penal (cogitationis poenam nemo patitur). (pois o resultado é sempre involuntário); os preterdolosos
(pois o resultado não advém de dolo. Ex.: lesão corporal
Crime Tentado seguida de morte, vez que deve haver dolo no antecedente
e culpa no consequente); unissubsistentes (pois são consti-
Crime tentado é aquele que, iniciada a execução, não se tuídos de ato único, não admitindo iter criminis – fases pelas
consuma por motivos alheios à vontade do agente, também quais o crime passa, quais sejam: a cogitação, os atos prepa-

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ratórios, a execução, a consumação e o exaurimento), como,
por exemplo, a ameaça verbal, que se consuma quando o tentativa de tentativa de
homicídio homicídio
agente a profere e a vítima toma conhecimento da promessa
de um mau futuro, injusto e grave); omissivos próprios (pois
a omissão por si só configura o crime. Ex.: omissão de so-
corro); habituais próprios (pois só vai se configurar quando
A B
determinada conduta é reiterada pelo agente com habitu-
alidade. Ex.: rufianismo, uma vez que os atos isolados são
penalmente irrelevantes); contravenções penais (pois, por
se tratarem de delitos ditos menores, deixa de ser relevante
para o Direito Penal a mera tentativa); permanentes na forma
omissiva (pois não há iter criminis possível de diferenciar a
preparação da execução. Ex.: carcereiro que recebe um alvará C
de soltura e decide não dar cumprimento, deixando preso o
beneficiado. Aqui ele comete o crime de cárcere privado na A e B, desconhecidos, atiram em C, mas não
modalidade omissiva, sem possibilidade de fracionamento); é possível provar de onde saiu o tiro que
condicionados (pois, para que se concretizem, submetem- matou C. Sendo assim, leva-se em
-se à superveniência de uma condição. Ex.: o crime de consideração oo princípio
princípiodo
doin
indubio
dubiopro
proreu.
reu.
induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio, que somente
se configurará se houver lesão grave ou morte da vítima).
É de bom alvitre distinguir tentativa, de crime impossível.
Saliente-se que o CP adotou a Teoria Objetiva Moderada ou
Temperada pela qual só há crime impossível se a ineficácia do homicídio homicídio
meio e a impropriedade do objeto forem absolutas; por isso,
se forem relativas haverá crime tentado, como no caso de
alguém que faz uso de revólver e projéteis verdadeiros que, A B
entretanto, não detonam por estarem velhos; aqui, a inefi-
cácia do meio é acidental e existe tentativa de homicídio.
É salutar também relacionar a tentativa com o crime com-
plexo. É sabido que este se origina da fusão de dois ou mais tipos
penais. Também pode ocorrer quando um tipo penal funciona
como qualificadora de outro. Em outras palavras, pode-se afir-
mar que no crime complexo a norma penal tutela dois ou mais
bens jurídicos. Ex.: extorsão mediante sequestro, o qual surge C
da fusão do “sequestro” e da “extorsão” e, portanto, tutela
o patrimônio e a liberdade individual. Outro exemplo seria o A e B, conhecidos, atiram em C, após
latrocínio, que é um roubo qualificado pelo resultado morte e, combinarem o crime. Nesse caso, há o
assim, atinge também dois bens jurídicos, o patrimônio e a vida. concurso de pessoas, logo todos os
participantes respondem pelo mesmo crime.
Sendo assim, embora exista o questionamento, vê-se,
aqui, que é perfeitamente possível a existência da tentativa
em crime complexo.
Sinteticamente, tentado é o crime em que, iniciada a exe- Elementos da Tentativa:
cução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade
do agente. Veja a seguir quadros esquemáticos que tradu- a) conduta dolosa;
zem, na sua essência, uma sutil diferença entre um crime
b) prática de atos de execução;
tentado e um consumado, mesmo tendo sido o resultado
c) não consumação por circunstâncias alheias à vontade
almejado alcançado com a conduta delituosa.
do agente (por interrupção dos atos executórios ou, mesmo
tendo sido utilizados todos os meios disponíveis, não ocorreu
tentativa de o resultado pretendido).
homicídio homicídio
Consequência da Tentativa

A B Aplica-se a mesma pena do crime consumado, reduzida


Noções de Direito Penal

de 1/3 a 2/3.
Exceção: para o crime previsto no art. 352 do CP, em que
a simples tentativa de fuga do indivíduo preso ou submetido
à medida de segurança faz com que a pena seja aplicada
integralmente. Crime este em que a simples prática da ten-
tativa é punida com as mesmas penas do crime consumado.
É a chamada adequação típica de subordinação mediata ou
C indireta.

Crime Impossível (tentativa inidônea ou quase-crime)


A e B, desconhecidos, atiram
em C, mas o tiro que matou Segundo a legislação, não se pune a tentativa quando,
C foi o de A
por ineficácia absoluta do meio (quando totalmente inade-
quado ou inidôneo para alcançar o resultado criminoso) ou

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por absoluta impropriedade do objeto (o objeto material do precisa ser espontânea. O legislador não exige que a ideia
crime é absolutamente impróprio para que o ilícito se consu- da desistência parta espontaneamente do agente, basta
me), é impossível consumar-se o crime. Ineficácia absoluta que ele no momento em que interrompe a ação seja dono
do meio pode ser exemplificada quando se tenta ceifar a de sua vontade. Ocorre inação do agente após o início da
vida de alguém, utilizando-se de uma arma desmuniciada, execução do crime. Só pode ocorrer onde aconteceria a ten-
enquanto que absoluta impropriedade do objeto pode se tativa imperfeita. O agente só responde pelos atos até então
dar quando se tenta matar alguém que já está morto, sendo praticados. A desistência voluntária ocorre quando o agente
tal circunstância desconhecida pelo agente, ou mulher que já ingressou na fase dos atos de execução de um crime.
ingere pílulas abortivas, pensando estar grávida, quando na O objetivo do instituto é impedir que o agente responda pela
verdade não está. tentativa, portanto, quando se fala em o agente responder
Em outras palavras, quando não existe a possibilidade somente pelos atos já praticados, não se está falando de
de o crime se consumar devido à ineficácia absoluta do tentativa, tanto é, que se a conduta antecedente, por si só,
meio ou à absoluta impropriedade do objeto tem-se o não configurar crime, o agente por nada responderá. A de-
crime impossível. Aqui, o agente não responde sequer pela sistência voluntária se diferencia da tentativa, pois, nesta,
tentativa. Veja que a ineficácia ou a impropriedade devem o agente quer prosseguir na ação, mas não pode, enquanto
ser absolutas para que o agente não seja punido, pois, se naquela, o agente pode prosseguir na ação, mas não quer.
relativas, haverá tentativa. Segundo entendimento majoritário, a natureza jurídica da
Nessa situação, não há que se falar em tentativa, já que desistência voluntária, é que se trata de causa que conduz
a conduta é considerada atípica. à atipicidade do fato.
a) ineficácia absoluta do meio: meio é tudo aquilo uti- Segundo o ordenamento jurídico, o agente que volun-
lizado pelo agente capaz de ajudá-lo a produzir o resultado tariamente desiste de prosseguir na execução (interrompe
por ele pretendido. Ineficaz é aquele meio em que o agente o processo de execução que iniciara por medo, decepção
jamais conseguiria com a sua utilização atingir o seu intento. ou remorso) só responde pelos atos já praticados, se estes
Usar arma desmuniciada, quebrada ou de brinquedo para constituírem crime. Ex.: A põe veneno na xícara de café que B
praticar homicídio, acreditando que ela esteja em perfeito está utilizando. Porém, quando B vai tomar o café, A detém-
funcionamento; ministrar açúcar no lugar do veneno para -se abandonando a empreitada. Neste caso ele pode vir a
praticar homicídio, acreditando ser, por exemplo, arsênico. não responder por nada, já que a conduta, em tese, não
b) absoluta impropriedade do objeto (o objeto material constituiria crime. Seria também exemplo de desistência
não existe ou até existe, mas não está no local do delito): ob- voluntária alguém que, visando a seu desafeto em parte vital
jeto é tudo aquilo contra o qual recaia a conduta do agente. do corpo (cabeça, tórax), desfecha-lhe um tiro que apenas
Impropriedade absoluta do objeto se refere à impossibili- o fere levemente, e deixa de fazer novos disparos, embora
dade de se lesar o bem jurídico tendo em vista que ele não dispondo de outras munições em sua arma. Neste caso,
existe ou cuja lesão já se exauriu de forma absoluta. Matar o agente iria responder apenas pelos atos já praticados, ou
o morto (tentar contra a vida de alguém que já está morto seja, por lesões corporais leves.
acreditando que a pessoa esteja viva); usar pílula abortiva Segundo CAPEZ, para o item “desistência voluntária”,
acreditando que está grávida, quando na verdade não está. deve-se observar:
Obs.: o Código Penal adotou a Teoria Objetiva Temperada • voluntariedade, mas não se exige espontaneidade;
(os atos praticados pelo agente, só são puníveis se os meios • inação do agente após o início da execução do crime;
e os objetos são relativamente eficazes), pois, se a ineficácia • só pode ocorrer onde aconteceria a tentativa imper-
for absoluta, será crime impossível. Se relativa, será tentativa. feita;
Segundo a Súmula nº 145 do STF, “não há crime, quando • responde pelos atos até então praticados.
a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua
consumação”. Flagrante preparado é aquele em que o agente Arrependimento Eficaz
é induzido a praticar uma conduta delituosa, ou seja, se não
houvesse a ação do agente preparador (isca), não haveria Segundo o CP, só responde pelos atos já praticados o
o crime, pois, se o agente não tiver qualquer possibilidade agente que impede que o resultado se produza, depois de
de chegar à consumação do delito, o crime será impossível. realizados todos os atos necessários à consumação. Ex.:
Por fim, o crime impossível se difere do delito putativo. semelhante à conduta descrita no exemplo da desistência
No crime impossível, a conduta do agente é descrita em voluntária, mencionada anteriormente, porém, A deixa B
algum tipo penal, mas o resultado não ocorre por ineficácia tomar o café envenenado, mas, de imediato, ele o socorre e
absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto. B, por essa atitude, vem a se salvar. Ressalte-se que se mesmo
Já no delito putativo, a conduta não é descrita em qualquer assim B viesse a falecer, teria havido o arrependimento, mas,
tipo penal, tendo em vista que o agente acredita está prati- por não ter sido eficaz, responderia A por homicídio doloso.
Noções de Direito Penal

cando o crime, quando na verdade não está, por atipicidade Frise-se, ainda, que, se a paralisação se deveu a ações
da conduta, ou seja, o delito putativo é considerado apenas externas, não há que se falar em desistência voluntária
um indiferente penal, como, por exemplo, vender chá pen- ou arrependimento eficaz, mas em tentativa, que é puní-
sando ser maconha. vel. O  arrependimento eficaz, assim como a desistência
voluntária, possui como natureza jurídica, para a maior
Desistência Voluntária parte da doutrina, causa que conduz à atipicidade do fato.
Este instituto ocorre quando o agente, após esgotar todos
Também é conhecida por tentativa abandonada ou qua- os meios de que dispunha para chegar à consumação do
lificada (ou ponte de ouro). O agente desiste voluntariamente crime, arrepende-se e atua em sentido contrário, evitando
de prosseguir na execução. Ele não esgota sua capacidade a produção do resultado inicialmente pretendido. O que o
ofensiva. Exemplo: o agente ministra veneno à vítima, mas, diferencia da desistência voluntária reside no momento em
quando esta vai ingerir, ele mesmo impede que ela sequer que o agente interrompe a conduta que era direcionada
venha a fazer uso de tal substância, interrompendo, assim para a produção do ilícito penal. Enquanto na desistência
sua ação delituosa. A desistência é voluntária, mas não voluntária, o processo de execução do crime está em curso,

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no arrependimento eficaz a execução do crime já foi encer- O arrependimento posterior diferencia-se da desistência
rada. Dessa forma, o agente só irá responder pelos atos já voluntária e do arrependimento eficaz, pois, quando se fala
praticados, mas nunca pelo crime fim, na sua forma tentada. em arrependimento posterior, o resultado do delito já foi
Em suma, havendo desistência voluntária ou arrependimento atingido. A natureza jurídica do arrependimento posterior
eficaz, não se fala em tentativa. Pode-se concluir do referido é ser causa de diminuição de pena. Tal instituto tem por
instituto (arrependimento eficaz): o agente impede que o objetivo beneficiar o infrator para que ele, em contrapartida,
resultado se produza. Ele esgota sua capacidade ofensiva; venha a reparar o dano ou a restituir a coisa, beneficiando,
se, no exemplo apresentado, a vítima sobreviver, o agente também, a vítima. O referido instituto cabe para qualquer
pode responder por lesão corporal ou periclitação da vida e crime que não exista como elementar do tipo a violência ou
da saúde. Se a vítima não sobreviver, o agente responderá a grave ameaça contra a pessoa. Haverá, pois, arrependi-
por homicídio, mesmo prestando socorro; o arrependimento mento posterior:
deve ser voluntário, não necessitando ser espontâneo. Deve • somente para crimes em que não há emprego de
ser eficaz, pois, sendo ineficaz, poderá haver mera atenuante. violência ou grave ameaça à pessoa;
Trata-se de uma ação que ocorre após iniciada a execução • o agente deve reparar o dano ou restituir a coisa
e esgotados todos os seus meios. Só pode ocorrer onde totalmente antes do recebimento da denúncia ou
aconteceria a tentativa perfeita (ou crime falho). da queixa. Se depois, haverá apenas uma atenuante
Segundo Capez, para o item “arrependimento eficaz”, genérica (art. 65, III, b, CP);
deve-se observar: • o ato deve ser voluntário por parte do agente. Não
• voluntariedade, mas não espontaneidade; necessita ser espontâneo;
• deve ser eficaz. Se ineficaz, atenuante do art. 65, III, b • a pena será reduzida de 1/3 a 2/3;
do CP; • é um instituto que concede uma premiação àquele
• trata-se de uma ação, depois que iniciada a execução que ainda, em tempo, se arrepende da conduta típica
e esgotado todos os meios de execução; praticada.
• só pode ocorrer onde aconteceria a tentativa perfeita
ou crime falho; Se o delito foi praticado em concurso de agentes, mas
• responde pelos atos até então praticados. apenas um deles resolveu restituir a coisa ou reparar o dano,
antes do recebimento da denúncia ou queixa, por ato volun-
Situação tário, o benefício da diminuição de pena se estenderá a todos
Conduta Atitude Responde por
da Vítima os concorrentes do crime, porém, a reparação deve ser total
Veneno Socorro Volun- Salvação Atos praticados e não parcial. Entretanto, se houver uma conjugação com o
tário conformismo da vítima, poderá ser reconhecido o instituto
Veneno Socorro Volun- Morte Homicídio do arrependimento posterior.
tário O arrependimento posterior se difere do arrependimento
eficaz. Enquanto neste, o resultado do crime foi evitado, na-
Veneno Socorro Involun- Salvação Tentativa de Ho- quele, o resultado já foi produzido. Ainda, no arrependimento
tário micídio posterior, haverá diminuição de pena sob a condição de não ter
Veneno Socorro Involun- Morte Homicídio sido praticado o ilícito penal com violência ou grave ameaça
tário à pessoa, enquanto que no arrependimento eficaz não existe
tal restrição. Por fim, no arrependimento posterior, há uma
Obs.1: no caso de concurso de pessoas, ainda que um redução obrigatória de pena, enquanto que no arrependi-
só deles desista voluntariamente ou se arrependa, os insti- mento eficaz, o agente só responde pelos atos já praticados.
tutos da desistência voluntária ou do arrependimento eficaz Não se pode também confundir os efeitos produzidos
se aplicam a todos os envolvidos, desde que o crime não pelo arrependimento posterior com os benefícios da repa-
ocorra. O mesmo se aplica ao arrependimento posterior. ração dos danos previstos na Lei nº 9.099/1995, que trata
Observe que neste caso (arrependimento posterior) o crime dos juizados especiais criminais. Neste, não importa se o
já ocorreu. crime foi cometido com violência ou grave ameaça à pessoa,
pois, havendo a reparação dos danos, haverá extinção da
Obs.2: tanto na desistência voluntária quanto no arre-
punibilidade (art. 107, V, CP), enquanto que no arrependi-
pendimento eficaz o  agente não responde por tentativa,
mento posterior, além de o crime não poder ser praticado
mas pelos atos já praticados. Somente poderá responder
com violência ou grave ameaça à pessoa, não haverá ex-
por tentativa no caso do arrependimento eficaz, quando o
tinção da punibilidade, apenas causa de redução de pena.
socorro for involuntário.
Por fim, a causa de extinção da punibilidade prevista na Lei
Arrependimento Posterior nº 9.099/1995, aplica-se aos crimes de ação penal privada
Noções de Direito Penal

ou de ação penal pública condicionada à representação,


Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à exigência esta não relacionada ao arrependimento posterior.
pessoa (como no crime de furto, por exemplo), reparado o Segundo Fernando Capez, o Arrependimento Posterior
dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia é instituto que concede uma premiação àquele que ainda
ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será redu- em tempo se arrepende da conduta típica praticada. Tem
zida de um a dois terços. Note-se que alguns examinadores por Natureza jurídica uma causa de diminuição de pena.
trazem capciosamente a expressão “antes do oferecimento Estende-se aos coautores e partícipes.
da denúncia”, o que tornaria a questão errada, já que tal Requisitos:
momento é atribuição do Ministério Público e o primeiro • crimes cometidos sem violência ou grave ameaça a
do magistrado. Ainda é de bom alvitre salientar que o texto, pessoa;
quanto ao arrependimento posterior, é bem claro quando • reparação do dano ou restituição da coisa;
aduz somente crimes praticados sem violência ou grave • voluntariedade do agente;
ameaça à pessoa, portanto, para alguns crimes como roubo • até o recebimento da denúncia – sendo após, trata-se
e extorsão, não há que se falar em arrependimento posterior. de atenuante genérica (art. 65, III, b do CP).

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Erros no Direito Penal b) Erro sobre a pessoa (error in persona): é o erro na
representação mental do agente. Não exclui a tipicidade
É a falsa ideia que se tem de fato ou circunstância. nem a pena. O agente atinge pessoa diversa, pensando estar
Na Legislação Penal brasileira, dois tipos de erros são atingindo aquela por ele pretendida. Irá responder levando-
mencionados: o erro de tipo e o erro de proibição. -se em consideração todas as qualidades da pessoa contra
quem o agente queria efetivamente atingir. Ex.: matar B,
Erro de Tipo pensando tratar-se de A, fato que não altera a figura típica
do homicídio. Com isso, se o agente desejava matar um velho
Há determinados crimes que trazem em sua conduta e vem a atingir pessoa diversa sem essa condição, ser-lhe-á
típica elementos constitutivos de sua estrutura que muitas agravada a pena.
vezes são mal compreendidos, fazendo com que o agente c) Erro na execução (aberratio ictus): o agente não se
pratique atos que julga serem ilícitos quando, na verdade,
confunde quanto à pessoa que pretende atingir, mas realiza
não o são. O agente se engana sobre o fato, pensa estar
o crime de forma desastrada. Não exclui a tipicidade do
fazendo uma coisa e está fazendo outra. Exemplo: quem,
juntamente com servidor público, subtrai bem que estava fato. O agente atinge pessoa diversa da pretendida por erro
sob a guarda deste, sem, entretanto, saber a qualidade de de pontaria. Se o resultado for único (unidade simples),
servidor de seu comparsa, não responderá por peculato, mas, ou seja, o agente só atinge terceiro inocente, ao invés de
sim, apenas por furto. Uma outra situação poderia se dar no atingir a vítima pretendida, responde pelo mesmo modo
caso de uma pessoa atirar em outra pensando se tratar de que no erro sobre a pessoa, contudo, se o resultado for
um boneco de cera. O erro de tipo exclui o dolo, mas permite duplo (unidade complexa), ou seja, o agente atinge tanto a
a punição por crime culposo. pessoa visada quanto a um terceiro inocente, aplicar-se-á a
No erro de tipo, o agente acredita que sua conduta não pena do concurso formal, impondo-se a pena do crime mais
seja crime, supondo que a lei permita praticá-lo. Esse erro grave, aumentando-se de 1/6 até a metade. Se houver dolo
exclui o dolo, mas permite punição na modalidade culposa. eventual em relação ao terceiro inocente, aplica-se a regra
Em outras palavras, o erro de tipo pode ser traduzido como do concurso formal impróprio ou imperfeito, onde as penas
a falsa percepção da realidade. O  erro de tipo pode ser serão somadas.
essencial ou acidental. A título de exemplo: João, ao sair d) Resultado diverso do pretendido (aberratio criminis):
do mercado, pega uma bicicleta idêntica à sua, que havia pune-se o agente a título de culpa pelo resultado diverso do
estacionado do lado de fora do estabelecimento, e deixa pretendido. O agente atinge espécie de crime diferente da
o local conduzindo-a. Ao fazer isso, incide em erro de tipo. que pretendia. Exemplificaria a conduta do agente que des-
fere uma pedrada em um veículo tentando danificá-lo, mas,
Essencial acaba por atingir uma pessoa, ao invés de danificar o veículo.
As mesmas consequências previstas para o erro na execução,
Incide sobre elementares, circunstâncias e pressupostos quanto ao resultado simples ou duplo, são aplicadas. Aqui,
fáticos de uma justificante. A falsa percepção impede que
o erro leva à lesão de um bem ou interesse diverso daquele
o sujeito compreenda a natureza criminosa do fato. Ele se
que o agente procurava atingir. Pelo resultado não desejado
subdivide em:
a) Erro invencível, inevitável, escusável ou inculpável: o agente responde por culpa, se o fato é previsto como crime
aquele que não poderia ser evitado por normal exigência, ou culposo. Se ocorrer também o resultado pretendido, aplica-
seja, qualquer pessoa naquela situação incidiria no mesmo -se a regra do concurso formal.
erro. Ele exclui o dolo e a culpa e o agente não responde e) erro sobre o nexo causal (aberratio causae): dá-se
por crime algum. Exemplo: matar um homem, numa caçada quando o agente, imaginando já ter consumado um crime,
a animais, em local escuro, pensando tratar-se de um ani- realiza nova conduta, acreditando tratar-se, tão somente, de
mal feroz, desde que fique comprovado que o erro jamais um mero exaurimento e, com esta atitude, é que, de fato, faz
poderia ser evitado. consumar o crime. Esse erro pode ser também chamado de
b) Erro vencível, evitável ou inescusável: aquele que po- dolo geral ou erro sucessivo. Não há exclusão do crime se o
deria ser evitado, ou seja, uma outra pessoa, naquela situação, resultado desejado vier a ocorrer por uma outra coisa, dire-
não incidiria no mesmo erro. Exclui o dolo, mas não a culpa, tamente relacionada com a ação desenvolvida pelo agente.
respondendo o agente culposamente pelo crime, se previsto Luiz Flávio Gomes exemplifica a modalidade com a conduta
em lei como ilícito penal. Devem-se verificar, portanto, as mo- do agente que, depois de estrangular a vítima, crendo que
dalidades de negligência e imprudência, por tratar-se de crime ela está morta, enforca-a para simular um suicídio; todavia,
culposo. Exemplo: na mesma situação hipotética descrita no fica comprovado que a vítima na verdade morreu em razão
item anterior, contudo, seria o caso de o erro poder ser evitado, do enforcamento. Consequência: o agente irá responder por
já que houve imprudência por parte do agente.
Noções de Direito Penal

um só homicídio doloso consumado.


Acidental Descriminantes Putativas por Erro de Tipo
O erro acidental ou secundário refere-se a circunstâncias As excludentes do crime são decorrentes de situações
situadas à margem da descrição do crime. Incide sobre da-
reais (legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal,
dos secundários do tipo penal, não impedindo que o sujeito
exercício regular de direito e estado de necessidade). Con-
compreenda o caráter ilícito da conduta.
a) Erro sobre o objeto (error in objecto): é o objeto forme o CP:
material de um crime. Não exclui a tipicidade nem a pena.
O agente imagina que sua conduta esteja recaindo sobre É isento de pena quem, por erro plenamente justi-
determinada coisa, mas, na verdade, está recaindo sobre ficado pelas circunstâncias, supõe situação de fato
outra. Exemplo: furtar açúcar pensando ser sal, ou furtar que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há
uma lata de verniz pensando tratar-se de tinta, fato que não isenção de pena quando o erro deriva culpa e o fato
altera a figura típica do furto. é punível como crime culposo.

16
Na descriminante putativa por erro de tipo ou erro de mentar lesões graves. Para o nocauteador, ele praticou crime,
tipo permissivo, não há uma perfeita noção da realidade. quando, na verdade, não o fez.
O agente imagina situação de fato totalmente divorciada
da realidade na qual está configurada a hipótese em que ele Coação Moral Irresistível e Obediência Hierárquica
pode agir acobertado por uma causa de exclusão de ilicitude.
Ex.: A está em sua residência, à noite, quando um parente A coação irresistível trata-se de coação moral, pois a coa-
seu, brincalhão, surge a sua frente disfarçado de assaltante. ção física é excludente da conduta e, portanto, da tipicidade
Imaginando uma situação de fato, na qual se apresenta uma do fato, já que o indivíduo, por si só, não agiria. Nessa coação
agressão iminente, o agente dispara, pensando estar agindo geralmente figuram três pessoas, vez que é constituída por
em legítima defesa. Consequência: se inevitável exclui o dolo ameaça feita ao agente, dirigida a um bem jurídico seu ou de
e a culpa, e o agente não responde por crime algum. Se evi- terceiro. Essas pessoas são o coator (quem dirige a ameaça),
tável, excluirá o dolo, mas o agente responderá pelo crime o coacto (ou coagido, que sofre a ameaça) e a vítima (que
a título de culpa, se prevista tal modalidade como crime. suporta a ação criminosa). Permite-se que a própria vítima
No delito putativo (ou imaginário), o agente acredita que aja como coatora (quando a própria vítima ameaça o agente,
está cometendo um crime, quando, na verdade, sua conduta obrigando-o a matá-la). Essa coação deve ser irresistível, ou
é um irrelevante penal. Se o delito é putativo por erro de tipo, seja, não se poderia exigir do agente que, naquelas circuns-
o crime é impossível, em face da absoluta impropriedade do tâncias, agisse de forma diversa. Se a coação for resistível o
objeto, como no caso daquele que atira numa pessoa para agente responde, mas pode ter sua pena atenuada. A coação
matá-la, sem saber que ela já estava morta. moral irresistível é uma hipótese de autoria mediata, em
que o autor da coação detém o domínio do fato e comete
Erro de Proibição o fato punível por meio de outra pessoa. A título de exem-
plo: Joaquim, mediante um soco desferido contra o rosto
Nessa modalidade, o agente não se engana sobre o fato da frágil Maria, obrigou-a a assinar um cheque no valor
que pratica, mas pensa erroneamente que o mesmo é lícito. de R$ 5.000,00, utilizando-o para saldar uma dívida em
Aqui, não se desconhece a lei, ao contrário, o agente acha que um comércio, sabendo que não existia tal importância no
a conhece, mas o faz erroneamente. É a interpretação leiga banco. O cheque foi depositado e devolvido. Assim, Maria
da lei. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta não praticou crime, pois estava sob coação moral irresistí-
de pena; se evitável, poderá diminuí-la de 1/6 a 1/3. Tal erro vel. Já na obediência hierárquica, como o próprio nome diz,
não exclui o dolo nem o crime, pode excluir a culpabilidade deve haver uma relação de hierarquia calcada em normas de
e, em consequência, a pena. Exemplo: A subtrai algo de B, Direito Público, vez que não há que se falar em obediência
seu devedor, a título de cobrança forçada, pensando ser tal hierárquica quando se tratar de natureza religiosa, familiar,
atitude lícita. associativa etc. A ordem proferida aqui deve ser ilegal, pois,
O erro de proibição, como regra, é excludente da cul- se fosse lícita, tratar-se-ia de estrito cumprimento de dever
pabilidade. Ele pode se contrapor a um dos elementos da legal, que é causa excludente da antijuridicidade, porém tal
culpabilidade, a saber, a potencial consciência da ilicitude, ilicitude não pode ser explícita, pois se for clara a ilegalidade
que se refere à possibilidade de que tem o agente de co- da ordem, o subordinado pode e deve se negar a cumpri-
nhecer o caráter injusto do fato. Ele também é chamado de -la. Caso o agente tema por reprimenda, e cumpra a ordem
erro sobre a ilicitude do fato. O agente age supondo que sua mesmo sabendo de sua ilicitude, agiria sob coação moral,
conduta está de acordo com a lei. O desconhecimento da lei e não por obediência hierárquica. Porém, caso ele pratique
é inescusável, não se pode alegar a ignorância da lei dizendo o fato acreditando na legalidade da ordem, incidiria em
que não a conhece. erro de proibição. É necessária a dúvida sobre a legalidade,
Aqui, o agente acha que conhece a lei, mas o faz erro- não podendo o subordinado recusar-se a cumpri-la, porém,
neamente. quando do cumprimento, o agente não pode ultrapassar
As consequências são: os limites da ordem proferida, caso contrário, responderá
a) inevitável: isenta de pena o autor; o agente pelo excesso. A obediência hierárquica é causa
b) evitável: poderá a pena ser reduzida de 1/6 a 1/3. excludente de culpabilidade. Somente será punido o autor
Exemplo: contrair novas núpcias sem estar divorciado, mas da ordem, devendo ser a ordem não manifestamente ilegal
apenas separado judicialmente. e desde que haja subordinação hierárquica.
Tanto a coação moral irresistível quanto a obediência
Descriminantes Putativas por Erro de Proibição hierárquica são causas de exclusão da culpabilidade. Elas se
contrapõem a um dos elementos da culpabilidade, a saber,
Erro de proibição indireto ou descriminante putativa por a exigibilidade de conduta diversa. Se o fato é cometido sob
Noções de Direito Penal

erro de proibição – o erro incide sobre os limites normativos coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não
de uma excludente ou sobre a existência da justificante não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível
reconhecida em lei. Aqui, diferentemente da descriminante o autor da coação ou da ordem.
putativa por erro de tipo, há uma perfeita noção da realidade. Assim, na coação moral irresistível, só responde pelo
Ex.: um senhor de idade é esbofeteado por um jovem e supõe crime o coator, o coato não. Na obediência hierárquica, só
poder matá-lo em legítima defesa. Imagina, por erro, a exis- responde pelo crime o superior hierárquico (na qualidade de
tência de uma causa de exclusão de ilicitude que, na verdade, autor mediato) que deu a ordem não manifestamente ilegal
não existe. Consequência: as mesmas do erro de proibição. (ordem aparentemente legal).
No delito putativo (ou imaginário), o agente acredita que
está praticando uma conduta delituosa, quando, de fato, não Artigos Pertinentes
está. Se o delito é putativo por erro de proibição, não há
crime, haja vista que a conduta do agente é perfeitamente Relação de causalidade
normal, embora para ele seja ilícita. É o caso, por exemplo, Art. 13. O resultado, de que depende a existência do
do pugilista que nocauteia seu opositor, vindo este a experi- crime, somente é imputável a quem lhe deu causa.

17
Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o Erro sobre elementos do tipo
resultado não teria ocorrido. Art. 20. O erro sobre elemento constitutivo do tipo
legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição
Superveniência de causa independente por crime culposo, se previsto em lei.
§  1º A superveniência de causa relativamente in-
dependente exclui a imputação quando, por si só, Descriminantes putativas
produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, § 1º É isento de pena quem, por erro plenamente
imputam-se a quem os praticou. justificado pelas circunstâncias, supõe situação de
fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não
Relevância da omissão há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e
§ 2º A omissão é penalmente relevante quando o o fato é punível como crime culposo.
omitente devia e podia agir para evitar o resultado.
O dever de agir incumbe a quem: Erro determinado por terceiro
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou § 2º Responde pelo crime o terceiro que determina
vigilância; o erro.
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de
impedir o resultado; Erro sobre a pessoa
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da § 3º O erro quanto à pessoa contra a qual o crime
ocorrência do resultado. é praticado não isenta de pena. Não se consideram,
neste caso, as  condições ou qualidades da vítima,
Art. 14. Diz-se o crime:
senão as da pessoa contra quem o agente queria
Crime consumado
praticar o crime.
I – consumado, quando nele se reúnem todos os
elementos de sua definição legal; 
Erro sobre a ilicitude do fato
Tentativa Art. 21. O desconhecimento da lei é inescusável.
II – tentado, quando, iniciada a execução, não se con- O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta
suma por circunstâncias alheias à vontade do agente; de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto
a um terço.
Pena de tentativa Parágrafo único. Considera-se evitável o erro se o
Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, pune- agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude
-se a tentativa com a pena correspondente ao crime do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias,
consumado, diminuída de um a dois terços. ter ou atingir essa consciência.

Desistência voluntária e arrependimento eficaz Coação irresistível e obediência hierárquica


Art. 15. O agente que, voluntariamente, desiste de Art. 22. Se o fato é cometido sob coação irresistível ou
prosseguir na execução ou impede que o resultado em estrita obediência a ordem, não manifestamente
se produza, só responde pelos atos já praticados. ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor
da coação ou da ordem.
Arrependimento posterior
Art. 16. Nos crimes cometidos sem violência ou grave Sujeitos do Crime
ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a
coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, Em uma conduta criminosa, necessariamente teremos o
por ato voluntário do agente, a pena será reduzida polo ativo (quem pratica a conduta) e o polo passivo (aquele
de um a dois terços. a quem é dirigida a conduta incriminadora).

Crime impossível Sujeito Ativo


Art. 17. Não se pune a tentativa quando, por ineficá-
cia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade Como regra, seria apenas o ser humano, vez que a lei
do objeto, é impossível consumar-se o crime. atribui a este a capacidade de delinquir. Em princípio, autor
Art. 18. Diz-se o crime: de crime só poderia ser pessoa física, maior de 18 anos,
que pratica a conduta descrita em lei. Por exceção, porém,
Crime doloso pessoas jurídicas também podem responder penalmente
Noções de Direito Penal

I – doloso, quando o agente quis o resultado ou quando praticarem crime contra o meio ambiente (Lei
assumiu o risco de produzi-lo; nº 9.605/1998), as quais poderão ser responsabilizadas
administrativa, civil e penalmente, quando a infração é co-
Crime culposo metida por decisão de seu representante legal ou contratual,
II – culposo, quando o agente deu causa ao resultado ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício de sua
por imprudência, negligência ou imperícia; entidade, contudo, conforme se depreende da referida Lei,
Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, nin- a responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das
guém pode ser punido por fato previsto como crime, pessoas físicas autoras, coautoras ou partícipes do mesmo
senão quando o pratica dolosamente. fato. As sanções penais aplicáveis às pessoas jurídicas são
a multa, a restrição de direitos e a prestação de serviços à
Agravação pelo resultado comunidade. Sendo assim, pode-se afirmar que:
Art. 19. Pelo resultado que agrava especialmente a
pena, só responde o agente que o houver causado Ativo: quem comete o crime, quem pratica a conduta
ao menos culposamente. delituosa. O sujeito ativo pode praticar a conduta descrita

18
no tipo penal sendo, portanto, o  autor, ou concorrer de APLICAÇÃO DA LEI PENAL
qualquer forma para a prática do crime, ou seja, o partíci- (PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE E DA
pe. O sujeito ativo é, pois, tanto o executor direto como o
indireto. Havendo mais de um autor, diz-se que o crime foi ANTERIORIDADE, LEI PENAL NO TEMPO,
praticado em coautoria, havendo mais de um partícipe, ter- ULTRATIVIDADE DA LEI – EXCEPCIONAL
-se-á a coparticipação. Quando o legislador exige especial E TEMPORÁRIA, TEMPO DO CRIME,
capacidade do sujeito ativo, tem-se o chamado crime pró- TERRITORIALIDADE, LUGAR DO CRIME,
prio, como, por exemplo, no crime de infanticídio, em que o EXTRATERRITORIALIDADE, PENA
sujeito ativo precisa ser mãe em estado puerperal da mesma
forma que no crime de peculato exige-se que o seu sujeito CUMPRIDA NO ESTRANGEIRO, EFICÁCIA
ativo seja funcionário público. Às vezes, o legislador exige DA SENTENÇA ESTRANGEIRA, CONTAGEM
que o agente pratique pessoalmente a conduta delituosa. DE PRAZO, FRAÇÕES NÃO COMPUTÁVEIS
É o chamado crime de mão própria ou também de atuação DE PENA, LEGISLAÇÃO ESPECIAL –
pessoal ou infungível, crime este que não admite coautoria,
mas pode haver participação, como, por exemplo, o crime
IMUNIDADES)
de autoaborto, que somente pode ser praticado pela ges-
tante. É, pois, sujeito ativo, em regra, o ser humano. Como Aplicação da Lei Penal (arts. 1º a 12)
exceção, a pessoa jurídica, conforme já mencionado na Lei
nº 9.605/1998, especificamente em seus art. 3º e 21 a 24. O art. 1º do CP traz dois princípios: o da legalidade e o
da anterioridade. Conforme já visto, somente a lei em seu
Sujeito Passivo sentido estrito pode definir crimes e cominar penalidades.
Ela deve nascer no Poder Legislativo, do contrário, não haverá
O titular do bem jurídico lesionado ou ameaçado é o crime, motivo pelo qual uma medida provisória, por exemplo,
sujeito passivo do crime. Geralmente, sendo ele ser humano,
não poderia tipificar uma conduta delituosa, embora ela
teremos o sujeito material; se for o Estado, teremos o sujeito
tenha força de lei. Observe que por tratar de norma que não
formal. Pode-se, então, afirmar que:
é oriunda de uma representação popular, ela não é lei, uma
Passivo: é o titular do bem diretamente lesado pelo vez que pode perder a eficácia, desde sua edição, se não for
delito, que é o sujeito material, ou o titular do direito de convertida em lei no prazo de 60 (sessenta) dias, a partir de
punir, que é o Estado. Qualquer pessoa, seja física ou ju- sua publicação (art. 62, § 3º, da CF, com a redação dada pela
rídica, incapaz (louco, recém-nascido), feto, estrangeiro, EC nº 32/2001), motivo este que impede a referida norma
em situação irregular no país etc., pode ser sujeito passivo de dispor sobre matéria penal criando crimes e cominando
de crime. Os animais jamais poderão ser sujeitos passivos, penas. Quanto à anterioridade, visto foi que a lei que rege
mas apenas objetos do crime, tendo em vista que, se algum o ato deve existir à data do fato, haja vista que qualquer lei
crime é cometido contra um animal, o sujeito passivo será é editada para atos futuros e não para atos pretéritos, mo-
o seu dono ou, eventualmente, a coletividade. Existem tipos tivo pelo qual veda o ordenamento jurídico brasileiro toda
penais que possuem apenas um bem jurídico tutelado, como, espécie de retroatividade da lei, salvo quando para beneficiar
por exemplo, o crime de furto no qual se tutela apenas o o réu, entendendo ainda que a tal proibição não se aplica
patrimônio como bem jurídico. Existem outros tipos penais somente às penas, mas a qualquer norma de natureza pe-
que tutelam mais de um bem jurídico, como, por exemplo, nal, como, por exemplo, quando impedem ou acrescentam
o crime de roubo em que a tutela se estende à incolumidade requisitos para a progressão de regime (CAPEZ).
física, psíquica e ao patrimônio, ou, até mesmo, à vida, no Já o art. 2º do CP traz o princípio da irretroatividade. Faz-
caso de latrocínio. Logo, conclui-se que todos os titulares -se necessário enfatizar que o princípio da irretroatividade se
de bens jurídicos e violados ou ameaçados pelo crime são
restringe às normas de caráter penal, já que a lei processual
considerados sujeitos passivos. O Estado pode figurar como
não se submete a tal princípio. Segundo Luiz Flávio Gomes,
sujeito passivo formal ou material do crime, como, por
exemplo, no caso de crime de dano ao patrimônio público. a lei processual penal nova tem incidência imediata sobre
Tanto a pessoa física como jurídica podem ser sujeito passivo todos os processos em andamento, pouco importando se o
de crimes, inclusive, nos crimes contra a honra, a difamação crime foi cometido antes ou depois de sua entrada em vigor
(art. 139, CP). Por último, ninguém pode ser sujeito ativo e ou se a inovação é ou não mais benéfica.
passivo do crime ao mesmo tempo, vez que ninguém pode
praticar crime contra si mesmo, é a aplicação dos princípios Vigência e Revogação da Lei Penal
Noções de Direito Penal

da alteridade e da transcendência, haja vista que, para que


exista o crime, o agente deve violar ou ameaçar bem jurídico
Assim como as demais, a lei penal também começa a
de terceiro, ultrapassando a sua esfera individual. Portanto,
vigorar na data nela indicada, ou, na omissão, em 45 dias
autolesão não constitui crime, exceto se o agente o faz para
receber seguro, caso em que ele estará cometendo crime após a publicação dentro do país, e em três meses no exterior.
contra a seguradora, que é pessoa jurídica, havendo violação O espaço do tempo compreendido entre a publicação da lei
de bem jurídico de terceiro, daí à existência de crime contra e sua entrada em vigor denomina-se vacatio legis.
o patrimônio. Não há revogação pelo simples desuso da lei. A revo-
gação total denomina-se ab-rogação. A revogação parcial
Sintetizando o sujeito passivo, ter-se-ia: denomina-se derrogação. A revogação é expressa quando a
a) formal: Estado, porque ele é o titular da lei incrimi- nova lei traz expressamente quais os textos da lei anterior
nadora; serão revogados e será tácita quando regula inteiramente a
b) material: é o que sofre a ação. Geralmente o ser matéria de que tratava a lei anterior ou quando incompatível
humano. com a referida lei.

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A seguir, encontram-se breves conceitos extraídos da obra Extratividade Retroatividade Ultratividade
de Rodolpho Priebe Pedde Junior. É a possibili- É a aplicação de uma É a aplicação de uma
dade de apli- lei penal benéfica lei penal já revogada
Sanção: é o ato pelo qual o Chefe de Governo aprova e cação de uma a um fato ocorrido a um fato ocorrido
confirma uma lei. lei a situações antes do período da durante o período
Promulgação: é o ato pelo qual se atesta a existência da lei ocorridas fora sua vigência. Ex.: em de sua vigência. Ex.:
e se determina a todos que a observem; tem a finalidade do âmbito de 15 de janeiro de 2007 em 15 de janeiro de
de conferir-lhe o caráter de autenticidade; dela deriva o sua vigência. “A” atira em “B” e 2007 “A” atira em “B”
cunho de executoriedade. Divide-se em este morre. Na data e este morre. Na data
Publicação: é o ato pelo qual se torna conhecida de todos, retroatividade do fato a pena era de do fato a pena era de
e ultrativida- 25 anos. Todavia, em 16 anos. Todavia, em
impondo sua obrigatoriedade.
de. 15 de maio de 2010, 15 de maio de 2010,
Revogação: é expressão genérica que traduz a ideia de
nova lei vem preven- nova lei vem preven-
cessação da existência de regra obrigatória, em virtude do para o mesmo do para o mesmo
de manifestação, nesse sentido, do poder competente; crime a pena de 16 crime a pena de 25
compreende: a derrogação (revogação parcial), quando anos. Assim, deve ser anos. Assim deve ser
cessa em parte a autoridade da lei; e a ab-rogação (re- aplicada a lei nova aplicada a lei antiga
vogação total), quando se extingue totalmente; a revo- mais benéfica, de- mais benéfica, de-
gação poder ser expressa (quando a lei, expressamente, vendo retroagir para vendo ultragir a ser
determina a cessação da vigência da norma anterior) ou atingir fatos fora da aplicada mesmo es-
tácita (quando o novo texto, embora de fora não expresse sua vigência. tando revogada.
é incompatível com o anterior ou regula inteiramente a
matéria precedente). Observe o esquema:

Q pratica atentado violento ao pudor, em 2000, e é condenado


Sinteticamente, tomando por base as definições acima, a cumprir 10 anos de reclusão, de acordo com a lei A.
bem como a Lei de Introdução ao Código Civil, poderíamos
assim definir:
a) vigência: na data prevista na lei; A
a) na omissão: 10 anos
1) Brasil: 45 dias; (2000)
2) Exterior: três meses;
b) vacatio legis: espaço compreendido entre a publica- abolitio não retroage
criminis lex mitior
ção e a vigência da lei;

b) revogação:
c) expressa: informam-se os textos que serão revogados; B B
extinção 6 anos
d) tácita: lei nova incompatível ou lei que regula o que há (2004) (2004)
na anterior; B
15 anos
e) total: ab-rogação; (2004)
f) parcial: derrogação;
g) não há revogação pelo simples desuso da lei. Em 2004, surge a lei B,
Em 2004, surge a lei B, que
reduz a pena do crime para 6
que extingue o crime. anos. Por ser benéfica ao réu,
Embora seja sabido que a revogação se dá com a morte Por ser benéfica ao réu, ela retroagirá e será aplicada,
ela retroagirá e alcançará
da lei, o próprio ordenamento jurídico brasileiro prevê a o réu, deixando-o livre.
reduzindo a pena de 10 para 6
anos e descontando o período
possibilidade de uma determinada lei regular situações que que já foi cumprido. Esse
ocorreram fora de seu período de vigência. Não se trata de re- desconto é chamado de
detração penal .
gra, mas de exceção, a qual recebe o nome de extratividade,
que pode decorrer de situações passadas (antes da entrada
em vigor da lei) ou futura (quando a lei se aplica a situações Em 2004, surge a lei B, que eleva a pena do crime para 15
anos. Como a lei não é benéfica ao réu, não será aplicada,
mesmo tendo sido revogadas). À  primeira, denomina-se
Noções de Direito Penal

ou seja, não retroagirá.


retroatividade, que, conforme visto, só irá existir para bene-
ficiar o réu; à segunda, denomina-se de ultratividade. Daí,
A título de exemplo: A Portaria nº 104/2011, do Gabinete
podem-se surgir os chamados conflitos intertemporais, que
do Ministério da Saúde, definiu a relação de doenças de notifi-
são resolvidos da seguinte forma: se alguém é processado
cação compulsória em todo o território nacional. Joaquim, mé-
sob a vigência de uma lei e, quando do julgamento, surgir
dico, ao tomar conhecimento de um paciente que estava com
uma nova lei mais benéfica, esta será aplicada, perfazendo,
uma patologia descrita na referida normativa, por amizade
então a retroatividade, por ser mais benéfica. Contudo, se a ao mesmo, não comunicou a doença aos órgãos competentes,
lei mais nova, quando do julgamento, for mais gravosa, não motivo pelo qual, ao ser descoberto tal fato, foi processado
será aplicada, haja vista sua gravidade, o que faz com que criminalmente. Na hipótese de antes do julgamento, ser edi-
a lei anterior, a qual se encontra revogada pela atual, seja tada nova normativa, retirando a referida patologia do rol de
aplicada, já que o fato se deu quando ela ainda estava em doenças de notificação compulsória, pode-se afirmar que deve
vigor, sendo assim, aplicar-se-á a lei então revogada, que incidir a retroatividade do abolitio criminis , considerando que
nada mais é do que a ultratividade. se alterou a matéria da proibição.

20
As hipóteses de lei posterior são: a abolitio criminis, vez que impediria o conhecimento da matéria pela instância
a novatio legis in melius, a novatio legis in pejus e a novatio inferior, ferindo o princípio do duplo grau de jurisdição.
legis incriminadora. Questiona-se, ainda, a possibilidade de se aplicar a lex
mitior durante o período de vacatio legis. Embora a Doutrina
Novatio legis Incriminadora não seja pacífica neste ponto, a Jurisprudência já a admite,
considerando que por trazer a nova lei dispositivos que
A lei nova passa a considerar crime uma conduta que antes beneficiam o réu, é possível a sua aplicação pelo juiz ainda
não era tida como tal. Ex.: homofobia passou a ser crime. Ela que não expirado o prazo da vacatio legis, sendo suficiente
não pode retroagir. Todos que praticaram condutas de homo- que o texto da nova lei seja publicado.
fobia antes da entrada em vigor da lei não praticaram crime. Pode ser que a autoridade judiciária fique em dúvida de
que lei aplicar por não saber qual seria a mais benéfica para
Novatio legis in pejus (nova lei mais grave) o réu. Neste caso, ele poderia ouvir o réu, na presença de
seu defensor, e deles concluir o que seria mais benéfico. Em
Surge quando a nova lei passa a dar um tratamento mais outras palavras, quando o juiz ficar invencível acerca de qual
gravoso ao crime. Ex.: uma lei nova prevê um aumento de lei aplicar ao réu, por não saber qual delas é a mais benéfica,
pena para o crime de homicídio. Ela não pode retroagir. deverá ouvir o réu, pois é ele, obviamente, o melhor para
Este aumento de pena será aplicado apenas aos crimes de conhecer as disposições que lhe são benéficas.
homicídio praticados a partir da vigência da lei que o previu. Quanto à possibilidade de combinação de leis, a doutrina
diverge. Há combinação de leis quando se questiona a pos-
Novatio legis in mellius (nova lei mais benéfica) sibilidade de se aplicar uma parte de cada lei, com o fim de
favorecer o agente. Nesse sentido, já houve decisão do STF
Surge quando a nova lei passa a dar um tratamento mais pela possibilidade de combinação de leis em benefício do réu
benéfico ao crime. É retroativa, pois favorece o agente, já (HC nº 69.033-5, rel. Min. Marco Aurélio, DJU de 13/3/1992, p.
que, segundo o art. 2º, CP, qualquer lei posterior que benefi- 2925). Contudo, é de se ressaltar que a questão não é pacífica
cie o agente, deve ser aplicada aos fatos anteriores, ainda que nem mesmo dentro do próprio STF. A Segunda Turma enten-
decididos por sentença condenatória transitada em julgado. deu pela possibilidade de combinação de leis no tempo para
Existe, ainda, a possibilidade da lex intermedia (lei inter- favorecer o réu (STF, HC nº 95.435, rel. Min. Cezar Peluzo, j.
mediária), aquela que ocorre quando é publicada mais de 21/10/2008); já a Primeira Turma da Egrégia Corte entendeu
uma lei entre o momento da prática do delito e o julgamento pela impossibilidade, até mesmo para beneficiar o réu, sob o
do acusado. Aplica-se a lei mais benéfica, ainda que esta não fundamento de que isto implicaria na criação de uma tercei-
seja a vigente ao tempo do crime ou por ocasião da prolação ra lei pelo judiciário (STF, RHC nº 94.802, rel. Min. Menezes
da sentença. No caso de haver três leis, sendo a intermediária Direito, 1ª Turma, DJe 20/3/2009). Vê-se, pois, que a questão
mais benéfica, ela retroagirá em relação à primeira, e será deve ser resolvida pelo Pleno do STF, entretanto, há uma leve
ultra-ativa em relação à terceira. Decorre da sucessão de lei tendência dos doutrinadores em admitir a combinação de leis
no tempo. Se a lei nova é mais benéfica será retroativa, caso penais no tempo quando em benefício do réu.
contrário, será ultra-ativa. Quanto à fixação da lei aplicável ao tempo do crime nos
casos de delitos continuados e permanentes, temos:
Competência para Aplicação da lex mitior Crimes Permanentes e Continuados
Quando uma lei nova, mais benéfica, ao agente surgir Crime permanente é aquele cuja execução se prolonga
durante a fase investigatória, o MP, ao receber os autos do no tempo. O agente, a cada instante, enquanto durar a
inquérito, já deverá oferecer a denúncia com base no novo permanência, está praticando ato de execução, é o caso do
texto legal. Se a lei nova surge durante o curso da ação crime de sequestro.
penal, o juiz ou o tribunal poderão aplicar, imediatamente, Crime continuado é aquele que ocorre quando o agente,
a lex mitior. Se já houve o trânsito em julgado da sentença mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou
na ação penal, caberá ao juiz da execução aplicar o novo mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo,
regramento (art. 66, I, da Lei de execução penal). Contudo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem
deve ser observado que o juiz da execução só será compe- os crimes subsequentes ser havidos como continuação do
tente para dar efetividade à nova lei caso as alterações no primeiro (art. 71, CP).
processo não necessitarem de apreciação do mérito da ação Havendo uma sucessão de leis enquanto esses delitos
penal de conhecimento, ou seja, o juiz só poderá praticar estiverem em andamento, deve-se aplicar a última das leis
tal ato quando as alterações do processo se resumirem a que surgir, ainda que mais gravosa ao acusado (Súmula
cálculos matemáticos. Do contrário, a competência será do nº  711 do STF: “a lei penal mais grave aplica-se ao crime
respectivo Tribunal, que deverá aplicar nova legislação em continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é
Noções de Direito Penal

grau de recurso, via ação de revisão criminal. anterior à cessação da continuidade ou da permanência”.).
Transcrevendo para a forma de quesito, poder-se-ia
questionar: de quem seria a competência para aplicação Sinteticamente, teríamos:
da novatio legis in melius? Conforme Capez, se o processo
estiver em primeira instância, a  competência para aplicar
Crime Permanente Crime Continuado
a lei mais benéfica é do juiz de primeiro grau encarregado
de prolatar a sentença. Se o processo estiver em grau de Ex.: se durante a prática de Ex.: durante três meses o
recurso, a competência será do tribunal incumbido de julgar um sequestro surge uma lei agente desvia verbas públi-
o recurso. Após o trânsito em julgado, segundo os arts. 66, I, mais severa aumentando a cas, todavia durante a prática
da Lei de Execuções Penais, art. 13 da Lei de Introdução ao pena deste crime, será esta dos crimes de peculato surge
Código de Processo Penal e, por fim, a Súmula nº 611 do STF, lei nova mais gravosa aplica- uma lei nova agravando a sua
a competência é do juiz da execução e não do tribunal revisor. da a todo o fato. pena, esta nova lei, mesmo
Por fim, é bom salientar que não se deve admitir a aplicação mais gravosa, é aplicada a
da nova lei mais benéfica por meio de revisão criminal, uma todo conjunto de crimes.

