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21/07/2014
Autor y Coautor(es)
Autor:
WALLESKA BERNARDINO SILVA
UBERLANDIA - MG
ESC DE EDUCACAO BASICA
Coautor(es):
Eliana Dias, Lazuíta Goretti de Oliveira
Estructura Curricular
MODALIDAD / NIVEL DE ENSEÑANZA DISCIPLINA TEMA
Ensino Médio Literatura Representação literária: Natureza, função, organização e estrutura do texto literário
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Análise linguística: organização estrutural dos enunciados
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo Língua Portuguesa Linguagem escrita: leitura e produção de textos
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Língua oral e escrita: prática de escuta e de leitura de textos
Educação Escolar Indígena Línguas Desenvolvimento da linguagem escrita
Datos de la Clase
O que o aluno poderá aprender com esta aula
Gênero conto.
Estratégias e recursos:
Módulo 1
Atividade 1
O objetivo desta atividade é os alunos lerem duas crônicas e preencherem tabelas relativas às características de cada enredo.
Sem mencionar aos alunos que se trata de crônicas, o professor deverá projetar e ler oral e coletivamente com os alunos duas crônicas, a saber:
Professor, estabeleça as personagens com os alunos de modo que a leitura torne-se mais dinâmica.
Texto 1
Um homem chega num balcão e tenta chamar a atenção da balconista para atendê-lo:
_ Senhorita...
_ Um minutinho.
O homem vira-se para o outro lado e diz:
_ Ih, já vi tudo.
_ O que foi?
_ Ela disse “um minutinho”. Quer dizer que vai demorar. No Brasil, um minutinho dura sessenta segundos, como em qualquer outro lugar, mas um minutinho pode demorar uma hora...
O homem tenta de novo:
_ Senhorita...
_ Só um instantinho...
_ Ai...
_ O que foi?
_ Ela disse “um instantinho”. Um instantinho demora mais que um minutinho. Parece que um minutinho é feito de vários instantinhos, mas é o contrário. Um “instantinho” contém vários “m
_ Só dois segundinhos!
O homem começa a se retirar.
_ Aonde é que o senhor vai?
_ Ela disse “dois segundinhos”. Isso quer dizer que só vai me atender amanhã.
Texto 2
O padeiro
O pade o
http://www.primecursos.com.br/arquivos/uploads/2013/08/padeiro.jpg
Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta do apartamento - mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo
alguma coisa nos jornais da véspera sobre a "greve do pão dormido". De resto não é bem uma greve, é um lock-out, greve dos patrões, que suspenderam o tra
o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não sei bem o que do governo.
Está bem. Tomo o meu café com pão dormido, que não é tão ruim assim. E enquanto tomo café vou me lembrando de um homem modesto que conheci antiga
porta do apartamento ele apertava a campainha, mas, para não incomodar os moradores, avisava gritando:
Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe acontecera bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma emp
ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro: "não é ninguém, não senhora, é o padeiro". Ass
ninguém...
Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo para explicar que estava falando com um colega, ainda que menos
também, como os padeiros, fazia o trabalho noturno. Era pela madrugada que deixava a redação de jornal, quase sempre depois de uma passagem pela oficina
mão um dos primeiros exemplares rodados, o jornal ainda quentinho da máquina, como pão saído do forno.
Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às vezes me julgava importante porque no jornal que levava para casa, além de reportagens ou notas que eu
crônica ou artigo com o meu nome. O jornal e o pão estariam bem cedinho na porta de cada lar; e dentro do meu coração eu recebi a lição de humildade daque
todos alegre; "não é ninguém, é o padeiro!"
Para gostar de ler, Vol I -Crônicas . Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga. 12ª Edição. Editora Ática . São P
em: http://tvcultura.cmais.com.br/aloescola/literatura/cronicas/rubembraga.htm Acesso em 14 jun. 2014.
Após a leitura, o professor, dividirá os alunos em duas equipes. Cada equipe terá a tarefa de preencher uma tabela, embasadas pela leitura dos textos. Para tanto, o professor
desenhará duas tabelas no quadro, de modo que cada equipe, após tempo de discussão, preencham-nas.
