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Os
personagens que se destacaram. Dona Marina e Serra, silenciosos.
Hélio Fernandes
Dona Marina, presidenciável – Ficou o dia e a noite no plenário. Praticamente sem uma
palavra, mas acompanhando tudo. Era chamada de “candidata para 2014”, e nos bastidores do PV
isso era fato consumado. Parece mesmo. Mas Dona Marina se baseia em quê? Nos 20 milhões que
em 2010, à ultima hora, “fugiram” para ela? Não tem uma possibilidade em 1 milhao de ganhar. De
Dilma, Lula ou outro adventício.
“Grande Aldo” – Nunca imaginou que fosse tão aplaudido pelos mais reacionários dos
ruralistas. Ficou tão empolgado que exagerou, hostilizou, agrediu, foi advertido, jeitosamente mas
duramente, pelo presidente da Câmara. Se acomodou, reconheceu que se exaltou. Não respondeu
mais a ninguém.
Ronaldo Caiado – Foi o grande artífice da vitória (momentânea) dos ruralistas. Estava em
todos os lugares, discursando, convencendo. A colaboração de Aldo Rebelo foi teórica, a de
Caiado, efetiva. Sendo conservador quase reacionário, grande vitorioso.
Alfredo Sirkis – Foi insistente, não desapareceu um minuto que fosse. Seu combate foi
incessante, e fustigando os ruralistas de forma veemente. Chegou a falar como líder do PV,
mostrou que essa bancada também está dividida. Na tribuna, o líder nominal do PV foi ao
presidente e disse que ele é que devia falar. O que Marco Maia podia fazer? Deu a palavra a ele.
Candido Vaccarezza – Líder inexpressivo, ou melhor, sem expressão. Apenas pedia calma,
não se destacou em qualquer momento, não é nenhuma personalidade, está longe de ser orador.
Por que o governo “entroniza” um líder como esse? É a vocação da derrota. Paulo Teixeira, “líder
do PT”, é muito melhor. Sem ser brilhante, é mais competente e até combatente.
***
A EXPLOSÃO DA BASE
A grande derrota do governo Dilma, se deu em duas fazes. E não foi vitória dos ruralistas,
e sim conspiração dos trânsfugas do PMDB e do próprio PT. Não era segredo que o governo
perderia, como aconteceu na semana passada.
O PT fez tudo para parar na primeira votação, não conseguiu. Os que não queriam votar
mais, não tinham comando ou liderança, mas não podiam se enganar. Sabiam que não venceriam
e, mais grave, a base partidária explodiria, não sobraria coisa alguma. Foi o que aconteceu.
***
DIVIDIR, DIMINUIR E TRAIR
Os 182 que votaram com o Planalto, com os outros 63 (que fugiram do compromisso),
atingiriam o número de 245, mais do que suficiente para a derrota dos ruralistas. Estes, que
tiveram 273 votos, recuariam para 210, se os 63 tivessem honrado os compromissos e as
compensações que receberam.
***
“ISSO É UMA VERGONHA”
O bordão de Casoy, usurpado por Dilma. Se a base tivesse votado de forma, digamos,
homogênea, a presidente não precisaria utilizar o que o apresentador consagrou como chavão. Mas
o que é que a presidente Dilma dizia que era uma vergonha?
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PLURIPARTIDARISMO E PARLAMENTARISMO
Para um território maior e uma população bem mais alta (190 milhões na Filial e 300
milhões na Matriz), os representantes aqui, inacreditavelmente exagerados. São 513 e ainda
querem aumentar esse número. Nos EUA são 425 deputados.
Na Itália, o maior exemplo desse sistema parlamentarista, o povo vota nos partidos, o
presidente e o primeiro-ministro não são eleitos. O presidente (personagem idoso e notável)
chama o líder do partido majoritário e “pede a ele que forme o Gabinete”. Ele então vai fazendo
acordos com os diversos partidos, até conseguir maioria suficiente, que resista a “um voto de
confiança”.
No pluripartidarismo parlamentarista, os acordos são feitos antes, abertamente, o povo
acompanha, sabe que é assim mesmo. No pluripartidarismo brasileiro, os “acordos” são feitos
depois, não escapam de identificação de CORRUPTOS, e são mesmo.
***
PS – Agora o país terá que esperar um tempo enorme até que o projeto chegue ao Senado,
seja discutido, votado, emendado, aprovado de qualquer maneira. Aí volta para a Câmara,
dependerá das emendas feitas no Senado.
O governo tentou tudo para não haver votação. Não conseguiu de jeito nenhum. A base se
dividiu de tal forma assustadora (para o Planalto), tentaram de tudo. Não houve jeito. Eram
dezenas de “líderes” no esforço inútil de “encaminhar” uma votação, dezenas de vezes, e sempre
ultrapassados.
Há 15 dias, derrotado, o próprio governo, em nota oficial, afirmou: “Só votaremos quando
tivermos certeza da vitória”. Ora, como essa base, montada e coordenada (?) em cima de cargos,
de concessões e exploração dos recursos públicos, exibe inacreditável fragilidade, tiveram que
votar.
Daquela multidão do plenário, poucos ruralistas sabiam o que deviam ou precisavam votar.
Dez ex-ministros do Meio Ambiente foram ao Planalto recomendando a REJEIÇÃO, redigiram
documento. Eram dos mais diversos partidos, não foram seguidos.
Alguns deputados foram para a tribuna, e garantiram sem constrangimento: “Meu pai,
ruralista, me disse, vai lá e vota”. O resto não interessava. E o refrão dos ruralistas durante toda a
noite foi este: “Se não plantarmos, vocês todos (e apontavam para os ambientalistas) irão morrer
de fome”. Se apresentavam como “os salvadores da humanidade”.
Só por produzirem alimentos têm que enriquecer fora da lei, convencidos de que são
absolutos, e a humanidade depende unicamente deles ou todos ficaremos sem comer? Só um
exemplo; se a industria automobilística não fabricar carros, caminhões e todas as maquinas
agricolas que precisam, produzirão cavando com as mãos?
É evidente que todos são importantes, dependendo uns dos outros, só formarão uma
comunidade se se entenderem. E isso pode acontecer, mas não com ódio e arrogância. E o que
havia no plenário, até a madrugada, era ódio e arrogância.
***
PS – Agora, esse esboço de Código Florestal vai para o Senado, de lá volta para a Câmara,
é uma tragédia burguesa de muitos capítulos. Ou se entendem, se acertam, decidem em favor do
país, ou podem fechar para balanço.
PS2 – Mas não termina aí. Em determinado momento, num silencio espantoso, Vaccarezza
foi para a tribuna e leu uma porção de coisas que traduziu e simplificou assim: “Acabei de falar
com a presidente Dilma, ela me disse: “Não tem importância SE VOTAREM DIFERENTE DO QUE
ESTABELECI, VETAREI TUDO”. Assombro geral. E meu.
PS3 – tendo ficado assistindo pela madrugada, a recompensa do repórter: nunca em toda a
minha vida assisti ameaça tão aberta e ostensiva quanto essa. E sou o único repórter que cobri e
escrevi sobre a Constituinte de 1946. Espantoso o “recado” do Executivo.
PS4 – Quem está em pânico: Palocci. Agora, a CPI quase certo de sair. Pode não dar em
nada. Mas antes ele será chamado ao Congresso, onde será massacrado.