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CULTURA DO ARROZ IRRIGADO

Dinis Vasco Chilundo

Gaza, Fevereiro de 2020


INDICE
I. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 4

1.1. Generalidades ................................................................................................................... 4


1.2. Objectivos......................................................................................................................... 5
1.2.1. Geral .......................................................................................................................... 5
1.2.2. Específicos ................................................................................................................ 5
II. METODOLOGIA .................................................................................................................... 6

III. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................................ 7

3.1. Origem do arroz ............................................................................................................... 7


3.2. Características do arroz .................................................................................................... 7
3.3. Preparo do solo ................................................................................................................. 8
3.4. Selecção da semente ......................................................................................................... 9
3.5. Sementeira/plantação ..................................................................................................... 10
3.5.1. Sementeira directa ................................................................................................... 10
3.5.2. Transplantação de plântulas de arroz ...................................................................... 10
3.6. Como fazer a pré-germinação da semente do arroz ....................................................... 13
3.7. Crescimento e desenvolvimento da cultura de arroz ...................................................... 13
3.7.1. Tipos de solo ........................................................................................................... 13
3.7.2. pH do solo ............................................................................................................... 18
3.8. Principais pragas e doenças da cultura de arroz ............................................................. 18
3.8.1. Pragas do colmo ...................................................................................................... 18
3.8.2. Pragas associadas às folhas ..................................................................................... 19
3.9. Exigências edafoclimáticas da cultura de arroz ............................................................. 20
3.10. Maneio da cultura do arroz ......................................................................................... 21
3.10.1. Gestão da água ........................................................................................................ 21
3.11. Controle de plantas infestantes ................................................................................... 22
3.12. Utilização de fertilizantes na cultura de arroz irrigado ............................................... 23
3.13. Maneio da salinidade .................................................................................................. 26
3.14. Uso de estrume animal ............................................................................................... 26
3.15. Afugentamento das aves ............................................................................................. 27
3.16. Colheita....................................................................................................................... 27
3.16.1. Regulagem do maquinário ...................................................................................... 27
3.17. Moagem ...................................................................................................................... 28
3.18. Armazenamento .......................................................................................................... 28
3.19. Maneio de resíduos ..................................................................................................... 29
3.20. Rotação de culturas ..................................................................................................... 30
IV. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 30

V. APENDICES E ANEXOS..................................................................................................... 33
Cultura do Arroz Irrigado

I. INTRODUÇÃO
1.1.Generalidades
O arroz (Oryza sativa L.) é uma cultura monocotiledónea da família das gramíneas (Poaceae) e
originária das Himalais e é maioritariamente cultivada na zona tropical. O arroz possui uma grande
importância para a alimentação humana, pois ele é rico em carbohidratos, proteínas, vitaminas e minerais
importantes na alimentação humana (Soares, 2012; www.aparroz.org).

O arroz é o segundo cereal mais produzido no mundo e o principal alimento consumido por mais
da metade da população no planeta, está entre as culturas de maior importância no mundo com
uma produção anual de 680.6 milhões de toneladas, sendo que o trigo e o milho ocupam o
primeiro e terceiro lugar respectivamente (Soares, 2012).

A China é o maior produtor mundial de arroz tendo conseguido nos anos 2012 e 2013 uma
produção de mais de 205 milhões de toneladas em áreas que se aproximam em 30 milhões de
hectares com rendimentos de cerca de 6.8 ton.ha-1, a Índia é o segundo maior produtor de arroz
com uma produção de cerca de 159 milhões de toneladas numa área estimada em 43.5 milhões
de hectares com rendimentos de 3.7 ton.ha-1 (Lemes et al., 2012; Organização das Nações
Unidas para Alimentação e Agricultura [FAO] (2013); Mudema e Manjate, 2014; Siqueira,
2010).

A produção de arroz em África foi de 14.20 milhões de toneladas em 2006. O Sul de África,
apresenta níveis mais baixos de produção contribuindo com cerca de 1.41% da produção do
continente e o Oeste da África é que contribui com 65.53% e a áfrica oriental com 32.39% de
acordo com a Bolsa de Mercadorias de Moçambique [BMM] & Instituto Nacional de Estatística
[INE] (2016). O TIA (2002-2012) mostra que a taxa de crescimento da produção de arroz é
estimada em 6.9% por ano, o período em consideração, Mosca (2011) referiu que em
Moçambique o consumo médio de arroz é cerca de 20.3 kg/ano/pessoa.

Em Moçambique, a produção de arroz é feita maioritariamente pelas pequenas explorações que


representam cerca de 96.12% do número total de produtores, seguida pelas grandes e médias
explorações com 2.29% e 1.6% respectivamente. Em termos de distribuição da cultura de arroz
em números de explorações como cultura alimentar básica por província, a província da
Zambézia representa 45.26%, seguida de Sofala com 32.01%, Nampula com 14.46%, Inhambane

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com 5.97% e Gaza com 4.91% (INE, 2011). De acordo com Mudema e Manjate (2014), o
potencial de produção deste cereal situa-se em cerca de 900 mil hectares de terra para o cultivo.
De acordo com as estimativas da FAO (2013), nos anos de 2012 e 2013 houve uma produção de
cerca de 280 000 e 351 000 toneladas em áreas que variavam de 238 000 a 300 000 ha, tendo-se
observado rendimentos na ordem de 1.17 ton.ha-1.

De acordo com Zingore et al (2014), os rendimentos actualmente obtidos são limitados por
múltiplos factores que reduzem a produtividade do arroz. De forma a melhorar os rendimentos
da cultura e o lucro do agricultor, um conjunto de “boas práticas” deverá ser aplicado desde a
preparação do solo até à colheita e à conservação do grão na fase pós-colheita.

As boas práticas incluem: boa preparação do solo, utilização de semente de boa qualidade e de
variedades melhoradas, utilização de uma densidade de plantas correcta durante o transplante ou
sementeira, sementeira /plantação atempada(o), monda eficaz das plantas infestantes nas alturas
certas, maneio eficaz das pragas e doenças, maneio eficaz da água de irrigação, com especial
atenção para a manutenção dos níveis correctos de água nos diferentes estágios de crescimento e
desenvolvimento da cultura (no caso de sistemas de regadio), utilização adequada de fertilizantes
químicos e boa gestão dos resíduos das culturas e outros materiais orgânicos disponíveis,
colheita atempada e correcta, uso de prática pós-colheita correctas.

Este trabalho científico do sistema de cultivo do arroz irrigado contém informação sobre estas
“boas práticas” e sua aplicação de forma a permitir aos agricultores a obtenção de melhores
rendimentos nos sistemas de arroz irrigado.

1.2.Objectivos
1.2.1. Geral
 Elaborar um trabalho cientifico do sistema de cultivo do arroz irrigado durante
actividades realizadas no periodo do estágio no campo, na empresa chinesa Wambao
Africa Agriculture Development Lda (WAADL).
1.2.2. Específicos
 Descrever as boas praticas usadas no sistema de cultivo do arroz irrigado;
 Caracteriazar a cultura de arroz irrigado.

