Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Open in app
Por Ana Paula Camelo, Ana Carolina R. Dias Silveira, Arthur Cassemiro Bispo,
Bruno Ett Bícego, Gabriela M. Thomaz de Aquino, Guilherme F. Klafke e Olívia Q.
F. Pasqualeto
Abertura
De início, Ana Carolina, pesquisadora do CEPI e responsável pela moderação do
webinar, destacou a importância de se olhar para as diferenças sociais existentes no
Brasil se há a pretensão de construir soluções regulatórias para o trabalho na gig
economy. O estudo da desigualdade social se tornou ainda mais urgente devido à
pandemia de Covid-19, que evidenciou a situação de vulnerabilidade de diversos
trabalhadores de plataformas, especialmente motoristas e entregadores. O advento da
pandemia gerou uma nova onda de projetos de lei no Congresso Nacional sobre
trabalho em plataformas digitais, conforme mapeado pelo CEPI no Briefing Temático
#1 e no Briefing Temático #2. A partir da análise quantitativa e qualitativa de tais
projetos, foram encontradas diversas disposições sobre saúde e segurança dos
trabalhadores, bem como a preocupação com benefícios para casos de infortúnio,
remuneração mínima e fornecimento de equipamentos.
Ao final de sua exposição, Ana Carolina endereçou aos convidados algumas perguntas
centrais sobre o tema: como pensar em um modelo regulatório levando em conta a
diversidade que existe na gig economy? Quais devem ser os direitos e benefícios
mínimos? É necessário a criação de novos regimes de previdência social? A discussão
sobre proteção social dos trabalhadores depende da caracterização de vínculo de
https://fgvcepi.medium.com/3ca344857c17 2/8
11/05/2021 Gig Economy e desigualdade social no Brasil | by CEPI - FGV DIREITO SP | Medium
emprego? Quais os gargalos que existem quando falamos em proteção social dos
Open in app
trabalhadores na gig economy?
A gente já destaca que 17% do mundo civilizado não tem acesso à eletricidade. (…)
Quatro bilhões de pessoas no mundo não tem acesso à Internet. Então quando a gente vai
falar dessa 4ª revolução, que nos remete à inteligência Artificial, (…) a gente tem que ter
em mente que esse “boom” da era das máquinas chega em um momento em que muita
gente está ainda conhecendo a primeira era [da eletricidade].
Com isso, a dicotomia presente entre a proteção social, por meio do vínculo da
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), e a ausência de regulação para outras formas
de trabalho cria um panorama desalinhado com os desafios na atualidade, pois há uma
pluralidade de atores sociais operando múltiplas funções, isto é, desde os trabalhadores
das plataformas digitais até os microempresários.
Logo, como caminho de solução para essa problemática haveria três saídas, na
avaliação de Tupinambá. A primeira delas seria conseguir essa proteção social por meio
de uma regulação normativa pelo Estado, ou seja, por meio de uma atuação legislativa.
Caso essa resposta não ocorra, entra a esfera da Justiça do Trabalho, que poderia
interpretar de maneira mais ampla os direitos trabalhistas previstos na Constituição,
independentemente da discussão sobre vínculo de emprego. Por fim, a última solução
https://fgvcepi.medium.com/3ca344857c17 3/8
11/05/2021 Gig Economy e desigualdade social no Brasil | by CEPI - FGV DIREITO SP | Medium
seria uma proteção autônoma, por meio de associações e sindicatos, para conquistar
Open in app
direitos sociais mínimos.
Renan Kalil, por sua vez, salientou que uma das principais temáticas do Direito do
Trabalho, na atualidade, é o impacto da tecnologia nas relações de trabalho, tendo em
vista que o progresso técnico não é um elemento neutro, mas que interage e repercute
na economia e na sociedade. No entanto, destacou também que a humanidade não está
à mercê desse desenvolvimento tecnológico, muito pelo contrário, é possível construir e
direcionar os avanços de uma maneira benéfica ao desenvolvimento social.