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Leis de Vigência Temporária Quanto ao crime continuado, se a nova lei modifica de
algum modo o tipo legal já existente, aplica-se a última lei.
Lei temporária: lei elaborada com expressa previsão de Se a nova lei deixa de considerar a conduta como crime,
sua vigência em um lapso temporal. O legislador, previamen- deverá retroagir aos textos executados antes de sua vigência.
te, fixa o seu período de duração. No próprio texto da lei já Se a lei penal for modificada durante o processo penal
se encontra a data de sua cessação. ou durante a execução da pena, prevalecerá a norma mais
Lei excepcional: lei criada com o fim específico de favorável ao réu, não importa se a anterior ou a posterior.
atender a uma situação circunstancial e transitória, como, Da mesma forma, se a lei nova deixar de considerar o fato
por exemplo, nos casos de guerra, calamidades etc. A lei irá como crime (abolitio criminis), será aplicada esta última, por
existir enquanto durar a anormalidade. ser mais favorável ao réu.
Frise-se, ainda, que nos casos de crime permanente (ex.:
Características: sequestro) em que a consumação se prolonga pela própria
a) autorrevogáveis: não necessitam de outra lei para vontade do agente, uma eventual lei posterior, ainda que
revogá-las, pois têm em seu próprio texto a data de sua mais severa, será aplicável à conduta que ocorreu durante
cessação ou duram enquanto a situação de calamidade se sua vigência. Semelhantemente, se quando do sequestro o
perdurar; agente ainda não possuía 18 anos, mesmo assim retém-se
b) ultrativas: as ações ou omissões ao tempo da lei a vítima que, após alcançar a maioridade, será penalmente
temporária ou excepcional serão punidas, mesmo que a lei responsável pelos atos que praticou a partir do dia em que
já esteja revogada. A lei será aplicada mesmo após cessada a completou os 18 anos, não respondendo pelos atos pratica-
sua vigência; é o que se chama ultratividade. Essa é exceção dos anteriormente, pois era inimputável. Essa mesma regra
à regra da retroatividade benéfica, uma vez que tal princípio aplica-se ao crime continuado.
não é aplicável em casos de leis excepcionais ou temporárias. De maneira resumida:
Isso se justifica, pois, se o agente soubesse, de antemão,
que após cessada a anormalidade ou findo o período de A regra da aplicação da lei penal no tempo encontra-se
vigência ele fosse ficar impune, tais leis não teriam sentido, disposta no art.  4º do CP  – “Considera-se praticado o
pois perderiam toda sua força intimidativa. crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro
seja o momento do resultado”. Assim adota-se a Teoria da
Tempo do Crime Atividade – princípio tempus regit actum: é o tempo que
deve reger o ato, ou seja, é a lei que está em vigor no dia
É o momento da ação ou omissão que tenha dado em que o crime foi cometido, não importando a data do
causa ao resultado lesivo, não importando o momento do resultado. Ex.: um menor com 17 anos e 11 meses atira
resultado: Teoria da Atividade ou Ação – Princípio tempus contra a sua namorada, que vem a falecer em decorrência
regit actum (é o tempo que deve reger o ato, ou seja, é a dos ferimentos dois meses depois. Segundo a Teoria da
lei que está em vigor no dia em que o crime foi cometido). Atividade o menor não responderá pelo crime praticado,
Em outras palavras, a principal consequência da teoria pois o momento do crime (ação) era menor de idade.
adotada é quanto à imputabilidade do agente, já que a sua Exceção: se o crime for permanente, por exemplo, o crime
capacidade de autodeterminação é aferida no momento em de sequestro, supondo que um menor de 17 anos e 11
que o crime é praticado e não na data que o resultado venha meses priva a vítima de sua liberdade, a qual é libertada
a ocorrer. Diferentemente, ocorre na prescrição, já que nesse somente após seis meses, neste caso ele responderá pelo
sentido o CP adotou a teoria do resultado, já que o lapso crime de sequestro, haja vista que a ação do agente se
prescricional começa a correr a partir da consumação e não prolonga no tempo, vindo ele a responder pelo delito por
do dia em que se deu a ação delituosa (art. 111, I) (CAPEZ). já ter completado a maioridade.
Há exceção, caso o crime seja permanente, haja vista Essa mesma regra aplica-se ao crime continuado.
que a ação do agente se prolonga no tempo, vindo ele a Atenção! Em relação à prescrição, o CP adotou a Teoria do
responder pelo delito por já ter completado a maioridade. Resultado, já que o lapso prescricional começa a correr a partir
Surgindo conflito aparente de normas, já que somente da consumação, e não do dia em que se deu a ação delituosa.
uma delas é que poderá ser aplicada, mesmo havendo mais
de uma regulando o mesmo fato, será ele solucionado pelos Lugar do Crime
princípios da especialidade, subsidiariedade, consunção ou
alternatividade. Vigora a Teoria da Ubiquidade: é tanto o local do crime
A fixação do instante em que ocorreu o crime é relevante da ação ou omissão que tenha dado causa ao resultado
para se poder aplicar a lei penal, para se determinar a me- lesivo, quanto onde se produziu (crime consumado) ou
noridade ou não do agente ao tempo da ação, entre outras. deveria produzir-se (crime tentado) o resultado. Como
A doutrina destaca três teorias:
Noções de Direito Penal

exemplo, poder-se-ia citar um estelionato praticado no Brasil


1. Teoria da atividade: considera-se praticado o crime e consumado no Uruguai. Ambos os países são considerados
na hora da conduta, aplicando-se, por conseguinte, a lei que lugar do crime.
vigora nesse momento. Exceção: nos casos de crimes conexos, cada crime deve
2. Teoria do resultado: considera-se praticado o crime no ser julgado pelo país onde foi cometido, não se aplicando,
momento do resultado, desprezando-se o momento da ação. portanto, a referida teoria.
3. Teoria da ubiquidade ou mista: o crime é considerado Atenção! Não confundir com as regras previstas no
tanto no momento da ação como no momento do resultado. Código de Processo Penal, em que o local competente para
processar e julgar o crime será o local do resultado.
Prevalece no ordenamento jurídico pátrio a Teoria da
Atividade, não interessando o momento em que se produziu Lei Penal no Espaço
o resultado. Nos crimes permanentes, quando o agente inicia
a sua prática sob a vigência de uma lei, vindo a se prolongar Territorialidade
até a entrada em vigor de outra, deve-se, pois, ser-lhe apli- Prevê o CP que ao crime praticado em território nacional
cada a última, mesmo que seja a mais severa. aplica-se a lei penal nacional. Todavia o CP vai mais além,

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uma vez que a legislação brasileira adotou a Territorialidade seus territórios jurídicos, não importando a naciona-
Temperada ou Mitigada, em que será aplicada a lei penal lidade do criminoso ou a origem da vítima.
brasileira, em regra, ao crime cometido no território nacional. • Princípio da Nacionalidade (ou personalidade): aplica-
Porém, prevê a possibilidade de se aplicar a lei estrangeira, ex- -se a legislação penal de determinado Estado a todos
cepcionalmente, aos crimes aqui cometidos quando tratados os seus cidadãos, ainda que o crime tenha sido prati-
e convenções internacionais assim determinarem. Em outras cado fora de suas fronteiras. Nesse caso, mesmo que
palavras, pode-se afirmar que o Brasil adotou o princípio da um brasileiro tenha praticado crime fora do território
Territorialidade Mitigada ou Temperada, tendo em vista que brasileiro, onde de regra não seria aplicada a legislação
o Estado pode abrir mão de sua jurisdição em atendimento brasileira, poderá ser punido pelas leis pátrias pelo fato
a convenções, tratados e regras de Direito Internacional. Em de ser de nacionalidade brasileira.
síntese, território, aqui, compreende o espaço terrestre, flu- • Princípio da Defesa (ou real, ou proteção): aplica-se a
lei de um determinado país aos crimes que ofendam
vial, marítimo e aéreo, onde o Brasil é soberano. Quantos aos
seus bens jurídicos, pouco importando quem cometeu
navios e aviões, estes são ditos públicos quando de guerra, ou o crime ou onde ele foi cometido. Aplica-se a lei do país
em serviço militar, bem como os que estão a serviço oficial. a que pertença o bem jurídico lesionado, independen-
São privados quando mercantes ou de propriedade particular. temente de onde tenha ocorrido o fato com o intuito
de se ver preservados interesses básicos dos Estados.
Extraterritorialidade • Princípio da Justiça Universal (ou Cosmopolita, ou Ju-
risdição Mundial, ou Repressão Universal, ou da Uni-
É a exceção para a lei penal no espaço, pois a regra, como versalidade do Direito de Punir): aplica-se a legislação
já visto, é a territorialidade (território é todo espaço aéreo, penal de um Estado desde que o sujeito ativo ingresse
marítimo e terrestre em que um país é soberano), ou seja, no seu território, pouco importando a nacionalidade
todos os crimes ocorridos no território brasileiro devem das pessoas envolvidas ou o local de prática do delito.
ser julgados aplicando-se a lei penal brasileira, e os crimes Para esse princípio não interessa a nacionalidade do
ocorridos fora do Brasil serão julgados pela lei estrangeira. agente, o bem jurídico lesionado, ou o local onde foi
Mas, existem crimes que, mesmo sendo praticados fora do praticada a conduta, sendo sempre aplicada a lei do
Brasil, ficam sujeitos ao julgamento pela lei brasileira: é a local onde for encontrado o delinquente.
extraterritorialidade. O princípio da universalidade, preconizado no artigo
7º, II, a, do CP, não obsta a concessão da extradição
Casos de territorialidade: ao Estado no qual ocorreram as práticas delituosas.
A título de exemplo: O marinheiro Jonas matou seu
a) crimes ocorridos no Brasil ou nas suas extensões. colega de farda a bordo do navio-escola NE Brasil, da
Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do Marinha Brasileira, quando o navio estava em águas
território nacional: sob soberania do Japão. Assim, a lei penal brasileira
• as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza será aplicada ao caso, em razão do princípio da justiça
pública (de guerra, em serviço militar) ou a serviço do universal.
governo brasileiro (serviço oficial – chefes de Estado • Princípio da Representação (ou pavilhão ou da ban-
ou representantes diplomáticos) onde quer que se deira): o autor da infração deve ser julgado pelas leis do
encontrem; país em que a embarcação ou aeronave está registrada.
• as aeronaves e embarcações brasileiras, mercantes ou Aplica-se a lei do Estado da bandeira do navio ou da
de propriedade privada, que se achem, respectivamen- aeronave privados, quando, no seu interior, houverem
te, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar; ocorrido crimes no estrangeiro e lá não foram julgados.

b) também é aplicável a lei brasileira aos crimes pratica- A legislação brasileira não adotou nenhum desses
dos a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de princípios com exclusividade. Na realidade todos eles são
propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no ter- acolhidos por nosso Código Penal, que deu maior ênfase ao
ritório nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, princípio da territorialidade, pelo qual a lei penal brasileira
é aplicada no território brasileiro, independentemente da
e estas em porto ou mar territorial do Brasil.
nacionalidade do autor e da vítima do delito. Como há ex-
Obs.: os crimes cometidos a bordo de navios são da ceções a tal princípio, respaldadas nas convenções, tratados
e regras de Direito Internacional, além dos casos especiais
competência da Justiça Federal (STJ, RHC nº 1.386, DJU de
de extraterritorialidade, diz-se que o Brasil adota a territo-
9/1/1991, p. 18044). São também da competência da Justiça
rialidade temperada.
Federal brasileira do Estado-Membro em cujo aeroporto
primeiro pousou o avião, os crimes cometidos a bordo de Imunidades
aeronave brasileira no espaço aéreo correspondente ao
Noções de Direito Penal

alto-mar (TFR, RJTFR nº 51/46). Quando se fala em imunidade, tem-se a falsa impressão
de que seja tal palavra sinônima de impunidade, o que
Princípios Básicos referentes à Lei Penal no Espaço não é verdade, uma vez que a própria Convenção de Viena
expressa a esse respeito, quanto aos diplomatas, demons-
A soberania é um dos fundamentos da República Fede- trando que os mesmos devem ser processados pelos crimes
rativa do Brasil assim como das demais nações, os quais são por eles cometidos nos seus Estados de origem, Convenção
reconhecidos pelos tratados e convenções internacionais. E, esta dita como a fonte das imunidades não só diplomáticas
como tal, cada país tem suas próprias leis, que são editadas como consulares.
para serem aplicadas no seu espaço territorial. Cinco são os A figura das imunidades não está relacionada à pessoa,
princípios que norteiam a aplicação da lei no espaço. São eles: mas, sim, ao cargo ocupado pelo agente. Gozam de imuni-
• Princípio da Territorialidade: por este princípio aplica- dades os diplomatas e os parlamentares. Ei-las:
-se a lei brasileira a todas as condutas praticadas no
Brasil ou cujo resultado venha a ocorrer no território Imunidades Diplomáticas
brasileiro. Em outras palavras, importa aos Estados Os agentes estrangeiros que cometem crimes devem ser
aplicarem as suas leis aos crimes ocorridos dentro de submetidos às leis de seu país, ficando, com isso, imunes

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às leis do país em que tiverem cometido infração. Estão apenas os funcionários e empregados consulares gozam de
excluídos os funcionários particulares daqueles que gozam tal prerrogativa, mas desde que estejam no exercício de sua
de imunidades (tais como o cozinheiro, o faxineiro, o jar- função e tão somente nos limites geográficos do distrito
dineiro etc. ainda que tenham a mesma nacionalidade), consular, mas podem ser detidos ou presos preventivamente
porém incluem-se secretários de embaixadas, servidores em casos de crimes graves por eles praticados, por ordem
que ocupam cargos técnicos e administrativos das repre- judicial. O adido consular é a pessoa sem delegação de re-
sentações, bem como os seus respectivos familiares. São presentatividade e, portanto, não tem imunidade.
ainda alcançados por tais imunidades os funcionários de
organismos internacionais, como, por exemplo, a ONU, Imunidades Parlamentares
chefes de Estado estrangeiro, desde que estejam no Brasil, Segundo o texto constitucional, a imunidade do congres-
assim como suas respectivas comitivas. Os representantes sista somente será suspensa em estado de sítio e desde que
diplomáticos de governos estrangeiros gozam não só de por decisão de 2/3 dos membros da respectiva Casa, quan-
imunidade penal (embora já se admita que sejam presos do referente a atos praticados fora do Congresso Nacional
em flagrante o diplomata que esteja envolvido em tráfico de e incompatível com a efetivação da medida. A  finalidade
entorpecentes, em infrações aduaneiras e terrorismo, sem precípua dessa prerrogativa é permitir ao congressista que,
qualquer autorização do Estado de origem, com o álibi de mesmo em época de conturbação social, expresse seu pen-
que tal atividade criminosa foge completamente à função samento, vez que neste momento estaria manifestando o
de representação inerente à diplomacia), como tributária desejo do povo que representa. A imunidade parlamentar
(exceto impostos indiretos incluídos no preço) e civil (exceto pode ser formal ou material.
no que diz respeito a Direito sucessório e ações referentes a) Imunidade Formal: hoje temos a não imunidade como
à profissão liberal exercida pelo agente diplomático fora regra e, acaso deseje a casa respectiva conceder imunidade
das funções). Observe que a imunidade aqui mencionada ao seu componente deverá manifestar-se positivamente,
abrange os diplomatas de carreira (desde o embaixador ao enquanto isso, o processo prossegue perante o STF.
terceiro-secretário) e todos os membros do quadro admi- b) Imunidade Material: o agente não responde por suas
nistrativo e técnico (como tradutores, contabilistas etc.) da opiniões, palavras (aqueles que envolvem a opinião, como,
sede diplomática, desde que recrutados no Estado de origem. por exemplo, crimes contra a honra, apologia de crime e
Vê-se ainda que quando se tratar de familiares de diplomatas incitação ao crime, mas desde que não sejam estranhas a sua
de carreira é bom salientar que tais pessoas só gozam de tal atividade como membro do Legislativo, na Casa do Congres-
prerrogativa quando habitarem com eles e viverem sob sua so a que pertence, ou em missão oficial, por determinação
dependência econômica; a imunidade descrita aqui atinge dela, pois, caso se faça externamente, não há que se falar
ainda os familiares dos membros do quadro administrativo em inviolabilidade) portanto, o congressista que, fazendo uso
e técnico, os funcionários das organizações mundiais (em de suas palavras vier a cometer a infração tipificada como
serviço), os chefes de Estado estrangeiro, e os diplomatas ad injúria, não cometeria crime algum.
hoc (pessoas nomeadas pelo Estado acreditante para uma
determinada função no Estado acreditado, como, por exem- As imunidades aqui descritas estendem-se aos depu­tados
plo, acompanhar a posse de algum Presidente da República). estaduais, que possuem as mesmas imunidades que os par-
lamentares federais, mas tais prerrogativas devem constar
*Observações gerais quanto às imunidades diplomáti- das Constituições Estaduais. Eles podem ser processados
cas: por não poderem ser presos ou detidos, nem obrigados sem autorização da Assembleia Legislativa do seu Estado,
a depor como testemunha (embora possam ser investigados em qualquer tipo de crime, inclusive federal ou eleitoral,
pela polícia), gozam da inviolabilidade pessoal, mesmo que mas o processo pode ser sustado pelo voto da maioria do
em trânsito estejam, quer seja, desde o momento da saída Parlamento, caso haja a provocação de algum partido polí-
de seu país de origem, para assumir a função no exterior, até tico nela representado. Outrossim, caso cometam crimes da
a sua volta; gozam ainda de independência, vez que agem competência da Justiça Federal, devem ser processados pelo
livremente em relação a tudo o que se refere a sua qualidade TRF; se o delito for da esfera eleitoral, serão processados no
de representantes de um Estado estrangeiro; gozam tam- TRE, portanto é incabível o que previa a Constituição anterior
bém de inviolabilidade de habitação, desde que não sejam quando determinava que a imunidade concedida a deputa-
utilizadas as dependências para a prática de crimes ou dar dos estaduais era restrita à Justiça do Estado.
abrigo a criminosos comuns, pois, se assim o for, cessa a in- Quanto aos vereadores, eles gozam de imunidade ab-
violabilidade. Outrossim, as sedes diplomáticas não são mais soluta, enquanto estiverem no exercício do seu mandato e
consideradas extensões do território alienígena, pertencem na circunscrição de seu Município, mas não têm imunidade
ao Estado onde se encontra, embora seja também inviolável, processual e nem foro privilegiado, embora possuam direito
mas permite-se que sejam invadidas por autoridades locais à prisão especial, de acordo com a Lei nº 3.181/1967.
em casos de urgência, como a ocorrência de algum acidente “Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e pe-
Noções de Direito Penal

grave; somente o Estado acreditante pode renunciar a imu- nalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.
nidade diplomática, nunca o próprio diplomata, uma vez Os Deputados e Senadores desde a expedição do diploma
que ela pertence ao Estado e não ao indivíduo. serão submetidos a julgamento perante o STF. Desde a expe-
dição do diploma, os membros do Congresso Nacional não
*Observações gerais quanto às imunidades consulares: poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável.
vale ressaltar que somente os funcionários consulares de Neste caso, os  autos serão remetidos dentro de 24 horas
carreira (o cônsul-geral, o cônsul, o vice-cônsul e o agente à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus
consular), no exercício de suas funções, gozam de tal imu- membros, resolva sobre a prisão. A sustação do processo
nidade, uma vez que ela não beneficia qualquer tipo de suspende a prescrição, enquanto durar o mandato”. Não
funcionário consular honorário, inclusive o cônsul honorário. pode o congressista abrir mão dessa imunidade, vez que a
Atribui-se ainda tal imunidade aos empregados consulares, imunidade pertence ao Parlamento e não ao congressista, de
desde que estes façam parte do corpo técnico e adminis- modo que é irrenunciável, por ser tal prerrogativa de caráter
trativo consulado, excluindo-se aqui da imunidade penal os institucional, inerente ao Poder Legislativo, que só é confe-
membros de sua família e os empregados pessoais tendo rida ao parlamentar ratione numeris, em função do cargo e
em vista que eles não podem atuar no exercício da função, não do mandato que exerce, portanto, não se reconhece ao

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congressista, em tema de imunidade parlamentar, a facul- • não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por
dade de a ela renunciar. Ressalte-se ainda que a imunidade outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo
parlamentar não se estenda ao corréu sem essa prerrogativa. a lei mais favorável.
Outrossim, prevalece, ainda, no contexto das imunidades o
sigilo parlamentar, que desobriga o congressista “a testemu- Atendidas as condições supramencionadas, a lei brasileira
nhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra
do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes brasileiro fora do Brasil, se reunidas as condições previstas
confiaram ou deles receberam informações”. Além disso, no parágrafo anterior:
os parlamentares devem ser ouvidos em lugar previamente • não foi pedida ou foi negada a extradição;
agendado com o juiz, quando forem testemunhas, não ca- • houve requisição do Ministro da Justiça.
bendo qualquer tipo de condução coercitiva.
Por fim, é relevante frisar que, quanto às imunidades di- Observações
plomáticas e consulares, trata-se de exceção ao princípio da
territorialidade, previsto em Convenção subscrita pelo Brasil, • Este item atenta-se para o chamado Princípio da Defesa
concedendo aos diplomatas e cônsules isenção à jurisdição ou da Personalidade Passiva.
brasileira, motivo pelo qual somente podem ser processados • É bom salientar que, quanto ao crime de tortura, a Lei
criminalmente em seus países de origem; quanto às imunida- nº 9.455/1997 prevê em seu art. 2º, que no que se re-
des parlamentares, cuida-se de exceção ao princípio da terri- fere ao princípio da extraterritorialidade condicionada,
torialidade previsto na CF, possibilitando que o parlamentar, aplica-se a lei brasileira ainda que o crime não tenha
no exercício de seu mandato, por opiniões, palavras e voto, sido cometido em território nacional, sendo a vítima
não possa ser criminal e civilmente responsabilizado. Permi- brasileira ou encontrando-se o agente em local sob
te, ainda, que os processos criminais contra eles instaurados jurisdição brasileira.
possam ser sustados pela Casa Legislativa correspondente.
Eficácia da Sentença Estrangeira
Casos de Extraterritorialidade
Toda sentença judicial é ato de soberania do Estado. Mas
a) Incondicionada: ainda que absolvido ou condenado no para garantir a maior eficiência possível ao combate das práti-
estrangeiro, o agente será punido segundo a lei brasileira (se cas de fatos criminosos, o Estado se vale, por exceção, de atos
o agente já foi condenado no estrangeiro, deve-se observar de soberania de outros Estados aos quais atribuem certos e
o art. 8º do CP que traz: “a pena cumprida no estrangeiro determinados efeitos. Para tanto, homologa a sentença penal
atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando estrangeira, de modo a torná-la um verdadeiro título executi-
diversas, ou nela é computada, quando idênticas”) nos casos vo nacional, ou independentemente de prévia homologação,
dá-lhe o caráter de fato juridicamente relevante, de acordo
de crimes:
com o art. 9º do CP (GRECO). Segundo este artigo, a sentença
• contra a vida ou a liberdade do Presidente da República
estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na
(princípio real, da defesa ou proteção);
espécie as mesmas consequências, pode ser homologada no
• contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Dis-
Brasil para obrigar o condenado a reparar o dano, a restituir
trito Federal, de Estado, de Território, de Município,
a coisa e a outros efeitos civis, sujeitando-o ainda a medida
de empresa pública, sociedade de economia mista, de segurança, contudo a homologação depende de pedido
autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público da parte interessada e da existência de tratado de extradição
(princípio real, da defesa ou proteção); com o país de cuja autoridade judiciária emanou a sentença,
• contra a Administração Pública, por quem está a seu ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça
serviço (princípio real, da defesa ou proteção); (observe-se que o sujeito não pode ser preso, no Brasil, em
• de genocídio, quando o agente for brasileiro ou do- razão de homologação de sentença estrangeira).
miciliado no Brasil (princípio da justiça universal, que Como a execução da pena também é um ato de sobera-
defende que o genocida onde quer que se encontre, nia, os efeitos da sentença penal estrangeira são limitados
deverá ser punido com a lei do país respectivo; ou aqui no Brasil. Assim como as leis estrangeiras não são aplica-
princípio real, da defesa ou proteção, que defende das no território nacional, aqui seus julgados não podem ser
que quando o genocídio atinja um bem brasileiro, a lei executados, exceto quando a lei penal brasileira produzir as
brasileira deverá ser aplicada). mesmas consequências da lei estrangeira, aí se homologa a
sentença estrangeira, mas somente para consequências civis
b) Condicionada: dependendo do concurso de algumas (reparação do dano, restituições) e aplicação de medidas de
condições, os crimes: segurança. A homologação aqui dita cabe ao STJ.
• que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a A sentença estrangeira pode ser homologada no Brasil.
reprimir (princípio da justiça universal);
Noções de Direito Penal

A homologação depende do pedido da parte interessada,


• praticados por brasileiro (princípio da nacionalidade da existência de tratado de extradição com o país de cuja
ativa); autoridade judiciária emanou a sentença ou de requisição
• praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, do Ministro da Justiça.
mercantes ou de propriedade privada, quando em
território estrangeiro e aí não sejam julgados (princípio Contagem de Prazo
da representação).
Nos prazos processuais não se computa o dia do começo,
As condições que devem ser atendidas são: incluindo-se, porém, o do vencimento; já, segundo o art. 10
• entrar o agente no território nacional; do CP, que não é prazo processual, mas penal, o dia do
• ser o fato punível também no país em que foi praticado; começo inclui-se no cômputo do prazo, sendo contados os
• estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei dias, os meses e os anos pelo calendário comum, contudo,
brasileira autoriza a extradição; segundo o art. 11 do CP, desprezam-se nas penas privativas
• não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não de liberdade e nas restritivas de direito as frações de dia e,
ter aí cumprido a pena; na pena de multa, as de “cruzeiro”. Em outras palavras, não

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importa a que horas do dia começou a correr o prazo, já cípio, de empresa pública, sociedade de economia
que se conta o dia todo para efeito de contagem de prazo. mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder
Assim, se alguém é preso por força de uma prisão temporária, Público;
às 23h55min, os cinco minutos restantes já são considerados c) contra a administração pública, por quem está a
como um dia inteiro. seu serviço;
É de bom alvitre salientar que os prazos penais são fatais d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou
e improrrogáveis, mesmo que terminem em domingos e domiciliado no Brasil;
feriados (CAPEZ). II – os crimes:
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou
Artigos Pertinentes a reprimir;
b) praticados por brasileiro;
Anterioridade da Lei c) praticados em aeronaves ou embarcações brasilei-
Art. 1º Não há crime sem lei anterior que o defina. ras, mercantes ou de propriedade privada, quando
Não há pena sem prévia cominação legal. em território estrangeiro e aí não sejam julgados.
§ 1º Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo
Lei Penal no Tempo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado
Art. 2º Ninguém pode ser punido por fato que lei no estrangeiro.
posterior deixa de considerar crime, cessando em § 2º Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira
virtude dela a execução e os efeitos penais da sen- depende do concurso das seguintes condições:
tença condenatória. a) entrar o agente no território nacional;
Parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer b) ser o fato punível também no país em que foi
modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos ante- praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a
riores, ainda que decididos por sentença condena-
lei brasileira autoriza a extradição;
tória transitada em julgado.
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou
Lei Excepcional ou Temporária não ter aí cumprido a pena;
Art. 3º A lei excepcional ou temporária, embora e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou,
decorrido o período de sua duração ou cessadas as por outro motivo, não estar extinta a punibilidade,
segundo a lei mais favorável.
circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato
§ 3º A lei brasileira aplica-se também ao crime come-
praticado durante sua vigência.
tido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil,
Tempo do Crime se, reunidas as condições previstas no parágrafo
Art. 4º Considera-se praticado o crime no momento anterior:
da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça.
do resultado.

Territorialidade Pena Cumprida no Estrangeiro


Art. 5º Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de con- Art. 8º A pena cumprida no estrangeiro atenua a
venções, tratados e regras de direito internacional, pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando
diversas, ou nela é computada, quando idênticas.
ao crime cometido no território nacional.
§ 1º Para os efeitos penais, consideram-se como
Eficácia de Sentença Estrangeira
extensão do território nacional as embarcações e ae- Art. 9º A sentença estrangeira, quando a aplicação
ronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço da lei brasileira produz na espécie as mesmas con-
do governo brasileiro onde quer que se encontrem, seqüências, pode ser homologada no Brasil para:
bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, I – obrigar o condenado à reparação do dano, a res-
mercantes ou de propriedade privada, que se achem, tituições e a outros efeitos civis;
respectivamente, no espaço aéreo correspondente II – sujeitá-lo a medida de segurança.
ou em alto-mar. Parágrafo único. A homologação depende:
§ 2º É também aplicável a lei brasileira aos crimes a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da
praticados a bordo de aeronaves ou embarcações parte interessada;
estrangeiras de propriedade privada, achando-se c) para os outros efeitos, da existência de tratado de
aquelas em pouso no território nacional ou em voo extradição com o país de cuja autoridade judiciária
no espaço aéreo correspondente, e estas em porto emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de re-
ou mar territorial do Brasil. quisição do Ministro da Justiça.
Noções de Direito Penal

Lugar do Crime Contagem de Prazo


Art. 6º Considera-se praticado o crime no lugar em Art. 10. O dia do começo inclui-se no cômputo do
que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo
bem como onde se produziu ou deveria produzir-se calendário comum.
o resultado.
Frações não Computáveis da Pena
Extraterritorialidade Art. 11. Desprezam-se, nas penas privativas de liber-
Art. 7º Ficam sujeitos à lei brasileira, embora come- dade e nas restritivas de direitos, as frações de dia, e,
tidos no estrangeiro: na pena de multa, as frações de cruzeiro.
I – os crimes:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da Legislação Especial
República; Art. 12. As regras gerais deste Código aplicam-se
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do aos fatos incriminados por lei especial, se esta não
Distrito Federal, de Estado, de Território, de Muni- dispuser de modo diverso.

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IMPUTABILIDADE PENAL civilizado ou não adaptado à sociedade, surdo-mudo que
não tenha capacidade de entendimento) ou retardado
Imputabilidade Penal (arts. 26 a 28) (imbecil, idiota, oligofrênico ou demente, ou com déficit de
inteligência). O sistema de aferição é biopsicológico (causa
Para a Teoria da Imputabilidade Moral (ou do livre ar- geradora prevista em lei, causa presente na época do fato);
bítrio), o homem é um ser inteligente e livre, que possui a consequência: medida de segurança. Todavia, “se não era
capacidade de poder escolher entre o bem e o mal, o certo inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato” –
e o errado, podendo, pois, vir a ser responsabilizado pelos será a pena diminuída de 1/3 a 2/3. A aferição da menori-
atos ilícitos que vier a praticar. Imputável é, pois, aquele dade dá-se pelo sistema exclusivamente biológico (não se
que tem aptidão para ser culpável, já que ele sabe o que questiona se o agente era ou não capaz de entendimento
faz e age de acordo com esse entendimento. Sendo assim, ou de se autodeterminar);
a imputabilidade penal seria um elemento ou pressuposto b) menor de idade – menor de 18 anos. O sistema de
da culpabilidade, haja vista que o agente deve saber que sua aferição é o biológico (causa gerada em lei). A consequência
conduta pode gerar consequências. será a aplicação de medida socioeducativa;
Segundo o ordenamento jurídico brasileiro, imputar é c) embriaguez completa proveniente de caso fortuito
atribuir a alguém a responsabilidade pelos atos praticados. (inesperado, imprevisível) ou força maior (forçado por tercei-
O agente deve ter capacidade de se autodeterminar, ou ros), também chamada de embriaguez acidental. Aqui, o sis-
seja, deve ele agir sabendo que sua conduta pode lhe gerar tema de aferição é biopsicológico e tem por consequência a
consequências. Se no momento da ação ou omissão que absolvição. Todavia, se incompleta, sendo que o agente não
tenha dado causa ao resultado lesivo o agente é inteira- possuía a plena capacidade de entendimento, a pena será
mente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de reduzida de 1/3 a 2/3.
determinar-se segundo este entendimento, deverá ficar Obs.: inclui-se como causa de exclusão da imputabilidade
isento de pena. Contudo, sendo o agente parcialmente capaz, a embriaguez patológica.
não haverá exclusão da imputabilidade, mas apenas redução
da pena imposta de um a dois terços. Ao agente inimputá- Não extinguem a imputabilidade:
vel ou semi-imputável, aplica-se medida de segurança e, a) emoção (estado afetivo, violento, repentino ou de
não necessariamente, pena. Observe que ao inimputável curta duração) ou paixão (crônica e duradoura: amor, ódio,
cabe medida de segurança; já, ao semi-imputável, ou seja, ciúmes). Nesses casos, pode haver a redução da pena;
aquele que teve parte de sua capacidade de entendimento b) embriaguez voluntária ou culposa – Embriaguez não
prejudicada em razão de alguma doença mental ou de um acidental. Voluntária é aquela em que o agente quis se em-
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, cabe o briagar ou aceitou o risco de se embriagar. Culposa é aquela
redutor de pena de um a dois terços, contudo o juiz poderá em que o agente se embriagou imprudentemente – excedeu-
optar por aplicar a medida de segurança a ele no lugar da -se. Em outras palavras, a embriaguez que poderá excluir a
pena, já que não pode aplicar as duas ao mesmo tempo.
imputabilidade e, por consequência, isentar o autor de pena
Sinteticamente, teríamos:
a) a incapacidade é plena: haverá absolvição (isenção de é a embriaguez acidental e não a voluntária ou culposa, já
pena) e aplicação de medida de segurança ao inimputável; que, se o agente tem a intenção de embriagar-se ou, mesmo
b) a incapacidade é relativa: haverá redução de pena de que não a tenha, mas podia decidir em fazê-lo ou não, não
1/3 a 2/3 ou apenas medida de segurança. poderá ter reconhecida a excludente da imputabilidade,
tendo em vista que possuía livre-arbítrio naquele momento.
Faz-se mister frisar que para que os doentes mentais Há uma outra forma de embriaguez em que o agente
sejam considerados inimputáveis, deverão ter ao tempo se embriaga ou se entorpece com o fito de praticar crime,
da ação ou omissão, incapacidade plena de compreender é a chamada actio liberae in causa, ou ação livre quando da
a ilicitude da sua conduta, senão serão responsabilizados conduta. Diferentemente da embriaguez voluntária, em que
pelo resultado lesivo por eles causados, e tal incapacidade, o agente se embriaga por que assim pretendeu, mas não
para que seja provada, requer exames específicos (como para praticar crime, aqui, ele tem esse propósito. A doutrina
psicológicos e psiquiátricos). denominou tal tipo de embriaguez como preordenada, que,
Sistemas ou critério de aferição da inimputabilidade: além de não reduzir a pena imposta ao autor, irá exasperá-
a) biológico (ou etiológico): segundo essa corrente, toda -la. É a agravante genérica prevista no art. 61, II, “l”, do CP).
anomalia psíquica é causa de inimputabilidade. Não se leva Por fim, vale frisar que a inimputabilidade tem o condão
em conta se a perturbação retirou do agente a inteligência de excluir a culpabilidade.
ou vontade quando do cometimento do fato. Uma vez com-
provada a anomalia, o agente não pode ser responsabilizado Artigos Pertinentes
por sua conduta.
b) psicológico: para essa corrente são verificadas so- Inimputáveis
Noções de Direito Penal

mente as condições psíquicas do autor no momento do Art. 26. É isento de pena o agente que, por doença
fato, desconsiderando se naquele instante o agente possuía mental ou desenvolvimento mental incompleto ou
algum distúrbio psíquico, que, uma vez verificado, deve ser retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão,
considerado causa de inimputabilidade, não podendo ser inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito
responsabilizado pelos atos praticados;
do fato ou de determinar-se de acordo com esse
c) biopsicológico (ou biopsicológico normativo ou misto):
entendimento.
é o produto da combinação entre os dois primeiros. Para essa
corrente, verifica-se, nesta ordem:
• se o agente é doente mental ou possui desenvolvimen- Redução de pena
to mental incompleto ou retardado; Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de um a
• se o agente era capaz de entender o caráter ilícito do fato. dois terços, se o agente, em virtude de perturbação
de saúde mental ou por desenvolvimento mental
Extinguem a imputabilidade: incompleto ou retardado não era inteiramente capaz
a) doença mental (esquizofrenia, psicopatia, epilepsia de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-
etc.) ou desenvolvimento mental incompleto, (índio não -se de acordo com esse entendimento.

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Menores de dezoito anos legal) de superior hierárquico, tornando viciada a vontade
Art. 27. Os menores de 18 (dezoito) anos são pe- do subordinado e afastando a exigência de conduta diversa.
nalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas Observe que se o subordinado cumpre ordem ilegal de seu
estabelecidas na legislação especial. superior, sabendo de sua ilegalidade, ambos responderão
pela conduta caso não o saiba, somente o superior hierár-
Emoção e paixão quico irá responder pelo ato praticado, ficando afastada a
Art. 28. Não excluem a imputabilidade penal: culpabilidade do agente subordinado.
I – a emoção ou a paixão; A culpabilidade, portanto, refere-se a juízo de censura,
de reprovabilidade, que se faz sobre a conduta típica e anti-
Embriaguez jurídica do agente, podendo-se exigir do agente que ele se
II – a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool comporte de maneira diversa em algumas circunstâncias,
ou substância de efeitos análogos. que, não o fazendo, poderá vir a ser responsabilizado crimi-
§ 1º É isento de pena o agente que, por embriaguez nalmente. Não havendo a culpabilidade, a conduta continua
completa, proveniente de caso fortuito ou força típica e antijurídica, mas, por faltar o pressuposto para
maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteira- aplicação da pena, o agente não poderá ser punido por suas
mente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou atitudes. São elementos da culpabilidade a imputabilidade
de determinar-se de acordo com esse entendimento. (capacidade de se autodeterminar), potencial consciência
§ 2º A pena pode ser reduzida de um a dois terços, da ilicitude do fato e exigibilidade de conduta diversa. Por
se o agente, por embriaguez, proveniente de caso consequência, são causas que excluem a culpabilidade, den-
fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da tre outras: a) a inimputabilidade: que se apura por doença
ação ou da omissão, a plena capacidade de entender mental, desenvolvimento mental incompleto ou retardado,
o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força
com esse entendimento. maior; b) não potencial consciência da ilicitude do fato:
que é o erro de proibição inevitável; c) inexigibilidade de
CULPABILIDADE conduta diversa: que se verifica na coação moral irresistível
e na obediência hierárquica. Há, ainda, outras causas de
exclusão da culpabilidade como a legítima defesa putativa.
A culpabilidade está associada à censurabilidade ou
reprovabilidade. Portanto, se a conduta do agente é re- As definições, outrora apresentadas, no que se refere
provável, também será culpável, ou seja, a culpabilidade aos elementos normativos da culpabilidade são trazidas
consiste num juízo de desvalor da conduta. Os requisitos pelo finalismo de Welzel, contudo, em relação a potencial
da culpabilidade são imputabilidade, potencial consciên- consciência sobre a ilicitude do fato, que é um desses ele-
cia da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa, sendo mentos, faz-se mister frisar que o dolo e a culpa migram da
que imputabilidade se refere a poder se atribuir a alguém culpabilidade para o fato típico, mais especificamente para a
responsabilidade por seus atos. No momento da ação ou conduta do agente. O dolo passou a ser elemento normativo
omissão que tenha dado causa ao resultado lesivo, o agen- na culpabilidade (potencial consciência da ilicitude). Quando
te deve ser plenamente capaz de entender o caráter ilícito se fala em potencial consciência da ilicitude, não significa que
do fato ou de determinar-se segundo esse entendimento, o agente deva efetivamente saber que sua conduta incorre
caso contrário, ficará isento de pena. Portanto, a imputabi- em ilícito penal, mas, basta que ele tenha a possibilidade
lidade tem a ver com a menoridade penal (idade inferior a de, no caso concreto, alcançar esse conhecimento, que de-
18 anos), com a doença mental (como a esquizofrenia) ou verá ser responsabilizado penalmente, caso pratique algum
desenvolvimento mental incompleto (aqui se inclui o índio ilícito. Aqui, procura-se verificar se nas condições em que se
não civilizado e o surdo-mudo que não possui capacidade de encontrava o agente tinha ele condições de compreender
se autodeterminar) ou retardado (o imbecil, o idiota) e com que o fato que pratica é ilícito. Assim, o erro sobre a ilicitude
a embriaguez completa proveniente de caso fortuito (algo do fato não é visto no erro de tipo, mas na culpabilidade.
inesperado, imprevisível) ou força maior (quando, por exem- Conforme já visto, para a teoria finalista de Welzel, a cul-
plo, forçado por terceiros). Em todos esses casos o agente pabilidade possui três elementos normativos: a imputabili-
é dito inimputável; por potencial consciência da ilicitude dade, que é a possibilidade de se atribuir ou imputar o fato
ou da antijuridicidade deve-se entender como aquela não típico e ilícito ao agente; a potencial consciência da ilicitude,
necessariamente efetiva, bastando que seja potencial, ou que é verificar se nas condições em que se encontrava o
seja, se o agente, com algum esforço ou cuidado, poderia agente tinha ele condições de compreender que o fato que
saber que o fato é ilícito, portanto, verifica-se se ele tinha praticava era ilícito; e exigibilidade de conduta diversa, que
capacidade de se autodeterminar. A potencial consciência é a possibilidade que tinha o agente de, no momento da ação
da ilicitude, portanto, se refere à possibilidade de que tem ou omissão, agir de acordo com o Direito, considerando-se a
o agente de conhecer o caráter injusto do fato. Trata-se do sua particular condição de pessoa humana. Para isso, levam-
Noções de Direito Penal

chamado erro de proibição, ou também erro sobre a ilici- -se em consideração as características subjetivas do agente,
tude do fato, aquele que faz com que o agente não saiba como sua instrução, inteligência, situação econômica etc.
que pratica um ato ilícito, excluindo assim a consciência da (GRECO).
ilicitude de sua ação ou omissão. Se no momento em que Quanto à coação irresistível e a obediência hierárquica,
realizava a conduta não a sabia proibida, exclui a culpabilida- foi visto que ambas se referem a causas de exclusão da culpa-
de, desde que inevitável ou escusável. Todavia, se evitável ou bilidade e não da ilicitude, por faltar um dos seus elementos
inescusável, terá pena reduzida de 1/6 a 1/3; por fim, tem-se normativos, quer seja, a exigibilidade de conduta diversa.
a exigibilidade de conduta diversa, a qual se refere ao fato Mas é bom frisar que a coação irresistível, aqui mencionada,
de se saber se, naquelas circunstâncias, seria exigível que o refere-se somente a coação moral, pois, se a coação for física,
agente agisse de forma diversa, pois, se, nas circunstâncias, não será causa de exclusão da culpabilidade, como a primeira
era impossível ao agente agir de outra forma, não haveria o é, mas será causa de atipicidade da conduta.
pena para ele. Este item se refere à coação moral irresistí- Desta forma, o Código Penal adotou a Teoria Normativa
vel e à obediência hierárquica, quer seja, à obediência a Limitada. Todavia, verifiquemos a evolução histórica da
ordem não manifestamente ilegal (aquela aparentemente culpabilidade.

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Teoria Psicológica Teoria Psicológica-normativa
1. Sistema causalista. 1. Sistema neokantista.
2. Elementos: imputabilidade, dolo natural (vontade e 2. Elementos: imputabilidade, dolo normativo (vontade,
consciência). consciência, consciência da ilicitude), exigibilidade de
3. Erro de tipo e erro de proibição excluíam a culpabilidade. conduta diversa).
3. Erro de tipo e erro de proibição excluem a culpabilidade.
Teoria Normativa Pura Teoria Normativa Limitada
1. Sistema finalista. 1. Sistema finalista.
2. Elementos: imputabilidade, potencial consciência da ili- 2. Elementos: imputabilidade, potencial consciência da ili-
citude, exigibilidade de conduta diversa. citude, exigibilidade de conduta diversa.
3. Erro de tipo: erra sobre as elementares ou as circunstân- 3. Erro de tipo: sobre elementares ou circunstância ou
cias de um tipo penal. Se invencível exclui o dolo e culpa, pressupostos fáticos de uma causa justificante. (descri-
se vencível exclui a culpa. minante putativa por erro de tipo ou erro de tipo permis-
Paradigma: previsibilidade objetiva. sivo. Ex.: atira no primo pensando ser um assaltante).
4. Erro de proibição: direito (não conhece a proibição) indi- 4. Erro de proibição: Direito (não conhece a proibição, ex.:
reto (todo erro que recai sobre excludente ou dirimente). holandês fumando maconha ou conhece e interpreta
Se invencível exclui a culpabilidade, se vencível, diminui- mal, ex.: mãe “transportando droga para a delegacia) e
ção de pena. indireto ou descriminante putativa por erro de proibição
Paradigma: previsibilidade subjetiva. (erro sobre os limites normativos de uma excludente ou
Obs.: erro de tipo incide sobre situação fática. Erro de proi- sobre a existência da justificante, ex.: matar mulher trai-
bição, limites autorizadores da norma. Toda espécie de des- dora por legítima defesa da honra).
criminante putativa é erro de proibição. Obs.: no erro de proibição indireto, tem perfeita noção da
situação fática, mas aprecia erroneamente os limites da
norma. O agente não sabe que está praticando um crime.

Em síntese, são causas excludentes da culpabilidade: a inimputabilidade (menoridade, doença mental ou desenvolvimento
mental incompleto ou retardado e a embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior), o erro de proibição
(quando inevitável), a obediência hierárquica, a coação moral irresistível e a legítima defesa putativa. Já os itens “estado de
necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal, exercício regular de direito e consentimento do ofendido”
(neste caso, quando o bem é disponível), não excluem a culpabilidade, mas a antijuridicidade (ou ilicitude).

Culpabilidade (Elementos) Excludentes da Culpabilidade


Imputabilidade: pode se atribuir a alguém res- Inimputabilidade (menor de idade, doente mental e embriaguez completa
ponsabilidade por seus atos. e acidental).
Potencial Consciência da Ilicitude: o agente, com Erro de Proibição: faz com que o agente não saiba que pratica um ato
algum esforço ou cuidado, poderia saber que o ilícito, excluindo assim a consciência da ilicitude de sua ação ou omissão.
fato é ilícito, portanto, verifica-se que ele tinha Se no momento em que realizava a conduta não a sabia proibida, exclui
capacidade de se autodeterminar. Basta ser a culpabilidade, desde que inevitável ou escusável. Todavia, se evitável
potencial, não necessitando ser total. ou inescusável, terá pena reduzida de 1/6 a 1/3.
Exigibilidade de Conduta Diversa: naquelas cir- Obediência Hierárquica (obediência a ordem não manifestamente ilegal –
cunstâncias, seria exigível que o agente agisse aquela aparentemente legal – de superior hierárquico, tornando viciada
de forma diversa e não praticasse um crime. a vontade do subordinado e afastando a exigência de conduta diversa;
todavia se o subordinado tiver conhecimento da ilegalidade também
responde pelo crime praticado) e Coação Moral Irresistível (se a coação
for irresistível somente o coator responderá pelo crime praticado pelo
coato, todavia se resistível, ambos respondem pela prática do crime, sendo
aplicada uma atenuante ao coagido, art. 65, II, c, do CP).

CONCURSO DE PESSOAS A teoria adotada, a Monista, se respaldada no art. 29


do CP, a qual traz que todos os que concorrem para o crime
Concurso de Pessoas (arts. 29 a 31) incidem nas mesmas penas a este cominadas, na medida
Noções de Direito Penal

de sua culpabilidade. Em outras palavras, ainda que o crime


Há concurso de pessoas quando dois ou mais indi- seja praticado por diversas pessoas, ele permanece único e
víduos concorrem para a prática de um mesmo crime. indivisível. Contudo, a própria lei admite que haja punições
Pode também ser chamado de concurso de agentes ou diferenciadas conforme a participação dos agentes, ou seja,
codelinquência. pune-se de forma diferente a participação em determina-
Ao definir o concurso de agentes, o CP adotou a Teoria das situações, diferenciando-se a autoria da participação,
Monista ou Unitária, segundo a qual o autor é aquele que aproximando-se, portanto, da Teoria Dualista. Sendo assim,
realiza a conduta principal descrita no tipo penal e o partícipe há quem defenda que o Brasil adotou a Teoria Monista “mi-
é aquele que, embora não realize a conduta descrita no tigada”, temperada ou matizada para definir o concurso de
tipo penal, concorre para a sua realização. Para essa teoria, pessoas em práticas delituosas.
havendo concurso de pessoas há um só crime. A Reforma
Penal de 1984 adotou a Teoria Monista, equiparando auto- ESQUEMA nº 1 – TEORIA MONISTA: afirma que todos que
res e partícipes, ou seja, todos os concorrentes incidem nas concorrerem para prática de um crime, responderão em
mesmas penas, mas na medida de sua culpabilidade. regra pelo mesmo crime.

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Ex.: A, B, C e D resolvem fazer um assalto e se organizam Restando patente a divisão de tarefas entre os corréus,
da seguinte forma: não há que se falar em conduta estanque do partícipe, tam-
• A – fica vigiando a casa do lado de fora. bém chamada de participação de menos importância, mas
• B – entra na casa e passa subtrair os bens no andar de cima. numa efetiva colaboração de todos os envolvidos. A conduta
• C – entra na casa e passa a subtrair os bens no andar de daquele que não realizou o verbo núcleo do tipo, mas par-
baixo. ticipou efetivamente da execução do crime é considerada
• D – é o motorista que fica no carro para dar fuga. funcional ou parcial, sendo assim, aquele que age como “ba-
tedor”, transportando os comparsas e aguardando-os para
Assim, segundo a Teoria Monista adotada pelo CP, todos fuga, responde como coautor e não apenas como partícipe
(A, B, C, D e E) irão responder pelo crime de furto, apesar do crime. Em outras palavras, realizou conduta considerada
de apenas B e C terem realizado a subtração. A diferença imprescindível à consecução do evento, mesmo não tendo
estará na quantidade de pena que será aplicada a cada praticado qualquer elemento objetivo do tipo, participando
um, onde hipoteticamente, B e C receberão pena maior. da execução do crime sem realizar o verbo núcleo do tipo.
Ao adotar, como regra, a Teoria Monista quanto à nature-
Quanto à definição de autoria e participação, o CP adotou
za do concurso de pessoas, quis o legislador reconhecer que
a Teoria Restritiva, onde autor é somente aquele que pratica
todos os que contribuem para a prática do delito cometem
a conduta descrita no núcleo do tipo penal e o partícipe é
o mesmo crime, não importa se eles se enquadram como
aquele que, de alguma forma, auxilia o autor, mas sem rea- coautores ou partícipes da prática delituosa.
lizar a conduta narrada pelo tipo penal. Infere-se, ainda, da legislação brasileira, que se algum dos
concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á
ESQUEMA nº 2 – TEORIA RESTRITIVA: define quem é autor aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até a me-
e partícipe. Autor é aquele que pratica a conduta descrita tade na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.
no núcleo do tipo penal, ou seja, aquele que subtrai, mata, Aprovar a prática de um crime, ou estar de acordo com
constrange alguém, falsifica; partícipe é aquele que, de ele, mas sem nenhuma participação, não constitui ilícito
alguma forma, auxilia o autor, mas sem realizar a conduta penal. Por outro lado, porém, é crime fazer publicamente
narrada pelo tipo penal. apologia de fato criminoso ou de autor de crime, embora,
Novamente analisando o exemplo acima: A, B, C, e D re- isoladamente, não há que se falar em concurso de agentes
solvem fazer um assalto e se organizam da seguinte forma: em práticas delituosas.
• A – fica vigiando a casa do lado de fora. Por fim, saliente-se que, na aplicação da lei penal, o caráter
• B – entra na casa e passa subtrair os bens no andar de cima. é pessoal, mas proporcional à culpa. Sendo assim, segundo a
• C – entra na casa e passa a subtrair os bens no andar de teoria adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro, ao definir
baixo. que todos os que contribuem para a prática do delito cometem
• D – é o motorista que fica no carro para dar fuga. o mesmo crime, não havendo distinção quanto ao enquadra-
mento típico entre o autor e o partícipe, engessaria a tipificação,
Já verificamos que segundo a Teoria Monista todos responde- por exemplo, do crime de corrupção ativa, já que o funcionário
rão pelo mesmo crime, ou seja, furto. Agora segundo a Teoria público não comete o mesmo crime do particular que lhe ofe-
Restritiva, autor é somente que pratica a conduta típica, ou rece a vantagem indevida, mas crime de corrupção passiva, se
seja, no exemplo acima aqueles que efetuaram a subtração. vier a receber a tal vantagem, motivo pelo qual a teoria adotada
Assim autores serão B e C. Já A e D, auxiliaram a prática crimi- não pode vista apenas na literalidade de seu texto.
nosa, sem diretamente executá-la, ou seja, serão os partícipes. Requisitos do concurso de pessoas:
• pluralidade de comportamentos – no mínimo duas
Agora vamos incrementar este exemplo acrescendo mais condutas;
uma personagem, E, que planejou todo o assalto, é o man- • nexo de causalidade – todas as condutas devem ter
dante, e fica em casa aguardando o cometimento do assalto. contribuído para a ocorrência do resultado;
Segundo a Teoria Restritiva, por ele executar a conduta típica, • vínculo (liame) subjetivo – há vontade de cada agente
ele será um partícipe. Isto pode causar espanto, todavia, de- de contribuir para a produção do resultado. Não haven-
vemos lembrar que segundo a Teoria Monista ele responderá do concursos de vontades, desaparecerá o concurso
também pelo crime de furto, tendo a sua penalidade aplicada de agentes, surgindo a autoria colateral. Aqui, todos
conforme sua influência para prática criminosa. buscam o mesmo resultado;
Todavia, há uma parte da doutrina que discorda do po- • identidade de infrações – a infração é a mesma para
sicionamento acima apontado e para, então complementar todos os concorrentes. Todos respondem solidaria-
a Teoria Restritiva, surge a Teoria do Domínio do Fato, em mente pela ação, apurando-se o grau de participação.
lições de Hanz Welzel. Para ela: O crime é o mesmo.
• Autor é o senhor do fato, ou seja, é aquele que possui
o domínio final do fato, haja vista que aquele que re- Teorias, sobre a Autoria, Aplicadas à Legislação Penal
aliza a conduta descrita no tipo penal tem o poder de Brasileira
Noções de Direito Penal

decidir se vai até o fim com o plano criminoso. Aqui,


surge a divisão de tarefas, onde o agente, além de Teoria Restritiva: segundo essa teoria, autor é somente
ter o poder de decisão sobre o fato último, possui a aquele que pratica a conduta descrita no tipo penal.
capacidade de cumprir ou não a parcela do delito que Teoria do Domínio do Fato: segundo ela, autor é todo
lhe foi atribuída. Sendo assim, o autor possui o manejo aquele que detém o controle final da produção do resultado,
dos fatos e o leva a sua realização. possuindo, assim, o domínio completo de todas as ações até
• Partícipe é aquele que simplesmente colabora, sem a eclosão do evento pretendido. Não importa se ele realizou
poderes decisórios, a respeito da consumação do fato. o núcleo do tipo (CAPEZ).
Para essa teoria, coautor é o mesmo que autor. O que Embora o CP tenha adotado a Teoria Restritiva, por ela
os diferencia é que na coautoria várias pessoas têm o não tratar de forma satisfatória as hipóteses do mandante e
domínio do fato. Coautor é quem possui qualidades do autor intelectual, surge a Teoria do Domínio do Fato para
específicas do autor capaz de decidir a respeito do complementar a primeira, afirmando que o mandante e o autor
fato por tomar parte também na execução do delito, intelectual são autores, e não partícipes do delito, uma vez que
embora não se exija que todos os concorrentes prati- a Teoria Restritiva diz que, por eles não praticarem os elementos
quem a conduta descrita no núcleo do tipo. do tipo, não são considerados autores, mas, sim, partícipes.

30
Formas no Concurso de Agentes Formas de participação: a participação pode apresentar-
-se de duas formas:
a) Autor: é aquele que pratica diretamente a ação ou tem, • Moral: instigando ou induzindo ao cometimento da
sob seu absoluto domínio, o total comando da ação, mesmo prática delituosa. Não é necessário ato executório,
que outros sejam os executores. Ele participa diretamente da bastando o apoio moral.
conduta delitiva. Para a Teoria Restritiva, é aquele que pratica os • Material: fornecimento de materiais que contribuem
elementos do tipo. Já para a Teoria do Domínio do Fato, o autor para a prática do delito.
é aquele que detém o controle final do fato, dominando toda a
realização delituosa, com plenos poderes para decidir sobre sua Atente-se para o fato: se A e B matam alguém, ou seja,
prática, interrupção ou circunstâncias. Não importa se o agente se B amarra ou segura a pessoa enquanto A atira nela, A e B
pratica ou não o verbo descrito no tipo penal, pois, o que a lei serão coautores do crime. É errôneo dizer aqui que A foi o
exige, é o controle de todos os atos, desde o início da execução autor e B o coautor. Só existiria autor, nesse caso, se A atirasse
até a produção do resultado. Por essa razão, o mandante, em- na pessoa e fosse apenas auxiliado por B, que lhe forneceu a
bora não realize o núcleo da ação típica, deve ser considerado arma ou o instigou para que efetuasse os disparos.
autor, uma vez que detém o controle final do fato até a sua
consumação, determinando a prática delitiva. Autoria colateral

Formas de autoria: Ela não se confunde com o concurso de pessoas, já que


• Autor executor: é aquele que, materialmente, realiza um dos requisitos do concurso de agentes é a existência do
a conduta típica prevista no texto legal. vínculo psicológico entre os envolvidos, ou seja, o liame de
• Autor intelectual: é aquele que idealiza e dirige a ação vontades. Na autoria colateral, não há tal vínculo entre os
por meio de terceiros sobre quem tem absoluto con- agentes. Esta ocorre quando duas pessoas procuram dar
trole, podendo, inclusive, determinar a continuação ou causa a um determinado resultado, convergindo suas con-
paralisação da conduta. A título de exemplo: Cleverson, dutas para tanto, sem estarem unidas pelo liame subjetivo.
vulgarmente conhecido como “Pão com Ovo”, antigo Os agentes desconhecem cada um a conduta do outro, mas
traficante de drogas ilícitas, continuou a dar as ordens realizam atos convergentes à produção do evento a que todos
a sua quadrilha, mesmo estando encarcerado em um visam, mas que ocorre em face do comportamento de um só
presídio de segurança máxima. Logo, “Pão com Ovo” deles. A título de exemplo: Dois veículos chocaram-se em
deve responder como autor intelectual do crime de um cruzamento. Em razão da colisão, um dos motoristas
tráfico de drogas, mesmo não praticando atos de fraturou um braço, o que o impossibilitou de trabalhar por
execução deste crime. seis meses. O outro motorista teve uma luxação no joelho
• Autor mediato: é aquele que de forma consciente e direito. O fato foi apurado pela delegacia local, restando
deliberada faz atuar por ele o outro cuja conduta não cabalmente provado que os motoristas de ambos os carros
reúne todos os requisitos para ser punível. Normal- concorreram para a colisão, pois um, em face da ausência
mente faz uso de um inimputável ou usa de coação de manutenção, estava sem freio, e o outro havia avançado
moral irresistível para que terceiros pratique a conduta o sinal e estava em velocidade acima da permitida. Assim,
descrita no tipo penal. conclui-se que se trata de hipótese de autoria colateral.
A autoria colateral pode ser classificada, então, em dois tipos:
b) Coautoria: é a união de vontades de diversas pessoas • autoria colateral certa: ocorre quando é possível iden-
para alcançar o mesmo resultado. Na coautoria, ocorre a tificar qual dos agentes deu causa ao resultado;
divisão dos atos que tendem à execução de ação delituosa. • autoria colateral incerta: ocorre quando não é possível
É quem executa, juntamente com outras pessoas que tenham saber qual dos indivíduos produziu o resultado.
o mesmo objetivo, a ação ou omissão que tipifica o delito.
Para a Teoria Restritiva, o coautor é aquele que pratica os Obs.: não se confunde autoria colateral incerta com
elementos do tipo ou parte dele (divisão de tarefas). Para autoria desconhecida. Na primeira, sabem-se quem são os
a Teoria do Domínio do Fato, é  aquele que, possuindo o autores do crime, apenas não se sabe, ao certo, qual deles
domínio do fato, divide tarefas, auxiliando o autor. Existem deu causa ao resultado. Na autoria desconhecida, os autores
duas espécies de coautoria: a coautoria propriamente dita, é que não são conhecidos, não se podendo imputar os fatos
ou seja, há uma divisão de tarefas em sede de tipo em que a qualquer pessoa.
o coautor realiza tarefas tidas como essenciais ao crime;
a coautoria funcional, ou seja, aquela cuja conduta reste Comunicação de circunstâncias
imprescindível à consecução do evento, mesmo que não
tenha praticado qualquer elemento objetivo do tipo. A título Segundo o CP, não se comunicam as circunstâncias e as
de exemplo: Sílvio e Mário, por determinação de Valmeia, condições de caráter pessoal (motivos ou relações com a
prima de Sílvio, tomaram vários eletrodomésticos da casa vítima, estado civil etc.) dos agentes, salvo quando elemen-
de Joaquina, que havia saído para trabalhar. Após a divisão tares do crime (dados que constam do tipo). É necessário que
Noções de Direito Penal

em partes iguais, Valmeia, por necessitar para utilização o coautor ou partícipe tenha conhecimento da elementar,
em sua casa, comprou de Sílvio e Mário os eletrodomésticos para que se comunique.
que lhes couberam na divisão. Logo, pode-se afirmar que
Observe que, para se comunicarem, segundo essa redação,
Valmeia, Sílvio e Mário são coautores do crime de furto.
as circunstâncias pessoais devem ser elementares do crime.
c) Participação: dá ideia de situação acessória. O partí-
cipe colabora para a consumação, mas não se encontra em Elementar é um componente essencial do tipo penal, sem o
condições de influir no resultado. É aquele que participa qual desaparecerá o crime. Exemplificaria a expressão o cri-
indiretamente do crime. Para a Teoria Restritiva, é aquele me de peculato, em que a condição de funcionário público é
que concorre para o crime sem praticar os elementos do tipo, elementar do delito. Ora, não existindo a figura do funcionário
ou seja, induzindo, instigando e auxiliando. Para a Teoria do público, que é elementar do crime de peculato, não existe o
Domínio do Fato, partícipe é quem, sem domínio próprio do delito. As elementares, não importa se subjetiva (de caráter
fato, ocasiona ou, de qualquer forma, promove, como figura pessoal) ou objetiva (de caráter não pessoal), sempre se co-
lateral do acontecimento real, o seu cometimento. É todo municam. Já as circunstâncias, que são dados acessórios agre-
aquele cujo comportamento na cena criminosa não reste gados ao tipo penal, cuja função é precípua de influir na pena,
imprescindível à consecução do evento. se de caráter pessoal (subjetiva), jamais irão se comunicar no

31
concurso de agentes, e as de caráter não pessoal (objetiva), 5 – No crime de extorsão mediante sequestro, o coautor
só se comunicarão aos demais envolvidos se eles delas tiver que denunciar o fato à autoridade, facilitando a libertação
conhecimento. Exemplo disso seria no crime de furto praticado do sequestrado, terá a pena reduzida de um a dois terços.
durante o repouso noturno. Ora, se a conduta dos agentes se
der em período diurno, o delito de furto continuará existindo, Artigos Pertinentes
só não se aplicando, no caso, o agravante de ter sido praticado
durante o período de repouso noturno. Regras comuns às penas privativas de liberdade
Em face do exposto, visto foi que elementar é componente Art. 29. Quem, de qualquer modo, concorre para o
essencial do crime e circunstância é mero acessório do ilícito crime incide nas penas a este cominadas, na medida
penal , motivo pelo qual o texto do CP se contradiz ao mencio- de sua culpabilidade.
nar circunstância elementar. Esta se refere às qualificadoras, § 1º Se a participação for de menor importância,
que são circunstâncias comuns, que, por sua vez, não têm o a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço.
condão de eliminar o crime, apenas de passá-lo de sua forma §  2º Se algum dos concorrentes quis participar de
qualificada para a forma simples, seguindo, então, a orientação crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste;
para as circunstâncias. Estas podem ser objetivas e se referem essa pena será aumentada até metade, na hipótese
aos aspectos do crime, como tempo, lugar, modo de execução, de ter sido previsível o resultado mais grave.
meios empregados, qualidades do objeto, da vítima etc. Elas
se referem ao fato em si, e não ao agente; já as circunstâncias Circunstâncias incomunicáveis
subjetivas se referem ao agente, e não ao fato, como reincidên- Art.  30. Não se comunicam as circunstâncias e as
cia, antecedentes, conduta social, personalidade etc. (CAPEZ) condições de caráter pessoal, salvo quando elemen-
tares do crime.
Observações gerais sobre o concurso de agentes
Casos de impunibilidade
1 – Pode haver coautoria em crime culposo, como no caso Art. 31. O ajuste, a determinação ou instigação e o
de dois médicos imperitos realizando juntos uma operação. auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não
2 – Entende a doutrina que no crime culposo não pode são puníveis, se o crime não chega, pelo menos,
haver partícipe, uma vez que a colaboração consciente para a ser tentado.
o resultado só existe no crime doloso.
3 – Não é possível a coautoria em crime omissivo. Na Síntese Esquemática sobre a Teoria Geral do Crime
confluência de duas ou mais omissões, cada um responderá,
isoladamente, pela sua própria omissão. Crime: definição de crime sob o aspecto analítico, ou seja,
4 – O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, aquele que o conceitua sob o prisma jurídico, estudando seus
salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis se elementos estruturais.
o crime não chega, pelo menos, a ser tentado.

Fato Típico Antijurídico (ilícito) Culpável


(Elementos) (Excludentes) (Elementos)
Conduta Estado de necessidade Imputabilidade
Resultado Legítima defesa Potencial consciência da ilicitude
Nexo causal Estrito cumprimento de dever legal Exigibilidade de conduta diversa
Tipicidade Exercício regular de direito

Culpabilidade: juízo de reprovação.

Elementos Excludentes
Imputabilidade Inimputabilidade (arts. 26, 27 e 28, § 1º)
Potencial consciência da ilicitude Erro de proibição
Exigibilidade de conduta diversa Coação moral irresistível e obediência hierárquica

Excludentes Diversas

Ilicitude Culpabilidade Tipicidade Punibilidade


Estado de necessidade Inimputabilidade (todas as causas) Coação física irresistível Morte do agente
Legítima defesa Erro de proibição inevitável Princípio da insignificância Anistia, graça e indulto
Noções de Direito Penal

Estrito cumprimento de dever legal Coação moral irresistível Erro de tipo escusável Prescrição, decadência e perempção
Exercício regular de direito Obediência hierárquica Abolitio criminis (retroatividade da lei
que não mais considera o fato criminoso)
* Consentimento do ofendido (para Estado de necessidade putativo Renúncia e perdão
bens disponíveis)
* Ofensa irrogada em juízo na discus- Legítima defesa putativa Retratação do agente
são da causa
* Aborto terapêutico e aborto sen- Perdão judicial
timental
* Violação de domicílio nos casos
previstos na CF
* Coação visando a impedir a prática
de suicídio

(*) São causas supralegais de exclusão de ilicitude.

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DOS CRIMES CONTRA A PESSOA ralístico para a sua consumação), de forma livre (pode ser
praticado de qualquer maneira, não existindo no tipo penal
O seu estudo subdivide-se em: dos crimes contra a vida, uma forma previsão), comissivo (por ação) ou omissivo (por
das lesões corporais, da periclitação da vida e da saúde, da omissão), instantâneo de efeitos permanentes (a consuma-
rixa e dos crimes contra a honra. ção ocorre em um dano momento, ou seja, com a morte,
porém este efeito, a morte, se prolonga no tempo), de dano
(há efetiva lesão ao bem jurídico protegido pela norma),
Dos Crimes Contra a Vida  unissubjetivo (pode ser praticado por apenas uma pessoa),
plurissubsistente (para se consumar, depende da realização
Quando praticado de forma dolosa, são julgados perante
de mais de um ato), admite tentativa, monoofensivo (atinge
o Tribunal do Júri. Abarcam:
apenas um objeto jurídico).
• Homicídio doloso (o homicídio culposo não será jul- 10) Homicídio simples é crime hediondo? Somente se
gado perante o Tribunal do Júri); praticado em grupo de extermínio.
• Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio;
• Infanticídio; Homicídio privilegiado 
• Aborto.
Art. 121. [...]
Homicídio § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo
de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio
Consiste na conduta de “Matar alguém”. Ele se classifi- de violenta emoção, logo em seguida a injusta provo-
ca em: homicídio simples, homicídio privilegiado, homicídio cação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um
qualificado e homicídio culposo. sexto a um terço.