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II. METODOLOGIA
Para a elaboração do presente trabalho cientifico foi necessário uma Pesquisa bibliográfica ou
revisão da literatura, que partiu de uma análise crítica, e ampla das publicações de uma
determinada área do conhecimento, que se refere também a busca e consulta de manuais, e pela
análise documental baseada na seleção e avaliação dos documentos e artigos relacionados com o
tema em destaque e também pesquisa em internet, que foram muito cruciais para o entendimento
desta matéria aqui apresentada.

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III. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA


3.1.Origem do arroz
O arroz (Oryza sativa L.) é uma planta monocotiledónea da família das gramíneas (Poaceae). Há
estudos genéticos que referem que foi o arroz selvagem (Oryza rufipogon) que deu origem ao
arroz asiático que se julga ter surgido nos Himalaias originando, devido às diferenças climáticas,
duas subespécies diferentes: Oryza sativa var. Indica do lado indiano e Oryza sativa var.
Japónica do lado chinês. Além do arroz asiático existe outra espécie cultivada de origem
africana - Oryza glaberrima Steur. Enquanto o arroz africano é cultivado há 3 500 anos, na
China o seu cultivo iniciou-se há cerca de 7 000 anos. Como consequência da sua vasta história
enquanto cultivo, existe actualmente um grande número de variedades, estimando-se em cerca de
120 000 (Marques, 2009).

O arroz é uma planta originária do sudeste asiático, havendo relatos de semeadura na China, há
cerca de 5000 anos. Expandiu-se para o resto do mundo através da Índia. Actualmente, é uma
das mais importantes culturas, sendo a principal fonte energética dentre os grãos, constituindo
base da alimentação para mais de 50% da população mundial (FAO, 2006) Dentre os cereais
cultivados, o arroz é o que mais se destaca, por ser alimento básico da maioria da população
mundial.

3.2.Características do arroz
De acordo com NUNES (2010), o sistema radicular da planta é constituído por numerosas raízes
fibrosas, longas e finas que permitem sua rápida fixação no solo. Até frutificar, a planta emite
novas raízes que, ao se ramificarem, aumentam a capacidade de absorção de nutrientes, o que
possibilita o cultivo mesmo em solos pobres. Das raízes surgem numerosas hastes formadas por
uma série de nós e entrenós. Cada nó traz uma folha e uma gema. O perfilhamento das hastes
(cilíndricas) é maior nos solos mais férteis e quando as plantas estão distanciadas entre si. As
touceiras variam de três a cinquenta colmos e cada colmo termina por uma inflorescência, uma
panícula semelhante à aveia. As espiguetas nascem em uma panícula aberta, que é erecta no
florescimento e decumbente na maturação. As flores erectas no florescimento e decumbente na
maturação. As flores são hermafroditas. O androceu possui seis estames que se reúnem em dois
verticilos de três estames cada um. O gineceu tem um único pistilo. O ovário contém um único
óvulo. O estigma, formado por três pequenos lobos, é séssil.

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Os estames e os pistilos ficam contidos em duas glumas de forma navicular. Essas glumas
aderem à semente depois da maturação, formando a cariopse, que caracteriza o arroz em casca e
é eliminada após o beneficiamento. Cada panícula pode conter de 70 a 300 sementes, de 5 a 11
milímetros de comprimento, com formas variando de oblonga, oblonga estreita, arredondada ou
recurvada, ( Figura 01).

3.3.Preparo do solo
Os objectivos a atingir pela preparação do terreno para o cultivo do arroz incluem o controlo das
infestantes, criação de uma boa cama para as plantas do arroz se desenvolverem, obtenção de
uma boa estrutura do solo e incorporação dos resíduos das culturas no solo.

A lavoura profunda deve ser evitada. Uma profundidade de mobilização do solo de 15 a 20 cm é


suficiente para o arroz: a lavoura profunda pode levar a um deslocamento da camada mais fértil
do solo para zonas profundas às quais o arroz não consegue aceder. A lavoura deve ser seguida
pela gradagem. O arroz irrigado, dado o seu método de cultivo em campos alagados, é mais
facilmente cultivado em terrenos quase nivelados. Campos localizados em encostas declivosas
ou que tenham uma superfície irregular, devem ser nivelados para um declive menor que 1%
(uma queda de 1 m por cada 100 m de comprimento) que permita que a água de alagamento
atinja a mesma profundidade por todo o terreno. Durante o nivelamento de um novo campo de
cultivo, a camada superficial do solo deverá ser recolhida e deslocada para outro local, o subsolo
deverá então ser nivelado seguido da devolução da camada superficial do solo à sua posição
inicial. Em campos nivelados há bastante tempo, o nivelamento é feito pela lavoura e gradagem
do solo. De forma alternativa, pode-se erguer diques para separar a parcela em várias secções
niveladas (com cotas de nível diferentes).

A preparação do solo também varia dependendo se o arroz é inicialmente produzido num viveiro
e depois transplantado ou se é directamente semeado no campo de cultivo. Arroz irrigado a
preparação do terreno fica-se pela gradagem no caso da sementeira directa. No caso da
preparação do terreno para transplantação, esta mobilização leve é seguida de “puddling”.
“Puddling” significa lavourado solo alagado que se faz com o objectivo de criar uma camada
compacta para reduzir a perda de água por percolação até o lençol freático. Este tipo de lavoura
em solo alagado é particularmente eficaz em solos argilosos (Zingore et al, 2014).

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Um bom preparo de solo facilita a emergência da plântula e o bom desenvolvimento dos


sistemas radicular. Elimina plantas daninhas já nascidas e enterra suas sementes superficiais,
retardando a concorrência das invasoras com as plantas jovens do arroz, alem de facilitar o
plantio e os tractos culturais. O preparo do solo deve ser feito de tal maneira que, na data de
semeadura ou transplantio, o solo esteja “limpo” (Foto 02), os restos culturais decompostos e a
área nivelada ( Foto 02) de modo a evitar acumulo de água e prejuízo a germinação das
sementes, no caso de plantio por sementes. Nas várzeas de primeiro ano de sistematização,
utilizar arado (Foto 02), de preferência aiveca e, nos anos seguintes, empregar grade aradora,
seguida ou não de enxada rotativa, dependendo das condições do solo. Quando o plantio for
realizado por mudas ou pré-germinado, pode-se efectuar o preparo do solo com o tabuleiro
inundado. Com água, não há risco do tractor atolar, (Soares, 2012).

3.4.Selecção da semente
De acordo com Zingore et al (2014), a semente pode ser produzida pelo próprio agricultor,
reservada da colheita do ano anterior, ou pode ser adquirida de produtores de semente ou de
empresas de comercialização de semente. É preferível utilizar semente “nova” de forma a
assegurar que esta é limpa e toda ela de uma variedade desejada. A utilização duma mistura de
semente composta de várias variedades deve ser evitada porque diferentes variedades tem
diferentes períodos de maturação, o que pode complicar a colheita.

Antes da sementeira, deve fazer-se um teste de germinação. Para isto, 100 grãos de arroz devem
ser colocados sobre papel embebido num recipiente impermeável. A contagem das sementes
germinadas deve ser efectuada ao quinto dia. Para calcular a taxa de germinação utiliza-se a
seguinte formula:

% germinação = x100

De preferência, as taxas de germinação deverão ser entre 80% a 100%; se abaixo de 60% o
agricultor deverá tentar obter semente mais “nova” ou, de forma alternativa, ajustar a densidade
de sementeira de forma a compensar a baixa taxa de germinação da semente. Por exemplo, se a
densidade de sementeira ideal for de 80 kg por hectare a taxa de germinação de apenas 60 %, a
quantidade de semente a utilizar por hectare passa a ser de 80 kg x (100/60) = 133 kg.