Texto 1 Texto 2
Personagens
Narrador
Nível de linguagem
Assunto do enredo
Tamanho do texto
Reflexão
Atividade 2
O objetivo é discutir coletivamente sobre as características comuns dos textos apresentados, concluindo que ambos pertencem ao gênero crônica.
Ao fim do preenchimento das tabelas pelas equipe, o professor as discutirá oralmente com os alunos, fazendo as adequações necessárias:
Texto 1 Texto 2
Homem (protagonista), balconista, interlocutor do
Personagens Jornalista senhor
protagonista.
Foco narrativo em 1ª pessoa (narrador
Narrador Foco narrativo em 3ª pessoa (narrador observador).
personagem)
Nível de
Informal/coloquial Informal/coloquial
linguagem
Assunto do
Cotidiano Cotidiano
enredo
Tamanho do texto Curto Curto
Sobre a humildade.
Será que é possível afirmar que esses dois textos podem ser denominados pela mesma definição? Por quê?
Se sim, vocês podem dizer sob qual rotulação esse gênero acima, na literatura, é conhecido?
Professor, a ideia é os alunos remeterem-se a seu conhecimento prévio e chegarem à definição de crônica, mesmo que intuitivamente, pois a formalização do
conceito será proposta a posteriori, ainda nesta sequência didática.
Atividade 3
Atividade 3
O objetivo desta atividade é os alunos compararem a crônica com o conto, apontando as diferenças entre os gêneros.
O professor projetará um conto, sem dizer aos alunos que se trata de um conto, e lerá oral e coletivamente com os alunos.
Texto 3
O homem cuja orelha cresceu
Ignácio de Loyola Brandão
Estava escrevendo, sentiu a orelha pesada. Pensou que fosse cansaço, eram 11 da noite, estava fazendo hora-extra. Escriturário de uma firma de tecidos, solteiro, 35 anos,
ganhava pouco, reforçava com extras. Mas o peso foi aumentando e ele percebeu que as orelhas cresciam. Apavorado, passou a mão. Deviam ter uns dez centímetros. Eram
moles, como de cachorro. Correu ao banheiro. As orelhas estavam na altura do ombro e continuavam crescendo. Ficou só olhando. Elas cresciam, chegavam a cintura. Finas,
compridas, como fitas de carne, enrugadas. Procurou uma tesoura, ia cortar a orelha, não importava que doesse. Mas não encontrou, as gavetas das moças estavam
fechadas. O armário de material também. O melhor era correr para a pensão, se fechar, antes que não pudesse mais andar na rua. Se tivesse um amigo, ou namorada, iria
mostrar o que estava acontecendo. Mas o escriturário não conhecia ninguém a não ser os colegas de escritório. Colegas, não amigos. Ele abriu a camisa, enfiou as orelhas
para dentro. Enrolou uma toalha na cabeça, como se estivesse machucado.
Quando chegou na pensão, a orelha saia pela perna da calça. O escriturário tirou a roupa. Deitou-se, louco para dormir e esquecer. E se fosse ao médico? Um
otorrinolaringologista. A esta hora da noite? Olhava o forro branco. Incapaz de pensar, dormiu de desespero.
Ao acordar, viu aos pés da cama o monte de uns trinta centímetros de altura. A orelha crescera e se enrolara como cobra. Tentou se levantar. Difícil. Precisava segurar as
orelhas enroladas. Pesavam. Ficou na cama. E sentia a orelha crescendo, com uma cosquinha. O sangue correndo para lá, os nervos, músculos, a pele se formando, rápido.
Às quatro da tarde, toda a cama tinha sido tomada pela orelha. O escriturário sentia fome, sede. Às dez da noite, sua barriga roncava. A orelha tinha caído para fora da cama.
Dormiu.
Acordou no meio da noite com o barulhinho da orelha crescendo. Dormiu de novo e quando acordou na manhã seguinte, o quarto se enchera com a orelha. Ela estava em
cima do guarda-roupa, embaixo da cama, na pia. E forçava a porta. Ao meio-dia, a orelha derrubou a porta, saiu pelo corredor. Duas horas mais tarde, encheu o corredor.
