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MATERIAL DE APOIO

GPM

Curso Técnico: Administração de Empresas


Professor: Charles Nascimento

MARÇO 2022
INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO

O mundo moderno é constituído de vários tipos de organizações, sem as quais a sociedade


moderna não poderia existir. Por mais diferentes que as organizações possam ser entre si,
todas elas possuem atividades semelhantes, como por exemplo: atividades mercadológicas,
contábeis, de gestão de pessoas, de logística e de produção. As atividades de produção
existem e precisam ser administradas em qualquer tipo de organização, não apenas em
organizações industriais, como possa parecer em uma primeira instância. Uma organização
pode processar informações, materiais ou até mesmo os próprios consumidores. Este processo
produtivo pode ser traduzido em um modelo didático simples, conhecido como modelo de
transformação, que explica a transformação de recursos de entrada em produtos e serviços. As
atividades da administração da produção remontam à origem do ser humano, mas começaram
a ter ênfase especial no início da revolução industrial, por volta de 1780, quando seu estudo e
evolução aceleram-se, vertiginosamente. Vários cientistas e estudiosos, como Taylor, Fayol,
Ford dentre outros, contribuíram de forma significativa para o avanço da administração da
produção, em um novo tipo de organização que surgiu com a revolução industrial,
representado pelas indústrias. As técnicas de administrar a produção, que tiveram sua origem
nas indústrias, passam paulatinamente a ser aplicadas também em outras formas de
organizações, como as comerciais e as de prestação de serviço. Mais recentemente, também
têm sido úteis na organização dos empreendimentos "virtuais" ligados à Internet. O processo
de industrialização no Brasil teve seu início por volta de 1880, um século depois da
consolidação da revolução industrial no hemisfério norte. Este atraso cronológico produziu
consequências até hoje sentidas no sistema de produção nacional. A globalização da economia
traz um novo cenário e exige que se adotem novas estratégias de produção. Muitas empresas
se transformam em transnacionais, que se instalam em vários países diferentes e
complementam o que produzem em determinado lugar com partes produzidas por outra
operação sua em algum outro ponto do planeta. Essa nova lógica da localização industrial se
baseia na formação de cadeias de suprimentos bem articuladas e com fluxos de informação
integrados, o que tem provocado a descontinuidade geográfica e a descentralização industrial.
Neste novo cenário gerado pela globalização, há espaço até mesmo para o surgimento de
empresas born global, ou nascidas globais, que, desde cedo orientam suas atividades para o
atendimento do mercado internacional.

O QUE É A ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO?

Considerando a definição de administração como sendo o processo de planejar, organizar,


liderar e controlar o trabalho das pessoas da organização e de usar da melhor forma possível
os recursos disponíveis para conseguir realizar os objetivos estabelecidos. é possível dizer que
administrar a produção consiste em utilizar, da melhor forma, os recursos destinados à
produção de bens ou serviços. São várias as definições de administração da produção ou de
administração de operações apresentados na literatura. A seguir são transcritas algumas:

 Slack et al. (2002) definem administração da produção como sendo as atividades,


decisões e responsabilidades dos gerentes de produção.
 Davis et al. (2001) defendem que, a partir de uma estratégia corporativa, a
administração da produção pode ser definida como o gerenciamento dos recursos

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diretos que são necessários para a obtenção dos produtos e serviços de uma
organização.
 Stevenson (2001) considera que a função de operações engloba todas as atividades
diretamente ligadas à produção de bens ou ao fornecimento de serviços e ressalta a
ampliação do escopo da função para outros tipos de organização além de fábricas.

AS ATIVIDADES DE PRODUÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES

Apesar de não ser a única, nem, necessariamente, a mais importante, a função produção é
central a todas as organizações. A gestão da produção é responsável pela produção dos bens e
serviços disponibilizados pelas organizações aos seus clientes, que são a razão essencial da sua
existência. Todas as demais funções são interligadas à função produção. As atividades
exercidas pelas funções mercadológica, contábil, de gestão de pessoas e atividades logísticas,
apresentam certo grau de similaridade, independente do tipo de organização. Já as atividades
ligadas à produção/operação são mais específicas, variando bastante de organização para
organização. A atividade de produção é, usualmente, a atividade que mais distingue operações
de tipos de organização diferentes.

As principais atividades da função de produção que oferecem carreira são:

 Supervisor de produção: supervisiona os empregados à medida que os produtos ou


serviços são produzidos; é responsável pelo desempenho de custo, qualidade e
programação.
 Planejador de compras/comprador: compra produtos ou serviços para manter a
produção; é responsável pelo desempenho do fornecedor.
 Analista de estoques: supervisiona todos os aspectos dos estoques; é responsável
pelos níveis de estoques, auditoria, precisão de registros, pedidos e expedição.
 Controlador da produção: autoriza a produção de pedidos, desenvolve programas e
planos de produção e faz a expedição de pedidos; é responsável por cumprir datas de
vencimentos dos clientes e abastecimento eficiente da linha de produção.
 Analista de produção: analisa problemas de produção, desenvolve previsões, planeja
novos produtos e executa outros projetos especiais.
 Especialista em qualidade: supervisiona a aceitação por amostragem, controle de
processos e administração da qualidade; é responsável pela qualidade do produto dos
fornecedores e da produção.

O MODELO DE TRANSFORMAÇÃO

O processo de produção, sob o ponto de vista operacional, envolve recursos a serem


transformados e recursos transformadores que, submetidos ao processo produtivo, dão
origem ao produto final, ou seja, aos bens e serviços criados pela organização. A função
produção está focada na transformação de certos insumos em algum resultado desejado. O
modelo apresentado abaixo ficou consagrado em praticamente toda a literatura referente ao
tema.

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Entradas
a) Recursos a serem transformados: são aqueles que serão convertidos por meio de um
processo de produção. Geralmente são um composto de:

 Matérias-primas e componentes;
 Informações;
 Consumidores.

b) Recursos transformadores: são aqueles que agem sobre os recursos a serem


transformados. Eles atuam de forma “catalisadora”, ou seja, fazem parte do processo
de produção, mas não sofrem transformações diretamente, apenas permitem que a
transformação aconteça. Os recursos transformadores, geralmente incluem:

 Instalações, ou seja, os prédios, máquinas, equipamentos, terreno etc.


 Conhecimento, representado pela tecnologia do processo de produção e a
necessidade do domínio da técnica (know-how).
 Funcionários para operar, manter, planejar e administrar a produção.

Transformação
a) Processamento de materiais: pode transformar suas propriedades físicas (composição,
forma ou características), sua localização (p. ex., entrega de encomendas), sua posse
ou propriedade (p. ex., vendas no varejo) ou proporcionar acomodação ou estocagem
(p. ex., armazém). O processamento de materiais ocorre em organizações do tipo
manufatura, empresas de mineração e extração, operações de varejo, armazéns,
serviços postais, transportadores de cargas etc.

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b) Processamento de informações: pode transformar suas propriedades informativas
(forma da informação), sua posse (p. ex., venda dos resultados de uma pesquisa de
mercado), sua localização (p. ex., telecomunicações) ou possibilitar a sua estocagem
(p. ex., em arquivos e biblioteca). São exemplos de processamento de informações o
trabalho de contadores, advogados, bancos, empresas de pesquisa de marketing,
analistas financeiros, empresas de telecomunicações, bureaus de armazenamento de
dados etc.

c) Processamento de consumidores: pode transformar suas propriedades físicas (p. ex.,


um spa ou clínica de emagrecimento, um cabeleireiro), acomodá-los (p. ex., hotéis e
pensões), mudar a sua localização (p. ex., serviços de transportes de passageiros) ou
seu estado fisiológico (p. ex., hospitais ou restaurantes) e seu estado psicológico (p.
ex., serviços de entretenimento, rádios, teatros, cinema, parques).

Saídas

As saídas do processo produtivo, são o produto final desejado e, eventualmente, outros sub-
produtos, desejados ou não.

RECURSOS ORGANIZACIONAIS

Os Recursos Organizacionais são os vários meios que as instituições possuem para atingir seus
objetivos. São os bens ou serviços utilizados nas atividades organizacionais. Quando se fala em
recursos, não estamos nos referindo apenas a dinheiro. Referimo-nos também às matérias-
primas utilizadas na produção, nos serviços prestados pelas organizações, nos equipamentos e
colaboradores.
De modo geral, os recursos podem ser divididos em cinco grupos:

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•RECURSOS FISICOS OU MATERIAIS
• RECURSOS FINANCEIROS
• RECURSOS HUMANOS
• RECURSOS MERCADOLOGICOS
• RECURSOS ADMINISTRATIVOS

a) RECURSOS FISICOS OU MATERIAIS: Compreendem o espaço físico, os prédios e


terrenos, o processo produtivo e a tecnologia utilizada no processo de produção dos
bens e serviços da organização. Estes recursos orientam e controlam as atividades de
materiais da organização, conforme os planos estabelecidos e a política adotada.
Elaboram rotinas de trabalho, tendo em vista a implantação de sistemas que devem
conduzir a melhores resultados com menores custos, o que demanda a utilização de
organogramas, fluxogramas e outros instrumentos de trabalho.

b) RECURSOS FINANCEIROS: Compreendem os recursos na forma de capital, fluxo de


caixa, investimentos, aplicações, empréstimos, financiamentos, receitas, contas a
receber, crédito ou dinheiro da empresa.

c) RECURSOS HUMANOS: São as pessoas que compõe as organizações, independente do


nível hierárquico organizacional. Os recursos humanos estão distribuídos nos níveis
estratégico (direção), intermediário (gerencia e assessoria) e no nível operacional
(técnicos, colaboradores e supervisores de linha).

d) RECURSOS MERCADOLOGICOS: Compreendem todos os métodos utilizados pelas


organizações para análise de mercado (de consumidor e concorrente), planejamento
de venda, execução e controle de qualidade, promoções, propagandas pelos meios de
comunicação, lançamento de novos produtos no mercado com novas tecnologias
necessárias para a demanda do mercado de acordo com as exigências dos
consumidores.

e) RECURSOS ADMINISTRATIVOS: São as coordenações utilizadas pelas organizações, que


compreendem as atividades de planejamento, organização, direção e controle das
tomadas de decisões. É o recurso responsável pela distribuição de informações dentro
e fora da organização.

OS RELACIONAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO

Para poder funcionar da melhor maneira possível e alcançar seu objetivos de eficiência e
eficácia, a administração da produção mantém um dinâmico inter-relacionamento com outros
departamentos da organização, exemplo:

 Pesquisa e Desenvolvimento – fornece os projetos de produtos com suas


especificações, componentes e materiais.

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 Marketing – estabelece a previsão de vendas e comercializa os produtos através da
área mercadológica.
 Finanças – estabelece critérios de compras (financiamentos das compras) e do
suprimento de matérias-primas (estocagem dos materiais), custos e investimentos.
 Recursos Humanos – proporciona o recrutamento e seleção de pessoas, treinamento
pessoal, condições de higiene e segurança do trabalho, pagamento de salários e
concessões de benefícios.

Esse inter-relacionamento mostra o grau de dependência entre os diversos departamentos da


organização para poderem alcançar os objetivos empresariais.

É fundamental que se perceba a função da Administração da Produção é vital para a existência


da empresa, pois a partir dela é que são gerados os bens que trarão as receitas da organização.
Dentro de uma empresa todos os setores têm interdependência entre suas atividades.

CLASSIFICAÇÃO DE EMPRESAS POR SETORES DA PRODUÇÃO E ECONOMIA

Podemos classificar as empresas quanto ao que produzem e em relação à sua importância na


economia em geral e na sociedade como um todo. Basicamente, podemos classificá-las de
cinco maneiras, a seguir:

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 Empresas primárias ou extrativas: São chamadas de primárias por que se dedicam
basicamente à obtenção e extração de matérias primas, elementos primários da
produção. O setor primário é o conjunto de atividades econômicas que produzem
matéria-prima. Isto implica geralmente na transformação de recursos naturais em
produtos primários. Muitos produtos do setor primário são considerados como
matérias-primas levadas para outras indústrias, a fim de se transformarem em
produtos industrializados. As indústrias fabris em sentido diversificado, que agregam,
embalam, empacotam, purificam ou processam as matérias-primas dos produtores
primários, normalmente se consideram parte deste setor, especialmente se a matéria-
prima é inadequada para a venda, ou difícil de transportar a longas distâncias.
Segundo a nomenclatura econômica, o "setor primário" está dividido em seis
atividades econômicas: Agricultura, pecuária, extrativismo vegetal, caça, pesca e
mineração;

 Empresas secundárias ou de transformação: O setor secundário é o setor da


economia que transforma produtos naturais produzidos pelo setor primário em
produtos de consumo, ou em máquinas. Geralmente apresenta porcentagens bastante
relevantes nas sociedades desenvolvidas. É nesse setor, que podemos dizer que a
matéria-prima é transformada em um produto manufaturado. A indústria e a
construção civil são, portanto, atividades desse setor.