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Antes da sementeira, a semente deverá ser peneirada de forma a remover a palha. Para remover
os grão ocos a semente deve ser colocada em água: os grãos secos vão flutuar, podendo assim ser
removidos

3.5.Sementeira/plantação
A semente do arroz pode ser aplicada ao solo directamente como grão seco ou como semente
pré-germinada ou, de forma alternativa, a germinação das plantas poderá ocorrer num viveiro
sendo depois transplantadas para o campo. Cada uma destas opções tem vantagens e
desvantagens e a sua utilização deverá depender do sistema de cultivo e das diferentes
condicionantes (Zingore et al. 2014).

3.5.1. Sementeira directa


Esta prática é sempre utilizada no caso do arroz da zona alta mas também pode ser utilizada no
arroz da zona baixa. No caso do arroz irrigado, a sementeira “a seco” (aplicação de grão seco, ou
grão não pré-germinado, a solo seco ou húmido) pode ser feita em linhas ou a “lanço”. No caso
da sementeira em linhas deverão ser utilizados cerca de 80 kg de semente por hectare. No caso
de sementeira a “lanço” deverão ser aplicados 100-200 kg de semente por hectare (Zingore et al.
2014).

Nota: No caso de problemas de seca ou baixo controlo das reservas de água de irrigação, a
transplantação de plantas de viveiro torna-se preferível à utilização de sementes.

3.5.2. Transplantação de plântulas de arroz


A transplantação de plântulas de arroz é uma das opções dos sistemas de cultivo do arroz. Neste
caso as sementes são semeadas num viveiro e depois transplantadas para o campo (Figura 03). O
viveiro pode localizar-se no próprio campo de cultivo ou em qualquer outro sítio: nalgumas
comunidades de produção de arroz existe apenas um local onde todos os agricultores instalam os
seus viveiros (Soares 2012).

 Existem três métodos principais na produção de plântulas de viveiro:


a) Sementeira de grão seco numa cama de semente seca que é depois alagada. As plantas
que crescem nestas condições têm raízes mais profundas, o que as torna mais difíceis de
arrancar e transplantar.

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b) Sementeira de grão pré-germinado numa cama de lama húmida. As plantas que crescem
nestas condições têm raízes menos profundas e são portanto mais fáceis de transplantar.
A sementeira pode ser feita a “lanço” na cama de lama húmida poupando tempo e
trabalho. Se a cama da semente tiver a largura de 1 m, deve semear-se cerca de 1 kg de
semente por cada 10 m de comprimento.
c) Sementeira de tapete para o qual várias modificações ao método de produção foram já
desenvolvidas. A cama da semente é instalada numa superfície firme que não permite a
penetração das raízes, facilitando assim o arranque das plântulas em comparação com os
viveiros em cama seca ou em cama de lama húmida. A cama de sementes pode ser
instalada sobre plástico, folhas de bananeira ou mesmo sobre uma superfície de betão.
Antes da sementeira, um quadro de madeira pode ser utilizado para criar compartimentos,
cada um medindo 30 cm x 50 cm e 4 cm de profundidade. Uma mistura de solo, estrume
bem curtido e cascas de arroz é depois colocada dentro do quadro, que pode depois ser
removido.

As plântulas devem ser transplantadas entre 9 e 21 dias após a sementeira, tanto no caso da
sementeira de grão pré-germinado como no caso da sementeira de grão seco. Se os caranguejos
dos mangais forem um problema, o agricultor deverá permitir mais do que 21 dias de
crescimento às plântulas, de forma que estas possam resistir melhor aos predadores. Se a
transplantação for previsto para depois dos 21 dias pós sementeira, poderá ser necessário recorrer
a fertilizantes nos casos em que se esperam deficiências nutricionais no solo. Plântulas
produzidas em camas de lama húmida devem ser transplantadas a uma profundidade entre 1.5-3
cm enquanto plântulas produzidas em tapete podem ser transplantadas a uma profundidade de
1.5 cm, dado que as raízes destas plantas não se desenvolvem até profundidades tão grandes
como as das raízes das plântulas produzidas em camas de lama. É preferível optar pela
transplantação em linha, com espaçamentos regulares entre linhas e entre plantas (a Tabela 2
contém as densidades de plantação recomendadas), (Zingore et al. 2014).

A transplantação em linha tem muitas vantagens em relação à transplantação ao acaso: facilita a


monda de plantas infestantes e a aplicação de fertilizante, a aplicação de herbicidas e insecticidas
é também mais fácil e ao mesmo tempo permite manter a densidade da plantação ideal. Para se

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obterem linhas de plantação rectas e com um espaçamento correcto entre elas pode utilizar-se um
método de demarcação de linhas à base de arame, corda ou madeira (Zingore et al. 2014).

A transplantação mecânica exige plântulas obtidas de um viveiro em tapete. Neste sistema as


plântulas encontram-se sobrelevadas, crescendo numa camada de solo colocada sobre uma
superfície firme. Durante a transplantação, as plântulas são arrancadas como um tapete e
colocadas no plantador de arroz (Soares, 2012).

Tabela 01: Características da sementeira de grão seco, sementeira de grão pré-germinado e


transplantação.

Características Vantagens Desvantagens


Sementeira de Sementeira a “lanço” Menos trabalho comparado As sementes são colocadas
grão seco ou em “linha” em solo com a transplantação à superfície do solo e
seco directamente no podem ser comidas por
campo de cultivo pássaros e outros animais.
As plantas infestantes
podem ser um problema
grave dado que a
emergência do arroz e das
plantas infestantes ocorre
ao mesmo tempo. A acama
das plantas pode ser um
problema pois as plantas
podem não estar
suficientemente presa no
solo.
Sementeira de As sementes são pré- Aumenta a taxa de Plantas infestantes podem
grão pré - germinadas e depois germinação e taxa de ser um problema. Solo
germinação semeadas em solo emergência das plântulas. encharcado pode ser um
húmido directamente Menos trabalho comparado problema, especialmente
no campo de cultivo. com a transplantação, quando as plantas são
requer menos água durante muito jovens e o terreno
a preparação do solo para o não está nivelado.
cultivo.
Transplantação Sementes são pré- Um bom crescimento, Exige mais trabalho
germinadas e postas em afilhamento e rendimento
viveiros, as plântulas das plantas. Permite a
são transplantadas para obtenção da densidade de

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o solo húmido do plantação óptima. Menos


campo de cultivo problemas de competição
com plantas infestantes,
dado que as plântulas
transplantadas se encontram
mais desenvolvidas do que
as plantas infestantes.
Bom controlo das plantas
infestantes. As plantas
atingem a maturação de
uma forma mais uniforme.
..

3.6.Como fazer a pré-germinação da semente do arroz


De acordo com Zingore et al (2014), para produzir semente pré-germinada, coloca-se um saco de
juta contendo semente de arroz dentro de água certificando-se de que se encontra totalmente
submerso durante 24 horas. Após 24 horas, tira-se o saco da água e coloca-se num local
ensombrado mas que permita a circulação de ar à volta do saco (Figura 04).