Inundou a casa. Os hospedes fugiram para a rua. Chamaram a polícia, o corpo de bombeiros. A orelha saiu para o quintal. Para a rua.
Vieram os açougueiros com facas, machados, serrotes. Os açougueiros trabalharam o dia inteiro cortando e amontoando. O prefeito mandou dar a carne aos pobres. Vieram
os favelados, as organizações de assistência social, irmandades religiosas, donos de restaurantes, vendedores de churrasquinho na porta do estádio, donas-de-casa. Vinham
com cestas, carrinhos, carroças, camionetas. Toda a população apanhou carne de orelha. Apareceu um administrador, trouxe sacos de plástico, higiênicos, organizou filas, fez
uma distribuição racional.
E quando todos tinham levado carne para aquele dia e para os outros, começaram a estocar. Encheram silos, frigoríficos, geladeiras. Quando não havia mais onde estocar a
carne de orelha, chamaram outras cidades. Vieram novos açougueiros. E a orelha crescia, era cortada e crescia, e os açougueiros trabalhavam. E vinham outros açougueiros.
E os outros se cansavam. E a cidade não suportava mais carne de orelha. O povo pediu uma providência ao prefeito. E o prefeito ao governador. E o governador ao
presidente.
E quando não havia solução, um menino, diante da rua cheia de carne de orelha, disse a um policial: "Por que o senhor não mata o dono da orelha?"
O texto acima foi extraído do livro "Os melhores contos de Ignácio de Loyola Brandão", seleção de Deonísio da Silva, Global Editora — São Paulo, 1993, pág. 135. Disponível
em: http://www.releituras.com/ilbrandao_orelha.asp Acesso em 14 jun. 2014.
Depois de lido o texto, o professor perguntará:
Professor, essa pergunta só é possível porque, para esta aula, o esperado é que os alunos já tenham domínio do gênero conto. Induza os discentes a pensarem nos
aspectos considerados nos quadros da Atividade 1. Conclua com eles que, embora os três textos sejam curtos, apresentem poucos personagens, com tempo e
espaço reduzidos, a grande diferença entre eles é a capacidade reflexiva em torno de um evento cotidiano e possível que os dois primeiros apresentam em relação
ao último, o qual apresenta uma narração em torno de um fato estranho que aparentemente é considerado normal. Considere, por exemplo, que o foco narrativo não
é critério imprescindível para a distinção entre um e outro texto nem, tampouco, a narratividade. O que os diferenciará é a essência e perspectiva do que é narrado:
enquanto nos primeiros textos, o narrador prioriza um olhar subjetivo a partir de um fato cotidiano, real e possível, no último texto, o narrador não se preocupa em
mostrar um ponto de vista subjetivo, apenas conta os fatos e deixa que o leitor tire suas próprias conclusões acerca do que foi narrado.
Atividade 4
O objetivo é os alunos criarem individualmente um conceito para crônica.
Para fechar a discussão priorizada pelas perguntas listadas acima, convide os alunos a lerem um documento que contém as diferenças conceituais entre conto e crônica,
disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/roteiropedagogico/publicacao/4084_CONTO_OU_CRONICA.pdf Acesso em: 14 jun. 2014.
Em seguida, a tarefa dos alunos é escrever, em seu caderno, uma definição para o gênero crônica, a partir do que lhes foi apresentado e socializar a definição com os colegas.
Atividade 5
O objetivo desta atividade é os alunos compararem sua própria definição de crônica com a de um cronista e proporem uma definição coletiva para a sala.
Depois de os alunos escreverem sobre o conceito de crônica, o professor lerá com eles a definição de crônica proposta por Ivan Ângelo, no texto "Sobre a crônica", e pedirá que
os discentes comparem as definições.
Sobre a crônica
Estão errados? Tecnicamente, sim – são crônicas –, mas... Fernando Sabino, vacilando diante do campo aberto, escreveu que "crônica é
tudo que o autor chama de crônica".
