“Porque Demas, tendo amado o presente século, me abandonou e se foi
para Tessalônica.” II Tim: 4:10
E sta é uma sentença desapontadora. O capítulo final da historia de um
homem que uma vez foi um santo. Paulo certa vez teve que usar palavras semelhantes a respeito de João Marcos. Este abandonara Paulo, mas a história de sua deserção não é o final de sua história. Marcos voltou. Tempos depois, Paulo escreveu: “Toma a Marcos e Traze-o, pois me é muito útil no ministério”. Mas Demas, tanto quanto sabemos, nunca reconsiderou a sua decisão. Ele estava longe quando Paulo escreveu a epístola a Timóteo, e permaneceu longe até o final. “Porque dois males cometeu o meu povo; a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas que não retem as águas”. Jer. 2:13 Que tragédia na vida de um homem! Mas se esta sentença reflete um presente sombrio ela revela um glorioso e produtivo passado. Ela nos transporta aos bons tempos da vida de Demas, aos dias do seu feliz companheirismo com Paulo. Aos tempos em que o fervor evangelístico era a respiração de sua alma, o palpitar de seu coração. Mais de uma vez podemos imaginar Paulo e Demas com o mapa da Ásia Menor ou da Europa em suas mãos, traçando planos para o seu futuro trabalho.“depois de Atenas, Corinto, Beréia, Tessalônica, Roma...” Eu não quero terminar o meu ministério, Demas, sem estabelecer uma igreja cristã na Espanha. A Espanha é um campo aberto para o evangelismo. E Demas participava dos ousados sonhos do Apóstolo, ele tinha uma parte de suas gloriosas visões. O propósito de Paulo era conquistar o mundo para o Senhor Jesus Cristo,e em grande parte, este também era o anseio de seu companheiro Demas. Mas Demas não somente vivia os sonhos de Paulo, mas participava em seus esforços para a realização ou concretização dos mesmos. Quando Paulo se largava em suas ousadas investidas evangelísticas, Demas estava ao seu lado. Quando os perigos e ameaças se levantavam, ali estava Demas, quando uma nova igreja cristã se erguia, ali estava Demas associado ao seu surgimento. Demas partilhava das visões e da missão do Apóstolo. Mas infelizmente esta é uma experiência de ontem. Este fascinante e heróico capítulo está no passado. Hoje Demas não está mais ao lado de Paulo, não mais partilha de seus sonhos, não mais vibra com as suas visões, está separado de seu mestre, o Senhor Jesus Cristo, e é com a ternura de um pai para com um filho extraviado, com lágrimas que lhe emudecem o pergaminho que Paulo escreve: “Demas me abandonou...”
Que aconteceu com Demas?
Qual foi o problema? O que aconteceu com Demas?
Qual foi o vírus que o fez desertar das fileiras da fé cristã? Onde se manifestou o vazamento que entornou a sua embarcação? Cometeu Demas algum crime que o obrigou a deixar Roma? Pôs Demas a sua mão nos cofres da igreja, apoderando-se do que não lhe pertencia? Caiu Demas em adultério? Isto poderia ter acontecido. O maior comércio na Itália hoje é a prostituição. O governo Italiano hoje recebe mais impostos das casas de vício do que de suas industrias automobilística, eu creio que o presente é apenas uma renovação ou continuação do passado. Demas não é culpado de nenhum desses horríveis crimes. Ele não foi vitima de nenhum desses pecados feios. O inimigo que ocasionou a ruína de Demas, parece tão inofensivo, que nem mesmo é considerado como inimigo. O que foi que levou Demas ao fracasso? A resposta está no texto: “Demas me abandonou, amando o presente século.” A visível implicação deste texto é que se um homem ama este presente século, ele cessará de amar a Deus. Implica que amor no mundo e o amor do Senhor Jesus Cristo não podem coabitar num mesmo coração. A teologia desta asserção é a mesma ensinada em toda a Bíblia: João diz: “Não ameis o mundo nem o que no mundo há...” Ele declara que no dado momento que o amor do mundo entra no coração, o amor de Deus se retira. Tiago usa de maior ênfase, quando diz: “O amor do mundo é inimizade contra Deus.” O amante do mundo não é somente alguém que não ama a Deus, mas um inimigo pessoal de Deus.
Não ameis o mundo
Que mundo, somos admoestados a não amar? Certamente não é este
universo físico de montanhas, vales, rios e oceanos, nuvens e estrelas. Durante 6 dias o Criador se esmerou. Pôs beleza na menor planta silvestre para que a vida do homem recebesse mais significação e colorido. “Eis que tudo era muito bom...” Como cristãos devemos apreciar mais as belezas da criação. Deveríamos achar: “sermões nas pedras, livros em regatos murmurantes, e algo de bom em cada coisa”. Davi: “Os Céus declaram as obras de Deus...” Salmos 19. Do mesmo modo não somos vedados de amar o mundo de seres humanos. Este foi o mundo que Deus amou e pelo qual entregou seu filho. O testemunho dos Judeus que presenciaram a ressurreição de Lázaro foi: “Vede quanto O amava”. João 11:36. Vendo a multidão, Ele se movia de intima compaixão. Quanto mais amamos as pessoas, mais nos tornamos semelhantes a Jesus. O mundo está perecendo por falta de amor. Nosso companheiro, nosso vizinho, nosso filho, nossos pais, desconhecidos, milhões no mundo inteiro, nós mesmos somos mendigos. Estamos a mendigar uma palavra, um gesto, um sorriso, um aperto de mão, enfim, somos mendigos de amor, de consideração, de aceitação.