Certifique-se que a temperatura do saco não sobe para além dos 42°C. Após outras 24 horas a
semente pré-germinada está pronta para ser semeada, o que deverá acontecer antes que raízes
atinjam os 5 mm de comprimento.

Não é preciso adicionar fertilizante ao viveiro quando o objectivo é arrancar plântulas para
transplantação ao nono dia após sementeira. Se, contudo, as plantas forem para transplantar em
campos onde o controlo da água à superfície não é muito bom, ou seja que não tenham sido
nivelados adequadamente e/ou que tenham uma lâmina de água demasiado grande, a aplicação
de fertilizante no viveiro poderá fazer as plântulas crescer em altura mais rapidamente para que
estas possam tolerar melhor a profundidade da água, também esse processo pode se feito no
laboratório (Paula, 2009).

3.7.Crescimento e desenvolvimento da cultura de arroz


3.7.1. Tipos de solo
O arroz pode crescer numa vasta gama de tipos de solo. Solos com boa capacidade de retenção
da água são os mais indicados e, portanto, os solos argilosos com valores elevados de matéria

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orgânica são os ideais. Todavia, solos com elevado teor em limo são também adequados. Solos
arenosos não são os melhores para a produção do arroz (Zingore et al, 2014).
As fases do crescimento e desenvolvimento da cultura de arroz descrito por Soares (2012) são
seguintes:

Figura 05: fases do crescimento e desenvolvimento da cultura de arroz.

A duração de cada fase depende do ciclo do cultivar e dos fatores climáticos.

a) Fase vegetativa: inicia-se com a germinação da semente (emissão da radícula e


coleóptilo) e termina quando ocorre a diferenciação do primórdio floral ou da panícula
sendo caracterizado por:
 Activo perfilhamento;
 Aumento gradual na altura das plantas;
 Emergência de folhas em intervalos regulares.
 Germinação

A semente absorve ¼ do seu peso em água, a lema fende-se na base deixando passar o
coleóptero e em seguida a radícula.

 Requisito para boa germinação: Água, temperatura e oxigênio;


 Condições normais: Germinação em 48 h e emergência em 5 dias.

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Figura 06: Estádios de germinação da semente de arroz e germinação de semente de arroz


(VERGARA, 1979).

 Emergência e desenvolvimento inicial

Abrange o período entre a emergência e o aparecimento do primeiro perfilho, as reservas do


endosperma permitem o desenvolvimento da plântula até a emergência da quarta folha, 7 a 8 dias
após a emergência inicia a absorção de nutrientes e a produção de foto-assimilados e planta com
4 folhas o nó da primeira folha (raízes adventícias e o primeiro perfilho).

 Perfilhamento

Inicia entre 10 e 15 dias após a emergência, alongamento da 4a folha surge o 1o perfilho nó da 1ª


folha, alongamento da 5a folha surge o 2º perfilho nó da 2ª folha e no perfilho da 4ª folha
formada o no primeiro nó do perfilho primário surge o perfilho secundário.

Figura 07: Contagem das folhas da planta de arroz (Yoshida, 1981).

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Teoria do desenvolvimento sincronizado entre o desenvolvimento de folhas, perfilhos e


raízes nodais de Katayama (1955)

Em arroz transplantado o afilhamento inicia-se a partir do nó da terceira ou quarta folha e teor de


nitrogênio é importante para o perfilhamento> 3,5 % - perfilhos normais, 2,5 % - processo cessa
<1,5 % - morte dos perfilhos (Fonte: Murata e Matsushima, 1978).

Cerca de 10 dias após o número máximo de perfilhos, os mesmos podem ser agrupados em:

- Perfilhos normais: Mais de 4 folhas verdes e comprimento superior a 2/3 do colmo principal.

- Perfilhos anormais: Baixa emergência foliar e incapacidade em competir por luz podendo
morrer.

O número máximo de perfilhos pode atingir 1000 por m2 dos quais cerca de 500 mostram-se
produtivos. O período total de perfilhamento pode variar de 40 dias nos cultivares precoces até
150 dias nos de ciclo longo.

De acordo com Ferraz (1987), o perfilhamento depende:

 Cultivar;
 Densidade de semeadura;
 Profundidade de semeadura;
 Fertilidade do solo;
 Modalidade de cultivo: Sementes a partir do 1º nó e Transplante a partir do 4º nó:

Perfilhos primários Primeiro ao sexto nó do colmo principal


Perfilhos secundários Primeiro ao terceiro nó do perfilho primário

Perfilhos terciários Primeiro nó do perfilho secundário

b) Fase reprodutiva: inicia-se com a diferenciação do primórdio floral e vai até a floração,
polinização e fertilização. Morfologicamente é caracterizada por:
 Alongação do colmo;
 Desenvolvimento da panícula.

Possui duração média de 35 dias podendo variar de 27 a 46 dias (cultivar e fatores ambientais).

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 Alongação dos colmos


Com o desenvolvimento da panícula ocorre simultaneamente a alongação do colmo: 60% dos
foto-assimilados são utilizados na alongação dos entrenós superiores e o restante direccionado ao
crescimento de folhas e da panícula (MURATA E MATSUSHIMA, 1978).

 Florescimento
Emergência da panícula da bainha da folha bandeira e floração iniciando pelas espiguetas do
terço superior. A maior % de flores abre entre o quarto e quinto dia no horário das 10:00 às
14:00 h; 40 a 60 minutos após a abertura a espigueta se fecha; baixas temperaturas (15 – 20 °C)
causam esterilidade; altas temperaturas (+40 °C) causam esterilidade (desordens funcionais nos
estames) e quanto à umidade: Período crítico entre 10 e 3 dias antes do florescimento.

c) Fase de maturação: compreende-se como o período entre a fertilização do óvulo e o


ponto de maturidade fisiológica. A maior parte dos carbohidratos contidos nos grãos são
produzidos nessa fase, influência da temperatura, maturidade fisiológica. Essa fase requer
somatória de temperatura igual a 700 a 800 °C
 Crescimento completo da cariopse
 Comprimento – 6 dias após a fertilização;
 Largura – 10 a 12 dias após;
 Espessura – 15 dias após.
- O período de produção de foto-assimilados para enchimento das espiguetas, estende-se
de 02 semanas antes do florescimento a 04 semanas após;
- A maturidade fisiológica ocorre 25 a 35 dias após a fertilização do óvulo (grãos com 28
a 30% de umidade).

Duração de cada fase:

 Fase vegetativa: bastante variável (40 a 150 dias);


 Fase reprodutiva: cerca de 35 dias;
 Fase de maturação: de 25 a 35 dias.

Quanto ao ciclo, as cultivares podem ser classificadas em:

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 Precoces até 105 dias;


 Semi-precoces de 106 a 120 dias;
 Médias de 121 a 135 dias;
 Semi-tardias de 136 a 150 dias;
 Tardias acima de 150 dias.

3.7.2. pH do solo
Segundo Zingore et al, (2014), o arroz desenvolve-se melhor em solos com pH ente 6 e 7, ou
seja, solos de pH quase neutro, nem muito ácidos nem muito alcalinos. O pH do solo torna-se
mais importante no caso do arroz da zona alta. Na produção do arroz da planície irrigado, em que
os solos se encontram submersos por longos períodos de tempo, o pH não costuma ser um
problema. Solos submersos tendem a tornar-se neutros independentemente de terem sido ácidos
ou alcalinos antes de ser irrigados para o cultivo do arroz.