 Empresas terciárias ou prestadoras de serviços: O setor terciário, também conhecido


como setor serviços, no contexto da economia, envolve a comercialização de produtos
em geral, e o oferecimento de serviços comerciais, pessoais ou comunitários, a
terceiros. O setor terciário é definido pela exclusão dos dois outros setores. Os
serviços são definidos na literatura econômica convencional como "bens intangíveis".
Este setor envolve a prestação de serviços às empresas, bem como aos consumidores
finais. Os serviços podem envolver o transporte, distribuição e venda de mercadorias
do produtor para um consumidor que pode acontecer no comércio atacadista ou
varejista, ou podem envolver a prestação de um serviço, como entretenimento e
informação. Os produtos podem ser transformados no processo de prestação de um

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serviço, como acontece no restaurante ou em equipamentos da indústria de
reparação. No entanto, o foco é sobre as pessoas interagindo com as pessoas e de
serviço ao consumidor, mais do que a transformação de bens físicos.

 Empresas do terceiro setor: Neste nível encontram-se os mais diversos tipos de


instituições sem fins lucrativos e os investimentos em projetos sociais desenvolvidos
pela iniciativa privada. Este setor, que movimenta bilhões de dólares mundialmente e
gera milhões de empregos, tem como objetivo maior tornar a sociedade mais justa
economicamente e mais igualitária socialmente.

 O Quarto Setor: Sinônimo da economia informal sobrevive através de criativos


artifícios para fugir das garras do leão do imposto de renda. Com passaporte
multinacional, o setor não tem preconceito, não discrimina e não provoca exclusão
social, profissional, racial, eleitoral, empresarial ou digital.

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OS QUATRO “V” DA PRODUÇÃO

Embora as operações sejam similares entre si na forma de transformar recursos de input em


output de bens e serviços, apresentam diferenças em quatro aspectos importantes:

 Volume de output: Em sistemas de grande volume de produção, há um alto grau de


repetição de tarefas. Isso possibilita a especialização de trabalhadores e a
sistematização do trabalho (procedimentos-padrão, estabelecidos em um manual,
com instruções de como cada parte do trabalho deve ser feita) e de ferramentas. A
implicação mais importante disto é o custo unitário mais baixo, pois no mínimo os
custos fixos são diluídos em um grande número de produtos.

 Variedade de output: Confronta produtos ou serviços altamente padronizados com


outros produtos e serviços altamente flexíveis e customizáveis. O que é padronizado
tem custos mais baixos e pode ter uma taxa de erros menor, e por consequência,
maior qualidade.

 Variação da demanda do output: Contrapõe negócios de alta variação de demanda


(demanda instável) com negócios de demanda estável. O custo unitário no primeiro
caso é menor, e ele deve se adaptar às flutuações do mercado.

 Grau de "visibilidade" (contato com o consumidor) envolvido na produção do


output: Depende do quanto da operação é “exposta” para os clientes. Operações de
alto contato exigem funcionários com boas habilidades de interação interpessoal.
Operações de baixo podem contar com funcionários menos qualificados, e pode ter
alta taxa de utilização gerando custos mais baixos. Visibilidade baixa tolera prazos de
entrega mais longos e por isso podem trabalhar com menos estoque. Há operações de
visibilidade mista: algumas micro-operações são de alta visibilidade, outras de baixa.

SISTEMAS DE PRODUÇÃO

As empresas são organizações sociais. Como todos os organismos vivos, as organizações


funcionam como sistemas. Um sistema é um conjunto integrado de partes inter-relacionadas
que existem para atingir um determinado propósito.

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Existem basicamente três tipos de sistema de produção: produção sob encomenda, a
produção em lotes e a produção continua.

 Encomenda: É o sistema de produção utilizado pela empresa que produz somente


após ter recebido um pedido ou encomenda de seus produtos. Após a contratação do
produto é que a empresa começa a produzi-lo. As empresas que trabalham dessa
forma têm um planejamento que envolve os seguintes aspectos e informações
detalhadas sobre: a relação de matérias-primas necessárias, relação de mão-de-obra
necessária e o melhor processo produtivo. O sistema de produção sob encomenda
apresenta as seguintes características:

1. Cada produto é único e específico;


2. Cada produto exige uma variedade de máquinas e equipamentos;
3. Cada produto exige uma variedade de colaboradores especializados;
4. Cada produto tem um prazo de entrega definido;
5. É difícil fazer previsões de produção.

 Lotes ou bateladas: É o sistema utilizado para empresas que produzem uma


quantidade limitada (lote) de um tipo de produto de cada vez. Cada lote de produção é
determinado para atender uma necessidade dimensionada por volume de vendas ou
período/tempo. O sistema de produção em lotes é utilizado por várias indústrias:
têxteis, eletrodomésticos, brinquedos e etc. O sistema de produção em lotes
apresenta as seguintes características:

1. A fábrica é capaz de produzir produtos com diferentes características;


2. As maquinas são agrupadas em baterias do mesmo tipo;
3. Em cada lote de produção as máquinas e ferramentas devem ser modificadas,
adaptadas e arranjadas para atender aos diferentes produtos;
4. A produção em lotes permite uma utilização regular da mão de obra sem grandes picos
de produção;
5. A produção em lotes exige grandes áreas de estocagem de produtos acabados e um
grande estoque de materiais em processamentos ou em vias;
6. A produção em lotes impõe a necessidade de um plano de produção que possa
integrar novos lotes de produção à medida que outros sejam completados.

 Contínuo ou em massa: A produção contínua é utilizada por empresas que produzem


determinado produto, sem modificações, por longo período de tempo. O ritmo de
produção é acelerado e as operações são executadas sem interrupção ou mudanças.
Como o produto é sempre o mesmo ao longo do tempo e o processo produtivo não
sofrem mudanças, o sistema pode ser aperfeiçoado continuamente. O sistema de
produção contínua apresenta as seguintes características:

1. O produto é mantido em produção por um longo período de tempo sem modificações.


2. A produção contínua facilita o planejamento detalhado;
3. A produção contínua exige máquinas e ferramentas altamente especializadas e
dispostas em formação linear e sequencial;
4. É possível estabelecer o número de funcionários/horas de trabalho para cada operação
ou produto;
5. A produção contínua permite que as despesas e investimentos com equipamentos
sejam depreciados (recuperados contabilmente) dentro de períodos mais longos,
proporcionado uma economia nos custos de produção;

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6. A produção contínua facilita as ações corretivas para resolver facilmente qualquer
problema de paralisação no processo produtivo;
7. O sucesso da produção contínua depende do planejamento detalhado.

COMPARATIVO DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO

O sistema de produção utilizado pela empresa é uma função dependente do seu produto. É o
tipo de produto que determina o sistema de produção que a empresa deve usar. Se o produto
é especifico ou de grande porte e depende de encomenda do cliente, o sistema adotado será o
de produção sob encomenda. Se há uma variedade de produtos que entram e saem de
produção e que a empresa vende somente apões estocar o sistema adotado será a produção
em lotes. Se há um ou mais produtos que permanecem no longo prazo em produção e a
empresa somente vende após estocá-los, o sistema adotado será o de produção continua.

Subsistemas Matérias-primas Produção Produtos Acabados

Nenhum estoque A produção é Não há necessidade


prévio. O estoque é planejada somente de controle de
Produção
planejado somente após receber o produtos acabados
Encomenda após receber o pedido ou em cada encomenda.
pedido. encomenda.

O estoque é A produção é O estoque é


planejado em função planejada em função planejado em função
Produção
de cada lote de de cada lote de de cada lote de
em Lote produção. produção. produção.

O estoque é A produção é O estoque é


planejado e planejada e planejado e
Produção
programado para o programada para o programado para o
Contínua período mensal ou período mensal ou período mensal ou
anual. anual. anual.

ARRANJO FÍSICO (LAY OUT)

O arranjo físico de uma operação produtiva preocupa-se com o posicionamento físico dos
recursos de transformação. Colocado de formas simples, definir o arranjo físico é decidir onde
colocar todas as instalações, máquinas, equipamentos e pessoal da produção. O arranjo físico
é uma das características mais evidentes de uma operação produtiva porque determina sua
“forma” e aparência. É aquilo que a maioria de nós notaria em primeiro lugar quando entrasse

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pela primeira vez em uma unidade produtiva. Também determina a maneira segundo a qual os
recursos transformados fluem pela operação. Mudanças relativamente pequenas na
localização de uma máquina em uma fábrica ou dos produtos em um supermercado, ou
mesmo a mudança de salas de um centro esportivo podem afetar o fluxo de materiais e
pessoas por meio da operação. Isso pode afetar os custos e a eficácia geral da produção.

Procedimento de arranjo físico:

Há algumas razões práticas pelas quais as decisões de arranjo físico são importantes na
maioria dos tipos de produção:

 Mudança de arranjo físico é frequentemente uma atividade difícil e de longa duração


por causa das dimensões físicas dos recursos de transformação movidos;
 Rearranjo físico de uma operação existente pode interromper seu funcionamento
suave, levando à insatisfação do cliente ou a perdas na produção;
 Se o arranjo físico está errado, pode levar a padrões de fluxo longos ou confusos,
estoque de materiais, filas de clientes formando-se ao longo da operação,
inconveniências para os clientes, tempos de processamento longos, operações
inflexíveis, fluxos imprevisíveis e altos custos.

De fato, há uma dupla pressão para a decisão sobre o arranjo físico. A mudança de arranjo
físico pode ser de execução difícil e cara e, portanto, os gerentes de produção podem relutar
em fazê-la com frequência. Ao mesmo tempo, eles não podem errar em sua decisão. A
consequência de qualquer mau julgamento na definição do arranjo físico terá efeitos de longo
prazo consideráveis na operação. Projetar o arranjo físico de uma operação produtiva, assim
como qualquer atividade de projeto, deve iniciar-se com os objetivos estratégicos da
produção. Entretanto, isso é apenas o ponto de partida do que é um processo de múltiplos
estágios que leva ao arranjo físico final de uma operação.

a) Selecione o tipo de processo:

O conceito do tipo de processo é, muitas vezes, confundido com o arranjo físico. Arranjo físico
é um conceito mais restrito, mas é a manifestação física de um tipo de processo. É a
característica de volume-variedade que dita o tipo de processo. Há, entretanto,
frequentemente, alguma superposição entre tipos de processo que podem ser utilizados para
determinada posição do binômio volume-variedade. Em casos em que mais do que um tipo de
processo é possível, a importância relativa dos objetivos de desempenho da operação pode
influenciar na decisão. Em geral, quanto mais importante for o objetivo custo para a operação,
mais provável será que ela adote um tipo de processo próximo ao extremo alto volume -baixa
variedade do espectro de tipos de processo.

b) Selecione o arranjo físico básico:

Depois que o tipo de processo foi selecionado, o tipo básico de arranjo físico deve ser definido.
O tipo básico de arranjo físico é a forma geral do arranjo de recursos produtivos da operação.
A maioria dos arranjos físicos, na prática. Deriva de apenas quatro tipos básicos de arranjo
físico:

 Arranjo físico posicional;


 Arranjo físico por processo;
 Arranjo físico celular;

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 Arranjo físico por produto.

A relação entre tipos de processo e tipos básicos de arranjo físico não é totalmente
determinística. Um tipo de processo não necessariamente implica tipo básico de arranjo físico
em particular. Cada tipo de processo pode adotar diferentes tipos básicos de arranjo físico.

c) Selecione o projeto detalhado de arranjo físico:

Embora a escolha do tipo básico de arranjo físico governe a maneira geral segundo a qual os
recursos vão ser arranjados uns em relação aos outros, ela não define precisamente a posição
exata de cada elemento da operação. O estágio final na atividade de definição do arranjo físico
é a definição do projeto detalhado de posicionamento físico dos recursos.

TIPOS BÁSICOS DE ARRANJO FÍSICO

 Arranjo físico posicional: Também conhecido como arranjo físico de posição fixa é, de
certa forma, uma contradição em termos, já que os recursos transformados não se
movem entre os recursos transformadores. Em vez de materiais, informações ou
clientes fluírem por uma operação, quem sofre o processamento fica estacionário,
enquanto equipamento, maquinário, instalações e pessoas movem-se na medida do
necessário. A razão para isso pode ser que ou o produto ou o sujeito do serviço seja
muito grande para ser movido de forma conveniente, ou podem ser (ou estar em um
estado) muito delicados para serem movidos, ou ainda podem objetar-se a ser
movidos.

Exemplos:
1. Construção de uma rodovia-produto é muito grande para ser movido;
2. Cirurgia de coração-pacientes está em um estado muito delicado para serem movidos;
3. Restaurante de alta classe-clientes objetariam em mover-se para onde a comida é
preparada;
4. Estaleiro -produto muito grande para mover-se;
5. Manutenção de computador de grande porte -produto muito grande e provavelmente
também muito delicado para ser movido e o cliente poderia negar-se a trazê-lo para
manutenção.

Um canteiro de obra é tipicamente um exemplo de arranjo físico posicional, já que existe uma
quantidade de espaço limitada que deve ser alocada aos vários recursos transformadores. O
principal problema em projetar o arranjo físico será então alocar áreas do canteiro aos vários
subcontratados de forma que eles tenham suficiente espaço para executar suas atividades,
possam receber e armazenar seus suprimentos, todos os subcontratados possam ter acesso à
área do canteiro onde estejam trabalhando sem interferir na movimentação dos recursos dos
outros subcontratados e a movimentação total dos subcontratados, de seus veículos e de
materiais seja minimizada tanto quanto possível.
Na prática, a eficácia de um arranjo físico posicional como este está ligada à programação de
acesso ao canteiro e à confiabilidade das entregas. Na maioria dos canteiros, não há espaço
para alocar áreas permanentes a todos os subcontratados que porventura venham a
necessitar de acesso à obra. Apenas os maiores, mais importantes ou aqueles subcontratados
de prazo mais longo provavelmente ganharão espaço permanente (ao longo da duração da
obra). Outros subcontratados terão áreas alocadas temporariamente. Isso deixa o arranjo
físico sujeito a alterações no planejamento e controle do projeto.