A dificuldade é que a crônica não é um formato, como o soneto, e muitos duvidam que seja um gênero literário, como o conto, a poesia
lírica ou as meditações à maneira de Pascal. Leitores, indiferentes ao nome da rosa, dão à crônica prestígio, permanência e força. Mas
vem cá: é literatura ou é jornalismo? Se o objetivo do autor é fazer literatura e ele sabe fazer...
Há crônicas que são dissertações, como em Machado de Assis; outras são poemas em prosa, como em Paulo Mendes Campos; outras
são pequenos contos, como em Nelson Rodrigues; ou casos, como os de Fernando Sabino; outras são evocações, como em Drummond
e Rubem Braga; ou memórias e reflexões, como em tantos. A crônica tem a mobilidade de aparências e de discursos que a poesia tem –
f ilid d lh i i
e facilidades que a melhor poesia não se permite.
Está em toda a imprensa brasileira, de 150 anos para cá. O professor Antonio Candido observa: "Até se poderia dizer que sob vários
aspectos é um gênero brasileiro, pela naturalidade com que se aclimatou aqui e pela originalidade com que aqui se desenvolveu".
Alexandre Eulálio, um sábio, explicou essa origem estrangeira: "É nosso familiar essay, possui tradição de primeira ordem, cultivada
desde o amanhecer do periodismo nacional pelos maiores poetas e prosistas da época". Veio, pois, de um tipo de texto comum na
imprensa inglesa do século XIX, afável, pessoal, sem cerimônia e no entanto pertinente.
Por que deu certo no Brasil? Mistérios do leitor. Talvez por ser a obra curta e o clima, quente.
A crônica é frágil e íntima, uma relação pessoal. Como se fosse escrita para um leitor, como se só com ele o narrador pudesse se expor
tanto. Conversam sobre o momento, cúmplices: nós vimos isto, não é leitor?, vivemos isto, não é?, sentimos isto, não é? O narrador da
crônica procura sensibilidades irmãs.
Se é tão antiga e íntima, por que muitos leitores não aprenderam a chamá-la pelo nome? É que ela tem muitas máscaras. Recorro a Eça
de Queirós, mestre do estilo antigo. Ela "não tem a voz grossa da política, nem a voz indolente do poeta, nem a voz doutoral do crítico;
tem uma pequena voz serena, leve e clara, com que conta aos seus amigos tudo o que andou ouvindo, perguntando, esmiuçando".
A crônica mudou, tudo muda. Como a própria sociedade que ela observa com olhos atentos. Não é preciso comparar grandezas, botar
Rubem Braga diante de Machado de Assis. É mais exato apreciá-la desdobrando-se no tempo, como fez Antonio Candido em "A vida ao
rés-do-chão": "Creio que a fórmula moderna, na qual entram um fato miúdo e um toque humorístico, com o seu quantum satis de poesia,
representa o amadurecimento e o encontro mais puro da crônica consigo mesma". Ainda ele: "Em lugar de oferecer um cenário excelso,
numa revoada de adjetivos e períodos candentes, pega o miúdo e mostra nele uma grandeza, uma beleza ou uma singularidade
insuspeitadas".
Elementos que não funcionam na crônica: grandiloquência, sectarismo, enrolação, arrogância, prolixidade. Elementos que funcionam:
humor, intimidade, lirismo, surpresa, estilo, elegância, solidariedade.
Cronista mesmo não "se acha". As crônicas de Rubem Braga foram vistas pelo sagaz professor Davi Arrigucci como "forma complexa e
única de uma relação do Eu com o mundo". Muito bem. Mas Rubem Braga não se achava o tal. Respondeu assim a um jornalista que lhe
havia perguntado o que é crônica:
Por fim, o professor deverá propor a construção de uma definição coletiva do que seja crônica, utilizando o quadro e o pincel.
Recursos Complementares
Avaliação
Os alunos serão avaliados, especialmente, por meio de duas atividades: a que prioriza a distinção entre crônica e conto e a que propõe uma definição para a crônica. Portanto,
Cancelar ao final da aula, os alunos devem saber, minimamente, reconhecer a crônica e distingui-la do conto.