Nestas condições, quando o pH é muito baixo (muito ácido), existe o risco de toxicidade por
alumínio e de baixa disponibilidade de fósforo (o fósforo é essencial para o desenvolvimento da
raiz e afilhamento da planta do arroz).

3.8.Principais pragas e doenças da cultura de arroz


Segundo Moreira & Barros (2004), as principais pragas da cultura do arroz são:

3.8.1. Pragas do colmo


a) Broca do colmo (Elasmopalpus lignosellus), (Foto 08).
 Danos
As larvas entram no caule e comem-no a partir de dentro, as partes em crescimento dos rebentos
jovens podem morrer (corações mortos), floração afectada (panículas mortas, panículas brancas)
e as plantas podem acamar.
 Medidas de controlo
Alagamento e gradagem ou incorporação da palha na lavragem, a fim de reduzir o risco da
população do insecto sobreviver de uma cultura do arroz para a seguinte, eliminação de plantas
de arroz voluntárias que aparecem entre ciclos de cultivo do arroz e escolha variedades precoces,
ciclo curto.

b) Percevejo-do-colmo (Tibraca limbativentris), (Foto 09).

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 Danos
Ataca os caules, as folhas e os grãos no estádio de enchimento.
 Medidas de controlo
Remova plantas hospedeiras como gramíneas que crescem nos taipais (marachas) e em arroz de
sequeiro, faça a sementeira mais cedo, no início da estação das chuvas.

3.8.2. Pragas associadas às folhas


Lagarta das folhas ou lagarta militar (Spodopterafrugiperda), Curuquerê dos capinzais (Mocis
latipes), Lagarta enroladeira das folhas (Marasmia trapezales), Cigarrinha-do-arroz (Tagosodes
rizicolus), Cigarrinha-das-pastagens (Deois flavopicta) e Bicheira do arroz (Oryzophagus
oryzae). Outras doenças comuns são manchas foliares (Bipolaris oryzae e Cercospora oryzae),
queima da folha (Rhynchosporium oryzae) e a cárie-do-grão (Tilletia barclayana), que ocorre
mais esporadicamente. O uso de cultivares resistentes é a principal forma de controlo da brusone,
já em relação às outras doenças, a aplicação de fungicidas de forma preventiva tem sido
recomendada em lavouras com expectativa de produtividade como forma de protecção do
potencial produtivo (MENEZES et al., 2012).

c) Doença de Brusone (Foto 10)


 Sintomas

As folhas apresentam grandes lesões com extremidades pontiagudas de centro cinzento ou


branco; as margens das lesões vão do verde-escuro até ao castanho-avermelhado, apresentando
por vezes uma auréola amarelada. No caso de ataque severo, as lesões fundem-se e as folhas
morrem; as baínhas das folhas secam e a planta inteira poderá morrer, plantas gravemente
afectadas têm uma aparência queimada, na aurícula da folha, o apodrecimento pode levar à
queda prematura da folha. Nos nós mais baixos, o apodrecimento leva ao aparecimento de
“panículas brancas”. Nas panículas, cor branca e com muito menos grãos de arroz; ataque tardio
deste complexo fúngico resulta em hastes quebradas

 Medidas de controlo
Variedades resistentes, evitar a aplicação excessiva de fertilizantes de nitrogénio e condições de
seca, instalações sanitárias no campo, plantação sincronizada.

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d) Doença de falso-carvão
 Sintomas
Observados no grão após a floração: Pequenas galhas verdes de até 1 cm aparecem no grão;
quando as galhas rebentam, tornam-se alaranjadas e depois esverdeadas.

 Medidas de controlo
Variedades mais resistentes, evite o excesso de aplicação de fertilizantes de nitrogénio.

e) Doença mancha estreita da folha (Figura 11).


 Sintomas
Manchas estreitas acastanhadas, com 2-12 mm de comprimento e 1-2 mm de largura, aparecem
no limbo, bainha das folhas e nas panículas.
 Medidas Controlo

Utilize variedades de ciclo curto (maturação precoce) e faça a sementeira/ plantação cedo.

3.9.Exigências edafoclimáticas da cultura de arroz


Entre os fatores climáticos, os de maior importância são: a temperatura, luz-fotoperíodo e
humidade. O arroz requer mais calor e humidade do que qualquer outro cereal. A temperatura
média adequada durante o ciclo de desenvolvimento do arroz vária de 20° a 38°C, todavia, as
temperaturas óptimas varia de 29° a 32°C. Temperaturas acima de 37°C aceleram o ciclo e
reduzem a produção enquanto temperaturas abaixo de 20°C provocam retardamento considerável
no processo de crescimento e redução no número de perfilhos.

Trabalho realizado nas Filipinas com a cultivar IR 26, demonstrou que o maior rendimento foi
obtido com temperaturas diurnas/nocturnas de 29°C/21°C. O arroz exige temperaturas adequadas
diferentes para as diversas fases da cultura. Por exemplo, na germinação, a temperatura óptima
fica compreendida entre 30° a 35°C; no perfilhamento está na faixa de 25° a 31°C; na floração,
que é a fase mais importante em relação a temperatura, a óptima é de 30° a 33°C, e na maturação
20° a 25°C (Soares, 2012). De modo geral, o arroz é considerado planta de dias curtos.
Fotoperíodos curtos (menos de 13 horas de luz por dia) induzem o início da floração, enquanto
dias longos (mais de 13 horas) prolongam a fase vegetativa. As necessidades diárias de água são
menores que 1 mm até os primeiros 30 dias, aumentando gradualmente até atingir, 20 dias antes

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da floração, o máximo de 6 a 7 mm; a seguir cai gradualmente para 4 mm, sendo que após 30
dias do florescimento são na ordem de 2 mm/dia. Em geral, considera-se que o arroz consome
em termos hídricos 30% de suas exigências totais na fase vegetativa, 55% na fase reprodutiva e
15% durante a maturação (Soares, 2012).

Embora o sistema radicular do arroz seja superficial (95% até 15 cm), o solo deve possuir
condições tais que permitam maior aprofundamento das raízes para suportar melhor as
adversidades da falta de água pelas chuvas (Soares, 2012).

 Temperatura em fases mais críticas:


 Diferenciação da panícula;
 Fase inicial da formação do grão de pólen, 8 a 10 dias antes da emergência da panícula T
°C < 17o C ou acima de 40 °C são prejudiciais nestes estádios.