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 Arranjo físico por processo: É assim chamado porque as necessidades e conveniências
dos recursos transformadores que constituem o processo na operação dominam a
decisão sobre o arranjo físico. No arranjo por processo, processos similares (ou
processos com necessidades similares) são localizados juntos um do outro. A razão
pode ser que seja conveniente para a operação mantê-los juntos, ou que dessa forma
a utilização dos recursos transformadores seja beneficiada. Isso significa que, quando
produtos, informações ou clientes fluírem pela operação, eles percorrerão um roteiro
de processo a processo, de acordo com suas necessidades. Diferentes produtos ou
clientes terão diferentes necessidades e, portanto, percorrerão diferentes roteiros na
operação. Por essa razão, o padrão de fluxo na operação poderá ser bastante
complexo.

Exemplos:
1. Hospital: alguns processos (aparelhos de raios-X e laboratórios) são necessários a um
grande número de diferentes tipos de pacientes. Alguns processos (e.g.: alas gerais)
podem atingir altos níveis de utilização de recursos (leitos e equipe de atendimento).
2. Usinagem de peças utilizadas em motores de aviões: alguns processos (tratamento
térmico) necessitam de instalações especiais (para exaustão de fumaça, por exemplo);
alguns processos (e.g.: machining centres) requerem suporte comum de preparadores
/ operadores de máquina; alguns processos (esmerilhadeiras) atingem altos níveis de
utilização pois todas as peças que requerem operações de esmerilharnento passam
por uma única seção.
3. Supermercado: Alguns processos, como a área que dispõe de vegetais enlatados,
oferecem maior facilidade na reposição dos produtos se mantidos agrupados. Alguns
setores, como o da comida congelada, necessitam de tecnologia similar de
armazenagem, em gabinetes refrigerados. Outros, como as áreas que dispõem de
vegetais frescos, podem ser mantidos juntos, pois dessa forma podem tornar-se mais
atraentes aos olhos do cliente.

 Arranjo físico celular: É aquele em que os recursos transformados, entrando na


operação, são pré-selecionados (ou pré-selecionam-se a si próprios) para movimentar-
se para uma parte específica da operação (ou célula) na qual todos os recursos
transformadores necessários a atender a suas necessidades imediatas de
processamento se encontram. A célula em si pode ser arranjada segundo um arranjo
físico por processo ou por produto. Depois de serem processados na célula, os
recursos transformados podem prosseguir para outra célula. De fato, o arranjo físico
celular é uma tentativa de trazer alguma ordem para a complexidade de fluxo que
caracteriza o arranjo físico por processo.

Exemplos:
1. Algumas empresas manufatureiras de componentes de computador: a manufatura e a
montagem de alguns tipos de peças para computadores podem necessitar de alguma
área dedicada à produção de peças para clientes em particular que tenham requisitos
especiais como, por exemplo, níveis mais altos de qualidade.
2. Área para produtos específicos em supermercados: alguns clientes usam o
supermercado apenas para comprar lanches, salgadinhos, refrigerantes, iogurte etc.
para consumo, por exemplo, em seu horário de almoço. Estes, em geral, são
localizados juntos, de forma que o cliente que está apenas comprando seu almoço não
necessite procurá-los pelo supermercado todo.
3. Maternidade em um hospital: clientes que necessitam de atendimento em
maternidade formam um grupo bem definido que pode ser tratado em conjunto; eles

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têm probabilidade pequena de necessitar de cuidados de outras partes do hospital ao
mesmo tempo em que requerem cuidados específicos de maternidade.

Embora a ideia de arranjo físico celular seja em geral associada à operação de manufatura, os
mesmos princípios podem ser, e são usados em serviços.

 Arranjo físico por produto: Envolve localizar os recursos produtivos transformadores


inteiramente segundo a melhor conveniência do recurso que está sendo
transformado. Cada produto, elemento de informação ou cliente segue um roteiro
predefinido no qual a sequencia de atividades requerida coincide com a sequencia na
qual os processos foram arranjados fisicamente. Esse é o motivo pelo qual, às vezes,
esse tipo de arranjo físico é chamado de arranjo físico em "fluxo" ou em "linha". O
fluxo de produtos, informações ou clientes é muito claro e previsível no arranjo físico
por produto, o que faz dele um arranjo relativamente fácil de controlar. De fato, em
algumas operações de processamento de clientes, um arranjo físico por produto é
adotado ao menos em parte para ajudar a controlar o fluxo de clientes ao longo da
operação. Predominantemente, entretanto, é a uniformidade dos requisitos que leva a
operação a escolher um arranjo físico por produto.

Exemplos:
4. Montagem de automóveis - quase todas as variantes do mesmo modelo requerem a
mesma sequencia de processos.
5. Programa de vacinação em massa - todos os clientes requerem a mesma sequencia de
atividades burocráticas (preenchimento das cadernetas de vacinação), médicas e de
aconselhamento (possível resguardo necessário, por exemplo).
6. Restaurante self-service - geralmente, a sequencia de serviços requeridos pelo cliente
(entrada, prato principal, sobremesa, bebidas) é comum para todos os clientes, mas o
arranjo físico auxilia também a manter controle sobre o fluxo de clientes.

Operações de serviço podem também adotar arranjo físico por produto se as necessidades de
"processamento" dos clientes ou informações tiverem Uma sequencia comum. Por exemplo,
recrutas que se alistam para o Exército provavelmente serão "processados" num programa de
alistamento organizado segundo um arranjo físico por produto.

 Arranjos físicos mistos: Muitas operações ou projetam arranjos físicos mistos, que
combinam elementos dalguns ou todos os tipos básicos de arranjo físico, ou usam
tipos básicos de arranjo físico de forma "pura" em diferentes partes da operação. Por
exemplo, um hospital normalmente seria arranjado conforme os princípios do arranjo
físico por processo - com cada departamento representando um tipo particular de
processo (departamento de radiologia, salas de cirurgia, laboratório de processamento
de sangue, entre outros). Ainda assim, dentro de cada departamento, diferentes tipos
de arranjos físicos são utilizados. O departamento de radiologia provavelmente é
arranjado por processo, as salas de cirurgia, segundo um arranjo físico posicional, e o
laboratório de processamento de sangue, conforme um arranjo físico por produto.

VANTAGENS E DESVANTAGENS DE CADA TIPO DE ARRANJO FÍSICO

Arranjo Físico Vantagens Desvantagens


Posicional Flexibilidade muito alta de mix e Custos unitários muito altos.

20
produto. Produto ou cliente não Programação de espaços ou
movido. Alta variedade de atividade pode ser complexa.
tarefas para a mão-de-obra. Pode significar muita
movimentação de equipamentos
e mão-de-obra.
Processo Alta flexibilidade de mix e Baixa utilização de recursos. Alto
produto. Robusto em caso de estoque em processo.
interrupção de etapas. Fácil Dificuldade no controle e
supervisão. complexidade no fluxo.
Celular Equilíbrio entre custo e Custo alto de reconfiguração.
flexibilidade para operações com Pode requerer capacidade
variedade alta. Trabalho em adicional. Reduz níveis de
grupo, o que resulta em maior utilização de recursos.
motivação.
Produto Baixos custos unitários para Baixa flexibilidade de mix. Não
altos volumes. Dá oportunidade muito robusto contra
para especialização de interrupções. Trabalho pode ser
equipamento. Movimentação repetitivo.
conveniente de clientes e
materiais

LOCALIZAÇÃO INDUSTRIAL

Localizar uma instalação significa determinar o melhor local para se instalar uma base de
operações, onde serão fabricados produtos ou prestados serviços. Em alguns casos, o estudo

21
da localização pode envolver, ainda, a determinação de um local distinto para a sede
administrativa, ou da área comercial da empresa, que não necessariamente precisa estar junto
à base operacional. Os principais fatores que devem ser levados em consideração na decisão
de localização industrial são: disponibilidade de matéria-prima, energia elétrica, água, mão-de-
obra, facilidades e incentivos fiscais, qualidade de vida, qualidade dos serviços essenciais e
localização dos mercados consumidores. Os principais fatores na decisão de localização de
organizações do tipo comercial e de serviços são a proximidade do mercado consumidor e a
localização dos concorrentes.

IMPORTÂNCIA DA DECISÃO DE LOCALIZAÇÃO

São três as principais características que tornam a decisão sobre localização merecedora de
criterioso estudo e especial atenção:

 Trata-se de uma decisão de longo prazo: As decisões de localização, principalmente no


caso de grandes plantas industriais ou comerciais, levam a um compromisso de longo
prazo com o novo local escolhido.

 Não é possível mudar uma empresa de local com frequência. Tampouco é possível
“testar” as alternativas de instalação, previamente. Convém ressaltar que, em alguns
casos, particularmente no Brasil, a negociação entre a empresa, interessada em
benefícios fiscais e a administração pública local, interessada na geração de empregos
e atração de outros empreendimentos para a região, pode durar meses, alimentando
um verdadeiro jogo de interesses políticos entre as administrações públicas dos locais
pré-selecionados como alternativas de localização.

 Envolve elevado investimento: Via de regra, os custos de compra do terreno,


construção, reformas, montagem de equipamentos, contratação de pessoal e com
aspectos burocráticos são consideráveis, fazendo com que a decisão precise ser
tomada com o necessário cuidado. Tem impacto direto nos custos da operação: uma
decisão de localização de caráter emocional ou sem critério pode levar a custos
desnecessários de transporte, deficiência de mão-de-obra na comunidade local,
problemas com os órgãos de proteção ambiental, falta de infraestrutura adequada,
além de inúmeros outros problemas que podem acarretar sérios transtornos
posteriores à instalação da operação no local escolhido.

A IMPORTÂNCIA DA LOCALIZAÇÃO

O estudo das possíveis alternativas de localização é essencial para a tomada de decisão


consistente sobre a posição geográfica de uma operação. Este estudo leva em consideração,
basicamente, os seguintes fatores:

 Disponibilidade de recursos e facilidade de obtenção de matéria-prima;


 Disponibilidade de mão de obra;
 Infraestrutura do local;
 Localização dos mercados consumidores.

Segundo Slack (2002) e Stevenson (2001) e a maioria dos autores, a necessidade de definição
de um local adequado para novas instalações pode decorrer de vários motivos, como por
exemplo:

22
 Criação de uma nova empresa: Certamente, a localização de um novo
empreendimento é um dos fatores críticos de sucesso do negócio a ser aberto. O Brasil
é campeão na abertura de novos negócios a cada ano. Independentemente da razão
para este elevado grau de “empreendedorismo”, possivelmente mais ligado à
necessidade (o país também enfrenta taxas elevadas de desemprego, o que estimula
as pessoas a criarem para si novas ocupações) do que a qualquer outro fator, o fato de
se criarem tantos novos negócios atribui uma importância adicional aos estudos de
localização. É importante que, por trás das de uma boa ideia de negócio, exista um
bom planejamento, para garantir o sucesso do empreendimento. No caso da
implantação de novos negócios, definir o local da instalação se torna uma tarefa ainda
mais difícil, pois não existe histórico e experiência anterior para ajudar na
determinação dos requisitos realmente significativos de localização e na sua
importância relativa, quando comparados uns com os outros.

 Ampliação da área de atuação com uma nova instalação: Neste caso, a empresa já
existe e pretende criar uma nova instalação, em adição às existentes. A experiência
adquirida, em função do sistema em funcionamento, é muito útil para definir os
fatores imprescindíveis para a escolha de um local adequado para a nova instalação.
Este tipo de decisão de localização ocorre, frequentemente, quando não é possível
expandir as instalações atuais de modo a atender satisfatoriamente o crescimento do
mercado ou quando a empresa busca atender outros mercados, que não seriam
supridos de forma eficiente a partir da localização atual.

 Mudança do local de instalação atual: Esta alternativa diz respeito ao fechamento de


uma instalação existente e reabertura em outro local. Pode advir de várias razões
como, por exemplo: o esgotamento da matéria-prima da região, oportunidade de
incentivos fiscais consideráveis em outra praça, necessidade de estar mais próximo
dos clientes ou dos fornecedores, falta de espaço físico para expansão das instalações
já existentes, aumento exagerado dos custos operacionais em função de
características locais, oportunidade de um mercado melhor em outra região,
surgimento de forte concorrente na região, entre tantas outras. A localização exerce
forte impacto na organização, podendo representar um importante fator de sucesso
ou insucesso dos negócios.

OBJETIVOS DA DECISÃO DE LOCALIZAÇÃO

A lógica por trás da decisão de localização de uma operação produtiva depende do tipo de
organização. Organizações do tipo industrial ou comercial, que visam o lucro, procuram a
melhor relação entre os custos e a receita esperados a partir de cada uma das alternativas de
localização. Estas organizações procuram sempre minimizar custos e maximizar a receita.
Organizações sem fins lucrativos e repartições governamentais podem almejar atingir um
equilíbrio entre os custos da localização e o orçamento disponível, na medida em que esta
localização possibilite atingir seus objetivos, que normalmente não são de caráter econômico,
da melhor forma possível.