Homicídio simples Também consiste em matar alguém, todavia tal homicídio


decorre de algumas circunstâncias, tais como: por motivo de
Art. 121. Matar alguém. relevante valor moral, por motivo de relevante valor social ou
Pena – reclusão de 6 a 20 anos. sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima. Desta formam o autor responde pelo
1) Classificação: dos crimes contra a vida. Julgamento: crime, contudo, com uma diminuição de pena.
Tribunal do Júri.
2) Conceito: matar alguém. 1) Natureza jurídica ­­­­­­­­­­­­­­­­­­do crime de homicídio privilegiado:­­­
3) Objeto jurídico (bem jurídico tutelado, protegido, por causa de diminuição de pena de 1/6 a 1/3.
aquele tipo penal): vida humana extrauterina (a morte de 2) A redução de pena é obrigatória ou facultativa? Obriga-
uma vida intrauterina será aborto). tória. Estando presentes tais circunstâncias o juiz é obrigado
4) Objeto material (coisa sobre a qual recai a ação do a reduzir a pena.
agente): vida humana.
5) Sujeito ativo: qualquer pessoa. Portanto, crime comum, Hipóteses
ou seja, aquele que pode ser praticado por qualquer pessoa. a) Motivo de relevante valor moral  – Significa matar
6) Sujeito passivo: ­­­­qualquer pessoa. alguém motivado por um sentimento individual, que por
7) Consumação: morte, que para o direito penal ocorre muitos é considerado morte, por exemplo, a eutanásia, em
com o encerramento das atividades encefálicas. Portanto, que o agente por piedade desliga os aparelhos de um parente
crime material, pois necessita do resultado naturalístico para que encontra-se em um estado vegetativo. Será um homi-
a sua consumação. cídio, todavia com a aplicação de uma diminuição de pena.
8) Cabe tentativa. b) Motivo de relevante valor social  – Significa matar
alguém motivado por um interesse coletivo, por um anseio
Qual a diferença entre o crime de tentativa de homicídio, social, por exemplo, matar um traidor da pátria.
em que a vítima ao receber um tiro na perna fica ferida, ou c) Sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a
seja, com lesões corporais, do crime de lesão corporal con- injusta provocação da vítima – O agente deve ter ser sido pro-
sumado? É o dolo, vejamos o esquema abaixo: vocado injustamente pela vítima, o que o deixou dominado
por uma violenta emoção que o levou a matá-la. Exemplo:
Tentativa de Homicídio Crime de Lesão Corporal pai encontra o estuprador de sua filha e mata-o.
Todavia, não confundir:
Consumado
• Domínio – O agente deve estar dominado de uma
“A” querendo matar “B” “A” querendo lesionar “B” violenta emoção e não apenas sob a influência de uma
(portanto, dolo de matar) (portanto, dolo de lesionar)
Noções de Direito Penal

violente emoção. Estar dominado significa estar total-


atirou. todavia, a bala atingiu atirou em sua perna. Assim, mente controlado pela emoção, sem indícios de razão.
a perna de “B” causando “A” responderá pelo crime Desta forma, estará dentro da norma do homicídio
lesões corporais, e não vindo de lesão corporal consu- privilegiado. Agora, se ele estiver apenas influenciado
“B” a falecer. Assim, como a mado. por uma violenta emoção é porque há ainda indícios
intenção de “A” era matar, de razão, assim, estaremos diante de um homicídio
apesar da morte não ter simples com a aplicação da atenuante genérica prevista
ocorrido por circunstâncias no art. 65, inciso III, alínea c do Código Penal;
alheia à vontade do agente, • Emoção – Atenção, o legislador usou o termo emoção
“A” responderá por tentativa e não paixão, tendo em vista que a emoção é algo
de homicídio e não por lesão passageiro e a paixão, algo duradouro. Assim, há o
corporal consumada. homicídio privilegiado quando estamos diante de um
descontrole momentâneo e não duradouro. Portanto,
9) Classificação: crime comum (pode ser praticado por matar por ciúmes não será homicídio privilegiado, pois
qualquer pessoa), material (necessita do resultado natu- este não é um sentimento repentino e sim prolongado.

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• Logo em seguida – Não pode haver um lapso temporal – Sufocação – Objeto que impede a entrada do ar.
muito grande entre momento da provocação e o ho- Pano ou travesseiro no nariz, boca;
micídio. No momento do crime o agente ainda deve – Afogamento – Submersão em meio líquido;
estar dominado de violente emoção; – Soterramento – Submersão em meio sólido;
• Injusta provocação – Xingamento, flagrante adultério. – Imprensamento – Peso na região do diafragma;
Todavia, se houver uma injusta agressão, estaremos – Uso de gás asfixiante;
diante de legítima defesa. – Confinamento – Reduto fechado sem circulação
de ar.
Atenção! Observe que todas as causas privilegiadoras • Meio insidioso – Armadilha ou fraude para atingir a
são de caráter subjetivo, porque estão ligadas a motiva- vítima sem que ela perceba, por exemplo, sabotagem
ção do crime e conforme a aplicação do art. 30 do Código de freio.
Penal não se comunicam aos coautores e partícipes que • Qualquer meio que possa ocasionar perigo comum –
tenham atuado por outros motivos. Assim, no exemplo Meio utilizado para causar a morte da vítima e tenha
do pai que mata o estuprador da filha, supondo que um potencialidade de causar risco de vida para inúmeras
amigo do pai ao ver a cena, não sabendo que se tratava de outras pessoas, por exemplo, desabamento, corte
um estuprador, ajude o amigo o matá-lo. O pai responderá de luz em hospital. Se for fogo ou explosivo, será a
qualificadora de fogo e explosivo.
por homicídio privilegiado e o seu amigo por homicídio.
• Tortura ou qualquer outro meio cruel – Sujeitar a
vítima a graves e inúteis sofrimento físico e mental.
3) Existe homicídio privilegiado hediondo? Não. Ex.: apedrejamento, pisoteamento, choque elétrico,
mutilações.
Homicídio qualificado

Art. 121. [...] Atenção! Qual a diferença entre o crime de homicídio


§ 2º Se o homicídio é cometido: qualificado pela tortura e o crime de tortura qualificado
I – mediante paga ou promessa de recompensa ou pela morte? Novamente afirmados que é o dolo. Vejamos:
por outro motivo torpe; Homicídio Qualificado Crime de Tortura
II – por motivo fútil; pela Tortura Qualificado pela Morte
III – com o emprego de veneno, fogo, explosivo,
asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou Aqui o agente tem o dolo de Aqui o agente tem o dolo de
que posso resultar perigo comum; matar e usa a tortura como torturar e a título de culpa
IV – à traição, de emboscada, ou mediante dissimula- meio. a vítima acaba vir a falecer.
ção ou outro recurso que dificulte ou torne impossível
a defesa do ofendido; c) Quanto ao modo de execução
V – para assegurar a execução, a ocultação, a impu- • Traição – A vítima tem uma prévia confiança no autor
nidade ou vantagem de outro crime. de crime, nunca imaginando que ele a mataria.
Pena – reclusão de 12 a 30 anos. • Emboscada – Tocaia.
• Dissimulação – Usa-se de um disfarce para cometer
1) O homicídio qualificado é crime hediondo? Sim. o crime.
2) Passemos a estudar todas as qualificadoras. Vamos • Qualquer outro recurso que dificulte ou torne impos-
dividi-las por grupo: sível a defesa da vítima. Ex.: atirar pelas costas, matar
a) Quanto ao motivo quem está dormindo.
• Mediante paga ou promessa de recompensa – Homi- d) Por conexão – O tempo entre o dois crimes é irrelevante.
cídio mercenário. O mandante paga para o executor • Teleológica – Mata-se para assegurar a execução
cometer o crime ou o executor comete o crime de outro crime. Ex.: mata o marido para estuprar a
mediante a promessa de uma recompensa. Ambos esposa. Este homicídio será qualificado.
• Consequencial – Mata para assegurar a ocultação,
respondem pelo crime. A recompensa não necessita
impunidade ou vantagem de outro crime. Ex.: mata
ser apenas econômica, podendo ser uma promessa testemunha que presenciou o crime, ou matar o
de emprego, um casamento etc. É um crime de con- comparsa para ficar com toda a vantagem do crime.
curso necessário, pois pressupõe o envolvimento de
no mínimo duas pessoas. Obs.: a premeditação não é qualificadora.
• Motivo torpe – Repugnante. Ex.: matar os pais para
ficar com a herança. e) É possível homicídio privilegiado qualificado? Sim,
• Motivo fútil  – Insignificante. Ex.: matar alguém em desde que as qualificadoras sejam objetivas, uma vez que
todas as causas privilegiadoras são subjetivas. Assim, as qua-
Noções de Direito Penal

uma briga de trânsito.


b) Quanto aos meios empregados lificadoras podem ser classificadas:
• Veneno – Substância química introduzida no organis- • Qualificadoras objetivas – Quanto aos meios empre-
mo que pode causar a morte. Deve ser introduzida gados e quanto ao modo de execução;
sem que a vítima perceba. Se esta perceber considera- • Qualificadoras subjetivas – Quanto ao motivo e por
-se homicídio qualificado pelo meio cruel. conexão.
• Fogo ou explosivo – O crime de dano qualificado fica
absorvido, art. 163, II do CP, princípio da subsidiarie- Dessa maneira, para montar a figura do homicídio privile-
dade expresso. giado qualificado deve-se unir as qualificadoras objetivas
• Asfixia – Impedimento da função respiratória. Poderá com as causas privilegiadoras (que são todas subjetivas).
ser: Ex.: matar o estuprador da filha (sob domínio de violenta
– Esganadura – Mãos e pés no pescoço do agente; emoção – causa privilegiadora) mediante uma emboscada
– Estrangulamento – Fios, arames, cordas no pescoço (qualificadora objetiva).
do agente;
– Enforcamento – O próprio peso da vítima; f) Homicídio qualificado privilegiado é hediondo? Não.

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Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) Perdão judicial. Somente é aplicado ao homicídio culposo:
a) quando o sofrimento percebido pelo próprio agente
Art. 121. [...] em face de sua conduta culposa for tão grande que torna a
§ 2º Se o homicídio é cometido: aplicação da pena insignificante;
VI – contra a mulher por razões da condição de sexo b) aplica-se no momento da sentença;
feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) c) natureza jurídica – causa de extinção da punibilidade.
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts.
142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do Obs. 1: “A” e “B” agem imprudentemente e matam o filho
sistema prisional e da Força Nacional de Segurança de “A”. Somente A receberá o perdão judicial.
Pública, no exercício da função ou em decorrência Obs. 2: “A” imprudentemente causa a morte de seu filho
dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente e do colega dele. A doutrina e a jurisprudência divergem
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa con- acerca do cabimento de perdão em relação a ambos ou
dição: (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)
somente em relação ao filho.
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
§ 2º-A Considera-se que há razões de condição de Obs.: com a regra prevista no art. 121, § 6º:
sexo feminino quando o crime envolve: (Incluído pela
Lei nº 13.104, de 2015) § 6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a
I – violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei metade se o crime for praticado por milícia privada,
nº 13.104, de 2015) sob o pretexto de prestação de serviço de segurança,
II – menosprezo ou discriminação à condição de mu- ou por grupo de extermínio. (Incluído pela Lei nº
lher. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) 12.720, de 2012)
Homicídio culposo Obs.: com a nova regra prevista no art. 121, § 7º:
Art. 121. [...] § 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um
§ 3º Se o homicídio é culposo: terço) até a metade se o crime for praticado: (Incluído
Pena – detenção, de um a três anos. pela Lei nº 13.104, de 2015)
I – durante a gestação ou nos 3 (três) meses poste-
Dar causa ao resultado morte por imprudência, negli- riores ao parto; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
gência e imperícia. II – contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior
De maneira diferente ao homicídio doloso o agente não de 60 (sessenta) anos ou com deficiência; (Incluído
quer a produção do resultado morte, apenas pratica a conduta pela Lei nº 13.104, de 2015)
de forma desastrosa de forma a alcançar o resultado, morte. III – na presença de descendente ou de ascendente
1) Matar alguém por imprudência – Ação descuidada. da vítima. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
Ex.: limpar a arma em local público, vindo esta a disparar.
2) Matar alguém por negligência – Ausência de uma Induzimento, Auxílio ou Instigação ao Suicídio
precaução. Ex.: deixar uma arma ao alcance de crianças.
3) Matar por imperícia – Falta de aptidão para o exercício
de uma função. Ex.: erro médico. Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou
prestar-lhe auxílio para que o faça:
Pena – reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se
Atenção! Não existe compensação de culpas. Se o consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentati-
agente e a vítima agiram culposamente para a ocorrência va de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave
do crime, a responsabilidade de um não exclui a do outro.
1) A doutrina chama o presente crime de participação
Causa de aumento de pena em suicídio.
2) Conduta: a lei não pune quem tenta se suicidar e sim
Art. 121. [...] quem:
§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de a) induz: dar a ideia;
1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância b) instiga: reforçar a ideia já existente;
de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o c) auxilia materialmente, por exemplo, quer empresta
agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, uma arma para quem manifestou a vontade de se suicidar.
não procura diminuir as consequências do seu ato, 3) Objeto jurídico (bem jurídico tutelado, protegido, por
ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso aquele tipo penal): vida humana.
o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) 4) Objeto material (coisa sobre a qual recai a ação do
se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 agente): vida humana.
(quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. 5) Sujeito ativo: qualquer pessoa. É crime comum.
§ 5º Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá 6) Sujeito passivo: qualquer pessoa determinada ou
Noções de Direito Penal

deixar de aplicar a pena, se as consequências da in- determinável, bem como que tenha capacidade de enten-
fração atingirem o próprio agente de forma tão grave dimento e resistência. A conduta deve ser dirigida a uma
que a sanção penal se torne desnecessária. (Incluído pessoa ou grupo de pessoas determinados. Assim, autores de
pela Lei nº 6.416, de 24/5/1977) livros ou de letras de música que instigam ao suicídio, e tendo
alguém que efetivamente influenciado por tais ideias vem a
Homicídio doloso tem Homicídio culposo tem como se matar, tais autores não respondem por este crime, pois
como causa de aumento causa de aumento de pena: 1/3. ao escreverem suas letras e obras acabaram por atingirem
de pena: 1/3. Quando praticado: uma gama indeterminada de pessoas.
Quando praticado contra • Inobservância de regra téc- 7) Consumação: com a ocorrência da morte ou da lesão
menor de 14 anos e maior nica de profissão ou ofício. grave. Este crime possui uma característica peculiar, pois não há
de 60 anos. • Deixar de prestar socorro. tentativa. Vejamos, ou o agente induz, instiga ou auxilia alguém
• Não procura diminuir as a se matar e esta pessoa efetivamente morre ou fica com uma
consequências de seus atos. lesão grave e o crime encontra-se efetivamente consumado, ou
• Foge para evitar prisão em a vítima apenas fica com lesões leves é o fato é atípico, hipótese
flagrante. do crime tentado. Esta foi uma opção do legislador.

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8) Casos clássicos: Ambos respondem pelo A mãe responde por infanti-
• várias pessoas fazem roleta-russa, uns estimulando crime de infanticídio. cídio e o pai por homicídio.
os outros, os sobreviventes respondem pelo crime
do artigo 122; 5) Sujeito passivo: próprio filho recém-nascido. Deve ser
• se duas pessoas fazem pacto de morte e uma delas apenas o recém-nascido porque o tipo penal fala em “durante
se mata e a outra desiste, a sobrevivente responderá o parto ou logo após”. Assim:
pelo crime previsto no artigo 122;
• se duas pessoas decidem morrer conjuntamente e se
trancam em um compartimento fechado e uma delas Mãe sob a influência do Mãe sob a influência do
liga o gás, mas apenas a outra morre, haverá homicídio estado puerperal mata seu estado puerperal mata seu
por parte daquela que ligou o gás. próprio filho recém-nascido. próprio filho recém-nascido
9) Causa de aumento de pena: e o outro filho de 5 anos.
• se o crime é praticado por motivos egoísticos. Ex.: ob- Responderá por infanticídio. Em relação ao recém-nasci-
tenção de vantagem econômica com a morte da vítima; do responderá pelo crime de
• a vítima é menor de idade, 18 anos; infanticídio. Já em relação ao
• se a vítima tem diminuída a sua capacidade de resis- filho de 5 anos responderá
tência – está bêbado ou em depressão. pelo crime de homicídio.

Atenção! Se a vítima não tiver nenhuma capacidade de 6) Consumação: morte. É crime material.
resistência (ex.: débil mental) o crime será de homicídio.
Obs.: somente haverá o crime de infanticídio se este foi
10) Classificação: crime comum (pode ser praticado por praticado por influência do estado puerperal. Do contrário,
qualquer pessoa); material (necessita do resultado naturalísti- não diagnosticado por perícia médica o estado de puerpério,
co para a sua consumação); de forma livre (pode ser praticado estaremos diante do crime de homicídio.
de qualquer maneira, não existindo no tipo penal uma forma
previsão); comissivo (por ação); instantâneo (a consumação 7) Não confundir os crimes abaixo:
ocorre em um dano momento); de dano (há efetiva lesão ao
bem jurídico protegido pela norma); unissubjetivo (pode ser Infanticídio – Art. 123 do CP Abandono de recém-nas-
praticado por apenas uma pessoa), não admite tentativa; • Conduta – Matar, sob a in- cido – Art. 134, § 2º do CP
monoofensivo (atinge apenas um objeto jurídico). fluência do estado puerpe- • Conduta – Expor ou
ral, o próprio filho, durante abandonar recém-nas-
§ 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um o parto ou logo após. cido, para ocultar de-
terço) até a metade se o crime for praticado: (Incluído • O dolo é de matar e se sonra própria.
pela Lei nº 13.104, de 2015) pratica sob a influência do • O dolo é de abandonar
I – durante a gestação ou nos 3 (três) meses poste- estado puerperal. o recém-nascido devido
riores ao parto; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) a vergonha acerca da
II – contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior gestação.
de 60 (sessenta) anos ou com deficiência; (Incluído
pela Lei nº 13.104, de 2015) Obs.: se o dolo for de matar
III – na presença de descendente ou de ascendente mediante abandono do
da vítima. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) recém-nascido, se a mãe
estiver sob o estado puer-
Infanticídio peral será infanticídio, se
não será homicídio.
Art. 123. Matar, sob a influência do estado puerperal,
o próprio filho, durante o parto ou logo após. Aborto
Pena – detenção de 2 a 6 anos.
Art. 124. Provocar aborto em si mesma ou consentir
1) Conduta: matar + influência do estado puerperal + pró- que outrem lho provoque.
prio filho + durante o parto ou logo após. Trata-se de um tipo de Pena – detenção de 1 a 3 anos.
homicídio, mas o legislador entendeu que por se tratar de uma Art. 125. Provocar aborto sem o consentimento da
pena mais branda. É a aplicação do princípio da especialidade. gestante.
2) Objeto jurídico (bem jurídico tutelado, protegido, por
Pena – reclusão de 3 a 10 anos.
aquele tipo penal): vida humana extrauterina (a morte de
uma vida intrauterina será aborto). Art. 126. Provocar aborto com o consentimento da
3) Objeto material (coisa sobre a qual recai a ação do gestante.
Pena – reclusão de 1 a 4 anos.
Noções de Direito Penal

agente): vida humana.


4) Sujeito ativa: mãe no estado puerperal. É crime próprio, Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior,
pois somente pode ser praticado por este sujeito ativo. Agora se a gestante não é maior de 14 anos ou é alienada
em relação ao concurso de pessoas: deve-se verificar se o coau- ou débil mental, ou se o consentimento é obtido
tor conhece a elementar “sob a influência do estado puerperal”. mediante fraude, grave ameaça ou violência.
Art. 127. As penas cominadas nos artigos anteriores
são aumentadas de 1/3, se, em consequência do
Mãe sob a influência do Mãe sob a influência do es- aborto ou dos meios empregados para provocá-lo,
estado puerperal juntamen- tado puerperal juntamente a  gestante sofre lesão corporal de natureza grave;
te com o pai (concurso de com o pai (concurso de pes- são duplicadas, se, por destas causas, lhe sobrevém
pessoas), que sabe do estado soas), que não sabe do esta- a morte.
de saúde de sua mulher (co- do de saúde de sua mulher Art. 128. Não se pune o aborto praticado por médico:
nhece a elementar do tipo (não conhece a elementar do I – se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
penal “sob a influência do tipo penal “sob a influência II – se a gravidez resulta de estupro e o aborto é
estado puerperal”) matam do estado puerperal”) ma- precedido de consentimento da gestante ou quando
o filho recém-nascido. tam o filho recém-nascido. incapaz, de seu representante legal.

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1) Conceito de aborto: interrupção da gravidez com o consentimento dela responderá pelo crime previsto
consequente morte do feto. no art. 126 do CP: “Aborto provocado com o consen-
2) Início da gravidez: há uma divergência em relação ao timento da gestante”.
início da vida, parte entende que ocorre com a fecundação e
parte entende que ocorre com a nidação, que é a implantação Resumo
do óvulo já fecundado no útero. Gestante consente que terceiro pratique aborto nela, es-
3) Objeto jurídico: tutela-se a vida intrauteirna, ou seja, tando diante de uma coautoria:
a vida do feto. • Gestante – Responderá pelo crime previsto no art. 124
4) Objeto material: também será a vida do feto. do CP.
• Terceiro – Responderá pelo crime previsto no art. 126
Atenção! Para configurar o crime de aborto a conduta deve do CP.
ser praticada enquanto o feto encontra-se no ventre da
gestante, independentemente se é expelido ou não com O sujeito passivo será o feto e a consumação ocorrerá
vida, pois conforme a Teoria Geral do Crime, o crime ocorre com morte deste.
no momento da ação ou omissão, independentemente do
momento de resultado criminoso. Assim, vejamos: b) Aborto provocado com o consentimento da gestan-
a) são praticadas manobras abortivas enquanto o feto te – art. 126 do CP.
encontra-se no ventre da gestante e ali mesmo ele vem a Neste caso, como já colocado o sujeito ativo do crime
óbito – configura-se o crime de aborto; é o terceiro que pratica o aborto com o consentimento da
b) são praticadas manobras abortivas enquanto o feto gestante. Ela, responderá pelo crime previsto no artigo 124
encontra-se no ventre da gestante, todavia ele é expelido do Código Penal. O sujeito passivo será o feto e a consuma-
com vida e logo após vem a óbito – configura-se o crime ção ocorrerá com morte deste.
de aborto porque a conduta foi praticada quando o feto
encontrava-se no ventre materno; c) Aborto provocado por terceiro sem o consentimento
c) são praticadas manobras abortivas enquanto o feto da gestante – art. 125 do CP.
encontra-se no ventre da gestante, todavia o feto é expelido Aqui estamos diante de uma situação diversa. O crime
com vida, vindo a sobreviver. Logo em seguida ele é asfi- ocorrerá nas seguintes situações:
xiado – configura-se o crime de homicídio, pois a conduta • Terceiro pratica aborto na gestante sem o consenti-
foi praticada quando o feto encontrava-se fora do ventre mento desta;
da gestante. • Terceiro pratica aborto na gestante e esta lhe dá um
Assim: consentimento, todavia, este não pode ser conside-
• Conduta praticada com o feto dentro do ventre da ges- rado válido por que:
tante – aborto. I – a gestante não é maior de 14 anos;
• Conduta praticada com o feto fora do ventre da gestan- II – a gestante é alienada ou débil mental;
te – homicídio. III – o consentimento da gestante foi obtido mediante
fraude, grave ameaça ou violência.
5) Consumação: com a morte do feto. É crime material. Assim o sujeito ativo deste crime será o terceiro que pra-
6) Tentativa: se são realizadas manobras abortivas e o tica o aborto nestas condições descritas acima. O sujeito pas-
feto é expelido com vida e sobrevive. sivo será o feto e a consumação ocorrerá com morte deste.
7) Espécies:
a) Autoaborto e consentimento para o aborto – art. 124 Atenção! O art.127 prevê uma causa de aumento de pena
do CP. de 1/3 a ser aplicada apenas ao terceiro que pratica aborto
na gestante, com ou sem o consentimento dela, nos casos
• 1ª parte: “Autoaborto” é o aborto praticado pela pró- em que em consequência do aborto ou dos meios empre-
pria gestante em si mesma. Tem como sujeito ativo a gados para provocá-lo a gestante sofre lesão corporal de
gestante e o sujeito passivo o feto. Consuma-se com natureza grave ou a pena é duplicada se sobrevém a morte
a morte do feto. Destaca-se que qualquer pessoa que da gestante. Algumas considerações:
auxilie a gestante nesta conduta será considerada • a pena somente é aplicada ao terceiro que pratica o
partícipe deste crime, pois é considerado crime de aborto com ou sem o consentimento da gestante, não
mão-própria o qual não admite coautoria. se aplicando a gestante, tendo em vista que o direito
• 2ª parte: “Consentir que terceiro lhe pratique o penal não pune a autolesão;
aborto” – ocorre quando a gestante consente que • somente se aplica o aumento de pena de 1/3 se sobre-
uma terceira pessoa pratique o aborto nela. Nesta vier a gestante lesão corporal grave ou gravíssima. Se
Noções de Direito Penal

situação, vemos uma coautoria, pois os sujeitos ati- a lesão for leve a causa de aumento de pena não será
vos deste crime serão tanto o terceiro que pratica as aplicada;
manobras abortivas quanto a gestante que lhe deu o • se a gestante vier a falecer, a pena será duplicada;
consentimento para tal prática. Todavia, aqui temos
uma exceção à Teria Monista adotada pelo Código Pe- Obs.: trata-se de crimes preterdolosos, ou seja, onde
nal, a qual prevê que “todos os que concorrem para o houve o dolo na prática do aborto e culpa no resul-
crime, respondem pelo mesmo crime”. Se não estivés- tado lesão grave ou morte da gestante. Se o terceiro
semos diante de uma exceção prevista pelo legislador, quis praticar o aborto e após quis lesionar ou matar a
tanto a gestante como o terceiro responderiam por gestante, o terceiro responderá pelo crime de aborto e
este crime previsto no art. 124 do CP. Porém, estamos lesão corporal grave ou homicídio.
diante da Exceção Pluralista à Teria Monista, porque
o próprio legislador previu que a gestante neste caso • se mesmo que o crime de aborto não tenha se consuma-
responderá pelo crime descrito no art. 124 do CP e o do, mas a gestante tenha sofrido lesão grave ou morte,
terceiro que pratica manobras abortivas nela e com a aumento de pena será aplicado.

37
d) Aborto legal – art. 128 do CP: causa especial de ex- Lesão corporal seguida de morte
clusão de ilicitude. § 3º Se resultar morte e as circunstâncias evidencia-
rem que o agente não quis o resultado, nem assumiu
• Aborto necessário: médico + não há outro meio para o risco de produzi-lo.
salvar a vida da gestante.
Não é necessário que o risco que a gestante sofre Diminuição de pena
seja atual, apenas deve ficar comprovado que o pros- Pena – reclusão de 4 a 12 anos.
seguimento da gravidez irá gerar risco de vida para § 4º Se o agente comete o crime impelido por motivo
a gestante. Deve ser praticado por médico, mas em de relevante valor social ou moral ou sob o domínio
um caso de emergência extrema em que não se pode de violenta emoção, logo em seguida a injusta pro-
esperar a chegada e de um médico, o aborto poderá vocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um
ser praticado por uma enfermeira. sexto a um terço.
• Aborto sentimental: médico + consentimento da
gestante ou seu representante lega se incapaz + crime Substituição da pena
de estupro. § 5º O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda
Neste caso, somente pode ser praticado por médico, substituir a pena de detenção pela de multa:
pois não há situação de emergência. Se cometido I – se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo
pela própria gestante ou por uma enfermeira, estas anterior;
responderão pelo crime de aborto. Não é necessário II – se as lesões são recíprocas.
que haja uma condenação pelo crime de estupro, ape-
nas que o médico tenha prova da existência do crime. Lesão corporal culposa
§ 6º Se a lesão é culposa:
Atenção! Não há em nossa legislação a previsão de aborto Pena – detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano.
para casos em que durante os exames pré-natais verifique-
-se que o feto padece de alguma anomalia, mal formação Aumento de pena
ou doença grave. Nestes casos, a interrupção da vida será § 7º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer
considerada aborto. Aguarda-se o julgamento do STF acerca qualquer das hipóteses dos §§ 4º e 6º do art. 121 des-
dos fetos anencéfalos. te Código. (Redação dada pela Lei nº 12.720, de 2012)
§ 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do
Algumas Situações Peculiares: art. 121.
1) O agente quer o aborto e quer a morte da gestante:
responderá pelo crime de aborto e homicídio. Violência doméstica
2) O agente quer matar a mulher e sabe que ela está §  9º Se a lesão for praticada contra ascendente,
grávida, caso o feto também morra – responderá pelo crime descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou
de homicídio e aborto em dolo eventual, pois assumiu o risco com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda,
deste crime ao matar mulher. prevalecendo-se o agente das relações domésticas,
3) O agente quer matar a mulher e não sabe que ela de coabitação ou de hospitalidade:
está grávida e o feto vem a óbito – responderá apenas pelo Pena – detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
crime de homicídio. § 10. Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo,
se as circunstâncias são as indicadas no § 9º deste
Das Lesões Corporais artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço).
§ 11. Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será
Código Penal aumentada de um terço se o crime for cometido
contra pessoa portadora de deficiência.
Art.129. Ofender a integridade corporal ou a saúde § 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou
de outrem. agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição
Pena – detenção de 3 meses a 1 ano. Federal, integrantes do sistema prisional e da Força
Nacional de Segurança Pública, no exercício da função
Lesão corporal de natureza grave ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, com-
§ 1º Se resultar: panheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau,
I – incapacidade para as ocupações a habituais, por em razão dessa condição, a pena é aumentada de um
Noções de Direito Penal

mais de 30 dias; a dois terços. (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)


II – perigo de vida;
III – debilidade permanente de membro, sentido ou 1) Conceito de lesão corporal: ofender a integridade
função; física ou a saúde de outrem. Abrange tanto a ofensas ao
IV – aceleração de parto. corpo como ao funcionamento de órgãos. Assim, incluem
Pena – reclusão de 1 a 5 anos. a causação de hematomas, provocação de vômitos, convul-
§ 2º Se resultar: sões, desmaios.
I – incapacidade permanente para o trabalho; 2) Objeto jurídico: a incolumidade da pessoa em sua
II – enfermidade incurável; integridade física ou psíquica.
III  – perda ou inutilização de membro, sentido ou 3) Objeto material: o físico e o psíquico da vítima.
função; 4) Sujeito ativo: qualquer pessoa. É crime comum.
IV – deformidade permanente; 5) Sujeito passivo: qualquer pessoa.
V – aborto. 6) Consumação: com a ocorrência da lesão a integridade
Pena – reclusão de 2 a 8 anos. física ou psíquica da vítima.

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7) Espécies: Passemos a estudar cada uma das espécies.
a) Lesão corporal dolosa, ela pode ser classificada em: a) Lesão Corporal Leve:
• Leve – art. 129, caput; Conceito – Prevista no caput do art. 129 do CP, o seu
• Grave – art. 129, § 1º; conceito é retirado por exclusão, ou seja, será lesão corpo-
ral leve aquela que não for nem grave nem gravíssima. Da
• Gravíssima – art. 129, § 2º;
mesma maneira, ela não se confunde com a contravenção
• Seguida de morte – art. 129, § 3º. de vias de fato nem com o crime de injúria real. Portanto,
b) Lesão corporal culposa – art. 129, § 6º. é necessário não confundir os conceitos. Vejamos o quadro:

Lesão Leve Contravenção de Vias de Fato Injúria Real


Conceito previsto no art. 129 do CP. Conceito previsto no art. 21 da Lei Conceito previsto no art. 140, § 2º do CP,
É tido como por exclusão, não sendo de Contravenções Penais e consiste consiste na violência empregada com o fim
a lesão nem grave nem a gravíssima. em uma violência que é empregada, de humilhar a vítima. Exemplo: uma bofetada
todavia não causa qualquer dano ao leve na cara em público.
corpo da vítima. Exemplo seria um
empurrão.

Atenção! Com a Lei nº 9.099/1995, a lesão corporal leve passou a ser processada através da ação penal pública condi-
cionada à representação da vítima ou de seu representante legal (art. 88 da Lei nº 9.099/1995). As demais formas de lesões
corporais permanecem sendo processadas por meio de ação penal pública incondicionada.

Passemos a analisar as lesões corporais graves e gravíssimas:

Lesão Corporal Grave – Prevista no art. 129, § 1º, do CP. Lesão Corporal Gravíssima – Prevista no art. 129, § 2º, do CP.
I) Resultar incapacidade para ocupações habituais por mais I) Resultar incapacidade permanente para o trabalho
de 30 dias Aqui as agressões causaram incapacidade permanente e
Para o delito estar configurado é necessário que a vítima, não temporária para o trabalho, não se referindo às demais
devidos as lesões sofridas fique incapacitada para desenvol- atividades.
ver as suas atividades habituais. É necessária a realização de
exame de corpo de delito. Deve-se destacar que atividades
habituais são as condutas rotineiras da vítima como andar,
trabalhar, praticar esportes, não sendo, portanto, apenas o
trabalho. Da mesma forma, se a vítima conseguir desenvolver
suas atividades rotineiras e não as fizer apenas por vergonha
das lesões, não se tratará de lesão corporal grave e sim de
lesão corporal leve.
II) Resultar perigo de vida II) Resultar enfermidade incurável
Se a vítima em decorrência da lesão estiver correndo risco Das agressões surge uma enfermidade incurável, por exem-
de morte. Exemplo: em decorrência das lesões sofridas plo, atingido o pâncreas, diminui-se a produção de insulina
houve grande perda de sangue. Necessário se faz o exame e a vítima torna-se diabética.
de corpo de delito.
III) Resultar debilidade permanente de membro, sentido III) Perda ou inutilização de membro, sentido ou função
e função Muito semelhante ao item ao lado, todavia enquanto no inci-
Debilidade consiste na redução ou enfraquecimento da ca- so IV do § 1º do art. 129 fala-se em redução permanente, aqui
pacidade de funcionamento. Ela deve ser permanente para falamos em perda ou inutilização total de membros, sentidos
então estar configurada a lesão corporal grave. ou função. Exemplo: mutilação de um braço, amputação de
Membros – São braços e pernas. uma perna, perda da visão, incapacidade reprodutora.
Sentido – Olfato, visão, audição, paladar e tato.
Função – Digestiva, reprodutora, respiratória.
Assim, para se configurar o crime de lesão corporal grave a
agressão deve reduzir de forma permanente a capacidade
Noções de Direito Penal

de membros, sentidos e função, por exemplo: diminuir os


movimentos de um braço, o paladar, o sistema circulatório.
IV) Aceleração do parto IV) Resultar aborto
Das agressões sofridas decorrer um parto prematuro. Só é Neste caso o aborto não foi praticado intencionalmente,
aplicado quando o feto nasce com vida, pois se ocorrer o ele decorreu das agressões. É crime preterdoloso em que
aborto o crime será de lesão corporal gravíssima. o agente tem o dolo de praticar lesões corporais na vítima
que está gestante e por culpa acaba por cometer o aborto.
O agente deve saber que a vítima está grávida. Se o agente
tiver a intenção de também causar o aborto, não responderá
pelo crime de lesão corporal gravíssima e sim pelo crime de
aborto.
V) Resultar deformidade permanente
Se das agressões advir um dano estético como queimaduras
ou cicatrizes. O dano estético deve ser permanente.

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b) Lesão Corporal Seguida de Morte corporais em outrem, mesmo em momento algum tendo
É aquela prevista no art. 129, § 3º, do CP em que se pretendido alcançar este resultado.
verifica a presença do dolo na lesão corporal, todavia Diferentemente da lesão corporal dolosa, a culposa não
em decorrência desta acaba por advir uma morte cul- possui a classificação em graus de leve, grave ou gravíssima.
posa. O  agressor quis causar lesões corporais na vítima, A pena será aumentada de 1/3 nas seguintes situações –
todavia em nenhum momento quis a ocorrência de sua quando praticado com:
morte, nem tampouco assumiu o risco para que esta • inobservância de regra técnica de profissão ou ofício;
ocorresse. É um crime preterdoloso e assim, não admitem • deixar de prestar socorro;
tentativa. • não procura diminuir as consequências de seus atos;
Qual a diferença entre o crime de homicídio e de lesão • foge para evitar prisão em flagrante.
corporal seguida de morte, tendo em vista que nos dois casos Da mesma forma do homicídio culposo, na lesão corporal
teremos um cadáver estendido ao chão? culposa é cabível o perdão judicial. Relembrando:

Perdão judicial:
Crime de Homicídio Crime de Lesão Corporal • quando o sofrimento percebido pelo próprio agente
seguida de Morte em face de sua conduta culposa for tão grande que torna a
Aqui o dolo é de matar. Aqui o dolo é de lesionar aplicação da pena insignificante;
Ex.: A atira em B com vonta- e por culpa (negligência, • aplica-se no momento da sentença;
de de matar e B morre. imprudência ou imperícia) a • natureza jurídica – causa de extinção da punibilidade.
vítima vem a morrer.
Ex.: A querendo lesionar B e) Violência Doméstica – Se a lesão corporal leve for
começa a espancá-lo, toda- praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge
via B acaba por morrer dos ou companheiro ou ainda prevalecendo-se o agente da
ferimentos. relação doméstica de coabitação e hospitalidade a pena
c) Lesão Corporal Privilegiada será de detenção de 6 meses a 1 ano.
Requisitos – Muito se assemelha ao crime de homicídio Todavia, se esta lesão for grave ou gravíssima ou seguida
privilegiado: se o agente comete o crime impelido por motivo de morte e for praticada contra estas mesmas pessoas a
de relevante valor social ou relevante valor moral ou sob pena será de 1/3.
o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta Da mesma forma, se quaisquer das pessoas elencadas
provocação da vítima (neste item se aplicam os mesmo acima forem portadoras de deficiência física, a  pena será
comentários atribuídos ao crime de homicídio privilegiado). aumentada de 1/3.
Consequências – O juiz pode reduzir a pena de um sex-
to a um terço. Da mesma forma, poderá, ainda o juiz, não Da Periclitação da Vida e da Saúde
sendo graves as lesões, substituir a pena de detenção pela
de multa, tanto no caso de lesão corporal privilegiada como Perigo de Contágio Venéreo – art. 130 do CP e Perigo
de lesões recíprocas. de Contágio de Moléstia Grave – art. 131 do CP
d) Lesão Corporal Culposa
Conceito – Quando o agente por praticar uma conduta Devido à proximidade destes dois crimes passemos a
imprudente, negligente ou imperita acaba por causar lesões estudá-los de forma comparativa:

Crime de Perigo de Contágio Venéreo – Art. 130 do CP Crime de Perigo de Contágio de Moléstia Grave – Art. 131 do CP
Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que
libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve está contaminado, ato capaz de produzir o contágio:
saber que está contaminado: Pena – reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.
Pena – detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa.
§ 1º Se é intenção do agente transmitir a moléstia:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Objeto jurídico: incolumidade física. Objeto jurídico: incolumidade física.
Sujeito ativo: qualquer pessoa contaminada com uma doença Sujeito ativo: qualquer pessoa contaminada com uma moléstia
venérea. grave.
Obs.: doença venérea é aquela sexualmente transmissível. Obs.: moléstia grave é qualquer doença que provoca séria per-
Noções de Direito Penal

turbação da saúde, pouco importando se curável ou não, todavia


deve ser transmissível.
Sujeito passivo: qualquer pessoa. Sujeito passivo: qualquer pessoa.
Modo de execução do crime: mediante ato sexual ou qualquer Modo de execução do crime: qualquer meio como aperto de
ato libidinoso. É um crime de ação vinculada, em que o legislador mão, beijo, abraço, injeção, talheres.
prevê a forma em que o delito é praticado. Atenção! Se estivermos diante de uma doença venérea, sendo
ela grave e desde que ela não tenha sido transmitida através de
um ato sexual ou ato libidinoso, estaremos diante do presente
delito e não do crime previsto no art. 130 do CP.
O autor do delito sabe que é portador da doença (dolo direto) O autor de delito sabe da doença a qual é portador (dolo direto).
ou deveria saber (modalidade culposa). O tipo penal não traz a previsão de sua prática na modalidade
culposa. Assim, se por descuido pessoal o autor não sabe que
estar infectado com uma moléstia grave e por isso não toma os
devidos cuidados, não haverá crime.

40
Será processada mediante ação penal pública condicionada a Será processada mediante ação penal pública incondicionada.
representação.
Consumação: ocorre com a prática do ato sexual ou do ato Consumação: com a prática do ato capaz de transmitir a molés-
libidinoso independentemente de haver contaminação. É crime tia grave, independentemente de haver contaminação. É crime
formal. formal.
Atenção! Dolo presente neste crime é classificado como dolo de Atenção! Aqui o dolo é de dano, pois o tipo penal prevê a con-
perigo, tendo em vista que o tipo penal afirma que a conduta duta de “praticar ato com o fim de transmitir moléstia grave”.
delituosa é “expor alguém a contágio de doença venérea”, não Neste caso a intenção do agente é o contágio da doença e não
sendo necessário a contaminação ou a morte da vítima. A sim- a simples exposição a uma situação de perigo.
ples exposição já cria uma situação de perigo.
§ 1º Se a intenção do agente é transmitir a doença”. Neste caso
a pena do crime é maior devido a presença do dolo de dano,
bem como o agente deve saber que está contaminado com uma
doença venérea.

Perigo para Vida ou Saúde de Outrem dano efetivo a alguém. A simples exposição já configura o
presente crime. É o chamado dolo de perigo.
Código Penal 5) Consumação: com a prática do ato que faz gerar a
situação de perigo.
Art. 132. Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo 6) Ação nuclear: a exposição a perigo pode ser praticada
direto e iminente: através de uma ação, por exemplo, agredir motorista de
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, se ônibus colocando em risco a vida de todos os passageiros,
o fato não constitui crime mais grave. ou por omissivo, patrão não concede aparelhos de segurança
Parágrafo único. A pena é aumentada de 1/6 (um aos empregados.
sexto) a 1/3 (um terço) se a exposição da vida ou da 7) A conduta deve ser praticada em relação a pessoas
saúde de outrem a perigo decorre do transporte de determinadas.
pessoas para a prestação de serviços em estabele- 8) O perigo deve ser concreto.
9) Previsão expressão do princípio da subsidiariedade –
cimentos de qualquer natureza, em desacordo com
somente haverá o presente crime se o fato não constituir
as normas legais.
um delito mais grave.
1) Objeto jurídico: vida ou saúde de outrem. Abandono de Incapaz – art. 133 e Abandono de
2) Sujeito ativo: qualquer pessoa. Recém-Nascido – art. 134
3) Sujeito passivo: qualquer pessoa.
4) Elemento subjetivo: o crime consiste em expor alguém Passemos a estudar estes crimes de forma comparativa.
a uma situação de perigo, não necessitando que ocorra um Vejamos:

Abandono de Incapaz – Art. 133 do CP Abandono de Recém-Nascido – Art. 134 do CP


Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guardar, vi- Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra
gilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de própria:
defender-se dos riscos resultantes do abandono: Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos. § 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
§ 1º Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave: Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos. § 2º Se resulta a morte:
§ 2º Se resulta a morte: Pena – detenção, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.

Aumento de pena
§ 3º As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um
terço:
I – se o abandono ocorre em lugar ermo;
II – se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão,
Noções de Direito Penal

tutor ou curador da vítima;


III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos.
Objeto jurídico: a vida e saúde do incapaz. Objeto jurídico: a vida e a saúde do recém-nascido.
Sujeito ativo: pessoa que tenha o dever de zelar pelo in- Sujeito ativo: somente pode ser praticado pela mãe ou pelo
capaz, pois o tem sob o seu cuidado, vigilância, guarda ou pai para esconder uma gravidez indesejada.
autoridade.
Obs.: não havendo esta relação de assistência entre as partes
o crime poderá ser eventualmente de omissão de socorro,
art. 135 do CP.
Sujeito passivo: a pessoa que esta subordinada ao sujeito Sujeito passivo: o recém-nascido.
ativo.
Elemento subjetivo: dolo de abandonar, dolo de perigo Elemento subjetivo: dolo de abandonar, dolo de perigo
concreto. concreto.

41
Consumação: com o abandono a vítima sofre uma situação Consumação: quando o recém-nascido é abandonado.
de perigo concreto.
Forma qualificada (preterdolo): se do abandono resultar Forma qualificada (preterdolo): se do abandono resultar
lesão corporal grave ou a morte. lesão corporal grave ou a morte.
Haverá dolo de abandonar e culpa no resultado lesão grave Haverá dolo de abandonar e culpa no resultado lesão grave
ou morte. ou morte.
Aumento de pena de 1/3 se o abandono:
• ocorrer em lugar ermo (desabitado);
• o agente for ascendente, descendente, cônjuge, irmão
tutor e curador;
• vítima maior de 60 anos.

Crime de Omissão de Socorro são – responderá pelo crime de omissão de socorro


qualificado;
Código Penal • o agente tem dolo de omitir socorro e a vítima vem a
Art. 135. Deixar de prestar assistência, quando falecer em decorrência desta omissão – responderá
possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abando- pelo crime de omissão de socorro qualificado;
nada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, • o agente tem dolo de matar, atira na vítima e estando
ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não esta ainda com vida, nega o socorro, vindo, então,
pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: a  vítima a falecer  – responderá apenas pelo crime
Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa. de homicídio, sendo o crime de omissão de socorro
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se absorvido por se tratar de post factum impunível;
da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, • o agente comete um crime de homicídio culposo e
e triplicada, se resulta a morte. não presta socorro à vítima – responderá pelo crime
de homicídio culposo com causa de aumento de pena
1) Conduta: consiste em deixar de prestar socorro a (art. 121, § 4º do CP).
quem necessite.
2) Objeto jurídico: dever de assistência e solidariedade 8) Consumação: momento da omissão do socorro.
entre os homens. 9) Omissão de socorro no trânsito:
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. a) aquele que age culposamente na direção de veículo
4) Sujeito passivo: as pessoas enumeradas na lei: automotor e causar lesões corporais e não socorre a vítima:
• criança abandonada; responderá pelo crime previsto no art. 303, parágrafo único,
• criança extraviada – perdida (perigo abstrato); III, do CTB (Lei nº 9.503/1997);
• pessoa inválida ao desamparo; b) aquele que se envolve em acidente automobilístico,
• pessoa ferida ao desamparo; todavia sem ter agido culposamente e causou lesão e não
• pessoa em grave e eminente perigo (perigo concreto). socorreu a vítima: responderá pelo crime previsto no art. 304
do CTB;
5) Elemento subjetivo: dolo de perigo. c) qualquer outra pessoa envolvida no acidente ou que
6) Elemento objetivo: o crime pode ser praticado de
presencia o acidente e não presta socorro – responderá pelo
duas maneiras:
crime previsto no art.135 do CTB.
a) falta de assistência imediata – Quando o agente pode
prestar o socorro pessoalmente, sem colocar em risco a sua
própria vida e mesma assim se omite; Exemplo: A dirigindo o seu carro de forma imprudente vem
b) falta de assistência mediata – Quando o agente corre a bater no B, que com a pancada sobe na calçada e atropela
risco em prestar socorro à vítima pessoalmente deve este C que está no ponto de ônibus. D, pedestre, que também
solicitar ajuda imediatamente à autoridade pública. está no ponto de ônibus não sofre nenhum ferimento.
Tanto A, como B, como D não prestam socorro a C. Assim:
Obs.: o pedido de ajuda deve ser imediato. • A por estar dirigindo um veículo automotor de forma
imprudente, sua omissão de socorro está prevista no
Atenção! Havendo possibilidade de prestação de socorro Código de Trânsito – art. 303, parágrafo único, III do CTB.
pessoalmente ante a ausência de risco pessoal, o agente • B por estar dirigindo um veículo automotor, mesmo sem
assim deve proceder, pois não se trata de opção do agente, ter dado causa a ele, contribuiu para a ocorrência das
pois se tem condições de socorrer pessoalmente e não o faz, lesões, sua omissão de socorro está prevista no Código
Noções de Direito Penal

responde pelo crime de omissão de socorro, ainda que peça de Trânsito – art. 304 do CTB.
auxílio imediato a autoridade competente. • D por ser um pedestre que a tudo presencia e nada faz,
responderá pelo crime de omissão de socorro previsto
7) Crime de omissão de socorro qualificadora: trata-se no Código Penal – art. 135.
de crime preterdoloso:
• se da omissão de socorro ocorrer lesão corporal na 10) Não confundir crimes omissivos próprios com crimes
vítima a pena é aumentada de ½; omissivos impróprios.
• se da omissão de socorro ocorrer a morte da vítima
a pena é triplicada. a) Crime omissivo próprio – Inexiste o dever jurídico
de agir. Assim para a omissão ter relevância causal com o
Todavia, não se deve confundir: resultado deve haver um tipo incriminador descrevendo a
omissão. Ex.: crime de omissão de socorro, art. 135 CP.
• o agente tem dolo de omitir socorro e a vítima vem b) Crimes omissivos impróprios (omissivos impuros, es-
a sofre lesão corporal em decorrência desta omis- púrios ou comissivos por omissão) – O agente possui o dever

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jurídico de agir previsto em uma norma e se omite. Há uma quer abusando de meios de correção ou disciplina:
norma dizendo o que deve ser feito, criando uma relação Pena – detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano,
causal. Omitindo-se, responderá pelo resultado ocorrido. ou multa.
O art. 13, § 2º descreve quem são as pessoas que possuem § 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
o dever jurídico de agir: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
• Dever legal – Quando houver determinação específica § 2º Se resulta a morte:
em lei, ex.: pai, mãe, policial, bombeiro, mãe deixa de ama- Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.
mentar o filho e este morre. § 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é
• Dever do garantidor – Quando o omitente assumiu por praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos.
qualquer modo a obrigação de agir, podendo ser obrigação
contratual ou extracontratual. Ex.: olha meu filho para mim 1) Conduta: o crime prevê a situação de o agente, o qual
que eu vou dar um mergulho, e a pessoa se distrai e a criança tem um dever de cuidado em relação à vítima, acaba por
morre afogada. expor a perigo a vida desta, trazendo o tipo penal as formas
• Dever por ingerência da norma – Com o seu compor- desta exposição.
tamento anterior criou o risco. Ex.: “A” joga “B” na piscina e 2) Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, pois o tipo
não procura salvá-lo, vindo “B” a falecer. penal descreve a existência de uma relação jurídica de subor-
dinação entre o autor da infração penal e a vítima: tal como
Nos três exemplos, a mãe, o desconhecido e o “A” têm de guarda, vigilância ou autoridade para fim de educação,
o dever jurídico de agir e se omitiram, respondendo então ensino, tratamento ou custódia o sobre a vítima. Ex.: pais,
pelo resultado ocorrido, qual seja, a morte, e, portanto, pelo tutores, carcereiro, professores, enfermeiros etc.
crime de homicídio, e não pelo crime de omissão de socorro. 3) Sujeito passivo: as pessoas subordinadas ao sujeito
Para finalizar o entendimento observe o exemplo a se- ativo.
guir: Maria está passeando no parque e avista uma criança se 4) Assim, o tipo penal prevê em seu texto a forma pela
afogando e nada faz, vindo a criança a morrer. Como Maria qual o sujeito ativo irá “expor a perigo de vida ou a saúde...”
não está relacionada dentre as pessoas que têm o dever ju- do sujeito passivo, sendo, portanto, classificado como um cri-
rídico de agir, responderá pelo crime de omissão de socorro me de ação vinculada. Desta forma, o sujeito ativo deve agir:
qualificado pela morte, classificado como crime omissivo • privando à vítima de alimentação;
próprio. Todavia, se um bombeiro avista um a criança se • privando à vítima de cuidados indispensáveis (trata-
afogando e nada faz, vindo a criança a morrer, como há o mento médico, agasalho);
dever jurídico de agir, responderá o bombeiro pelo resultado • ocasionando trabalho excessivo ou inadequado à vítima;
ocorrido, ou seja, pelo crime de homicídio, classificado aqui • abusando dos meios de disciplina e correção.
como crime omissivo impróprio.
5) Consumação: no momento da produção do perigo,
Condicionamento de atendimento médico-hospitalar sendo classificado como crime formal. É cabível a tentativa
emergencial nas figuras comissivas.
6) Crime de maus-tratos qualificado:
Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória • Se dos maus-tratos resultar lesão corporal ou morte.
ou qualquer garantia, bem como o preenchimento
prévio de formulários administrativos, como condição 7) Causa de aumento de pena: a pena será aumentada
para o atendimento médico-hospitalar emergencial: de 1/3 se o crime for praticado contra menor de 14 anos.
(Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012) E se for contra um idoso? Tal conduta está previsto no es-
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e tatuto do idoso.
multa. (Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012)
Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se Atenção! Não confundir o crime de maus-tratos com
da negativa de atendimento resulta lesão corporal o crime de tortura: se o meio empregado é muito intenso,
de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte. estará configurado o crime de tortura. A intensidade do sofri-
(Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012) mento físico e mental sentido pela vítima é o que diferencia
este crime do crime de maus-tratos.
1) Conduta: exigir garantia para atendimento médico-
-hospitalar em caso de emergência, bem como preenchi- Diferença entre:
mento prévio de formulário.
2) Sujeito ativo: pessoa responsável pelo primeiro aten- Crime de Maus-Tratos – Perigo para a Vida ou Saú-
dimento emergencial. Art. 136 do CP de de Outrem – Art. 132
Noções de Direito Penal

3) Sujeito passsivo: qualquer pessoa. do CP


4) Consumação: com a exigência. É crime formal. 1) Crime de ação vinculado, 1) Crime de ação livre, po-
5) A pena é aumentada de metade se da omissão re- pois o legislador prevê as dendo ser praticado de qual-
sultar lesão corporal grave, e triplicada se resultar morte. formas de sua prática. quer forma.
2) Sujeitos ativo e passivo 2) Sujeitos ativo e passivo
Maus-Tratos previstos no tipo penal – indeterminados.
crime próprio.
Código Penal
Da Rixa
Art. 136. Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa
sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim Código Penal
de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer
privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, Art.  137. Participar de rixa, salvo para separar os
quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, contendores:

43
Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 2 (dois) meses, Exceção da verdade
ou multa. § 3º Admite-se a prova da verdade, salvo: (Acrescen-
Parágrafo único. Se ocorre morte ou lesão corporal tado pela Lei nº 8.069, 13/7/1990)
de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participa- I – se, constituindo o fato imputado crime de ação
ção na rixa, a pena de detenção, de 6 (seis) meses a privada, o ofendido não foi condenado por sen-
2 (dois) anos. tença irrecorrível; (Acrescentado pela Lei nº 8.069,
13/7/1990)
1) Conduta: participar de rixa salva para separar os II – se o fato é imputado a qualquer das pessoas
contentores. indicadas no inciso I do art. 141; (Acrescentado pela
Lei nº 8.069, 13/7/1990)
Obs.: rixa é um tumulto, uma luta desordenada onde III – se do crime imputado, embora de ação pública,
não se sabe quem está agredindo a quem. Assim, quando o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.
tratar-se de grupos rivais se enfrentando não há que se falar
rixa, pois as pessoas são identificáveis, respondendo cada 1) Conduta: imputar falsamente a alguém fato definido
qual pelas lesões corporais praticadas. como crime.
Ex.: João diz que Maria matou seu pai, todavia João sabe
2) Sujeito ativo: qualquer pessoa. Todavia, devem ser que quem matou seu pai foi Antônia.
várias pessoas, pois uma única pessoa jamais conseguirá
praticar este crime. Assim classifica-se como crime de con- Obs. 1: no crime de calúnia imputa-se fato criminoso
curso necessário. falso. Esta falsidade pode ser do fato criminoso (o crime não
3) Sujeito passivo: qualquer pessoa, desde que sejam várias. ocorreu) ou pode ser quanto à autoria (o crime ocorreu, mas
não foi aquela pessoa que cometeu).
Atenção 1! Não há crime na conduta de quem quer
separar os agressores.
Obs. 2: quando falamos em fato, significa a descrição de
uma situação, como no exemplo acima: “Maria matou meu
4) Consumação: com as múltiplas agressões.
pai”. Se apenas o agente disser “Maria, a assassina”, será o
5) Rixa qualificada: se das agressões advir lesão grave
crime de injúria, que trata-se de um xingamento, pois não
ou morte.
há a descrição de um fato.
Atenção 2! Todos os envolvidos na rixa responderão pelo
crime na sua forma qualificada, se do tumulto ocorrido, al- Obs. 3: se o agente pensa que o que diz não é falso,
gum dos participantes vier a sofrer uma lesão grave ou morte, ou seja, que a imputação é verdadeira há erro de tipo que
independentemente de terem sido os responsáveis por tais exclui o dolo.
resultados. Até mesmo a vítima das lesões graves responderá
por rixa qualificada. Todavia devemos considerar que: 2) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
• se identificado o autor da lesão grave ou morte, este 3) Sujeito passivo: qualquer pessoa.
responderá pelo crime de lesão corporal grave ou 4) Consumação: no momento que a imputação chega aos
homicídio, bem como pelo crime de rixa. Os demais ouvidos de terceira pessoa. Trata-se de ofensa a honra obje-
participantes responderão pelo crime de rixa; tiva. É crime formal independe da ocorrência do resultado,
• se alguém participou do crime de rixa e saiu antes ou seja, do sujeito passivo se sentir ofendido.
de ocorrer uma lesão grave ou morte, responderá 5) Tentativa: é possível sua ocorrência apenas na forma
pelo crime de rixa qualificada, pois a sua participação escrita. Ex.: alguém escreve uma carta com a descrição de
contribuiu para ocorrência de tais resultados; fatos criminosos inverídicos e esta é lida por uma autoridade
• se alguém ingressou nas múltiplas agressões após a pública antes de chegar a seu destinatário.
ocorrência do resultado lesão grave ou morte, res- 6) O § 1º prevê que nas mesmas penas incorre quem
ponderá apenas pelo crime de rixa simples. propala (relata verbalmente) ou divulga (relata por qualquer
outro meio) sabendo falsa imputação. É o crime do fofo-
Dos Crimes Contra a Honra queiro – aquele que espalhou o crime do caput. Todavia, aqui
só cabe o dolo direto, ele tem que saber que a imputação
Conceito de honra: atributos morais, físicos e intelectuais é falsa.
de uma pessoa. Ela pode ser: 7) O § 2º prevê a punição do crime de calúnia contra os
• Honra objetiva: é o que os outros pensam de você.
Noções de Direito Penal

mortos. Mas atenção, o sujeito passivo neste caso não é o


• Honra subjetiva: sentimento que cada um tem a res- morto e sim seus familiares.
peito de seus próprios atributos. Autoestima. 8) Exceção da verdade: é um instituto previsto pelo
legislador como um meio de defesa. Só existe o crime de
Calúnia calúnia se a imputação criminosa feita a outrem é falsa, se
Código Penal ela for verdadeira será fato atípico. A falsidade da imputação
é presunção relativa. Assim se o ofendido ingressa com uma
Art. 138. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente ação criminal, é possível ao ofensor alegar a exceção da
fato definido como crime: verdade provando que sua imputação é verdadeira. Ficando
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, provado que o fato imputado como crime é verdadeiro,
e multa. ocorrerá atipicidade do crime de calúnia, uma vez que a
§ 1º Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a “falsidade” integra a descrição do crime.
imputação, a propala ou divulga. Assim no exemplo acima em que João alegou que Maria
§ 2º É punível a calúnia contra os mortos. matou seu pai, tendo Maria entrado com uma ação criminal

44
de calúnia contra João, este poderá utilizar-se da exceção Injúria
da verdade, ou seja, tentar provar que realmente foi Maria
que matou seu pai. Se isto ficar comprovado, João não pra- Código Penal
ticou o crime de calunia, pois, o fato criminoso imputado é
verdadeiro. Art. 140. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade
ou o decoro:
Atenção! A regra no crime de calúnia é caber a exceção Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.
da verdade. Todavia, o legislador optou por apresentar § 1º O juiz pode deixar de aplicar a pena:
algumas hipóteses em que não será possível a utilização da I – quando o ofendido, de forma reprovável, provocou
diretamente a injúria;
exceção da verdade:
II – no caso de retorsão imediata, que consista em
a) fato imputado como crime de ação privada, o ofendido outra injúria.
não foi condenado por sentença irrecorrível, pois se o ofensor § 2º Se a injúria consiste em violência ou vias de fato,
quiser provar que sua ofensa é verdadeira estará passando que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se
por cima da vítima real do crime e tocando em assunto que considerem aviltantes:
ela quis evitar; Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano,
b) se o fato é imputado ao Presidente da República ou e multa, além da pena correspondente à violência.
Chefe de governo estrangeiro; § 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos
c) se o ofendido foi absolvido pelo crime tanto em Ação referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a con-
Penal Pública, como em Ação Penal Privada em sentença dição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:
irrecorrível. Pena – reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos e multa.

Difamação 1) Conduta: é o xingamento, atribuição de qualidade


negativa. Ex.: assassino, ladrão, bêbado, safado, burro, im-
becil, entre outros.
Código Penal
Art. 139. Difamar alguém, imputando-lhe fato ofen- Obs. 1: não há descrição de nenhum fato como na calúnia
e na difamação, apenas trata-se um xingamento.
sivo à sua reputação:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano,
2) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
e multa. 3) Sujeito passivo: qualquer pessoa.
4) Consumação: trata-se de crime contra a honra subje-
Exceção da verdade tiva e somente se consuma quando o fato chega ao conhe-
Parágrafo único. A exceção da verdade somente se cimento da vítima. Crime Formal.
admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa 5) Tentativa: é possível na forma escrita.
é relativa ao exercício de suas funções.” 6) Não cabe exceção da verdade, pois não há a impu-
tação de fato.
1) Conduta: imputar a alguém um fato ofensivo que não
seja crime. Obs. 2: na queixa-crime ou denúncia é necessário trans-
Ex.: Douglas sempre vai trabalhar embriagado. crever as palavras injuriosas sob pena de inépcia.