3.10. Maneio da cultura do arroz


3.10.1. Gestão da água
O correto manejo da irrigação é ponto-chave para o sucesso de uma lavoura arrozeira, sendo que
a rapidez e o estádio de desenvolvimento do arroz no qual é feita a entrada de água são os
aspectos mais importantes. Para suprir as necessidades de água do arroz, a duração do período de
irrigação é de 80-100 dias, com um volume médio de 8 a 10 mil m³ ha-¹ (SOSBAI, 2016). É
recomendado que o início da irrigação seja no estádio V3-V4 (planta apresentando 3-4 folhas
expandidas) da cultura, estádio em que a planta já apresenta estatura suficiente para suportar a
lâmina de água. Nesse momento da lavoura de arroz é, normalmente, realizada a aplicação de
herbicidas de pós-emergência juntamente com adubação nitrogenada. A correta época de entrada
de água vai acarretar num excelente controlo de plantas daninhas e maior aproveitamento do
nitrogênio aplicado. A irrigação interage com a acção dos herbicidas, evitando o rebrote e a
emergência de novas plantas daninhas, e com relação ao nitrogênio ela evita as perdas desse
nutriente, respeitando-se o tempo máximo de três dias entre a aplicação do nutriente e o início da
irrigação da lavoura (SOSBAI, 2016). Após a entrada de água é importante que a lâmina tenha
uma uniformidade de altura em toda a área irrigada para que a planta consiga expor todo seu
potencial produtivo.
O maneio activo da água só é possível em sistema de produção do arroz em planícies irrigadas. O
objectivo é manter um nível de água que permita o controlo de plantas infestantes: a água

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funciona aqui como um “mulch” que permite suprimir o crescimento de plantas que não toleram
solo alagado (MENEZES et al., 2012). É importante assegurar que o ponto a partir do qual
aparecem os nós não deve estar submerso. O nível da água deverá aumentar à medida que as
plantas do arroz vão crescendo em altura, mas contudo, a profundidade máxima da água não
deve exceder os 10 cm. Desde a transplantação até à iniciação da panícula, deve manter-se um
nível de água de 2-3 cm de profundidade (Figura 12). Após iniciação da panícula o nível deverá
ser elevado para 5-7 cm (Figura 120, devendo o campo ser completamente drenado entre 7 e 14
dias antes da colheita. O aumento do nível da água de 2-3 cm para 5-7 cm logo após o
afilhamento não tem qualquer efeito no desenvolvimento da planta.

De acordo com Almeida (2010), para fazer fertilização devem proceder-se aos seguintes passos:
drenagem da água, aplicação de fertilizante seguido de uma espera de 3 dias até poder alagar os
campos novamente. Em média considera-se que 180 a 300 mm de água/mês seja suficiente para
uma razoável produtividade de arroz todavia duma maneira geral o arroz exige as seguintes
quantidades:

 30% na fase vegetativa;


 55% na fase reprodutiva;
 15% na fase de maturação.

3.11. Controle de plantas infestantes


De acordo com VARGAS (2006), as plantas infestantes podem ser controladas mecanicamente,
arrancadas à mão ou com ferramentas manuais e pelo uso de herbicidas. Herbicidas podem ser
usados para controlar plantas infestantes difíceis tais como as sementes de arroz selvagem e de
gramíneas com rizomas. Se pretende usar herbicida, aplique um tipo não selectivo antes da
lavoura do solo de forma a destruir todas as plantas infestantes, onde as plantas infestantes serão
depois incorporadas no solo durante a lavoura cerca de 21 dias após a aplicação do herbicida.

A decisão sobre o tipo de herbicida a utilizar deverá depender da altura da aplicação e do tipo de
plantas infestantes presentes no campo. Alguns herbicidas podem ser aplicados antes da
emergência das plantas infestantes, como é o caso do “butachlor”, um herbicida de pré-
emergência que não prejudica o arroz mas que controla muitas gramíneas anuais, junças e
plantas infestantes de folha larga.

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De forma alternativa, um herbicida selectivo de pós-emergência pode ser usado após a instalação
da cultura no momento em que as plantas infestantes começam a emergir, por exemplo o
propanil, que controla gramíneas mas não plantas infestantes de folha larga. O herbicida deve ser
pulverizado quando as plantas infestantes estão no estádio de desenvolvimento de 2-3 folhas.

Este tratamento controla as plantas infestantes durante cerca de 1 mês. Em estádios de


desenvolvimento mais avançados podem arrancar-se as plantas infestantes à mão ou usando um
mondador mecânico.

Os campos devem ser mantidos livres de plantas infestantes até à colheita dado que as plantas
infestantes afectam muito a qualidade dos grãos de arroz para consumo e para a produção de
semente. Alguns agricultores param de mondar as plantas infestantes a partir da floração, mas
esta prática não é recomendada, (Foto13).

Estrume que não está bem curtido pode ser uma fonte de sementes de plantas infestantes.
Sementes de plantas infestantes podem também ser transportadas para os campos vizinhos
através da água de irrigação. De forma a evitar introduzir sementes de plantas infestantes nos
campos de arroz, o estrume deverá ser bem curtido (bem decomposto) e as plantas infestantes
deverão ser destruídas antes da formação das suas sementes, os agricultores deverão manter um
nível de água pouco profundos. Os agricultores deixam entrar com frequência água a mais
pensando que, dessa maneira, poderão controlar melhor as plantas infestantes, mas esta prática
não é recomendável. Com um bom nivelamento do solo, uma profundidade de água de 2-5 cm é
suficiente para controlar as plantas infestantes (Zingore et al. 2014).

3.12. Utilização de fertilizantes na cultura de arroz irrigado


Embora apresente maior resistência por parte dos produtores, pois há uma necessidade de
investimento, uma adubação para expectativa de altos rendimentos pode apresentar boas
respostas, obviamente se conciliada com adequadas condições climáticas e com a realização das
outras práticas agronómicas recomendadas. A colecta de amostras de solo para uma análise de
fertilidade é o primeiro passo para acertar esse manejo, sendo recomendada, principalmente, em
áreas tradicionais de cultivo no estado, onde a lavoura é intercalada com uma sequência de
pousio. Deve-se procurar fazer em áreas homogéneas com sub-amostras e que representem todo
o talhão, podendo ser utilizado trado de rosca ou pá de corte na camada de 0-20 cm do solo

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(SOSBAI, 2016). Grande parte das recomendações são realizadas exclusivamente para os
nutrientes fósforo, potássio e nitrogênio, levando em conta os seus teores presentes no solo e a
expectativa de resposta à adubação. A adubação fosfatada deve ser aplicada na sua totalidade em
linha quando é realizada a semeadura, já o potássio pode ser fraccionado evitando, assim, perdas
do nutriente. Em caso de fraccionamento, uma parte pode ser aplicada com a semeadura e uma
segunda parte juntamente com as aplicações de cobertura de nitrogênio. Com respeito à
adubação nitrogenada, não pode haver carência deste nutriente, principalmente nos estádios de
desenvolvimento da planta onde são definidos os componentes de rendimento, sendo assim a
recomendação parte de uma aplicação na semeadura (10-20 kg/ha-¹) e o restante em cobertura. A
maior parte, dois terços da dose final, deve ser aplicada em solo seco para um maior
aproveitamento, como já citado, juntamente com a entrada de água no estádio V3-V4
estimulando assim um maior perfilhamento da planta, e o restante deve ser aplicado em lâmina
de água no início da expansão do primeiro nó do colmo principal (MENEZES et al., 2012).

Para as variedades de alto rendimento cultivadas nos sistemas de produção e arroz de planície
irrigado, 2 (50 kg) sacos de DAP ou NPK 15-15-15 (100 kg de fertilizante) devem ser aplicados
por hectare antes da lavoura do solo alargado. N suplementar deve ser aplicado à taxa de 200 a
300 kg de ureia por hectare em 3 fases: no afilhamento, na iniciação da panícula e
emborrachamento da panícula. Para fazer a aplicação da ureia, o campo deverá ser drenado até
ficar só lama, a ureia deverá então ser aplicada a “lanço”, e após 2-3 dias o campo poderá ser
novamente alagado (Sueco A. 2015).