Que mundo, somos aconselhados a não amar!
Amar o mundo, como alguém tem afirmado, “é a pessoa se
tornar escravizada a qualquer coisa do mundo que impeça que o coração se torne semelhante a Jesus”. Isto não é uma coisa tangível, visível, material. O problema não está no dinheiro, no ouro, na casa, no automóvel, no vestido. O problema está dentro de nós. Amar o mundo é ser trazido sob o domínio do amor-próprio. Assim o texto de Paulo poderia ser lido: “Demas me abandonou escolhendo fazer o que lhe agradava...” Este desejo de agradar a nós mesmos, nem sempre leva a mesma direção mas sempre para longe de Deus. O filho pródigo dominado por este espírito foi levado para uma praia distante O irmão do pródigo continuou sua vida descente em casa, mas dominado pelo mesmo espírito. O problema não se prende aos diferentes alvos, mas ao motivo que nos impulsiona e que adotamos na busca dos mesmos. A grande decisão de uma vida.
Nos tempos em que Demas andava ao lado de Paulo pelas ruas de
Roma, ele começou a sentir a atração do mundo sobre o seu coração. Paulo, no entanto, sempre consultava uma vontade superior, seus desejos sempre estavam sujeitos aos desejos de seu Mestre, o Senhor Jesus Cristo. É noite, e esses dois santos estão caminhando pelas ruas de Roma, em direção à igreja. Ao redor queda-se uma cidade voluptuosa e embriagada. A atmosfera está impregnada de cânticos sensuais. Soldados passam com os espólios das guerras e Paulo caminha de olhos baixos, imbuído com suas próprias idéias e visões. As luzes pouco a pouco se escasseiam, as ruas se estreitam. Por fim eles chegam a um lugar que nada tem de belo ou atraente, mas se assemelha a um devastado cemitério. Ali está uma das catacumbas. Alguns cristãos de faces brilhantes ali se encontram, para o serviço de adoração. Demas se assenta ao seu lado, mas não há alegria em seu coração. Ele está presente no corpo, mas a sua mente se acha a vaguear pelas ruas de Roma. De súbito, Paulo põe ênfase nas palavras: “As coisas que vêem são temporais, mas as que se não vêem são eternas!” Roma que hoje se impõe como uma fortaleza passará. Alguns anos mais e Roma cairá no silêncio. Os pensamentos de Demas são de duvida. “Eu preciso de mais informações para crer em Paulo”. Dias depois o lugar de Demas achava-se vazio. Ele se enamorou do mundo. Seu coração não resistiu e seus pés seguiram o seu coração. Desejando agradar a si mesmo, ele tem deixado Paulo e o Cristo de Paulo viajando para Tessalônica. Ele deseja uma vida mais colorida em emoções, aventuras, e assim adentra pelos caminhos e interesses do mundo. Conclusão
Pelo tempo em que Demas havia se estabelecido em Tessalônica, talvez
como um rico comerciante de pérolas ou tapetes, ou especiarias do oriente, (não sabemos ao certo) Paulo achava-se encarcerado numa prisão em Roma, esperando o seu segundo julgamento. Em minha passagem por Roma, tive desejo de visitar Paulo. Depois de perambular por diferentes lugares, encontrei o apóstolo numa úmida prisão ao lado do Fórum Romano. Lá chegando Paulo, estava escrevendo uma carta. Era a ultima da sua vida. Escrevia a Timóteo. Ao estar escrevendo, uma brisa ligeira veio pela janela adentro, e revolucionou os cabelos do encanecido apóstolo. A pena continuou a escrever. Nisto uma rajada mais fria penetra, e o corpo do abatido apóstolo sente o impacto do vento. Ele se volta para pegar alguma coisa, ma ali não estava. Era a capa que havia deixado em Troas, em casa de Carpo. II Tim 4:13 A esta altura ele depôs a sua pena, e passou a olhar através de uma janela. É a janela que olha para o passado. Um passado do qual ele não se envergonha. Um passado de sacrifícios, de perseguições, de conflitos, de muitas noites sem dormir, de muitas lágrimas, de fome, frio e nudez. Retorna a pena e continua escrevendo: “Combati o bom combate...” Aqui ele para outra vez e olha ao longo de uma outra janela. É a janela que olha para o futuro”. A cena que se lhe depara é a mais fascinante e deslumbrante. Jamais vista. A mais gloriosa de todas. É o dia do coração. Ali está o filho de Deus. Ali estão os milhões e milhões de anjos. Ali estão os patriarcas, os profetas e os demais apóstolos. Ali estão os remidos do Senhor de todos os tempos, e Paulo se acha entre eles. Seu regozijo é intenso quando escreve: “A coroa da justiça me está guardada”.