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Eça de Queiróz – o homem

Eça de Queiróz nasceu a 25 de novembro de 1845, na Póvoa do Varzim. É o filho natural do


magistrado Dr. José Maria e Almeida Teixeira de Queiróz e de D. Carolina Augusta Pereira de Eça,
não sendo casados. Logo após o parto a mãe regressa a Viana do Castelo, de onde era natural, e
a criança é entregue aos cuidados de uma ama-de-leite, Ana Joaquina Leal de Barros, que virá a
ser a sua madrinha de batismo, em Vila do Conde. Da casa da ama sairá em 1845, para viver em
casa dos avós paternos,a casa de Verdemilho, em Aradas, Aveiro, apesar dos seus pais terem
casado quatro anos após o seu nascimento. Rejeitado pela mãe e muito presumivelmente não
desejado pelo pai, estas são as circunstâncias fundamentais do nascimento de José Maria, que
virão a deixar marcas nos seus comportamentos e na sua obra.

A 1 de dezembro de 1845, José Maria, que toma o nome do pai, é batizado na igreja matriz de
Vila do Conde, o padrinho será o “Senhor dos Aflitos”. Parece premonitória esta circunstância pois
muito virá a sofrer ao longo da sua vida, tanto a nível financeiro como de saúde.

Eça passou grande parte da sua infância na cidade de Aveiro aos cuidados da avó, tendo ido mais
tarde para o Porto, em 1855, onde é matriculado no Colégio da Lapa (dirigido pelo pai de Ramalho
Ortigão). Aqui fará a escolaridade obrigatória, até ao seu ingresso na Universidade. É aqui no
Colégio da Lapa que conhecerá os irmãos Resende, Luís e Manuel, que virão a ser seus futuros
cunhados.

Em 1861, seguindo as pegadas do pai, matricula-se no primeiro ano da Faculdade de Direito de


Coimbra.

Já formado em Direito, em 1866, instala-se em Lisboa, em casa dos pais, no número 26 4º andar
do Rossio, inscrevendo-se como advogado no Supremo Tribunal de Justiça. Passados seis anos,
em 1872, é nomeado cônsul de 1ª classe nas Antilhas espanholas. No final desse ano é
empossado no seu cargo em Havana, onde permanecerá durante dois anos. É durante este
período que se interessa pela causa dos “coolis” (chineses oriundos de Macau) que viviam numa
situação semelhante à dos escravos nas plantações de cana-de-açucar.

Em 1873, viaja pelo Canadá, Estados Unidos e América Central, fruto de uma licença solicitada ao
Ministério dos Negócios Estrangeiros para se ausentar das Antilhas, devido a um surto de febres.
Estas viagens surgem não só por indicação médica mas também com o intuito de privar com duas
americanas, Mollie Bidwel e Anna Conover, que conhecera em Cuba.
Um ano mais tarde, Eça é transferido para o consulado de Newcastle-upon-Tyne, em Inglaterra.
No entanto, Eça não aprecia a cidade porque o impalpável – spleen – (descontentamento
profundo, tédio em relação à vida) habitava em todos os lugares e em todas as pessoas; passa
dedicar-se inteiramente à escrita, é o seu período mais produtivo.

Por de decreto de 30 de julho de 1878, Eça é transferido para o consulado de Bristol, Inglaterra,
onde permanece até 1879. Por esta data muda-se para França, para Dinan. De 30 de setembro a
20 de outubro, Eça permanece em Angers onde se deixa fotografar com uma jovem mulher,
juntamento com o seu irmão Alberto. Desta mulher nada se sabe, permanece até aos dis de hoje
como a “Bela Desconhecida”.

Entre maio e junho de 1882, Eça está de novo em Angers, regressando a Bristol no mês de julho. No
ano seguinte, 1883, Eça passa os meses de abril, maio e junho em Portugal.

O ano de 1884, mostra-nos um Eça “sensaborão” à procura de uma “criatura ideal”. Em outubro
visita a Costa Nova na companhia da condessa de Resende e das suas duas filhas Emília e Benedita.
Em Emíla de Castro, Eça encontra a “criatura ideal”, e com o auxílio de um companheiro do antigo
Colégio da Lapa, Manuel de Castro, pede a mão de Emília à condessa de resende a 30 de agosto de
1885. A sua legitimação é tornada oficial pelos pais a 23 de dezembro.