No caso de se utilizarem super-grânulos de ureia, estes devem ser aplicados apenas na fase de
afilhamento. Nitrogénio (N) total fornecido por 2 (50 kg) sacos de NPK 15-15-15 mais 300 kg
por hectare de ureia:

 NPK: 100 kg x 15% = 15 kg N por hectare;


 Ureia: 300 kg x 46% = 138 kg N por hectare.

Portanto, o N total fornecido = 15 + 138 = 153 kg por hectare

Assumindo que apenas 50% do fertilizante é absorvido, o arroz vai absorver 153 x 50/100 kg de
N, isto é, 76.5 kg por hectare. Se por cada tonelada de rendimento o arroz absorve 20 kg N por

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hectare, a absorção adicional de 76.5 kg de N, poderá fazer o rendimento aumentar em 76.5/20 =


3.8 toneladas.

Esta quantidade de fertilizante NPK também fornece P e K: 100 kg NPK 15-15-15 fornece 15 kg
de P2O5 e 15 kg de K2O por hectare, assumindo uma perda de 50%, o arroz irá absorver 7.5 kg
de P2O5 e 7.5 kg de K2O do fertilizante NPK, assim, para se alcançar um aumento no
rendimento de 3.8 toneladas por hectare é necessário que a cultura extraia do solo (11 × 3.8) -7.5
= 34.3 kg de P2O5 e (30 × 3.8) - 7.5 = 106.5 k kg de K2O por hectare.

No caso de uso de TSP, a quantidade de TSP necessária para fornecer 34.3 kg de P2O5 é de 34.3
× 100/46 = 74.6 kg TSP por hectare. Assumindo que 50% dos nutrientes aplicados são perdidos
não sendo, por isso, absorvidos pela planta, a quantidade de TSP a aplicar seria de 74.6 × 100/50
= 149.2 por hectare.

A quantidade de MOP necessária para fornecer 106.5 kg de K2O é 106.5 × 100/62 = 171.8 kg de
MOP. Assumindo 50% de perda de nutrientes, a quantidade de MOP a aplicar seria de 171.8
×100/50 = 343.6 kg por hectare.

 Outros factores que afectam o uso de fertilizantes incluem:


 O arroz irrigado produzido durante a estação seca, beneficiando de elevada luminosidade,
precisa de mais N do que o arroz irrigado produzido na estação das chuvas que
normalmente se caracteriza por menores rendimentos;
 A incorporação de adubação verde antes da plantação do arroz pode adicionar 50-60 kg
de N por hectare, o equivalente a 2-2.5 (50 kg) sacos de ureia por hectare;
 A ureia não deve ser distribuída a “lanço” em campos alagados dado que esta prática
resultaria em grandes perdas de N;
 Adubação de fundo de N deverá ser incorporada no solo alagado;
 Se utilizar super-grânulos de ureia, coloque um grânulo a cada 4 plantas e faça uma
aplicação alternada linha sim, linha não. Dado que estes grânulos libertam o N
lentamente, reduzindo as perdas, a aplicação pode ser efectuada de uma só vez na altura
do afilhamento.
 Fertilizantes que contenham nitrato, como o nitrato de amónio e o nitrato de amónio com
cálcio (CAN) não são adequados, particularmente quando são aplicados antes ou durante

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a plantação. Ao contrário dos fertilizantes que contém amónio, o nitrogénio contido nos
fertilizantes à base de nitratos pode ser perdido muito rapidamente por desnitrificação
quando o campo for alagado. Eles podem, contudo, ser usados como fertilizantes de
cobertura em fases de absorção rápida de nutrientes e quando a camada superficial está
coberta por um tapete de raízes, sendo as perdas de N minimizadas nestas condições.

Nota: A ureia não deve ser aplicada num campo seco pois isto pode levar à perda de N para a
atmosfera por volatilização.

3.13. Maneio da salinidade


Solos muito salinos contêm uma grande quantidade de cloreto de sódio, quantidades variadas de
sulfato de sódio e cloreto de cálcio enquanto o cloreto de magnésio poderá também estar
presente. O nível de salinidade não é fácil de medir no campo mas pode ser diagnosticado ou
confirmado em laboratório através da medição da condutividade eléctrica do solo (CE), pH e
percentagem de sódio trocável, sendo todos estes parâmetros mais elevados em solos salinos
quando comparados com os dos solos normais ( Scivittaro et al. 2012):

Aqui a solução passa pela melhoria no sistema de drenagem ou pelo uso de variedades tolerantes
à salinidade. A salinidade pode resultar da evaporação da agua de irrigação, utilização de agua
salgada ou ser consequência do nível muito elevado do lençol freático. Se a salinidade resultar
deste último factor, um sistema eficiente de drenagem deve ser instalado. Se a elevada salinidade
resultar da evaporação da água de irrigação e concentração dos sais dissolvidos, dever-se-á
adicionar nova água.

Para controlar os níveis de sódio em solos argilosos, pode usar-se o gesso ou materiais orgânicos.
A matéria orgânica ajuda a dissolver o cálcio do solo e o gesso fornece cálcio. O cálcio desaloja
o sódio, facilitando a sua libertação do solo e sua lixiviação (Rodrigues et al. (2005).

3.14. Uso de estrume animal


Quando disponível, o estrume animal é um recurso importante para a melhoria da fertilidade dos
campos de arroz. A adição de estrume ajuda a manter o nível de matéria orgânica. O estrume é
também uma importante fonte de nutrientes, que são principalmente libertados após a
decomposição. Contudo, o estrume contém uma menor densidade de nutrientes em comparação
com os fertilizantes químicos e a quantidade e nutrientes obtida do estrume produzido numa

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exploração pecuária de pequenas dimensões é normalmente insuficiente para sustentar o nível


necessário de produtividade do arroz. Contudo, o uso combinado de estrume e fertilizantes
químicos permite a obtenção de rendimentos superiores aos obtidos com cada um destes adubos
em separado ( Zingore et al 2014).

De preferência, entre 5 e 10 toneladas por hectare de estrume animal deverão ser aplicadas à
superfície e incorporadas no solo durante a lavoura, anualmente.

3.15. Afugentamento das aves


Os pássaros também parecem preferir as variedades mais altas antes de passarem para as
variedades mais baixas. Os pássaros podem ser afugentados usando uma série de artefactos, tais
como espantalhos, latas penduradas, fitas de cassetes de música e outras fitas reflectoras de luz, e
por pessoas fazendo barulho e atirando pedras. O arroz deve ser monitorizado regularmente após
a floração (Foto 14).

3.16. Colheita
Os agricultores precisam de reconhecer o momento ideal de colheita: o arroz está pronto a colher
quando 80% da panícula está dura e apresenta cor acastanhada. Outros sinais indicadores são por
exemplo quando o teste da mordida indica que o grão removido do topo da panícula é firme mas
não quebradiço (o teor em humidade destes grão é de 20-25%), ou quando alguns grãos se
desprendem da panícula quando esta é apertada entre as mãos, e aquela produz um som de
chocalho quando abanada (Elias, 2000).