Obs. 1: na difamação é a imputação de um FATO DESON- 7) Injúria qualificada: se a injúria consiste na utilização
ROSO, em que não importa se é verdadeiro ou falso, pois de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem,
será crime. Não se confunde com o crime de calúnia que é pessoa idosa ou portadora de deficiência. Ex.: xingar a pessoa
um fato criminoso falso. de manco, velho caduco, negrinho.

Obs. 2: quando falamos em fato, significa a descrição de Obs. 3: não confundir com o crime de racismo previsto
uma situação, como no exemplo acima: “Douglas sempre vai na Lei nº 7.716/1989. Estas são manifestações preconcei-
trabalhar embriagado”. Se o que for dito tratar-se de “Dou- tuosas generalizadas ou a prática de algum tipo de segre-
glas, bêbado”, o crime será de injúria, pois é um xingamento gação. Ex.: todo índio é safado e preguiçoso, ou neste clube
é proibida a entrada de negros ou deficientes.
e não a descrição de um fato.
Obs. 4: o crime de injúria qualificada visa pessoas deter-
Obs. 3: se o fato imputado for contravenção penal tam- minadas e não trata de segregações.
bém será difamação.
Noções de Direito Penal

8) A lei prevê ao crime de injúria a possibilidade de apli-


2) Sujeito ativo: qualquer pessoa. cação do perdão judicial, no qual o juiz deixará de aplicar a
3) Sujeito passivo: qualquer pessoa. pena ao ofensor quando:
4) Consumação: quando terceira pessoa fica sabendo da a) o ofendido de forma reprovável provocou diretamente
imputação. Crime formal. (face a face) a injúria;
5) Tentativa: somente possível por escrito. b) no caso de retorsão (revide, tão logo é ofendida a
6) Exceção da verdade: a regra é não caber exceção vítima também ofende).
9) Injúria real: se a injúria consiste em violência ou vias
da verdade no crime de difamação, já que na difamação é
de fato. Ex.: tapa na cara, empurrão com o fim de humilhar,
indiferente que a imputação seja falsa ou verdadeira. levantar a saia, rasgar a roupa.
7) Hipótese de cabimento da exceção da verdade: a) se 10) Se ocorrer alguma lesão corporal o agente responderá
o fato é imputado a funcionário público e diz respeito ao pelo crime de injúria real + o crime de lesão corporal (que
exercício de suas funções. Assim se ofensor provar que é poderá ser leve, grave ou gravíssima).
verdadeira a imputação ocorrerá excludente específica de 11) Se ocorrer apenas vias de fato o agente responderá
ilicitude, já que a falsidade não integra o tipo penal. somente pelo crime de injúria real.

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Quadro Esquemático

Calúnia – Art. 138 do CP Difamação – Art. 139 do CP Injúria – Art. 140 do CP


Conduta: imputar falsamente a alguém fato definido Conduta: imputar a alguém um fato ofen- Conduta: é o xingamento, atribuição de qua-
como crime. sivo que não seja crime. lidade negativa.
No crime de calúnia imputa-se fato criminoso falso, Na difamação é a imputação de um fato Não há descrição de nenhum fato como na
que significa a descrição de uma situação. desonroso, em que não importa se é calúnia e na difamação, apenas trata-se um
verdadeiro ou falso, pois será crime. Não xingamento.
se confunde com o crime de calúnia que
é um fato criminoso falso.
Ex.: João diz que Maria matou seu pai, todavia João Ex.: Douglas sempre vai trabalhar em- Ex.: Maria assassina, Douglas bêbado.
sabe que quem matou seu pai foi Antônia. briagado.
Consumação: no momento que a imputação chega Consumação: quando terceira pessoa fica Consumação: Trata-se de crime contra a honra
aos ouvidos de terceira pessoa. Trata-se de ofensa a sabendo da imputação. Trata-se de ofensa subjetiva e somente se consuma quando o fato
honra objetiva. a honra objetiva. chega ao conhecimento da vítima.
A regra no crime de calúnia é caber a exceção da A regra é não caber exceção da verdade Não cabe exceção da verdade, pois não há a
verdade. no crime de difamação. imputação de fato.
Hipóteses em que não será possível a utilização da Hipótese de cabimento da exceção da Injúria qualificada: se a injúria consiste na
exceção da verdade: verdade: se o fato é imputado a funcio- utilização de elementos referentes a raça,
1) fato imputado como crime de ação privada, o ofen- nário público e diz respeito ao exercício cor, etnia, religião, origem, pessoa idosa ou
dido não foi condenado por sentença irrecorrível, pois de suas funções. Assim se ofensor provar portadora de deficiência. Ex.: xingar a pessoa
se o ofensor quiser provar que sua ofensa é verdadeira que é verdadeira a imputação ocorrerá de manco, velho caduco, negrinho.
estará passando por cima da vítima real do crime e excludente específica de ilicitude, já
tocando em assunto que ela quis evitar; que a falsidade não integra o tipo penal.
2) se o fato é imputado ao Presidente da República ou
Chefe de governo estrangeiro;
3) se o ofendido foi absolvido pelo crime tanto em
Ação Penal Pública, como em Ação Penal Privada em
sentença irrecorrível.
Injúria real: se a injúria consiste em violência ou
vias de fato. Ex.: tapa na cara, empurrão com o
fim de humilhar, levantar a saia, rasgar a roupa.

Disposições comuns Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha


praticado a calúnia ou a difamação utilizando-se de
Art. 141. As penas cominadas neste Capítulo meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se
aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes assim desejar o ofendido, pelos mesmos meios em
é cometido: que se praticou a ofensa. (Incluído pela Lei nº 13.188,
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de 2015)
de governo estrangeiro; Art. 144. Se, de referências, alusões ou frases, se
II - contra funcionário público, em razão de suas infere calúnia, difamação ou injúria, quem se julga
funções; ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as
facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da dá satisfatórias, responde pela ofensa.
injúria; Art. 145. Nos crimes previstos neste Capítulo somen-
IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou te se procede mediante queixa, salvo quando, no caso
portadora de deficiência, exceto no caso de injúria. do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.
(Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003) Parágrafo único. Procede-se mediante requisição
Parágrafo único. Se o crime é cometido mediante do Ministro da Justiça, no caso do inciso I do caput
paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena do art. 141 deste Código, e mediante representação
em dobro. do ofendido, no caso do inciso II do mesmo artigo,
bem como no caso do § 3º do art. 140 deste Código.
Exclusão do crime (Redação dada pela Lei nº 12.033, de 2009)
Art. 142. Não constituem injúria ou difamação pu-
nível: Considerações Gerais acerca dos Crimes Contra a
I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, Honra
pela parte ou por seu procurador;
Noções de Direito Penal

II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística Tais considerações abaixo descritas, aplicam-se a todos
ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de os crimes contra a honra: calúnia, difamação e injúria.
injuriar ou difamar; 1) Sujeito ativo: apresentamos em relação aos três
III - o conceito desfavorável emitido por funcionário crimes como sendo qualquer pessoa o seu sujeito ativo.
público, em apreciação ou informação que preste no Todavia, há exceções:
cumprimento de dever do ofício. a) Imunidade parlamentar: segundo o art.  53 da CF,
Parágrafo único. Nos casos dos nos I e III, responde os deputados e senadores são invioláveis em palavras
pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publi- quando no exercício do mandato. Assim, se um deputado
cidade. quando estiver discursando na Tribuna do Congresso Nacio-
nal e disser, por exemplo, “Vossa Excelência é um corrupto,
Retratação desonesto, que desviou o dinheiro público para compra de
Art. 143. O querelado que, antes da sentença, se Fazendas”, não estará praticando o crime de calúnia, nem
retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica difamação, nem injúria. Porém, se este mesmo parlamentar
isento de pena. estiver na reunião de condomínio de seu prédio e ofender a

46
um vizinho, não estará no exercício de suas funções e assim e) a retratação independe de aceitação da vítima;
praticará os crimes contra a honra. f) a retratação somente será aplicada em relação aos
b) Vereadores: da mesma forma o art. 29, VIII da CF prevê crimes de calúnia e difamação.
que os vereadores também possuem a mesma inviolabilidade
dos parlamentares, todavia, além de terem que estar no exer- 7) Pedido de Explicação: está previsto no art. 144 do CP
cício de suas funções, devem também estar na circunscrição e trata-se de meio utilizado pelo ofendido para obter escla-
do seu município. Assim, se um vereador vai até uma rádio recimento acerca das palavras proferidas pelo ofensor, para
da cidade vizinha discursar e ali pronunciar palavras contra a então decidir se irá ou não ingressar com uma ação criminal.
honra de alguém, apesar de estar no exercício de suas funções, São os requisitos legais:
estará fora de sua circunscrição e praticará, então, um crime. a) o pedido de explicação é facultativo;
c) Advogado: segundo a Lei nº 8.906/1994 (Estatuto da b) deve ser realizado antes do oferecimento da denúncia
OAB), os advogados possuem imunidade, não praticando injúria ou queixa-crime;
e difamação no exercício regular de suas atividades, sem preju- c) é utilizada quando a vítima fica com dúvida acerca de
ízo das sanções aplicáveis pela OAB. Assim, em uma audiência ter sido ofendida;
se o advogado disser: “Excelência, está mulher se prostitui, não d) o Juiz receberá o pedido, notificará o autor da imputa-
cuida de seus filhos, é preguiçosa, descuidada, não pode ficar ção para se explicar. Com ou sem resposta do ofensor, o Juiz
com a guarda das crianças”, não terá praticado crime algum. No entregará os autos ao requerente, não julgando o pedido
entanto, se disser: “Esta mulher trafica drogas” e este fato for de explicação;
inverídico, o advogado terá praticado o crime de calúnia, pois e) o pedido de explicação não interrompe o prazo de-
a sua imunidade não alcança tal ilícito penal. cadencial para queixa crime, mas torna o juízo prevento.

2) Sujeito passivo: pode ser qualquer pessoa – desonra- 8) Ação Penal:


do, doente mental, menor de idade, pessoa jurídica (somente a) Regra: os crimes contra a honra serão processados
em relação ao crime de calúnia no que tange a crimes am- mediante Ação Penal Privada.
bientais; todavia em relação ao crime de difamação e injúria b) Exceção:
não há a possibilidade de sua prática, pois a pessoa jurídica • será processada mediante Ação Penal Púbica Condicio-
não possui honra subjetiva) e o morto (tendo em vista que nada a Requisição do Ministro da Justiça – quando a ofensa
o sujeito passivo será a família). for praticada contra o Presidente da República ou Chefe de
3) O consentimento da vítima exclui o crime porque a Governo Estrangeiro;
honra é um bem disponível. Se a pessoa aceita o fato que • será processada mediante Ação Penal Pública Condi-
lhe é imposto ou o xingamento, não haverá crime. cionada a Representação da vítima ou seu representante
4) Causas de aumento de pena, 1/3 (art. 141): aplicam- legal – quando a ofensa for praticada contra o funcionário
-se a todos os crimes: público no exercício de suas funções e no caso de injúria real
a) contra o Presidente da República ou Chefe de Governo quando a lesão corporal for de natureza leve;
estrangeiro (se a calúnia ou difamação contra o Presidente • será processada mediante Ação Penal Pública Incondi-
tiver motivação política e lesão real ou potencial a bens cionada no caso de injúria real e a lesão corporal for grave
inerentes à Segurança Nacional, haverá crime contra a Se- ou gravíssima.
gurança Nacional – Lei nº 7.170/1983);
b) contra funcionário público em razão de suas funções, des- EXERCÍCIOS
de que aja nexo de causalidade da ofensa com a função exercida;
c) na presença de várias pessoas que facilite a divulgação Julgue os itens.
(mínimo de três pessoas. Não se computa coautores e os que 1. Imputar falsamente fato criminoso a alguém configu­
não podem entender os fatos); ra-se calúnia, da mesma foram imputar fato desonroso
d) contra maior de 60 anos ou portador de deficiência, exce- configura-se difamação. Em ambos como regra cabe
to no caso de injúria, pois como vimos será injúria qualificada; exceção da verdade.
e) será em dobro se o crime é cometido mediante paga 2. Na injúria o fato consistem em xingar alguém. Não cabe
ou promessa de recompensa. exceção da verdade. Existem diversas formas de injúria:
real, que consiste na utilização de vias de fatos e injúria
5) Causas especiais de exclusão da antijuridicidade: não racial, que consiste em xingar alguém utilizando-se
constituem injúria ou difamação: critério de raça, cor, etnia.
a) ofensa ocorrida em juízo na discussão da causa pela
parte ou seu procurador (advogado é aplicado o estatuto da GABARITO
OAB. A ofensa tem nexo com a causa. Ofensa contra o juiz
não se aplica tal excludente);
1. C 2. C
Noções de Direito Penal

b) opinião desfavorável da crítica literária, artística e


científica;
c) conceito desfavorável emitido por funcionário público
em cumprimento de dever de ofício. Dos Crimes Contra a Liberdade Individual

6) Retratação: retirar o que foi dito. O  ofensor tem a Constrangimento Ilegal


possibilidade de se retratar desde que preenchido os re-
quisitos abaixo: Código Penal
a) a retratação deve ocorrer antes da sentença;
b) a retratação de ser total e incondicional; Art. 146. Constranger alguém, mediante violência ou
c) a retratação causará a extinção da punibilidade grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por
(art. 107, VI ); qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não
d) por se tratar de circunstância subjetiva, a retratação fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:
não se comunicando com os demais coauotres, somente Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano,
será aplicada àquele que se retratou; ou multa.

47
Aumento de pena A doutrina coloca, ainda, que a ameaça deve ser veros-
§  1º As penas aplicam-se cumulativamente e em símil (plausível de acontecer) e iminente.
dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem
mais de três pessoas, ou há emprego de armas. 2) Objeto jurídico: a liberdade e tranquilidade das pessoas.
§ 2º Além das penas cominadas, aplicam-se as cor- 3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
respondentes à violência. 4) Sujeito passivo: qualquer pessoa.
§ 3º Não se compreendem na disposição deste artigo: 5) Consumação: quando a vítima toma conhecimento
I – a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consen- da ameaça, independentemente de se sentir amedrontada.
timento do paciente ou de seu representante legal, É crime formal.
se justificada por iminente perigo de vida; 6) Crime subsidiário: na existência de um delito mais
II – a coação exercida para impedir suicídio. grave, como por exemplo, roubo, extorsão, estupro, o crime
de constrangimento ilegal ficará afastado.
1) Conduta: constranger alguém mediante violência ou A principal diferença entre o crime de constrangimento
grave ameaça ou reduzindo a sua capacidade de resistência ilegal e ameaça consiste no momento consumativo:
a não fazer o que a lei permite ou fazer aquilo que ela não
manda. Crime de Constrangimento Crime de Ameaça
Ilegal
Obs.: constranger – obrigar, coagir. O crime pode ser
Conduta: constranger al- Conduta: ameaçar alguém
praticado de duas maneiras:
guém mediante violência ou de causa mal grave ou in-
a) obrigar a vítima a fazer algo, por exemplo, obrigar a grave ameaça ou reduzindo justo.
vítima a ir a um local em que ela não deseja; a sua capacidade de resis-
b) obrigar a vítima a deixar de fazer algo, exemplo, obriga tência a não fazer o que a lei
a vítima a deixar de ir prestar um concurso público. permite ou fazer aquilo que
ela não manda.
2) Objeto jurídico: a liberdade de agir do cidadão, dentro
dos limites da lei. Sujeito ativo/Sujeito passi- Sujeito ativo/Sujeito passi-
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. vo: qualquer pessoa. vo: qualquer pessoa.
4) Sujeito passivo: qualquer pessoa. Consumação: quando a ví- Consumação: quando a
5) Modo de execução do crime: mediante violência, grave tima toma a atitude preten- vítima toma conhecimento
ameaça ou reduzindo a capacidade de resistência da vítima. dida pelo agente. É crime da ameaça, independen-
6) Consumação: quando a vítima toma a atitude preten- material. temente de se sentir ame-
dida pelo agente. É crime material. drontada. É crime formal.
7) Crime subsidiário: na existência de um delito mais Crime subsidiário: na exis- Crime subsidiário: na exis-
grave, como, por exemplo, roubo, extorsão, estupro, o crime tência de um delito mais tência de um delito mais
de constrangimento ilegal ficará afastado. grave, como, por exemplo, grave, como, por exemplo,
8) Causa de aumento de pena do crime de constrangi- roubo, extorsão, estupro, roubo, extorsão, estupro,
mento ilegal: o crime de constrangimento o crime de constrangimento
a) praticado por mais de três pessoas, ou seja, há a ne- ilegal ficará afastado. ilegal ficará afastado.
cessidade de serem pelo menos quatro pessoas;
b) emprego de armas, abrange tanto as armas próprias Sequestro ou Cárcere Privado
(arma de fogo, faca, punhal) quanto as armas impróprias
(navalha, faca de cozinha). Código Penal
9) Excludente de ilicitude: não irá configurar o crime de
constrangimento ilegal: Art. 148. Privar alguém de sua liberdade, mediante
a) a intervenção médico cirúrgica sem o consentimento sequestro ou cárcere privado:
do paciente ou de seu representante legal, se houver imi- Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
nente perigo de vida; § 1º A pena é de reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos:
b) coação para evitar o suicídio. I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge
ou companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta)
Ameaça anos;
II – se o crime é praticado mediante internação da
Código Penal vítima em casa de saúde ou hospital;
III – se a privação da liberdade dura mais de 15
Art. 147. Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou (quinze) dias;
Noções de Direito Penal

gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar- IV – se o crime é praticado contra menor de 18 (de-
-lhe mal injusto e grave: zoito) anos;
Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa. V – se o crime é praticado com fins libidinosos.
Parágrafo único. Somente se procede mediante §  2º Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos
representação. ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico
1) Conduta: ameaçar alguém de causa mal grave ou ou moral:
injusto. Pena – reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos

Obs.: ameaçar – Intimidar alguém por meio de palavras, 1) Conduta: privar alguém de sua liberdade.
gestos, escrita. A ameaça deve ser grave (de morte, lesões) e
injusta (não acolhida pela lei). Assim, se houver a ameaça de Obs.: não confundir o crime de sequestro (privar alguém
processar judicialmente alguém que está lhe devendo uma de sua liberdade) com o crime de extorsão mediante se-
quantia em dinheiro, não será crime de ameaça, pois esta questro (privar alguém de sua liberdade no intuito de obter
conduta é prevista em lei, e, portanto, justa. um resgate).

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Exemplo de crime de sequestro: privar uma filha de sua a) submetendo a trabalhos forçados;
liberdade trancafiando-a no porão de casa por anos. Não b) submetendo a jornada exaustiva;
há que se falar em extorsão mediante sequestro, pois em c) sujeitando a condições degradantes de trabalho;
nenhum momento houve a requisição de resgate. d) restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em
razão de dívida contraída com o empregador ou preposto.
2) Objeto jurídico: a liberdade de ir e vir do cidadão. 6) Consumação: quando o agente efetivamente reduz
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. alguém a condição análoga de escravo. É crime material.
4) Sujeito passivo: qualquer pessoa. 7) Figuras equiparadas: também considera-se crime de
5) Consumação: com a privação de liberdade. Trata-se de redução a condição análoga de escravo:
crime permanente, ou seja, aquele em que a consumação a) cerceiar o uso de qualquer meio de transporte por par-
se prolonga no tempo. Se uma pessoa encontra-se privada te do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho;
de sua liberdade por anos, a consumação do crime estará b) manter vigilância ostensiva no local de trabalho ou se
acontecendo a todo momento, e quando descoberto caberá apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador,
prisão em flagrante. com o fim de retê-lo no local de trabalho.
6) Causas de aumento de pena do crime de sequestro: 8) Crime de redução a condição análoga de escravo
• se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge, qualificado:
companheiro ou maior de 60 anos; a) se cometido contra criança ou adolescente;
• se o crime é praticado mediante internação da vítima; b) por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião
• se a privação da liberdade dura mais de 15 dias; ou origem.
• se o crime é praticado contra menor de 18 anos;
• se o crime é praticado com fins libidinosos. Tráfico de Pessoas
Obs. 2: se efetivamente ocorrer um estupro, o agente O crime de tráfico de pessoas foi incluído no Código Penal
responderá pelo crime de sequestro e estupro. Brasileiro pela Lei nº 13.344, de 6 de outubro de 2016, en-
trando em vigor 45 (quarenta e cinco) dias de sua publicação
7) Crime de sequestro qualificado: se do sequestro oficial, que ocorreu no dia 7 de outubro.
resultar grave sofrimento físico ou mental.
Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar,
Redução a Condição Análoga de Escravo transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, median-
te grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso,
Código Penal com a finalidade de:
I – remover‑lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo;
Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de
II – submetê‑la a trabalho em condições análogas à
escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou
de escravo;
a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições
III – submetê‑la a qualquer tipo de servidão;
degradantes de trabalho, quer restringindo, por
IV – adoção ilegal; ou
qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida
V – exploração sexual.
contraída com o empregador ou preposto:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
Pena – reclusão, de dois a oito anos, e multa, além
da pena correspondente à violência. § 1º A pena é aumentada de um terço até a meta-
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem: de se:
I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por I – o crime for cometido por funcionário público no
parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local exercício de suas funções ou a pretexto de exercê‑las;
de trabalho; II – o crime for cometido contra criança, adolescente
II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou pessoa idosa ou com deficiência;
ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do III – o agente se prevalecer de relações de paren-
trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho. tesco, domésticas, de coabitação, de hospitalidade,
§ 2º A pena é aumentada de metade, se o crime é de dependência econômica, de autoridade ou de
cometido: superioridade hierárquica inerente ao exercício de
I – contra criança ou adolescente; emprego, cargo ou função; ou
II  – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, IV  – a vítima do tráfico de pessoas for retirada do
religião ou origem. território nacional.
1) Conduta: reduzir alguém a condição análoga à de es- § 2º A pena é reduzida de um a dois terços se o agente
Noções de Direito Penal

cravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada for primário e não integrar organização criminosa.
exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de tra-
balho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção Violação de Domicílio
em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto.
Código Penal
Obs.: “Reduzir alguém a condição análoga à de escravo” –
sujeitar uma pessoa ao poder de outra. Art. 150. Entrar ou permanecer, clandestina ou
astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou
2) Objeto jurídico: liberdade do cidadão. tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. dependências:
4) Sujeito passivo: qualquer pessoa. Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa.
5) Modo de execução do crime: é um crime classificado § 1º Se o crime é cometido durante a noite, ou em
como de ação vinculada, pois o tipo penal prevê as forma pelas lugar ermo, ou com o emprego de violência ou de
quais irá se reduzir alguém a condição análoga à de escravo: arma, ou por duas ou mais pessoas:

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Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, • a qualquer hora do dia ou da noite: com autorização
além da pena correspondente à violência. do morador, em caso de flagrante delito, em caso de
§ 2º Aumenta-se a pena de um terço, se o fato é co- desastre e para prestar socorro a alguém.
metido por funcionário público, fora dos casos legais,
ou com inobservância das formalidades estabelecidas Violação de Correspondência
em lei, ou com abuso do poder.
Código Penal
§ 3º Não constitui crime a entrada ou permanência
em casa alheia ou em suas dependências: Art. 151. Devassar indevidamente o conteúdo de
I – durante o dia, com observância das formalidades correspondência fechada, dirigida a outrem:
legais, para efetuar prisão ou outra diligência; Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.
II – a qualquer hora do dia ou da noite, quando al-
gum crime está sendo ali praticado ou na iminência Sonegação ou destruição de correspondência
de o ser. § 1º Na mesma pena incorre:
§ 4º A expressão “casa” compreende: I – quem se apossa indevidamente de correspon-
I – qualquer compartimento habitado; dência alheia, embora não fechada e, no todo ou em
II – aposento ocupado de habitação coletiva; parte, a sonega ou destrói;
III  – compartimento não aberto ao público, onde Violação de comunicação telegráfica, radioelétrica
alguém exerce profissão ou atividade. ou telefônica
§ 5º Não se compreendem na expressão “casa”: II – quem indevidamente divulga, transmite a outrem
I – hospedaria, estalagem ou qualquer outra habita- ou utiliza abusivamente comunicação telegráfica
ção coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do ou radioelétrica dirigida a terceiro, ou conversação
nº II do parágrafo anterior; telefônica entre outras pessoas;
II – taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero. III – quem impede a comunicação ou a conversação
referidas no número anterior;
1) Conduta: entrar ou permanecer clandestinamente, IV  – quem instala ou utiliza estação ou aparelho
astuciosamente ou contra a vontade expressa ou tácita de radioelétrico, sem observância de disposição legal.
quem de direito, em casa alheia ou suas dependências. § 2º As penas aumentam-se de metade, se há dano
para outrem.
Obs.: algumas considerações: § 3º Se o agente comete o crime, com abuso de
a) entrar em casa alheia – ingressar sem autorização; função em serviço postal, telegráfico, radioelétrico
b) permanecer em casa alheia – o ingresso foi autoriza- ou telefônico:
do pelo morador, todavia em dado momento solicitou-se a Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.
retirada do agente e ele permaneceu. § 4º Somente se procede mediante representação,
salvo nos casos do § 1º, IV, e do § 3º.
2) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
3) Sujeito passivo: morador. A lei diz “de quem de direi- Obs.: este artigo foi tacitamente revogado pelo art. 40
to”. Assim inclui proprietário, locatário, possuidor. da Lei nº 6.538/1978.
4) Conceito de casa para o crime de violação de domicílio:
a) qualquer compartimento habitado e suas adjacências Correspondência Comercial
(quintal, garagem, jardim);
b) aposento ocupado de habitação coletiva (quarto de Código Penal
hotel);
c) compartimento não aberto ao público, onde alguém Art. 152. Abusar da condição de sócio ou empregado
exerce profissão ou atividade (consultório médio, escritório de estabelecimento comercial ou industrial para,
de advocacia, parte interna de uma oficina). no todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou
5) Modo de execução do crime: o ingresso ou perma- suprimir corre spondência, ourevelar a estranho
nência em casa alheia deve ocorrer: seu conteúdo:
a) clandestinamente – sem a percepção do morador; Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos.
b) astuciosamente – com emprego de fraude; Parágrafo único. Somente se procede mediante
c) contra a vontade expressa ou tácita de quem de di- representação.
reito – expressa é a verbalizada; tácita é a comportamental.
6) Consumação: quando a vítima entra ou permanece 1) Conduta: abusar da condição de sócio ou empregado
sem autorização em casa alheia. de estabelecimento comercial ou industrial para, no todo ou
Noções de Direito Penal

7) Crime de violação de domicílio qualificada: em parte, desviar, sonegar, subtrair ou suprimir correspon-
• Se praticado durante a noite – ausência de luz solar; dência, ou revelar a estranho seu conteúdo.
• Lugar ermo – desabitado;
• Com violência contra a pessoa ou coisa; Obs.: trata-se de um tipo misto alternativa, pois em
• Emprego de arma – tanto arma própria (faca, punhal, um único tipo penal há a previsão de 4 condutas – desviar
revolver), como arma imprópria (faca de cozinha, (dá rumo diverso), sonegar (esconder), subtrair (furtar) ou
navalha); suprimir (destruir) correspondência comercial, abusando da
• Por duas ou mais pessoas. condição de sócio ou empregado.
8) Causa de aumento de pena: se praticado por funcio-
nário público. 2) Objeto jurídico: inviolabilidade das correspondências.
9) Excludente de ilicitude: não haverá crime de violação 3) Objeto material: a correspondência comercial.
de domicílio quando praticado nas seguintes condições: 4) Sujeito ativo: é crime próprio e somente pode ser
• durante o dia com observância das formalidades praticado pelo sócio ou empregado do estabelecimento
legais; comercial ou industrial.

50
5) Sujeito passivo: o estabelecimento comercial ou § 1º Na mesma pena incorre quem produz, oferece,
industrial. distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa
6) Consumação: com o desvio, sonegação, subtração ou de computador com o intuito de permitir a prática
supressão de correspondência comercial. da conduta definida no caput. (Incluído pela Lei
nº 12.737, de 2012)
Divulgação de Segredo § 2º Aumenta‑se a pena de um sexto a um terço se
da invasão resulta prejuízo econômico. (Incluído pela
Código Penal
Lei nº 12.737, de 2012)
Art. 153. Divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo § 3º Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo
de documento particular ou de correspondência con- de comunicações eletrônicas privadas, segredos
fidencial, de que é destinatário ou detentor, e cuja comerciais ou industriais, informações sigilosas,
divulgação possa produzir dano a outrem: assim definidas em lei, ou o controle remoto não
Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa. autorizado do dispositivo invadido: (Incluído pela Lei
§ 1º-A. Divulgar, sem justa causa, informações sigilo- nº 12.737, de 2012)
sas ou reservadas, assim definidas em lei, contidas ou Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
não nos sistemas de informações ou banco de dados e multa, se a conduta não constitui crime mais grave.
da Administração Pública: (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012)
§ 4º Na hipótese do § 3º, aumenta‑se a pena de um a
Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
dois terços se houver divulgação, comercialização ou
§ 1º Somente se procede mediante representação.
transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados
§ 2º Quando resultar prejuízo para a Administração
ou informações obtidos. (Incluído pela Lei nº 12.737,
Pública, a ação penal será.
de 2012)
§ 5º Aumenta‑se a pena de um terço à metade
1) Conduta: divulgar conteúdo de documento particular
se o crime for praticado contra: (Incluído pela Lei
ou correspondência confidencial cuja divulgação possa pro-
nº 12.737, de 2012)
duzir dano a outrem.
I – Presidente da República, governadores e prefeitos;
(Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012)
Obs.: é necessário que a informação seja vinculada
II – Presidente do Supremo Tribunal Federal; (Incluído
através de documento particular ou de correspondência
pela Lei nº 12.737, de 2012)
confidencial.
III – Presidente da Câmara dos Deputados, do Sena-
do Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, da
2) Objeto jurídico: inviolabilidade de segredo. Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara
3) Sujeito ativo: destinatário da correspondência. Municipal; ou (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012)
4) Sujeito passivo: a pessoa que pode sofrer o dano com IV – dirigente máximo da administração direta e
a divulgação do segredo. indireta federal, estadual, municipal ou do Distrito
5) Consumação: quando o segredo é divulgado para um Federal. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012)
número indeterminado de pessoas, sendo desnecessário
que alguém sofra efetivamente um prejuízo. É crime formal. Ação penal (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012)
6) O crime deve ser praticado “sem justa causa”, ou seja, Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-A, so-
o  segredo deve ser divulgado sem que exista um motivo mente se procede mediante representação, salvo se
razoável para tal conduta. o crime é cometido contra a administração pública
direta ou indireta de qualquer dos Poderes da União,
Violação do Segredo Profissional Estados, Distrito Federal ou Municípios ou contra em-
presas concessionárias de serviços públicos. (Incluído
Código Penal pela Lei nº 12.737, de 2012)

Art. 154. Revelar alguém, sem justa causa, segredo, 1) Conduta: revelar segredo que tem ciência em razão de
de que tem ciência em razão de função, ministério, função, ministério, ofício ou profissão, o qual possa produzir
ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem. Ex.: advogado, médico, padre que revelam
dano a outrem: informações obtidas no exercício de suas atividades.
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano,
Noções de Direito Penal

2) Objeto jurídico: inviolabilidade de segredo.


ou multa. 3) Sujeito ativo: são os confidentes das informações
Parágrafo único. Somente se procede mediante obtidas através de suas funções, ministérios, ofícios ou
representação. profissões.
4) Sujeito passivo: quem sofre com o dano da divulgação
Art.  154-A. Invadir dispositivo informático alheio, do segredo.
conectado ou não à rede de computadores, mediante 5) Consumação: no momento que o segredo chega a
violação indevida de mecanismo de segurança e com terceiros, mesmo que não cause dano a vítima.
o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou infor- 6) Se o agente tomar conhecimento do segredo em
mações sem autorização expressa ou tácita do titular razão da função pública o crime será de Violação de Sigilo
do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter Profissional, art. 325 do CP.
vantagem ilícita: (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) 7) O crime deve ser praticado “sem justa causa”, ou seja,
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, o  segredo deve ser divulgado sem que exista um motivo
e multa. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) razoável para tal conduta.

51
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO • O artigo 155 parágrafo 3º equipara à coisa móvel a ener-
gia com valor econômico. Assim pode ser objeto de furto
Furto a energia elétrica, a TV a cabo, a internet, bem como a
energia genética, que é o caso de sêmen de animais.
Código Penal • O ser humano não poderá ser objeto de furto pois
não é coisa, tratando-se pois do crime de sequestro.
Art. 155. Subtrair, para si ou para outrem, coisa • Cadáver poderá ser objeto de furto se pertencer a
alheia móvel: um museu ou universidade, do contrário será o crime
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. previsto no artigo 211 do CP.
§ 1º A pena aumenta-se de um terço, se o crime é
praticado durante o repouso noturno. c) Coisa alheia – que tem dono. Assim:
§ 2º Se o criminoso é primário, e é de pequeno va- • Res nullius (coisa que nunca teve dono) e res derelicta
lor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de (coisa abandonada) – não são objetos do crime de
reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois furto;
terços, ou aplicar somente a pena de multa. • Res despereticta (coisa perdida) – se a coisa está per-
§ 3º Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou dida é porque tem dono, podendo tratar-se de crime
qualquer outra que tenha valor econômico. de furto, se a coisa foi encontrada em local privado,
ou crime de apropriação de coisa achada, art. 169,
Furto Qualificado parágrafo único, II do CP, se encontrada em local
§ 4º A pena é de reclusão de 2 (dois) a 8 (oito) anos, público.
e multa, se o crime é cometido:
I – com destruição ou rompimento de obstáculo à d) Para si ou para outrem – a subtração da coisa alheia
subtração da coisa;
móvel deve ter o fim de assenhoramente definitivo, ou seja,
II  – com abuso de confiança, ou mediante fraude,
não há a intenção de devolver. Assim aqui surge a figura do
escalada ou destreza;
furto de uso:
III – com emprego de chave falsa;
IV – mediante concurso de duas ou mais pessoas.
§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) Furto de uso – quando o agente desde o início tem in-
anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de tenção de usar momentaneamente a coisa alheia móvel e a
artefato análogo que cause perigo comum. (Incluído devolvê-la, bem como restitui o bem que utilizou de forma
pela Lei nº 13.654, de 2018) imediata e integral. Ex.: o agente pega a bicicleta de seu
§ 5º A pena é de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos, vizinho, sem autorização deste para ir ao trabalho e logo
se a subtração for de veículo automotor que venha a após o final do expediente a restitui sem nenhum dano. Não
ser transportado para outro Estado ou para o exterior haverá crime de furto.
§ 6º A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos
se a subtração for de semovente domesticável de 2) Objetivo jurídico: patrimônio.
produção, ainda que abatido ou dividido em partes 3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
no local da subtração. (Incluído pela Lei nº 13.330, 4) Sujeito passivo: qualquer pessoa física ou jurídica.
de 2016) 5) Consumação e tentativa: há três teorias para explicar
§ 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) o momento consumativo do crime de furto:
anos e multa, se a subtração for de substâncias a) Teoria da Apphreensio – Para o crime de furto se
explosivas ou de acessórios que, conjunta ou iso- consumar basta que o agente tocar na coisa e removê-la.
ladamente, possibilitem sua fabricação, montagem Não aplicada.
ou emprego. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018) b) Teoria da Ablacio – Para o crime de furto se consumar
há a necessidade de que o agente retire o bem da esfera de
1) Conceito: subtrair para si ou para outrem, coisa alheia disponibilidade da vítima e obtenha a posse mansa e pacífica
móvel. deste. Esta teoria foi aplicada por muitos anos em nosso
Direito Penal. Desta forma se, por exemplo, A subtraísse
Obs.: passemos a analisar cada elemento do tipo penal: a bolsa de B e saísse correndo, e B também corresse atrás
a) Subtrair – pode ser praticado de duas formas: para recuperar o seu bem, o crime de furto somente estaria
• Lançar mão de bem, tirando-o do poder de alguém, consumado quando A conseguisse despistar B, estando então
ex.: O agente entre em uma loja, furtando uma blusa
com a posse da bolsa de forma mansa e pacífica. Entretanto,
sem ninguém perceber.
se B em perseguição conseguisse recuperar a sua bolsa, sem
Noções de Direito Penal

• Quando a vítima entrega o bem na mão do agente,


mas não autoriza a sua retirada. Ex.: a vendedora que A tivesse conseguido lograr com a posse mansa e pacífica
entrega a blusa na mão do agente para este provar, desta, estaríamos diante do crime de tentativa de furto.
quando ela se distrai ele sai da loja levando a blusa c) Teoria da Amotio – É a teoria aplicada em nosso
sem pagar. Aqui é o caso em que o agente tem a Direito Penal. O crime de furto consuma-se com a retirada
posse vigiada do bem. Não confundir com crime de do bem da esfera de disponibilidade da vítima, sem haver
apropriação indébita, que estudaremos logo a frente, a necessidade da posse mansa e pacífica do bem. Desta
onde o agente tem a posse desvigiada do bem. forma seguindo o mesmo exemplo: A subtrai a bolsa de B
e sai correndo. B, vítima, sai em perseguição e retoma sua
b) Coisa móvel – que pode ser removido. Não se utiliza a bolsa sem que A tenha conseguido a posse mansa e pacífica
classificação de bens móveis e imóveis do Código Civil, pois se deste bem. A, segundo esta teoria responderá pelo crime de
um bem classificado como imóvel para o Direito Civil puder furto consumado.
ser removido, ele será objeto material do crime de furto.
• Da mesma forma os semoventes e os animais quando Vejamos o entendimento dos Tribunais Superiores: se-
tiverem dono podem ser objeto de furto. gundo o entendimento do STF e do STJ, para a consumação

52
do furto, basta a posse, ainda que momentânea, é desneces- g) Mediante concurso de duas ou mais pessoas – Para
sária a posse tranquila do bem subtraído por parte do agente, computar o número de duas ou mais pessoas inclui-se os
ou a sua retirada da esfera de vigilância da vítima, bastando inimputáveis, bem como agente não identificável.
a posse do objeto material por curto tempo. h) Subtração de veículo automotor que venha se trans-
porta para o exterior ou para outro Estado – Já deve haver
6) Tentativa: quando o agente não consegue, por o dolo em retirar o veículo do Estado. Todavia, se o agente
circunstâncias alheias a sua vontade, a  posse, ainda que for detido antes de conseguir chegar a outro Estado ou País
momentânea, da coisa. responderá pelo crime de furto simples e não tentativa de
7) Furto noturno: a pena aumenta-se de um terço, se o furto qualificado. Só restará configurado o presente crime
crime é praticado durante o repouso noturno. se a apreensão ocorrer próximo da divisa.

Obs.: verifica-se que se o crime de furto for praticado Furto de Coisa Comum
durante o repouso noturno a pena será aumentada de 1/3.
Todavia, o que é repouso noturno? Este não se confunde Código Penal
com noite, que é ausência de luz solar. O repouso noturno é
Art. 156. Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio,
verificado quando determinada localidade dorme, momento
para si ou para outrem, a  quem legitimamente a
em que o patrimônio fica mais vulnerável, e, portanto, mais
detém, a coisa comum:
fácil de ser subtraído. Assim, por vezes em uma capital,
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
às 20h30min já é noite, mas não podemos dizer que aquela ou multa.
cidade está tranquila, pois na verdade deve estar ainda en- § 1º Somente se procede mediante representação.
frentando alguns congestionamentos. § 2º Não é punível a subtração de coisa comum
fungível, cujo valor não excede a quota a que tem
8) Furto privilegiado: se o criminoso é primário, e é de direito o agente.
pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena
de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, 1) Aplica-se tudo relativo ao crime de furto simples, salvo
ou aplicar somente a pena de multa. em relação ao sujeito ativo, que, no presente crime somente
poderá ser praticado por condômino, co-herdeiro ou sócio,
Obs.: são requisitos para aplicação do furto privilegiado: tratando-se, pois de crime próprio.
a) Primariedade do criminoso – Primário é o não reinci- 2) Se a coisa comum for fungível (pode ser substituído
dente, ou seja, aquele que após o trânsito em julgado de uma por outra) e não exceder a quota a que o sujeito ativo tem
sentença condenatória não praticou mais nenhum crime. direito, não haverá crime.
b) Coisa de pequeno valor – Segundo a jurisprudência é
aquela cujo valor não excede a um salário mínimo. Roubo
Atenção: Não confundir “coisa de pequeno valor” com Código Penal
“coisa de valor insignificante”. A primeira trata-se de furto
privilegiado se conjugado com o fato do criminoso ser pri- Art. 157. Subtrair coisa móvel alheia, para si ou
mário. A segundo é a aplicação do princípio da insignificância para outrem, mediante grave ameaça ou violência
que torna o fato atípico, como, por exemplo, furtar uma a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio,
caneta comum. reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos,
9) Furto qualificado: o crime de furto será qualificado e multa.
quando se verificar: § 1º Na mesma pena incorre quem, logo depois de
a) Destruição ou rompimento de obstáculo – O obstáculo subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa
a ser destruído ou rompido deve ser diverso da coisa a ser ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do
subtraída, por exemplo, destrói-se uma janela, porta, trinco, crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro;
§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até me-
cadeado para adentrar em uma casa e furtar. A destruição
tade: (Redação dada pela Lei nº 13.654, de 2018)
deve ocorrer para viabilizar a prática do crime de furto, fi-
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego
cando desta forma absorvido o crime de dano. Se, todavia,
de arma;
primeiramente o agente furtar e depois de consumado este II – se há o concurso de duas ou mais pessoas;
crime destruir ou romper algum obstáculo, o crime de dano III  – se a vítima está em serviço de transporte de
ocorrerá. valores e o agente conhece tal circunstância;
Noções de Direito Penal

b) Com abuso de confiança  – A vítima possui prévia IV – se a subtração for de veículo automotor que
confiança no agente, de forma a deixar seu patrimônio venha a ser transportado para outro
vulnerável. Ex.: amizade, parentesco, relações profissionais. Estado ou para o exterior;
c) Mediante fraude – É a utilização de um meio enganoso V – se o agente mantém a vítima em seu poder, res-
para iludir a vítima e efetivar a subtração. Ex.: disfarce de tringindo sua liberdade.
agente de inspeção da dengue para adentrar na residência VI – se a subtração for de substâncias explosivas
da vítima. ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente,
d) Escalada – Ingresso anormal em determinado local, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego.
por exemplo, transpor muito, janelas, cavar túneis. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
e) Destreza – Boa habilidade com as mãos, onde a vítima § 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):
não percebe que está sendo subtraída. Ex.: batedores de (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
carteira. I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego
f) Com emprego de chave falsa – Instrumento utilizado de arma de fogo; (Incluído pela Lei nº 13.654, de
para abrir ou fechar. Ex.: gazua, mixa, grampo, arame. 2018)

53
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo 8) Concurso de crimes: segundo Victor Eduardo Rios
mediante o emprego de explosivo ou de artefato Gonçalves:
análogo que cause perigo comum. (Incluído pela Lei • Grave ameaça concomitantemente contra duas pesso-
nº 13.654, de 2018) as, mas subtrai objeto de apenas uma: crime de roubo
§ 3º Se da violência resulta: (Redação dada pela Lei único, um patrimônio foi lesado e houve duas vítimas.
nº 13.654, de 2018) • Mesmo contexto fático emprega violência contra duas
I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 pessoas ou mais e subtrai o objeto de todas, crime
(sete) a 18 (dezoito) anos, e multa; (Incluído pela Lei de roubo em concurso formal (na verdade são dois
nº 13.654, de 2018) roubos). Ex.: assalto em ônibus.
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 • Grave ameaça contra uma só pessoa, mas subtrai
(trinta) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 13.654, bens de pessoas distintas que estão com essa pes-
de 2018) soa, crime formal, desde que o agente saiba que os
bens pertencem a pessoas distintas, para se evitar a
1) Conceito: possui os mesmos requisitos do furto: responsabilidade objetiva, por exemplo, leva dinheiro
• Subtração; do caixa do banco e o relógio do funcionário.
• Coisa alheia móvel (objeto material);
• Para si ou para outrem (com o fim de assenhoramento Roubo Impróprio
definitivo – elemento subjetivo).
Código Penal
Todavia, para efetuar a subtração deve haver emprego
de uma das seguintes formas de execução: Art. 157. [...]
a) Violência – vis absoluta. É o emprego de desforço físico
§ 1º Na mesma pena incorre quem, logo depois de
que deve ser praticada sempre contra a pessoa. Ex.: Tapas,
subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa
socos, violentos empurrões ou trombadas, todavia se forem
ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade
leves não será o crime de roubo.
b) Grave ameaça – vis relativa promessa de mal grave do crime ou a detenção da coisa para si ou para ter-
e iminente. ceiro. (Grifo nosso)
c) Qualquer outro meio que reduza á vitima à impossi-
bilidade de resistência – Ex.: sonífero. Atenção: o Roubo Impróprio não admite a terceira hipó-
tese de execução: “de qualquer modo reduza a capacidade
Atenção: se o agente dá sonífero para vítima para da vítima”, somente podendo ser praticado por violência
aproveitar e realizar a subtração é roubo. Se a vítima toma ou grave ameaça.
o sonífero e o agente se aproveita dessa situação é furto.
Assim o roubo impróprio será praticado da seguinte
Obs.: uso de arma de brinquedo e abordagem à vítima forma:
de surpresa gritando que se trata de um assalto mesmo não a) o agente subtrai a coisa alheia móvel;
mostrando qualquer arma configura violência ou grave amea­ b) após estar na posse do bem;
ça, tratando-se, portanto, de crime de roubo e não de furto. c) emprega violência ou grave ameaça;
d) com o fim de garantir a impunidade ou a detenção da
2) Objeto jurídico: patrimônio e liberdade. Trata-se de coisa para si ou para terceiro.
um crime complexo, pois atine mais de um bem jurídico.
3) Objeto material: a coisa alheia subtraída. Enquanto que no roubo próprio (art. 157, caput) a vio-
4) Sujeito ativo: qualquer pessoa, menos o proprietário. lência ou grave ameaça são empregadas antes ou durante
É crime comum é possível a coautoria, por exemplo, A segura a subtração, no roubo impróprio o agente inicialmente pra-
a vítima e B subtrai. É concurso de agentes porque ambos tica um furto, e, já tendo se apoderado do bem, emprega
cometeram parte executória do crime: violência e subtração. violência ou grave ameaça para garantir a impunidade da
Houve divisão de tarefas. subtração ou assegurar a detenção do bem.
5) Sujeito passivo: proprietário, possuidor e detentor
da coisa, bem como qualquer outra pessoa que seja vítima 1) Consumação e tentativa: consuma-se no exato mo-
da violência ou grave ameaça, por exemplo, A ameaça B e C mento em que é empregada a violência ou grave ameaça,
com uma arma com o fim de subtrair o carro que pertence mesmo que o agente não consiga garantir a impunidade ou
a B. Assim, B é vítima do patrimônio e da violência e C é assegurar a posse dos objetos subtraídos. Consequentemen-
vítima da violência. te, não admite tentativa, pois ou se pratica a violência e o
6) Consumação: mesmas teorias aplicadas ao furto. Se- crime estará consumado ou será furto.
gundo entendimento do STF e do STJ, para a consumação do
Noções de Direito Penal

roubo é desnecessária a posse tranquila do bem subtraído Resumo


por parte do agente, bastando a posse do objeto material por
curto período de tempo, não precisa tirar a coisa da esfera
de vigilância da coisa (STJ, HC nº 25.489, EREsp. nº 235.205). Roubo Próprio Roubo Impróprio
Ocorre a tentativa quando o agente não consegue, por O agente utiliza de violência, O agente subtrai a coisa
circunstâncias alheias a sua vontade, a  posse, ainda que grave ameaça ou qualquer alheia móvel
momentânea, da coisa. Também está consumado o roubo outro meio que reduza á Após estar na posse do bem
quando o agente se desfaz da coisa subtraída ou a mesma vitima à impossibilidade de
se extravia na fuga, não a recuperando a vítima, ou quando, resistência
havendo concurso de agentes, um deles consegue empre- Para subtrair a coisa alheia Emprega violência ou grave
ender fuga na posse do bem. móvel ameaça
7) Crime de roubo e princípio da insignificância: é inad-
missível a sua aplicação, pois ainda que ínfimo o valor da Consumação: com a retirada Com o fim de garantir a im-
coisa, não afetando o bem jurídico patrimônio, a violência do bem da esfera de disponi- punidade ou a detenção da
e a grave ameaça permanecem. bilidade da vítima. coisa para si ou para terceiro.

54
Consumação: com o em- II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30
prego da violência ou grave (trinta) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 13.654,
ameaça. de 2018)

Causa de Aumento de Pena – A pena do crime de roubo O crime de roubo pode ser qualificado tanto com a
será aumentada de um terço até metade nos seguintes casos ocorrência de lesão corporal grave como pela morte. O que
(art. 157, § 2º): se tem é o chamado crime qualificado pelo resultado. Há
dolo no ato de roubar e pode haver culpa ou dolo no ato
Se há o concurso de duas ou mais pessoas – Exige-se no de causar lesão corporal grave ou a morte. Assim, não se
mínimo duas pessoas. Agente inimputável ou não identificado trata necessariamente de um crime preterdoloso.
também computa para o número de duas ou mais pessoas,
qualificando o crime. Não é necessário que mais de um agente Roubo Qualificado:
esteja no local do fato para qualificar o crime, bastando a
comprovação da divisão de tarefas do concurso de pessoas. Dolo de roubar + culpa ou Dolo de roubar + culpa ou
dolo nas lesões corporais dolo na morte causada à
Se a vítima está em serviço de transporte de valores
causadas na vítima (estas vítima (estas decorrentes da
e o agente conhece tal circunstância – Abrange qualquer
transporte de valores, como roubo a carro-forte, a office-boy decorrentes da violência violência utilizada no crime
que carrega valores para depósito em banco, todavia o autor utilizada no crime de roubo). de roubo). Também chama-
deve saber que tais pessoas estão transportando valores. do de latrocínio.

Se a subtração for de veículo automotor que venha a ser 1) Tais qualificadoras são aplicadas tanto ao roubo pró-
transportado para outro estado ou para o exterior – Dolo de prio como ao impróprio.
transportar para fora. Igual comentário do furto qualificado.
2) Lesões corporais graves são aquelas descritas no
Se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo art. 129, §§ 1º e 2º. Assim, segundo a classificação da
sua liberdade  – O inciso utiliza a expressão “restrição de doutrina, engloba tanto as lesões corporais graves como as
liberdade” e não “privação de liberdade”. Quando a vítima gravíssimas. Já a lesão corporal leve é absorvida pelo roubo,
deve permanecer por um período prolongado com o agente, pois trata-se de uma elementar, qual seja a violência.
ou seja, um tempo maior que o necessário para a execução
do crime de roubo, ocorrerá a prática do crime de roubo em Atenção! Somente haverá o crime de roubo qualificado
concurso material com o crime de sequestro. se as lesões corporais graves ou a morte decorrerem da
Deve haver subtração. A vítima passa o cartão no caixa violência exercida para a prática do crime de roubo. Se estas
eletrônico e o SA retira o $. Houve subtração. decorrerem da grave ameaça exercida para a execução do
Se ele quer a senha para subtrair será extorsão mediante crime de roubo estaremos diante do concurso formal entre
sequestro, porque aqui o agente exige que a vítima faça algo. roubo e lesão corporal ou homicídio. Assim:
Se a privação da liberdade ocorre após a subtração, há
concurso de crimes (roubo e sequestro).
Se da violência exercida para Se da grave ameaça exercida
Obs.: tais causas de aumento de pena são aplicadas tanto a prática do crime de roubo para a prática do crime de
ao roubo próprio como ao impróprio. ocorrer lesão corporal grave roubo ocorrer lesão corpo-
na vítima ou a sua morte, ral grave na vítima ou a sua
Se a subtração for de substâncias explosivas ou de estaremos diante do crime morte, estaremos diante
acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua de roubo qualificado (que no concurso formal entre roubo
fabricação, montagem ou emprego - Este inciso foi acrescen- caso de ocorrer o resultado e lesão corporal ou homicí-
tado pela Lei nº 13.654, de 23 de abril de 2018. morte também denomina-se dio. Ex.: A querendo subtrair
latrocínio). Ex.: A querendo o carro de B ameaça-o com
Atenção: a Lei nº 13.654, de 23 de abril de 2018, majorou subtrair o carro de B atirou uma arma de fogo. B, com
a pena do crime de roubo, quando a violência ou ameaça é neste que veio a falecer em o susto sai correndo e é
exercida com emprego de arma de fogo, e acrescentou outra decorrência dos ferimentos. atropelado.
hipótese de aumento de pena. Vejamos:
3) A violência empregada para o crime de roubo que vem
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): (In- a causar lesões graves ou a morte da vítima deve observar
cluído pela Lei nº 13.654, de 2018) alguns requisitos: (conforme exposição de Victor Eduardo
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego Rios Gonçalves – Sinopse Jurídica)
de arma de fogo; (Incluído pela Lei nº 13.654, de
Noções de Direito Penal

a) A violência deve ser empregada no mesmo contexto fáti-


2018) co do roubo. Ex.: três meses depois o agente encontra a vítima
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo e a mata com medo de ser reconhecido. Não será latrocínio;
mediante o emprego de explosivo ou de artefato b) Nexo causal entre a morte e a subtração: violência
análogo que cause perigo comum. (Incluído pela Lei foi empregada durante e em razão do roubo. Mata inimigo
nº 13.654, de 2018)
durante o roubo que avista do outro lado da rua. Não será
latrocínio;
Roubo Qualificado
c) Respeitados os requisitos acima, haverá latrocínio
Código Penal qualquer que seja a morte: tanto da vítima como de quem
a acompanhava, como também do segurança do estabele-
Se da violência resulta: (Redação dada pela Lei nº cimento comercial que está sendo roubado, do policial que
13.654, de 2018) tenta evitar o roubo.
I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7
(sete) a 18 (dezoito) anos, e multa; (Incluído pela Lei Obs.1: a lesão grave ou morte de coautor ou partícipe
nº 13.654, de 2018) não qualifica o roubo.

55
Obs.2: mata-se a vítima e após a morte surge a ideia de deixar de fazer alguma coisa (não ingressar com ação
subtrair seus pertences, será crime de homicídio em concurso de execução ou cobrança);
material com o crime de furto. • sempre no intuito de se obter uma vantagem econô-
mica (porque estamos nos crime contra o patrimônio)
4) Dá-se o nome de latrocínio ao roubo qualificado pelo indevida (injusta, pois se for devida, haverá o crime
resultado morte. de exercício arbitrário das próprias razões).

5) O latrocínio, consumado ou tentado, é crime hediondo 1) Objetividade jurídica: o patrimônio, a liberdade indi-
(art. 1º, II, da Lei nº 8.072/1990). vidual e a integridade física (em caso de violência).
6) Consumação do crime de roubo qualificado: com a 2) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
ocorrência da lesão grave ou morte, independentemente do 3) Sujeito passivo: qualquer pessoa sofra a violência ou
agente conseguir efetuar a subtração do bem pretendido: prejuízo patrimonial.
a) o agente subtrai o bem e a vítima não morre – latro- 4) Tipo subjetivo: o dolo. Exige o elemento subjetivo do
cínio tentado; tipo, consistente na vontade de obter indevida vantagem
b) o agente subtrai o bem e a vítima morre – latrocínio econômica, para si ou para outrem.
consumado; 5) Consumação e tentativa: consuma-se no instante em
c) o agente não subtrai o bem e a vítima não morre – que a vítima, após sofrer a violência ou grave ameaça, toma
latrocínio tentado; a atitude que o agente deseja, ainda que este não consiga
d) o agente não subtrai o bem e a vítima morre – latro- obter qualquer vantagem econômica. É crime formal. (Sú-
cínio consumado; mula nº 96 do STJ). A obtenção da vantagem econômica é
e) o agente subtrai o bem e a vítima não fica com lesão mero exaurimento do crime. Ocorre a tentativa quando a
corporal grave – roubo qualificado tentado; vítima, apesar da violência ou grave ameaça, não se submete
f) o agente subtrai o bem e a vítima fica com lesão cor- à vontade do agente.
poral grave – roubo qualificado consumado; 6) Ação penal: pública incondicionada.
g) o agente não subtrai o bem e a vítima não fica com 7) O crime de extorsão difere-se do crime de roubo: se
lesão corporal grave – roubo qualificado tentado; o bem for subtraído o crime será sempre de roubo. Agora
h) o agente não subtrai o bem e a vítima fica com lesão se a vítima entrega o bem, mediante violência ou grave
corporal grave – roubo qualificado consumado. ameaça, para o agente, o crime poderá ser tanto de roubo
como de extorsão. Será extorsão quando a colaboração da
Obs.: assim deve-se verificar se ocorreu o resultado lesão vítima é imprescindível para que o agente obtenha o que
grave ou morte para o crime estar consumado, não devendo visa. Agora se a entrega era prescindível, ou seja, mesmo se
se ater a subtração ocorreu ou não. a vítima não entregasse havia a possibilidade de subtração
será o crime de roubo.
Extorsão
Roubo Extorsão
Código Penal O comportamento da víti- O comportamento da vítima
ma é dispensável. Mesmo é indispensável. Se a vítima
Art. 158. Constranger alguém, mediante violência ou se a vítima não colaborar, não colaborar não é possível
grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para o agente conseguirá subtrair executar a subtração do
outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar o bem. Ex.: A aponta arma bem. Ex.: A querendo a se-
que se faça ou deixar fazer alguma coisa: para B exigindo que este lhe nha do banco de B, ameaça-
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, entregue a sua carteira. Se B -o com uma arma de fogo.
e multa.
não quiser colaborar entre- Se B não lhe disser qual é
§ 1º Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas,
gando a carteira é possível a senha, A não tem como
ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um
que A a subtrai-a. Será crime subtraí-la. Será crime de
terço até metade.
§ 2º Aplica-se à extorsão praticada mediante violência de roubo. extorsão.
o disposto no § 3º do artigo anterior. 8) O crime de extorsão se difere do estelionato: na
§ 3º Se o crime é cometido mediante a restrição da hipótese em que a vítima é obrigada a entregar algo para o
liberdade da vítima, e  essa condição é necessária agente, assemelha-se ao crime de estelionato já que neste é
para a obtenção da vantagem econômica, a pena também a própria vítima quem entrega os seus pertences ao
é de reclusão, de 6 (seis) a12 (doze) anos, além da sujeito ativo da infração. No estelionato, entretanto, ela quer
multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, efetivamente entregar o objeto, uma vez que foi induzida ou
aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2º e mantida em fraude. Na extorsão a vítima desapoja-se de seu
Noções de Direito Penal

3º, respectivamente. patrimônio contra a sua vontade já que o faz em decorrência


de ter sofrido violência ou grave ameaça.
O crime decorre de o agente constranger a vítima me-
diante violência ou grave ameaça com o intuito de obter uma
vantagem econômica indevida através da prática de uma Extorsão Estelionato
conduta ou de uma omissão da vítima. Passemos a analisar A vítima entrega o bem por- A vítima entrega o bem por-
as elementares deste tipo penal: que está sofrendo violência que foi ludibriada por uma
• constranger significa obrigar, coagir alguém; ou grave ameaça. fraude.
• o meio executório do crime, ou seja, de se realizar o
constrangimento é mediante violência (física) ou grave Obs.: Sequestro Relâmpago? Há duas formas de seques-
ameaça (moral); tro relâmpago: a vítima, mediante violência ou grave ameaça,
• após constrangida a vítima deve: fazer algo (entregar retira o dinheiro do caixa eletrônico, e o assaltante subtrai o
dinheiro ou bem móvel ou imóvel, comprar alguma dinheiro. Neste caso é o crime de roubo. Se a vítima entre-
coisa para o agente), tolerar que se faça (permitir que ga o cartão e diz a senha será crime de extorsão, porque o
o agente rasgue um contrato ou título de crédito) ou assaltante que retira o dinheiro.