A 10 de fevereiro de 1886, Eça casa com Emília de Castro Pamplona, no oratório particular da
Quinta de Santo Ovídio, no Porto. Foram seus padrinhos Ramalho Ortigão e Manuel Castro.
Regressa a Bristol via Madrid e Paris, já acompanhado pela sua jovem esposa.

Em 16 de janeiro de 1887, nasce Maria, a sua primeira filha, no solar de Santo Ovídio, no Porto. A
26 de fevereiro de 1887 nasce José Maria, o segundo filho de Eça.

A 26 de agosto desse mesmo ano é nomeado consul de Paris, cargo que toma posse a 20 de
setembro.

A 30 de dezembro de 1889, nasce em Paris António, o terceiro filho de Eça. Em 6 de abril de 1891,
nasce Alberto o quarto e último filho de Eça.

Em agosto de 1897 Eça, acompanhado pelo diplomata brasileiro Domício da Gama, faz uma cura
termal em Plombières, tal como prescrito pelo seu médico, Dr. Melo Viana.

Durante o mês de fevereiro de 1900, Eça viaja pelo sul de França – Arcachon, Biarritz, Pau e
Lourdes – por motivos de saúde. Em junho, o seu filho mais velho adoece gravemente com
“coreia”. Emíla vai para Fontainebleau, enquanto Eça fica em paris com os outros filhos, que
entretanto adoecem com escarlatina. Com o seu estado de saúde muito abalado, Ea parte a 28 de
julho para a Suíça, via Genève, com Ramalho Ortigão. A sua saúde piorando, decide voltar para
Paris, onde chega a 11 de agosto.

No dia 16, pelas 16h:35m, morre em casa na Avenue du Roule, 38, com 55 anos de idade. Em
setembro, o seu corpo é transladado para Portugal, sendo enterrado no cemitério do Alto de S. João
em Lisboa. Em 1898, é transladado para o cemitério de santa Cruz do Douro, em Baião.

A partir de descrições e de fotografias facilmente associamos ao escritor fragilidade física e


doença, apesar da sua altura estimada entre 1,72 e 1,75 m. Eça de Queiróz viajava e trabalhava
muito, alimentava recatadas mas ousadas aventuras amorosas, fumava, apreciava boa mesa e
saboreava longas noitadas. Aparentemente nem a família nem os seus médicos se terão
apercebido da gravidade da sua doença. De uma forma geral os biógrafos estão de acordo quanto
à fragil saúde de Eça nos últimos meses ou até no último ano de vida. O médico que mais
acompanhou Eça foi o brasileiro Dr. Melo Viana.

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O Primo Basílio – exemplo de crítica social

A crítica social em O Primo Basílio é contra toda a sociedade lisboeta, marcada pela ociosodade, a
futilidade, a devassidão, a imoralidade, a hipocrisia social, a superficialidade nos relacionamentos, a
falsidade e a arrogância que o dinheiro parece criar em determinados indivíduos.

“Quando era estudante na Politécnica, às oito horas recolhia-se, acendia o seu candeeiro de latão,
abria os seus compêndios. Não frequentava botequins, nem fazia noitadas. Só duas vezes por
semana, regularmente, ia ver uma rapariguita costureira, a Eufrásia, que vivia ao Borratem, e nos
dias em que o Brasileiro, o seu homem, ia jogar o bóston ao clube, recebia Jorge com grandes
cautelas e palavras muito exaltadas; era enjeitada, e no seu corpinho fino e magro havia sempre o
cheiro relentado de uma pontinha de febre.” (capítulo I – descrição sobre Jorge)

“De resto pelo que tinha visto, as mulheres em Lisboa cada dia se vestiam pior! Era atroz! Não
dizia por ela; até aquele vestido tinha chique, era simples, era honesto. Mas em geral era um
horror. Em Paris! Que deliciosas, que frescas as toaletes daquele verão! Oh! Mas em Paris!... Tudo
é superior! Por exemplo, desde que chegara ainda não pudera comer. Positivamente não podia
comer! - Só em Paris se come - resumiu.” (capítulo III – fala de Basílio)

Beatriz Luis, nrº 3, 11º C

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