3.16.1. Regulagem do maquinário


De acordo com Zingore et al. (2014), nesta etapa, é preciso que a colheitadeira esteja com a
regulagem correta para se obter a máxima eficiência na trilha, com o mínimo dano e perda de
grão. Deve‐se prestar atenção, principalmente, ao estado de conservação e manutenção do
maquinário, verificando se há navalhas defeituosas na barra de corte, falta de peças integrantes
do molinete e/ou outras irregularidades. Outro ponto importante é a velocidade do molinete, que
precisa ser ligeiramente superior à velocidade de avanço da máquina, com o objectivo de puxar
as plantas ceifadas para dentro do equipamento.
A ceifeira-debulhadora implica que o campo deverá ser drenado cerca de 15 dias antes da data
prevista de colheita de forma que a palha do arroz esteja suficientemente seca para permitir a
debulha. Após colheita, as panículas do arroz devem ser secas durante 3 a 7 dias ao sol se a

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debulha for feita à mão. No caso da debulha mecanizada, esta deverá ocorrer no próprio dia da
colheita. Os grãos precisam estar mais secos (teor de humidade de 16-18-%) se a debulha for
manual.

(Foto: 15). O arroz está pronto para a colheita cerca de 4 semanas após a floração. Na colheita, o
caule do arroz é cortado abaixo da panícula (Foto 15). O comprimento do caule retirado com a
panícula depende do método de colheita utilizado, por exemplo, quando o arroz é colhido à mão,
utilizando uma pequena navalha, apenas 7.5 cm dos caules são retirados enquanto na colheita
mecânica os caules são cortados quase rente ao solo.

3.17. Moagem
A moagem envolve:
a) Remoção da palha e outros materiais estranhos como pedras;
b) Remoção das cascas e polimento do grão;
c) Triagem do grão em categorias de grão quebrado e grão inteiro;
d) Pesagem e ensacamento.

3.18. Armazenamento
O grão de arroz é muito vulnerável a pestes incluindo insectos (tais como o escaravelho cor-de-
ferrugem da farinha, Tribolium castaneum), roedores, aves e também fungos. De forma a evitar
danos durante o armazenamento, o arroz irrigado e o grão descascado deverão ser armazenados
em locais limpos e bem ventilados. Sacos de juta são a melhor opção porque permitem a entrada
de ar, mas como alternativa, sacos hermeticamente fechados podem também ser utilizados (Elias,
2000).

Os armazéns de grão de arroz deverão ter um piso anti-húmidade e paredes e telhados


impermeabilizados. É preferível ter a possibilidade de vedar o armazém de forma a se poder
efectuar fumigações no caso de necessidade. Vedar o armazém também ajuda a excluir pragas
como os roedores e pássaros. Exemplos de recipientes para o armazenamento do arroz incluem
sacos ou contentores herméticos em metal. No caso do armazenamento em sacos, estes devem
estar acumulados em paletes que se deverão encontrar a uma distância mínima de 50 cm das
paredes (Peres, 2001).

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De forma a evitar problemas com mico-toxinas associadas a certos tipos de fungos, o grão deve
ser seco até um teor de humidade considerado seguro (12-14%) antes do armazenamento. A
redução dos danos mecânicos ao grão durante a colheita e armazenamento e a criação de um
ambiente limpo, seco e sem insectos ajudam também a prevenir contaminação por mico-toxinas
(Silva, 2000).

3.19. Maneio de resíduos


A palha do arroz e o restolho contém cerca de 40% de nitrogénio (N), 33% de fósforo (P), 85%
de potássio (K), 44% de enxofre (S) e 85% de sílica (Si) absorvidos pela planta. A incorporação
da palha no solo devolve portanto uma grande parte dos nutrientes retirados pela cultura. A palha
deve ser espalhada uniformemente pelo solo de forma a evitar “focos” de concentração de
nutrientes. No caso de se combinar a utilização de fertilizantes químicos com a incorporação da
palha no solo, as reservas de N, P e K serão mantidas ou mesmo aumentadas, o mesmo acontece
com os micronutrientes, tais como o Zn, que serão também devolvidos ao solo (Sueco A. 2015).

A queima da palha resulta numa perda quase total do nitrogénio, mas as perdas de P, K, e S são
mais pequenas. As queimadas também resultam na criação de “focos” de concentração de
nutrientes, nos próprios locais de queima enquanto a restante área do campo fica depauperada
desses nutrientes. Uma lavoura mais antecipada, a seco e pouco profunda (5-10 cm de
profundidade) a fim de incorporar os resíduos da cultura e aumentar o arejamento do solo
durante os períodos de pousio, aumenta a disponibilidade de N durante o período de tempo que
cobre a fase de crescimento vegetativo da cultura seguinte, (Paula 2009).

Nota: De acordo com Zingore et al. (2014), a incorporação da palha e do restolho por lavoura do
solo alagado, resulta numa temporária imobilização do N. A instalação da cultura deve ser feita
2-3 semanas após a incorporação da palha; como alternativa o agricultor pode adicionar ureia
(como fonte de N) à palha antes da incorporação no solo durante a lavoura do solo alagado.

Contudo, os benefícios da incorporação dos resíduos da cultura no solo são maiores a longo
prazo do que no curto prazo. A distribuição da palha e incorporação dos resíduos são actividades
exigentes em mão-de-obra e em combustível que a realização de queimadas. Por vezes a palha é
vendida a explorações pecuárias, e o gado é posto no campo após a colheita para que paste no
restolho. Com o tempo, estes campos poderão tornar-se deficitários em K.

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3.20. Rotação de culturas


Arroz de planície irrigado: A cultura do arroz pode ocorrer sem interrupções ou, de forma
alternativa, pode fazer parte de uma rotação de culturas com hortícolas tais como cebolas
(chalotas), tomate e quiabo, que podem ser cultivados a seguir ao arroz ( Zingore et al 2014).

IV. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS


Soares, António A. (2012). Cultura do arroz. Universidade Federal de Lavras. Editora UFLA.
(3).
Zingore et al. (2014) Guia dos sistemas de cultivo do arroz. Africa Soil Health Consortium,
Nairobi.

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V. APENDICES E ANEXOS

Figura 01: Características botânicas das plantas de Oryza sativa.

Figura02: Grade niveladora, Arado de aiveca (Foto: Grupo Cultivar) e Solo seco após o
procedimento da sistematização pronto para inundação com Lâmina de água permanente. (Foto:
José A. Petrini)

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Figura 03: Plântulas instaladas no campo e transplantação de mudas para o campo definitivo.

Figura04: Pré-germinação da semente. (Foto: IPNI)

Figura 08: Broca do colmo

Figura 09: Percevejo-do-colmo

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Figura 10: Doença de brusone

Figura 11: Doença mancha estreita da folha

Foto 12: Gestão de água nas plantas do arroz.

Foto 13: Controle de plantas infestantes. Monda manual usando uma enxada e arranque de
plantas infestantes (Foto: CABI)

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Foto 14: A fase das panículas do arroz mas atacada com aves

Foto 15. Panículas do arroz prontas para colheita (maturação) e Colheita com ceifeira-
debulhadora (Foto: Kabirou). O arroz pode ser debulhado e armazenado em sacos.

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