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Título: Elites agrárias e representação politica: um estudo sobre a atuação da Bancada

Ruralista na revisão do Código Florestal Brasileiro.

Palavras-Chaves: Elites Agrárias, Frente Parlamentar da Agropecuária (Bancada


Ruralista), Legislação Ambiental, Código Florestal Brasileiro

Autora: Janaína Tude Sevá (Doutoranda CPDA/UFRRJ)

Orientadora: Regina Angela Landim Bruno(CPDA/UFRRJ)


Agência de Fomento: CNPq

Resumo:

A presente proposta tem como tema central de estudo a ação bancada ruralista na
politica institucional e na construção das legislações ambientais e agrárias - em especial
no processo de reforma do Código Florestal Brasileiro (CFB, Lei 4.771 / 1965).
Considerando a pertinência do debate na sociedade brasileira, compreender a formulação
de leis enquanto um campo de forças em disputa é fundamental para uma leitura crítica
dos fenômenos sociopolíticos. Conforme pesquisas documentam, a investigação sobre a
formulação das leis e instituições políticas tem sido terreno fértil para o levantamento de
questões referentes à formação e à atuação política de grupos e classes sociais
dominantes. Assumimos aqui a perspectiva dialética de compreensão do Estado, que
propõe olhar o primeiro não como sujeito – que paira absoluto acima da sociedade – nem
como objeto – instrumento de dominação das classes dominantes. E sim enquanto “a
condensação das relações sociais presentes numa dada sociedade. (...) incorporando, em
si mesmo, os conflitos vigentes na formação social” (Mendonça, 1998:20).
Conflitos socioambientais aparecem como nova arena de retomada e
ressignificação de disputas políticas e econômicas antigas, como a fundiária. Discute-se o
poder de pressão e de se fazer presente nos processos decisórios por parte de movimentos
sociais e organizações não governamentais, identificando os limites de suas ações. Mas se
reconhece que os embates e disputas políticas vêm incidindo diretamente e diversamente
na forma de enfrentamento da questão ambiental, seja por parte do Estado em suas mais
variadas instâncias (UFF, 2007, Acselrad, 2004 e 2010; Almeida, 2010; Zhouri, 2005 e
2010; Moreira, 2007), seja pela incorporação do debate a partir da lógica empresarial, da
responsabilidade social e ambiental adotado por diversos setores produtivos (Abramovay,
2007a e 2007b; Loureiro, 2006; Torres, 2005; Ramos, 2007).
Estudos indicam “lideranças patronais rurais e agroindustriais” que se mobilizam
coletivamente, em diversos espaços de representação política, tendo como demandas
questões sanitárias, de crédito agrícola e renegociações de dívidas (Bruno, 2002 e
Mendonça, 2010). Sinaliza-se ainda a defesa da propriedade privada contra programas de
reforma agrária e atuação de movimentos sociais de luta por terra.
O embate travado atualmente na sociedade brasileira vem ecoando uma aparente
dicotomia “agronegócio versus ambientalistas”, “meio ambiente versus
desenvolvimento”; como um verdadeiro paradoxo. Artigos de jornais, programas
televisivos e programas governamentais enfatizam tensões entre os produtores rurais
(mormente vinculados à figura do agronegócio) e as políticas de conservação e
preservação ambiental, mas pouco esclarecem quanto aos pontos divergentes e às
consequências práticas de se adotar este ou aquele texto. Por outro lado, ao assistir ou ler
depoimentos dos parlamentares e líderes classistas representantes do agronegócio, o
observador se depara, também, com um discurso conciliatório em nome do
“desenvolvimento nacional, da produção de alimentos”, dentre outros. Vignas (2010)
identifica reposicionamentos políticos no jogo partidário a partir das disputas reveladas
na discussão da reforma do CFB, e aponta a interferência dos ruralistas diretamente na
dinâmica deliberativa do Congresso bem como na atuação dos governos.
Por um lado a expansão e diversificação dos espaços de atuação institucional
pelas elites do chamado agronegócio. Por outro, os conflitos socioambientais no Brasil
levam à arena política novos embates, atores sociais e posicionamentos políticos.
Corroborando, por tanto, para a necessidade de análises empíricas qualitativas que
permitam tencionar conceitos fundamentais das Ciências Sociais como as classes sociais,
a representação política e as relações de poder na construção das leis. Além de
representar a continuidade de meus estudos de mestrado, estudar as classes e grupos
sociais dominantes, seus mecanismos de representação política e suas estratégias de ação
coletiva junto ao Estado, este projeto permitirá observar a complexidade das lutas sociais
pela construção, manutenção e transformação das instituições democráticas e de todo um
conjunto de leis, políticas públicas e instituições que lhes dão sustentação.
Pesquisas sobre as elites politicas no cenário contemporâneo brasileiro indicam
para um conjunto de processos de ressignificação e reconversão de recursos pelas elites
agrárias (Bezerra, 2012 e Bruno, 2012) que apontam para uma ampliação da participação
desses grupos no jogo democrático, como formas e mecanismos de manutenção e
legitimação do poder econômico e da ideologia da qual são portadores. Neste sentido,
serão analisadas: 1) os argumentos elencados pelas lideranças da bancada ruralistas nas
sessões plenárias de votação dos projetos de Lei na Câmara e Senado Federais e 2) as
manifestação de rua promovidas pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e
outras entidades de representação patronal rural (tais como Associação de Produtores de
Soja e Associação de Produtores de Algodão), com amplo apoio parlamentar. Em suas
estratégias por construção de hegemonia a veiculação de campanhas de promoção da
imagem do agronegócio, destaca-se a evocação e resgate das ideologias
desenvolvimentista e da refundação do mito do “Brasil, celeiro do mundo”, fortemente
vinculados ao Brasil profundo e suas raízes agrárias.
A partir de elementos simbólicos da cultura sertaneja e rural, bem como de um
discurso de cunho religioso, evidenciam-se os esforços em disputar as categorias
“sustentável”, “agricultor”, “produtor” e “trabalhador rural”, e ampliar seu espectro de
ação e sensibilização junto aos diversos segmentos da sociedade, por um lado, e reforçar
identidades, posições e hierarquias sociais.

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