Kalil questionou sobre qual a forma de trabalho em plataformas devemos nos atentar,
pois a grande abordagem sobre o tema tende a ficar restrita aos entregadores e
motoristas por aplicativo. Entretanto, o trabalho na gig economy é muito mais amplo,
incluindo também as plataformas de crowdwork e microtrabalhos. Para denotar esta
variedade, Kalil mencionou os trabalhos feitos pelo CEPI sobre o tema. Diante desta
pluralidade, o convidado mencionou diferentes opções regulatórias, como a regulação
dos trabalhos de plataforma direcionada a setores específicos ou a gig economy
Como saída para essa questão, segundo Kalil, é importante que o direito do trabalho
seja um instrumento que compreenda todo o funcionamento das plataformas digitais,
que busque atenuar as assimetrias presentes e consiga garantir uma proteção jurídica
para a fração mais afetada desta relação de trabalho. Portanto, Kalil defendeu que é
preciso sair da lógica de direitos e empregos como adversários e que é possível pensar
soluções capazes de assegurar uma proteção social e diminuir desigualdades.
Um dos pontos de partida dessas soluções, segundo ele, deve ser o esforço para
compreender como as plataformas digitais funcionam, qual sua estrutura interna e
como se dá o gerenciamento algorítmico dos trabalhadores que estão prestando os
serviços. Com isso, será possível fazer uma abordagem regulatória capaz de proteger os
trabalhadores e combater as desigualdades existentes:
(…) tentar entender melhor como essas próprias plataformas funcionam, para se pensar
adequadamente o tipo de regulação que a gente quer ter e também conseguir, no final das
contas, (…) chegar a esse objetivo de diminuir as desigualdades sociais que estão muito
presentes nessa forma de trabalho.
O que a economia digital nos sugere (…) é muita mais a necessidade de a gente combinar
regulação das plataformas digitais, o que elas podem, o que elas não podem fazer, com
reflexões e aperfeiçoamento das regras trabalhistas, das regras do direito do trabalho, com
tudo mais que a gente puder considerar. (…) Então o mundo do trabalho ele precisa de
algum modo revisitar os direitos sociais e o estado de bem-estar social, porque as coisas
mudam a tal ponto que, como vocês aqui já discutiram, não necessariamente tudo se
resume ao trabalho, é preciso repensar e reconsiderar os direitos, não necessariamente
vinculado ao emprego formal.
Referências
CEPI FGV DIREITO SP. Briefing Temático #1: Projetos de lei de 2020 sobre gig
economy: uma sistematização de definições e normas sobre condições de trabalho,
benefícios e remuneração. Disponível em:
https://www.academia.edu/44709257/Briefing_temático_1_Projetos_de_lei_de_202
0_sobre_gig_economy. Acesso em: mai. 2021.
CEPI FGV DIREITO SP. Briefing Temático #2: Trabalho sob demanda no Congresso
(2010–2020): um oceano de possibilidades. Disponível em:
https://www.academia.edu/45043317/Briefing_temático_2_Trabalho_sob_demanda
_no_Congresso_2010_2020_Um_oceano_de_possibilidades_versão_1_0. Acesso em:
mai. 2021.
https://fgvcepi.medium.com/3ca344857c17 6/8
11/05/2021 Gig Economy e desigualdade social no Brasil | by CEPI - FGV DIREITO SP | Medium
Open in app
Este texto é resultado da pesquisa Futuro do Trabalho & Gig Economy, conduzida pelo
Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação da FGV Direito SP.
YouTube
Academia.edu
Você pode também receber por e-mail novidades sobre eventos, pesquisas e produtos
do CEPI! Cadastre-se em nosso mailing aqui.
https://fgvcepi.medium.com/3ca344857c17 7/8
11/05/2021 Gig Economy e desigualdade social no Brasil | by CEPI - FGV DIREITO SP | Medium
Open in app
https://fgvcepi.medium.com/3ca344857c17 8/8