DELIMITAÇÃO DO UNIVERSO DE OPÇÕES / HIERARQUIA DE DECISÕES

23
É importante restringir a quantidade de possíveis locais para a implantação da operação
produtiva, de modo a reduzir o esforço envolvido no estudo de localização. A pré-seleção pode
consistir em agregar as diversas possíveis localidades, geralmente próximas umas das outras,
que tenham características muito semelhantes, de forma que seja praticamente indiferente
optar por uma ou pela outra. Isto geralmente é feito quando existem numerosas localizações
disponíveis para escolha. Seria impraticável e deveras dispendioso realizar uma pesquisa
exaustiva envolvendo todas elas.

FATORES QUE INFLUENCIAM NA DECISÃO DE LOCALIZAÇÃO

Em que pese à existência de numerosos fatores que podem influenciar a decisão da


localização, geralmente este grande número de considerações obedece ao conhecido princípio
de Pareto, ou seja, apenas alguns poucos fatores, entre os muitos existentes, devem exercer
influência realmente significativa na escolha da localização. Estes poucos fatores eleitos devem
ser cuidadosamente estudados. Os fatores determinantes na decisão de localização vão variar
de organização para organização. A existência de uma fonte de energia elétrica abundante e
de baixo custo pode ser essencialmente importante para uma organização do tipo industrial. Já
a proximidade de mananciais ou fontes de água potável em abundância é fundamental para
uma indústria de refrigerantes. Os custos de transportes podem ser significativos para uma
indústria de produtos de baixo valor agregado, mas não tão significativos para outra que
fabrique produtos mais elaborados. A proximidade do litoral pode ser condição mandatária
para uma empresa que processadora de pescados, em função da perecibilidade dos frutos do
mar e assim por diante. Os fatores mais influentes para a tomada de decisão com respeito à
localização de instalações industriais são:

24
 Disponibilidade de matéria-prima: a proximidade das fontes de matéria-prima pode
ser condição essencial, quando a matéria-prima é volumosa e de baixo valor, perecível
ou difícil de ser transportada. Empresas de processamento de minérios ferrosos são
um exemplo de indústria que utiliza matéria-prima volumosa e de baixo valor. Por
outro lado, o produto final tem características opostas, ou seja, apresenta baixo
volume e alto valor agregado. Isto decorre do fato de grande parte da matéria-prima
ser eliminada no processo de obtenção do produto final. Empresas que utilizam
grandes volumes de matéria-prima para gerar volumes muito menores de produtos
acabados tendem a se localizar próximo à origem da matéria-prima, para reduzir os
custos com transporte. Matérias-primas perecíveis são geralmente utilizadas em
empresas do ramo de alimentos, como cooperativas agrícolas, indústrias pesqueiras,
processadoras de alimentos frescos como frutas, legumes e verduras. Para evitar que
ocorra deterioração no transporte, empresas que utilizam matéria-prima perecível
também optam por localizar-se próximo à sua fonte de abastecimento. O mesmo
acontece com empresas que utilizam animais vivos como matéria-prima, os quais
geralmente requerem cuidados especiais de transporte. É conveniente localizar
abatedouros e frigoríficos nas adjacências das regiões produtoras de gado. No
universo empresarial brasileiro, é hábito o fornecedor arcar com os custos de frete.
Assim, na maioria das vezes, o fornecedor vende a matéria-prima ao fabricante com
frete incluso no preço e o fabricante faz o mesmo com seu produto quando da venda
ao varejista. Desta forma, existe uma tendência de o preço do frete de entrega de
material (captação de matéria-prima) ser considerado menos importante, nas decisões
de localização, do que o custo de entrega do produto da própria empresa aos seus
clientes. Há empresas que sequer sabem, com exatidão, o custo do frete embutido no
preço da matéria-prima que compram. Se você não acreditar nisto, faça a experiência
de perguntar ao comprador de uma empresa o quanto custa o frete da matéria-prima
utilizada, é muito provável que você fique sem resposta. Por outro lado, os executivos
da empresa normalmente têm dados bastante precisos sobre os gastos de
distribuição, que são mais aferidos, negociados e controlados. Isto não quer dizer,
contudo, que os custos da logística de entrada (recepção de matérias-primas) devam
ser desconsiderado. O fornecedor que entrega a matéria-prima utilizada pela empresa
o embute em seu preço de venda, de modo que a empresa paga mais caro se estiver
distante do fornecedor.

 Energia elétrica: a oferta de energia elétrica e a garantia de sua disponibilidade para


ampliações é um fator que se tornou mais relevante para as empresas que dependem
muito deste insumo. O colapso do fornecimento de energia elétrica no estado de São
Paulo, em 2001, conhecido como “apagão”, que obrigou a imposição de quotas de
utilização de energia, prejudicou as empresas paulistas e favoreceu empresas de
outros estados que não foram afetados pela crise. A garantia de disponibilidade de
energia elétrica a preços competitivos pode representar fator decisivo para as
indústrias que exigem grande quantidade de energia elétrica em seu processo
produtivo, como é o Os custos da energia elétrica passaram a variar de região para
região com a privatização dos distribuidores de energia elétrica no Brasil. O custo da
energia elétrica também se tornou variável em função do horário, ou seja, em horários
de pico de demanda o custo chega a ser o dobro ou o triplo do cobrado em horários de
demanda normal é a chamada tarifa horo sazonal pelas companhias de distribuição de
eletricidade. Isto faz com que algumas empresas liguem geradores a diesel nos
horários de pico de demanda em substituição à energia fornecida pela rede de
distribuição da concessionária. Outro fato interessante no que tange aos custos de
energia elétrica é que a demanda é comprada da companhia antecipadamente. A
empresa adquirente estima um consumo, compra e paga por ele, utilizando-o ou não.

25
Caso a empresa utilize mais que a demanda contratada, o custo por KWH da energia
excedente chega a ser dez vezes mais alto. Informações complementares sobre as
tarifas praticadas podem ser encontradas nos sites das respectivas companhias de
distribuição de energia. Caso, por exemplo, da extração eletrolítica do alumínio.

 Água: Muitas indústrias precisam de grande quantidade de água, tanto como matéria-
prima de seus produtos, como para o funcionamento de seus processos. Fábricas de
papel e celulose, refinarias de açúcar e álcool, indústrias de alimentos, indústrias de
perfumaria, bebidas e refrigerantes representam alguns exemplos de empresas que
necessitam de grandes quantidades de água. A água também é bastante utilizada em
processos de vulcanização da borracha, para o resfriamento dos moldes de injetoras
plásticas e resfriamento de prensas hidráulicas de estampagem. Em muitos casos, as
empresas lançam mão de poços artesianos para captação da água necessária aos seus
processos ou desviam água de rios ou riachos. Em qualquer destas situações, é
necessário um estudo de impactos ambientais e a negociação com órgãos oficiais e
ONGs que podem levar meses ou até anos! O Brasil, a exemplo de outros países, tem
rigorosas leis ambientais para o uso e devolução de águas utilizadas pelas empresas. O
custo da implantação das instalações de tratamento das águas utilizadas nos processos
industriais, em função de características locais, também deve ser levado em
consideração por ocasião da decisão de localização.

 Mão-de-obra: as principais considerações sobre mão-de-obra dizem respeito ao valor


do piso salarial praticado na região à disponibilidade de profissionais qualificados e ao
poder dos sindicatos com quem a empresa precisará negociar. Empresas que dispõem
de processos intensivos em mão-de-obra provavelmente estarão mais preocupadas
com seu custo. Existem diferenças salariais não somente entre as diversas regiões
brasileiras como também entre capitais e pequenas cidades do interior. Naturalmente
a qualidade, produtividade e habilidades desta mão-de-obra também são fatores
importantes a serem considerados. Mesmo empresas que tenham elevados índices na
curva de aprendizagem, em função da adoção de trabalho padronizado e repetitivo,
devem ponderar este fator. Via de regra é o poder dos sindicatos da região que
determina o valor do piso salarial, de modo que a atuação do sindicato e o seu “poder
de barganha” também devem ser levados em consideração. Outro fator mais
subjetivo, mas não menos importante diz respeito à cultura da mão-de-obra regional.
Questões como absenteísmo, rotatividade, hábitos de higiene pessoal e saúde física
podem estar fortemente ligados à cultura da região e têm impacto na produtividade. O
fator cultural é tão representativo que, em muitas regiões, empresas ligadas à
construção civil, por exemplo, realizam o pagamento sempre nos finais de semana ou
véspera de feriados. Caso contrário, o índice de faltas no dia imediatamente posterior
ao do pagamento pode comprometer o andamento do trabalho. Convém lembrar que
mesmo uma excelente escolha do local, do ponto de vista da qualidade da mão-de-
obra local não elimina a necessidade de um bom trabalho de seleção, treinamento e
ambientação, orientado pela área de recursos humanos da empresa.

 Facilidades e incentivos fiscais: no Brasil, estados e municípios empreendem


verdadeiras batalhas entre si de modo a atrair para si a instalação de novas empresas
potenciais geradoras de emprego e futuras receitas fiscais na região. Por isso, é
fundamental levantar o interesse da administração local. Não são raros os casos em
que prefeituras doam terrenos, realizam obras de pavimentação nos arredores ou
providenciam outras benfeitorias, e/ou proporcionam isenção de impostos municipais
por determinado período. Outro tipo de incentivo fiscal diz respeito ao crédito de
ICMS nas regiões norte e nordeste e, particularmente, em zonas francas, como a da

26
cidade de Manaus, no estado do Amazonas. Apesar dos graves entraves logísticos
impostos pela distância, ausência de acesso rodoviário, por estar localizada no interior
da selva, calor exagerado, que não possibilita a criação de ambientes agradáveis para a
produção, os incentivos fiscais da região continuam a atrair e manter viável o
funcionamento de grande número de empresas na região.

 Qualidade de vida e serviços essenciais: é importante levar em consideração a


qualidade de vida existente no local candidato às novas instalações. A qualidade da
rede de ensino público no Brasil e a oportunidade de acesso a ela têm representado
um grande desafio para o país. A existência de universidades, faculdades e escolas
técnicas deve ser levada em conta, porque elas representam a origem de recursos
humanos para atuação nas empresas. A própria educação pessoal, disciplina e escala
de valores são muito heterogêneas no Brasil. Devem ser levantados em conta,
também, a qualidade dos serviços de transporte urbano, a infraestrutura de
comunicações, creches, postos de saúde, hospitais, pronto-socorro, corpo de
bombeiros e policiamento, assim como os índices de criminalidade, assaltos e furtos.
Determinados locais impossibilitam a realização de um segundo turno de trabalho por
falta de transporte ou de segurança em horários noturnos, por exemplo. Os custos
adicionais com vigilância e o risco ao patrimônio da empresa e a integridade física dos
seus funcionários não devem deixar de ser considerados.

 Localização dos mercados consumidores: os custos operacionais de transporte estão


ligados à localização das fontes de suprimentos e à localização dos mercados
consumidores, em relação à localização do próprio empreendimento. A melhor
condição para minimizar os custos de captação de matéria-prima e distribuição de
produtos acabados é uma localização próxima aos fornecedores e aos clientes.
Infelizmente, isto nem sempre é possível devido ao elevado número de fornecedores e
clientes e à grande extensão territorial do Brasil, quando nos referimos apenas ao
mercado interno. Na avaliação deste quesito, é importante considerar os custos
logísticos do transporte e do armazenamento, mas também a tolerância com relação
ao tempo de entrega.

AVALIAÇÃO DAS ALTERNATIVAS DE LOCALIZAÇÃO

Uma vez pré-selecionadas as várias localidades alternativas que se apresentam para a


instalação de uma base de operações, existem muitos modelos de referência que podem
auxiliar no processo de decisão. Normalmente, uma decisão de localização se baseia em dois
tipos de dados:

 Dados quantitativos: são dados sobre o local que podem ser medidos em forma de
valor numérico como, por exemplo: custo de transporte, preço da matéria-prima,
custos fixos das instalações, valor dos salários da região etc.;
 Dados qualitativos: são dados sobre o local que precisam ser medidos de forma mais
subjetiva como, por exemplo: aspectos climáticos, qualidade de vida, nível de
escolaridade e qualidade da mão-de-obra e demais informações de cunho subjetivo.

Os modelos de decisão mais utilizados na avaliação de alternativas de localização são:

27
 Modelo da ponderação qualitativa;
 Modelo do centro de gravidade;
 Análise de custos e ponto de equilíbrio.

Modelo de Ponderação Qualitativa

O modelo da ponderação qualitativa é utilizado para trabalhar com dados qualitativos dos
possíveis locais alternativos pré-selecionados. O método propõe uma forma de medir e dar
valor a dados de natureza subjetiva para permitir a comparação entre as várias alternativas de
localização. Desta forma, os dados subjetivos e a opinião pessoal dos avaliadores podem fazer
parte do processo decisório de forma justa e racional. O modelo da ponderação qualitativa
segue os passos a seguir:

 Identificação dos fatores relevantes: em primeiro lugar, é preciso identificar os fatores


relevantes, a partir de uma lista de critérios, que serão utilizados para avaliar as
diversas opções de localização pré-selecionadas. Por exemplo: proximidade dos
principais fornecedores de matéria-prima, proximidade dos mercados consumidores,
acesso às principais rodovias, fornecimento de água na região, possibilidade de
perfuração de poços artesianos, oferta de energia elétrica, custos de aluguel,
condições e área do terreno, índice de criminalidade da região, infraestrutura de
transporte urbano, facilidade de acesso pelos funcionários, existência de ciclovias,
nível de escolaridade médio da mão-de-obra na região, existência de creches com
vagas, existência e acesso aos postos de saúde, incentivos fiscais da região, atuação
dos órgãos fiscalizadores, aceitação da comunidade, clima da região etc. A lista de
fatores pode se tornar muito extensa daí a necessidade de identificar apenas os que
sejam relevantes à tomada de decisão. É recomendável que os tomadores de decisão
consultem especialistas técnicos, se for o caso, para garantir que nenhum fator
importante seja deixado de lado.