56
Causa de Aumento de Pena 3) Sujeito passivo: qualquer pessoa, podendo ser tanto
a que sofre a privação da liberdade ou a lesão patrimonial
Código Penal através do pagamento do resgate.
4) Consumação e tentativa: é crime formal e permanen-
Art. 158. [...] te. Consuma-se com o sequestro ou cárcere privado, por
§ 1º Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, tempo juridicamente relevante, independentemente da
ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um obtenção da vantagem pretendida. O pagamento do resgate
terço até metade. (Grifo nosso) é mero exaurimento do crime. Quando a vítima se liberta
ou é liberada pelo próprio agente, por insucesso da exigên-
1) Por duas ou mais pessoas: prevalece o entendimento cia, o crime já está consumado. Ocorre a tentativa quando,
de que é indispensável a presença de pelo menos duas iniciada a execução do crime, os agentes não conseguem
pessoas quando da execução do delito, diferente do furto e arrebatar a vítima, não conseguiu sequestrar.
do roubo, porque o 157, § 2º, I do CP, que fala em concurso 5) Ação penal: pública incondicionada.
de duas ou mais pessoas. 6) A extorsão mediante sequestro, consumada ou
2) Com emprego de arma: a causa de aumento de pena tentada, simples e nas suas formas qualificadas, é crime
está relacionada ao uso de arma que é um meio executório hediondo (art. 1º, IV, da Lei nº 8.072/1990).
do crime com grande poder intimidatório. Contudo, para 7) A privação de liberdade de animal de estimação ou de
esta majoração de pena considera-se arma todo e qualquer raça, mesmo que tenha por finalidade a obtenção de resgate,
objeto com potencial vulnerante. Assim é possível abarcar caracteriza crime de extorsão.
tanto arma própria ou imprópria (revólver, faca, garrafa, barra
de ferro, gás de pimenta etc.). Para a aplicação do aumento Extorsão Mediante Sequestro Qualificado:
de pena não basta que o agente apenas porte a arma, sendo 1) se o sequestro dura mais de 24 horas;
necessária a sua utilização ostensiva e intimidadora. 2) se o sequestrado é menor de 18 anos ou maior de
60 anos;
Extorsão Qualificada 3) se o crime é cometido por bando ou quadrilha;
4) se do fato resulta lesão corporal de natureza grave;
Código Penal 5) se do fato resulta morte.

Art. 158. [...] Obs.: nas duas últimas hipóteses a lei diz “se do fato”
§ 2º Aplica-se à extorsão praticada mediante violência e não “da violência” resultar lesão grave ou morte, não ha-
o disposto no art. 157, § 3º do CP. vendo necessidade de que a lesão grave ou morte decorram
de violência, bastando que decorram do sequestro. Todavia,
1) As qualificadoras somente se aplicam quando a extor- em ambas as hipóteses, o resultado qualificador deve recair
são é cometida com emprego de violência. sobre a pessoa sequestrada. Se os sequestradores matam
2) São seguidas as mesmas regras já estudadas no roubo o segurança da vítima ou a pessoa que estava efetuando o
qualificado. pagamento do resgate, há concurso material com homicídio
3) Somente a extorsão qualificada pela morte, con- qualificado. Trata-se de duas hipóteses de crime qualificado
sumada ou tentada, é crime hediondo (art. 1º, III, da Lei pelo resultado. O resultado qualificador pode advir de dolo
nº 8.072/1990). ou culpa.

Extorsão Mediante Sequestro Delação Premiada

Código Penal Código Penal

Art.  159. Sequestrar pessoa com o fim de obter, Art. 159. Se o crime é cometido em concurso, o con-
para si ou para outrem, qualquer vantagem, como corrente que o denunciar à autoridade, facilitando
condição ou preço do resgate. A pena é de 8 a 15 a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida
anos de reclusão. de um a dois terços.

O crime consiste em privar alguém de sua liberdade 1) Para que seja aplicada a causa de diminuição de
como fim de se obter resgate. Abrange o cárcere privado pena, a delação tem que ser eficaz (facilitar a libertação
(quando a vítima é colocada em recinto fechado, havendo do sequestrado).
maior restrição da liberdade). 2) É causa obrigatória de diminuição.
3) O quantum da diminuição leva em conta a maior ou
Noções de Direito Penal

Não se deve confundir com o crime de sequestro ou


cárcere privado previsto no art. 148 do CP, que apesar de tam- menor colaboração para libertação da vítima.
bém consistir no fato de privar alguém de sua liberdade, não
tem a visão patrimonial, qual seja, da obtenção do resgate. Extorsão Indireta

Código Penal
Extorsão mediante Sequestro ou cárcere
sequestro privado Art. 160. Exigir ou receber, como garantia de dívida,
Privar alguém de sua liber- Privar alguém de sua li- abusando da situação de alguém, documento que
dade para obter um resgate. berdade. Crime contra a pode das causa a procedimento criminal contra a
Crime contra o patrimônio. restrição de liberdade. vítima ou contra terceiro.
Pena – reclusão de 1 a 3 anos e multa.
1) Objetividade jurídica: o patrimônio e a liberdade
individual. Para a prática do crime deve-se verificar a presença de
2) Sujeito ativo: qualquer pessoa. três requisitos:

57
a) Exigência (crime formal) ou recebimento (crime ma- ou represa as águas alheias, independentemente de obter
terial) de documento que possa dar causa a processo penal proveito próprio.
contra a vítima ou terceiro;
b) Intenção do agente em garantir ameaçadoramente o Esbulho Possessório
pagamento da dívida;
c) Abuso da situação de necessidade financeira do su- Código Penal
jeito passivo (deve saber que a vítima está em momento
de dificuldade). Art. 161. [...]
§ 1º [...]
Exemplo: ocorrência de simulação de um corpo de delito II – na mesma pena incorre quem invade, com violên-
de uma infração penal, preenchimento de cheque sem fundo, cia a pessoa ou grave ameaça, ou mediante concurso
assinatura em duplicata simulada, ou qualquer outra coisa de mais de duas pessoas, terreno ou edifício alheio,
capaz de dar início ao um processo criminal. para o fim de esbulho possessório.

Os demais itens assemelham-se ao crime de extorsão. 1) Conduta: invadir mediante violência ou grave ame-
aça exercida contra a pessoa, bem como em concurso de
Da Alteração de Limites mais de duas pessoas, terreno alheio com o fim de esbulho
possessório.
Código Penal
Obs.: Esbulho Possessório – desejo de excluir a posse de
Art. 161. Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou quem a exerce para passar exercê-la.
qualquer outro sinal indicativo de linha divisória,
para apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa 2) Meio executório: deve-se invadir terreno alheio me-
imóvel alheia: diante violência ou grave ameaça, bem como em concurso
Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, e multa. de mais de duas pessoas, ou seja, deve haver ao menos três
§ 1º Na mesma pena incorre quem: pessoas.
Usurpação de águas 3) Objeto jurídico: proteção da posse alheia.
I – desvia ou represa, em proveito próprio ou de 4) Sujeito ativo: qualquer pessoa salvo o possuidor do
outrem, águas alheias; terreno.
Esbulho possessório 5) Sujeito passivo: o proprietário ou possuidor do ter-
II – invade, com violência a pessoa ou grave ameaça, reno invadido.
ou mediante concurso de mais de duas pessoas, 6) Consumação: no momento da invasão.
terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho 7) Se no momento da invasão o agente causar lesões
possessório. corporais, ainda que leves responderá por ambos os crimes.
§ 2º Se o agente usa de violência, incorre também 8) Se a propriedade é particular, e não há emprego de
na pena a esta cominada. violência, somente se procede mediante queixa.
§ 3º Se a propriedade é particular, e não há emprego
de violência, somente se procede mediante queixa.
Supressão ou Alteração de Marca em Animais
1) Conduta: suprimir (retirar) ou deslocar (mover) ta-
Código Penal
pume, marco ou qualquer outro sinal indicativo de linha
divisória com o fim de apropriar-se de coisa alheia móvel.
Art. 162. Suprimir ou alterar, indevidamente, em
2) Objeto jurídico: visa a resguardar a posse a proprie-
dade de bens imóveis. gado ou rebanho alheio, marca ou sinal indicativo
3) Sujeito ativo: o vizinho do imóvel alterado. É crime de propriedade:
próprio. Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos,
4) Sujeito passivo: o proprietário do imóvel que teve sua e multa.
propriedade invadida.
5) Consumação: com a supressão ou deslocamento do 1) Conduta: suprimir (retirar) ou alterar (modificar),
marco, ainda que o agente não atinja a sua finalidade de indevidamente, marca ou sinal indicativo de propriedade
apropriar-se do imóvel alheio. É crime formal. em gado ou rebanho alheio.
2) Objeto jurídico: propriedade e posse de animais
Usurpação de Águas semoventes.
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
4) Sujeito passivo: dono do animal.
Noções de Direito Penal

Código Penal
5) Consumação: com a supressão ou alteração da marca,
Art. 161. [...] ainda que ocorra em apenas um animal.
§ 1º [...] 6) Em caso de furto de animal e posterior supressão da
I – na mesma pena incorre quem desvia ou represa, marca, este último crime fica absorvido pelo crime de furto.
em proveito próprio ou de outrem, águas alheias.
Dano
1) Conduta: desviar ou represar em proveito próprio
águas alheias. Código Penal
2) Objeto jurídico: resguardar as águas públicas ou par-
ticulares que passem por um determinado local. Art. 163. Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.
4) Sujeito passivo: a vítima que sofre o dano em decor- Dano Qualificado
rência do desvio das águas. Parágrafo único. Se o crime é cometido:
5) Consumação: no momento em que a agente desvia I – com violência à pessoa ou grave ameaça;

58
II – com emprego de substância inflamável ou explo- 1) Conduta: introduzir (é uma ação, locar o animal) deixar
siva, se o fato não constitui crime mais grave; (é uma omissão, em que o agente não retira o animal que
III – contra o patrimônio da União, de Estado, do Dis- livremente adentrou em propriedade alheia) animal em
trito Federal, de Município ou de autarquia, fundação propriedade alheia, sem consentimento de quem de direito,
pública, empresa pública, sociedade de economia desde que resulte prejuízo.
mista ou empresa concessionária de serviços pú-
blicos; (Redação dada pela Lei nº 13.531, de 2017) Atenção! Não é somente introduzir ou deixar animal em
IV – por motivo egoístico ou com prejuízo conside- propriedade alheia, deve também tal conduta não estar auto-
rável para a vítima: rizada por quem de direito e mais, deve causar um prejuízo.
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos,
e multa, além da pena correspondente à violência. 2) Sujeito ativo: qualquer pessoa, proprietário ou não
do animal.
1) Conduta: destruir (eliminar, destituir), inutilizar (retirar 3) Sujeito passivo: proprietário ou possuidor do imóvel.
a sua finalidade) ou deteriorar (danificar) coisa alheia. Ex.: 4) Consumação: com a introdução ou abandono de
destruir em carro, matar um animal, arrebentar uma fiação apenas um animal em propriedade alheia.
elétrica. 5) Processa-se mediante queixa-crime.

Obs.: o ato de pichar monumentos urbanos configura o Dano em Coisa de Valor Artístico Econômico ou Histórico
crime previsto no art. 65, caput da Lei n º 9.605/1998. Toda-
via, se o monumento ou coisa for tombado será o parágrafo Código Penal
único do art. 65 da Lei nº 9.605/1998.
Art. 165. Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tom-
2) Objeto jurídico: propriedade alheia. bada pela autoridade competente em virtude de
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa, salvo o proprietário valor artístico, arqueológico ou histórico:
da coisa danificada. Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
4) Sujeito passivo: o proprietário da coisa. e multa.
5) Consumação: com a destruição, inutilização ou dete-
riorização da coisa. Obs.: revogado pelo art. 62, I da Lei nº 9.605/1998.
6) Para que o crime de dano exista é necessário que a
destruição, inutilização ou deteriorização da coisa seja um fim Alteração de Local Especialmente Protegido
em si mesmo. Se, todavia constituir um meio para prática de
um crime mais grave, como, por exemplo, crime de furto com Código Penal
destruição de obstáculo, o crime de dano restará absorvido.
Art. 166. Alterar, sem licença da autoridade compe-
tente, o aspecto de local especialmente protegido
Crime de Dano Qualificado – O crime será qualificado
por lei:
quando cometido com:
Pena – detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou
• violência à pessoa ou grave ameaça – A violência ou
multa.
grave ameaça devem constituir meio para execução
do crime de dano. Se praticadas após a deteriorização Obs.: revogado pelo art. 63 da Lei nº 9.605/1998.
da coisa o agente responderá pelo crime de dano e
por lesões corporais ou ameaça. Da mesma forma a Apropriação Indébita
violência pode ser praticada contra o próprio dono do
objeto danificado como contra terceiros; Código Penal
• com o emprego de substância inflamável ou explosi-
va, se o fato não constituir crime mais grave – É uma Art. 168. Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que
qualificadora expressamente subsidiária; tem a posse ou a detenção:
• contra o patrimônio da União, Estado, Município, Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
empresa concessionária de serviço público ou socie- Aumento de pena
dade de economia mista – Embora não haja a menção § 1º A pena é aumentada de um terço, quando o
expressa em relação a empresa pública, autarquias agente recebeu a coisa:
e fundações instituídas pelo poder público, estas I – em depósito necessário;
integram, ainda que parcialmente, o patrimônio da II – na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário,
União, Estados e Municípios; inventariante, testamenteiro ou depositário judicial;
Noções de Direito Penal

• por motivo egoístico ou com prejuízo considerável III – em razão de ofício, emprego ou profissão.
para vítima – No caso deste inciso somente se pro-
cessa mediante queixa-crime. 1) Conduta: apropriar-se de coisa alheia móvel, de que
tem a posse ou detenção.
Introdução ou Abandono de Animais em Propriedade
Alheia Obs. 1: o crime se caracteriza pela quebra de confiança,
pois a vítima espontaneamente entrega o objeto ao agente,
Código Penal e este, depois de já estar na sua posse ou detenção, inverte
seu ânimo em relação ao bem, passando a comportar-se
Art. 164. Introduzir ou deixar animais em propriedade como proprietário. Assim, são as elementares do crime de
alheia, sem consentimento de quem de direito, desde apropriação indébita:
que o fato resulte prejuízo: a) Apropriar-se – É a disposição do agente de fazer sua
Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 6 (seis) meses, a coisa alheia. Ele inverte o título da posse, comportando-se
ou multa. como se fosse o dono. Isso pode ocorrer de duas formas: com

59
a prática de um ato de disposição que somente poderia ser No estelionato o agente se utiliza de fraude, há dolo para o
efetuado pelo proprietário (venda, locação, doação, troca bem ser entregue, na apropriação o agente recebe o bem
etc.) ou quando o agente resolve ficar com a coisa para si, de boa-fé e posteriormente haverá inversão da vontade
recusando-se a devolvê-la ao sujeito passivo; surgindo o dolo.
b) Posse ou detenção – Que deve ser legítima, tendo em
vista que o agente recebe o bem entregue pela vítima de
Apropriação indébita Estelionato
boa-fé. Poderá haver apropriação indébita nas relações de
locação, mandato, depósito, penhor, usufruto etc.; Primeiro a vítima recebe o O agente antes de entrar na
c) A posse deve ser desvigiada (se for vigiada, haverá bem de boa-fé, e após estar posse do bem já possui o
furto); na posse do bem surge o dolo de apropriar-se. Assim
d) Coisa móvel é o objeto material da apropriação indébi- dolo de apropriar-se. aplica uma fraude e então
ta. Somente bens móveis podem ser objeto de apropriação. apropria-se do bem.
Se imóvel o fato é atípico. O STF e o STJ consideram admissível
a apropriação indébita de bem fungível; 9) Se o agente é funcionário público e apropria-se de
e) Coisa alheia (elemento normativo) é aquela que bem que tenha vindo ao seu poder em razão do cargo que
tem dono ou possuidor, não pertencendo àquele que está exerce, comete o crime de peculato (art. 312).
apropriando-se da mesma.
Causa de Aumento de Pena
Obs. 2: requisitos para prática do crime de apropriação
indébita: Aumenta-se a pena de um terço, quando o agente rece-
a) a vítima entrega o bem ao agente a posse ou a deten- beu a coisa (art. 168, § 1º):
ção do bem de forma livre, espontânea e consciente; Em depósito necessário – O depósito pode: legal, mi-
b) o agente recebe a coisa de forma lícita e de boa-fé, serável e por equiparação – art. 647, I, II, III do CC. Abrange
não pretendendo praticar crime; somente o depósito miserável, por exemplo, em uma cala-
c) a posse deve ser desvigiada. Caracteriza um crime de midade pública como é o caso de uma inundação, a vítima
quebra de confiança; em desespero entregar seus bens para primeira pessoa que
d) após estar na posse ou detenção do bem resolve se aparece. Apesar de não haver uma relação de confiança,
apoderar do bem e assim comete o crime. o agente recebe os bens de boa-fé e se, depois decidir se
apropriar de tais bens será o crime de apropriação indébita
2) Objeto jurídico: a posse e a propriedade. com causa de aumento de pena.
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa que tenha a posse Na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário,
ou detenção lícita de um bem. Deve estar de boa-fé para inventariante, testamenteiro ou depositário judicial – É um
receber a coisa. Se já estiver de má-fé será estelionato. Se rol taxativo. Tais pessoas não são funcionários públicos, as-
funcionário público, no exercício de sua função, será peculato sim, não será peculato e sim apropriação indébito. Atenção!
apropriação. Não existe mais a figura do liquidante e o síndico passou a
4) Sujeito passivo: geralmente é o proprietário da coisa, chamar administrador judicial.
mas pode ser também o possuidor. Em razão de ofício, emprego ou profissão – O recebi-
5) Consumação e tentativa: a apropriação indébita se mento da coisa deve ter sido em razão do ofício, emprego ou
consuma no momento em que o agente inverte o título da profissão, exigindo-se, ainda, que haja relação de confiança.
posse, comportando-se como dono, ou no momento em que Emprego é a prestação de serviço com subordinação. Ofício
o agente se recusa a devolver o objeto material.
é a ocupação manual ou mecânica que supõe certo grau de
Ocorre a tentativa quando o agente, por circunstâncias
habilidade (mecânico, costureiro). Profissão diz respeito ao
alheias a sua vontade, não consegue inverter o título da
exercício de atividade técnica e intelectual sem vinculação
posse, por exemplo, quando tenta vender a coisa e não
consegue. Na negativa de devolução, é impossível a tenta- hierárquica (médico, advogado), é o profissional liberal.
tiva, pois ou não devolve e o crime consuma ou devolve e
não há crime. Apropriação Indébita Previdenciária
6) Não há crime quando o agente tem direito de retenção
da coisa (ex.: arts. 644 e 681 do CC), pois o exercício regular Código Penal
de direito exclui a antijuridicidade.
7) Diferença ente o crime de apropriação indébita e o Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as
crime de furto: contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo
e forma legal ou convencional. A pena é de 2 a 5 anos
de reclusão, e multa.
Noções de Direito Penal

Apropriação indébita Furto


Posse desvigiada e há apro- Posse vigiada e há subtração 1) Conduta: deixar de repassar à previdência social as
priação do bem (atos de dis- do bem. contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e for-
posição como venda, troca ma legal ou convencional. O responsável pelo repassar dos
etc. ou a passar comportar- tributos recolhidos, não o faz no prazo legal.
-se como dono). 2) Objetividade jurídica: o patrimônio previdenciário.
Ex.: bibliotecária empresta Ex.: bibliotecária empresta 3) Sujeito ativo: somente a pessoa que seja responsável
livro ao aluno para consulta livra ao aluno para consulta pelo repasse, à previdência social, das contribuições reco-
em casa por 10 dias. No local. Quando esta se distrai lhidas dos contribuintes (firma individual, sócios, gerentes,
terceiro dia o aluno vende ele subtrai o livro e se retira diretores, administradores). É um crime próprio.
o livro. da biblioteca. 4) Sujeito passivo: é o órgão da previdência social (INSS)
e o contribuinte lesado. Dupla subjetividade passiva.
8) Diferença entre o crime de apropriação indébita e o 5) Tipo objetivo: a conduta é omissiva própria, pois o
crime de estelionato – É o momento de surgimento do dolo. agente deixa de praticar uma ação que a norma penal impõe.

60
Trata-se de norma penal em branco, pois os prazos e as sórios, seja superior àquele estabelecido, administra-
formas de repasse estão estabelecidos na Lei nº 8.212/1991. tivamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento
6) Consumação e tentativa: a apropriação indébita de suas execuções fiscais. (art. 168-A)
previdenciária se consuma no momento em que se esgota
o prazo para o repasse da contribuição à previdência social. Apropriação de Coisa alheia por Erro ou Caso Fortuito
A tentativa é inadmissível, pois o crime é omissivo próprio. ou Força Maior
É crime de mera conduta.
7) Ação penal: pública incondicionada. Código Penal

Suprimir ou reduzir contribuição social previdenciária e Art. 169. Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao
qualquer acessório constitui crime de sonegação de contri- seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza:
buição previdenciária (art. 337-A). Pena – detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa.

Figuras Assemelhadas Obs. 1: a apropriação neste caso ocorrerá devido a erro –


a vítima entrega o bem espontaneamente para o agente,
Código Penal como na apropriação indébita do caput, todavia, por algum
motivo incide em erro. O agente somente percebe o erro
Art. 168-A. [...] após estar na posse ou detenção do bem e então decide se
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem deixar de: apropriar do bem. Ex.: compro uma bijuteria e o vendedor
embrulha uma joia e somente percebo depois que chego em
• Recolher, no prazo legal, contribuição ou outra im- caso, todavia resolvo me apropriar da jóia.
portância destinada à previdência social que tenha
sido descontada de pagamento efetuado a segurados, Obs. 2: agora se a vítima incide em erro e o agente perce-
a terceiros ou arrecadada do público. be desde logo o erro e incentiva o erro ou aplica uma fraude
• Recolher contribuições devidas à previdência social para que permaneça no erro será estelionato.
que tenham integrado despesas contábeis ou custos
relativos à venda de produtos ou à prestação de ser- Obs. 3: se não há a possibilidade de devolução da coisa
viços. que lhe foi entregue espontaneamente e erroneamente, não
• Pagar benefício devido a segurado, quando as respec- haverá crime, pois diferentemente da apropriação de coisa
tivas cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à achada, não há obrigação de procurara a autoridade pública.
empresa pela previdência social (ex.: salário-família,
salário-maternidade). Esses são pagos pelo emprega- 1) Caso Fortuito – Quando há participação humana, por
dor, que recebe essa verba da previdência e repassa exemplo, em um acidente automobilístico e as coisas do
ao empregado. carroceiro vieram parar em seu quintal.
2) Força Maior – Evento da natureza, por exemplo, vento
Extinção da Punibilidade lança roupas de um varal para o seu quintal.
• É extinta a punibilidade se o agente, espontanea-
Atenção! Somente existe crime se o agente sabe que o
mente, declara, confessa e efetua o pagamento das
objeto é alheio e veio parar em suas mãos por Caso Fortuito
contribuições, importâncias ou valores e presta as
ou Força Maior.
informações devidas à previdência social, na forma
definida em lei ou regulamento, antes do início da
Apropriação de Tesouro
ação fiscal (art. 168-A, § 2º).
• O art. 9º, § 2º, da Lei nº 10.684/2003, que prevê a
extinção da punibilidade a qualquer momento, só se Código Penal
aplica ao crime da sonegação fiscal, não se aplicando
a apropriação indébita previdenciária, quando a Art. 169. [...]
pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o I – quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria,
pagamento integral dos débitos oriundos de tributos no todo ou em parte, da quota a que tem direito o
e contribuições sociais, inclusive acessórios, não se proprietário do prédio;
aplicando à apropriação indébita previdenciária, já
que o art. 5º, § 2º, da mesma lei, foi vetado, razão pela Quem encontra casualmente tesouro em terreno alheio
qual a referência ao art. 168-A existente no caput do deve dividi-lo com o proprietário da terra. Se, porventura,
art. 9º restou inócua (STF, HC nº 81.134). se apoderar de tudo, cometerá o crime de apropriação de
tesouro.
Noções de Direito Penal

Perdão Judicial ou Aplicação Exclusiva de Pena de Multa


Apropriação de Coisa Achada
O juiz pode conceder o perdão judicial ou aplicar somente
a pena de multa, quando o agente for primário e de bons Código Penal
antecedentes, desde que (art. 168-A, § 3º):
• tenha promovido após o início da ação fiscal e antes Art. 169. [...]
de oferecida a denúncia, o pagamento da contribuição II – quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria,
social previdenciária, inclusive acessórios; total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono
• o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade
seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previ- competente, dentro no prazo de 15 (quinze) dias.
dência social, administrativamente, como sendo o
mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais; Obs. 1: o objeto material é a coisa perdida, ou seja, aque-
• a faculdade do juiz não se aplica aos casos de parcela- la que se extraviou de seu dono em local público. O agente
mento de contribuições cujo valor, inclusive dos aces- deve ter consciência que se trata de coisa perdida.

61
Obs. 2: quando o agente encontrar coisa perdida, se- 4) Sujeito passivo: é a pessoa física ou jurídica que sofre
gundo o art. 1.170 do CPC, caso a devolução da coisa seja o prejuízo patrimonial, e também quem é ludibriado pela
possível e o agente não souber quem seja o proprietário, fraude.
terá 15 dias para efetuar a entrega da coisa para autoridade
pública. O delito somente se consuma após o prazo de 15 Obs. 1: na hipótese de enganar uma máquina clonando
dias, salvo se o agente antes disso praticar atos de disposi- cartão bancário e sacando dinheiro da conta corrente junto
ção. Antes desse prazo se a pessoa é presa o fato é atípico. a um caixa eletrônico, não existe “alguém” que tenha sido
ludibriado, tratando-se, portanto, de crime de furto.
Obs. 3: será crime de furto:
• se o agente achar coisa perdida dentro de uma resi- Obs. 2: deve ser pessoa determinada. Assim no caso
dência e dela se apoderar; de adulteração de taxímetro ou de bomba de gasolina, inú-
meras pessoas, indeterminadas serão vítimas, tratando-se,
• se o agente provocar a perda;
portanto de crime contra a economia popular (art. 2º, XI da
• se o agente presenciar a perda, por exemplo, o agente
Lei nº 1.521/1951).
vê a carteira da vítima caindo e nada faz para alertar
a vítima, pois tem o intuito de subtraí-la. 5) Tipo subjetivo: o dolo, consistente na vontade de
enganar a vítima e obter a vantagem econômica ilícita. Exige
Obs. 4: agora se achar coisa abandonada não comete ainda o elemento subjetivo do tipo (contido na expressão
crime algum, porque não constitui coisa alheia. “para si ou para outrem”).
6) Consumação e tentativa: o estelionato se consuma no
Estelionato momento em que o agente obtém a vantagem ilícita visada,
em prejuízo alheio.
Código Penal A tentativa é admissível:
a) quando o agente emprega a fraude e não consegue
Art. 171. Obter, para si ou para outrem, vantagem enganar a vítima (desde que a fraude empregada seja capaz
ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo de enganar);
alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer b) sendo a vítima enganada, quando o agente não con-
outro meio fraudulento: segue obter a vantagem pretendida.
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa. 7) Ação penal: pública incondicionada.
§ 1º Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor
o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o O estelionato difere do furto mediante fraude, pois neste
disposto no art. 155, § 2º. a fraude ilude a vigilância do ofendido, que não sabe que a
coisa está sendo subtraída, enquanto que naquele a própria
1) Conduta: obter, para si ou para outrem, vantagem vítima, voluntariamente, se despoja de seus bens.
ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém
em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio Estelionato Furto mediante fraude
fraudulento. A fraude é utilizada para que A fraude é utilizada para
a vítima entregue o bem ao distrair a vítima para que o
Obs.: o crime de estelionato exige quatro requisitos: agente. agente realize a subtração.
a) Obtenção de vantagem ilícita, pelo agente ou por
terceiro – Se a vantagem pretendida for lícita, o crime é de A diferença entre o crime de apropriação indébita e o
exercício arbitrário das próprias razões. A vantagem tem que crime de estelionato está no momento em que surge o dolo.
ser de natureza econômica; No estelionato o agente se utiliza de fraude, há dolo para o
b) Causação de prejuízo alheio; bem ser entregue, na apropriação o agente recebe o bem
c) Induzimento ou manutenção da vítima em erro – de boa-fé e posteriormente haverá inversão da vontade
Induzir a vítima em erro é fazer a vítima ter uma percepção surgindo o dolo.
errônea da realidade. Manter a vítima em erro é, percebendo
que ela equivocou-se em relação a determinada situação, Apropriação indébita Estelionato
incentivar para que ela continue equivocada; Primeiro a vítima recebe o O agente antes de entrar na
d) Artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento bem de boa-fé, e após estar posse do bem já possui o
• Artifício é a utilização de algum aparato ou objeto na posse do bem surge o dolo de apropriar-se. Assim
Noções de Direito Penal

para enganar a vítima (disfarce, documento falso). dolo de apropriar-se. aplica uma fraude e então
• Ardil é a conversa enganosa, a astúcia. apropria-se do bem.
• Ou qualquer outro meio fraudulento, por exemplo,
o silêncio – percebe que a vítima está incidindo em Diferença entre o crime de extorsão e o crime de este-
erro e fica em silêncio. lionato:

A idoneidade da fraude deve ser verificada em relação à Estelionato Extorsão


vítima efetiva (critério objetivo), levando em consideração A vítima entrega o bem ao A vítima entrega o bem ao
sua ignorância ou especial ingenuidade. agente devido ao emprego agente devido ao emprego de
Se a fraude for inidônea, haverá crime impossível. de uma fraude. violência ou grave ameaça.

2) Objetividade jurídica: o patrimônio. A falsificação de documento utilizada como meio fraudu-


3) Sujeito ativo: qualquer pessoa que emprega a fraude lento no estelionato fica por este absorvida (Súmula nº 17
ou recebe a vantagem ilícita. do STJ).

62
A fraude bilateral (quando a vítima também quer enganar por estelionato. Se todo o combustível é adulterado, não
o agente) não afasta o estelionato. A boa-fé da vítima não é somente uma remessa será crime contra economia popular.
elementar do crime. Consuma-se com a entrega da substância.
Falsa promessa de cura quando esta é improvável e o e) Destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa
agente recebe dinheiro por tal prática será estelionato e própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava
ficará absorvido o crime de curandeirismo. as consequências de lesão ou doença, com o intuito de
haver indenização ou valor de seguro – Exige a existência
Estelionato Privilegiado de contrato de seguro em vigor. A lei pune alternativamente
três condutas:
• Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o I – destruir ou ocultar coisa própria;
prejuízo (não superando 1 salário mínimo), o juiz II – lesionar o próprio corpo ou a saúde;
pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, III – agravar as consequências da lesão ou doença.
diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a Exige o dolo de receber o valor do seguro. Nesta hipó-
pena de multa (art. 171, § 1º do CP). tese, o crime é formal, não exigindo o resultado (obtenção
• Aplica-se tanto ao caput quanto ao § 2º do artigo. de vantagem ilícita).

Figuras Assemelhadas (baseado em Victor Eduardo Rios Emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em
Gonçalves: Sinopse Jurídica) poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento:
a) Emitir é colocar em circulação. É necessário que não
Nas mesmas penas do estelionato incorre quem (art. 171, haja fundos em poder do sacado e o dolo do agente. Na
§ 2º):
segunda modalidade, frustrar o pagamento significa sacar
a) Vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou
o dinheiro ou sustar o cheque antes que a vítima consiga
em garantia coisa alheia como própria  – Distingue-se da
receber o pagamento;
apropriação indébita, pois exige dolo anterior à posse ou
b) Para que haja o crime é necessário que o agente tenha
detenção da coisa. Pode ser bem móvel ou imóvel. Se houver
agido de má-fé (Súmula nº 246 do STF);
crime anterior (furto, apropriação indébita), a venda de coisa
c) Cheque pré-datado ou entregue como garantia de
alheia como própria será mero exaurimento daquele (post
dívida descaracteriza o crime, pois não há dolo;
factum não punível); Consuma-se com o recebimento do va-
d) É necessário que a emissão do cheque tenha sido a
lor mesmo sem ter havido a tradição ou transcrição do bem.
causa direta do convencimento da vítima e a razão de seu
b) Vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia
prejuízo. Assim, de ocorreu uma colisão de veículo e dali
coisa própria inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou
para ressarcir o prejuízo fora emitido um cheque sem fundo,
imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante paga-
não será estelionato porque a causa do prejuízo é anterior a
mento em prestações, silenciando sobre qualquer dessas
circunstâncias – Neste caso a coisa é do agente, mas ele emissão do cheque (agora basta uma execução e não mais
dispõe do bem omitindo circunstância importante sobre o uma ação de indenização por perdas e danos);
mesmo. Coisa inalienável é aquela que não pode ser vendida e) Também não há estelionato na emissão de cheque sem
em razão de determinação legal, convenção ou testamento. fundo para substituir outro titulo de crédito, pois trata-se de
Coisa gravada de ônus é aquela sobre a qual recai um direito causa anterior;
real (hipoteca, anticrese). Coisa litigiosa é a que é objeto de f) Quando o agente susta o cheque ou encerra a conta
discussão judicial; bancária antes de emitir o cheque, pratica estelionato co-
mum, pois a fraude foi anterior à emissão do título de crédito;
Obs.: alienar coisa litigiosa não é crime, silenciar-se a g) A emissão de cheque sem fundo deve causar prejuízo
respeito dela que será crime. para vítima, assim se for decorrente de pagamento de jogo
do bicho, não haverá crime;
c) Defrauda, mediante alienação não consentida pelo h) Em se tratando de cheque especial, só haverá crime
credor ou por outro modo, a garantia pignoratícia, quando se ultrapassar o limite;
tem a posse do objeto empenhado – Com a celebração do i) Quem recebe cheque nominal e vai ao banco sacá-lo
contrato de penhor, o bem normalmente é entregue ao e descobre que não tem fundo e endossa-o passando para
credor. Excepcionalmente, o  objeto pode ficar em poder outra pessoa, comete estelionato, divergindo a doutrina se
do devedor. Nesse caso, se ele o alienar sem autorização do caput ou do 2º, VI;
j) O pagamento de cheque emitido sem suficiente provi-
Noções de Direito Penal

ou de alguma outra forma inviabilizar o objeto da garantia


(destruindo-o, ocultando-o), cometerá tal delito. O objeto são de fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta
material é coisa móvel, pois somente ela pode ser empenha- ao prosseguimento da ação penal (Súmula nº 554 do STF).
da; Consuma-se quando o agente aliena ou destrói o bem. O STF criou uma extinção de punibilidade por súmula, que
é um absurdo;
d) Defrauda substância, qualidade ou quantidade de coi- k) Consumação  – Quando o banco sacado recusa o
sa que deve entregar a alguém – Pressupõe a existência de pagamento em razão da ausência e fundos ou em razão da
um negócio jurídico envolvendo agente e vítima. Se o agente contra-ordem de pagamento;
modifica fraudulentamente a substância a ser entregue, sua l) Competência; Súmula nº 521 do STF 244 do STJ – Local
qualidade ou quantidade, pratica o delito; Pode ser crime onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado;
contra a economia popular, ou crime contra o consumidor. Só m) Basta uma única apresentação do cheque;
será estelionato se for contra vítima certa e determinada. Ex.: n) Se o agente se arrepende antes do crime se consumar
empresário encomenda remessa de combustível para o pos- e deposita o valor, será arrependimento eficaz, e o fato será
to, que envia substância adulterada. O proprietário responde atípico;

63
o) Se o agente se arrepende após a consumação do cri- que falsificar ou adulterar a escrituração do Livro de
me, ma antes do recebimento da denúncia haverá extinção Registro de Duplicatas.
da punibilidade, se após haverá uma atenuante genérica,
art. 65, III, b, do CP; Abuso de Incapaz
p) Tentativa é possível: emite cheque sem fundo e um
parente deposita o valor sem seu conhecimento, emite o Código Penal
cheque e manda uma carta para o banco sacado para sustar
o cheque, mas a carta se extravia. Art. 173. Abusar, em proveito próprio ou alheio, de
necessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou da
Causas de Aumento de Pena
alienação ou debilidade mental de outrem, induzindo
qualquer deles à prática de ato suscetível de produzir
A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido
efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiro:
em detrimento de entidade de direito público ou de institu-
to de economia popular, assistência social ou beneficência Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
(art. 171, § 3º).
Entidade de direito público é a União, os Estados, 1) Conduta: abusar (fazer mau uso, aproveitar-se), em
o Distrito Federal, os Municípios, as autarquias, entidades proveito próprio ou alheio, de menor de idade ou alienado
paraestatais e a Previdência Social (Súmula nº 24 do STJ). mental, convencendo-o a praticar um ato jurídico que possa
Se o crime for cometido contra idoso, a pena será apli- produzir efeito em seu próprio prejuízo ou em prejuízo de
cada em dobro (art. 171, § 4º) terceiro.
2) Objeto jurídico: o patrimônio do menor ou alienado
Duplicata Simulada mental.
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
Código Penal 4) Sujeito passivo: menor ou alienado mental.
5) Consumação: com a prática do ato pela vítima, ainda
Art.172. Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que este não venha resultar em prejuízo para ela própria ou
que não corresponda à mercadoria vendida,em terceiro. É crime formal.
quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado.
Pena – detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, Obs.: o crime em tela não se confunde com o crime de
e multa. estelionato, tendo em vista que este utiliza-se de fraude para
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquele ludibriar a vítima e o crime de abuso de incapaz o agente
que falsificar ou adulterar a escrituração do Livro de aproveita-se da necessidade, paixão ou inexperiência da
Registro de Duplicatas. vítima, muito embora a intenção em ambos os crimes seja
a obtenção de vantagem econômica ilícita.
1) Conduta: emitir fatura, duplicata ou nota de venda que
não corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou
qualidade, ou ao serviço prestado. Crime de estelionato Crime de abuso de incapaz
O meio utilizado para ludi- O meio utilizado é a neces-
Obs. 1: passemos a analisar as elementares deste tipo briar a vítima é a fraude. sidade, paixão ou inexperi-
penal O sujeito passivo pode ser ência. O sujeito passivo é o
a) Emitir – Por em circulação; qualquer pessoa. menor ou alienado mental.
b) Fatura, duplicata, nota de venda – Títulos de crédito
utilizados nas vendas à prazo. Induzimento à Especulação

Obs. 2: a duplicata uma vez emitida será posta em circula- Código Penal
ção podendo o vendedor ter o valor nela contido descontado
antecipadamente com terceira pessoa, e esta por ocasião do Art. 174. Abusar, em proveito próprio ou alheio, da
vencimento receberá do comprador o a quantia respectiva. inexperiência ou da simplicidade ou inferioridade
Todavia, se o valor contido nela for inverídico, poderá gerar mental de outrem, induzindo-o à prática de jogo ou
um prejuízo para quem a descontar, tendo em vista que não aposta, ou à especulação com títulos ou mercadorias,
obterá o valor nela descrito. sabendo ou devendo saber que a operação é ruinosa:
Noções de Direito Penal

Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.


2) Sujeito ativo: qualquer pessoa que falsifique o conte-
údo do título de crédito. 1) Conduta: abusar (fazer mau uso, aproveitar-se), em
3) Sujeito passivo: qualquer pessoa. proveito próprio ou alheio, da inexperiência ou da simpli-
4) Consumação: com a simples emissão da duplicata, cidade ou inferioridade mental de outrem, induzindo-o à
fatura ou nota de venda. A tentativa é inadmissível, pois ou prática de jogo ou aposta, ou à especulação com títulos ou
o agente emite o documento e o crime está consumado ou
mercadorias, sabendo ou devendo saber que a operação é
nada faz e a conduta é atípica.
ruinosa.
Falsidade no Livro de Registro da Duplicata
Obs.: aqui a figura penal também apresenta a situação
Código penal de abuso, todavia delimita a vítima (pessoa inexperiência,
Art. 172. [...] simples ou com inferioridade mental), em como a maneira de
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquele se praticar o crime: induzindo-o à prática de jogo ou aposta,

64
ou à especulação com títulos ou mercadorias, sabendo ou Obs. 4: é aplicado ao crime em tela do privilégio, desde
devendo saber que a operação é ruinosa. que preenchidos os requisitos previstos no art. 155, § 2º
do CP.
2) Objeto jurídico: a proteção do patrimônio de pessoas,
simplórias, rústicas ou ignorantes. Outras Fraudes
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
4) Sujeito passivo: pessoa inexperiente (com pouco Código Penal
vivência nos negócios), simples (sem malícia) ou com desen-
volvimento mental deficiente (índice de inteligência inferior Art. 176. Tomar refeição em restaurante, alojar-se em
ao normal). hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor
5) Consumação: com a prática do ato pela vítima, in- de recursos para efetuar o pagamento:
dependentemente da obtenção de vantagem por parte do Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 2 (dois) meses,
autor ou te terceiro. ou multa.
Parágrafo único. Somente se procede mediante
Fraude no Comércio representação, e o juiz pode, conforme as circuns-
tâncias, deixar de aplicar a pena.
Código Penal
1) Conduta: a lei prevê três condutas distintas:
Art. 175. Enganar, no exercício de atividade comercial, a) tomar refeição em restaurante sem dispor de recursos
o adquirente ou consumidor: para efetuar o pagamento;
I – vendendo, como verdadeira ou perfeita, merca- b) alojar-se em hotel sem dispor de recursos para efetuar
doria falsificada ou deteriorada; o pagamento;
II – entregando uma mercadoria por outra: c) utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recur-
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, sos para efetuar o pagamento.
ou multa.
§ 1º Alterar em obra que lhe é encomendada a qua- Obs. 1: a primeira conduta engloba lanchonetes, bares,
lidade ou o peso de metal ou substituir, no mesmo cafés, bem como bebidas. A segunda, motéis e pensões.
caso, pedra verdadeira por falsa ou por outra de me- A terceira, táxi, ônibus, avião, trem, metrô etc.
nor valor; vender pedra falsa por verdadeira; vender,
como precioso, metal de outra qualidade: Obs. 2: para a realização do crime é necessário que o
agente não disponha de recursos para o pagamento. Assim,
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
se ele dispõe de dinheiro para pagar e se recusar a quitar
§ 2º É aplicável o disposto no art. 155, § 2º.
sua dívida, como é o caso dos famosos “pinduras” realizados
pelos estudantes de direito, não haverá a prática deste crime.
1) Conduta: enganar, no exercício da atividade comercial,
Da mesma forma, quem efetuar o pagamento com cheque
adquirente ou consumidor da seguinte forma:
sem fundo, pratica o crime previsto no art. 171, § 2º, VI do CP.
a) vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria
falsificada ou deteriorada;
2) Objeto jurídico: patrimônio.
b) entregando uma mercadoria por outra;
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
c) alterar em obra que lhe é encomendada a qualidade
4) Sujeito passivo: qualquer pessoa.
ou o peso de metal;
5) Consumação: com a utilização do serviço de restau-
d) substituindo pedra verdadeira por falsa ou por outra rante, hospedagem e meio de transporte.
de menor valor;
e) vendendo pedra falsa por verdadeira; Obs. 3: o juiz poderá conceder perdão judicial se as
f) vendendo, como precioso, metal de outra qualidade. circunstâncias, tais como pequeno valor, antecedentes fa-
voráveis, conduta social, forem benéficas.
Obs. 1: o crime é classificado de como de forma vincula-
da, tendo em vista que o legislador apresentou as maneiras Obs. 4: no caso de estado famélico, não haverá crime
em que o crime pode ser praticado. por se considerar estado de necessidade.
Obs. 2: a conduta descrita na aliena a foi revogada pelo Fraudes e Abusos na Fundação ou Administração de
Noções de Direito Penal

art. 7º da Lei nº 8.137/1990 que rege os crimes de relação Sociedade por Ações
de consumo.
Código Penal
2) Objeto jurídico: patrimônio e a boa-fé nas relações
de consumo. Art. 177. Promover a fundação de sociedade por
3) Sujeito ativo: comerciante. ações, fazendo, em prospecto ou em comunicação
4) Sujeito passivo: qualquer adquirente, incluindo até ao público ou à assembleia, afirmação falsa sobre a
um comerciante, e o consumidor. constituição da sociedade, ou ocultando fraudulen-
5) Consumação: no momento da entrega do bem ao tamente fato a ela relativo:
adquirente ou consumidor. Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e mul-
ta, se o fato não constitui crime contra a economia
Obs. 3: se o crime for praticado por qualquer outra pes- popular.
soa que não seja um comerciante, restará configura do tipo § 1º Incorrem na mesma pena, se o fato não constitui
penal de fraude na entrega de coisa, art. 171, § 2º, IV do CP. crime contra a economia popular:

65
I – o diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por não estiver revestida das formalidades legais ou contrariar
ações, que, em prospecto, relatório, parecer, balan- texto expresso da lei.
ço ou comunicação ao público ou à assembleia, faz
afirmação falsa sobre as condições econômicas da Emissão Irregular de Conhecimento de Depósito ou
sociedade, ou oculta fraudulentamente, no todo ou Warrant
em parte, fato a elas relativo;
II  – o diretor, o  gerente ou o fiscal que promove, Código Penal
por qualquer artifício, falsa cotação das ações ou de
outros títulos da sociedade; Art. 178. Emitir conhecimento de depósito ou war-
III – o diretor ou o gerente que toma empréstimo à rant, em desacordo com disposição legal:
sociedade ou usa, em proveito próprio ou de terceiro, Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
dos bens ou haveres sociais, sem prévia autorização
da assembleia geral; 1) Conduta: emitir conhecimento de depósito ou warrant
IV – o diretor ou o gerente que compra ou vende, em desacordo com disposição legal.
por conta da sociedade, ações por ela emitidas, salvo
quando a lei o permite; Obs. 1: o crime não reside no fato de se emitir conhe-
V  – o diretor ou o gerente que, como garantia de cimento de depósito ou warrant, e sim a sua emissão em
crédito social, aceita em penhor ou em caução ações desacordo com a disposição legal, que vem a ser o Decreto
da própria sociedade; nº 1.102/1903. Assim, trata-se de norma penal em branco.
VI – o diretor ou o gerente que, na falta de balanço,
em desacordo com este, ou mediante balanço falso, Obs. 2: conhecimento de depósito ou warrant consiste
distribui lucros ou dividendos fictícios; em títulos negociáveis por endosso em relação a mercadorias
VII – o diretor, o gerente ou o fiscal que, por inter- que são depositadas em armazéns gerais. O primeiro é o do-
posta pessoa, ou conluiado com acionista, consegue cumento de propriedade da mercadoria e confere ao dono o
a aprovação de conta ou parecer; poder de disponibilidade sobre a coisa. Já o segundo confere
VIII – o liquidante, nos casos dos nºs I, II, III, IV, V e VII; ao portador o direito real de garantia sobre as mercadorias.
IX – o representante da sociedade anônima estran-
geira, autorizada a funcionar no País, que pratica os 2) Objeto jurídico: patrimônio.
atos mencionados nos nºs I e II, ou dá falsa informação 3) Sujeito ativo: é quem emite o conhecimento de de-
ao Governo. pósito ou warrant em desacordo com a lei.
§ 2º Incorre na pena de detenção, de 6 (seis) meses a 4) Sujeito passivo: é o endossatário ou portador que
2 (dois) anos, e multa, o acionista que, a fim de obter recebe o título sem saber das irregularidades.
vantagem para si ou para outrem, negocia o voto nas 5) Consumação: com a circulação do título.
deliberações de assembleia geral.
Fraude à Execução
1) Conduta: promover sociedade por ações (sociedade
anônima e comandita por ações) induzindo ou mantendo Código Penal
em erro os candidatos à sócios, o público ou presentes à
assembleia, fazendo falsa afirmação sobre circunstâncias re- Art.  179. Fraudar execução, alienando, desviando,
ferentes à sua constituição ou ocultando, fraudulentamente destruindo ou danificando bens, ou simulando
fato a ela relativo. dívidas:
2) Objeto jurídico: patrimônio e a boa-fé. Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
3) Sujeito ativo: o fundador da sociedade por ações. ou multa.
4) Sujeito passivo: qualquer pessoa. Parágrafo único. Somente se procede mediante
5) Consumação: no momento da afirmação falsa ou omis- queixa.
são, ainda que deles não decorram qualquer resultado lesivo.
1) Conduta: a conduta pode ser praticada de três for-
Obs. 1: a fraude pode constar de prospecto ou de comu- mas – fraudar execução:
nicação feita ao pública ou assembleia geral. a) alienando bens;
b) desviando bens;
Noções de Direito Penal

Obs. 2: este dispositivo é expressamente subsidiário, c) destruindo bens;


tendo em vista que somente será aplicado se a conduta não d) danificando bens;
configurar crime contra a economia popular. e) simulando dívidas.

Obs. 3: o § 1º pune também o diretor, o gerente, repre- Obs.: o crime consiste na existência de uma ação civil,
sentante de sociedade estrangeira, e em alguns casos o fiscal em que já há a prolação de sentença e esta encontra-se
e liquidante que incidam em fraude afirmando situações em fase de execução. Tal execução de sentença que ao ser
enganosas em relação a situação econômica da empresa. fraudada nas modalidades apresentadas pelo tipo penal,
constitui crime.
Obs. 4: o § 2º perdeu sua importância com a aplicação do
art. 118 da Lei nº 6.404/1976, que permitiu o acordo entre 2) Objeto jurídico: patrimônio.
acionistas em relação ao exercício do direito ao voto. Assim, 3) Sujeito ativo: devedor, não comerciante.
somente haverá crime se a negociação envolvendo o voto 4) Sujeito passivo: credor da ação de execução.

66
5) Consumação: com o prejuízo patrimonial percebido autor do crime antecedente, uma vez que o ato de influir
pela vítima. É crime material. será post factum não punível, seja em relação a receptação
imprópria, seja em relação a disposição de coisa alheia como
Receptação própria (art. 171, § 2º, I)
O terceiro que adquire, recebe ou oculta deve estar de
Código Penal boa-fé, ou seja, não saiba da origem ilícita do bem. Se o
terceiro estiver de má-fé, comete receptação própria.
Art. 180. Adquirir, receber, transportar, conduzir ou
ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe Obs. 2: a coisa, objeto material do crime, é um produto
ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de de crime, obtido pelo autor do crime antecedente, sendo,
boa-fé, a adquira, receba ou oculte: portanto, a receptação um crime acessório que possui como
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. pressuposto indispensável a sua existência a ocorrência de
um crime anterior. O crime anterior não necessita ser contra
Receptação qualificada o patrimônio podendo ser, por exemplo, o crime de peculato.
§ 1º Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar,
ter em depósito, desmontar, montar, remontar, ven- Obs. 3: se o objeto a ser receptado for se for produto de
der, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em contravenção não haverá crime de receptação.
proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade
comercial ou industrial, coisa que deve saber ser Obs. 4: o agente deve saber que a coisa é produto de
produto de crime: crime anterior, ou seja, não admite dolo eventual, somente
Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. dolo direto. Assim se o agente recebe o bem de boa-fé e após
§ 2º Equipara-se à atividade comercial, para efeito do descobre a origem ilícita do bem e continua usando-o não
parágrafo anterior, qualquer forma de comércio irregu- será receptação. Se houver mera desconfiança da origem
lar ou clandestino, inclusive o exercido em residência. ilícita do objeto será crime de receptação culposa.
§ 3º Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza
2) Objeto jurídico: o patrimônio.
ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa, salvo o autor, coautor
pela condição de quem a oferece, deve presumir-se
obtida por meio criminoso: ou partícipe do crime anterior. Para eles, a receptação é post
factum não punível.
Pena – detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou
4) Sujeito passivo: é a mesma vítima do crime anterior,
multa, ou ambas as penas.
titular da posse, detenção ou propriedade.
§ 4º A receptação é punível, ainda que desconhecido ou
5) Consumação e tentativa:
isento de pena o autor do crime de que proveio a coisa.
a) no caso de receptação própria, o crime é material,
§ 5º Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário,
consumando-se com a efetiva tradição da coisa;
pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias,
b) na receptação imprópria, o crime é formal, exigindo
deixar de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-
apenas que haja a influência sobre terceiro de boa-fé;
-se o disposto no § 2º do art. 155.
c) o crime é permanente nas modalidades transportar,
§ 6º Tratando-se de bens do patrimônio da União, de
conduzir e ocultar;
Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autar-
d) a tentativa somente é admissível na receptação pró-
quia, fundação pública, empresa pública, sociedade
pria, pois a imprópria é crime unissubsistente, que se pratica
de economia mista ou empresa concessionária de
mediante um único ato (influir).
serviços públicos, aplica-se em dobro a pena previs-
ta no caput deste artigo. (Redação dada pela Lei nº
6) Ação penal: pública incondicionada.
13.531, de 2017)
7) Considerações gerais:
• é possível a receptação de receptação, respondendo
1) Conduta: adquirir, receber, transportar, conduzir ou
todos pela receptação;
ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser
• haverá receptação mesmo que o crime anterior seja
produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé,
mediante queixa e a mesma não fora apresentada;
a adquire, receba ou oculte.
• a receptação exige a finalidade de proveito próprio ou
alheio. Se o agente quiser beneficiar o próprio autor
Noções de Direito Penal

Obs. 1: o crime é classificado como receptação própria do crime antecedente, cometerá favorecimento real
ou imprópria: (art. 349);
a) Receptação Própria: • aquele que encomenda carro furtado é partícipe do
• Adquirir significa obter a propriedade (compra, doação, furto e não comente o crime de receptação porque,
permuta); pois instigou ou induziu a ideia do furto;
• Receber é tomar a posse da coisa (depósito, uso, • o advogado comete receptação quando recebe como
penhor); forma de pagamento produto de crime;
• Transportar é levar a coisa de um lugar a outro; • a receptação é punível, ainda que desconhecido ou
• Conduzir é dirigir, guiar; isento de pena o autor do crime de que proveio a
• Ocultar é esconder; coisa (art. 180, § 4º). Foi acrescentado em 1996.
b) Receptação Imprópria – Só exista uma modalidade:
influir significa convencer, estimular. O  agente atua como Basta o fato original ser típico e ilícito para haver recep-
intermediário sendo evidente que ele não pode ter sido o tação, não necessitando o agente ser culpável. Portanto,

67
adquirir produto de furto praticado por menor haverá Obs. 1: na receptação culposa estão descritos apenas os
receptação. verbos “adquirir” e “receber”. Ao contrário do que acontece
Se houver exclusão de ilicitude, não há como punir o com os delitos culposos em geral, o tipo penal não é aberto,
receptador. e o legislador descreve os parâmetros que indicam a culpa
• Assim, para haver receptação é necessária a existência do agente, capaz de gerar no homem médio a presunção
de crime anterior. Todavia não há necessidade que o de origem ilícita.
agente seja punido. Agora se estiver extinta a punibili-
dade do crime anterior como regra haverá receptação, Obs. 2: há três modalidades de receptação culposa:
segundo o art. 108 do CP. Se o crime de furto já estiver a) Natureza do objeto – Certos objetos, por sua própria
prescrito, esta nada afetará o crime de receptação. natureza, indicam que não foram comercializados conforme
• Contudo, se ocorrer a abolitio criminis do crime ante- a lei, e, levarão ao reconhecimento da receptação culposa
cedente, não há que se falar em receptação, uma vez (revólver desacompanhado de registro ou sem numeração,
que não haverá “produto do crime”. automóvel sem documentação ou com adulteração grosseira
do chassi);
Causa de aumento de pena b) Desproporção entre o valor de mercado e o preço
pago – A desproporção entre o valor e o preço deve ser sufi-
1) Tratando-se de bens e instalações do patrimônio da ciente para fazer surgir desconfiança sobre a origem do bem;
União, Estado, Município, empresa concessionária de servi- c) Condição do ofertante – Adquirir ou receber objeto
ços públicos ou sociedade de economia mista, a pena prevista de desconhecido ou criminoso, ou de pessoa que não tem
no caput deste artigo aplica-se em dobro (art. 180, § 6º). condições financeiras de possuir o bem oferecido.
O receptador deve saber que trata-se de bens dessas
entidades. Obs. 3: deve-se provar efetivamente que o objeto é ilícito
2) O agente tem que saber que o objeto material provém para, então poder haver uma condenação em receptação
de uma das pessoas jurídicas mencionadas. culposa.
Somente se aplica ao caput, não incidindo sobre a recep- Perdão Judicial
tação qualificada ou culposa.
1) Na receptação culposa, se o criminoso é primário,
Receptação Qualificada
pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar
de aplicar a pena (art. 180, § 5º, 1ª parte).
1) Conduta: adquirir, receber, transportar, conduzir, ocul-
2) Requisitos:
tar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, vender,
a) primariedade do agente;
expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito
b) as circunstâncias do crime devem indicar que ele não
próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
se revestiu de especial gravidade, por exemplo, adquirir coisa
industrial, coisa que deve saber ser produto de crime.
de pequeno valor.
3) Presentes os requisitos legais é obrigatória a concessão
Obs.: muito embora somente se refira ao dolo eventual,
o tipo o penal abrange toda e qualquer forma de dolo. do perdão.
4) É causa de extinção da punibilidade, conforme Súmula
2) O crime é próprio, pois só pode ser praticado por nº 18 do STJ.
comerciante ou industrial. Este é o motivo da qualificadora,
a facilidade de repassar o produto a terceiro de boa-fé, Receptação de animal
iludidos pela impressão de maior garantia oferecidos por
profissionais desta área. A Lei nº 13.330, de 2 de agosto de 2016, criminalizou a
3) É tipo misto alternativo, praticando vários verbos do receptação de semovente domesticável.
caput responde somente por uma infração penal.
4) Equipara-se à atividade comercial qualquer forma de Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar, conduzir,
comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em ocultar, ter em depósito ou vender, com a finalidade
residência (art. 180, § 2º) – norma penal explicativa. de produção ou de comercialização, semovente
domesticável de produção, ainda que abatido ou
Receptação Privilegiada dividido em partes, que deve saber ser produto de
Noções de Direito Penal

crime: (Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016)


1) Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
art. 155 (art. 180, § 5º, 2ª parte). (Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016)
2) Assim, se o criminoso é primário, e é de pequeno valor
a coisa receptada, o juiz pode substituir a pena de reclusão Disposições Gerais acerca dos Crimes Contra o
pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar Patrimônio
somente a pena de multa (art. 155, § 2º).
Código Penal
Receptação Culposa
Art. 181. É isento de pena quem comete qualquer dos
1) Conduta: adquirir ou receber coisa que, por sua natu- crimes previstos neste título, em prejuízo:
reza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela I – do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por II – de ascendente ou descendente, seja o parentesco
meio criminoso (art. 180, § 3º). legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.

68
Art. 182. Somente se procede mediante represen- CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO
tação, se o crime previsto neste título é cometido
em prejuízo:
PÚBLICA
I – do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II – de irmão, legítimo ou ilegítimo; O estudo destes crimes é dividido da seguinte forma:
III – de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita. • Dos Crimes Praticados por Funcionário Público Contra
Art. 183. Não se aplica o disposto nos dois artigos a Administração em Geral – arts. 312 a 327 do CP.
anteriores: • Dos Crimes Praticados por Particulares Contra a Ad-
I – se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em ministração em Geral – arts. 328 a 337-A do CP.
geral, quando haja emprego de grave ameaça ou • Dos Crimes Contra a Administração da Justiça –
violência à pessoa; arts. 338 a 359 do CP.
II – ao estranho que participa do crime; • Dos Crimes Contra as Finanças Públicas – arts. 359-A
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade a 359-H do CP.
igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
Dos Crimes Praticados por Funcionário Público
O legislador previu duas espécies de imunidades aos Contra a Administração em Geral – Arts. 312 a 327
praticantes de crimes contra o patrimônio:
Os delitos previstos neste capítulo (arts. 312 a 326) so-
Imunidade Absoluta Imunidade Relativa mente podem ser praticados de forma direta por funcionário
É isente de pena quem pra- Somente será processado público, razão pela qual são chamados de crimes funcionais.
ticar um dos crimes contra o mediante representação, São, portanto, crimes próprios, pois exigem uma qualidade
patrimônio contra: quem praticar o crime con- especial do sujeito ativo.
a) cônjuge na constância da tra: Os crimes funcionais podem ser:
sociedade conjugal (ou seja, a) cônjuge desquitado ou • Próprios: são aqueles cuja exclusão da qualidade
devem estar casados); judicialmente separado (não de funcionário público torna o fato atípico (prevari-
b) contra ascendente ou des- necessita estar divorciado)
cação);
cendente, seja o parentesco b) irmão, legítimo ou ilegí-
legítimo ou ilegítimo, seja timo; • Impróprios: excluindo-se a qualidade de funcionário
civil ou natural (incluindo os c) tio ou sobrinho, com quem público ocorrerá a desclassificação para crime de outra
casos de adoção). o agente coabita (devem natureza (peculato).
Ex.: furtar o pai, o marido, morar na mesma residência).
o neto, o avô. O funcionário público é denominado intraneus. O não
Somente se aplicará a isen- Somente será processado funcionário público é chamado extraneus.
ção de pena nos casos acima mediante representação nos O condenado por qualquer crime contra a administração
se: casos acima se: pública (contido no Título XI da Parte Especial) terá a pro-
a) não se tratar de crime de a) não se tratar de crime de gressão de regime no cumprimento da pena condicionada à
roubo ou extorsão, ou se não roubo ou extorsão, ou se não reparação do dano que causou, ou à devolução do produto
houver a prática de violência houver a prática de violência
do ilícito praticado, com os acréscimos legais (art. 33, § 4º).
ou grave ameaça; ou grave ameaça;
b) ao estranho que partici- b) ao estranho que partici- Caso contrário cumprirá a pena integral no regime em que
pa do crime (por exemplo, pa do crime (por exemplo, foi condenado.
o filho e a namorada deste, o filho e a namorada deste,
furtam o pai do primeiro. furtam o pai do primeiro. Conceito de Funcionário Público
Somente haverá isenção de Somente haverá isenção de
pena ao filho); pena ao filho); Considera-se funcionário público, para os efeitos penais,
c) se a vítima tiver idade igual c) se a vítima tiver idade igual quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exer-
ou superior a 60 anos (por ou superior a 60 anos (por ce cargo, emprego ou função pública (art. 327).
exemplo, filho furta pai que exemplo, filho furta pai que
São funcionários públicos para efeitos penais: Presiden-
tem 74 anos. A ele não será tem 74 anos. A ele não será
aplicada a isenção de pena). aplicada a isenção de pena). te da República, Prefeitos, Deputados, Vereadores, Juízes,
Promotores de Justiça, Delegados de Polícia, serventuários
das instituições públicas etc.
Noções de Direito Penal

Algumas observações:
1. Estas enumerações são taxativas;
Funcionário Público por Equiparação
2. Somente são aplicadas aos crimes contra o patrimônio;
3. No que tange ao art. 182, os crimes contra o patrimô-
nio, em regra são processados mediante ação penal pública Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo,
incondicionada, ou seja, aquela em que o Ministério Público emprego ou função em entidade paraestatal (empresa
é seu titular, não havendo necessidade de autorização da pública e sociedade de economia mista, segundo o Direito
vítima para início da ação penal. Assim nos casos previstos no Administrativo, mas para o Direito Penal inclui a fundação
art. 182, o legislador afirmou que tais crimes não serão pro- pública e a autarquia), e quem trabalha para empresa
cessados por ações penais públicas incondicionadas, e sim prestadora de serviço contratada ou conveniada para a
por ações penais públicas condicionadas à representação, execução de atividade típica da Administração Pública,
que são aquelas que apesar de também terem como titular CEB, CAESB, Brasil Telecom, (art. 327, § 1º). Ex.: médico
o Ministério Público, somente poderão ser iniciadas quando de hospital particular credenciado pelo SUS (STJ, REsp.
as vítimas ou seus representantes legais a autorizarem. nº 331.055).

