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Essência Feminina

Descobri a máquina! Não se trata de um novo computador, nem do mais recente iPhone, nem do
motor do meu carro... a de costura mesmo! É! Incrível! Eu, que nunca brinquei de casinha ou de
boneca, porque gostava de pegar alguma coisa imitando uma pasta de couro e brincar de executiva;
eu, que achava um absurdo minha mãe não trabalhar fora nem querer uma empregada, há poucas
semanas descobri o prazer de costurar. Uma coisa tão antiga, tão fora de época para aquelas que,
assim como eu, não têm nisso sua profissão. Ser estilista de moda virou coisa chique! Mas ter uma
máquina de costura aberta na sala, para remendar com o maior cuidado as camisetas do uniforme
que volta e meia aparecem descosturadas ou para (pasmem!) fazer almofadas para as cadeiras da
varanda – “isso não combina com uma mulher moderna!”, dirão algumas. A mulher moderna
trabalha fora e “ainda por cima” tem que cuidar da casa, do companheiro, dos filhos: uma injustiça?
Não tem tempo, muito menos vontade de fazer o que nossas avós faziam. Mas quem não lembra
com alegria daquele cheiro de bolo da casa da vovó ou dos xaropes e unguentos que ela fazia com
as ervas que plantava no próprio quintal? Das colchas bordadas com tanto carinho ou das histórias
que nos encantavam e embalavam nossos sonhos?
Muitas de nós, hoje por volta dos 40, vimos nossas mães cumprindo seus deveres domésticos, sem
dar nenhum valor a isso. Ninguém dava, acho que nem elas mesmas. Então, nosso ideal passou a
ser o mercado de trabalho. Mais do que isso, nossa geração precisou sair de casa para trabalhar
fora. Até aí, tudo bem – muitas de nós exercemos uma profissão e algumas, assim como eu,
também nos realizamos com isso (que bom!) – mas achamos que ter um lugar no mercado de
trabalho fosse o máximo, em detrimento de todo o resto.
A luta pelos mesmos direitos dos homens trouxe avanços indiscutíveis às mulheres, mas somente a
maturidade começa a nos dar indícios daquilo que, sem perceber, deixamos para trás: nossa
preciosa e inerente essência do feminino. Quisemos ser como eles e para isso passamos por cima
de tudo, até de nós mesmas.
Assim, começamos lenta e desapercebidamente a nos abafar. De certa forma, ao procurar nossa
liberdade, acabamos nos enterrando um pouco, pois deixamos de expressar nosso lado feminino
essencial ou “o arquétipo da Mulher Selvagem”, como diz Clarissa Pinkola Estés, em seu livro
“Mulheres que correm com os lobos”. Acabamos optando pelo cérebro e desvalorizamos nossa
intuição, nossa ligação visceral com a natureza, nossa maior capacidade criativa.
Exercer uma profissão fora de casa passou a ser óbvio também para a mulher, mesmo àquelas que
não dependem disso financeiramente. Já perceberam como sofrem preconceito e até sentem-se
envergonhadas aquelas que não trabalham fora?
Então, o que fazer?
Ficar em casa pode ser muito frustrante, mas trabalhar fora não é necessariamente o caminho para
nossa realização, e as pesquisas têm demonstrado isso. Estamos cada vez mais longe de nossas
famílias, filhos, companheiros, de nós mesmas. Não alimentamos mais nossa energia feminina,
como faziam nossas ancestrais através de pequenos ritos e assim nos sentimos menos felizes,
menos plenas, mais dependentes de antidepressivos. Desprezamos nossa capacidade geradora e
deixamos de pôr a mão na massa com prazer. Dar forma e vida à nossa criatividade, costurando,
cozinhando, contando histórias, cuidando de um jardim, utilizando ervas medicinais, dançando
despreocupadamente, pintando, esculpindo, enfim, entrando em contato com nossa natureza interna
.... – são formas de alimentarmos nossa alma feminina, de nos sentirmos mais livres, mais felizes,
mais alegres – são formas de nos conhecermos, de nos aprofundarmos em nós mesmas, de
dividirmos com o mundo um pouco de nossa magnitude – mas a maioria de nós não percebe a
energia criativa por trás destas “pequenas” coisas.
O mundo precisa da energia feminina, cuidadora, curadora, geradora, tanto quanto da masculina,
provedora, que semeia, que luta. Nós, mulheres, precisamos acreditar que o mundo do trabalho
pode ser parte de nossas vidas, sem abandonarmos nossa essência.
Algumas poderão dizer que falta tempo para estes pequenos prazeres, que temos outras prioridades
e que mal damos conta delas. Mas acredito que, se observarmos melhor, veremos que nossas
prioridades nem sempre são nossas – na maioria das vezes elas nos foram impostas
imperceptivelmente pela sociedade moderna, para que tivéssemos a falsa impressão de a ela
pertencer. E inebriadas, apagamo-nos, acreditando ser esse o caminho.
É tempo de acordar! É tempo de nos assumirmos como somos! É tempo de dar mais atenção às
necessidades das nossas almas e de cuidar mais delas. Como? Experimente colocar em tudo o que
fizer a sua magia feminina, a sua essência, a sua alma. Tenha consciência do seu poder acolhedor,
da sua sabedoria divina. Faça mais, mas diferente. Ouse mais, erre, ria, refaça, prove, tente – ponha
conscientemente sua magia em tudo o que fizer. Perceba que todo o ato de cuidar é primordial da
mulher. Os filhos continuam precisando de cuidado de mãe, daquele que os psicólogos sentem falta
em tantas famílias modernas. Mais do que isso, as pessoas precisam da força da mulher, essa que
sabe ouvir, que sabe dar colo; essa que precisa alimentar seu fogo interno, para poder aquecer seu
redor.
Então, minhas queridas, se estamos ou não no mercado de trabalho, pensemos bem em como
cuidar carinhosamente da nossa essência. Vamos reavaliar nossas prioridades. Vamos colocar
nossa magia nas massas de pães, em novas poesias, em bordados, costuras, quadros, jardins,
hortas, bolos, histórias, abraços compridos e acolhedores.
Podemos trabalhar fora ou não – mas nada nos trará plenitude, se não cuidarmos de nossas almas.

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