 Atribuição de pesos de ponderação para os fatores: uma vez selecionados os fatores


relevantes, que serão considerados na avaliação, será necessário atribuir um grau de
importância para cada um deles, em outras palavras, definir um peso para cada um
dos fatores selecionados. A soma dos pesos dos fatores deve totalizar 1,00, caso
contrário, a ponderação das notas (ver próximos passos) deverá envolver um passo
adicional, a divisão pela somatória dos pesos, não explicitado a seguir. Os fatores
julgados mais relevantes recebem pesos maiores e os fatores menos importantes
recebem pesos menores. A atribuição dos pesos deve ser feita, em conjunto, por
profissionais que representem as diversas áreas da empresa, uma vez que, a
importância de um determinado fator pode variar de área para área e é importante
que as diferentes visões sejam contempladas pelo modelo.

 Atribuição de notas para cada localidade, em função dos fatores avaliados: deve-se
julgar e dar uma pontuação para cada uma das localidades pré-selecionadas, em
função dos fatores definidos nas etapas anteriores. Uma escala de pontos comum é
aplicada a todos os fatores. Por exemplo: escala de notas de zero a dez (ou de zero a
cem), variando de muito desfavorável a muito favorável.

 Ponderação das notas: consiste em multiplicar o peso de cada fator pela nota
atribuída a cada alternativa de localização para aquele fator. Em seguida, deve-se
somar os diversos produtos obtidos, para se obter a nota ponderada de possível

28
localização. A localização mais favorável será aquela que obtiver a maior nota
ponderada. Observação: no caso de se optar por pesos de fatores cuja soma seja
diferente de 1, ainda é necessário dividir o resultado pela soma dos pesos dos fatores
para se obter a nota ponderada de cada localização.

1.1.1.1. Exemplo de aplicação:

A Movebrás, uma indústria em expansão do ramo moveleiro do interior do estado do Paraná,


decidiu construir uma nova fábrica para atender seu mercado em expansão no nordeste do
Brasil. Para auxiliar na escolha do local, a empresa decidiu aplicar o modelo da ponderação
qualitativa para os diversos critérios considerados relevantes para a decisão de localização da
nova fábrica. A empresa analisou três locais alternativos e elaborou o quadro abaixo, que
apresenta a pontuação dos fatores relevantes de localização. Também definiu, com a ajuda de
gestores de diversas áreas, a importância relativa de cada item avaliado.

LOCAL A LOCAL B LOCAL C


FATORES RELEVANTES PESO
NOTA PXN NOTA PXN NOTA PXN

1 Capacitação de mão de obra 20% 90 18,0 85 17,0 90 18,0

2 Condições de vida 5% 50 2,5 70 3,5 80 4,0

3 Facilidades para implantação 12% 35 4,2 60 7,2 90 10,8

4 Benefícios fiscais 25% 80 20,0 70 17,5 90 22,5

5 Acesso à rede de rodovias 30% 100 30,0 95 28,5 90 27,0

6 Potencial para expansão 8% 50 4,0 100 8,0 80 6,4

TOTAL 100% 78,7 81,7 88,7

De acordo com este método, a Movebrás deve optar pela implantação de sua nova sede no
local C, porque este apresenta a maior nota ponderada, se comparada às demais propostas de
localização.

Vantagens e desvantagens do modelo de ponderação qualitativa:

De forma intuitiva, pode-se perceber que esta metodologia tem alguns aspectos frágeis. Por
isso, para uma decisão de tamanha importância e impacto no sucesso do empreendimento, é
razoável que ele seja utilizado em conjunto com outros métodos de avaliação de locais, para
permitir uma análise mais profunda e abrangente.

VANTAGENS DESVANTAGENS

Permite a consideração de valores A escala de notas pode não ser hábil para
qualitativos na decisão da localização e a mostrar as diferenças reais de custos entre as

29
comparação quantitativa dos fatores diversas localidades.
qualitativos para vários locais.

A metodologia é simples de ser entendida. A atribuição das notas e pesos tem elevado
grau de subjetividade e interpretação
pessoal.

Pode atuar como um check list de fatores Exige grande experiência no assunto para
fundamentais que poderiam passar definir quais fatores devem ser considerados,
despercebidos na determinação do melhor
local. que notas e pesos devem ser atribuídos.

1. Uma indústria do ramo de fundidos decidiu construir uma nova fábrica para atender
seu mercado em expansão no interior do estado de São Paulo. Para auxiliar na escolha
do local de instalação da nova unidade, a empresa decidiu aplicar o modelo da
ponderação qualitativa para os diversos critérios considerados relevantes. A empresa
analisou três locais e elaborou a tabela de pontuação ponderada abaixo. Também
definiu, com a ajuda de gestores de diversas áreas, a importância relativa de cada item
avaliado. Os dados estão resumidos no quadro abaixo. Segundo este modelo, qual
amelhor opção de localização?

2. A tabela abaixo apresenta quatro fatores de importância para a abertura de uma


clinica pública de tratamento de drogados da cidade de Jauzinho. A acessibilidade para
os viciados era de alta importância, para que promovesse o acesso mais fácil ao maior
número de pacientes possível. Devido ao orçamento apertado, o custo do aluguel
anual da clinica também era importante. Outro aspecto de suma importância era a
necessidade de privacidade e anonimato dos pacientes. Por fim, como muitos dos
funcionários da clínica seriam voluntários, a segurança, local para estacionamento e o
fácil acesso de cada local também eram considerados importantes. Utilizando-se do
Modelo de Ponderação Qualitativa, qual é a localização que deve ter a preferência?

Observações:

a) O imóvel da Rua “A” custa R$ 3.000,00 por mês, está ao lado do metrô e de pontos de
ônibus e não possui estacionamento;
b) Imóvel da Avenida “B” é da prefeitura e sua utilização será gratuita, está ao lado do
shopping e próximo ao ponto de ônibus e não possui estacionamento;
c) O imóvel do Bairro Vila Nova está distante 20 km do centro da cidade, seu aluguel
custa R$ 1.000,00 por mês, possui estacionamento, está ao lado de um
restaurante/lanchonete e os ônibus passam de uma em uma hora.

3. Defina a localização de uma nova refinaria de petróleo para Petrobras. Para tanto,
tome como base seis fatores (relacionados a seguir) e seus respectivos pesos. Pontue
cada fator e calcule sua média ponderada final, para a correta localização.

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Modelo do Centro de Gravidade

Este modelo pode ser utilizado quando se deseja estudar a localização uma nova instalação
levando-se em conta as localizações já existentes das principais fontes de insumos e clientes
que vão determinar os custos de transporte de captação de matérias-primas e distribuição de
produtos acabados. O ponto geográfico encontrado a partir da aplicação do modelo
correspondente ao “centro de gravidade” e representa o ponto em que os custos com
transportes são mínimos.

Os passos para a realização de um estudo de localização utilizando o modelo do centro


de gravidade são os seguintes:

 Localização das fontes de insumos e dos clientes: antes de tudo, é necessário


localizar, em um mapa, os principais fornecedores de matéria prima e componentes,
que representam os insumos de produção que precisam ser trazidos para o local onde
será implantada a operação produtiva. Também devem ser localizados os principais
clientes, para os quais o produto final precisará ser transportado. O processo de
identificação dos principais fornecedores e clientes é mais simples quando existe um
pequeno número deles. Quanto existirem muitos fornecedores ou clientes, ou ambos,
uma análise mais apurada deve ser feita. Uma ferramenta de uso tradicional nesta
etapa é a análise de Pareto, segundo a qual 20% dos fornecedores e clientes são
responsáveis por 80% da lucratividade da empresa. Para simplificar a análise, apenas o
grupo seleto dos 20% principais fornecedores e clientes é localizado no mapa.

 Levantamento do volume de insumos/bens movimentados: em paralelo à


identificação e localização dos fornecedores e clientes mais representativos, é
necessário levantar o volume de insumos e bens movimentados dos fornecedores
mais representativos à pretensa localização e desta para os clientes considerados mais
representativos. Convém observar que o termo volume de insumos/bens está
diretamente ligado ao volume de carga transportada, ou seja, ao custo do transporte.
Dependendo do item a ser transportado, o volume pode ser medido em metros
cúbicos ou pode ser adotada uma medição de peso, em toneladas. É necessário que a
unidade de medida seja a mesma para todos os bens transportados, para se utilizar o
modelo do centro de gravidade.

 Atribuição de coordenadas cartesianas: o próximo passo consiste em aplicar uma


grade sobre o mapa que permita definir as localizações na grade por meio de um
sistema de coordenadas cartesianas comum. A grade dispõe de uma coordenada
horizontal e outra vertical, que formam juntas um sistema de eixos ortogonais sobre o
mapa da região.

 Cálculo do centro de gravidade: o centro de gravidade, que representa a localização


ideal procurada, terá duas coordenadas, uma horizontal e outra vertical. Ele é o ponto

31
que proporciona os menores custos totais de transportes, considerando as distâncias
envolvidas e os custos de transporte de insumos e produtos.

Vantagens e desvantagens do modelo do centro de gravidade

Também é possível observar que esta metodologia possui suas próprias fragilidades. Mais uma
vez, é importante lembrar que, para a tomada de decisões com o nível de impacto no futuro
da operação que é proporcionado pela decisão de localização, é aconselhável o uso de mais de
um método de avaliação, para permitir uma análise abrangente e profunda das alternativas.

VANTAGENS DESVANTAGENS

Permite considerar os custos de transporte Nem sempre é fácil levantar os custos reais
na decisão da localização. de transporte.

O estudo detalhado e comparativo dos O sistema de coordenadas não considera a


valores de fretes praticados pode servir para distância real a ser percorrida entre os
renegociação de preços. diversos pontos

A metodologia é simples de ser entendida. O modelo não considera a eventual mudança


de fornecedores ou clientes, em um
momento posterior.

Modelo de análise CLV (Custo x Lucro x Volume)

Este modelo, conforme explicado no capítulo 5, consiste em realizar uma análise custo lucro
volume (CLV) para cada uma das alternativas de local pré-selecionado para a operação.
Partindo-se da previsão da quantidade e do preço de vendas, é possível calcular o lucro ou
margem de contribuição associada a cada alternativa de localização. A melhor decisão é a que
proporciona o maior lucro. Esta análise pode ser feita de forma numérica ou de forma gráfica.

Os passos para a realização de um estudo de localização baseado em um modelo da análise


CLV são os seguintes:

 Levantamento dos custos e preço de venda: em uma análise custo lucro volume, os
custos são divididos em dois grandes grupos, os custos fixos e os custos variáveis,
lembrando que custos fixos correspondem aos gastos que permanecem constantes,
independentemente da quantidade de produtos fabricados ou vendidos e que custos
variáveis são gastos que variam de acordo com a quantidade produzida.
 Cálculo do lucro ou margem de contribuição: após realizar a projeção dos custos fixos
e variáveis e estimar o preço unitário de venda é possível calcular a margem de
contribuição total para cada alternativa de localização. A melhor alternativa,
naturalmente, será a localização que proporcionar a maior lucratividade.

32
 Cálculo do ponto de equilíbrio: o levantamento do ponto de equilíbrio de cada uma
das possíveis localizações é importante para ser confrontado com a expectativa de
demanda e produção. Um local pode ser indicado para um determinado nível de
produção, enquanto outro local pode ser melhor indicação se o nível de produção for
diferente.

Vantagens e desvantagens do modelo de análise CLV

A análise CLV é uma das mais importantes análises que se deve realizar para qualquer
empreendimento, independentemente de ele já existir ou estar sendo concebido. Trata-se de
um estudo obrigatório, que deve constar de qualquer plano de negócios. Em todo caso,
convém lembrar que mesmo esta metodologia tem alguns aspectos limitantes.

VANTAGENS DESVANTAGENS

Permite considerar importantes análises Considera como premissa que os custos fixos
econômicas na decisão da localização. permaneçam constantes.

O estudo detalhado e comparativo dos custos e Considera que os custos variáveis variam
margens serve de parâmetro de avaliação e linearmente, à medida que mais itens são
controle. produzidos.

A análise CLV é amplamente divulgada e Depende da acuracidade das previsões (a previsão


conhecida nos meios empresariais. de demanda é particularmente instável).

Não é facilmente aplicado a empresas produtoras


de grande variedade de produtos de concepção
diferente.