69
Aumento de Pena 8) A lei tutela bem público ou particular que esteja sob
custódia da Administração. No último caso, o crime é cha-
A pena será aumentada da terça parte quando os au- mado de peculato-malversação.
tores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes 9) Se a coisa particular não estiver sob a guarda ou cus-
de cargos em comissão ou de função de direção ou asses- tódia da Administração Pública e o funcionário público dela
soramento de órgão da administração direta, sociedade de se apropriar, haverá crime de apropriação indébita.
economia mista, empresa pública ou fundação instituída 10) Não há crime na conduta de usar serviço ou mão de
pelo poder público. obra pública, restando configurado tão somente a conduta
de improbidade administrativa, salvo se o funcionário público
Peculato for Prefeito, tendo em vista a previsão de crime específico
para este caso no Decreto-Lei nº 201/1967, art. 1º, II.
O crime de Peculato classifica-se em:
a) Peculato Doloso – Peculato-apropriação, Peculato- Peculato-Desvio
-desvio, Peculato-furto, Peculato mediante erro de outrem;
b) Peculato Culposo. Código Penal

Art. 312. [...] ou desviá-lo, em proveito próprio ou


Peculato-Apropriação
alheio:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
Código Penal
1) Conduta: funcionário público desvia, em proveito pró-
Art. 312. Apropriar-se o funcionário público de di- prio ou alheio, dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel,
nheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo.
ou particular, de que tem a posse em razão do cargo.
[...] Obs. 1: desviar significa alterar o destino. Sempre que
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. para desviar a coisa houver a necessidade de primeiro se
apropriar dela, o crime será de peculato apropriação e o
1) Conduta: apropriar-se o funcionário público de dinhei- desvio é um exaurimento do crime.
ro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular,
de que tem a posse em razão do cargo, em proveito próprio Obs. 2: se o desvio não foi em proveito próprio ou de
ou alheio (art. 312, 1ª parte). terceiro, mas sim da própria Administração, haverá crime de
emprego irregular de verbas ou rendas públicas (art. 315
Obs. 1: apropriar-se significa passar a se comportar do CP).
como se fosse dono. Ter a posse em razão do cargo abrange
a detenção e a posse indireta. A posse deve ser obtida de Obs. 3: assim, os  requisitos para prática do crime em
forma lícita. tela são:

Obs. 2: assim, os  requisitos para prática do crime em – Funcionário público;


tela são:
– Desviar bem público ou particular que está sob a custó-
dia da Administração Pública;
– Funcionário Público; – Bem este de que tem a posse lícita em razão do cargo
– Apropria-se de bem público ou particular que está sob que exerce.
a custódia da Administração Pública;
– Bem este de que tem a posse lícita em razão do cargo 2) Objeto jurídico: o patrimônio público ou particular e
que exerce. a probidade administrativa.
3) Sujeito ativo: funcionário público. E o particular pode
2) Objeto jurídico: o patrimônio público ou particular e praticar este crime? Somente se estiver em concurso de pes-
a probidade administrativa. soas com o funcionário público e conhecer desta elementar .
3) Tipo subjetivo: o dolo. Exige também o elemento 4) Sujeito passivo: a Administração Pública e o particular
subjetivo do tipo, contido na expressão “em proveito próprio quando o bem pertencer a este.
ou alheio”. O proveito pode ser material ou moral, não se 5) Tipo subjetivo: o dolo. Exige também o elemento
referindo apenas à vantagem econômica, porque o peculato subjetivo do tipo, contido na expressão “em proveito próprio
ou alheio”.
Noções de Direito Penal

não é crime contra o patrimônio.


6) Consumação e tentativa: o crime se consuma no mo-
4) Sujeito ativo: funcionário público. E o particular pode
mento em que ocorre o desvio, pouco importando se a van-
praticar este crime? Somente se estiver em concurso de pes-
tagem visada é conseguida ou não. A tentativa é admissível.
soas com o funcionário público e conhecer desta elementar .
7) Só há crime de peculato-desvio quando o objeto
5) Sujeito passivo: a Administração Pública e o particular material é fungível (agente que usa dinheiro público para
quando o bem pertencer a este. comprar alguma coisa: o crime está consumado, mesmo que
6) Consumação e tentativa: o crime se consuma no depois o agente reponha o dinheiro aos cofres públicos).
momento em que o agente inverte o título da posse, 8) Se o objeto material é infungível, não há crime, porque
comportando-se como dono. Ocorre a tentativa quando o a lei não pune o mero uso.
agente, por circunstâncias alheias a sua vontade, não con- 9) O uso de bem público por funcionário público para fins
segue inverter o título da posse. particulares caracteriza ato de improbidade administrativa,
7) O objeto material do peculato é o dinheiro, valor (tí- sendo, para fins penais, fato atípico (salvo se o funcionário
tulos da dívida pública, apólices, ações) ou qualquer outro público for Prefeito conforme o Decreto-Lei nº 201/1967,
bem móvel. Não existe peculato de bem imóvel. art. 1º, II).

70
10) Se o agente se apropriar do bem e após desviá-lo, punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a
cometerá apenas o crime de peculato-apropriação. pena imposta.

Peculato-Furto 1) Conduta: o funcionário ao praticar uma conduta negli-


gente, imperita ou imprudente contribui para a ocorrência
Código Penal de crime praticado por outrem.

Art. 312. [...] Obs. 1: aqui há dois crimes: funcionário pratica peculato
§ 1º Aplica-se a mesma pena, se o funcionário públi- culposo e o terceiro pode praticar crime doloso contra a
co, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou Administração Pública ou contra o patrimônio.
bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, Ex.: o porteiro da escola pública esquece (negligência)
em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilida- de trancar o colégio – Peculato Culposo. Um terceiro que
de que lhe proporciona a qualidade de funcionário. presencia a cena, adentra na escola e subtrai os computa-
dores – crime doloso.
1) Conduta: funcionário público que, embora não tendo a
posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para Obs. 2: não há concurso de agente entre o funcionário
que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se e o terceiro, porque não há identidade de infração penal e
de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. nem liame subjetivo.
Obs. 1: o crime pode ser praticado em duas modalidades: Obs. 3: assim, os  requisitos para prática do crime em
a) funcionário, valendo-se da facilidade que lhe propor- tela são:
ciona o cargo, pratica o peculato furto;
b) funcionário, valendo-se da facilidade que lhe propor-
ciona o cargo, concorre para que terceiro subtraia. O funcio- – Funcionário público pratica uma conduta culposa;
nário público deve colaborar dolosamente para a subtração. – Terceiro pratica crime doloso, aproveitando-se da faci-
lidade provocada pelo funcionário público;
Obs. 2: o peculato é impróprio porque o funcionário não – Não há concurso de pessoas entre o funcionário e o
tem a posse lícita do bem, apenas o fato de ser funcionário terceiro.
lhe favorece para a prática do crime.
2) Objeto jurídico: o patrimônio público ou particular e
Obs. 3: subtrair significa furtar, tirar, desapossar com a probidade administrativa.
ânimo de assenhoramento definitivo. 3) Sujeito ativo: funcionário público.
4) Sujeito passivo: a Administração Pública e o particular
Obs. 4: assim, os  requisitos para prática do crime em quando o bem pertencer a este.
tela são: 5) Tipo subjetivo: a culpa.
6) Consumação e tentativa: o crime de peculato culposo
– Funcionário público; se consuma no momento em que se consuma o crime doloso
– Subtrair ou concorrer para a subtração de bem público praticado pelo terceiro. Se o crime doloso for apenas tentado
ou particular que está sob custódia da Administração não há que se falar em peculato culposo, tendo em vista que
Pública, em razão do cargo que ocupa; a tentativa de crime culposo é inadmissível
7) No caso de peculato culposo, a reparação do dano
– Bem este de que não tem a posse lícita.
antes do trânsito em julgado da sentença extingue a puni-
2) Objeto jurídico: o patrimônio público ou particular e bilidade; após o trânsito em julgado, a reparação reduz de
a probidade administrativa. metade a pena imposta (art. 312, § 3º). Inédito, reduzir a
3) Sujeito ativo: funcionário público. E o particular pode pena depois de prolatada a sentença.
praticar este crime? Somente se estiver em concurso de pes- 8) No peculato doloso, a reparação do dano reduz a pena
soas com o funcionário público e conhecer desta elementar . de um a dois terços, se antecede o recebimento da denúncia
4) Sujeito passivo: a Administração Pública e o particular (arrependimento posterior – art. 16), ou atenua a pena, se
quando o bem pertencer a este. antecede a sentença (atenuante – art. 65, III, b).
5) Tipo subjetivo: o dolo. Exige também o elemento 9) Se o funcionário público pratica uma conduta culposa
subjetivo do tipo, contido na expressão “em proveito próprio que vem a gerar um prejuízo ao erário, sem que resulte na
ou alheio”. ocorrência de um crime doloso praticado por terceiro, o fato
6) Consumação e tentativa: o crime se consuma da será atípico. Ex.: porteiro de escola pública esquece a janela
mesma forma que o furto, ou seja, com a posse do objeto aberta e naquela noite chove intensamente inundando a sala
Noções de Direito Penal

material por curto período de tempo, sendo desnecessária em que se encontram os computadores.
a posse tranquila do bem subtraído por parte do agente.
A tentativa é admissível. Peculato mediante Erro de Outrem (ou Peculato
Estelionato)
Peculato Culposo
Código Penal
Código Penal
Art. 313. Apropriar-se de dinheiro ou qualquer uti-
Art. 312. [...] lidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro
§ 2º Se o funcionário concorre culposamente para o de outrem:
crime de outrem: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
§ 3º No caso do parágrafo anterior, a reparação do 1) Conduta: apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilida-
dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a de que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem.

71
Obs. 1: Tipo objetivo: apropriar-se significa fazer sua Modificação ou Alteração não Autorizada no Sistema
coisa que pertence a outrem. É chamado de peculato- de Informações
-estelionato, pois o terceiro entrega um bem ao agente
por estar em erro. O erro do terceiro é espontâneo, não é Código Penal
provocado pelo agente.
Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário,
Obs. 2: o objeto material é dinheiro ou qualquer coisa sistema de informações ou programa de informá-
móvel de valor econômico. tica sem autorização ou solicitação de autoridade
competente:
Obs. 3: o recebimento da coisa deve decorrer em razão Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos,
do exercício do cargo. e multa.
Parágrafo único. As penas são aumentadas de um
Obs. 4: assim, os  requisitos para prática do crime em terço até a metade se da modificação ou alteração
tela são: resulta dano para a Administração Pública ou para
o administrado.
– A vítima entrega espontaneamente e erroneamente o
bem ao funcionário público; 1) Conduta: o funcionário público não autorizado a
– O funcionário público recebe o bem de boa-fé e em operar no sistema informatizado da Administração Pública,
razão do cargo; acaba por modificar ou alterar informações sem autorização
– Após estar na posse do bem, percebe o erro e apropria-se ou solicitação de autoridade.
do bem.
Obs. 1: a conduta pode ser praticada de duas formas:
2) Objeto jurídico: o patrimônio público ou particular e a) modificar informações;
a probidade administrativa. b) alterar informações.
3) Sujeito ativo: funcionário público. E o particular pode
praticar este crime? Somente se estiver em concurso de pes- Obs. 2: este crime se difere do crime anterior, tendo
soas com o funcionário público e conhecer desta elementar . em vista que a conduta prevista no art. 313-A é praticada
4) Sujeito passivo: a Administração Pública e o particular por funcionário público autorizado a operar no sistema
quando o bem pertencer a este. informatizado da Administração Pública, já no presente
5) Tipo subjetivo: o dolo. artigo, a conduta é praticada por funcionário público não
6) Consumação e tentativa: com a apropriação do bem, autorizado a operar em tal sistema.
que ocorre no momento em que o agente, tomando conhe-
cimento do erro e torna a coisa sua. A tentativa é admissível. 2) Objeto jurídico: a probidade administrativa.
7) Se o agente induziu ou manteve a vítima em erro, 3) Sujeito ativo: funcionário público não autorizado a
o crime é de estelionato. operar no sistema informatizado da Administração Pública.
4) Sujeito passivo: a Administração Pública e o particular
Inserção de Dados Falsos em Sistema de Informação se este vier a ser prejudicado.
5) Tipo subjetivo: o dolo.
Código Penal 6) Consumação e tentativa: com a modificação ou alte-
ração indevida.
Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autori-
zado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir Extravio, Sonegação ou Inutilização de Livro ou
indevidamente dados corretos nos sistemas infor- Documento
matizados ou bancos de dados da Administração
Pública com o fim de obter vantagem indevida para
Código Penal
si ou para outrem ou para causar dano:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
Art. 314. Extraviar livro oficial ou qualquer documen-
1) Conduta: o funcionário público autorizado a operar no to, de que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo
sistema informatizado ou no banco de dados da Administra- ou inutilizá-lo, total ou parcialmente:
ção Pública, acaba por inserir ou facilitar a inserção de dados Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, se o
falsos, ou ainda excluir indevidamente dados verdadeiros, fato não constitui crime mais grave.
sempre com o fim de obter uma vantagem indevida.
Noções de Direito Penal

1) Conduta: o funcionário público em razão do cargo que


Obs.: a conduta pode ser praticada de três formas: ocupa extravia, sonega ou inutiliza livro oficial ou qualquer
a) inserir dados falsos; outro documento.
b) facilitar a inserção de dados falsos;
c) excluir dados verdadeiros. Obs. 1: a conduta pode ser praticada de três formas:
a) extraviar: desaparecer;
2) Objeto jurídico: a probidade administrativa. b) sonegar: ocultar;
3) Sujeito ativo: funcionário público autorizado a operar c) inutilizar: tornar imprestável.
no sistema informatizado da Administração Pública.
4) Sujeito passivo: a Administração Pública e o particular 2) Objeto jurídico: a probidade administrativa.
se este vier a ser prejudicado. 3) Sujeito ativo: funcionário público.
5) Tipo subjetivo: o dolo. 4) Sujeito passivo: a Administração Pública e o particular
6) Consumação e tentativa: com a inserção ou exclusão nos casos em que este tenha o documento sob a guarda da
indevida. Administração.

72
5) Tipo subjetivo: o dolo. função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem
6) Consumação e tentativa: com o extravio ou inutili- indevida.
zação, bem como no caso de sonegação, no momento em Passemos a analisar as elementares do tipo penal:
que o agente deveria fazer a entrega do documento ou livro a) Exigir significa impor como obrigação, ordenar,
oficial e não o faz. aproveitando-se do temor de represálias a que fica cons-
7) Princípio da subsidiariedade: a própria lei em seu trangida a vítima.
preceito secundário estabelece que somente haverá o crime b) A vantagem exigida tem que ser indevida, e não se
o fato não constituir um crime mais grave. limita à vantagem de natureza patrimonial, pois não se trata
8) Não confundir o crime em tela: com o previsto no
de crime contra o patrimônio.
art. 356 do Código Penal, o qual descreve a conduta daquele
que inutiliza documento ou objeto de valor probatório que c) É indispensável que o agente se valha da função que
recebeu na qualidade de advogado ou procurador, bem como exerce ou vai exercer, ou que se prevaleça da autoridade
previsto no art. 337 do Código Penal, o qual prevê a conduta que possui ou vai possuir.
do particular que subtrai ou inutiliza, total ou parcialmente, d) “Ainda que fora da função” – Não importa que esteja
livro oficial, processo ou documento confiado à Administração. afastado da função pública, desde que se valha dela. Todavia,
a lei não abrange a pessoa exonerada ou demitida, caso em
Emprego Irregular de Verbas ou Rendas Públicas que irá praticar usurpação de função pública em concurso
formal com estelionato, por fato de fraude enganar o parti-
Código Penal cular. Aposentado não comete este crime porque não é mais
funcionário público.
Art. 315. Dar às verbas ou rendas públicas aplicação e) “Antes de assumi-la” – Engloba a pessoa que foi no-
diversa da estabelecida em lei: meada, mas ainda não tomou posse.
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa.

1) Conduta: o funcionário público que emprega verbas 2) Objetividade jurídica: o normal desenvolvimento dos
ou rendas públicas em destinação diversa da prevista em lei. encargos funcionais, por parte da Administração Pública, e o
patrimônio do particular.
Obs. 1: para a ocorrência deste crime é necessária a 3) Sujeito ativo: o funcionário público.
existência de uma lei anterior que regule a destinação das 4) Sujeito passivo: o Estado e a pessoa contra quem é
verbas ou rendas públicas. dirigida a exigência.
5) Tipo subjetivo: o dolo. Exige ainda o elemento subje-
Obs. 2: neste crime, o funcionário público não desvia ou tivo do tipo contido na expressão “para si ou para outrem”.
se apropria das verbas ou rendas públicas, apenas a emprega 6) Consumação e tentativa: consuma-se no momento
de forma diversa da previsão legal. Ex.: determinada verba em que a exigência da vantagem chega ao conhecimento
deveria ser empregada para construção de determinada obra da vítima. Sobrevém-se a percepção desta, ocorre o exauri-
pública e acaba sendo empregada em outra obra pública.
mento. A tentativa é admissível, desde que a exigência não
2) Objeto jurídico: a regularidade da Administração seja verbal. CRIME FORMAL.
Pública. 7) Distingue-se da corrupção passiva (art. 317) porque
3) Sujeito ativo: funcionário público. nesta o agente solicita, recebe ou aceita a vantagem indevida,
4) Sujeito passivo: a Administração Pública e a entidade enquanto que na concussão o funcionário público constran-
eventualmente prejudicada. ge, exige a vantagem indevida. Na corrupção passiva, a vítima
5) Tipo subjetivo: o dolo. visa obter benefício em troca da vantagem prestada, enquan-
6) Consumação e tentativa: com o efetivo emprego to que na concussão, temendo alguma represália, ela cede
irregular das verbas públicas. à exigência. Assim, a concussão descreve fato mais grave.

Concussão
Concussão Corrupção Passiva
Código Penal O agente EXIGE vantagem O agente SOLICITA vanta-
indevida em razão do cargo. gem indevida em razão do
Art. 316. Exigir, para si ou para outrem, direta ou O que motiva a vítima a pagar cargo que ocupa. O que
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de a vantagem indevida é o te- motiva a vítima a pagar a
assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: mor de represália. Ex.: agente vantagem indevida é o fato
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa. penitenciário exige propina dela também se beneficiar
Noções de Direito Penal

de mãe de preso. Esta paga da situação. Ex.: policial so-


Excesso de exação o valor requerido em razão licita propina de motorista
§ 1º Se o funcionário exige tributo ou contribuição do temor de represálias em que carregava seu filho de
social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quan- razão do cargo ocupado. 5 anos sem estar na cadei-
do devido, emprega na cobrança meio vexatório ou rinha apropriada. O fato
gravoso, que a lei não autoriza: de o pai pagar a propina o
Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. beneficiará da multa que
§ 2º Se o funcionário desvia, em proveito próprio não lhe será aplicada.
ou de outrem, o que recebeu indevidamente para
recolher aos cofres públicos: Excesso de Exação – art. 316, § 1º, do CP
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
1) Conduta: exigir tributo ou contribuição social, que
1) Conduta: o funcionário público que EXIGE, para si ou sabe ou devia saber indevido, ou quando devido emprega
para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da na cobrança meio vexatório ou gravoso.

73
Obs. 1: o crime pode ser praticado de duas maneiras: Corrupção Passiva Corrupção Ativa
a) funcionário público exigir tributo ou contribuição so-
cial, que sabe ou devia saber indevido (cabendo as hipóteses Sujeito ativo  – funcionário Sujeito ativo – particular.
de dolo direito – saber se; ou dolo eventual – devia saber); público.
b) funcionário público ao cobrar tributo ou contribui- Funcionário público SOLICI- Não há crime na conduta
ção social devida emprega na cobrança meio vexatório ou TA vantagem indevida. correspondente praticada
gravoso. pelo particular  – “pagar” a
vantagem indevida.
Obs. 2: em ambas as hipóteses o recolhimento indevido
destina-se aos cofres públicos. Funcionário público RECEBE Particular OFERECE vanta-
vantagem indevida. gem indevida.
2) Objetividade jurídica: o normal desenvolvimento das Funcionário público ACEITA Particular PROMETE vanta-
cobranças de tributos. PROMESSA de vantagem gem indevida.
3) Sujeito ativo: o funcionário público. indevida.
4) Sujeito passivo: o Estado e a pessoa contra quem é
dirigida a exigência. Obs. 2: para a configuração da corrupção passiva não é
5) Tipo subjetivo: o dolo direto e eventual.
imprescindível a ocorrência concomitante da corrupção ativa.
6) Consumação e tentativa: consuma-se com a exigência
indevida do tributo ou contribuição social, ou ainda com o
Obs. 3: se em um mesmo fato o particular oferecer ou
emprego do meio vexatório na cobrança do tributo ou con-
promoter vantagem indevida ao funcionário público e este
tribuição social devidos.
7) Quando o funcionário público desviar para si ou para receber ou aceitar tal promessa de vantagem indevida,
outrem o que recebe indevidamente o crime será qualifica- estaremos diante da aplicação da exceção a teoria monista,
do – art. 316, § 2º, do CP. em que todos que contribuem para ocorrência de um crime
não irão responder pelo mesmo crime, sendo, portanto,
Corrupção Passiva o funcionário público responsável pelo crime de corrupção
passiva e particular pelo crime de corrupção ativa.
Código Penal
2) Objetividade jurídica: a moralidade administrativa e
Art. 317. Solicitar ou receber, para si ou para outrem, o patrimônio do particular.
direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou 3) Sujeito ativo: o funcionário público.
antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem 4) Sujeito passivo: o Estado e a pessoa lesada, quando
indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: não pratica o crime de corrupção ativa.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 5) Tipo subjetivo: o dolo. Exige ainda o elemento subje-
§ 1º A pena é aumentada de um terço, se, em con- tivo do tipo contido na expressão “para si ou para outrem”.
sequência da vantagem ou promessa, o funcionário 6) Consumação e tentativa: consuma-se com a solicita-
retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ção ou recebimento da vantagem, ou com a aceitação da
ou o pratica infringindo dever funcional. promessa. Nas formas “receber” e “aceitar”, a tentativa é im-
§  2º Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou possível, porque o crime é unissubsistente. CRIME FORMAL.
retarda ato de ofício, com infração de dever funcional,
cedendo a pedido ou influência de outrem: Obs. 4: dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer
Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa. outra vantagem a testemunha, perito, contador, tradutor
ou intérprete para fazer afirmação falsa, negar ou calar a
1) Conceito: funcionário público que solicita ou recebe, verdade em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou
para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que interpretação, dentro do processo: haverá o crime de falso
fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, testemunho ou falsa perícia.
vantagem indevida, ou aceita promessa de tal vantagem.
Passemos a analisar as elementares do tipo penal: Causa de Aumento de Pena – Crime de Corrupção
a) solicitar é pedir; Passiva
b) receber é obter, adquirir, alcançar;
c) aceitar é concordar, consentir, anuir ao futuro rece-
A pena é aumentada de um terço, se, em consequência
bimento;
da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa
d) é indispensável que o agente se valha da função que
Noções de Direito Penal

de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo


exerce ou vai exercer. Não importa que esteja afastado da
dever funcional.
função pública, desde que se valha dela;
e) a vantagem visada tem de ser indevida, e não se
limita à vantagem de natureza patrimonial. Normalmente, Corrupção Passiva Privilegiada
essa vantagem indevida tem a finalidade de fazer com que o
funcionário público pratique ato ilegal ou deixe de praticar, Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda
de forma ilegal, ato que deveria praticar de ofício. ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a
pedido ou influência de outrem.
Obs. 1: se funcionário público atende ao oferecimento Nessa hipótese, o agente, ao invés de atuar no interesse
ou promessa da vantagem indevida será autor do crime de próprio, visando uma vantagem indevida para si ou para
corrupção passiva, e o particular autor do crime de corrupção outrem, cede a pedido ou influência de terceiro. Não há
ativa. Todavia, se o particular pagar a vantagem indevida vantagem indevida, apenas o funcionário público cede ao
solicitada pelo funcionário público não há que se falar em pedido de “dar um jeitinho” formulado pelo particular. Este,
crime de corrupção ativa, somente de corrupção passiva. por sua vez, não comete crime algum.

74
1) O crime é material, pois exige a ocorrência do resul- Resumão:
tado.
2) Não está solicitando nenhuma vantagem, apenas Corrupção Passiva Corrupção Ativa
atendendo ao pedido de terceiro ou influência do mesmo. Sujeito ativo – funcionário Sujeito ativo – particular.
público.
Atenção! Não confundir:
Funcionário público SOLICITA Não há crime na conduta
vantagem indevida. correspondente praticada
1) Corrupção Passiva – Solicitar, receber ou aceitar pro- pelo particular – “pagar” a
messa de vantagem indevida. vantagem indevida.
2) Corrupção Passiva com Causa de Aumento de Pena – Se Funcionário público RECEBE Particular OFERECE vanta-
o funcionário público em consequência da vantagem vantagem indevida. gem indevida.
indevida retarda ou deixa de praticar qualquer ato de Funcionário público ACEITA Particular PROMETE vanta-
ofício ou o pratica infringindo dever funcional. PROMESSA de vantagem in- gem indevida.
3) Corrupção Passiva Privilegiada – Se o funcionário devida.
pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, A pena é aumentada de um A pena é aumentada de um
com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou terço, se, em consequência terço, se, em consequência
influência de outrem. da vantagem ou promessa, da vantagem ou promessa,
o funcionário retarda ou deixa o funcionário retarda ou
Corrupção Ativa de praticar qualquer ato de deixa de praticar qualquer
ofício ou o pratica infringindo ato de ofício ou o pratica in-
Código Penal dever funcional. fringindo dever funcional.
Se o funcionário pratica, deixa O particular que realiza o
Art. 333. Oferecer ou prometer vantagem indevida de praticar ou retarda ato de pedido, não pratica crime
a funcionário público, para determiná-lo a praticar, ofício, com infração de dever algum.
omitir ou retardar ato de ofício: funcional, cedendo a pedido
Pena – reclusão de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. ou influência de outrem.
Parágrafo único. A pena é aumentada de um terço,
se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário Facilitação de Contrabando ou Descaminho
retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo
dever funcional. Código Penal

1) Conduta: oferecer ou prometer vantagem indevida a Art. 318. Facilitar, com infração de dever funcional,
a prática de contrabando ou descaminho:
funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou
Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
retardar ato de ofício.
1) Conduta: funcionário público que facilita a prática do
Obs. 1: aplicação da teoria monista: funcionário público contrabando ou descaminho.
responde por corrupção passiva e particular por corrupção
ativa. Obs. 1: diferença ente contrabando e descaminho.
a) contrabando – Mercadoria ilícita, ou seja, que não
2) Sujeito ativo: particular. possui autorização para ser comercializada no país;
3) Sujeito passivo: a Administração Pública. b) descaminho – Mercadoria lícita, a qual possui autoriza-
4) Consumação: com a oferta ou promessa. CRIME ção para ser comercializada no país. Todavia, o seu ingresso
FORMAL. ocorre de forma ilegal, tendo em vista o não pagamento dos
tributos referentes a tal ingresso.
Obs. 2: se o particular pedir para o funcionário “dar um
jeitinho”, sem haver o oferecimento de vantagem indevida, Obs. 2: a conduta é praticada por um funcionário público
não há crime de corrupção ativa, somente o crime de cor- que facilita a entrada de mercadorias oriundas de contra-
rupção passiva privilegiada. bando ou descaminho, todavia tal facilitação deve infringir
o dever funcional.
Noções de Direito Penal

Particular pede para o fun- O funcionário público ce-


cionário “dar um jeitinho”, dendo ao pedido de “dar 2) Objetividade jurídica: Administração Pública.
sem haver o oferecimento um jeitinho”, formulado 3) Sujeito ativo: o funcionário público que facilita a en-
de vantagem indevida, não pelo particular, e acaba por trada de mercadorias infringindo o dever funcional.
há crime de corrupção ativa. praticar, deixar de praticar ou 4) Sujeito passivo: o Estado.
retardar ato de ofício, pratica 5) Tipo subjetivo: o dolo. Não há elemento subjetivo.
o crime de corrupção passiva 6) Consumação e tentativa: consuma-se com a facilitação
privilegiada. para entrada das mercadorias oriundas de contrabando ou
descaminho. CRIME FORMAL.
Obs. 3: causa de aumento de pena do crime de corrupção 7) O crime é de ação penal pública incondicionada e
passiva: a pena é aumentada de um terço, se, em consequên- será processado perante a Justiça Federal.
cia da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa 8) Em caso de entrada de drogas ou armas, incide o
de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo princípio da especialidade, aplicando-se a lei de drogas e
dever funcional. o estatuto do desarmamento.

75
9) O agente do contrabando ou descaminho que tem Código Penal
facilitada a entrada de sua mercadoria pela conduta de um
funcionário público pratica o crime previsto nos arts. 134 Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou
e 134-A do CP. agente público, de cumprir seu dever de vedar ao
preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou si-
Prevaricação milar, que permita a comunicação com outros presos
ou com o ambiente externo:
Código Penal Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

Art.  319. Retardar ou deixar de praticar, indevida- 1) Conduta: o Diretor de Penitenciária ou outro funcio-
mente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição nário público que deixando de cumprir o seu dever funcional
expressa de lei, para satisfazer interesse ou senti- permite ao preso o acesso a aparelhos telefônicos.
mento pessoal: 2) Objeto jurídico: segurança da Administração Pública.
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, 3) Sujeito ativo: funcionário público.
e multa. 4) Sujeito passivo: Estado e a sociedade como um todo.
5) Elemento subjetivo do tipo: é o dolo. Não se exige o
1) Conduta: retardar ou deixar de praticar indevidamente elemento subjetivo específico.
ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, 6) Consumação: com a omissão.
para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.
Obs.: a famosa “vista grossa”, que significa fingir não ver
Obs. 1: análise dos elementos do tipo penal: o aparelho circulando no estabelecimento penitenciário já é
a) retardar, por exemplo, não expedir uma certidão; suficiente para configuração do crime.
b) deixar de fazer – Conduta que deveria fazer, por exem-
plo, delegado não instaura Inquérito Policial; Condescendência Criminosa
c) pratica ato contra disposição expressa na lei, por exem-
plo, delegado arquiva Inquérito Policial (somente Juiz pode Código Penal
arquivar Inquérito Policial a pedido do Ministério Público).
Art. 320. Deixar o funcionário, por indulgência, de
Obs. 2: o que motiva o funcionário público a praticar responsabilizar subordinado que cometeu infração no
ou deixar de praticar tais atos de ofício é para satisfazer exercício do cargo ou, quando lhe falte competência,
interesse pessoal, como vingança, inveja, preguiça, prote- não levar o fato ao conhecimento da autoridade
ção. NESTE CRIME NÃO HÁ A OBTENÇÃO DE VANTAGEM competente:
INDEVIDA. Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês,
ou multa.
2) Objeto jurídico: moralidade da Administração Pública.
3) Sujeito ativo: funcionário público. 1) Conduta: funcionário público que deixa por indulgên-
4) Sujeito passivo: Estado e o particular eventualmente cia de responsabilizar subordinado que cometeu infração no
prejudicado. exercício do cargo quando possuir competência para tal ou
5) Elemento subjetivo do tipo: é o dolo. Exige-se o quando lhe falte competência não levar o fato ao conheci-
elemento subjetivo específico consistente na vontade de mento da autoridade competente.
satisfazer interesse ou sentimento pessoal.
6) Consumação: com a omissão ou retardo ou a realiza- Obs. 1: o crime pode ser praticado de duas maneiras:
ção do ato. CRIME FORMAL. a) funcionário público que deixa por indulgência de res-
7) Não se confunde com corrupção passiva, pois nesta o ponsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício
funcionário negocia seus atos visando vantagem indevida. do cargo quando possuir competência para tal;
8) Não se confunde com corrupção passiva privilegiada, b) funcionário público que deixa por indulgência de co-
pois nesta o agente atende a pedido ou influencia de outrem. municar à autoridade competente infração que subordinado
cometeu no exercício do cargo.
Prevaricação Corrupção Passiva com
Causa de Aumento de Pena Obs. 2: para a configuração deste crime, não há a neces-
sidade de que o subordinado seja sancionado pela infração
Deixa de praticar ato de ofí- Em consequência da vanta-
cometida, nem tampouco que o superior seja obrigado
cio ou pratica ato de ofício gem indevida ou promessa
a puni-lo. O que realmente deve ser levado em conta é o
Noções de Direito Penal

contra disposição expres- de tal vantagem, o funcioná-


cumprimento do dever funcional do superior em apurar a
sa de lei, para satisfazer rio retarda ou deixa de prati-
responsabilidade do subordinado pela infração, em tese, que
interesse ou sentimento car qualquer ato de ofício ou
praticou no exercício do cargo.
pessoal. o pratica infringindo dever
funcional.
Obs. 3: o que a move omissão do funcionário público em
apurar a falta de seu subordinado é a indulgência, ou seja,
Prevaricação Corrupção Passiva o sentimento de piedade.
Privilegiada
Deixar de praticar ato de O funcionário pratica, deixa Obs. 4: assim, se um fiscal adentra em um estabelecimen-
ofício ou praticar ato de de praticar ou retarda ato de to comercial e verifica que o mesmo não possui condições
ofício contra disposição ex- ofício, com infração de dever mínimas de higiene para o regular funcionamento e mesmo
pressa de lei, para satisfazer funcional, cedendo a pedido assim deixa de aplicar uma multa, por sentir pena do pro-
interesse ou sentimento ou influência de outrem. prietário, qual crime terá praticado? Mesmo verificando que
pessoal. o que moveu a omissão do funcionário público foi o senti-

76
mento de indulgência, o proprietário do estabelecimento Abandono de Função
comercial não é seu subordinado, não havendo que se falar
na ocorrência do crime de condescendência criminosa. Mas Código Penal
qual crime este fiscal praticou? No citado exemplo, não há
menção acerca do recebimento de vantagem indevida, o que Art. 323. Abandonar cargo público, fora dos casos
de pronto nos leva a descartar a hipótese do crime de cor- permitidos em lei:
rupção passiva. Todavia, o que motivou o funcionário público Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês,
foi um sentimento pessoal, tendo, portanto ele praticado o ou multa.
crime de prevaricação. § 1º Se do fato resulta prejuízo público:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano,
2) Objeto jurídico: moralidade da administração pública. e multa.
3) Sujeito ativo: funcionário público. § 2º Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa
4) Sujeito passivo: Estado. de fronteira:
5) Elemento subjetivo do tipo: dolo de omissão, mo- Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
tivado pela indulgência. Se deixar de punir por vantagem
indevida será corrupção passiva. Se deixar de punir por 1) Conduta: abandonar cargo público fora dos casos
sentimento pessoal será prevaricação. permitidos em lei.
6) Consumação: quando o superior toma conhecimento
da infração e nada faz. Obs. 1: abandonar significa deixar o cargo por tempo
7) Tentativa: é inadmissível em crimes omissivos pró- juridicamente relevante. Falta eventual ou desleixo na rea-
prios. lização do serviço é apenas falta funcional punida na esfera
administrativa.
Advocacia Administrativa
Obs. 2: muito embora o nome do crime seja abandono de
Código Penal função, somente comete este delito aquele que ocupa cargo.

Art. 321. Patrocinar, direta ou indiretamente, interes- Obs. 3: o abandono por caso fortuito ou força maior não
se privado perante a administração pública, valendo- configuram crime (prisão, doença).
-se da qualidade de funcionário:
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa. 2) Objeto jurídico: moralidade da Administração Pública.
Parágrafo único. Se o interesse é ilegítimo: 3) Sujeito ativo: funcionário público que ocupa um cargo
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, público.
além da multa. 4) Sujeito passivo: Estado.
5) Elemento subjetivo do tipo: dolo de abandonar.
1) Conduta: patrocinar, direta ou indiretamente, interes- 6) Consumação: com o abandono do cargo por tempo
se privado perante a Administração Pública, valendo-se da juridicamente relevante, ainda que não traga efetivo prejuízo
qualidade de funcionário. para Administração.
7) Tentativa: é inadmissível por se tratar de crime omis-
Obs. 1: o delito ocorre quando um funcionário público sivo próprio.
valendo-se de sua condição defende interesse alheio legítimo 8) Formas qualificadas: se do abandono resultar prejuízo,
ou ilegítimo perante a Administração. se o fato ocorrer em lugar compreendido na faixa de fronteira.

Obs. 2: não necessita ser na repartição que trabalha, Exercício Funcional Ilegalmente Antecipado ou
podendo ser em outra e se valer de valendo da qualidade de Prolongado
funcionário público para obter privilégios (amizades, contatos).
Código Penal
Obs. 3: se estiver defendendo interesse próprio não há
Art. 324. Entrar no exercício de função pública antes de
crime.
satisfeitas as exigências legais, ou continuar a exercê-la,
sem autorização, depois de saber oficialmente que foi
2) Objeto jurídico: moralidade da Administração Pública.
exonerado, removido, substituído ou suspenso:
3) Sujeito ativo: funcionário público. Apesar do nome
Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês,
não necessita ser praticado por advogado.
ou multa.
4) Sujeito passivo: Estado.
5) Elemento subjetivo do tipo: dolo.
Noções de Direito Penal

1) Conduta: o crime pode ser praticado de duas formas:


6) Consumação: no ato de patrocinar interesse alheio. a) entrar no exercício de função pública antes de satis-
CRIME FORMAL. feitas as exigências legais;
7) Tentativa: é admissível. b) continuar a exercer a função pública, sem autorização,
depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido,
Violência Arbitrária substituído ou suspenso.
Código Penal Obs. 1: analisaremos as elementares do tipo penal:
a) Entrar no exercício de função pública antes de satis-
Art. 322. Praticar violência, no exercício de função ou feitas as exigências legais – o agente já foi nomeado, mas,
a pretexto de exercê-la: ainda, não pode exercer legalmente a função por restarem
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, exigências a serem observadas, como, por exemplo, realiza-
além da pena correspondente à Violência.1 ção de exame médico ou a posse;
b) Continuar no exercício da função – deve o agente ter
1
Este dispositivo encontra-se revogado pela Lei nº 4.898/1965. sido comunicado oficialmente que foi exonerado, removido,

77
substituído ou suspenso. Deve ser pessoalmente, não bas- Crimes Praticados por Particulares Contra a
tando à publicação do Diário Oficial; Administração Pública – Arts. 328 a 337 do CP
c) Não há crime continuar exercendo a função de está
de férias, licença ou aposentado, por falta de previsão legal. Usurpação de Função Pública
2) Objeto jurídico: moralidade da Administração Pública. Código Penal
3) Sujeito ativo: na primeira hipótese é o funcionário
público que foi nomeado e ainda não tomou posse. Na se- Art. 328. Usurpar o exercício de função pública:
gunda, o funcionário público que foi exonerado, removido, Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos,
substituído ou suspenso. e multa.
4) Sujeito passivo: Estado.
Parágrafo único. Se do fato o agente aufere vantagem:
5) Elemento subjetivo do tipo: dolo de entrar ou continuar.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
6) Consumação: com a prática de ato inerente a função
pública. Crime material.
7) Tentativa: é admissível. 1) Conduta: usurpar o exercício da função pública.

Violação de Sigilo Profissional Obs. 1: usurpar significa desempenhar indevidamente


uma função pública. Ex.: executar atos de ofício sem que
Código Penal tenha sido aprovado em concurso público ou nomeado.

Art. 325. Revelar fato de que tem ciência em razão Obs. 2: o crime pode ser praticado tanto por particular
do cargo e que deva permanecer em segredo, ou como por um funcionário público, este em relação a uma
facilitar-lhe a revelação: função diversa a que ocupa.
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
ou multa, se o fato não constitui crime mais grave. 2) Objeto jurídico: moralidade da Administração Pública.
§ 1º Nas mesmas penas deste artigo incorre quem: 3) Sujeito ativo: particular e funcionário que assume
I – permite ou facilita, mediante atribuição, for- indevidamente a função de outro.
necimento e empréstimo de senha ou qualquer 4) Sujeito passivo: Estado.
outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas 5) Elemento subjetivo do tipo: dolo. O agente deve ter
a sistemas de informações ou banco de dados da consciência de que está usurpando.
Administração Pública; 6) Consumação: prática de ato inerente à função usur-
II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. pada.
§ 2º Se da ação ou omissão resulta dano à Adminis- 7) Se da conduta obtém vantagem será usurpação qua-
tração Pública ou a outrem: lificada.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. 8) A simples conduta de se intitular funcionário público
perante terceiros sem praticar atos inerentes a função é
1) Conduta: o crime pode ser praticado de duas maneiras: contravenção penal. Ex.: rapaz afirma, falsamente, para moça
a) revelar fato de quem ciência em razão do cargo e que que é policial, no intuito de impressioná-la.
deva permanecer em segredo;
b) Facilitar a revelação de fato de quem ciência em razão Resistência
do cargo e que deva permanecer em segredo.
Código Penal
2) Objeto jurídico: sigilo das informações da Adminis-
tração Pública.
3) Sujeito ativo: funcionário público e particular que Art. 329. Opor-se à execução de ato legal, mediante
colabora com a divulgação em coautoria. O particular que se violência ou ameaça a funcionário competente para
limita a tomas conhecimento não pratica o delito. executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:
4) Sujeito passivo: Estado e particular que sofre o pre- Pena – detenção, de 2 (dois) meses a 2 (dois) anos.
juízo com a divulgação. § 1º Se o ato, em razão da resistência, não se executa:
5) Elemento subjetivo do tipo: dolo de revelar. Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
6) Consumação: no momento em que terceiro, que § 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo
não podia tomar conhecimento, passa a saber, seja outro das correspondentes à violência.
funcionário ou particular. CRIME FORMAL. Independe da
ocorrência do prejuízo. 1) Conduta: pode ser praticada de duas formas:
7) Subsidiariedade explícita: só haverá o presente crime a) opor-se a execução de ato legal, mediante violência
Noções de Direito Penal

se o fato praticado não constituir crime mais grave, por exem- ou grave ameaça a funcionário competente para executá-lo;
plo, fraude a licitação, crime contra a segurança nacional b) opor-se a execução de ato legal, mediante violência
etc. Tal regra vem descrita no preceito secundário do crime. ou grave ameaça a quem esteja prestando auxílio ao fun-
cionário público.
Violação do Sigilo de Proposta de Concorrência
Obs.: passemos a analisar algumas situações:
Código Penal a) há necessidade de ser funcionário competente para
aquela ordem;
Art. 326. Devassar o sigilo de proposta de concor- b) se empregada a violência ou grave ameaça contra
rência pública, ou proporcionar a terceiro o ensejo terceiro que auxilia o funcionário público haverá crime de
de devassá-lo:
resistência;
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano,
c) particular que efetuar prisão em flagrante e o preso
e multa2.
resistir, não haverá crime de resistência, pois não se trata de
2
Este dispositivo encontra-se revogado pela Lei nº 8.666/1993. funcionário público;

78
d) a violência deve ser empregada contra o funcionário 7) Princípio da Absorção: se a lei civil ou administrativa
público ou quem o acompanhe. Se contra a coisa, por exem- prevê sanção para condutas de desobediência, a norma
plo, viatura será crime de dano; penal não será aplicada, por exemplo, o Código de Trânsito
e) a resistência passiva, por exemplo, segurar em um Brasileiro prevê multa para quem desrespeitar a ordem de
poste para não ser conduzido não será crime; parada feita por um policial. Desta forma, tal conduta não
f) a violência e a ameaça devem ser usadas como meio será crime de desobediência.
de executar o crime. Se utilizadas após o ato, será crime de
ameaça ou lesão corporal; Desacato
g) se a violência for utilizada como fuga, será o crime de
evasão mediante violência; Código Penal
h) a ordem deve ser legal, em relação a seu conteúdo e
forma. Se ilegal a resistência não configura crime. Art. 331. Desacatar funcionário público no exercício
da função ou em razão dela:
2) Objeto jurídico: moralidade da Administração Pública. Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa, mesmo aquela diversa ou multa.
da ordem dirigida. Ex.: policial vai prender A e este o agride
ou policial vai prender A e B, amigo de A, indignado, agride 1) Conduta: pode ser praticada de duas formas:
o policial. a) desacatar funcionário público no exercício da função;
9) Sujeito passivo: Estado, funcionário público contra b) desacatar funcionário público em relação à sua função,
quem é dirigida a violência e eventualmente quem esteja apesar deste estar de folga.
auxiliando o funcionário público.
10) Elemento subjetivo do tipo: dolo. Obs. 1: desacatar significa humilhar, desprestigiar. A ofen-
11) Consumação: com o emprego da violência ou ame- sa pode ser praticada de várias formas: palavras, gestos,
aça. Crime formal. ameaças, vias de fato etc.
12) Se da violência ou ameaça o agente conseguir impedir
Obs. 2: algumas considerações:
a execução do ato, este será o exaurimento, e a forma quali-
a) a ocorrência do crime independe de o funcionário
ficada prevista no parágrafo primeiro deste artigo.
público se julgar ofendido ou não, pois o que a lei visa é a
13) Se da violência ocorrer lesão ou morte as penas
dignidade do cargo;
serão somadas, em concurso material de crimes, segundo
b) o crime deve ser praticado contra o funcionário pú-
o parágrafo segundo. blico no exercício de suas funções, ou seja, quando esteja
14) Se ocorrer apenas xingamento, será crime de desaca- trabalhando, ou se de folga, desde que a ofensa seja em
to. Se ocorrer violência, ameaça e xingamento será apenas relação a suas funções;
resistência, pois ao desacato ficará absorvido. c) não há necessidade que a ofensa seja feita cara a cara.
O agente pode ofender e o funcionário que está na sala ao
Desobediência lado ouvir;
d) o crime existe mesmo que o fato não seja presenciado
Código Penal por terceiro, pois não é requisito do crime a publicidade;
e) a ofensa feita a funcionário em sua ausência será o
Art. 330. Desobedecer a ordem legal de funcionário crime de injúria qualificada, por exemplo, a ofensa por meio
público: de carta ou e-mail;
Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 6 (seis) meses, f) exaltação de ânimos não exclui o crime. A embriaguez
e multa. somente se completa e proveniente de caso fortuito ou força
maior excluirá o crime.
1) Conduta: desobedecer a ordem legal de funcionário
público. 2) Objeto jurídico: moralidade da Administração Pública
e do funcionário público ofendido.
Obs. 1: desobedecer significa não cumprir. 3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. Poderá também, se-
gundo a doutrina majoritária, ser praticado por um funcioná-
Obs. 2: requisitos para prática do delito: rio em relação a outro. E o advogado pode praticar o crime
1. deve haver uma ordem material e formalmente legal; de desacato quando estiver no exercício de suas funções?
2. deve ser emanada de funcionário competente. Ex.: de- Segundo o estatuto da OAB, ele é imune, mas o STF, afirma
legado não é competente para determinar quebra de sigilo; que ele pode praticar sim o crime de desacato.
3. o destinatário deverá ter o dever jurídico de cumprir 4) Sujeito passivo: Estado e funcionário ofendido.
Noções de Direito Penal

a ordem. 5) Elemento subjetivo do tipo: dolo de desacatar.


6) Consumação: no momento da ofensa, independente-
2) Objeto jurídico: moralidade da Administração Pública. mente do funcionário público sentir-se ofendido.
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. E se o funcionário 7) Tentativa: não é possível pela impossibilidade de
publico deixar de cumprir ordem de outro funcionário no fragmentar o iter criminis.
exercício de suas funções? Sanção administrativa ou, depen-
dendo do caso, prevaricação. Se o funcionário não estiver no Tráfico de Influência
exercício de sua função poderá ser desobediência.
4) Sujeito passivo: Estado e o funcionário que proferiu Código Penal
a ordem.
5) Elemento subjetivo do tipo: dolo. Art. 332. Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou
6) Consumação: depende do conteúdo da norma. Se para outrem, vantagem ou promessa de vantagem,
determinar omissão, consuma-se no momento da ação; a pretexto de influir em ato praticado por funcionário
se determinar ação, consuma-se no momento da omissão. público no exercício da função:

79
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. 1) Conduta: oferecer ou prometer vantagem indevida a
Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, se funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou
o agente alega ou insinua que a vantagem é também retardar ato de ofício.
destinada ao funcionário.
Obs. 1: aplicação da teoria monista: funcionário público
1) Conduta: o crime pode ser praticado das seguintes responde por corrupção passiva e particular por corrupção ativa.
formas:
a) solicitar para si ou para outrem, vantagem ou promes- 2) Objeto jurídico: moralidade da Administração Pública.
sa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por 3) Sujeito ativo: particular.
4) Sujeito passivo: o Estado.
funcionário público no exercício da função;
5) Consumação: com a oferta ou promessa. CRIME
b) exigir para si ou para outrem, vantagem ou promessa FORMAL.
de vantagem, a  pretexto de influir em ato praticado por
funcionário público no exercício da função; Obs. 2: se o particular pedir para o funcionário “dar um
c) cobrar para si ou para outrem, vantagem ou promes- jeitinho”, sem haver o oferecimento de vantagem indevida,
sa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por não há crime de corrupção ativa, somente o crime de cor-
funcionário público no exercício da função; rupção passiva privilegiada.
d) obter para si ou para outrem, vantagem ou promessa
de vantagem, a  pretexto de influir em ato praticado por Particular pede para o fun- O funcionário público cedendo
funcionário público no exercício da função. cionário “dar um jeitinho”, ao pedido de “dar um jeitinho”,
sem haver o oferecimento formulado pelo particular,
Obs. 1: o agente sob a alegação de possuir influência, de vantagem indevida, não e acaba por praticar, deixar
prestígio junto a Administração Pública, reclama vantagem há crime de corrupção de praticar ou retardar ato
de outrem a pretexto de exercer influência nos atos por ela ativa. de ofício, pratica o crime de
praticados. Assim, é a venda de suposta influência exercida corrupção passiva privilegiada.
pelo agente junto a Administração Pública. Na realidade o
agente não possui nenhuma influência. Seria a prática do cri- Obs. 3: causa de aumento de pena do crime de corrupção
me de estelionato, todavia, como para aplicação da suposta passiva: a pena é aumentada de um terço, se, em consequên-
fraude utiliza-se o nome da Administração Pública, o crime cia da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa
passa a ser o de tráfico de influência. Ex.: despachante alega de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo
possuir influência junto aos funcionários do Detran e solicita dever funcional.
vantagem da vítima a pretexto de fazer com que multas de
infração de trânsito não sejam cobradas; conduto, o despa- Resumão:
chante não conhece nenhum funcionário do Detran e acaba
por embolsar a vantagem indevida e as multas são cobradas. Corrupção Passiva Corrupção Ativa
Sujeito ativo  – funcionário Sujeito ativo – particular.
Obs. 2: agora se for verdade, ou seja, se o agente possuir público.
a tal influência que alega ter, estaremos diante do crime de
corrupção passiva ou ativa. Funcionário público SOLICI- Não há crime na conduta
TA vantagem indevida. correspondente praticada
2) Objeto jurídico: moralidade da Administração Pública. pelo particular  – “pagar” a
vantagem indevida.
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
4) Sujeito passivo: Estado. Funcionário público RECEBE Particular OFERECE vanta-
5) Elemento subjetivo do tipo: dolo. vantagem indevida. gem indevida.
6) Consumação: quando o agente solicita, exige, cobra Funcionário público ACEITA Particular PROMETE vanta-
ou obtém a vantagem. PROMESSA de vantagem gem indevida.
7) Tentativa: é possível quando o crime é praticado por indevida.
escrito e esta carta se extravia. A pena é aumentada em um A pena é aumentada de um
8) A pena é aumentada quando o agente diz ou dá a terço, se, em consequência terço, se, em consequência
entender que a vantagem também é endereçada ao fun- da vantagem ou promessa, da vantagem ou promessa,
cionário público. o funcionário retarda ou o funcionário retarda ou
9) Se o agente exige vantagem para influir especificamen- deixa de praticar qualquer deixa de praticar qualquer
te em ralação ao Juiz, Ministério Público ou funcionários da ato de ofício ou o pratica ato de ofício ou o pratica
justiça, o crime será de exploração de prestígio previsto no infringindo dever funcional. infringindo dever funcional.
Noções de Direito Penal

art. 357 do CP. Se o funcionário pratica, deixa O particular que realiza o


de praticar ou retarda ato de pedido não pratica crime
Corrupção Ativa ofício, com infração de dever algum.
funcional, cedendo a pedido
Código Penal ou influência de outrem.

Art. 333. Oferecer ou prometer vantagem indevida Descaminho e Contrabando


a funcionário público, para determiná-lo a praticar,
omitir ou retardar ato de ofício: Código Penal
Pena – reclusão de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. Descaminho
Parágrafo único. A pena é aumentada de um terço, Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento
se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída
retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo ou pelo consumo de mercadoria:
dever funcional. Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

80
§ 1º Incorre na mesma pena quem: 7) Tentativa: é possível no caso de exportação, quando
I – pratica navegação de cabotagem, fora dos casos a mercadoria não chega a sair do país. Já no caso de impor-
permitidos em lei; tação, não há a hipótese da tentativa.
II – pratica fato assimilado, em lei especial, a des- 8) O crime é de ação penal pública incondicionada e será
caminho; processado perante a Justiça Federal.
III – vende, expõe à venda, mantém em depósito 9) O § 1º prevê várias figuras equiparadas: a) pratica
ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou – a navegação de cabotagem tem a finalidade de realizar co-
industrial, mercadoria de procedência estrangeira mércio entre os portos de um mesmo país e somente poderá
que introduziu clandestinamente no País ou impor- ser realizada nos casos previstos em lei. É norma penal em
tou fraudulentamente ou que sabe ser produto de branco; b) pratica fato assimilado, em lei especial, a contra-
introdução clandestina no território nacional ou de bando ou descaminho, por exemplo, a entrada e saída de
importação fraudulenta por parte de outrem; mercadorias da Zona Franca de Manaus sem pagamento de
IV – adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio tributo; c) vende, expõe à venda, mantém em depósito ou,
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no
industrial, mercadoria de procedência estrangeira, exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria
desacompanhada de documentação legal ou acom- de procedência estrangeira que introduziu clandestinamen-
panhada de documentos que sabe serem falsos. te no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser
§ 2º Equipara-se às atividades comerciais, para os produto de introdução clandestina no território nacional ou
efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio de importação fraudulenta por parte de outrem – o legisla-
irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, dor está punindo a conduta do próprio contrabandista que
inclusive o exercido em residências. vende, expõe à venda, mantém em depósito mercadorias
§ 3º A pena aplica-se em dobro se o crime de des- ilegais; d) adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio
caminho é praticado em transporte aéreo, marítimo ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial,
ou fluvial. mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de
documentação legal, ou acompanhada de documentos que
1) Conduta: quem iludi, mediante artifício, ardil ou qual- sabe serem falsos – assemelha-se ao crime de receptação, to-
quer meio fraudulento o pagamento dos impostos devidos davia, aplica-se em relação a mercadorias contrabandeadas.
em face da entrada ou saída de mercadoria não proibida no 10) O § 2° é a chamada cláusula de equiparação, a qual
país (crime comum).
amplia o significado de toda a terminologia “atividade co-
mercial’, podendo assim o crime ser praticado por camelôs
Obs. 1: a Lei nº 13.008/2014 alterou o Código Penal no
ou comerciantes de fundo de quintal.
que diz respeito a este artigo. Antes da reforma, o artigo 334
11) O § 3° dispõe sobre causa de aumento de pena quan-
do CP previa as condutas de contrabando e descaminho. Com
do o crime de descaminho é praticado por meio de transporte
a modificação, surgiram os arts. 334 e 334-A. O primeiro pune
aéreo, marítimo ou fluvial. Tal majorante é justificada pelo
o descaminho; o segundo, o contrabando.
fato de tais transportes tornarem mais difícil a fiscalização
Obs. 2: diferença entre contrabando e descaminho: a) e repressão do crime.
contrabando – mercadoria ilícita, ou seja, que não possui
autorização para ser comercializada no país; b) descami- Contrabando
nho – mercadoria lícita, a qual possui autorização para ser Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proi-
comercializada no país. Todavia, o seu ingresso ocorre de bida:
forma ilegal, tendo em vista o não pagamento dos tributos Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 ( cinco) anos.
referentes a tal ingresso. § 1º Incorre na mesma pena quem:
I – pratica fato assimilado, em lei especial, a con-
Obs. 3: o art. 34 da Lei nº 9.469/1995 estabelece que trabando;
“extingue-se a punibilidade dos crimes definidos na Lei II – importa ou exporta clandestinamente mercadoria
nº 8.137/1990 e na Lei nº 4.729/1965, quando o agente que dependa de registro, análise ou autorização de
promover o pagamento do tributo ou contribuição social, órgão público competente;
inclusive acessórios, antes do recebimento da denúncia”. III – reinsere no território nacional mercadoria bra-
Muito embora esta lei não mencione o crime de descaminho, sileira destinada à exportação;
tem-se entendido que esta regra a ele se aplica. IV – vende, expõe à venda, mantém em depósito
ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio
Obs. 4: o funcionário público que facilita a entrada de ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
Noções de Direito Penal

mercadorias oriundas de contrabando ou descaminho, in- industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira;
fringindo seu dever funcional, pratica o crime previsto no V – adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio
art. 318 do CP. ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira.
2) Objetividade jurídica: controle da Administração Pú- § 2º Equipara-se às atividades comerciais, para os
blica acerca da entrada e saída de mercadorias do país. efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio
3) Sujeito ativo: particular. O funcionário público que, no irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras,
exercício de suas funções, facilita a entrada de mercadorias inclusive o exercido em residências.
oriundas de contrabando ou descaminho pratica o crime de § 3º A pena aplica-se em dobro se o crime de con-
facilitação ao contrabando, art. 318 do CP. trabando é praticado em transporte aéreo, marítimo
4) Sujeito passivo: o Estado. ou fluvial.
5) Tipo subjetivo: o dolo.
6) Consumação: consuma-se com a entrada ou saída das 1) Conduta: quem importa ou exporta mercadoria proi-
mercadorias do país. bida.

81
Obs. 1: não abrange produtos de importação tempora- 11) O § 3° dispõe sobre causa de aumento de pena quan-
riamente suspensa. do o crime de contrabando é praticado por meio de transpor-
te aéreo, marítimo ou fluvial. Tal majorante é justificada pelo
Obs. 2: é norma penal em branco, a qual depende de fato de tais transportes tornarem mais difícil a fiscalização e
uma lei a qual irá regulamentar as mercadorias proibidas de repressão do crime.
entrarem ou saírem do país.
Impedimento, Perturbação ou Fraude de Concorrência
Obs. 3: há a definição de contrabando próprio, quando
exporta ou importa o produtos proibidos utilizando-se de Código Penal
repartições alfandegárias, e contrabando impróprio, quando
Art. 335. Impedir, perturbar ou fraudar concorrência
o ingresso e saída das mercadorias proibidas ocorre sem pública ou venda em hasta pública, promovida pela
passar pela zona alfandegária. administração federal, estadual ou municipal, ou
por entidade paraestatal; afastar ou procurar afastar
Obs. 4: há mercadorias proibidas que, contudo, a sua concorrente ou licitante, por meio de violência, grave
entrada ou saída do país é tutelada por outras normas, ante ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem:
a aplicação do princípio da especialidade, tais como a Lei Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
de Drogas (substância entorpecente – artigo 40, I, da Lei nº ou multa, além da pena correspondente à violência.
11.343/2006), Estatuto do Desarmamento (armas – artigo Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se
18 da Lei nº 10.826/2003). abstém de concorrer ou licitar, em razão da vantagem
oferecida.3
Obs. 5: não se aplica o princípio da insignificância em
relação ao crime de contrabando. Inutilização de Edital ou de Sinal

Obs. 6: o funcionário público que facilita a entrada de Código Penal.


mercadorias oriundas de contrabando ou descaminho, in-
fringindo seu dever funcional, pratica o crime previsto no Art. 336. Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar ou
art. 318 do CP. conspurcar edital afixado por ordem de funcionário
público; violar ou inutilizar selo ou sinal empregado,
por determinação legal ou por ordem de funcionário
2) Objetividade jurídica: controle da Administração Pú-
público, para identificar ou cerrar qualquer objeto:
blica acerca da entrada e saída de mercadorias do país. Pena – detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa.
3) Sujeito ativo: particular. O funcionário público que, no
exercício de suas funções, facilita a entrada de mercadorias 1) Conduta: o crime pode ser praticado de duas formas:
oriundas de contrabando ou descaminho pratica o crime de a) rasgar (cortar), inutilizar (tornar ilegível) ou conspurcar
facilitação ao contrabando, art. 318 do CP. (sujar) edital afixado por ordem de funcionário público;
4) Sujeito passivo: o Estado. b) violar (transpor) ou inutilizar (tornar ilegível) selo
5) Tipo subjetivo: o dolo. ou sinal empregado por determinação legal ou por ordem
6) Consumação: consuma-se com a entrada ou saída das de funcionário público para identificar ou cerrar qualquer
mercadorias proibidas do país. objeto.
7) Tentativa: é possível no caso de exportação, quando
a mercadoria não chega a sair do país. Já no caso de impor- Obs. 1: na hipótese da alínea a o edital afixado por
tação, não há a hipótese da tentativa. ordem do funcionário público pode ser administrativo (de
8) O crime é de ação penal pública incondicionada e será casamento), judicial (de penhora) ou legislativo.
processado perante a Justiça Federal.
9) O § 1º prevê várias figuras equiparadas: a) pratica fato Obs. 2: o selo ou sinal previstos na alínea b visam nor-
assimilado, em lei especial, a contrabando – mesmo exemplo malmente das garantia oficial à identificação ou ao conteúdo
dado acima em relação à Zona Franca de Manaus; b) importa de certos pacotes, envelope etc.
ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa de
2) Objetividade jurídica: interesse patrimonial da Admi-
registro, análise ou autorização de órgão público competen- nistração Pública.
te. Ex.: fertilizantes que devem ser registrados no Ministério 3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
da Agricultura; c) reinsere no território nacional mercadoria 4) Sujeito passivo: o Estado.
brasileira destinada à exportação – produto nacional no qual 5) Tipo subjetivo: o dolo. Não há elemento subjetivo.
a venda é proibida em nosso território, porque é destinado 6) Consumação: com o ato de rasgar, inutilizar, conspur-
Noções de Direito Penal

exclusivamente à exportação, há uma reintrodução em nosso car edital ou violar selo ou qualquer outro sinal, independen-
país; d) vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de temente da produção de qualquer outro resultado.
qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no 7) Tentativa: é possível.
exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria
proibida pela lei brasileira – assemelha-se com o artigo 334, Subtração ou Inutilização de Livro ou Documento
§ 1°, III, do CP, diferenciando-se por ser mercadoria proibida;
e) adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, Código Penal
no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria
proibida pela lei brasileira – assemelha-se com o artigo 334, Art. 337. Subtrair, ou inutilizar, total ou parcialmen-
§ 1°, IV, do CP, diferenciando-se por ser mercadoria proibida. te, livro oficial, processo ou documento confiado à
10) O § 2° é a chamada cláusula de equiparação, a qual custódia de funcionário, em razão de ofício, ou de
amplia o significado de toda a terminologia “atividade co- particular em serviço público:
mercial’, podendo assim o crime ser praticado por camelôs Este dispositivo foi revogado pelos arts. 93 e 95 da Lei nº 8.666/1993, Lei de
3

ou comerciantes de fundo de quintal. licitações.

82
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, se o fato mil, quinhentos e dez reais), o juiz poderá reduzir a pena
não constitui crime mais grave. de um terço até a metade ou aplicar apenas a de multa.
§ 4º O valor a que se refere o parágrafo anterior será
1) Conduta: pode ser praticada de duas formas: reajustado nas mesmas datas e nos mesmos índices
a) subtrair (retirar) livro oficial, processo ou documento do reajuste dos benefícios da previdência social.
confiado à custódia de funcionário público, em razão de
ofício, ou de particular em serviço público; 1) Conduta: elas são omissivas e pode ser praticada de
b) inutilizar (tornar imprestável) total ou parcialmente, duas formas:
livro oficial, processo ou documento confiado à custódia de a) suprimir (deixar de declarar) contribuição social pre-
funcionário público, em razão de ofício, ou de particular em videnciária e qualquer acessório;
serviço público. b) reduzir (declarar valor menor que o devido) contribui-
ção social previdenciária e qualquer acessório.
Obs. 1: se a conduta for praticada por funcionário público
em razão do cargo será o crime previsto no art. 314 do CP, Obs. 1: as formas em que a supressão e a redução da con-
se for advogado que tenha recebido os autos ou documento tribuição social previdenciária são praticadas estão descritas
nesta qualidade o crime será do art. 356 do CP. nos incisos I, II e III do art. 337-A, tratando-se, portanto, de
crime de ação vinculada:
Obs. 2: livro oficial é aquele utilizado para escriturações I  – omitir de folha de pagamento da empresa ou de
e registros. Processo abarca tanto o judicial quanto o admi- documento de informações previsto pela legislação previ-
nistrativo. O documento pode ser público ou privado. denciária segurados empregado, empresário, trabalhador
avulso ou trabalhador autônomo ou a este equiparado que
2) Objetividade jurídica: documentos e processos cus- lhe prestem serviços;
todiados à Administração Pública. II – deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. da contabilidade da empresa as quantias descontadas dos
4) Sujeito passivo: o Estado. segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador
5) Tipo subjetivo: o dolo. Não há elemento subjetivo. de serviços;
6) Consumação: com a subtração ou inutilização. III – omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros au-
7) Tentativa: é possível. feridos, remunerações pagas ou creditadas e demais fatos
8) Em seu preceito secundário o presente crime prevê geradores de contribuições sociais previdenciárias:
expressamente a aplicação do princípio da subsidiariedade,
ou seja, somente haverá este crime se a conduta não se Obs. 2: o delito traz como objeto material do crime ape-
enquadrar em delito mais grave. nas as contribuições sociais previdenciárias e seus acessórios.

Sonegação de Contribuição Previdenciária 2) Objetividade jurídica: a seguridade social.


3) Sujeito ativo: somente o responsável pelo lançamento
Código Penal das informações nos documentos endereçados à autarquia,
englobando, assim, os sócios e diretores que tenham sido coni-
Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social ventes com a conduta criminosa, gerentes ou administradores.
previdenciária e qualquer acessório, mediante as 4) Sujeito passivo: o Estado.
seguintes condutas: 5) Tipo subjetivo: o dolo.
I – omitir de folha de pagamento da empresa ou de 6) Consumação: no momento em que o agente reduz ou
suprime a contribuição social.
documento de informações previsto pela legislação
7) Tentativa: é impossível por se tratar de crime omissivo
previdenciária segurados empregado, empresário,
próprio.
trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a
8) Extinção da punibilidade:
este equiparado que lhe prestem serviços;
1. se o agente, espontaneamente, declara e confessa as
II – deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios contribuições, importâncias ou valores e presta as informa-
da contabilidade da empresa as quantias descontadas ções devidas à previdência social, na forma definida em lei
dos segurados ou as devidas pelo empregador ou ou regulamento, antes do início da ação fiscal;
pelo tomador de serviços; 2. se a pessoa jurídica relacionada com o agente efetu-
III  – omitir, total ou parcialmente, receitas ou lu- ar o pagamento integral dos débitos, inclusive acessórios
cros auferidos, remunerações pagas ou creditadas (art. 9º, § 2º da Lei nº 10.864/2003), em qualquer momento
e demais fatos geradores de contribuições sociais da persecução penal.
previdenciárias:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. Obs. 3: a ação fiscal se inicia com a notificação pessoal
§  1º É extinta a punibilidade se o agente, espon- do contribuinte a respeito de sua instauração.
Noções de Direito Penal

taneamente, declara e confessa as contribuições,


importâncias ou valores e presta as informações Obs. 4: o art. 9º, § 1º da Lei nº 10.864/2003 estabelece
devidas à previdência social, na forma definida em que a suspensão da pretensão punitiva estatal, se a empresa
lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal. obtiver o parcelamento dos valores devidos. Com a quitação
§ 2º É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou do parcelamento, extinta estará a punibilidade.
aplicar somente a de multa se o agente for primário
e de bons antecedentes, desde que: 9) Perdão judicial ou aplicação somente de multa: é
I – (Vetado) facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente
II – o valor das contribuições devidas, inclusive a de multa se o agente for:
acessórios, seja igual ou inferior àquele estabele-
cido pela previdência social, administrativamente,
como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas primário + bons antecedentes + valor das contribuições de-
execuções fiscais. vidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele esta-
§ 3º Se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha belecido pela previdência social, administrativamente, como
de pagamento mensal não ultrapassa R$ 1.510,00 (um sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais.

83
10) Causa de diminuição de pena: se o empregador não 3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
é pessoa jurídica e sua folha de pagamento mensal não ul- 4) Sujeito passivo: pessoa física ou jurídica prejudicada
trapassa R$ 1.510,00 (um mil, quinhentos e dez reais), o juiz e o Estado, incluindo o estrangeiro.
poderá reduzir a pena de um terço até a metade ou aplicar 5) Tipo subjetivo: o dolo.
apenas a de multa. O valor a que se refere o parágrafo ante- 6) Consumação: no momento em que o agente promete,
rior será reajustado nas mesmas datas e nos mesmos índices oferece ou dá a vantagem indevida, independentemente da
do reajuste dos benefícios da previdência social. ocorrência do efetivo prejuízo material do Estado.
7) Tentativa: é possível.
Dos Crimes Praticados por Particulares Contra a 8) Causa de aumento de pena: a pena é aumentada
Administração Pública Estrangeira de 1/3 (um terço), se, em razão da vantagem ou promessa,
o funcionário público estrangeiro retarda ou omite o ato de
Corrupção Ativa em Transação Comercial Internacional ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.

Código Penal Tráfico de Influência

Art. 337-B. Prometer, oferecer ou dar, direta ou indi- Código Penal


retamente, vantagem indevida a funcionário público
estrangeiro, ou a terceira pessoa, para determiná-lo a Art. 337-C. Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si
praticar, omitir ou retardar ato de ofício relacionado ou para outrem, direta ou indiretamente, vantagem
à transação comercial internacional: ou promessa de vantagem a pretexto de influir em
Pena – reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa. ato praticado por funcionário público estrangeiro no
Parágrafo único. A pena é aumentada de 1/3 (um exercício de suas funções, relacionado a transação
terço), se, em razão da vantagem ou promessa, comercial internacional:
o funcionário público estrangeiro retarda ou omite o Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional. Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, se
o agente alega ou insinua que a vantagem é também
1) Conduta: o crime pode ser praticado: destinada a funcionário estrangeiro.
a) Prometer – Obrigar-se a dar algo a alguém, direta
ou indiretamente, vantagem indevida a funcionário público 1) Conduta: o crime pode ser praticado das seguintes
estrangeiro, ou a terceira pessoa, para determiná-lo a prati- formas:
car, omitir ou retardar ato de ofício relacionado à transação a) solicitar para si ou para outrem, vantagem ou pro-
comercial internacional. messa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado
b) Oferecer – Apresentar algo para ser aceito, direta por funcionário público estrangeiro no exercício da função,
ou indiretamente, vantagem indevida a funcionário público relacionado a transação comercial internacional;
estrangeiro, ou a terceira pessoa, para determiná-lo a prati- b) exigir para si ou para outrem, vantagem ou promessa
car, omitir ou retardar ato de ofício relacionado à transação de vantagem, a  pretexto de influir em ato praticado por
comercial internacional. funcionário público estrangeiro no exercício da função, re-
c) Dar – Entregar, ceder, direta ou indiretamente, vanta- lacionado a transação comercial internacional;
gem indevida a funcionário público estrangeiro, ou a terceira c) cobrar para si ou para outrem, vantagem ou pro-
pessoa, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato messa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado
de ofício relacionado à transação comercial internacional. por funcionário público estrangeiro no exercício da função,
relacionado a transação comercial internacional;
Obs. 1: a conduta típica, o momento consumativo e o
d) obter para si ou para outrem, vantagem ou promessa
sujeito ativo seguem as mesmas regras da do crime de cor-
rupção ativa comum, previsto no art. 333 do CP. A diferença de vantagem, a  pretexto de influir em ato praticado por
reside no fato de que no presente crime a conduta visa a funcionário público estrangeiro no exercício da função, re-
funcionário estrangeiro e que o agente tenha o intuito de lacionado a transação comercial internacional.
obter uma vantagem indevida relacionada com alguma
transação comercial internacional. Obs. 1: este artigo é praticamente idêntico ao crime
previsto no art. 332 do CP, havendo alteração apenas em
Obs. 2: transação comercial internacional é qualquer relação ao funcionário público que no caso é estrangeiro,
ajuste ou acordo relativo ao comércio concernente a duas bem como o crime deve estar relacionado a transação co-
ou mais nações, envolvendo pessoas físicas ou jurídicas. mercial internacional.

Obs. 3: a lei brasileira só se refere à corrupção ativa, ten- Obs. 2: transação comercial internacional é qualquer
Noções de Direito Penal

do em vista que a punição do funcionário público estrangeiro ajuste ou acordo relativo ao comércio concernente a duas
ocorrerá em seu país de origem. ou mais nações, envolvendo pessoas físicas ou jurídicas.

Obs. 4: considera-se funcionário público estrangeiro, para Obs. 3: considera-se funcionário público estrangeiro, para
os efeitos penais, quem, ainda que transitoriamente ou sem os efeitos penais, quem, ainda que transitoriamente ou sem
remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública em remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública em
entidades estatais ou em representações diplomáticas de entidades estatais ou em representações diplomáticas de
país estrangeiro. Equipara-se a funcionário público estran- país estrangeiro. Equipara-se a funcionário público estran-
geiro quem exerce cargo, emprego ou função em empresas geiro quem exerce cargo, emprego ou função em empresas
controladas, diretamente ou indiretamente, pelo Poder controladas, diretamente ou indiretamente, pelo Poder
Público de país estrangeiro ou em organizações públicas Público de país estrangeiro ou em organizações públicas
internacionais – art. 337-D do CP. internacionais – art. 337-D do CP.

2) Objetividade jurídica: a Administração Pública es- 2) Objetividade jurídica: a administração pública es-
trangeira. trangeira.

84
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa inclusive outro fun- § 2º A pena é diminuída de metade, se a imputação
cionário público. é de prática de contravenção.
4) Sujeito passivo: pessoa física ou jurídica prejudicada
e o Estado, incluindo o estrangeiro. 1) Conduta: dar início investigação policial, de processo
5) Tipo subjetivo: o dolo. judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito
6) Consumação: no momento em que o agente solicita, civil ou ação de improbidade administrativa. Pode ser direta
exige, cobra ou obtém a vantagem indevida, independente- ou indiretamente (telefonema anônimo).
mente da ocorrência do efetivo prejuízo material do Estado.
7) Tentativa: é possível. Obs. 1: o denunciante deve ter plena consciência que
8) Causa de aumento de pena: a pena é aumentada a denúncia que faz é falsa. Só admite o dolo direto. Assim,
da metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é • denuncia crime que até ocorreu, mas o agente sabe
também destinada a funcionário estrangeiro. que o denunciado não o praticou;
• denuncia crime que sabe que não ocorreu e imputa
Dos Crimes Contra a Administração da Justiça ao denunciado.

Reingresso de Estrangeiro Obs. 2: ocorrerá o delito descrito se alguém narrar um


crime ou uma contravenção. Todavia, se a narrativa estiver
Código Penal relacionada com uma falta funcional será atípica a conduta.

Art. 338. Reingressar no território nacional o estran- Obs. 3: não haverá o delito previsto no art. 339 do CP
geiro que dele foi expulso: se crime narrado à autoridade estiver prescrito ou houver
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, sem pre- exclusão de ilicitude.
juízo de nova expulsão após o cumprimento da pena.
2) Objetividade jurídica: a administração da justiça.
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa, até advogado que saiba
1) Conduta: estrangeiro que reingressa no território
que a imputação que seu cliente faz é falsa.
nacional depois que dele foi expulso.
4) Sujeito passivo: Estado e a vítima de imputação falsa.
5) Tipo subjetivo: o dolo.
Obs. 1: reingressar significa voltar, ingressar novamente.
6) Consumação: com o início da investigação policial ou
administrativa, antes mesmo de se instaurar o Inquérito Poli-
Obs. 2: estrangeiro é a pessoa que possui vínculo jurídico-
cial ou o processo. Se o agente volta atrás e conte a verdade
-político com outro Estado que não o Brasil. Por exclusão,
antes do início da investigação será arrependimento eficaz, se a
o estrangeiro é aquele que não é considerado brasileiro
investigação já se iniciou será atenuante genérica da confissão.
segundo o art.12 da CF.
7) Tentativa: é possível.
8) A pena será aumentada se o agente se utilizar do
Obs. 3: não confundir:
anonimato ou nome falso para praticar o crime.
a) Expulsão – É a exclusão, por castigo do estrangeiro
que apresenta indícios sérios de periculosodade ou indese-
Atenção! Não confundir o crime de denunciação calu-
jabilidade no país;
niosa com calúnia. Nesta o agente quer atingir a honra da
b) Deportação – É a saída compulsória do estrangeiro
vítima e a imputação falsa é de crime, naquela o agente quer
enviando-o para o país da sua nacionalidade ou de sua pro-
prejudicar a vítima perante a justiça e a imputação falsa é de
cedência no estrangeiro;
crime ou contravenção.
c) Extradição – É um instrumento de cooperação entre
as nações para fazer com que uma pessoa acusada ou con-
denada pela prática de um crime possa ser enviada para o Denunciação Caluniosa Calúnia
país que a processou. O agente imputa falsamente O agente quer atingir a honra
a autoria de um crime contra da vítima imputando-lhe
Atenção! O tipo penal prevê em sua conduta apenas a alguém perante a autori- falsamente a prática de um
hipótese de EXPULSÃO. dade, dando início a uma crime. Tal crime pode ser
investigação. O crime atinge praticado perante qualquer
2) Objetividade jurídica: a administração da justiça. a administração da justiça. pessoa.
3) Sujeito ativo: o estrangeiro.
4) Sujeito passivo: Estado. Comunicação Falsa de Crime
5) Tipo subjetivo: o dolo.
6) Consumação: no momento em que o estrangeiro Código Penal
Noções de Direito Penal

reingressa no país após ter sido dele expulso.


7) Tentativa: é possível. Art. 340. Provocar a ação de autoridade, comunican-
do-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que
Denunciação Caluniosa sabe não se ter verificado:
Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.
Código Penal
1) Conduta: provocar ação de autoridade, ou seja, oca-
Art. 339. Dar causa à instauração de investigação poli- sionar a investigação por parte dela, a partir da comunicação
cial, de processo judicial, instauração de investigação de crime ou de contravenção que sabe que não ocorreu.
administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade
administrativa contra alguém, imputando-lhe crime Obs. 1: não confundir com o crime de denunciação
de que o sabe inocente: caluniosa, pois nesta o agente aponta a pessoa certa e de-
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa. terminada como autora da infração e na comunicação falsa
§ 1º A pena é aumentada de sexta parte, se o agente o agente se limita a comunicar falsamente a ocorrência de
se serve de anonimato ou de nome suposto. crime ou contravenção não apontando qualquer pessoa.

85
Obs. 2: o agente sabe que sua comunicação é falsa, § 2º O fato deixa de ser punível se, antes da sentença
somente sendo cabível o dolo direto. no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se
retrata ou declara a verdade.
Denunciação Caluniosa Comunicação Falsa de crime
Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade, como
O agente aponta a pessoa O agente se limita a comunicar testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em
certa e a determina como falsamente a ocorrência de processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou
autora da infração. crime ou contravenção não em juízo arbitral.
apontando qualquer pessoa
como sendo autora de crime. 1) Conduta: pode ser praticada das seguintes formas:
a) fazer afirmação falsa (conduta comissiva) como
2) Objetividade jurídica: a administração da justiça. testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou
4) Sujeito passivo: Estado. em juízo arbitral;
5) Tipo subjetivo: o dolo. b) negar a verdade (conduta comissiva) como testemu-
6) Consumação: com o início da investigação policial nha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo
ou administrativa, antes mesmo de se instaurar o Inquérito judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo
Policial ou o processo. arbitral;
7) Tentativa: é possível. c) calar a verdade (conduta omissiva) como testemunha,
perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial,
Autoacusação Falsa ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral.

Código Penal Obs. 1: a falsidade deve ser em relação a fato juridica-


mente relevante que possa influir no resultado.
Art. 341. Acusar-se, perante a autoridade, de crime
inexistente ou praticado por outrem: Obs. 2: algumas considerações:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, a) só há crime quando o agente sabe da divergência entre
ou multa. seu depoimento e o fato que realmente ocorreu;
b) se a testemunha mente em relação a seus dados pes­
1) Conduta: pode ser praticada de duas formas: soais não há crime de falso testemunho e sim falsa identidade
a) acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente; previsto no art. 307 do CP;
b) acusar-se, perante a autoridade, de crime praticado c) também não há crime se o agente mente para evitar que
por outrem. se descubra fato que posa levar a sua própria incriminação.

Obs. 1: na denunciação caluniosa o agente acusa terceiro 2) Objetividade jurídica: a administração da justiça.
que sabe ser inocente. Aqui o agente se autoacusa de crime 3) Sujeito ativo: só pode ser praticado por testemunha,
que não ocorreu ou, se ocorreu, foi praticado por terceiro. perito, contador, tradutor ou intérprete.

Obs. 2: não existe o crime se o agente comete o crime Obs. 3: as partes e a vítima não são testemunhas, não
mediante tortura. podendo, portanto, praticar este crime se mentirem.

Obs. 3: é somente em relação a crime. Se o agente se Obs. 4: antes da colheita do depoimento, as testemu-
autoacusar como autor de contravenção inexistente ou nhas são advertidas no compromisso de dizer a verdade sob
praticada por outrem a conduta será atípica. pena de serem punidas pelo crime de falso testemunho, é o
chamado compromisso do art. 203 do CPP. Todavia, certas
2) Objetividade jurídica: a administração da justiça. pessoas não prestam o compromisso, são as chamadas
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. testemunhas informantes do juízo, segundo os arts. 206 e
4) Sujeito passivo: Estado. 209 do CPP, quais sejam, os doentes, deficientes mentais,
5) Tipo subjetivo: o dolo. menor de 14 anos, ascendente, descendente, cônjuge ainda
6) Consumação: no momento que a auto-acusação é que divorciado, irmão.
conhecida pela autoridade. A doutrina se divide em relação ao fato dessas pessoas
7) Tentativa: na forma escrita. praticarem tal delito ou não. Predomina que praticam, pois
o compromisso de dizer a verdade não é elementar do crime
de falso testemunho e o delito ocorre da desobediência do
Falso Testemunho ou Falsa Perícia
dever de dizer a verdade.
Noções de Direito Penal

O art. 207 do CPP fala nas pessoas proibidas de serem


Código Penal,
testemunhas: ministério ofício e profissão devem guardar
segredo, salvo se desobrigadas pela parte interessada. Assim
Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a quando desobrigadas podem depor e se mentirem praticam
verdade como testemunha, perito, contador, tradutor o crime de falso testemunho.
ou intérprete em processo judicial, ou administrativo,
inquérito policial, ou em juízo arbitral: Obs. 5: o crime de falso testemunho é crime de mão-pró-
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. pria. Assim se duas pessoas praticarem o crime respondem
(Redação dada pela Lei nº 12.850, de 2013) autonomamente, não havendo que se falar em coautoria.
§ 1º As penas aumentam-se de um sexto a um terço, Todavia, é possível a ocorrência de participação – indu-
se o crime é praticado mediante suborno ou se come- zindo ou instigando alguém a mentir em juízo. Aqui pode
tido com o fim de obter prova destinada a produzir ser até o advogado.
efeito em processo penal, ou em processo civil em
que for parte entidade da administração pública 4) Sujeito passivo: Estado e a pessoa prejudicada com o
direta ou indireta. falso testemunho ou falsa perícia.

86
5) Tipo subjetivo: o dolo. tiver como parte entidade da Administração Pública direta
6) Consumação: no crime de falso testemunho: quando ou indireta.
se encerra o depoimento; no crime de falsa perícia: quando
entrega o laudo. Exercício Arbitrário das Próprias Razões
7) Tentativa: é possível, por exemplo, audiência inter-
rompida. Código Penal
8) Causa de aumento de pena: se ocorrer suborno, se
for prova em processo penal ou prova em processo civil que Art.  345. Fazer justiça pelas próprias mãos, para
tiver como parte entidade da Administração Pública direta satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando
ou indireta. a lei o permite:
9) Retratação: se antes da sentença em que ocorreu Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês,
o ilícito o agente se retratar e contar a verdade ocorrerá a ou multa, além da pena correspondente à violência.
extinção da punibilidade. Parágrafo único. Se não há emprego de violência,
somente se procede mediante queixa.
Obs. 6: o processo do crime de falso testemunho pode
ser iniciado mas não pode ser julgado antes da sentença do 1) Conduta: fazer justiça pelas próprias mãos, para satis-
outro processo em que o falso foi praticado. fazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei permite.

Corrupção Ativa de Testemunha ou Perito Obs. 1: para a ocorrência do crime, o direito do agen-
te deve poder ser solucionado pelo Poder Judiciário, por
Código Penal exemplo, em uma cobrança de dívida, ao invés do autor
ingressar com uma ação judicial para obter o valor devido,
Art. 343. Dar, oferecer, ou prometer dinheiro ou qual- vai até a casa de seu devedor e toma a televisão dele como
quer outra vantagem a testemunha, perito, contador, quitação da dívida.
tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa,
negar ou calar a verdade em depoimento, perícia, Obs. 2: em se tratando de uma pretensão que não possa
cálculos, tradução ou interpretação: ser solucionada pelo Poder Judiciário, por exemplo, a co-
Pena – reclusão, de 3 (três) a 4 (quatro) anos, e multa. brança de uma dívida prescrita ou de uma dívida de jogo ou
Parágrafo único. As penas aumentam-se de um sexto ainda de drogas, não há que se falar na ocorrência do delito
a um terço, se o crime é cometido com o fim de obter em tela, se a questão for solucionada pelas próprias mãos.
prova destinada a produzir efeito em processo penal
ou em processo civil em que for parte entidade da Obs. 3: se da justiça realizada com as próprias mãos advir
Administração Pública direta ou indireta. lesão corporal as penas de ambos os crimes serão somadas.
Todavia, se advir vias de fato, ficam estas absorvidas.
1) Conduta: pode ser praticado da seguinte forma:
a) dar (presentear ou conceder) dinheiro ou qualquer 2) Objetividade jurídica: a administração da justiça.
outra vantagem a testemunha, perito, contador, tradutor 3) Sujeito ativo: o particular. Se for funcionário público
ou intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou calar será crime de abuso de autoridade.
4) Sujeito passivo: Estado e a vítima eventualmente
a verdade em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou
prejudicada.
interpretação;
5) Tipo subjetivo: o dolo.
b) oferecer (propor ou apresentar) dinheiro ou qualquer
6) Consumação: no momento que o agente emprega o
outra vantagem a testemunha, perito, contador, tradutor ou
meio executório.
intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade
7) Tentativa: é possível.
em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou interpretação;
c) prometer (comprometer-se a fazer alguma coisa) di- Atenção! Se “A” adentra na casa de “B” e leva a televisão
nheiro ou qualquer outra vantagem a testemunha, perito, deste qual crime praticou? Furto ou exercício arbitrário das
contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, próprias razões? Deve-se analisar o dolo do agente:
negar ou calar a verdade em depoimento, perícia, cálculos,
tradução ou interpretação.
Exercício arbitrário Furto
Obs.: o corruptor (aquele que dá, oferece ou promete) das próprias razões
responde pelo crime do art. 343 do Código Penal. A teste- Com o intuito de quitar a Dolo de subtrair a TV para si
munha, perito, contador, tradutor e intérprete corrompidos dívida, dolo de fazer justiça ou para outrem.
respondem pelo crime previsto no art. 342, § 1º do CP. Aqui com as próprias mãos.
Noções de Direito Penal

é outra exceção dualista a teoria monista, em que todos que


concorrem para a ocorrência do crime não responderão pelo Subtipo do Crime de Exercício Arbitrário das Próprias
mesmo crime. Razões

2) Objetividade jurídica: a administração da justiça. Código penal


3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
4) Sujeito passivo: Estado e a vítima eventualmente Art. 346. Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa
prejudicada. própria, que se acha em poder de terceiro por de-
5) Tipo subjetivo: o dolo. terminação judicial ou convenção:
6) Consumação: no momento em que o agente dá, Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
oferece ou promete a vantagem indevida. È crime formal, e multa.
independentemente da aceitação.
7) Tentativa: é possível. 1) Conduta: tirar, suprimir ou danificar coisa própria que
8) Causa de aumento: se for prova produzida pela tes- se acha em poder de terceiro por determinação judicial ou
temunha em processo penal ou prova em processo civil que convenção.

87
Obs. 1: Assemelha-se ao crime de exercício arbitrário Obs. 1: o crime é praticado por todo aquele que auxilia
das próprias razões, mas no crime em tela o agente pratica a o autor de crime punido com reclusão e esquivar-se da au-
conduta em relação a bem que se acha em poder de terceiro toridade pública. Ex.: ajudar na fuga emprestando carro ou
por determinação judicial, como, por exemplo, objeto em dinheiro ou qualquer outra forma, deste que o criminoso es-
que ocorreu a busca e apreensão. teja solto, esconder o criminoso, enganar a autoridade dando
informação equivocada acerca do paradeiro do criminoso.
2) Objetividade jurídica: a administração da justiça.
3) Sujeito ativo: o dono do objeto que está em poder de Obs. 2: tal crime só pode ser praticado de forma comis-
terceiro em razão de uma ordem judicial. siva. Na forma omissiva o fato será atípico, por exemplo,
4) Sujeito passivo: Estado. indagada pela autoridade afirma que nada sabe.
5) Tipo subjetivo: o dolo.
Consumação: no momento que o agente tira, suprime Obs. 3: trata-se de crime acessório que depende da
ou danifica a sua coisa própria. ocorrência de crime anterior. Se este estiver alguma exclu-
6) Tentativa: é possível. são de ilicitude, culpabilidade ou extinta a punibilidade não
haverá crime de favorecimento pessoal. Se o agente vier a
Fraude Processual ser absolvido, salvo absolvição imprópria, o agente do crime
de favorecimento pessoal não poderá ser punido.
Código Penal
2) Objetividade jurídica: a administração da justiça.
Art. 347. Inovar artificiosamente, na pendência de 3) Sujeito ativo: qualquer pessoa, menos coautor ou
processo civil ou administrativo, o estado de lugar, partícipe do crime anterior.
de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o 4) Sujeito passivo: Estado.
juiz ou o perito: 5) Tipo subjetivo: o dolo.
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, 6) Consumação: quando o beneficiado consegue subtrair-
e multa. -se, ainda que por poucos instantes da ação da autoridade.
Parágrafo único. Se a inovação se destina a produzir 7) Tentativa: é possível, quando o auxílio é prestada mas
efeito em processo penal, ainda que não iniciado, o agente não se livra da ação da autoridade, haverá mera
as penas aplicam-se em dobro. tentativa.
1) Conduta: inovar empregando um artifício qualquer Obs. 4: mesmo que o autor do crime antecedente não
de modo que altere o estado de lugar, coisa ou pessoa com
seja identificado, haverá crime de favorecimento pessoal.
o fim de induzir a erro o juiz ou perito, durante o trâmite
de ação civil ou processo administrativo. Ex.: Simular maior
8) Escusa absolutória: se quem presta auxílio é ascen-
deficiência auditiva em ação indenizatória que visa reparar
dente, descendente, cônjuge ou irmão, ficam isento de pena.
dano causado por exposição à ruídos, durante anos.

Obs.: se o fato visa produzir efeito em ação penal, aplica- Favorecimento Real
-se a pena em dobro. Ex.: colocar a arma na mão da vítima
de homicídio para simular um suicídio. Código Penal

2) Objetividade jurídica: a administração da justiça. Art. 349. Prestar a criminoso, fora dos casos de co-
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa, que tenha ou não -autoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar
interesse na causa. seguro o proveito do crime:
4) Sujeito passivo: Estado e eventual terceiro prejudicado Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, e multa.
com as alterações.
5) Tipo subjetivo: o dolo. 1) Conduta: prestar a criminoso, fora dos casos coautoria
6) Consumação: no momento da alteração, desde que ou receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito
esta seja idônea a ludibriar o juiz ou perito. do crime.
7) Tentativa: é possível.
8) A fraude processual é crime subsidiário que fica ab- Obs. 1: será crime qualquer tipo de auxílio que torne
sorvido quando o fato constitui crime mais grave, como por seguro o proveito do crime, o mais comum é esconder o
exemplo, supressão de documento, falsidade documental. produto do crime para que o autor do delito venha buscar
posteriormente.
Favorecimento Pessoal
Obs. 2: proveito do crime é o objeto material do crime ou
Noções de Direito Penal

Código Penal até o preço do crime, não abrangendo os instrumentos do crime.

Art. 348. Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade Obs. 3: é necessária a existência de crime anterior que não
pública autor de crime a que é cominada pena de precisa ser crime contra o patrimônio. Se ação anterior for
reclusão: contravenção penal não há que se falar em favorecimento real.
Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, e multa.
§ 1º Se ao crime não é cominada pena de reclusão: Obs. 4: é possível favorecimento real consumado e ao
Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, crime anterior tentado, por exemplo, “A” recebe dinheiro
e multa. para matar “B”. “A” atira em “B’ e este não morre, ocorren-
§ 2º Se quem presta o auxílio é ascendente, descen- do o crime de tentativa de homicídio. Todavia, “C” já está
dente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento escondendo o dinheiro recebido.
de pena.
Obs. 5: se o crime anterior foi praticado sob alguma
1) Conduta: auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade excludente de culpabilidade ou extinção da punibilidade,
pública autor de crime a que é cominada de reclusão. dependendo da corrente adotada (bipartida – em que há

88
crime e não há aplicação de pena ou tripartida – onde não Pena – detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano.
há crime) haverá produto de crime ou não, havendo ou não Parágrafo único. Na mesma pena incorre o funcio-
a possibilidade da existência do crime de favorecimento real. nário que:
I – ilegalmente recebe e recolhe alguém a prisão, ou
Obs. 6: a lei não prevê nenhuma escusa absolutória. a estabelecimento destinado a execução de pena
privativa de liberdade ou de medida de segurança;
2) Objetividade jurídica: a administração da justiça. II – prolonga a execução de pena ou de medida de
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa, menos coautor ou segurança, deixando de expedir em tempo oportuno
partícipe do crime anterior. ou de executar imediatamente a ordem de liberdade;
4) Sujeito passivo: Estado. III – submete pessoa que está sob sua guarda ou
5) Tipo subjetivo: o dolo custódia a vexame ou a constrangimento não auto-
6) Consumação: no instante em que o agente presta o rizado em lei;
auxílio independentemente de saber se vai conseguiu tornar IV – efetua, com abuso de poder, qualquer diligência.4
seguro o proveito do crime.
7) Tentativa: é possível, quando o auxílio é prestado,
Fuga de Pessoa Presa ou Submetida a Medida de
mas o agente não se livra da ação da autoridade, haverá
Segurança
mera tentativa.
9) Não há a aplicação da escusa absolutória, desta forma,
se quem presta auxílio é ascendente, descendente, cônjuge Código Penal
ou irmão, não ficarão isento de pena.
Art. 351. Promover ou facilitar a fuga de pessoa le-
Obs. 7: no favorecimento pessoal visa tornar seguro o au- galmente presa ou submetida a medida de segurança
tor do crime. No favorecimento pessoal, o produto do crime. detentiva:
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
Art. 349-A. Ingressar, promover, intermediar, auxiliar § 1º Se o crime é praticado a mão armada, ou por
ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de comu- mais de uma pessoa, ou mediante arrombamento,
nicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização a pena é de reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
legal, em estabelecimento prisional. § 2º Se há emprego de violência contra pessoa,
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. aplica-se também a pena correspondente à violência.
§ 3º A pena é de reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos,
1) Conduta: a conduta pode ser praticada das seguintes se o crime é praticado por pessoa sob cuja custódia
formas: ou guarda está o preso ou o internado.
a) ingressar (adentrar) com aparelho telefônico de co- § 4º No caso de culpa do funcionário incumbido da
municação móvel, de rádio ou simular em estabelecimento custódia ou guarda, aplica-se a pena de detenção, de
prisional, sem autorização legal; 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.
b) promover (por em execução) a entrada de aparelho
telefônico de comunicação móvel, de rádio ou simular em 1) Conduta: o crime pode ser pratica das seguintes
estabelecimento prisional, sem autorização legal; formas:
c) intermediar (situar-se entre) a entrada de aparelho a) Promover: o agente dá causa à fuga, sendo desneces-
telefônico de comunicação móvel, de rádio ou simular em sária a ciência por parte do preso;
estabelecimento prisional, sem autorização legal; b) Facilitar: exige a colaboração de alguém para auxiliar
d) auxiliar (ajudar) a entrada de aparelho telefônico de na fuga de pessoa presa.
comunicação móvel, de rádio ou simular em estabelecimento
prisional, sem autorização legal;
Obs. 1: se a prisão for ilegal não há crime na conduta de
e) facilitar (tornar exequível) a entrada de aparelho
telefônico de comunicação móvel, de rádio ou simular em promover ou facilitar a fuga de pessoa presa.
estabelecimento prisional, sem autorização legal.
Obs. 2: preso: engloba qualquer tipo de prisão: flagrante,
Obs.: a conduta se aplica em relação a aparelho telefô- preventiva, temporária, sentença condenatória e medida
nico de comunicação móvel, de rádio ou simular. de segurança apenas detentiva (internação em hospital de
custódia).
2) Objetividade jurídica: a administração da justiça.
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa, inclusive os funcioná- Atenção! O preso que foge não comete crime. Todavia,
rios do estabelecimento prisional. se usar de violência no momento da fuga responde pelo
4) Sujeito passivo: Estado. crime do art. 352 do CP. Assim, o crime em tela é somente
Noções de Direito Penal

5) Tipo subjetivo: o dolo. praticado por que promove ou facilita a fuga.


6) Consumação: no instante em que o agente presta
auxílio independentemente de saber se vai conseguiu tornar 2) Objetividade jurídica: a administração da justiça.
seguro o proveito do crime. 3) Sujeito ativo: qualquer pessoa, inclusive os funcioná-
7) Tentativa: é possível, quando o auxílio é prestado, rios do estabelecimento prisional.
mas o agente não se livra da ação da autoridade, haverá 4) Sujeito passivo: Estado.
mera tentativa. 5) Tipo subjetivo: o dolo.
6) Consumação: com a fuga.
Exercício Arbitrário ou Abuso de Poder 7) Tentativa: é possível.
8) Forma qualificada: com o emprego de arma, mediante
Código Penal concurso de duas ou mais pessoas (não conta o preso), arrom-
bamento, e por quem tem a guarda ou custodiado detento.
Art. 350. Ordenar ou executar medida privativa de
liberdade individual, sem as formalidades legais ou Este dispositivo foi revogado pelo art. 4º da Lei nº 4.898/1965 (Lei de Abuso
4

com abuso de poder: de Autoridade).

89
9) Se o ocorrer lesão corporal, haverá concurso material. Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, além
10) Na modalidade culposa será crime próprio somente da pena correspondente à Violência.
podendo ser praticado por quem tem a guarda ou custódia
do detento. 1) Conduta: arrebatar preso, a  fim de maltratá-lo, do
poder de quem o tenha sob custódia ou guarda.
Evasão Mediante Violência Contra a Pessoa
Obs. 1: arrebatar significa tirar o preso do poder de quem
Código Penal o tenha sob custódia ou guarda para maltratá-lo. Aqui é a
situação de linchamento.
Art. 352. Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o
indivíduo submetido a medida de segurança deten- Obs. 2: se do fato resultar em lesão corporal ou morte
tiva, usando de violência contra a pessoa: haverá concurso material.
Pena – detenção, de 3 (três) meses a (um) ano, além
da pena correspondente à Violência. 2) Objetividade jurídica: a administração da justiça.
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
1) Conduta: fugir ou tentar fugir mediante o emprego 4) Sujeito passivo: Estado e o preso maltratado.
de violência pessoa que se encontra presa ou sob medida 5) Tipo subjetivo: o dolo.
de segurança. 6) Consumação: com a tomada do preso independente-
mente de conseguir maltratá-lo ou não. Crime formal.
Obs.: passemos a analisar as seguintes situações: 7) Tentativa: é possível.
a) se for somente fuga, sem violência será mera falta
disciplinar; Motim de Preso
b) se usar emprego de ameaça no momento da fuga será
crime de ameaça; Código Penal
c) se houver emprego de violência contra coisa no mo-
mento da fuga, será crime de dano; Art. 354. Amotinarem-se presos, perturbando a
d) se usar da violência para evitar a prisão, será crime
ordem ou disciplina da prisão:
de resistência.
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
2) Objetividade jurídica: a administração da justiça. além da pena correspondente à Violência.
3) Sujeito ativo: pessoa que se encontra presa ou sob
medida de segurança. 1) Conduta: amotinarem-se presos, perturbando a ordem
4) Sujeito passivo: Estado. ou disciplina da prisão.
5) Tipo subjetivo: o dolo. Obs.: Motim significa revolta conjunta de grande número
6) Consumação: com a fuga ou a tentativa de fuga. A lei de presos em que os participantes assumem posição de vio-
equipara para fim de consumação a fuga efetivada e tentada. lência contra os funcionários provocando depredação com
Não há a figura da tentativa. prejuízo ao Estado e a ordem da cadeia.
7) Tentativa: não há a figura da tentativa.
8) Se do fato resultar lesão corporal ou morte haverá 2) Objetividade jurídica: a administração da justiça.
concurso material. 3) Sujeito ativo: número elevado de presos. É crime de
concurso necessário.
Arrebatamento de Preso 4) Sujeito passivo: Estado.
5) Tipo subjetivo: o dolo.
6) Consumação: perturbação da ordem carcerária.
Código Penal
7) Tentativa: é possível.
Art. 353. Arrebatar preso, a fim de maltratá-lo, do
Atenção! Não confundir:
poder de quem o tenha sob custódia ou guarda:

Fuga de pessoa presa Evasão mediante violência Arrebatamento de preso Motim de preso
Promover ou facilitar a fuga Evadir-se ou tentar evadir-se o preso Arrebatar preso, a fim de Amotinarem-se presos, perturban-
de pessoa legalmente presa ou o indivíduo submetido a medida maltratá-lo, do poder de do a ordem ou disciplina da prisão.
ou submetida a medida de de segurança detentiva usando de quem o tenha sob custódia
segurança detentiva. violência contra a pessoa. ou guarda.
Noções de Direito Penal

Aqui o crime é praticado Neste delito o autor é o próprio Muito embora o nome do É a rebelião, sendo o crime somente
por alguém que auxilia o preso que foge ou tenta fugir. crime pareça que alguém pode ser praticado por um número
preso a fugir. O preso que está arrebatando o preso elevado de presos, jamais um único
foge não pratica este crime. para libertá-lo, o delito preso sozinho poderá cometer este
é arrebatar o preso para delito. Assim, desta forma ele é
linchá-lo. classificado como crime de concurso
necessário.

Patrocínio Infiel cujo patrocínio, em juízo, lhe é confiado:


Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos,
Código Penal e multa.

Art. 355. Trair, na qualidade de advogado ou procu- Patrocínio simultâneo ou tergiversação


rador, o dever profissional, prejudicando interesse, Parágrafo único. Incorre na pena deste artigo o advoga-

90
do ou procurador judicial que defende na mesma cau- Atenção! Não confundir:
sa, simultânea ou sucessivamente, partes contrárias.
Patrocínio Infiel Patrocínio Simultâneo ou
1) Conduta: advogado ou procurador que infringindo Tergiversação
o seu dever profissional trai seu cliente prejudicando o Para a consumação do crime Para a consumação do crime
interesse deste. necessita da ocorrência do não necessita da ocorrência
prejuízo. do prejuízo.
Obs. 1: o delito pode ser praticado por ação, por exemplo,
o advogado que desiste de testemunha imprescindível para Sonegação de Papel ou Objeto de Valor Probatório
comprovação dos fatos, ou por omissão, por exemplo, advo-
gado que perde o prazo para recurso de maneira proposital. Código Penal

Obs. 2: o erro profissional realizado sem intenção, ou Art. 356. Inutilizar, total ou parcialmente, ou deixar
seja, de forma culposa, não caracteriza o crime em tela. de restituir autos, documento ou objeto de valor
probatório, que recebeu na qualidade de advogado
2) Objetividade jurídica: a administração da justiça. ou procurador:
3) Sujeito ativo: o crime somente pode ser praticado Pena – detenção, de 6 (seis) a 3 (três) anos, e multa.
por advogado ou procurador, tratando-se, portanto, de
crime próprio. 1) Conduta: inutilizar, total ou parcialmente, ou deixar
4) Sujeito passivo: Estado e a pessoa lesada pela conduta de restituir autos, documento ou objeto de valor probatório,
praticada por seu advogado ou procurador. que recebeu na qualidade de advogado ou procurador.
5) Tipo subjetivo: o dolo. Há o dolo específico de preju-
Obs. 1: passemos a analisar os elementos do tipo penal:
dicar o interesse de seu representado.
a) Inutilizar – É uma conduta comissiva. Tornar impres-
6) Consumação: com a ocorrência do efetivo prejuízo
tável, como por exemplo, atendo fogo em um documento.
por parte da vítima. A inutilização pode ser total ou parcial;
7) Tentativa: é possível. b) Deixar de restituir autos, documentos ou objeto de
valor probatório – É uma conduta omissiva.
Patrocínio Simultâneo ou Tergiversação
Obs. 2: se a conduta de inutilizar ou deixar de restituir
Código Penal for praticada culposamente, ou seja, sem intenção, não
haverá crime.
Art. 355. [...]
Parágrafo único. Incorre na pena deste artigo o advoga-
Obs. 3: autos são as peças que integram o processo.
do ou procurador judicial que defende na mesma cau-
Documento é todo papel escrito que contenha valor proba-
sa, simultânea ou sucessivamente, partes contrárias.
tório. Objeto de valor é tudo aquilo que não compreende
um documento, por exemplo, revólver.
1) Conduta: advogado ou procurador judicial que defen-
de na mesma causa, simultânea ou sucessivamente, partes
2) Objetividade jurídica: a administração da justiça.
contrárias.
3) Sujeito ativo: o crime somente pode ser praticado
por advogado ou procurador, tratando-se, portanto, de
Obs. 1: quando o legislador coloca “mesma causa”, signi-
crime próprio.
fica mesmas partes e mesmo litígio, não necessitando estar
4) Sujeito passivo: Estado e a pessoa lesada pela conduta
no mesmo processo. Ex.: “A” move várias ações contra “B”
praticada pelo advogado ou procurador.
baseadas no mesmo fato. Não poderá o advogado em uma
5) Tipo subjetivo: o dolo.
causa representar “A” e em outra representar “B”.
6) Consumação: em relação à conduta inutilizar, no mo-
mento em que o objeto se torna imprestável. Já em relação
Obs. 2: o crime ocorrerá se o advogado ou procurador
à conduta deixar de devolver quando do vencimento do
defender as parte contrárias simultaneamente (ao mesmo
prazo para devolução.
tempo) ou sucessivamente (tergiversação, ou seja, em pro-
7) Tentativa: é possível.
cessos seguidos).
Exploração de Prestígio
Obs. 3: o crime somente ocorre se o agente age dolosamen-
Noções de Direito Penal

te, ou seja, com intenção. A mera culpa não caracteriza o crime.


Código Penal
2) Objetividade jurídica: a administração da justiça.
3) Sujeito ativo: o crime somente pode ser praticado Art. 357. Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer
por advogado ou procurador, tratando-se, portanto, de outra utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado,
crime próprio. órgão do Ministério Público, funcionário de justiça,
4) Sujeito passivo: Estado e a pessoa lesada pela conduta perito, tradutor, intérprete ou testemunha:
praticada pelo advogado ou procurador. Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
5) Tipo subjetivo: o dolo. Há o dolo específico de preju- Parágrafo único. As penas aumentam-se de um ter-
dicar o interesse de seu representado. ço, se o agente alega ou insinua que o dinheiro ou
6) Consumação: com a prática de algum ato processual utilidade também se destina a qualquer das pessoas
em favor da parte contrária, sendo desnecessária a ocorrên- referidas neste artigo.
cia de algum prejuízo.
7) Tentativa: é possível. 1) Conduta: o crime pode ser praticado das seguintes
formas:

91
a) solicitar (requer) dinheiro ou qualquer outra utilidade, 3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
a pretexto de influir em juiz, jurado, órgão do Ministério Pú- 4) Sujeito passivo: Estado e pessoas eventualmente
blico, funcionário de justiça, perito, intérprete ou testemunha; lesadas.
b) receber (obter como recompensa) dinheiro ou qual- 5) Elemento subjetivo do tipo: dolo.
quer outra utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado, 6) Consumação: quando a arrematação é impedida, per-
órgão do Ministério Público, funcionário de justiça, perito, turbada ou fraudada, ou ainda, quando o agente emprega
intérprete ou testemunha. violência, grave ameaça, fraude ou oferece vantagem ao
concorrente ou licitante.
Obs. 1: o agente sob a alegação de possuir influência, 7) Tentativa: é possível.
prestígio junto às pessoas que trabalham no Poder Judici-
ário, reclama vantagem de outrem a pretexto de exercer Obs. 3: em se tratando de licitação realizada pela Admi-
influência nos atos por elas praticados. Assim é a venda de nistração Pública o crime será o previsto na Lei de Licitação,
suposta influência exercida pelo agente junto a Administra- Lei nº 8.666/1993.
ção da Justiça. Na realidade o agente não possui nenhuma
influência. Seria a prática do crime de estelionato, todavia Desobediência a Decisão Judicial sobre Perda ou
como para aplicação da suposta fraude utiliza-se o nome da Suspensão de Direito
Administração da Justiça, o crime passa a ser o de exploração
de prestígio. Exemplo, advogado alega ter influência sob juiz Código Penal
que vai decidir acerca do divórcio. Na verdade não possui
influência alguma. Art.  359. Exercer função, atividade, direito, autori-
dade ou múnus, de que foi suspenso ou privado por
Obs. 2: agora se for verdade, ou seja, se o agente possuir decisão judicial:
a tal influência que alega ter estaremos diante do crime de Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos,
corrupção passiva ou ativa. ou multa.

2) Objeto jurídico: moralidade da administração justiça. 1) Conduta: exercer função, atividade, direito, autoridade
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa. ou múnus, de que foi suspenso ou privado por decisão judicial.
4) Sujeito passivo: Estado e pessoas eventualmente
lesadas. Obs. 1: o agente desempenha função em desobediência
5) Elemento subjetivo do tipo: dolo. a decisão judicial, seja ela cível ou penal.
6) Consumação: quando o agente solicita ou recebe a
vantagem. 2) Objeto jurídico: moralidade da administração justiça.
7) Tentativa: é possível. 3) Sujeito ativo: qualquer pessoa.
4) Sujeito passivo: Estado e pessoas eventualmente
8) A pena é aumentada quando o agente diz ou dá enten-
lesadas.
der que a vantagem também é endereçada ao funcionário
5) Elemento subjetivo do tipo: dolo.
público.
6) Consumação: quando o agente inicia a conduta pela
9) Se o agente solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou
qual foi determinada a sua abstinência.
para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pre-
7) Tentativa: é possível.
texto de influir em ato praticado por funcionário público no
exercício da função o crime será o de tráfico de influência
previsto no art. 332 do CP. Dos Crimes Contra as Finanças Públicas
Estes crimes foram acrescentados pela Lei nº 10.028/2000
Violência ou Fraude em Arrematação Judicial
com a finalidade de resguardar os cofres públicos da ação de
maus administradores, os quais, por vezes, criam enormes
Código Penal
endividamentos ao Estado.
Art. 358. Impedir, perturbar ou fraudar arrematação Contratação de Operação de Crédito
judicial; afastar ou procurar afastar concorrente ou
licitante, por meio de violência, grave ameaça, fraude Código Penal
ou oferecimento de vantagem:
Pena – detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano, ou Art. 359-A. Ordenar, autorizar ou realizar operação de
multa, além da pena correspondente à violência”. crédito, interno ou externo, sem prévia autorização
legislativa:
1) Conduta: o crime pode ser praticado das seguintes
Noções de Direito Penal

Pena – reclusão, de 1 (um) a 2 (dois) anos.


formas: Parágrafo único. Incide na mesma pena quem ordena,
a) Impedir, tornar impraticável, arrematação judicial; autoriza ou realiza operação de crédito, interno ou
b) Perturbar, causar desordem, em arrematação judicial; externo:
c) Fraudar, burlar, arrematação judicial; I – com inobservância de limite, condição ou montan-
d) Afastar ou procurar afastar, apartar, concorrente ou te estabelecido em lei ou em resolução do Senado
licitante. Federal;
II – quando o montante da dívida consolidada ultra-
Obs. 1: arrematação judicial são os bens levados à hasta passa o limite máximo autorizado por lei.
pública por ordem judicial.
1) Conduta: ordenar, autorizar ou realizar operação de
Obs. 2: o crime é praticado por meio de violência, grave crédito, interno ou externo, sem prévia autorização legis-
ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem. lativa.

2) Objeto jurídico: moralidade da administração justiça. Obs. 1: passemos a analisar as elementares do tipo penal:

92
a) Ordenar – (mandar que se faça) operação de crédito, Assunção de Obrigação no Último Ano do Mandato
interno ou externo, sem prévia autorização legislativa; ou Legislatura
b) Autorizar – (permitir) operação de crédito, interno ou
externo, sem prévia autorização legislativa; Código Penal
c) Realizar – (executar) operação de crédito, interno ou
externo, sem prévia autorização legislativa. Art. 359-C. Ordenar ou autorizar a assunção de obri-
gação, nos 2 (dois) últimos quadrimestres do último
Obs. 2: “Operação de crédito é o compromisso finan- ano do mandato ou legislatura, cuja despesa não possa
ceiro assumido em razão de mútuo, abertura de crédito, ser paga no mesmo exercício financeiro ou, caso reste
emissão de aceite de título, aquisição financiada de bens, parcela a ser paga no exercício seguinte, que não tenha
recebimento antecipado de valores provenientes da venda a contrapartida suficiente de disponibilidade de caixa:
termo de bens e serviços, arrendamento mercantil e outras Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
operações assemelhadas, inclusive com o uso de derivativos
financeiros” (Lei Complementar nº 101/2000, art. 29, III). 1) Conduta: ordenar ou autorizar a assunção de obriga-
ção, nos 2 (dois) últimos quadrimestres do último ano do
Obs. 3: “Somente haverá crime se a operação de crédi- mandato ou legislatura, cuja despesa não possa ser paga no
to for realizada sem prévia autorização legislativa ou se a mesmo exercício financeiro ou, caso reste parcela a ser paga
no exercício seguinte, que não tenha contrapartida suficiente
operação desrespeitar limite, condição ou montante nela
de disponibilidade de caixa:
estabelecido ou em resolução do Senado Federal. Também
haverá crime se o montante da dívida consolidada ultrapassar Obs. 1: a conduta consiste em ordenar ou autorizar des-
o limite máximo autorizado por lei. Dívida compreende o pesas ou obrigações que não possa ser paga no mesmo ano
“montante total, apurado sem duplicidade, das obrigações e vigora nos últimos oito meses do mandato ou legislatura.
financeiras do ente da Federação, assumidas em virtude
de leis, contratos, convênios ou tratados e da realização de Obs. 2: a finalidade é evitar os antigos “trens da alegria”
operações de crédito, para amortização em prazo superior em que o administrador, no término de sua gestão, assumia
a doze meses” (Lei Complementar nº 101/2000, art. 29, I). inúmeras despesas a serem pagas pelo seu sucessor. (Vitor
Eduardo Rios Gonçalves).
2) Objetividade jurídica: a probidade administrativa em
relação às finanças públicas 2) Objetividade jurídica: a probidade administrativa em
3) Sujeito ativo: o funcionário público responsável pelo relação às finanças públicas
ato. Trata-se de crime próprio. 3) Sujeito ativo: o funcionário público responsável pelo
4) Sujeito passivo: Estado. ato. Trata-se de crime próprio.
5) Elemento subjetivo: o dolo. 4) Sujeito passivo: Estado.
6) Consumação: no momento da ação ou omissão. 5) Elemento subjetivo: o dolo.
7) Tentativa: é possível apenas na conduta comissiva. 6) Consumação: no momento da ação ou omissão.
8) Ação Penal: pública incondicionada. 7) Tentativa: é possível apenas na conduta comissiva.
8) Ação Penal: pública incondicionada.
Inscrição de Despesas não Empenhadas em Restos a
Pagar Ordenação de Despesas não Autorizadas

Código Penal Código Penal

Art. 359-B. Ordenar ou autorizar a inscrição em restos Art. 359-D. Ordenar despesa não autorizada por lei:
a pagar, de despesa que não tenha sido previamente Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
empenhada ou que exceda limite estabelecido em lei.
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. 1) Conduta: ordenar despesa não autorizada por lei.

1) Conduta: ordenar ou autorizar a inscrição em restos Obs.: o tipo penal prevê a punição do agente que cria,
a pagar, de despesa que não tenha sido previamente empe- a qualquer tempo, despesas não previstas na Lei Orçamen-
tária, Lei de Diretrizes Orçamentária e Plano Plurianual.
nhada ou que exceda limite estabelecido em lei.
2) Objetividade jurídica: a probidade administrativa em
Obs. 1: restos a pagar referem-se à transferência para relação às finanças públicas.
o exercício financeiro seguinte de despesas assumidas pelo 3) Sujeito ativo: o funcionário público responsável pelo
administrador e que, portanto, serão pagas pelo orçamento ato. Trata-se de crime próprio.
Noções de Direito Penal

do próximo ano. 4) Sujeito passivo: Estado.


5) Elemento subjetivo: o dolo.
Obs. 2: somente haverá o crime se a despesa não tiver 6) Consumação: no momento da ação ou omissão.
sido previamente empenhada ou se exceder limite previsto 7) Tentativa: é possível apenas na conduta comissiva.
em lei, ainda que não tenha sido trocado o administrador. 8) Ação Penal: pública incondicionada.
2) Objetividade jurídica: a probidade administrativa em Prestação de Garantia Graciosa
relação às finanças públicas.
3) Sujeito ativo: o funcionário público responsável pelo Código Penal
ato. Trata-se de crime próprio.
4) Sujeito passivo: Estado. Art. 359-E. Prestar garantia em operação de crédito
5) Elemento subjetivo: o dolo. sem que tenha sido constituída contragarantia em
6) Consumação: No momento da ação ou omissão. valor igual ou superior ao valor da garantia prestada,
7) Tentativa: é possível apenas na conduta comissiva. na forma da lei:
8) Ação Penal: pública incondicionada. Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

93
1) Conduta: prestar garantia em operação de crédito Obs. 1: este delito não se confunde com o crime previsto
sem que tenha sido constituída contragarantia em valor igual no art. 359-C, tendo em vista que este último engloba toda
ou superior ao valor da garantia prestada, na forma da lei: e qualquer despesa e abarca um período de oito meses,
enquanto o crime em tela refere-se apenas ao aumento de
Obs. 1: segundo o art. 40, § 1º, II da Lei nº 101/2000, despesas com pessoal e limita-se a um prazo de 180 dias.
Acrescenta-se, ainda, que o crime do art. 359-C é punido o
a contragarantia exigida pela União a Estado ou gasto que não pode ser pago na mesma gestão, enquanto no
Município, ou pelos Estados aos Municípios, poderá art. 359-G, pune-se o aumento de despesas com pessoal a
consistir na vinculação de receitas tributárias direta- ser pago no mesmo ou em outro exercício financeiro.
mente arrecadadas e proveniente de transferências
constitucionais, com outorga de poderes ao garan- Assunção de obrigação noAumento de despesas total
tidor para retê-las e empregar o respectivo valor na último ano do mandato ou com pessoal no último ano
liquidação da dívida vencida. legislatura do mandato ou legislatura
Engloba toda e qualquer des-
Refere-se apenas ao aumen-
Obs. 2: assim, por meio deste tipo penal, se um estado pesa e abarca um período de
to de despesas com pessoal
ou município fizer um empréstimo, a União, por exemplo, só oito meses. e limita-se a um prazo de
poderá prestar garantia de adimplência de tal dívida se hou- 180 dias.
ver sido prestada contragarantia em valor igual ou superior.
É punido o gasto que não Pune-se o aumento de des-
2) Objetividade jurídica: a probidade administrativa em pode ser pago na mesma pesas com pessoal a ser
relação às finanças públicas. gestão. pago no mesmo ou em outro
3) Sujeito ativo: o funcionário público responsável pelo exercício financeiro.
ato. Trata-se de crime próprio.
4) Sujeito passivo: Estado. 2) Objetividade jurídica: a probidade administrativa em
5) Elemento subjetivo: o dolo. relação às finanças públicas
6) Consumação: no momento da ação ou omissão. 3) Sujeito ativo: o funcionário público responsável pelo
ato. Trata-se de crime próprio.
7) Tentativa: é possível apenas na conduta comissiva.
4) Sujeito passivo: Estado.
8) Ação Penal: pública incondicionada. 5) Elemento subjetivo: o dolo.
6) Consumação: no momento da ação ou omissão.
Não Cancelamento de Restos a Pagar 7) Tentativa: é possível apenas na conduta comissiva.
8) Ação Penal: pública incondicionada.
Código Penal
Oferta Pública ou Colocação de Títulos no Mercado
Art.  359-F. Deixar de ordenar, de autorizar ou de
promover o cancelamento do montante de restos a Código Penal
pagar inscrito em valor superior ao permitido em lei:
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. Art. 359-H. Ordenar, autorizar ou promover a oferta
pública ou a colocação no mercado financeiro de
1) Conduta: deixar de ordenar, de autorizar ou de promo- títulos da dívida pública sem que tenham sido criados
ver o cancelamento do montante de restos a pagar inscrito por lei ou sem que estejam registrados em sistema
em valor superior ao permitido em lei. centralizado de liquidação e de custódia:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
Obs.: o crime consiste em o agente tomar conhecimen-
to da ilegalidade e deixar de ordenar o cancelamento dos 1) Conduta: ordenar, autorizar ou promover a oferta
valores acima do limite legal. pública ou a colocação no mercado financeiro de títulos
da dívida pública sem que tenham sido criados por lei ou
2) Objetividade jurídica: a probidade administrativa em sem que estejam registrados em sistema centralizado de
relação às finanças públicas. liquidação e de custódia.
3) Sujeito ativo: o funcionário público responsável pelo
ato. Trata-se de crime próprio. Obs.: somente haverá o crime se os títulos da dívida pú-
4) Sujeito passivo: Estado. blica forem emitidos sem autorização legal, comprometendo
5) Elemento subjetivo: o dolo. os cofres públicos, pois havendo autorização legal o Estado
6) Consumação: no momento da ação ou omissão. pode vender títulos da dívida pública para captar recursos
7) Tentativa: é possível apenas na conduta comissiva. no mercado financeiro.
8) Ação Penal: pública incondicionada.
Disposições Finais
Noções de Direito Penal

Aumento de Despesas Total com Pessoal no Último


Código Penal
Ano do Mandato ou Legislatura
Art. 360. Ressalvada a legislação especial sobre os cri-
Código Penal mes contra a existência, a segurança e a integridade
do Estado e contra a guarda e o emprego da economia
Art. 359-G. Ordenar, autorizar ou executar ato que popular, os crimes de imprensa e os de falência, os de
acarrete aumento de despesa total com pessoal, responsabilidade do Presidente da República e dos
nos 180 (cento e oitenta) dias anteriores ao final do Governadores ou Interventores, e os crimes militares,
mandato ou da legislatura: revogam-se as disposições em contrário.
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. Art. 361. Este Código entrará em vigor no dia 1º de
janeiro de 1942.
1) Conduta: ordenar, autorizar ou executar ato que acar-
rete aumento de despesa total com pessoal, nos 180 (cento e Rio de Janeiro, 7 de dezembro de 1940; 119º da
oitenta) dias anteriores ao final do mandato ou da legislatura. Independência e 52º da República.