33
Ponto de equilíbrio

A análise mais básica da técnica “custo lucro volume” calcula o ponto de equilíbrio mensal. O
ponto de equilíbrio representa a quantidade de produtos produzidos e vendidos ou o nível de
atividade da organização para o qual os gastos (custos + despesas) se igualam às suas receitas.
Em outras palavras, o ponto de equilíbrio serve para calcular o volume de negócios que a
organização deve realizar para atingir o equilíbrio, ou seja, não ter lucro nem prejuízo. O
volume de negócios no ponto de equilíbrio pode ser calculado tanto em unidades de produtos
como em unidades financeiras. Quando as empresas trabalham com mais de um tipo de
produto, o que é mais provável que aconteça, o ponto de equilíbrio, quando calculado em
unidades de produtos, considera um valor médio de custo e preço de venda para cada
unidade. A análise custo x lucro x volume é muito utilizada nas organizações e permite estudar
os relacionamentos que acontecem entre os custos incorridos, o volume de produção e o lucro
auferido em um determinado período. O ponto de equilíbrio representa a quantidade de
produtos vendidos para a qual os gastos se igualam às receitas. A margem de contribuição
reflete o quanto cada unidade vendida contribui para a cobertura dos custos e despesas fixas
de uma organização.

Cálculo do ponto de equilíbrio

O cálculo do ponto de equilíbrio compara custos produtivos com a receita obtida para os
diversos volumes de produção/vendas, procurando determinar a quantidade para a qual a
receita equivale aos custos incorridos.

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Custo R=QxPVu

CV=QxCVu

Onde:

R= Receita

q= Quantidade vendida
Nº de unidades produzidas
PVu= Preço de venda unitário

CVu= Custo variável unitário

CT= Custo total

CV= Custo variável

CF= Custo fixo

Exemplo: A Aguabrás vende garrafas de água mineral de 5 litros. O preço pago por garrafa
para seu fornecedor é de R$ 2,50 por unidade. A Aguabrás vende cada garrafa d’água por R$
5,00. Considerando que as despesas fixas com aluguel, eletricidade, salário do atendente etc.,
completam um montante de R$ 2.500,00. Quantas garrafas de água mineral a empresa precisa
vender para começar a obter lucro?

= 1000 garrafas por mês

Margem de contribuição:

35
A margem de contribuição reflete o quanto cada unidade vendida contribui para a cobertura
dos custos e despesas fixas da organização.

No Brasil não é raro se confundir o termo “margem de contribuição” com “lucro”. É comum as
pessoas comentarem que determinado produto dá mais ou menos lucro que outro. Na
verdade, um produto pode ter maior ou menor margem de contribuição. Se ele dá lucro ou
não, isto depende da quantidade produzida e vendida. Convém observar que a margem de
contribuição também é chamada por alguns autores de lucro marginal. Assim é importante
compreender o que representa o lucro marginal por produto e o que representa o lucro da
empresa como um todo. Atentos à diferença entre margem de contribuição e lucro, muitos
fabricantes produzem uma linha de produtos composta de produtos de maior preço, ou seja,
mais luxuosos, e de outros produtos de preço mais acessível, mais simples e de preço mais
baixo para o consumidor. Isto acontece com fabricantes de automóveis, fogões, bicicletas,
roupas, alimentos, produtos de linha branca, de linha marrom etc. Via de regra, o produto
mais luxuoso tem elevada margem de contribuição, mas vende menos que o produto mais
simples. É possível que o lucro gerado por um produto de menor margem de contribuição seja
maior que o lucro gerado por um produto de maior margem de contribuição, o que motiva,
inclusive, certas empresas a se concentrarem na produção e comercialização de produtos de
baixa margem, mas alto volume de vendas.

Fórmula da margem de contribuição:

Onde:

MCu= Margem de contribuição unitária

PVu= Preço de venda unitário

CVu= Custo variável unitário

Considerando o conceito de margem de contribuição, é possível, então, calcular o ponto de


equilíbrio por meio da fórmula:

Onde:

MCu= Margem de contribuição unitária

CF= Custo fixo

36
CAPACIDADE DE PRODUÇÃO

Uma definição genérica de capacidade de produção é a capacidade máxima de produção a que


se pode submeter uma unidade produtiva em um determinado intervalo de tempo fixo. A
capacidade instalada consiste no volume máximo que uma unidade produtora pode alcançar,
sem nenhuma perda, trabalhando em regime full time. É uma medida hipotética, a ser
utilizada para definições estratégicas.

37
A capacidade disponível corresponde ao volume produzido em uma unidade produtiva
no período correspondente à jornada de trabalho, sem considerar nenhuma perda.

A capacidade efetiva corresponde à capacidade disponível considerando-se as perdas


planejadas.

A capacidade realizada inclui-se também as perdas não planejadas. Quanto menor o


tempo necessário para a realização de cada set-up, mais set-ups poderão ser feitos,
diminuindo o tamanho dos lotes mínimos de fabricação, o que implica na redução do estoque
médio do produto na empresa, sem prejuízo à qualidade do atendimento.

Em determinados tipos de produção, o programador deve definir em que máquina alocar qual
trabalho e em que sequencia. A forma mais usual para alocação e sequenciamento de trabalho
é feita por meio do gráfico de Gantt. O sistema de custos da organização é importante para o
planejamento e controle das atividades da organização e auxilia na decisão do modo de
fabricar, na melhoria dos processos e na eliminação de desperdícios.

QUE É CAPACIDADE

O termo capacidade, mencionado isoladamente, esta associado à ideia de competência,


volume máximo ou quantidade máxima de “alguma coisa”. A capacidade de determinado
tambor é de 300 litros, um tambor menor poderá ter capacidade para armazenar 100 litros
d’água, por exemplo. Um cinema pode ter capacidade para 400 lugares. A capacidade de uma
sala de aula pode ser medida pela quantidade de alunos que ela comporta, 40 alunos, por
exemplo. A capacidade de um ônibus é representada pela quantidade de passageiros,
considerando ou não a possibilidade de transporte de passageiros em pé, além dos sentados.
Um estacionamento pode ter capacidade para 200 automóveis. Um hotel tem capacidade de
100 apartamentos, e assim por diante.

O QUE SIGNIFICA CAPACIDADE DE PRODUÇÃO

O termo capacidade, conforme visto, considerou o volume ou a quantidade máxima em


condições fixas destes ativos ou instalações. Embora estas medidas possam ser úteis, e
frequentemente utilizadas pelos gestores de produção, é necessário também se conhecer a
capacidade sob seu aspecto dinâmico. Para isto, deve ser adicionada a dimensão tempo a esta
medida. Por exemplo, o cinema tem capacidade para 400 lugares, como cada seção de cinema
dura cerca de duas horas, se for considerado o intervalo entre uma sessão e outra, verificar-se
que o cinema pode “processar” 1.200 espectadores por dia de oito horas (realização de três
sessões). A sala de aula pode “processar” até 80 alunos por dia, se for utilizada para aulas em
dois turnos.

TIPOS DE CAPACIDADES

Como visto, a capacidade está associada à quantidade máxima de um produto (produto = bem
+ serviço) que se pode produzir em determinado tempo em uma unidade produtiva. Em que
pese este conceito simples, devido a diversos fatores, a definição e medida de capacidade, em
certos casos tornam-se complexos. O conceito de capacidade deve ser estratificado em outras
definições mais específicas e de maior grau de utilidade para seu planejamento. A

38
denominação utilizada para cada tipo de capacidade definida pode variar de autor para autor,
ou de organização para organização. Porém, o significado do conteúdo, independente da
terminologia, permanece comum.

a) Capacidade instalada é a capacidade máxima que uma unidade produtora pode


produzir se trabalhar ininterruptamente, sem que seja considerada nenhuma perda.
Em outras palavras, é a produção que poderia ser obtida em uma unidade fabril
trabalhando 24 horas por dia, todos os dias da semana e todos os dias do mês, sem
necessidade de parada, de manutenções, sem perdas por dificuldades de
programação, falta de material ou outros motivos que são comuns em uma unidade
produtiva. Trata-se de uma medida hipotética, uma vez que, na prática, é impossível
uma empresa funcionar ininterruptamente. Porém, não deixa de ser uma medida
importante para tomada de decisão de nível estratégico, com relação à necessidade ou
não de ampliação da capacidade, uma vez que se trata de um valor de produção que
nunca poderá ser ultrapassado sem ampliação das instalações.

Exemplo: uma empresa do ramo alimentício tem capacidade de produzir, em um forno


contínuo, duas toneladas de biscoitos por hora. Qual é a capacidade mensal instalada desta
empresa?

Resposta: Capacidade instalada =30 dias x 24 horas x 2 toneladas por hora = 1.440 toneladas
de biscoitos por mês. Neste caso, a unidade de medida da capacidade pode ser em tempo
(horas de forno disponíveis) ou em quantidade (toneladas de biscoito produzidas).

b) Capacidade disponível ou de projeto é a quantidade máxima que uma unidade


produtiva pode produzir durante a jornada de trabalho disponível, sem levar em
consideração qualquer tipo de perda. A capacidade disponível, via de regra, é
considerada em função da jornada de trabalho que a empresa adota.

Exemplo: O fabricante de biscoitos do exemplo anterior, com 720 horas mensais de


capacidade instalada, pode trabalhar:

• Um turno: um turno diário, com oito horas de duração, cinco dias por semana. Neste
caso, a capacidade de disponível será de 8 x 5 x 4 = 160 horas mensais;
• Dois turnos: dois turnos diários, com oito horas de duração cada um, cinco dias por
semana. Neste caso, a capacidade disponível será de 2 x (8 x 5 x 4) = 320 horas
mensais;
• Três turnos: três turnos diários, com oito horas de duração cada um, cinco dias por
semana. Neste caso, a capacidade disponível será de 3 x (8 x 5 x 4) = 480 horas
mensais;
• Quatro turnos: três turnos diários, com oito horas de duração cada um, sete dias por
semana (há quatro equipes que se intercalam para garantir o funcionamento
ininterrupto, respeitando o descanso semanal de todos os funcionários). Neste caso a
capacidade disponível será de 3 x (8 x 7 x 4) = 672 horas mensais. Observe que o valor
não atingiu 720 horas, pois estamos considerando um mês composto por quatro
semanas o que representa 28 dias, por facilidade de cálculo;

39
• Realização de horas-extras: qualquer hora trabalhada além da jornada normal de
trabalho, considerada hora-extra é somada à capacidade disponível.

Existem duas formas de aumentar a capacidade disponível:

a) Aumento da capacidade instalada: consiste em aumentar a quantidade de máquinas,


em adquirir máquinas com maior capacidade de produção, enfim, na expansão da
planta industrial. Desta forma, com a mesma jornada de trabalho, a empresa pode
produzir mais. O custo da mão-de-obra, em apenas um turno de trabalho, é menor,
porém investimentos na planta industrial representam custos fixos geralmente
elevados;
b) Aumento de turnos de trabalho: O custo da mão-de-obra aumenta quando se
aumentam os turnos de trabalho em função da necessidade de pagamento de
“adicional noturno”, necessidade de transporte durante a madrugada para os
funcionários, necessidade de mão de obra indireta para supervisão dos turnos e assim
por diante. Porém, trata-se de um custo variável.

Quando se opera próximo aos níveis máximos da capacidade disponível, a empresa corre sério
risco de faturar mais, porém com menores resultados ou até prejuízo. Por que isto acontece?
Porque os custos de produção aumentam. Não se trata apenas de custos de pagamento com
horas-extras, adicional noturno e aumento do overhead, acumulam-se os custos da falta de
produtividade e qualidade, em um fenômeno que é conhecido como “deseconomia de escala”.
O aumento da capacidade instalada pela expansão do parque instalado é recomendado
quando a demanda de mercado tende a continuar em crescimento e não haverá ociosidade
deste investimento, o aumento de capacidade por meio da adoção de mais jornadas de
trabalho pode ser mais interessante quando os investimentos em equipamentos forem
elevados e não houver certeza do comportamento da demanda.

Grau de disponibilidade:

A capacidade instalada e a capacidade disponível permitem a formação de um índice,


denominado grau de disponibilidade. Que indica, em forma percentual, quanto uma unidade
produtiva está disponível, conforme a fórmula abaixo:

c) A capacidade efetiva representa a capacidade disponível subtraindo-se as perdas


planejadas desta capacidade. A capacidade efetiva não pode exceder a capacidade
disponível, isto seria o mesmo que programar uma carga de máquina por um tempo
superior ao disponível.

Perdas de capacidade planejadas: são aquelas perdas que se sabe de antemão que irão
acontecer, por exemplo:

40
• Necessidade de set-ups para alterações no mix de produtos;
• Manutenções preventivas periódicas;
• Tempos perdidos em trocas de turnos;
• Amostragens da qualidade etc.

Perdas de capacidade não planejadas: são perdas que não se consegue antever, como por
exemplo:

• Falta de matéria-prima;
• Falta de energia elétrica;
• Falta de funcionários;
• Paradas para manutenção corretiva;
• Investigações de problemas da qualidade etc.

Grau de utilização:

A capacidade disponível e a capacidade efetiva permitem a formação de um índice,


denominado grau de utilização. Que representa, em forma percentual, quanto uma unidade
produtiva está utilizando sua capacidade disponível, conforme a fórmula abaixo:

d) Capacidade realizada é obtida subtraindo-se as perdas não planejadas da capacidade


efetiva, em outras palavras, é a capacidade que realmente aconteceu em determinado
período.

Toda área produtiva tem uma forma de registrar todas as ocorrências consideradas relevantes,
acontecidas durante o turno de produção. Além dos registros óbvios como quantidade
produzida, número de peças com defeito, por exemplo, também são anotadas ocorrências
como horário e duração de falta de energia elétrica, quebra ou paralisação de determinada
máquina, falta de determinado material etc. Trata-se de um verdadeiro diário de bordo. No
passado, estes registros eram feitos geralmente em um caderno preto. Atualmente, são feitos
de forma on line via sistemas de informática.

Índice de eficiência:

A capacidade realizada, quando comparada à capacidade efetiva, fornece a porcentagem de


eficiência da unidade produtora em realizar o trabalho programado, conforme a fórmula
abaixo:

41
• Capacidade instalada: 7 dias por semana x 24 horas por dia = 168 horas por semana
ou 168 x 300 Kg = 50.400 quilos de tecido tingido por semana.
• Capacidade disponível: 16 horas por dia x 5 dias por semana = 80 horas por semana ou
80 x 300 Kg = 24.000 quilos de tecido tingido por semana.
• Capacidade efetiva: perdas planejadas (ocorrências: 1, 2, 4, 6 e 7) = 14,33 horas,
portanto a capacidade efetiva será: 80 -14,33 = 65,67 horas ou 65,67 x 300 Kg = 19.701
quilos de tecido tingido por semana.
• Capacidade realizada: Perdas não planejadas (ocorrências: 3, 5, 8, 9 e 10) = 9,24 horas,
portanto a capacidade realizada foi de 65,67 – 9,24 = 56,43 horas ou 56,43 x 300 Kg =
16.929 quilos de tecido tingidos por semana

42
EFICIÊNCIA E PRODUTIVIDADE

a) Eficiência: Razão entre o esforço empreendido e o resultado obtido. Implica a relação


favorável entre resultados obtidos e custos dos recursos empregados. Possui duas
dimensões: a relativa à dotação de recursos e a referente e à produtividade dos
serviços. Os recursos são dotados eficientemente se geram o máximo ganho possível
em termos de saúde por unidade de custo e são empregados eficientemente quando
se obtém uma unidade ou produto a um custo mínimo ou quando se obtêm mais
unidades de produto com um dado custo

b) Produtividade: Relação entre a utilização dos insumos e resultados, custos e


benefícios, entre os recursos aplicados e o volume produzido. Aumentar a
produtividade significa aumentar a produção sem precisar aumentar o volume de
recursos, como o número de máquinas e funcionários. A produtividade pode ser
elevada por meio da racionalização, novas tecnologias, treinamento pessoal, etc. O
grau de produtividade de uma empresa impacta na sua capacidade competitiva.

Fórmula:

GESTÃO DE ESTOQUES

A gestão de estoque é, basicamente, o ato de gerir recursos ociosos possuidores de valor


econômico e destinado ao suprimento das necessidades futuras de material, numa
organização. Os investimentos não são dirigidos por uma organização somente para aplicações
diretas que produzam lucros, tais como os investimentos em máquinas e em equipamentos
destinados ao aumento da produção e, consequentemente, das vendas. Outros tipos de
investimentos, aparentemente, não produzem lucros. Entre estes estão as inversões de capital
destinadas a cobrir fatores de risco em circunstâncias imprevisíveis e de solução imediata. É o
caso dos investimentos em estoque, que evitam que se perca dinheiro em situação potencial
de risco presente. Por exemplo, na falta de materiais ou de produtos que levam a não
realização de vendas, a paralisação de fabricação, a descontinuidade das operações ou
serviços etc., além dos custos adicionais e excessivos que, a partir destes fatores, igualam, em
importância estratégica e econômica, os investimentos em estoque aos investimentos ditos
diretos. Porém, toda a aplicação de capital em inventário priva de investimentos mais

rentáveis uma organização industrial ou comercial. Numa organização pública, a privação é em


relação a investimentos sociais ou em serviços de utilidade pública. A gestão dos estoques visa,
portanto, numa primeira abordagem, manter os recursos ociosos expressos pelo inventário,
em constante equilíbrio em relação ao nível econômico ótimo dos investimentos. E isto é
obtido mantendo estoques mínimos, sem correr o risco de não tê-los em quantidades

43
suficientes e necessárias para manter o fluxo da produção da encomenda em equilíbrio com o
fluxo de consumo.

NATUREZA DOS ESTOQUES

Estoque é a composição de materiais - materiais em processamento, materiais semiacabados,


materiais acabados - que não é utilizada em determinado momento na empresa, mas que
precisa existir em função de futuras necessidades. Assim, o estoque constitui todo o
sortimento de materiais que a empresa possui e utiliza no processo de produção de seus
produtos/serviços. Os estoques podem ser entendidos ainda, de forma generalizada, como
certa quantidade de itens mantidos em disponibilidade constante e renovados,
permanentemente, para produzir lucros e serviços. São lucros provenientes das vendas e
serviços, por permitirem a continuidade do processo produtivo das organizações.
Representam uma necessidade real em qualquer tipo de organização e, ao mesmo tempo,
fonte permanente de problemas, cuja magnitude é função do porte, da complexidade e da
natureza das operações da produção, das vendas ou dos serviços. A manutenção dos estoques
requer investimentos e gastos muitas vezes elevados. Evitar sua formação ou, quando muito,
tê-los em número reduzido de itens e em quantidades mínimas, sem que, em contrapartida,
aumente o risco de não ser satisfeita a demanda dos usuários ou dos consumidores em geral,
representa um ideal conflitante com a realidade do dia-a-dia e que aumenta a importância da
sua gestão. A acumulação de estoques em níveis adequados é uma necessidade para o normal
funcionamento do sistema produtivo. Em contrapartida, os estoques representam um enorme
investimento financeiro. Deste ponto de vista, os estoques constituem um ativo circulante
necessário para que a empresa possa produzir e vender com um mínimo risco de paralisação
ou de preocupação. Os estoques representam um meio de investimento de recursos e podem
alcançar uma respeitável parcela dos ativos totais da empresa. A administração dos estoques
apresenta alguns aspectos financeiros que exigem um estreito relacionamento com a área de
finanças, pois enquanto a Administração de Materiais está voltada para a facilitação do fluxo
físico dos materiais e o abastecimento adequado à produção e a vendas, a área financeira está
preocupada com o lucro, a liquidez da empresa e a boa aplicação dos recursos empresariais. A
incerteza de demanda futura ou de sua variação ao longo do período de planejamento; da
disponibilidade imediata de material nos fornecedores e do cumprimento dos prazos de
entrega; da necessidade de continuidade operacional e da remuneração do capital investido,
são as principais causas que exigem estoques permanentemente à mão para o pronto
atendimento do consumo interno e/ou das vendas. Isto mantém a paridade entre esta
necessidade e as exigências de capital de giro. É essencial, entretanto, para a compreensão
mais nítida dos estoques, o conhecimento das principais funções que os mesmos nos
desempenham mais variados tipos de organização, e que conheçamos as suas diferentes
espécies. Ter noção clara das diversas naturezas de inventário, dentro do estudo da
Administração de Material, evita distorções no planejamento e indica à gestão a forma de
tratamento que deve ser dispensado a cada um deles, além de evitar que medidas corretas,
aplicadas ao estoque errado, levem a resultados desastrosos, sobretudo, se considerarmos
que, à vezes, consideráveis montantes de recursos estão vinculados a determinadas
modalidades de estoque. Cada espécie de inventário segue comportamentos próprios e sofre
influências distintas, embora se sujeitando, em regra, aos mesmos princípios e às mesmas
estruturas de controle. Assim, por exemplo, os estoques destinados à venda são sensíveis às

44
solicitações impostas pelo mercado e decorrentes das alterações da oferta e procura e da
capacidade de produção, enquanto os destinados ao consumo interno da empresa são
influenciados pelas necessidades contínuas da produção, manutenção, das oficinas e dos
demais serviços existentes. Já outras naturezas de estoque podem apresentar características
bem próprias que, não estão sujeitas a influência alguma. É o caso dos estoques de sucata, não
destinada ao reprocessamento ou beneficiamento e formados de refugos de fabricação ou de
materiais obsoletos e inservíveis destinados à alienação e outros fins. Em uma indústria, estes
estoques podem vir a formar-se aleatoriamente, ao longo do tempo, caracterizando-se como
contingências de armazenagem. Acabam representando, mesmo, para algumas organizações,
verdadeiras fontes de receitas (extra operacional), enquanto os estoques destinados ao
consumo interno constituem-se, tão somente, em despesas. Entretanto, esta divisão por si só,
pode trazer dúvidas a partir da definição da natureza de cada um destes estoques. Se
entendermos por produto acabado todo material resultante de um processo qualquer de
fabricação, e por matérias-primas todo elemento bruto necessário ao fabrico de alguma coisa,
perdendo as suas características físicas originais, mediante o processo de transformação a que
foi submetido, podemos dizer, por exemplo, que a terra adubada, o cimento, a areia de
fundição preparada com a bentonita, o melaço e outros produtos que são misturados a ela
para dar maior consistência aos moldes que receberão o aço derretido para a confecção de
peças constituem-se em produtos acabados para seus fabricantes, e em matérias-primas para
seus consumidores que os utilizarão na fabricação de outros produtos. Do mesmo modo, a
terra, a argila, o melaço e a areia, em seu estado natural, podem constituir-se em insumos
básicos de produção ou em produtos acabados, dependendo da finalidade ou do uso destes
itens para a empresa. As porcas, as arruelas, os parafusos etc., empregados na montagem de
um equipamento, por exemplo, são produtos semiacabados para o montador, mas, para o
fabricante que os vendeu, trata-se de produtos-finais. Diante dos exemplos apresentados,
surge, naturalmente, outra classificação: estoques de venda e de consumo interno. Para uma
indústria, os produtos de sua fabricação integrarão os estoques de venda e, para outra, que os
utilizará na produção de outro bem, integrarão os estoques de material de consumo. Por sua
vez, o estoque de venda pode desdobrar-se em estoque de varejo e de atacado. O estoque de
consumo pode subdividir-se em estoque de material específico e geral. Este último pode
desdobrar-se, ainda, em estoque de artigos de escritório, de limpeza e conservação etc. Temos
assim, diferentes maneiras de se distinguir os estoques, considerando a natureza, finalidade,
uso ou aplicação etc. dos materiais que os compõem. O importante, todavia, nestas
classificações, que procuram mostrar os diferentes tipos de estoque e o que eles representam
para cada empresa, é que elas servem de subsídios valiosos para a (o): configuração de um
sistema de material; estruturação dos almoxarifados; estabelecimento do fluxo de informação
do sistema; estabelecimento de uma classificação de material; política de centralização e
descentralização dos almoxarifados; dimensionamento das áreas de armazenagem;
planejamento na forma de controle físico e contábil.

FUNÇÕES DO ESTOQUE

As principais funções do estoque são:

45
a) Garantir o abastecimento de materiais à empresa, neutralizando os efeitos de demora
ou atraso no fornecimento de materiais, sazonalidade no suprimento ou riscos de
dificuldade no fornecimento;
b) Proporcionar economias de escala, através da compra ou produção em lotes
econômicos, pela flexibilidade do processo produtivo ou pela rapidez e eficiência no
atendimento às necessidades.

Os estoques constituem um vínculo entre as etapas do processo de compra e venda no


processo de produção em empresas indústrias. Em qualquer ponto do processo formado por
essas etapas, os estoques desempenham um papel importante na flexibilidade operacional da
empresa. Funcionam como amortecedores das entradas e saídas entre as duas etapas dos
processos de comercialização e de produção, pois minimizam os efeitos de erros de
planejamento e as oscilações inesperadas de oferta e procura, ao mesmo tempo em que
isolam ou diminuem as interdependências das diversas partes da organização empresarial.

CLASSIFICAÇÃO DE ESTOQUES

a) Estoques de Matérias-Primas (MPs): Os estoques de MPs constituem os insumos e


materiais básicos que ingressam no processo produtivo da empresa. São os itens
iniciais para a produção dos produtos/serviços da empresa.

b) Estoques de Materiais em Processamento ou em Vias: Os estoques de materiais em


processamento - também denominados materiais em vias - são constituídos de
materiais que estão sendo processados ao longo das diversas seções que compõem o
processo produtivo da empresa. Não estão nem no almoxarifado - por não serem mais
MPs iniciais - nem no depósito - por ainda não serem PAs. Mais adiante serão
transformadas em PAs.
c) Estoques de Materiais Semiacabados: Os estoques de materiais semiacabados
referem-se aos materiais parcialmente acabados, cujo processamento está em algum
estágio intermediário de acabamento e que se encontram também ao longo das
diversas seções que compõem o processo produtivo. Diferem dos materiais em
processamento pelo seu estágio mais avançado, pois se encontram quase acabados,
faltando apenas mais algumas etapas do processo produtivo para se transformarem
em materiais acabados ou em PAs.

d) Estoques de Materiais Acabados ou Componentes: Os estoques de materiais acabados


- também denominados componentes - referem-se a peças isoladas ou componentes
já acabados e prontos para serem anexados ao produto. São, na realidade, partes
prontas ou montadas que, quando juntadas, constituirão o PA.

e) Estoques de Produtos Acabados (PAs): Os Estoques de PAs se referem aos produtos já


prontos e acabados, cujo processamento foi completado inteiramente. Constituem o
estágio final do processo produtivo e já passaram por todas as fases, como MP,
materiais em processamento, materiais semiacabados, materiais acabados e PAs.