94
EXERCÍCIOS Com o referido texto, foi estabelecida a base contem-
porânea da Teoria da Imputação Objetiva.
1. (2019/NC-UFPR/ITAIPU BINACIONAL) No Direito Penal, Constituem critérios para análise da imputação objetiva:
imputável é aquela pessoa a quem é possível atribuir a) incremento do risco, não diminuição do risco proi-
um fato punível. De modo geral, qualquer pessoa é im- bido, criação do risco proibido e esfera de proteção
putável, EXCETO na hipótese de: da norma.
a) embriaguez completa proveniente de caso fortuito b) dolo, culpa e imputação subjetiva.
ou força maior, menoridade, doença mental e de- c) imputabilidade, potencial conhecimento do ilícito e
senvolvimento mental incompleto ou retardado. exigibilidade de conduta diversa.
b) embriaguez preordenada, menoridade, senilidade e d) legítima defesa, estado de necessidade, estrito cum-
desenvolvimento mental incompleto ou retardado. primento de dever legal e exercício regular de direito.
c) embriaguez completa proveniente de caso fortuito e) ilicitude, culpabilidade e punibilidade.
ou força maior, menoridade, senilidade e desenvol-
vimento mental incompleto ou retardado. 5. (2019/NC-UFPR/TJ-PR) Relação de causalidade é o liame
d) emoção, violenta paixão e embriaguez preordenada. ou vínculo de causa e efeito entre atos passíveis de se-
e) erro de tipo, erro de proibição e violenta emoção. rem imputados ao suspeito de determinado delito e seu
resultado material. É certo que nosso direito positivo
2. (2019/NC-UFPR/ITAIPU BINACIONAL) A legislação penal adotou um posicionamento sobre o assunto. A teoria
prevê um amplo rol de crimes contra o patrimônio, cada da relação causal adotada pelo Código Penal brasileiro
qual com os seus elementos constitutivos próprios. A é:
respeito do assunto, considere as seguintes afirmativas: a) causalidade adequada.
1. Comete crime de receptação aquele que recebe coisa b) relevância jurídica.
que, pela desproporção entre o valor e o preço, deve c) totalidade das condições.
presumir-se obtida por meio criminoso. d) causa eficaz.
2. Comete crime de extorsão aquele que subtrai, para e) equivalência das condições.
si ou para outrem, coisa alheia móvel, mediante grave
ameaça ou violência contra a pessoa. 6. (2019/NC-UFPR/TJ-PR) “Mas o que possibilita a ‘visão
3. Comete crime de furto em concurso com ameaça científica no Direito Penal’? O conceito de crime, mais
aquele que, logo após subtrair a coisa, emprega grave especificamente um conceito denominado analítico,
ameaça, a fim de assegurar a detenção da coisa para porquanto ‘analisa’ o crime em partes. É este, na ver-
si. dade, o conceito mais importante do Direito Penal”
4. Comete crime de apropriação indébita aquele que, (BACILA, 2011).
inicialmente, tem a posse de boa-fé sobre a coisa, mas, Com base no texto, assinale a alternativa que apresenta
num segundo momento, transforma essa posse em do- o elemento do conceito analítico de crime que descreve
mínio, passando a praticar atos típicos de proprietário. a conduta proibida pela norma penal.
Assinale a alternativa correta. a) Imputabilidade.
a) Somente a afirmativa 4 é verdadeira. b) Culpabilidade.
b) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras. c) Tipo subjetivo.
c) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras. d) Tipo objetivo.
d) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras. e) Potencial conhecimento do ilícito.
e) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras.
7. (2019/NC-UFPR/TJ-PR) É muito comum nos dias presen-
3. (2019/NC-UFPR/TJ-PR) Segundo esclareceu o mentor da
tes constatar-se entre acadêmicos e até mesmo entre
expressão “criminalidade do colarinho branco”, Edwin
profissionais a confusão entre ‘teoria da imputação
Sutherland, as teorias sobre o crime falharam porque
objetiva, responsabilidade objetiva e imputabilidade’.
pretenderam explicá-lo a partir da pobreza ou das do-
Entretanto, as três expressões mencionadas são com-
enças mentais, quando na verdade o crime está disse-
pletamente diferentes.
minado em todas as camadas sociais e é praticado por
todos os tipos de profissionais, desde os autônomos, Com base na doutrina atual, é correto afirmar que são
empresários, políticos e servidores públicos (SUTHER- temas da imputabilidade penal:
LAND, 1940). Entretanto, no que se refere aos crimes a) menoridade, doença mental e embriaguez.
praticados contra a administração pública, existe um b) coação moral irresistível e obediência hierárquica.
caso ao menos previsto no Código Penal que não é de- c) erro de proibição direto e indireto.
Noções de Direito Penal

corrência de vontade de realizar o tipo penal. d) excludentes putativas.


Assinale a alternativa que apresenta um exemplo de e) excludentes de ilicitude.
tipo culposo praticado por servidor público contra a
administração pública. 8. (2013/NC-UFPR/UFPR) Com relação aos crimes contra a
a) Prevaricação culposa. administração pública previstos no Código Penal, iden-
b) Corrupção passiva culposa. tifique as afirmativas a seguir como verdadeiras (V) ou
c) Concussão culposa. falsas (F):
d) Peculato culposo ( ) Comete peculato o funcionário público que se apro-
e) Destruição de documento por ato culposo. pria de dinheiro, valor ou qualquer outro bem mó-
vel, público ou particular, de que tem a posse em
4. (2019/NC-UFPR/TJ-PR) No ano de 1970, o professor ale- razão do cargo, ou o desvia em proveito próprio ou
mão Claus Roxin escreveu um artigo em homenagem alheio.
a Richard Honig. O artigo foi denominado “Reflexões ( ) O peculato requer dolo, não existindo o peculato
sobre a Problemática da Imputação em Direito Penal”. na forma culposa.

95
( ) Comete concussão o funcionário público que exige, e) Patrocinar interesse privado perante a administra-
para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ção pública, valendo-se da qualidade de funcionário,
ainda que fora da função ou antes de assumi-la, configura o crime de advocacia administrativa.
mas em razão dela, vantagem indevida.
( ) Comete prevaricação o funcionário público que, por 12. (2017/NC-UFPR/UFPR) A ação de “retardar ou deixar
indulgência, deixar de responsabilizar subordina- de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-
do que cometeu infração no exercício do cargo ou, -lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer
quando lhe falte competência, não levar o fato ao interesse ou sentimento pessoal” configura crime de:
conhecimento da autoridade competente. a) corrupção passiva.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência cor- b) tráfico de influência.
reta, de cima para baixo. c) advocacia administrativa.
a) V – F – V – F. d) prevaricação.
b) F – V – V – V. e) concussão.
c) V – V – F – F.
d) F – V – F – V. 13. (2017/NC-UFPR/UFPR) De acordo com o Código Penal e
e) V – F – F – V. a interpretação dos tribunais, a exigência ou solicitação
de quantia de dinheiro para “furar a fila” de atendimen-
9. (2013/NC-UFPR/UFPR) Com relação aos crimes contra a to no Sistema Único de Saúde configura o crime de:
administração pública previstos no Código Penal, iden- a) concussão.
tifique as afirmativas a seguir como verdadeiras (V) ou b) corrupção ativa.
falsas (F): c) corrupção passiva.
( ) Comete peculato o funcionário público que se apro- d) peculato.
pria de dinheiro, valor ou qualquer outro bem mó- e) extorsão.
vel, público ou particular, de que tem a posse em
razão do cargo, ou o desvia em proveito próprio ou 14. (2017/NC-UFPR/UFPR) Em relação aos crimes contra a
alheio. Administração Pública, assinale a alternativa correta.
( ) O peculato requer dolo, não existindo o peculato a) Não se admite a aplicação do princípio da insignifi-
na forma culposa. cância no âmbito dos crimes contra a Administração
( ) Comete concussão o funcionário público que exige, Pública.
para si ou para outrem, direta ou indiretamente, b) Tráfico de influência é um exemplo de crime funcio-
ainda que fora da função ou antes de assumi-la, nal ou próprio quanto ao sujeito ativo.
mas em razão dela, vantagem indevida. c) A exigência, por parte de funcionário, de tributo ou
( ) Comete prevaricação o funcionário público que, por contribuição social sabidamente indevida configura
indulgência, deixar de responsabilizar subordina- o crime de violência arbitrária.
do que cometeu infração no exercício do cargo ou, d) Importar ou exportar mercadoria proibida configura
quando lhe falte competência, não levar o fato ao o crime de descaminho.
conhecimento da autoridade competente. e) Patrocinar interesse privado perante a administra-
Assinale a alternativa que apresenta a sequência cor- ção pública, valendo-se da qualidade de funcionário,
reta, de cima para baixo. configura o crime de advocacia administrativa.
a) V – F – V – F.
b) F – V – V – V. 15. (2017/NC-UFPR/UFPR) A ação de “retardar ou deixar
c) V – V – F – F. de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-
d) F – V – F – V. -lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer
e) V – F – F – V. interesse ou sentimento pessoal” configura crime de:
a) corrupção passiva.
10. (2017/NC-UFPR/UFPR) De acordo com o Código Penal e b) tráfico de influência.
a interpretação dos tribunais, a exigência ou solicitação c) advocacia administrativa.
de quantia de dinheiro para “furar a fila” de atendimen- d) prevaricação.
to no Sistema Único de Saúde configura o crime de: e) concussão.
a) concussão.
b) corrupção ativa. 16. (2017/NC-UFPR/UFPR) Sobre os crimes contra a Admi-
c) corrupção passiva. nistração Pública e o conceito de funcionário público
d) peculato. para fins penais, assinale a alternativa INCORRETA.
Noções de Direito Penal

e) extorsão. a) Equipara-se a funcionário público para efeitos penais


quem exerce cargo, emprego ou função em entidade
11. (2017/NC-UFPR/UFPR) Em relação aos crimes contra a paraestatal.
Administração Pública, assinale a alternativa correta. b) Equipara-se a funcionário público para efeitos penais
a) Não se admite a aplicação do princípio da insignifi- quem exerce cargo, emprego ou função em partido
cância no âmbito dos crimes contra a Administração político.
Pública. c) Crime funcional impróprio é aquele cuja tipificação
b) Tráfico de influência é um exemplo de crime funcio- é alterada conforme tenha ou não o autor a qualida-
nal ou próprio quanto ao sujeito ativo. de de funcionário público, mantendo-se a natureza
c) A exigência, por parte de funcionário, de tributo ou ilícita da conduta.
contribuição social sabidamente indevida configura d) Há crime de advocacia administrativa quando o
o crime de violência arbitrária. funcionário utiliza o cargo para patrocinar interesse
d) Importar ou exportar mercadoria proibida configura privado perante a administração, inclusive quando
o crime de descaminho. o interesse defendido é legítimo.

96
e) A pena é aumentada em um terço se o autor do 21. (2017/NC-UFPR/UFPR) Auxiliar autor de crime a fugir
crime contra a Administração Pública for ocupante configura crime de:
de cargo em comissão. a) fraude processual.
b) favorecimento real.
17. (2017/NC-UFPR/UFPR) Considere que o Sr. Fulano de c) favorecimento pessoal.
Tal, servidor público, que se encontra em férias, pega d) desobediência.
“emprestado” o veículo de sua repartição para utilizar e) condescendência criminosa.
durante as férias com sua família. Qual é o crime contra
a Administração Pública por ele, em tese, cometido? 22. (2017/NC-UFPR/UFPR) Sobre os crimes contra a Admi-
a) Peculato. nistração Pública e o conceito de funcionário público
b) Prevaricação. para fins penais, assinale a alternativa INCORRETA.
c) Corrupção ativa. a) Equipara-se a funcionário público para efeitos penais
d) Condescendência criminosa. quem exerce cargo, emprego ou função em entidade
e) Tráfico de influência. paraestatal.
b) Equipara-se a funcionário público para efeitos penais
18. (2017/NC-UFPR/UFPR) Em relação aos crimes contra a quem exerce cargo, emprego ou função em partido
Administração Pública, assinale a alternativa que indica político.
somente crimes próprios quanto ao sujeito ativo. c) Crime funcional impróprio é aquele cuja tipificação
a) Peculato, corrupção passiva e tráfico de influência. é alterada conforme tenha ou não o autor a qualida-
b) Corrupção ativa, corrupção passiva e tráfico de in- de de funcionário público, mantendo-se a natureza
fluência. ilícita da conduta.
c) Corrupção ativa, advocacia administrativa e preva- d) Há crime de advocacia administrativa quando o
ricação. funcionário utiliza o cargo para patrocinar interesse
d) Peculato, corrupção passiva e concussão. privado perante a administração, inclusive quando
e) Corrupção passiva, prevaricação e tráfico de influ- o interesse defendido é legítimo.
ência. e) A pena é aumentada em um terço se o autor do
crime contra a Administração Pública for ocupante
19. (2017/NC-UFPR/UFPR) Considere os seguintes situa- de cargo em comissão.
ções:
I - Funcionário público simula viagem para receber di-
23. (2017/NC-UFPR/UFPR) Considere que o Sr. Fulano de
nheiro referente a diárias.
Tal, servidor público, que se encontra em férias, pega
II - Empresário oferece valor em dinheiro a funcionário
“emprestado” o veículo de sua repartição para utilizar
público para obter velocidade na tramitação de proces-
durante as férias com sua família. Qual é o crime contra
so administrativo de seu interesse.
a Administração Pública por ele, em tese, cometido?
III - Secretário de Estado toma conhecimento de des-
vio funcional de subordinado, mas não determina a a) Peculato.
apuração dos fatos por se tratar de seu amigo e aliado b) Prevaricação.
político. c) Corrupção ativa.
Tais situações constituem, respectivamente, os crimes d) Condescendência criminosa.
contra a Administração Pública de: e) Tráfico de influência.
a) corrupção passiva – corrupção ativa – favorecimento
pessoal. 24. (2014/NC-UFPR/DPE-PR) Segundo a teoria da tipicidade
b) peculato – prevaricação – favorecimento pessoal. conglobante, o fato não é típico por falta de lesividade:
c) condescendência criminosa – concussão – prevari- 1. quando se cumpre um dever jurídico.
cação. 2. quando, para defender um bem ou valor próprio, o
d) peculato – corrupção ativa – prevaricação. agente sacrifica bem ou valor alheios de menor mag-
e) condescendência criminosa – peculato – corrupção nitude.
passiva. 3. quando se pratica uma ação fomentada pelo direito.
4. quando há o consentimento do titular do bem jurí-
20. (2017/NC-UFPR/UFPR) Em relação aos crimes de con- dico. 5. quando o agente pratica a conduta em legítima
trabando e descaminho, assinale a alternativa correta. defesa putativa.
a) Contrabando e descaminho se referem a um mesmo Assinale a alternativa correta.
delito, sendo tratados como sinônimos pela legisla- a) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras.
Noções de Direito Penal

ção. b) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras.


b) Há contrabando exclusivamente quando a merca- c) Somente as afirmativas 1, 2, 4 e 5 são verdadeiras.
doria exportada ou importada é proibida. d) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras.
c) A reinserção, em território nacional, de mercadoria e) Somente as afirmativas 3 e 5 são verdadeiras.
brasileira destinada à exportação configura hipótese
de descaminho. 25. (2013/NC-UFPR/UFPR) Com relação aos crimes contra a
d) Se praticados em transporte aéreo, marítimo ou flu- administração pública previstos no Código Penal, iden-
vial, as penas referentes aos crimes de contrabando tifique as afirmativas a seguir como verdadeiras (V) ou
e descaminho podem ser substituídas por penas res- falsas (F):
tritivas de direitos ou multa. ( ) Comete peculato o funcionário público que se apro-
e) O comércio irregular exercido em residências não pria de dinheiro, valor ou qualquer outro bem mó-
pode ser considerado contrabando ou descaminho, vel, público ou particular, de que tem a posse em
porque está ausente a atividade de exportação ou razão do cargo, ou o desvia em proveito próprio ou
importação. alheio.

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( ) O peculato requer dolo, não existindo o peculato b) É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo con-
na forma culposa. curso de agentes, a majorante do roubo.
( ) Comete concussão o funcionário público que exige, c) O aumento na terceira fase de aplicação da pena no
para si ou para outrem, direta ou indiretamente, crime de roubo circunstanciado exige fundamenta-
ainda que fora da função ou antes de assumi-la, ção concreta, sendo suficiente para a sua exaspe-
mas em razão dela, vantagem indevida. ração, entretanto, a mera indicação do número de
( ) Comete prevaricação o funcionário público que, por majorantes.
indulgência, deixar de responsabilizar subordina- d) É admissível a extinção da punibilidade pela pres-
do que cometeu infração no exercício do cargo ou, crição da pretensão punitiva com fundamento em
quando lhe falte competência, não levar o fato ao pena hipotética.
conhecimento da autoridade competente.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência cor- 29. (2012/NC-UFPR/TJ-PR) Para efeitos penais, o que se
reta, de cima para baixo. entende por “funcionário público estrangeiro”?
a) V – F – V – F. a) Aquele que, de forma sempre remunerada, trabalha
b) F – V – V – V. em empresas que contratam com a Administração
c) V – V – F – F. Pública brasileira, excluindo-se, portanto, os funcio-
d) F – V – F – V. nários de ONGS.
e) V – F – F – V. b) Aquele que, de forma ainda que transitória e sem
remuneração, exerce cargo, emprego ou função em
26. (2013/NC-UFPR/UFPR) Sobre os crimes contra a admi- entidades estatais ou em representações diplomáti-
nistração pública, previstos no Código Penal, identifique cas de país estrangeiro.
as afirmativas a seguir como verdadeiras (V) ou falsas c) Aquele que trabalha apenas em representações es-
(F): trangeiras que possuam relações diplomáticas com
( ) Comete peculato o funcionário público que se apro- o Brasil ou em órgãos internacionais, como a ONU,
pria de dinheiro, valor ou qualquer outro bem mó- FMI, OMS etc.
vel, público ou particular, de que tem a posse em d) Aquele que presta serviços apenas para empresas
razão do cargo, ou o desvia, em proveito próprio ou estrangeiras controladas, direta ou indiretamente,
alheio. pelo poder público do seu país de origem que man-
( ) Se o funcionário público solicita ou recebe, para si tenha escritório permanente em território nacional.
ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que
fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão 30. (2012/NC-UFPR/TJ-PR) Quanto ao crime de peculato,
dela, vantagem indevida, ou aceita promessa de tal é correto afirmar:
vantagem, comete o crime de corrupção passiva. a) Admite-se nas formas dolosa e culposa e é possível
( ) Abandonar cargo público fora dos casos permitidos concurso de agentes com quem não é funcionário
em lei é tipificado como crime, nos termos do Có- público.
digo Penal.
b) É crime próprio e somente pode ser cometido por
( ) Desobedecer ordem de superior hierárquico, mes-
funcionário público, não sendo possível o concurso
mo que a ordem seja ilegal, é tipificado como crime
de agentes com particular, sendo punível apenas a
de excesso de exação.
título de dolo.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência cor-
c) É crime próprio, sendo possível a coautoria ou parti-
reta, de cima para baixo.
cipação apenas de outro funcionário público, quan-
a) V – V – V – F.
b) F – F – V – V. do ambos só podem ser punidos a título doloso.
c) V – V – F – F. d) É crime de mão própria, inadmitindo coautoria ou
d) F – V – V – V. participação de quem quer que seja, punível a título
e) V – F – F – F. de dolo e culpa.

27. (2013/NC-UFPR/TJ-PR) Assinale a alternativa correta: 31. (2012/NC-UFPR/TJ-PR) A regra da responsabilidade


a) No crime de corrupção ativa, a pena é aumentada penal de pessoa jurídica no Brasil segue o princípio so-
até o triplo, se, em razão da vantagem ou promessa, cietas delinquere non potest, salvo a seguinte exceção:
o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o a) no caso de crimes contra o meio ambiente, nos casos
pratica infringindo dever funcional. em que a infração seja cometida por decisão dos
b) Constitui excesso de exação se o funcionário exige representantes da pessoa jurídica, legais ou contra-
tributo ou contribuição social que sabe ou deveria tuais, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou
Noções de Direito Penal

saber indevido, ou, quando devido, emprega na co- benefício de sua entidade.
brança meio vexatório ou gravoso, ainda que auto- b) no caso de organização criminosa, quando se verifica
rizado por lei. a formação formal e contratual da pessoa jurídica
c) Não impede a progressão de regime de execução da cuja finalidade será cometer crimes contra o sistema
pena, fixada em sentença não transitada em julgado, financeiro nacional e lavagem de dinheiro.
o fato de o réu se encontrar em prisão especial. c) no caso de crime contra o meio ambiente, sendo que
d) O crime de exercício arbitrário das próprias razões a responsabilidade penal da pessoa jurídica exclui o
somente se procede mediante queixa, ainda que das pessoas físicas que dela façam parte ou sejam
haja emprego de violência. funcionários.
d) no caso de organização criminosa, quando a pes-
28. (2013/NC-UFPR/TJ-PR) Assinale a alternativa correta: soa jurídica é formada para a prática dos crimes de
a) No que se refere ao furto de coisa comum, é punível tráfico de pessoas, armas ou drogas, sendo que as
a subtração de coisa comum fungível, ainda que o pessoas físicas que a formam respondem por auto-
valor não exceda a quota a que tem direito o agente. ria, coautoria ou participação no mesmo feito.

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32. (2007/NC-UFPR/PC-PR) Sobre os crimes praticados por 35. (2019/VUNESP/Prefeitura de Campinas – SP) O servidor
funcionário público contra a administração em geral, que devassar o sigilo de proposta de concorrência pú-
considere as seguintes afirmativas: blica, ou proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-
1. Por se tratar de delito de mera atividade, a concussão -lo, segundo o Art. 326 do código penal brasileiro, está
se consuma com a simples exigência da vantagem inde- sujeito à pena de multa e
vida. A obtenção dessa vantagem constitui exaurimento a) detenção de 5 meses a 2 anos.
do crime. b) reclusão de 6 meses a 1 ano.
2. O peculato é crime próprio no tocante ao sujeito c) detenção de 1 a 2 anos.
ativo; indispensável a qualificação de funcionário pú- d) reclusão de 2 a 4 anos.
blico. É inadmissível o concurso de pessoas estranhas e) detenção de 3 meses a 1 ano.
ao serviço público.
3. O tipo descrito no artigo 318 do Código Penal (facili- 36. (2019/VUNESP/Prefeitura de Campinas – SP) “Apropriar-
tação de contrabando ou descaminho) admite tentativa -se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer
quando se tratar de conduta comissiva. outro bem móvel, público ou particular, de que tem a
4. Incide no crime previsto no artigo 321 do Código posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito
Penal (Advocacia administrativa) o agente que patroci- próprio ou alheio” é o texto do crime praticado por
na, direta ou indiretamente, interesse privado perante funcionário público contra a administração em geral
a administração púbica, valendo-se da qualidade de denominado
funcionário. a) prevaricação.
Assinale a alternativa correta. b) concussão.
a) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras. c) peculato.
b) Somente as afirmativas 1 e 3 são verdadeiras. d) corrupção passiva.
c) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras. e) excesso de exação.
d) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras.
e) Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras. 37. (2020/VUNESP/EBSERH) O crime de roubo tem pena
aumentada (CP, art. 157, § 2° e 2° A) se
33. (2007/NC-UFPR/PC-PR) Sobre os crimes contra o patri- a) o bem subtraído é de propriedade de ente público
mônio, considere as seguintes afirmativas: Municipal, Estadual ou Federal.
1. Para a configuração do crime de furto é imprescindí- b) a vítima está em serviço de transporte de valores e
vel a presença do elemento subjetivo diverso do dolo o agente conhece tal circunstância.
“para si ou para outrem”. Nossa lei penal comum não c) praticado em transporte público ou coletivo.
tipifica o furto de uso. d) cometido por quem, embora transitoriamente ou
2. O crime de extorsão é crime material, que se consuma sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função
com a obtenção da vantagem indevida.
pública.
3. Há crime de latrocínio tentado quando o homicídio
e) cometido por quem for ocupante de cargos em co-
se consuma, ainda que não realize o agente a subtração
missão ou de função de direção ou assessoramento
de bens da vítima.
de órgão de empresa pública.
4. É isento de pena quem comete apropriação indébi-
ta em prejuízo do cônjuge na constância da sociedade
38. (2019/VUNESP/Câmara de São Miguel Arcanjo – SP) A
conjugal.
respeito dos crimes praticados por particulares, contra
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras. a administração pública, assinale a alternativa correta.
b) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras. a) O crime de usurpação de função pública somente
c) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras. caracteriza-se se o agente, na função usurpada, au-
d) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras. fere vantagem.
e) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras. b) O crime de resistência caracteriza-se somente quan-
do há emprego de violência contra funcionário com-
34. (2010/NC-UFPR/UFPR) O servidor público comete crime petente para executar ato legal.
contra Administração Pública quando pratica condu- c) O crime de tráfico de influência prevê aumento de
tas definidas no Código Penal Brasileiro como crime. A pena se o agente alega que a vantagem solicitada ou
respeito do assunto, identifique as afirmativas a seguir exigida é destinada também ao funcionário público.
como verdadeiras (V) ou falsas (F). d) O crime de desacato prevê aumento de pena se o
( ) Há crime de peculato quando o servidor se apropria funcionário desacatado é da administração pública
de dinheiro que estava sob sua posse em razão do federal.
Noções de Direito Penal

cargo que ocupa. e) O agente que expõe a venda mercadoria de proce-


( ) Concussão ocorre quando o servidor, usando da dência estrangeira que sabe ser produto de introdu-
influência de seu posto, recebe vantagem para si ção clandestina no território nacional pratica crime
ou para outrem. de contrabando.
( ) Prevaricação é o crime que ocorre quando o servi-
dor deixa de responsabilizar seu subordinado que 39. (2020/VUNESP/PM-SP) Assinale a alternativa que con-
cometeu infração no exercício do cargo. Assinale a tém afirmação em consonância com o quanto previsto
alternativa que apresenta a sequência correta, de no Código Penal Brasileiro.
cima para baixo. a) Os menores de 18 anos são penalmente imputáveis,
a) V - F - F. ficando sujeitos às normas estabelecidas na legisla-
b) V - V - F. ção especial.
c) F - F - V. b) Não se comunicam as circunstâncias e as condições
d) F - F - F. de caráter acidental, salvo quando elementares do
e) V - V - V. crime.

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c) Considera-se em estado de necessidade quem prati- 43. (2019/VUNESP/Prefeitura de Campinas – SP) Segundo
ca o fato para salvar de perigo atual, ainda que tenha prevê o Código Penal, o funcionário comete um crime
sido por ele provocado, nem podia de outro modo de concussão quando
evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas a) apropria-se de dinheiro, valor ou qualquer outro
circunstâncias, não era razoável exigir-se. bem móvel, público ou particular, de que tem a posse
d) O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, em razão do cargo, ou o desvia, em proveito próprio
salvo disposição expressa em contrário, não são ou alheio.
puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser b) extravia livro oficial ou qualquer documento, de
tentado. que tem a guarda em razão do cargo; sonega-o ou
inutiliza-o, total ou parcialmente.
40. (2020/VUNESP/PM-SP) Sujeito que se dispõe a vender c) exige, para si ou para outrem, direta ou indiretamen-
em rede social, a pedido de amigo seu, mediante co- te, ainda que fora da função ou antes de assumi-la,
missão, cachorro roubado: mas em razão dela, vantagem indevida.
a) não comete crime, tratando-se de mero ilícito civil, d) constrange alguém, mediante violência ou grave
dada a equiparação entre pessoas e bens semoven- ameaça, a não fazer o que a lei permite ou a fazer o
tes domesticáveis. que ela não manda.
b) não comete crime, mas sim contravenção penal. e) dá às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da
c) comete crime de receptação de animal, se houver estabelecida em lei.
finalidade de comercialização, exigindo-se ainda que
deva saber ser o cachorro produto de crime. 44. (2019/VUNESP/Prefeitura de Campinas – SP) O crime
d) não comete crime se o animal tiver sido abatido ou de subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel,
dividido em partes. mediante concurso de duas ou mais pessoas, é tipifica-
do pelo Código Penal como
41. (2013/VUNESP/Câmara de Bragança Paulista – SP) No a) roubo qualificado.
tocante aos crimes contra a Administração Pública, é b) furto qualificado.
correto afirmar que c) estelionato.
a) apenas a facilitação, pelo funcionário autorizado, de d) furto simples.
alteração de dados corretos nos sistemas informati- e) roubo simples.
zados ou bancos de dados da Administração Pública
com o fim de causar dano não tipifica o crime de- 45. (2019/VUNESP/TJ-RJ) João invade um museu público
nominado inserção de dados falsos em sistemas de disposto a furtar um quadro. Durante a ação, quando
informações. já estava tirando o quadro da parede, depara-se com
b) o crime de condescendência criminosa exige, para a um vigilante. Diante da ordem imperativa para largar o
tipificação, que o funcionário deixe de responsabili- quadro, e temendo ser alvejado, vulnera o vigilante com
zar subordinado que cometeu infração no exercício um projétil de arma de fogo. O vigilante vem a óbito;
do cargo com o fim de obter vantagem direta ou e João, impressionado pelos acontecimentos, deixa a
indireta. cena do crime sem carregar o quadro. De acordo com
c) o crime de resistência não estará tipificado se a o entendimento sumulado pelo Supremo Tribunal Fe-
oposição à execução de ato legal for praticada sem deral, praticou-se
violência e apenas por meio de ameaça a funcionário a) furto qualificado tentado em concurso com homicí-
competente para executá-lo ou a quem lhe esteja dio qualificado consumado.
prestando auxílio. b) roubo próprio tentado em concurso com homicídio
d) inutilizar, total ou parcialmente, ou deixar de restituir consumado.
autos, documento ou objeto de valor probatório, que c) roubo impróprio tentado em concurso com homicí-
recebeu na qualidade de advogado ou procurador dio consumado.
tipifica o crime de subtração ou inutilização de livro d) latrocínio tentado.
ou documento. e) latrocínio consumado.
e) patrocinar, indiretamente, interesse privado legítimo
perante a administração pública, valendo-se da qua- 46. (2019/VUNESP/TJ-RJ) João ministra veneno a Maria, em
lidade de funcionário tipifica o crime de Advocacia dose apta a causar-lhe a morte, pois ela iria informar
Administrativa. à autoridade policial que João havia mantido relação
sexual incestuosa e consentida com a filha dele, de 16
42. (2019/VUNESP/Prefeitura de Campinas – SP) Afrodite é anos. Antes que o resultado se efetive, João socorre
Noções de Direito Penal

funcionária pública, mas, atualmente ocupa um cargo Maria, levando-a a um pronto- -socorro. Lá, o médico
em comissão. No exercício desse cargo, Afrodite comete de plantão deixa de atender Maria, sob a única razão de
um crime contra a Administração Pública. Nessa hipó- estar almoçando. Maria, que seria salva caso o médico
tese, portanto, o Código Penal dispõe que Afrodite interviesse, morre.
a) ficará isenta de pena por estar afastada do seu cargo Diante desse cenário, que admite múltiplas qualifi-
público de origem. cações jurídicas, assinale a alternativa que melhor se
b) será punida com a mesma pena aplicada ao seu su- adeque à espécie.
perior que a nomeou para o cargo. a) João cometeu homicídio; o médico cometeu lesão
c) terá reduzida a sua pena por ocupar cargo provisório corporal seguida de morte.
e de confiança. b) João cometeu homicídio qualificado; o médico co-
d) ficará sujeita a ter sua pena aumentada da terça meteu omissão de socorro com pena triplicada pelo
parte. resultado morte.
e) não poderá ter a sua pena alterada pelo simples fato c) João será beneficiado pelo arrependimento pos-
de ocupar cargo em comissão. terior e não sofrerá qualquer reprimenda penal; o

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médico cometeu homicídio culposo, na modalidade c) é a expressão supralegal da teoria da “cegueira de-
negligência. liberada”.
d) João cometeu lesão corporal seguida de morte; o d) deriva de construção jurisprudencial consolidada em
médico cometeu omissão de socorro em concurso súmula de Tribunal Superior.
com homicídio culposo, na modalidade negligência. e) admite a aplicação da responsabilidade objetiva no
e) João cometeu homicídio duplamente qualificado; o Direito Penal.
médico cometeu omissão de socorro, com a pena
duplicada pelo resultado morte. 51. (2018/VUNESP/Prefeitura de São Bernardo do Campo
– SP) O Guarda Civil que se apropria de dinheiro ou de
47. (2018/VUNESP/Prefeitura de São Bernardo do Campo – qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu
SP) Considere o seguinte caso hipotético: O servidor “X” por erro de outrem
autoriza a inscrição em restos a pagar de despesa que a) não comete crime, pois o erro de outrem afasta a
não tenha sido previamente empenhada. Nos termos tipificação penal.
do Código Penal, é correto afirmar que o servidor “X” b) comete o crime de peculato mediante erro de ou-
a) cometeu o crime de ordenação de despesa não au- trem.
torizada, qualificado pela inscrição de despesas não c) comete o crime de corrupção passiva, apenado com
empenhadas em restos a pagar. reclusão.
b) cometeu o crime de inscrição de despesas não em- d) não comete crime, pois a conduta não está descrita
penhadas em restos a pagar. no Código Penal.
c) não cometeu qualquer crime. e) comete os crimes de furto e prevaricação.
d) cometeu o crime de prevaricação, qualificado pela
inscrição de despesas não empenhadas em restos 52. (2018/VUNESP/Prefeitura de São Bernardo do Campo –
a pagar. SP) Nos termos do Código Penal, é correto afirmar que
e) cometeu o crime de emprego irregular de verbas ou a conduta de subtrair coisa móvel alheia, para si ou para
rendas públicas, qualificado pela inscrição de des- outrem, mediante grave ameaça à pessoa, tipifica uma
pesas não empenhadas em restos a pagar. das modalidades do crime de
a) roubo.
48. (2019/VUNESP/Câmara de Mauá – SP) A respeito dos b) furto.
crimes contra a administração pública, previstos nos c) estelionato.
artigos 312 a 359-H do Código Penal (CP), é correto d) furto qualificado.
afirmar: e) receptação.
a) O crime de modificação ou alteração não autori-
zada de sistema de informações (artigo 313-B do 53. (2018/VUNESP/Prefeitura de São Bernardo do Campo
CP) somente se caracteriza se resulta dano para a – SP) Assinale a alternativa que contempla um crime
Administração Pública. contra pessoa apenado com detenção.
a) Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-
b) O funcionário que, por dinheiro, deixa de responsa-
-lhe auxílio para que o faça.
bilizar subordinado que cometeu infração no exer-
b) Provocar aborto, sem o consentimento da gestante.
cício do cargo, pratica o crime de condescendência
c) Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia
criminosa (artigo 320 do CP).
grave de que está contaminado, ato capaz de pro-
c) O crime de abandono de função (artigo 323 do CP)
duzir o contágio.
somente se caracteriza se resulta prejuízo para a
d) Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro
Administração Pública. ou cárcere privado.
d) Aquele que, perante a autoridade, acusa-se de crime e) Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto
inexistente, pratica o crime de comunicação falsa de e iminente.
crime (artigo 340 do CP).
e) O crime de coação no curso do processo (artigo 344 54. (2019/VUNESP/Prefeitura de Olímpia – SP) Considere
do CP) caracteriza-se ainda que a coação ocorra em o seguinte caso hipotético: “A”, funcionário público da
sede de processo administrativo. Prefeitura de Olímpia, exige tributo que sabe ou deveria
saber indevido. Nos termos do Código Penal, “A”
49. (2019/VUNESP/Prefeitura de São José dos Campos – a) responderá pelo crime de corrupção passiva.
SP) É qualificado, se cometido contra o patrimônio do b) responderá pelo crime de peculato mediante erro
Município, o crime de de outrem.
a) furto (CP, art. 155, § 4º ). c) responderá pelo crime de emprego irregular de verbas.
Noções de Direito Penal

b) usurpação de águas (CP, art. 161, I). d) responderá pelo crime de excesso de exação.
c) esbulho possessório (CP, art. 161, II). e) não responderá por qualquer crime.
d) dano (CP, art. 163).
e) apropriação indébita (CP, art. 168). 55. (2019/VUNESP/Prefeitura de Olímpia – SP) Considere o
seguinte caso hipotético: “A” constrange alguém, me-
50. (2019/VUNESP/Prefeitura de São José dos Campos – SP) diante violência ou grave ameaça, e com o intuito de
A omissão é penalmente relevante quando o omitente obter para si ou para outrem indevida vantagem eco-
devia e podia agir para evitar o resultado. A afirmação: nômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer
“o dever de agir incumbe a quem, com seu comporta- alguma coisa. Nos termos do Código Penal, “A”
mento anterior, criou o risco da ocorrência do resulta- a) responderá pelo crime de extorsão.
do” b) responderá pelo crime de furto qualificado.
a) está expressamente prevista no CP. c) responderá pelo crime de apropriação indébita.
b) é a expressão supralegal da teoria da “imputação d) responderá pelo crime de roubo.
objetiva”. e) não responderá por qualquer crime.

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56. (2019/VUNESP/UNIFAI) No que concerne ao peculato, é subtrair várias mercadorias de elevado valor. Segundo
correto afirmar que, se o funcionário público concorre o Código Penal, o crime cometido por Artêmis se en-
culposamente para o crime de outrem, quadra como
a) fica sujeito a pena de detenção. a) roubo simples.
b) fica sujeito a pena de reclusão e multa. b) roubo qualificado.
c) a reparação do dano ocorrida depois do trânsito em c) furto simples.
julgado de sentença condenatória não tem qualquer d) furto qualificado.
consequência penal. e) furto simples, com aumento de pena pelo uso de
d) a reparação do dano ocorrida antes do trânsito em chave falsa.
julgado de sentença condenatória reduz de metade
a pena imposta. 62. (2018/VUNESP/Prefeitura de Registro – SP) Nos termos
e) a conduta é considerada atípica, por não haver ex- previstos expressamente no Código Penal, é correto
pressa previsão legal para punição por crime culposo. afirmar que
a) se considera praticado o crime no momento da ação,
57. (2019/VUNESP/Prefeitura de Arujá – SP) Caio, funcio- da omissão, ou no momento em que se produziu ou
nário público encarregado da cobrança de tributos, em deveria produzir-se o resultado.
razão do inadimplemento contumaz da empresa “Pão b) quem trabalha para empresa prestadora de serviço
de Mel”, ficou um dia inteiro com um megafone dizen- contratada ou conveniada para a execução de ativi-
do que a empresa e seus sócios eram caloteiros e não dade típica da Administração Pública equipara-se a
pagavam seus débitos. A conduta de Caio é: funcionário público para os efeitos penais.
a) prática do crime de excesso de exação. c) não se comunicam as circunstâncias e as condições
b) lícita, tendo em vista que, como funcionário públi- de caráter pessoal, mesmo quando elementares do
co, deve empregar todos os meios para incentivar crime.
o pagamento de tributos pelos devedores do fisco. d) a alteração realizada por funcionário de sistema de
c) prática do crime de advocacia administrativa. informações ou programa de informática sem auto-
d) prática do crime de violência arbitrária. rização ou solicitação de autoridade competente só
e) prática do crime de violação de sigilo profissional. será caracterizada como crime se resultar em dano
para a Administração Pública ou para o administra-
58. (2019/VUNESP/Prefeitura de Arujá – SP) José, funcioná- do.
rio público municipal, responsável pelo banco de dados e) patrocinar, direta ou indiretamente, interesse pri-
eletrônico da dívida ativa, excluiu todas as certidões da vado perante a Administração Pública, valendo-se
dívida ativa que existiam em nome da empresa “Boa da qualidade de funcionário caracteriza o crime de
Viagem”, de propriedade de sua amiga íntima. A con- advocacia administrativa, salvo se o interesse for
duta de José pode ser tipificada como: legítimo.
a) peculato.
b) modificação ou alteração não autorizada de sistema 63. (2019/VUNESP/Prefeitura de Campinas – SP) O funcio-
de informações. nário público que, na cobrança de contribuição social
c) inserção de dados falsos em sistema de informações. devida, emprega meio vexatório ou gravoso, em tese,
d) extravio, sonegação ou inutilização de livro ou do- a) pratica o crime de prevaricação.
cumento. b) não pratica qualquer crime.
e) condescendência criminosa. c) pratica o crime de excesso de exação.
d) pratica o crime de exercício funcional ilegalmente
59. (2019/VUNESP/Prefeitura de Arujá – SP) De conformida- antecipado.
de com o Código Penal Brasileiro, deixar o funcionário e) pratica o crime de violência arbitrária.
público, por indulgência, de responsabilizar subordi-
nado que cometeu infração no exercício do cargo ou, 64. (2019/VUNESP/Prefeitura de Campinas – SP) Caio traba-
quando lhe falte competência, não levar o fato ao co- lha em uma repartição pública e tem por função cuidar
nhecimento da autoridade competente caracteriza o do almoxarifado. Todos os dias, antes de sair, Caio tran-
delito de ca as portas dos armários de suprimentos. Em determi-
a) excesso de exação. nado dia, Caio, que está com o filho internado, saiu às
b) concussão. pressas, esquecendo de fechar dois dos armários. No
c) facilitação. dia seguinte, ao chegar na repartição, Caio percebeu
d) condescendência criminosa. que suprimentos de alto valor tinham sido furtados.
Noções de Direito Penal

e) peculato mediante erro de outrem. Diante da situação hipotética, Caio, em tese,


a) praticou o crime de peculato culposo.
60. (2019/VUNESP/Prefeitura de Valinhos – SP) Segundo o b) praticou o crime de peculato-furto.
Código Penal, o peculato é um tipo de crime c) praticou o crime de peculato-apropriação.
a) de falsidade documental. d) praticou o crime de peculato mediante erro de ou-
b) contra o patrimônio. trem.
c) contra a Administração Pública. e) não praticou qualquer crime.
d) contra a fé pública.
e) contra a pessoa. 65. (2019/VUNESP/Prefeitura de Campinas – SP) Mévio,
funcionário público, trabalha em um posto de saúde.
61. (2019/VUNESP/Prefeitura de Valinhos – SP) Artêmis, Ele é vizinho de Tícia, moça com quem ele gostaria de
maior de idade, estava passando em frente a uma loja namorar. Em determinado dia, Mévio encontra Tícia,
de produtos eletrônicos e, com o uso de uma chave acompanhando a mãe, senhora que necessitava de
falsa, logrou êxito em adentrar ao estabelecimento para atendimento médico não urgente, na fila de espera,

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por ordem de chegada, critério de atendimento esta- 69. (2019/VUNESP/IPREMM – SP) A conduta de exigir para
belecido pelo serviço público. Para impressionar Tícia, outrem, indiretamente, antes de assumir a função pú-
Mévio coloca a ficha cadastral de sua mãe à frente das blica, mas em razão dela, vantagem indevida,
de outros pacientes, sendo ela chamada logo à sala do a) configura concussão.
médico. Em gratidão ao gesto, Tícia decide ir ao cine- b) configura excesso de exação.
ma, com Mévio. Diante da situação hipotética, Mévio c) configura peculato-desvio.
praticou, em tese, o crime de d) configura peculato-apropriação.
a) corrupção passiva. e) não configura crime contra a Administração Pública.
b) prevaricação.
c) advocacia administrativa. 70. (2019/VUNESP/IPREMM – SP) O art. 312 do CP, que
d) condescendência criminosa. tipifica o crime de peculato, assim determina em seu
e) concussão. caput: “apropriar-se o funcionário público de dinheiro,
valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particu-
66. (2014/VUNESP/TJ-PA) Assinale a alternativa que contém lar, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo,
somente causas de extinção da punibilidade, de acordo em proveito próprio ou alheio. Pena: reclusão, de dois
com o artigo 107 do Código Penal. a doze anos, e multa”. Por sua vez, determina o § 1° do
a) Por erro sobre a pessoa; pela decadência ou pela mesmo dispositivo legal que “se o funcionário público,
retratação do agente, nos casos em que a lei admite. embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem,
b) Pela morte do agente; por anistia ou por renúncia o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em pro-
do direito de queixa nos crimes de ação privada. veito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe
c) Pelo perdão judicial nos casos previstos em lei; pela proporciona a qualidade de funcionário”, aplicar-se-á
perempção ou por legítima defesa. a) a pena equivalente ao crime cometido pelo particu-
lar com quem o funcionário concorre.
d) Pela graça; pela prescrição ou por erro na execução.
b) a pena do caput, diminuída de 1/6 a 1/3.
e) Pelo abolitio criminis; pela inimputabilidade penal
c) a pena do caput, diminuída da metade.
ou por indulto.
d) a mesma pena.
e) pena alguma, pois a conduta é penalmente atípica,
67. (2019/VUNESP/Prefeitura de Francisco Morato – SP) devendo apenas ser apurada infração administrativa.
A respeito dos crimes contra a administração pública,
previstos nos artigos 312 a 359-H, do Código Penal, 71. (2019/VUNESP/Prefeitura de Ribeirão Preto – SP) O
assinale a alternativa correta. Procurador do Município que patrocinar, indiretamen-
a) O crime de favorecimento pessoal (art. 348 do CP) te, interesse privado perante a Secretaria Municipal da
só se caracteriza se o auxílio é prestado a autor de Fazenda, valendo-se da qualidade de servidor público,
crime a que cominada pena de reclusão. sujeita-se a responsabilidade, em tese, por
b) O crime de tráfico de influência (art. 332 do CP) é a) crime praticado por particular contra a Adminis-
próprio de funcionário público. tração em geral, pelos fatos terem sido praticados
c) O crime de violação de sigilo funcional (art. 325 do indiretamente.
CP) só se caracteriza se da revelação resultar prejuízo b) crime praticado por particular contra a ordem tribu-
à Administração Pública. tária, pelos fatos terem sido praticados por interpos-
d) O crime de corrupção ativa (art. 333 do CP) só se ta pessoa.
caracteriza se o ato de ofício, em razão da vantagem c) crime praticado por particular contra a ordem fiscal,
oferecida ou prometida, for omitido, praticado ou pelos fatos terem ocorrido fora do local de exercício
retardado. do agente público.
e) O crime de desacato (art. 331 do CP) só se caracte- d) crime funcional contra a ordem tributária.
riza se o funcionário púbico estiver no exercício da e) infração funcional à legislação tributária, mediante
função ou em razão dela. Ação Anulatória.

68. (2019/VUNESP/IPREMM – SP) No que concerne ao con- 72. (2019/VUNESP/Prefeitura de Cerquilho – SP) Assinale
ceito de funcionário público e equiparados, para fins a alternativa correta quanto ao correto entendimento
penais (CP, art. 327), é correto afirmar que sobre a parte especial do Código Penal e leis penais
especiais.
a) a falta de remuneração impede a caracterização do
a) A reparação do dano realizada antes da sentença
indivíduo como funcionário.
penal irrecorrível por crime de peculato culposo
Noções de Direito Penal

b) a transitoriedade da função pública afasta a possi-


permite a redução da pena pela metade.
bilidade de caracterização do indivíduo como fun- b) Funcionário público, com cargo em comissão, que
cionário. altera sistema de informações ou programa de in-
c) aquele que trabalha para empresa prestadora de formática sem autorização ou solicitação de autori-
serviço contratada para a execução de atividade dade competente, causando danos à Administração
típica da Administração Pública é equiparado a fun- Pública, pode ser punido com pena de detenção de
cionário. três meses a um ano e multa.
d) por ausência de expressa previsão legal, aquele que c) O crime de divulgação de segredo somente se pro-
exerce cargo em entidade paraestatal não é consi- cede mediante representação.
derado funcionário. d) É crime de responsabilidade contra a probidade na
e) o funcionário que trabalha em função de direção em Administração, a omissão culposa de publicação das
fundação instituída pelo poder público, ao cometer leis e resoluções do Poder Legislativo.
crime contra a Administração, terá a pena aumen- e) Nos crimes de lavagem ou ocultação de bens, direito
tada de metade. e valores, é efeito da condenação, por dois terços

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do tempo da pena privativa de liberdade aplicada, a b) configura advocacia administrativa.
interdição do exercício de cargo ou função pública de c) configura corrupção passiva.
qualquer natureza e de diretor das pessoas jurídicas d) é punida com pena de detenção de 1 (um) a 2 (dois)
que tenham, em caráter permanente, como ativida- anos, e multa.
de principal a captação, intermediação e aplicação e) não é típica se o interesse patrocinado é legítimo.
de recursos financeiros de terceiros, em moeda na-
cional ou estrangeira. 77. (2019/VUNESP/Prefeitura de Guarulhos – SP) A con-
duta de solicitar, para si, diretamente, ainda que fora
73. (2019/VUNESP/Prefeitura de Cerquilho – SP) Assinale da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela,
a alternativa correta. vantagem indevida, configura crime de
a) Nos crimes cometidos sem violência ou grave ame- a) peculato (CP, art. 312).
aça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, b) concussão (CP, art. 316).
até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato c) excesso de exação (CP, art. 316, § 1º).
voluntário do agente, a pena será reduzida de um a d) corrupção passiva (CP, art. 317).
dois terços. e) corrupção ativa (CP, art. 333).
b) Quando se tratar de crime continuado, a prescrição
regula-se pela pena imposta na sentença e compre- 78. (2019/VUNESP/Prefeitura de Guarulhos – SP) Assinale
ende o acréscimo decorrente da continuação. a alternativa correta, no que tange ao tratamento que
c) A sentença concessiva do perdão judicial é declara- o CP dá à imputabilidade penal (arts. 26 a 28).
tória da extinção da punibilidade, mas subsistem os a) Aplicar-se-á exclusivamente medida de segurança se,
efeitos secundários da condenação. em virtude de perturbação de saúde mental ou por
d) A pena para o crime de quem faz uso de selo públi- desenvolvimento mental incompleto ou retardado
co falsificado, destinado a autenticar atos oficiais o agente não era inteiramente capaz de entender o
de Município, é de reclusão de um a quatro anos caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo
e multa e é aumentada em um terço se o agente é com esse entendimento.
funcionário público. b) É isento de pena o agente que, por doença mental ou
e) A divulgação indevida praticada por funcionário pú- desenvolvimento mental incompleto ou retardado,
blico, com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente
comprometer a credibilidade do certame, conteúdo incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
sigiloso de exame ou processo seletivo previstos em determinar-se de acordo com esse entendimento.
lei com danos à Administração Pública é punível com c) Os menores de 21 (vinte e um) anos são penalmente
reclusão de dois a seis anos de reclusão e multa. inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabeleci-
das na legislação especial.
74. (2019/VUNESP/Prefeitura de São José do Rio Preto – SP)
d) A emoção ou a paixão excluem a imputabilidade pe-
A conduta do funcionário público que, por indulgência,
nal para os delitos que exigem especial fim de agir.
deixa de responsabilizar subordinado que cometeu in-
e) A embriaguez culposa, pelo álcool ou substância de
fração no exercício do cargo
efeitos análogos, exclui a imputabilidade penal.
a) configura crime de concussão.
b) configura crime de prevaricação.
c) configura crime de usurpação de função pública. 79. (2019/VUNESP/Prefeitura de Guarulhos – SP) No que
d) configura crime de condescendência criminosa. concerne ao erro sobre a ilicitude do fato, matéria trata-
e) não configura crime, mas mera infração funcional. da no art. 21 do CP, assinale a alternativa que preenche
correta e respectivamente as lacunas:
75. (2019/VUNESP/Câmara de Piracicaba – SP) Sobre os “O desconhecimento da lei é __________________.
crimes contra a Administração Pública (arts. 312 a 359- O erro sobre a ilicitude do fato, se inevi-
H, do Código Penal), assinale a alternativa correta. tável, __________________; se evitável,
a) A conduta de extraviar livro oficial de que se tem __________________.”
a guarda em razão do cargo caracteriza o crime de a) escusável... isenta de pena... poderá diminuí-la de
corrupção passiva. um sexto a um terço
b) A conduta de patrocinar interesse privado perante a b) escusável... poderá diminuí-la de um sexto a um
Administração Pública, valendo-se da qualidade de terço... da metade
funcionário público, caracteriza o crime de tráfico c) inescusável... poderá diminuí-la de um sexto a um
de influência. terço... da metade
Noções de Direito Penal

c) A conduta de desobedecer ordem, ainda que ilegal, d) inescusável... poderá diminuí-la da metade... de um
de funcionário público caracteriza o crime de deso- sexto a um terço
bediência. e) inescusável... isenta de pena... poderá diminuí-la de
d) Importar mercadoria proibida caracteriza o crime de um sexto a um terço
descaminho.
e) Inovar artificialmente em processo administrativo o 80. (2019/VUNESP/Câmara de Sertãozinho – SP) A respeito
estado de lugar, com o fim de induzir a erro o juiz, dos crimes contra a administração pública, previstos no
caracteriza crime de fraude processual. Código Penal, assinale a alternativa correta.
a) O crime de peculato apenas se configura quando o
76. (2019/VUNESP/Prefeitura de Guarulhos – SP) De acor- bem móvel apropriado ou desviado pelo funcionário
do com o CP, a conduta de funcionário público que, público for público.
valendo-se dessa qualidade, patrocina interesse privado b) No crime de peculato, na modalidade culposa, a
perante a Administração Pública reparação do dano até a condenação recorrível ex-
a) configura prevaricação. tingue a punibilidade.

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c) O crime de exercício arbitrário das próprias razões e) O crime de favorecimento pessoal (art. 348, do CP)
apenas se configura se a pretensão a ser satisfeita não se caracteriza se o auxílio é prestado a autor de
for ilegítima. crime apenado com detenção.
d) O crime de promover ou facilitar a fuga de pessoa
só admite sujeito ativo funcionário público. 85. (2019/VUNESP/TJ-RS) Considere a seguinte situação
e) O crime de exploração de prestígio somente pode hipotética e assinale a alternativa correta.
ser praticado por funcionário público. Pedro e Paulo combinam de furtar uma quitanda. Acer-
tam que, dentro do estabelecimento, um deles distrairá
81. (2018/VUNESP/Câmara de Orlândia – SP) O crime de o dono do estabelecimento, fingindo um desmaio, en-
“modificação ou alteração não autorizada de sistema quanto o outro, sem ser visto, aproximar-se-á da caixa
de informações” tem a pena aumentada (CP, art. 313-B, registradora e subtrairá, sorrateiramente, as cédulas de
parágrafo único) dinheiro que lá se encontram. No dia da ação crimino-
a) de um sexto a um terço, se praticado no período sa, sem que Pedro saiba, Paulo carrega uma arma de
noturno ou fora do expediente regular. fogo consigo. Quando Paulo finge o desmaio o dono da
b) de um terço, se houver violência contra coisa ou
quitanda percebe que ele portava uma arma de fogo
pessoa.
e foge, levando consigo a chave da caixa registradora.
c) de um terço até a metade, se da modificação ou
alteração resulta dano para o administrado. Paulo, então, dispara e mata o dono da quitanda. Em
d) de até a metade, se praticado em concurso de pes- seguida, Paulo pega a chave, recolhe o dinheiro da caixa
soas. registradora e foge, acompanhado de Pedro.
e) de um a dois terços, caso haja vultoso prejuízo para a) Pedro será punido com a pena do furto simples, pois
a Administração Pública. quis participar de crime menos grave.
b) Pedro será punido por roubo qualificado pelo resul-
82. (2019/VUNESP/Câmara de Monte Alto – SP) O funcio- tado morte, com pena aumentada pelo uso de arma
nário público que exige tributo ou contribuição social de fogo.
que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, c) Pedro será punido com a pena do furto qualificado,
emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que pois quis participar de crime menos grave.
a lei não autoriza, comete crime de d) Paulo responderá por roubo impróprio, com pena
a) peculato. aumentada pelo uso de arma de fogo e pelo resul-
b) concussão. tado morte.
c) descaminho e) Pedro e Paulo, unidos pelo liame subjetivo do con-
d) corrupção passiva curso de pessoas, estarão sujeitos à mesma pena
e) excesso de exação. corporal.
83. (2019/VUNESP/Câmara de Monte Alto – SP) De acordo
86. (2019/VUNESP/TJ-AC) Assinale a alternativa correta.
com Súmula do Superior Tribunal de Justiça,
a) O excesso de exação é subtipo do delito de con-
a) na ação de mandado de segurança se admite con-
denação em honorários advocatícios. cussão que implica pena mínima mais grave que a
b) a fixação do horário bancário, para atendimento ao prevista no tipo principal.
público, é da competência do Município. b) O crime de corrupção ativa de testemunha, perito,
c) o princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contador, tradutor ou intérprete é material e permite
contra a Administração Pública. a forma tentada.
d) compete ao juiz estadual, nas comarcas que não c) A reparação do dano no crime de peculato culposo,
sejam sede de vara da Justiça Federal, processar e realizada antes da sentença condenatória irrecorrí-
julgar ação civil pública, desde que a União não figure vel é causa de diminuição de um terço a metade da
no processo. pena.
e) o Ministério Público não tem legitimidade para d) As fraudes em certames de interesse público é crime
propor ação civil pública em defesa do patrimônio próprio, praticado apenas por funcionário público.
público.
87. (2019/VUNESP/TJ-AC) Assinale a alternativa correta.
84. (2019/VUNESP/Câmara de Serrana – SP) A respeito dos a) Agente que impõe à vítima, como garantia de dí-
crimes contra a administração pública, previstos no Có- vida, a exigência ou o recebimento de documento
digo Penal, assinale a alternativa correta.
Noções de Direito Penal

que pode dar causa a procedimento criminal contra


a) O crime de inserção de dados falsos em sistema de esta ou terceiro, responde pelo delito de extorsão
informações (art. 313-A, do CP) não é próprio de
indireta.
funcionário público.
b) O crime de receptação dolosa imprópria independe
b) O crime de usurpação de função pública (art. 328, do
CP) somente se configura se o agente da usurpação da boa-fé do terceiro no recebimento da coisa ilícita
aufere vantagem. para efeito de responsabilização penal deste.
c) No crime de sonegação de contribuição previdenci- c) A pena do furto qualificado de veículo automotor
ária (art. 337-A), o perdão judicial da pena é obri- transportado para outro Estado ou para o exterior
gatório, caso o agente seja primário e de bons an- será de 02 (dois)
tecedentes, e as contribuições devidas de pequeno a) 08 (oito) anos de reclusão e multa.
valor. d) Agente que pratica o crime de roubo com o emprego
d) No crime de denunciação caluniosa (art. 339, do CP), de faca será responsabilizado pela qualificadora do
haverá aumento da pena se o agente se utiliza de emprego de arma, com pena aumentada em dois
anonimato. terços.

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