CONTROLE DE ESTOQUES

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O objetivo básico do controle de estoques é evitar a falta de material sem que esta diligência
resulte em estoques excessivos às reais necessidades da empresa. O controle procura manter
os níveis estabelecidos em equilíbrio com as necessidades de consumo ou das vendas e os
custos daí decorrentes. Para mantermos este nível de água, no tanque, é preciso que a
abertura ou o diâmetro do ralo permita vazão proporcional ao volume de água que sai pela
torneira. Se fecharmos com o ralo destampado, interrompendo, assim, o fornecimento de
água, o nível, em unidades volumétricas, chegará, após algum tempo, a zero. Por outro lado,
se a mantivermos aberta e fecharmos o ralo, impedindo a vazão, o nível subirá até o ponto de
transbordar. Ou, se o diâmetro do raio permite a saída da água, em volume maior que a
entrada no tanque, precisaremos abrir mais a torneira, permitindo o fluxo maior para
compensar o excesso de escapamento e evitar o esvaziamento do tanque. De forma
semelhante, os níveis dos estoques estão sujeitos à velocidade da demanda. Se a constância
da procura sobre o material for maior que o tempo de ressuprimento, ou estas providências
não forem tomadas em tempo oportuno, a fim de evitar a interrupção do fluxo de
reabastecimento, teremos a situação de ruptura ou de esvaziamento do seu estoque, com
prejuízos visíveis para a produção, manutenção, vendas etc. Se, em outro caso, não
dimensionarmos bem as necessidades do estoque, poderemos chegar ao ponto de excesso de
material ou ao transbordamento dos seus níveis em relação à demanda real, com prejuízos
para a circulação de capital. O equilíbrio entre a demanda e a obtenção de material, onde
atua, sobretudo, o controle de estoque, é um dos objetivos da gestão.

FUNÇÕES DO CONTROLE DE ESTOQUE

Para organizar um setor de controle de estoques, inicialmente devemos descrever suas


funções principais que são:

a) Determinar "o que" deve permanecer em estoque. Número de itens;


b) Determinar "quando" se devem reabastecer os estoques. Periodicidade;
c) Determinar "quanto" de estoque será necessário para um período predeterminado;
quantidade de compra;
d) Acionar o Depto de Compras para executar aquisição de estoque;
e) Receber, armazenar e atender os materiais estocados de acordo com as necessidades;
f) Controlar os estoques em termos de quantidade e valor, e fornecer informações sobre
a posição do estoque;
g) Manter inventários periódicos para avaliação das quantidades e estados dos materiais
estocados;
h) Identificar e retirar do estoque os itens obsoletos e danificados.

CLASSIFICAÇÃO ABC DE ESTOQUES

47
Este método é um instrumento de planejamento que permite ao gerente orientar seus
esforços em direção aos resultados mais significativos para sua organização. O fundamento do
método é aplicável a muitas situações onde seja possível estabelecer prioridades, uma vez que
determinadas tarefas a serem cumpridas podem ser mais importantes que outras. Pode-se
fazer uma classificação ABC por peso, volume, tempo de reposição, valor da demanda,
inventário, aquisições realizadas e assim por diante.

Estratificação dos Estoques nas Classificações A,B e C

O método ABC aplicado ao estoque pode evidenciar que na maior parte das organizações os
estoques se apresentam em média com a seguinte distribuição, em termos de quantidade e
valor:

% VALOR
CLASSE % DE ITENS
EM ESTOQUE
A 10 70
B 20 20
C 70 10
TOTAL 100 100

A classificação acima varia de empresa para empresa. Porém, de uma forma geral os valores
variam bastante em torno dos valores da tabela apresentada. A classe A é constituída de
poucos itens, (geralmente entre 10% e 20%) da totalidade dos itens e são responsáveis pela
maior parte (cerca de 70%) do valor total do estoque. A classe B é constituída de uma
quantidade média de itens (geralmente 25% a 35%) dos itens, que representam
aproximadamente (cerca de 20%) do valor do estoque. A classe C é constituída de uma
enorme quantidade de itens (entre 50% a 70%) dos itens, que representam um valor
desprezível (cerca de 10%) do valor total do estoque. São os itens mais numerosos e menos
importantes, pois respondem com pouca importância ao valor global dos estoques.

Representação Gráfica da Curva ABC

O comportamento gráfico da curva ABC tem o seguinte aspecto:

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Metodologia para elaboração da curva ABC

A metodologia deve obedecer ao seguinte roteiro:

a) Obtenção de relação dos itens com seus valores totais correspondentes;


b) Tabulação;
c) Elaboração da curva;
d) Separação em classes ABC.

o Relação dos itens: A partir do inventário físico ou da previsão da


demanda, multiplicamos a quantidade de cada item por seu custo
unitário e obtemos o valor da existência ou do consumo provável.
o Tabulação: Com os dados da relação colocados em ordem decrescente
de valor, elaboramos uma tabela que fornecerá os percentuais dos
itens e de valores correspondentes para a obtenção da curva.
o Elaboração da Curva ABC: Os pares de dados referentes à percentagem
acumulada em quantidades de itens e valores são plotados um a um,
ou em intervalos representativos da curva formada. Os pontos assim
encontrados permitem o traçado da curva ABC.
o Separação em Classes ABC: Será feita com base no princípio de que a
classe A deverá abranger o menor numero de itens correspondentes
ao maior valor possível. A relação média de 10% a 20% dos itens com
70% a 80% do valor é apenas um ponto de referência, pois caberá ao
gerente de estoques definir os intervalos de sua conveniência.

De uma forma geral, podemos identificar na curva ABC dois pontos de inflexão bem nítidos,
que deverão corresponder aos limites de A para B e de B para C.

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Aplicação e montagem da curva ABC

Para ilustrar as etapas de confecção de uma curva ABC, vamos apresentar um caso
simplificado para apenas dez itens. Ressalve-se, porem, que o procedimento é válido para
qualquer numero de itens. O critério de ordenação é o valor do consumo anual (preço unitário
x consumo anual) para cada item. Vamos ao exemplo:

Em seguida constituímos uma tabela com base na ordenação dos valores por ordem
decrescente de valor acumulado de consumo, conforme a última coluna da tabela acima:

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De posse dos dados, pode-se construir a curva ABC. É traçado um eixo cartesiano onde na
abcissa é registrado o numero de itens; no eixo das ordenadas, são marcadas as somas
relativas aos valores de consumo. Os valores de consumo acumulados e os materiais extraídos
da tabela acima são marcados nos eixos. Inicia-se a esquerda o registro do item que acusa o
maior valor de consumo acumulado, grau 1º. Em seguida o item de grau 2º, e assim
sucessivamente. A curva a seguir mostra o comportamento do exercício dado.

Para a adoção das classes foi adotado o critério geral anunciado anteriormente. Dessa
maneira, resultou:

• Classe A - 20% dos itens correspondentes a 67% do valor


• Classe B - 30% dos itens correspondentes a 21% do valor
• Classe C - 50% dos itens correspondentes a 12% do valor.

Portanto, os materiais referentes às letras C e B, (Classe A) merecem um tratamento


administrativo preferencial em face dos demais no que diz respeito à adoção de políticas de
controles de estoque. Os materiais referentes às letras F, H, A, J, e I (classe C), devem ser
submetidos a tratamento administrativo mais simples. O baixo valor desses itens não justifica
a introdução de controle muito oneroso.

LOTE ECONÔMICO DE COMPRA

O Lote Econômico é a quantidade ideal de material a ser adquirida em cada operação de


reposição de estoque, onde o custo total de aquisição, bem como os respectivos custos de
estocagem são minimizados para o período considerado. Este conceito aplica-se tanto na
relação de abastecimento pela manufatura para a área de estoque, recebendo a denominação
de lote econômico de produção, quanto à relação de reposição de estoque por compras no
mercado, passando a ser designado como lote econômico de compras. O LEC (lote econômico
de compra) gira em torno de um ponto ideal, onde a compra será mais econômica para a
empresa. Esse ponto é o que possui menor custo total quando ocorre uma equivalência entre
o custo do pedido e o custo de posse. O lote econômico visa determinar o número ideal de
pedidos a serem feitos e a quantidade ideal de cada lote.

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Para que o LEC seja considerado, algumas suposições precisam ser atendidas:

 A demanda considerada é conhecida e constante;


 Não há restrições quanto ao tamanho dos lotes (os caminhões de transporte não têm
capacidade limitada e o fornecedor pode suprir tudo o que desejarmos);
 Os custos envolvidos são apenas de estocagem (por unidade) e de pedido (por ordem
de compra);
 O lead time é constante e conhecido;
 Não é considerada a possibilidade de agregar pedidos para mais de um produto do
mesmo fornecedor.

Algumas dessas suposições não são totalmente realistas, mas elas simplificam muito o modelo
do LEC, e, portanto, são consideradas para estimar a melhor quantidade a ser comprada. Essa
estimativa pode depois ser ajustada para que a quantidade realmente comprada não esteja
muito distante da melhor quantidade. Assim, o custo total por um período é composto pelo
número de pedidos feitos (multiplicado pelo custo de pedido) mais o estoque médio
(multiplicado pelo custo unitário de manutenção de estoques), ou seja:

RESTRIÇÕES AO LOTE ECONÔMICO

a) Espaço de Armazenagem - uma empresa que passa a adotar o método em seus


estoques, pode deparar-se com o problema de falta de espaço, pois, às vezes, os lotes
de compra recomendados pelo sistema não coincidem coma capacidade de
armazenagem do almoxarifado;

b) Variações do Preço de Material - Em economias inflacionarias, calcular e adquirir a


quantidade ideal ou econômica de compra, com base nos preços atuais para suprir o
dia de amanhã, implicaria, de certa forma, refazer os cálculos tantas vezes quantas
fossem as alterações de preços sofridas pelo material ao longo do período, o que não
se verifica , com constância, nos países de economia relativamente estável, onde o
preço permanece estacionário por períodos mais longos;
c) Dificuldade de Aplicação - Esta dificuldade decorre, em grande parte, da falta de
registros ou da dificuldade de levantamento dos dados de custos. Entretanto, com
referência a este aspecto, erros, por maiores que sejam, na apuração destes custos
não afetam de forma significativa o resultado ou a solução final. São poucos sensíveis
às alterações razoáveis nos fatores de custo considerados. Estes são, portanto, sempre
de precisão relativa;

d) Natureza do Material - Pode vir a se constituir em fator de dificuldade. O material


poderá tornar-se obsoleto ou deteriorar-se;

e) Natureza de Consumo - A aplicação do lote econômico de compra pressupõe, em


regra, um tipo, de demanda regular e constante, com distribuição uniforme. Como isto
nem sempre ocorre com relação à boa parte dos itens, é possível que não consigamos

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resultados satisfatórios ou esperados com os materiais cujo consumo seja de ordem
aleatória e descontínua.

Podemos, nestas circunstâncias, obter uma quantidade pequena que inviabilize a sua
utilização.

O lote econômico pode ser calculado pelas fórmulas:

Exemplo:

Vejamos um exemplo de determinação do LEC :

 Preço unitário: R$ 10,00.


 Demanda: 12.000 unidades por ano
 Custo de cada pedido: R$ 400,00
 Taxa de armazenagem: 20%.

Determine:

a) O custo de armazenagem (Ce);


b) O lote econômico de compra;
c) O número de pedidos por ano (NP);
d) A periodicidade de compras (PC) ou o Intervalo de Ressuprimento (IR).

Resolução:

1. Cálculo do custo de armazenagem:

Se i = 20% por unidade e por ano e que o custo unitário do item é igual a R$ 10,00, logo 20%
x10 = (20x10)/100 = R$ 2,00.

Conclui-se que: Ce = 2,00 R$ por unidade e por ano.

2. Cálculo do lote econômico de compra:

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Aproximando os valores, o LEC é 2.191 unidades.

3. Cálculo do número de pedidos por ano:

NP = 12.000 / 2191 = 5,476951164 pedidos por ano, ou 5,5 pedidos.

4. Cálculo da periodicidade de compra:

PC = 12 / 5,5 = 2,18 , ou seja, de 2 em 2 meses, aproximadamente. Ou de 65 em 65 dias.

Exercícios de fixação:

1. Uma empresa consome (C) 600 unidades de um determinado material a cada mês. O custo
de um pedido (B) é de $ 240,00 e a taxa de armazenagem (I) mensal é de $ 0,40. Calcular o
Custo Total SEMESTRAL, sabendo que o preço de compra (P) de uma unidade é de $ 2,00.

2. O consumo de determinado material é de 12.000 unidades por ano. O custo de um pedido


é de $ 160,00 e a taxa de armazenagem por ano é de $ 2,40. Sabendo que o preço de
compra de cada unidade é de $ 4,50, calcular o Custo total ANUAL e informar o número
dos pedidos.

3. O consumo do material “A” é de 2.400 unidades a cada quatro meses. O custo do pedido é
de $ 80,00 e a taxa de armazenagem semestral é de $ 2,50. Calcular o Custo Total ANUAL
sabendo que o preço de compra de uma unidade é de $ 3,50.

4. Se uma empresa tem um custo de pedido de $ 400,00 e uma taxa de armazenagem


MENSAL de $ 0,80, calcular o Custo Total QUADRIMESTRAL sabendo que o consumo do
material “X” é de 22.000 unidades por ano e o preço de compra é $5,00.

BIBLIOGRAFIA

MARTINS, Petrônio Garcia.; ALT, Paulo Renato Campos. Administração de materiais


e recursos patrimoniais. São Paulo: Saraiva, 2000.

SLACK, Nigel et alli. Administração da Produção. São Paulo: Atlas, 2002, 2.ed.

HEIZER, J. e RENDER, B. Administração de Operações – Bens e Serviços. Rio de


Janeiro: LTC, 2001.

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